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O TELETRABALHO

(Levantamento e Caracterização)

PROJECTO VICTORI@ - ADAPT

Maria do Rosário Alves de Almeida


Agosto de 2000
AGRADECIMENTO

Ao Dr. Carlos Manuel da Costa Nunes pela


colaboração, orientação, incentivo e sugestões
efectuados ao longo da execução deste trabalho.
INTRODUÇÃO
Introdução

O. Introdução

O teletrabalho é a vertente mais relevante que assume a Sociedade da Informação no


contexto das alterações que têm ocorrido nos mercados da força de trabalho pelo que
as preocupações com o seu desenvolvimento e implementação parecem, à partida,
justificadas; tanto mais que o fenómeno não corresponde a uma “moda”, antes tem
raízes profundas na actual organização e dinâmica sócio-económicas.

O presente trabalho, tendo um escopo limitado, visa captar e sintetizar alguns dos
aspectos que nos pareceram merecer consideração pelo que esta abordagem assume
natureza selectiva e não sistemática.

No que concerne ao conteúdo do relatório, apresentam-se cinco capítulos que se


passam a caracterizar de forma abreviada.

Na sequência da apresentação de uma definição de teletrabalho, começa-se por


enfocar esta realidade a partir dos seus elementos estruturantes, o que compreende as
suas formas e a sua articulação às estruturas organizacionais, a localização da sua
prestação e a consideração da vertente tecnológica, que lhe dá o sustentáculo físico ou
material.

No capítulo seguinte, “A evolução recente do teletrabalho”, fornece-se uma


panorâmica do seu nível e ritmo de desenvolvimento, à escala global, considerando-
se, dentro das limitadas e contraditórias disponibilidades estatísticas, os casos dos
EUA, do Japão e das Comunidades Europeias. Neste último âmbito geográfico
procura-se apresentar, de forma resumida, as especificidades que o mesmo comporta a
nível das distintas regiões que a integram.

No capítulo 3 – O teletrabalho em Portugal – procura dar-se algum substracto


quantitativo a nível dos indicadores de enquadramento do fenómeno, refere-se as
conclusões de um estudo relativo aos seus factores condicionantes e no domínio da
formação, cujas debilidades estão identificadas, aborda-se o problema das estruturas
da teleformação.

2
Introdução

O capítulo subsequente analisa as vantagens e desvantagens associadas ao teletrabalho


nos planos do emprego e das repercussões sobre os teletrabalhadores e a nível das
empresas, não esquecendo os impactos externos nos domínios do ordenamento e do
ambiente.

O trabalho inclui ainda o capítulo 5, onde se procura apresentar o enquadramento e os


instrumentos de política mais relevantes de que dispõem as autoridades comunitárias
na prossecução de políticas voluntaristas tendentes a prosseguir o reforço da
qualificação dos recursos humanos e o desenvolvimento regional e local
perspectivado no uso das tecnologias da Sociedade de Informação.

Nas conclusões, são realçados alguns dos aspectos determinantes que resultaram da
pesquisa e do estudo que foram efectuados ao longo da execução do trabalho.

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CAPÍTULO 1
Conceito e Elementos Estruturantes
Capítulo 1 – Conceito e Elementos Estruturantes do Teletrabalho

1. Conceito e Elementos Estruturantes do Teletrabalho

Em termos de conceptualização a origem do teletrabalho parece remontar à


publicação , em 1969, de um artigo no “Washington Post”, com a introdução do termo
“dominetics”, enquanto em 1971, F. Schiff surgiu com a expressão “flexiplace”; mais
próximo no tempo e sobretudo, na centralidade, uma equipa chefiada por J. Niles
criou, em 1973, o termo “telecommuting”.

Atendendo a que se trata de um desenvolvimento ainda recente e de envolver várias


coordenadas não foi ainda possível estabelecer uma definição consensual do
fenómeno.

A título ilustrativo pode, no entanto, apresentar-se a acepção adoptada, neste domínio,


pelas Comunidades Europeias, que abrange, de forma explícita ou implícita, os
elementos estruturantes do fenómeno em consideração e que corresponde ao “trabalho
executado por um teletrabalhador (por conta de outrém ou por conta própria),
principalmente ou em grande parte do tempo, noutro sítio que não o tradicional local
de trabalho, para um empregador ou um cliente, envolvendo o uso de tecnologias de
informação avançadas como elemento central e essencial do trabalho.”

Quanto aos elementos estruturantes a que acima se alude temos a considerar:

1.1. Organização

O teletrabalho corresponde a uma nova forma de organização do trabalho,


relacionando-se com a flexibilização das estruturas prevalecentes
anteriormente, tradicionais e centralizadas, estando, portanto, articulado à
desagregação do emprego clássico.

Passa-se, assim, de um modelo burocrático/mecânico vigente na fase do sistema


de produção industrial para um modelo orgânico/flexível que, inclusivé,
inverteu já a relação-base mediante a qual “a organização determina a tarefa”,
no sentido em que “a natureza da tarefa e as necessidades dos intervenientes
podem agora determinar a forma organizacional adoptada”.

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Capítulo 1 – Conceito e Elementos Estruturantes do Teletrabalho

O teletrabalho pode revestir múltiplas formas, de que constituem exemplos:

• O trabalho dependente, abarcando uma multiplicidade de situações, que são


enunciadas somente no que respeita ao critério localização (vidé infra), cuja
aplicabilidade é, no entanto, mais lata;

• A constituição de equipas de projecto “ad hoc”, destinadas a resolver um


determinado problema de uma dada organização, podendo agregar trabalhadores
com estatuto jurídico diferenciado;

• A existência de “free-lancers”, profissionais altamente qualificados, normalmente


com grande controle relativamente à forma e às condições de prestação de
trabalho;

• A formação de “unidades de negócio independentes”, como resposta da gestão às


exigências da envolvente, em mudança acelerada.

1.2. Localização

A flexibilização introduzida através deste critério resulta no “esbatimento das


fronteiras físicas e geográficas”, e está relacionada, em larga medida, com a
externalização da produção que as empresas se vêm obrigadas a prosseguir no
intuito de assegurar os seus níveis competitivos. A correspondente
“nomadização” de tarefas ou de segmentos produtivos assenta, em todos os
casos em transferências de informação.
Podemos, neste contexto, considerar as situações seguintes:

• no domicílio, assentando, face às formas anteriores de prestação deste tipo de


trabalho, num leque distinto de competências, formas organizacionais e relações
com o empregador e na existência de contacto directo ou indirecto com o
estabelecimento deste;

• em centros satélites, correspondendo a partes da mesma organização que são


“deslocalizadas”, e que dispõem de todas as facilidades electrónicas e de
comunicação, encontrando-se próximas da residência dos trabalhadores;

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Capítulo 1 – Conceito e Elementos Estruturantes do Teletrabalho

• em telecentros, i.é., entidades especificamente criadas e equipadas para a


prestação remota de serviços, podendo agregar teletrabalhadores independentes
e/ou pertencentes a diversas empresas;

• sob a forma móvel, que corresponde à actividade exercida à distância por


trabalhadores “nómadas”, que através de meios telemáticos estão
permanentemente em contacto com a empresa;

1.3. Tecnologia

Trata-se do veículo possibilitador das mudanças acima referidas, que se


consubstanciam no facto das actividades existentes passarem a ser executadas
de forma mais rápida, mais consistente e mais económica, na deslocalização
de tarefas e no aparecimento de novas actividades.

Neste caso particular estamos perante uma mudança de tal amplitude, que
corresponde mesmo a uma alteração de paradigma técnico-económico, uma
vez que estão reunidos todos os elementos caracterizadores de tal mutação,
nomeadamente, “uma redução sustentada nos custos, um número ilimitado de
fornecedores e uma aplicabilidade virtualmente universal”.

Na fase histórica actual assistimos, assim, à emergência do paradigma das


tecnologias da informação, que têm no seu centro desenvolvimentos nos
domínios da microelectrónica, nos computadores, na optoelectrónica e nos
sistemas de comunicação, correspondendo-lhes como características
essenciais, a intensidade de informação, a flexibilidade, a natureza sistémica e
a base microelectrónica.

