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Cultura Documentos
4 Caixa Os diretores
5 Apresentação 37 Aloísio T. de Carvalho
6 Curadoria 37 Betse de Paula
38 Carlos Manga
Os filmes 38 Hugo Carvana
12 Assim Era a Atlântida 39 José Carlos Burle
13 Aviso aos Navegantes 39 Luiz de Barros
14 Barnabé Tu És Meu 40 Milton Rodrigues
15 O Batedor de Carteiras 40 Roberto Farias
16 Cacareco Vem Aí 41 Watson Macedo
17 Carnaval Atlântida
18 Carnaval no Fogo 42 Neochanchada
19 Celeste e Estrela
20 Colégio de Brotos 44 Oficina de restauração
21 De Vento em Popa
22 O Dia é Nosso 47 Agradecimentos
23 Os Dois Ladrões
24 A Dupla do Barulho 48 Créditos
25 É Com Esse Que Eu Vou
26 O Homem do Sputnik
27 Maridinho de Luxo
28 Minha Sogra É da Polícia
29 Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo!
30 Nem Sansão Nem Dalila
31 No Mundo da Lua
32 Pintando o 7
33 Rico Ri à Toa
34 O Samba da Vida
35 Tereré não Resolve!
A
CAIXA Cultural tem a satisfação de apresen-
tar Noites de Chanchada, uma mostra de
cinema que faz uma retrospectiva histórica
do cinema brasileiro.
O projeto, selecionado pelo Edital 2011 de Ocupa-
ção dos Espaços da CAIXA Cultural, pretende ao longo
de duas semanas de exibições e debates, no período de 6
a 18 de novembro, percorrer a trajetória histórica e social
desse gênero popular que se tornou sinônimo de cultura
brasileira e que atraía multidões por todo o país marcan-
do um dos períodos mais produtivos do cinema nacional.
Ao patrocinar esse projeto, a CAIXA espera trazer
ao público uma importante colaboração para a reflexão
sobre o cinema nacional e a cultura brasileira, refor-
çando seu papel institucional de estimular a discussão
artística, ao mesmo tempo em que reafirma sua vocação
social e sua disposição de democratizar o acesso para
seus espaços.
M
anaus, saguão de hotel, novembro de 2010. Os Três Patetas e Elvis Presley. Até que num determinado
Mariana e eu esperávamos o transporte que momento (o escritor Sergio Augusto poderia nos dizer
levaria os convidados do 7º Amazonas Film qual) uma dessas emissoras começou a exibir filmes com
Festival do hotel ao aeroporto. Estávamos felizes, pois Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade e uma infinidade
nosso filme Elvis & Madona (2010) havia recebido o de artistas-personagens que encantaram de imediato a
prêmio de Melhor Ator pela atuação de Igor Cotrim, todas as crianças da minha rua, do meu colégio, primos,
concedido por um júri internacional presidido pela lenda ou seja, toda a minha rede social. Foram tardes diver-
viva do nosso cinema e TV, o diretor Carlos Manga. Ao tidíssimas. E o encantamento reverberava ainda mais,
longo do festival, eu havia cruzado com Manga algumas pois finalmente havia um tipo de filme que era assunto
vezes, fosse no hotel, nos restaurantes ou nas sessões do gosto de nossos pais, tios, avós e todos os mais ve-
do suntuoso Teatro Amazonas. Contudo, por questões lhos que faziam parte dos milhões de espectadores que
éticas e quase freudianas — bobagens de diretor de filme assistiram esses filmes no seu local natural — a sala de
em competição —, eu havia restringido os contatos com cinema — durante as três décadas de sucesso retumbante
os jurados a cordiais “boa noite”, “boa tarde” e “como da Chanchada.
vai?”. Mas eis que ali, naquela hora de despedidas, vejo Essas recordações, que duraram um átimo de se-
o próprio e sua esposa Cristinna pacientemente sentados gundo durante aquele diálogo com Carlos Manga numa
numa poltrona do lobby. Fui até eles para agradecer a tarde calorosa e calorenta de Manaus (com o perdão
premiação e dizer da honra extra que nos cabia por ter da redundância), me fizeram retrucar dizendo: “A culpa
sido ele, o Manga, o presidente que havia sancionado é toda sua, Manga! Sua e de todos os diretores que
nosso prêmio. Muito elegantemente ele declinou meus realizaram esses filmes que tanto nos divertiram. Se não
votos de agradecimento, dizendo que o mérito era todo fossem vocês, filmes como o meu não existiriam”. Então
da qualidade do nosso filme, o qual ele analisava quase um emotivo Manga apertou-me a mão com firmeza e
que como uma chanchada. Ao ouvir esta palavra mági- disse um sincero “Muito obrigado. Ninguém nunca me
ca — chanchada! — meu pensamento voltou no tempo. disse isso”. Meio brincalhão e insolente como sou, re-
truquei: “Mentira sua, Manga. Tenho certeza que muita
Volta Redonda, início dos anos 70. gente já lhe disse isso. Se não disseram, gostariam de
O Brasil vivia uma ditadura com matizes naciona- dizer. Aliás, seria muito bom que alguém fizesse uma
listas e todos (bem, aos 8 anos eu achava que eram retrospectiva com os filmes da chanchada. Acho que vou
todos) cantávamos com orgulho “Pra Frente, Brasil”, o fazer uma.”. E assim, da fusão entre tardes tão distantes
hino da conquista do Tricampeonato Mundial de Futebol no tempo e no espaço, surgiu a ideia desta mostra Noi-
no México. Nossas idas aos cinemas da cidade (havia 5 tes de Chanchada.
salas, sendo uma com 1.600 lugares, o Cine 9 de Abril,
ainda hoje em funcionamento) eram limitadas às matinês Marcelo Laffitte
de Tom & Jerry e às temporadas recorrentes de Meu Pé produtor
A
chanchada cinematográfica é um daqueles de Barros, que preferia o genérico “comédia”. A acei-
temas que parece contar com plena aceita- tação ou recusa diz muito de certas dialéticas, como as
ção e compreensão de quantos se manifes- em torno da imagem atrasada, precária, mal feita dos
tem sobre ele. Todo mundo aparentemente sabe o que é, filmes, que para muitos se tornava índice do país, ou,
pode mencionar duas ou três criações típicas e o defen- em chave contrária, as urdidas pelas narrativas diante
de como “gênero nacional” por excelência. A própria da defasagem frente ao antigo “primeiro mundo”, moti-
palavra, que significa basicamente porcaria, passou a vo de regojizo pela consolidação de uma mentalidade e
expressar após algumas décadas de estudos e defesas comportamento “malandro”.
muito mais um fenômeno cultural do que um determina- A “Dialética da malandragem”, nome de um famo-
do percurso histórico. O universo da chanchada alar- so ensaio de Antônio Cândido, está associado ao livro
gou-se de tal forma que a quase totalidade dos filmes de Joaquim Manoel de Macedo, Memórias de um sar-
cômicos e musicais de certa época passaram a integrar gento de milícias, que por sua vez está ligado à tradição
suas fronteiras. Uma definição estrita tornou-se proble- picaresca de origem ibérica. Do lado espanhol, teríamos
mática e talvez impossível. Por quaisquer elementos que herdado o acento crítico da recusa do mundo como ele
se queira traduzir a criação chanchadesca, a intenção se apresenta. Do lado português, o conformismo e a cor-
sempre se mostra insuficiente. O rótulo não se prende dialidade que punham freios à transformação dessa re-
a padrões ou estruturas recorrentes. Sempre escapa, cusa em uma contestação direta ao status quo. A capaci-
deborda, transcende, abrindo brechas para incorporar dade de se moldar e contornar as situações do cotidiano
de tudo um pouco em chave próxima do pantagruélico que poderiam prender para sempre o sujeito nas malhas
ou antropofágico. A chanchada seria uma das faces do de uma existência enfadonha, encontra eco nos corpos
chamado “modernismo carioca”, mas dizer desta ma- e nas falas dos principais cômicos do período. Os mais
neira já criaria objeções e contestações, pois restringiria corporais, como Ankito e Oscarito, este descendente de
sua dimensão nacional... família artística espanhola, tremem, desengonçam, estre-
A chanchada seria o Brasil, ou pelo menos o ethos bucham, sempre em descompasso com a ordem e a fala
brasileiro? Há um certo exagero nessa afirmação, que oficial, geral ou direta. Os mais retóricos, como Mesqui-
se vale do sucesso avassalador e nacional de uns quan- tinha ou Zé Trindade, comentam satiricamente essa ines-
tos títulos entre 1929 e 1967. Alguns profissionais, como capável submissão à autoridade, figurada na esposa, no
o diretor Carlos Manga em recente chamada veiculada patrão ou no agente do Estado. Ser malandro, portanto,
nos cinemas por ocasião da comemoração do centená- era uma condição de sobrevivência popular diante de
rio do grupo Severiano Ribeiro, chegam a falar em 15 uma realidade tida como eternamente madrasta.
