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“O Brasil é um celeiro cultural cheio de gente

talentosa, criativa e inovadora.”


Fernando Anitelli, do ,
em Entrevista

revista cultural nº10


Vera Cruz, RS - abril/maio de 2011

Nesta Edição
projetos culturais
Projetos Culturais
Silvio Alvarez
Vera Cruz, RS, A conscientização
cada dia mais próxima de ambiental
sua Casa de Cultura por meio da
arte

colunistas
Álisson da Hora
Letícia Losekann Coelho

Fred Navarro

e mais...
Rafael Tombini
Maíra Viana
Quadrinhos
Glauco Guimarães
Zodíaco
Madalena
Contos & Poesias
Cruzadinha Cultural
revista cultural novitas nº 10

David Nobrega
editorial

“People don´t change”, diz o doutor Gregory House no seriado televisivo que
leva seu nome. Pode até ser. Existe realmente uma absoluta falta de vontade de
determinadas pessoas –me incluam nessa – em aceitar mudanças repentinas, sejam
elas de conduta ou não.

Mas nem tudo na vida é assim.


Revista Cultural Vejam por exemplo o Prêmio Jabuti deste ano. Embora seja negado em alta
Novitas voz, é óbvio que as regras de premiação foram alteradas em favor de brados ainda
mais altos de grandes editoras, brados estes que durante a polêmica pós-”Leite
Ano II Nº X Derramado” era considerado apenas como “choro de perdedor”.
Abril / Maio de 2011
Mas temos coisas mais importantes com que nos preocuparmos. Há morte por
Uma publicação da Editora Novitas em fenômenos naturais. Morte pela guerra banhada em óleo. Morte pela fome. Morte
pela falta de capacidade do Homem-bicho fazer uso da inteligência que se diz
periodicidade bimestral. portador.
Todos os textos, imagens ou qualquer outra
forma de manifestação aqui publicados foram Há morte cultural, como bem descreve Fred Navarro, um estreante gabaritado
devidamente solicitados a seus autores, que que nos dá seu parecer sobre Belo Monte.
autorizaram sua utilização por meio de mensagem
eletrônica. Há morte e Jacques Roubaud no ótimo texto de Álisson da Hora.

Morte? Aqui vamos ao contraponto com a vida da poesia, do conto, dos


Editores: quadrinhos bem humorados... Só se morre uma vez, então vivamos de uma maneira
Letícia Losekann Coelho que valha a pena, como fazem Fernando Anitelli e seu sonho de teatro cada vez
David Nóbrega mais Mágico, Silvio Alvarez, recortando notícia velha que se transforma em arte
Revisão: nova. Maira Viana escreve e traça vidas, Rafael Tombini vive a sua e outras vidas nas
Andrea Lucia Barros telas e nós aqui da Novitas os aplaudimos a todos, de pé.

Nesta Edição
Quem faz, acontece. Nossos convidados desta edição são o que são porque
deixaram de lado as vias consideradas como naturais ao sucesso – exposição
03 - Editorial
fatigante na mídia, vender-se às ideias alheias, etc –, e procuraram meios
04 - Filosofia de Botequim alternativos para atingirem seus objetivos. Inventividade, re-invenção, revisão,
05 - Opinião: crença no trabalho ético e bem-feito.
Fred Navarro
06 - Entrevista: “People don´t change”, mas basta um pouco de complexidade para que
Fernando Anitelli, do Teatro Mágico questões sejam revistas com outros olhares, entrando em cena o famoso jogo
08- Perfil:
de cintura, tão nosso. A vida é um mar revolto onde as bóias são poucas, quando
existem.
Maíra Viana
09 - Zodíaco: Sinto muito doutor House, mas acredito que mudemos sim, mesmo que de
Madalena maneira lenta e progressiva, gota a gota. Basta somente definir se para que lado da
10 - Artes Cênicas balança essas mudanças nos levarão.
Cristóvão de Oliveira
11 - Jazz em Série: Um grande abraço!
Luis Delcides
David Nobrega
12 - Projetos Culturais:
Silvio Alvarez
14 - Opinião:
Letícia Losekann Coelho
15 - HQ eFotografia Letras do Araguaia
16 - Contos
17 - Cruzadinha Cultural O Centro Acadêmico do Curso de Letras/UFMT/CUA, em parceria com
18 - Opinião: o Instituto de Ciências Humanas e com a Coordenação do Curso de Letras da
Álisson da Hora Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário do Araguaia,
juntamente com a Academia de Letras, Cultura e Artes do Vale do Araguaia e a
19 - Entrevista:
Editora Novitas, torna público o lançamento do 1º Concurso Literário de Poesias
Rafael Tombini “Letras do Araguaia”, com o objetivo de promover e difundir a Literatura em
20 - Poesia Língua Portuguesa entre jovens escritores, podendo participar qualquer pessoa
22 - HQ: maiores de 18 anos, residente em qualquer lugar do país.
Glauco Guimarães
Para maiores informações, acesse http://bit.ly/evEs3h ou envie mensagem
Capa composta sobre imagem de Silvio Tanaka de email para letrasdoaraguaia@gmail.com

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revista cultural novitas nº 10

B
ebedor e conversador, Haroldo nos conta de suas andanças pelos bares, botecos, botequins e
similares de nosso pais, de onde observa a vida cotidiana que é a base de seus escritos.
Conhece um bar que mereça atenção? Pois então:

convideoharoldo@editoranovitas.com.br
Esse poema do amigo David
Poema para o Chope Nobrega, editor desta Revista, mostra
claramente que linguagem poética é
As gotas deslizando pelo corpo possível em qualquer situação. Tolos
suado aqueles que acreditam que a beleza da
O prazer contido nesse corpo, linguagem deva ser restrita a assuntos
quase sagrado nobres, como o amor. Pois eis que
Cuida tua sede e teus desejos, aqui estou para declarar que não,
desobediente caros amigos, não é realmente assim.
Chopp que te quero, claro, Lembro dessa poesia toda vez que me
transparente. vejo servido por aquele copo suado,
com exatos dois dedos de espuma, que
flutua até a mesa encerada por tantos
Dias de sol e calor cotovelos sobre a bandeja do querido
Noites de corno e amor garçom, ombro de tantas lutas inglórias,
Só tu, querido amigo festeijador de nossas conquistas.
Me dá conforto e abrigo Sente-se na Pepis Pizza Bar em
Indaiatuba (interior de São Paulo)
naquela área externa que lhe dá olhos
Mesa suja em algum esquecido sobre as mesas todas e dali, com olhar
bar atento, note os romances que se inciam
Ovos coloridos sobre o balcão, e findam, servidos por garçons vestidos
cuspe no chão com a frase “Você é importante para
Ou refinado, simpático, da nós”, na camiseta. O chope dali é
moda ou chique praticamente um mousse, com destaque
Vem a mim o chopp, me para o escuro bem tirado (www.
vivifique. pepispizzabar.com.br).
Há, segundo informações que recebi
por e-mail, dois outros lugares onde a
Ora bolas, seres vida passa, entre um copo e outro:
despreparados, O leitor Victor Alves nos indica a
De pouca fé e desamparados. Choperia Saidera em Vitória (R. João
Bebe logo e não me encha o da Cruz, 241 - Praia do Canto, ES). Essa
saco choperia tem diversas promoções
Ou pede e conta vai-te p´ro teu e, segundo nosso amigo capixaba, o
barraco. atendimento é realmente excelente
(www.saidera.com.br)
Já a querida Célia F. Fontana, de
E um viva àqueles bem- Fortaleza, nos diz de seu melhor chope
aventurados dos últimos tempos. O local se chama
Que ao sentar em um bar não Barril 85 e se localiza no Casa Shopping
se fazem de rogados (www.barril85.com).
Pede logo dois, em prazer Assim, meus caros, mais uma vez
descarado lhes digo que conhecer e se misturar
E danem-se os conselhos não às gentes reais é a melhor maneira de
solicitados. encontrar a tal inspiração.
Ainda mais com um belo gelado, bem
tirado.

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revista cultural novitas nº 10

Fred Navarro
opinião
Fred Navarro, 54 anos, pernambucano do Recife, mora em São Paulo há 22 anos, autor dos livros “Assim falava Lampião” e “Dicionário do Nordeste – 5.000 palavras e
expressões” (Ed.Estação Liberdade, SP).
Twitter: @frednavarro

