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Integração Social por Teletrabalho http://portal.ua.pt/projectos/ist/obra11/default4.asp?

OP=47

Silvina Santana

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Integração Social por Teletrabalho http://portal.ua.pt/projectos/ist/obra11/default4.asp?OP=47

Introdução Conclusões e recomendações

Objectivos

Enquadramento Geral

Teletrabalho e incapacidade

Metodologia de recolha e
análise de dados

Análise de dados e resultados

Conclusões e recomendações

Referências
6.Conclusões e recomendações

A primeira observação a fazer prende-se com a receptividade das empresas ao


inquérito. O índice de resposta, particularmente baixo para o caso das empresas
comerciais e de menor dimensão, poderá não estar associado, exclusivamente, à falta
de interesse no teletrabalho. Os contactos estabelecidos telefonicamente permitiram
verificar que, para além do desinteresse, sobretudo manifestado pelas micro-
empresas, existe um grande cansaço das empresas, constantemente solicitadas pelas
mais diversas entidades para responderem a inquéritos.

De estranhar é a falta de colaboração das Câmara Municipais do distrito e a falta de


interesse manifestada pelas três que responderam, de forma sumária, ao inquérito.
Mais ainda quando se sabe que a Câmara Municipal de Aveiro, que não respondeu ao
inquérito, é a entidade coordenadora do Programa Aveiro Cidade Digital.

Assim sendo, demonstrou-se impossível fazer uma correcta avaliação do interesse do


sector institucional e do grupo das micro-empresas enquanto mercado potencial para
serviços realizados em regime de teletrabalho. No caso das micro-empresas, os
contactos estabelecidos telefonicamente mostram que a abordagem deve ser feita de
forma cuidadosa, dado que os seus responsáveis raramente demonstraram
perspectivar a utilização deste tipo de serviços em termos do futuro. Normalmente,
são empresas que se encontram servidas no presente, contando com a prestação de
alguém que lhes trata da facturação e da contabilidade, por vezes o sócio-gerente ou
o dono. A ideia de ingressarem num esquema envolvendo teletrabalho, por poder
envolver meios tecnológicos que não possuem e situações que não dominam bem, não
parece ser motivadora. Por isso, talvez a forma mais correcta de as abordar seja
apresentando pacotes de serviços adequados às suas necessidades, que correspondam
a situações já implementadas e em que seja possível demonstrar certo tipo de
resultados, como tempo de entrega do serviço e índices de satisfação de clientes, ou
mesmo mostrar como os serviços funcionam.

Relativamente à problemática em análise, os resultados do estudo parecem indicar


que as empresas encaram a situação de teletrabalho com alguma cautela, já que
apenas 14% responderam 'Sim', quando inquiridas acerca da sua disponibilidade para
esta modalidade de trabalho. A maior interrogação para as empresas prende-se com a
gama de serviços que poderão vir a ser oferecidos.

Em relação ao modelo de teletrabalho que mais interessa às empresas, não existem


dúvidas que ele passa pela implementação de telecentros multiserviço, que
disponibilizem equipamento e assistência técnica ao trabalhador, giram os aspectos
inerentes à situação e punham à disposição da empresa um leque alargado de outros
serviços em parte ou totalmente realizados em computador. O modelo fica completo
com a opção das empresas pela avença ou pelo pagamento por serviço efectuado.
Recorde-se que, de acordo com os resultados do estudo português anteriormente
citado, o regime de trabalho preferido pelas empresas inquiridas na altura era a

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prestação de serviços e o local de trabalho preferido era a casa do teletrabalhador.

A opção actual pela solução do telecentro multiserviços pode estar relacionada com o
facto de as empresas estarem agora melhor informadas acerca das características das
diversas modalidades e mais conscientes das vantagens e desvantagens de cada uma.
Aliás, as empresas foram atempadamente esclarecidas acerca destes aspectos,
aquando do contacto estabelecido telefonicamente, de modo a poderem optar de
forma consciente e esclarecida.

O facto de a esmagadora maioria das empresas optar pela avença ou pelo pagamento
por serviço efectuado pode ser reflexo das políticas de contratação actuais e da
tendência existente para subcontratar ao exterior as tarefas não directamente ligadas
às actividades-chave realizadas pela organização, muitas vezes desenvolvidas em
regime pontual ou periódico. Pode, também, constituir uma manifestação da forma
como elas resolvem a questão de lidar com uma situação que conhecem mal. O
diálogo mantido telefonicamente e a resposta a diversas questões inseridas em
diferentes partes do inquérito, nomeadamente, relacionadas com as questões do
pagamento e do controlo da execução das tarefas e do tempo efectivo de laboração,
permitiu verificar que os gestores percepcionam este tipo de contrato como
particularmente efectivo na gestão do trabalho.