milhões de espectadores por filme. Não há comprova- É preciso cuidado, porém, com indicações um tanto
ção estatística ou documental para a ida regular de um amplas. Certamente tal comicidade malandra atravessa
quarto ou um quinto da população brasileira da época a experiência da maior parte da comédia cinematográ-
para ver chanchadas. Por um número expressivo de fo- fica popular brasileira de meados do século XX, mas
tografias percebe-se que as filas sempre estão presen- forma-lhe o núcleo estruturador? Esses filmes retomam
tes quando uma chanchada estava em cartaz. Mesmo o confronto entre a personagem popular, em seu afã de
quando o filme em questão não foi produzido pela mobilidade social, uma pequeno burguesia conformada
Atlântida Cinematográfica e não passa compulsoria- e niilista, e uma elite socialmente irresponsável e politi-
mente em um cinema de Severiano (a família era dona camente autoritária? Raros o fazem com clareza, como
daquele estúdio e exibia diretamente em seu circuito). Carnaval Atlântida (1952), Nem Sansão Nem Dali-
A produção de chanchadas era um filão regular para la (1955) e Pistoleiro Bossa-Nova (1962). A disper-
muitas companhias ou realizadores, ainda que alguns são dessa herança cultural secular, em paralelo a sua
não se sentissem confortáveis com o termo, como Luiz apropriação e ressignificação pelo Estado Novo, através
7
da capacidade adaptativa da “raça” brasileira (a ginga, ao dilema de que filmes oferecer ao público. Escolheu
o jeitinho, a boa malandragem), concorrem para um em- inicialmente um perfil de maior radicalidade estética, do
baralhamento das premissas da chanchada. qual resultou a obra-prima Ganga Bruta (1933), de
A necessidade de formulação de um produto novo Humberto Mauro. Os resultados comerciais, entretanto,
para um novo momento é a verdadeira raiz de constitui- foram modestos e poderiam comprometer o vultoso em-
ção de certa proposição fílmica, que não foi denomina- preendimento industrial. Nesse mesmo ano, procurando
da como chanchada de início. À passagem ao cinema incorporar a tecnologia sonora ótica, ele lança um ou-
sonoro em fins da década de 1920, assim como à etapa tro tipo de produto fílmico que também obteria suces-
histórica e política ins- so imediato e acabaria
tituída pela Revolução por configurar um uni-
de 30, levam à idéia verso cinematográfico
de uma indústria cine- particular de longa du-
matográfica local e à ração, o longa- metra-
criação de filmes que gem Voz do Carna-
buscam descobrir quais val (1933), co-dirigido
seriam os interesses de por Gonzaga e Mau-
um amplo público dis- ro. O que foi chamado
tribuído pelo país intei- na época de filmusical
ro, capaz de sustentar e pouco depois se as-
continuamente o inves- sumiria como musicar-
timento necessário à navalesco, desaguaria
empreitada. As referên- na década seguinte
cias de sucesso existen- em comédias musicais
tes naquele momento amplas cada vez mais
não são muitas, sendo detratadas pela crítica
as mais consistentes, as como “chanchadas”.
de origem teatral. De A passagem de um “sub
fato, o teatro comercial gênero” para o outro se
tal como desenvolvi- dá por um processo de
do no Rio de Janeiro, acentuação dos elemen-
através de companhias tos cômicos, inicialmen-
estrangeiras, a partir de meados do século XIX, provou- te episódicos ou tratados como simples esquetes, e mais
-se eficiente e duradouro a ponto de fornecer tramas, tarde tornados centrais, e pela progressiva depuração
estruturas, elencos e uma certa pegada satírica. Recusa- do elemento musical, essencialmente carnavalesco nos
-se mais fortemente o modelo do vaudeville francês, mas primeiros tempos, e, em seguida, diminuído em sua pre-
se aceita de bom grado as contribuições das revistas de sença na narrativa, desaparecendo de algumas delas a
ano, das burletas, introduzida por companhias espanho- partir dos anos 50.
las, e dos music-halls estadunidenses. Houve uma feliz coincidência no fato de que o car-
O primeiro passo para fixar os elementos estéticos e naval carioca se afirmou ao mesmo tempo em que o ci-
culturais que caracterizariam a chanchada foi dado pela nema sonoro e a indústria fonográfica, e com acento
Cinédia. Após fundar o primeiro estúdio cinematográfi- modernizante em termos de mentalidade social e com-
co brasileiro de feição profissional em 1930, o jornalis- portamental. O estabelecimento de uma época de ouro
ta, produtor e cineasta Adhemar Gonzaga viu-se frente da música brasileira, entre os anos 30 e 50, permitiu à
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às das elites, forçosamente cosmopolita, colonizada e es- de gestos e movimentos da personagem. Por um breve
téril. Sem questionar se o samba ou o carnaval, ou qual- momento de dúvida, que antecede a piada, desconfia-
quer outra manifestação cultural, eram de fato criações -se dessa transformação, a rigor impossível na cabeça
nacionais, os filmes simplesmente ironizavam tal rejeição do público. Não é algo possível para uma personagem
em favor de uma “alta cultura” ou de uma referência popular, e Oscarito e ela são a mesma coisa. Logo o en-
civilizacional “moderna” e estrangeira, que não passava godo se desfaz, percebendo-se um faxineiro intrometido
de fachada para os velhos interesses escusos de sempre. a remexer pertences alheios e que ligou um rádio para
Se em 1936, a metáfora para essas relações ainda ouvir música clássica, interpretando por um momento fu-
lançava mão do universo teatral, como em Alô Alô Car- gaz um outro desejado, mas nunca alcançado.
naval!, quinze anos mais tarde, pode dispensar tal sub- Este momento de consagração, de fato, dá ensejo
terfúgio, no igualmente clássico Carnaval Atlântida, a um novo instante na criação de comédias populares
revelando o espaço do estúdio como o local de embate no cinema brasileiro, mas menos por uma suposta evo-
para as diferentes concepções de cinema e de cultura lução de um modelo. Uma nova geração está em cena,
brasileira. Ao sonho da grande arte se interpõe a reali- as condições de produção melhoram sensivelmente e o
dade, ou a impossibilidade de ser moderno, algo mais “diálogo” dos filmes se dará com um outro país, não só
doloroso nos anos 50 do que nos anos 30, quando a recém-saído de uma guerra no exterior, mas prestes a
personagem popular se transmuta em uma pequeno bur- ingressar no capitalismo industrial mais concreto e na
guesia. Ao atrapalhado homem do povo sobra algo mui-
to simples, mas muito significativo, a alegria. A reserva
inesgotável de entusiasmo popular diante das agruras e
tristezas do cotidiano construiu-lhe várias passárgadas,
uma delas chamada chanchada. Mas não sem contra-
dições, como repisava Alinor Azevedo, o amargurado
roteirista de chanchadas como Tudo Azul (1952), para
quem havia um quê de mistificação e falsidade na repre-
sentação chanchadesca da realidade carioca, particu-
larmente a do morro, de onde em verdade emanava a
cultura musical e parte do ethos da cidade.
A abertura de Carnaval no Fogo (1949), a peque-
na obra-prima de Watson Macedo que no parecer da
história consagrou o “subgênero”, ainda que não fosse
propriamente carnavalesca, cômica ou musical — era,
em verdade, uma aventura policial —, talvez indique com
precisão a cumplicidade formada ao longo de quase
duas décadas. O filme começa com um plano em que
uma personagem interpretada por Oscarito olha direta-
mente para a câmera, isto é, para o público sentado nos
cinemas. Ele está de casaca, algo em si já estranho para
a expectativa e a familiaridade que os espectadores nor-
malmente lhe dirigiam, e parece reger uma orquestra
sinfônica, que se houve em meio à cena. Ambiguamente
não se vêem os músicos e pode ser que a música seja a
do filme e não dentro do filme, apesar do sincronismo
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sociedade de consumo mais imediata, em particular de chega a ser questionado em suas possíveis modalidades
produtos culturais estrangeiros. Este choque produz a alternativas, inclusive via golpe de estado, como em
mudança de postura e de acabamento das chanchadas, Nem Sansão Nem Dalila. Mais significativo, no entan-
assim como sua diversificação. Se nos anos 40 apenas to, é o surgimento sutil deste novo Brasil, mais para Jus-
Cinédia e Atlântida perseguem a feitura de comédias celino Kubistchek do que para o populismo getulista. O
musicais como sinônimo de cinema de mercado, reser- subúrbio começa a sair de cena, trocado paulatinamente
vando para outras configurações discursivas o objetivo pelo morro e pela zona sul, mais “modernos” em suas
de um cinema mais “sério”, na década seguinte, auge questões e atualidades.