Belo Monte e as ilusões perdidas

A s pessoas bem informadas


do país, nossos formadores
de opinião, não precisam
de mais dados ou alertas sobre o
que está acontecendo em torno da
As línguas indígenas no Brasil são
somente orais e a falta de registros
agrava o problema. “Com a extinção
de uma língua, toda uma cultura
se perde. Cada vez que uma língua
construção da hidrelétrica de Belo morre, perdemos parte do quadro
Monte, no Pará, em um trecho de 100 geral que nosso cérebro pode
km do rio Xingu. O Greenpeace Brasil, desenhar”, diz um texto do projeto
o Conselho Indigenista Missionário- “Enduring Voices: Documenting the
CIMI, o Movimento Xingu Vivo para Planet’s Endangered Languages”
Sempre e organizações como a Avaaz (Vozes Resistentes: Documentando
já colocaram os dados sobre a mesa há as Línguas Ameaçadas do Planeta),
tempos, provando o absurdo do projeto que afirma que metade das cerca de
e as contradições técnicas e sociais não 7 mil línguas faladas hoje no mundo
resolvidas que ele carrega. irão desaparecer ainda neste século.
Nossos intelectuais “engajados” A seguir, a título de exemplo,
ou “progressistas” não se pronunciam segue uma relação, retirada da letra
contra. Silenciam com o mesmo A do Dicionário Houaiss da Língua
cinismo com que aplaudem os Portuguesa, com os nomes das
ditadores bajulados pelo ex-presidente tribos e povos extintos apenas no Áreas de influência do projeto de Belo Monte.
da República. Agem assim, talvez, Estado do Pará, desde 1500. São Fonte: Relatório de Impacto Ambiental de Belo Monte (Maio/2009)
alimentados pelas migalhas concedidas nomes sonoros, bonitos, originais,
pelo poder federal, que os paralisa como e significam vidas e histórias que se
causa impossível impedir a construção
uma naja faz com suas futuras vítimas. perderam no tempo: Andirás (margens
do mega-monstro e que ele seria útil
No Brasil, tribos de índios, culturas do rio Andirá, no oeste do Estado);
ao desenvolvimento regional – como
inteiras e milhares de línguas já pagaram Apotiangas (região do rio Nhamundá,
se fosse possível encontrar algum
caro pela ganância e violência com que na divisa com o Amazonas); Apeous/
espectro de vida em algo que é, desde o
o “homem branco” sempre pautou Apehou (viviam às margens do baixo
surgimento, um projeto de morte.”
sua relação com os povos da floresta. Xingu); Apotós (de tronco tupi, na
Mais de 600 mil pessoas, no Brasil e
Números divergentes apontam que, região do rio Piriá); Aracajus (região
no exterior, já se manifestaram contra
por volta de 1500, eles eram de 4 do rio Paru, afluente do rio Amazonas
a obra, através de petições organizadas
a 6 milhões, espalhados de Norte a no Estado); Arapucus (viviam na região
pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre
Sul. Darcy Ribeiro, em 1950, fez uma central do Pará); Arequenas (na região
e pela Avaaz. O que fazer para que as
estimativa que virou referência, mas do rio Cachorro); Arireaçus (dos tapajós,
populações urbanas compreendam
hoje sabe-se que subestimada, com da região onde hoje é Santarém);
que precisam se aliar aos índios, que
números entre 68 mil e 100 mil índios Aruãs (da família aruaque, da ilha de
não lutam simplesmente por melhores
no país. Marajó, região do rio Tocantins); Aruaus
condições, e sim pelo próprio direito à
De acordo com a ONU, o mundo (também da região central do Estado).
vida?
conta hoje com 370 milhões de índios, Marcos Terena, do Comitê InterTribal
Se as vidas dos povos Araweté,
em números redondos. Um milhão e da Cátedra Indígena Itinerante,
Apiterewa, Asurini, Xikrin, Kayapó,
deles no Brasil, segundo o IBGE, com diz: “Do ponto de vista ambiental, se
Juruna, Xipaia e outros povos isolados,
metade ainda vivendo em aldeias. Das observarmos o mapa da Amazônia,
além dos ribeirinhos e camponeses da
cerca de 1.300 línguas faladas pelos vamos perceber que tudo o que não
região, estão em risco, somos cúmplices
índios em 1500, restam 180, mas muitas pertence à área indígena está sendo
de sua futura extinção. Ficamos calados
delas são faladas por dezenas, poucas devastado. As áreas dos índios são as
quando podíamos erguer os braços e as
dezenas, às vezes menos do que isso, únicas preservadas”.
vozes e impedir a consumação do crime.
como a ava-canoeiro, falada (em 2005) A instalação de novos
A saída para Belo Monte é ousar
por 12 pessoas, seis numa margem do empreendimentos na Amazônia gera
pensar em outro caminho, outros
rio Tocantins e seis na ilha do Bananal, consequências trágicas e irreversíveis
caminhos, mas para isso é necessário
no rio Araguaia. No Maranhão, na Terra para os povos indígenas,e o principal
olhar para o futuro de uma forma menos
Indígena Caru, dois irmãos (também deles é a perda de território e de
racional e tecnocrática. Conversar mais
em 2005) eram os únicos falantes recursos naturais para a agropecuária.
com os atores sociais, os índios e seus
de uma língua tupi distinta de todas Numa terra frequentemente sem lei,
representantes, e não construir mais
as conhecidas. Em Rondônia, nas abandonada pelo poder público estadual
nada sem a concordância explícita dos
proximidades do rio Guaporé, menos e federal, os agropecuaristas agem como
que vivem na região. Consultados, é
de 100 pessoas conhecem o wayoró. senhores feudais. A irmã Dorothy Stang
provável que os índios digam que, em
Há línguas, como o apiacás (família não foi assassinada em 2005 em Anapu,
relação à Amazônia, talvez seja preciso
tupi-guarani) com apenas dois falantes, na região central do Pará, por acaso.
apenas interromper a destruição
outras com um único falante conhecido, Sobre a hidrelétrica de Belo Monte,
atualmente em curso, antes de se pensar
como o baré (família aruák) e o maco Roberto Antonio Liebgott, do CIMI,
em construir qualquer coisa.
(língua isolada). afirma: “Há quem diga que é uma

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revista cultural novitas nº 10

entrevista — o teatro mágico

S e um dia Fernando Anitelli, idealizador d´O Teatro Mágico resolver, por um motivo qualquer,
alterar o nome de sua trupe para “Fenômeno Mágico”, será absolutamente verdadeiro.
Conquistada basicamente no boca-a-boca — ou no tecla-a-tecla, se levarmos em
consideração a imensa quantia de público oriundo da internet —, a legião de fiéis seguidores
é verdadeiramente um fenômeno. Ou não, não há nada de fenomenal nisso e todos os méritos
são “simples” frutos do árduo trabalho da trupe, formada por músicos e atores circenses. Ou, se
prefererirem, por músicos circenses, ou mesmos atores-músicos. Uma salada cultural, eclética,
mágica...
Na entrevista, Fernando Anitelli nos conta um pouco do Teatro e dos projetos que estão no forno,
quase prontos para serem entregues, quentinhos, ao respeitável público. Logo na sequência, matéria
com uma das principais colaboradoras do Teatro Mágico, a escritora Maíra Viana.

Editora Novitas: À texto, me fascinou Assim nasceu o grande entrada nas redes
primeira impressão, a idéia de montar sarau amplificado que sociais, sim, isso faz
o Teatro Mágico é um um espetáculo que hoje é o TM. parte da nossa história e
caldeirão onde tudo é pudesse trazer a tona sem a internet nós não
misturado aos borbotões esse universo lúdico e EN: Saltimbancos teríamos conseguido
e posto a ferver. sensorial que o Hesse tecnológicos seria chegar onde chegamos
Existe um fato ou ato aborda uma boa sem uma gravadora,
inspirador inical desse no livro. definição sem o engole sapo
mistura-tudo-mexe-e- Arregacei “Pois é, para o de um jabá, sem os
serve? as mangas, mas a nossa TM? grandes patrocinadores.
Gosto da imagem dos
entrei no
Fernando Anitelli: A estúdio e bicicleta é FA: saltimbancos mas, no
obra inspiradora foi o comecei
livro do escritor alemão a gravar
que nem a do Sabe que
eu nunca
dia a dia da produção
independente, a luta é
Hermann Hesse, O Lobo algumas filme E.T, é tinha grande e, muitas vezes,
da Estepe. Na história
há uma passagem em
músicas que
eu tinha.
uma bicicleta pensado
nisso!
não tão poética quanto
a do musical infantil em
que o personagem entra A idéia que voa” (risos) O questão.
num lugar cheio de cores de somar slogan
e sinestesias e passa num mesmo palco circo, é interessante, no EN: Algumas letras
por experiências que o música, poesia e teatro entanto, sou receoso soam ser poemas, alguns
transformam. No livro, foi ficando cada vez mais com essa coisa de altamente contestadores
este lugar chama-se O clara. Essas artes sempre rótulos. Com relação como por exemplo “A
Teatro Mágico. Quando fizeram parte da minha ao uso de ferramentas Metamorfose ou Os
tive contato com este trajetória como artista. tecnológicas e forte Insetos Interiores ou O

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revista cultural novitas nº 10

sua pergunta, nós, no Essa comunhão, como


você diz, é algo do qual
início, não decidimos ser
alternativos...nós nãonão abro mão. Gosto
tínhamos outra opção. dessa idéia de quebrar
esse “muro” invisível
que existe entre artista e
EN: Qualidade platéia. No fundo, tudo
sempre é cara: cenários, é uma coisa só!
aluguéis de espaço,
figurinos custam e EN: Podemos esperar
alguém tem que pagar, novidades para este
no caso do TM, a própria ano ou os projetos
trupe. Acredita que ainda estão naquela
se existissem projetos fase de pensamento,
partidos diretamente do amadurecimento,
Ministério da Cultura, prenhez?
que realmente focassem
a cultura popular e FA: Estou, nesse
não o comercial, seria momento, lançando o
possível um avanço na projeto paralelo Anitelli
popularização de gente Trio e, ao mesmo tempo,
com talento real, em trancado no estúdio com
contraponto à cultura de os músicos do Teatro
comércio? Mágico correndo com a
produção do terceiro CD
FA: Sim, com certeza. da trupe. O tempo anda
O Brasil é um celeiro escasso por aqui, mas
Processo”, outros mais mesmo condição de cultural cheio de gente o processo de criação e
suaves como “Pena”. prever o que teria sido talentosa, criativa e realização anda intenso.
O que vem primeiro? se os passos e os rumos inovadora. Carece sim Estou me dividindo entre
O Fernando cantor tivessem sido outros. No de um plano eficaz estrada e estúdio, o que
e compositor ou o entanto, com sete anos de leis de incentivo e é um paradoxo pois na
Fernando poeta, mesmo de banda, posso dizer apoio aos iniciantes e estrada, com os shows
que não use o título? que me sinto satisfeito iniciados com trabalhos do trio a energia é de
com os resultados que enalteçam as expansão e o processo
FA: O que predomina, que obtivemos, com a manifestações artísticas de gravação do CD é o
primordialmente, integridade com que de norte a sul do país. oposto, é meu momento
no meu trabalho é o levantamos nosso “circo” de “fechamento”,
desejo de transmitir no dia a dia, no braçal, EN: Para chamar o reclusão para elaboração
idéias e mensagens, na coragem, no jogo do coro da multidão, “Com do novo. Tem sido uma
dialogar com o público, acerto x erro, no fazer vocês, vocês”. O público experiência bacana e de
trocar, somar. As notas agora. Quando falo da faz questão e adora muito amadurecimento.
musicais, acordes e até nossa relação com as participar. Do palco, qual Estamos sempre
estrutura poética são os gravadoras, sempre a sensação de assistir aprendendo. E qual seria
temperos para fomentar gosto de contar uma a essa “comunhão o sentido do todo senão
o que, na verdade, historinha interessante interativa”? este?
acho interessante que aconteceu. Há uns crédito de imagens: Vinícius Campos
debater com as pessoas, três anos, fui procurado FA: Quando estou
pensar junto. A idéia é pelo diretor de uma das no palco dialogando
comunicar, da maneira maiores multinacionais com as pessoas,
que for. do mercado fonográfico. me sinto realizado,
Ele me fez uma proposta acho que a vida
EN: Decidir ser contratual que não faz sentido. É um
alternativo, sem a busca condizia com o que eu momento sagrado.
por gravadoras, tem pensava para o projeto. O público do Teatro
dado resultados, como Quando recusei num Mágico é uma
se vê nos shows lotados. jantar, ele me disse: extensão da trupe.
Já dá para pensar “Fiz a “Mas o que vocês têm é Alguns chegam
opção certa!”? uma bicicleta. E eu estou a ir vestidos de
oferecendo aqui uma palhaços, de
FA: Ainda estamos Ferrari”. E eu retruquei: bonecas e essa
no meio do caminho. “Pois é, mas a nossa energia, essa fé
Esse tipo de conclusão bicicleta é que nem a do que vem deles,
só se faz no fim da filme E.T, é uma bicicleta é o que nos
jornada, se é que temos que voa”. Voltando à move a seguir
realizando esse trabalho.