A ilustração mais sintética desta revolução é dada pela melhoria de qualidade


e pelo embaratecimento dos custos associados às tecnologias centrais deste
paradigma. Estes últimos são estimados, em termos globais, em cerca dos
20% ao ano, pelo que se pode assumir, assim, a ultrapassagem definitiva do
chamado “paradoxo da produtividade”, através do qual R. Solow, até há
poucos anos, caracterizava o impacto pouco “visível” destas
tecnologias na economia como um todo.

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CAPÍTULO 2
A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global
Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

2. A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

Justamente o que permite a consolidação do teletrabalho é o facto deste, como


conceito e prática, ter acabado por se metamorfosear num amplo domínio de
desenvolvimentos e inovações, de que a globalização do comércio e dos mercados,
assente na difusão da internet e do comércio electrónico, constituirá o aspecto mais
saliente, podendo afirmar-se que constitui um instrumento de transição para algo mais
lato e em fase de construção - a Sociedade da Informação.

Conquanto se trate então de uma realidade à escala universal a presente secção


debruçar-se-á muito sinteticamente sobre a situação actual do teletrabalho nos espaços
económicos onde o seu desenvolvimento é mais notório, i.é., nas Comunidades
Europeias, nos EUA e no Japão.

2.1. A Evolução do Teletrabalho na Europa Comunitária

Com base em inquéritos conduzidos no âmbito do projecto ECaTT*, co-financiado


pelas estruturas comunitárias, e que incide sobre 10 dos 15 países que presentemente
integram as Comunidades Europeias (CEs), é possível concluir que o número de
teletrabalhadores existentes neste espaço económico abrangia, em 1999, entre 6 a 9
milhões de indivíduos.

A discrepância de tais resultados relaciona-se com a acepção mais ou menos restrita


do que se entenda por teletrabalhador, sendo que o primeiro daqueles números
contabiliza os indivíduos que recorrem a estes métodos de trabalho de forma
sistemática (6.049 milhões), enquanto o último considera ainda o conjunto de pessoas
que já se iniciou na aplicação desses mesmos métodos, o que permitiu apurar um
número ligeiramente superior a 9 milhões de efectivos.

Os elementos acabados de referir são, no essencial, consistentes com os apurados


através de outro inquérito realizado (ETD)**, em data próxima do anterior, e também

* ECaTT (“Electronic Commerce and Telework Trends: Benchmarking Progress on Electronic Commerceand New Methods of
Work), in “Status Report on European Telework, quadro p.26)
** European Telework Development, idem

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Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

co-financiado pelas Comunidades Europeias (CEs), que permitiu estimar em cerca de


6.7 milhões o número de trabalhadores aqui existentes, tomando como base
aproximada a acepção restrita do termo a que acima se aludiu.

Uma vez que os inquéritos conduzidos através desta última fonte vêm sendo repetidos
nos últimos anos, é ainda possível concluir que o teletrabalho é uma realidade em
expansão na Europa, dado os acréscimos registados entre 1996/1997 e 1997/1998
terem ascendido, respectivamente, a 300% e 45%, o que reflectirá, quanto ao primeiro
destes valores, numa situação de sub-avaliação na difusão deste fenómeno no ano
inicialmente considerado.

Em termos de representatividade númerica, e excluindo os teletrabalhadores


“iniciados”, acima referidos, o inquérito ECaTT permite ainda apurar que a forma
mais relevante na prestação de teletrabalho é “ao domicílio”, a que corresponde
48.7% dos efectivos totais; aos teletrabalhadores “móveis” cabe cerca de 38% do
total, surgindo por fim os teletrabalhadores “por conta própria”.

Noutro plano, no da distribuição intra-comunitária do número de teletrabalhadores e


das respectivas tipologias, e recorrendo às mesmas fontes, verifica-se existir fortes
discrepâncias, sendo de salientar que a Holanda e os países nórdicos (Suécia,
Dinamarca e Finlândia), se encontram numa fase evolutiva claramente mais avançada
do que os remanescentes; em contraposição os chamados países do Sul, grupo que
engloba a Espanha, a Grécia e Portugal, conhecem as situações de menor
desenvolvimento do fenómeno em consideração.

Por detrás de tais assimetrias, que se ampliarão ainda, caso se considerasse os países
de Leste que pretendem ingressar nas Comunidades Europeias está, na perspectiva
tecnológica, o desenvolvimento desigual da implantação das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs) , que pode ser sintetizado num único indicador, “o
número de postos de Internet por mil habitantes”. Este aspecto é ilustrado através do
Gráfico 1, surgindo como situações extremas referentes ao ano de 1998, os casos da

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Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

Finlândia e da Grécia que apresentam, respectivamente 89 e 5 postos por mil


habitantes*.

Gráfico 1 - Postos de Internet por 1000 habitantes, 1998 (dados de fim de período)

Finland

Denmark

Sw eden

Netherlands

UK

Austria

Belgium/Luxembourg

Germany

Ireland

France

Spain

Italy

Portugal

Greece

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0

Source: EITO 1999, page 60, from RIPE

Outro factor condicionante do desenvolvimento do teletrabalho na Europa é a falta de


uma cultura empresarial adequada, o que parece colocar-se a todos os níveis de
decisão e em todas as áreas de actividade, podendo-se concluir a partir dos
apuramentos efectuados através do inquérito ECaTT, já atrás citado, que o
desenvolvimento das TICs por tipo de empresa, considerando “Grandes”, “PMEs” e
“Microempresas”, se revela mais desfavorável no âmbito desta última tipologia. Esta
afirmação é documentada através dos gráficos 2-A e 2-B que se reportam à
percentagem de empresas nos escalões de dimensão, número de computadores, acesso
à internet, e-mail, Electronic Data Interexchange (EDI) e videoconferência.

*Cf. “Status Report on European Telework” p. 31

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Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

Gráfico 2 - A

120
99 96
100 83
71 74
80 66
60 40
48
40 21
20
0
Grandes PMEs Micro

Computadores PC c/ Modem Acesso Internet

Fonte: SPECTRUM ICT Survey 1998

Gráfico 2 - B

100
77
80
60 48
41
40
24 20 23
20 10
4 2
0
Grandes PMEs Micro

E-mail EDI Videoconf


Fonte: SPECTRUM ICT Survey 1998

No entanto, o espaço europeu apresenta alguns pontos fortes de que se salienta o


esforço das instâncias comunitárias no desenho e na implementação de políticas

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Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

tendentes à afirmação da Sociedade da Informação e do teletrabalho, aspecto que será


desenvolvido em secção própria deste relatório; para além disso importa referir
também o esforço efectuado nestes âmbitos pelos Governos e por diversos parceiros
sociais.

2.2. A Experiência Americana

Segundo a Cyber Dialogue cifrava-se em 15.7 milhões o número de teletrabalhadores


nos EUA, resultado reportado a meados de 1998*, isto tomando por teletrabalhador o
indivíduo que trabalhe em casa por conta de outrém e que durante um mês dispenda,
no mínimo, um dia inteiro de trabalho sob esta forma de prestação de serviço.

O mesmo estudo identificava três segmentos de teletrabalhadores (“a tempo integral”,


“sob contrato” e “a tempo parcial”). É de referir que ao primeiro grupo
corresponderiam 7.4 milhões de trabalhadores, prestando uma média de 18 horas
semanais de serviço domiciliário. De acordo com a mesma fonte cerca de metade de
tais efectivos estariam adstritos a pequenas empresas enquanto às grandes empresas
caberiam 24% dos activos em causa.

Quanto ao grupo dos “teletrabalhadores sob contrato” atingiriam, na mesma data e


segundo a mesma fonte, 4.0 milhões de pessoas afectas na sua esmagadora maioria
(90%), a empresas com menos de 100 trabalhadores.
Finalmente e no que respeita aos teletrabalhadores “a tempo parcial”, cujo número
ascenderia a 4.3 milhões, é de referir que corresponderão maioritariamente a
reformados ou a indivíduos que, no contexto de uma economia de pleno emprego,
complementam o seu nível de rendimentos por recurso a estas novas formas de
actividade.

