Você está na página 1de 578

...

Roberto Valadão Fortes

> A Segunda Morte

Artigos

Questão interessante e, portanto, digna de reflexões é aquela referente à possibilidade do


Espírito seguir a sua marcha evolutiva despido do perispírito. Segundo Allan Kardec:

qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestido de um
envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva na
hierarquia espiritual. (2004, p.87).

Todavia, no capítulo 6 do livro Libertação, de André Luiz (2004), são trazidas noções
sobre o que se denominou “segunda morte” (p. 105). Conforme se infere do seu texto,
há notícias de Espíritos missionários que, galgando planos mais altos, em razão de
elevados títulos na vida superior, perderam o “veículo perispiritual”.

Também é explicado nessa obra que “o vaso perispírico é também transformável e


perecível” (Luiz, 2004, p. 105), de modo que o pensamento impregnado de impulsos
inferiores, quando colocado no centro de interesses fundamentais, faz com que os
ignorantes e os maus, os transviados e os criminosos percam um dia a forma
perispiritual.

Tais Espíritos, que perdem a forma perispiritual em razão da densidade dos seus
pensamentos infelizes, conforme narrado por André Luiz na obra em comento,
assumem os contornos de “pequenas esferas ovóides, cada uma das quais pouco maior
que um crânio humano”(2004, p. 104).

A obra de André Luiz é clara em afirmar que o Espírito pode perder o seu perispírito em
razão de agigantados méritos na seara do bem. Contudo, não é clara em relação à
possibilidade de perda do perispírito em virtude de um nefasto monoideísmo, pois, ao
tratar dessa situação, fala em perda da forma perispiritual e não na perda do perispírito,
que, consoante se conclui sem maior esforço, revelam circunstâncias distintas.
De fato, a perda da forma perispiritual e a perda de perispírito encerram idéias distintas,
sem qualquer ponto de contato. Na primeira situação, o perispírito existe, no entanto,
sem a forma originária. Na segunda, o Espírito apresenta-se despido do seu perispírito.

Em relação à “segunda morte” dos Espíritos infelizes, tenho a seguinte hipótese: não há
propriamente a perda do perispírito; há, sim, a perda da forma humana em virtude de
séria lesão dos sutis tecidos que integram o psicossoma, causados por pensamentos
dotados de elevada densidade degenerativa.

E, assim, cogito porque, conforme bem ressaltado por Allan Kardec, o Espírito - cuja
constituição não pode ser investigada pelas limitações da ciência terrena – (2004) é um
princípio inteligente, dotado de expansão natural indefinida, cuja ausência de forma
poderia ser compreendida como uma realidade não material (2005a).

Desse modo, sem perispírito, o Espírito em estágio nas zonas de sofrimento não
assumiria a forma de ovóide. Expandiria indefinidamente, assumindo aspecto de uma
estrutura completamente amorfa, quiçá, abstrata, fora da realidade material até agora
conhecida pelas hostes Espíritas.

Com relação à “segunda morte” dos Espíritos purificados, tenho também uma hipótese.
A rigor, não haveria perda do perispírito. Haveria, sim, com o avanço do Espírito na
hierarquia espiritual, uma sublimação tão profunda no psicossoma que acabaria, no final
das contas, equivalendo a uma situação bem próxima da sua própria perda.

Daí em se falar em perda do perispírito para os Espíritos de escol.

As hipóteses ora levantadas, que não possuem amparo direto em qualquer outra obra
que tenha lido, podem, naturalmente, residir no largo campo do equívoco.

Contudo, ouso dizer que me parecem consentâneas com a lógica do razoável porquanto,
como expressamente colocado por Allan Kardec (2005b), por força de sua essência
espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato. Logo, precisa do psicossoma para
configurar um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento.

Ademais, sem definição, e, por conseguinte, sem qualquer limitação, o Espírito galgaria
a infinitude, assimilando, por assim dizer, um dos atributos de Deus (2005a). E como
não pode a criatura adquirir um dos atributos de Deus, sob pena de revelar uma
contradição em termos, capaz, inclusive, de negar a própria existência do Criador e, por
conseguinte, a realidade por Ele criada, há de se reconhecer no perispírito a sua
indissociabilidade do Espírito.

Não se deseja com as palavras alhures esposadas diminuir a obra de André Luiz, até
mesmo porque, sem ela, não haveria espaço para tal reflexão e outras até mais
relevantes. Também não se deseja trazer a verdade definitiva sobre um tema delicado e
complexo. Deseja-se, sim, prestar uma diminuta, mas sincera, contribuição à ciência
espírita, que é, inegavelmente, progressista.

Referências:
Kardec, Allan. O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita:espiritismo
experimental. Tradução de Guillon Ribeiro da 49. ed. francesa. Rio de Janeiro:
Federação Espírita Brasileira. 2005. 604p.

____________. O livro dos médiuns, ou, guia dos médiuns e dos evocadores:
espiritismo experimental. Tradução de Guillon Ribeiro da 49. ed. francesa. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2004. 580p.

____________. A gênese: os milagres e as predições segundo o espiritismo. Rio de


Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2005. Disponível em:
<http://www.febnet.org.br/apresentacao/1,0,0,389,0,0.html>. Acesso em: 23 mar. 2007.

Luiz, André; [psicografado por] Xavier, Francisco Cândido. Libertação. 27 ed. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2004. 328 p.

... Luciano dos Anjos

> O verdadeiro André Luiz

Artigos

ANDRÉ LUIZ

Em 19.5.04, distribuí texto pela internet sobre o espírito André Luiz, mostrando-lhe os
olhos e informando que o médium Waldo Vieira identificara para um amigo dele (e
meu) quem era realmente o famoso médico carioca. Naquele texto, voltei a explicar que,
no início da década de 70, após extenuante pesquisa com 286 médicos desencarnados de
1926 a 1936 (68 foram categoricamente de doenças ou cirurgias gastro-intestinais), eu
houvera chegado ao verdadeiro nome, que nada tem a ver com Carlos Chagas, Miguel
Couto, Osvaldo Cruz ou Francisco de Castro, os mais citados. O médium Francisco
Cândido Xavier me confirmara o nome, mas considerou que a identidade deveria ser
mantida em segredo.
Durante minhas pesquisas aconteceu o menos esperado: a família soube dos meus
passos e me procurou. Percebi então que o Chico tinha razão quanto a sermos
cautelosos e disse àqueles familiares - que já sabiam de tudo - que, de minha parte, o
público ainda nada saberia.

Guardei esse segredo até a recente distribuição do texto pela internet, quando divulguei
junto os olhos de André Luiz, receoso de que a revelação do Waldo se espalhasse sem
mais controle. Agora porém tudo mudou e não vejo mais motivo para qualquer reserva.
Pretendo contar tudo e até publicar minha pesquisa em livro, pois não sei quem conheça
mais detalhes dessa história do que eu; não apenas em relação às ponderações do Chico,
mas também relativamente à conversa que tive com a família de André Luiz.

A pessoa a quem o Waldo passou a informação é meu amigo, Osmar Ramos Filho. Ele
é o autor da extraordinária obra O Avesso de um Balzac Contemporâneo, análise de
amplo espectro do livro Cristo Espera por Ti, de Honoré Balzac, psicografado pelo
Waldo Vieira. Um estudo notável de corroboração da mediunidade do Waldo. Acertei
com o Osmar que continuaríamos mantendo segredo, transferindo para meu filho
Luciano dos Anjos Filho o encargo de fazer a identificação pública, quando as
circunstâncias se mostrassem propícias, isto é, ao tempo em que a conduta terrena de
André Luiz, narrada em Nosso Lar, pudesse ser melhor assimilada pelos descendentes.

Por que meu novo posicionamento? Afirmei certa vez que, após a precisão da minha
pesquisa, o Chico havia passado para o Newton Boechat a identificação correta. Eles
eram muito amigos, muito ligados. A atitude do Chico, portanto, nunca me surpreendeu,
especialmente ao constatar que eu já havia chegado ao nome certo. Em qualquer
circunstância acabaria ali o mistério. E - confesso hoje mais claramente - eu sabia que o
Boechat sabia, pois a respeito disso conversamos várias vezes, sempre sem nenhuma
testemunha.

Ocorre que o Newton Boechat achou por bem abrir uma exceção e estendeu a
identificação, também em caráter confidencial, a uma outra pessoa. E esta, por motivos
que ignoro, recentemente repassou a informação para mais alguém, num lamentável e
inconseqüente deslize verbal. Bem, agora já se trata de segredo condominial. Estão
querendo inclusive publicar um livro sobre a vida do verdadeiro André Luiz. Já tem até
editora. A intenção é temerária, porque nem sabem da conversa que tive com os
familiares. O levantamento dos dados está sendo feito às pressas e em sigilo,
naturalmente para parecer que a identificação já era conhecida antes de mim. Como não
sou tão ingênuo como os mais ingênuos supõem, estou agora abortando essa esperteza.

Já relembrei que desde o início da década de 70 divulguei na imprensa, por mais de uma
vez, minha pesquisa, embora sem revelar o resultado final. Não seria, pois, tão
necessária essa minha decisão de agora, pois ninguém no movimento espírita
desconhece meu trabalho. Mas já apareceu até quem dissesse que foi um velho amigo
meu de Franca que me passou o segredo. Lorota de alto vôo e alta envergadura, seja lá
de quem for a versão e diante da qual os que me conhecem preferem acreditar que os
condores têm medo das alturas... Ninguém mais além de mim, do Newton Boechat, do
Chico e do Waldo (estes dois obviamente) sabiam da verdadeira identidade de André
Luiz. Incluo ainda a discreta e amorável Maria Laura Hermida de Salles Gomes
(Mariazinha), que se relacionava com uma sobrinha de André Luiz e a qual teve papel
importante na conexão com o Chico e o Waldo. Pouco depois, mais aquele amigo do
Newton Boechat passou a saber também, em caráter excepcional. Foi ele que,
aperaltando assunto tão sério, acabou contando para quem está agora esboçando o livro.
Minimizar minha pesquisa fazendo dela fruto de mera informação do amigo francano é
denunciar a si mesmo de oportunista, enquanto perambula pelo humorismo barato dos
pobres de espírito, na tentativa de ignorar que uma lorota dessas só é degustável com sal
de fruta.
Ora, nesse ritmo, logo outros, muitos outros, todos saberão e, se eu esperasse o tal livro
aparecer, ninguém mais deixaria de saber, com todos os holofotes em quem tomou o
bonde andando. Eis por que, nesta data, me antecipo e universalizo o segredo.

FAUSTINO ESPOSEL

André Luiz é Faustino Esposel.Faustino Monteiro Esposel nasceu na rua dos Araújos nº
10, bairro do Engenho Velho, cidade do Rio de Janeiro (registro 14º 69), em 10.8.1888.
Desencarnou no Rio de Janeiro, às 17 horas de 16.9.1931, residindo então na rua
Martins Ferreira nº 23, no bairro nobre de Botafogo.
Era filho de João Paiva dos Anjos Esposel e de Maria Joaquina Monteiro (filha
reconhecida, ou seja, não registrada oficialmente).

Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 29.5.1847, conforme registro de batismo feito em


2.8.1847 (livro AP 1199, fls. 128 v.), na Catedral e Capela Imperial de Nossa Senhora
do Monte Carmo. Desencarnou de tísica, no Rio de Janeiro, em Irajá, em 1º.5.1900,
sendo sepultado no carneiro CP 1814 quadra 39 do cemitério de São João Batista. Foi a
mulher dele, Maria Joaquina Monteiro, quem mandou fazer a sepultura. Ela
desencarnou no Engenho Velho, no Rio de Janeiro, em 29.9.1910, portanto, dez anos
depois dele. Casados no Engenho Velho, Rio de Janeiro (registro nº 6º, 35), em
7.12.1871.

João Paiva dos Anjos Esposel e Maria Joaquina Monteiro tiveram os seguintes
filhos:

1. Oscar Monteiro Esposel, nascido no Engenho Velho, Rio de Janeiro (registro 8º 73).
Casado com Orminda Monteiro Esposel. Moravam na rua Bambina (estou omitindo o
número de propósito). Seu filho, Léo Esposel, em 1974 estava casado com Maria de
Lourdes Ribeiro Esposel. Tinha também três filhas, Lívia Monteiro Esposel, que
morava em 1974 na praia do Flamengo (idem, idem), Ida Esposel Neves e Elza Esposel.
Orminda nasceu em 1884, no Rio de Janeiro, tendo desencarnado em novembro de
1978, quando morava na praia do Flamengo. Oscar e Orminda tinham sete netos (Luiz,
Francisco, Nélida, Consuelo, Maria Cristina, Mônica e Patrícia) e oito bisnetos (Marcos
André, Luiz, Guilherme, Marcelo, Ricardo, Luciana, Márcia e Camila).

2. Noêmia Monteiro Esposel, nascida no Engenho Velho, Rio de Janeiro (registro 10º
v.).

3. Mário Monteiro Esposel, nascido no Engenho Velho, Rio de Janeiro (registro 11º,
64). Era almirante. Em 1975 morava na rua Prudente de Morais (idem, idem).

4. Adolfo Monteiro Esposel, nascido no Engenho Velho, no Rio de Janeiro, em


30.11.1885. Desencarnou com apenas quatro meses, no Rio de Janeiro, em 13.4.1886,
na rua dos Araújos nº 10, tendo sido sepultado no cemitério do Caju (4m.B.d.). (Em
Nosso Lar aparece como menina, mas na verdade era um menino. Quando desencarnou,
em 1886, Faustino ainda não era nascido, o que só vai acontecer dois anos depois, em
1888. André Luiz deslocou o acontecimento para depois do nascimento dele, quando ele
era "pequenino".)

5. Carlos Monteiro Esposel, nascido no Engenho Velho, Rio de Janeiro (registro 12º
4v). Em 1974 morava na rua São Salvador (idem, idem). Mudou-se depois para a rua
Paissandu (idem, idem). Acabou indo morar em Santa Catarina.

6. Faustino Monteiro Esposel.

Eram avós paternos de Faustino Esposel: José Maria dos Anjos Esposel e Margarida
Maria; e avós maternos: Isidro Borges Monteiro (desembargador) e Paulina Luísa de
Jesus.

João Paiva dos Anjos Esposel, pai do Faustino, tinha um irmão chamado Joaquim Maria
dos Anjos Esposel (1842-1897), casado com Maria José de Barros Carvalho (filha de
Delfim Carlos de Carvalho, barão da Passagem, herói da primeira guerra do Paraguai, e
de Ana Elisa de Mariz e Barros, filha do visconde de Inhaúma). O casamento foi
celebrado na igreja de São José. Tiveram quatro filhos:

1. Alice Esposel (casada com Andrônico Tupinambá).

2. Dulce Esposel (casada primeiro com Sabino Elói Pessoa e, em segundas


núpcias, com Joaquim Bernardo da Cruz Secco).

3. Eponina Esposel (casada com Alberto da Costa Rodrigues).

4. Delfina Esposel.

(Há uma rua no Rio de Janeiro chamada Joaquim Esposel.)

Faustino Esposel tinha muitos sobrinhos, dentre os quais Lívia Monteiro Esposel, Elza,
Ida Esposel Neves, Lúcia e Léo, casado com Maria de Lourdes Ribeiro Esposel (todos
residentes no Rio de Janeiro). E sobrinhos-netos: Élcio (almirante), Carlos, Ronaldo
(morava em 1974 na rua Prudente de Moraes, era comerciante de couro, casacos de
couro, ligado ao Jockey Club Brasileiro). Todos pessoas de bem.

Outros parentes: Laís de Niemeyer Esposel, residente em 1974 na av. Vieira Souto,
desencarnada em fevereiro de 1994; Jayme Carneiro de Campos Esposel, residente em
1974 na estrada do Joá, era capitão de fragata quando comandou o contratorpedeiro
Ajurieda, de 16.10.56 a 29.11.1957; Marcello, residente em 1974 na rua Cândido
Mendes. Nomes de respeitabilidade entre os que os conhecem.

Faustino Esposel casou com Odette Portugal Esposel, conhecida por Detinha. Era filha
do médico José Teixeira Portugal, nascido em 1874 e desencarnado em 1927. Ela
nasceu em 6.6.1900 e desencarnou em 5.2.1978. A missa foi rezada no dia 13 daquele
mês, na igreja de Santa Margarida Maria, na Lagoa.
Irmã da Odette Portugal Esposel: Olga Portugal, viúva de Gumercindo Loretti da Silva
Lima, casada em segundas núpcias com o primo Arthur Machado Castro, que tinha uma
irmã chamada Lygia. Odette e Olga tiveram uma filha: Regina, casada com Jorge C.
Dodsworth. Gumercindo Loretti foi figura muito ligada aos ideais do escotismo e tinha
um irmão, Jarbas Loretti da Silva Lima, diplomata e poeta, nascido em 1868, no Rio de
Janeiro, autor de Vozes Andinas, 1918.

Faustino Monteiro Esposel e Odette Portugal Esposel moravam na rua Martins Ferreira
nº 23, em Botafogo, cidade do Rio de Janeiro. A partir de 1954, a casa passou a ser
propriedade da Associação de Educação Católica do Brasil, subordinada à Conferência
dos Religiosos do Brasil e que permaneceu ali até 1981, quando se transferiu para
Brasília. A casa passou a abrigar, então, a Creche Escola Favinho do Mel, patrocinada
pela Associação e dirigida por três senhoras que ali residem até hoje (2005). O atual
porteiro se chama “coincidentemente” André Luiz...

Faustino Esposel nasceu na capital federal, no dia 10 de agosto de 1888. Era professor
substituto da seção de neurologia e psiquiatria da Faculdade de Medicina e reputado
clínico, catedrático de neurologia na Faculdade Fluminense de Medicina. Foi ainda
chefe do serviço da Policlínica de Botafogo e do Sanatório de Botafogo e médico da
Associação dos Empregados do Comércio. E era também sanitarista, portador por
concurso do título de docente de higiene da Escola Normal do Rio de Janeiro, na qual
foi continuamente encarregado de cursos complementares. Fez os estudos primários na
Escola Alemã, conhecia profundamente o idioma germânico, cursou durante alguns
anos o externato Mosteiro de São Bento. Formou-se em 1910 em farmácia e em
medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde defendeu tese sobre
"Arteriosclerose cerebral", em que recebeu a nota de distinção.

Durante o curso acadêmico, foi adido dos serviços clínicos da 7ª e da 18ª enfermarias da
Santa Casa da Misericórdia, chefiadas respectivamente pelos mestres Miguel Couto e
Paes Leme. Ainda nessa época, exerceu o internato oficial da Clínica Pediátrica dos
professores Barata Ribeiro e Simões Corrêa.

Pouco após a formatura, candidatou-se a médico da Assistência de Alienados do Rio de


Janeiro, classificando-se em primeiro lugar, pelo que foi nomeado assistente do Hospital
Nacional de Alienados. Chegou a titular de livre docente da Faculdade de Medicina,
exercendo ali o cargo de professor substituto de neurologia e psiquiatria. Nessa
condição teve ensejo de integrar diversas bancas examinadoras de teses de
doutoramento.

Foi ainda interno e assistente da clínica neurológica e médico adjunto do Hospital da


Misericórdia. Deixou muitos trabalhos publicados sobre a especialidade, o que lhe
permitiu ingressar em diversas sociedades científicas nacionais e estrangeiras. Em 1918
fez parte da missão médica brasileira que foi à Europa durante a I Grande Guerra. Como
representante do Brasil participou de congressos na Europa e na América do Sul. Foi
organizador e secretário-geral da Segunda Conferência Latino-Americana de
Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal. Sobre a epidemia de gripe no Hospital
Brasileiro, em Paris, apresentou em 1919 substancioso relatório ao chefe da Missão
Médica Brasileira. Recebeu honroso diploma do curso oficial de Pierre-Marie, assinado
por este famoso professor e pelo decano da Faculdade de Paris, professor Roger.
Durante o impedimento do professor Antônio Austregésilo Rodrigues de Lima,
catedrático de Clínica Neurológica (fora eleito para o Congresso Nacional), Faustino
Esposel exerceu com brilho aquela função, conquistando grande renome como didata.
Conseguiu elevado prestígio entre os seus colegas, gozando de justa projeção nos meios
sociais. Aficionado dos esportes, criou largo círculo de amizades nas rodas desportivas,
em época em que o futebol não era unanimidade nas elites do país.

Faustino Esposel desencarnou na capital federal, às 17 horas do dia 16 de setembro de


1931, com 43 anos 1 mês e 7 dias. O sepultamento foi numa quinta-feira, no dia 17, às
16:30h, no cemitério de São João Batista (registro 9817 – Quadra 12, Nº RG Livro 775
– p. 17). O corpo saiu da residência. Missa de 7º dia foi celebrada em 23.9.31, às 10
horas, na igreja da Candelária.

Antônio Austregésilo, amigo de infância, assinou o atestado de óbito, nele fazendo


constar, como causa da morte, apenas uremia. Era portador de uma nefrite crônica.
Entretanto, os familiares sabiam e alguns descendentes vivos sabem que ele
desencarnou de câncer, o que foi omitido por todos os jornais da época, que apenas
mencionaram, como era praxe nesses casos, "a violência da súbita enfermidade que o
acometeu" sendo "todos os esforços impotentes no combate ao mal insidioso" (Diário
de Notícias, 17.9.31); ou "acometido de moléstia aguda, que sobreveio
inesperadamente" (Jornal do Commércio, 17.9.31). Quando do falecimento, o amigo
Antônio Austregésilo fez um panegírico, inserido em Arquivo Brasileiro de Medicina,
nº 8, de 1931 (Biblioteca Nacional).

Em 29.9.1927, Faustino Esposel inscreveu-se à vaga aberta na Academia Nacional de


Medicina decorrente da passagem de Teófilo de Almeida Torres, membro titular da
Seção de Medicina Geral, para a classe dos Membros Titulares Honorários. Apresentou
juntamente com os seus trabalhos a memória intitulada "Em torno do sinal de
Babinsky". Aprovado, a eleição teve lugar em 17.11.1927 e a cerimônia de posse na
sessão de 24.5.1928, sob a presidência do acadêmico Miguel Couto, que designou os
acadêmicos Antônio Austregésilo e J. E. da Silva Araújo para acompanhar o novo
acadêmico ao recinto. Fez-lhe a saudação de paraninfo o acadêmico Joaquim Moreira
da Fonseca. Com o seu falecimento, sua poltrona passou a ser ocupada pelo acadêmico
Odilon Gallotti, eleito em 23.6.32 e empossado em sessão de 25.6.36. Na sessão de
30.6.32 a Academia promoveu uma homenagem a Faustino Esposel, discursando na
ocasião o orador oficial Alfredo Nascimento. Tenho em meus arquivos todos os
discursos pronunciados naquela instituição.

Faustino Esposel era católico. Militou na União Católica Brasileira. Foi congregado
mariano. Comungava com freqüência, o que era hábito da maioria religiosa daquela
época.
Tinha ficha de cadeira cativa do Clube de Regatas do Flamengo, dos anos de 1925 a
1930. Foi presidente do clube no biênio 1920-1922, depois de 1924 a 1927, ano este em
que renunciou, assumindo Alberto Borgerth. Em 1928 voltara à presidência, não tendo
completado o mandato em virtude da doença. Na assembléia de 23 de dezembro de
1920, quando o presidente já era Faustino Esposel, o Flamengo aprovou o seu novo
uniforme, usado até hoje. Em 1926, os Guinle pediram a devolução do imóvel que
estava arrendado ao clube. Fez-se então uma campanha de arrecadação junto ao quadro
social para a aquisição de um local próprio. Desde 25 de março de 1925, Faustino
Esposel havia reunido a diretoria comunicando a disposição do então prefeito da cidade
do Rio de Janeiro, Antônio Prado Jr., de ceder uma área de mais de 34 mil metros
quadrados às margens da lagoa Rodrigo de Freitas. Após negociações que se sucederam
com o prefeito Alaor Prata, o presidente Faustino Esposel obteve a desejada área na
Gávea.

O primeiro jogo ali promovido, ainda sem muro e cercado por madeiras, aconteceu sob
a presidência de Faustino Esposel, no dia 26 de novembro de 1926, entre a Liga de
Amadores de Foot-Ball (São Paulo) e a Association de Amateurs de Argentina. Nesse
período, Oscar Esposel, irmão de Faustino e conselheiro do clube, propôs a inauguração
do estádio da Gávea em 15 de novembro de 1938, quando o Flamengo estaria
completando 43 anos de fundação. Mas a festa acabou acontecendo antes, no dia 4 de
setembro daquele ano com um jogo entre Flamengo e Vasco, vitória vascaína por 2 a 0
que, no entanto, não abafou a alegria rubro-negra, por estar com a nova casa concluída.

Entusiasta dos esportes e da educação física, que sempre cultivou, pertenceu a muitas
associações esportivas em que exerceu cargos técnicos e administrativos e de que foi
presidente por diversas vezes, como a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos e
a Federação Brasileira de Desportes.

Há dois retratos de Faustino Esposel na sede do Flamengo, na Gávea. Outro, de corpo


inteiro, não está, como alguns parentes supunham, no gabinete do Deolindo Couto, de
quem foi professor. Constatei que se encontrava no corredor escuro da Faculdade de
Medicina, então na praia Vermelha (hoje não existe mais). Existe também um quarto
quadro, em que ele está de meio-perfil, na residência da Maria Laura Hermida de Salles
Gomes (Mariazinha), em Cambuquira, na rua Getúlio Vargas, 141.

Um último registro: Antônio Austregésilo, talvez o maior amigo do Faustino, chegou a


presentear Odette com livros de André Luiz.

Bem, eis o que posso adiantar. Tenho muitas outras informações, mas meu acervo
completo só pode ser aberto realmente em livro, dados os comentários e as explicações
que o tema exige. Aí então farei a necessária análise comparativa com o livro Nosso Lar
e outros da série. Devo salientar, desde logo, que André Luiz fez pequenas modificações
para despistar o leitor, em obediência à preocupação exposta no prefácio de Emmanuel
no sentido de ocultar sua verdadeira identidade, o que ele mesmo reafirma na mensagem
de abertura ("Manifestamo-nos, junto a vós outros, no anonimato que obedece à
caridade fraternal.") Noutras ocasiões deixou pistas insuspeitadas. Mas, num único
ponto a modificação não foi pequena, ou melhor, foi radical: a família deixada na terra.
Na verdade, Faustino Esposel não deixou filhos. Então, quem são aquelas pessoas
referidas no livro? Segundo explicação do Chico, apresentada desde 1975, são todos
membros de uma família de que o Faustino era membro em encarnação anterior. A fim
de ilustrar os ensinamentos ele foi buscar a situação doméstica no seu passado mais
remoto.

Outros detalhes que posso antecipar:

- André Luiz informa que foi assistido na colônia Nosso Lar por um médico chamado
Henrique de Luna. Na terra, De Luna (médico, com esse mesmo nome) era
contemporâneo de Faustino Esposel.
- André Luiz narra em Nosso Lar que teve quinze anos de clínica. Formado em 1910,
consta que a partir da segunda metade da década de 20 ele viveu muito mais para o
magistério e trabalhos intelectuais ligados à medicina, além das atividades desportivas.

- Luísa, a irmã que André Luiz conta ter desencarnado cedo, quando ele era
"pequenino", na verdade era um irmão (Adolfo Monteiro Esposel), desencarnado com
apenas quatro meses, em 1886, dois anos portanto antes de ele nascer.

- Quem privou muito da proximidade de Faustino Esposel foi um porteiro que, até
meados da década de 70, embora aposentado, ainda costumava freqüentar o Pinel.
Disse-me conhecer toda a vida do professor Faustino Esposel, que ele atendia muitos
doentes de graça e que era famoso de verdade. A par disso, aludiu a alguns fatos que se
ajustam perfeitamente ao que está confessado nas páginas de Nosso Lar. E confirmou,
inclusive, detalhes de comportamento que o próprio André Luiz também não escondeu
no livro.

Rio de Janeiro, 1º de julho de 2005


LUCIANO DOS ANJOS

******************************************

Em Nosso Lar, André Luiz narra:

"As velhas árvores do bairro, o mar, o mesmo céu, o mesmo perfume errante." "O
vento, como outrora, sussurrava carícias no arvoredo do pequeno parque.
Desabrochavam azáleas e rosas, saudando a luz primaveril. Em frente ao pórtico,
ostentava-se, garbosa, a palmeira que, com Zélia, eu havia plantado no primeiro
aniversário de casamento."

Eis a residência de André Luiz, na rua Martins


Ferreira nº 23, zona sul do Rio, ali onde a
enseada de Botafogo, de um lado, e o mar da
praia de Copacabana, de outro, faziam "o vento,
como outrora"
sussurrar
"carícias no
arvoredo do
pequeno
parque".
Atualmente a
enseada ficou bem mais distante, com o extenso aterro
feito na década de 50. E ergueram-se inúmeros
edifícios no derredor. As azáleas estavam lá até pelo
menos meados de 1950, tanto quanto a palmeira que, segundo me confessaram duas
sobrinhas do Faustino Esposel, existiu, sim, mas... não era tão garbosa assim.
Coincidente e curiosamente, colocaram em frente ao pórtico uma palmeirinha, num
vaso decorativo. Hoje a casa pertence a uma poderosa instituição católica, tendo
instalado ali uma creche.
*********************************************************

O AVÔ DE ANDRÉ LUIZ E OS SILVEIRAS

E agora, vamos a duas explicações que eu gostaria de reservar para o meu livro. São
tantos os e-mails a tal respeito que resolvi abrir mais essa exceção e adiantar as
respostas.
1. Como se chamava o avô do Faustino Esposel, que em No Mundo Maior, no cap. 18,
aparece com o nome Cláudio M... ?
R. Chamava-se exatamente José Maria dos Anjos Esposel. Houve apenas a troca de José
para Cláudio. O segundo nome foi preservado mediante apenas a inicial M. Por que
isso? André Luiz trocou todos os nomes da sua família. Bastaria inventar mais um
sobrenome qualquer. Por que, no caso do seu avô, ele resolveu deixar a pista do M ?
Bem, primeiramente vamos reler os seguintes trechos daquele capítulo:

Esfarrapados, esqueléticos, traziam as mãos cheias de substância lodosa que levavam de


quando em quando ao peito, ansiosos, aflitos. Ao menor toque de vento, atracavam-se
aos fragmentos de lama, colocando-os de encontro ao coração, demonstrando infinito
receio de perdê-los.
E indicava com ufania os punhados de lodo a escorregar-lhe das mãos aduncas.
Tornando ao pretérito, reconheci que vigoroso laço me unia àquele desgraçado que
ainda sofria o pesadelo do ouro terrestre, carregando placas de lodo que premia
enternecidamente ao coração.
– (...) O patrimônio, acumulado à custa das dificuldades alheias, converteu-se em
lodacentos detritos.
Meu avô pôs-se a contemplar as massas de lama que sobraçava, e gritou, aterrorizado.

André Luiz resolveu deixar a pista do M porque representava algo mais além do simples
M de Maria. José Maria dos Anjos Esposel, devido à sua personagem pouco lisonjeira,
fora apelidado, por alguns imigrantes portugueses radicados naquela área, pela alcunha
de José M... Desculpem, mas não devo completar o que André Luiz não completou, e
que todos vocês já podem imaginar e que no livro foi substituído por lama. Não era
exatamente a palavra chula que nós bem conhecemos aqui no Brasil, mas uma outra
dela derivada e completada pelo sufixo oso, sem entretanto se tratar da palavra medroso.
Mas é quase isso. E nossos dicionários nunca registraram o termo. Fui encontrá-lo
somente num velho dicionário editado em Portugal, em 1873, o Grande Diccionario
Portuguez ou Thesouro da Lingua Portugueza, pelo Dr. Fr. Domingos Vieira, Porto,
editores Ernesto Chardron e Bartholomeu H. de Moraes, 5 vols.
Aí está, pois, por que a exceção aberta por André Luiz. Ele quis realmente deixar uma
pista inquestionável, embora o simples M de Maria já fosse mais do que convincente.

2. Quem eram os Silveiras?


R. - O pai do Faustino protestou impiedosamente as promissórias do Silveira, "cliente e
amigo", com o encorajamento do filho, que era "muito jovem ainda" (cap. 35 de Nosso
Lar). Pelos cálculos, Faustino Esposel de fato era, na ocasião, ainda adolescente e, já
vaidoso, nem "conseguia enxergar as necessidades alheias". Descendentes do Faustino
não souberam exatamente de quem se tratava, mas sabiam da existência da família
Silveira Alves, admitindo que talvez se chamasse Francisco Silveira Alves. (André Luiz
suprimiu o último nome Alves.) Sim, os Silveiras eram amigos da família Esposel desde
longa data. A mãe de Francisco Silveira Alves era madrinha de João Maria dos Anjos
Esposel, pai de Faustino Esposel, como consta do assentamento do batismo, celebrado
em 2.8.1847, na Catedral e Capela Imperial de Nossa Senhora do Monte do Carmo, e
lançado no livro AP 1199, fls. 128 v. Eis os termos:

Aos dois dias de agosto de mil oitocentos e quarenta e sete nesta Catedral e Capela
Imperial de Nossa Senhora do Monte do Carmo desta Cidade e Corte do Rio de Janeiro
batizei e pus os Santos Óleos solenemente no inocente João filho legitimo de José Maria
dos Anjos Esposel e de Margarida dos Anjos Esposel, recebidos em matrimônio nesta
Capela Imperial, nasceu a vinte e nove de maio do corrente ano; foram padrinhos
Manoel Joaquim de Paiva e senhorinha Silveira Alves de que para constar fiz este
assento.
O Coadjutor Manoel Antônio Cabral.

À época da crise, em 1900, ela já era desencarnada ou estaria com 71 anos. Casou-se em
1848 com o primo José Silveira Alves, nascendo no ano seguinte o filho Francisco
Silveira Alves. É à mulher desse Francisco que André Luiz se refere em Nosso Lar,
chamando-a "a senhora Silveira". Sua filha (neta, portanto, da madrinha do pai do
Faustino), André Luiz a designa por "senhorita Silveira", ou seja, mesma condição da
avó (senhorinha Silveira) quando acontece o batismo de João Paiva dos Anjos Esposel.
(Com o tempo ninguém mais usou o termo senhorinha, daí a atualização de André
Luiz.)

Bem, outros elementos ficam para o meu livro, que as más línguas já dizem que estou
preparando para ganhar dinheiro. Esclareço que de todos os livros que até hoje
publiquei alusivos à doutrina, os meus direitos autorais foram sempre doados a
instituições espíritas, como será o caso de mais esse. Não ganho dinheiro com o
espiritismo. Aprendi isso inclusive com André Luiz.

LUCIANO DOS ANJOS


Rio, 8.8.05
(Exatamente 117 anos do nascimento de Faustino Esposel)

RESPOSTAS SOBRE A IDENTIFICAÇÃO DE ANDRÉ LUIZ

Tornou-se infactível, para mim, responder individualmente a todos os que me têm


escrito e se manifestado a respeito da identificação do André Luiz. Peço desculpas pelo
recurso que vou usar, a fim de contornar a dificuldade. Agradeço sinceramente os
aplausos e as recriminações, entre estas algumas bastante virulentas, mas dentro do
direito livre de se posicionar. Só repilo dois e-mails que extrapolaram a mínima
educação social e incluíram até palavrão. Um deles apenas com iniciais e reticências,
como se tais reticências abrandassem a deselegância. O outro não mediu o destempero e
foi porcamente explícito. Acho que quando a pornografia entra no texto, não existe
democracia que consagre.

Houve ainda determinados casos em que encaminhei resposta direta. Tive razões.

Assim, vou apresentar alguns e-mails cujos textos, doravante transcritos, são os de
quem assinou (apliquei apenas as iniciais), mas que contêm as mesmas dúvidas ou
colocações repetidas em muitos e muitos outros. A resposta, portanto, valerá para todos.
E aqueles a quem não escrevi diretamente e nem estiverem incluídos aqui, respondo-
lhes que suas questões serão completamente esclarecidas no meu livro, já que
demandam detalhes bem mais extensos e, por isso mesmo, impossíveis de se conterem
em e-mails.

LUCIANO DOS ANJOS


Rio, 7.9.05

**********************************************************************
*****************************

1. Pelo que você nos traz ele era um homem religioso. Isto não estará em desacordo com
o que relata logo no primeiro capítulo de Nosso Lar ? (LL)

R. André Luiz não nega, em Nosso Lar, que era religioso, embora sem maiores
convicções diante, por exemplo, dos conceitos de inferno e purgatório. Encarnado,
como Faustino Esposel, ele se diz católico e praticante, mas, regra geral, é o que os
médicos diziam e faziam na primeira metade do século passado. Todos, com as
históricas exceções, se diziam católicos praticantes e cumpriam religiosamente, em
demonstrações exteriores, o seu papel clássico e conservador. Era a época em que os
psiquiatras asseguravam que o espiritismo levava à loucura. Aliás, ainda hoje há muita
gente que cumpre o ritual católico, mas não acredita em nada da sua esgarçada doutrina.

2. Prefiro tomar como hipótese, forte, mas uma hipótese. (FM)

R. Uma hipótese é sempre uma suposição a verificar. Já fiz a verificação, cujos registros
passei, em parte, para o público. Do ponto de vista da pesquisa e cientificamente
falando, não se trata mais de hipótese. Salvo se você mesmo deseja fazer essa
verificação. Não está impedido e tem todo o direito. Chegará, com certeza, às minhas
mesmas conclusões. Asseguro.

3. Não cola. Está aqui bem expresso nestes escritos o reconhecimento por André Luiz, e
outros do seu tempo, o seguinte: 1º De que era um bom católico e empenhado em obras
de beneficência. 2º O reconhecimento de Deus e do seu poder. 3º O reconhecimento de
que algo haveria além do conhecido cientificamente. Se existe confusão nesta altura,
pertence a quem a criou reparar a mesma. (EA) [Os escritos aludidos são os que eu, LA,
distribuí pela internet.]

R. Em trecho algum da série Nosso Lar, André Luiz diz que foi ateu ou materialista,
mas apenas "que detestava as religiões no mundo" (cap. 2). Define-se indiretamente
como católico, embora a seu modo. "De fato, conhecia as letras do Velho Testamento e
muita vez folheara o Evangelho" (cap.1). E interpretava as escrituras "com o sacerdócio
organizado" (idem).
"Conhecia, apenas, a idéia do inferno e do purgatório, através dos sermões ouvidos nas
cerimônias católico-romanas a que assistira, obedecendo a preceitos protocolares" (cap.
12). Já em textos sobre Faustino Esposel, alguns dos quais distribuí pela internet, seus
colegas escreveram que ele era católico e crente de Deus. E era mesmo. Se era um bom
católico, na sua absoluta acepção e sinceridade, não se soube, mas, pela confissão em
Nosso Lar, verificamos que foi um católico formal, sem convicção. Empenhado na
assistência ao semelhante, André Luiz também diz ter sido, pois "nos quinze anos de
sua clínica, também proporcionou receituário gratuito a mais de seis mil necessitados"
(cap. 14). O reconhecimento de Deus e do seu poder não é negado, tanto que, após
muito sofrimento, começou "a recordar que deveria existir um Autor da Vida, fosse
onde fosse", idéia que, explica, o confortou (cap. 2). Considerava-se "igualmente, filho
de Deus, embora não cogitasse de conhecer-lhe a atividade sublime quando engolfado
nas vaidades da experiência humana" (cap. 2). Acho, assim, que não sou bem eu que
estou fazendo a confusão.

4. Eu penso mesmo se não poderíamos obter novas comunicações dele para


constatarmos qual seriam suas idéias atualmente tendo em conta que ele observava e se
preocupava segundo o texto ora apresentado com os caminhos da medicina da sua
época. (LGS)

R. As idéias atuais de André Luiz a esse respeito estão todas na sua maravilhosa série.
Para isso, pois, não necessitamos de novas comunicações.

5. O que sinceramente não compreendo é o motivo de se colocar a verdadeira identidade


do autor espiritual de Nosso Lar, imerso num verdadeiro labirinto e trancafiado por
incontáveis chaves, por parte de alguns médiuns. Sabemos hoje que Carlos Chagas não
é André Luiz! Não seria mais coerente dizer: Sei quem é mas não vou falar! Ao invés da
dica-despista? (AVF)

R. Será que passou pela cabeça de alguém que o Chico e o Waldo não soubessem quem
é o espírito André Luiz? Claro que sempre souberam e, se nunca falaram que sabiam,
foi exclusivamente para não ensejar indagações e pressões que fatalmente ocorreriam. A
coerência deles estava justamente na certeza de que todos sabiam que eles sabiam.

6. Muito bom saber o verdadeiro nome de André Luiz, porém, mesmo que tenha
cometido muitos erros, o verdadeiro nome que conheço é André Luiz, o mensageiro.
Sobre o livro a respeito de André Luiz, você não acha que sendo Roustanguista, assim
como eu, as pessoas possam duvidar de sua pesquisa? (MM)

R. Não sei bem o que Roustaing possa ter a ver com essa pesquisa, mas de fato tudo é
possível do lado dos fanáticos. Talvez você acabe tendo razão, já que andaram me
enviando algumas críticas baseadas nessa premissa. Mas vamos lá. Penso que somente
alguém completamente cego pode duvidar de uma pesquisa com tantos elementos de
comprovação. Porém, nada devemos estranhar. Tomé que era Tomé também duvidou.
Quanto à outra parte da indagação, é óbvio que erros foram cometidos por ele, mas
resgatados pelo menos com oito anos de Umbral e um desempenho de caridade
maravilhoso na colônia Nosso Lar. Quem dera que todos nós seguíssemos seu exemplo.
Por isso mesmo, André Luiz continuará a ser o André
Luiz que todos aprendemos a admirar.
7. Você começa o texto dizendo que o Faustino Monteiro Esposel nasceu na rua dos
Araújos nº 10, bairro do Engenho Velho, cidade do Rio de Janeiro, em 10.8.1888.
Depois que você fala sobre os muitos sobrinhos de Faustino Esposel, no parágrafo
seguinte, você diz: Faustino Esposel nasceu na capital federal, no dia 24 de outubro de
1888. Fiquei confusa com relação às duas datas de nascimento do dr. Faustino Esposel.
Ficarei muito agradecida se você me tirar essa dúvida. (NMC)

R. Fruto da minha pressa, já corrigi o equívoco em e-mail posterior. Vale a primeira


data. Faustino Monteiro Esposel nasceu em 10 de agosto de 1888 e desencarnou em 24
de outubro de 1931, com 43 anos, 1 mês e 7 dias.

8. Enfim, André Luiz era bom ou era mau? (PP)

R. Hoje, na condição de espírito desencarnado, sabemos todos da bondade dele. Da vida


de encarnado, como Faustino Esposel, não ouso fazer qualquer avaliação. André Luiz
foi o que está narrado e confessado por ele mesmo em sua obra, principalmente em
Nosso Lar. Que seja lido e avaliado por cada leitor.

9. Não creio haver acréscimo significativo aos atributos de amor e humildade deste
iluminado espírito que é André Luiz. Era da vontade dele que permanecesse oculto seu
nome da última existência, alguma causa deveria ele ter. Não nos convém julgar esta
causa, também sobre os comentários do nosso querido Chico. Gostaria de te pedir que
fosse consultado o próprio André Luiz para saber de suas intenções, com a finalidade
que não fosse invadida sua vontade e privacidade. (MB)

R. A vida toda a humanidade buscou a comprovação da existência do Jesus histórico,


exatamente para que sua doutrina ganhasse ainda maior beleza e relevo. Se não nos
interessasse conhecer bem de perto as pessoas e os missionários, então que todos
deixassem de lado a existência real de Jesus, porque, afinal, o que vale é a doutrina que
está legada nos Evangelhos, seja lá quem a tenha pregado. Mas esses todos que juram o
desinteresse são muito dissimulados, pois no fundo das consciências sempre estiveram
interessadíssimos em saber quem era André Luiz, para o que viviam interrogando o
Chico e o Waldo até com certa inconveniência e impertinência. Tantos escrúpulos de
agora são tão intempestivos que seus portadores nunca reclamaram sobre o que se
escreveu até hoje em relação ao Carlos Chagas.

No mais, tenho quase plena certeza de que André Luiz não está desgostoso com meu
trabalho, pois ele mesmo nunca escondeu o que fez de errado e, se nunca quisesse que
descobrissem quem ele foi, não teria deixado tantas pistas. Principalmente sabendo que
por aqui estava encarnado um jornalista perseverante chamado Luciano dos Anjos.
Você gostaria que eu consultasse o próprio André Luiz sobre as minhas intenções.
Nunca o fiz nem o faria porque de antemão eu sempre soube, como todos nós, que ele
não queria identificar-se ainda. E agora essa medida perdeu a razão de ser, pois o Chico
está desencarnado e o Waldo resolveu, por ele mesmo, como já contei, acabar com o
mistério. Por último: se a identificação nada acrescenta à obra, que é que o silêncio
acrescentou até hoje? Ora, a obra é a obra.
10. O senhor pode me dizer se é uma fonte segura? (TG)

R. Como? Se sou fonte segura? Ah, claro. Seguríssima. Pode crer.

11. Você acredita que com essas revelações haverá alguma mudança no movimento
espírita sobre as obras de André Luiz? O que foi que o motivou a revelar essas
informações, já que o próprio André Luiz omitiu seu verdadeiro nome e o Chico o
alertou para não o divulgar? (ALBC)

R. Foram as circunstâncias já por mim explicitadas que me levaram à revelação pública.


Não fossem tais circunstâncias e, como eu sempre desejei, o segredo permaneceria
apenas com meu filho para decisão futura, a critério dele. Quanto a provocar mudanças
no movimento espírita, é claro que nenhuma ocorrerá. O movimento espírita entrou por
um atalho tenebroso (ver meu livro O Atalho), que só reverterá pela conscientização das
bobagens que vêm sendo praticadas sob as ordens das atuais lideranças, ambiciosas e
enceguecidas quanto ao papel do espiritismo. Tais lideranças não se interessam mais
pela doutrina; apenas pela organização.

12. O Chico Xavier não poderia ter feito com você o que fez com outros, isto é,
confirmado que André Luiz é o Faustino Esposel somente para agradar? (EZV)

R. Comigo ele agiu diferentemente, tal como irei narrar em meu livro. Confirmou e
recomendou que nada fosse revelado. A reação, portanto, foi completamente outra.
Mesmo porque ele já havia feito à família a promessa do silêncio. Conto mais. Tenho
em meus arquivos cartas do Chico sobre assuntos até mais graves e mais importantes
que esse, mas ele colocou no alto, em manuscrito, a recomendação: "confidencial". Não
obstante, nada me impede de exibir essa recomendação (apenas o pequeno trecho
manuscritado da recomendação, é claro) para quem o desejar, e pessoalmente, e em
minha casa. Quero dizer com isso que o Chico não usaria de subterfúgios comigo, pelo
menos em relação a esse assunto, sobre o qual tinha a certeza de
que eu chegara à identificação correta.

13. Por que o Chico disse para tantas pessoas que o André Luiz era o Carlos Chagas?
(ALP)

R. Disse? Ou levaram o Chico a dizer? E como foi que disse, em que tom? Falou na
forma direta ou apenas abriu aquele meigo sorriso, deliciosamente cristão, e respondeu
com alguma confirmação oblíqua? Mas se disse mesmo, de verdade, não seria isso um
desrespeito ao desejo do anonimato expresso em Nosso Lar? Eu pesquisar e descobrir é
uma coisa; outra bastante diferente e estranha seria o próprio Chico romper o segredo.
Então, se disse mesmo, todas as críticas que me estão sendo feitas deverão ser
direcionadas para o Chico. Salvo se extrairmos da sua informação - no caso de haver
realmente dito - que ele disse porque sabia perfeitamente que André Luiz não era o
Carlos Chagas nem nenhum outro dos perguntados. Assim, sua posição junto à família e
principalmente junto ao André Luiz e ao plano espiritual ficou perfeita e eticamente
resguardada.
14. A família do Faustino Esposel foi poupada; e a do Carlos Chagas? (H)
R. Nada tenho com isso. Não fui eu que inventei a identificação do Carlos Chagas. Mas
posso perfeitamente explicar a situação. A família do Faustino precisava ser poupada; a
do Carlos Chagas, talvez não. Mesmo porque, quem na família do Carlos Chagas não
gostou - e houve esse caso concreto - fez a devida comparação e verificou que sua vida
e sua história não tinham nenhum encaixe com a do espírito, preferindo rir e achar que
os espíritas são malucos. Assim, não havendo nenhum encaixe, a propalação do erro
não abalou ninguém, ainda mais que nunca apareceu qualquer texto escrito ou gravado
pelo Chico e pelo Waldo confirmando a hipótese. A propalada identificação acabou
então sendo considerada piada.

Com a família do Faustino a situação foi sempre outra. Os encaixes tinham tudo a ver.
Conhecedores da história íntima dos Esposel, os descendentes sabiam que tudo tinha a
ver. E não desejavam a divulgação. Por outro lado, há que levar em conta que as
reações, diante desses tipos de casos considerados escandalosos, nem sempre são
necessariamente iguais. Há quem não ligue, mesmo sendo verdade; e há quem fique
muito aborrecido, mesmo sendo infundado.

15. Li no site do André Luiz um internauta afirmando que ninguém sabe quem foi
André Luiz, mas que André Luiz era português. Que é que você acha dessa
"descoberta"? (AFS)

R. Se ninguém sabe, como é que ele sabe que André Luiz é português? Essa é de dar
nos cascos...

16. André Luiz está feliz com isso tudo? (OA)

R. Espero que esteja. Ele hoje é um espírito bastante modificado pela dor, pelo
aprendizado, pelo trabalho. Espírito bom e evoluído, não creio que se sinta infeliz com
uma revelação para a qual ele mesmo contribuiu, deixando várias pistas.

17. Como era o tipo da pessoa Faustino Esposel? (PNAC)

R. Bem, não sei exatamente o que você quer dizer com tipo, mas aqui vão alguns traços
e informes colhidos junto aos seus contemporâneos e familiares.

Faustino Esposel era considerado, profissionalmente, muito duro, muito pragmático,


mas também muito respeitado pelo seu conhecimento e sua autoridade. Tinha de fato
cultura, talento. Foi justamente homenageado quando da sua desencarnação, até com
suspensão de aulas. Na área esportiva era nome de projeção. Adorava futebol, adorava o
Flamengo do Rio de Janeiro (espírita que não torce pelo Flamengo deve estar
frustrado...). Foi autor, em 1929, de um anteprojeto de lei sobre educação física.
Valorizava muito o corpo, a compleição física. Era charmoso, elegante, sempre bem
vestido. Consideravam-no um homem bonito.
Tinha recursos financeiros, herdeiro de bom patrimônio e era direta e indiretamente
ligado a estirpes de largo prestígio e alto padrão social. Gostava da família, amava de
verdade a mulher com quem esteve casado apenas nove anos, de 1822 a 1931, quando
desencarnou. Ela nunca o esqueceu até à desencarnação, em 1978. Católico, não
acreditava em espiritismo, não se lhe tendo ouvido publicamente qualquer apoio ou
endosso. Conta-se que atendia sem cobrar a pessoas menos aquinhoadas. Fazia
extravagâncias que, aliás, podem ser conferidas na sua narrativa em Nosso Lar.

18. Faustino Esposel, você mesmo disse, não deixou filhos. Como explica-se a história
da esposa Zélia e dos três filhos que André Luiz diz em Nosso Lar? (CDK)

R. É verdade. Faustino Esposel não deixou filhos. Mas esse momento da história está
ligado ao passado reencarnatório. É por sinal uma história muito bonita e muito lógica,
embora muito amarga. Será contada com detalhes em meu livro. Tudo está certo. Tudo
faz sentido.

19. Li o texto escrito a respeito da identidade de André Luiz. Achei que o trabalho de
pesquisa foi bem feito e apresenta muita coerência. Gostaria de uma opinião sobre esta
idéia de que André Luiz foi Carlos Chagas. Agora que um livro psicografado oferece
esta informação (na qual não acredito) parece que isso virou febre. E outro autor
veiculou matéria no Anuário Espírita de 2004 afirmando que o próprio Chico teria dito
a ele que André Luiz foi Carlos Chagas. Isso teria ocorrido durante uma conversa com o
também médico e cientista Carlos Chagas Filho, segundo a referida matéria. Como
entender tal afirmação? Como compreender a informação do livro? Minha pergunta não
tem por intuito colocar à prova a sua informação. Muito pelo contrário. Acho que está
mais bem fundamentado que os demais. Só gostaria de entender como uma mesma
fonte mediúnica (Chico Xavier) poderia emanar informações tão díspares (ou provocar
interpretações tão díspares por parte de alguns indivíduos). (LF)

R. O livro a que você se refere, Do Outro Lado do Espelho, é um estendal de tolices e


absurdidades. Nada do que dele consta é para ser levado a sério. Quem conhece a
doutrina espírita percebeu de pronto que tudo ali é engodo, distorção, incoerência.
Portanto, você fez bem em descartar como fantasia (do médium ou do espírito) aquele
encontro com André Luiz e a informação de que ele é o Carlos Chagas. Quanto à
eventual disparidade da fonte mediúnica, ela passa a ser entendida na medida em que
conhecemos de perto e na intimidade algumas pessoas. Conto aqui uma pequena
história. Certa vez um escritor espírita esteve em Uberaba e, na sua costumeira
perturbação, afirmou para o Chico que ele, O.P., era a reencarnação de Allan Kardec.
Você acha que o Chico desmentiu ou simplesmente o contrariou? Não. Ouvindo aquela
maluquice (ele fundara uma instituição que se tornou famosa pelos mais quadrados
desvios doutrinários), Chico Xavier sorriu e perguntou embevecido: "Que bom, meu
filho...! E como vai a Amélie Boudet...?" A partir desse encontro o coitado afirmava
categoricamente que o Chico havia confirmado que ele era Allan Kardec. Esse era o
Chico que, diante dessas situações, por amor e bondade insuperáveis, escorregava que
nem sabonete. Assim, depois que a Dinorah Simas involuntariamente propiciou com seu
desenho psicopctográfico a "revelação" de que André Luiz era o Carlos Chagas,
dificilmente o Chico a desmentiria.
20. Não concordo com aquele site em que um diz que o senhor não passa de um
fuxiqueiro ao se intrometer na vida particular de André Luiz quando era o dr. Faustino
Monteiro Esposel. Acho importante sabermos quem são nossos guias, o senhor não
acha? (AJJP)

R. A levarmos a sério esse crítico, todo biógrafo deveria merecer o mesmo epíteto. E
que dizer desse outro, que andou se metendo nas relações privadas daquela carregadora
de água, expondo-lhe a vida íntima para toda a humanidade e por todos os séculos
afora? "Vai, chama o teu marido e volta aqui." "Não tenho marido", respondeu a
mulher. Jesus lhe disse: "Falaste bem: não tenho marido, pois tiveste cinco e o que
agora tens não é teu marido; nisto falaste a verdade." (Jo. 4:16-19.)

Evidentemente o bom senso indica que não se vai sair por aí contando a vida privada de
todo mundo. Mas há os casos excepcionais, como o diálogo de Jesus (quem de nós tem
autoridade para achar que Jesus errou?) e aqueles relativamente a personagens de relevo
na vida pública, cujos deslizes e acertos são sempre ensejo ao exemplo e ao
ensinamento. André Luiz-Faustino Esposel é personagem universal que perdeu o direito
à privacidade, como todos os grandes líderes religiosos, os grandes mártires da
humanidade ou as grandiosas figuras evangélicas. Não há como esconder a vida de um
mito.

21. Por que devo acreditar na confirmação do médium Waldo Vieira, um péssimo
médium que abandonou o espiritismo? (RCVS)

R. Waldo Vieira, ao contrário de péssimo, foi um grande médium, dos melhores que já
encarnaram. Ao psicografar poesia, por exemplo, ele era imbatível, até melhor que
Francisco Cândido Xavier que, por sua vez, era fantástico. A poesia que recebeu foi
sempre primorosa, o que não surpreende, já que ele é a reencarnação de um dos maiores
poetas do mundo. O que aconteceu depois do seu afastamento de Uberaba é outra etapa
da sua vida que não vem ao caso analisar aqui. Por sinal, conheço essa história em
detalhes. As obras que recebeu de André Luiz, em parceria com o Chico, são excelentes.
E, é óbvio, ninguém melhor do que os dois para saber quem é André Luiz. Ambos
afirmaram que se trata de Faustino Esposel, com a devida cautela que a revelação
sempre exigiu.

22. Médium que publicou uma entrevista que fez no mundo espiritual com o Carlos
Chagas, confirmando ser ele o André Luiz. Como é que fica isso tudo? (C)

R. Não fica, meu caro. Ou melhor, fica muito ruim para esse médium. Já respondi aqui a
uma outra indagação semelhante. Estou aproveitando para, em complemento, registrar
que foi esse mesmo médium que escreveu também que a colônia Nosso Lar tem
apresentado quebra de padrão social devido à superpopulação; que Tomás Torquemada
virou cobra; que um elemental reencarnou como homem, não gostou e voltou a ser
duende; que o elemental resolveu mostrar que tinha poder e fez uma demonstração de
chuva. No mais, temos ainda a leitura de algumas grosserias, numa linguagem
inapropriada à literatura espírita. (Na Próxima Dimensão e Do Outro Lado do Espelho).
23. Não ser Carlos Chagas e ser Faustino Esposel que é até certo ponto um ilustre
desconhecido parece que representa uma descida na escala dos graus humanos, não?
(DFF)

R. Esse paralelo não é nada fundamental, se levada em conta a transformação havida


com Faustino Esposel na espiritualidade e a missão que depois aceitou e cumpre até
hoje com coragem e amor. É isso que tem peso. Nem sempre é a fama que assegura o
crescimento. Contudo, mesmo sendo feita essa comparação, você se engana. É
temerário afirmar qual dos dois seria o de maior nome. Vou transcrever o pequeno
resumo que a meu pedido fez o neuropediatra Alexandre da Silva Costa, da UFRJ e
membro do Grupo dos Oito, de estudo e prática espírita que reúno semanalmente há
quase trinta anos. Para não provocar interrupção demasiado longa neste seqüenciamento
de respostas, estou incluindo o texto no final do e-mail.

24. Nas pesquisas você conseguiu saber outras encarnações de André Luiz? (DBA)

R. Essa informação constará do meu livro. Segundo revelação feita pelo Chico Xavier à
família do Faustino Esposel, com o testemunho da amiga Maria Laura, André Luiz foi,
na encarnação anterior, da fidalguia inglesa, muito ligado a Ana Bolena (1507-1536),
segunda esposa de Henrique VIII, rei da Inglaterra. Aliás, Ana Bolena está reencarnada
aqui no Rio de Janeiro, conforme poderá ser lido em outro livro meu a ser publicado em
breve e intitulado Quem foi Quem.

25. O pai e o avô do Fernando Esposel, pelo que li no que você escreveu, têm no
sobrenome "dos Anjos". O sr. por acaso é da mesma genealogia? (MCAC)

R. Não passa de mera coincidência. Chamou-me de fato a atenção, mas fiz a verificação
e constatei que somos de ramos diferentes. No entanto, não deixa de ser uma
coincidência bastante curiosa: quem desvenda o mistério tem sobrenome igual ao dos
ascendentes do Faustino Esposel. Muito curioso mesmo.

ADENDO À PERGUNTA 23

Toda a escola neurológica brasileira teve origem (direta ou indireta) na antiga Faculdade
Nacional de Medicina (atual faculdade de Medicina da UFRJ), fundada em 1808 por D.
João VI. Essa escola (em seus primórdios) sempre teve como tradição alguns aspectos,
dentre eles:

- Culto à ciência e aos avanços científicos (para a época);


- Rigor extremado no ensino médico e na assistência aos pacientes (com exigência,
disciplina e não poucas vezes rudeza no trato).

Dentre os vultos iniciais daquela escola, destacaram-se alguns, tidos por Mestres na
Neurologia:
Antônio Austregésilo Rodrigues Lima (1876-1960)
Faustino Monteiro Esposel (1888-1931)
Deolindo Augusto de Nunes Couto (1902-1992)
À época de Faustino, o catedrático era o professor Antônio Austregésilo, que no entanto
tinha dificuldades para dedicação total de seu tempo à faculdade por suas atividades
também no poder.

Em 1921, Faustino Esposel (1888-1931) foi designado, após concurso, professor


substituto da Seção de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina. Amiúde ele
substituiu o professor catedrático de neurologia (Antônio Austregésilo), visto o seu
assento freqüente no parlamento, como deputado federal.

“Faustino Esposel foi o professor substituto, seu interino nas vacâncias por conta do
assento do mestre no Congresso Nacional como deputado por Pernambuco.”
“Antônio Austregésilo convocou o Professor Faustino Esposel, seu substituto, e pediu-
lhe que escolhesse, imediatamente, um cirurgião com capacidade para o começo da
Neurocirurgia brasileira.”

Além disso, Esposel descobriu um sinal em Semiologia médica (usado no exame dos
pacientes) que leva seu nome.

Quanto à comparação entre Carlos Chagas e Faustino Esposel acerca da importância no


cenário médico, fica impossível a definição de qual seria o “maior”, uma vez que
atuaram em áreas diferentes (infectologia X neurologia), cabendo ao primeiro o
reconhecimento de que é o mais famoso, por conta da descoberta da doença de Chagas
em todo o seu ciclo.

Fonte: http://www.grupodosoito.com.br/subpaginas/faustino.htm

... Alexandre Fontes da Fonseca & Alvaro Vannucci

> Embriões congelados: espíritos ligados por até 12 Anos

Artigos

O caso do nascimento de gêmeos em Israel a partir de embriões congelados revela: os


espíritos que reencarnaram por esse processo permaneceram ligados ao embrião por 12
anos!

Recentemente, a literatura científica registrou um caso de nascimento de bebês a partir


de embriões congelados que permaneceram congelados por 12 anos [1]. Neste artigo
pretendemos abordar o tema “embriões congelados” e o possível uso de suas desejadas
células-tronco, baseando-nos no fato científico acima, lembrando das palavras de
Kardec: “Os fatos, eis o verdadeiro critério dos nossos juízos, o argumento sem réplica.
Na ausência dos fatos, a dúvida se justifica no homem ponderado.” (Ítem VII da
Introdução de O Livro dos Espíritos [2]). Antes desse caso, o maior período de tempo
em que um embrião permaneceu congelado - e foi utilizado para o nascimento de um
bebê - foi de 7 anos [3].

O processo usualmente empregado é conhecido como criopreservação que consiste no


congelamento e preservação de embriões humanos à temperaturas muito baixas
(temperatura do nitrogênio líquido: 196 oC NEGATIVOS) [1]. Desde o nascimento do
primeiro bebê de proveta em 1978 [4], o processo de fertilização in vitro, isto é, dentro
de um tubo de ensaio, se tornou uma forma de tratamento muito comum para o
problema de esterilidade. Devido ao fato de que apenas 20% a 30% dos embriões
produzidos pela técnica de fecundação in vitro resultam em gravidez, à cada tentativa os
médicos inserem vários embriões ao mesmo tempo no útero da mulher. No entanto,
devido a fatores de ordem financeira [5] e ao período fértil da mulher [5], um número
maior de embriões é produzido por ocasião de uma fertilização in vitro, onde o
excedente é destinado à criopreservação para que novas tentativas sejam feitas
posteriormente, caso seja necessário ou desejado pelo casal.

Um importante detalhe é que somente no processo de congelamento e descongelamento,


30% dos embriões morrem [5]. Apesar de existirem pesquisas que buscam minimizar
esse índice de mortalidade [6], não existe técnica que garanta 100% a sobrevivência de
todos os embriões que passam pelo processo de criopreservação.

Diante desse contexto, analisaremos os aspectos doutrinários relacionados ao tema


servindo-nos das questões de 344 a 360 de O Livro dos Espíritos [2]. Se um espírito, de
fato, se liga ao seu futuro corpo no momento da concepção (questão 344) então, desde a
primeira divisão da célula-ovo já temos um ser humano que, mesmo em formação, tem
o seu direito à vida resguardado pela Lei (dos homens e de Deus). Por outro lado, se
existem corpos para os quais nunca houve um espírito ligado (questão 356), isso
significa que alguns embriões não possuem espírito e, portanto, não passam de um
amontoado de células. Segundo os espíritos, em resposta à questão 358, “Há crime
sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime
sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma
alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava
formando.” Sabendo disso, como saber se um determinado embrião possui ou não um
espírito ligado? A vidência, infelizmente, não se constitui em método seguro para
responder essa questão pois essa faculdade depende do estado do médium e pode ser
usada por espíritos infelizes para enganá-lo. Diante da preocupação de estarmos
cometendo um crime de transgressão à lei de Deus, conforme a resposta à questão 358,
os embriões congelados devem ser preservados. Isso, aliás, está escrito nos “Direitos do
Embrião” [7] publicado pela Associação Médico Espírita do Brasil, AME-Brasil, na
revista da Abrame (Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas), cujos ítens 1 e 6
são transcritos a seguir:

1) Os direitos do embrião começam com a fecundação;


2) Como ainda não existem meios para identificar quais os embriões congelados que
possuem ligações com Espíritos reencarnantes, todos devem ser preservados;

Por mais que as pesquisas com as células-tronco sejam a esperança de muitas criaturas
sofredoras, como recentemente argumentado por Nunes Filho [8], o Espiritismo não
sustenta a utilização dos embriões congelados nessas pesquisas, conforme a citação dos
Direitos do Embrião [7], e mencionado por outros companheiros espíritas [9].

Temos em Missionários da Luz [10], de André Luiz, um exemplo de descrição (cap. 13)
do processo de reencarnação de Segismundo. Segundo André Luiz, “... o elemento
(espermatozóide) vitorioso prosseguiu a marcha, depois de atravessar a periferia do
óvulo, gastando pouco mais quatro minutos para alcançar o seu núcleo.” Após observar
que o instrutor se manteve em serviço de divisão da cromatina, André Luiz relata que
ele ajustou a forma previamente reduzida de Segismundo sobre o embrião recém
formado observando que “essa vida latente começou a movimentar-se.” A informação
que nos interessa é a afirmativa de André Luiz de que “Havia decorrido precisamente
um quarto de hora, a contar do instante em que o elemento ativo (espermatozóide)
ganhara o núcleo do óvulo passivo.” (Grifos em negrito nossos). Na falta de outras
referências, o valor de 15 minutos pode ser tomado como típico no processo de ligação
do espírito à célula-ovo.

Nas clínicas e hospitais que trabalham com inseminação artificial, os embriões são
congelados quando atingem 2 a 8 dias de idade, quando já se iniciou o processo de
divisão celular [4]. Portanto, não há dúvidas de que um embrião formado in vitro, para o
qual um espírito foi destinado ou atraído, a ligação entre ambos já existe no momento
do congelamento. Sabendo do fato de que uma percentagem significativa de embriões
não sobrevive ao processo de congelamento e posterior descongelamento, questionamos
o uso do método de criopreservação, sugerindo um novo ítem para os Direitos do
Embrião: que ele não seja congelado. Isso implicaria em modificação dos métodos
oferecidos para os casais com problemas de fertilização pois o ideal seria que nenhum
embrião fosse congelado. Isso certamente encarecerá o processo, mas estamos falando
de vidas humanas e de espíritos que por serem nossos irmãos, merecem todo nosso
esforço e respeito. Vale aqui, lembrar que existe uma outra alternativa para a obtenção
de células-tronco de origem embrionária sem a necessidade de destruir o embrião. Foi
ao ar no dia 14 de janeiro de 2005, no programa Globo Reporter, uma reportagem sobre
células-tronco em que uma pesquisadora da Universidade Tufts, em Boston, descobriu
que os fetos em desenvolvimento no útero de sua mãe fornecem células-tronco quando
algum tecido ou órgão materno está lesado [11]. As células-tronco provindas do feto
podem ser extraídas da corrente sanguínea da mãe, reproduzidas em laboratório e
testadas quanto ao seu potencial terapêutico sem prejuízo algum tanto para mãe quanto
para o feto [11]. Essa alternativa evitaria o sacrifício de embriões e as controvérsias em
torno do assunto.

Em resposta à questão 345 de O Livro dos Espíritos [2], os espíritos dizem que “(...)
Mas, como os laços que ao corpo o prendem são ainda muito fracos, facilmente se
rompem e podem romper-se por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que
escolheu.” Isso significa que nenhum espírito está, a priori, condenado a permanecer
ligado a um embrião congelado por tempo indeterminado. Se ele desejar, e tiver
condições espirituais, poderá desligar-se do embrião que, então, passará a ser apenas um
amontoado de células. Mas esta atitude, que não o isenta da responsabilidade pela
decisão tomada, não garante que todos os embriões que são congelados por um período
de tempo longo não possuam espíritos ligados. O caso que motivou o título deste artigo
é um fato que demonstra isso.

De modo a vermos qual a situação de um espírito ligado por 12 anos a um embrião


congelado, recorremos à questão 351 de O Livro dos Espíritos, onde Kardec pergunta se
entre a concepção e o nascimento, o espírito goza de todas as suas faculdades. Os
espíritos dizem que “Mais ou menos, conforme o ponto, em que se ache, dessa fase,
porquanto ainda não está encarnado, mas apenas ligado. A partir do instante da
concepção, começa o Espírito a ser tomado de perturbação, que o adverte de que lhe
soou o momento de começar nova existência corpórea. Essa perturbação cresce de
contínuo até ao nascimento. Nesse intervalo, seu estado é quase idêntico ao de um
Espírito encarnado durante o sono. À medida que a hora do nascimento se aproxima,
suas idéias se apagam, assim como a lembrança do passado, do qual deixa de ter
consciência na condição de homem, logo que entra na vida. Essa lembrança, porém, lhe
volta pouco a pouco ao retornar ao estado de Espírito.” (Grifos nossos). Essa resposta
deixa claro que o espírito não fica necessariamente dormindo, inconsciente ou inerte
durante o intervalo entre a concepção e o nascimento. Dependendo de seu estágio
evolutivo, ele pode se deslocar para longe do seu embrião, estudar e trabalhar no Plano
Espiritual, da mesma forma como um encarnado durante o sono. Como a fase
embrionária é mais próxima do momento da concepção do que do nascimento, a
perturbação tende a ser pequena, podendo o espírito gozar de mais liberdade quanto ao
uso de suas faculdades.

Alexandre é pós-doutorando do Instituto de Física da USP, em São Paulo, membro do


conselho editorial do Boletim do GEAE (http://www.geae.inf.br), colaborador do
Centro Espírita Allan Kardec, em Campinas, e colaborador do Centro Espírita Irmão
Agostinho em Brotas, SP.

Alvaro é Físico e Professor da Universidade de São Paulo.

Referencias

[1] A. Revel, A. Safram, N. Laufer, A. Lewin, B. E. Reubinov, A. Simon, Twin delivery


following 12 years of human embryo cryopreservation: Case report, Human
Reproduction 19, p. 328, 2004.
[2] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76a. Edição, Rio de Janeiro, 1995.
[3] S. Ben-Ozer, M. Vermesh, Full term delivery following cryopreservation of human
embryos for 7.5 years, Human Reproduction 14, p. 1650, 1999.
[4] Site da Genetics & IVF, http://www.givf.com/embryov.cfm
[5] J. Toner, Transfer of Frozen Embryos into a Surrogate’s Natural Cycle, artigo do
seguinte site:
http:www.surrogacy.com/medres/article/frozvsn.html
[6] L. L. Veeck, R. Bodine, R. N. Clarke, R. Berrios, J. Libraro, R. M. Moschini, N.
Zaninovic, Z. Rosenwaks, High pregnancy rates can be achieved after freezing and
thawing human blastocysts, Fertility and Sterility 82, p. 1418, 2004.
[7] AME-Brasil, Direitos do Embrião, Revista da Abrame 3, p. 15, 2004.
[8] A. D. Nunes Filho, Células-Tronco e Doutrina Espírita, Revista Internacional de
Espiritismo Dezembro, p. 569, 2004.
[9] M. A. Moura, Em dia com o Espiritismo III, Reformador Dezembro, p. 34, 2004.
[10] A. Luiz, Psicografia de F. C. Xavier, Missionários da Luz, Editora FEB, 26ª
Edição, 1995.
[11] http://enews.tufts.edu/stories/083004FetalCellsFosterResearch.htm

(Artigo Publicado na Revista Internacional de Espiritismo, Ano LXXX, No 3, Matão,


Abril de 2005

... Emily V. Driscoll

> Sem preconceitos - o homossexualismo entre os animais

Artigos

Sem preconceitos

Observadas em todo reino animal e mais freqüentes entre espécimes em cativeiro,


relações sexuais entre indivíduos do mesmo sexo podem ser uma forma de aliviar o
stress, dissipar tensões sociais e obter ajuda para proteger os filhotes

por Emily V. Driscoll

Roy e Silo, dois pingüins nativos da Antártida, se encontraram, em 1998, num tanque
do zoológico Central Park, em Nova York. Tão logo se viram, começaram a se exibir
um para o outro. Primeiro se empoleiraram numas pedras, de onde mergulhavam na
água. Depois se aproximaram, enroscaram os pescoços, emitiram grunhidos e
acasalaram. Por fim, construíram um ninho e, juntos, esperaram pelo ovo que nunca
viria: afinal, ambos são machos.

O zelador do zoológico, Robert Gramzay, assistiu a tudo com curiosidade. E resolveu


ajudar a dupla, roubando um ovo de um verdadeiro casal de pingüins heterossexual, que
não estava conseguindo chocá-lo. Gramzay o colocou no ninho de Roy e Silo, que se
alternaram na tarefa de aquecer a futura cria debaixo de seus ventres gordos, até que
depois de 34 dias, o filhote rompeu a casca e enxergou pela primeira vez o mundo. Era
uma fêmea cinza e penugenta, que recebeu aconchego e alimento com a mesma
dedicação observada em duplas formadas por machos e fêmeas.

Os pesquisadores estão descobrindo que este tipo de casal, constituído por indivíduos do
mesmo sexo, é surpreendentemente comum no reino animal. Roy e Silo pertencem a
uma das cerca de 1.500 espécies de animais já observadas, em que há evidências de
homossexualidade, seja no ambiente selvagem, seja em cativeiro. Alguns estudos
indicam ainda que essas relações podem acontecer tanto entre machos, como entre
fêmeas, jovens e idosos, espécies de hábitos solitários ou sociais, e em todos os níveis
da escala evolutiva animal: de insetos a mamíferos.

Mas, ao contrário do que fazemos em relação às pessoas, não podemos dizer com
certeza que esses bichos são gays, pois um animal que participa de uma prática
homossexual não necessariamente evita relações heterossexuais. Tudo indica, aliás, que
relações entre indivíduos do mesmo sexo sejam algo esperado na vida em sociedade de
várias espécies, embora não haja sujeitos estritamente gays. Muitos deles poderiam ser
classificados, portanto, como bissexuais. “Para os animais não existe identidade sexual.
Eles só se importam com o sexo”, diz o sociólogo Eric Anderson da Universidade de
Bath, Reino Unido.

O estudo das relações homossexuais em diversas espécies pode elucidar as origens


evolutivas desse comportamento. Pesquisadores estão revelando, por exemplo, que os
indivíduos podem se unir a outros do mesmo sexo para dissipar tensões sociais, proteger
seus filhotes, manter a fertilidade quando parceiros do sexo oposto são escassos – ou
simplesmente porque é divertido. Essas observações sugerem, para alguns, que a
bissexualidade é natural entre animais e, possivelmente também para o Homo sapiens.
“As categorias gay e heterossexual são construídas social e culturalmente pelos seres
humanos”, observa Anderson.
Casais homossexuais são comuns entre pingüins de
zoológico; escassez de parceiros do sexo oposto
parece influenciar aproximação

FALTA DE OPÇÃO

É verdade, porém, que em muitas espécies (como os pingüins) a homossexualidade é


bem mais comum no cativeiro do que no habitat nativo. Segundo alguns cientistas, a
explicação pode ser a escassez de parceiros do sexo oposto. Além disso, ambientes
restritos aumentam o stress do animal, que pode recorrer ao sexo como um impulso para
aliviar suas tensões. Isso a que os especialistas chamam “homossexualidade
circunstancial” costuma ser observado também em seres humanos, em ambientes em
que predomina um sexo, como nas prisões.

Os primeiros estudos sobre homossexualidade animal datam do fim do século XIX e se


concentraram na observação de insetos e animais pequenos. Em 1896, por exemplo, o
entomólogo francês Henri Gadeau de Kerville, da Sociedade dos Amigos das Ciências
Naturais e do Museu de Rouen, publicou um desenho de dois besouros escaravelhos
copulando. Durante a primeira metade do século XX, vários pesquisadores relataram
observações semelhantes em macacos babuínos, cobras e pingüins, entre outros.
Obviamente, os cientistas daquela época consideravam anormal esse tipo de
comportamento. E, em certos casos, os animais eram submetidos à castração ou à
lobotomia.

Um desses trabalhos pioneiros foi além da mera descrição e discutiu as possíveis


origens da homossexualidade animal. Em um experimento realizado em 1914, o
psicopatologista americano Gilbert van Tassel Hamilton relatou relações homossexuais
em 20 macacos-do-japão e dois babuínos, destacando que, na maioria das vezes, o
comportamento era adotado por inimigos do mesmo grupo para fazer as pazes. No
Journal of Animal Behavior, Hamilton escreveu que as fêmeas de babuíno ofereciam
sexo às líderes do grupo. “O comportamento homossexual- é relativamente freqüente
nas fêmeas quando ameaçadas por outras fêmeas, e raramente se manifesta como
resposta ao apetite sexual.” Nos machos, ele escreveu que “as alianças entre machos
jovens e maduros podem ter valor de proteção para os últimos, pois garantem o auxílio
de um defensor adulto no caso de um ataque”.

Triângulo amoroso em Vicky Cristina Barcelona,


de Woody Allen

Mais recentemente, alguns pesquisadores chegaram a conclusões semelhantes ao


estudar macacos bonobos. Pelo menos metade das relações sexuais destes primatas
(muito promíscuos, por sinal) são com parceiros do mesmo sexo. As fêmeas costumam
esfregar os órgãos genitais umas nas outras com tanta freqüência que alguns cientistas
sugeriram que sua genitália deve ter evoluído para facilitar esse contato. “O clitóris
delas localiza-se frontalmente, talvez porque a seleção tenha favorecido uma posição
que tornasse mais intensa a estimulação durante a fricção”, escreveu a ecologista
comportamental Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, no livro
Sexual selections – what we can and can’t learn about sex from animals, de 2002. Já os
machos de bonobo foram observados montando e acariciando uns aos outros, bem como
fazendo sexo oral.

No livro Bonobo – The forgotten ape, o primatólogo Frans de Waal conta que quando
uma fêmea ataca uma jovem e a mãe desta última vem em sua defesa, o problema pode
ser resolvido por intenso esfregamento de genitais entre as duas adultas. De Waal
observou centenas de casos como esse, sugerindo que relações homossexuais sejam
uma estratégia geral para manter a paz. “Quanto mais comum a prática homossexual,
mais pacífica é a espécie”, afirma o biólogo Petter Bockman, do Museu de História
Natural da Universidade de Oslo, Noruega. “Os bonobos, por exemplo, são muito
pacíficos”, sustenta. Tais atos parecem ser tão essenciais para a socialização dos
bonobos que constituem um rito de passagem das jovens fêmeas para a idade adulta.
Esses animais vivem em grupos de cerca de 60 indivíduos, num sistema matriarcal. As
fêmeas deixam o clã durante a adolescência e são admitidas em outro, onde são
cuidadas por fêmeas com quem têm encontros sexuais. Esses comportamentos criam
laços sociais e dão às novatas benefícios como proteção e comida.

Entre ostraceiros selvagens, são comuns os triângulos


(com dois machos), o que aumenta a chance de sobrevivência dos filhotes

CASOS DE POLIGAMIA

Em algumas espécie de pássaros, as uniões do mesmo sexo, em particular entre machos,


podem ter evoluído como uma estratégia de cuidado dos filhotes para aumentar sua taxa
de sobrevivência. “Entre os cisnes negros, se dois machos se encontram e fazem um
ninho, eles podem ser mais bem-sucedidos para criar um órfão porque são maiores e
mais fortes do que um macho e uma fêmea com uma cria biológica”, diz Bockman.

Em outras situações, as uniões homos-sexuais entre fêmeas aumentam a chance de


sobrevivência da cria quando pares macho-fêmea não são possíveis. Nos ostraceiros,
aves que habitam zonas costeiras e rochosas, a intensa competição por companheiros
machos deixaria muitas fêmeas sozinhas se não fosse a existência de trios polígamos.
Em um artigo publicado na revista Nature, em 1998, o zoólogo Dik Heg e o geneticista
Rob van Treuren, da Universidade de Groningen, Holanda, observaram que
aproximadamente 2% dos grupos de procriação dos ostraceiros eram formados por duas
fêmeas e um macho. Os pesquisadores descobriram que, em alguns deles, elas cuidavam
de ninhos separados e brigavam pelo macho; mas, em outros, todos os três pássaros
zelavam por um único ninho. No último caso, elas criavam laços montando tanto no
macho como em outra fêmea. Os triângulos cooperativos produziam mais filhotes que
os tradicionais, porque seus ninhos eram mais bem cuidados e protegidos de predadores.

Tais arranjos apontam para a vantagem adaptativa dos relacionamentos sociais estáveis,
qualquer que seja seu tipo. A pesquisadora Joan E. Roughgarden, da Universidade
Stanford, acredita que os biólogos evolutivos costumam aderir com excessivo
entusiasmo à teoria da seleção sexual de Darwin, ignorando a importância de laços e
amizades para as sociedades animais e a sobrevivência de seus filhotes. “Darwin
igualava a reprodução a encontrar um companheiro, em vez de prestar atenção em como
a prole é cuidada”, diz a bióloga.
Proteger os filhotes, criar laços sociais e evitar conflitos, porém, podem não ser os
únicos motivos pelos quais os animais se engajam em relações homossexuais. Talvez
muitos deles façam isso apenas “porque querem”, diz Bockman. “As pessoas vêem os
animais como robôs que se comportam como os genes mandam, mas eles também têm
preferências, e reagem de acordo com elas.”

Um estudo recente indica que o comportamento homossexual pode ser tão comum
porque tem sua raiz no cérebro do animal. Bem, pelo menos no caso das moscas-das-
frutas. Em artigo publicado no início de 2008 na Nature Neuroscience, o neurocientista
David E. Featherstone, da Universidade de Illinois, Chicago, descobriu que podia
manipular a orientação sexual desses insetos por meio do gene responsável por uma
proteína que regula a comunicação entre neurônios que secretam o neurotransmissor
glutamato.

ENTRE IGUAIS: pintura em parede de túmulo na colônia grega de


Paestrum, Itália, de 480 a.C., mostra casais de homens

Os machos que carregavam uma determinada variante desse gene eram atraídos de
maneira atípica pelos sinais químicos exalados por outros machos. Como resultado,
esses mutantes cortejaram os machos e tentaram copular com eles. A descoberta sugere
que moscas-de-fruta selvagens podem ter tendências tanto para o comportamento
heterossexual como o homossexual, afirmam os autores. Essa arquitetura cerebral talvez
permita que a atração pelo mesmo sexo venha à tona com mais facilidade, apoiando a
noção de que é capaz de conferir uma vantagem evolutiva em determinadas
circunstâncias.

Em algumas espécies menos sociais, o comportamento homossexual é quase


desconhecido na natureza, embora possa ser observado em cativeiro. Coalas selvagens,
quase sempre solitários, parecem ser estritamente heterossexuais quando estão em seu
habitat natural. No entanto, um estudo de 2007 realizado pelo veterinário Clive J. C.
Phillips, da Universidade de Queensland, Austrália, mostrou 43 ocorrências de atividade
homossexual entre fêmeas que viviam numa área cercada no Santuário de Coalas Lone
Pine. Elas também emitiam chamados de acasalamento tipicamente masculinos e
acasalavam umas com as outras, algumas vezes participando de múltiplos encontros
com até cinco animais.

Phillips acredita que as fêmeas agiam dessa maneira em parte por causa do stress. A
falta de machos provavelmente é um dos principais fatores estressantes, segundo o
veterinário. Quando as fêmeas de coala estão no cio, seus ovários liberam o hormônio
sexual estrogênio, que ativa o comportamento de acasalamento – quer os machos
estejam presentes ou não. Esse ímpeto de copular, mesmo com uma parceira, pode ser
adaptativo. “Esse comportamento preserva a função sexual, permitindo ao animal
manter seu preparo físico reprodutivo e o interesse na atividade sexual”, diz Phillips.
Nos machos, esse benefício é ainda mais óbvio: o comportamento homossexual
estimula a produção contínua de fluido seminal.

Ao montarem umas nas outras, as vacas se mostram


disponíveis para acasalar com touros

COESÃO DA EQUIPE

Acredita-se que a falta de parceiros do sexo oposto também possa explicar a


predominância de homossexualidade em pingüins de zoológico. Além de Roy e Silo nos
Estados Unidos, 20 outras uniões homossexuais já foram observadas no Japão. “Mas
isso é bastante raro nos habitats naturais dos pingüins”, diz o ecologista Keisuke Ueda,
da Universidade Rikkyo em Tóquio. Segundo ele, esse comportamento é resultado da
proporção desigual entre machos e fêmeas nesses ambientes. Alguns pesquisadores vêm
estudando também as relações homossexuais de rebanhos de gado – algo muito comum,
segundos os criadores. Entre as vacas, o comportamento não serve apenas para aliviar o
stress, é uma forma de sinalizar receptividade sexual. Ao montarem umas nas outras, as
fêmeas indicam sua disponibilidade para acasalar com machos, e o criador aproveita a
dica para trazer o touro mais adequado para perto dela.

A cópula homossexual é bem mais rara em rebanhos selvagens, afirma Phillips, baseado
numa pesquisa com gauros (espécie de boi selvagem asiático) na Malásia.

Tanto o stress como a maior disponibilidade também de parceiros do mesmo sexo são
fatores que aumentam as relações homossexuais entre seres humanos quando restritos a
lugares como quartéis, prisões e ambientes esportivos. Um estudo publicado em 2008
no periódico Sex Roles mostrou que de 40% a 49% de ex-jogadores de futebol
americano heterossexuais tiveram ao menos uma relação homossexual, o que pode ter
incluído beijos, sexo oral ou encontros a três (com mais uma mulher). “A
homossexualidade parece aumentar a coesão dessas equipes”, afirma Anderson.
Nas últimas décadas, vários zoológicos do mundo estão tentando minimizar o stress do
cativeiro tornando as áreas cercadas mais parecidas com os habitats naturais das
espécies. Há 50 anos, os animais viviam em jaulas sufocantes, mas desde os anos 70
esses ambientes vêm mudando, as grades vêm sendo evitadas, plantas fazem parte dos
espaços, hoje mais amplos e hospitaleiros pesquisadores esperam que essas melhorias
afetem o comportamento dos animais, tornando-o mais parecido com o que ocorre na
natureza. Um possível sinal das condições menos estressantes pode ser uma taxa de
homossexualidade mais semelhante à dos membros selvagens da mesma espécie.

Algumas correntes de pesquisa e militantes de movimentos em defesa dos direitos de


homossexuais, no entanto, contestam a noção de que mantenedores de zoológicos
devem prevenir ou desencorajar o comportamento homoerótico dos animais de que
cuidam. Para alguns especialistas, os seres humanos, assim como outros animais, são
naturalmente bissexuais.“A homossexualidade está misturada com a heterossexualidade
em várias culturas e ao longo da história”, defende Roughgarden. Até mesmo Silo, o
pingüim que durante seis anos viveu em comunhão com Roy, mostrou essa
versatilidade. Em um belo dia da primavera de 2004, uma fêmea chamada Scrapp,
recém-chegada do SeaWorld de San Diego, arrebatou seu coração. Ele então abandonou
Roy. Já Tango, a “filha” deles, escolheu outra fêmea, Tazuni, para compartilhar a vida.
(Tradução de Júlio Oliveira).

CONCEITOS-CHAVE

Relações homossexuais já foram observadas em cerca de 1.500 espécies, tanto em


cativeiro como em seu habitat natural.

Em algumas espécies, a união homossexual parece ser mais freqüente entre animais em
cativeiro do que nos de vida livre. Pesquisadores acreditam que esse comportamento
seja uma resposta ao stress causado pelos ambientes restritos e pela escassez de
parceiros do sexo oposto.

Para os animais, participar de atos homossexuais pode ser uma forma de obter apoio
do(a) companheiro(a) mais forte e de manter a fecundidade enquanto faltarem parceiros
para relações heterossexuais.

Pesquisas mostram que os triângulos cooperativos produziam mais filhotes que os


tradicionais, porque seus ninhos eram mais bem cuidados e protegidos de predadores.

SEDUTORAS, MAS REJEITADAS

Muitas vezes os profissionais que trabalham em zoológicos não sabem como reagir ao
observar o comportamento homossexual dos animais. Em 2005, funcionários do
Zoológico do Mar, em Bremerhaven, Alemanha, descobriram que três de seus cinco
casais de pingüins Humboldt eram formados por indivíduos do mesmo sexo. Por se
tratar de uma espécie em extinção, apressaram-se em trazer quatro fêmeas da Suécia, o
que causou fúria em grupos de gays e lésbicas de todo mundo. Numa carta para o
prefeito de Bremerhaven, Jorg Schulz, ativistas europeus protestaram contra o que
chamaram de “assédio organizado e forçado por meio de fêmeas sedutoras”.
Os machos, porém, ignoraram a chegada das jovens suecas. “Eles nem sequer olharam
para elas”, disse o diretor do zoológico, Heike Kiick, à revista alemã Der Spiegel. A
solução foi trazer outros machos para fazer companhia às fêmeas solitárias.

PARA CONHECER MAIS

Evolução do gênero e da sexualidade. Joan Roughgarden. Ed. Planta, 2004.

Biological exuberance: animal homosexuality and natural diversity, Bruce Bagemihl.


St. Martin’s Press, 2000.

Heterosexual and homosexual behaviour and vocalisations in captive female koalas


(Phascolarctos cinereus). Stacey Feige, Kate Nilsson, Clive J. C. Phillips e Steve D.
Johnston, em Applied Animal Behaviour Science, vol. 103, no 1-2, págs. 131-145,
2007.

Fonte: Homossexualidade como traço adaptativo. Mente&Cérebro 185, junho de 2008.

http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/sem_preconceitos.html

... Carmen Imbassahy

> A Pedagogia e a reencarnação

Artigos

A PEDAGOGIA E A REENCARNAÇÃO
Das ciências ditas gregas da área filosófica, sem dúvida, a Pedagogia – Ciência da
Educação – na preocupação fundamental de instruir a criança (inicialmente) e educá-la
para a vida, nunca se preocupou, através de seus educadores, com o problema
reencarnatório de cada um, tendo em vista que ele, além de ter péssima aceitação,
estaria contrariando as crenças de um modo geral, afinal, este seria um assunto
exclusivo diretamente ligado às religiosidades.

Todavia, muita coisa há que se considerar em relação à forma de educação que se deva
dar a cada um, se levarmos em conta a personalidade e o conceito do processo
reencarnatório, hoje em dia aceito por correntes científicas que se baseiam numa lei
física que nos diz que “todo fenômeno é repetitivo” e que “todo agente capaz de realizar
determinado fenômeno, é capaz de reproduzi-lo tantas vezes quantas necessárias”.

Ora, posto isso, já não mais se trata de crença, mas de fenomenologia do domínio físico
depois que a Ciência estabeleceu que “a energia fundamental cósmica por si só não
pode se alterar” – sem dúvida, uma afirmativa a favor da possível existência do Espírito
ou agente estruturador (como dizem) – algo há que atua nos seres biológicos para dar-
lhes a vida.

Contudo, este não é um assunto nada pedagógico.

A Pedagogia, até o início do século XX se estruturava quase que exclusivamente em


Pestalozzi e seus métodos didáticos de estudo para aprendizagem do aluno.

Só em 1909 é que a doutora Maria Montessori, médica pediátrica nascida na Itália e


radicada nos países baixos (Holanda), preocupada com o estudo das crianças especiais é
que começaram as verdadeiras mudanças na dita pedagogia do ensino. Inicialmente, ela,
como diretora da Escola de Ortofenia de Roma criou um novo método de educação
dirigida para a clientela, separando-a segundo suas características pessoais – a
aprendizagem não podia ser a mesma para todos – o que vem a ser o primeiro passo
para o estudo do educando segundo sua personalidade individual.

Mas só em 1909 é que ela ousou publicar seu primeiro trabalho neste campo, admitindo
que a educação dependia do conhecimento científico do dito educando.

Foi outro médico, porém belga, Ovide Decroly que, em 1921 acabou se tornando o
pioneiro da “Educação Nova”, baseada nos centros de interesse e das necessidades
fundamentais da educação infantil. Foi ele que instituiu os jogos educativos e as
atividades naturais – no caso, trabalhos manuais, etc. – como forma de interesse
educacional de grande importância.

Outro grande destaque da pedagogia foi Rudolf Steiner, nascido na Áustria e educado
na Croácia; inicialmente, preocupado com a Metafísica, dedicou-se ao estudo da
Teosofia elaborando um trabalho – Antroposofia (Teosofia humana) -, acabou por se
instalar na Suíça onde se separou dos teósofos para se dedicar à nova forma de
educação, fundando a Escola Waldort em Studgart, cidade alemã de Baaden. Com a sua
formação teosófica, foi o primeiro a registrar seus estudos pedagógicos voltados à idéia
da formação espiritual de cada um. Juntou sua sociedade antroposófica à formação
educacional da criança na sua nova vida.
Leia-se aí “reencarnação”.

Mas, infelizmente, os educadores registram, apenas, o fato como histórico; ademais, a


formação evangélica da sociedade não permitia que se aprofundasse na formação
educacional neste campo, atribuindo o direito de fazê-lo só ao Criador.

Anterior a Steiner, na França, pontificou, em meados do século XIX um educador


emérito, Prof. Rivail, discípulo dileto de Pestalozzi e introdutor da Metodologia do
Ensino – Didática – no país de Gales e que deixou de lado a educação para se dedicar a
novo estudo voltado para os fenômenos paranormais, usando o pseudônimo de Allan
Kardec. Caberia a ele, provavelmente, aliar sua formação educacional com a doutrina
que codificara, com o nome de Espiritismo, voltada para os conceitos que,
posteriormente, Steiner apresentou como fundamento para compreensão das reações do
aluno ante seu ensino.

O Espiritismo brasileiro atual se transformou em mais uma doutrina cristã de fundo


religioso e abandonou o campo de pesquisa educacional voltado ao processo
reencarnatório, preocupando-se, apenas, em evangelizar seus seguidores sob influência
dos ensinamentos atribuídos a Jesus, provavelmente motivado pela tendência do nosso
povo.

Era de se esperar que os educadores orientados pela codificação de Kardec dessem


prosseguimento aos estudos de Steiner, procurando entender o aluno como fruto de uma
personalidade de vidas passadas que influiriam em sua personalidade, mas, o ensino,
desde o fundamental até o de extensão universitária, todo ele é exclusivamente voltado
para o conhecimento estabelecido nas normas de educação de cada país, nenhum deles
preocupado com o sistema palingenético da vida, como se a aprendizagem de cada um
fosse, apenas, uma informação a ser adquirida por um aluno que partiria do
conhecimento zero.

A didática, todavia, registra mas não esclarece o motivo pelo qual cada criança, cada
estudante tem sua própria reação ao ensino, alguns mostrando conhecimento
injustificado pelo que já aprendera nesta vida, outros tendo enorme dificuldades em
conseguir entender o que lhe seja ensinado.

Evidentemente, só a tese reencarnatória poderia justificar tais reações tão distintas


porque, por mais que se tenha tentado e se esforçado para provar que a inteligência de
cada um seja genética, a verdade é que os fatos observados provam rigorosamente o
contrário: filhos de gênios, por vezes, comprometem a paternidade e os gênios, até então
não encontraram em seus antepassados a explicação para sua genialidade.

Em conclusão: se o ensino visasse a uma aprendizagem onde fosse ensinado que nossos
atos atuais e nossos conhecimentos nos projetariam a outras vidas futuras, quem o
compreendesse, certamente, sentiria a necessidade de melhor aprender para que seu
processo de evolução através de vidas futuras fosse bem mais rápido.

Quem se conscientiza de que nossos atos atuais irão se refletir na encarnação seguinte,
evidentemente, envidará esforços para aprender e o educador, tendo esta mesma
compreensão, provavelmente, entenderá o porquê do comportamento de seus alunos na
vida presente, procurando pesquisá-lo em decorrência de vidas passadas.
Ou será que tudo isso é pura ilusão?

Portal do Espírito

http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/

... Roberto Valadão Fortes

> O Perispírito e o mecanismo do passe

Niterói

Abril de 2009
Sumário

1. APRESENTAÇÃO

2. O PERISPÍRITO

2.1 O que é perispírito?

2.2 As denominações do envoltório material fluídico do espírito

2.3 A diversidade de perispíritos

2.4 As funções do perispírito

2.4.1 Função de contenção

2.4.2 Função de ligação

2.4.3 Função de intercâmbio

2.5 As propriedades do perispírito


2.5.1 Penetrabilidade
2.5.2 Expansividade
2.5.3 Tangibilidade
2.5.4 Plasticidade
3. O CORDÃO FLUÍDICO
4. O PRINCÍPIO VITAL
5. O DUPLO ETÉRICO

6. OS CENTROS DE FORÇA

6. A AURA
8. PERISPÍRITO E O MECANISMO DO PASSE

9. REFERÊNCIAS

1. APRESENTAÇÃO

Trata-se de pesquisa para o estudo sobre o perispírito e o mecanismo do passe do dia 25


de abril de 2009 no ciclo sobre passe e mediunidade do Grupo Espírita Leôncio de
Albuquerque.

O seu ponto de partida foi a pesquisa realizada sobre o perispírito para o estudo ocorrido
no dia 24 de março de 2007 para os membros da Décima Primeira Reunião Mediúnica
do Grupo Espírita Leôncio de Albuquerque.
Todavia, diante do novo escopo e das imperfeições verificadas no material primitivo,
parágrafos foram acrescentados, outros reescritos, sem contar a modificação promovida
na estrutura do texto original, tudo isso auxiliado pela bibliografia indicada pela
Coordenação responsável pelo ciclo de passe e mediunidade em questão.

A pesquisa continua não primando pelo aprofundamento de diversos temas até mesmo
porque faltaria ao seu autor conhecimento e capacidade para tanto.

2. O PERISPÍRITO.
2.1 – O que é perispírito?

As respostas dadas pelos Espíritos às questões 93 e 94 do Livro dos Espíritos (2005a)


revelaram que o Espírito está envolvido por uma substância vaporosa para os olhos
humanos, todavia, bastante grosseira para os Espíritos, formada a partir do fluido
universal de cada globo. A essa substância Allan Kardec atribuiu o nome de perispírito.

O perispírito é, portanto, nas palavras da espiritualidade registradas no item 51 do


capítulo IV da primeira parte do Livro dos Médiuns, o “envoltório material fluídico”
(Kardec, 2004, p. 80) do Espírito.

Allan Kardec (2005b, p. 272) também ensina que:

É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria pela sua origem e à


espiritualidade pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido
cósmico universal que, nessa circunstância, sofre uma modificação especial.

2.2 – As denominações do envoltório material fluídico do Espírito.

A palavra perispírito é um neologismo concebido por Allan Kardec, criado - conforme


explicação dele próprio registrada na Questão 93 do Livro dos Espíritos - a partir da
comparação desse envoltório do Espírito com o perisperma, isto é, com o envoltório do
gérmen de um fruto (2005a).

É bom notar que peri é um prefixo grego com significado de em torno de. Com isso,
tem-se: PERI (em torno de) + ESPÍRITO = PERISPÍRITO, isto é, envoltório do
espírito.

A editora Casa dos Espíritos, em nota de rodapé do livro Medicina da Alma (p. 95), de
Joseph Gleber, informou que esse corpo fluídico do Espírito também é chamado de
psicossoma, corpo espiritual e corpo astral. Jacob Melo acrescenta os seguintes nomes:
“Modelo Organizador Biológico ou Campo Bioplasmático”(2004, p. 45).

Joanna de Angelis (2002) esclarece que o perispírito é multimilenarmente conhecido,


atravessando a História com diversas denominações. Foi chamado de enormon por
Hipócrates, de corpo aéreo ou ígneo por Plotino, de corpo vital da alma por Tertuliano,
de aura por Orígenes, de corpo espiritual e corpo incorruptível por Paulo de Tarso, de
corpo sutil e etéreo por Aristóteles, de corpo aeriforme por Confúcio, de corpo fluídico
por Leibnitz, de mano-maya-kosha pelo Vedanta, de kamarupa pelo Budismo Esotérico,
de ka pelos egípcios, de baodhas pelo Zend Avesta, de rouach pela Cabala Hebraica, de
eidôlon pelo tradicionalismo grego, de imago pelos latinos e de khi pelos chineses
(Ângelis, 2002).

2.3 – A diversidade de perispíritos.

Como é retirado do fluido universal de cada globo, o perispírito de um mundo não é


idêntico ao de outro. Com isso, mudando de mundo, o Espírito tende a mudar de
envoltório (Kardec, 2005a). Inclusive a espiritualidade informa que o perispírito pode
variar e mudar infinitamente (Kardec, 2004).

A Equipe do Projeto Philomeno de Miranda (2006) explica ainda que a “densidade


energética de cada perispírito não é igual em todos os homens” (p. 30) porque
dependerá do grau evolutivo do indivíduo - que decorrerá das suas conquistas morais e
de suas experiências - e do campo energético específico do mundo a que esteja
vinculado.

Destaca Allan Kardec que:

Qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestido de um
envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva
na hierarquia espiritual. (2004, p.87).

Todavia, no livro Libertação, de André Luiz (2004), mais especificamente no capítulo 6,


são trazidas à lume noções sobre o que se denominou de “segunda morte” (p. 105).
Conforme se infere do seu texto, há notícias de Espíritos missionários que - galgando
planos mais altos, em razão de elevados títulos na vida superior - perderam o “veículo
perispiritual”.

Também é explicado nessa obra que “o vaso perispírico é também transformável e


perecível” (Luiz, 2004, p. 105), de modo que o pensamento impregnado de impulsos
inferiores, quando colocado no centro de interesses fundamentais, faz com que os
ignorantes e os maus, os transviados e os criminosos experimentem um dia a perda da
forma perispiritual.

Esses Espíritos, que perdem a forma perispiritual em razão da densidade dos seus
pensamentos infelizes, conforme narrado por André Luiz na obra em comento,
assumem os contornos de “pequenas esferas ovóides, cada uma das quais pouco maior
que um crânio humano”(2004, p. 104).

A narrativa de André Luiz na obra em questão é clara em afirmar que o espírito pode
perder o seu perispírito em razão de agigantados méritos na seara do bem. Contudo, não
é clara em relação à possibilidade de perda do perispírito em virtude de um nefasto
monoideísmo, pois, ao tratar dessa situação, fala em perda da forma perispiritual e não
na perda do perispírito

Ocorre que a perda da forma perispiritual e a perda de perispírito encerram idéias


distintas, sem qualquer ponto de contato. Na primeira situação, o perispírito existe, no
entanto, sem a forma originária. Na segunda, o Espírito apresenta-se despido do seu
envoltório.
Em relação à segunda morte dos Espíritos infelizes apresenta-se a seguinte hipótese: não
há propriamente a perda do perispírito; há, sim, a perda da forma humana em virtude de
séria lesão dos sutis tecidos que integram o psicossoma, lesão esta causada por
pensamentos dotados de elevada densidade degenerativa.

Argumenta-se nesse sentido porque, segundo Allan Kardec, o Espírito - cuja


constituição não pode ser investigada pelas limitações da ciência terrena – (2004) é um
princípio inteligente, dotado de expansão natural indefinida, cuja ausência de forma
poderia ser compreendida como uma realidade não material (2005a).

Nas palavras do Codificador:

Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, o Espírito, um ser


concreto, definido, apreensível pelo pensamento. (2005b, p. 272)

Desse modo, sem perispírito, o Espírito em estágio nas zonas de sofrimento não
assumiria a forma de ovóide. Expandiria indefinidamente, assumindo aspecto de uma
estrutura completamente amorfa, quiçá, abstrata, fora da realidade material até agora
conhecida pelas hostes espíritas.

Com relação à segunda morte dos Espíritos purificados, há também uma hipótese. A
rigor, não haveria perda do perispírito. Haveria, sim, com o avanço do Espírito na
hierarquia espiritual, uma sublimação tão profunda no psicossoma que acabaria, no final
das contas, equivalendo a uma situação bem próxima à da sua própria perda.

Isso porque:

Estruturado ao largo dos milênios, desde os remotíssimos tempos do princípio anímico,


acumulando experiências ao longo das eras, o perispírito vem refletindo a evolução
lograda pelo Ser Inteligente, degrau a degrau. (Camilo, 1991, p. 21)

Daí em se falar na perda do perispírito para os Espíritos de escol, que nada mais é do
que um avançado estágio de sublimação desse envoltório.

As hipóteses aqui levantadas são consentâneas com as lições de Allan Kardec (2005b),
que revelam a necessidade do Espírito se revestir do psicossoma para configurar um ser
concreto, definido, apreensível pelo pensamento, porquanto a sua essência espiritual o
faz um ente indefinido e abstrato.

Ademais, sem definição, e, por conseguinte, sem qualquer limitação, o Espírito galgaria
a infinitude, assimilando, por assim dizer, um dos atributos de Deus (2005a). E como
não pode a criatura adquirir um dos atributos do Criador, sob pena de revelar uma
contradição em termos, capaz, inclusive, de negar a própria existência de Deus e, por
conseguinte, a existência de sua criação, há de se reconhecer no Espírito a sua
indissociabilidade com o perispírito.

Não há dúvida, portanto, que a mudança do perispírito está ligado não só ao fluido
cósmico do globo como também à faixa evolutiva do Espírito.

2.4 - As funções do perispírito.


Para Jacob Melo (2004), o perispírito possui três funções, a saber, conforme ilustrado na
figura abaixo, extraída do slide por ele utilizado na palestra realizada na Fraternidade
Espírita Irmão Glacus , em 07 de maio de 2006

2.4.1. Função de contenção

Conforme já dito, o Espírito, em virtude da sua natureza de princípio inteligente, tende a


se expandir, sem que possa ser assimilado como uma realidade material. Cabe, portanto,
ao perispírito contê-lo para lhe conferir os contornos e aparências passíveis de
percepção.

Mas o perispírito não delimita tão-somente o Espírito. Delimita o processo


morfogenético da reencarnação, “presidindo a elaboração das formas e disposições do
corpo que será desenvolvido para albergá-lo” (Melo, 2004, p. 45). Em outras palavras, o
psicossoma “conterá o corpo, definindo-lhe as estruturas e o funcionamento, conforme
estabelecido em seus limites de contenção para aquele exercício reencarnatório” (Melo,
2004, p. 45).

Joanna de Angelis (2002) informa que o perispírito é constituído por trilhões de corpos
unicelulares rarefeitos, muito sensíveis, que imprimem nos genes e nos cromossomos do
corpo físico as características necessárias das futuras reencarnações.

Ensina ainda a veneranda mentora que os distúrbios nervosos procedentes dos


compromissos negativos das reencarnações passadas e as distonias morais conduzidas
de uma vida para outra são transferidas para o corpo biológico e com isso não só geram
os traumas emocionais e as doenças congênitas como também plasmam nos sentimentos
as tendências e as possibilidades de realização das aspirações atinentes à beleza, à arte, à
cultura (2002).

Cabe destacar que os distúrbios nervosos, as distonias morais e as tendências – tudo isso
fruto de quedas e conquistas - acompanham o Espírito nas suas sucessivas
reencarnações porque, fazendo uso das palavras de Léon Denis (2004, p. 45):

O perispírito é preexistente e sobrevive ao corpo material. É nele que se registram e se


acumulam todas as suas aquisições intelectuais e lembranças.

É pelo fato de ordenar a organização fisiológica do corpo que se confere ao perispírito a


denominação de Modelo Organizador Biológico ou Campo Bioplasmático (Melo, 2004)

2.4.2. Função de ligação

O perispírito, através dos campos mental e vital, promove as conexões responsáveis em


“prender” o Espírito ao corpo físico (Melo, 2004, p. 46).

Camilo (1991, p. 27) explica ainda que:

Pelas condições de imponderabilidade, e por representar um subproduto do fluido


universal, tem capacidade de servir como laço de união entre o essencialmente
espiritual, o Espírito, e o que se mostra essencialmente material, o corpo físico.
2.4.3. Função de intercâmbio

Em seu Ensaio Teórico da Sensação nos Espíritos, que consta como Questão 257 do
Livro dos Espíritos (2005a), Allan Kardec esclarece que o perispírito, para o encarnado,
funciona como intermediário entre o Espírito e o corpo, transmitindo as sensações deste
para aquele e a vontade daquele sobre este.

Funcionando como um decodificador-amplificador, o perispírito “traduz ao Espírito as


informações ocorridas “na carne” bem como conduz as respostas do Espírito ao corpo”
(Melo, 2004, p.47).

Aprofundando os estudos iniciados por Allan Kardec, Jacob Melo ensina que:

Na verdade, o perispírito é um “campo fluídico” multifuncional, formado de elementos


de tessitura e sutileza extremamente variáveis, participando de zonas de altíssimas
freqüências (onde vibra o princípio espiritual) e alcançando outras muito baixas (onde
vibra o elemento material). Nessa constituição – fluídica, bem se percebe – o elemento
espiritual encontra campo tanto para nele se manifestar e, por assim dizer, habitar,
como para por seu intermédio, atuar plenamente na matéria densa.(2004, p. 43)

Para atuar simultaneamente em zonas de freqüências tão diferentes, e, assim, permitir o


intercâmbio entre o Espírito e o corpo:

Devemos, pois, convir que na estrutura do perispírito encontram-se destacados pelo


menos dois grandes campos: um que se ao Espírito, chamado “campo mental” e um
outro que se une ao corpo, chamado “campo vital”. Seriam, pois, nesses campos que
encontraríamos os elos que “prendem” o Espírito ao corpo. (2004, p. 46)

Segundo Camilo (1991, p.27):

Por todos os seus atributos, pelas ligações célula a célula, conduzindo para a carne os
impulsos internos da alma e para esta as reações nervosas do corpo físico, o perispírito
presta-se como veículo imprescindível para ajudar na exteriorização da mediunidade,
nos parâmetros da Terra. É pela intermediação do perispírito, que os mais variados
fenômenos da mediunidade se mostram, empolgantes uns, intrigantes outros,
importantes todos.

A figura que segue, trazida do material utilizado por Jacob Melo na palestra já citada,
permite visualizar a atuação do Princípio Inteligente sobre o campo vital:
Figura 1 – Campo Vital e Princípio Inteligente
Fonte:http://www.feig.org.br/doutrinario/eventojacob2.htm

2.5 - As propriedades do perispírito

A Equipe do Projeto Manoel Philomeno de Miranda, no livro “Terapia pelos Passes”,


destaca as seguintes propriedades do perispírito: penetrabilidade, expansividade e
tangibilidade.

2.5.1. Penetrabilidade: é a capacidade de interpenetrar a matéria ou outras estruturas


fluídicas organizadas. Em virtude disso, esclarece Camilo (1991, p. 21):

esse envoltório do Espírito não encontra barreiras materiais que não possa
ultrapassar, adentrando, assim, ambientes hermeticamente vedados, e pela mesma
razão, é atravessado sem dificuldades quaisquer em sua estrutura, pelos corpos
materiais.

2.5.2. Expansividade: é a capacidade de aumentar o seu campo ou raio de ação.

2.5.3. Tangibilidade: é a capacidade de se adensar até o ponto de impressionar os


sentidos físicos, podendo ser visto ou mesmo tocado.

Apesar de sua composição fluídica, alerta Allan Kardec que:

o perispírito não deixa de ser uma espécie de matéria, o que decorre do fato das
aparições tangíveis, a que volveremos. (...)A tangibilidade que revelam, a temperatura,
a impressão, em suma, que causam aos sentidos, porquanto se há verificado que
deixam marcas na pele, que dão pancadas dolorosas, que acariciam delicadamente,
provam que são de uma matéria qualquer. (2004, p. 89)

Tanto é matéria que, em resposta à questão 95 do Livro dos Espíritos, a espiritualidade


destaca que além de assumir a forma desejada pelo próprio Espírito, o perispírito pode
não só se tornar perceptível como também palpável aos homens encarnados.
É o que demonstra a seguinte foto de materialização da Irmã Josefa, ao lado de
Francisco Cândido Xavier e Wanda Marlene:

Fig. 1.b - foto de Nedyr Mendes da Rocha, foi tirada na presença de equipe médica.
Fonte: http://www.ipepe.com.br/materializacao.html

2.5.4. Plasticidade.

Além dessas propriedades, merece menção uma outra, lembrada por Aluney Elferr
Albuquerque Silva em texto disponibilizado na rede mundial de computadores:
plasticidade. Segundo se sabe, “o perispírito se dilata ou contrai, se transforma: presta-
se, numa palavra, a todas as metamorfoses, de acordo com a vontade que sobre ele atua”
(Kardec, 2004, p. 88).

Isso é interessante porque explica, por exemplo, a zoantropia e as mais variadas


deformidades apresentadas pelos Espíritos que transitam perdidos nos labirintos das
zonas de sofrimento.

Figura 3 – Zoantropia
Fonte: A Reencarnação nº 425, p. 10
Conforme lembra Cícero Marcos Teixeira, no seu artigo “O que é obsessão?”, publicado
na revista A Reencarnação nº 425, “Casos de zoantropia ou comportamento semelhante
a animais, pode ter origem em processos obsessivos” (p. 10). Nesses casos, “a ação
hipnótica exercida pelo agente obsessor é de tal intensidade e extensão que bloqueia a
vontade do obsidiado, submetendo-o a doloroso processo de auto-condicionamento
mental-afetivo”. (p. 9).
No livro Libertação, André Luiz narra um caso de ação hipnótica com a finalidade de
transformar a vítima em uma criatura bestializada.

Em uma cidade localizada nos domínios das trevas, conta André Luiz (2004) que
testemunhou um estranho cerimonial. Funcionários trajados à moda dos lictores da
Roma antiga, carregando a simbólica machadinha (fasces) ao ombro, avançavam,
ladeados por servidores que sobraçavam grandes tochas a lhes clarearem o caminho.
Atrás vinham sete andores, sustentados por dignatários diversos, trazendo os juízes.

Um dos julgadores profere um discurso cujo conteúdo, além de repelir qualquer


possibilidade de compaixão, explicitava que cada condenado, em verdade, sofria as
conseqüências dos seus desenganos.
Em vigorosa demonstração de poder, afirmou, triunfante, o magistrado:

- Como libertar semelhante fera humana ao preço de rogativas e lágrimas?

Em seguida, fixando sobre ela as irradiações que lhe emanavam do temível olhar,
asseverou peremptório:

- A sentença foi lavrada por si mesma! não passa de uma loba, de uma loba, de uma
loba...

À medida que repetia a afirmação, qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na


condição do irracional mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável,
modificava a expressão fisionômica. Entortou-se-lhe a boca, a cerviz curvou-se,
espontaneamente, para a frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas. Simiesca
expressão revestiu-lhe o rosto.”(2004, p. 88)

Essa sentença foi aplicada a uma mulher que, quando encarnada, havia matado quatro
filhos em tenra idade.

No entanto, não se pode asseverar que todos os casos em que o Espírito assume a forma
animalesca estejam necessariamente associados à obsessão. Luiz Gonzaga Pinheiro, no
seu livro Diário de um Doutrinador, narrou o seguinte episódio:

Um dos médiuns da nossa seara, bastante estudioso e sensato, encontrava-se em casa,


certa feita, quando se defrontou com um Espírito em atitude zombeteira e agressiva. Ele
mudava o seu próprio aspecto, ora apresentado-se como um ser normal, ora como um
vampiro de longas presas, prestes a atacar o médium. Este, contudo, diz com firmeza
que não teme a sua aparência, por saber tratar-se apenas de modificações facilmente
introduzidas em sua estrutura perispiritual por uma vontade firme. (2004, p. 102)
Outro interessante episódio é narrado no livro Trilhas da Libertação, onde o espírito
chamado de Khan, para demonstrar autonomia e importância, revestiu o seu perispírito
de uma forma satânica.

Para desfazer tal ideoplastia, veneranda entidade aplicou inicialmente passes


longitudinais, depois circulares em sentido anti-horário, alcançando o chacra cerebral de
Khan, que teimava naquela forma. Enquanto fazia os movimentos, sem pressa e
ritmadamente, o venerando irmão chamava-o pelo nome, dizendo que ele era gente,
conseguindo êxito nesse seu esforço caritário.

Nota-se que o Espírito também pode assumir uma forma monstruosa com o intuito
único de amendrontar determinada pessoa, encarnada ou mesmo desencarnada.
Confirma esse entendimento a seguinte resposta dada pela espiritualidade à Questão 95
do Livro dos Espíritos (2005a, p. 116):

Tem a forma que o Espírito queira. É assim que este vos aparece algumas vezes, quer
em sonho, quer no estado de vigília, e que pode tomar forma visível, mesmo palpável.

Hermínio C. Miranda (1997) narra que, ao realizar a regressão de determinado


desencarnado em uma reunião mediúnica, este regrediu a uma situação na qual lhe fora
extirpada a língua. Foi necessário o passe magnético curador para restabelecer a parte
perispiritual afetada.

O nobre estudioso esclarece que quando o espírito revive as situações do passado


recente ou mesmo remoto, mediante regressão, o seu perispírito assume as formas que
teve em cada época. Se a época revivida perpassa pela fase infantil, o perispírito adquire
a forma de criança. Se revive uma época em que possuía uma deformidade física, o
perispírito a apresentará e assim por diante.

Com relação às deformidades detectadas no psicossoma dos Espíritos estacionados nas


zonas trevosas, merece ser explicado que o “perispírito, para a mente, é uma cápsula
mais delicada, mais suscetível de refletir-lhe a glória ou a viciação, em virtude dos
tecidos rarefeitos de que se constitui (Luiz, 2004, p. 71).

3. O CORDÃO FLUÍDICO

É oportuna a seguinte lição de Allan Kardec:

Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço
fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que
o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o
gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do
gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a
molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio
do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na
terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união;
nasce então o ser para a vida exterior (2005b, p. 273).

Dessa lição apreende-se que o cordão fluídico é responsável pela união, molécula a
molécula, do perispírito com o corpo físico desde o momento da sua concepção. Em
outras palavras: “O cordão fluídico é elo fundamental entre corpo físico e o perispírito.”
(Gurgel, 2005, p. 91)

As pesquisas do Codificador levaram-no à certeza, conforme se pode notar do trecho


retrotranscrito, de que esse laço fluído decorria de uma expansão do perispírito.
Contudo, estudos posteriores realizados por Hermínio C. Miranda conduziram à certeza
de que:

o cordão é apenas uma ligação energética, uma vibração que opera dentro de uma
faixa de onda especifica que liga o corpo perispiritual a físico e não uma extensão de
um ou de outro. É um campo magnético e não, uma estrutura substancial.” (2004b, p.
219-220)

Conforme registrado por Hermínio, Regina, médium cujas faculdades mediúnicas


estavam sendo estudadas por ele, certa vez relatou que, em desdobramento, tentou tocar
o cordão fluídico com a sua mão perispiritual. No entanto, tal tentativa foi infrutífera,
porquanto a sua mão perispiritual passou pelo laço fluídico, sem rompê-lo.

Ora que bem.

Caso o cordão fluídico e o períspírito fossem da mesma substância, ou melhor,


“constituídas de energias no mesmo grau de condensação” (Miranda 2004b, p. 219),
Regina teria conseguido tocá-lo com a sua mão perispiritual.

Com base nesse raciocínio, Hermínio consigna o seu entendimento de que o cordão
fluídico, em verdade, constitui um campo magnético que liga o perispírito ao corpo
(2004b).

Segundo explicação do próprio Hermínio:

a “substância” do cordão precisa realmente ser mais tênue, não só porque tem uma
capacidade quase ilimitada de expansão, ou melhor, de elasticidade, como também
porque constituiria insuperável obstáculo ao deslocamento do perispírito no plano
espiritual, se pudesse ser livremente manipulado como o fio de uma tomada
elétrica.(2004b, p.220)

A divergência entre o entendimento de Hermínio e Allan Kardec sobre o cordão fluídico


poderia levar a uma falsa idéia de que o Espiritismo é destituído de unidade e, por
conseguinte, de força. Todavia, tal raciocínio, se existente, é falso. É em verdade, um
falso problema, porquanto o próprio Allan Kardec, em várias oportunidades, sempre
ressaltou o caráter progressista do Espiritismo e, por conseguinte, a possibilidade de
revisão de seus conceitos diante de novas descobertas no plano da ciência.

4. O PRINCÍPIO VITAL

Esclarece o próprio Allan Kardec na Questão 67 do Livro dos Espíritos (2005a, p.103):

O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. Ao mesmo tempo que o agente
vital dá impulsão aos órgãos, a ação destes entretém e desenvolve a atividade daquele
agente, quase como sucede com o atrito, que desenvolve o calor.

Segundo Luiz Carlos de M. Gurgel (2005), o fluido vital, também denominado princípio
vital, é o elemento básico da vida, oriundo da modificação do fluido cósmico universal.

É por meio dele que ocorrem os fenômenos do nascimento, crescimento, reprodução e


morte (Gurgel, 2005). Tanto é assim que a sua existência ou inexistência é que permitirá
distinguir um corpo vivo de um inanimado.

A sua importância é inegável para o passe porque, segundo se conclui da seguinte


explicação de Allan Kardec dada na Questão 70 do Livro dos Espíritos (2005a, p. 105):

O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tiver em maior porção
pode dá-lo a um que o tenha de menos e em certos casos prolongar a vida prestes a
extinguir-se.

5. O DUPLO ETÉRICO

Figura 5 – Duplo etérico


Fonte: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo408.html

O duplo etérico é um corpo fluídico que se revela como uma duplicata energértica do
indivíduo, interpenetrando e emergindo, simultaneamente, do seu corpo físico. (Gurgel,
2005).
A Equipe do Projeto Manoel Philomeno de Miranda (2006) aduz que o duplo etérico,
também chamado de corpo vital, decorre de uma objetivação do princípio vital e tem
por função assegurar o equilíbrio entre o Espírito e o corpo.

Segundo Joseph Gleber:

No ser humano, o duplo etérico constitui a parte mais eterizada, ou menos grosseira, do
corpo físico. Em sua constituição íntima encontra-se, além das substâncias físicas
comuns, em vibração ligeiramente diferente, grande quantidade de ectoplasma como
sendo a essência básica dessa contraparte etérica do corpo humano, cuja razão de ser
está na distribuição equilibrada das energias provenientes do grande reservatório
cósmico universal e sua transformação em fluido vital, encarregando-se de irrigar toda
a comunidade orgânica do aparato fisiológico humano.” (2004, p.43)

Em outras palavras, “É o duplo etérico o responsável pela metabolização das energias


advindas dos chamados planos material e astral.” (Gleber, 2004, p.47)

Luiz Carlos de M. Gurgel (2005) explica que o duplo etérico é a principal fonte de
componente fluídico das criações mentais, que, ao adquirirem uma espécie de “vida
própria”, ficam ao “sabor das forças de atração e repulsão que regem os deslocamentos
dos fluidos” (p.88). É constituído por substâncias eterizadas do mundo terreno, muito
mais grosseiras do que o fluido cósmico universal (Gleber, 2004).

Possui também o duplo etérico a função conferir suporte, quando exteriorizado pelos
respectivos médiuns, à materialização de Espíritos desencarnados. (Gleber, 2004).

Sobre a materialização de desencarnados, Edvaldo Kulcheski, em artigo público na


Revista Cristã de Espiritismo, explica que:

Os espíritos desencarnados não podem se materializar servindo-se apenas de seu


perispírito. Para que possam conseguir isso, revestem-no e o interpenetram com a
substância plástica ectoplasmática que parte do duplo etérico projetado pelo médium
ou das pessoas presentes.

Durante as sessões de fenômenos físicos de materialização, o ectoplasma fornecido pelo


médium em transe atua com êxito no limiar do mundo etérico e físico, incorporando-se
à fisiologia do desencarnado através de avançados processos técnicos e de química
transcendental. Quando ele circula por toda a vestimenta perispiritual pela vontade do
espírito comunicante, esta se materializa diante da visão e do toque dos encarnados.

A fotografia abaixo mostra o médium Antônio Alves Feitosa fornecendo o seu


ectoplasma para materialização da Irmã Josepha. Do lado direito está Francisco Cândido
Xavier. Esta fotografia foi feita por Nedyr Mendes da Rocha no ano de 1965:
Figura 5.a – Materialização do espírito da Irmã Josepha
Fonte:http://pt.muestrarios.org/b/fen%C3%B4menosdematerializa%C3%A3opeixotinho
.html

O duplo etérico funciona como manto protetor natural do encarnado, impedindo o seu
contato com o mundo astral, protegendo-o das investidas de maior intensidade dos
habitantes menos esclarecidos do mundo espiritual (Gleber, 2004).

Tal proteção obsta também:

o ataque e multiplicação de bactérias e larvas astralinas que, sem a proteção da tela


etérica, invadiriam a organização, não somente do corpo físico, durante a encarnação,
como também a própria constituição perispiritual. (Gleber, 2004, p. 45)

O desregramento moral e o uso de substâncias como álcool, fumo, estimulantes, drogas


fortes e medicamentos dotados de componentes tóxicos, em conjunto, ou isoladamente,
ensejam verdadeiro bombardeio à constituição eterizada do duplo etérico, queimando e
envenenando as células etéricas, criando brechas por onde penetram as colônias de
larvas e vírus do sub-plano astral, normalmente empregados por inteligências sombrias
nos processos dolorosos de obsessão. (Gleber, 2004)

Segundo Gleber (2004), os indivíduos, que com os seus vícios, comprometem os


respectivos duplo etéricos, passam a perceber “as formas horripilantes, criadas e
mantidas pelos seres infelizes que estagiam nas regiões mais densas do plano astralino”
(p. 47) . E isso ocorre porque, ao violentarem o duplo etérico, perdem a proteção que
natureza os dotou para segura marcha evolutiva.(Gleber, 2004, p.47)

É também de Joseph Gleber a seguinte lição:

Todo ser vivo, por meio do seu duplo etérico, mantém-se em relação direta com os
outros elementos da grande família universal, através dos campos de energia que se
interligam em toda a natureza. Vindas de várias dimensões do universo, as energias do
plano etérico da criação participam da formação e do equilíbrio do homem, ligando-o
etericamente com os animais, vegetais e minerais, na troca incessante de recursos
presentes na criação. (2004, p. 47).

O duplo etérico tem por estrutura uma delicada rede de filamentos ou canais
energéticos, que é responsável pela interação entre os seus diversos chacras. E essa
interação só é possível porque esses filamentos – chamados de nadis pelos indianos -
funcionam como canais, permitindo a circulação de energias etéricas e do fluido
vitalizante que irrigam os órgãos do corpo físico (Gleber, 2004, p. 50-51).

Os nadis são muitas vezes obstruídos ou destruídos pelo uso de elementos tóxicos e
venenosos, o que prejudica diretamente o próprio o duplo etérico. (Gleber, p. 51)

Destaca Gleber que:

Nos processos de desencarnação, é vedada a existência do duplo etérico no plano


espiritual, devido à sua densidade, por pertencer, em sua origem, ao plano físico, sendo
de capital importância o seu estudo, principalmente para se compreender o efeito e a
função dele, nos casos de desencarne de suicidas e daqueles que se mantém apegados
aos instintos inferiores da carne, desempenhando, nesses casos, importante papel, por
manter esses espíritos prisioneiros das sensações carnais, enquanto não esgotarem as
reservas de fluidos, próprios do duplo etérico, libertando finalmente o espírito para
ingressar numa forma de vida menos apegada aos fluidos terrestres.” (2004, p. 55-56)

De fato:

Com a dissolução das células físicas através do desencarne, o duplo dissocia-se


igualmente após pouco tempo, voltando os seus fluidos a integrar-se na atmosfera do
planeta. (2004, p. 56)

Por fim, sobre o duplo etérico, merece ser dito que também recebe o nome de corpo
vital, apresentando-se à visão do médium clarividente com a aparência de dois pólos
energéticos, o negativo e o positivo, o yin e o yang da ciência oriental, e que a sua
constituição de natureza radioativa é responsável pelo efeito eletromagnético observado
nas fotografias Kirlian, ou eletrofotografias. (Gleber, 2004).

6. OS CENTROS DE FORÇA
Figura 6 – Chakras e suas relações
Fonte: http://www.direitosocial.com.br/desenv_humano.htm

Os centros de força, também chamados de centros vitais, de chacras ou mesmo chakras,


situam-se na superfície do duplo etérico e constituem pontos, por excelência, de
absorção energértica do organismo (Gurgel, 2005).

Conforme explica Jacob Melo, os “centros vitais têm sido apresentados como em forma
de cones abaulados, com o vórtice apontado para baixo. (2004, p. 52)

A figura abaixo, extraída do multicipado slide utilizado por Jacob Melo, fornece uma
idéia bem próxima do formato de um chacra.

Figura 7 – Centro Vital


Fonte: http://www.feig.org.br/doutrinario/eventojacob2.htm

Com base na explicação prestada pelo próprio Jacob Melo, na página 51 do seu Manual
do Passista, conclui-se que a figura, apesar do empregar o nome de campo vital, está
representando um centro vital.

Merece ser dito que:

A função dos chacras é a de realizar e manter as transferências das energias vindas dos
diversos reinos da natureza, desde as energias cósmicas até as ambientais,
contribuindo para a integração do espírito com os seus veículos de manifestação: o
perispírito e corpo físico. (Gleber, 2004, p.64)

Jacob Melo (2004) informa que o Espiritismo foca a sua atenção para os sete principais
chacras, malgrado haver inclusive aqueles relacionados a cada célula, molécula etc.

Uma questão interessante sobre os principais chacras refere-se à disposição dos


mesmos. Para Jacob Melo, a ordem é a seguinte: “Coronário, Frontal, Laríngeo (estes
estão mais diretamente associados às atividades psicológicas, mentais e espirituais),
Cardíaco (como centro intermediário, entre os padrões de associação dos que lhe estão
acima e abaixo), Gástrico, Esplênico e Genésico (estes últimos mais relacionados com
os processos físicos e químicos do organismo).” (2004, p. 52). Com isso, tem-se a
seguinte representação:

Figura 8 – A disposição dos chacras segundo Jacob Melo


Fonte: http://www.feig.org.br/doutrinario/eventojacob2.htm

Ocorre que Luiz Carlos de M. Gurgel atribui outra disposição. Segundo esse autor, o
esplênico situa-se entre o cardíaco e o gástrico, conforme esta outra representação:

Figura 9 – Chacras segundo Luiz Carlos M. Gurgel


Fonte: http://www.mkow.com.br/apostilas/unid50.htm

Há, como tudo indica, uma inconciliável divergência, com séria conseqüência prática,
porquanto se refere à posição de um importante chacra.

Conforme Jacob Melo (2004), o esplênico situa-se em uma região sobre o baço.
Portanto, a descoberta da localização desse órgão constitui a pedra de toque para
solução desse conflito.

Pois bem. Para tanto, necessário se faz o estudo da seguinte ilustração:


Figura 10 – O Baço
Imagem: CRUZ, Daniel. O Corpo Humano. São Paulo, Ed. Ática, 2000.
Fonte: : http://www.afh.bio.br/imune/linfa1.asp

Cotejando a informação prestada pelo próprio Jacob Melo sobre a localização do baço
com a figura 10, poder-se-ia chegar à conclusão de que a disposição correta dos chacras
é exatamente a fornecida pela figura 9.

Todavia, questionado diretamente sobre a divergência nas posições dos chacras,


divergência essa representada no slide que resultou na figura 8, Jacob Melo, em
mensagem de e-mail, explica que:

Na verdade, há uma diferença entre os slides que referistes. E, apesar da grande


maioria dos autores ocidentais (inclusive eu mesmo, no livro O Passe) fazerem
referência à localização do gástrico como "próximo ou abaixo" do umbigo, na
realidade ele se encontra no alto do estômago e, portanto, muito acima do umbigo.
Enquanto isso, o esplênico praticamente sobre a parte inferior do baço, daí ele se
encontrar, de fato, na verticalização, um pouco abaixo da altura do gástrico. Mas isso
não é questão de pequena importância não, pois se a ordem dos centros vitais
obedecesse o primeiro padrão (do livro O Passe), os circuitos vitais, quando levados,
por exemplo, numa técnica longitudinal, não se dariam de forma retilínea e sim sinuosa
(quando atingisse a parte desses dois centros). Isto também é assim porque o centro
gástrico é menos denso do que o centro esplênico, o que o leva a estar situado acima do
esplênico.

Como se nota, Jacob Melo não só revelou profunda erudição no trato do tema como
também respeito por aqueles que o procuram para sanar dúvidas.
O Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo desenvolveu o interessante
texto “Os Centros de Força e a Glândula Pineal”, que serviu de base para a construção
do seguinte quadro:

Jacob Melo (2004) fala ainda do centro umeral, situado nas costas, na região
compreendida entre a nuca e as omoplatas, que possui importante papel nos fenômenos
de psicofonia, atuando também sobre grande parte do sistema nervoso, quer na parte
motriz, quer na parte sensitiva.
7. A AURA

A Equipe do Projeto Manoel Philomeno de Miranda (2006) explica que a aura é


resultado da irradiações modeladas pela força plasmadora do Espírito, apresentando-se
por meio de uma forma ovóide, de tonalidades coloridas, que sofre influências dos
estados orgânicos e dos pensamentos da alma.

Explica ainda que por meio de sua textura, cores e formato, representa a ficha de
identificação de cada ser, pois ali estão assinalados o estágio moral, o emocional, a
saúde e a doença, revelando as nossas conquistas e misérias.

Por isso é correto dizer que:

Durante as vivências do espírito, espelha-se, nas irradiações da aura, todos os seus


vícios ou virtudes adquiridos ao longo da sua jornada evolutiva, inscrevendo-se, nas
células sutilíssimas do perispírito, tanto as nobres e elevadas vibrações de altruísmo,
quanto s mais negras e abjetas manifestações de um caráter doentio e pecaminoso.
(Gleber,2004, p. 118)

Ainda sobre a aura, oportunas são as seguintes palavras James Van Praagh:

Pense na aura como uma casca reluzente de vidro que cerca seu corpo. Desde o
momento da sua concepção até o fim de sua encarnação física, sua aura acumula cada
pensamento, palavra, sentimento e ato de sua vida. Assim como a chuva, a terra e a
poeira revestem uma superfície de vidro, sua aura é coberta por pedaços de anos de
experiência de vida.(2003, p.48).

8. O PERISPÍRITO E O MECANISMO DO PASSE

Allan Kardec explica que ao expandir, o perispírito “põe o Espírito encarnado em


relação mais direta com os Espíritos livres e também com os Espíritos encarnados”
(2005b, p. 364) e que o “pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais,
como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias” (p.
364).

Continua o Codificador a sua explicação dizendo que:

Como se há visto, o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do


perispírito, os quais são simples transformações dele. Pela identidade da sua natureza,
esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo;
o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo
deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. A cura se opera
mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. (2005b, p. 376)

Com base nisso, Roque Jacintho (2006) afirma que o passe é uma transfusão dirigida de
fluidos, uma permuta de perispírito para perispírito, muito semelhante à do sangue, e
que foi incorporado pelos templos espíritas como recurso fundamental para
rearmonização do perispírito no curso das diversas provas e expiações e para tratamento
das mais variadas enfermidades da alma e do corpo.
Também afirmou que:

O passe é transmissão de energias humanas somadas com as emanações Divinas


encontráveis nos reservatórios da Natureza, agindo em favor do reequilíbrio
continuamente rompido pela vivência egoística e orgulhosa dos seres em evolução.
(Jacintho, 2006, p. 21)

Com muita propriedade, J. Herculano Pires lembra que:

Kardec colocou o problema do passe em termos científicos, no campo da Fluídica,ou


seja, Ciência dos Fluidos. Com seu rigor metodológico, ligou o passe a estrutura
dinâmica do perispírito (corpo espiritual), hoje reconhecido como fonte de todas as
percepções a atividades paranormais.(2005, p. 59).

Essa ligação do passe ao períspírito é melhor compreendida quando se tem em mente,


conforme ensinado por Camilo (1991), que este último compõe uma estrutura
eletromagnética, envolvida por substâncias fluídicas que obedecem o comando do
Espírito.

Conforme Allan Kardec:

Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os
assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos
exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua expansão e
sua irradiação, o perispírito com eles se confunde. (2005b, p. 364-365)

E mais:

Por atuar diretamente sobre o perispírito, ou seja, sobre a matriz onde se funde o nosso
organismo físico e, por conseguinte, onde se localizam as raízes profundas de nossos
distúrbios somáticos, é o passe o mais importante elemento para promoção do
equilíbrio perdido ou ainda não conquistado, sempre que todo e qualquer desajuste se
instale ou se revele. (Jacintho, 2006, p.14)

O passe, portanto, detém aptidão de interagir com o perispírito de paciente e, assim, de


promover o seu equilíbrio orgânico e espiritual. Contudo, apesar dessa aptidão, o
sucesso do passe depende não só da atuação do passista e da espiritualidade superior.
Necessita também do concurso da vontade daquele que o recebe. Segundo Martins
Peralva:

Há criaturas que oferecem extraordinária receptividade aos fluidos magnéticos. São


aquelas que possuem fé robusta e sincera, recolhimento e respeito ante o trabalho que a
se favor e a favor de outrem, se realiza.

Na criatura de fé, no momento em que recebe o passe, a sua mente e o seu coração
funcionam à maneira de poderoso imã, atraindo e aglutinando as forças curativas.

Já com o descrente, o irônico e o duro de coração o fenômeno é naturalmente oposto.


Repele ele os jorros de fluidos que o médium canaliza para o seu organismo. (2004,
147-148)

Esclarece Allan Kardec, ainda, que:

A ação magnética pode produzir-se de muitas maneiras:

1º pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, ou


magnetismo humano, cuja ação se acha adstrita à força e, sobretudo, à qualidade do
fluido;

2º pelo fluido dos Espíritos, atuando diretamente e sem intermediário sobre um


encarnado, seja para o curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono
sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou
moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está na razão direta das
qualidades do Espírito;

3º pelos fluidos que os Espíritos derramam sobre o magnetizador, que serve de veículo
para esse derramamento. É o magnetismo misto, semi-espiritual, ou, se o preferirem,
humano-espiritual. Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime
qualidades de que ele carece. Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é
amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do
magnetizador. (2005b, p.377)

É de ressaltar que Allan Kardec chama de magnetizador aquele que hoje é chamado de
passista.

Jacob Melo (2004) informa que os passistas espirituais costumam registrar um leve e
agradável rocio no alto da cabeça e percebem uma circulação de sutil vibração e uma
benfazeja sensação invadindo o seu organismo e saindo pelos braços, em direção às
mãos, que se derrama sobre o paciente, não havendo no final do passe qualquer
sensação desgradável de fadiga, irritação ou cansaço.

Os passistas magnéticos sentem sinais indicativos de usinagem magnética, isto é,


esforço dos centros vitais para produzir fluidos, a partir do material orgânico, com o fim
de exteriorizá-los (Melo, 2004).
Já os passistas mistos registram um pouco das sensações dos passistas espirituais e dos
passistas magnéticos (Melo, 2004).

9. REFERÊNCIAS
__________________A epífese e os centros de energia vital. Disponível em:
<http://www.mkow.com.br/apostilas/unid50.htm>. Acesso em 20 mar. 2004.

__________________.A lei de amor. Direito Social. Disponível em


<http://www.direitosocial.com.br/desenv_humano.htm>. Acesso em: 20 mar. 2004

__________________.Os centros de força e a glândula pineal. Disponível em:


<http://www.seareirosdejesus.com.br/downloads/downloads.html>. Acesso em: 22 mar.
2007.
________________. Fotos de materialização de espíritos. Disponível em:
<http://www.ipepe.com.br/materializacao.html>. Acesso em 18 mar 2008.

________________. Fenômenos de Materialização(PEIXOTINHO). Disponível


em:<http://pt.muestrarios.org/b/fen%C3%B4menosdem
aterializa%C3%A3opeixotinho.html>.Acesso em 17 fev. 2008.

Ângelis, Joanna; [psicografado por] Divaldo Pereira Franco. Elucidações psicológicas à


luz do espiritismo . Organização de Geraldo Campetti Sobrinho, Paulo Ricardo A.
Pedrosa. – Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2002.

Camilo; [psicografado por] José Raul Teixeira. Correnteza de luz. Niterói, RJ: Fráter
Livros Espíritas, 1991.

Denis, Leon. O porquê da vida: solução racional do problema da existência: que somos,
de onde viemos, para onde vamos. 21. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira,
2004.

Equipe do Projeto Manoel P. de Miranda. Terapia pelos passes. 7ª ed. Salvador: Livraria
Espírita Alvorada Editora. 2006.

Gleber, Joseph; [psicografado por] Santos, Robson Pinheiro. Medicina da alma. 1ª ed.
Contagem:Casa dos Espíritos Editora, 1997. 272 p.

Gurgel, Luiz Carlos de Melo. O passe espírita. 4.ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita
Brasileira. 205. 160p.

Jacintho, Roque. Passe e passita. 16. ed. São Paulo: Van Moorsel, Andrade e Cia, 2006.

Kardec, Allan. O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita:espiritismo


experimental. Tradução de Guillon Ribeiro da 49. ed. francesa. Rio de Janeiro:
Federação Espírita Brasileira. 2005. 604p.

____________. O livro dos médiuns, ou, guia dos médiuns e dos evocadores:
espiritismo experimental. Tradução de Guillon Ribeiro da 49. ed. francesa. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2004. 580p.

____________. A gênese: os milagres e as predições segundo o espiritismo. Rio de


Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2005. Disponível em:
<http://www.febnet.org.br/apresentacao/1,0,0,389,0,0.html>. Acesso em: 23 mar. 2007.

Luiz, André; [psicografado por] Xavier, Francisco Cândido. Libertação. 27 ed. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2004. 328 p.

Melo, Jacob. Manual do passista: curando pelo amor e pelo magnetismo. 4ª


ed.Fortaleza: Premius. 2004.

__________.Magnetismo e passes. Disponível em:


<http://www.feig.org.br/doutrinario/eventojacob2.htm>. Acesso em: 22 mar. 2007.
Miranda, Hermínio Correia de. Diálogo com as sombras: teoria e prática da doutrinação.
18 ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2004.

_________________________.Diversidade dos carismas: teoria e prática da


mediunidade. 3ª ed. 3ª reimp. Niterói:Lachâtre. V.1.2004

_________________________. O exilado – e outras histórias que os Espíritos


contaram. 6ª ed. São Bernardo do Campo: Editora Espírita Correio Fraterno do ABC.
1997.
Miranda, Manoel Philomeno de; [psicografado por] Divaldo Pereira Franco. Trilhas da
libertação. 8ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006.

Nobre, Marlene. Uso do ectoplasma pela espiritualidade ? Disponível em:


<http://www.amebrasil.org.br/html/duvidas_ectoplasma.htm>. Acesso em 15 fev. 2008.

Peralva, Martins. Estudando a mediunidade: segundo a obra “Nos domínios da


mediunidade” de Francisco Cândido Xavier. 24ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita
Brasileira, 2004.

Pinheiro, Luiz Gonzaga. Diário de um doutrinador. 7ª ed. Capivari:EME. 2004. 212p.

Pires, J. Herculano. Obsessão, o passe, a doutrinação. 8ª ed.São Paulo: Paidéia. 2005.

Silva, Aluney Elferr Albuquerque. Perispírito. Terra Espiritual. Disponível em


<http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo408.html>. Acesso em 19
mar. 2007

Teixeira, Cícero Marcos. O que é obsessão?. A Reencarnação. Porto Alegre, n. 425,


Ano LXX. p. 5-12. 2004. Disponível em
<http://www.fergs.com.br/bancodados/antologia/reenc425.pdf>. Acesso em 20 mar.
2007.

Van Praagh, James. O despertar da intuição: desenvolvendo seu sexto sentido. Tradução
de Ebréia de Castro Alves. Rio de Janeiro: Sextante. 2003.

Vilela, Ana Luisa Miranda. Sistema linfático. Disponível em:


<http://www.afh.bio.br/imune/linfa1.asp>. Acesso em 19 mar. 2007.

... Francisco Rebouças

> O Sono nas reuniões espíritas

Artigos
Todos nós sabemos da necessidade do sono para o refazimento do nosso organismo
físico. No entanto, é preciso que se atente para o fato, de que nem sempre nos é
adequado fazer uso dessa bênção para nos restabelecer o equilíbrio, havendo mesmo
ocasiões em que ele pode até se tornar fatal para nossas vidas.

Há momentos em que não se pode admitir que alguém possa estar dormindo como, por
exemplo, na hora do trabalho remunerado, que pode lhe custar até mesmo a demissão
por justa causa; ou quando estiver com a responsabilidade de cuidar de uma criança; ou
ainda no trânsito ao volante de um veículo nas rodovias brasileiras, imagine um médico
dormindo ou mesmo cochilando, durante uma cirurgia delicada, etc. etc. Assim,
podemos afirmar que, “o sono exercido à hora em que se solicita a vigília, pode tornar-
se inimigo cruel e implacável”.

Alan Kardec nos esclarece a respeito da utilidade do sono conforme segue:

À hora de dormir

“O sono tem por fim dar repouso ao corpo; o Espírito, porém, não precisa de repousar.
Enquanto os sentidos físicos se acham entorpecidos, a alma se desprende, em parte, da
matéria e entra no gozo das faculdades do Espírito. O sono foi dado ao homem para
reparação das forças orgânicas e também para a das forças morais. Enquanto o corpo
recupera os elementos que perdeu por efeito da atividade da vigília, o Espírito vai
retemperar-se entre os outros Espíritos. Haure, no que vê, no que ouve e nos conselhos
que lhe dão, idéias que, ao despertar, lhe surgem em estado de intuição. É a volta
temporária do exilado à sua verdadeira pátria. É o prisioneiro restituído por momentos à
liberdade.

Mas, como se dá com o presidiário perverso, acontece que nem sempre o Espírito
aproveita dessa hora de liberdade para seu adiantamento. Se conserva instintos maus,
em vez de procurar a companhia de Espíritos bons, busca a de seus iguais e vai visitar
os lugares onde possa dar livre curso aos seus pendores.

Eleve, pois, aquele que se ache compenetrado desta verdade, o seu pensamento a Deus,
quando sinta aproximar-se o sono, e peça o conselho dos bons Espíritos e de todos cuja
memória lhe seja cara, a fim de que venham juntar-se-lhe, nos curtos instantes de
liberdade que lhe são concedidos, e, ao despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal,
mais corajoso diante da adversidade.” ¹

Nas reuniões espíritas, sejam nas palestras, nos grupos de estudos, nas reuniões
mediúnicas, ou outra qualquer, não se pode admitir que o trabalhador espírita dê menos
importância aos labores da Seara do Mestre de Nazaré, que nos afazeres normais do seu
dia a dia, visto que, em sendo ele admitido para essas tarefas na seara da mediunidade,
acredita-se que esteja consciente de sua responsabilidade nas referidas atividades da
casa espírita que freqüenta.

Temos visto muitos companheiros, alistados nas tarefas das cassas espíritas, que são
protagonistas de situações realmente desagradáveis, por se entregarem ao sono nas
reuniões doutrinárias, que normalmente já chegam atrasados com a intenção única de
dar passes no final das palestras, para que sejam observados por todos como tarefeiros
passistas de suas instituições. Quando se vêem chamados a dar algumas explicações
sobre o sono que lhes dominam, saem com as maiores e mais absurdas desculpas tais
como:

1- Estou sendo utilizado pelos espíritos para ceder fluidos para ajuda ao orador;
2- Estou trabalhando em parcial desdobramento;
3- Alguns chegam a afirmar, que aprendem muito mais desdobrados que em vigília, etc.

Claro que esse desculpismo infundado e sem lógica doutrinária é natural naqueles que
se julgam mais sabidos que os outros, mas, que na verdade em nada condiz com alguém
que conhece os preceitos de uma doutrina clara e lógica como a nossa. Sabemos, que o
cansaço físico de um dia atribulado no trabalho profissional, aliado à falta de motivação
e a monotonia de determinados oradores, muito pode contribuir para a sonolência de
quem já tem o mau hábito de dormir nas atividades espirituais da casa espírita.

Mas, esses fatores predisponentes aqui citados, não representam a verdadeira causa do
adormecimento nesse tipo de reunião, que na sua grande maioria se processa pela
interferência de mentes viciosas do mundo espiritual inferior, que operam
magneticamente à distância, com a finalidade de não permitirem que o indivíduo
adormecido se beneficie do tema edificante da palestra.

“Sobre o assunto, vejamos o que diz o assistente “Aulus” para André Luiz: “(...) Os
expositores da boa palavra podem ser comparados a técnicos eletricistas, desligando
«tomadas mentais», através dos princípios libertadores que distribuem na esfera do
pensamento.

Sorriu bem-humorado e prosseguiu:

— Em razão disso, as entidades vampirizantes operam contra eles, muitas vezes


envolvendo-lhes os ouvintes em fluidos entorpecentes, conduzindo esses últimos ao
sono provocado, para que se lhes adie a renovação”.2

Irmã Zélia, também confirma a ação perniciosa dos desencarnados infelizes que se
aproveitam da invigilância de certos tarefeiros, que imprevidentes e despreparados para
os misteres da mediunidade se deixam envolver por essas influências negativas
conforme narra a Otila Gonçalves:

“Alguns – prosseguiu – penalizada-, embora libertados momentaneamente das


expressões obsidentes, penetram o recinto, com desrespeito e indiferença, entregando-
se, durante o trabalho, ao sono reprochável, resultante da intoxicação mental de que são
portadores, ou se deixam conduzir pelos pensamentos habituais, refazendo as ligações
mentais e ameaçando o serviço venerando, pela possibilidade de invasão intempestiva
dos seus algozes revoltados, constrangidos, na retaguarda, e que, destarte, encontram
brechas no conjunto que deve ser protegido e defendido por todos.” 3

Dessa forma, é de suma importância que nos preparemos adequadamente, para exercer
as atividades no labor mediúnico, em nossas casas espíritas, observando alguns ensinos
ministrados pelos amigos espirituais dentre os quais destacamos:

a- Quando possível, fazer um pequeno relaxamento físico e mental, antes de se dirigir


ao trabalho espiritual da casa espírita;
b- Evitar alimentação exagerada e de difícil digestão;
c- Dedicar-se com alegria e empenho às atividades espirituais, por saber que estamos
representando Jesus ante o necessitado que o busca;
d- Evitar conversas negativas, como críticas, comentários sobre doenças, queixas, etc.,
portando-se de forma mais digna exigida para um trabalhador da Seara do Mestre de
Nazaré;
e- Manter-se em sintonia elevada, orando e vibrando positivamente, contribuindo para o
êxito do trabalho.

Precisamos atentar para o fato de que, somos os únicos responsáveis pelas escolhas que
fazemos e não podemos ficar acusando este ou aquele indivíduo, ou este ou aquele
motivo para nos desculpar dos nossos insucessos perante as tarefas de cunho espiritual a
nós confiadas pela Espiritualidade Maior. Sobre esse assunto, ouçamos o que nos diz
André Luiz:

“Não acuse os Espíritos desencarnados sofredores, pelos seus fracassos na luta. Repare
o ritmo da própria vida, examine a receita e a despesa, suas ações e reações, seus modos
e atitudes, seus compromissos e determinações, e reconhecerá que você tem a situação
que procura e colhe exatamente o que semeia”. 4

Que Jesus nos guarde em sua paz, e que não sejamos nós os responsáveis pelo fracasso
das atividades de intercâmbio nas tarefas a que nos candidatamos por livre e espontânea
vontade.

Fontes:

1) E.S.E. – Cap. XVIII, item 38.

2) Livro: Nos domínios da mediunidade , 23ª edição– Cap. 4, pag. 39.

3) Livro: Além da Morte , 9ª edição – Cap. XVI, pag. 239.

4) Livro: Agenda Cristã – Cap. 18.

... Divaldo Pereira Franco

> Apometria não é Espiritismo

Artigos
O médico carioca residente em Porto Alegre Dr. José Lacerda desde os anos 50, espírita
que era então, começou a realizar numa pequena sala do Hospital Espírita de Porto
Alegre chamada A Casa do Jardim, atividades mediúnicas normais. Com o tempo ele
recebeu instruções dos espíritos e realizou investigações pessoais que desaguaram em
um movimento ao qual ele deu o nome de Apometria.

Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria porque eu não sou apômetra, eu
sou espírita o que posso dizer é que a apometria, segundo os apômetras, não é
espiritismo. Porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações
de O Livro dos Médiuns.

Não examinaremos aqui o mérito ou demérito porque eu não pratico a apometria, mas
segundo os livros que tem sido publicados, a apometria, segundo a presunção de alguns,
é um passo avançado do movimento Espírita no qual Allan Kardec estaria ultrapassado.

Allan Kardec foi a proposta para o século XIX e para parte do século XX e a apometria
é o degrau mais evoluído no qual Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado.
Tese com a qual, na condição de espírita, eu não concordo em absoluto.

Na prática e nos métodos de libertação dos obsessores a violência que ditos métodos
apresenta, a mim, a mim pessoalmente me parecem tão chocantes que fazem recordar-
me da lei de Talião que Moises suavizou com o código legal e que Jesus sublimou
através do amor.

Quando as entidades são rebeldes os doutrinadores depois de realizarem uma contagem


cabalística ou de terem o gestual muito específico expulsam pela violência esse espírito
para o magma da Terra, a substância ainda em ebulição do nosso planeta.

O colocam em cápsulas espaciais e disparam para o mundo da erraticidade. Não iremos


examinar a questão esdrúxula desse comportamento, mas se eu, na condição de espírito
imperfeito que sou, chegasse desesperado num lugar pedindo misericórdia e apoio na
minha loucura, e outrem, o meu próximo, me exilasse para o magma da Terra, para eu
experimentar a dureza de um inferno mitológico ou ser desintegrado, eu renegaria
àquele Deus que inspirou esse adversário da compaixão.

Ou se me mandasse numa cápsula espacial para que fosse expulso da Terra. Com qual
autoridade?
Quando Jesus disse que o seu reino é dos miseráveis.
Na parábola do Festim de Bodas, ele manda buscar os mendigos, aqueles que estão nos
lugares escabrosos já que os eleitos recusaram e mataram os seus embaixadores.

A Doutrina Espírita centraliza-se no amor e todas essas práticas novas, das


mentalizações, das correntes mento-magnéticas, psico-telérgicas para nós espíritas
merecem todo respeito, mas não tem nada a ver com espiritismo.

Seria o mesmo que as práticas da Terapia de Existências Passadas nós realizarmos


dentro da casa espírita ou da cromoterapia ou da cristalterapia, fugindo totalmente da
nossa finalidade.

A Casa Espírita não é uma clínica alternativa, não é lugar onde toda experiência nova
vai colocada em execução.
Tenho certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos, primeiro, não conhecem
as bases Kardequianas e ao conhecerem-nas nunca vivenciaram para terem certeza, seria
desmentir todo material revelado pelo mundo espiritual nestes 144 anos de codificação,
no Brasil e no mundo, pela mediunidade incomparável de Chico Xavier, as informações
que vieram por esse médium impar, pela notável Yvone do Amaral Pereira, por Zilda
Gama, por tantos médiuns nobres conhecidos e nobres desconhecidos no seu trabalho de
socorro.

Então se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não


misture para não confundir.

A nossa tarefa é de iluminar, não é de eliminar.

O espírito mau, perverso, cruel é nosso irmão na ignorância.

Poderia haver alguém mais cruel do que o jovem Saulo de Tarso? Ele havia assassinado
Estevão a pedradas, havia assassinado outros, e foi a Damasco para assassinar Ananias.
Jesus não o colocou numa cápsula espacial e disparou para o infinito. Apareceu a ele!
Conquistou-o pelo amor: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"
Pode haver maior ternura nisso?
E ele tomado de espanto perguntou: "Que é isto?" "- Eu sou Jesus, aquele a quem
persegues". E ele então caiu em sí.

Emmanuel usa esta frase: E caindo em si, quer dizer aquela capa do ego cedeu lugar ao
encontro com o ser profundo, caindo em si.

Ele despertou, e graças a ele nós conhecemos Jesus pela sua palavra, pelas suas lutas,
pelo alto preço que pagou, apedrejado várias vezes até ser considerado morto, jogado
por detrás dos muros nos lugares do lixo, dos dejetos ele foi resgatado pelos amigos e
continuou pregando.

Então os espíritos perversos merecem nossa compaixão e não nosso repúdio.


Coloquemo-nos no lugar deles. Que sejas como conosco quando nós éramos maus e
ainda somos aqui com nós.
Basta que alguém nos pise no calcanhar ou nos tome aquilo que supomos que é nosso,
para ver como irrompe a nossa tendência violenta e nós nos transformamos de um para
outro momento.
Não temos nada contra a Apometria, as correntes mento-magnéticas, aquelas outras de
nomes muito esdrúxulos e pseudo-científicos. Não temos nada.

Mas como espíritas, nós deveremos cuidar da proposta Espírita.

E da minha condição de Espírita exercendo a mediunidade a mais de 54 anos, os


resultados tem sido todos colhidos da árvore do amor e da caridade.

Não entrarei no mérito dos métodos, que são bastante chocantes para a nossa
mentalidade espírita, que não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados
comportamentos, porque a única força é aquela que vem de dentro. Para esta classe de
espíritos são necessários jejum e oração.

Transcrito do programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova a partir de palestra de


Divaldo Pereira Franco (Agosto/2001)

INTERNET: http://use-tatuape.blogspot.com/2007/11/apometria-no-espiritismo.html

... Eliseu Mota Júnior

> Seis Gigantes da Alma

Artigos

RECORDANDO ALLAN KARDEC

SEIS GIGANTES DA ALMA

O eminente professor de psicologia e psiquiatria Emilio Mira Y López


afirmou que o medo, a ira, o amor e o dever são os quatro gigantes
da alma, estudando cada um deles com rigor científico
impressionante, valendo-se de sólidos estudos psicológicos,
psicanalíticos e psiquiátricos para embasar e construir o seu admirável
livro sobre o assunto, modificando inclusive diversos dogmas
freudianos até então vigentes, além de municiar o leitor com vários
segredos de sua estratégia bélica, descrevendo algumas de suas
batalhas mais freqüentes.[1]

Lamenta-se apenas que tanto Freud quanto Mira Y López, embora


escrevendo suas obras após o advento do Espiritismo, não se
dignaram a examiná-lo com a devida atenção, porque então saberiam
que existem mais dois gigantes, o egoísmo e o orgulho. Desse
modo, em vez de quatro, na verdade temos seis gigantes da alma: o
medo, a ira, o amor, o dever, o egoísmo e o orgulho.

Mas tal lacuna não desmerece de todo a obra de Mira Y López. Com
efeito, dela podemos tirar enorme proveito, sobretudo porque ele
também admite que a máxima conhece-te a ti mesmo, gravada no
frontispício do oráculo de Delfos e recomendada por Sócrates, é uma
poderosa arma para enfrentar todos aqueles gigantes do Espírito.

Também é dele a seguinte advertência: “Dois grandes obstáculos,


entretanto, dificultam este autoconhecimento, que Sócrates já
reclamava como princípio de toda atuação: o primeiro deles consiste
na própria proximidade, que dificulta enormemente todo intento
introspectivo (do mesmo modo que quanto mais aproximamos um
objeto de nossa vista pior o vemos); o segundo deriva das
modificações constantes de nosso tonus vital — refletidas em nosso
humor e em nossa autoconfiança — que nos levam a tingir sempre o
autojuízo estimativo, dando-lhe uma exagerada coloração rósea ou
um injustificado tom de obscuro pessimismo. De fato, o homem,
depois de considerar-se o ‘Rei da Criação’, passa, quase que sem
meio-termo, a julgar-se ‘simples barro’; umas vezes se considera
como espírito ‘próximo de Deus’ e outras como ‘máquina de
reflexos.”[2] Dessa forma, prosseguindo com a nossa meta de
pesquisar assuntos de interesse geral nas obras de Allan Kardec,
encontramos em Obras Póstumas[3] e na Revista Espírita[4] farto
material sobre orgulho e egoísmo - suas causas, seus efeitos e os
meios de destruí-los. Vejamos a seguir algumas considerações que
dali extraímos, usando o método de perguntas e respostas:

P. Qual a causa do orgulho? De onde se origina o egoísmo?


R. “A causa do orgulho está na crença, em que o homem se firma, da
sua superioridade individual. Ainda aí se faz sentir a influência da
concentração dos pensamentos sobre a vida corpórea. Naquele que
nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da
personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso.
“O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da
personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros.
Julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que,
a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por
orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta.”

P. E de onde nascem esses escolhos?


R. “O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o
instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e
sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito de inútil. Ele não
criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus,
em virtude do seu livre-arbítrio. Contido em justos limites, aquele
sentimento é bom em si mesmo. A exageração é que o torna mau e
pernicioso. O mesmo acontece com todas as paixões que o homem
freqüentemente desvia do seu objetivo providencial. Ele não foi criado
egoísta, nem orgulhoso por Deus, que o criou simples e ignorante; o
homem é que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que
Deus lhe outorgou para sua conservação.”

P. O orgulho pode atrapalhar um médium?


R. “Muitas vezes o orgulho se desenvolve no médium à medida que
cresce a sua faculdade. Esta lhe dá importância. Procuram-no e ele
acaba por sentir-se indispensável. Daí, muitas vezes, um tom de
jactância e de pretensão ou uns ares de suficiência e de desdém,
incompatíveis com a influência de um bom Espírito. Aquele que cai em
tal engano está perdido, porque Deus lhe deu sua faculdade para o
bem e não para satisfazer sua vaidade ou transformá-la em escada
para a sua ambição. Esquece que esse poder, de que se orgulha,
pode ser retirado e que, muitas vezes, só lhe foi dado como prova,
assim como a fortuna para certas pessoas. Se dele abusa, os bons
Espíritos pouco a pouco o abandonam e o médium se torna um
joguete de Espíritos levianos, que o embalam com suas ilusões,
satisfeitos por terem vencido aquele que se julgava forte. Foi assim
que vimos o aniquilamento e a perda das mais preciosas faculdades
que, sem isso, se teriam tornado os mais poderosos e os mais úteis
auxiliares.”

P. Quais são as principais conseqüências sociais do orgulho e do


egoísmo?
R. “Eles serão sempre os vermes roedores de todas as instituições
progressistas; enquanto dominarem, ruirão aos seus golpes os mais
generosos sistemas sociais, os mais sabiamente combinados. É belo,
sem dúvida, proclamar-se o reinado da fraternidade, mas, para que
fazê-lo se uma causa destrutiva existe? É edificar em terreno
movediço; o mesmo fora decretar a saúde numa região malsã. Em tal
região, para que os homens passem bem, não bastará se mandem
médicos, pois que estes morrerão como os outros; insta destruir as
causas da insalubridade. Para que os homens vivam na Terra como
irmãos, não basta se lhes dêem lições de moral; importa destruir as
causas de antagonismo, atacar a raiz do mal: o orgulho e o egoísmo.”

P. O Espiritismo pode possibilitar a destruição desses males?


R. “O Espiritismo é, sem contradita, o mais poderoso elemento de
moralização, porque mina pela base o egoísmo e o orgulho,
facultando um ponto de apoio à moral. Há feito milagres de conversão;
é certo que ainda são curas individuais e não raro parciais. O que,
porém, ele há produzido com relação a indivíduos constitui penhor do
que produzirá um dia sobre as massas. Não lhe é possível arrancar de
um só golpe as ervas daninhas. Ele dá a fé e a fé é a boa semente,
mas mister se faz que ela tenha tempo de germinar e de frutificar,
razão por que nem todos os espíritas já são perfeitos.

P. Por que o Espiritismo ainda não logrou fazer perfeitos todos os


espíritas?
R. “Ele tomou o homem em meio da vida, no fogo das paixões, em
plena força dos preconceitos e se, em tais circunstâncias, operou
prodígios, que não será quando o tomar ao nascer, ainda virgem de
todas as impressões malsãs; quando a criatura sugar com o leite a
caridade e tiver a fraternidade a embalá-lo; quando, enfim, toda uma
geração for educada e alimentada com idéias que a razão,
desenvolvendo-se, fortalecerá, em vez de falsear? Sob o domínio
destas idéias, a cimentarem a fé comum a todos, não mais esbarrando
o progresso no egoísmo e no orgulho, as instituições se reformarão
por si mesmas e a Humanidade avançará rapidamente para os
destinos que lhe estão prometidos na Terra, aguardando os do céu.”

P. E como Espiritismo poderá auxiliar os pais na educação moral dos


filhos?
R. “Por um novo ponto de vista, do qual faz observar a missão e a
responsabilidade dos pais; fazendo conhecer a fonte das qualidades
inatas, boas ou más; mostrando a ação que se pode exercer sobre os
Espíritos, encarnados e desencarnados; dando a fé inquebrantável,
que sanciona os deveres; enfim, moralizando os próprios pais. Ele já
prova sua eficácia pela maneira mais racional por que são educadas
as crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos
horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de outra
maneira; sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade,
forçosamente deverá iluminar o grave problema da educação moral,
primeira fonte da moralização das massas. Um dia compreender-se-á
que este ramo da educação tem seus princípios, suas regras, como a
educação intelectual, numa palavra, que é uma verdadeira ciência;
talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de família a
obrigação de possuir esses conhecimentos, como se impõe ao
advogado a de conhecer o Direito.”
(Coluna originalmente publicada na Revista Internacional do Espiritismo em Março de 1998)

[1] MIRA Y LÓPEZ, Emilio. Quatro gigantes da alma: trad., ver. e pref. Por Cláudio de Araújo Lima.-
16ª ed., Rio, José Olympio, 1994, 224 p.
[2] Idem, pp. 2/3.
[3] KARDEC, Allan. Obras póstumas: trad. Guillon Ribeiro, 22ª ed., Rio, FEB, p. 225-232.
[4] KARDEC, Allan. Revista Espírita: trad. Júlio Abreu Filho, Sobradinho, EDICEL, 1859, p. 36-37,

... Marco A. B. de Almeida

> As Solidariedades do Povo do Santo

Artigos

O Rio de Janeiro do início do século XX apresenta-se numa conjuntura de


transformações e metamorfoses na vida político, social e urbana do país, marcadas por
contexto de continuidades e permanências onde a identificação dos indivíduos com uma
cultura de grupo, como no caso dos grupos praticantes das religiões afro-brasileiras,
integrantes do carnaval, participantes de sociedades anônimas diversas, subempregados
e biscateiros de todas as espécies são participantes de uma lógica subalternizada de
mundo, legitima a nova cultura em formação que cria uma identidade coletiva
construída num ambiente onde a solidariedade era a chave para sobrevivência.
Nessa cidade de integração e choque entre culturas e etnias, da busca por representações
no meio social e urbano através da religião, dos cultos Afro-Brasileiros, como no caso
dos Candomblés (1) e da Umbanda, novo culto surgido da miscigenação e sincretismo
de várias religiões, que através de suas visões míticas da realidade com idéias de
ancestralidade, natureza e comunidade constituíram um modelo religioso com uma
lógica particular de sociedade, cultura e economia.

Logo, é na esteira da modernização do início do século XX, com todas as suas


mudanças e modificações, não só a nível das novas tecnologias, mas de toda uma
mentalidade, que o advento da multidão e a acentuação das individualidades na
sociedade transformam as novas solidariedades e a permanência das antigas em um
fator agregador dos grupos e dos diversos elementos afins que deles participam.

‘‘Os terreiros de candomblé e os centros umbandistas são casas de ajuda ao próximo.


Essa ajuda pode ser material ou espiritual, variando segundo a necessidade daqueles que
compõem ou procuram essas comunidades. É absolutamente introjetado no pensamento
das pessoas que aí circulam a noção de coletivo. A comida é os que chegam; além de
existir uma verdadeira agencia informal de empregos para aqueles que necessitam de
uma ocupação”.(2)

Logo, é a partir das relações de solidariedades desenvolvidas e implementadas no


conjunto dos elementos que integram os Cultos Afro-Brasileiros, que o mesmo
elemento participante desses cultos as reproduz no meio em que vive como um
elemento inerente a sua formação social e a sua cultura como uma forma de integralizar-
se no conjunto desta sociedade, na afirmação de sua identidade de culto e, por
conseguinte da sua vida no meio urbano.

‘‘Consultar os búzios através dos conhecimentos iniciáticos do Oluwo, ou mesmo pôr


diferentes maneiras intuitivas, marca, quase sempre, a chegada do indivíduo no terreiro,
sendo de certa maneira a primeira relação entre o homem e o sagrado. Os diferentes
temas como saúde, amor, trabalho, família, entre outros, são tratados numa vertente
onde se busca solidariedade dos deuses, dos antepassados e da própria comunidade do
terreiro. O jogo de búzios é também um ato solidário, um ato de humanidade, de relação
profunda como sagrado”.(3)

A história das casas de Candomblé, na cidade do Rio de Janeiro remonta a mudança do


tráfico para a costa da mina e a vinda de negros Sudaneses para o Brasil, não só com
toda uma bagagem de símbolos, ritos e identidade, mas também com uma tradição “de
cultura elaborada e um forte sentimento nacional... prontos a se organizar separados,
diversos, e da resistência cultural partir para revolta armada”.(4)

Logo, com as guerras santas islâmicas as Jihád, que no início do século XIX, fornecem
escravos para Salvador, que trazem para o Brasil seu espírito guerreiro, sua capacidade
de liderança e articulação, e a ideologia islâmica dos negros Haussas e Malês, que
vieram junto com os seus adversários na África, os Iôrubas e os Jejes.
Com isso, desenvolve-se uma nova movimentação cultural em Salvador, na organização
de cultos religiosos e sociedades secretas. Sendo assim, fica explicitada na composição
social do negro baiano a idéia como as dos negros islâmicos de que a função do Estado
é servir a lei divina, “implicando a conversão num projeto político de tomada de
governo”.(5)

“repelidos pêlos fulás, os negros haussas caíram sobre o grande e poderoso reino central
de Ioruba e destruíram-lhe a capital Oyó. No reinado de Arogamgam Ioruba perdeu, em
1807, a província Ilorim, cujo governador Afunjá, sobrinho do Rei, serviu-se dos
haussas para torna-se independente. Os maometanos em 1825. Queimaram vivo o
Afunjá e desde de então um rei ou governo muçulmano, Ilorim. Tornou-se pôr este
modo um centro de propaganda do islamismo nos povos Iorubanos ou nagôs”.(6)

Contudo, Haussas e Nagôs, adversários comuns na África, mas reunidos no Brasil sob a
mesma condição escrava, vão organizar uma revolta em 1809. Na expansão deste
movimento, em 1835, aconteceria a união de “oito nações contra o poder colonial”(7). É
a revolta Malê na Bahia.

“se a liderança guerreira era dos Haussas islâmicos, a vida religiosa nas cidades é
redefinida com a chegada das grandes religiões dos Iorubas, seus Orixás conquistando
os terreiros que batiam tarde da noite, disfarçados em meras reuniões festivas, mesmo
nas casas dos Bantos, os Orixás e Iorubas passam a descer junto com as suas entidades,
expressão das identidades e compatibilidades entre mística dos diversos africanos”.(8)

Verifica-se também que o culto Malê no Brasil, desenvolve-se a partir da existência das
sociedades secretas, Nagôs Ogboni, Gueledê e Egungun, importantes segmentos
organizados de mobilização política e cultural.

A partir da fundação do Candomblé do Iyá Omi Axé Airá Ontile, nas imediações da
igreja da Boa Morte, situada no Bairro da Barroquinha - BA, onde ingressam no culto
Iyá Nasô, que mais tarde torna-se Yalorixá, chefe de terreiro que, então, dá nome a uma
nova casa o Ilê Iyá Nasô, de orientação Ioruba-Nagô, situando-se mais tarde no
Engenho Velho, tornando-se assim um dos pilares da religião afro no Brasil e da sua
resistência.

Depois da segunda metade do século XIX, com as sucessões e as cisões após a morte do
chefe do terreiro, prática ancestral, fundar-se-iam outros Candomblés, como no caso do
Ilê Iyá Nasô que vai originar o Iyá Omi Axé Iyá Massê no Rio Vermelho e mais tarde o
Ilê Axé de Opô Afonja “...na sucessão de Mãe Ursolina, que Aninha filha do Bambochê
lidera”.(9)

Logo, no Brasil a identidade dos grupos negros, alicerçada a partir das relações
interétnicas e sociais, construídas no conjunto das representações conseguidas no
cotidiano das irmandades religiosas e de cultos de todas as origens, configuram-se como
elementos de integração e institucionalização desses cultos. Segundo a fonte do
ISER(10):

Modelo Religioso Nação Texto Falado em Língua Oração


Candomblé Nagô/ Ketu Yoruba Oriki
Candomblé Jeje-Nagô Yoruba Ewe Oriki
Candomblé Angola Banto Ingorossi
Candomblé Caboclo Banto Banto / Português Ingorossi Reza
Umbanda - Português Reza

Logo, como podemos observar no quadro acima, a integração dos cultos e de suas
variações, apesar das diferenças de nação ou mesmo das línguas faladas nos cultos,
revelam sempre um caráter agregador dessas religiões africanas e afro-brasileiras.

Sendo assim, essas formas de núcleo vem reinventar as referências familiares e muitas
vezes o próprio laço familiar, como na própria forma de tratamento Pai, Mãe e Filha de
Santos, funcionando todavia como uma fórmula de vínculo social com uma lógica de
organização do cotidiano na construção de uma vida em comunidade, e na reinvenção
de formas, práticas de existência e resistênci a cultural e social, contra os padrões de
comportamento impostos pelo Estado, nas palavras de Kátia Matoso:

“O negro deve abdicar de certas formas de seu mundo anterior, mas sua vida nova, se
ela se integra bem pode oferecer-lhe outras riquezas e ganhos libertadores por serem
criadores de um modo novo de pensar e, sobretudo novos laços afetivos”.(11)

Com isso, a partir desse redimensionamento das relações pessoais, cria-se no meio
urbano em Salvador, não só novos cultos e novas formas religiosas, mas também um
espaço de participação, memória e cultura, na medida em que esses povos trazem na
bagagem suas crenças, símbolos, ritos e tradições além de sua visão mítica e a sua
própria História. “Sendo, portanto centrais na história subalterna do Brasil”.(12)

Existiam também outros candomblés, como o Alaketo, o Olê Ogunja e outros com
raízes de Angola, já praticados pelos grupos Bantos, chamados Candomblés de
caboclos, que já constituíam-se com um caráter mais sincrético e da anterior
miscigenação que sofrera o culto com a influência católica, sendo assim:

“O fenômeno do sincretismo é gerado pela repressão que se abatia sobre o negro e sua
cultura, no Brasil esse processo se caracteriza pelo fato de que, para superarem a
repressão religiosa, e a opressão catequética os diversos cultos negros foram
introduzindo imagens de santos católicos capazes de fazer passar ao repressor, que era o
culto a santos católicos que ali se processava...” (13)

O cenário urbano carioca dos subúrbios, além dos cortiços e favelas do centro da cidade,
propiciam a instalação desses grupos de uma maneira semelhante a que tinham em
Salvador, como no bairro do Engenho Velho, com todas as suas práticas e vivências
cotidianas como na pequena África aonde os recém chegados na cidade recebiam a
solidariedade dos já instalados.

Através de seus ritos, cultos e festas, que celebram a identidade do povo do santo e suas
particularidades na forma de organização social, podemos destacar que os elementos do
culto em geral, estavam instalados em cortiços e favelas, onde era prática comum
oferecer estadia aos que chegavam. Os problemas com a Inspetoria Geral de Higiene
eram constantes, por causa do problema da insalubridade, e com a polícia pela qual era
exercido no meio urbano o controle social a essas “classes perigosas”, que são na sua
maioria transeuntes e circulantes no meio urbano carioca com suas tradições e
incorporações de novos elementos, a partir do cotidiano das ruas e dos cortiços.

Muitos habitavam a zona portuária, no bairro da Pedra do Sal, Saúde, Gamboa, Santana,
Cidade Nova, onde a maioria estava ligado ao trabalho no porto, na estiva, no trapiche,
e no comércio ambulante. As mulheres, em geral as tias baianas trabalhavam em
atividades domésticas. Eram: lavadeiras, doceiras, costureiras “que transformavam as
habitações coletivas em verdadeiras unidades administrativas (14)’’ e etc. capitalizando
assim, várias dessas atividades, já que os empregos formais, em geral e as
oportunidades eram oferecidos a sociedade branca que já estava estabelecida.

Dentro desse contexto, principalmente a partir do séc. XIX com o desenvolvimento da


cultura do café, na região sudeste, o afluxo de negros para o Rio de Janeiro, e o aumento
dos libertos, com a vinda da corrente migratória baiana, com intuito de tentar a vida na
capital, foi criado um novo cenário na cidade e esse processo intensificou-se com a
reforma urbana que sofreu a cidade no início do século XX. É onde o desejo de
integração e a vontade de começar nova vida confundem-se e alimentam-se nessa
cidade “Oásis” chamada Rio de Janeiro.

Tinha na Pedra do Sal, lá na Saúde, ali que era uma casa de baianos e africanos, quando
chegavam da África ou da Bahia. Da casa dele se via o navio, aí já tinha o sinal que
vinha chegando gente de lá.(...) Era uma bandeira branca, sinal de Oxalá avisando que
vinha chegando gente. A casa era no morro era de um Africano, ele chamava Tia Dadá e
ele Tio Ossum, eles davam agasalho, davam tudo até a pessoa se aprumar. (...) Tinha a
primeira classe, era gente graúda, a baianada veio de qualquer maneira, a gente veio
com a nossa roupa de pobre, e cada um juntou sua trouxa: “vamos embora para o Rio,
porque lá no Rio agente vai ganhar um dinheiro, lá vai ser um lugar muito bom”.(...) Era
barato a passagem, minha filha, quando não tinha, as irmãs inteiravam para ajudar na
passagem. (15)
(Depoimento de Carmem Teixeira da Conceição, Arquivo Corisco Filmes)

Devido ao grande fluxo da corrente migratória baiana no Rio de Janeiro, no final do séc.
XIX, início do século XX, e a integração desses grupos migratórios às populações
pobres já existentes na cidade, com o seu sistema simbólico de crenças e valores,
mudam a já em mutação paisagem urbana carioca.

No Rio de Janeiro os principais candomblés são o da casa de João Alabá, continuidade


do candomblé-nagô “Quimbambochê ou Bambochê, iniciado na Saúde, e que ficava na
rua S.Félix” (16). Tia Ciata de Oxum personagem conhecido do mundo carioca é
iniciada na Bahia pôr Bambochê.

Com a sucessão de Mãe Sussu, do Ilê Axé Nasô, em dissidência na casa, funda-se em
São Gonçalo do Retiro (Ba) o candomblé Ilê Axé de Opô Afonja que mais tarde abre
uma casa no Rio de Janeiro, segundo depoimento de Dona Carmem citada pôr Roberto
Moura: ‘‘esse terreiro teria sido visitado diversas vezes pôr João Alabá na Bahia", o que
torna legítimo ser Ciata e sua gente baiana no Rio ligada ao tronco mais tradicional do
candomblé nagô de Salvador”.(17)

Com isso, podemos perceber as redes de relações e laços de solidariedade que se


articulam em torno do povo do santo, ou seja, no tocante a busca de uma maior
participação social e inserção no meio urbano, “o candomblé pela suficiência de
conteúdo sobre os ancestrais, deuses e homens, estes transitam em humanizadas
relações em âmbito religioso, não se isolando do social, do político do econômico, do
moral e do ético”.(18)

Nesse contexto, o que vemos é uma interação étnica e também religiosa dos diversos
grupos das camadas populares, decorrente de uma verdadeira solidarização na miséria,
buscando soluções próprias frente ao mundo de dificuldades, na qual as condições de
vida e de trabalho tornam-se cada dia mais difíceis, pois na construção do novo espaço
urbano e a criação de uma novo padrão estético, acrescido do adensamento habitacional
e do crescimento urbano-industrial amparam um ideal de progresso construído a partir
dos descaso das políticas públicas. Esses fatores são responsáveis por essa
institucionalização das solidariedades na miséria na criação de leis próprias contra esse
falta de enternece do poder público.

Luiz Edmundo nos conta de uma casa de culto na travessa do morro do Castelo.
Segundo ele, a casa de ‘’João Gambá de Loanda’’, diz ser o culto de orientação Jeje-
nago, mas na verdade pela descrição feita, já se trata de um culto miscigenado e
mesclado com elementos católicos, logo pode nos servir de exemplo dessa
transformação:

‘’Quando penetramos a sala principal onde a mesma se pratica já a encontramos a


transbordar de gente... Lembrando o altar o de uma liturgia católica, junto à parede
acaliçada e triste do terreiro”(19).

Já o cronista João do Rio, nos fala do culto malê e da religião dos Alufás, no Rio de
Janeiro no seu livro As religiões do Rio, em uma série de reportagens publicadas em
1904:

‘’Os alufás... são maometanos com o fundo de misticismo. Quase todos dão para estudar
a religião... Logo depois do suma ou batismo e da circuncisão ou Kola, os alufás
habilitam-se à leitura do Alcorão. A sua obrigação é o Kissium, a prece. Rezam ao
tomar banho, lavando a ponta dos dedos, os pés e o nariz, rezam de manhã, rezam ao
pôr do sol. Eu os vi retintos, com a cara reluzente entre as barbas brancas, fazendo
alguma gariba, quando o crescente lunar aparecia no céu. Para essas preces, vestem
abadá, uma túnica branca de mangas perdidas, enterram na cabeça um filá vermelho,
donde pende uma faixa branca, e, à noite, o Kissium continua, sentados eles em pele de
carneiro ou tigre...
Essas criaturas contam a noite o rosário de Teesubá, tem o preceito de não comer carne
de porco, escrevem as orações numas tábuas, as Ato com tinta feita de arroz queimado e
jejum com os Judeus, quarenta dias a fio.... tanto sua administração religiosa como a
Judiciária estão pôr inteiro independentes da terra em que vivem.... Os Alufás não
gostam de gente de Santo, a que chamam Adoxu; a gente do Santo desprezam os bichos
que não comem porco, tratando-os de Malês. Mas acham–se todos relacionados pela
língua, com costumes exteriores mias ou menos idênticos e vivendo de feitiçaria. (20)
Com isso, podemos enfim constatar esse elemento de representação popular no
imaginário dessas populações, que são estereotipadas pela boa sociedade ou de gosto
aburguesado, acrescidos dos problemas do subemprego e dos "desocupados" e vadios,
numa associação à vadiagem àqueles que se identificam com esses grupos e culturas.

Logo, o candomblé e outras religiões afro-brasileiras como frutos dessa integração e


miscigenação dos cultos, especificadamente a Umbanda que mistura elementos da
religião ancestral, como candomblé, elementos do espiritualismo Kardecista, elementos
de religiões orientais, e enfim configura-se como signo dessas transformações.

Sendo assim, como todas as representações de populares no meio urbano, as religiões,


em forma de batuques e Afoxés, que são extensões dos Candomblés, eram sempre
associados à idéia de desqualificação social desses indivíduos, partindo-se do pretexto
das diferenças étnicas e culturais para a desqualificação dos mesmos frente à sociedade.

Para tanto, a mentalidade da elite letrada acerca da idealização do fenômeno das


“classes perigosas” se configura num misto de medo, preconceito e opressão criando
assim um imaginário de desqualificação, que é incessantemente veiculado pelas
diversas instâncias da sociedade civil como nas revistas e jornais, reproduzindo assim as
teorias dos intelectuais da época, como Lombroso, Ferri e Gobinou, através das
representações da antropologia criminal e medicina legal, que ganha um espaço no meio
intelectual brasileiro repercutindo nas instâncias de poder judiciário, onde Nina
Rodrigues, maior teórico no Brasil desse pensamento, celebriza-se com suas teorias
sobre a “hierarquia das raças” e “degenerescência da mestiçagem”.
Nas palavras do próprio Nina:

“A raça negra no Brasil, pôr maior que tenham sido seus incontestáveis serviços a nossa
nação, pôr mais justificadas que sejam... de que cercou um revoltante abuso da
escravidão... Há de se constituir num dos fatores de nossa inferioridade como
povo”.(21)

Sendo assim, na continuidade desse processo de consolidação da República, onde a


primeira constituição do regime de texto federalista, promulgado a 24 de fevereiro de
1891, nos tempos em que assume o governo em meio à crise, Floriano Peixoto o
“Marechal de Ferro” com a repressão nas ruas, mais tarde a mesma repressão com
Prudente de Morais, que aniquila o "mau exemplo" Canudos, mostra-nos mais uma vez,
que esse governo deveria ser uma "coisa pública", ou seja, que essa administração do
país atendesse aos interesses coletivos e não de grupos privilegiados, o que não se
configura, pois esses governos sempre tenderam a beneficiar os interesses de grupos
particulares, como na celebre frase de Campos Sales : “É de lá [dos estados ] que se
governa a República, pôr cima das multidões, que tumultuam, agitadas, as ruas da
capital e da União.’’

Nesse contexto, institualiza-se uma república onde a participação política e social é


marcada pelos não direitos e a cidadania é privilégio de poucos e o problema de muitos,
pois lutas e manifestações, sejam essas de cunho trabalhista ou popular, eram tratados
como “caso de polícia”. De fato, a exclusão-marginalização social e política do povo
tendem a gerar uma série de conflitos no meio urbano devido a uma política de não
participação dos grupos populares. Logo, o Estado cria uma série de decretos, que
tentam alijar os mesmos de uma vida pública participativa, como na capital da
República, centro político, administrativo, econômico e cultural do país:

‘‘Os decretos promulgados pelo prefeito, sobretudo na fase inicial de seu governo,
quando pode legislar ditatorialmente, atingiram os mais variados domínios da existência
social e cultural da população, práticas do cotidiano popular e costumes profundamente
arraigados foram considerados indignos de figurarem no contexto de cidade saneada e
civilizada. Nessa perspectiva podem ser encaradas perseguição sistemática ao
candomblé e aos cultos religiosos de origem africana.”(22)

Conquanto, através do afastamento sistemático desses populares do centro urbano, local


de legítimo desfrute burguês, a avenida, os bulevares o teatro e etc, que o isolamento
dessas “classes perigosas”, procura, sobretudo o disciplinamento, segundo um “discurso
moralizador e autoritário ao extremo, segundo o qual o Estado discriminatóriamente
deveria reformar os hábitos e a mentalidade dos “homens rudes do povo”.(23)

‘‘Não era de se esperar, igualmente, que essa sociedade tivesse tolerância para com as
formas de cultura e religiosidade populares. Afinal, a luta contra a “caturrice”, “a
doença”, o “atraso” e a “preguiça” era também uma luta contra as trevas... os
cerceamentos a festa da Glória e o combate policial a todas as formas de religiosidade
popular... as autoridades zelam na perseguição aos Candomblés, enquanto João Luso
nas crônicas dominicais do jornal do Comércio manifesta o seu desassossego com a
popularização crescente desse culto, inclusive dentre as camadas urbanizadas.”(24)

Enfim, esses elementos integrantes dos cultos são constantemente presos pela polícia no
exercício de suas manifestações culturais e religiosas, não só na via pública, como
também nos cortiços, local freqüente dos cultos. Logo, esses elementos são também
enquadrados no código penal, responsabilizados e processados criminalmente, sendo
então encaminhados pela polícia ou mesmo pela guarda municipal para as Pretorias
Criminais e podendo ser levados a cumprir pena na Casa de Detenção ou nas Colônias
Correcionais. Eram participantes de um mesmo conjunto de perseguidos e observados
pelas autoridades segundo as práticas do controle social urbano. Nesse contexto, são
atores de um mesmo processo histórico e político. Sendo assim, o Código Penal nos
traduz as preocupações das autoridades político-jurídicas, e mesmo na sociedade civil
refletia uma mentalidade de permanente vigilância aos setores constitutivos dos
movimentos populares, vide o número de artigos que tratam da questão religiosa, art.
158, curandeirismo; art. 185, cultos religiosos: ultrajar objetos; art. 186: impedimento e
etc. Além de serem freqüentemente enquadrados por algazarra, desordem e também por
vadiagem, já que por definição o “vadio” era todo aquele que ocupasse a via pública,
considerado suspeito pela tipologia policial e que não estivesse desenvolvendo uma
atividade lícita, ou seja, um emprego reconhecido e que também, comprovasse
domicílio certo, o que quase sempre não era de intenção dos policiais comprovarem.

“dessa forma a polícia tem nas mãos instrumentos de disciplinarização do conjunto das
camadas populares que lhe permitem demarcar regras de comportamento no espaço
urbano – ainda que precariamente. Empregando-as “estafadas chapas” de identificação
como gatunos conhecidos, desordeiros ou vagabundos, é possível a polícia punir,
mesmo fora do âmbito processual, aqueles que criam problemas para a vida na
cidade”.(25)

Dessa forma, as manifestações populares serão vistas como um perigo eminente que
habita o espaço urbano e onde a polícia através de uma série de ações rotinizadas
procura exercer um controle social como nas festas populares: no caso a festa da Penha:
“A festa da Penha, talvez a mais importante na época, provocava inquietação e planos
com alguma antecedência”.(26)

Enfim, são nessas festas tomadas pelos costumes negros, que passam a ser no meio
urbano espaços de representação social para camadas populares, e uma construção
simbólica que reverberiza no imaginário carioca, e passa a construir a sua modernidade
e identidade cultural, no âmbito das reinvenções e práticas transculturais na dimensão
da sua ótica de cotidianidade como, no caso dos compositores populares que lançavam
as suas músicas na festa da Penha, antes do advento do rádio. E era o acontecimento.

Contudo, percebemos os mecanismos excludentes que integram a arregimentação de


normas, regras e práticas no combate as populações estereotipadas e marginalizadas,
num processo bem marcado pelas tensões e conflitos que permeiam as
representatividades no espaço urbano e que ocupa cotidianamente a construção de um
ethos simbólico, marcado por um paradoxal conflito de tensão e integração.

NOTAS

1- CANDONBLÉ. sm . 1. Tradição religiosa de culto aos orixás jeje-nagô. 2.