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perfil — maíra viana

M aíra Viana, uma recifense


que, em 2003, catou a
mala e mandou-se para
São Paulo, é um exemplo para muitos
escritores de blogues. Escritora
de crônicas do cotidiano, contos e
reflexões em prosa poética em seu
blog, recebeu a visita de Fernando
Anitelli — músico, compositor que na
época punha em prática o que viria a
se tornar o Teatro Mágico —, que nela
encontrou uma parceira de palavras e
de ideias.
Com formação acadêmica em muitos métodos de divulgação, porta”: ela simplesmente vai até a
Jornalismo e pós-graduada em propagação do trabalho,
Formação Literária, Maíra acha marketing e autoprodução.
tempo para compor com Anitelli Decidiu publicar o primeiro
canções como “Pena”, escrever seus livro “O Teatro Mágico em
livros (é autora dos livros Menino- palavras” quando o TM estava
Varrido, mais consolidado (2007) e
A Menina foi atrás – sempre de forma
do Sapato independente --, de todos os
Caramelo caminhos necessários para
e de dois que seu livro pudesse sair do
volumes de papel.
O Teatro Paralelo a esse trabalho
Mágico em no TM, Maíra fez várias coisas
Palavras), diferentes e acabou cativando
ministrar inúmeros leitores, muitos Maíra e Fernando Anitelli
cursos, deles fãs ligados a ela por
além de outras meio da internet, seja em seu blog, porta, abre e mostra todo seu talento
atividades que fazem dela a tal Orkut ou Twitter. Dentro com as palavras.
formiguinha incansável das desse contexto, Coordena também o projeto
histórias infantis. resolveu Literatura de Garagem, que promove
Nessa escola onde a produzir oficinas de criação de textos
autoprodução dá certo, é vídeocontos e consultorias para
necessário se falar mais de seu com textos do projetos na área
envolvimento com o Teatro seu livro, onde literária. A intenção
Mágico, grupo musical dos mais convidou é fomentar o
importantes da cena independente atores para desejo de ler e
atual. Quando conheceu interpretar. escrever entre
Fernando Foi por alunos de escolas,
Anitelli passou meio desses universitários,
a trabalhar vídeos disponibilizados blogueiros e
na assessoria na rede que o editor Rogério aspirantes a
do primeiro Gastaldo, da Saraiva, conheceu o escritores. Vale
disco “Entrada trabalho de Maíra interpretado lembrar que seus dois
para raros”. por Fernando Anitelli. Resultado? livros infantis já foram adotados por
Dentro da equipe A publicação de seu livro “Menino diversas escolas e os livros “Teatro
de produção Varrido”. Mágico em palavras” já são sucesso
do projeto Maíra hoje vive de sua literatura, de venda.
experimentou de seu trabalho. Não é o tipo de Todas as fotos deste artigo são de autoria de Vinicius Campos
pessoa que espera a “sorte bater na
Saiba mais em mairaviana.com.br

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revista cultural novitas nº 10

Madalena
zodíaco
É astróloga, taróloga, reikiana, terapeuta floral.

Áries - parece que o mundo abriu a porta de


todas as possibilidades para o ariano. Touro - Bom momento para lutar por seus Câncer - Este é um período altamente
Há imensa força e energia disponível, ideais e adquirir o que deseja, assim como Gêmeos -O mundo acolhe seus projetos dinâmico para o canceriano. Contudo
no entanto os relacionamentos podem manter o que já possui. com o mesmo entusiasmo com que você convém trabalhar bem a agressividade, a
ser questionados pela ambiguidade, Use a força do amor em todos teus atos, os lança. própria e a dos outros.
arbitrariedade ou liberdade excessiva. por mais difíceis ou impossíveis pareçam ser Use toda sua vitalidade e inventividade Se sentir que há espaço para criar novas
O que não encontrar um propósito benéfico teus projetos e desejos. sem temer se expor. Há portas se abrindo condições de vida mais adequadas ao
ao grupo do qual se faz parte pode sofrer Conte com os amigos e parceiros para tudo que ousar e inovar. momento, faça-o valentemente.
sérios impedimentos, ou então terminar para profissionais para ajudá-lo no que for A boa sorte também o favorece Entretanto se houver hostilidade ou
sempre. preciso; assim como também deve colaborar principalmente se trabalhar para que ela se incompatibilidade, o melhor é dar um fim
Deve evitar todo e qualquer tipo de com todos que de alguma forma chegam manifeste e se expanda. definitivo, e passar a procurar o que faz
violência, explícita ou dissimulada. a você. No amor resguarde-se de ilusões, suas e realmente sentido para sua vida.
O ideal é a construção de uma nova Faça exercícios físicos e respiratórios para alheias. Pode aparecer um amor, difícil, mas
personalidade e metas. manter a tranqüilidade. apaixonante.
No amor estará romântico ou sonhador
demais.
Virgem - Convém pensar e analisar bem Libra - O amor é o grande palco dos
Escorpião - Evite a contundência e a
as idéias e projetos antes de aplicá-los ou acontecimentos. Pode vir a perder alguma
violência a todo custo, tanto de si mesmo
comunicá-lo ao mundo. ilusão e ser obrigado a encarar a realidade
quanto aquela que pode surpreender vinda
Leão -A vida o presenteia com abundancia Cuide de si mesmo com delicadeza e dos fatos em suas relações, tanto amorosas
de onde menos se esperava.
e respeito por suas conquistas. O amor suavidade, assim como no trato com os quanto profissionais. Na verdade todos
Não se decepcione se a expectativa não se
lhe sorri. outros. os tipos de relacionamento estarão em
cumprir. Apenas preserve-se nestes tempos
Este é um período de fato bem fértil ao Pode passar por testes de validade nos jogo e avaliação. Procure não exigir do
de paixões ou aventuras infundadas.
leonino, e nada deve ser desperdiçado ou relacionamentos e ser questionado por suas outro algo que ele não tem para dar. Olhe
Nem se fie na palavra de ninguém, o que
adiado. O céu lhe oferece a oportunidade de idéias. emocionalmente a situação do outro e
vale é a atitude.
ser o criador e herói de sua própria saga. O momento é embrionário, mesmo que a busque o equilíbrio entre o dar e o receber.
Procure criar um casulo de amor ao
Tudo que fizer saindo do coração, terá energia mental seja transbordante, porém Se a necessidade de receber amor for
seu redor, não se deixe macular por
sucesso e durabilidade. não force nada, nem o corpo. muita, abstenha-se, tente manter um fluxo
negatividades exteriores, e menos ainda
Tente alinhar os pensamentos com sua de amor leve e saudável.
interiores.
habitual parcimônia. Possibilidade de firmar acordos e
Grande força física e mental.
Não deve ultrapassar fronteiras sem prévio compromissos, mesmo que sofram
mapeamento. adiamentos.

Sagitário - Apesar do entusiasmo, Aquário - Tudo que viveu nos últimos 14


Peixes - Netuno seu regente entrou no
bem-estar e boa sorte, há obstáculos anos em termos espirituais e filosóficos agora
Capricórnio - Quanta mudança, quanto signo onde ficará por 14 anos.
a ultrapassar, ou adiamentos nos mostra sua cara. O que valeu e o que foi
desafio, questões e decisões a tomar. Esta posição acentua ainda mais a
empreendimentos, ou ainda retorno de quimera.
De um lado há expansão, do outro há sensação de sonho e irrealidade.
assuntos que julgava concluído. Procure acabar com o passado destrutivo de
restrição. Poderá estar se sentindo muito amoroso e
É preciso acertar todas as pendências, uma vez por todas, e desperte para o novo que
Escolha agora com quem quer trabalhar, rico, ou ao invés disso, muito triste e só; isso
as mínimas coisas. Não esqueça ou começa a se instaurar em sua vida, estalando
com quem dividir ou multiplicar sua vida, e depende de como empregou suas energias
negligencie nada. aqui e ali várias chances de renovação e
descarte o resto antes que cause prejuízos. ao se relacionar com a vida, as pessoas, e o
O momento é bom para usar os frutos já felicidade.
Embora as circunstancias apresentem destino que deu a própria realidade.
colhidos, separar os bons grãos, pensando Não se deixe estagnar ou enganar em seus
dificuldades, há certeza do caminho a tomar. Tome consciência de tudo que é preciso
no novo plantio. valores, materiais e espirituais.
Tranqüilidade interior no meio do caos mudar, e aja em teu próprio benefício em
Sua vida está sendo renovada, não se É preciso uma mudança total em hábitos e
exterior. Mantenha o prumo. nome do amor e da conciliação.
perca em mil oportunidades; faça escolhas e crenças.
Resgate da caridade e benevolência.
produza com método para alcançar a meta. Há boa sorte para tudo que intentar.

IV Coletânea Scriptus — Visão [D]Escrita

Estão abertas as inscrições para mais uma Coletânea Scriptus, a quarta produzida pela
Editora Novitas, desta vez nomeada “Visão [D]Escrita”.
Da mesma que as versões anteriores desta coletânea (“Um Balaio de Ideias”, “A Livre
Escrita” e “Palavração”), contaremos com número reduzido de autores. Serão somente
quinze, cada um contando com dez páginas para publicar seus poemas, contos, crônicas ou
minicontos.

