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Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas / IA / UFRGS

Disciplina: Discursos e Práticas de Criação Cênica


Docente: Patrícia Fagundes
Discentes: Felipe Cremonini, Jocteel Salles e Vanessa Bressan

PARA UMA PROPOSIÇÃO PERFORMATIVA EM DOIS MIL E VINTE ZOOM:


ENSAIO, NOÇÕES E PRÁTICAS.

Sugestão de enunciado/disposição do documento que pode e deve ser misturado com


vossas escritas e pensamentos. Acredito numa ideia e numa abordagem de algo se fazendo com
as experiências dos grupos, dos conceitos, das noções e das pesquisas. Seria bacana utilizarmos
esse documento para a construção de um artigo coletivo num futuro (não muito distante), né?
:) (Joc aqui). Sim, vamos! (Vane aqui). Atrasado, mas gosto! (Cremo aqui).

Nossa proposta para aula da disciplina “Discursos e Práticas de Criação de Criação


Cênica”, ministrada pela professora Dra. Patrícia Fagundes no PPGAC do Instituto de Artes da
UFRGS, se faz com os conceitos compartilhados nesse documento. Escolhemos garimpar
algumas noções que acreditamos estar imbricadas em nossa prática e pesquisas. Nesse sentido-
sentidos, convidamos a todes para se aproximar dessas noções, a fim de juntes pensarmos-
experimentarmos modos de criação com as telas digitais e outros dispositivos tecnológicos que
favoreçam acontecimentos artísticos pela plataforma Zoom. Nossa proposição p a r t e com
nossas questões de pesquisas, que são elas: (Caberia aqui, na sequência, nossas questões de
pesquisas, como se fossemos já instaurando gatilhos para a nossa prática da aula). Trago as
minhas: Como o “entre” opera com a voz na base do tecnovívio? Que relações-criações são
possíveis tramar com a voz na virtualidade? Como propor programas performativos que
favoreçam encontros e acontecimentos artísticos no tecnovívio? Como criar tensionamentos
entre os campos físico e digital em uma experiência cênica de realidade mista? Quais os
disparadores de uma dramaturgia que estimula a expansão perceptiva das espectadoras sobre
eventos reais? Que relações/efeitos emergem entre cena e espectadoras a partir de um desenho
de interação que considere a intermodalidade sensorial dos corpos? Como desenvolver esse
projeto considerando as limitações contextuais de acesso a tecnologia? Como as noções de
teatralidade operam dentro do ciberespaço? De que forma manifestações de teatro remoto se
caracterizam como um acontecimento teatral? O que permanece do teatro dentro dos contextos
cíbridos?
Abaixo citamos algumas autoras e autores que nos instigam a pensar e a elaborar essas
questões para a nossa prática:

O “entre”, com Angelene Lazzareti:


O entre poético se dá no acontecimento teatral operando como uma pulsão o fazer:
fazer criação, fazer abertura nos corpos, fazer o nascimento da presença, fazer o
encontro das ausências, fazer camadas de relações, fazer confronto, fazer a perda,
fazer construção, fazer o acontecimento teatral. (2019, p. 90 e 91)

Voz e performance, com Celina Alcântara e Gilberto Icle:


[...] trata-se de pensar a voz justamente na sua possibilidade performática, como
performance, ou seja, como ato, não reduzida, portanto, à transmissão de uma
mensagem, mas a uma ação que transforma aquele que a pronuncia, tanto quanto
aquele que é co-presente ao ato performático. (2011, p. 133)

Tecnovívio, com Jorge Dubatti:


Exemplos de tecnovívio são telecomunicações, cinema, rádio, televisão, redes, escrita,
livros, streaming... [...] Em suma, entre as artes conviviais, as artes tecnoviviais e as
artes liminais não há identidade, nem campeonato, nem evolucionismo superando um
falso darwinismo. Não se trata de destruir um em favor do outro [...] Ambas são
performáticas. Em ambas há experiência artística, em ambas há performance, há
poiesis e espectadores. Mas são experiências e expectativas diferentes. (2020)

Sobre intermedialidade, com Marta Isaacsson:


[...] é preciso reconhecer que a presença da tecnologia por si só não confere ao
espetáculo um caráter intermedial, pois nem sempre há uma interferência mútua entre
as imagens construídas pela performance e aquelas produzidas pela tecnologia. Na
verdade, faz-se preciso pensar a intermedialidade como uma interação que desperta o
espectador para um terceiro lugar que não é aquele criado pelo performer nem aquele
da imagem construída pelo dispositivo tecnológico, mas aquele que emerge da relação
desses dois. (2013, p. 1-2)

