Você está na página 1de 46

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, GEOGRAFIA, CIENCIAS


SOCIAIS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
CURSO DE HISTÓRIA

Mulheres do Sertão: Vozes, narrativas e


visibilidades

Shirlei Fernandes Romano

Goiânia
2010
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
CURSO DE HISTÓRIA

Mulheres do Sertão: Vozes, narrativas e


visibilidades

Shirlei Fernandes Romano

Trabalho apresentado ao curso de


História da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás, como parte dos
requisitos para obtenção da
licenciatura em História.

Orientadora: Profª. Dra. Maria do


Espírito Santo Rosa Cavalcante

Goiânia
2010
Mulheres do Sertão Goiano: Vozes,
narrativas e visibilidades

Shirlei Fernandes Romano

Apresentada à banca examinadora, integrada pelos


professores:

________________________
Profª Dra. Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante
Orientadora

________________________

Banca examinadora

Goiânia,.......... de ........................... de 2010.


Agradecimentos
Dedico:
Às mulheres do sertão,entrevistadas para este trabalho que já fazem parte da minha
história. Por terem me recebido em suas casas, por aceitarem dividir comigo suas
experiências, pela paciência em repetir , recontar e contribuir com o objetivo desta
pesquisa: conhecê-las.
O desafio é, “[...] encontrar seu próprio assunto, seu próprio sistema, sua própria
teoria e sua própria voz [...]

Showalter (1994,p.29)
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
INTRODUÇÃO

Mulheres do Sertão: Vozes, narrativas e visibilidades, é uma pesquisa da qual me


propus, para levantar questões especificas sobre gênero e sua interface com a categoria
sertão. O principal interesse é tornar visíveis as vozes de mulheres do sertão goiano,
dentro dos espaços que comungam, através das entrevistas recolhidas para este trabaho.
Para problematizar as vozes e narrativas das mulheres do sertão: Alguns conceitos
como gênero, sertão, narrativas, experiência e autonomia nortearão esta pesquisa. No
entanto, a primeira (gênero) e a última (autonomia) necessitam de mais atenção, visto
que são focos que pretendo abordar como apresentação das Mulheres do Sertão: suas
vozes narrativas e visibilidades. Neste sentido, clarifico que: as questões sobre gênero
que apontam as Mulheres do Sertão, será breve revisão de uma categoria histórica que
especifica este recorte e Narrativas como fonte oral que irá subsidiar as investigações
das experiências como objeto de identificação de autonomia de gênero.
Esta pesquisa então aparece dentro de um recorte maior intitulado: Lembranças e
Narrativas de Mulheres do Sertão Do Brasil Central, de autoria da Profª Drª Maria
do Espírito Rosa Cavalcante, que partindo das categorias gênero e sertão, pretende
construir representações reivindicando as mulheres, como narradoras de suas histórias
de vida no sertão do Brasil Central, (especificamente compreendido como o “norte de
Goiás e o Estado do Tocantins” nas décadas de 40,50 , 60 e 70 do séc. XX.) Para
dialogar com o projeto descrito, o presente estudo aparece como uma ramificação,
através da história de vida das mulheres entrevistadas para esta pesquisa ,em quatro
cidades que se localizam ao sul do Estado, com a intenção primeira de reconhecer a
autonomia, identificada nas experiências registradas, na perspectiva das mulheres do
sertão goiano. Para este fim, colhi narrativas onde pretendo identificar, apontar e
ampliar com a ajuda das categorias de análise, citadas, o foco maior da pesquisa: a
autonomia das mulheres do sertão goiano, em pontos a serem abordados no capítulo 2
como: mulheres e intelecto, mulheres e trabalho e mulheres e família.
É importante ressaltar que os papéis sociais desempenhados pelos indivíduos são
mutantes conforme as mudanças históricas que estão inseridos. Assim sendo, a posição
que homens e mulheres ocupam na sociedade não se relaciona exatamente com o que
fazem, mas sim “do significado que suas atividades adquirem através da interação social
e concreta” (ROSALDO,1995)
Responder de que modo estas interações sociais evidenciam um discurso próprio
livre de imposições , tal como se define a categoria autonomia, no tempo presente,
(SOUZA, 2008, p. 69), identificando o momento dentro das entrevistas orais que
legitime a autonomia das mulheres do sertão, diante dos espaços aqui estudados,é
preocupação deste trabalho. Reconhecer através das entrevistas recolhidas para esta
pesquisa, em que momento no meio destas interações, descritas em suas narrativas,
aparece o discurso de autonomia, legimitidado pelas experiências vividas e narradas que
compõe esta pesquisa ,dar voz e visibilidade para que as pessoas possam conhecer um
pouco mais das histórias de mulheres que compõe o sertão goiano.
Por estes aportes a pesquisa está dividida em dois capítulos. No primeiro
capítulo chamado: Mulheres do Sertão: Uma abordagem sobre gênero como categoria
de análise histórica, serão discutidas as definições de gênero de acordo com Temis
Gomes Parente, teórica escolhida, porque trabalha com gênero na perspectiva de
memória e narrativas e que em seus artigos: Gênero e memória de mulheres
desterritorializadas e Sentimentos e ressentimentos de Eva, uma mulher de vida livre,
embasa algumas das categorias analisadas para este trabalho, como : gênero, narrativa e
experiência. Outra autora referenciada para este estudo, e especificamente para dialogar
a respeito de gênero, é Joan Scott, em seu artigo : Gênero uma categoria útil de análise
histórica, escrito em 1990, época inclusive do inicio de análises mais profundas sobre o
tema. Para embasar a categoria gênero , com as duas autoras já citadas, também serão
trazidos alguns dos conceitos trabalhados por Margareth Rago, uma das pioneiras deste
estudo no Brasil.l Ainda nesta parte do trabalho, assumindo as definições do item
anterior serão apresentados levantamentos do comportamento das mulheres no lugar
sertão, através das definições presentes na bibliografia utilizada mais especificamente
com a visão de Maria Eloá ( 1988), Eliane Aires (1996), Maria José Goulart Bittar
(1999), Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante (2004 e 2005).
No segundo capítulo, intitulado : Narrativas : Fonte Oral Usando alguns
parâmetros para investigar as falas das mulheres do Sertão goiano, serão analisadas as
entrevistas recolhidas para esta pesquisa e para tanto proponho , os seguintes
dispositivos para sua análise: experiência e autonomia - na perspectiva das mulheres
sertanejas.
O primeiro dispositivo (experiência),aqui é representado pelas histórias de vida
presentes nas narrativas colhidas em entrevista para esta pesquisa. Tornar visível as
experiências das mulheres entrevistadas, onde o discurso de autonomia se faça presente
é reconhecer através das definições de Joan Scott, (1999, p. 27) que a própria
experiência não é origem da explicação para o trabalho, mas sim o que é produzido a
partir dela, “[...] não são os indivíduos que têm experiência, mas os sujeitos é que são
constituídos através da experiência” 1. O segundo dispositivo (autonomia) é mais
relevante neste trabalho, porquanto o maior interesse na sua definição adotada como
sendo a palavra para designar uma série de situações e processos nos mais diversos
contextos políticos, econômicos e culturais (desde a busca de “autonomia” dos filhos
em relação aos pais a luta pela “autonomia” de um determinado território) nos quais se
quer destacar um determinado grau de liberdade, independência e emancipação. Assim,
quando se fala, escreve-se ou se lê sobre a autonomia, mesmo que não tenhamos uma
idéia clara e precisa sobre seu significado, remetemos diretamente a um conjunto de
idéias , aqui esclarecidos como, “Autonomia [...] do grego autós, próprio, mais nómos,
que tanto significa ‘lei’ quanto ‘convocação’. Ser autônomo significa, assim, ‘dar-se sua
própria lei’, em vez de recebê-la por imposição” (SOUZA, 2008:69). Analisando as
fontes orais sob a luz da categoria autonomia, pretende-se responder de que maneira as
mulheres entrevistadas fizeram-se livres de qualquer imposição, a respeito de suas
atividades. Em que momento aparece o discurso de autonomia, legitimado pelas
experiências vividas e narradas que compõem esta pesquisa?
Um de seus sub tópicos, chamado de Vozes das mulheres do Sertão: Dados
históricos e constatações , trata sobre as mulheres do sertão no que diz respeito às suas
vozes. Estas, investigadas a partir da análise de Michelle Perrot. As mulheres ou os
silêncios da História , abordando historicamente a trajetória das mulheres no sertão
goiano, relacionando o silêncio das mulheres de Perrot com os silêncios das mulheres
do sertão, trazendo informações a partir das investigações das categorias perpassando
pelos momentos históricos onde este silêncio virou voz.
Com 246 municípios no Estado de Goiás não é pretensão deste trabalho, ser o
resultado definitivo da representatividade das mulheres do sertão no território, mas sim
contribuir para futuras pesquisas, e aprofundamentos a partir da análise historiográfica
sobre o tema, e com o material inédito produzido para esta pesquisa que conta com 10
horas de entrevistas com seis mulheres goianas2, sendo três nascidas em Jataí,uma em
Serranópolis, outra senhora em Caçu e uma em São Luiz dos Montes Belos, cooperar

1
SCOTT, Joan. Experiência. In: Falas de gênero: teorias, análises, leituras.Organizado por Alcione Leite
da Silva, Mara Coelho de Souza Lago e Tânia Regina Oliveira Ramos. Florianópolis: Editora Mulheres,
1999.
2
Tabela referente à localidade e nome das mulheres, encontra-se anexo.
com a produção existente.A escolha por um ou outro fragmento das entrevistas, está
diretamente relacionada aos questionamentos do projeto, assim sendo onde foram
consideradas as experiências que revelassem a autonomia das mulheres, sobre o
universo que as cercam, ou revelações sobre relações de gênero marcantes no sertão
goiano está transcrito no presente trabalho.
A relevância do trabalho está nas novas problemáticas e a possibilidade de viabilizar
uma escrita histórica a partir das perguntas que fizeram parte do campo, mas não são
feitas, “de lembranças que estão se perdendo pela omissão, abandono e descaso de
alguns recortes temáticos que muitos/as acreditam não poderem dizer mais nada além
do que já está dito, e, portanto saberes cristalizados que continuam sendo repetidos,
remorados, decorados e “recopiados” pelos livros didáticos quando aparecem. E de tão
repetidos, quase acreditamos que não temos mais nada a perguntar. (...)
( Cavalcanti,2008). Suponho então que há um discurso de autonomia presente nas
entrevistas recolhidas para esta pesquisa e que está pronto para se tornar visível,
procurando demonstrar que há mulheres do sertão que usaram suas vozes em diversos
momentos de suas experiências de vida para a experiência de autonomia de suas
próprias histórias.
.
1º Capítulo : Mulheres do Sertão: Uma abordagem sobre
gênero como categoria de análise histórica

1.1 Definições sobre gênero

[...] refletir sobre a intertextualidade entre gênero, e narrativas propicia


um debate que estimula e contribui para o desenvolvimento dos
estudos de gênero. As memórias de homens e mulheres, presentes nas
mais variadas formas de narrar, revelam vivências e experiências
singulares. Deter a atenção sobre tais particularidades pode contribuir
para análises que pensem a memória como uma das possibilidades de
compreender as “marcas de gênero” e a construção de novas
subjetividades. (PARENTE, 2010 p. 3)