Especificações gerais desta Coletânea

1) Capa colorida, em papel supremo 250g, acabamento fosco;


2) Miolo em papel pólen, 80g, p&b;
3) Imagens preto e branco (foto) junto à biografia do autor (1 página);
4) 10 (dez) páginas para cada autor, sendo 9 (nove) destinadas aos textos e 1 (uma)
destinada à biografia de cada autor, que receberá, pelo valor contratado, 20 exemplares;
5) ISBN, ficha catalográfica;
6) Marcador de página com arte igual a da capa da coletânea

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revista cultural novitas nº 10

Cristóvão de Oliveira
artes cênicas
Cristóvão de Oliveira é ator, diretor teatral e professor. Catarinense radicado em Curitiba/PR, dá aulas na Faculdade de Artes do Paraná e cumpre mestrado na
Universidade do Estado de Santa Catarina.
contato: cristovaocwb@gmail.com

A Recorrência Do Teatro No Cinema


parte 2(final)

C omo apresentamos na parte que representavam jovens donzelas,


anterior deste artigo, o cinema numa época em que era comum aos
serve ao teatro como um eficaz espectadores acompanhar todas as
instrumento de pesquisa para ideações temporadas de seus artistas prediletos
em espetáculos e o teatro também tem e se empenharem por comparar seus
todos os tempos, Peter Pan. Neste filme,
novamente podemos ver como se dão
os ensaios e a dinâmica de uma grande
produção teatral para as proporções da
época mas, principalmente, podemos
estado a serviço do cinema no que toca ídolos aos novos talentos emergentes. acompanhar como se dão os processos
temas e enredos de fina complexidade. Este tema é revisitado em Adorável de criação dramatúrgica. Claro que
Com o advento das grandes produções Júlia (Being Julia, Inglaterra/2004), temos de considerar, aqui, todos
teatrais baseadas em blockbusters, porém com pinceladas mais os graus de ficção e licença poética
essa relação tornou-se uma via de melodramáticas. Neste caso, a rivalidade investidos no enredo o que não tira,
mão dupla onde uma arte que surge entre as apesar disso, o relevo da obra fílmica.
alimenta a outra – por mais atrizes vem de um caso A Bela do Palco (Stage Beauty,
distintas que sejam entre passional, a partir dos Alemanha, Estados Unidos,
si. Assim, nesta segunda jogos amorosos (a estrela Inglaterra/2004), por sua vez, é um filme
parte, falaremos de alguns tem um amante mais curioso por demonstrar de um modo
filmes que tem o teatro jovem que é enamorado bastante presumível a enorme ruptura
como pano de fundo ou de uma aspirante a que se deu na cena teatral quando, no
fio condutor de tramas atriz que, por sua vez, Século XVII, os homens foram proibidos
primárias. é amante do marido da de interpretar personagens femininos,
Já no início de A “A Malvada” - Fonte: divulgação estrela) que surgem como em detrimento da boa interpretação e –
Malvada (All About Eve, armas para a ascensão mais especificamente – para não causar
Estados Unidos/1950), sabe-se que ao estrelato. Uma trama rocambolesca nenhuma rusga com a Igreja que já não
a trama gira em torno do teatro, que onde podemos perceber – através via o teatro com bons olhos. Assim, as
serve como fio condutor da história. do brilhantismo da interpretação de mulheres puderam se tornar atrizes
O enredo gira em torno da crítica e Annette Bening – a dimensão de uma publicamente e suas interpretações
recepção de uma pequena sociedade grande estrela e sua capacidade de passaram a ser ovacionadas a cada
que ovaciona o talento de uma nova improvisar, criar, se reinventar. nova produção. Neste filme, o Othello
estrela do teatro. Por mais que a trama Shakespeare Apaixonado de Shakespeare é usado como pano
trate de uma parcela elitizada, sabemos (Shakespeare in Love, Estados de fundo onde sua Desdêmona é
que este contexto coaduna com os Unidos/1998) se vale daquilo que foi a personagem que gera todos os
registros históricos das décadas entre especulado acerca das origens do problemas ao ator que cai em desgraça
1920 a 1950 em que as grandes damas autor, principalmente no que se refere ao ser preterido em função de sua
do teatro gozavam de boa posição social. à criação de Romeu e Julieta, supondo camareira que, por conhecer tão bem
Neste contexto, o teatro é uma profissão que o bardo inglês transpôs sua paixão a personagem, se converte na maior
de status. A alta sociedade prestigia, proibida para os palcos, convertendo-a atriz do momento. Alegoricamente,
patrocina e se vangloria de seus artistas, em tragédia inequívoca. Este mesmo podemos refletir sobre aqueles estigmas
numa época em que grandes atores e expediente foi que acompanham
atrizes eram verdadeiras celebridades. usado em As alguns atores que
Nas cenas de bastidores podemos aventuras de ficam marcados
supor a estrutura por trás dos grandes Molière (Molière, por determinados
espetáculos. A reconstituição de época França/2007) personagens e caem
é resultado do primoroso trabalho e, mais em “desuso” por
de direção de arte. Reproduz-se com explicitamente, em não conseguirem se
grandiloqüência e fidedignidade Em Busca da Terra superar.
cenas de camarim – com especial do Nunca (Finding No filme
atenção à ambientação glamorosa e, Neverland, Estados Ricardo III – Um
principalmente, à indumentária própria Unidos/2004). No Ensaio (Looking for
do teatro: acessórios de cabeça para caso do primeiro, “A Bela do Palco” - Fonte: Divulgação Richard, Estados
prender a peruca, o modo como os o filme se apóia no Unidos/1996), o
figurinos são usados, a fiel reprodução fato historicamente conhecido de que ator Al Pacino se esmera em realizar
da vestimenta cênica, etc. É muito o autor – Jean-Baptiste Poquelin – vivia uma espécie de documentário revelando
interessante observar tais mecanismos, em completa penúria quando recebeu os bastidores da filmagem do clássico
elementos que muitas vezes passam do Rei Luís XIV um pequeno teatro para shakespeareano. Argumentando que
despercebidos por nós, mas que dão apresentar suas comédias. A partir daí, o esta é a obra mais montada do bardo
verossimilhança ao filme e, de uma filme lança mão do recurso de flashback inglês, Al Pacino registra de forma
forma ou de outra, constroem um para ilustrar como Molière transformou muito interessante todo o processo de
conhecimento perceptivo. uma experiência como tutor de um rico concepção desta adaptação. Partindo
Neste filme, podemos ler o enredo emergente em uma de suas peças mais fundamentalmente da opinião pública
como uma alegoria para tratar da famosas, O Burguês Fidalgo. No caso norte-americana, o diretor contra-
rivalidade entre as grandes atrizes do do segundo, o filme é mais explícito argumenta que até os japoneses
teatro, especialmente as do teatro de ao articular como a vida de Sir James descobriram Shakespeare e já estão
boulevard ou vaudeville, sobretudo ao Matthew Barrie se converteu na obra superando os Estados Unidos no teatro
retratar a conduta de atrizes maduras infanto-juvenil mais emblemática de hoje revelando que existe uma certa

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revista cultural novitas nº 10

urgência em não relegar ao teatro de especialistas no autor teatro contemporâneo,


ocidental a herança do oriente, já que e artistas experts como dado a abstrações
sabemos que Shakespeare é “produto” é o caso de Kenneth de toda ordem e um
genuinamente do ocidente. O que se Branagh e Vanessa alto grau de auto-
revela de forma contundente, é que as Redgrave, entre outros. referencialidade.
pessoas acham Shakespeare chato, que Um dos aspectos que
as montagens são “shakespeareanas mais se destacam neste De uma maneira
demais”, carregadas de canastrice, que filme de Al Pacino diz ou de outra, o que
se pretendem fiéis à interpretação do respeito à palavra. Que “Ricardo III, Um Ensaio” - Fonte: Divulgação podemos destacar neste
Século XVII. E os realizadores do filme se Shakespeare é de difícil singelo estudo, é que
surpreendem ao perceber que Ricardo escrita, todos sabemos e esta foi uma o cinema sempre contribuirá para a
III, o rei corcunda, é praticamente um resposta recorrente dos entrevistados construção de algum conhecimento
desconhecido do grande público. Ou pelos realizadores do filme. Em para o teatro ou sobre ele. De um lado,
seja, não adianta montar Shakespeare se determinado momento um ator brada: ao trazer a público as inúmeras obras
o público não se interessa por ele. “Não é importante entender todas as teatrais – clássicas, contemporâneas ou
A partir daí, é curioso ver que o que palavras!”. E, de fato, se o espetáculo experimentais – de modo a democratizar
temos é um “filme dentro do filme”, nos absorve, o conhecimento se o acesso à excelente dramaturgia de que
isso porque esta manifesta por outras vias, dispomos e, de outro lado, ao adaptar
película não trata inclusive pela abstração. ou transpor tais obras para a linguagem
de uma montagem Algo que se afirma a partir cinematográfica. Artes tão distintas mas
teatral mas, sim, daí gera outra questão. tão semelhantes naquilo que revelam,
de uma filmagem. Os realizadores do filme cinema e teatro estarão sempre juntos.
O que mais chama afirmam que entender O trânsito entre as linguagens pode
a atenção é que o tudo não é importante ser deveras laborioso, mas o fato de
filme se apóia num desde que se entenda que ambos constroem conhecimento e
estudo aprofundado a essência. A questão contribuem para uma história do teatro
da obra em questão, repousa no fato de que é inegável.
tendo a consultoria “Shakespeare Apaixonado” - Fonte: Divulgação este é um sintoma do

Luis Delcides
jazz em série
Jornalista, músico, repórter e editor do blog Pauliceia do Jazz (pauliceiadojazz.com.br), SP Metrópole (spmetropole.com/blog/saopaulometropole) e colaborador do portal
Cristianismo Criativo (cristianismocriativo.com.br)