do mercado de exibição tradicional na história da ati- Na trama de Alegria de Viver (1958), de Wat-
vidade no país, outras produtoras, como a Cinelândia son Macedo, primeiro filme a se passar por completo
Filmes, a Herbert Richers e a Cinedistri, produtores inde- na zona sul carioca, região mais rica e “moderna” da
pendentes, como Ronaldo Lupo e Aloísio T. de Carvalho, cidade, a protagonista vivida por Eliana está às vol-
e até mesmo ex-diretores contratados como Watson Ma- tas com turminhas roqueiras. Logo no começo do filme
cedo, se lançam por conta própria à criação de filmes ela vai ao cinema com uma amiga vivida por Adelaide
com grande empatia popular. Chiozzo, no que já é um meta-comentário. Escolhem um
Trata-se agora de reconfigurar os argumentos e as filme “nacional”, ficando encantadas como um número
encenações, adequando-os as crescentes novas expec- de baião onde as cantoras não poderiam deixar de ser
tativas e temores. Opta-se pela ação em detrimento de obviamente elas mesmas. Macedo alterna o filme dentro
piadas verbais e músicas. Abandona-se o tom de crônica do filme com as espectadoras sentadas na plateia do
do cotidiano, mais típico da primeira fase da Atlântida. cinema, em um dos momentos mais extraordinários do
Daí o tom mais farsesco dos filmes mais recentes, com cinema brasileiro. A certa altura Eliana comenta saudo-
seus troca-trocas (identidades, maletas, carteiras, etc.), sa a alegria daquele tipo de cinema que infelizmente
ênfase em roubos e flertes com a televisão em vez do estava deixando de existir, justamente em favor de um
rádio. A agenda da chanchada fica mais up to date — novo tempo, mais do que por conta de uma nova moda
guerra fria, bomba atômica, corrida espacial, máquina chamada rock’n roll. De uma forma surpreendente, o
do tempo, etc. — e o entrelaçamento de gênero mais filme não estigmatiza o gênero musical “alienígena” que
direto — western, épico, musical, melodrama, etc. A mar- chega, antes o abraça com o mesmo entusiasmo, no fun-
chinha cede vez para os boleros, rumbas, bossas novas, do por se tratar do que era vivido de fato por aqui, mas
baiões e até mesmo rocks, quando não é simplesmente não consegue conter uma certa melancolia frente à essa
retirada, e os tipos ficam cada vez menos claramente po- passagem do tempo. Esta troca do antigo pelo novo a
pulares. Em seu último momento de fôlego, a chanchada chanchada tentaria ainda uma última vez fazer, mas sem
se sofistica narrativamente e faz principalmente um retra- o sucesso anterior, até porque nesse momento falta-lhe
to de um Brasil não só ansiado, mas prognosticado em justamente uma dialética concreta para articular. Seu
seus desdobramentos mais sensíveis e imediatos. olhar esgotara-se. Fora ultrapassada pela modernidade
Este aspecto crítico da chanchada passou em bran- que tanto perseguira.
co na época, com os críticos de cinema, em sua maioria, Apesar do momento mais interessante ter passado,
insistindo na pobreza e na chulice dos espetáculos, e a muitas chanchadas foram feitas ao longo da década
geração cinematográfica seguinte reclamando do con- de 60, indicando o quanto seu universo se enraizou no
formismo estético e político desse tipo de cinema. De imaginário de algumas gerações. Perseguiu-se até o fim
fato, o estratagema do sonho punha tudo na conta da essa relação. Buscou-se contemplar como um espetáculo
imaginação e não da realidade, não permitindo jamais eminentemente popular até o último espectador pagan-
que os protagonistas assumissem uma postura combativa te. É errado considerar que o “subgênero” acabou com
e transformadora. O status quo não é suplantado, mas o fechamento da Atlântida, assim como é equivocado
11
considerar que esta foi a maior produtora deste tipo Fada Santoro, Sônia Mamede, Zezé Macedo, Zé Trin-
de cinema, título que fica com a Cinedistri de Oswaldo dade e muitos, muitos outros —, mas a cozinha ia desde
Massaini, em que pese sua estratégia de associação com os grandes diretores como Manga, Macedo, Carvalho,
outras empresas, para as quais fazia um adiantamento José Carlos Burle, J. B. Tanko, Victor Lima, passando por
financeiro contra a co-produção e distribuição dos filmes. roteiristas e cenógrafos como Cajado, fotógrafos como
O obscurecimento desse conjunto final se deve em gran- Amleto Daissé, músicos como Lyrio Panicalli e Alexandre
de parte à exuberância do cinema com o qual concorreu Gnatalli, montadores como Waldemar Noya e Rafael
nos anos 60, particularmente o Cinema Novo, não só Justo Valverde e técnicos de som como Aloísio Vianna
esteticamente mais arrojado, como tematicamente mais e Hélio Barroso Neto, e chegando aos produtores como
afinado com os acontecimentos mundanos, tendo em vis- Gonzaga, Massaini, Paulo Burle, Herbert Richers, Luís
ta o novo público jovem em cena. Severiano Ribeiro Júnior, os irmãos Luís e Eurides Ramos
A passagem à neochanchada ou pornochanchada e Jarbas Barbosa. A chanchada foi um produto de esfor-
se dá com uma ruptura definitiva. O espetáculo passara ço coletivo marcante em seu diálogo com a sociedade
a censura “18 anos”. Os filmes que se seguem já são cla- brasileira e fundadora de uma tradição cinematográfica
ramente reminiscências e homenagens como Se o Meu local, que não há quem não saiba reconhecer em suas
Dólar Falasse (1970), de Carlos Coimbra, que reúne inflexões, embora difícil por vezes de definir.
dois dos grandes astros do passado, Grande Otelo e
Dercy Gonçalves, e um punhado de coadjuvantes igual-
Hernani Heffner
mente famosos. A face mais pública da chanchada eram Curador
os seus astros — Oscarito, Eliana, Ankito, Cyll Farney,
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resposta na página 46
12
Direção
Carlos Manga
Roteiro
Carlos Manga e Sílvio de Abreu
Produção
Sílvio de Abreu
Co-produção
Atlântida Cinematográfica
e Carlos Manga Cinematográfica
Fotografia
Antônio Gonçalves
Montagem
Waldemar Noya
Duração
105 minutos
FUNARTE/Centro de Documentação
Você Sabia?
Barroso Vasconcellos
No ano 2000, o processo de restauração da obra
Co-produção
foi meticuloso, pois os originais se encontravam
Atlântida Cinematográfica
em estado acelerado de degradação.
Fotografia
Edgard Brasil Uma legítima comédia carnavalesca que mescla
Montagem diferentes gêneros musicais desde marchas até
Wilson Monteiro canções românticas francesas.
Duração
113 minutos O cineasta Roberto Farias iniciou sua carreira como
fotógrafo still, inclusive, a foto de José Lewgoy que
ilustra esta página é de sua autoria.
Sinopse: A história se passa num luxuoso navio,
onde uma companhia teatral brasileira está retor-
nando ao Brasil. A bordo, há também um perigoso
espião internacional, que precisa ser detido antes
que todos cheguem ao Rio de Janeiro. (Livre)
FUNARTE/Centro de Documentação
14
Direção de Produção
Décio Alves Tinoco Regência do maestro Lyrio Panicali, que foi o dire-
tor musical do primeiro álbum de Raul Seixas.
Co-produção
Atlântida Cinematográfica
Canções: “Lá vem seu Tenório”, de Manoel Pinto e
Fotografia
Aldari de Almeida Airão, com Adelaide Chiozzo;
Edgar Brasil
“Marta”, de Humberto Teixeira e Lauro Maia, com
Montagem Bill Farr e Mary Gonçalves e ainda: “Ana Maria”,
Waldemar Noya e José Carlos Burle “Asa Branca”, “Lavadeiras”, “Mucho gusto”, “Pis-
Duração ca pisca”, “Placa Pigale”, “Dança dos apaches”,
102 minutos “Fora do samba”, “Meu caso é mulher”, “Não
vou chorar”, “Nem de vela acesa”, “Rabo de pei-
Sinopse: Barnabé carimba, acidentalmente, numa xe”. Todas estas transformam a trilha sonora de
das mãos a estrela de David, a marca do sexto her- Barnabé Tu És Meu como uma das melhores do
deiro de Salomão, que está sendo procurado pela período da chanchada.
princesa Zuleima. Agora, ele terá que casar com a
garota, ou será decapitado. (10 anos)
FUNARTE/Centro de Documentação
15
Produção de Oscarito.
FUNARTE/Centro de Documentação
17
Direção
José Carlos Burle
Elenco
Oscarito, Grande Otelo, Renato Restier, Wilson
Grey
Roteiro
José Carlos Burle, Victor Lima e Berliet Júnior
Fotografia
Amleto Daisé
Montagem
Waldemar Noya e José Carlos Burle
Duração
95 minutos
Você Sabia?
Direção
Watson Macedo
Elenco
Anselmo Duarte, Eliana Macedo,
Grande Otelo, Oscarito
Roteiro
Watson Macedo e Alinor Azevedo
Co-produção
Atlântida Cinematográfica
Fotografia
George Dusek
Montagem
Waldemar Noya, Watson Macedo
e Anselmo Duarte
Duração
97 minutos
Você Sabia?
Direção
Betse de Paula
Elenco
Dira Paes, Ana Paula Arósio,
Fábio Nassar, Hugo Rodas
Roteiro
Betse de Paula, Júlia de Abreu
e José Roberto Torero
Produção
Você Sabia? Aurélio Vianna Jr. e Dira Paes
Fotografia
Apesar de rodado em 2002, só conseguiu lança-
Lito Mendes da Rocha
mento comercial três anos depois.
Montagem
Marta Luz
Trilha sonora produzida por André Moraes e que
conta com composições de Raimundos, Adriana Duração
Vencedor do prêmio de júri popular no Cine PE e Sinopse: Celeste é uma jovem iniciante que quer
Cinesul. fazer seu primeiro longa-metragem e Estrela, um
burocrata que, apaixonado, se vê obrigado a se
Segunda parceria entre a diretora Betse de Paula tornar produtor para realizar os sonhos da moça.
e a atriz Dira Paes, que já havia estrelado o pri- (12 anos)
meiro longa da cineasta, O Casamento de Louise.
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Você Sabia?
