Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Goiânia
2010
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
CURSO DE HISTÓRIA
Goiânia
2010
Mulheres do Sertão Goiano: Vozes,
narrativas e visibilidades
________________________
Profª Dra. Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante
Orientadora
________________________
Banca examinadora
Showalter (1994,p.29)
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
Espaço reservado para o sumário
INTRODUÇÃO
1
SCOTT, Joan. Experiência. In: Falas de gênero: teorias, análises, leituras.Organizado por Alcione Leite
da Silva, Mara Coelho de Souza Lago e Tânia Regina Oliveira Ramos. Florianópolis: Editora Mulheres,
1999.
2
Tabela referente à localidade e nome das mulheres, encontra-se anexo.
com a produção existente.A escolha por um ou outro fragmento das entrevistas, está
diretamente relacionada aos questionamentos do projeto, assim sendo onde foram
consideradas as experiências que revelassem a autonomia das mulheres, sobre o
universo que as cercam, ou revelações sobre relações de gênero marcantes no sertão
goiano está transcrito no presente trabalho.
A relevância do trabalho está nas novas problemáticas e a possibilidade de viabilizar
uma escrita histórica a partir das perguntas que fizeram parte do campo, mas não são
feitas, “de lembranças que estão se perdendo pela omissão, abandono e descaso de
alguns recortes temáticos que muitos/as acreditam não poderem dizer mais nada além
do que já está dito, e, portanto saberes cristalizados que continuam sendo repetidos,
remorados, decorados e “recopiados” pelos livros didáticos quando aparecem. E de tão
repetidos, quase acreditamos que não temos mais nada a perguntar. (...)
( Cavalcanti,2008). Suponho então que há um discurso de autonomia presente nas
entrevistas recolhidas para esta pesquisa e que está pronto para se tornar visível,
procurando demonstrar que há mulheres do sertão que usaram suas vozes em diversos
momentos de suas experiências de vida para a experiência de autonomia de suas
próprias histórias.
.
1º Capítulo : Mulheres do Sertão: Uma abordagem sobre
gênero como categoria de análise histórica
A atenção nos últimos tempos está também centrada no estudo das relações entre
os sexos, no que diz respeito à conquista dos direitos das mulheres, tornando possível
questionar visões preconceituosas como a de que as mulheres não são aptas ao espaço
público, como pessoas históricas, políticas e socialmente ativas. “As mulheres entram
no espaço público e nos espaços do saber transformando inevitavelmente estes campos,
recolocando as questões, questionando, colocando novas questões, transformando
radicalmente.” (RAGO, 1998.p. 10)
Importante ressaltar que as organizações sociais não são de responsabilidade do
universo masculino, ou seja, não se trata somente de um gênero subjugando outro. A
maneira como nos organizamos socialmente é que dá sentido às diferenças , não sendo
possível então determinar se há verdades absolutas no que diz respeito às distinções
entre os sexos, mas sim, segundo Ana Colling (2009, p. 51) “...um esforço interminável
para dar sentido, interpretá-la e cultivá-la”. Legitimar esta ou outra representação não
está relacionado à natureza das coisas ou à natureza humana, as representações sociais
ordenadas, fazem com que cada individuo, ou cada elemento – no caso das coisas- tenha
um lugar, uma identidade e principalmente uma razão de ser. O coletivo, classifica e
hierarquiza aquelas representações que mais se aproximam do que acredita representá-
lo, determinando o que é ou não legitimo, assim atua como uma das forças reguladoras
da vida em sociedade. ( LE GOFF, 1990, P. 54)
Apesar de muitos trabalhos já terem citado e diagnosticado vários estudos
feministas nesta perspectiva, de construção de gênero, este não é um assunto esgotado.
Sabemos o grande hiato que existe na história sobre o cotidiano, as descobertas e as
conquistas femininas, dessa forma aqueles que escrevem sobre a história de modo geral,
ainda têm muito do que se ocupar quando o assunto são mulheres.
A escrita regional é caracterizada por trabalhos como os do historiadior Thiago
Santanna, (2005) citam a participação feminina nas ações abolicionistas goianienses,
onde ele cataloga as experiências acerca do envolvimento das mulheres nestes episódios
, procurando desmitificar os papéis que são atribuídos ao gênero, como frágil,
inconstante etc. Outros autores, como Maria José Goulart Bittar, (1999) Eliane Aires
(1996) e Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante,(2004-2009) trabalham as memórias,
que compõe o universo feminino do sertão, com recortes culturais específicos. Estas
investigações sempre intentam legitimar e mostrar a relevância social que um estudo
sobre o tema pode contribuir para o reconhecimento do desempenho das ações dessas
sertanejas no Estado.
O estudo dos papéis das mulheres está estreitamente ligado à questão da família.