Sem barreiras

R ussel Malone, Robert Glasper,


Christian McBride, Chico
Pinheiro, Esperanza Spalding,
Kurt Rosenwinkel, Michel Leme,
Arismar do Espírito Santo e João Donato
contato mais próximo com alguns e, na
medida do possível, procuro assistir a
várias apresentações. São perceptíveis
as misturas rítmicas do baião, rock,
samba, lento, rápido, moderado e a
contrabaixo entram, dão corpo ao
movimento musical e me lembro até
hoje.
Outra ocasião foi no Bridgestone
Music Festival, em 2010, onde Christian
são músicos contemporâneos com interpretação do artista tão sublime McBride e sua esposa Melissa Walker
influências do jazz, mas fazem uma onde o timbre ou tal trecho tocado fica interpretavam livremente “Don’t Give
música livre. na cabeça por muito tempo. Up” de Peter Gabriel. Ali, o público
São livres de qualquer imposição Lembro de dois momentos: Um foi apreciou uma levada, termo muito
do mainstream, do mercado e das em um bar em São Paulo, no bairro das usado pelos músicos, significando algo
estratégias para alavancar o público. Ter Perdizes, na esquina da Rua Minerva bastante leve e simples, com algumas
o privilégio de ouvir e trocar palavras com a Itapicuru. No ambiente com meia influências do jazz dentro de uma
com Christian McBride, Chico Pinheiro, luz, a música acontecia solta com o trio canção pop e bastante interessante.
Michel Leme, Arismar do Espírito Santo formado por Michel Leme (guitarra), As duas pequenas descrições
é perceber como há brilho nos olhos Bruno Migotto (contrabaixo) e Abner reforçam a ideia de quebra de fronteiras
dessas pessoas ao fazer referência à Paul (bateria), que tocavam composições estilísticas. Uma música livre, inspirada,
música. próprias e alguns standards de jazz e em que a fluência acontecia livre e solta.
Para quem acompanha a leitura da outras músicas internacionais. E como é bom conversar com pessoas
Revista Cultural Novitas , não dá para Havia pouca gente em uma quinta- simples, inteligentes e com excelentes
classificar o jazz como um estilo musical, feira fria de 2010. Lembro-me que histórias como esses artistas do cenário
mas é um rompimento do tradicional, era o primeiro semestre do ano e até alternativo que não são frequentemente
da visão estrutural de compor música e hoje não esqueço de uma belíssima vistos nas páginas dos jornais, das
interpretá-la E de deixar o artista fluir e interpretação do guitarrista de “My one revistas e da TV.
reproduzir livremente uma composição. and only Love”, composta por Guy Wood Nomes interessantes e importantes
Se o intérprete pensa em novos e Robert Merlin. A canção se tornou um que fazem a história da música
acordes ou notas para adicionar em standard de jazz bastante conhecido na contemporânea. Bom, se a coluna
algum trecho da música mediante uma interpretação de Jonh Coltrane (1926- trata de jazz, vamos chamar de jazz
conversa antes de iniciar a apresentação, 1967) e Jonhy Hartmann (1923-1983). contemporâneo. Logo, reforço: é
eles acontecem livremente e o público Os toques limpos, as poucas notas música, quebra de paradigmas, feelling,
vibra com a versatilidade de quem está e algumas passagens ficaram até hoje isso é jazz!
no palco. na minha cabeça. A volta do tema,
Dos músicos já citados, tenho no momento em que a bateria e o
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revista cultural novitas nº 10

Projetos Culturais

“A Árvore”, fotografada por Silvio Tanaka

Quem acompanha nossa Revista Cultural desde quando era somente editada em sua versão digital
deve se lembrar de Silvio Alvarez. Em uma simpática entrevista, nos contava ali (e ainda nos conta, já
que encontra-se a sua disposição no endereço revistasnovitas.com.br) de seu trabalho, dos projetos,
das dificuldades em se fazer notar nesse mar imenso que é a Cultura.
Como diz o antigo ditado, os frutos se colhem quando se cuida bem da árvore e Silvio já está com
alguns desses frutos maduros, por assim dizer. Entre idas e vindas, cada vez mais é procurado para
organizar oficinas onde, em meio ao lúdico, vê como ensinar em uma metodologia toda própria.
No artigo abaixo você que até o momento não o conhecia — ou mesmo para aqueles que já sabem
do trabalho desse artesão das colas e tesouras —, poderá entender o motivo de valorizarmos seu
trabalho ao ponto de abrirmos espaço novamente em nossa revista, em tão pouco tempo. Afinal, aqui
está a comprovação de que com arte e educação, unidas, podemos mudar os rumos de nosso País.

N em mesmo em seus sonhos


mais delirantes Silvio
Alvarez poderia imaginar a
concretização de tantos projetos Brasil
afora, a partir da produção de trabalhos
interior de São Paulo, é uma espécie de
artesão de sonhos. A começar pelo seu.
No auge de sua juventude, Silvio, até
então promotor de eventos musicais
em um clube da zona norte da capital
até então ter demonstrado qualquer
aptidão para as artes visuais, como o
desenho ou a pintura, passou a criar
composições a partir de texturas e
recortes garimpados em revistas. Entre
artísticos de colagem com recortes de paulista, foi surpreendido por uma fase quatro paredes, aprisionado também
revistas velhas. difícil e precisou repensar sua vida. em seu interior, nosso personagem
O artista plástico paulistano, 45 anos, Aparentemente sem saída para os seus revelara na atividade de recortar e colar
residente há 14 na pacata Joanópolis, no problemas emocionais, recolhido, sem uma forma eficiente para externar seus

Criança em oficia: Atenção absoluta... Silvio, rei da tesoura, provando o mesmo remédio... Trabalhando em “A Invasão dos Pinguins”
Foto de Silvio Tanaka Foto de Zé Goulart Foto de Silvio Tanaka
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revista cultural novitas nº 10

sentimentos e poder, assim, seguir seu obra, intitulada “A Árvore” (colagem


caminho. Arteterapia intuitiva. sobre MDF – 250 x 350 cm), integra
Igualmente natural foi a incursão hoje o acervo do Museu Aberto da
do artista no universo do surrealismo. Sustentabilidade, na Praça Victor Civita,
Jung explica! Seus trabalhos, desde o em São Paulo.
início, tratam da relação do homem Certo de que a diversificação das
com as grandes cidades, com o meio áreas de atuação poderia vir a garantir
ambiente e, sobretudo, com ele sua subsistência com o fundamental
próprio. Autodidata, buscou inspiração auxílio das redes sociais da internet,
em Salvador Dali, Giorgio de Chirico, passou a investir mais nesse conceito.
Magritte, Frida Kahlo e Jacek Yerka. Customizou mesas e cadeiras para
Seus amigos, a começar pelos seus o SESC, ilustrou revistas e capas de
pais, Noely e Maria Amália, foram O Abacaxi livros virtuais, desenvolveu projetos
fundamentais para que ele pudesse Foto : Zé Goulart de arte e sustentabilidade para
enxergar um recomeço por intermédio empresas, participou de feiras nas
da arte. Incentivado por quem anteviu áreas de reciclagem e meio ambiente
a possibilidade de reação, Silvio Alvarez produzindo obras durante os eventos,
reagiu de fato. Passou a expor seus confeccionou brindes corporativos
trabalhos de colagem em espaços e estampas para utilitários, realizou
alternativos. Curiosa e significativamente oficinas na Penitenciária de Viana,
o primeiro a oferecer a oportunidade Grande Vitória – ES, para artesãos
foi o Ateliê Poder da Criação, de Nenê licenciados da Prefeitura de Curitiba e
Guimarães, no bairro da Pompéia, em para arteterapeutas na UNIP, em São
São Paulo. Seguindo os bons ventos, O Quarto Azul Paulo, entre outras ações que, somadas,
participou da fundação da Casa do Foto: Zé Goulart deram-lhe a certeza de que esse era
Artesão de Joanópolis e realizou mesmo o caminho.
exposições no projeto Ação Cultural Em 2010, foi convidado pela Henkel
do Metrô e no Terminal Rodoviário do e pela agência Peralta Strawberry Frog,
Tietê, ambos em São Paulo. Mesmo com a desenvolver um formato de oficina de
o ritmo lento de produção exigido pela colagem que pudesse ser multiplicado
técnica, os estímulos para criar passaram por intermédio de uma equipe de
a brotar com maior intensidade. orientadoras por ele treinada. Com
Até que em 2007, graças à exposição o significativo slogan “criatividade é
no Metrô Vila Madalena, um convite do o que se usa para construir pessoas”,
SESC Ipiranga veio demonstrar que, mais mais do que uma campanha comercial,
que uma terapia e um estímulo para a causa Pritt tem o objetivo de unir
seguir em frente, a colagem poderia ser pais e professores para um melhor
também um novo e promissor horizonte desenvolvimento das nossas crianças.
profissional. Outros dois trabalhos para O que inclui a realização de oficinas em
o SESC SP vieram na sequência, unidades O Sonho de Alice shoppings de quatro capitais brasileiras:
24 de Maio e Araraquara, e com eles Foto : Décio Badari São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte
mais uma constatação: a de que poderia e Curitiba, nos meses de fevereiro e
diversificar seus campos de atuação, março de 2011.
mantendo-se fiel à técnica. A principal matéria-prima do seu
Ao realizar as primeiras oficinas trabalho, ainda mais importante do que
de colagem para crianças de todas as o papel, é a paciência. Com inacreditável
idades, tendo como matéria-prima os habilidade, recorta, uma a uma, imagens
recortes de revistas descartados, Silvio de revistas ou de folhetos publicitários
notou que, ao transmitir os conceitos para compor um mundo próprio, mágico
básicos da técnica, poderia também falar e surreal.
de preservação do meio ambiente. Foi O sonho de papel de Silvio Alvarez
com Dona Nêga, uma senhora idosa que não terminou e, se depender dele,
recolhe materiais recicláveis nas ruas de ainda há muito a trilhar e a concretizar.
Joanópolis e que recebe todo o papel Gioconda Verde e Rosa Entre outros projetos em curso, o artista
que sobra de sua produção, que o artista Foto : Zé Goulart dedica-se atualmente às ilustrações
confirmou a ligação do seu trabalho com de um livro infantil em parceria com
a conscientização ambiental. Mais que a escritora Ana Maria de Andrade e o
isso, em artigos na internet, passou a fotógrafo Fábio Carnaval e à produção
defender a utilização da colagem como de uma série de quadros para uma nova
ferramenta didática em tempos de exposição, ainda sem de data e local
aquecimento global. previstos
Em 2009, durante a Semana do
Meio Ambiente, deu importante passo
em sua carreira ao produzir um painel Para saber mais, visite
para a Editora Abril, com a participação O Aquário - Acervo do Museu de Arte Contemporânea de Senhor do Bonfim
http://www.silvioalvarez.com.br
dos funcionários da empresa e apoio — Bahia
da Henkel, colas Pritt e Cascorez. A Foto: Zé Goulart

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revista cultural novitas nº 10