Os EUA são, assim, o país com maior número de teletrabalhadores, o que se poderá
relacionar com o facto de ser também aqui que o montante de dispêndios “per capita”
em TICs atinge os níveis mais elevados. Com efeito, este último indicador revela que,

*Cf. “Status Report on European Telework”, ps. 96/7

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Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

em média, os investimentos efectuados neste âmbito superam em mais de 80% o


nível correspondente alcançado na Europa comunitária, disparidade que se poderá
relacionar, de resto, com o facto de serem os americanos os líderes incontestados nos
domínios tecnológicos em consideração.
Esse aspecto é salientado no Gráfico 3, e refere-se ao ano de 1998.

Gráfico 3 – Investimentos em TICs Per capita, 1998 (Fonte: EITO, 1999, p. 399)
expenditure, 1998

USA

Japan

W. Europe

0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1000,00 1200,00 1400,00 1600,00 1800,00 2000,00

Por outro lado, constata-se ainda, que é neste país que o “e-commerce” apresenta
maior nível e dinâmica de desenvolvimento, traduzido num volume de negócios que,
em 1999, terá ascendido a 33.1 mil milhões de dólares, a que terá correspondido um
acréscimo de 120% face ao ano precedente. Relativamente ao ano em curso (2000),
prevê a mesma fonte a duplicação do valor absoluto mencionado*.

*De acordo com um estudo recente do “Boston Consulting Group” (BCG), citado in “ Portaldebolsa.com” (19/04/2000).

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Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

A existência de um espírito empresarial altamente desenvolvido constituirá, assim, o


factor mais favorável para tirar partido de um quadro sócio-económico em mutação,
sendo que a mais rápida difusão do teletrabalho nos EUA será também favorecida
pela reduzida regulamentação do mercado de trabalho, ao invés do que acontece
nalguns países comunitários.

2.3. A Experiência Japonesa

No Japão o arranque do teletrabalho ocorreu, em finais da década de oitenta, por


iniciativa empresarial, tendo-se assistido ao empolamento da vertente tecnológica
(criação de telecentros e outras entidades afins), com a correspondente
subalternização da componente humana.
Este aspecto será tanto mais crítico quanto se reconheça, na sequência de K.
Takemura*, a aversão profunda dos japoneses a trabalhar longe da sua empresa, pelo
que as questões do desenvolvimento do teletrabalho se colocarão ao nível da mudança
de mentalidades, de valores e de sistemas sociais, sobretudo, na capacidade de superar
a “padronização” das soluções reinantes.

O Japão defrontou, pelo menos, durante toda a última década, uma profunda crise
estrutural que acabou por ditar o esmorecimento das tentativas acima referidas, que
parecem, não obstante, terem sido reacendidas a partir de meados desse decénio, dado
o empenhamento dos sectores público e privado, este último pressionado pelas
prementes necessidades de proceder à reengenharia dos métodos de trabalho e dos
processos de negócio.

Foi ainda criada, já em 1999, a JTS (Japan Telework Society), enquanto o sector
público tomou ou planeia tomar algumas medidas de fundo como a criação de uma
entidade especializada, com o nome provisório de “Centro de Consultoria e
Experiência em Teletrabalho”.

* Citado por Schneider B. e Rosensohn N. in “Télétravail, Realité ou Espérance” (PUF), Paris, 1997.

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Capítulo 2 – A Evolução Recente do Teletrabalho à Escala Global

De acordo com a informação disponível os teletrabalhadores japoneses ascenderiam,


em meados de 1999 a 2.09 milhões*, reportando-se este valor aos “colarinhos
brancos”, que recorreriam a estes métodos de trabalho de forma regular ou
esporádica. No entanto, os elementos referidos que apontam, inclusivé, para que no
Japão o estádio evolutivo do teletrabalho tenha superado o da Europa Comunitária,
carecem de confirmação através do recurso a outras fontes.

Há, no entanto, um aspecto em que é manifesto o avanço japonês e que se prende com
os dispêndios “per capita” em TICs, que, no ano em referência (1998), superavam em
mais de 20% o correspondente nível calculado para as Comunidades Europeias**.

____________________________________________________________
* Citado em “Status Report on European Telework” a partir de dados de Wendy Spinks (p. 26).
** Com base nos elementos reproduzidos na publicação citada na nota anterior, baseado em EITO (1999), p. 32.

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CAPÍTULO 3
O Teletrabalho em Portugal
Capítulo 3 – O Teletrabalho em Portugal

3. O Teletrabalho em Portugal

No presente capítulo procurar-se-ão focar, levando em conta a escassez de elementos


disponíveis neste domínio, aspectos como a dimensão que o fenómeno assume entre
nós, relevando as suas especificidades, dando particular ênfase aos factores
condicionadores da sua disseminação e abordando, por fim um aspecto particular, o
das estruturas de teleformação disponíveis em Portugal.

3.1. O Caso Português - Caracterização Genérica do Teletrabalho

De acordo com os apuramentos efectuados no âmbito do inquérito conduzido pelo


ETD, já atrás referido, o número de teletrabalhadores portugueses ascenderia, em
1998/99, a cerca de 100 000 indivíduos, ou seja, o correspondente a 2.2 % da força de
trabalho, sendo predominante a forma “domiciliária” e registando o fenómeno um
acréscimo da ordem dos 67 % face ao ano precedente*.

Levando em consideração os elementos acima apresentados e enquadrando-os no


contexto mais geral do desenvolvimento sócio-económico, através da consideração do
Produto Nacional Bruto (PNB), e articulando este indicador ao grau de
desenvolvimento das TICs (por recurso a um conjunto de indicadores relevantes como
a capitação dos gastos neste âmbito específico, o número de PCs e o de aderentes à
Internet), e cotejando os resultados assim obtidos com os apurados para os restantes
países Comunitários, conclui-se pela inclusão de Portugal no grupo dos países onde o
teletrabalho se encontra numa fase mais rudimentar de desenvolvimento**.

Com efeito, e conforme já referido em ponto anterior deste trabalho, Portugal


integrava o “grupo dos países do Sul”, conjuntamente com a Espanha e a Grécia, que
apresentava índices mais desvantajosos nestes domínios, verificando-se ainda que
apenas aquele último país estaria numa situação mais penalizante do que a portuguesa.

* cf. “Status Report on European Telework / 1999”, p. 26.


** idem, p. 75.

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Capítulo 3 – O Teletrabalho em Portugal

No quadro seguinte, os indicadores revelam claramente a situação em Portugal eivada


de acentuada fragilidade:

Quadro 1
PNB per TICs em % TICs per PCs por 100 Utilizadores
capita ($ US) do PNB, capita (ECU), “colarinhos de Internet
1997 1998 1998 brancos”, 1997 por 1000
habitantes,
1997
Portugal 10,079 4.92% 477 27 19
UE país mais baixo Portugal 3.93% 452 Portugal 11
UE país mais alto* 30,927 6.49% 1,554 85 148
* excluindo Luxemburgo

É certo que, não obstante a situação descrita, se assiste a alguns sinais que poderão
constituir um forte estímulo à superação do desfavorável quadro estrutural de inserção
do teletrabalho, onde pontificarão o reiterado voluntarismo dos poderes políticos, que
visam, designadamente, a universalização do acesso das populações à Internet,
independentemente de quaisquer critérios de natureza sócio-económica e/ou
geográfica (cf. as declarações públicas, os projectos e as acções referentes à instalação
de postos em todas as Juntas de Freguesia e nas estações dos CTTs).

Mas para além do primado dos esforços públicos, que justamente constituirá um traço
característico do grau de desenvolvimento do teletrabalho entre nós, que incluem
ainda o “Livro Verde sobre a Sociedade da Informação” (1997), verificam-se
alterações substantivas no plano das instituições de suporte e no das acções de
propaganda/difusão do fenómeno de que constituem exemplos a criação da APDT,
Associação Para o Desenvolvimento do Teletrabalho, que em 1998 organizou, em
Portugal, o “Telework’ 98” e, que em Abril de 2000, co-organizou, no Rio de Janeiro,
a REDEScoberta 2000, iniciativa que a par das comemorações dos 500 anos do
“achamento do Brasil”, reuniu no Rio de Janeiro, durante uma semana, um conjunto
de personalidades da sociedade portuguesa e brasileira para discutirem o advento da
internet, da nova economia, das novas tecnologias de informação, das novas formas
de trabalho.
Além desse debate, a conferência no Brasil esteve ligada por videoconferência à

19
Capítulo 3 – O Teletrabalho em Portugal

Conferência Ministerial do Conhecimento e da Sociedade de Informação, realizada


em Lisboa, que reuniu os ministros da União Económica.