As subjetividades que serão compreendidas, correspondem ao discurso de


autonomia presente nas entrevistas recolhidas para esta pesquisa. Desta forma através da
análise das falas das mulheres do sertão, pode ser possível compreender as marcas de
gênero, citadas por Temis Parente no recuo acima, e produzir através das experiências
relatadas, conhecimento válido para provar o objetivo do trabalho.
Gênero é uma categoria útil de análise histórica, afirmação título de um estudo
de Joan Scoot, usada para simbolizar as relações sociais entre os sexos. Por meio de seu
estudo, percebe-se que os lugares, atribuídos aos homens e mulheres foram sócio
culturalmente construídos, produzindo sentido a esses lugares: aos homens foram
atribuído o lugar do espaço público, enquanto às mulheres foi atribuído o lugar do
espaço doméstico 3( SCOTT, 1990 p. 71-99).
Margareth Rago, (1998, p.8), também discorre a respeito da importância desta
categoria para ser utilizada como instrumento de análise sobre os espaços das mulheres,
porém chama a atenção que gênero deve ser utilizado de maneira diferente daquela
proposta pelos demais discursos que tem como objetivo a emancipação social de
determinados setores. “O gênero tornou-se um instrumento valioso de análise que
permite nomear e esclarecer aspectos da vida humana com que vínhamos trabalhando,
impulsionados pela pressão dos próprios documentos históricos. ( RAGO, 1998, p.5).
Desta forma, não se trata de olhar a história das mulheres sobre o mesmo prisma que se
analisa por exemplo, a história de classes ou de outras minorias,

[...] A categoria do gênero permitiu, portanto, sexualizar as


experiências humanas, fazendo com que nos déssemos conta de que
trabalhávamos com uma narrativa extremamente dessexualizadora,
pois embora reconheçamos que o sexo faz parte constitutiva de nossas
3
experiências, raramente este é incorporado enquanto dimensão
analítica. ( RAGO, 1998, p.4)

A atenção nos últimos tempos está também centrada no estudo das relações entre
os sexos, no que diz respeito à conquista dos direitos das mulheres, tornando possível
questionar visões preconceituosas como a de que as mulheres não são aptas ao espaço
público, como pessoas históricas, políticas e socialmente ativas. “As mulheres entram
no espaço público e nos espaços do saber transformando inevitavelmente estes campos,
recolocando as questões, questionando, colocando novas questões, transformando
radicalmente.” (RAGO, 1998.p. 10)
Importante ressaltar que as organizações sociais não são de responsabilidade do
universo masculino, ou seja, não se trata somente de um gênero subjugando outro. A
maneira como nos organizamos socialmente é que dá sentido às diferenças , não sendo
possível então determinar se há verdades absolutas no que diz respeito às distinções
entre os sexos, mas sim, segundo Ana Colling (2009, p. 51) “...um esforço interminável
para dar sentido, interpretá-la e cultivá-la”. Legitimar esta ou outra representação não
está relacionado à natureza das coisas ou à natureza humana, as representações sociais
ordenadas, fazem com que cada individuo, ou cada elemento – no caso das coisas- tenha
um lugar, uma identidade e principalmente uma razão de ser. O coletivo, classifica e
hierarquiza aquelas representações que mais se aproximam do que acredita representá-
lo, determinando o que é ou não legitimo, assim atua como uma das forças reguladoras
da vida em sociedade. ( LE GOFF, 1990, P. 54)
Apesar de muitos trabalhos já terem citado e diagnosticado vários estudos
feministas nesta perspectiva, de construção de gênero, este não é um assunto esgotado.
Sabemos o grande hiato que existe na história sobre o cotidiano, as descobertas e as
conquistas femininas, dessa forma aqueles que escrevem sobre a história de modo geral,
ainda têm muito do que se ocupar quando o assunto são mulheres.
A escrita regional é caracterizada por trabalhos como os do historiadior Thiago
Santanna, (2005) citam a participação feminina nas ações abolicionistas goianienses,
onde ele cataloga as experiências acerca do envolvimento das mulheres nestes episódios
, procurando desmitificar os papéis que são atribuídos ao gênero, como frágil,
inconstante etc. Outros autores, como Maria José Goulart Bittar, (1999) Eliane Aires
(1996) e Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante,(2004-2009) trabalham as memórias,
que compõe o universo feminino do sertão, com recortes culturais específicos. Estas
investigações sempre intentam legitimar e mostrar a relevância social que um estudo
sobre o tema pode contribuir para o reconhecimento do desempenho das ações dessas
sertanejas no Estado.
O estudo dos papéis das mulheres está estreitamente ligado à questão da família.
Seja ela patriarcal, família nuclear burguesa e outros padrões familiares, já que estão
todos ligados ao papel desempenhado pelas mulheres e ao lugar das emoções e
sentimentos. Assim sendo valoriza-se

“...o modelo de família burguesa, dominante no século XX, definido


basicamente por- família conjugal como uma unidade social
diferenciada das atividades femininas (no lar) e das masculinas (no
espaço público); valorização do amor pelos filhos,do amor conjugal e
do individualismo no nível emocional” (BASSANEZI, 1989,p. 4)

As condições sociais reservadas às mulheres no decorrer da história, de acordo


com as referencias bibliográficas, mostram que elas estavam inseridas em um amplo
sistema de dominação masculina secular, que procurava subjugá-las material e
espiritualmente. (BASSANEZI, 1989, p.4). Fato reforçado pela existência de aparato
legal, que garantia os privilégios masculinos , da submissão à autoridade do marido, por
exemplo, da reclusão no espaço doméstico (para as famílias de classe mais elevada), da
dupla moral sexual (onde o prazer só era permitido aos homens reservando para as
mulheres somente a função reprodutora). Mas é importante compreender de onde surge
esta orientação de que às mulheres está reservado o espaço doméstico. A partir da
inserção cada vez mais presente do capitalismo, a família que provém deste sistema
passa a ser
[...] apenas a unidade de reprodução da força de trabalho. A produção
econômica é transferida para as fábricas, longe do lar. Como o
mercado era incipiente e mal dava para os homens, as mulheres são
incentivadas a ficar em casa e se dedicar inteiramente à família e aos
filhos. Surge então a figura da dona-de-casa e da mãe dedicada [...]
( MURARO, 2002, p. 123)

Podemos citar também os privilégios paternos de fazer os arranjos matrimoniais


em função da manutenção do poder econômico e político,etc. É neste mesmo período,
do inicio do sistema capitalismo em boa parte do mundo que as mulheres são “
radicalmente excluídas do domínio público, que se cria infância com regras próprias de
conduta [...] que conhecemos hoje e também a separação das crianças na vida adulta.”
(MURARO, 2002, p. 123). Estes temas são trazidos para este trabalho somente para
contextualizar em que condições sociais estavam as mulheres do século XIX, e para
ilustrar como isso refletiu nas mulheres do século XX. Através das narrativas colhidas
para este trabalho também será possível verificar os limites entre o que já foi superado e
o que realmente está no imaginário destas mulheres.

1.2 As mulheres no sertão goiano:

O sertão,

[...] vem sendo recortado como um elemento de uma totalidade que se


situa num outro lugar, distanciado de tudo ( o contraponto é feito por
oposição) e em todos os sentidos possíveis: o sentido espacial – o
sertão é o interior longínquo e despovoado, ou povoado por uma raça
mestiça, o sentido econômico - o sertão mantém uma economia
distante da economia da metrópole e do litoral, agrária e
subdesenvolvida frente à economia industrial e mais desenvolvida da
metrópole; o sentido social – o sertão mantém outro tipo de associação
de membros, uma associação mais comunitária, outro tipo de usos e
costumes ou, numa aliança sócio-política, o poder dos coronéis e o
desvalimento dos camaradas; o sentido psico-social, na perspectiva da
antropologia – o sertão detém um universo psíquico mais ritualizado,
com formas de pensamentos mais míticas e agônicas; o sentido
histórico – onde o sertão detém a chave de nossa origem histórica
típica e genuína, a partir das entradas e bandeiras ; e o sentido do
imaginário propriamente falando – quando o sertão avulta como local
de vida heróica ou trágica, de vida salutar e genuína, ou de vida
identitária; e outros tantos, que vão sempre salientando ora uma
perspectiva romântica, ora realista, ora conservadora, ora de denúncia
social, ora determinista, etc.. (VICENTINI apud CAVALCANTE ,
2004 p.3)

Por estar localizado em área de isolamento geográfico em relação aos grandes


centros urbanos do país, pode ser visto erroneamente como o local aonde a autonomia
das mulheres chegou com atraso. Porém as facilidades de comunicação atuais, e os
vários dispositivos tecnológicos, (internet, TV, rádio etc) trazem o sertão mais próximo
e o desloca para grandes cidades que preservam ou constrói os seus sertões. Assim, “o
sertão, ah, o sertão está em toda parte”; “ o sertão está dentro de nós”; “o sertão é o que
não tem fim” ; “ o sertão é o sertão”; “o sertão tem muitos nomes”. (VICENTINI,2000,
p.6). O sentido de sertão, na presente pesquisa, é utilizado também, para representar
uma condição de distanciamento das facilidades do mundo urbano, até os anos 70 do
século passado, (CAVALCANTE, 2004, p. 1027), por este motivo é que as mulheres
escolhidas para compor esta pesquisa são pessoas que viveram as transformações do
período especificado.
Deste modo, como ouvir estas vozes ressonantes, nestes muitos sertões dentro do
Estado, que trazem o peso de estar neste lugar geograficamente definido, porém quase
abstrato? Como identificar as mulheres que se destacaram em suas atividades,
reconhecendo suas autonomias dentro das interações que realizaram ? Por estes motivos
é que o trabalho é baseado , também em oralidades, em documentos pessoais, em alguns
lugares onde a História ainda não foi para registrar o que teriam dito estas mulheres em
seus tempos.
A identidade das mulheres no sertão goiano foi construída a custo de memórias,
submissas ou não, políticas ou não, mães ou não. Mesmo porque, “[...] memória e
identidade podem ser perfeitamente negociadas,e não são fenômenos que devam ser
compreendidos como essências de uma pessoa ou de um grupo[...]
(POLLAK,1992,p.204).E porque estudar narrativas tão sensíveis? Sabemos que os
grupos mesmo vivendo em um mesmo tempo se relacionam de maneira diferente, de
acordo com particularidades muito tênues e a interpretação destas sensibilidades
possibilitam o entendimento do grupo como um todo. Assim,

[...] de certa forma os indivíduos que vivem um mesmo período


não são contemporâneos (...) não se sente as mesmas coisas, segundo
uma série de critérios: o sexo, a idade, a categoria social, o local
geográfico, a tradição, ou a cultura que se recebeu. O historiador da
cultura deve sempre tentar entender essa complexidade, essa
simultaneidade de atitudes muito diferentes segundo os indivíduos e
segundo os grupos.( CORBIN,2005,p.7).

Sabemos que o espaço feminino tem seus próprios eixos e gira em torno deles de
maneira muito delicada, e quando uso a palavra delicada não me refiro , por tratar-se de
mulheres e sim por ser um espaço com tantas lacunas, tantos medos que nascem dos
silêncios já citados, que se torna uma pesquisa repleta de riscos, porém extremamente
gratificante para aquele que nela se envolve.
Gilka Vasconcelos, também deteve parte de seus estudos sobre as mulheres do
sertão goiano, e sua pesquisa remonta especificidades sobre o universo das mulheres,
desde os tempos coloniais,trazendo uma visão retrospectiva das mulheres indígenas,
submissa das escravas africanas, até chegar às mulheres goianas que viveram os anos de
isolamento dos grandes centros.