Seja ela patriarcal, família nuclear burguesa e outros padrões familiares, já que estão
todos ligados ao papel desempenhado pelas mulheres e ao lugar das emoções e
sentimentos. Assim sendo valoriza-se
O sertão,
Sabemos que o espaço feminino tem seus próprios eixos e gira em torno deles de
maneira muito delicada, e quando uso a palavra delicada não me refiro , por tratar-se de
mulheres e sim por ser um espaço com tantas lacunas, tantos medos que nascem dos
silêncios já citados, que se torna uma pesquisa repleta de riscos, porém extremamente
gratificante para aquele que nela se envolve.
Gilka Vasconcelos, também deteve parte de seus estudos sobre as mulheres do
sertão goiano, e sua pesquisa remonta especificidades sobre o universo das mulheres,
desde os tempos coloniais,trazendo uma visão retrospectiva das mulheres indígenas,
submissa das escravas africanas, até chegar às mulheres goianas que viveram os anos de
isolamento dos grandes centros.
4
RODRIGUES. Maria Augusta Calado de Saloma, apud, BITTAR, 1999, p. 41
possibilitaram em contrapartida o fortalecimento das comunidades e a união das pessoas
em torno do próprio desenvolvimento. E as mulheres sertanejas, puderam à sua maneira
orientar o rumo dos acontecimentos, para que os filhos da terra pudessem amá-la e
defende-la, e isto se percebe nas experiências relatadas no próximo capitulo.
Para Michele Perrot, o silêncio feminino, foi reiterado através dos tempos pelos
dogmas religiosos, pelos sistemas políticos e pelos manuais de comportamento: "aceitar,
conformar-se, obedecer, submeter-se e calar-se. Este mesmo silêncio, imposto pela
ordem simbólica, não é somente o silêncio da fala, mas também o da expressão, gestual
ou escriturária" (PERROT, 2005, p. 10). Isto não quer dizer que as mulheres aceitavam
passivamente estas imposições.
Os reflexos ainda presentes da metrópole, no século XIX, sustentava a idéia de
que não era socialmente aceitável o exercício da escrita e leitura para o sexo feminino,
com a justificativa de que estas perderiam a motivação para os trabalhos do lar, ou seja,
acompanhar os maridos e educar os filhos diante da dedicação que o estudo exigia.
Alfredo Moreno Leitão em sua pesquisa sobre A educação da mulher no Brasil,(2004)
constatou inúmeros documentos onde se justifica a assinatura de outra pessoa no lugar
de quem deveria assinar, com uma ressalva que a outorgante era mulher e não sabia ler.
Neste sentido ser mulher era ser analfabeta. “Assinei para outorgante por esta ser
mulher e não saber ler” (LEITÃO, 2004, p. 50), que também poderia excluir os homens
deste universo iletrado, e tirá-los da responsabilidade de não ter assinado um documento
por serem analfabetos, se são do gênero masculino, já a partir daquela época em que
quem tinha acesso a documentação era a parte letrada da sociedade. A primeira
instituição que ensinou as mulheres a ler no Brasil, foi a que estava gerida por
religiosos, como os conventos. A partir desta informação e levando em conta a época de
que ela é oriunda (século XVIII) as mulheres que começaram a aprender a ler no nosso
país, o faziam a partir dos livros considerados sagrados pela instituição que as ensinava.
Apesar dos movimentos que eclodiam em determinadas partes do país para a
emancipação intelectual das mulheres, já na sociedade contemporânea , na década de
70, a sociedade do sertão do Brasil Central vivenciava outras realidades. Os colégios
confessionais da época que ofereciam aulas para as mulheres, davam maior atenção ao
preparo para reprodução aos cuidados com a postura diante das exigências sociais que
as cercavam e ainda ensinavam como elas deveriam cuidar dos alimentos direcionados a
elas e aos filhos. ( PERROT, 2005 p. 13)
Todos estes fatores mantinham o equilíbrio entre as expectativas masculinas,
socializadas e enraizadas nas gerações anteriores , ou seja, afligidos pela obsessão de
mantenedores e concentrando –se em apenas tarefas práticas, tornando as mulheres,
cada vez mais afastadas da participação financeira da família. ( LEITÃO, 2004 p. 51)
Assim, até meados do século XIX, O papel feminino dentro da instituição ,casamento,
não era o de transformar a realidade em que vivia e sim, manter sua família unida,
alimentada e educada (com os recursos patriarcais).
Felizmente, a idéia de opressão às mulheres,na historiografia passou a ser
considerada retrógada, e mesmo que ainda resista alguns focos deste sentimento, por
ranços e grupos que são considerados machistas ou misóginos, os grandes feitos por
parte do “sexo frágil” estão sendo registrados na história para contrapor estas ideologias
tidas hoje como ultrapassadas.