Direção
Em 1956, além de Colégio de Brotos, Carlos Carlos Manga
Manga dirigiu mais duas produções: Vamos com Elenco
Calma! e Papai Fanfarrão. Oscarito, Cyll Farney, Daniel Filho, Margot Louro
Roteiro
O argumento do filme nasceu de uma conversa en- Alinor Azevedo e José Cajado Filho
tre o cantor Francisco Carlos (“El Broto”) e Man-
Produção
ga sobre uma história ambientada em um colégio
Guido Martinelli
interno.
Fotografia
Amleto Daissé
Inalda de Carvalho, eleita a Miss Cinelândia em
1953, ganhou como prêmio um contrato com a Montagem
Atlântida participando de alguns filmes até se ca- Waldemar Nova e Carlos Manga
sar com o próprio Manga. Duração
90 minutos
Estreia cinematográfica do ator Daniel Filho.
Sinopse: Em um colégio, um professor é vítima de
O filme foi visto, segundo estatísticas da época, uma acusação falsa, por ter encontrado certa noite,
por cerca de 250 mil pessoas somente em sua pri- uma das alunas internas em seu quarto. Esse fato
meira semana em cartaz. vai criar confusão no colégio. Quando descobrem
que uma valiosa coleção de moedas foi roubada
tudo piora ainda mais e alguma solução imediata
deve ser encontrada. (12 anos)
FUNARTE/Centro de Documentação
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Direção de Produção
Guido Martinelli Eleito pela crítica de cinema carioca como o me-
lhor filme brasileiro de 1957.
Roteiro
José Cajado Filho
Estreia do grande fotógrafo turco Ozen Sermet
Co-produção
na Atlântida, pela qual recebeu a láurea de me-
Atlântida Cinematográfica
lhor fotografia no V Festival de Cinema do Dis-
Fotografia trito Federal.
Ozen Sermet
Montagem Mais um longa divisor de opiniões em que a crítica
Waldemar Noya enalteceu o deboche a alta cultura e elite brasileira,
Duração porém outra parte tratou com desprezo o que clas-
105 minutos sificou como uma mera cópia do cinema americano.
FUNARTE/Centro de Documentação
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Milton Rodrigues
Elenco
Genésio Arruda, Paulo Gracindo,
Janir Martins, Oscarito
Companhia produtora
Cinédia
Produção
Adhemar Gonzaga
Roteiro
José Lins do Rego
Fotografia
George Dusek
Montagem
Hipólito Collomb
Duração
61 minutos
Você Sabia?
Direção
Carlos Manga Estreia cinematográfica da atriz Eva Todor, que
Elenco nasceu na Hungria e imigrou para o Brasil após
Oscarito, Eva Todor, Cyll Farney, Jaime Costa dificuldades de sua
Roteiro família na Europa do
José Cajado Filho pós-guerra.
Produção
Atlântida Cinematográfica Numa das cenas anto-
lógicas do cinema bra-
Fotografia
sileiro, Jonjoca (Osca-
Ozen Sermet
rito) tenta se passar
Montagem
pela milionária Mada-
Waldemar Noya
me Gaby (Eva Todor),
Duração fazendo uma imitação
85 minutos perfeita dela. O ator
capta minuciosamente pequenos detalhes do jei-
Sinopse: Um ladrão sofisticado, e seu parceiro sim- to de Todor e transforma a cena num show de
plório, tiram de quem tem para dar a quem não irreverência e talento, além de homenagear os
tem. Principalmente, quando o beneficiado é o ir- comediantes irmãos Marx.
mão do bandido, que quer estudar no exterior, mas
não tem dinheiro para isso. A saída, então, é apli- Segundo filme brasileiro da atriz e vedete argen-
car um grande golpe. (Livre) tina Irma Alvarez, que brilhou posteriormente em
Todas as Mulheres do Mundo (1967), de Domin-
gos Oliveira.
FUNARTE/Centro de Documentação
24
Direção
Carlos Manga
Elenco
Grande Otelo, Oscarito, Átila Iório, Fregolente
Roteiro
Víctor Lima, Guido Martineli e Carlos Manga
Gerente de Produção
J.B. Tanko
Produção
Atlântida Cinematográfica
Fotografia
Amleto Daissé
Montagem
Waldemar Noya e Carlos Manga
Duração
90 minutos
Você Sabia?
FUNARTE/Centro de Documentação
25
FUNARTE/Centro de Documentação
26
Você Sabia?
Direção
Norma Bengell, em sua estreia no cinema, faz uma Carlos Manga
paródia da sensualidade de Brigitte Bardot, atriz Elenco
francesa que ficou intimamente ligada a Búzios. Oscarito, Cyll Farney, Zezé Macedo,
Norma Bengell, Jô Soares
O Sputnik foi a primeira série de satélites artificiais Roteiro
lançados ao espaço pela antiga União Soviética. José Cajado Filho
Produção
A exibição do filme chegou a ser ameaçada de- Cyll Farney
vido ao alto grau de deboche com relação aos
Fotografia
países envolvidos na Guerra Fria.
Ozen Sermet
Montagem
O longa dividiu a crítica que o considerou uma ridi-
Waldemar Noya
cularização em relação a outros países fruto da ig-
Duração
norância de seus realizadores ou, por outro lado,
98 minutos
também um crítica a futilidade da alta burguesia e
uma sátira inteligente ao poder americano.
Sinopse: Um estranho objeto parecido com o famo-
so Sputnik, um satélite que ameaçava cair na Terra,
desaba no quintal de um pobre agricultor matan-
do algumas galinhas. Ele tenta negociar o artefato
para recuperar o prejuízo. O fato repercute cha-
mando a atenção de espiões internacionais, que
passam a buscar desesperadamente o tal Sputnik,
transformando a vida do pacato Anastácio. (Livre)
27
Luiz de Barros
Elenco
Maria Amaro, Mesquitinha,
Ana de Alencar, Lúcia Lamour
Produção Você Sabia?
Adhemar Gonzaga
Companhia produtora
Mesquitinha era considerado o melhor ator cômi-
Fotografia
Luiz de Barros foi o di-
A.P. Castro
retor com a maior filmo-
Duração
grafia do cinema brasi-
83 minutos
leiro, tendo trabalhado
entre 1914 e 1977. Ele
Sinopse: Patrícia é uma moça rica e mimada. O pai passou por todos os gê-
faz-lhe todas as vontades, até mesmo resolve “com- neros cinematográficos,
prar um marido” para ela. O escolhido é Marcos mas foi conhecido ape-
e o contrato estipula que em troca de uma vultuosa nas como chanchadeiro.
quantia, ele deve submeter-se a todos os caprichos
da noiva. (10 anos) É o primeiro filme da
atriz Fada Santoro, que depois se destacaria em
produções da Atlântida.
28
Direção
Aloísio T. de Carvalho
Elenco
Violeta Ferraz, Cauby Peixoto,
Carlos Imperial, Cláudio Tovar
Produção
Aloísio T. de Carvalho e Lívio Bruni
Roteiro
Aloísio T. de Carvalho e Chico Anysio
Fotografia
A.P. Castro
Montagem
Giuseppe Baldacconi
Duração
73 minutos
Você Sabia?
Direção
Hugo Carvana
Elenco
Tarcísio Meira, Gregório Duvivier,
Flávia Alessandra, Hugo Carvana
Roteiro
Paulo Halm
Produção
Martha Alencar Carvana
Fotografia
Lauro Escorel
Montagem
Diana Vasconcellos
Duração
99 minutos
Você Sabia?
Diretor de produção
FUNARTE/Centro de Documentação
31
Direção
Roberto Farias
Elenco
Reginaldo Farias, Violeta Ferraz,
Evaldo Gouveia, Walter D’Ávila
Roteiro
Roberto Farias e Riva Farias
Produção
Murilo Seabra
Fotografia
Juan Carlos Landini
Montagem
Mauro Alice, Roberto Farias e Riva Farias
Duração
104 minutos
Você Sabia?
Pintando o 7 (1957)
Direção
Carlos Manga
Elenco
Oscarito, Cyll Farney, Sonia Mamede, Ilka Soares
Roteiro
José Cajado Filho
Produção
Atlântida Cinematográfica
Fotografia
Ozen Sermet
Montagem
Waldemar Noya
Duração
80 minutos
Você Sabia?
Direção
Roberto Farias
Elenco
Zé Trindade, Violeta Ferraz,
Armando Camargo, Silvinha Chiozzo
Roteiro
Roberto Farias e Riva Farias
Produção
Murilo Seabra e Roberto Farias
Fotografia
Juan Carlos Landini
Montagem
Mauro Alice
Duração
110 minutos
A estreia de Roberto
Farias recebeu um mi-
nucioso trabalho de
restauração do Cen-
tro de Pesquisadores
do Cinema Brasileiro
(CPCB), e só assim po-
de-se voltar a circular
nos cinemas uma pé-
rola da chanchada.
Luiz de Barros
Elenco
Jayme Costa, Heloísa Helena,
Orlando Brito, Manoelino Teixeira
Companhia produtora
Cinédia
Produção
Adhemar Gonzaga
Fotografia
Edgar Brasil
Duração Você Sabia?
