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PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.

CÁLCULO DA
INDENIZAÇÃO. TERMO INICIAL DA CORREÇÃO MONETÁRIA. INTERPRETAÇÃO DA SENTENÇA
TRANSITADA EM JULGADO. ERRO MATERIAL CONFIGURADO. POSSIBILIDADE DE CORREÇÃO.
OFENSA À COISA JULGADA. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
1. "O descompasso entre a fundamentação da decisão e sua parte dispositiva, que estabelece
o termo inicial da correção monetária de forma a negar o direito anteriormente conferido ao
autor, autoriza o reconhecimento da ocorrência de erro material" (REsp 502.557/RS, Rel.
Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, j. em 19/02/2009, DJe de 09/03/2009). 2.
Na hipótese, a isolada e desmotivada menção, em única linha de item do dispositivo da
sentença liquidanda, ao art. 1º, § 2º, da Lei 6.899/81, o qual prescreve a correção monetária
das condenações judiciais somente a partir do ajuizamento da ação, não pode prevalecer
sobre a fundamentação, em dez laudas, e os demais itens do dispositivo da mesma decisão,
assegurando a completa reparação dos danos reconhecidos. Não é razoável compreender
tenha a sentença, na motivação, assegurado aos ora recorrentes a recomposição dos prejuízos
reconhecidos, para, no dispositivo, intencionalmente excluir a correção monetária plena
daquela indenização, subtraindo a atualização monetária pelo período de dez anos havido
desde a prática do ato ilícito até o ajuizamento da ação. Tem-se, portanto, evidente erro
material, incapaz de impedir o direito à atualização monetária do quantum indenizatório a
partir da data do ilícito (Súmula 43/STJ). 3. O erro material não transita em julgado, podendo
ser corrigido a qualquer tempo pelo Juiz ou Tribunal prolator da decisão, tendo em vista que a
sua Documento: 2070219 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2021 Página
1 de 4 Superior Tribunal de Justiça correção não implica alteração do conteúdo do provimento
jurisdicional (CPC/1973, art. 463, ICUMPRIMENTO DO JULGADO. DECISÃO AGRAVADA QUE
DETERMINA RETIFICAÇÃO DO LAUDO PERICIAL ELABORADO PARA FINS DE APURAÇÃO DOS
PREJUÍZOS E INDENIZAÇÕES DETERMINADOS NA SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO.
PARÂMETROS A SEREM OBSERVADOS. QUESTÕES RELATIVAS À CORREÇÃO MONETÁRIA, BENS
INTANGÍVEIS (GOODWILL) DA EMPRESA, EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS E JUROS DE
MORA. I - Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra decisão que, em fase de
cumprimento de sentença, determinou a retificação do laudo pericial elaborado para fins de
apuração dos valores ilíquidos a serem determinados na sentença que transitou em julgado. II
- A apuração dos prejuízos e da indenização deve observar os parâmetros dispostos na
fundamentação da sentença. III - Tendo a sentença, expressamente, determinado o termo a
quo de incidência da correção monetária (Lei n° 6.899/81), este é que tem que prevalecer. Em
sede de liquidação, mudar o parâmetro estabelecido em decisão que transitou em julgado não
é mais possível por ofender à coisa julgada. IV - Considerando que os valores atribuídos aos
bens intangíveis da empresa - goodwill - encontram-se mensurados no valor de mercado das
Documento: 2070219 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2021 Página 3 de
4 Superior Tribunal de Justiça ações reconhecido em negociação com a empresa Degussa, não
devem ser os mesmos considerados para fins de reavaliação dos ativos permanentes da
empresa. V - Os Empréstimos e financiamentos devidos pela companhia, por se tratarem de
suas obrigações, devem ser levados em consideração para fins de estabelecer o montante
devido a título de prejuízo aos Autores. VI - A aplicação da regra contida no art. 1°-F, da lei n°
9.494/97, com a redação dada pela lei n° 11.960/2009, não abrange as empresas públicas,
caso do BNDES. VII - Agravo de Instrumento parcialmente provido." (e-STJ, fl. 1.642) Opostos
embargos de declaração, foram rejeitados (e-STJ, fls. 1.808/1.813). Os recorrentes apontam
ofensa aos arts. 165, 332, 339, 368, 376, III, 396, 397, 458, 463, I, 467, 468, 475-G e 535, II, do
CPC/73, 159, 212, I e II, 213 e 219 do Código Civil de 1916, 1º, § 2º, da Lei 6.899/81 e 35, I, da
LOMAN, bem como divergência jurisprudencial. Além de negativa de prestação jurisdicional,
sustentam que a adoção da data da propositura da lide originária como termo inicial de
incidência da correção monetária, e não a data do evento danoso, torna inócua a tutela
jurisdicional, reduzindo a indenização a valor ínfimo. Alegam que a equivocada menção, na
sentença liquidanda, ao art. 1º, § 2º, da Lei 6.899/81 deve ser considerada erro material,
passível de correção a qualquer tempo. Acrescentam ter ocorrido a prova do alegado erro
material, diante da manifestação da magistrada sentenciante. Asseveram, ainda, ter ocorrido
desrespeito aos parâmetros fixados na sentença liquidanda no que tange aos bens intangíveis,
devendo ser computado, no cálculo dos prejuízos, o valor dos bens intangíveis, bem como não
abatidos os empréstimos e financiamentos obtidos pela empresa (e-STJ, fls. 1.837/1.869).