2.2 Falas – Uma incursão nas histórias e sentimentos das mulheres do sertão goiano
6
Manifesto na integra, anexo
estadual aqui em Jataí,chamava Izabel Santos, então a gente fazia a
campanha para Izabel, tanto aqui quanto também nas fazendas...7
Mas esta é apenas uma das faces de Maria Eloá, apaixonada por literatura desde
a infância, discorre agradavelmente sobre vários assuntos, provando que sua formação
enquanto professora continua viva em suas atividades, especialmente quando fala sobre
a 2ª Guerra Mundial e a participação brasileira no envio de soldados. A paixão com que
fala deste assunto e a propriedade com que expõe suas opiniões a respeito das
incongruências deste conflito, mostram uma mulher cujo temperamento fora moldado
para exercer grande influência dentro da comunidade, mesmo que ela ignore este fato.
A cidade de Jataí, tem sua própria Academia de Letras e Maria Eloá, fala sobre
suas conquistas nesta área.
[...] Sim, eu sou sócia fundadora, uma das sócias fundadoras e eu
publiquei três livros, o meu último livro alcançou sucesso muito
grande, e eu recebi uma revista do Rio de Janeiro, uma revista carioca,
onde estava publicado o trabalho de um professor de literatura da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele falou do meu livro[...] 8
10
Idem nota 8.
11
O esperanto é um código lingüístico criado para ser utilizado por todas as nações do mundo, “Seu
iniciador, Ludwik Lejzer Zamenhof, publicou a versão inicial do idioma em 1887, com a intenção de criar
uma língua de muito fácil aprendizagem, que servisse como língua franca internacional, para toda a
população mundial (e não, como muitos supõem, para substituir todas as línguas existentes).” –
( Definição retirada do endereço eletrônico da Liga Mundial de Esperanto -
www.esperanto.org.br/ ultima visita em 10/11/10 á 18:01)
teste com o esperanto dizem que não entendem muito bem, então
vamos ver né? Escolhi para corresponder pessoas do leste europeu, no
leste europeu cada país tem sua própria língua, mas todas aquelas
línguas tem a mesma origem, são também chamadas de língua eslava,
então eu não quis francês , nem italiano, nem alemão também...Mas
alemão é uma língua germânica né? Mas os povos de língua eslava não
tem nada, nada a ver com a nossa língua, a deles é outra história12
Mesmo sem contar com fundos de investimento para tal empreita, Maria Eloá, já
formou três grupos de Esperanto no Estado, que de acordo com ela são agentes
multiplicadores, e disseminam a linguagem em seus locais de origem. No final da
entrevista, esta senhora de 87 anos, aproveitou a presença de minha acompanhante que
trabalha na subsecretaria do município e articulou a abertura de novos grupos, com o
apoio desta instituição. Com muitos planos, Maria Eloá esta longe de pensar em parar,
com o seu fôlego, espero poder entrevistá-la e registrar suas conquistas em um próximo
estágio desta pesquisa, no mestrado.
Historicizar as experiências das mulheres entrevistadas é “refletir criticamente
sobre a história que escrevemos a seu respeito, ao invés de basearmos nossa história
nela” ( SCOTT, 1999, p. 40) portanto, como uma das questões da pesquisa, é identificar
de que modo nos afazeres considerados comuns e nas interações que realizaram e
realizam aparece o discurso próprio de autonomia, de destaque, onde estas mulheres
passaram a dar-se suas próprias leis em vez de recebê-las por imposição ( SOUZA,
2008, p. 69), é imprescindível trazer experiências que possam justificar sua atuação
independente dentro da comunidade. Desta forma surgem para as entrevistadas as
questões sobre trabalho, entendidas aqui , como aquele que é realizado dentro ou fora de
casa e sobre seus sentimentos em relação a estes espaços. Como exemplo, trago a fala
de Maria Lúcia Zaidem Rezende, moradora de Jataí, hoje com 69 anos, que entre muitas
experiências de vida, narra suas ações familiares e a vida confortável ao lado do marido
dentista no município , mesmo sem necessidades financeiras graves, quando
questionada sobre se guardava algum arrependimento por não ter escolhido trabalhar
fora de casa:
(...) depois assim eu até arrependi, eu podia ter feito alguma coisa, porque hoje eu vejo
que faz falta né? A gente às vezes passa dificuldade por causa de uma coisa e faz falta
talvez se eu tivesse um trabalho assim, mas antes eu nunca tive, talvez se eu tivesse
assim...((não conclui)), e também parece um pouco que os maridos achavam que a
mulher não precisava né? Trabalhar fora... Falava também... “Pra quê, não precisa
não...Tem que cuidar é de casa, dos meninos...” Então parece que a gente acostumou
12
Entrevista com Maria Eloá de Souza e Lima, já citada
com aquilo e adaptou e foi, mas hoje eu vejo minhas filhas trabalham, minhas noras,
todas trabalham fora,(...) ai é outra coisa...13
Esta percepção do lugar de onde fala e do lugar que esta falando, permite
algumas constatações. O passado é o lugar onde certas atitudes eram permitidas, como
por exemplo não trabalhar fora, pela necessidade de cuidar da casa e dos filhos, mesmo
que financeiramente a família pudesse empregar alguém para fazê-lo, enquanto o
presente é o lugar das filhas e das noras, onde a carreira e a independência são
importantes. Ao mesmo tempo em que há a conformação de que o que estava posto e
apresentado era aceito por costume: “Mas assim, a gente acostumou desse jeito..Então
não sente...”14
Mais adiante durante a entrevista é possível perceber onde estão as alíneas de
sua narrativa sobre os saberes domésticos que transformou em trabalho remunerado.