Celebração, festa desta tradição; 3. Comunidade terreira onde se realizam estas festas.
De origem banta mas de étimo controverso. Para A . G Cunha é híbrido de candomblé *
mais o iorubá ile, casa .Nascentes dá apenas a origem africana. Raymundo da ka +
ndombe, com eptense do l . E Yeda P. de Castro aponta a seguinte evolução: ‘’ O termo
candomblé (...) vem étimo banto ‘’ Kà – n – dómb – id – é > Kà – n – dómb – éd – é >
Kà – n – dómb – el – é ‘’, derivado do verbal de‘’ Ku – lombo – à > Kù – dómb – à ”,
louvar, rezar invocar, analisar a partir do protobanto “ Kò – n – dómb – éd – à ”, pedir
pele intercessão de. Logo, candomblé é a culto, louvor, reza, invocação sendo o grupo
consonantal - bl – uma forma brasileira, de vez que não existe nenhum grupo
consonantal (CC) em banto. ( Castro, 1983: 83-84 ), Vocabulário Banto do Brasil ( 1994
); in : Sankofa : Resgate da Cultura Afro- Brasileira. (SEAFRO),Governo do Estado Rio
de Janeiro,1994 . p.122.
2- FIGUEIRA, Creuza Stephen .GriÔ, . Programa Negritude Brasileira - ISER ano II –
7 ; Outubro 1994.p.1.
3- D’OSAYN, Ângelo .GriÔ,: Oráculo, de Ifá . Programa Negritude Brasileira - ISER
ano II – 7 Outubro 1994.p.3
4- MOURA, Roberto - Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. 2a ed. Rio de
Janeiro. Secretária Municipal de Cultura. Dep. Geral de Doc e InF. Cultural, Divisão de
Editoração, Col. Biblioteca Carioca , 1995. p.20- 21
5- Idem.p.21
6- Ibidem. 22.
7- Ibidem p.22
8- Ibidem p.23
9- Ibidem p.25
10- LODY, Raul. Kulomba: Os territórios da oração no Candomblé Nagô. Iser, Projeto
de Negritude Brasileira: Projeto a Ética e a Ótica do Santo, 1993. P.11
11- MATOSO, Kátia. Ser Escravo no Brasil. SP, Brasiliense, 1982. p. 123
12- MOURA, Op.cit. p. 25 , nota 4
13- LOPES, Helena Theodoro et al .Negro e Cultura no Brasil: Pequena Enciclopédia
da Cultura Brasileira . RJ Unibrade, 1987 p.63
14- MOURA. Op. Cit. P.54 nota 4
15- MOURA. Op Cit. p. 43 nota 4
16- MOURA. Op. cit, p. 98 nota 4
17- MOURA. Op Cit, p. 98 nota quatro
18- LODY. Op Cit p.04 nota 10
19- EDMUNDO, Luís. No Rio de Janeiro do Meu Tempo. RJ; Imprensa Nacional, 1938
v.dois. p. 233
20- RIO, João. As Religiões do Rio, Garnier, 1904.P. 105
21- RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. SP; Nacional, 1935.p 07
22- BENCHIMOL, Jaime Larry - Pereira Passos - Um Haussann Tropical; As
Transformações Urbanas na Cidade do Rio de Janeiro no Início do Século XX. Coppe \
UFRJ, Rio de Janeiro, 1982. . p 284-285
23- Ibidem. P 284-285
24- SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: Tensões Sociais e Criação Cultural
na Primeira República Ed Brasilense 3a ed. 1983.p 33
25- BRETAS, Marco Luiz, A Guerra das Ruas: O povo e a polícia na cidade do Rio de
janeiro, RJ. Arquivo Nacional, 1997.P. 104
26- CARVALHO, José Murilo Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que
não foi. SP Cia das Letras, 1987. P. 141

* Este artigo é parte integrante do trabalho de pós-graduação do autor, Marco A. B. de


Almeida, em Sociologia Urbana da UERJ, sob a orientação da professora Lená
Medeiros de Menezes, do Departamento de História da UERJ.

MARCO A.B. DE ALMEIDA.


PROFESSOR E PESQUISADOR NA ÁREA DE HISTÓRIA SOCIAL

... Alexandre Cumino

> Preto Velho no Kardecismo

Artigos
Por Alexandre Cumino
alexandrecumino@uol.com.br

O objetivo desta matéria é observar diferentes pontos de vista sobre o “preto-velho” no


Espiritismo (aqui chamado popularmente de “Kardecismo”) para uma reflexão
umbandista sobre tais conceitos.

Muitos de nós, umbandistas, temos amigos e parentes kardecistas e passamos “saias


justas” quando não paramos para pensar nestas questões antes que elas venham à tona,
no que diz respeito a “evolução” dos espíritos que trabalham na Umbanda.

DIVALDO E OS PRETOS-VELHOS

Abaixo vemos algumas linhas do irmão Divaldo Pereira Franco, que é muito respeitado
no meio kardecista, portanto formador de opinião, também nós o respeitamos e
admiramos seu esforço, trabalho e dedicação a obra espírita de Allan Kardec no plano
material.

“Na cultura brasileira, remanescente do africanismo, há uma postura muito pieguista,


que é a do preto-velho.
E muitas pessoas acham que é sintoma de boa mediunidade ser instrumento de preto-
velho. Quando lhes explicamos que não há pretos-velhos, nem "brancos-velhos" (?!),
que todos são Espíritos, ficam muito magoadas, dizendo que nós, espíritas, não
gostamos de pretos-velhos.

E lhes explicamos que não é o gostar ou não gostar. Se tivessem lido em O Livro dos
Médiuns, O Laboratório do Mundo Espiritual, saberiam que se a entidade mantém
determinadas características do mundo físico, é porque se trata de um ser atrasado.

Imagine o Espírito que manquejava na Terra, porque teve uma perna amputada, ter de
aparecer somente com a perna amputada. Ele pode aparecer conforme queira, para
fazer-se identificar, não que seja o seu estado espiritual.

Quando, ao retornar à Pátria da Verdade, com os conhecimentos das suas múltiplas


reencarnações anteriores, pode apresentar-se conforme lhe aprouver.

Então, a questão do preto velho é um fenômeno de natureza animista africanista, de


natureza piegas.
Porque nós achamos que o fato de ter sido preto e velho, tem que ser Espírito bom, e
não é. Pois houve muito preto velho escravo que era mau, tão cruel quanto o branco,
insidioso e venal. E também houve e há muito branco velho que é venal, é indigno e
corrompido. O fato de ter sido branco ou preto não quer dizer que seja um Espírito bom.
Cabe ao médium ter cuidado com esses atavismos, e quando esses Espíritos vierem
falando errado, ou mantendo os cacoetes característicos das reencarnações passadas,
aclarar-lhes quanto à desnecessidade disso”. [...]1

1 Encontramos este “fragmento de texto” ou “recorte”, acima, nos sites:


www.abadeesp.hpg.ig.com.br/requisitosmediuni.htm

Como parte de um texto intitulado “Requisitos para Educar a Mediunidade” por


Divaldo Pereira Franco. No site: www.scribd.com/doc/6670433/Divaldo-Franco-
mediuns-e-Mediunidade encontramos o mesmo texto como a segunda parte de uma
apostila, 10 páginas, intitulada “Médiuns e Mediunidade”.

Esta postura e ponto de vista de Divaldo Pereira Franco também pode ser observada no
site: http://www.youtube.com/watch?v=jiSlMMCtSlE - Conferido na data de
02/04/2009
onde podemos ouvir a seguinte gravação:

“O Espírito que se apresenta para o grupo como preto-velho ou preta-velha e se diz


orientador de sofredores e amigo ou amiga do grupo pode ser levado a sério?
Não pode. Esse espírito pode ser muito bom, mas é muito ignorante. E a nossa tarefa é
retirar a ignorância, os amigos notem bem, porque que ele tem que ser um “preto-
velho”?
“Ah! Eu sou um Preto-velho!” Dr. Bezerra é velho, mas não é um “branco-velho”,
notem uma discriminação, está no nosso inconsciente discriminar. “Ah! Eu sou um
“preto-velho”.
- Não meu irmão, você foi, você agora não tem cor, você superou, esta encarnação foi
muito benéfica para você, desenvolveu sua humildade, mas você agora, note você é um
espírito! Espírito não tem cor! Você pode reassumir outras reencarnações, então tire de
sua mente esta sua condição de escravo”. [...]

Vejamos agora a postura de Chico Xavier:

CHICO XAVIER E OS PRETOS-VELHOS

Chico Xavier também foi questionado sobre "Preto-velho" no programa Pinga Fogo,
onde foi entrevistado, em 28 de Julho de 1971 na extinta TV Tupi:

Reali Júnior — O senhor acha que os espíritos que se manifestam nos Terreiros de
Umbanda, dizendo-se guias de cura, pretos velhos, índios, caboclos, são espíritos
evoluídos? Como explica as curas conseguidas por muita gente conhecida, em terreiros?
Será que o mal, pode apresentar-se através do bem, ou então tomando a sua forma?

Chico Xavier — Nós respeitamos a religião de Umbanda, como devemos respeitar todas
as religiões. Vamos recorrer aos casos das leis cármicas. Nos séculos passados, nos três,
quatro séculos passados, nós — vamos dizer coletivamente — não estamos falando do
ponto de vista individual, mas na condição de brasileiros, buscamos no berço onde
nasceram milhões de irmãos nossos reencarnados nas plagas africanas para que eles
servissem nas nossas casas, nas nossas famílias, instituições e organizações, na
condição de alimárias. Eles se incorporaram, depois de desencarnados, às nossas
famílias. Eles renasceram de nosso próprio sangue, nas condições de nossos irmãos para
receberem, de nossa parte, uma compensação que é a compensação chamada do amor,
para que eles sejam devidamente educados, encaminhados, tanto quanto nos
pretendemos educar-nos, e encaminhar-nos para o progresso. Então temos a religião da
Umbanda, que vem como uma organização dos espíritos, recentemente, porque quatro
séculos significam um tempo curto nos caminhos da eternidade. Recentemente trazidos
para o Brasil eles se organizaram agora, seja numa condição ou noutra. Nós, no Brasil,
não conseguimos pensar em termos de cor. Nós todos somos irmãos. De modo que eles
organizaram uma religião sumamente respeitada também. Eles também veneram a
Deus, com outros nomes. Veneram os emissários de Deus, com outros nomes.
Respeitamos todos e acreditamos que em toda parte onde o nome de Deus é
pronunciado, o bem pode se fazer.

Chico Xavier também deu uma entrevista para a revista “Seleções de Umbanda”,
jornalista Alcione Reis, com a presença do querido irmão Umbandista e Sacerdote
Omolubá:

Seleções de Umbanda: A seu ver como sente a Umbanda atual?

Chico Xavier: Eu sempre compreendi a Umbanda como uma comunidade de corações


profundamente veiculados a caridade com a benção de Jesus Cristo e nesta base eu
sempre devotei ao movimento umbandista no Brasil o máximo de respeito e a maior
admiração.

PRETO-VELHO FALA COM KARDEC

Para uma reflexão mais abrangente, colocamos abaixo o texto encontrado no blog de
nosso irmão umbandista “Mestre Azul”:

"PRETO VELHO FALA COM KARDEC"

Pouca gente sabe, mas numa das reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas, Allan Kardec evocou um Espírito que, segundo as terminologias da cultura
brasileira, poderia ser classificado como um “preto velho”. Esse encontro, narrado pelo
próprio Kardec nas páginas da sua histórica “Revista Espírita” (Revue Spirite), de junho
de 1859, aconteceu na reunião do dia 25 de março daquele mesmo ano. Pai César – este
o nome do Espírito comunicante – havia desencarnado em 8 de fevereiro também de
1859 com 138 anos de idade – segundo davam conta as notícias da época –, fato este
que certamente chamou a atenção do Codificador, que logo se interessou em obter, da
Espiritualidade, mais informações sobre o falecido, que havia encerrado a sua existência
física perto de Covington, nos Estados Unidos.

Pai César havia nascido na África e tinha sido levado para a Louisiana quando tinha
apenas 15 anos.
Antes de iniciar a sessão em que se faria presente Pai César, Allan Kardec indagou ao
Espírito São Luís, que coordenava o trabalho, se haveria algum impedimento em evocar
aquele companheiro recém-chegado ao Plano Espiritual. Ao que respondeu São Luís
que não, prontificando-se, inclusive, a prestar auxílio no intercâmbio. E assim se fez. A
comunicação, contudo, mal iniciada, já conclamou os participantes do grupo a muitas
reflexões. Na sua mensagem, Pai César desabafou, expondo a todos as mágoas
guardadas em seu coração, fruto dos sofrimentos por que passara na Terra em função do
preconceito que naqueles dias graçava em ainda maior escala do que hoje. E tamanhas
eram as feridas que trazia no peito que chegou a dizer a Kardec que não gostaria de
voltar à Terra novamente como negro, estaria assim, no seu entendimento, fugindo da
maldade, fruto da ignorância humana. Quando indagado também sobre sua idade, se
tinha vivido mesmo 138 anos, Pai César disse não ter certeza, fato compreensível, como
esclarece o Codificador, visto que os negros não possuíam naqueles tempos registro
civil de nascimento, sobretudo os oriundos da África, pelo que só poderiam ter uma
noção aproximada da sua idade real.

A comunicação de Pai César certamente ajudou Kardec, em muito, a reforçar as suas


teses contra o preconceito, o mesmo preconceito que o levou a fazer, dois anos depois,
nas páginas da mesma “Revista Espírita”, em outubro de 1861, a declaração a seguir, na
qual deixou patente o papel que o Espiritismo teria no processo evolutivo da
Humanidade, ajudando a pôr fim na escuridão que ainda subjuga mentes e corações:

“O Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a


superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções
estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as
quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor.”

A fonte deste texto está no site:

http://mestreazul.blogspot.com/2008/05/umbanda-preto-velho-kardec.html

do irmão Mestre Azul que cita uma outra fonte:

SERVIÇO ESPÍRITA DE INFORMAÇÕES ed. nº 2090 (19/04/2008)

Este diálogo pode ser confirmado no livro “Tesouros da Revista Espírita de Allan
Kardec”, Ed. FEESP, 2008, pp.101- 102 e abaixo coloco apenas um fragmento do texto
original:

Kardec: Em que o senhor utiliza seu tempo, agora?


Pai César: Procuro me esclarecer e pensar em que corpo seria melhor eu nascer de novo.
Kardec: Quando estava vivo, o que achava dos brancos?
Pai César: Achava que eram bons, mas tinham orgulho de uma brancura que não é
mérito deles [...]
Kardec: O senhor disse que estava procurando um corpo para reencarnar; vai escolher
um corpo branco ou negro?
Pai César: Branco, porque o desprezo das pessoas me faz sofrer [...]

PRETO-VELHO NA UMBANDA
Salvo estar totalmente enganado, Divaldo e Chico tem posicionamento diferente com
relação ao “preto-velho” e Kardec não encontrou nenhum entrave em estabelecer
comunicação com o espírito de um ex-escravo, “Pai César”.

Não vamos fazer juízo de valor, nem questionar a postura kardecista, mas, enquanto
umbandista, quero esclarecer a condição espiritual daquele que se apresenta como
“preto-velho” na Umbanda, que tem orgulho de sua condição e que não mais é atingido
pelas injúrias da carne.

Para tal invoco os fatos registrados no dia 15 de Novembro de 1908, quando Zélio de
Moraes, participando de uma sessão kardecista presenciou espíritos de ex-escravos,
negros, “pretos-velhos”, serem “convidados a se retirar” de tal sessão. Zélio incorpora
uma entidade que pergunta: “Porque expulsam estes humildes?” em seguida explica que
foi Frei Gabriel de Malagrida, no entanto também havia sido um índio brasileiro e era
como índio que se apresentaria em uma nova religião, a Umbanda, assumindo o nome
de Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Sei que muitos estão cansados de ouvir a história do Caboclo das Sete Encruzilhadas, no
entanto as palavras diretas deste caboclo não deixam duvidas, de que se manifesta como
índio por que quer, vem como caboclo por opção e não por falta de opção.

Da mesma forma os “pretos-velhos” da Umbanda, se manifestam de tal forma por


opção, muitos nem foram negros e nem velhos na ultima encarnação, muito menos
escravos. A identidade “preto-velho” é uma forma de manifestação, é um grau ou se
preferir algo como uma “patente”. É também uma homenagem a tantos espíritos
iluminados e missionários que encarnaram como escravos negros, apenas para orientar a
nós outros que convivemos com eles naquele tempo.

Por fim, devemos esclarecer que “pretos-velhos” se manifestam em falanges, vários


espíritos assumem um mesmo nome e uma mesma forma plasmada, o que caracteriza a
organização astral de suas atividades, em uma hierarquia que responde a um irmão mais
velho - um hierarca, “dono do nome” - que foi ou assumiu para si o nome de Pai João,
Mãe Maria e outros.

A opção de se manifestar como um “negro-escravo” que é o “preto velho” causa de


forma automática um impacto doutrinário, que nos faz entrar em reflexões de auto
análise com relação a nossos valores de credo e raça.

E implicada um questionamento de “quem somos nós?” para reclamar de tantas coisas


pequenas em nossa vida para alguém que sofreu no cativeiro. “Preto velho” é uma
“roupagem”, uma forma plasmada opcional e se bebem ou fumam é por manipular estes
elementos, na Umbanda que é mágica, nunca por vício ou apego.

Os textos desta página foram organizados e comentados por Alexandre Cumino.

Contatos: alexandrecumino@uol.com.br
... André Luís N. Soares

> Algumas considerações sobre o Livre arbítrio

Artigos

Comumente define-se livre arbítrio como a faculdade de podermos livremente escolher nossas
decisões. Acredito existir um grande problema com este conceito, ao menos para quem
defende a existência de alguma liberdade de escolha inerente à pessoa, pois, de fato,
sofremos constantemente a influência de vários fatores causais, logo, escolhas livres só
poderiam existir, sob um olhar lógico, quando, independente da direção que aqueles fatores
nos compelem, fossemos antes decidir no mesmo sentido que eles.

Em via de regra, concebendo o livre-arbítrio nos termos acima, vê-se que ele é hostilizado pela
falsa impressão dada à doutrina do determinismo, entendida, por vezes, em implicar que
nossas ações são inteiramente dependentes – quando são apenas influenciadas ou
predispostas – da composição biológica e de fatores ambientais evolucionariamente
vantajosos, a exemplo de padrões culturais que poderiam modular os genes.

Exemplificando o determinismo

O Geneticismo

O Geneticismo é a escola de pensamento que entende que todas as características humanas


são geneticamente determinadas. O termo freqüentemente tem sido usado para descrever a
posição daqueles que colocam excessiva importância sobre o papel dos fatores genéticos nos
processos psicológicos (D S Falconer, An Introduction to Quantitative Genetics - New York,
1960).

Peguemos a ocorrência da esquizofrenia. “No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a


prevalência da doença nos descendentes diretos é de 12%. (...) Na situação em que ambos os
pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%" (Kaplan, Harnold;
Sadock, Benjamin, Compêndio de Psiquiatria, Porto Alegre, Editora Artes Médicas, 1990).
Poderíamos então dizer, antecipadamente, que um filho de pais esquizofrênicos terá 40% de
chances de ser apático, sem iniciativa e anti-social, eis que essas são características da
personalidade do acometido por tal enfermidade mental ? Responder afirmativamente é levar o
geneticismo a um nível de “fatalismo bio-psicológico”, fulminando nossa liberdade de decidir
quem queremos ser, quando na verdade, a correlação entre genótipos e comportamentos
pulsionais justifica apenas uma predisposição individual, sendo certo que os comportamentos
inatos podem ser cultural ou autoreflexivamente mitigados, anulados e, quando patológicos,
tratados por opção, inclusive, pela psicoterapia; logo, o Geneticismo não pode ser causa
suficiente para determinar as matizes da personalidade humana.

Determinismo físico-ambiental
Um outro determinismo fisicalista foi o revelado por Alvaro Pascual-Leone, professor de
neurologia na Harvard Medical School. Através de um experimento que consistia em estimular,
por campos magnéticos, os hemisférios cerebrais, o pesquisador descobriu que as escolhas
casuais feitas pelos sujeitos, para mexer uma das mãos, eram diretamente afetadas. Foi
observado que destros, quando submetidos a campos magnéticos no hemisfério cerebral
direito (responsável pelo movimento do lado esquerdo do corpo) passariam a escolher mexer a
mão esquerda o dobro das vezes em comparação a ausência da influência magnética.

Determinismo social

Pode-se ainda citar o determinismo social proveniente da culturação, criação, educação e meio
social a que está submetido o indivíduo. Todos esses fatores são influentes na arquitetura
psicológica da pessoa, mas não absolutamente decisivos para prever o atuar de alguém,
asssim nem sempre alguém emerso em um ambiente favorável ao crime cometerá delitos, nem
um membro de família evangélica será obrigatoriamente teísta, e assim por diante.

Redesenhando os conceitos

Compatibilistas entre livre-arbítrio e determinismo alegam acertadamente que os fatores físicos


ditos deterministas não são absolutos, mas apenas influentes nas decisões tomadas por
alguém. O grau de influência (ou força compulsiva) varia de acordo com a natureza de cada
fator e com a quantidade de informação conhecida pelo indivíduo. Assim, acometidos de
transtorno obsessivo-compulsivo ou de síndrome de Tourette parecem estar mais compelidos a
certos comportamentos repetitivos e involuntários do que sujeitos sãos. Entretanto, o
conhecimento próprio da doença pode ser o primeiro passo para refrear os atos compulsivos
ou os tiques, isto é, autodeterminar-se de maneira diversa. É quando a informação pode abrir
possibilidades contrárias ao comportamento esperado pela influência física. E mais. Um sujeito
que conhece o experimento de Pascual-Leone, ao ser submetido à mesma experiência, pode
teimosamente levantar 100% das vezes a mão direita, não obstante seja o hemisfério direito do
cérebro aquele que recebe a influência de um campo magnético.

O ponto que pretendo chegar é que, em termos práticos, livre-arbítrio não é a liberdade de
todos os fatores causais. Muito pelo contrário. É estar submetido cada vez mais a uma
gama de relações causativas, eis que do choque de fatores determinísticos novas
possibilidades são emersas, logo, novas opções a escolher. Por suposto, não discuto que
muito do que escolhemos e somos provém da influência do corpo sobre a mente, quando,
freqüentemente, não temos quase nenhum poder de decisão. Todavia, isso não implica que o
determinismo seja irrestrito, transformando-nos em seres autômatos, com comportamentos
indistinguíveis de ações maquinais. Então, realmente penso que nossa capacidade de
autodeterminação permanece vigente, embora limitada pelas influências causais sobre nosso
“Eu” e de nossa adaptação a elas; e em virtude de nossa ignorância a respeito dos fatores
influentes. Por conseguinte, sou forçado a concordar que “quanto mais aprendemos, mais
ampla experiência obtemos, mais lógico nos tornamos, mais conhecemos a nós mesmos e a
história, mais a nossa ciência avança, portanto, maior a extensão da verdadeira liberdade
humana” (Carter, Chris. Parapsychology and the Skeptics: A Scientific Argument for the
Existence of ESP, 2007).

Livre-arbítrio e Mecânica Quântica

A interpretação de John von Neumann exige que a consciência seja a única responsável pelo
colapso de função de onda, pois, segundo o célebre matemático, todo o mundo físico está
estabelecido dentro das leis da mecânica quântica (MQ), logo, é necessário algo não-físico,
não submetido às regras da MQ para que a superposição de estados de um sistema quântico
evolua a um estado fundamental (uma realidade perceptível). A consciência do observador
parece ser a única entidade que podemos presumir. Esta posição respalda fortemente o
dualismo, quanto ao problema mente-cérebro; portanto, se algo como a consciência pode
subsistir independente de meios físicos, todos os exemplos de determinismos fisicalistas
podem estar prejudicados quando cessada a interação mente-cérebro. Entretanto, embora a
abordagem de von Neumann coloque a consciência em primeiro plano dentro da ontologia, o
autor não alega que a intenção do observador possa orientar o colapso para um estado
específico, assim, embora a consciência seja necessária para a convergência da superposição
de estados, isso não significa que não haja aleatoriedade, e por sua vez, indeterminismo. O
problema com este detalhe é que somos constrangidos a entender que não há espaço para o
livre arbítrio, vez que do ato de observar poderemos fazer colapsar estados (realidades)
fortuitos, não desejados ou escolhidos por nós. Como resposta a isso, pode-se dizer
confiantemente que existem robustas evidências da Parapsicologia que a consciência, além de
ter poder causal, é também capaz de definir o resultado final de um sistema físico (quântico)
aleatório, como nos experimentos de psicocinese em RNGs, por conseguinte, a intenção passa
a ser um atributo perceptível da consciência, e assim hábil a evidenciar escolhas e decisões
por nós próprios.

Decisões de baixo nível

O falecido cientista e pioneiro na pesquisa sobre a consciência humana, Benjamin Libet,


apresentou um experimento controverso que indicava que atividade elétrica no cérebro
(potencial de prontidão) precedia a decisão consciente para a execução de um movimento
espontâneo, suportando o entendimento que processos neurais inconscientes antecedem e
potencialmente causam atos voluntários que são retrospectivamente sentidos serem
conscientemente estimulados pelo sujeito.

Na experiência, um sujeito observava um ponto em movimento circular num osciloscópio. Foi-


lhe pedido para gravar a posição do ponto no momento que tivesse ciência do desejo de
pressionar um botão. Ao apertá-lo, uma segunda posição do ponto era registrada, assim era
possível calcular o tempo mediado entre a ciência do desejo e a ação efetivada que foi, em
média, de 1/5 de segundo. De outro lado, em todo o experimento os sujeitos eram monitorados
por aparelhos EEGs os quais registraram atividade elétrica envolvida no movimento dos dedos
cerca de 1/2 segundo antes deles serem movimentados, logo, perto de 1/3 de segundo antes
do sujeito conscientemente decidir apertar o botão.

Assim, alguns materialistas reivindicam que o livre-arbítrio não passa de uma ilusão. Aduzem
que temos apenas uma sensação retrospectiva de tomada de decisão, quando, na realidade,
toda a ação fora antes iniciada inconscientemente. Meio que na contramão, Libet traz a noção
de livre veto como forma de salvaguardar alguma chance de autodeterminação. O
pesquisador sustenta que o veto é uma atividade de controle e que não existe nenhum
imperativo lógico que requeira uma atividade neural específica que preceda e determine a
função consciente de controle (Do We Have Free Will?. Journal Consciousness Studies, 6,
nº 8-9, p. 47-57, 1999). Desta forma, embora o início da ação ocorra inconscientemente,
podemos vetar a perpetuação do ato, ou até mesmo sua manifestação dentro do estreito 1/5 de
segundo que medeia entre a conscientização do movimento e o agir. Ou melhor, menos de
1/5 de segundo, eis que os 50 milisegundos finais estão ocupados pela ativação do neurônio
motor espinhal através do córtex motor primário.

Até aqui se poderia pensar (a) que o livre-arbítrio é logicamente inviável, pois todo o conceito
de volição está adstrito a escolhas conscientes, (b) e que remanesce à consciência apenas a
decisão de vetar.

Não obstante, existem relevantes objeções. A primeira é que para tomarmos uma decisão
devemos sopesar diferentes argumentos, baseando-nos em nosso conhecimento e
experiências anteriores os quais são relacionados com memórias episódicas. O experimento
de Libet, requerendo apenas o movimento de dedos, envolve somente memória de
procedimento, portanto, ato que não necessita de nenhuma decisão moralizada [ver Wikipedia].
A segunda é que a espera para pressionar um botão, no momento escolhido, é um processo
bem aleatório e indeterminado, uma decisão de baixo-nível de complexidade, ao contrário de
importantes decisões em que devemos colher informações e refletir, antecipadamente, sobre
as variadas possibilidades e implicações das opções envolvidas [Carter, idem]. Realmente tais
contra-argumentações são sedutoras e, independente do argumento sobre a liberdade de
vetar, penso que os experimentos deste falecido pesquisador não afetam a gama de
decisões superiores que requerem informação, experiência pessoal e raciocínio
antecipatório.
Estados Alterados de Consciência, Percepção Extra-Sensorial e Livre Arbítrio

Durante estados alterados de consciência (EAC) passamos por experiências que parecem
ocorrer à revelia de nossas intenções. Nos sonhos, por exemplo, temos pouquíssima influência
sobre a direção que o drama se desenlaça. O mesmo se pode dizer para experiências com
psicodélicos, estados hipnóticos, sonambúlicos e as visões que vêm em nosso imaginário
durante sessões ganzfeld. Em EACs nossa consciência de vigília fica turvada, experimentamos
vivências criadas pela nossa mente e, talvez (como penso ser), compartilhamos
ocasionalmente tais experiências com outras mentes, a rigor pelo que se convencionou chamar
de telepatia.

Conseqüentemente, enquanto vigentes os estados alterados, nossa consciência (ou Eu-


supraliminar, num vocabulário “Myersiano”) parece bastante inábil a exercer qualquer escolha.
Poderíamos dizer que há uma redução tanto da capacidade de autodeterminação quanto de
vetar impulsos automáticos. Seja como for, dada a evidência experimental e anedótica para
percepção extra-sensorial (PES), nem sempre tais automatismos são criações subjetivas do
inconsciente. Existem evidências muito suasórias que durante EACs acessamos informações
verídicas por canais não-periféricos, logo, haveria um automatismo sensorial capaz de
produzir, nas palavras de Myers, quase-percepções, sob as formas mais comuns de visões e
sons alucinatórios oriundos das camadas mais interiores da personalidade, dirigidos por um
Eu-subliminar, como se ele mandasse um recado à camada mais exterior, à nossa consciência
de vigília. Tais alucinações seriam sensoriais, porque elas representariam acontecimentos
verídicos, a exemplo dos casos de clarividência e aparições. Por outro lado, quanto à origem, a
fonte delas exige um vocabulário mais fiel à sua alta capacidade criativa, organizacional e
teleológica, assim, reputo o termo “Eu-subliminar” mais coerente a que simplesmente
“inconsciente”, uma vez que o último já carrega uma certa imagem de repositório passivo de
experiências, enquanto o primeiro parece expressar o dinamismo requerido pela idéia exposta.

Quanto ao tema PES, tem ele relevância direta sobre o problema do livre-arbítrio, uma vez que
estabelece mais uma forma de determinismo dentro da ontologia. Tanto é assim, que uma das
resistências psicológicas a habilidades psíquicas é a possibilidade de existir algo como
impressão telepática, quer dizer, a hipótese de alguém ser capaz de influenciar mentalmente
as decisões alheias lança um terrorismo psíquico digno de ser temido por toda a sociedade
ocidental a qual culturalmente valoriza o controle. Em menor grau, mas igualmente terrificador,
estão algumas formas de automatismo capazes de lançar as premissas de um “único Eu no
comando” para longe, a espelho dos diversos casos de distúrbios dissociativos de identidade e
de possessão. Mesmo a hipnose já foi tema constante do chocante Expressionismo, tanto é
assim que o filme alemão (1920), “O Gabinete do Dr. Caligari”, retrata um diabólico doutor que
hipnotizava um rapaz (César) e o mandava executar diversos assassinatos.

Conclusão

A par das linhas acima, tenho a resumir que:

1. “livre” arbítrio não deve significar escolhas imunes a quaisquer fatores causais, mas antes a
possibilidade de contra-atuar perante influências inatas ou externas, ou escolher, no concurso
de causas determinísticas, para qual delas seguir.

2. antes de tudo, o ato de decidir pressupõe a experiência e a informação necessárias para


clarificar, antecipadamente, as conseqüências de cada opção.

3. por se exigir experiências pessoais, o livre arbítrio está vinculado a memórias episódicas,
logo, os experimentos de Libet não devem ser imaginados afetar decisões de alto-nível.

4. a possibilidade do dualismo abre chance de decisões realmente livres de influências físicas,


quando cessada a interação mente-cérebro (desde que a teoria da transmissão da consciência
prevaleça sobre a da produção).
5. Todo conceito de livre arbítrio está preso a decisões efetuadas pela consciência de vigília,
portanto, durante EACs, menor será nossa capacidade de refletir, pois nossa consciência
turva-se, como se nosso Eu-supraliminar sofresse uma refração crescente à medida que se
aprofundasse nas camadas mais inferiores da personalidade.

6. a desejada existência de um inexorável controle do “Eu de vigília” é vergastada por casos de


possessão e distúrbios dissociativos de identidade, automatismos motor (inclusive a
psicocinese em casos poltergeists) e sensorial, e pela chance da percepção extra-sensorial,
algumas vezes, ter origem no emissor.

Fonte: http://parapsi.blogspot.com/2009/01/algumas-consideraes-sobre-o-livre.html

... Carlos Roberto Fernandes

> Precursores de Chico Xavier

Artigos

Vários são os precursores do Mandato Mediúnico de Chico Xavier no Brasil, sem os


quais o Espiritismo não se consolidaria no país.

Sem esgotar a lista de missionários de Jesus no campo político e educacional do


Espiritismo no Brasil, citarei apenas cinco deles: Bezerra de Menezes, Batuíra,
Cairbar Schutel, Anália Franco e Eurípedes Barsanulpho.
Em todos eles, o mesmo esforço missionário fundado na Filosofia Espírita e na
Pedagogia Espírita - uma fidelidade ao caráter educacional do Espiritismo, a partir do
pedagogo e professor Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec).

Rivail - e depois Allan Kardec- foi professor, pedagogo, escritor, fundador e diretor de
escolas, pesquisador nato; codificador do Espiritismo, fundou e presidiu a primeira
Revista Espírita intitulada Jornal de Estudos Psicológicos e a primeira Sociedade de
Estudos Espíritas do mundo (Sociedade Parisiense de Estudos Espíritos).

A codificação do Espiritismo por Allan Kardec inaugurou, sob sua responsabilidade e


escrita, diversas áreas epistêmicas, entre as quais estão: Epistemologia Espírita, Estética
Espírita (e suas subáreas de Ética, Moral, Arte, Poética), Pedagogia Espírita, Educação
Espírita, Antropologia Espírita, Psicologia Espírita, Filosofia Espírita, Ciência Espírita,
Política Espírita.
1) Bezerra de Menezes foi médico, político, escritor profícuo de artigos, de contos e de
crônicas espíritas em jornal de âmbito nacional e autor de livros espíritas.
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, renascido a 29 de agosto de 1831 e
desencarnado aos 11 de abril de 1900, renascimento e desencarne no Rio de Janeiro.

Cognominado Apóstolo do Espiritismo no Brasil e Kardec brasileiro, Bezerra de


Menezes cumpre no Espiritismo a missão de preparar caminho para outro Apóstolo da
Mediunidade - Chico Xavier.

A mesma preparação exercida por João Batista referente ao posterior Mandato Divino
de Jesus ecoa no século XX com relação a Bezerra de Menezes e a vinda posterior de
Chico Xavier.
João Batista afirmará, resoluto (Mateus, 3:11 e 12): \"Preparai o caminho do Senhor,
aplainai as suas veredas...Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De
fato, eu não sou digno nem ao menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o
Espírito Santo e com fogo. A pá está na sua mão: vai limpar a sua eira e recolher seu
trigo o celeiro: mas, quanto à palha, vai queimá-la num fogo inextinguível.\"

O trabalho sociopolítico de Bezerra de Menezes para consolidação do Espiritismo no


Brasil é pedagogicamente comparável ao ministério de aplainamento das veredas
referido pelo apóstolo Mateus quanto a João Batista e a Jesus.

O cumprimento do Mandato Mediúnico de Chico Xavier foi possível graças ao trabalho


anterior de Bezerra de Menezes e é talvez por isso que este esteve ligado àquele durante
todo aquele Mandato.

Aquele trabalho de aplainamento, realizado por Bezerra de Menezes, pode ser


acompanhado e estudado na obra publicada pela Fraternidade Assistencial Esperança
(FAE) em três volumes e intitulada Espiritismo, Estudos Filosóficos. Nesta obra estão
os artigos escritos por Bezerra de Menezes e publicados no jornal O Paiz, de 1887 a
1895.

Nascido em Riacho do Sangue, no Ceará, Bezerra de Menezes transferiu-se para o Rio


de Janeiro no ano de 1851 para cursar Medicina; em 1858 casou-se com Maria Cândida
de Lacerda, dona Mariquinhas, com a qual teve dois filhos; foi vereador municipal da
então Freguesia de São Cristóvão pelo Partido Liberal, no ano de 1861; sua eleição foi
impugnada sob a alegação de que a essa época era médico militar; foi reeleito para o
período de 1864 - 1868 e, posteriormente entre 1873 e 1881; tornou-se presidente
efetivo da Câmara Municipal da Corte de 1878 a 1881; de 1878 a 1885 foi deputado
geral do Rio de Janeiro.

A atividade política de Bezerra de Menezes e a sua centralidade para o Espiritismo no


Brasil do século XIX atestam a concepção de Política na Doutrina Espírita como
instrumento de transformação das sociedades humanas.

Com o falecimento de sua primeira esposa em 1863, Bezerra de Menezes casou-se com
Cândida Augusta de Lacerda Machado em 1865 e com a qual teve sete filhos.

Em 16 de agosto de 1886, Bezerra de Menezes proclama publicamente ser adepto do


Espiritismo, proferindo palestra no auditório da Federação Espírita Brasileira (FEB),
fundada em 2 de janeiro de 1884: à época, um escândalo nos campos político, religioso
e médico.

A revista da FEB, o Reformador, teve Bezerra de Menezes como seu redator-chefe;


escritor, também publicou de sua autoria as seguintes obras:
- A Casa Assombrada;
- A Loucura sob novo prisma;
- A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica (reeditado com o título Uma Carta de
Bezerra de Menezes);
- Casamento e Mortalha;
- Pérola Negra;
- Lázaro - o leproso;
- História de um sonho;
- Evangelho do Futuro.

Bezerra de Menezes foi vice-presidente da FEB em 1890 e em 1891, sendo eleito


presidente em 3 de agosto de 1895: sua ação consolidadora do Espiritismo no Brasil se
expressa no campo da Educação Espírita, através da instituição do estudo sistemático e
público de O Livro dos Espíritos, e no campo da Ação Espírita fiel ao Evangelho de
Jesus.

Em apenas 14 anos (de 1886 a 1900) de profissão de fé espírita, Bezerra de Menezes


consolidou a integração do Espiritismo no Brasil: seu esforço foi o de integrar o
movimento espírita brasileiro em torno da própria Filosofia Espírita codificada e
expressa por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos. Talvez por isso mesmo os seus
316 artigos, crônicas e contos publicados no Jornal O Paiz e sob o pseudônimo de Max,
foram apresentados com o título Espiritismo, estudos filosóficos.

2) Batuíra, de instrução primária, foi entregador de jornais, teatrólogo, tipógrafo


espírita, criador de jornal e de centros espíritas, tradutor, homeopata por autodidatismo,
médium curador, conferencista, livreiro.
Antônio Gonçalves da Silva, cognominado Batuíra, renasceu em 19 de março de 1839,
na então freguesia de Águas Santas, e desencarnou em 22 de janeiro de 1909, em São
Paulo.

O trabalho cultural iniciante de Batuíra iniciou-se em 1899 quando se tornou até 1900 e
na cidade de São Paulo o exclusivo agente da revista Reformador, órgão de difusão do
Espiritismo da Federação Espírita Brasileira.

Porque era um rico proprietário de terras e de imóveis, Batuíra construiu uma Tipografia
Espírita, inaugurada em 20 de maio de 1890 com a publicação do jornal Verdade e Luz:
este jornal, iniciado com dois mil exemplares chegou à expressiva tiragem de 15 mil
exemplares distribuídos em todo o território brasileiro.

A atividade de Educação Espírita de Batuíra estendeu-se à criação de vários grupos e


centros espíritas, sob sua direta influência, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e
Rio de Janeiro, além de incontáveis conferências por ele realizadas em ambientes
espíritas.
Em 1904 fundou a Instituição Cristã Beneficente Verdade e Luz: a esta instituição de
assistência doutrinária, terapêutica e assistencial agregaram-se a tipografia, uma livraria,
uma chácara em Santo Amaro (São Paulo).

3) Cairbar Schutel foi prático de farmácia, político, fundador de centro espírita, criador
e fundador de uma Revista Internacional de Espiritismo, escritor profícuo de obras
espíritas, dono de editora espírita.

Caírbar de Souza Schutel renasceu na cidade do Rio de Janeiro em 22 de setembro de


1868 e desencarnou na cidade de Matão - São Paulo em 30 de janeiro de 1938.

Cognominado "Pai da Pobreza" e "Apóstolo de Matão", Caírbar Schutel foi prático de


farmácia, tendo assumido o cargo político de presidente da Câmara Municipal de Matão
em 1889; convertido ao Espiritismo, fundou o Centro Espírita Amantes da Pobreza em
15 de julho de 1905, o jornal O Clarim em 15 de agosto de 1905, a Revista
Internacional do Espiritismo em 15 de fevereiro de 1925 e a Empresa Editora O Clarim
na qual publicou, a partir de 1911, vários livros espíritas e particularmente os de sua
autoria.

Dos expressivos livros publicados de autoria de Schutel, destacam-se:


- Espiritismo e Protestantismo (1911)
- Histeria e Fenômenos Psíquicos (1911)
- O Diabo e a Igreja (1914)
- Espiritismo para as crianças (1918)
- Interpretação Sintética do Apocalipse (1918)
- Médiuns e Mediunidades (1923)
- Gênese da Alma (1924)
- Materialismo e Espiritismo (1925)
- Fatos Espíritas e as Forças X (1926)
- Parábolas e Ensinos de Jesus (1928)
- O Espírito do Cristianismo (1930)
- A Vida no Outro Mundo (1932)
- Vida e Atos dos Apóstolos (1933)
- Livro de preces (1936)
- Conferências Radiofônicas (1937)
- Cartas a Esmo
- O Batismo.

Caírbar Schutel é o pioneiro do Espiritismo propagado através do rádio no Brasil,


durante os anos de 1936 e 1937 na Rádio Cultura de Araraquara, PRD-4.

4) Anália Franco foi professora e sua imensa obra social e educativa teve por base
político-pedagógica enfrentar a marginalização da criança negra, o abandono da mulher
e da criança pobre, a discriminação religiosa e sexual, a marginalização da mulher
prostituída: para esse enfrentamento criou e supervisionou Escolas Maternais, Creches,
Cursos Profissionalizantes e de Formação de Professoras, Casas de Recuperação ou de
Regeneração, Asilos e Colônias, Revistas.

A originalidade pedagógica da obra de educação de Anália Franco pode ser estudada em


várias direções:
- foi a primeira educadora no Brasil a empregar os termos Escolas Maternais e Creches
ao invés de Jardins da Infância e Orfanatos ou Asilos Infantis;
- criadora da primeira banda de música inteiramente feminina no Brasil;
- indiscriminação de crença, raça e etnia em suas Escolas;
- não separar educação e trabalho profissionalizante para alunos mais velhos;
- valorização social e política da mulher numa época em que o único lugar permitido
para a mulher era o de ser esposa e \"dona\" do lar.
Anália Emília Franco renasceu no em Resende - Rio de Janeiro a 1 de fevereiro de
1856; aos cinco anos, seus pais (Antônio Maria Franco e Teresa Franco) mudaram-se
para São Paulo aonde desencarnou aos 20 dias de janeiro de 1919, vitimada pela gripe
espanhola.

Anália Franco, a Mãe da Pedagogia Espírita no Brasil, Grande Dama da Educação no


Brasil e Mãe dos órfãos e das viúvas, foi casada com Francisco Antônio Bastos -
continuador de sua obra e também seu biógrafo; após o casamento, passou a chamar-se
Anália Branco Bastos.

Na Escola Normal Secundária de São Paulo Anália Franco estudou e diplomou-se


professora, dedicando-se por toda a sua vida ao magistério público.
O caráter precursor de Anália Franco, no campo da Pedagogia do Espírito e
particularmente na Pedagogia Espírita, materializou-se em suas fundações nos Estados
de São Paulo e de Minas Gerais e em mais de vinte municípios:
- Colégio Santa Cecília, internato e externato para ensino primário e secundário;
- Revista Álbum das Meninas, periódico literário cujo primeiro número foi em 30 de
abril de 1898;
- Associação Feminina Beneficente e Instrutiva do Estado de São Paulo em 17 de
novembro de 1901, destinada ao amparo, à instrução e à educação de crianças pobres e
indigentes. Esta Associação foi a mantenedora de mais de setenta outras Escolas
Maternais diurnas e noturnas;
- Liceu Feminino (noturno e diurno), inaugurado a 25 de janeiro de 1902 e responsável
pela criação de cursos para formação de professoras voluntárias a serviço das Escolas
Maternais, além de vários outros cursos profissionalizantes para as alunas das Escolas
Maternais;
- Revista A Voz Maternal da Associação Feminina com primeiro número publicado a 1
de março de 1903, destinada a ser o órgão de literatura e de educação e chegando à
tiragem mensal de 6 mil exemplares;
- Asilos-Creches para amparo de viúvas, mães abandonadas e seus filhos e órfãos em
geral; o primeiro asilo-creche foi criado em meados de 1903;
- Oficinas e cursos de tipografia, de costura, de flores artificiais, de chapéus, de música,
de escrituração mercantil, de prática de Enfermagem, de arte dentária - todas criadas nos
próprios Asilos-Creches;
- Manual Educativo e posteriormente denominado Novo Manual Educativo - uma
publicação mensal com tiragem de 5 a 6 mil exemplares para distribuição gratuita entre
as alunas das Escolas Maternais;
-Bazar da Caridade, criado a partir de 1906 para vender ao público os trabalhos
produzidos nos Asilos-Creches;
- Colônia Regeneradora erguida em fazenda adquirida no bairro da Mooca para abrigar
inicialmente mulheres arrependidas, oferecendo-lhes ofícios ministrados por professoras
especializadas além da organização de uma orquestra e de um Grupo Dramático
Musical;
- Liga Educativa Maria de Nazaré, criada em 1914 para auxiliar as escolas maternais,
creches, asilos e colônias fundadas pela Associação Feminina Beneficente e Instrutiva.
As escolas maternais, creches, asilos, colônias, revistas, o Liceu e a Liga fundadas pela
Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de Anália Franco realizaram uma
revolução social, política e pedagógica no Brasil - particularmente nos estados de São
Paulo e de Minas Gerais.
Anália Franco foi escritora e publicou várias obras, entre romances, contos, poesias,
peças teatrais e crônicas.
Relevante é o fato da contemporaneidade de Anália Franco e de Eurípedes Barsanulpho.

5) Eurípedes Barsanulpho, um Sol de Cultura Espírita, foi professor no ensino primário


e secundário, nada menos do que o criador e fundador do primeiro colégio espírita do
Brasil - o Colégio Allan Kardec, em Sacramento, Minas Gerais. Médium espírita de
diversas e desenvolvidas faculdades mediúnicas, entre as quais estão a de cura, de
receitista, clariaudiência, clarividência, psicofonia, psicografia: legitimamente pode ser
cognominado Apóstolo da Mediunidade: tradicionalmente, os espíritas brasileiros o
referenciam como Apóstolo da Caridade e Apóstolo do Triângulo Mineiro.

Esses expoentes do Espiritismo no Brasil, sobretudo Eurípedes Barsanulpho, e tidos


como precursores do trabalho educacional e mediúnico ininterruptos de Chico Xavier
(de 1932 a 2002) afirmam e reafirmam a finalidade básica do Espiritismo colocada por
Pires nestes termos:
-"a finalidade básica do Espiritismo não é terapêutica, mas cultural." (PIRES, José
Herculano. Agonia das Religiões. São Paulo: Paidéia. 1976; p.92)
-"Espiritismo é educação. Educação individual e educação em massa... [Educação
Espírita é] o processo de orientação das novas gerações de acordo com a visão nova que
o Espiritismo nos oferece da realidade." (PIRES, José Herculano. Pedagogia Espírita.
10. ed. São Paulo: Paidéia. 2004; ps.31, 33)

Eurípedes Barsanulpho renasceu a 1º. de maio de 1880 e desencarnou a 1º. de novembro


de 1918, renascimento e desencarnação na cidade mineira de Sacramento.

Cognominado o "Apóstolo do Triângulo Mineiro", Eurípedes Barsanulpho reúne todos


os qualificativos expressivos da grandeza apostolar de um herói da fé, de um mártir
cristão, de um homem de bem em sua máxima significação, de um santo.

Assistido diretamente pelo espírito conhecido pelo nome de Vicente de Paulo,


Eurípedes Barsanulfo ergue por símbolo supremíssimo do seu Apostolado o Colégio
Allan Kardec, destinado ao ensino fundamental, médio e superior para ambos os sexos.

Ex e brilhante aluno do famoso Colégio Miranda de Sacramento, inaugurado em 1889 e


cujo proprietário era o major João Derwil de Miranda, Eurípedes Barsanulpho e os
professores João Gomes Vieira de Melo, José Martins Borges, Inácio Martins de Melo,
Teófilo Vieira e o padre Augusto da Rocha Maia fundam o Liceu Sacramentano no ano
de 1902.

Convertido ao Espiritismo no ano de 1905, Eurípedes Barsanulpho é alvo das


hostilidades locais: os pais dos alunos matriculados no Liceu Sacramentano retiraram os
seus filhos do colégio e os demais professores o abandonam.
O prédio aonde funcionava o Liceu e todo o seu mobiliário foram entregues aos seus
proprietários: eis o motivo pelo qual Eurípedes Barsanulpho reinauguraria em 1907 o
Liceu Sacramentano com o nome de Colégio Allan Kardec e funcionando inicialmente
em sua residência.

Notavelmente, todos os ex-alunos do Liceu Sacramentano se rematriculam no Colégio


Allan Kardec.

Se Bezerra de Menezes eleva a significação espírita da ação política, Eurípedes


Barsanulpho dignifica, em máxima expressão, a ação mediúnica; com ele, revive-se o
conhecido dia de Pentecostes.
Com Eurípedes Barsanulpho reinaugura-se, sem dúvida, a Era da Mediunidade dos
tempos de Jesus de Nazaré, continuada pelo seu sucessor Francisco Cândido Xavier; e,
nesse sentido, é legítimo o título dado a Eurípedes - O Médium de Jesus.

A Pedagogia de Jesus, reverenciada pela Pedagogia de Allan Kardec, revive e se


consolida na Pedagogia de Barsanulpho: o próprio espírito Allan Kardec comunica-se
através de Eurípedes, em 25 de fevereiro de 1906, parabenizando-o pela construção do
Colégio Allan Kardec posteriormente inaugurado em 2 de abril de 1907.
Em Sacramento existia o jornal - o Borá; ainda em sua juventude e juntamente com José
Martins Borges, Leão de Almeida e o professor Inácio G. Melo, Eurípedes Barsanulpho
fundou (e foi o redator d) o jornal A Gazeta de Sacramento cuja circulação semanal foi
até aproximadamente o ano de 1918.

Eurípedes criou uma Farmácia Homeopática, totalmente gratuita e funcionante durante


15 anos consecutivos, aonde ele mesmo manipulava, receitava e atendia, primeiramente
a população de Sacramento e, depois, toda a população brasileira que recorria àquela
Farmácia: essa iniciativa atendia à lacuna de que em Sacramento não existiam hospitais
e raros médicos e enfermeiros.

Eurípedes torna-se espírita entre os anos de 1903 e 1905: em 1905 funda, com o apoio
de sua família, o Grupo Espírita Esperança e Caridade.
Quanto à vida política, Eurípedes foi vereador em Sacramento, de 1904 até o seu pedido
de afastamento em 23 de setembro de 1910.

Finalmente, renasce o menino registrado com o nome de Francisco de Paula Cândido,


posteriormente alterado para Francisco Cândido Xavier: 2 de abril de 1910 é a data do
seu renascimento em Pedro Leopoldo - Minas Gerais; 20 de junho de 2002 é a data do
seu desencarne em Uberaba - Minas Gerais.

Em seus mais de quatrocentos livros psicografados, os seus precursores compareceram


grafando instruções e esclarecimentos, segundo a Filosofia Espírita: mais
intensivamente assinada em texto escrito é a presença de Bezerra de Menezes e de
Batuíra junto ao Mandato Mediúnico de Chico Xavier.

Sem o trabalho mediúnico sistemático de Chico Xavier, a Cultura Espírita no Brasil não
teria se consolidado após os esforços pioneiros de Bezerra de Menezes e de Eurípedes
Barsanulpho em particular: sua obra psicografada ainda constitui desafio para leigos e
estudiosos espíritas, sem falar em seu trabalho permanente centrado nos lemas de Allan
Kardec \"Fora da Caridade Não Há Salvação\" e \"Trabalho, Tolerância e
Solidariedade\".

Pela sistematicidade de sua obra mediúnica, Chico Xavier é o legítimo e único


continuador do trabalho de Pedagogia Espírita inaugurado por Allan Kardec com as
obras O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo O
Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Gênese.
_____________________________________
(Obs.; tratando-se de nome próprio, mantenho a grafia do nome Eurípedes Barsanulpho)

Fonte: http://filosofia.portaldoespiritismo.com.br/col_62.php

... Rodrigo Ratier

> Vale mais que um trocado

Artigos

Vale mais que um trocado

Ambulantes, pedintes e moradores de rua não esperam só por dinheiro dos motoristas
parados no sinal vermelho. Sem pagar pra ver, eu vi

"Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?"
Repeti essa oferta a pedintes, artistas circenses e vendedores ambulantes, pessoas de
todas as idades que fazem dos congestionamentos da cidade de São Paulo o cenário de
seu ganha-pão. A ideia surgiu de uma combinação com os colegas de NOVA ESCOLA:
em vez de dinheiro, eu ofereceria um livro a quem me abordasse - e conferiria as
reações.
CAMINHO LIVRE - A cada livro oferecido em vez de esmola, um leitor descoberto.
Foto: Rogério Albuquerque

Para começar, acomodei 45 obras variadas - do clássico Auto da Barca do Inferno,


escrito por Gil Vicente, ao infantil divertidíssimo Divina Albertina, da contemporânea
Christine Davenier - em uma caixa de papelão no banco do carona de meu Palio preto.
Tudo pronto, hora de rodar. Em 13 oferecimentos, nenhuma recusa. E houve gente que
pediu mais.
Nas ruas, tem de tudo. Diferentemente do que se pode pensar, a maioria dessas pessoas
tem, sim, alguma formação escolar. Uma pesquisa do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, realizada só com moradores de rua e divulgada em 2008,
revelou que apenas 15% nunca estudaram. Como 74% afirmam ter sido alfabetizados,
não é exagero dizer que as vias públicas são um terreno fértil para a leitura. Notei até
certa familiaridade com o tema. No primeiro dia, num cruzamento do Itaim, um bairro
nobre, encontrei Vitor*, 20 anos, vendedor de balas. Assim que comecei a falar, ele
projetou a cabeça para dentro do veículo e examinou o acervo:

- Tem aí algum do Sidney Sheldon? Era o que eu mais curtia quando estava na cadeia.
Foi lá que aprendi a ler.

Na ausência do célebre novelista americano, o critério de seleção se tornou mais


simples. Vitor pegou o exemplar mais grosso da caixa e aproveitou para escolher outro -
"Esse do castelo, que deve ser de mistério" - para presentear a mulher que o esperava na
calçada.

Aos poucos, fui percebendo que o público mais crítico era formado por jovens, como
Micaela*, 15 anos. Ela é parte do contingente de 2 mil ambulantes que batem ponto nos
semáforos da cidade, de acordo com números da prefeitura de São Paulo. Num
domingo, enfrentava com paçocas a 1 real uma concorrência que apinhava todos os
cruzamentos da avenida Tiradentes, no centro. Fiz a pergunta de sempre. E ela
respondeu:

- Hum, depende do livro. Tem algum de literatura?, provocou, antes de se decidir por
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
As crianças faziam festa (um dado vergonhoso: segundo a Prefeitura, ainda existem 1,8
mil delas nas ruas de São Paulo). Por estarem sempre acompanhadas, minha coleção
diminuía a cada um desses encontros do acaso. Érico*, 9 anos, chegou com ar
desconfiado pelo lado do passageiro:

- Sabe ler?, perguntei.

- Não..., disse ele, enquanto olhava a caixa. Mas, já prevendo o que poderia ganhar,
reformulou a resposta:

- Sim. Sei, sim.

- Em que ano você está?

- Na 4ª B. Tio, você pode dar um para mim e outros para meus amigos?, indagou,
apontando para um menino e uma menina, que já se aproximavam.

Mas o problema, como canta Paulinho da Viola, é que o sinal ia abrir. O motorista do
carro da frente, indiferente à corrida desenfreada do trio, arrancou pela avenida Brasil,
levando embora a mercadoria pendurada no retrovisor.

Se no momento das entregas que eu realizava se misturavam humor, drama, aventura e


certo suspense, observar a reação das pessoas depois de presenteadas era como reler um
livro que fica mais saboroso a cada leitura. Esquina após esquina, o enredo se repetia:
enquanto eu esperava o sinal abrir, adultos e crianças, sentados no meio-fio, folheavam
páginas. Pareciam se esquecer dos produtos, dos malabares, do dinheiro...

- Ganhar um livro é sempre bem-vindo. A literatura é maravilhosa, explicou, com


sensibilidade, um vendedor de raquetes que dão choques em insetos.

Quase chegando ao fim da jornada literária, conheci Maria*. Carregava a pequena


Vitória*, 1 ano recém-completado, e cobiçava alguns trocados num canteiro da Zona
Norte da cidade. Ganhou um livro infantil e agradeceu. Avancei dois quarteirões e fiz o
retorno. Então, a vi novamente. Ela lia para a menininha no colo. Espremi os olhos para
tentar ver seu semblante pelo retrovisor. Acho que sorria.

* os nomes foram trocados para preservar os personagens.

REVISTA ESCOLA Edição 221 | Abril 2009

... Alexandre Cumino

> "Maria" na Umbanda: entre santos e orixás

Artigos
Ano passado me foi pedido por um dos professores da Faculdade Claretiano um texto
sobre Maria na Umbanda, coloco aqui para apreciação de todos.

Maria na Umbanda: entre santos e orixás


Por Alexandre Cumino*

1. Introdução

Maria, mãe de Jesus, vai muito além do Catolicismo e do Cristianismo, vemos sua
presença em grandes religiões como o Islã, onde ela assume o papel de mãe do profeta
Jesus, no entanto é possível encontrar Maria nos cultos ou religiões sincréticas das
Américas. O colonizador europeu trouxe o africano como escravo e ambos se instalaram
nesta terra do índio. Logo as culturas do branco, do negro e do vermelho se encontraram
de forma particularizada em diferentes regiões deste continente. E assim chegou Maria
ao Brasil, onde foi acolhida também pela religiosidade popular, associada e comparada
com divindades e entidades do mundo mítico afro-indígena. Neste contexto está,
também, a Umbanda, nascida da miscigenação tão brasileira, no seu jeito de ser, fruto
de mitos, ritos e símbolos os mais variados.

2. Objetivo

O objetivo deste estudo é ressaltar alguns pontos da presença de Maria na Umbanda.


Verificamos um sincretismo dinâmico. “Maria Virgem” se identifica com Oxum e
“Maria Mãe” se identifica com Yemanjá, em que a relação santo/orixá varia segundo
diferentes pontos de vista. Para além de um altar essencialmente católico, podemos
observar Maria em outros aspectos da liturgia, como a Festa de Yemanjá e a
identificação dos templos com nomes de santos.

Hoje a umbanda passa por uma mudança de paradigma, no que diz respeito a sua
literatura, escrita de “umbandista para umbandista”, surge uma literatura psicografada
de umbanda e novas abordagens sobre a relação de Maria na Umbanda. Sendo uma
religião muito aberta e inclusiva acolhe diferentes e novas formas de entender a
presença de Maria. Vamos aqui apenas esboçar alguns aspectos, conscientes da
complexidade da Umbanda e dos diferentes ângulos que as Ciências da Religião nos
oferecem para aprofundar a questão.

3. Maria na história da Umbanda

O primeiro templo de Umbanda de que se tem noticia traz o nome de “Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade”, quem nos conta a história de sua fundação é o Sacerdote de
Umbanda, Ronaldo Linares, Presidente da Federação Umbandista do Grande ABC
(FUGABC), criador do primeiro curso de formação de sacerdotes de Umbanda.[1][1]

Dia 15 de Novembro de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz de 17


anos, incorporou o espírito de Frei Gabriel de Malagrida, queimado na inquisição.[2][2]
O espírito do Frei revelou que, em uma vida posterior, nasceu como índio no Brasil,
preferindo ser identificado, agora, como “Caboclo das Sete Encruzilhadas” e que vinha
para trazer a Religião de Umbanda. Sua “igreja” se chamaria Nossa Senhora da Piedade,
pois assim como Maria acolheu a Jesus, a Umbanda acolheria os filhos seus.

Zélio vinha de uma família de origem católica e no seio deste lar tiveram início as
sessões mediúnicas de Umbanda, onde já havia um pequeno altar católico. Com o
tempo, o espírito de um “preto velho”, escravo de origem africana, “Pai Antônio”, traria
o conhecimento dos orixás africanos associados aos santos católicos. Nascia o
sincretismo de Umbanda, Maria já estava presente e enraizada nos valores religiosos e
espirituais dessa família.

No decorrer dos tempos surgiriam milhares e milhares de Templos de Umbanda,


identificados como “tendas”, “centros”, “casa” ou “terreiros” de Umbanda, nos quais a
exemplo da primeira “Tenda de Umbanda”, estariam presentes as “Marias”,
identificando estes templos como: “Tenda Nossa Senhora da Conceição”, “Tenda Nossa
Senhora da Guia”, “Nossa Senhora de Sant’Ana”, “Nossa Senhora dos Navegantes” e
outras como “Estrela D'alva”, “Tenda Nossa Senhora Aparecida”, “Casa de Maria”
etc.[3][3]

4. Maria no altar de Umbanda

Oxum representa o amor, a pureza, a beleza, inocência e concepção, enquanto Yemanjá


representa a mãe universal, mãe dos orixás, aquela que mantém e gera a vida. Ambas se
manifestam na água, Oxum nas cachoeiras e Yemanjá no mar.[4][4]

O sincretismo de Maria com os Orixás se faz notar principalmente no altar de Umbanda,


que é um altar composto por imagens católicas. Encontraremos a imagem de Nossa
Senhora da Conceição ou de Nossa Senhora Aparecida, fazendo sincretismo com
Oxum. Yemanjá é o único orixá que tem uma imagem própria, umbandista, não
católica, assim mesmo encontramos sincretismo com Nossa Senhora dos Navegantes ou
Nossa Senhora das Graças.
5. Um olhar sociológico

Cândido Procópio Ferreira de Camargo, no final da década de 50, dedicou parte de seu
tempo ao estudo das “Religiões Mediúnicas” e registrou no livro “Kardecismo e
Umbanda: uma interpretação sociológica”, o resultado de sua pesquisa de campo, onde
descreve um Terreiro de Umbanda:

“No ‘terreiro’ propriamente dito, barracão com cerca de 50m², há um altar, semelhante
aos católicos . O ‘Orixá’ guia do ‘terreiro’ assume lugar de destaque , sob a figura do
Santo Católico correspondente. São Jorge, Nossa Senhora, São Cosme e São Damião
são os Santos mais comuns que integram o altar, além do Cristo abençoando, de braços
abertos.”[5][5]

Procópio Ferreira dedica especial atenção ao sentimento de pertença daquele que busca
as “religiões mediúnicas”, observando que boa parte dos freqüentadores consideram-se
Católicos.

Embora já tenha decorrido meio século e a umbanda venha mudando de perfil, na busca
de identidade, ainda nos dias de hoje observamos este fato em menor grau. Para evitar
preconceito da sociedade ou desinformação, alguns dos adeptos, da Umbanda,
identificam-se de pertença espírita, não fazendo distinção entre sua prática e a criada por
Allan Kardec.

Ao adentrar um terreiro de Umbanda pela primeira vez muitos o fazem com certo receio
do desconhecido, mas se deparando com um altar católico sentem-se confortados e
tranqüilos. Jesus de braços abertos e Maria a seu lado, junto com todos os outros santos,
continuariam a guiar sua fé, agora ao lado da tão popular Yemanjá.

O sincretismo, neste caso, serve de amparo para que o desconhecido se apresente


através de elementos já conhecidos. O Católico se sente à vontade para justificar sua
pertença, assim como, fica clara a importância do altar para a recepção e a conversão do
novo adepto.

6. Festa de Yemanjá

Na década de 50 foi criada uma imagem brasileira para Yemanjá, de pele branca,
cabelos negros, vestida de azul, pairando sobre o mar, seu vestido se funde às ondas e
derrama pérolas pelas mãos. Esta é uma imagem umbandista e embora todos aceitem
Maria como Yemanjá e Oxum, quase não se usa uma imagem católica para Yemanjá,
pois ela tem o privilégio de ter imagem própria.

Na Umbanda paulista desde 1969, realiza-se anualmente a Festa de Yemanjá, na Praia


Grande, onde está a tradicional imagem de Yemanjá, em Cidade Ocian.[6][6]

Recentemente, o município de Mongaguá, recebeu uma grande imagem de Yemanjá


doada pela FUGABC. A Rainha do Mar reina sozinha nestas duas praias do litoral sul
paulista, sendo, dia 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, a Festa de
Yemanjá. Já as comemorações de Oxum ficaram para o dia de Nossa Senhora
Aparecida e todo o resto do calendário umbandista é orientado por datas católicas,
correspondentes aos santos e orixás.

7. Quatro olhares para o sincretismo afro-católico na Umbanda

O olhar para o sincretismo assume diferentes aspectos dentro da Umbanda, devido à


liberdade de interpretações que existe dentro dela mesma. O umbandista tem diferentes
formas de se relacionar com Maria, que resultam em olhares diferentes para o
sincretismo. Coloco aqui quatro olhares distintos:

 O primeiro olhar é um “olhar católico”, de desinformação sobre a cultura afro. O


recém convertido ou o adepto ao ser questionado por exemplo, de quem é o
Orixá Oxum ou Yemanjá responde simplesmente que é Maria Mãe de Jesus.
Não há um interesse pela cultura e a presença da divindade africana.

 O segundo olhar é um “olhar afro” de desinteresse pelo Santo Católico, a


presença do mesmo é apenas figurativa para representar o Orixá, divindade que
não possui uma imagem feita de gesso para ir ao altar, com exceção de Yemanjá.
Assim Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora das Graças está no altar
apenas como uma referência simbólica para se alcançar e louvar, quem
realmente está lá, Orixá Oxum.

 O terceiro olhar é um “olhar de fusão” pelo qual Maria, Oxum e Yemanjá se


fundem, não há mais uma e outra, Maria é Oxum e também Yemanjá. As lendas
e os mitos se confundem e se apresentam nos cantos, neles vemos “Maria a mãe
dos Orixás”, “Maria filha de Nanã Buroquê, a avó dos Orixás” ou “Yemanjá
mãe de todos os santos”. Inclusive o conceito de santo e orixá se confundem. O
adepto se expressa dizendo “meu santo de cabeça é Oxum”, para esclarecer que
este Orixá é o “dono de sua cabeça”, seu regente ou padrinho.

 Há ainda um quarto olhar, que é o “olhar de convivência”. É um olhar que


reconhece a afinidade entre os Santos e Orixás, Nossa Senhora da Conceição
tem sincretismo com Oxum porque ambas tem as mesmas qualidades. Santo e
orixá convivem juntos em harmonia, a qualidade e presença de um não diminui
o outro. Existem clareza e esclarecimento sobre a origem e cultura que envolve
santo e orixá. Oxum não é Maria, mas ambas têm as mesmas qualidades e
convivem juntas e em harmonia. Sozinhas elas já ajudam, juntas ajudam muito
mais.

8. Uma nova experiência de Maria na Umbanda

Já comentamos, linhas acima, que a religião de Umbanda vem mudando de perfil,


buscando sua identidade e, porque não, até mudando alguns paradigmas. Até alguns
anos a literatura chamada de “psicografada” ou “escrita mediúnica”, pela qual os
espíritos dão sua mensagem escrita, eram de característica do Espiritismo “Kardecista”.
Nos últimos anos vem se observando uma literatura “psicografada de Umbanda”, ou
seja, livros de Umbanda escritos de forma mediúnica.
Essa mudança de paradigma deve-se a um autor umbandista, Rubens Saraceni, que já
publicou mais de 50 títulos nos últimos 13 anos, o que vem incentivando outros
umbandistas a realizarem a mesma experiência.

O autor psicógrafo, médium e sacerdote de Umbanda, Rubens Saraceni, criou o


primeiro curso livre de “Teologia de Umbanda”[7][7], para estudar de forma teórica e
teológica as questões pertinentes à Umbanda, vista de dentro. Na “Teologia de
Umbanda” se reconhece que Deus é Um com muitos nomes diferentes, como Alá,
Zambi, Tupã, Olorum, El, Adonai, Jah, Javé, Aton, Brahman, Ahura Mazda[8][8] entre
outros. Da mesma forma os diversos “Tronos de Deus”, “Divindades” ou Deuses se
manifestam em várias culturas, “à moda” de cada uma delas. Assim o “Trono Feminino
do Amor” ou “Divindade feminina do Amor” é conhecida como Oxum, Isis, Lakshimi,
Afrodite, Vênus, Hebe, Kwan Yin, Freyija, Blodeuwedd, entre outros nomes, sendo a
mesma, manifesta sob diferentes formas. Maria personifica este trono na cultura
católica, portanto seu sincretismo com Oxum torna-se natural, legítimo e Justificado.
Maria tem as qualidades do “Trono Feminino do Amor” e do “Trono Feminino da
Geração”, como Yemanjá, Tétis, Hera, Parvati, Danu, Friga e outras. Todas as
divindades convivem juntas e se expressam de muitas formas, lembrando a idéia das
“Máscaras de Deus”.

9. Conclusão

Podemos ainda lembrar que Maria ocupa o posto que antes pertencia às “Deusas Pagãs”.
O Catolicismo fez sincretismo de culturas e valores, durante sua expansão por territórios
desconhecidos ao cristianismo. Podemos dizer que a Deusa também está no
inconsciente coletivo que busca elementos conhecidos para concretizar-se em uma
realidade palpável.

Por fim, podemos dizer que onde houver duas ou mais culturas haverá sempre o
sincretismo, que marca o encontro entre elas. Maria faz parte de uma cultura que
dominou todo o Ocidente e boa parte do Oriente. No mundo pós-moderno e
globalizado, cada vez mais encontraremos sincretismos e associações a Maria.

Independente de como possa ser interpretada, concluímos que Maria também faz parte
da Religião de Umbanda e se manifesta de formas diferentes dentro desta mesma
religião.

*Alexandre Cumino é presidente do Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca,


conselheiro consultivo da Associação Umbandista e Espiritualista do Estado de São
Paulo, Sacerdote de Umbanda, ministrante dos cursos livres de “Teologia de Umbanda
Sagrada” e “Sacerdócio de Umbanda Sagrada”, editor do Jornal de Umbanda Sagrada e
estudante de Ciências da Religião na Faculdade Claretiano.

Notas:

[1][1] LINARES, TRINDADE e VENEZIANI, 2007.


[2][2] É o próprio espírito de Gabriel de Malagrida, nesta mesma ocasião (LINARES,
2007. P.22), quem esclarece: “acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da
Inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa, em 1775.”. No dia
posterior na residência do jovem Zélio de Moraes, Gabriel de Malagrida, agora
identificado como Caboclo das Sete Encruzilhadas, também teria previsto as duas
guerras mundiais, as bombas atômicas de Hiroshima e Nagazaki e a grande degeneração
da moral.

[3][3] O Próprio Zélio de Moraes fundou sete “Tendas de Umbanda” com nomes de
santos católicos (LINARES, 2007. P.77).

[4][4] SARACENI, 2008

[5][5] CAMARGO, 1961, P.44

[6][6] SARACENI e XAMAN, 2003

[7][7] SARACENI, 2005

[8][8] CUMINO, 2008

Bibliografia:

BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil. São Paulo: Editora da


Universidade de São Paulo e Editora Livraria Pioneira, 1971.

CAMARGO, Candido Procópio Ferreira de. Kardecismo e Umbanda: Uma


Interpretação Sociológica. São Paulo: Editora Livraria Pioneira, 1961.

CUMINO, Alexandre. Deus, Deuses, Divindades e Anjos. São Paulo: Editora Madras,
2008.

LINARES, Ronaldo; TRINDADE, Diamantino e VENEZIANI, Wagner. Iniciação à


Umbanda. São Paulo: Editora Madras, 2007.

SARACENI, Rubens. Orixás: Teogônia de Umbanda. São Paulo: Editora Madras, 2005.

SARACENI, Rubens e XAMAN, Mestre. Os Decanos: Os Fundadores, Mestres e


Pioneiros da Umbanda. São Paulo: Editora Madras, 2003.

SARACENI, Rubens. Doutrina e Teologia de Umbanda. São Paulo: Editora Madras,


2008

... Leontina Rita Acorinti Trentin

> Humanização: o futuro da humanidade


Artigos

Humanizar é tornar-se humano, adquirir novos hábitos mais apropriados sob o prisma
da ética e da moral distanciando-se da ignorância, estupidez, desamor... É educar-se
sendo mais benévolo, enfim, evoluir o “eu espírito”.

A humanização deve existir em todas as nossas ações. Um exemplo de humanização na


empresa é a assimilação de características mais amorosas e conscientes, como a união, a
harmonização do grupo entre si e com o todo, afinal, a parceria estruturada no amor.

Mas, como proceder para nos tornarmos mais humanos?

Primeiramente vamos imaginar como gostaríamos de ser tratados em relação a tudo e a


todos. Diante desta visão e desejo, começar então a agir de acordo com nossos próprios
anseios e ideais em nossos relacionamentos com o próximo, a empresa, a humanidade...

Porém, quem devo enxergar como “ próximo”?

A criança, ser frágil que é agredida não tem como se defender; o idoso dependente que é
rejeitado; o colaborador massacrado e humilhado pelo patrão sem chance para
argumentar; a empresa necessitada e pressionada por outras; o patrão lesado pelo
colaborador; aquele que passa fome e dificuldades e todos fingem não ver ...

Afinal, poderia ficar aqui relatando horas e não haveria fim, pois que, toda relação que
existe entre os seres humanos deve estar atrelada à conscientização dos atos e ações de
cada um.

Tratar bem é ser humano, é humanizar-se, é dar valor à empresa, à família, aos amigos,
aos relacionamentos pessoais, comerciais...
Como querer que uma empresa tenha sucesso se o empregador não atua com
humanização perante os seus colaboradores? A energia de todos ali é que faz a vibração
do ambiente, a egrégora espiritual do grupo, ou seja, é a união das mentes pensantes
voltados para um fim. Se todos estiverem bem e felizes a egrégora do ambiente será
ótima e atrairá acontecimentos bons para o todo. Todavia, se for ruim, atrairá
acontecimentos ruins da mesma forma.
Quem estiver consciente neste entendimento, saberá conduzir-se ao sucesso, se dará
bem na vida e em todos os campos seja pessoal, profissional... Todavia, é necessário e
de suma importância entendermos que devemos respeito a tudo e a todos, e, é nosso
dever interiorizar este entendimento de uma forma mais ampla e espiritualizada. O amor
é e sempre será o que norteia o ser para a humanização, a espiritualização e
irresistivelmente para a felicidade.

Hoje em dia não há mais espaço para quem tem o desejo de enganar. O ser humano não
se deixa mais ludibriar facilmente, estamos aprendendo o que queremos para nós e o
que podemos exigir do outro no âmbito do respeito, da responsabilidade,
comprometimento... E quem não agir assim, será jogado de lado; ficará obsoleto para a
sociedade, tornando-se somente um peso.

Há também muitos colaboradores mal agradecidos, são bem tratados e remunerados,


porem, atuam com rancor, raiva, desestímulo, prejudicando e atrasando a empresa.

Quando não colocamos nossas energias positivas de amor no trabalho em que


realizamos, nada sai bem feito. Como um paciente poderá melhorar se for atendido por
um enfermeiro/médico mal humorado e ríspido? Como uma refeição poderá nos
alimentar e fazer bem se foi feita com desprezo e rancor? Como um aluno conseguirá
aprender, se o professor atua com raiva e desestímulo? E por aí afora...

Sejamos espertos, pois quem ainda pensa ser o mais inteligente, astuto e que só leva
vantagem em tudo, deve rever seus conceitos e repensar, visto que somente o bem é que
trará pessoas confiáveis, honestas e humanizadas até nós. Este é o futuro
obrigatoriamente, e, atrairemos para nós exatamente o que fizermos ao outro.

A humanização está atrelada à espiritualização do ser, é a ordem do milênio. Tratar bem


quem cruzar o nosso caminho tem que ser indubitavelmente nossa obrigação, todo ser
merece respeito assim como nós também merecemos. E quem assim não agir, seus dias
de glória estarão contados.

Infelizmente muitos ainda pensam que a felicidade está nas conquistas materiais, porém
enganam-se fervorosamente, pois ela está em sentir o prazer de fazer o bem, de ajudar,
somar, e assim contrair parceiros honrados, éticos, moralizados que crescerão juntos.
Ajudar a quem necessita e está passando por dificuldades é que nos dá a melhor e maior
sensação de bem-estar que o ser pode ter, é a tão procurada satisfação interior, e isto é
que atrairá todas as benfeitorias a nós.

Humanize-se, faça parte integrante do futuro promissor e feliz do planeta, seja um


espelho do bem para os que estão a sua volta. Somente assim é que Deus olhará para
você, e, o sucesso, a realização, a satisfação e a felicidade baterá a sua porta
insistentemente até que seja totalmente aberta.

www.institutoatlantida.com.br
... Leontina Rita Acorinti Trentin

> Por que paciência?

Artigos

POR QUE PACIÊNCIA?

Somos acostumamos a dar conselhos aos outros sempre deixando muito bem claro a
necessidade eminente da paciência, pois, sem ela, a calma se afasta de nós, abrindo
espaço para o desespero.

Conseqüentemente trará dor e revolta agravando ainda mais nossos problemas e, pior
ainda, irá retardá-los. Assim, nos sentimos os verdadeiros heróis da raça humana por
estarmos ajudando necessitados com tanta presteza.

Entretanto, quando é requerida a mesma paciência a nós outros e somos chamados à


experiência necessária de vida, os pórticos de nossos corações abrem-se para
recebermos turbulências e temporais de emoções em desajuste. Esquecemos de tudo: da
calma, do entendimento, do equilíbrio... Jogamos na lata de lixo tudo o que aprendemos
e acreditamos ser o suficiente, pois o praticar demanda muito esforço, perseverança e o
“querer”, ainda assim nos achamos os melhores, os experts.

Passamos a ser o mocinho da história para não dizer o coitadinho, porque em se falando
de perfeição pegamos a fila várias vezes.
Engraçado! E infelizmente é a pura realidade.

Passamos recibo para a injúria, para o desaforo, para a rebeldia, para a maldade, por
conta de acontecimentos necessários a nossa evolução...
E não nos atentamos a isso, somos pegos de surpresa.

Felizmente alguns, após o momento da tempestade, caem em si e percebem que poderia


ter sido diferente, não havia necessidade de tamanho descontrole. Esses buscam
redimir-se antes tarde do que nunca. No entanto, infelizmente isto não acontece com a
maioria, nem mesmo se dão conta de que erraram, muito menos das farpas afiadas
usadas para o ataque e o contra-ataque. Vou mais longe, talvez até o próprio agressor
fomos nós e jogamos inexoravelmente a culpa no outro, seja ele quem for. É mais fácil.
Caiamos na realidade, a paciência, a calma, a compreensão vêm de dentro para fora, e
não das situações que vivenciamos e presenciamos. Ledo engano, dizer que estamos
irritados devido ao que nos fizeram.

Se estamos descontrolados é porque nosso interior não estava bem. Ou seja, só faltava
uma faísca para atear fogo e explodir o nosso pavio curto, estávamos no aguardo do
momento oportuno para jogarmos nosso fogo, labaredas e tudo no primeiro que
aparecesse.

Queridos, saibamos buscar o conforto na espiritualidade, nos mentores de luz que nos
acompanham, nas vibrações positivas que devemos buscar para estar em sintonia com
eles, permitindo que a paciência e a resignação esteja em nós. O pensamento é tudo, tem
força e poder, quando damos vazão a estes negativamente atraímos negatividades e toda
sorte de dificuldades que vier. Contudo, o contrário também é verdadeiro. Quanto mais
pensarmos no belo, no amor ... atrairemos a mesma sintonia.

É importante que saibamos mudar nossas sintonias negativas para positivas, com
firmeza e vigor pensando em tudo de bom que temos e somos, no que desejamos, para
que possamos enxergar a realidade dos fatos e acontecimentos que geralmente nos
passam despercebidos no dia-a-dia. E, não somente saibamos dar conselhos. Devemos
sim oferecê-los sempre, mas muito mais, praticá-los.

Indubitavelmente jamais deveremos esquecer que a prece nos aproxima da luz, que por
sua vez nos enche de direcionamentos que trarão a seu tempo muitas felicidades.

Respondamos então o porquê da paciência: a paciência significa suportar as dores, os


infortúnios, sem queixas e com resignação para aprender com ela.

E por que suportar tudo sem reclamações? Digo-vos sem reclamações, mas, entendam
não como uma avestruz que enfia a cabeça na terra para não enfrentar os problemas e
sim, como um ser que sofre, mas luta almejando momentos melhores, e, diz para si
mesmo “eu vou vencer”. Já sabemos que tudo o que nos acontece tem um fundo de
necessidade, visto que todos os problemas são de alguma forma pagamentos de uma
divida contraída por nós mesmos em outrora, bem como, um grande aprendizado do
nosso “eu” espiritual, pois não aprendemos sem sermos colocados à prova.

Prova de quê? Da paciência, do entendimento, do controle, do equilíbrio e muito mais...


Vamos refletir mais, criticar menos, apoiar mais, desta forma receberemos na mesma
medida na balança da vida.

O universo é sábio, devolve para nós o que enviarmos a ele.

Leontina Rita Acorinti Trentin


www.institutoatlantida.com.br

... Vinícius Lousada

> Por que Ler Kardec?


Artigos

Vinícius Lousada (1)


vlousada@hotmail.com

Por que ler as obras fundamentais do Espiritismo?

A pergunta acima, ao adepto estudioso, pode parecer dispensável por ser sua resposta
uma obviedade, pois, nas obras fundamentais do Espiritismo, as de Allan Kardec, é que
encontramos a Filosofia Espírita na sua totalidade, e, sem a leitura delas não seremos
capazes de apreender seus postulados, nem tampouco, o seu objetivo essencial.

No entanto, do ponto de vista de quem interage junto ao movimento espírita,


percebemos muita gente se esquecendo de ler Kardec – ou lendo-o de maneira
fragmentada, apenas selecionando trechos ou páginas ao acaso – e saindo à cata de
novidades espiritualistas ou as difundindo (e confundindo) como se fossem mesmo da
alçada da Doutrina Espírita, ignorando, por sua vez, os princípios filosóficos do
Espiritismo ou se detendo nos comentários, leituras e concepções de terceiros sobre o
assunto sem se ocuparem da bibliografia kardequiana.

Como, de modo geral, trazemos atavismos religiosos dos quais não nos libertamos por
desconhecimento de nós mesmos ou preguiça, lidamos com o Espiritismo como se fosse
apenas mais uma religião, ignorando que a convicção espírita se elabora muito mais no
exercício da fé raciocinada do que na simples adesão às instituições humanas.

Aliás, escreveu Kardec que “O Espiritismo é uma questão de fé e de crença, e não de


associação.” (2), ao responder à reclamação do queixoso Abade Barricand acerca da
análise do codificador, presente na Revista Espírita, a respeito das pretensas refutações
deste sacerdote à tese espírita nos cursos que ministrava, obviamente, sem
conhecimento de causa. Disso, deve ficar evidente que a convicção espírita se edifica
mediante o estudo sério e com uma atitude filosofante, por parte do adepto, em relação
aos saberes presentes nas obras fundamentais da Doutrina dos Espíritos.

E, no que tange a questão que dá título a esse artigo, o que corrobora no sentido de
termos consciência da relevância das obras de Allan Kardec consiste no fato de que,
numa perspectiva antropológica do quefazer científico, o emérito professor pode ser
considerado co-autor ou co-fundador dessa ciência, em especial conexão com o Espírito
Verdade e sua equipe, além de notável codificador do Espiritismo – função mais
destacada na primeira edição de O Livro dos Espíritos.

Confirma essa constatação o erudito Canuto Abreu, ao prefaciar a sua tradução da


primeira edição de O Livro dos Espíritos, afirmando ser o mestre lionês aprendiz e
secretário dos Espíritos passando, na segunda edição (1860), de discípulo a mestre, ou
seja, naquela produção “Nivela-se o Aprendiz com os Instrutores” (3). Enfim, visando
valorizar efetivamente o trabalho missionário de Kardec é útil levarmos em conta a co-
laboração em que se deu a dinâmica de sua pesquisa e produção teórica com os
Espíritos Superiores.

Quais são as obras fundamentais?

Muito se ouve falar, da parte daqueles que se consideram versados no Espiritismo, que a
pessoa que queira se iniciar no conhecimento espírita precisa ler ou estudar as obras
básicas da Doutrina. Essa afirmação corrente parece óbvia, mas nem tanto, e, no meu
ponto de vista, por dois motivos.

O primeiro deles se refere ao que podemos depreender de um texto do escritor italiano


Ítalo Calvino, em que defende a relevância da leitura das obras consideradas clássicas
na literatura e de diferentes campos do saber.

Lendo esse artigo, verificamos que os clássicos são o tipo de livros com os quais todos
deveriam se ocupar, todavia poucos o fazem e raras são as pessoas que admitem, ao
menos publicamente, não terem feito essas leituras e, não por humildade.

É o caso de alguns adeptos descomprometidos com a Causa que desconhecem os textos


de Kardec e afirmam ter ouvido falar ou fingem que sabem deles, atendendo a
expedientes nas atividades da casa ou do movimento espírita sem se proporem a ler as
tais obras (que consideram básicas!), indiscutível fonte primacial do Espiritismo.

Outro motivo que demonstra a não-obviedade da necessidade de se ler e estudar os


livros de Kardec, em nosso meio, consiste na redução que se faz da produção de Allan
Kardec ao denominado Pentateuco Kardequiano.

Dito isto, atenhamo-nos à pergunta: quais são as obras fundamentais do Espiritismo? A


resposta está num opúsculo escrito por Allan Kardec no ano de 1869, trata-se do
“Catálogo Racional: obras para se fundar uma biblioteca espírita”. Nesse pequeno livro,
o co-fundador da Doutrina Espírita apresenta um conjunto de obras catalogadas que se
vinculavam, de algum modo, ao objeto de estudos da ciência com que se ocupava.

Assim, encontramos citadas no referido catálogo (4) as obras fundamentais da Doutrina


Espírita, obras diversas sobre Espiritismo, obras produzidas fora do Espiritismo e as que
a ele se opunham.

Kardec nomeia da seguinte forma as obras fundamentais do Espiritismo:


O Livro dos Espíritos (parte filosófica); O Livro dos Médiuns (parte experimental);
O Evangelho segundo o Espiritismo (parte moral);
O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo;
A Gênese, os milagres e as predições, segundo o Espiritismo;
O que é o Espiritismo? – Introdução ao conhecimento do mundo dos Espíritos;
O Espiritismo em sua mais simples expressão;
Resumo da lei dos fenômenos espíritas;
Viagem Espírita em 1862 e a
Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos.

Logo é fácil perceber que o essencial para aprender a Filosofia Espírita está nessas obras
consideradas por Kardec como fundamentais, entre livros, brochuras e a Revista que
produziu até a sua desencarnação em 1869.

Estudando Kardec:

“Temos dito que a melhor maneira de uma pessoa adquirir conhecimentos sobre o
Espiritismo é estudar-lhe a teoria. Os fatos virão depois, naturalmente, e serão
compreendidos, qualquer que seja a ordem em que os tragam as circunstâncias. Nossas
publicações têm sido feitas com o propósito de favorecer esse estudo.” (5)

Notas

1- Educador, escritor e palestrante espírita residente em POA/RS. Contatos:


vlousada@hotmail.com
2 - Revista Espírita de julho de 1864.
3 - ABREU, Canuto. O primeiro livro dos espíritos de Allan Kardec. Texto bilíngüe.
SP: ICESP, 2007, p. XV.
4 - KARDEC, Allan. Catálogo Racional: obras para se fundar uma biblioteca espírita.
Tradução de Julia Vidili. Ed. fac-similar bilíngüe histórica. SP: Madras:USE, 2004.
5 - O que é o Espiritismo? – Terceiro Diálogo – o padre.

... Momento Espírita

> Ser Normal

Artigos

O homem é gregário por natureza.


Por instinto, ele busca estar próximo de seus semelhantes.

O progresso é uma das leis da vida, cujo atendimento é facilitado pelo intercâmbio de
idéias e experiências.

Afigura-se natural que os homens procurem ser aceitos em seu meio social e familiar.

Em todas as fases da vida, o fenômeno da busca de aceitação ocorre.

Por exemplo, na adolescência é marcante a preocupação em ser parte de um grupo.

Certamente por isso, os adolescentes padronizam gostos e comportamentos.

Vestem-se, falam e agem de modo semelhante.

Parecer diferente é algo assustador, pois pode conduzir à condição de pária social.

Pela vida afora, ser normal é reconfortante.

Quando a conduta e as crenças de um homem são partilhadas por outros, ele se sente
seguro e confortável.

Quem assume uma postura diferenciada tende a ser mal visto.

Quando menos, por seu comportamento provocar reflexões.

O que antes parecia tão acertado, talvez não o seja.

Para a maioria das pessoas, é desagradável ter de rever sua postura em face da vida.

Quando se admite um erro, a etapa seguinte é engendrar esforços para corrigi-lo.

Como é mais fácil permanecer inerte, o que leva à reflexão muitas vezes é repudiado.

É preciso maturidade e coragem para ser diferente.

Quem ousa contrariar os padrões considerados normais, no meio em que se insere,


sujeita-se a críticas e rejeições.

Mas ser normal nem sempre é bom.

Em um mundo marcado pela corrupção, talvez a conduta desonesta seja tida por normal.

Pôr a saúde em risco, por vícios de toda ordem, também não causa espanto.

Muitos assim o fazem e esse comportamento não destoa do que a sociedade tolera com
tranqüilidade.

A maledicência, os desregramentos sexuais, o hábito de sempre levar vantagem, nada


disso parece chocante.

Na sociedade atual, nada é mais banal do que o vício.

A genuína virtude é que é rara.

Justamente por sua raridade, chama tanto a atenção.

Em um ambiente leviano, a conduta de quem prefere viver honesta e dignamente soa


como uma censura para os demais.

Pense se a sua busca por aceitação não o está fazendo trilhar caminhos estranhos.

Recorde os exemplos e a figura do Cristo.

Ele conviveu com equivocados de toda ordem, mas preservou sua pureza.

Amparou os caídos e exortou-os ao bem.

Sua conduta reta e suas sábias palavras causaram muito desconforto.

As pessoas importantes da época acharam necessário matá-lo, para calar sua voz e fazer
cessar sua influência.

Reflita sobre isso e analise sua vida.

Veja se o conceito de normalidade não o está corrompendo.

Se você vive com tranqüilidade entre corruptos, talvez a corrupção já o tenha marcado.

Se sua companhia é muito apreciada pelos levianos e maledicentes, quiçá você


simplesmente seja um deles.

Se a pornografia não o choca mais, provavelmente você já a incorporou em sua vida.

Por certo não lhe causa alegria perceber-se afinado com a maldade do mundo.

Assim, ouse ser diferente.

Seja rigorosamente honesto, leal, íntegro e bondoso.

Pode ser que sua presença seja menos requisitada.

Mas sem dúvida você será mais feliz e terá paz em seu coração.

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.

www.momento.com.br
... Francisco Rebouças

> Nossos Filhos

Artigos

Filhos, responsabilidade nossa!

Uma das grandes responsabilidades que o ser humano recebe quando ainda no plano
espiritual se prepara para mais uma etapa reencarnatória, está justamente a de aceitar a
oportunidade de receber quando aqui estiver reencarnado, espíritos desequilibrados e
carentes na qualidade de filhos, justamente para as necessárias orientações e os devidos
carinhos de que se fizerem carentes, ajudando-os para o reajuste espiritual, pois,
geralmente são espíritos com grandes necessidades e enormes dificuldades evolutivas.

A doutrina espírita nos oferece os ensinos ministrados pelos Espíritos Superiores que
nos trouxeram os necessários esclarecimentos sobre o assunto, mostrando-nos a
responsabilidade de todo aquele que recebe de Deus, a sublime tarefa da Paternidade e
da Maternidade, e os benefícios ou malefícios de uma boa ou má criação desses seres
entregues à nossa responsabilidade de pais.

"(...) Ó espíritas! compreendei agora o grande papel da Humanidade; compreendei que,


quando produzis um corpo, a alma que nele encarna vem do espaço para progredir;
inteirai-vos dos vossos deveres e ponde todo o vosso amor em aproximar de Deus essa
alma; tal a missão que vos está confiada e cuja recompensa recebereis, se fielmente a
cumprirdes. Os vossos cuidados e a educação que lhe dareis auxiliarão o seu
aperfeiçoamento e o seu bem estar futuro. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada
mãe perguntará Deus: Que fizestes do filho confiado à vossa guarda? Se por culpa
Vossa ele se conservou atrasado, tereis como castigo vê-lo entre os Espíritos
sofredores, quando de vós dependia que fosse ditoso. Então, vós mesmos, assediados de
remorsos, pedireis vos seja concedido reparar a vossa falta; solicitareis, para vós e
para ele, outra encarnação em que o cerqueis de melhores cuidados e em que ele, cheio
de reconhecimento, vos retribuirá com o seu amor.

Não escorraceis, pois, a criancinha que repele sua mãe, nem a que vos paga com a
ingratidão; não foi o acaso que a fez assim e que vo-la deu. Imperfeita intuição do
passado se revela, do qual podeis deduzir que um ou outro já odiou muito, ou foi muito
ofendido; que um ou outro veio para perdoar ou para expiar. Mães! abraçai o filho que
vos dá desgostos e dizei convosco mesmas: Um de nós dois é culpado. Fazei-vos
merecedoras dos gozos divinos que Deus conjugou à maternidade, ensinando aos vossos
filhos que eles estão na Terra para se aperfeiçoar, amar e bendizer. Mas oh! muitas
dentre vós, em vez de eliminar por meio da educação os maus princípios inatos de
existências anteriores, entretêm e desenvolvem esses princípios, por uma culposa
fraqueza, ou por descuido, e, mais tarde, o vosso coração, ulcerado pela ingratidão dos
vossos filhos, será para vós, já nesta vida, um começo de expiação.

A tarefa não é tão difícil quanto vos possa parecer. Não exige o saber do mundo. Podem
desempenhá-la assim o ignorante como o sábio, e o Espiritismo lhe facilita o
desempenho, dando a conhecer a causa das imperfeições da alma humana.

Desde pequenina, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz da sua
existência anterior. A estudá-los devem os pais aplicar-se. Todos os males se originam
do egoísmo e do orgulho.

Espreitem, pois, os pais os menores indícios reveladores do gérmen de tais vícios e


cuidem de combatê-los, sem esperar que lancem raízes profundas. Façam como o
bom jardineiro, que corta os rebentos defeituosos à medida que os vê apontar na
árvore. Se deixarem se desenvolvam o egoísmo e o orgulho, não se espantem de
serem mais tarde pagos com a ingratidão. Quando os pais hão feito tudo o que devem
pelo adiantamento moral de seus filhos, se não alcançam êxito, não têm de que se
inculpar a si mesmos e podem conservar tranqüila a consciência. A amargura muito
natural que então lhes advém da improdutividade de seus esforços, Deus reserva grande
e imensa consolação, na certeza de que se trata apenas de um retardamento, que
concedido lhes será concluir noutra existência a obra agora começada e que um dia o
filho ingrato os recompensará com seu amor. (Cap. XIII, nº 19.)

Deus não dá prova superior às forças daquele que a pede; só permite as que podem ser
cumpridas. Se tal não sucede, não é que falte possibilidade: falta a vontade. Com efeito,
quantos há que, em vez de resistirem aos maus pendores, se comprazem neles. A esses
ficam reservados o pranto e os gemidos em existências posteriores. Admirai, no entanto,
a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Vem um dia em que ao
culpado, cansado de sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para
receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés.

As provas rudes, ouvi-me bem, são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de
um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus. E um
momento supremo, no qual, sobretudo, cumpre ao Espírito não falir murmurando, se
não quiser perder o fruto de tais provas e ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes,
agradecei a Deus o ensejo que vos proporciona de vencerdes, a fim de vos deferir o
prêmio da vitória. Então, saindo do turbilhão do mundo terrestre, quando entrardes no
mundo dos
Espíritos, sereis aí aclamados como o soldado que sai triunfante da refrega". ¹

Cabe-nos, portanto, seguir as sábias orientações dos mensageiros celestes, e nos


empenhar na nobre tarefa de encaminhar os nossos filhos para o crescimento e
desenvolvimento das virtudes de que são portadores, enfrentando a tarefa da paternidade
e da maternidade com responsabilidade, carinho e amor, certos de que Deus nos dará o
justo salário ao final da obra que realizarmos sob suas bênçãos e a colaboração dos
Espíritos Superiores.

Fonte:
1)E.S.E.- Cap.XIV, item 9.
2) Grifos nossos.
Francisco Rebouças.

... Marcelo Henrique Pereira

> 152 anos de "O Livro dos Espíritos"

Artigos

152 ANOS DE LUZ (1) / 152 ANOS DE O LIVRO DOS ESPÍRITOS

18 de abril de 1857 - 2009

Analisando-se a evolução da vida, percebe-se, de tempos em tempos, a eclosão de


inventos e descobertas a facilitar a vida material: o fogo, a roda, a escrita. Detendo-nos
nesta última, vamos nos aperceber que, além do desenvolvimento de um código de
comunicação, propício para cada povo e época, ainda tivemos a busca pela melhor
forma de acondicionar os registros, isto é, as diferenças de materiais nos quais a escrita
foi sendo aposta. Paredes, argila, tábuas de pedra, pergaminho, papiro, até chegar ao
papel, cada vez mais fino e branco, dos dias de hoje.

Do papel para a multiplicação dos escritos foi uma conseqüência natural. Precisavam, os
escritos, de divulgação. Gutemberg, a seu tempo (séc. XV) concebeu a imprensa e, logo,
a difusão do conhecimento tornou-se realidade. Isto tudo para chegarmos ao livro.

Sim, é dele que estamos a falar. Cento e cinqüenta e um anos (nosso título) é a
referência ao surgimento de O Livro dos Espíritos, a obra introdutória e fundamental da
Doutrina Espiritista.

Hippolyté Leon Denizard Rivail, o cientista, o pedagogo, o homem de letras e ciências


era dotado de espírito cético e questionador. Por certo, ouviu falar - pela imprensa da
época - dos fenômenos da pequena Hydesville (New York, EUA, 1848), inquietantes e
psicológicos, antevendo o instante da alvorada de luz sobre as trevas que viria bem em
seguida. Convidado por amigos, relutante até o último momento, veio a presenciar
algumas reuniões da aristocracia francesa, das mesas saltitantes e dançantes e das cestas
escreventes. Interessou-se por descobrir a “causa inteligente” do fenômeno observado.

Neste cenário surge o livro. Resultado do esforço do gênio céltico, do sacerdote druida,
do pregador e reformador tcheco, do professor francês... facetas de uma mesma
personalidade espiritual, o bom-senso reencarnado. Na obra, os Princípios Básicos do
Espiritismo: Divindade, Individualidade (da alma) ou Espiritualidade,
Transcomunicabilidade, Evolutividade, Pluralidade (das Existências e dos Mundos
Habitados). Repousa nas Leis Naturais.

E, para termos a exata idéia do objetivo desta obra, Kardec mais tarde haveria de
proclamar como indispensáveis dois elementos para o progresso do Espiritismo: o
estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar. Ora, é justamente pelo
livro (material ou virtual, como hodiernamente se vê) que se abrem as portas para a
difusão do conhecimento, ou sua popularização - o alcance das massas.

O livro, hoje é o precioso instrumento, a útil ferramenta de popularização da Doutrina


Espírita, para levá-lo a todas as pessoas, inclusive para quem não tem instrução, numa
linguagem acessível. Mas, como “não se entrega um aluno para ser alfabetizado para
quem não tem qualificação para tal”, há necessidade do estudo metódico, da
disponibilização de cursos e espaços democráticos de aprendizado. Aí o porquê das
sociedades espíritas, a fim de desenvolver os princípios da Ciência e difundir o gosto
pelos estudos sérios.

A grande preocupação do momento, quanto ao livro, reside na proliferação de livros


pseudo-espíritas (espiritismo x espiritualismo): romances, contos, psicografias, opiniões
pessoais, “achismos”, sem o critério da “universalidade do ensino dos Espíritos”, base
da tarefa kardequiana. Quais os critérios para publicar? Quais os critérios para indicar?
Que obras adotar e recomendar? “Preferível é rejeitar nove verdades, do que aceitar uma
só mentira”, tal a recomendação dada ao Codificador.

(1) O título original deste artigo é 151 no de Luz (2008)


http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/A_ERA_DO_ESPIRITO_Portal/ARTIGOS/Artigo
sGRs3/151_ANOS_DE_LUZ_MH.html

(*) “Doutorando em Direito. Assessor Administrativo da Associação Brasileira de


Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) e Membro do Colegiado Executivo da
Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA).”

... Luiz Carlos Formiga

> Contraceptivo - Titânio para prevenir aborto criminoso

Artigos
CONTRACEPTIVO definitivo - Titânio para prevenir aborto criminoso

Inicialmente vamos examinar três palavras: titânio, argumento e crise.

O titânio (Ti), nono elemento mais abundante da terra, é um metal, de toxicidade nula,
de brilho prateado, mais leve do que o ferro, quase tão forte quanto o aço, e quase tão
resistente à corrosão como a platina. Ele possui diversificado campo de utilização pelas
propriedades de tenacidade, leveza, resistência à corrosão, opacidade, inércia química,
elevado ponto de fusão, brancura, alto índice de refração e alta capacidade de dispersão.
É por isso muito utilizado nas indústrias aeronáuticas e aeroespaciais. Argumento é
raciocínio pelo qual se tira uma conseqüência ou dedução. Crise é manifestação violenta
e repentina de ruptura de equilíbrio. Estado de dúvidas e incertezas. Fase difícil, grave,
na evolução das coisas, dos fatos, das idéias. Tensão, conflito.

Do relacionamento entre diferentes surgem tensões, conflitos e deduções diversas. É


nesta hora que percebemos que a coexistência pacífica, proporcionada pela fraternidade
autêntica, é o ambiente favorável à tolerância das diferenças. Já se disse que num Estado
de Direito, a liberdade só tem sentido em condições de reciprocidade e o direito de
igualdade pressupõe o direito à diferença. Somos iguais, mas diferentes e, diferentes,
mas, sobretudo, iguais (1, 2, 3).

No livro (4) “As drogas e suas conseqüências” (crises) há uma pergunta no capítulo
Aids, Tóxicos e Reencarnação: o que fazer quando temos diversos passageiros no trem
da agonia? Qual o argumento para responder?

Certamente se falará sobre a necessidade imperiosa de se pensar em novas alternativas


para a abordagem do problema, com uma tentativa mais incisiva da correção das razões
sociais, psicológicas e espirituais, perpetuadoras do hábito. Pode-se argumentar que
nesse problema, as medidas a serem tomadas são muito mais de ordem educacional,
social, cultural, econômica e espiritual, do que propriamente de ordem médica e
psiquiátrica. O aborto também nos fará pensar suprapartidariamente o momento bio-
psico-cultural e o político-econômico-social.

A CPI do Aborto está trazendo um estado de dúvidas e incertezas. Com o título


“Mulheres seguram instalação da CPI do Aborto”, lemos no Último Segundo (5) que “o
presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), tem pela frente uma Comissão
Parlamentar de Inquérito com potencial para provocar muito barulho antes mesmo de
ser instalada. Um grupo de deputados vai fazer pressão para que se iniciem logo as
investigações sobre a prática de aborto.”
“O pedido de criação da comissão, feito pelo deputado Luiz Bassuma (PT-BA), foi
deferido pelo antecessor de Temer, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A instalação da CPI, no
entanto, esbarra numa representação contra o parlamentar espírita e baiano feita pela
Secretaria de Mulheres do PT, com o argumento de que Bassuma descumpre uma
resolução partidária de 2007 que aprova o direito ao aborto.”

Bassuma responde a um processo na Comissão de Ética do PT por ser declaradamente


contra o aborto. A deputada Cida Diogo (PT-RJ) destaca que a Bancada Feminina da
Câmara e a própria bancada petista da Casa é contrária à instalação desse colegiado.
Cida avalia que os líderes partidários não vão indicar os membros dessa CPI e, dessa
forma, a comissão será arquivada em poucos meses.

O deputado Geraldo Tenuta Filho (DEM-SP) – Bispo Ge, presidente da Igreja Renascer
– explica que a CPI "não será contra as mulheres", mas contra estabelecimentos que
promovam a prática. Tenuta avalia que a que a comissão será um "grande momento". "É
uma questão de vida e morte", “a prevenção do aborto é uma questão de saúde pública.”
O deputado Pastor Manoel Ferreira (PTB-RJ), da Assembléia de Deus, diz que "a CPI já
existe” e "é bom isso ser apurado".

Bassuma relata diálogo com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos


articuladores da candidatura do atual presidente da Casa: "Ele se comprometeu que o
Michel iria instalar a CPI do Aborto. "Eduardo Cunha reiterou ao Congresso em Foco a
promessa de campanha feita ao petista baiano: "a causa é boa. Vou honrar a confiança
que ele depositou". Cunha é evangélico e também contra o aborto.

A comissão será arquivada em poucos meses? Em 14 de novembro de 2008 o editorial


do Jornal do Brasil nos comentou o escândalo do mensalão e disse: “Justiça lenta é
inevitavelmente injusta, para o bem ou para o mal. Os inocentes pagam pela suspeita.
Os culpados ganham com a enrolação. A prescrição pesa nas contas e sempre acaba por
beneficiar os criminosos. Perde a sociedade.”

Uma médica-ministra disse que os contrários ao aborto são da idade média (7). Agora
que o titânio está sendo utilizado, como técnica do terceiro milênio, será que ela,
representante do governo, vai destinar esforços, e os nossos impostos, no sentido da
nova técnica de laqueadura? Indago porque o perfil das mulheres que praticam aborto,
segundo docentes-pesquisadores da UNB e UERJ já está bem definido.

A maioria dos abortos é feito por mulheres de 20 a 29 anos de idade, que trabalham, têm
pelo menos um filho, usam contraceptivos, são católicas e mantêm relacionamentos
estáveis. Elas têm até oito anos de escolaridade e estão no mercado de trabalho com
renda de até três salários mínimos, exercendo funções como as de doméstica e
cabeleireira. O perfil foi traçado por um estudo que reuniu resultados de mais de 2 mil
pesquisas sobre o aborto no Brasil, elaboradas nos últimos 20 anos, com base
principalmente em informações de mulheres atendidas em serviços públicos de saúde de
grandes cidades depois de induzir o aborto em casa. (6)

Apesar da fase difícil, grave, na evolução das coisas conseguimos vislumbrar uma luz
de prevenção no fundo da crise do aborto, embora não saibamos com precisão ainda
quais serão as conseqüências no domínio espiritual. O ato da laqueadura de trompas
sem indicação ético-moral poderá selecionar aqueles espíritos que serão futuramente
candidatas a fertilização in vitro, correndo o risco de serem como Nadya Suleman? (7).
Certamente será melhor utilizar-se do novo contraceptivo do que recorrer ao homicídio
“in útero”.

A notícia na Folha de Pernambuco merece destaque (8). É que o Brasil começou a


experimentar este novo tipo de contraceptivo definitivo, como alternativa ao método
tradicional da laqueadura. A novidade foi introduzida pelo Hospital do Servidor Público
do Estado de São Paulo. Trata-se de um dispositivo à base de titânio, importado dos
EUA, com espessura equivalente a um fio de cabelo e 4 centímetros de comprimento.
Esse produto é introduzido via vaginal até o tubo uterino, impedindo o movimento de
captação dos óvulos e o contato desses com os espermatozóides. Isso evita que a mulher
possa engravidar.

O Ministério da Saúde, que recentemente usou dinheiro do contribuinte para produzir


um documentário tendencioso a favor do aborto, agora possui nova técnica que pode ser
feita em cinco minutos e não requer afastamento por 15 dias do trabalho. Ninguém
precisa mais ter um "Temporão"!

REFERÊNCIAS

1. Roustaing, o Termômetro e os Direitos Fundamentais

2. O retrato de Bezerra e a Aristocracia intelecto-moral

3. Crises e Argumentos

4. O Vôo da Liberdade e O Vôo de uma alma

5. Mulheres seguram instalação da CPI do Aborto

6. Aborto em debate

7. Conselho investiga médico em nascimento de óctuplos

8. Brasil lança novo contraceptivo

1. CONTRACEPTIVO DEFINITIVO. TITÂNIO PARA PREVENIR ABORTO


CRIMINOSO
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.54.htm

2. A POLÍTICA DO ABORTO. O QUE SE QUER É "DESUMANIZAR" O


EMBRIÃO.
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.2.htm

3. ABORTO E SUICÍDIO - VÍDEO COM PLÍNIO DE OLIVEIRA


http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.20.htm

4. ANOMALIAS FETAIS: ABORTAR? UMA CRIANÇA ANENCÉFALA É UM


ESPÍRITO ENCARNADO?
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.6.htm

5. DIGNIDADE PARA A MULHER


http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.17.htm

6. DIREITO À VIDA. VOTE CERTO E EVITE QUE LEIS CONTRA A VIDA


SEJAM APROVADAS
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.32.htm

7. ESTUDO DAS CÉLULAS-TRONCO. ABORDAGEM CIENTÍFICA,


JURIDICA E ESPÍRITA.
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.25.htm

8. O ZIGOTO NO BANCO DOS RÉUS. VISÃO ESPÍRITA DAS PESQUISAS


QUE USAM CÉLULAS-TRONCO
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.16.htm

9. A "ONU" APROVA O ABORTO. NEGAR A REENCARNAÇÃO FAVORECE


A APROVAÇÃO DO ABORTO
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.47.htm

10. RAZÕES DA DOR. OS ESPÍRITAS E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


DIANTE DOS ANENCÉFALOS
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.30.htm

... Chico Xavier

> Sexualidade e Homosexualismo no Programa Pinga Fogo - 1971

Artigos
Sexualidade e Homosexualismo no Programa Pinga Fogo - 1971

Pergunta:
Como se explica o homossexualismo e a perturbação no comportamento sexual à luz da
Doutrina Espírita?

CHICO XAVIER:
Temos tido alguns entendimentos com espíritos amigos, notadamente com Emmanuel a
esse respeito. O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade ou bissexualismo,
como assexualidade, são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como
fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Tanto
quanto acontece com a maioria que desfruta de uma sexualidade dita normal, aqueles
que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos
do nosso maior respeito e acreditamos que o comportamento sexual da humanidade
sofrerá, no futuro, revisões muito grandes, porque nós vamos catalogar do ponto de
vista da Ciência todos aqueles que podem cooperar na procriação e todos aqueles que
estão numa condição de esterilidade.

A criatura humana não é só chamada à fecundidade física, mas também à fecundidade


espiritual.

Quando geramos filhos, através da sexualidade dita normal, somos chamados. . .


também à . . fecundidade espiritual, transmitindo aos nossos filhos os valores do espírito
de que sejamos portadores. Não nos referimos aqui aos problemas do desequilíbrio, nem
aos problemas da chamada viciação nas relações humanas.

Estamos nos referindo a condições da personalidade humana reencarnada, muitas vezes


portadora de conflitos que dizem respeito seja à sua condição de alma em prova ou à sua
condição de criatura em tarefa específica.

De modo que o assunto merecerá muito estudo. Nós temos um problema em matéria de
sexo na humanidade que precisaríamos considerar com bastante segurança e respeito
recíproco.

Vamos dizer: se as potências do homem na visão, na audição, nos recursos imensos do


cérebro, nos recursos gustativos, nas mãos, na tactividade com que as mãos executam
trabalhos manuais, nos pés, se todas essas potências foram dadas ao homem para a
educação, para o rendimento no bem, isto é, potências consagradas ao bem e à luz, em
nome de Deus, seria o sexo em suas várias manifestações sentenciado às trevas?

Francisco Cândido Xavier

Entrevista concedia à extinta Rede Tupi de Televisão, São Paulo,


programa "Pinga Fogo", em 28 de julho de 1971
... Jáder Sampaio

> Estupro de menor e aborto - que pensar?

Artigos

Estupro de menor e aborto - que pensar?

Recentemente veio à mídia o caso do estupro de uma criança de 9 anos pelo padrasto. A
menina engravidou de gêmeos. A equipe médica que acompanhava o caso , por
considerar a gravidez de alto risco para a pequena gestante e amparada pela lei brasileira
que permite o aborto em caso risco de vida da mãe e em caso de estupro, optou pelo
aborto dos fetos.

Não fosse polêmico suficiente o caso em si, ele ganhou novamente a mídia quando o
arcebispo de Olinda e Recife excomungou a criança e a equipe médica, mas apenas
advertiu o padrasto.

Hoje a imprensa noticia um novo caso de estupro de criança de 11 anos pelo pai adotivo
no Rio Grande do Sul. Os casos de violência sexual em família no Brasil infelizmente
acontecem, e têm sido objeto de preocupação das autoridades, que mantém programas
de incentivo à denúncia, tanto de violência sexual quanto de prostituição infantil, mas
em alguns lugares do país a população, que convive com situações cotidianas de
exclusão social, não se preocupa em denunciar a prostituição infantil que às vezes
acontece nas ruas e beiras de estrada.

Todos conhecem a posição contrária do Espiritismo com relação ao aborto. A Federação


Espírita Brasileira tem mantido há anos uma campanha chamada "Em Defesa da Vida",
na qual critica abertamente o aborto. Em entrevista ao jornal Espírita Mineiro do
primeiro bimestre de 2009 ( http://www.uemmg.org.b ) critiquei o argumento "meu
corpo, minha escolha" geralmente utilizado pelos defensores do aborto.

Este caso, no entanto, ganha um contorno um pouco diferente, uma vez que envolve o
risco de vida da gestante. A opinião dos espíritos, ante o questionamento de Allan
Kardec mostra-se coerente com o argumento da defesa da vida como valor:

"No caso em que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá
crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?
- É preferível sacrificar o ser que ainda não existe a sacrificar o que já existe."
(O Livro dos Espíritos, questão 359, tradução de Evandro Noleto Bezerra)

A posição da equipe médica, que também foi posta em questão, parece-nos de acordo
com a ética. Ela cumpriu a lei civil brasileira e tomou a difícil decisão de optar em
conjunto com a responsável pela criança-gestante (no caso, a mãe dela) qual o melhor
procedimento para preservar a vida e a integridade da menina. A criança foi ouvida, mas
sua vontade está sempre atrelada às decisões de sua responsável legal. Precisamos levar
em consideração que uma criança de nove anos é muito influenciável pelo que lhe
dizem os adultos, neste caso, a mãe e os médicos.

Não me parece estranho, que em uma perspectiva de caridade, respeite-se os direitos do


padrasto e invista-se na possibilidade de sua recuperação, apesar de todo o mal que ele
causou às crianças sob sua responsabilidade.

Causa espanto que uma criança seja responsabilizada e, de certa forma punida (pela
autoridade eclesiástica), por decisões que foram tomadas e certamente lhe foram
informadas como necessárias para a preservação de sua vida e que uma equipe médica
seja admoestada por dar cumprimento à premissa básica da lei brasileira.

Fonte: http://espiritismocomentado.blogspot.com

... Maria José Miranda Pereira

> Aborto, a quem interessa?

Artigos

Aborto: a quem interessa?


Maria José Miranda Pereira

promotora de Justiça do Tribunal do Júri de Brasília (DF), membro da Associação


Nacional Mulheres pela Vida
"Certos fatos sobre o aborto precisam ser entendidos: nenhum país já reduziu o
crescimento de sua população sem recorrer ao aborto" (Relatório Kissinger, p. 182).

Uma pesquisa da Sensus realizada em abril de 2005 a pedido da Confederação Nacional


de Transportes (CNT) revelou que 85% dos brasileiros são contrários à prática do
aborto. Mesmo em caso de violência sexual, 49,5% são contrários, enquanto 43,5% são
favoráveis e 7% não responderam [1].

A Folha de S. Paulo recentemente mostrou sua admiração pela "queda abissal" (sic) da
aprovação pública ao aborto:

"Um dos aspectos que mais atraíram a atenção das pessoas ouvidas pela Folha a respeito
dos resultados das chamadas ´questões morais´ da pesquisa Datafolha foi a queda
abissal no índice de moradores de São Paulo que apóiam a legalização do aborto. Saiu
de 43% em 1994, quando a maioria da população se declarava a favor da
descriminalização, para 21% em 1997, já em segundo nas opções, para apenas 11% na
pesquisa atual..." [2].

Paradoxalmente, estamos vendo parte do governo e de ONGs feministas numa busca


frenética da liberação total do aborto. Por iniciativa do governo federal, foi instalada
uma Comissão Tripartite para rever a legislação punitiva de tal crime. A Comissão foi
composta por três partes: a primeira, abortistas do Poder Executivo; a segunda,
abortistas do Poder Legislativo; a terceira, abortistas das ONGs financiadas com muitos
dólares "representando" (?) a sociedade civil. Lamentavelmente, a Associação Nacional
Mulheres pela Vida não foi convidada. O anteprojeto (ou "proposta normativa")
resultante do trabalho de tal Comissão dificilmente poderia ter saído pior.

No dia 27 de setembro de 2005, a secretária especial de políticas para mulheres Nilcéia


Freire, diretamente subordinada ao Presidente da República, entregou à Câmara dos
Deputados a "proposta normativa" que "estabelece o direito à interrupção voluntária da
gravidez, assegura a realização do procedimento no âmbito do sistema único de saúde,
determina a sua cobertura pelos planos privados de assistência à saúde e dá outras
providências" [3].

Segundo o texto da justificação, "a grande inovação da proposta [...] diz respeito à
consagração da interrupção voluntária da gravidez como um direito inalienável de
toda mulher [grifo nosso], prevista no primeiro artigo da proposição".

Diz o mesmo texto que o anteprojeto "propõe ampla descriminalização do


procedimento [grifamos], com exceção daquele provocado contra a vontade da mulher.
Dessa forma, revoga os artigos 124 a 128 do Código Penal, exceto o art. 125..."

Em outras palavras: o anteprojeto revoga todas as hipóteses de crime de aborto


previstas no Código Penal, com apenas duas exceções: quando o aborto é praticado
contra a vontade da gestante e quando do aborto resulta lesão corporal ou morte da
gestante. De acordo com a proposta, a criança por nascer deixa de ter qualquer
proteção penal. Só a gestante é considerada sujeito de direitos.
O artigo 3° estabelece condições para que o aborto seja feito: até doze semanas de
gestação (três meses) por simples deliberação da gestante; até vinte semanas de gestação
(cinco meses) se a gravidez resultou de crime contra a liberdade sexual (entre os quais,
o estupro); até nove meses, se houver "grave risco à saúde da gestante"; também até
nove meses em caso de má-formação fetal. As previsões, portanto, são amplíssimas.

E se alguém descumprir essas condições? Por exemplo: se uma gestante de oito meses
decidir esquartejar seu bebê simplesmente porque não quer dar à luz, o que acontecerá?
Nada. Absolutamente nada. Desde que o aborto seja feito com seu consentimento, nem
ela nem o médico responderão criminalmente.

Ou seja: as pouquíssimas restrições impostas pelo artigo 3° na verdade são nulas.


Sabedores de que a população repudia com mais veemência o aborto quando feito
contra um bebê no final da gestação, querem enganar a sociedade, deixando-a acreditar
que o aborto por livre vontade da mãe só poderia ser feito até três meses, quando, em
verdade, sua inobservância não trará qualquer sanção penal. Em outras palavras: o
anteprojeto libera totalmente o aborto no País.

--------------------------------------------------------------------------------

A quem isso interessa?

É de causar perplexidade o que está no artigo 4°: os planos privados de saúde serão
obrigados a cobrir as despesas com aborto. Poderão eles excluir procedimentos
obstétricos, mas não poderão excluir "os necessários à interrupção voluntária da
gravidez realizada nos termos da lei" (sic). Pasmem! Para o governo, o aborto
provocado é mais importante que o nascimento! A morte tem prioridade sobre a vida! A
quem isso interessa?

--------------------------------------------------------------------------------

Mortes maternas

Uma das fraudes mais utilizadas para defender a legalização do aborto é dizer que
muitas gestantes morrem por causa de "abortos mal feitos". A solução seria legalizar tal
prática, que garantiria às grávidas o acesso ao "aborto seguro". Raciocínio análogo
levaria à conclusão de que seria necessário legalizar o roubo, a fim de evitar que ladrões
inexperientes, atuando à margem da lei, acabassem morrendo em "roubos mal feitos".
Por uma questão de isonomia, todos teriam direito a um "roubo seguro".

Deixando de lado, porém, o mérito de tal argumento pró-aborto, examinemos quantas


mulheres morrem a cada ano em decorrência de abortos. Centenas de milhares?
Dezenas de milhares? Alguns milhares? Nada disso. Veja-se a tabela abaixo, extraída do
Departamento de Informação e Informática do SUS - DATASUS [4]:

Número de mulheres mortas em gravidez que terminou em aborto


Ano
1996 - 146
1997 - 163
1998 - 119
1999 - 147
2000 - 128
2001 - 148
2002 - 115

Como se percebe, o número anual de mortes maternas em decorrência do aborto não


chega a duzentos! E este número pode ser reduzido a zero se o governo, ao invés de
incentivar, combater a prática do aborto.

Uma outra fraude correlata é a afirmação de que, nos países em que o aborto é legal, a
morte materna é bem menor do que nos outros, onde ele é proibido.

Ora, "mais de 59% das mortes maternas do mundo ocorrem nos países que têm as leis
menos restritivas. Na Índia, por exemplo, onde existe uma legislação que permite o
aborto em quase todos os casos desde 1972, é onde mais mortes maternas ocorrem. A
cada ano, registram-se cerca de 136.000 casos, equivalentes a 25% do total mundial,
que para o ano 2000 se calculou em 529.000" [5].

"Nos países desenvolvidos também se pode ver que não há uma correlação entre a
legalidade do aborto e os índices de mortalidade materna. A Rússia, com uma das
legislações mais amplas, tem uma taxa de mortalidade materna alta (67 por 100.000
nascidos vivos), seis vezes superior à média. Em contraste, a Irlanda, onde o aborto é
ilegal praticamente em todos os casos, possui uma das taxas de mortalidade materna
mais baixas do mundo (5 por 100.000 nascidos vivos), três vezes inferior à do Reino
Unido (13 por 100.000 NV) e à dos Estados Unidos (17 por 100.000 NV), países onde o
aborto é amplamente permitido e os padrões de saúde são altos" [6].

--------------------------------------------------------------------------------

A quem, portanto, interessa legalizar o aborto?

Para esclarecer o que está por trás de tudo isso, convém que leiamos um documento,
hoje não mais confidencial, de 10 de dezembro de 1974, de autoria do então secretário
de Estado Henry Kissinger, intitulado National Security Study Memorandum 200
(abreviadamente NSSM 200): Implications of Worldwide Population Growth for US
Security and Overseas Interests . Em bom português: Memorando de Estudo de
Segurança Nacional 200: Implicações do Crescimento Populacional Mundial para
a Segurança e os Interesses Ultramarinos dos Estados Unidos. O documento,
conhecido como Relatório Kissinger, foi entregue pelo Conselho Nacional de
Segurança dos Estados Unidos ao presidente americano Gerald Ford. Somente em 1989
a Casa Branca desclassificou o documento, que agora é de domínio público. Nesse
relatório afirma-se que o crescimento da população mundial é uma ameaça para os
Estados Unidos, e que é preciso controlá-la por todos os meios: anticoncepcionais,
esterilização em massa, criação de mentalidade contra a família numerosa, investimento
maciço de milhões de dólares em todo o mundo.
Henry Kissinger percebeu o que há quatro milênios o Faraó do Egito já percebera: a
população é fator de poder. Seu simples crescimento numérico já é assustador:

"Eis que o povo dos filhos de Israel tornou-se mais numeroso e mais poderoso do que
nós. Vinde, tomemos sábias medidas para impedir que ele cresça´. [...]. Então o Faraó
ordenou a todo o seu povo: ´Jogai no Rio [o Nilo] todo menino que nascer. Mas deixai
viver as meninas´" [7].

Para tentar impedir o crescimento demográfico dos países pobres, mantendo-os sob o
domínio econômico e político dos países desenvolvidos, já se realizaram várias
Conferências Mundiais: em Bucareste, Romênia (1974), na cidade do México (1984) e
no Cairo (Egito, a terra do Faraó!) em 1994.

O Relatório Kissinger concentra seu plano de controle demográfico em treze países-


chave, entre os quais, o Brasil:

"A assistência para o controle populacional deve ser empregada principalmente nos
países em desenvolvimento de maior e mais rápido crescimento onde os EUA têm
interesses políticos e estratégicos especiais. Estes países são: Índia, Bangladesh,
Paquistão, Nigéria, México, Indonésia, Brasil, Filipinas, Tailândia, Egito, Turquia,
Etiópia e Colômbia" [8].

O disfarce do controle demográfico foi cuidadosamente planejado:

"Os EUA podem ajudar a diminuir as acusações de motivação imperialista por trás do
seu apoio aos programas populacionais declarando reiteradamente que tal apoio vem da
preocupação que os EUA têm com:

a) o direito de cada casal escolher com liberdade e responsabilidade o número e o


espaçamento de seus filhos e o direito de eles terem informações, educações e meios
para realizar isso; e

b) o desenvolvimento social e econômico fundamental dos países pobres nos quais o


rápido crescimento populacional é uma das causas e consequência da pobreza
generalizada" [9].

É forçoso reconhecer que a afirmação repetida de tais inverdades acabou penetrando nas
mentes brasileiras, que não enxergam a torpe motivação imperialista das políticas
antinatalistas. A instrumentalização das mulheres também está prevista no Relatório
Kissinger, motivo pelo qual os grupos feministas são sobejamente financiados por
instituições de controle demográfico:

"A condição e a utilização das mulheres nas sociedades dos países subdesenvolvidos
são de extrema importância na redução do tamanho da família. Para as mulheres, o
emprego fora do lar oferece uma alternativa para o casamento e maternidade precoces, e
incentiva a mulher a ter menos filhos após o casamento... As pesquisas mostram que a
redução da fertilidade está relacionada com o trabalho da mulher fora do lar..." [10].

Na Conferência de Pequim (ou Beijing) sobre a Mulher, de 1995, investiu-se


enormemente, em nível internacional, para compelir os países a legalizarem o aborto,
reconhecendo-o como um "direito da mulher". De fato, o Relatório Kissinger considera
o aborto como crucial para o controle demográfico. Eis suas palavras textuais:

"Certos fatos sobre o aborto precisam ser entendidos: nenhum país já reduziu o
crescimento de sua população sem recorrer ao aborto" [11].

Em Brasília, atua um eficiente "lobby" pró-aborto chamado CFEMEA (Centro


Feminista de Estudos e Assessoria). Essa ONG monitora cuidadosamente as
proposições legislativas do Congresso Nacional e está sempre alerta para as estratégias
mais favoráveis para a aprovação de projetos pró-aborto. Vejamos o que o CFEMEA
diz de si mesmo:

"Desde 1992, o Centro Feminista desenvolve o Programa Direitos da Mulher na Lei e


na Vida, [...]. O Programa assumiu a feição de Implementação das Plataformas de
Beijing´95 e Cairo´94 no Brasil em 1995. Para realizar este trabalho, o CFEMEA
conta com o apoio de organizações da cooperação internacional" [12] (grifo nosso).

As organizações da cooperação internacional que financiam o CFEMEA - e também


vários outros grupos pró-aborto - são, entre outras, a Fundação Ford, a Fundação Mac
Arthur, o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e o Fundo das Nações
Unidas para a Mulher (UNIFEM). Isso explica porque as feministas, embora em
número reduzidíssimo, conseguem tanto espaço nos meios de comunicação social,
dando a entender que representam o pensamento "da mulher".

O imenso empenho do governo em favorecer o aborto pode ser explicado, em parte,


pela submissão aos organismos multilaterais de crédito, como o Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional. De fato, tais instituições financeiras "condicionam toda
ajuda econômica externa ao cumprimento de metas demográficas pautadas em cada
empréstimo" [13].

Está em julgamento perante o Supremo Tribunal Federal a famosa Argüição de


Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54 (ADPF 54), que pretende que a
Suprema Corte declare, com eficácia contra todos e efeito vinculante, que o aborto de
bebês anencéfalos não constitui aborto, mas mera "antecipação terapêutica de parto"
(ATP, na linguagem dos abortistas). Convém lembrar que, em tal ação, o Instituto
ANIS, uma ONG pró-aborto muito atuante, já na petição inicial, oferece-se para ser
admitido no feito como "amicus curiae". Por coincidência, o ANIS [14], dirigido pela
antropóloga Débora Diniz, é financiado pelas Fundações Ford e Mac Arthur, que
também financiam o CFEMEA.

O plano de se obter a liberação do aborto eugênico (apelidado, eufemisticamente, de


ATP) por via judicial não é novo. Periodicamente o Fundo das Nações Unidas para a
População (FNUAP) publica um relatório ("inventory") acerca dos projetos de
população ("population projects") em todo o mundo, Na edição de 1996, na seção
relativa ao Brasil, tal documento relatava uma doação da Fundação Mac Arthur de US$
72.000 para "promover a discussão e demonstrar, com base em julgamentos anteriores,
que se pode obter decisão da Justiça para interromper a gravidez no caso de sérias
anomalias do feto. Duração: três anos. 1996-1999" [15].
É impossível, nesse curto espaço, enunciar todas as estratégias e desmascarar todas as
fraudes empregadas para obter o domínio político de nosso país, impedindo que o Brasil
gere brasileiros. Aos interessados em aprofundar o tema, recomendo o excelente livro
do jurista argentino Jorge Scala, intitulado "IPPF: a multinacional da morte",
recentemente traduzido para o português. A IPPF (Federação Internacional de
Planejamento familiar) é a maior rede privada de controle de natalidade, com sede em
Londres e filiais espalhadas em cerca de 180 países, entre os quais o Brasil, cuja filial
chama-se BEMFAM. A IPPF dispõe no Brasil de um braço legislativo chamado Grupo
Parlamentar de Estudos em População de Desenvolvimento (GPEPD), um poderoso - e
bem financiado - lobby composto de parlamentares encarregados de transformar em lei
os planos antinatalistas.

--------------------------------------------------------------------------------

De lege ferenda

Na qualidade de mulher e de promotora de justiça, constato que, de todos os crimes


contra a vida, o aborto é o mais paradoxal, o mais covarde de todos os assassinatos. Os
meios empregados são insidiosos ou cruéis, Incluindo envenenamento, tortura ou asfixia
(art. 121, §2°, III, CP). O ofendido sempre é absolutamente indefeso (art, 121, §2°, IV,
CP). É praticado contra um descendente (art. 61, II, e, CP), contra uma criança (art. 61,
II, h, CP) e, muitas vezes, por um médico que tem por ofício o dever de defender a vida
(art. 61, II, g, CP). No entanto, a pena é ridiculamente pequena. Tão pequena que o
autor pode beneficiar-se da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei
9099/1995). Embora o aborto seja a violação do mais precioso bem jurídico - a vida -
praticado contra o mais inocente e indefeso dos entes humanos - a criança por nascer -
ele não foi até hoje colocado na lista dos crimes considerados hediondos (Lei
8072/1990).

Se as feministas, instruídas por seus financiadores, têm sua "proposta normativa" para a
revisão da lei penal do aborto, eu também tenho a minha. É uma sugestão simples que,
se acolhida, colocará o Brasil na vanguarda da defesa dos direitos humanos:

Os artigos que incriminam o aborto (124 a 128) poderiam todos ser excluídos do
Código Penal sem nenhum prejuízo para a tutela do nascituro, contanto que o caput do
artigo 121 sofresse uma ligeira alteração:

Art. 121- Matar alguém, fora ou dentro do organismo materno.

Assim haveria total equiparação entre nascidos e nascituros quanto à violação do direito
à vida, acabando-se, de uma vez por todas, com qualquer forma de preconceito de lugar
(dentro ou fora do organismo materno). Essa nova redação incriminaria também quem
concorresse, por ação ou omissão, para a morte do bebê. A modalidade culposa do
aborto seria também punível, admitindo-se, porém, o perdão judicial (art. 121, §5°, CP).
Obviamente qualquer aborto doloso seria, então, homicídio qualificado, o que
desestimularia os matadores de criancinhas a abrir o lucrativo negócio de uma clínica de
abortos. O que vem ocorrendo, entretanto, é uma extrema eficiência das estratégias dos
aguerridos lutadores pelo "direito" ao aborto, que tão bem dissimulam o verdadeiro
propósito, propagandeando a "nobre intenção de ajudar a mulher".
--------------------------------------------------------------------------------

Notas

1. Disponível em < http://www.sensus.com.br/doc/PN19042005.doc >


2. DÁVILA, Sérgio. MANIR, Mônica. Posições extremadas sobre aborto e maconha
surpreendem estudiosos. Folha de S. Paulo. São Paulo, 25 jan. 2004, Folha Especial.
3. A íntegra do anteprojeto está disponível em <
http://200.130.7.5/spmu/docs/proposta%20normativa.pdf >
4. Acessível a qualquer internauta em < http://www.datasus.gov.br >
5. Observatorio Regional para la Mujer de América Latina y el Caribe (ORMALC).
Falsas creencias sobre el aborto y su relación con la salud de la mujer. Septiembre 2005.
p. 3. Tradução nossa. Disponível em < http://www.lapop.org/pdf/dossieraborto.pdf >
6. Idem.
7. Êxodo 1,8-10.22.
8. NSSM 200, Implications of Worldwide Population Growth for US Security and
Overseas Interests, páginas 14 e 15, parágrafo 30. Tradução nossa.
9. NSSM 200, p. 115. Tradução nossa.
10. NSSM 200, p. 151. Tradução nossa.
11. NSSM 200, p. 182. Tradução nossa.
12. Ver < http://www.cfemea.org.br/quemsomos/apresentacao.asp >
13. SCALA, Jorge. IPPF: a multinacional da morte. Anápolis: Múltipla Gráfica, 2004.
p.16.
14. Ver < http://www.anis.org.br/parceiro/parceiro.cfm >
15. Fonte oficial: FNUAP - Inventory of Population Projects in Developing Countries
Around the World – 1996. Tradução nossa

Autora:
Maria José Miranda Pereira

Sobre o texto:
Texto inserido no Jus Navigandi nº 1090 (26.6.2006).
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8562
Elaborado em 05.2006.

Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte
forma:
PEREIRA, Maria José Miranda. Aborto: a quem interessa?. Jus Navigandi, Teresina,
ano 10, n. 1090, 26 jun. 2006. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8562>. Acesso em: 15 mar. 2009.

... Walter Ceneviva

> Estupro + aborto = excomunhão


Artigos

Interpretando a lei e vendo o direito canônico, o arcebispo escolheu um modo


inoportuno para marcar a posição da igreja
--------------------------------------------------------------------------------

A ADIÇÃO RESOLVIDA pelo reverendíssimo arcebispo José Cardoso Sobrinho


coroou seus 75 anos de vida com uma notoriedade na qual se mesclam as parcelas
humanas do título, mais o direito canônico e o direito penal em um país católico.
Quanto ao primeiro, sabe o bispo que, na história, a posição da Igreja Católica variou. A
posição mais branda surgiu no século 13, devido a uma interpretação do Êxodo (21, 22,
23), modificada no século 16, quando voltou à firme reprovação do aborto.

Fui pesquisar a matéria, em várias fontes jurídicas. Também tratei de ver posições de
outras igrejas cristãs em mais de um país. Se o resultado interessar ao leitor, aí vai.
Artigo de Pio Cipriotti na "Enciclopédia Del Diritto" (Giuffrè), tratando do assunto no
direito canônico, encontrou referência ao aborto terapêutico. Neste, o risco para a mãe,
equiparado a verdadeiro estado de necessidade, abranda a punição, mas não a exclui.
Chega conforme as circunstâncias, à dispensa da chamada "sententia lata", da
excomunhão automática, aplicada pelo bispo, para todos os que, diretamente, tiveram
interferência no abortamento. A interpretação radical predominou para o bispo, afastada
a mais branda, viável em circunstâncias como as do estupro e as do sério risco para a
vida da menina-gestante de gêmeos aos nove anos de idade.

Fora do catolicismo, a opinião mais severa é partilhada em segmentos muçulmanos da


Nigéria, em que uma jovem estuprada não teve acolhida para sua queixa, isento, porém,
o estuprador. Avaliações menos drásticas existem em países cristãos em que
predominam as religiões protestantes. Contemplam, com maior abertura, o aborto
terapêutico e o desejado pela estuprada.

No Brasil, a lei é bem clara. No aborto praticado pela gestante ou com seu
conhecimento (Código Penal, art. 124), a pena é de detenção de um a três anos. Nesse
caso, dá-se a interrupção da gravidez, sem considerar o tempo decorrido desde a
concepção ou qualquer risco para a paciente. A lei brasileira distingue a conduta para
aborto praticado sem o consentimento da gestante (reclusão de três a dez anos).

A forma mais agravada é a do parágrafo único do artigo 126, cabível quando a gestante
não é maior de 14 anos ou é débil mental ou, ainda, se seu consentimento para abortar é
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

O caso da menina estuprada está referido no artigo 128 do Código Penal: não se pune o
aborto praticado por médico, considerado imprescindível para salvar a vida da gestante
ou na gravidez advinda de estupro. O abortamento deve ser precedido pelo
consentimento da gestante ou, sendo ela incapaz, de seu representante legal.

O estupro, em nossa lei penal, é crime contra a liberdade sexual, muito mais grave que o
aborto. Consiste em constranger mulher à conjunção carnal mediante violência (real ou
presumida) ou grave ameaça, sujeitando o autor à pena de reclusão de seis a dez anos,
nos termos da lei nº 8.072 /90, que alterou o artigo 213 do Código Penal.

Interpretando a lei e vendo o direito canônico, ao dizer que o estupro pode ser perdoado,
mas o aborto não, o arcebispo escolheu um modo inoportuno para marcar a posição da
igreja. Esqueceu as alternativas da penitência e do perdão, antes da excomunhão radical.

Fonte: Folha de São Paulo


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1403200902.htm

... Ivone Gebara - Teóloga

> O cisma da Hierarquia Católica

Artigos

Os últimos acontecimentos envolvendo a interrupção da gravidez da menina de nove


anos em Pernambuco evidenciaram um fato que já estava presente desde muito tempo
na vida da Igreja Católica Romana. Os bispos perderam o senso de governarem unidos
aos desafios da história e à fé da comunidade e julgam-se mais fiéis ao Evangelho de
Jesus do que a própria comunidade. Por manterem uma compreensão centralizadora e
anacrônica de sua função e da teologia que lhe corresponde desviaram-se de muitos
sofrimentos e dores concretas das pessoas, sobretudo das mulheres. Passaram a ser
defensores de princípios abstratos, de incertas hipóteses futuríveis e pretenderam até ser
advogados de Deus. A este acontecimento de distanciamento chamo de cisma. Os
bispos tanto a nível nacional quanto internacional e aqui incluo também o Papa, como
bispo de Roma, tornaram-se cismáticos em relação à comunidade de cristãos católicos,
isto é, romperam com grande parte dela em várias situações. O incidente em relação a
proibição da interrupção da gravidez da menina do qual Dom José Cardoso Sobrinho,
arcebispo de Olinda e Recife foi um dos protagonistas é um exemplo irrefutável. Sem
dúvida há muitas pessoas e grupos que pensam como eles e que reforçam seu cisma.
Faz parte do pluralismo no qual sempre vivemos.

A hierarquia da Igreja, servidora da comunidade dos fiéis não pode em certas questões
separar-se do sentido comum e plural da vivência da fé. Não pode igualmente para
certos assuntos de foro pessoal e mesmo grupal substituir-se à consciência, às decisões e
ao dever das pessoas. Pode emitir sua opinião, mas não impô-la como verdade de fé.
Pode expressar-se, mas não forçar pessoas a assumir suas posições. Nesse sentido, não
pode instaurar uma guerra santa em nome de Deus para salvaguardar coisas que julga
serem vontade e prerrogativa de Deus. A tradição teológica na linha mais profética e
sapiencial nunca permitiu que nenhum fiel mesmo bispo falasse em nome de Deus. E
isto porque o deus do qual falamos fala em nosso nome e tem a nossa imagem e
semelhança. O Sagrado Mistério que atravessa tudo o que existe é inacessível aos
nossos julgamentos e interpretações. O Mistério que em tudo habita não precisa de
representantes dogmáticos para defender seus direitos. Nossa palavra é nada mais e
nada menos do que um balbuciar de aproximações e de idéias mutáveis e frágeis,
inclusive sobre o inefável mistério. É nessa perspectiva que também não se pode obrigar
que a Igreja hierárquica torne, por exemplo, a legalização do aborto sua bandeira, mas
simplesmente que não impeça que uma sociedade pluralista se organize conforme as
necessidades de suas cidadãs e cidadãos e que estes tenham o direito de decidir sobre
suas escolhas.

As comunidades cristãs assim como as pessoas são plurais. Num mundo tão diverso e
complexo como o nosso não podemos admitir que apenas a opinião de um grupo de
bispos, homens celibatários e com uma formação limitada ao registro religioso, seja a
expressão do seguimento da tradição do Movimento de Jesus. A comunidade cristã é
mais do que a igreja hierárquica. E, a comunidade cristã é na realidade múltiplas
comunidades cristãs e estas são igualmente muitas pessoas cada uma com sua história,
suas escolhas e decisões próprias diante da vida.

Impressiona-me o anacronismo das posturas filosóficas e éticas episcopais começando


pelos bispos brasileiros e continuando nas instâncias romanas como se pode ler na
entrevista que o cardeal Giovanni Batista Re, presidente da Congregação para os bispos,
deu a revista italiana Stampa concordando com a postura dos bispos brasileiros. Os
tempos mudaram. Urge, pois, que a teologia dos bispos saia de uma concepção
hierárquica e dualista do Cristianismo e perceba que é na vulnerabilidade às múltiplas
dores humanas que poderemos estar mais próximos das ações de justiça e amor. É claro
que sempre poderemos errar inclusive querendo acertar. Esta é a frágil condição
humana.

Creio que nossas entranhas sentem em primeiro lugar as dores imediatas, as injustiças
contra corpos visíveis e é a eles que temos o primeiro dever de assistir. A consternação
e a comoção em relação ao sofrimento da menina de nove anos foram grandes. E isto
porque é a esta vida presente e atuante, a esta vida de menina feita mulher violada e
violentada em nosso meio que devemos o respeito e o cuidado primeiros. Por isso como
membro da comunidade cristã, louvo a atitude do Dr. Rivaldo Mendes de Albuquerque
e da equipe do CISAM de Recife assim como da mãe da menina e de todas as
organizações e pessoas que acudiram a ela neste momento de sofrimento que certamente
deixará marcas indeléveis em sua vida.
Dirão alguns leitores que minha postura não é a postura oficial da Igreja Católica
Romana. Entretanto, o que significa hoje a palavra oficial? O que é mesmo Igreja
oficial? A instituição que se arvora como representante de seu deus e ousa condenar a
vida ameaçada de uma menina? A instituição que se considera talvez a melhor
seguidora do Evangelho de Jesus?

Não identifico a Igreja à hierarquia católica. A hierarquia é apenas uma parte ínfima da
Igreja.

A Igreja é a comunidade de mulheres e homens espalhada pelo mundo, comunidade dos


que estão atentos aos caídos nas estradas da vida, aos portadores de dores concretas, aos
clamores de povos e pessoas em busca de justiça e alívio de suas dores hoje. A Igreja é
a humanidade que se ajuda a suportar dores, a aliviar sofrimentos e a celebrar
esperanças.

Continuar com excomunhões, inclusões ou exclusões parece cada vez mais incentivar o
crescimento de relações autoritárias desrespeitosas da dignidade humana, sobretudo,
quando surgem de instituições que pretendem ensinar o amor ao próximo como a lei
maior. De quem Dom José Cardoso e alguns bispos se fizeram próximos nesse caso?
Dos fetos inocentes, dirão eles, aqueles que precisam ser protegidos contra o
"Holocausto silencioso" cometido por algumas mulheres e seus aliados. Na realidade,
fizeram-se próximos do princípio que defendem e se distanciaram da menina agredida e
violentada tantas vezes. Condenaram quem levantou a menina caída na estrada da vida e
salvaguardaram a pureza de suas leis e a vontade de seu deus. Acreditam que a
interrupção da gravidez da menina seria uma lesão ao senhorio de Deus. Mas as guerras,
a crescente violência social, a destruição do meio ambiente não seriam igualmente
lesões que mereceriam denúncia e condenação maior? Perdoem-me se, sem querer
acabo julgando pessoas, mas diante da inconsistência de certos argumentos e da
insensibilidade aos problemas vividos pela menina de nove anos uma espécie de ira
solidária me assola as entranhas.

De fato um cisma histórico está se construindo e tem crescido cada vez mais em
diferentes países. A distancia entre os fiéis e uma certa hierarquia católica é marcante. O
incidente em relação à interrupção da gravidez da menina pernambucana é apenas um
entre os tantos atos de autoritarismo e desconhecimento da complexidade da história
atual que a hierarquia tem cometido.

Na medida em que os que se julgam responsáveis pela Igreja se distanciam da alma do


povo, de seu sofrimento real estarão sendo os construtores de um novo cisma que
acentuará ainda mais o abismo entre as instituições da religião e a simples vida
cotidiana com sua complexidade, desafios, dores e pequenas alegrias. As conseqüências
de um cisma são imprevisíveis. Basta aprendermos as lições da história passada.

Termino este breve texto lembrando do que está escrito no Evangelho de Jesus de
diferentes maneiras. Estamos aqui para viver a misericórdia entre nós. E todos nós
necessitamos dessa misericórdia, único sentimento que nos permite não ignorar a dor
alheia e nos ajudarmos a carregar os pesados fardos uns dos outros.

Retirado do link: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=37628


Ivone Gebara é religiosa, da Congragação das Cônegas de Santo Agostinho. É doutora
em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutora em Ciências
Religiosas pela Universidade Católica de Louvain. Lecionou filosofia e teologia no
Instituto de Teologia do Recife (ITER) e no Departamento de Pesquisa e Assessoria
(DEPA). Desde 1990 dedica-se a dar cursos, conferências em diferentes centros de
formação popular e universitária. É membro da Associação dos Teólogos (as) do
Terceiro Mundo, do NEMGE (Núcleo de Estudos da Mulher e Relações de Gênero) -
SP e consultora de diferentes organizações populares. Publicou vários artigos e livros
dos quais os mais recentes são: Teologia Ecofeminista, Ed. Olho d'Àgua, São Paulo,
1988; Le mal au féminin - Réflexions Théologiques à partir du féminisme, L'Harmattan,
Paris, 1999 e Longing for Running Waters, Fortress Press, Minneapolis,1999.

... Contardo Calligaris

> Um arcebispo mais ou menos

Artigos

NA SEMANA passada, no Recife, descobriu-se que uma menina de nove anos estava
grávida de gêmeos. A mãe imaginava que a barriga crescente fosse o efeito de um
parasito. Mas não era um parasito; era o padrasto, que abusava regularmente a menina e
a irmã (de 14 anos, portadora de uma deficiência mental). O abuso começou quando as
crianças tinham, respectivamente, seis e 11 anos.

O padrasto foi preso, e uma equipe médica, autorizada pela mãe, interrompeu a gravidez
da menina, seguindo a lei brasileira, que permite a interrupção de gravidez em caso de
risco de vida para a mãe e também em caso de estupro. Quem conhece alguma menina
de nove anos pode facilmente imaginar o que significaria submeter aquele corpo a uma
gravidez completa e a um parto duplo.

Além disso, qualquer um pode intuir que carregar na barriga, parir e "maternar" o fruto
de um estupro é devastador para a mãe assim como para os eventuais rebentos dessa
catástrofe. Alguém dirá: "Mas a mulher acabará esquecendo o estuprador (que foi
gentil, nem a matou, não é?), e o sentimento materno prevalecerá". Esse conto de fada
(machista) não se aplica no caso da menina de Recife.

Pede-se o quê? Que ela esqueça que, durante três anos, quem devia ser para ela o
equivalente a um pai se serviu de seu corpo de uma maneira que ela não tinha condição
de entender e num quadro em que ela não tinha a quem recorrer, é isso? No meio da
semana, o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, declarou que os
que estivessem envolvidos na interrupção da gravidez da menina (a mãe, os médicos, os
enfermeiros) fossem excomungados. Agora, o padrasto não; pois o crime dele seria
mais leve. Isso, segundo o bispo, é a "lei de Deus". O bispo se confundiu: essa não é a
lei de Deus, é a lei da Igreja Católica.

E faz alguns séculos que essa igreja não tem mais (se é que um dia teve) a autoridade
moral para ela mesma acreditar que seus decretos sejam expressão da vontade divina.
Portanto, sua persistência em tentar convencer os fiéis de que a voz da igreja coincide
com a voz de Deus se parece estranhamente com a conduta do padrasto da história (e de
qualquer pedófilo): trata-se, em ambos os casos, de tirar proveito da "simplicidade" de
crianças e ingênuos. Mas voltemos aos fatos. O presidente Lula, "como cristão e como
católico", achou lamentável a declaração do arcebispo. Dom José não gostou e afirmou
que o presidente Lula é "um católico mais ou menos".

O presidente Lula se expressou numa ordem perfeita: ele é (primeiro) cristão e


(segundo) católico. Ou seja, se a igreja diz algo que contraria seu entendimento da
mensagem de Cristo, tanto pior para ela. A mensagem cristã da qual se trata não tem a
ver com a interrupção de gravidez. Ela é mais fundamental: trata-se da liberdade do
indivíduo e da consciência em sua relação com Deus. Explico.

É trivial constatar que, na modernidade, a decisão moral é um questionamento constante


e, às vezes, atormentado: cada um, levando em conta as ideias de seu grupo, seus
valores mais singulares, seus sentimentos, sua fé (se ele tem uma) e os fatos (caso a
caso), chega a uma decisão ou a uma opinião que acredita justa. Um pouco menos
trivial é lembrar que esse aspecto da modernidade é o melhor fruto da tradição judaico-
cristã e, mais especificamente, da novidade cristã, pela qual Deus pode ser o mesmo
para todos porque ele não se relaciona com grupos ou pelo intermédio de grupos, mas
com cada indivíduo, um a um.

Ser moderno não significa topar qualquer parada e perder-se no relativismo. Ao


contrário, ser moderno (e ser cristão) significa tomar a responsabilidade de decidir no
nosso foro íntimo o que nos parece certo ou errado. Claro, é mais difícil do que procurar
respostas feitas e abstratas no direito canônico. Mas, contrariamente ao que deve achar
dom José, ninguém nunca disse que ser cristão (e moderno) seja fácil.

Felicito o presidente Lula, que falou como cristão, ao risco de parecer "católico mais ou
menos". Quanto a dom José, ele falou como católico e se revelou como um "cristão
mais ou menos". O dia em que ele quiser ser cristão, ele nos dirá, com suas palavras, por
que e como, em seu foro íntimo, acha o gesto de quem interrompeu a dupla gravidez de
uma criança de 30 quilos muito mais grave do que a abjeção de um padrasto que, por
três anos, estuprou suas enteadas.
ccalligari@uol.com.br

Fonte: Folha de São Paulo

... Jáder Sampaio

> Como foi fundada a Federação Espírita Brasileira?

Artigos

Poucas fontes documentais tratam da fundação da Federação Espírita Brasileira.

Canuto Abreu escreveu um livro importante, mas pouco conhecido, chamado "Bezerra
de Menezes - Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o Ano de 1895."
Consegui outras fontes, inclusive documentais, no livro do Eduardo Carvalho Monteiro
que cito ao final do trabalho.

Nasce o Reformador

Abreu defende uma tese curiosa, a FEB é filha do Reformador e de uma pastoral da
Igreja Católica de afirmava "devemos odiar pelo dever de consciência", referindo-se aos
adeptos do movimento espírita e baseando-se no pensamento moisaico.

Esta pastoral foi escrita em junho de 1882. À época, Augusto Elias da Silva era neófito
no movimento espírita, frequentava a Sociedade Acadêmica e convenceu-se das idéias
espíritas a partir dos estudos de "O Livro dos Espíritos".

Incomodado pela pastoral, ele escreveu um texto em resposta aos católicos intolerantes
e não conseguiu publicá-lo em nenhum órgão de imprensa da época. Resolveu então
fundar uma revista de orientação liberal com duas partes: uma seção voltada a "todas as
corporações científicas, filosóficas e literárias" e outra voltada ao Espiritismo.

Após publicar o primeiro número, afirma Abreu que o editor saiu à cata de
colaboradores, e conseguiu envolver neste projeto Pinheiro Guedes (médico
homeopata), Ewerton Quadros (marechal) e Bezerra de Menezes.

Bezerra de Menezes julgava necessário unir os espíritas no Brasil em um centro, na


capital do império, formado por delegados de todos os grupos. Esta idéia ganhou força
com a publicação de Reformador, uma vez que seu "conselho editorial" não desejava
associá-lo a uma sociedade espírita isolada.

No natal de 1883 (segundo Abreu) ou em 1o. de Janeiro de 1884 (segundo Ewerton


Quadros, apud MONTEIRO, 2006), reuniram-se na casa de Antônio Elias da Silva as
seguintes pessoas: Bezerra de Menezes, Raymundo Ewerton Quadros, Manoel
Fernandes Filgueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, João Francisco da Silveira
Pinto, Romualdo Nunes Victório e Pedro da Nóbrega.

Canuto Abreu entende que a idéia de congregar os grupos espíritas em torno de uma
entidade central era uma das tônicas da fundação desta nova organização, mas Quadros
afirma que a finalidade era “fundar uma sociedade para o estudo científico do
Espiritismo” (MONTEIRO, 2006. p. 23). Giumbelli (1997, p. 63) também discute esta
finalidade, e com base no Reformador da época ele encontra a apresentação da FEB
como uma organização que visava a “propaganda ativa do Espiritismo pela imprensa e
por conferências públicas”.

Foram convidadas outras pessoas para participarem da sociedade e as que o fizeram no


prazo de sessenta dias foram inscritas como sócios-fundadores. O número chegou a 40
pessoas de pelo menos quatro estados diferentes. Giumbelli (1997, p. 62) fez um
levantamento das profissões dos fundadores e encontrou engenheiros, homeopatas,
advogados, militares, funcionários públicos, autônomos, algumas esposas dos
fundadores e mulheres sem vínculo familiar com os demais associados.

A Sobrevivência da Nova Sociedade

Com uma sede alugada e poucos recursos, Dias da Cruz, médico homeopata, eleito
presidente, teve um papel importante na sobrevivência da mesma. Ele a manteve e
chegou a assinar um contrato de aluguel de valor muito mais alto que o inicial,
enfrentando a crise econômica que sobreveio com a proclamação da república sem
permitir que a sociedade se dissolvesse. (segundo Ewerton Quadros, apud MONTEIRO,
2006)

O Papel de Órgão Federativo

Giumbelli (1997, p. 63) mostrou muitas evidências de que o papel de órgão federativo,
apesar do nome da sociedade, só foi assumido tempos após a fundação da FEB. Ela
chegou a filiar-se a uma sociedade que foi criada com esta função. Abreu (1981)
entende que havia uma intenção da parte de Bezerra de Menezes em transformar a FEB
em uma organização que coordenasse a propaganda espírita no Brasil, e cita seu
discurso publicado no Reformador de 1895 no qual ele implementa mudanças
importantes na gestão da sociedade que consolidariam, no futuro o papel que esta
organização desempenha hoje.

Fontes Bibliográficas

ABREU, Canuto. Bezerra de Menezes.4 ed. São Paulo: FEESP, 1981.


GIUMBELLI, Emerson. O cuidado dos mortos. Rio de janeiro: Arquivo Nacional,
1997.
MARTINS, Jorge Damas. O 13º. Apóstolo. Niterói: Lachâtre, 2004.
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Marechal Ewerton Quadros: primeiro presidente da
Federação Espírita Brasileira. Capivari-SP: EME e CCDPE, 2006.
_______ 100 anos de comunicação espírita em São Paulo. São Paulo: Madras Espírita,
2003.

Sede da FEB na Av. Passos, Rio de Janeiro. Ela foi construída na gestão de Leopoldo
Cirne e inaugurada em 1911.

Fonte: http://espiritismocomentado.blogspot.com/2009/01/como-foi-fundada-federao-
esprita.ht

... Jáder Sampaio

> Como foi fundada a Federação Espírita Brasileira?

Artigos

Poucas fontes documentais tratam da fundação da Federação Espírita Brasileira.

Canuto Abreu escreveu um livro importante, mas pouco conhecido, chamado "Bezerra
de Menezes - Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o Ano de 1895."
Consegui outras fontes, inclusive documentais, no livro do Eduardo Carvalho Monteiro
que cito ao final do trabalho.
Nasce o Reformador

Abreu defende uma tese curiosa, a FEB é filha do Reformador e de uma pastoral da
Igreja Católica de afirmava "devemos odiar pelo dever de consciência", referindo-se aos
adeptos do movimento espírita e baseando-se no pensamento moisaico.

Esta pastoral foi escrita em junho de 1882. À época, Augusto Elias da Silva era neófito
no movimento espírita, frequentava a Sociedade Acadêmica e convenceu-se das idéias
espíritas a partir dos estudos de "O Livro dos Espíritos".

Incomodado pela pastoral, ele escreveu um texto em resposta aos católicos intolerantes
e não conseguiu publicá-lo em nenhum órgão de imprensa da época. Resolveu então
fundar uma revista de orientação liberal com duas partes: uma seção voltada a "todas as
corporações científicas, filosóficas e literárias" e outra voltada ao Espiritismo.

Após publicar o primeiro número, afirma Abreu que o editor saiu à cata de
colaboradores, e conseguiu envolver neste projeto Pinheiro Guedes (médico
homeopata), Ewerton Quadros (marechal) e Bezerra de Menezes.

Bezerra de Menezes julgava necessário unir os espíritas no Brasil em um centro, na


capital do império, formado por delegados de todos os grupos. Esta idéia ganhou força
com a publicação de Reformador, uma vez que seu "conselho editorial" não desejava
associá-lo a uma sociedade espírita isolada.

No natal de 1883 (segundo Abreu) ou em 1o. de Janeiro de 1884 (segundo Ewerton


Quadros, apud MONTEIRO, 2006), reuniram-se na casa de Antônio Elias da Silva as
seguintes pessoas: Bezerra de Menezes, Raymundo Ewerton Quadros, Manoel
Fernandes Filgueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, João Francisco da Silveira
Pinto, Romualdo Nunes Victório e Pedro da Nóbrega.

Canuto Abreu entende que a idéia de congregar os grupos espíritas em torno de uma
entidade central era uma das tônicas da fundação desta nova organização, mas Quadros
afirma que a finalidade era “fundar uma sociedade para o estudo científico do
Espiritismo” (MONTEIRO, 2006. p. 23). Giumbelli (1997, p. 63) também discute esta
finalidade, e com base no Reformador da época ele encontra a apresentação da FEB
como uma organização que visava a “propaganda ativa do Espiritismo pela imprensa e
por conferências públicas”.

Foram convidadas outras pessoas para participarem da sociedade e as que o fizeram no


prazo de sessenta dias foram inscritas como sócios-fundadores. O número chegou a 40
pessoas de pelo menos quatro estados diferentes. Giumbelli (1997, p. 62) fez um
levantamento das profissões dos fundadores e encontrou engenheiros, homeopatas,
advogados, militares, funcionários públicos, autônomos, algumas esposas dos
fundadores e mulheres sem vínculo familiar com os demais associados.

A Sobrevivência da Nova Sociedade

Com uma sede alugada e poucos recursos, Dias da Cruz, médico homeopata, eleito
presidente, teve um papel importante na sobrevivência da mesma. Ele a manteve e
chegou a assinar um contrato de aluguel de valor muito mais alto que o inicial,
enfrentando a crise econômica que sobreveio com a proclamação da república sem
permitir que a sociedade se dissolvesse. (segundo Ewerton Quadros, apud MONTEIRO,
2006)

O Papel de Órgão Federativo

Giumbelli (1997, p. 63) mostrou muitas evidências de que o papel de órgão federativo,
apesar do nome da sociedade, só foi assumido tempos após a fundação da FEB. Ela
chegou a filiar-se a uma sociedade que foi criada com esta função. Abreu (1981)
entende que havia uma intenção da parte de Bezerra de Menezes em transformar a FEB
em uma organização que coordenasse a propaganda espírita no Brasil, e cita seu
discurso publicado no Reformador de 1895 no qual ele implementa mudanças
importantes na gestão da sociedade que consolidariam, no futuro o papel que esta
organização desempenha hoje.

Fontes Bibliográficas

ABREU, Canuto. Bezerra de Menezes.4 ed. São Paulo: FEESP, 1981.


GIUMBELLI, Emerson. O cuidado dos mortos. Rio de janeiro: Arquivo Nacional,
1997.
MARTINS, Jorge Damas. O 13º. Apóstolo. Niterói: Lachâtre, 2004.
MONTEIRO, Eduardo Carvalho. Marechal Ewerton Quadros: primeiro presidente da
Federação Espírita Brasileira. Capivari-SP: EME e CCDPE, 2006.
_______ 100 anos de comunicação espírita em São Paulo. São Paulo: Madras Espírita,
2003.

Sede da FEB na Av. Passos, Rio de Janeiro. Ela foi construída na gestão de Leopoldo
Cirne e inaugurada em 1911.

Fonte: http://espiritismocomentado.blogspot.com/2009/01/como-foi-fundada-federao-
esprita.html

... Jáder Sampaio

> Devem os centros espíritas manter creches?


Artigos

É desnecessário argumentar em favor da filantropia e da caridade no movimento espírita


brasileiro. A obra kardequiana defende, seguida por diversas contribuições de autores e
médiuns brasileiros, a caridade como valor e a filantropia como dever. De uma forma
muito pessoal e individual, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” é um convite de
muitas faces para que o homem de bem, e não apenas o espírita, atenda a exortações
como:

“Encontra satisfações nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer
ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos.
Seu primeiro impulso é para pensar nos outros antes de pensar em si, é para cuidar dos
interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os
proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.” (KARDEC, 1978a, p. 285)

Uma vez aceito o imperativo ético da prática da caridade, e aceita a distinção entre
caridade moral e material, como o faz Kardec na mesma obra, não é inusitado aceitar
que as instituições espíritas organizem serviços capazes de atender às necessidades
sociais, no limite de suas capacidades. O próprio Kardec propôs a manutenção de
instituições como um dispensário, onde se realizariam consultas médicas gratuitas, uma
caixa de socorros e um asilo, a serem mantidos com recursos da Comissão Central do
Espiritismo, em seu conhecido Projeto de 1868. (KARDEC, 1978b)

Há que se distinguir a manutenção de instituições do imperativo da caridade. O espírita


(pessoa) não precisa de uma instituição mantida por seu centro espírita para a realização
de uma ação social beneficente. Ele pode juntar esforços a diversas iniciativas sociais
mantidas pelo Estado ou por organizações sérias sem fins lucrativos. Da época de
Kardec aos nossos dias, cada vez mais os Estados têm trazido para si a responsabilidade
de fornecer serviços considerados necessários à população. Educação, saúde, proteção
alimentar, entre outras ações, estão cada vez mais presentes nas agendas de governos,
das mais diversas orientações políticas. Salamon (1998) defende, com números, que nas
últimas décadas o número de organizações sem fins lucrativos, constituintes do
chamado Terceiro Setor, têm crescido intensamente em todo o planeta. O movimento
espírita não pode se furtar a refletir sobre as mudanças na sociedade e sobre o seu papel.
Diante destas mudanças, é muito oportuna a questão que o Carlos Iglesia solicitou que
se discutisse melhor: devem os centros espíritas manter creches?
Antes de tratar da questão das creches, devemos pensar em uma área que sofreu uma
transformação mais intensa em nosso país, as ações de saúde. Seja pelo avanço da
medicina e da tecnologia médica, seja pela evolução das políticas públicas de saúde,
hoje, de uma forma geral, temos nos grandes centros urbanos um serviço de
atendimento médico disseminado e articulado. O Sistema Único de Saúde (SUS)
possibilitou a criação centros de saúde com corpo médico de generalistas e alguns
especialistas, serviços de enfermagem, farmácia, campanhas de vacinação, odontologia,
psiquiatria, psicologia, entre outros serviços, integrados a hospitais generalistas e de
especialidades. Na última década os governos federais têm incentivado o Programa de
Saúde da Família, no qual uma equipe de saúde visita residências e passa a acompanhar
pacientes cujo cotidiano era desconhecido ao médico, que só os via no posto de saúde, e
a atender pacientes que eram mal atendidos pelo sistema anterior pelas dificuldades de
locomoção aos postos de saúde.

Respeitadas as diferenças entre regiões no Brasil e as exceções, um dispensário com um


médico fazendo consultas gratuitas, é uma organização de qualidade inferior à que é
oferecida pelo Estado (o que não acontecia à época de Kardec). Sem poder pedir
exames que o auxiliem a fazer diagnóstico, sem poder encaminhar para hospitais de alta
complexidade, sem poder contar com o apoio de uma equipe de profissionais da saúde,
o seu trabalho, em que se pese a boa vontade e a disposição de ajudar o próximo, será de
qualidade inferior ao que é oferecido pelos órgãos de Estado. Não é exagero dizer que
esta instituição, nas condições acima indicadas, atende mais a necessidade do voluntário
em prestar o serviço que a do atendido. A conseqüência da melhora dos serviços do
Estado é que a exigência para a atuação neste espaço aumenta.

O que têm feito os centros espíritas que estão atentos às mudanças no cenário social?
Quando já têm uma estrutura de saúde montada, vão migrando seus serviços para os
espaços mal cobertos pelos órgãos de Estado ou vão aumentando a complexidade de
suas ações. As farmácias ligadas aos centros espíritas trabalham com medicamentos que
não são facilmente encontrados nos postos de saúde. Os serviços de odontologia vão
fazer procedimentos cujo custo torna proibitivos aos postos de saúde. Os voluntários da
área de saúde realizariam trabalhos que não estão disponíveis nos postos de saúde. Esta
é uma forma inteligente de integração à rede de proteção social que o Estado e as
organizações da sociedade formam.

Outra ação conhecida pelo movimento espírita brasileiro foi a constituição de Hospitais
Psiquiátricos Espíritas em diversos lugares do Brasil. Possivelmente, esta iniciativa tem
como motivo a preocupação do movimento espírita na distinção entre doença mental e
mediunidade, mas não se reduz a isto, uma vez que são espaços de prática de uma
especialidade médica e de profissionais da saúde mental. Estes hospitais vieram
incorporando as modificações na Psiquiatria, as ações multidisciplinares e se adaptaram
a muitas das justas exigências do movimento de luta antimanicomial e às disposições
governamentais. Estas instituições espíritas romperam o isolamento e têm realizado
encontros entre seus profissionais, têm promovido eventos e têm trocado experiências.
Este, talvez, seja um dos projetos mais bem sucedidos das Associações Médico-
Espíritas que se fundaram nos últimos anos em nosso país.

Da mesma forma que a saúde, a educação também mudou. A nova lei de Diretrizes e
Bases atribuiu precariamente às prefeituras a obrigação de manter instituições pré-
escolares. O Estado Brasileiro começou a destinar recursos e a pensar políticas para um
segmento até então marginal às agendas públicas. Um movimento semelhante ao da
saúde está acontecendo com a chamada educação infantil.

Os centros espíritas devem, então, manter creches? Penso que sim, desde que
consigam fazê-lo com qualidade e mantidas as suas diretrizes.

Inicialmente, a obrigação das prefeituras ainda é relativa. A legislação atribui a


educação infantil às prefeituras, mas prioriza o repasse de recursos ao ensino
fundamental, ou seja, deixa uma brecha para os prefeitos justificarem a falta de
fornecimento deste serviço à população. Muitos segmentos do tecido social ainda não
tiveram atendidas as suas necessidades de cuidados para as crianças em idade pré-
escolar. São recorrentes os casos de visitas a favelas nos quais se encontram crianças na
segunda infância tendo que tomar conta de recém-nascidos e de seus irmãos menores,
em nossa capital mineira. Além disto, muitas creches da rede de educação infantil não
são mais que um espaço de cuidados à criança.

Em segundo lugar, da mesma forma que os hospitais espíritas têm envidado esforços
para fornecer um atendimento diferenciado aos seus clientes, as creches espíritas podem
dar uma educação e cuidados superiores aos seus pequenos clientes e às suas famílias.
Ao lado do espaço de atuação voluntária (que deve ser conseqüente e inteligente), a
integridade das instituições espíritas é um diferencial importante, em se tratando de
aporte de recursos públicos ou de parceiros da iniciativa privada.

Um terceiro argumento é a necessidade dos centros espíritas manterem ações sociais


conseqüentes, que possibilitem o engajamento não só de seus participantes, mas das
comunidades como um todo. A finalidade maior é, nestes tempos de desigualdade social
e dissolução do tecido social, além de possibilitar a integração dos espíritas em ações de
impacto social, mostrar à sociedade que existem comunidades íntegras, capazes de
incentivar as pessoas a darem uma contribuição pessoal pela melhoria de nossa
sociedade, independente de sua posição religiosa.

Os centros espíritas devem ter atenção com o zelo pela humanização do cuidado infantil
e evitar que a profissionalização de muitos dos espaços transformem as creches em uma
espécie de anexo, um lugar no qual não se reconhece a ação de homens de bem, mas
apenas um espaço burocrático de atuação técnica.

Para concluir, recordei-me de um comentário feito em um livro inusitado e quase


esquecido pela grande maioria dos espíritas do nosso tempo, escrito pelo espírita
argentino Humberto Mariotti. Ele afirma que se “o Espiritismo permanecesse à margem
da questão social, adotaria um critério evasivo perante as grandes coletividades
humanas que sofrem, esperando sua definitiva redenção”. (MARIOTTI, 1983, p. 106)

Saquinhos decorados, publicado pela Creche Espírita Ponto de Luz


http://amaipontodeluz.blogspot.com

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 76 ed. Rio de Janeiro: FEB,


1978a.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 17 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978b.
MARIOTTI, Humberto. Parapsicologia e Materialismo Histórico. São Paulo: EDICEL,
1983.
SALAMON, Lester. A emergência do Terceiro Setor: uma revolução associativa global.
Revista de Administração. São Paulo, v. 33, n. 1, p. 5-11, jan/mar 1998.

Publicado no Boletim GEAE 514. Disponível em


http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae514.html . Acesso em setembro de 2006.

... Claudio de Moura Castro

> Educação em áreas conflagradas?

Artigos

A ciência tomou corpo quando se descobriu ser mais fácil entender o mundo
classificando o que vai aparecendo pela frente. Aristóteles deu a partida. Muito mais
adiante, Lineu deu ordem à biologia, separando os bichos e plantas: “Esse de seis
perninhas vai com o outro, também com seis. Ou, os que põe ovos vão juntos.” Assim
separados, fica mais fácil estudar e encontrar outros traços comuns. Para E. Junger, a
classificação das espécies da flora é uma metáfora suprema da razão.

Classificamos até em um campo inconsútil como a educação. Cada maneira de


classificar chama a atenção para aspectos diferentes. Para entender os avanços e
atoleiros do nosso ensino, proponho que pensemos nas escolas como pertencendo a três
categorias. Há as escolas dos grotões, há as escolas das cidades médias e pequenas e,
finalmente, há as escolas conflagradas das periferias urbanas.

Os grotões vivem o círculo vicioso da pobreza. A seu favor, são mundos fechados, onde
cada um é cada um. Mas lá não se reconhecem as vantagens da educação, a tem pouca e
não sentem falta de mais. A depender da sua própria dinâmica, nada vai mudar. Mas
com um bom empurrão de fora, transformações são possíveis.

As cidades pequenas e médias vivem em um equilíbrio instável, do ponto de vista da


educação. Se são minimamente dinâmicas e se têm um prefeito que acredita em escola –
ou pelo menos, atrapalha pouco – têm tudo que precisam para avançar céleres,
praticamente, por conta própria. Com o IDEB, sabem onde estão. Aos poucos, vão
aprendendo os caminhos. Em um bom número delas, os avanços são admiráveis.
Passaram na frente das capitais, com mais riquezas e mais tradições. E isso, em todos os
níveis. Em São Paulo, até a pesquisa já é mais numerosa no interior do que na capital.
Dentre elas estão os caso de sucesso na educação brasileira. Nem todas, mas muitas
tomaram as rédeas nos dentes e dispararam.

Finalmente, temos as periferias das grandes capitais. Esse é o enguiço mais sério. Não
faltam recursos, não faltam atenções. Contudo, estão travadas e perdendo espaço para as
cidades menores.

O nó da questão é que são regiões conflagradas. A sociedade local ou teve seu tecido
social dilacerado pelo crescimento rápido demais ou foi invadida por vagas de
imigrantes desenraizados das suas comunidades e que não conseguiram se integrar na
grande confusão das periferias.

Algumas são como praças de guerra, por seus problemas de insegurança, criminalidade,
desemprego, pobreza e desintegração familiar. Nesses casos, faz sentido lembrar a
hierarquia do psicólogo Maslow. Para ele, as pessoas só se fixam em certos objetivos de
vida depois de que outros mais importantes já foram resolvidos. Insegurança física,
desemprego e condições precárias de vida vêm antes de educação. Sem serem
minimamente atendidos, pouquíssimos irão dar atenção ao ensino.

Portanto, a não ser que se pacifiquem essas periferias, estão fadadas ao insucesso as
tentativas heróicas dos secretários de educação de agir nessas regiões. Simplesmente,
são outras as prioridades, tais como sobreviver às guerras de gangues do narcotráfico.

Isso tudo nos leva à necessidade de políticas educativas diferentes para essas regiões. É
preciso cuidar, simultaneamente, de uma boa coleção de problemas no entorno da
escola. A tarefa ultrapassa o alcance das secretarias de educação. Porém, requer uma
ação minimamente coordenada com elas. Polícia, assistência social, saúde e políticas de
emprego têm que entrar em cena e agir de forma articulada.

Há boas experiências no Brasil e devemos aprender com elas. Mas citemos outro caso
com grande visibilidade: Medellín. Chama atenção tanto pela virulência das guerras do
narcotráfico que havia antes quanto pela pacificação conquistada por um bom prefeito.

Esta taxonomia simples nos permite orientações valiosas. Os grotões, quem sabe,
podem esperar. Mas dá para ir lá e consertar. Nas cidades pequenas e medias, é cutucar
os prefeitos lentos e recalcitrantes com respeito à educação. As outras vão quase
sozinhas. Nas praças de guerra das periferias, só educação não resolve. Ou entramos
com programas mais abrangentes, ou nada vai acontecer - além da repetição das
conflagrações costumeiras.

... Alexandre Cumino

> Trajetória da Sociologia de Umbanda

Artigos
TRAJETÓRIA DA SOCIOLOGIA DE UMBANDA

Por Alexandre cumino

O antropólogo Arthur Ramos (O Negro Brasileiro: Etnografia Religiosa, 1934) dando


seqüência aos estudos de Nina Rodrigues (O Animismo Fetichista dos Negros na Bahia,
1900 e Os Africanos no Brasil, escrito entre 1890 e 1905, publicado pela primeira vez
em 1932 e que acaba de ser reeditado pela Ed. Madras) na década de 30 afirmou:

- “Umbanda é Religião Afro-indo-católico-espírita-ocultista”,

- “o grão-sacerdote dos angola-congoleses, o Quimbanda (Kimbanda) passou ao Brasil


com os nomes de Quimbanda e seus derivados umbanda, embanda e banda”,

- “no Brasil, o Embanda perdeu muito do seu prestigio... tem apenas função de chefe de
macumba... é também chamado pai de terreiro, ou de santo, e os iniciados, filhos e
filhas de santo”.

Edson Carneiro (Candomblés da Bahia, 1948) agora continuando a obra de Arthur


Ramos, diria que:

- “Ainda ao tempo das reportagens de João do Rio, os cultos de origem africana do Rio
de Janeiro chamavam-se coletivamente, candomblés, como na Bahia... Mais tarde, o
termo genérico passou a ser macumba, substituído, recentemente por Umbanda.”

- “há inúmeros folhetos, muito lidos, que veiculam as mais diversas explicações para os
fenômenos da Umbanda, relacionando-os, ora aos aborígines brasileiros, ora à magia do
Oriente, ora aos druidas de Kardec.”

Roger Bastide (As Religiões Africanas no Brasil e O Candomblé da Bahia) o primeiro


sociólogo das religiões no Brasil a estudar os cultos afros e o Candomblé em especial
diz:

- ‘Umbanda é uma valorização da macumba através do espiritismo’ (Oliveira Magno,


Ritual Prático de Umbanda, p.11.). E o ingresso de brancos em seu seio, trazendo com
eles restos de leituras mal digeridas, de filósofos, de teósofos, de ocultistas, não podia
senão ajudar esta valorização.

Cândido Procópio Ferreira de Camargo (Kardecismo e Umbanda) também sociólogo


das religiões estuda Umbanda à partir do Kardecismo, unindo as duas em um
“continuum mediúnico”, como “religiões mediúnicas”, com estas palavras:

- “Se o Espiritismo é crença à procura de uma instituição, a Umbanda é aspiração


religiosa em busca de uma forma. Realmente, o que se vê em São Paulo, são cambiantes
variados de organizações religiosas, sem unidade doutrinária e ritualística. Todo
“terreiro” tem seu sistema e cada Dirigente pensa monopolizar a mais acabada
verdade...”

Renato Ortiz (A Morte Branca do Feiticeiro Negro) por fim e por meio de sua tese
(Paris - 1975) coloca os pingos nos “is” da sociologia da religião de Umbanda com estas
palavras:

- “Não nos encontramos mais na presença de um sincretismo afro-brasileiro, mas diante


de uma síntese brasileira, de uma religião endógena... Neste sentido divergimos da
análise feita por Roger Bastide em seu livro As Religiões Africanas no Brasil, onde ele
considera a Umbanda como uma religião negra, resultante da integração do homem de
cor na sociedade brasileira. É necessário porém assinalar que o pensamento de Roger
Bastide havia consideravelmente evoluído nestes últimos anos. Já em 1972 ele insiste
sobre o caráter nacional da Umbanda...”

Quanto a José Bittencourt Filho (Matriz Religiosa Brasileira - Petrópolis: Editora


Vozes, 2003) vem somar conceitos para melhor entendermos a Umbanda como fruto
desta sociedade brasileira, vejamos suas considerações:

- “Certamente, a primeira impressão inspirada pela observação da Umbanda é de que


esta religião resulta de uma mescla algo confusa de elementos religiosos de diferentes
procedências. “Existe até um termo para designar essa unção, num mesmo culto, de
fragmentos de procedências tão diversas: sincretismo” (MAGNANI: 1991, 13).

- De fato, como se sabe, a invenção e a sistematização da Umbanda, consistiu num


processo de acomodação deliberada entre as tradições religiosas européias, africanas e
indígenas, como substrato de uma reivindicação cultural: ser reconhecida como a
primeira religião genuinamente nacional. Para os propósitos desta tese, este desiderato
reveste-se de alta relevância, posto que a concebemos como a tradução religiosa mais
bem acabada da Matriz Religiosa Brasileira”.

Este texto (TRAJETÓRIA DA SOCIOLOGIA DE UMBANDA) faz parte do livro


“Umbanda: Trajetória de uma Religião”de Alexandre Cumino a ser lançado em 2009
pela Editora Madras.

alexandrecumino@uol.com.br
... Benedito Inácio Silveira

> A intolerância

Artigos

Provavelmente este termo, sempre desprezado, teima em persistir na mentalidade


humana. Mas, para os que tentarem negar, basta um olhar hoje no Oriente Médio para
perceber que a intolerância está em franco processo de proliferação de um determinado
ponto, para o resto do mundo.

Deste modo, aparece o etnocentrismo disfarçado, e isso diz respeito à aplicação da força
para provar a necessidade do poder “soberano”.

Assim, como uma reação em cadeia, esse fato gera o sintoma de revolta entre as
pessoas, no qual umas pela busca da supremacia, outras pelo não entendimento do
processo e umas pela omissão, ou seja, como a dicotomia inseparável dos humanos,
como diria Nietzsche, demasiadamente humanos.

Nos estudos realizados por Michel Foucault em 1976 no Collège de France, no qual
procura chegar na origem do que se conhecia como racismo na Alemanha nazista,
levando-o a concluir sobre o biopoder, ou seja, que tudo gira entorno da dissimulação
para demonstrar a necessidade de um líder capaz de manter a ameaça distante.

Portanto deve-se entender aqui, em contexto dissimulado, a prática eugênica que


continua sendo a forma mais eficaz de destacar líderes capazes de manter as forças do
mal sob controle.

A eugenia é praticada desde a Antiguidade e estabelece três posições que podem ser
claramente notadas.

Uma daquelas pessoas que se revoltam pelas atrocidades, outras que não a percebem e
daquelas que, mesmo percebendo, não se posicionam e preferem a neutralidade.

Dentro destas três condições humanas, segundo Hannah Arendt, é a última que
demonstra o maior contexto de crueldade.
É claro que esses dois pensadores vivenciaram as atrocidades nazistas dentro do
contexto do “esforço de guerra” e assim puderam analisar os fatos e o gatilho que
detonou o estado de ódio naquele momento.

O que se quer deixar claro que a ação dos líderes israelenses se dá por uma ação política
e não de eminente perigo, mas será que os danos sofridos por este povo, justificam toda
a demonstração de seu poderio militar e, com isso, ceifar centenas de vidas?

Claro que a posição aqui é de total repúdio a esta prática e certamente, não será
relevante. Porém, é necessário se posicionar, mesmo sabendo que será ignorado, ou
ainda, taxado de ignorante nos assuntos do Oriente Médio, entretanto, nada justifica o
uso da força, afinal, para que serve a racionalidade humana? Para fabricar armas de
destruição em massa mais eficazes?

Mas por que alguém distante de tudo o que acontece lá quer se posicionar? Ou melhor,
o que isso tem a ver com seu derredor?

Primeiro que, como humanista, não se pensa em um único homem, num único grupo,
mas em toda humanidade. Segundo é que, desta coisa facilmente percebida no mundo
inteiro, outras tantas coisas acontecem sem o mesmo enfoque.

Recentemente Henrique Afonso (AC) e Luiz Bassuma (BA) tiveram que apresentar, em
novembro último, suas defesas à Comissão de Ética do partido dos trabalhadores, pelo
processo a que respondem por serem contra a legalização da interrupção da gravidez
indesejada.

Isso revela que está faltando determinada informação enquanto outras são amplamente
veiculadas nas mídias.
Outros assuntos, relativos a Bioética, estão por merecer maior difusão, entretanto se
percebe a clara recusa em se querer divulgar esse tema multidisciplinar que surgiu nos
anos de 1970 dado aos grandes “avanços” nas áreas da biologia, mais especificamente,
na engenharia genética.

E então, quer dialogar?

Fonte: http://educacionista.ning.com/profile/BeneditoInacioSilveira

... Miguel Reale

> Razão e religião: Lombroso e o Espiritismo

Artigos
No ano que se inicia, comemora-se o centenário da morte do cientista e médico Cesare
Lombroso, fundador da Antropologia Criminal. Lombroso foi, ao lado de Garófalo e
Ferri, um dos epígonos da Escola Penal Positiva italiana, cujas ideias foram fruto do
desenvolvimento das ciências naturais e da confiança nos métodos empírico-
explicativos.

A explicação causal do crime nasce com Lombroso a partir de estudos da morfologia de


diversos condenados e internados, observando dados físicos dos quais retira
consequências acerca do desenvolvimento mental. Sinais exteriores como queixo
prognata, testa curta, orelhas de abano são características correspondentes a tendências
delituosas. Dessa maneira, há um criminoso nato cuja origem está no atavismo, na
herança da idade selvagem. O delito é fruto inexorável desse homem incorrigível, em
razão da não-evolução de aspectos físicos e psíquicos. Assim, Lombroso negava o livre-
arbítrio por acreditar na determinação absoluta da prática delituosa por fatores
antropológicos.

Além de O Homem Delinquente, escreveu Lombroso A Mulher Delinquente, estudo no


qual afirmava, após exame das características da mulher como as físicas, a capacidade
craniana, o esqueleto, o peso e estatura, a inteligência e a moralidade, que esta possui
fundamentalmente caracteres que a aproximam do selvagem e da criança.

Lombroso, contudo, mais tarde, sob influência de Ferri deu relevo aos aspectos
ambientais na produção do fato delituoso, além de concluir, no final da vida, em
consequência de sua adesão ao espiritismo, que dentre os criminosos poucos poderiam
ser considerados como natos.

Curiosa é a caminhada do cientista, aferrado à análise dos fatos e à comprovação de


suas causas, em direção ao espiritismo. Lombroso não foi fulminado pelo milagre da
graça ou conduzido por uma revelação entusiasmante de Deus e das verdades
escatológicas, mas chegou à religião, como se verá, por força dos fatos dos quais se
declara escravo.

Na Itália do último quartel do século 19, deu-se forte influência do espiritismo,


mormente no meio científico. Lombroso negou-se diversas vezes a participar de
experiências espíritas, que chegou a ridicularizar. Coincidiu sua estada em Nápoles, em
março de 1891, com a do professor Chiaia e da médium Eusápia Paladino, de
extraordinários poderes. Lombroso concordou em presenciar uma sessão, desde que no
seu hotel, à luz do dia, com cuidados contra qualquer fraude.

Na primeira de uma centena de sessões com a médium, impressionou-o o fato de,


estando Eusápia presa a uma cadeira, a cortina do quarto se ter desprendido para
envolvê-lo.

Poucos meses após a primeira experiência espírita, em julho, Lombroso já manifestava


se envergonhar de haver combatido com violência a possibilidade de fenômenos
espíritas, pois, apesar de contrário à teoria, atestava que fatos existiam e se orgulhava de
deles ser escravo.

Em 1890, afirmara, diante da verificação de levitações, de transporte de objetos e de


materializações, que com relação à teoria espírita era um pequeno seixo na praia, a água
não o cobria, mas a cada maré sentia estar sendo arrastado um pouco mais para o mar.
Experiência impressionante foi a aparição, em 1902, de sua mãe em diversas sessões,
uma figura com a mesma estatura e a mesma voz, na maioria das vezes chamando-o de
"fiol mio", como era próprio de sua origem veneziana.

Indagado por um jornalista em 1906 sobre os fenômenos espíritas, Lombroso disse que
por educação científica fora sempre contrário ao espiritismo, mas ao lado de eminentes
observadores, médicos, físicos, químicos, biólogos constatou fatos. Assim, acreditava
na evidência, nada mais, sem medo do ridículo ao afirmar fatos dos quais
experimentalmente adquirira profunda convicção.

Escreveu, então, em 1909, perto de morrer, o livro Hipnotismo e Mediunidade, em cujo


prefácio declara que se situou distante de toda a teoria para que a convicção surgisse
espontânea dos fatos solidificados pela consciência emanada do consenso geral dos
povos. Fez, então, uma consistente síntese das experiências mediúnicas ao longo do
tempo, mostrando a analogia entre o que sucedeu com os povos antigos, com os povos
indígenas, com os fenômenos ocorridos na Idade Média ou no Renascimento e com o
que sucedeu naqueles dias na presença de ilustres cientistas.

Disse, então, possuir um mosaico de provas resistente às mais severas dúvidas. Dentre
tantos fenômenos e experiências que relata, muitos dos quais testemunhou, curiosos são
os casos judiciários, como o da revelação por espírito de jovem falecido em navio de ter
sido envenenado com ingestão de amêndoas com rícino, fato este depois constatado por
perícia.

Escravo dos fatos, Lombroso descobre pela experiência o espiritismo, o que não
contraria sua formação científica, causal-explicativa.

Alan Kardec, no Livro dos Espíritos, reconhece o livre-arbítrio, mas admite que não são
os caracteres físicos que determinam o comportamento, e sim a natureza do espírito
encarnado, que pode ter inclinação para o mal, mas possui o poder de enfrentar com o
seu querer a tendência manifestada. Lombroso reconhece, ao fim, a pouca incidência de
hipóteses do criminoso nato.

Este escorço histórico, quando dos cem anos da desencarnação de Lombroso, recoloca a
angustiosa questão do livre-arbítrio ou do determinismo. A meu sentir, a liberdade não
pode ser indiferente. Cabe situar o homem em suas circunstâncias biológicas e sociais,
pois age no mundo que o circunda. O homem possui uma liberdade, mais que situada,
sitiada, sem deixar de ter, contudo, uma esfera de decisão última pela qual define a
realização da vontade e a do seu próprio modo de ser. Sem liberdade perdem sentido a
dignidade do homem e a imortalidade do espírito.

Miguel Reale Júnior, advogado, professor-titular da Faculdade de Direito da USP,


membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

... Rodrigo Queiroz

> Lixo Umbandista

Artigos
por Rodrigo Queiroz – Revista Umbanda Sagrada

Na prática da Umbanda, a oferenda é um dos atos mais sagrados de conexão entre fiel e
Divindade.

Toda religião tem sua prática ofertatória, quer seja uma fruta no Congá ou até uma nota
de R$ 10,00 no envelope. Não importa, este é um ato de oferta, um ato de fé e cada
religião tem a sua leitura própria de como deve ser esta prática.

Nas religiões naturais, de culto a Deus e Divindades na natureza, no geral estas religiões
tem como pratica ofertatória a oferenda daquilo que vem da natureza, ou seja, flores,
frutos, grãos etc.

A Umbanda é uma religião natural, ela entende a natureza física como pontos de força,
santuário natural, sítio sagrado ou mesmo casa dos Orixás. E encontramos variadas
formas de oferendas, tem oferenda para tudo, para energização, para descarrego, para
abertura de caminhos, para prosperidade, para amor e por aí vai. O fato é que oferenda
está presente no dia a dia do Umbandista.

Já que é tão comum o ato ofertatório e prioncipalmente depositado na natureza ou nos


pontos de força, como: cachoeira, mata, bosque, mar, encruzilhada... Fica a pergunta: o
Umbandista foi sendo preparado para ter consciência ambiental ?

Nunca se falou tanto em meio ambiente, efeito estufa, caos planetário como nestes
últimos anos. Todavia se não fosse algo tão sério não se falaria tanto. Claro que
podemos ajudar muito fazendo cada um a sua parte, como diminuir o tempo do banho,
selecionar o lixo, diminuir o uso do carro, etc.

Mas é realmente preocupante o que fazem por aí os Umbandista e demais religiões


quando entram na natureza para uma prática sagrada e acabam profanando o espaço
sagrado. É isso mesmo, profanando !

Você já observou a quantidade de lixo que fica no pé da árvore ? Na beira do rio ?

Assustado ? Como é que falo lixo ???

Sim, é lixo mesmo !

Este artigo vai ser assim mesmo, um tanto indigesto, é para provocar náuseas e quem
sabe ao final, no seu vômito, você comece a evitar que os Orixás continuem tendo que
tolerar nosso lixo.

Vamos à parte prática. Reflita comigo, ok ?