Foram oferecidas contrarraart. 1º, § 2º, da Lei 6.899/81 deve ser vista como erro material (ex
vi do art. 463 do CPC/73), passível de correção a qualquer tempo, em razão de manifesta
incompatibilidade entre a fundamentação do mesmo julgado e seu dispositivo. Isso, porque,
ao referir à atualização do valor da indenização, "nos termos da Lei n. 6.899, de 08.04.81,
artigo 1º, § 2º,", não poderia a sentença estar adotando como termo a quo a data de
ajuizamento da demanda, e não a data do evento danoso, pois isso acabaria por negar o
direito reconhecido aos autores à própria indenização, em evidente contrassenso com aquilo
que textualmente reconhecera. Cabe transcrever o art. 1º da Lei 6.899, de 8.abr.1981, a qual
determina a aplicação da correção monetária nos débitos oriundos de decisão judicial, in
verbis: Art 1º - A correção monetária incide sobre qualquer débito resultante de decisão
judicial, inclusive sobre custas e honorários advocatícios. § 1º - Nas execuções de títulos de
dívida líquida e certa, a correção será calculada a contar do respectivo vencimento. § 2º - Nos
demais casos, o cálculo far-se-á a partir do ajuizamento da ação. Prosseguindo, cabe registrar
que a r. sentença liquidanda (e-STJ, fls. 255/271), em longa motivação, reconheceu a
infidelidade no exercício do mandado outorgado pelos promoventes aos promovidos, e
somente deu parcial procedência à ação porque, em seu item 2.6, negara os danos morais
requeridos na inicial.]

"14- Evidente, portanto, que a menção feita na sentença liquidanda ao 1°, § 2° da Lei n°
6.899/81 deve ser interpretada como erro material, e aqui revista, a fim de ser adotada como
termo inicial de incidência da correção monetária a data do evento danoso descrito na exordial
(outubro de 1981), e não a data de ajuizamento da lide (setembro de 1991), prestigiando-se os
cálculos já elaborados pela Perita do Juízo, de acordo com esse cenário, em conformidade,
ainda, com os verbetes das Súmulas nos 43 do STJ e 562 do STF, verbis: Súmula 43 - STJ: Incide
correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir data do efetivo prejuízo. Súmula 562 -
STF: Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu
valor, utilizando-se, para esse fim, dentre outros critérios, os índices de correção monetária."