104 minutos
A estreia do filme aconteceu no Cine Alhambra. A
Sinopse: Um ladrão vulgar, acompanhado de dois sessão tinha como complemento a exibição do cur-
cúmplices, ao penetrar num palacete para roubar ta-metragem “Manobras Militares em Gericinó”.
tem a surpresa de encontrá-lo desabitado. Os seus
proprietários tinham ido passar uma temporada em O ator português Santos Carvalho, em visita ao
Buenos Aires. Essa inesperada oportunidade des- Brasil, participa de uma sequência no cabaré.
perta no ladrão o desejo de se aboletar com sua
família no palacete, o que sem demora é feito. Só A canção “Maracatu” é uma composição de Ca-
que o regresso dos donos é iminente. (12 anos) piba, que a interpreta no filme ao lado de sua
orquestra.
35
Luiz de Barros
Elenco
Maria Amaro, Carlos Barbosa,
Arnaldo Coutinho, Ana de Alencar
Companhia produtora
Cinédia
Produção
Adhemar Gonzaga
Fotografia
A.P. Castro
Duração
52 minutos
Você Sabia?
Os diretores
Aloísio T. de Carvalho (1924- )
O
soteropolitano Aloísio T. de Carvalho conhe- (1957) tornam-se enormes sucessos.
ceu o mundo das artes frequentando o bas- Minha Sogra é da Polícia (1958) é seu filme mais
-fond de Salvador. Almejando voos maiores, bem sucedido, evidenciando o cuidado da mise-en-scène
muda-se para o Rio de Janeiro onde conhece o diretor em deixar o talento e improviso do ator reinar soberana-
Raul Roulien, participando como assistente de produção mente na cena. Mudando os rumos de sua carreira, Alo-
e de direção de Jangada (1949), filme que fica inaca- ísio envereda por um cinema mais sério, experimentando
bado e se perde em um incêndio. Através do fotógrafo os mais diversos avanços tecnológicos, como o videotape
George Dusek, ele ingressa em definitivo na profissão, e a cor. Um dos primeiros filmes rodados em suporte vide-
vindo a produzir e dirigir o melodrama erótico O Preço omagnético no Brasil foi Rio, Capital do Samba (1961).
de um Desejo (1951). Mais significativa foi a produção de O Senhor dos Na-
Após firmar-se no meio artístico carioca, é contratado vegantes (1962), rodado em cores e como uma homena-
pelo cantor Ronaldo Lupo para dirigir três comédias mu- gem à sua mãe, recém-falecida. A brutalidade do enredo
sicais, Genival é de Morte (1955), Tem Boi na Linha destoou da média da produção da época. Infelizmente o
(1957) e Hoje o Galo Sou Eu (1957), que inauguram laboratório Policrom não usava o banho fixador, causan-
nova vertente no universo da chanchada. A inclinação do a perda da obra em pou-
mais romântica e menos acrobática de Lupo, privilegia o cos anos. Desiludido, Aloísio
diálogo de duplo sentido e o acento nos números musicais. abandona a realização ci-
Sentindo seguro para empreender uma carreira nematográfica, passando a
como produtor e diretor independente, Aloísio procura explorar o cinema Jussara no
o seu “Oscarito”, vindo a encontrá-lo na figura do ator Rio de Janeiro e a trabalhar
e frasista Zé Trindade. Poucos sabem que a maioria dos com salvatagem marinha.
bordões que o celebrizaram foram criados pelo diretor. (Hernani Heffner)
Maluco por Mulher (1957) e O Batedor de Carteiras
R
ealizadora de verve essencialmente cômica, Betse Obra de grande comunicabilidade, de pegada fe-
é considerada uma herdeira do humor chanchades- minista e preocupada com a perda do público popular,
co, a quem homenageia em seus principais filmes. investe no resgate de um humor mais leve e ingênuo, fa-
Filha do produtor e diretor Zelito Vianna, sobrinha do zendo jus à aproximação com a chanchada. A estratégia
humorista Chico Anysio e da atriz cômica Lupe Giglioti, prossegue em Celeste & Estrela (2005), que acrescenta
e irmã do ator Marcos Palmeira, Betse formou-se em Ci- um tom autobiográfico e de reflexividade, ao contar a
ências Sociais, mas nunca exerceu a profissão. Começou história de uma sonhadora curta-metragista. O filme ob-
sua carreira como produtora e continuísta em meados tém boa repercussão no circuito dos festivais, mas não
dos anos 1980, com Avaeté — Sementes da Vingança, encontra maior eco junto ao grande público, agora ma-
passando à direção de curtas-metragens pouco tempo joritariamente de classe média. Voltando a morar no Rio
depois. Conquistou prêmios e reconhecimento crítico de Janeiro, desenvolve a biografia do pai, publicada em
na pequena duração com S.O.S. Brunet (1986), Por 2010, e roda seu terceiro lon-
Dúvida das Vias (1988), seu trabalho mais elogiado, ga-metragem, o ainda inédito
Feliz Aniversário Urbana (1996), Leo 1313 (1997), Vendo ou Alugo, que explo-
The Book is on the Table (1999) e As Andanças de ra os novos tempos de UPPs e
Nosso Senhor Sobre a Terra (2005). Escreveu um dos apresenta um hoje raro olhar
episódios de Veja esta Canção (1994), de Cacá Die- crítico sobre a condição de
gues, estabelecendo-se algum tempo depois na cidade classe, no caso, a aristocracia
de Brasília, onde passaria ao longa-metragem com O decaída. (H. H.)
Casamento de Louise (2001).
38
U
m dos mais importantes diretores do cinema bra- balhou na época, voltou-se para o nascente mundo da
sileiro e um dos principais artífices da chanchada, televisão, passando pelas TVs Rio, Tupi e Globo, onde se
José Carlos Aranha Manga era um estudante de Di- fixou. Foi pioneiro no uso do videotape, que lhe permitiu
reito, organizador de um fã-clube de Frank Sinatra e Dick utilizar técnicas oriundas do cinema, e introdutor de uma
Farney e bancário, quando através do amigo Cyll Farney linha de programas musicais, onde mesclava a admiração
pode ter acesso ao mundo da Atlântida Cinematográfica por Hollywood e a passagem pelo teatro rebolado da
no começo dos anos 1950. Entrando para o estúdio, fez década anterior. Retornou ao cinema em duas ocasiões
de tudo um pouco, até se tornar assistente de direção e isoladas, com O Marginal (1974) e Os Trapalhões e
diretor em 1952. Admirador confesso do cineasta Wat- o Rei do Futebol (1986), sem a mesma repercussão e
son Macedo e do cinema estadunidense, em particular do aceitação anterior.
musical hollywoodiano, mesclou estas duas fontes em seu Eternamente identificado ao mundo da chanchada e
trabalho, sendo creditado como o realizador que afastou à Atlântida, foi convidado em 1975 para fazer uma cole-
a chanchada de suas raízes mais propriamente carnava- tânea em torno dos dois temas. Assim era a Atlântida
lescas, enfatizando a carpintaria cinematográfica e a re- tornou-se a síntese de sua visão pessoal do mundo que
lação paródica com o modelo made in U.S.A. o marcou e o constituiu como artista. Em tom nostálgico,
Considerava seus mestres diretos o montador Wal- enfatizava a conexão com o público, o star system local e
demar Noya e o cenógrafo, roteirista e diretor José Ca- as virtudes do sistema de estúdio, há muito desprestigiado
jado Filho. Com o primeiro aprendeu a importância da pela crítica e pelo chamado cinema de autor. O desen-
mise-en-scène em termos de decupagem e montagem. canto levou-o em seguida à publicidade, onde se tornou
Com o segundo descobriu o refinamento visual e narrati- realizador premiado diversas vezes de comerciais, e um
vo, abrindo-se aos temas contemporâneos e a uma sátira pouco mais tarde à televisão, onde passou por telenovela,
mais sofisticada, como se verifica em obras-primas como séries, programas humorísticos e direção de núcleos, sem-
Nem Sansão Nem Dalila e O Homem do Sputnik. pre na Rede Globo de Televisão. Permanece, até hoje,
Foi responsável pela direção de 24 longas-metragens, dos ligado à emissora na função de consultor. (H. H.)
quais 21 produzidos entre 1953 e 1962, uma das mais
extraordinárias e intensas performances da história do
cinema brasileiro.
O começo como diretor se deu com a condução de
dois números musicais, inseridos em Carnaval Atlântida.
Já em 1953 alcança o posto com A Dupla do Barulho,
obra que evidencia o texto em detrimento crescente da
música, em chave vaudevilliana que seria retomada em
O Golpe (1955), Papai Fanfarrão (1956) e O Cupim
(1959). Para Manga, seguindo de forma estrita o modelo
da revista teatral, a música, quando ocorria, tinha mera
função de “cortina”, isto é, pausa, não se conectando
diretamente à ação dramática. Por outro lado, alguns
de seus títulos tornam o mundo musical o eixo da trama
como em Guerra ao Samba (1955), Colégio de Brotos
(1956) e Quanto mais Samba Melhor (1960), exibindo
uma faceta nacionalista pouco ressaltada em seu traba-
lho. O núcleo mais celebrado da filmografia volta-se para
a paródia mais pronunciada de situações, temas, tipos,
modelos e referências da cultura internacional. É o que
se verifica nas obras-primas referidas acima e em títulos
como Matar ou Correr, retomada do arcabouço narra-
tivo de High Noon, de Fred Zinnemann, e De vento em
Popa, famoso pela extraordinária performance de Osca-
rito como “Melvis Prestes”, onde rock, bomba atômica e
relações de classe se misturam e se revelam mutuamente.