O conceito de oferenda é o ato religioso de interação do fiel com seu guia, Orixá e
forças da natureza. Energeticamente o prana das oferendas é usado em beneficio de
quem oferenda ou pra quem se destina, ou seja, quando uma oferenda é feita para
terceiro. Magísticamente é a movimentação de energias e elementais em beneficio
próprio ou de outrem. Isso é a síntese pratica de como funciona a oferenda. A Umbanda
é o culto à natureza e na oferenda colocamos tudo que é natural.

Partindo deste pressuposto fica claro que o conjunto geral da oferenda deve ser um ato
salutar para todos os envolvidos, ou seja, o fiel, a natureza e o Orixá. Pense, os pontos
de força naturais são as casas dos Orixás, como a mata está para Oxossi, o mar está para
Iemanjá, as cachoeiras estão para Oxum, as pedreiras para Xangô, etc.

Oferendar também é uma forma de presentear. Você gosta de receber presentes e eu


também, porém no final a embalagem jogo no lixo e fico com o que é usual no presente.

Sejamos práticos e objetivos. O saquinho plástico não é oferenda. A garrafa não é


oferenda. Os descartáveis não são oferendas. O que é oferenda?

As flores, frutos e comidas.

Se a Umbanda vê a natureza como sagrado, logo deve preservá-la. Todo cidadão precisa
de uma consciência ecológica para o exercício da cidadania, mas com o Umbandista a
coisa vai mais longe, ecologia é preceito religioso, e isso significa muita coisa.

O respeito com a diversidade ritualística que encontramos em nossa religião não pode
ser confundido com tolerância aos abusos. Porem antes de julgar precisamos orientar.

Sei que existem muitos conceitos sobre oferendas e postura dentro dos campos
sagrados. Certa vez me falaram que tudo que entra na mata não pode sair, ou seja,
aquelas dezenas de sacolinhas plásticas que serviram apenas de condutores materiais,
tinham que ficar lá. Os copos plásticos, garrafas e bandejas de isopor também. A
justificativa: não tirar carrego da mata !

Oras, ou aquele lugar é sagrado e como tal é benéfico, ou é profano e prejudicial, temos
que definir isso na mente.

Pelo lado energético ou pergunto: o que vai me atrair negatividades. São as sacolinhas
que por sinal são isolantes ou minha vibração mental e emocional ?

Se é a opção dois então qualquer ambiente me fará mal, certo ?

Então vamos descartar esta obrigatoriedade de poluir o espaço sagrado. Até porque esta
pratica é mais atual do que parece.

Os antigos zeladores do culto de nação e vertentes afros, anterior á Umbanda ensinavam


que as oferendas deviam ser depositadas sobre folhas de bananeira, chapéu-de-couro (
erva ) ou folhagens do Orixá ofertado. Isso é sabedoria natural, não existiam ainda
campanhas ambientais. Mais que isso, eles ensinavam que para natureza só vai o que ela
ofertava. Os elementos orgânicos se decompõem no solo e viram adubo, muitas vezes as
sementes brotam e uma nova vida nasce naquele ambiente.
Contudo, hoje não vemos isso, o que encontramos são garrafas estilhaçadas ao redor de
árvores, panos nobres servindo de toalha para o “ banquete divino “ e muitos
descartáveis que não oferecem nenhuma utilidade.

Além de cuidar do meio ambiente, precisamos zelar pela boa imagem da religião. Pois,
para aqueles que não são adeptos, quando chegam em ambientes com estes “ restos “,
criam uma imagem bastante distorcida do real significado das oferendas.

Questão de Postura

Há algum tempo foi notícia em Porto Alegre – RS uma oferenda na beira do rio Guaíba
contendo 77 cabeças de bode, claro que sabemos que não tem nada de Umbanda nisso,
mas não foi isso que a mídia local divulgou. Também em Curitiba – PR foi pribido a
entrada de Umbandista para pratica de oferendas numa reserva florestal, devido ao
excesso de lixo não orgânico deixado na natureza e nem preciso citar as milhares de
encruzilhadas diariamente forradas por elementos nada agradáveis.

Muitas vezes estes excessos provém da Umbanda, no entanto já foi manchada a nossa
imagem e precisamos de postura real e firme, no dia – a – dia do fiel Umbandista, aliado
a divulgações e mídias como que realmente a Umbanda se porta á natureza.

Em São Paulo capital, dois cemitérios ganharam há seis anos um Santuário de Obaluaiê
/ Omulú para os fiéis promoverem seus cultos e oferendas. No enttanto tivemos notícia
que estes espaços serão desapropriados devido a depreciação do ambiente e a
quantidade diária de animais mortos despejados ali.

Precisamos erradicar o contra – senso da má prática ofertatória. Para só depois


conseguir mudar a imagem social.

Fazendo a Diferença

Foi preocupado com a violência urbana, privacidade e meio ambiente que o Sr. Pai
Ronaldo Linares, presidente da Federação Umbandista do Grande ABC fundou há 30
anos o Santuário Nacional da Umbanda, um espaço que na origem era uma imensa
pedreira e terra seca, hoje todo reflorestado com árvores tópicas, cachoeiras, rio e uma
imensa área verde. O Umbandista tem toda liberdade e privacidade para realização de
seus cultos e oferendas, inclusive em praças específicas para cada Orixá ou linha de
trabalho. Hoje, 263 terreiros estão construídos nesta área e há 40 lotes disponíveis para
aluguel diário aos interessados em fazer trabalhos na natureza. É aberto ao público geral
sem restrições.

Lá sim, você pode fazer uma oferenda com panos, pratos, descartáveis, vidros etc, pois
o Santuário conta com uma equipe de funcionários responsáveis pela limpeza, a coleta é
seletiva, o que é reciclado tem seu destino certo, o que é orgânico vira alimento para o
minhocário que produz o adubo utilizado para o plantio de 300 mudas mensais e faz
parte do reflorestamento da Mata Atlântica que o Santuário mantêm.

Pai Ronaldo informa que o Santuário tem um compromisso muito sério com o meio
ambiente, por isso são feitas três coletas semanais de lixo, totalizando uma média de 8 a
10 toneladas de puro lixo. Não está incluso nesta conta os recicláveis, orgânicos e
alguidares. Em épocas de festa chega coletar quase o dobro disso. Todo esse lixo vem
das 2 a 3 mil pessoas que freqüentam semanalmente o Santuário.

O mais interessante é como se aproveita a maioria dos materiais que seriam lixo. Os
alguidares são limpos e triturados para servirem de cascalho nas estradas internas do
parque. Louças, pratos, copos etc, também são limpos, desinfetados e defumados pela
Mão – de – Santo, Dona Luiza, que separa tudo e encaminha para várias instituições de
caridade.

Já os recicláveis são selecionados pelos funcionários que dividem o lucro da venda


destes produtos, que não é pouco, sai um caminhão por mês cheio de garrafas e até duas
toneladas de plástico, papel e latas, se juntássemos tudo isso, o peso seria em média de
25 toneladas ao mês de “ lixo “, evitado de ser despejado e destruir a natureza.

Próximo a cachoeira uma placa alerta os visitantes: “O lixo traz o rato, o rato traz a
cobra, a cobra traz a morte”. A limpeza das oferendas é feita sempre com o prazo
mínimo de 24 hs após ser arriada. “O Umbandista não precisa de uma catedral como
só o gênio humano é capaz de construir. So precisa de um pouco de natureza, como
Deus foi capaz de criar “ - frisa Pai Ronaldo.

Em Juquitiba, também interior de São Paulo, a União de Tenda de Umbanda e


Candomblé do Brasil, presidida pelo Sr. Pai Jamil Rachid, construiu o Vale dos
Orixás com o mesmo fim, porém, restrito aos filiados da federação.

Pai Jamil afirma que, por mês, cerca que 2.000 filiados utilizam este espaço.

Em Bauru – SP, a Federação Umbandista Reino de Oxalá, presidida por Sr. Pai
Rubens Amaro, há oito anos fundou o Vale dos Orixás.

Infelizmente pelo tamanho do nosso corpo religioso são poucas as iniciativas para “
privatizar “ santuários naturais e trazer conforto, segurança e ecologia para nossa
comunidade.

Mas se você reside distante destes espaços se adapte e faça a diferença.

Dicas de Bom Senso

De forma geral os Umbandistas se utilizam da natureza pública, poucos tem acesso aos
recintos privados, como citamos. Portanto, todos nós podemos adotar atitudes simples
que resultam em grande impacto.

Quando chegar no ponto de força da natureza e definir onde irá arriar sua oferenda,
priorize forrar o chão com as folhagens do ambiente. Coloque os elementos e comidas
sobre as folhas. Dispense pratos ou coisas do tipo. Os líquidos coloquem em copos
descartáveis. Acenda as velas e prepare tudo.

Não há resultado em oferendas feitas às pressas, lembre – se que este é um ato sagrado e
com dedicação deve ser ministrado. Então, faça as preces, cantos e pedidos com
tranqüilidade. Normalmente na natureza em 30 a 40 minutos as velas já queimaram,
ótimo. Recolha as borras e coloque no lixo. Antes de sair, jogue o líquido dos copos ao
redor da oferenda, os descartáveis vão pro lixo. Faça o mesmo com garrafas e demais
elementos. Certifique – se que ficará na natureza apenas material não poluente.

Seguindo esse preceito deixaremos de agredir a natureza sem perder o ato sagrado e
ainda alegrar o Orixá. Não apóie velas no tronco das árvores, você pode matá – lãs. E
lembre – se: LIXO NO LIXO !

Conceitos de Oferendas e a Natureza

No livro Rituais Umbandistas de Rubens Saraceni, pela Editora Madras, o autor cita
na página 21 que “ o ato de fazer uma oferenda ritual a um guia espiritual em um ponto
de força abre – lhe a possibilidade de recorrer à própria hierarquia e às forças da
natureza, tanto para auxiliarem seu médium como para socorrerem as pessoas que
atender. “ Ele ainda complementa que “ a oferenda ritual atua como uma chave de
abertura e de religação do médium com o Orixá...”

O espírito Ramatís no livro A Missão da Umbanda, editora do Conhecimento, na


página 94 elucida que “ na cosmogonia das religioes africanistas, especialmente a
ioruba, o ato de “arriar “ uma oferenda estabelece e perpetua uma troca de força sagrada
entre dois mundos: o divino oculto e o profano visível; tudo é energia e tem mais
afinidade com este ou aquele Orixá. Essa energia deve estar sempre em movimento em
ambos os sentidos: entre o plano concreto – material e o invisível – astral. Assim como
a água em seu ciclo sucessivo de chuva, evaporação, resfriamento e degelo, a dinâmica
de transferência energética é considerada essencial e parte da vida. “

Observamos dois autores que ao tratar das oferendas convergem no mesmo ponto. A
grandiosidade e sacralidade da oferenda e dos pontos naturais.

Tempo de Indigestão da sua Oferenda

Material Tempo de Degradação


Alguidar Indeterminado
Louças ( Ibás ) Indeterminado
Lata de Alumínio 200 a 500 anos
Vidro Indeterminado
Isopor Indeterminado
Metal 100 anos
Garrafa Pet 400 anos
Copo de Plástico 50 anos
Bituca de Cigarro 5 anos
Papel 3 a 6 meses
Pano 6 meses a 1 ano
Sacolas Plásticas 100 anos
Tampinha de Garrafa 150 anos
Palito de Fósforo 6 meses
Espero que a ajuda tenha sido de bom proveito para todos os irmãos.

Abraços e um grande Axé

Rô de Aruanda

... Francisco Rebouças

> Também nós, tenhamos cuidado!

Artigos

Também nós, tenhamos cuidado!

"Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos
homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados e descaiais da vossa firmeza." -
Pedro. (II PEDRO, 3:17.)

É imprescindível que entendamos o quanto antes, que o esclarecimento íntimo é


inalienável tesouro que os discípulos sinceros do Cristo precisam desenvolver por todos
os meios ao nosso alcance e com a máxima urgência e determinação possíveis.

A sociedade está repleta de homens abomináveis que invadiram e dominam os campos


da política, da ciência, da religião e constroem obras lamentáveis e chocantes para os
espíritos menos vigilantes; que desavisadas e imprudentes, são por eles arrebatadas às
surpresas do vale do engano e da morte, e seguem absolutamente desequilibradas nos
círculos da vida em ambos os planos; o físico e o espiritual.

Dos enganos e das falsidades de suas construções, individualistas, consolidadas nas


ações orgulhosas e egoístas, precipitam-se em despenhadeiros apavorantes, onde se
distanciam, cada vez mais, da moral, da dignidade e da luz.
São muitos os imprevidentes que, sem uma reflexão maior se deixam arrastar por
fantasiosas criações das mentes perturbadas pela posse do ouro e do poder; mas, graças
ao trabalho de incansáveis e dedicados discípulos da Seara de Jesus, alguns desses
distraídos do caminho, conseguem obter socorro eficiente e justo, no auxílio que
recebem dos Celestes Emissários do alto, para deixarem o equivocado e perigoso
caminho que trilham, simplesmente por desconhecerem a verdadeira situação em que se
encontram iludidos pelo fascínio das falsas e ilusórias fantasias.

Não procuraram analisar as informações que lhes foram apresentadas, e acreditaram


sem ao menos o trabalho de verificar a procedência e o fundamento moral de tais
conceitos, onde muitas das vezes o sentido verdadeiro dos ensinos ministrados, foram
falseados ou modificados propositadamente, visando unicamente, a mantê-los na
ignorância por motivos escusos e condenáveis.

Semelhante situação não acontece com os verdadeiros aprendizes, fiéis seguidores da


mensagem cristã, que por estudarem de forma séria e disciplinada, o contido nos
Evangelhos, conhecem, de antemão, a verdade de tudo o que o Mestre Maior da
humanidade ensinou e exemplificou com sua conduta irrepreensível.

O dedicado aprendiz só se deixará levar por equívocos quando se fizer surdo aos
convites do bem, deixando-se envolver pelas armadilhas das sombras, podendo dessa
forma ser levado a percorrer os tortuosos caminhos, diferentes daqueles sugeridos pelos
Emissários da Paz e do progresso.

Os Bons Espíritos só nos conduzem por estradas largas e retas onde podemos desfrutar
da calmaria natural de quem tem a consciência tranqüila de que está agindo em
conformidade com os princípios Divinos contidos nas Leis de Deus, perfeitas e
imutáveis.

Deus nos dá sempre em conformidade com nossas necessidades; ao doente e


desprotegido permitirá que receba os benefícios do remédio; ao equivocado permitirá
lhe seja transmitida a orientação adequada a que encontre o porto seguro do equilíbrio; e
ao trabalhador, proporcionará ganho suficiente para lhe garantir os recursos suficientes à
conquista do progresso moral que precisa empreender rumo à felicidade e à pureza
espiritual.

Necessário se faz entender, que o fiel discípulo de Jesus será mais cedo ou mais tarde
bafejado pelas benesses do Céu em seus dias, recebendo os frutos do esclarecimento,
que lhe trarão consolações, luzes e bênçãos, para que se dedique ao trabalho em seu
próprio favor e de seu semelhante cada vez mais e melhor, por saber, de antemão, o
quanto lhe compete realizar em serviço e vigilância para se desvencilhar das ilusões dos
homens abomináveis, agindo com a responsabilidade que lhe compete, fugindo das
aflitivas realidades que aguardam nos planos inferiores os incautos, preguiçosos e
inconseqüentes de hoje.

... José Passini

> Fé Raciocinada
Artigos

FÉ RACIOCINADA
José Passini
Juiz de Fora - MG

“A fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da


Humanidade.” (1)

Em torno da fé existem inúmeras afirmativas negando-lhe o caráter racional. Segundo


alguns teólogos, raciocina-se sobre a crença, mas não sobre a fé. A fé, segundo eles, é
uma virtude, um dom que transcende a própria razão.

Por colocarem-na como virtude ou dom transcendental, pertencente exclusivamente à


área do sentimento, é que muitas pessoas confundem emoção com fé. Por isso, é comum
pessoas dizerem ter sentido uma fé imensa, capaz de levá-las a grandes realizações, no
momento em que ouviam o relato de passagens do Evangelho, ou de ações levadas a
efeito por benfeitores da Humanidade, ou até mesmo em decorrência da simples leitura
de uma página edificante. A emoção, a vibração espiritual que os atos nobres suscitam
nas almas já portadoras de alguma sensibilidade não pode ser confundida com fé. O
estado emocional é transitório, enquanto a fé é permanente. A emoção, se analisada e
orientada pela inteligência, pode ser auxiliar valiosa para levar a criatura a modificar-se
para melhor. Entretanto, se não for esclarecida pela razão pode conduzir ao fanatismo, à
chamada fé cega, que é a negação da própria fé.

O mundo está cheio de exemplos tristes dos frutos do fanatismo religioso. Em nome da
fé, quantas perseguições, quantas mortes e até guerras? Ainda nos dias atuais,
principalmente na semana santa, existem pessoas que vertem seu próprio sangue,
ferindo seus corpos, ou se entregam a privações terríveis no intuito de mostrar sua fé em
Deus. Se raciocinassem, veriam que Deus, como Pai amoroso, bom e misericordioso,
nunca poderia ser homenageado com o derramamento do sangue dos Seus filhos. Essa
concepção de um deus sanguinário, combateu-a o Profeta Elias, séculos antes de Jesus,
quando enfrentou os sacerdotes adoradores do deus Baal. (I Reis, 18: 22 a 40).

Aprende-se no Espiritismo que, na sua caminhada evolutiva, o Espírito vai conhecendo


as leis de Deus, vai percebendo-lhes a perfeição e, quanto mais as conhece, mais se
identifica com elas, mais confia na justiça e no amor do Criador, mais se conscientiza da
Sua perfeição, mais tem fé. Essa a fé que nasce do entendimento. Inabalável,
indestrutível.

Emmanuel ensina: “Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza


que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia
constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a
possibilidade de não mais dizer eu creio, mas afirmar eu sei, com todos os valores da
razão, tocados pela luz do sentimento.” (2).

A fé que o Espiritismo preconiza não é uma fé contemplativa, capaz de levar uma


pessoa à imobilidade, em situações de êxtase, em que fica aguardando providências de
Deus em seu favor. Ao contrário, é uma fé dinâmica, edificada vagarosa e
conscientemente pelo Espírito, à medida que evolui, conforme ensina Emmanuel: “A
árvore da fé viva não cresce no coração miraculosamente. A conquista da crença
edificante não é serviço de menor esforço. A maioria das pessoas admite que a fé
constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino.”
(3)

A fé espírita não é aquela que se fixa em objetos materiais como cruzes, escapulários,
bentinhos, talismãs, amuletos, medalhas, etc. O espírita tem fé em Deus, em Jesus, nos
bons Espíritos, entidades dotadas de sentimento e de inteligência, seres capazes de
movimentar recursos em seu favor. Essa fé é muito diferente da crença infantil num
pretenso poder mágico de objetos materiais, que não poderiam jamais movimentar, com
inteligência e sentimento, recursos a benefício de alguém.

Entretanto, é lícito se indague sobre a origem da fé raciocinada. Teria ela nascido com o
Espiritismo? Não, a fé raciocinada nos vem de Jesus, dos ensinamentos do seu
Evangelho. O Mestre mudou completamente o próprio conceito de religião,
introduzindo no campo até então puramente emocional da fé, o componente razão,
entendimento. Ninguém, até Jesus, fez tantos apelos ao raciocínio no âmbito religioso.
Kardec, conhecedor profundo da atuação de Jesus, o conhecia, não como um místico,
mas como um educador de almas que, ao tempo em que tocava o sentimento daqueles
que o ouviam, sabia também levá-los ao entendimento das lições.. Por isso, tem a
Doutrina Espírita essa característica de racionalidade. E não podia ser de outra forma,
de vez que ao Espiritismo coube o papel de reviver o Cristianismo na sua pureza,
simplicidade e pujança originais Jesus nunca explorou a emoção de ninguém. Sua fala,
mansa e humilde, precisa e firme, era dirigida ao sentimento e à inteligência. Suas lições
foram sempre pautadas no diálogo, através do qual propunha o exame racional daquilo
que ensinava.

Censurado por haver curado uma mulher paralítica num sábado, bem poderia deixar que
a própria cura falasse por ele, mas não perdeu a oportunidade de, através de uma
pergunta, fazer pensar aqueles que o ouviam: “(...) no sábado não desprende da
manjedoura cada um de vós o seu boi, ou o jumento, e não o leva a beber? E não
convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito
anos Satanás a tinha presa?” (Lc, 13: 15 e 16).

De outra feita, ele próprio perguntou aos doutores da lei, antes de curar um homem: “É
lícito curar no sábado?” (Lc, 14: 3). Como não respondessem, Jesus curou o hidrópico e
o despediu. Depois, ele volta a inquiri-los, a fim de conscientizá-los de que acima da
letra morta há uma interpretação racional, inteligente: “Qual de vós o que, caindo-lhe
num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?” (Lc, 14: 5).

“E orando, não useis de vãs repetições...” (Mt, 6: 7). Quer o Mestre dizer que devemos
orar com plena consciência daquilo que falamos, que a nossa oração não seja uma
repetição emocional de uma fórmula decorada, como se fosse algo recitado ou
declamado. Ao contrário, que seja uma mensagem conscientemente elaborada, com um
conteúdo de comunicação dirigida ao Alto, e que não seja uma simples ladainha.

Jesus, ao conversar com a samaritana, à beira do poço de Jacó, demonstra que não
necessitava de inquirir alguém para informar-se de algo. Ali deixa claro para ela que
conhecia-lhe o passado como a palma de sua mão. (Jo, 4: 17). Entretanto,
freqüentemente fazia perguntas para suscitar dúvida no seu interlocutor, a fim de fazê-lo
pensar, raciocinar e não receber passivamente um ensinamento: “Qual é mais fácil?
Dizer: Os teus pecados te são perdoados; ou dizer: Levanta-te e anda?” (Lc, 5: 23).

Ao invés de fazer um discurso eloqüente e emocionado sobre a Providência Divina, o


Mestre busca, através de perguntas, levar seus ouvintes a pensarem, a raciocinarem
sobre Deus. Depois de lhes ter falado sobre os lírios do campo, dizendo que Deus os
veste, e compara sua vestimenta ao luxo do rei Salomão: “Pois, se Deus assim veste a
erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais
a vós, homens de pouca fé?” (Mt, 6: 30).

“E qual de vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E,
pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas
coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que
lhos pedirem?” (Mt, 7: 9 a 11). Também por essa passagem pode-se ver que Jesus não
buscava levar ninguém a uma adoração emotiva, a uma fé cega. Ele poderia ter dito, por
exemplo que se deve ter fé em Deus, criador de tudo o que existe, que é bom, amoroso,
misericordioso, providente etc. Mas não, só isso não bastava. Se ficasse só nessas
afirmações, teria suscitado uma fé passiva. Ele queria fazer as criaturas entenderem,
através de uma comparação, que o Todo Poderoso deveria ser, necessariamente, melhor
que um pai terreno e, portanto, capaz de dar maiores bens aos Seus filhos.

Os apelos que Jesus, nas suas lições, fazia não só ao sentimento, mas também à
inteligência, foi objeto de estudo até mesmo fora do ambiente religioso, por um médico
psiquiatra, Augusto Jorge Cury, quando diz: “... ele não anulava arte de pensar, ao
contrário, era um mestre intrigante nessa arte. Cristo não discorria sobre uma fé sem
inteligência. Para ele, primeiro se deveria exercer a capacidade de pensar e refletir antes
de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Se estudarmos os quatro evangelhos e
investigarmos a maneira como Cristo regia e expressava seus pensamentos,
constataremos que pensar com liberdade e consciência era uma obra-prima para ele.”
(4)

O trecho do Novo Testamento que mais evidencia o ambiente pedagógico, de diálogo,


de liberdade de análise, na busca de esclarecimentos, que Jesus propiciava a todos que
ouviam-lhe as lições é, certamente, o assim chamado “A Transfiguração”. Registra
Mateus, no capítulo 17, que Jesus subiu a um alto monte, acompanhado de Pedro, Tiago
e João. O Mestre orou e se transfigurou, cobrindo-se de luz, ao tempo em que
apareceram – seguramente materializados, pois que os três discípulos os viram – Moisés
e Elias, que conversaram com ele. Passado o momento sublime, ao regressarem, o
Mestre ordena aos discípulos que não contem nada do que acontecera até ele
ressuscitasse. É de se imaginar o contentamento e a emoção que devem ter sentido
aqueles discípulos ao contemplarem Jesus coberto de luz, Moisés, o pai dos profetas, e o
grande profeta Elias. Entretanto, eles não se detiveram em atitude de contemplação
mística, de deslumbramento. Pelo contrário, o raciocínio funcionou imediatamente, na
busca de resposta para algo que lhes pareceu estranho: “E os discípulos o interrogaram,
dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?” (Mt,
17: 10). Por que a pergunta? Ora, havia sido predito pelos profetas – e os escribas
sempre o repetiam – que o Mestre seria precedido por Elias, que voltaria para preparar-
lhe o caminho. Os discípulos, vendo Elias desencarnado, deduziram que algo estava
errado: ou as profecias não espelhavam a verdade, ou aquele que se apresentara e
conversara com Jesus não era Elias, ou Jesus não era o Messias! Jesus, com a
tranqüilidade daqueles que detêm a verdade, respondendo, disse-lhes: “Mas digo-vos
que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe o que quiseram. Assim farão
eles também padecer o Filho do homem.” (Mt, 17: 12). E, em seguida, conclui o
Evangelista: “Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.” (Mt, 17:
13). Tudo estava certo. A profecia já se havia cumprido.

Diante do que se acabou de ver, conclui-se que Jesus foi um pedagogo e não um
místico. Sabia atrair seus ouvintes com as doces consolações da fé, mas não alimentava
atitudes de deslumbramento contemplativo, face aos apelos ao raciocínio com que
mesclava suas sublimes lições. Encaminhava-os ao entendimento lógico, racional dos
fatos! Jesus, como Mestre admirável que foi, soube criar um clima de diálogo aberto.
Foi essa liberdade que levou os discípulos a buscarem imediatamente esclarecimento
sobre a aparição de Elias, embora a pergunta formulada por eles contivesse embutido
um grave questionamento, qual seja o da própria condição de Messias do seu Mestre.
Jesus não se sente agastado e, com a segurança daqueles que estão com a Verdade, os
esclarece. Assim, vê-se claramente que Jesus não impunha suas idéias, não violentava
consciências, nem exigia fé cega, sem exame. Não. Sua mensagem sempre foi dirigida
ao intelecto e ao sentimento, bases legítimas da fé raciocinada, que o Espiritismo veio
reviver.

1. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 9, item 7


2. O Consolador, perg. 354
3. Caminho, Verdade e Vida, cap. 40
4. Análise da Inteligência de Cristo, pág. 18
5. Bíblia Sagrada, trad. João Ferreira d'Almeida (todas as citações)

Publicado no Reformador – fev. 2005

Fonte: http://aeradoespirito.sites.uol.com.br

... José Passini


> A Reencarnação na visão espírita

Artigos

A REENCARNAÇÃO NA VISÃO ESPÍRITA

José Passini
Juiz de Fora - MG

A volta do Espírito ao mundo corpóreo é conhecida desde tempos remotos. Os Egípcios,


os Hindus e os Gregos sabiam que a alma poderia voltar à Terra, usando um novo
corpo. Esses povos acreditavam que, por efeito de determinada punição, essa volta à
vida física poderia dar-se até num corpo animal.

Também os Judeus sabiam da volta do Espírito ao mundo corpóreo, mas não há


referências que admitissem pudesse esse retorno dar-se num corpo que não fosse
humano. A reencarnação, para eles, ocorria em algumas situações um tanto especiais:
ou para concluir o que não tivessem conseguido terminar numa vida, ou para serem
punidos, face a males praticados. Quando o doutor da lei perguntou a Jesus: “Mestre,
que farei para herdar a vida eterna”? (1), não estaria ele querendo que Jesus lhe
ensinasse alguma fórmula especial, uma espécie de atalho, que o desobrigasse de voltar
à Terra, numa nova encarnação? É difícil imaginar que o doutor da lei estivesse se
referindo à obtenção da imortalidade, pois os Judeus tinham convicção profunda a esse
respeito. Tudo indica que ele pretendia lhe ensinasse Jesus um procedimento que o
livrasse do retorno aos trabalhos do mundo, como acontece ainda hoje com pessoas que,
ao se inteirarem da reencarnação – sem levarem em conta a necessidade evolutiva –,
solicitam expedientes que lhes possibilitem não terem mais que voltar à Terra...

Há outra situação em que os Judeus julgavam ser possível a reencarnação: o


cumprimento de missão. O exemplo mais claro é o da esperada volta do Profeta Elias
para a preparação dos caminhos do Messias, conforme atesta o próprio Mestre: “E, se
quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” (2), referindo-se a João Batista.

Coube ao Espiritismo trazer o conhecimento da reencarnação ao mundo ocidental, e o


fez dando uma visão muito mais ampla e profunda, demonstrando que todos os
Espíritos reencarnam, não apenas para a solução de equívocos de uma vida passada, ou
para o cumprimento de determinada missão, mas pela necessidade inerente a toda a
criação: o imperativo do progresso, da evolução.
Em verdade, ainda que não houvesse nenhuma afirmação a respeito da pluralidade das
existências, ela seria depreendida como necessidade absoluta, face à amplitude do
programa de aperfeiçoamento da alma apresentado por Jesus, através do Evangelho. De
quanto milênios vamos necessitar para pormos em prática, integralmente, um
ensinamento como esse: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos; fazei o bem
aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem e caluniam”(3)? De quantos
milênios vamos necessitar, nós Espíritos ainda vacilantes entre o bem e o mal, que não
sabemos amar plenamente nem os amigos? O Codificador demonstra sua visão lúcida a
respeito do assunto, quando inquire os Espíritos: “Como pode a alma, que não alcançou
a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?”(4)

A reencarnação – opondo-se frontalmente à salvação gratuita pela fé – dignifica o


Espírito imortal, que vai galgando os degraus do aperfeiçoamento ao longo dos milênios
sucessivos, crescendo em sentimento e intelectualidade, num trabalhoso processo de
exteriorização da herança divina, concedida igualmente a todos os Espíritos. No
nascedouro, todos absolutamente iguais. As diferenças individuais, portanto, não
decorrem de capricho divino, mas sim do empenho de cada Espírito no sentido de
promover o seu próprio progresso. Nesse caminhar, vai recebendo, por justiça, os frutos
de todo o bem semeado, e, em função dessa mesma justiça, é compelido a reparar os
males praticados, mas não em igual medida, graças à misericórdia divina.

O Espiritismo, ao revelar ao mundo ocidental a reencarnação, prova que a verdade


religiosa não é incompatível com a verdade científica, explicando que a evolução do
Espírito caminha pari passu com a evolução física demonstrada por Darwin, ao tempo
em que resgata diante da consciência humana um dos atributos básicos de um Ser
Perfeito: a Justiça. Tudo provém de uma mesma fonte, todos partimos de um mesmo
ponto, dotados da mesma potencialidade evolutiva, conforme ensinaram os Espíritos:
“É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo ao
arcanjo, que também começou por ser átomo.” (5) Por conhecer essa luz divina
imanente em toda a criação, é que Jesus lançou o desafio evolutivo: “Assim resplandeça
a vossa luz diante dos homens (...)”. (6)

A evolução do Espírito fica muito evidente nas palavras de Jesus, quando se declara, ele
também, um Espírito em evolução: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que
crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas (...).”(7) É
verdade que no dia em que chegarmos a fazer o que o Mestre fazia à época em que
pronunciou essas palavras – daqui a alguns milhões de anos –, pensando que nos
igualamos a ele, ele estará ainda à nossa frente, pois ele disse que poderíamos fazer
obras maiores do que as que ele fazia, mas não disse que nós o ultrapassaríamos.
Ultrapassaremos o ponto evolutivo em que ele se encontrava naquele dia, mas ele estará
ainda à nossa frente, de vez que a evolução é infinita. E nós nem sabemos o que é
infinito, a não ser através de uma definição terrivelmente circular: “aquilo que não tem
fim”!

Kardec, em brilhante ensaio (8), defende, com argumentação irretorquível, o imperativo


da reencarnação sob a ótica da justiça e da misericórdia de Deus. É um trabalho
monumental, até hoje não contestado por filósofo ou teólogo algum. Muitos livros
foram escritos tendo como tema a reencarnação, mas não se conhece nenhum trabalho
sério que rebata os argumentos ali apresentados.
Aos argumentos alinhados pelo Codificador, pode-se ainda acrescentar uma série de
outros, graças aos esclarecimentos trazidos pelo Espiritismo:

Se o Espírito fosse criado juntamente com o corpo, como ficaria a justiça divina ante a
flagrante diferença que existe entre as oportunidades deferidas ao homem e à mulher, na
família, na sociedade e até mesmo nas religiões? Seria o caso de a mulher perguntar – e
muitas perguntam – por que Deus as criou mulheres, sem as consultar, para sofrerem,
em muitos casos, cerceamento de liberdade por parte dos pais, e depois as exigências e,
não raro, a brutalidade dos maridos, enquanto lhes pesam nos ombros as sérias
responsabilidades no encaminhamento e na manutenção da saúde dos filhos. O
Espiritismo, dentro de uma visão evolucionista, mostra que o Espírito não tem sexo,
podendo encarnar-se como homem ou como mulher, segundo o seu livre-arbítrio.

De acordo com a doutrina da unicidade das existências, a criação de novas almas não
seria decorrente da vontade do Criador, mas estaria sujeita ao arbítrio dos casais, pois
que poderiam usar um contraceptivo, impedindo Deus de usar o Seu poder de criar uma
nova alma. O Espiritismo nos ensina que, ao usar qualquer recurso anticoncepcional,
um casal apenas impede que um Espírito, já criado por Deus, que já encarnou-se outras
vezes, volte à Terra para uma nova etapa de aprendizagem.

No caso de um estupro, por que se valeria Deus de um ato de violência, de ultraje, de


desrespeito, para criar um Espírito? Onde estaria a justiça divina, se outros são criados,
ao contrário, em momentos de amor sublime, como filhos altamente desejados? Por que
teria esse Espírito, fruto de uma violência, de ficar estigmatizado por toda a Eternidade?
Através dos esclarecimentos da Doutrina Espírita, sabe-se que o acontecimento brutal
que se deu tem causas anteriores, e que o Espírito que se reencarna, aceitando ou sendo
compelido a aceitar uma situação dessa natureza, tem ligações de natureza vária,
estabelecidas no passado, principalmente com aquela que lhe será mãe.

Se não houvesse experiências anteriores, como explicar a rebeldia, a brutalidade, o mau


caráter de um filho que tem toda uma ancestralidade constituída de pessoas dignas?
Alguém poderá objetar, dizendo que é herança genética de um parente longínquo. Mas
que culpa têm os pais? Por que Deus permitiria que esses gens danosos entrassem na
formação daquela alma? A prosperar essa idéia, chegar-se-ia ao absurdo de, no esforço
de impedir Deus de criar Espíritos de mau caráter, dever-se-ia esterilizar todos os que
não fossem portadores de virtudes. Seria assim fácil “aperfeiçoar” a raça humana, como
pretenderam, no campo físico, os cultores da louca teoria da raça pura.

O Espiritismo esclarece que ninguém herda inteligência, virtudes ou defeitos morais,


por serem atributos do Espírito, que os traz como bagagem própria, intransferível
quando reencarna. Se um casal tem um filho que lhes nega as linhas morais da família,
trata-se de um Espírito que foi por eles adotado, em função do desejo de auxiliá-lo, ou o
receberam como conseqüência de um passado comprometido com ele, “porquanto o
Espírito já existia antes da formação do corpo.” (9) Dentro dessa linha de raciocínio,
chega-se à conclusão que todos os filhos são adotivos, enquanto Espíritos criados por
Deus. O casal apenas “fornece o invólucro corporal.” (9) Diga-se, de passagem, que,
para um ajustamento de linguagem, dever-se-ia dizer: filhos consangüíneos e não-
consangüíneos, porque todos são adotivos.
A doutrina reencarnacionista é a única que não é racista, pois demonstra que Deus não
seria justo se criasse um Espírito imortal dentro de uma raça. O Espírito é criado por
Deus e evolui, passando pela humanização, no processo de angelizar-se. Ao humanizar-
se, encarna-se inúmeras vezes, nas mais variadas raças, mas seu início, sua criação não
está vinculada a grupo étnico nenhum. A bem dizer, todos os Espíritos pertencemos a
uma única raça, pertencemos à raça divina, porque somos filhos de Deus.

Bibliografia

Novo Testamento:
(1) - Lc, 10: 25
(2) - Mt, 11: 14
(3) - Mt, 5: 44
(6) - Mt, 5: 16
(7) - Jo, 14:12

O Livro dos Espíritos:


(4) - item 166
(5) - item 540
(8) - item 222

O Evangelho segundo o Espiritismo:


(9) Cap. 14, item 8

Publicado no Reformador – set. 2004

... Momento Espírita (redação)

> A Canção da Sobrevivência

Artigos

Existem pessoas que reclamam condições para a realização de tarefas. Há as que se


desculpam por não mais terem progredido, galgado altos degraus porque lhes faltaram
melhores oportunidades.
Entretanto, a engenhosidade humana não tem limites e quando o Espírito deseja,
concretiza seus anseios, embora os embates de fora, as agressões, as adversidades.

Durante a Segunda Guerra Mundial, num imundo campo de concentração em Sumatra,


um bando de mulheres magras e desnutridas foram se sentindo sempre mais fracas.

Até que idealizaram algo que as pudesse aliviar da tortura do aprisionamento e das
péssimas condições de alimentação e higiene.

Foi em dezembro de 1943 que as prisioneiras principiaram a serem avisadas que suas
colegas promoveriam um concerto.

Ao ar livre, em um espaço cercado, a multidão de crianças e mulheres se apinhou.

Alguém escreveu no chão sujo: orquestra.

As participantes foram entrando, uma após a outra, cada qual portando um banquinho e
algumas folhas de papel.

Nenhum instrumento à vista. Estranha orquestra. Seria uma brincadeira engendrada


pelos guardas brutais, com o fim único de abater o ânimo, já tão escasso daqueles seres
sofridos?

Então, uma missionária presbiteriana, magra, de grossas lentes destacou-se do grupo


miserável de vestidos remendados e gastos, de pés descalços, cabeças raspadas e
ataduras nas pernas e nos pés, para cobrir as feridas.

Sua voz soou clara, como um arauto de boas novas: Esta noite vocês ouvirão um coro
de vozes femininas produzindo música, geralmente executada por orquestras.

Fechem os olhos, imaginem-se num teatro imponente e ouçam a música imortal.

As prisioneiras passaram a imitar o som da orquestra. Num crescendo, as sinfonias


invadiram o pavilhão.

Pelas mentes cansadas das mulheres que ouviam, as imagens se sucediam como por
encanto. A Pastoral do Messias do compositor Handel evocou o Natal, um prelúdio do
polonês Chopin reavivou lembranças de um amor que um dia existira na fase do namoro
e do casamento de muitas delas.

O som de violinos podia ser ouvido. Em certo momento, o guarda de baioneta no rifle,
furioso, investiu contra o grupo.

No exato momento, o coro atingiu o auge de sua apresentação e ele permaneceu imóvel,
como que hipnotizado pelos acordes vocais.

Por mais três ou quatro vezes, o coro fez concertos. A música lhes renovava as
esperanças e o sentido de dignidade humana.

Quando cantavam, esqueciam que se encontravam num campo de concentração, entre


ratos e mau cheiro.

Suas almas alçavam o vôo da liberdade e em suas asas conduziam as companheiras.

Além das cercas, dos maus tratos elas andavam nos campos, aspiravam o perfume das
flores, adentravam salões de festa, teatros e participavam do grandioso concerto.

Seu canto as levava para muito além dos muros, da miséria e do desamor.

***

Você tem na garganta uma flauta mágica, disposta por Deus, para a modulação da
canção da paz.

Use-a, todos os dias, para executar a sinfonia da esperança aos ouvidos dos aflitos e
ciciar doces melodias para os corações em desesperança.

Una-se a outras vozes e à orquestra divina que se chama amor.

Redação do Momento Espírita, com base no artigo Canção da sobrevivência, da Revista


Seleções do Reader´s Digest, de fevereiro de 1998.

... Nino Denani

> Médiuns e Guias

Artigos

Amigos,

Esse texto, acima de todos os outros, é fundamental que seja reapresentado, pelas
constantes mensagens que recebemos:
Nós, assim como vários outros blogs de Umbanda pela internet, temos percebido uma
série de questões do tipo "gostaria de saber a história", perguntando sobre Caboclo X,
ou do Exu Y, ou da Cigana W. Isso tem sido um problema, pois é como tentar saber a
história da vida de uma pessoa que você encontra na rua, perguntando para uma outra
pessoa que nunca a viu. E faço essas afirmações com base em algumas pesquisas. Por
exemplo; Alex de Oxossi, no blog Povo de Aruanda, teceu um texto sobre o caso que
diz:

"Eu estou na internet desde de 1998, mas tem aproximadamente 5 anos que venho
tentando falar de Umbanda na internet, mas logo assim que eu comecei procurava feito
um louco, história do cigano que eu trabalho, do Exú e do Caboclo, nada encontrei e um
dia o cigano que trabalho, falou que a história dele estava começando naquele exato
momento e seria aquela que eu teria que aprender, seria aquela que eu teria que
propagar, dentro das Leis da Umbanda.

(…)

Exemplo:
Eu posso trabalhar com Tranca Ruas das Almas e você também, podemos até ter os
mesmos Pais e Mães de cabeça, mas o Tranca Ruas das Almas que você trabalha, não é
e nunca será o mesmo que eu trabalho, mas ambos chegam na mesma vibração, na
mesma energia, são das mesmas Falanges."

Visto isso, podemos concluir algumas coisas básicas, que devem fazer parte da bagagem
cultural de cada um, principalmente de quem está começando na Umbanda:

Primeiramente, cada espírito é um espírito com vida própria e linha evolutiva própria.

Segundo, os nomes que ostentam são, na verdade, identificações das linhas de trabalho
e das forças que carregam, e não seus nomes quando encarnados. É como se o exército
do general Silveira assumisse o nome "Silveira" para diferenciá-los dos soldados de
outros exércitos.

Terceiro, um guia não se apresenta, necessariamente, com a sua última forma


encarnada. Um preto velho não foi necessariamente nem negro e nem velho. Um
caboclo não foi necessariamente um índio, até porque a palavra "caboclo" não diz
respeito aos índios, e sim ao mestiço de branco e índio. E um erê não desencarnou,
necessariamente, durante a infância. Acontece que o espírito, quando é agraciado devido
ao seu esforço próprio, com a condição de trabalhador junto aos médiuns, tende a se
afinar a certas linhas devido sua influência energética. Daí, para que nós, encarnados,
compreendamos sua forma de trabalho, eles assumem tais nomes. Um mesmo espírito
pode se apresentar, por exemplo, num centro kardecista como médico, num terreiro de
Umbanda como caboclo, num de candomblé como Orixá e ainda auxiliar trabalhos
energéticos como o Reiki, sem se apresentar em absoluto.

Visto todas essas condições, podemos concluir que, mesmo que uma pessoa encontre na
internet ou em livros a história da vida da Cabocla Jurema, para citar somente um
exemplo, essa história poderá não concordar com a história pessoal da cabocla com a
qual você trabalha. E isso acontece, também, com as formas de incorporação.
A incorporação obedece, primeiramente, ao alinhamento entra as energias vibratórias do
médium e do guia. O primeiro tem que subir (afinar) sua vibração e o segundo tem que
descer (densificar) a sua, para que as duas comunguem em uma mesma faixa e
consigam se corresponder. Esse é o motivo da concentração que o médium necessita
para o ato. E esse é também o motivo para que a incorporação não queira dizer que o
espírito de um dá licença para o outro espírito assumir o corpo.

Depois existe um mecanismo de proteção para a consciência do encarnado, ao qual


damos o nome de "Animismo". É uma função assumida pela inconsciência, que junta
várias informações recorrentes para recriar uma nova forma de agir. Isso é saudável e
não condenável, ao contrário do que alguns pensam. Então o modo que uma pessoa
incorpora um guia é único e pessoal, não dando para assumir regras aqui. Ficar
procurando pela internet, ou em livros, que o guia X incorpora de uma maneira X só
pode ser prejudicial, no ponto que influencia o animismo do neófito, e causa
insegurança a partir do momento que o neófito percebe que não faz da mesma maneira.

"Aumentar o animismo: A pessoa lê uma descrição de que o Caboclo Y não fuma


charuto, quando o incorpora fica com aquilo na cabeça, assim, mesmo que o Caboclo
queira pedir um charuto, pode encontrar dificuldades de romper esta barreira anímica
criada pelo médium.

Causar Insegurança: O médium lê que o Exu Z quando incorpora ajoelha no chão, aí


pensa, "nossa o que eu incorporo não ajoelha!!!" e começa a se sentir inseguro quanto a
manifestação do seu guia, podendo com isso atrapalhar o seu desenvolvimento."

Portanto, estou bem seguro em afirmar que a história do guia é uma coisa maravilhosa
de se saber, até porque o guia tem uma forma singular de apontar os erros e dar lições,
mas só quem pode saber a história do seu guia é ele mesmo e só quem pode saber a
maneira de incorporá-lo, a maneira como ele age, é você, deixando o pensamento livre
para que ele se manifeste à vontade. Umbanda é amor e não conheço quem não ame
seus guias, por isso mesmo devemos tratá-los como tratamos nossos amigos, nossos
irmãos, como seres únicos e completos e não como seres presos a conceitos únicos,
presos a uma única vida.

... Francisco Rebouças

> Conversa sobre de Mediunidade

Artigos
É de suma importância que todos nós espíritas, que tomamos parte de uma tarefa
qualquer na área da mediunidade em nossas casas espíritas, estejamos devidamente
preparados para esse sublime mister espiritual.

Primeiramente, instruídos em todos os seus fundamentos através dos estudos sérios e


aprofundados sobre a matéria em análise, constantes da codificação do espiritismo, mais
particularmente, em O Livro dos Médiuns, além de inúmeras outras obras de
reconhecido cunho doutrinário, trazidos ao nosso conhecimento por médiuns de grande
capacidade mediúnica e respeito no meio espírita, como Chico Xavier, Divaldo Franco,
Raul Teixeira entre outros.

Precisamos atentar para os sérios e nobres objetivos da mediunidade para nós médiuns,
pois, como nos esclarecem os Nobres Emissários da Espiritualidade Superior, a
mediunidade é uma sagrada ferramenta colocada ao nosso dispor pela Soberana
Sabedoria do Universo, para o nosso aprimoramento espiritual e crescimento como Ser
imortal a caminho da pureza e da felicidade que nos está reservada aguardando por
nossa decisão de empreender os necessários esforços por conquistá-la.

Somente através do adequado uso dos talentos mediúnicos de que somos portadores, é
que verdadeiramente poderemos nos tornar úteis aos Arquitetos Divinos para realizar as
atividades da mediunidade de forma perfeita em nosso proveito próprio e do nosso
semelhante, na Seara bendita do nosso Mestre e Guia, Jesus de Nazaré.

Para que melhor entendamos as responsabilidades que nos estão depositadas no


exercício da mediunidade com Jesus, ouçamos a reposta de Divaldo Franco sobre o
assunto.

Qual o objetivo de uma sessão mediúnica?

Divaldo - É acima de tudo uma oportunidade de o indivíduo auto-reformar-se; de fazer


silêncio para escutar as lições dos espíritos que nos vêm, depois da morte, chorando e
sofrendo, sendo este um meio de evitar que caiamos em seus erros. É também esquecer
a ilusão de que nós estejamos ajudando os espíritos, uma vez que eles podem passar
sem nós. No mundo dos espíritos, as Entidades Superiores promovem trabalhos de
esclarecimento e de socorro em seu favor; nós, entretanto, necessitamos deles, mesmo
dos sofredores, porque são a lição de advertência em nosso caminho, convidando-nos ao
equilíbrio e à serenidade. Assim, vemos que a ajuda é recíproca:
O médium é alguém que se situa entre os dois hemisférios da vida. O membro de um
labor de socorro medianímico é alguém que deve estar sempre às ordens dos Espíritos
Superiores para os misteres elevados.

À hora da reunião, devem-se manter, além das atitudes sociais do equilíbrio, a


serenidade, um estado de paz interior compatível com as necessidades do processo de
sintonia, sem o que, quaisquer tentames neste campo redundarão inócuos, senão
negativos.

Depois da reunião é necessário manter-se o mesmo ambiente agradável, porque, à hora


em que cessam os labores da incorporação, ou da psicografia, o fenômeno objetivo
externo, em si, não cessam os trabalhos mediúnicos no mundo espiritual. Quando um
paciente sai da sala cirúrgica, o pós-operatório é tão importante quanto a própria
cirurgia. Por isso, o paciente fica carinhosamente assistido por enfermeiros vigilantes
que estão a postos para atendê-lo em qualquer necessidade que venha a ocorrer.

Quando termina a lide mediúnica, ali vai encerrada, momentaneamente a tarefa dos
encarnados, a fim de recomeçá-la, logo mais, no instante em que ele penetre a esfera do
sono, para prosseguir sob outro aspecto ajudando os que ficaram de ser atendidos e não
puderam, por uma ou outra razão. Então, convém que, ao terminar a reunião mediúnica
seja mantida a psicosfera agradável em que as conversas sejam edificantes. Pode-se e
deve-se fazer uma análise do trabalho realizado, um estudo, um cotejo no campo das
comunicações e depois uma verificação da produtividade; tudo isto em clima salutar de
fraternidade objetivando dirimir futuras inquietações e problemas Outros”.

Assim sendo, irmão e amigos, estejamos preparados sempre que nos apresentarmos aos
amigos Celestes para juntos participarmos de tarefas tão dignas, de forma a contribuir
com o nosso melhor, na construção da paz e da luz nos nossos caminhos, enquanto
estamos usufruindo da presente oportunidade que Deus por amor e bondade nos
concedeu.

Fonte:
Livro: Diretrizes de Segurança – Questão 31.
Divaldo P. Franco/ José Raul Teixeira.

Francisco Rebouças.

... Francisco Rebouças

> Provas ou expiações, caminhos para a felicidade!

Artigos
A humanidade movimenta-se bastante aturdida na Terra, planeta de provas e expiações,
por causa do seu atual estágio evolutivo, onde seus habitantes ainda bem longe estão da
pureza e da perfeição a que está destinada; residindo momentaneamente neste
abençoado planeta que nos abriga e concede oportunidades para nos redimirmos diante
das perfeitas Leis Naturais, que regem com justiça os destinos dos seus habitantes,
capacitando-lhes a seguir para moradas bem mais interessantes. Na maioria das vezes,
ficamos perplexos diante do que constatamos no dia a dia de nossas vidas, por que nos
falta ainda a devida compreensão desses mecanismos automáticos que nos surpreendem
em cada ação que perpetramos, dando-nos o justo salário pela obra executada,
concedendo na medida certa o doce sabor da paz interior pelas boas obras realizadas ou
o sabor amargo pelas menos felizes que empreendemos diante do próximo ou da vida.

Assim sendo, como desde os distanciados séculos de nossa criação, nos dedicamos em
maior parte nas más construções, estamos em maioria esmagadora diante das aflições
pelas quais passamos na atual existência e que muitas das vezes não encontramos
motivos que justifiquem tais situações afligentes, que nos sucedem no presente, e que
nos deixam desesperados e revoltados a blasfemar contra o Criador, que parece não está
se importando com nossos sofrimentos tão “injustos”.

No entanto, não são os sofrimentos atuais somente o resultado das nossas obras
infrutíferas de ontem, mas, para muitos de nós, são provas que buscamos realizar com
sucesso para galgarmos subir alguns degraus na escala evolutiva do Espírito Imortal,
conforme podemos constatar pelos ensinos dos Espíritos Superiores na matéria que
segue.

“9. Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a
existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo
Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve
sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia,
são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser
provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada
obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela
qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta.
Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada,
de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas
precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores,
somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário,
considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à
revolta contra Deus.
Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é
indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte
resolução, o que é sinal de progresso.

10. Os Espíritos não podem aspirar à completa felicidade, enquanto não se tenham
tornado puros: qualquer mácula lhes interdita a entrada nos mundos ditosos. São como
os passageiros de um navio onde há pestosos, aos quais se veda o acesso à cidade a que
aportem, até que se hajam expurgado. Mediante as diversas existências corpóreas é que
os Espíritos se vão expungindo, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provações da
vida os fazem adiantar-se, quando bem suportadas. Como expiações, elas apagam as
faltas e purificam. São o remédio que limpa as chagas e cura o doente. Quanto mais
grave é o mal, tanto mais
enérgico deve ser o remédio. Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito
tinha a expiar e deve regozijar-se à idéia da sua próxima cura. Dele depende, pela
resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas
impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar.” 1

Resta-nos encarar com decisão as nossas atuais dificuldades, pois, não estaremos em
uma situação qualquer sem nada termos contribuído para tal, e estejamos absolutamente
certos de que teremos quantas oportunidades nos forem necessárias, para alcançar o fim
a que todos estamos destinados pela Soberana Inteligência Universal, que é a pureza
espiritual e a perfeição relativa, e não nos cabe fiscalizar as ações do nosso próximo,
pois, segundo nos afirmou o Mestre de Nazaré, a cada um será dado segundo suas
próprias obras.

Foi Jesus quem nos propôs que não julgássemos os nossos semelhantes, pois, se assim
procedermos, poderemos estar cometendo enorme injustiça para com muitos dos irmãos
em sofrimento na Terra, que em verdade não estão em processo expiatório, como
poderíamos achar, mas sim, em prova com finalidades nobres de crescimento e
evolução moral espiritual.

Fonte:
1) E.S.E. Cap. V, itens 9 e 10.

Francisco Rebouças.
... Momento Espírita

> O milagre do perdão

Artigos

Tudo ia muito bem até aquele dia. Ela era uma mulher casada. E muito bem casada. Era
feliz. Seu marido, um alto executivo, apesar das constantes viagens que o retinham fora
do lar a períodos regulares, era um homem atencioso.

Nada havia que ela desejasse que ele não viesse a satisfazer. Uma casa confortável,
segurança, carinho.
Até aquele dia, quando a notícia chegara de repente: ele sofrera um infarto. Nem uma
última palavra, um último abraço. Nada.

O enterro foi triste e silencioso. Depois só ficou uma imensa saudade. Tudo era motivo
de recordação.

Os livros dele, o jardim onde passeavam juntos. Em tudo a presença-ausência dele. Os


dias eram amargos.

Então, ela recebeu uma carta. Vinha de um outro Estado e era assinada por uma mulher.
Em poucas linhas, a desconhecida lhe fazia ciente de que o homem pelo qual chorava
tinha sido também o seu amor.

E, como fruto do relacionamento de alguns anos, ela ficara com duas crianças pequenas.
Descrevia seu drama.
As dificuldades profissionais, as despesas que se avolumavam, as necessidades que
cresciam.

Rogava desculpas por atormentá-la, mas pedia auxílio para suas duas meninas.

A primeira reação foi de revolta, de raiva. Sentiu-se traída, magoada. Com o passar dos
dias, aquilo foi arrefecendo e dando lugar a um outro sentimento.

Pensou no amor que seu marido deveria ter pelas filhas. Agora estavam órfãs.
Por muito amá-lo, tomou uma decisão. Respondeu a carta dizendo que ficaria com as
duas crianças. Assumiria a sua educação. Com uma condição: a mãe as deveria entregar
aos seus cuidados em definitivo.

Acertaram detalhes e combinaram um encontro. Ela queria as crianças. Pedaços do seu


amor que se fora.

Haveria de tratá-las como suas filhas. Eram amores do seu marido.

No aeroporto se encontraram. De longe, ela viu a outra: jovem, bonita. Era uma nissei.
Sentiu ciúmes. As crianças eram lindas.

A jovem, com lágrimas nos olhos, despediu-se delas, fez-lhes recomendações e se


dispôs a partir.

As crianças se achegaram a ela, soluçando. A cena era tocante. Então, a mulher sentiu
uma onda de carinho invadi-la e chamou a jovem mãe.

Vamos ser uma única e grande família. Fique conosco você também. Seremos amigas e
mães das nossas meninas sem pai.

Era o ‘milagre’ do perdão.

Não do perdão dos lábios, mas o perdão do coração. O verdadeiro. O que coloca um véu
sobre o passado.

O único que é levado em conta, pois Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda
a intimidade e conhece os mais secretos pensamentos dos homens.

O esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas.

Perdoar é pedir perdão para si próprio. Afinal, quem de nós não necessita dele? Quem
de nós pode dizer, em sã consciência, que não comete equívocos?

Se alguém nos prejudicou, mais um motivo para o exercício do perdão, pois o mérito é
proporcionado à gravidade do mal.

Olvidarmos o mal. Pensarmos no bem que se pode fazer. Cuidarmos de retirar do


coração todo sentimento de rancor. Deus sabe o que se demora no fundo d\'alma de cada

Redação do Momento Espírita, em 03.02.2009

... Dalton Roque

> Universalismo, melindres e escolhas

Artigos
Nós escolhemos muito. Ficamos melindrados por pouca coisa. Falamos do ego dos
outros sem observarmos o próprio. Heterocrítica afiada, autocrítica cega.
Intelectualidade elevada, sentimento opaco. Muitas opiniões, poucos valores. De um
lado, grande adequação e senso sociais. No outro extremo, discernimento consciencial
quase nulo.

Fazemos pouco pela humanidade. Pelo pouco que fazemos a ela nos sentimos grandes,
credores de um rosário de favores. Nossas verdades pessoais são "relativas" e "lúcidas".
As verdades alheias, "absolutas" e "primitivas". Julgamo-nos universalistas sem,
contudo, enxergar a pedreira de facciosidade que nos oprime as
costas. Dizemos que compreendemos os outros, mas voltamos para casa em silêncio,
imersos em pensamentos de crítica ferina, muitas vezes gratuita, desnecessariamente
severa. Somos "pretos" falando de "brancos", "brancos" falando de "índios". Cínicos a
exigirem de outrem pureza de sentimentos. "São caboclos querendo ser ingleses", diria
Cazuza.

Falamos de fraternidade, porém nos ressentimos por qualquer coisa.


Falamos de ego, todavia não arredamos o pé da posição doutrinária, intelectual ou
institucional. Falamos de humildade sem vislumbrá-la ou vivenciá-la. Confundimos a
verdadeira humildade (simplicidade d'alma) com cordialidade protocolar (politicamente
correto).
Confundimos sinceridade com orgulho da própria rudeza. Somos farinha do mesmo
saco. Humanos, terráqueos, chame do que quiser.

Cada qual com sua verdade, com sua "salvação", com sua ortodoxia, inarredável e
intransigente, discreta ou escancarada – seja na alimentação, na doutrina, na filosofia, na
ecologia, ostentamos o carvalho inflexível, "cheio de razão". Quebra mas não verga.
Nossos amparadores (guias, mentores, benfeitores espirituais) assistem a
tudo, serenos e compassivos. Somos os karmas negativos deles.

Os amparadores de ocasião (espíritos amigos mais densos como nós) se aborrecem e se


retiram, para voltarem mais tarde. Os verdadeiros amparadores não julgam, não olham
nossa longa lista de defeitos, negligências e teimosias. Se eles pudessem, escolheriam
gente melhor para ser amparada – nos descartariam com toda a razão. Mas eles são
aprendizes do amor e o amor não descarta, não julga, não humilha e
nem se ofende.

Olham-se nos olhos os amparadores dos dois companheiros que divergem. Imbuídos de
compaixão, ambos os amparadores fitam seus amparados, enquanto estes defendem
seus pontos de vista com paixão, ou seja, passando longe do universalismo, ignorando
pontos de convergência que saltam aos olhos. Tentam intuir o universalismo, a síntese e
a flexibilidade em seus corações – como bola de ping-pong, bate e volta naquelas
cabeças duras e corações frios.

Quando os pontos de vista são polêmicos, então nem se fala – homossexualismo,


adoção, vegetarianismo versus carnivorismo, mediunismo versus animismo, clonagem,
embriões, aborto, eutanásia, distanásia, suicídio, viagem astral, etc.

Somente o vôo da alma leve e da consciência sem grilhões enxerga a visão de conjunto
tão difícil às mentes ortodoxas e condicionadas, embora às vezes cultas,
intelectualizadas, bem-articuladas e até
parapsíquicas.

Universalismo não é salada mística, colcha de retalhos, ecumenismo doido, buscador-


borboleta, nem sincretismo contraditório.

Universalismo significa, antes de tudo, flexibilidade da mente e do coração. Percepção


aguda de nuanças conscienciais sutis. Entendimento de paradoxos. Distinção entre
paradoxos da natureza e contradições do
comportamento humano. Autoconhecimento das próprias limitações.
Respeito às limitações alheias. Compreensão de que existe o Relativo e o Absoluto, de
que o relativo não é murismo, leviandade ou indecisão. Ciência de que humildade não é
ignorância, doença moral, pobreza financeira ou personalidade fraca, mas estado
consciente de modéstia pro-ativa, com auto-estima inteligente, depurada da arrogância e
da vaidade patológicas.

Universalismo reflete amplitude de raciocínio – maturidade suficiente para perceber


que, às vezes, há mais exceção do que regra, além de muitos "senões" e "porquês".

Em suma, nós escolhemos muito. Com o dedo em riste, descortinamos as falhas alheias,
enquanto nossos amparadores nos toleram, observando- nos a disparar dardos retóricos
e bioenergéticos, de quem se sente "cheio de razão".

Os que procuram o autoconhecimento sincero e tentam tomar as rédeas de seu ego


ganham apoio extrafísico elevado, oriundo de amparadores universalistas, espíritos
cônscios de que ninguém é perfeito, principalmente na Terra, educandário de "peças
raras". Entretanto, os mais recalcitrantes e teimosos permanecem vinculados ao
manicômio terráqueo das dores e sofrimentos humanos – um estabelecimento mais
"barra-pesada" que a escola-reformatório planetária.

O livre-arbítrio é um fato e uma opção consciente. Sem humildade não há


universalismo. A cabeça pode estar cheia, mas o peito está vazio.
A mente pode conhecer, mas só o coração pode saber (sabedoria).

Você não tem de se curvar a ninguém, mas terá de se curvar às Leis Naturais, pois o
relativo está contido no Absoluto.

OM MAI PADME RUM – compaixão a todos os humanos.


Por Dalton Roque - www.consciencial.org
... Marcelo Henrique Pereira

> 60 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem

Artigos

“Mais forte do que o destino é a cegueira dos que não querem ver!”
Antígona, de Sófocles

Dez de dezembro de 2008 marca os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos


Humanos, o primeiro tratado mundial destinado a promover e defender os princípios
básicos dos direitos humanos, prerrogativa dos indivíduos de todas as nações.
Proclamado em São Francisco da Califórnia, na assembléia Geral das Nações Unidas, o
documento foi assinado pelo Brasil, logo de sua instituição. Foi ele o primeiro
mecanismo a buscar uma universalização de conceitos jurídico-sociais a fim de garantir,
para a posteridade, a negociação política capaz de evitar conflitos de caráter mundial
como as duas primeiras guerras, a segunda em especial.

Segundo vários autores, a concepção “internacional”, mundializada dos Direitos


Humanos, segundo alguns autores, têm origens nas remotas democracias gregas,
expressa nos chamados Direitos da Cidadania. Assim, os primeiros direitos humanos
teriam sido os direitos civis e políticos, mesmo considerando a relativa limitação de
acesso àqueles que, originariamente, não eram considerados cidadãos.

O fato é que, com a evolução do pensamento individual e coletivo, traduzido nas


organizações sociais e nas legislações, permeado pelos esforços de mentes despertas que
idealizaram e construíram movimentos reivindicatórios, em todas as Sociedades, foi
possível engendrar um documento com amplitude planetária visando diminuir as
diferenças sociais e dotar povos e nações de adequados instrumentos de promoção e
defesa dos chamados direitos fundamentais da pessoa humana, sem que isso
representasse a erradicação de modelos governamentais despóticos, reducionistas e
ditatoriais, em dados momentos e lugares do Planeta.

Isto porque, conforme recente diagnose da Anistia Internacional, 60 anos depois de a


Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido adotada pelas Nações Unidas,
muitas pessoas ainda são torturadas ou maltratadas em, pelo menos, 81 dos países do
Globo; submetidas a julgamentos injustos em 54 países; e, não têm direito de livre
manifestação em 77. As marcas do nosso tempo e do nosso mundo, hoje, assim, são:
injustiça, desigualdade e impunidade, infelizmente.

Deste modo, os governos que representam as Sociedades precisam investir na


diminuição das distâncias entre meras promessas e desempenho efetivo, e os Estados
devem deixar a cômoda, inerte e silente posição de “mero árbitro social”, tornando-se
efetivo promotor e defensor dos direitos sociais, econômicos e culturais, sem exceção.
Reconhecer os direitos inerentes ao ser humano não é atitude suficiente para garantir o
seu pleno exercício (individual e/ou coletivo), sobretudo em relação àqueles que estejam
em posições subalternas, alijados dos processos e estruturas sociais.

Para o jusfilósofo italiano Norberto Bobbio “[...] o processo de democratização que é o


caminho da paz perpétua no sentido kantiano da expressão, não pode avançar sem uma
gradativa ampliação do reconhecimento e proteção dos direitos do homem”. Esta
ampliação se iniciou, sem dúvida, com a promulgação da Declaração Universal, a partir
da qual a Humanidade passou a “[...] ter a certeza histórica de que a humanidade – toda
a humanidade – partilha de alguns valores comuns”, conforme acentua Bobbio.

Sob o viés espírita, a materialização de instrumentos legais voltados à


promoção/garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana atendem ao contido no
item 795, de O Livro dos Espíritos: “À proporção que os homens foram compreendendo
melhor a justiça, indispensável se tornou a modificação delas. Quanto mais se
aproximam da vera justiça, tanto menos instáveis são as leis humanas, isto é, tanto mais
estáveis se vão tornando, conforme vão sendo feitas para todos e se identificam com a
lei natural”.

Esta “melhor compreensão da justiça” resulta do aperfeiçoamento individual de


inúmeros seres, em face dos processos reencarnatórios e se reflete diretamente na teia
social, em face dos exemplos, das ações e das teorias que, a partir das individualidades
mais “despertas” vão sendo construídos. Bobbio, inclusive, corrobora esta idéia: ”A
efetivação de uma maior proteção dos direitos do homem está ligada ao
desenvolvimento global da civilização humana”.

Vale, ainda, recordar por oportuno a conceituação espiritual da categoria “justiça”,


assim tracejada na obra pioneira (questão 875): “A justiça consiste em cada um respeitar
os direitos dos demais”, quando, em verdade, não há qualquer distinção possível entre
os “demais”, já que tal vocábulo designa todos os Espíritos, sem distinção. Ora, se não
respeito (individual ou socialmente) qualquer indivíduo – no plano encarnado,
sobretudo – ainda não compreendo em realidade a extensão da Justiça Divina, aplicada
ao plano material, em meus atos.

Por fim, todos devemos aderir à idéia do engajamento pessoal na promoção e defesa dos
Direitos Humanos, especialmente aqueles que, na condição de operadores jurídicos,
tenham como premissa básica de sua atuação à defesa incondicional dos direitos e
garantias, ocupando-se, primordialmente com a ampliação do acesso ao Direito e à
Justiça.

E que, como espíritas, igualmente nos portemos como seres inconformados com a
injustiça que, próximo ou distante de nós, ainda exista e subsista.

Neste dia e nos vindouros, que nossa reflexão seja subsidiada pela ação efetiva nesse
sentido!

(*) Marcelo Henrique Pereira - Doutorando em Direito

(Universidad Católica de Santa Fé, Argentina)

Fonte :
http://aeradoespirito.sites.uol.com.br

... Williams & Wilkins

> Estariam as crianças que alegam memórias de vidas passadas fantasiando, mentindo
ou confabulando?

Artigos

O artigo original está disponível em:


The Journal of Nervous and Mental Disease
Vol. 183, No. 7 Printed in U.S.A.
Copyright © 1995 by Williams & Wilkins

Em várias partes do mundo, particularmente na Ásia, podem ser encontradas crianças


que alegam se lembrar de eventos de uma vida anterior de quando nasceram. Estas
crianças costumam começar a falar sobre suas memórias logo após iniciarem a falar
sentenças curtas, ou por volta de 2 a 3 anos de idade. Elas falam sobre e
persistentemente acerca de suas vidas prévias até em torno dos 5 anos, quando as
memórias aparentemente começam a declinar e parecem, na maioria dos casos, serem
esquecidas em seguida.

Estas memórias mostram alguns traços recorrentes. Por exemplo, as crianças


frequentemente alegam ter sofrido uma morte violenta (tal como por acidente), ou ter
morrido subitamente; geralmente mostram fobias ou filias as quais elas relatam modos
de vida ou eventos que alegam ter feito numa vida passada e, em alguns casos, elas têm
deformações ou marcas de nascença, as quais as crianças ou seus pais costumeiramente
relacionam à forma da morte na vida anterior. A maioria das crianças descreve suas
alegadas memórias de maneira razoável e consistentemente e são persistentes em suas
afirmações. Elas pedem para visitar o local ou a família onde dizem ter vivido antes e,
na maioria dos casos, mencionam o local, que frequentemente distam de poucas a
dúzias de milhas de seus lares. Em quase todos os casos, a vida que elas descrevem
parece ter terminado num período relativamente curto de tempo antes delas nascerem,
tipicamente não mais que poucos anos.

O Dr. Ian Stevenson tem investigado meticulosamente um grande número desses casos,
que ele se refere como Casos do tipo Reencarnação (CORTs). Suas investigações têm se
centrado na questão da veracidade das afirmações feitas pelas crianças. As repetidas e às
vezes clamorosas afirmações que os sujeitos fazem acerca das alegadas vidas prévias
frequentemente embaraçam-lhes de formas indesejáveis com outros membros de suas
famílias. Por exemplo, algumas crianças negam que seus pais sejam seus pais e exigem
serem levadas aos seus "verdadeiros pais", que, elas podem dizer, amaram-lhes mais.
Um pequeno número de sujeitos realmente tenta deixar o lar para encontrar a família
prévia por si próprio. Algumas crianças podem irritar-se com as circunstâncias humildes
de suas famílias e gabarem-se de ter tido a melhor comida, vestuário, servos, etc. na
vida anterior. Pais em culturas com crença na reencarnação não se surpreendem
frequentemente com as afirmações das crianças, pois acham que ele ou ela está
fantasiando, mas num número substancial de casos, eles ficam aborrecidos com as
crianças em razão do conteúdo dito pela criança e pelo comportamento incomum dela
relacionado.

Nos últimos 6 anos, Haraldosson tem feito uma detalhada investigação de 27 novos
casos que encontrou no Sri Lanka, um dos países onde alguns casos podem ser
encontrados a cada ano. Uma pequena parte dos casos tem mostrado um impacto
semelhante entre as afirmações da criança e fatos da vida de alguma pessoa que foi
identificada e que vivera antes do nascimento da criança, às vezes numa distante
comunidade. Em outros casos - e eles são muito mais freqüentes no Sri-Lanka -
ninguém correspondendo às afirmações da criança foi encontrado em relação à vida
prévia. A questão de se estas alegadas memórias referem-se, de fato, a eventos reais na
vida de pessoas que viveram antes da criança nascer não será discutida agora.

Interpretações postas em esforços para explicar os elementos verídicos dos casos mais
impressionantes têm incluído coincidência entre as afirmações da criança e fatos da vida
de algum falecido, paramnésia, percepção extra-sensorial pela criança de eventos da
vida de algum falecido, e a teoria da Reencarnação, que é a interpretação mais
comumente aceita nos países onde estes casos são encontrados. Não é fácil apresentar
teorias psicológicas adequadas para explicar o surgimento dessas alegadas memórias
das que crianças falam como tendo outra memória. Por outro lado, os seguintes fatores
psicológicos e sócio-psicológicos podem ser esperados para dispor uma criança a alegar
memórias de uma vida anterior: uma fantasiosa vida rica, uma necessidade de
compensar o isolamento social, alta sugestibilidade (em culturas onde a crença na
reencarnação constitui um papel maior), tendências dissociativas, busca por atenção e
relações perturbadas com os pais (causando a criança o clamor de que pertence a
qualquer outro lugar).
A Dra. Antonia Mills tem, juntamente com Patrick Fowler, exposto a teoria de
identidades alternadas (AIs) em crianças. Esta assume que crianças, em todas as
culturas, atravessam um período sensitivo dos 30 aos 90 meses para o desenvolvimento
de identidades alternativas. Durante este período sensitivo, AIs devem ter um lugar
vívido na vida da criança. Em torno do fim desse período e após, AIs declinam da
consciência da criança. Em países onde a crença na reencarnação não é parte da religião
dominante, a AI pode tomar forma de amigos imaginários, ao passo que em países com
uma forte crença na reencarnação, crianças criam imagens e memórias de uma
personalidade prévia. Nos últimos, AIs não são consideradas fantasias, mas memórias.
Identidades alternadas são mais comumente associadas em crianças com características
de personalidade que dispõem a criança desfrutar fantasia. Além disso, a ocorrência de
uma AI pode depender da necessidade de escapar para a fantasia de circunstâncias
abusivas ou assustadoras.

O principal interesse desse estudo é o desenvolvimento cognitivo e peculiaridades


dessas crianças e o que pode dispô-las a fazer alegações sobre vidas anteriores. As
habilidades e personalidades das crianças que reportam memórias de vidas anteriores
diferem em algum modo importante daquelas de crianças em geral? Elas mostram uma
maior tendência a confabular que outras crianças? São mais sugestíveis? São indicações
de uma maior tendência para processos dissociativos do que em outras crianças? Estas
são algumas questões que alguém gostaria de ver respondidas, algumas das quais de
fato têm sido perguntadas em um review de um dos livros de Setevenson.

Crianças com memórias ativas do tipo vida anterior têm, na maioria dos casos, de 3 a 5
anos de idade. E poucos testes psicológicos objetivos existem para avaliar os fatores
acima mencionados em crianças jovens. Uma complicação adicional é que estas
crianças são em pequeno número e difíceis de encontrar, sendo que uma comparação
significativa com outras crianças necessita de uma amostragem de tamanho adequado.
No intuito de conseguir uma amostra suficientemente grande para este estudo (o qual
continua relativamente pequena), todos os sujeitos disponíveis acima dos 13 anos
tiveram que ser incluídos. Desde que alguns dos testes não poderiam ser usados em
crianças abaixo dos 7 anos, as crianças de nossa amostragem variaram dos 7 aos 13
anos, Nesta idade, a maioria das crianças tem parado de falar a respeito das memórias
de suas vidas prévias, mas todas haviam falado antes muito consistentemente durante
um período de tempo.

Sujeitos

Os sujeitos foram 23 crianças do Sri Lanka que haviam relatado memórias de uma vida
prévia (8 garotos e 15 garotas variando de 7 anos e um mês até 13 anos e um mês). Um
grupo de comparação consistiu de um número igual de crianças da mesma idade, do
mesmo sexo e da mesma vizinhança, mas que não havia falado de uma vida passada. A
idade média por crianças com memórias foi de 9 anos e 9,5 meses e para o grupo de
controle 9 anos e 8,7 meses. As crianças estavam espalhadas numa grande área do sul e
do centro do Sri Lanka e igualmente moravam em cidades e zonas rurais. Dos 23 casos
envolvendo alegadas memórias de vida prévia, 15 haviam sido investigados
previamente pelo autor e relatos detalhados têm sido publicados sobre 5 deles Oito
casos haviam sido investigados por Stevenson e seus associados, mas nenhum relato
havia ainda sido publicado sobre estes.
Testes Psicológicos

As Matrizes Coloridas Progressivas, forma das Matrizes Progessivas de Raven, foram


escolhidas para este estudo porque foram projetadas para uso com crianças jovens,
pessoas idosas e estudos antropológicos com pessoas que não entendem a língua
inglesa. A escala foi descrita como "um teste de pensamento claro e observação" e testa
a capacidade para a razão por analogia. O Teste de Quadro Vocabulário de Peabody
consiste numa lista de 175 palavras arranjadas em ordem de dificuldade crescente.
Como cada item é lido para a criança, à mesma é mostrada quatro ilustrações preto-e-
brancas numa página e pede-se para escolher o quadro que melhor ilustra o significado
da palavra-estímulo oralmente apresentada. O teste foi traduzido para o Sinhalês por P.
Vimala e foi administrado sem ser padronizado para crianças Sinhalesas. Em vez disso,
um grupo de controle foi usado para comparação.

A Escala de Sugestibilidade de Gudjonsson foi desenvolvida "para avaliar as respostas


individuais a questões dirigidas e instruções retorno (feedback) negativo quando
solicitadas para relatar um evento factual de uma recordação". No início do teste, uma
pequena história fictícia é lida ao sujeito, após a qual é pedido ao sujeito que relate o
que é lembrado da história. Então 20 questões são perguntadas sobre o conteúdo da
história, 15 das quais são sugestivas de alguma forma. Finalmente o sujeito é
firmemente dito que ele ou ela havia feito um número de erros e que é,
consequentemente, necessário passar pelas questões mais uma vez.

A GSS mede (1) a livre recordação (número de itens lembrados da história); (2)
confabulações (número de itens oferecidos sobre a livre memória que não são achados
na história); (3) sugestibilidade cedida sob pressão (números de itens dados antes do
feedback negativo ser fornecido); (4) mudança de sugestibilidade (uma mudança
distinta na natureza da réplica às 15 sugestíveis e 5 não-sugestíveis questões) e (5)
sugestibilidade total ( a soma dos dados e das mudanças). Há duas formas de GSS; a
história da forma 2 é mais apropriada para crianças. O teste foi traduzido pra o Sinhalês
por Shanez Fernando e adaptado para crianças do Sri Lanka.

O questionário Checklist de Comportamento Infantil - Modelo do Professor - foi


administrado para um dos professores da criança. O Modelo do Professor é desenhado
para obter relatos dos professores sobre os problemas de seus pupilos, funcionamento
adaptativo e performance escolar. A maioria dos itens no Modelo do Professor do
Checklist de Comportamento Infantil são idênticos aos do Modelo dos Pais.

Método Estatístico

Os dados para esta amostra combinada de sujeitos e crianças-controle foram analisados


pelo teste Wilcoxon de nível de assinatura par-combinado para análise de uma variável.
A análise multivariada da variação foi conduzida nas maiores variáveis, das quais o
coeficiente de correlação canônica é usado como um indicador do tamanho do efeito
total (Johnson e Wichern, 1992). O programa SYSTAT foi usado para conduzir os
cálculos (SYSTAT, 1992).

Procedimento

O autor, um intérprete, um psicólogo nativo e o motorista de uma van alugada visitaram


cada sujeito sem aviso prévio na casa ou escola dele. Na maioria dos casos, alguns
membros da nossa equipe já haviam entrevistado a criança e seus pais sobre o caso. Nas
escolas, professores ajudaram-nos a encontrar uma criança-controle na mesma classe do
sujeito a qual a data de nascimento estivesse mais próxima da do sujeito. Se o sujeito
estivesse em casa, nós procuraríamos uma criança controle na mesma vizinhança que
fosse a mais próxima em idade possível. Nós expressamos nossa gratidão com presentes
de doces e canetas esferográficas a essas crianças e a outras da casa, geralmente quando
a sessão terminava. Todas as famílias foram cooperativas e prestativas. O Modelo do
Professor do CCI foi administrado quase um ano e meio depois dos outros
testes/questionários.

Resultados

A inspeção dos principais resultados (veja tabela 1) revela que as crianças que alegam
memórias de uma vida prévia parecem, geralmente, mais maduras que as outras
crianças. Seus conhecimentos sobre palavras e o entendimento da linguagem (PPVT) é
muito maior (z = 3.50, p < .001) e elas têm uma memória melhor para eventos recentes
(GSS; z= 2.56, p < . 05). Os resultados das Matrizes Progressivas de Raven não são
significativamente maiores para crianças com alegadas memórias de vida prévia (z =
1.85, NS), um resultado sugestivo de que as diferenças vistas não são devidas as a
diferenças na capacidade de raciocinar por analogia. Crianças alegando vidas prévias
não são mais sugestivas do que outras crianças (z = -1.43, N = 46, NS). Não há
indicações de que CORTs confabulam mais do que seus pares (z= -.67, NS). A
performance escolar das crianças alegando vidas prévias é muito melhor que as do
grupo de controle de acordo com a avaliação de seus pais, como indicado pelo Checklist
de Comportamento Infantil (Wilcoxon z= 3.14, N=44, p< .02, todos os testes foram bi-
caudais). Mais importante, os professores relataram um desempenho escolar muito
maior (graus) para CORTs do que para seus pares (z = 3.02, N= 38, p< .01). De acordo
com seus parentes, CORTs são maiores não escala de Atividade Social do CCBL do que
outras crianças (z = 2.64, N = 38, p< .01); elas aprendem mais, comportam-se melhor na
escola e trabalham mais duro. Análises multivariadas das maiores variáveis, a saber,
memória, confabulações, sugestibilidade total, PPVT, Raven, performance escolar e
escore de problemas do CBCL- Modelo dos Pais - resultam em uma diferença total
significativa entre controles e sujeitos (F7, 10 = 5.60, p< .01) com um tamanho de
efeito, ou correlação canônica, de r*=.89. De acordo com os parentes, CORTs
aparentam consideráveis problemas comportamentais. O CBCL - Modelo dos Pais -
revela um maior escore de problema (z = 3.48, p < .001) para o grupo alvo. É
interessante notar que o número de problemas relatados varia particular e amplamente
entre os CORTs (veja tabela 1). Na visão dos professores que observam as crianças
apenas na escola, os CORTs não tem mais problemas comportamentais do que outras
crianças (z=-.10, NS). Itens individuais da CBCL nos quais os CORTs são
significativamente maiores ou menores que as crianças-controles são listados na tabela
2. De acordo com seus parentes, CORTs são mais argumentativos, gostam mais de estar
a sós, são teimosas, faladoras, tendem a se machucar, são muito preocupadas com
meticulosidades ou limpeza, exibem-se ou são menos "palhaças" e se envolvem menos
com outras crianças. Mais ainda, elas são nervosas, tensas e sentem-se que têm de serem
perfeitas e, às vezes, são confusas. Algumas dessas crianças se excitam, tendem a chorar
mais e têm alguns medos, os quais parecem ser relacionados, em muitos casos, às suas
alegadas memórias de vidas prévias. Os CORTs femininos diferiram significativamente
em três itens que não foram relatados por nenhum CORT masculino. Muitas das garotas
CORT estavam expressando um desejo de ser um membro do sexo oposto e foram
relatadas se comportar como o sexo oposto e guardando coisas desnecessárias. De
acordo com os professores, CORTs diferem significativamente de outras crianças em
sete itens na CBCL: mais significativamente, elas "sentem que têm que ser perfeitas".
Outros itens que os pais indicaram significativamente altos não são significativos no
Modelo do Professor. É interessante notar que os professores relataram que CORTs se
dão melhor com outras crianças, faltam à escola bem menos frequentemente, são menos
desobedientes, são mais altamente motivadas e são menos explosivas e imprevisíveis
em comportamento do que seus pares.

Discussão

Os dados mostram que crianças que alegam memórias de vidas prévias, quando
comparadas com a amostra de controle, têm maiores habilidades verbais, melhor
memória e estão indo muito melhor na escola que seus pares. Elas exigem mais de si, da
mesma forma que sentem que têm de serem perfeitas, um sentimento que também deve
contribuir para sua melhor performance escolar. Elas são mais sérias como indicando
por "brincar" menos do que o grupo de controle. Neste estudo, não há medida
satisfatoriamente completa da inclinação para fantasia, mas o número de itens
adicionados na memória livre à GSS foi usada como um indicador de confabulação.
Crianças alegando memórias de vidas passadas obtiveram menor escore nesta medida,
mas não significativamente menor. Isso não dá suporta a hipótese de que tal inclinação
faz com que as crianças mais comumente aleguem memórias de vidas passadas, embora
crianças com uma rica vida de fantasia não necessariamente acrescentem "fatos" ao
teste de memória verbal. As crianças que alegam memórias de vida passada são
socialmente isoladas? Elas obtêm um maior escore para atividade social e são relatadas
pelos professores como se entrosando bem com as outras crianças, o que deve
argumentar contra qualquer alegação de isolamento. Elas são, entretanto,
argumentativas, são consideradas teimosas e falam demais. Essas características, em
balanço, não indicam isolamento social. Por outro lado, elas também são
frequentemente reservadas e gostam de ficar sozinhas. Na época da primeira
investigação destas crianças, apenas três estavam sem um irmão ou irmã e em média
elas têm de dois a três irmãos. Assim, não há sinal claro de isolamento social nos dados
e não é suportada a hipótese de isolamento social dispondo as crianças a alegarem
memórias de vida prévia. Os resultados da GSS mostram que o grupo alvo não tem
maior sugestibilidade que seus pares. A hipótese de que alta sugestibilidade predispõe
as crianças a memórias de vida prévia em culturas onde a crença na reencarnação
desempenha um papel maior não é suportada. Seus escores modestos a normais de
sugestibilidade, aliados a baixos escores para confabulações, parecem indicar que
memórias de vida prévia podem ser internamente geradas, pelo menos inicialmente, e
não podem ser influenciadas por outras pessoas. Esta é a linha de observação do autor
sobre essas crianças, as quais às vezes veementemente resistem aos esforços de seus
pais em suprimir que falem de suas memórias, como no caso de Dilupa Nanayakkara, a
qual a família Católica Romana tentou suprimir seus discursos sobre uma vida prévia.
Também têm sido observado que estas crianças resistem à considerável pressão de seus
pais para pararem de falar sobre as memórias. Deve, entretanto, ser acrescentado que a
maioria dos casos de alegações dessas crianças aparenta encontrar suporte dos pais,
especialmente se e após alguma pessoa ter sido identificada com a vida, que os pais vêm
a acreditar, encaixar com as afirmações feitas pela sua criança. O alto escore de
problemas do nosso grupo alvo, como demonstrado pelo Checklist de Comportamento
Infantil, traz questionamentos sobre as causas para seus problemas comportamentais,
particularmente desde que elas parecem mais maduras que as outras crianças. Mais que
qualquer coisa, elas são argumentativas, apreciam estar a sós, falam demais, são
teimosas e se ferem com facilidade. Nesses aspectos, então, elas têm algumas
características "oposicionais" claramente definidas. Alguém pode especular se estas
características são causadas por sua persistência na alegação em suas alegadas
memórias e, assim, causando dificuldades a parentes e outros, para os quais tais
clamores são embaraçosos. Também, seus desejos por solidão poderiam inicialmente se
ajustar a um desejo de estarem apenas com suas memórias ou seria porque elas sentem-
se diferentes de outras crianças e pessoas como um resultado de suas alegações
singulares? Tais questões permanecem para serem respondidas em estudos posteriores.
A Cautela deve ser observada na interpretação destas diferenças, porque não está claro
se elas são a causa ou o resultado das alegadas memórias, especialmente visto que a
maioria das crianças foi testada após terem parado de falar de suas vidas prévias. Várias
diferentes abordagens podem ser feitas para a questão da realidade destas alegadas
memórias. São elas confabulações, memórias reais ou subjetivamente genuínas, mas
falsas impressões de fatos da memória ou reconhecimentos? Elas são, talvez,
relacionadas à experiências de déjà vu, que têm sido definidas como "ilusões de
percepção falsa de uma nova cena ou experiência familiar" (Wilkening, 1973, p. 56) e
são relatadas por uma larga parcela da população geral (59% nos EUA, veja Greeley,
1975). Subjetivamente, experiências de déjà vu envolvem memórias e reconhecimentos,
como fazem alegações de memórias de uma vida prévia. O autor não encontrou estudos
da estrutura da personalidade de pessoas que relatam experiências de déjà vu. Tais
dados poderiam servir para uma interessante comparação com os dados obtidos aqui,
embora experiências de déjà vu não sejam específicas para um grupo etário particular,
tal como as memórias de vida prévia são, as quais são predominantemente alegadas por
crianças dos 3 aos 5 anos. Nós não temos um meio objetivo ainda para averiguar o que
realmente se passa nas mentes dessas jovens crianças, mas é a impressão do autor de
que elas estão sinceramente convencidas, pelo menos na maioria dos casos, da realidade
de suas alegadas memórias, tão certamente do que a maioria das pessoas alegando déjà
vu. Esta pesquisa mostrou que CORTs se distinguem claramente de outras crianças em
vários aspectos; seus vocabulários e suas performance escolar são apreciavelmente
maiores. De qualquer forma, as hipóteses apresentadas no início deste artigo não foram
confirmadas, assim como confabulação, isolamento social e sugestibilidade foram
consideradas. O alto escore de problemas no Modelo dos Pais do CBCL poderia indicar
um relacionamento perturbado com os pais. Crianças argumentadoras, faladoras e
perfeccionistas são certamente mais exigentes para seus pais que outras crianças.
Contudo, isso não necessariamente leva a um relacionamento perturbador entre filhos e
pais e alguns dos problemas experimentados pelos CORTs devem emergir devido à suas
alegações de lembrar de uma vida prévia. Estes pontos precisam ser explorados
posteriormente.

É necessário lembrar que, em seu estudo, Haraldsson não levou em conta fatores que
aumentam a força e a solidez dos casos, como a precisão das informações fornecidas
pelas crianças e marcas de nascimento. O autor se limitou apenas à investigação de
aspectos psicológicos, cognitivos e comportamentais das crianças.

Fonte: http://parapsi.blogspot.com/2008/10/estariam-as-crianas-que-alegam-
memrias.html
... Jan Holden, EdD; Jeffrey Long, MD, e Jason MacLurg, MD.

> Experiência fora-do-corpo: tudo no cérebro?

Artigos

Resposta por três pesquisadores de NDE (International Association for Near-Death


Studies, Inc.) a um artigo da Revista Nature (2002) sobre uma experiência fora-do-
corpo induzida por estimulação elétrica.

por Jan Holden, EdD; Jeffrey Long, MD, e Jason MacLurg, MD.
traduzido por Francisco Mozart Rolim de Souza e Vitor Moura Visoni

Original disponível na internet [link]:

Resumo

Em 2002, um artigo foi publicado no influente jornal científico Nature, documentando


uma experiência fora-do-corpo (OBE ou EFC) induzida por estimulação elétrica focal
do giro angular direito do cérebro de uma paciente que se submeteu à avaliação para
tratamento de epilepsia. O acesso ao artigo original está disponível no website da
Nature. Este artigo é uma resposta por três investigadores de NDE e foi publicado
originalmente na revista Vital Signs, Volume 21, Número 3.

A Pesquisa

Electrodes Trigger Out-of-body Experience (Eletrodos disparam experiência fora-do-


corpo) foi o provocativo título que apareceu na “Science Update”, seção do Website da
Nature´s Magazine, no domingo de 19 de setembro de 2002 (Pearson, 2002) O subtítulo
do artigo foi Stimulating brain region elicits illusion often attributed to the paranormal
(Estimulação de região cerebral elucida ilusão frequentemente atribuída à
paranormalidade) e o artigo começou dizendo ”A atividade em uma região cerebral
poderia explicar experiências fora-do-corpo. Pesquisadores na Suíça dispararam o
fenômeno usando eletrodos”. Este relato da pesquisa atraiu enormemente a atenção da
mídia. E como muitos dos que relataram ter tido experiências de quase-morte (NDEers)
tiveram experiências fora-do-corpo como parte de suas EQMs (NDEs), a pesquisa
poderia ser relevante para o entendimento das EQMs. Nós, entretanto, desejamos
examinar o assunto aqui em algum detalhe.

O artigo on-line da “Science Update” foi baseado em outro impresso da Nature, no


volume de 19 de setembro (Blanke, Ortigue, Landis & Seeck, 2002). Os quatro autores
desse artigo, médicos dos programas de Neurologia e Neurocirurgia dos hospitais das
Universidades de Genebra e Lausanne, relataram achados que haviam feito durante uma
operação para aliviar convulsões de uma paciente. Os sintomas da mulher de 43 anos
indicavam epilepsia no lobo temporal direito, uma área do cérebro localizada acima e
atrás do ouvido direito. Devido ao fato de que as técnicas de imagem não revelaram a
exata posição associada com suas convulsões, os médicos abriram seu crânio e
sondaram várias áreas localizadas na porção defeituosa, num processo conhecido como
“mapeamento cerebral”. O próprio cérebro não sente dores, logo a paciente pode estar
consciente e falante enquanto os médicos sondam diferentes locais com minúsculas
quantidades de eletricidade. Desta forma, o paciente foi capaz de descrever sua
experiência durante cada eletro-estimulação.

A paciente estava deitada sobre suas costas durante a operação com cérebro exposto
logo acima e atrás de seu ouvido direito. No processo de busca pelo sítio associado com
sua epilepsia, os médicos estimularam uma área específica próxima ao lobo temporal
direito chamada giro angular direito e a paciente relatou sensações intrigantes que os
autores chamaram de “experiências fora-do-corpo”.

Esta área do cérebro não estava relacionada à sua epilepsia. Quando os médicos
estimularam essa área pela primeira vez, a mulher relatou que estava “afundando em sua
cama” ou “caindo de certa altura”. Quando eles aumentaram a eletricidade, ela relatou:
“Vejo a mim mesma deitada na cama, do alto, mas eu posso ver apenas minhas pernas e
a parte inferior do tronco”. Os autores relataram que “duas estimulações posteriores
induziram a mesma sensação, a qual incluiu uma instantânea sensação de “claridade” e
“flutuação” por cerca de 2 metros acima da cama, próximo ao teto”.

Os médicos então pediram para a paciente olhar suas duas pernas durante a estimulação
elétrica.... Desta vez, ela reportou ver suas pernas “encurtarem”. Os médicos
prosseguiram, explicando que se suas pernas estivessem dispostas num ângulo de 90°
antes da estimulação, “ela relatava que suas pernas aparentavam estar se movendo
rápido em direção ao seu rosto e tomaria uma ação evasiva.” Os autores continuaram:

“Quando pedida para observar seus braços esticados durante a estimulação elétrica, a
paciente sentiu que seu braço esquerdo estava mais curto; o braço direito estava
normal. Se ambos os braços estivessem na mesma posição mas dispostos em ângulo de
90° em relação ao cotovelo, ela sentia que seu braço e mão esquerdos estavam se
movendo próximos à sua face. Quando seus olhos foram fechados, ela sentiu que a
parte superior do seu corpo estava se movendo em direção à suas pernas as quais
estavam paradas”.
Os autores afirmaram que “estas observações indicam que OBEs... podem ser
artificialmente induzidas por estimulação elétrica do córtex” e especularam os
mecanismos envolvidos.

Examinando as interpretações dos pesquisadores

Mas quão certa é a afirmação deles? Em particular, os autores concluem que a


experiência da paciente foi uma OBE, que segundo eles (1) se enquadrava na definição
de OBEs e (2) a OBE da paciente foi tanto representativa como também indistinguível
de uma OBE espontânea, ou seja, que foi uma OBE típica. Quão precisas são essas
assertivas?

A respeito da primeira suposição, os autores do artigo da Nature definiram OBEs como


“curiosas e geralmente breves sensações nas quais uma consciência de uma pessoa
parece destacar-se do corpo e tomar uma visão de uma posição distante”, uma definição
para a qual eles citaram três publicações européias (Brugger, Regard, & Landis, 1997;
Grusser & Landis, 1991; e Hecaen & Ajuriaguerra, 1952). Pesquisadores de OBE
americanos têm oferecido definições um tanto similares, por exemplo: “uma experiência
onde você sente que sua mente ou consciência esteve separada de seu corpo físico
(Gabbard & Twemlow, 1984, pp. 3-4)”, “uma experiência na qual o centro da
consciência aparenta ao experimentador ocupar temporariamente uma posição na qual é
espacialmente remota de seu corpo” (Irwin, 1985, p.5), uma experiência na qual “as
pessoas sentem que seu ‘self’, ou centro da consciência, está situado fora do corpo físico
(Alvarado, 2000, p. 183). Parece-nos que por todas essas definições, a experiência da
paciente suíça qualifica-se como uma OBE.

Para começar o enfoque na segunda suposição – que a OBE da paciente suíça foi típica
de uma OBE espontânea – considere a descrição de uma OBE espontânea por um
paciente inglês que “havia sofrido um deslocamento do pé, o qual havia sido
reposicionado sob um anestésico” (Green, 1968, p. 123): “...me vi no canto do quarto e
olhando para baixo sobre o leito do hospital. As roupas de cama estavam empilhadas
sobre um berço e minhas pernas estavam expostas do joelhos pra baixo.

“Em volta do tornozelo direito estava um anel de gesso e abaixo do joelho estava um
anel similar. Estes dois anéis estavam juntos por uma tala de gesso [em] cada lado [da]
perna. Fiquei impressionado pela cor-de-rosa de minha pela contra o gesso branco.

"Quando voltei a si duas enfermeiras ficavam um pé de cama olhar a operação, um


bastante jovem. Elas deixaram a enfermaria de uma vez e eu consegui me levantar e
olhar sobre o berço, vendo outra vez exatamente o que eu tinha visto quando ainda
"fora".

"Sendo um dia quente talvez fosse o motivo por que as roupas de cama tinham sido
puxadas para longe das minhas pernas e amontoadas sobre o berço. A maneira particular
com que o gesso tinha sido aplicado foi claramente vista de minha posição no canto da
sala e o contraste entre a pele cor-de-rosa e o gesso branco era impressionante".

Uma comparação entre o relatos das OBE dos pacientes suíço e inglês revelam estas
importantes diferenças:
OBE da Paciente Suíça

* Espôntaneamente relatou ter visto somente parte do corpo (pernas e parte inferor do
tronco)
* Viu áreas do corpo não envolvidas no procedimento médico ou de interesse (pernas e
parte inferior do tronco)
*Reportou distorção de imagem cororal( pernas encurtando, braço mais curto....)
*Relatou ilusã de movimento corporal: braços e pernas movendo-se em direção à face,
parte alta do corpo movendo-se para frente....

OBE do Paciente Inglês

#Relatou espontâneamente ter visto o corpo inteiro


#Viu áreas do corpo de interesse ou relacionadas ao procedimento médico (perna,
equipe, etc)
#Não relatou distorção na imagem corporal
#Não houve ilusão de movimento corporal.

Em análise, a experiência do paciente inglês pareceu bastante realista, enquanto a da


paciente suíça foi fantasiosa – fragmentada, ilusória e distorcida. De fato uma minuciosa
revisão feita por um de nós (Holden) de três livros clássicos reportando extensivas
pesquisas em OBEs [Green(1968), Gabbard & Twenlow (1984) e Irwin(1995)] e uma
muito recente revisão de toda a literatura sobre OBE (Alvarado,2000) revela que a OBE
do paciente inglês é bem característica das OBEs em geral, enquanto a da paciente suíça
é altamente atípica. Considerando a distorção corporal, por exemplo, Holden encontrou
apenas uma referência a distorção corporal durante OBEs: um único caso relatado por
uma pessoa diagnosticada com esquizofrenia (Blackmore, 1986). Também Gabbard &
Twenlow (984, p.114) depois de revisar centenas de OBEs, conluíram que “distúrbios
na imagem corporal [são] incomuns” durante OBEs, embora tais perturbações sejam
comumente experimentadas enquanto nós adormecemos ou logo quando estamos
começando a acordar do sono.

A ausência de distorção corporal em OBEs espontâneas é substanciada por outro de nós


(Long), que revisou centenas de relatos de primeira-pessoa de OBEs e NDEs
espontâneas inscritas em seus sites de pesquisa (http://www.oberf.org/ e
http://www.nderf.org/), nenhum deles incluiu distorção da imagem corporal ou ilusão de
movimento corporal.

Uma segunda importante diferença revelada pela comparação entre as experiências dos
pacientes suíço e inglês é o fator de lucidez, definido pelo Dicionário Webster como
“ter uso completo das faculdades” e passar por uma experiência ”clara ao
entendimento”. Presumivelmente, a paciente suíça teria sido surpreendida ou confusa
quando, logo após tomar a ação evasiva, os médicos descontinuaram a eletro-
estimulação e ela notou que seus membros não estavam todos onde ela havia percebido-
os estar. Em comparação, a descrição do paciente inglês transmitiu continuidade
psicológica – suas percepções na OBE foram seguidas por percepções na cama que
confirmaram uma à outra - indicando que durante sua OBE ele tinha pleno uso de suas
faculdades e notou que a experiência era clara ao seu entendimento. Ele estava lúcido.
Além disso, Long relatou que a maioria dos casos espontâneos de OBE, bem como a
grande maioria das OBEs em NDEs, relatadas em seus Websites, haviam envolvido
lucidez.

Este atributo de lucidez é relacionado à observação de Holden da realidade em


experiências transpessoais. Uma vez que uma pessoa retorna à consciência cotidiana,
eles avaliam suas experiências transpessoais como tendo sido reais, ou pelo menos
potencialmente reais. Em contraste, após um sonho ou uma alucinação, quando as
pessoas recobram a consciência, elas não dizem que o sonho ou a alucinação foram
mesmo potencialmente reais. Presumivelmente, o relato da paciente suíça concordaria
que em pelo menos muito de sua percepção fora do corpo foi mais ilusória que real. De
modo inverso, o paciente inglês e como a maioria dos outros relatos de OBEs
espontâneos, reportaram suas sensações de que a experiência foi real. [Um leitor
interessado deve rever diretamente os muitos relatos de OBEs e NDEs postados na
Internet nos sites http://www.iands.org/, http://www.oberf.org/ e http://www.nderf.org/,
para que possa ver a imensa diferença entre a experiência descrita pelo paciente eletro-
estimulado na Nature e as experiências espontâneas de OBErs].

Interessantemente, o fenômeno da estimulação do lobo temporal direito resultando em


OBEs atípicas não é novo. Este fenômeno foi primeiramente reportado pelo
neurocirurgião Wilder Penfield em 1955. Seus procedimentos envolveram eletro-
estimulação de um local diferente daquele estimulado pelos médicos suíços – indicando
ainda que a região do cérebro associada com OBEs ainda não foi localizada (Neppe,
2002) E significativamente, algumas memórias evocadas em pacientes pela eletro-
estimulação de Penfield em seus cérebros mostraram-se parcialmente ou totalmente
inverídicas. Por exemplo:

“Um dos pacientes de Penfield, quando o eletrodo foi aplicado, ouviu sua mãe
chamando em uma serraria. Um arquivo do passado? Não, não foi. A mulher afirmou
que ela nunca havia estado em sua vida sequer próxima a uma serraria. Outras
“recordações” de pacientes mostraram ser influenciadas grandemente pela
conversação entre o médico e o paciente nos dois minutos precedentes à estimulação
elétrica”. (Ornstein, 1991, p. 189). Este achado ainda sugere que a paciente suíça
descrita no artigo da Nature deve ter experimentado um estado alterado de consciência
ao invés de uma OBE típica.

Uma coisa é um médico eletro-estimular o cérebro de uma pessoa e produzir um único


aspecto de uma experiência – por exemplo, a contração do músculo tríceps, causando
uma disposição do braço de um indivíduo a esticar. Outra coisa totalmente diferente é a
mesma pessoa desempenhar o intencional, significativo e complexo exercício de
alcançar uma xícara. Apesar de que a contração do tríceps seja uma componente da
tarefa de tomar chá, falta a qualidade – intenção, coordenação, etc. – de uma experiência
ordenada. Analogamente, a eletro-estimulação do cérebro ainda não desvendou a OBE
típica. Admitir que o cérebro está envolvido no – ou, como nós temos dito nesse artigo,
associado com – o fenômeno da experiência fora-do-corpo é uma coisa, mas concluir –
com frases como “a parte do cérebro que pode induzir experiências fora-do-corpo” ou
“OBEs... podem ser artificialmente induzidas por estimulação elétrica do córtex” – que
a eletro-estimulação do cérebro produz OBEs típicas é outra bem diferente. A literatura
profissional de quase-morte contém múltiplos relatos de percepções verídicas de
fenômenos que estavam distantes do alcance da percepção sensorial do indivíduo e,
conseqüentemente, da medição cerebral (Ring & Cooper, 1997; Ring & Lawrence
,1993; Sabom, 1982; Sharp, 1995; van Lommel, van Wees, Meyers & Elfferich, 2001).
Em alguns casos, estas percepções ocorreram enquanto o indivíduo aparentemente
estava experimentando inatividade cerebral que se segue após 10 segundos de cessação
do batimento cardíaco (van Lommel et al., 2001).

Mais de 100 casos foram publicados no http://www.iands.org/, http://www.nderf.org/ e


http://www.oberf.org/. Discussão adicional de percepção verídica é apresentada no
artigo “Does the Arousal System Contribute to Near- Death Experience?: a reponse”
sob análise do Journal of Near-Death Studies. Tomados juntos, a evidencia sugere
fortemente a possibilidade que a percepção fora do corpo próxima à morte deve ocorrer
sem a mediação de sentidos físicos ou do cérebro. Consequentemente, referir-se às
OBEs em geral como “ilusões” é prematuro e a ciência ainda não resolveu a questão da
acurácia das percepções fora-do-corpo nem, conseqüentemente, a “realidade” daa
sensações dos indivíduos em seus relatos de que suas consciências funcionam
independentemente de seus corpos físicos. Mesmo se pesquisa futura convincentemente
demonstrar que a eletro-estimulação de uma particular área do cérebro consistentemente
induziu OBE típicas, este achado não explicaria a percepção verídica associada com
OBEs.

Nós acreditamos que é inapropriado concluir que “a parte do cérebro que pode induzir a
experiências fora-do-corpo foi encontrada (Blanke et al. P. 269) baseado em uma
simples observação anedótica, especialmente com as referências que nós apresentamos.
Nós não estamos cientes de qualquer outro relato de indução de supostas OBEs por
eletro-estimulação do giro angular direito. Esta observação é especialmente
surpreendente dado o enorme interesse da mídia no artigo de Blanke et al.. É possível
que um simples relato anedótico apresentado por Blanke et al. foi uma ocorrência
anômala e extremamente atípica dos resultados de eletro-estmulação neural. Na
ausência de um número significante de relatos adicionais publicados de fenômeno
similar ao descrito por Blanke et al, seria razoável postular uma correlação entre eletro-
estimulação neural e experiências similares à OBE, mas não é razoável concluir que a
hipótese foi provada.

Conclusão

A questão do mecanismo das OBEs está longe de ser respondida. Relatos como aqueles
do artigo da Nature contribuem com valiosa informação a respeito dessa questão, mas
eles não garantem uma alegação de que OBEs podem agora ser “explicadas”. Para seus
créditos, os autores do artigo encerraram com a negação de que eles “não
compreenderam totalmente o mecanismo neurológico responsável pelas OBEs”.
Infelizmente, aquela declaração continua inferindo que a causa da OBE pode ser
reduzida a mecanismos neurológicos. Mas foram os médicos que concluíram que as
sensações similares à OBE da paciente ocasionaram-se pela eletro-estimulação de uma
pequena área de seu cérebro. Eletro-estimulação é um mecanismo, não uma causa. Em
outras palavras, a experiência da paciente foi “causada” por uma ação intencional do
médico segurando a sonda. No caso de ambas as ações intencionais e experiências
espontâneas – incluindo OBEs espontâneas –, a causa, o gatilho interno ou externo,
ainda tem que ser identificado.
Em suma, os autores da Nature não produziram uma OBE em seu paciente que fosse
típica de OBEs espontâneas. Embora eles reconfirmassem o possível mecanismo neuro-
elétrico envolvido em pelo menos algumas OBEs, eles não explicaram a causa dos
fenômenos espontâneos. Finalmente, embora mostrassem que algumas OBEs podem
envolver percepções ilusórias, eles não resolveram a questão de se pelo algumas OBEs
envolvem percepções acuradas, “reais”. Como o neurocirurgião pioneiro, Wilder
Penfield, concluiu sobre a espinhosa questão do “dualismo mente-corpo”:

“Ao final, eu concluo que não há boa evidência, a despeito dos novos métodos tal como
o emprego de eletrodos estimulantes, de que o cérebro sozinho possa conter o trabalho
que a mente faz. Eu concluo que é mais fácil racionalizar o ser humano com base em
dois elementos (mente e corpo) do que com base em um. Mas eu acredito que alguém
não deveria pretender tirar uma conclusão científica final, no estudo do homem pelo
homem, até que a natureza da energia responsável pela ação da mente seja descoberta,
como, na minha opinião, será”. (1975, p. 114)

Referências

Alvarado, C. S. (2000). Out-of-body experiences. In E. Cardeña, S. J. Lynn, & S.


Krippner (Eds.),
Varieties of anomalous experience: Examining the scientific evidence. Washington,
DC: American Psychological Association; pages 183-218.
Blackmore, S. J. (1986). Out of body experiences in schizophrenia: A questionnaire
survey. Journal of Nervous and Mental Disease, 174, 615-619.
Blanke, O., Ortigue, S., Landis, T., & Seeck, M. (2002). Stimulating illusory own-body
perceptions: The part of the brain that can induce out-of-body experiences has been
located. Nature, 419, 269-270.
Brugger, P., Regard, M. & Landis, T. (1997). Cognitive Neuropsychiatry, 2: 19-38
Gabbard, G. O., & Twemlow, S. W. (1984). With the eyes of the mind: An empirical
analysis of out-of-body states. New York: Praeger.
Green, C. (1968). Out-of-the-body experiences. Oxford, England: Institute of
Psychophysical Research.
Grusser, O.J. & Landis, T. (1991) Visual Agnosias and Other Disturbances of Visual
Perception and Cognition. Amsterdam: Macmillan. Pp. 297-303
Hécaen, H. & Ajuriaguerra, J. (1952). Méconnaissances et Hallucinations Corporelles.
Paris: Masson; pages 310-343
Irwin, H. J. (1985). Flight of mind: A psychological study of the out-of-body
experience. Metuchen, NJ: Scarecrow.
Merriam-Webster’s Collegiate Dictionary. Viewable at: www.britannica.com/.
Neppe, V.M. (2002). “Out of body experiences” (OBEs) and brain localization: A
perspective. Australian Journal of Parapsychology. (December).
Ornstein, R. (1991). Evolution of consciousness: The origins of the way we think. New
York: Touchstone.
Pearson, H. (2002). Electrodes trigger out-of-body experience.
www.nature.com/nsu/020916/020916-8.html
Penfield, W. (1975). The mystery of the mind: A critical study of consciousness and the
human brain. Princeton, NJ: Princeton University.
Ring, K., & Cooper, S. (1997). Near-death and out-of-body experiences in the blind: A
study of apparent eyeless vision. Journal of Near-Death Studies, 16(2), 101-147.
Ring, K., & Lawrence, M. (1993). Further evidence of veridical perception during near-
death experiences. Journal of Near-Death Studies, 11(4), 223-229.
Sabom, M. B. (1982). Recollections of death: A medical investigation. New York:
Simon & Schuster.
Sabom, M. (1998). Light and Death: One doctor’s fascinating account of near-death
experiences. Grand Rapids, MI: Zondervan.
Sharp, K. C. (1995). After the light: The spiritual path to purpose. New York: Avon.
Van Lommel, P., van Wees, R., Meyers, V., & Elfferich, I. (2001). Near-death
experience in survivors of cardiac arrest: A prospective study in the Netherlands.
Lancet, 358, 2039-2045. WGBH (1998). Probe the brain.
www.pbs.org/wgbh/aso/tryit/brain
Janice Miner Holden, EdD, is a Professor of counseling at the University of North
Texas, and a counselor in private practice, in Texas. Jeff Long, MD, is a radiation
oncologist in Washington state. Jason MacLurg, MD, is a psychiatrist in Washington
state.

Fonte : http://parapsi.blogspot.com/2008/10/experincia-fora-do-corpo-tdo-no-
crebro.html

Rafael Arrais

> A evolução desconhecida

Artigos

Neste dia onde comemoramos os 200 anos do nascimento de Charles Darwin


(http://www.darwin200.org), co-criador da teoria da Evolução com Alfred Russel
Wallace, gostaria de falar sobre a parte ainda "desconhecida" da evolução das espécies,
e principalmente a do homo sapiens.

Como Drausio Varella e outros antropologistas gostam de lembrar, a evolução cultural


não se deu apenas no homo sapiens, como em outras espécies capazes de conviver em
sociedade, como chipanzés e bonobos, nossos parentes mais próximos (segundo os
estudos do Genoma Humano comprovaram). E não paramos por aqui: muitos
psicólogos evolutivos fazem alarde sobre a teoria da evolução da mente humana -
"Homens traem mais pois na Idade da Pedra precisavam disseminar a espécie em
diversas parceiras, sob o risco de condenar sua espécie a extinção caso fossem
monogâmicos numa época ainda absolutamente inóspita a sobrevivência sedentária." -
esse tipo de afirmação é muito comum entre os defensores da PE Pop (Psicologia
Evoltutiva Populacional).

Em artigo recente na Scientific American, o prof. David J. Butler critica a afirmativa de


que "o homem moderno tem a mente da Idade da Pedra", e expõe diversas razões, na
maioria falta de evidências, para que consideremos essa afirmação uma falácia.
Entretanto, se perguntarmos a qualquer cético que crê na teoria da Evolução, o fato de
que existe a evolução cultural e cognitiva humana é quase que sempre dado como
verdadeiro... Interessante pois que, independente de críticas como as do prof. Butler,
exista um problema muito mais importante e crucial para ser resolvido: "Como é
possível que Genes, que transmitem apenas características físicas, possam carregar
informações ou memórias de uma possível evolução cultural e cognitiva da espécie?".

Até hoje, pouco se desenvolveu esse assunto na literatura científica. Podemos aqui
destacar que Dawkins percebeu o problema, tanto que se preocupou em delinear uma
vaga teoria acerca dos Memes, teoricamente os "genes que transmitiriam as
características não-físicas adiante"... Infelizmente o célebre autor do Gene Egoísta não
conseguiu encontrar essa outra espécie de "genes exóticos" em lugar algum, e nem
tampouco qualquer outro pesquisador. Os memes continuam sendo alternativas místicas
aos genes.

Também podemos citar Jung e seu Inconsciente Coletivo, segundo a Wikipedia ele "é a
camada mais profunda da psique humana. Ele é constituído pelos materiais que foram
herdados da humanidade. É nele que residem os traços funcionais, tais como imagens
virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos." - Seria então, mais ou menos,
como quintilhões de bits de informação que "flutuam no ar" e, de alguma forma
desconhecida, são acessados não somente por homo sapiens conscientes, como também
por todas as outras espécies que obtiveram alguma forma de evolução cultural ou
cognitiva - ou seja, não dependeríamos de genes para passar tais informações adiante,
elas estariam simplesmente "em algum lugar do espaço". E chamaríamos isso de ciência
ou de esoterismo?

É verdade que a teoria de Darwin-Wallace nunca pretendeu explicar a origem da vida,


apenas trazer luz a forma com a qual essa vida evoluiu de simples bactérias para seres
formidáveis e complexos, numa infinidade de espécies. A teoria da Evolução nunca
casou muito bem com a noção de evolução da cultura e cognição nas espécies, e se
mostrou especificamente limitada em explicar o surgimento da consciência. Poderemos
imaginar que isso se explica pelo fato de que ambos os criadores de tal teoria serem
cientistas e céticos, que nada compreendiam de espiritualidade. Então estaríamos
errados...

Não é à toa que Wallace é tão pouco citado quando se fala na teoria da Evolução -
primeiro, era bem mais jovem que Darwin quando a teoria lhes surgiu a ambos, mas
principalmente, Wallace foi espiritualista, e um cientista espiritualista é algo que nunca
soou muito bem aqueles que escrevem a história da ciência... Segundo a Wikipedia e
suas fontes, Wallace "argumentou que a seleção natural não poderia justificar o gênio
matemático, artístico ou musical, nem contemplações metafísicas, a razão ou o humor, e
que algo no "invisível universo do Espírito" tinha intercedido pelo menos três vezes na
história: 1. A criação da vida a partir da matéria inorgânica; 2. A introdução da
consciência nos animais superiores; 3. A geração das faculdades acima-mencionadas no
espírito humano. - Ora, não é tão fácil desacreditar o pensamento de um
espiritualista, quando este é um dos responsáveis pela teoria mór do materialismo,
não é mesmo?

Mas poderemos pensar: será que ciência e religião estão em lados opostos? Será que
materialismo e espiritualismo nunca se encontraram? Será que a Natureza se explica por
noções radicais, preto no branco, como "tudo é matéria" ou "tudo é espiritual e ilusório",
ou será que Natureza antes opera em gradações de cinza?

O que Wallace defendia é conhecido pela humanidade desde milhares de anos atrás, nos
primórdios das religiões orientais, principalmente do Hinduismo (mesmo Sagan traça
paralelos entre as teorias de criação/destruição do Unirveso e a cosmologia religiosa da
antiga India). Consciência, alma ou espírito, chame-a como achar melhor, o que a teoria
da Reencarnação defende é tão somente que existe uma lógica perfeitamente plausível
por detrás da crença de que a consciência e a memória não dependem de genes para
serem passadas adiante, simplesmente pelo fato de que, ao contrário do corpo dito
"físico", não são exterminadas na morte.

Num Universo não-local, onde 96% da matéria não interage com a luz, e onde pululam
teorias físicas acerca da existência de diversas dimensões, branas, ou mesmo universos
palralelos - e mais, onde sabe-se a tempos pela ciência que toda matéria é invisível e
intangível - será assim tão fantástico e absurdo imaginarmos que a consciência, algo que
sequer detectamos no cérebro humano, e que não sabemos do que é formado, possa
sobreviver ao fim das atividades cerebrais?

Pode ser que no futuro a ciência descubra que realmente a consciência nada mais é do
que um estado exótico do cérebro, fruto de reações químicas que possibilitaram que
poeira de estrelas pudessem adquirir conhecimento do céu noturno, e do Cosmos das
quais são filhas. No entanto, negar de antemão a possibilidade da evolução
"desconhecida" se dar através de caminhos igualmente ocultos, e apostar todas as fichas
no materialismo, me parece algo arriscado... Afinal, todos podemos estar errados, então
não deveríamos apontar raivosos e dizer "você está louco, isso não pode estar certo!" - E
quem disse que a Natureza obedece aquilo que "achamos estar certo"?

Fonte: http://textosparareflexao.blogspot.com/2009/02/evolucao-desconhecida.html

... Luiz Carlos Formiga

> Espíritas e Voluntariado

Artigos
"Tenho boa notícia, você foi liberada da quimioterapia."

Luiz Carlos D. Formiga


NEU-RJ - http://zap.to/neurj

"Em geral, os médicos dizem aos pacientes que acreditar no tratamento é o primeiro
passo para a cura", diz Edna Bispo, diretora–presidente do Gaapac (Grupo de Auto-
ajuda para Pacientes de Câncer) com sede em Recife. "Mas eles também precisam de
apoio emocional. Com medo da morte o paciente tem muita dificuldade de dizer como
de fato se sente". Segal, 2001.

A notícia no periódico da Universidade, nos chamou a atenção: "A fim de preservar os


direitos dos seus pacientes, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF),
da Universidade do Brasil/UFRJ, lança a Cartilha dos Direitos dos Pacientes. A cartilha
- que será distribuída a todos os pacientes - reúne dezenas de normas e condutas a serem
seguidas pelos funcionários que lidam diretamente na assistência ao doente. O objetivo
é adequar o hospital à era da Gestão da Qualidade, na qual a melhoria e a humanização
dos tratamentos estão em primeiro plano".

"Quanto mais informações os pacientes têm, maior seu poder de decisão, quando
dispõem de mais conhecimento, aceitam melhor o tratamento e adquirem confiança
muito maior na recuperação". Segal, 2001.

A cartilha diz ainda que o paciente pode recusar qualquer tratamento que considerar
doloroso, bem como deixar o hospital assim que desejar. A equipe médica deve
esclarecer sobre outros métodos de tratamento existentes, mesmo que eles não sejam
disponíveis no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

"Mesmo que os prognósticos não sejam bons", diz Silvana, com a tranqüilidade de
quem já passou por isso, "é preciso se manter à frente nas decisões sobre os tipos de
tratamento e como lutar por você mesmo. É o seu corpo, a sua vida." Segal, 2001.

Para monitorar as aplicações dos termos da cartilha, vai ser criada a Comissão dos
Direitos do Paciente. Ela terá, entre outras funções, que assessorar a Ouvidoria do
Hospital Universitário, instalada dois anos atrás. A importância do atendimento pode ser
apreciada em números: 143 pessoas foram recebidas na Ouvidoria apenas em dezembro
do ano passado.
A maior quantidade e melhor qualidade das informações estão ajudando a desfazer os
mitos sobre uma doença cujo nome, há dez anos, quase ninguém pronunciava. "Durante
a quimioterapia, perguntava a mim mesma: "por que eu?", conta Silvana Marcelino.
"Hoje, sei que a recuperação é possível". Segal, 2001.

Segundo o ouvidor Antônio Calabria, "a tendência é que, à medida que os clientes
tomarem conhecimento dos seus direitos, os atendimentos aumentem. Com a adoção da
cartilha, vão chegar mais casos, pois ela irá estimular a consciência dos pacientes".

Em julho de 1999, quando soube que estava com câncer, a moradora de Brasília, Teresa
C. B. Nogueira, comissária de bordo, 39 anos , ficou decepcionada com seu médico, ele
dedicou menos de 20 minutos a uma conversa sobre as opções de tratamento. "Ele
passou pouquíssimo tempo comigo", diz ela. "Para ele, o que importava era o número
de pacientes e não a qualidade do atendimento". Segal, 2001.

Inspirada num modelo criado pelo governo de São Paulo, em 1999, a cartilha do
Hospital Universitário recebeu adaptações ao longo dos últimos anos, de forma a se
adequar às novas leis da área da saúde e à realidade do hospital. "O texto da cartilha
vem sendo moldado há dois anos. Os médicos do hospital participaram dando
sugestões, e ela está sujeita a novas modificações, desde que para melhor", conta Sara.

Os mais de mil voluntários que apóiam o INCA, no Rio de Janeiro, desenvolvem


atividades como recreação e ajudam os pacientes e sua família a enfrentar problemas do
tipo "como falar sobre a doença". Ano passado os voluntários deram assistência a 246
mil pacientes de câncer em quatro hospitais do INCA, sem mencionar os atendimentos
em domicílio. Segal, 2001.

Em relação às crianças, há uma norma que determina diferentes tipos de recreação, de


modo a respeitar a resolução 41 do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do
Adolescente. Além disso, a criança tem o direito de desfrutar, durante longas
internações, de locais adequados para o lazer.

"Durante a quimioterapia, que durou três meses, eu só tinha vontade de dormir, e


vomitava muito. Fiquei fraca e desidratada, e cheguei a pesar 34 quilos. Sentia-me
muito insegura, porque via as pessoas morrendo à minha volta e tinha medo de também
não conseguir me curar".

Diz a voluntária Maria Estela: "percebi que ela se sentia muito sozinha sem a família
que estava longe e tentei ocupar esse espaço, essa é a nossa missão".Segal, 2001.

A direção do hospital se dirige à Comunidade do Hospital do Fundão: "Coadunados


com as propostas que integram o Projeto de Humanização da Assistência, referendado
pela mais recente Conferência Nacional de Saúde, a diretoria do Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho decidiu oficializar os direitos do paciente".

"Muitas pessoas não conseguem do médico a informação de que necessitam e se sentem


perdidas e abandonadas, outros , ao contrário, obtêm tantas informações médicas, frias e
profissionalmente, que ficam chocados, incapazes de entender tudo", diz Graça
Marques, presidente do Núcleo de Apoio ao Paciente com Câncer (Napacan).
"Leve para a consulta todas as dúvidas anotadas. Também é importante estar
acompanhado de um membro da família. É um momento em que você pode ficar muito
preocupado e se esquecer de fazer perguntas importantes". Segal, D., 2001.

Antes de decidir pela institucionalização dos direitos do paciente, a direção geral do


hospital encarregou sua assessoria de estudar o assunto e fazer uma proposta para
discussão ampliada do tema com o corpo profissional do Clementino Fraga Filho.

A partir desses estudos e discussão do tema com as lideranças representativas do tripé


que alicerça o hospital - assistência, ensino e pesquisa - foi elaborado o documento, que
incorpora os direitos previstos tanto na Constituição Federal, quanto aqueles oriundos
de legislações específicas, sendo ainda consideradas as determinações expressas nas
resoluções normativas de conselhos.

Mesmo já tendo sido incorporadas as sugestões das categorias que compõem a


diversidade profissional do hospital, a lista de direitos continuou aberta, por um período,
a críticas. As sugestões foram feitas durante o período de uma semana e encaminhadas
por e-mail ou foram entregues diretamente à Assessoria da Direção Geral.

Ana Maria Caran, presidente da Sociedade Brasileira de Psico-oncologia (SBPO),


acredita que, apesar dos avanços na comunicação entre médico e paciente, alguns
especialistas em câncer ainda precisam aprender a responder às necessidades individuais
de cada paciente. "Os médicos devem avaliar a melhor forma de dar as más notícias e o
momento mais adequado para fazê-lo", explica. "A linguagem empregada nas consultas
médicas deve ser clara, acessível e afetuosa". Segal, 2001.

A direção informou que a institucionalização dos direitos do paciente não era um fim
em si, uma vez que é preciso a existência de um grupo de profissionais desempenhando
o papel de vigilantes do cumprimento desses direitos, razão pela qual nomearia uma
comissão específica para tal.

"Ainda tenho o gorro de lã que me deram para proteger a cabeça do frio, quando estava
fazendo a quimioterapia", conta Consolação. Sua última cirurgia foi em 1995. Depois de
quatro anos de exames periódicos, foi liberada pelo INCA. Hoje, Consolação está
cursando o quinto ano da Faculdade de Teologia, em Barra Mansa. "Sei que não teria
me recuperado tão bem sem a dedicação da voluntária. Ela me deu amor e esperança.
Os voluntários são como um arco-íris depois da chuva". Segal, 2001.

A essa comissão, responsável pelo Projeto de Humanização do hospital, caberá, além da


vigília referida, o trabalho de continuar aprofundando estudos e estabelecendo contatos
para que não se desvie o foco do cliente e se amplie a qualidade do serviço prestado.

Desde 1997, os brasileiros também podem contar com um serviço de informações na


Internet. O "site" - http://andré.sasse.com - fornece dados sobre os 15 tipos mais comuns
de câncer. Em média, 2 mil pessoas utilizam o serviço todos os meses, diz o Dr. Sasse,
especialista em oncologia clínica do Instituto do Radium de Campinas, SP. Núcleo de
Apoio ao Paciente com Câncer (Napacan). Home-page - www.napacan.com.br Segal,
D., 2001. "Sinto muito – é câncer". Readers Digest Seleções, abril, pág. 58-66.

Num país espiritualista como o nosso os profissionais de saúde também deverão estar a
par dos raciocínios que advém da ótica do holísmo espiritualista, no mínimo para
trafegarem melhor na estrada do diálogo, construída por esta visão transdisciplinar. Esta
visão está aberta na medida em que ultrapassa o domínio das ciências exatas por sua
reconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte, a
literatura, a poesia e a experiência espiritual. . Formiga, LCD, 2000. Tendências do
Trabalho, 313(set.): 10-16.

A cartilha do HCCFF-UFRJ é clara no seu item XXVI - Receber ou recusar assistência


moral, psicológica, social ou religiosa.

"Além de me dar conselhos, afeto e esperança, a voluntária sempre acalmava minha


família quando eu não podia atender ao telefone". "senti que estava sendo cuidada, pois
ela me alimentava, rezava comigo e cantava para mim." Segal, 2001.

"As dimensões espirituais e religiosas da cultura estão entre os fatores mais importantes
que estruturam a experiência humana, as crenças, os valores, o comportamento e os
padrões de adoecimento". Para a maioria das pessoas, religião e espiritualidade são mais
fonte de suporte e bem-estar que evidência de psicopatologia.Trabalhos têm relatado
que pessoas que vivenciam experiências místicas pontuam menos em escalas de
psicopatologia e mais em medidas de bem-estar psicológico que controles. "o Brasil
possui uma grande diversidade religiosa e foi fundado no Instituto de Psiquiatria do
HCFMUSP o Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos (Neper)".
Lotufo Neto e cols. Revista de Psiquiatria Clínica (USP)

Os pacientes em tratamento no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da


Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deverão ter, assegurados, os seguintes
direitos:

I -Ter um atendimento digno, atencioso e respeitoso.

II - Ser identificado e tratado pelo seu nome e sobrenome.

III - Não ser identificado e tratado por:


a) números;
b) códigos ou;
c) de modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso.

IV - Ter resguardado o sigilo sobre seus dados pessoais, desde que não acarrete riscos a
terceiros ou à saúde pública.

V - Poder identificar as pessoas responsáveis direta e indiretamente por sua assistência,


através de crachás visíveis, legíveis e que contenham:
a) nome completo;
b) função;
c) cargo; e
d) nome da instituição.

VI - Receber informações claras, objetivas e compreensíveis sobre:


a) suspeitas diagnósticas;
b) diagnósticos realizados;
c) ações terapêuticas;
d) riscos, benefícios e inconvenientes provenientes das medidas diagnósticas e
terapêuticas propostas;
e)duração prevista do tratamento proposto;
f) a necessidade ou não de anestesia, o tipo de anestesia a ser aplicada, o instrumental a
ser utilizado, as partes do corpo afetadas, os efeitos colaterais, os riscos e conseqüências
indesejáveis e a duração esperada do procedimento;
g) os exames e condutas a que será submetido;
h) a finalidade dos materiais coletados para exame;
i)as alternativas de diagnóstico e terapêuticas existentes no serviço em que está sendo
atendido e em outros serviço; e
j)o que julgar necessário.

VII - Consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada


informação, procedimentos cirúrgicos, diagnósticos e/ou terapêuticos a que será
submetido, para os quais deverá conceder autorização por escrito, através do Termo de
Consentimento.

VIII - Ter acesso às informações existentes em seu prontuário.

IX . Receber, por escrito, o diagnóstico e o tratamento indicado, com a assinatura do


nome do profissional e o seu número de registro no órgão de regulamentação e controle
da profissão.

X . Receber as prescrições médicas:


a) com o nome genérico das substâncias;
b) datilografadas ou em caligrafia legível;
c) sem a utilização de códigos ou abreviaturas; e
d) com o nome legível do profissional, assinatura e seu número de registro no órgão de
controle e regulamentação da profissão.

XI - Conhecer a procedência do sangue e dos hemoderivados e poder verificar, antes de


recebê-los, os carimbos que atestaram a origem, sorologias efetuadas e prazos de
validade.

XII - Ter anotado em seu prontuário, principalmente se inconsciente durante o


atendimento:
a) todas as medicações, com as dosagens utilizadas; e
b)O registro da quantidade de sangue recebida e dos dados que permitam identificar a
sua origem, as sorologias efetuadas e prazos de validade.

XIII - Ter assegurada, durante as consultas, internações, procedimentos diagnósticos e


terapêuticos, e na satisfação de suas necessidades fisiológicas;
a) a sua integridade física;
b)a sua privacidade;
c) a sua individualidade;
d) o respeito aos seus valores éticos e culturais;
e) o sigilo de toda e qualquer informação pessoal; e
f) a segurança do procedimento.
XIV - Ser acompanhado, se assim o desejar, nas consultas, exames e no momento da
internação por uma pessoa por ele indicada.

XV - Ser acompanhado, se maior de sessenta anos, durante o período da internação, de


acordo com o que dispõe a Portaria nº 830, do Ministério da Saúde, de 24 de Junho de
1999.

XVI - Ser acompanhado em casos que, após avaliação da equipe multiprofissional, for
considerada necessária a presença do acompanhante para uma melhor recuperação da
saúde, conforme Portaria Interna nº 53, de 24 de Abril de 2000.

XVII - Ser acompanhado nas consultas, exames e durante a internação se for menor de
idade.

XVIII -Ter asseguradas durante a hospitalização a sua segurança e a dos seus pertences
que forem considerados indispensáveis pela instituição.

XIX -Ter direito, se criança ou adolescente, de desfrutar de alguma forma de recreação,


prevista na Resolução nº 41, do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do
Adolescente.

XX - Ter direito durante longos períodos de hospitalização, de desfrutar de ambientes


adequados para o lazer.

XXI - Ter garantia de comunicação com o meio externo como, por exemplo, acesso ao
telefone.

XXII - Ser prévia e claramente informado quando o tratamento proposto estiver


relacionado a projeto de pesquisa em seres humanos, aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa do HUCFF e observando o que dispõe a Resolução nº 196, de 10 de Outubro
de 1996, do Conselho Nacional de Saúde.

XXIII - Ter liberdade de recusar a participação ou retirar seu consentimento em


qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu tratamento.

XXIV - Ter assegurada, após a alta hospitalar, a continuidade da assistência médica.

XXV - Ter assegurada, durante a internação e após a alta, a assistência para o


tratamento da dor e as orientações necessárias para o atendimento domiciliar, mesmo
quando considerado fora de possibilidades terapêuticas atuais.

XXVI -Receber ou recusar assistência moral, psicológica, social ou religiosa.

XXVII - Recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida;


e

XXVIII - Optar pelo local de morte.

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado


... Alkíndar de Oliveira

> União no meio espírita é "consequencia"

Artigos

UNIÃO NO MEIO ESPÍRITA É “CONSEQÜÊNCIA”

COMO CONSEGUIR A UNIÃO NO MEIO ESPÍRITA E COMO CONSEGUIR A


PRÁTICA DO ECUMENISMO

(**) “Une-te aos outros, sem exigir que os outros se unam a ti.” Emmanuel.

(**) “A união fraternal é o sonho sublime da alma humana, entretanto, não se realizará
sem que nos respeitemos uns aos outros, cultivando a harmonia, à face do ambiente que
fomos chamados a servir”. Emmanuel

(**) livro Fonte Viva, Chico Xavier, espírito Emmanuel, sobre “União Fraternal”, pág.
113.

Neste novo milênio, mais especificamente na segunda metade de sua primeira década,
nós espíritas podemos auspiciosamente sorrir. Explico: a união entre os espíritas
começa a caminhar. É fato que ainda timidamente, mas o processo iniciou-se em várias
regiões do nosso país.

Dentre várias cidades que caminham nessa bendita direção, tive a feliz oportunidade de
conhecer uma delas que é um caso exemplar de união entre espíritas. Um modelo a ser
seguido. O objetivo principal deste texto é aproveitar a experiência desse grupo de
Casas Espíritas que se uniu, para passar ao leitor os procedimentos que foram adotados
para que tal evento ocorresse. Mas antes de falar sobre esses procedimentos, vejamos
algumas considerações.

Por que a união entre as Casas Espíritas é necessária?


Sem nunca nos esquecermos de que, n’O livro dos médiuns (cap. XXVI, item 292,
questão 22), Kardec esclarece-nos que o objetivo essencial e exclusivo do Espiritismo é
nosso particular desenvolvimento espiritual, por outro lado o próprio mestre de Lion
reforça que o Espiritismo tem como um dos seus mais importantes objetivos cooperar
na formação de uma nova sociedade terrena. Em sintonia com essa abrangente proposta,
é vital que façamos um questionamento a nós mesmos: Como ajudar na formação de
uma nova sociedade, se uma de nossas marcantes e inadequadas características é
falarmos para nós mesmos?

Reflitamos:

Fora do nosso meio, somos atuantes na divulgação espírita?


Temos programas de TV nos principais canais abertos do país?
Temos programas de Rádio nas principais emissoras comerciais?
Vê-se hoje colunas espíritas nos jornais de maior divulgação do país?

Sabemos que as respostas às questões acima não são alentadoras. No entanto, as


reflexões que delas brotam levam-nos a encontrar a resposta à pergunta: “Por que a
união entre as Casas Espíritas é necessária?” Podemos deduzir que, além do exercício
da fraternidade que a união enseja, que é o seu efeito mais importante, ela – a união –
propiciará as condições materiais, isto é, os recursos financeiros para investirmos na
divulgação do Espiritismo ao grande público não-espírita, contribuindo, então, para a
formação de uma nova sociedade. Daí a importância da união.

Uma importante observação:

Para que nós espíritas não nos coloquemos como os únicos artífices do embasamento de
uma futura sociedade justa e mais espiritualizada, transcrevo lúcida opinião do confrade
Cezar Braga Said (Reformador, novembro/2006, FEB, pág. 18). Em seu comentário,
transcrito a seguir, o citado articulista tem como foco nossa mudança interior, que é o
primeiro e fundamental passo para a formação de uma nova sociedade, haja vista que
não há como chegarmos a uma sociedade onde todos convivam em paz, se esta – a paz –
não reinar em nosso interior.

Diz Cezar Said:

“Admitir o Espiritismo como caminho único para conquista da paz interior é assumir
uma postura nitidamente fundamentalista e contrária à opinião dos Espíritos
Superiores.”

Nosso companheiro Cezar Said expõe em seu artigo a fonte que avaliza seu comentário,
Allan Kardec, conforme afirmação do insigne Codificador na nota à questão 982 d’O
livro dos Espíritos:

“(…) O Espiritismo ensina o homem a suportar as provas com paciência e resignação,


afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade, mas ninguém diz que, sem ele,
não possa ela ser conseguida.”
Portanto, para que cada vez mais tenhamos consciência de que, além do Espiritismo,
outras religiões e filosofias irão formar pares para atingirmos a almejada chegada do
Mundo de Regeneração, trabalhemos a união entre nós espíritas… com humildade.

O que retarda a união?

O que ainda retarda o avanço desse processo de União – que felizmente começou – são
duas essenciais atitudes ainda vigentes em expressiva parcela de nossas Casas Espíritas:
o personalismo e o dogmatismo.

No livro Unidos pelo amor, psicografia de Wanderley Soares de Oliveira (Dufaux), o


eminente irmão maior Bezerra de Menezes alerta-nos e orienta-nos: “Criatividade e
desapego são credenciais de luz ante as lufadas do dogmatismo e do personalismo”. De
forma clara e inequívoca, o benfeitor Bezerra de Menezes diz que se formos criativos e
desapegados, a tendência natural será o fim do personalismo e do dogmatismo ainda
reinante em nosso meio, e que, repetindo e reforçando, tanto retarda nossa união.

Um modelo a ser seguido

No ano de 2006, visitando uma das cidades do querido estado de Minas Gerais, deparei-
me com um grupo de espíritas que conseguiu unir acima de 95% das Casas e da
liderança espírita daquela região (100% seria a perfeição!). Interessei-me em estudar o
porquê daquela cidade ter conseguido esse intento tão almejado por todos nós. E
descobri uma feliz “coincidência”. Seus líderes exerceram o desapego e a criatividade,
procedimentos esses citados por Bezerra de Menezes como os instrumentos para abolir
o personalismo e o dogmatismo.

Friso que, na cidade a que me refiro, não só a união entre os espíritas faz-se presente,
mas também o ecumenismo. Sobre o ecumenismo, ocorre até de oradores espíritas
serem convidados por líderes de outras religiões a proferirem palestras em suas
comunidades. Religiosos esses adeptos de religiões que, em muitas outras cidades, seus
líderes são fortes e agressivos combatentes do Espiritismo.

Perdoe-me, caro leitor, em não lhe satisfazer sua natural curiosidade: “que cidade é
esta?”. Creio que mais importante do que citar o nome da cidade é passar as lições a
serem aprendidas por todos nós. Mas para efeito de facilitar a leitura deste texto, irei
batizá-la de cidade visitada.

Desapego e Criatividade, eis os instrumentos da União e do Ecumenismo

Aprendamos como a união ocorreu na cidade visitada: seus líderes espíritas observaram
que cada Centro Espírita tinha diversas atividades, no entanto cada um deles destacava-
se principalmente em uma dessas atividades. Explicando melhor, o Centro Espírita “A”
ofertava Evangelização Infantil, Campanha do Quilo, Atendimento aos Idosos etc., mas
a eficácia e os bons resultados estavam mais presentes na Evangelização Infantil; por
outro lado, o Centro Espírita “B” oferecia todas as atividades citadas, mas a eficácia e
os bons resultados estavam mais presentes na Campanha do Quilo. E assim
sucessivamente.

Em face da realidade descrita, que fizeram os líderes espíritas da cidade visitada? Eles
chegaram a um acordo, que relato a seguir. Quando o Centro Espírita “B”, que melhor
trabalha a Campanha do Quilo, fosse angariar alimentos para essa atividade, todos os
demais Centros Espíritas se uniriam para cooperar com o Centro Espírita “B”; quando o
Centro Espírita “A”, que melhor trabalha a Evangelização Infantil, ofertasse essa
atividade, todos os demais Centros Espíritas se uniriam para levar as crianças ao Centro
Espírita “A”.

Caro leitor, pergunto-lhe: que nome melhor define esse procedimento dos Centros
Espíritas? Pense um pouco e chegará a conclusão que a palavra certa é desapego.

Em vez dos diversos Centros Espíritas ofertarem “tudo” à comunidade, exerceram a


criatividade e o desapego. Passaram várias atividades para os outros Centros Espíritas, e
ficaram apenas com aquela atividade em que fossem os melhores. Simples, não?
Simples, sim, mas muito difícil de praticar, se não exercermos o desapego.

Caro leitor, aparentemente saindo do nosso tema, você sabia que o motor de um carro
Ford (por exemplo) tem componentes de mais de 100 fornecedores diferentes? Mas, por
que essa atitude da Ford? Bem, se a Ford quisesse construir um motor com
componentes fabricados por ela mesma, certamente o motor não teria a imprescindível
alta qualidade, pois é impossível ser especialista em tudo.

O que faz então a Ford? Ela adquire o carburador da empresa que melhor o fabrica; as
velas da empresa que melhor as fabricam; os pistões da empresa que melhor os fabricam
etc. E, por meio da união harmônica de diversos especialistas, chega a expressivo
resultado final.

Percebeu, caro leitor, que, em relação à união das Casas Espíritas, o exemplo citado da
Ford (ou de qualquer outra empresa) foi o procedimento que a cidade visitada adotou
em relação à união espírita? Por que não adotarmos essa estratégia? Isto é:

a. Por que não nos desapegarmos de tantas atividades que ofertamos?

b. Por que não nos reunirmos inicialmente com dois ou três líderes espíritas de nossa
região e propormos a estratégia adotada pela cidade visitada?

Atenção: Não nos iludamos. Não pensemos que num primeiro momento seja possível
adotar essa estratégia entre todos os Centros Espíritas de nossa região. Se conversarmos
fraternalmente com dez Centros Espíritas de nossa região divulgando a proposta, e
apenas três aderirem ao projeto, ótimo. O importante é começar. As adesões de outros
Centros Espíritas tenderão a vir com o tempo.

União no meio espírita é “conseqüência”


Propagar que nós espíritas “precisamos nos unir” é a forma mais inadequada de
conseguirmos efetivamente a união. E, infelizmente, isso é o que mais fazemos.

Ao contrário do que pode parecer, deixo claro que não podemos ser contrários aos
discursos que propagam a importância da união, pois tudo começa no discurso. Tanto é
que nosso amado Bezerra de Menezes tem-nos brindado com belíssimos e diversos
discursos sobre esse tema.

Certamente, o discurso é o importante primeiro passo na concretização da união.


Quando no parágrafo anterior afirmei que a forma mais inadequada de conseguirmos
efetivamente a união é propagar que nós espíritas “precisamos nos unir”, quis dizer que
esse tipo de discurso perde o sentido quando chega aquele momento em que
efetivamente dispomo-nos a sair da idealização, a sairmos do “sonho”, isto é, quando
chega aquele momento em que realmente queremos “fazer acontecer” a união. Quando
esse sagrado momento chegar, é preciso que mudemos nosso discruso, conforme a
sugestão que segue:

De: Precisamos vivenciar a união no meio espírita.

Para: Precisamos praticar duas principais atitudes em relação à nossa convivência com
as outras Casas Espíritas:

a. exercitar a tolerância entre a liderança;

b. termos projetos comuns.

Se formos tolerantes no nosso meio espírita e tivermos projetos comuns, a tão almejada
união será simples e natural conseqüência!

Portanto, a receita é:

a. exercer a tolerância entre a liderança espírita;

b. termos projetos comuns entre diferentes Casas Espíritas.

Através do exercício da criatividade e do desapego, a cidade visitada é exemplo de


prática e vivência dos dois itens citados logo acima. E com isso conseguiu a união entre
as Casas Espíritas!

Atenção: Comentei sobre um modelo de união espírita que deu certo, isso não quer
dizer que esse seja único. Certamente há muitas outras formas de conseguirmos a união
no meio espírita, mas, qualquer que seja o modelo que adotemos, uma qualidade sempre
será necessária: o exercício da tolerância!

Adendo: Praticando o ecumenismo

O foco de todo o texto acima foi “como conseguirmos a união das Casas Espíritas”, mas
não podemos deixar de comentar como a cidade visitada também conseguiu implantar o
ecumenismo. Isto é, como as diversas religiões daquela cidade passaram a conviver de
forma harmônica.

Se a criatividade e o desapego foram fundamentais para acontecer a união entre os


espíritas da citada referência, a criatividade foi essencial para a vivência do
ecumenismo. Relato a sgeuir como tal intento concretizou-se.

Tornou-se tradição na cidade visitada um evento ecumênico anual patrocinado pelo


Movimento Espírita. Os líderes de diversas religiões, e toda a comunidade, são
convidados a participarem desse evento, onde há deliciosos chás e biscoitos. Como,
além do objetivo ecumênico, esse evento visa a arrecadar recursos para obras
assistenciais, cada participante contribui com determinado valor monetário. Além dos
chás e biscoitos, são apresentados conjuntos musicais espíritas que não só energizam
favoravelmente o ambiente como também mostram aos não-espíritas que as músicas
espíritas têm muita sintonia com os preceitos das demais religiões, falam sobre Jesus, e
não sobre galinha preta; falam sobre amor, e não sobre como “amarrar” o inimigo para
conseguir objetivos escusos…

Mas vejo que um dos pontos altos do evento é uma palestra proferida por um orador
espírita convidado. Essa palestra trata de temas pertinentes com o desenvolvimento
espiritual. No entanto, em respeito aos líderes e aos adeptos de outras religiões presentes
no evento, nada se comenta sobre o Espiritismo. Nessa palestra, os integrantes das
demais religiões sabem que o orador é espírita. Na apresentação do orador é
mencionado o fato de ele ser espírita. Durante o transcorrer da palestra, os ouvintes não-
espíritas percebem que ele profere nomes e termos que também estão presentes em sua
igreja ou instituição religiosa como “Jesus”, “Deus”, “amor”, “afetividade” e outros.
Com essa forma do orador desenvolver o tema da palestra, acaba o estigma de que
Espiritismo é coisa de demônio ou tem que ver com galinha preta na esquina. Vencido
esse preconceito, o ecumenismo tende a passar a ser realidade, que foi o que ocorreu na
cidade visitada.

Com esse evento anual, a cidade visitada conseguiu mostrar à comunidade não-espírita
a singeleza, o espírito fraterno, as bases sólidas e a racionalidade do Espiritismo. E
conforme a explicação de Kardec já citada, a melhor forma de eliminar os críticos do
Espiritismo é por meio de sua divulgação:

“Uma publicidade numa larga escala, feita nos jornais mais divulgados, levaria ao
mundo inteiro, e até aos lugares mais recuados, o conhecimento das idéias espíritas,
faria nascer o desejo de aprofundá-los, e, multiplicando os adeptos, imporia silêncio aos
detratores que logo deveriam ceder diante do ascendente da opinião.” (Obras póstumas,
“Projeto 1868”)

No caso, por meio do seu evento anual, os líderes espíritas da cidade visitada divulgam
o Espiritismo de forma discreta e eficaz, e com isso, ao mesmo tempo em que
estimulam o desaparecimento dos seus detratores, incentivam a pratica do ecumenismo.

Finalizando, um outro fator que facilitou que pessoas de outras religiões aceitassem o
Espiritismo na cidade visitada, foi a forma que muitas dessas pessoas não-espíritas
começaram a raciocinar depois que passaram a conviver com os espíritas. Diziam: “se
fulano é uma pessoa boa, honesta e é espírita… se beltrano é honesto e uma boa pessoa
e é espírita… se sicrano é gente boa e é espírita… esse negócio não pode ser coisa
ruim.” Esse proceder atesta o que Kardec asseverou no livro Obras póstumas, quando
informou-nos que a conduta dos espíritas é que chamaria a atenção das pessoas.
Conclusão: se formos exemplos de conduta, com mais facilidade o ecumenismo passará
a ser realidade.

(*) Texto extraído do livro Aprimoramento Espírita (pág. 201 a 209), de Alkíndar de
Oliveira, Editora Truffa

... Osman Neves Albuquerque

> Um ensaio sobre Espiritismo e Política

Artigos

...Kardec recomendou aos centros que deixassem de lado as questões políticas. Mas essa
afirmação significa que não devemos trazer para o centro espírita as campanhas e
militâncias partidárias, pois o lugar para o seu exercício é no seio das agremiações e
locais respectivos.

Prefácio

A transformação íntima só se torna efetiva e verdadeira quando ela é irradiada para a


coletividade em que estamos inseridos. O Espiritismo nos fala da realidade do espírito e
do seu processo evolutivo, ensinando-nos que a felicidade é uma construção individual
e coletiva. Ninguém conseguirá ser feliz com o seu derredor emitindo gritos de
carências e lágrimas de dores. Ninguém será feliz sozinho ou rodeado de poucos. O
IPEPE – Instituto de Intercâmbio do Pensamento Espírita de Pernambuco, que tem
como missão interligar o pensamento espírita às diversas áreas do conhecimento
humano, colaborando para a cidadania e a paz, estará presente onde o homem estiver
para, junto com este, melhorar as condições espirituais e sociais da humanidade. O
trabalho que ora se apresenta com o título "Um Ensaio sobre Espiritismo e Política"
preparado pela CASP – Coordenadoria da Área Sócio-Política do IPEPE, é um convite
aberto para todos nós espíritas, para que possamos fazer uma reflexão corajosa sobre o
nosso atual estágio de cidadania . A questão não é deixar de fazer algo que esteja sendo
feito, mas sim, analisarmos se não estamos deixando de fazer algo que já deveríamos
estar fazendo. Bom , falar mais já estaria privando o leitor de iniciar este estudo e
reflexão para, sem maiores perda de tempo, iniciarmos as necessárias ações.

Gezsler Carlos West

Coordenador Geral do IPEPE

A TÍTULO DE REFLEXÃO

Deve o espírita esforçar-se para cumprir os seus deveres de cidadão e exercer os seus
direitos políticos? - A Doutrina Espírita conscientiza a criatura humana, levando-a a
tornar-se um "homem de bem" no sentido global? - Que têm feito as Instituições
Espíritas para favorecer o processo de conscientização sócio política dos seus
freqüentadores? - O que você acha de realizarmos um ciclo de estudos e debates sobre o
assunto desta apostila? - Se Você despertou maior interesse sobre o assunto, leia esta
apostila.

EM TORNO DO CONCEITO DE POLÍTICA

Algumas pessoas, no meio espírita, reagem de maneira negativa e, às vezes, até


assustadas quando se fala em política, demonstrando desinformação e preconceito.
Existe até um tabu de que Política entra em confronto com o zelo doutrinário. Na
realidade a Política é bem mais abrangente e está presente em tudo que o homem
realiza. Todos nós somos políticos. Há mais de 2000 anos o filósofo grego Aristóteles
escreveu que o homem é um "animal político" e não estava brincando. Estava dizendo
uma coisa seriíssima, que permanece válida até hoje. Política é toda atividade que as
pessoas praticam com o objetivo de influenciar os acontecimentos, o pensamento e
sobretudo as decisões da sociedade em que vivem. No quotidiano confirma-se a
natureza política do homem, uma vez que a vida em comum e as formas de coexistência
são ordenadas segundo os sistemas de governo e, nessas condições, querendo ou não
participar, podendo ou não atuar na vida política, o homem recebe direta ou
indiretamente os efeitos desses sistemas e paga pelas conseqüências. Os líderes
religiosos têm forte papel político. E mesmo nós, cidadãos comuns, fazemos política
com muita freqüência, mesmo não tendo consciência disso. Na feira, quando falamos
mal do governo, ou nas reuniões sociais, quando falamos mal ou bem do partido tal ou
do ministro tal, estamos tentando fazer a cabeça dos outros, que por sua vez tentarão
fazer a de outros. Ou seja, estamos contribuindo para formar a chamada "opinião
pública". Mesmo se o peso desses atos é pequeno, o fato é que, ao praticá-los, estamos
participando do processo político. O Evangelho apresenta, igualmente, a mais elevada
fórmula de vida político-administrativa aos povos da Terra: O Reino do Amor. O
Espiritismo em seus aspectos científico, filosófico e religioso tem muito a ver com a
compreensão e organização da sociedade, a fim de que ela seja mais justa e amorosa e,
através de seus adeptos, atue na realização do Reino de Jesus --- Reino da Verdade, do
Amor e da Justiça --- sobre a face da Terra.
UM ENSAIO SOBRE ESPIRITISMO E POLÍTICA

"Para nós, a política é a ciência de criar o bem de todos e nesse princípio nos
firmaremos".
Deputado Dr. Adolfo Bezerra de Menezes

Reflexão Preliminar

Haverá alguma relação entre Espiritismo e Política? Sobre o aspecto filosófico, o


Espiritismo tem a ver e muito com a Política, já que esta deve ser a arte de administrar a
sociedade de forma justa. Conseqüentemente, o espírita não pode declinar da sua
cidadania e deve vivenciá-la de forma consciente e responsável. O Brasil sempre foi
alvo de muitas esperanças. Falava-se em país do futuro, em berço da nova civilização e,
nos meios espíritas, em "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho." O grande
problema é que os brasileiros nunca demonstraram grande empenho para alcançar
concretamente esses títulos. Boa parte dos trabalhos de ciência política no Brasil trazem
uma característica marcante: a constatação de que a sociedade brasileira é dependente
do Estado e que não tem apego a valores como democracia, liberdade e igualdade. Não
tem tradição de participação, de reivindicar seus direitos. A sociedade é uma das
maiores responsáveis pelos males que a atingem. Somos um País que não se
conscientizou de que depende da sociedade colaborar na resolução de muitos problemas
dos quais o Estado não consegue dar conta. O Brasil só vai poder dizer-se Pátria do
Evangelho quando der os primeiros passos na construção de uma sociedade realmente
democrática, justa e fraterna. Quando, enfim, os brasileiros olharem para a sociedade e
perceberem que fazem parte dela. Se uma pessoa está sofrendo, em um determinado
local, todos sofremos, pois os problemas dela acabam nos atingindo de uma maneira ou
de outra, seja por meio da violência ou dos mecanismos econômicos mais complexos. E
o que tem a ver o Espiritismo com isso? O espírita tem em suas mãos instrumentos
poderosos de participação (e de transformação) da sociedade: as federativas, os centros
espíritas, as instituições específicas, os órgãos de comunicação. Podem, no mínimo,
auxiliar na mudança de mentalidade de seus adeptos. Sabemos que Kardec recomendou
aos centros que deixassem de lado as questões políticas. Mas essa afirmação significa
que não devemos trazer para o centro espírita as campanhas e militâncias partidárias,
pois o lugar para o seu exercício é no seio das agremiações e locais respectivos. Assim,
jamais o Espiritismo, como Doutrina, e o Movimento Espírita, como prática,
poderão dar guarida a um partido político em seu seio, por exemplo: Partido
Social Espírita, Partido Espírita Cristão, etc. As questões políticas decorrem dos
próprios princípios do Espiritismo. A partir do momento em que se fala em reforma
moral, em mudança de visão do mundo, em desapego dos bens materiais, prática da
caridade, etc. fala-se sobre política. Principalmente, quando se fala em transformação da
sociedade, como aparece a todo momento na Codificação (particularmente no capítulo
final da Gênese), estamos falando de política. "Em que consiste a missão dos Espíritos
Encarnados? - Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as
instituições, por meios diretos e materiais". (Questão n º 573 de O Livro dos Espíritos).
De se entender, então, que não pode o espírita alienar-se no seio da sociedade em que
vive, com a desculpa de que Espiritismo e Política não têm nada que ver, pois é preciso
lembrar que a vida material e a vida espiritual são dimensões contínuas da própria Vida.
O homem tem que progredir, e isolado ele não tem condições disso, já que seu
progresso depende dos bens que lhes são oferecidos pela família, pela escola, pela
religião e demais agências sociais. Para o espírita, essa ação política deve ser sempre
inspirada nos princípios expressos pelo aspecto filosófico do Espiritismo, que o levam a
amar e, nesse caso, amar é desejar o bem; logo, a exteriorização política do Amor é a
expressão do querer bem e do agir para o bem de todos. A ação política dos bons é um
imperativo na hora atual. O Espiritismo apresenta conceitos claros e precisos para essa
atuação. "A nova geração marchará, pois, para a realização de todas as idéias
humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado.
Avançando para o mesmo alvo e realizando seus objetivos, o Espiritismo se encontrará
com ela no mesmo terreno. Aos homens progressistas se deparará nas idéias espíritas
poderosa alavanca e o Espiritismo achará, nos novos homens, espíritos inteiramente
dispostos a acolhê-lo". (A Gênese). "O Espiritismo não cria a renovação social; a
madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder
moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pelas
generalidades das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer
outra doutrina a secundar o movimento de regeneração; por isso, é ele contemporâneo
desse movimento. Surgiu na hora em que podia ser de utilidade, visto que também para
ele os tempos são chegados". (A Gênese). O Espiritismo trabalha com a educação. Esta
é a base da própria Doutrina pois, para praticá-la, temos de nos educar. E a educação
tem um conteúdo extremamente político, pois muda nossa forma de ver o mundo e de
agir nele. Assim, é cada vez mais importante que os centros espíritas percebam a
importância de discutir os assuntos da realidade concreta. Não estaremos fazendo
política no aspecto partidário, mas sim auxiliando na conscientização dos espíritas sobre
como entender a sociedade e agir nela de uma forma crítica e consciente. Com uma
visão crítica baseada nos princípios espíritas. Qual o posicionamento de um espírita
frente a questões como violência, menores abandonados, educação, desemprego,
racismo, discriminação social. O que podemos fazer em nosso âmbito para combater
esses problemas? Não adianta querer ser espírita no plano espiritual. Podemos e
devemos estudar a moral espírita em sua teoria. Mas não há como fugir: a sua aplicação
prática será, quer queiramos ou não, na realidade concreta, enfrentando esses problemas
do cotidiano. Segundo J. Herculano Pires, em O Centro Espírita, "O Espiritismo se liga
a todos os campos das atividades humanas, não para entranhar-se neles, mas para
iluminá-los com as luzes do Espírito. Servir o mundo através de Deus é a sua função e
não servir a Deus através do mundo (...)." Por tudo isso, devemos entender que são
fundamentais o Espiritismo e a Política para a construção de Uma Nova Sociedade.

A Lei de Adoração e a Política

"Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira? - Deus prefere os
que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal,
aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus
semelhantes". (Questão nº 654 de O Livro dos Espíritos). Para se fazer o bem e evitar o
mal é necessário que o homem seja participante da sociedade em que vive, através de
ações que preservem os próprios direitos naturais, como, também, dentro de suas
possibilidades, defenda os direitos naturais do seu semelhante. A adoração a Deus, no
conceito espírita, tem uma ação política dentro da sociedade, ou de forma mais ampla,
no planeta em que se vive: fazer o bem e evitar o mal. Para fazer o bem e evitar o mal é
necessário procurar extinguir o orgulho, a inveja, o egoísmo, a vaidade e a prepotência,
não só de si mesmo, como também das instituições e grupos sociais. Tal conceito de
adoração a Deus leva não só à reforma íntima, ou seja, à auto-educação da pessoa, como
à reforma da sociedade em seus padrões de egoísmo e orgulho, em nome dos quais se
justificam as desigualdades e as injustiças. Conseqüentemente, no conceito de adoração
a Deus expresso pelo Espiritismo, há todo um comprometimento de participação na
sociedade, reiteradamente manifestado pelos espíritos a Allan Kardec. Assim, vemos
claramente tal ligação: Deus, Homem e Sociedade na questão nº 657 de O Livro dos
Espíritos. "Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram à vida contemplativa,
uma vez que nenhum mal fazem e só em Deus pensam? - Não, porquanto, se é certo que
não fazem o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Demais, não fazer o
bem já é um mal. Deus quer que o homem pense nele, mas não quer que só nele pense,
pois que lhe impôs deveres a cumprir na terra. Quem passa todo o tempo na meditação e
na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive toda uma vida
pessoal e inútil à humanidade e Deus lhe pedirá contas do bem que não houver feito".
Da mesma forma, a atitude comodista e passiva, expressa pela omissão diante dos
problemas humanos em estruturas sociais injustas e materialistas é por Ele reprovada.
Pois o comodista ainda que não pratique o mal, dele se aproveita. Portanto, o espírita
para não ser omisso e assim indiretamente aproveitar-se do mal, deve se esforçar para
que o conceito espírita de adoração a Deus seja efetivamente aplicado na sociedade
humana, de forma conveniente, oportuna e adequada, em consonância com a própria
Ética ou Moral Espírita.

A Lei do Trabalho e a Política

"Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais? - Não; o Espírito trabalha,


assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho". (Questão nº 675 de O Livro dos
Espíritos) A civilização cria multiplicidades de trabalhos; nenhum deles, porém, poderá
servir como meio de exploração do homem com o objetivo do lucro, nem ferir sua
dignidade como ser humano. Quando isso acontece, surge a pobreza e a marginalização,
evidenciando flagrante injustiça social. A Doutrina Espírita denuncia, de forma
veemente, tal situação. Esclarece que, todo aquele que tem o poder de mandar é
responsável pelo excesso de trabalho que imponha aos que lhe são subordinados,
abusando da autoridade e transgredindo as leis de Deus. É preciso que se reconheça a
participação do homem através do trabalho na sociedade, criando o bem comum,
aumentando o patrimônio da grande família humana. Por isso, dessa sociedade ele deve
participar de maneira justa e criativa, jamais dela podendo ser marginalizado. A
sociedade deve ser organizada de forma a que todos possam trabalhar e os que estão
doentes ou impossibilitados ao labor recebam desta mesma sociedade os meios
necessários à sua subsistência de maneira justa e digna. Não adianta dizer ao homem
que ele tem o dever de trabalhar; é preciso que a sociedade ofereça-lhe a oportunidade
do trabalho, o que nem sempre acontece. A maior preocupação deste final de milênio
tem um nome: desemprego. Num mundo globalizado, cada vez mais dependente da
economia e das variações financeiras, o problema do desemprego está se tornando
muito grave. O Espiritismo valoriza o trabalho como uma ação social e espiritual, pois o
homem dele participa com seu corpo e espírito, não importando seja a atividade
chamada manual ou intelectual. Portanto, nenhum homem, em boas condições físicas e
mentais, pode ser alijado do trabalho. Por isso, o desemprego não é um problema que
será resolvido por uma "lei histórica" ou "divina". Os homens é que tem de resolvê-lo. É
bom que os espíritas reservem um pouco da sua preocupação para os debates que se
travam no mundo a respeito do desemprego. Precisamos perceber que quando se trata
desta questão, fala-se da evolução do homem.

A Lei de Reprodução e a Política

"Será contrário à lei da Natureza o aperfeiçoamento das raças animais e vegetais pela
Ciência? Seria mais conforme a essa lei deixar que as coisas seguissem seu curso
normal? - Tudo se deve fazer para chegar à perfeição e o próprio homem é um
instrumento de que Deus se serve para atingir seus fins. Sendo a perfeição a meta para
que tende a Natureza, favorecer essa perfeição é corresponder às vistas de Deus".
(Questão nº 692 de O Livro dos Espíritos). O homem em sua participação política, ou
seja, em sua ação na sociedade, deve agir para o equilíbrio da própria espécie, como da
vida que o circunvolve, pois tudo ele deve fazer para chegar à perfeição e ele é um
instrumento do qual Deus também se serve. Em sua participação política na sociedade,
o espírita não poderá perder de vista o aspecto ético ou moral da questão. A reprodução
no ser humano está ligada à tutela do casamento, cujo surgimento representa um dos
primeiros progressos da sociedade humana, pois estabelece a solidariedade fraterna. O
espírita, de forma individual, e o Movimento Espírita, de maneira coletiva, precisam
estar atentos à defesa dos fundamentos morais que preservem a nobre e elevada
instituição do casamento. A ação espírita de preservação dos laços de família não pode
ficar limitada às quatro paredes do Centro Espírita, mas deve ser uma participação na
sociedade. Para isso utilizará os meios e instrumentos lícitos e morais, associando-se a
outras instituições e organizações que tenham o mesmo objetivo. Assim poderá se
contrapor à onda avassalante de sensualidade que varre os órgãos de comunicação,
como a televisão, a revista, o jornal, o cinema, o teatro e que mantêm a mulher apenas
como um objeto sexual, sob a aparência de libertação.

A Lei de Conservação e a Política

"O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens? - Esse direito é conseqüente
da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de
cumpri-lo". (Questão nº 711 de O Livro dos Espíritos). No entanto, nas organizações
sociais injustas a maioria dos homens é impedida do uso dos bens da terra por aqueles
que não só usam tais bens como, ainda, os dilapidam no gasto supérfluo. Não respeitam
o limite das necessidades que a Natureza traçou. Todos os seres vivos possuem o
instinto de conservação, qualquer que seja o grau de inteligência, pois a vida é
necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Por isso a Terra produz de modo a
proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil. O
supérfluo nunca o é. (Veja a Questão nº 704 de O Livro dos Espíritos). Esclarece o
Espiritismo que para todos há um lugar ao sol, mas com a condição de que cada um
ocupe o seu lugar e não o dos outros. A Natureza não pode ser responsável pelos
defeitos da organização social, nem pelos efeitos da ambição e do egoísmo. O uso dos
bens da Terra é um direito de todos os homens. O Espiritismo não justifica aqueles que
vivem da exploração do semelhante, que pretendem os benefícios da civilização só para
si. Aponta-lhes a hipocrisia e a falsidade. O Homem não merece censura por desejar o
seu bem-estar. É natural esse desejo. Ele não é condenável, desde que não seja
conseguido com o prejuízo do outro e não prejudique as forças físicas ou morais. Todo
ser humano tem direito ao bem-estar. Logo, está errada e é injusta a sociedade em que
apenas alguns gozam do bem-estar. Também não está certa para o Espiritismo a
sociedade que elege padrões de felicidade em termos de CONSUMIR (feliz é quem tem
dinheiro para comprar) e não de SER (desenvolvendo sua capacidade de conhecer e
amar), pois apela somente para a satisfação dos impulsos ou instintos. O espírita deve,
mesmo com sacrifício, agir conscientemente para que, na sociedade humana, todos
tenham o necessário para o seu progresso. Sabendo que o uso dos bens da Terra é um
direito de todos os homens, conforme os postulados do Espiritismo, o espírita deve
participar pelos meios lícitos que tenha ao seu dispor para que esse direito seja
indistintamente aplicado.

A Lei de Destruição e a Política

"Se a regeneração dos seres faz necessária a destruição, por que os cerca a Natureza de
meios de preservação e conservação? - A fim de que a destruição não se dê antes do
tempo. Toda destruição antecipada obsta ao desenvolvimento do princípio inteligente.
Por isso foi que Deus fez que cada ser experimentasse a necessidade de viver e se
reproduzir". (Questão nº 729 de O Livro dos Espíritos). Quando a destruição ultrapassa
os limites que a necessidade e a segurança estabelecem, aparece o domínio da
materialidade sobre a natureza espiritual. "Toda destruição que excede os limites da
necessidade é uma violação da lei de Deus". (Questão nº 735 de O Livro dos Espíritos).
Há, pois, necessidade de o homem organizar a sociedade de forma a ser previdente,
somando conhecimentos e experiências, encontrando a solução dos males ao remover as
causas. Para isso concorrem a ciência e a técnica. No entanto, se flagelos como
inundações, epidemias, secas levam a dor e o sofrimento a grande parte das populações,
é porque o egoísmo, traduzido no privilégio de minorias, impede que recursos
avançados da ciência e da técnica sejam aplicados de forma a eliminar ou diminuir seus
danosos e dolorosos efeitos. Para que haja harmonia numa sociedade humana é
imperioso que a justiça se faça junto a cada um de seus componentes. Porém, a
realidade, atualmente ainda não é essa. Nações mais desenvolvidas econômica e
tecnicamente procuram explorar as nações pobres. Agem de maneira a mantê-las em
permanente dependência econômica, política e até mesmo militar. A destruição e a
violência não se manifestam somente de forma física e ostensiva; mais terríveis e
perigosas elas são quando se manifestam de forma sutil e disfarçada provocando o
aniquilamento e a degradação do meio ambiente em que o homem vive. Todas as vezes
que o espírita constatar a destruição da natureza em função do lucro que os sistemas
econômicos exigem, deverá associar-se às vozes que clamam contra tal destruição. Para
isso dará apoio e participação ao partido político, aos movimentos ecológicos, às
organizações estudantis e outras que lutam contra a destruição desregrada. Diz a
Constituição do Brasil no artigo 5º: "LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise anular ato lesivo do patrimônio público (...) ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência".
A Lei de Sociedade e a Política

"A vida social está em a Natureza? - Certamente, Deus fez o homem para viver em
sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à
vida de relação". (Questão nº 766 de O Livro dos Espíritos). A pessoa tem um
compromisso com a sociedade em que vive. Nela deve participar, dando sua
contribuição, de acordo com suas possibilidades intelectuais e sentimentais. O espírita,
pelo conhecimento que tem da Doutrina Social Espírita, consubstanciada nas Leis
Morais de O Livro dos Espíritos, tem o dever de participar ativa e conscientemente na
sociedade em que vive, agindo para que os princípios expressos em tais leis se efetivem
na sociedade humana. Conseqüentemente, a omissão e a ociosidade que venham a
alimentar qualquer tipo de isolamento social, produzirão sempre a inutilidade, o
fanatismo ou o egoísmo rotulado de pureza ou santidade. O homem tem necessidade de
progredir, de desenvolver suas potencialidades e isso ele só pode fazer vivendo em
sociedade e é necessário que a sociedade esteja estruturada a fim de que todos que a
compõem tenham tal possibilidade. O espírita deve estar atento, à vista dos conceitos
espíritas sobre sexo, família, dignidade humana, para denunciar as ações e movimentos
que subvertam os valores espirituais. Conclui-se, assim, que o homem não é um ser
independente. Pelo contrário, ele depende de seus semelhantes ao mesmo tempo que é
impulsionado ao progresso; por isso impõe-se-lhe a necessidade de aprender a amar o
seu próximo e não explorá-lo física, intelectual e sentimentalmente. Esse amor deve ser
traduzido de forma concreta. Não apenas dar esmola ao pobre e pedir-lhe paciência,
acolher o velho desamparado no asilo, agasalhar a criança órfã ou abandonada, mas agir
para que o AMAI-VOS UNS AOS OUTROS se efetive através do direito que todo ser
humano tem de possuir o necessário: alimentação, vestuário, casa, saúde, trabalho, lazer
e desenvolvimento espiritual.

A Lei do Progresso e a Política

"A força para progredir, haure-a o homem em si mesmo, ou o progresso é apenas fruto
de um ensinamento? - O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem
todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais
adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social". (Questão nº
779 de O Livro dos Espíritos). O progresso é da própria condição humana, por isso o
homem não pode opor-se-lhe. A ignorância e a maldade e até mesmo leis injustas,
podem retardar seu desenvolvimento, mas não anulá-lo. Segundo o Espiritismo, as
revoluções morais, como as revoluções sociais infiltram-se nas idéias pouco a pouco.
Elas como que germinam durante longo tempo e subitamente irrompem desmoronando
instituições, leis e costumes do passado. As revoluções morais e sociais são condições
para a realização do progresso. São idéias novas, conceitos novos que se chocam com os
existentes, os quais já não mais satisfazem as necessidades e aspirações. (Veja questão
nº 783 de O Livro dos Espíritos). Encontramos no comentário de Allan Kardec à
Questão nº 789 de O Livro dos Espíritos, esclarecimento de grande valia sociológica:
"A humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e
instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os
outros. De tempos a tempos, surgem no seio dela homens de gênio que lhe dão impulso;
vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade e, nalguns anos, fazem-
na adiantar-se de muitos séculos". Compreende-se, por tudo isso, a importância da
participação dos espíritas na sociedade, de uma forma esclarecida e consciente. O
espírita precisa conhecer os conceitos e fundamentos da Doutrina Espírita para, com os
meios que lhe sejam possíveis, colocá-los na organização social em que vive. Para o
aprimoramento da sociedade deve-se trabalhar a fim de aumentar o número das pessoas
esclarecidas, justas e amorosas de maneira a que suas ações preponderem sobre a dos
maus. Daí a reforma íntima não ser condição para isolamento ou alienação, mas
compromisso de união com os outros que têm o mesmo ideal de amor e justiça, agindo
deliberada e responsavelmente a benefício de todos. O Espiritismo tem sua contribuição
para dar, pois basta analisar seus princípios filosóficos para ver que ele propõe o que a
humanidade deseja: o reino da justiça, obstando os abusos que impedem o progresso e a
moralização das massas. Como vemos, a proposição espírita da Lei do Progresso é um
intenso e profundo desafio aos espíritas para que trabalhem pelo progresso intelectual e
moral da humanidade. Com tal objetivo devem agir sobre a sociedade humana a fim de
que haja hábitos espiritualizados, desenvolvimento da inteligência, da liberdade,
elaboração de leis justas a benefício de todos, amparo ao fraco para que ele não seja
explorado pelo forte, respeito às crenças e opiniões, direito ao necessário a todos (bem
comum). Como fazer isso? Agindo não só no Movimento Espírita como, também, de
conformidade com a vocação e aptidão de cada um, nas organizações e movimentos
que, baseados em tais valores, procuram estruturar e organizar a sociedade. A Lei de
Igualdade e a Política. "É lei da natureza a desigualdade das condições sociais? - Não; é
obra do homem e não de Deus". (Questão nº 806 de O Livro dos Espíritos).
Conseqüentemente, o espírita não deve compactuar com toda situação que promova a
desigualdade entre os homens: a riqueza e a pobreza, o luxo e a miséria, o elitismo
intelectual e a ignorância. Deve lutar contra o egoísmo e o orgulho, identificando os
múltiplos disfarces com que eles se apresentam. Apoiará os movimentos que objetivem
a igualdade dos direitos humanos, reconhecendo apenas como válida a desigualdade
pelo merecimento decorrente do grau de aprimoramento intelectual e espiritual. O
Espiritismo brada veementemente contra a injustiça social, demonstrando a necessidade
de se agir por um mundo de Amor e Justiça. Para a Doutrina Espírita, a desigualdade
das riquezas pode se originar na desigualdade das faculdades, como também pode ser
fruto da velhacaria e do roubo. Considerando a diversidade das faculdades intelectuais e
os caracteres, não é possível a igualdade absoluta das riquezas, no entanto, isso não é
impedimento à igualdade de bem-estar. Logo, é importante que cada ser humano tenha
as condições mínimas para desenvolver suas potencialidades. Isto não será possível
enquanto grande parte das pessoas estiver submetida à opressão, à exploração, à
injustiça dos que desejam manter ou possuir a riqueza o mais depressa possível. A
riqueza, sob o aspecto ético ou moral, jamais deverá originar, manter ou estimular a
exploração do homem pelo homem. Diz o Espiritismo: "Os homens se entenderão
quando praticarem a lei da justiça". E isso será possível quando os direitos humanos
forem devidamente respeitados pelas sociedades políticas em que o homem vive.
Portanto, a justiça deve exercer sua tutela a fim de que cada um tenha o que é seu de
direito. Não se pode, desta forma, justificar com os conceitos espíritas a miséria como
sendo apenas prova ou expiação de espíritos que foram ricos e poderosos no passado. A
própria evidência sociológica demonstra o absurdo de tal generalização. O orgulho e o
egoísmo de homens e instituições é que têm ditado a miséria e a pobreza sobre a face da
terra. A miséria sempre foi muito maior do que a riqueza, em todos os tempos vividos
pela humanidade, até a presente época. Os ricos têm sido minoria e os pobres maioria,
numa grande desproporção. Isso não permite pensar logicamente numa inversão tão
simplista como querem alguns: "O pobre de hoje é o rico de ontem" . Trata-se de uma
acomodação injusta diante de uma sociedade dirigida, ainda, pelo egoísmo e pelo
orgulho. Acomodação que deturpa o sentido da reencarnação, conforme o conceito que
lhe é dado pelo Espiritismo.

A Lei de Liberdade e a Política

"Em que condições poderia o homem gozar de absoluta liberdade? - Nas do eremita no
deserto. Desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que
lhes cumprem respeitar; não mais, portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta".
(Questão nº 826 de O Livro dos Espíritos). Para o Espiritismo, o homem não goza de
absoluta liberdade quando vivendo em sociedade, porque uns precisam dos outros. A
liberdade depende da fraternidade e da igualdade. Onde houver uma convivência
fraterna, exteriorizada em amor e respeito, acatando-se o direito do próximo, haverá a
prática da justiça e conseqüentemente existirá liberdade. O egoísmo que tudo quer para
si, e o orgulho, a expressar o desejo de domínio, são inimigos da liberdade. Allan
Kardec comenta: "A liberdade pressupõe confiança mútua. Ora, não pode haver
confiança entre pessoas dominadas pelo sentimento exclusivista da personalidade. Não
podendo cada uma satisfazer-se a si própria senão à custa de outrem, todas estarão
constantemente em guarda umas com as outras. Sempre receosas de perderem o que
chamam seus direitos, a dominação constitui a condição mesma da existência de todas
pelo que armarão continuamente ciladas à liberdade e a coarctarão quanto puderem". (In
Obras Póstumas, Capítulo Liberdade, Igualdade e Fraternidade). O espírita deve
combater o orgulho e o egoísmo em si mesmo e na sociedade em que vive. A liberdade
não se confunde com a devassidão que solta as rédeas dos instintos. A liberdade de
consciência é uma característica da civilização em seu mais avançado estágio de
progresso. Todavia, é evidente que uma sociedade para manter o equilíbrio, a harmonia
e o bem-estar precisa estabelecer normas, leis e regulamentos portadores de sanções. A
título de respeitar a liberdade de consciência não vai-se admitir a propagação de idéias e
doutrinas prejudiciais à sociedade. Nada se lhes deve opor através da violência e da
força, mas através dos princípios do direito. Para o Espiritismo, os meios fazem parte
dos fins; não se pode pretender o amor, a justiça, a liberdade, agindo por meios
violentos, odiosos, injustos e coativos. Esse conceito de liberdade deve levar o espírita à
ação para implantar o bem na sociedade em que vive para que o mal gradativamente
desapareça. Para isso é preciso atuar conscientemente, com amor e determinação.

A Lei de Justiça, Amor e Caridade e a Política

"Como se pode definir a justiça? - A justiça consiste em cada um respeitar os direitos


dos demais". (Questão nº 875 de O Livro dos Espíritos). Para o Espiritismo, justiça é:
cada um respeitar os direitos dos demais. Também para ele, duas coisas determinam tais
direitos: A lei humana e a lei natural. Esclarece, no entanto, que as leis humanas são
formuladas de conformidade com os costumes e caracteres de uma determinada época e
sociedade, por isso são mutáveis. Essas leis regulam algumas relações sociais, ao passo
que a lei natural rege até mesmo o que ocorre no foro da consciência de cada um.
Dentre os direitos de que o ser humano dispõe destaca o Espiritismo que o primeiro de
todos é o direito de viver. Isto está fundamentado na resposta à Questão nº 880 de O
Livro dos Espíritos: "Por isso é que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de
seu semelhante, nem fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência
corporal". Compreende-se que as afirmações "atentar contra a vida" e "comprometer-lhe
a existência" são muito amplas, envolvendo tudo aquilo que seja prejudicial à vida
humana física e espiritual. Toda ação que atente contra a vida não deve ser praticada
pelo espírita, bem como a esse tipo de ação ele deverá se opor, onde observe sua
manifestação. O Espiritismo nos diz que o amor e a caridade completam a lei de justiça,
pois quando amamos o próximo desejamos fazer-lhe todo o bem que nos seja possível,
da mesma forma como gostaríamos que nos fosse feito. Sob tal enfoque, afirmou Jesus:
"Amai-vos uns aos outros". Segundo Jesus, a caridade não se restringe à esmola, ela
abrange todo o relacionamento humano. É de se ver a amplitude que, assim, assume a
caridade, impondo para seu aparecimento o exercício da lei de justiça. Depreende-se,
pois, que sem justiça não há caridade. Na Questão nº 888 de O Livro dos Espíritos
encontramos: "Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e
moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na Lei de Deus e na justiça
deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a
existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da
boa vontade de alguns". Ressalta, assim, aos espíritas, a imperiosidade de trabalhar para
que a sociedade se baseie, cada vez mais na lei de Deus e na justiça, a fim de que o
direito à vida, à dignidade e ao respeito humano seja reconhecido a todos
indistintamente. É indispensável que, embasados nos princípios espíritas, trabalhe-se
para remover as causas geradoras da miséria, da ignorância e dos vícios. A Renovação
do Ser humano e da política "Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as
suas más inclinações? - Sim, e, freqüentemente, fazendo esforços muito insignificantes.
O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!". (Questão nº
909 de O Livro dos Espíritos). O egoísmo expressando-se através de uma pessoa, ou de
grupos de pessoas, é o sentimento centralizador do interesse próprio em detrimento dos
outros. Preocupado com seu enquistamento no ser humano, perquiriu Allan Kardec:
"Fundando-se o egoísmo no sentimento do interesse pessoal, bem difícil parece extirpá-
lo no coração humano. Chegar-se-á a consegui-lo? - À medida que os homens se
instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais. Depois,
necessário é que se reformem as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso
depende da educação". (Questão nº 914 de O Livro dos Espíritos). A orientação é no
sentido de que a compreensão da vida espiritual liberta o homem da escravização às
coisas materiais, isto é, elas deixam de ser um fim em si mesmas para se tornarem
instrumentos do seu progresso espiritual. Por outro lado denunciam claramente a
necessidade de se transformarem as instituições humanas que geram, motivam e
estimulam o egoísmo. O procedimento adequado a se intentar essa transformação é a
educação no sentido amplo, ou seja, a conscientização e prática individual e coletiva dos
princípios da justiça, da igualdade, da liberdade, do amor e da caridade. É imperioso,
pois, que se combata o egoísmo, indo às causas que o geram no homem e nas
instituições. Nessa linha de raciocínio, comenta Allan Kardec: "Louváveis esforços
indubitavelmente se empregam para fazer que a humanidade progrida. Os bons
sentimentos são animados, estimulados e honrados mais do que em qualquer outra
época. Entretanto, o egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal
real, que se alastra por todo mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima.
Cumpre pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade epidêmica". (Comentário
à Questão nº 917 de O Livro dos Espíritos). É evidente que nesse combate torna-se
imperiosa a análise das "chagas da sociedade", ou seja, de órgãos, de instituições,
organizações, sistemas econômicos e políticos que entretecem e excitam o egoísmo de
forma individual ou coletiva. Mais uma vez fica claro que o aprimoramento do ser
humano não pode ser feito apenas com a auto-educação como processo de isolamento e
não participação consciente dentro da sociedade.

A Política e a Ação Social Espírita

"Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons? - Por
fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando
estes o quiserem, preponderarão". (Questão nº 932 de O Livro dos Espíritos). Por todos
os conceitos e princípios contidos em O Livro dos Espíritos, até aqui analisados,
observamos quanto essas idéias regeneradoras tocam a sociedade humana em sua
estrutura, organização e funcionamento. Conceitos que em todas as circunstâncias e
situações concretizam a aplicação da verdade, da justiça e do amor. Há, pois, uma
inequívoca contribuição Política, sob o aspecto filosófico que o Espiritismo oferece à
sociedade humana, a fim de que ela se estruture, organize e funcione em termos de
verdade, justiça e amor. Disseram os Espíritos: "Quando bem compreendido, se houver
identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os
usos, as relações sociais". (Questão nº 917 de O Livro dos Espíritos). Preocupado com a
possível felicidade humana, Allan Kardec questionou: "A felicidade terrestre é relativa à
posição de cada um. O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro.
Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens? A resposta
dada pelos Espíritos, em sua primorosa síntese, encerra não só lúcido esclarecimento,
como um grande desafio à efetiva participação dos espíritas para promoção da
felicidade, ao afirmarem: "Com relação à vida material é a posse do necessário. Com
relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro". (Questão nº 922 de O
Livro dos Espíritos). Ampliando esclarecimentos na Questão nº 927 da mesma obra,
aditaram: "Verdadeiramente infeliz o homem só o é quando sofre da falta do necessário
à vida e à saúde do corpo". É de se entender, então, que o espírita tem uma ação social,
pois deve estar atento à prática da justiça e do amor a fim de que todos tenham a posse
do necessário e a saúde do corpo, o que necessariamente implica em propugnar para que
todos tenham alimentação adequada, vestuário, habitação, educação, assistência médica,
educação sanitária e até mesmo lazer. Advertiram os Espíritos na Questão nº 930 do
livro em estudo: "Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve
morrer de fome". Adita Allan Kardec: "Com uma organização social criteriosa e
previdente, ao homem só por sua culpa pode faltar o necessário. Porém, suas próprias
faltas são freqüentemente resultado do meio onde se acha colocado. Quando praticar a
lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio
também será melhor". Portanto, o espírita tem que participar e influenciar na sociedade
em que vive, procurando levar às instituições que a estruturam os valores e normas do
Espiritismo. Isso é uma participação política. Não pode preocupar-se apenas com a
reforma íntima, isolando-se em um "oásis de indiferentismo" pela sociedade em que
vive. É verdade que essa ação política conflitará com os interesses dos egoístas e
orgulhosos, individualmente ou em grupos. O Espírito Lázaro, no Capítulo IX, item 8,
de O Evangelho Segundo o Espiritismo nos alerta que "Cada época é, assim, marcada
pelo cunho da virtude ou do vício que a devem salvar ou perder. A virtude da vossa
geração é a atividade intelectual, seu vício é a indiferença moral". Assim, essa ação
política deve objetivar o bem comum. Aqueles que pretendem o bem não podem se
omitir e essa participação liga-se profundamente com a caridade, pois amar é querer o
bem. Destarte, a expressão política do amor é querer fazer o bem para todos. A
participação do espírita, inclusive do jovem, no processo político, social, cultural e
econômico deve ser consciente e responsável, tendo como diretriz os princípios e
normas contidas em O Livro dos Espíritos. Participação Política do Espírita. "... Sirva
de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem
o princípio da caridade e da fraternidade e cada um pensará menos na sua pessoa, assim
veja que outros nela pensaram. Todos experimentarão a influência moralizadora do
exemplo e do contato". (Questão nº 917 de O Livro dos Espíritos).

COMO O ESPÍRITA NÃO DEVE ATUAR NA POLÍTICA:

Levar a política partidária para dentro do Centro, das Entidades ou do Movimento


Espírita;

Utilizar-se de médiuns e dirigentes espíritas para apoiar políticos partidários a cargos


eletivos aos Poderes Executivo e Legislativo;

Catar votos para políticos que, às vezes, dão alguma "verbinha" para asilos, creches e
hospitais, mas cuja conduta política não se afina com os princípios éticos ou morais do
Espiritismo;

Apoiar políticos que se dizem espíritas ou cristãos, mas aprovam as injustiças, as


barganhas, a "politicagem" (usar a política partidária para interesses egoísticos pessoais
ou de grupos a que se ligam);

Participar da política partidária apenas por interesse pessoal, para melhorar a sua vida e
de sua família, divorciado em sua militância político-partidária dos princípios e normas
da Filosofia Espírita.

COMO O ESPÍRITA DEVE ATUAR NA POLÍTICA:

O espírita pode e deve estudar e reflexionar sobre os princípios político-filosófico-


espíritas no Centro Espírita, pois eles estão contidos em O Livro dos Espíritos, Parte
Terceira, Das Leis Morais;

Através da análise, do estudo e da reflexão das normas e princípios acima referidos, o


espírita deve identificar o egoísmo, o orgulho e a injustiça nas instituições humanas,
denunciando-as e agindo para que elas desapareçam da sociedade humana;

Confrontar os fundamentos morais e objetivos do Espiritismo com os fundamentos


morais e objetivos dos partidos políticos, verificando de forma coerente qual ou quais
deve apoiar e até mesmo participar como membro atuante, se tiver vocação para tal,
sabendo, no entanto, da responsabilidade que assume nesse campo, já que sua militância
deve sempre estar voltada para o interesse do ser humano, em seus aspectos social e
espiritual. Para isso, sua ação política deverá estar em harmonia com os valores éticos
(morais) do Espiritismo que, em última análise, são fundamentalmente os mesmos do
Cristianismo;

Participar de organizações e movimentos que propugnem pela Justiça, pelo Amor, pelo
progresso intelectual, moral e físico das pessoas. Exemplos: clubes de serviços,
sindicatos, associações de classes, diretórios acadêmicos, movimentos de respeito e
defesa dos direitos humanos, etc.;

Fazer do voto um elevado testemunho de amor ao próximo; Considerando que a


sociedade humana é dirigida por políticos que saem das agremiações partidárias e suas
influências podem ajudar ou atrasar a evolução intelecto-moral da humanidade, o voto,
realmente, é uma forma de exprimir o amor ao próximo e à coletividade; Deve, pois,
analisar se a conduta do candidato político-partidário tem maior ou menor relação com
os princípios morais e políticos (aspecto filosófico) do Espiritismo;

Participar conscientemente da ação política na sociedade, sem relegar o estudo e a


reflexão do Espiritismo a plano secundário. Pelo contrário, o estudo e a reflexão dos
temas espíritas deverão levá-lo a permanente participação, objetivando a aplicação
concreta do Amor e da Justiça ao ser humano, seja individual ou coletivamente.