Letícia Losekann Coelho


opinião
Pedagoga, escritora e editora.
letícia@editoranovitas.com.br

Perfeição

N o final do ano, passado a


imprensa noticiou “supostos”
desvios de emendas culturais
e de turismo, por parte de alguns
parlamentares para empresas com
um absurdo em se revoltar com o fato
de um deputado que precisou provar na
justiça que sabe ler e escrever, faça parte
de um grupo de trabalho tão importante
como este. Nada contra Tiririca, afinal
trezentos mil para um blog? Com esse
valor o produtor cultural pode construir
uma casa de cultura. Mas esse problema
na Lei Rouanet não é exclusivo de hoje
e podemos fazer uma enorme lista de
sedes duvidosas ou com um quadro de de contas foi o deputado federal mais artistas que conseguem o patrocínio
funcionários exóticos por assim dizer. votado do Brasil, mas tudo contra o que através de renúncia fiscal e cobram
Cito um frentista de posto e um motorista o levou a ingressar nessa comissão. ingresso caríssimos para seus shows ou
de caminhão que foram usados como Outro ingrediente entra na massa, filmes, da mesma maneira que escritores
laranjas nesse esquema. Desde 2008, e temos as agressões cometidas por subsidiados lançam livros e mais livros
milhões de reais em emendas desviadas. estudantes contra seus professores, com preço de capa acima do razoável.
Os parlamentares, por sua vez, dizem orientadores e até diretores. O número Enfim, aos satisfeitos com tudo, a
que atendem pedidos e nada sabem. de agressões está aumentando e cultura e a educação brasileira estão
Para variar, no Brasil as coisas não tem quanto a isso, dizem os justificadores do em declínio e nós já começamos a
explicações profundas, logo se esquece e injustificável: “os professores também pagar o preço. A cultura do fácil, da
acontece um novo escândalo que vai se estão agredindo os estudantes.” Não tem reunião para decidir quando será o
arrastar até a não solução ser confortável problemas, afinal de contas, podemos próximo encontro, de comemorar índices
para todos. dizer então que a escola virou uma guerra que nada modificam nosso dia a dia,
Fato é que cultura e educação sempre onde ganha quem bate mais e aprende parece coisa talhada no DNA. Cultura
foram a base de um País e o Brasil está menos... Perde a escola, perde a Nação, e educação são problemas no Brasil
dando um show de descaso nesse perdemos todos. desde que o Brasil é Brasil e isso não é
quesito. Fico me pergunto de que adianta Enquanto tudo isso acontece, o BBB e culpa de um só Governo. Todos nós, que
a economia crescer, se os estudantes a Fazenda são os programas com maiores temos a percepção desse declínio – e/
brasileiros são os que menos têm livros audiências da televisão brasileira. O ou alimentamos um pouco mais essa
em casa como aponta pesquisa realizada filme que conta a história de “sucesso” indústria irrelevante —, partimos para
pelo Pisa (Programa Internacional de de uma prostituta foi visto por mais de outro “ponto”, como se abandonar o
Avaliação de Alunos)? O livro virtual 1 milhão de brasileiros (não se pode problema fosse resolver alguma coisa. O
não tomou o espaço dos livros físicos, falar nada sobre isso também, porque “desenho” não é bonito e a solução deve
apesar do Brasil ser o 5º país com o maior vão colocar um luminoso em sua cabeça estar bem adiante do horizonte, além do
número de conexões (segundo a ONU), avisando: “preconceituoso na área”) e o pote do arco-íris. Vamos de “Perfeição”,
sendo que a maioria dessas conexões assunto mais comentado nos jornais em música que Renato Russo escreveu faz
são feitas em lan house, conforme a F/ sua parte cultural é Charlie Sheen, ator um bom tempo e mesmo assim continua
Nazca. A mesma pesquisa indica que o americano que simplesmente surtou extremamente atual:
brasileiro, apesar de não ter internet por causa do abuso de drogas e bebida.
em casa, acessa preferencialmente sites Ah, e eu não posso me esquecer da Vera “Vamos celebrar a aberração
de relacionamento como o Orkut ou o Fischer que escreveu 10 livros em um De toda a nossa falta
MSN. Soma-se a isso o fato de alguns ano, vejam bem, eu disse UM ANO e De bom senso
formadores de opinião tacharem a teve toda a cobertura da imprensa para Nosso descaso por educação
escola como “desnecessária”, porque os seu lançamento. Também não podemos Vamos celebrar o horror
estudantes aprendem coisas que não vão deixar de fora o “tumulto” do Carnaval, De tudo isto
utilizar na vida, dizem os mais entusiastas onde o pai do axé Luiz Caldas ficou Com festa, velório e caixão
do autodidatismo educacional. Daqui revoltado, já que não recebeu 250 mil Tá tudo morto e enterrado agora
alguns anos, se esse for o rumo, o aluno reais de cachê, pois o Estado só poderia Já que também podemos celebrar
irá discutir qual o melhor plano de oferecer 90 mil, motivo esse que fez A estupidez de quem cantou
estudo para ele . O professor será um com que as pessoas protestassem contra Essa canção...”
mero prestador de serviço, um consultor esse “grave absurdo”, já que certamente
ou quem sabe um simples indicador de para ficar pulando atrás do trio elétrico Incrivelmente, acredito que ainda
resumos na internet? ninguém paga nada, a não ser o tal abadá esse ano o pensamento em relação
Até esse ponto do texto, temos que custa os olhos da cara. à cultura e à educação mudem para
desvios de verbas culturais e do turismo, Se esse tipo de notícia espanta, melhor. Estou otimista em relação a isso,
pesquisa provando que o estudante não imagine que Hermano Vianna conseguiu até porque quando as coisas chegam no
tem livros em casa e que a internet que autorização para captar 1,3 milhão, junto fundo do poço com direito a bater do
cresce desenfreadamente, não como às empresas, para criar um blog. Um blog outro lado da terra, a tendência é subir
ferramenta educacional, mas sim como que terá declamações de poesia na voz ou mudar o rumo. Lembre-se: culpar
um maneira de estar conectado para fazer de Maria Bethânia, um projeto grandioso o Governo ou a mídia não adianta em
“amigos”, os que propagam a escola como com um valor incrível para um País nada, quem faz o índice de popularidade
desnecessária. Somando ingredientes onde ainda é possível ver miséria a cada e relevância é você.
a esse bolo, temos o Tiririca nomeado esquina. O sítio do blog custará em torno Saiba mais:
para fazer parte da Comissão de Cultura de 8.000,00 por ano. Para quem trabalha PISA
e Educação da Câmara; aí, devemos com cultura e conhece a dificuldade http://bit.ly/fTG7w7
zipar a boca porque quem reclama é que é conseguir emplacar projetos com
elitista, tem uma visão autoritária sobre incentivo fiscal, saber dessa autorização Sobre a pesquisa F/Nazca
cultura e educação e está cometendo dá um nó no estômago. Um milhão e
http://bit.ly/dV1VxO

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revista cultural novitas nº 10

Veja mais de Glauco Guimarães na última página

fotografia

E
m matéria do fotógrafo
Kais Ismail Musa — “Uma
Imagem Vale Por Mil
Palavras (mas depende de quem a
vê!)”—, publicada em nossa edição
anterior a imagem a seguir:

Obviamente era uma de informação rápida demais, rasas causam estranheza, mesmo sendo
provocação e o subtítulo já dava a demais, e se em algum momento a pilcha, a vestimenta gaúcha,
dica: tudo, na realidade, depende palavras podem ser distorcidas, declaradamente masculina. Nesse
de uma visão pessoal para que seja imaginem o que não pode caso, a esposa deveria estar vestida
classificado. acontecer com uma imagem? de prenda, com vestido rodado e
florido.
Nem sempre essa “classificação” Aí acima você encontra o
de coisas, pessoas, atos ou fatos é mesmo casal, em outra ocasião. E, na verdade, isso importa?
coerente. Passamos por uma época São heterossexuais e por isso não

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revista cultural novitas nº 10

contos
Sereia E a grande literatura universal se fez...
E todas as perguntas tornaram-se desnecessárias.
Déa Paulino As aflições apaziguadas por lapidar uma frase do grande
mago.
Piracemando, multiplicavam-se entre as distantes O fim da história.
margens do límpido rio fartamente iluminado mesmo nas
mais nubladas estações. Porque eram peixes, nadavam. Aquilo que a gente sabe o que é
Acardumavam-se de acordo com as afinidades pela biologia
explicáveis e aceitavam em seus cardumes outros não-afins Tati Cavalcanti
talvez explicados pela sempre misteriosa natureza.
Porque nadavam, sobreviviam. Venciam em pequenos ou O negócio de pegar fogo, de arrebentar tudo até vidro de
grandes grupos os não raros trechos de águas caudalosas. janela na batida da porta, que é violenta com o batente, por
Fugiam do perigo, das iscas e da ameaçadora facilidade das culpa da pressa. Aquilo que a gente sabe muito bem o nome
grandes redes; em dias chuvosos, refocilavam. Das espinhas e o ritmo. Aquilo de ter que ser agora, afinal, o mundo pode
às escamas, guelras e nadadeiras, eram plural felicidade. acabar e tem que dar tempo da última vez ser incrível.
Ainda assim, alguns deles, frequentemente deslumbrados, Nem é muito, pensa: o que é que você faz de tão incrível
acreditando ousar, se desgarravam. em um ano? Nada porque a gente nem vê mais o ano passar.
Debatendo-se em uma quase-poça, restante da última E isso, da certeza de poder voar, de poder atravessar
cheia, Sereia foi encontrada pelos pescadores com a cabeça oceanos, aquilo da cegueira que todo mundo já viveu pelo
ainda imersa nas águas turvas que seus inexpressivos olhos menos uma vez na vida.
de peixe tomavam como profundidade. Foi levada, louvada, Aquilo de a música da primeira vez arrepiar a espinha
lavada e limpa. Em postas, jaz despedaçada, já fria e assada, depois da qüinquagésima vez. Aquilo de quando se pensar
sobre a amanhecida mesa do jantar. no cheiro esfria a barriga igual uma descida de bung jump.
Aquilo de o amanhã não precisar existir, de a gilete
A aurora dos deuses trabalhar três vezes por semana. A vaidade excita. Aquilo
de ser irresponsável e viver uma história para culpar, uma
Denison Mendes ilusão de meia tigela para bombear o coração mais rápido e
que bombeia tanto que deixa de ser ilusão para ter jeito de
Num certo dia da graça de nosso senhor, lá para as eternidade. Aquilo que parece tanto ser sempre a primeira
bandas do muito antes, melhor vez que a gente deseja sempre que seja a última.
Depois de ter criado tudo ao seu redor, na volta que deu A música que a gente aumenta só para não escutar o
ao mundo, e este ali prontinho, sermão da razão e as razões do sermão.
Tudo se comportando da maneira planejada, As desculpas que a gente arruma para não entender a
O singular, na terceira pessoa do pretérito perfeito do verdade que dói e, então, tentar fugir da dor que demora
verbo dar, fez-se plural. muito até passar. Aquilo de parecer carnaval o ano inteiro, de
E como se multiplicou, encasquetou de saber o porquê e ser verão no inverno pelo simples encostar o dedo na orelha.
de onde viera, já que nada existia antes. Aquilo de vício por remédio que sara, do respirar junto
Só o silêncio. que coloca o corpo de volta no centro do mundo. Aquilo de
Então pegou a primeira árvore que viu e fez o papel. a gente achar que viver é só isso e nada mais e que a razão
Descobriu o grafite, muito antes de sua prole, que o pode ser um abajur com a lâmpada queimada que só existe
confundiu com o chumbo. para constar.
Pensou: que burros!, meu eu mesmo A paixão é um dos mais perigosos vícios.
E colocou dentro de tocos de madeira, fez o lápis. O bom dela é que acaba logo.
Pronto. Agora poderia rascunhar suas preocupações. Melhor ainda é quando ela tem fôlego para se transformar.
Só faltava uma mesa. Pegou outra árvore,
Pensou: desse jeito vou acabar com a floresta. O futuro atrás de uma cortina de névoa
Como não queria se incomodar com o Ibama, criou o
madeireiro e eles que se virassem. Duas semanas depois Evana Ribeiro
recebeu a mesa da mais fina flor feita de mogno e de lambuja
uma cadeira. Tanto tempo se esforçando para chamar a atenção
Que eficiência! do mundo – e de um homem em especial –, para acabar
Sentou-se e começou a rascunhar suas preocupações. daquele jeito. Dentro de um avião com poucos passageiros,
Cálculos complexos, variantes, x para lá, y para cá, raciocinou, ocupando o assento perto da janela, se sentindo um tanto
fez cara de quem não estava entendendo nada, depois de isolada do mundo.
quem desconfiava dos próprios resultados. Na verdade, Elissa queria mesmo estar assim,
Não contente, amassou tudo e jogou no Éden. isolada, sem ninguém prestando atenção nela. Não queria
Que na verdade foi o primeiro lixão jamais visto e nem que puxassem papo sobre o céu de brigadeiro para depois
comentado no grande livro. emendar um comentário galante sobre seus olhos ou
Mas isso é outro capítulo. perguntarem as horas. Seu pensamento estava no pai ali,
Foi então que O cara (não confundir com personagem no salão de desembarque; e nas palavras antes da última
recente) teve a brilhante idéia de criar o verbo, e ele se fez, chamada:
assim, no tapa. — Me perdoe se não soube expressar muito bem o
E o gênio começou a elaborar teorias filosóficas da sua quanto me preocupo com seu futuro. Para um sujeito que
existência. lida com textos, fui muitíssimo ruim com as palavras, mas
De onde vim, para onde vou? Se existo, logo penso? eu te amo muito, filha. E é por isso que acho melhor você se
Ou será o contrário? Só sei que nada sei? Decifra-me ou te afastar um pouco. Vai ser melhor para você.
devoro? Assim como a Leonardo DiCaprio? Ou não? Talvez fosse realmente bom, mas naquele momento
Cansado de tanta pergunta, resolveu passear. No ela não estava totalmente convencida. Precisava pensar
Caminho de Santiago encontrou um coelho. Ficou intrigado mais. Ficaria sozinha como nunca antes; só em uma terra
com aquela criatura. Achou-o um ser iluminado. Batizou-o quase que totalmente estranha. Quando tinha sido a
de última vez em que estivera na Polônia? Fazia tanto tempo.
Paulo. Era ainda uma menininha e não se interessava por nada