Maria Lúcia, aprendeu com a mãe descendente de árabes a fazer quibes artesanalmente,
a vida toda este saber estava presente nas reuniões familiares, mas o fato do acordo
entre seu companheiro e ela ser o de cuidar da casa e dos filhos, não permitiu que usasse
esse saber e transformasse em atividade lucrativa. Mas ao longo do tempo, o que era
uma atividade doméstica passa a ganhar novos significados, a permissão não era verbal,
simplesmente não foi dito, agora que os tempos mudaram, você pode trabalhar, o
consentimento era social, as mulheres com talento, assim como os homens , podem se
destacar na sociedade e contribuir com o melhor,
13
Entrevista da aluna com Maria Lúcia Zaidem Rezende, realizada em Jataí em 30 de setembro de 2010.
14
Idem nota 7
Achava bom, na hora de fazer quibe, ficava todo mundo brigando para
moer né? Ajudava a moer o quibe, espremer o trigo...Tinha que
espremer, hoje a gente não espreme mais, hoje a gente já lava ele e
põe pouquinha água só o tanto dele inchar e pronto acabou...Não
precisa espremer... Aí eu fico fazendo uns biquinhos dentro de casa,
para ganhar alguma coisa, um quibe, faço uns quibes pra vender para
ganhar um dinheirinho extra né?15
Sem abrir mão dos seus papéis tradicionais, mas ao contrário, reforçando-os,
Maria Lúcia, mostra que o seu cotidiano doméstico adquiriu visibilidade e obteve
reconhecimento além do grupo familiar. Suas habilidades foram divulgadas pelo grupo
ao qual pertence, e obteve sucesso pela qualidade do serviço que poderia prestar e pela
valorização deste. Este lugar conquistado por Maria Lúcia poderia ser considerado um
não conformismo com uma situação de invisibilidade e de desvalorização dos serviços
doméstico, onde a atuação se dá sempre nos bastidores? (BASSANESI, 1989 p.
42).Mesmo que o trabalho das mulheres dentro do espaço doméstico, tenha sido na
maioria das vezes pouco valorizado, “é evidente que possuía significação rural em
Goiás e lhe conferia autonomia, base de decisão e poder” (CAPEL, 2004, p.1189).
As diferenças entre as criações dos filhos homens e das filhas também marca um
dos pontos da entrevista com Maria Lúcia Zaiden , quando pergunto a respeito da ajuda
que seus irmãos homens, davam em casa, ela responde...
Percebe-se que nesta, assim como em muitas outras famílias, aos filhos homens
era dado o legado do pai, o fazer do espaço público, de viajar, de se aventurar. Às filhas
mulheres, orgulhavam-se de compreender o espaço da mãe, aquele que seria o seu
próprio espaço no futuro, com um companheiro, tudo delineado de acordo com
expectativas muito especificas, sobre a casa e as responsabilidades sobre ela.
[...] quatro filhos, só com uma cozinha e uma sala” Não dá né? Era
aquela dificuldade, era com beliche, ixiii! Aí vim pra cá, minha casa
não era boa não, mas eu tinha espaço cabia meu s filhos tudo. Aí
quando eu vim pra cá ((para casa que mora agora)) eu pensei “Agora
eu preciso trabalhar para ajudar este homem a pagar esta casa” ((
risos))... Costurava para fora também, e outra coisa não tinha energia,
eu costurava de lamparina de vela, que eu não dava conta, naquela
época parece que quase ninguém comprava roupa feita, todo mundo
tinha uma roupinha, um paninho para mandar a gente fazer.Sempre
tinha costura...Aí a Nilma ((amiga)) falou “Ah, não este serviço seu é
muito difícil, e era assim, você tem que ter a hora certa de entregar
isso, às vezes as pessoa prova e não é daquele jeito, vai você consertar
de novo, vamos trabalhar na fábrica...E foi [...]17
As mulheres desenvolvem sua autonomia no decorrer dos tempos levada por esta
administração que faz no seio familiar e posteriormente é respeitada pela comunidade
pelas decisões que tiveram que tomar diariamente, sendo inclusive responsáveis por
trabalhos no espaço público que a priore eram considerados masculinos. (BASSANEZI,
1989, p. 27). Esta mudança de posições faz com que as famílias percebam que o
destaque das mulheres da casa, reverbera no sucesso financeiro de todos os que delas
dependem.