Sobre paisagem sonora, com Raymond Murray Schafer e Hans-Thies Lehmann,


respectivamente:
O ambiente sonoro. Tecnicamente qualquer porção do ambiente sonoro vista como
um campo de estudo. O termo pode referir-se a ambientes reais ou a construções
abstratas, como composições musicais e montagens de fitas, em particular quando
consideradas como um ambiente. (2001. p. 367)

Texto, voz e ruído se misturam na ideia de uma paisagem sonora - evidentemente em


um sentido diferente daquele do realismo cênico clássico. É célebre a versão
naturalista de paisagens acústicas nas encenações de Tchekhov por Stanislávski, que
intensificou com elaboradas sonoridades de fundo (ruídos de grilos, sapos, pássaros
etc.) a realidade do espaço ficcional delimitado por um palco "auditivo" - e com isso
obteve uma crítica sarcástica do autor. Em contrapartida, a "paisagem sonora" pós-
dramática de Wilson não constitui realidade alguma, mas produz um espaço de
associações na consciência do espectador. A "cena auditiva" em torno da imagem
teatral abre referências “intertextuais" em todas as direções ou complementa o
material cênico com temas sonoros musicais ou ruídos "concretos”. (2007, p. 255)
Acerca da ideia de cíbrido (ciber+híbrido), com Lucia Santaella:
A ubiqüidade é inerente ao pensamento humano, pois, quando pensamos, estamos
aqui e em algum outro lugar. Os sistemas cíbridos, que nascem das interconexões
entre espaços físicos e as redes de informação, materializam e expandem o potencial
que é próprio da consciência humana. (SANTAELLA, 2010, p. 132)

Refletindo sobre o Teatro no ciberespaço, com Leonardo Torres:


A partir da ressignificação da co-presença, entende-se que o importante é a troca
estabelecida entre esses dois eixos – ator e espectador – e não suas presenças físicas
no mesmo espaço e tempo. A presença física sempre foi valorizada no teatro devido
à compreensão de que a troca entre palco e plateia não seria possível de outra forma.
É a troca e não o corpo o grande diferencial do teatro, no fim das contas. O cinema
não possibilita essa troca, por exemplo. O ciberespaço, por outro lado, sim. O teatro,
ao se apropriar das tecnologias digitais, também consegue realizar essa troca
dispensando a obrigatoriedade dos corpos no mesmo espaço e tempo. Os novos
dispositivos possibilitam isso. “ (TORRES, 2018, p. 61-62)

Por fim, destacamos que os materiais listados nas referências ficam disponibilizados
àquelas (es) que se interessaram por algum dos conceitos, não sendo necessária a leitura para
complementar o que queremos discutir visto que tentamos sintetizar a interconexão de nossas
pesquisas.
Seguimos mostrando parte de nosso processo enquanto encontro de pesquisas na
disciplina “Práticas e Discursos de Criação Cênica” e que evidencia possíveis desdobramentos
para possíveis outras práticas e construção de um artigo:

A complementar com a prática na aula do dia 04 de agosto de 2021. Esperamos todes!

REFERÊNCIAS

DE OLIVEIRA RIOS, João Tadeu. Teatro, palavra, performance: para pensar a voz para além
da expressão [Gilberto Icle e Celina Nunes de Alcântara]. Repertório, p. 129-135, 2011.

DUBATTI, Jorge. Experiencia teatral, experiencia tecnovivial: ni identidad, ni campeonato, ni


superación evolucionista, ni destrucción, ni vínculos simétricos. Rebento, v. 1, n. 12, p. 25,
2020.

ISAACSSON M. Intermedialidade na criação cênica: ator e tecnologia. In: VII Reunião


Científica da ABRACE - Arte da cena: a pesquisa em diálogo com o mundo. Belo Horizonte,
2013.

LAZZARETI, Angelene. ENTRE: a trama dos corpos e do acontecimento teatral. Tese


(Doutorado) - UFRGS, Instituto de Artes, PPGAC, Porto Alegre, BR-RS, 256 f. 2019.
Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/193835 Acesso em: 03/06/2020.
LEHMANN. Hans-Ties. O Teatro Pós-Dramático. Trad. Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac
e Naify, 2007.

SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história


passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem
sonora. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

TORRES, Leonardo dos Santos. Da Internet para o palco: contaminações e


atravessamentos entre cibercultura e dramaturgia brasileira contemporânea. Dissertação
(Mestrado). Rio de Janeiro: UFRJ, ECO, 2018.

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