3.2. Factores Condicionantes do Desenvovimento do Teletrabalho

De acordo com um estudo recente a situação incipiente de desenvolvimento do


teletrabaho em Portugal relacionar-se-ia com as práticas de gestão prevalecentes nas
empresas nacionais, com a existência de condicionantes tecnológicas e, ainda, com a
inexistência de enquadramento jurídico-laboral que regulamente a situação do
teletrabalhador, embora a importância desta última vertente não seja conclusiva*.

É de salientar que o trabalho em referência assenta numa amostra constituída por 39


empresas prestadoras de serviços “avançados”, pelo que as conclusões apresentadas
não são passíveis de extrapolação para o universo empresarial português, assumindo
antes natureza de “case study”.

Assentando então neste pressuposto conclui a autora, por recurso a técnicas de análise
factorial, que os factores mais relevantes para explicar o fenómeno no domínio das
práticas de gestão prevalecentes, são o “empowerment”, a “resistência à mudança”, a
“liderança e motivação” e ainda “obstáculos do âmbito psicossocial, por parte dos
teletrabalhadores”.

Quanto às condicionantes tecnológicas são de destacar o “atraso tecnológico da


empresa”, a “rápida evolução tecnológica”, o “investimento necessário em formação
nas TICs”, a “segurança da informação”, e ainda factores relacionados com
telecomunicações (“infraestrutura da empresa”, “nível de desenvolvimento geral” e
“seus custos”).

* Cf. Sousa , M. J., in” Teletrabalho em Portugal – Difusão e condicionantes” (1999), Lisboa.

20
Capítulo 3 – O Teletrabalho em Portugal

Ao nível de análise em consideração deparamo-nos, naturalmente, com factores


explicativos de elevada complexidade, que reflectem, no domínio das práticas de
gestão, para além de outros elementos mais clássicos, reportados quer à estrutura quer
à cultura organizacionais, um novo fenómeno que se relaciona com o impacto da
redistribuição da autoridade decorrente das mudanças a nível da distribuição da
informação que derivam do reforço das TICs e, de forma mais directa, da
implementação do teletrabalho (“empowerment”).

Se no domínio organizacional o nível da inovação se revela insuficiente, no plano


tecnológico verifica-se igualmente um fraco nível inovatório reinante entre as
empresas portuguesas, cujas PMEs conhecerão, em geral, elevados níveis de
analfabetismo informático, o que constitui um poderoso inibidor do desenvolvimento
do teletrabalho. A este último propósito é ainda relevante a reduzida abertura
concorrencial reinante no sub-sector telecomunicações, o que corresponde a uma
fraqueza geral que aflige também os países integrantes da Europa comunitária.

Assim, ter-se-á de reconhecer que o nosso país não se encontrará em situação


favorável existindo, ao invés, factores poderosos que tendem a limitar o rápido
desenvolvimento da Sociedade da Informação (S. I.) e do teletrabalho, pelo que é
crucial a importância da adopção de medidas voluntaristas, que os poderes públicos
vêm de resto implementando, como se aflorou na sub-secção precedente.

3.3. As Estruturas de Teleformação em Portugal

Trata-se duma vertente que potencia, sobretudo, melhorias no domínio da


empregabilidade, um dos pilares em que assenta a política comunitária de emprego,
que haveremos de aflorar em ponto próprio deste trabalho, e que se prende com a
acentuada inadequação existente entre a oferta e a procura de especializações, que se
verifica actualmente nos mercados de trabalho.

Com efeito, a erupção de enormes capacidades tecnológicas e de conteúdos


informacionais que caracteriza a S.I. não tiveram correspondência na capacidade de
apreensão proporcionada pela formação tradicional, pelo que as exigências de
aprendizagem contínua que caracterizam os tempos actuais, abrem boas perspectivas à
teleformação, tipologia de ensino que conhece grau de desenvolvimento mais
avançado nos EUA.

21
Capítulo 3 – O Teletrabalho em Portugal

Relativamente à situação em Portugal é de referir que se trata duma área em que, num
passado ainda recente, já tivemos tradições de relevo (Telescola), verificando-se
existir, na actualidade, uma situação que se pauta por flagrantes debilidades da oferta
e que defronta, correspondentemente, níveis de procura modestos.

Assim, o leque de cursos existentes é reduzido, dado cobrir 4 áreas temáticas, sendo o
número de entidades detentoras de alguma experiência na implementação desta
tipologia de formação também limitado, abrangendo 23 unidades*, sendo de frisar os
fraquíssimos níveis de inter-actividade entre os distintos suportes de ensino
disponíveis. Este aspecto será revelador, em última análise, da insistência em
metódos de formação presencial, sendo de assinalar, para além disso, que ocorrem
ainda outras debilidades, mormente, no plano da tutoria a qual, na melhor das
hipóteses, existe apenas em determinados períodos do dia.

Deste modo a afirmação destes métodos de ensino carece, para além da superação dos
óbices tecnológicos existentes, sobretudo, de modificações no plano organizacional e
na de orientação para o mercado, abandonando, em definitivo, o recurso às protecções
sistemáticas propiciadas pelos programas comunitários que presentemente lhes dão
suporte.

*Cf. “Triunvirato – Relatório Final”, ps. 10-12, ISQ, Dezembro de 1999.

22
CAPÍTULO 4
Vantagens e desvantagens associadas ao desenvolvimento
do teletrabalho
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

4. Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

O teletrabalho corresponde a uma alteração profunda nos modos de vida, de trabalho e


de organização da actividade empresarial, sendo potenciado pelo mesmo veículo que
o torna incontornável - o progresso tecnológico.

Esses efeitos incidem não só sobre a população activa, em especial, sobre os seus
sujeitos directos, os teletrabalhadores, como contribuem para acelerar o redesenho das
estruturas empresariais e repercutem-se ainda em domínios “externos” como o
ordenamento e o ambiente.

Pelo menos desde o início da década transacta que existem estudos de avaliação dos
efeitos globais e sectoriais do teletrabalho, baseados em metodologias custo/benefício,
que incidem sobre países, grandes regiões ou sobre sectores específicos, e que
constituem um quadro internamente coerente de apreciação do fenómeno em análise;
porém, apenas se aludirá a esses trabalhos de forma pontual devido, sobretudo, à
precaridade dos resultados obtidos em cada caso*.

4.1. Os efeitos a nível do emprego e as repercussões sobre os teletrabalhadores

O teletrabalho deve ser visto, antes de mais, como um processo de reafectação de


trabalho, à escala nacional e global, que se insere no contexto mais vasto da
“terciarização” da economia, da erupção do primado das “competências”, com as
consequentes exigências no plano da qualificação/requalificação da força de trabalho,
e, ainda, na desregulamentação dos mercados laborais.

Uma particularidade desta nova forma de trabalho consubstancia-se, ainda, nas


possibilidades de inserção que veio abrir a determinados grupos da população,
particularmente dos que estão condicionados pelas acessibilidades físicas (deficientes,

* Cf. relativamente, sobretudo, ao primeiro âmbito mencionado, os trabalhos reportados à experiência do continente norte-
americano e analisados no âmbito do estudo de Shafizadeh K.R. et allia, intitulado “The costs and benefits os telecommuting: an
evaluation of macro-scale literature” (University of California, Davis, 1987).

24
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

populações localizadas em pontos remotos), ou pela prevalecente divisão social do


trabalho entre sexos, particularmente pelo sexo feminino.

4.1.1 Os efeitos a nível do emprego

No plano do emprego a tendência mais imediata que se pode associar ao novo


paradigma tecno-económico é o reforço do sector Serviços, o que corresponde a uma
evolução que é anterior à afirmação das TICs mas que é intensificada pelo
desenvolvimento destas tecnologias.