Quais os sentimentos presentes sobre a aprovação familiar das iniciativas de
trabalho? As inserções femininas do mundo do trabalho são marcadas por progressos e
atrasos (BRUSCHINI, 2007, p. 538), as disparidades no que se refere ao aumento da
participação feminina no mercado de trabalho em contraposição ao alto índice de
desemprego de mulheres e a má qualidade da mão de obra feminina, versus o acesso a
carreiras e posições de prestigio por parte de mulheres escolarizadas esbarram
diretamente aos alarmantes números de trabalho informal por parte daquelas que não
passaram pelo mesmo processo.
Diante dos discursos sobre independência feminina, sucesso das mulheres, estas
mulheres do sertão de Goiás também descobrem o suporte familiar para compreender
17
Entrevista da aluna com Maria Aparecida Silva Ferreira, realizada em Jataí em 01 de outubro de 2010
quem são dentro desta nova realidade. Para Irani Rezende, professora aposentada, de 76
anos, nascida em Caçu, interior de Goiás, esta aprovação não partiu exatamente de um
membro consangüíneo, e em sua entrevista narra sobre quem lhe deu incentivo para
buscar os estudos e conseqüentemente uma carreira.
[...] meu pai era uma pessoa ótima, muito trabalhador, mas era limitado, já o
meu padrasto tinha visões, assim, mais longe...Então ele pensava que a pessoa
tinha que estudar, e tudo...Então para o meu pai já era diferente, quando eu já
estava moçinha, depois nas visitas assim dele, porque eu fui para casa da
vovó pequena, depois pra minha mãe pequena também, então ele achava que
não, que moça tinha que completar não sei quantos anos, aprendia a cozinhar e
pronto e ficava fazendo as coisas e tinha que casar. Já o meu padrasto era
diferente [...]18
Interessante notar, na fala de Irani, que ela enxerga em seu padrasto um homem
visionário, e no pai uma pessoa limitada,por pensar nos papéis sociais, para as mulheres,
gestados dentro do patriarcalismo. (BASSANEZI, 1989, p. 28). Assim como muitas
outras mulheres, pensando na construção de si mesma de forma diferente da que estava
posta socialmente na criação de seus pais, Irani, respondeu aos pedidos do padrasto e
saiu da zona rural, ainda criança para estudar na cidade. Esta sua escolha, já que ela
pôde escolher entre o que o pai queria que fizesse e a sugestão do padrasto, possibilitou
que abrisse sua própria escola quando retornou aos 17 anos para a fazenda de sua
família, podendo oferecer ensino para as crianças da zona rural sem que estas tivessem
que sair de suas casas, como ela teve já que não contou com a mesma estrutura que sua
família ofereceu a outras crianças. A confiança que o padrasto depositava em sua
formação era confirmada pelos instrumentos que ofereceu a enteada para desempenhar
sua profissão, e se realizasse com ela. Vendo-se autônoma, muito cedo para os padrões
da época, Irani, se mostra uma pessoa feliz e muito comunicativa, falando de suas
descobertas na cidade, quando ainda muito ingênua para a estrutura que encontrou no
internato que estudava, esbarrou em certas curiosidades.
[...] lá naquela época não tinha sanitário dentro de casa...tinha não, tinha era lá
no fundo, então a gente não conhecia. O primeiro que eu fui conhecer foi lá no
colégio, né? Eu olhando assim, a moça veio pra perto, uma moçinha que eu
nem lembro mais qual é, e disse: “Isso aí é pilão pra fazer paçoca pras internas”
desse jeito pra mim, abusando de mim né? (( risos)) Hum! Pilão de fazer
paçoca pras internas, de pilão eu entendo de todo o jeito que você pode
pensar.Pilão de mão, pilão de monjolo,de todo o jeito eu sabia, eu conhecia ((
risos)) De água não é. [...]19
18
Entrevista da aluna com Irani Rezende, realizada em Jataí em 30 de setembro de 2010
19
Entrevista com Irani Rezende, já citada
Esta maneira bem humorada de tratar as questões mais intimas que vêm a tona
no decorrer da entrevista, e que foram percebidas em todas as mulheres que entrevistei,
mostram que as senhoras do interior do Estado, enxergam com muita graciosidade o que
as pessoas urbanas desconhecem sobre elas.O respeito ás diferenças se dá ainda nas
entrevistas, quando digo desconhecer algum termo que elas utilizam, sempre há
disposição para explicar o que significa a palavra que não é familiar para quem não
convive com estas singularidades. Assim aconteceu quando Maria Lucia e Irani
sentiram necessidade de explicar sobre determinado vocábulo:
20
Subsecretária de educação do município que me acompanhou nas entrevistas das mulheres de Jataí e
entorno.