[...] A mulher, em sua trajetória na terra goiana, atuou intrepidamente,


afrontando os reveses, com suas possíveis debilidades de
momento.Ajudou a construir a sociedade rural, como procriadora,
responsável pela educação de sua prole e trabalhadora em todo serviço
que se lhe defrontava.Labutou na terra,nas lidas domésticas e no
pequeno artesanato, em sua casa, para suprir as deficiências de suas
vidas.Auxiliou a formação de comunidades, centros que objetivaram
desbravar a terra.[...] ( SALLES, 2004, p. 1037)

Tradicionalmente, as mulheres nos séculos anteriores “[...] sempre trabalharam no


campo, e sempre trabalharam mais do que os homens, ganhando menos e obtendo
menos privilégios e direitos legais.” (MURARO, 2002, p.127). Compreendendo então
que as mulheres assim como os homens, agem quotidianamente para melhorar o espaço
de convivência que participa, elaborando atividades que as destaquem, mesmo
reconhecendo que por muito tempo as relações sociais capitalistas, oscilam entre a
crença de que as mulheres mais ajudam do que trabalham ( BITTAR, 1999, p. 18), cabe
então a reflexão “de que não se trata de substituir um gênero dominante por outro, mas
sim de restituir para o centro do processo histórico o conflito e a ambigüidade”
(MALUF apud BITTAR, 1999, p. 19). No esforço então, de restituir às mulheres ao
lugar que por direito de atividades realizadas, de experiências vividas dentro de sua
comunidade, é que o tema trabalhado nesta pesquisa, mais uma vez se justifica.
A literatura pós colonial, mostrou-se mais propensa a narrar as mulheres sertanejas
do que os documentos históricos oficiais, mas os romances eram inspirados já nos
adjetivos às mulheres que iam se firmando no decorrer dos tempos. Por se tratar de
categoria que requer tempo e dedicação além dos objetivos desta pesquisa, a literatura
sobre mulheres do sertão, não será aqui categorizada, e é citada, somente para ilustrar
que ainda antes que pioneiras do feminismo começassem a questionar o lugar das
mulheres na história, a ficção já trazia louros colhidos por elas.
Ao contrário do que possa parecer a história não esperou as conquistas feministas
para dar às mulheres sertanejas o seu lugar em seus registros, nem tão pouco as
mulheres esperaram ser reconhecidas para começarem a atuar nos espaços públicos.
Estavam muito ocupadas no exercício de suas tarefas cotidianas, para que o
reconhecimento destas fossem mais importantes que o fazer que as rodeavam. E é neste
contexto que se encontram as mulheres entrevistadas para esta pesquisa, orientando e
dirigindo a comunidade sem esperar dela o reconhecimento que hoje as tornariam
visíveis. Não se trata por tanto de sentir orgulho do que fizeram, mas agir em pé de
igualdade com o gênero oposto e deixar que a história tome conta de seus feitos, se um
dia assim quiser .
As mulheres do sertão goiano, estudadas por Maria José Goulart Bittar, no recorte
espacial da cidade de Goiás, são narradas em seu livro como grandes parceiras para
construção do lugar, mas não só, elas são colocadas como construtoras da história na
posição de protagonistas. São espaços de direito, restituídos para as mulheres do sertão ,
como forma de preencher lacunas que os silêncios históricos, já descritos e citados por
Michel Perrot, limitaram.

Apesar de as mulheres – particularmente as goianas – ainda serem


sombras quase invisíveis como sujeitos históricos, [...] sua atuação
quotidiana, na maioria das vezes, apresenta caráter improvisador e
desenvolve-se sem espaço próprio, mas não pode ser considerada
menos importante que a do homem. ( BITTAR, 1999, p. 18)

Trazendo para a visibilidade, os vários ofícios de mulheres do sertão goiano na


década de 70, Maria José Goulart Bittar (1999), relaciona as classes sociais a cada
atividade realizada pelas mulheres goianas, que analisou no período. Em sua pesquisa,
a lavadeira, estava nas camadas sociais mais baixas, e através de cantigas , relatavam
suas ocupações e administravam os recursos que recebiam , sendo reconhecidamente
parte de uma identidade matriarcal. Nesta mesma estratificação social, a autora, traz as
carregadeiras de água “ que com o pote na cabeça, transportavam água (potável) o dia
todo” (BITTAR, 1999, p. 41), garantindo também o sustento da família. As viúvas das
classes dominantes, esforçando-se para não perderem o patrimônio deixado pelos
maridos, se ocupam de quitandas e empadões típicos da região, vendendo-os pelas ruas
em elegantes “tabuleiros cobertos por toalhas brancas” 4, garantindo que os filhos
possam estudar fora, e retornar para o interior do Estado com a pretensão de contribuir
com seu crescimento. Este estudo, mostra que as mulheres do sertão goiano,
contribuíram para o desenvolvimento da cidade, através de suas experiências marcaram
profundamente os rumos da economia dos territórios onde viveram, contrariando a
tradição histórica que associou as mulheres à natureza e os homens à cultura, e com isto
negou as primeiras o caráter civil, (BITTAR, 1999, p. 19) . Explorando esta relação em
Goiás, percebe-se de que maneira o papel de sujeito foi retirado das mulheres, ao
mesmo tempo que compreendemos como elas se fizeram ouvir, em tempos de
isolamento , e tornaram possível a restituição de seus lugares na história através de suas
experiências.

Se a inospitalidade em regiões do Sertão de Goiás, o manteve afastado das


conquistas econômicas até a década de 90 (CAVALCANTE, 2004, p. 1023),

4
RODRIGUES. Maria Augusta Calado de Saloma, apud, BITTAR, 1999, p. 41
possibilitaram em contrapartida o fortalecimento das comunidades e a união das pessoas
em torno do próprio desenvolvimento. E as mulheres sertanejas, puderam à sua maneira
orientar o rumo dos acontecimentos, para que os filhos da terra pudessem amá-la e
defende-la, e isto se percebe nas experiências relatadas no próximo capitulo.

2º Capítulo - Narrativas : Fonte Oral (Usando alguns parâmetros para


investigar as falas das mulheres do Sertão goiano)
2.1 Vozes das mulheres do Sertão Goiano: Dados históricos e constatações

Evidentemente, a irrupção de uma presença de falas femininas


em locais que lhes eram até então proibidos, ou pouco familiares, é
uma inovação do século XIX que muda o horizonte sonoro.
Subsistem, no entanto, muitas zonas mudas e, no que se refere ao
passado, um oceano de silêncio, ligado à partilha desigual dos traços,
da memória e, ainda mais, da História, este relato que, por muito
tempo, "esqueceu" as mulheres, como se, por serem destinadas à
obscuridade da reprodução, inenarrável, elas estivessem fora do
tempo, ou ao menos fora do acontecimento (PERROT, 2005, p. 9)

Para Michele Perrot, o silêncio feminino, foi reiterado através dos tempos pelos
dogmas religiosos, pelos sistemas políticos e pelos manuais de comportamento: "aceitar,
conformar-se, obedecer, submeter-se e calar-se. Este mesmo silêncio, imposto pela
ordem simbólica, não é somente o silêncio da fala, mas também o da expressão, gestual
ou escriturária" (PERROT, 2005, p. 10). Isto não quer dizer que as mulheres aceitavam
passivamente estas imposições.
Os reflexos ainda presentes da metrópole, no século XIX, sustentava a idéia de
que não era socialmente aceitável o exercício da escrita e leitura para o sexo feminino,
com a justificativa de que estas perderiam a motivação para os trabalhos do lar, ou seja,
acompanhar os maridos e educar os filhos diante da dedicação que o estudo exigia.
Alfredo Moreno Leitão em sua pesquisa sobre A educação da mulher no Brasil,(2004)
constatou inúmeros documentos onde se justifica a assinatura de outra pessoa no lugar
de quem deveria assinar, com uma ressalva que a outorgante era mulher e não sabia ler.
Neste sentido ser mulher era ser analfabeta. “Assinei para outorgante por esta ser
mulher e não saber ler” (LEITÃO, 2004, p. 50), que também poderia excluir os homens
deste universo iletrado, e tirá-los da responsabilidade de não ter assinado um documento
por serem analfabetos, se são do gênero masculino, já a partir daquela época em que
quem tinha acesso a documentação era a parte letrada da sociedade. A primeira
instituição que ensinou as mulheres a ler no Brasil, foi a que estava gerida por
religiosos, como os conventos. A partir desta informação e levando em conta a época de
que ela é oriunda (século XVIII) as mulheres que começaram a aprender a ler no nosso
país, o faziam a partir dos livros considerados sagrados pela instituição que as ensinava.
Apesar dos movimentos que eclodiam em determinadas partes do país para a
emancipação intelectual das mulheres, já na sociedade contemporânea , na década de
70, a sociedade do sertão do Brasil Central vivenciava outras realidades. Os colégios
confessionais da época que ofereciam aulas para as mulheres, davam maior atenção ao
preparo para reprodução aos cuidados com a postura diante das exigências sociais que
as cercavam e ainda ensinavam como elas deveriam cuidar dos alimentos direcionados a
elas e aos filhos. ( PERROT, 2005 p. 13)
Todos estes fatores mantinham o equilíbrio entre as expectativas masculinas,
socializadas e enraizadas nas gerações anteriores , ou seja, afligidos pela obsessão de
mantenedores e concentrando –se em apenas tarefas práticas, tornando as mulheres,
cada vez mais afastadas da participação financeira da família. ( LEITÃO, 2004 p. 51)
Assim, até meados do século XIX, O papel feminino dentro da instituição ,casamento,
não era o de transformar a realidade em que vivia e sim, manter sua família unida,
alimentada e educada (com os recursos patriarcais).
Felizmente, a idéia de opressão às mulheres,na historiografia passou a ser
considerada retrógada, e mesmo que ainda resista alguns focos deste sentimento, por
ranços e grupos que são considerados machistas ou misóginos, os grandes feitos por
parte do “sexo frágil” estão sendo registrados na história para contrapor estas ideologias
tidas hoje como ultrapassadas.

2.2 Falas – Uma incursão nas histórias e sentimentos das mulheres do sertão goiano

Trazer para este trabalho às análises de entrevistas feitas especificamente para


este recorte, prova a importância das fontes orais. Ou seja, além de considerar o
contexto e o embasamento teórico para o tema em estudo: Mulheres do Sertão, boa
parte desta pesquisa é baseada na versão contada pelas próprias mulheres, que viveram
suas experiências.

“Através da história oral, com suas diferentes versões sobre um


mesmo período, cada pessoa, valendo-se dos elementos de sua cultura,
socialmente criados e compartilhados, conta não apenas o que fez,
mas o que gostaria de ter feito, o que acreditava estar fazendo e o que
agora pensa que fez. As fontes orais são únicas e significativas por
causa de seu enredo, ou seja, representam um caminho através do qual
os materiais da história são organizados pelos narradores”(PARENTE,
2006, P. 300)

É através dessa organização que cada narrador dá sentido à sua realidade, e


encontra o seu lugar dentro da própria história, juntamente com outros que viveram
situações semelhantes. Por isso que a história oral se torna tão significativa e
conseqüentemente foi escolhida para também ser documento desta pesquisa. Sendo
assim, além de escolher esta fonte, optou-se também pela história de vida5 de cada
entrevistada, que permite que as mulheres escolhidas ordenem o que querem relatar,
dentro de um recorte especifico. Assim ao fazer este enfrentamento das vozes com a
bibliografia que embasa o trabalho, é possível apreender a visão e a experiência de
determinadas ações sociais, com base nas definições que estas mulheres têm de si ,
dentro do grupo que estão inseridas.São estes aspectos que procuro destacar neste
capítulo: captar e desvendar os discursos de autonomia que estão presentes nas histórias
de vidas dessas mulheres goianas.
Com direitos sociais diversos, conquistados, no decorrer dos tempos, como por
exemplo, o direito à herança, a negociação de terras ou o direito ao voto é possível
perceber que a vida das mulheres do sertão de Goiás, toma trajetórias distintas das
expectativas sociais padronizadas. Desta forma os preceitos e o discurso sobre os papéis
femininos que estavam sendo disseminados até a década de 70 no Brasil ganhavam
outro tom daqueles que eram solicitados até então.