Com efeito o impacto desta última vertente consubstancia-se no reforço das


inovações, a nível de processos e de produtos, onde o aspecto mais saliente é a
“apropriação” por parte deste sector de actividade, de algumas das funções antes
preenchidas pelos outros sectores, em especial, pela Indústria. Esta alteração decorre,
sobretudo, da decomposição das tarefas no plano da sua componente em informação,
a matéria-prima dos tempos actuais.

Esta evolução acompanha uma mudança profunda no domínio das especializações


requeridas pelo mercado de trabalho, que privilegia os indivíduos que concebem e
aplicam as tecnologias centralmente envolvidas, i.é., as “competências”, em
detrimento dos outros participantes no processo. Poder-se-á, então, dizer que “o
trabalhador típico da sociedade da informação é um agente dotado de elevados níveis
de instrução e flexibilidade, que facilmente se adapta a novas posições e
responsabilidades, que se insere em equipas e grupos de trabalho e que é receptivo à
mudança”*, e sendo ainda difundida a ideia de que este trabalho adaptativo,
inteligente, incorpora em si mesmo o capital.

Por outro lado os efeitos da dinâmica tecnológica, associada às pressões competitivas,


traduziram-se na desregulamentação dos mercados laborais, centrada na crise do
“clássico” contrato de trabalho, tendo como contrapartida a precarização do emprego,
que assume diversas formas, como o trabalho a tempo parcial, o trabalho temporário e
o trabalho sob contrato a prazo, isto para além de se assistir ao reforço do chamado
trabalho independente.

• Cf. Simões, J.C. in” O teletrabalho em Portugal: Asituação actual e as perspectivas de desenvolvimento”, ISEG, p..35.

25
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

Resulta de tudo isto profundas assimetrias no domínio da repartição de rendimentos,


que se vêm acoplar a uma outra tendência “pesada” referente a este mesmo âmbito e
que consiste na perda de posições dos salários.

Verifica-se, assim, por exemplo, que em França, o crescimento dos custos salariais se
vem atrasando, de forma sistemática, face ao aumento da produtividade, evolução que
se vem fazendo sentir, sensivelmente, desde os inícios da década de oitenta; em
particular, nos últimos 4-5 anos esse diferencial assumiu um valor de cerca de 1.5%
ao ano*.

Um contexo competitivo como o atrás descrito e o facto de que as TICs


corresponderem a tecnologias cujo desenvolvimento estará longe de ter atingido a
maturidade, explicarão ainda as fortes exigências existentes no plano da formação de
recursos humanos.
Assim, as qualificações disponibilizadas revelam-se inadequadas face às exigidas pelo
mercado, o que incide, inclusivé, sobre a situação dos jovens que acabam de
abandonar o aparelho escolar; existe, por outro lado, a necessidade premente de que a
força de trabalho assegure um desempenho adequado, o que resulta no seu
envolvimento em processos de formação contínua.

4.1.2. As repercussões sobre os teletrabalhadores

Na presente sub-secção procurar-se-à abordar uma questão que encerra diversos


aspectos, envolvendo, por vezes, diversos ângulos contraditórios entre si, e que se
centra nas vantagens e desvantagens que o teletrabalho apresenta na óptica dos seus
sujeitos directos - os teletrabalhadores.

Assim, para analisar esta matéria importa não esquecer aspectos tão relevantes como o
facto dos teletrabalhadores não correspondem a uma realidade homogénea,
englobando, antes, distintas categorias, de que as mais visíveis envolverão, para os
fins em consideração, a clássica dicotomia encerrada na situação na profissão, i.é., os
trabalhadores “por conta própria” e os “por conta de outrém”.

*Cf. o artigo “Fair (to moderate) stands the wind for France” in “Monthly International Review” , nº 93, February 2000.

26
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

Relativamente a estas duas categorias distintas, a forma de percepcionar os


“benefícios” e os “custos” da adesão a esta nova modalidade de trabalho será por
certo diferenciada; importa reconhecer, por outro lado, que diferentes indivíduos,
apesar de integrados num mesmo estatuto, avaliam de forma muito díspar as
vantagens/desvantagens que parecem estar associadas ao teletrabalho.

4.1.2.1. Efeitos benéficos

Atendendo ao que foi exposto anteriormente, importa começar por considerar os


aspectos potencialmente favoráveis envolvidos pelo teletrabalho, para o que se reterá,
salvo indicação em contrário, a óptica do teletrabalhador domiciliado:

• Uma maior qualidade de vida, que decorre da possibilidade de repartir, de forma


livre, os períodos de trabalho e de ócio, e que passa também pela
redução/minimização de deslocações ditadas por fins profissionais ;
• O reforço da independência, dada a redução de controles imediatos e,
consequentemente, da auto-disciplina necessária para responder, de forma e em
tempo adequados, às responsabilidades que sobre si impendem;
• Potencial aumento da responsabilização e da motivação do trabalhador,
envolvendo-o em compromissos de aprendizagem e valorização profissional, o
que dependerá, sobretudo, da natureza/interesse das tarefas a executar;
• Redução drástica das barreiras temporais e geográficas de acesso à informação,
via Internet, propiciando o acesso a um manancial de informação inesgotável, e
que, inclusivé, se poderá repercutir muito favoravelmente no plano das
oportunidades de trabalho (benefício universal).

4.1.2.2. As desvantagens do teletrabalho

Relativamente a esta vertente serão de mencionar os aspectos seguintes, dada a sua


maior relevância:

• O reforço do isolamento, eliminando a satisfação relacional de trabalhar na


empresa, e potenciando as angústias de trabalhar no domicílio, sobretudo no caso
das tarefas terem pouco interesse/potencial de valorização;

27
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

• Potencia a degradação de competências, pelo que se impõe o estabelecimento de


regras aferidoras da eficácia que proporcionem a devida salvaguarda dos
interesses do teletrabalhador, inclusivé nos processos de promoção na carreira;

• O facto de o teletrabalho se encontrar muitas vezes associado à imposição de


sistemas de trabalho muito exigentes, correspondendo a um elo na exteriorização
de custos da empresa, em que o teletrabalhador assume o processo de precarização
das condições de emprego e de trabalho.

De acordo com esta última perspectiva, “trabalhar em casa significaria trabalhar


demasiado”*, o que é também aplicável aos teletrabalhadores independentes;

• Assim, esta forma de trabalho relacionar-se-à com a insegurança laboral e social,


o que é potenciado pelo vazio legislativo prevalecente neste âmbito e que afecta,
em especial, os teletrabalhadores dependentes;
• O teletrabalho contribui ainda para estabelecer a “promiscuidade” entre vida
profissional e privada, dado se tornar mais difícil estabelecer as fronteiras entre,
por um lado, trabalho e lazer e, por outro, entre vida profissional e vida familiar,
de que pode resultar em escasso apreço social e reduzida auto-estima.

4.2. Efeito a nível das empresas

O desenvolvimento da sociedade da informação e, em consequência, do teletrabalho,


veio exigir a introdução de alterações na organização empresarial, com substituição
das estruturas hierarquizadas e estabelecidas na base da existência de tarefas simples,
características do modelo industrial, por estruturas descentralizadas, articuladas em
rede e com recurso a funções bem mais complexas.

Assim, à rigidez veio substituir-se a flexibilidade organizacional que, em larga


medida, decorre da dinâmica da envolvente geral do mundo dos negócios, em que a
tomada de decisões no topo da pirâmide se substitui agora pela delegação de

*Cf. Olson M.., citada por Fernández, Antonio B. in “Teletrabalho”, p. 125.

28
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

competências e pela aposta na capacidade decisória das equipas directamente


envolvidas nos processos de trabalho.

Em termos operacionais esta evolução conjuga-se, como já atrás se assinalou, com a


fragmentação dos processos produtivos, o que é conseguido através do reforço da
externalização, visando a melhoria da capacidade competitiva.