Eu vim pra cá ( Jataí), porque a gente é igual soldado né? Na hora que
precisa estar em um lugar vai. Então eu vim pra cá porque estavam
precisando de uma diretora para o Instituto São José, eu estava na
faculdade ainda não tinha terminado. Para começar, quando entrei no
convento estava no 4º ano de conservatório de piano, tive que parar. Aí
entrei na vida religiosa, porque tinha começado a faculdade e o
conservatório de piano, piano já estava no 4º ano. Agora você pensa há
56 anos atrás que jeito que era a vida religiosa né? Bem quadrada.21
[...] domingo de visitas das famílias dos doentes...E sexta feira eu fazia
a celebração da palavra. A maioria da comunidade era católica, mesmo
que não fossem católica eles iam, falavam que gostavam da missa da
irmã. Missa,ói? Não era missa...A gente celebrava...Falavam : Irmã eu
gosto da missa da senhora, eu posso ir? - Pode ir ué? – Na minha
igreja não tem missa, irmã...Tem só culto...Eu falava- Ta bom, então
vai na minha missa.- Eram evangélicos, mas iam lá participar da
celebração da palavra,então fazia a celebração da palavra, dava
comunhão pra eles e no final do ano eu comecei a fazer...Natal. No
final do ano e na páscoa, comecei a fazer o movimento do Natal, fiz
uma lista de gêneros alimentícios que deve conter na cesta de
natal...Então...põe tudo que pode ter na cesta e pode ser acrescentado
outros contanto que não sejam gêneros perecíveis né? Porque o pobre é
assim: Ele recebe esta coisa aqui(( gesticula com um objeto para
exemplificar)), ele vai na sua casa para ver se na sua tinha aquelas
coisas que tinha na dele, ou se na sua tinha a mais.Então tinha que por
arroz, feijão, bolacha, biscoito ou biscoito de doce, biscoito de sal,
21
Entrevista da aluna com Bernadete Salto, realizada em Jataí , no dia 01 de outubro de 2010.
22
“A hanseníase é causada por um micróbio (o bacilo de Hansen), que além de atacar os nervos
periféricos, a pele e a mucosa nasal, pode afetar outros órgãos como o fígado, os testículos e olho.”
( definição encontrada no endereço eletrônico da Associação de Assistência aos Hansenianos no Brasil –
http://www.hansenianos.org.br (ultimo acesso em 14/11/2010 ás 15:23)
bala, pirulito, tinha lá as coisas que você punha em todos, iguais,
iguaiszinhos os gêneros...Agora, uma casa que tinha cinco pessoas...Aí
embrulha, aí eu faço um cartão de natal com o nome da pessoa, por
exemplo vou citar um nome lá: Jacinta Moraes, é uma doente, aí em
baixo eu ponho assim: Seus padrinhos são, fulano e fulana[...]23
Esta percepção que Bernadete tem das pessoas que ajudou com seu trabalho,
mostram como organizava suas atividades para atender quem necessitava, ao mesmo
tempo em que administrava de maneira firme, as doações, para que estas pudessem
servir à todos. Ninguém pediu à Bernadete que fosse a Vila dos Hansenianos, esta era
sua missão pessoal, a atividade que ocupava seus finais de semana e outros instantes em
que não estava na direção da escola. Nesta atividade estava sua marca, mesmo diante do
dogma religioso que fazia parte de suas escolhas, não impunha limitações à caridade
que poderia fazer e ao apoio que poderia dispor para comunidade. Escolheu sozinha,
pensou por si e “pensar por si mesmo, significa ser dono de seus próprios pensamentos,
uma relação de propriedade que garante a independência de um individuo [...]”
( SCOTT, 1999, p. 33). Por isso Bernadete traz esta marca de liberdade. Surpreende a
idade que a freira começou a pintar quadros, 60 anos, e ainda mais quando no decorrer
da entrevista contou que suas obras já a haviam levado para exposições em vários países
da Europa, despertando nela a vontade de aprender francês, língua que hoje domina e
que aprendeu aos 72 anos. As artes plásticas surgiram em sua vida depois de um
infarto, cujo pós operatório recomendava distância de situações estressantes. Quando o
médico perguntou o que mais poderia fazer para se distrair, que não envolvesse contato
direto com conflitos, ela respondeu
Dejenetriz Alves dos Reis , é uma das senhoras mais novas cuja fala trago para
esta pesquisa.Aos 63 anos, nascida em São Luiz de Montes Belos, sua história de vida, é
cercada de muito trabalho e é interessante perceber a satisfação com que fala a respeito
de seus afazeres no campo, seja nas plantações ou nas ordenhas, ou nas descobertas que
fez sobre culinária, corte de cabelo, tudo isto sem curso algum. “Fazia, tudo!
Penteava[...] Fazia unha, aí fazia biscoito para festa de casamento, fazia tudo, tudo eu
fazia um pouco...Eu costurava, então, minha vida foi essa, trabalhar, e trabalhar...”26
24
Convite e foto da exposição no anexo -
25
Entrevista com Bernadete Salto, já citada.