Para o teletrabalhador, ou para a entidade gestora do seu relacionamento com as


empresas, esta atitude traduz-se em diversos desafios. Ela implica a adopção de uma
postura profissional, envolvendo a constituição e o desenvolvimento contínuo de uma
carteira de clientes e negócios, o estabelecimento de relações de confiança, o
desenvolvimento da lealdade dos clientes e a formação contínua dos trabalhadores,
visando novas oportunidades e novos desenvolvimentos tecnológicos.

Uma das conclusões mais interessantes deste estudo está ligada ao tipo de actividades
mais solicitadas pelas empresas. Recorde-se que, de acordo com o estudo empírico
português anteriormente citado, as funções apontadas pelos gestores inquiridos na
altura como podendo ser desenvolvidas em regime de teletrabalho foram,
essencialmente, os trabalhos na área da informática e do tratamento de texto ou da
introdução de dados. Estas actividades não correspondem, minimamente, às
identificadas, à partida, pelos gestores abordados no presente trabalho, muito menos
às actividades seleccionadas a partir da lista fornecida num momento posterior do
inquérito.

Os responsáveis pelas empresas parecem estar agora mais interessados em actividades


de maior valor acrescentado, requerendo uma competência média a elevada por parte
do executante, e que não correspondem, pelo menos em parte, a tentativas de
externalização de serviços actualmente efectuados no seu interior. As actividades
seleccionadas parecem antes corresponder a funções não dominadas internamente e
com poucas probabilidades de o virem a ser. Algumas empresas parecem ter visto no
quadro de actividades oferecidas uma oportunidade para aceder a serviços que não
podem e/ou não sabem e/ou não compensa efectuarem internamente.

Estas actividades, conjuntamente com outras também seleccionadas, proporcionam


um amplo leque de oportunidades, no que respeita à inserção profissional de pessoas
com capacidades e necessidades especiais muito diversas. No entanto, pensa-se que
cada oportunidade de trabalho e cada teletrabalhador devem ser encarados como
casos especiais e assim analisados, de modo a garantir, por um lado a satisfação e
plena integração do trabalhador, por outro uma resposta eficaz às expectativas e
legítimos anseios das empresas.

Os resultados da análise multivariada, embora empalidecidos pela reduzida dimensão


da amostra, que impede, nomeadamente, a sua generalização a um universo mais
lato, não deixam de ser interessantes.

Das vinte e sete variáveis correspondentes a situações normalmente apontadas na


literatura como podendo tornar-se problemáticas, a análise de componentes principais
permitiu identificar e nomear seis factores: aspectos legais e contratuais, perda de
identidade da organização, gestão da situação de teletrabalho, capacidade para lidar
com a informação, custos iniciais e continuados e situação de deficiência.

Análises de clusters posteriores permitiram agrupar as empresas que responderam ao


inquérito em três grupos, de acordo com a ênfase dada aos diversos factores. Os

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factores que distinguem entre os clusters são a gestão da situação de teletrabalho, a


capacidade para lidar com a informação e a situação de deficiência. No entanto,
tentativas efectuadas no sentido de melhor caracterizar os três clusters, de modo a
tornar a análise operacionalizável, demonstraram que eles não diferem entre si, a um
nível de significância inferior a 0.05, relativamente a variáveis como o sector de
actividade ou a dimensão da empresa, em termos de número de empregados. Apenas
quando em causa está o volume vendas surge uma diferença estatisticamente
significativa entre os três grupos. As empresas com maior volume de vendas, no
cluster 2, apontam a importância da informação como o factor mais problemático a
enfrentar. Esta situação poderá estar relacionada com a complexidade das tarefas
desenvolvidas, uma vez que no factor está incluída a variável 'formação específica do
teletrabalhador'. As empresas com menor volume de vendas relevam, sobretudo, o
papel da situação de deficiência.

Estes resultados não são fáceis de explicar a partir da informação recolhida. Em causa
poderá estar, sobretudo, a envergadura financeira da empresa. No primeiro caso, ao
funcionar como amortecedor, ela poderá dar uma certa segurança às empresas para
poderem experimentar novas modalidades de trabalho. No segundo, admitindo que o
menor volume de vendas corresponde a uma menor envergadura financeira, as
empresas tenderiam a enfatizar, sobretudo, o papel dos custos, nomeadamente, dos
custos associados à deficiência, e do desconhecido. Esta interpretação é corroborada
pelos teste posteriores, mas a dimensão da amostra não permite maior veemência nas
afirmações.