[...] As mulheres irão se pensar como capazes de constituir carreira


própria e exigir relações mais equilibradas com os parceiros. Estas
novas prescrições, evidentemente não serão assumidas por todas.
Além disso, muitas mulheres irão passar a viver estas novas formas de
feminilidade sem se identificar com o feminismo. [...] ( PEDRO, 2006
p.259)

As mulheres entrevistadas para este trabalho, mostram que continuam sim,


sendo mães e esposas, porém a maneira como são mães e esposas é diferente daquela
que foram criadas , por exemplo. De acordo com as entrevistas orais recolhidas para
este trabalho, e também da bibliografia utilizada,vemos que as identidades humanas são
construídas ao longo da vida, de acordo com o significado social que determinado grupo
entende e dentro de sua própria cultura. Para compreender o lugar de fala destas
mulheres, faz-se necessário trazer alguns dos pontos que as tornaram sujeitos da própria
história.
No Estado de Goiás, nas primeiras décadas do século XX, houve uma grande
ebulição cultural, que já vinha se desenhando desde os finais do século XIX.

“ As transformações ocorridas nas ultimas décadas do século XIX –


jornalismo, teatro, saraus literários e musicais – encontram maior
definição no século XX e proporcionam novos espaços [...] para as
mulheres que passam a se destacar no papel de intelectual” ( BITTAR,
1997 p. 152)
5
“A história de vida é a expressão, não da individualidade ou da singularidade, mas de uma determinada
inserção social” (PARENTE, 2006 p. 301)
De forma que podemos entender que as representações sobre as mulheres
tomaram outros contornos, daqueles que as ilustravam na literatura e em outros espaços
de interação social , para o restante do território. Era tempo de inovar, e a criatividade
atingia a música, com o surgimento da bossa nova ,no começo da década de 70 por
exemplo, que trazia para o público melodias originais de padrão internacionalmente
reconhecido, além de inovações no teatro a literatura as ciências sociais, na arquitetura e
nas artes. Não é claro, sem passar pela aprovação da ordem vigente, afinal estávamos
em época de ditadura militar. As instituições sociais, procuravam pela modernidade
como forma de dar vazão a um público emergente que surgia das camadas médias e
urbanas escolarizadas, dos abrandamentos religiosos, das novas publicações em revistas
para o público feminino (BAZZANESI, 1989 p. 31). Por esse panorama geral pode-se
perceber que o período é muito expressivo para a história das relações de gênero no
Estado de Goiás.
Fato reforçado através da fala de Maria Eloá de Souza Lima, em seus 87 anos
recém completados na época desta pesquisa e que se destaca na sociedade jataiense, por
vários fatores. Um deles, certamente é seu envolvimento político na época do golpe
militar, sendo ela partidária das forças contrárias ao governo e tendo participado
ativamente de manifestos e demais decisões políticas dentro do partido comunista e
também dos acontecimentos políticos locais, fazendo valer o seu direito ao voto, usando
as bandeiras do partido e apoiando os candidatos dê sua preferência. Admirada pela
comunidade do município, e sempre disposta a receber os alunos de várias idades que
recorrem a ela para compor seus exercícios escolares;não há como negar que possui
grande liderança quando se trata de contar a história política no Estado de Goiás, e
também para explicar de que maneira seus pais receberam a noticia de sua participação
nas manifestações contra a ditadura.

[...] os meus pais, fazenda...Sabiam poucas notícias, mas quando tomei


a decisão de entrar para o Partido Comunista, eu avisei a eles, escrevi
um...é chamado manifesto: Porque me tornei comunista6 , esse
panfleto correu o mundo, foi publicado em revista e foi distribuído eu
tinha 22 anos, e eu não perguntei aos meus pais se eu podia...Mas
escrevi depois, encontrei principalmente no meu pai um aliado, minha
mãe era mais indiferente, mas o meu pai foi ((não conclui))... Aí
chegando de volta...Terminada as aulas, chegando em Jataí o
movimento aqui estava tão forte quanto em Rio Verde, encontrei
minhas primas todas na militância, e havia uma candidata à deputada

6
Manifesto na integra, anexo
estadual aqui em Jataí,chamava Izabel Santos, então a gente fazia a
campanha para Izabel, tanto aqui quanto também nas fazendas...7

Mas esta é apenas uma das faces de Maria Eloá, apaixonada por literatura desde
a infância, discorre agradavelmente sobre vários assuntos, provando que sua formação
enquanto professora continua viva em suas atividades, especialmente quando fala sobre
a 2ª Guerra Mundial e a participação brasileira no envio de soldados. A paixão com que
fala deste assunto e a propriedade com que expõe suas opiniões a respeito das
incongruências deste conflito, mostram uma mulher cujo temperamento fora moldado
para exercer grande influência dentro da comunidade, mesmo que ela ignore este fato.
A cidade de Jataí, tem sua própria Academia de Letras e Maria Eloá, fala sobre
suas conquistas nesta área.
[...] Sim, eu sou sócia fundadora, uma das sócias fundadoras e eu
publiquei três livros, o meu último livro alcançou sucesso muito
grande, e eu recebi uma revista do Rio de Janeiro, uma revista carioca,
onde estava publicado o trabalho de um professor de literatura da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele falou do meu livro[...] 8

O próprio isolamento geográfico, das mulheres do sertão goiano, as destaca


intelectualmente, na década de 70; inclusive foi a partir desta época que a Academia
Goiana de Letras , permitiu a entrada de mulheres em seu quadro social9. A exemplo das
senhoras pesquisadas por Maria José Goulart Bittar, (1996) onde este recuo dos grandes
centros urbanos representa aspecto favorável à formação de mulheres intelectuais “uma
vez que dificulta barreiras discriminatórias, irmanando homem e mulher na luta pelo
desenvolvimento cultural de suas cidades” ( BITTAR, 1996 p 159), pode-se dizer que a
formação intelectual de mulheres como Maria Eloá, foi possível por razões deste
isolamento.
Dona Eloá, como é conhecida no município, é exímia contadora de histórias,
explica todas as fases de sua vida como se estivesse contando um romance. Autora de
três livros de literatura que considera quase autobiográfico, relega a responsabilidade do
seu gosto pela leitura à sua mãe que enquanto fiava ia ensinando as primeiras letras aos
nove filhos.
[...] ela não parava o trabalho para alfabetizar o menor, havia um banco
em baixo que ficava perto , ela colocava perto dela, ia trabalhando e
fiando o fio, dando os passos de algodão que a gente ia do balaio ,
fiando e ensinando [...]E ela exigia que os maiores, o que já liam bem,
todos os dias passassem por ela com um texto escolhido (( um texto
escolhido)) que a gente podia escolher a vontade...E lesse em voz alta,
7
Entrevista da aluna com Maria Eloá de Souza Lima, realizada em Jataí em 30 de setembro de 2010
8
Entrevista com Maria Eloá de Souza Lima, já citada
9
Ver: AIRES. Eliana Gabriel , 1996 p. 41
era um hábito.[...] Não sei falar com firmeza o que ela pretendia...Acho
que ela amava a literatura e queria que nós também aproveitássemos
a...(( não completa)) E assim eu adquiri o hábito da leitura bem
pequena. Fui alfabetizada bem cedo e lembro que meu processo de
alfabetização terminou em romance, em romance para melhorar a
leitura ((risos))10

Esta narrativa surgiu da autonomia de Maria Eloá em expressar seus saberes


adquiridos, sendo ela a própria autora de sua experiência a respeito da alfabetização. Ao
trazer para o presente uma experiência vivida na infância, “ [...] fazendo afirmações, e
tomando certos rumos de acordo com sua própria iniciativa [...]” (COLLINGWOOD,
apud SCOTT,1999, p. 32) revela a autonomia em compreender a própria realidade.
Esta sua fala sobre o passado, reflete em outra conquista do presente, pois esta vontade
de estar sempre em contato com as letras, fez com que Maria Eloá buscasse um idioma
universal para comunicar suas histórias para o mundo e não se restringisse a uma
tradução em inglês ou espanhol, desta forma aprendeu o esperanto 11, o que possibilitou
que se correspondesse e mantivesse amizade com pessoas de várias partes do globo,
como Alemanha, Eslováquia e outros mesmo sem falar uma palavra nos idiomas
oficiais destes países. Portanto trazer o começo de sua experiência em alfabetização de
maneira simples com a mãe ao pé de um trabalho manual, ela mostra onde chegou com
aquele saber. Entre todas as coisas que se dedica atualmente, está o ensino do esperanto
para grupos de pessoas de todo o Estado, seu desejo é que cada vez mais pessoas
possam se comunicar através deste código lingüístico e incansável sempre propõe novos
cursos para a secretaria de educação do município oferecendo sua própria casa como
local de estudos, demonstrando que este é um dos seus principais objetivos. Em sua
narrativa mostra que nem em sua prática para aprender o novo idioma deixou de ser
perseguida pela ditadura:
Então eu aprendi pelo rádio, depois eu encomendei as apostilas e logo
a gente mudou para cidade que era onde minha filha também ia para
escola né? Eu tinha ensinado bastante pra ela antes de entrar na escola
e o movimento “esperantal” estava muito bom, até quando aconteceu o
golpe armado, aí nós os esperantos do mundo inteiro foram
perseguidos. Na Europa era o nazismo, mais o fascismo, e no Brasil os
anos da revolução a gente parou um pouco com a correspondência, nós
tínhamos correspondência em todos os países que a gente quisesse a
gente conseguia endereço...Então eu fiz questão mesmo para fazer um

10
Idem nota 8.
11
O esperanto é um código lingüístico criado para ser utilizado por todas as nações do mundo, “Seu
iniciador, Ludwik Lejzer Zamenhof, publicou a versão inicial do idioma em 1887, com a intenção de criar
uma língua de muito fácil aprendizagem, que servisse como língua franca internacional, para toda a
população mundial (e não, como muitos supõem, para substituir todas as línguas existentes).” –
( Definição retirada do endereço eletrônico da Liga Mundial de Esperanto -
www.esperanto.org.br/ ultima visita em 10/11/10 á 18:01)
teste com o esperanto dizem que não entendem muito bem, então
vamos ver né? Escolhi para corresponder pessoas do leste europeu, no
leste europeu cada país tem sua própria língua, mas todas aquelas
línguas tem a mesma origem, são também chamadas de língua eslava,
então eu não quis francês , nem italiano, nem alemão também...Mas
alemão é uma língua germânica né? Mas os povos de língua eslava não
tem nada, nada a ver com a nossa língua, a deles é outra história12

Mesmo sem contar com fundos de investimento para tal empreita, Maria Eloá, já
formou três grupos de Esperanto no Estado, que de acordo com ela são agentes
multiplicadores, e disseminam a linguagem em seus locais de origem. No final da
entrevista, esta senhora de 87 anos, aproveitou a presença de minha acompanhante que
trabalha na subsecretaria do município e articulou a abertura de novos grupos, com o
apoio desta instituição. Com muitos planos, Maria Eloá esta longe de pensar em parar,
com o seu fôlego, espero poder entrevistá-la e registrar suas conquistas em um próximo
estágio desta pesquisa, no mestrado.
Historicizar as experiências das mulheres entrevistadas é “refletir criticamente
sobre a história que escrevemos a seu respeito, ao invés de basearmos nossa história
nela” ( SCOTT, 1999, p. 40) portanto, como uma das questões da pesquisa, é identificar
de que modo nos afazeres considerados comuns e nas interações que realizaram e
realizam aparece o discurso próprio de autonomia, de destaque, onde estas mulheres
passaram a dar-se suas próprias leis em vez de recebê-las por imposição ( SOUZA,
2008, p. 69), é imprescindível trazer experiências que possam justificar sua atuação
independente dentro da comunidade. Desta forma surgem para as entrevistadas as
questões sobre trabalho, entendidas aqui , como aquele que é realizado dentro ou fora de
casa e sobre seus sentimentos em relação a estes espaços. Como exemplo, trago a fala
de Maria Lúcia Zaidem Rezende, moradora de Jataí, hoje com 69 anos, que entre muitas
experiências de vida, narra suas ações familiares e a vida confortável ao lado do marido
dentista no município , mesmo sem necessidades financeiras graves, quando
questionada sobre se guardava algum arrependimento por não ter escolhido trabalhar
fora de casa:

