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TEXTO: A Expansão Aurífera – Nelson Werneck Sodré

Contexto histórico: do ponto de vista externo; período da aceleração da transformação na economia


europeia, que operava a passagem do modo feudal ao modo capitalista de produção, do ponto de vista
interno; cessara a expansão territorial fundada no apresamento, entrada em crise da produção açucareira,
aumento significativo das exportações e grande agravamento das regiões não exportadoras que eram
compelidas à produção de subsistência. Enfim, a economia metropolitana e a colonial, profundamente
vinculadas, atravessavam uma difícil fase de crise; a economia colonial ia sendo compelida a adaptar-se às
transformações que faziam emergir, no ocidente europeu, o modo capitalista de produção.

A expansão aurífera então dá novos contornos à miséria trazida pelas particularidades do


capitalismo.

Anteriormente à produção do ouro no Brasil a miséria já se configurava como particularidade


do país. Essa questão da miséria continua se expressando, dado as características da especialização colonial
(plantação de cana), em que a população acabava por preferir o cultivo de cana à produção de produtos
agrícolas (o que a tornou extremamente incipiente, fazendo com que a fome seja característica nessas
regiões, e tudo como consequência da especialização colonial).

Momento em que a produção de miséria se encontra tamanha foi ao mesmo tempo o


momento do auge da produção da cana.

Em momento posterior, no período de decadência da cana, a produção de miséria se acirra


ainda mais, dada a subutilização da mão de obra no período de queda. A produção de cana traz desde seu
início a miséria imbuída em si. (Plantação da cana > “deserto verde”).

No período de ascensão do ouro a especialização do trabalho alcança novos patamares, graças


à mineração ocorre um efeito demográfico devastador nesse momento devido a atração migratória (todos
à procura de riqueza vieram para tentar a vida nessas produções, configurando um efeito mundial),
crescimento extremamente grande (A mineração concorre par decuplicar a população colonial),
demonstrando semelhança nesse ponto com a produção canavieira, o que foi acompanhado pelo
crescimento da miséria e queda na produção de alimentos, fazendo com que seus preços fossem
extremamente elevados.

A mineração estabelece por outro lado, novas condições para o trabalho escravo. O primeiro
de seus efeitos, nesse sentido é o da alta no preço da mão de obra escrava e de certa forma a possibilidade
de os escravos comprarem sua própria liberdade.

A mineração caracterizou-se principalmente de depósitos superficiais, que não demandam


muito esforço ou obras importantes na exploração, mas que se esgotam rapidamente, impondo a
constante movimentação dos mineradores.

Efeitos da mineração:

 Surto demográfico:

Caráter antropológico da mineração – contato grande entre variados tipos de população com a
população das minas, que depois da mineração, miscigenados, se espalham pelo país.
 Abertura de novas e extensas áreas de povoamento:

Surgimento de pequenos comércios que depois de tornaram cidades.Transporte de gado vai forcejando a
entrada do sertanejo cada vez mais para o interior do país.

 Conhecimento amplo da terra com as penetrações:

 Questão das Bandeiras – Caça e apreensão dos índios, possibilidades de novos trabalhadores.

 Ligações internas e a circulação terrestre

 Vias de escoamento do ouro.

 Deslocamento da sede:

 Desloca-se a sede de Salvador para o Rio de Janeiro, como forma de controlar a movimentação da
riqueza. No séc. XVIII – ascendência e decadência da produção aurífera em curto período, dado as
características da mineração (ouro de aluvião e alta exploração pela metrópole).

 Enorme aumento do aparelho administrativo do Estado:

 Delinear-se-á o momento do “Estado Nacional Brasileiro” no momento da mineração, que toma


corpo com a chegada da família real no Brasil.

 Impossibilidade histórica de a classe trabalhadora alcançar um consumo material sem romper com o
Modo de Produção vigente

 Surgimento do exército brasileiro (de forma particular).

 Nova relação entre trabalho livre e trabalho escravo:

 Primeira oportunidade de o escravo comprar sua liberdade. Brasil não mais se recupera desse
novo patamar de relação social.

Os efeitos mais profundos da mineração, entretanto, decorreram de sua alta lucratividade e da


especialização inerente. No início, essa especialização foi marcada pela ausência praticamente total de
atividades secundárias, ainda as de subsistência. Só o ouro interessava, e as pessoas só se ocupavam do
ouro. As crises de fome que se sucederam, ameaçando de colapso um esforço de dimensões gigantescas
para a relatividade colonial marcam bem o traço profundo daquela especialização. As crises de
abastecimento e de fome e a ocorrência de revoltas se intensificaram nesse momento.

