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ESTUDO DE CASO (VALE 2,0)

Custo de oportunidade — investimento versus taxa de juros


Conceitos abordados
Investimento, taxa de juros, custo de oportunidade.

1. Investimento

No sentido financeiro, o termo investimento inclui as aplicações de um recurso


(dinheiro ou títulos), com a expectativa de um retorno futuro superior ao aplicado. No
sentido macroeconômico, investimento é o conjunto das despesas em capital novo; são
bens comprados para uso futuro que levam ao crescimento da capacidade produtiva.

O investimento depende basicamente de dois fatores. O primeiro são as vendas da


empresa, pois se estão muito altas, a empresa terá necessidade de aumentar sua
produção e construir novas fábricas, e para isso comprará bens de investimento para
aumentar o volume de capital e substituir o capital existente por aquele depreciado.

O segundo é a taxa de juros real. Quando uma empresa quiser aumentar seu volume de
capital, ela terá que tomar dinheiro emprestado, seja pela contração de um empréstimo
no banco seja pela emissão de títulos de dívida. Quanto mais alta for a taxa de juros,
menor será a probabilidade de que a empresa contraia o empréstimo, isso porque os
lucros adicionais do novo investimento não conseguirão cobrir os custos do pagamento
dos juros, logo não valerá a pena comprar o novo equipamento.

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2. Taxa de juros

Os economistas distinguem a taxa de juros real da taxa de juros nominal. Esta


última é a taxa de juros tal como é geralmente expressa, aquela que os investidores
pagam para tomar o dinheiro emprestado. A taxa de juros real é a taxa de juros nominal
corrigida pela inflação.

A taxa de juros real passa a ser, então, o custo de oportunidade do dinheiro da empresa,
ou seja, o que a empresa poderia ter ganho se, em lugar de investir, tivesse decidido
emprestar os fundos a alguma outra empresa.

Para que um projeto de investimento seja lucrativo, seu retorno deve superar seu custo.
Se a taxa de juros sobe, menos projetos serão lucrativos, e a quantidade de bens de
investimento demandada cairá. Logo, há uma relação negativa entre investimento e taxa
de juros, que é chamada de função investimento, ilustrada na Figura 1, a seguir.

FIGURA 1

Existem algumas taxas de juros vigentes no Brasil que são utilizadas de diferentes
formas. Vejamos algumas delas.

A Taxa Referencial (TR) é uma taxa básica referencial dos juros que não está
diretamente vinculada à taxa de inflação do mês anterior. Ela é calculada com base na
média da taxa de juros de captação de trinta bancos selecionados pelo Banco Central.
A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) reflete o custo do dinheiro por prazo longo no
Brasil, basicamente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), e serve como referência a operações de financiamento junto ao BNDES.
Sua finalidade é estimular os investimentos nos setores produtivos, com ênfase em
alguns setores selecionados pelas diretrizes de política industrial. A TJLP é calculada
com base na soma da meta de inflação mais um prêmio de risco Brasil, procurando
refletir o custo de captação de recursos pelo BNDES. Veja a Figura 2, abaixo.

FIGURA 2
TJLP (%a.m.)
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
1999 01

TJLP (%a.m.)

Fonte: Ipeadata

A Taxa Selic é a taxa de referência do mercado; ela regula as operações diárias


com títulos públicos federais, pois é sua média diária que reajusta diariamente os preços
unitários dos títulos públicos. Representa a taxa pela qual o Banco Central compra e
vende títulos públicos federais ao fazer sua política monetária e é determinada nas
reuniões do Copom. A Figura 3 apresenta a evolução da Taxa Selic desde 1999,
quando o regime passou a ser o de metas de inflação.
FIGURA 3

Taxa Selic (% a.a.)


50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
jul./99 jan./00 jul./00 jan./01 jul./01 jan./02 jul./02 jan./03 jul./03 jan./04 jul./04 jan./05 jul./05 jan./06
jan./99

Taxa Selic (% a.a.)

Fonte: Ipeadata

3. Custo de oportunidade do investimento produtivo no


Brasil

A taxa de juros no Brasil é uma das maiores do mundo, portanto o custo de


oportunidade das empresas para investir na capacidade produtiva é muito alto. Esse é
um dos motivos pelos quais o nível de investimento brasileiro privado é baixo.

Para as empresas nacionais, muitas vezes fica inviável tomar um empréstimo do


BNDES, que, além de cobrar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), pede como
garantia real mais de 100 por cento do valor emprestado, ou ainda com os bancos que
cobram taxas de juros muito altas e não aceitam empréstimos de curto prazo. Logo, o
custo de oportunidade dessas empresas fica muito alto, o que acaba sendo um dos
fatores que as impedem de investir e aumentar sua capacidade produtiva.

Muitas empresas brasileiras só realizam investimentos quando conseguem acumular


lucros que permitam o reinvestimento. Mas esse tipo de investimento também tem um
custo de oportunidade: o lucro poderia ser distribuído aos acionistas ou cotistas, que
poderiam aplicar os recursos no mercado financeiro.
Assim, só vale a pena reinvestir os lucros quando o projeto de investimentos supera o
custo de oportunidade em termos das aplicações disponíveis no mercado financeiro.

Pode-se observar, portanto, que fica muito difícil para uma economia crescer com taxas
de juros muito altas, pois as empresas não conseguem aumentar sua capacidade e
realizar novos empreendimentos.

Há um papel importante para o governo na questão do investimento. Muitos defendem


que o governo também deveria aumentar seus investimentos, que vêm caindo. Para isso,
ele deveria racionalizar os gastos a fim de obter mais recursos para alocar uma parcela
maior nas rubricas de investimento, ou reduzir a carga tributária para estimular
investimentos privados. Mas, além disso, o governo tem um papel importante em
atenuar falhas de mercado, prover bens públicos e criar um ambiente propício para os
negócios, com marcos regulatórios claros e eficazes.

Questões para reflexão


1. A tributação sobre a produção pode ser encarada no contexto dos custos de
oportunidade dos investimentos produtivos no Brasil?

2. O custo de oportunidade do investimento privado é a taxa de juros que poderia ser


obtida em uma aplicação financeira no mercado. Qual é o custo de oportunidade do
investimento público?

Questões aplicadas
1. Qual é a taxa de juros que melhor reflete o custo de oportunidade dos investimentos
de um pequeno empresário: a TJLP ou a Selic? (Dica: o custo de oportunidade é
diferente do custo de captação de recursos.)

2. Cite três diferentes taxas de juros no mercado financeiro brasileiro e as respectivas


operações relacionadas.
Leitura, referências adicionais e fontes de dados
BRANSON, W.H. Macroeconomic theory and policy, 3. ed. Boston: Addison
Wesley, 1989.

Banco Central do Brasil – www.bcb.gov.br

Banco de dados do IPEA – www.ipeadata.gov.br

Valor Online – www.valoronline.com.br

Bibliografia
BLANCHARD, O. Macroeconomía: teoria e política econômica, 2. ed. Rio de
Janeiro: Campus, 2001.

FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços, 16. ed. Rio de Janeiro:


Qualitymark, 2005.

MANKIW, N.G. Macroeconomia, 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004.

STIGLITZ, J.E.; WALSH, C.E. Introdução à macroeconomia, 3. ed. Rio de


Janeiro: Campus, 2003.

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