(...) depois assim eu até arrependi, eu podia ter feito alguma coisa, porque hoje eu vejo
que faz falta né? A gente às vezes passa dificuldade por causa de uma coisa e faz falta
talvez se eu tivesse um trabalho assim, mas antes eu nunca tive, talvez se eu tivesse
assim...((não conclui)), e também parece um pouco que os maridos achavam que a
mulher não precisava né? Trabalhar fora... Falava também... “Pra quê, não precisa
não...Tem que cuidar é de casa, dos meninos...” Então parece que a gente acostumou

12
Entrevista com Maria Eloá de Souza e Lima, já citada
com aquilo e adaptou e foi, mas hoje eu vejo minhas filhas trabalham, minhas noras,
todas trabalham fora,(...) ai é outra coisa...13

Esta percepção do lugar de onde fala e do lugar que esta falando, permite
algumas constatações. O passado é o lugar onde certas atitudes eram permitidas, como
por exemplo não trabalhar fora, pela necessidade de cuidar da casa e dos filhos, mesmo
que financeiramente a família pudesse empregar alguém para fazê-lo, enquanto o
presente é o lugar das filhas e das noras, onde a carreira e a independência são
importantes. Ao mesmo tempo em que há a conformação de que o que estava posto e
apresentado era aceito por costume: “Mas assim, a gente acostumou desse jeito..Então
não sente...”14
Mais adiante durante a entrevista é possível perceber onde estão as alíneas de
sua narrativa sobre os saberes domésticos que transformou em trabalho remunerado.
Maria Lúcia, aprendeu com a mãe descendente de árabes a fazer quibes artesanalmente,
a vida toda este saber estava presente nas reuniões familiares, mas o fato do acordo
entre seu companheiro e ela ser o de cuidar da casa e dos filhos, não permitiu que usasse
esse saber e transformasse em atividade lucrativa. Mas ao longo do tempo, o que era
uma atividade doméstica passa a ganhar novos significados, a permissão não era verbal,
simplesmente não foi dito, agora que os tempos mudaram, você pode trabalhar, o
consentimento era social, as mulheres com talento, assim como os homens , podem se
destacar na sociedade e contribuir com o melhor,

“ [...] na construção de si como mulheres independentes,


autônomas ...Seguindo as prescrições da época, cada uma destas
mulheres contou com diferentes elementos.Umas contaram com apoio
familiar, outras contaram com entraves e, ao que parece, se
constituíram no âmbito destes enfrentamentos.” (PEDRO, 2006, p.265)

Assim da memória da infância e do saber adquirido pela experiência, existe a


realização pessoal, baseada em sua autonomia que quer dizer “ a condição de o
individuo ser sua própria autoridade” ( COLLINGWOOD, apud SCOTT, 2006, p. 32)
as mulheres passam a realizar-se financeiramente, com ou sem apoio social. Da
experiência de Maria Lúcia, surge o despertar para autonomia financeira, retomada de
sua independência, através de um saber da infância.

13
Entrevista da aluna com Maria Lúcia Zaidem Rezende, realizada em Jataí em 30 de setembro de 2010.
14
Idem nota 7
Achava bom, na hora de fazer quibe, ficava todo mundo brigando para
moer né? Ajudava a moer o quibe, espremer o trigo...Tinha que
espremer, hoje a gente não espreme mais, hoje a gente já lava ele e
põe pouquinha água só o tanto dele inchar e pronto acabou...Não
precisa espremer... Aí eu fico fazendo uns biquinhos dentro de casa,
para ganhar alguma coisa, um quibe, faço uns quibes pra vender para
ganhar um dinheirinho extra né?15

Sem abrir mão dos seus papéis tradicionais, mas ao contrário, reforçando-os,
Maria Lúcia, mostra que o seu cotidiano doméstico adquiriu visibilidade e obteve
reconhecimento além do grupo familiar. Suas habilidades foram divulgadas pelo grupo
ao qual pertence, e obteve sucesso pela qualidade do serviço que poderia prestar e pela
valorização deste. Este lugar conquistado por Maria Lúcia poderia ser considerado um
não conformismo com uma situação de invisibilidade e de desvalorização dos serviços
doméstico, onde a atuação se dá sempre nos bastidores? (BASSANESI, 1989 p.
42).Mesmo que o trabalho das mulheres dentro do espaço doméstico, tenha sido na
maioria das vezes pouco valorizado, “é evidente que possuía significação rural em
Goiás e lhe conferia autonomia, base de decisão e poder” (CAPEL, 2004, p.1189).

As diferenças entre as criações dos filhos homens e das filhas também marca um
dos pontos da entrevista com Maria Lúcia Zaiden , quando pergunto a respeito da ajuda
que seus irmãos homens, davam em casa, ela responde...

[...] Os meninos dificilmente...Eu não me lembro assim, de ver meus


irmãos ajudando assim não, dentro de casa não... Ajudavam...Aí saíam
com meu pai. Meu pai tinha um “caminhãozinho” , viajava pras
fazendas aí o mais velho já viajava com ele, já ia dirigindo ajudando, aí
saía com meu pai ajudava meu pai com o caminhãozinho viajava pras
fazendas, aí o mais velho já viajava com ele, já ia dirigindo ajudando, e
a gente ficava em casa [...]16

Percebe-se que nesta, assim como em muitas outras famílias, aos filhos homens
era dado o legado do pai, o fazer do espaço público, de viajar, de se aventurar. Às filhas
mulheres, orgulhavam-se de compreender o espaço da mãe, aquele que seria o seu
próprio espaço no futuro, com um companheiro, tudo delineado de acordo com
expectativas muito especificas, sobre a casa e as responsabilidades sobre ela.

Esta acolhida feminina, é uma forma de poder. A mãe dá de comer do


seu próprio corpo,alimenta a criança dentro de si e depois com o seu
leite, com o preparo da alimentação necessária à sobrevivência do
individuo em toda a vida.Para Canetti ( 1985, P. 220), esta atitude,
aparentemente altruísta, representa uma forma de poder perfeita e
15
Idem nota 1
16
Entrevista com Maria Lúcia Zaidem , já citada
plena, a que inclui a digestão como fenômeno central, e que lhe
confere vigor e direitos de soberania ( CAPEL, 2004, p. 1184)

Neste contexto a autora reforça através de seu referencial teórico citado


(CANETTI, 1985), que não há forma mais intensa de poder. Reforçando sobre o fato de
que os grupos não pensam da mesma maneira, mesmo se inseridos em um mesmo
tempo e espaço, (CORBIN, 2005,p. 7) algumas mulheres desta pesquisa não enxergam
o espaço doméstico do mesmo modo que Maria Lúcia, ou da mesma maneira que
Heloisa Capel cita em seu artigo Cozinha como espaço de contrapoder feminino ,
(2004) , para elas, este espaço da casa é o lugar invisível, onde tudo que é feito, é refeito
minutos depois sem que ninguém se dê conta ou agradeça. Aproveitando então que as
relações de gênero e trabalho tiveram suas primeiras modificações significativas, na
segunda metade do século XX ( COSTA, 2007 p. 535) com o surgimento de novas
profissões e carreiras , as mulheres goianas, se inserem no mercado de trabalho, por
realização pessoal e busca de melhor qualidade de vida para seus dependentes.
Maria Aparecida Silva Ferreira, 69 anos ,também Jataíense, mas que viveu boa
parte de sua vida na zona rural do município, sempre foi muito inquieta, talvez por ter
começado a trabalhar muito cedo. Órfã de pai e mãe, a tia que a criou juntamente com
os outros 4 irmãos, precisou colocá-los para trabalhar nas casas de família para que
tivessem comida e roupa e ainda conseguissem estudar, e assim, com apenas 10 anos,
Cida como é chamada pelos íntimos, já conhecia o valor das coisas, e o que era uma
necessidade acabou se tornando satisfação pessoal. Quando teve a oportunidade de
ingressar no mercado de trabalho, arranjou motivos e trabalhou por 14 anos em uma
empresa, exercendo a profissão que aprendeu na casa da família que trabalhou durante a
infância, costureira. Ao formar sua própria família, e notar que poderia utilizar-se dos
saberes aprendidos em suas primeiras experiências com o trabalho, ainda na infância,
assim o fez, percebendo que os dois adultos da casa, poderiam trazer dinheiro para o
sustento de todos.

[...] quatro filhos, só com uma cozinha e uma sala” Não dá né? Era
aquela dificuldade, era com beliche, ixiii! Aí vim pra cá, minha casa
não era boa não, mas eu tinha espaço cabia meu s filhos tudo. Aí
quando eu vim pra cá ((para casa que mora agora)) eu pensei “Agora
eu preciso trabalhar para ajudar este homem a pagar esta casa” ((
risos))... Costurava para fora também, e outra coisa não tinha energia,
eu costurava de lamparina de vela, que eu não dava conta, naquela
época parece que quase ninguém comprava roupa feita, todo mundo
tinha uma roupinha, um paninho para mandar a gente fazer.Sempre
tinha costura...Aí a Nilma ((amiga)) falou “Ah, não este serviço seu é
muito difícil, e era assim, você tem que ter a hora certa de entregar
isso, às vezes as pessoa prova e não é daquele jeito, vai você consertar
de novo, vamos trabalhar na fábrica...E foi [...]17

Com as mudanças nas relações entre os gêneros, foram mostrando novas


possibilidades para as mulheres do campo, e elas se deram conta do quanto seu trabalho
era necessário para manter a terra produtiva, e auxiliar no orçamento doméstico, aos
poucos perceberam e ainda percebem que suas mãos faziam mais do que “só cuidar da
casa”, elas - “as mãos” - mantinham tudo em ordem para que a casa, e o que decidiram
viver enquanto famílias, permanecesse de pé .Os homens percebem que o auxilio das
companheiras, das filhas e noras, no sentido da família nuclear, sempre foi de muito
trabalho. Especificamente no mundo rural em Goiás,

[...] haverá um equilíbrio entre o setor público e provado. Dessa forma,


haverá uma complementaridade entre as tarefas femininas e
masculinas.Enquanto os homens cuidam da lavoura e do gado, as
mulheres serão os pilares dessa atividade, exercendo ainda um trabalho
complementar, o que lhes confere status social e poder.[...] ( CAPEL,
2004, p. 1186)

As mulheres desenvolvem sua autonomia no decorrer dos tempos levada por esta
administração que faz no seio familiar e posteriormente é respeitada pela comunidade
pelas decisões que tiveram que tomar diariamente, sendo inclusive responsáveis por
trabalhos no espaço público que a priore eram considerados masculinos. (BASSANEZI,
1989, p. 27). Esta mudança de posições faz com que as famílias percebam que o
destaque das mulheres da casa, reverbera no sucesso financeiro de todos os que delas
dependem.
Quais os sentimentos presentes sobre a aprovação familiar das iniciativas de
trabalho? As inserções femininas do mundo do trabalho são marcadas por progressos e
atrasos (BRUSCHINI, 2007, p. 538), as disparidades no que se refere ao aumento da
participação feminina no mercado de trabalho em contraposição ao alto índice de
desemprego de mulheres e a má qualidade da mão de obra feminina, versus o acesso a
carreiras e posições de prestigio por parte de mulheres escolarizadas esbarram
diretamente aos alarmantes números de trabalho informal por parte daquelas que não
passaram pelo mesmo processo.
Diante dos discursos sobre independência feminina, sucesso das mulheres, estas
mulheres do sertão de Goiás também descobrem o suporte familiar para compreender
17
Entrevista da aluna com Maria Aparecida Silva Ferreira, realizada em Jataí em 01 de outubro de 2010
quem são dentro desta nova realidade. Para Irani Rezende, professora aposentada, de 76
anos, nascida em Caçu, interior de Goiás, esta aprovação não partiu exatamente de um
membro consangüíneo, e em sua entrevista narra sobre quem lhe deu incentivo para
buscar os estudos e conseqüentemente uma carreira.