Em suma, temos o período da mineração como o período que serviu para o agravamento da
situação da fome e da questão agrária brasileira, que através de suas particularidades aumentou a
população colonial em escala exponencial e em contrapartida a queda drástica do volume de produção de
alimentos e consequentemente seus elevados preços.
TEXTO: A CONSOLIDAÇÃO DO IMPÉRIO – Nelson Werneck Sodré

O traço principal da fase que se encerra com a primeira metade do século XIX é a consolidação da classe
senhorial no poder, expressa um enorme esforço para exercer a autoridade, através do aparelho de Estado
que montara, e realizar a unidade política na extensão geográfica do Império, ampliando ao máximo a
referida autoridade no espaço.

A classe senhorial conseguira estruturar um aparelho de Estado que se destina a servi-la e que exerce a
autoridade em todo o território, seja por imposição, seja por tácito acordo com as suas frações regionais.

Na segunda metade do século XIX, as alterações no campo do trabalho aceleram-se. Ocorre, nesse campo,
a concomitância de duas saídas para o progressivo abandono do trabalho escravo, cuja rentabilidade, nas
novas condições do mercado mundial e mesmo do mercado interno, torna-o anacrônico:

Aceleração da transição de novas áreas à etapa da servidão e do avanço de novas áreas à etapa do trabalho
livre.

A população escrava evoluiu tanto para a servidão como para o trabalho livre; para este, entretanto, com
muita lentidão.

O trabalho livre amplia-se particularmente com a imigração. É ainda o café que impulsiona estas alterações.
A condenação do tráfico negreiro, estabelecida pelo avanço capitalista no mundo, é assinalada, nas áreas
coloniais americanas desde o processo de independência.

No campo dos recursos em capitais, dado a lenta capitalização no Brasil, os recursos que demandavam a
utilização do trabalho escravo ficaram, de súbito, em disponibilidade. Ao se analisar tem-se que os recursos
advindos da área do tráfico puderam ser transferidos para a área agrícola (do café) dentre enumeradas
outras, como puderam permanecer na esfera comercial, no campo das manufaturas, estabelecimentos de
crédito ou mesmo obras públicas.

O domínio do poder pela classe senhorial está consolidado, a esta classe reverte uma parcela considerável
da renda, a parcela que permanece no país.

O período que se segue após a queda do império e advento da república é caracterizado pelo grande
ascenso da economia, em que os avanços e benefícios de forma alguma alcança a classe trabalhadora.

A burguesia agrária majoritária volta ao poder e mantém a estrutura agrária e acaba por ser entronada.
Com a volta do poder e as dificuldades encontradas no mercado para conseguir exportar sua mercadoria e
manter seu nível de lucratividade, a burguesia agrária majoritária toma medidas que passaram a prejudicar
outras frações de classe, enquanto a fração da b. m. cafeicultura colhia todos os benefícios de suas políticas
implantadas.

Foram essas frações prejudicadas; o conjunto da classe trabalhadora assalariada, principalmente urbana, a
pequena burguesia assalariada (empregados do governo, civis e militares e os comerciantes) e a burguesia
agrária minoritária vinculada ao setor interno.

Consequentemente estas frações irão impulsionar o âmbito da revolução de 1930.


TEXTO: A COLUNA PRESTES – Nelson Werneck Sodré

Contexto histórico: No quadro mundial, estava em início a etapa da crise geral do capitalismo, iniciado por
dois episódios de repercussão universal: a I Guerra mundial que abalou a estrutura do regime e a Revolução
de Outubro, que rompeu o monopólio de dominação capitalista no mundo. Os efeitos da crise variaram de
acordo com as particularidades de cada país, os quais podemos distribuir em três grupos: 1) o grupo dos
países capitalistas, 2) o grupo dos países dependentes e 3) as áreas coloniais. As consequências dessa crise
em cada grupo de países foram as seguintes: no primeiro eclodiram movimentos de rebeldia social e
tratou-se de defendê-los (os países) da ameaça de revolução socialista, no segundo os países trataram de
desencadear a revolução burguesa, mesmo em características distintas da R. B. Clássica e por fim o último
grupo, que tratou de iniciar ou de impulsionar o longo e doloroso processo de neutralização do tribalismo e
da luta pela autonomia, ainda que em suas formas mais rudimentares.

 Quadro brasileiro: O país passava pelo momento inicial da etapa de desenvolvimento industrial
que ficaria conhecida como substituição de importações.

 Latifúndio como elemento fundamental da estrutura de produção, e não apenas a superioridade


agrícola e de agricultura voltada para o mercado externo.

 Período de euforia com os rendimentos do café que posteriormente desabaria com a crise de
superprodução e crise cíclica do capitalismo em 1929. Em 1920 com o irrompimento da crise
mundial, as estruturas econômicas dependentes são seriamente afetadas, “a ganância comercial
estrangeira tira audaciosamente a lucratividade do bolso indefeso da pátria brasileira”, ou seja,
após a crise a lucratividade que o café oferecia cai drasticamente.