REFLEXÃO FINAL

"E quem governa seja como quem serve". Jesus - (Lucas, 22:26) O advento da Nova Era
passará, inevitavelmente, pela renovação política. Nada muda se os políticos não
mudarem. "A força das coisas possibilita a mudança, mas não construirá uma sociedade
mais justa, mais livre, mais feliz, sem que cada família, cada grupo, cada cidade, cada
nação elabore seu projeto, organize sua ação para chegar a essa sociedade melhor".
(Questões nº 860 e 1019 de O Livro dos Espíritos). Cristo ensinou a paciência e a
tolerância, mas nunca determinou que seus discípulos estabelecessem acordo, tácito ou
explícito, com os erros que infelicitam o mundo. Em face dessa decisão foi à cruz e
legou o último testemunho de não-violência, mas também de não-acomodação com as
trevas em que se compraz a maioria das criaturas. Para o aprimoramento da sociedade
deve-se trabalhar a fim de aumentar o número de pessoas esclarecidas, justas e
amorosas de maneira que suas ações preponderem sobre a dos maus. Como diz J.
Herculano Pires (O Reino. São Paulo: Editora Edicel, p.137) "O chamado de uma nova
ordem social está clamando no coração do mundo. E o mundo não pode deixar de
atendê-lo, porque é um imperativo do progresso terreno, uma lei maior do que as leis
transitórias dos homens, é a expressão da própria vontade de Deus". Não poderemos
esquecer, também, a preocupação de Deolindo Amorim (O Espiritismo e os Problemas
Humanos. São Paulo. Editora USE, 2ª edição, p.34) com o espírita e a sociedade: "Para
os espíritas, finalmente, o Cristianismo não é apático. Se, na realidade, o cristão ficasse
apenas na fé, rezando e contemplando o mundo à grande distância, sem participar do
trabalho de transformação do homem e da sociedade, jamais a palavra do Cristo teria a
influência ponderável. O verdadeiro cristão, o que tem o Evangelho dentro de si, e não
apenas o que repete versículos e sentenças, não pode cruzar os braços dentro de um
mundo arruinado e poluído pelos vícios, pela imoralidade e pelo egoísmo". Alterar essa
estrutura social que fomenta o egoísmo em todos os grupos sociais é providência
urgente. (Questão nº 573 de O Livro dos Espíritos). Precisamos aproveitar a força das
coisas, que está criando possibilidades de mudanças. Isso só pode ser feito, como diz o
Codificador, combatendo todas essas causas, senão ao mesmo tempo, pelo menos por
parte. Notemos a palavra por parte e não uma de cada vez. Ao interferirmos em um
sistema, diz-nos a teoria que não podemos interferir para mudar, sem agir em uma
família de coisas. Atuar em uma coisa de cada vez é inócuo, pois o próprio sistema se
defenderá eliminando o que o ameaça. No entanto, o caminho parece ser colocar novos
princípios em prática nas famílias, instituições, escolas, igrejas, em todos os grupos
sociais, de forma que muitos movimentos sociais comecem a demonstrar a viabilidade
de novas soluções. (Questões nºs 791 a 793 e 797 de O Livro dos Espíritos). A polêmica
idéia de que o Brasil está destinado a cumprir o papel de "Coração do Mundo e Pátria
do Evangelho" sempre foi acompanhada de reflexões muito entusiastas. Se ele
realmente tem uma missão histórica a realizar, então é preciso começar a pensar o Brasil
de um ponto de vista mais realista. Só assim poderemos cumpri-la. O Evangelho
apresenta a mais elevada fórmula de vida político-administrativa aos povos da terra. Os
ideais democráticos do mundo não derivam senão do próprio ensinamento de Jesus,
nesse particular, acima da compreensão vulgar das criaturas. A magna questão é
encontrar o elemento humano disposto à execução do sublime princípio. Quase todos os
homens se atiram à conquista dos postos de autoridade e evidência, mas geralmente se
encontram excessivamente interessados com as suas próprias vantagens no imediatismo
do mundo O grande desafio do espírita consciente é participar ativamente desse
movimento de transformação social, alicerçado no conhecimento das Leis Morais
contidas em O Livro dos Espíritos, buscando:

- Politizar-se para escolher melhor;

- Esclarecer amigos e familiares sobre o voto consciente;

- Participar de grupos de ação comunitária, além do centro espírita;

- Votar com amor, para eleger os mais moralizados.

Preponderar sobre os maus, como já vimos, é apenas uma questão de vontade. Foi a esta
conclusão que chegou Martin Luther King (Os Grandes Líderes – Nova Cultural), ao
afirmar: "Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-
lo. Não posso ficar no meio de todas essas maldades sem tomar uma atitude." Toda a
estrutura da Doutrina Social Espírita está calcada na Codificação e esta deve ser a base
para a construção de Uma Nova Sociedade. Assim, a implantação da Política da
Fraternidade deve ser para todo espírita consciente UM IDEAL A SER ATINGIDO.

Ensaio elaborado a partir de transcrições do Livro O Espiritismo e a Política para a


Nova Sociedade – Aylton Paiva – Lins. Casa dos Espíritas.

Outras obras consultadas:

Rumos para Uma Nova Sociedade – O Espiritismo e as Ciências Sociais – Autores


Diversos - São Paulo. Edições USE. Estudos de Filosofia Social Espírita – Ney Lobo –
FEB
Alma e Luz – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel – Instituto de Difusão Espírita.
Jornal Opinião E. de Maio de 1997 – Especial – Eduardo Fernandes.
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec.
A Gênese – Allan Kardec.
Obras Póstumas – Allan Kardec.
O Reino – J. H. Pires/Irmão Saulo – São Paulo. Editora Edicel.
O Espiritismo e Os Problemas Humanos – D. Amorim & H. C.Miranda – São Paulo:
Editora USE.
Caminho, Verdade e Vida – Francisco Cândido Xavier/Emmanuel – FEB.
Os Grandes Líderes – Martin Luther King - Nova Cultural.
Como Não Ser Enganado nas Eleições – Gilberto Dimenstein – Editora Ática.
Elementos da Engenharia Social – Décio Silva Barros – Editora do Escritor – SP.

***

Pergunta: Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e assegurar uma
situação futura?
Resposta dos Espíritos: Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois
cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de
fazer.

Questão 642 e resposta dos espíritos in O Livro dos Espíritos. Obra codificada por Allan
Kardec .

... Marcelo e Mônica Berezutchi

> O que os Orixás reservaram para nós?

Artigos

O que os Orixás reservaram para nós?

Lembro-me como se fosse hoje:

Cheguei atrasado no terreiro e o silêncio imperava no local.


No início não entendi o que acontecia, a assistência quieta e ao lado direito um pequeno
grupo se reunia à volta de uma pessoa que pedia para nós uma licença para executarmos
nossos trabalhos religiosos.

Que raios de licença era essa?

Licença nós já pedíamos para os Orixás no início de cada trabalho, não entendíamos
mais nada.

Se a Constituição garante a liberdade de culto e de crença, nós estávamos no nosso


direito.

Nos sentimos vilipendiados, usurpados e lá no fundo nos sentimos esmagados pelo


preconceito, não o preconceito que aparece, mas o pior preconceito que existe, o
preconceito silencioso.

Começou nesse dia nossa luta.

Luta contra um preconceito e uma ignorância sem tamanho, uma guerra silenciosa que
vence aquele que não desiste, pois nessa guerra sempre alguém acaba perdendo e
geralmente nesse caso somos nós UMBANDISTAS que perdemos, perdemos nosso
direto de expressar nossa religiosidade, nossa individualidade e só não perdemos a
dignidade, porque às vezes é a única coisa que nos resta.

Infelizmente, na nossa religião, a união ainda é um artigo de luxo, pois são poucas
pessoas que pensam em um bem maior para a nossa religião. A maioria só quer o poder
e na hora de ajudar aqueles que precisam, simplesmente os afundam mais.

Sei, irmãos, que essas palavras são duras, mas é a nossa realidade atual.

Nosso caminho não foi fácil, nosso primeiro contato com a prefeitura serviu apenas para
ganhar uma multa.

O fiscal apareceu no primeiro dia nos intimou a ir a Prefeitura Municipal de São Paulo -
PMSP, sem intimação, e nós, como queríamos fazer tudo correto, queríamos legalizar
nossa situação, fomos de boa vontade.

Detalhe: nessa época o terreiro era na minha casa e sendo assim eu não precisava ir a
PMSP, pois não devia nada a ninguém, mas onde estava a alma caridosa para explicar
isso?

Chegamos à prefeitura preenchemos uma ficha que serviu apenas para lavrar a multa,
nossa primeira de muitas...

Foi difícil, mas conseguimos entender e superar essa fase e a PMSP nos esqueceu por
um período, mas a ferida estava aberta, o que mais me doía era o fato de que nós como
muito de vocês pagamos nossos impostos em dia e ninguém da PMSP nos explicava
como deveríamos tirar a bendita licença de funcionamento, não existia uma central de
esclarecimento.
Graças ao preconceito de algumas pessoas, depois da prefeitura foi a vez da delegacia,
mas nós fomos a delegacia para reclamar do preconceito.

Isso mesmo: estávamos sofrendo por intolerância religiosa.

Fui aconselhado por “amigos” a procurar a delegacia do bairro, já que nessa época ainda
não existia a delegacia de intolerância religiosa.

Como estávamos sofrendo com o preconceito tomamos coragem nos vestimos de


branco e fomos lá.

A sorte é que fui com um advogado: quase ficamos presos.

Fomos reclamar de preconceito de uma pessoa contra nossa religião e o delegado era da
mesma religião que o meu perseguidor... Oh, azar!!

Bem, depois de muita polêmica, o delegado nos garantiu que não era caso de Boletim de
Ocorrência e que iria chamar a pessoa para esclarecimentos.

Coincidência ou não, depois desses esclarecimentos nosso terreiro foi denunciado em


todos órgãos públicos da região.

Nós fomos ao Disk-Psiu, ao Tribunal de Pequenas Causas, por onde vocês imaginarem,
nós passamos, cada dia era uma nova emoção.

Pelos idos de 1999, o terreiro cresceu e resolvemos sair da nossa casa. Éramos felizes e
não sabíamos.

Alugamos um local maior, pois queríamos receber mais pessoas e ajudar mais irmãos
necessitados; nessa época, já distribuíamos cesta básica a algumas famílias.

Parece brincadeira, inauguramos numa sexta-feira e era só alegria; mais uma conquista,
pois para nós umbandistas tudo é difícil.

Eu não sou pedreiro, nem meus médiuns são, mas nós reformamos e pintamos que é
uma beleza. Na segunda-feira o fiscal da PMSP já estava na minha porta com um
histórico de setenta denuncias anônimas de bagunça, algazarra, etc.

Nesse momento, nós ainda não tínhamos entendido o que os Orixás estavam reservando
para nós: já estava achando que na encarnação passada nós tínhamos sido um bando de
cafajestes, para não dizer outros nomes.

Sentimos que o chão estava se abrindo e nos consumindo aos poucos; mas é nesses
momentos difíceis que somos provados e se mantivermos nossa Fé sempre aparece
alguém para nos ajudar.

Graças a um médium que tinha bons contatos, conseguimos um bom advogado que nos
ajudou a manter a casa aberta, pois não cabe denuncia anônima para nossa situação.
Denuncia anônima deve ser feita para crimes hediondos, não para barulho, algazarra etc.

Bom, mas das multas nós não escapamos, pois a cada visita do fiscal uma multa vinha
de brinde.

Essas situações acabaram nos impulsionado a conhecer a legislação e nos preparar para
o que estava por vir.

Conhecemos a lei dos 250 metros, aprendemos a fazer estatutos a abrir empresas etc.
Mais algum tempo se passou e descobrimos que o estatuto registrado serve para abrir
uma empresa, abrir conta em banco, mas não serve para manter nosso terreiro aberto.

É isso mesmo: somente o estatuto não nos dá o direito de exercer nossa religiosidade,
pois apesar da Constituição garantir nosso direito, nós estamos sujeitos às leis
municipais que nos obrigam a ter a tal licença de funcionamento ou alvará de
funcionamento.

Detalhe: quem tem terreiro em casa, não precisa de nada disso, pois você está na sua
casa, e apenas precisa se preocupar com o barulho.

Gente, se botequim precisa ter licença de funcionamento, por que nós não
precisaríamos? Não é uma coisa lógica?

Todo comércio ou local aberto ao público precisa ter a licença da prefeitura para
funcionar.

Bem, meio que aos trancos e barrancos em janeiro de 2006 demos entrada na papelada
para a tal licença na prefeitura, digo aos trancos e barrancos, pois não existe um
documento ou qualquer esclarecimento por parte da prefeitura de como dar entrada
nessa papelada.

Nesse momento começa o desespero e o desamparo, entrega o documento, espera 30


dias, entrega outro, espera mais 30 dias, passam 6 meses e a Prefeitura indeferiu o
pedido.

Lá vamos nós de novo, começa todo o processo do zero, tira xerox disso, cópia daquilo,
e nesse jogo de gato e rato, nós perdemos um prazo da entrega de um documento e
quando achávamos que nada podia ficar pior, em 25 de maio de 2007 às 18h00, nosso
terreiro foi fechado e lacrado.

Foi uma festa!

Nunca vimos tanta gente. Vieram 4 fiscais e o subprefeito, até tiraram fotos da lacração.

Nesse dia me senti importante, pois além de ter o terreiro lacrado ainda recebemos 3
pesadas multas.

Esse dia era uma sexta-feira cujos trabalhos seriam as 20h00 e todos os médiuns mais a
assistência ficaram de fora impedidos de entrar em nossa casa para rezar, o duro foi não
chorar nesse momento e manter a calma, pois a situação era muito complicada.

Fomos para casa arrasados, essa era uma situação que nem em nos nossos piores
pesadelos podíamos imaginar.

Como sempre, é na adversidade que se cresce e sem perder a esperança, conseguimos


apoio de mais duas pessoas maravilhosas e após longos três meses conseguimos abrir o
terreiro usando a força da Lei a nosso favor e novamente iniciamos o processo de
legalização do terreiro, mas nada ainda estava resolvido, não precisamos dizer que na
PMSP o Templo da Luz Dourada é muito conhecido, pois nosso processo já estava
completando anos de existência.

Depois de entregar todos os documentos o processo não evoluía, cada dia o processo
estava com um fiscal diferente e nunca tínhamos nada conclusivo, ninguém falava se
faltava algo e tampouco liberava a licença.

É importante salientar que nós nunca desistimos, é claro que existem momentos que a
situação é muito difícil e até desanimamos um pouco, pois afinal de contas somos seres
humanos, mas novamente os Orixás intercederam por nós.

Nesse momento, nós já desconfiávamos quais eram as intenções deles para conosco, e
através de duas pessoas maravilhosas que inclusive não são Umbandistas, mas são seres
humanos preocupados com a justiça, conseguimos que a Lei fosse cumprida, pois nós
não estávamos pedindo nada demais:

Entregamos todos os documentos exigidos e apenas queríamos a nossa licença, que era
um direito nosso já que havíamos cumprido com todas as determinações da PMSP.

Podia ter sido diferente e mais fácil, mas infelizmente o ser humano é complicado e se
deixa levar muitas vezes por valores duvidosos.

Então com muita satisfação, nós gostaríamos de comunicar que o Templo da Luz
Dourada, desde o dia 17 de Setembro de 2008 e após 10 anos de muita luta está
devidamente legalizado na PMSP.

Não sei se somos os primeiros, mas sei que são poucos os terreiros legalizados, e
estamos legalizados como organização religiosa e na Licença de Funcionamento está
escrito em letras maiúsculas:
Salão de Culto (Inclusive Terreiro) – TERREIRO DE UMBANDA.

Gente, isso não tem preço!

Somente essa frase na licença valeu todos os 10 anos de angústia e sofrimento.

O mais importante é que abrimos um precedente e se nós conseguimos, você também


pode conseguir e no final seremos muitos e poderemos trabalhar em paz sem ficar
imaginando que baterão na nossa porta no dia de trabalho.

Não vamos citar nomes para não sermos injustos, mas gostaríamos de agradecer a todas
as pessoas que nos ajudaram nesse processo, que não foram poucas, mas com certeza
foram direcionadas pelos nossos queridos e amados Orixás.

O que os Orixás reservaram para nós?

Eles reservaram o conhecimento, pois hoje, graças a eles, sabemos o caminho a ser
seguido para a obtenção da legalização do nosso espaço.

Oxalá abençoe a todos.

Pai Marcelo Berezutchi

Mãe Monica Berezutchi

Federação Umbandista Luz Dourada

Tel.:(11) 2302-4087

monica@luzdourada.org.br

www.luzdourada.org.br

Av Vila Ema 3593, paralela à Av. Anhaiamello altura do 5300

Monica Berezutchi

Ministra os cursos:

Portal de Luz do Pai Obaluayê

Doutrina e Cultura Umbandista

Desenvolvimento Mediúnico

Teologia de Umbanda

... Alexandre Cumino

> Umbanda : Matriz Religiosa Brasileira

Artigos
Dia 13 de Novembro de 2008 publiquei o texto UMBANDA: MATRIZ RELIGIOSA
BRASILEIRA, no Jornal de Umbanda Sagrada, e por incrível que pareça até esta
data não encontrei nenhuma publicação umbandista que aborda-se o tema. Também não
recebi, até a data citada, nenhum e-mail que se refere desta forma à Umbanda, ou seja
nenhum documento chegou à minhas mãos que apresenta-se outro irmão umbandista
abordando ou defendendo esta questão impar para a religião de Umbanda.

Afinal o uso do termo Matriz Religiosa Brasileira é novo e faz parte do contexto de
Sociologia da Religião, mais precisamente um termo cunhado pelo sociólogo José
Bittencourt Filho, que aparece como tese no livro Matriz Religiosa Brasileira, Ed.
Vozes, 2003.

Por ser um estudo especifico da área de Sociologia da Religião ou de Ciências da


Religião é compreensivo que poucos tivessem tido acesso ao mesmo, afinal sempre que
se fala de Umbanda costuma-se defini-la como religião de Matriz Afro-Brasileira, um
termo que se aplica corretamente ao Candomblé.

Por ter uma raiz afro é que se costuma colocar a Umbanda entre as religiões de Matriz
Afro-Brasileiras, mas a Umbanda não tem também uma raiz indígena e outra européia
(na influencia católica e “kardecista”)? Então também seria de Matriz Indígena e
Européia?

Segundo BITTENCOURT, citando a fonte correta, existe uma Matriz Brasileira no que
diz respeito à cultura brasileira que é, esta sim, formada pelas diversas culturas que aqui
chegaram com a colonização e a Matriz Religiosa Brasileira está inserida dentro da
Matriz Cultural Brasileira.

Esta é uma abordagem nova, digna e muito importante para quem segue uma religião
brasileira, pois é partindo deste ponto que alcançaremos um entendimento maior do que
também é chamado de “caldo cultural brasileiro”.

A Matriz Religiosa Brasileira, ao contrário do que pode parecer não é um simples


sincretismo do branco-negro-indio, ela se formou de forma tardia pois além destas três
culturas seu ultimo elemento formador aportou no Brasil apenas no século XIX, que é o
“kardecismo” (Espiritismo).

Graças ao irmão Cássio Ribeiro e Sandra Santos, chegamos à Câmara dos Deputados
em Brasilia, no dia 10 de Novembro, onde fui convidado para apresentar o texto, que foi
lido pelo Deputado Vicentinho.

Por meio da irmã Sandra Santos enviei três textos: Matriz Religiosa Brasileira ; XV de
Novembro ; Cem Anos de Umbanda

Foi escolhido o texto Cem Anos de Umbanda, que junto do texto Matriz Religiosa
Brasileira, fazem parte do livro UMBANDA: TRAGETÓRIA DE UMA RELIGIÃO,
que será lançado em 2009, em parceria com a Editora Madras.

Um dos objetivos deste livro é apresentar esta Matriz Religiosa Brasileira e os


caminhos que conduzem a este raciocínio ou seja quais foram os estudos que
antecederam a este e como uma tese é defendida em cima das idéias propostas por outro
autor que a antecede.

Sempre ouvimos falar que Umbanda é sincretismo e todos nós defendemos esta idéia,
no entanto há agora uma mudança de paradigma (ponto de partida ou ponto de vista),
que também é nova, no entanto foi defendida por Renato Ortiz em 1975 (Tese de
Doutorado em Paris, orientada por Roger Bastide) e publicada no Brasil com o titulo de
A Morte Branca do Feiticeiro Negro (São Paulo: Ed. Brasiliense).

Este novo paradigma, defendido por Renato Ortiz, diz que a Umbanda é muito mais que
sincretismo, Umbanda é a síntese do povo brasileiro, juntando ORITIZ com
BITENCOURTT temos então a faca e o queijo na mão para entender e defender a
Umbanda como Religião Brasileira.

Igualmente ao termo Matriz Religiosa Brasileira ainda não é costume do umbandista


entender a Umbanda como “síntese do povo brasileiro”, pois até nossos dias o que mais
ouvimos é “sincretismo de culturas” como definição para a Umbanda.

No dia 18 de Novembro de 2008 tive a oportunidade de palestrar na Câmara Municipal


de São Paulo, a convite do Pai Guimarães e neste dia, graças aos Orixás com casa cheia,
pude então apresentar as teses de que “Umbanda é mais do que sincretismo é a síntese
do povo brasileiro” (tese de Renato Ortiz, devidamente citado no dia) e que “Umbanda
é religião de Matriz Religiosa Brasileira” (tese de José Bittencourt Filho, também citado
devidamente no dia), passando por Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Roger Bastide,
Câmara Cascudo, Renato Ortiz e José Bittencourt.

Agora mais surpreso ainda fiquei eu ao saber que o irmão Roger Tausing irá apresentar
o tema “Matriz Religiosa Brasileira: Passado, Presente e Futuro da Umbanda” no dia 9
de Dezembro em um seminário com o tema “Centenário da Umbanda: Matriz Religiosa
Brasileira”, deve ser uma feliz coincidência.

Aproveito esta oportunidade para dar os parabéns aos irmãos que conquistaram esta data
na Câmara dos Deputados, todas as comemorações em homenagem ao centenário
engrandecem a religião de Umbanda, e marcam definitivamente no inconsciente
coletivo e também no consciente desta nação que Umbanda tem história e é uma
religião brasileira.

Ofereço como colaboração o texto que foi publicado dia 13 de Novembro de 2008 no
Jornal de Umbanda Sagrada (Umbanda: Matriz Religiosa Brasileira), já que nenhum
umbandista, que eu saiba, tenha abordado o tema até aqui, creio que toda colaboração é
valida, segue o texto:

UMBANDA: Matriz Religiosa Brasileira

Por Alexandre Cumino

Eduardo Refkalefsky, Doutor em Comunicação e Cultura e professor da Escola de


Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ao lado da aluna de
graduação (ECO/UFRG) Cyntia R. J. Lima, apresentaram o tema POSICIONAMENTO
E MAKETING RELIGIOSO IURDIANO: UMA LITURGIA SEMI-IMPORTADA DA
UMBANDA, onde faz considerações importantes para este nosso estudo:

(...) a Umbanda representa melhor do que qualquer outra religião, culto ou doutrina os
elementos da “Matriz Religiosa Brasileira”, termo criado pelo sociólogo José
Bittencourt Filho (2003). A Matriz Religiosa é parte da Matriz Cultural Brasileira, fruto
do processo de colonização. No processo de formação da nacionalidade brasileira, o que
em demografia representa a miscigenação , se traduz no campo religioso como
sincretismo.

Do ponto de vista conceitual, a Matriz compreende:

(...) formas, condutas religiosas, estilos de espiritualidade, e condutas religiosas


uniformes evidenciam a presença influente de um substrato religioso-cultural que
denominamos Matriz Religiosa Brasileira. Esta expressão deve ser apreendida em seu
sentido lato, isto é, como algo que busca traduzir uma complexa interação de idéias e
símbolos religiosos que se amalgamaram num decurso multissecular, portanto, não se
trata stricto sensu de uma categoria de definição, mas de um objeto de estudo. Esse
processo multissecular teve, como desdobramento principal, a gestão de uma
mentalidade religiosa média dos brasileiros, uma representação coletiva que ultrapassa
mesmo a situação de classe em que se encontrem. (...) essa mentalidade expandiu sua
base social por meio de injunções incontroláveis (...) para num determinado momento
histórico, ser incorporada definitivamente ao inconsciente coletivo nacional, uma vez
que já se incorporara, através de séculos, à prática religiosa [BITENCOURT, 2003, p.
42s].

As características principais da Matriz Religiosa Brasileira e da Umbanda, em especial,


são:

a) o contato direto com o sagrado (através das incorporações de “espíritos”);


b) o uso intensivo de elementos sincréticos, provenientes de várias origens religiosas;
c) o caráter de magia prática para solução de problemas cotidianos;
d) a relação de trocas (“eu te ajudo para que você me ajude”) com estas entidades e o
Sagrado, de modo geral;
e) a prática de uma religiosidade individual, à margem das instituições eclesiásticas; e
f) uma moral “franciscana” (LIMA FILHO, 2005), que privilegia atitudes e
comportamentos “simples”, “líricos”, quase animistas em relação à natureza, avessos à
cultura letrada, ao intelectualismo, mercantilismo (a modernidade de Weber) e
defensores dos “fracos e oprimidos”.

Estas são conclusões inevitáveis a quem estuda religião de forma séria, mesmo que não
conhecêssemos a história de Zélio de Moraes ainda assim Umbanda seria uma religião
brasileira, pois em lugar nenhum, no tempo e no espaço se reuniu os elementos que são
presentes na Umbanda da forma como a conhecemos. Pois a Umbanda não prescinde de
cada um dos elementos das diversas culturas presentes nesta matriz. A História do Zélio
faz confirmar a nacionalidade de Umbanda.

Não encontraríamos a integridade de todos elementos apenas em uma ou outra cultura,


portanto o nascimento se dá do encontro ou síntese de todas elas. O que temos são
raízes ou “origens” diversas que se combinam. Quanto a uma suposta origem na
Lemuria, Atântida ou Índia a resposta é simples, não há umbanda sem o Preto-velho
(negro que foi escravo no Brasil, batizado com nome português como João, José,
Benedito...) e quem é este preto-velho nestas supostas origens? A Umbanda não
antecede quem a formou O Caboclo e o Pretp-velho. Assim podemos entender esta
suposta origem e a teoria do AUMBANDHÃ como um “Mito Fundante” criado ou
“forjado” para colocar a Umbanda em posição privilegiada. Eu particularmente não
creio neste mito, respeito quem acredita, mas devo como sempre fundamentar porquê
não creio... Por fim a teoria de “religião primordial” e “religião verdadeira” (“religio-
vera”?) foram teorias católicas adaptadas para a Umbanda, também é uma teoria que se
inspira na Teosofia como origem de todas as religiões.

Hoje sabemos que o que sempre houve na humanidade foi experiência religiosa e não
esta ou aquela religião, não há uma religião superior à outra.

A Umbanda é apenas a nossa firma de praticar religião, uma forma brasileira...

AXÉ a todos que batem cabeça no congá de Oxalá e que o Caboclo das Sete
Encruzilhadas nos inspire palavras e pensamentos que dignifiquem a religião
fundamentada por ele um século atrás.

Alexandre Cumino

... Luiz Fernando de A. Penteado

> A Casa Espírita e os problemas sociais - A violência que nos bate à porta

Artigos

Ação social é sem dúvida o melhor instrumento para a terapêutica espírita,


possibilitando a vivência prática de nossas conquistas e a transmissão do conhecimento
adquirido aos nossos irmãos necessitados

O tema mais constante hoje, em todas as conversas, é a violência física, moral e


intelectual que invade nossos lares, transforma nossos hábitos e modifica nossas vidas.

Buscando refletir sobre o tema encontrei, nas palavras de Joanna de Angelis, um


caminho para reflexão:

“A volúpia pela velocidade, em ânsia indomada de desfrutar-se mais prazer, ganhando-


se o tempo, que se converte em verdadeiro algoz dos sentimentos e das aspirações, vem
transformando o ser humano em robô, que perdeu o sentido existencial e vive em
função das buscas, cujas metas nunca são conseguidas, face à mudança que se opera no
significado de cada uma”.

Sem dúvida nos robotizamos atrás de um “PRAZER” efêmero e sem rumo e que nos
joga em um emaranhado de conflitos e frustrações.

“A superpopulação das cidades, desumanizando-as, descaracteriza o indivíduo, que


passa a viver exclusivamente em função do poder que pode oferecer comodidade e
gozo, considerando as demais pessoas como descartáveis, pelo receio que mantém de
ser utilizado e esquecido, em mecanismo inconsciente sobre o comportamento que
conserva em relação aos outros”.
O PODER, como meta e objetivo, vivemos de perto esse processo, quando nos
envolvemos nos meandros da corrupção, ativa ou passiva, e nos permitimos levar pela
ganância, pelo orgulho e pelo egocentrismo exarcebado.

“O Egoísmo passa a governar a conduta humana, e todos se engalfinham em intérmina


luta de conquistar o melhor e maior quinhão, mesmo que isso resulte em prejuízo
calculado para aqueles que partilham do seu grupo social”.

“Nesse campo, eivado dos espinhos da insensibilidade pela dor do próximo, pelo
abandono das multidões esfaimadas e enfermas, pelo desconforto moral que se espraia,
os valores éticos, por sua vez, passam também a ser contestados pelos que se
consideram privilegiados, atribuindo-se o direito de qualquer conduta que o dinheiro
escamoteia e a sociedade aceita”.

Não é exatamente a realidade que vivemos, no momento político em que estamos


mergulhados, nas relações sociais e profissionais que vivenciamos, e muitas vezes no
seio de nossas próprias famílias?

A inversão de conteúdos psicológicos individuais e coletivos demonstra a imaturidade


moral e espiritual de indivíduos e grupos sociais, cujos objetivos existenciais vinculados
durante a formação da personalidade, no utilitarismo, na conquista do poder para
usufruir, na construção do ego que se insensibiliza, a fim de fugir à responsabilidade
dos deveres da solidariedade e da participação.

A falência dos valores é inegável, tornando-se inadiável uma mudança filosófica e de


conduta psicológica humana.

A Meta da Casa Espírita é a Edificação dos Valores, através do estudo continuado e do


exemplo na conduta pró-ativa de seus membros.

A Assistência Fraterna deve se desenvolver dentro de uma proposta Informativa e


Formativa, possibilitando a diminuição das carências do momento, ao mesmo tempo
que orienta e possibilita condições para que próximas crises possam ser de menor
intensidade e que os companheiros tenham maior estrutura para enfrentá-las.

O desenvolvimento das atividades deve estar essencialmente focado no trabalho de


educação preventiva e profilática, possibilitando a criação de importantes fontes de
disseminação do bem.

Sobre esses conceitos, nos diz Joanna de Angelis:

“Aprendamos lidar com o desequilíbrio social e sua decorrência, drogas, alcoolismo,


violência, sexolatria, desagregação da família etc, e possibilitarmos aos nossos irmãos o
apoio necessário, nos exige uma profunda reflexão pessoal e institucional, que propicie
a validação dos valores que abraçamos e a avaliação de nossa conduta, enquanto
indivíduos, enquanto membros de uma comunidade e principalmente enquanto
participantes de um movimento espiritual/assistencial”.

Enfrentar os nossos medos, dúvidas e ansiedades, avaliar a nossa conduta pessoal,


familiar, profissional e social, aprendermos trabalhar em equipe e solidariamente,
encararmos nossa vaidade, orgulho, ambição, preconceitos, comodismo, orgulho.
Sermos coerentes com a filosofia doutrinária que abraçamos. São os primeiros passos
para enfrentar o desequilíbrio social e começarmos a criação de uma sociedade mais
justa e mais humana.

A Casa Espírita, em sua missão, nos propicia um dos mais sérios e importantes
processos terapêuticos, em que somos acompanhados por terapeutas fraternos e
pacientes sempre prontos a nos auxiliar e com uma enorme paciência em nos ouvir e
nos estimular a melhora, sem nos impor comportamentos, mas nos convidando sempre à
reflexão.

A ação social é sem dúvida o melhor instrumento para essa terapêutica, possibilitando a
vivência prática de nossas conquistas e a transmissão do conhecimento adquirido aos
nossos irmãos necessitados.

Mas frente à enorme demanda da sociedade, necessitamos integrarmo-nos aos


companheiros de movimento de forma ativa e objetiva, para que possamos atender à
mesma, e principalmente sermos ativos junto à comunidade em que estamos inseridos,
participando dos seus movimentos e apoiando os serviços que ela oferece no sentido da
promoção social.

Não podemos e nem devemos estar isolados de todo o movimento social que tenha
como proposta uma sociedade mais justa e que lute pela erradicação da ignorância, pelo
atendimento à saúde, pela requalificação profissional, pelo exercício honesto e
construtivo da cidadania.

Unamo-nos nesse esforço pela Fraternidade e pela Esperança e tornemo-nos


trabalhadores da Caridade, gerando a profilaxia do mal e construindo a ideologia do
AMOR.

Luiz Fernando de A. Penteado


Psicólogo – Diretor do D.A.S. da USE Regional-SP
Transcrito do Dirigente Espírita, n.º 89, julho/agosto 2005 – www.use-sp.com.br

:: C O N S C I Ê N C I A E S P Í R I T A 2 0 0 5 ::
Cent. Est. Esp. Paulo Apóstolo de Mirassol - SP - Brasil

... Eduardo Ferreira Valerio

> Segurança Pública é muito mais que Direito Penal

Artigos
SEGURANÇA PÚBLICA É MUITO MAIS QUE DIREITO PENAL

Defrontamo-nos, cada vez mais, com estarrecedoras notícias envolvendo crimes e


violências de toda espécie. E assistimos à sociedade, seja pelos poderes públicos, seja
pelos seus vários seguimentos, discutir erraticamente o tema, sem que se consiga chegar
a uma proposta concreta e séria de solução ou, pelo menos, de mitigação do problema.

Neste contexto, sobrelevam os discursos de endurecimento da legislação penal,


preconizando-se a supremacia absoluta da pena de prisão e a aplicação de sanções mais
rígidas e mais longas. É uma maneira dita policial de ver o problema.

Na verdade, entender segurança pública apenas sob a ótica do Direito Penal (e suas
instâncias oficiais de aplicação: Polícias, Ministério Público, Magistratura Criminal,
sistema penitenciário) é reduzi-la à sua última conseqüência. Se num dado caso
concreto tornou-se necessária a atuação de tais instituições e a aplicação das normais
penais, é porque antes fracassaram outras tantas instâncias sociais.

Em oportuno e lúcido artigo publicado na edição de 01 de agosto de 2008 da Folha de


São Paulo, o Cardeal primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella Agnelo anotou:

“A violência nasce da desesperança, dos caminhos fechados, da falta de oportunidades


para crescer e construir uma vida digna a partir do estudo, do aprendizado de uma
profissão, da disciplina e do sacrifício para conseguir constituir uma família, ter uma
casa para abrigá-la, gerar filhos, podendo educá-los. A raiz da violência, que é mais
difícil de ser reconhecida, está no modo de tratar o outro a partir do próprio interesse,
sem considerá-lo na sua realidade pessoal, sem respeitá-lo na sua dignidade própria. A
raiz da violência consiste em não amar o destino do outro, não se interessar pelo bem
dele, dando sempre a precedência ao próprio interesse, à própria conveniência e
vantagem”.

E a Doutrina Espírita nos lembra que os autores da violência são Espíritos imortais, que
trazem a necessidade de difíceis vivências que, corretamente enfrentadas, serão muito
úteis ao seu aprendizado evolutivo; e, dentre eles, não poucos estão gozando das últimas
oportunidades de encarnarem num mundo de expiações e provas, antes que a Terra –
mercê dos esforços de seus habitantes – converta-se num mundo de regeneração.

Portanto, se as instituições sociais – públicas ou privadas – não oferecerem boas


condições de criação e educação a estes Espíritos, mais facilmente eles enveredarão, no
exercício do livre arbítrio, para atos de violência e desamor. E aí, encarcerá-los quiçá
venha a ser medida necessária para que eles não se percam ainda mais pelos escaninhos
do ódio e do desrespeito ao próximo, mas que não se imagine que deste modo será
possível educá-los ou fazê-los bem aproveitar a encarnação. E ainda mais: que não se
alimentem ilusões de assim se buscar solução para o problema da violência.

O flagelo da violência só se resolve com a efetiva execução de políticas públicas e


sociais calcadas no respeito ao ser humano, que lhe garanta bem desenvolver suas
potencialidades de Espírito em aprendizado.

Assim, numa perspectiva espírita, a pena de prisão é, a um tempo, mero reflexo da


condição moral ainda baixa de significativa parcela dos habitantes do planeta (com os
quais estamos todos ainda comprometidos, de um ou outro modo) e, a outro,
conseqüência das estruturas sociais e econômicas injustas e assimétricas que
caracterizam os espaços de convívio num mundo dominado pelos interesses materiais.

Há muito mais a se falar sobre o tema e a ele certamente voltaremos em outras ocasiões.
Por ora, consignamos o convite a cada leitor, associado da AJE e profissional do Direito
espírita, para que reflita intimamente acerca do convívio entre suas convicções espíritas
e as exigências por mais e mais prisão. E, depois, que faça de seu exercício profissional
uma natural decorrência de tais reflexões.

Fonte: Boletim Eletrônico da AJE-SP

... Maria Odete Duque Bertasi

> A Ética Espírita e o Operador do Direito

Artigos

A ÉTICA ESPÍRITA E O OPERADOR DO DIREITO

A primeira e importante questão que vem à mente é a de sabermos se existe, de fato,


alguma diferença entre a ética que aprendemos nos textos legais, nos estatutos e nos
códigos profissionais dos representantes das carreiras jurídicas e a ética que os mesmos
profissionais devem observar enquanto seguidores da Doutrina Espírita.
No caso dos advogados, por exemplo, enquanto indispensáveis à Administração da
Justiça, Defensores do Estado Democrático do Direito, da Cidadania, da Moralidade
Pública, da Justiça e da Paz Social, subordinando a atividade do seu ministério privado
à elevada função pública que exercem, o Código de Ética já impõe regras fundamentais,
tais como: a preservação da honra, da nobreza e a dignidade da profissão; a atuação com
independência e destemor, honestidade, decoro, dignidade e boa-fé.

Sabemos que o comportamento ético influencia diretamente na efetivação da verdadeira


justiça, à medida que, pautando-se nela, o operador do Direito permite a utilização do
processo como meio e alcance da justiça. Advogados, promotores, juízes e outros
profissionais que atuam no Poder Judiciário mantêm contato com complexa rede de
relações jurídicas que retrata dramas humanos vividos por Espíritos imortais.

A profissão que escolhemos, integrantes que somos de uma mesma família forense,
exige ainda maior preocupação com a conduta a ser adotada, na medida em que o Poder
Judiciário, um dos três pilares da democracia, é o último refúgio da pessoa humana
contra leis injustas e decisões arbitrárias.

O Espiritismo respeita as instituições humanas e os códigos dos homens, oferecendo


normas de evolução fundamentadas no amor ao próximo e na caridade.

As conseqüências morais e sociais a partir da crença na imortalidade, na reencarnação,


na evolução espiritual, além da mediunidade e a influência dos Espíritos em nossas
vidas, sem dúvida influenciam diretamente em nosso comportamento profissional,
nosso modo de agir e de enfrentar situações do cotidiano, nos tornando mais
responsáveis pelos destinos daquelas partes. O profissional do Direito espírita deve
cuidar dos valores que dão rumo à caminhada evolutiva, em constante aprimoramento,
colocando os compromissos éticos acima dos interesses pessoais.

Promotor de Justiça e Presidente da AJE-SP, Tiago Cintra Essado, em entrevista à


Revista Universo Espírita n. 55/2008, após o esclarecimento de que a entidade
recentemente fundada não prega o descumprimento da lei, bem destaca que “a própria
lei humana determina que o aplicador da lei deve atender aos fins sociais a que ela se
destina, buscando realizar a justiça do caso concreto, de acordo com suas peculiaridades
próprias e adequadas." Mas complementa: "A influência da religião e da filosofia está
na capacidade de preparar melhor o operador do Direito sob o ponto de vista ético-
moral. Fortalecê-los para o enfrentamento corajoso das dificuldades diárias, agindo
sempre com dignidade, respeito aos valores éticos, enxergando nas partes um irmão em
conflito que, se errou, deve reparar, mas com amor por parte de quem aplica a lei". E
conclui: “Esta influência da religião e filosofia na formação do homem é inegável."

O Direito é baseado em relações humanas, que devem ser tratadas com o compromisso
consolidado na lei da justiça, amor e caridade, na melhor lição de Allan Kardec. O
exercício de interpretação da lei e dos fatos e a busca da verdade real, pressupostos para
a aplicação da lei humana, são feitos com base na estrutura moral, ética e intelectual dos
operadores do Direito, o que significa dizer que o grau de conscientização desses
profissionais e a forma de suas atuações influenciam diretamente no resultado
alcançado.
Portanto, o COMPROMISSO COM A JUSTIÇA convida a todos nós, operadores do
Direito espíritas, à reflexão e à conscientização da importante atividade que
desempenhamos e que não se limita, por suas conseqüências e influência direta na vida
das pessoas envolvidas, à mera atuação mecanizada do processo, como se tratasse de
simples e descartável amontoado de papéis.

OPERADOR DO DIREITO ESPÍRITA AJE COM SOLIDARIEDADE,


TOLERÂNCIA E AMOR

Fonte: Boletim Eletrônico da AJE-SP

... Alexandre Cumino

> Zélio de Moraes e os 100 anos de Umbanda

Artigos

Imagem de Claudio Gianfardoni


- produzida para Jornal de Umbanda Sagrada
- Capa de Novembro de 2005

Zélio Fernandino de Moraes, filho de Joaquim Fernandino Costa e Leonor de Moraes,


homem de fé e muito dedicado à família, casou-se cedo, aos dezoito anos, com Dona
Isabel, tendo três filhos, Zélio, Zélia e Zilméia
Já foi um ilustre desconhecido aos umbandistas, sua história foi contada, recontada e
contestada por muitos. Hoje, Zélio de Moraes é quase um mito dentro da religião. O Pai
da Umbanda* teve sua história popularizada por Ronaldo Linares e recentemente
encontrou em Rubens Saraceni mais um divulgador que contagia milhares de pessoas.

A comemoração do centenário da Umbanda é unanimidade nacional, fundamentada na


história do Zélio, como marco Zero e pedra fundamental para a religião. Não pretendo
nestas linhas repetir os fatos do dia 15 de Novembro de 2008, espero antes que todos já
os conheçam. Relato aqui, apenas, alguns dos fenômenos impressionantes da vida
mediúnica de Zélio, que justificam tamanha adoração e encanto que ele exercia nas
pessoas.

A postura como ser humano, já era algo impressionante, costumava, por exemplo,
recolher necessitados e doentes em sua casa até que se restabelecessem. Ouvi de Mãe
Zilméia, filha carnal de Zélio, e li em alguns artigos a história de que Zélio e o Caboclo
das Sete Encruzilhadas teriam ressuscitado uma jovem dada como morta, no entanto
desconhecia os detalhes do fato. Este ano me chegou às mãos, através de Diamantino
Trindade*, o livro No Mundo dos Espíritos, 1925, de autoria de Leal de Souza (primeiro
autor umbandista), onde esta história aparece narrada pelo Sr. J. P. Brigadão:

Há poucos dias, na vizinha cidade de Niterói, uma linda moça na flor da idade, cheia de
sonhos azuis e ilusões douradas, adoeceu de enfermidade misteriosa. Foram chamados
bons médicos e a enferma não melhorou. Antes, piorou. Novos doutores foram
consultados, porém a donzela, agravando-se rapidamente o seu estado foi julgada sem
salvação possível. Em desespero, seu pai, um comerciante abastadíssimo, ouviu os
conselhos de um amigo e solicitou os socorros ao Centro Espírita Nossa Senhora da
Piedade, onde se manifestam espíritos de caboclos, mas, acabara de pedir tais auxílios,
quando recebeu a notícia do desenlace fatal: sua filha falecera às 5 horas da tarde.
Voltou o pai em pranto para o lar abalado. Veio um médico, examinou a moça e lavrou
o atestado de óbito. Lavou-se e vestiu-se o corpo. Foi colocado, sob flores, na mesa
mortuária, entre velas bruxuleantes. Um sacerdote fez a encomendação. Às 8 horas da
noite, ao iniciar a sua sessão, o Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade, não tendo
sido avisado do falecimento, fez uma prece pela saúde da moça já morta. Manifestando-
se o espírito do guia e protetor do centro (Caboclo das Sete Encruzilhadas), disse: “Um
grave perigo ameaça a pessoa por quem orais. Continuai vossas preces com fervor e
sem interrupção, até que eu volte, pois vou sair para socorrê-la”. Os espíritas do Centro
Nossa Senhora da Piedade, orando com fervor, esperaram cerca de duas horas, e, ao
termo delas, manifestando-se de novo, o espírito de seu guia e disse-lhes: “Está salva a
moça”. Espíritos maus, convocados por motivo de ordem pessoal, haviam envolvido a
jovem em fluídos venenosos, que a estavam matando. Não se quebraria, porém o fio que
liga o espírito ao corpo.

Às 8 horas da noite, terminou o narrador, a moça continuava na mesa funerária, com


todos os sinais da morte. Às 9 horas, uma demonstração de vida animou-lhe a face e,
percebendo-a, seu padrinho preveniu seu pai. Retirada a câmara mortuária e reposta em
seu leito, a moça reabriu os olhos, e, momentos após, erguia-se curada, completamente
boa. Os espíritos dos caboclos, em combate travado no espaço, tinham vencido os
espíritos maus...
Talvez este seja o caso mais impressionante;em direção à Tenda Espírita Nossa Senhora
da Piedade, acorriam enfermos, cegos e até paralíticos que encontravam ali, muitas
vezes a cura. O que é enfatizado (a cura) no ponto de Pai Antônio:

“Dá licença, Pai Antônio,


Eu não venho visitar,
Eu estou bastante doente,
Venho para me curar.”

Uma das especialidades de Zélio e do Caboclo das Sete Encruzilhadas era a cura de
"loucos". Devido ao alto índice de acerto, médicos de sanatórios consultavam Zélio para
saber quais doentes teriam a cura na Umbanda.

A policia quando prendia alguém descontrolado levava ao Zélio para saber se era louco
ou obsediado, conta Mãe Zilméia que não tinha hora, as vezes duas ou três da manhã,
batiam a porta de seu pai, lembra ainda de certa ocasião em que acomodaram três
pessoas desequilibradas em sua casa de uma só vez; “um queria tomar banho o tempo
todo e outro não queria de jeito nenhum”.

No Mundo dos Espíritos, Leal de Souza registra, em reportagem, sua primeira visita aos
trabalhos de Zélio, como jornalista, onde mesmo sem ser anunciado e desconhecido de
todos os presentes, foi reconhecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, que se dirigiu
a ele, conforme o relato:

Pode dizer que apertou a mão de um espírito. À minha esquerda, está uma irmã que
entrou aqui com tuberculose e à minha direita um irmão vindo do hospício. Curou-os,
aos dois, Nossa Senhora da Piedade. Pode ouvi-los.

Leal de Souza neste dia presenciou a cura de um “louco fugido do hospício”, que
encontrava-se obsediado por duas entidades, após serem encaminhadas restabeleceu-se
a saúde mental do cidadão.

Leal de Souza era um intelectual da época, jornalista e poeta parnasiano, tornou-se


médium na Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade e foi preparado para dirigir a
Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das Sete Tendas fundadas pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas.

João Severino Ramos, dirigente da Tenda São Jorge, mais uma das tendas fundadas pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas, ao fazer sua primeira visita a Zélio em Cachoeiras de
Macacu, se mostrava cético e incrédulo, pedindo provas para crer.

O Orixá Malet (da vibração de Ogun) pegou uma pedra à beira do rio e acertou bem no
meio da testa de Severino que caiu dentro das águas. A entidade proibiu os amigos de
socorre-lo e pediu que esperassem, minutos depois Severino atravessou as margens do
Rio Macacu já incorporado de Ogun Timbiri, com quem trabalharia à gente da tenda
citada.

José Álvares Pessoa, o Capitão Pessoa, de origem espírita, resolveu visitar a TENSP,
para verificar de perto “as maravilhas” que afirmavam sobre Zélio de Moraes. Assim
que pisou dentro da Tenda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciou que já poderiam
fundar a ultima das sete tendas, a Tenda São Jerônimo, pois o seu dirigente acabava de
chegar. Capitão Pessoa se surpreendeu com tal afirmação por não conhecer ninguém no
ambiente, mas ao conversar com o Caboclo entendeu que este o conhecia e muito bem.
O tempo mostrou a importância de José Álvares Pessoa na Umbanda ao lado de Zélio
de Moraes e à frente da Tenda a ele reservada.

Conta ainda Mãe Zilméia que o delegado de Neves, Sr Paula Pinto, vinha fechando as
Tendas de Umbanda e um dia chegou à porta da TENSP, na hora dos trabalhos onde
estava em terra Pai Antônio. Mãe Zilméia foi avisar ao preto-velho, que falou:
“carneirinho (como chamava Zilméia) deixa ele entrar”.

O homem “que era gordo e grande”, deu dois passos e caiu estirado no chão. Mãe
Zilméia diz ter perguntado “O que fazer agora?”, o preto-velho, calmamente, lhe pediu
que esperasse, logo o homem se levantaria.

Passado algum tempo o delegado “acordou”, foi conversar com Pai Antônio, se tornou
amigo de Zélio de Moraes e freqüentador da casa.

Evaldo Pina médium da Tenda Mirim Santo Expedito, fundada no Pará pelo Tenente
Joaquim Bentes, mais tarde pertencente à TULEF, em visita à Zélio ouviu dele a
“descrição da fundação da casa, em todos os pormenores, como se o fato data-se de
semanas, apenas. E através de Zélio recebeu uma mensagem do dirigente, já
desencarnado, citando fatos conhecidos apenas pelos dois”.

E para finalizar faço lembrar os fatos narrados por Pai Ronaldo Linares sobre seu
encontro com Zélio de Moraes.

Quando finalmente conseguiu o telefone da residência da família Moraes, Pai Ronaldo,


um desconhecido àquela família, fez a ligação e foi atendido por Zilméia, que
comunicou sem tapar o bocal do telefone, dizendo Papai é para você.

Pai Ronaldo, que sempre se emociona ao contar esta história, nos diz que ouviu uma
voz no fundo dizer :

“É Ronaldo minha filha, o homem que vai tornar meu trabalho conhecido”.

Ao chegar na casa de Zélio, Pai Ronaldo mais uma vez tomado de forte emoção se
ajoelhou e tomou a benção, Zélio de Moraes já sabia por que ele estava ali e todas as
coisas que ele queria saber.

As palavras proféticas de Zélio se cumpriram, Pai Ronaldo Linares, então presidente da


Federação Umbandista do Grande ABC e responsável pelo Santuário Nacional da
Umbanda, criou o primeiro curso de Sacerdotes na Religião de Umbanda, da onde
brotou grande divulgação da mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Pai Ronaldo Linares viria a participar em programas de Rádio e TV, além de Jornais,
divulgando a Umbanda e a história de Zélio de Moraes.

Homenageou Zélio em vida, junto com sua turma de sacerdotes, o que foi registrado por
Jota Alves de Oloveira em sua obra Umbanda Cristã e Brasileira:
Ouvimos, de Zélio e Zilméia, a descrição do que foi a grande concentração promovida
pela Federação Umbandista do Grande ABC, de Santo André, Estado de São Paulo, em
homenagem a Zélio... aquela Federação, presidida por Ronaldo Linares, visa
uniformizar o culto dos templos umbandistas, excluindo gradativamente do ritual os
preceitos já superados, a fim de atingir, na prática, o conceito definido pelo Caboclo:
Umbanda é a manifestação do Espírito para a caridade.

Existem muitas histórias sobre o “Pai da Umbanda”... No entanto a maioria delas é


desconhecida no meio umbandista. Este é o nosso objetivo, resgatar os textos que nos
revelam quem foi, o que fez e como viveu Zélio Fernandino de Moraes, ampliando a
abordagem para sua prática mediúnica e a mensagem que foi dada pelo Caboclo das
Sete Encruzilhadas ao longo dos anos.

Saudações Umbandistas,

Alexandre Cumino.

Observações:

Pai da Umbanda - Forma Carinhosa como Pai Ronaldo Linares se refere ao Zélio de
Moraes

Diamantino Trindade - Autor do livro Iniciação à Umbanda juntamente com Ronaldo


Linares e Wagner Veneziane, Ed. Madras (Autor também dos titulos: História da
Umbanda, Ensaio Sobre Ecletismo e Umbanda Brasileira), Sacerdote de Umbanda, já
foi vice presidente da FUGABC ao lado de Ronaldo Linares.

... Salvador Nogueira

> 'Morte súbita' ameaça computação quântica

Artigos
Do G1, em São Paulo
27/04/2007
http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL27781-6174,00.html
http://tecnocientista.info/noticia_detalhe.asp?cod=5345

Pesquisa brasileira relata fenômeno que levaria à perda de dados.


Estudo mostra barreiras à construção de computador baseado na física quântica.

O sonho da construção de computadores quânticos -- capazes de fazer cálculos hoje


inalcançáveis por máquinas convencionais -- acaba de ficar um pouco mais distante,
pelas mãos de um grupo brasileiro de pesquisadores.

Por meio de um inteligente arranjo experimental, a equipe do físico Luiz Davidovich, da


Universidade Federal do Rio de Janeiro, acaba de demonstrar que uma propriedade
crucial para o processamento de dados pelo caminho quântico -- algo que os cientistas
chamam de e ntrelaçamento -- pode sumir de repente, algo que os próprios
pesquisadores se referem como uma "morte súbita".

Ainda assim, o grupo destaca que é apenas o início de um longo trabalho experimental e
não desencoraja a busca por soluções para tornar a computação quântica uma realidade -
- por mais difícil que seja entender como operaria uma máquina baseada nos princípios
malucos e contra-intuitivos dessa parte da física.

Absurdos do muito pequeno

A chamada mecânica quântica diz respeito às leis naturais que explicam o


funcionamento das menores coisas do Universo -- as partículas elementares.
Diferentemente da física clássica, que parece fazer mais sentido para nós porque é na
nossa escala que ela se manifesta (ninguém questiona frases como "dois corpos não
podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo"), a física quântica permite
uma série de fenômenos aparentemente bizarros, como a possibilidade de uma dada
partícula estar ao mesmo tempo em mais de um lugar e guardar em si mesma
características conflitantes.

Embora as leis quânticas sigam uma lógica própria, não-intuitiva, a ciência conseguiu,
através da matemática, descobrir muito sobre como elas operam. Dentre essas
descobertas está o entrelaçamento quântico, uma coisa tão estranha que até mesmo o
famoso físico Albert Einstein (1879-1955) achava que não passasse de um absurdo
teórico, uma "ação fantasmagórica a distância". Hoje sabemos que o entrelaçamento
existe mesmo, e é graças a ele que muitos cientistas podem sonhar com computadores
quânticos.

Uma das coisas mais estranhas da mecânica quântica é que uma partícula vive numa
sobreposição de estados -- como se ela tivesse várias características contrastantes ao
mesmo tempo. Veja como é absurdo. Na física clássica, cada objeto tem um conjunto de
propriedades definidas. Por exemplo, um automóvel pode ser azul ou vermelho, mas ele
não pode ser azul e vermelho simultaneamente. Já uma partícula pode ter vários estados
ao mesmo tempo -- contanto que ninguém a observe.

Por conta disso, os cientistas da computação estão loucos para usá-las como elementos
para a realização de cálculos: se uma partícula pode carregar várias informações (bits)
simultaneamente, o processamento que ela pode executar acaba sendo muito maior. É
com essas versões "turbinadas" de bits, os quantum bits (ou qubits), que os
computadores quânticos terão de trabalhar.

E o entrelaçamento deve ser parte integrante desse processo. Duas partículas são ditas
entrelaçadas quando ambas estão em sobreposição de estado, mas de alguma maneira a
condição de uma depende da condição de outra. Então, se uma partícula pode ser azul
ou vermelha e, ao ser observada, ela se mostra azul, é certo que seu par entrelaçado se
converte automaticamente em vermelho -- a situação de uma partícula define a da outra.

Não é difícil imaginar como essa combinação poderia ajudar na computação. Se um


computador tivesse um conjunto de partículas e outro tivesse outro conjunto, com
ambos entrelaçados, seria possível transferir informação de um a outro sem chance de
interceptações e de forma praticamente instantânea.

Pequenas grandes dificuldades

É aí que entra a pesquisa de Davidovich e seus colegas. Eles mostraram que esse
entrelaçamento é muito difícil de manter, porque, dependendo do ambiente em que
estão as partículas, pode acontecer a chamada "morte súbita do entrelaçamento" -- ou
seja, sem aviso prévio, as partículas perdem essa ligação uma com a outra, e com isso o
processo de computação ficaria comprometido.

O grupo sabe muito bem o tamanho do problema. "O sucesso no mundo real da
comunicação e computação quânticas depende da longevidade do entrelaçamento em
estados quânticos multipartículas", escrevem os pesquisadores, em um artigo publicado
na edição desta sexta-feira (27) da revista científica americana "Science".

Os resultados, entretanto, não é razão para desistir do conceito dos computadores


quânticos -- muito pelo contrário, é conhecendo melhor as dificuldades que se poderá
projetar sistemas que contornem os problemas. E é certo que ainda há muito o que
estudar.

"Esse relato não é a palavra final em estudos desse tipo, e, dado o papel central do
entrelaçamento de sistemas pequenos em qualquer rede de informações quânticas, é
provável que outras investigações experimentais sigam a trilha desse trabalho",
diagnosticam Joseph Eberly e Ting Yu, da Universidade de Rochester (EUA), em
comentário publicado na mesma edição da "Science".

O grupo brasileiro reconhece que é só o início de uma longa aventura pelo mundo
quântico em busca de respostas e indica, ao final de seu artigo, que "a configuração
experimental [deles] representa um método simples e confiável para seguir estudando a
dinâmica de sistemas entrelaçados que interagem com ambientes controlados".

... Lilia Ribeiro

> Porque Caboclos e Pretos Velhos?

Artigos

Uma das incógnitas que ainda perduram, na Umbanda, é a verdadeira natureza dos
Caboclos e Pretos-Velhos.

Várias opiniões formaram-se a respeito dessas entidades que, através de uma linguagem
simples, emitem, por vezes, conceitos que revelam o pensamento erudito de um mestre.

No decorrer de vários anos de convivência com os nossos Velhos e Caboclos,


observando-lhes os trabalhos, auscultando opiniões sobre os problemas da vida terrena,
notamos que o grau de conhecimento, de evolução varia muito.

Encontramos Pretos Velhos aparentemente apegados aos bens materiais, fazendo


questão do “tôco” e do “pito” que não cedem a ninguém, aborrecendo-se com
facilidade, reagindo como simples criaturas humanas.

Outros, porém, revelam no procedimento e nas palavras, no acatamento à disciplina


imposta necessariamente pela direção espiritual dos trabalhos, a luz espiritual adquirida.

Uns e outros referem-se às senzalas, à vida passada na escravidão ou nas aldeias.

Se o freqüentador assíduo dos terreiros não procurasse o guia apenas para lhe expor as
dificuldades da vida terrena, buscando somente o conselho para a solução mais fácil dos
seus problemas materiais, teria ocasião de receber ensinamentos preciosos sobre a vida
futura, as reencarnações, a necessidade de vencer, com o próprio esforço, a passagem
difícil que se lhe apresenta e que será mais um grau conquistado na escola da vida.

Dizia José Álvares Pessoa que a Umbanda é, talvez, a única religião que se preocupa
com os problemas materiais do homem.

Não por ser um culto materializado. Pelo contrário: percebendo como o ser humano
premido pelas dificuldades que o seu próprio Carma conduz, se afasta do criador,
quando a enfermidade, a falta de recursos financeiros, a desarmonia no lar se tornam
mais poderosos que a sua crença, os dirigentes espirituais do nosso planeta organizaram
um movimento destinado a dar ao homem o conforto, o conselho, a ajuda através dos
quais poderá ser, ainda uma vez, reconduzido aos caminhos da fé.

Criaram-se legiões de missionários e para que mais facilmente fossem aceitos e


compreendidos pelas classes menos favorecidas, assumiram a feição ainda mais
simples, apresentando-se como escravos ou nativos.

Mas terão sido realmente, todos eles, pretos ou índios?

Sabemos que a pobreza e a humanidade não afluem na escala espiritual; a história da


nossa pátria evidencia a lealdade, o caráter do índio brasileiro, o valor de muitos
escravos.

Sabemos, igualmente que não existem fronteiras, no mundo astral.

Logo, não é de crer que haja um plano exclusivo para caboclos e pretos escravos.
Preferimos, portanto, adotar o conceito de muitos espiritualistas, entre os quais o acima
citado J. A. Pessoa:

os guias participam desse movimento de socorro ao homem encarnado, neste final do


segundo milênio e se apresentam como Caboclos e Pretos Velhos, nem sempre tiveram
a última passagem na terra como escravos ou índios; alguns, possivelmente, nunca o
foram. Assumiram essa personalidade como distintivo da missão que viriam a
desempenhar.

Uns contam como viveram, há 200 anos ou há pouco mais de meio século, nos
engenhos ou nas aldeias indígenas. Outros abstêm-se de qualquer referência à sua
passagem na vida terrena. Pacientemente, dão atenção às queixas, ao relato dos
pequenos problemas de rotina da nossa vida, aconselhando, animando, esclarecendo,
conforme a necessidade de quem lhes fala.

Ensinam a mensagem do Evangelho, o perdão, o amor ao próximo, mostram como é


necessário dar para receber, perdoar para ser perdoado, corrigir as falhas, dominar os
sentimentos de vingança, de inveja, para adquirir luz.

E através desse trabalho humilde, incompreendido, ainda, por muitos, vão prosseguindo
na missão de reconduzir o homem ao caminho que o levará a Deus.

Sua origem, não importa.

Se o Caboclo viveu como um cacique de uma tribo ou como iniciado de uma seita
oriental, não interessa no momento.

Se o Velho foi escravo ou jovem médico, ou se foi mestre na magia, também não faz
diferença.

O que vale, agora, é apenas a missão a ser cumprida, em benefício da humanidade, para
que o Brasil, futuro centro de difusão do Evangelho, esteja melhor preparado para o
advento do III Milênio.

———————————————————————————————————
——————

Lilia Ribeiro foi dirigente da TULEF (Tenda de Umbanda Luz Esperança e Caridade) e
editora do jornal informativo Macaia.

A TULEF foi uma das Tendas fundadas por médiuns que vinham da linhagem direta de
Zélio de Moraes e que fazia questão de seguir ao maximo a orientação do Caboclo das
Sete Encruzilhadas. Lilia foi quem registrou o maior numero de entrevistas com Zélio
de Moraes e boa parte do material foi entregue diretamente a Mãe Maria, da Casa
Branca de Oxalá. A palavra de Lilia é forte e carregada de embasamento, tanto quanto
de vivência com a Umbanda de Raiz primeira.

Portanto todos os textos desta médium, sacerdotisa, autora e pesquisadora são de suma
importância para a religião e não podem se perder no tempo.

São poucos os textos doutrinários de Lilia a maioria do que nos chega de sua autoria são
as entrevistas e organização do pensamento e definições dadas por Zélio de Moraes e o
Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Transcrição completa do artigo publicado pela revista Gira da Umbanda, ano 1 –


número 1 – 1972,

Introdução, comentários e pesquisa de Alexandre Cumino

Publicado no Jornal de Umbanda Sagrada - Outubro de 2008


... Christiano Torchi

> Concepção Espírita dos Sonhos

Artigos

O sonho é um fenômeno corriqueiro, comum a todas as pessoas, que sempre intrigou os


seres humanos e que está intimamente ligado ao sono. Quem já não sonhou estar
voando? Quem já não sonhou com pessoas falecidas ou desencarnadas...?

Com o advento da Doutrina Espírita, a partir de 1857, muita luz se projetou sobre o
enigma do sono e dos sonhos , (1) cujos princípios repousam sobre o axioma de que o
homem é um ser integral, constituído de corpo e alma, independentes entre si, premissa
que tem auxiliado grandemente o entendimento do fenômeno. Observando a
incapacidade humana de compreender os sonhos, os Espíritos exclamaram: “Pobres
homens, que mal conheceis os mais vulgares fenômenos da vida!” (2)

Todos sonhamos, ainda que não nos lembremos! O sonho, a catalepsia, a letargia (3) e o
sonambulismo (4) são todos fenômenos de emancipação ou desdobramento da alma.

O Espírito se desdobra, quando se desprende parcialmente do corpo físico,


permanecendo unido a este por um cordão ou laço fluídico (5) (conhecido,
vulgarmente, como “cordão (6) prateado”), situação que ocorre diuturnamente nos
momentos do sono físico ou mesmo durante um leve cochilo.

Ao dormirmos, ficamos, temporariamente, no mesmo estado em que permaneceremos


depois da morte física, motivo pelo qual se diz que o sono é um treino para a morte.

Sob esta ótica, pode-se dizer que todos os dias morremos.

O sonho é a lembrança mais ou menos nítida das experiências que o Espírito traz, ao
despertar, de sua excursão pelo Plano Espiritual. Constitui, por isso, uma das
evidências da realidade da alma. Quando o corpo repousa, o Espírito libera um pouco
mais suas faculdades, ao contrário do que acontece quando se encontra acordado,
lembrando-se, muitas vezes, do passado e até penetrando o futuro.
Se não dormíssemos, a encarnação e o nosso progresso espiritual certamente estariam
comprometidos, uma vez que é no mundo espiritual a nossa pátria verdadeira onde
buscamos forças para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia, no plano físico. Não sem
razão os Espíritos disseram, na q. 402 da primeira obra básica que o sono é a porta que
Deus abre aos homens, para que possam relacionar-se com os amigos do céu; é o
recreio depois do trabalho.

Graças ao sono, os encarnados estão sempre em contacto mais estreito com os


desencarnados e inclusive com outros encarnados. O Espírito jamais está inativo. O
sono, além de proporcionar o descanso e o refazimento do corpo físico, facilita a
ampliação das percepções psíquicas e fornece maior intensidade ao raciocínio e à
memória.

A interpretação onírica é um dos aspectos mais controvertidos deste tema. Muitas


teorias exóticas, para não dizer fantasiosas, já se levantaram sobre a interpretação dos
sonhos.

Em 1900, Sigmund Freud (1856-1939), considerado o (7) “pai da Psicanálise” , lançou


a obra A interpretação dos sonhos, que trouxe uma contribuição acadêmica importante
ao estudo deste interessante fenômeno. Entretanto, Freud não levava em consideração o
elemento espiritual, motivo por que as suas teorias psicanalíticas nem sempre explicam
todos os fatos relacionados com os sonhos, apresentando, mesmo, diversas lacunas.

Conforme anotado pelo Espírito André Luiz, na obra “Os Mensageiros”, “Freud foi
um grande missionário da Ciência; no entanto, manteve-se, como qualquer
Espírito encarnado, sob certas limitações. Fez muito, mas não tudo, na esfera da
(8) indagação psíquica”.

Portanto, muito antes de Freud, o Espiritismo já havia desvendado os sonhos, que


podem representar diversas (9) situações. Algumas delas são :
a) visão atual de coisas presentes ou ausentes;
b) visão retrospectiva do passado;
c) em alguns casos menos freqüentes, pressentimento do futuro;
d) comumente, constituem quadros alegóricos (simbólicos) que os bons Espíritos nos
apresentam como úteis advertências ou salutares conselhos;
e) de outras vezes, esses quadros alegóricos são produzidos por Espíritos imperfeitos,
quando tentam nos enganar e explorar nossas paixões;
f) em outras circunstâncias, o sonho pode representar apenas uma ruminação das
experiências vividas durante o período em que o Espírito permaneceu acordado.

Nesse caso, o sonho não retrata propriamente lembranças de fatos ocorridos na


espiritualidade, mas apenas criações fluídicas do pensamento derivadas de alguma
preocupação ou experiências mais fortes vivenciadas durante o dia, fenômeno
designado pela Psicanálise de “restos do dia”.

Como lembram os imortais na q. 404 de O Livro dos Espíritos, “os sonhos não são
verdadeiros como o entendem os ledores de buena-dicha [adivinhos], pois fora absurdo
crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São verdadeiros no sentido de
que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, freqüentemente,
nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal”.
O despertamento do sono indica que o Espírito, acompanhado de seu envoltório, o
períspírito, este de natureza semimaterial sutil ou quintessenciada, retornou ao casulo
carnal, trazendo as memórias de suas experiências pelo mundo espiritual, as quais,
entretanto, em virtude do contacto do perispírito com as células, são abafadas pelo
corpo denso, cujos átomos vibram com maior lentidão.

Por causa disso, muitas vezes não lembramos dos sonhos ou apenas nos recordamos de
partes deles, que nada mais são do que trechos de lembranças de nossas experiências
pelo mundo invisível, fazendo com que se apresentem estranhos, sem muito nexo, como
se estivéssemos lendo uma página em que algumas palavras, linhas ou mesmo frases
inteiras estivessem apagadas, truncando ou impedindo a compreensão integral da
mensagem.

Tal fenômeno ocorre porque a apreensão dos fatos, nos sonhos, é feita diretamente pelo
pensamento, não passando pelos órgãos dos sentidos. Pondere-se, ainda, que a
linguagem do pensamento é universal, enquanto a linguagem das palavras articuladas é
revestida de símbolos que nem sempre traduzem, com exatidão, a essência das
experiências vivenciadas pelo Espírito, que não encontram analogia no estreito
vocabulário humano. Isso, de certo modo, explica por que duas pessoas estrangeiras,
mesmo não conhecendo o idioma um do outro, podem se comunicar pela via telepática.

Ao penetrar o mundo espiritual, pelas portas do sono, o encarnado entra em relação


mais próxima com outros Espíritos, encarnados ou desencarnados, onde influencia e é
influenciado, para o bem ou para o mal, conforme suas afinidades e suas tendências.
Muitas decisões que tomamos e idéias que temos, durante o dia, são hauridas desses
relacionamentos extracorpóreos.

Por isso, os Benfeitores Espirituais recomendam que sempre oremos antes de dormir
(10), para que nos contactemos com Espíritos que estejam em condições morais
superiores à nossa, ocasião em que podemos receber ajuda, além de sermos úteis,
promovendo boas obras e inclusive auxiliando Espíritos necessitados, se for o caso.

Como alerta Carlos Torres Pastorino, em seu opúsculo Minutos de Sabedoria (11) ,
não devemos nos impressionar com os sonhos. Isto poderia levar-nos a
extravagâncias ridículas. Vivamos acordados no bem que os nossos sonhos serão
belos e bons. Se alguma característica de verdade nos for revelada em sonho,
aceitemo-la com simplicidade, mas não nos deixemos levar por interpretações
supersticiosas. Procuremos sempre o lado bom das coisas.

Concluindo, os sonhos encontram explicações nas leis que governam as relações entre o
mundo físico e o mundo espiritual, decorrentes da existência do Espírito, do perispírito
e dos fluidos espirituais, a chave que faltava para a melhor compreensão desses
fenômenos.

Referências Bibliográficas

1. Sobre o sono e os sonhos, consulte o que os Espíritos superiores disseram a Kardec,


no cap. VIII da parte 2ª de O Livro dos Espíritos, sob os títulos “Da Emancipação da
Alma” (q. 400 a 412) e “Visitas Espíritas Entre Pessoas Vivas” (q. 413 a 418).
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 72ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992. Cap.
VIII, “Da Emancipação da Alma”, p. 222 (questão n. 402).

3. A catalepsia e a letargia são uma espécie de sono físico de ordem patológica e


caracterizam-se pela perda temporária da sensibilidade e do movimento do corpo físico,
que assume, temporariamente, a aparência da morte biológica. É um fenômeno bastante
comum, embora pouco pesquisado. Muitas vezes, o corpo da pessoa é sepultado sem
que tenha ainda realmente ocorrido a morte. Alguns desses fenômenos estão descritos
no Novo Testamento (Lucas, 7:11-17 [o filho da viúva de Naim] e Mateus, 9:23-26 [a
filha de Jairo]), sendo o caso mais conhecido o da ressurreição de Lázaro (João, 11:1-
46).

4. O sonambulismo “é um estado de independência do Espírito, mais completo do que


no sonho, estado em que maior amplitude adquirem suas faculdades. A alma tem então
percepções de que não dispõe no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito”
(q. 425 de O Livro dos Espíritos).

5. Sobre o laço fluídico, consulte O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, cap. VII, item
118, e o cap. XXV, item 284.

6. Eclesiastes, 12:6.

7. Método desenvolvido para tratar de distúrbios psíquicos a partir da investigação do


inconsciente.

8. Obra citada. 24a ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. Cap. 38, “Atividade Plena”, p. 202.

9. Sobre a interpretação dos sonhos, na ótica espírita, consulte também O Livro dos
Médiuns, cap. VI, “Das Manifestações Visuais”, item 101: “Ensaios Teóricos Sobre as
Aparições”; e A Gênese, cap. XIV, “Fatos Tidos como Sobrenaturais”, item 28: “Vista
Espiritual ou psíquica. Dupla Vista. Sonambulismo. Sonhos”.

10. A respeito da importância da oração antes do sono, consulte o item 38 do cap.


XXVIII, de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Coletânea de Preces Espíritas. Preces
por aquele mesmo que ora. Ahora de dormir”.

11. Obra citada. 39a ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2000, p. 33.

... Tadeu Sabóia

> Carne Vermelha e prática mediúnica

Artigos
“E chamando a si as turbas, lhes disse: Ouvi e entendei. Não é o que entra pela boca o
que faz imundo o homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem”.
(Mateus, XV:11). “E respondendo Pedro, lhe disse: Explica-nos essa parábola. E
respondeu Jesus: Também vós outros estais ainda sem inteligência? Não compreendeis
que tudo o que entra pela boca desce ao ventre, e se lança depois num lugar escuso?
Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem
imundo; porque do coração é que saem os maus pensamentos, os homicídios, os
adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias. Estas coisas
são as que fazem imundo o homem. O comer, porém, com as mãos por lavar, isso não
faz imundo o homem”. (Mateus, XV: 16-20).

A ALIMENTAÇÃO DE CARNE VERMELHA É PREJUDICIAL?


O ato de comer sempre foi motivo de discussão por parte de todos os povos. A
abstenção de certos tipos de alimentos era considerada sagrada e tinha variadas
finalidades de acordo com o povo, a época, a cultura e a região. É inegável que uma
alimentação equilibrada é fundamental para a nossa saúde. E no tocante a mediunidade
o tema “alimentação” deve ser analisado com maior atenção. Um médium consciente de
suas responsabilidades e deveres deve ter uma vida equilibrada em todos os aspectos.
Com o que come diuturnamente ele deve primar por este mesmo equilíbrio. Difundiu-se
no movimento espírita uma “idéia” de que comer carne vermelha é proibido aos
médiuns. Esta “teoria”, oriunda do “misticismo igrejeiro”, segundo José Herculano
Pires, ou da contaminação por idéias do orientalismo mágico é um flagrante engano, do
ponto de vista científico-doutrinário.

Observemos que Kardec não deixou o tema sem a devida analise e estudo:

A abstenção de certos alimentos, prescrita entre diversos povos, funda-se na razão?


“Tudo aquilo de que o homem se possa alimentar, sem prejuízo para a sua saúde, é
permitido. Mas os legisladores puderam interditar alguns alimentos com uma finalidade
útil. E para dar maior crédito às suas leis apresentaram-nas como provindas de Deus”.
O Livro dos Espíritos, questão nº 721
A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural? “Na vossa constituição
física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação
impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde para poder
cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua
organização”.
O Livro dos Espíritos, questão nº 722

A abstenção de alimentos animais ou outros, como expiação é meritória? “Sim, se o


homem se priva em favor dos outros, pois Deus não pode ver mortificação quando não
há privação séria e útil. Eis porque dizemos que os que só se privam em aparência são
hipócritas”.(Ver item 720.)
O Livro dos Espíritos, questão nº 724

As privações voluntárias, com vistas a uma expiação igualmente voluntária, têm algum
mérito aos olhos de Deus?“Fazei o bem aos outros e tereis maior mérito”.
O Livro dos Espíritos, questão nº 720

Os povos que levam ao excesso o escrúpulo no tocante à destruição dos animais têm
mérito especial? “É um excesso, num sentimento que em si mesmo é louvável, mas que
se torna abusivo e cujo mérito acaba neutralizado por abusos de toda espécie. Eles têm
mais temor supersticioso do que verdadeira bondade”.(grifo nosso)
O Livro dos Espíritos, questão nº 736

... Amai, pois, a vossa alma, mas cuidai também do corpo, instrumento da alma;
desconhecer as necessidades que lhe são peculiares por força da própria natureza, é
desconhecer as leis de Deus. Não o castigueis pelas faltas que o vosso livre arbítrio o
fez cometer, e pelas quais ele é tão responsável como o cavalo mal dirigido o é, pelos
acidentes que causa. Sereis por acaso mais perfeitos, se, martirizando o corpo, não vos
tornardes menos egoístas, menos orgulhosos e mais caridosos? Não, a perfeição não
está nisso, mas inteiramente nas reformas a que submeterdes o vosso Espírito. Dobrai-o,
subjugai-o, humilhai-o, mortificai-o: é esse o meio de o tornar mais dócil à vontade de
Deus, e o único que conduz à perfeição.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, Item 11

...Como era mais fácil observar a prática dos atos exteriores, do que se reformar
moralmente, de lavar as mãos do que limpar o coração, os homens se iludiam a si
mesmos, acreditando-se quites com a justiça de Deus, porque se habituavam a essas
práticas e continuavam como eram, sem se modificarem.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, CAP. VIII, Item 10

Mas não foi só o codificador que deixou bem claro a visão espírita do tema. Vemos que
outros orientadores encarnados e desencarnados também mantem um posicionamento
coerente. Vejamos o que nos orienta André Luiz:

A alimentação, durante as horas que precedem o serviço de intercâmbio espiritual, será


leve. Nada de empanturrar-se o companheiro com viandas desnecessárias. Estômago
cheio, cérebro inábil. A digestão laboriosa consome grande parcela de energia,
impedindo a função mais clara e mais ampla do pensamento, que exige segurança e
leveza para exprimir-se nas atividades da desobsessão. Aconselháveis os pratos ligeiros
e as quantidades mínimas, crendo-nos dispensados de qualquer anotação em torno da
impropriedade do álcool, acrescendo observar que os amigos ainda necessitados do uso
do fumo e da carne, do café e dos temperos excitantes, estão convidados a lhes
reduzirem o uso, durante o dia determinado para a reunião, quando não lhes seja
possível a abstenção total, compreendendo-se que a posição ideal será sempre a do
participante dos trabalhos que transpõe a porta do templo sem quaisquer problemas
alusivos à digestão.
André Luiz, Desobsessão, Cap.II.

Em entrevista a Revista “0 Mensageiro” o estudioso da mediunidade e medium Raul


Teixeira declara:

P: Como deve ser a dieta alimentar dos médiuns nos dias de trabalho mediúnico?
R: -A dieta alimentar dos médiuns deverá constituir-se daquilo que lhes possa atender às
necessidades, sem descambar para os excessos ou tipos de alimentos que, por suas
características, poderão provocar implicações digestivas, perturbando o trabalhador e,
conseguintemente, os labores dos quais participe. Desse modo, torna-se viável uma
alimentação normal, evitando-se os excessivos condimentos e gorduras que,
independente das atividades mediúnicas, prejudicam bastante o funcionamento
orgânico.

P: A alimentação vegetariana será mais aconselhável para os médiuns em geral?


R: A questão da dieta alimentar é fundamentalmente de foro íntimo ou acatará a alguma
necessidade de saúde, devidamente prescrita. Afora isto, para o médium verdadeiro não
há a chamada alimentação ideal, embora recomende o bom senso que se utilize uma
alimentação que lhe não sobrecarregue o organismo, principalmente nos dias de reunião
mediúnica, a fim de que não seja perturbado por qualquer processo de conturbada
digestão que, com certeza, lhe traria diversos inconvenientes.

Aalimentação não define, por si só, o potencial mediúnico dos médiuns que deverão
dar muito maior validade à sua vida moral do que à comida obviamente.

Algumas pessoas recomendam que não se comam carnes, nos dias de tarefa
mediúnica, enquanto outras recomendam que não se deve tomar café ou chocolate,
alegando problemas das toxinas, da cafeína, etc., esquecendo-se que deveremos manter
uma alimentação mais frugal, a partir do período em que já não tenha tempo o
organismo para uma digestão eficiente.

É mais compreensível, e me parece mais lógico, que a pessoa coma no almoço o seu
bife, se for o caso, ou tome seu cafezinho pela manhã, do que passar todo o dia
atormentada pela vontade desses alimentos, sem conseguir retirar da cabeça o seu uso,
deixando de concentrar-se na tarefa, em razão da ansiedade para chegar em casa, após a
reunião, e comer ou beber aquilo de que tem vontade.

Por outro lado, a resposta dos espíritos à questão 723 de O Livro dos Espíritos é
bastante nítida a esse respeito, deixando o espírita bem à vontade para a necessária
compreensão, até porque a alimentação vegetariana não indica nada sobre o
caráter do vegetariano. Lembremo-nos que o “médium” Hitler era vegetariano e
que o médium Francisco Cândido Xavier se alimenta com carne”.

Não é no intuito de negar o quanto é saudavel o habito de se abster de carnes vermelhas,


mas simplismente de mostrar que o fato de ingerirmos este tipo de alimento não nos
impede, nem nos dasabilita da prática da mediunidade nos parametros seguros da
codificação.

Fonte: Boletim GEAE 536

... Francisco Rebouças

> É Preciso seguir

Artigos

Excelente ensinamento nos transmitiu o Mestre de Nazaré, quando diante do


endemoninhado que ELE fizera recuperar o equilíbrio, ao toque de seu divino
amor, quando o orienta a voltar para a companhia dos seus e anunciar a todos
os benefícios de que fora alvo.

O indivíduo logo após adquirir a cura de seu estado de atormentado espiritual,


solicitava a Jesus que pudesse continuar ao seu lado a desfrutar de sua doce
companhia, Jesus, porém, o alerta para que vá cumprir com seus
compromissos perante a vida ao lado daqueles que lhe comungavam a bênção
do convívio familiar.

Muitos de nós nos dias conturbados da atualidade, em vista do assédio da


legião de gênios perversos, temos o mesmo desejo de nos abrigar na
companhia do Mestre de Nazaré e de seus prepostos, e fugir das dificuldades
impostas a todos quantos carreiam conosco as estradas perigosas do mundo no
estágio evolutivo do nosso.

Necessário não esquecer que o Mestre de Nazaré não prometeu facilidades aos
seus seguidores, e ELE mesmo segue trabalhando incessantemente em
benefício de toda a humanidade, conclamando seus discípulos a manterem a
vigilância constante, a mente ocupada à procura da verdade e o coração
tocado de amor e luz, disposto a vencer as barreiras no caminho do progresso
moral espiritual.

O objetivo primordial de todo aprendiz do Cristo não deve ser o de conquistar


facilidades nas esferas celestes, mas sim, de atender aos serviços ativos, a
que foi convocado, em qualquer lugar, situação, idade e tempo.

Como espíritas que nos dizemos ser, precisamos fazer bom uso de toda luz
que já recebemos das lições contidas no evangelho do Cristo, e buscarmos ser
verdadeiramente bons cristãos servindo ao Mestre, primeiramente junto aos
familiares de nossa atual caminhada evolutiva.

Quando não dispomos de uma família direta, temos a indireta, vizinhos,


companheiros de diversas outras atividades que participamos na sociedade em
que nos movimentamos, onde sempre temos a oportunidade de anunciar os
benefícios recebidos do nosso Modelo e Guia, em prol da nossa própria cura,
pois, se já logramos a renovação de nossos ideais de crescimento e progresso,
estamos por essa mesma razão, convocados a cooperar na renovação
espiritual de quantos nos compartilham o relacionamento em busca do
equilíbrio e do bem-estar de toda a humanidade.

... Francisco Rebouças

> Jesus viu muito à frente

Artigos

Ainda hoje, muitos dos nossos irmãos cristãos de variadas correntes religiosas na Terra,
vivem a discutir as palavras de Jesus quando nos afirmou: “Não vim trazer a paz, mas,
a divisão”.

Não conseguem entender o porquê dessa atitude do Mestre de Nazaré, quando sua
missão, é em todas as épocas, de paz e amor, visto que, não dispõem da bênção das
claras explicações que temos na doutrina espírita que graças a Deus já abraçamos, para
entender a verdadeira fé sob a ótica da razão.

Foi a partir do lançamento de O Livro dos Espíritos em 1857, que as passagens de Jesus
narrada nos evangelhos puderam ter uma assimilação muito mais fácil e de forma bem
mais ampliada, para que finalmente pudéssemos compreender suas sábias intenções em
tudo que nos ensinou e exemplificou enquanto esteve por aqui.

A Doutrina Espírita embora ainda muito combatida e desrespeitada por muitos desses
irmãos ditos “cristãos”, nos assevera que para se alcançar os objetivos da mensagem
consoladora do evangelho na nossa sociedade, precisamos seguir firmes e destemidos,
na certeza de que o discípulo de Jesus encontrará NELE e em seus prepostos a
sustentação necessária para fincar a bandeira da paz, da fé e da caridade nos horizontes
turvos dos dias que vivenciamos na atualidade.

Em o Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos estas sábias orientações dos


Nobres Emissários Celestes, que abaixo transcrevemos.

“O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não


o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a
ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras,
tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições.

Também ele, portanto, tem de combater; mas, o tempo das lutas e das perseguições
sanguinolentas passou; são todas de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhes
está o termo. As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a
luz, em vez de partir de um único foco, irrompe de todos os pontos do Globo e abrirá
mais de pronto os olhos aos cegos”.

“Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se com referência às cóleras que a sua
doutrina provocaria, aos conflitos momentâneos a que ia dar causa, às lutas que teria de
sustentar antes de se firmar, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra
Prometida, e não como decorrentes de um desígnio premeditado de sua parte de semear
a desordem e a confusão. O mal viria dos homens e não dele, que era como o médico
que se apresenta para curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, atacando
os maus humores do doente”. ¹

Portanto queridos irmãos de ideal espírita, não desanimemos ante as dificuldades do


caminho, trabalhemos árdua e corajosamente, como Jesus nos exemplificou há dois mil
anos atrás, na absoluta certeza de que mais cedo ou mais tarde, contra os interesses
escusos dos poderosos de agora, estaremos saboreando a vitória da harmonia que a
compreensão da mensagem contida em seu evangelho nos propiciará.

Fonte:
1) E.S.E. CAP. XXIII – Estranha Moral, itens 17 e 18

... Francisco Rebouças

> Segurança

Artigos

"Sabendo que a tribulação produz fortaleza." - Paulo. (ROMANOS, 5:3.)

Ninguém conseguirá conquistar a segurança, sem se dispor a enfrentar e vencer as


tempestades do caminho de quem planeja alcançar a elevação espiritual.

Não vale o simples desejo de crescimento sem o devido esforço em conquistá-lo, pois,
as rogativas do indivíduo, sem o suor do trabalho árduo na construção de dias melhores,
em aproveitamento das sublimes oportunidades do testemunho comum a qualquer
mortal, não encontram resposta.

É comum o indivíduo, esquivar-se com desculpas de variada ordem, justificando sua


fuga das provas que a vida lhe impõe como exigência para alcançar os altos patamares
conquistados por todos aqueles que se dispuseram ao testemunho dos sacrifícios em
direção ao equilíbrio do Ser com as Leis que regem seus destinos na Terra.

Despreparado para o desafio a enfrentar, acredita-se perseguido e esquecido pelos


Espíritos Superiores e até mesmo por Deus, entrando em profundo estado de desânimo e
descrença, entregando-se ao desequilíbrio e caindo nos despenhadeiros dos vícios, dos
crimes da miséria e da desgraça em processos obsessivos de conseqüências
imprevisíveis.

Não aceitam a idéia de que a tempestade é passageira e possui certas funções


regeneradoras e educativas que é imprescindível não menosprezar, e que ao contrário,
precisa saber tirar delas as melhores lições que lhes servirão de experiências proveitosas
para o porvir.

Somente à medida que vai se esclarecendo em busca da verdade, é que se convencerá e


buscará se credenciar a compreender melhor os benefícios que os obstáculos e
sofrimentos vencidos em sua jornada representarão em forma de lições preciosos que o
indivíduo consciente não mais esquecerá. Como alcançar a sublimação sem a bênção
das experiências da estrada percorrida? Como resolver e prover os recursos impostos ao
ser imortal pelas necessidades? Todos temos deveres para conosco, para com Deus e
para com a vida.

“O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O
homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a
Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu
desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores
da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de
refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a
beleza da sua obra resplandeça a seus próprios olhos.
- Lázaro. (Paris, 1863.)” ¹

As dificuldades e lutas impostas ao Ser em busca da perfeição e da felicidade, são as


exigências solicitadas a todos que desejarem seguir os caminhos traçados pelo Cristo
para a implantação do Evangelho no coração dos seres humanos, colaborando dessa
forma para a concretização dos mais sagrados objetivos da vida.

Bibliografia:
1) Kardec, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo – FEB,106ª edição, Cap. XVII,
item 7

... Grupo de apoio a evangelização

> Eurípedes Barsanulfo, o Educador

Artigos

EURÍPEDES BARSANULFO, O EDUCADOR

Na obra Eurípedes, o Homem e a Missão, Corina Novelino nos relata o seguinte:


"Os companheiros de magistério, no Liceu Sacramentano, abandonaram Eurípedes,
após sua conversão ao Espiritismo. O mobiliário escolar fora retirado e o prédio
requerido por seus proprietários.

O jovem estava abatido, mas não desanimado. O testemunho reclamara-lhe


determinação e pujança na fé nova. Por isso, continuava firme nas tarefas espíritas.

(...) Após um planejamento rápido ficara assentado o aluguel de uma sala no antigo
Colégio da Profa. Ana Borges, fechado desde 1885.

Ali, com mobiliário improvidado e sem conforto, Eurípedes prosseguiu no seu esforço
magnífico, em prol da Educação.

No frontal da porta modesta, lia-se: LICEU SACRAMENTANO. O currículo era o


mesmo, mas com a debandada dos colegas, Eurípedes desdobrava-se para ministrar as
aulas de todas as matérias programadas.

E acrescentara, corajosamente, o ensino da Doutrina Espírita ao currículo, o que


suscitara o descontentamento dos pais católicos.

A maioria levou a Eurípedes a ameaça de retirar os filhos do Liceu, caso mantivesse o


Professor a decisão de lecionar Espiritismo."

- "Que retirem os filhos, mas a finalidade salvadora do aprendizado espírita será


mantida."

"Um dia, porém, ele se entristecera profundamente. Achava-se abandonado quase, no


vazio da sala de aulas. Pusera-se a chorar, no silêncio de ardorosa prece. (...)

Eis que uma força superior toma-lhe o braço e, mecanicamente, transmite pequena
mensagem, mais ou menos nestes termos:"

"Não feche as portas da escola. Apague da tabuleta a denominação Liceu Sacramentano


- que é um resquício do orgulho humano. Em substituição coloque o nome - Colégio
Allan Kardec.

Ensine o Evangelho de meu filho às quartas-feiras e institua um curso de Astronomia.

Acobertarei o Colégio Allan Kardec sob o manto do meu Amor.

Maria, Serva do Senhor"

Segundo Corina Novelino, na obra citada "Eurípedes seguiu à risca as instruções


espirituais de Maria Santíssima."

"Tem início para Sacramento a maior campanha educacional, conhecida até então.
Antigos alunos do Liceu Sacramentano reintegram-se ao novo educandário e mais de
duas centenas de outros estudantes são encaminhados ao Colégio Allan Kardec.
(...) Antigos alunos conservaram, carinhosamente, importantes apostilas fornecidas por
Eurípedes sobre questões de Língua Portuguesa, Astronomia e Fundamentos da
Doutrina Espírita.

As quartas-feiras eram consagradas inteiramente ao estudo de O Evangelho Segundo o


Espíritismo e O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Assistiam a essas aulas os alunos
do Colégio e numerosos visitantes. O início das aulas dava-se às 12 e meia horas,
prolongando-se até quinze horas aquelas lições excepcionais para todos."

Corina nos conta que as aulas se iniciavam com uma prece: "A voz sonora e vi brante de
Eurípedes ergue-se na reprodução do Pai Nosso, de Jesus, na sua opinião, a prece que
tras em cada palavra um potencial magnético capaz de transformar o mundo, porque
proveio dos lábios sublimes do Cristo..."

"Era o instante da prece de encerramento. (...) Eurípedes, de pé, pronuncia comovedora


oração de agradecimento. E é no decorrer desta que, em geral, ele penetra a faixa dos
Mensageiros do Senhor, em transe sonambúlico. Eis que, às vezes, sua voz possante
assume o timbre infantil: - é Celina, a pequena e luminescente intérprete de Maria quem
vem trazer a palavra de estímulos santos da própria Mãe de Jesus, cujo carinho pelo
Colégio Allan Kardec jamais esmorece.

De outras vezes, comparecem ao festim espiritual outros luminares de Esferas


Superiores, tais como Jeanne D’Arc, Paulo de Tarso, Pedro, Felipe, outros discípulos do
Cristo, que se aproveitam do grande momento para endereçar à criatura terra a sua
mensagem de luz."

Corina, em nota de rodapé, nos relata que "essas aulas despertavam tanto interesse que
os alunos do curso superior não perdiam as sessões mediúnicas, no sentido de
enriquecerem suas pesquisas com os conceitos dos Espíritos Benfeitores."

Ao mudar o nome da escola para Colégio Allan Kardec, por sugestão de Maria, a mãe
de Jesus, Eurípedes caracterizou a escola como espírita e, portanto, com uma proposta
pedagógica baseada na Doutrina Espírita.

Eurípedes Barsanulfo inaugurava assim o primeiro colégio espírita do mundo com o


nome de Colégio Allan Kardec, sob a égide de Maria, a mãe de Jesus. O ensino da
Doutrina Espírita era parte integrante do currículo da escola, ensinando o Evangelho de
Jesus, e um curso de astronomia, conforme as recomendações de Maria. A verdade
triunfava do preconceito, do orgulho e do fanatismo religioso.

Nesta proposta pedagógica, estava inserido tanto os objetivos, a metodologia quanto o


conteúdo curricular.

Ao lado das matérias tradicionais, Eurípedes incluira o ensino da Doutrina Espírita, não
titubeando ao utilizar O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo, com
os alunos, além de utilizar a oração e o exercicio de sua mediunidade extraordinária,
onde se comunicavam Espíritos de alta envergadura, trabalhadores de Jesus, como
Paulo, Pedro, Filipe e outros, conforme nos narra Corina. Os alunos maiores, segundo a
biografa, não perdiam as próprias reuniões mediunicas.
Nota-se claramente, nas narrativas de Corina que o ensino primava pela qualidade
elevada, onde o aluno era levado a compreender profunda e racionalmente as lições,
vivenciando o que aprendiam, especialmente no aspecto moral.

Diante da coragem de Eurípedes, é preciso rever, com urgência, o conceito de Educação


Espírita.

O ensino da Doutrina Espírita numa instituição espírita (centro, lar, orfanato, escola)
representa o ensino da Verdade Universal, necessária ao "conhecimento de si mesmo",
chave do progresso individual, como nos ensinam os Espíritos em O Livro dos
Espíritos, item Perfeição Moral.

Se utilizamos o nome Espírita, temos que ser fieis aos Espíritos Superiores que tanto
trabalham para implantar essa verdade Universal em nosso Planeta.

O conteúdo libertador e a "finalidade salvadora" da Doutrina Espírita, na linguagem de


Eurípedes, deve ser divulgada e ensinada de todas as formas possíveis.

A Doutrina Espírita nos abre um mundo de possibilidades na área da educação onde, ao


lado do conteúdo Espírita, que representa essa Verdade Universal que nos leva ao
"conhecimento de si mesmo" e das Leis Divinas que regem os seres e todo o cosmo,
também nos propicia o desenvolvimento do sentimento, através da prática da caridade,
no exercício do amor ao semelhante.

Desenvolve as potencialidades da alma que todos, como Filhos e herdeiros de Deus,


trazemos em nós mesmos, em todos os sentidos: cognitivo, afetivo e volitivo. Abre
caminho para a interação vertical, com as esferas superiores da vida Universal, em
sintonia com o pensamento cósmico.

Se ainda guardamos dúvidas em nosso coração quanto a nossa tarefa de educadores,


recordemos a figura de Eurípedes, na narrativa de Corina Novelino: Quanto tudo
pareceria ter sido inútil e a escola perto de fechar as suas portas, eis que a própria Maria,
mãe de Jesus, o vem consolar e incentivar a manter a escola aberta e, ainda mais, a
mudar o nome para "Colégio Allan Kardec" o que denota, sem qualquer dúvida, o seu
carater de Escola Espírita, com uma proposta pedagógica baseada na Doutrina Espírita,
em todos os seus aspectos: científico, filosófico e religioso.

(Extraido do site www.pedagogiaespirita.org )

... Jáder Sampaio

> Convênios de Creches Espíritas com o Poder Público

Artigos
O movimento espírita lançou-se na construção e manutenção de instituições pré-
escolares há mais de cinqüenta anos, em uma época na qual a população de baixa renda
necessitava e não tinha acesso a este tipo de serviço.

A lei de diretrizes e bases, nos anos 90, atribuiu ao município a responsabilidade pela
educação infantil. Nesta época, as atenções do legislador criaram uma série de
exigências, muito justas, que transformou o perfil destas instituições e, com estas
mudanças, o volume de recursos necessário para mantê-las.

A antiga monitora, que na verdade trabalhava mais como cuidadora que como
educadora, passou a ser substituída por educadoras com formação em nível de ensino
médio, o que alterou substantivamente os custos da folha de pagamento, principal
despesa deste tipo de organização.

As instituições espíritas passaram a aceitar o estabelecimento de convênios com as


prefeituras, para cobrirem as despesas adicionais que começaram a surgir.

Algumas prefeituras, por sua vez viram nesta parceria uma forma de atender uma
quantidade maior da população, destinar recursos para a área de educação e de reduzir
despesas com pessoal, já que os empregados são contratados das instituições espíritas, e
não são (s.m.j.) computados como servidores públicos (o que facilita o problema do
limite de gastos com pagamento de servidores). Tudo isto, sem contar que em curto e
médio prazos, as prefeituras não necessitam investir em aluguel ou construção de
prédios.

Após a celebração de convênios, a política da prefeitura de Belo Horizonte tem sido


exigir mudanças e adaptações aos espaços existentes, o que caiu em um espaço de
arbitrariedades imensas, cometidas pelos fiscais, uma vez que o conjunto dos
convenentes tem instalações muito diferentes entre si.

Não bastassem as arbitrariedades, a PBH (falo desta porque não tenho dados de outras),
após a assinatura dos convênios deixa de ser parceira e age como se fosse dona da
instituição: transforma problemas de comunicação em negligências (nas quais as
socidades espíritas pagam a conta), baixa portarias e deliberações, sem negociação clara
com seus parceiros, envia fiscais para verificar o cumprimento de suas decisões e não dá
o devido suporte em áreas de sua responsabilidade, como é o caso da saúde.

A questão que originou esta publicação surgiu quando começamos a observar que a
Prefeitura, ao celebrar convênios com instituições espíritas, passou a exigir que estas
abrissem mão de práticas espíritas oferecidas à comunidade. Em uma das instituições
tentou-se proibir o passe aplicado nas crianças, por entender que se trata de prática
religiosa, e alegando o princípio da laicidade do ensino.

O órgão público tem razão, quando alerta que uma prática religiosa não pode ser
imposta a crianças ou famílias que não a aceitem, em um espaço aberto à população em
geral, contudo, em meu entendimento, não tem poder para proibir a prática de passes
para quem o desejar receber em uma instituição que por força de convênio presta
serviço de cunho social mas continua sendo espírita.

Os convênios, com o passar do tempo, tornam-se um problema para a manutenção das


creches. As sociedades espíritas passam a depender dele, e evitam confrontação com o
município, por medo de não conseguir manter financeiramente as despesas com as
creches. Chegará um tempo em que o poder público irá adotar uma política de
desapropriação das creches espíritas? Viveremos no Brasil situação semelhante à que
enfrentaram nossos irmãos portugueses e espanhóis na triste época da ditadura em seus
países? Espero que não.

Este relacionamento precisa ser revisto e cabe ao movimento promover uma discussão
com especialistas na área de direito público para orientar as instituições como celebrar
parcerias que não exijam das sociedades espíritas abrirem mão de sua identidade
essencial, identidade esta que motivou os associados a se unirem para tentar colaborar
na solução de uma chaga social que estava aberta em uma época na qual o poder público
não tinha olhos de ver a necessidade do ensino pré-escolar para as populações de baixa
renda.

... Daniel Steinvorth

> O debate muçulmano do criacionismo: enfrentando Darwin na Turquia

Artigos

O debate muçulmano do criacionismo: enfrentando Darwin na Turquia

Os cristãos fundamentalistas americanos não são os únicos liderando uma cruzada


contra Darwin. O criacionismo e o "design inteligente" também estão se tornando cada
vez mais populares entre os muçulmanos da Turquia
Daniel Steinvorth
Em Istambul (Turquia)

O homem que deseja salvar o mundo se chama Harun Yahya e lembra um ator da época
do cinema mudo. Ele veste um terno de seda branca, abotoaduras douradas e exibe uma
barba bem aparada no queixo. "Em 20 anos", ele diz em tom sério, "a humanidade
entrará em uma era dourada".

Yahya diz que descobriu essa notícia maravilhosa na Bíblia e no Alcorão. Ele
argumenta que é um "fato científico" que Jesus e o Mahdi, o messias muçulmano,
voltarão à humanidade para resolver todos os conflitos globais. Antes, entretanto, ele
diz que esses dois emissários celestiais terão que lidar com outro desafio: eles terão que
erradicar a heresia do naturalista britânico Charles Darwin, que postula que toda a vida
se originou de um processo de seleção natural.

Na visão de Yahya, o darwinismo está na raiz de todos os males do mundo. Visando


ajudar a livrar o mundo desta teoria, ele bancou a impressão de milhares de cópias de
"O Atlas da Criação" e as enviou para várias partes do mundo. Este tomo de formato
grande e 800 páginas visa provar que nunca houve uma evolução natural das espécies.
Em vez disso, ele argumenta que todas as formas de vida da Terra permaneceram
inalteradas por milhões de anos. Ilustrações coloridas de fósseis foram incluídas para
documentar a falta das chamadas formas transitórias.

Yahya, 52 anos, um ex-estudante de arquitetura, é sem dúvida o mais expressivo


seguidor do criacionismo em seu país. Ele alega já ter vendido 8 milhões de cópias de
seus vários livros. No ano passado, milhares de cópias de "O Atlas da Criação" foram
entregues - de forma não solicitada - para escolas de toda a Europa. A identidade da
pessoa ou instituição que pagou a conta dessa iniciativa permanece desconhecida.

Além de Yahya, que atualmente está sendo processado "por ganho pessoal ilegal", há
outros opositores veementes da evolução na Turquia. Um deles é Kerim Balci, um
jornalista que trabalha para o jornal "Zaman" pró-governo. Sua mensagem: "Deus não é
aquele que está morto; é o darwinismo".

Uma pesquisa realizada em 2006 mostrou quão impopular permanece a teoria da


evolução no mais moderno de todos os países islâmicos. Foi perguntado às populações
de 34 países sobre sua postura em relação à teoria da evolução, e o menor percentual de
defensores foi encontrado na Turquia. Apenas um quarto dos turcos sente que a teoria
de Darwin é correta. Apenas ligeiramente à frente deles - em 33º lugar - estavam os
americanos.

Para Ibrahim Betil, um ativista comunitário turco envolvido em programas escolares,


estes números contrastam enormemente das políticas educacionais oficiais do país.
Diferentemente do que está acontecendo em várias áreas nos Estados Unidos, todas as
tentativas de introduzir o criacionismo nas aulas de biologia na Turquia foram
bloqueadas. Apenas a teoria da evolução é ensinada "em todas as escolas, em todas as
salas de aula, mesmo nas províncias mais remotas".

Mas isso poderá mudar em breve. Como colocou recentemente o ministro da Educação
ortodoxo da Turquia, Hüseyin Çelik, o darwinismo não é nada mais do que "uma arma
dos materialistas e dos infiéis". Çelik é um grande admirador da teoria do "design
inteligente" - uma versão moderna da teoria do criacionismo, que alega reconhecer a
mão de uma espécie de projetista por trás de todas as leis naturais do mundo.

Fonte: Der Spiegel

- http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/09/24/ult2682u953.jhtm

... Francisco Rebouças

> O trabalho em equipe na casa espírita

Artigos

Não existe casa espírita ou instituição qualquer, que possa dispensar a presença de
pessoas para fazê-la funcionar a contento em atendimento aos seus objetivos
anteriormente traçados, mesmo quando a atividade de determinada instituição seja em
sua grande parte executadas por máquinas, ainda assim, os objetivos são obviamente
planejados por alguém, e pede como conseqüência a vigilância e a manutenção do
homem.

Especialmente na casa espírita, em virtude das nobres atividades a que se propõe,


muito mais dependente se faz, da união e da cooperação de seus tarefeiros em todas as
atividades que nela se realizarem, onde o entrosamento e o bom relacionamento dos
seus membros são fatores determinantes do bom êxito nos cometimentos espirituais a
que se destina.
No trabalho em grupo da casa espírita, o individualismo deve ceder lugar ao espírito de
equipe para que possa lograr sucesso nas atividades em desenvolvimento. Para tanto é
imprescindível que algumas medidas sejam antecipadamente estabelecidas para que o
personalismo exacerbado não prejudique o conjunto que deve buscar a cada dia o
aprimoramento de todos e das atividades da casa.

Antes do começo da tarefa a que se destina o grupo, é preciso que se reúnam para que
possam juntos participar da elaboração das propostas e definirem a
responsabilidades de cada membro do grupo.

Após esse acordo definido, é necessário que todos se entreguem ao trabalho com boa
vontade e comprometimento com as metas a alcançar, elaboradas quando do
planejamento, e, cada tarefeiro se esmere na parte da tarefa, que lhe está determinada.

Preciso se faz, que a tarefa de responsabilidade do grupo, seja constantemente


avaliada por todos os seus participantes, para que sejam feitas as adaptações, as
mudanças ou as possíveis modificações que se fizerem necessárias nas partes que não
estiverem alcançando os resultados almejados, sem que isso seja motivo de
constrangimento para quem quer que seja, e ouvindo-se e analisando-se com equilíbrio
as críticas e as sugestões de todos, se possa encontrar as soluções mais adequadas para a
melhora da situação, proporcionando a integração e a harmonia da equipe, facilitando
um relacionamento sincero e fraterno entre os indivíduos envolvidos no trabalho.

É necessário que todos entendam que não existe o grupo perfeito e que por essa
razão, é importante trabalhar as diferenças existentes entre cada membro da
equipe, que podem ter causas diversas, entre outras as diferenças sociais, culturais etc.,
e que os possíveis conflitos que surgirem devem ser administrados com equilíbrio,
paciência, compreensão e muita conversa, para que sejam evitadas de todas as formas
possíveis, as pequeninas querelas que se não forem bem administradas podem se tornar
sérios obstáculos ao bom desempenho do grupo na conquista do objetivo planejado.

Importante ressaltar que o grupo disposto ao trabalho com Jesus, não prescinde do
espírito de equipe, onde “Deus é por todos e cada criatura pelos seus irmãos”.
Nesse diapasão cada qual possa se transformar em braço do Cristo a serviço da paz e do
bem, em constante progresso em direção à pureza espiritual que estamos destinados.

“A benfeitora Joanna de Ângelis nos esclarece: “Estamos no lugar certo, ao lado das
pessoas corretas, vivendo com aqueles que nos são melhores elementos para a execução
do programa. A pretexto de novas experiências ou fascinados pela utopia de novas
emoções, não perturbemos o culto dos deveres a que nos jugulamos com fidelidade”.

“Tornemo-nos o vaso onde deve arder a flama do bem, oferecendo, também, o óleo dos
nossos esforços reunidos a benefício da intensidade da luz”. ¹

Fonte:

1) Livro Após a Tempestade – Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Angelis,
Cap. 24.
2) Grifos nossos.
... Juliana Rocha Barroso

> Justiça Restaurativa : confira os significados e as diferenças de justiça, práticas,


procedimentos e sistemas restaurativos

Artigos

A justiça restaurativa é um tema relativamente novo para nós. Em função disso, antes de
tudo, faz-se necessário conhecer alguns conceitos a ela relacionados para compreender
as iniciativas apresentadas nesta série de reportagens. Para ajudar nesta tarefa, contamos
com o procurador de Justiça aposentado e presidente do Instituto Brasileiro de Justiça
Restaurativa (IBJR), Renato Sócrates Gomes Pinto, que resume os termos gerais.

Ele diz que, para entender melhor a relação entre eles, podemos estabelecer a justiça
restaurativa como um campo. “Nele, transitariam as práticas e os procedimentos, enfim,
o processo restaurativo num novo sistema que seria a matriz para a resolução de
conflitos extra-penais e, no caso de crimes, uma ferramenta complementar. O sistema de
justiça criminal passaria a ser um sistema de multiportas de acesso à justiça, em que a
JR seria uma delas, que funcionaria opcionalmente para determinados tipos de crimes.
A JR é um conjunto de valores, princípios, procedimentos e resultados. Se
institucionalizada, seria um sistema restaurativo”, explica. Confira abaixo as definições
de Renato Sócrates.

Prática restaurativa
É o procedimento restaurativo, ou seja, que, ao invés de punir, se proponha a restaurar
as relações e lesões produzidas por um comportamento que viole as relações do ofensor
com a vítima e a comunidade, de forma colaborativa e responsável, e não contenciosa. E
que veja no conflito uma oportunidade de transformação existencial dos sujeitos
envolvidos, que participam voluntariamente do procedimento, em que terão voz para
expressar seus traumas e suas necessidades oriundas do crime, onde as lesões deverão
ser reparadas. Todo conflito, e não apenas os de fundo criminal, podem ser tratados
restaurativamente.

Justiça restaurativa
Pode ser definida como um procedimento de consenso, em que a vítima e o infrator, e,
quando apropriado, outras pessoas ou membros da comunidade afetados pelo crime,
como sujeitos centrais, participam coletiva e ativamente na construção de soluções para
a cura das feridas, dos traumas e perdas causados pelo crime. Trata-se de um processo
estritamente voluntário, relativamente informal, a ter lugar preferencialmente em
espaços comunitários, sem o peso e o ritual solene da arquitetura do cenário judiciário,
intervindo um ou mais mediadores ou facilitadores, e podendo ser utilizadas técnicas de
mediação, conciliação e transação para se alcançar o resultado restaurativo, ou seja, um
acordo objetivando suprir as necessidades individuais e coletivas das partes e se lograr a
reintegração social da vítima e do infrator. Não se trata de desjudicialização ou
privatização de gestão de conflitos penais, mas de democracia participativa no processo
judicial, a partir de outra perspectiva.

Sistema restaurativo
Não podemos dizer que existe um sistema restaurativo, porque a JR ainda não foi
institucionalizada. Existe um modelo restaurativo, uma constituição de capital social em
torno do modelo, ou seja, um movimento articulando-se para inscrever o modelo
restaurativo no sistema de justiça criminal e para introduzir práticas restaurativas na
gestão de conflitos em geral. Só se fala em sistema quando existe uma organização que
funciona segundo determinados valores e que está estabelecida como um paradigma
vigente. Acho que é indispensável termos um sistema restaurativo porque no caso de
crimes a lei é muito rígida. Você não pode encaminhar casos para este programa sem
uma previsão da lei que autorize isso. O nosso sistema adota o princípio da
obrigatoriedade da ação penal, da indisponibilidade da ação penal, diferentemente dos
Estados Unidos, da Inglaterra, da Nova Zelândia, em que existe o princípio da
oportunidade, ou seja, o promotor tem poder para fazer isso. Ele tem mais liberdade. O
promotor brasileiro, por exemplo, recebe um inquérito da polícia e é obrigado a
denunciar. O americano, o inglês, o australiano não. Ele só vai denunciar se achar que
deve. É outra maneira de resolver o problema, aqui não tem isso, nem na Europa.

Exemplificando um procedimento
A JR é um conceito aberto e tem várias concepções. Ela é vista como um encontro,
como um meio de reparação, também como um veículo de mudança das pessoas, que
fazem do conflito uma oportunidade para a transformação, existencial, inclusive. Esse
que é o lado mais interessante da JR. Vou colocar um exemplo: suponha que você é
agredida, ferida por uma pessoa. Normalmente, neste caso, você vai até à delegacia e lá
eles vão instaurar um procedimento e vão mandar para a Justiça. Esse procedimento
funciona assim: você se apresenta, depõe, registra a ocorrência e eles encaminham você
para o Instituto Médico Legal para fazer um exame, ver as lesões. Aí eles encaminham
tudo isso para o Juizado Especial Criminal. Lá, é designada uma audiência prévia de
conciliação, onde o promotor faz uma proposta. Ali ele vira as costas para você e
pronto. Como seria com a justiça restaurativa? O caso chega e o juiz verifica se ele pode
ser encaminhado para o programa de JR. O promotor e outros profissionais, como o
facilitador, concordam. Primeiro eles vão consultar as partes, preparar, informar o que é.
Depois vai ter um diálogo, ter a oportunidade de dizer: o que aconteceu me traumatizou,
fiquei angustiada, machucada, e preciso é de um pedido de desculpas, de uma
reparação. Por ser uma reunião em que vocês vão dialogar, não vai ter juiz, promotor,
advogados, são as próprias pessoas, com a facilitação feita por um mediador, vocês vão
esperar que a pessoa que a agrediu assuma a responsabilidade pelo que fez e também
que você dialogue com ela. Aí, os dois saem de lá com o problema resolvido na
profundidade que ele tem, diferente do procedimento judicial. É quase como ser
devolvido para você um conflito que te pertence.

Tipos de procedimento
A Resolução 2002/12, do Conselho Econômico e Cultural da ONU, que também define
conceitos ligados à JR, prevê três tipos de procedimento restaurativos: mediação,
círculo familiar e círculo comunitário. Segundo Sócrates, é difícil adaptar ao Brasil os
conceitos construídos nos países anglo-saxões. “Tudo é uma questão de dar nome. O
procedimento restaurativo tem como características ser informal, flexível.”

Ele diz que para entender os tipos de procedimento é preciso estudar a raiz dos termos.
Conta que nos anos 1970 e 1980, nos Estados Unidos, existiam dois tipos de
procedimento, depois chamados de JR: a mediação vítima-ofensor e a mediação e
reconciliação entre vítima e ofensor. Nos anos 1990, na Nova Zelândia, surgiu uma
nova modalidade de JR, denominada Family Group Conference. “Era então uma
reunião do grupo familiar, ou seja, o menor infrator, a vítima, parentes da vítima,
parentes do menor infrator e também pessoas das comunidades, que participavam dessas
reuniões de grupos familiares”, pontua. Do final dos anos 1990 entrando nos anos 2000,
houve um desenvolvimento de práticas restaurativas, que começaram a ser também
aplicadas para adultos. “Essa Conference, reunião, círculo – observe que são todas
palavras sinônimas já que uma reunião se dá círculo, não é linear, unilateral –, para
adultos começou na Nova Zelândia. Uma experiência com os Comunity Group
Conference, reuniões comunitárias. Aí vinham além do infrator, da vítima e de pessoas
que apoiassem ambos, pessoas da comunidade também, porque a comunidade sofre
impactos do delito, que produz traumas que não se limitam apenas aos envolvidos”,
explica.

Sócrates ressalta que há uma considerável diversidade teórica e prática em termos de


justiça restaurativa, mas para a Resolução da ONU há três procedimentos básicos:
mediação vítima-infrator (mediation), círculos abertos à participação de pessoas da
família e da comunidade (conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles).

Ele explica que, na forma de mediação, propicia-se às partes a possibilidade de uma


reunião num cenário adequado, com a participação de um mediador, para o diálogo
sobre as origens e conseqüências do conflito criminal e construção de um acordo e um
plano restaurativo. Ele conta que nos EUA a JR nasceu a partir da constatação de que a
mediação era uma prática falha e que a JR pode ser considerada um tipo de mediação
em sentido amplo, lato. Sócrates lembra que para Howard Zehr, um dos mais famosos
estudiosos do tema, justiça restaurativa não pode ser mediação porque neste processo se
pressupõe a igualdade entre as partes. Quando, na prática restaurativa, a assimetria entre
as partes deve ser equacionada pelo facilitador do procedimento para que não ocorra
desequilíbrio jurídico, socioeconômico e cultural entre os sujeitos. “Eu prefiro dizer,
então, que a JR é uma forma de mediação em sentido bem amplo do termo e que a
mediação é considerada um dos procedimentos da justiça restaurativa, conforme a
Resolução 2002/12. A questão é que existem os meios judiciais e extrajudiciais de
resolução de conflitos, sendo que estes últimos passam pela negociação direta, pela
arbitragem, pela conciliação, pela mediação e finalmente pela justiça restaurativa. A
justiça restaurativa vai mais além, na medida em que aborda de forma profunda e
holística o conflito. Para não ser visto como algo para ser tratado como estritamente
jurídico, ela agrega outros olhares, outras disciplinas, principalmente a psicologia.
Portanto, é insuficiente a expressão mediação, em seu sentido técnico, para abarcar toda
a complexidade do conceito.”
Já na forma de círculos ocorrerá também uma mediação em sentido amplo, mais
abrangente e reflexiva. “Ou seja, o diálogo ocorre não em nível individual, mas de
forma coletiva e integrada com a comunidade.” Os círculos abertos à participação da
família, Family Group Conferences, são aqueles praticados na Nova Zelândia, dirigidos
a crianças e adolescentes. No caso de delitos cometidos por adultos, eles equivalem aos
Community Group Conferences.

Já o Sentencing Circle (em português, círculo decisório) é uma tradução imperfeita da


expressão. “No Brasil, seria o círculo comunitário, que tem participação de mais
pessoas envolvidas diretamente ou indiretamente no conflito.”

Serviço

Instituto Brasileiro de Justiça Restaurativa (IBJR)

Fonte: Senac - setor 3

... Jeffrey Mishlove

> Recentes Estudos Sobre Reencarnação

Artigos

O European Values Survey explora diferenças e semelhanças nacionais, também


concernentes a crenças religiosas que expressam suposições populares a respeito da
natureza do homem e do estado ontológico da consciência. Estes pareceres diferem
radicalmente da visão científica dominante, também em psicologia acadêmica. Os
países Nórdicos variam consideravelmente em suas crenças sobre a vida depois da
morte e sobre a reencarnação, com metade dos respondentes acreditando na vida depois
de morte, e 43 por cento destes acreditando na reencarnação, o que também vai contra
os pareceres estabelecidos pela Igreja cristã. Isto mostra a independência de autoridades
científicas assim como de religiosas. Será um resíduo de crenças pré-cristãs, devida à
exposição aos conceitos budistas e hinduístas, ou um sinal de pensamento
independente? Meio século de regimes anti-religiosos na Europa Oriental não parece ter
tido nenhum efeito importante nas crenças sobre a sobrevivência pessoal, e o European
Values Survey mostra uma crença comum em reencarnação. [1]

Para obter um entendimento da função psicossocial da reencarnação entre os Drusos,


entrevistas foram conduzidas com nove sujeitos masculinos que tinham experimentado
a reencarnação (Notq) e com um ou dois membros de sua família. A análise destas
entrevistas revelou que o princípio de Notq tipicamente ocorre em entre dois e cinco
anos de idade. Cinco dos sujeitos tinham exibido angústia psicológica em sua infância a
qual foi aliviada depois do Notq. Uma vez que a criança exibia indicações iniciais de
reencarnação, tal como mencionar nomes que a família interpreta como de uma vida
passada, a família toma um papel ativo em construir a história de vida passada e
combinando-a a uma história real conhecida envolvendo uma morte trágica. Esta
combinação cria uma nova ordem na vida da criança, da família e da família de vida
prévia. Todos se se beneficiam desta nova ordem: a criança recebe nova atenção
especial e amor e torna-se capaz de controlar e de manipular os pais; os pais são
aliviados porque vêem a criança feliz, beneficiada pela atenção social e afeto que
recebe; e o lamentar da família afligida da vida passada é aliviado pela confirmação de
que a alma de seu filho perdido ainda vive. [2]

Em 1933 uma bem educada garota húngara de 16 anos, Íris Farczády, que tinha se
aventurado extensamente na mediunidade, repentinamente sofreu uma mudança drástica
de personalidade, reivindicando ser Lucia renascida, uma trabalhadora espanhola de 41
anos, dizendo por ela ter morrido naquele ano. Transformada em "Lucia", Íris falou
depois em espanhol fluente, uma linguagem que ela aparentemente nunca tinha
aprendido, nem tido a oportunidade de adquirir e não podia entender qualquer outro
idioma. A Lucia permaneceu em controle desde então e, agora com 86, ela ainda
considera que Íris foi uma pessoa diferente, que deixou de existir em 1933. Os três
autores deste artigo encontraram Lucia em 1998 e uma gravação de entrevistas foi feita,
sob auspícios da SPR. Tentativas foram feitas para localizar a reinvidicada família
espanhola de Lucia, mas estas não foram bem-sucedidas. Enquanto o aspecto da
reencarnação do caso não foi apoiado, aí permanece o quebra-cabeça de como Íris
adquiriu seu conhecimento da linguagem espanhola, costumes e cultura popular, e por
que Íris deve ter permitido ou se submetido a sua "substituição" por Lucia. [3]

Os casos mais impressionantes de crianças que reivindicam lembrar de uma vida


passada estão sendo publicados com maior freqüência que os casos mais razoáveis,
dando uma impressão distorcida dos fenômenos para os leitores. Trinta crianças que
falam sobre uma vida prévia em resumo foram entrevistadas para um estudo psicológico
no Líbano. Três crianças casualmente foram selecionadas para uma completa
investigação de um total de 29 destas crianças (o caso de uma criança já tinha sido
investigado). Num caso uma pessoa morta foi identificada cujas circunstâncias de vida
assemelharam-se às declarações da criança. Em outro caso nenhuma pessoa
adequadamente combinando com as declarações da criança foi achada,
conseqüentemente verificar a correção de suas declarações foi impossível devido a
razões práticas. No terceiro caso, a família da criança foi relacionada à suposta
personalidade prévia, a qual podia ter dado a criança e a seus pais ampla oportunidade
para aprender por meio normal sobre a personalidade prévia. Além do suposto aspecto
da memória, alguns casos exibem perplexos fatores psico-fisiológicos e características
comportamentais. [4]

As crianças que reivindicam lembrar-se de fragmentos de uma vida passada são achadas
em alguns países. Várias explicações foram propostas quanto ao porque as supostas
memórias se desenvolvem, variando de reencarnação à "recurso terapêutico". Este
estudo põe à prova o papel de algumas características psicológicas e as circunstâncias
em que as crianças vivem, tal como fantasia, sugestionabilidade, isolamento social,
dissociação e procura de atenção. Para trinta crianças no Líbano que persistentemente
tinha falado de memórias de vida passada, e para 30 crianças de comparação, foram
administradas provas relevantes e questionários. O grupo alvo obteve contagens mais
altas para devanear, busca por atenção e dissociação, mas não para isolamento social e
sugestionabilidade. O nível de dissociação era muito abaixo em comparação a casos de
múltipla personalidade, e assim clinicamente não relevante. Havia alguma evidência de
sintomas similares a stress pós-traumáticos. 80% das crianças falaram sobre memórias
de vidas passadas com circunstâncias de uma morte violenta (principalmente acidentes,
baixas de guerra e assassinatos). [5]

As crianças que falam de memórias de uma vida prévia podem explicar marcas de
nascimentos como relacionadas às feridas infligidas sobre elas na vida anterior. Este
artigo informa o caso de uma menina de nove anos no Sri-Lanka que alegou ter sido
fabricante de incenso e morrido num acidente de trânsito. Depois que a situação fora
narrada, um fabricante de incenso foi identificado cuja vida correspondida a muitas das
declarações daquela criança. Ele tinha morrido num acidente de trânsito dois anos antes
do nascimento dela; e o relatório posterior à morte revelou que as feridas que ele sofrera
foram na mesma área das marcas de nascimentos dela. [6]

Examinaram-se crianças no Sri Lanka que reivindicaram memórias de uma vida prévia.
A personalidade e medidas psicológicas foram administradas a 27 pares de crianças
entre 5,4-10,2 anos dentre as que alegaram e as que não reivindicaram memórias de
vidas prévias. Os questionários sobre comportamento, desenvolvimento e ambiente
familiar foram administrados aos pais delas. Os resultados mostram que crianças que
alegam memórias de vida passada se saíam melhor na escola que seus pares e que não
eram mais sugestionáveis que estes. A Child Behavior Checklist revelou que as crianças
com memórias de vida prévia exibiram mais problemas comportamentais, incluindo
características oposicionais, obsessão e características de perfeccionismo. A Child
Dissociation Checklist mostrou que estas crianças têm tendências de dissociação, como
mudanças rápidas na personalidade e freqüentes devaneios. A estrutura do ambiente
familiar delas não diferiu mensuravelmente daquela das crianças que não alegam
memórias de uma vida prévia. A influência da crença na reencarnação e a educação
religiosa é discutida, à medida que crianças falando de uma vida prévia foram achadas
principalmente entre famílias budistas. [7]

Foi realizado um relatório de caso descrevendo um indivíduo burmês com uma marca
de nascimento rara e defeitos de nascimento pensados por pessoas locais serem ligados
a acontecimentos acerca da morte do primeiro marido da mãe dele. A natureza do elo é
explorada, incluindo a suposição de que uma ligação poderia ter levado a
acontecimentos subseqüentes. [8]
Foram documentados três casos clínicos de gêmeos monozigóticos que se lembraram de
uma vida prévia. No Caso 1, Vinod lembrou-se da vida de um pastor, e Pramod
lembrou-se da vida de um pescador; ambos percebidos como sendo amigos. No Caso 2,
ambos os gêmeos Narender e Surender Babu reivindicaram ter vivido numa aldeia
vizinha numa vida prévia, como irmãos. No Caso 3, Indika e Kakshappa não
reivindicaram nenhum relacionamento em vida prévia. Os resultados sugerem que a
teoria da reencarnação ajuda a explica diferenças e semelhanças em gêmeos que não
podem ser explicados por fatores ambientais e genéticos. [9]

No seguinte caso, um rapaz do Sri Lanka que fez várias declarações concernentes a uma
vida prévia, entre elas, onde ele havia vivido e como foi morto quando viajou num
caminhão por uma floresta. O rapaz associou duas marcas de nascimentos com suas
memórias reivindicadas. Suas declarações foram registradas e publicadas, e depois uma
pessoa foi achada na região cujas circunstâncias tinham correspondido às declarações
do rapaz. As marcas de nascimentos corresponderam à situação de feridas da pessoa
mais tarde identificada como a personalidade prévia. [10]

Outros relatos interessantes foram obtidos em três casos clínicos de crianças no Sri
Lanka reivindicando terem sido monges em vidas anteriores. O processo de verificação
das declarações feito por Duminda Bandara Ratnayake (b. 1984), começado aos três
anos de idade e confirmado por membros da família, mostrou grande semelhança aos
dados biográficos de Gunnepana Saranankara (d. 1929), um monge inciciante do
Mosteiro Asgiriya que possuía um carro vermelho. Um 2º caso é de Sandika Tharanga
(b. 1979), uma criança de pais católicos que exibia muitos comportamentos de monges.
Gamage Ruvan Tharanga Perera (b. 1987) cantou estrofes em Pali em tenra idade; suas
memórias suportam semelhanças próximas à vida de Ganihigama Pannasekhara [11]

Tentou-se aplicar a hipótese socio-psicológica (SPH) ao fenômeno da recordação de


experiências de vida passada, chamado de "casos do tipo reencarnação" (CORT). O
SPH supõe que uma criança que parece falar sobre uma vida prévia será encorajada a
dizer mais. Isto orienta os pais a acharem outra família cujos membros venham a
acreditar que a criança tem falado sobre um parente morto destes. As duas famílias
trocam informação detalhadas, e elas acabam por creditar ao sujeito como ele tendo
mais conhecimento sobre a pessoa morta do que realmente existiu. Doravante, baseado
no SPH, esperar-se-ia que uma porcentagem mais baixa de declarações corretas, nos
casos em que as declarações foram registradas antes das famílias serem encontradas (B)
do que nos casos em que as declarações foram registradas depois das serem famílias
encontradas (A). Todos os casos completamente investigados da Índia e do Sri Lanka,
onde o número de declarações corretas e incorretas foi contado e registrado, foram
usados. Isto forneceu um total de 21 casos de B e 82 casos de A. Contrariamente à
expectativa, os casos B e A deram, aproximadamente, porcentagens iguais de
declarações corretas e o número total médio de declarações foi mais baixo para os casos
A. Assim, o SPH por si só parece incapaz de explicar CORT. [12]

Existem relatos de casos para três crianças na Índia que reivindicaram se lembrar de
vidas passadas que envolviam mudanças de religião, do Hindu ao Muçulmano ou do
Muçulmano ao Hindu. As crianças eram um indivíduo masculino e um feminino, ambos
Muçulmanos, que se lembraram terem sido Hindus em vidas prévias e um masculino
Hindu que se lembrou ter sido Muçulmano. Várias hipóteses normais e paranormais são
consideradas para explicar os comportamentos das crianças, mas o autor conclui que a
reencarnação parece ser a mais capaz para explicar todas as características. [13]

Referências:

[1] Haraldsson, Erilendur. Popular psychology, belief in life after death and
reincarnation in the Nordic countries, Western and Eastern Europe. Nordic Psychology.
2006, Jul, Vol 58(2), 171-180.

[2] Dwairy, Marwan. The psychosocial function of reincarnation among Druze in Israel.
Culture, Medicine and Psychiatry. 2006, Mar, Vol 30(1), 29-53.

[3] Barrington, Mary Rose; Mulacz, Peter; Rivas, Titus. The Case of Iris Farczády--A
Stolen Life. Journal of the Society for Psychical Research. 2005, Apr, Vol 69(2), 49-77.

[4] Haraldsson, Erlendur; Abu-Izzeddin, Majd. Three Randomly Selected Lebanese


Cases of Children Who Claim Memories of a Previous Life. Journal of the Society for
Psychical Research. 2004, Apr, Vol 68(875)[2], 65-84.

[5] Haraldsson, Erlendur. Children who speak of past-life experiences: Is there a


psychological explanation? Psychology and Psychotherapy: Theory, Research and
Practice. 2003, Mar, Vol 76(1), 55-67.

[6] Haraldsson, Erlendur. Birthmarks and claims of previous-life memories: I. The case
of Purnima Ekanayake. Journal of the Society for Psychical Research. 2000, Jan, Vol
64(858), 16-25.

[7] Haraldsson, Erlendur; Fowler, Patrick C.; Periyannanpillai, Vimala. Psychological


characteristics of children who speak of a previous life: A further field study in Sri
Lanka. Transcultural Psychiatry. 2000, Dec, Vol 37(4), 525-544.

[8] Keil, H. H. Jürgen; Tucker, Jim B. An unusual birthmark case thought to be linked
to a person who had previously died. Psychological Reports. 2000, Dec, Vol 87(3, Pt 2),
1067-1074.

[9] Pasricha, Satwant K. Twins who claimed to remember previous lives. NIMHANS
Journal. 2000, Jan-Apr, Vol 18(1-2), 39-51.

[10] Haraldsson, Erlendur. Birthmarks and claims of previous-life memories: II. The
case of Chatura Karunaratne. Journal of the Society for Psychical Research. 2000, Apr,
Vol 64(859), 82-92.

[11] Haraldsson, Erlendur; Samararatne, Godwin. Children who speak of memories of a


previous life as a Buddhist monk: Three new cases. Journal of the Society for Psychical
Research. 1999, Oct, Vol 63(857), 268-291.

[12] Schouten, Sybo A.; Stevenson, Ian. Does the socio-psychological hypothesis
explain cases of the reincarnation type? Journal of Nervous and Mental Disease. 1998,
Aug, Vol 186(8), 504-506.
[13] Pasricha, Satwant K. Children who claimed to remember previous lives with major
change in religion. NIMHANS Journal. 1998, Apr, Vol 16(2), 93-100.

Comentários: O presente artigo mostra uma coletânea de artigos recentes discutindo a


reencarnação. É importante notar que em apenas um deles Ian Stevenson foi autor,
reforçando a importância da replicação dos achados. Desde 1960, quando houve a
primeira publicação de Stevenson, houve muitos achados e discussões acerca do
assunto. Mas, acima de tudo, é fundamental perceber que os casos foram se
multiplicando mundo afora e hipóteses reducionistas não foram (pelo menos até o
momento) satisfatórias para explicar o fenômeno.

Texto original - http://jeff.gaia.com/blog/2008/8/scientific_studies_of_reincarnation

Texto traduzido - http://parapsi.blogspot.com/2008/08/recentes-estudos-sobre-


reencarnao.html

... Alexandre Magno Fernandes Moreira

> Homeschooling: uma alternativa constitucional à falência da Educação no Brasil

Artigos

Se o Ministério da Educação estivesse submetido às mesmas regras de mercado que


uma empresa, já teria falido há décadas. Fundado em 1930 e com o orçamento de vários
bilhões de reais para 2008, o MEC conseguiu a façanha de produzir um dos piores
sistemas educacionais do mundo. Nas avaliações internacionais, o Brasil sempre está
entre os últimos lugares, mesmo quando os exames são realizados em alunos de escolas
privadas, em tese, os melhores. E as tão badaladas universidades públicas? Em recente
ranking mundial, nenhuma delas ficou entre as cem melhores.
Esses dados não são novidade. Pelo contrário, a opinião pública já está exausta de vê-
los repetidos todos os anos. A novidade é a revolta de um casal contra esse estado de
coisas. Eis, em síntese, sua história:

“Um casal de Timóteo (216 km de Belo Horizonte) luta na Justiça pelo direito de
ensinar seus filhos em casa. Adeptos do ‘homeschooling’ (ensino domiciliar),
movimento que reúne 1 milhão de adeptos só nos EUA, eles tiraram os filhos da escola
há dois anos, o que é proibido pela legislação brasileira. Eles atribuem a decisão à má
qualidade do ensino do país.”

Esse movimento (traduzido como “estudo em casa”) existe há décadas em diversos


países, como Estados Unidos, França, Reino Unido, Irlanda e Austrália. Não é apenas o
baixo nível educacional que motiva os pais a educarem seus filhos em casa, mas
também razões de ordem religiosa – ambiente degradado das escolas para desenvolver o
caráter, e oposição aos valores ensinados nas escolas – e, também, questões práticas,
como dificuldades de deslocamento e falta de vagas em boas escolas.

É preciso ressaltar que a escola não é apenas um lugar em que se repassam informações,
mas também onde são transmitidos todos os tipos de valores. Recente pesquisa indicou
que a imensa maioria dos professores, de escolas públicas e privadas, considera como
principal missão da escola a veiculação de ideologias (no jargão politicamente correto,
“formar cidadãos”) e não de informações. Esse conjunto de valores é, na maioria das
vezes, bem diverso daqueles professados pelos pais.

Mais ainda: extensas pesquisas têm demonstrado que, na formação do caráter


individual, os companheiros de infância são influências muito mais poderosas que os
pais . Nas escolas, os pais têm pouco ou nenhum controle sobre essas interações, que
podem ser bastante desastrosas e traumáticas, como no caso do bullying , prática
corriqueira entre os alunos.

Neste ponto, faz-se necessário responder o argumento utilizado de forma reiterada


contra o homeschooling: essa forma de educar provoca o isolamento social, com sérios
prejuízos psicológicos. Na verdade, há vasto material demonstrando exatamente o
contrário: os educadores norte-americanos Raymond e Dorothy Moore unificaram os
dados de mais de 8 mil pesquisas a respeito do assunto e chegaram a conclusões
estarrecedoras. Eles apresentaram evidências de que a educação formal antes da faixa
dos 8 aos 12 anos não somente é desnecessária, mas também traz prejuízos
psicológicos, como maior probabilidade de delinqüência juvenil. De modo consistente,
nos exames, os educados em casa tiveram quocientes de inteligência superior que
aqueles educados na escola .

No Brasil, a questão, aparentemente, está fechada no campo jurídico. Em primeiro


lugar, a Constituição de 1988, dispõe que:

“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita


para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

(...)
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-
lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.”

Em seguida, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), determina que:

“Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na
rede regular de ensino”.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) reitera a obrigação estabelecida


no ECA:

“Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir do
sete anos de idade, no ensino fundamental”.

Finalmente, o Código Penal assevera que o comportamento divergente será considerado


crime de abandono intelectual:

“Art. 246. Deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade
escolar.

Pena – Detenção de 15 (quinze) dias a 01 mês, ou multa”.

O Superior Tribunal de Justiça tem julgado no sentido da impossibilidade, no


Brasil, do ensino em casa:

“ENSINO EM CASA. FILHOS.

Trata-se de MS contra ato do Ministro da Educação, que homologou parecer do


Conselho Nacional de Educação, denegatório da pretensão dos pais de ensinarem a seus
filhos as matérias do currículo de ensino fundamental na própria residência familiar.
Além de, também, negar o pedido de afastá-los da obrigatoriedade de freqüência regular
à escola, pois compareceriam apenas à aplicação de provas. A família buscou o
reconhecimento estatal para essa modalidade de ensino reconhecida em outros países.
Prosseguindo o julgamento, a Seção, por maioria, denegou a segurança ao argumento de
que a educação dos filhos em casa pelos pais é um método alternativo que não encontra
amparo na lei ex vi os dispositivos constitucionais (arts. 205, 208, § 2º, da CF/1988) e
legais (Lei n. 10.287/2001 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – art. 5º, § 1º, III;
art. 24, I, II e art. 129), a demonstrar que a educação é dever do Estado e, como
considerou o Min. Humberto Gomes de Barros, é, também, formação da cidadania pela
convivência com outras crianças, tanto que o zelo pela freqüência escolar é um dos
encargos do poder público. MS 7.407-DF, Rel. Min. Peçanha Martins, julgado em
24/4/2002.”

Pois bem. No caso citado inicialmente, os pais são processados, civil e criminalmente, e
podem perder a guarda dos filhos.

Pergunta-se: eles cometeram atos ilícitos, devendo ser punidos com e perda da guarda
(ou até do poder familiar) e com detenção? A meu ver, a resposta deve ser negativa,
como será demonstrado a seguir.
Em primeiro lugar, a constitucionalidade ou não de qualquer ato deve ser mensurada
levando-se em conta o conjunto da Constituição e não um artigo isolado. Esse é o
princípio da unidade da Constituição, segundo o qual “as normas constitucionais devem
ser vistas não como normas isoladas, mas como preceitos integrados num sistema
unitário de regras e princípios, que é instituído na e para a própria Constituição”.
Intimamente ligado a ele, está o princípio da concordância prática ou da harmonização,
que “consiste, essencialmente, numa recomendação para que o aplicador das normas
constitucionais, em se deparando com situações de concorrência entre bens
constitucionalmente protegidos, adote a solução que otimize a realização de todos eles,
mas ao mesmo tempo não acarrete a negação de nenhum”.

Assim, o art. 208, I e § 3°, da Constituição deve ser interpretado em conjunto com
outros artigos para que seja encontrada a solução hermenêutica mais adequada. Ora, o
art. 5° protege a liberdade de expressão em diversos incisos (IV a IX), posto que “é um
dos mais relevantes e preciosos direitos fundamentais, correspondendo a uma das mais
antigas reivindicações dos homens de todos os tempos”.

O inciso VIII determina que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em
lei”. A falta de previsão legal da prestação alternativa não inviabiliza o exercício do
direito, pois todas as normas que prevêem direitos individuais têm aplicabilidade
imediata. Basta a utilização do superprincípio da proporcionalidade.

O citado inciso refere-se a uma das maiores proteções do indivíduo contra os excessos
da democracia (do poder da maioria) em sua vida. Na lição de Gilmar Mendes e outros:

“A objeção de consciência consiste, portanto, na recusa em realizar um comportamento


prescrito, por força de convicções seriamente arraigadas no indivíduo, de tal sorte que,
se o indivíduo atendesse ao comando normativo, sofreria grave tormento moral. (...) A
objeção de consciência admitida pelo Estado traduz forma máxima de respeito à
intimidade e à consciência do indivíduo. O Estado abre mão do princípio de que a
maioria democrática impõe as normas a todos, em troca de não sacrificar a integridade
íntima do indivíduo”.

A objeção de consciência aplica-se perfeitamente ao caso do homeschooling. Os pais


que aplicam essa forma de educar aos filhos discordam, de forma radical, do sistema
educacional imposto no País. E, se há bons motivos para que isso ocorra em países
desenvolvidos, mais ainda pode se dizer no Brasil, cujas crônicas deficiências
educacionais são mais que conhecidas. O requisito exigido pela Corte Européia de
Direitos Humanos, ou seja, de que “a objeção nasça de um sistema de pensamento
suficientemente estruturado, coerente e sincero” , estará, de modo geral,
satisfatoriamente preenchido nesse caso .

O caráter excepcionalíssimo da objeção de consciência impede seu uso rotineiro e torna,


na prática, os pais dependentes do Poder Judiciário sempre que quiserem, de fato,
exercê-lo.

Há, porém, outros pontos de destaque no tocante à constitucionalidade do


homeschooling.
Utiliza-se, neste ponto, a clássica divisão entre normas materiais e normas
instrumentais, ou, em termos constitucionais, entre direitos e garantias. Os primeiros
definem faculdades ou obrigações a serem exercidas pelos destinatários, enquanto os
últimos estipulam instrumentos para que esses direitos sejam assegurados. Tomando-se
uma referência bastante conhecida, o direito de locomoção é garantido pelo habeas
corpus.

Pois bem. O direito à educação é estabelecido no art. 6° da Constituição. Enquanto isso,


o art. 208 dispõe sobre os meios que o Estado deve colocar à disposição dos indivíduos
para que esse direito seja efetivado. Se esse mesmo direito for concretizado por outros
meios, tão ou mais eficientes, a atuação do Estado torna-se desnecessária e até
prejudicial. Trata-se da aplicação do conhecido princípio segundo o qual “não há
nulidade sem prejuízo”.

Além disso, o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado


tem sido substituído pelo superprincípio da proporcionalidade ou da razoabilidade, que
se desdobra em:

a) princípio da conformidade ou da adequação de meios: a medida adotada (legal,


judicial ou administrativa) deve ser apta a atingir os fins a que se destina;
b) princípio da necessidade: a liberdade do indivíduo deve ser restrita o mínimo
possível. De acordo com a lição de Silva Neto,

“A opção feita pelo legislador ou o executivo deve ser passível de prova no sentido de
ter sido a melhor e única possibilidade viável para a obtenção de certos fins e de menor
custo ao indivíduo. O atendimento à relação custo-benefício de toda decisão político-
jurídica a fim de preservar o máximo possível do direito que possui o cidadão”;

c) princípio da proporcionalidade em sentido estrito: requer a ponderação entre os bens


sacrificados e aqueles protegidos pela norma.

Para todos aqueles que conhecem minimamente a situação de extremo descalabro em


que se encontra a educação brasileira, torna-se evidente a desproporcionalidade da ação
estatal, que desobedece ao princípio da adequação ao não demonstrar sua total inaptidão
de alcançar o resultado pretendido, qual seja, fornecer educação de qualidade; que
desobedece ao princípio da necessidade, ao constituir-se em opção mais gravosa ao
indivíduo para alcançar esse objetivo; finalmente, é desobedecido o princípio da
proporcionalidade em sentido estrito ao sacrificar-se em demasia outros bens essenciais.
Esses bens sacrificados, sem que haja o correspondente retorno razoável, serão vistos a
seguir.

O primeiro deles é o princípio do pluralismo político (Constituição Federal, art. 1°, V):

“Direito fundamental à diferença em todos os âmbitos e expressões da convivência


humana – tanto nas escolhas de natureza política, quanto nas de caráter religioso,
econômico, social e cultural, entre outras –, um valor fundamental (...). O indivíduo é
livre para se autodeterminar e levar sua vida como bem lhe aprouver, imune a
intromissões de terceiros, sejam eles provenientes do Estado, por tendencialmente
invasor, ou mesmo de particulares” .
Como a escola obrigatória, nos rígidos moldes definidos pelo governo, contraria o
princípio fundamental do pluralismo político? Primeiramente, os pais não têm opção:
devem matricular seus filhos em escolas que ensinam determinadas matérias, cuja
utilidade pode ser bem questionável, e não outras, que poderiam ser bem mais úteis de
acordo com o ponto vista deles. De nada adianta considerar, por exemplo, que aprender
física é inútil e que seria mais útil aprender a cozinhar. A discordância dos pais quanto à
grade curricular é simplesmente desprezada, em nome de um “conteúdo programático
ideal”, como se isso fosse humanamente impossível .

Mais agrave ainda é a constatação de que a função básica da educação, transmitir


informações, é relegada em nome de uma mítica missão de “formar cidadãos”. Tão bela
expressão serve apenas para mascarar a pura e simples doutrinação ideológica. Recente
pesquisa demonstrou cabalmente que, enquanto a educação brasileira consegue as
piores colocações nos rankings internacionais, os professores, em massa, consideram
seu principal trabalho incutir determinada ideologia nos alunos.

Os números da pesquisa são extremamente contundentes: 78% dos professores


consideram que a principal missão da escola é “formar cidadãos”, enquanto apenas 8%
assinalam “ensinar as matérias”. 80% dos professores consideram que seu discurso é
politicamente engajado e apenas 20% o consideraram politicamente neutro.
Engajamento político significa, nesse caso, admirar, em primeiro lugar, Paulo Freire
(29% dos professores), seguido por Karl Marx (10%). Significa também que 86% dos
professores têm conceito positivo sobre Che Guevara e nenhum declara ter conceito
negativo. Lênin foi positivamente avaliado por 65%, enquanto sua avaliação negativa
foi de apenas 9%.

Ressalte-se: esses dados referem-se tanto a escolas públicas quanto a escolas privadas.
Há, pelo menos nas ciências humanas, total hegemonia da doutrina esquerdista, apesar
de reiteradas pesquisas demonstrarem que a população brasileira define-se,
majoritariamente, como conservador de direita em diversas questões, como aborto e
drogas. Assim, as crianças e os adolescentes no Brasil vivem uma situação
esquizofrênica: os mesmos valores aprendidos em casa são sistematicamente negados na
escola.

Se houvesse, de fato, o pluralismo político determinado como fundamental pela


Constituição da República, os pais, verdadeiros responsáveis pela transmissão de
valores, poderiam escolher a escola que estivesse de acordo com seu sistema de
pensamento. Assim, pais islâmicos poderiam escolher escolas islâmicas para seus filhos,
pais ateus poderiam escolher escolas atéias, pais liberais poderiam escolher escolas
liberais, etc. Essas opções não existem no Brasil. Mesmo em escolas confessionais,
vinculadas a determinada religião, é sentido o predomínio da doutrina esquerdista.

Nesse ponto, chegamos àquele que é considerado um princípio supraconstitucional, que


deve orientar a interpretação de todo o sistema normativo: a dignidade da pessoa
humana, ou seja, o ser humano é, no famoso dizer de Kant, um fim em si mesmo e
também o de quaisquer estruturas jurídicas ou sociológicas, como Estado, nação, povo,
governo, Administração Pública, partido político, classe social, etc. Assim, o único fim
é o ser humano, tudo o mais é instrumento que deve atuar em seu favor, não o contrário.

Assim também é o entendimento de Clemerson Merlin Cleve:


“(...) o Estado é uma realidade instrumental (...). Todos os poderes do Estado, ou
melhor, todos os órgãos constitucionais, têm por finalidade buscar a plena satisfação
dos direitos fundamentais. Quando o Estado se desvia disso está, do ponto de vista
político, se deslegitimando, e do ponto de vista jurídico, se desconstitucionalizando” .

O desrespeito à dignidade humana é evento cotidiano nas escolas brasileiras, seja pela
submissão dos alunos a ensino de péssimo nível, seja pela sua instrumentalização,
segundo a qual deixam de ser fins em si mesmos e tornam-se instrumentos para a
doutrinação ideológica.

A ironia histórica é que as constituições anteriores, mesmo as outorgadas em 1937 e


1967, referiam-se expressamente ao ensino no lar, enquanto a “Constituição Cidadã” de
1988 incluiu dispositivo autoritário que obriga a matrícula na rede formal de ensino,
desprezando a vontade dos pais. Nesse ponto, é relevante aprender com a tão criticada
constituição de 1937, que estabeleceu a ditadura do Estado Novo: “art. 125. A educação
integral da prole é o primeiro dever e o direito natural dos pais. O Estado não será
estranho a esse dever, colaborando, de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a
sua execução ou suprir as deficiências e lacunas da educação particular”.

A educação dos filhos é uma questão eminentemente privada que, como qualquer
questão privada, somente pode admitir a interferência do Estado quando esta revelar-se
não só benéfica, mas também imprescindível. A atuação estatal em todos os domínios
da sociedade, além de prejudicial ao bem-estar individual, é característica marcante dos
regimes totalitários e não das democracias. Naqueles regimes, todos os interesses
individuais devem estar subordinados ao Estado.

No caso relatado inicialmente, tem-se um procedimento que, sobre uma série de


sedimentos aparentemente legítimos, é, simplesmente, uma perseguição de cunho
ideológico. O Estado não aceita que os pais eduquem seus filhos de maneira diversa
daquela que é rigidamente estabelecida. Trata-se, por fim, de um nítido desrespeito à
liberdade de expressão.

A esse respeito, é extremamente pertinente o questionamento do filósofo Olavo de


Carvalho:

Será que não está na hora de tentar a única idéia que nunca foi tentada, isto é
desregulamentar e desburocratizar a educação brasileira, reservar ao governo um papel
meramente auxiliar na educação, deixar que a própria sociedade tenha o direito de
ensaiar soluções, criar alternativas, aprender com a experiência?

A história adquire contornos mais assombrosos com o fato de que os pais estão sendo
processados criminalmente, pelo Ministério Público, pelo crime de abandono,
exatamente o órgão que tem a missão fundamental de defender os direitos humanos. O
absurdo da medida pode ser constatado por outro fato extremamente significativo: no
caso relatado, os filhos, de 14 e de 15 anos, foram aprovados no vestibular da Faculdade
de Direito de Ipatinga (MG) em 7° e em 13° lugar, respectivamente.

A acusação baseia-se em uma interpretação literal e inconstitucional do art. 246 do


Código Penal, que incrimina a conduta de “deixar, sem justa causa, de prover a
educação primária de filho em idade escolar”. Ora, já está bastante provado que a
educação está sendo provida. De acordo com a citada reportagem: “Os meninos
aprendem retórica, dialética e gramática, aritmética, geometria, astronomia, música e
duas línguas estrangeiras – inglês e hebraico. Ao todo, estudam em média seis horas por
dia”.

Mesmo que a “educação primária” fosse considerada como a freqüência habitual à rede
formal de ensino, não haveria crime no caso, pois, como colocado na lei, a existência de
“justa causa” torna o fato atípico. Ora, motivos justos e razoáveis para retirar os filhos
da escola, definitivamente, não faltam no Brasil.

Modernamente, a doutrina penal somente tem aceitado a existência de crime quando


houver efetiva lesão ao bem jurídico protegido que, no caso, é a educação a ser
fornecida a qualquer criança e adolescente. Ora, se o bem o protegido não foi lesado
nem colocado em risco concreto, não há que se falar em crime. Punir conduta que não
provoca nem pode provocar nenhum prejuízo é como receitar um poderoso antibiótico
para alguém que não tem nenhuma doença. Além de não adiantar nada, ainda pode lhe
fazer mal.

Finalmente, a solução mais condizente com a proteção do indivíduo contra os


costumeiros excessos do Estado seria uma emenda constitucional nos seguintes termos:

“Art. 208, § 3º. O ensino fundamental obrigatório poderá ser ministrado no lar pelos
próprios pais, ou por professores qualificados contratados pelos pais. A lei definirá
apenas a comprovação anual do rendimento escolar, dando liberdade para a escolha ou
elaboração de currículo, sem nenhuma imposição de caráter político ou ideológico” .

Enquanto diversos grupos de interesses reivindicam o respeito às suas peculiaridades (o


chamado “direito à diferença”), sem nenhum tipo de discriminação, e até exigem do
Estado medidas protetivas”, como a ampliação dos casos de crimes de racismo, os pais,
no caso relatado, não utilizam nenhuma bandeira política ou ideológica nem querem
nenhuma providência do governo. Pelo contrário, querem apenas que seja respeitada sua
opção, personalíssima e indelegável, mesmo ao Estado, de educar seus filhos da forma
como consideram melhor.

Notas :

1 - “Casal luta na Justiça para que os filhos só estudem em casa”. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u416702.shtml. Acesso em
18.8.2008.
2 - Situações em que os pais, fortemente vinculados a um religião, consideram que o
ambiente escolar é prejudicial à formação da criança.
3 - Cf. Tábula Rasa, a Negação Contemporânea da Natureza Humana, de Steve Pinker.
4 - São todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem
sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando
dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Pesquisas
indicam que o bullying é universal, ou seja, ocorre em qualquer tipo de escola e em
diversos países.
5 - Cf., dos autores, a obra Better Late Than Early (em tradução livre, “Melhor Tarde
que Cedo”).
6 - MENDES, Gilmar at al. Curso de Direito Constitucional, p. 114.
7 - Idem, p. 359.
8 - Idem, p. 414.
9 - Idem, ibidem.
10 - Em rápida pesquisa ao site www.amazon.com, foram encontrados mais de 4.500
livros sobre homeschooling, demonstrando que a objeção, nesse caso, está bastante
fundamentada.
11 - 2006, p. 115-116
12 - Mendes, Coelho e Branco, op. cit., p. 156.
13 - Essa falta de realismo é bem ilustrada pela recente lei que inclui as matérias de
filosofia e de sociologia no 14 - currículo escolar. Seria uma escolha até que bem
defensável se não fosse por um detalhe: não existem bacharéis em filosofia e em
sociologia no número suficiente para ministrar essas matérias.
Publicada na Revista Veja, de 20 de agosto de 2008.
15 - Essa situação não poderia ser diferente pelo simples fato de que quase todos os
bacharéis formados em ciências humanas estejam vinculados ao esquerdismo.
16 - Citado por Binenbojm (2006, p. 72).
17 - Abandono intelectual. Disponível em:
http://www.olavodecarvalho.org/semana/080731dce.html. Acesso em 23.8.2008.
18 - Trata-se de interessante sugestão formulada por Julio Severo no artigo: O Direito
de Escolher: A educação escolar em casa no Brasil. Disponível em
http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4427. Acessado em 23.8.2008.

Bibliografia :

BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do Direito Administrativo. Rio de Janeiro:


Renovar, 2006.
CARVALHO, Olavo de. Abandono intelectual. Disponível em:
http://www.olavodecarvalho.org/semana/080731dce.html
COLLUCCI, Cláudia. Casal luta na Justiça para que os filhos só estudem em casa.
Jornal Folha de São Paulo, de 27.6.2008. Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u416702.shtml.
MENDES, Gilmar et al. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008.
MOORE, Raymond, Dennis e Dorothy. Better late than early: A New Approach to Your
Child's Education. Reader's Digest Association; 1st edition (August 1989).
PINKER, Steve. Tábula rasa. A negação contemporânea da natureza humana. São
Paulo: Companhia das Letras, 2004.
SEVERO, Julio. O Direito de Escolher: A educação escolar em casa no Brasil.
Disponível em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4427.
SILVA NETO, Manuel Jorge e. Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lúmen Juris,
2006.
WEINBERG, Mônica; PEREIRA, Camila. Você sabe o que estão ensinando a ele?
Revista Veja, de 20 de agosto de 2008.

... Luiz Carlos Formiga

> Dependência química - 1,3 bilhão de pessoas são dependentes do tabaco


Artigos

Eu sou apenas o que sou. Eu sou um moço-velho, que já viveu muito, que já sofreu tudo
e já morreu cedo. Eu sou um velho-moço, que não viveu cedo, que não sofreu muito e
não morreu tudo. Eu sou alguém livre, não sou escravo e nunca fui senhor. Eu
simplesmente sou um homem que ainda crê no amor. Do CD "Aos Mestres, com
carinho", de Silvio César.

O tema foi motivo em 2007 de edição especial da Revista de Psiquiatria Clinica, USP.
Agora em 2008 retorna, volume 35. Suplemento 1. Nova edição especial - Álcool &
Drogas - tendo como editor convidado o professor doutor Arthur Guerra de Andrade.
(7). No seu editorial "A importância do conhecimento científico no combate ao uso
nocivo de tabaco, álcool e drogas ilícitas ", o editor afirma que "o consumo indevido de
drogas lícitas e ilícitas é um sério problema de saúde pública que atinge de forma
preocupante todos os países do mundo. Estima-se que entre os anos de 2005 e 2006,
aproximadamente 200 milhões de indivíduos tenham consumido drogas ilícitas. Em
relação às substâncias lícitas, a situação não é menos preocupante: o consumo
prejudicial de álcool é responsável por quase 4% de todas as mortes no mundo, sendo a
principal causa de morte e invalidez nos países em desenvolvimento que apresentam
baixa taxa de mortalidade e o terceiro principal fator de risco para a saúde, após o
tabaco e a hipertensão arterial sistêmica, em países em desenvolvimento. No mundo há,
por sua vez, 1,3 bilhão de indivíduos que utilizam tabaco e essa substância responde por
4,1% da carga global de doenças, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)."

"Além de enfermidades e mortes, o consumo de drogas associa-se a uma série de


problemas psicológicos e sociais, estando os jovens situados no grupo de maior risco
para o uso experimental e possível abuso de substâncias, especialmente o álcool, o
tabaco e a maconha. Entre as possíveis conseqüências negativas, podemos mencionar
desintegração familiar, depressão, violência e acidentes de trânsito. Diante desse
quadro, continua o professor, "é fundamental o investimento no tripé prevenção:
educação, controle e tratamento. Todas as ações ainda devem estar embasadas em
evidências científicas que poderão auxiliar na compreensão da prevalência dos
problemas causados pelo uso indevido de substâncias e contribuirão para a identificação
das melhores estratégias de prevenção e tratamento".
No inicio do ano, tivemos o Seminário sobre Drogas no Movimento de Amor ao
Próximo (MAP) no Rio de Janeiro. As fotos estão no site, http://www.map.org.br/,
assim como o convite para outro Seminário que será realizado em 7 de setembro, agora
com alguns autores do livro que deverá ser relançado -
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.15.htm.

O dia 7 de setembro é especial para os brasileiros, mas 29 de agosto, para os espíritas.


Neste dia nasceu, em 1831, Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcante, em Freguesia do
Riacho do Sangue (CE). Conhecido como o "Médico dos Pobres" escreveu "A Loucura
Sob um Novo Prisma".

O filme "Bezerra de Menezes: o Diário de um Espírito" foi lançado no circuito de


cinemas de 40 cidades brasileiras. Depois de conhecer a Doutrina dos Espíritos que o
doutor Bezerra passou a ver com outros olhos os casos diagnosticados como doença
mental. Enquanto escrevia, minha filha me telefonou dizendo que não conseguiu
comprar entradas. Todos os lugares no cinema estavam ocupados. Que bom, pensei
comigo. Muitos vão conhecer o médico brasileiro através do cinema.

Lemos na Revista de Psiquiatria Clínica um prefácio com o título: Religião,


Espiritualidade e Psiquiatria: Uma Nova Era na Atenção à Saúde Mental. (1)

A palavra religião pode trazer aos desavisados algum desconforto, uma vez que produz
desconfiança. "religiosos" se tornaram materialistas. No entanto, apesar do discurso dos
que mercadejam a mediunidade para levantar grandes fortunas e apesar também dos
líderes que perseguem cargos, posições e títulos, a religião pode oferecer grande
contribuição à área de saúde, não só mental.

Naquela época em que o adepto podia parar na delegacia, doutor Bezerra foi destemido
diante do preconceito.
No prefácio da Revista de Psiquiatria, escrito pelo professor da Universidade de Duke
(1), podemos verificar números. Uma pesquisa on-line na PsycINFO, uma base de
dados que contém 2,3 milhões de pesquisas e artigos acadêmicos de 49 países em 27
idiomas, usando as palavras-chave "religion", "religiosity", "religious beliefs" e
"spirituality", revela algumas tendências interessantes.

Quando o professor restringiu os anos da busca de 1971 a 1975, foram identificados


1.113 artigos, mas ao repetir a pesquisa restringindo-a aos anos entre 2001 e 2005,
obteve 6.437 artigos, havendo um aumento de mais de 600% em 30 anos. Assim, parece
ocorrer um rápido incremento na pesquisa e discussão acadêmicas relacionadas à
relação entre religião, espiritualidade e saúde mental.

O médico Arthur Conan Doyle, criador da série Sherlock Holmes, escreveu no livro "A
História do Espiritismo" que: "os homens de ciência se dividem em classes, há os que
absolutamente não examinaram o assunto - o que não os impede de pronunciar opiniões
muito violentas." (2)

O Brasil é um país de contrastes. Cientistas podem ocupar lugar de destaque e serem


absolutamente ignorantes em relação a religiosidade. Na universidade ainda
encontramos o preconceito. Alguns professores bem informados procuram diminuir
distâncias.
Vamos a um exemplo: publicação britânica destaca papel da Unicamp na Inovação. "O
desempenho da Unicamp na geração de patentes é um dos destaques do livro Brazil: the
natural knowledge economy, que acaba de ser publicado pela editora britânica Demos.
O trabalho faz parte do Atlas de Idéias, um programa que pretende mapear a nova
geografia da ciência e da inovação no planeta. A Unicamp tem mais patentes requeridas
do que qualquer outra universidade brasileira, escreveu a pesquisadora britânica,
observando que 40% delas foram produzidas na área de química." (3)

Por outro lado, é de um professor da Unicamp o artigo que fala da "Excelência


Metodológica do Espiritismo" (4). Doutrina que surgiu a partir da pesquisa sistemática,
que afirma que o homem é um ser de natureza bio-psico-socio-espiritual.

O Supremo Tribunal Federal está diante dos fetos anencéfalos. Alguns ministros
desconhecem as leis do plano espiritual, o que poderá levar a tomar decisão geradora de
prejuízo aos espíritos que reencarnarem para viver alguns momentos. Alguns nem
desconfiam da finalidade desse tipo de experiência.
Muitos fetos nesta condição podem não possuir alma, mas outros há que nascem e
respiram. Será que minutos na carne podem ser de grande valia perispiritual? Doutores
em ciências jurídicas podem ser hipossuficientes nas espirituais.

André Luiz, pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, no capítulo


"Assistência Fraternal", do livro Libertação, edição da Federação Espírita Brasileira,
nos informa que a hipossuficiência é encontrada mesmo em espíritos já libertos do
corpo: "na maior parte dos presentes não surgia o mais leve traço de compreensão da
espiritualidade. Raciocínios e sentimentos jaziam presos ao chão terrestre, vinculados a
interesses e paixões, angustias e desencantos".

Em Religião, Espiritualidade e Psiquiatria: Uma Nova Era na Atenção à Saúde


Mental.(1) o professor Koenig diz que "muitos dos primeiros hospitais destinados ao
cuidado de pessoas com doenças mentais foram organizados por monges e sacerdotes.
O tratamento moral tornou-se o tipo dominante de cuidado psiquiátrico nos Estados
Unidos e Europa no começo do século dezenove. Entretanto, este cenário mudou no
início do século vinte com os escritos de Sigmund Freud na psiquiatria e de G. Stanley
Hall na psicologia. Esses autores acreditavam que religião gerava neurose e que teorias
psicológicas iriam substituir as religiões como propiciadoras de visão de mundo e fonte
de tratamento. Tais atitudes negativas em relação à religião não eram baseadas em
pesquisas científicas, mas primordialmente nas crenças e opiniões pessoais desses
pioneiros.

Como conseqüência, durante a maior parte do século vinte, o campo dos cuidados à
saúde mental subestimou e freqüentemente desqualificou as crenças e práticas religiosas
dos pacientes. Tais posturas estão refletidas em textos fortemente anti-religiosos escritos
ainda nas décadas de 1980 e 1990."

E, continua, "contudo, mudanças começaram a ocorrer na área da saúde mental na


década de 1990 e na virada para o século vinte e um. Investigações sistemáticas
passaram a demonstrar que pessoas religiosas não eram sempre neuróticas ou instáveis e
que indivíduos com fé religiosa profunda, na realidade pareciam lidar melhor com
estresses da vida, recuperar-se mais rapidamente de depressão e apresentar menos
ansiedade e outras emoções negativas que as pessoas menos religiosas. Além disso,
esses achados provinham não apenas de grupos de pesquisadores dos Estados Unidos,
mas também de cientistas no Canadá, Grã-Bretanha, Irlanda, Espanha, Suíça,
Alemanha, Holanda, outras áreas da Europa, Tailândia, Austrália, Nigéria, Egito,
Oriente Médio e Índia."

O que se encontra sobre a religiosidade, a espiritualidade e o consumo de drogas?

A Revista de Psiquiatria, no seu suplemento de 2007 (2), com Sanches, Z.M. & Nappo,
S.A., nos informa que a "religiosidade e a espiritualidade vêm sendo claramente
identificadas como fatores protetores ao consumo de drogas em diversos níveis. Eles
nos dizem que, além disso, os dependentes de drogas apresentam melhores índices de
recuperação quando seu tratamento é permeado por uma abordagem espiritual, de
qualquer origem, quando comparados a dependentes que são tratados exclusivamente
por meio médico." Concluem que "devido ao forte papel de assistência social das
religiões no Brasil, a exploração deste tema no contexto brasileiro seria de grande
relevância para a saúde pública."

Koenig, o professor da Universidade de Duke, diz ainda que "as pesquisas em


populações saudáveis sugere que as crenças e práticas religiosas estão associadas com
maior bem-estar, melhor saúde mental e um enfrentamento mais exitoso de situações
estressantes. Essas associações entre religiosidade e melhor saúde mental são
encontradas de modo marcante em situações de alto estresse."

Em tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina


- para obtenção do título de Doutor em Ciências. 2006, a pós-graduanda Zila Sanches,
estudou as práticas religiosas atuando na recuperação de dependentes de drogas.
Utilizou de método qualitativo, empregando técnicas de entrevistas semi-estruturadas e
observação participante.

Visitou 21 instituições religiosas dos segmentos católico, protestante e espírita, nas


quais foram contatados informantes que permitiram a entrada e acesso à cultura e a 85
ex-usuários de drogas que foram entrevistados em profundidade.

A doutoranda observou que a crise é o maior motivo de busca de tratamento, nos três
grupos, sendo representada pela perda de família, emprego e sujeição a fortes
humilhações.

Nas suas conclusões afirma que "o tratamento religioso para dependência de drogas
ganha espaço na saúde pública brasileira e compartilha responsabilidade com o serviço
de saúde convencional. Tais intervenções são consideradas eficazes pelos indivíduos
submetidos a elas e despertam a atenção destes pela forma humana e respeitosa pela
qual são tratados."

A doutoranda conclui ainda que "a maior potencialidade destes tratamentos está no
suporte social do grupo que os recebe, no acolhimento imediato e sem julgamentos. O
que mostra que o sucesso destas ações não se esgota num possível aspecto sobrenatural,
como se poderia supor, mas sim, em especial, na dedicação incondicional do ser
humano por seu semelhante."
Chamo a atenção que embora o sucesso destas ações possa não se esgotar num possível
aspecto chamado de "sobrenatural", certamente a intervenção dos benfeitores espirituais
é grandemente facilitada diante da generosidade inerente ao ser humano espiritualizado,
como foi exposto no artigo - Ciência, Filosofia Científica, Espiritismo e NEU (6).

O livro que será relançado no Seminário do MAP examina mensagens de Joanna de


Ângelis, psicografadas pelo médium Divaldo Pereira Franco, fazendo breves
comentários e trazendo também alguns depoimentos. Ele não traz o relato daqueles que
participaram da equipe de apoio fraterno. No entanto, a experiência de dois anos após a
criação do Serviço de atendimento a usuários de drogas em ambulatório do Instituto de
Psiquiatria da UFRJ "se apresentou como uma experiência rica em trocas com relação
ao desenvolvimento do trabalho em equipe, assim como pela busca de
reposicionamentos e conseqüente bem-estar para os pacientes."(5)

Os centros espíritas já estão conscientes de que podemos ajudar pessoas a se libertarem


da escravidão a que se submeteram. No livro "Libertação" vemos que a liberdade é
possível. No capítulo "Reencontro" aprendemos que "a prece ajuda, a esperança
balsamiza, a fé sustenta, o entusiasmo revigora, o ideal ilumina, mas o esforço próprio
na direção do bem é a alma da realização esperada."

Espíritos fragilizados são prejudicados pela dúvida. Emmanuel, no livro Fonte Viva,
adverte: "Não Duvides". Você que procurou o auxílio do Centro Espírita, não duvide do
tratamento espiritual, do auxílio generoso. "Em teus atos de fé e esperança, não permita
que a dúvida se interponha, como sombra, entre a sua necessidade e o poder do Senhor.
A hesitação no mundo íntimo é o dissolvente de nossas melhores energias. Quem
duvida de si próprio perturba o auxílio em si mesmo. Ninguém pode ajudar aquele que
se desajuda."

Comecemos nesta hora. Vamos permanecer libertos só por hoje. "Abandonemos a


pressa e olvidemos o desânimo. Vale trabalhar e fazer o melhor que pudermos, aqui e
agora, porque a vida se incumbe de trazer-nos aquilo que buscamos."

"Avançar sem vacilações, amando, aprendendo e servindo infatigavelmente - eis a


fórmula de caminhar com êxito, ao encontro da nossa Vitória."

Avancemos para a libertação. No livro, mãe e filho se abraçam. Ele diz depois de
tenebroso inverno. "Mãe! Minha mãe! Minha mãe!... Matilde enlaçou-o e exclamou: -
Meu filho! Deus te abençoe! Quero-te mais que nunca!"
"Verifica-se, ali, naquele abraço, espantoso choque entre a luz e a treva, e a treva não
resistiu..."

Notas
(1) http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.8.htm
(2) http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.17.htm
(3)http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2008/08/08/publicacao-britanica-
destaca-papel-da-unicamp-na-inovacao
(4) http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/exemet.html
(5) Cruz, M.S. et al. Inform. Psiq., 18 (1): 17-22, 1999.
(6)
http://www.cesevilla.divulgacion.org/modules.php?name=News&file=article&sid=153
(7) http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/

LUIZ CARLOS FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado.

... Luiz Gonzaga Pinheiro

> Ajustando a conduta: Agora vão colocar notas de rodapé !

Artigos

Recentemente a revista “Reformador” Nº. 2150-A, de maio de 2008, publicou a


seguinte nota: "Do encontro do Ministério Público Federal, no Estado da Bahia, e
algumas editoras espíritas, em especial a FEB, em virtude de representação dirigida a
esse órgão, solicitando-lhe providências no sentido de proibir a circulação das obras de
Kardec que conteriam, na visão do requerente, textos discriminatórios ou
preconceituosos, resultou a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta. Neste
as editoras se comprometem a inserir notas explicativas nos livros em questionamento,
evitando-se assim quaisquer interpretações indevidas a respeito dos textos citados."

Os textos se encontram, sobretudo, no livro “Obras Póstumas”: O negro pode ser belo
para o negro, como um gato é belo para um gato; mas não é belo no sentido absoluto,
porque os seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos
instintos; podem bem exprimir as paixões violentas, mas não saberiam se prestar às
nuanças delicadas dos sentimentos e às modulações de um espírito fino. E na Revista
Espírita do ano de 1862: Assim, como na organização física, os negros serão sempre os
mesmos; como Espíritos, são inquestionavelmente uma raça inferior, isto é primitiva.
São verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar.

Pena que tal ajustamento tenha demorado mais de 150 anos e que sua aplicação tenha
sido obrigada pela justiça. Logo mais serão os cientistas, ou melhor, qualquer aluno do
curso de ciências do ensino fundamental, que diante dos erros científicos contidos na
codificação espírita poderão fazer o mesmo e requerer outro ajustamento de conduta,
desta feita, em obediência às leis e ao avanço científico atual.

Terá sido falta de aviso? Certamente que não. Os primeiros e maiores deles partiram do
próprio codificador: Para se assegurar da unidade no futuro, uma condição é
indispensável, é que todas as partes do conjunto da Doutrina sejam determinadas com
precisão e clareza, sem nada deixar de vago; para isso fizemos de modo que os nossos
escritos não possam dar lugar a nenhuma interpretação contraditória, e trataremos que
isso seja sempre assim.

O caráter da Doutrina deve ser essencialmente progressivo. Ela não deve ficar
imobilizada sob pena de suicidar-se. Se uma nova lei é descoberta, deve a ela ligar-se;
não deve fechar a porta a nenhum progresso, assimilando todas as idéias justas, de
qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, não será jamais ultrapassada, e aí está
uma das principais garantias de sua perpetuidade.

O programa da Doutrina não será, pois, invariável senão sobre os princípios passados ao
estado de verdades constatadas; para os outros, não os admitirá, como sempre fez, senão
a título de hipóteses, até a sua confirmação. Se lhe for demonstrado que está em erro
sobre um ponto, modificar-se-á nesse ponto.

Para Kardec e para qualquer espírita de bom senso, nós, os encarnados, é que devemos
atualizar, aprofundar e aperfeiçoar a codificação, naquilo em que ela necessita de
adendos, uma vez que ainda é uma doutrina em construção. Logicamente devemos
contar com o apoio e a inspiração dos bons Espíritos em nossas pesquisas, mas esperar
deles respostas prontas e conclusivas sem o esforço exaustivo da busca, jamais.

Mas por que alguns espíritas consideram a Doutrina uma obra pétrea, da qual nada se
pode adicionar ou retirar? Por que se esquecem de que Espiritismo é, sobretudo, ciência.

Para quem considera o Espiritismo uma revelação exclusivamente divina, trazida aos
homens através de Espíritos superiores em 1857, nada mais lógico supor que a Doutrina
é um diamante já entregue lapidado, ou seja, jóia pronta e acabada. Se tudo quanto foi
dito saiu diretamente da boca de Deus, este não poderia ter se enganado em nenhum
aspecto. Mas para quem considera que Kardec foi co-autor, que uma boa metade do que
foi escrito é fruto de suas pesquisas, condensadas, remodeladas, aprofundadas e
aperfeiçoadas com seu próprio raciocínio, o enredo muda de cenário.

Para quem tem a lucidez de observar que as mensagens vieram de médiuns e estes
podem se enganar, introduzir idéias suas, a nível consciente ou inconsciente, dando
assim outra interpretação aos fatos, o panorama se altera.

Para quem recorda que àquela época não havia médiuns educados segundo as regras
espiritistas, uma vez que ainda seriam aglutinadas; que a cesta de bico, de escrita lenta e
mal elaborada, dava margem para interpretações equivocadas, a certeza de transmissão
mediúnica sem interferência anímica se esvai.

Para quem admite que a Doutrina foi coordenada sob a ordem de Espíritos superiores,
mas interpreta “superiores” com relação a nós, habitantes terrenos, e não superiores em
último grau, Espíritos puros, a necessidade de atualização parece óbvia.

Para quem se lembra de que Kardec Iniciou seus estudos sobre as mesas girantes em
1855, e em menos de dois anos já lançava a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”,
ou seja, admitindo-se que neste período de tempo é impossível a qualquer ser humano
dominar completamente assunto tão complexo como o que ele pesquisava, há uma
pedra no meio do caminho ou um porém no meio do texto.

Vou mais fundo neste tema. Contribuíram para elaboração da idéia espírita não apenas
Espíritos superiores, mas também inferiores, como consta em uma de suas importantes
obras, “O Céu e o Inferno”, pouco lida e pesquisada. Encravada em suas páginas, como
um rubi à cavidade de uma jóia, encontra-se contundente coletânea de testemunhos de
Espíritos em condições medianas, sofredores, suicidas, criminosos arrependidos e
Espíritos endurecidos, todos descrevendo suas condições espirituais, utilizadas como
ensinamentos e advertências para os aprendizes da Doutrina.

Quando notamos que o Espiritismo, Doutrina de excelência comprovada é mais


condensação, ordenação, seleção do que revelação, posto que tudo nele reunido, já
existia antes e tinha sido revelado em outras religiões e filosofias, inclusive entre os
iniciados pré-Jesus, somos tocados por certa dose de humildade.

A mesma humildade que Kardec aconselhava na interpretação e na atualização das


verdades, pois estas se modificam a cada esquina. Algumas pessoas podem pensar que
tenho a pretensão, mediante uma atitude de orgulho e prepotência, de alterar, modificar,
ou reescrever o “Livro dos Espíritos”. Só quem pode mudar a obra de um autor é ele
mesmo. O que quero é que a obra seja atualizada cientificamente através de notas de
rodapé, explicações em anexos no final da obra, ou como acharem mais conveniente,
conquanto que a atualizem.

A minha neurose, como chamam alguns, se deve a erros científicos apresentados na


codificação sem que ninguém diga: na época em que ela foi escrita pensava-se assim.
Hoje a ciência provou que é assado!

Felizmente a sociedade se anima a cobrar reparos. Devemos este grande favor ao


requerente, que muito contribuiu para o embelezamento, aperfeiçoamento e coerência
da Doutrina Espírita. Diria que ele fez mais pela Doutrina do que centenas que
defendem a sua estagnação sob o pífio argumento de manter a pureza doutrinária. Neste
caso, quem foi o defensor da pureza?

(*) Luiz Gonzaga Pinheiro, professor de Ciência e matemática e engenheiro, escritor e


conferencista (CE).

Este artigo também pode ser lido na


Revista HARMONIA, nº. 166
Caixa Postal 20.413
Kobrasol - São José - SC
Email: harmonia@floripa.com.br
Orkut: http://orkut.com/Community.aspx?cmm=4103548

... Humberto Schubert Coelho

> A Mediunidade na Literatura - Grécia

Artigos

Como este texto pretendemos abrir caminho para discussões e exposições de fatos
incontestavelmente mediúnicos, seja na exposição de obras da literatura clássica, seja no
processo de sua escrita.

É bem conhecida a importância dos poetas e literatos de todas as épocas sobre a religião
e a cultura. Muitas vezes são indivíduos positivamente inspirados, além de trazerem
grande bagagem de conquistas na área da sensibilidade e da memória, como
freqûentemente ocorre entre artistas. A vantagem da literatura está em que este campo
da Arte situa-se na fronteira entre a pura Arte, de um lado, e as Ciências Humanas e a
Filosofia, de outro. O argumento, portanto, está presente na grande obra literária, a
discursividade, a exposição mais ou menos racional dos temas, enfim, elementos que
pôem a Literatura em condição privilegiada para a transmissão de uma mensagem, mais
do que apenas um sentimento.
Sob o termo literatura também se englobam relatos menos artísticos, ensaios e trabalhos
de caráter mais teórico, de modo que os diálogos de Platão (428/427-348/347 a.C.) ou
os livros da Bíblia estão perfeitamente inseridos sob este termo.

Uma boa mostra da forte presença da mediunidade entre os gregos, e que nos ajuda a
compreender como eles tinham consciência do fenômeno, é a passagem do diálogo
platônico Timeu, onde os ministros do Deus Supremo, os deuses menores ou
"demônios", deveriam seguir a ordem de criar o corpo humano de modo que ele fosse o
mais próximo possível do Deus Supremo. Neste próposito, deram ao homem um órgão
(supostamente o fígado) que percebe a inspiração divina, destacando-se que a inspiração
não acomete aos homens mais sábios, mas aos mais tolos ou que parecem loucos:

Nenhum homem em sua sobriedade atinge o estado de inspiração divina profética, mas
quando ele recebe a palavra profética, ou a sua inteligência é afastada pela dormência,
ou ela se torna equívoca pelo estado de posssessão, e aquele que quiser interpretar as
palavras divinas, seja obtidas em sonho ou acordado, ou determinar racionalmente o
significado das visões de aparições, compreendendo os resultados destes fenômenos
para o bem ou o mal dos homens, no passado, presente ou futuro, deve primeiramente
recuperar sua sobriedade.

No entando, continua Platão:

Nem sempre um homem se lembra daquilo que disse em estado profético, de modo que
é conveniente haver uma ou mais testemunhas durante a profecia e as visões. Assim,
aqueles que estão em seu estado de perfeita sobriedade, podem interpretar melhor a
narrativa daqueles que estiverem inspirados.
(http://www.classicallibrary.org/plato/dialogues/17_Timaeus.htm)

Observa-se claramente que Platão não está defendendo um argumento, está meramente
descrevendo um fato, tal era a naturalidade com que lidava com fenômenos deste tipo.

Igualmente clara é a conclusão a que ele chega no Íon:

E assim Deus arrebata a mente dos poetas, e os utiliza como seus ministros, assim como
também usa adivinhos e os santos profetas, de modo que nós que os escutamos sabemos
que a sua fala não provém deles, e eles não pronunciam palavras vazias neste estado de
inconsciência, mas é o próprio Deus quem fala, e através deles Ele conversa conosco.
(http://www.classicallibrary.org/plato/dialogues/8_Ion.htm)

Somando-se os dois relatos percebemos que o estado profético ou inspirado, descrito


pelo filósofo, tem importantes implicações científicas. Como Kardec, ele (ou talvez seu
mestre Sócrates) parece ter avaliado rigorosamente o processo a ponto de formular uma
compreensão teórica bastante correta da fenomenologia mediúnica. Estão perfeitamente
descritos o estado de passividade do médium e o fato de a comunicação não provir dele,
o caráter transcendente da comunicação, o fato de poder se processar no sonho ou no
estado de transe, o fato de a mediunidade ser, muitas vezes, uma missão atribuída aos
"ministros de Deus".

Platão também dava a entender, nestas e em outras obras, que o estado profético destes
inspirados podia ser utilizado por outros para obter informações sobre a realidade maior,
para além do mundo dos sentidos. Muitos dos conhecimentos platônicos parecem ter
sido obtidos por esta via, conforme ele mesmo admite, embora os historiadores prefiram
imaginar que ele os obteve alhures, da Ásia Menor, da Índia, do Egito.

Lembramos também que era costume entre os gregos consultar as pítias (ou pitonisas),
seja no famoso oráculo de Delfos, seja em lugares e seitas menos famosos. Os relatos de
Heródoto (482-420 a.C) e a literatura grega deixam a entender que as sacerdotisas do
templo profetizavam tanto por "encomenda" quanto espontaneamente.

Também não nos perderemos na imensidão dos relatos mitológicos, que entre uma
fantasia e outra sugerem fenômenos de vista mediúnica, incorporação, previsões, etc.;
nem na evidência direta da inspiração através das "musas". Atentamos tão somente, a
título de exemplo, à obra madura de Homero (c.850 a.C), a Odisséia, onde ele dá
importantes indícios de que as práticas mediúnicas lhe eram comuns.

No Canto XI, quando Odisseu (ou Ulisses) tem de descer ao Hades, ele encontra a
sombra de sua mãe. Após as apresentações e explicações necessárias o herói tenta
abraçá-la três vzes, e não a podia tocar, percebendo que ela se desvanecia como uma
sombra ou como se fora "feita de sonho". Indignado, ele pergunta à mãe o que ocorre, e
ela lhe responde:

(...) Está é a condição de todo homem mortal quando morre, pois os nervos já não unem
mais carne e ossos:
A potente energia do fogo o consome todo quando toda a vida abandona a branca
ossada e o princípio vital se nos torna o mesmo que um sonho.
Mas procura volver o quanto antes à luz, e recorda de tudo isto, de modo que possa
contá-lo à tua esposa.
(Homero, Odisea. Buenos Aires: Planeta, 2007. p. 195)

Percebem-se diversas características interessantes neste encontro. A primeira é o modo


com que ambas as personagens se expressam sobre a substância da mãe, que "parece um
sonho", sugerindo claramente que a viagem de Odisseu ao Hades não foi feita em
sonho, mas que ele estava desperto diante dos mortos e podia constatar serem eles
formados de outra substância.

A segunda informação importante é a recomendação da mãe de que ele deveria recordar


do que se passou, recomendação importante, considerando-se que o próprio Platão já
havia dito em sua análise da mediunidade que "[...] ou a sua inteligência é afastada pela
dormência, ou ela se torna equívoca pelo estado de possessão [...]". Homero, muito
antes de Platão, apresenta a mesma idéia , sugerindo a necessidade de um esforço
posterior ao contato com os mortos, no sentido de se recordar do ocorrido.

Por fim, não é menos importante, embora sutil, a recomendação da mãe de Odisseu para
que ele "conte à esposa" o que se passou. É o caráter prático da comunicação, e denota o
interesse caritativo do Espírito em instruir e alertar os encarnados. Em toda a literatura,
seja a mais artística ou mais ensaística, os relatos mediúnicos geralmente recomendam a
divulgação ou a transmissão da informação a outros. Só em raríssimos casos, quando a
informação envolve riscos para alguém, há recomendações para que se mantenha o
segredo.
A obra de Homero tem duas grandes vantagens: a de ser uma obra de formação da
própria cultura helênica, estabelecendo paradigmas da própria religião a partir daí, e a
de expressar um virtuosismo literário até hoje admirável, dando idéia de quão
impressionante deve ter sido para a Grécia num momento em que ela sequer havia
estabelecido a sua civilização.

A viagem de Odisseu ao Tártaro também se tornou um paradigma na literatura


ocidental. Virgílio (c. 70-19 a.C.) faz o seu Enéias descer ao mundo dos mortos, cerca
de oito séculos depois de Homero, e depois Dante (1265-1321 d.C.) descreve na Divina
Comédia uma viagem ao Inferno, passando pelo Purgatório, ao Céu, tomando a sombra
de Virgílio como guia nesta inusitada peregrinação, mais de mil anos depois de seu
conterrâneo da Roma Antiga.

Por este motivo, a Odisséia tem a prerrogativa de haver despertado as intuições latentes
de inúmeros outros pensadores e artistas, os quais a partir de então estariam sempre
mais próximos de semelhante viagem ao mundo dos mortos.

... Occultism & Parapsychology Encyclopedia

> As personalidades controles ou guias espirituais dos médiuns espiritualistas

Artigos

"Controle" é um termo que designa uma entidade espiritual que funciona, "do outro
lado", com um médium e que se encarrega dos procedimentos da sessão enquanto o
médium está em transe. Tal operador pode ser chamado também de "guia". Geralmente
o termo implica uma assistência persistente de uma personalidade distinta e contínua
que usa o corpo do médium enquanto em transe. Alguns controles, como "Fletcher" de
Arthur Ford, ficaram quase tão famosos quanto ao médium. Em algumas passagens, o
controle se assemelha às entidades regulares que falam através de canais e dão um
conjunto de ensinamentos. De fato, controles freqüentemente passam uma breve
mensagem no início das sessões, mas sua função primária é dirigir o contato ordenado
de várias entidades espirituais com as pessoas presentes. O motivo aparente de controles
é fazer bem, para ser útil, e trabalhar sua salvação.

Espiritualistas, que visualizam o médium como uma ponte para um mundo repleto de
entidades espirituais, acreditam que o controle apresenta uma variedade de funções
durante a sessão: fornecendo diretamente mensagens ou repassando-as aos assistentes,
mantendo a ordem entre aqueles que se apressaram para a "luz" (emanada do "outro
lado"), mantendo afastados espíritos pouco desenvolvidos ou perversos, e saindo
ocasionalmente do caminho para permitir uma entidade comunicar-se diretamente com
os outros.

Espiritualistas alegam que o corpo do médium é um instrumento que exige considerável


prática para manejo eficiente. O controle é um perito em comunicação que vigia a
fluência dos procedimentos e freqüentemente intromete-se para explicar ou repetir
expressões ininteligíveis. O aspecto dialogável das sessões é largamente devido à
presença do controle.

A natureza da entidade controle e a maneira pela qual os controles funcionam


permanecem obscuras. Existe, é claro, uma variedade de opiniões sobre exatamente o
que um controle é. Hoje, muitos não-espiritualistas, especialmente cientistas
psicológicos, consideram o controle uma parte da personalidade do médium. Outros -
até mais céticos, levam em conta a quantidade significativa de fraudes encontradas entre
médiuns no início do século XX - tendem a considerar os controles como criações
mundanas dos médiuns. Os espiritualistas sugerem que a assistência a longo prazo dos
controles de médiuns seja considerada, no outro lado, como uma espécie de trabalho
missionário, ou como uma oportunidade ocasional para pesquisa experimental.

Algumas das partes mais críticas da evidência a ser considerada na avaliação da


natureza dos controles espirituais sugerem que algumas entidades nas sessões podem ser
personalidades artificiais criadas a partir das atitudes e dos pensamentos inconscientes
dos assistentes. Em setembro de 1972, um grupo de experimentadores na Toronto
Society for Psychical Research no Canadá criou uma entidade artificial chamada
"Philip", meditando numa história para ela, em suas características e aparência,
previamente escolhidas pelo grupo. Depois de resultados negativos por quase um ano, o
grupo adotou o método da sessão Espiritualista convencional e logo recebeu mensagens
de Philip através de raps na mesa. Alguns guias espirituais e controles obviamente são
sintéticos e ilusórios, como na criação deliberada de Philip; Porém, pode ser que a
aceitação momentânea deles como personalidades reais possa influenciar
favoravelmente os fenômenos paranormais.

As qualidades humanas dos Controles

Existe um elemento humano no processo de estabelecimento dos controles. Entre as


entidades espirituais, pode haver uma luta para o cargo, e um controle estabelecido pode
ser substituído por outro, como testemunhado no caso de Leonora Piper. A luta pelo
controle é freqüentemente levada ao médium por comunicações quebradas e
movimentos espasmódicos da mão ou do viajante na tábua ouija.
O caráter e a limitação dos controles também suportam a condição humana. Eles podem
ter uma grande experiência na vida no além, e ainda, em resposta a questões, eles
freqüentemente confessam a ignorância e respondem que irão indagar de um outro que
possa saber. Eles tendem a serem pacientes, e durante os tempos de fenômenos físicos
estavam dispostos a produzi-los para a satisfação dos assistentes. Mas eles parecem
avessos a ordens dadas; eles esperam um tratamento cortês, apreciam o que eles fazem e
têm seus próprios caprichos. Freqüentemente eles trazem uma atmosfera religiosa, mas
poucos deles parecem dispostos à santidade. "Walter," o controle de Mina Crandon
(Margery) praguejava livremente se algo lhe descontentasse e mandava opositores
irritantes ao inferno. Em sua íntegra indignação contra Houdini, ele o acusou de trapaça,
jurou-o terrivelmente, conjurou severamente maldições para ele e usou o linguajar mais
terrível.

"Eyen," o controle egípcio da Sra. Travers Smith (Hester Dowden), que alegava ter sido
um sacerdote de Ísis no reinado de Ramses II, também amaldiçoou e jurou versos contra
um membro do círculo que o expulsava através de sugestão hipnótica dada ao médium.
"Peter", outro controle de Smith, era semelhante a "Walter," e se vinculava ao círculo
para satisfazer a sua própria curiosidade e conduzir experiência psíquicas do outro lado.
Ele era excelente em inventar testes, mas seu caráter deixava a desejar.

O poder dos controles constantes é normalmente maior que o dos comunicadores


incidentais, e freqüentemente parece ser específico. "Eu tenho somente poderes para
vozes," disse Cristo d'Angelo, quando foi solicitado a ser o controle nas sessões de
Rossi. Existe um curioso paralelo com as semelhantes limitações dos médiuns,
sustentando a teoria que o controle, em relação a outros espíritos, é igual a um psíquico,
assim como o médium está em relação aos assistentes. Por exemplo, no caso Cristo
d'Angelo, alguns espíritos, quando eram muito fracos para alcançar o assistente em suas
próprias vibrações de voz, vinham através do controle, e resultava numa mistura de
inflexão e predomínio ocasional do timbre do controle.