[...] meu pai era uma pessoa ótima, muito trabalhador, mas era limitado, já o
meu padrasto tinha visões, assim, mais longe...Então ele pensava que a pessoa
tinha que estudar, e tudo...Então para o meu pai já era diferente, quando eu já
estava moçinha, depois nas visitas assim dele, porque eu fui para casa da
vovó pequena, depois pra minha mãe pequena também, então ele achava que
não, que moça tinha que completar não sei quantos anos, aprendia a cozinhar e
pronto e ficava fazendo as coisas e tinha que casar. Já o meu padrasto era
diferente [...]18

Interessante notar, na fala de Irani, que ela enxerga em seu padrasto um homem
visionário, e no pai uma pessoa limitada,por pensar nos papéis sociais, para as mulheres,
gestados dentro do patriarcalismo. (BASSANEZI, 1989, p. 28). Assim como muitas
outras mulheres, pensando na construção de si mesma de forma diferente da que estava
posta socialmente na criação de seus pais, Irani, respondeu aos pedidos do padrasto e
saiu da zona rural, ainda criança para estudar na cidade. Esta sua escolha, já que ela
pôde escolher entre o que o pai queria que fizesse e a sugestão do padrasto, possibilitou
que abrisse sua própria escola quando retornou aos 17 anos para a fazenda de sua
família, podendo oferecer ensino para as crianças da zona rural sem que estas tivessem
que sair de suas casas, como ela teve já que não contou com a mesma estrutura que sua
família ofereceu a outras crianças. A confiança que o padrasto depositava em sua
formação era confirmada pelos instrumentos que ofereceu a enteada para desempenhar
sua profissão, e se realizasse com ela. Vendo-se autônoma, muito cedo para os padrões
da época, Irani, se mostra uma pessoa feliz e muito comunicativa, falando de suas
descobertas na cidade, quando ainda muito ingênua para a estrutura que encontrou no
internato que estudava, esbarrou em certas curiosidades.

[...] lá naquela época não tinha sanitário dentro de casa...tinha não, tinha era lá
no fundo, então a gente não conhecia. O primeiro que eu fui conhecer foi lá no
colégio, né? Eu olhando assim, a moça veio pra perto, uma moçinha que eu
nem lembro mais qual é, e disse: “Isso aí é pilão pra fazer paçoca pras internas”
desse jeito pra mim, abusando de mim né? (( risos)) Hum! Pilão de fazer
paçoca pras internas, de pilão eu entendo de todo o jeito que você pode
pensar.Pilão de mão, pilão de monjolo,de todo o jeito eu sabia, eu conhecia ((
risos)) De água não é. [...]19

18
Entrevista da aluna com Irani Rezende, realizada em Jataí em 30 de setembro de 2010
19
Entrevista com Irani Rezende, já citada
Esta maneira bem humorada de tratar as questões mais intimas que vêm a tona
no decorrer da entrevista, e que foram percebidas em todas as mulheres que entrevistei,
mostram que as senhoras do interior do Estado, enxergam com muita graciosidade o que
as pessoas urbanas desconhecem sobre elas.O respeito ás diferenças se dá ainda nas
entrevistas, quando digo desconhecer algum termo que elas utilizam, sempre há
disposição para explicar o que significa a palavra que não é familiar para quem não
convive com estas singularidades. Assim aconteceu quando Maria Lucia e Irani
sentiram necessidade de explicar sobre determinado vocábulo:

Lúcia Zaiden: Pelego, você sabe o que é?


Shirlei Romano : não, não...
Dna Irani Rezende: Pelego aquilo que põe em cima do cavalo, pra amaciar o arreio...
Shirlei Romano : Tipo um paninho , assim (( toco em uma almofada que está próxima onde estou
sentada)) ?
Dna Irani Rezende: Pano? É de lã, assim ó (( gesticula como se fosse algo com uma textura bem grossa)),
é tipo uma lã colorida...
Márcia Almeida20: É a mesma coisa, que se você pegasse um carneirinho e abrindo ele...
Ele fica “maciinho” daquele jeito...
Shirlei Romano : Só que colorido...
Dna Irani Rezende: é feito daquilo, é feito do couro do carneiro...Lava ele, escova...

Esta sensação de ser estrangeira na própria terra reforça a necessidade de


interpretação destas falas, bem como justifica a relevância deste trabalho, em fórum
mais intimo para a autora, compreender quem são as mulheres que compõe o sertão
goiano e onde estão presentes seus discursos que revelam sua autonomia diante de suas
atividades.
Uma das entrevistadas Bernadete Salto, 76 anos, sentiu o estranhamento de
pertencer a outro território, assim que chegou ao sertão goiano, para cumprir sua função
como missionária católica. Apesar de não ter nascido em Goiás, sua entrevista foi
escolhida como fonte deste trabalho por refletir as aspirações de independência e
autoridade que se quer tornar visível, mas também por Bernadete ter superado as
questões do estrangeirismo, quando aos 20 anos chegou em Jataí para dirigir uma
instituição de ensino.

20
Subsecretária de educação do município que me acompanhou nas entrevistas das mulheres de Jataí e
entorno.
Eu vim pra cá ( Jataí), porque a gente é igual soldado né? Na hora que
precisa estar em um lugar vai. Então eu vim pra cá porque estavam
precisando de uma diretora para o Instituto São José, eu estava na
faculdade ainda não tinha terminado. Para começar, quando entrei no
convento estava no 4º ano de conservatório de piano, tive que parar. Aí
entrei na vida religiosa, porque tinha começado a faculdade e o
conservatório de piano, piano já estava no 4º ano. Agora você pensa há
56 anos atrás que jeito que era a vida religiosa né? Bem quadrada.21

Bernadete é um desses exemplos de mulheres que andam na contra mão do


próprio destino, sua vida confortável no interior de São Paulo, onde era instruída nos
melhores colégios, com direito a aulas de piano, um luxo para época, não a atraía tanto
quanto viver intensamente o que sempre acreditou ser sua vocação: A vida religiosa,
mesmo sendo uma “vida quadrada”, como ela mesma denomina, nunca pensou em ter
outra vida “Nunca pensei em desistir” .Assim se tornou Irmã Bernadete, “soldado”
como diz ,indo aqui e ali quando necessário, e curiosamente ao chegar a Goiás não
procurou nenhuma outra missão fora deste território, trazendo seu conhecimento a
serviço do Estado, até os dias de hoje. Sua atuação não ficou restrita aos templos
religiosos, e além do colégio que administrava para a igreja, também se envolveu com
uma campanha para auxiliar pacientes com hanseníase22. Promovendo entre outras
coisas, doações para as famílias dos internos e festas que reiteravam a dignidade dos
pacientes. Entre suas atividades dentro da Vila dos Hansenianos, como será chamada o
local reservado para o cuidado com os doentes , está o

[...] domingo de visitas das famílias dos doentes...E sexta feira eu fazia
a celebração da palavra. A maioria da comunidade era católica, mesmo
que não fossem católica eles iam, falavam que gostavam da missa da
irmã. Missa,ói? Não era missa...A gente celebrava...Falavam : Irmã eu
gosto da missa da senhora, eu posso ir? - Pode ir ué? – Na minha
igreja não tem missa, irmã...Tem só culto...Eu falava- Ta bom, então
vai na minha missa.- Eram evangélicos, mas iam lá participar da
celebração da palavra,então fazia a celebração da palavra, dava
comunhão pra eles e no final do ano eu comecei a fazer...Natal. No
final do ano e na páscoa, comecei a fazer o movimento do Natal, fiz
uma lista de gêneros alimentícios que deve conter na cesta de
natal...Então...põe tudo que pode ter na cesta e pode ser acrescentado
outros contanto que não sejam gêneros perecíveis né? Porque o pobre é
assim: Ele recebe esta coisa aqui(( gesticula com um objeto para
exemplificar)), ele vai na sua casa para ver se na sua tinha aquelas
coisas que tinha na dele, ou se na sua tinha a mais.Então tinha que por
arroz, feijão, bolacha, biscoito ou biscoito de doce, biscoito de sal,
21
Entrevista da aluna com Bernadete Salto, realizada em Jataí , no dia 01 de outubro de 2010.
22
“A hanseníase é causada por um micróbio (o bacilo de Hansen), que além de atacar os nervos
periféricos, a pele e a mucosa nasal, pode afetar outros órgãos como o fígado, os testículos e olho.”
( definição encontrada no endereço eletrônico da Associação de Assistência aos Hansenianos no Brasil –
http://www.hansenianos.org.br (ultimo acesso em 14/11/2010 ás 15:23)
bala, pirulito, tinha lá as coisas que você punha em todos, iguais,
iguaiszinhos os gêneros...Agora, uma casa que tinha cinco pessoas...Aí
embrulha, aí eu faço um cartão de natal com o nome da pessoa, por
exemplo vou citar um nome lá: Jacinta Moraes, é uma doente, aí em
baixo eu ponho assim: Seus padrinhos são, fulano e fulana[...]23

Esta percepção que Bernadete tem das pessoas que ajudou com seu trabalho,
mostram como organizava suas atividades para atender quem necessitava, ao mesmo
tempo em que administrava de maneira firme, as doações, para que estas pudessem
servir à todos. Ninguém pediu à Bernadete que fosse a Vila dos Hansenianos, esta era
sua missão pessoal, a atividade que ocupava seus finais de semana e outros instantes em
que não estava na direção da escola. Nesta atividade estava sua marca, mesmo diante do
dogma religioso que fazia parte de suas escolhas, não impunha limitações à caridade
que poderia fazer e ao apoio que poderia dispor para comunidade. Escolheu sozinha,
pensou por si e “pensar por si mesmo, significa ser dono de seus próprios pensamentos,
uma relação de propriedade que garante a independência de um individuo [...]”
( SCOTT, 1999, p. 33). Por isso Bernadete traz esta marca de liberdade. Surpreende a
idade que a freira começou a pintar quadros, 60 anos, e ainda mais quando no decorrer
da entrevista contou que suas obras já a haviam levado para exposições em vários países
da Europa, despertando nela a vontade de aprender francês, língua que hoje domina e
que aprendeu aos 72 anos. As artes plásticas surgiram em sua vida depois de um
infarto, cujo pós operatório recomendava distância de situações estressantes. Quando o
médico perguntou o que mais poderia fazer para se distrair, que não envolvesse contato
direto com conflitos, ela respondeu

Ah, eu sempre gostei de trabalho com as crianças, fazia “dezenhinho”


para eles, fazia versinho [...]Aí ele falou “ Então vai e começa a pintar”
– E eu comecei a pintar. No primeiro ano que eu fiz a pintura eu fiz
uma exposição, fiz 26 telas, só que fiz 26 telas pequenas, umas assim ((
faz gesto para exemplificar o tamanho)), outras um pouquinho maior,
das 26 eu vendi 22, eu vendi quase todas, fiz ali na câmera dos
vereadores. (( na câmera de vereadores da Cidade de Jataí)) Aí
quando voltei para Goiânia, que eu ia pra lá de três em três meses para
fazer retorno, eu falei “ Doutor o que que o senhor quer que eu pinte
para o senhor?” – ele me chama de italiana, porque eu sou descendente
de italiano - “ Olha, italiana, pinta pra mim, aquilo que seu coração
naquela hora tiver querendo pintar, que tiver gostoso para você fazer,
você faz pra mim”- Aí eu fiz uma paisagem pra ele sabe? Aí eu deixei
lá no consultório dele e ele falou “ Ah, se você soubesse, essa
paisagem, quanto bebê chorão já vieram chorar para mim aqui”- que
fizeram a mesma cirurgia que eu fiz, e tava agoniado né? Aí ele fala
“Olha sabe quantos anos tem a pessoa que fez esta tela? Sofreu a
mesma coisa que você, muito mais grave...” aí eu falei “Ah, bonito ?
Usando minha tela têm que me pagar um cachê.
23
Entrevista com Bernadete Salto, já citada.
Desta exposição muitas outras vieram24, e a partir dela um ex aluno que havia
estudado na escola que Bernadete dirigia, veio da Europa visitar a mãe e pediu para
levar fotos das telas da irmã para inscrever em um concurso. Um ano depois a ligação
que a convidava para expor em vários países europeus.