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revista cultural novitas nº 10

além das roupas que teria de usar no frio e as fotos que ter alguma forma definida ali, nem que fosse uma sombra
poderia fazer no inverno. Pouco antes de pôr os pés no projetada.
aeroporto, suas preocupações eram as mesmas; mas com O táxi foi diminuindo a velocidade e finalmente
um adicional, teria de se acostumar à cidade que seria sua parou. Só então ela ergueu os olhos para a janela e viu
única companhia. tudo com mais clareza. Viu um rapaz de perfil, encostado
Desembarcou, finalmente, depois de horas. Até em frente a um prédio qualquer. Segurava algo, talvez um
achou que não conseguiria pronunciar a primeira sílaba cigarro apagado. Concentrou-se e fez a melhor foto que
com facilidade depois de tanto tempo muda, e só falando pôde, para depois ficar olhando e buscando algo do homem
quando necessário. Quando deu por si estava em um táxi; que ela sempre desejou. Como quem sentia já ter cumprido
carregando a bagagem e a câmera fotográfica sempre a missão, logo depois de fotografado ele se foi rua afora.
a tiracolo. Fez os primeiros cliques da janela mesmo: o Sem saber seu nome, nem o rumo que aquele estranho ia
céu cinzento, os prédios, a neve lamacenta e as pessoas tomar, sem contar com nada além de uma imagem estática;
caminhando pelas ruas de Varsóvia se tornavam num ela tinha certeza de que acabariam se encontrando.
borrão cinzento quando passavam pela sua lente. Mais tarde, a névoa se mostrava mais pesada,
Olhando os retratos em sequência pelo visor da visibilidade pouca; mas mesmo assim ela sorria. Sorria
câmera, Elissa tentava entender. Aqueles eram os primeiros ao pensar no que se escondia atrás daquela cortina
registros do que seria seu mundo até só Deus sabia quando. acinzentada. E tudo, até mesmo a solidão, ganhava sentido.
Um borrão cinza e só, ao menos a primeira vista. Devia

cruzadinha cultural

2
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solução da edição anterior. 4


* *
5 6
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7
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8
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9

10

HORIZONTAL VERTICAL

2. Escritor símbolo da Semana da Arte Moderna de 1. Mais conhecida escultura de Victor Brecheret
1922 3. Narração em prosa de menor extensão do que o
4. Pintor espanhol barroco romance
6. Mais antigo programa de rádio do mundo. 5. Redundância (proposital ou não) em uma expressão.
7. Imortal paulista, autor dos poemas “Moisés” e
“Juca Mulato”
8. Antônio Gonçalves da Silva, o ...
9. Primeiro livro publicado por Hilda Hilst
10. Conjunto de mitos e lendas de uma Nação.

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revista cultural novitas nº 10

Álisson da Hora
opinião
Mestre em Teoria da Literatura
alissonwittgenstein@hotmail.com

Qualquer coisa: silêncio


O registro do inexprimível em Jacques Roubaud

O
sentido do passado e A luz me ultrapassa pelos ouvidos. E o azeviche preto da plena
da (im)permanência. O juventude
registro da palavra, rítmica, A procura por um esquecimento e a turquesa azul do ser-adulto
assustadora pelo que escorre em (impossível), como se fosse um E o álamo amarelo do nada que
seus vácuos. A escuridão no olhar, remédio para a dor vê-se defrontada não
a fotografia esvanecida, a morte, a com a sempre presente memória. se concebe nem se
afasia. O poeta e matemático francês A recusa em se fazer “versos” é diz
Jacques Roubaud, em “algo: preto”, um recurso que o possibilita fazer e a concha branca da
traduzido para o português por Inês de seus “registros” poemas de um Ressurreição.
Oseki-Dépré praticamente torna lirismo invulgar, que transitam no Enrolavam-se em torno ruídos
as palavras fotografias, imagens de seu próprio jogo de luz e sombras, tranquilos e quotidianos
uma dor flagrante; magicamente
consegue com que os seus versos, do observar o já estático, retratos
estranhamente afins à prosa, sejam passados, imagens que impregnam a A gestação poética da morte
eles próprios materializações de um alma: que ele tenta exorcizar, mas ao
silêncio. mesmo tempo é um exercício de
Publicado em 1986 traz em si o Luz, Por Exemplo presentificação do ser amado já
impacto de uma perda — a morte extinto. A evocação de um nada
precoce de sua esposa, a fotógrafa Luz, por exemplo. preto. encerra o livro que está repleto de
Alix Cleo Roubaud —, entretanto, Vidros. “nãovidas”, de “meditações” e de
por mais que seja algo puramente Boca fechada. abrindo-se à língua. fotografias esparsas, por cima da
biográfico, não cai no equívoco de Janela. reunião de gizes. mesa da memória. A intuição do
tentar fazer poesia com desabafos. Seios. depois embaixo. a mão se instante, como diz Gaston Bachelard,
Guardando as devidas proporções e aproxima. penetra. se sobrepõe ao tempo citadino, a
as diferenças estéticas, aproxima-se Abre certeza de que o que está gravado na
do confessionalismo de Sylvia Plath Lábios penetrados. de joelhos. alma é superior e perene a uma mera
ou de Anne Sexton. Entretanto, há Lâmpada, lá. molhada duração contínua de recordações que
mais. Olhar repleto de tudo. orbitam a mente. Por isso o poema
Um dos artífices do OuLiPo, a que fecha o livro é justamente
Oficina de Literatura Potencial (que, Tais imagens encerram um “Nada”. O nada se reflete nos olhos
entre outros nomes, contou com a panorama de tristeza e tédio, de um do amor morto, que fita um céu
participação de Raymond Queneau, cotidiano evocado e ressignificado, vivo e consagrado, como uma última
Georges Perec), Roubaud sempre que trespassam a vida dos que fotografia capturada no momento da
se pautou por uma meticulosidade ficam, porque permanentes, porque partida, o fim.
matemática, por uma economia iluminam, ainda que timidamente,
verbal que viu-se defrontada em os dias que restaram no meio das Nada
“algo: preto” com a necessidade reminiscências mais caras, uma
do exprimir-se e com a vontade do enumeração de registros que Este pedaço de céu
calar-se: tentam suspender o tempo, anular doravante
a distância da morte, revivificando te é consagrado
1983: janeiro ................ 1985: — ainda que dolorosamente — em que a face cega
junho passagens que nunca morrem, os da igreja
dias de um calendário mais íntimo. se encurva
O registro rítmico da palavra me complicada
horripila. Um dia de junho por uma castanheira,
Não consigo abrir um só livro que o sol, ali
contenha poesia. segundo um epitalâmio de Georges hesita
As horas da tarde devem ser Perec deixa
aniquiladas. um vermelho
Quando acordo tudo preto : O céu é azul ou o será breve. ainda
sempre. O sol pestaneja por cima da Ille antes que terra
Em centenas de manhãs pretas de la emita
refugiei-me. Cité. tanta ausência
Leio inofensiva prosa. A terra inteira está ouvindo as que teus olhos
Os cômodos ficaram no mesmo sonatas do Rosário de Heinrich se exprimem
estado: as cadeiras, as paredes, as Biber de nada
venezianas, as roupas, as portas. Tinta e imagem encontram-se
Fecho as portas como se o solidárias e aliadas ROUBAUD. Jacques. Algo: preto.
silêncio. Como o esquecimento e o vestígio Tradução de Inês Oseki-Dépré. São
No começo dos anos obedientes Paulo: Perspectiva, 2005.
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revista cultural novitas nº 10

entrevista — rafael tombini

Ator premiado e sócio da


Maria Cultura — “uma casa
de comunicação e criação
voltada para a cultura e seus
desdobramentos”, como consta
no site www.mariacultura.com.br
— o gaúcho Rafael Tombini nos
conta um pouco de sua carreira e
de suas ideias.