Durante o período que médiuns estavam sob extenso exame, os controles tornavam-se
centrais para os efeitos físicos (um entendimento que deve ser integrado à crença de que
a maioria dos médiuns físicos foi descoberta em alguma forma de fraude).
Conseqüentemente, os controles com freqüência tinham ajudantes (alguns os chamariam
de "confederados"); outro espírito preparava fenômenos físicos difíceis enquanto uma
mensagem estava sendo entregue. Estes ajudantes às vezes auxiliavam também o
controle, aumentando a coerência das mensagens.

Muitos exemplos de erros crassos cometidos por controles foram registrados nos
escritos de Stainton Moses. Uma vez, pesados volumes de fumaça fosforescente foram
produzidas, assustando o médium à medida que ele estava envolto no fogo. Foi
posteriormente explicado que um acidente aconteceu durante a produção das luzes
psíquicas. Outra vez, uma experiência de produção de perfume falhou e o assistente foi
retirado do aposento em razão de um fedor insuportável.

Às vezes a ocorrência de um dano ao médium era reportada devido à negligência ou a


descuidada carência de poder dos controles. Ocasionalmente controles falhavam em
suas capacidades como porteiros, e elementos indesejáveis, malignos invadiam a sala de
sessão. Em tais casos, eles imediatamente ordenavam o fim da sessão. Quando o
médium acordava do transe, o controle desaparecia. O controle não podia se comunicar
mais, mas poderia estar alerta e desejoso a enviar uma mensagem. Sra. Piper
ocasionalmente recebia tais mensagens por suas próprias filhas em transe.

A presença do controle era percebida por vários meios. A voz em fala direta, a
disposição da caligrafia ou a sensação experimentada na escrita automática, o estilo
peculiar de batidas ou o balançar da mesa, ou os maneirismos reveladores da identidade
do controle. Observações fisiológicas podem ser também exibidas. Sir Arthur Conan
Doyle descobriu que a pulsação média de John Tichnor batia a 100 quando controlado
por "Coronel Lee", 118 quando sob o controle de "Black Hawk", e 82 quando normal.

Um caso curioso de dois controles conversando audivelmente, cada um usando seu


próprio médium, foi testemunhado nas sessões de Mina Crandon, quando a outra
médium, Srta. Scott, também caiu em transe. O controle, "Walter," que estava
encarregado da sessão do outro lado, instruiu ao espírito de Sra. Scott, mãe da médium,
como proceder, quando começar e quando parar de falar.

O elemento pitoresco

As alegações dos controles de terem existido anteriormente como humanos encarnados


apresentam outro problema em suas avaliações. A maior parte dos controles alega uma
vida distante e discreta que afronta qualquer verificação. O controle de D. D. Home
sempre falava no plural e nunca dava seu nome. Stainton Moses era ocupado por uma
liga organizada de controles que incluíam personagens bíblicos, filósofos, sábios e
personalidades históricas. Os personagens bíblicos chamavam-se "Imperator"
(Malaquias), "Preceptor" (Elias), "O Profeta" (Haggai), "Vates" (Daniel), "Ezequiel",
"Theophilus" (São João Batista), "Theosophus" (São João, o Apóstolo), e "Theologus"
(São João, o Divino).

Os filósofos e sábios incluíam uma seleção prestigiosa entre famosos e poucos


desconhecidos: Solon, Platão, Aristóteles, Sêneca, Athenodorus (Doctor), Hippolytus
(Rector), Plotino (Prudens), Alexander Achillini (Philosophus), Algazzali ou Ghazali
(Mentor), Kabbila, Chom, Said, Roophal e Magus. Moses esteve atravessado de dúvidas
por muito tempo sobre a identidade deles e finalmente concluiu que, "julgando como eu
gostaria de ser julgado, eles são o que pretendem ser".

Imperator era um dos controles espirituais mais antigos, mas ele foi precedido por quase
mil anos pela "Senhora Nona" (a guia de "Rosemary"), que alegava ter vivido no Egito
no tempo dos faraós. "Black Hawk", o controle de Evan Powell, insistia que um livro
tinha sido publicado a respeito dele na América. Em 1932 o livro foi encontrado; foi
impresso em 1834 em Boston.

Existem vários exemplos em que o mesmo controle se manifestou por diferentes


médiuns. Eles prestavam favores particulares a um médium de cada vez, porém, na
morte do médium o poder é passado para um outro. "John King", que também alegava
ter sido Sir Henry Owen Morgan, um rei pirata, primeiro apareceu nas sessões de
Davenport e manifestou-se nas sessões de outros médiuns por muito tempo, enquanto
"Katie King", filha dele, parecia ter passado para uma esfera mais elevada depois de se
despedir de Florence Cook. Katie, porém, fez um retorno inesperado ao círculo do Dr.
Glen Hamilton em 1932. Roy Stemman reportou que Katie King materializou-se em
Roma, em julho de 1974, com o médium Fulvio Rendhell.
Controles nativo-americanos

Nativo-americanos atingiram um status especial dentro dos círculos Espiritualistas,


assim habitualmente eles atuavam como controles. O Espiritualismo, de fato, apresenta
uma das tentativas mais antigas em construir uma imagem positiva dos nativo-
americanos entre o público europeu-americano (europeus ou descendentes de europeus
que residem nos EUA). Estes controles usam nomes românticos ou simplesmente
indianos; por exemplo, "North Star" (Gladys Osborne Leonard), "Red Cloud" (Estelle
Roberts), "White Feather" (John Sloan), "Greyfeather" (J. B. Johnson), "Grey Wolf"
(Hazel Ridley), "Bright Eyes" (May Pepper), "Red Crow" (F. F. Craddock), "Black
Hawk" (Evan Powell), "Black Foot" (John Myers), "Red Jacket" (Dr. C. T. Buffum) e
Emily French, "Old John" e "Big Bear" (Dr. Charles B. Kenney), "Hawk Chief" e
"Kokum" (George Valiantine), "Moonstone" (Alfred Vout Peters), "Tecumseh" (W. H.
Powell), e "Segaske" (T. d 'Aute Hopper). Poucos dos guias nativo-americanos
ultrapassaram a fama de "White Eagle" e "Silver Birch", controles de dois médiuns
britânicos famosos, Grace Cooke e Maurice Barbanell, respectivamente.

Em outras nacionalidades, principalmente naquelas identificadas com culturas que


ensinam a sabedoria antiga, freqüentemente também acontecia, como "Tien-Sen-Tie" (o
guia chinês de J. J. Morse), "Eyen" (um guia egípcio de Hester Dowden), e "Feda" (o
guia indígena asiático de Gladys Leonard). Além de Hooper ser freqüentado por um
faquir, Annie Brittain por uma criança Senegalesa e Eileen Garrett por um controle
árabe. Não obstante, os controles nativos americanos eram a maioria.

Nas fotografias de espíritos, os controles nativo-americanos apareciam em imagens


populares, com longos tufos de cabelo no topo da cabeça raspada e mantos tribais. O
primeiro organizador deles pareceu ter sido John King, salvo, antes do aparecimento
deste romântico pirata, os primeiros controles indígenas manifestados nas comunidades
Shakers na América. Eles vinham coletivamente, como uma tribo. Um golpe era ouvido
na porta e, quando o espírito era convidado, eles possuíam a todos. Gritos indígenas
ecoavam na casa; os obsidiados falavam línguas nativas entre si e dançavam danças
nativo-americanas.

Os espíritos nativo-americanos não ensinavam qualquer coisa. Pelo contrário, os


Shakers chegaram à conclusão que eles tinha que ensinar e converter os espíritos. O
trabalho dos Shakers era o início do que mais tarde se tornou conhecido nos grupos
Espiritualistas como um círculo de salvação. As visitas aconteceram entre 1837 a 1844.
Quando os espíritos partiram, eles informaram a seus instrutores (aos Shakers) que
retornariam logo e invadiriam o mundo, entrando em palácios e cabanas. Mas
geralmente os controles nativo-americanos restringiam suas atividades a manifestações
físicas.

E. W. Wallis, co-autor com M. H. Wallis de Guide to Mediumship, escreve: "muitos


espíritos indígenas tornam-se amigos verdadeiros e fiéis. Eles agem como 'porteiros'
protetores, por assim dizer - para com seus médiuns. Eles fazem o trabalho duro de
desenvolvimento no círculo e previnem a intrusão de espíritos indesejáveis. Às vezes
eles são tempestuosos e exuberantes em suas operações e manifestações e, enquanto nós
não compartilhamos dos pré-julgamentos que são expressos contra eles, nós pensamos
ser sábio exercitar a influência contida nas demonstrações deles. Eles geralmente
possuem forte poder de cura e freqüentemente põem seus médiuns num curso de
exercícios calistênicos - que, embora benéficos à saúde do médium e, na presença de
alguns amigos, podem passar sem comentários adversos, provavelmente seriam
criticado se apresentados a uma assembléia pública".

Aparte dos nativo-americanos, e na luz da discussão contemporânea da criança como


um elemento no "eu" subconsciente do indivíduo, crianças forneceram o grupo mais
interessante de controles. Entre os mais conhecidos estão "Feda" (Gladys Osborne
Leonard), "Nelly" (Rosina Thompson), "Dewdrop" (Bessie Williams), "Sunshine"
(Anne Meurig Morris), "Little Stasia" (Stanislawa Tomczyk), "Nina" e "Yolanda"
(Elizabeth d'Esperance), "Belle" (Annie Brittain), "Bell" (Florence Perriman),
"Harmony" (Sussannah Harris), "Snow Drop" (Maud Lord Drake), e "Pocka" (Srta. C.
E. Wood).

Antes de Emanuel Swedenborg, o elemento humano era amplamente carente do contato


espiritual. Paracelso, por exemplo, conversava com criaturas elementares; O espírito de
John Dee visto em "shew stone" não foi identificado com um homem; e sonâmbulos
acreditavam ser possuídos pelo diabo ou pelo Senhor. Os primeiros controles como
guias espirituais apareceram nas experiências de G. P. Billot na França, por volta de
1820. Os espíritos que possuíam os médiuns dele alegavam ser os anjos da guarda
destes. Alguns controles alegavam ser espíritos puros (nunca encarnaram), como "Little
Stasia" de Stanislawa Tomczyk e "Nona" de Lujza Linczegh Ignath.

Controle de um vivo

Em vários casos registrados, as mensagens fornecidas pelo médium foram provada


terem sido emanadas de indivíduos vivos. Isso introduz a importante questão se o vivo
pode atuar como controle. Descobriu-se que as mensagens dos vivos freqüentemente
viam sem o conhecimento deles, na maioria dos casos, quando eles estavam
adormecidos. Isto sugeriria que ocasionalmente a entidade espiritual comunicante
poderia também estar inconsciente do que faz - poderia estar sonhando através do
médium. As repetidas declarações dos controles da Sra. Piper de que eles têm que entrar
num estado de sonho para se comunicar dá uma curiosa direção a esta idéia.

O francês Allan Kardec e o americano John Edmonds foram os primeiros a declarar que
as comunicações espirituais podem emanar dos vivos. Em seu Spiritual Tracts (24 de
outubro de 1857), Edmonds escreve:

"Num dia, quando estava em West Roxbury, chegou-me por Laura [a filha dele], uma
médium, o espírito de alguém com quem eu fui bastante familiarizado, mas de quem eu
estava separado faz uns quinze anos. Ele tinha um caráter muito peculiar - alguém
diferente de qualquer outro homem que eu já conheci, e então fortemente assinalei que
era difícil me enganar sobre a identidade dele. Eu não o via há vários anos; ele não
estava de nenhuma maneira na minha mente no momento, e ele era desconhecido da
médium. Ainda assim ele identificou-se de modo inequívoco, não apenas por suas
características peculiares, mas referindo-se a assuntos conhecidos apenas por ele e por
mim. Com isto considerei que ele estava morto, e fiquei surpreso depois de saber que
ele não estava. Ele ainda estava vivo... e desde então tenho conhecimento de muitas
manifestações semelhantes, de forma que eu não posso mais duvidar do fato que às
vezes nossas comunicações vêm tanto dos espíritos dos vivo como também dos mortos".
Outros casos interessantes podem ser encontrados em Seen and Unseen (1907) de E. K.
Bate, The Fringe of Immortality (1920), de M. Monteith, Animismus und Spiritismus
(1890) de A. N. Aksakov e There Is No Death (1892) de Florence Marryat.

Num exemplo o espírito de Florence Marryat foi evocado quando ela estava dormindo.
Na experiência da autora, os espíritos dos vivos invariavelmente pedem para voltar ou
serem permitidos a ir, como se eles estivessem acorrentados à vontade do médium.
Entres seus dons mediúnicos, Marryat alegava o poder de evocar os espíritos dos vivos.

Alguns dos primeiros clarividentes sugeriam que a única diferença perceptível entre os
espíritos de vivos daqueles dos mortos era que uma delicada linha de luz aparecia no
processo daqueles, aparentemente unindo-os ao corpo físico distante. Alguns
clarividentes modernos reivindicavam ter descoberto outra distinção. O espírito
encarnado parece inanimado, morto, como uma estátua, enquanto que o desencarnado é
intensamente vivo.

Catherine Berry escreve em Experiences in Spiritualism (1876): "a mesa no mesmo


instante começou a girar de uma extraordinária maneira, de forma que nós dificilmente
podíamos segurá-la. Nós perguntamos qual era o assunto, e foi soletrado 'Nós estamos
navegando e contornando o cabo e devermos estar em casa em três dias'. Nós não
sabíamos o que isto queria dizer. Alguém sugeriu que nós devíamos perguntar o nome a
quem isso se referia. Um cavalheiro presente então, de uma vez, disse 'é você, Alfred?'
Resposta: 'Sim.' 'Então você está a bordo do Great Eastern?' 'Sim.' Vocês estão bem?'
'Sim.' Neste momento, eu devia dizer, não se escutava sobre o navio por dez dias ou
duas semanas; e exatamente no fim dos três dias o navio chegou. Este espírito "Alfred"
estava encarnado no momento e também agora; e embora ele tenha sido questionado,
ele nada sabia das circunstâncias ou de ter desejado enviar-nos tal comunicação".

A história de uma comunicação por batidas de um homem vivo é informada na Revista


Espírita, em janeiro de 1911 por uma Sra. Bardelia. Esta médium reportou a ocorrência
sob a observação de Gustave Le Bon. Aconteceu em 1908 em St. Petersburg. O gerente
do hotel onde o médium estava pediu a gentileza de uma sessão. Ele estava ávido para
conseguir uma mensagem de seu pai, que morrera recentemente. O gerente ficou
insatisfeito quando, com a ajuda do alfabeto, as primeiras batidas disseram um nome
bastante diferente do que ele esperava. O sobrenome brevemente seguiu-se, e ele
exclamou, "por que, este é o nome de meu melhor amigo; mas ele certamente não está
morto, eu recentemente ouvi sobre ele num hotel em Moscou, onde ele está
empregado." Tanto o gerente quanto a médium ficaram surpresos, e Bardelia buscou
informações adicionais. O espírito contou: "eu não estou morto, mas num estado de
coma; eu devo morrer hoje à noite." O gerente perguntou, "você está em seu hotel?"
"Não, no hospital," foi a resposta. As batidas cessaram.

O gerente, ainda cético, disse que imediatamente telefonaria para Moscou a fim de
verificar a mensagem. Algumas horas mais tarde ele retornou, muito pálido e excitado.
Um porta-voz do hotel disse que, delirando e morrendo, seu amigo tinha sido removido
ao hospital de manhã e não se esperava que vivesse à noite.

Sra. J. H. Conant, uma médium americana, podia manifestar-se a outros médiuns


enquanto seu corpo estava em transe e sob o controle de um espírito.
Wsevolod Solowiof, um conhecido escritor russo, e automatista que normalmente
produzia escritos exemplares, numa ocasião escreveu o nome "Vera". Numa
investigação foi obtido que um parente dele estava se comunicando. "Sim; eu durmo,
mas eu estou aqui, e eu vim para lhe dizer que nós devemos nos encontrar nos jardins de
verão". Isto aconteceu. Além disso, a jovem menina contou a sua família que sonhara
visitar seu primo e de ter dito a ele sobre o encontro.

Hereward Carrington, em seu prefácio para The Projection of the Astral Body (1929) de
Sylvan J. Muldoon, narra sua tentativa pessoal numa projeção para aparecer a uma
determinada jovem senhora, uma perfeita pianista, com uma memória musical
fenomenal: "um dia, eu perguntei a ela, se já ouvira falar de uma velha canção,
'Sparrows Build', famosa há anos atrás, de Jenny Lind, e uma das favoritas de minha
infância. Ela declarou não conhecer. Eu disse que, se conseguisse a cação, enviaria
alguma hora uma cópia, pois pensei que ela gostaria disto. E no momento nada mais foi
dito a respeito e nenhuma importância em particular esteve ligada a isto. Algumas noites
mais tarde eu tentei aparecer a ela, e como sempre, eu despertava de manhã sem saber
se minha experiência teve 'sucesso' ou não. Um pouco mais tarde eu recebi uma
chamada telefônica e a jovem senhora em questão informava-me que eu apareci a ela à
noite anterior - bem mais vivamente que o habitual - e que por causa disso ela teve um
impulso a escrever automaticamente - o resultado sendo um verso de poesia. Naquela
tarde, eu a visitei, fui informado da experiência, foi-me mostrada a poesia e confessei
que fiquei momentaneamente bastante estimulado. A poesia consistia nas linhas iniciais
da canção 'When Sparrows Build', absolutamente precisa, com exceção de uma
palavra".

O caso Gordon Davis registrado por S. G. Soal nas Atas da Society for Psychical
Research (vol. 35) é um dos casos mais famosos em toda a pesquisa psíquica. Numa
série de sessões com Blanche Cooper em 1922, uma voz bem sucedida emergiu, a qual
Soal reconheceu como a de Gordon Davis, um conhecido que aquele acreditava ter
morrido na guerra. Detalhes sobre a casa e a família foram fornecidos de uma maneira
muito convincente. Três anos mais tarde, Soal encontrou Davis, ainda bem vivo. Ele
nada sabia das comunicações que pareciam ter vindo dele. Vários casos semelhantes são
registrados por W. Leslie Curnow num artigo de 1927 na Psychic Science.

Shamar, o controle hindu de Hester Dowden, era especializado em trazer


comunicadores vivos. Num exemplo, o nome de um amigo íntimo (de Hester Dowden)
foi bem sucedido: "ele (o amigo) declarou não estar dormindo completamente e assim a
mensagem entraria aos poucos, o que sucedeu. Ele disse que estava sentado diante da
lareira em sua sala de visitas; ninguém mais estava no aposento. Eu pedi a ele para
entregar a minha irmã uma mensagem minha; ele disse, 'Desculpe, eu não consigo; eu
esquecerei de tudo isso quando despertar'. Ele então disse adeus e que ele não poderia
falar mais quanto mais acordado estivesse ficando".

Sir Lawrence J. Jones, em seu discurso presidencial a Society for Psychical Research
em 1928, estendeu-se sobre a mediunidade de Kate Wingfield, dizendo, "em quatro
ocasiões diferentes minha menina mais jovem, de nove anos, professou, durante seu
sono, controlá-la, falando com grande animação e muito caracteristicamente. Em
primeiro lugar, ela (a menina) estava em Ripley, umas quinze milhas de Wimbledon,
onde K. Wingfield estava. Mais tarde em Valescure ela estava dormindo ou na mesma
casa ou numa vila vizinha. Na primeira ocasião, foi perguntado a criança, depois de
algum diálogo, "que tal a roupa do marinheiro?" A resposta veio: "nós fomos a uma
loja. mamãe acabou de dizer, 'Você joga aquelas coisas fora. Isto é da altura dela.' E eles
pegaram-nas; nada mais há para ser feito, nada mudou - eles acabaram de mandá-las
para casa. É disso que eu gosto".

Essa foi uma versão correta do que aconteceu naquela tarde. A criança tinha sido levada
por sua mãe a Londres, mas nenhum de nós foi a Wimbledon neste dia, então K. e os
outros membros do círculo apenas sabiam que havia um plano para comprar uma roupa
de marinheiro. Aqui o guia de Herbert comentou, "em muitos casos um espírito em
nosso lado é bastante incapaz de dizer se uma pessoa está morta, ou inconsciente, ou
apenas dormindo, se o espírito está do lado de fora; por algum tempo depois da morte o
cordão suspende-se livremente antes de ser absorvido no corpo espiritual e,
freqüentemente, ao dormir, o relaxamento do cordão apresenta a mesma aparência".

Este exemplo pode ser comparado com o caso "Beard", no Journal of the Society for
Psychical Research (vol. 23), onde o Sr. Beard foi descrito como tendo falecido muito
recentemente numa sessão realizada cerca de oito horas antes de seu falecimento real.

Mercy Phillimore (no Light, 9 de maio de 1931) contou de sua experiência em 1917,
numa sessão com Naomi Bacon, quando um homem foi descrito e a quem ela
reconheceu como um amigo vivo: "no momento minha mente percebeu a presença dele
e uma certa tranqüilidade parecia invadir a sessão e ele tomava o controle direto da
médium. O controle durou de cinco a dez minutos, mas antes de finalizar, o
comunicador solicitou-me nunca se referir à experiência a ele (ao amigo) em seu estado
normal. Os fatos comunicados estavam corretos. Em outra sessão, um ano mais tarde, o
amigo vivo novamente professou estar presente. Suas comunicações foram evidenciais".

Numa sessão de voz direta dada por William Cartheuser a American Society for
Psychical Research em 26 de outubro de 1926, Sra. X, uma conhecida dama de
Malcolm Bird, recebeu o que ela considerou uma comunicação de seu ex-sogro. Ele
disse ter morrido de um problema no pulmão e que tentava a muito custo impressionar a
Sra. X noites atrás. Ele deu uma descrição correta do que ela estava fazendo naquela
época em particular. Depois da sessão, Sra. X descobriu que o comunicador estava vivo
e em grande angústia mental na data da sessão (Psychic Research, 1927).

Alfred Vout Peters, o famoso clarividente londrino, teve várias experiências


semelhantes. Em quatro ocasiões distintas, Laura Finch ("Phygia") controlou Peters
enquanto ela, encarnada, estava em Paris e ele em Londres. Ela prometeu fazer o que
pudesse. "Todos que a conhecem são unânimes em declarar que era a própria
personalidade de Phygia falando; seu maneirismo estava ali; coisas eram ditas e as quais
apenas ela tinha ciência, e quando testes eram antecipadamente combinados na forma de
certas frases a serem articuladas, elas invariavelmente eram usadas" (Light, 2 de
setembro de 1899). Em outra ocasião, foi descoberto que um controle que se
manifestava através de Peters estava vivo na África.

Almirante J. G. Armstrong relatou (Light, 25 de abril de 1931) que em uma ocasião


enquanto ele estava em Londres, sua mãe, que vivia em Devonshire, falou com ele por
um médium. Ela estava adormecida no momento e teve a impressão, ao despertar, de ter
feito uma longa jornada. Durante uma conferência naval em Londres, um oficial da
marinha a quem ele conhecia há muitos anos, semelhantemente estava vivo, e foi bem
sucedido, e aconselhou-lhe a protestar contra os cortes na marinha. O oficial forneceu
fatos sobre seu recente serviço. Em investigação, Armstrong descobriu que o homem
estava vivo e servia no oriente. Considerando a diferença de tempo, era provável que ele
estivesse dormindo na hora da comunicação.

Existem alguns casos registrados em que uma aparição materializada era descoberta ser
de um vivo. Alfred Vout Peters viu, numa sessão com Cecil Husk, o fantasma de um
amigo que deveria estar em casa dormindo no momento. Outros tiveram experiências
semelhantes com a mesma médium. Stanley de Brath viu, em quatro ocasiões, o rosto
materializado de uma senhora (então na Índia) de quem ele havia perdido a trilha.
Posteriormente ele recebeu uma carta dela. Um clérigo da Igreja Anglicana viu o rosto
materializado de seu irmão que estava morando na África do Sul (Light, 1903).

Na controvérsia que se sucedeu, um correspondente escreveu ao Light sobre a


materialização do General Sherman nos Estados Unidos, que não só anunciava sua
identidade, mas também declarava que acabara de morrer. O General, porém, que estava
na época em seu leito de morte, não morreu até um ou dois dias mais tarde.

Alegam que alguns médiuns têm materializado fantasmas de animais. De uma


perspectiva Espiritualista, a pergunta que poderia surgir é, não seria possível espíritos
de animais controlarem homens em transe? A confissão de Charles Albert Beare, auto-
intitulado o falso médium de Peckham, Londres no Daily Express (18 de setembro de
1931), contém esta curiosa passagem: "numa noite em Bermondsey. eu vi uma mulher
professando ser controlada por um macaco. Ela saltou em cadeiras, na mesa e lançou-se
por toda parte do quarto exatamente como um macaco - de fato, ela tinha todo o
maneirismo e as características do macaco. Foi uma apresentação horripilante, e quando
o controle terminou sobre a mulher, ela teve que ser reanimada com água e pelas
pessoas batendo em suas mãos".

Referências

Berger, Arthur S., and Joyce Berger. The Encyclopedia of Parapsychology and
Psychical Research. New York: Paragon House, 1991.

Curnow, W. Leslie. "Spirits in the Flesh." Psychic Science (January 1927).

Marryat, Florence. There Is No Death. New York: John Lovell, 1891. Reprint, New
York: Causeway Books, 1973.

Moore, J. D. "A Medium Appearing in a Materialized Form." Facts 6 (March 1887).

Owen, Iris M., and Margaret Sparrow. Conjuring Up Philip. New York: Harper & Row,
1976.

Stemmen, Roy. Spirits and Spirit Worlds. Garden City, N.Y.: Doubleday, 1975.

... Francisco Mozart Rolim


> Discutindo a Cientificidade da Parapsicologia

Artigos

Desde suas origens a Pesquisa Psíquica ou Parapsicologia sofre ataques e preconceitos,


seja por seu caráter fantástico, pela dificuldade ou impossibilidade de se reproduzir
alguns de seus achados em ambiente controlado ou pela subjetividade de certos
fenômenos. O fato é que a Parapsicologia, definida como o estudo de certos fenômenos
psíquicos de origem supostamente sobrenatural e associados à experiência humana,
analisa a natureza das faculdades mentais, sendo estas não totalmente compreendidas
por seus estudiosos. Tais fenômenos desafiam muitas vezes as crenças, o senso comum
e o establishment científico atual, o materialista. A possibilidade de que o conhecimento
pose ser obtido por vias anômalas e de que a mente possa ser um substrato não redutível
às funções sistêmicas sempre foram alvo de ataques por céticos e críticos. O que muitos
ignoram é que várias experiências controladas e observações fenomenológicas foram
replicadas vastamente, eliminando a possibilidade de fraudes e explicações "normais".
Entretanto, persiste um véu de desconhecimento ou mesmo de ignorância acerca dos
achados, levando o grande público a um completo estado de ausência de tais achados.

Assim, como foi exposto dias atrás, seguiu-se uma discussão no site de relacionamentos
Orkut, entre este autor e um físico. Este último não se disse cético e nem se colocou
contra a Parapsicologia. Na verdade, houve um questionamento de que se as
observações feitas em torno dos fenômenos deveriam ganhar destaque em revistas
mainstream, algo que este autor considera totalmente desnecessário ou mesmo, inútil.
Ver-se-á que o debatedor incorreu em vários erros e contradições, não só em relação à
Parapsicologia, mas na forma correta com que a ciência deve ser conduzida. Vale
ressaltar que o autor cometeu um erro quando se valeu do argumento da autoridade, mas
conforme será verificado adiante, a intenção do mesmo foi completamente distinta. O
debate foi longo e, em partes, repetitivo. Para não ser redundante, resumi os pontos-
chave da argumentação pró e contra e os temas mais polêmicos.

Inicialmente, foi questionada uma experiência onde indivíduos separados em Gaiolas de


Faraday, aparato que parcialmente bloqueia ondas eletromagnéticas, e sem contato
visual apresentavam coincidência em seus eletroencefalogramas (EEG) de 70%,
sugerindo fortemente PES (percepção extra-sensorial). O debatedor não concedeu
grande importância ao achado afirmando que Gaiolas de Faraday não isolam totalmente
as radiações eletromagnéticas. Entretanto, tal argumento não refuta a possibilidade de
PES uma vez que foi apenas questionada a capacidade de isolamento das gaiolas e não a
transferência de informação via anômala. Apesar de alguns autores levarem a sério tal
possibilidade, creio ser improvável que a PES se dê por ondas eletromagnéticas, do
contrário penso ser esperado que muito mais pessoas possuiriam faculdades
paranormais. No entanto, agentes psíquicos fortes são bastante raros. Na verdade, o
estudo sugeriu que a PES ocorreu de forma similar à não-localidade, uma vez que os
registros dos EEGs foram simultâneos.

Em seguida o debatedor fez um reforço do paradigma materialista, insistindo que graças


a ele houve grandes avanços visíveis hoje em nossa sociedade, ao passo que o
esoterismo, o misticismo, a religião e as pseudociências (creio que ele incluiu a
Parapsicologia nesse rol) em nada contribuíram para o desenvolvimento científico.
Notadamente, houve uma confusão entre Materialismo e método científico. Aqueles que
advogam pelo Materialismo crêem que outros paradigmas sejam incapazes de fazer a
mesma abordagem. No entanto, diversos autores e estudiosos se valem do mesmo
método científico para postular explicações alternativas que forçam ao máximo o
paradigma materialista. Logo, deve-se separar Materialismo de método científico, como
coisas distintas e não sin equa non. Em nenhum momento foi feita qualquer defesa de
crença ou credo pelo autor.

Depois, cometi um erro parcial que se mostrou mínimo no transcorrer da discussão.


Afirmei que a opinião de dois físicos, Harold Puthoff e Russel Targ, em questão era em
prol da existência dos fenômenos paranormais, respaldando-os por serem dois dos
inventores do Laser. O debatedor me acusou de ter usado o argumento da autoridade. E
ainda devolveu-me o argumento da autoridade com outro, perguntado quais seriam as
opiniões dos inventores da Física Quântica e de vencedores do Nobel. Em tempo, me
vali desse discurso não visando expor o argumento da autoridade, mas sim mostrar que
cientistas de renome e gabarito consideram seriamente tais possibilidades e as
investigam. É interessante constar que é lugar comum entre os céticos, embora nunca
admitido, o argumento da autoridade, uma vez que em suas refutações sempre se valem
das opiniões de seus "ídolos", que também fazem pouco das evidências e não conferem
a devida atenção a elas. Como réplica, além de frisar a minha intenção com esse
argumento, respondi que existem, sim, vencedores do Nobel que defendem a existência
de fenômenos paranormais, com destaque recente para Brian Josephson, renomado
físico britânico.

Honestamente, não considerei esses argumentos lógicos, racionais e científicos. Não é


necessário que se creia em determinado assunto para que ele se torne cientificamente
tangível. A ciência, antes de tudo, deve ser imparcial. A intenção de refutar uma
determinada hipótese, através de pesquisas, tem o mesmo valor de prová-la em positivo,
caso seja factual. Em relação aos financiamentos, Dean Radin, PhD, teve grande parte
de suas pesquisas financiadas pela Bell Corporation, conglomerado norte-americano das
comunicações. Suas pesquisas foram bastante frutíferas, com excelentes resultados
estatísticos, inclusive para achados pré-cognitivos. Lembrei a ele também que a atitude
cética de hoje é tão deletéria quanto os mais fundamentalistas dogmas religiosos e que a
legítima ciência não é feita somente por interesses econômicos.

O debatedor usou depois de um preceito de LaPlace que quanto mais forte for a
alegação, mais forte deve ser a prova ou evidência. Além disso, também comentou que
são os que acreditam em algo que devem se esforçar para provar o que sustentam. Com
relação à primeira assertiva, penso tal fundamento ser subjetivo, uma vez que a força de
um caso ou evidência está aos olhos de quem vê, sendo que um indivíduo de mente
aberta (não quer dizer crédulo) possa julgar aquilo que possa ser convincente em
potencial. O fato de quem alega é quem deve provar é um fato, porém pseudocéticos em
muito se esforçam para negar e sempre sem estar a par das evidências. Se por um lado o
que o debatedor falou é correto, por outro é deturpado pela comunidade científica em
geral. Afirmei também que em muitos casos a ciência nasce da dissidência, citando os
exemplos de Horace Wells, dentista inventor da anestesia, que se matou após uma
demonstração fracassada, e Albert Wegener, proponente da Teoria da Deriva
Continental, hoje conhecida como Teoria das Placas Tectônicas. Reforcei ainda que a
Parapsicologia possui suficiente corroboração estatística e casuística para justificar suas
pesquisas, lembrando também que Carl Sagan, célebre cientista e cético, julgou que
alguns atos ditos paranormais mereciam ser investigados.

Outro argumento do debatedor que considero bastante questionável foi a comparação


entre os estudos das Neurociências e da Parapsicologia, sendo que, segundo suas
palavras, a primeira é bem mais estudada e escrutinizada que a segunda, como se esta
última fosse uma ciência recente. Tal afirmação denotou falta de conhecimento em
relação à Parapsicologia, e para refutar tal argumento lembrei que a Parapsicologia
existe desde o século XVIV e que em 1967 ela foi aceita como ciência legítima pela
AAAS (American Association for Advancement of Science). Além disso, pesquisas
sérias, como as de Ian Stevenson sobre CORTs (cases of reincarnation type) existem há
40 anos, por exemplo. Mostrei a ele também que ilustres figuras do meio científico,
incluindo ganhadores do Nobel, já investigaram ou investigam a fundo os fenômenos
paranormais.

Um ponto em comum entre o autor e o debatedor é com relação ao excessivo


entusiasmo na relação entre Física Quântica e Parapsicologia. Muitos místicos e
religiosos estão se valendo dessa associação para proclamar suas crenças. Na verdade,
tudo ainda é especulação e ainda não existem provas substanciais dessa correlação.
Contudo, ressaltei que muitos cientistas sérios, incluindo físicos, contribuem com
modelos para que se desenvolvam teorias, visando uma Parapsicologia séria e racional.

Discutimos bastante acerca do Materialismo. Penso que este paradigma, conforme


consta hoje, é insuficiente para elucidar completamente a natureza da nossa realidade.
Se a relação matéria/energia pode explicar de forma parcimoniosa a totalidade dos
fenômenos, então se deve estender em muito o atual conceito de matéria. A própria
Consciência, juntamente com seus temas acessórios (memórias, experiência de primeira
pessoa, volição e criatividade) não são devidamente explanadas por modelos fisicalistas.
Considero que, caso o paradigma esteja incompleto, ele deve ser redefinido. Se estiver
errado, deve ser abolido.

Posteriormente, o debatedor afirmou que não havia publicações sobre temas


parapsicológicos em revistas de peso. Tal afirmação é uma tremenda falácia,
especialmente se constatarmos que existem tais publicações em revistas não só voltadas
ao público da Parapsicologia, mas também em revistas médicas e de ciências naturais.
Mostrei um rol de publicações em periódicos respeitabilíssimos, como Journal of
Mental e Nervous Disease e The Lancet. Como um mal-sucedido ad-hoc, o debatedor
afirmou que faltavam publicações em revistas de "maior" peso como Nature, Science e
PNAS. Este autor discordou plenamente, pois todas aquelas outras também são peer-
reviewed e têm grande valor científico, com a diferença de que são destinadas a
públicos específicos e que não há sentido em "melhor ou pior revista". Além disso,
revisores de artigos científicos, geralmente, têm interesses pessoais, bem como a própria
revista em relação aos seus patrocinadores. Isso pode minar a possibilidade de um artigo
"subversivo" ser publicado. Ainda assim, com hesitação, mostrei a ele publicações
parapsicológicas em revistas que ele considerava de "peso" como a Science e Nature. A
hesitação se deu porque eu discordo totalmente do argumento do debatedor por razões
já descritas previamente nesse parágrafo.

A tônica maior da discussão se deu em torno da alegação do debatedor de que a


Parapsicologia andava de mãos dadas com as pseudociências e que, se existissem tão
boas evidências delas, deveriam estar mais difundidas e documentadas. Em contrário,
afirmei que isso não é uma falsa visão. O Brasil, no que tange à Parapsicologia, sequer
tem representatividade consistente e existe todo um lobby contra tais estudos por uma
maioria de cientistas céticos. Esses raramente avaliam a evidência e, quando o fazem, é
de forma parcial. Mais comum ainda é a negação de tais evidências por "achismos" e
por "visões que não condizem com a realidade". Tais falácias são verdadeiros atos de fé,
sem qualquer embasamento científico e baseados no argumento da autoridade.

Durante todo o debate pude observar que o debatedor não é um indivíduo dogmático e
discutiu com distinção. Ele argumentou de forma madura, sem ataques ou ad hominens,
o que é raro em discussões desse tipo. O que ficou claro é que uma grande parcela do
público, mesmo os mais intelectualizados, desconhece os ostensivos dados sobre a
Parapsicologia, seja ela laboratorial ou de campo. Infelizmente nem todos os
debatedores aceitam, com a devida educação, argumentar em um tema tão espinhoso.
Fica registrado um elogio a um crítico que, mesmo falhando em alguns pontos, soube
ser honesto e racional em tão polêmica contenda.

... Robert Mcluhan

> Apenas coincidência

Artigos

Ontem (12/06/2008), para a Society for Psychical Research, palestrou a Doutora Penny
Sartori, uma enfermeira que executou um estudo de cinco anos sobre EQMs na unidade
de tratamento intensivo no hospital de Swansea, entre 1998 e 2003. Sete dos 39
pacientes que sofreram uma parada cardíaca durante este período reportaram uma EQM.
Ela descreveu, antes do estudo começar, a maneira que colocava no topo dos monitores,
acima das camas, símbolos onde que não podiam ser vistos do solo. A idéia era que, se
qualquer paciente visse algum deles durante um episódio fora-do-corpo, ajudaria a
verificar que isso era real, e não imaginado.
Tristemente, nenhum dos pacientes viu as imagens, na maioria dos casos seus relatórios
eram difíceis de verificar. Por outro lado, quando comparados com um grupo de
controle, seus relatórios mostraram uma precisão muito maior, sugerindo a presença de
um processo desconhecido.

Alguma da melhor evidência disso ainda está naqueles casos fornecidos nos estudos dos
anos 80 pelo cardiologista Michael Sabom, que podem ter tido uma vantagem sobre o
estudo de Swansea por envolverem operações cirúrgicas no lugar de situações de
tratamento intensivo. Os pacientes de Sabom fizeram ainda muitos comentários
detalhados sobre as operações, por exemplo, observando a forma curiosa do coração,
como o cirurgião o extraia e trabalhava nele, ou a profundidade da espinha quando um
disco danificado era removido. Os membros de um grupo de controle foram solicitados
a descrever a operação, e foram bem menos específicos e cometeram erros importantes.

O grupo de controle de Sabom foi criticado por usar pacientes que apenas tiveram
backgrounds médicos semelhantes. Sartori melhorou nisso ao recrutar indivíduos que
experimentaram ressuscitação. Mas, conforme foi esclarecido, estas pessoas não foram
mais capazes que o grupo de Sabom para dizer o que poderia ter acontecido durante o
período de inconsciência delas - algumas não sabiam, e outras simplesmente
improvisaram dramas de hospitais de TV.

Sartori apontou para uma distinção clara entre indivíduos que sofrem alucinações, que
são fortuitas e confusas, e os experimentadores de EQMs, cujas experiências são lúcidas
e envolvem as mesmas imagens. French, analogicamente, contestou isso se referindo às
experiências de abdução, onde existe evidência de pessoas que pensam que aquelas são
reais, mas claramente estão alucinando. Pode haver um ponto ai, embora eu não siga
isto completamente, e eu não estou certo o quanto é útil comparar estas duas situações
bastante diferentes.

Sartori então contra-argumentou que as informações que alguns pacientes apresentaram,


aparentemente enquanto eles estavam inconscientes, pareceram ter sido adquiridas
paranormalmente. Um sujeito reportou ter encontrado sua neta falecida e que ela lhe
disse que dissesse a mãe dela para não acreditar em tudo que os médiuns dizem a ela.
Isto nada significava para ele, mas sua filha mais tarde confessou que ela regularmente
se consultava com médiuns sem o conhecimento dele. Em outro caso, o pessoal na
unidade assistiu um homem agonizante sentado e gesticulando para a parede por meia
hora - ele mais tarde disse que sua irmã veio o visitar, embora ela tivesse morrido na
semana passada, um fato que sua família havia decidido não revelar a ele.

Esperando a palavra final, French replicou que "um cético provavelmente ainda diria
que tudo poderia ter sido uma coincidência". Interessante é que ali ele naturalmente
disse isso na terceira pessoa. Perguntei-me se ele fez isto porque estaria pessoalmente
envergonhado em se identificar com tal estratégia, neste caso, alguém teria que
perguntar por que ele continua a pensar deste modo. Eu suponho que ele tenha enfeitado
demais. Quando as coisas ficam bem complicadas, está na hora de falar besteiras e
prevaricar. Deve ser difícil, às vezes, ser um cético compromissado.

Eu mencionei uma ou duas vezes da resistência heróica de Blackmore em Dying to Live


sobre o mesmo assunto. Resumidamente, a abordagem dela é que, quando as pessoas
dizem ver aquilo que os seus familiares e o pessoal do hospital estão fazendo ao redor
do corpo inconsciente delas, elas estão apenas exagerando ou compondo material. Na
rapidez dela, sem nenhum sentido, ela lida com um pedaço aparentemente incontestável
da evidência, culpando o percipiente por fazer um estardalhaço desta. Seguramente, ela
argumenta, isso pode significar somente uma coisa: que o percipiente não está
realmente certo que isso aconteceu do modo que ela disse que foi. Como eu digo, para
uma cientista séria ter que falar deste modo, deve soar humilhante.

Isso é levado ao extremo pelos psiquiatras Glen Gabbard e Stuart Twemlow no livro
deles With the Eyes of the Mind (1984). Eles estão perturbados particularmente pelas
reivindicações de Sabom sobre percepção fora-do-corpo em seus pacientes cardíacos.
Eles conseguem prolongar o assunto até as últimas páginas, as quais indicam que eles
parecem entender que, de alguma maneira, têm que impedir isso. Os resultados são
cômicos: eles não têm uma pista. Eles pegam a ajuda de Terence Hines, cujo livro de
desmistificação eles têm à mão, e que realmente tampouco sabe algo, mas que tem
muito a dizer sobre Uri Geller e psíquicos fraudulentos. Tendo lido este material durante
algum tempo, eles concluem que as reivindicações de percepção fora-do-corpo podem
ser derrubadas por fraude, mas sem estruturar claramente se eles pensam que seja o
doutor ou os pacientes que estão mentindo.

Você não pode culpar os céticos por se comportarem deste jeito - suas visões de mundo
completamente se prendem a isso. Mas seria interessante se mais pessoas que
essencialmente compartilham esta visão de mundo compreendessem as mudanças
duvidosas que podem ser requeridas para manter esta visão um comércio.

(Incidentemente, Sartori acabou de publicar um livro baseado no estudo, e outra


pesquisa realizada para sua tese de doutorado. Por £85 eu não consigo imaginar que nós
todos iremos nos apressar e ir comprá-lo, mas eu tentarei pegar uma cópia e revisá-la
em algum ponto).

fonte: Paranormalia - http://parapsi.blogspot.com/

... Luiz Carlos D. Formiga

> Razões da Dor - Os Espíritas e o STF diante dos Fetos Anencéfalos

Artigos
Os fetos anencéfalos possuem uma alma? Onde fica o espírito de uma pessoa viva? Será
no cérebro? Anomalias fetais: devemos abortar? (5). Alguns oferecem opinião com
facilidade, mas decidir nem sempre é fácil. No caso Daniel Dantas a operação
Santiagraha da Policia Federal prendeu o banqueiro. No entanto, por decisão do
presidente do Supremo Tribunal Federal ele foi solto. Esta decisão dividiu opiniões. Um
especialista acha que o ministro tem razão, outro fala em “abuso de direito”, chegando a
dizer que merece “impeachment”.

O aborto de anencéfalos é tema que vai produzir muita divisão, como aconteceu com o
das células-tronco embrionárias. Mas nós, os espíritas, vamos decidir examinando a
obra de Kardec, como fazem os bons juristas ao estudarem a Constituição da República.
Estes a examinam como um todo, não escamoteiam artigos nem esquecem princípios
fundamentais. Kardec era descendente de família que se destacou na magistratura e nas
lides forenses (1).

Renata Mariz (6) escrevendo sobre o aborto de fetos anencéfalos diz que “a pauta
recheada de polêmicas só começou. Depois da agitada — e quase empatada — votação
sobre o uso de embriões humanos em pesquisas científicas (que terminou 6 a 5 pró-
pesquisas sem restrições), novos julgamentos controversos estão prestes a ser travados
no Supremo Tribunal Federal (STF)”. André Luiz comenta no livro Libertação,
psicografia de Francisco Candido Xavier, FEB Editora, que “chega sempre um instante
no mundo em que nos entediamos dos próprios erros”. Na evolução, esse é o momento
em que nasce o homem-ministro novo através da reflexão bioética, que agora consegue
perceber com sua natureza transdisciplinar.

No livro do espírito André Luiz, no capítulo 14, intitulado “Singular Episódio”, o


espírito Leôncio, diante dos mensageiros do bem e dos fatos que havia presenciado,
experimenta seus primeiros momentos de transformação. Caindo em si, lembra que seu
herdeiro ainda reencarnado está sendo envenenado. Nesta hora não hesita em pedir
ajuda: “Benfeitor, por piedade! Meu desventurado Ângelo permanece à beira do
túmulo... Admito que o fim do corpo esteja marcado para breves dias, se mãos amigas e
devotadas não nos socorrerem à altura de nossa indigência. Já fiz tudo quanto se achava
ao alcance de nossas possibilidades, porém sou parte integrante de uma falange de seres
malvados e o mal não salva, nem melhora ninguém”.

Renata Mariz (6) informa que da lista de controvérsias que dividem a sociedade, a
primeira a sair da gaveta deve ser a ação que pretende descriminalizar o aborto de fetos
sem cérebro, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde
(CNTS). O ministro Marco Aurélio Mello, relator do processo, que está parado desde
2004 no STF, vai agendar para agosto a segunda audiência pública da história do
tribunal, com o objetivo de discutir a questão. A primeira, e até agora inédita, foi pedida
em abril do ano passado para debater o tema das células-tronco embrionárias”.
Agora, em agosto de 2008 teremos que tomar nova decisão. Após o recesso de julho, o
Supremo Tribunal Federal julgará o aborto de fetos anencéfalos.

Algumas informações aparentemente velhas necessitam de nova leitura, porque talvez


não tenhamos observado o detalhe que pode modificar o pensamento, como aconteceu
não apenas com Leôncio no “Singular Episódio”, na presença do mensageiro do bem.
“O mal não salva, nem melhora”. Espíritas, ou não, cometemos erros diante do
julgamento anterior, mas “chega sempre um instante no mundo em que nos entediamos
dos próprios erros”. Por isso, parece pertinente examinar recente artigo do professor
universitário Décio Iandoli Júnior, sobre as Células, a Ciência e o Espiritismo, que está
na página da Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo com o título “Quando
Começa a Vida“ (1).

Renata Mariz (6) lembra que foi o ministro Marco Aurélio que autorizou, com uma
decisão liminar, em julho de 2004, a retirada de fetos sem cérebros do útero materno e
que três meses depois da liberação, porém, o plenário do Supremo decidiu derrubar a
liminar.

Na madrugada em que os ministros tornavam novamente crime a interrupção da


gravidez no caso de anencéfalos, sujeita a três anos de prisão, Severina Ferreira estava
no leito de um hospital em Pernambuco. Grávida de quatro meses, ela se submeteria à
cirurgia naquela manhã de 20 de outubro de 2004, pois seu bebê não tinha cérebro.

Severina conta que foi o médico quem lhe informou que o parto antecipado estava
proibido no país. Restou-lhe batalhar por uma autorização judicial para o procedimento,
que só veio aos sete meses de gestação. Estimativa do Instituto de Medicina Fetal
mostra que já chegaram à Justiça brasileira cerca de 3 mil pedidos de aborto de
anencéfalos — 97% deles aceitos pelos juízes.

Atingida pela tipicidade a ilicitude inerente a conduta pode ser desprezada se estamos
diante de determinadas circunstâncias previstas no código penal. Essas circunstâncias
são referidas como excludentes de antijuridicidade. Assim, mesmo que a conduta típica
seja praticada a circunstância a justifica e afasta a ilicitude. Um exemplo é o estado de
necessidade, onde, não havendo outro meio, se acaba lesando o interesse de outro. A
legitima defesa (para repelir injusta agressão), o estrito cumprimento do dever legal
(dever imposto mediante lei) e o exercício regular de direito (cirurgião produz lesões
corpóreas) são outros exemplos.

Renata Mariz (6) diz que se no meio judicial há um relativo consenso, o tema é
explosivo na seara religiosa e que o padre Luiz Antonio Bento, membro da Comissão de
Bioética da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) teme que a aprovação
da matéria abra as portas para a legalização irrestrita do aborto e a prática da eugenia.
Diz ele: “A criança que está sendo gerada com anencefalia é como qualquer outro ser
humano, que merece respeito e dignidade. Se matamos o bebê com anencefalia hoje, o
que faremos amanhã com os deficientes físicos?”

Informa a jornalista do Correio que “a CNBB teve negada, pelo ministro Marco
Aurélio, sua candidatura à posição de amicus curiae (espécie de perito especializado
ouvido como parte em processos no STF) no caso dos anencéfalos. Do outro lado, a
favor da liberação, está a Conectas Direitos Humanos, uma organização não-
governamental” que ainda não tinha tido resposta de sua candidatura.

Estado de necessidade nos faz lembrar o artigo de Raquel Donato (3), no nosso Jornal
dos Espíritos. Nele nos entristecemos ao lembrar que a fome ameaça 100 milhões de
criaturas. A fome não tem ética. Raquel nos lembra para agradecermos a Deus o
alimento disponível e nos pede para doarmos de coração uma parte da refeição em favor
dos necessitados. Também parece difícil ser ético durante uma guerra e, no Brasil, na
política.

Vamos lembrar com Lodi da Cruz (2) o ano 70 d.C.. A cidade de Jerusalém foi sitiada
pelo general Tito, em represália a uma rebelião dos judeus. “Os zelotes percorriam as
ruas em busca de alimento. Duma casa saía cheiro de carne assada. Os homens
penetraram imediatamente na habitação e pararam diante de Maria, filha da nobre
família Bet-Ezob, extraordinariamente rica, da Jordânia oriental. Maria tinha ido como
peregrina a Jerusalém para a festa da Páscoa. Os zelotes ameaçaram-na de morte se não
lhes entregasse o assado. Perturbada, a mulher estendeu-lhes o que pediam, e eles
viram, petrificados, que era um recém-nascido meio devorado – o próprio filho de
Maria".

Cruz diz “que se poderia tentar justificar a atitude da mulher faminta, com o seguinte
argumento: se ela não tivesse matado o próprio filho, ambos teriam morrido; ao matá-lo
para saciar sua fome, pelo menos uma das vidas foi poupada”. No entanto, afirma que
nunca é lícito matar diretamente um inocente, nem sequer para salvar outro inocente.
Em seguida nos faz pensar, quando pergunta se diante dos conhecimentos biomédicos
atuais, na prática, o aborto realmente pode servir de meio para salvar a vida da gestante?

O católico, ao oferecer um exemplo questiona outra vez. Diante de uma intervenção


cirúrgica cardiovascular em uma mulher grávida que poderia ter como conseqüência a
morte do nascituro o que se deve fazer? Cruz aponta quatro condições para podermos
praticar atos que tenham duplo efeito, um bom e outro mau. Desta forma nos coloca
diante do principio da causa com duplo efeito na Academia de Medicina do Paraguai.

Apresenta outro caso para julgamento pelo ministro do supremo tribunal de nossas
consciências: “uma mulher grávida sofre de uma infecção renal. O médico prescreve-lhe
um antibiótico. Há, porém, o perigo remoto de a droga causar danos ao nascituro. No
entanto, não há outro antibiótico que seja menos nocivo ao bebê e nem é possível
esperar o nascimento da criança para iniciar o tratamento”. O que fazer?

O espírita não pode deixar de ler “o principio da causa com duplo efeito” dos médicos
paraguaios, descrito no artigo do católico Cruz (2).

Anteriormente, desejando estimular a reflexão espírita respondemos a pergunta: deve-se


aceitar o aborto para “salvar a vida” da gestante portadora do vírus da AIDS, grávida
pelo estupro? (4)

Antes de prolatar a sentença não podemos esquecer que somos arquitetos do próprio
destino. Nossas ações, decisões, produzem reações, diante da Lei. Por isso, herança aqui
é “conquista” pessoal. Não haverá injustiça na hora do inventário. A melhor parte ficará
com aquele que não apenas admirar a ética espírita, mas colocá-la em prática.
A condição passageira de “estar” ministro pode ser uma provação, mas os espíritos
superiores disseram que a paternidade é missão. Até diante da anencefalia? (5)

(1) Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo. Artigo – Liberdade de Crença


e Estado Laico. Publicado na Folha de São Paulo, 07/07/2008.
http://www.ajesaopaulo.com.br/

(2) Cruz, LCL. A Causa com Duplo Efeito. Um principio ético importantíssimo para se
entender certos casos relativos ao aborto.
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11487

(3) Donato, R. Fome Ameaça 100 milhões. 13 de julho 2008.


http://www.jornaldosespiritos.com/index.htm

(4) Formiga, LCD. Ética, Sociedade e Terceiro Milênio.


http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=4981

(5) Formiga, LCD. Anomalias Fetais: abortar?


http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.6.htm

(6) Mariz, R. Correio Brasiliense. 08 de junho, 2008.

Fonte http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.30.htm

... Luiz Carlos D. Formiga & André Luiz B. Formiga

> Universidade da Alma. Cidade Universitária do Espírito

Artigos

1. As Cidades Universitárias.

Em 1965, no Anuário Espírita, falando a respeito da Codificação Espírita, Yvonne


Pereira diz que "essa obra é imortal como imortal é o Evangelho, uma vez que ambos
são revelações divinas e porque sempre existirão cérebros e corações necessitados de
renovação e esclarecimentos através deles. Por enquanto é, com efeito, a fonte
Kardecista a única habilitada em assuntos de Espiritismo capaz de expandir renovações
para o futuro, visto ser o alicerce de quanto existe a respeito, até agora".

Por intermédio da mediunidade de Yvonne pudemos ler a narrativa sobre a "Cidade


Universitária" espiritual, onde ciclos novos de estudo e aprendizagem se franqueariam
para espíritos em evolução, segundo seus desejos." (31)

Uma Cidade Universitária no Além!

Para nós que estamos professor universitário é um bom tema para reflexões. Pena que
nossos recursos pessoais sejam tão escassos. No entanto, vamos tentar repassar algumas
idéias, mesmo imperfeitas, das dificuldades que encontramos no ensino superior.

Yvonne Pereira afirma que "Allan Kardec é ainda o grande desconhecido, para os
espíritas, dado que a minoria é que o conhece plenamente. Ele tratou de Ciência, de
Filosofia e de Moral e tais matérias, de suma grandeza, não podem ser apenas lidas uma
ou duas vezes, mas estudadas, continuamente, com método analítico, observação
acurada, amor e perseverança, a fim de serem bem compreendidas e praticadas".

Na universidade ou na casa espírita as perguntas são importantes. Recordo-me da


questão feita, num estudo da mocidade e que foi respondida por um jovem espírita: "se
Jesus já ensinou as Leis de Deus, qual a utilidade do Espiritismo?" (4)

Uma outra dúvida, sobre as condições da vida após a morte, apresentada por um
cardiologista nos chamou a atenção. Diversas pessoas já nos fizeram a mesma questão e
outros nos confessaram que iriam deixar para ler o livro "Nosso Lar" depois que melhor
estivessem inteirados dos postulados básicos da Doutrina Espírita.

Leewenhoek (1632-1723) descreveu, com auxílio de microscópios óticos, o mundo


"invisível" dos micróbios: "Recebi em minha casa diversos cavalheiros, que estavam
ansiosos por ver os micróbios do vinagre. Alguns deles ficaram tão enojados do
espetáculo, que juraram nunca mais usar vinagre. Mas o que seria se se contasse a essa
gente que existem mais germes na boca humana, vivendo na escuma junto aos dentes,
do que homens em todo o reino?"

Algumas pessoas respondem da mesma forma (nunca mais usar vinagre) diante da
realidade do espírito imortal. Admitem a sua existência, mas não querem pensar no
"após a morte".

Se não é como o espírito André Luiz escreve, através do médium Francisco Cândido
Xavier, como será? Diversos médiuns descrevem relatos parecidos e coincidentes.
Como coincidentes e parecidos são os relatos das pessoas que tiveram a experiência
autoscópica. Aparentemente morto o indivíduo chega ao hospital. Algum tempo depois
seu coração recomeça a bater. Depois contam as histórias de suas mortes. É a
experiência de morte iminente, onde há extraordinária percepção de visões, sons e
acontecimentos que a pessoa tem, quando clinicamente morta, próxima ao retorno
impossível.

E as materializações de espíritos?

Para onde foi e de onde veio Katie King (espírito) após despedir-se de Florence Cook
(médium) nas memoráveis experiências de William Crookes?

Já me disseram que não gostariam que fosse como André Luiz relata, porque é muito
palpável, material, muito semelhante ao nosso plano terráqueo. Um pesquisador, Nobel
de Física, afirmou que "o mundo que observamos não é senão uma minúscula película
na superfície da verdadeira realidade". A nossa ansiedade nos faz desafiar uma pessoa,
que passou pela experiência autoscópica, a provar que a morte do corpo não mata a
vida. Por outro lado os que passaram por ela não parecem interessados em fornecer tal
prova a terceiros. Um psiquiatra que teve tal experiência fez uma síntese: "pessoas que
tiveram experiência sabem. Os outros devem esperar" (13).

Usaremos algumas informações colhidas na "Mansão da Esperança", situada na Cidade


Universitária espiritual. Antes, porém, vamos visitar outras universidades mais
próximas de nossa materialidade (2, 7).
Na universidade, desde 1966, vivenciamos ensino-pesquisa-extensão (20).

O Brasil possui várias universidades. Algumas delas, na realidade, não passam de


escolas massificadas de terceiro grau, onde professores dissociam ensino-pesquisa. A
produção do conhecimento é cantada, em prosa e verso, mas na prática não se encontra
quase nada. Como as pessoas, universidades também podem adoecer. Encontramos
enfermidades adquiridas, quando as instituições são atacadas por governos patogênicos
"por excelência". Pode-se adoecer também pelo ataque de pessoas anfibiontes, como
aqueles microorganismos potencialmente patogênicos que fazem parte da "flora"
humana normal; por motivos políticos diversos, a instituição fica com a resistência
baixa e eles as atacam (5,6). Outros, com verdadeiro espírito universitário pesquisam
novos antibióticos para combaterem infecções.

Do Sistema Especial de Reserva de Vagas, para estudantes egressos de escolas públicas


nas instituições de educação superior, só mais adiante colheremos os frutos, mas
certamente alunos serão penalizados pelo mau ensino que o colega recebeu no ensino
médio.

No livro de Yvonne (31), pudemos perceber como deve ter sido o critério utilizado para
admissão dos novos alunos naquela universidade. Diz o diretor aos calouros: " – Iniciais
neste momento fase nova em vossa existência de Espíritos delituosos, meus caros
amigos! Dentre tantos padecentes que convosco chegaram a esta Colônia, fostes os
únicos a atingir condições indispensáveis às lutas do aprendizado espiritual que vos
conferirá base sólida para aquisição de valores pessoais nos dias porvindouros".

Hoje há entre espíritas um interesse maior pela universidade. Os que são docentes estão
procurando oferecer reflexões, mesmo modestas como essas.

Apesar das inúmeras iniciativas, o preconceito na academia ainda se manifesta quando


nos revelamos espíritas. O brasileiro é preconceituoso. Há preconceito com o deficiente
visual, com o negro, epilepsia, hanseníase, AIDS (13,21,32).

2. Vinte e Nove de Agosto.

Não é por acaso que, tenho em mãos a tese do doutorando Brasilio Marcondes Machado
(27), apresentada no dia 29 de agosto e defendida no dia 26 de dezembro. Brasilio é
semelhante ao cego de nascença, que curado por Jesus deu o seu testemunho, diante dos
fariseus (16). Na tese, diversos pontos me chamaram a atenção.

Um deles, de valor "estimativo", foi o dia de sua apresentação. Na pós-graduação,


também defendemos tese de mestrado no mesmo dia, embora 52 anos depois. O vinte e
nove de agosto se repete em 1979, quando defendemos na UFRJ a tese de
doutoramento.

Os temas e os resultados são diferentes.

Brasilio traz uma "Contribuição ao estudo da Psychiatria (Espiritismo e


Metapsychismo)", em 1922.
Outro ponto que nos chamou a atenção é a nota, na folha de rosto: "A Faculdade não
approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seus autores". Art. 95 do
Regimento Interno da Faculdade de Medicina do Rio de janeiro".

Um terceiro ponto, encontrado antes das dedicatórias é "Uma Explicação", oferecida


pelo doutorando.
"- Ao apresentar minha these para defesa perante a Faculdade, não cometti a
ingenuidade de esperar fosse approvada, não obstante dispor o art. 95 do Regimento
Interno vigente que a Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nellas
pelos seus autores".

"Temia fosse rejeitada sob a allegação do que dispõe o art. 94: - os alumnos que
concluírem o curso médico poderão defender these sobre assumpto à sua escolha dentre
as matérias ensinadas no referido curso".

"Aconteceu, porém que essa allegação não poderia ser feita porque já havia sido
defendida e approvada uma these contra o espiritismo".

"Assim, fui chamado à defesa do meu trabalho a 26 de dezembro, as 13:30 horas".

"Reprovado".

"Deste resultado julguem os que me lerem, pois não quero ser juiz em causa própria".

"Graças a Deus as fogueiras estão extinctas e os Torquemadas fora de moda"

"Le monde marche..."

"Vou esperar o um dia depois do outro para voltar à defesa desta mesma causa que,
então, será a de todos nós, na sciencia ou fora dela".

Vinte e nove de agosto - um dia especial que nos marcou!

Não conhecemos o Dr. Machado, mas parece não haver dúvida de sua condição de
médico e espírita verdadeiro (22).

3. Pessoas e Números Estimulantes.


Uma questão, ainda, não resolvida pelas universidades é a do tempo integral e
dedicação exclusiva. Alguns professores preferem o horário parcial, para chegarem a
um salário melhor na iniciativa privada, o que não conseguiriam com a dedicação
exclusiva. Encontramos os que optaram pelo horário integral, mas não o cumprem. Isso
cria um problema. É através do processo de socialização que ideais, valores e crenças
passam a ser entendidas e visualizadas como referências importantes para o
desenvolvimento da ciência e do saber (28,29).

A relação professor-aluno, na Cidade Universitária descrita pela médium Yvonne, é


logo de início uma atitude de transparência. Narra um dos calouros: - "Participou-nos,
em seguida, que sua primeira aula consistiria na apresentação de sua personalidade a
nós outros, seus discípulos".

A atitude do instrutor não era de mera formalidade; apresentação de sua linha de


pesquisa; listagem de seus trabalhos publicados em revistas de renome internacional
"espiritual", mas na "apresentação de sua personalidade".

Continua narrando o aprendiz: - "Que necessário seria que o conhecêssemos


intimamente, a fim de que seus exemplos nos estimulassem na senda espinhosa em que
seríamos chamados a solver vultosos débitos, porquanto será sempre de boa pedagogia
que o mentor apresente seus próprios exemplos aos alunos, a quem inicie, e também
para que aprendêssemos a amá-lo, e nele confiar, tornando-nos seus amigos,
considerando-o bastante digno de ser ouvido e acatado".

Esses calouros são espíritos que carregam grandes débitos e, portanto, iniciam a vida
universitária com algumas dificuldades. Teriam eles liberdade total no campus
universitário?

O primeiro dos direitos naturais é o de viver. Um dos princípios fundamentais da justiça


é a liberdade. Determinadas ações, desenvolvidas por uma pessoa podem restringir a
liberdade da outra. Este princípio não pode exigir a oferta incondicional da liberdade
total a todos. Esta deve ser contida pela necessidade de proteger a do próximo. Um
outro princípio é o da "diferença". Com base neste princípio, é que as desigualdades
sociais e econômicas devem ser organizadas, da forma que tragam os maiores
benefícios aos menos favorecidos e possam propiciar funções e posições acessíveis a
todos, em condições de uma justa igualdade de oportunidades (13).

Mello (30) diz que "a igualdade", princípio jurídico-filosófico é base dos direitos
humanos. Mas, não existe igualdade jurídica, quando há uma desigualdade de fato. A
ação afirmativa visa corrigir a distorção. Desenvolvida nos EUA, é ação necessária para
proteger aqueles que iniciam a sua "corrida" na sociedade em condições desvantajosas.

Faz-se necessária uma ação afirmativa (descriminação positiva), no ensino superior,


protegendo aqueles universitários que demonstram maior potencial para o ensino
superior, para a produção do conhecimento. No entanto, estes alunos podem iniciar sua
"corrida", em condições desvantajosas, numa universidade eventualmente agredida por
um governo inábil ou populista. A discriminação positiva poderá oferecer melhores
resultados, se os responsáveis pela educação superior perceberem que esses alunos
diferenciados (o que a universidade tem de melhor), não pertencem a uma classe social,
mas também oferecerem, em contra-partida, as condições reais para sua formação.
Muitos destes alunos e professores, mesmo na adversidade, conseguem produzir
conhecimento, aceito pelos pares em revistas de impacto. O que eles não fariam se as
condições fossem outras?

Imaginem a produção de um professor universitário, que viesse de um país


desenvolvido para trabalhar numa universidade brasileira? Sua condição - ser
"resiliente".

Recentemente a UFRJ divulgou os resultados com um novo curso de graduação, voltado


para a pesquisa e o ensino. No final, 17 alunos, "resilientes", haviam apresentado 153
comunicações; 14 delas em Congressos Internacionais; 13 alunos assinavam trabalhos
publicados em revistas internacionais. No ano seguinte, encontramos 18 aprovações em
concursos públicos para a pós-graduação (2,24).

Em 1980, divulgamos os resultados do acompanhamento de 255 biomédicos formados


pela Faculdade de Ciências Médicas da UERJ. Olhando as turmas, de 1968 a 1978
encontramos números estimulantes e motivos para uma ampla discussão sobre ensino-
pesquisa. Professores universitários eram = 80; Mestres ou mestrandos = 103;
doutorandos = 6; doutores = 8, em apenas 11 anos (7,8,10,11).

4. Para Sobreviver.

Em 1994, comentamos a necessidade dos governos estarem alertas com relação às


doenças transmissíveis (6). Posteriormente, ressaltamos a importância da vacinação
(26), contra as doenças microbianas. Quando os governos não realizam ações
preventivas, os surtos epidêmicos reaparecem ocasionando perdas e danos. Com relação
à universidade de qualidade podemos encontrar a iatrogenia "da omissão" e
"intromissão". As universidades e seus docentes-pesquisadores adoecem.

A professora, Fátima Araújo de Carvalho (3), que realizou seus estudos de pós-
graduação estudando um tema "em alta", nos diz que "a resiliência é caracterizada por
um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. O
ser resiliente não foge das opressões e consegue neutralizar seus efeitos, sem que
necessariamente as mesmas sejam afastadas ou diminuídas".

A professora, Fátima, de São José dos Campos, nos remete ao texto de Heloisa Helvécia
- "Resiliência em Alta".
Heloisa, na Folha de São Paulo, destaca o termo deslocado da Física: "este conceito
nomeia a propriedade de alguns materiais de acumular energia, quando exigidos e
estressados, a voltar ao seu estado original sem qualquer deformação".

A articulista da Folha diz que "essa característica vem contando pontos como
competência humana". Seria a mesma "habilidade do elástico, ou da vara do salto em
altura – aquela que enverga no limite máximo sem quebrar, volta com tudo e lança o
atleta para o alto".

Procurando elucidar o tema, Fátima enviou carta para a seção do leitor, com o seguinte
comentário: no texto "Resiliência: um conceito em alta" há falha em fazer a simples
transposição do conceito de resiliência da Física para a psicologia. Na Física, a
resiliência, refere-se à propriedade que os corpos têm de voltar à sua forma original sem
deformação. Aplicada aos seres humanos, é a capacidade do indivíduo de superar
situações de risco e voltar transformado, crescendo com a experiência. Assim, diz-se,
que um indivíduo é resiliente quando consegue superar as adversidades, encontrando
forças para aprender com elas. É preciso tomar cuidado, para que não façamos como
nos EUA, atribuindo a tudo o conceito de resiliência, de meias de seda a comida para
cachorro, só para usar um conceito "da moda".

Não duvidamos da existência de pessoas com alto índice de resistência à frustração, no


entanto as agressões podem ocorrer até em pessoas (universidades) "vacinadas" (26).
São muitos os que solicitam aposentadoria após acontecimentos angustiantes. Por esse
motivo, é necessário ressaltar a importância da angústia na determinação de doenças
orgânicas. O estresse pode ser causado por qualquer tipo de situação, que exija uma fase
de adaptação orgânica e/ou emocional, com gasto de energia superior àquele a que o
organismo está acostumado. O estresse pode ser físico, psíquico ou misto. Um exemplo
é internação hospitalar, que induz a estados emocionais intensos. Há momentos, em que
encontramos a universidade na porta da UTI.

Os fisiologistas demonstraram que, nos estados de estresses, há liberação de


determinadas substâncias de grande importância durante a "síndrome geral de
adaptação", mas que, em longo prazo, têm certo efeito destruidor sobre tecidos, inibindo
o crescimento somático e a formação óssea.

Em pessoas estressadas é comum o relato da perda do sono. Períodos curtos de sono ou


insônias causam déficit na capacidade de síntese molecular do cérebro, tão necessária à
estruturação da memória. Os estressados, podem apresentar um número variado de
distúrbios como infarto do miocárdio, úlceras pépticas, doenças circulatórias e outras.

Pode-se fazer uma ligeira comparação, com os princípios relacionados com os "estados
excitados", amplamente utilizados no estudo dos fenômenos atômicos e moleculares, na
física quântica. No estresse, o organismo se mantém fora do seu "estado fundamental,
estando em níveis mais altos". Mesmo, numa vida sem grandes novidades não é
possível a manutenção constante deste estado fundamental.

O organismo está realmente oscilando o tempo todo em torno desde estado, sendo até
possível que o envelhecimento e o tempo de vida estejam relacionados com a
intensidade dessa oscilação. Isto exige um processo, quase contínuo, de adaptação às
condições oferecidas pelo meio, aquilo que o afasta do seu estado fundamental a todo
instante. Surge o paradoxo: para sobreviver, os seres vivos encurtam o seu tempo de
vida, envelhecendo (13,14).

5. Pires na Mão.

Professor "caixeiro viajante" é um poli-traumatizado que despencou da ponte entre a


pesquisa e o ensino. Muitos ainda não caíram dela, mas é bom lembrar que as
exigências são grandes (9) e a resiliência é muito mais freqüente do que se pensa. Hoje
há um impasse para todo docente-pesquisador que é a subdivisão de seu tempo em
cursos de graduação, pós-graduação, orientação de teses, funções administrativas e/ou
executivas, reuniões, contatos, viagens, atividade clínica, atividades diversas, e ainda
em conseguir que financiamentos para pesquisa lhes sejam concedidos uma vez que até
as lâmpadas do laboratório hoje são compradas desta forma.
Nessa correria pelos corredores das financiadoras de projetos, “com o pires na mão”, é
que vamos encontrar a origem da visão distorcida de que ensinar e pesquisar são
atividades que concorrem entre si. Na Universidade o professor vai se deparar com o
binômio, que é questionado apenas quando nos sentimos incapazes de bem realizar “o
momento” de uma ou outra atividade. Outros, sob pressões diversas, passam a acreditar
que o aluno de graduação é anexo incômodo, que apenas rouba o tempo de pesquisa do
professor (8). Mas a função da universidade exige a produção do saber, ou seja, a
superação de um saber anterior, na negação de um saber passado para a construção do
novo. Neste momento é que surge, latente, a indissociabilidade do ensino e da pesquisa.
A pesquisa científica é que move esse processo de superação.

Hoje ainda escutamos as palavras do diretor da Royal Gramar School de Shrewsbury ao


jovem que fazia experimentos químicos por sua conta: “Darwin, você está perdendo
tempo com coisas inúteis. Cuida da gramática grega e da literatura latina. Elas são as
marcas infalíveis de um cavalheiro inglês”.

Darwin, hoje, anda sem prestígio no ensino religioso no Rio de Janeiro. A questão do
ensino, em qualquer nível, tradicional ou novo, é como a questão da pesquisa: deve ser
vista como um problema conjuntural (9).

6. Umbigo na Bancada

Encontramos também o imobilismo dos professores que adquiriram a estabilidade e


estão definitivamente agregados à universidade. A Instituição não encontra uma forma
de estimulá-los ou mesmo não consegue oferecer condições mínimas de trabalho.
Quando a universidade atinge desenvolvimento adequado ela começa a exigir um bom
doutoramento dos candidatos quando existem concursos. "Bom doutoramento" não
significa apenas trabalhos publicados no exterior, mas é quando percebemos que o
"recém-doutor" deixa de "pegar carona" e demonstra capacidade de dirigir uma linha de
pesquisa própria. Afinal, a influência da pesquisa na renovação do ensino não se realiza
apenas pela atividade estrita de pesquisa de cada professor, mas também pela
comunicação da pesquisa, pelo clima de indagação e efervescência intelectual que ela
deve gerar.
A universidade deve trilhar o caminho da pós-graduação (11) e certamente necessita
fugir do isolamento trazendo professores visitantes, que não precisam ser todos do
exterior. O ethos da ciência é um conjunto de crenças acerca do próprio papel do
cientista. A internalização de valores e crenças se dá ao longo do processo de
socialização. A integração entre o ensino e a pesquisa está vinculada a experiências que
são transmitidas por nossos antecessores, as quais, na forma de um fundo comum de
alternativas possíveis funcionam como um código de referência ou orientação. Uma
prática que tomou conta da maioria das instituições brasileiras, incluindo a
universidade, é a burocratização. Contra ela será necessário lutar, pois reduz o tempo do
professor universitário, tempo que poderia ser utilizado encostando o "umbigo na
bancada", junto a seus alunos. Nos países em desenvolvimento a socialização para a
pesquisa ocorre tardiamente, isto porque a ciência não é um valor nesta sociedade, o
cientista não goza do prestígio social que lhe é conferido nos países onde o
desenvolvimento da pesquisa científica é parte fundamental do projeto global da
sociedade (28,29).
Não estamos querendo justificar a pobreza de nossas publicações (23) quando
lembramos os diversos conflitos que tivemos por melhores condições de pesquisa-
ensino, o que na realidade se encontra na lei. Possuirmos alguns artigos publicados em
revistas extranacionais, mas isso não impede a autocrítica, através de diversos
instrumentos, incluindo seus índices de impacto. No entanto, a autocrítica não estimula
nossa frustração, porque talvez em outras condições tudo fosse diferente. O depoimento
do campeão olímpico brasileiro é tranqüilizador: "nas condições oferecidas aos atletas
no Brasil, só o fato de competir já os torna campeões". O docente-pesquisador brasileiro
também se depara, na olimpíada laboratorial, com atletas de paises desenvolvidos, que
não estão "de pires na mão". Governos devem estimular as ilhas de competência, porque
a colonização intelectual é tão cruel como a econômica (9).

7. Imaturos e Semiletrados

A interação social de forma ampla na aldeia global parece apontar para os


departamentos estanques como espécies em extinção. Mas como transitar nos caminhos
da transdisciplinaridade que é transcultural? A ética transdisciplinar recusa toda atitude
que não aceita o diálogo, a discussão, seja qual for a sua origem (18).
Um outro problema é a onda populista, a localização e a dimensão da universidade. Ela
pode ficar numa ilha cercada de violência por todos os lados, os governos fazendo
pressão para que se aumente o número de vagas, cursos noturnos apontados como
alternativa viável e o oferecimento de adicionais por aula dada. Se durante o dia, já nos
sentimos inseguros imagine como será à noite com as balas perdidas! Mas, a este se
soma outro problema. A nova dimensão certamente afetará a qualidade. Ofereceremos
cursos de valor cultural duvidoso? Os alunos sairão imaturos e semiletrados, sem o
mínimo de reflexão?

Vamos começar a diplomar os que são capazes de repetir o que já se sabe, reproduzindo
de forma estéril os mesmos processos ou métodos que outros produziram ou
descreveram. Alguém já lecionou como se fundam e se preservam as universidades.
Precisamos de cérebros, depois de cérebros e depois ainda de cérebros em tempo
integral e dedicação exclusiva (15). Atividades de pesquisa desenvolvidas por
professores não são percebidas por eles apenas como o cumprimento de um preceito de
lei, mas como uma prática que pode ser melhor compreendida como a expressão de um
ethos e de visão de mundo, internalizadas através de símbolos e processos
socializadores, cuja base principal, na grande maioria dos casos, foi a relação tutorial
professor-aluno (28,29).

8. Salto de Qualidade

Uma instituição tão importante ainda poderá sofrer o problema do corporativismo


interno e aí é bom pensar nas alternativas: lista tríplice elaborada pelo Conselho
Universitário para a escolha do Reitor; sufrágio universal ou Comissão constituída por
intelectuais externos à universidade.

Imagine-se numa universidade espírita. Aí teremos forçosamente que encontrar


Espiritualidade, Transparência e Consciência. Quando desenvolvemos o intelecto somos
capazes de saber se uma ação é boa ou má, mas a escolha do caminho a tomar depende
do desenvolvimento de outro domínio. Domínio cognitivo e domínio da inteligência
ética-emocional são duas asas simbólicas já bem conhecidas. Nossos candidatos
deverão demonstrar respeito pela autoridade, pela manutenção da ordem social, pelos
direitos individuais. Deverão ser guiados por princípios éticos, como justiça,
reciprocidade, igualdade e respeito pela dignidade do ser humano (17,19).

Essas são condições necessárias que aliadas a outras geralmente são apontadas pela
"Comissão de Notáveis".

O professor Carneiro (1) começa seu artigo com uma frase de Bukharin (1888-1937):
"sustento que nenhuma pessoa que pense e seja culta, pode manter-se alheia à política".
Carneiro afirma que "acirra-se o preconceito e a discriminação contra o nordestino,
agora formalizada contra o médico graduado por universidade do nordeste. A reserva de
cotas de vagas para Residência Médica para nordestinos, nas universidades, da região
leste e sul do Brasil. A proposta foi divulgada pela atual Secretaria Executiva da
Comissão de Residência Médica do Ministério da Educação (MEC)". Carneiro comenta
que "médicos nordestinos não precisam de privilégios, nem de esmolas, mas de
eqüidade e justiça, já que as discriminações subliminares e, às vezes explícitas,
persistem em nossa sociedade do século XXI".

Pelo andar da carruagem, será que chegaremos a discutir um sistema de cotas para os
adeptos da Doutrina Espírita? Enfermidades adquiridas pela universidade foi um breve
esboço, resta discutir as doenças congênitas, aquelas detectáveis no período de
gestação..

Mas e agora que nos deparamos com diversos problemas que uma "cidade universitária"
pode ter aqui na Terra, qual é o papel do espírita quando presente nela? Deve ele se
preocupar com o Espiritismo no seu ambiente universitário, ou serão antagônicas a
universidade e a Doutrina dos Espíritos e, por isso, seja melhor escolher a neutralidade?

O espírito científico, entenda-se espírito como ânimo ou índole, é uma capacidade


inerente ao ser humano, ele jaz, latente, e pode ser educado, potencializado de diversas
formas e é comum a todas as ciências, desde as exatas até às sociais. Uma das suas
principais características é provocar no homem uma inexorável vontade de entender as
coisas. A busca do conhecimento não é uma meta, mas uma prioridade, uma condição a
ser superada (33).

O leitor atento poderá perceber que a Introdução de O Livro dos Espíritos narra um
trabalho de classificação feito por Kardec, na tentativa de entender os fatos, que
culminou no surgimento daquilo que chamamos de Doutrina Espírita ou Espiritismo.

A preocupação de codificador e o seu espírito científico podem ser observados nas


seguintes sentenças (34): "Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a
Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande,
só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e
animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar
esses qualificativos aos que julgam a priori, levianamente, sem tudo ter visto; que não
imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento
indispensáveis. (...) O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá".

Percebe-se que Kardec não falava somente da Doutrina Espírita mas de toda e qualquer
doutrina e, como tal, sua codificação deveria seguir os critérios desenvolvidos e
discutidos ao longo da História da Ciência. O estudo aprofundado das obras escritas
pelo codificador (que contêm todos os seus verdadeiros princípios) mostra que como tal
ela surgiu da observação metódica e criteriosa de fatos, o que a torna de bases
científicas. O levantamento de hipóteses para a explicação destes fatos (movimentos de
objetos e comunicação com supostos “mortos”) foi feito de forma sistemática e lógica, o
que a torna de desenvolvimento filosófico no âmbito das idéias. Esses dois aspectos da
Doutrina já servem de base para justificar que o ambiente universitário é extremamente
propício à difusão das idéias espíritas.

Por fim, e como objetivo maior, as implicações acarretadas da inferência dos postulados
da nova Doutrina exigem (no sentido de ser inegável) uma transformação moral de todo
indivíduo que a aceite como verdade, por isso ela é tida como tendo finalidade religiosa.
Além deste último fato, quem examina a obra de Kardec verifica logicamente que os
ensinamentos de Jesus apresentam total analogia com os da Doutrina. Como a figura do
Cristo foi vinculada ao conceito de religião desde o início dos tempos, fica claro que o
aspecto religioso seja uma das faces do Espiritismo.

Mas como classificar a Doutrina? É ela uma ciência, uma filosofia ou uma religião?
Você, leitor, em qual prateleira colocaria os livros espíritas? Há muita controvérsia
acerca da natureza (ou classificação) que se pode dar da Doutrina, já na época de
Kardec a confusão estava estabelecida e o próprio sentiu a necessidade de manifestar-se
e esclarecer o que é o Espiritismo, na Revista Espírita.

O tríplice aspecto da Doutrina estava claro para o jovem na mocidade espírita (4). Ele
funciona como um tripé. A máxima sustentação do objeto só pode ser alcançada se os
pés tiverem o mesmo tamanho e sejam capazes de sustentar a mesma massa. A simetria
deve ser máxima, o triângulo formado pelos pés no solo deve ser equilátero, ou seja,
lados iguais, ângulos iguais e o centro de massa deve estar perfeitamente direcionado
para o baricentro deste triângulo. Caso contrário, um dos pés pode ceder e o objeto cai
por terra. O Espiritismo necessita das três sustentações, todas com a mesma
importância, se uma delas fracassar ele cai por Terra. Talvez por isso Dr. Bezerra de
Menezes tenha se esforçado tanto na unificação do movimento espírita no Brasil do
início do século XIX.

O Espiritismo é ao mesmo tempo todas as três e não é nenhuma em separado. O


Espiritismo é uma coisa nova. Da citação anterior ressaltaremos que esta Doutrina nos
lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande que Kardec preocupou-se
em criar um neologismo, inventar uma palavra que não existia para designá-la,
Espiritismo (Espiritisme, no original francês). O que fazer, então, na universidade?
Devemos privilegiar um ou outro aspecto da Doutrina?

Os jovens precisam conhecer uma ordem de idéias que leve a um comportamento ético
perante a vida (36). Esse é o objetivo da fé raciocinada, ou seja, quando o indivíduo
compreende o verdadeiro valor da vida passa a ter uma atitude mais séria perante ela,
amadurece. Essa compreensão pode vir através do estudo do Espiritismo e nesse ponto,
a educação espírita tem um papel fundamental.

O Espiritismo na universidade não é idéia nova. O registro mais antigo que temos
conhecimento é que o Primeiro Seminário de Estudos Espíritas da Universidade
Estadual de Londrina, Paraná, Brasil, ocorreu em 23 de maio de 1984. Nestes vinte
anos, o Núcleo Espírita Universitário de Londrina vem desenvolvendo excelentes
atividades (37). A iniciativa paranaense parece ter estimulado grupos de outros locais do
país e em 1992 foi criado o Núcleo Espírita Universitário do Fundão. Levou esta
denominação porque estava situado na Ilha do Fundão, local da maioria dos edifícios da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esse grupo foi um foco de divulgação da idéia
espírita na universidade. Em pouco tempo, estávamos trabalhando em conjunto com o
NEU Fundão e dessa união percebemos que era necessário criar o Núcleo Espírita
Universitário do Rio de Janeiro (NEU-RJ), onde diversas equipes de universidades do
Estado estariam trabalhando em conjunto. Com o auxílio da Internet, a chama se
espalhou e em dois anos, foram criados Núcleos Espíritas Universitários em outras
universidades, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade
Universitária Augusto Motta (SUAM), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade do Rio de Janeiro
(UNI-RIO). A partir deste trabalho, outro grupo se formou na Universidade Federal de
Viçosa (UFV), em Minas Gerais.

Mas qual é a importância de um núcleo espírita na universidade?

Para a comunidade do NEU-RJ, sua importância é abrir "mais um espaço de


sensibilização individual e coletiva para questões complexas como violência, pobreza,
exclusão social, corrupção, entre outros. Também tem como objetivo desenvolver a
espiritualidade do ser, a sua inteligência cognitiva, afetiva e principalmente emocional-
moral. Procuramos contribuir no desenvolvimento da fé, da esperança e da caridade"
(38). O exemplo continua sendo a melhor forma de divulgar o Espiritismo.

Já que o Espiritismo é uma doutrina de bases científicas, desenvolvimento filosófico e


conseqüências morais, por que não ter um espaço aberto para estudo desta na
universidade. Por que não divulgá-la entre aqueles que procuram uma formação
profissional? Não se trata de uma tentativa de elitizar a Doutrina, mas de abrir mais um
espaço de divulgação, especialmente porque se direciona para uma Instituição onde, na
maioria das vezes, o materialismo prevalece. Já podemos perceber diversas iniciativas
da comunidade acadêmica para moralizar as atividades universitárias, por que não
contribuirmos para a concretização desses esforços?

A compreensão dos postulados espíritas auxilia na formação do profissional, pois acima


de tudo contribui para a formação da consciência-cidadã, para o bem coletivo. No
momento em que isso estiver acontecendo, e já está, a universidade estará contribuindo
para a causa espírita e, acima de tudo, o Espiritismo estará contribuindo com a causa da
universidade. Se a mensagem espírita for lançada no ambiente universitário, mais uma
contribuição da Doutrina estará sendo feita para modificar as bases da sociedade. Esse
trabalho sinérgico é a proposta do Núcleo Espírita Universitário do Rio de Janeiro.

“Se a Doutrina Espírita chegasse à universidade, iluminaria consciências e o panorama


seria outro.
Chegar à universidade! Aí está o nó da questão! ”(13)

Com certeza, a citação anterior encontra analogia nas palavras de Kardec: “Quando as
crenças espíritas se houverem vulgarizado, quando estiverem aceitas pelas massas
humanas (e, a julgar pela rapidez com que se propagam, esse tempo não vem longe),
com elas se dará o que tem acontecido a todas as idéias novas que hão encontrado
oposição: os sábios se renderão à evidência. Lá chegarão, individualmente, pela força
das coisas” (35).

Retornemos a "Mansão da Esperança", lá na "Cidade Universitária" espiritual:

"Outros cursos fazíamos, não menos importantes para a nossa reeducação,


alternadamente com o da Moral estatuída pelo insigne Mestre Nazareno. Um deles
prendia-se à Ciência Universal, cujos rudimentos nos deram, então, a conhecer – dois
anos depois de iniciados no curso de Moral Cristã – através de estudos profundos.
Análises tão penosas quão sublimes! E nestas mesmas análises entrava a necessidade de
estudarmos a nós próprios, aprendendo a nos conhecermos intimamente!"

O Espírito fez destaque: - "Ninguém entrará no reino de Deus se não nascer de novo".
Nascer de novo é tão difícil de explicar, quanto conciliar a bondade de Deus e o
nascimento de crianças cegas (16,25).

Referências Bibliográficas

1. Carneiro, PCA. 2004. Cotas de vagas para residência médica. AdUFRJ, seção
sindical, IX(139): 6.
2. Duarte, RS; Alviano, DS; Alviano, CS & Formiga, LCD. 1998. Graduação em
Microbiologia e Imunologia e Primeira Turma do Brasil. Boletim da Sociedade
Brasileira de Microbiologia, 22: 4-6.
3. Fatima Araujo de Carvalho. São José dos Campos, SP.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u819.shtml
4. Formiga, ALB. 1998. Se Jesus já ensinou as Leis de Deus, qual a utilidade do
Espiritismo? Rev. Anima, Mocidade Espírita Gabriel Delanne, CEHA, RJ. RJ.
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/espiritismo-para-que.html
5. Formiga, LB. & Formiga, LCD. 1993. Infecções por C. diphtheriae em pacientes
imunodeprimidos. Bol. Inform. Unid. Imunodep. / Hosp. Aeronáutica dos Afonsos.
M.A., 3: 2.
6. Formiga, LB & Formiga, LCD. 1994. Difteria Iatrogenia da Omissão.Pediatria Atual,
7(8): 27-31.
7. Formiga, LCD, Pessôa, MHR, Villela, LH. & Queiroz, MLP. 1980. A Universidade
do Estado do Rio de Janeiro e a Formação de Recursos Humanos para a Área de Saúde -
Curso de Ciências Biológicas - Modalidade Médica. Monografia prêmio UFRJ-
FUNARTE - 80 Rio de Janeiro, RJ.
8. Formiga, LCD. 1982. Ensino Biomédico. Rev. MEDICINA (HUPE) UERJ, 1(3):275-
281.
9. Formiga, LCD. 1984. Com o Pires na mão. Jornal do Professor, J.B. RJ, RJ, Agosto,
pág. 4.
10.Formiga, LCD, Queiroz, MLP. & Pessôa, MHR. 1986. Curso de Ciências Biológicas
– Biomedicina – na UERJ. 1968-1978. Rev. MEDICINA (HUPE). UERJ, 3(2):159-170.
11. Formiga, LCD, Queiroz, MLP, Pessôa, MHR. & Villela, LHC. 1986. Pós-
Graduação na área biomédica. Rev. MEDICINA (HUPE). UERJ, 5(1):77-84.
12. Formiga, LCD. 1994. Salto de Qualidade. Boletim da Faculdade de Ciências
Médicas, 24: 2.
13. Formiga, L.C.D. 1996. "Dores, Valores, Tabus e Preconceitos". CELD Editora,
RJ.RJ.
14. Formiga, LCD. 1996. O que espero de meus médicos. Idéias para uma "Declaração
de Direitos do Paciente Terminal". Rev. Enfermagem.UERJ, RJ, 4(1): 89-102.
15. Formiga, LCD. 1998. Ensino, Pesquisa e Ética na Microbiologia Médica. Boletim
da Sociedade Brasileira de Microbiologia, 21(jul): 3-4.
16. Formiga, LCD. 2000. As Ciências Biomédicas, os Doutores, o Espiritismo e os
Cegos de Nascença.
Revista Internacional de Espiritismo, maio.
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/as-ciencias-biometicas.html
17. Formiga, LCD. 2000. Educação, Universidade e Espiritualidade. Tendências do
Trabalho, 309: 2-3.
18. Formiga, LCD. 2000. Ética, Sociedade e Terceiro Milênio. Tendências do Trabalho,
312: 8-10.
19. Formiga, LCD. 2000. Espiritualidade, Transparência e Consciência. Tendências do
Trabalho, 313: 10-16.
20. Formiga, LCD & Guaraldi, ALM. 2001. Difteria - Profissionais susceptíveis,
diagnóstico, vacinação e reparação de danos. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina
Laboratorial, 37 (4): 288-289.
21. Formiga, LCD. 2002. O Poder das Palavras, no Princípio era o Verbo.
http://www.saci.org.br/ (25 de setembro).
22. Formiga, LCD. 2002. Médicos e Espíritas Verdadeiros. Revista Fraternidade,
Lisboa, Pt., 464: 3-8.
23. Formiga, LCD. 2003. Diferente. Do leproestigma ao clone estigmatizado. Enfoque
microbiológico. Revista Fraternidade, Lisboa, Pt, 476 (fev): 50-57; 477 (mar): 82-88.
24. Formiga, LCD. Ciência com Amor. Revista Fraternidade, Lisboa, Pt, 422
(agosto/setembro).: 227-229.
25. Formiga, LCD. Evidências científicas sugestivas de reencarnação.
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/reencarnacao.html
26. Guaraldi, ALM; Formiga, LCD; Marques, EA, Pimenta, FP, Camello, TCF &
Oliveira, EF. 2001. Diphtheria in a vaccinated adult in Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian
J. Microbiol., 32: 236-237.
27. Machado, BM. 1922. "Contribuição ao estudo da Psychiatria (Espiritismo e
Metapsychismo)". Tese. Faculdade de Medicina do Rio de janeiro. RJ.RJ.
28. Marques, EA, Formiga, LCD, Franco, MAC. & Carneiro, SMCS. 1985. A
indissolubilidade do ensino e da pesquisa - uma questão de visão do mundo ou de
preceito legal? Relatório de pesquisas. Programa de Avaliação da Reforma
Universitária. NEPES-UERJ/CAPES. 200 p.
29. Marques, EA, Formiga, LCD, Franco, MAG & Carneiro, SMC. 1989. Ensino e
Pesquisa na Universidade: Questão de Lei ou de Visão do Mundo? Cadernos de
Pesquisas (FGV), São Paulo, 69:5-16.
Ensenanza e investigacion en la universidad. Foro Universitário (Univ. Autonoma
México), 94 (XIV): 07-20, 1991.
30. Mello, CA. 2001. "in" Gomes, JBB. Ação Afirmativa & Principio Constitucional da
Igualdade. O Direito Como Instrumento de Transformação Social. A Experiência dos
EUA. Renovar. RJ-SP.
31. Pereira, Y.A. Memórias de um Suicida. (Obra Mediúnica). 568 p. Quinta Edição.
FEB.
32. Rosa, A.T.; Formiga, L.C.D. & Freitas, R.F. 1994. A Hanseníase, a Lepra e a
Comunicação Dirigida. Escola de Enfermagem Anna Néry & Instituto de
Microbiologia, UFRJ. Apresentado no XVII Encontro Nacional dos Estudantes de
Enfermagem, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza. Monografia. 43 p.
33. Bachelard, G.; A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise
do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
34. Kardec, A. O Livro dos Espíritos, 70 ed., Rio de Janeiro: F.E.B., 1989. Introdução,
item VIII.
35. Kardec, A. O Livro dos Espíritos, 70 ed., Rio de Janeiro: F.E.B., 1989. Introdução,
item VII.
36. Formiga, L. C. D. "Deixe Claro para seu Filho". Revista FRATERNIDADE,
(Lisboa.Pt), 465: 82-86, março. 2002.
37. http://www.inbrapenet.com.br/neu
38. Nota Explicativa do NEU-RJ incluída no artigo "O Retrato de Bezerra e a
Aristocracia intelecto-Moral (Ética e Terceiro milênio)". Rev. Intern. Espiritismo.,
LXXVI (4): 181-182, 2001.

Nota.
Diversos artigos, das referências bibliográficas, podem ser encontrados nos endereços
eletrônicos:
1. http://www.espirito.org.br/index.asp
2. http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/index.htm
3. http://www.cefamiami.com/
4. http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/
5. http://www.ieja.org/portugues/p_index.htm
6. http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/LIHPE/historia01.html

... Allan Kardec

> Da perpetuidade do Espiritismo - Revista Espírita

Artigos

Da perpetuidade do Espiritismo

REVISTA ESPÍRITA
Jornal de Estudos Psicológicos
publicada sobre a direção de Allan Kardec

fevereiro de 1865

Num artigo anterior falamos dos incessantes progressos do Espiritismo. Serão esses
progressos duráveis ou efêmeros? É um meteoro que brilha com luz passageira, como
tantas outras coisas? É o que vamos examinar em poucas palavras.

Se o Espiritismo fosse uma simples teoria, uma escola filosófica fundada numa opinião
pessoal, nada garantiria a sua estabilidade, porque poderia agradar hoje e não agradar
amanhã; num dado tempo poderia não estar mais em harmonia com os costumes e o
desenvolvimento intelectual e, então, cairia, como todas as coisas velhas, que ficam para
trás do movimento; enfim poderia ser substituído por algo de melhor. Assim é com
todas as concepções humanas, todas as legislações, todas as doutrinas puramente
especulativas.

O Espiritismo apresenta-se em condições completamente outras, como tantas vezes


temos feito observar. Repousa sobre um fato, o da comunicação entre o mundo visível e
o invisível. Ora, um fato não pode ser anulado pelo tempo, como uma opinião. Sem
dúvida ainda não é admitido por todos. Mas que importam as negações de alguns,
quando ele é constatado diariamente por milhões de indivíduos, cujo número cresce
incessantemente, e que nem são mais tolos, nem mais cegos que outros? Virá, pois, um
momento em que não encontrará mais negadores do que os que há atualmente do
movimento da terra.

Quanta oposição não levantou este último fato! Há quanto tempo faltam aos incrédulos
boas razões aparentes para o contestar. “Como crer, diziam eles, na existência dos
antipodas, marchando de cabeça para baixo? E se a terra gira, como pretendem, como
crer que nós mesmos estejamos, de vinte e quatro em vinte e quatro horas, nessa posição
incômoda sem nos apercebermos? Nesse estado, não mais poderíamos ficar ligados à
terra senão quiséssemos marchar contra o fecto, com os pés no ar, à maneira de moscas.
E depois, que aconteceria aos mares? Será que a água não se derrama quando se inclina
o vaso? A coisa é simplesmente impossível, portanto é absurda, e Galileu é um louco.”

Entretanto, sendo um fato essa coisa absurda, triunfou de todas as razões contrarias e de
todos os anátemas. Que faltava para admitir a sua possibilidade? o conhecimento da lei
natural sobre a qual ela repousa. Se Galileu se tivesse contentado com dizer que a terra
gira, ainda agora não o acreditariam. Mas as denegações caíram ante o conhecimento do
princípio. Será o mesmo com o Espiritismo. Desde que repousa sobre um fato material,
existente em virtude de uma lei explicada e demonstrada, que lhe tira todo caráter
sobrenatural e maravilhoso, é imperecível. Os que negam a possibilidade das
manifestações estão no mesmo caso dos que negaram o movimento da terra. A maioria
nega a causa primeira, isto é, a alma, sua sobrevivência e sua individualidade. Então não
é de surpreender que neguem o efeito. Julgam pelo simples enunciado do fato, e o
declaram absurdo, como outrora declaravam absurda a crença nos antípodas. Mas, que
pode sua opinião contra um fenômeno constatado pela observação e demonstrado por
uma lei da natureza? Sendo o movimento da terra um fato puramente cientifico, sua
demonstração não estava ao alcance do vulgo; foi preciso aceitá-lo sobre a fé nos
cientistas. Mas o Espiritismo tem a mais, por si, poder ser constatado por todo o mundo,
o que explica sua rápida propagação.

Toda descoberta nova de alguma importância tem conseqüências mais ou menos graves.
A do movimento da terra e da lei da gravitação, que rege esse movimento as teve e
incalculáveis. A ciência viu abrir-se à sua frente um novo campo de exploração e não se
poderiam enumerar todas as descobertas, as invenções e as aplicações que foram sua
conseqüência. O progresso da ciência acarretou o da indústria, e o progresso da
indústria mudou a maneira de viver, os hábitos, numa palavra todas as condições de ser
da humanidade. O conhecimento das relações do mundo visível e do mundo invisível
tem conseqüências ainda mais diretas e mais imediatamente práticas, porque está ao
alcance de todas os individualidades e do interesse de todos. Devendo cada homem
necessariamente morrer, ninguém pode ser indiferente ao em que se transformará após a
morte. Pela certeza que o Espiritismo dá do futuro, muda a maneira de ver e influi sobre
a moralidade. Abafando o egoísmo, modificará profundamente as relações sociais de
indivíduo a indivíduo e de povo a povo.

Muitos reformadores de pensamento generoso formularam doutrinas mais ou menos


sedutoras; mas, em sua maioria, apenas tiveram um sucesso de seita, temporário e
circunscrito. Foi assim e assim será sempre com as teorias puramente sistemáticas,
porque na terra não é dado ao homem conceber algo de completo e perfeito. Ao
contrário, o Espiritismo, apoiando-se não numa idéia preconcebida, mas em fatos
patentes, está ao abrigo dessas flutuações e não poderá senão crescer, à medida que os
fatos forem vulgarizados, melhor conhecidos e melhor compreendidos Ora, nenhuma
força humana poderia impedir a vulgarização de fatos que cada um pode constatar.
Constatados os fatos, ninguém poderá impedir as conseqüências dos mesmos
resultantes. Estas conseqüências são aqui uma revolução completa nas idéias e na
maneira de ver as coisas deste mundo e do outro. Antes que este século tenha passado
ela será realizada.

Mas, dirão, ao lado dos fatos tendes uma teoria, uma doutrina; quem vos diz que essa
teoria não sofrerá variações? Que em alguns anos a de hoje será a mesma?

Sem dúvida ela pode sofrer modificações em seus detalhes, à vista de novas
observações; mas, uma vez adquirido o princípio, não pode variar e, menos ainda,
anular-se; é o essencial. Desde Copérnico e Galileu tem-se calculado melhor o
movimento da terra e dos astros, mas o fato do movimento ficou com o princípio.

Dissemos que o Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência de observação. É o que faz a
sua força contra os ataques de que é objeto e dá. aos seus adeptos uma fé
inquebrantável. Todos os raciocínios que lhe opõem caem diante dos fatos, e esses
raciocínios têm tanto menos valor aos seus olhos quanto mais os sabem interesseiros.
Em vão se lhe diz que isto não é, ou é outra coisa. Respondem: Não podemos negar a
evidência. Ainda quando se tratasse de um só, poderia julgar-se vítima de uma ilusão;
mas quando milhões de indivíduos vêem a mesma coisa, em todos os países, conclui-se
logicamente que são os negadores que abusam.

Se os fatos espíritas só tivessem como resultado satisfazer a curiosidade, certamente


ocasionariam apenas uma preocupação momentânea, como tudo o que é inútil; mas as
conseqüências que deles decorrem tocam o coração, tornam felizes, satisfazem as
aspirações, enchem o vazio cavado pela dúvida, lançam a luz sobre a temível questão do
futuro; ainda mais, neles se vê uma causa poderosa de moralização para a sociedade;
elas têm, pois, um grande interesse. Ora, a gente não renuncia facilmente ao que é uma
fonte de felicidade. Certamente não é com a perspectiva do nada, nem com a das
chamas eternas que arrancarão os Espíritas de sua crença.

O Espiritismo não se afastará da verdade e nada terá a temer das opiniões contraditórias,
enquanto sua teoria cientifica e sua doutrina moral forem uma dedução dos fatos
escrupulosa e conscientemente observados, sem preconceitos nem sistemas
preconcebidos. É diante de uma observação mais completa que todas as teorias
prematuras e aventurosas, surgidas na origem dos fenômenos espíritas modernos,
caíram e vieram fundir-se na imponente unidade que hoje existe, e contra a qual só se
atiram raras individualidades, que diminuem dia a dia. As lacunas que a teoria atual
pode ainda conter encher-se-ão da mesma maneira. O Espiritismo está longe de haver
dito a última palavra, quanto às suas conseqüências, mas é inamolgável em sua base,
porque esta base está assentada nos fatos.

Assim, que os Espíritas nada receiem: o futuro lhes pertence; que deixem os adversários
se debatendo sob o aperto da verdade, que os ofusca, porque toda denegação é
impotente contra a evidência que, inevitavelmente, triunfa pela mesma força das coisas.
É uma questão de tempo, e neste século o tempo marcha a passos de gigante, sob o
impulso do progresso.

... Jáder dos Reis Sampaio

> A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal

Artigos

Resumo

Metodologia e epistemologia são duas áreas relacionadas, mas independentes entre si. É
muito comum na pesquisa administrativa brasileira entender-se a pesquisa chamada de
qualitativa a partir de um referencial epistemológico empirista-formal. Realizou-se uma
análise das contribuições teóricas ao tema por autores clássicos e contemporâneos. A
proposta do presente trabalho teórico é distinguir a orientação epistemológica baseada
no empirismo-formal da que se fundamenta na fenomenologia. Aceita esta distinção e o
“status” científico destas duas matrizes de conhecimento, mostra-se que há implicações
metodológicas distintas para a pesquisa qualitativa, seja com relação ao objetivo, seja
com relação à abordagem do objeto, seja com relação à construção de construtos e
indicadores. Desta forma, a pesquisa qualitativa não é uma pesquisa para a qual não se
teve fôlego para estudar um número suficiente de eventos que permitam generalização,
nem está às voltas com um tipo de objeto que permite apenas uma mensuração não
métrica e muito menos é uma abordagem menor da ciência porque não consegue
estabelecer com fundamento leis que estabelecem relações determinantes ou
probabilísticas entre eventos. Trata-se de um tipo de pesquisa própria para a análise em
profundidade de fenômenos onde se pressupõe, ou se busca entender melhor, a
singularidade ou a subjetividade.

Palavras-Chave: Pesquisa Qualitativa, Metodologia de Pesquisa, Epistemologia

Introdução

Sempre que se discute uma pesquisa científica, está se optando por uma certa produção
de conhecimento que atende a determinados parâmetros ou exigências propostos por um
determinado grupo de pesquisadores. Um equívoco que geralmente se comete é
pressupor a existência de uma teoria epistemológica única que fundamentaria a escolha
dos métodos de investigação.

Em meio ao pensamento administrativo, a noção de ciência mais difundida filia-se às


escolas derivadas do empirismo. Mesmo nesta tradição, há muitas escolas
epistemológicas concorrentes, como o empirismo lógico, o empirismo probabilista, o
empirismo crítico e o evolucionista. Em ruptura à tradição empirista, temos inúmeras
escolas de teoria do conhecimento, como a fenomenológica (e seus desdobramentos) e a
pragmática.

A idéia que o conhecimento científico é um tipo de conhecimento verdadeiro, e que a


aplicação da metodologia científica conduz à obtenção da verdade, é um mito de difícil
sustentação se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre os quais
se constrói uma dada teoria epistemológica.

O Que é Ciência?

Francis Bacon (1561-1626), ao redigir sua obra “Novum Organum” lançou algumas
das bases da ciência moderna. Propôs que o estudo se voltasse à análise da natureza,
cujos resultados pudessem permitir uma acumulação sistemática do conhecimento.
Propôs o método indutivo como o caminho para atingir este objetivo, através da
experiência escriturada, que compreendia a observação sistemática e a realização de
experimentos. O filósofo natural deveria observar as condições em que um determinado
fenômeno ocorria (tábua de presença), as condições em que ele não ocorria (tábua de
ausência) e registrar os diferentes graus de variação do fenômeno a fim de descobrir
possíveis correlações entre as variações (tábua das graduações). Feitas as observações o
pesquisador procuraria estabelecer induções amplificadoras (generalizações) extraindo o
que existe de geral em uma coleção de fenômenos e estendendo por analogia aos demais
nas mesmas condições. Em Bacon já temos uma distinção entre ciência (fruto da
experiência humana) e especulação ou metafísica (fruto do raciocínio calcado na
“lógica vulgar” ou mesmo da revelação divina).

Isaac Newton (1642-1727) abriu mão da análise teórica calcada em uma autoridade
(pelo menos formalmente) para analisar as regularidades físicas, tendo por parâmetros
comparativos os modelos da álgebra. Uma frase famosa onde ele expõe sua crítica ao
emprego de hipóteses foi: “hypotheses non fingo”. Ele possibilitou uma certa forma de
se fazer ciência, onde se procura o avanço do conhecimento através da identificação de
regularidades constatadas matematicamente e por indução, ou, simplesmente, “leis
naturais”. Newton, portanto, adiciona as matemáticas ao método de Bacon.

Uma das dificuldades que este procedimento gerava envolvia a sucessiva


complexificação das teorias explicativas dos fatos estudados, o que poderia fazer com
que os cientistas se perdessem no “perigo da especulação” a partir das mesmas. Um
filósofo que deu uma contribuição histórica a este problema foi David Hume (1711-
1776), com sua famosa “investigação acerca do conhecimento humano”. Ele defende a
identificação de nexos de causalidade dos fenômenos naturais (entendidos como
sucessões temporais entre dois fenômenos percebidos em bases de uma vinculação
necessária, ou seja, para que o segundo aconteça é necessário que o primeiro o
anteceda) e toma como critério de verdade a possibilidade de retorno das teorias às
bases empíricas que as geraram (fenômenos sensíveis), ou seja, às percepções originais.
Criticando o pensamento cartesiano, ele admite a lógica dedutiva apenas para a
matemática (porque consiste em relações entre símbolos), considerando-a criadora de
sofismas e ilusões quando aplicada ao mundo natural, que necessariamente não se
comporta segundo a lógica.

Seu projeto de construção do conhecimento foi muito bem sucedido no mundo das
ocorrências físicas, e marcou uma distinção entre as Físicas e as Metafísicas, que gerou
um certo desprezo nos meios acadêmicos por estas últimas. Ele foi extremamente
influente até o final do século XIX e início do século XX, quando físicos como Albert
Einstein propuseram teorias que invalidavam a aplicação das leis de Newton a
territórios pouco conhecidos da Física, como as partículas subatômicas, o que gerou
uma desconfiança na capacidade de generalização das conclusões obtidas por estes
métodos.

Grosso modo, temos então uma noção de ciência, que seria um método de produção de
conhecimento verificável e acumulável, que estabelece nexos de causalidade entre
fenômenos, a partir da observação sistemática e experimentação de fenômenos naturais
com a finalidade de identificarem-se, por generalização, regularidades (leis) passíveis de
descrição matemática.

Esta definição será quase que totalmente criticada no século XX. Bachelard e Kuhn
criticariam a cumulatividade do conhecimento científico introduzindo conceitos como
corte epistemológico e mudança de paradigma, respectivamente. Carnap abriu mão do
conceito de verificabilidade, substituindo-o pelo de confirmabilidade. Popper estenderia
as críticas à indução e à generalização, questionaria os fundamentos epistemológicos do
probabilismo e proporia a falseabilidade e a falsificação, assim como a transitoriedade
das teorias científicas aceitas. Todos os autores citados tratam das chamadas ciências
naturais. Evitaremos o desenvolvimento destas contribuições porque elas nos fazem
perder a linha mestra do presente trabalho.

Há Diferentes Métodos?

Vimos desenvolvendo o presente raciocínio mostrando que por detrás de um conceito


aparentemente aceito de ciência, entre seus próprios expoentes, há inúmeras discussões
que estão longe de poderem ser consideradas acessórias, posto que se referem a
elementos essenciais da noção empírico-formal de ciência.

Podemos dizer que há diferentes métodos do conhecimento científico? Apesar de a


grande maioria dos autores acima defenderem a teoria da ciência unificada, cada um
buscando trazer para a sua proposta as diretrizes “verdadeiras” do método científico,
podemos dizer que há uma variação ainda mais acentuada em torno do conceito de
ciência, especialmente das ciências humanas e sociais, cuja questão discutirei
posteriormente.

Em meio aos livros de teoria do conhecimento e metodologia de pesquisa científica, há


diferentes classificações de métodos concorrentes, que surgiram de bases de
pensamento epistemológico diversas (ou matrizes epistemológicas) e que, mais que um
exercício especulativo, passaram a orientar pesquisadores e cientistas, consolidando-se
em orientações concorrentes de escolas, linhas de pesquisa e disciplinas.

Para fins de ilustração deste ponto de vista, passamos a apresentar o referencial de


ZILLES, que adotaremos neste trabalho por sua simplicidade, mas há diversos outros
como o de DE BRUYNE ET AL. (1991).

ZILLES (1994) divide o conhecimento científico em três grupos: o das ciências


formais, o das ciências empírico-formais e o das ciências hermenêuticas.

As ciências formais têm “relações entre signos” como seu objeto de pesquisa,
compreendem a matemática e a lógica, são racionais e sistemáticas, são verificáveis,
no sentido da possibilidade do emprego da dedução.

As ciências empírico-formais foram descritas no item anterior e têm por objeto a


realidade empiricamente apreensível (natureza), podendo usar as ciências formais
como seu instrumental.

As ciências hermenêuticas, por sua vez “são ciências da interpretação. (...) A


interpretação procura evidenciar uma significação não imediatamente aparente. A
significação é uma relação entre um signo e uma entidade pertencente ao mundo real ou
ao mundo ideal. Em resumo, as ciências hermenêuticas visam a realidade humana
enquanto apreensível, enquanto perceptível na natureza transformada pela
cultura. (...) visa à subjetividade, suas intencionalidades. (...) trabalham
essencialmente com a categoria do sentido”. (ZILLES, 1994. p. 164)

A Fenomenologia de Edmund Husserl é uma das teorias que procura fundamentar


epistemologicamente este último conceito. Trataremos dela de forma mais detida, mas
antes passamos a discutir os pontos de conflito entre as ciências naturais e as ciências
humanas e sociais.

O Problema do Método nas Ciências Humanas e Sociais

Uma discussão também histórica em meio aos epistemologistas, repousa na


possibilidade de adoção dos métodos do empirismo formal às chamadas ciências
humanas e sociais. Independente dos argumentos pró ou contra este projeto, qualquer
leitor desapaixonado considera razoável que a aplicação destes métodos às ciências do
homem pressupõe a aceitação apriorística de que o ser humano é explicável à partir de
“leis” que desvendam a sua “natureza”. Caso contrário, tratando-se o homem como um
ser portador de uma condição humana, ou seja, dotado de livre arbítrio, capaz de
construir sua própria cultura e resignificar o mundo ao seu redor, não faz sentido
empregar-se um método que busca explicá-lo destituindo-o de suas capacidades. Esta
condição humana (termo que emprego no sentido de delimitar o homem produtor de
cultura e produzido por ela, em distinção à natureza humana) seria incognoscível por
uma matriz epistemológica calcada no empirismo, não sendo objeto passível do
emprego dos métodos das ciências naturais.

Após quase um século e meio de Psicologia concebida como ciência humana, podemos
acompanhar o desdobramento da aplicação dos métodos das ciências naturais e sugerir
que eles são mais bem sucedidos quando o homem é visto como (ou reduzido a) um ser
orgânico. A pesquisa médica é um exemplo de sucesso do emprego dos métodos
naturais, mas nenhum médico acreditaria, por exemplo, na existência de diferenças
estruturais e funcionais significativas entre dois corações humanos, a menos que
estivéssemos estudando patologias, ou seja, eles trabalham com uma natureza do
organismo humano.

As conclusões da Psicologia empírica, entretanto, se tornam polêmicas e duvidosas


quando se analisa o homem como um ser psíquico, tendo algum poder explicativo
quando descritivas, mas sendo incertas quando preditivas. Parece-me que o ser psíquico
é apenas parcialmente determinado, ou seja, as regularidades que podemos identificar a
partir de sua pesquisa não seriam suficientes para uma compreensão de sua dinâmica
singular e são raramente passíveis de generalização para pessoas educadas em culturas
muito diferentes entre si.

Um psiquiatra de renome parece ter chegado a conclusão semelhante e talvez um pouco


menos pessimista quando desenvolveu o seguinte pensamento:

"Uma das antinomias fundamentais é a proposição: A psique depende do corpo, e o


corpo depende da psique. (...) Chegamos assim à formulação dialética, que no fundo
significa que a interação psíquica nada mais é do que a relação de troca entre dois
sistemas psíquicos. Uma vez que a individualidade do sistema é infinitamente variável,
o resultado é uma variabilidade infinita de afirmações de validade relativa. No entanto,
se individualidade fosse singularidade, isto é, se o indivíduo fosse totalmente diferente
de qualquer outro indivíduo, a psicologia seria impossível enquanto ciência, isto é, ela
consistiria num caos inextricável de opiniões subjetivas. Mas como a individualidade é
apenas relativa, isto é, apenas complementa a conformidade ou a semelhança entre os
homens, as afirmações de validade universal, ou seja, as constatações científicas,
tornam-se possíveis. Conseqüentemente, estas afirmações podem referir-se unicamente
às partes do sistema psíquico conformes, isto é, às que podem ser comparadas e,
portanto apanhadas estatisticamente, e não ao individual, ao único dentro do sistema. A
segunda antinomia fundamental da psicologia é a seguinte: O individual não importa
perante o genérico, e o genérico não importa perante o individual. " (JUNG, 1985. p. 2-
3)

Muitos autores consagrados na literatura aceitam as diferenças epistemológicas entre as


ciências humanas e sociais. Kirk e Miller apontam o seguinte:

“... “Objetividade,” também, é um conceito ambíguo. Em um sentido, ele se refere ao


pressuposto heurístico, comum nas ciências naturais, que tudo no universo pode, em
princípio, ser explicado em termos de causalidade. Nas ciências sociais, este
pressuposto freqüentemente parece perder o sentido, em razão do que, aquilo os
cientistas sociais tentam explicar é a conseqüência das escolhas existenciais internas
feitas pelas pessoas.” (KIRK e MILLER, 1988. p. 10)

Este problema não é diferente nas ciências administrativas, posto que têm por objeto as
organizações de trabalho constituídas por seres humanos. Se por um lado é possível
estabelecer regularidades que parecem ser universais às relações de troca (lei de oferta e
procura nas ciências econômicas), da mesma forma temos as organizações com suas
singularidades (os transplantes de modelos administrativos, por exemplo), gerando
outputs diferentes daqueles que seriam esperados por um certo modelo administrativo.

Podemos ver por que determinadas metodologias qualitativas são tão difundidas nesta
área do conhecimento, como os estudos de caso, a despeito do desenvolvimento dos
métodos quantitativos e dos aparelhos de auxílio ao processamento de informações.
Quanto mais próximos dos fenômenos culturais humanos, mais singulares se tornam os
fenômenos em Administração e, portanto, mais importante a compreensão das unidades.
Quanto maiores as possibilidades de tomada de decisões e as mudanças no ambiente,
menos preditivos se tornam os modelos administrativos, que parecem ter validade
circunscrita a determinados cenários.

Ao gerente, em um cenário turbulento, pode ser mais valioso deter um repertório de


construções compreensivas e capacidade analítica (de preferência criativa) que conhecer
prescrições calcadas em modelos universais de funcionamento das organizações. O
emprego de ferramentas de finalidade prospectiva e situacional parece ter se
desenvolvido bastante na administração, com a finalidade de dar suporte à tomada de
decisões.

Como lidar com o conhecimento tendo em vista objetos possivelmente dotados de


singularidade? É aceitável renunciar ao desejo de conhecê-los taxando-os de
incognoscíveis, ou há formas de desenvolver algum tipo de entendimento?

Dilthey (1833/1911) foi um dos filósofos alemães que defendeu a idéia que as ciências
humanas e sociais têm por objeto uma realidade humana, histórica e social, criticando o
emprego isolado dos métodos das ciências naturais nesta área. Ele considera
fundamental a análise da compreensão da experiência pessoal e da expressão do espírito
humano nesta área do conhecimento.
Dentre as escolas de pensamento epistemológico, passo a apresentar uma das mais in
fluntes e prolíficas para com este problema: a Fenomenologia de Edmund Husserl.

O Que é Fenomenologia?

ZILLES (1994) fez uma síntese da evolução dos conceitos de fenômeno em Filosofia,
onde mostra haverem pelo menos dois sentidos marcantes: o primeiro, mais amplo,
significaria “tudo o que aparece, se manifesta ou se revela” e está conectado a tudo o
que existe exteriormente, ou seja, os fenômenos físicos. Kant, entretanto, notabilizou-se
ao distinguir o fenômeno da coisa em si (que denominou “noumenon”). Para eles os
fenômenos seriam os objetos da experiência, e as “coisas em si” seriam “incognoscíveis
e transcendentes à experiência”.

Edmund Husserl (1859-1938) irá construir a Fenomenologia como uma vertente crítica
ao naturalismo vigente à sua época, que insistia em negar a subjetividade para estudar
os fatos naturais como se fossem uma realidade única. Volta-se, portanto, ao mundo
interior dos homens, chamado transcendental¹, onde ser fará a conexão possível entre as
coisas em si e as idéias. Husserl privilegia, portanto, o estudo da consciência que define
como uma instância psíquica que constitui significações, seja ao apreender ou ao
constituir os significados dos acontecimentos naturais ou psíquicos.

A consciência é entendida pela Fenomenologia de Husserl como sendo um “fluxo


temporal de vivências”, peculiar, porque é imanente, ou seja, capaz de dar sentido às
coisas e de apreender através da intuição aquilo que é universal, já que ela capta a
multiplicidade de fatos e a sua essência comum. Outro aspecto importante da
consciência diz respeito à sua “intencionalidade”. Chauí (1988) descreve a
intencionalidade como “dirigir-se para, visar alguma coisa”, o que a torna uma
atividade constituída de atos que visam a algo. “Toda consciência é uma consciência de
algo.” Husserl denomina a estes atos, que podem ser perceptivos, imaginativos,
especulativos, volitivos, etc., com o termo noesis, e aquilo a que visam com o termo
noema. Os noemas estão presentes na consciência sem serem partes dela.

Husserl distingue ainda dois níveis de noesis; o nível empírico onde se identificam atos
psicológicos e individuais para conhecer um significado independente deles, e o nível
transcendental onde as noesis são atos do sujeito constituinte que cria os noemas
enquanto idealidades puras ou significações.

“A fenomenologia husserliana pretende estudar, pois, não puramente o ser, nem


puramente a representação ou aparência do ser, mas o ser tal como se apresenta no
próprio fenômeno. E fenômeno é tudo aquilo de que podemos ter consciência, de
qualquer modo que seja.” (ZILLES, 1994. p. 125)

Outro conceito importante para o entendimento da fenomenologia reside na dinâmica da


relação entre o fato e a consciência. Como já afirmamos acima, Husserl trabalha com as
intuições da consciência como sendo os elementos constituintes do conhecimento. Elas,
entretanto, só constroem conhecimento à medida que são capazes de perceber as
essências, distinguindo diferentes possibilidades de representação dos objetos.
“Dizemos que dois atos intuitivos possuem a mesma essência quando as suas intuições
puras têm a mesma matéria. ...Todas as intuições objetivamente completas de uma
mesma matéria têm a mesma essência.” (HUSSERL, 1988. p. 78)

Uma vez aceita a premissa husserliana se pergunta como fazer ciência, ou ainda, o que é
ciência para a fenomenologia. O critério de verdade em Husserl (1988, p. 94) é definido
como “a plena concordância entre o visado e o dado como tal”, ou, como interpreta
Chauí, entre “o ato de conhecer e o seu correlato”. Isto não significa que a verdade seja
apenas uma verdade subjetiva, no sentido de ser considerada apenas no recesso do
pensamento de seu criador, mas reflete a ordem das coisas.

A questão a que esta afirmação nos remete é: como pode o agente do conhecimento
distinguir as essências das coisas e não ser iludido pelas aparências da realidade exterior
ou pelos conteúdos pré-existentes da sua consciência?

ZILLES e CHAUÍ identificam três condições propostas por Husserl para a


fundamentação de uma ciência de rigor:

a) ausência de pressupostos: ou seja, o pesquisador evitaria considerar o que já foi dito


por pensadores ou pela teoria, indo diretamente às coisas mesmas, buscar suas
essências. A epoqué consiste “em nos abstermos por completo de julgar acerca das
doutrinas de qualquer filosofia anterior e em levar a cabo todas as nossas descrições no
âmbito desta abstenção”. (Husserl apud Zilles, 1994. p. 128)

b) o caráter a priori: que significa desconfiar dos dados empíricos para fundamentar-se
em idealidades (“as coisas mesmas”) da consciência transcendental, a única capaz de
captar as essências. Entende Husserl que a intuição da essência é diferente da percepção
do fato. É fácil ilustrar este tipo de postulado quando se observam ações de pessoas, que
estão revestidas de intencionalidades. A mera observação do resultado da ação ou da
ação em curso não revela a intencionalidade do sujeito. O trabalhador que opera em
ritmo lento pode estar protestando contra a fábrica, estar estressado, despido de
conhecimento necessário para a realização de sua atividade, disperso, preocupado com
problemas de casa, ou por uma infinidade de motivos.

c) evidência apodítica: seriam as bases das construções dos juízos (aos moldes do
pensamento cartesiano). Seriam evidências “com ausência total de dúvida”, cuja
obtenção se dá a partir das reduções fenomenológicas que Zilles descreve da seguinte
forma:

“Para chegar ao fenômeno puro, Husserl suspende o juízo em relação à existência do


mundo exterior (transcendente). Descreve apenas o mundo como se apresenta na
consciência, ou seja, reduzido à consciência. Tal suspensão ou colocação entre
parênteses chamou epoqué. Portanto, não duvida da existência do mundo, mas
simplesmente o põe “entre parênteses” ou o idealiza ou o reduz ao fenômeno: a redução
fenomenológica. No fenômeno, por sua vez, procede a sucessivas reduções em busca da
essência: a redução eidética. Assim entende a fenomenologia como análise descritiva
das vivências da consciência depuradas de seus elementos empíricos para descobrir e
apreender as essências diretamente na intuição.” (ZILLES, 1994. p. 130-131)
Não é de fácil entendimento a delimitação da redução eidética como método. De Bruyne
(1991) entende, a partir de Merleau Ponty, que se o pesquisador imaginar todas as
relações implicadas por um fenômeno e o fizermos variar, pela imaginação, tudo o que
não puder ser variado sem que o objeto desapareça é uma essência.

A Fenomenologia, apesar de se situar como uma ciência rigorosa, não se acha descrita
metodologicamente de forma prescritiva, o que levou Martin Heiddegger, discípulo de
Husserl a escrever uma frase que ficou famosa: “compreender a Fenomenologia é
apreender suas possibilidades”. Como a fenomenologia fez escola, alguns dos seus
pesquisadores realizaram esforços de apresentação compreensiva do método. Bruyn, por
exemplo, fez uma releitura do trabalho de Spigelberg, onde se identificam sete “passos”
do método fenomenológico, a saber:

1. Investigar fenômenos particulares


2. Investigar essências gerais
3. Apreender as relações essenciais entre as essências
4. Observar os modos de aparecimento
5. Observar a constituição dos fenômenos na consciência
6. Suspender a crença na existência do fenômeno
7. Interpretar o significado do fenômeno. (BRUYN, 1970. p. 284)

Miles e Huberman (1994) tecem outra consideração metodológica sobre o trabalho dos
fenomenologistas. Eles afirmam que os pesquisadores desta orientação freqüentemente
trabalham com transcrições de entrevistas e que são cuidadosos na condensação deste
material. Evitar-se-ia o uso de codificação, mas trabalhar-se-ia fazendo releituras
continuadas nas fontes primárias com cuidados para com suas próprias pressuposições
para capturar-se a essência (o lebenswelt do informante). Podemos adicionar que os
discípulos da fenomenologia empregam outros métodos que não a leitura de entrevistas
transcritas, utilizando também a observação participante.

Parece-nos que a fenomenologia tem seu lugar nas ciências humanas e sociais e que a
tentativa de empregá-la como método de análise de objetos próprios das ciências
naturais é infrutífero, posto que eles se acham despidos de intencionalidade ou de
consciência de si. Neste campo a aparência estaria mais “próxima” das essências; os
determinismos são mais patentes e, por tal, os métodos empírico-formais são mais
produtivos, já que se focalizam na identificação de regularidades e conseqüente
construção teórica, seja pela via da indução, seja pela do método hipotético-dedutivo.

Miles e Huberman situam a fenomenologia, a semiótica, o desconstrutivismo estético, a


etnometodologia e a hermenêutica em uma única categoria de linhas de metodologia de
pesquisa, denominada interpretativismo. Eles consideram que apesar de suas diferentes
ênfases e variações, há uma linha comum de ação e compreensão.

O Que é Pesquisa Qualitativa?

Um bom número de autores entende a pesquisa qualitativa como sendo uma pesquisa
cujas variáveis não podem ser mensuradas a nível intervalar ou de razão.
PARASURAMAN (1986), por exemplo, define-se nesta linha:
“Pesquisa qualitativa envolve coletar, analisar e interpretar dados que não podem ser
significativamente quantificados, isto é, sumarizados em forma de números. Por esta
razão a pesquisa qualitativa é algumas vezes considerada como uma pesquisa soft.”
(PARASURAMAN, 1986. p. 240)

Sampson leva esta concepção às suas conseqüências:

“A pesquisa qualitativa é usualmente exploratória ou diagnóstica. Ela envolve um


número pequeno de pessoas que não estão amostradas em uma base probabilística. Elas
podem, contudo, serem selecionadas para representar diferentes categorias de pessoas
de um mercado-alvo ou segmento da comunidade. Em pesquisa qualitativa nenhuma
tentativa é feita para obter conclusões rápidas e sólidas (hard)” (SAMPSON, 1991. p.
29)

Estas visões estão associadas à concepção empírico-formal de ciência. Outros autores


defendem uma definição um tanto diferente de pesquisa qualitativa.

Kirk e Miller ampliam o conceito de pesquisa qualitativa dizendo que ele pode ser visto
a partir de duas óticas: a ótica da “oposição à quantidade” e a da tradição das ciências
sociais que “fundamentalmente dependem da observação de pessoas em seu próprio
território e interagindo com elas em sua própria linguagem, em seus próprios termos”.
Eles consideram a primeira definição limitada e se posicionam da seguinte forma:

“A partir da nossa visão pragmática, a pesquisa qualitativa implica em um


comprometimento com atividades de campo. Não implica em um comprometimento
com a “inumeração”. A pesquisa qualitativa é um fenômeno empírico, socialmente
localizado, definido pela sua própria história, não apenas um “saco de gatos” que
compreende todas as coisas que não são quantitativas.” (KIRK e MILLER, 1988. p. 10)

Eles adotam uma posição epistemológica interessante. Se por um lado não crêem que o
mundo externo determina absolutamente a única e correta forma visão que se pode ter
dele (positivismo) pelo outro lado criticam a posição oposta e extrema de que é possível
encontrar explicações alternativas para tudo e com isto desistir de fazer qualquer esforço
de escolha entre elas (relativismo). Recordam-nos de que há um outro lado da
objetividade: a de que o mundo externo existe, apesar de tudo (realismo).

Posição semelhante é a de Miles e Huberman (1994) que se definem como “realistas


transcendentais” por acreditarem que o fenômeno social não existe apenas na mente,
mas também no mundo objetivo e que algumas relações estáveis podem ser encontradas
entre eles.

Glazer e Strauss (1970) criticam a concepção empirista-formal da teoria científica,


como a concepção de Sampson apresentada acima, e defendem que a pesquisa
qualitativa não é uma preliminar da pesquisa quantitativa, mas que pode ser a base da
formulação e descoberta de “teoria substantiva”. Os métodos clínicos têm sido a base
de inúmeras teorias em Psicologia. A psicanálise e a epistemologia genética de Jean
Piaget são exemplos de teorias que se tornaram globalmente difundidas. Nas ciências
sociais, a etnometodologia e o interacionismo simbólico têm sido construídos a partir
dos métodos qualitativos, quase que exclusivamente.
Em um outro extremo temos a definição de um cientista social, Cicourel (1969), que
seria considerado relativista por Miles e Huberman, já que ele considera semelhantes o
dogma religioso e a ciência, considerando-os ao mesmo tempo como corpos de
conhecimento e ideologias, já que ambos possuem “seus próprios pressupostos
teóricos, métodos e regras para admitir proposições para o seu respectivo corpo de
conhecimento”. Ele entende que “o mundo dos “observáveis” não está simplesmente “lá
fora” para ser descrito e medido com os sistemas de mensuração da ciência moderna,
mas o curso dos eventos históricos e das ideologias de uma dada era pode influenciar o
que está “lá fora” e como estes objetos e eventos devem ser percebidos, avaliados,
descritos e medidos”. (CICOUREL, 1969. p. 38). Com base nesta perspectiva, ele evita
a análise de métodos pela via da distinção entre sistemas científicos e metafísicos, ou se
representam ideologias particulares, mas considera-os todos como meios de obter
conhecimento sobre o mundo social.

Ely et al. (1996) também definem a pesquisa qualitativa de uma perspectiva diferente,
que não pode ser considerada relativista como a de Cicourel, mas fenomenológica. Estas
autoras consideram pouco compreensivo definir o termo “pesquisa qualitativa”, sendo
melhor analisar características comuns de seus métodos. Elas identificam cinco
características que consideram comuns a todo tipo de pesquisa qualitativa:

1. Os eventos só podem ser entendidos adequadamente se eles são vistos no contexto.


Por isto, o pesquisador qualitativo imerge-se no “setting”.

2. Os contextos de questionamento não são planejados, eles são naturais. Nada é


predefinido ou suposto.

3. Os pesquisadores qualitativos querem que aqueles que são estudados falem por si
mesmos, para que forneçam suas perspectivas em palavras e outras ações.
Conseqüentemente, a pesquisa qualitativa é um processo interativo no qual as pessoas
estudadas ensinam ao pesquisador sobre suas vidas.

4. Os pesquisadores qualitativos presenciam a experiência como um todo, não como


variáveis separadas. O objetivo da pesquisa qualitativa é compreender a experiência de
forma global².

5. Os métodos qualitativos são apropriados às afirmações acima. Não há um método


geral.

6. Para muitos pesquisadores qualitativos, o processo em seu curso fornece uma


avaliação do que foi estudado”. (ELY et al., 1996. p. 4)

As autoras sintetizam bem em seu texto as diretrizes interpretacionistas para a pesquisa


qualitativa, mas certamente não compreendem com elas o tipo de investigação realizado
por cientistas como Parasuraman. Isto nos conduz às considerações finais deste
despretensioso trabalho.

¹ ZILLES (1994) mostra a distinção que o pensador austríaco faz entre o transcendental
e o transcendente. Enquanto o primeiro é fruto da consciência, o último termo é
empregado referindo-se ao mundo exterior.
² “..to understand experience as unified.”

A Pesquisa Qualitativa entre a Matriz Hermenêutico-Fenomenológica e a Matriz


Empírico-Formal

Não foi difícil mostrar que em meio aos chamados cientistas humanos e sociais,
incluindo-se aí os que laboram no campo da administração, há uma multiplicidade de
concepções de ciência. Selecionamos duas orientações, seguindo a proposta de Zilles,
que designamos como “matrizes”, posto que não se trata de aplicar um método para
uma disciplina (como a física) e outro para outra (como a medicina). Trata-se de
entender que mesmo dentro de uma dada disciplina, especialmente aquelas cujo objeto
se acha em clara interação com o homem e sua cultura, é-se passível de aplicar métodos
de pesquisa qualitativa com bases fenomenológico-hermenêuticas ou com bases
empírico-formais.

Geralmente, quando se usa o conceito “pesquisa qualitativa” está se dizendo “pesquisa


não-quantitativa”, ou seja, que por algum motivo não construiu suas conclusões a partir
da análise matemática das suas variáveis, que por sua vez não foram mensuradas a nível
intervalar ou de razão. Sempre que se define assim, está se dizendo que se aceita a
matriz empírico-formal como referência epistemológica (única) para a construção do
conhecimento, que se está procedendo segundo as suas prescrições metodológicas mas
que se reconhece uma limitação da pesquisa: seja o desconhecimento teórico do
fenômeno específico (ausência de variáveis conhecidas) que demanda uma pesquisa
exploratória, seja a desconfiança da capacidade de um modelo teórico aceito explicar
corretamente um fenômeno, seja a impossibilidade de se mensurar um número
significativo de variáveis a nível nominal, tudo isto justificaria o emprego da pesquisa
qualitativa como uma préetapa ou uma etapa confirmatória do desenvolvimento teórico
(uma teoria de regularidades).

Considerando-se a matriz hermenêutico-fenomenológica, entretanto, o termo pesquisa


qualitativa assume uma dimensão totalmente diferente diante da construção teórica.
Aqui se parte da crítica da metodologia empírico-formal como incapaz de construir
teorias válidas, especialmente com relação a fenômenos que pressupõe a subjetividade
ou ação subjetiva e intencional dos atores sociais. Neste cenário, não se buscam
regularidades, mas sim a compreensão das opções dos agentes, daquilo que os levou
singularmente a agir como agiram. Só é possível esta empreitada ouvindo os sujeitos a
partir de sua lógica e exposição de razões. Quando muito, pode-se identificar crenças
compartilhadas mais ou menos por grupos sociais, ou seja, cultura, sem pressupor que
ela seja uma categoria estática no tempo e no espaço, mas uma categoria analítica em
permanente transformação. Desta forma, a análise da linguagem (ou análise do
discurso) parece ser mais produtiva que a análise matemática.

Na matriz empírico-formal, tem-se a análise a partir de objetos, mesmo que estes sejam
produções ideológicas de uma pessoa ou grupo social. Isto leva seus críticos a atentarem
para o fenômeno da reificação, que neste sentido seria a transformação em objeto
daquilo que não o é.

Na matriz fenomenológico-hermenêutica tem-se a análise a partir da percepção do


sentido das produções do sujeito, em busca de essências e de compreensão, através da
intersubjetividade, o que leva seus críticos a atentarem para o fenômeno da
subjetividade, no sentido de uma certa arbitrariedade do pesquisador na construção de
suas teorias, assim como de uma dificuldade de verificação ou falsificação destas.

Entendemos que os dois métodos produzem conhecimento, mas cabe ao pesquisador


senso crítico e clareza sobre seus objetos e objetivos, assim como a explicitação
suficiente das matrizes epistemológicas que estão em uso a fim de não se perder em sua
pesquisa e se fazer compreendido por seus pares. Concluímos também que a medida em
que objetividade e subjetividade se entrecruzam no objeto de pesquisa, torna-se mais
complexo fazer escolhas metodológicas.

Fontes Bibliográficas
BACON, Francis. Novum organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação
da natureza. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise do discurso. São Paulo: Editora da
UNICAMP, 1996.
BRUYN, Severyn. The new empiricists: the participant observer and phenomenologist.
In: FILSTEAD, William. Qualitative methodology: firsthand involvment with the social
world. Chicago: Rand McNally, 1970.
CHAUÍ, Marilena. Husserl: Vida e Obra. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os
Pensadores”]
CICOUREL, A. Method and measurement in sociology. New York: The free press,
1969.
DE BRUYNE, Paul, HERMAN, Jacques, DE SCHOUTHEETE, Marc.Os processos
discursivos. In: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1991.
ELY, Margot et. al. Grounding. In: Doing qualitative research: circles within circles.
London: The Falmer Press, 1996
GLASER, B., STRAUSS, A. L. A discovery of substantive theory: a basic strategy
underlying qualitative research. In: FILSTEAD, William. Qualitative methodology:
firsthand involvment with the social world. Chicago: Rand McNally, 1970.
HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova
Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
HUSSERL, Edmund. Elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento.
In: Investigações Lógicas. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
JUNG, Carl G. A prática da psicoterapia. Petrópolis: VOZES, 1985.
KIRK, Jerome, MILLER, Marc L. Reliability and validity in qualitative research.
London: Sage, 1988.
MARTINS, Gilberto. Abordagens metodológicas em pesquisas na área de
Administração. Revista de Administração, São Paulo, v.32, n. 3, p. 5-12, jul/set 1997.
MILES, M., HUBERMAN, A. Michael. Qualitative data analysis. California: Sage,
1994.
PARASURAMAN, A. Qualitative research. In: Marketing research. Canada: Addison-
Wesley, 1986.
SAMPSON, Peter. Qualitative research and motivation research. In: WORCESTER,
Robert R. Consumer market research handbook. Amsterdam: ESOMAR, 1991.
VALVERDE, José María. História do pensamento. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994.
Destaques

"...a pesquisa qualitativa não é uma pesquisa para a qual não se teve fôlego para estudar
um número suficiente de eventos que permitam generalização, nem está às voltas com
um tipo de objeto que permite apenas uma mensuração não-métrica e muito menos é
uma abordagem menor da ciência porque não consegue estabelecer com fundamento
leis que estabelecem relações determinantes ou probabilísticas entre eventos. Trata-se
de um tipo de pesquisa própria para a análise em profundidade de fenômenos onde se
pressupõe, ou se busca entender melhor, a singularidade ou a subjetividade."

A idéia que o conhecimento científico é um tipo de conhecimento verdadeiro, e que a


aplicação da metodologia científica conduz à obtenção da verdade, é um mito de difícil
sustentação se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre os quais
se constrói uma dada teoria epistemológica.

Grosso modo, temos então uma noção de ciência, que seria um método de produção de
conhecimento verificável e acumulável, que estabelece nexos de causalidade entre
fenômenos, a partir da observação sistemática e experimentação de fenômenos naturais
com a finalidade de identificarem-se, por generalização, regularidades (leis) passíveis de
descrição matemática.

Este problema não é diferente nas ciências administrativas, posto que têm por objeto as
organizações de trabalho constituídas por seres humanos. Se por um lado é possível
estabelecer regularidades que parecem ser universais às relações de troca (lei de oferta e
procura nas ciências econômicas), da mesma forma temos as organizações com suas
singularidades (os transplantes de modelos administrativos, por exemplo), gerando
outputs diferentes daqueles que seriam esperados por um certo modelo administrativo.

Neste cenário, não se buscam regularidades, mas sim a compreensão das opções dos
agentes, daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Só é possível esta
empreitada ouvindo os sujeitos a partir de sua lógica e exposição de razões. Quando
muito, pode-se identificar crenças compartilhadas mais ou menos por grupos sociais, ou
seja, cultura, sem pressupor que ela seja uma categoria estática no tempo e no espaço,
mas uma categoria analítica em permanente transformação.

Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal

Jáder dos Reis Sampaio

Professor assistente da Universidade Federal de Minas Gerais. Psicólogo formado pela


UFMG, Especialista em

Psicologia do Trabalho pela Universidade de Brasília - UnB, Mestre em Administração


pela UFMG e Doutorando em Administração pela Universidade de São Paulo - USP.

Artigo publicado originalmente na Revista de Administração da Universidade de São


Paulo
[SAMPAIO, Jáder dos Reis. A pesquisa qualitativa entre a fenomenologia e o
empirismo formal.
Revista de Administração. São Paulo, v. 36, n. 2, p.16-24, abr/jun 200

História & Pesquisa


Seção em parceria com a "Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas" Comitê
Editorial da LIHPE)
Autor: Jáder dos Reis Sampaio
País: Brasil
Boletim GEAE
Grupo de Estudos Avançados Espíritas
http://www.geae.inf.br
Ano 12 - Números 480 à 483 - 2004

... Allan Kardec

> O Espiritismo na Sua Mais Simples Expressão

Artigos

Prefácio

Em Janeiro de 1862, Allan Kardec publicou, na "Revista Espírita", o seguinte


comentário sobre o livreto O Espiritismo em Sua Expressão Mais Simples, que acabava
de editar:

"O objetivo desta publicação é dar, num quadro muito sucinto, o histórico do
Espiritismo e uma idéia suficiente da Doutrina dos Espíritos, para que se lhe possa
compreender o objetivo moral e filosófico. Pela clareza e pela simplicidade do estilo,
procuramos pô-lo ao alcance de todas as inteligências. Contamos com o zelo de todos os
verdadeiros Espíritas para ajudar a sua propagação. - Allan Kardec"

Histórico do Espiritismo
Por volta de 1848, chamou-se a atenção, nos Estados Unidos, para diversos fenômenos
estranhos que consistiam em ruídos, batidas e movimento de objetos sem causa
conhecida. Esses fenômenos aconteciam com freqüência, espontaneamente, com uma
intensidade e persistência singulares; mas notou-se também que ocorriam
particularmente sob a influência de certas pessoas, às quais se deu o nome de médiuns,
que podiam de certa forma provocá-los à vontade, o que permitiu repetir as
experiências. Para isso usaram-se sobretudo mesas; não que este objeto seja mais
favorável que um outro, mas somente porque ele é móvel, é mais cômodo, e porque é
mais fácil e natural sentar-se em volta de uma mesa que de qualquer outro móvel.
Obteve-se dessa forma a rotação da mesa, depois movimentos em todos os sentidos,
saltos, reversões, flutuações, golpes dados com violência, etc. O fenômeno foi
designado, a princípio, com o nome de mesas girantes ou dança das mesas.

Até então, o fenômeno podia explicar-se perfeitamente por uma corrente elétrica ou
magnética, ou pela ação de um fluído desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião
formada. Mas não se demorou a reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes;
assim, o movimento obedecia à vontade; a mesa ia para a direita ou para a esquerda, em
direção a uma pessoa designada, ficava sobre um ou dois pés sob comando; batia no
chão o número de vezes pedido, batia regularmente, etc. Ficou então evidente que a
causa não era puramente física e, a partir do axioma: Se todo efeito tem uma causa, todo
efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, concluiu-se que a causa desse
fenômeno devia ser uma inteligência.

Qual era a natureza dessa inteligência? Era essa a questão. A primeira idéia foi que
podia ser um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência
demonstrou logo a impossibilidade disso, porque se obtiveram coisas completamente
fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e até em contradição
com suas idéias, vontade e desejo; ela só podia, então, pertencer a um ser invisível. O
meio de certificar-se era bem simples: bastava iniciar uma conversa com essa entidade,
o que foi feito por meio de um número convencional de batidas significando sim ou
não, ou designando as letras do alfabeto; obtiveram-se, dessa forma; respostas para as
diversas questões que se lhe dirigiam. O fenômeno foi designado pelo nome de mesas
falantes. Todos os seres que se comunicaram dessa forma, interrogados sobre sua
natureza, declararam ser Espíritos e pertencer ao mundo invisível. Como se tratava de
efeitos produzidos em um grande número de localidades, pela intervenção de pessoas
diferentes, e observados por homens muito sérios e esclarecidos, não era possível que
fossem um jogo de ilusão.

Da América esse fenômeno passou para a França e o resto da Europa onde, por alguns
anos, as mesas girantes e falantes estiveram na moda e se tornaram o divertimento dos
salões; depois, quando as pessoas se cansaram, deixaram-nas de lado, em busca de outra
distração.

O fenômeno não demorou a apresentar-se sob um novo aspecto que o fez sair do
domínio da simples curiosidade. Os limites deste resumo não nos permitem segui-lo em
todas as suas fases; assim passamos, sem transição, para o que ele oferece de mais
característico, para o que atraiu sobremaneira a atenção das pessoas sérias.

Salientemos, antes, que a realidade do fenômeno encontrou numerosos opositores;


alguns, sem levar em conta a preocupação desinteressada e a honradez dos
experimentadores, só enxergaram uma fraude, uma hábil sutileza. Os que não admitem
nada fora da matéria, que só acreditam no mundo visível, que acham que tudo morre
com o corpo, os materialistas, em resumo os que se qualificam de espíritos fortes,
repeliram a existência dos Espíritos invisíveis para o campo das fábulas absurdas;
tacharam de loucos os que levavam a coisa a sério, e os cumularam de sarcasmos e
zombarias. Outros; não podendo negar os fatos, e sob o império de certas idéias,
atribuíram esses fenômenos à influência exclusiva do diabo e procuraram, assim,
assustar os tímidos. Mas hoje o medo do diabo perdeu singularmente seu prestígio;
falaram tanto dele, pintaram-no de tantos modos, que as pessoas se familiarizaram com
essa idéia e muitos acharam que era preciso aproveitar a ocasião para ver o que ele é
realmente.

Resultou que, à parte de um pequeno número de mulheres timoratas, o anúncio da


chegada do verdadeiro diabo tinha algo de picante para aqueles que só o tinham visto
em quadros ou no teatro; ele foi para muita gente um poderoso estimulante, de modo
que os que quiseram levantar, por esse meio, uma barreira às novas idéias, agiram
contra seu próprio objetivo e tornaram-se, sem o querer, agentes propagadores tanto
mais eficazes quanto mais forte gritavam. Os outros críticos não tiveram sucesso maior
porque, aos fatos constatados, com raciocínios categóricos, só puderam opor
denegações. Leiam o que eles publicaram e em toda parte encontrarão a prova da
ignorância e a falta de observação séria dos fatos; em nenhum lugar, uma demonstração
peremptória de sua impossibilidade. Toda a argumentação deles resume-se assim: "Eu
não acredito, então não existe; todos os que acreditam são loucos; somente nós temos o
privilégio da razão e do bom senso." O número dos adeptos feitos pela crítica séria ou
burlesca é incalculável, porque em todas elas só se encontram opiniões pessoais, vazias
de provas em contrário. Continuemos com nossa exposição.

As comunicações por batidas eram lentas e incompletas; verificou-se que, adaptando um


lápis a um objeto móvel (cesto, prancheta ou um outro, sobre os quais se colocavam os
dedos), esse objeto começava a movimentar-se e traçava sinais. Mais tarde verificou-se
que esses objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a
experiência demonstrou que o Espírito, que agia sobre um corpo inerte dirigindo-o à
vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão, conduzindo o lápis.
Tivemos então médiuns escritores, ou seja, pessoas que escreviam de modo
involuntário, sob o impulso dos Espíritos, de que eram instrumentos e intérpretes. A
partir daí, as comunicações não tiveram mais limites, e a troca de pensamentos pode-se
fazer com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era um vasto campo
aberto à exploração, a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisíveis, assim
como o microscópio tinha desvendado o mundo dos infinitamente pequenos.

Que são esses Espíritos? Que papel desempenham no Universo? Com que propósito se
comunicam com os mortais? Tais eram as primeiras questões que se impunham
resolver. Soube-se logo, por eles mesmos, que não se trata de seres à parte na criação,
mas das próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos; que essas
almas, depois de terem despojado de seu envoltório corporal, povoam e percorrem o
espaço. Não houve mais possibilidade de dúvidas quando se reconheceram, entre eles,
parentes e amigos, com quem se pôde conversar; quando estes vieram dar prova de sua
existência, demonstrar que a morte para eles foi só do corpo, que sua alma ou Espírito
continua a viver que estão ali junto de nós, vendo-nos e observando-nos como quando
eram vivos, cercando de solicitude aqueles que amaram, e cuja lembrança é para eles
uma doce satisfação.

Geralmente fazemos dos Espíritos uma idéia completamente falsa; eles não são, como
muitos imaginam, seres abstratos, vagos e indefinidos, nem algo como um clarão ou
uma centelha; são, ao contrário, seres muito reais, com sua individualidade e uma forma
determinada. Podemos ter uma idéia aproximada pela explicação seguinte:

Há no homem três coisas essenciais:


1.o) a Alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade e
o senso moral;

2.o) o corpo, envoltório material, pesado e grosseiro, que coloca o Espírito em relação
com o mundo exterior;

3.o) o perispírito, envoltório fluídico, leve, que serve de laço e intermediário entre o
Espírito e o corpo. Quando o envoltório exterior está gasto e não pode mais funcionar,
ele cai e o Espírito despoja-se dele como o fruto de sua casca, a árvore de sua crosta; em
resumo, como se abandona uma roupa velha que não serve mais; é a isso que chamamos
morte.

A morte, portanto, não passa da destruição do grosseiro envoltório do Espírito - só o


corpo morre, o Espírito não. Durante a vida o Espírito está de certa forma limitado pelos
laços da matéria a que está unido e que, muitas vezes, paralisa suas faculdades; a morte
do corpo desembaraça-o de seus laços; ele se liberta e recupera sua liberdade, como a
borboleta saindo de sua crisálida. Mas ele só abandona o corpo material; conserva o
perispírito, que constitui para ele uma espécie de corpo etéreo, vaporoso, imponderável
para nós e de forma humana, que parece ser a forma-tipo. Em seu estado normal, o
perispírito é invisível, mas o Espírito pode fazer com que sofra certas modificações que
o tornam momentaneamente acessíveis à vista e até ao contato, como acontece com o
vapor condensado; é assim que eles podem às vezes mostrar-se a nós em aparições. É
com a ajuda do perispírito que o Espírito age sobre a matéria inerte e produz os diversos
fenômenos de ruído, de movimento, de escrita, etc.

As batidas e movimentos são, para os Espíritos, meios de atestar sua presença e chamar
para si a atenção, exatamente como quando uma pessoa bate para avisar que há alguém.
Há os que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam a fazer um alarido como
de louça quebrando, de portas que se abrem e se fecham, ou de móveis derrubados.

Através de batidas e movimentos combinados eles puderam exprimir seus pensamentos,


mas a escrita lhes oferece o meio completo, mais rápido e mais cômodo; é o que eles
preferem. Pela mesma razão que podem formar caracteres, podem guiar a mão para
traçar desenhos, escrever música, executar uma peça em um instrumento, em resumo, na
falta do próprio corpo, que não têm mais, usam o do médium para manifestar-se aos
homens de uma maneira sensível.

Os Espíritos podem ainda manifestar-se de várias maneiras, entre outras pela visão e
pela audição. Certas pessoas, ditas médiuns auditivos, têm a faculdade de ouvi-los e
podem, assim, conversar com eles; outras os vêem - são os médiuns videntes. Os
Espíritos que se manifestam à visão apresentam-se geralmente sob forma análoga à que
tinham quando vivos, porém vaporosa; outras vezes, essa forma tem toda a aparência de
um ser vivo, a ponto de iludir completamente, tanto que algumas vezes foram tomados
por criaturas de carne e osso, com as quais se pôde conversar e trocar apertos de mãos,
sem se suspeitar que se tratava de Espíritos, a não ser em razão de seu desaparecimento
súbito.

A visão permanente e geral dos Espíritos é bem rara, mas as aparições individuais são
bastante freqüentes, sobretudo no momento da morte; o Espírito liberto parece ter pressa
de rever seus parentes e amigos, como para avisá-los que acaba de deixar a terra e dizer-
lhes que continua vivendo.

Que cada um junte suas lembranças, e veremos quantos fatos autênticos desse tipo, de
que não nos apercebíamos, aconteceram não só à noite, durante o sono, mas em pleno
dia e no estado mais completo de vigília. Outrora víamos esses fatos como sobrenaturais
e maravilhosos, e os atribuíamos à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os atribuem à
imaginação; mas desde que a ciência espírita nos deu a chave, sabemos como se
produzem e que não saem da ordem dos fenômenos naturais.

Acreditamos ainda que os Espíritos, só pelo fato de serem Espíritos, devem ser donos da
soberana ciência e da soberana sabedoria: é um erro que a experiência não tardou a
demonstrar. Entre as comunicações feitas pelos Espíritos, algumas são sublimes de
profundidade, eloqüência, sabedoria, moral, e só respiram bondade e benevolência; mas,
ao lado dessas, há aquelas muito vulgares, fúteis, triviais, grosseiras até, pelas quais o
Espírito revela os mais perversos instintos. Fica então evidente que elas não podem
emanar da mesma fonte e que, se há bons Espíritos, há, também, maus. Os Espíritos,
não sendo mais que as almas dos homens, naturalmente não podem tornar-se perfeitos
ao abandonar seu corpo; até que tenham progredido, conservam as imperfeições da vida
corpórea; é por isso que os vemos em todos os graus de bondade e maldade, de saber e
ignorância.

Os Espíritos geralmente se comunicam com prazer, constituindo para eles uma


satisfação ver que não foram esquecidos; descrevem de boa vontade suas impressões ao
deixar a Terra, sua nova situação, a natureza de suas alegrias e sofrimentos no mundo
em que se encontram. Uns são muito felizes, outros infelizes, alguns até sofrem
horríveis tormentos, segundo a maneira como viveram e o emprego bom ou mau, útil ou
inútil que fizeram da vida. Observando-os em todas as fases de sua nova existência, de
acordo com a posição que ocuparam na terra, seu tipo de morte, seu caráter e seus
hábitos como homens, chegamos a um conhecimento senão completo, pelo menos
bastante preciso do mundo invisível, para termos a explicação do nosso estado futuro e
pressentir o destino feliz ou infeliz que lá nos espera.

As instruções dadas pelos Espíritos de categoria elevada sobre todos os assuntos que
interessam à humanidade, as respostas que eles deram às questões que lhes foram
propostas, foram recolhidas e coordenadas com cuidado, constituindo toda uma ciência,
toda uma doutrina moral e filosófica, sob o nome de Espiritismo. O Espiritismo é, pois,
a doutrina fundada na existência, nas manifestações e no ensinamento dos Espíritos.
Esta doutrina acha-se exposta de modo completo em O Livro dos Espíritos, quanto à sua
parte filosófica; em O Livro dos Médiuns, quanto à parte prática e experimental; e em O
Evangelho segundo o Espiritismo, quanto à parte moral. Podemos avaliar, pela análise
que faremos abaixo dessas obras, a variedade, a extensão e a importância dos assuntos
que a doutrina envolve.
Como vimos, o Espiritismo teve seu ponto de partida no fenômeno vulgar das mesas
girantes; mas como esses fatos falam mais aos olhos que à inteligência, despertam mais
curiosidade que sentimento, satisfeita a curiosidade, fica-se menos interessado, na
medida de nossa falta de compreensão. A situação mudou quando a teoria veio explicar
a causa; sobretudo quando se viu que dessas mesas girantes com as quais as pessoas se
divertiram algum tempo, saia toda uma doutrina moral que fala à alma, dissipando as
angústias da dúvida, satisfazendo a todas as aspirações deixadas no vácuo por um
ensinamento incompleto sobre o futuro da humanidade, as pessoas sérias acolheram a
nova doutrina como um benefício e, a partir de então, longe de declinar, ela cresceu com
incrível rapidez. No espaço de alguns anos conseguiu adesões em todos os países do
mundo, sobretudo entre as pessoas esclarecidas, inúmeros partidários que aumentam
todos os dias em uma proporção extraordinária, de tal forma que hoje pode-se dizer que
o Espiritismo conquistou direito de cidadania. Ele está assentado em bases que desafiam
os esforços de seus adversários mais ou menos interessados em combatê-lo e a prova é
que os ataques e críticas não retardaram sua marcha um só instante - este é um fato
obtido da experiência, cujo motivo os oponentes nunca puderam explicar; os espíritas
dizem simplesmente que, se ele se propaga apesar da crítica, é que o acham bom e que
se prefere seu modo de raciocinar ao de seus contestadores.

O Espiritismo, entretanto, não é uma descoberta moderna; os fatos e princípios sobre os


quais ele repousa perdem-se na noite dos tempos, pois encontramos seus vestígios nas
crenças de todos os povos, em todas as religiões, na maior parte dos escritores sagrados
e profanos; só que os fatos, não completamente observados, foram muitas vezes
interpretados segundo as idéias supersticiosas da ignorância, e não foram deduzidas
todas as suas conseqüências.

Com efeito, o Espiritismo está fundado sobre a existência dos Espíritos, mas os
Espíritos não sendo mais que as almas dos homens, desde que há homens, há Espíritos;
o Espiritismo nem os descobriu, nem os inventou. Se as almas ou Espíritos podem
manifestar-se aos vivos, é que isso é natural e, portanto, eles devem tê-lo feito todo o
tempo; assim, em qualquer época e qualquer lugar encontramos a prova dessas
manifestações abundantes, sobretudo nos relatos bíblicos.

O que é moderno é a explicação lógica dos fatos, o conhecimento mais completo da


natureza dos Espíritos, de seu papel e seu modo de ação, a revelação de nosso estado
futuro, enfim, sua constituição em corpo de ciência e de doutrina e suas diversas
aplicações. Os Antigos conheciam o princípio, os Modernos conhecem os detalhes. Na
Antigüidade, o estudo desses fenômenos constituía o privilégio de certas castas que só
os revelavam aos iniciados em seus mistérios; na Idade Média, os que se ocupavam
ostensivamente com isso eram tidos como feiticeiros e, por isso, queimados; mas hoje
não há mistérios para ninguém, não se queima mais ninguém; tudo se passa claramente
e todo mundo pode esclarecer-se e praticá-lo, pois há médiuns em toda parte.

A própria doutrina que os espíritos ensinam hoje não tem nada de novo; é encontrada
em fragmentos na maior parte dos filósofos da Índia, do Egito e da Grécia, e inteira no
ensinamento de Cristo. Então o que vem fazer o Espiritismo? Vem confirmar novos
testemunhos, demonstrar, por fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas,
restabelecer em seu verdadeiro sentido as que foram mal interpretadas.
O Espiritismo não ensina nada de novo, é verdade; mas não é nada provar de modo
patente, irrecusável, a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua
individualidade depois da morte, sua imortalidade, as penas e recompensas futuras?
Quanta gente acredita nessas coisas, mas acredita com um vago pensamento
dissimulado de incerteza, e diz em seu foro íntimo: "E se não fosse assim?" Quantos não
foram levados à incredulidade porque lhes apresentaram o futuro sob um aspecto que
sua razão não podia admitir? Então, não é nada que o crente vacilante possa dizer:
"Agora tenho certeza!", que o cego reveja a luz? Pelos fatos e por sua lógica, o
Espiritismo vem dissipar a ansiedade da dúvida e trazer de volta à fé aquele que dela se
afastou; revelando-nos a existência do mundo invisível que nos rodeia, e no meio do
qual vivemos sem suspeitar, ele nos dá a conhecer, pelo exemplo dos que viveram, as
condições de nossa felicidade ou infelicidade futura; ele nos explica a causa de nossos
sofrimentos aqui na terra e o meio de amenizá-los. Sua propagação terá por efeito
inevitável a destruição das doutrinas materialistas, que não podem resistir à evidência. O
homem, convencido da grandeza e da importância de sua existência futura, que é eterna,
compara-a com a incerteza da vida terrestre, que é tão curta, e eleva-se, pelo
pensamento, acima das mesquinhas considerações humanas; conhecendo a causa e o
propósito de suas misérias, ele as suporta com paciência e resignação, porque sabe que
elas são um meio de chegar a um estado melhor. O exemplo daqueles que vêm do além-
túmulo descrever suas alegrias e dores, provando a realidade da vida futura, prova ao
mesmo tempo que a justiça de Deus não deixa nenhum vício sem punição e nenhuma
virtude sem recompensa. Acrescentemos, finalmente, que as comunicações com os seres
queridos que perdemos acarretam uma doce consolação, provando não só que eles
existem, mas que estamos menos separados deles que se estivessem vivos num país
estrangeiro.

Em resumo, o Espiritismo suaviza a amargura das tristezas da vida; acalma os


desesperos e as agitações da alma, dissipa as incertezas ou os terrores do futuro, elimina
o pensamento de abreviar a vida pelo suicídio; da mesma forma torna felizes os que
aderem a ele, e está aí o grande segredo de sua rápida propagação.

Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de


todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras; mas
é independente de qualquer culto particular. Seu propósito é provar, aos que negam ou
duvidam que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo, que ela sofre depois da morte as
conseqüências ao bem e do mal que fez durante a vida corpórea; ora, isto é de todas as
religiões.

Como crença nos espíritos, também não se afasta de qualquer religião, ou de qualquer
povo, porque em todo lugar onde há homens há almas ou espíritos; que as
manifestações são de todos os tempos, e o relato delas acha-se em todas as religiões,
sem exceção. Pode-se, portanto, ser católico, grego ou romano, protestante, judeu ou
muçulmano, e acreditar nas manifestações dos espíritos, e conseqüentemente ser
Espírita; a prova é que o Espiritismo tem aderentes em todas as seitas.

Como moral, ele é essencialmente cristão, porque a doutrina que ensina é tão-somente o
desenvolvimento e a aplicação da do Cristo, a mais pura de todas, cuja superioridade
não é contestada por ninguém, prova evidente de que é a lei de Deus; ora, a moral está a
serviço de todo mundo.
O Espiritismo, sendo independente de qualquer forma de culto, não prescrevendo
nenhum deles, não se ocupando de dogmas particulares, não é uma religião especial,
pois não tem nem seus padres nem seus templos. Aos que indagam se fazem bem em
seguir esta ou aquela prática, ele responde: Se sua consciência pede para fazê-lo, faça-o;
Deus sempre leva em conta a intenção. Em resumo, ele não se impõe a ninguém; não se
destina àqueles que têm fé ou àqueles a quem essa fé basta, mas à numerosa categoria
dos inseguros e dos incrédulos; ele não os tira da Igreja, visto que eles se separaram dela
moralmente em tudo, ou em parte; ele os faz percorrer os três quartos do caminho para
entrar nela; cabe a ela fazer o resto.

O Espiritismo combate, é verdade, certas crenças como a eternidade das penas, o fogo
material do inferno, a personalidade do diabo, etc.; mas não é certo que essas crenças,
impostas como absolutas, sempre fizeram incrédulos e continuam a fazê-los? Se o
Espiritismo, dando desses dogmas e de alguns outros uma interpretação racional,
devolve à fé aqueles que dela desertaram não está prestando serviço à religião? Assim,
um venerável eclesiástico dizia a esse respeito: "O Espiritismo faz acreditar em alguma
coisa; ora, é melhor acreditar em alguma coisa que não acreditar em absolutamente
nada."

Os Espíritos não sendo senão almas, não se pode negar os Espíritos sem negar a alma.
Sendo admitidas as almas ou Espíritos, a questão reduzida à sua mais simples expressão
é esta: As almas dos que morreram podem comunicar-se com os vivos? O Espiritismo
prova a afirmativa pelos fatos materiais; que prova se pode dar de que isso não é
possível? Se assim é, todas as negações do mundo não impedirão que assim seja, pois
não se trata nem de um sistema, nem de uma teoria, mas de uma lei da natureza; ora,
contra as leis da natureza, a vontade do homem é impotente; é preciso, querendo ou não,
aceitar suas conseqüências, e adequar suas crenças e seus hábitos.

Resumo do ensinamento dos Espíritos

1. Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.

Deus é eterno, único, imaterial, imutável, Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom.


Deve ser infinito em todas as suas perfeições, pois se supuséssemos um único de seus
atributos imperfeito, ele não seria mais Deus.

2. Deus criou a matéria que constitui os mundos; também criou seres inteligentes que
chamamos de Espíritos, encarregados de administrar os mundos materiais segundo as
leis imutáveis da criação, e que são perfectíveis por sua natureza. Aperfeiçoando-se,
eles se aproximam da Divindade.

3. O espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é


desconhecida; para nós ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que
chamamos matéria.

4. Os Espíritos são seres individuais; têm um envoltório etéreo, imponderável, chamado


perispírito, espécie de corpo fluídico, semelhante à forma humana. Povoam os espaços,
que percorrem com a rapidez do raio, e constituem o mundo invisível.

5. A origem e o modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos; só sabemos que
são criados simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência e sem conhecimento do bem e
do mal, mas com igual aptidão para tudo, pois Deus, em sua justiça, não podia isentar
uns do trabalho que teria imposto aos outros para chegar à perfeição. No princípio,
ficam em uma espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de
sua existência.

6. Desenvolvendo-se o livre arbítrio nos Espíritos ao mesmo tempo que as idéias, Deus
lhes diz: "Vocês podem aspirar à felicidade suprema, assim que tiverem adquirido os
conhecimentos que lhes faltam e cumprido a tarefa que lhes imponho. Então trabalhem
para seu engrandecimento; este é o objetivo; irão atingi-lo seguindo as leis que gravei
em sua consciência."

Em conseqüência de seu livre arbítrio, uns tomam o caminho mais curto, que é o do
bem, outros o mais longo, que é o do mal.

7. Deus não criou o mal; estabeleceu leis, e essas leis são sempre boas, porque ele é
soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente seria perfeitamente feliz; mas
os Espíritos, tendo seu livre arbítrio, nem sempre as observaram, e o mal veio de sua
desobediência. Pode-se então dizer que o bem é tudo o que é conforme à lei de Deus e o
mal tudo o que é contrário a essa mesma lei.

8. Para cooperar, como agentes do poder divino, com a obra dos mundos materiais, os
Espíritos revestem-se temporariamente de um corpo material. Pelo trabalho de que sua
existência corpórea necessita, eles aperfeiçoam sua inteligência e adquirem, observando
a lei de Deus, os méritos que devem conduzi-los à felicidade eterna.

9. A encarnação não foi imposta ao Espírito, no princípio, como uma punição; ela é
necessária ao seu desenvolvimento e para a realização das obras de Deus, e todos devem
resignar-se a ela, tomem o caminho do bem ou do mal; só que os que seguem o caminho
do bem, avançando mais rapidamente, demoram menos a chegar ao fim e lá chegam em
condições menos penosas.

10. Os Espíritos encarnados constituem a humanidade, que não está circunscrita à Terra,
mas que povoa todos os mundos disseminados pelo espaço.

11. A alma do homem é um Espírito encarnado. Para auxiliá-lo no cumprimento de sua


tarefa; Deus lhe deu, como auxiliares, os animais; que lhe são submissos e cuja
inteligência e caráter são proporcionais às suas necessidades.

12. O aperfeiçoamento do Espírito é o fruto de seu próprio trabalho; não podendo, em


uma única existência corpórea, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que
devem conduzi-lo ao objetivo, ele aí chega por uma sucessão de existências, dando em
cada uma delas alguns passos adiante no caminho do progresso.

13. Em cada existência corpórea o Espírito deve cumprir uma missão proporcional a seu
desenvolvimento; quanto mais ela for rude e laboriosa, maior seu mérito em cumpri-la.
Cada existência é, assim, uma prova que o aproxima do alvo. O número de suas
existências é indeterminado. Depende da vontade do Espírito de abreviá-las,
trabalhando ativamente em seu aperfeiçoamento moral; assim como depende da vontade
do operário que tem de realizar um trabalho abreviar o número de dias para sua
execução.

14. Quando uma existência foi mal empregada, não aproveitou o Espírito, que deve
recomeçá-la em condições mais ou menos penosas, em razão de sua negligência e de
sua má vontade; assim é que, na vida, podemos ser obrigados a fazer no dia seguinte o
que não fizemos no anterior, ou a refazer o que fizemos mal.

15. A vida espiritual é a vida normal do Espírito: ela é eterna; a vida corpórea é
transitória e passageira: é apenas um instante na eternidade.

16. No intervalo de suas existências corpóreas, o Espírito é errante. Não por duração
determinada; nesse estado o espírito é feliz ou infeliz de acordo com o bom ou mau
emprego de sua última existência; ele estuda as causas que apressaram ou retardaram
seu desenvolvimento; toma resoluções que tentará pôr em prática na próxima
encarnação e escolhe, ele mesmo, as provas que considera mais adequadas ao seu
progresso; mas algumas vezes ele se engana, ou sucumbe não mantendo como homem
as resoluções que tomou como Espírito.

17. O Espírito culpado é punido pelos sofrimentos morais no mundo dos Espíritos, e
pelas penas físicas na vida corpórea. Suas aflições são conseqüências de suas faltas,
quer dizer, de sua infração à lei de Deus; de modo que constituem simultaneamente uma
expiação do passado e uma prova para o futuro é assim que o orgulhoso pode ter uma
existência de humilhação, o tirano uma vida de servidão; o rico mau uma encarnação de
miséria.

18. Há mundos apropriados aos diferentes graus de avanço dos Espíritos, onde a
existência corpórea acha-se em condições muito diferentes. Quanto menos o Espírito é
adiantado, mais os corpos de que se reveste são pesados e materiais; à medida em que se
purifica, passa para mundos superiores moral e fisicamente. A Terra não é o primeiro
nem o último, mas um dos mundos mais atrasados.

19. Os Espíritos culpados são encarnados em mundos menos adiantados, onde expiam
suas faltas pelas tribulações da vida material. Esses mundos são para eles verdadeiros
purgatórios, dos quais depende deles sair, trabalhando em seu progresso moral. A Terra
é um desses mundos.

20. Deus, sendo soberanamente justo e bom, não condena suas criaturas a castigos
perpétuos pelas faltas temporárias; oferece-lhes em qualquer ocasião meios de progredir
e reparar a mal que elas praticaram. Deus perdoa, mas exige o arrependimento, a
reparação e o retorno ao bem, de modo que a duração do castigo é proporcional à
persistência do Espírito no mal; conseqüentemente, o castigo seria eterno para aquele
que permanecesse eternamente na mau caminho, mas, assim que um sinal de
arrependimento entra no coração do culpado, Deus estende sobre ele sua misericórdia.
A eternidade das penas deve assim ser entendida no sentido relativo, e não no sentido
absoluto.

21. Os Espíritos, encarnando-se, trazem com eles o que adquiriram em suas existências
precedentes; é a razão por que os homens mostram instintivamente aptidões especiais;
inclinações boas ou más que lhes parecem inatas.
As más inclinações naturais são os vestígios das imperfeições do Espírito, dos quais ele
não se despojou inteiramente; são também os indícios das faltas que ele cometeu, e o
verdadeiro pecado original. A cada existência ele deve lavar-se de algumas impurezas.

22. O esquecimento das existências anteriores é uma graça de Deus que, em sua
bondade, quis poupar ao homem lembranças freqüentemente penosas. Em cada nova
existência, o homem é o que ele fez de si mesmo; é para ele um novo ponto de partida -
ele conhece seus defeitos atuais, sabe que esses defeitos são a conseqüência dos que
tinha, tira conclusões do mal que pôde ter cometido, e isso lhe basta para trabalhar,
corrigindo-se. Se tinha outrora defeitos que não tem mais, não tem mais que preocupar-
se com eles; bastam-lhe as imperfeições presentes.

23. Se a alma ainda não existiu, é que foi criada ao mesmo tempo que o corpo; nessa
suposição, ela não pode ter nenhuma relação com as que a precederam. Pergunta-se,
então, como Deus, que é soberanamente justo e bom, pode tê-la feito responsável pelo
erro do pai do gênero humano, maculando-a com um pecado original que ela não
cometeu. Dizendo, ao contrário, que ela traz ao renascer o germe das imperfeições de
suas existências anteriores, que ela sofre na existência atual as conseqüências de suas
faltas passadas, dá-se do pecado original uma explicação lógica que todos podem
compreender e admitir, porque a alma só é responsável por suas próprias obras.

24. A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é a prova de que a alma já
viveu; se tivesse sido criada ao mesmo tempo que o corpo atual, não estaria de acordo
com a bondade de Deus ter feito umas mais avançadas que as outras. Por que selvagens
e homens civilizados, bons e maus; tolos e brilhantes? Dizendo-se que uns viveram
mais que os outros e mais adquiriram, tudo se explica.

25. Se a existência atual fosse única e devesse decidir sozinha sobre o futuro da alma
para a eternidade, qual seria o destino das crianças que morrem em tenra idade? Não
tendo feito nem bem nem mal, elas não merecem nem recompensas nem punições.
Segundo a palavra do Cristo, sendo cada um recompensado segundo suas obras, elas
não têm direito à felicidade perfeita dos anjos, nem merecem ser dela privadas. Diga-se
que poderão, em uma outra existência, realizar o que não puderam naquela que foi
abreviada, e não há mais exceções.

26. Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos cretinos, idiotas? Não tendo nenhuma
consciência do bem e do mal, não têm nenhuma responsabilidade por seus atos. Deus
seria justo e bom tendo criado almas estúpidas para destiná-las a uma existência
miserável e sem compensações? Admita-se, pelo contrário, que a alma do idiota e do
cretino é um Espírito em punição dentro de um corpo impróprio para exprimir seu
pensamento, onde ele é como um homem fortemente aprisionado por laços, e não se terá
mais nada que não seja conforme com a justiça de Deus.

27. Em suas encarnações sucessivas, o Espírito, sendo pouco a pouco despojado de suas
impurezas e aperfeiçoado pelo trabalho, chega ao termo de suas existências corpóreas;
pertence então à ordem dos Espíritos puros ou dos anjos, e goza simultaneamente da
vida completa de Deus e de uma felicidade imperturbável pela eternidade.

28. Estando os homens em expiação na terra, Deus, como bom pai, não os entregou a si
mesmos sem guias. Eles têm primeiro seus Espíritos protetores ou anjos guardiães, que
velam por eles e se esforçam para conduzi-los ao bom caminho; têm ainda os Espíritos
em missão na terra, Espíritos superiores encarnados de quando em quando entre eles
para lhes iluminar o caminho através de seus trabalhos e fazer a humanidade avançar.
Se bem que Deus tenha gravado sua lei na consciência, ele achou que devia formulá-la
de maneira explícita; mandou primeiro Moisés, mas as leis de Moisés estavam ajustadas
aos homens de seu tempo; ele só lhes falou da vida terrestre, de penas e de recompensas
temporais. O Cristo veio depois completar a lei de Moisés através de um ensinamento
mais elevado: a pluralidade das existências, a vida espiritual, mas as penas e as
recompensas morais. Moisés os conduziu pelo medo, o Cristo pelo amor e pela
caridade.

29. O Espiritismo, mais bem entendido hoje, acrescenta, para os incrédulos a evidência
à teoria; prova o futuro com fatos patentes; diz em termos claros e sem equívoco o que o
Cristo disse em parábolas; explica as verdades desconhecidas ou falsamente
interpretadas; revela a existência do mundo invisível ou dos Espíritos, e inicia o homem
nos mistérios da vida futura; vem combater o materialismo, que é uma revolta contra o
poder de Deus; vem enfim estabelecer entre os homens o reino da caridade e da
solidariedade anunciado pelo Cristo. Moisés lavrou, o Cristo semeou, o Espiritismo vem
colher.

30. O Espiritismo não é uma luz nova, mas uma luz mais brilhante, porque surgiu de
todos os pontos do globo através daqueles que viveram. Tornando evidente o que era
obscuro, põe fim às interpretações errôneas, e deve unir os homens em uma mesma
crença, porque não há senão um Deus, e suas leis são as mesmas para todos; ele marca
enfim a era dos tempos preditos pelo Cristo e pelos profetas.

31. Os males que afligem os homens na terra têm como causa o orgulho, o egoísmo e
todas as más paixões. Pelo contato de seus vícios, os homens tornam-se reciprocamente
infelizes e punem-se uns aos outros. Que a caridade e a humildade substituam o
egoísmo e o orgulho, então eles não quererão mais prejudicar-se; respeitarão os direitos
de cada um e farão reinar entre eles a concórdia e a justiça.

32. Mas como destruir o egoísmo e o orgulho, que parecem inatos no coração do
homem? - O egoísmo e o orgulho estão no coração do homem, porque os homens são
espíritos que seguiram desde o princípio o caminho do mal, e que foram exilados na
terra como punição desses mesmos vícios; é o seu pecado original, de que muitos não se
despojaram. Através do Espiritismo, Deus vem fazer um último apelo para a prática da
lei ensinada pelo Cristo: a lei de amor e de caridade.

33. Tendo a terra chegado ao tempo marcado para tornar-se uma morada de felicidade e
de paz, Deus não quer que os maus Espíritos encarnados continuem a trazer para ela a
perturbação, em prejuízo dos bons; é por isso que eles deverão deixá-la: Irão expiar seu
empedernimento em mundos menos evoluídos; onde trabalharão de novo para seu
aperfeiçoamento em uma série de existências mais infelizes e mais penosas ainda que na
terra.

Eles formarão nesses mundos uma nova raça mais esclarecida, cuja tarefa será levar o
progresso aos seres atrasados que neles habitam, pelos conhecimentos que já
adquiriram. Só sairão para um mundo melhor quando tiverem merecido, e assim por
diante, até que tenham atingido a purificação completa: Se a terra era para eles um
purgatório, esses mundos serão seu inferno, mas um inferno de onde a esperança nunca
está banida.

34. Enquanto a geração proscrita vai desaparecer rapidamente; surge uma nova geração,
cujas crenças serão fundadas no Espiritismo cristão. Nós assistimos à transição que se
opera, prelúdio da renovação moral cuja chegada o Espiritismo marca.

Máximas extraídas do ensinamento dos espíritos

35. O objetivo essencial do Espiritismo é o melhoramento dos homens. Não é preciso


procurar nele senão o que pode ajudá-lo para o progresso moral e intelectual.

36. O verdadeiro Espírita não é o que crê nas manifestações, mas aquele que faz bom
proveito do ensinamento dado pelos Espíritos. Nada adianta acreditar se a crença não
faz com que se dê um passo adiante no caminho do progresso e que não o faça melhor
para com o próximo.

37. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a


maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar
algumas hastes, e que têm como contraveneno: a caridade e a humildade.

38. A crença no Espiritismo só é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje
está melhor do que ontem.

39. A importância que o homem atribui aos bens temporais está na razão inversa de sua
fé na vida espiritual; é a dúvida sobre o futuro que o leva a procurar suas alegrias neste
mundo, satisfazendo suas paixões, ainda que às custas do próximo.

40. As aflições na terra são os remédios da alma; elas salvam para o futuro, como uma
operação cirúrgica dolorosa salva a vida de um doente e lhe devolve a saúde. É por isso
que o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, pois eles serão consolados."

41. Nas suas aflições, olhe abaixo de você e não acima; pense naqueles que sofrem
ainda mais que você.

42. O desespero é natural para aquele que crê que tudo acaba com a vida do corpo; é um
contra-senso para aquele que tem fé no futuro.

43. O homem é muitas vezes o artesão de sua própria infelicidade neste mundo; se ele
voltar à fonte de seus infortúnios, verá que a maior parte deles são o resultado de sua
imprevidência, de seu orgulho e avidez, conseqüentemente, de sua infração às leis de
Deus.

44. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é
pôr-se em comunicação com Ele.

45. Aquele que ora com fervor e confiança é mais forte contra as tentações do mal, e
Deus envia-lhe bons Espíritos para assisti-lo. É um auxílio que nunca é recusado,
quando é pedido com sinceridade.
46. O essencial não é orar muito, mas orar bem. Certas pessoas crêem que todo o mérito
está na extensão da prece, enquanto fecham os olhos para seus próprios defeitos. A
prece é para eles uma ocupação, um emprego do tempo, mas não uma análise de si
mesmos.

47. Aquele que pede a Deus o perdão de seus erros não o obtém senão mudando de
conduta. As boas ações são a melhor das preces, pois os atos valem mais que as
palavras.

48. A prece é recomendada por todos os bons Espíritos; é, além disso, pedida por todos
os Espíritas imperfeitos como um meio de tornar mais leves seus sofrimentos.

49. A prece não pode mudar os desígnios da Providência; mas, vendo que há interesse
por eles, os Espíritos sofredores se sentem menos desamparados; tornam-se menos
infelizes; ela exalta sua coragem, estimula neles o desejo de elevar-se pelo
arrependimento e reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido
que ela pode não só aliviar, mas abreviar seus sofrimentos.

50. Cada um ore segundo suas convicções e o modo que acredita mais conveniente, pois
a forma não é nada, o pensamento é tudo; a sinceridade e a pureza de intenção é o
essencial; um bom pensamento vale mais que numerosas palavras, que se assemelham
ao barulho de um moinho e onde o coração não está.

51. Deus fez homens fortes e poderosos para que fossem sustentáculos dos fracos; o
forte que oprime o fraco é advertido por Deus; em geral ele recebe o castigo nesta vida,
sem prejuízo do futuro.

52. A fortuna é um depósito cujo possuidor é tão-somente o usufrutuário, já que não a


leva com ele para o túmulo; ele prestará rigorosas contas do emprego que fez dela.

53. A fortuna é uma prova mais arriscada que a miséria, porque é uma tentação para o
abuso e os excessos, e porque é mais difícil ser moderado que ser resignado.

54. O ambicioso que triunfa e o rico que se sustenta de prazeres materiais são mais de se
lamentar que de se invejar, pois é preciso ter em conta o retorno. O Espiritismo, pelos
terríveis exemplos dos que viveram e que vêm revelar sua sorte, mostra a verdade desta
afirmação do Cristo: "Aquele que se orgulha será humilhado e aquele que se humilha
será elevado."

55. A caridade é a lei suprema do Cristo: "Amem-se uns aos outros como irmãos; - ame
seu próximo como a si mesmo; perdoe seus inimigos; - não faça a outrem o que não
gostaria que lhe fizessem"; tudo isso se resume na palavra caridade.

56. A caridade não está só na esmola pois há a caridade em pensamentos, em palavras e


em ações. Aquele caridoso em pensamentos, é indulgente para com as faltas do
próximo; caridoso em palavras, não diz nada que possa prejudicar seu próximo;
caridoso em ações, assiste seu próximo na medida de suas forças.

57. O pobre que divide seu pedaço de pão com um mais pobre que ele é mais caridoso e
tem mais mérito aos olhos de Deus que o que dá o que lhe é superfluo, sem se privar de
nada.

58. Aquele que nutre contra seu próximo sentimentos de animosidade, ódio, ciúme e
rancor, falta à caridade; ele mente, se se diz cristão, e ofende a Deus.

59. Homens de todas as castas, de todas as seitas e de todas as cores, vocês são todos
irmãos, pois Deus os chama a todos para ele; estendam-se pois as mãos, qualquer que
seja sua maneira de adorá-lo, e não atirem o anátema, pois o anátema é a violação da lei
de caridade proclamada pelo Cristo.

60. Com o egoísmo, os homens estão em luta perpétua; com a caridade, estarão em paz.
A caridade, constituindo a base de suas instituições, pode assim, por si só, garantir a
felicidade deles neste mundo; segundo as palavras do Cristo, só ela pode também
garantir sua felicidade futura, pois encerra implicitamente todas as virtudes que podem
levá-los à perfeição. Com a verdadeira caridade, tal como a ensinou e praticou o Cristo,
não mais o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja, a maledicência; não mais o apego
desordenado aos bens deste mundo. É por isso que o Espiritismo cristão tem como
máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.

Incrédulos! Podeis rir dos Espíritos, zombar daqueles que crêem em suas manifestações;
ride, pois, se ousardes, desta máxima que eles acabaram de professar e que é sua própria
salvaguarda, pois se a caridade desaparecesse da terra, os homens se entredilacerariam,
e talvez vocês fossem as primeiras vítimas. Não está longe o tempo em que esta
máxima, proclamada abertamente em nome dos Espíritos, será uma garantia de
segurança e um título à confiança, naqueles que a trouxerem gravada no coração.

Um Espírito disse: "Zombaram das mesas girantes; não zombarão nunca da filosofia e
da moral que daí decorreram". É que, com efeito, hoje estamos longe, depois de alguns
anos apenas, desses primeiros fenômenos que serviram, por um instante, de distração
para os ociosos e os curiosos. Esta moral, vocês dizem; está caduca: "Os Espíritos
deviam ter espírito bastante para nos dar algo de novo." (Frase espirituosa de mais de
um crítico). Tanto melhor! se ela está caduca; isso prova que ela é de todos os
tempos, e os homens são apenas mais culpados por não tê-la praticado, pois não há
verdadeiras verdades senão as que são eternas. O Espiritismo vem lembrá-la, não por
uma revelação isolada feita a um único homem, mas pela voz dos próprios Espíritos
que, como uma trombeta final, vêm proclamar: "Creiam que aqueles que vocês
chamam de mortos estão mais vivos que vocês, pois eles vêem o que vocês não
vêem, e ouvem o que vocês não ouvem; reconhecei, naqueles que lhes vêm falar, seus
parentes, seus amigos, e todos aqueles que vocês amaram na terra e que acreditavam
perdidos irremediavelmente; infelizes aqueles que crêem que tudo acaba com o corpo,
pois serão cruelmente desenganados, infelizes daqueles a que terá faltado caridade, pois
sofrerão o que tiverem feito os outros sofrer! Escutai a voz daqueles que sofrem e que
lhes vêm dizer: "Nós sofremos por não ter reconhecido o poder de Deus e duvidado de
sua misericórdia infinita; sofremos por nosso orgulho, nosso egoísmo, nossa avareza e
por todas as más paixões que não soubemos reprimir; sofremos por todo o mal que
fizemos ao nosso semelhante, pelo esquecimento da caridade".

Incrédulos! Dizei se uma doutrina que ensina tais coisas é digna de risos, se ela é boa ou
má! Vendo-a tão somente do ponto de vista da ordem social, dizei se os homens que a
praticam seriam felizes ou infelizes; melhores ou piores!

... James H. Hyslop

> Seqüelas da Pesquisa Psíquica: personalidades secundárias, o caso Doris Fisher,


obsessão e a evidência das referências cruzadas

Artigos

Seqüelas da Pesquisa Psíquica

O seguinte é a tradução da discussão de James H. Hyslop, Ph.D, sobre dissociação da


personalidade. O tema é tratado no capítulo X ("seqüelas da pesquisa psíquica") de seu
Life after Death: Problems of the Future Life and Its Nature (1918). O conteúdo em sua
maior parte analisa o clássico caso de múltiplas personalidades de Doris Fisher.
Elucubrações sobre uma interpretação espiritualista são postas em questão, e esta é
considerada como a explicação mais racional. O autor abre o assunto acusando a
concepção reducionista sobre a dissociação de mais assumir resoluções do que
efetivamente explicar alguma coisa.

Postado por André Luís N. Soares


Séances de Spiritisme
http://parapsi.blogspot.com/

SEQÜELAS DA PESQUISA PSÍQUICA

É excessivamente inverossímil que os fenômenos da pesquisa psíquica deveriam parar


com a mera prova da existência espiritual. Os processos envolvidos na comunicação ou
transmissão da evidência de identidade poderiam ser facilmente usados para qualquer
outro propósito, e nós poderíamos esperar qualquer tipo de invasão imaginável depois
de descobrir que um mundo desencarnado ultrapassou completamente a fronteira do
físico. Existe um campo inteiro de fenômenos que ainda não tem sido resolvido, exceto
do modo mais superficial por homens de ciência. Eles têm ficado satisfeitos com a
descrição, em vez da explicação, e conseqüentemente negligenciado os ditames mais
claros da prudência com respeito à implicação destes fenômenos, como a telepatia e
comunicações espiritualistas, aos quais implicam algum tipo de influência causal na
mente, independentemente, da percepção dos sentidos e da ação motora normal. A
personalidade secundária é o ensopado irlandês do doutor. Ele não sabe o que é. Na
Antigüidade era a "obsessão demoníaca". Um tempo depois foi a "bruxaria". Hoje nós a
chamamos como "a divisão da consciência" e pensamos que resolvemos o problema,
quando, de fato, nós apenas jogamos areia nos olhos das pessoas. Tornamo-nos tão
acostumados a paradoxos dentro do conhecimento humano que quase qualquer
combinação impossível de palavras receberá atenção respeitosa, quanto mais impossível
melhor. O que é consciência dividida? Nós podemos dividir madeira, ferro, abóboras,
partidos políticos; mas consciência dividida, todavia, convém um termo para descrever
uma aparente situação, é um termo para nossa ignorância, uma palavra mais feliz, para
confundir um grupo de pessoas que relacionam todas as coisas anômalas no universo a
espíritos, e tornar espíritos algo desnecessário para inquirir minuciosamente as
anomalias da personalidade. Desde a ascensão da ciência moderna, a única coisa que
salvou o pensamento da maioria das pessoas de uma interpretação precipitada sobre
anomalias mentais, tem sido a convicção geral que a ciência exorcizou o "sobrenatural"
da ordem do mundo, entretanto quase ninguém soube o que o sobrenatural queria dizer.
Durante todo este período, a personalidade secundária esteve desconhecida, ou seu
aparente significado não apreciado, como um meio de reduzir as alegações
sobrenaturais. Os ecos da bruxaria ainda permaneceram na consciência popular. Mas a
palavra personalidade secundária, e suas associações, "subliminar," "subconsciente" e
"histeria" resgataram a situação, e se tornaram uma semente aberta para o conjurador
científico. Espíritos desapareceram dentro do limbo da ilusão e da mitologia.