4.2.1. Principais benefícios derivados do teletrabalho

• Aumento significativo da produtividade, que decorre quer da redução do


absentismo quer da concentração na tarefa e que, já na primeira metade da década
de noventa, ascenderia a valores da ordem dos 15 a 20%*.
Noutros termos, isto equivale à redução unitária nos encargos variáveis de
natureza salarial, sendo estes aumentos de produtividade obtidos ainda por via
indirecta através da redução de encargos fixos (rendas imobiliárias e manutenção),
dada a eliminação de parte do espaço físico anteriormente necessário;
• Menor exposição quanto à incidência de factores externos negativos como greves,
engarrafamentos e acidentes de trânsito;
• Maior flexibilidade quanto à retenção e selecção de pessoal, permitindo ainda a
supressão de postos de trabalho excedentários quer no âmbito das tarefas
externalizáveis quer quanto ao nível das cadeias intermédias de comando.

4.2.2. Problemas mais relevantes associados ao desenvolvimento do teletrabalho

• A oposição dos quadros directivos sem formação adequada, que opõem fortes
resistências à mudança, temendo perder o controle da situação, num contexto onde
se colocam muitas interrogações e poucas certezas e de que se salientará o “medo”
da tecnologia. Atendendo à complexidade dos problemas existentes poder-se-à
mesmo apontar a necessidade de “reconversão mental” desta categoria de activos;

*Cf. Schneider , B. e Rosensohn, op.cit., p. 116, sendo ainda de salientar que este efeito é, de longe, o mais significativo nas
quantificações apuradas através das estudos custo/benefício analisadas por Shafizadeh et allia, a que atrás se aludiu.

29
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

• Dificuldades no controle de tempos e qualidade do trabalho e, ainda, no plano da


confidencialidade da informação. Estes problemas só poderão ser superados
através da existência de planos de trabalho claros e da fixação de condições
técnicas relacionadas com a necessidade de assegurar a continuidade temporal da
cadeia de informações, os lugares de produção da informação ou dos dados. Este
último aspecto é particularmente crítico se se levar em conta os problemas
crescentes associados à “pirataria informática”;

• Os custos de investimento, tanto mais elevados quanto maior for o número de


assalariados a inserir nestes esquemas de trabalho, e que comporta a aquisição de
material informático e de comunicações, o que, no limite, corresponde a
apetrechar o chamado “escritório virtual”. Por outro lado, esta opção acarreta
ainda custos em formação, particularmente ao nível técnico.

4.3. Efeitos Externos

Em termos de externalidades o teletrabalho tem repercussões em dois planos distintos


mas profundamente articulados entre si, constituindo factor determinante no que
concerne ao ordenamento e à defesa do ambiente.

4.3.1. O teletrabalho e o ordenamento

O padrão de desenvolvimento urbano vem-se caracterizando pelo recurso crescente ao


modo rodoviário de transporte e dentro deste ao meio de transporte próprio, muitas
vezes utilizado de forma individual e nos chamados “períodos de ponta”.

Não existindo certezas relativamente a aspectos específicos relacionados com os


impactos do teletrabalho no domínio do tráfego, importa, no entanto, reconhecer as
boas potencialidades que aquele encerra para contribuir para o descongestionamento
viário, ao reduzir as necessidades de deslocação e, sobretudo, ao potenciar o recurso a
horários menos penalizadores.

Esta perspectiva é tanto mais relevante quanto se recorde que os engarrafamentos de

30
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

trânsito, que ocorrem nas áreas de influência das grandes metrópoles, constituem
factores de grande onerosidade colectiva, em termos de perdas em tempo e recursos,
podendo, muitas vezes, os seus efeitos ser minimizados ou mesmos evitados através
duma redução relativa do tráfego*.

Por outro lado, e na perspectiva do médio/longo prazos, o teletrabalho poderá


constituir um efectivo instrumento de ordenamento, contribuindo para o
estabelecimento de um padrão de desenvolvimento urbano menos desequilibrado,
através do reforço das cidades de média dimensão e para evitar a desertificação das
zonas rurais, para o que é necessária a implementação de infraestruturas colectivas (de
saúde, de formação, culturais, etc.), que sejam atractivas para a manutenção/fixação
de populações.

4.3.2. O teletrabalho e a defesa do ambiente

Para apurar os efeitos do teletrabalho neste domínio, que se centram na redução de


consumos energéticos, é necessário levar em conta um conjunto de parâmetros onde
pontificam, para além do número de teletrabalhadores, as distâncias a percorrer, os
modos de transporte e as potências dos veículos utilizados.

Numa segunda fase há que valorizar os custos das emissões gasosas correspondentes
àquela redução de consumos, o que corresponde ao impacto positivo a nível da
qualidade do ar, para o que se estabelecem hipóteses que passam por:

• Equiparar os custos daquelas emissões ao custo evitado das medidas de controle


da poluição;
• Equiparar aqueles custos aos custos estimados que resultam dos problemas de
saúde assim criados, e que envolvem, nomeadamente, situações cancerígenas).

* Cf. Schneider, B. e Rosensohn, N., op. cit, que relativamente a 1991 e ao aglomerado parisiense adiantam, a propósito, o valor
de 15% .

31
Capítulo 4 – Vantagens e Desvantagens Associadas ao Desenvolvimento do Teletrabalho

Assim, e de acordo com as premissas acima apresentadas, um estudo conduzido em


1994 pelo DOE (Department of Energy/USA), concluiu que o teletrabalho
contribuiria para evitar custos ambientais cuja valorização corresponderia, de acordo
com a natureza do elemento poluente, a 7.6% dos teores em óxidos de nitrógeneo, a
3.2% em monóxido de carbono e a 18.0% em hidrocarbonetos, isto considerando a
situação de partida então vigente*.

_________________________________________________________
* Cf. DOE, “Energy, Emissions, and Social Consequences of Telecommuting”, 1994, citado por Shafizadeh, K.R. et allia, na
obra atrás referida, ps. 13 e 35)

32
CAPÍTULO 5
O Papel das Políticas Comunitárias
Capítulo 5 – O Papel das Políticas Comunitárias

5. O Papel das Políticas Comunitárias*

Já desde finais da década de oitenta que as Comunidades Europeias concedem apoio a


projectos relacionados com o teletrabalho, tendo constituído iniciativa pioneira a
identificação das suas potencialidades no aprofundamento das oportunidades de
emprego nas zonas rurais, acção levada a cabo no âmbito do RACE.

Na década de noventa assistiu-se à intensificação dos apoios ao desenvolvimento da


sociedade da informação e ao teletrabalho, tendo como base a existência de uma
política de construção da Sociedade da Informação (S. I.) europeia, assente na
liberalização das telecomunicações, no apoio ao desenvolvimento tecnológico e na
criação de condições apropriadas para os novos negócios. Estas orientações tiveram
como contrapartida a implementação de políticas sociais, tanto mais necessárias
quanto se recorde que a Europa Comunitária conhecia níveis particularmente elevados
de desemprego, situação, de resto, ainda não completamente superada.

Historicamente são, assim, de salientar, para além do lançamento e suporte a projectos


focalizados no teletrabalho, como o PATRA, o MITRE e o SYNERGY, o
desenvolvimento de acções de elevado escopo de que se salientam:

• O lançamento, em 1993, do “Livro Branco” intitulado “Crescimento,


Competitividade, Emprego, os Desafios e o Caminho para o Século XXI”, onde se
fixavam as prioridades para preparar a Europa para a S. I.;

• A implementação, em 1994, de um Plano de Acção contendo dez aplicações


destinadas a lançar a S. I., sendo a primeira a que corresponde justamente ao
desenvolvimento do teletrabalho; este Plano seria actualizado em 1996, com a
criação do 4º Programa-Quadro;

* Neste capítulo procurar-se-à fazer uma síntese dos elementos tidos por relevantes no âmbito em consideração, apresentados in
“Status Report on European telework, New Methods of Work 1999”.

34
Capítulo 5 – O Papel das Políticas Comunitárias

• A apresentação, em 1996 e 1997, de dois “Livros Verdes” relacionados com os


aspectos sociais envolvidos pelo teletrabalho, debatendo, designadamente, as
necessidades de protecção dos teletrabalhadores;

• A decisão, em 1998, de financiar o 5º Programa-Quadro para o Desenvolvimento


da Pesquisa e da Tecnologia, contendo a acção-chave “Tecnologias da Sociedade
da Informação (IST), incluindo a linha de acção relativa aos “Novos Métodos de
Trabalho e Comércio Electrónicos”. Para além do IST são ainda relevantes, no
contexto do apoio ao desenvolvimento de aplicações relacionadas com o
teletrabalho, as acções-chave “Organizações, Produtos e Processos Inovatórios” e
“Sistemas de Produção Inteligentes”, integradas respectivamente nos temas
“Crescimento Competitivo e Sustentável” e “Questões Sociais, Organizacionais e
Humanas”;

• O lançamento, em 1998, da “Agenda Europeia do Teletrabalho”, visando


assegurar a difusão destas realidades, entre os cidadãos comunitários,
designadamente, nas suas vertentes sociais, tecnológicas, académicas e políticas.

