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Texto explicativo sobre:

A) O que é a aporia eleática: a contradição entre razão e sentidos. B) O racionalismo ético de


Sócrates e suas limitações. C) A enkráteia como manifestação da aretê. D) A eudaimonía – o
verdadeiro demônio do homem – como sinônimo de felicidade.

Começamos este texto com um problema: a aporia eleática, uma gigantesca questão da
filosofia que surgiu há muito tempo, mais ou menos 500 anos a.C., com os primeiros filósofos
chamados pré-socráticos. Esse problema filosófico diz respeito ao questionamento sobre o
que muda e o que permanece nas coisas que existem. Os filósofos responsáveis pelo
surgimento desta aporia foram Heráclito e Parmênides.

O primeiro, observando a natureza, percebeu como a vida nasce, cresce e morre, o dia
começa e termina, a água flui na correnteza e concluiu que tudo está em constante mudança,
tudo flui, e a isso ele chamava devir. Porém, mesmo percebendo a mudança, sabemos que
algo deve permanecer, exemplo: Joãozinho foi bebê e hoje é adulto, mudou, mas não deixou
de ser Joãozinho.

O segundo contrapôs-se a Heráclito, mostrou que na verdade as coisas são do jeito


que são, a flor é flor, o Joãozinho é Joãozinho e por aí vai. Também que não podemos vir do
nada, porque o nada não existe, e nem podemos deixar de ser, porque deixar de ser é
tornar-se nada e o nada não existe. Apesar de fazer sentido, isso acaba colocando a
experiência dos sentidos de lado, pois estes percebem a mudança.

A aporia eleática surge diante disso. Nossa razão conclui que algo deve permanecer,
mas os nossos sentidos percebem que as coisas mudam. Então, eis o problema: o que muda
e o que permanece? Os filósofos posteriores tentarão responder essa pergunta.

Terminada a parte da aporia eleática, passamos para as questões referentes à


filosofia de Sócrates. O centro de sua filosofia está no homem e, segundo ele, a sua essência
é a alma. Dizendo alma entendemos razão, ou seja, a essência do ser humano, aquilo que o
torna enquanto tal, é a capacidade de pensar, raciocinar e adquirir conhecimento. Dito isso,
é necessário levar em consideração que toda a filosofia de Sócrates orbita esta centralidade.

Comecemos a falar sobre o tema do racionalismo ético. Ética diz respeito à forma
como devemos viver, o que é bom e faz bem para os homens. Para Sócrates o homem é sua
alma (razão) e o que é bom e faz bem para ela é o exercício da racionalidade e o
conhecimento. Dessa forma, o viver ético identifica-se com a capacidade de conhecer e,
logicamente, o viver imoral, o que é mau e faz mal, corresponde à ignorância, ao não uso da
razão.

Assim sendo, chega-se ao princípio moral socrático: quem conhece faz o bem e vive
eticamente, quem é ignorante vive imoralmente, peca por não saber o que é bom e não por
pura maldade. Apesar de fazer sentido, essa explicação perde força se observarmos o que
acontece na prática, pois, mesmo sabendo o que é certo, bom, ético, as vezes fazemos o
contrário, pois não basta saber, é preciso ter a vontade de fazer e o autocontrole diante do
que não deve ser feito.

O próprio Sócrates, de certa forma, percebeu isso ao mostrar a enkratéia, que


significa autodomínio, como base para uma vida virtuosa. Sendo a vida virtuosa aquilo que a
torna plenamente realizada, a realização do homem a da alma e a mesma tornando-se assim
através do conhecimento e do uso da razão, a virtude também se assemelha com o
conhecimento. Assim, o autodomínio é necessário, porque o homem precisa controlar seus
desejos e paixões carnais para estar livre e exercitar a sua racionalidade. Enkratéia é, então,
o domínio da razão sobre as paixões. Ela é manifestação da areté (virtude), porque por meio
dela o homem está livre para realizar-se com excelência por meio da razão.

O último ponto apresentado sobre Sócrates neste trabalho é a eudaimonia. Para os


gregos essa palavra significava que você possuía um “demônio guardião”, não como o
encardido, mas como que um “anjo da guarda”, que garantia sorte e prosperidade. Para eles
isso era a felicidade. Sócrates dirá que a eudaimonia do homem, a sua verdadeira felicidade,
consiste em buscar tudo aquilo que é bom para a alma e se afastar de tudo aquilo que a
prejudica. Por fim, o que é bom para a alma, como já foi descrito nos parágrafos anteriores,
é tudo aquilo que está relacionado à razão e ao conhecimento.

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