As considerações acima expostas, "O Brasil está completando, em 1993, um longo ciclo, de
exatamente 60 anos, de convívio com o fenômeno inflacionário. Ciclo que se iniciou tão logo
superado o período mais agudo da recessão mundial gerada pela crise de 1929, durante a qual
o país conviveu com algo raro, que foi uma deflação persistente, até 1933, responsável por um
recuo próximo de 22,5% nos preços internos medidos pelo Deflator Implícito do Produto
(tabela 1 e gráfico 1). [...] Iniciam-se os anos 70 com a economia brasileira mantendo as altas
taxas de crescimento do produto registradas a partir de 1968, e que seriam as mais elevadas
da história do país. O que ocorria paralelamente a uma persistente queda na taxa de
crescimento dos preços, dando a impressão de que, finalmente, o país conseguiria aliar o
dinamismo econômico de médio e longo prazo com a estabilidade monetária. Mas já em 1973
a economia se ressentia de uma forte pressão sobre os níveis de preços; e, a despeito das
divergências entre diferentes indicadores, a inflação medida pelo Deflator Implícito do PIB
(que, por se tratar de média, subestima a variação dezembro/dezembro quando a inflação é
crescente, Documento: 2070219 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2021
Página 12 de 4 Superior Tribunal de Justiça como então se presenciava) superou 20%,
ultrapassando amplamente o IGP-DI, que teria sido influenciado por tabelamentos apenas
nominais. Em seguida, a inflação chegaria até os níveis de 45/50% ao ano, para, ao encerrar-se
a década, situar-se próxima de 80% (tabela 1 e gráfico 4), evidenciando a consolidação de um
novo patamar. As esperanças alimentadas no início do decênio, quanto à manutenção do
dinamismo econômico com relativa estabilidade dos preços, foram, portanto, rapidamente
desfeitas. Ao ingressar na década de 80, o Brasil já havia acumulado uma das mais longas
experiências de instabilidade monetária registradas na economia mundial do pós-guerra; e,
diante das elevadas taxas de inflação vindas como herança dos anos 70, não seria ilusório
esperar que a partir daí o país pudesse vir a reencontrar o caminho da estabilidade. Mas não
foi o que ocorreu, pois em realidade os preços dispararam, a despeito das medidas de
contenção implantadas ainda em 1980 (prefixação da taxa de câmbio e da correção monetária,
e introdução de um redutor sobre as taxas de juros), chegando ainda em 1981 e 1982 ao
patamar de 100%; em 1983-85 as taxas de inflação dobrariam, superando o patamar de 200%
ao ano, inaugurando, assim, o ciclo de inflação mensal representada por dois dígitos. E, após
algumas experiências frustradas de estabilização (em 1986, 1987 e 1989), o Brasil, depois de
ingressar na faixa de inflação anual de quatro dígitos (com 1.037,6% nos doze meses de 1988),
registraria, ao final de 1989, uma variação global de preços da ordem de 1.800% (tabela 1 e
gráfico 5), tendo chegado a registrar uma inflação próxima de 50% num único mês —
dezembro de 1989. Se os anos 90 foram iniciados com novas tentativas de estabilização (em
1990 e em 1991), na segunda metade de 1993, a variação dos preços já supera 30% num único
mês, requerendo novamente dois dígitos para a inflação mensal, o que significa uma variação
anualizada da ordem de 3.000%. Evolução que, se não interrompida por algum novo plano de
estabilização, tende a consolidar um patamar inédito em toda a história do país. [...] O que se
conclui é que os desequilíbrios monetários dos anos 80 também derivam de problemas
relacionados ao setor externo da economia brasileira, repetindo o que se constatou nos
diversos ciclos inflacionários, desde a crise dos anos 30 e em todo o pós-guerra. É fato que,
mesmo após alcançado o equilíbrio das contas externas, a partir de 1985-86, a inflação passou
a apresentar patamares cada vez mais elevados (ressalvados curtos períodos logo após cada
um dos vários planos de estabilização de 1986, 1987, 1989, 1990 e 1991), chegando perto de
1.800% a variação dezembro/dezembro de 1989 (tabela 3 e gráfico 7). O que não se deve a
qualquer novo problema ligado ao setor externo da economia brasileira, mas sim a dois
fatores que têm atuado conjuntamente para o aprofundamento da instabilidade monetária: a
persistência da política de manutenção de elevadas taxas de juros reais Documento: 2070219 -
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de Justiça (jogando sobre o sistema produtivo um componente de custo extraordinário,
repassado para os preços, e que, através da inflação, é absorvido em termos de perdas de
rendas reais pelos grupos mais frágeis no “jogo” do mercado); e a redução na periodicidade de
correção dos contratos — especialmente dos salários — na busca infrutífera de recuperação
da participação na renda global do país. E o mais surpreendente é que foi exatamente a
política de juros altos, praticada desde 1981 como instrumento do programa de ajuste
externo, o fator de maior peso na mudança da estrutura de custos do setor produtivo, que
forçou a variação dos preços para um novo patamar inflacionário. Aplicada a cada momento
com maior vigor, como instrumento de estabilização, a variável responsável pelo desequilíbrio
monetário, o resultado necessariamente tenderia a ser o agravamento da inflação, para a
consolidação de novos quadros distributivos da renda na medida em que se ampliava o
componente financeiro nos custos e nos preços." (MUNHOZ, Dercio Garcia. Inflação Brasileira:
os ensinamentos desde a crise dos anos 30. Revista de Economia Contemporânea nº 1 jan-jun.
de 1997, p. 60-81) Desse modo, o rea

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