 As crises cíclicas do capitalismo refletiam-se, naturalmente, nas estruturas econômicas mais


dependentes, comprometendo ou retardando a acumulação interna e contribuindo para
prolongar a vigência das estruturas políticas oligárquicas.

 1920 é o ano da crise: importação excede a exportação; o balanço de pagamentos é também


deficitário; o câmbio começa a cair em ritmo acentuado; as emissões passam a ser contínuas e as
reservas internas diminuem. As ameaças surgem de todos os lados. As estruturas das instituições
políticas, que, aparentemente se mostravam firmes, dotadas de eternidade, estavam
extremamente abaladas e correspondiam a uma velha forma tentando disfarçar conteúdo novo,
mas não alcançando os seus fins anunciava mudanças turbulentas. O tenentismo viria a surgir
como o movimento mais acentuado dessas novas mudanças.

O latifúndio monocultor é, na economia dependente, associado intimamente ao imperialismo,


particularmente interessado, a comercialização desigual e do endividamento mal planejado. Sua
expressão máxima do poder está na capacidade de recrutar e manter forças armadas a seu favor, no
tocante à política, não importa a lei eleitoral vigente; o que importa é a força do representante do
latifúndio. As eleições chamadas de bico de pena não admitiam surpresas, era uma trama de
cumplicidade num jogo de cúpula.

Parecia que o regime fora dotado de eternidade. As ocasiões em que a aceitação passiva foi
quebrada assinalaram crises e essas crises, por mais transitórias que tenham sido eram importantes
como sintomas.
À oposição caberia o papel de denunciar as mazelas do regime, era um sistema precário, que
simulava força pela ausência de resistências organizadas. Depois de processos de derrocada do
regime, a deterioração da estrutura política dominante, por força do avanço das relações capitalistas
a que ela já não satisfazia, era gritantemente denunciada pela ruptura do conformismo do aparelho
militar, uma ruptura impulsionada pela vanguarda pequeno-burguesa.

O que se anunciava era o próximo fim de uma estrutura que já se apresentava obsoleta que se só
poderia ser vencida através da violência (no caso, a violência militar pequeno burguesa), dado que
por vias eleitorais era impossível.

O inconformismo militar, que se apresentou na forma de Tenentismo, correspondeu aos abalos nas
velhas estruturas coloniais ou dependentes, e foi a forma possível de contestação ao que elas
representavam. Nesse ponto se anuncia o avanço do capitalismo; o reformismo tenentista é a
expressão política da pequena burguesia brasileira, vanguarda aguerrida da ascensão burguesa. Essa
fase de inconformismo militar (que posteriormente, após a crise política de 1922 ligada à sucessão
presidencial apresentou uma sequência de movimentos em curtos intervalos de tempo,
caracterizando seu aspecto particular) ficou conhecida como Tenentismo e sua expressão máxima foi
a Coluna Prestes.

O movimento da coluna veio a surgir a partir de vários levantes ocorridos pelo país, os primeiros
foram o Forte de Copacabana e a Escola Militar, acabando por serem combatidas.

O episódio abala o país, com eco profundo nas Forças Armadas. Governo mantém por quatro anos o
estado de sítio.

Os movimentos prosseguiram contando agora com um efetivo de cerca de 3.000 homens. Os


acirrados combates que travaram contra as forças governamentais, muito mais poderosas ficaram
conhecidas como campanha do Paraná e do Contestado.

A Coluna percorreu, segundo Prestes, 36.000 km Brasil adentro, perdendo mais do que ganhando
combatentes, enfrentando inúmeras dificuldades naturais, representando por si só, obstáculos
continuado, mas a qualidade é que definira a marcha da Coluna como feito militar e político de
extraordinárias dimensões.

“Nosso fim imediato era manter a revolução em armas e propagá-la por todo o território nacional”.
Marchando, a Coluna iria despertando levantes e recebendo adesões. Apesar de uma conduta tão
alta , tão característica, as adesões não viriam senão espaçadamente e no conjunto, desprovidas de
significação. As militares tão esperadas, com prazos e normas, ficaram reduzidas a muitíssimo pouco.

Em momentos diversos e lugares os mais variados, a coluna enfrentou forças regulares, do Exército;
em alguns casos, essas forças alcançaram efetivo considerável, dotadas de copiosos meios, de
estrutura sólida, de comando bem constituído. O latifúndio sentia a ameaça que a Coluna
representava.