Com o encerramento da produção de chanchadas
pela Atlântida em 1962, única empresa para a qual tra-
39
U
m dos mais importantes atores do cinema, tele- Vai Trabalhar, Vagabundo (1973-1991), I e II, e de
visão e teatro brasileiros, desenvolveu pequena, Se Segura Malandro (1978), que lhe trazem prêmios,
mas apreciada carreira como diretor cinemato- reconhecimento crítico e um lugar à parte na história da
gráfico, dedicando-se sobretudo ao universo da comé- comédia brasileira. Deixando de lado o histrionismo típi-
dia. Tendo começado a vida profissional como mero fi- co das formas mais antigas e incorporando a preocupa-
gurante das chanchadas da Atlântida até despontar em ção social e a crítica política, Carvana renova o gênero
Os Fuzis (1964), de Ruy Guerra. Integra o movimento valendo-se do realismo cênico, da carioquice, do frasea-
do Cinema Novo tornando-se um dos atores fetiche de do ligeiro e repleto de gírias, e de um doce nacionalismo
Glauber Rocha, com quem roda quatro longas. Trabalha com pitadas de surrealidade. Ao lado de Costa, ainda
intensamente, desenvolvendo uma ampla e reconhecida cria Bar Esperança (1982), considerado por parte da
carreira como ator, com mais de 60 títulos só em cine- crítica seu melhor filme como realizador, exibindo uma
ma. Com passagens mais esporádicas pelo teatro, onde faceta nostálgica da alegria
integrou o Grupo Opinião, associa-se em definitivo à que se esvaira na chamada
televisão a partir de meados dos anos 1970, onde pas- década perdida. Fazendo do
sa por séries, sendo a mais famosa Plantão de Polícia, humor seu cavalo de batalha
minisséries, como As Noivas de Copacabana, e teleno- e estrela-guia, Hugo exibe re-
velas, com mais de vinte participações em títulos como novado vigor a partir da cha-
Gabriela e Roda de Fogo. mada retomada do cinema
Cultor de uma comicidade algo anárquica, que brasileiro, na última década
herdou da chanchada, estabelece parceria com o ro- do século XX. (H. H.)
teirista Armando Costa, criando o personagem Dino de
C
onsiderado um dos grandes nomes da chanchada fos da carreira de Burle é seu paulatino acercamento das
clássica, Burle não morria de amores pelo “gênero” potencialidades culturais do “gênero”, particularmente o
e o praticava apenas por necessidade estratégica viés paródico de referências e situações, como em cenas
de sustentação de uma indústria de cinema no Brasil. O de É com Esse que eu Vou (1948), que satirizava Esther
recifense formado em Medicina logo se tornou músico, jor- Williams, e de Falta Alguém no Manicômio (1948), que
nalista e, em seguida, cineasta. Trabalhando nas empresas investia sobre os filmes de Frank Capra.
de comunicação do Jornal do Brasil, começou, por volta Carnaval Atlântida (1952) surge como um pe-
de 1935, um programa de rádio dedicado às trilhas mu- queno grande tratado sobre a necessidade e utilidade
sicais dos filmes hollywoodianos. Contratado como uma de se fazer filmes cômico-musicais e populares no Brasil,
espécie de consultor musical pelo francês Julien Mandel denunciando o esnobismo das elites e a grandiloquência
para trabalhar no filme Maria Bonita (1936), estabelece equivocada de estúdios como a Vera Cruz. Foi eleita a
laços de amizade profundos com dois técnicos da produ- melhor chanchada da história em votações recentes. Pros-
ção, o fotógrafo Ruy Santos e o sonografista Moacyr Fe- segue nesse universo, com mais algumas chanchadas,
nelon. Com o último desenvolve o projeto de criação de quando resolve voltar para sua terra natal. Terra sem
uma nova produtora, a Atlântida Cinematográfica. Deus (1963) torna-se seu úl-
Lutando com as dificuldades de sobrevivência, a timo trabalho, onde denuncia
companhia se lança à feitura de cinejornais e prepara o as mazelas do coronelismo. A
primeiro longa, uma biografia musical disfarçada do ator falta de repercussão crítica e
Grande Otelo. Apesar da inexperiência, lança-se a uma financeira do filme o leva a se
realização empenhada que acaba alcançando enorme retirar do meio. (H. H.)
sucesso. Com Moleque Tião (1943), Burle e a Atlântida
chamam a atenção da crítica, do meio cinematográfico
e de certos segmentos intelectuais. Um dos grandes trun-
40
R
ealizador com a mais diversificada carreira do ci- e O Samba da Vida (1937). Em 1938 dirige um marco
nema brasileiro, Luiz de Barros atingiu a marca de da comédia popular, Tereré não Resolve!, que retoma
mais de cem títulos como diretor, muitos dos quais explicitamente o universo do carnaval. Na década seguin-
comédias musicais, sempre aproximadas ao universo da te, torna seus filmes cada vez mais escrachados, ficando
chanchada. Lulu, como era conhecido, vem a ser um dos conhecido como um realizador rápido e desleixado.
construtores originais da alquimia que irá constituir essa Percebendo o interesse dos exibidores pela chancha-
forma de cinema popular. da, torna-se produtor independente na segunda metade
Destinado ao Direito, ele convence a família a lhe per- dos anos 40, realizando quase uma dezena de obras em
mitir uma formação na área de artes. Parte para a Europa pouco mais de cinco anos. Nos anos 50 deixa a força
onde estuda em Lausanne, Milão e Paris. Nesta cidade dos textos de lado e se interessa pelo lado musical, como
encanta-se com as filmagens cinematográficas, conseguin- em O Rei do Samba (1952) e Samba na Vila (1956-
do emprego na Gaumont, onde aprende os rudimentos da 57), respectivamente dedicados aos compositores Sinhô
profissão. Com a eclosão da guerra no continente, retorna e Noel Rosa.
ao Brasil, criando a produtora Guanabara Films. Seus últimos filmes representam um esforço de reali-
O domínio do mercado pelo filme estrangeiro estran- zação mais afinada a uma produção elegante e “séria”.
gula a iniciativa e Lulu volta-se para o teatro. Voltando E por iniciativa de Alex Viany,
ao cinema na segunda metade da década de 1920, cria Lulu deixa um livro autobiográ-
a produtora Synchrocinex que explora a nudez e o te- fico, Minhas Memórias de
mor às drogas nos chamados filmes “científicos”. Torna-se Cineasta, raro relato de um
pioneiro do cinema sonoro a discos, ao lançar o longa dos membros das primeiras
Acabaram-se os Otários (1929). gerações de realizadores bra-
Passando a Cinédia em meados dos anos 1930, refina sileiros. (H. H.)
sua relação com o teatro adaptando peças que giram em
torno de chave farsesca, como Jovem Tataravô (1936)
M
ais associado ao universo de um cinema esporti- ruda, que retomava o velho tema do matuto que ganha
vo e aos talentosos irmãos, dos quais se destaca na loteria e vive uma série de quiproquós por conta dessa
o dramaturgo Nelson Rodrigues, Milton Rodri- súbita riqueza. E também o caso de Somos Dois (1950),
gues teve uma carreira pouco significativa no terreno da seu filme mais pretensioso e romântico, e que girava em
ficção, onde em geral trabalhou como contratado e sem torno da migração para a grande cidade de uma mo-
envolvimento maior com os projetos. Ingressou no cinema cinha do interior. Seu maior projeto, no entanto, deu-se
em 1938, por conta de uma iniciativa familiar de apoio mesmo no campo do esporte. Por ocasião da Copa do
à pretensão do Clube de Regatas Flamengo em ter uma Mundo de 1950, a Cinédia ganhou a disputa sobre os
sede e um estádio de futebol próprios. A campanha pela direitos de registro. Milton foi contratado para dirigir as
construção da sede da Gávea passava por entre outras versões fílmicas das partidas e a suposta apoteose final
iniciativas pela confecção de um longa, Alma e Corpo com a esperada vitória do Brasil, que afinal não veio.
de uma Raça, cuja bilheteria teria função de arrecada- Realizou depois da Copa um pequeno filme, intitulado
ção de fundos. Porque o Brasil Perdeu a Copa, e o longa A Copa do
A realização do filme lhe foi entregue, misturando Mundo de 1950, cujo lançamento foi adiado para o ano
um fio condutor romântico e cenas documentais dos atle- seguinte e passou em brancas
tas. Uma final de campeonato foi especialmente encena- nuvens, por motivos óbvios.
da, constituindo-se a produção em raro documento de O desinteresse foi tanto, que
associação direta entre esporte e cinema no Brasil. Milton ele vendeu uma cópia para o
aprofundou seu interesse pelo cinema esportivo criando produtor Nilo Machado e este
inúmeros cinejornais, como Esporte em Marcha, Revista reaproveitou trechos no eróti-
Esportiva e outros. De tempos em tempos, voltava-se para co Aconteceu no Maracanã
a ficção, como foi o caso de O Dia é Nosso (1941), veí- (1968). (H.H.)
culo concebido para o talento histriônico de Genésio Ar-
41
R
oberto Farias e cinema são sinônimos. Ainda bebê, No ano de 1965, ao lado de Luiz Carlos Barreto,
sua mãe o levava para a sala escura. Logo aos 8 Glauber Rocha e outros, ele funda a distribuidora DIFILM.