Imagem: Mario Ladeira—Lockheart Filmes

Editora Novitas: Apesar de teu recordes foram quebrados na esteira de uma parte que será gravada em Bento
currículo imenso (mais de 40 curtas, “Tropa de Elite - 2”? Gonçalves (RS), com elenco gaúcho,
05 longas, 08 especiais para televisão, em maio. Mas o início será rodado em
além de videoclipes) continuas em Porto Investimento. Ainda falta muito para Roma, depois Veneza e diversas cidades
Alegre. Hoje em dia é desnecessário ao que o Brasil perca seu complexo de da região do Vêneto. SAPORE D’ITALIA
autor fixar-se no eixo Rio-São Paulo? inferioridade com relação a países mais vai ao ar em agosto, em Curtas Gaúchos,
desenvolvidos. O investimento deve ser aos sábados, depois do Jornal do
Rafael Tombini: Infelizmente a classe feito em todas as esferas e não somente Almoço, na RBS TV.
artística toma essa direção pela falta de colocando quantias exorbitantes na
oportunidades aqui no Rio Grande do produção de um filme. Precisamos EN: Quais os projetos que podemos
Sul. Temos um investir para esperar para 2011?
pólo audiovisual formar uma
muito importante nova geração RT: Além da série “Sapore d´Italia”
mas os cachês de roteiristas, teremos uma versão reeditada e com
e a sequência fotógrafos, cenas extras para o longa da serie, com
de trabalhos diretores, previsão de lançamento no final do ano.
ainda deixam a cenógrafos, Tem também a estréia do longa
desejar. A maioria maquiadores “Porto Dos Mortos”, primeiro longa
dos projetos entre outros de horror realizado no RS e vencedor
são realizados profissionais. do prêmio de melhor filme no Arizona
de maneira Underground Film Festival e também o
independente EN: Agora em qual faço o papel do protagonista.
e sem qualquer março se iniciarão Tem também o lançamento da série
Em cena em “Sapore D´Italia” - Divulgação
incentivo, as gravações de Contos Gaúchos na TVE, baseado nos
e quando há um financiamento, “Sapore d´Italia”, humorístico produzido contos de Simões Lopes Neto, interpreto
geralmente as produções chamam pela Epifania Filmes. Pode nos contar o personagem Chicão no episódio “No
atores de fora no intuito de dar maior algo sobre esse projeto? Manantial”, dirigido por Henrique de
‘visibilidade’ às suas obras. Freitas Lima. Tem também o curta “A
RT: O projeto iniciou no começo Noite Do Artista” produzido pela Low
EN: A pior pergunta que se pode do ano passado e agora tem data para Filmes no qual faço uma participação
fazer a um contista é quando escreverá ser realizado. A partir de 24 de março, especial ao lado do mestre João
um romance. Relacionando literatura e começam as gravações de SAPORE Castanha.
cinema, para o ator de curtas a questão D’ITALIA, a primeira série de
do longa metragem também é encarada ficção da RBS TV no Exterior,
como um degrau a mais e não um ponto com produção executiva
final? da Epifania Filmes. Humor,
confusão, romance e as
RT: Acredito ser apenas um degrau trapalhadas de um repórter
a mais pois fazendo curtas, televisão e seu fiel escudeiro, o
e teatro o ator também está sempre câmeraman, temperam
buscando um aperfeiçoamento na sua os cinco programas com
arte de interpretar. Claro que um longa direção de Boca Migotto e
tem um peso muito maior para a carreira Rafael Ferreti, com roteiro
de um artista devido a complexidade do de Leonardo Garcia.
envolvimento no projeto como um todo. No elenco estão Rafael
Tombini, Artur José Pinto e a
EN: Cinema no Brasil: o que seria atriz italiana Miriam Marini,
necessário para que o cinema se além de diversos atores Imagem de acervo do entrevistado
mantenha nas marcas de 2010, onde da Itália. Tem também
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revista cultural novitas nº 10

poesia
Matizes
Sandra Cajado

Sempre quis saber o dialeto das cores


Com um simples e doce olhar iniciante
Do percurso renascentista ao moderno
Sem medir os limites da distância

Na sede entre tons que produziam sons


Me vi mergulhada no horizonte dos poemas pintados
Uma espécie de tatuagem que sangrava
Na medida que a pintura muda falasse
Brasil De Muitos
Sarah Amin
As canetas de pena transformaram-se em pincéis
Sou do Brasil de muitos. E a página amarelecida do poema, em tela em branco
Uma mistura de cores e sabores
Meu país é de Buarque, de Meireles, de Veríssimo, Num poema dos amantes
de Drummond.
Meu país é com patativas, colibris, beija-flor. Enquanto isso sigo meus passos entre a canção, tintas e letras
Meu país é das Marias, dos Joãos, das Raimundas Fazendo da obra perfeita o meu caso de amor.
e Antônios. Afinal, é nas cores que cataliso as minhas matizes
E é somente em você que realizo dias felizes.
... Meu país é poesia, ritmo, samba, chorinho e
bossa-nova...

É país da enxada
suor no rosto 002
calos na mão.
David Nobrega
Meu país é de sorrisos, de soluços,
de dunas e cachoeiras. Alimenta-se de sorrisos.
Peças desconexas
Meu país criança é da Quebra-cabeças
experiência Um coração partido Condomínio Via-Láctea
sobrevivência Um adeus sofrido
é fortaleza. O grande amor Silas Correa Leite
Amor perdido
... Já esse país de mensalões é de poucos... Veneno transfundido A lua nova sobre o arranha-céu
Um beijo mal sentido Com rímel de nuvens e sorriso de miss
E no jogo de cintura, eu vejo meu Brasil Aquele sabor, o calor Não sabe de janelas abertas
O grande amor No enorme Edifício Vulgata
no acordar cedo, Amor bandido De arquitetura espacial.
na correria do trabalho, Vai ao longe, distante
no voltar cansado, Mosca mutante O edifício e o condomínio têm luas
suado. Cadaver do já sentido Como tem ruínas e alguns fantasmas
O grande amor Da rua olho todos os sinais
no contar moedas para o pão e cafezinho Amor estremecido Janelas abertas são ruas no breu
e nas noites insones sem dinheiro. Foi e não volta Muito além do noturnal.
A amarra se solta
Vejo esse Brasil de muitos Precisa esquecer, sofrer A lua e o breu noturno no alto céu
O grande amor O condomínio e seus desenredos
na cachaça com limão, Amor, vencido... As luzes e as janelas abertas
no espetinho de gato, Talvez a Lua seja uma
cerveja gelada Válvula de escape sideral.
e samba improvisado.
No céu noturno da cidade grande
É na morena que rebola O prédio é só cimento armado
no banho de chuva com mar Mas a lua é uma janela
e principalmente no gingar No Condomínio Via Láctea
Como um jogo de pinball.
(...)

Insisto
e vejo assim o meu país.

Senão, o desgosto é grande.

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revista cultural novitas nº 10

poesia
Desencontros
Inverno
Olga de Callis
Raphael Rosado do Nascimento
Enquanto olho para um lado
Tu foges pelo outro É de força todo porvir
de realeza qualquer instante
Caminhos Religião e em pranto de me lançar.
Bifurcações Me lanço.
Escolhas Alessandro de Paula
E de história de canto enquanto
Um dia, um encontro. Alimenta-se de sorrisos. qualquer conto me faz sorrir
Noutro, um desencontro. De sol. De sombra. De água fresca, empunho um tanto que nao faz santo
embora prefira cerveja. o ponto ao qual hei de seguir
Situações Alimenta-se do carinho,
Momentos de amigos. É de inocência esse meu olhar
Ações Da luz e das cores das noites festivas. se já distante ao sol me exponho
em brilho bélico , um sonho insone
Ali, eras meu futuro E, ainda assim, na ventania volto a partir
Aqui, já não és nada não é um ser vampiresco
em seu túmulo arquitetando e se no estralejo os anos lançam
Sorriso tolos planos de conquistas vazias. de fel seu braço a perseguir
Lágrima em rima e passos sigo inconstante
Pranto Nem oculta o que tem abraço a prosa de qualquer fugir
de mais belo
Um passo, avante! por autossabotagem,
Um passo, retrocesso. banhando-se em
ilusões de consumo,
Toque mostrando-se assim
Abraço artificialmente seguro
Beijo em sua torre de cristal
que lentamente desmorona.
Um rato que come queijo
Um gato que toma leite É! Quanto mais high, mais low.
Um humano que não toma jeito.
Antolhos
Desculpem tal poeta,
Saíste pela tangente tristes pessoas André F. Frutuoso
Pulsante como uma veia das trevas do mundo.
Vibrante como um torpedo. Não descerá novamente Sem informações verídicas
ao inferno. Sem a reflexão individual
Teu rosto, já não lembro Não estará em busca Continuaremos a crer
Teu sorriso, se perdeu de uma Beatriz No que é vendido no jornal.
Teu cheiro, ainda guardo... que não há.
Somente tendo buscado
... Está comigo todas as noites. Não será um poeta maldito. A verdade por trás do palco
Tampouco bendito. Pode-se enxergar com clareza
Poeta apenas humano A sinistra verdade da beleza.
que ainda tenta aprender a amar,
que sabe o árduo do caminho, Ainda há tempo para acordar
porém não desiste. Sair da alienação efusiva
Pois sabe que além dos clichês, E pelo caminho amor caminhar.
Desilusão do trato e destrato social,
Karla Idiany
das palavras mal-ditas, Mas para isso é preciso lembrar
dos cigarros e pulmões enegrecidos, Das cicatrizes que o passado deixou
Como vagas ressonâncias há redenção. Para não repetir o que nos anestesiou.
Clássicas e vãs Uma religião sem bandeiras.
Belas como um coração
Estranhas não por natureza O poeta acredita em vida nesta vida.
Mas por tristeza Participe!
Assim são as aves A morte nesta vida
As gaivotas azuis deixa aos habitantes Você é bem-vindo para participar
As asas da ilusão da torre de cristal das sessões de poesia e contos. Basta
Da desilusão que já se esqueceram enviar seu texto para:
Da tentativa falsa de como sorrir.
De ser feliz. contato@editoranovitas.com.br

Se sua poesia ou conto for


selecionado, entraremos em contato.

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revista cultural novitas nº 10

Glauco Guimarães
hq
Artista gráfico e ilustrador profissional há 17 anos, participando ou desenvolvendo projetos nas áreas da propaganda, do cinema e dos quadrinhos.
glauco@glauco.art.br

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Porto Alegre, por David Nobrega

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