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Custo de oportunidade — investimento versus taxa de juros

MOCHON, Francisco; TROSTER, Roberto Luiz. Introdução à economia.


São Paulo, Makron Books, 2006

Conceitos abordados:
Investimento, taxa de juros, custo de oportunidade.

1. Investimento

No sentido financeiro, o termo investimento inclui as aplicações de um recurso


(dinheiro ou títulos), com a expectativa de um retorno futuro superior ao
aplicado. No sentido macroeconômico, investimento é o conjunto das despesas
em capital novo; são bens comprados para uso futuro que levam ao
crescimento da capacidade produtiva.

O investimento depende basicamente de dois fatores. O primeiro são as


vendas da empresa, pois se estão muito altas, a empresa terá necessidade de
aumentar sua produção e construir novas fábricas, e para isso comprará bens
de investimento para aumentar o volume de capital e substituir o capital
existente por aquele depreciado.

O segundo é a taxa de juros real. Quando uma empresa quiser aumentar seu
volume de capital, ela terá que tomar dinheiro emprestado, seja pela contração
de um empréstimo no banco seja pela emissão de títulos de dívida. Quanto
mais alta for a taxa de juros, menor será a probabilidade de que a empresa
contraia o empréstimo, isso porque os lucros adicionais do novo investimento
não conseguirão cobrir os custos do pagamento dos juros, logo não valerá a
pena comprar o novo equipamento.

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2. Taxa de juros

Os economistas distinguem a taxa de juros real da taxa de juros nominal. Esta


última é a taxa de juros tal como é geralmente expressa, aquela que os
investidores pagam para tomar o dinheiro emprestado. A taxa de juros real é a
taxa de juros nominal corrigida pela inflação.

A taxa de juros real passa a ser, então, o custo de oportunidade do dinheiro da


empresa, ou seja, o que a empresa poderia ter ganho se, em lugar de investir,
tivesse decidido emprestar os fundos a alguma outra empresa.

Para que um projeto de investimento seja lucrativo, seu retorno deve superar
seu custo. Se a taxa de juros sobe, menos projetos serão lucrativos, e a
quantidade de bens de investimento demandada cairá. Logo, há uma relação
negativa entre investimento e taxa de juros, que é chamada de função
investimento, ilustrada na Figura 1, a seguir.

FIGURA 1

Existem algumas taxas de juros vigentes no Brasil que são utilizadas de


diferentes formas. Vejamos algumas delas.

A Taxa Referencial (TR) é uma taxa básica referencial dos juros que não está
diretamente vinculada à taxa de inflação do mês anterior. Ela é calculada com
base na média da taxa de juros de captação de trinta bancos selecionados pelo
Banco Central.

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A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) reflete o custo do dinheiro por prazo
longo no Brasil, basicamente no Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), e serve como referência a operações de
financiamento junto ao BNDES. Sua finalidade é estimular os investimentos
nos setores produtivos, com ênfase em alguns setores selecionados pelas
diretrizes de política industrial. A TJLP é calculada com base na soma da meta
de inflação mais um prêmio de risco Brasil, procurando refletir o custo de
captação de recursos pelo BNDES. Veja a Figura 2, abaixo.

FIGURA 2

Fonte: Ipeadata

A Taxa Selic é a taxa de referência do mercado; ela regula as operações


diárias com títulos públicos federais, pois é sua média diária que reajusta
diariamente os preços unitários dos títulos públicos. Representa a taxa pela
qual o Banco Central compra e vende títulos públicos federais ao fazer sua
política monetária e é determinada nas reuniões do Copom. A Figura 3
apresenta a evolução da Taxa Selic desde 2004.

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FIGURA 3

Fonte: Ipeadata

3. Custo de oportunidade do investimento produtivo no


Brasil

A taxa de juros no Brasil é uma das maiores do mundo, portanto o custo de


oportunidade das empresas para investir na capacidade produtiva é muito alto.
Esse é um dos motivos pelos quais o nível de investimento brasileiro privado é
baixo.

Para as empresas nacionais, muitas vezes fica inviável tomar um empréstimo


do BNDES, que, além de cobrar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), pede
como garantia real mais de 100 por cento do valor emprestado, ou ainda com
os bancos que cobram taxas de juros muito altas e não aceitam empréstimos
de curto prazo. Logo, o custo de oportunidade dessas empresas fica muito alto,
o que acaba sendo um dos fatores que as impedem de investir e aumentar sua
capacidade produtiva.

Muitas empresas brasileiras só realizam investimentos quando conseguem


acumular lucros que permitam o reinvestimento. Mas esse tipo de investimento
também tem um custo de oportunidade: o lucro poderia ser distribuído aos
acionistas ou cotistas, que poderiam aplicar os recursos no mercado financeiro.

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Assim, só vale a pena reinvestir os lucros quando o projeto de investimentos
supera o custo de oportunidade em termos das aplicações disponíveis no
mercado financeiro.

Pode-se observar, portanto, que fica muito difícil para uma economia crescer
com taxas de juros muito altas, pois as empresas não conseguem aumentar
sua capacidade e realizar novos empreendimentos.

Há um papel importante para o governo na questão do investimento. Muitos


defendem que o governo também deveria aumentar seus investimentos, que
vêm caindo. Para isso, ele deveria racionalizar os gastos a fim de obter mais
recursos para alocar uma parcela maior nas rubricas de investimento, ou
reduzir a carga tributária para estimular investimentos privados. Mas, além
disso, o governo tem um papel importante em atenuar falhas de mercado,
prover bens públicos e criar um ambiente propício para os negócios, com
marcos regulatórios claros e eficazes.

Questões para reflexão

1. A tributação sobre a produção pode ser encarada no contexto dos custos


de oportunidade dos investimentos produtivos no Brasil?
2. O custo de oportunidade do investimento privado é a taxa de juros que
poderia ser obtida em uma aplicação financeira no mercado. Qual é o custo de
oportunidade do investimento público?
3. Cite três diferentes taxas de juros no mercado financeiro brasileiro e as
respectivas operações relacionadas.

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