anos, montava um “cinema” particular em sua casa É nesse momento que Roberto se estabelece também como
com caixas de sapatos. E o caminho para a arte foi se produtor e cria a R.F. Farias Produções Cinematográficas,
pavimentando aos poucos: saiu de Friburgo para cursar por onde lança seus três próximos trabalhos como diretor:
Belas Artes, no Rio de Janeiro, ou fazer Arquitetura. Mas uma “trilogia” tendo como personagem principal o cantor
seu destino sempre foi o cinema, onde desempenhou inú- Roberto Carlos. Roberto Carlos em Ritmo de Aventura
meras funções, construindo uma das mais belas carreiras (1968), Roberto Carlos e O Diamante Cor-de-Rosa
do cinema brasileiro. (1968) e Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora
No início dos anos 50, Roberto foi levado para a (1971) são um sucesso estrondoso, o que o afasta de vez
Atlântida através de convite do cineasta Watson Macedo. das pretensões estéticas do Cinema Novo e o aproxima
Fez cerca de dez filmes como assistente de direção até es- da produção de longas comerciais.
trear como realizador na comédia Rico Ri à Toa (1957), O seu último trabalho de direção cinematográfica
na qual já demonstrava seu talento para o artesanato vem com o polêmico e arrebatador Pra Frente, Brasil
de gênero. Logo em seguida, dirige No Mundo da Lua (1982), onde investiga e denuncia as torturas no perío-
(1958), que se revela um êxito na seara cômica. do nefasto da ditadura militar. Passa a se dedicar poste-
Buscando alçar voos maiores, Farias é convocado riormente a televisão na direção e produção de diversas
às pressas para substituir o cineasta Roberto Santos nas obras, como minisséries (As Noivas
filmagens de Cidade Ameaçada (1960), um thriller po- de Copacabana), telefilmes (Man-
licial baseado na vida do bandido Promessinha. A inclu- drake) e programas (Você Decide).
são do longa na prestigiosa seleção oficial de Cannes Atualmente ocupa o cargo de presi-
somente reforça a qualidade de sua carpintaria e olhar dente da Academia Brasileira de Cine-
ao cinema de gênero. Toda persistência e aprendizado ma e busca saídas para que o cinema
empírico no fazer cinematográfico desemboca na obra- brasileiro conquiste o mercado interno
-prima Assalto ao Trem Pagador (1962), onde Roberto e também se insira internacionalmen-
une com perfeição temas sociais e entretenimento em um te. (Leonardo Luiz Ferreira)
filme tecnicamente impecável.
P
rincipal nome da chanchada, Watson é considera- Carnaval no Fogo (1949), considerada a maturidade do
do por muitos seu mais autêntico construtor e mestre que veio a ser conhecido como chanchada.
absoluto. Desde a adolescência, Macedo queria ser Macedo prossegue utilizando referências amplas,
diretor de cinema e com 17 anos bateu à porta do estúdio como a aventura em Aviso aos Navegantes (1951), ou
da Brasil Vita Filme pedindo emprego. A dona da empre- o fantástico em Aí vem o Barão (1951), aperfeiçoando
sa ofereceu-lhe uma vaga de faxineiro, logo transformado a fórmula e pavimentando a estrada para uma década de
em faz tudo na produção do épico Inconfidência Mi- ouro para a chanchada. Apesar do reconhecimento do
neira (1948). Foi na função de montador que passou à público e das bilheterias, o desentendimento com a Atlân-
Atlântida em 1944. Desejoso de passar à direção na nova tida o leva ao rompimento e à criação de uma produtora
empresa, aceita o encargo de trazer à tona mais uma fa- própria, a Watson Macedo Produções Cinematográficas.
migerada comédia musical popular, Não Adianta Cho- Atento aos mínimos movimentos, ele incorpora até a
rar (1945). Prossegue com Segura esta Mulher (1946), favela numa chanchada, Três Colegas de Batina (1960).
Este Mundo é um Pandeiro (1947), e E o Mundo se O cansaço parece evidente em seu último filme: Rio, Ve-
Diverte (1948), com sucesso sempre crescente. Não sen- rão e Amor (1966). Premiado com o Coruja de Ouro
do exatamente um apreciador dessas comédias, almeja pelo conjunto de sua obra, já
dirigir dramas mais “sérios”. Seus pedidos são sistema- nos anos 1970, Macedo teve
ticamente recusados, até que o dono da Atlântida, Luís um início de reconhecimento,
Severiano Ribeiro Júnior lhe propõe um acordo, se dirigir mas não a altura de seu talen-
uma nova comédia de sucesso, poderá rodar o seu pro- to e de sua contribuição ao ci-
jeto dos sonhos, intitulado A Sombra da Outra (1949). nema brasileiro, tarefa ainda
O filme que passa à História é justamente esta comédia, por se realizar. (H.H.)
42
A
indagação sobre uma retomada da chancha- Com tantas transformações, talvez restasse apenas
da clássica, em qualquer uma de suas dimen- a permanência do quase monopólio do riso com o ca-
sões mais salientes, parece à primeira vista rioca e o Rio de Janeiro. De fato, a maioria das comé-
fora de cogitação quando se confronta o quadro de pro- dias ainda são produzidas na cidade, mas talvez menos
dução cinematográfica brasileira dos últimos 15 anos. por um ethos intrínseco, do que pela presença da Globo
Mesmo o período tendo se configurado como uma forte Filmes dentro do mesmo espaço urbano. A produtora,
guinada a um cinema de mercado, não houve uma dis- fundada em 1997 e ligada não oficialmente à podero-
tinção maior da comédia junto ao público. Não se criou sa Rede Globo de Televisão, passou a ser sinônimo de
uma demanda específica por esse tipo de filme, ou se comédia e vice-versa, surgindo aqui um ponto de conta-
produziu em larga escala segundo um figurino que inclu- to com o contexto mais antigo de produção, quando as
ísse baixo orçamento, crônica social, argumento e reali- chanchadas se nutriam da criação radiofônica, teatral e
zação para toda a família, tipos e intérpretes populares fonográfica. Levando-se em conta o quanto a Globo deve
e uma precariedade simbólica que ao fim e ao cabo res- historicamente a essas fontes, mas também em menor es-
tituísse uma certa imagem do Brasil como nação. O lado cala à própria chanchada cinematográfica, seria possível
cancioneiro do “gênero” bandeou-se para seara pró- acreditar em um fio condutor invisível do passado mais
pria, a do documentário musical, onde algumas dessas remoto ao presente mais imediato. Mas essa perspectiva
características se fizeram presentes. Foi neste segmento, é mais enganosa do que parece à primeira vista.
inclusive, que um resgate literal da chanchada foi efe- Não que não seja possível encontrar pontos de con-
tuado, com a inserção de trechos dos filmes antigos em tato e traçar linhagens de uma experiência à outra. Bas-
obras como O Homem que engarrafava nuvens (2009), ta lembrar telenovelas como Feijão maravilha (1979),
de Lírio Ferreira, o que já sinaliza uma apropriação con- a presença de Carlos Manga, um dos nomes chave da
textualizadora presente na atualidade. chanchada, e sua longa permanência na emissora, do
Se a dissociação da comédia e da música se mostrou teledramaturgo Sílvio de Abreu, um dos cultores do ci-
conclusiva, isto não significa um abandono e um definha- nema cômico antigo, e de Chico Anysio, que trabalhou
mento do lado mais alegre da produção cinematográ- no rádio e no cinema da década de 1950. Mas curio-
fica. A se considerar apenas as 20 maiores bilheterias samente não vem de um humor mais tradicional, como
de 2000 em diante, 8 se denominaram comédias, com o apresentado em Zorra Total, as indicações para a
públicos superiores a 2 milhões de espectadores. Apesar comédia cinematográfica contemporânea e nem esta
da percepção da crítica sobre a falta de criatividade da se subordina apenas a modelos egressos da televisão.
maior parte dos filmes cômicos, na média da produção Certa faixa, inclusive, fica indecisa entre o humour mais
e da atenção do público o gênero ocupa cerca de 30 a nobre e a acentuação mais grave da realidade, como se
40% dos territórios formados mais recentemente. A “in- descobre em Separações (2002), de Domingos Olivei-
digência” comentada poderia ser um dos pontos de con- ra, Meu Tio matou um cara (2003), de Jorge Furtado,
tato com o passado distante, mas careceria de seu prin- e Tapete vermelho (2006), de Luiz Alberto Pereira. A
cipal sustentáculo de apreciação, a qualidade material crítica insinua uma divisão entre comédias consideradas
da realização. Diferentemente de outrora e a partir da “sérias”, como estas citadas, e as tidas como “degrada-
“retomada” da produção nacional nos últimos anos do das”, justamente por seu contato ou filiação direta a um
século XX, há um reconhecimento do bom acabamento humor televisivo, reeditando de certa forma a relação
técnico da maioria dos filmes. Mas não foi somente isso da chanchada com suas fontes mais escrachadas, par-
que mudou. Outros deslocamentos importantes se pro- ticularmente o teatro de revista. Funcionaram um pouco
cessaram, como a passagem dos cinemas de rua às salas mais a contento, produções que se dirigiam mais direta-
de shopping, o foco não mais no público popular e sim mente as fontes fílmicas do passado, como as realiza-
em um espectador pertencente às classes médias — B e C. ções da diretora Betse de Paula, que declarou querer
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homenagear as comédias de outrora com filmes como O turada de signos e esvaziada de sentido. O riso agora
casamento de Louise (2001) e Celeste e Estrela (2005). é travado e revela o crescente ressentimento do sujeito
Da mesma forma, diretores como Hugo Carvana e Da- frente à reconfiguração do mundo, feita a sua revelia.