26
Entrevista da aluna com Dejenetriz Alves dos Reis, realizada em Goiânia, no dia 11 de outubro de
2010
As mulheres das classes mais baixas, tiveram e têm até hoje até mais de uma
jornada de trabalho, em casa e no trabalho Sempre estiveram presente com sua mão de
obra tanto no setor privado, quanto no público, mas somente o trabalho dos homens era
considerado produtivo, e suas interações com o mundo do trabalho eram consideradas
reprodutivas. (MURARO, 2002, p. 127). Apesar disto em todos os momentos históricos
em que atuaram, assim como os homens que são colocados nos livros didáticos, as
mulheres se destacaram, seja na idade média questionando sua sexualidade e sofrendo
as conseqüências na fogueira, ou quando tomaram a Bastilha tendo papel decisivo na
Revolução Francesa. Importante destacar a atuação de Olympia de Gouges neste evento
histórico onde redigiu a Declaração de Direitos da Mulher e foi decapitada por ter sido
interpretada como subversiva. Esta ilustração histórica foi trazida para representar que
as mulheres e o mundo do trabalho e seus direitos em relação a ele, estão conectados
por fios históricos, e estes fios são sentidos em um grau ou outro pelas mulheres
entrevistas, como no caso de Dejenetriz que enxerga no trabalho o lugar de exercer sua
autonomia e liberdade,
Para ganhar o sustento né? E graças a Deus minha filha, por isso que
eu falo a mulher que trabalha ela sobrevive, porque homem não é tudo
não...Até hoje eu trabalho então a gente conversa, ó, o esposo da gente,
não é desfazer do marido, mas o esposo da gente é o seu emprego,
porque aquilo ali você sabe que...((não conclui)). Agora marido não,
marido te trai aqui, te trai ali, quando você pensa que está tudo bem , já
separa, eu já vou fazer quase cinqüenta anos de casada... Mas minhas
irmãs tudo nenhuma tem marido e assim vai...E eu até hoje tem dia que
eu acho que eu fui sem vergonha, não sei porque eu nunca conformei
de criar meus filhos sozinha...Meu marido aprontou demais, demais
demais... Eu pensava assim: “ Eu vou vencer” E agora hoje já é
diferente, então hoje eu já sei porque eu trabalho e eu nunca
dependi...27
O trabalho ,nas residências ou em lugares privados, sempre fez parte da vida das
mulheres (MURARO, 2002, p 129). Podemos citá-las como trabalhadoras de produtos
têxteis, incluindo a manipulação de fios, tecidos, rendas e bordados, especialmente as
peças de vestimentas. Atualmente as mulheres ocupam todos os espaços, apesar dos
muitos conceitos que variam por questões especificas, como território, classe social etc,
não podemos afirmar que existem profissões, hoje, exclusivamente femininas e outras
somente do universo masculino. No sertão goiano, esta realidade aparece na
autobiografia de Maria Eloá, que ao narrar um encontro com sua avó, traz as lembranças
que fazem parte destas relações de gênero no território estudado.
27
Entrevista com Dejenetriz , já citada.
[...] nunca gostei de homaiada pelo terreiro da minha cozinha onde
acho que é lugar das mulheres.Homem na porta da minha cozinha ou
no fundo do meu quintal, só quando eu chamo pra matar um capado,
sangrar uma leitoa, pegar algum frango, ou tirar fruta do pé. Só com
minha licença. Sou sistemática e não gosto de dar dessas liberdades na
minha casa [...] ( LIMA, 1988, p.39)
Desta forma, os meninos aos oito e dez anos de idade, eram incentivados a
cuidar dos horários do almoço, para que a rotina familiar pudesse seguir, com pai e mãe
no mercado de trabalho, sem prejudicar os estudos dos outros irmãos, e os próprios. Vê-
se que nesta organização familiar não se pontua as máximas dos lugares de homens e
mulheres, sendo este lugar um terreno flexível de acordo com a estrutura familiar
necessária para o bem comum . Mesmo com estas posições assumidas pelos filhos
homens , o reforço da história como se esta fosse estranha ao ouvinte, mostra a
percepção do individuo em relação ao que é diferente do comungado socialmente. Em
outro trecho da entrevista quando cita um dos filhos homens já casados, o mesmo que
na infância tinha que preparar o almoço para as irmãs, Maria Aparecida sublinha uma
situação que destoa dos papéis sociais ditos por exemplo pela avó de Maria Eloá, [...] na
casa dele quando tem um convidado, assim que vai fazer um almoço uma coisa assim
mais diferente, a mulher dele fala “Ah, não ! Você tem que me ajudar a fazer o
almoço!” É, ele é melhor cozinheiro do que ela [...]. Ao ressaltar que o filho é melhor
cozinheiro do que a nora, a entrevistada está na verdade, dizendo o quão surpreendente
que no espaço doméstico, homens cozinhem melhor do que mulheres.