Ansel Bourne desapareceu de casa em Providence, R. I., e foi dado como desaparecido
ou vítima de uma morte desconhecida; mas ele de repente acordou para sua condição
normal oito semanas depois em Norristown, Pa., Sem memória de intervalo das oito
semanas. O professor James e o Dr. Richard Hodgson o hipnotizaram e localizaram os
eventos deste período, que ele disse sob hipnose, e encontraram verdade neles.

Charles Brewin desapareceu de sua casa em Burlington, N. J., e entre a Cidade de Nova
Iorque e Plainfield, N. J., ele perdeu quatro anos num estado secundário, que não foi
descoberto por seus amigos, ignorantes da própria identidade dele; mas no fim ele
acorda de seu sono de Rip Van Winkle sem saber nada do que lhe acontecera, e voltou
depois para sua família.

Dr. Morton Prince teve um caso, que ele chama Sally Beauchamp, a qual parecia ter
quatro personalidades diferentes. Uma delas era uma criança perversa que fazia todos os
tipos de truques nas outras personalidades. Ela atraia uma delas para passear no campo
no horário do último trem, e então a acordava. A pobre vítima tinha que caminhar para
casa exausta da viagem. Sally colocava sapos e aranhas numa caixa e a deixava na
cômoda de forma que o "eu" normal entrava em histeria quando abria a caixa. Estes e
semelhantes truques e travessuras requerem um volume para contar e explicá-los. A
divisão da consciência, ou personalidade múltipla, foi a palavra cativada que
supostamente esclarecia o mistério. A teoria supernaturalista de espíritos foi deixada de
lado, e justamente suficiente, por falta de evidência. Não existia nenhuma credencial
nos fenômenos para tal explicação.
Mas há alguns anos atrás soube de um caso que oferecia a oportunidade para a
investigação e experiência adequadas. Era um que caiu nas mãos de um clérigo, também
conhecido por Dr. Walter F. Prince, aos cuidados e tratamento. Depois de visitar o caso,
eu resolvi tentar uma experiência logo que a condição da paciente permitisse. Esta
resolução não pôde ser posta em prática por anos.

Uma criança, a quem devemos chamar Doris, aos três anos e meio de idade, foi erguida
por seu pai bêbedo e lançada violentamente ao chão. O choque atordoou a criança, mas
no momento nenhum efeito mais sério seguiu-se; no dia seguinte ou depois, porém,
descobriu-se o que se sucedeu. A mãe não entendia, entretanto foi informada de uma
contusão na base do cérebro. A partir daquele momento, o caso era de personalidades
alternadas. A principal delas era chamada Margaret, e eventos provaram que existia uma
outra que se manifestava apenas no sono da menina, e foi chamada de Margaret
Adormecida. Mas existia uma que veio depois da morte da mãe. O estado normal e
primário era chamado Doris Real. Tudo o que a mãe conheceu era sobre Doris Real e
Margaret. A morte da mãe, porém, quando a criança fazia 17 anos de idade, causou o
aparecimento de outra personalidade, que foi chamada Doris Doente, porque nesta
condição a personalidade da menina estava sempre mal, entretanto ela pareceria
perfeitamente recuperar uma condição saudável no momento do retorno de Margaret ou
de Doris Real.

Do tempo que seu pai brutalmente a lançou ao solo, ela absorveu um medo mortal dele,
e de modo mais intenso pelo constante tratamento brutal dele para com ela. O pastor da
família acusou a criança de mentirosa, porque ele não entendia as mudanças dela, e o
resultado era que sempre depois ela se recusava a freqüentar a escola dominical. Num
domingo ela entrou casualmente na igreja do Dr. Prince, e a Sra. Prince ficou
interessada nela, sem saber qualquer coisa sobre o estado real das coisas, a não ser que
ela tinha algo de adoentada. Finalmente despertou-se no Dr. Prince o interesse
psicológico no caso, como também sua necessidade de caridade e cuidado. Ele achou
que Doris provavelmente nunca poderia sarar-se, visto que ela ficava com o pai, que
ainda brutalmente abusava dela. Ele então resolveu adotá-la em sua família, e
prosseguiu estudar-lhe e tentar uma cura. Primeiro ele começou a dissolver a
personalidade Doris Doente, e depois deste sucesso, ele eliminou Margaret; mas ele não
conseguia remover Margaret Adormecida, à medida que esta personalidade tinha sido
útil na dissipação das outras personalidades, e alegava ser um "espírito", como fez Sally
no caso Beauchamp.

A personalidade primária, Doris Real, estava aparentemente bem e era uma pessoa
normal, e nunca houve qualquer sinal de lesão ou degeneração física, exceto na
personalidade de Doris Doente, quando náuseas e outros sintomas anormais se
manifestaram nela. Mas Margaret era uma perfeita travessa e a personificação do mal.
Ela pegava cavalos de um estábulo e passeava pela cidade ou pelo campo para
satisfação de seu coração, mas muito para o aborrecimento dos donos, entretanto ela
sempre retornava com os cavalos. Ela descia para o embarcadouro e tentava atravessar o
rio, sentada na extremidade do barco; mas se os homens tentassem adiar, ela empinava
seus saltos e se lançava para trás na água, assustando todo mundo. Mas ela era uma
especialista em natação, e nunca sofreu qualquer perigo real. Ela pegava objetos onde
ela trabalhava, e escondia-os numa gaveta. Quando o "eu" normal era acusado de roubo,
natural e honestamente negava a acusação. Ela escrevia notas para o "eu" normal, como
o único modo de alcançá-lo. Doris Doente, resultada da morte da mãe, era uma
personalidade muito boba. Ela não sabia o que era a morte e não entendia o enterro ou o
luto de amigos, entretanto Doris Real preparou o corpo da mãe para o enterro. Doris
Doente não sabia os nomes dos objetos dela, e não podia falar uma palavra. Margaret
preparou-se para ensinar os nomes das coisas, e como inteligentemente conversava. No
curso disso, Margaret absorveu uma hostilidade amarga para Doris Doente, e costumava
fazer todo tipo de travessura imaginável nela, tão ruim quanto aquela protagonizada por
Sally nas outras personalidades do caso Beauchamp. A morte da mãe transferiu os
trabalhos domésticos a Doris, e isto piorou o assunto, especialmente quando as
crueldades do pai eram acrescentadas. Deixe-me citar uma consideração do Dr. Walter
F. Prince.

"Excesso de trabalho, aliado às influências cheias de ódio na casa, principalmente


militado contra a personalidade primária. Sobre a menina caia as maiores despesas da
casa. Margaret sabia que algo devia ser feito, e perturbava a mente de Doris Doente para
que ganhasse mais dinheiro, trabalhando à noite. Doris Doente aprendeu muito bem
toda a lição. Como Margaret depois tristemente expressou que, 'ela começou a trabalhar
tempestuosamente e assim fez meu trabalho'. Por um processo de abstração,
particularmente quando costurava, ela podia gradualmente conter a vontade e a inteira
consciência de Margaret, de forma que ambas as consciências cooperavam na tarefa.
Tudo, exceto a agulha e os pontos, desaparecia, os olhos nunca desviavam do trabalho, a
cor fugia do semblante, o dedo voava com velocidade mágica, e as horas passavam-se
antes do feitiço ser quebrado. Definitivamente um exemplo ocorrido mostrou a
confecção de uma elaborada peça de bordado em menos de um quarto do tempo que os
mais conservadores peritos estimavam como necessário. Neste exemplo o trabalho
anormal continuava mais de doze horas seguidas, absolutamente sem descanso, salvo
quando era acompanhado dos ataques de catalepsia, quando a agulha parava a meio
caminho no ar, o corpo ficava imóvel e os olhos fixos, por dez minutos ou meia hora,
sobre que o movimento atrasado era completado e a tarefa continuava, e Doris Doente
não estando ciente de que havia se passado mais do que um segundo. Quando a tarefa
era concluída, Margaret revelar-se-ia e dançaria uma dança selvagem de alegria. Mas
uma das conseqüências ruins era que ela ficava malévola contra Doris Doente e entrava
numa longa série de vinganças. Com uma malícia que parecia quase diabólica, ela
arranhava Doris Doente com suas unhas, embora ela mesma sofresse o pior disso depois
do efeito de adormecimento da ira que havia acabado, o efeito naquela (Margaret) era
menos anestésico que em sua companheira. Muitas vezes ela arrancava tufos inteiros do
cabelo, várias vezes ela realmente arrancava as unhas. Ela causava em Doris Doente
sensações de náuseas e várias dores, destruindo seu trabalho e seus bens, contrariando
seus planos, ameaçando-a, importunando e insultando-a. E ainda às vezes ela tinha
piedade e confortava a arrasada criatura, e freqüentemente vinha para seu alívio nas
emergências".

Entre as disputas destas duas personalidades, a personalidade normal aparecia por cinco
ou dez minutos, e às vezes mais tempo. Mas Doris Doente e Margaret controlaram a
maior parte da vida da menina por cinco anos diretamente sob a observação do Dr.
Prince, o pai adotivo. O tempo todo Margaret Adormecida ficava ao fundo, e surgia
apenas no repouso da menina, entretanto era sempre consciente do que estava
acontecendo em ambas as personalidades, e era a fonte de muito do que o Dr. Prince
aprendeu sobre as experiências da menina antes dela chegar-lhe. Além disso, ela
orientava o tratamento do caso para sua cura em muitas de suas descrições. A princípio
ela não deixava nenhuma alegação de ser um "espírito," mas finalmente, se devido à
sugestão ou não, isto não foi determinável, ela alegou ser um "espírito", ainda que não
pudesse lembrar de nenhuma vida passada nesta Terra ou em outro lugar. Margaret
aparentemente não conhecia nada sobre esta Margaret Adormecida, enquanto esta sabia
tudo sobre aquela, como também sobre Doris Doente. Doris Doente gradualmente foi
dissipada, e depois Margaret deixou Margaret Adormecida no castelo. Foram requeridos
dois volumes para registrar todos os fatos, inclusive as excitantes experiências das
diferentes personalidades e os incidentes desagradáveis do processo de cura. Mas o
resultado final foi de uma mulher normal e saudável, sem sinais de dissociação. A única
coisa que um observador agudo notaria seria a imaturidade mental da menina, o que é
bastante explicável pelo fato das personalidades anormais ocuparem a parte principal da
vida dela, e as experiências e a educação daquelas não eram transferidas para o "eu"
normal, exceto uma parte daquelas de Doris Doente.

Até agora não existe nada no caso que ou prove ou sugira qualquer coisa além daquilo
já conhecido como dissociação ou personalidades múltiplas. A consciência da menina
seria descrita como "divida", seja o que for o que esta expressão realmente queira dizer.
De fato, pode significar nada mais de que amnésia ocorre entre as várias personalidades.
Mas isto não é totalmente verdade.

Mais ou menos existia uma intercognição entre elas, e às vezes uma co-consciência,
enquanto Margaret Adormecida parece ter memória das experiências de todas elas. Mas,
como disse, existia freqüentemente dissociação ou amnésia habitual entre as várias
personalidades, de forma que isto pode ser o único significado provável do termo
"consciência dividida". Ocasionalmente na personalidade de Margaret aconteciam
alguns incidentes sugestivos de leitura mental, mas não em quantidade ou qualidade
suficientes para proporcionarem prova científica. Mas não havia nenhum rastro de
fenômenos que pudessem passar por comunicação com os mortos, e nada sugeria ao
psicólogo qualquer coisa como obsessão demoníaca, na medida em que os padrões de
evidência para tal doutrina estejam relacionados. As várias formas de histeria e de
dissociação seriam o único diagnóstico que qualquer médico ou psiquiatra respeitáveis
proporiam para tal caso.

O próximo passo na investigação foi o mais importante. Eu cruzei com três outros casos
que seriam ou já tinha sido diagnosticados por médicos ou psicólogos como paranóia ou
histeria, e eu mesmo daria a mesma explicação aos fatos, se não tivesse corrido-me que
o método de "referência cruzada" poderia trazer alguns fatos para a luz lançada nas
perplexidades da dissociação e da personalidade múltipla. Os fatos que me levaram a
isto estavam em três casos que caíram sob minha advertência.

Um homem jovem que nunca pintara chegou a fazer quadros tão bem que eram
vendidos por bons preços por seu mérito artístico somente, e compradores, que não
sabiam como eles eram produzidos, pensavam que o homem estava copiando os
quadros de Robert Swain Gifford, que estava morto. Aquele rapaz fazia sua pintura
depois da morte de Gifford, e sete meses antes dele saber do falecimento deste artista.
Outro sujeito, uma senhora desta vez, estava escrevendo histórias professando vir do
falecido Frank R. Stockton, tão caracterizada que Henry Alden, o editor do Harper's
Monthly, e outro cavalheiro que fez um estudo de Stockton, acharam que havia muita
caracterização. Outra senhora, a qual não tinha nenhuma educação à música, estava
compondo por escrita automática e que professava ser influenciada pela falecida Emma
Abbott. Três outros casos tiveram experiências semelhantes, e além de meia dúzia de
casos diagnosticados como paranóia ou outra forma de loucura foram submetidos à
mesma investigação, e proporcionaram o mesmo resultado.

Foi o caso Thompson-Gifford que sugeriu o método da experiência. Depois de uma


entrevista de duas horas com o rapaz, eu cheguei àquela conclusão que os doutores
alcançaram em seus exames, isto é, que era um caso de dissociação ou de desintegração
da personalidade. Mas brotou em minha mente que eu não tinha nenhuma obrigação em
esperar até uma autópsia ser apresentada a fim de descobrir se o diagnóstico estava
correto; e que, se eu levasse o sujeito a um psíquico, eu poderia descobrir algo sobre a
situação. Eu fiz isto sob as condições mais rígidas possíveis, fazendo meu próprio
registro dos fatos. O morto Gifford morto parecia provar sua identidade, de sua infância
em diante, através de dois psíquicos distintos, e forneceu alguma evidência por dois
outros. Isto sugeriu o tipo de experiência para os outros casos, e eles produziram o
mesmo resultado: aquelas pessoas falecidas professavam aceitar a responsabilidade para
os fenômenos que aconteceram nos vários sujeitos. Estes fenômenos nos próprios
sujeitos não dispuseram nenhuma credencial de uma fonte supernormal até serem
confirmados por referências cruzadas através de uma psíquica que não conhecia
absolutamente nada sobre a pessoa que era trazida a ela. O que parecia ser meramente
personalidade secundária em si mesma permitiu provar, por referência cruzada, ter
vindo de uma inspiração externa. Gifford parecia voltar da pintura, Stockton da história-
escrita, e Emma Abbott da música; e nos outros exemplos nós achamos fontes
transcendentais semelhantes para as artes que os sujeitos empreendiam, ou para os
fenômenos anormais que levaram médicos a falar de loucura.

O método que assim demonstrou ser tão bem sucedido foi aplicado ao caso de Doris
com a esperança que poderíamos encontrar alguma luz lançada em suas personalidades.
O caso nunca tinha sido publicamente mencionado. Doris viveu a primeira parte de sua
vida na parte oeste da Pensilvânia e depois na Califórnia. Eu tive então uma
oportunidade excepcionalmente boa para tentar a experiência sob as melhores condições
que ocultariam todos os fatos dos psíquicos. Eu trouxe a menina da Califórnia e a
mantive fora da cidade onde as experiências tinham que ser feitas. Eu a apresentei a
psíquica apenas depois que eu colocava esta em transe, e nenhum vez eu permiti a
psíquica vê-la, seja no estado normal ou no de transe. Realmente, ela não podia vê-la,
estando em seu estado normal, uma vez que eu mantinha o sujeito atrás dela, e o sujeito
deixava o aposento antes do transe terminar. Neste momento a menina estava
perfeitamente normal, tão saudável quanto alguém poderia esperar. O seguinte foi o
resultado registrado na escrita automática da psíquica, e isso resume um volume dos
dados mais interesses que qualquer sumário pode fornecer:

Eu não fiz nenhuma pergunta, e não fiz nenhuma sugestão às informações. Eu permiti
os controles tomarem o próprio curso deles. O primeiro comunicador foi a mãe da
menina, que morrera mais ou menos oito anos antes. Ela chamava sua filha por um
nome carinhoso, e o nome que representava as últimas palavras do pai moribundo. Ela
logo mostrou conhecimento da enfermidade e da melhora da menina, e então continuou
a provar sua identidade por muitos pequenos incidentes em suas vidas em comum, de
fato, despejando tais incidentes até o pai adotivo estar surpreso com a abundância e
pertinência. Eu não sabia nada sobre eles, e o pai adotivo estava morando a três mil
milhas do lugar onde as sessões estavam sendo realizadas.
Depois que isto fora terminado, um incidente notável aconteceu. Dr. Richard Hodgson,
que morreu em 1905 e que desde então ostensivamente tinha sido um comunicador
freqüente por esta psíquica, professou se comunicar, e comparou o caso com aquele de
Sally Beauchamp, com o qual disse ter experimentado. Isto era verdade, e ele também
chamava o Dr. Morton Prince como a pessoa que havia se encarregado do caso. Embora
a psíquica tenha lido o livro do Dr. Morton Prince sobre aquele caso, ela mesma não viu
o sujeito presente, e não ouviu uma palavra sobre isto. Eu levei este caso a psíquica
porque eu sabia de suas afinidades com aquele de Sally Beauchamp. Mas o incidente
mais importante, como a seqüência mostrou, foi a alusão a uma criança próxima a
menina com quem nós devíamos ter que considerar. Eu fui informado que um dos
controles da psíquica tinha descoberto aquela criança, e presentemente eu fui mais
adiante avisado que aquela criança era uma índia. Não existia qualquer indicação na
vida e nos fenômenos de Doris que tal personalidade estava ligada a ela. Mas evidência
suficiente veio de modo abundante mais tarde. Então, após este episódio, apareceu um
dos guias da menina. Depois de Margaret e Doris Doente terem sido eliminadas, a
menina começou a desenvolver escrita automática, e isto havia sido aludido pela
presente psíquica, e a pessoa que disse ser responsável pelo desenvolvimento de Doris
como uma automatista foi uma senhora francesa. Pela psíquica alguma francesa foi
usada; e vários incidentes dados foram recebidos pela prancheta através de Doris. Eles
confirmavam o processo que havia sido empregado para corrigir o estado que prevalecia
sobre a menina. Foi uma substituição dos controles piores por melhores.

Seguindo a revelação da pequena índia, que se chamava Minnehaha ou Água


Sorridente, veio uma alusão a um problema da menina com um caso de obsessão
espiritual. Isto foi exatamente o que eu suspeitei quando organizei minhas experiências.
Mas eu fui informado que Minnehaha não era a personalidade responsável por isto. Ela
era muito cautelosa para me contar incidentes que provavam sua identidade, porque
tinha medo de se incriminar e de ser exorcizada. Assim que eu a acalmei de seus medos,
alusão foi feita à outra personalidade. A princípio eu suspeitei que Minnehaha fosse
Margaret. Incidentes justificaram esta inferência, mas logo isso se mostrou estar errado.
Minnehaha insistiu não em ser um "diabo", e jogou a responsabilidade em outrem.

Enquanto isso eu estava curioso para testar as alegações de Margaret Adormecida. Ela
insistia em ser considerada um espírito. Mas nenhum rastro dela chegou nas
comunicações da primeira série de sessões. Eu então deixei Doris em Nova Iorque, e
realizei algumas sessões em nome dela em Boston, durante sua ausência. Em minhas
experiências com Margaret Adormecida em Nova Iorque, ela desculpou de seu fracasso
em se comunicar em Boston ao dizer que tinha aberto a mão para outros presentes e
pleiteou em defesa de seu fracasso por ter que vir quando Doris não estava presente nas
sessões, que ela não podia deixar Doris, de quem ela alegava ser o principal "guarda" ou
guia. Mas ela prometeu tentar se comunicar, se eu aceitasse levar Doris a Boston. Eu fiz
isso nas sessões seguintes, mas nenhum rastro de Margaret Adormecida veio. Nenhuma
personificação dela foi tentada. Eu então tentei outra invenção. Lembrando que foi um
dos controles da psíquica que pareceu ter descoberto Minnehaha, eu me preparei para
ter uma sessão especial com este controle. Eu tive que ocultar tanto meu objetivo quanto
o meu assistente da psíquica, enquanto também tive que preparar para que Margaret
Adormecida estivesse "do lado de fora": isto é, manifestando-se. Isto poderia acontecer
apenas durante o sono de Doris, o sujeito. Conseqüentemente eu organizei com a
psíquica uma sessão à noite na casa de um amigo meu. Eu de propósito deixei a
impressão, ao dar o nome da família, que poderia ser para alguém na casa. Enquanto
isso, eu combinei com meu amigo para entreter Doris a noite toda. No início, vi que
Doris foi para a cama às 9 horas. Depois disso eu fui encontrar a psíquica, e a trouxe a
casa, onde eu a deixei no quarto abaixo até ver que Doris estava dormindo e coberta de
forma que nem eu poderia ser visto. Nenhuma parte de seu corpo ou rosto era visível.
Eu então trouxe a psíquica ao quarto, e em seguida o transe emergiu e ela via a mesma
pequena índia que tinha sido vista ao redor de Doris nas sessões regulares, e tentou
pegar seu nome. Ela conseguiu corretamente através de símbolos, mas não o nome
exato como eu tinha recebido. Ela via água e risos, mas não os conectava a um nome.
Ela continuava mencionando que um número grande de incidentes havia sido
mencionado no transe mais profundo nas sessões regulares, e finalmente, quando eu a
pedi para conversar com a menina adormecida, ela fez isso, e eu então a pedi para me
dizer com quem ela estava conversando. Ela disse, e confirmou a afirmação, que era "o
espírito da própria menina, metade fora e metade dentro, e que, apenas se ele saísse
mais distante, ela poderia se comunicar com o 'espírito '".

Assumindo isto como correto, significa que o desenvolvimento da menina como uma
médium não era ainda apropriado, e a situação explicava suficientemente por que eu não
tinha escutado de Margaret Adormecida. No dia seguinte, nas sessões regulares, o
assunto foi levantado, e no curso de várias sessões eu fui informado que existiam duas
Margarets no caso, e uma deles parecia ser a Margaret que aparecia no sono, e que ela
não era um espírito desencarnado, mas o "próprio espírito da menina". Aqui novamente
nós tivemos a explicação de seu fracasso em se comunicar como uma realidade
desencarnada. Mais tarde eu fiz uma investigação para conhecer por que Margaret
Adormecida alegava ser um espírito; e Edmund Gurney - que eu investiguei, e que
morreu em 1888 na Inglaterra, sendo a existência e a morte dele completamente
desconhecidas da psíquica - professava comunicar-se, respondendo que, da mesma
maneira que muitos espíritos sofriam da ilusão de estarem ainda vivos e em contato com
o mundo físico, Margaret Adormecida, o subconsciente de Doris, tinha uma ilusão
semelhante sobre ser um espírito, porque ela não estava num transe suficientemente
profundo para perceber a real situação. Esta visão confirmava exatamente a teoria que
outros casos me sugeriram, e era consistente com a atitude geral de Margaret
Adormecida. Além disso, nós devemos lembrar que Margaret Adormecida nunca alegou
ter vivido antes, e Doris tinha estas idéias de negação em ser um espírito, que ela não
pensava ter visto um espírito quando observou uma aparição de sua mãe depois da
morte desta. Ela pensava que era sua mãe, não um espírito.

Com a natureza de Margaret Adormecida resolvida, a próxima tarefa era decidir sobre o
status de Margaret. Que já havia sido insinuada, ao dizer que ela era um espírito
desencarnado. Os controles, com Minnehaha, então apareceram também, trouxeram
Margaret, e a fizeram confessar ter influenciado Doris no estado Margaret a fazer
muitas coisas que pessoas de bom senso teriam feito, mas que não lidaram com as
causas reais; a culpou de todos os tipos de mentira e de roubo, e Margaret confessou que
ela fez tudo, e contou algumas das coisas que ela mandava a menina fazer. Os fatos
foram verificados pelo testemunho do Dr. Walter Prince, o pai adotivo de Doris.

Assim que este resultado foi efetivado, os controles aproveitaram a ocasião para
tencionar o significado da conclusão que seria tirada da prova que Margaret era um
espírito e um agente obsessor na vida da menina. Eles não estavam satisfeitos em provar
que um espírito estava ao fundo da personalidade Margaret, e começaram a estudar a
tarefa de mostrar que esta era uma mera ferramenta de um grupo mais importante que
ela, e que o caso era (1) um exemplo no qual um organizado bando de más influências
estava tentando determinar a vida da menina para a maldade, e (2) que as condições
manifestadas neste exemplo eram apenas uma ilustração do que estava acontecendo em
milhares de casos que eram tratados como loucura, mas que era perfeitamente curável,
se a comunidade médica abrisse sua mente para a situação.

Muito antes ao trabalho que estava esclarecendo o que estava havendo em torno da
menina, os controles, que professaram ser o grupo Imperator que dirigiram os trabalhos
do Dr. Hodgson quando vivo, indicaram que existia uma importante personalidade
histórica na cabeça da organização culpada de influenciar a menina ao mal.

Eles o atraíram ao banco das testemunhas, aparentemente para fazê-lo


inconscientemente revelar-se, e eu responsabilizei-me pelo jogo com tão tato e a astúcia
quanto eu poderia. Eu, assim que possível, dirigi a produzir o nome, muito contra a
vontade do patife, e ele revelou-se o Conde Cagliostro, o celebrado aventureiro do
século XVIII ligado à Corte e a revolução francesa no romance Diamond Necklace.
Quando ele sentiu-se trapaceado, ele ficou bastante enraivecido, mas, depois de tentar
atacar a médium, torcendo-a aos pedaços, foi seduzido pelos controles em
comunicações adicionais. Ele foi finalmente persuadido a desistir da vida que estava
levando, e abandonar a organização do qual ele era o cabeça. Um atrás dos outros destes
espíritos perturbadores foram trazidos ao tribunal para confissão, e foram mostrados
seus métodos malignos. Alguns estavam dispostos e desejosos a abandonar o sino que
estavam, mas outros eram muito obstinados. Porém, eles se renderam na maioria dos
casos atrás de muito esforço e pressão. A remoção do Conde Cagliostro os fez perder o
líder, e eles foram totalmente incapazes de executar seus planos sem a ajuda dele. Ele
foi finalmente induzido a entrar num monastério ou "hospital" encarregado por Anselm,
o Arcebispo de Canterbury, que viveu no Século XI!

Muito para minha surpresa, soube que a psíquica nunca tinha ouvido falar no Conde
Cagliostro ou no romance Diamond Necklace, e isto ficou plausível o suficiente quando
eu depois descobri que ela nunca havia lido qualquer coisa sobre a Revolução francesa,
salvo em Carlyle, e neste apenas em deferência aos gostos de um amigo. Neste trabalho,
Carlyle não diz nada sobre o romance de Diamond Necklace, salvo apenas uma
referência a ele, dando o nome de Cagliostro. Ele (Carlyle) debateu isso em seus
ensaios, mas ela nunca os viu. Além disso, eu obtive o nome real de Cagliostro, Joseph
Balsamo, até a pronúncia dele, que não era disponível para qualquer autoridade, exceto
num Webster antigo, e vários episódios na vida dele, especialmente o nome de seu
cunhado, que era alcançado somente num trabalho francês difícil de conseguir; além
disso, a psíquica não era capaz de ler francês.

Ao longo de toda esta revelação de agentes em ação, os controles mostraram as suas


maiores metas em tal causa, e esboçaram o método de tratar esses casos, que era de
contrariar os propósitos dos "espíritos" malignos em qualquer circunstância especial,
extorquir confissão das ações deles, e então removê-los do contato com a vítima viva.
Eles afirmaram a doutrina da obsessão com toda a ênfase, e esforçaram-se para dar os
fatos que provariam isso. No caso de Margaret e Minnehaha, eles, sem dúvida,
provaram isto: a identidade pessoal destes dois agentes foi provada pelo conhecimento
deles a respeito dos decisivos incidentes na vida da menina. Mais tarde eu também
consegui uma referência a Doris Doente, mas não como uma personalidade singular. Foi
declarado que muitos espíritos a influenciaram naquele estado, e referências foram
feitas ao bordado que caracterizava o trabalho da menina como aquela personalidade.
Mas evidência para a realidade de Margaret e Minnehaha foram impressionantes, as
chances são que os controles estavam corretos em suas declarações sobre o Conde
Cagliostro, as quais estavam apoiadas em boa evidência da identidade pessoal dele, não
conhecida pela psíquica. As outras personalidades obsessoras não puderam provar suas
identidades. Mas isso não fez nenhuma diferença, à medida que o propósito declarado
dos controles era mostrar à ampla extensão da obsessão, e remover os líderes dela.

Tendo efetuado este objetivo, eles começaram a estudar o desenvolvimento da menina,


que voltou para a Califórnia, e esforçou-se a estabelecer referências cruzadas com meu
trabalho em Boston. Minnehaha colocou-se na tarefa de dizer o que estava acontecendo
lá, na vida da menina, enquanto os controles esforçavam-se para indicar quem estava
fazendo o trabalho em desenvolvimento. Minnehaha teve sucesso em fornecer um
grande número de incidentes detalhados na vida normal de Doris, e também deu o nome
completo do Dr. Prince, e o antigo nome de Doris, que era bastante incomum — um que
eu nunca ouvira antes, até mesmo pronunciando-o como a menina e seus parentes
faziam, entretanto ele não era como soletrado. Centenas desses fatos foram informados,
mas não existe nenhum espaço aqui até para resumir os mais simples deles.

Aqui está um caso de dissociação causado por ato brutal do pai que resulta numa forma
de personalidade múltipla a qual os médicos consideram como incurável e certos para
terminar no manicômio e na morte. Foi variavelmente diagnosticado como paranóia e
demência precoce, mas, sob a paciência e o cuidado de um clérigo, ela foi curada, e a
menina tornou-se uma pessoa perfeitamente saudável, capaz de continuar um grande
negócio avícola e ser vice-presidente de uma associação avícola no município onde
morava, presidindo suas reuniões com inteligência e compostura. Assim que ela foi
curada, experiências com uma psíquica parecem mostrar ser um caso de obsessão
espiritual, com a identidade das partes afetando sua prova. A mediunidade começou a
desenvolver-se como um meio de evitar a continuação da perversa obsessão. Esta
mediunidade prosseguiu junto com uma vida normal e saudável.

Eu afirmei que a explicação do caso é obsessão, obsessão espiritual ou demoníaca,


como chamada no Novo Testamento. Antes de aceitar tal doutrina, eu lutei contra ela
por dez anos depois que havia me sentido seguro da sobrevivência após a morte estar
provada. Mas os vários casos referidos acima me forçaram a considerar a questão, e o
presente exemplo apenas confirma irresistivelmente a hipótese sugerida por outras
experiências.

O que é obsessão? É a influência supernormal de uma consciência externa na mente e


no organismo de uma pessoa sensível. Pode ser boa ou ruim, entretanto nós não estamos
acostumados a pensar e falar dela como senda benéfica. Mas o processo é o mesmo em
ambos os tipos, entretanto nós podemos preferir reservar o termo para os casos
anormais. Qualquer homem, porém, que acredita na telepatia ou leitura mental, não
pode rejeitar a possibilidade da obsessão. Aceitando tal fenômeno, ele assume a
influência de uma consciência externa em outra mente. Portanto, se você uma vez
permitir à existência de espíritos desencarnados, o mesmo processo, a saber, telepatia de
mentes desencarnadas, poderia agir e ter uma influência, ou sensória ou motora, nas
mentes dos vivos, desde que sejam psiquicamente receptivos a tais influências. É apenas
uma questão de evidência para o fato. Eu considero a existência de espíritos
desencarnados como cientificamente provada, e eu não mais me dirijo ao cético como se
ele tivesse qualquer direito de falar sobre o assunto. Qualquer homem que não aceita a
existência de espíritos desencarnados e a prova deles é ou ignorante ou um covarde
moral. Eu dou a ele uma breve confissão, e não me proponho mais argumentar na
suposição que ele sabe qualquer coisa sobre o assunto. Conseqüentemente, eu estou
numa situação para investigar e pesar os fatos que sugerem obsessão.

O que a doutrina envolve é um reinterpretação da personalidade secundária e múltipla.


Isso não coloca a doutrina de lado, como a maioria dos críticos está disposta a pensar. A
obsessão é simplesmente sobreposta sobre a personalidade secundária ou dissociação,
ou combinada com esta, mas não é necessariamente substituída por esta. A
personalidade secundária é o meio ou o instrumento para a expressão (da obsessão), e
colorirá ou modificará as influências que agem nela. Deveria ser observado que esta
visão é bem admitida ou afirmada pelos controles no caso sob consideração. Eles não
negam a existência da personalidade secundária, quando naturalmente nós poderíamos
supor que os preconceitos dos psíquicos estariam propensos a nos falar de influências
externas para o esclarecimento de tudo. As influências externas seguirão as linhas da
menor resistência, e, onde elas puderem superar completamente o subconsciente, elas
dominarão as idéias e os impulsos do sujeito. Elas podem nunca serem transmitidas
intactas, salvo raros momentos, mas podem ser normalmente nada além de instigação,
como um fósforo aceso para uma explosão. O fósforo não é a causa do efeito, mas é a
causa eventual para liberar a energia retida naquilo que irá explodir. Você pode
estimular a mente do homem através do álcool ou de outro estimulante, mas nós não
pensamos em nos referir à ação da mente afetada pelo poder transmissivo do álcool.
Articule uma sentença para um homem, e ele pode se lembrar de muitas associações que
não são transmitidas para a mente dele pelo som, ou pelas idéias do homem que articula
a sentença. Um homem sonhando caminhar com seus pés expostos no gelo do pólo
norte, acorda e descobre que seus pés não estavam debaixo da roupa de cama numa
noite fria. Não existiu nenhuma correlação entre o estimulo e a percepção em relação de
gênero, esta que foi o efeito perceptível de interpretação e imaginação, e não de reação
táctil para a causa real. A mesma lei pode agir em estímulos espiríticos. Eles podem
apenas estimular a ação na mente influenciada, como num sonho, e não transmitir a esta
o pensamento ou o impulso exatos que estão na mente do agente externo. Em alguns
casos, claro, nós encontramos as idéias e os impulsos sendo transmitidos relativamente
íntegros, e em tais casos nós podemos encontrar evidência para a obsessão na identidade
pessoal do agente. Mas em casos de dissociação que distintamente representam fatores
subconscientes, a única evidência para a obsessão pode vir pelo método da referência
cruzada. E tal é o caso diante de nós. Não existia nenhuma evidência que seja para a
invasão externa nas experiências da menina, a referência cruzada produziu esta
evidência em abundância.

O interesse principal em tais casos é seu efeito revolucionário no campo da medicina. O


presente caso mostra claramente o que deveria ter sido feito com Sally Beauchamp, e
que, de fato, destruiu as interpretações usuais daquele caso, sem deixar de lado lá a
personalidade secundária ou múltipla. É provável que milhares de casos diagnosticados
como paranóia propiciariam este tipo de investigação e tratamento. Está na hora da
comunidade médica acordar e aprender algo. Ela está tão saturada com o materialismo
dogmático que se exigirá um Lutero médico ou Kant para despertá-la. Esta eterna
conversa sobre personalidade secundária, que é muito útil para ser ignorada ou apenas
descrever os fatos, não deveria mais evitar a investigação. É muito fácil descobrir a
resposta se você apenas aceitasse o método que lançou tanta luz nesses casos. Não irá o
método parar com a dissociação. Ele se estenderá para muitos problemas funcionais que
agora confundem os médicos. Existe muito um medo tolo do "sobrenatural", e muita
reverência para o "natural" o qual tem perdido bastante o seu significado, assim como o
"sobrenatural". Espíritos, à medida que admitamos, pelo menos por conveniência,
intima certas agregações de fenômenos, não são coisa mais misteriosas do que a
consciência e, poder-se-ia acrescentar, não são mais misteriosos do que átomos ou
elétrons. Talvez sejam menos. Eles são certamente objetos legítimos de interesse como
droga e pílulas ou meios semelhantes de experiência.

... Sergio Mauricio

> A CEPA e o Evangelho

Artigos

De tanto repetir-se uma mentira, muitas vezes ela passa a ser tida como verdade. Das
muitas inverdades que se têm dito acerca da C.E.P.A. uma tem sido, ultimamente,
repetida tão freqüentemente que recomenda se faça, aqui, um repto, para que não passe,
definitivamente, para o rol das pretensas verdades: "a C.E.P.A. não
aceita 'O Evangelho segundo o espiritismo'"!

Essa irresponsável afirmação, sem nenhuma base documental, histórica ou concreta,


tem sido veiculada insistentemente em panfletos de extremo mau gosto, vulgarmente
agressivos e com clara intenção difamatória, visando atingir uma instituição séria,
genuinamente espírita e que tem como um dos pilares de sua atuação precisamente a
difusão integral da obra de Allan Kardec.

Mas o respeito que sempre devotamos à obra de Kardec não nos impede, e, antes, nos
obriga a reconhecer que dentre todos os excelentes livros que publicou, um pontifica
como o mais importante: "O livro dos espíritos". Primeira de suas obras publicadas,
revista e ampliada poucos anos após por seu próprio autor, é esse o livro fundamental da
doutrina espírita. Resultado de um amplo exercício dialético estabelecido entre Kardec e
os espíritos, através de médiuns da maior confiabilidade e em vários pontos da
geografia mundial, "O livro dos espíritos" é uma grandiosa síntese das propostas de
caráter científico, filosófico e moral do espiritismo. Todos os demais lhe são
complementares, dedicando-se, com igual zelo, a aspectos doutrinários ou instrumentais
mais específicos. "O Evangelho segundo o espiritismo", por exemplo, enfoca aspectos
morais e éticos do espiritismo, analisando-os em consonância com os ensinos de Jesus
de Nazaré. Ao ser editada essa obra, as bases fundamentais da moral e da ética espírita
já estavam claramente expostas na 3ª parte de "O livro dos espíritos", sob o abrangente
título de "Das leis morais", identificadas por Kardec e os espíritos como expressões da
própria lei natural ou divina e, por isso, "eternas e imutáveis". "O Evangelho segundo o
espiritismo" tem, assim, caráter de complementaridade, o que não reduz sua
importância, especialmente considerando a inserção histórica e geográfica do
espiritismo num mundo de tradição cristã.

Essa análise, que não é da C.E.P.A., mas de todos os espíritas que respeitam, estudam e
buscam interpretar a obra de Kardec num contexto histórico e social, não implica em
menosprezo a qualquer de suas obras ou afirmações, embora não as tornando imunes a
eventuais críticas pontuais, levando-se em conta as naturais influências relativas a
tempo, lugar, cultura, tradições filosóficas ou religiosas que impregnam livros, textos,
mensagens ou afirmações de Kardec ou dos espíritos, nas chamadas obras básicas.
Afinal de contas, a chamada "revelação espírita" foi um trabalho de homens
(encarnados e desencarnados) e não de deuses.

Aquele que não assumir perante o espiritismo, ou qualquer outra proposta cultural, uma
postura crítica corre o risco de simplificações facilmente deturpadoras que levam ao
sectarismo, ao fanatismo e à intolerância. Uma atitude totalmente acrítica, por exemplo,
é aquela que leva muitos espíritas a superdimensionar os evangelhos ou os chamados
"valores cristãos" dentro do espiritismo, de tal forma que, ao invés de interpretar o
"Evangelho segundo o espiritismo", interpretam o Espiritismo segundo o Evangelho,
ou, segundo o cristianismo. Subordinam, dessa forma, uma proposta moderna,
universalista, construída com vocação permanentemente progressista e atualizável, a
uma cultura que, em seus 2.000 anos de existência, teve altos e baixos e que terminou
cristalizando condutas e conceitos tidos pela cristandade como "evangélicos", mas
claramente distanciados da mensagem original de Jesus, nem sempre se coadunando,
também, com a ética universal, arreligiosa, laica, igualitária, fraterna e espiritual, hoje
aspirada pelos povos.

A C.E.P.A. aceita e valoriza o Evangelho dos cristãos na medida exata da lúcida


proposição feita por Kardec na introdução de "O Evangelho segundo o espiritismo":
enquanto expressão de uma ética universal, assectária, válida em qualquer tempo e
espaço, expressão da lei natural, "eterna e imutável", conforme a adjetivação da questão
615 de "O livro dos espíritos".

Freqüentemente, também, têm-se acusado a C.E.P.A. de afirmar que "a moral espírita é
superior à moral de Jesus". Ora, na mesma ordem de raciocínio, não cabe supremacia de
uma sobre a outra: a moral espírita não é superior nem inferior à moral de Jesus. É
exatamente a mesma, com uma vantagem de relevância meramente cronológica: por
estar o espiritismo inserido na modernidade e por se propor a tornar- se expressão de
perene contemporaneidade, assimilou os grandes valores humanistas conquistados
justamente em oposição à opressão religiosa que a cristandade instaurou em nossa
história. Essas características lhe dão mobilidade e transformabilidade, fazendo-o capaz
de se utilizar dos signos de seu tempo e de se adaptar ao avanço da ciência, à
mutabilidade da linguagem e da cultura e aos padrões socioculturais hodiernos.

Essa é a visão que a C.E.P.A. tem divulgado com toda a clareza, explicitando, também,
que há uma nítida distinção entre Jesus e cristianismo, o que nos leva a reafirmar
estarmos totalmente com os ensinos morais do Nazareno, o que não implica aceitarmos
a adjetivações dadas ao espiritismo de "cristão" ou "evangélico".

Quem não for capaz de entender isso que siga dizendo que o espiritismo é "o
cristianismo redivivo", "a terceira revelação divina", etc., mas que o faça sem violentar
a verdade dos fatos e sem distorcer palavras alheias, mantendo postura minimamente
ética no debate de idéias.

Artigo publicado no Boletim CEPA BRASIL, de dezembro/2.000.

Sobre posicionamento da CEPA

(Transcrição de e-mail do presidente da CEPA, Milton Medran Moreira, dirigido a


diversos destinatários, a respeito de ataques da ADE-RS à CEPA)

Amigos de ideal espírita:


A presente manifestação oportuniza-nos dar ciência a quem, eventualmente, não o haja
lido do artigo que publicamos no boletim CEPA BRASIL, sob o título "A CEPA E O
EVANGELHO". Aquela manifestação, e não as inúmeras matérias, de autores
identificados ou não, que insistem com chavões do tipo "A Cepa quer tirar Jesus do
espiritismo", "A Cepa não aceita o Evangelho", etc., representa o pensamento
construído e divulgado, responsavelmente, ao curso de mais de meio século pela
Confederação Espírita Pan-Americana.

O pensamento da CEPA é sempre claro. Está exposto, sem tergiversações, nos


documentos que torna públicos em seus congressos, conferências e, hoje, no boletim
CEPA BRASIL, órgão oficial das instituições adesas e filiadas à CEPA no Brasil.

Esse boletim é publicado mensalmente, como encarte do jornal OPINIÃO, órgão do


Centro Cultural Espírita de Porto Alegre (CCEPA), que tem plena identidade com a
Confederação Espírita Pan-Americana, da qual é
filiada.

Nesses mesmos órgãos, e nas sucessivas edições da revista "América Espírita", que tem
circulação mundial, relacionam-se com freqüência as dezenas de federações, centros
espíritas, associações espíritas, bibliotecas, centros culturais e pessoas físicas que, na
América (e agora também na Espanha e França) têm vínculos institucionais com a
CEPA.

O projeto da CEPA no Brasil, onde já conta com aproximadamente duas dezenas de


instituições filiadas e com delegados em inúmeras cidades e Estados, não é de confronto
e nem de concorrência com o movimento espírita aqui organizado. A partir de estruturas
organizacionais próprias e tendo como inspiração de todo o seu trabalho os postulados
básicos da obra de Kardec, a CEPA respeita e busca o diálogo e o intercâmbio com todo
o movimento espírita, sem qualquer restrição e sob o lema kardequiano de "trabalho,
solidariedade e tolerância".

Nossa visão de movimento espírita não contempla qualquer sentido de "poder" ou de


"dominação", ou de imposição de idéias. Federações, confederações, associações
espíritas, conselhos espíritas, no nosso entender, devem ser órgãos que cultivam a
liberdade de pensamento, de ação, de autogestão, dentro de suas concepções
institucionais. Buscamos muito mais a "união" de todos os espíritas naquilo que lhes é
comum e básico, do que a "unificação", em uma estrutura de poder estratificada e
hegemônica. Para nós, o espiritismo é uma proposta livre-pensadora e, logo, suas
instituições devem preservar sua independência, respeitados os pressupostos
doutrinários fundamentais, aos quais aderiram livre e espontaneamente.

Esse nosso perfil não se compatibiliza com agressões, com manifestações de baixo
nível, fundadas no "diz-que diz-que". Admitimos que o espiritismo é um pensamento
em constante construção, a partir dos fundamentos básicos expostos na obra de Kardec.
Daí haver um espaço amplo para o debate, para a atualização constante, mas sempre em
termos respeitosos, democráticos, abertos.

Nossos espaços, na pequena imprensa que mantemos, não se abrem a discussões


estéreis, nem a guerras institucionais contra irmãos de ideal que têm posições em algum
ponto discordante das nossas. A nós não interessa quantos centros a Federação "A" ou a
União "B" tem ou deixa de ter. Importa que o movimento espírita amadureça a ponto de
poder, livremente, criar os vínculos que bem desejar, com quantas federações, uniões ou
confederações quiser, sem que umas patrulhem as outras. Há instituições, no Brasil,
filiadas à CEPA e que, concomitantemente, mantêm vínculos institucionais com suas
espectivas federações ou uniões estaduais. Reconhecemos em cada centro espírita e,
especialmente, em cada cidadão espírita, o direito de estabelecer os vínculos
institucionais que desejar, com amplos critérios de liberdade. Defendemos, por outro
lado, a necessidade de as instituições espíritas respeitarem suas naturais diferenças,
convivendo fraternalmente entre si e ampliando espaços dentro dos quais se possa
realizar um trabalho conjunto. Essa, aliás, é uma consciência que está crescendo no
Brasil. Recentemente a USE promoveu em S.Paulo o I ENCOESP, reunindo dezenas de
federações, confederações, uniões, etc., com a participação de mais de 1.300 centros
espíritas. A CEPA participou desse evento e iniciou produtivo intercâmbio não apenas
com a União das Sociedades Espíritas de S.Paulo, da qual foi parceira naquele grande
evento, mas com inúmeras outras instituições lá presentes.

A respeito disso, estamos, além do artigo já citado, anexando o editorial "Rumo à


síntese de Kardec", que estamos publicando no jornal Opinião (jan/fev.2001), e o artigo
"A Cepa e o Encoesp", que publico em "A Palavra da Cepa" no boletim CEPA BRASIL
, encartado na mesma edição.

Isso representa a palavra oficial e autêntica do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre,
órgão responsável pelo jornal Opinião, e da Confederação Espírita Pan-Americana que
edita o encarte aludido.
Tanto um como outro desses órgãos estão à disposição para a publicação de matérias
que se inspirem nesses pressupostos de respeito ao pensamento espírita e que, de
alguma forma, contribuam com esse ideal de unidade do pensamento espírita, naquilo
que lhe é essencial. Não abriremos espaço, entretanto, jamais, para o debate estéril,
agressivo, semeador da desunião ou voltado para a difamação ou para a calúnia. Quem
preferir esse caminho, continuará falando sozinho.

A CEPA não se prestará jamais a esse comportamento panfletário e irresponsável.

Com um abraço cordial,


Milton Rubens Medran Moreira
Presidente da CEPA.

... Sergio Mauricio

> Entrevista elucidativa sobre a CEPA

Artigos

Entrevista para a lista da CEPA

O ingresso de espíritas que vieram à lista para conhecer o pensamento da CEPA e que,
antes, jamais haviam tido qualquer contato com a Confederação Espírita Pan-
Americana, me levaram a fazer uma entrevista com o presidente da CEPA, Milton R.
Medran Moreira, reunindo exatamente algumas indagações que foram endereçadas por
participantes da lista:

· O que é a CEPA?

· Um pouco de sua história.

· As dificuldades e os avanços de seu relacionamento com os espíritas


religiosos do Brasil e de outras partes do mundo.

· A questão da atualização do espiritismo.

· Por que a CEPA não considera o espiritismo uma religião?


· Por que diz que o espiritismo não é cristão?

Entrevista

Cynthya – Este veículo da Internet, um grupo de discussão patrocinado pela CEPA, tem
atraído espíritas de diferentes regiões do mundo, e especialmente do Brasil, que pouco
ou nada conhecem da história e do pensamento da Confederação Espírita Pan-
Americana. Eles perguntam resumidamente o que é a CEPA, qual sua história e quais
seus objetivos e, muito particularmente, qual a relação histórica da CEPA com o
movimento espírita brasileiro, já que só há muito pouco tempo passaram a ouvir falar
nela, dentro do movimento espírita do Brasil. Você poderia, Milton, lhes esclarecer
brevemente sobre esses pontos?

Milton – Bem, a CEPA, Confederação Espírita Pan-Americana, foi fundada em 1946,


em Buenos Aires, Argentina, com o objetivo de congregar o movimento espírita da
América, que não tinha nenhum organismo pan-americano, com essa dimensão. Nessa
época, o Brasil já contava com um movimento espírita forte, sob a coordenação da
Federação Espírita Brasileira, fundada ainda nos finais do Século 19. Mas, a FEB nunca
participou formalmente da CEPA, pois sempre sustentou uma visão marcadamente
religiosa de espiritismo, não inteiramente coincidente com a visão científica, filosófica,
sociológica, inspiradora de uma moral laica e livre-pensadora que caracterizou a CEPA
desde sua fundação.

A ausência formal da FEB junto à CEPA, entretanto, não significou a ausência do Brasil
na CEPA. Desde seu Congresso de fundação, intelectuais espíritas contribuíram
eficazmente na formação e na trajetória da CEPA, especialmente através de uma
instituição que hoje não mais existe no Brasil, que foi a Liga Espírita do Brasil. E foi
exatamente no Rio de Janeiro, promovido pela Liga Espírita do Brasil, que se realizou o
II Congresso Espírita Pan-Americano em 1949. Dele participaram personalidades como
Aurino Barbosa Souto, Deolindo Amorim (que foi o Secretário Geral do Congresso),
Artur Lins de Vasconcellos, Carlos Imbassahy, Lauro Sales, Francisco Klörs Werneck,
Campos Vegal, Leopoldo Machado e Delfino Ferreira. Este último foi eleito Presidente
da CEPA no Congresso do Rio de Janeiro.

Uma das conclusões desse Congresso versou exatamente sobre a "questão religiosa", e
se expressou nestes termos: "Considerando que a religião é matéria de foro íntimo, não
podendo, portanto, ser determinada por normas e regras humanas; considerando que
ainda não existe unanimidade quanto à maneira de interpretar o Espiritismo frente ao
problema religioso, o Congresso não estabelece normas a respeito e resolve dar plena
liberdade nesse sentido, afirmando, entretanto, os aspectos científico e filosófico do
Espiritismo, segundo a codificação de Allan Kardec, tendo por base moral os ensinos de
Jesus...".

Cynthya– Essa posição bastante plural e abrangente, ao que parece, já dissentia do


posicionamento da FEB, que, a essa altura, já tinha como princípio firmemente
estabelecido o chamado tríplice aspecto do espiritismo: ciência, filosofia e religião, com
forte predominância desse último aspecto. Não é isso?

Milton – É verdade. Por isso, e especialmente, pela convicção assumida pela FEB,
presente no livro "Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho", de que o Brasil
teria essa "missão divina" de conduzir e coordenar o movimento espírita mundial, a
FEB historicamente sempre manteve um distanciamento da CEPA. Em seguida, o
chamado "Pacto Áureo" (um grande movimento de unificação do movimento espírita,
comandado pela FEB, e que, casualmente, foi assinado aproveitando-se a presença de
lideranças espíritas no Congresso da CEPA no Rio de Janeiro, em 1949) terminou por
decretar o fim da Liga Espírita Brasileira que, no processo de unificação resultou
enfraquecida. Desaparecida a Liga, a CEPA restou sem base no Brasil. Apesar disso, daí
por diante, a CEPA sempre buscou um relacionamento fraterno com a FEB, convidando
sistematicamente seus dirigentes, que se faziam presentes à maioria dos Congressos
Espíritas Pan-Americanos promovidos pela CEPA.

Cynthya– Mas, houve um esfriamento dessas relações a partir de um


determinado momento. Quando?

Milton – Bem, no início da década de 90, sob o impulso da FEB, criou- se o Conselho
Espírita Internacional – CEI – que pretendeu, seguindo uma clara inspiração evangélica
de nítida feição febeana, coordenar e unificar o movimento espírita internacional. A
partir desse momento, explicitamente, a FEB passou a mostrar seu desagrado com a
presença da CEPA no movimento. Essa situação teve seu ápice em 1994, quando a
CEPA promoveu algumas ações visando concretamente criar uma base mais forte no
Brasil. Presidia então a CEPA o venezuelano Jon Aizpúrua que enviou uma circular ao
movimento espírita brasileiro (que, a essa altura, muito pouco conhecia da CEPA)
clarificando as posições doutrinárias, nitidamente kardecistas e livre-pensadoras da
Confederação e convidando os espíritas brasileiros e suas instituições que concordassem
com essas suas históricas posições a ingressassem na CEPA como instituições adesas,
filiadas ou que, pessoalmente, os espíritas com essa visão se associassem à CEPA. A
FEB reagiu indignada a essa manifestação da CEPA. Em editorial publicado no
Reformador de setembro de 1994 qualificou a circular da CEPA como uma tentativa de
"divisão do Movimento Espírita brasileiro", representando "intervenção indevida,
indigna das práticas doutrinárias, que fere os princípios éticos mais elementares de
união e de fraternidade".

Cynthya– Intervenção? Divisão? Mas, sendo a CEPA um organismo pan- americano,


criado com o fim específico de congregar o movimento espírita das Américas, não
estaria no seu legítimo direito e até na obrigação estatutária de buscar a adesão formal
de instituições espíritas em todo o Continente?

Milton - A FEB deixou claro que não via legitimidade da CEPA em atuar no Brasil,
como a dizer que aqui era seu território exclusivo. Depois, em editorial ainda mais
incisivo, publicado no Reformador de novembro de 1994, com o título de "O trigo e o
joio" (o trigo seriam os "espíritas cristãos" e o joio os demais), assim se expressou:
"Ainda há pouco o Movimento Espírita brasileiro experimentou injustificável agressão,
partida de instituição que pretende liderar o movimento espírita nas Américas, mas que
age de forma antiética e autoritária na defesa de interpretação restitiva da Doutrina".

Ora, é evidente que, com essas manifestações, as relações entre a CEPA e a FEB se
tornaram muito delicadas. Nesse ponto, já diversas instituições espíritas estavam
aderindo formalmente à CEPA e aqui se realizaria o Congresso de 2.000, em Porto
Alegre, onde tive a honra de ser eleito presidente. Com alguns meses de antecedência, o
presidente da Comissão Organizadora do Congresso, Salomão Jacob Benchaya, enviou
atenciosa carta ao presidente da FEB convidando-o para aquele conclave, que teria
como tema central "Deve o Espiritismo Atualizar-se?". Seu presidente de então, Juvanir
Borges de Sousa, respondeu a carta, agradecendo o convite, mas dizendo que a FEB não
compareceria a um congresso que pretendia atualizar o Espiritismo, tarefa para a qual só
teriam legitimidade, no entendimento da FEB, os "Espíritos Superiores". Na mesma
oportunidade, a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, também convidada, reagiu ao
convite com uma circular ao movimento espírita do Rio Grande do Sul recomendando
que não comparecessem ao congresso.

Cynthya – Vê-se, então, que, pelo menos dois pontos ficam bem claros relativamente a
divergências doutrinárias entre a FEB, e com ela o movimento espírita evangelico do
Brasil, e a CEPA: 1º, a CEPA não considera o Espiritismo uma religião, diferentemente
da FEB para quem o Espiritismo tem fundamentalmente um caráter religioso; 2º, a idéia
da atualização, defendida pela CEPA em seus últimos eventos (Porto Alegre e São
Paulo), também é rejeitado pela FEB . É isso?

Milton – Ocorre que para nós, da CEPA, não parece que essas questões sejam tão
fundamentais assim que não possam ser objeto de discussão e muito menos que
justifiquem a divisão dos espíritas. Veja bem, na questão de religião, Kardec foi muito
claro ao explicitar que "o verdadeiro caráter do Espiritismo é de uma ciência e não de
uma religião". No seu famoso Discurso de Abertura, pronunciado no dia 1º de
novembro de 1868, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Kardec admitiu que o
"o Espiritismo é uma religião no sentido filosófico", para, adiante, fazer ele próprio a
seguinte indagação: "Por que, então, afirmamos que o Espiritismo não é uma religião?".
Seguem-se, então, argumentos muito fortes, mediante os quais Kardec enfatiza que não
convém que o Espiritismo se declare uma religião. Discorre longamente sobre o que o
povo entende por religião, que não consegue dissociar de cultos, de sacerdócio
organizado, de sistemas fechados de crença, coisas que o Espiritismo não tem e não é.
Então, por uma questão de estratégia, e por fidelidade ao seu objeto de estudo, que se
afasta do mundo fechado do fideísmo, para se inserir no campo aberto da ciência, da
filosofia e da ética, Kardec recomendou que não tratássemos do Espiritismo como uma
religião. Ele próprio, quando o Padre Chesnel qualificou o espiritismo como uma nova
religião, protestou veemententemente dizendo ao abade que era ele, o padre, quem
estava jogando o espiritismo num novo caminho, que sequer fora pensado antes pelo
espiritismo.

Diante de tudo isso, a CEPA tem essa posição histórica, que é genuinamente kardecista,
o que não afasta o espiritismo da moral de Jesus, reconhecido como modelo e guia da
humanidade. Mesmo assim, temos um respeito muito grande por pensadores espíritas,
especialmente brasileiros, que consideram o espiritismo uma religião, mas que têm de
religião um conceito filosófico, não sectário, que não diviniza Jesus e nem o coloca na
posição de mito, meio deus e meio homem, como o fazem os roustainguistas. Esse
conceito superior de religião é bem compreendido pela CEPA, mesmo que defenda o
caráter laico do pensamento espírita, que consideramos espiritualista e não religioso.
Mas, esses são detalhes conceituais, semânticos, que não chegam a ser fundamentais,
embora institucionais. Atendem a uma necessidade de precisão terminológica,
firmemente recomendada por Kardec. Não são questões, porém, que nos devem separar
dos outros espíritas, que têm visão diferente da nossa, mas que guardam as mesmas
convicções nos pontos essenciais da doutrina espírita: existência de Deus, como
inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas; imortalidade e
comunicabilidade dos espíritos; pluralidade dos mundos habitados; pluralidade de vidas;
lei de causa e efeito; conseqüências morais e éticas derivadas desses conhecimentos.

De nossa parte, não há nenhum impecilho ao bom relacionamento com todas as


correntes espíritas, ao trabalho conjunto, respeitando o pluralismo de idéias e guardando
a união e a unidade em torno do essencial. Kardec mesmo previu que o espiritismo teria
essas nuanças diferenciadas, que lhe dariam perfis diversos, em diferentes partes do
mundo, preservando-se a unidade em torno dos princípios basilares que, naquele mesmo
discurso (Revista Espírita, dezembro 1868), ele sintetizaria no que chamou de "credo
espírita".

Cynthya– E a questão da atualização do Espiritismo, bandeira ultimamente desfraldada


pela CEPA que, também, gerou incompreensões e críticas de parte do movimento
espírita chamado religioso ou evengélico?

Milton – Também aqui, estamos diante de um procedimento tipicamente kardeciano,


expresso claramente por Kardec quando afirmou: "Marchando passo a passo com o
progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado por ele, pois se novas descobertas lhe
demonstrassem que estava errado sobre um certo ponto, ele se modificaria nesse ponto,
e se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará" (A Genese). A CEPA, desde seus
primódios, também levantou a bandeira da atualização permanente. O artigo 4º do
Estatuto da CEPA, que trata de seus objetivos, proclama como um deles (letra b):
"Pretender a revisão periódica da doutrina, para adaptar seus postulados científicos,
filosóficos e morais às exigências do momento e definir sua posição com respeito às
distintas correntes do pensamento moderno, de acordo com seu caráter
fundamentalmente evolucionista".

Então essa é uma vocação que se fez expressa e que se tornou programa de ação da
CEPA desde seu nascimento. Nos últimos eventos da CEPA, especialmente no
Congresso de 2.000 em Porto Alegre (Tema: "Deve o Espiritismo Atualizar-se?") e na
Conferência de São Paulo de 2002 (Tema: "Atualizar para Permanecer"), se deu ênfase
a esse caráter progressista do espiritismo, com dezenas de trabalhos que vincularam os
postulados básicos espíritas a temas epistemológicos, de linguagem, de atualização
científica, etc. Esse é um trabalho permanente na CEPA e que, evidentemente, não
queremos que fique restrito ao âmbito da CEPA mas para o qual contamos com o apoio,
a participação e a interlocução com todos os segmentos do pensamento espírita.

Cynthya– Essa parece ser uma característica muito forte da CEPA: a disposição de
interlocução com as mais amplas áreas do pensamento e do movimento espírita. É uma
instituição que expressa muita clareza no seu pensamento, mas que, ao mesmo tempo,
se abre ao diálogo, ao pluralismo, à alteridade. É difícil manter essa política?

Milton – Não tem sido realmente muito fácil. E, no entanto, ela é sincera e muito
honesta. Parte de um sentimento de muito respeito que temos por todos os segmentos do
pensamento e da organização espírita. As dificuldades que acima relatamos de
relacionamento com a FEB ou com outras federativas no Brasil e nos demais países da
América, por exemplo, jamais partem de nós. Como não poderia deixar de ser, temos
um respeito muito grande pela FEB e por todo o movimento espírita que ela coordena e
lidera, não apenas no Brasil mas em todo o mundo. Sem a ação da FEB, o espiritismo
não teria o significado que tem entre nós. Não seria a expressão que é. Mas, temos uma
visão diferente de alguns aspectos conceptuais e organizacionais. Diferentemente do
temor às vezes expresso pelos segmentos evangélicos do espiritismo, não estamos em
busca de poder. A CEPA, hoje, mais do que nunca, não se comporta como uma
"confederação", em busca de adesões de federações e centros espíritas. É, claramente,
hoje, um movimento de idéias. O momento que vivemos, pensamos nós, não se
compatibiliza mais com os ideais do início do século passado, onde, no movimento
espírita, a palavra de ordem era "unificação". O espiritismo constituia, então, um
movimento incipiente, com enorme influência religiosa, católica, e tendente a um
sincretismo afro-cristão. Eram necessárias instituições de caráter bastante normatizador,
com propósitos básicos de orientação. Hoje, o espiritismo, no Brasil e na América, é um
respeitável repositório de conhecimento, onde estão pensadores, intelectuais, estudiosos
das mais diferentes áreas do conhecimento, conectando esses conhecimentos aos
pressupostos espíritas. Há centenas de instituições amadurecidas pelo estudo, pela
pesquisa, que não cabem mais nesse modelo de subordinação a uma orientação central.
Por isso, a CEPA não orienta, congrega. Estimula o estudo, a pesquisa. Promove
eventos culturais: congressos, conferências, simpósios, que não são torneios de oratórias
de alguns "ungidos", mas fóruns de discussão, de debate, de troca de experiência. E,
assim, abandonamos, pouco a pouco, a idéia da unificação, substituindo-a por um forte
sentimento de união. A união é corolário do conhecimento. Da identidade comum,
fundada nos princípios básicos que devem formar esse "laço" entre todos os espíritas.
Diante disso, uma instituição que adere à CEPA não está subordinada a regramentos de
obediência a normas emanadas da CEPA. É um relacionamento que se dá sob o fio
condutor da identidade de pensamento. Além do mais, essas instituições podem,
simultaneamente, pertencer a outros movimentos federativos. Podem estabelecer os
vínculos que quiserem, com as instituições que desejarem. São, enfim, livres. Mas, têm
de apresentar esse perfil genuinamente kardecista e livre-pensador.

Cynthya– Em razão desse entendimento é que a CEPA estaria por abrir mão da
condição de Confederação paa assumir estatutariamente um outro nome e uma outra
formatação institucional?

Milton – Bem, esse é um tema onde estamos buscando construir um consenso dentro da
CEPA. O próximo Congresso da CEPA, que se realiza na cidade argentina de Rafaela,
de 3 a 7 de setembro de 2004, tem na sua ordem do dia uma grande reforma estatutária.
No contexto do que explicitamos acima, há uma proposta de estatuto, oferecida pelo
Centro Cultural Espírita de Porto Alegre (CCEPA), que sugere que a denominação
"confederação" seja substituída por um termo menos formal, que poderia ser, por
exemplo, "movimento" ou "conselho", mantendo, entretanto, a denominação CEPA
(termo que, inclusive, coincide, tanto em português como em espanhol, com o
substantivo comum "cepa" relativo à videira, e que foi um símbolo utilizado pelos
espíritos para caracterizar o espiritismo, conforme se vê nos prolegômenos de O Livro
dos Espíritos"). Uma ampla consulta quefizemos a todas as instituições espíritas, com
vistas à reformaestatutária, mostrou uma tendência muito ampla para um modelo
organizacional mais leve, liberto de qualquer resquício de autoritarismo e contemplando
mesmo essa característica de movimento de idéias, e não mais de um organismo
confederativo. Mas, isso será questão a ser definida no Congresso de Rafaela.
Permanecendo ou não com a denominação "confederação", o certo é que a CEPA não
tem hoje mais a menor preocupação com esse objetivo de unificar o movimento espírita.
Cada vez mais, nos caracterizamos como um movimento qualificado de idéias,
progressista, livre-pensador, horizontalizado, democrático, firmemente inspirado em
Kardec e com uma preocupação adicional voltada à união fraterna entre todos os
espíritas, mesmo que em diversificadas estruturas institucionais. União, no nosso
entender, é muito mais importante que unificação. Esta última traz em seu bojo algumas
pretensões de poder, de hierarquização, de hegemonia, com as quais a CEPA não tem a
menor relação.

Cynthya– Por fim, Milton, há uma outra questão que, parece, assusta um pouco o
movimento espírita evangélico, relativamente à CEPA. É que esta estaria procurado
desvincular espiritismo de cristianismo. Fala- se que isso contraria algumas afirmaçõs
do próprio Kardec. Dá para esclarecer essa divergência. Ou será que é apenas mais uma
divergência meramente aparente? Enfim, o que pode haver de verdadeiro nessa
afirmação de que "a CEPA quer tirar Jesus do espiritismo"?

Milton – O substantivo "cristianismo" e o adjetivo "cristão", tanto quanto outros termos


que Kardec recomendou não se utilizassem, emrazão de sua dubiedade (como é o caso
de religião), têm sofrido alterações nos seus signfiicados ao curso da História. Ainda no
tempo de Kardec, era muito comum falar-se em "cristianismo" e em "cristão"
simplesmente para designar a doutrina "do Cristo" (expressão muito usada por Kardec e
os espíritos, para aludirem a Jesus). Por uma marcada influência eclesiástica no meio
em que vivia Kardec, a Europa do Século 19, ainda se confundia Jesus, o homem, com
Jesus Cristo, produto das crenças e dos dogmas cristãos.

Mas quando Allan Kardec fala em "espiritismo cristão" (expressão usada algumas
poucas vezes em sua obra) claramente ele adjetiva o espiritismo para vinculá-lo não ao
Jesus das igrejas mas ao pensamento, à moral de Jesus de Nazaré. Com relação a essa
questão de fundo, não temos nenhuma objeção a fazer. A moral de Jesus é a própria
moral espírita. Entretanto, na questão da forma, está na hora de fazermos reparos a essa
expressão, mesmo que Kardec a tenha utilizado (há diversas expressões usadas por
Kardec e que hoje estão fora de contexto).

Ao curso do Século 20 e nestes primeiros anos do Século 21, está sendo possível
estabelecer a distinção entre estas duas figuras:

a) a de Jesus de Nazaré, o homem, com algumas referências históricas que estão sendo
resgatadas, que nasceu da relação carnal de José e Maria, que teve irmãos e que foi um
pensador fecundo, um reformador moral, e

b) a de "Jesus Cristo", que é o mito das Igrejas, aquele que "foi concebido sem pecado",
filho da Virgem Maria, Deus encarnado, 3ª pessoa da Santíssima Trindade, responsável
por alguns dogmas e crenças que foram tecendo essa cultura cristã que hoje já tem 2.000
de existência e que pouco tem a ver com o outro Jesus, o homem de Nazaré.

Com o primeiro personagem, o Jesus histórico, sistematizador de um código de moral


que tem validade universal, coincidente com aquilo que o espiritismo chama de "lei
natural", e que é divina, mas não religiosa (jamais Kardec identificou a lei natural com
as leis religiosas), com esse Jesus, a CEPA concorda. Jamais pensou em retirá-lo do
Espiritismo. É uma forte referência moral e ética, especialmente porque o espiritismo
surgiu no seio de uma cultura onde os referenciais éticos e morais dos ensinos de Jesus
nos são amplamente disponíveis e fazem parte de nosso patrimônio moral, como
indivíduos e como comunidade de espíritos.
Mas, com esse Jesus Cristo, o salvador das igrejas cristãs, do cristianismo, tal qual este
se tornou conhecido, com este a CEPA não concorda. E, no entanto, esse é que hoje
identifica o "cristianismo real". Nas últimas décadas firmou-se muito bem o conceito de
"cristão" e de "cristianismo" reais. Esse conceito foi plasmado num amplo acordo entre
as igrejas, no contexto de um movimento que se chamou "ecumenismo cristão", onde
foi possível estabelecer o vínculo que une os crentes nos chamados dogmas cristãos
fundamentais: o da divindade de Jesus, o de sua condição de "único Senhor e Salvador",
aquele que com seu "sacrifício", com o seu "derramamento de sangue", possibilitou a
"salvação" dos homens que nele cressem e fossem em seu nome batizados. Queiramos
ou não, nós, espíritas, é isso que identifica na cultura contemporânea o cristianismo, a
condição de cristão.

Ora, evidentemente, o espiritismo está fora disso. E, por isso, não é cristão. É quase uma
usurpação a uma cultura de dois mil anos, que foi construída demoradamente até se
sedimentar nesses princípios, querermos, nós, que temos uma outra visão de Deus, de
mundo e do próprio Jesus, nos declararmos cristãos. Por isso, os cristãos reagem, e com
toda a razão, quando um espírita se diz cristão. A reação é a mesma que nós muitas
vezes temos, quando um umbandista se declara espírita.

O espiritismo é uma doutrina nova. Nasceu no meio cristão. Como todo o paradigma
novo, ele precisou se apoiar no paradigma antigo que ele desejou superar, para poder ser
proposto. Mas, nestes 150 anos de existência, já podemos postular uma identidade
própria, que não se confunde com o cristianismo, especialmente porque este, também,
tomou seu próprio caminho.

Por todas essas razões, diríamos como Kardec disse em relação à religião: não convém
que o espiritismo se diga cristão. Isso geraria confusão, ambigüidade, e nós precisamos
ser firmes naquilo que diz com a nossa identidade. Somos espíritas, simplesmente. E
não espíritas-cristãos.

... Luiz Carlos Formiga

> A Ciência do espírito

Artigos

"Alguns cientistas até que gostariam de, no laboratório, pegar um espírito na ponta de
uma pinça ou observá-lo num microscópio com contraste de fase".
Os espíritos são as almas dos homens que já deixaram a Terra, por isso lidamos com
mentes caprichosas, que não estão à nossa disposição na hora que melhor nos convier.
No entanto, pesquisadores que se submeteram à observação criteriosa, disciplinada e
principalmente sem intenções subalternas, ficaram diante de fenômenos inusitados.
Fatos que se repetiram tantas vezes quantas foram necessárias para recolher dados
estatísticos ao máximo.

O observador comanda as pesquisas físico-químicas até onde as energias podem ser


controladas. No campo das ciências sócio-morais o cientista recolhe dados. Estão na
mesma classe a Psicologia, a História, o Direito, a Sociologia... O objeto dessas
Ciências é o animal racional, o socius, a criatura divina, no uso do livre-arbítrio.

A pesquisa científica é apoiada na experimentação ou na analogia em outras duas


classes de Ciências. Mas nas ciências sócio-morais a pesquisa usa a da Estatística. O
objeto é passivo naquelas duas primeiras. Nesta, o observador deve ser passivo. Deve
aguardar que o fato ocorra para observá-lo. E analisar, no tempo e no espaço, a
reincidência dos fenômenos.

Na Ciência da mediunidade há dois socius: o encarnado e o desencarnado, agindo e


reagindo, racionalmente.

O médium e o espírito se interpenetram para o efeito da ação conjunta. Na Psicologia a


análise exige, então, o máximo de cuidados, pois a minúcia esquecida, talvez seja a
principal causa do fenômeno mais importante.

É provável que, por isso, os espíritos que recentemente encantaram o doutor Weiss,
B.L., em “Muitas vidas, muitos mestres”, tenham trazido repetições nas regressões de
memória de Catherine. Weiss não tinha nenhuma crença prévia na possibilidade de se
viver várias vidas e muito menos de se poder recordá-las, no entanto, o médico,
descreve com muita propriedade como vai sendo afetado e modificado no processo do
tratamento de sua paciente.

Weiss é Psiquiatra do Mount Sinai Medical Center em Miami Beach, Flórida e


professor no Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de
Miami. Diz ele: “durante muitos anos de estudo disciplinado, fui treinado para pensar
como cientista e médico, moldando-me aos estreitos caminhos do conservadorismo na
minha profissão. Desconfiava de tudo que não se pudesse provar por métodos
científicos tradicionais (...) então encontrei Catherine(...)”.

Hoje, doutor Weiss não tem dúvida de que os terapeutas devem ter a mente aberta.
Disse certa vez o doutor Bezerra de Menezes: “Um espírito claro e aberto para a
apreensão da ciência é um supremo bem que Deus confia a certos homens afim de que
eles o empreguem em favor dos mais pobres e humildes.”

Afirma Weiss, o professor de psiquiatria, que “é só a relutância em contar ocorrências


mediúnicas que as faz parecerem tão raras”. Ele relata que “O respeitado diretor de um
importante departamento clínico de seu hospital é um homem admirado
internacionalmente por sua capacidade. Ele fala com o pai falecido, que várias vezes o
protegeu de sérios perigos. Outro professor tem sonhos que lhe fornecem as pistas ou
soluções para suas complexas pesquisas. Outro conhecido médico quase sempre sabe
quem o chama ao telefone, antes de atender. A esposa de um psiquiatra de uma
universidade do Meio-Oeste tem o título de Ph.D em Psicologia. Ela nunca disse a
ninguém que, na primeira vez em que visitou Roma, andou pela cidade como se tivesse
um mapa impresso na memória. Sabia infalivelmente o que encontraria, ao dobrar a
esquina. Embora nunca tivesse ido à Itália e não soubesse a língua, os italianos
repetidamente se lhe dirigiam em italiano, confundindo-a com um nativo.

Conclui Weiss: “Eu compreendia por que esses profissionais altamente qualificados se
mantinham de boca fechada. Agora, eu era um deles. Não podíamos negar nossas
próprias experiências e sentidos. Mas nossa ciência era diametralmente oposta às
informações, experiências e crenças que tínhamos acumulado. Por isso ficávamos
calados”.

Os comentários acima foram retirados do livro “Dores, valores, tabus e preconceitos”


(Rio de Janeiro: CELD Editora), que tem origem no Núcleo Espírita na Universidade
(NEU-Fundão). Com o título “Educação, Universidade e espiritualidade”, foi
republicado em Tendências do Trabalho, (Editora Tama), 309: 2-3, 2000. No entanto,
também Djalma Argolo escreveu em Visão Espírita 2 (19): 8-10, 2000 artigo que
recebeu o nome “Apontamentos em torno da metodologia de pesquisas no âmbito do
Espiritismo”. O texto completo, gentilmente enviado pelo autor e a pedido do NEU-RJ,
segue abaixo na íntegra.

“Em termos epistemológicos o Espiritismo é um saber novo, ainda não totalmente


definido em suas dimensões e conseqüências socioculturais. Allan Kardec o disse ‘uma
ciência’ e ‘uma filosofia científica’ com resultantes morais decorrentes. Os três
primeiros volumes das Obras Básicas, ‘O Livros dos Espíritos’, ‘O Livro dos Médiuns’
e ‘O Evangelho Segundo o Espiritismo’, representam, respectivamente, uma visão
filosófica, uma metodologia experimental e um compêndio de regras comportamentais,
estabelecido a partir de premissas reafirmadas por Jesus. Daí se inferiu - segundo alguns
foi o escritor e jurista espírita, baiano, Carlos Imbassahy -, que existem três aspectos:
científico, filosófico e religioso. Em sendo assim, naturalmente o ilustre e culto
causídico não deve ter pensado em três áreas independentes, como alguns têm feito. É
claro que não pode haver uma tríade diversificada de espiritistas: O cientista, o
filosófico e o religioso – no que concerne à aceitação do Espiritismo como uma ‘visão
de mundo’ -, pois seria uma fragmentação arbitrária e castradora do saber espírita,
absolutamente contrária ao pensamento e ação de Kardec, o qual entendia o Espiritismo
com um conhecimento estruturalmente único. Sua divisão dos profitentes em ‘espíritas
verdadeiros’ e ‘espíritas imperfeitos’, é a plena evidência do que acabei de afirmar.

Imagine-se um universo doutrinário onde se formassem os três grupos mencionados. O


cientista se acharia à distância dos outros seguimentos e, claro, só poderia ser
classificado como ‘espírita imperfeito’, da mesma forma o filosófico e o religioso que
apenas se ativessem às áreas escolhidas de atuação. Isto porquê o saber espírita é uno e
indivisível, sem predominância de qualquer dos três aspectos de modo absoluto. Podem
existir ‘momentos de ação’, quando se atue dentro de uma ‘cientificidade espírita’ ou se
interprete os fenômenos existenciais duma perspectiva filosófica espírita. Mas o
comportamento ético, decorrente do conjunto doutrinário, esse é um atributo necessário
a todos os ‘momentos’ e instâncias do exercício da ‘práxis’ espiritista, porquê exigência
vivencial, imprescindível. A insistência nas denominações: Espiritismo Científico,
Espiritismo Filosófico e Espiritismo Religioso, é um convite à segmentação e ao
conflito, como notório no atual panorama do movimento.

O Espírita, volto a insistir, quando experimenta, de forma metodológica ou empírica,


numa reunião ou diante de um fenômeno mediúnico, põe em ação o aspecto científico
da Doutrina, mas não afasta os outros dois, porque, ao realizar as deduções e projeções
do que foi observado estará filosofando e, ao manter a harmonia interior e a postura
ética, enquanto experimentando, estará exercendo a conseqüência moral espírita.

Pelo exposto, já temos as linhas gerais de uma metodologia experimental espírita. De


modo geral, a pesquisa experimental em Espiritismo exige uma série de procedimentos,
tanto prévios, quanto concomitantes e posteriores, como em qualquer área das ciências
estabelecidas.

Antes de pesquisar, o experimentador já escolheu o objeto a ser pesquisado. Por


exemplo: a) comprovar a existência, ou não, da faculdade mediúnica (casos específicos
de Richet e Crookes), b) confirmar ou não, que os fenômenos são provocados por
agentes incorpóreos (caso, entre outros, de Ernesto Bozzano e Camille Flammarion)
como provar ou não a existência de uma percepção além da sensorial comum (caso de
Rhine) etc. Sem objeto claramente definido não pode haver pesquisa conclusiva. Ao
realizar suas observações na casa da família Baudin, Allan Kardec estabeleceu como
seu objeto o mundo espiritual - enquanto ‘lócus’ de vivência do Espírito desencarnado -,
e sua interação dialética com o mundo material. Objeto extremamente ambicioso, pela
amplitude. O resultado foi ‘O Livro dos Espíritos’. Ou seja, uma filosofia espiritualista
decorrente de um procedimento científico de observação controlada de fatos e análise
do material dele derivado.

Qualquer que seja o objeto escolhido, o método a ser aplicado deve ser coerente, lógico
e sistemático, capaz de conduzir a resultados válidos.

Como ponto fundamental, o pesquisador deve ter claro, em sua mente, que ele será um
dos elementos essenciais da pesquisa. Não haverá condições para uma neutralidade
axiológica absoluta, como nas ditas ciências exatas. Pesquisador e objeto estarão
indissoluvelmente comprometidos um com o outro, a nível energético. A começar pelo
relacionamento psicológico e magnético com o médium, o qual poderá facilitar ou
obstacular o bom andamento das experiências. Se observador e medianeiro nutrem
antipatias, restrições ou hostilidade um para com o outro, a experimentação estará
fadada ao insucesso ou a resultados inconclusivos. Educação, respeito e gentileza não
são incompatíveis com o rigor científico.

Como os fenômenos estão ligados ao psiquismo do médium, e se produzem por seu


intermédio, se ele sofrer um desequilíbrio emocional ou se sentir ferido em sua
dignidade, o êxito do tentame estará fatalmente comprometido.

Ao estabelecer os meios e as formas de controle, o pesquisador deverá fazê-lo de modo


a evitar a fraude e o charlatanismo, mas levando em conta que o médium não é uma
cobaia irracional, mas um ser humano que deve merecer o devido respeito. Hoje, mais
do que em qualquer época passada, existem meios eletrônicos de controle, altamente
sofisticados e capazes de detectar qualquer tentativa de burla. Um ambiente de
experimentação, devidamente equipado com sensores, microcâmaras de televisão,
visores de raios infravermelhos, células fotoelétricas e parafernálias semelhantes,
permitem o acompanhamento rigoroso e o registro de tudo o que ocorrer no ambiente.
Eletrodos aplicados ao corpo do sensitivo registram as oscilações elétricas nele
ocorridas: pulsações, sudorese, pressão sangüínea, etc. Enfim, é possível uma rigorosa
vigilância rigorosa e precisa do local das experiências e do médium, sem impor-lhe
restrições humilhantes.

O experimentador deve ter em mente que, na pesquisa mediúnica, sempre se parte do


fato para se chegar à teoria. Isto evitará que pretenda submeter o experimento a idéias e
teorias pré-concebidas. Tal comportamento distorcerá, seguramente, os resultados.
Como parte integrante dos fenômenos a ocorrer, o experimentador que mantenha uma
idéia fixa quanto à corroboração de uma teoria a priori, interferirá no processo,
adulterando a experimentação que, premida por sua influência mental, tenderá a
corroborar-lhe o pensamento, e não refletirá sua própria realidade. Na física quântica
dos nossos dias, existe a suspeita epistemológica de que muitos resultados não são os
que deveriam ocorrer naturalmente, mas fruto da maneira tendenciosa como a pesquisa
foi conduzida. Isto é, a mente do experimentador criou as condições para que aquele
resultado acontecesse, se fossem seguidos pressupostos diferentes poderia ser diverso.
Na pesquisa psíquica isto não é uma discussão acadêmica, mas um fato indiscutível: é
absolutamente verdadeiro que a mente do experimentador tem o poder de interferir no
desenvolvimento da pesquisa, impondo um resultado diverso do normal. O melhor,
pois, é controlar, observar, registrar e, posteriormente, analisar, com isenção de ânimo,
para chegar a conclusões o mais próximo possível da realidade. Um grande número de
experiências proporcionará massa crítica necessária para se determinar leis e princípios
do fato estudado. Este o procedimento adotado e preconizado por Allan Kardec.

Outro fator importante diz respeito à conduta moral do pesquisador. Nas ciências exatas
o estado moral do cientista não tem a menor interferência no andamento da experiência.
Ao estudar um determinado evento material, desde que seja respeitado o método
requerido pelo estudo, um cientista canalha e outro de caráter ilibado chegarão às
mesmas conclusões. No estudo dos fenômenos psíquicos o mesmo não ocorre. Ele exige
postura ética. Não se pode, por exemplo, pretender chegar à verdade pelo uso da
mentira, do engodo e da desonestidade. Nele não existe dicotomia entre a postura
mental do observador e a manipulação do objeto observado. Muito ao contrário: o
psiquismo do observador está intimamente relacionado como o objeto em análise, que é
também psíquico, ou seja, da mesma natureza. Qualquer espírita sabe que o tipo de
vibração que emitimos age no ambiente, para ele atraindo entidades do mesmo padrão.
Um cientista espírita que idealize uma pesquisa eivada de falsidades, estando pois com
má intenção, obterá fatalmente o que procura. Passará então a divulgar falhas do
médium estudado, quando é ele também é culpado por elas. É um problema moral:
semelhante atrai semelhante; um mentiroso atrairá a mentira.

Sobremodo importante será o clima propício durante o transcurso do evento


experimental. É um outro fato, já consagrado pela experiência, que é necessário se criar
um clima de serenidade, recolhimento e pensamentos nobres, para que funcione a lei de
afinidade psíquica, atraindo para colaborar com as experiências entidades honestas e
confiáveis. Uma atitude contrária a essas disposições abre caminho para a interferência
de Espíritos mentirosos e galhofeiros, com naturais prejuízos.

Finalizando estes pensamentos em torno da experimentação espírita, digo apenas que o


exposto, com muito mais propriedade e amplitude, está devidamente tratado em ‘O
Livro dos Médiuns’, do primeiro pesquisador espírita realmente digno do nome: Allan
Kardec. E o mais importante é que, desde a publicação dessa obra, até o momento atual,
todos os estudos não espíritas realizados em torno das faculdades espirituais do ser
humano têm corroborado toda a metodologia ali discriminada, sem superar ou
desmentir qualquer dos seus princípios.

No capítulo ‘Para uma manhã de domingo’, do livro anteriormente referido,


encontramos algumas premissas:

1. A experimentação é o método ideal de aquisição de conhecimentos positivos.


Considera-se a experimentação uma observação provocada em condições controladas
sob vários conjuntos de fatores.
2. Em ciência o fenômeno deve repetir-se tantas vezes quantas forem necessárias para a
verificação do fato. Essa regra geral, no entanto, não é observada nas ciências sociais,
nem muito menos podemos reproduzir à vontade os fenômenos astronômicos e
meteorológicos.
3. Em ciência usa-se a expressão, até certo ponto estranha, 'os resultados sugerem que'.
Porque o fornecimento de uma prova científica, de uma hipótese, esbarra num número
apreciável de outras hipóteses, que também poderiam explicar o fato investigado. É
necessário depurar variáveis para chegar-se à hipótese mais provável, aquela capaz de
melhor explicar o fenômeno.
4. A ciência é feita com o uso autoconsciente de nossas faculdades mentais, mas o
homem não possui uma medida absoluta da verdade, daí a sua relatividade. Assim a
ciência é um conjunto de declarações ou afirmações que são assumidas como verdades
sobre a realidade.

Os Postulados de Koch (observação ao microscópio, isolamento microbiano em cultura


pura, reprodução da doença em modelo animal e reisolamento do mesmo
microorganismo, a partir do animal doente) permitiram-lhe confiar nos seus resultados,
uma vez que sua conclusão (etiologia bacteriana da tuberculose) era altamente provável
e sua negação era altamente improvável. Estava demonstrada a micobacteriose.

Vamos recordar

Uma prova em termos científicos significa, portanto, o processo global através do qual
nós concluímos que uma declaração é mais aceitável do que sua negação. Vale a pena
ler “O extraordinário caso de Shanti” publicado no Reformador junho de 1958 e
transcrito em novembro, p. 344-348, 1988. Com esse título a famosa revista italiana
'L'Europeo', em seus números de janeiro/fevereiro de 1958, publicou, ilustrada com
inúmeras fotografias coloridas, uma longa reportagem do sueco Sture Lönnerstrand,
sobre um caso comprovado de reencarnação ocorrido na Índia.

Examinem as hipóteses aventadas e que foram examinadas.

Sabemos que para a vida científica é necessária a presença de aptidão para a pesquisa.
Por isso nos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) há rigor na seleção de
candidatos, uma vez que o objetivo é a qualidade, o preparo de investigadores
independentes em condições de utilizar a metodologia científica. No entanto, pode-se
observar que após a realização dos cursos (créditos), na hora de iniciar o preparo da
tese, muitos alunos ainda não perceberam que a pergunta é o mais importante.
Em Doutrina Espírita não podia ser diferente. Reparem as questões que foram feitas por
Kardec no primeiro livro da codificação. Por que será que Kardec colocou aquela em
primeiro lugar?

Posteriormente diversas questões foram feitas a Kardec pela banca examinadora, de


críticos, incrédulos ou sacerdotes. Mesmo assim houve critério na escolha da ordem das
respostas.

Finalizando, mas não encerrando, gostaríamos que os leitores examinassem o trabalho


de Chibene, S.S. 1988. "A Excelência Metodológica do Espiritismo". Reformador,
novembro, p. 328-333 e também no site do Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp
(http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/). Nele o autor analisa a metodologia
de Kardec. Relembra que só podemos considerar como crítico sério aquele que tenha
examinado e estudado o Espiritismo em profundidade, com a mesma paciência e a
perseverança de um observador consciencioso; aquele a quem não se possa opor algum
fato que lhe seja desconhecido, nenhum argumento de que já não tenha cogitado e cuja
refutação seja apoiada por outros argumentos mais adequados. Este pesquisador deverá
poder indicar, para os fatos investigados, causa mais lógica do que a que lhe apresenta o
Espiritismo.

Tal crítico, mesmo hoje ainda está por aparecer

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado

... A. Kardec - Revista Espírita

> Considerações sobre a mediunidade curadora

Artigos

Considerações sobre a mediunidade curadora

REVISTA ESPÍRITA
Jornal de Estudos Psicológicos publicada sobre a direção de Allan Kardec

novembro de 1866
Voltemos ao nosso assunto: as considerações gerais sobre a mediunidade curadora.

Dissemos, e nunca seria demais repetir, que há uma diferença radical entre os médiuns
curadores e os que obtêm prescrições médicas da parte dos Espíritos. Estes em nada
diferem dos médiuns escreventes ordinários, a não ser pela especialidade das
comunicações. Os primeiros curam só pela ação fluídica em mais ou menos tempo, às
vezes instantaneamente, sem o emprego de qualquer remédio. O poder curativo está
todo inteiro no fluido depurado a que servem de condutores. A teoria deste fenômeno
foi suficientemente explicada para provar que entra na ordem das leis naturais e que
nada há de miraculoso. É o produto de uma aptidão especial, tão independente da
vontade quanto todas as outras faculdades mediúnicas; não é um talento que se possa
adquirir. Não se faz um médium curador como se faz um médico. A aptidão para curar é
inerente ao médium, mas o exercício da faculdade só tem lugar com o concurso dos
Espíritos. De onde se segue que se os Espíritos não querem, ou não querem mais servir-
se dele, é como um instrumento sem músico, e nada obtém. Pode, pois, perder
instantaneamente a sua faculdade, o que exclui a possibilidade de transformá-la em
profissão.

Um outro ponto a considerar é que sendo esta faculdade fundada em leis naturais, tem
limites traçados pelas mesmas. Compreende-se que a ação fluídica possa dar a
sensibilidade a um órgão existente, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao
movimento e à percepção, cicatrizar uma ferida, porque então o fluido se torna um
verdadeiro agente terapêutico. Mas é evidente que não pode remediar a ausência ou a
destruição de um órgão, o que seria um verdadeiro milagre. Assim, a vista poderá ser
restaurada a um cego por amaurose, oftalmia, belida ou catarata, mas não a quem
tivesse os olhos estalados. Há, pois, doenças fundamentalmente incuráveis, e seria
ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a humanidade de todas as suas
enfermidades.

Além disso, há que levar em conta a variedade de nuanças apresentadas por esta
faculdade, que está longe de ser uniforme em todos os que a possuem. Ela se apresenta
sob aspectos muito diversos. Em razão do grau de desenvolvimento do poder, a ação é
mais ou menos rápida, extensa ou circunscrita. Tal médium triunfa sobre certas
moléstias em certas pessoas e, em dadas circunstâncias e falha completamente em casos
aparentemente idênticos. Parece mesmo que em alguns a faculdade curadora se estende
aos animais.

Opera-se neste fenômeno uma verdadeira reação química, análoga à produzida por
certos medicamentos. Atuando o fluido como agente terapêutico, sua ação varia
conforme as propriedades que recebe das qualidades do fluido pessoal do médium. Ora,
devido ao temperamento e à constituição deste último, o fluido está impregnado de
elementos diversos, que lhe dão propriedades especiais. Pode ser, para nos servirmos de
comparações materiais, mais ou menos carregado de eletricidade animal, de princípios
ácidos ou alcalinos, ferruginosos, sulfurosos, dissolventes, adstringentes, cáusticos, etc.
Daí resulta uma ação diferente, conforme a natureza da desordem orgânica. Esta ação
pode ser, pois, enérgica, muito poderosa em certos casos e nula em outros. É assim que
os médiuns curadores podem ter especialidades: este curará as dores ou endireitará um
membro, mas não dará a vista a um cego, e reciprocamente. Só a experiência pode dar a
conhecer a especialidade e a extensão da aptidão. Mas, em princípio, pode dizer-se que
não há médiuns curadores universais, por isso que não há homens perfeitos na Terra, e
cujo poder seja ilimitado.

A ação é completamente diferente na obsessão e a faculdade de curar não implica a de


libertar os obsedados. O fluido curador age, de certo modo, materialmente sobre os
órgãos afetados, ao passo que na obsessão deve agir moralmente sobre o Espírito
obsessor; é preciso ter autoridade sobre ele, para o fazer largar a presa. São, pois duas
aptidões distintas, que nem sempre se encontram na mesma pessoa. O concurso do
fluido curador torna-se necessário quando, o que é bastante freqüente, a obsessão se
complica com afecções orgânicas. Pode, pois, haver médium curadores impotentes para
a obsessão, e reciprocamente.

A mediunidade curadora não vem suplantar a medicina e os médicos. Vem


simplesmente provar a estes últimos que há coisas que eles não sabem e os convidar a
estudá-las. Que a natureza tem leis e recursos que eles ignoram; que o elemento
espiritual, que eles desconhecem, não é uma quimera, e que, quando o levarem em
conta, abrirão novos horizontes à Ciência e terão mais êxitos do que agora.

Se esta faculdade fosse privilégio de um indivíduo, passaria inapercebida. Considerá-la-


iam como uma exceção, um efeito do acaso - esta suprema explicação que nada explica
- e a má-vontade facilmente poderia abafar a verdade. Mas quando se vêem os fatos se
multiplicando, é-se forçado a reconhecer que não se podem produzir senão em virtude
de uma lei. Que se homens ignorantes triunfam onde os cientistas falham, é que estes
não sabem tudo. Isto em nada prejudica a Ciência, que será sempre a alavanca e a
resultante do progresso intelectual. O amor-próprio dos que a circunscrevem nos limites
de seu saber e da materialidade apenas pode sofrer com isto.

De todas as faculdades mediúnicas, a curadora vulgarizada é a que está chamada a


produzir mais sensação, porque há, por toda a parte, doentes em grande número, e não é
a curiosidade que os atrai, mas a necessidade imperiosa de alívio. Mais que qualquer
outra, ela triunfará sobre a incredulidade, tanto quanto sobre o fanatismo, que vê em
toda a parte a intervenção do diabo. A multiplicidade dos fatos forçosamente conduzirá
ao estudo da causa natural! e, daí, á destruição das idéias supersticiosas de feitiçaria, do
poder oculto, dos amuletos, etc. Se considerar o efeito produzido nos arredores do
campo de Châlons por um só indivíduo, a multidão de pessoas sofredoras vindas de dez
léguas de em torno, pode julgar-se o que isto seria se dez, vinte, cem indivíduos
aparecessem nas mesmas condições, quer na França, quer em países estrangeiros. Se
disserdes a esses doentes que são joguetes de uma ilusão, eles vos responderão
mostrando a perna restaurada; que são vítimas de charlatães? Dirão que nada negaram e
que não lhes renderam nenhuma droga. Que abusaram de sua confiança? Dirão que nada
lhes prometeram.

É também a faculdade que mais escapa à acusação de charlatanice e de fraude. Desafia a


troça, pois nada há de visível num doente curado que a Ciência havia abandonado. O
charlatanismo pode simular mais ou menos grosseiramente a maioria dos efeitos
mediúnicos, e a incredulidade nele procura sempre os seus cordões. Mas onde
encontrará os fios da mediunidade curadora? Podem ser dados golpes de habilidade para
os efeitos mediúnicos e os efeitos mais reais, aos olhos de certa gente, podem passar por
golpes hábeis, mas que daria quem tomasse indumento da qualidade de médium
curador? De duas, uma: cura ou não cura. Não há simulacro que possa fornecer uma
cura.

Além disso, a mediunidade escapa completamente à lei sobre o exercício legal da


medicina desde que não prescreve qualquer tratamento. Com que penalidade poderiam
ferir aquele que cura só por sua influência, secundada pela prece que, ademais, nada
pede como preço de seus serviços? Ora, a prece não é urna substância farmacêutica. É,
em vossa opinião, uma tolice. Seja. Mas se a cura está no fim desta tolice, que direis
vós? Uma tolice que cura vale bem os remédios que não curam. Puderam proibir o Sr.
Jacob de receber os doentes no campo e de ir- à casa deles e se ele se submeteu, dizendo
que não retomaria o exercício de sua faculdade senão quando a interdição fosse
levantada oficialmente, é porque, sendo militar, quis mostrar-se escrupuloso observador
da disciplina, por mais dura que fosse. Nisto agiu sabiamente porque provou que o
Espiritismo não conduz à insubordinação. Mas há aqui um caso excepcional. Desde que
esta faculdade não é privilégio de um indivíduo, por que meio poderiam impedi-la de se
propagar? Se propaga, bom grado, mau grado, terão que aceitá-la com todas as suas
conseqüências.

Dependendo a mediunidade curadora de uma disposição orgânica, muitas pessoas a


possuem, ao menos em germe, que fica em estado latente, por falta de exercício e de
desenvolvimento. É uma faculdade que, com razão, muitos ambicionam e se todos os
que desejam possui-la a pedissem com fervor e perseverança pela prece, e com um
objetivo exclusivamente humanitário, é provável que desse concurso sairia mais de um
verdadeiro médium curador.

Não é de admirar ver pessoas que, a princípio dela não parecem dignas e são
favorecidas com esse dom precioso. É que a assistência dos bons Espíritos é
conquistada a todo o mundo, para a todos abrir a via do bem. Mas cessa se não souber
tornar-se digno dela, melhorando-se. Dá-se aqui como com os dons da fortuna, que nem
sempre vêm ao mais merecedor. É, então, uma prova pelo uso que faz. Felizes os que
dela saem vitoriosos.

Pela natureza de seus efeitos, a mediunidade curadora exige imperiosamente o concurso


de Espíritos depurados, que não poderiam ser substituídos por Espíritos inferiores, ao
passo que há efeitos mediúnicos para cuja produção a elevação dos Espíritos não é uma
condição necessária e que, por esta razão, são obtidos mais ou menos em qualquer
circunstância. Certos Espíritos até, menos escrupulosos que outros quanto a estas
condições, preferem os médiuns em quem encontram simpatia. Mas pela obra se
conhece o operário.

Há, pois, para o médium curador a necessidade absoluta de se conciliar o concurso dos
Espíritos superiores, se quiser conservar e desenvolver sua faculdade, senão, em vez de
crescer ela declina e desaparece pelo afastamento dos bons Espíritos. A primeira
condição para isto é trabalhar em sua própria depuração, a fim de não alterar os fluidos
salutares que está encarregado de transmitir. Esta condição não poderia ser executada
sem o mais completo desinteresse material e moral. O primeiro é o mais fácil; o
segundo é o mais raro, porque o orgulho e o egoísmo são os sentimentos mais difíceis
de extirpar e porque várias causas contribuem para os superexcitar nos médiuns. Desde
que um deles se revela com faculdades transcendentes - falamos aqui dos médiuns em
geral, escreventes, videntes e outros - é procurado, adulado e mais de um sucumbe a
essa tentação da vaidade. Em breve, esquecendo que sem os Espíritos nada seria,
considera-se como indispensável e único interprete da verdade; deprime os outros
médiuns e se julga acima de conselhos. O médium que assim se acha está perdido,
porque os Espíritos se encarregam de lhe provar que podem ser dispensados, fazendo
surgir outros médiuns melhor assistidos. Comparando a série das comunicações de um
mesmo médium, facilmente pode julgar-se se ele cresce ou se degenera. Ah! Quantos
temos visto, de todos os gêneros, cair triste e deploravelmente no terreno escorregadio
do orgulho e da vaidade! Pode, pois, esperar-se ver surgir uma multidão de médiuns
curadores. No número, vários ficarão frutos secos e eclipsar-se-ão depois de ter lançado
um brilho passageiro, ao passo que outros continuarão a elevar-se.

Eis um exemplo disto, há uns seis meses assinalado por um de nossos correspondentes.
Num departamento do sul, um médium, que se havia revelado como curador, tinha
operado várias curas notáveis e sobre ele repousavam grandes esperanças. Sua
faculdade apresentava particularidades que deram, num grupo, a idéia de fazer um
estudo a respeito. Eis a resposta que obtiveram dos Espíritos, e que nos foi transmitida
na ocasião. Ela pode servir de instrução a todos.

"X... realmente possui a faculdade de médium curador notavelmente desenvolvida.


Infelizmente, como muitos outros, ele exagera muito o seu alcance. É um excelente
rapaz, cheio de boas intenções, mas que um orgulho desmesurado e uma visão
extremamente curta dos homens e das coisas farão periclitar prontamente. Seu poder
fluídico, que é considerável, bem utilizado e ajudado pela influência moral, poderá
produzir excelentes resultados. Sabeis por que muitos de seus doentes só experimentam
um bem-estar momentâneo, que desaparece quando ele lá não mais está? É que ele age
por sua presença somente, mas nada deixa ao espírito para triunfar dos sofrimentos do
corpo.

"Quando parte, nada resta dele, nem mesmo o pensamento que segue o doente, no qual
não pensa mais, ao passo que a ação mental poderia, em sua ausência, continuar a ação
direta. Ele acredita em seu poder fluídico, que é real, mas cuja ação não é persistente,
porque não é corroborada pela influência moral. Quando consegue êxito, fica mais
satisfeito por ser notado do que por ter curado. E, contudo, é sinceramente
desinteressado, pois coraria se recebesse a menor remuneração. Posto não seja rico,
jamais pensou em fazer disto um recurso. O que deseja é fazer falar de si. Falta-lhe
também, a afabilidade de coração, que atrai. Os que vêm a ele são chocados por suas
maneiras, que não fazem nascer simpatia, do que resulta uma falta de harmonia que
prejudica a assimilação dos fluidos. Longe de acalmar e apaziguar as más paixões, ele
as excita, julgando fazer o que é necessário para as destruir, e isto pela falta de
raciocínio. É um instrumento desafinado; por vezes dá sons harmoniosos e bons, mas o
conjunto só pode ser mau, ou pelo menos improdutivo. Não é tão útil à causa quanto o
poderia ser. As mais das vezes a prejudica porque, por seu caráter, faz apreciar muito
mal os resultados. É desses que pregam com violência uma doutrina de doçura e de paz.

P. - Então pensais que perderá seu poder curador?

R. - Estou persuadido disto, a menos que ele fizesse uma volta séria sobre si
mesmo, o que, infelizmente, não o creio capaz. Os conselhos seriam supérfluos,
porque ele se persuade saber mais que todo o mundo. Talvez tivesse o ar de os
escutar, mas não os seguiria. Assim, perde duplamente o benefício de uma
excelente faculdade."

O acontecimento justificou a previsão. Soubemos depois que esse médium, depois de


uma série de choques que seu amor-próprio teve que sofrer, tinha renunciado a novas
tentativas de curas.

O poder de curar independe da vontade do médium: é um fato adquirido pela


experiência. O que depende dele são as qualidades que podem tornar esse poder
frutuoso e durável. Essas qualidades são sobretudo o devotamento, a abnegação e a
humildade; o egoísmo, o orgulho e a cupidez são pontos de parada, contra os quais se
quebra a mais bela faculdade.

O verdadeiro médium curador, o que compreende a santidade de sua missão, é movido


pelo único desejo do bem. Não vê no dom que possui senão um meio de tornar-se útil
aos seus semelhantes, e não um degrau para elevar-se acima dos outros e pôr-se em
evidência. É humilde de coração, isto é, nele a humildade e a modéstia são sinceras,
reais, sem segunda intenção, e não em palavras que desmentem, muitas vezes, os
próprios atos. A humildade por vezes é um manto, sob o qual se abriga o orgulho, mas
que não iludiria a ninguém. Nem procura o brilho, nem o renome, nem o ruído de seu
nome, nem a satisfação de sua vaidade. Não há, em suas maneiras, nem jactância, nem
bazófia; não exibe as curas que realiza, ao passo que o orgulhoso as enumera com
complacência, muitas vezes as amplia, e acaba por se persuadir que fez tudo o que diz.

Feliz pelo bem que faz, não o é menos pelo que outros podem fazer; não se julgando o
primeiro nem o único capaz, não inveja nem deprime nenhum médium. Os que possuem
a mesma faculdade são para ele irmãos que concorrem para o mesmo objetivo: ele diz
que quanto mais os houver, maior será o bem.

Sua confiança em suas próprias forças não vai até a presunção de se julgar infalível e,
ainda menos, universal. Sabe que outros podem tanto ou mais que ele. Sua fé é mais em
Deus do que em si mesmo, pois sabe que tudo pode por Ele, e nada sem Ele. Eis porque
nada promete senão sob a reserva da permissão de Deus.

A influência material junto à influência moral, auxiliar poderoso, que dobra a sua força.
Por sua palavra benevolente, encoraja, levanta o moral, faz nascer a esperança e a
confiança em Deus. Já é uma parte da cura, porque é uma consolação que dispõe a
receber o eflúvio benéfico ou, melhor dito, o pensamento benevolente já é um eflúvio
salutar. Sem a influência moral, o médium tem por si apenas a ação fluídica, materia1 e,
de certo modo, brutal, insuficiente em muitos casos.

Enfim, para aquele que possui as qualidades de coração, o doente é atraído por uma
simpatia que predispõe à assimilação dos fluidos, ao passo que o orgulho, a falta de
benevolência chocam e fazem experimentar um sentimento de repulsa, que paralisa essa
assimilação.

Tal é o médium curador amado pelos bons Espíritos. Tal é, também, a medida que pode
servir para julgar o valor intrínseco dos que se revelarem e a extensão dos serviços que
poderão prestar à causa do Espiritismo. Desnecessário que só é entrado nestas condições
e que aquele que não reunisse todas as qualidades não possa momentaneamente prestar
serviços parciais que seria erro repelir. O mal é para ele, porque quanto mais se afasta
do tipo, menos pode esperar ver sua faculdade desenvolver-se e mais se aproxima do
declínio. Os bons Espíritos só se ligam aos que se mostram dignos de sua proteção, e a
queda do orgulhoso, mais cedo ou mais tarde, é a sua punição. O desinteresse é
incompleto sem o desinteresse moral.

... Jáder Sampaio

> A Humildade de Deolindo Amorim

Artigos

Foto : Capa do livro Espiritismo e Criminologia, publicado pelo CELD - RJ

Década de 80. A Casa de Célia Xavier havia convidado Deolindo Amorim para fazer
uma palestra na reunião de sexta feira. Deolindo veio com a companheira, Dona Delta e
trajava terno com colete de lã, porque estava com um forte resfriado e o clima de
montanha não lhe era favorável.
Eu não fui à conferência dele em nossa casa. Entristecido pela perda da oportunidade,
recebi um convite irrecusável: viajei com um colega de mocidade, André, para
Divinópolis, onde Deolindo falaria de Criminologia e Espiritismo. Palestra notáve.
Mesmo em idade avançada, o fundador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil falava
como um jovem entusiasta. Se a memória não me falha, a palestra de Deolindo foi no
Estudantes do Evangelho. Levei um exemplar comprado há anos do livro “Encontro
com a Cultura Espírita” para autografar. Deolindo escreveu nesta coletânea um trabalho
sobre Deus, e foi acompanhado por outros notáveis estudiosos do Espiritismo, como
Altivo Ferreira, Jorge Andréa e Alexandre Sech. Ele não se achava digno de termos
viajado para assisti-lo. Por dentro estávamos extremamente felizes de assistir
pessoalmente a um trabalho de Deolindo.

Com a noite ganha, voltamos para Belo Horizonte. Não haveria outra programação para
o final de semana. No domingo pela manhã, a rede de telefonemas começou a
funcionar. Deolindo, mesmo incomodado pela enfermidade, pediu que lhe arranjassem
“algum trabalho”. A mocidade foi convocada para uma palestra às 18:00 ou 19:00
horas. A palestra transformou-se em conversa, perguntas e respostas sobre temas
quaisquer relacionados ao Espiritismo e ao Movimento Espírita.

Foi uma noite ainda melhor. Deolindo viveu momentos importantes do Espiritismo
Brasileiro, incluindo o Pacto Áureo. Democrata, ele votou contra a incorporação da
Liga Espírita do Brasil no sistema federativo, porque o tema foi encaminhado em
assembléia de forma fechada, sem que se possibilitasse diálogo. Ele, contudo, afirmava
que pessoalmente não era contrário ao Pacto Áureo, que deu nova feição ao movimento
e fortaleceu a Federação Espírita Brasileira.

Deolindo exalava cultura e experiência. Foi o derradeiro encontro com ele, ainda
encarnado. O Centro Espírita Léon Denis do Rio de Janeiro lhe fez justiça publicando
sua obra em uma série de bom gosto editorial, com seus óculos, tão característicos, à
capa, imortalizando sua contribuição ao pensamento espírita brasileiro. Se o pensamento
for intenso o suficiente para atingi-lo, o que lhe diria é: “saudades, amigo”.

... Carlos Antonio Fragoso Guimarães

> A Igreja, a Mídia e a Parapsicologia Ou Como a Inquisição modernizou suas


roupagens pelo uso da mídia

Artigos
"E, no entanto, ela se move!" Galileu-Galilei

- esta frase foi dita por Galileu após ter sido obrigado pelo Tribunal do Santo Ofício
(Inquisição) - que o estava julgado, entre outras acusações, pela sua afirmação, baseada
em Nicolau Compérnico e em suas próprias observações científicas, de que a Terra não
é o centro do universo - a renegar suas descobertas.

"Não compreendo como o Padre Oscar González-Quevedo pode permitir-se este


julgamento [de fraude, no que se refere ao fenômenos dos desenhos de rostos que se
plasmavam na cozinha de uma casa no povoado de Belmez de la Moraleda, em Jaén,
Espanha, confirmado por várias testemunhas e objeto de intensa pesquisa científica,
fotos e gravações que não demonstraram quaisquer indícios de fraude], porque ele
jamais esteve em Belmez. Eu nunca o encontrei em nenhum congresso de
Parapsicologia, nem na Europa nem nos Estados Unidos, e assim não posso fazer
nenhuma idéia da atitude do Pe. Quevedo para formular tal julgamento a priori. Os
rostos de Belmez são o que se chama de teleplastia espontânea.
Se o padre González-Quevedo continuar com a hipótese de fraude, que demonstre isto
de forma contundente. Mas isso ele não pode demonstrar. Em vista disto, parece-me
correto que, de agora em diante, ele se contenha em seus julgamentos".
Dr. Hans Bender, do Institut für Grenzgebiete der Psychologie und Psychohygiene,
Friburgo, Alemannha

"Quanto maior a ignorância, maior será o dogmatismo."


William Ostler

"Além disso, Rueda em um artigo recente no Journal of Parapsychology, faz o


importante assinalamento de que Quevedo "tem usado a Parapsicologia como uma arma
ideológica em uma briga para marcar sua perspectiva conceitual particular… De fato,
para atingir suas metas, o Pe.Quevedo tem distorcido a Parapsicologia em seus livros,
querendo, a maior parte do tempo, acomodar dogmas católicos à sua
conveniência"(p.183).
Ainda que seja certo que a ideologia permeie toda atividade científica (Longino, 1990),
no caso de Quevedo esta toma uma primazia quase absoluta, ficando marcadamente
afastado em suas obras o espírito crítico, a falibilidade e a tolerância que deve
caracterizar o esforço de toda pessoa que valorize a atividade científica (Karl Popper,
1962). Em vez disso, no Pe.Quevedo encontramos o tratadista escolástico, que crê que a
crítica e o trabalho de cadeira são suficientes para modelar uma determinada disciplina".
Alfonso Martinez-Taboas, Parapsicólogo associado ao Parapsychology Foundation
(PF), de Nova Iorque.

"Não há limitação legal para quem se denomine parapsicólogo. Reservo o termo para
aqueles que têm treinamento científico ou acadêmico e têm contribuído para a literatura
científica e acadêmica sobre o tema. Quase todas essas pessoas são membros da
Parapsychological Association. Eu nunca ouvi falar do Pe.Oscar Gonzales Quevedo e
ele não está na lista de membros da Parapsychological Association."
Charles Tart, psicólogo transpessoal, pesquisador, teórico e uma das mais conhecidas
autoridades do mundo sobre Estados Alterados de Consciência, em carta ao
parapsicólogo Wellington Zangari, membro-diretor do Portal Psi, Centro de Estudos
Peirceanos do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC, São Paulo.

Eis que lá vem ele... Aos poucos sua silhueta vai se deixando formar por entre a
penumbra e a névoa artificial, feita pela fumaça de gelo seco, em um cenário que lembra
os corredores que levam ao salão de torturas de um castelo medieval...

Quem será este que vem de negro, ao som de uma música misteriosa, fazendo aguçar
atenção dos telespectadores de forma tão explicitamente calculada, para criar um clima
artificial de mistério, como se diante de nós estivesse a se materializar um antigo monge
medieval atualizado, porém, por um moderno (?) blusão de couro igualmente negro, e
tendo no rosto o riso de quem se julga dententor dos segredos de "conhecimentos
ocultos"?

Segundo a emissora de TV que o contratou para tomar o lugar de um famoso mágico


mascarado - aliás, melhor seria dizer que a dita emissora tornou famoso - trate-se de um
padre que é (ou melhor, se diz) "autoridade" em parapsicologia, prolífico escritor e
inequivocamente detentor de extraordinários dotes intelectuais . Mas faltou à
compentente emissora expor que o mesmo padre, porém, não é reconhecido como tal
estrela de primeira grandeza por vários outros parapsicólogos e instituições sérias
ligadas a área no Brasil e no exterior.

Implicitamente, o mais novo polemista das noites de domingo é apresentado como "o
maior parapsicólogo do Brasil", mas, além do que diz ele de si mesmo o "Caçador de
Enígmas" e seus discípulos, não sabemos quais foram os referenciais e critérios de
comparação, já que não vemos nehum debate realmente aprofundado entre o dito
contratado e outros parapsicólogos nacionais ou estrangeiros. Entre estes, como vimos
na epígrafe a este texto, mais acima, temos opiniões contrárias de Hans Bander, da
Alemanha, Charles Tart, dos EUA, e do Sr. Matinez-Taboas, de Porto Rico, que cita
igualmente outros autores-pesquisadores estrangeiros (ver o artigo Uma Revisão Crítica
dos Livros do Padre Quevedo, do citado autor, encontrado Portal Psi da PUC, São
Paulo). Na verdade, a lista de nobres acadêmicos que criticam o prentenso auto-
intitulado parapsicólogo seria ainda maior, como iremos ver. Mas vamos por partes.

A nível de pesquisadores nacionais, o breve confronto que houve entre o tão


enfaticamente auto-intitulado parapsicólogo jesuíta e o Professor e pequisador Clóvis
Nunes sobre a Transcomunicação Instrumental, pi fenômeno de gavração de imagens e
vozes atribuidas a pessoas mortas (também conhecido como E.V.P - Electronic Voice
Phenomena, ou F. V. E., Fenômeno das Vozes Eletrônicas de ruído branco) apesar da
edição tendente ao lado do Sr. "Caçador de Enigmas", deixou a impressão de ser
inconcludente.

Este "debate", apresentado no dia 23 de janeiro de 2000, foi truncado na montagem da


edição levada ao ar, e, apesar das interessantes imagens apresentadas, inclusive expondo
pesquisadores e técnicos internacionais, entre os quais se encontram outros sacerdotes
católicos, como o Padre Fraçois Brune, o processo de edição miniaturização das
matérias deixou no ar um monte de dúvidas, em especial no que tange à resposta, à
guisa de explicação, dado pelo "Caçador de Enígmas" - e vimos que a parte do Sr. Padre
Quevedo foi gravada por fora do local onde o encontro com Clóvis Nunes foi
realizado... por quê?

A hipótese de ação do inconsciente enquanto agente da ação do fenômeno não foi


apresentada como tal, ou seja, como uma hipótese, um modelo explicativo sujeito à
confirmação ou não, portanto se prestando ao debate e ao confronto construtivo com
outras hipóteses verossímeis, que é o teste de falibilidade necessário à lógica da
pesquisa científica, como bem defendeu Karl Popper. Ao menos faltou ao ilustre e
inteligente interlocutor católico apresentar evidências e pesquisas que apontassem
indícios firmes para a questão, para ele indiscutível, de que as imagens gravadas por
meios eletrônicos obitdas por técnicos e cientistas em rigorosas experimentações eram
frutos de uma "ideoplastia" ou "escotografia" da ação do inconsciente.

Mas Quevedo é conhecido - como vimos pelas citações dos Srs Drs. Martinez-Tabos e
Charles Tart - por jamais produzir qualquer pesquisa experimental séria, mas em se
apropriar e manipular a de outros (veja maiores detalhes mais adiante). Mas, ao
contrário disto, a - para ele Lei da - "escotografia" inconsciente (faltou dizer como isso
se dá, e porque é preciso que a fita magnética de vídeo tenha de correr em equipamentos
eletrônicos de gravação para que a imagem seja registrada, quando a "escotografia", ou
seja, a hipótese da impressão mental em meios físicos de registro, poderia simplesmente
agir sobre a própria fita) foi apresentada como uma certeza do tipo "Dogma", sobre o
qual que não há possibilidade de contestação (o que, na verdade, é o que mais há, como
veremos mais adiante). E dogma é algo que a ciência não pode admitir, pois
impossibilita qualquer confronto sério de argumentos, sendo, portanto, imposto como
uma verdade estabelecida.

Por conta de Dogmas rígidos, impostos, em especial de cunho religioso (mas também os
há em outras áreas, impostos algo ditatorialmente), a história científica registra uma
corrente de assassinatos institucionalizados, até mesmo racionalizados, de pessoas
inocentes que apenas "ousaram" pensar de modo diferente do establishment
Igreja/Estado (ex. Giordano Bruno, Galileu-Galilei, a paraibana Branca Dias e, bem
mais recentemente, no século XX, assassinando "apenas" moralmente, o antropólogo
jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin e o teólogo brasileiro Leonardo Boff). De
qualquer modo, nas imagens do "debate" que foram ao ar, sem que tenham sido feitas
edições pró-contratado, ficou bem visível o semblante de deboche do ilustre sacerdote
parapsicólogo por todo o tempo em que seu interlocutor explicava a técnica de registro
de sons e imagens paranormais. O padre, enfim, parece, em seu programa, que "possui a
chave" que desvenda os enígmas do "desconhecido" - ou ao menos é nisso que ele crê (a
íntegra do debate entre "O Caçador de Enigmas" e Nunes, porém, foi gravada pela
Globo e pode ser obtida com o professor Nunes, cujo e-mail é: paz@gd.com.br. Neste
vídeo vemos que o Sr. Sacerdote "Parapsicólogo" fica a tal ponto em dificuldades para
manter seus argumentos, que tenta acabar o debate várias vezes, incluisive com seu
habitual ponto final: "Não discuto com fanático!").

Isso é fazer arrogante pouco caso de pesquisas sérias levadas à cabo com sábios das
mais diversas áreas que confirmaram a existência autêntica de fenômenos metapsíquics
e paranormais sem afirmar, contudo, que estejamos sequer perto de entende-los dentro
da visão de mundo que a ciência de hoje nos dá, quanto mais de imputá-los à pecha de
fraudulentos em sua totalidade, ou frutos do inconsciente (palavra mágica que aparenta
explicar não explicando, de fato, nada). Citemos o Prêmio Nobel Charles Richet, os
Físicos Sir William Crookes e Oliver Lodge, o astrônomo Luigi Schiapareli e, mais
atualmente, o parapsicólogo Karlis Osis, o Professor Ian Stevenson, o Dr. Stanley
Krippner, o Dr. Pierre Weil, dentre inúmeros outros.

Para dar um exemplo, na década de 70 do século XIX, um extraordinário cientista


britânico, chamado William Crookes, mas tarde agraciado com o título de Sir e de
Cavaleiro do Império Britânico, por suas muitas contribuições à ciência (dentre as quais
a descoberta do elemento químico tálio e do quarto estado da matério, estado radiante
ou guza, dentre inúmeras outras descobertas e contribuições)fez uma série de
experiências com grandes médiuns, mas suas mais famosas pesquisas foram com o
fenômeno de materializações de espíritos, em especial a do Espírito de Katie King, pela
médium Florence Cook, que foi fotografado mais de quarenta vezes e examinado por
Crookes na presença de vários cientistas, em seu próprio laboratório de físico-química.
Tem uma das fotos de Crookes do espírito materializado Katie King, ao lado do médico
Dr. James Gully . A foto foi tirada em presença do então presidente da Royal Society of
Sciences, Sir William Huggins. Mas o Sr. Padre Quevedo insiste que Crookes foi
enganado pela médium (ele e todos os demais cientistas que estudaram este fenômeno!
E olhe que o Sr. Padre Quevedo o que mais faz é tomar emprestado a pesquisa de outros
para manipulá-las, como já monstramos nas epígrafes inciais deste artigo e vamos
demonstrar ainda mais adiante). Tudo não passando de fraude, mistificação.

No volume 2 de seu pseudo-tratado "As Forças Físicas da Mente" - que, por sinal, diz
ser na contracapa considerado pela Fundação Internacional de Parapsicologia de Nova
York como dos melhores livros de Parapsicologia do mundo, afirmação desmentida
categoricamente pela mesma fundação, como se pode ver no artigo do Prf. Wellington
Zangari Pe. Quevedo: Os Melhores Livros de Parapsicologia do Mundo? (e Quevedo
não faz parte dos pesquisadores desta associação! )- , que vários autores, inclusive o
Sr.Alfonso Martinez-Taboas, membro real da International Parapsychological
Foudation, e outros, citados em seu excelente artigo "Uma Revisão Crítica dos Livros
do Pe. Quevedo", demonstra como esta obra é plena de manipulações, sofismas e erros.
Quevedo tenta distinguir materializações (que para ele, não existem) de
fantasmogênese, ou seja, uma projeção mental (puxa! como é poderosa a mente
quevediana!). Tenta incutir na cabeça da gente (e ele fez algum experimento de
laboratório como Crookes, Richet, Schrenk-Notzing e Geley fizeram?) pra dizer que as
ditas materializações eram fantasmogêneses do inconsciente ou pura fraude. Aliás, só
fraude no caso de Crookes com uma possível tranfiguração da médium que se passava
pelo espírito Katie King.

Pois bem, Charles Richet, o grande Charles Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia e pai da
Metapsíquica e que trabalhou bastante para demonstrar a autenticidade dos fenômenos
paranormais extraordinários, como o das materializações, embora tivesse cautela em
aceitar a hipótese espirítica ou a do "inconsciente maravilha", tendo justamente a maior
parte do tempo apenas se esforçado a demonstrar a realidade objetiva dos fatos e nossa
grande ignorância sobre a profunda realidade que nos cerca, diz textualmente em seu
livro "A Grande Esperança", algo que nos parece dirigido ao sabichões pseudo-sábios
como o Sr. Oscar Quevedo (padre licenciado em Humanidades e Psicologia - portanto,
não podendo clinicar nem psicopatoligizar ninguém, pois para tanto ele deveria ter
FORMAÇÃO em Psicologia, e não licenciatura - que é para o ensino):

"Para assegurar que há fatos anormais, maravilhosos sob o ponto de vista da ciência
atual, invocarei em primeiro lugar o argumento de autoridade. Em favor da nova ciência
(a Metapsíquica), há de um lado certos sábios e de outro certo público.

"Em primeiro lugar falarei dos sábios.

"É facílimo dizer que se enganaram ou foram enganados. É uma objeção que está a
altura do primeiro sabichão que aparece. Quando o grande William Crookes relata ter
visto, em seu laboratório, Katie King, fantasma capaz de se mover, de respirar ao lado
de sua médium, Florence Cook, o dito sabichão pode erguer os ombros e dizer: "É
impossível. O bom senso faz-me afirmar que Crookes foi vítima de uma ilusão, Crookes
é um imbecil". Mas este pobre sabichão não descobriu nem a matéria radiante, o tálio,
nem as ampolas que transmitem as luz elétrica. E assim, minha escolha está feita. Se o
sabichão disser que Crookes é um farsante ou um louco, serei eu quem sacudirá os
ombros. E pouco importa que rebocados pelo sabichão, uma multidão de jornalistas -
que nada viram, nem nada aprofundaram, nem nada estudaram - diga que a opinião de
Crookes de nada vale. Não me admirarei.

"Se Crookes ainda estivesse só! Mas não! Há uma nobre plêiade de sábios (e grandes
sábios) que presenciaram esses fenômenos extraordinários. Em lugar de fazer essa
simples suposição que eles presenciaram o inabitual, poderei considerá-los cretinos e
mentirosos?" (RICHET, 1999, p. 77).

Mais adiante o grande Richet continua:

"Um primeiro fato é evidente: é que todas as vezes que um sábio (um sábio de fato)
assentiu em estudar de maneira aprofundada esses fenômenos, chamado outrora de
ocultos, adquiriu a convicção da existência desses fenômenos. Na história da
Metapsíquica, não conheço somente um caso, não somente um, de um observador
consciencioso que, após dois anos de estudos, tenha concluído por uma negativa"
(RICHET, op. cit, p. 79)

O Próprio Richet não só controlou experimentos rigorosos de materialização, como


fotografou vários espíritos, como o de Bien Boa, visto ao lado, por intermédio das
forças psíquicas da médium Eva Carrière (Marthe Béraud).

Mas o Sr. "Caçador de Engimas", com a humildade que lhe é peculiar, não só diz que
Crookes foi enganado ou, no mínimo, interpretou mal o caso, como todas as pessoas
que tenham capacidades paranormais são doentes que precisam ser curados! Retoma
uma concepção de Pierre Janet que já caiu por terra, derrubado pelo próprio fisiologista
Richet, por Osty, Geley e outros reais estudiosos dos fenômenos paranormais
qualitativos. Mas, se é doença quem o afirma a gora? E devem ser "curados" logo por
quem? Pelo licenciado, portanto, proibido de exercer a psicoterapia Padre Quevedo?

Vejamos o que a este respeito nos fala o neuropsiquiatra Dr. James Cerviño:
Os que realmente estudaram os fenômenos mediúnicos não se iludiram com as ousadas
extrapolações de Janet. “Falou-se muito em histeria”, diz Charles Richet, “mas convém
notar que a histeria não é uma condição favorável” (referia-se à produção de fenômenos
metapsíquicos), “a não ser para dar uma desmedida extensão a esta forma mórbida”. E
sobre os médiuns: “Em todo caso nego-me, em absoluto, a considera-los doentes, como
está bastante disposto a fazer Pierre Janet” (Traité de Métapsychique). Maxwell, Osty,
Myers e outros metapsiquistas eminentes pronunciam-se no mesmo sentido. Foram,
inclusive, apontados os elementos para o diagnóstico diferencial entre o transe
mediúnico e os estados doentios que se lhe assemelham (CERVIÑO, 1996, pp. 42-43,
destaques meus).

Aliás, já vimos que o Dr. Charles Tart - real pesquisador - desmente Quevedo
exatamente neste ponto. Igualmente o faz o Dr. Alberto Lyra (LYRA, 1990).

Neste sentido, é útil a observação dos parapsicólogos franceses Hubert Larcher e Patrick
Ravignat que destacam o fato de que alguns auto-intitulados "parapsicólogos" nada
mais são que proselitistas travestidos de pesquisadores que na verdade acabam mesmo
por prejudicar a ainda incipiente e, academicamente, pouco aceita parapsicologia. De
fato, o termos "parapsicologia" e "paranormal" estão tão desgastados pelo imenso uso
de aproveitadores, que os pesquisadores sérios preferem os termos "estudo psi" e
"fenômenos psi".

Observam Larcher e Ravignat:

"Os detratores são de duas espécies: há os que, negando ferozmente a realidade dos
fenômenos que ela (a Parapsicologia) se propõe estudar, reduzem a parapsicologia à
psicologia pura e simples: mentira, burla, farsa. Pondo deliberadamente de parte
inúmeras experiências positivas para se cingir aos casos de fraude flagrante, esses
capeões do racionalismo têm na ocorrência uma atitude muito pouco racional e teimam
em só ver truques, ou quando muito, coincidências, nas resultados mais significativos.

"A segunda categoria de adversários é mais sutil. Na ótica destes, a parapsicologia na


passaria de uma secção, de um arrebalde da psicopatologia. Só admitem a existência de
determinados fatos na medida em que figurem entre os efeitos e sintomas de crises, de
perturbações nervosas e mentais: o paranormal não seria separável do anormal. Em
suma, suprimem os laboratórios de parapsicologia aumentando ligeiramente o gabinete
dos neuropsiquiatras.

"A verdade é que, embora se trate de disciplinas conexas, embora o estado de crise
possa por vezes servir de suporte, de catalisador ao desencadear de um processo do foro
do parapsicólogo, os dois domínios nunca se confundem; o doente sob vigilância
médica oferece sem dúvida com mais freqüência a oportunidade de se observar
premonições ou transmissões de pensamento que o bom pai de família no pleno goso do
seu esquilíbrio, porque este último, com receio de provocar a chacota ou de se ver
TRATADO DE 'MALUCO', tem normalmente tendência para dissimular os fenômenos
que nos interessam"(LARCHER & RAVIGNAT, "Os Domínios da Parapsicologia",
Lisboa, Edições 70, pp. 70-71).

Provavelmente os parapsicólogos franceses citados não conhecem o Pe. "Caçador de


Enigmas", mas suas palavras bem parecem ser dirigidas a ele, que usa exatamente
destes expedientes citados. Mas tal aparente paradoxo não é atributo exclusivo da
pesquisa em parapsicologia. Se constatarmos que existem doutores em Economia que
adotam teorias favoráveis ao cruel sistema capitalista e vários outros de renome que
simpatizam com o Socialismo, o mesmo se dando em História e Sociologia, e ainda
lembrarmos que muitos Físicos ainda acreditam que podem encontrar erros na teoria de
Einstein e que ainda torcem o nariz às conseqüências filosóficas e epistemológicas do
Princícpio da Incerteza, de Heisenberg, e do Paradoxo de Schröndinger e do Princípio
da Dualidade, de Niels Bohr, vemos que o que se tem é o apego a sistemas metafísicos
teóricos dados mais por simpatia pessoal que por aceitação implícita e lógica.

Devemos lembrar que exibir conhecimentos enciclopédicos não impede o mal uso,
parcialidade e distorções destes. Joseph Mengele era médico e Phd em Filosofia,
pianista, educado e bem apessoado, mas isso não o impediu de ser um carrasco Nazista.
Tomás de Torquemada (1420-1498) era sacerdote católico, portanto, oficalmente um
seguidor de Cristo. Mas apesar do Cristo muito ter ensinado que é por muito se amarem
que seriam reconhecidos seus discípulos, foi responsável direto pela morte de milhares
de vidas, como líder da Santa Inquisição Espanhola.

Não custa nada recordar um fato ocorrido no Anhembi, em São Paulo, em agosto de
1992, quando, no 1º Encontro Brasileiro de Parapsicologia e Religião, Henrique
Rodrigues, Clóvis Nunes e o psicoterpeuta Ney Prieto Peres puderam, à convite da
própria Igreja, participar de debates com o ilustre parapsicólogo jesuíta que, esperava-
se, iria calar de forma irrefutável estes ilustres conferencistas e pesquisadores, que
postulam a comunicação entre vivos e "mortos" como uma possibilidade real. Esta é
uma teoria. Como tal, merece respeito e poderia mesmo ser complementar à teoria do
"inconsciente" como agente paranormal, como os conceitos de onda e partícula são
complementares na Física Quântica.

Nunes discorreu sobre as pesquisas em Transcomunicação Instrumental e os progressos


nas pesquisas em psicotrônica; o psicoterapeuta Prieto Peres discorreu sobre as
pesquisas e efeitos terapeuticos do processo de regressão de memória, objeto de
pesquisas intensas em universidades dos EUA e Europa, onde nomes com Ian
Stevenson, Hans Ten Dam, Morris Netherton, James Fadiman e outros se destacam.
Finalmente o professor Henrique (sobre o qual falaremos mais adiante) apresentou
vários slides sobre um museu muito especial criado e mantido pela Igreja Católica
Romana, instalado na própria Roma, na rua Lungo Travere Pratti, nº 12,nas
dependências da Igreja do Sagrado Coração do Sufrágio. Trata-se do Museu das Almas
do Purgatório, em que estão catalogados mais de 280 "provas", nos dizeres da própria
Igreja, das manifestações das "almas" de mortos em igrejas, mosteiros, conventos, do
qual foram testemunhas padres, freitas, bispos e cardeais. Convém lembrar que o nome
original do museu, tal como concebido pelo seu idealizador, Padre Jouet, era "Museu
Cristão do Além-túmulo".

O ilustre padre "parapsicólogo", que se manifestou, logicamente, como de se esperar,


contrário às colocações dos dois primeiros pesquisadores supra citados, viu e ouviu
detalhes das imagens, nomes, locais, datas, impressões e narrativas dos que
presenciaram os fenômenos apresentados pelo professor Henrique e... silenciou! Pois,
como nos fala o professor Henrique Rodrigues, das duas uma: ou ele confirma o
fenômeno mediúnico [de contato entre vivos e "mortos"] dentro da própria Igreja, ou
teria de classificar os envolvidos, como ele costuma fazer com os não-católicos que
experienciaram fenômenos análogos, de tolos, charlatães, fraudulentos ou vítimas do
próprio inconsciente. Mais ainda, o respeitável parapsicólogo jesuíta católico ainda teve
de engolir em seco a declaração apresentada pelo professor Henrique de um outro padre
jesuíta, responsável pelo controle do museu, que diz textualmente o seguinte: "A Igreja
condena a possibilidade de evocar os espíritos dos defuntos mediante a prática dos
médiuns. Aqui se trata de outra coisa. São espíritos que espontaneamente se
manifestaram para pedir sufrágios e deixaram marcas de sua passagem", o que derruba
o mais divulgado dos dogmas do Sr. "Caçador de Enigmas", qual seja, o da
impossibilidade de manifestação dos mortos em meio aos vivos.

( * *Atenção: Este texto foi escrito em entre janeiro e março de 2000. No segundo
semestre de 2001, porém, mais precisamente no dia 28 de outubro, o programa
Fantástico da Rede Globo apresentou, como "Reportagem de Capa", uma matéria de 16
minutos sobre o "Museu das Almas do Purgatório", acima citado. Prestar especial
atenção, nesta reportagem, às afirmações do teólogo franciscano italiano Gino Concetti
à reporter Ilze Sacamparine, afirmando textualmente que “O espiritismo existe, há sinais
na Bíblia, na Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. Mas não é do modo fácil como
as pessoas acreditam. Nós não podemos chamar o espírito de Michelangelo, ou de
Rafael. Mas como existem provas na Sagrada Escritura, não se pode negar que exista
essa possibilidade de comunicação”, e do especialista em Vaticano, Sandro Magister:
“A Igreja acredita que seja possível uma comunicação entre este mundo e o outro
mundo. A Igreja tem convicção de que esta comunicação existe. A Igreja se sente
peregrina, porque vive na terra e possui uma pátria no céu”).

Então, as idéias do Padre Quevedo são representativas das da Igreja?

Fosse realmente a emissora que o contratou mais interessada na exposição clara e


profunda de fatos, e não no mero sensacionalismo para promover um novo contratado e
faturar alto com o aumento da audiência - que seria elevado com qualquer que fosse o
expositor de um tema sedutor como a parapsicologia -, e poderíamos, quem sabe, repetir
o debate entre o Professor Henrique e o Padre Quevedo. Ao menos, se espera que ele
aceite este desafio e não use da mesma desculpa que usou na Argentina, quando a
televisão de Córdoba o chamou para um debate com o mesmo Henrique Rodrigues ao
qual não aceitou com o pretexto do interlocutor ser um mero "espírita fanático"...

As gritantes distorções e usos que o superstar midiático da "parapsicologia" por ele


defendida no Brasil faz de textos, ou mesmo a cômoda "invenção" de frases de autores
consagrados dos estudos da Psicologia e Parapsicologia é patética. Este estilo anti-ético
e infantilmente agressivo também faz parte de seus discípulos, entre os quais o mais
histriônico e fanático parece ser o Sr. Luiz Roberto Turatti (veja o texto Padre Quevedo,
Luiz Roberto Turatti, Pretensos Sábios, Ridículos Polemistas para se ter uma idéia disto,
com observações dos Srs. Eduardo Araia, da Revista Planeta, e do Psicólogo Wellington
Zangari, da PUC-SP). Para exemplificar, reproduzo, na íntegra, um documento, que
pode ser consultado no site da Revista Eletrônica de Parapsicologia do Prof. Wellington
Zangari, da PUC SP, que pode ser acessada em http://www.pucsp.br/~cos-
puc/cepe/intercon/revista/polemica/tart.htm:

Psi X Psicopatologia: Dr. Tart Desmente Pe. Quevedo


Em maio de 2.000, a Revista Sexto-Sentido publicou uma entrevista realizada com o Pe.
Quevedo. Meses mais tarde, o site "Oficial do Pe.Quevedo"
(http://www.catolicanet.com/clap/entrevista.asp), levou ao ar uma coletânea de
entrevistas concedidas pelo padre, dentre as quais a publicada pela Sexto-Sentido.

Em uma de suas respostas, o Pe. Quevedo, para oferecer argumentos a favor da teoria
psicopatológica de psi, mencionou pesquisas realizadas pelo conhecido psicólogo e
pesquisador de psi americano, Dr. Charles T. Tart (http://www.paradigm-
sys.com//cttart/). Após tomarmos conhecimento do teor dessa entrevista, entramos em
contato com o Dr. Tart para esclarecer o assunto, uma vez que não conhecíamos tais
estudos pela literatura especializada publicada. Abaixo, reproduzimos o trecho da
entrevista em que Quevedo responde à pergunta feita sobre psi e psicopatologia pelo
jornalista e editor da revista, Gilberto Schoereder. Reproduzimos, ainda, a mensagem
que nos foi enviada pelo Dr. Tart (original em inglês e tradução) em resposta à nossa
solicitação de esclarecimento.

Gilberto Schoereder (Revista Sexto Sentido) [pergunta 29 no site oficial de Quevedo]:


O senhor costuma dizer que as manifestações parapsicológicas não devem ser
fomentadas ou desenvolvidas, mas curadas. Esse posicionamento não encontra respaldo
em todas as teorias parapsicológicas já desenvolvidas. Existem linhas de estudo, que
inclusive pensam o contrário: que as faculdades são uma evolução natural do ser
humano e devem ser estimuladas. O senhor não acha perigoso tentar conter uma
capacidade mental que pode ser inerente ao ser humano?

Resposta do Pe. Quevedo: O Congresso Internacional de Parapsicologia, realizado na


Europa em 1953, proibiu fomentar esses fenômenos. O Dr. Tart comprovou que as
brincadeiras com o baralho Zener, que se faziam na Duke University, podem causar
lesões cerebrais que não se curam nunca. Cada vez que se fala de uma casa mal-
assombrada, de pirogênese, logo surge uma epidemia de casos. Faríamos um mundo de
loucos, de hipernervosos, porque ninguém manifesta um fenômeno parapsicológico em
estado normal, só em estado alterado de consciência. Telepatia, por exemplo, todo
mundo tem alguma vez. Mas uma casa mal-assombrada, uma levitação, uma
transfiguração, uma pirogênese, uma autocombustão, são desequilíbrios. Plenamente
normal, equilibrado, ninguém manifesta sequer uma telepatia, que é o fenômeno mais
vulgar. O estado alterado poderá ser uma emoção, um sonho, o barulho dos atabaques,
que causa uma desritmia cerebral, ácido lisérgico, peyote mexicano, cânhamo índico,
mescalina, contágio psíquico, morte aparente, uma febre alta. Por outro lado, isso surge
do inconsciente e o consciente não reconhece como próprio. Assim, há a necessidade de
atribuir algo a alguém, e a pessoa pensa que tem poderes divinos, de espíritos, exus,
orixás, fadas, ondinas, salamandras, larvas astrais, gênios, mahatmas; interpretações
delirantes que levam à dupla personalidade. Um instituto que promete fomentar os
fenômenos parapsicológicos vai atrair muito, vai estar cheio de seguidores, mas não é
científico. Os fenômenos devem ser curados.

Mensagem original do Dr. Charles T. Tart, em inglês:


Enviada em: Terça-feira, 8 de Agosto de 2000 01:08
Assunto: Re: Psi and Mental Problems!

Dear Wellington Zangari,


It is sometimes amazing to hear about things I am supposed to have said....

(Wellington: >supposedly, a parapsychologist, Pe.Oscar Gonzales Quevedo...)

There is no legal limitation on who may call themselves a parapsychologist. I reserve


the term for those who have scientific and/or scholarly training and have contributed to
the scientific and scholarly literature on the subject. Almost all such people are
members of the Parapsychological Association. I have never heard of Pe.Oscar
Gonzales Quevedo and he is not listed in the membership directory of the
Parapsychological Association.

(Wellington: >Quevedo said that experiments are very dangerous to the subjects and
that you, Dr. Tart, have proved that this subjects could be serious damages in brain and
in their mental process to participating in experiments with ESP cards!)

I've never said anything remotely like this and no of no evidence at all to even suggest
such damage, much less prove it. The greatest danger to subject participating in card
guessing experiments is boredom...

I hope you can clear this up in your local media and get more accurate reporting.

Sincerely,
Charley Tart

Tradução da mensagem do Dr. Tart:

Enviada em: Terça-feira, 8 de Agosto de 2000 01:08


Assunto: Re: Psi e Problemas Mentais!

Caro Wellington Zangari,

Às vezes é inacreditável saber das coisas que supostamente eu teria dito...

(Wellington: >Pe. Oscar Gonzales Quevedo, supostamente um


parapsicólogo...supposedly, a parapsychologist...)

Não há limitação legal para quem se denomine parapsicólogo. Reservo o termo para
aqueles que têm treinamento científico ou acadêmico e têm contribuído para a literatura
científica e acadêmica sobre o tema. Quase todas essas pessoas são membros da
Parapsychological Association. Eu nunca ouvi falar do Pe.Oscar Gonzales Quevedo e
ele não está na lista de membros da Parapsychological Association.

(Wellington: >Quevedo disse que os experimentos são muito perigosos para os sujeitos
e que você, Dr. Tart, provou que esses sujeitos poderiam ter sérios problemas cerebrais
e em seus processos mentais por participarem em experimentos com as cartas ESP!)

Eu nunca disse algo nem remotamente parecido com isso e não há qualquer evidência
que sequer sugira tais problemas, muito menos que os tivesse provado. O maior perigo
para o sujeito que participa nos experimentos com a escolha de cartas é a chateação...
Eu desejo que você possa esclarecer os meios de comunicação locais oferecendo
informações mais precisas.

Sinceramente,
Charley Tart

Não publicaríamos os documentos acima caso não tivéssemos alguma confirmação de


que Quevedo, de fato, teria dito o que foi publicado na revista Sexto Sentido.
Entretando, o site oficial do padre reproduz a entrevista, o que, de certa forma, significa
que Quevedo confirma ter dito o que foi publicado. Participamos de um debate na
televisão cerca de um mês após a publicação do referido número da revista Sexto
Sentido, com um dos membros do centro que Quevedo dirige, o psiquiatra Dr. Vitor
Arfinengo, que defendia na entrevista os "perigos" da pesquisa experimental de psi.
Durante a entrevista apresentamos a posição do Dr. Tart e entregamos a mensagem dele
ao Dr. Vitor. Recomendamos que uma cópia desta fosse entregue ao Pe. Quevedo. Em
conversa telefônica posterior, o Dr. Vitor disse ter entregue a mensagem a Quevedo.
Ainda assim o site oficial do Pe. Quevedo permanece com a entrevista no ar.

O Portal Psi, está aberto à publicação de qualquer manifestação do Pe. Quevedo a


respeito do caso.

Há muitos outros aspectos da mesma entrevista (e de outras) de Quevedo que


mereceriam comentários e documentações complementares. Isso será objeto de novos
textos que serão publicados nas próximas atualizações do Portal Psi.

Wellington Zangari
Coordenador / Inter Psi, CEPE, COS, PUC-SP
Editor / Portal Psi
interpsi@mail.ru

Sr. "Caçador de Enígmas" parece não levar muito à sério outros centros de pesquisas,
não parece muito simpático ao trabalho de outros e faz vista grossa aos estudos da
Universidade Federal de Minas sobre estados de consciência, inciados com Pierre Weil,
atual reitor da Universidade Holística Internacional de Brasília - UNIPAZ, e assessor da
UNESCO em um trabalho sobre Educação para a Paz (veja aqui um texto do Prof.
Pierre Weil em que ele fala da Parapsicologia e de suas próprias pesquisas em
Transcomunicação Instrumental e com materializações tendo por colaborador nada mais
nada menos que o famoso neuropesquisador Dr. Stanley Krippner), ou estudos de vários
outros centros de pesquisas internacionais cujas conclusões NÃO são idênticas às suas,
como, por exemplo, a pesquisa da Associação Luso-Brasileira de Psicologia
Transpessoal sobre as comunicações mediúnicas, que demonstram as ocorrências de
transformações fisiológicas nos médiuns durante o transe, fora estudos similares sobre
estados alterados de pessoas místicas, como os dos meninos de Medjugore, feitos por
vários pesquisadores do mundo. Desta forma, nomes como o do Dr. Ian Stevenson, da
Universidade de de Virgínia, EUA, com sua pesquisa sobre casos sugestivos de
Reencarnação, e o do Dr. Karlis Osis, sobre Near Death Experiences (falaremos sobre
elas mais adiante) sequer são discutidas. Isso sem falar das várias pesquisas em
Psicologia Transpessoal levadas a cabo por vários centros de pesquisa pelo mundo, e os
estudos em Psicobiofísica da USP em convênio com o IBPP que formou a primeira
turma em Psicobiofísica em 1997, para ficarmos, por hora, em apenas em alguns
exemplos.

Quevedo fala de "provas científicas" de alguns dos fenômenos extraordinários ocorridos


na Igreja, mas não diz em que periódicos científicos e não-católicos estão tais provas e
deixa de fora qualquer possibilidade de que outros eventos não ordinários que possam
ter ocorrido fora dos meios católicos ou, se ocorrem, são provavelmente, na melhor das
hipóteses, quando não produtos do já surrado "inconsciente maravilha", ocorrências
muito suspeitas, para não dizer fraudes. Esta parcialidade, infelizmente, é uma constante
em boa parte dos que se dedicam ao estudo da parapsicologia. Porém, a questão da
"prova" é um ponto extremamente controvertido nesta área, e existe cristalização de
posturas, do extremo cepticismo à extrema credulidade. Ademais, partindo da existência
positiva dos fenômenos, o problema vem se dando nas hipóteses relativas à causação
dos mesmos, e estas sempre estão atreladas à visão de mundo que cada teórico assume.

A epistemologia científica moderna pós-Einstein e pós-Thomas Kuhn confirma, ao


menos no nível da Física Contemporânea, inteiramente esta afirmação. Einstein mesmo
chegou a dizer que "nunca podemos 'provar' uma teoria. O que podemos fazer é
demonstrar que ela faz sentido" e Heisernberg chegou a afirmar que "todas as
concepções teóricas da Física nada mais são que modelos que, mais que descreverem a
matéria, descrevem a lógica da mente que os criou". Se isso ao nível da Física, o modelo
maior de ciência, é assim, que dizer de uma "ciência" tão controvertida quanto a
Parapsicologia? Além do mais, nem tudo o que "existe" pode ser provado nos
referenciais mecanicistas. Quem pode provar o que sonhou na noite anterior? Quem
mediu o consciente e o inconsciente?

Vejamos o que a este respeito nos fala o Prof. Hernani Guimarães Andrade, em seu
livro Parapsicologia - Uma visão panorâmica:

Muitas pessoas ao tomarem contato com os relatos [o autor se refere aos estudos de
casos coletos pelo Dr. Ian Stevenson (3.000 casos coletados em cerca de 40 anos de
pesquisas), pelo Prof. Hemendra Banerjee e do próprio Prof. Hernani Guimarães
Andrade (em torno de 80 casos coletados no Brasil), entre outros, sobre relatos
espontâneos de crianças que sugerem reencarnação], estranham a expressão "sugerem",
usada para categorizar tais fatos. Não são eles uma "prova" irrecusável da
reencarnação? De fato, para aqueles que presenciam e investigam diretamente o
comportamento dessas crianças, tais eventos mais do que sugerem, trata-se de legítimas
ocorrências de reencarnação. Eles têm a força de uma prova do renascimento.

Entretanto, quando se trata de fornecer a "prova" científica de uma hipótese, esbarra-se


com um número apreciável de outras hipóteses que também poderiam explicar o fato
investigado. É preciso, então, fazer uma espécie de depuração das circunstâncias que
rodearam o caso, a fim de ter-se base para o julgamento da hipótese mais provável,
capaz de explicar o fenômeno. Por esta razão, raramente usa-se afirmar, quando em
nível científico, que se tem a "prova" para uma dada hipótese explicativa para um
determinado fato veridicado [a não ser em alguns comportamentos dogmáticos]. Diz-se,
normalmente, que se têm "evidências" de apoio para uma referida hipótese. Em outros
termos, declara-se que o caso sugere esta ou aquela explicação. Reconhecemos que tal
procedimento pode, até certo ponto, assemelhar-se a uma espécie de eufemismo. Mas,
se quisermos ter audiência no meio científico, não há outra forma de apresentar nossas
teses, a menos que tenhamos evidências tão gritantes, que eqüivalam a autênticas
provas. Mas nem sempre aquilo que soa como prova para uns, tem a mesma tonalidade
para outros.

Quando a questão revela implicações com a tese da existência e da sobrevivência do


espírito após a morte do corpo físico, as coisas se complicam.

Defronta-se com uma muralha de cepticismo generalizado e até tradicional, pois há


muito, a grande maioria dos cultores da Ciência vêm procurando demonstrar que o
homem é um ser exclusivamente material; o resultado feliz (ou infeliz) da evolução
cega da matéria apenas. Torna-se até elegante e aparentemente característica de elevado
nível cultural, ser rigidamente céptico em relação à tese espiritualista (...) Alguns
indivíduos, néscios ou doutos, chegam mesmo a exirmir-se da tarefa de examinar
estudos sérios que eventualmente tratem dessas questões, para eles "proibidas" por uma
ou outra razão. Repetem o comportamento dos conspíscuos professores da Universidade
de Pizza, diante de Galileu, que os convidava a observar, por eles próprios, os satélites
de Júpiter, olhando-os através da luneta. Negaram-se a aceitar o convite, baseados, além
da Bíblia, na autoridade de Aristóteles, pois este sábio "nunca mencionara, em seus
ensinamentos, a existência de tais satélites..."

Passados cerca de três séculos, os satélites de Júpiter foram fotografados de perto pelas
sondas interplanetárias... E os sábios doutores de Pizza já não mais estavam vivos para
constatar tais evidências que se transformaram em provas objetivas reais.

Por isso, não deve ter-se pressa ou ansiedade em convencer os cépticos, uma vez que o
seu cepticismo não altera a realidade dos fatos (Andrade, 2002, pp.310-312).

É interessante mesmo observar que nosso "parapsicólogo sacerdote" não é sempre tão
bem aceito mesmo entre muitos de seus confrades religiosos, e ele mesmo já teve de
amargar algumas observações duras de seus superiores há algum tempo atrás. Foi assim
que, em 1982, ele causou uma polêmica dentro dos próprios corredores da Igreja ao
publicar seu livro Antes que os demônios voltem, tendo sido proibido por seu superior
hierárquico, Pe. João Augusto MacDowell, de exercer temporariamente a atividade de
parapsicólgo, o mesmo fato se repetido em agosto de 1984, quando o CLAP (Centro
Latino Americado de Parapsicologia), órgão pretensamente científico e que tem uma
santa, a Virgem de Guadalupe, como padroeira, instituição que foi fundada e é dirigida
por nosso parapsicólogo, teve suas atividades suspensas.

Aliás, é de se destacar que ele, diante da posição assumida, ao menos aparenta coerência
ao ter sérias dúvidas ou mesmo não aceitar como reais (como falou em um recente curso
de parapsicologia realizado em João Pessoa) algumas das aparições atribuídas à Virgem
ou a quem quer que seja (veja mais adiante suas próprias palavras a este respeito), como
as que ocorreram em 1917 em Fátima, Portugal, e que são objeto de devoção de
inúmeros católicos. Na verdade, o parapsicólogo teórico jesuíta não deve se sentir tão à
vontade ante o relato dos vários fenômenos de aparições de que está cheio a história da
Igreja, pois, sendo autênticas, e nem sempre sendo atribuídas à Virgem, ele tem de
concordar que algo como um espírito, nos termos como o entendem os espiritualistas,
existe - ou seja, algo que representa a existência de vida após a morte e que pode se
comunicar com os "vivos" (possibilidade que ele negou veementemente no programa
"Jô Soares 11 e Meia", quando ainda no SBT, para, paradoxalmente, aceitar a
existência, no homem do "espírito" no programa do Fantástico, ao menos no que foi ao
ar dia 12 de março de 2000. Meio contraditório o posicionamento do "Caçador de
Enígmas).

O fenômeno das chamadas "aparições", contudo, é universal, conforme um estudo sério


de antropologia e etnografia comprova na coleta de registros, relatos, tradições e lendas,
pois se encontra em praticamente todas as culturas. A interpretação de quem os vivencia
sempre se apresenta com os traços e roupagens culturais onde se manifestam (veja mais
adiante o exemplo amplamente registrado pela imprensa internacional do fenômeno de
Zeitun, no Egito, em 1968, desde, é claro, que se aceite como documento válido amplas
reportagens da imprensa sobre fenômenos "estranhos"). Assim, uma aparição pode ser
atribuída à Virgem, a uma Deusa hindu, a um espírito protetor, um anjo, etc.,
simplesmente porque esta se dá a um nível de percepção que é difícil de descrever na
linguagem ordinária, daí a ocorrência de explicações religiosas para definir a quase
indefinível experiência mística, como o sabem os psicólogos transpessoais.

Aliás, quanto à questão de Fátima, de Lourdes, de Medjuguore e outras, é bom que o "O
Padre que não tem medo de assombração" seja mais claro e aberto frente às câmeras,
pois se é submetido à hierarquia da Igreja, ele mesmo parece questionar o que a própria
Igreja admite ser verdade, como neste trecho de entrevista que ele concedeu e se
encontra no site "O Inexplicável HP", com o link Padre Quevedo 2:

"1- O Milagre de Fátima. - No início do século passado, três crianças viram no céu a
imagem de Nossa Senhora, que teria revelado a eles três segredos. O terceiro, nunca
revelado pelo Papa seria sobre o fim do mundo.
Pe. Quevedo: "Não há aparições! Se Fátima fosse uma aparição, todo mundo a veria.
Francisco, uma das três crianças, não ouviu nada e não era surdo. Isso é um ERRO de
interpretação, não são aparições, mas visões ao gosto do consumidor. Há um fenômeno
parapsicológico chamado 'ideoplasmia', que é a idéia plasmada. Você emite uma energia
e a imagem aparece como uma foto, é uma espécie de fotografia do pensamento"

E ai? Quem está certo? O Dizer oficial da Igreja que reconhece a aparição e seus
milhões de crentes ou o Pe. Quevedo? Como uma instituição que se diz, na voz de sua
ala mais radical - como a do Cardel Joseph Ratzinger, prefeito da antiga Inquisição, hoje
chamada de Congregação pada a Doutrina (ou Defesa) da Fé -, a "única" realmente
detentora da verdade pode ser assim tão dividida? Se Fátima foi um erro e a Igreja sabe
disso, então ela manipula a fé das pessoas? E já que o famoso padre se diz tão devoto da
Virgem de Guadalupe, como explicar que a referida imagem impressa em um poncho
(avental ou capa) tenha se dado, segundo a lenda, depois de algumas "aparições" de
Maria ao índio Juan Diego em 1531, se "aparições" não existem?

... Victor Hugo (espírito) & Divaldo P. Franco

> A Razão de Ser do Espiritismo


Artigos

Quando o obscurantismo da fé dominava as mentes, levando-as ao fanatismo


desestruturador da dignidade e do comportamento; quando a cultura, enlouquecida pelas
suas conquistas no campo da ciência de laboratório, proclamava a desnecessidade de
qualquer preocupação com Deus e com a alma, face à fragilidade com que se
apresentavam no proscênio do mundo; quando a filosofia divagava pelas múltiplas
escolas do pensamento, cada qual mais arrebatadora e irresponsável, inculcando-se
como portadora da verdade que liberta o ser humano de todos os atavismos e limitações;
quando a arte rompia as ligações com o clássico, o romântico e a beleza convencional,
para expressar-se em formulações modernistas, impressionistas, abstracionistas,
traduzindo, ora a angústia da sua geração remanescente dos atavismos e limitações do
passado, ora a ansiedade por diferentes paradigmas de afirmação da realidade; quando
se tornavam necessários diversos comportamentos sociais e políticos para amenizar a
desgraça moral e econômica que avassalava a Humanidade; quando a religião perdia o
controle sobre as consciências e tentava rearticular-se para prosseguir com os métodos
medievais ultramontanos e insuportáveis; quando as luzes e as sombras se alternavam
na civilização, surgiu o Espiritismo com a sua razão de ser para promover o homem e a
mulher, a vida e a imortalidade, o amor e o bem a níveis dantes jamais alcançados.

Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-
se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do
materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que
adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores
morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz
interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal.

Logo depois, no Collège de France, proclamando ser Jesus um homem incomparável,


no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu
turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi
galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito
homem.

Sob a ação do escopro inexorável das informações de além-túmulo, o decantado


repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam
lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual
a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada.

As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos fundamentadas na


lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da
Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios.

Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente
ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial,
que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as
construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as
volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a
compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível
luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir.

Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe


impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade,
somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam
dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas
dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade,
vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados.

O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficaz


maneira de enfrentá-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no
seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a
felicidade ante as vicissitudes do processo existencial.

Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de


conhecimentos em ebulição de idéias, demonstrou a sua força arrastando desesperados
que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a
razão, delinqüentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram,
ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus
benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver,
construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado.

O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida
pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a
revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe
poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os
seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo
gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam . . .

Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento


solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqüi,
conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de
si mesmo onde quer que vá.

Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu
Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos,
demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que se vence a si mesmo,
e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de
evitar a própria morte.

Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento


filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras
básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados
morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado.

Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a


razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros
fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na
noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo
dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e
sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas
seqüelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos.

A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos


seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do
comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do
ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na
imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única
psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro.

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 7 de junho de 2001, em


Paris, França)

(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 2001)

... José Reis Chaves

> A Mulher não é Ovípara

Artigos
Existe na nossa sociedade de cultura ocidental judaico-cristã um trauma, ou seja, o do
pavor que a sociedade tem de ver uma mulher solteira ficar grávida e,
conseqüentemente, o de ela vir a ter um filho. É que o judaísmo e o cristianismo sempre
condenaram exageradamente a sexualidade fora do casamento. No entanto, antes de
haver religiões e casamentos no mundo, nossos ancestrais já tinham seus filhos, sem o
que não poderíamos existir!

Deixando de lado esses traumas de pecados da sexualidade fora do casamento, presentes


ainda em nosso inconsciente coletivo, e que foram e são ainda responsáveis por tantos
abortos, convém dizer aqui que o aborto constitui falta grave contra as leis espirituais
divinas e naturais.

Há dois tipos de vida, ou seja, a vida em estado potencial e a vida atualizada. Um grão
de feijão é uma vida em estado potencial de um pé-de-feijão. Ao ser colocado na terra
úmida, ele brota e se torna a vida atualizada de um pé-de-feijão, mesmo ainda antes de
ele chegar à superfície da terra. Também com relação aos seres ovíparos que nascem de
ovos, podemos dizer que essas duas vidas existem. Por exemplo, o ovo galado de
galinha é uma vida de um pintinho, mas apenas em estado potencial. Esse ovo só vai se
tornar uma vida atualizada de um pintainho, depois de ser submetido a uma temperatura
apropriada debaixo duma galinha ou numa chocadeira, pelo tempo de 21 dias. Assim,
pois, a destruição de um ovo, mesmo galado, não é a destruição da vida de uma
avezinha, a qual, por enquanto, só existe no ovo em estado potencial.

Mas como a mulher não é ovípara, a vida do feto nela é atualizada dentro dela mesma,
desde o instante da concepção. Conseqüentemente, se ela eliminá-lo, mesmo que ele
seja ainda um embrião, ela está destruindo uma vida humana já atualizada, cometendo,
pois, um infanticídio e se tornando uma verdadeira assassina do seu próprio filho
inocente e indefeso, quando ela, até pelo instinto, deveria protegê-lo!

... Luiz Carlos Formiga

> Estudo das Células-tronco - Abordagem científica, jurídica e espírita

Artigos

Este estudo é um resumo do que foi abordado no seminário “Células-tronco”,


coordenado por Luiz Carlos Formiga com auxílio de Cláudia Valente, realizado em 29
de maio de 2008, no Centro Espírita Amaral Ornellas, Rua Doutor Leal, 76 (Engenho de
Dentro), Rio de Janeiro, RJ.

Abaixo a relação de perguntas previamente formuladas pelo grupo de estudos e


abordadas durante o seminário:

Para espiritualistas em geral, é perfeitamente compreensível que, ao se utilizar os


embriões de células tronco, está se interrompendo a existência de algum espírito. Mas
como convencer os céticos? Que justificativa utilizar?

A Doutrina Espírita é a favor de utilizar as células tronco de uma pessoa nela mesma.
Por que os cientistas e políticos não pensaram apenas neste tipo de utilização? Aos
olhos deles, isso traria algum tipo de prejuízo?
Quanto tempo demora, mais ou menos, para que uma questão polêmica como essa seja
aprovada?

Segundo a questão 344 de “O Livro dos Espíritos”, "No momento da concepção, o


espírito designado para habitar determinado corpo se liga a ele por um laço fluídico e
vai aumentando essa ligação cada vez mais (...). Se a utilização dos embriões de células
tronco já fosse permitida, a que tipo de sofrimentos estes espíritos recém ligados
estariam suscetíveis, além da impossibilidade de reencarnar?

Estamos sendo testemunhas de uma discussão entre os que estão a favor e aqueles que
estão contra. E em relação ao mundo espiritual? É possível que espíritos interessados
neste obstáculo à reencarnação possam estar influenciando de alguma forma?

Um grupo de mulheres doa suas células-tronco embrionárias para a pesquisa.


Cientificamente, isto não seria considerado um aborto?

Os argumentos a favor da utilização de células-tronco embrionárias (cura de doenças,


reconstituição de órgãos etc) poderiam ser uma forma de mascarar um objetivo principal
como a clonagem, por exemplo?

Os espíritos Superiores não se têm manifestado em relação à questão?

Questões adicionais enviadas posteriormente por e-mail

Creio que toda existência carnal do Espírito se inicia na fecundação ou quando um novo
corpo começa a existir (na possível clonagem humana, não há fecundação, não é?). E
será que em toda fecundação humana, natural ou in vitro, liga-se a todo embrião um
Espírito reencarnante?

Haverá meios científicos de se detectar a existência de um ser vivo nos embriões? Fala-
se de equipamentos que futuramente poderão identificar se determinado embrião tem a
ele ligado, ou não, um espírito reencarnante. Isto se daria através da identificação de
campos biomagnéticos, utilizando-se um tensionador espacial magnético (TEM). Será
possível?

O embrião, desde a sua fase inicial de zigoto, já é o próprio organismo humano vivo, já
que está totalmente constituído para o seu pleno desenvolvimento e também porque, até
a sua fase de blastócito – período em que as células se multiplicam de forma ordenada,
mas ainda não são diferenciadas – já exerce atividades programadas que darão suporte
às próximas fases da sua formação?

Uma vez que se conclua que todos ou parte dos embriões congelados já sejam seres
vivos, com espíritos a eles ligados, além de parar de se produzir embriões excedentes
nas reproduções assistidas, o que fazer com os que já estão armazenados?

Na fertilização in vitro, ao se manipular os embriões que serão colocados no útero para


gerar filhos, não estaria havendo uma agressão imposta ao corpo desses seres humanos,
já que o método utilizado não está isento de possíveis seqüelas? Ou seja, os que
manipulam os embriões humanos, mesmo os que serão implantados no útero para
reprodução, não serão eles agentes nos problemas de saúde que daí possam surgir
nesses indivíduos? Não acha que não cabe ao homem, imprimir a vida de quem quer
que seja, uma doença, assim como a sua morte?

As células adultas têm o mesmo potencial que as células embrionárias para se


transformar em diferentes tipos de células?

Nos casos de fetos anencéfalos (sem cérebro) e também de estupro, também nesses
casos não se deve praticar o aborto, certo?

Em seguida temos alguns textos usados como referencias para responder às questões
colocadas acima.

Ser professor universitário (1)


Ética, sociedade e terceiro milênio

A ética visa mais o bem a ser conquistado e garantido que ao mal que deve ser evitado.
A bioética é a ética aplicada aos novos problemas que se desenvolvem nas fronteiras da
vida. Vem em salvaguarda do ser humano: na singularidade da individualidade, mas
também na universalidade da sua humanidade. Não pretende ser restritiva, mas tem a
tarefa de colocar limites éticos a fim de salvaguardar a pessoa humana, sua vida e
humanidade.

O progresso tecnológico da biomedicina levanta problemas éticos, que requerem da


bioética reflexão prática. A questão “o que posso fazer?” Deve estar acompanhada das
perguntas do imperativo ético “o que devo fazer? O que é bom fazer? Qual é o bem a
ser preservado e o bem a ser promovido”.

A ética ao falar de valores e agir humano, parte do pressuposto que todo ser humano age
por uma motivação em vista de uma finalidade. É sabido que entre a motivação e a
finalidade não existe uma transparência que determine ser todo ato bom e responsável.
Vários fatores psicológicos, sociais e culturais podem influenciar estes atos. Um ato
humano, mesmo os atos médicos e científicos, podem ser maus e irresponsáveis se as
motivações forem egoístas ou se a finalidade for a ganância de fama, poder ou riquezas.

A reflexão ética visa identificar os valores humanos e a elaboração de normas de


comportamento, para a garantia do bem humano e social. A bioética identifica a vida
como um bem, e quer compreendê-la melhor, identificando os valores que a
acompanham e favorecem como um bem. Busca também a elaboração de normas de
comportamento que garantam este bem. Normas que são regidas pela humanidade
presente em cada um de nós. Esse progresso depende da educação.

O projeto de declaração sobre o genoma humano, do comitê internacional da UNESCO,


proclama a necessidade do ensino:
“art.16: os Estados se comprometem a promover um ensino específico concernente às
implicações éticas, sociais e médicas da biologia e da genética humana.”
É um ensino que deve permitir a todos exercerem responsabilidades próprias ante as
novas situações derivadas do avanço das ciências da vida. Os novos e diferentes
desafios precisam ser apreendidos em toda a sua complexidade.

Produzir profissional qualificado implica em aquisição e produção de conhecimento; de


capacidade técnica e de atitudes profissionais. Assim existe a necessidade de contínua
informação, atualização técnica e formação permanente. Ser informado das novas
técnicas implica em saber executá-las, mas também em saber posicionar-se diante dos
problemas éticos que dela decorrem.

O salto de qualidade no ensino será o da informação para a formação de uma nova


consciência profissional, integrada a um universo biomédico com a sua especificidade
humana, capaz do diálogo, da clareza de percepção dos problemas éticos e da
objetividade de apresentação destas questões em vista da decisão a ser tomada em
conjunto com outros envolvidos naquele ato biomédico, seja ele um atendimento ou
uma pesquisa.

Em síntese: um profissional ético com consciência crítica, livre, criativa e responsável,


capaz do diálogo.

O preparo para a reencarnação

Existe algum preparo para o espírito reencarnar? Se existe, qual é? O espírito pode ser
obrigado a reencarnar? A lei de hereditariedade influi no espírito? Ele reencarna
consciente ou inconsciente? Quando termina o processo da reencarnação? Por que o
esquecimento?

"Missionários da Luz", capítulo 12, Preparação de experiências, André Luiz, psicografia


de Francisco Cândido Xavier:

"Segismundo voltará ao rio da vida física. A situação assim exige e não devemos perder
a oportunidade de encaminhá-lo ao necessário resgate... Tudo está preparado afim de
que Segismundo regresse à companhia da vítima e do inimigo do pretérito, no sentido
de santificar o coração. Será ele, de conformidade com a permissão de nossos Maiores,
o segundo filhinho do casal... Infelizmente, Adelino, que lhe será o futuro pai
transitório, repele-o com calor, tão logo surgem as horas do sono físico, trabalhando
contra os nossos melhores propósitos de harmonização. Em vista disso o trabalho
preparatório da nova experiência tem sido muito moroso e desagradável."

Palavras de Alexandre, instrutor de André Luiz, sobre o preparo da reencarnação:

"Temos bons amigos no Planejamento de Reencarnações. Nesta instituição, durante


alguns dias, você terá idéia aproximada da nossa tarefa, portas adentro de semelhante
trabalho. Grande percentagem de reencarnações se processa em moldes padronizados
para todos, no campo das manifestações puramente evolutivas. Mas outra porcentagem
não obedece ao mesmo programa. Elevando-se a alma em cultura e conhecimentos, e,
em responsabilidade, o processo individual é mais complexo, fugindo à expressão geral,
como é lógico. Em vista disso, as colônias espirituais mais elevadas mantêm serviços
especiais para trabalhadores e missionários."

"As entidades sob nossos olhos são trabalhadores da nossa esfera interessados em
reencarnações próximas. Nem todos estão diretamente ligados a semelhantes propósitos,
porque grande parte está no trabalho de intercessão, obtendo favores desta natureza para
amigos íntimos. Os rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas
orgânicas, elaborados por orientadores do nosso plano, especializados em
conhecimentos biológicos de existência terrena. Conforme o grau de adiantamento do
futuro reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é necessário estabelecer planos
adequados aos fins essenciais."

E a lei da hereditariedade? "Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em


evolução, mas sofre, naturalmente, de todos aqueles que alcançam qualidades superiores
ao ambiente geral. Além do mais, quando os interessados em experiências novas no
plano da crosta e merecedor de serviços “intercessórios”, as forças mais elevadas podem
imprimir certas modificações à matéria, sede de atividades embriológicas, determinando
alterações favoráveis ao trabalho de redenção." Após conseguir o perdão e a permissão
dos futuros pais para a reencarnação encontramos Segismundo momentos antes de
reencarnar: "Já estive mais animado – disse-me ele, triste -, entretanto agora falecem-me
as energias... sinto-me fraco, incapacitado... agora tenho receio de novos fracassos...".

Em “O Livro dos Espíritos”, questão 339: O momento da encarnação é acompanhado de


uma perturbação semelhante aquela que tem lugar na desencarnação? – Muito maior e
sobretudo mais longa. Na morte, o espírito sai da escravidão, no nascimento, entra nela.

"Existem, então aqueles que reencarnam inconscientes do ato que realizam?Certamente


– respondeu Alexandre, solícito - assim também como desencarnam diariamente na
crosta milhares de pessoas sem a menor noção do ato que experimentam, somente as
almas educadas tem compreensão real da verdade que se lhes apresenta em frente da
morte do corpo. Do mesmo modo, aqui, a maioria dos que retornam a existência
corporal na esfera do globo é magnetizada pelos benfeitores espirituais, que lhe
organizam novas tarefas redentoras, e quantos recebem semelhante auxílio são
conduzidos ao templo maternal de carne como crianças adormecidas. O trabalho inicial,
que a rigor lhes compete na organização do feto, passa a ser executado pela mente
materna e pelos amigos que os ajudam de nosso plano. São inúmeros os que regressam
a crosta nessas condições."

Emmanuel em "Esquecimento e reencarnação", do livro Religião dos Espíritos:


"Encetando uma nova existência corpórea, para determinado efeito, a criatura recebe,
desse modo, implementos cerebrais completamente novos, no domínio das energias
físicas, e, para que se lhe adormeça a memória, funciona a hipnose natural como recurso
básico, de vez que, em muitas ocasiões, dorme em pesada letargia, muito tempo ates de
acolher-se ao abrigo materno. Na melhor das hipóteses, quando desfruta de grande
atividade mental nas esferas superiores só é compelida ao sono, relativamente profundo,
enquanto perdure a vida fetal. Em ambos os casos, há prostração psíquica nos primeiros
sete anos de tenra instrumentação fisiológica dos encarnados, tempo que se lhes reaviva
a experiência terrestre..."

"E isso, na essência, e o que verdadeiramente acontece, porque, pouco a pouco, o


espírito reencarnado retoma a herança de si mesmo, na estrutura psicológica do destino,
reavendo o patrimônio das realizações e das dívidas que acumulou, a se lhe regravarem
no ser, em forma de tendências inatas, e reencontrando as pessoas e as circunstâncias, as
simpatias e as aversões, as vantagens e as dificuldades, com as quais se afinizado ou
comprometido...".

"A moldura social ou doméstica, muitas vezes, é diferente, mas, no quadro do trabalho e
da luta, a consciência é a mesma, com a obrigação de aprimorar-se, ante a benção de
Deus, para a luz da imortalidade." (2)

Anomalias fetais: abortar?

Anencéfalo tem alma? Que é a alma? Seria válido o aborto diante de anomalias fetais
graves e incuráveis? Como detectar a presença do espírito? Há um espírito encarnado?

Segundo estimativas extra-oficiais, existem hoje no Brasil mais de 350 alvarás judiciais
autorizando a prática da interrupção seletiva da gravidez em nome de anomalias fetais
incompatíveis com a vida extra-uterina.

Sabe-se que há relação direta entre fetos anencéfalos e abortamento espontâneo. Cerca
de 65% morrem no período intra-útero. Dos que sobrevivem, cerca de 2/3 falecem nas
primeiras três horas. Alguns registros mostraram que, de 180 anencéfalos vivos, 58%
não sobreviveram após as primeiras 24 horas. Quando a alma está presente?

Que é a alma? A resposta é encontrada em “O Livro dos Espíritos”, na questão 134 e diz
que é “um espírito encarnado”. Mas, que era a alma antes de se unir ao corpo? “Um
Espírito”. O corpo pode existir sem alma, não sendo um homem mas massa de carne
sem inteligência (questão 136). Na agonia (processo de desencarnação), algumas vezes,
já tem deixado o corpo havendo apenas vida orgânica. Cabe perguntar, sob o ponto de
vista prático, como saber se o espírito já deixou o corpo e como saber se está ligado ao
corpo do anencéfalo. Nas questões deste capítulo de "O Livro dos Espíritos" vamos
encontrar novamente o vocábulo (alguns/ algumas) na questão 356, onde verificamos
que entre os natimortos há alguns onde não foi destinada a encarnação de espíritos. Por
outro lado, “O Livro dos Espíritos” é claro quando informa que se a criança vive após o
nascimento ela tem forçosamente encarnado em si um espírito e é um ser humano
(questão 356b). Interessante é que não tendo sido destinado à encarnação de espíritos,
corpos podem chegar a termo de nascimento, algumas vezes (de novo o vocábulo), mas
não vivem (questão 356a). Essas questões parecem explicar (percentuais referidos
anteriormente) os 65% de anencéfalos que morrem no período intra-útero e ainda os
outros 42% que sobrevivem após as primeiras 24 horas.

Uma mulher tem o direito de levar a termo uma gestação com uma criança seriamente
afetada, quando isso representa uma carga financeira e social imensa para toda a
sociedade?

No momento de decisão vamos nos debruçar sobre a resposta dada pelos Espíritos
Superiores (na questão 356b) – “há forçosamente um espírito encarnado”. Fontes é
enfático: “decretar viver ou morrer não é poder do juiz.” Certamente ele vai deixar os
calouros de direito em reflexão profunda, quando adjetiva: “mais inviável do que o
nascituro tido como anencéfalo é a pretensão de alcançar judicialmente uma autorização
de aborto, porquanto injusta, ilegal, inconstitucional, juridicamente impossível,
irrelevante e inútil.” (3)

“Ora, minha amiga, estamos discutindo a existência de alguém que ainda nem é uma
pessoa. É apenas um amontoado de células. Eu estou defendendo a mulher e você vai
ficar defendendo um feto!” (...) “A mulher é sempre ignorada. Essa é a grande questão
do nosso século. As mulheres que abortam, no Brasil, não o fazem por opção. Quando
falo no direito de abortar falo em direito à vida humana, decente e digna. É preciso
existir estrutura para gerar filhos, foi você mesma quem colocou!”

“Sim”, veio a resposta: “e deve ser aí que devemos gastar a nossa energia e não
tentando desumanizar o outro! Sempre que se quer humilhar, castrar, limitar ou matar o
outro, recorre-se a esta técnica consagrada. O primeiro ato é desumanizar. Se o embrião
é um "vir a ser", mas não é ainda por que não suprimi-lo em favor dos que são? Hitler e
Stálin tinham idéias, até nobres, pelas quais se delegaram o direito, e até o dever, de
matar judeus, dissidentes, capitalistas, comunistas e católicos. O que se quer é
“desumanizar” o embrião para adormecer as consciências com uma legitimidade. "A
ciência não tem uma definição de vida, portanto não pode justificar um procedimento
tão grave sobre o que desconhece.”. (4)

Com relação às pesquisas no campo das células tronco, dos embriões congelados, há
divergências entre a opinião da ciência e a da religião. O que você nos diz sobre essa
questão? Responde o médium Divaldo Pereira Franco. - Quando for possível fazer uma
ponte entre ciência e religião, fica muito mais fácil. A tarefa da ciência,
indubitavelmente, é pesquisar. Se a ciência tivesse limites, hoje nós não teríamos a
tecnologia de ponta que nos facilita tanto a comunidade, inclusive o prolongamento da
vida. Mas, nessa busca da investigação científica, às vezes alguns pesquisadores
exorbitam. Toda vez, quando a vida corre ameaça, é compreensível que haja uma
bioética. As grandes nações trabalham isto e o Brasil também, para que se estabeleça
uma bioética. Nem tudo deve ser permitido na área da investigação.” (...) "No caso das
células tronco, a Doutrina Espírita, na sua visão religiosa, é totalmente favorável. Toda
e qualquer pesquisa que objetive o progresso, a diminuição das dores, a mudança de
situação da criatura, é válida, mas para tanto é necessário respeitar a vida que está em
processo de desenvolvimento.” (...) “A ciência vai descobrir que essa vida embrionária
não é de espontaneidade da matéria, mas sim da presença do Espírito. Ao destruí-los se
interrompe uma futura existência, com menos conseqüências negativas, porque os
Espíritos que ali se encontram imantados estão também cumprindo um período de
provas e essa própria prova é uma maneira de resgatar débitos do passado.” (5)

Transdisciplinaridade (6)

Artigo 13. A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo, a discussão,
seja qual for sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política
ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma compreensão
compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, unidos pela
vida comum sobre uma única e mesma Terra.
Artigo 1 - Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de
dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão
transdisciplinar.

Artigo 2 - O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regido por


lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a
realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da
transdisciplinaridade.

Artigo 12 - A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado


de que a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.

Artigo 3 - A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz


emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-
nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o
domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as
atravessa e as ultrapassa.

Artigo 5 - A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela


ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não
somente com as ciências humanas, mas também com a arte, a literatura, a poesia e a
experiência espiritual.

Artigo 9 - A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos,
às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.

Artigo 10 - Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras
culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.

Artigo 7 - A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia,
uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.)

Artigo 14 - Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da


visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a
barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecimento,
do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e
verdades contrárias às nossas.

O Biodireito e a Tendência da Constitucionalização do Direito Internacional:


A Dignidade da pessoa Humana como Valor Universal (7)

Conclusão

É indiscutível, nos dias atuais, que a humanidade está assistindo a uma verdadeira
“revolução” provocada pela biotecnologia e pela biomedicina, trazendo uma série de
questionamentos jamais pensados por qualquer ramo do conhecimento.

Questões como aborto, eutanásia, ortotanásia, clonagem humana, são assuntos que
envolvem vida e morte de seres humanos. Ética e direito, bioética e biodireito, direito
constitucional e direito internacional devem estar agindo em conjunto para que se
encontre o famigerado “ponto de equilíbrio” entre a ânsia pelo desconhecido, a vaidade
desenfreada e o senso comum daquilo que é ético, digno, justo.

Neste prima, questões éticas são suscitadas, aliadas às legislações nacionais e


internacionais para que se alcance uma espécie de “freio” à ciência para aquilo que for
considerado como ofensor à dignidade do ser humano.

Sabe-se que, o avanço científico sem reflexão ética é um salto no vazio. A ética, em
efeito, deve orientar o avanço científico e a harmonia entre eles.

A busca do “ponto de equilíbrio” entre o direito/ a ética ao conhecimento científico,


concretizado pelas descobertas científicas e, de outro lado, a dignidade da pessoa
humana aliada à proteção internacional dos direitos humanos é de extrema importância
para o futuro da humanidade. Encontrar esse tênue ponto de equilíbrio em face do
indivíduo, sociedade e meio ambiente, visando estabelecer os limites para a evolução
científica, paralelamente ao desejo de uma melhor qualidade de vida para a espécie
humana, inter-relacionada com a fauna, flora e o ecossistema, é a função reservada à
Bioética. E, o Biodireito apresenta-se diante da necessidade de o Direito entrar em ação.

Para que isso aconteça, a ética deve estar aliada ao direito, que lhe dará sustentação
legal para tanto. O Direito Constitucional deve estar em consonância com o Direito
Internacional, ou seja, a Constituição deve estar apta a reconhecer mecanismos
internacionais eficazes de proteção à dignidade da pessoa humana, à prevalência dos
direitos humanos, em relação ao prazer em testar seres humanos. A idéia de criar um
tribunal internacional de ética para cientistas, médicos, profissionais que atuam com
experiências em seres humanos, é que exista realmente aplicabilidade de regras e a
conseqüente coerção caso haja desrespeito aos preceitos éticos e jurídicos. As
declarações internacionais apresentadas neste trabalho, são um prenúncio disso.

O que se espera é que esta tendência da constitucionalização do direito internacional


possa, aos poucos, chegar na criação de um tribunal de ética para apreciar essas novas
situações que estão surgindo, envolvendo direito e ciência, ética e responsabilidade,
Biodireito e Bioética, para assegurar um bem maior, a ser tutelado não só pelo Estado,
mas pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos e da Bioética: a dignidade, a vida,
o valor, a essência da pessoa humana.

Como diz o direito nacional e internacional, confirmado pelo seqüenciamento do


genoma humano, só existe uma raça: a raça humana.

Células-tronco

As totipotentes e pluripotentes só são encontradas nos embriões.

Totipotentes (ou embrionárias) - Conseguem se diferenciar em todos os 216 tecidos


(inclusive a placenta e anexos embrionários) do corpo humano.
Pluripotentes – Diferenciam-se em quase todos os tecidos humanos, menos placenta e
anexos embrionários.

Multipotentes - Formam diversos tipos de tecidos, mas não espermatozóides e óvulos.

Oligopotentes - Diferenciam-se em poucos tecidos.

Unipotentes - Diferenciam-se num único tecido.

“O médico interfere no campo do sujeito, em seu corpo e, por vias indiretas não apenas
contingentes, em sua vida pessoal, suas emoções, sua “socialidade”, suas economias.
Por isso é a medicina uma profissão moral. A medicina não é uma ciência, campo de
exatidões, de estatísticas, de generalizações. É, na verdade, uma aplicação prática das
ciências médicas, fisiológicas e biológicas em alguém em particular, num tempo e local
particular.” (8)

Médicos têm obrigação moral na hora de “receitar remédios”

Em princípio, os remédios devem ser eficazes, eficientes e efetivos. Eficazes são os que
os que foram validados por método rígido e demonstraram que solucionam o problema
investigado (podem não chegar a 100%). Comete injustiça quem gasta dinheiro público
com um produto que não demonstra eficácia. Se os benefícios superarem os custos é
eficiente. Será efetivo se for eficiente em condições reais.

Algumas questões que precisam ser respondidas:

Primeira - Qual a responsabilidade do médico que implanta um número excessivo de


embriões, vindo a gerar uma gravidez múltipla que poderá gerar danos à saúde da mãe,
colocar em risco a sobrevivência dos fetos e trazer desequilíbrio financeiro e emocional
à família da gestante?

Segunda - No caso de gestação múltipla ocorrida pela implantação de grande quantidade


de embriões, vir a gerar problemas de saúde à mãe, poderão ser retirados alguns
embriões? Quais deles? Quem poderá decidir tal questão? Poderíamos usá-los como
fontes de células-tronco?

Terceira - Qual seria o procedimento cabível para a empresa que possui embriões e
material genético criopreservados em caso de falência, insolvência ou decisão de
término de atividades? Qual seria o destino de tal material?

Quarta - Que células-tronco parecem mais eficazes, eficientes e efetivas?

Doutrina Espírita e discriminação (9)

"Há necessidade do enfrentamento crítico da ideologia discriminatória de todo tipo. Nas


ciências biomédicas é emblemático o exemplo do estigma da lepra que aterroriza
pacientes da curável hanseníase.

"Enquanto não for desenvolvido um programa educativo adequado, hanseníase


continuará sendo sinônimo de lepra. Persistirão os graves problemas psicossociais por
ela acarretados". (10)

O Espiritismo, a despeito de ter surgido através do método científico, também é alvo da


postura discriminatória. Na origem do preconceito estão menos os argumentos
religiosos (filosóficos) e mais os instrumentos políticos.

Em alguns temas os argumentos “religiosos” são recusados e se procura refletir apenas


com os das ciências, incluindo as jurídicas. A discussão do início da vida e do aborto
são exemplos que exigem altos vôos da razão e do sentimento.

Apesar da alergia que o “antígeno religião” pode causar, gostaria de contar que ao
término da conferência pública com o médium Divaldo Franco, realizada no Grupo
Espírita André Luiz, no Rio de Janeiro, 26 de julho de 2007, o espírito assim se
pronunciou:

"Nós que nos comprometemos em tornar melhores os nossos próprios dias deveremos
avançar semeando bênçãos e distribuindo consolações. A humanidade necessita mais de
exemplos dignificantes do que de palavras retumbantes."

Destacamos o exercício prático da transformação pessoal e a ciência como promotora da


esperança.

O médico Arthur Conan Doyle, criador da série Sherlock Holmes, escreveu a "História
do Espiritismo", que foi traduzida por Júlio de Abreu Filho. O filosofo José Herculano
Pires é o autor do prefácio que nos fala da obra e do escritor de renome mundial: "O
médico Arthur Conan Doyle, o homem voltado para os problemas científicos, o
pensador, debruçado sobre as questões filosóficas, e o religioso, que percebe o
verdadeiro sentido da palavra religião - todos eles estão presentes nesta obra gigantesca,
suficiente para imortalizar um escritor que já não se houvesse imortalizado."

Da obra (Editora Pensamento, SP, SP, 500 p) vamos ficar com a página 174, 5º capítulo,
"A Carreira de D. D. Home", porque atende ao nosso objetivo. É um parágrafo onde o
médico escritor faz uma afirmação que comprovei ao longo da vida acadêmica. Sua
clareza nos obriga a citá-lo ad litteram:
"Os homens de ciência se dividem em três classes: os que absolutamente não
examinaram o assunto - o que não os impede de pronunciar opiniões muito violentas; os
que sabem que a coisa é verdadeira, mas temem confessá-lo; e, finalmente, a brilhante
minoria dos Lodges, dos Crookes e dos Lombrosos, que sabem que é verdade e não
temem proclamá-lo."

Para Ellen Gracie, presidente do STF, no zigoto a "pessoa humana não existe..." (Luiz
Carlos Formiga)

REFERÊNCIAS
(1) Ética, sociedade e terceiro milênio
http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=524
(2) O preparo para a reencarnação, de Jomar Teodoro Gontijo
http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=7961
(3) Anomalias fetais: abortar?
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.6.htm
(4) A política do aborto
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.2.htm
(5) Zigoto no banco dos réus?
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.16.htm
(6) Ética, Sociedade e Terceiro Milênio
http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=4981
(7) Carla Fernanda de Marco . O Biodireito e a Tendência da Constitucionalização do
Direito Internacional: A Dignidade da pessoa Humana como Valor Universal. 32
páginas.
http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=63
(8) O que espero de meus médicos. Revista de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem,
UERJ, RJ, vol. 4 (1): 89-102. Capítulo de "Dores, Valores, Tabus e Preconceitos".
Edições CELD. RJ.
http://www.sida-luz-positiva.org/
(9) Sobre o voto da ministra, em Espiritualidade e Sociedade e Jornal dos Espíritos,
“Dignidade para a mulher - É necessário restabelecer a igualdade entre cidadãos”
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos_D_L/formiga_Luiz_dignidade_mulher.htm
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.17.htm
(10) O poder das palavras
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/o-poder-das-palavras.html

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado.

... Manoel Philomeno de Miranda (espírito) / psicografia de Divaldo Franco

> Médiuns Irresponsáveis

Artigos

Associou-se indevidamente à pessoa portadora de mediunidade ostensiva a qualidade de


Espírito elevado. O desconhecimento do Espiritismo ou a informação superficial sobre a
sua estrutura deu lugar a pessoas insensatas considerarem que, o fato de alguém ser
possuidor de amplas faculdades medianímicas, caracteriza-se como um ser privilegiado,
digno de encômios e projeção, ao mesmo tempo possuidor de um caráter diamantino,
merecendo relevante consideração e destaque social. Enganam-se aqueles que assim
procedem, e agem perigosamente, porquanto, a mediunidade é faculdade orgânica, de
que quase todos os indivíduos são portadores, variando de intensidade e de recursos que
facultem o intercâmbio com os Espíritos, encarnados ou não. Neutra, do ponto de vista
moral, em si mesma, a mediunidade apresenta-se como oportunidade de serviço
edificante, que enseja ao seu portador os meios de auto-iluminar-se, de crescer moral e
intelectualmente, de ampliar os dons espirituais, sobretudo, preparando-se para enfrentar
a consciência após a desencarnação.

Às vezes, Espíritos broncos e rudes apresentam admiráveis possibilidades mediúnicas,


que não sabem ou não querem aproveitar devidamente, enquanto outros que se dedicam
ao Bem, que estudam as técnicas da educação das faculdades psíquicas, não conseguem
mais do que simples manifestações, fragmentárias, irregulares, quase decepcionantes.
Não se devem entristecer aqueles que gostariam de cooperar com a mediunidade
ostensiva, porquanto a seara do amor possui campo livre para todos os tipos de serviço
que se possa imaginar.