“Irmã, a senhora passou no concurso, já dei o dinheiro que deve deixar


de depósito na exposição em seu nome, a senhora pode arrumar sua
mala e vir, a senhora tem passaporte não tem?”- falei – “ Tenho.” – “
Como é que eu vou? Você pensa que é como daqui a Caiapônia ir aí?”
– “ A senhora fica aqui no meu apartamento, só que a senhora vai
pagar da seguinte maneira, vou mandar o dinheiro no seu nome, a
senhora vai arrumar roupa, mala, arrumar passaporte e trazer minha
mãe junto”25

Os eventos da vida de Irmã Bernadete, a levaram até as artes plásticas, afinal se


não fosse o cargo de diretora em instituições de ensino por tantos anos, o trabalho
voluntário na Vila dos Hansenianos, e os percalços que enfrentou, seu corpo não teria
desencadeado o problema no coração, e ela não começaria a pintar. Ironicamente se não
tivesse vivido todas as experiências que narrou, talvez não tivesse inspiração para levar
a sua arte adiante. Sendo suas obras, um reflexo de sua história de vida.
Estas experiências relatadas,

[...] objetivam o que comumente é abordado de forma abstrata como


isolamento, abandono, dificuldades de comunicação, locomoção,
tratamento médico, acesso à educação [...]. Ao relatarem suas
experiências, rompem com essa força das palavras que fundam as
leituras sobre o sertão de Goiás. (CAVALCANTE, 2004, p. 1033)

Dejenetriz Alves dos Reis , é uma das senhoras mais novas cuja fala trago para
esta pesquisa.Aos 63 anos, nascida em São Luiz de Montes Belos, sua história de vida, é
cercada de muito trabalho e é interessante perceber a satisfação com que fala a respeito
de seus afazeres no campo, seja nas plantações ou nas ordenhas, ou nas descobertas que
fez sobre culinária, corte de cabelo, tudo isto sem curso algum. “Fazia, tudo!
Penteava[...] Fazia unha, aí fazia biscoito para festa de casamento, fazia tudo, tudo eu
fazia um pouco...Eu costurava, então, minha vida foi essa, trabalhar, e trabalhar...”26

24
Convite e foto da exposição no anexo -
25
Entrevista com Bernadete Salto, já citada.
26
Entrevista da aluna com Dejenetriz Alves dos Reis, realizada em Goiânia, no dia 11 de outubro de
2010
As mulheres das classes mais baixas, tiveram e têm até hoje até mais de uma
jornada de trabalho, em casa e no trabalho Sempre estiveram presente com sua mão de
obra tanto no setor privado, quanto no público, mas somente o trabalho dos homens era
considerado produtivo, e suas interações com o mundo do trabalho eram consideradas
reprodutivas. (MURARO, 2002, p. 127). Apesar disto em todos os momentos históricos
em que atuaram, assim como os homens que são colocados nos livros didáticos, as
mulheres se destacaram, seja na idade média questionando sua sexualidade e sofrendo
as conseqüências na fogueira, ou quando tomaram a Bastilha tendo papel decisivo na
Revolução Francesa. Importante destacar a atuação de Olympia de Gouges neste evento
histórico onde redigiu a Declaração de Direitos da Mulher e foi decapitada por ter sido
interpretada como subversiva. Esta ilustração histórica foi trazida para representar que
as mulheres e o mundo do trabalho e seus direitos em relação a ele, estão conectados
por fios históricos, e estes fios são sentidos em um grau ou outro pelas mulheres
entrevistas, como no caso de Dejenetriz que enxerga no trabalho o lugar de exercer sua
autonomia e liberdade,
Para ganhar o sustento né? E graças a Deus minha filha, por isso que
eu falo a mulher que trabalha ela sobrevive, porque homem não é tudo
não...Até hoje eu trabalho então a gente conversa, ó, o esposo da gente,
não é desfazer do marido, mas o esposo da gente é o seu emprego,
porque aquilo ali você sabe que...((não conclui)). Agora marido não,
marido te trai aqui, te trai ali, quando você pensa que está tudo bem , já
separa, eu já vou fazer quase cinqüenta anos de casada... Mas minhas
irmãs tudo nenhuma tem marido e assim vai...E eu até hoje tem dia que
eu acho que eu fui sem vergonha, não sei porque eu nunca conformei
de criar meus filhos sozinha...Meu marido aprontou demais, demais
demais... Eu pensava assim: “ Eu vou vencer” E agora hoje já é
diferente, então hoje eu já sei porque eu trabalho e eu nunca
dependi...27

O trabalho ,nas residências ou em lugares privados, sempre fez parte da vida das
mulheres (MURARO, 2002, p 129). Podemos citá-las como trabalhadoras de produtos
têxteis, incluindo a manipulação de fios, tecidos, rendas e bordados, especialmente as
peças de vestimentas. Atualmente as mulheres ocupam todos os espaços, apesar dos
muitos conceitos que variam por questões especificas, como território, classe social etc,
não podemos afirmar que existem profissões, hoje, exclusivamente femininas e outras
somente do universo masculino. No sertão goiano, esta realidade aparece na
autobiografia de Maria Eloá, que ao narrar um encontro com sua avó, traz as lembranças
que fazem parte destas relações de gênero no território estudado.

27
Entrevista com Dejenetriz , já citada.
[...] nunca gostei de homaiada pelo terreiro da minha cozinha onde
acho que é lugar das mulheres.Homem na porta da minha cozinha ou
no fundo do meu quintal, só quando eu chamo pra matar um capado,
sangrar uma leitoa, pegar algum frango, ou tirar fruta do pé. Só com
minha licença. Sou sistemática e não gosto de dar dessas liberdades na
minha casa [...] ( LIMA, 1988, p.39)

Nesta mesma perspectiva sobre a ocupação de homens e mulheres nos espaços


familiares, faz-se necessário retomar fragmentos da fala de Maria Aparecida de Jataí,
sobre a criação dos filhos e de que maneira os filhos homens, eram convidados a
participarem da vida doméstica.

[...] Vou te falar a verdade aqui em casa os meninos cozinham melhor


do que as meninas...Porque as meninas, (( para nesta parte para
explicar)), era assim, depois que eu voltei para cidade que eu fiquei pra
cá, eu fui trabalhar fora, fui trabalhar...Eu era costureira, e fui trabalhar
em fábrica de jeans e eu levantava de manhã, as meninas estudavam de
manhã e os meninos estudavam a tarde, aí eu arrumava tudo, deixava
as coisas prontas, deixava até a carne temperada, sabe? Aí os meninos
pegavam e faziam o almoço. Quando as meninas chegavam, o almoço
estava pronto[...]28

Desta forma, os meninos aos oito e dez anos de idade, eram incentivados a
cuidar dos horários do almoço, para que a rotina familiar pudesse seguir, com pai e mãe
no mercado de trabalho, sem prejudicar os estudos dos outros irmãos, e os próprios. Vê-
se que nesta organização familiar não se pontua as máximas dos lugares de homens e
mulheres, sendo este lugar um terreno flexível de acordo com a estrutura familiar
necessária para o bem comum . Mesmo com estas posições assumidas pelos filhos
homens , o reforço da história como se esta fosse estranha ao ouvinte, mostra a
percepção do individuo em relação ao que é diferente do comungado socialmente. Em
outro trecho da entrevista quando cita um dos filhos homens já casados, o mesmo que
na infância tinha que preparar o almoço para as irmãs, Maria Aparecida sublinha uma
situação que destoa dos papéis sociais ditos por exemplo pela avó de Maria Eloá, [...] na
casa dele quando tem um convidado, assim que vai fazer um almoço uma coisa assim
mais diferente, a mulher dele fala “Ah, não ! Você tem que me ajudar a fazer o
almoço!” É, ele é melhor cozinheiro do que ela [...]. Ao ressaltar que o filho é melhor
cozinheiro do que a nora, a entrevistada está na verdade, dizendo o quão surpreendente
que no espaço doméstico, homens cozinhem melhor do que mulheres.
Quando fala de sua experiência como mãe, na década de 70, no sertão goiano e
relaciona com os tempos de hoje, as diferenças são muitas, a começar pela alimentação,
28
Entrevista com Maria Aparecida já citada.
“ [...] olha no tempo dos meus filhos, tomava era leite de vaca, minha filha, leite de vaca
com polvilho de araruta, com maisena. Fazia aqueles mingau, era isso que meus filhos
tomava [...] a alimentação era tudo diferente.” Questionada se ela achava que seus netos
iriam aprender a cozinhar cedo, como seus filhos fizeram, Maria Aparecida, ri e diz,

[...] tenho umas netas que está aqui comigo pra estudar...Filhas, da
minha outra filha mais velha, duas moçinhas, as meninas uma tem 14
anos, e uma tem 17, elas não faz nada...Quando minhas meninas eram
daquele tamanho, minhas meninas estudavam e trabalhavam para
ajudar no estudo delas, porque nós não dava conta.nós tínhamos nossos
filhos e a nossa despesa não era pequena, ajudava comprar as roupas
delas as coisas bonitinhas delas, pra poder...Se não, não conseguiam
estudar não, se fosse para nós dar de tudo, nós não dava conta... Tá
diferente, é por isso que tem tanta coisa assim. As moçinhas acham
que a mãe e a avó é obrigado ,elas estão ali só para estudar [...] Elas
chegam eu não tenho aquele pulso que eu tinha de falar com minhas
meninas, “Olha eu vou trabalhar, a hora que eu chegar a cozinha deve
ta arrumada, vocês lavam tudo, se o fulano chegar antes - que era um
que ia para escola mais cedo- vocês arrumam comida pra ele comer,
não é para ele ir para escola sem comer não” Que dia que eu tenho
coragem de falar pra elas? Isso aí, vocês fazem isso e isso que sua tia ta
para chegar, a Sofia ((neta com pouco menos de dois anos)) vai ficar
aí, vocês cuidam bem da Sofia... A única coisa que eu recomendo [...]29

Os valores são outros, a maneira como Maria Aparecida criou suas filhas
mulheres é muito diferente daquela que cria hoje suas netas, ela acredita ser assim,
porque o mundo hoje está mais estressado,

[...] umas meninas mal educadas, umas crianças, que : quero e tem que
ser...Hoje em dia você não pode nem mais falar assim: “ Olha vou te
dar um tapinha”, porque se você der um tapinha na mão, a advogada
vai lá e te toma um menino seu, na casa que agente vai visitar, nossas
pessoas que nos segue na pastoral , nosso assunto lá é que não pode dar
nem um tapinha na mão de menino não...Criança tem que ser criada
com muito amor carinho e com conversa...E na minha época de vez
em quando eu sapecava com meus meninos [...]30

Em parte estas referências que tem Maria Aparecida sobre o ontem, e o hoje na
criação das mulheres, estão ligadas ao que era incentivado na época, na década de 70,
por exemplo havia “o principio de que a mulher era a responsável pela casa, pelo “lar
feliz” de que deveria cuidar, manter, organizado e longe das preocupações, como boa
esposa e dona de casa” (CAPEL, 2004, p. 1187). Então estes eram os objetivos da
educação das mulheres na zona rural de Goiás,na época citada, os novos tempos, que

29
Entrevista com Maria Aparecida, já citada.
30
Idem nota 26
trouxeram a igualdade, trouxeram também uma geração mimada, ansiosa, cujos valores
são diferentes e isto também deve ser respeitado.