5.1. A Articulação com as Políticas de Emprego

No contexto comunitário para além do apoio directamente dirigido ao


desenvolvimento da S.I e do teletrabalho, existe a preocupação crescente de lhes
articular outras políticas relevantes, como é o caso das políticas de emprego, vertente
que começou a ser enfatizada ao mais alto nível no decurso do ano transacto.

Assentando o processo de emprego em quatro pilares (empregabilidade, espírito


empresarial, adaptabilidade e igualdade de oportunidades), verifica-se que a S.I.,
tendo maior área de contacto com a adaptabilidade pode, no entanto, ser aplicada nos
quatro casos. Assim:

• Quanto à empregabilidade, estão em causa as necessidades de aprendizagem e


educação contínua, bem características do actual contexto importando, sobretudo,
afastar os perigos relacionados com o desemprego de longa duração;

35
Capítulo 5 – O Papel das Políticas Comunitárias

• Relativamente ao “espírito empresarial”, coloca-se o problema da necessidade de


criar novos empregos no sector dos Serviços, dado o atraso que a Europa regista
face aos USA, no domínio da distribuição sectorial da população activa;

• No que respeita à adaptabilidade, vertente que deriva da introdução de novas


tecnologias e das mudanças na organização e na forma como trabalhamos, as
dificuldades neste interface são de dois tipos fundamentais que se prendem,
respectivamente:

i) Com a reduzida capacidade da força de trabalho europeia de trabalhar


adequadamente com PCs (só 10% os utilizarão);
ii) Com o facto do teletrabalho ser visto como uma ameaça aos gestores
(sobretudo, aos gestores médios), aspecto já anteriormente salientado;

• Finalmente no que se relaciona com a igualdade de oportunidades, está em causa


a igualdade no acesso ao trabalho por parte das mulheres, as quais parecem tirar
vantagem da difusão do teletrabalho, admitindo-se actualmente que a paridade,
entre taxas de actividade masculina e feminina, possa ocorrer cerca de 2010-2015.

No propósito de assegurar uma mais adequada articulação entre as políticas de


emprego e o desenvolvimento da S. I. e do teletrabalho são particularmente relevantes
dois tipos de acções, que se encontram devidamente calendarizadas a nível das
entidades comunitárias responsáveis e que compreendem:

• Acções conduzidas a nível de cada país visando, designadamente, revitalizar a


envolvente do mundo dos negócios, recorrer ao sector público para dinamizar a
S. I. e maximizar o potencial das tecnologias relevantes que lhe andam
associadas;

• Acções conduzidas a nível dos distintos parceiros sociais, uma vez que
permanecem por regular matérias como o tempo de trabalho, a duração dos
contratos, a legislação sobre saúde e segurança e sobre fiscalidade.

36
Capítulo 5 – O Papel das Políticas Comunitárias

Para além de outros indicadores significativos importará referir neste ponto que as
carências europeias nos domínios das qualificações da força de trabalho, consonantes
com o desenvolvimento da S.I., que permaneceriam por preencher ascenderiam, em
1998, a cerca de 500 000 postos de trabalho.

5.2. O 5º Programa – Quadro para o Desenvolvimento da Pesquisa e Tecnologia


(vertentes relacionadas com o desenvolvimento da S.I. / teletrabalho)

Neste domínio verifica-se que as linhas de acção cujas candidaturas foram abertas em
1999 privilegiavam a procura de uma melhor compreensão das mudanças e das novas
oportunidades na forma de trabalhar e de implementar negócios, bem como com o
desenvolvimento de novas tecnologias, métodos e serviços, a aplicar no posto de
trabalho ou no apoio de equipas de trabalho, tanto no contexto de uma organização
como num contexto mais alargado.

Dado, por outro lado, a experiência colhida através do 4º Programa-Quadro, e o


envolvimento no apoio a um leque alargado de programas (ACTS, ESPRIT,
TELEMATICS), a situação actual permite concluir pela existência de uma cobertura
ampla de tecnologias e oportunidades relacionadas com o teletrabalho, que envolvem
fornecedores e utentes, redes de PMEs, trabalhando em parceria e em organizações
virtuais. Daqui resultam períodos mais reduzido de amadurecimento do produto,
benefícios a nível da sua qualidade, melhorias da produtividade e da ergonomia e
aumentos na capacidade de explorar inovações.

Das linhas de acção actualmente em vigor parece ressaltar, ainda, uma maior
orientação para o mercado, em contraposição com um passado demasiadamente
centrado nas finalidades ditadas pela pesquisa em si mesma.

5.3. Os Fundos Estruturais

Compreendem o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), o Fundo


Social Europeu (FSE), O Fundo de Coesão e os Fundos para a Agricultura e Pescas,
sendo geridos, no essencial, pelos países integrantes da Comunidade Europeia.

37
Capítulo 5 – O Papel das Políticas Comunitárias

As principais iniciativas relacionadas com o teletrabalho são inscritas ao abrigo ds


iniciativas LEADER, ADAPT e EMPLOYMENT, sendo de referir os seguintes
aspectos:

a) No âmbito da iniciativa LEADER

Trata-se de uma iniciativa relacionada com acções de desenvolvimento no mundo


rural, suportando estratégias baseadas em enfoques multi-sectoriais, que apresenta
algumas medidas que permitem a inscrição de projectos relacionados com
teletrabalho. Tendo sido lançada há cerca de uma década, esta iniciativa continuará a
ser implementada através do LEADER+, a próxima iniciativa de apoio ao
desenvolvimento rural que vigorará no período 2000-2006;

b) No âmbito da iniciativa ADAPT

É de referir que um número significativo dos 4 000 projectos abrangidos por esta
iniciativa se relaciona com a necessidade da adaptação de postos de trabalho, das
empresas, bem como dos seus serviços e produções, o que resultará da introdução das
novas tecnologias da informação e das comunicações.

Encontra-se em curso, neste momento, a produção de um relatório de avaliação do


ADAPT mas pode, desde já, afirmar-se que se assistiu, em vários domínios, à criação
de tele-redes de peritos que disponibilizam “on-line” importantes recursos em
conhecimentos, apoio e “expertise”, enquanto outros projectos se traduziram na
criação de empresas virtuais, permitindo às PMEs competir com empresas de maior
dimensão, seja pelo recurso à exploração de pequenos nichos de mercado, seja pela
junção dos seus recursos.
É de referir que neste âmbito se está a analisar as mudanças na qualificação da gestão,
os novos perfis de emprego, de organização e de formação por eles requeridos;

c) No âmbito da iniciativa EMPLOYMENT

Nas suas vertentes EMPLOYMENT-HORIZON e EMPLOYMENT-INTEGRA, esta


iniciativa mostra que o teletrabalho fornece uma via eficaz para fornecer empregos
para pessoas deficientes ou para pessoas imobilizadas ou desfavorecidas, seja

38
Capítulo 5 – O Papel das Políticas Comunitárias

pela obtenção de um posto de trabalho, ou pela criação do seu próprio emprego; na


sua vertente EMPLOYMENT-NOW, faz ressaltar que o teletrabalho pode criar
oportunidades para todos terem acesso aos tipos de empregos diferenciados.

De salientar que o principal óbice que as distintas iniciativas comunitárias referidas


fizeram ressaltar foi o facto de muitos dos novos teletrabalhadores envolvidos
subestimarem o período de tempo necessário até os negócios gerarem os fundos
necessários à respectiva viabilização ou sobreestimarem os esforços necessários para
angariarem clientes ou acederem ao financiamento dos novos investimentos.