Ser médium da vida, ajudando, no lar e fora dele, exercitando as virtudes conhecidas,
constitui forma elevada de contribuir para o progresso e desenvolvimento da
Humanidade. Através da palavra, oral e escrita, quantos socorros podem ser
dispensados, educando-se as criaturas, orientando-as, levando-as à edificação pessoal,
na condição de médium do esclarecimento?! Contribuindo, nas atividades espirituais da
Casa Espírita, pela oração e concentração durante as reuniões especializadas de
doutrinação, qualquer um se torna médium de apoio. Da mesma forma, através da
aplicação dos passes, da fluidificação da água, brindando a bioenérgia, logra-se a
posição de médium da saúde. Na visita aos enfermos, mantendo diálogos confortadores,
ouvindo-os com paciência e interesse, amplia-se o campo da mediunidade de esperança.
Mediante o dialogo com os aturdidos e perversos, de um ou do outro plano da vida,
exerce-se a mediunidade fraternal da iluminação de consciência. Neste mister, aguça-se
a percepção espiritual e desenvolvem-se os pródromos das faculdades adormecidas, que
se irão tornando mais lúcidas, a fim de serem usadas dignamente em futuros
cometimentos das próximas reencarnações.

Ser médium é tornar-se instrumento; e, de alguma forma, como todos nos encontramos
entre dois pontos distantes, eis-nos incursos na posição de intermediários. Ter
facilidade, porém, para sentir os Espíritos é compromisso que vai além da simples
aptidão de contatá-los. Desse modo, à semelhança da inteligência que se pode
apresentar em indivíduos de péssimo caráter, que a usam egoística, perversamente, ou
como a memória, que brota em criaturas desprovidas de lucidez intelectual, e perde-se,
pela falta de uso, também a mediunidade não é sintoma de evolução espiritual.

Allan Kardec, que veio em nobre missão, Espírito evoluído que é, viveu sem apresentar
qualquer faculdade mediúnica ostensiva, enquanto outros indivíduos do seu tempo, que
exerceram a faculdade medianímica, por inferioridade moral, venderam os seus
serviços, enxovalharam-na, criaram graves empecilhos à divulgação da Doutrina
Espírita que, indevidamente, foi confundida com os maus exemplos desses médiuns
inescrupulosos e irresponsáveis. Certamente, o médium ostensivo, aquele que
facilmente se comunica com os Espíritos, quando é dotado de sentimentos nobres e
possui elevação, torna-se missionário do Bem nas tarefas a que vai convocado,
ampliando os horizontes do pensamento para a imortalidade, para a vitória do ser
libertado de todas as paixões primitivas.

Normalmente, e as exceções são subentendidas, os portadores de mediunidade


ostensivas, porque se encontram em provações reparadoras, falham no desiderato, após
o deslumbramento que provocam e a auto-fascinação a que se entregam por invigilância
e presunção. Toda e qualquer expressão de mediunidade exige disciplina, educação,
correspondente conduta moral e social do seu portador, a fim de facultar-lhe a sintonia
com Espíritos Superiores, embora o convívio com os infelizes, que lhe cumpre socorrer.
O médium irresponsável, porém, não é apenas aquele que, ignorando os recursos de que
se encontra investido, gera embaraços e perturbações, tombando nas malhas da própria
pusilanimidade, mas também, aqueloutros que, esclarecidos da gravidade do
compromisso, se permitem deslizes morais, veleidades típicas do caráter doentio,
terminando vitimados pelas obsessões cruéis. Todo aquele, portanto, que deseje
entregar-se ao Bem, na seara dos médiuns, conscientize-se da responsabilidade que lhe
diz respeito, e, educando a faculdade, torne-se apto para o ministério, servindo sempre e
crescendo intimamente com os olhos postos no próprio e no futuro feliz da sociedade.

... Roberto Valadão Fortes

> A Homossexualidade na perspectiva da ciência oficial, da sociedade, das religiões


tradicionais e do Espiritismo

Artigos
Niterói

Maio de 2008

Sumário

1. APRESENTAÇÃO

2. A HOMOSSEXUALIDADE E CIÊNCIA OFICIAL

3. A HOMOSSEXUALIDADE E SOCIEDADE

4. A HOMOSSEXUALIDADE E A BÍBLIA

5. A HOMOSSEXUALIDADE E AS RELIGIÕES TRADICIONAIS

6. A HOMOSSEXUALIDADE E O ESPIRITISMO

7. UMA TOMADA DE POSIÇÃO

8. CONCLUSÃO

9. REFERÊNCIAS
1. APRESENTAÇÃO

Infinita é a misericórdia de Deus. Prova disso reside no fato de não haver facultado ao
nobre produto da celulose qualquer senso crítico sobre o que é lançado em seu corpo
porque, do contrário, não poderia usá-lo para oferecer a minha modesta contribuição,
quer seja, revisão da pesquisa que realizei sobre a homossexualidade para a equipe de
atendimento fraterno do Grupo Espírita Leôncio de Albuquerque de Niterói, que se
reuniu para estudar tal tema no último domingo de agosto de 2007.

A pesquisa não foi aprofundada e a sua metodologia consistiu na revisão bibliográfica


de alguns escritos sobre a homossexualidade na perspectiva da Psiquiatria, da
Psicologia, da Psicanálise, da Antropologia, da Biologia, do Direito, da Teologia
(Católica, Anglicana e Luterana) e do Espiritismo. A mesma contempla, ainda, uma
seção relativa ao tratamento que a sociedade confere ao homossexual e outra onde
manifesto a minha humilde opinião sobre o tema, que é de inegável importância para os
trabalhos do atendimento fraterno.

Desde já esclareço que a imagem colocada no centro da capa trata de um quadro de


Abelardo, disponível no Museu de Imagens do Inconsciente, e representa a sombra, isto
é, o aspecto perigoso da metade escura e não admitida da personalidade que, apesar de
escondida atrás da máscara de ator que usamos, é mostrada fielmente pelo espelho, que
não lisonjeia.

Confesso que tal imagem contém provocação porquanto vislumbro na questão da


homossexualidade um típico tema que, invariavelmente, suscita reações que acabam por
revelar a real essência de quem busca analisá-la, ainda que tenha por bem afivelada a
máscara do personagem que deseja representar perante o mundo.
Peço perdão pelas falhas que serão detectadas no curso deste modesto estudo e que
persistem, malgrado meu sincero esforço de revisão.

2. HOMOSSEXUALIDADE E CIÊNCIA OFICIAL

Não há como tratar da homossexualidade sem se fazer uma breve exposição sobre a
sexualidade. E, na dicção dos especialistas,

Sexualidade é uma dimensão inerente da pessoa e está presente em todos os atos de sua
vida. É um elemento básico da personalidade, que determina ao indivíduo um modo
particular e individual de ser, manifestar, comunicar, sentir, expressar e viver o amor.
Sexualidade é auto-identidade, é a própria existencialidade (MAIA, 1994, p. 209, apud
Ivo, Pelizaro, Zaleski).

Segundo Gibson Bastos (2006), a sexualidade é tão complexa que os estudos nessa área
a definem como dotada de quatro elementos: sexo biológico, identidade de gênero, o
papel sexual e orientação sexual.

O sexo biológico é definido a partir da percepção dos órgãos reprodutores do indivíduo


(Bastos, 2006). A identidade de gênero é a identificação psicológica que o indivíduo
consegue ter em relação ao seu sexo biológico. É a não identificação com o seu sexo
biológico que, em regra, compele os travestis e os transexuais a mudarem de aparência
ou a própria anatomia.(Bastos, 2006).

Não me parece demasiado explicar que a mudança da própria anatomia em virtude da


não identificação com o seu sexo biológico foi objeto de regulamentação pelo Conselho
Federal de Medicina, consoante se infere de sua Resolução CFM nº 1.652/2002. É a
chamada de cirurgia de transgenitalismo e tem o propósito terapêutico específico de
adequar a genitália ao sexo psíquico. Destina-se ao paciente transexual portador de
desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e
tendência à automutilação ou mesmo ao auto-extermínio.

Pelo que se infere do conteúdo do referido ato normativo, a cirurgia de transgenitalismo


não depende apenas da vontade do paciente. Depende, também, da avaliação de equipe
multidisciplinar constituída por médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista,
psicólogo e assistente social, obedecendo, ainda, os critérios a seguir definidos, após, no
mínimo, dois anos de acompanhamento conjunto: 1) Diagnóstico médico de
transgenitalismo; 2) Maior de 21 (vinte e um) anos; 3) Ausência de características
físicas inapropriadas para a cirurgia.

Também não me parece demasiado explicar, seguindo a trilha aberta por Júlio Cezar
Meirelles Gomes e por Lúcio Mario da Cruz Bulhões, nos autos do Processo Consulta
nº 39/97-C, que o transexualismo deve ser enquadrado no âmbito das intersexualidades
não-orgânicas e que não se confunde com a homossexualidade porque se caracteriza
pela repulsa, pela rejeição à própria genitália semelhante ao sexo desejado e que gera o
desconforto supremo da inadequação entre partes vivas, a ponto do indivíduo ficar,
inclusive, “propenso ao auto-exterminio em face do grave conflito entre fenótipo e
consciência de opção sexual”.

A cirurgia de transgenitalismo regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina e as


suas repercussões sociais não foram olvidadas pelo Direito. Tanto é assim que foi
aprovado o enunciado a seguir na IV Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de
Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal e que contou com a participação de
renomados professores e profissionais de Direito de todas as áreas e de todas as regiões
do país:

276 – O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por


exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os
procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a conseqüente
alteração do prenome e do sexo no Registro Civil.

O papel sexual é outro elemento da sexualidade digno de consideração. Consiste no


conjunto de normas estabelecidas pela sociedade, através de seus hábitos e costumes,
definidoras dos comportamentos aceitáveis para um homem e para uma mulher (Bastos,
2006).

A orientação sexual “é caracterizada por uma duradoura atração emocional, romântica,


afetivo-sexual que um indivíduo sente por outro” (Bastos, 2006, p. 20). São três as
orientações sexuais admitidas pela ciência: heterossexualidade, homossexualidade e
bissexualidade.
Gibson Bastos (2006) destaca que a orientação sexual não se confunde com o
comportamento sexual. A orientação sexual refere-se ao desejo do indivíduo no campo
afetivo-sexual. Já o comportamento sexual reflete o modo como o indivíduo lida com o
impulso sexual, impulso este variável de pessoa para pessoa.

É possível que um heterossexual (orientação sexual) tenha comportamento homossexual


(comportamento sexual) ou mesmo que um homossexual (orientação sexual) tenha
comportamento heterossexual (comportamento sexual). E mais. É possível ainda que
determinada pessoa, por não aderir ao papel sexual imposto pela sociedade, receba a
pecha de homossexual, apesar de heterossexual ou mesmo a pecha de heterossexual,
malgrado homossexual.

Explica Silvério da Costa Oliveira (2001) que:

O médico húngaro Karoly Benkert introduziu o termo "homossexualismo" e trouxe


neste ano de 1869, o homossexualismo para a condição de doença mental de natureza
congênita e que requer um tratamento.

Foi, de certa forma, um avanço porque tal médico pretendia proteger os homossexuais
de leis que criminalizavam a homossexualidade com pena, inclusive, como no caso da
Alemanha, de morte (Oliveira, 2001).

Tanto é assim que escreveu uma carta ao Ministro da Justiça alemão requerendo a
revogação da lei que criminalizava a homofilia, sem obter sucesso.

Mas, conforme Lucineide Picolli (2005),

Em 1974, a Associação Americana de Psiquiatria decidiu retirar o homossexualismo da


lista das doenças mentais, declarando: “A homossexualidade é uma forma de
comportamento sexual e, como as outras formas de comportamento sexual, que não
constituem distúrbios psiquiátricos, ela não se inclui na lista das doenças mentais.

Essa atitude foi apoiada pela Associação de Psicologia Americana em 1975. A


Organização Mundial de Saúde, em 1993, retira a homossexualidade de suas listas de
doenças mentais por não mais considerá-la como um desvio ou um transtorno sexual.
(Bastos, 2006).

O Conselho Federal de Medicina brasileiro, em 1985, retira a homossexualidade do rol


de doenças psiquiátricas (Cruz, 2004).

O Conselho Federal de Psicologia, em 1999, editou a Resolução CFP N° 001/99 com o


escopo de estabelecer normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da
orientação sexual, destacando, já nos seus consideranda, que a “homossexualidade não
constitui doença, nem distúrbio e nem perversão” e que “a forma como cada um vive
sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua
totalidade”.

Como conseqüência lógica da linha de entendimento acima exposto, temos esta mesma
Resolução CFP Nº 001/99, em seu art. 3º, parágrafo único, vedando a colaboração dos
psicólogos em eventos e serviços que proponham tratamento e cura da
homossexualidade.

Consolidando a perspectiva inaugurada pelo retrocitado ato normativo, o Conselho


Federal de Psicologia fez constar no Código de Ética Profissional do Psicólogo,
aprovado pela Resolução CFP nº 010/05, de 21 de julho de 2005, a vedação do
Psicólogo de induzir a orientação sexual dos seus pacientes.

É o que se infere do seguinte dispositivo:

Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:

(omissis)

b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de


orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas
funções profissionais;

Alípio de Sousa Filho (2003), professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais


da UFRN, com doutorado em Sociologia pela Universidade de Sorbonne (Paris), após
analisar a homossexualidade na perspectiva da Psicanálise, asseverou que:

Desde Freud e sua teoria do inconsciente, seguido por Lacan, sabemos, se há alguma
razão para se falar de causa, que se aceite que todo desejo é causado e, mais ainda, que
todo desejo é uma causa: a causa do sujeito do desejo, isto é, aquilo pelo que cada um se
empenha, embora sem saber. Deve-se saber, portanto, que a causa da homossexualidade
é a mesma da heterossexualidade e da bissexualidade: a escolha inconsciente do objeto
do desejo.

A importância da teorização de Freud está em desnaturalizar a sexualidade humana,


demonstrando que todas as escolhas sexuais, como produções de desejo, seguem
igualmente determinações inconscientes. Freud consegue isso demonstrando – a partir
de material clínico observado – que a sexualidade humana, buscando o prazer, afasta-se
do modelo da vida sexual animal, “perverte” (altera, imprime novo modo de ser) à
função da procriação animal. Ensina-nos Freud, a sexualidade dos seres humanos é
múltipla, variegada, desordenada, caótica. Nessa esfera, nenhuma escolha é mais natural
ou normal do que outra, melhor, pior, superior, inferior. Tratando-se de que não inflija
sofrimento a ninguém, não constitua violência sobre o outro, agressão à dignidade
humana, não se pode acusar a homossexualidade de nenhuma dessas coisas.

O retromencionado professor ainda ensinou que:

Uma das mais importantes contribuições da antropologia ao estudo da humanidade foi


conseguir demonstrar que a sexualidade também se inscreve no rol de todas as criações
humanas, constituindo mais um objeto social da ordem da linguagem, da cultura, do
simbólico, não sendo a anatomia dos sexos nenhuma causa do destino sexual dos seres
humanos. A idéia de um destino biológico como definidor do gênero sexual não se
sustenta à menor prova do confronto com as descobertas da pesquisa etnológica. Depois
de Marx, Durkheim, Freud, Claude Lévi-Strauss, Jacques Lacan, Simone de Beauvoir,
Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Françoise Héritier, Elisabeth Badinter, entre outros,
falar de destino biológico do desejo sexual é ignorância, é cair no ridículo e atestar
incompetência em conhecimento teórico. (2003)

O teólogo católico canadense Gregory Baum (2007), em artigo sobre


homossexualidade, corrobora a linha de raciocínio acima exposta ao dizer que:

Em primeiro lugar, as ciências psicológicas e antropológicas descobriram que a


orientação homossexual não é nem uma doença, nem uma perversão da natureza, mas
uma variante absolutamente natural que diz respeito a uma minoria de homens e
mulheres.

Durante os anos sessenta e setenta, organismos profissionais, aí compreendidas


associações de médicos, mudaram, por isso, seu juízo negativo com respeito ao
fenômeno homossexual.

Diante das novas perspectivas adotadas pela ciência oficial, há relato na literatura
especializada de esforços para que os profissionais de saúde passassem a utilizar o
termo homossexualidade, em substituição da palavra homossexualismo, vez que o
sufixo "dade" significa modo de ser ou de se comportar, e o sufixo "ismo", do ponto de
vista médico, significa doença (Ivo; Pelizaro; Zaleski, 2002). Ou seja, com o progresso
da ciência, a palavra homossexualismo tornou-se obsoleta. Mais do que isso, a palavra
homossexualismo tornou-se incorreta.

A ciência oficial, sem sucesso, buscou traçar a causa da homossexualidade, esquecendo-


se, como bem lembrou Gibson Bastos (2006), de traçar uma explicação para a
heterossexualidade.

Com relação a essa preocupação em identificar a causa da homossexualidade, Alípio de


Sousa Filho (2003) destacou que:

Relacionar a homossexualidade a causas biológicas (disfunção hormonal), psicológico


(traumas infantis), social (isolamento, ausência feminina) ou a outras causas é dar status
científico ao preconceito moralista – fundamentalista – que quer fazer crer a todos que a
única expressão normal da sexualidade humana seria a heterossexualidade, porque seria
sua forma natural. Hoje, não se pode mais aceitar a continuidade da aberração dessas
explicações como fundamento para “teses científicas” ou como fundamento para a
instituição do direito, sabendo-se que até aqui, em muitas sociedades, os homossexuais
continuam excluídos da cidadania plena.

Para a Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise, a homossexualidade não constitui um


transtorno sexual. Constitui, sim, uma das formas naturais de manifestação da
identidade do indivíduo. Por via de conseqüência, qualquer tentativa de um Psiquiatra,
Psicólogo ou mesmo Psicanalista voltada à “cura” da homossexualidade configura
ofensa aos Códigos de Éticas que regem cada uma dessas categorias profissionais
(Bastos, 2006).

Conforme Drauzio Varella, os “Desejos sexuais percorrem circuitos de neurônios que


fogem do controle consciente”. Tal afirmativa foi construída a partir de uma pesquisa
realizada pela Academia Austríaca de Ciências, com drosófilas, as mosquinhas que
sobrevoam bananas maduras e que, durante muito tempo, foram utilizadas pela Biologia
para compreender, inclusive, a genética humana.

Segundo o renomado médico, os austríacos transplantaram a versão masculina do gene


fru das drosófilas machos para um grupo de fêmeas. E, num experimento paralelo, a
versão feminina do mesmo gene para um grupo de machos. Com isso, as fêmeas que
receberam a versão masculina de fru, quando levadas à presença de outra fêmea,
adotavam o ritual masculino de acasalamento e quando colocadas em ambientes com
moscas de ambos os sexos, perseguiam sexualmente outras fêmeas, desprezando o sexo
oposto. Já os machos que receberam a versão feminina de fru tornaram mais passivos,
desinteressados pelas fêmeas e atraídos por outros machos.

Assim, de forma soberba, a Biologia demonstrou que um único gene é capaz de


controlar um comportamento de alta complexidade.

Drauzio afirma ainda que “É muito provável que o comportamento sexual esteja sob o
comando do que chamamos de programa genético aberto”, explicando que

Programas abertos são aqueles em que o catálogo de instruções impresso no DNA


admite, dentro de certos limites, a inclusão de informações colhidas por aprendizado,
condicionamento ou outras experiências.

É dado um exemplo para compreendermos o que seja programa genético aberto:

(...) se vedarmos o olho esquerdo de uma criança ao nascer, ao retirarmos a venda três
meses mais tarde ela terá perdido definitivamente a visão desse olho, embora enxergue
normalmente com o outro. O programa genético responsável pela distribuição dos
neurônios da retina no cérebro precisa interagir com a luz para incorporar as
informações necessárias ao desenvolvimento pleno da visão.

Para a Biologia Moderna, continua explicando Drauzio, o “homem é resultado de uma


interação complexa entre o programa genético contido no óvulo fecundado e o impacto
que a experiência exerce sobre ele”.
Desse modo, conclui Drauzio que “Considerar a orientação sexual mera questão de
escolha do indivíduo é desconhecer a natureza humana”.

Corroborando as palavras de Drauzio Varella, temos um artigo publicado na


FolhaOnline de 10/12/2007 relatando que cientistas da Universidade de Illinois (EUA),
da Universidade de Borgonha (França) e do Centro de Genômica de Lausanne (Suíça)
identificaram um gene que transforma a mosca "drosophila" macho em bissexual.

Segundo foi registrado no referido artigo, os experimentos comprovaram que quando a


produção de uma proteína de transporte específica das células gliais é suspensa numa
mosca macho, o inseto deixa de distinguir fêmeas de machos durante o cortejo.

O jornalista Ricardo Bonalume Neto conta-nos que estudo liderado pela pesquisadora
Han Kyung-an, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA) demonstrou que
machos de drosófilas submetidos a uma constante inebriação com etanol ficaram mais
excitados e desinibidos sexualmente, a ponto de não só voarem atrás de fêmeas, mas
também de outros machos.
O estudo foi realizado nas moscas drosófilas, explicou o aludido colunista diante da
“necessidade de estudos em modelos animais” para melhor compreensão da relação
causal do álcool com excitação sexual e comportamento sexual desinibido em humanos.

Paulo da Silva Neto Sobrinho (2007), em texto que aborda a homofilia, cita o livro
Biological Exuberance – Animal Homosexuality and Natural Diversity (Exuberância
Biológica – Homossexualidade Animal e Diversidade Natural), do biólogo norte-
americano Bruce Begamihl, lançado em 1999, onde são descritos casos de
homossexualidade entre 450 espécies de animais, em sua maioria mamíferos e aves.

Para Paulo da Silva Sobrinhon (2007), tal livro comprova que a homossexualidade
acontece na natureza, “o que, para nós, justifica a mudança de atitude em relação aos
homossexuais que existem no nosso meio”.

O Direito, como ciência, também presta a sua colaboração para compreensão da


homossexualidade. Ensina Caio Mário da Silva Pereira, Professor Emérito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Minas Gerais,
que:

Não se pode negar que a vida em casal, composta de um homem e uma mulher, não é a
única forma de vida comunitária. O casamento, até então, tem se mostrado como a mais
organizada e freqüente, mas, nem por isto, pode-se desconhecer como válida a
convivência entre pessoas do mesmo sexo, a qual dia a dia se torna mais freqüente.
(2007, p. 65)

Nessa mesma linha é o seguinte trecho extraído do voto do Ministro do Supremo


Tribunal Federal Gilmar Ferreira Mendes, quando Ministro do Tribunal Superior
Eleitoral, prolatado nos Embargos de Declaração em Recurso Especial Eleitoral nº
24.564/PA:

É um dado da vida real a existência de relações homossexuais em que, assim como na


união estável, no casamento ou no concubinado, presume-se que haja fortes laços
afetivos.

Assim, entendo que os sujeitos de uma relação estável homossexual (denominação


adotada pelo Código Civil alemão), à semelhança do que ocorre com os sujeitos de uma
união estável, de concubinado e de casamento, submetem-se à regra de inexigibilidade
prevista no art. 14, §7º, da Constituição Federal.

E mais. Dita o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

(omissis)

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos


que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa;
(omissis)

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação


sexual.

Para Leonardo Barreto Moreira Alves, Promotor de Justiça de Minas Gerais e Membro
do Instituto Brasileiro de Direito de Família, tais dispositivos inauguram um conceito
legal que definitivamente reconhece a união homoafetiva (entre mulheres e, pelo
princípio constitucional da igualdade, também entre homens) como entidade familiar, o
que implica na perda de interesse na aprovação de qualquer projeto de lei que venha a
disciplinar esta matéria e que tal união não constitui sociedade de fato (e, sim, uma
entidade familiar), daí porque sua apreciação deve se dar sempre na Vara de Família,
nunca em uma Vara Cível.

Nota-se, portanto, que a ciência oficial, por meio da Psiquiatria, da Psicologia, da


Psicanálise, da Antropologia, da Biologia e do Direito, confere à homossexualidade a
consideração que merece toda forma legítima de manifestação da sexualidade e, por
conseguinte, de auto-identidade do indivíduo.

3. A HOMOSSEXUALIDADE E A SOCIEDADE

Em artigo que analisa a homossexualidade na perspectiva das pastorais pentecostais,


Marcelo Natividade (2006) noticia que em agosto de 2004 começou a tramitação na
Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro do projeto de lei do Deputado
Estadual Édino Fonseca que, em síntese, cria um programa de auxílio às pessoas que,
voluntariamente, optarem pela mudança da homossexualidade para a
heterossexualidade.

Em outras palavras, o projeto de lei pretende financiar a cura da homossexualidade. Isso


demonstra que o preconceito está tão arraigado na sociedade que é capaz de
institucionalizar a cura de uma realidade que, segundo diversos ramos científicos, não é
sequer doença e, sim, um modo de ser.

Pior é que essa institucionalização da cura da homossexualidade, com dinheiro público,


além de atropelar os Códigos de Ética das profissões atinentes ao campo psi
(Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise), desconsidera, como bem lembrado por Gibson
Bastos (2006), que os métodos destinados à modificação da orientação sexual não são
reconhecidos como eficazes pela Organização Mundial de Saúde, pelos Conselhos de
Medicina e pelos Conselhos de Psicologia porque, no máximo, conseguem é levar o
indivíduo a reprimir seu desejo, gerando conflitos e sofrimentos.

A homossexualidade, por mais de uma década, não é tida como doença ou desvio pela
ciência oficial, não havendo espaço para se falar, seriamente, em cura. Assim sendo, os
tratamentos terapêuticos aceitos pelos órgãos oficiais que regulam esse tipo de serviço
são aqueles destinados à identificação da verdadeira orientação sexual e dos caminhos
para ser feliz com ela (Bastos, 2006).

John Evans, citado por Gibson Bastos (2006), relata que depois de trinta anos de
trabalhos voltados à cura da homossexualidade constatou que tais esforços geravam
depressão e suicídio. Esse relato é importante porque veio de um dos fundadores do
grupo LIA, organização estadunidense criada com a proposta de curar a
homossexualidade.

A intolerância em relação aos homossexuais parece não conhecer fronteiras. Segundo


Vera Lúcia Franco (2004):

um panorama mundial mais ou menos atualizado sugere que o homossexualismo é


ainda ilegal em 74 países, 53 dos quais são ex-comunistas, ex-colônias britânicas ou de
cultura predominantemente islâmica. Em 56 países existem movimentos gays, mas só
em 11 deles a população é favorável a direitos iguais para todos. Em apenas seis países
o governo protege os homossexuais contra a discriminação.

A Assessoria de Imprensa do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde


certa vez noticiou que:

Cerca de 80 países, principalmente na Ásia, África, América Central e Caribe,


condenam a homossexualidade. A penalidade mais comum é a prisão, que pode passar
de dez anos, como em Cuba, Malásia, Nigéria, Índia, Síria, Nicarágua e Líbia. Em
outras nações, gays podem ser condenados a prisão perpétua, a exemplo de Uganda. E
em países mais radicais, como Afeganistão, Irã e Arábia Saudita, a punição é a pena de
morte. Segundo o site, mesmo em países cujos códigos penais não punem a
homossexualidade, como o Brasil, a homofobia está presente no cotidiano das pessoas.

O caso de maior repercussão nos últimos anos, que mereceu destaque na imprensa
nacional e na internacional, foi o de Édson Néris da Silva, morto em fevereiro de 2000.
Édson e o amigo Dario Pereira Netto estavam andando de mãos dadas quando foram
abordados por um grupo de 20 skinheads, em uma praça do Centro de São Paulo. Os
dois tentaram fugir, mas somente Pereira conseguiu escapar. Édson foi espancado com
socos e pontapés. Testemunhas disseram à polícia que a agressão durou cerca de 20
minutos. Depois disso, o grupo foi embora demonstrando calma. Policiais prestaram
atendimento a Édson. Ele sofreu fratura de crânio, hemorragia interna, ferimentos no
rosto, braços e pernas. Morreu logo depois de chegar ao hospital.

Conforme registrado por Gibson Bastos (2006), não são raros os casos em que a própria
família do homossexual toma contra ele uma atitude agressiva. E mais. Nos Estados
Unidos, cerca de 26% dos jovens homossexuais são expulsos de casa.

Luiz Mott (2006) - Mestre em Etnologia pela Universidade de Sorbonne (Paris), Doutor
em Antropologia pela Unicamp e Professor Titular do Departamento de Antropologia
da Universidade Federal da Bahia - assim descreve a realidade do homossexual na
sociedade brasileira:

Infelizmente, verdade seja dita, somos obrigados a reconhecer que de todas as chamadas
"minorias sociais", no Brasil, e na maior parte do mundo, os homossexuais continuam a
ser as principais vítimas do preconceito e da discriminação. Todos nós já ouvimos mais
de um pai declarar: "prefiro ter um filho ladrão do que homossexual"! E não nos acusem
de apelar para o vitimismo, pois os dados comprovam inegavelmente que, de todas as
minorias sociais, os homossexuais são os mais vulneráveis: em Brasília, 88% dos jovens
entrevistados pela Unesco consideram normal humilhar gays e travestis, 27% não
querem ter homossexuais como colegas de classe e 35% dos pais e mães de alunos não
gostariam que seus filhos tivessem homossexuais como colegas de classe. Mais grave
ainda: no Brasil, um gay, travesti ou lésbica é barbaramente assassinado a cada dois
dias, vítima da homofobia.

Confirmando o discurso acima transcrito, diz o professor Alípio de Sousa Filho (2003)
que:

Dentre as várias expressões da sexualidade humana, a homossexualidade tem sido


historicamente e incomparavelmente a que mais ataques tem sofrido dos
fundamentalistas em religião, em moral, em ciência, em direito. Variando a intensidade
de acordo com as épocas e com as sociedades, o preconceito em torno da
homossexualidade sempre esteve presente com maior ou menor importância na vida de
diversas sociedades conhecidas, registrando-se poucas exceções históricas e
etnográficas.

De fato, o processo histórico permite constatar que o relacionamento afetivo-sexual


entre pessoas do mesmo sexo, no transcorrer dos séculos:

Já foi considerado pecado, sem-vergonhice, crime e doença, e, na atualidade, o modo de


ver a relação homossexual ainda apresenta muito destas qualificações, advindo disto um
grande preconceito, mesmo que para a psicologia esta seja considerada uma forma de
orientação do desejo, assim como é a heterossexualidade e a bissexualidade (Toledo,
2006).

Lamentavelmente, no Brasil, autoridades de grande relevo e membros de sua elite social


têm produzido discurso de ódio, desprezo e estímulo à violência contra os
homossexuais. É o que se infere do trecho abaixo, extraído de estudo realizado por Luiz
Mott (2006):

Na Universidade de Santa Cruz, RS, foram distribuídos panfletos e adesivos com a


seguinte palavra de ordem: "Mate um homossexual!". Em um dos programas de maior
audiência popular, quando ainda na TV Record (da Igreja Universal), a apresentadora
Ana Maria Braga divulgou a seguinte piadinha: "Você sabe qual é a maior tristeza de
um pai caçador? Ter um filho veado e não poder matar! ". O bispo de Erechim, RS, D.
Girônimo Anandréa declarou: "Os homossexuais nunca constituíram uma família. E
nem vão constituí-la no futuro. O bem comum da sociedade requer a desaprovação do
seu modo de agir". O pastor Túlio Ferreira, da Assembléia de Deus de São Paulo, disse:
"O homossexualismo é uma anormalidade, uma profanação do nome de Deus, pois a
homossexualidade é uma maldição divina e por isto todos os homossexuais serão
conduzidos pelo diabo à perdição eterna". Dom Eusébio Oscar Scheid, ex-Arcebispo
Metropolitano de Florianópolis e atual do Rio de Janeiro, declarou: "O
homossexualismo é uma tragédia. Gay é gente pela metade. Se é que são gente!". O
beneditino D. Estêvão Bittencourt, do mosteiro do Rio de Janeiro, disse: "O
homossexualismo é contra a lei de Deus e contra a natureza humana. Mãe lésbica
deveria perder o direito de educar o seu filho. A justiça não deve dar a guarda da criança
a uma mãe lésbica". Carecas de Santo André, SP, distribuíram panfletos com a seguinte
palavra de ordem: "Destrua os homossexuais!". E alguns meses depois, em janeiro de
2000, dezoito skeen-heads trucidaram um jovem gay, Edson Néris, na Praça da
República. Espumando de ódio, num programa de TV, o deputado paulista Afanazio
Jazadi declarou: "Todo homossexual deveria ser morto!". Policiais do 16º Batalhão da
PM de Salvador proclamaram: "A ordem é metralhar os travestis!".

Recentemente, o jogador do São Paulo Richarlyson, conforme reportagem de Ricardo


Viel (2007), ajuizou ação criminal contra o dirigente do Palmeiras, que, em programa de
televisão, insinuou que o atleta era homossexual.

Para surpresa de todos, o juiz da 9ª Vara Criminal de São Paulo, Manoel Maximiano
Junqueira Filho, arquivou o processo com a assertiva de que "o futebol é jogo viril,
varonil, não homossexual" e que o jogador, caso resolvesse assumir a sua
homossexualidade, deveria abandonar os gramados, já que “não poderia jamais sonhar
em vivenciar um homossexual jogando futebol”.

Triste é constatar que tamanha demonstração de sentimentos anticristãos advém da elite


social de um País “escolhido” para ser a Pátria do Evangelho.

Sem muito esforço se chega à conclusão de que a psicosfera do planeta está


profundamente impregnada de homofobia, isto é, “todo tipo de comportamento que
discrimina, oprime e leva à morte as pessoas que assumem que são homossexuais”
(Bastos, 2006, p. 84). Nas palavras da UNAIDS, a “homofobia confere à
heterossexualidade o monopólio da normalidade, gerando e incentivando o menosprezo
contra aqueles que divergem do modelo de referência”.

Luiz Mott (2006), ao analisar as primeiras leis brasileiras, destaca que

Salta aos olhos, mesmo dos mais intolerantes, o absurdo de tanta severidade e
indignação moral contra o homoerotismo, pois condutas anti-sociais extremamente
ameaçadoras, como o estupro, a violência contra menores, o canibalismo e até o
matricídio, eram consideradas crimes menos graves do que o amor unissexual.

Completando o panorama social até agora descrito, Gibson Bastos (2006) afirma que

A Igreja, através de seus representantes, já chegou a considerar a masturbação, o coito


interrompido, todas as formas de sexo, e a relação entre pessoas do mesmo sexo, como
comportamentos piores do que o incesto, o estupro e o adultério, por não atenderem à
reprodução (p. 71).

Para não restar dúvida sobre o papel da Igreja na construção do ódio contra os
homossexuais, há as seguintes palavras de Edênio Valle - Sacerdote católico, Psicólogo,
Assessor Psicológico da CNBB e de vários organismos da Igreja Católica no Brasil,
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo:

A pesada marginalização e desprezo a que a homossexualidade foi submetida por


séculos e séculos era um fenômeno cultural mais vasto que a Igreja. Esta, no entanto,
esteve diretamente envolvida na milenar opressão coletiva exercida sobre o grupo
homossexual.
A psicóloga e terapeuta familiar Jerusa Figueiredo Netto, citada pelo jornalista Rodrigo
Hilário (2002) em artigo publicado no CorreioWeb, afirma que, apesar do avanço dos
costumes, o inconsciente coletivo é preconceituoso com a homossexualidade e com as
famílias lideradas por mulheres, sendo a aceitação da sociedade dessas realidades
aparente e, portanto, falsa.

Com base em informações extraídas da genética e das pesquisas de Jung, Joanna de


Angelis explica que “inconsciente coletivo seria, então, o registro mnemônico das
reencarnações anteriores de cada ser, que se perde na sua própria historiografia” (2002,
p. 175).

Os séculos de cultivo do odio em relação àqueles que não se amoldaram ao padrão


imposto pela maioria heterossexual contribuíram decisivamente para que florescesse e
agigantasse um inconsciente coletivo severamente contaminado com a homofobia, que
se manifesta nas mais variadas gradações, variando da forma mais grosseira à mais sutil.

Tal inconsciente coletivo, herança de séculos de intolerância e ódio com os ditos


diferentes, influencia a psicosfera do planeta e, por via de conseqüência, todos aqueles
que nela residem, incluindo os que labutam nas lides cristãs.

Esse clima de hostilidade é lamentável porquanto gera para os homossexuais enormes


dificuldades para desenvolvimento dos seus valores intelectuais e morais tão-somente
porque não se enquadraram ao padrão de normalidade imposto pela maioria
heterossexual (Bastos, 2006).

Muitos pais, interagindo intensamente com a psicosfera do globo, esquecem de ensinar


aos seus filhos os passos para se tornarem homens de bem. Querem que sejam homens
do mundo. E, assim sendo, acabam desejando que seus filhos sejam legítimos
representantes da heterossexualidade.

Isso ocorre nem sempre porque queiram poupar os filhos de qualquer sofrimento.
Conforme desabafo de Gibson Bastos (2006, p. 134):

É uma dura verdade, às vezes, fazemos dos filhos apenas motivo do nosso orgulho e da
nossa vaidade. Alegamos que só queremos que eles não sofram, mas na maioria das
vezes, somos nós que não suportamos ver nossos sonhos desfeitos.

Parece que muito da revolta ou tristeza dos pais em relação à homossexualidade do filho
decorre, por assim dizer, do fato deles não encontrarem no seu sucessor direto o tão
sonhado espelho para reprodução perene dos sentimentos de vaidade e de orgulho
fincados em suas almas.

Em outras palavras, o desespero dos pais em razão da homossexualidade dos filhos


revela, em verdade, não só a dificuldade de aceitação da diversidade como também a
dificuldade de aceitação dos filhos como entes dotados de autonomia ou mesmo de alma
e, portanto, dotados de necessidades que os singularizam e que influenciam o exercício
do livre arbítrio.

Gibson Bastos aponta alguns fatores geradores do preconceito e da homofobia. O


primeiro fator residiria no fato da homossexualidade abalar a figura do homem
heterossexual como sinônimo de poder, na medida em que o homossexual masculino é
visto como uma figura frágil e doente e o homossexual feminino é visto como aquele
que dispensa o homem do processo de busca do prazer sexual.

Outro fator apontado pelo citado autor refere-se ao fato da maioria dos homófobos
possuírem, em verdade, desejos homossexuais reprimidos. Assim, com o apoio do
superego de todo o coletivo da sociedade - que vê na homossexualidade uma doença,
uma perversão, algo antinatural e anormal -, tais homófobos projetam os seus desejos
homossexuais reprimidos contra a figura social do homossexual, agredindo-a de
diversas formas para reprimir e punir as suas verdadeiras tendências.

A baixa auto-estima é apontada também como uma das causas do preconceito contra a
homossexualidade porque as pessoas acometidas desse mal aproveitam-se do desprezo
que a maioria da sociedade tem para com os homossexuais para exteriorizar a sua
necessidade de inferiorizar outras pessoas.

O discurso das religiões ortodoxas no sentido de que a homossexualidade é uma


situação contrária à natureza e às Leis de Deus é apontado como um dos fatores da
homofobia por funcionar como senha que ajuda na propagação da intolerância contra os
homossexuais.

Tudo isso revela que a falta de conhecimento sobre a homossexualidade, a imposição da


heterossexualidade como um único padrão de orientação sexual a ser aceita pela
sociedade, a dificuldade em aceitar a própria homossexualidade, a baixa-auto estima e o
interesse de alguns grupos em se manter no poder acarretam a condenação e punição –
mediante exclusão e penas que incluem até a de morte - daqueles que procedem de
forma diversa da determinada pelo grupo.

Em síntese, tudo indica que o avanço experimentado pela ciência oficial não provocou
maior impacto sobre a sociedade deste planeta, marcada pelo preconceito, pelo ódio,
pelas guerras e, por via de conseqüência, pela dor.

4. A HOMOSSEXUALIDADE E A BÍBLIA

A Bíblia, consoante se infere da própria vivência social, tem sido enfaticamente


utilizada por diversas religiões e seitas cristãs para justificar a perseguição aos
homossexuais. Segundo leitura que fazem da Bíblia, a homossexualidade, por violar a
ordem natural das coisas, ofende a Deus e a própria moral, constituindo uma perversão
que não pode ser tolerada.

Após minudente estudo sobre a homossexualidade na perspectiva do segmento religioso


que se autoproclama evangélico, Marcelo Natividade (2006) destacou que:

A análise mostrou como evangélicos proferem um discurso que afirma a exterioridade


da homossexualidade, rejeitando concepções deterministas e afirmando a possibilidade
de reversão por meio da conversão. As acusações morais subjacentes ao discurso sobre
a cura revelam um pânico moral insuflado pelo cultivo de uma imagem negativa.
Homossexuais são vistos como "promíscuos", "pedófilos" e sujeitos que "espalham
doenças", portanto indivíduos perigosos à coletividade. Também foi possível perceber
uma apropriação de noções oriundas de outros saberes institucionalizados, a partir da
veiculação de imagens da homossexualidade como "doença", "vício", "perversão" ou
"degeneração". Carrara e Vianna (2004) chamam a atenção no sentido de que essas
imagens se tratam de representações da homossexualidade constituintes dos saberes
biomédicos do início do século passado. A problematização acerca da "gênese" da
homossexualidade - atrelada a práticas visando a uma reestruturação das condutas
sexuais - revelou uma preocupação exaustiva com as sexualidades periféricas. Seja
como for, a homossexualidade não se localiza fundamentalmente no orgânico, mas nas
memórias e nas experiências vividas, o que sugere a interpenetração entre psicologia e
religião (Semán, 2000). A noção de cura e o ideal de restauração sexual buscam
construir um sujeito reflexivo e implantar uma ética sexual. O impulso homossexual
pode emergir sob a forma de tentações e provações, mas é preciso uma verdadeira
guerra espiritual pelo controle e posse de si. O ideal da transformação do sujeito em um
templo do Espírito Santo busca reforçar essa dimensão ética. Afinal, um templo é
sagrado e deve ser resguardado.

Todavia, dentro das religiões cristãs há vozes em contrário. Uma delas é de Benjamin
Forcano, teólogo moralista e sacerdote católico, para quem “A qualificação da
homossexualidade como abominação procede de uma hermenêutica mecanicista e
deslocada”.

Segundo o referido teólogo,

A Bíblia não é um texto sagrado, intocável, para ser aplicado como se fosse um ditado
direto de Deus. A Bíblia não é um aerólito, não é algo caído do céu, mas um
instrumento que ajuda a entender a vontade de divina tal como ela é percebida a partir
dos condicionamentos culturais, irremediavelmente limitados, daquele tempo e
sociedade.

Benjamin Forcano explica ainda que o texto de Sodoma (Gn 19, 1-29), muito usado
para desqualificar aqueles que possuem orientação homossexual, em verdade, segundo
estudos recentes, não se refere à homossexualidade e, sim, à falta de hospitalidade e
que, todavia, se converteu, paradoxalmente e contra seu sentido original, para
proscrever e exilar de nossa sociedade os homossexuais.

Forcano, após destacar que a Bíblia tem sido utilizada para justificar determinada visão
cultural sobre a homossexualidade com suporte em pressupostos antropológicos hoje
superados, aponta os seguintes critérios que a Igreja Católica deveria adotar em relação
à sexualidade:

1. Jesus não marginaliza nem discrimina ninguém; 2. Jesus se mostra profundamente


misericordioso; 3. Jesus relativiza a Lei. Seus inimigos foram precisamente os que
utilizavam a religião para discriminar e marginalizar.

Destaca ainda que

A hermenêutica moderna está longe de ver nos textos bíblicos uma condenação da
homossexualidade. A Bíblia não leva a argumentos para isso, nem é coisa que se
proponha. Então, não resta outro recurso senão chegar a ela, pela via da ciência, da
ética, da filosofia ou das disciplinas humanas pertinentes. Isso quer dizer que, como
católicos, não podemos acrescentar nada de específico a um problema que deve ser
analisado da perspectiva das ciências humanas.

Após minuciosa análise de diversos trechos bíblicos citados pelos religiosos para
condenação da homossexualidade, Katsuhiro Kohara, Professor da Universidade
Doshisha, Kyoto, Japão, em interessante artigo, chegou às seguintes linhas de
raciocínio:

1) Há poucos lugares que mencionam a homossexualidade e esta nunca é colocada


como tema principal do autor no Novo Testamento. E também, todas as menções
dependem de uma base literal e tradicional.

2) Não existe no Novo Testamento a idéia de homossexualidade que corresponda à


orientação sexual. A Bíblia sempre cita homossexualidade em ligação com a prática
sexual que independe dos gêneros - masculino ou feminino.

3) O Novo Testamento condena claramente o homossexualismo enquanto envolve


meninos (crianças) e considera uma tal prática como desumana.

4) A Bíblia considera o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo como sendo mau, mas
não fala porque é mau.

Portanto, a homossexualidade que o Novo Testamento questiona e a nossa concepção e


questionamentos hoje sobre tal questão, é totalmente diversa. É impossível querer, a
partir de um trecho bíblico específico, tirar uma orientação eficaz sobre a
homossexualidade para aplica-la em nossos dias sem contextualizá-lo e entende-lo em
seu sentido original.

Gottfried Brakemeier, pastor luterano e doutor em teologia, destacou que na Igreja há


setores onde a “discriminação é conscientemente assumida” porque há invocação da
Bíblia para sustentar seu entendimento de que a homossexualidade é um grave pecado,
ofensa a Deus, algo abominável em todas as suas formas.

Mas o referido teólogo da Igreja Luterana asseverou que há, ainda, vozes no sentido de
que as “passagens bíblicas, aduzidas como contra-prova, estariam se referindo não à
orientação homossexual como tal e, sim, a abusos nessa área”.

Apesar de demonstrar cautela em tratar do assunto em seu estudo, o próprio Gottfried


Brakemeier reconheceu que se as investigações exegéticas conduzirem ao entendimento
de que a Bíblia não proscreve a “homofilia responsavelmente vivida”, haveria a
remoção de um dos grandes motivos da intolerância no âmbito religioso.

Os Bispos Jack Spong e Peter J. Lee da Igreja Anglicana, em interessante texto,


declararam que há no movimento anglicano duas correntes inconciliáveis de
entendimento com relação à existência, dentro do texto bíblico, de condenação à
homossexualidade. Ambas as correntes, porém, esclarecem os Bispos, entendem que a
Bíblia pode ser lida no sentido da condenação das práticas homossexuais, assim como
foi lida para discriminar os gentios, samaritanos, leprosos, gente ritualmente impura,
mulheres, canhotos, minorias raciais e os suicidas.
A Revda Yvette Dube da Igreja da Comunidade Metropolitana, em minucioso estudo
que incluiu, até mesmo, análise da etimologia de palavras empregadas no texto bíblico
original, após explicar que a tradição judaico-cristã é no sentido do repúdio aos
homossexuais, sustentou que inexiste na Bíblia qualquer condenação à
homossexualidade.

Uma cuidadosa leitura das análises do texto bíblico realizadas pelas correntes teológicas
mais progressistas parecem indicar, em síntese, que realmente inexiste na Bíblia
qualquer condenação à homossexualidade como orientação sexual. Há, sim, condenação
às práticas homossexuais contextualizadas com a falta de hospitalidade, com o atentado
violento ao pudor e com a promiscuidade.

Em verdade, a intolerância, que sempre foi associada ao movimento religioso, decorre


não do texto bíblico, construído em contexto social completamente diverso do nosso,
mas sim da idiossincrasia de pessoas que não hesitaram em utilizar a Bíblia para
justificar as mais variadas formas de opressão social.

Os artigos das correntes teológicas que não condenam a homossexualidade por si só e


que foram empregados neste estudo justamente porque estimulam a reflexão constam na
bibliografia e podem ser facilmente encontrados na internet.

5. A HOMOSSEXUALIDADE E AS RELIGIÕES TRADICIONAIS

Apesar dos avanços verificados na ciência oficial e na interpretação dada por alguns
teólogos aos textos bíblicos, a hostilidade aos homossexuais tem permeado a prática e o
discurso das religiões cristãs tradicionais. É o que se infere do seguinte trecho extraído
de estudo realizado pelos Bispos Jack Spong e Peter J. Lee do movimento anglicano:

Há cem anos não havia debate sobre a homossexualidade na vida da Igreja Cristã. Hoje
essa discussão enraivece em toda a parte da cristandade, às vezes, abertamente, às
vezes, ocultamente. Em algumas partes de nossa Comunhão esse debate ameaça separar
os cristãos em campos de batalha. Em nossa Comunhão já ouvimos ameaça de
excomunhão, de um la-do, e, de outro, convite para deixar. Temos observado evidência
de que esse debate pode deflagrar palavras danosas e insolentes e até condutas
fisicamente violentas.

Os ânimos acirrados dentro do movimento anglicano dividem-se, conforme alhures


destacado, em duas correntes. Uma sustenta que a homossexualidade é como ser
canhoto, que é, estatisticamente, um desvio da norma de vida humana que foi, outrora,
causa de discriminação e perseguição. Acredita ainda que a sexualidade é moralmente
neutra, de modo que tanto heterossexualidade quanto homossexualidade podem ser
vividas ou de modo destrutivo ou de modo que afiem a vida.

Os Bispos acima aludidos destacam ainda que os defensores dessa primeira corrente
lembram que a ciência já registrou a ocorrência de homossexualidade entre os animais,
demonstrando assim que a homofilia independe de liberdade de pensar e de capacidade
de escolha. Os indivíduos, assim como os animais, simplesmente, despertam para a
homossexualidade.

Buscam, com isso, demonstrar que a homossexualidade é uma realidade inata, não
submetida ao controle consciente do indivíduo.

Lembram ainda que a interpretação da Bíblia que resulta na condenação da


homossexualidade é idêntica à utilizada para justificar a escravidão como uma
instituição social, a posição de segunda classe da mulher e a idéia de que a epilepsia é
causada pela possessão demoníaca, sem se esquecer do pensamento, um dia em voga, de
que o planeta Terra situava-se no centro do Universo.

Por sua vez, a outra corrente do movimento anglicano considera a homoafetividade


maléfica e praticada por gente moralmente depravada ou mentalmente doentia e
condenada por Deus, pela Escritura e pela tradição por constituir prática pecaminosa.

Benjamin Forcano reconhece que a Igreja Católica possui dificuldade para admitir a
diversidade sexual como um valor enriquecedor, condenando, por esse motivo, a
homossexualidade.

Mas o nobre teólogo, após afirmar que a ciência, a ética, a filosofia e as demais
disciplinas humanas pertinentes conduzem ao entendimento de que a Bíblia não
condena a homossexualidade responsável, convocou a comunidade católica para -
mostrando a sua fidelidade ao evangelho, ainda que se afastando da orientação da
cúpula da Igreja - admitir a diversidade sexual, chancelando aos homossexuais,
inclusive, o acesso ao sacerdócio.

Edênio Valle, ao analisar as vozes existentes dentro do movimento católico, verificou


que, em relação à homossexualidade, há três correntes teológicas:

uma mais tradicional, que até chega a criticar o Vaticano como insuficientemente
condescendente neste campo; outra, seguramente majoritária hoje em dia, que tenta
aprofundar as brechas que os pronunciamentos oficiais oferecem; e uma terceira, que vê
como inadequado e insuficiente o tratamento que as autoridades maiores da Igreja
Católica dão à sexualidade em geral e, conseqüentemente, à homossexualidade e aos
homossexuais.

Edênio cita ainda o Psicanalista e Sacerdote Marc Oraison, para quem a


homossexualidade, em si, "não comporta nenhuma maldade moral”, não podendo ser
considerada pecado quando ensejasse “uma verdadeira relação intersubjetiva”.

Gregory Baum expressou a sua esperança de um dia ver a cúpula da Igreja Católica
mudar a sua concepção em relação à homossexualidade para entendê-la como uma das
variantes normais da sexualidade com base nos seguintes argumentos:

Os teólogos sabem, ao mesmo tempo, que a Igreja, condicionada por novas experiências
religiosas, por descobertas científicas e por uma releitura dos textos bíblicos, mudou,
com freqüência, seu ensinamento. Nós não cremos mais no “fora da Igreja nenhuma
salvação”, doutrina enunciada pelos concílios do passado, não aceitamos mais a
existência do limbo, pregada por séculos, apoiamos a liberdade religiosa e os direitos
humanos, embora estas idéias tenham sido severamente condenadas pelos papas do
século 19; estamos conscientes que a Igreja mudou seu ensinamento sobre a tortura e a
pena de morte, e assim por diante. É, pois, absolutamente razoável pensar que num
destes dias a Igreja também mude sua ética sexual.

6. A HOMOSSEXUALIDADE E O ESPIRITISMO

O Espiritismo, lamentavelmente, não ficou livre da polêmica que existe em relação à


homossexualidade.
Vladimir Aras Salvador, citando Jorge Andrea, assegura que a homossexualidade tem
“conotação patológica", nele identificando-se "indivíduos em distonias de variada
ordem, que procuram atender aos sentidos com o parceiro do mesmo sexo, em praticas
deformantes e desarmonizadas".

Em verdade, nem Vladimir, nem Jorge Andrea, usam o vocábulo homossexualidade.


Usam homossexualismo, que, conforme os mais variados ramos da ciência oficial, é
considerado obsoleto, inadequado e equivocado. Fiz a substituição do vocábulo
homossexualismo pela palavra homossexualidade porque não me pareceu honroso para
o Espiritismo a repetição de um erro crasso, condenado pela ciência oficial.

Vladimir cita, ainda, os seguintes trechos da escritora “espírita” Therezinha Oliveria:

"Pode o Homossexual Freqüentar o Centro Espírita?" leciona que "Se aspirarmos


ingressar no seu serviço, e mister um esforço de renovação intima, para corresponder a
dignidade do ambiente. 'Quem não renunciar a si mesmo não pode ser meu discípulo',
dizia Jesus, e Kardec esclarecia: 'Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral e pelos esforços que emprega para dominar as suas mas
tendências. Tais atitudes se recomendam a todos quantos procuram a casa espírita e,
portanto, também aos que, no mundo, transitam atualmente pelas experiências do
homossexualismo" (in AIDS, Homossexualismo, Alcoolismo, Conflitos Familiares e
Temas Diversos, EME Editora, pagina 14).

São do próprio Vladimir as seguintes palavras:

(...) cabe aos dirigentes das casas espíritas agir com tato para vedar a participação de
pessoas que se dediquem a praticas homossexuais nos trabalhos do centro espiritista,
principalmente nas tarefas vinculadas a mediunidade e a doutrinação.

Ora que bem.

Sabia que o centro espírita era a Casa de Deus. Mas não sabia que, para alguns, havia se
transformado em solo exclusivo para espíritos perfeitos. Ainda bem que Jesus não
seguiu critérios tão rígidos porque, do contrário, não teríamos como absorver o seu
legado de amor e tolerância transmitido por seus apóstolos, já que ninguém, ainda
mesmo nos dias de hoje, conseguiria reunir as condições morais para se qualificar como
espírito puro.

É claro que o discurso de Vladimir Aras Salvador e de seus partidários não é, por todo,
ruim porque, ao menos, não condenou os homossexuais à fogueira, o que já representa
um significativo avanço.

J. Herculano Pires, segundo relato de João Alberto Vendrani Donha (2001), chama de
ingênuos os psiquiatras que declaram normal a homossexualidade que, no seu entender,
constitui uma das anormalidades mais aviltantes.

Gibson Bastos (2006) destaca, inclusive, que há no meio espírita quem propague o
seguinte slogan: “Deus ama o homossexual mas odeia a homossexualidade”.

Não me posso furtar do dever de informar que Kardec, na primeira questão do Livro dos
Espíritos, perguntou “O que é Deus?” e não “Quem é Deus?” justamente porque não
queria dar azo ao desenvolvimento, no movimento espírita, da visão antropomórfica da
Divindade, já que, naquele tempo, tal modo de pensar já era considerado retrógado e
inadequado.

Em outras palavras, determinados espíritas, para combater a homossexualidade, não


hesitam em utilizar técnicas e recursos de argumentação definitivamente rejeitados pela
própria doutrina espírita.

Ainda com supedâneo em Gibson Bastos (2006), pode-se dizer que a condenação da
homossexualidade prepondera no meio espírita a ponto, como ele mesmo narra em sua
obra, de haver presenciado a proibição da entrada de jovens homossexuais em
determinada mocidade espírita.

Apesar de dominante, o pensamento que considera a homossexualidade como um


comportamento aviltante não é o único nas lides espíritas.

Graças ao bom Deus!

José B. Campos, em interessante artigo, após explicar que pecado é uma transgressão de
preceito religioso, conduz o raciocínio até desembocar no seu entendimento de que a
homossexualidade não é uma conduta pecaminosa, malgrado não constitua uma escolha
ideal.

E mais. Afirma que a “prática da homossexualidade não transforma o ser em pessoa


abominável” e que conhece “homossexuais que se distinguem pela inteligência apurada,
pela cultura aprimorada, pela educação exemplar, pela fraternidade cristã e,
principalmente, pelo caráter reto” e que conhece, também, “heterossexuais que mais
parecem uma gruta vazia e sombria”.

Completando o seu raciocínio, José B. Campos recomenda ao homossexual eleger


alguém para que com ele constitua um lar para, assim, não correr o risco de se perder
em ligações clandestinas.

O expositor espírita Jorge Hessen traz as seguintes palavras de Chico Xavier, que foram
publicadas no Jornal Folha Espírita do mês de março de 1984:

"Não vejo pessoalmente qualquer motivo para criticas destrutivas e sarcasmos


incompreensíveis para com nossos irmãos e irmãs portadores de tendências
homossexuais, a nosso ver, claramente iguais às tendências heterossexuais que
assinalam a maioria das criaturas humanas. Em minhas noções de dignidade do espírito,
não consigo entender porque razão esse ou aquele preconceito social impediria certo
numero de pessoas de trabalhar e de serem úteis à vida comunitária, unicamente pelo
fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da
maioria. (...)Nunca vi mães e pais, conscientes da elevada missão que a Divina
Providencia lhes delega, desprezarem um filho porque haja nascido cego ou mutilado.
Seria humana e justa nossa conduta em padrões de menosprezo e desconsideração,
perante nossos irmãos que nascem com dificuldades psicológicas?"

São de Jorge Hessen as seguintes palavras:

Porém, após refletir bastante sobre o assunto e, sobretudo, tendo como alicerce as
opiniões de Chico Xavier, entendemos que a união estável [casamento] entre
homossexuais é perfeitamente normal. Sim!

Só conseguiremos entender melhor a questão homossexual depois que estivermos livres


dos (pré)conceitos que nos acompanham há muitos milênios. Arriscaríamos afirmar que
a legalização do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo é um avanço da
sociedade, que estará apenas regulamentando o que de fato já existe.

No programa Pinga-Fogo, da extinta TV Tupi, gravado em DVD, quando indagado


sobre a questão da homossexualidade, Chico Xavier diz peremptoriamente que as leis
iriam evoluir para contemplar todas as formas de amar e que o “homossexualismo” é
uma realidade do espírito.

Gibson Bastos (2006) é peremptório em afirmar que inexiste na Codificação


Kardequiana qualquer condenação à homossexualidade e que os argumentos espiritistas
contrários à essa orientação sexual são, em verdade, demonstração de que determinados
espíritos não conseguiram com a desencarnação ou mesmo com a morte desvencilhar de
preconceitos alimentados por longos séculos.

Gibson Bastos também esclarece que a sublimação dos sentimentos, defendida por
muitos espíritas que tratam da homossexualidade, só pode ser conseguida quando o
espírito conseguiu passar pela prova da fidelidade conjugal e que a sua imposição, sem
os devidos suportes morais necessários, tão-somente pode conduzir o indivíduo para
dois caminhos: sério transtorno psicológico ou hipocrisia.

De fato, não é possível vislumbrar na Codificação Kardequiana qualquer linha tratando


diretamente da homofilia. Todavia, Paulo da Silva Neto Sobrinho (2007) constatou que
o tema não passou despercebido pelo Allan Kardec. Para demonstrar tal entendimento,
faz a seguinte transcrição de trecho extraído da Revista Espírita de janeiro de 1866,
páginas 03 e 04:

As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que as une nada têm de carnal, e, por
isto mesmo, são mais duráveis, porque são fundadas sobre uma simpatia real, e não são
subordinadas às vicissitudes da matéria.

(...)
Os sexos não existem senão no organismo; são necessários à reprodução dos seres
materiais; mas os Espíritos, sendo a criação de Deus, não se reproduzem uns pelos
outros, é por isto que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.

Os Espíritos progridem pelo trabalho que realizam e as provas que têm que suportar,
como o operário em sua arte pelo trabalho que faz. Essas provas e esses trabalhos
variam segundo a sua posição social. Os Espíritos devendo progredir em tudo e adquirir
todos os conhecimentos, cada um é chamado a concorrer aos diversos trabalhos e a
suportar os diferentes gêneros de provas; é por isto que renascem alternativamente como
ricos ou pobres, senhores ou servidores operários do pensamento ou da matéria.

Assim se encontra fundado, sobre as próprias leis da Natureza, o princípio da igualdade,


uma vez que o grande da véspera pode ser o pequeno do dia de amanhã, e
reciprocamente. Deste princípio decorre o da fraternidade, uma vez que, nas relações
sociais, reencontramos antigos conhecimentos, e que no infeliz que nos estende a mão
pode se encontrar um parente ou um amigo.

É no mesmo objetivo que os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos; tal que foi um
homem poderá renascer mulher, e tal que foi mulher poderá renascer homem, a fim de
cumprir os deveres de cada uma dessas posições, e delas suportar as provas.

A Natureza fez o sexo feminino mais frágil do que o outro, porque os deveres que lhe
incumbem não Terra Espiritual Página exigem uma igual força muscular e seriam
mesmo incompatíveis com a rudeza masculina. Nele a delicadeza das formas e a fineza
das sensações são admiravelmente apropriadas aos cuidados da maternidade. Aos
homens e às mulheres são, pois, dados deveres especiais, igualmente importantes na
ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro.

O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica


segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem
esse mesmo organismo.

Essa influência não se apaga imediatamente depois da destruição do envoltório material,


do mesmo modo que não se perdem instantaneamente os gostos e os hábitos terrestres;
depois, pode ocorrer que o Espírito percorra uma série de existências num mesmo sexo,
o que faz que, durante muito tempo, ele possa conservar, no estado de Espírito, o caráter
de homem ou de mulher do qual a marca permaneceu nele. Não é senão o que ocorre a
um certo grau de adiantamento e de desmaterialização que a influência da matéria se
apaga completamente, e com ela o caráter dos sexos. Aqueles que se apresentam a nós
como homens ou como mulheres, é para lembrar a existência na qual nós os
conhecemos.

Segundo Paulo da Silva Neto Sobrinho (2007), agora vem a principal parte do texto:

Se essa influência repercute da vida corpórea à vida espiritual, ocorre o mesmo quando
o Espírito passa da vida espiritual à vida corpórea. Uma nova encarnação, ele trará o
caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se for avançado, fará um homem
avançado; se for atrasado, fará um homem atrasado. Mudando de sexo, poderá, pois, sob
essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter
inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes
que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres. (RE 1866, pp. 3-4).

Como bem coloca Paulo da Silva Neto Sobrinho, ao qualificar como anomalias
aparentes o fato de um indivíduo conservar na atual encarnação “os gostos, as
tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar” em outra existência, o
Codificador, em verdade, deixou patente que considera a homofilia algo dentro da
normalidade.

Parece-me correta tal conclusão porquanto, se quisesse reputar a homofilia como uma
anomalia, não empregaria a expressão anomalia aparente. Empregaria, sim, tão-somente
a palavra anomalia, da mesma forma como fez o Codificador, por exemplo, no item 100
do Livro dos Espíritos ao explicar as dificuldades nas comunicações mediúnicas.

Paulo da Silva Neto Sobrinho, em seu estudo, cita a posição de Hernani Guimarães de
Andrade no sentido de que a homossexualidade não deve ser classificada como uma
psicopatia ou como um comportamento merecedor de discriminação ou de medidas
repressivas.

O nobre articulista coloca também que se condenarmos a homossexualidade porque


antinatural devemos, pelo mesmo motivo, também condenar o sexo oral e o sexo anal
praticados entre pessoas de sexo diferente, vez que também não são encontrados na
natureza.

Gibson Bastos (2006) assevera que não consegue entender a lógica e o bom senso de
assertivas comuns no meio espírita consistentes na idéia de que os casais homossexuais
devem abster-se de ter uma vida sexual e canalizar suas energias sexuais para a
caridade, já que tal pensamento é inexistente no Novo Testamento e nos livros da
Codificação Kardequiana.

Segundo o autor, há nas lides espíritas quem sustente que a homossexualidade é um


distúrbio psicológico e uma deformidade moral porque não atende à lei de reprodução,
esquecendo-se que a atividade sexual não existe tão-somente para reproduzir a espécie
humana, mas, acima de tudo, como diz André Luiz em Evolução em Dois Mundos, para
reconstituição das forças espirituais.

Outro argumento rebatido por Gibson refere-se à alegação de que os homossexuais, por
natureza, são promíscuos e que as suas relações são deformantes e causadoras de
desajustes morais. Para ele, tal linha de pensamento decorre do completo
desconhecimento do universo homossexual, onde se encontra relacionamentos
duradouros, sem qualquer distúrbio comportamental ou diminuição de sua
produtividade dentro da sociedade.

Ao argumento também comum no movimento espírita de que os homossexuais vivem


desregradamente, Gibson afirma que, em verdade, decorre do desconhecimento da
diferença entre orientação sexual e comportamento sexual, porquanto não é possível
dizer que todos assim agem só porque determinados homossexuais adotam um
comportamento promíscuo.

Gibson Bastos (2006) registra ainda que há no movimento espírita quem sustente que a
troca de energia sexual entre pessoas do mesmo sexo desestrutura a organização do
inconsciente ou perispiritual, gerando dor e sofrimento futuros. Só que tal linha de
pensamento é francamente preconceituosa, na medida em que atribui à igualdade dos
sexos o que, de fato, é causado pelo pensamento e sentimento com o qual nos
envolvemos ou envolvemos o outro, segundo ensinado por André Luiz em Sexo e
Destino (Bastos, 2006).

Os argumentos que tentam justificar a condenação da homossexualidade não


terminaram. Gibson aponta ainda um no sentido de que as relações homossexuais
atraem a presença de espíritos vampirizadores de energias. Infelizmente, tal argumento
revela grave preconceito por trazer implícita a certeza de que os homossexuais jamais
poderão manter um clima de sentimentos e pensamentos elevados e que, portanto, estão
em estado de inferioridade.

Gibson Bastos (2006), por fim, aponta como argumento defendido por determinados
espíritas a assertiva de que os homossexuais devem adotar a mais absoluta castidade e
trabalhar no bem para se curarem desse desvio.

Como fala o próprio Gibson, tal linha de pensamento demonstra que os seus defensores
ignoram que a evolução se faz passo a passo e que - conforme ensinado por André Luiz
no livro No Mundo Maior - é irrisório exigir do homem de evolução mediana a conduta
do santo pois – segundo se conclui das lições de Hammed em Dores da Alma –
enquanto a abstinência imposta gera desequilíbrio, a educação conduz ao emprego
respeitável e nobre das forças sexuais.

Em outras palavras, Gibson Bastos (2006) esclarece que, antes de se exigir do nosso
irmão homossexual a sublimação, deve se ofertar ao mesmo a oportunidade para vencer
o egoísmo e desenvolver a fidelidade e a fraternidade através de uma relação
monogâmica, mesmo com pessoa de igual sexo.

Interessante é a observação de Gibson Bastos (2006) no sentido de que há espíritas que


buscam apoio nos textos bíblicos do Antigo Testamento para condenar a
homossexualidade, mas que não se submetem à proibição de consultar os mortos,
esquecendo-se da advertência de Paulo de Tarso de que ao se aceitar um preceito da lei
mosaica, deve se sujeitar aos demais preceitos.

Walter Barcelos (2002), após esclarecer que a inversão sexual pode decorrer de
expiação ou mesmo da necessidade de executar tarefas especializadas no campo do
desenvolvimento intelectual, moral e espiritual da humanidade, informa que a
experiência homossexual constitui grave sofrimento para nossos irmãos porque ainda
que unidos em uma relação conjugal normal, não serão poupados da frustração de não
receberem a benção da maternidade ou mesmo da capacidade de fecundação de uma
mulher.

Por isso Walter Barcelos (2002) conclama os espíritas para terem uma atitude de
compreensão, indulgência e compaixão cristã para com todos os homossexuais.

Diz mais:
Respeitemos a vida afetiva e sexual de cada companheiro em experiência transitória da
homossexualidade. Se encontrarmos dificuldades em aceitar, tolerar e conviver com
esses irmãos em Deus, meditemos se agora estivéssemos encarnados em corpo diferente
do que a nossa mente determina em matéria de sexualidade. Logicamente, poderíamos
estar passando pelas mesmas lutas sentimentais e psicológicas de nossos irmãos
homossexuais femininos e masculinos. As suas lutas espirituais poderão ser as nossas
em futura encarnação. Devemos amá-los como eles são, com todas as características de
sua personalidade psicológicas, pois são também Espíritos imortais, com aquisições
valorosas e respeitáveis virtudes, adquiridas em séculos e séculos de aprendizagem nas
vidas pretéritas (2002, p. 118).

O sítio IRC-Espiritismo disponibiliza aos interessados apostila com vistas à preparação


psicológica e doutrinária dos trabalhadores do atendimento fraterno. Nesse rico material
há uma interessante seção de estudos de casos, dos quais se destaca o seguinte pela
pertinência com o tema ora tratado:

6) Estudante de economia, 21 anos, perdeu o pai quando criança e vive com a mãe e
uma irmã mais velha num bairro nobre da cidade. Ele está confuso, angustiado e cheio
de dúvidas sobre o que considera seu maior suplício: é homossexual.

Apesar de sua irmã saber e o compreender, ele pergunta se deve contar para sua mãe e
não sabe como se portar diante de sua reação. Outra dúvida do jovem é se existe alguma
explicação espiritual para isso, como, segundo suas palavras, ter nascido no corpo
errado. Indaga sobre como o Espiritismo vê sua opção e se, sendo homossexual, poderia
freqüentar algum Centro Espírita.

Encontra-se muito ansioso, nervoso, não consegue se alimentar direito nem prestar
atenção nas aulas. Sente-se diferente, solitário e não quer magoar ninguém, diz que seu
maior desejo é encontrar a paz.

Comentário: O Espiritismo não tem nenhum preconceito com relação a conduta sexual
do ser humano. Embora não concorde com o erro, a Doutrina Consoladora respeita a
sexualidade do individuo. Uma boa recomendação é a leitura do livro “Vida e Sexo” de
Emmanuel.

O Espírito pode vivenciar uma série de reencarnações, mergulhando sempre no corpo de


um sexo. Dessa forma, terá hábitos daquela polaridade. Se por exemplo ele é um
homem que se utiliza do sexo para dilacerar corações e destruir lares, pode ser induzido
no mundo espiritual a reencarnar num corpo feminino – o sexo que ele tanto
desrespeitou.
Então ele vai ter um corpo feminino, hormônios femininos, mas uma psicologia
masculina. Se houver uma prevalência da sua psicologia em detrimento da sua
anatomia, estamos diante de uma tendência homossexual.
Da mesma forma, se a mulher é vulgar, promiscua, frívola, pode reencarnar em um
corpo do sexo oposto. Igualmente surge uma dicotomia de comportamento: O corpo tem
um sexo, e o psicológico tem outro. Se o ser passa a utilizar a sua função psicológica no
comportamento sexual, estamos diante de uma conduta homossexual.

Qual a orientação adequada? O Atendente Fraterno deve dizer que a opção na área da
sexualidade diz respeito à liberdade de consciência de cada um. Não há no Espiritismo
nenhum preconceito contra o homossexual. Qualquer preconceito é atentado contra a
liberdade do individuo. A recomendação ao homossexual, tanto quanto ao
heterossexual, é que a dignidade, o respeito aos outros, e a sublimação dos impulsos são
muito importantes. Da mesma forma que não é lícito ao Heterossexual a promiscuidade,
a vulgaridade, e a falta de respeito, também não é moral que o Homossexual se
comporte dessa forma. Alem disso, as orientações costumeiras: Passe, Freqüência à
Casa Espírita, Evangelho, Oração, Reforma Moral, Reflexões.

Pelo quadro, é necessário dar uma injeção de animo nele. É provável que ele esteja com
a auto – estima muito prejudicada. Dar-lhe esperança! Falar-lhe que é possível ele
encontrar a paz sem magoar a ninguém. O mais importante não é em que faixa de
sexualidade o Espírito transita, mas o comportamento a que se permite na atual
experiência. Da mesma forma que não é licito ao Heterossexual se entregar a
promiscuidade, não é Moral para o Homossexual, se comportar de forma vulgar, sem
respeitar os outros. Então a nossa recomendação ao Carlos, que ele não seja promiscuo,
que seja ético para com todos, e que tente sublimar quaisquer impulsos sensualistas para
expressões de nobreza, dignidade, elevação. Essa recomendação – a da sublimação –
não é exclusiva para os Homossexuais. A sublimação é uma proposta para qualquer
criatura.

Com relação a duvida de como proceder com a mãe, o Atendente Fraterno deve pensar
junto com ele, mas deixar que ele opte por aquilo que achar melhor. Existem situações
em que dizer a verdade é o melhor caminho. Entretanto, em outros momentos, a verdade
pode causar perturbação, sofrimento, angústias desnecessárias, porquanto, a pessoa não
se encontrava em condições emocionais de assimilar aquela informação. Uma boa
abordagem é pergunta-lo: “Você acha que sua mãe tem condições de ouvi-lo sem
produzir sofrimentos e abalos maiores? Acha que ela tem estrutura para te
compreender?”. (p.30-31)

Nota-se na transcrição acima legitimidade para orientar a conduta espírita não só no


trabalho do atendimento fraterno como também nos demais setores da vida terrena por
revelar o verdadeiro sentido do Evangelho do Cristo.

7. UMA TOMADA DE POSIÇÃO

Segundo o próprio Allan Kardec:

(...)o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe


demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto
(A. Kardec, A Gênese, ed. cit, cap. I, no. 55, p.37).

Ora que bem.

Ainda que a condenação da homossexualidade fosse um dos ensinamentos da doutrina


dos espíritos – o que não é –, posso dizer, com base na lição acima transcrita, que
caberia ao verdadeiro espírita, fiel à postura sensata do Codificador, rejeitar tal
orientação para assumir uma posição consentânea com a adotada pelos mais variados
ramos científicos da atualidade, que confere à homofilia o tratamento que é devido a
qualquer vertente natural da sexualidade humana.

Todavia, o que se nota é que muitos espíritas qualificam a homossexualidade como um


distúrbio ou desvio de personalidade quando, no seu mais profundo íntimo, consideram-
na como odioso pecado, buscando, assim, com mudança das palavras, ocultar a
dificuldade que possuem para aceitar a diversidade.
Muda-se o rótulo. Porém, não se muda o conteúdo.

Durante quase dois mil anos, segundo lições de renomados teólogos, inclusive da Igreja
Católica, a mensagem bíblica foi desvirtuada para justificar as Cruzadas, a Inquisição, a
escravidão, o racismo, a opressão da mulher, a perseguição das minorias e diversas
outras práticas deploráveis.

Parece que tal tendência humana de distorcer, até mesmo, as sacrossantas palavras de
Jesus para justificar condutas e sentimentos anticristãos migrou com grande intensidade
para o movimento espiritista, o que acaba por retirar do Espiritismo, gradativamente, o
seu conteúdo de Consolador Prometido para convertê-lo em instrumento de martirização
daqueles que experimentam a prova da inversão sexual.

Não estranharei – mas lamentarei – o dia em que a doutrina espírita for usada para
justificar o trabalho infantil ou mesmo o racismo, assim como está sendo usada para
reputar imoral uma realidade do espírito.

Pior. Do mesmo modo que há espíritas afirmando que a inversão sexual impede o
indivíduo de conhecer o amor ou mesmo de formar uma família com uma pessoa do
mesmo sexo, sob a alegação de que deve passar por todas as dificuldades inerentes à sua
morfologia, ainda que em detrimento da sua estrutura psicológica e do seu progresso
espiritual, poderá haver espiritistas defendendo que a prova da pobreza impede o
indivíduo a ela submetido de trabalhar ou mesmo de receber ajuda para sair dessa
situação porque deverá passar por todas as vicissitudes atreladas à miserabilidade.

A loucura humana, que é desprovida de pudor, não se acanha de usar estranhos


raciocínios para se justificar.

O preconceito contra os homossexuais possui uma faceta que, talvez, o torne mais cruel
do que o preconceito contra os negros, por exemplo. Enquanto estes, em grande
maioria, podem contar com o apoio e carinho de seus familiares para as lutas agravadas
pelo preconceito, aqueles não podem contar com tamanha sorte porque, muitas das
vezes, as mais variadas formas de violência a que são submetidos iniciam-se justamente
em seus núcleos familiares.

Ao se reprimir a homossexualidade reprime-se, por imperativo lógico, as uniões homo-


afetivas. Isso é de imensurável gravidade porque não se pode esquecer, como bem
ensinou Mark W. Baker (2005), Phd em Psicologia, que:

A razão pela qual muitas pessoas temem os relacionamentos é que o amor nos deixa
vulneráveis. O risco de sofrer é o preço que pagamos quando estabelecemos um
relacionamento com outras pessoas. Mas o amor é a recompensa. Aqueles que estão
dispostos a pagar esse preço poderão desenvolver o seu eu, e os que procuram evitar
qualquer risco e se fecham tornam-se egocêntricos. (p. 187)
O trecho retrotranscrito foi elaborado à luz de casos envolvendo casais heterossexuais.
Contudo, não vejo razão para deixar de aplicá-lo aos casais homossexuais, que também
necessitam das relações intersubjetivas para, através do amor, desenvolverem o eu de
cada um dos envolvidos.

Assim sendo, ao se reprimir as uniões homo-afetivas, por meio de cruel repúdio à


homossexualidade, está se vedando ao homossexual um digno e necessário caminho
para manutenção de sua saúde mental e espiritual, com sério comprometimento de sua
jornada terrena.

Diante dessa realidade, geradora de um estado de inegável perplexidade, a Moderna


Teologia está fazendo uso dos conhecimentos oriundos de diversos ramos científicos
para concluir que as uniões homossexuais responsáveis não constituem atentado nem
contra a letra da Bíblia, nem contra as Leis de Deus e que, portanto, não há autorização
divina para qualquer conduta discriminatória.

Poderiam os espíritas, com mais razão, vez que já alertados pelo próprio Allan Kardec
(2005) da necessidade de se atualizar a doutrina espírita com os conhecimentos oriundos
da ciência, assumir semelhante postura para compreender a homossexualidade como
uma orientação sexual plenamente de acordo com a natureza e, assim, contribuir para o
avanço moral do planeta.

Todavia, como bem lembrado por Gibson Bastos (2006), prepondera no movimento
espírita severa condenação à homossexualidade e às uniões homossexuais. Apesar de
lamentar, tenho de reconhecer que tal posicionamento condenatório não está desprovido
de fundamento. Tem suporte em preceitos científicos superados e em dogmas arcaicos
de religiões que, nós espíritas, temos por hábito criticar justamente pela postura
dogmática que adotam.

8. CONCLUSÃO

O inconsciente coletivo, produto, só na era cristã, de quase dois mil anos de


intolerância, ódio e opressão, revela as mazelas de uma população típica de um mundo
de provas e expiações, onde o mal prepondera com grande vantagem sobre o bem.

Por causa disso, a Humanidade, com raras exceções, não conseguiu assimilar os
avanços científicos no campo da sexualidade humana a ponto de aceitar como
plenamente normal a homossexualidade.

Essa dificuldade em aceitar a diversidade tem feito escola no Espiritismo pois, segundo
verificado na literatura disponível, muitos dos seus integrantes, quiçá,
inconscientemente, têm deturpado o acervo intelectual espiritista, à semelhança do que
ocorreu com a Bíblia, para produzirem um discurso condenatório não só contra a
homossexualidade como também contra as uniões homo-afetivas.

Com isso removem do Espiritismo a sua natureza de Consolador Prometido para


transformá-lo, progressivamente, em instância reservada para uma intelectualidade
estéril quando não na versão moderna dos Tribunais da Santa Inquisição.
Mas esse quadro tormentoso pode conhecer solução de continuidade. Há teólogos de
importantes segmentos do cristianismo se levantando contra a discriminação dos
homossexuais, sustentando, inclusive, que inexiste na Bíblia qualquer condenação à
homossexualidade responsável. E mais. Há, na própria doutrina, a começar por Kardec,
vozes que conferem à homossexualidade a condição de uma variante natural da
sexualidade humana.
Assim sendo, apesar da densa neblina do preconceito - que tem, inclusive, arrastado
valorosos trabalhadores do movimento espírita – podemos encontrar as primeiras
candeias sendo acesas para anunciar a aproximação de uma nova era, marcada por
tolerância e fraternidade, para a Humanidade.

9. REFERÊNCIAS

_______________ .Cientistas identificam gene que transforma mosca macho em


bissexual. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u353479.shtml>. Acesso em 12 fev.
2008.

________________. Jornadas de Direito Civil. Disponível em: <http://www.jf.jus.br/>.


Acesso em 12 jan. 2008.

ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de


família: o art. 5o, ii e parágrafo único, da lei no 11.340/2006 (lei maria da penha).
Disponível em:<http://www.mp.mg.gov.br>. Acesso em 08 ago.2007.

ANGELIS, Joanna de (Espírito); [psicografado por] Divaldo Pereira Franco;


organização de Geraldo Campetti Sobrinho, Paulo Ricardo A. Pedrosa. Elucidações
psicológicas à luz do espiritismo. Salvador: Alvorada, 2002.

BAKER, Mark W. Jesus, o maior psicólogo que já existiu; tradução de Claudia Gerpe
Duarte. – Rio de Janeiro: Sextante, 2005

BARCELOS, Walter. Sexo e evolução. 5. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita


Brasileira, 2002. 310p.

BASTOS, Gibson. Além do rosa e do azul: recortes terapêuticos sobre


homossexualidade à luz da doutrina espírita. Rio de Janeiro: Edições Leon Denis, 2006.
180p.

BAUM, Gregory. O amor homossexual. 2007. Disponível em:


<http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe
&...> Acesso em 7 ago. 2006.
BRAKEMEIER, Gottfried. Igrejas e homossexualidade - ensaio de um balanço.
Disponível em: <http://www.swbrazil.anglican.org/brakemeier.htm> Acesso em: 11
ago. 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Notícias do


Programa Nacional. Dia Internacional Contra a Homofobia é celebrado em 17 de maio.
2006. Disponível em:<http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISE77B47
C8ITEMID02 AC548D341D4B00A138D772D6B0D660PTBRIE.htm>. Acesso em 20
mai. 2008.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Embargos de Declaração em Recurso Especial


Eleitoral nº 24.564/PA, Brasília, DF, 2 de outubro de 2004. Disponível
em:<http://www.tse.gov.br/sadJudSjur/index_jur.h
tml>. Acesso em: 22 mai. 2007.

CAMPOS, José B. Homossexualismo é pecado? <


http://www.portaldoespirito.com.br/portal/artigos/diversos/sexualidade/homossexualis...
>. Acesso em 08 ago. 2007.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução n. 1.652, de 06 de novembro de


2002. Dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo e revoga a Resolução CFM n. 1.482.
Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, n. 232, 2 dez. 2002. Seção 1, p.
80. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/novoportal /index5.asp>. Acesso
em: 08 ago. 2007.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n. 001, de 22 de março de


1999. Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da
Orientação Sexual. Disponível
em:<http://www.pol.org.br/legislacao/resolucoes.cfm?ano=1999>. Acesso em: 08 ago.
2007.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n. 010, de 21 de julho de 2005.


Aprova o Código de Ética Profissional do Psicólogo. Disponível
em:<http://www.pol.org.br/legislacao/pdf/resolucao2005_
10.pdf>. Acesso em: 08 ago. 2007.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de ética profissional do psicólogo.


2005. Disponível em: <http://www.pol.org.br/legislacao/pdf/cod_etica_novo.pdf>.
Acesso em 08 ago. 2007.

CRUZ, Ane Teixeira. Brasil sem homofobia. Brasília. 2004. Disponível


em:<http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sepm/noticias/entrevistas_arti
gos/....> Acesso em: 11 ago. 2007.

DONHA, João Alberto Vendrani. Citações sobre homossexualismo. 2001.Disponível


em:<http://jornalistaantoniocarlos.blogspot.com/20 07/05/citaes-sobre-
homossexualismo.html>. Acesso em 18 jul 2007.

DUBE, Yvette. Homossexualidade e a bíblia. Disponível em: <http://


www.icmbrasil.org>. Acesso em 10 ago 2007.
FILHO, Alípio de Sousa. Homossexualidade e preconceito. 2003. Disponível em:
<http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/08
/262050.shtml> Acesso em: 11 ago. 2007.

FORCANO, Benjamin. Fundamentalismo de Batina. Disponível em:


<http://www.pucsp.br/rever/rv1_2006/p_forcano.pdf>. Acesso em 07 ago. 2007.

FRANCO, Vera Lúcia. Além das teias do preconceito. 2004. Disponível


em:<http://istoe.terra.com.br/planetadinamica/site/reportagem.asp?id=146> Acesso em:
11 ago. 2007.

GOMES, Júlio Cezar Meirelles; Bulhões, Lúcio Mario da Cruz. Cirurgia transgenital.
Processo Consulta nº 39/97-CFM. Disponível em:
<http://www.bioetica.org.br/legislacao/res_par/integra/39_97.php>. Acesso em 20 jul.
2007.

HESSEN, Jorge. Uma visão espírita do homossexualismo sem o dissimulado purismo


cristão. Disponível em: <
http://meuwebsite.com.br/jorgehessen/homossexualismo.html>
Acesso em 07 ago. 2007.

HILÁRIO, Rodrigo. O poder do afeto. 2002. Disponível em:


<http://www2.correioweb.com.br/cw/2002-03-17/mat_36751.htm>. Acesso em: 12 ago.
2007.

IRC-ESPIRITISMO. Apostila sobre atendimento fraterno. Disponível


em:<http://www.irc-spiritismo.org.br/download/IRC_Espiritismo_AF_
Apostila.pdf>. Acesso em 18 mai. 2008.

IVO, Maria Lúcia; PELIZARO, Marília Augusta Ivo; ZALESKI, Elizabeth Gonçalves
Ferreira. Direitos do ser humano na opção sexual. An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm.
May. 2002. Disponível em:
<http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000052002000200003&sc
r...> Acesso em: 11 ago. 2007.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita:espiritismo


experimental. Tradução de Guillon Ribeiro da 49. ed. francesa. Rio de Janeiro:
Federação Espírita Brasileira. 2005. 604p.

____________. A gênese: os milagres e as predições segundo o espiritismo. Rio de


Janeiro: Federação Espírita Brasileira. 2005. Disponível em:
<http://www.febnet.org.br/apresentacao/1,0,0,389,0,0.html>. Acesso em: 23 mar. 2007.

KOHARA, Katsuhiro. Ética sexual do Novo Testamento. Disponível


em:<http://www.dasp.org.br/codigos/pt/paginas/artigos/etica_sexual_nt.htm>. Acesso
em 10 ago 2007.

LEE, Peter J., SPONG, Jack. Uma catequese sobre a homossexualidade. Disponível em
<http://www.psj.org.br/codigos/pt/paginas/artigos/catequese_homosexualidade.htm.
Acesso em 07 ago. 2007.
MELO, Oceano Vieira. Pinga Fogo com Chico Xavier (2 discos). BRASIL. 1971.
Português. DVD.

MOTT, Luiz. Homo-afetividade e direitos humanos. Rev. Estud. Fem. vol.14 no.2
Florianópolis May/Sept. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104- 026X2006000200011&
script=sci_arttext> Acesso em: 11 ago. 2007.

NATIVIDADE, Marcelo. Homossexualidade, gênero e cura em perspectivas pastorais


evangélicas. Rev. bras. Ci. Soc. vol.21 no.61 São Paulo June 2006. Disponível em:<
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000200006&sc
ript=sci_arttext> Acesso em 11 ago 2006.

NETO, Ricardo Bonalume. Mosca embriagada busca parceiros do mesmo sexo.


Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u360136.shtml>
Acesso em 4 jan. 2008.

OLIVEIRA, Silvério da Costa. O psicólogo clínico e o problema da transexualidade.


Revista SEFLU. Rio de Janeiro: Faculdade de Ciências Médicas e Paramédicas
Fluminense, ano 1, nº 2, dezembro 2001. Disponível em:
<http://www.sexodrogas.psc.br>. Acesso em 8 ago. 2007.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro, Forense,
2007.

PICOLLI, Lucineide. Homossexualidade: conhecer para respeitar. 2005. Disponível em:


<http://www.unoescxxe.edu.br/web_reitoria/noticias
_unoesc/desc_noticias.php?cod_not...>. Acesso em 20 jul. 2007.

SALVADOR, Vladimir Aras. Homossexualismo – O que nos aconselha a Doutrina?


Disponível em:
<http://www.portaldoespirito.com.br/portal/artigos/geae/homossexualismo-o-que-nos-
ac...> Acesso em 16 jul 2007.

SOBRINHO, Paulo da Silva Neto. homossexualismo na visão espírita. 2007. Disponível


em: <http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo768.html> Acesso em
10 ago. 2007.

UNAIDS. Homofobia: lista de perguntas freqüentes. Disponível em:


<http://www.unoescxxe.edu.br/web_reitoria/noticias_unoesc/desc_noticias.php?cod_no
t....>. Acesso em: 12 ago. 2007.

VALLE, Edênio. a igreja católica ante a homossexualidade: ênfases e


deslocamentos de posições. Disponível em:
<http://www.pucsp.br/rever/rv1_2006/p_valle.pdf> Acesso em: 15 jul 2007.

VARELLA, Drauzio. A imposição sexual. Disponível em:


http://drauziovarella.ig.com.br/artigos/isexual.asp. Acesso em: 13 ago. 2007.
VIEL, Ricardo. Juiz que arquivou caso Richarlyson terá 15 dias para se explicar ao
CNJ. Disponível em <http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/40760.shtml> Acesso
em: 07 ago. 2007.

... Carlos de Brito Imbassahy

> Da origem das espécies à teoria da Evolução

Artigos

Quando o naturalista inglês Charles Darwin lançou seu estudo ou teoria a respeito da
origem das espécies, na época, encontrou uma enorme oposição religiosa porque, de
fato, seus fundamentos se estribavam exclusivamente em hipóteses deveras
materialistas.

Apesar disso, ele apresentava farto documentário de suas observações que, sem dúvida,
davam cabedal para seus argumentos. Contudo, abalava a hipótese de que Deus teria
feito tudo à sua vontade e cada coisa de per si. E, por outro lado, vinha corroborar com
o cavaleiro de Lamarck – nascido Jean-Baptiste de Monet – em sua hipótese
evolucionista.

Lamarck tinha sérios opositores entre os naturalistas, principalmente porque nunca


aceitara a classificação biológica de Lineu e, com sua obra Filosofia zoológica lançara
contra si toda a fúria da Igreja. Sua hipótese de que a vida houvesse surgido da primeira
célula orgânica e que tenha se transmigrado gradativamente para espécies
imediatamente superiores até chegar à condição de alga, transformar-se em zoófitos e
gradativamente evolver até o primeiro vertebrado, era tido como heresia contra os
desígnios do Criador.

De fato, a Ciência primava pelo materialismo absoluto, apesar da falta de subsídios.


Contudo, para ela, ainda era mais compreensível admitir que uma célula orgânica fosse
a causa da vida que supor a existência do Deus absoluto, religioso, dispondo tudo a seu
bel prazer, de forma tão incoerente.

A mudança começou com Werner Heisenberg, cientista alemão que viveu durante o
período nazista e muito lutou contra seu predomínio despótico. Analisando a tese das
emissões, observou que determinadas partículas não obedeciam ao mesmo comando,
desviando-se da sua trajetória como se tivesse vontade própria. Ele mesmo comparou-as
a ovelhas desgarradas.

Murray Gell Mann, à frente do “acelerador fermi de partículas” da Stanford University


(EUA), ao equacionar a colisão de um elétron com um pósitron, concluiu que essas
partículas agiam como se fossem comandadas por alguma ação externa à energia
universal.

Foi dessa forma que nasceu a hipótese da existência de agentes estruturadores externos
ao Universo e capazes de atuar sobre a sua energia, modulando-a e dando-lhe formas
ditas materiais. Estes agentes, atualmente, são chamados de frameworkers.

A Hipótese da sua existência foi reforçada quando o observatório Keck II, do Haway,
descobriu que, em torno da estrela Alfa Centauro, forças extracósmicas atuavam sobre a
poeira cósmica em seu entorno, dando início à possível formação de um sistema
planetário.

Estaria explicada a origem de tudo?

Neste caso, não apenas o homem teria alma – ou princípio de vida espiritual, mas tudo
dentro do Universo, até mesmo a partícula elementar teria um princípio de vida não
biológica estruturado por um agente esterno ao próprio Universo. E neste caso, a teoria
da evolução das espécies tomaria uma nova concepção a ser analisada, partindo do
pressuposto que esses agentes é que seriam os responsáveis pela formação, a seu tempo,
de cada espécie.

Fonte: http://aeradoespirito.sites.uol.com.br

... Laylla Toledo

> O Poder da Fé
Artigos

O poder da fé

por Laylla Toledo

Cercados pelas atribulações do dia-adia, passamos a maior parte de nosso tempo


ocupados com nossas obrigações e não percebemos que muitos dos desencontros e
problemas do cotidiano poderiam ser resolvidos ou simplesmente afastados pela ação
direta e efetiva da prece.

Envoltos com a agitação das circunstâncias, temos dificuldades para nos silenciar e
elevar o pensamento a Deus, pedindo assistência.

É preciso conhecer as propriedades da prece para que possamos fazer dela a fonte diária
de refazimento de forças e o consolo que nos rejubila e eternece.

O homem é autor da maioria de suas aflições e se pouparia de maiores angústias se


agisse com sabedoria e prudência, pois essas misérias são o resultado de várias infrações
das leis divinas.

Se não ultrapassássemos o limite do necessário para viver, não teríamos as


conseqüências desastrosas geradas pelos excessos.

A atitude de louvar a Criação é um hábito muito antigo e surgiu nos tempos mais
remotos da antigüidade, quando o homem primitivo ainda dava seus primeiros passos
em direção a Deus.

Desde sua origem, o ser humano já deixava transparecer a percepção de que algo maior
e mais poderoso governava sua existência. Esse sentimento inato, cujo germe foi
depositado nele primeiro em estado latente, veio a eclodir e se ampliar com o passar dos
tempos.

Essa convicção da existência de um poder divino é o que chamamos de fé.

Muitos pensam que ela é uma virtude mística, mas, na realidade, trata-se de uma grande
força atrativa. Aliada ao poder de influenciação da prece, é capaz de cessar
imediatamente perturbações que estão em processo de andamento.

A oração é um sustentáculo para o equilíbrio da alma, mas ela não basta: é preciso que
esteja sempre apoiada sobre uma fé viva na bondade do Pai.

A fé é a mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus e a prece é sua filha


primogênita.

Porém, precisamos distinguir a diferença entre a fé cega e a fé racionada.

A fé cega aceita o falso como verdadeiro e se choca constantemente com a razão.


Levada ao excesso, produz o fanatismo, impondo-se sobre tudo e exigindo a abdicação
do raciocínio e do livre-arbítrio.

A fé racionada, ao contrário, apoia-se sobre os fatos e a lógica, não deixando


obscuridade alguma para trás de si.

É preciso entender aquilo em que se crê.

A fé produz uma espécie de lucidez que nos faz ver a finalidade para a qual todos nos
destinamos e os meios de poder atingi-la. Por isso, ela é um exercício de inteligência e
um dos primeiros elementos de todo o progresso.

“Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as
épocas da humanidade”.

A fé também deve ser humilde e aquele que a possui coloca sua confiança no Criador
mais do que em si mesmo.

A fé sincera é sempre calma, dá a paciência que sabe esperar, porque tem seu ponto de
apoio na compreensão.

Na fé incerta, surge a ansiedade, revelando uma insegurança diante da força de Deus e


de suas leis. E quando é movida pelo interesse, a pessoa tende a se tornar colérica e crê
suprir suas necessidades pela violência. Por exemplo: ao se sentir intranqüila e ansiosa,
ela acredita que as coisas têm de acontecer segundo seus caprichos, da forma e no
momento em que ela determina.

A calma é sinal de confiança e de que a rogativa levada a Deus será ouvida.

Já a violência é uma prova de fraqueza e dúvida sobre si mesmo e a Sabedoria Maior.

Se as pessoas fossem conscientes da força que têm em si e quisessem colocar sua


vontade a serviço dela, seriam capazes de grandes realizações.

Através de sua mente, o homem age sobre o fluido universal, modificando suas
qualidades e dando-lhe uma impulsão irresistível.

Aquele que junta ao fluido uma fé ardente, pode, apenas pela vontade dirigida para o
bem, operar “fenômenos” que não são senão a utilização das faculdades mentais e a
ação de uma lei natural. Mas para isso, é necessário domar a si mesmo e às más
influências do pensamento. As maneiras mais eficazes são a vontade acompanhada da
prece, a oração fervorosa e os esforços sérios como meio para a renovação íntima.

Ação e eficácia

Imaginar que é inútil fazer uma oração, expondo nossos sentimentos a Deus (sendo Ele
conhecedor de nossas necessidades), assim como acreditar que nossos desejos não
podem mudar os destinos traçados pelo Criador, é desconhecer as leis e a misericórdia
do Pai. Ele nos deu discernimento e inteligência para que o espírito não fosse um
instrumento passivo, sem livre-arbítrio, portanto, nem todas as circunstâncias da vida
estão submetidas à fatalidade. Daí a grande importância da prece e sua capacidade de
ação.

Seu poder está no pensamento e não se prende nem às palavras nem ao lugar ou
momento em que é feita. A prece é uma invocação na qual podemos nos colocar em
comunicação mental com outro ser ao qual nos dirigimos, estabelecendo uma corrente
fluídica.

A energia da corrente surge em razão do vigor do pensamento e da vontade. Como o


fluido universal é o veiculo do pensamento, essa substância primária (fluido) é
impulsionada pela vontade, transmitindo a idéia até o seu destinatário.

As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos espíritos encarregados de executá-las.


Aquelas que são dirigidas a outros seres, como aos santos, por exemplo, são levadas até
Ele por esses mensageiros, que surgem apenas na qualidade de intercessores, pois nada
acontece sem a vontade do Pai.

Os espíritos benevolentes nos inspiram com bons pensamentos, para que possamos
adquirir a força moral necessária para superarmosnas dificuldades e voltarmos ao
caminho do bem. Exercendo uma ação magnética sobre os homens, eles suprem,
quando necessário, a insuficiência daquele que ora, dando-lhe momentaneamente uma
força excepcional, isto quando é julgado digno desse favor.

O homem coloca em prática os bons conselhos se assim o desejar, pode ou não aceitar a
sugestão oferecida. Com isso, através de seu livre-arbítrio, ele tem a responsabilidade
sobre seus atos e escolhas, deixando-lhe o mérito da decisão entre o bem e o mal.

As qualidades da prece

A prece pode ter como objetivo vários pedidos, como força para suportar e transpor as
adversidades, calma nos momentos críticos e de decisão, perdão por faltas cometidas
contra si e contra os outros, proteção contra os pensamentos maléficos, os maus
espíritos e diante de um perigo iminente, saúde e equilíbrio físico, através da ação
magnética que ela exerce sobre as células, recompondo aquelas que se encontram
exaustas, um favor especial, em particular, agradecimento ou uma maneira de louvar a
Deus.

A oração pode ser feita em benefício de outras pessoas ou a nosso próprio favor.
Para que ela atinja seu objetivo, é necessário que seja clara, simples, concisa e
fundamentada na fé.

Devemos elevar nossa alma a Deus com humildade e agradecer por todos os benefícios
recebidos, solicitar seu apoio, indulgência e misericórdia e, se houver necessidade, fazer
um pedido específico.

Deve-se ainda lembrar sempre de reconhecer a intervenção do Altíssimo quando uma


alegria nos chega ou quando um incidente é evitado.

Sem fraseologia inútil, cada palavra deve conter a sua importância, fazer refletir e elevar
o coração com sentimentos nobres e sinceros.

Algumas pessoas se utilizam de palavras decoradas, rígidas e determinadas, como se a


oração fosse uma fórmula. Outras rezam por dever ou mesmo por hábito. Murmurar
maquinalmente não é uma linguagem natural que surja espontaneamente do coração. O
que Deus observa é o que está no íntimo, na veracidade de cada palavra, não o número
de vezes que a prece é repetida.

O Pai quer ouvir apenas a sinceridade de nosso coração, do contrário, não terá crédito
algum.

No evangelho, os espíritos nos dizem:

“A forma não é nada, o pensamento é tudo.


Orai, cada um, segundo as vossas convicções e o modo que mais vos toca; um bom
pensamento vale mais que numerosas palavras estranhas ao coração”.

Conscientização

Mesmo sabendo dos benefícios e qualidades da prece, a solução de nossos problemas


requer muito mais do que vontade e fé ardente. É indispensável o esforço no sentido da
melhoria íntima.

Evocar a inspiração dos bons espíritos e pensar que “eles resolvem tudo” é não assumir
sua responsabilidade como parte do processo. Essa atitude tende levar à acomodação.

É necessário querer mudanças e fazê-las acontecer de forma direta, objetiva, consciente


e responsável. Isto significa colocar em prática a modificação de certas atitudes,
pensamentos e emoções negativas.

Revitalizar o ânimo e modificar as imagens do inconsciente que carregam tristeza,


rancor, ódio, mágoa e medo é uma maneira de reorganizarmos essas emoções que nos
fazem tanto mal.

Esse recondicionamento íntimo não se refere apenas ao ganho de virtudes interiores,


como amar e perdoar, mas à conquista do comando consciente de nós mesmos e à
descoberta dos potenciais que temos na mente, na vontade e na emoção.

Para conseguir isso, não bastam leituras e conhecimentos, é necessária a ação


programada e permanente, isto é, disciplina e controle dos impulsos.

Caminhar com passos firmes assegurados na fé é imprescindível, utilizar-se da prece


durante a jornada é indispensável, mas estar atento ao lema “orai e vigiai” é prudente e
de bom senso.

... Luiz Carlos Formiga

> O Sonho de Nieta e o Pesadelo de Teresa

Artigos

O inconsciente acha-se representado naquela fração do sonho que se registra na


memória consciente. Fromm

Nieta era pessoa simples e tinha o sonho como uma interrogação. Já ouvira falar de
pessoas que sonhando haviam chegado a resolução de problemas matemáticos, antes
não resolvidos quando estavam acordadas.

Existem modalidades existenciais diferentes? A mente consciente constitui apenas parte


do psiquismo total? Existe uma vida psíquica chamada de “inconsciência”, que é o
principal protagonista quando o sono retira a outra de cena?

O Livro dos Espíritos (2), diz que a alma é um ser pensante que permanece ativo
durante o sono. Pelos sonhos, quando o corpo repousa, o Espírito tem mais faculdades
do que no estado de vigília, adquire maior potencialidade e pode pôr-se em
comunicação com os demais Espíritos. Nesse estado alterado de consciência, o
psiquismo profundo tende a subir em primeiro plano, até subjugar o EU da superfície?

André Luiz (3), espírito, relata que Nieta fora transportada ao salão acolhedor de Dona
Isabel. Aniceto, espírito instrutor, aclara que numerosos irmãos encontram-se neste
pouso de trabalho espiritual, na esfera a que os encarnados chamariam sonho.
Complementa dizendo que nestas ocasiões, no entanto, não é fácil transmitir mensagens
de teor instrutivo utilizando lugares comuns contaminados de matéria mental mais
grosseira.

Percebemos uma pessoa sonhando por estranhos movimentos oculares produzidos, por
ela, em certa etapa do sonho. O período REM, "rapid eye movements", é “paradoxal”
porque no ápice do relaxamento vamos encontrar uma atividade intensa de numerosas
estruturas cerebrais, com variação da freqüência das ondas cerebrais, e traçado próximo
ao do estado de vigília. Quando eram acordadas neste período as pessoas contavam que
tiveram um sonho (6).

Qual a visão espírita desses fenômenos? Como interpretar o sonho?(6) A tarefa não é
muito fácil porque estamos mergulhados numa matéria muito densa. No entanto, André
Luiz nos oferece um exemplo, quando Nieta sonha com a avó desencarnada.

Antes do sonho de Nieta (3) vamos ouvir outro relato.

Teresa também sonhava (1). No entanto, na sua visão é possível reconhecer os


caracteres dos pesadelos e poderemos utilizá-la para fazer um esboço do inferno.

Você já teve pesadelos e acordou com aquela taquicardia? Como é bom acordar e
encontrar a saída do inferno, embora alguns o admitam como eterno. Um pesadelo
como o de Hiroshima e sem fim, seria também uma grande injustiça. Já pensou se um
dos seus pesadelos fosse eterno? "Deus me livre", diria você, lembrando a misericórdia
divina.

A descrição do inferno cristão é tomada dos autores "sagrados" e da vida dos santos. No
livro "O Céu e o Inferno"(1), encontramos um esboço. Dele vamos tirar alguns trechos
do pesadelo de Santa Teresa.

"Os demônios são puros Espíritos, e os condenados, presentemente no inferno, podem


ser considerados puros Espíritos, uma vez que só a alma aí desce, e os restos entregues à
terra se transformam em ervas, em plantas, em minerais e líquidos, sofrendo
inconscientemente as metamorfoses constantes da matéria."

Mas, onde estará esse inferno?

"Alguns doutores o têm colocado nas entranhas do nosso globo; outros não sabemos em
que planeta, sem que o problema se haja resolvido por qualquer concílio. Estamos, pois,
quanto a este ponto, reduzidos a conjeturas". Mas, “Santo Agostinho não concorda que
os sofrimentos físicos sejam apenas reflexos de sofrimentos morais e vê, num
verdadeiro lago de enxofre, vermes e serpentes saciando-se nos corpos, casando suas
picadas às do fogo. Os condenados, vítimas sacrificadas e sempre vivas, sentirão a
tortura desse fogo que queima sem destruir."

"Há teólogos que dão do inferno descrições mais minuciosas, variadas e completas. E
conquanto se não saiba em que lugar do Espaço está situado esse inferno, há diversos
santos, transportados em espírito, que o viram". “Desse número é Santa Teresa. Dir-se-
ia, pela narrativa da santa, que há uma cidade no inferno: — ela aí viu, pelo menos, uma
espécie de viela comprida e estreita como essas que abundam em velhas cidades, e
percorreu-a horrorizada, caminhando sobre lodoso e fétido terreno, no qual pululavam
monstruosos répteis. Foi, porém, detida em sua marcha por uma muralha que
interceptava a viela, em cuja muralha havia um nicho onde se abrigou, alias sem poder
explicar a ocorrência. Era, diz ela, o lugar que lhe destinavam se abusasse, em vida, das
graças concedidas por Deus em sua cela de Ávila."

“Apesar da facilidade maravilhosa que tivera em penetrar esse nicho, não podia sentar-
se, ou deitar-se, nem se manter de pé. Tampouco podia sair. Essas paredes horríveis,
abaixando-se sobre ela, envolviam-na, apertavam-na como se fossem animadas de
movimento próprio. Parecia-lhe que a afogavam, estrangulando-a, a esfolavam e
retalhavam em pedaços. Ao sentir queimar-se, experimentou, igualmente, toda a sorte
de angustias."

O sonho de Nieta foi diferente, embora guardasse viva na lembrança a cobra


ameaçadora (3).

No salão acolhedor de Dona Isabel, os espíritos André Luiz, Vicente e Aniceto


observavam. Muitos recém-chegados pareciam convalescentes. Alguns se mantinham
de pé, sob o amparo de braços carinhosos. Eram os amigos encarnados a se valerem do
desprendimento parcial, pelo sono físico, que se reuniam a nós, aproveitando o auxílio
de entidades generosas e delicadas. A maior parte não entendia com precisão, o que se
lhes desejava dizer. Revelavam boa vontade na recepção dos conselhos, mas grande
incapacidade de retenção. "Entre eles e nós existe um espesso véu. É a muralha das
vibrações". "Eis porque raramente estão lúcidos ao nosso lado". Aniceto amplia a
instrução: "vejam aquela jovem senhora encarnada (Nieta), em conversa com a
vovozinha que trabalha conosco em Nosso Lar (3) André Luiz observa que uma anciã
(avó desencarnada), de olhos brilhantes e gestos decididos, abraçava-se à neta."

" - Nieta - exclamava a velhinha, em tom firme -, não dês tamanha importância aos
obstáculos. Esquece os que te perseguem, a ninguém odeies. Conserva tua paz
espiritual, acima de tudo. Tua mãe não te pode valer agora, mas crê na continuidade de
nossa vida. A vovó não te esquecerá. A calúnia, Nieta, é uma serpente que ameaça o
coração; entretanto, se a encararmos de frente, fortes e tranqüilas, veremos a breve
tempo, que a serpente não tem vida própria. É víbora de brinquedo a se quebrar como o
vidro, pelo impulso de nossas mãos. E, vencido o espantalho, em lugar da serpente,
teremos conosco a flor da virtude. Não temas, querida! Não percas a sagrada
oportunidade de testemunhar a compreensão de Jesus!..."

A jovem não respondia, mas seus olhos semilúcidos estavam cheios de pranto.
Demonstrava uma consolação divina, recostada ao seio carinhoso da devotada velhinha.

Como é bom ter uma avó como essa! Nós que estamos na condição de avós, embora
ainda encarnados, devemos nos esforçar para que nossos netos possam também nos
amar profundamente. Essa tarefa começa pelo amor que devotamos aos seus pais (5-V).
Nessas relações sócio-familiares há um outro difícil caminho a percorrer é a obtenção
do título de "sogros queridos".

O leitor pode imaginar o número de perguntas feitas por André Luiz e Vicente.

- Esta irmã se lembrará de tudo, ao despertar no corpo físico? – perguntou André Luiz,
intrigado, ao orientador.
Aniceto sorriu e esclareceu:

_ "Sendo a avó mais evoluída e, examinando ainda a condição dos planos de vida em
que ambas se encontram, a jovem encarnada está sob domínio espiritual da benfeitora.
Entre ambas há uma corrente magnética recíproca, salientando-se, porém, que a vovó
amiga detém uma ascendência positiva. A neta não vê o ambiente com precisão, nem
ouve as palavras integralmente. Não nos esqueçamos que o desprendimento no sono é
fragmentário e que a visão e audição, peculiares ao encarnado, se encontram nele
também restritas".

Começamos a entender o que disse Erick Fromm: "na realidade o inconsciente acha-se
representado naquela fração do sonho que se registra na memória consciente".

Aniceto complementa: "o fenômeno pois, é mais de união espiritual que de percepções
sensoriais, propriamente ditas. A jovem está recebendo consolações, de Espírito a
Espírito".

Sabemos da existência de tipos de sonhos, como fisiológico, pantomnésico,


premonitório. No caso de Nieta, estamos diante do sonho espiritual, onde há vivência no
plano extra-físico.

Como a pergunta de André Luiz foi parcialmente respondida, Aniceto continua a


explicação: " Ao despertar, Nieta não se recordará de todas as minúcias deste venturoso
encontro que acabamos de presenciar.

O leitor ainda não acostumado aos artigos espíritas deverá estar perguntando: - se Nieta
não vai se recordar, de que então adiantou encontrar-se com a "santa" de sua avó, em
sonho?

Aniceto, que parecia saber a dúvida que passava pela mente dos pós-graduandos,
ampliou: "acordará, porém, encorajada e bem disposta, sem poder identificar a causa da
restauração do bom ânimo. Dirá que sonhou com a avó num lugar onde havia muita
gente, sem recordar as minudências do fato, acrescentando que viu, no sonho, uma
cobra ameaçadora, que logo se transformou em serpente de vidro, quebrando-se ao
impulso de suas mãos, para transformar-se em perfumosa flor, da qual ainda conserva a
lembrança agradável do aroma. Afirmará que soberano conforto lhe invadiu a alma e,
no fundo, compreenderá a mensagem consoladora que lhe foi concedida."

Vicente, curioso, perguntou:

- "não se lembrará das palavras ouvidas?"

- Nieta, precisaria ter adquirido profunda lucidez no campo da existência física –


prosseguiu Aniceto, explicando – e devo esclarecer que recordará as imagens simbólicas
da víbora e da flor, porque está em relação magnética com a veneranda avozinha,
recebendo-lhes a emissão de pensamentos positivos. A benfeitora não fala apenas. Está
pensando fortemente também. A neta, todavia não está ouvindo ou vendo pelo processo
comum, mas esta percebendo claramente a criação mental da anciã amiga, e dará noticia
exata dos símbolos entrevistos e arquivados na memória real e profunda. Desse modo,
não terá dificuldade para informar-se quanto à essência do que a bondosa avó deseja
transmitir-lhe ao coração sofredor, compreendendo que a calúnia, quando fere uma
consciência tranqüila não passa de serpente mentirosa, a transformar-se em flor de
virtude nova, quando enfrentada com o valor duma coragem serena e cristã.

Depois de sonhos espirituais, onde Chico Xavier estabelecera relação magnética com o
espírito Emmanuel, surgiu o livro "Paulo e Estevão" (4), com emoção redobrada. Quem
duvidar leia-o e observe os detalhes, as minúcias. Por mais duro que seja, seus olhos
ficarão molhados!

André Luiz, após examinar o sonho de Nieta, diz que a lição fora profundamente
significativa, porque começara a adquirir amplas noções do intercâmbio entre as duas
esferas e lembrou no longo esforço dos que indagam o mundo dos sonhos (6). Quanta
riqueza psíquica, suscetível de conquista, se pesquisadores conseguissem deslocar o
centro de estudo, das ocorrências fisiológicas para o campo das verdades espirituais.

Nós compreendemos que, por algum tempo, ainda será assim. Nos nossos objetivos
perseguimos horas de entretenimento, porque ninguém é de ferro! No entanto, é
necessário, vez por outra, lembrar que não viemos a vida à passeio. Por isso, livro como
"Potter" (5-I) é mais lido do que André Luiz.

Harry Potter é "muito mais moda que magia", "uma fórmula de sucesso apoiada num
grande projeto de marketing" (5-I), como o de alguns políticos (7).

Os livros da codificação (1, 2) não vão sair de moda, porque os Espíritos Superiores
elaboraram um plano de ação, implementado em 1857, não era apenas um plano de
marketing.

Os livros de J.K. Rowling seduzem (5-II), exercem fascínio também em muitos


progenitores. Guardada a proporção, descrições diversas contidas no livro "O Céu e o
Inferno" (1) e na série André Luiz (3) também são capazes de aguçar, e muito, a nossa
curiosidade, despertar e fazer voar nossa imaginação e, ainda, enriquecer nossos
pensamentos formigando a emoção.

No entanto, são mais importantes que Potter pela vantagem de nos colocarem perto da
realidade, como o filme de Andréa Pasquini (5-III), sobre lepra e hanseníase (5-IV) – "É
tudo Verdade".

Muitos vão morrer sem conseguir ler todos os livros psicografados por Chico Xavier,
embora seja mais rápido ler do que escrever. O espírita não vai conseguir arranjar
desculpas por ter desencarnado sem ter lido "Paulo e Estevão"(4). Para escrevê-lo Chico
Xavier (3) necessitou dos sonhos espirituais, como já disse, mas em "Os Mensageiros" é
que André Luiz lembra: "ainda são poucos os irmãos encarnados, que sabem dormir,
para o bem..."

Reencarnado no Brasil, de FHC-LULA-TAXAS DE JUROS ALTAS, perder tempo


demais com entretenimento é como "entrar" no cheque especial. Ele já acumula alta de
208% no período de 12 meses.

Os especialistas em reencarnação/cheques especiais não recomendam uma vida de


privações, sem gozos terrenos. Mas, defendem uma adequação à realidade da conta
reencarnatoria/bancaria. Não se pode viver apenas para trabalhar e pagar contas, pois
queremos "qualidade de reencarnação" (vida). Se a opção é a leitura, talvez seja
possível unir o útil ao agradável, sendo mais seletivo e criando uma lista de prioridades.
Como a média de vida não é alta, isto é, como a reencarnação é curta, mas os períodos
entre uma e outra podem ser longos, a pessoa deve tomar cuidado para não entrar no
cheque-"ouro". Deve decidir o que pode ser cortado e fazê-lo com cuidado, pois vai ser
muito difícil explicar, ao instrutor espiritual, porque cortou "Paulo e Estevão" (4) e o
"Nosso Lar" (3), em detrimento de outra literatura (5).

Notas Bibliográficas

Endereços eletrônicos - Caso não consiga clicar no link, pode copiá-lo e colocá-lo em
seu navegador.

1. O Céu e o Inferno. 425 p. FEB. É denominado também de "a Justiça Divina segundo
o Espiritismo".

Desenvolve a quarta parte de "O Livro dos Espíritos". Oferece um exame cuidadoso de
todas as teorias sobre o pós-morte. Discute o céu, o inferno, os anjos, os demônios e
ainda traz depoimentos de espíritos que se comunicaram na época falando de suas
situações após a morte do corpo físico, que não matou a consciência, não matou a vida,
que de alguma forma continuou em outra dimensão. Foi publicado em primeiro de
outubro de 1865.

http://www.febnet.org.br/

2. O Livro dos Espíritos. 494 p. Federação Espírita Brasileira (FEB). Rj. Rj.

É um tratado de filosofia espiritualista, o livro básico da codificação, nele Kardec vê


respondidas pelos espíritos 1019 perguntas cuidadosamente elaboradas por ele. É
dividido em quatro partes, fala da imortalidade da alma; a natureza dos espíritos e suas
relações com os homens; as leis morais e o futuro da humanidade. Do seu
desdobramento surgiram os outros livros da codificação. Foi publicado em 18 de abril
de 1857.

http://www.febnet.org.br/

3. Os Mensageiros. André Luiz. Francisco Cândido Xavier. FEB. 39 edição. 2003.

A FEB edita 16 livros ditados por André Luiz a Francisco Cândido Xavier. Para a
compor a coleção, a instituição reuniu 13 desses livros: os que têm como principal
característica trazer informações sobre as atividades dos Espíritos após a morte do corpo
físico. Todas as obras ganharam moderna apresentação gráfica. São elas: Nosso Lar, Os
Mensageiros, Missionários da Luz, Obreiros da Vida Eterna, No Mundo Maior,
Libertação, Entre a Terra e o Céu, Nos Domínios da Mediunidade, Ação e Reação,
Evolução em Dois Mundos, Mecanismos da Mediunidade, Sexo e Destino e E a Vida
Continua. Os outros três livros – Desobsessão, Agenda Cristã e Conduta Espírita – não
foram incluídos porque a natureza das informações que trazem é diferente da que
caracteriza os livros da coleção.
Nosso Lar é o primeiro livro da coleção A Vida no Mundo Espiritual, que também foi
lançada na Bienal. Os treze livros, de autoria do Espírito André Luiz, trazem
informações ainda mais detalhadas sobre a vida após a morte, além de avançados
conceitos nas áreas científica, filosófica e moral. Nesses livros _ que estão entre as
obras mediúnicas mais conhecidas pelo público espírita _ André Luiz atua como um
jornalista, que envia notícias do mundo espiritual, explicando como vivem os Espíritos,
suas tarefas cotidianas, suas cidades, hospitais e centros de estudo.

http://www.febnet.org.br/

Chico Xavier (Francisco Cândido Xavier)

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/talento-extraordinario.html

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/por-que-considero-inteligente.html

4. PAULO E ESTEVÃO. Emmanuel. Francisco Candido Xavier. Edição Especial.

Emmanuel neste romance resgata a imagem de Paulo de Tarso, visto por alguns como
um fariseu fanático, perseguidor de cristãos, e da então nascente doutrina cristã,
apresentando-o como um ser corajoso e sincero que se arrependeu de sua postura
radical, empreendeu acelerada revisão de conceitos e atendeu ao chamado de Jesus na
estrada de Damasco, transformando sua vida num exemplo de trabalho, por dezenas de
anos dedicados a abrir igrejas cristãs e dar-lhes assistência. "Paulo e Estevão" fará você
compreender como o amor apaga a multidão de faltas cometidas. 599 páginas, papel
pólen, formato 14x21cm. Preço de Capa: Edição Especial.

http://www.febnet.org.br/html/noticias/emmanuel.html

5. Sobre Harry Potter, Evangelização e Lepra, títulos e endereços eletrônicos.

I. Harry Potter - O Medo e o Delírio

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/harry-potter.html

http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0018.htm

II. Sedução

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/seducao.html

http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0026.htm

III. "É Tudo Verdade". Lepra, Harry Potter e Dr. Fritz

http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0029.htm

IV. O Poder das Palavras

http://www.saci.org.br/
http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0001.htm

http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0002.htm

V. Importância da Evangelização infanto-juvenil

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/deixe-claro.html

http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0015.htm

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/por-que-criancas-se-suicidam.html

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/assistencia/vacinacao.html

6. Visão Espírita dos sonhos, Revista Internacional de Espiritismo,

Ano LXXIV, número 1, fevereiro de 1999.

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/sonhos.html

7. Voto Consciente (Política e Espiritismo)

Antes de Votar pergunte ao Candidato Sobre o Aborto

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/eleicao-antes-de-votar.html

Em Quem Votar? (A Questão Política)

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/em-quem-votar.html

O Retrato do Deputado Bezerra e a Aristocracia intelecto-moral

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/retrato-de-bezerra.html

Eleição, Mulheres e Voto Consciente

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/eleicao-mulheres-e-voto-consciente.html

A Norma Técnica do Aborto em Debate (político)

http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0016.htm

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/a-norma-do-aborto.html

http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/ciancas-nascem-sem-aids.html

Apego ao Cargo. O Poder Neurótico

http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0031.htm
... André Luís N. Soares

> Leonora Piper (1857-1950)

Artigos

1. Sinopse Biográfica

Sra. Piper de Boston, EUA. Sem dúvida a médium que mais contribuiu para os avanços
da pesquisa psíquica e, especialmente, para a hipótese da sobrevivência após a morte.
Por mais de 4 décadas foi estuda pelos sábios das Sociedades inglesa e americana de
Pesquisa Psíquica. Seus fenômenos persuadiram, entre outros, nomes como Sir Oliver
Lodge, James Hyslop, William James e o prestidigitador e terror dos falsos médiuns,
Richard Hodgson. O primeiro "controle" (guia) a se manifestar na Sra. Piper foi uma
garota indiana cujo nome era Chlorine. As primeiras manifestações de sua mediunidade
ocorreram após se consultar com um curador psíquico cego, Dr. J. R. Cocke, que dizia
receber o espírito de um médico chamado Finne ou Finnett, a fim de superar o trauma
de um acidente que sofrera num trenó e pela suspeita de um câncer em razão de um
tumor que lhe aparecera. Depois de Chlorine e de diversos comunicadores que se
manifestaram, uma personalidade que se apresentou como Phinuit, dizendo ter sido um
médico francês, passou a administrar os comunicadores esporádicos que pretendiam se
manifestar. Embora com grafia diferente, Phinuit assemelha-se a mesma entidade Finne,
de Cocke. Phinuit inicialmente apenas dava conselhos médicos ou diagnósticos e depois
qualquer tipo de informação requerida pelos assistentes. A notoriedade da Sra. Piper
deu-se através de William James, que a conheceu por intermédio de sua sogra, Sra.
Gibbens, depois que esta lhe contara sobre os surpreendentes fenômenos da médium.
William James e Richard Hodgson, membros ativos da "American Society Psychical
Research", tomaram interesse sobre Piper e, com grande ceticismo, vieram examinar
seus "dons". Numa sessão, Phinuit falou do filho Herman (ele pronunciou "Herrin") que
James perdera, fornecendo diversos detalhes que não deram ao consulente menor dúvida
a respeito da criança. Para estabilizar o "rapport" (conexão) com os espíritos
comunicadores, ela utilizava uma influência psicométrica e freqüentemente pedia
objetos que pertenciam a pessoa ou falecido. Hodgson, apurado caçador de fraudes,
contratou um serviço de detetives para seguir Sra. Piper e sua família e descobrir um
possível meio dela adquirir as informações por meios normais. Hodgson arranjava as
sessões sem fornecer os nomes verdadeiros dos assistentes. Estes eram, na maioria das
vezes, apresentados com o pseudônimo de "Smith". Piper habitualmente era pouco
precisa naquilo em que os pseudo médiuns têm mais sucessos. Divagava sobre datas e
preferia dar nomes próprios e geralmente concentrava-se em descrever doenças,
idiossincrasias e caráter dos assistentes. Pescava detalhes sobre o passado os quais
nenhum médium fraudulento teria a mínima chance em alcançar, mas freqüentemente
falhava em responder questões testes. O espírito de Hannah Wild, manifestado através
dela, não foi capaz de descrever o conteúdo de uma carta selada a qual deixou antes de
sua morte e quando o transe sugeria a incorporação do falecido médium Station Moses,
falhou em dar os nomes corretos de seus antigos guias ("Doctor", "Mentor" e
"Imperator").

Em 1888-89, professor Hyslop juntou-se a investigação. Doze sessões foram suficientes


para convencê-lo da insustentabilidade da hipótese da personalidade secundária. Em
"Proceedings of S.P.R, vol. XVI" disse: "eu dou minha adesão à teoria que existe uma
vida futura e persistência da identidade pessoal". A fim de afastar qualquer
possibilidade de fraude, em 1889, Sra. Piper deixou os EUA para ser estudada na
Inglaterra, longe do contato de pessoas próximas. Em novembro do mesmo ano, foi
recepcionada no porto por Sir Oliver Lodge. Sob os cuidados de Myers foi para
Cambridge na casa de quem ela ficou. Nas sessões na Inglaterra, Myers escolhia
assistentes que não moravam em Cambridge e os quais se apresentavam à médium sob
nomes falsos. Então, sob a supervisão de Myers, Lodge e Walter Leaft, Sra. Piper deu
88 sessões entre novembro de 1889 e fevereiro de 1890. No relatório de Lodge (1890)
foi concluído: 1. que muitos fatos fornecidos pela médium não poderiam ser obtidos
nem por detetive muito hábil; 2. que, se ela tivesse ajuda de comparsas, deveria
expender muito tempo e dinheiro, os quais ela não tinha. Lodge, inclusive,
acompanhava-a quando ia às ruas fazer compras; 3. Que ela nunca deu qualquer motivo
para que suspeitassem de fraude. Sir Oliver Lodge enumerou 38 casos nos quais as
informações dadas pela médium não faziam parte do conhecimento consciente dos
assistentes. O êxito da Sra. Piper era algo tão assustador que a dúvida era sobre a
espécie anômala da origem das informações (telepatia, espíritos etc.). Hodgson, em
"Proceedings S.P.R, Vol. XIII", diz: "tenho tentado a hipótese telepática dos vivos por
muitos anos, assim como a hipótese espírita, não tenho nenhuma hesitação em afirmar
com mais absoluta segurança que a hipótese espírita é justificada por seus resultados e a
outra não". Ao voltar a Boston, EUA, a médium começou a manifestar um novo
"controle", o recém falecido "George Pelham", amigo do Dr. Hodgson. Pelham era um
advogado e versado em filosofia e literatura. Também era escritor, tendo publicado dois
livros. Pouco mais de um mês de sua morte, começou a manifestar-se através da Sra.
Piper, na ocasião de suas sessões. Provavelmente essa foi a fase mais forte de sua
mediunidade. Com a vinda de George Pelham, Sra. Piper, além de sua habitual
psicofonia, iniciara sua fase de escrita automática, de sorte que às vezes realizava um
"tour de force", psicografava simultaneamente mensagens diferentes de Pelham por
ambas as mãos enquanto ditava uma terceira de Phinuit. Daí em diante, seguiu-se uma
série de "controles". Era o auto-aclamado "grupo Imperator" (Pelham, Myers, Hodgson,
George Eliot, Guyon etc.) . Depois daquela visita à Europa, ela ainda retorna à
Inglaterra mais duas vezes. Uma em 1906, quando se submete a mais 74 sessões.
Hodgson morre em 1905. Algum tempo depois, uma personalidade afirmando ser o
próprio Dr. Hodgson emerge como um novo "controle". Em 1909, William James
publica seu relatório sobre as comunicações de Hodgson nas Sociedades Inglesa e
Americana. James não se compromete com sua conclusão, mas sentiu a presença de
uma vontade externa esforçando-se para se comunicar através da médium. De volta aos
EUA, em 20 de outubro de 1901, o "New York Herald" publica uma declaração de
Piper dizendo que ela confessou não acreditar que os espíritos dos mortos se
manifestam através de seu transe. Cinco dias depois, ela desmente aquela declaração no
"The Boston Advertiser", embora diga que "espíritos" podem ou não ser a explicação.
Oliver Lodge lembra que a opinião dela não tem muito peso, pois que depois do transe
não se lembrava do que se passou. Em 1909 volta pela última vez à Inglaterra. Madame
"Guyon" foi seu último "controle" o qual fechou o círculo Imperator.

2. Influência Espiritualista

Não.

3. Alguma Tragédia fez despertar sua mediunidade

Sim.

4. Espécie de Mediunidade

Intelectual.

5. Evidências Mais Relevantes

I. Caso dos Sutton. Numa das sessões em 1893, o casal Sutton tomou uma tentativa de
comunicação com sua filha Katherine, que morrera seis meses antes. Detalhes como a
dor de garganta, a paralisia da língua da menina, o cavalinho que o pai lhe dera, sua
febre, quando doente, e a forma dramática como as mensagens são passadas mostram o
alto grau de sugestão da paranormalidade. As mensagens são passadas à médium por
intermédio do "controle" Phinuit que, numa espécie de telefone sem fio, dita tudo o que
lhe é passado pela pequena Katherine.

II. Caso do relógio. Oliver Lodge unicamente colocou nas mãos da médium um relógio
que pertencia ao falecido Jeremiah, irmão de seu bastante idoso tio Robert. A médium
rapidamente disse que o relógio pertencia a um de seus tios, o qual gostava muito do tio
Robert. Disse que o relógio pertencia ao tio Jerry (diminutivo de Jeremiah). Lodge disse
a médium em transe que para seu tio Robert pudesse reconhecer a presença do irmão,
seria importante ele - Jerry - lembrar de alguns detalhes da infância que passaram
juntos. O que se seguiu foram peculiaridades muito especiais, como a travessa do rio a
nado e o risco de se afogar; a morte de um gato no campo de Smith; a posse de uma
espingarda e a pele de uma cobra a qual Jerry acreditava estar ainda com Robert. Este
último detalhe foi de uma qualidade tão alta que mesmo Andrew Lang, antropólogo,
folclorista e membro da "Society Psychical" inglesa, que até então resistia a acreditar
nos dons da Sra. Piper, foi obrigado a inclinar-se.
III. O Reconhecimento de G.P. A fim de testar a identidade do "controle" George
Pelham (G.P.), seu falecido amigo, Hodgson organiza uma sessão para reconhecimento
de 30 de seus antigos amigos, dentre 150 pessoas estranhas. G.P. incorporado na Sra.
Piper, reconhece-os, dentre as pessoas que lhe são apresentadas, e lhes dirige palavras,
como teria feito quando vivo. É verdade que a prova fracassa uma única vez, quando
chega na hora da Srta. Warner, entretanto a justificativa é facilmente atribuível a
memória, pois conhecera a menina quando ela tinha 8 anos de idade. Pelham não a
identifica, perguntando ao Dr. Hodgson quem podia ela ser. Hodgson respondeu que a
mãe da moça era amiga da Sra. Howard, que Pelham havia, com alguma familiaridade,
conhecido. O que se segue é uma conversa típica e saudosa entre G.P. e a Srta. Warner,
com um espanto inicial de G.P. ("Meu Deus, como crescestes!... Oh, eu conheci muito
vossa mãe.") e depois o diálogo prossegue norteado por assuntos sobre a mãe da moça.

IV. Caso Lethe. Este é um exemplo de correspondência cruzada entre as médiuns Piper
e Willett a fim de verificar a identidade do suposto "Myers" (falecido em 1901) que
aparentemente se manifestava através delas. G.B. Dorr, nos EUA, formulou a pergunta
ao "Myers" da Sra. Piper: "que vos sugere a palavra Lethe?" Obteve como resposta um
grande número de alusões a obras clássicas que nada significaram para ele. O tema
sobre "Clássicos" foi escolhido porque, além da médium Piper não ter nenhum
conhecimento, Myers era um profundo estudioso sobre. As alusões se referiam a
história de Ceyx e Alcione e ao envio da Deusa Íris ao submundo ligado ao rio Lethe
em Metamorphoses de Ovídio. Depois, Lodge fez a mesma pergunta ao Myers da Sra.
Willett o qual respondeu que já havia respondido essa pergunta antes e com grande
esforço decifrou a palavra D-O-R-R em maiúsculas. Posteriormente, os escritos de
Willett fizeram diversas referências ao rio Lethe na Enêiada de Virgílio, mas sob a visão
de pessoas com alta cultura, como Myers. Seguindo-se, escreveu o Myers da Sra.
Willett: "eu ter diferentes escribas [as psicografias] significa que devo mostrar
diferentes aspectos sob os quais se há de encontrar a unidade subjacente, e sei o que
Lodge quer. Ele quer que eu prove que tenho acesso ao conhecimento revelado em
qualquer parte".

V. O caso Abt Vogler. Este é mais um exemplo de correspondência cruzada entre as


médiuns Piper, Verrall e sua filha a fim de novamente testar a identidade do suposto
"Myers", que aparentemente se manifestava através delas. Na Inglaterra, Piddington
explica ao "Myers" da Sra. Piper: "temos conhecimento do esquema de
correspondências cruzadas que você está transmitindo através de vários médiuns e
esperamos que continue com elas. Tente dar a A e a B duas mensagens diferentes, entre
as quais não seja perceptível a menor ligação. Depois que possível, dê a C uma terceira
mensagem que revele as sugestões ocultas". Por fim, Piddington sugeriu a "Myers" que
assinasse cada um dos escritos um círculo com um triângulo dentro. E ainda há um
crucial detalhe: a sugestão dessa experiência foi ditada em latim ciceroniano à médium
em transe, dialeto que a Sra. Piper não tinha a mínima noção. O "controle" disse que
captou a mensagem. Demorou apenas algumas semanas para que o falecido Myers
decifrasse essa complicada correspondência cruzada. Entre 17 de dezembro e 2 de
janeiro, alusões aos temas "estrela", "esperança" e a "poesia de Robert Browning"
começaram a aparecer nos escritos da sra. Verrall e sua filha. Essas alusões tiveram
pouco sentido para Piddington até quando, em uma sessão com a sra. Piper em Londres,
ele recebeu uma mensagem para procurar "Esperança", "Estrela" e "Browning". As
alusões adquiriram sentido perfeito quando Piddington estudou Browning e descobriu
que a correspondência cruzada relacionava-se com os temas contidos em seu poema Abt
Vogler (Rogo, Scott. Life After Death: Case for Survival of Bodily Death, 1986).

VI. A mensagem cifrada Faunus. Numa das reuniões durante o período Hodgson como
"controle" da Sra. Piper, em 8 de agosto de 1915, a personalidade pede a Sra. Robbins,
assistente na sessão, para transmitir um recado a Lodge: "agora Lodge, que não estamos
aí como no passado, isto é, não completamente, estamos aqui capazes de dar e receber
mensagens. Myers diz a você tomar a parte do poeta, e ele [Myers] agirá como Faunus".
Myers. Ele protegerá. É o que tem a dizer a você, Lodge. Bom trabalho. Solicite a
Verrall, ela também estará entendida. Arthur [falecido esposo da Sra. Verrall] também
diz". A mensagem foi enviada a Sir Oliver Lodge, que a recebeu em 6 de setembro na
Escócia e tomou iniciativas para interpretá-la. Escreveu para Sra. Verrall: o poeta e
Faunus significa alguma coisa para você? Um protege o outro? Sra. Verrall responde em
8 de dezembro de 1915: "a referência é a Horácio, sobre a queda de uma árvore que por
um triz não o matou, o que ele atribui à intervenção de Faunus. Faunus, o guardião dos
poetas... A passagem não tem especial associação para mim". Lodge conseguiu entender
que a "árvore que cai" é uma simbologia à morte bastante usada. Consultou outros
eruditos e todos confirmaram. Sentia então que algo ruim estava para acontecer, mas
que Myers poderia ajudá-lo. Então 9 dias depois, no dia 17 de setembro, Lodge recebe
um telegrama do Ministério da Guerra informando que seu filho Raymond havia
falecido em Ypres (França), durante batalhas da 1ª Guerra, no dia 14 de setembro. A fim
de entender melhor a mensagem, Lodge procurou o Rev. M. A. Bayfield para
interpretação. Assim ele respondeu: "(...)Faunus 'aliviou', não 'desviou' o golpe. No
vosso caso, a significação me parece ser de que o golpe sobreviria, mas não esmagaria;
que seria 'atenuado' pela asseguração dada por Myers de que o vosso filho ainda vive
(...) Sou levado a crer que Horácio não se teria impessionado tanto se não fosse
realmente alcançado pela árvore. Há em suas Odes quatro referências ao caso, todas
fortalecendo a minha interpretação - e também a da mensagem de Myers, que devia
estar bem consciente dos termos da citação dos versos de Horácio - e não teria dúvida
de que o poeta não escaparia ao golpe, o qual fora rude". Em seguida a morte do filho,
Lodge recebeu comunicações de Myers e Raymond através da Sra. Piper. Assim, na
realidade, Myers estava atenuando a triste notícia, tranqülizando Lodge de que seu filho
continua vivo.

6. Críticas a hipótese da Sobrevivência

Dr. Phinuit, que se dizia um médico francês, além de não falar francês - disse que
esqueceu pelos constantes contatos com seus clientes britânicos -, quando se buscou
averiguar sua identidade, verificou-se que não existiu nenhum Dr. Phinuit em Metz e
que seus informes a respeito de sua pessoa eram todos fantasias. Disse ter estudado
Medicina num colégio parisiense chamado "Merciana" ou "Meerschaum". Não existiu
em Paris nenhum estabelecimento de ensino com esse nome. Mesmo quando
diagnosticava com muito êxito uma doença, seus conhecimentos de medicina eram
superficiais. Por vezes "pescava" informações e montava um vago falatório. Phinuit
realmente parece uma personalidade secundária dramatizada pelo inconsciente da
médium a qual, em estado de dissociação, captava telepaticamente algumas informações
na mente de pessoas presentes. Os diversos "controles" que assumiram o comando na
fase final da mediunidade de Piper falavam constantemente material desconexo e sem
sentido. O "controle" Hodgson, durante as pesquisas de William James, levando em
conta o conhecimento que a médium e os pesquisadores já tinham dele, parece ter sido
fraco em provar sua identidade, embora James conclua intuitivamente que sentiu a
presença de uma vontade externa tentando a muito custo criar jogos e situações que
pudessem demonstrar sua permanência após a morte, apesar de falhar em grande parte.
Sra. Sidgwick, ex-presidente da "Society Psychical Research" (S.P.R) declarou que os
guias ou "controles" possivelmente são sub-personalidades. Rosalind Heywood,
também ex-presidente da S.P.R, e Robert Tocquet, ex-presidente do Instituto de
Metapsíquica Internacional (IMI), estendem a mesma conclusão a todas as entidades
comunicantes que repassam suas mensagens aos "controles", os quais comandam a
médium durante a sessão.

7. Replicando os argumentos contrários a interpretação espiritualista

A aparência fictícia de certos "controles" da Sra. Piper, como Phinuit e George Eliot,
apenas ressaltam a dificuldade da transmissão telepática das personalidades falecidas,
uma vez que a "vontade do comunicante" se mistura à "vontade de personificação" da
médium. Numa análise mais abrangente, apenas a hipótese da sobrevivência parece
explicar os altos e baixos na qualidade das sessões quando houve simplesmente a
mudança de "controle", como a troca de Phinuit por George Pelham. A interferência dos
pesquisadores durante o transe, com sugestões, perguntas ou induções ao erro - como na
hipnose - pode ser bastante responsável por intensificar a personificação do
inconsciente. William James diz que mesmo a vontade externa pode ativar a vontade
própria da médium. Além disso, não parece razoável dar uma interpretação não-
espiritualista a casos fortes de comunicação cruzada. Por fim, a teoria da transmissão
apresenta-se como uma interpretação muito forte, mas a qual precisa responder por que
certas personalidades falecidas se ajustam melhor ao médium, como o processo de
comunicação funciona e como pode ser melhorado qualitativamente, reduzindo a
interferência do psiquismo do médium.

Referências

BOZZANO, Ernesto. A Propósito da Introdução da Metapsíquica Humana. 2ª edição.


Rio de Janeiro: FEB, 1945.

CARVALHO, Antônio Cesar Perri de Carvalho. Os Sábios e a Sra. Piper: prova da


comunicabilidade dos espíritos. 1ª edição. São Paulo: O Clarim, 1986.

FODOR, Nandor e LODGE, Oliver. Encyclopedia of Psychic Science (versão online).


Original de 1952.

GAULD, Alan. Mediunidade e Sobrevivência. São Paulo: Pensamento, 1995.

HERLIN, Hans. O Mundo Extra-sensorial. 3ª edição. Rio de Janeiro: Record, 1969.

HEYWOOD, Rosalind. O Sexto Sentido. 9ª edição. São Paulo: Pensamento, 1993.


ISS: Biography of Leonora Piper. [acessado em 09 de setembro de 2007].

LODGE, Oliver. Raymond: uma prova de sobrevivência da alma. São Paulo: Edigraf,
1972.

ROGO, Scott. Vida Após a Morte: evidências da sobrevivência à morte corporal. São
Paulo: Ibrasa, 1991.

SUDRE, René. Tratado de Parapsicologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.

TOCQUET, Robert. Os Poderes Secretos do Homem: um balanço do paranormal. São


Paulo: Ibrasa, 1967.

Fonte : http://parapsi.blogspot.com/2007/09/leonora-piper-1857-1950.html

O importante relatório do Professor Hyslop

No relatório e na análise das 17 sessões da médium Leonora Piper (Further Record of


observations of certain trance phenomena, em Proceedings Society Psychical Research
XVI, 1901, pp. 1-649), o pesquisador americano James Hyslop aceita que tem estado
em comunicação direta com o espírito de seu falecido pai e outros membros de sua
família. O autor fornece o contexto de Piper e brevemente explica por que rejeita a
fraude. As declarações daquele comunicador que alega ser o pai dele são fornecidas
extensivamente; os interesses relacionados ao seu pai e os eventos reais na vida deste
são analisados e julgados consideráveis. As declarações de outros comunicadores são
consideradas mais brevemente. Um resumo estatístico mostra o número de incidentes e
fatores tidos como verdadeiros nas comunicações e que excedem grandemente o falso e
o incerto. O autor discute a hipótese telepática (124) e enumera objeções, inclusive: o
longo alcance telepático da médium (139); a incompatibilidade do aparente poder na
faculdade telepática com a tendência a cometer erros simples (142); a inconsistente
clareza dos diferentes comunicadores comparada com a natureza uniforme da memória
do assistente (146); a espontaneidade da comunicação (149); o fracasso em transcender
os limites da memória do comunicador (151); a necessidade de se evocar habilidades
correspondentes à representação dramática (152). Defendendo a hipótese "espirítica",
Hyslop enfatiza a unidade da Consciência exibida pelos comunicadores individuais
(158); o jogo dramático da personalidade (176); erros e confusões que sugerem
fracassos típicos de uma memória individual (214); o valor evidencial de declarações
involuntárias não planejadas como comunicações (238). Objeções de interesses para os
céticos, mas não em geral para o autor, são então discutidas (242): a necessidade da
prova científica (244); a trivialidade de incidentes comunicados (248); aspectos não
convincentes das primeiras comunicações do guia Phinuit (251); a predominância, entre
os comunicadores, de pessoas conhecidas do assistente (256); o fracasso dos
comunicadores em descreverem suas condições de existência (258). A fraca evidência
de identidade de certos controles de transe é considerada (262). As habilidades
dramáticas requeridas por qualquer hipótese baseada em personalidades secundárias são
discutidas extensivamente (268) e a tendência a realizar idéias apriorísticas sobre
comunicações espirituais (285). Uma pequena conclusão reafirma a aceitação do autor
da hipótese espirítica. Os apêndices dão notas detalhadas das sessões e breves resultados
de certas experiências.

Fonte: http://parapsi.blogspot.com/2008/05/o-importante-relatrio-do-professor.html

... Emily Williams Kelly

> A personalidade humana e sua sobrevivência à morte corporal

Artigos

Tradução: André Luís N. Soares


Blog - Séances de Spiritisme

Human Personality and Its Survival of Bodily Death de F. W. H. Myers. Charlottesville,


VA: Hampton Roads, 2002. 352 pp. $15.26 (paper). ISBN 1-57174-238-7.

Existe uma versão em português (hoje em dia ela é rara) publicada pela editora Edigraf.
Ela pode ser encontrada na Estante Virtual sob o nome "A Personalidade Humana".

por Emily Williams Kelly


Divisão de Estudos da Personalidade
University of Virginia Health System Charlottesville, VA 22908
Artigo original publicado em : Journal Scientific Exploration, vol. 17, p. 323.

Este ano [2002] é o centésimo aniversário da publicação de A personalidade humana e


sua sobrevivência à morte corporal de F. W. H. Myers (foto), de dois massivos volumes
de um tratado de 1360 páginas que o autor esperava que servisse como base e ponto de
partida para o desenvolvimento de uma teoria completa da personalidade humana, uma
que pudesse responder a uma grande variedade de fenômenos psicológicos, de
fenômenos patologicamente anormais de interesse crescente para os clínicos, aos
processos psicológicos associados com a consciência de vigília normal, às raras
manifestações de funções supernormais, inclusive a criatividade e a telepatia. No
amanhecer do século XX, as idéias e os escritos de Myers ganharam a atenção de
muitos psicólogos proeminentes, clínicos e filósofos, e embora o próprio Myers tenha
morrido em 1901, na infeliz idade de 57 anos, parecia provável que sua póstuma
publicação magnum opus pudesse servir como a inspiração para muitas pesquisas
importantes e teorização. Por volta do século XXI, porém, Myers e seu trabalho são
desconhecidos para a maioria vasta dos psicólogos, enquanto Human Personality é
considerado uma obra clássica na pesquisa psíquica/parapsicológica, embora (e eu
fortemente suspeito) ela mesma não seja lida por muitos parapsicólogos. Na tentativa de
atrair mais leitores para este longo e difícil livro, o volume um ocasionalmente tem sido
resumido, o primeiro em 1907 pelo filho de Myers, e o segundo em 1961 pela autora
Susy Smith. Esta publicação mais recente é uma edição de volume único, por Hampton
Roads e Russell Targ, numa série chamada "Estudos da Consciência", e é uma
reimpressão da edição de 1961 de Susy Smith, inclusive o prefácio de 1961 por Aldous
Huxley e uma nova introdução por Jeffrey Mishlove.

O motivo no qual tem importância um livro como Human Personality, é porque ele está
repleto de rico material de caso, numa ampla variedade de fenômenos psicológicos
como também idéias provocativas sobre a interpretação destes fenômenos; as quais têm
sido negligenciadas na psicologia e na história das idéias? A resposta é complicada e
estende-se a uma variedade de fatores social, intelectual e mesmo emocionais já
conhecidos dos leitores deste jornal e de outros investigadores de fenômenos que
parecem impor-se claramente frente às visões prevalentes a respeito da ordem natural.
Mas identificando em particular dois importantes temas abordados ao longo de Human
Personality, isso poderia ajudar na compreensão tanto do porquê o livro é bastante
importante e porque tem sido tão negligenciado.

Primeiro, o livro de Myers foi desenvolvido principalmente sobre uma visão da


personalidade humana, ou consciência, que era diretamente oposta à visão prevalente no
final do século XIX e continuação do XX - a visão que a consciência é um produto do
aumento da complexidade dos processos neurais. Em contraste, a visão de Myers,
apresentada aqui com uma quantidade vasta de material empírico que a sustenta, é que a
consciência é muito mais extensa que o "eu" de vigília com o qual nós estamos
familiarizados e que o cérebro, no lugar de ser o produtor da consciência, é o
mecanismo que, em resposta às demandas do meio-ambiente do organismo, filtra,
limita, e modula nossa consciência ordinária de vigília (ou supraliminar) a partir de uma
consciência mais ampla, primariamente latente ou subliminar.

Myers usou a analogia do espectro eletromagnético para ilustrar sua hipótese: a mais
ampla e oculta consciência subliminar é comparável ao espectro inteiro, que se estende
indefinidamente, enquanto que nossa consciência supraliminar, ou consciência de
vigília, é comparável a um pequeno fragmento daquele espectro que é visível para nós
como resultado do desenvolvimento evolucionário de nosso sistema visual. Na maioria
dos indivíduos, a "porção visível do espectro psicológico oscila à medida que elementos
entram e saem da consciência de vigília, mas ele permanece relativamente estável. Em
outros indivíduos, porém, como histéricos ou pacientes com múltiplas personalidades,
gênios criativos, ou automatistas (termo de Myers para médiuns ou sensitivos), a
"barreira" controlando o fluxo de elementos psicológicos entre o supraliminar e as
porções subliminais da consciência é mais "permeável", permitindo a "descida" ou
perda de funções associadas à histeria, ou a "subida" da mentação subliminar dos gênios
criativos, o aparecimento ocasional de faculdades ocultas como a telepatia, ou outras
alterações na estrutura e no conteúdo ordinários da consciência.

Uma visão da personalidade humana que está muito em discrepância com a visão que
veio a dominar a psicologia moderna e isto em grande parte seria devido ao fato de
fenômenos raros e controversos, como histeria, hipnotismo/mesmerismo, fenômenos de
transe e telepatia poderem gerar resistência sob a melhor das hipóteses. Mas o trabalho
de Myers, e por extensão a pesquisa psíquica que compôs uma importante parte de sua
base, encontrou um obstáculo muito maior porque o segundo tema mais importante em
Human Personality foi largamente ignorado e que levou a muitos erros durante o último
século sobre a natureza e os propósitos da pesquisa psíquica em geral e do trabalho do
Myers em particular. De acordo com o Myers, "o princípio da continuidade... tem nos
guiado ao longo deste trabalho" (Myers, 1903, 2:202). Para Myers e a maioria dos
outros cientistas de século XIX, a continuidade e uniformidade de natureza emergiram
como um dos mais fundamentais princípios que guiam a ciência moderna:

A fé para qual a Ciência se compromete é a fé na uniformidade, na coerência, na


inteligibilidade, de qualquer modo, o universo material... Se qualquer fenômeno ...
parece arbitrário, ou incoerente, ou ininteligível, ela então não supõe que o encontrou
separado na estrutura das coisas; mas supõe bastante que uma resposta racional para o
novo problema deve existir em algum lugar — uma resposta que será ainda mais
instrutiva, porque envolverá fatos que a primeira pergunta deve ter falhado ao fazer a
devida consideração. (Myers, 1900, pág. 120).

Então o corpo inteiro do trabalho de Myers foi baseado na convicção que nenhum
fenômeno verdadeiramente é "anômalo", isto é, "separado na estrutura das coisas." Ele
reconheceu que para muitas pessoas, especialmente os cientistas, "a dificuldade de
acreditar não está nem no defeito de evidência confiável nem na ininteligibilidade, que é
a incoerência dos fenômenos descritos, que as impede de reterem na mente ou
assimilarem com o conhecimento prévio", e ele continuou a dizer que "eu mesmo senti
toda a força desta objeção" (Myers, 1903, 2:505). Para os "antagonistas resolutos ...
nenhuma evidência nova pode levá-los a acreditar... a menos que ela seja persistente
como evidência" (Myers, 1903, 2:2). Embora "a mente popular tenham expressamente
desejado algo surpreendente, algo fora da Lei e acima da Natureza... eu dificilmente
posso repetir com freqüência que minha objeção nestas páginas seja de um caráter
bastante oposto" (pág. 168).

A meta de Myers, então, era alargar e avançar a compreensão científica sobre a ordem
natural tecendo as pontas soltas de fenômenos aparentemente anômalos junto com o
conhecimento já existente dentro de um quadro mais amplo, mais completo. Para ele,
aqueles que ignoraram ou excluíram certos fenômenos ou perguntas da investigação
científica mostraram "um desejo no lugar de um excesso de confiança" na "regularidade
imutável da natureza" (Myers, 1881, pág. 99). O método de Myers era pegar uma
grande variedade de fenômenos psicológicos — inclusive histeria e personalidades
múltiplas, gênios e criatividade, sono e sonhos, hipnotismo e mesmerismo, alucinações,
aparições, outros automatismos sensórios, automatismos motor, como a escrita
automática, transe, possessão e êxtase — e, "conduzi-los como transições que variariam
bem gradualmente, o quanto possível a partir de fenômenos seguramente considerados
normais para fenômenos entendidos como supernormais" (pág. 7), demonstrar que estes,
de fato, não são anomalias isoladas, mas todos são partes integrantes de um quadro
maior da personalidade humana.

A paixão de Myers, o motor que dirigiu sua energia prodigiosa, produtividade e


criatividade de pensamento era seu desejo de aprender "se ou não a personalidade
[humana] envolvesse qualquer elemento que pudesse sobreviver completamente à
morte" (pág. 1). Aqui, também, porém, ele insistiu que "ao lidar com assuntos que vão
além da experiência humana (isto é, a sobrevivência post-mortem), nossa única pista é
alguma chance de continuidade com que nós já conhecemos" (pág. 338). Então, embora
uma das tarefas empreendidas por Myers, e seus colegas, fosse "uma coleção e análise
das evidências... que apontavam diretamente para a sobrevivência do espírito do
homem" (pág. 4), ele entendeu que a evidência aparentemente muito discrepante das
implicações da neurologia e da psicologia modernas tinha que ser integrada de alguma
maneira às neurologia e psicologia modernas, se ela carregasse qualquer convicção:
"tornou-se gradualmente claro para mim que antes de nós seguramente podermos
demarcar qualquer grupo de manifestações como definitivamente implicando alguma
influência além túmulo, seriam necessárias mais pesquisas revisadas sobre as
capacidades da personalidade encarnada do homem do que psicólogos não
familiarizados com esta nova evidência atribuírem valor a elas" (pág. 4).

Em outras palavras, o objetivo de Myers era descobrir se existem características e traços


da personalidade encarnada que sustentam a possibilidade da personalidade humana ser
mais extensa do que aquilo que é manifestado num organismo biológico em particular, e
Human Personality, com seu volumoso material empírico, desenvolve-se dentro da
armação teórica de uma consciência mais ampla que a consciência que nós estamos
ordinariamente cientes, tal foi o resultado.

Susy Smith fez um excelente trabalho ao resumir Human Personality, e eu espero que
esta síntese atraia leitores que se sintam amedrontados pela versão completa de 1360
páginas. Não obstante, eu espero que os leitores venham a entender que uma redução de
1360 páginas para 350, não importa quão boa seja, muito material interessante e
essencial do original é necessariamente perdido. Como Gardner Murphy advertiu
(Murphy, 1975, pág. iv), uma leitura cuidadosa dos dois volumes completos, inclusive
os volumosos apêndices que contém a maior parte do material de suporte, é "o único
meio que pelo qual a força do documento e o significado filosófico de Myers podem ser
entendidos". Eu espero que o presente resumo afie suficientemente o apetite dos leitores
para remetê-los ao trabalho completo.

http://parapsi.blogspot.com/2008/05/personalidade-humana-e-sua-sobrevivncia.html

... Luiz Carlos Formiga

> Discutindo a Sexualidade

Artigos
(Estudando Bissexualidade, Homossexualidade, Heterossexualidade em Sete Planos)

A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência


e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os
caracteres e reprimir os maus pendores. Livro dos Espíritos, 385.

Um paciente homossexual com fantasias suicidas reviu uma vida pregressa.

Na vida anterior, reencarnado como mulher, fora obrigado a casar-se com um homem
que detestava.

O paciente relembrou sua tentativa de suicídio, quando se viu grávida, jogando-se


escada abaixo, sem obter resultado.

Na hora do parto, há mais de cento e cinqüenta anos, após grave hemorragia, o parteiro
avisou-a de que só poderia salvar a mãe ou a criança.

O marido escolheu salvar a esposa, mas, quando ele saiu do quarto, a parturiente deu
ordem ao médico para que ela fosse sacrificada, pois odiava a vida que fora obrigada a
assumir, dizendo que detestava viver.

Nada sentia em relação ao nascituro e morreu amaldiçoando a família e a vida, num


terrível sofrimento físico e mental.

Após a saída do corpo, viu-se por longo tempo flutuando ao redor do ambiente e
tentando em vão contatar as pessoas. Muito tempo depois se afastou do local num total
desespero.

O paciente informou ainda, em plena regressão, que fora submetido a um tratamento no


além antes de voltar à vida atual, mas mesmo assim a angústia e a ambivalência de que
"para nascer era necessário que alguém morresse" continuou, enquanto estava dentro do
útero da mãe atual.

Lutou para evitar o seu próprio nascimento, pois previa o sangramento e as rupturas que
o parto provoca, fatos esses que lhe lembravam a carnificina à qual fora submetido em
seu corpo anterior para que, de seu ventre aberto a frio, o médico salvasse o filho,
provocando assim a sua morte.

Esse paciente era homem de alto nível cultural e em cada regressão dava uma grande
quantidade de detalhes de época, inclusive arquitetônicos e de vestuários.

Já fora assassinado em outras vidas. Numa delas havia sido um padre ligado a grupos de
templários que tinham uma visão muito adiantada para a época em que vivera, e por isso
fora assassinado. Noutra fora uma rainha de uma pequena ilha do mar Egeu, numa
civilização pré-helênica onde preferiu morrer a trair seu povo, quando a ilha foi
invadida por gregos mais incultos.

Com as regressões, sentia alívio bastante intenso de seus complexos problemas de


personalidade (solidão, suspeita de doença grave, homossexualismo e auto-aceitação).
Com isso, as idéias suicidas se foram atenuando. Suas regressões eram de uma clareza
tão impressionante que seu médico, reencarnacionista, duvidava de que tudo não
estivesse sendo criado a um nível de vigília. Havia, porém um detalhe interessante:
durante uma ou duas horas em hipnose, mantinha uma hiperpnéia ruidosa que não seria
suportável em estado "normal".

Quanto um psiquiatra clássico deixaria de aprender quando se defrontasse com essa


"hiperpnéia histérica"? Limitar-se-ia a injetar um tranqüilizante benzodiazepínico na
veia, esperando que o paciente se acalmasse ou dormisse. Este caso é o de número 13 de
Pincherle, L.T.

Em "Reencarnação e Imortalidade", Patrick Drouot, físico pela Universidade de


Columbia, nos traz novos depoimentos e nos fala que "é comum encontrar, nas vidas
passadas, explicação de certos dons e talentos atuais". No início dos anos oitenta ele já
havia feito mais de cinco mil "regressões fetais", constatando que a consciência não
começa na infância. Diz-nos que a vida é um continuum. Não começa no momento da
concepção para terminar no momento da morte física.

Lembrando o caso acima, narrado pelo psiquiatra da Universidade de São Paulo (USP),
Pincherle, L.T., gostaríamos de correlacioná-lo com a discussão da lei do Carma feita
por Drouot.

Carma significa "ação" em sânscrito. É ensinada nas religiões budista e hinduísta e foi
abundantemente comentada pelos tibetanos e pelas escolas yogues em geral.

A lei do carma pretende que toda ação humana - e, ação, entenda-se também, um
pensamento ou um sentimento - traz em si uma carga, seja ela positiva, negativa ou
neutra, e que essa carga, liberada com a ação, retorna sempre àquele que a emitiu. A
experiência ensinou que a pessoa morre encolerizada e leva "a reserva emocional"
consigo para o outro lado. É uma lei de total justiça. Ela não castiga nem recompensa,
apenas restitui. É lei inseparável da doutrina da reencarnação e uma não tem sentido
sem a outra. Voltamos a um novo corpo, mas trazemos reservas emocionais estocadas.
O carma é sutil e age sob forma de programação. Drouot usa-o para poder conciliar a
justiça divina com o "lixo e o luxo".
Ao examinarmos o comportamento sexual é fundamental utilizarmos o critério
espiritual e a noção de "vidas passadas".

A Medicina usa o critério da normalidade e seus valores. Os critérios estatístico e sócio-


cultural nem sempre são suficientes. Dentes cariados, embora prevalentes, não podem
ser considerados "normais" para a finalidade. A finalidade é bom fio condutor, a
finalidade da existência, da vida, do corpo. O nazismo foi muito bem aceito na
Alemanha!

Numa perspectiva física poderemos dizer que, em termos de finalidade, um relógio


adequado é o que oferece a hora certa.

Como avaliar seres psicológicos? O homem é bio-psico-socio-espiritual. Como nortear


esta análise? Pela Axiologia, isto é, estudo ou teoria de alguma espécie de valor. Teoria
crítica dos conceitos de valor.

O que são valores? Aquilo que contribui para a perfeição do homem e para a realização
dos seus fins existenciais como pessoa. O homem é um espírito em evolução.

A sexualidade é área fundamental para a evolução espiritual. Mas, quem não possui
débito neste campo? Como avaliar as melhores possibilidades de evolução? Que
caminho é o mais rápido para o desenvolvimento psicossexual?

Voltamos à perspectiva do valor, pois ao analisarmos seres psicológicos é necessário


considerar sua natureza.

Bissexualidade, Homossexualidade, Heterossexualidade.


Qual comportamento parece contribuir melhor para a perfeição humana física e mental?
E para a realização da sua finalidade como pessoa? De onde viemos, o que somos e qual
a nossa destinação?

Vamos usar os raciocínios:

1. Estatístico - prevalência, freqüência maior ou menor;

Comentário: como discutido acima, nem sempre este critério é adequado, mas não
podemos deixar esquecido o argumento de que a homossexualidade é um distúrbio,
porque se manifesta muito menos freqüentemente do que a heterossexualidade e ainda
porque é considerado por alguns como sinal de desvio.

2. Biológico.

a) Dicotomia complementar ("um feito para o outro") e "tendência" a procriação.

Alguns aceitam como anormal e antinatural tudo que, em última instância, não tenda
para a procriação, vista como "meta final" da sexualidade (intencionalidade natural).

b) Freqüência e intensidade de distúrbios eletroencefalográficos.


Alguns pesquisadores se apóiam na constatação de freqÜentes e intensos distúrbios
eletroencefalográficos encontrado em homossexuais para inferirem uma imaturidade
bioelétrica cerebral e a correlacionarem com o achado de uma imaturidade psicossexual
em seus portadores. Advogam uma parada do desenvolvimento com persistência de
elementos de estágios anteriores, pré-genitais.

c) Diferenças anatômicas cerebrais.

Alguns pesquisadores descrevem aumento dos núcleos supraquiasmáticos em


necrópsias de transexuais masculinos. No entanto estes achados não foram encontrados
por outros investigadores.

d) Deficiência ou aumento de hormônios sexuais na fase pré-natal.

Segundo alguns autores, a exposição, pré-natal, à testosterona é necessária, para a


masculinização do cérebro e futuro comportamento sexual masculino. Quanto maiores
os níveis de androgênios, maior seria a predisposição biológica para bi ou
homossexualismo ou transexualismo em mulheres, ocorrendo o inverso no homem com
a falta dos androgênios.

e) Variações anatômicas no núcleo hipotalâmico ântero-medial.

Haveria como conseqüência final a transformação da secreção gonadotrófica dos


homens homossexuais num padrão semelhante ao das mulheres.

f) Deficiência da 5 alfa-redutase, com subseqüente pseudo-hermafroditismo masculino.


É uma anormalidade ligada ao transexualismo

3. Psicológico - a) bipolaridade psicológica. b) imaturidade afetivo-emocional (menor


capacidade para elaborar as emoções).

Comentário: a criança, espírito recém-encarnado, é ser imaturo, indiferenciado, com


ampla plasticidade psicossexual; não é um "perverso polimorfo" como o qualificou
Freud, mas um PERVERTÍVEL polimorfo.

A sexualidade no inicio da vida, é, ainda - psicologicamente falando - mais ou menos


indiferenciada e sujeita a desvios, porém não polimorfa.

No alcoolismo o indivíduo perde a liberdade frente ao álcool. Frente ao sexo, a pessoa


não resiste a sua sexualidade impulsiva e às vezes compulsiva. Há redução do seu
coeficiente de liberdade de opção.

Dizia Lersch: " homem e mulher são os dois pólos de cuja tensão e oposição brota o
fenômeno da existência humana."

4. Sócio-familiar - Gênese, família e sociedade. Constelação familiar defeituosa.

Comentário: Há crise de identidade. Há continuidade e severidade de relações


patológicas entre pais e filhos. Progenitores complicados, ausentes, subservientes,
alcoólatras, machistas, violentos, autocratas, dominadores, desmasculinizantes,
masculinizantes, etc, interferem desfavoravelmente, na infância, no desenvolvimento
psicossexual. Mulheres transexuais sofreram em 22% abuso sexual dos próprios pais e
em 37% dos casos a relação entre os pais era turbulenta, doentia, com separação.

5. Antropológico (Psicanalítico). Relação sexual sem considerar a alteridade global, isto


é, a outra como pessoa inteira, distinta do Eu.

Comentário: nesta relação os parceiros são simples objetos e ainda parciais. No


Donjuanismo (conquistador masculino insaciável) os diversos parceiros-objeto
demonstram a desordem mental. Será a luta evolutiva da substituição do amor captativo,
infantil, pelo oblativo ("que se oferece"), altruísta. Emmanuel comenta que, observadas
as tendências dos companheiros reencarnados nessa faixa de prova ou de experiência, é
forçoso se lhes dê o amparo educativo adequado.

6. Político - pressões políticas, embora alheias à ciência médica e aos conhecimentos


psiquiátricos, podem trazer idéias e informações erradas.

Comentário: O tabagismo ou vício de fumar incluído no Manual de Diagnóstico e


Estatística da Associação Americana de Psiquiatria é fortemente estimulado na televisão
brasileira, com um pequeno e quase invisível lembrete de que " O Ministério da Saúde
adverte, fumar é prejudicial à saúde."

7. Espiritual - Evolução. Finalidade da reencarnação e do corpo.

Emmanuel diz que a vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas
essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira
imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de
masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos
pronunciado, em quase todas as criaturas. Não há, portanto especificação psicológica
absoluta. Costa, Gadelha & Meirelhes admitem que o transexualismo é uma anomalia
da identidade sexual, dizendo que o indivíduo se identifica como pertencente ao sexo
oposto e experimenta grande frustração ao tentar se expressar através do contexto do
seu sexo genético. Admitem ainda estes endocrinologistas que nem sempre é fácil
distinguir convicções transexuais de ilusões psicóticas. O transexualismo seria uma
forma não-específica de psicopatologia, porque mesmo não sendo psicose, apresenta as
duas fases características da psicose, ou seja, saída da realidade (do próprio sexo) e
criação de uma nova realidade (troca do sexo corporal e do papel sexual). Isto é
perfeitamente compreensível á luz da reencarnação.

Comentário: a relação deverá oferecer maiores possibilidades de amadurecer e se abrir


para a realidade do outro.

Se a situação for acidente de percurso e não houver esforço para retornar ao equilíbrio,
haverá agravantes no futuro.

Se for reencarnação expiatória e não houver esforço de transformação - repetir-se-ão os


mesmos erros, com agravantes.

Quem melhor puder expressar-se em todos os planos acima estará em melhores


condições na viagem evolutiva.
As crianças, com distúrbios sexuais transitórios perfeitamente superáveis, poderão ser
privadas de poderosos estímulos, que lhes permitiriam acesso a outro estilo de vida,
mais feliz, e com possibilidades reais de crescimento evolutivo?

Capítulo do Livro, do autor, Dores, Valores, Tabus e Preconceitos. CELD Editora.

... Luiz Carlos Formiga

> Tendências Reveladoras

Artigos

Crianças e jovens vivem num mundo onde as manchetes de jornal as fazem


perguntar. Pais acabam ficando de “saia justa”.

Recentemente fiquei perplexo ao ler: “Para aderir a uma das ferozes gangues de rua da
América Central, Benky, uma jovem pequenina com os olhos fortemente maquiados
com rímel e os braços recobertos de tatuagens, teve de fazer sexo com uma dúzia de
garotos do grupo, certa noite. Ela se lembra de ter chorado incontrolavelmente quando o
último deles terminou, e de ter sido cercada por todos os membros da gangue, que a
cumprimentaram por sua admissão plena à Mara Salvatrucha.”

http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI2739809-EI8140,00.html

Em maio de 2008 vemos o jogador de futebol no seu inferno astral.

“Ronaldo diz ter sido vítima de uma tentativa de extorsão do travesti André Luiz
Ribeiro Albertino, conhecido como Andréia Albertine. Albertino acusa o atacante de
calote em um programa com outros dois travestis e de envolvimento com drogas.”

http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u397735.shtml

Não fomos apanhados de surpresa porque anteriormente soubemos que nas entrevistas
as "Vendedoras de Prazer" disseram: "Um dia quero constituir uma família". Os
entrevistadores comentaram que subjaz nessa atitude, de querer integrar-se a uma
família, uma grande contradição, uma vez que grande parte de seus clientes são homens
casados.
Estes exemplos são tão tristes quanto aquele que saiu na Revista de Cultura Espírita
"Nueva Generacion", Guatemala, C.A. 5 (18): 3-6, abril-junio, 1995, narrado em: sexo –
artigo de compra e venda.

http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=7311

Duas senhoras, em um café num país sul-americano, comentavam que a palestra da


noite, feita pelo brasileiro, deveria ser no mínimo instigante, pois falaria do amor, da
imortalidade da alma e das conseqüências, na vida espiritual, dos atos cometidos aqui na
Terra. Uma jovem próxima ouve o comentário positivo e resolve assisti-la também.

Após a palestra, que falou sobre reencarnação e memória extra-cerebral, na fila dos que
vieram apertar-lhe as mãos caridosas, Divaldo escuta a estória:

- Eu sou uma meretriz. Era uma jovem delgada de olhar entristecido. Contou-lhe que
fora o padrasto quem a colocara no plano inclinado. Ela havia ouvido as senhoras
falarem do brasileiro que pregava o amor como antídoto da dor e, como sofria muito,
resolveu dar-se uma chance. Jogou fora a substância corrosiva, colocada no refresco,
para ouvi-lo.

Divaldo explica que não era má vontade, mas que o seu anfitrião o aguardava. Porém,
gostaria muito de encontrá-la mais tarde.

Ela respondeu a Divaldo que não se preocupasse porque era uma mulher da noite.
Marcaram o encontro na casa do anfitrião. À noite conta que vivia num bairro de alta
classe social e econômica. Quando o pai morreu contava quase quinze anos. A mãe
tinha quarenta e dois e era uma mulher frívola, de caráter vulgar e, em menos de três
meses depois, estava nos bailes e festas. Ligou-se a um homem mais jovem do que ela,
destes que vivem a explorar mulheres ingênuas. Ele veio viver em nossa casa e
começou a procurar-me. Minha mãe acreditou quando ele disse que eu havia me
oferecido. Após a bofetada, colocou-me na rua. Aos quinze anos eu estudava e tinha
uma amiga de dezessete anos que me recebeu em casa. Ela disse que a vida era
maravilhosa e que devíamos desfrutá-la. Era acompanhante de velhos executivos e uma
noite lhe rendia quinhentos dólares. Mais tarde ela me disse que se não trabalhasse
também não comeria e levou-me a uma casa.

Divaldo ouviu pacientemente. Através da divulgação do Espiritismo, por meio da


palestra na reunião pública, em clima fraternal e com interesse de ajudar na solução dos
diversos problemas humanos, conseguiu-se a reabilitação e, posteriormente, a
integração da jovem aos labores espíritas. Hoje ela tem uma família!

Na história da menina de 12 anos que referimos anteriormente há inclusive o crime


doloso contra a vida: “o líder da gangue ordenou a Benky, que então tinha 14 anos, que
roubasse ônibus, arrancasse correntes do pescoço das pessoas e até matasse uma menina
de uma gangue rival. Ela sempre obedeceu, embora Benky declare que não estava
completamente certa de que a rival havia morrido depois de levar um tiro nas costas. Eu
achava que a gangue seria como minha família", explica Benky sobre sua adesão.
"Pensei que receberia o amor que me faltava. Mas eles me batiam. Davam-me ordens.
Diziam que eu tinha de roubar ou matar alguém, e eu obedecia.
"Escrevi “Discutindo a Sexualidade”, um artigo que me deu muito trabalho, pois depois
recebi correspondências pedindo mais informação ou criticando a forma concisa que
usei nas minhas “janelas” ou “planos”.Fazer o que?

http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=2229

Nele muito se pode aprender com o caso relatado por um psiquiatra que clinicava em
São Paulo e que trabalhou mais tempo com hipnose do que Freud. Seu paciente
homossexual reviu vidas pregressas em regressões de memória.

Haverá forte emoção e sofrimento se, numa vida futura, o nosso jogador de futebol fizer
regressão de memória aos nossos dias. Por isso a regra é o esquecimento. Basta
olharmos nossas tendências, dizia o codificador da Doutrina Espírita.

Aos pais recomendei que “deixasse claro” o amor que sentem por seus filhos (Aclárele
todo a su hijo). E, quem ama educa, através do exemplo. Pobres crianças desta hora.

http://www.espiritismo.cc/modules.php?name=News&file=article&sid=427

Pobre Benky!Quando ela tentou largar a gangue, levou seis tiros dos ex-colegas. As
cicatrizes, ainda visíveis em seu corpo, confirmam a história, como o fazem os
assistentes sociais que a visitaram durante os seis meses que ela passou no hospital.

... Drauzio Varella

> Éramos todos negros

Artigos

Jornal Folha de São Paulo - 26 de abril


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2604200831.htm

ATÉ ONTEM , éramos todos negros. Você dirá: se gorilas e chimpanzés, nossos
parentes mais chegados, também o são, e se os primeiros hominídeos nasceram
justamente na África negra há 5 milhões de anos, qual a novidade?

A novidade é que não me refiro a antepassados remotos, do tempo das cavernas (em que
medíamos um metro de altura), mas a populações européias e asiáticas com aparência
física indistinguível da atual.
Trinta anos atrás, quando as técnicas de manipulação do DNA ainda não estavam
disponíveis, Luca Cavalli-Sforza, um dos grandes geneticistas do século 20, conduziu
um estudo clássico com centenas de grupos étnicos espalhados pelo mundo.

Com base nas evidências genéticas encontradas e nos arquivos paleontológicos, Cavalli-
Sforza concluiu que nossos avós decidiram emigrar da África para a Europa há meros
100 mil anos.
Como os deslocamentos eram feitos com grande sacrifício, só conseguiram atingir as
terras geladas localizadas no norte europeu cerca de 40 mil anos atrás.

A adaptação a um continente com invernos rigorosos teve seu preço. Como o faz desde
os primórdios da vida na Terra sempre que as condições ambientais mudam, a foice
impiedosa da seleção natural ceifou os mais frágeis. Quem eram eles?

Filhos e netos de negros africanos, nômades, caçadores, pescadores e pastores que se


alimentavam predominantemente de carne animal. Dessas fontes naturais absorviam a
vitamina D, elemento essencial para construir ossos fortes, sistema imunológico
eficiente e prevenir enfermidades que vão do raquitismo à osteoporose; do câncer, às
infecções, ao diabetes e às complicações cardiovasculares.

Há 6.000 anos, quando a agricultura se disseminou pela Europa e fixou as famílias à


terra, a dieta se tornou sobretudo vegetariana.

De um lado, essa mudança radical tornou-as menos dependentes da imprevisibilidade da


caça e da pesca; de outro, ficou mais problemático o acesso às fontes de vitamina D.

Para suprir as necessidades de cálcio do esqueleto e garantir a integridade das demais


funções da vitamina D, a seleção natural conferiu vantagem evolutiva aos que
desenvolveram um mecanismo alternativo para obter esse micronutriente: a síntese na
pele mediada pela absorção das radiações ultravioletas da luz do sol.

A dificuldade da pele negra de absorver raios ultravioletas e a necessidade de cobrir o


corpo para enfrentar o frio deram origem às forças seletivas que privilegiaram a
sobrevivência das crianças com menor concentração de melanina na pele.

As previsões de Cavalli-Sforza foram confirmadas por estudos científicos recentes.

Na Universidade Stanford, Noah Rosemberg e Jonathan Pritchard realizaram exames de


DNA em 52 grupos de habitantes da Ásia, África, Europa e Américas.

Conseguiram dividi-los em cinco grupos étnicos cujos ancestrais estiveram isolados por
desertos extensos, oceanos ou montanhas intransponíveis: os africanos da região abaixo
do Saara, os asiáticos do leste, os europeus e asiáticos que vivem a oeste do Himalaia,
os habitantes de Nova Guiné e Melanésia e os indígenas das Américas.
Quando os autores tentaram atribuir identidade genética aos habitantes do sul da Índia,
entretanto, verificaram que suas características eram comuns a europeus e a asiáticos,
achado compatível com a influência desses povos na região.
Concluíram, então, que só é possível identificar indivíduos com grandes semelhanças
genéticas quando descendem de populações isoladas por barreiras geográficas que
impediram a miscigenação.

No ano passado, foi identificado um gene, SLC24A5, provavelmente responsável pelo


aparecimento da pele branca européia.

Num estudo publicado na revista "Science", o grupo de Keith Cheng seqüenciou esse
gene em europeus, asiáticos, africanos e indígenas do continente americano.

Tomando por base o número e a periodicidade das mutações ocorridas, os cálculos


iniciais sugeriram que as variantes responsáveis pelo clareamento da pele
estabeleceram-se nas populações européias há apenas 18 mil anos.

No entanto, como as margens de erro nessas estimativas são apreciáveis, os


pesquisadores tomaram a iniciativa de seqüenciar outros genes, localizados em áreas
vizinhas do genoma. Esse refinamento técnico permitiu concluir que a pele branca
surgiu na Europa, num período que vai de 6.000 a 12 mil anos atrás. A você, leitor, que
se orgulha da cor da própria pele (seja ela qual for), tenho apenas um conselho: não seja
ridículo.

... Michael Tymn

> Your Eternal Self: análise das críticas reducionistas feitas pelos céticos sobre o
fenômeno das EQMs

Artigos

Michael Tymn's Blog


- Gaia Community

Um review de "Your Eternal Self", de R. Craig Hogan, Ph.D.

Tradução - André Luís N. Soares


blog - Séances de Spiritisme

Enquanto as Experiências de Quase-Morte (EQMs) já foram reportadas por séculos, elas


pararam de ser e apenas voltaram na década de 70 quando a dra. Elisabeth Kubler-Ross
e o dr. Raymond Moody, ambos psiquiatras americanos, trouxeram-na ao público
através de livros sobre o assunto. A conseqüência de EQM é que nós teríamos de fato
dois corpos, assim como São Paulo nos disse - um físico e o outro espiritual. Ou de
outro modo, a pesquisa fortemente sugere que a mente é separada do cérebro e pode
operar independentemente do corpo físico.

Os pesquisadores de EQM identificaram seis características básicas associadas a


ela:

1. Ver coisas externas, como alguém observar operações médicas do alto ou ver uma
cena de um acidente fora do local deste.

2. Uma sensação de se estar num túnel ao qual se percorre em direção a uma luz no fim
dele.

3. Ser cumprimentado por um parente falecido ou por amigos que agem como um guia,
por um anjo, ou por um Ser de Luz, e então receber algum tipo de orientação relativa à
situação pessoal.

4. Uma revisão da vida na qual a pessoa vê toda sua retrospectiva de vida, como um
flash, diante de si.

5. Ser informado por um Ser de Luz, o "anjo", ou um guia ou parente que se deve
retornar ao corpo, e normalmente protesta-se contra isso.

6. Uma transformação completa na perspectiva da pessoa, geralmente trocando uma


perspectiva materialista para uma espiritual.

Muitas das histórias de EQMs são impressionantes e convincentes, mas os


"desmistificadores" - aqueles cínicos cientistas fundamentalistas que fizeram da ciência
a religião deles, enquanto reivindicam serem céticos, tentaram apresentar argumentos
contrário a idéia de que a mente e o cérebro são separados. Eu raramente tenho, se
alguma vez, visto todos os modernos argumentos dos céticos todos de uma vez. Porém,
R. Craig Hogan, Ph.D. tratou de todos eles em Your Eternal Self, uma compreensiva
avaliação de toda a evidência para o argumento que "nós somos seres eternos,
temporariamente alojados em uma carcaça física...". Ao referir-se às teorias dos
desmistificadores de EQM, Hogan declara: "todas foram demonstradas serem
improváveis". Aqui estão as principais teorias oferecidas pelos desmistificadores:

A Teoria da privação de Oxigênio: uma das teorias favoritas do desmistificador é que


EQM não é nada além da alucinação de um cérebro privado de oxigênio. "Esta
explicação não passa de uma crença dada por alguém que sabe alguma coisa sobre
funções cerebrais", declara Hogan, assinalando que pessoas que sofrem EQM
descrevem seus sentidos como sendo mais intensamente cientes do que já foram,
enquanto que o sujeito que sofre perda de oxigênio fica abalado ou letárgico, com
reduzida funcionalidade cerebral.

A Teoria do Cérebro Agonizante: Hogan assinala pesquisas que indicam que um


cérebro agonizante tem pensamentos confusos e paranóicos, e não o pensamento alerta e
as observações cientes daqueles que sofreram EQM. Ele também menciona a pesquisa
de Michael Sabom, M.D, a qual mostra EQMs acontecendo depois do cérebro passar
pela experiência agonizante.

A Teoria da Medicação: claro, existem numeras EQMs que não envolvem


medicamentos ou drogas. Mas onde existe alguma droga ou medicamento envolvidos,
Hogan cita a pesquisa de Michael Sabom, um cardiologista da Geórgia, e Melvin
Morse, um professor de pediatria, ambos demonstrando que as experiências são muito
diferentes das alucinações causadas por drogas. "Os relatórios são de percepções e
consciência que são mais lúcidas que as normais, o oposto do efeito visto num cérebro
turvado por drogas," declara Hogan.

A Teoria da Instabilidade Mental: alguns desmistificadores sugerem que as EQMs


sejam um resultado da instabilidade mental. Hogan cita pesquisas indicando que
sujeitos em EQM realmente foram, de forma significativa, mais saudáveis que pacientes
psiquiátricos (tanto os internados quanto os ambulatoriais) e um pouco mais saudáveis
que alunos universitários. Ele menciona uma citação do dr. Melvin Morse a qual diz que
EQMs são predominantemente positivas e um exemplo de realismo.

A Defesa Contra a Teoria Agonizante: desmistificadores também alegam que a EQM


é simplesmente um mecanismo de autodefesa para a pessoa que se sente confrontada
com a própria extinção. "Mas isto está em conflito com a sensação de incremento de
identidade própria que invariavelmente ocorre em uma EQM". assinala Hogan. Ele
continua a relatar que aquela teoria sugere um estado parecido com o sono, enquanto
que EQMs são marcadas por absoluta lucidez.

A Teoria da Expectativa Religiosa: "se EQM estivesse satisfazendo as expectativas do


experimentador de que morrer é algo positivo, nós poderíamos esperar que apenas
pessoas que acreditavam e esperavam ter uma experiência de quase-morte a teriam, mas
não suicidas que antecipam a aniquilação, fundamentalistas que esperam ver apenas
Deus, ou agnósticos e ateus que não acreditam num fenômeno de EQM de nenhuma
maneira", escreve Hogan, acrescentando que esta teoria definitivamente não é a
resposta.

A Teoria de Expectativa Cultural: Hogan cita pesquisas demonstrando que diferentes


culturas produziram notável semelhança, assim elas mostram que EQMs não são
dependentes de expectativas em qualquer cultura.

A Teoria do Boato: alguns desmistificadores especulam que as EQMs são pedaços


juntados de um trauma a partir de pequenos fragmentos de informações colhidos dos
funcionários do hospital e médicos quando o experimentador flutuava dentro e fora de
sua consciência. Aqui novamente, a pesquisa mostrou que os experimentadores
observaram coisas fora do campo visual deles ou do quarto de emergência ou do lugar
do trauma.

A Teoria do ataque epilético no lobo temporal: Enquanto ataques epiléticos no lóbulo


temporal produzem ilusões, alucinações e sentimento de desespero, estas experiências
negativas claramente não são consistentes com as EQMs positivas.

Hogan menciona uma pesquisa interessante de Carl Becker, Ph.D, Professor de


pensamento comparado na Universidade de Kioto e um estudioso em bioética, morte e
preparação para morte. Becker assegurou que EQMs são eventos reais, verificáveis,
objetivos, pois: (1) experimentadores têm conhecimentos clarividentes ou precognitivos
que não poderiam conhecer, mas que mais tarde foram comprovados; (2) a EQM é a
mesma através de culturas e religiões; (3) as EQMs são diferentes das expectativas
religiosas e assim não são fantasias; (4) em alguns casos, um terceiro sujeito observou
as figuras visionárias vistas pelos experimentadores, deste modo indicando que elas não
são alucinações subjetivas.

"Hoje a humanidade, especialmente no ocidente, é intelectualmente precoce e


espiritualmente atrasada," opina Hogan. "O resultado é que aquelas áreas de nossas
vidas baseadas na tecnologia são avançadas e aquelas que dependem do significado da
vida são primitivas. As pessoas estão planejando pousar na lua durante o horário de
trabalho e depois voltar a casa para os conflitos de família, estresses financeiros, e o
medo da morte que deixa suas vidas cheias de tensão, medo, e infelicidade."

http://parapsi.blogspot.com/2008/04/your-eternal-self-anlise-das-crticas.html

http://metgat.gaia.com/blog/2008/3/debunking_the_nde_debunkers

... Luiz Carlos Formiga

> Umbanda e Candomblé: Torres Gêmeas Afro-brasileiras

Artigos

Preconceito, Estigma, Mídia e Ordenamento Jurídico

Luiz Carlos D. Formiga

O estigma não é da pessoa, mas chega antes dela. Em hanseníase associamos a


persistência da doença ao leproestigma, que interfere na manutenção da enfermidade
por trazer dificuldades para o seu tratamento.
O preconceito começa na linguagem, transfere-se para a atitude e aparecem os níveis de
afastamento. Surge o ato de evitar; a discriminação e a segregação. Arthur Ashe, atleta
do tênis mundial, escondeu sua condição porque "tinha medo do estigma que é
insuportável" (1).

"Espertinhos" usam o preconceito, o estigma, em proveito próprio. Por isso temos que
desconfiar, pois nem sempre os interesses são tão nobres. Alguns "sadios" encaram o
leproestigma como excelente fonte de rendimentos divulgando cartas, anúncios, etc (os
chamados bate-gatos) que apelam para a caridade alheia. Não se importam com o
doente, com a doença, com os preconceitos que a envolvem e muito menos com as
perspectivas futuras (2).

Essas pessoas e aquele que se apresenta como "pobre leproso" são menos evoluídas que
Nicolau, marido de Norberta.

Nicolau era um fariseu. Amava apenas a família consangüínea. Nascera numa época de
constantes crises. Passou pelo período infanto-juvenil cercado por problemas
financeiros. Assim, "aprendeu" observar comportamentos. Ficou-lhe clara a idéia de que
a natureza humana é egoísta, malvada, sem remédio e que a sociedade nunca superará a
fase Caim & Abel. Com a idade madura consolidou-se a idéia de que o fim justifica os
meios (3).

Uma pessoa recebe uma carta de um pobre leproso que passando por necessidades
solicita ajuda em dinheiro. Há endereço, em outro estado, e um número de Caixa Postal.
Posteriormente descobre-se que se passa de um golpe, nem sempre em dezembro. No
Natal os corações e a bolsa se abrem com mais facilidade. Será que no futuro os
"espertinhos" irão aperfeiçoar o bate-gato na mídia criando o 171 religioso? Uma coisa
é certa, vai ser difícil enquadrá-los no código penal.

Os adeptos de religiões, que se originaram na África, devem sentir profunda dor na alma
diante das agressões verbais via rádio e TV. Este tipo de comportamento que produz
marcas infamantes aponta para o desconhecimento do universo do império da lei. Com a
liberdade divorciada da responsabilidade pode-se atacar pessoas e/ou religiões, com a
"demonização" (4) como técnica. Não é necessário doutoramento em Ciências Jurídicas
para perceber que se trata de manobra perigosa, principalmente porque atenta contra a
paz e desrespeita direito fundamental.

No dia 07 de Janeiro, comemorou-se o dia da Liberdade de Culto. A religião é uma


forma de preservar a identidade. Ela pode sofrer transformação parcial, incorporando
elementos de outras religiões. Isto aconteceu com a Umbanda e o Candomblé, que
fazem hoje parte da cultura brasileira. Sabemos que Gilberto Gil, compositor, ministro
na área da cultura, possui profundo respeito pelas religiões afro-brasileiras. É ele quem
nos adverte: "Se eu quiser falar com Deus, tenho que calar a voz. Tenho que encontrar a
paz".

Em 1988, no preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB 88)


o constituinte original permitiu interpretar que o Estado é laico, mas não é ateu:
"Promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da Republica
Federativa do Brasil".
Nossa Constituição consagra como direito fundamental a liberdade de religião. Assim, o
Estado deve proporcionar a seus cidadãos um clima de perfeita compreensão religiosa
sem intolerância e fanatismo. Apesar da norma, as agressões parecem não ter fim.

Monteiro - em Deus não Sobe em Palanque (5) - alerta: "no fundamentalismo religioso
e político residem os maiores perigos. Isto porque os seus líderes procuram
fundamentar-se apenas em algumas partes ou interpretações convenientes, geralmente
de suas doutrinas religiosas ou idéias políticas de modo exacerbado, alimentando o
fanatismo. E podemos constatar no mundo atual que o fundamentalismo está sempre
aliado à intolerância e ao desrespeito ao cidadão, pois seus fomentadores, na tentativa
de conseguirem seus objetivos, passam por cima da ética e da moral sem nenhuma
cerimônia".

Devemos enfatizar que "o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais" (CRFB 88, art 215).

Almeida (4) lembra que a mídia tem sido amplamente utilizada pelas religiões com o
intuito de arrebanhar mais fiéis e de levar a espiritualidade a pessoas que não possam ir
às igrejas, sinagogas, templos e etc. Entretanto, o espetáculo de religiosidade e de amor
ao próximo vem se transformando num circo de horrores, onde os ataques às outras
religiões são marca comum. Isto extrapola o direito de manifestação religiosa. Em nome
da liberdade de expressão, as garantias constitucionais estão sendo distorcidas.
Impossível negar a influência da mídia. (6, 7)

Médicos estudaram a variação do número de óbitos em adolescentes na grande área de


Nova Iorque duas semanas após a projeção de quatro filmes de suicídios. Publicaram os
resultados em setembro de 1986 no New England Journal of Medicine. O número
estatisticamente significativo de suicídios foi maior no período que sucedeu à projeção
de tais filmes, do que no período que o antecedeu.

O aparecimento de uma informação inadequada na televisão pode destruir o trabalho de


muitos anos de investimentos e esforços dirigidos à educação. Com a mídia muitos
acabam confundindo amor e sexo.