niel Filho, que iniciaram suas carreiras como atores no Não é à toa que em filmes como Redentor (2004) e A
tempo da chanchada, mantiveram laços mais fortes com Mulher invisível (2009), de Claudio Torres, Divã (2009),
certa comicidade anárquica e de análise social. de José Alvarenga Jr., Elvis & Madona (2010), de Marce-
O cinema de Daniel Filho exibe ainda outro traço lo Laffitte, De pernas pro ar (2010), de Roberto Santucci,
característico da chanchada: o uso em tom levemente e E aí, comeu? (2012), de Felipe Joffily, a sublimação
paródico de referências fílmicas estrangeiras, nítidas em e o recalque do ato sexual seja quase total. Esta nova
uma franquia como Se eu fosse você. As sátiras ou pa- comédia investe pouco na anarquia, nos qüiproquós, na
ródias, porém, se tornaram bastante raras, sendo desta- opressão de classe, preferindo voltar sua atenção e seus
que apenas na produção recente Totalmente inocentes risos para o front das crises de identidade, incluindo aí a
(2012), de Rodrigo Bittencourt, que investe em uma mul- da antiga brasilidade.
tiplicidade de citações, com destaque para as incursões
sobre os Tropas de elite. Ecos mais elaborados e menos Hernani Heffner
evidentes se desenvolveram no cinema produzido e diri-
gido por Guel Arraes. Considerado o renovador do hu-
mor televisivo, com programas como Armação ilimitada,
Tv Pirata e Brasil legal, ele recuperou em suas incursões
cinematográficas, iniciadas com O Auto da Compade-
cida (1998) e continuadas com Lisbela e o prisioneiro
(2003), não só as personagens populares como a cultu-
ra tradicional brasileira e mesmo a metalinguagem ca-
racterística da chanchada clássica.
O que de mais recorrente se realizou no campo da
comédia cinematográfica brasileira tomou por referência
justamente o que Arraes evitou, o programa ou série te-
levisiva de humor voltada prioritariamente para as novas
classes médias brasileiras. Adaptações como as de Os
Normais — o Filme (2003) e Cilada.com (2011), de José
Alvarenga Jr., A grande família – O filme (2007), de
Maurício Farias, alcançaram grandes bilheterias, nesse
sentido, dialogando com plateias que cresceram com a
televisão e a toma como a grande referência cultural do
país. O paralelo com a chanchada parece evidente, em
termos de cruzamento transmidiático entre campos di-
ferenciados da indústria cultural, mas não ocorre uma
apropriação mais irônica do veículo original, nem um
aprofundamento das raízes contemporâneas deste novo
humor, como o stand-up comedy.
Já a comédia carioca dos anos 2000 investe no
retrato do isolamento social, material e existencial dos
indivíduos da mesma metrópole consolidada, agora sa- Ana Paula Arósio e Fábio Nassar em cena de Celeste e Estrela
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D
entre inúmeros filmes da era da película que so- como obra, consolidava-se fisicamente em um negativo
brevivem precariamente em suportes com alguma de imagem, um negativo de som e um conjunto de cópias
qualidade de som e imagem e que se encontram de exibição que circularam de norte a sul. Os negati-
sem acesso mais amplo ao público leigo e especializado, vos ficavam em geral nos laboratórios de revelação ou
todos sem dúvida merecedores de uma rigorosa recupe- ainda recolhidos à empresa de comercialização, uma e
ração, está um dos títulos mais emblemáticos do univer- outra pertencentes ao mesmo dono do estúdio produtor,
so da chanchada clássica, a obra-prima Carnaval no o empresário cinematográfico Luís Severiano Ribeiro Jú-
Fogo, dirigida por Watson Macedo em 1949 e lançada nior. Os três locais tiveram severos incêndios na primeira
junto à festa momesca do ano seguinte. Neste caso, po- metade dos anos 1950. Devido à combustibilidade es-
rém, não apenas a perda e deterioração de matrizes de pontânea do suporte nitrato em altas temperaturas, os
duplicação da obra afetaram severamente sua existên- negativos e boa parte, senão a quase totalidade, das
cia, como a particular trajetória dos materiais remanes- cópias se perderam nesse momento.
centes foi mutilando e desfigurando o filme ao ponto de Não há registros conhecidos sobre o que sobrou ao
seu estágio físico atual representar um desafio de recons- fogo e se um certo número remanescente de materiais,
trução editorial e de restituição de suas características provavelmente cópias, pereceu igualmente na inunda-
técnicas e estéticas mais básicas, como o quadro, brilho ção de 1970, que atingiu os fundos do cinema Olaria,
e sonoridade originais. para onde o acervo da Atlântida havia sido deslocado.
Após estrear com estrondoso sucesso, tornando-se Alguns anos depois, inspirados no sucesso da coletânea
o exemplar do “gênero” mais bem sucedido comercial- nostálgica That’s Entertainment (1974), a produtora de-
mente até então, a produção iniciou a típica via crúcis cidiu produzir um similar nacional — Assim era a Atlân-
em que se somam o descaso do produtor e a indiferen- tida (1975) —, com direção entregue a um dos mestres
ça – quando não rejeição – por parte da crítica, da da companhia, o diretor Carlos Manga. Muitas cenas
intelectualidade e dos poderes públicos. Mesmo o reco- de Carnaval no Fogo foram retomadas neste documen-
nhecimento tardio de seu valor histórico e cultural, como tário de arquivo, vindas aparentemente de uma mesma
a obra que configurou em definitivo o que se conhece fonte, um internegativo combinado (som e imagem juntos
por chanchada, ajudou muito pouco na sua recuperação na mesma película) 35mm, preto e branco, em suporte
e preservação de forma adequada. O simbólico gesto de acetato, que por sua vez teria sido gerado de uma
tardio do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasilei-
ro de elegê-lo por volta do ano 2000 como prioridade
absoluta na implementação de um pioneiro programa
de restauração de filmes brasileiros, esbarrou na impos-
sibilidade de contar com materiais suficientes para a sua
reconstituição cabal. Passou-se, então, a outro filme de
Macedo, o igualmente clássico Aviso aos Navegan-
tes (1952), que se tornou emblema do ressurgimento de
obras comprometidas da filmografia brasileira.
Para se entender a intrincada condição de Carna-
val do Fogo é preciso retroceder às suas características
originais e ao seu contexto imediato de produção, a pro-
dutora Atlântida Cinematográfica. Concebido como um
longa-metragem de linha, foi rodado em bitola 35mm,
emulsão preto e branca, suporte nitrato e som mono.
Como produto tipicamente industrial, uma vez acabado
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cópia 35mm em nitrato. A qualidade fotográfica das ce- ções precaríssimas de imagem e de som poderia suscitar
nas duplicadas a partir desta intermediação parece com- a percepção de uma obra menor e sem tantas qualida-
provar a informação. des salientes a ponto de justificar uma fama que não se
Com o que se tem hoje se pode tentar efetivar uma sustentaria diante da evidência contemporânea. Resituar
reconstituição da montagem original de Carnaval no o espectador diante da obra, exibida por ora em mídia
Fogo, cuja duração deveria girar em torno de quase ótica (dvd), esclarecendo-lhe as limitações intrínsecas de
duas horas, embora muitas fontes digam que o filme te- apresentação e preservação, e realçando-lhe os pontos
nha 97 minutos. Esse trabalho de restauração editorial que a tornaram emblemática como espetáculo e como
restaria inconcluso, sobretudo por conta de lacunas de marco histórico, procura moldar uma cultura de preser-
som ainda irreparáveis, mesmo com o uso de tecnologia vação que ao fim e ao cabo visa a restituição física e
digital, e por uma ou outra seqüência onde faltam pe- conceitual das sobras enquanto tais.
quenos trechos e aparentemente dois números musicais.
A apresentação imaginada para a oficina que inte- Hernani Heffner
gra a mostra tem por objetivo justamente chamar a aten- Conservador-chefe da Cinemateca do MAM e Presidente da
ção para a necessidade de um investimento maior em Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA)
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agradecimentos
créditos
Curadoria Alimentação
Hernani Heffner Dona Zeti
Ludmila Olivieri
Paula Tedrus
CAIXA Cultural Rio de Janeiro
Coordenação editorial & revisão de textos
Cinema 1
Leonardo Luiz Ferreira
Av. Almirante Barroso, 25, Centro
Projeto Gráfico
Guilherme Lopes Moura Ingressos R$2,00 e R$1,00
Tratamento de imagens
Verifique a classificação indicativa por filme
Bruna Thürler
Juliana Peres www.caixa.gov.br/caixacultural
www.chanchada.com.br
Ilustrações
Paulo Márcio Esper
Noites de Chanchada
Webdesigner Laffilmes
Fernando Alvarez @Laffilmes
Vinheta
Montagem: Fernanda Teixeira
Sonorização: Nilo Romero
Pesquisa Curiosidades
Leonardo Luiz Ferreira
Assessoria de Imprensa
Mais e Melhores:
Alexandre Aquino
Paulo Almeida
realização
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patrocínio
venda proibida
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