Quando fala de sua experiência como mãe, na década de 70, no sertão goiano e
relaciona com os tempos de hoje, as diferenças são muitas, a começar pela alimentação,
28
Entrevista com Maria Aparecida já citada.
“ [...] olha no tempo dos meus filhos, tomava era leite de vaca, minha filha, leite de vaca
com polvilho de araruta, com maisena. Fazia aqueles mingau, era isso que meus filhos
tomava [...] a alimentação era tudo diferente.” Questionada se ela achava que seus netos
iriam aprender a cozinhar cedo, como seus filhos fizeram, Maria Aparecida, ri e diz,
[...] tenho umas netas que está aqui comigo pra estudar...Filhas, da
minha outra filha mais velha, duas moçinhas, as meninas uma tem 14
anos, e uma tem 17, elas não faz nada...Quando minhas meninas eram
daquele tamanho, minhas meninas estudavam e trabalhavam para
ajudar no estudo delas, porque nós não dava conta.nós tínhamos nossos
filhos e a nossa despesa não era pequena, ajudava comprar as roupas
delas as coisas bonitinhas delas, pra poder...Se não, não conseguiam
estudar não, se fosse para nós dar de tudo, nós não dava conta... Tá
diferente, é por isso que tem tanta coisa assim. As moçinhas acham
que a mãe e a avó é obrigado ,elas estão ali só para estudar [...] Elas
chegam eu não tenho aquele pulso que eu tinha de falar com minhas
meninas, “Olha eu vou trabalhar, a hora que eu chegar a cozinha deve
ta arrumada, vocês lavam tudo, se o fulano chegar antes - que era um
que ia para escola mais cedo- vocês arrumam comida pra ele comer,
não é para ele ir para escola sem comer não” Que dia que eu tenho
coragem de falar pra elas? Isso aí, vocês fazem isso e isso que sua tia ta
para chegar, a Sofia ((neta com pouco menos de dois anos)) vai ficar
aí, vocês cuidam bem da Sofia... A única coisa que eu recomendo [...]29
Os valores são outros, a maneira como Maria Aparecida criou suas filhas
mulheres é muito diferente daquela que cria hoje suas netas, ela acredita ser assim,
porque o mundo hoje está mais estressado,
[...] umas meninas mal educadas, umas crianças, que : quero e tem que
ser...Hoje em dia você não pode nem mais falar assim: “ Olha vou te
dar um tapinha”, porque se você der um tapinha na mão, a advogada
vai lá e te toma um menino seu, na casa que agente vai visitar, nossas
pessoas que nos segue na pastoral , nosso assunto lá é que não pode dar
nem um tapinha na mão de menino não...Criança tem que ser criada
com muito amor carinho e com conversa...E na minha época de vez
em quando eu sapecava com meus meninos [...]30
Em parte estas referências que tem Maria Aparecida sobre o ontem, e o hoje na
criação das mulheres, estão ligadas ao que era incentivado na época, na década de 70,
por exemplo havia “o principio de que a mulher era a responsável pela casa, pelo “lar
feliz” de que deveria cuidar, manter, organizado e longe das preocupações, como boa
esposa e dona de casa” (CAPEL, 2004, p. 1187). Então estes eram os objetivos da
educação das mulheres na zona rural de Goiás,na época citada, os novos tempos, que
29
Entrevista com Maria Aparecida, já citada.
30
Idem nota 26
trouxeram a igualdade, trouxeram também uma geração mimada, ansiosa, cujos valores
são diferentes e isto também deve ser respeitado.
Considerações
Referência
BITTAR, Maria José Goulart Bittar. As três faces de Eva na Cidade de Goiás.
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Federal de Goiás, como
exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em História, sob a orientação da
Profª Drª Lena Castello Branco Ferreira de Freitas, 1996.
Cavalcante, Maria do E. S. R. Gênero e Perspectivas de Pesquisa Histórica no Brasil
Central. In:Gênero e Sertão. Revista Fragmentos de Cultura, v. 14, n 6. Goiânia, 2004.
CORBIN, Alain. O prazer do historiador. In: Rev. Bras. Hist. Vol. 25 n. 49, São
Paulo,Jan./jun.2005
DUBY. Georges & PERROT, Michelle. História das Mulheres no Ocidente. (Vol. 1).
Porto: Afrontamento. São Paulo: Ebradil, 1991
LIMA, Maria Eloá de Souza. Serra do Cafezal (retratos e lembranças). Goiás , Ed. Do
Autor, 1988.
MURARO, Rose Marie. A mulher no terceiro Milênio. Rio de Janeiro, Rosa dos
Tempos, 2002.
SCOTT, Joan. “História das Mulheres”. In.: BURKE, Peter (org.) A Escrita da História.
Novas Perspectivas. São Paulo: Unesp. 1992. p.63 – 95.