Os que assistem aos programas podem não ter a intenção de aprender, mas aprendem, e
acabam sendo manipulados.

O Jornal de Pediatria (1995) discutiu o papel do erotismo na televisão, como fator


disfuncional na educação sexual da juventude. Na televisão os adolescentes encontram
informações que satisfazem a sua curiosidade acerca do mundo sexual dos adultos. Isso
ocorre por um processo de erotização cada vez mais explícito, que abusa de uma
liberdade de expressão e veicula informações sexuais de todos os tipos.

Almeida (4) recorda que a lei 7.716 de 1989 trata do preconceito de cor e de raça, mas
em seu art. 20 torna punível a conduta de "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
preconceito de religião". O mesmo autor não faz por menos e nos traz de outra esfera o
tipo descrito no art. 208 do Código Penal Brasileiro. O artigo trata do escarnecimento de
qualquer pessoa por motivo de crença ou função religiosa, e ainda o tratamento
vilipendioso de ato ou objeto de culto religioso (como a destruição da imagem da Santa
católica). Tudo isto, culmina para a completa compreensão de que o Estado deve
localizar-se na função de protetor das religiões e mediar os conflitos existentes entre
elas.

A tentativa de transformar as religiões afro-brasileiras em "seitas diabólicas" cria um


estigma. Este ato favorece o preconceito e constitui ofensa ao princípio constitucional
da dignidade da pessoa humana.
Com o estigma, surge o ato de evitar, como ocorreu com a integrante da Casa
Legislativa Municipal no Rio de Janeiro que afastou uma imagem. A vereadora mandou
retirar, da sala por ela ocupada, o retrato do deputado Dr. Adolfo Bezerra de Menezes,
sob o fundamento de que era “evangélica” e não poderia ter em “sua” sala o retrato de
um “espírita”.

No Plano Nacional de Direitos Humanos o Brasil tem como meta o combate a


intolerância religiosa, favorecendo o respeito às religiões que são minoritárias e cultos
afro-brasileiros. Os direitos humanos são o mínimo existencial, no qual se fundam todas
as convenções e tratados internacionais, por serem valores amplamente aceitos no
mundo.

O Brasil é país laico e o Estado não interfere nem mesmo na liberdade de descrença (4,
13, 14) dizendo que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias". (Art. 5º, VI, da CRFB 88).

No entanto, a liberdade religiosa, de crença ou de culto não é um valor absoluto, nem


tampouco um direito absoluto. Há limitações sobre este direito/valor social. O Estado e
a sociedade têm o dever de procurar uma convivência harmoniosa entre as religiões, de
modo que não haja tratamento desigual entre as formas de religião e nem o fomento de
discriminação e/ou preconceito de uma religião pela outra.

Lembramos do princípio da proporcionalidade (9) em sentido amplo, também


conhecido por princípio da proibição de excesso, uma vez que vem atender aos reclames
da sociedade brasileira por uma ordem social e política equânime. Proíbe
nomeadamente as restrições desnecessárias, inaptas ou excessivas de direitos
fundamentais. Os direitos fundamentais só podem ser restringidos quando tal se torne
indispensável, e no mínimo necessário, para salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos.

Este princípio da razoabilidade, como prefere o direito norte-americano; ou da proibição


de excesso como também é denominado pelos alemães tem aplicação na aferição da
constitucionalidade das leis, quando nos deparamos com a colisão de direitos e garantias
constitucionais. Estabelece que deve haver uma razoável correspondência entre a
intensidade da sanção que se pretende aplicar e a ação que se objetiva punir. É um
parâmetro de valoração dos atos do poder público para aferir se eles estão informados
pelo valor superior inerente a todo ordenamento jurídico: a justiça.
Seria Razoável, justo, que se encerrassem os ataques às religiões afro-brasileiras?

Vamos reler o preâmbulo da CRFB 88.


"Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos
sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção
de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil". (Sublinhado
nosso)
As religiões afro-brasileiras, em verdade, constituem minoria em quantidade de fiéis e
justamente por isso toda a sociedade deve lutar para que seja respeitado o seu direito.
Ademais, as minorias têm o seu valor histórico/cultural. Seu desaparecimento
acarretaria prejuízo imenso para a nação.

A conquista constitucional da liberdade religiosa é verdadeira consagração de


maturidade de um povo. É verdadeiro desdobramento da liberdade de pensamento e
manifestação. O constrangimento feito de modo a conduzir à renúncia de uma fé
representa, dentre outros, desrespeito à diversidade espiritual.(4)

Muitos estão desconfiados, com o bate-gato, com a produção das identidades perversas
(10) dos "leprosos da religião" e devemos recordar os interesses subalternos materiais
que acompanhavam alguns religiosos na época de Jesus.

Em Mateus, V, encontramos: "Eu vos asseguro que se a vossa justiça não exceder as dos
escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus".

Jesus lecionou lembrando a justiça dos escribas e dos fariseus. Escribas faziam causa
comum com os fariseus, de cujos princípios partilhavam. Daí sua inclusão na
reprovação que lançava aos fariseus. Eram servis cumpridores das práticas exteriores do
culto e das cerimônias. Sob as aparências de meticulosa devoção, céticos, eles
ocultavam costumes dissolutos, muito orgulho e, acima de tudo, excessiva ânsia de
dominação política. Os fariseus tinham a religião como meio para chegarem a seus fins
e não como objeto de fé sincera. Da virtude nada possuíam, mas exerciam grande
influência sobre o povo, a cujos olhos passavam por santas criaturas.

Religião é poder. Nossos candidatos a cargos eletivos deveriam demonstrar respeito


pela autoridade, pela manutenção da ordem social, pelos direitos individuais. Deveriam
ser guiados por princípios éticos, como justiça, reciprocidade, igualdade e respeito pela
dignidade do ser humano (11). Sem essas condições não deveriam ser eleitos, mesmo
que se apresentassem como religiosos.

Vejamos novamente o artigo (5) "Deus Não Sobe em Palanque": "Como o nosso país
está contextualizado dentro de uma sociedade Cristã, não podemos esquecer que Jesus
cumpriu a sua missão sem necessidade de portarias ou decretos, e não fundou nenhum
partido político para exercê-la. Mesmo assim, com essa prudente forma de agir, acabou
morrendo na cruz, devido à ambição política de Judas, a pretexto de acelerar a vitória do
Evangelho".

Enfatizamos, até os direitos fundamentais devem sofrer "restrições" quando ultrapassem


e colidam, ainda que aparentemente, com outros direitos fundamentais.
Se o Estado tem o dever de tratar igualmente as religiões, quando há desequilíbrio surge
o dever de restabelecer a igualdade, tratando desigualmente os desiguais de forma a
equilibrá-los novamente. As religiões afro-brasileiras têm sido alvo de ataques que não
deram causa, nem tampouco se pode atribuir a elas qualquer atitude agressiva a outras
religiões, de forma que a agressão sofrida é injusta (4).

Como preservar os direitos fundamentais?


O princípio da proporcionalidade estabelece que deve haver uma razoável
correspondência entre a intensidade da sanção que se pretende aplicar e a ação que se
objetiva punir.
Em que condições seria razoável o cancelamento da concessão outorgada?
Como fazer cessar os ataques às religiões afro-brasileiras? Há meios legais?

Almeida (4) responde que "o Poder Público pode utilizar-se do Decreto Presidencial
52.795/63 que regula os Serviços de Radiodifusão aplicando as sanções previstas no art.
133". Pode-se utilizar o que preceitua a Carta Magna, artigos. 220, §3º, inciso I e 223, §
4º. A norma fala na possibilidade da perda da concessão outorgada, em caso de
reincidência na violação.

O decreto supracitado ainda prevê expressamente a responsabilidade da emissora pela


programação exibida, ainda que a cessão seja parcial, de acordo com os artigos 124, §
1º; 67; 75 e 77 do Decreto Presidencial 52.795/63 e art. 10 do Dec. Lei 236/67,
ensejando o dever de indenizar pelos danos sofridos e ainda deferir o direito de resposta
proporcional ao agravo sofrido.

O Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública, em São Paulo, face às
emissoras religiosas que estão promovendo a demonização das religiões afro-brasileiras.
Exigiu que cessem as agressões, representando os interesses difusos das entidades de
classe afro-descendentes.

"Ao veicular em sua programação atos atentatórios à cidadania, à dignidade da pessoa


humana, bem como à liberdade de crença religiosa, e, sob a égide da consagrada
"liberdade de expressão" distorcem as garantias constitucionais, causando um dano
coletivo". Este é um trecho da petição inicial apresentada.

O que está faltando? Precisamos relembrar Pasteur (12).


"Não se considerem os únicos donos da verdade e do conhecimento, pois um diploma
não faz o cientista. Somente assim poderão cumprir sua missão, ser úteis ao próximo. E
façam tudo com amor, pois será um dia esplêndido aquele em que, dos progressos da
ciência, participará também o coração”. Pasteur repetiu que "pouca ciência afasta o
homem de Deus e que os verdadeiros cientistas acabam dele se aproximando". A
ignorância religiosa afasta o homem de Deus (que é Amor) e da tolerância.

No NEU da UFRJ, escrevemos um texto que designamos como "A Ética da Tolerância"
(8). Eis um trecho. "Nessa questão do aperfeiçoamento da prática sócio-afetiva
lembramos que Jesus afirmou: Os meus discípulos serão conhecidos por muito se
amarem. É a lição de que o progresso do conhecimento é estimulado pelo regime de
diálogo franco e aberto. É convite à fraternidade, ao amor em ação, na aceitação da
diversidade e no relacionamento pacífico entre os diferentes".
"Uma civilização jurídica, um Estado de Direito, uma democracia digna deste nome
qualificam-se, por conseguinte, não só por uma eficaz estruturação do ordenamento,
mas, sobretudo, pela sua ancoragem nas razões do bem comum e dos princípios morais
universais, inscritos por Deus no coração do homem". Trecho do discurso à Associação
Nacional dos Magistrados da Itália, 31/3/2000, proferido por João Paulo II (13).

Quando desenvolvemos o intelecto somos capazes de saber se uma ação é boa ou má,
mas a escolha do caminho a tomar depende do desenvolvimento de outro domínio
(afetivo). As duas asas simbólicas já são bem conhecidas. Sem uma delas, sociedade
alguma poderá voar, atingir níveis de consciência mais altos, e ser considerada evoluída.

Impossível não lembrar as palavras de Bacurau enfatizadas pelo Secretário Nacional do


Morhan.(10). "O amor ainda é o melhor remédio para todos os males do mundo desde
que seja traduzido em trabalho, em humildade, em ética, em compromisso, em justiça".

O verdadeiro religioso não propõe a conversão à força. A obrigação de conversão


sustentada pela doutrina da Igreja católica é moral, e, mesmo quando traduzida em
normas positivadas em seu corpo canônico, nunca pode gerar a quebra da sadia
tolerância aos cultos que dela divergem e que não causam transtorno à sociedade e ao
Estado (13).

O Ministro da Cultura e o povo brasileiro não podem concordar com a perseguição aos
adeptos das religiões afro-brasileiras.

Se a intolerância à minoria é ruim a intolerância à maioria é perigosa, principalmente se


são politicamente influentes ou/e ainda capazes de, na mídia, carregarem explosivos
junto ao corpo, em nome de Deus

Referencias Bibliográficas

1) O Poder das Palavras, no Princípio era o Verbo. http://www.saci.org.br/ (25 de


setembro, 2000).http://www.morhan.org.br/
http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo554.htm

2) A Hanseníase, a Lepra e a Comunicação Dirigida. Escola de Enfermagem Anna Néry


& Instituto de Microbiologia, UFRJ. Apresentado no XVII Encontro Nacional dos
Estudantes de Enfermagem, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza. Monografia. 43
p.
http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/materias/diversos/hanseniase.htm

3) A Mulher do Próximo. Do Delito e das Penas.


http://www.cefamiami.com/newsletter/materias/artigo/05.04/index.html

http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo513.html

http://www.guarulhos.tur.br/sol/detart.asp?id=819
4) Almeida, Dayse Coelho. Demonização das religiões afro-brasileiras.
Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 551, 9 jan. 2005.
http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=6155

5) Deus Não Sobe em Palanque. Gerson Simões Monteiro. Radio Rio de Janeiro.
Presidente da Fundação Cristã-Espírita Cultural Paulo de Tarso (FUNTARSO).
Articulista do Jornal Extra, assinando a coluna “EM NOME DE DEUS”
http://www.radioriodejaneiro.am.br/web/

6) A Influência da Mídia. A sedução de Pocotó


http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/a-influencia-da-midia.html

http://www.superip.com.br/~jbraz/

7) Cenas de Sexo e Violência na TV. Reformador (FEB), 116(2027): 45-46, fev, 1998.
http://www.humildescomjesus.hpg.ig.com.br/cenas_de_sexo_e_violencia_na_tv.htm

8) O Retrato de Bezerra e a Aristocracia intelecto-Moral (Ética e Terceiro milênio).


Revista Internacional de Espiritismo, LXXVI (4): 181-182, 2001.
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/retrato-de-bezerra.html

9) Silva, Roberta Pappen. Algumas considerações sobre o princípio da


proporcionalidade. Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 565, 23 jan. 2005.
http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=6198

10) Vieira, M. O Morhan na ALERJ: de Uma Identidade Perversa (Leproso) à


"Celebridade".
http://www.morhan.org.br/

11) Espiritualidade, Transparência e Consciência. Tendências do Trabalho, 313: 10-16,


2000.
http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/colunistas/formiga/lcdf-0025.htm

12) Ciência com Amor. Revista Fraternidade, Lisboa, Pt, 422 (agosto/setembro): 227-
229.
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/ciencia-com-amor.html

13) Brodbeck, Rafael Vitola. Apreciação da Constitucionalidade dos Feriados


Religiosos Católicos em Face do Princípio do Estado Laico na Carta Política do Brasil.
Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n.462, 12 out. 2004.
http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5551

14) Sob Deus. Laico, Mas Não Ateu.


http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo1091.html

Nota - sobre Direitos Fundamentais veja também:

Roustaing, o Termômetro e os Direitos Fundamentais


http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/item.php?itemid=4982

... Luiz Carlos Formiga

> Vacinação desafio de urgência

Artigos

No estado atual da sociedade, a severidade das leis penais não constitui uma
necessidade?
(... ) Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que
a lhe secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens, que, então, não
precisarão mais de leis tão rigorosas."
(O Livro dos Espíritos, Alian Kardec, questão 796)

Foi um ano histórico para a ciência biomédica aquele de 1890. No Instituto Robert
Koch, de Berlim, Von Behring e Kitasato apararam a Imunologia no seu nascimento.
Demonstraram esses pesquisadores que no soro sangüíneo de animais inoculados com o
microrganismo causador da difteria (crupe) havia a presença de substâncias ou fatores
antibacterianos.

Naquela época era a difteria uma doença que se apresentava, no mundo, com alta taxa
de mortalidade infantil. No período de 1883-84 Klebs e Löeffler conseguiram
demonstrar que aquela doença, que se apresentava inicialmente como uma dor de
garganta levando à prostração severa, era causada por um micróbio (bacilo diftérico).

Quatro anos depois Roux e Yersin demonstraram que aquele quadro era principalmente
produzido pela distribuição sangüínea de forte veneno (exotoxina). E em 1890 esses
missionários da ciência conseguiram demonstrar no soro de animais de laboratório a
presença de um fator capaz de neutralizar os efeitos do tóxico microbiano. Nascia assim
a era da soroterapia, que abriria novas perspectivas no campo da medicina curativa. Não
ficam aí os trabalhos dos abnegados pesquisadores da ciência médica. Contribuição
maior vem de Ramon que, trinta anos depois, preocupado talvez com os efeitos
colaterais que o tratamento pelo soro acarretava, embrenha-se pelos caminhos, nem
sempre tranqüilos, da medicina preventiva. Ramon em 1923 apresenta à sociedade
biomédica uma descoberta que iria revolucionar o então "status quo" no campo das
doenças humanas transmissíveis. Apresenta-nos um derivativo do veneno bacteriano
que, conservando suas características antigênicas, isto é, sendo capaz de estimular o
organismo a produzir suas próprias defesas, seus antídotos, perdera sua capacidade
tóxica ou venenosa. Nascia assim a Imunologia para a Ciência e com ela a vacinação
infantil.

Estabelecer um serviço de imunização infantil eficaz e permanente é, para qualquer


país, dar um passo adiante no sentido do desenvolvimento social e econômico.
Entretanto, para se estabelecer este serviço é necessário trilhar caminhos cheios de
percalços, uma vez que:

1) os serviços de saúde não estão vinculados às mães para poder administrar às crianças
a vacina de que necessitam na idade apropriada;

2) as necessidades técnicas de um Programa Nacional de Vacinação exigem


conhecimentos técnicos no planejamento, na administração e uma supervisão prática
dos serviços;

3) a fabricação, estocagem e aplicação são extremamente dispendiosas. Entretanto,


muito se pode fazer, melhorando os sistemas de atenção à saúde para levar às crianças e
às mães a imunização; melhorando-se os sistemas para atender a população rural e
setores da população urbana que disponham de menos recursos. A colaboração de uma
população bem informada, a obtenção de fundos e o fortalecimento efetivo dos serviços
básicos de saúde são objetivos difíceis mas acessíveis.

Não podemos esquecer que a vacina não precisa ser inventada. É uma técnica
relativamente antiga e efetiva.

Os resultados que parecem grotescos é que apesar da revolução tecnológica registrada


nos meios de comunicação social (a televisão, o rádio, os documentos cinematográficos,
as revistas ilustradas) sigamos ignorando a possibilidade de evitar tantas mortes.
Milhões de crianças sobrevivem a infecções evitáveis com a vacinação, porém arrastam
para o resto de suas vidas trágicas seqüelas: lesões cerebrais, paralisias, atraso do
crescimento, enfermidades pulmonares crônicas, cegueira, surdez, etc.

Nos países desenvolvidos 80% das crianças estão imunizadas contra as enfermidades
mais mortíferas da infância: difteria, coqueluche, tétano, poliomielite e sarampo.

O sarampo, muito mais contagioso do que a varíola, é grave problema de saúde pública,
entretanto, basta uma dose da vacina de vírus vivo para obter-se um grau de proteção de
95% por espaço mínimo de 4-5 anos, e provavelmente durante toda a vida da pessoa
vacinada. *

Mas se o ano de 1890 é um marco na história da saúde física, o ano de 1857 é o marco
na história da saúde física e mental com a chegada do Consolador. Quando Allan
Kardec inspirado pelas "Vozes dos Céus" publicou "O Livro dos Espíritos" a filosofia
tremeu nas suas bases. Porque a Doutrina Espírita é a vacina que arranca da treva, que
apresenta a estrada da redenção e que diz que todos os nossos erros são resgatáveis. O
homem está na Terra em experiência evolutiva. A Terra não é um lugar de degredo, não
é o vale das lágrimas, não é o inferno. É a bendita escola, é o jardim onde colhemos e
semeamos. A Terra é o educandário de luz, no qual forjamos a nossa própria evolução,
no qual adquirimos as experiências da nossa redenção. A Doutrina Espírita desde 1857,
123 anos atrás, inaugurou a era do espírito imortal. Tem-se agora a certeza de que os
mortos voltam e voltam para nos arrancar do caos e nos levar na direção de Deus. Se
nós devemos a Behring, Kitasato, Klebs, Löeffler e a Ramon a era da vacinação,
devemos a Denis, Flammarion, Crookes, Delanne, Bezerra e a Kardec, iluminados por
Jesus, a era da vacinação mental, o prenúncio de uma era melhor, sem poluição
psíquica. Porque, à semelhança da Medicina, a Doutrina Espirita institui da mesma
forma as técnicas de vacinação, apresentando como referência bibliográfica o
Evangelho de Jesus, o maior tratado de Imunologia que a humanidade conhece, como o
afirmou Joaquim Murtinho pelas mãos de Francisco Cândido Xavier. Os instrutores
religiosos, mais do que doutrinadores, são médicos do espírito, que raramente ouvimos
com a devida atenção, enquanto na carne.

A semelhança da soroterapia para as doenças orgânicas, instituiu a Doutrina Espírita a


desobsessão que vai desenvolver defesa estabelecida por ação exterior. É um tratamento
com dose muita vez indeterminada, porque é muito mais fácil educar do que reeducar.

Os estados mórbidos da mente humana costumam ser distribuídos por duas condições
gerais de desordem mental: neurose e psicose, distintas primariamente por intensidade
de desarranjo. A primeira pertence à área da Psicanálise e a segunda à da Psiquiatria.
Neurose é um distúrbio emocional da personalidade que conduz o doente a um estilo de
vida desajustado. Ele está sempre em conflito consigo mesmo e com o ambiente. No
primeiro caso, porque tendências contraditórias se debatem dentro dele, como a
necessidade de afeto e a hostilidade. No segundo, porque luta agressivamente contra os
fatores externos como se estes constituíssem uma ameaça à sua vida e, ao mesmo
tempo, procura recuar diante deles como se julgasse não poder enfrentá-los. Acha o
neurótico que deve lutar antes de cooperar e, por isso, é fortemente competitivo (ainda
que não pareça).

Neurose corresponde em trabalhos espíritas ao termo clássico perturbação, definida


como estado de ânimo desajustado, em que o indivíduo não consegue manter a
estabilidade emocional e mental, desviando-se para a tristeza, pessimismo, desânimo,
agressividade e reações negativas desse tipo.

A fim de alcançar um ajuste precário com a circunstância em que vive, o paciente vê-se
forçado a criar diversas maneiras de pensar e agir, conhecidas como pseudo-soluções,
visto não resolverem o problema íntimo. Muitos são os comportamentos apresentados,
mas as pessoas assumem um de três tipos de atitude geral (com inúmeras variações
individuais):

1) aproximam-se dos outros porque precisam ansiosamente de afeto e não suportam a


solidão;

2) opõem-se porque são agressivamente ambiciosos e querem dominar e possuir tudo;


3) afastam-se porque mal toleram o contacto humano e sentem-se melhor no
isolamento. São três atitudes predominantes que não excluem as opostas, também
presentes mas inaparentes. O sujeito que está em oposição aos outros é carente de
afeição, mas procura ocultar isso. Servem para caracterizar três tipos básicos de
personalidade: complacente, agressiva e indiferente. O homem normal contém esses
elementos em proporções equilibradas. É amistoso, solidário, cooperativo. Sintomas
orgânicos aparecem não em número pequeno (depressão, fobias, palpitações, inibição,
cansaço, angústia, micção freqüente, etc.)

Aspecto fundamental do estado neurótico são as perturbações nas relações humanas e


no trabalho. Pelas atitudes acima mencionadas, vê-se logo que o neurótico defronta
enormes dificuldades no relacionamento com os seus semelhantes. Tanto que uma das
definições afirma que "a neurose é uma perturbação nas relações humanas"; em suma,
é-lhe muito difícil gostar dos outros, tratar com os outros e confiar na amizade deles. A
atividade no neurótico é sempre inferior à sua capacidade, de modo que no trabalho ele
é pouco produtivo. Nota-se bem que as perturbações emocionais atrapalham fortemente
o aproveitamento da encarnação.

No curso da neurose o raciocínio conserva-se normal. Parece, às vezes, desviado da


normalidade porque usa bases falsas; assim, o sujeito pensa que ninguém gosta dele, o
mundo é um lugar mau e perigoso, ou inversamente ele adora todo mundo. Ora, esses
juízos são falsos e falseiam os raciocínios enunciados. Na verdade, o mecanismo de
pensar está intacto. Existe o senso da realidade e a vida social é possível. O neurótico
convive conosco, no trabalho e dentro do lar.

Na psicose, a desorganização da mente é muito mais avançada. O senso da realidade e a


vida social mostram-se nulos ou quase.

O psicótico não pode conviver conosco, a sociedade manda segregá-lo para tratamento e
assim é indispensável, pois não pode responder pelo que faz.

O que mais importa perguntar é o que se mostra no fundo das neuroses e psicoses,
impregnando o espírito. Lá está, bem perceptível, a citada tríade afetiva do desequilíbrio
mental. Os agentes etiológicos, os "micróbios" do egoísmo, do orgulho e da hostilidade
numa associação sinérgica.

A causa geral de qualquer perturbação psíquica reside na desobediência constante às


determinações da Lei de Deus (abandono sistemático das obrigações impostas pela Lei).
Uns estão rebelados contra a vida, o mundo e Deus; outros estão desanimados ante os
obstáculos a remover do próprio caminho. Um dia, eclodem os variados sintomas
neuróticos ou psicóticos, conforme a intensidade da perturbação íntima. Temos assim,
como causa específica as imperfeições afetivas do Espírito, sendo o egoísmo a base dos
sentimentos desequilibrantes da alma, esse excessivo apego ao próprio bem, sem
considerar o dos outros. É a chamada "hipertrofia congênita do eu" ou ainda "obsessão
neurótica do eu". Em outras ocasiões encontramos associado o orgulho, inflação da
personalidade, o desejo de parecer superior ao que é. Assim esses indivíduos só se
ocupam de suas conveniências e vantagens. "Eles gostam de levar vantagens em tudo"
ignorando os outros. O psicólogo Adler e o psicanalista Ralph fizeram comentários
muito pertinentes quando dizem que "todos os fracassados - neuróticos, psicóticos,
criminosos, bêbados, crianças-problemas, suicidas, pervertidos e prostitutas - dão à vida
um sentido privado; ninguém é beneficiado pelas realizações dos seus objetivos e os
seus interesses não vão além de suas próprias pessoas...". Aninhado nas raízes
inconscientes está sempre o grande fator que influencia a conduta consciente - o
egoísmo. A pessoa que é sempre teatro de lutas e dores é a pessoa que está sempre
ocupada com pensamentos relativos a si mesma.

Um fator a mais está sempre presente, a obsessão - a influência maléfica, intencional ou


inconsciente, exercida por Espíritos imperfeitos sobre a humanidade encarnada, de
modo prolongado. "O predomínio de uma mente sobre a outra produzindo constrição”.
A obsessão complica o quadro dos desequilíbrios já existentes e é causa única de multas
formas de demência. Um homem pode enlouquecer só porque um Espírito mau se lhe
aderiu à organização perispiritual, dominando-lhe a vontade e impondo-lhe seus
pensamentos. Valiosa contribuição no campo da obsessão pode ser encontrada no livro
do médico Adolfo Bezerra de Menezes - "A Loucura sob Nova Prisma". Estudos mais
recentes, realizados no Hospital Psiquiátrico de Uberaba, parecem indicar que o
processo é mais comum do que se supõe. A obsessão é portanto um constrangimento
que um indivíduo sente, graças à presença perturbadora de um ser espiritual. Pode ser
classificada em três graus distintos, como se lê em "O Livro dos Médiuns", de Allan
Kardec, que as descreveu em seu capítulo XXIII como ninguém ainda o fez com tanta
segurança. A obsessão simples - muito peculiar a quase todos os indivíduos - seria um
tipo de "gripe emocional", que todos nós podemos ser dela vítimas, porque vivemos
num mundo atribulado, imediatista, agressivo. Desequilibrando-nos e sintonizamos com
os Espíritos também agressivos e desequilibrados. Quando ela se agrava é a obsessão
por fascinação. O indivíduo se acredita abençoado por forças superiores e não admite o
intercâmbio com os Espíritos menos ditosos; finalmente, quando ele perde o senso de
equilíbrio, cai no que o Evangelho chamava de possessão e que Allan Kardec, muito
adequadamente voltou a denominar como obsessão por subjugação. Subjugação porque
a entidade subjuga-o, imprime-lhe a vontade e passa a exercer nele um predomínio
quase total.

Allan Kardec, antecipando-se às descobertas de Klebs e Löeffler (1883-84), quando


demonstraram a presença de uma entidade microbiana na difteria; as de Behring e
Kitasato (1890), demonstrando um fator neutralizante no soro de animais de
experimentação, e ainda as de Ramon em 1923, que introduziu a técnica da vacinação
antidiftérica, nos traz com "O Livro dos Médiuns", no ano de 1861 a técnica da
desobsessão e revive, com auxílio do Espíritos abnegados, a técnica da vacinação
mental deixada há quase 2.000 anos por Jesus e hoje redescoberta pelos estudiosos do
comportamento humano como Adler. "O Evangelho segundo o Espiritismo" deixa no
século passado contribuição incomensurável, permitindo ao homem a oportunidade de
desenvolver recursos próprios de defesa contra suas próprias imperfeições. Na doença
diftérica a vacinação encontrou o caminho adequado para livrar a criança muita vez da
morte. Mais interessante é que, insatisfeitos com "apenas" o vacinar, os pesquisadores
desenvolvem um teste para avaliar a relativa susceptibilidade da criança à doença, em
outras palavras, dispõe a ciência biomédica de um teste capaz de avaliar se a criança,
vacinada ou não, possui defesas capazes de protegê-la contra um ataque da doença.
Analogicamente possui o homem um teste seguro para verificar se a evangelização
surtiu efeito no sentido do desenvolvimento de recursos contra a poluição psíquica.
Conhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral.
No campo do tratamento espiritual a desobsessão corresponde à soroterapia no
tratamento antitóxico da doença infecciosa. O médico socorre o paciente com a injeção,
intravenosa ou intra-muscular, do medicamento capaz de estabelecer defesas
(imunidade passiva) previamente produzidas no exterior. O indivíduo pode ser
reequilibrado de fora para dentro, mas o processo patológico foi exercido e, ainda, corre
risco de vida ou de seqüelas. A evangelização infanto-juvenil atua no mesmo campo da
desobsessão, entretanto, à semelhança da imunização ativa (vacinação), permite o
desenvolvimento de "elementos de defesa", mesmo antes do contacto com as fontes de
infecção. A criança vacinada, mesmo que possa sofrer o processo de agressão
microbiana e ficar doente, dispõe de resistência que acarreta quadro clínico mais brando
e cura em tempo menor. A criança evangelizada será o homem vacinado do futuro e
mesmo diante de um mundo imediatista e atribulado responderá favoravelmente à
atmosfera neurotizante das grandes metrópoles.

Estabelecer um serviço de imunização infantil eficaz e permanente é, para qualquer


país, dar um passo adiante no sentido do desenvolvimento social e econômico;
estabelecer-se uma campanha nacional permanente de evangelização infanto-juvenil é
anunciar a era nova. É lançar as bases para que o país venha a assumir o seu destino de
coração do mundo, verdadeiro celeiro de amor. É por isso que o ano de 1857 é mais
importante que o de 1890. Se o ano de 1890 trouxe a contribuição científica para a
Medicina, a mensagem de 1857 trouxe Jesus de volta para nós, dizendo-nos que a
verdadeira felicidade consiste em dar, em servir, em reter no coração a amor para
distribuir em abundância.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bol. Ofic. Sanit. Pan. (OMS), 82(4): 285-299, 1977. Franco, D. P. Anotações palestras
diversas. Kardec, A. O Livro dos Espíritos (tradução). 51a ed. FEB, RJ, 1980. Kardec,
A. O Livro dos Médiuns (tradução). 4a ed. FEB, RJ, 1904.

Rizzini, C.T. Evolução para o Terceiro Milênio: tratado psíquico para o homem
moderno. 1aed. EDICEL, SãoPaulo, SP, 1977.

(Reformador, 99 (1823): 61-64, fevereiro, 1981)

... Luiz Carlos Formiga

> Incentivar a pesquisa: Universidades brasileiras negligenciam a pesquisa

Artigos
“Dá conta de tua administração”, (Lucas, 16:2). A pesquisa, para alguns docentes, é
atividade sublime. Como sublime é toda religião. Emmanuel, através de Chico Xavier,
na página “Doutrina Espírita” nos lembra que “toda religião fala de penas e
recompensas. No entanto, só a Doutrina Espírita elucida que todos colheremos
conforme a plantação que tenhamos lançado à vida, sem qualquer privilégio na Justiça
Divina.” ("Religião dos Espíritos", edição da Federação Espírita Brasileira).

Comentamos anteriormente em “Ensino e pesquisa na universidade: questão de lei ou


de visão de mundo?” Caderno de Pesquisa, São Paulo (69): 5-16, 1989, o valor que o
binômio ensino-pesquisa possui para uma boa parte dos professores universitários. Mas,
a pesquisa tem sido praticamente negligenciada nos orçamentos da grande maioria das
instituições de ensino superior e, em geral, parece desempenhar papel secundário na
carreira do professor. Existe uma ênfase quase absoluta na formação profissional, em
detrimento das atividades de pesquisa, o que torna a integração entre ensino e pesquisa
bastante problemática.

São bem poucas as universidades brasileiras que têm uma política global de pesquisa
definida e clara, na qual estejam, por exemplo, estabelecidas institucionalmente as
principais linhas de pesquisa e recursos alocados.
A organização estudantil pode parecer secundária, mas é importante politicamente e
também para o “ethos científico”. Num bom número de universidades brasileiras não
existem Centros Acadêmicos como na UFRGS. Ali é possível encontrar a relação de
grupos de pesquisa ativos na Faculdade.

Um dos grupos está agora estudando “Direitos Fundamentais e Novos Direitos”. A linha
de pesquisa tem por “objetivo analisar, primeiramente, a evolução histórica, a discussão
conceitual e a positivação dos Direitos Fundamentais ao longo da história. Num
segundo momento, pretende estudar as relações entre os Direitos Fundamentais e a
emergência dos ditos Novos Direitos, suas gerações, a natureza jurídica e as soluções
positivadas que os ordenamentos jurídicos vem trazendo a eles”
(http://www6.ufrgs.br/caar/?cat=28).
Alguns momentos históricos são importantes para que se proceda a uma análise da
pesquisa científica no cenário acadêmico.

No Brasil, a criação da Universidade de São Paulo em 1934 é um marco fundamental da


Institucionalização da pesquisa em uma universidade. Alguns cientistas professores da
Universidade do Brasil (em 1931) lograram obter êxito semelhante ao que teve Carlos
Chagas Filho na criação do Instituto de Biofísica (1945). No âmbito da educação, em
1937, já no Estado Novo, foi criado o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
(INEP) e em 1951 foi criada a Comissão de Aperfeiçoamento de Ensino Superior
(CAPES). A Universidade de Brasília foi criada em 1961 com a proposta de incorporar
a pesquisa ao ensino universitário. Em 1968, em plena vigência do autoritarismo
político a Lei da Reforma Universitária reafirma o principio da indissociabilidade do
ensino e da pesquisa.

O discurso é mais uma vez mais forte do que a concessão de meios para efetivá-la na
prática, o que demonstra a necessidade de vontade política de proceder à
institucionalização da pesquisa.
Por outro lado, além de estar com o “pires na mão” o docente pesquisador ainda deverá
considerar a possibilidade de encontrar desvios administrativos. Nesta hora estamos
presenciando uma crise na Universidade de Brasília, onde se suspeita que verbas
destinadas a pesquisa foram desviadas para outros fins. No dia 8 de abril de 2008, o
Ministério Público Federal no Distrito Federal e o Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios entraram na Justiça Federal, contra o reitor da UNB e o Decano de
Administração, com uma ação de improbidade administrativa.

A lei preceitua positivamente a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa, mas no


quadro atual das instituições vigentes, esse preceito é apenas uma indicação. Esta
constatação faz surgir questionamento no plano político e acadêmico.

Deve a pesquisa se concentrar em institutos especializados e grandes universidades,


integrados por pesquisadores produtivos e experientes, cabendo às demais universidades
e instituições de ensino superior ocuparem-se do ensino e da profissionalização? Ou
deve a pesquisa ser encarada como uma atividade básica de toda a universidade?

A luta pela industrialização, travada a partir dos anos 30, do século passado, e logo após
a Segunda Guerra Mundial, criou a necessidade de inovações tecnológicas que não
foram geradas a nível nacional. Hoje, a despeito do avanço nas Ciências Biomédicas, o
veterano na Faculdade de Direito pode não ter assistido uma aula sobre “células tronco”.
No entanto, o assunto é desafio de urgência para ministros do Supremo Tribunal
Federal, na ADI 3510, contra o artigo 5º da Lei de Biossegurança, que permite a
destruição de embriões humanos.

Por outro lado, os alunos de graduação na Faculdade de Direito da UFRGS ao estudar


as relações entre os Direitos Fundamentais e a emergência dos Novos Direitos já estão
debruçados sobre a Bioética e o Biodireito e ainda com possibilidade da obtenção de
Bolsas de iniciação científica: PIBIC-CNPq, BIC-Propesq, FAPERGS.
O Brasil é um país onde encontramos grandes contradições. Nas Ciências Jurídicas
discutimos ainda o que é pesquisa em Direito e ainda estamos procurando os grandes
objetivos de pesquisa.
Assim, a história dessa possível e desejada indissociabilidade entre o ensino e a
pesquisa, ainda e por muito tempo, estará sendo escrita em abono ou desafio à lei no
cotidiano de cada um dos docentes-pesquisadores, em cada universidade deste país.

Na Doutrina Espírita aprendemos com Emmanuel que “a fortuna e a autoridade não são
valores únicos de que devemos dar conta hoje e amanhã. No livro Fonte Viva, o autor
espiritual nos lembra que “a oportunidade de trabalhar é uma bênção, a possibilidade de
servir é um obséquio divino, o ensejo de aprender é uma porta libertadora e que o tempo
é um patrimônio inestimável.” Na mesma oportunidade pergunta enfático: “que fazes
dos talentos preciosos que repousam em teu coração, em tuas mãos e no teu caminho?”.
Mas, é no livro que referimos no primeiro parágrafo que ele nos faz sentir o peso da
administração, quando diz: “"Espírita" deve ser o claro adjetivo de tua instituição, ainda
mesmo que, por isso, te faltem as passageiras subvenções e honrarias terrestres.
Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo. E a Doutrina do Cristo é a doutrina do
aperfeiçoamento moral em todos os mundos. Guarda-a, pois, na existência, como sendo
a tua responsabilidade mais alta, porque dia virá em que serás naturalmente convidado a
prestar-lhe contas.

Luiz Carlos Formiga


http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.22.htm

... Stéphanie Le Bars

> Conversão religiosa: da mesquita à igreja, uma estrada solitária

Artigos

Tendo um padre como padrinho e uma amiga como madrinha, mas nem o seu pai, nem
a sua mãe ao seu lado, Guy-Khaled recebeu o batismo no domingo (30/03), numa igreja
no departamento do Var (sudeste). Desde então, ele se sente "iluminado".

Nascido na França, criado dentro da tradição muçulmana, este jovem de 26 anos juntou-
se a algumas centenas de muçulmanos que, de maneira mais ou menos declarada, se
convertem todos os anos ao cristianismo, abraçando a religião católica ou protestante.
Ele declara as suas convicções com o fervor de um militante. O seu pai e os seus meio-
irmãos e irmãs desaprovam o caminho que ele escolheu, criticando-o por ter "renegado
a sua cultura". A sua mãe "tem dificuldades para compreender", mas "aceita as suas
decisões" e o acompanha de vez em quando nos encontros com cristãos dos quais ele
participa. Alguns dos seus antigos amigos acusam-no de ter cometido a apostasia e não
falam mais com ele.

Khaled garante ter chegado a se interessar pelo salafismo, uma vertente rigorista do Islã,
quando ele tinha 17 anos. Durante um verão na Argélia, o então colegial, já fortemente
influenciado pela sua formação "em literatura e em civilização francesas", empreende o
"seu caminho rumo ao Islã" sob a orientação de um primo salafista. Ao retornar à
França, enquanto ele inicia seus estudos de direito, o jovem rapaz freqüenta
assiduamente a mesquita. Mas, aos 20 anos, sentindo-se "mal à vontade em meio ao
comunitarismo" imposto pelas suas novas orientações religiosas, atormentado por
"questões fundamentais às quais o Islã não responde", ele começa a sentir a necessidade
de observar uma "pausa" religiosa. Diversas discussões com Guy, um professor de
filosofia católico que ele conheceu por acaso, levam-no a descobrir uma "proximidade
com o Deus cristão" e correspondem às suas expectativas. O nome de batismo que ele
escolheu presta uma homenagem a este encontro.

O percurso de Fátima, que chegou da Argélia aos 13 anos com a sua família para se
instalar no norte da França, é bem mais complicado que o de Guy-Khaled. Seduzida
pela leitura da Bíblia e "convencida" desde a adolescência de que ela se tornaria cristã,
ela demorou mais de trinta anos até se converter efetivamente Foi há cinco anos, aos 52
anos de idade. Ao longo de muitos anos, ela participou de reuniões de grupos de oração,
em segredo. Atualmente, alguns dos seus oito irmãos e irmãs conhecem a sua nova fé, e
outros não. "Eu ainda tenho medo de ser agredida ou que as pessoas zombem de mim, e
não me sinto serena o suficiente para assumir essas coisas", explica esta solteira que se
fez batizar numa comuna distante da do seu domicílio. "Até mesmo aqui, não faltam
muçulmanos que pensam que aqueles que mudam de religião são apóstatas. Na minha
família, muitos são os que jamais poriam os pés dentro de uma igreja".

Que eles estejam ou não apaziguados, as relações que cultivam os convertidos com o
Islã permanecem marcadas por um ponto negro intransponível: a acusação de apostasia,
que conduz eventualmente os convertidos a se tornarem alvos de ameaças.

"A falta de tolerância e o fato dos muçulmanos considerarem que eles são seguidores da
única verdadeira religião me deixam revoltada. E quando eu penso no estatuto que esta
religião atribui à mulher, me dá vontade de vomitar", confia Fátima, que, entretanto, se
diz mais "tranquila" em relação ao Islã. "No começo, junto com outros convertidos, eu
me mostrava muito agressivo para com o Islã", reconhece por sua vez Guy-Khaled.
"Trata-se de um fenômeno psicológico normal que vai se atenuando à medida que você
vai progredindo na sua nova fé".

"As atitudes de denegrir e de se opor ao que é diferente não eram as armas do Cristo. É
possível denunciar a face negra do Islã com amor e respeito", afirma por sua vez o
pastor evangélico Said Oujibou, um convertido de 39 anos, que se diz desconfiado das
"falsas conversões, que se destinam apenas a compensar uma overdose de Islã".

Em todo caso, todos eles lamentam que os representantes do Islã na França não adotem
posicionamentos mais explícitos e claros no sentido de afirmarem o princípio da
liberdade religiosa, principalmente no que diz respeito aos casamentos mistos (de
parceiros de religiões diferentes), em relação aos quais "a parte cristã, com grande
freqüência, é incentivada a se converter". Após ter se mantido discreta em relação a este
assunto até estes últimos anos, a Igreja católica, que batiza anualmente entre 150 e 200
adultos de origem muçulmana, desde então afirma julgar a "liberdade religiosa e a
reciprocidade essenciais".

"Não seria o caso de todos nós conseguirmos dizer as coisas abertamente uns aos outros,
sem que seja preciso agir de maneira secreta?", se interroga Dom Michel Dubost, um
bispo de Evry (Essonne, região parisiense), que está envolvido em ampliar o diálogo
com o Islã. Uma dezena de muçulmanos vem sendo batizada todos os anos em sua
diocese; neste ano, revelou-se necessário celebrar um batismo de maneira "não pública".
Por sua vez, a diocese de Fréjus-Toulon, que não dá tanta importância para problemas
desta natureza, implantou um fórum de "comunhão e evangelização", especificamente
dedicado às práticas missionárias voltadas para o mundo muçulmano.
Dentro deste contexto, a conversão, amplamente repercutida pelos meios de
comunicação, de um muçulmano italiano, em 22 de março no Vaticano, foi
comemorada pelos convertidos da França. "Eu abençôo o papa, que pôs o dedo na
ferida", comenta Mohammed Christophe Bilek, o fundador da igreja Nossa Senhora de
Cabília, em Créteil (Val-de-Marne, região parisiense). "Esses conversões têm sido cada
vez mais numerosas; tanto pior se isso desagrada aos guardiões do templo do Islã. Toda
pessoa deve poder ser batizada, isso diz respeito aos direitos humanos", acrescenta.
Convertido já faz 38 anos, este comerciário originário da Argélia lembra que naquela
época, "ninguém prestava muita atenção nessas coisas. As famílias não estavam
necessariamente de acordo, mas ninguém corria o risco de ser agredido".

Da mesma forma que outras comunidades, os franceses de cultura muçulmana, que eles
sejam crentes ou agnósticos, vêm sendo confrontados a uma oferta espiritual
diversificada, de maneira sempre mais intensa. Entre os convertidos, destaca-se
principalmente a situação dos filhos de casais mistos. "Quase sempre embarcados no
Islã por influência dos seus parentes muçulmanos", conforme sublinha um padre
católico, "eles acabam questionando esta herança ao chegarem à idade adulta". A
rejeição de um sistema de valores que não lhes parece adaptado à modernidade, um
eventual encontro benéfico, uma experiência mística, ou ainda a descoberta dos textos
cristãos, são ocorrências que caracterizam outros percursos de conversão, segundo
explicam católicos dedicados a acompanhar os convertidos. "Na minha diocese, uma
jovem mulher muçulmana descobriu que Santo Agostinho (354-430) era berbere; ela
começou então a ler os seus textos, e foi isso que a conduziu para o caminho da
conversão", testemunha Dom Dubost.

Do lado protestante, os evangélicos e os carismáticos, que não hesitam a falar de Jesus


em árabe, em turco ou na língua da Cabília (região da Argélia), buscam atrair fiéis que
estejam "em busca de novas comunidades". "Todo ano, nós acolhemos um número três
vezes maior de convertidos do que os católicos", garante o pastor Oujibou, que optou
por orientar a sua militância no sentido de lutar para que um maior destaque seja dado
para esses novos cristãos na sociedade francesa.

"É preciso lembrar que quando uma pessoa se converte, ela não está traindo a sua
cultura", insiste este pai de família que afirma com orgulho ser "marroquino e cristão".
Contudo, no começo, para os seus pais e para a maior parte dos seus onze irmãos e
irmãs, a sua conversão e aquela da sua irmã primogênita representaram "o fracasso da
sua migração na França".

Diferentemente dos outros, Said não acrescentou um nome de batismo ao lado do seu
nome de origem. "Eu teria tido a impressão de estar renegando a minha identidade", diz,
sorrindo. Os convertidos gostariam de ver um dia os franceses não colocarem
necessariamente uma etiqueta "muçulmano" em alguém que se chama Mohammed.

Le Monde - http://www.lemonde.fr

Tradução: Jean-Yves de Neufville


... Luiz Carlos Formiga

> Ética, Sociedade e Terceiro Milênio

Artigos

Tendências do Trabalho, ( Editora Tama, Ltda ), 312 (agosto): 8-10, 2000.

“Um desafio para a universidade de uma maneira geral no terceiro milênio é resgatar
um pouco alguns princípios humanísticos e éticos para a sociedade.”(5) Estas foram
palavras da reitora eleita da Universidade do Estado do Rio de Janeiro no final de 1999,
último quartel do milênio.

Ensino, pesquisa e ética tem estado nas nossas cogitações (4) desde quando
encontramos, ainda como aluno, um professor a quem homenageamos anteriormente
pelo seu exemplo de integridade profissional (3). Por isso acreditamos que resgatar
valores ético-morais para a sociedade é desafio de urgência.

Permitam-me recordar o Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade,


ocorrido em 1994, no seu Artigo 13. A ética transdisciplinar recusa toda atitude que
recusa o diálogo, a discussão, seja qual for sua origem – de ordem ideológica, científica,
religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a
uma compreensão compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças entre os
seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra . (1)

Vamos a um exercício prático. Deve-se aceitar o aborto para “salvar a vida” da gestante
HIV-positiva, grávida pelo estupro? Antes de responder gostaria de voltar ao Congresso
de Transdisciplinaridade.

Artigo 1 - Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de


dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão
transdisciplinar.

Artigo 2 - O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regido por


lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a
realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da
transdisciplinaridade. (1)
Aética visa mais o bem a ser conquistado e garantido que ao mal que deve ser evitado.
A bioética é a ética aplicada aos novos problemas que se desenvolvem nas fronteiras da
vida. vem em salvaguarda do ser humano: na singularidade da individualidade, mas
também na universalidade da sua humanidade. não pretende ser restritiva, mas tem a
tarefa de colocar limites éticos a fim de salvaguardar a pessoa humana, sua vida e
humanidade.

O progresso tecnológico da biomedicina levanta problemas éticos, que requerem da


bioética uma reflexão prática. a questão “o que posso fazer?” deve estar acompanhada
das perguntas do imperativo ético “o que devo fazer? o que é bom fazer? qual é o bem a
ser preservado e o bem a ser promovido”. (2)

Artigo 12 - A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado


de que a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso. (1)

A ética ao falar de valores e agir humano, parte do pressuposto que todo ser humano age
por uma motivação em vista de uma finalidade. é sabido que entre a motivação e a
finalidade não existe uma transparência que determine ser todo ato bom e responsável.
vários fatores psicológicos, sociais e culturais podem influenciar estes atos. Um ato
humano, mesmo os atos médicos e científicos, podem ser maus e irresponsáveis se as
motivações forem egoístas ou se a finalidade for a ganância de fama, poder ou riquezas.

A reflexão ética visa identificar os valores humanos e a elaboração de normas de


comportamento, para a garantia do bem humano e social. A bioética identifica a vida
como um bem, e quer compreendê-la melhor, identificando os valores que a
acompanham e favorecem como um bem. Busca também a elaboração de normas de
comportamento que garantam este bem. Normas que são regidas pela humanidade
presente em cada um de nós. Esse progresso depende da educação.

O projeto de declaração sobre o genoma humano, do comitê internacional da UNESCO,


proclama a necessidade do ensino: art.16: os estados se comprometem a promover um
ensino específico concernente às implicações éticas, sociais e médicas da biologia e da
genética humana.

É um ensino que deve permitir a todos exercerem responsabilidades próprias ante as


novas situações derivadas do avanço das ciências da vida. Os novos e diferentes
desafios precisam ser apreendidos em toda a sua complexidade. (6,7)

Produzir profissional qualificado, implica em aquisição e produção de conhecimento; de


capacidade técnica e de atitudes profissionais. Assim existe a necessidade de contínua
informação, atualização técnica e formação permanente. Ser informado das novas
técnicas implica em saber executá-las, mas também em saber posicionar-se diante dos
problemas éticos que dela decorrem.

O salto de qualidade no ensino será o da informação para a formação de uma nova


consciência profissional, integrada a um universo biomédico com a sua especificidade
humana, capaz do diálogo, da clareza de percepção dos problemas éticos e da
objetividade de apresentação destas questões em vista da decisão a ser tomada em
conjunto com outros envolvidos naquele ato biomédico, seja ele um atendimento ou
uma pesquisa.
Em síntese: um profissional ético, com consciência crítica, livre, criativa e responsável,
capaz do diálogo.

Artigo 3 - A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar : faz


emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-
nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o
domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as
atravessa e as ultrapassa. (1)

O método por excelência da reflexão bioética é o diálogo, o debate interdisciplinar que


permite um maior conhecimento e compreensão dos diversos aspectos que envolvem a
vida humana.

Pelo holismo espiritualista o homem é um ser criado, de natureza bio-psico-socio-


espiritual, dotado de historicidade e de livre arbítrio, encontrando-se em contínuo
processo evolutivo, sendo parte integrante do universo com o qual interage
constantemente.(4)

Artigo 5 - A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela


ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não
somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a
experiência espiritual.(1)

“Deus! o terrível problema! quando a ciência chega aqui, ou emudece ou blasfema.”

Qual o caráter do homem ético? É um homem de bem, inspirado por Deus. pode-se
reconhecê-lo por seus atos e palavras.

Qual é o tipo mais perfeito, que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de
modelo? A resposta deve falar de altos níveis no dominio cognitivo e afetivo, mas
sobretudo no patamar mais alto do nível de consciência, o da Consciência Cósmica.
Nome indiscutível entre nós - Jesus.

Artigo 9 - A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos,
às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.

Artigo 10 - Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras
culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural. (1)

As mudanças no desenvolvimento moral são irreversíveis, a pessoa nunca mais voltará a


um estágio inferior. Jesus sabia e por isso dialogou com a mulher, que não foi
apedrejada, fazendo o reforço da ação pedagógica. Ela nunca mais pode esquecê-lo. Foi
também assim com Saulo de Tarso.

Artigo 7 - A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia,
uma nova metafísica ou uma ciência das ciências. (1)

A autoridade da sentença está na razão da autoridade moral do juiz que a pronuncia.

Melhor a coroa de espinhos na fronte do que as brasas na consciência!


Deve-se aceitar o aborto para “salvar a vida” da gestante HIV-positiva, grávida pelo
estupro?

Artigo 14 - Rigor, abertura e tolerência são características fundamentais da atitude e da


visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a
barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecimento,
do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e
verdades contrárias às nossas. (1)

Um profissional ético certamente diria que esta é uma matéria sem resposta definitiva,
sobre à influência da sorologia positiva no processo gestacional e da própria saúde do
feto. Não existe ainda nenhum argumento ético, jurídico ou técnico, capaz de
fundamentar a interrupção de uma gravidez numa mulher soro-convertida ou já doente
de AIDS, a não ser que suas condições de saúde sejam agravadas pela gestação, que
cessada a gravidez cesse o perigo e que não haja outro meio de salvar-lhe a vida.

Para aqueles que não vão se contentar em parar por aqui gostaria de sugerir duas leituras
adicionais: A Aids e o Aborto que apresenta a doutora Susie A. Nogueira demonstrando
a possibilidade de crianças nascerem sem a contaminação pelo vírus da Aids, embora
suas mães sejam soro-convertidas. O texto foi colhido do Jornal quinzenal da Seção
Sindical dos Docentes da UFRJ/Andes-SN, Ano VII, 05 de Junho de 2000. Pode ser
encontrado em artigos no site http://zap.to/neurj, home-page no NEU-RJ. Neste mesmo
endereço faço a segunda sugestão, embora seja discussão mais longa, o opúsculo que
recebeu o nome de Antes de Votar Pergunte ao Candidato Sobre o Aborto.

Este artigo foi elaborado com base em palestra proferida, “Ética: educação para o
terceiro milênio”, durante o Primeiro Congresso Interativo Sobre Educação Para o
Terceiro Milênio. “A Educação da Alma é a Alma da Educação”. Centro de
Convenções do Barrashopping, 06-09 de dezembro de 1999.

Luiz Carlos D. Formiga PhD.


Professor Adjunto do Departamento de
Microbiologia Médica do Instituto de
Microbiologia Prof. Paulo de Góes, da UFRJ.

Referências Bibliográficas
1. Carta Transdisciplinar adotada pelos participantes do Primeiro Congresso Mundial de
Transdisciplinaridade. Convento de Arrábida, 6 de novembro de 1994.
2. Costa Júnior, A.S. Bioética. Cadernos de Saúde e Meio Ambiente. Cuibá, UNIC., 1:
155-177. 1997.
3. Formiga, L.C.D. Ensino, Pesquisa e Ética em Microbiologia Médica.Sociedade
Brasileira de Microbiologia - SBM-Notícias, 21(julho): 3-4, 1998 (disponível no site
http://zap.to/neurj).
4. Formiga, L.C.D. Ciência e Microbiologia com Amor. Sociedade Brasileira de
Microbiologia - SBM-Notícias, 22 (outubro): 3-4, 1998.Discurso proferido durante a
solenidade de formatura da primeira turma do curso de Bacharel em Microbiologia e
Imunologia do IM/UFRJ, em dezembro de 1997(disponível no site http://zap.to/neurj).
5. Freire, N. Formação é prioridade para nova reitora da UERJ. UERJ Em Questão, VII
(66): 6-7, 1999.
6. Setenta e dois alunos de graduação recebem Prêmio de Iniciação Científica. UERJ
Em Questão, VII (66): 02, 1999. 7. Lenoir, N. Promover o ensino de Bioética no
mundo. Bioética, 4: 65-70, 1996.

Editora Tama - Rua Baronesa do Engenho Novo, 189. Engenho Novo. CEP 20961-210.
Tel (0xx21) 501-2001. Fax (0xx21) 5016222. Atendimento ao cliente (0xx21) 501-
2001. E-mail: indice@ccard.com.br

Fonte: Site Portal do Espírito - www.espirito.org.br

... Luiz Carlos Formiga

> O Zigoto no banco dos réus: Visão espírita das pesquisas que usam células-tronco

Artigos

Quarta-feira, 5 de março de 2008, foi um dia de decisão importante no Supremo


Tribunal Federal (STF). Julgamento da ADI 3510, contra o artigo 5º da Lei de
Biossegurança, que permite a destruição de embriões humanos.

Células tronco podem abrir diversos caminhos. O PPS divulgou nota apoiando o uso das
células embrionárias. Dois argumentos importantes: as doenças genéticas atingem mais
de cinco milhões de pessoas, a maioria crianças e jovens. Dezesseis (16) mil cientistas
brasileiros, membros de 50 sociedades científicas, entre as quais a Academia Brasileira
de Ciências (ABC), a Federação de Sociedades de Biologia Experimental e a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), são a favor das pesquisas.

Qual o balanço entre a cura com o transplante de células-tronco embrionárias e células-


tronco adultas? Onde tem ocorrido o maior sucesso terapêutico?

O PPS diz que é a escolha entre o avanço da ciência e o obscurantismo. No entanto,


admite a legitimidade das posições assumidas pela Igreja Católica e pelo ex-procurador-
geral da República, que impetrou a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra a
lei que autoriza o uso. Por outro lado ressaltou o caráter laico da República brasileira.

Nessa hora as questões são importantes e nenhuma delas deveria ser negligenciada.
Mesmo as aparentemente absurdas, como aquela que pergunta se a alma existe e é
imortal.

Há propaganda enganosa quando se fala em cura com transplante de células


embrionárias? As células-tronco podem abrir caminho para o aborto? Por que o PPS
ressalta o caráter laico da República? Há os que não aceitam o tríplice aspeto do
Espiritismo. Outros advogam em favor do Espiritismo laico. Será que podemos pensar
em ateus espíritas, que aceitam a reencarnação? Existem “judeus espíritas"?

Não devemos omitir nossos pensamentos nesta hora tão difícil quanto grave. Pensemos
no primeiro artigo da lei que regula a liberdade de manifestação do pensamento e de
informação, Lei número 5.250, fevereiro de 1967. Diz ela que “é livre a manifestação
do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por
qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada um, nos termos da lei,
pelos abusos que cometer.”

O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse que a


campanha feita pela Igreja contra o uso de células-tronco embrionárias tem um objetivo
maior: evitar precedentes para liberação do aborto. "Isso poderia abrir caminho.”

"A Igreja não é insensível ao sofrimento de tantas pessoas. Mas somos contrários às
falsas expectativas." O secretário questionou a validade e a eficácia de tais pesquisas e
afirmou que parte dos pesquisadores manipula sentimentos dos pacientes. "Eles dão
uma falsa esperança de cura.”

A CNBB não tem uma posição clara sobre como proceder. "Isso ainda será alvo de
estudo." Mas é contrária também ao congelamento de embriões.
http://noticias.uol.com.br/ultnot/brasil/2008/02/29/ult4469u20270.jhtm

Portadores de doenças graves, como distrofia muscular, câncer e alzheimer fizeram um


protesto em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), na praça dos Três
Poderes.
http://jobagola.wordpress.com/2008/02/29/manifestantes-defendem-uso-de-celulas-
tronco-embrionarias-em-pesquisas/

O Fórum de Apoio às Pessoas com Deficiência fez abaixo-assinado para ser entregue
aos ministros para a liberação das pesquisas.

O coronel da Força Aérea Brasileira aposentado Carlos Patto, presidente da Associação


Parkinson Brasília, diz que gostaria de perguntar aos ministros do STF o que eles
pretendem fazer com as células-tronco embrionárias que já estão armazenadas em
laboratórios do país, mas não vão mais ser utilizadas para fins de reprodução humana.
“Mais cedo ou mais tarde elas vão ser destruídas, e, se vão ser destruídas, por que não
utilizá-las?”

O ministro da Saúde defendeu a aprovação de pesquisas. Para Temporão, a liberação


dos estudos colocará o Brasil “em pé de igualdade” com os centros de pesquisas mais
avançados do mundo.
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/02/29/materia.2008-02-
29.1840671125/view

Quando questionado sobre a necessidade de mais discussões sobre o tema disse que a
população já está bem informada, está na hora de decidir e a religião não pode
influenciar na escolha dos ministros.

Será que estamos bem informados, tanto quanto o presidente que diz que não sabia de
certas coisas que aconteciam ao lado do seu gabinete? E você como você se sente em
relação ao tema?

Destacamos alguns trechos do “Programa O Espiritismo Responde” com o médium


Divaldo P. Franco.
Com relação às pesquisas no campo das células tronco, dos embriões congelados, há
divergências entre a opinião da ciência e a da religião. O que você nos diz sobre essa
questão?
http://www.usepiracicaba.com.br/Conteudo/Paginas/VisDetalhes.aspx?ch_top=47&ch_
use=162

“Quando for possível fazer uma ponte entre ciência e religião, fica muito mais fácil. A
tarefa da ciência, indubitavelmente, é pesquisar. Se a ciência tivesse limites, hoje nós
não teríamos a tecnologia de ponta que nos facilita tanto a comunidade, inclusive o
prolongamento da vida. Mas, nessa busca da investigação científica, às vezes alguns
pesquisadores exorbitam. Toda vez, quando a vida corre ameaça, é compreensível que
haja uma bioética. As grandes nações trabalham isto e o Brasil também, para que se
estabeleça uma bioética. Nem tudo deve ser permitido na área da investigação.”

"No caso das células tronco, a Doutrina Espírita, na sua visão religiosa, é totalmente
favorável. Toda e qualquer pesquisa que objetive o progresso, a diminuição das dores, a
mudança de situação da criatura, é válida, mas para tanto é necessário respeitar a vida
que está em processo de desenvolvimento.”

“A ciência vai descobrir que essa vida embrionária não é de espontaneidade da matéria,
mas sim da presença do Espírito. Ao destruí-los se interrompe uma futura existência,
com menos conseqüências negativas, porque os Espíritos que ali se encontram
imantados estão também cumprindo um período de provas e essa própria prova é uma
maneira de resgatar débitos do passado.”

Na discussão em a “A Política do Aborto” encontramos argumentos e contra-


argumentos: http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.2.htm

“Sim, mas enquanto os teóricos, como você, discutem se o feto com duas ou com quatro
semanas já é uma pessoa, a mulher engrossa as estatísticas. As mulheres pobres vão
continuar abortando com agulha de tricô?”
Responde outra: Sempre que se quer humilhar, castrar, limitar ou matar o outro, recorre-
se a esta técnica consagrada. O primeiro ato é desumanizar. Se o embrião é um "vir a
ser", mas não é ainda por que não suprimi-lo em favor dos que são? Hitler e Stálin
tinham idéias, até nobres, pelas quais se delegaram o direito, e até o dever, de matar
judeus, dissidentes, capitalistas, comunistas e católicos. O que se quer é “desumanizar”
o embrião para adormecer as consciências com uma legitimidade. A ciência não tem
uma definição de vida, portanto não pode justificar um procedimento tão grave sobre o
que desconhece.”

Podemos ampliar a discussão. Depois da prova final – desencarnação, vantagem do


ministro é que ele vai dizer que não sabia. No entanto, este argumento não vale diante
do ordenamento jurídico. Como será diante da Justiça Divina?
http://www.panoramaespirita.com.br/modules/smartsection/category.php?categoryid=1
9

O espírita sabe que uma nova ordem de idéias é necessária para uma nova ética
comportamental. Para Jesus foi imprescindível deixar a noção da imortalidade. Esta é a
base da doutrina do Cristo que a demonstrou, sob o ponto de vista prático, em inúmeras
oportunidades.

Sem o conhecimento das diversas evidências científicas que apontam para a


imortalidade da alma podemos cometer erros. Se a alma inexiste, não tem sentido falar-
se em regras dirigentes da conduta, em escala de valores, só se desejamos ser
incoerentes.

Ciência, Filosofia e Religião são caminhos difíceis de transitar, mas os raios solares que
iluminam o caminho da Política vão fazer transpirar todos os nossos neurônios. Coitado
do Zigoto que for pregado na cruz da coisificação.

... Luiz Carlos Formiga & André Luiz B. Formiga

> Direito à Saúde: a Constituição brasileira assegura o direito à saúde

Artigos

As infecções cutâneas são mais contagiantes do que aquelas que ocorrem no trato
respiratório. As lesões de pele são um nicho ecológico do bacilo diftérico. Os
laboratórios devem ficar atentos para a possibilidade do isolamento do bacilo diftérico,
a partir de pessoas adultas portadoras de neoplasias, prevenindo-se de demandas
judiciais.

Introdução
A Carta dos Direitos dos Usuários de Saúde, Ministério da Saúde, Brasília, 2006,
elaborada em consenso pelos governos federal, estaduais e municipais e pelo Conselho
Nacional de Saúde, baseou-se em princípios de cidadania, que devem assegurar ao
cidadão o direito básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde.

Este documento pode transformar-se em importante ferramenta para que o cidadão


conheça seus direitos e possa ajudar o Brasil a ter um sistema de saúde com qualidade.
Depende do cidadão o comprometimento dos gestores da saúde para que os objetivos
enumerados nos princípios sejam alcançados, como tratamento adequado e efetivo;
direito ao atendimento humanizado, com respeito a sua pessoa, a seus valores e aos seus
direitos.

Embora os governos possam alardear que o “Brasil não está longe de atingir a perfeição
no tratamento de saúde” a realidade é que hoje o nosso sistema de serviços públicos está
em fase de declínio. Nossa rede de laboratórios de saúde pública apresenta carências
diversas e diferentes realidades. As condições de trabalho encontradas em vários
laboratórios são inadequadas. Em se tratando da Bacteriologia Clínica o erro técnico
biomédico pode ocorrer pela ausência de especificação e pela conseqüente
desvalorização do achado microbiano.

É possível encontrar condições onde os técnicos-graduados podem se sentir como num


caos aéreo: piloto inabilitado, sem plano de vôo e com os instrumentos inadequados
para voar.

Todo cidadão tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça de forma
adequada. O laboratório, muitas vezes, é veículo imprescindível para alcançar esse
objetivo.

Pelo exposto, objetivamos destacar a importância da prudência, da diligência e da


perícia em Microbiologia Clínica. Utilizaremos como pano de fundo o exame
bacteriológico a partir de lesões colonizadas pelo bacilo em pacientes hospitalizados
(1,2,9,10,11).

2. Difteria
Apesar do amplo conhecimento sobre a etiopatogenia da difteria, seus aspectos clínicos,
terapêutica e profilaxia, a doença infecciosa pode ser uma ameaça nos locais de
vacinação deficiente, de controle inadequado dos contatos familiares e ainda quando do
retardo do diagnóstico-tratamento.
Diante de uma criança febril e prostrada, é obrigatória a procura de pseudomembrana na
orofaringe.
A letalidade diminui na vigência do diagnóstico precoce e instalação rápida da
terapêutica específica (3,4,7).

2.1. Patogenicidade do C. diphtheriae


Poder toxígeno
O bacilo diftérico pode causar infecção em vários órgãos e tecidos, mas a forma clínica
mais freqüente e mais grave é a faríngea, denominada angina diftérica. Tanto as
manifestações locais como as sistêmicas são principalmente devidas a uma potente
exotoxina.
Vários estudos demonstram que as alterações tissulares, tanto no local de infecção,
como no miocárdio e outros órgãos, são mediadas pela toxina.

Poder invasor
Amostras não produtoras de toxina podem causar o processo infeccioso. Possuem
capacidade de aderência e permanência nos tecidos do hospedeiro. Assim, outros
fatores, distintos da toxina, devem ser considerados, embora seus papéis na patogenia
ainda não estejam suficientemente estudados (5,11,12,13).

2.2. Patogenia Patologia


O bacilo multiplica-se na porta de entrada e produz a exotoxina com tropismo especial
para o miocárdio, sistema nervoso, rins e supra-renais. Fixada de modo estável não pode
mais ser neutralizada. O microrganismo não invasor provoca na porta de entrada uma
reação inflamatória local, levando à formação da pseudomembrana, constituída de
células bacterianas, células epiteliais, leucócitos e fibrina. Da faringe pode estender-se à
laringe e traquéia, ocasionando quadro de insuficiência respiratória aguda por obstrução
alta. A gravidade da doença se deve a grande absorção de toxina que se relaciona com a
extensão da pseudomembrana e sua localização em região mais vascularizada. As
células do epitélio das vias aéreas fazem parte da pseudomembrana e a tentativa de
deslocá-la levará ao sangramento.
A miocardite demonstra edema intersticial, infiltrado inflamatório linfocitário
intersticial e perivascular, degeneração hialina e necrose celular. A neurite é devida à
desmielinização, manifestando-se primariamente por alterações motoras.
O comprometimento renal é decorrente de uma nefrite intersticial, causada
provavelmente pela ação direta da toxina e necrose tubular aguda, geralmente associada
com miocardite, devido ao baixo débito sanguíneo renal (3).

2.3. Diagnóstico Laboratorial


O diagnóstico bacteriológico é feito à partir do material retirado das lesões existentes
(ulcerações, críptas das amídalas), exsudatos de orofaringe e de nasofaringe, que são as
localizações mais comuns, ou de outras, conforme o caso, por meio de swab, antes da
administração de qualquer terapêutica antimicrobiana. O exame bacterioscópico têm
apenas valor presuntivo. A cultura deve ser feita por semeadura da secreção nos meios
específicos. As colônias isoladas e suspeitas irão para teste de triagem, produção de
porfirina fluorescente, e para o teste de produção de toxina. Amostras não produtoras de
toxina, porém fluorescentes, necessitam de estudo bioquímico adicional pois podem ser
bacilos diftéricos atoxinogênicos, referidos como “avirulentos ", assim designados
porque produzem manifestações clínicas discretas e localizadas, embora em algumas
ocasiões produzam também doença grave (1,6,7).

2.4.Manifestações Clínicas
Após uma incubação de um a sete dias, há o aparecimento de febre, geralmente
moderada, queda do estado geral, adinamia, anorexia e alterações ocasionadas pela
pseudomembrana.
O exame clínico revela com freqüência a toxemia, de intensidade variável, geralmente
desproporcional a hipertermia.
Há acometimento das cadeias cervicais anteriores e submandibulares com gânglios
pouco dolorosos, móveis e também acompanhados por edema periganglionar que, se
intenso, é sinal de prognóstico reservado. Após o início da terapêutica específica, a
pseudomembrana desaparece, em média depois de cinco a sete dias e, nesta época,
podem começar as alterações da miocardite diftérica. Casos graves podem se apresentar
como choque cardiogênico, bloqueio AV ou arritmias fatais. As manifestações
neurológicas são de aparecimento mais tardio que a miocardite (3).

2.5.Diagnóstico Clínico.
A manifestação clássica da difteria é a faringite com formação de pseudomembrana, que
em casos brandos pode estar ausente.
No início da doença é semelhante à angina estreptocócica, havendo usualmente febre
baixa (37,7-38,3 °C), mal estar, garganta levemente irritada, pode haver disfagia, sem
dor intensa, e sensação de cansaço. Posteriormente a pseudomembrana causará asfixia
de vários graus.
Pode haver sangramento, edema, inchação de garganta, secreção seroanguinolenta,
rouquidão, paralisia do palato mole, diminuição da resposta ocular, etc.
As alterações eletrocardiográficas não são patognomônicas, mas confirmam
praticamente o diagnóstico de miocardite diftérica numa criança com história anterior
de faringite.

2.6. Evolução e Prognóstico


A maioria dos casos de difteria evolui em duas a três semanas. A letalidade no Brasil
varia de 10 a 20%, sendo diretamente proporcional ao retardo do diagnóstico e do
tratamento específico.
Quando o óbito ocorre na primeira semana da doença quase sempre é devido a
insuficiência respiratória alta. Após o décimo dia é comum o óbito causado por
miocardite-insuficiência renal.
O prognóstico é grave na presença de grande edema de pescoço, pseudomembrana
extensa, fenômenos hemorrágicos, bloqueio AV total e insuficiência renal (3,4).

2.7. Epidemiologia
O homem é o reservatório natural do C. diphtheriae e o transmite principalmente por
contato direto (secreções de oro e nasofaringe) e eventualmente de forma indireta
(fômites).
O indivíduo poderá apresentar uma infecção subclínica (trato respiratório superior e
pele), adquirir imunidade e permanecer como portador assintomático durante tempo
prolongado (meses). As infecções subclínicas e o estado de portador assintomático são
importantes epidemiologicamente, uma vez que concorrem para a circulação do bacilo
na comunidade.
Admite-se que o doente de difteria passa a ter importância secundária uma vez que a
transmissão é interrompida no momento da internação e isolamento.
A taxa de portadores na população geral oscila entre 1 a 3% e nos contatos familiares de
8 à 14%. Essa diferença evidencia a necessidade de vigilância maior neste grupo mais
exposto.
Sua incidência é maior no outono e inverno, no entanto, nas regiões que não apresentam
grandes oscilações sazonais de temperatura, esta diferença não é significativa.
As crianças abaixo de 10 anos continuam a ser as mais atingidas. O maior número de
casos e óbitos tendem a ocorrer na faixa de 1 a 4 anos. A doença incide de maneira
endêmica no Brasil, com aparecimento de surtos epidêmicos esporádicos.
A pele pode ser um reservatório de potencial importância na manutenção da circulação
do C. diphtheriae uma vez que ele pode ser isolado de vários tipos de lesões cutâneas,
principalmente de zonas tropicais onde são comuns as picadas de insetos e os
traumatismos. Admite-se hoje que as infecções cutâneas são mais contagiosas do que as
do trato respiratório (3,4).

3. Direito à Saúde
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) traz a saúde
como direito social nos seus dispositivos: artigos 5, 6, 7, 21, 22, 23, 24, 30, 127, 129,
133, 134, 170, 182, 184, 194, 195, 197, 198, 199, 200, 216, 218, 220, 225, 227, 230.
A saúde é um direito subjetivo exigível do Estado que tem o dever de assegurá-lo.
Para apurar a responsabilidade do Poder público devemos atentar para os conceitos de
saúde, vida e dignidade da pessoa, considerada como ser multifacetado de natureza
biológica, psicológica, social, cultural e espiritual.
O direito à saúde é uma das formas de garantia do direito à vida, cláusula pétrea , art. 5o
da CRFB 88. Diante da prestação do serviço de saúde interpretamos a norma
constitucional com o sentido que maior eficácia lhe conceda, com o objetivo de
preservar a vida e a dignidade da pessoa. Há uma relação entre os conceitos de direito à
vida e dignidade da pessoa humana com os serviços de saúde. Qualquer atitude oriunda
do Poder Público em detrimento do direito à vida pode ser catalogada como uma
desconsideração a esta dignidade.
Em matéria de saúde, os diversos dispositivos constitucionais apontam para uma ampla
cobertura. Concluímos que qualquer omissão do Estado na garantia ao direito à saúde,
comprovado o nexo de causalidade, permitirá a propositura de medidas judiciais, e que
essa garantia ao direito à vida pode necessitar de exames laboratoriais complementares
adequados.
Em se tratando de um Sistema Único de Saúde, financiado pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, todos são responsáveis diante da obrigação que é de competência
comum, segundo CRFB 88, artigo 23, II.
A responsabilidade civil do Estado é de natureza objetiva (art. 37, § 6o, da CRFB/88).
Assim, demonstrado o nexo causal deve o Estado responder pelos danos que seus
agentes causarem a terceiros, no âmbito de seus hospitais, independente da prova de
dolo ou culpa (art. 43, Código Civil, 2002).
O hospital ao fornecer serviços de saúde médico-hospitalares está sujeito às normas do
Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90).
A relação jurídica estabelecida com os seus pacientes é contratual, legítima relação de
consumo, com as conseqüências legais que daí decorrem.
As atividades complementares, ao atendimento do paciente, também ficam protegidas
pelo manto deste contrato. Entre elas estão algumas como o serviço de controle de
infecção hospitalar, de enfermagem, de limpeza e serviços complementares de
diagnóstico e tratamento (laboratórios e outros).
Enfatizamos que a obrigação incluída neste contrato do hospital é de meios e não de
resultados. No entanto, a assistência médica deve ser a mais adequada possível, devendo
dispor de pessoal competente, nos procedimentos oferecidos aos seus pacientes,
diligência e prudência nos atendimentos, uma vez que no contrato está implícita a
cláusula de incolumidade, que tem característica de uma obrigação de resultados.
O hospital tem o dever de manter o paciente livre de outras enfermidades que não
apresentava no momento de sua admissão, prevenindo-se das iatrogenias. Paciente
internado com enfermidade neoplásica não pode evoluir a óbito por difteria (4).
A educação continuada, de modo geral, deve fazer parte de seu planejamento e, de
modo particular, o pessoal do laboratório de Microbiologia Clínica deve manter-se
atualizado e em contato com o Laboratório Central de Saúde Pública e com o Centro de
Referência (3).

4. Prudência, Diligência e Perícia


Um bom exemplo de integração entre Serviços na esfera pública é encontrado no artigo
que relata o isolamento do C. diphtheriae de materiais recolhidos a partir de pacientes
internados com câncer.
A identificação preliminar do microrganismo foi feita no laboratório do Instituto
Nacional do Câncer – INCA - no Rio de Janeiro(10).
Estudos adicionais foram realizados (e continuam sendo feitos - Instituto de Química)
com a participação de profissionais das Universidades Estadual e Federal do Rio de
Janeiro (UERJ-UFRJ).
Um dos estudos sobre as propriedades fisiológicas das amostras microbianas foi
divulgado através de publicação em revista técnico científica de boa penetração nos
países em desenvolvimento. Desta forma alertamos que o micróbio continua sendo uma
ameaça. A ampla vacinação possibilita a erradicação da doença, mas não impede a
circulação do agente causal. Eventualmente o bacilo pode ser encontrado produzindo
infecção em adultos vacinados, como ocorreu em 2001, entre nós (11) .
A existência de Centros de Referência ligados ao Ministério da Saúde certamente tem
evitado que demandas judiciais possam surgir em conseqüência do erro biomédico
laboratorial, uma vez que nestes centros diversos trabalhos de pesquisas são realizados,
possibilitando a educação continuada desses profissionais que trabalham muitas vezes
nas condições que todos podem imaginar em se tratando de laboratórios localizados em
países em desenvolvimento (3,10).

5. Referências Bibliográficas
1. Formiga, L.C.D. New possibilities for Laboratory diagnosis of diphtheria. Brazilian J.
Med. Biol. Res., 18:401-402, 1985.
2. Formiga,L.C.D. & Guaraldi,A.L.M.. Diphtheria: current status and laboratory
procedures for diagnosis. Rev. Bras. Pat. Clin., 29(3): 93-96, 1993.
3. Macambira, R.P.; Formiga, L.B. & Formiga, L.C.D. Difteria: O grave prognóstico
brasileiro. J. Bras de Medicina, 66 (3): 69-81, 1994.
4. Formiga, L.B.; Formiga, L.C.D. & Gomes, R.O. Difteria Iatrogenia da Omissão.
Pediatria Atual, 7(8): 27-31, 1994.
5. Guaraldi, A.L.M.& Formiga, L.C.D. Bacteriological properties of a sucrose
fermenting Corynebacterium diphtheriae strain isolated from a case of endocarditis.
Current Microbiology, 37(3): 156-158, 1998.
6. Formiga, L.C.D. Corynebacterium. In. Trabulsi, L.R.; Alterthum, F.; Gompertz, O.F.;
Candeias, J.N. (Editores). Microbiologia. Atheneu, p. 177-185, 1999.
7. Guaraldi, A.L.M., Formiga, L.C.D., Pereira, G.A. 2000. Cell Surface Components
and Adhesion in Corynebacterium Diphtheriae. Microbes And Infection, 2: 1507 -
1512, 2000.
8. Guaraldi, A.L.M., Formiga, L.C.D., Camelo, T.C.F., Pereira, G. A. A Diphtheria
Screening Method. In: Sixth International Meeting Of The European Laboratory
Working Group On Diphtheria-Who, Bruxelas. Abstract..51, 2000.
9. Guaraldi, A.L.M., Engler, K., Tam, M., Hirata R. Jr, & Formiga. LCD. The
Immunochromatographic Method for Toxin Detection and the King-DSU Screening
Procedures as Alternative in Rapid Laboratory Diagnosis of Corynebacterium
diphtheriae. 101st General Meeting - May 20 – 24 at Orange County Convention
Center, Orlando, Florida, 2001.
10. Guaraldi, A L.M., Formiga, L.C.D. Corynebacterium diphtheriae threats in cancer
patients. Revista Argentina de Microbiología. 33: 96-100, 2001
11. Guaraldi, ALM; Formiga, LCD; Marques, EA, Pimenta, FP, Camello, TCF &
Oliveira, EF. Diphtheria in a vaccinated adult in Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian
Journal of Microbiology. 32: 236 – 239,2001.
12. Hirata Jr, R., Napoleão, F., Monteiro-Leal, L. H., Andrade, A. F. B., Nagao, P. E.,
Formiga, L.C.D., Fonseca, L.S., Mattos-Guaraldi, A. L. Intracellular viability of
toxigenic Corynebacterium diphtheriae in HEp-2 cells. Fems Microbiology Letters,
215(1): 115 – 119, 2002.
13. Hirata Jr, R., Souza, S. M. S., Rocha-De-Souza, C. M., Andrade, A. F. B., Monteiro-
Leal, L. H., Formiga, L. C. D., Mattos-Guaraldi, A. L. Patterns of adherence to HEp-2
cells and actin polimerisation by toxigenic Corynebacterium diphtheriae strains.
Microb. Pathog, 36: 125-130, 2004.

Trabalho apresentado no Segundo Congresso da UniverCidade, outubro, 2007

http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.11.htm

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ

... Luiz Carlos Formiga

> Dignidade para a mulher - É necessário restabelecer a igualdade entre cidadãos

Artigos

Qualquer tipo de violência nos entristece. A negação dos direitos humanos da mulher,
violência de gênero, nos deixa desequilibrados. Imaginem a dor que senti ao tomar
conhecimento de um acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, de 1974, que
referia uma manifestação do Procurador de Justiça declarando que considerava o
estupro praticado pelo réu uma “cortesia” e não um crime.

A advogada Jussara Oliveira afirma que a moralidade da mulher é levada em


consideração mais do que a análise e julgamento do ato em si. São assim acusadas de
“sedutoras”. A postura majoritária na magistratura é de omissão, nada fazendo para que
seja respeitada a dignidade da mulher.
Ainda é fato que os crimes sexuais, e de modo especial o de estupro, aumentaram nas
últimas décadas. Não cresceram na mesma proporção as condenações impostas aos
agressores, indicando que está sendo mais tolerado pelos tribunais. É de domínio
público que mulheres são colocadas em celas masculinas, onde sua dignidade sofre
grave lesão. É urgente a modificação desse quadro. Sabemos que a lei não educa
ninguém. Pedagogos e professores podem ser acusados, mas “ninguém restaura um
serviço sob as trevas da desordem”.

É evidente que nos tratados e convenções as questões específicas das mulheres recebem
tratamento secundário e marginal.

No Brasil o perfil conservador dos agentes jurídicos conduz ao entendimento de que o


Direito é um instrumento de conservação e contenção social, mais do que de
transformação social.

Nessa hora em que “estamos diante da causa mais importante do Supremo Tribunal
Federal (STF)” nossas esperanças se renovam. Depois de tantas decepções,
necessitamos de práticas afirmativas que busquem na educação, na universidade,
aqueles alunos que são equilíbrio razão-sentimento, o que melhor a academia possui,
capazes de perceber ensino e pesquisa como binômio indissociável.

Não é suficiente criar universidades por decreto. É necessário retirar o “pires da mão”
das ilhas de competência científica. Como anota a advogada, no campo específico da
mulher, necessitamos de ações afirmativas que possam “restabelecer a igualdade entre
cidadãos, que uma herança histórica de discriminação tornou desiguais.”

Preconceitos e discriminações de gênero estão em nossa cultura, enraizados nas


consciências e reproduzindo-se na práxis jurídica (Oliveira, J.M.C.. A negação dos
direitos humanos da mulher: violência de gênero. Revista Jurídico UNIGRAN,
Dourados, MS, 5(9): 35-49, 2003).

Há necessidade do enfrentamento crítico da ideologia discriminatória de todo tipo. Nas


ciências biomédicas é emblemático o exemplo do estigma da lepra que aterroriza
pacientes da curável hanseníase.

“Enquanto não for desenvolvido um programa educativo adequado, hanseníase


continuará sendo sinônimo de lepra. Persistirão os graves problemas psicossociais por
ela acarretados".
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/o-poder-das-palavras.html

O Espiritismo, a despeito de ter surgido através do método científico, também é alvo da


postura discriminatória. Na origem do preconceito estão menos os argumento religiosos
(filosóficos) e mais os instrumentos políticos.

Em alguns temas os argumentos religiosos são recusados e se procura refletir apenas


com os das ciências, incluindo as jurídicas. A discussão do início da vida e do aborto
são exemplos, o que exige altos vôos da razão e do sentimento.

Apesar da alergia que o antígeno religião pode causar, gostaria de contar que ao término
da conferência pública com o médium Divaldo Franco, realizada no Grupo Espírita
André Luiz, no Rio de Janeiro, 26 de julho de 2007, o espírito assim se pronunciou:
“Nós que nos comprometemos em tornar melhores os nossos próprios dias deveremos
avançar semeando bênçãos e distribuindo consolações. A humanidade necessita mais de
exemplos dignificantes do que de palavras retumbantes.” Destacamos o exercício
prático da transformação pessoal e a ciência como promotora da esperança.

O médico Arthur Conan Doyle, criador da série Sherlock Holmes, escreveu a “História
do Espiritismo”, que foi traduzida por Júlio de Abreu Filho. O filosofo J. Herculano
Pires é o autor do prefácio que nos fala da obra e do escritor de renome mundial: “O
médico A. C. Doyle, o homem voltado para os problemas científicos, o pensador,
debruçado sobre as questões filosóficas, e o religioso, que percebe o verdadeiro sentido
da palavra religião – todos eles estão presentes nesta obra gigantesca, suficiente para
imortalizar um escritor que já não se houvesse imortalizado.”

Da obra (Editora Pensamento, SP, SP, 500 p) vamos ficar com a página 174, 5º capítulo,
“A Carreira de D. D. Home”, porque atende ao nosso objetivo. É um parágrafo onde o
médico escritor faz uma afirmação que comprovei ao longo da vida acadêmica. Sua
clareza nos obriga a citá-lo ad litteram:
“Os homens de ciência se dividem em três classes: os que absolutamente não
examinaram o assunto – o que não os impede de pronunciar opiniões muito violentas;
os que sabem que a coisa é verdadeira, mas temem confessá-lo; e, finalmente, a
brilhante minoria dos Lodges, dos Crookes e dos Lombrosos, que sabem que é verdade
e não temem proclamá-lo.”
Nessa minoria, hoje encontramos professores universitários, magistrados, entre outros.
http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/exemet.html
http://www.reflexaoespirita.org.br/
http://www.abrame.org.br/

Como saber que estamos próximos da verdadeira realidade? Para isso, Koch criou seus
postulados ao estudar a etiologia bacteriana da tuberculose. Observar ao microscópio,
fazer o isolamento em cultura pura, reproduzir a doença em modelo animal e isolá-lo a
partir do animal doente. Assim chegou a etiologia bacteriana e sua negação ficou como
altamente improvável.

Realmente a experimentação é o método ideal de aquisição de conhecimentos positivos.


Em ciência é premissa que o fenômeno deva repetir-se. No entanto, a repetição não é
observada nas ciências sociais, nem muito menos podemos reproduzir à vontade os
fenômenos astronômicos e meteorológicos. Em ciência usa-se a expressão "os
resultados sugerem que".

O fornecimento de uma prova científica esbarra num número apreciável de hipóteses,


que também poderiam explicar o fato. Depuramos variáveis para chegar à hipótese mais
provável, capaz de melhor explicar o fenômeno.

A ciência é feita com o uso auto-consciente de nossas faculdades mentais, mas o


homem não possui uma medida absoluta da verdade, daí a sua relatividade. É um
conjunto de declarações ou afirmações que são assumidas como verdades sobre a
realidade. Fatos posteriores podem reforçar a afirmação, como a cura da doença usando-
se antibióticos aos quais o micróbio é sensível in vitro.
A alma é imortal?

O professor examinou fenômenos estranhos que aconteciam com freqüência,


espontaneamente, com intensidade e persistência. Através da observação atenta notou
que ocorriam sob a influência de determinadas pessoas (médiuns). Observou que
podiam, de certa forma, provocá-los à vontade, o que lhe permitiu repetir experiências
necessárias para documentar o fato e acumular dados estatísticos.

Várias hipóteses, inicialmente materialistas, foram enumeradas para explicar os


resultados. Mas, os fenômenos mostravam-se inteligentes e o pesquisador concluiu que
"se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente".
Restava explicar a natureza dessa inteligência. Surgiram hipóteses.

Posteriormente, afastando qualquer idéia pré-concebida, admitiu a "do absurdo", a


existência de um ser invisível.
Por esse caminho, hoje o espírita sabe que a alma (espírito) se liga à matéria no
momento da concepção, inicio da nova vida. Este é o momento zero da reencarnação.

Em outro artigo, dissemos que o Brasil possui várias e antigas universidades, que a
produção do conhecimento é cantada, em prosa e verso e que na prática não se encontra
quase nada. Dissemos também que o cientista não goza do prestígio social que lhe é
conferido nos países onde o desenvolvimento da pesquisa científica é parte fundamental
de um projeto global.

Como só pequena parcela da população brasileira chega à universidade, é pertinente


pensar que parte da população ainda não fez a iniciação científica, como acontecem em
várias escolas de terceiro grau. Como exigir que brasileiros aceitem o objeto de estudo
do Espiritismo, que é o elemento espiritual?

Como fazer para que possam examinar “A Excelência Metodológica do Espiritismo”,


descrita pelo professor (http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/exemet.html)
que “Investiga o desconhecido: filosofia da ciência e investigação de fenômenos
anômalos na psiquiatria”? (Revista de Psiquiatria clinica. (São Paulo): 34 (supl.1):8-16,
2007).

Como exigir que estejam familiarizados com os termos das Ciências Biológicas e
Jurídicas? Que possam estar informados sobre o início da vida olhando através de
diversas janelas como a biomédica, jurídica, espírita, e outras?

As experiências de Allan Kardec e de seus contemporâneos nos ofereceram como ponto


zero a concepção.

A Embriologia, numa linguagem de 1993, nos informa que logo após a fusão da
membrana celular do espermatozóide com a do ovócito acontece também a fusão dos
seus dois pronúcleos. Nos pronúcleos estão os cromossomos masculino e feminino. Em
seguida aparece um novo e único núcleo, o zigoto fertilizado. Este momento marca o
ponto zero do desenvolvimento embrionário. A partir daí temos um novo potencial
genético e o zigoto diferencia-se completamente do organismo da mãe. (Larsen, W.J.
1993. Human Embryology. Churchill Livingstone Inc., N.Y.).
O que encontramos na Constituição da República Federativa Brasileira sobre a vida.
Qual o seu entendimento?
Debatedores utilizam o conflito entre o progresso científico biomédico e o dogmatismo
religioso, colocando este último como reacionário, numa visão reducionista.

Todos sabemos que a Bioética é de natureza transdisciplinar. No entanto, vamos nos


ater as teses de ciência.
Olhando pela janela jurídica teremos que discutir uma questão fundamental, que é a
determinação do momento em que a vida humana se inicia. O raciocínio seguinte é a
determinação do exato momento em que ela passa a ser um bem jurídico passível de
tutela, configurando-se em um direito, que deve ser respeitado.

Podem surgir diferentes pontos de vista. Uns se apóiam nos primeiros indícios de
atividade cerebral, outros afirmam que só ocorre após a nidação, quando o óvulo
fecundado se fixa no útero materno. Nosso ordenamento jurídico usa a Embriologia.
Quando surge um ser distinto de seus pais, novo e único, a vida se inicia.

Esse embrião humano de célula única, com identidade genética individual, possui todas
as características da pessoa humana que será na idade adulta. Na ciência biomédica, é
desse ponto que partem, sem alternativa, todas as técnicas de fertilização in vitro. O
artigo 5º da Constituição Federal se refere a essa vida, sendo direito fundamental,
inviolável, inalienável, imprescritível, sendo pressuposto e fundamento de todos os
outros direitos.

Uma lei que autoriza o uso de células tronco embrionárias humanas, com lesão fatal ao
embrião, fere o preceito constitucional devendo ser declarada a sua
inconstitucionalidade. A mesma declaração não ocorreria diante da inviabilidade
biológica. A presidente do STF, Ellen Gracie, considerando a inviabilidade do zigoto
concluiu que pessoa humana não existe, nem mesmo como potencialidade, e adiantou o
seu voto. Alguns pesquisadores, no entanto, questionam esse diagnóstico de certeza de
inviabilidade, considerando-o apenas como uma arbitrariedade. O jurista deverá confiar
na prudência, na diligência e na perícia do profissional biomédico.
http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.11.htm

A ciência biomédica admite que as embrionárias são as células de maior potencial


terapêutico e que não podem ser substituídas por células adultas. Por esse motivo os
pesquisadores defendem a sua pronta utilização, apesar de não poderem determinar a
data de sua futura aplicação terapêutica e que estejamos diante da infeliz possibilidade
do uso abusivo da técnica.

Dependendo de seus interesses os pesquisadores, quando opinam sobre o início da vida,


adotam diferentes argumentos (concepção, nidação, atividade cerebral). Embora se
possa dizer que o momento em que começa a vida humana não possui um marco
científico definido, o nosso ordenamento jurídico se filia a teoria concepcionista.

A pressão é muito grande. São poucos os países que proíbem a pesquisa com células
embrionárias, o que deixa os nacionais diante do conflito bioético e a dependência
futura aos países onde esses estudos são realizados. Advogam que apenas usarão
embriões inviáveis e que, ainda, na dependência da autorização dos genitores, embora
juridicamente os pais não sejam donos dos filhos.
No Direito, um pré-embrião não se classifica como pessoa. A ordem jurídica
internacional diz que a pessoa é um recém-nascido com vida. A vida só começaria
depois do nascimento e a Constituição brasileira só trata da vida após o parto e só desta
forma o novo ser ganharia personalidade civil. A pessoa é o valor fonte de todos os
valores, sendo o principal fundamento do ordenamento jurídico. A Constituição cidadã
não expõe sobre nenhuma forma de vida pré-natal e não diz quando começa a vida
humana.

No nosso código civil encontramos que a personalidade civil começa no nascimento


com vida (art. 2º), mas, mesmo antes, a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos
do nascituro in útero. Surgem conseqüências que estão tipificadas no nosso código
penal. Alguns pensadores alertam para o perigo de tornar relativa a humanidade que
existe no embrião para, por exemplo, não chegarmos a permitir a clonagem humana.

Já se disse que estamos diante da causa mais importante do Supremo. A sociedade


hedonista verá ruir as velhas estruturas. Individualmente estaremos diante da imperiosa
necessidade de repensar nossos projetos de vida, para refletir agora com os direitos
fundamentais posteriores aos da terceira geração.

Na casa espírita pela psicofonia o mensageiro da paz nos exorta à compaixão. Como a
presidente do STF poderia ficar indiferente a dor humana, diante de 5 milhões de
pessoas que sofrem de graves doenças genéticas? O que está acontecendo no STF é
apenas mais um indício de que uma nova civilização esta nascendo.

As ciências biomédicas apontam para a esperança diante das células-tronco e nos pede
para agir com ética.

A Bioética e o Biodireito são campos que oferecerão preciosas contribuições na


construção desta nova civilização regenerada e mais feliz.

Naquela noite de julho de 2007, o bondoso médico espírito apela para o nosso bom
ânimo e diz com sua grave voz: “Nunca deserteis da luta de auto-iluminação. Não vos
permitais o desânimo nem o desespero. Cultivai a paciência. A noite tenebrosa deste
momento inunda-se de luz na madrugada que vai chegando. Confiai em Deus e a Ele
entregai os problemas e desafios que não podeis solucionar. Deus é Amor!”.

http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.17.htm

... Luiz Carlos Formiga

> Anomalias fetais: abortar?

Artigos
ANOMALIAS fetais: abortar?
Uma criança anencéfala é uma tentativa frustrada da natureza?
É um espírito encarnado ou não?

Anencéfalo tem alma? Que é a alma? Seria válido o aborto diante de anomalias fetais
graves e incuráveis? Como detectar a presença do espírito? Há um espírito encarnado?

Schiefler-Fontes, juiz substituto em Santa Catarina, escreveu o “ Aborto do


diagnosticado anencéfalo: o disparate dos pedidos judiciais de alvará ou autorização de
aborto.” Nele diz que: “instruídos com exames médicos atestando anomalia do feto,
geralmente especificando malformação congênita intitulada acrania/encefalocele,
patologia supostamente incompatível com a vida extra-uterina, pedidos de "autorização
de aborto de feto anencéfalo" têm sido ajuizados no Judiciário brasileiro, acarretando
polêmica atual no Supremo Tribunal Federal”. (Schiefler-Fontes, Márcio. Aborto do
diagnosticado anencéfalo: o disparate dos pedidos judiciais de alvará ou autorização de
aborto. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1465, 6 jul. 2007. Disponível em:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10093).

Desde novembro de 1993, a equipe do Instituto de Medicina Fetal e Genética Humana


de São Paulo vinha tratando a questão da interrupção de gestações, nas quais haviam
sido diagnosticadas anomalias fetais graves e incuráveis, com uma estratégia muito bem
estabelecida. Solicitavam alvarás judiciais para as interrupções com base no laudo dos
exames realizados; relatórios de três médicos e laudo psicológico do casal. Pensavam
que amealhando sentenças, envolvendo uma razoável quantidade de patologias,
elaboradas por juizes de diferentes pontos do país chegariam na reformulação do nosso
código penal. Desta forma teriam aliado o judiciário à própria luta, o que era de
importância fundamental. Afinal, os juizes podem iniciar sua justificativa afirmando que
“o pedido de interrupção seletiva da gravidez deve ser deferido, consoante inúmeras
decisões proferidas em situações idênticas...”

A estratégia era oriunda de uma sugestão dada pelo juiz Miguél Kfoury Neto, autor da
primeira sentença formulada em Londrina, em 1992, autorizando a interrupção de uma
gravidez complicada por anencefalia. Isto aconteceu vários anos depois da primeira
discussão no Congresso Brasileiro de Genética, julho de 1976, em Brasília. Nesse
tempo evoluímos da fase do diagnóstico pré-natal dos anos 80 para a medicina fetal dos
anos 90. Hoje pode-se tratar algumas patologias fetais e não há dúvidas de que se
contam com sucessos indiscutíveis.
Quando escrevemos sobre os direitos do paciente terminal lembramos que o doente
enquanto está morrendo está vivendo. Schiefler-Fontes pergunta se seria justo ou
razoável condenar o anencéfalo à pena máxima onde o paradoxo assombra: se há
impossibilidade de "vida extra-uterina" é porque há "vida intra-uterina".

Considerando a irreversibilidade da morte, diz que nessas condições, é evidente que a


irreversibilidade da medida impõe maior prudência, de modo que até esta altura
sobejam razões para o indeferimento dos pedidos judiciais de "autorização de aborto" e
que é preciso que se alerte da periculosidade de precedentes que têm surgido nos
tribunais em casos de anencefalia , uma vez que incontáveis questionamentos têm
emergido com o suposto progresso das ciências, em especial as biológicas.

Mas, o que fazer quando são malformações múltiplas ou aberrações cromossômicas


graves? Uma criança portadora de malformação merece viver como qualquer ser
humano? Se eliminarmos uma criança por causa de sua malformação, poderemos
também eliminar os que não têm a cor da pele ou sexo esperado?
Foram obtidas sentenças autorizando interrupções de gravidez em fetos portadores de
aberração cromossômica incompatível com vida extra-uterina prolongada e, em dois
casos, constava dos laudos médicos que a mãe absolutamente não corria risco de vida.

Pressionados pelas emoções cometemos grandes enganos. Quase concordamos com a


reivindicação daquele pai-professor que teve a filha como uma das vítimas do maníaco
“moto-boy”. Depois refletimos, a pena de morte não se apóia em nenhum direito e a
experiência parece documentar que a sua prática não é capaz de deter a mente resolvida
a praticar o mal. O argumento da possibilidade de erro jurídico é suficiente para
invalidar toda a retórica dos que lutam à favor da pena de morte. Haverá aberração
cerebral grave nesses seres capazes de crimes hediondos?

Um médico e professor estudioso do “Complexo Cérebro-Mente” nos diz que “parece


muito claro que o cérebro, por si só, não é capaz de justificar toda capacidade da mente
humana e o conhecimento científico é muito limitado para alcançar as razões filosóficas
da natureza humana e do seu destino”. Bem antes do nascimento, as manifestações de
vivências agradáveis ou não da mãe já imprimem na mente da criança, que vai nascer,
reações que logo após o parto podem ser semiologicamente confirmadas.

Nos congressos de Neuropediatria já estão incluídos em sua temática a apresentação de


trabalhos sobre o Psiquismo Fetal. Diz o médico Nubor Facure que a confirmação de
um “Psiquismo Fetal”, intimamente ligado ao “Psiquismo Materno”, implica em mais
um motivo para nossa meditação quando falamos em aborto.

A criança portadora de malformação, membro pleno da espécie humana, merece


também viver no seu tempo programado como qualquer ser humano. Tanto a pena de
morte quanto o aborto de crianças portadoras de malformações se tratam de opções
intelectuais e morais que não se podem justificar racionalmente até o fim! Será que no
futuro também serão eliminados os que não tenham o sexo esperado? Para o nazismo o
defeito genético era outro.
Surgem hoje muitos questionamentos. A ética avalia o comportamento do ser humano
enquanto ser humano, independente de qualquer convicção religiosa ou política?
Problemas éticos podem ser resolvidos pela estatística ou será a ética de ordem
qualitativa? A base da legislação é a ética? O Estado é o centro legislador para todos os
cidadãos? O aborto situa-se no campo ético, que é competência do Estado? Um feto
anencéfalo é apenas uma tentativa frustrada e deformada da natureza? Uma realidade
biológica irreparavelmente deformada não pode ser considerada pessoa? Se uma pessoa-
em-potencial (feto) ainda não é uma pessoa, podemos, desta forma, recomendar o
aborto?

O que se quer é desumanizar o feto. Como princípio jurídico, a dignidade da pessoa vai
designar não apenas o “ser pessoa”, mas a “humanidade da pessoa”, a reunião de todos
os homens no que eles possuem em comum. Assim, a dignidade é atributo do gênero
humano. Se o anencéfalo, de origem humana, compõe a humanidade, como os nascidos
portadores da trissomia do cromossoma 21, eles têm esta mesma dignidade no
“domínio” da humanidade.

É difícil conciliar uma medicina que cura com outra que mata.

Que argumentos são utilizados para conceder validez moral ao ato da interrupção de
uma gravidez complicada por ausência dos hemiférios cerebrais?

A resposta é curta porque o cerne argumentativo repousa na ausência de vida, associado


à imagem de subumanidade. Os “sub” são aqueles para quem a vida é fadada ao
“fracasso”, ou para quem, no mínimo, o conceito de vida não é adequado. Os
anencéfalos não podem ser diferenciados dos animais, pois não possuem o órgão-sede,
que por seu desenvolvimento evolutivo, permitiria essa diferenciação. Assim, admite-se
estar no cérebro a localização da humanidade.

A gestante foi estigmatizada como um “caixão ambulante”. Fernando Altemeyer Junior,


comenta no Jornal do Brasil, em 1º de abril de 1996, que a idéia de vida que nutre essa
imagem não é apenas a que diz respeito à integridade biológica. Por trás desta ideologia,
que esconde a verdadeira intenção, existe uma expectativa de vida muito mais ampla e é
exatamente isto o que une, de forma relativamente clara, um feto anencefálico a um feto
portador de trissomia do cromossoma 21 ( Síndrome de Down, Mongolismo).

A quem interessa o aborto? Encontramos respostas em Maria José Miranda Pereira.


Aborto: a quem interessa? Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1090, 26 jun. 2006.
Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8562

A mesma motivação existe em relação a fetos com ausências de membros distais que
são alvos potenciais da “interrupção seletiva da gravidez”. No fundo, vamos encontrar
uma idéia social de vida, respaldada é claro, pela plenitude biológica, o que justifica
grande parte das solicitações de aborto seletivo.

Os juizes assentam a legitimidade do procedimento na ausência de vida dos fetos


justificando que “o objeto jurídico do aborto consiste na preservação da vida humana
que, na hipótese sob análise, não ficaria prejudicada pela interrupção da gravidez, ante o
fato descrito...”. Parte-se de uma construção legal de positividade de vida (proíbe-se
assim a eutanásia) para uma negatividade de vida em nome da sub-humanidade extrema
do feto.

Os dilemas éticos parecem ser mais facilmente solucionados quando a medicina e a vida
social apontam para a total impossibilidade de vida biológica e moral. Mas, nas zonas
sombrias, nos casos-fronteira, como o de um feto portador de trissomia do cromossoma
21, este mesmo argumento “vida humana” toma outra conotação. Aí os juizes concedem
um domínio da concepção moral de vida sobre os argumentos exclusivamente técnicos
de sobrevivência ou de qualidade de vida. Chegamos ao suporte juridico-moral, à
decisão legal e ficamos diante da moral medicalizada, a moral justificada por intermédio
do discurso biológico.

Adverte Fontes que “a um só tempo, os direitos à saúde, à liberdade em sentido amplo,


à autonomia da vontade, ao devido processo legal e, acima de tudo, à vida e à dignidade
do ser humano estão por um fio, trêmulos sobre o gume de uma lâmina. Princípios e
fundamentos constitucionais, como o da dignidade do ser humano, são freqüentemente
invocados para justificar decisões contrárias ao sistema legal-constitucional brasileiro,
mas, são parte do todo que o direito compõe, não seus elementos exclusivos. Nada mais
absurdo que considerar a interpretação da Constituição à luz do Código Penal, do
Código Civil ou de que lei for. O direito é um todo e possui seus caminhos de
aplicação.”

Assevera Fontes que “o jurista não tem condições, sob aspecto técnico, de averiguar se
pelo atual estágio de desenvolvimento da medicina efetivamente não existe solução para
a anomalia de que supostamente padecem fetos anencéfalos.

Segundo estimativas extra-oficiais, existem hoje no Brasil mais de 350 alvarás judiciais
autorizando a prática da interrupção seletiva da gravidez em nome de anomalias fetais
incompatíveis com a vida extra-uterina.

Sabe-se que há relação direta entre fetos anencéfalos e abortamento espontâneo. Cerca
de 65% morrem no período intra-útero. Dos que sobrevivem, cerca de 2/3 falecem nas
primeiras três horas. Alguns registros mostraram que, de 180 anencéfalos vivos, 58%
não sobreviveram após as primeiras 24 horas. Quando a alma está presente?

Que é a alma? A resposta é encontrada no “Livro dos Espíritos”, na questão 134 e diz
que é “um espírito encarnado”. Mas, que era a alma antes de se unir ao corpo? “Um
Espírito”.

O corpo pode existir sem alma, não sendo um homem mas massa de carne sem
inteligência (questão 136). Na agonia, algumas vezes, já tem deixado o corpo havendo
apenas vida orgânica. Cabe perguntar, sob o ponto de vista prático, como saber se o
espírito já deixou o corpo e como saber se está ligado ao corpo do anencéfalo.

Nas questões deste capítulo do "O Livro dos Espíritos" vamos encontrar novamente o
vocábulo (alguns/algumas) na questão 356, onde verificamos que entre os natimortos há
alguns onde não foi destinada a encarnação de espíritos. Por outro lado, o Livro dos
Espíritos é claro quando informa que se a criança vive após o nascimento ela tem
forçosamente encarnado em si um espírito e é um ser humano (questão 356b).
Interessante é que não tendo sido destinado à encarnação de espíritos, corpos podem
chegar a termo de nascimento, algumas vezes (de novo o vocábulo), mas não vivem
(questão 356a).

Essas questões parecem explicar (percentuais referidos anteriormente) os 65% de


anencéfalos que morrem no período intra-útero e ainda os outros 42% que sobrevivem
após as primeiras 24 horas.

Uma mulher tem o direito de levar a termo uma gestação com uma criança seriamente
afetada, quando isso representa uma carga financeira e social imensa para toda a
sociedade?

No momento de decisão vamos nos debruçar sobre a resposta dada pelos Espíritos
Superiores (na questão 356b) – “há forçosamente um espírito encarnado”.

O bebê anencéfalo passou o primeiro dia em casa em estado estável, em Patrocínio


Paulista (SP). Após receber alta ontem, Marcela de Jesus Ferreira, que vai completar
cinco meses amanhã (20 de abril de 2007), respira sozinha. Para não desgastar a sua
saúde, ela conta com auxílio de um capacete fornecedor de oxigênio.

A mãe Cacilda informou que a garota está bem e é alimentada com suco de frutas e leite
em pó, por meio de uma sonda. A pediatra responsável pelo caso, Márcia Beani
Barcellos, fará visitas regulares para acompanhar a evolução da saúde da criança. A
menina, que nasceu na Santa Casa de Patrocínio Paulista, próximo a Ribeirão Preto, São
Paulo, está morando com a mãe em uma residência próxima ao hospital. Com estado de
saúde estável, ela contrariou as previsões médicas que só lhe davam alguns dias de vida
(Redação Terra, Quinta, 19 de abril de 2007).

Fontes é enfático: “decretar viver ou morrer não é poder do juiz.” Certamente ele vai
deixar os calouros de direito em reflexão profunda, quando adjetiva: “mais inviável do
que o nascituro tido como anencéfalo é a pretensão de alcançar judicialmente uma
autorização de aborto, porquanto injusta, ilegal, inconstitucional, juridicamente
impossível, irrelevante e inútil.”

http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.6.htm

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado

... Antonio Baracat

> Células-Tronco e Fundamentalismo Religioso

Artigos
Tomado pelo bom senso, com o voto do Relator e da sua Presidente, o Supremo
Tribunal Federal (STF) iniciou a aprovação das pesquisas com células-tronco
embrionárias, conforme previsto na Lei de Biossegurança. Como se espera, o STF está
julgando improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a autorização
legal para as pesquisas. A partir do final do julgamento, os cientistas poderão usar em
seus experimentos os embriões congelados a mais de três anos, precisando apenas da
autorização do casal doador. Isso dá um destino útil aos embriões congelados, que de
outra forma seriam simplesmente descartados. Evitando-se esta irracionalidade, com
algum esforço, os pesquisadores brasileiros poderão “tirar o atraso” e acompanhar o
andamento das investigações mundiais na área. Com o tempo, os estudos contribuirão
para a descoberta de meios terapêuticos para o tratamento de doenças tidas como
incuráveis, como o Mal de Parkinson, a Distrofia Muscular, a Paraplegia e a Doença de
Alzheimer, dentre outras.

Mas a decisão do STF, embora apoiada pelos que são solidários aos que sofrem com
doenças ainda incuráveis, não alcançou unanimidade. Enfrentou fanática oposição
capitaneada por líderes cristãos, argumentando que quando um espermatozóide adentra
um óvulo em laboratório já há início da vida e por isso o embrião aí formado não pode
ser usado em pesquisas e terapias. O que não explicam é como o embrião de proveta vai
fazer para se desenvolver e tornar-se um ser humano sem contar com o acolhimento de
um útero...

Em O Evangelho segundo o Espiritismo (Cap. I, Item 8), Allan Kardec escreveu que “a
Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do
mundo material e a outra as do mundo moral”. Teve razão o Codificador do Espiritismo
em anotar esta afirmação, pois do conflito entre Ciência e Religião surgiu, em todas as
épocas e lugares, a incredulidade e a intolerância. Se bem que a humanidade neste
confronto, entre idas e vindas, tem preferido ficar com a Ciência... O Espiritismo veio
ao mundo para mediar este conflito e induzir o diálogo produtivo entre Ciência e
Religião, tanto é que, sendo uma Religião, tem como postulado que o progresso da
Ciência pode modificar suas diretrizes e, assim, não tem dificuldades em admitir
novidades como neste caso. É que o Espiritismo compreende que a melhoria
progressiva da qualidade de vida que a Ciência vem proporcionando aos homens não é
senão uma cabal manifestação da misericórdia divina. A Ciência avança e proporciona
maiores recursos a todos nós que estamos na Terra para expiar nossas faltas e
experimentar novos aprendizados, “mas, todos, sem exceção, devemos esforçar-nos por
abrandar a expiação dos nossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade”.
(O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. V, Item 27)

Como espírita convicto, asseguro que não há qualquer comunicação mediúnica idônea
contendo veto à pesquisa com embriões congelados e nenhuma prova de que a estes
existem espíritos reencarnantes associados. Não há possibilidade de advento de uma
criatura humana a partir de um embrião que não seja devidamente acolhido pelo
complexo materno... Logo, não tem sentido fazer agitação em busca de notoriedade e
dizendo que se “defende” a vida, quando a equação “espermatozóide + óvulo + útero”
não se formou. Por outro lado, mutatis mutandis, a doação de órgãos de pacientes com
morte encefálica é acolhida pelo Espiritismo sem restrições, já que não há mais
possibilidade de preservação da vida intelectual e moral do que alcançou este estágio.
São duas formas de doação de órgãos para o tratamento de doentes graves: as células-
tronco embrionárias, obtidas por meios artificiais antes da formação de um ser humano,
e os demais órgãos, quando da constatação da morte encefálica. Apenas isto!

Seja como for, convém que o STF afaste dúvidas e aprove as pesquisas. Assim se dará
um recado claro aos que fazem do profissionalismo religioso meio de alcançar o
conforto da vida política. Ficará claro que o Brasil não se rende ao obscurantismo
clerical que tentam reeditar. A Ciência continuará avançando em termos éticos para que
brevemente os necessitados se beneficiem de suas descobertas, principalmente os mais
pobres, que, caso as pesquisas não fossem feitas no Brasil, seriam excluídos de seus
benefícios, pois, diferentemente dos ricos, não têm como pagar tratamentos no exterior
e dependem da rede pública de saúde para a satisfação de suas demandas.
______________________

[1] Antonio Baracat é Professor de Filosofia e História formado pela UFMG,


Especialista em Bioética formado pela UFLA e Mestre em Filosofia em formação pela
UFMG. Membro da Fraternidade Espírita “Casa do Caminho” de Belo Horizonte.

Boletim GEAE - Ano 16 Número 534 2008

... Luiz Carlos Formiga

> A política do aborto: O que se quer é “desumanizar” o embrião

Artigos
O deputado José Genoino, no artigo de Wellington Balbo, nos fez recordar o artigo:
“Eleição, Mulheres e Voto Consciente”, publicado na Revista Internacional de
Espiritismo, setembro de 2000 http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj/eleicao-
mulheres-e-voto-consciente.html

Antes das eleições, na TV duas candidatas discutem. Uma delas havia enfrentado, com
muita angústia, um aborto espontâneo. Percebi que, embora fossem do mesmo credo,
apresentavam posições antagônicas. Eram materialistas. Muitos têm fé no niilismo e
acreditam na inexistência de vida após a morte, embora esta tese seja defendida sem
nenhuma evidência experimental que a suporte. Uma opinião apresentada por uma
delas, a de que o aborto é um direito, foi o que me chamou a atenção. Disse: “a
campanha pela legalização do aborto deve seguir na direção pura e simples do direito de
abortar, não necessitando a mulher explicar que há problemas com o feto ou que foi
estuprada. O aborto não deve ser considerado crime e o argumento que invoco é um só.
A mulher pode dizer que não quer este filho e que seu corpo lhe pertence. Este é o
projeto de lei pelo qual anseiam as mulheres".

Diz a outra: “mas, aqui o direito de um implica na morte do outro. Não podemos auto-
atribuirmos a decisão e a ação de matar o outro. Isto é questão de poder acumpliciado a
uma licença ética. É exatamente o que se dá com o político que leva o povo à guerra;
dá-se ainda com o terrorista, com o torturador, com os assassinos de todos os matizes.
Poder e não-ética, associados, produzem todas as lesões ao outro: o roubo, a censura, o
seqüestro, a lista é longa. O aborto não é um direito, é uma possibilidade decorrente do
poder e da anestesia da consciência, como escravizar o negro, matar judeus.”
Como que se não tivesse escutado os argumentos, surge a réplica: “A legislação do
aborto não dá à mulher autonomia sobre seu corpo. Precisamos entrar na modernidade!
Estamos atrasados em relação à Itália, Alemanha ou à França.”

“Sim. Mas, não seria o caso de ampliar a informação sobre anticoncepção? Usar do
direito de não engravidar, nestes dias de Aids, usar a camisinha e exigir a colaboração
do companheiro?”

“É, mas um dia a casa cai e você aparece grávida, minha filha!" - diz a outra.

A resposta estava na ponta da língua: “mas a culpa é do bebê?” O óvulo é seu. O útero,
também, mas o ovo fertilizado é outra pessoa!

A outra engoliu em seco e não se deu por vencida.

“Sim, mas enquanto os teóricos, como você, discutem se o feto com duas ou com quatro
semanas já é uma pessoa, a mulher engrossa as estatísticas. As mulheres pobres vão
continuar abortando com agulha de tricô?

De repente a outra disse: “Espera aí, vamos entrar nessa de que o Ministério da Saúde
adverte... e, gastar fortunas dos recursos públicos, para tratar enfisema e câncer
pulmonar que apareceram por causa de uma droga socialmente aceita? “Minha amiga”,
falou com tom de piedade, “não seria melhor investir numa estrutura melhor para gerar
filhos? Investir em creches e oferecer orientação sobre contracepção? O país já tem os
sistemas de comunicação bem desenvolvidos é só questão de vontade política fazer a
opção pela educação!” E arrematou: “Isto não é o mesmo que colocar o aborto na lei e a
consciência fora da lei?”

“Ora, minha amiga, estamos discutindo a existência de alguém que ainda nem é uma
pessoa. É apenas um amontoado de células. Eu estou defendendo a mulher e você vai
ficar defendendo um feto!” “A mulher é sempre ignorada. Essa é a grande questão do
nosso século. As mulheres que abortam, no Brasil, não o fazem por opção. Quando falo
no direito de abortar falo em direito à vida humana, decente e digna. É preciso existir
estrutura para gerar filhos, foi você mesma quem colocou!”

“Sim”, veio a resposta: “e deve ser aí que devemos gastar a nossa energia e não
tentando desumanizar o outro! Sempre que se quer humilhar, castrar, limitar ou matar o
outro, recorre-se a esta técnica consagrada. O primeiro ato é desumanizar. Se o embrião
é um "vir a ser", mas não é ainda por que não suprimi-lo em favor dos que são? Hitler e
Stálin tinham idéias, até nobres, pelas quais se delegaram o direito, e até o dever, de
matar judeus, dissidentes, capitalistas, comunistas e católicos. O que se quer é
“desumanizar” o embrião para adormecer as consciências com uma legitimidade. "A
ciência não tem uma definição de vida, portanto não pode justificar um procedimento
tão grave sobre o que desconhece.”

Este diálogo é encontrado no opúsculo que recebeu o título “Antes de votar pergunte ao
candidato sobre o aborto” e que está colocado em Campanhas (1998), na antiga HP do
NEU-RJ, no endereço eletrônico http://www.geocities.com/neurj/neurj.htm
Votar não é fácil, apertar botões não deveria ser a única preocupação dos educadores de
época de eleição.
Devemos tomar cuidado. Nestes dias, na beira do precipício Portugal recebeu o
empurrão!

Fonte: http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.2.htm

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado

... Rupert Sheldrake

> Orações: Enigma Para a Ciência

Artigos

Prayer: A Challenge for Science


de Rupert Sheldrake
tradução: Ernesto Ribeiro
http://jahmusic.vilabol.uol.com.br/rascultura/sheldrakeprayer.htm
http://www.sheldrake.org/Articles&Papers/papers/morphic/prayer.html - artigo orignal
em inglês

Poder da fé: na imagem,


representação de Jesus
na oração do Horto,
pouco antes da Paixão.
Desde os tempos antigos, uma crença forte e penetrante na eficácia das orações – para
os vivos e os mortos – reforça a noção que essa consciência não é limitada ao corpo
físico. Não apenas as tradições por todo o mundo compartilham uma crença que as
orações podem de alguma forma ajudar (ou invocar ajuda de) antepassados mortos,
muitas culturas por toda a história acreditaram que as orações podem ocasionar
mudanças nas circunstâncias físicas da vida.

Se as orações afetam as coisas no mundo físico, seus efeitos devem ser mensuráveis e a
ciência deve poder investigá-lo. Há uma literatura muito dispersa nisto, mas quando se
reúne todo o conjunto de informações, como fez Larry Dossey em seu livro recente,
"Palavras que Curam" (Editora Harper, São Francisco, 1993), vemos um grande número
de experiências interessantes com resultados inspiradores.

Além de 131 experiências controladas de cura baseadas em orações, mais da metade


mostraram benefícios estatisticamente significativos. Um dos mais conhecidos é um
duplo "estudo cego" (quando pelo menos uma das partes envolvidas (médico ou
paciente) não tem conhecimento sobre qual o produto ou dose está sendo administrado
para cada um dos participantes) com 393 pacientes na unidade coronária do Hospital
Geral de São Francisco. Nesta experiência, 192 pacientes, escolhidos aleatoriamente,
rezavam em grupos domésticos de orações, e os outros não. Os pacientes que fizeram
suas preces recuperaram-se melhor, e menos deles tinham morrido.

Para fazer sentido a estes dados sobre a eficácia das orações, a ciência terá que mudar
suas suposições subjacentes sobre a natureza da causa. Atualmente, o (pre)conceito
padrão é imóvel e puramente mecanicista – não obstante toda a conversa recente sobre a
Teoria do Caos e da Complexidade (das reações químicas e psicosomáticas, provocadas
pelo cérebro humano e canalizadas sobre o corpo através do esforço mental das orações
ou "força de vontade"). Quando aplicada às ciências da vida, a Teoria do Caos e da
Complexidade – mesmo com a ajuda de computadores, com modelos altamente
sofisticados – ainda explica o mundo apenas em termos de causas mecânicas,
envolvendo somente processos físicos e químicos já conhecidos.

Os dados de estudos empíricos das orações, assim como da grande literatura informando
a pesquisa psi em telepatia, clarividência e psicocinese, seriamente desafiam a visão
mecanicista. Algum outro agente causal, subjacente à mecânica das interações
eletroquímicas, é exigido para fazer sentido aos fenômenos observados.

Pensadores holísticos geralmente dividem-se em duas categorias principais. A maioria


quer ter o holismo no barato. Querem um holismo que não discorde com ciência como a
conhecemos. Em vez de explorar a possibilidade de novos fatores causais, eles preferem
explicar o holismo em termos de complexidade e auto-organização de forças mecânicas
convencionais, no mesmo modelo da matemática sofisticada e das últimas técnicas de
computador. Nada essencialmente diferente de interações físicas e químicas é
considerado para explicar as propriedades de sistemas vivos.

O outro grupo de holistas (uma minoria onde incluo Larry Dossey e eu), pensa que isso
há mais do que apenas o que nós conhecemos sobre química e física e modelos
matemáticos espertos. Minha visão é que outros fatores causais na natureza, processos
que fazem as reais diferenças – as causas na natureza que ocasionam novos tipos de
efeitos que nós temos que levar em conta para entender a nossa experiência e o mundo.
Estes novos fatores causais são envolvidos em coisas como fenômenos paranormais, as
orações e cura. O impulso inteiro de minha teoria de ressonância mórfica é dizer que
existe mais para a natureza do que somente as forças-padrão da Física. E o que é mais:
estes outros agentes estão no mesmo próprio coração da maneira com que as coisas são
organizadas na Química, na vida, e na consciência.

As orações e os campos mentais

Como as orações devem conciliar com a visão científica de coisas? Focalizarei em duas
categorias amplas de orações: peticionária e intercessória. Nas orações peticionárias nós
pedimos algo para nós; nas orações intercessórias nós oramos a um poder mais alto em
atenção a outras pessoas (qualquer um, vivo ou morto).

Ao orar para outras pessoas e para nós, pedimos que um poder mais alto ocasione um
resultado particular. Para mim, isto é o que distingue as orações de pensar positivo.
Pensar positivo envolve nada mais que a própria mente, mas as orações peticionárias e
intercessórias são postas no contexto de um poder mais alto. Para esta razão, o
pensamento positivo não se assenta na categoria das orações – mesmo que seja
freqüentemente confundido com elas.

Se peticionárias ou intercessórias, as orações claramente postam um desafio à visão


mecanicista do mundo. De acordo com esta visão, não há nenhum meio que
pensamentos em sua cabeça – que são na maioria pequenas perturbações eletroquímicas
mal detectáveis há algumas polegadas de sua cabeça, mesmo por aparelho altamente
sensível – possam afetar alguém nem algo numa distância remota.

Se você estava praticando o pensamento positivo ou algumas formas mais


especificamente dirigidas de orações peticionárias, você podia recorrer a explicações em
termos de telepatia; ou se foram as orações afetando objetos físicos, você talvez diga
que era psicocinese. Mas tais explicações servem só para substituir um conjunto de
explicações que permanece fora do alcance da ciência mecanicista moderna, por outro
conjunto de explicações. Não há nada na ciência mecanicista que possa admitir que
meros pensamentos dentro de minha mente se moldem na forma das orações nem como
pensamento positivo, para afetar coisas à distância. Simplesmente não pode acontecer.

A chave para entender a reza como um fenômeno científico exige, em meu ponto de
vista, escapar da idéia da mente como alguma coisa dentro do cérebro. Se pensamos que
nossas mentes são confinadas aos nossos cérebros – o senso comum – então o que vai
em nosso cérebro ocorre na privacidade e isolamento do próprio crânio e não pode
afetar ninguém mais. No entanto, eu vejo as mentes como um campo na natureza (parte
de minha visão geral de campos mórficos), e vejo campos mentais como a base para
padrões habituais de pensamento. Campos mentais vão além; vão através, e interagem
com os padrões eletromagnéticos no cérebro. Campos mentais assim podem afetar os
nossos corpos pelos nossos cérebros. No entanto, eles são muito mais extensos que os
nossos cérebros, alcançando grandes distâncias em alguns casos.

Tão logo nós temos idéia que a mente pode ser estendida por estes campos mentais, e
sobre grandes distâncias, nós temos um meio de conexão através do qual o poder das
orações poderiam funcionar. Nós não estamos mais lidando com um sistema puramente
mecânico no cérebro, com absolutamente nenhum meio de ligar o cérebro e o efeito
observado – isso seria o caso em que o fenômeno das orações eficientes teriam que ser
dispensadas como engano ou coincidência. Com um campo mental, no entanto, nós
temos um meio para uma série inteira de conexões entre nós e as pessoas, animais e
lugares que conhecemos e com quem nos preocupamos – com o resto do mundo, aliás.
Quando oramos, esses campos mentais estendidos seriam o contexto em que as orações
podem funcionar não-localmente.

Mente não-localizada

Claramente, isto não se eleva a uma teoria científica plenamente articulada das orações;
isto é altamente especulativo. Mas, acredito, está também muito claro que necessitamos
ter uma visão muito mais ampla de como a mente é estendida além do cérebro.
Necessitamos uma teoria daquilo que eu chamo "mente estendida" ao contrário da vista
científica convencional do "mente contraída" dentro do crânio, voltada para cima. Esta
visão de uma mente contraída veio de Descartes no século 17.

É um modelo de consciência que separa nossas mentes do mundo inteiro ao redor de


nós numa região pequena no cérebro – um modelo da mente que simplesmente
contradiz toda a experiência direta. Por exemplo, quando vê esta página na frente de
você, você a percebe como isto existe fora de você, não dentro do seu cérebro. Dizer
que esta e todas as suas outras percepções são localizadas no seu cérebro é uma teoria,
não uma experiência.

É importante, no entanto, não contemplar a mente estendida como algum campo


amorfo, uma espécie de não-diferenciada Mente Universal. Eu não penso que nós
devemos fazer um grande salto do conceito de uma mente contraída para uma mente
universal ilimitada. Tal salto não é útil cientificamente.

Minha idéia de campos mórficos é que mesmo que sejam estendidos e não-locais em
seus efeitos, eles ainda são partes de nossas mentes individuais e coletivas; mas não
para ser igualada a alguma definitiva Mente Universal. Os campos mórficos não são
Deus. São não-locais no sentido que eles podem se estender por distâncias imensas
(como fazem, por exemplo, campos gravitantes), de modo que se orávamos sobre
alguém na Austrália de meu lar em Londres o campos mórfico carregaria a informação e
as orações poderiam funcionar.

Mas meu campo mental normalmente não se estenderia até Marte, por exemplo, porque
não há nada para me ligar a alguém naquele planeta. Se eu conhecesse alguém tivesse
viajado até lá numa espaçonave, então haveria um elo. Para campos mórficos terem uma
conexão mental, eu acredito que tem que haver algo que o liga à outra pessoa. Ainda
que você nunca encontrasse a outra pessoa, eu acredito somente sabendo seu nome ou
algo sobre ela parece ser bastante para estabelecer uma conexão, embora esta conexão
possa ser mais fraca que entre as pessoas que se conhecem profundamente.

Você pode imaginar algo assim: quando duas pessoas fazem contato e estabelecem
alguma conexão mental (talvez experimentado como afeto, amor, mesmo ódio) seus
campos mórficos de fato tornam-se parte de um campo inclusivo maior. Então, se eles
se separam um do outro, é como se suas porções particulares dos campos mórficos
sejam esticadas elasticamente, de modo que aí permaneça uma "tensão mental" ou elo
entre eles. Há algo assim que relaciona as duas pessoas.
Interação de Campos Mórficos

Campos mórficos são organizados em hierarquias de nested ou nichos. Por exemplo, há


campos mórficos cercando os átomos nos nossos corpos, que estão dentro dos campos
mórficos planos mais altos de moléculas, organelas, células, órgãos e membros, todo
que existe dentro do campo mórfico associado com o corpo inteiro. O campo de corpo,
em volta, seria dentro do campo de relacionamentos que constitui uma família, dentro
de um grupo social maior. As sociedades, em volta, são encerradas em ecossistemas, e
os ecossistemas dentro do sistema planetário da Terra, ou "Gaia". E por extrapolação,
nós podíamos estender a série de campos mórficos de nested — ou nichos dimensionais,
até que nós alcançamos algo além do planeta, do sistema solar e dos limites galácticos
até incluir o universo inteiro.

Mesmo o campo de espaço-tempo de gravitação de Einstein é um campo cósmico


universal segurando tudo junto e a ligar o universo inteiro; aliás, fazendo-o um
universo. Vale a mesma coisa para com a Alma Mundial ou Anima Mundi da filosofia
neo-platônica. Cinge o cosmos inteiro. Há níveis sobre níveis de campos mórficos
dentro de campos, dentro de que nós somos encerrados. A vida humana é encerrada em
campos vastamente maiores de organização. Sobre que grau eles estão conscientes, isto
ainda permanece no reino da especulação. Mas suporia que campos de níveis mais altos
não são menos, e sim provavelmente mais conscientes do que nós. Pensaria que eles são
mais cientes, não simplesmente porque são maiores em tamanho, mas porque são mais
inclusivos ; contêm mais complexidade, e isto inclui mais possibilidades.

Penso que isso é uma maneira de interpretar doutrinas tradicionais sobre inteligências
super-humanas, ou inteligências cósmicas; normalmente pensaram no cristianismo
como a hierarquia dos anjos. A palavra "anjo" normalmente transporta a imagem de um
jovem bonito com asas; mas isso é simplesmente uma representação pictórica. A
doutrina tradicional por trás dessa imagem, no entanto, é de uma inteligência super-
humano. E se o sistema solar e a galáxia têm inteligência, então talvez seja a de um anjo
e de um arcanjo. Em algumas doutrinas cristãs tradicionais há, por exemplo, nove
hierarquias de anjos ou níveis de inteligência. E veria estes como equivalente a
inteligências, mentes ou organizações de campos em níveis diferentes de complexidade.
Os anjos galácticos, por exemplo, cingiriam ou incluiriam sistemas solares, que em
volta incluiriam planetas.

Isto é uma descrição de um cosmos que tem inteligência em cada nível, não que
descreve a consciência como algo que emergiu de matéria inconsciente. Inteligência
consciente estava aí para começar com alguma coisa. O lugar para procurar por isto não
será em átomos nem em quantum (embora é possível que haja algum tipo de
consciência aí), mas em sistemas solares e galáxias e no cosmos inteiro. É possível que
sejam todos estes níveis diferentes de imaginação, inteligência, e mente por trás da
organização cósmica. Todas as doutrinas tradicionais que eu conheço reconheceram
algo desse tipo.

Notas & Referências

1. Para uma conversa estendida destas teorias, ver R. Sheldrake, Uma Nova Ciência de
Vida: A Hipótese de Causa Formativa (Tarcher, 1981), e A Presença do Passado:
Ressonância Mórfica e os Hábitos da Natureza (Vindima, 1988).
... Rubem Alves

> "Não sejas demasiado justo"

Artigos

Essa encruzilhada simples entre o certo e o errado, entre o lado da vida e o da morte, só
acontece nos textos de lógica

ERA UM DEBATE sobre o aborto na TV. A questão não era "ser a favor"ou "contra o
aborto". O que se buscava eram diretrizes éticas para se pensar sobre o assunto.

Será que existe um princípio ético absoluto que proíba todos os tipos de aborto? Ou será
que o aborto não pode ser pensado "em geral", tendo de ser pensado "caso a caso"? Por
exemplo: um feto sem cérebro. É certo que ele morrerá ao nascer. Esse não seria um
caso para se permitir o aborto, para poupar a mulher do sofrimento de gerar uma coisa
morta por nove meses?

Um dos debatedores era um teólogo católico. Como se sabe, a ética católica é a ética
dos absolutos. Ela não discrimina abortos. Todos os abortos são iguais. Todos os
abortos são assassinatos.

Terminando o debate, o teólogo concluiu com esta afirmação: "Nós ficamos com a
vida!"

O mais contundente nessa afirmação está não naquilo que ela diz claramente, mas
naquilo que ela diz sem dizer: "Nós ficamos com a vida. Os outros, que não concordam
conosco, ficam com a morte..."

Mas eu não concordo com a posição teológica da igreja -sou favorável, por razões de
amor, ao aborto de um feto sem cérebro- e sustento que o princípio ético supremo é a
reverência pela vida.

Lembrei-me do filme a "Escolha de Sofia". Sofia, mãe com seus dois filhos, numa
estação ferroviária da Alemanha nazista. Um trem aguardava aqueles que nele seriam
embarcados para a morte nas câmaras de gás.

O guarda que fazia a separação olha para Sofia e lhe diz: "Apenas um filho irá com
você. O outro embarcará nesse trem..." E apontou para o trem da morte.

Já me imaginei vivendo essa situação: meus dois filhos -como os amo-, eu os seguro
pela mão, seus olhos nos meus. A alternativa à minha frente é: ou morre um ou morrem
os dois. Tenho de tomar a decisão. Se eu me recusasse a decidir pela morte de um,
alegando que eu fico com a vida, os dois seriam embarcados no trem da morte... Qual
deles escolherei para morrer? Acho que a ética do teólogo católico não ajudaria Sofia.

Você é médico, diretor de uma UTI que, naquele momento, está lotada, todos os leitos
tomados, todos os recursos esgotados. Chega um acidentado grave que deve ser
socorrido imediatamente para não morrer. Para aceitá-lo, um paciente deverá ser
desligado das máquinas que o mantém vivo. Qual seria a sua decisão? Qual princípio
ético o ajudaria na sua decisão? Qualquer que fosse a sua decisão, por causa dela uma
pessoa morreria.

Lembro-me do incêndio do edifício Joelma. Na janela de um andar alto, via-se uma


pessoa presa entre as chamas que se aproximavam e o vazio à sua frente. Em poucos
minutos as chamas a transformariam numa fogueira. Para ela, o que significa dizer "eu
fico com a vida"? Ela ficou com a vida: lançou-se para a morte.

Ah! Como seria simples se as situações da vida pudessem ser assim colocadas com
tanta simplicidade: de um lado a vida e do outro a morte. Se assim fosse, seria fácil
optar pela vida. Mas essa encruzilhada simples entre o certo e o errado só acontece nos
textos de lógica. O escritor sagrado tinha consciência das armadilhas da justiça em
excesso e escreveu: "Não sejas demasiado justo porque te destruirás a ti mesmo..."

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0104200805.htm

... Alkíndar de Oliveira

> Invertendo a pirâmide de Maslow: uma revolução na gestão de pessoas

Artigos

INVERTENDO A PIRÂMIDE DE MASLOW - Uma Revolução na Gestão de Pessoas

Alkíndar de Oliveira
O mundo corporativo atual está vivendo uma produtiva inversão de valores,
positivamente dizendo, e passando a ser uma das melhores escolas para o
desenvolvimento pleno do ser humano. Ao leitor que, ao ler a frase introdutória deste
artigo pensar "não estou vendo isto na empresa em que trabalho", informo: estou me
referindo a - ainda - um pequeno número de empresas, àquelas que já descobriram que o
bom ambiente interno influi favoravelmente na produtividade e na lucratividade.

No final do século passado Viviane Senna, presidenta do Instituto Ayrton Sena, já


visualizava que o mundo corporativo era um dos poucos segmentos que reuniam a
necessária instrumentação para elevar o patamar social e educacional da humanidade.
Disse ela: “As empresas são as organizações vitoriosas deste final de século. Elas
reúnem capital financeiro e relacional, conhecimento e tecnologia. Essa força tem de ser
posta a serviço do benefício coletivo”.

Percebe-se que, onde as instituições escolares estão falhando, as empresas modernas –


aquelas que escolheram ser instituições cidadãs – estão acertando. Felizmente está se
tornando realidade a percepção do visionário filósofo John Ruskin nos idos do século
XIX: “A maior recompensa do nosso trabalho não é o que nos pagam por ele, mas
aquilo em que ele nos transforma.” E as empresas que atingiram a maioridade social,
estão trilhando o caminho para chegarem ao patamar de empresas transformadoras da
humanidade.

Não imaginemos que esta mudança corporativa implica no fato da empresa não ter o
importante foco de gerar lucro. Pois, ser uma empresa lucrativa precisa ser - e continuar
sendo - um dos mais importantes pilares da empresa saudável.

Um exemplo típico da função educacional do mundo corporativo está na constatação de


Jack Welch quando disse que “A chave da vantagem competitiva para o futuro será a
capacidade de liderança para criar o modelo organizacional e a arquitetura social que
permitam gerar capital intelectual. Em outras palavras, a liderança deixou de
concentrar-se na produção eficiente de bens e serviços. A tarefa mais importante para o
líder daqui por diante será, em minha opinião, motivar pessoas e desenvolver os
relacionamentos para criar uma comunidade que produza riqueza.”

Percebe-se que Jack Welch coloca como atitudes primordiais da liderança empresarial
alcançar objetivos que, até então, eram próprios do foco educacional: gerar capital
intelectual, motivar pessoas e desenvolver os relacionamentos.

Finalmente o mundo corporativo está descobrindo que não precisa ser controlado pelo
líder aquele funcionário auto-motivado, que se relaciona bem com a equipe e que tem o
conhecimento necessário para bem exercer sua função.

Como o líder atual não tem mais tempo para controlar seus liderados, a única alternativa
é educá-los para que sejam líderes de si próprios, que é o principal objetivo da liderança
com postura coach. Estilo este que está sendo adotado pelas empresas que já
enxergaram a realidade do novo mundo corporativo.

Consoante às informações acima, defendo a tese de que o mundo corporativo atual


atreveu-se, para o bem da humanidade (mas ainda tendo como foco principalmente o
bem das empresas), a inverter a lógica seqüencial da pirâmide de Maslow junto ao seu
pessoal. Disse inverter a lógica seqüencial, não destruí-la. A pirâmide de Maslow
continua de pé, como a representa o gráfico logo abaixo. Destruir não, mas transformá-
la sim, como veremos mais à frente.

PIRÂMIDE DE MASLOW – A HIERARQUIA DAS NECESSIDADES

V- -NECESSIDADES DE AUTO-REALIZAÇÃO-
IV- --------------NECESSIDADES DE ESTIMA------------
III- -----------------NECESSIDADES SOCIAIS----------------
II- ---------------NECESSIDADES DE SEGURANÇA--------------
I- --------------------NECESSIDADES FISIOLÓGICAS--------------------

Uma das características marcantes da pirâmide de Maslow, é o respeito hierárquico aos


degraus da pirâmide. Isto é, Maslow nos informa que somente quando o indivíduo tem
suas necessidades satisfeitas no primeiro degrau (necessidades fisiológicas), é que
sentirá necessidade de se satisfazer das necessidades do segundo degrau (necessidades
de segurança), e assim sucessivamente.

Para que melhor compreendamos a pirâmide de Maslow no mundo corporativo,


veremos o que representa cada uma das suas cinco etapas no ambiente empresarial. As
descrições citadas a seguir foram baseadas no livro Como Motivar sua Equipe, autor
Leonardo Vils, Gold Editora.

I – Necessidades Fisiológicas:
Horário de trabalho adequado; cadeiras e móveis ergonômicos e confortáveis; ambiente
físico acolhedor; intervalos para descanso; alimentação saudável.

II – Necessidades de Segurança:
Condições seguras no trabalho; Remuneração e benefícios adequados; Estabilidade no
emprego.

III – Necessidades Sociais:


Bom relacionamento da equipe; Espírito de equipe; Ambiente amigável.

IV – Necessidades de Estima:
Reconhecimento; oportunidade de desenvolvimento; respeito; satisfação por trabalhar
na empresa.

V- Necessidades de Auto-Realização:
Sentir-se importante para a empresa; trabalho criativo e estimulante; autonomia e
participação nas decisões.

Reforçando a mensagem da simples e genial pirâmide de Maslow: o ser humano precisa


primeiramente satisfazer suas necessidades fisiológicas; para depois se sentir seguro;
chegando então ao terceiro degrau da pirâmide com as necessidades sociais satisfeitas;
para na fase seguinte melhorar sua auto-estima; quando então chega ao último degrau,
que é o da realização pessoal. Estas fases são intocáveis, daí a genialidade de Maslow.
Mas na atualidade é preciso que enxerguemos o que de fato está ocorrendo no mundo
corporativo. As fases são intocáveis, mas, nas empresas modernas não mais é intocável
a seqüência hierárquica delas.
É fato que as duas primeiras necessidades, são intocáveis em sua seqüência, isto é, as
necessidades fisiológicas e de segurança precisam – nesta ordem – estarem satisfeitas
para que o ser humano vislumbre a necessidade de satisfazer-se nas demais
necessidades: sociais, estima e auto-realização. Pois como alguém pode mergulhar nas
necessidades sociais, estima e auto-realização se estiver com fome (necessidades
fisiológicas) ou inseguro?

Também é fato de que todas as empresas almejam ter funcionários que já passaram por
todos os degraus da pirâmide. Pois, assim terão profissionais com grande ímpeto de
realização pessoal e, por conseqüência, serão pessoas auto-motivadas. No entanto, neste
nosso mundo de grandes desafios, não é comum a empresa ter esse grupo ideal. A
realidade é que é preciso formar esse grupo ideal. Pois, todos sabemos que infelizmente
ainda é constante nos profissionais a baixa auto-estima somada à ausência da auto-
motivação e da realização pessoal. Esta triste realidade é fácil de ser constatada nas
reuniões empresariais, onde muitas vezes prevalece o estilo de reunião-de-egos, em vez
de reunião-de-pessoas. E uma pessoa com boa auto-estima, verdadeiramente auto-
motivada e realizada sabe como comandar seu ego.

A PROMISSORA NOVIDADE DO MUNDO CORPORATIVO

A novidade deste início de milênio é que as empresas estão descobrindo que, uma vez
satisfeitas as necessidades primárias dos seus colaboradores (fisiológicas e de
segurança), elas têm que “pular” para o último degrau da pirâmide de Maslow
(necessidade de auto-realização), começando por fazer que seus colaboradores sintam-
se pessoas importantes, sintam-se profissionais valorizados. As empresas que estão
agindo desta forma estão melhorando a auto-estima e o relacionamento do seu pessoal.
Isto é, estão contrariando a seqüência até então natural dos três últimos degraus de
Maslow, e com isto passam a ter maior velocidade na conquista de todos os degraus da
pirâmide. E velocidade é o que o mundo pede e exige das empresas. Mas que saibamos
a velocidade adequada não é aquela em que damos passos rápidos, mas, sim, passos
certos.

O discurso mudou. Não é mais dizermos: “Precisamos formar uma equipe que bem se
relacione, para que os colaboradores tenham boa auto-estima e, por fim, alcancem a
auto-realização profissional”. Este discurso era correto até há pouco tempo.

Agora, com a velocidade das mudanças e com a grande necessidade de termos


profissionais que sejam líderes de si próprios e que façam acontecer, o discurso do líder
necessita mudar para: “Precisamos criar condições para os colaboradores se auto-
realizarem profissionalmente, visando gerar boa auto-estima, facilitando com isto a
formação de uma equipe bem relacionada e produtiva”. As partes do discurso são as
mesmas, mas a seqüência da prioridade mudou. A prática deste novo discurso, isto é, o
fato de termos como prioridade a auto-realização profissional dos colaboradores, fará
com que eles sintam-se importantes para a empresa e, conseqüentemente, os resultados
na mudança de atitudes serão melhores, consistentes e duradouros.

UMA MUDANÇA DE 180o


Nestes tempos em que o relativismo é a tônica, nestes tempos em que as verdades
absolutas desmoronam, o mundo exige mudança de 180o em várias de nossas sólidas
concepções que, por muito tempo, foram sustentadas na teoria absolutista.

Defendo a tese de que é chegado o momento de, por exemplo, repensarmos a lógica
hierárquica da pirâmide de Maslow no mundo corporativo.

É necessário que tenhamos a ousadia de a invertemos parcialmente. Isto é, nestes novos


tempos das empresas, o último degrau da pirâmide de Maslow, precisa ser visto por nós
como o terceiro. Não há dúvida de que esta nova visão causa uma revolução nas teorias
de gestão de pessoas. Mas, o que está ocorrendo no mundo senão uma constante
revolução em nossos conceitos? Por que não contestarmos a solidez da seqüência
hierárquica da pirâmide de Maslow? O que relato, antes de ser visto como ruptura com
o passado, é muito mais uma constatação do presente.

É importante dizer que a pirâmide de Maslow tal qual a conhecemos, teve sua razão de
ser. Mas analisemos o que vem a seguir. No início do mundo industrial, e até as últimas
décadas do século passado, o funcionário comum trabalhava simplesmente para
conseguir recursos para o sustento básico de si e de sua família. Aceitava chefes
grosseiros, desrespeitosos. Naquela época o ambiente de trabalho não era local para se
pensar em bem estar pessoal. Isso era coisa para os momentos fora da empresa. Nos
tempos atuais esta lógica mudou: o profissional de hoje quer realizar-se
profissionalmente, quer ser reconhecido como pessoa importante para a empresa.
Quando sente-se valorizado na empresa o funcionário tem substancial desenvolvimento
da auto-estima, e melhorando a auto-estima ele começa a relacionar-se melhor com os
seu pares, satisfazendo suas necessidades sociais. E o interessante é que o progresso
continua: por conseqüência natural passa a sentir-se ainda mais seguro e vê suas
necessidades fisiológicas ainda melhor satisfeitas.

O que você leu no parágrafo anterior refere-se à inversão hierárquica dos três últimos
degraus da pirâmide. Inversão esta sustentada na nova demanda do mundo corporativo:
a necessária velocidade na mudança comportamental. Em artigo da revista VocêSA, de
agosto de 2.003, o articulista Po Bronson nos alerta que: “As pessoas que encontraram
seu lugar no mundo não dizem que fazem um trabalho excitante, desafiador e
estimulante. Seu discurso invoca outra trinca: significado, importância e realização.”

Atenção, mais do que ter um trabalho “excitante”, os funcionários querem encontrar um


“significado” no que fazem? Esta nova visão de trabalho é a alavanca que está
invertendo hierarquicamente os três últimos degraus da pirâmide de Maslow!

PIRÂMIDE DE MASLOW PARCIALMENTE INVERTIDA

V- --------NECESSIDADES SOCIAIS------------
IV- --------------NECESSIDADES DE ESTIMA------------
III- -------NECESSIDADES DE AUTO-REALIZAÇÃO------
II- ---------------NECESSIDADES DE SEGURANÇA------ --------
I- --------------------NECESSIDADES FISIOLÓGICAS--------------------

ELIMINANDO DÚVIDAS.
Para eliminar eventual dúvida sobre o fato mencionado neste texto, exponho a seguir
resultado de pesquisas realizadas de 1.975 até 2.004 pelo Instituto GALLUP dos
Estados Unidos. Foram realizadas duas pesquisas de abrangência mundial, envolvendo
400 organizações, 80.000 líderes e mais de um milhão de liderados.

Os organizadores da pesquisa formularam a seguinte pergunta: “Como fazem os


melhores líderes do mundo para conseguirem bom ambiente interno?”

As oito primeiras afirmações/respostas, abaixo, abarcam de forma clara e direta a


questão auto-realização como o objetivo principal do profissional, e não a auto-estima
ou o relacionamento (necessidade social), o que corrobora a mensagem presente neste
texto: nestes novos tempos, o profissional quer primeiramente se auto-realizar. O que,
então, acarretará melhor auto-estima, e por conseqüência melhoria de relacionamento
(social), o que mostra a inversão dos três últimos degraus da pirâmide de Maslow.

A seguir a relação de afirmações/respostas em ordem de importância. Os profissionais


responderam o que sentem quando trabalham numa empresa em que o bom ambiente
interno atende suas expectativas.

1) Eu sei o que se espera de mim no trabalho.

2) Eu tenho os materiais e a equipe de que necessito para fazer bem o meu trabalho.

3) Eu tenho a oportunidade de expressar minhas melhores capacidades cada dia em meu


trabalho.

4) Eu recebi nos últimos sete dias algum reconhecimento ou felicitação por fazer um
bom trabalho.

5) Eu sou importante, como ser humano, para o meu líder.

6) O meu líder se preocupa com o meu desenvolvimento humano e profissional.

7) As minhas opiniões são levadas em conta.

8) O meu trabalho é importante como parte da missão e do propósito da empresa.

9) Os meus colegas são comprometidos com a realização de trabalhos de alta qualidade.

10) Eu tenho bons amigos no trabalho.

11) Eu falei com alguém sobre o meu progresso nos últimos seis meses.

12) Eu tive oportunidade, durante este ano, de aprender e crescer.

Reforçando e repetindo, as oito primeiras afirmações/respostas abarcam de forma clara


e direta a questão auto-realização como o objetivo principal do profissional, e não a
auto-estima ou o relacionamento (necessidade social).
A seguir exponho algumas informações que estão presentes em meu livro Liderança
Saudável, Editora Planeta/Academia de Inteligência (2007), que mostra como
positivamente a lógica empresarial, também está se invertendo.

A INVERSÃO NOS VALORES EMPRESARIAIS

Em consonância com a inversão da pirâmide de Maslow, outras inversões já se fazem


presentes. Por exemplo, sabemos que uma empresa existe em função de três segmentos
básicos: seus acionistas, seus clientes e seu pessoal (funcionários). Com base nessa
informação, poderíamos dizer que, numa escala de valores, os acionistas estão em
primeiro lugar, pois foram eles que, através do seu capital, deram o passo inicial para
tornar a empresa realidade. Em segundo lugar viriam os clientes, tendo em vista que a
empresa foi constituída para servir seus clientes e, com isto, obter lucros e prosperar.
Em último lugar viriam os funcionários, pois se não houvesse acionistas, nem clientes,
os funcionários não teriam razão de ser.

Portanto a escala de valores de uma empresa seria classificada assim:

1o. Acionistas;

2o. Clientes;

3o. Pessoal.

Será?

Pela lógica dos tempos passados não há o que contestar em relação à seqüência. Mas
contrariando toda essa lógica surge a inversão dessa seqüência. Isto é, na empresa que
não considerar o seu pessoal o seu maior ativo, os seus acionistas irão receber
dividendos menores e seus clientes não estarão tão satisfeitos quanto poderiam estar.

A nova escala de valores passa a ser:

1o. Pessoal;

2o. Clientes;

3o. Acionistas.

Passou a época de dizer que “os acionistas estão em primeiro lugar” ou que “os clientes
estão em primeiro lugar”. O líder sábio propaga que “nosso pessoal está em primeiro
lugar.”

Mas como? Os clientes e os acionistas não são importantes?

São. São muito importantes. E justamente por serem tão importantes que o pessoal deve
ser valorizado por ter como missão atender os especiais segmentos compostos de
clientes e acionistas.
A expressão “os clientes em primeiro lugar” pode até ser utilizada com frase forte de
Marketing empresarial. Mas, no frigir dos ovos, os clientes só se sentirão em primeiro
lugar se o pessoal tiver motivação para bem atendê-los, valorizá-los e respeitá-los.

Peter Drucker, o visionário, já afirmava há mais de trinta anos que o maior ativo da
empresa é o seu pessoal.

Existem empresas que vivem esta realidade há muito tempo. Dois exemplos:

I – A MTW Corp., empresa de software dos Estados Unidos, reduziu drasticamente a


rotatividade do seu pessoal. A rotatividade na MTW é um quinto do padrão do seu
setor. E em cinco anos, passou de um faturamento anual de US$ 7 milhões para US$ 40
milhões. Causa deste sucesso? Uma cultura que privilegia os funcionários.
Complementa artigo da revista HSM-Management de outubro de 2.001: “A verdade é
que, ao gerenciar pensando em resultados, as empresas freqüentemente deixam de lado
o fator humano. Uma exceção à regra é a MTW que construiu toda uma cultura em
torno da idéia de que ‘nossa gente vem em primeiro lugar.”

II - No livro “Inteligência Emocional na Empresa”, de Cooper e Sawaf, Editora


Campus, lemos a seguinte informação:

“Na Southwest Airlines, a oitava entre as maiores companhias aéreas dos Estados
Unidos, a confiança desempenha um papel-chave para torná-la a mais solidamente
lucrativa empresa de transportes, que repetidamente vem obtendo as melhores
classificações do Departamento de Transportes do Estados Unidos, no que se refere à
pontualidade dos vôos, melhor manuseio da bagagem e menor número de reclamações.
Na Southwest, os clientes vêm em segundo lugar. Os funcionários estão em primeiro...”.

Perceberam que na MTW e na Southwest Airlines, além dos clientes estarem satisfeitos,
os acionistas certamente recebem ótimos dividendos? Todo esse sucesso é a
conseqüência natural dos funcionários estarem em primeiro lugar na escala de valores.

Enfim, na MTW e na Southwest Airlines, empresas que colocam os seus funcionários


em primeiro lugar, têm por conseqüência clientes satisfeitos o que resulta melhores
rendimentos aos acionistas.

A INVERSÃO NO MODELO DE LIDERANÇA

O fato de enxergarmos a inversão da pirâmide de Maslow, nos faz descobrir que outras
inversões já se fazem presentes, como disse mais acima. É o que, por exemplo, está
ocorrendo com o modelo de liderança.

De forma sucinta, transcrevo a seguir vários exemplos que reforçam esta inversão de
modelo ou de estilo de liderança. O que veremos também representa uma mudança de
180o em nossos conceitos:

O líder de antigamente era aquele que ia à frente. O líder de hoje é aquele que vai atrás
apoiando e estimulando.
O líder de antigamente era aquele que dava as respostas. O líder de hoje é aquele que
faz as perguntas.

O líder de antigamente era aquele que por si só fazia acontecer. O líder de hoje é aquele
que forma equipes para que essas equipes façam acontecer.

O líder de antigamente muito se destacava. O líder de hoje é aquele que estimula sua
equipe a se destacar, pelos resultados obtidos.

O líder de antigamente tinha subalternos. O líder de hoje tem colaboradores.

O líder de antigamente procurava converter seus liderados, forçando-os a pensarem e


agirem como ele. O líder de hoje procura conscientizar seus colaboradores para que
sejam eles próprios, com suas maneiras únicas e particulares de pensarem e agirem.

O líder de antigamente era aquele que liderava pela imposição. O líder de hoje é aquele
que, sem deixar de ter pulso firme, lidera pela integridade, camaradagem, afeto e
companheirismo.

O líder de antigamente era aquele que gerava lucros para a empresa. O líder de hoje é
aquele que gera lucros com responsabilidade social.

A seguir quadro comparativo das situações citadas.

LÍDER DE ANTIGAMENTE LÍDER DE HOJE

Ia à frente dos liderados. Vai atrás dos liderados,

apoiando e estimulando-os.

Dava respostas. Faz perguntas.

Fazia acontecer. Forma equipes para que elas

possam fazer acontecer.

Muito se destacava. Incentiva a equipe a se

destacar.

Tinha subalternos. Tem parceiros colaboradores.

Convertia seus liderados a Respeita a valoriza a

pensar, agir e sentir como ele. diversidade, conscientizando os

Não aceitava a diversidade. liderados do potencial que têm,


e os motiva a serem eles

próprios, com suas maneiras

únicas de pensarem, agirem e

sentirem.

Liderava pela imposição. Lidera com respeito, sem

imposição, utilizando de pulso

firme quando necessário.

Gerava lucros para a empresa. Gera lucros para a empresa,

com responsabilidade social.

Liderar hoje é formar equipes. Liderar hoje é estimular e motivar os integrantes das
equipes. Liderar hoje é treinar as equipes. Liderar hoje é incentivar as equipes a
elaborarem estratégias e projetos. Liderar hoje é fazer com que a equipe conquiste
autonomia.

Ser bom líder é sinônimo de ser bom formador de equipes, mas para que com maior
facilidade esta conquista ocorra, cabe ao líder ter uma personalidade contagiante,
resultante do seu exemplo de conduta sustentado na segurança que passa ao liderado e
na credibilidade que inspira.

Disraeli com uma única frase define bem o que é um bom líder: “Lá vão eles, devo
seguí-los. Sou seu líder.”

**********************************************************************
*****************

Alkindar de Oliveira, palestrante, escritor e Consultor de Empresas radicado em São


Paulo-SP, tem entre seus clientes as empresas:

McDonald’s, Petrobras, Porto Seguro Seguros, Acrilex, Arjo Wiggins, Artefacto, Banco
Itaú, Bioagri, Bradesco, Capemi, CBC, Chemyunion, Hatch, Petroquímica União,
Polenghi, Tabacow, Tec-Screen, Tramontina, DuPont, Emibra, 3M do Brasil, TV
Cultura, Volkswagen, Mahle Metal Leve, Unimed, WEG Motores, etc.

Profere palestras e ministra treinamentos comportamentais em todo o Brasil. Tem seu


foco de atuação nas seguintes áreas: ORATÓRIA, LIDERANÇA,
RELACIONAMENTO, MOTIVAÇÃO, COMUNICAÇÃO, CRIATIVIDADE e
HUMANIZAÇÃO DO AMBIENTE EMPRESARIAL.
Suas teses e artigos estão expostos em renomados jornais e revistas, como: revista
“Você S/A”, Editora Abril; revista “Bons Fluidos”, Editora Abril; revista “Pequenas
Empresas Grandes Negócios”, Editora Globo; jornal “Valor Econômico”; jornal “O
Estado de São Paulo”; “Jornal do Brasil”; revista “Venda Mais”, Editora Quantum, etc.

Contatos:

Site: www.alkindar.com.br

E-mail: escoladelideres@alkindar.com.br

Para Um Mundo Mais Fraterno, Conheça e Divulgue:

www.uniaoplanetaria.org.br

... Ana Catarina de Araújo Elias

> A Inclusão acadêmica da Espiritualidade nos tratamentos da área de saúde

Artigos

Ana Catarina de Araújo Elias, Psicóloga. Doutora em Ciências Médicas, UNICAMP

No século XX, a inter-relação entre soma e psique tornou-se fato aceito pela
comunidade acadêmica e, em torno da década de 1990, começaram a aparecer
publicações no cenário científico internacional da área médica, indicando a importância
de se incluir nos tratamentos médicos convencionais, além dos aspectos
biopsicossociais, os espirituais, sugerindo a necessidade de estudos sistemáticos sobre a
inclusão da religiosidade / espiritualidade na área de saúde. (KOENIG, 2005; KOENIG,
2004a; KOENIG, 2004b).

Em relação às intervenções que utilizam Espiritualidade, em geral chamadas de


Terapias Complementares ou Alternativas, e que incluem as técnicas de Relaxamento e
Visualização como também a Oração, Exercícios, Terapia de Ervas, Cura Espiritual,
Histórias, Musicoterapia, Coquetéis de Vitaminas, Grupos de Auto-Ajuda,
Aromaterapia, Massagem, Reflexologia, Shiatsu, Aconselhamento, Arte-terapia,
Acupuntura, Homeopatia, Florais, Terapia da Dignidade, Yôga, Tai-chi, Qi, Reiki e
Gigong, encontramos estudos referentes ao uso destas intervenções em pacientes de
diversas clínicas.
Apresentamos a seguir um resumo das clínicas encontradas na revisão da leitura da
nossa tese de doutorado (ELIAS, 2005) e que estão fazendo uso das Terapias
Alternativas / Complementares.

Resumo das clínicas que estão fazendo uso das Terapias Alternativas /
Complementares.

TERAPIAS ALTERNATIVAS-COMPLEMENTARES NA CLÍNICA /


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• Cardíacos e cirurgia cardíaca. (GRUNBERG et al, 2003; KENNEDY et al 2002; AI e


BOLLING, 2002; KRUCOFF et al, 2001; ASHTON et al, 1997).
• Recuperação de processos infecciosos, traumas físicos ou sofrimentos psicológicos.
(MONEY, 2001).
• Indução e manutenção do sono como higiene noturna. (RICHARDS et al, 2003;
DOLLANDER, 2002).
• Redução do estresse e desenvolvimento da espiritualidade de profissionais da área de
cuidados paliativos, de estudantes de enfermagem e profissionais da saúde em geral.
(FORTUNE e PRICE, 2003; MARR, 2001; BROWN-SALTZMAN, 1997; LINDOP,
1993; THOMAS, 1989; LA GRAND, 1980).
• Pacientes terminais. (HILLIARD, 2005; CHOCHINOV et al, 2004; ELIAS e GIGLIO,
2002; DOUGLAS, 1999; MILLISON e DUDLEY ,1992).
• Câncer adulto e pediátrico. (KRONENWETTER et al , 2005; SAMANO et al, 2004;
HENDERSON e DONATELLE, 2004; PEACE e MANASSE, 2002; HOSAKA et al,
2001; BURNS et al, 2001; WYATT et al, 1999; VAN DER RIET, 1999; FERNANDEZ
et al, 1998)
Alteração de alguns comportamentos de drogadição. (BORRIE, 1990-91).
• Unidades de emergência. (ROLNIAK et al, 2004).
• Transplantados de pulmão. (MATTHEES et al, 2001).
• Cursos / Orientações para enfermeiros, médicos, profissionais da saúde. (HESSIG,
ARCAND, FROST, 2004; MAMTANI e CIMINO, 2002; HOLT-ASHLEY, 2000;
TURNER et al, 1995).
• Portadores de desordens músculo-esqueléticas. (LUSKIN et al, 2000).
• Síndrome da fatiga crônica. (SHIN e LEE, 2005).
• Pacientes enlutados. (HOULDIN et al, 1993).
• Recuperação de pacientes. (SCHERWITZ et al, 2005; KAMIENESKI et al, 2000;
TAYLOR, 1997; HAWKS et al, 1995).
• Dor: neuropática crônica, crônica nas costas, câncer. (ARNSTEIN, 2004; SPIEGEL e
MOORE, 1997; SMITH, AIREY, SALMOND, 1990).
• População geral. (KRONENWETTER et al, 2005).
• Pacientes suicidas. (BIRNBAUM e BIRNBAUM, 2004).
• Torcicolo. (GERARD et al, 2003).
• Instrumento para medir espiritualidade na clínica médica em geral.
(ANANDARAJAH e HIGHT, 2001).
• Idosos. (LOWIS e HUGHES, 1997).

Em relação às Terapias Alternativas e Complementares nas diversas clínicas, embora os


autores recomendem a realização de novos estudos para uma melhor compreensão dos
resultados alcançados através destas, observamos, frente ao Quadro-Resumo acima
exposto, que é crescente o interesse e o uso destas terapias pela população, assim como
a inserção das mesmas nas diversas áreas da medicina pelos profissionais.

No Brasil, SILVA (2005) alerta-nos que o profissional responsável pela elaboração de


currículos na área médica não pode ignorar estas práticas, cabendo algumas reflexões. A
primeira é selecionar o que de bom a medicina alternativa nos oferece. A segunda é
pensar como colocar este contexto no aprendizado para que o estudante o conheça e
adquira espírito crítico para uma seleção positiva a favor do doente. A terceira é
reconhecer, humildemente, que a alternativa está atendendo mais eficazmente a relação
médico-paciente do que a alopatia, cabendo ao profissional de saúde recuperar este
recurso no atendimento à população e integrando-o ao uso adequado da tecnologia.
Conclui que o currículo dos cursos da área de saúde não pode ignorar a medicina
alternativa.

Em relação ao trabalho com pacientes terminais desenvolvemos uma Intervenção


Terapêutica intitulada Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade (RIME). A
estruturação da RIME foi iniciada em 1998, quando começamos a trabalhar com
crianças e adolescentes com câncer em fase terminal, e observamos sofrimento
psicológico e espiritual importante nestes doentes (ELIAS, 2003). Denominamos este
sofrimento de Dor Simbólica da Morte, representada pela Dor Psíquica (medo do
sofrimento e humor depressivo) e pela Dor Espiritual (medo da morte, medo do pós-
morte, idéias e concepções negativas em relação ao sentido da vida e à espiritualidade,
culpas diante de Deus).

Entre 1999 e 2001, através de nossa dissertação de mestrado, operacionalizamos a


Intervenção RIME através do trabalho com mulheres adultas com câncer em fase
terminal (ELIAS, 2001). Nesta dissertação observamos que a Dor Espiritual é
prevalente e mais relevante que a Dor Psíquica, perante a iminência da morte, e que o
trabalho apenas com a Dor Espiritual é suficiente para proporcionar maior serenidade e
dignidade ao paciente no processo de morrer. Observamos que o medo do sofrimento é
uma das expressões do medo da morte e o humor expressivo se refere às idéias e
concepções negativas em relação ao sentido da vida. Por esta razão, passamos a
trabalhar apenas com a Dor Espiritual.

Entre 2002 e 2005 desenvolvemos em nossa tese de doutorado (ELIAS, 2005) um


Programa de Treinamento sobre a Intervenção RIME, que disponibilizou um curso para
aplicação de uma terapia para pacientes terminais que se encaixa na modalidade
complementar e alternativa, obedecendo às normas acadêmicas para o seu
desenvolvimento e contribuindo assim para a inserção desta modalidade de atendimento
nos Guias Curriculares de Graduação e Pós-Graduação. Além de disponibilizar o curso
acima citado, nesta tese também estudamos a experiência de profissionais de saúde na
aplicação da RIME e a experiência dos pacientes na re-significação da Dor Espiritual,
durante a aplicação desta Intervenção.

Nosso estudo de doutorado foi desenvolvido a partir de metodologia acadêmica


apropriada e é pioneiro ao propor e testar um programa de treinamento sobre uma
intervenção que trabalha a questão da espiritualidade, mas as limitações, como ausência
de grupo controle e tamanho da amostra, devem ser consideradas. Novos estudos
deverão ser realizados para uma melhor compreensão da experiência do profissional na
aplicação da Intervenção RIME, principalmente no que se refere à compreensão das
vivências de natureza espiritual, e também para uma melhor compreensão dos
elementos da Intervenção RIME, que favoreceram a experiência de re-significação da
Dor Espiritual dos doentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AI, A.L.; BOLLING, S.F. - The use of complementary and alternative therapies among
middle-aged and older cardiac patients. Am J Med Qual, 17 (1):21-7, 2002.

ANANDARAJAH, G.; HIGHT, E. - Spirituality and medical practice: using the HOPE
questions as a practical tool for spiritual assessment. Am Fam Physician, 63 (1):81-9,
2001. (Review).

ARNSTEIN, P. - Chronic neuropathic pain: issues in patient education. Pain Manag


Nurs, 5 (4 Suppl 1):34-41, 2004.

ASHTON, C.; WHITWORTH, G.C.; SELDOMRIDGE, J.A.; SHAPIRO, P.A.;


WEINBERG, A.D.; MICHLER, R.E. et al – Self-hypnosis reduces anxiety following
coronary artery bypass surgery. A prospective, randomized trial. J Cardiovasc Surg
(Torino), 41 (2):335-6, 1997.

BIRNBAUM, L.; BIRNBAUM, A. - In search of inner wisdom: guided mindfulness


meditation in the context of suicide. Scientific World Journal, 18 (4):216-27, 2004.

BORRIE, R.A. – The use of restricted environmental stimulation therapy in treating


addictive behaviors. Int J Addict, 25 (7A-8A):995-1015, 1990-91.

BROWN-SALTZMAN, K. - Replenishing the spirit by meditative prayer and guided


imagery. Semin Oncol Nurs, 13 (4):255-9, 1997.

BURNS, S.J.; HARBUZ, M.S.; HUCKLEBRIDGE, F.; BUNT, L. – A pilot study into
the therapeutic effects of music therapy at a cancer help center. Altern Ther Health Med,
7 (1):48-56, 2001.

CHOCHINOV, H.M.; HACK, T.; HASSARD, T.; KRISTJANSON, L.J.; MC


CLEMENT, S.; HARLOS, M. - Dignity and psychotherapeutic considerations in end-
of-life care. J Palliat Care, 20 (3):134-42, 2004.

DOLLANDER, M. – Etiologies of adult insomnia. Encephale, 28 (6 Pt 1):493-502,


2002.

DOUGLAS, D.B. – Hypnosis: useful, neglected, available. Am J Hosp Palliat Care, 16


(5):665:70, 1999.

ELIAS, A.C.A. - Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritualidade na re–


significação da Dor Simbólica da Morte de Pacientes Terminais [dissertação].
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas. 2001. URL:
http://libdigi.unicamp.br
ELIAS, A.C.A. - Re–significação da Dor Simbólica da Morte: Relaxamento Mental,
Imagens Mentais e Espiritualidade. Psicologia Ciência e Profissão 23 (1): 92–97, 2003.
URL: http://www.pol.org.br

ELIAS, A.C.A. - Programa de Treinamento sobre a Intervenção Terapêutica


Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade (RIME) para re–significar a Dor
Espiritual de Pacientes Terminais [tese]. Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
Estadual de Campinas. 2005. URL: http://libdigi.unicamp.br

ELIAS, A.C.A.; GIGLIO J.S. – Interveção Psicoterapeutica na área de Cuidados


Paliativos para re-significar a Dor Simbólica da Morte de Pacientes Terminais através
de Relaxamento Mental, Imagens e Espiritualidade. Rev. Psiquiatr. Clín, 29 (3):116–29,
2002.

FERNANDEZ, C.V.; STUTZER, C.A.; MAC WILLIAM, L.; FRYER, C. – Alternative


and complementary therapy use in pediatric oncology patients in British Columbia:
prevalence and reasons for use and nonuse. J Clin Oncol, 16 (4):1279-86, 1998.

FORTUNE, M.; PRICE, M.B. - The spirit of healing: how to develop a spiritually based
personal and professional practice. J N Y State Nurses Assoc., 34 (1):32-8, 2003.

GERARD, S.; SMITH, B.H.; SIMPSON, J.A. - A randomized controlled trial of


spiritual healing in restricted neck movement. J Altern Complement Med, 9 (4):467-77,
2003.

GRUNBERG, G.; CRATER, S.W.; GREEN, C.L.; SESKEVICH, J.; LANE, J.D.;
KOENIG, H.G. et al - Correlations between preprocedure mood and clinical outcome in
patients undergoing coronary angioplasty. Cardiol Rev, 11 (6):306-8, 2003.

HAWKS, S.R.; HULL, M.L.; THALMAN, R.L.; RICHINS, P.M. - Review of spiritual
health: definition, role, and intervention strategies in health promotion. Am J Health
Promot, 9 (5):371-8, 1995.

HENDERSON, J.W.; DONATELLE, R.J. – Complementary and alternative medicine


use by women after completion of allopathic treatment for breast cancer. Altern Ther
Health Med, 10 (1):52-7, 2004.

HESSIG, R.E.; ARCAND, L.L.; FROST, M.H. - The effects of an educational


intervention on oncology nurses' attitude, perceived knowledge, and self-reported
application of complementary therapies. Oncol Nurs Forum, 31 (1):71-8, 2004.

HILLIARD, R.E. - Music Therapy in Hospice and Palliative Care: a Review of the
Empirical Data. Evid Based Complement Alternat Med, 2 (2):173-8, 2005.

HOLT-ASHLEY, M. – Nurses pray: use of prayer and spirituality as a complementary


therapy in the intensive care setting. AACN Clin Issues, 11 (1):60-7, 2000.

HOSAKA, T.; SUGIYAMA, Y.; HIRAI, K.; SUGAWARA, Y. - Factors associated


with the effects of a structured psychiatric intervention on breast cancer patients. Tokai
J Exp Clin Med, 26 (2):33-8, 2001.
HOULDIN A.D.; MC CORKLE, R.; LOWERY, B.J. - Relaxation training and
psychoimmunological status of bereaved spouses. A pilot study. Cancer Nurs, 16
(1):47-52, 1993.

KAMIENESKI, R.; BROWN, C.M.; MITCHELL, C.; PERRIN, K.M.; DINDIAL, K. -


Health benefits achieved through the Seventh-Day Adventist Wellness Challenge
program. Altern Ther Health Med, 6 (6):65-9, 2000.

KENNEDY, J.E.; ABBOTT, R.A.; ROSENBERG, B.S. – Changes in spirituality and


well-being in a retreat program for cardiac patients. Altern Ther Health Med, 8 (4):64-6,
68-70, 72-3, 2002.

KOENIG, H.G. – Espiritualidade no Cuidado com o Paciente. Por quê, como, quando e
o quê. São Pulo, FE Editora Jornalística, 2005.

KOENIG, H.G. – Religion, Spirituality, and Medicine: Research Findings and


Implications for Clinical Practice. Southern Medical Journal, 97 12):1194-200, 2004a.

KOENIG, H.G. – Taking a Spiritual History. JAMA 291 (23):2891, 2004b.

KRONENWETTER, C.; WEIDNERG, G.; PETTENGILL, E.; MARLIN, R.;


CRUTCHFIELD, L.; MC CORMAC, P. et al - A qualitative analysis of interviews of
men with early stage prostate cancer: the Prostate Cancer Lifestyle Trial. Cancer Nurs,
28 (2):99-107, 2005.

KRUCOFF, M.W.; CRATER, S.W.; GREEN, C.L.; MAAS, A.C.; SESKEVICH, J.E.;
LANE, J.D. et al - Integrative noetic therapies as adjuncts to percutaneous intervention
during unstable coronary syndromes: Monitoring and Actualization of Noetic Training
(MANTRA) feasibility pilot. Am Heart J, 142 (5):760-9, 2001.

LA GRAND, L.E. – Reduncing burnout in the hospice and death education movement.
Death Educ, 4 (1):61-75, 1980.

LINDOP, E. – A complementary therapy approach to the management of individual


stress among student nurses. J Adv Nurs, 18 (10): 1578-85, 1993.

LUSKIN F.M.; NEWELL, K.A.; GRIFFITH, M.; HOLMES, M.; TELLES, S.;
DINUCCI, E. et al – A review of mind / body therapies in the treatment of
musculoskeletal disorders with implications for the elderly. Altern Ther Health Med, 6
(2):46-56, 2000.

LOWIS, M.J.; HUGHES, J. - A comparison of the effects of sacred and secular music
on elderly people. J Psychol, 131 (1):45-55, 1997.

MAMTANI R.; CIMINO A. – A primer of complementary and alternative medicine


and its relevance in the treatment of mental health problems. Psychiatr Q, 73 (4):367-
81, 2002.

MARR, J. - The use of the Bonny Method of Guided Imagery and Music in spiritual
growth. J Pastoral Care, 55 (4):397-406, 2001.
MATTHEES, B.J.; ANANTACHOTI, P.; KREITZER, M.J.; SAVIK, K.; HERTZ,
M.I.; GROSS, C.R. – Use of complementary therapies, adherence, and quality of life in
lung transplant recipients. Heart Lung, 30 (4):258-68, 2001.

MILLISON, M.; DUDLEY, J.R. - Providing spiritual support: a job for all hospice
professionals. Hosp J, 8 (4):49-66, 1992.

MONEY, M. – Shamanism as a healing paradigm for complementary therapy.


Complement Ther Nurs Midwifery, 7 (3):126-31, 2001.

PEACE, G.; MANASSE A. – The Cavendish Centre for integrated cancer care:
assessment of patients’ needs and responses. Complement Ther Med, 10 (1):33-41,
2002.

RICHARDS, K.; NAGEL, C.; MARKIE, M.; ELWELL, J.; BARONE, C. – Use of
complementary and alternative therapies to promote sleep in critically ill patients. Crit
Care Nurs Clin North Am, 15 (3):329-40, 2003.

ROLNIAK, S.; BROWNING, L.; MACLEOG, B.A.; COCKLEY, P. – Complementary


and alternative medicine use among urban ED patients: prevalence and patterns. J
Emerg Nurs, 30 (4):318-24, 2004.

SAMANO, E.S.T.; GOLDENSTEIN, P.T.; RIBEIRO, L.M.; LEWIN, F.; VALESIN


FILHO, E.S.; SOARES, H.P. et al – Praying correlates with higher quality of life:
results from a survey on complementary/alternative medicine use among a group of
Brazilian cancer. São Paulo Med J, 122 (2):60-3, 2004.

SCHERWITZ, L.W.; MC HENRY, P.; HERRERO, R. - Interactive Guided Imagery


therapy with medical patients: predictors of health outcomes. Interactive Guided
Imagery therapy with medical patients: predictors of health outcomes. J Altern
Complement Med., 11 (1):69-83, 2005.

SHIN, Y.I.; LEE, M.S. – Qi therapy (external qigong) for chronic fatigue syndrome:
case studies. Am J Chin Med, 33 (1):139-41, 2005.

SILVA, A.L. - Relação médico-paciente. Rev. Assoc. Med. Bras, 51(3):132, 2005.

SMITH, I.W.; AIREY, S.; SALMOND, S.W. - CE feature. Part 2. Nontechnologic


strategies for coping with chronic low back pain. Orthop Nurs, 9 (4):26-34, 1990.

SPIEGEL D.; MOORE R. – Imagery and hypnosis in the treatment of cancer patients.
Oncology (Huntingt), 11 (8):1179-89; discussion 1189-95, 1997.
TAYLOR, E.J. - The story behind the story: the use of storytelling in spiritual
caregiving. Semin Oncol Nurs, 13 (4):252-4, 1997.

THOMAS, S.A. - Spirituality: an essential dimension in the treatment of hypertension.


Holist Nurs Pract, 3 (3):47-55, 1989.
TURNER, R.P.; LUKOFF, D.; BARNHOUSE, R.T.; LU, F.G. - Religious or spiritual
problem. A culturally sensitive diagnostic category in the DSM-IV. J Nerv Ment Dis,
183 (7):435-44, 1995.

VAN DER RIET, P. - Ethereal embodiment of cancer patients. Aust J Holist Nurs, 6
(2):20-7, 1999.

WYATT, G.K.; FRIEDMAN, L.L.; GIVEN, C.W.; GIVEN, B.A.; BECKROW, K.C.-
Complementary therapy use among older cancer patients. Câncer Pract, 7 (3): 136-44,
1999.

Jáder Sampaio

> Como foi Escrito “O Livro dos Espíritos”?

Artigos

O Movimento Espírita comemora 150 anos da publicação inicial de “O Livro dos


Espíritos”, por Allan
Kardec. Os espíritas sabem que Kardec é o pseudônimo de H. L. D. Rivail, professor
francês que se dedicou ao estudo dos fenômenos espirituais no século XIX.

O Recebimento do Livro na França

O livro nasceu sob o signo da polêmica, e como tal, esgotou-se rapidamente. A primeira
edição era composta de três livros (partes), intitulados “Doutrina Espírita”, “Leis
Morais” e “Esperanças e Consolações”. A segunda edição, publicada em março de
1860, base da maioria das traduções brasileiras, foi uma ampliação significativa da
primeira edição. Ela apresentava 1019 questões feitas aos espíritos, acrescidas de
comentários, contra as 550 questões da primeira edição.

A primeira parte desdobrou-se em duas: “Causas Primeiras” e Mundo Espiritual ou dos


Espíritos”.
Criticado por uns, elogiado por outros, o livro coroa o projeto original do Prof. Rivail de
discutir filosoficamente com os espíritos, através de diferentes médiuns, questões de
assuntos diversos, capazes de circunscrever uma doutrina que tratasse da origem,
trajetória e destino dos Espíritos.
Os leitores cuidadosos verão que os Espíritos de Kardec dissertam sobre temas caros à
Filosofia e aos filósofos europeus do século XIX, o que tornou o livro singular entre a
produção espiritualista de seu tempo.

Como foi Redigido O Livro dos Espíritos?

As principais fontes que temos são a Revista Espírita, publicada mensalmente por
Kardec e os textos autobiográficos publicados no livro “Obras Póstumas”,
especialmente o que se intitula “Minha iniciação ao
Espiritismo”.

Silvino Canuto Abreu é um dos autores brasileiros que tratou do tema com fontes
privilegiadas. Ele teve acesso a documentos de Kardec, como a sua correspondência,
ainda não publicada.

O Prof. Rivail se aproximou dos grupos espíritas a convite de confrades


magnetizadores, embora não acreditasse na manifestação de Espíritos. À sua época, já
houvera tido contato com sonâmbulos, que eram pessoas que alteravam seu estado de
consciência sob efeito do magnetismo e eram capazes de relatar percepções que não
seriam possíveis pela via dos sentidos, como a realização de diagnósticos de órgãos
internos dos consulentes.

Os médiuns norte-americanos haviam estado na Europa e fizeram demonstrações de


fenômenos das chamadas “mesas girantes”. Canuto Abreu afirma que antes de sua
passagem, nos círculos de magnetizadores, alguns fenômenos já haviam sido objeto de
experimentação com sonâmbulas francesas.

Rivail freqüentou grupos mediúnicos que recebiam convidados externos. Impressionou-


se com as informações que os Espíritos traziam através da psicografia mecânica,
observou outros tipos de mediunidade, como a incorporação, o sonambulismo
mediúnico inconsciente, a mediunidade auditiva e a clarividência, ao longo de seus
estudos. Contudo, ele se incomodava com o caráter fútil das perguntas que eram
dirigidas aos espíritos em alguns
destes círculos.

Os Espíritos incentivaram Rivail a empreender um projeto de pesquisa sério, o que o


levou a desenvolver uma metodologia própria para fazer o diálogo com os Espíritos e
redigir seu livro. Ele focalizou suas questões em três grandes temas: a Filosofia Geral, a
Psicologia e a Natureza do Mundo Invisível. 1(Cf. Obras Póstumas, pág. 269.)

As Médiuns de Rivail

No princípio de seu trabalho, Rivail obteve muito material e teve a oportunidade de


questionar diversos Espíritos através da mediunidade de psicografia mecânica de
Caroline e Julie Baudin. Em 1855 as jovens apresentavam, respectivamente, as idades
de 16 e 14 anos.

Basicamente, Rivail preparava os temas, desenvolvia perguntas em sua casa,


multiplicava questões sobre os temas, de forma a deixá-los claramente expostos e os
levava à residência das Baudin. Elas psicografavam com o auxílio de uma “corbeille
toupie”, ou cesta de bico, que era uma cesta comum com uma ponta na qual se colocava
um lápis ou outro material capaz de escrever sobre a ardósia 2 ( 2 O leitor interessado
encontrará descrições detalhadas das cestas e pranchetas utilizadas à época no capítulo
XIII de “O Livro dos Médiuns”, de Kardec.). As meninas colocavam a ponta dos dedos
no corpo da cesta (as duas ao mesmo tempo) e, conversando assuntos triviais, esta
movimentava-se redigindo as respostas às questões propostas, enquanto as jovens
conversavam assuntos diversos. 3 (3 Cf. Obras Póstumas, página 267.)

Figura 1: Desenho de uma cesta de bico contemporânea à pesquisa de Rivail.

Rivail formulava as perguntas verbalmente e às vezes mentalmente 4 (4 Cf. Obras


Póstumas, página 268.), o que lhe dava mais confiança na existência de seres
inteligentes, capazes de lhe perceber os pensamentos.

Os Espíritos incentivaram Rivail a rever os conteúdos e ele resolveu submeter os textos


a outros médiuns. A terceira principal médium da construção da primeira edição de “O
Livro dos Espíritos” foi Ruth Celine Japhet, que concedeu a Rivail, a pedido dos
Espíritos, sessões sem público, voltadas à revisão do texto do livro nascente.

Canuto Abreu afirma que Kardec incentivou posteriormente as médiuns a escreverem


com pena de pato, o que aumentou a capacidade de produção mediúnica. Além das três
médiuns, Kardec incluiu textos recebidos por correspondência ou de círculos que
visitou 5 (5 Cf. Revista Espírita, 1858, pág. 34.) e contou com a colaboração de outros
médiuns 6 (6 Cf. Obras Póstumas, pág. 270), em menor escala.

“Da fusão de todas essas respostas, coordenadas, classificadas e muita vez recompostas
no silêncio na meditação, foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos,
entregue à publicidade em 18 de abril de 1857.” Allan Kardec 7 (7 Cf. Obras Póstumas,
pág. 270).

Rivail não publicou o nome dos médiuns e os protegeu do público o quanto pôde. O
assédio e perseguições sofridas pelas irmãs Fox, nos Estados Unidos, parece ser uma
das razões de tanto zelo com a identidade das jovens. Ele, mesmo adotando
pseudônimo, contudo, não seria poupado. Uma curiosidade, a médium Ermance Dufaux
não participou da primeira edição de O Livro dos Espíritos, embora seus trabalhos
estejam presentes em quase todos os exemplares da Revista Espírita de 1858. Canuto
Abreu 8 (8 Cf. O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária) escreve que
ela teria sido apresentada a Rivail no período do lançamento de O Livro dos Espíritos.

O Método de Kardec

Por que Rivail fez as mesmas perguntas para médiuns diferentes, por que submeteu o
texto à apreciação de diferentes espíritos antes de publicá-lo?

Este é o cerne do método desenvolvido por ele para o intercâmbio com o mundo
espiritual.
Em primeiro lugar, Kardec não considerava os espíritos como reveladores 9 (9 Cf.
Obras Póstumas, pág. 269), mas como fontes de informação. Pessoas desencarnadas,
com maior ou menor capacidade de explicação de sua realidade, mais ou menos ligadas
às crenças que defendiam antes da morte. Pode-se dizer, que no entendimento de
Kardec, é necessária uma análise o mais ampla e franca possível daquilo que é
produzido pelos médiuns, seja pelas limitações dos espíritos, seja pelas limitações dos
próprios médiuns.

Este segundo ponto é uma das razões pelas quais Kardec confirmava informações
obtidas por médiuns intuitivos com médiuns mecânicos. Uma vez que o fenômeno se dá
com menor influência das idéias próprias do médium mecânico (recorde-se que as
meninas conversavam enquanto a cesta escrevia frases de conteúdo diverso), o
codificador os considera importantes para o trabalho de revisão. As reservas de Kardec
à produção mediúnica dos médiuns intuitivos são conhecidas. Ele escreve que “são
muito comuns, mas muito sujeitos a erros, por não poderem discernir, muitas vezes, o
que provém dos Espíritos do que deles próprios emana”. 10 (10 O Livro dos Médiuns,
cap. XXVI, pág. 235.)

Uma terceira característica do método de Rivail é o diálogo socrático com os Espíritos.


Rivail multiplica perguntas e usa a razão como instrumento para separar as respostas
gratuitas daquelas elaboradas e encadeadas com lógica. Rivail conhece bem as
limitações da mediunidade. Em um texto intitulado “Contradições na Linguagem dos
Espíritos” 11 (11 Revista Espírita, 1858, pág. 225 e 226.) ele relaciona os seguintes
pontos:

1. O grau de ignorância ou de saber dos Espíritos aos quais nos dirigimos;

2. O embuste dos Espíritos inferiores que podem, por malícia, ignorância ou


malevolência e tomando um nome de empréstimo, dizer coisas contrárias às que alhures
foram ditas pelo Espírito cujo nome usurparam;

3. As falhas pessoais do médium, que podem influir sobre as comunicações, alterar ou


deformar o pensamento do Espírito;

4. A insistência por obter uma resposta que um Espírito recusa dar, e que é dada por um
Espírito inferior;

5. A própria vontade do Espírito, que fala conforme o momento, o lugar e as pessoas e


pode julgar conveniente nem tudo dizer a toda gente;

6. A insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas do mundo incorpóreo;

7. A interpretação que cada um pode dar a uma palavra ou a uma explicação, de acordo
com as suas idéias, os seus preconceitos ou o ponto de vista sob o qual encara o assunto.

Mesmo limitada, a mediunidade é o único meio de comunicação que dispomos e que


Rivail dispunha em seu tempo com os Espíritos. Seus cuidados possibilitam a obtenção
de um conhecimento de qualidade superior. Os cuidados com O Livro dos Espíritos
influenciaram as obras posteriores que lhe foram um “desenvolvimento de assuntos
específicos”, tratados de maneira geral no coração da codificação.
Os Desdobramentos de “O Livro dos Espíritos”

A publicação de O Livro dos Espíritos é um marco no movimento espírita,


especialmente nos países neolatinos. Enquanto encarnado Kardec supervisionou 13
edições de O Livro dos Espíritos. A atual tradução febiana, realizada por Evandro
Noleto Bezerra, mostra que à exceção da segunda edição, as demais tiveram mudanças
pontuais (explicadas pelo tradutor na edição comemorativa dos 150 anos de O Livro dos
Espíritos).

As principais lideranças do movimento francês foram atraídas ao Espiritismo pela


leitura desta obra. Flammarion, Denis, Alexandre Delanne e muitos outros espíritas
relatam em suas biografias como se convenceram ante a lógica rigorosa dos Espíritos,
trabalhada pela pena do codificador.

No Brasil, a primeira tradução em língua portuguesa (feita a partir da 12 a. edição


francesa) parece ter sido feita por Joaquim Carlos Travassos, tendo adotado o
pseudônimo de Fortúnio e publicado pela famosa Editora Garnier, no Rio de Janeiro em
1875. Travassos teria presenteado Bezerra de Menezes com o livro, que o teria
convertido.

A Federação Espírita Brasileira tem publicado até o momento a tradução de Guillon


Ribeiro, mas são muito conhecidas a tradução comentada feita por José Herculano Pires
e a tradução do Instituto de Difusão Espírita, feita por Salvador Gentile.

Washington Fernandes nos informou através da LIHPE 12 (12 Liga de Historiadores e


Pesquisadores Espíritas) que são conhecidas as traduções do livro para nove idiomas: o
português, o espanhol, o italiano, o alemão, o inglês, o esperanto, o grego e o árabe.

Você também pode gostar