39
CONCLUSÕES
Conclusões

CONCLUSÕES

• O teletrabalho é um fenómeno em expansão universal, tendo como motor as


Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), que consubstanciam o actual
paradigma da mudança, e como veículo as mudanças organizacionais que
ocorrem no quadro da competição global;

• Nesta perspectiva, mais do que salientar os aspectos fenomenais relativos ao


impacto do teletrabalho no plano individual (dos teletrabalhores), importa referir
que este corresponde a uma forma relevante que a Sociedade da Informação
(S. I.) assume nos mercados de trabalho, que actualmente conhecem um período
de grandes desequilíbrios na perspectiva da procura/oferta de especializações;
outro aspecto não dissociável destes desenvolvimentos é a repartição funcional e
pessoal de rendimentos, que vêm acusando complexas e substanciais
modificações;

• Não obstante as debilidades existentes relativamente a apuramentos estatísticos, o


grau de desenvolvimento do teletrabalho à escala internacional, medido através do
número de teletrabahadores face à população activa total é díspar, sendo claro o
avanço dos USA neste âmbito, seguindo-se os países nórdicos; Portugal e os
restantes países do Sul da Europa ocupam, no contexto comunitário, as situações
de menor visibilidade;

• Conquanto no plano da avaliação financeira os projectos de teletrabalho se


traduzam, geralmente, em indicadores muito favoráveis, no domínio da avaliação
económico-social as conclusões sendo ainda favoráveis revestem, no entanto,
maiores incertezas dadas as dificuldades de quantificação de algumas das
variáveis em presença, não obrigatoriamente associadas aos efeitos externos do
fenómeno em causa (Ambiente, Ordenamento);

• Atendendo ao declínio previsto, no médio e longo prazos, para as variáveis


demográficas europeias e ao facto de o teletrabalho corresponder a um novo
“know-how”, que se estrutura em tecnologias “de ponta”, as Comunidades
Europeias têm vindo, de forma crescente, a implementar políticas de apoio
relativamente a este vector que assume assim natureza estratégica;

41
Conclusões

• Não obstante alguns sucessos pontuais, o empenhamento das autoridades públicas,


e a disponibilidade de instrumentos de apoio comunitário, o teletrabalho encontra-
se, em Portugal, numa fase de desenvolvimento algo larvar, marcada por um
contexto desfavorável nos planos empresarial e da força de trabalho, que se espera
que possa ser superado pela internalização no tecido económico e social das novas
tecnologias e formas organizacionais;

• Dada a inexistência de estatísticas fidedignas indispensáveis para a elaboração de


um diagnóstico correcto sobre a situação do Teletrabalho em Portugal, sugere-se o
lançamento de um inquérito, a nível nacional, envolvendo as diversas entidades
interessadas neste domínio e cobrindo uma amostra significativa de inquiridos.

42
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia

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48
ANEXOS ESTATÍSTICOS
Anexos Estatísticos

ANEXOS ESTATÍSTICOS

Quadro I: O Teletrabalho na Europa 1999 (from ECaTT surveys undertaken by © empirica)


1) Teletrabalho 2) 3) 4) Sub-total das 5) Teletrabalho TOTAL
baseado no Teletrabalhadores Teletrabalhadores colunas 1-3 subsidiário Teletrabalho
domicílio independentes móveis excluindo
sobreposição
‘000 % ‘000 % ‘000 % ‘000 % ‘000 % ‘000 %
força de força de força de força de força de força de
trabalho trabalho trabalho trabalho trabalho trabalho
Austria *)
Belgica *)
Dinamarca 121 4.54 37 1.38 56 2.08 176 6.58 104 3.90 280 10.48
Finlândia 142 6.71 47 2.24 55 2.61 229 10.80 126 5.96 355 16.77
França 272 1.23 45 0.20 182 0.82 499 2.25 136 0.61 635 2.87
Alemanha 538 1.53 536 1.52 520 1.47 1,562 4.43 570 1.61 2.132 6.04
Grécia *)
Irlanda 14 1.01 8 0.56 4 0.31 26 1.88 35 2.56 61 4.44
Itália 315 1.57 90 0.45 270 1.35 584 2.92 135 0.67 720 3.59
Luxemb. *)
Holanda 285 3.96 166 2.31 308 4.29 593 8.25 451 6.27 1,044 14.53
Portugal *)
Espanha 162 1.28 32 0.26 65 0.51 259 2.04 97 0.77 357 2.81
Suiça 207 5.29 61 1.55 90 2.31 313 7.98 282 7.19 594 15.17
UK 630 2.37 234 0.88 550 2.07 1,273 4.78 754 2.83 2,027 7.62
*) estimativa 259 1.62 129 0.81 205 1.28 534 3.34 270 1.69 804 5.03
TOTAL UE 2,946 1.96 1,386 0.92 2,305 1.54 6,049 4.03 2,960 1.97 9,009 6.00

The data and results have been taken from the ECaTT project (ECaTT: Benchmarking Progress on Electronic
Commerce and New Methods of Work) which is led by empirica GmbH, Bonn (Germany). The project is co-funded by
the ESPRIT-Programme and the ACTS-Programme of the European Commission. © empirica

50
Anexos Estatísticos

Quadro II –Estimativas do Desenvolvimento do Teletrabalho, 1998-99 (a partir de estudos e


análises quantitativas e qualitativas de cada país)

‘000 1998/99 % força de trabalho % (variação) 1997-98


1998/99
Austria 67 2.0 + 33
Bélgica & Lux. 250 6.2 + 25
Dinamarca 300 11.6 + 20
Finlândia 220 10.0 + 59
França 420 1.8 + 67
Alemanha 1,800 5.1 + 53
Grécia 50 1.3 + 160
Irlanda 58 7.1 + 16
Itália 350 1.7 + 40
Luxemburgo - - -
Holanda 1.200 18.2 + 100
Portugal 100 2.2 + 67
Espanha 120 0.9 + 50
Suíça 300 9.0 + 67
UK 1.455 5.5 + 13
- - - -
TOTAL UE 6.690 4.5 + 45
USA 15.700 12.9 + 42
Japão 2,090 7.9 -
USA fonte: Cyber Dialogue, New York, mid-year 1998 telecommuters:
http://www.cyberdialogue.com/press/releases/ telecommuting.html
Japão fonte: Wendy Spinks (note the data shown are estimated for 1999 on the basis of a 1996 survey
and show full-time white collar employees only, including both regular and sporadic teleworking)

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Anexos Estatísticos

Quadro III: Distribuição por tipos de teletrabalhadores nas regiões europeias, 1999
(Excluindo teletrabalho subsidiário no domicílio de empregados, i.é. menos do que 1 dia por semana)
1) teletrabalhadores Tipo de Teletrabalhadores dentro de cada região
% de força de (Em percentagem)
trabalho (excluindo
Região Europeia subsidiário) 2) Baseado 3) 4) Móveis 5)
no domicílio Independentes Sobreposição
(total de % em 2,
3 & 4 menos
100%)
Escandinávia 8,24% 65% 20% 30% 15%
Benelux 7,52% 49% 27% 51% 26%
UK, Irlanda 4,64% 50% 19% 44% 12%
Alemanha, Austria 4,40% 35% 34% 33% 2%
França, Itália 2,57% 54% 12% 42% 8%
Espanha, Portugal, 1,87% 63% 12% 25% 0%
Grécia
UE 15 4.03% 49% 23% 38% 10%

Quadro IV
Modelo de extrapolação: resultados para 10 países Europeus (em % do total da força de trabalho
Teletrabalhadores baseados no domicílio Total de Teletrabalhadores
1999 (ECaTT) 2005 (estimativa) 1999 (ECaTT) 2005 (estimativa)
Dinamarca 4,5 10,2 10,5 19,4
Finlândia 6,7 16,7 16,8 29,4
França 1,2 2,4 2,9 4,8
Alemanha 1,5 4,0 6,0 12,6
Irlanda 1,0 2,1 4,4 7,7
Itália 1,6 4,2 3,6 7,1
Holanda 4,0 9,7 14,5 25,2
Espanha 1,3 2,7 2,8 5,4
Suíça 5,3 11,2 15,2 24,3
U.K. 2,4 4,3 7,6 11,7
UE10 2,0 4,2 6,1 10,8
Fonte: Gareis & Kordey 2000

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