Em primeiro lugar desde que nasce, a criança já não vê mais o pai


mandando e a mãe obedecendo, mas sim dois centros de poder
diferentes atuando com igual dignidade. [...] Portanto passa a achar
“natural” não uma sociedade em que haja dominantes e dominados,
mas uma [...] em que haja consenso, rodízio de lideranças,partilha e
solidariedade.Pra sempre então irá rejeitar qualquer autoritarismo e
qualquer opressão. (MURARO, 2002, p. 194)

Ao trazer esta citação, se pretende compreender que com as mudanças nas


relações de gênero, a sociedade ganhou novos tópicos para debate, que devem ser
analisados cuidadosamente, não só por estar no campo de discussões do comportamento
humano, e assim se entendem como pertencentes a outras áreas das ciências humanas,
mas porque os historiadores, também podem se ocupar da história das mulheres de
novas formas, respeitando as demandas do terceiro milênio, (MURARO, 2002, p.195) ,
e compreendendo as novas gerações de mulheres que estão para surgir, com novos
olhares e novos valores, sobre solidariedade , partilha etc.

[...] E estes valores embora pertençam, em teoria, a qualquer ser


humano, são estatisticamente características mais das mulheres do que
dos homens. E estamos entrando como povo, no domínio público,
exatamente no momento em que o sistema competitivo está destruindo
tudo.Isto quer dizer, a rigor, que o processo de destruição da espécie
paradoxalmente está dependendo em grande parte de como as
mulheres venham a se comportar neste fim de ciclo patriarcal que
caracteriza o fim do milênio. (MURARO, 2002, p. 192)

A visão das mulheres do sertão, a respeito das mudanças sobre comportamento,


varia de acordo com cada tópico levantado durante os nossos encontros. Irani Rezende,
em certo momento de sua entrevista fala a respeito de depressões e outras doenças
sociais que têm notícia e brinca com o fato de achar que está é uma doença do presente,
“ [...] acho que este negócio de trauma, foi inventado, por este mundo mais moderno,
essa época contemporânea de uns tempos pra cá, inventaram os traumas.Antigamente a
gente não mexia com isso não.” 31. Estar afastada da família em outra realidade social,
sair de casa para estudar em um internato, casar em idade que hoje é considerado
precoce, parir e criar os filhos, praticamente sozinhas. Nada disso pareceu desanimar as
mulheres que compõe esta pesquisa, pelo contrário, suas experiências de vida, que
31
Entrevista com Irani Rezende, já citada.
podem parecer rudimentares, e insensíveis, para olhares estrangeiros (por não contar
com as praticidades modernas do século XXI), pertencem ao lugar das “boas
lembranças”, “dos bons tempos”, onde “ as coisas, eram melhores” e até a comida tinha
outro sabor.

Considerações

Escutar a voz das mulheres do sertão goiano, e compreender os caminhos por


elas percorridos, possibilita uma escrita sensível, que nos remete a reflexões diversas.
Foram destacadas , as noções sobre gênero, trabalho, educação e economia que foram
tecidas com fios da interdisciplinaridade, graças aos autores trabalhados de áreas
distintas do conhecimento. A pesquisa possibilitou também contato direto com mulheres
que expressaram suas experiências, compondo uma interpretação das relações de gênero
e identificação dos discursos de autonomia, pretendidos neste trabalho.
Constatar que todos os mecanismos criados para que as mulheres pudessem ser
sujeitos da própria história, pertencem a um presente que elas reconhecem como bom,
mas que não representa o lugar onde guardam suas melhores experiências,onde se
sentem realizadas, provam que o ditado popular que diz que “o melhor do caminho é a
caminhada” não está de todo errado, já que as mulheres trazidas para esta pesquisa,
vêem em suas escolhas e experiências a justificativa para ser quem são, e que é na
construção de suas histórias de vida que encontram suas melhores vitórias, sendo o
presente o lugar onde colhem bons frutos, mas o passado é onde realmente suas
experiências se justificam . As mulheres entrevistadas para este trabalho provam que há
inúmeros discursos de autonomia presentes em suas experiências de vida, e ainda
relatam com muita propriedade sobre o que consideram mais importante dentro de seus
conhecimentos.
Nota-se então, através dos dados recolhidos, que a entrada de mulheres no
espaço público rural, trouxe mudanças significativas no território onde as interações
sociais são feitas. Os homens, presentes nesta realidade, acostumam-se a ver as esposas,
noras e filhas tomando conta dos negócios da família e aprendem a se orgulhar delas. O
tempo produziu novos valores, que foram aceitos pelas famílias do sertão goiano,
associados à idéia de progresso. O medo, que antes pautava as relações no campo,
marcadas pela submissão e pela superioridade masculina ante a fragilidade feminina, vai
aos poucos sendo visto como um sentimento que pertence ao passado, não ignorando é
claro que existem centenas de milhares de famílias no campo, que vivem seus dramas
pessoais no que diz respeito ao matrimônio, mas focando nos discursos de autonomia
produzidos pelas experiências das mulheres, mapeadas para este trabalho, pode-se dizer
que muitos avanços foram feitos no sentido de modificar as relações de gênero nestes
espaços.
A superação das mulheres do sertão, no que diz respeito à tomada de um
espaço anteriormente masculino, trazido para esta pesquisa, nos revela a necessidade de
fiar e tecer valores que possam responder às conquistas destas mulheres. É necessário
compreender também que a identidade humana é a soma de todas as experiências de
vida, e a identidade das mulheres do sertão, é a soma de todas as práticas vividas no
decorrer dos tempos, que resultam em muitas conquistas e em muito mais trabalho,
sempre.
Compreendendo desta maneira, estaremos contribuindo para construção de
cenários adaptados a realidade das novas representações de gênero no sertão goiano,
constatando que as diferenças entre homens e mulheres são marcadas pelas
particularidades do sexo biológico que possuem, mas que esta constatação não precisa
ser empecilho para que aprimorem o espaço de convivência que participam.
Ante a todos os elementos trazidos para esta pesquisa, resta a sensação do
esforço para captar o real – a respeito dos discursos autônomos das mulheres do sertão-
ao mesmo tempo em que é preciso reconhecer, que o resultado deste trabalho deve ser
visto como uma interpretação, uma variante dos dados aqui citados e que poderá a
qualquer momento ser confrontado com outros, enriquecendo o debate sobre o tema.

Anexo 1 – Tabela Mulheres Entrevistadas, localização do uso das falas na


monografia.

Nome Idade Local de Páginas onde estão


Nascimento suas falas
Bernadete Salto 76 Jataí

Dejenetriz Alves 63 São Luiz dos


dos Reis Montes Belos

Irani Rezende 76 Caçu


Maria Aparecida 69 Jataí
Silva Ferreira

Maria Eloá de 87 Serranópolis


Souza Lima

Maria Lúcia 69 Jataí


Zaidem Rezende

Anexo 2 – Aqui ficarão as entrevistas e antecedendo cada transcrição uma montagem de


fotos com cada senhora entrevistada.

Referência

AIRES, Eliana Gabriel. O Conto feminino em Goiás. Goiânia: UFG, 1996.

BASSANEZI, Carla. Virando as páginas, revendo as mulheres: revistas femininas e


relações homem–mulher 1945-1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

BITTAR, Maria José Goulart Bittar. As três faces de Eva na Cidade de Goiás.
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Federal de Goiás, como
exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em História, sob a orientação da
Profª Drª Lena Castello Branco Ferreira de Freitas, 1996.
Cavalcante, Maria do E. S. R. Gênero e Perspectivas de Pesquisa Histórica no Brasil
Central. In:Gênero e Sertão. Revista Fragmentos de Cultura, v. 14, n 6. Goiânia, 2004.

____________________________. Lembranças e Narrativas de Mulheres do Sertão do


Brasil Central. Projeto de Pesquisa Financiado pelo CNPQ, Linha de Pesquisa: Sertão
e Gênero- Mulheres Sertanejas ,Vigência: de 08/2009 a 07/2011.

_____________________________. Sertão, gênero e narrativas: os saberes do sertão


das mulheres sertanejas. – texto digitalizado. Goiânia UFG, 2005.

COSTA, Albertina de Oliveira, Bruschini, Maria Cristina (1989). “Rebeldia e


submissão: estudos sobre condição feminina” - Fundação Carlos Chagas

_______________________________ In. Dossiê: Políticas públicas e relações de


gênero no mercado do trabalho. Fundação Carlos Chagas, 2007

COLLING, Ana. Relações de Poder e Gênero na Formação dos Professores. Revista


de Didácticas Específicas, 2009, nº 1, p. 48-62

CORBIN, Alain. O prazer do historiador. In: Rev. Bras. Hist. Vol. 25 n. 49, São
Paulo,Jan./jun.2005

COSTA, Albertina de Oliveira, BRUSCHINI, Maria Cristina (1989) “Rebeldia e


submissão: estudos sobre condição feminina” - Fundação Carlos Chagas

DUBY. Georges & PERROT, Michelle. História das Mulheres no Ocidente. (Vol. 1).
Porto: Afrontamento. São Paulo: Ebradil, 1991

ERTZOGUE, Marina Haizenreder & PARENTE, Temis Gomes. História e Sensibilidade.


Brasília: Paralelo 15, 2006.

GÓES,Maria Conceição de (2001): “Mulheres do sertão” - Editora Revan


LEITÃO, Alfredo Moreno. A Educação da Mulher no Brasil:Um longo caminho de
luta,Revista Histórica,São Paulo,nº 15,p.5, 07-2004.

LE GOFF, Jacques. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

LIMA, Maria Eloá de Souza. Serra do Cafezal (retratos e lembranças). Goiás , Ed. Do
Autor, 1988.

MURARO, Rose Marie. A mulher no terceiro Milênio. Rio de Janeiro, Rosa dos
Tempos, 2002.

PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da História. Bauru, SP: EDUSC, 2005.


Possas, Lídia Maria Viana ( 2001) “ Mulheres, trens e trilhos: modernidades no sertão
paulista

REMÉDIOS, Maria Luisa Ritzel. O Despertar de Eva.Género e Identidade na Ficção de


Língua Portuguesa. (Org.),Porto Alegre, EDIPUCRS, 2000.

RIBEIRO, Marlene. . Agricultura familiar e educação básica e profissional: Análise de


políticas em trabalho e educação. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul/RS, v. 12, n. 1, p.
07-32, 2004.

ROSALDO, Michelle. O uso e o abuso da antropologia: reflexões sobre o feminismo e


o entendimento cultural. Horizontes Antropológicos. v. 1, n. 1. 1995.

SANT’ANNA, Thiago. As mulheres e as práticas abolicionistas na Província de Goiás


(1870-188). In: Cavalcante, Maria do E. S. R (org). Gênero e Sertão. Revista
Fragmentos de Cultura, v. 14, n.6, p.1137-1154. Goiânia:IFTEG, Ed. UCG, 2004.

SCOTT, Joan. “História das Mulheres”. In.: BURKE, Peter (org.) A Escrita da História.
Novas Perspectivas. São Paulo: Unesp. 1992. p.63 – 95.

________________. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e


realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, p.71-99, jul./dez. 1995.
________________.Experiência. In: Falas de gênero: teorias, análises,
leituras.Organizado por Alcione Leite da Silva, Mara Coelho de Souza Lago e Tânia
Regina Oliveira Ramos. Florianópolis: Editora Mulheres, 1999.

SILVA, Alice Inès de Oliveira e. "Abelhinhas numa diligente colméia: domesticidade e


imaginário feminino na década de cinqüenta" In: COSTA, A. e BRUSCHINI, C. (org.).
Rebeldia e submissão: estudos sobre condição feminina, São Paulo: Vértice, 1989.

ZIEBELL, Clair; FISCHER, Maria Clara Bruno. “Saberes da experiência e o


protagonismo das mulheres: construindo e desconstruindo relações entre da produção e
da reprodução. In: TIRIBA, Lia”; PICANÇO, Iracy. Trabalho e educação.Arquitetos
abelhas e outros tecelões da economia popular solidária.Aparecida,SP.Idéias e letras,
2004.

Você também pode gostar