Por outro lado, essa mesma dimensão financeira poderá estar ligada ao maior ou
menor à vontade para lidar com a situação da externalização de serviços. No entanto,
verifica-se que não existe uma diferença estatisticamente significativa entre os
clusters relativamente à percentagem de empresas de cada um com experiência de
contratação de serviços ao exterior. O que se pode avançar é que as empresas do
cluster 2 parecem ter, à partida, políticas bem definidas para lidar com este tipo de
situação. As empresas do cluster 3 surgem, em praticamente todas as análise
efectuadas como as que possuem atitudes mais heterogéneas para com as situações
analisadas. Este facto pode ser revelador de uma certa indefinição em relação a esta
problemática, fruto, talvez, de um menor nível de informação ou da ausência de
políticas bem definidas que orientem a tomada de decisão relativamente a questões
deste género.

Quando se analisam, com mais detalhe, as actividades que mais interessam a cada
cluster é interessante verificar como são as empresas do cluster 3 que mais
interessadas se mostram em actividades que implicam conhecimentos tecnológicos e
específicos mais avançados e complexos, ou que, aparentemente, parecem mais
avançados e complexos, como o desenho assistido por computador, a execução e
manutenção de páginas WWW e a execução de catálogos e brochuras. Possivelmente, e
ao invés de outras empresas que admitem recorrer ao teletrabalho para sanar
situações pontuais de ruptura interna, estas empresas poderão constituir um mercado
viável e duradouro para o teletrabalho, uma vez que a sua caracterização geral leva a
colocar a hipótese de se tratarem de empresas com deficiências ao nível de
conhecimentos na área das novas tecnologias da informação e da comunicação.

Pensa-se que os resultados deste trabalho, embora com possibilidade de generalização


limitada pelo baixo número de respostas conseguido, são particularmente importantes
por duas razões.

Primeiro, porque permitem identificar tipos de tarefas, mais ou menos qualificadas,


que numa cidade digital poderão ser desempenhadas com sucesso por populações
marginalizadas, em geral, e incapacitadas, em particular, e quais os modelos de
teletrabalho mais adequados à sua realização. Para além de trabalho altamente
especializado, como é o caso da assessoria jurídica, ou de trabalho relativamente
especializado, como certas utilizações dadas às tecnologias da informação e da
comunicação, a investigação permitiu identificar necessidades relativas a outras
tarefas eventualmente menos qualificadas, como a televigilância enquadrada por
empresas de segurança, bombeiros, autoridades policiais ou outras entidades. Deste
modo, foram identificados postos de trabalho adequados a uma grande diversidade de
indivíduos, possuidores de diferentes níveis de qualificação, o que não só poderá
contribuir com pistas para a continuação do Programa Aveiro Cidade Digital, como
contribuir para que se abram novas perspectivas às instituições que se encarregam da

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formação profissional de grupos marginalizados em Aveiro.

Segundo, a sua avaliação geral aponta para a necessidade de pensar no problema de


forma integrada e concertada e releva, sobremaneira, a necessidade de assegurar a
contribuição de diversas entidades. No contexto encontrado, o apoio de entidades
mediadoras, que se poderão apelidar de 'operadores sociais' (Milpied et al., 1998)
parece fundamental. De entre as tarefas que poderão desenvolver, destacam-se:

· a constituição, ou pelo menos o apoio à constituição, e o acompanhamento do


funcionamento de eventuais telecentros;

· o funcionamento como 'face visível' dos telecentros e como garantia inicial da


qualidade dos serviços, aspecto essencial dada a novidade do teletrabalho e
alguma desconfiança manifestada pelas empresas;

· a constituição de uma carteira de clientes e de actividades, numa perspectiva


de prospecção activa e constante, e o desenvolvimento da lealdade desses
clientes;

· o fornecimento de formação adequada, directamente relacionada com as


oportunidades identificadas e focando, designadamente, o uso de novas
ferramentas de trabalho, a aquisição de autonomia e a organização do
trabalho;

· a ajuda ao teletrabalhador na negociação de contratos de trabalho adequados


às necessidades e expectativas do empregador e do empregado;

· a providência de acompanhamento psicológico para o teletrabalhador quando


ela se mostra necessária e

· o estabelecimento de relações fortes e de confiança com os empregadores.

O aprofundamento do conhecimento nesta área, que se justifica face aos resultados


obtidos, clama por mais estudos de campo. No entanto, o seu sucesso depende,
absolutamente, da colaboração das empresas. Urge, por isso, encontrar formas de
motivar as empresas para este tipo de relacionamento, começando, talvez, por lhes
proporcionar acesso rápido e privilegiado aos resultados dos estudos que ajudam a
concretizar.

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