O Governo não apenas mobilizara, contra os revolucionários, as forças irregulares do latifúndio, para
somá-las às das polícias e às do Exército. Fizera mais: propalara pelo interior que a Coluna era
constituída por um bando de assaltantes, habituados às maiores violências. Daí a repulsa costumeira:
Eram recebidos à bala pelos habitantes dos lugares por onde transitavam como se fossem inimigos.
A propaganda espalhada pelo Governo perseguia a Coluna como uma praga. “Assim, operando no
interior e ilhada pelo latifúndio, a Coluna, mantida para assegurar a continuidade da ação
revolucionária e dependente da multiplicação de movimentos de rebeldia, que a ela se somassem,
não encontra apenas na natureza os obstáculos, mas na própria gente, mantida na miséria e na
ignorância.”

Uma causa nem sempre é aceita e esposada por ser justa apenas. É preciso, mais do que isso, que ela
encontre correspondência no nível de consciência daqueles mesmos que pretende libertar. E como
consequência à propaganda realizada e amplamente difundida pelo Governo no interior do país essa
tomada de consciência foi impossível.

O Tenentismo revelaria quadros de valor excepcional, a Coluna reuniu deles, o que havia de melhor.
Na essência, sua ideologia é pequena burguesa, reformista, colocada no plano ético. “Fazíamos a
guerra contra o bernardismo ignóbil que aviltava o país e não contra o Brasil, cujas liberdades
conspurcadas por essa cáfila defendíamos, à custa de nosso sangue”.

De acordo com seu papel histórico, o tenentismo passará por três etapas bem definidas:

1) Elementos operam isoladamente; pronunciamentos exclusivamente militares, reduzidos aos


quartéis.

2) Elementos ligam-se às oposições políticas locais ou regionais, alcançando posteriormente


amplitude maior, vinculando-se a forças diversas das militares.

3) Vínculo com a oposição federal, a propósito do problema de âmbito nacional, a sucessão do


Presidente Washington Luís e como coroamento, a Revolução de 1930.

A importância que o Tenentismo atingira, entretanto, e particularmente com os efeitos da


Coluna, alterara profundamente a situação política nacional. Embora, segundo Caio Prado, sejam
militares, eles não agem e não pensam como militares. Exprimem antes a inquietação das classes
médias que pertencem pela sua origem; de uma burguesia progressista cujos anseios de
renovação encarnam e que as forças conservadoras da República Velha comprimem numa rigidez
que já resvalara para a mais completa degradação política e moral.

São os militares que formam a vanguarda dos movimentos de regeneração política do Brasil. Os
tenentes assumem por isso a liderança da revolução brasileira, tendo a Coluna como o
movimento de maior expressão e de mais profundas consequências para a mudança do quadro
político nacional. Entretanto, apesar de suas armas lhes darem possibilidades de agir, não
estavam ainda em condições de substituí-los as ações das massas populares, desorganizadas e
politicamente inativas.

Notas de aula:

Tenções importantes de frações de classes que irão determinar os fatos subsequentes.

Fim do governo provisório

Abertura da política de valorização do café

A pequena burguesia se utiliza então de artifícios para retornar ao poder


Desvalorização da moeda – Contração dos empréstimos

Forças imperialistas se expressando, de modo que o Brasil continue sendo submetido à esses
laços de dependência.

Políticas do Café com leite e dos Governadores, forma de garantir o controle das massas
trabalhadoras assalariadas, que vai transformá-los em uma mercadoria. Período que vai exprimir
a transição da extração da MVA para a MRV (a transição se dá através dessas políticas).

Consolidação das novas formas de capital configurando uma nova etapa do desenvolvimento e
de reprodução material. Essas transições vão cunhando as bases para o surgimento de novas
futuras transformações.

Presença não suficientemente forte da classe trabalhadora. Frente a tudo isso, a transformação
da república se dá diante um processo “tímido”, sem grandes movimentos. República se
apresenta como uma própria ficção, aparente flacidez, as coisas vão se assentando através
dessas políticas.

Surgimento de um desequilíbrio externo: 1ª Guerra Mundial. Esses desequilíbrios possibilitaram


um desarranjo do ponto de vista econômico, que refletiu no aspecto político do Brasil, que
consequentemente tangia a burguesia.

Papel da burguesia militar:

Mineração – Guerra do Paraguai – Voltam com anseio de atuar no campo político – são retirados
do poder – sentem o massacre causado pela política de valorização do café pela oligarquia
cafeeira. (Presidente acaba não tendo condições de arcar com os salários da classe militar e as
tensões acabam por se acirrar.

Ocorreram vários levantes em fortes de todo o país – tomam o forte de Copacabana e vão á luta
com um efetivo de 18 pessoas contra 3.000 (1922).

(1922 à 1926) Quatro anos em estado de sítio declarado pelo governo

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