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VENDE-SE VIDAS: ANÁLISE DA OBRA “MERCADO DA RUA DO

VALONGO”

Nosso país formou-se à custa do sofrimento e morte de um número exorbitante de


pessoas. Milhões de negros trazidos do Continente Africano foram feitos escravos, tiveram
suas vidas subjugadas por conta da ambição dos colonizadores. As consequências desse
passado maculado ainda se fazem presentes na atualidade, porém, por vezes existe certa
tentativa de ignorar ou distorcer o passado em benefício de pequenos, mas poderosos grupos
dominadores. Nesse sentido, as obras de Debret vêm nos relembrar o irrepetível, o inaceitável,
para nos mostrar o caminho de mudança que ainda deve ser feito.

A obra referência para esta exposição é “Mercado da rua do Valongo” do já citado


pintor Jean-Baptiste Debret1. Cabe fazer uma breve apresentação sobre o trabalho do pintor e
o contexto da presente obra. Depois do período que passou pelo Brasil, Debret voltou à
França e produziu uma obra chamada “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, onde estão
presentes suas pinturas sobre o país e alguns comentários sobre o que aqui viu e pintou.

A pintura proposta para esse trabalho retrata um mercado de negros que havia no Rio
de Janeiro, na rua do Valongo, próximo ao cais de onde desembarcavam os escravos na
época. Pode-se perceber nela a subnutrição, a tristeza e a precariedade em que se encontravam
os escravos, até mesmo crianças estavam “a venda” naquele local. Duas pessoas brancas do
outro lado da sala conversam normalmente diante dos escravos, dão a impressão de estarem
negociando a compra de uma criança. A banalização da vida no passado colonial é-nos
retratada de forma impactante nesta obra. Compram e vendem pessoas como se fossem um
objeto, um instrumento, um animal.

A normalização do absurdo vista no cotidiano do Brasil, que instrumentalizava a vida


do escravo, por vezes é difícil de compreender. O próprio pintor relata isso, não somente
nessa, mas em muitas outras pinturas e comentários, que chocaram e revoltaram muitas
pessoas na época e que ainda hoje nos chocam, pois, escâncara a nós a deplorável realidade
do passado escravocrata de nosso país. Porém, há de se considerar que os problemas, os

1
Jean-Baptista Debret (1768-1848) foi um pintor Francês que veio ao Brasil junto com a Missão Francesa no
século XIX. Retratou a coroa portuguesa, que recém havia chegado ao Brasil, a fauna e o cotidiano do país,
onde via-se a constante presença do negro escravo.
desafios, as situações desumanas impregnadas no ordinário da vida no Brasil não se
restringiram ao passado de nosso país. Realidades de exploração e violência à grupos
marginalizados perpetuaram-se ao longo da história e, como pode-se perceber, ainda hoje são
os negros os grupos que mais sofrem com a desigualdade, foram libertos da escravidão, mas
não da opressão.

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