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ENTREVISTA

“Poucos estereótipos No recém-


-lançado
de herança, que elas alcancem o mes-
mo nível que eles.” Darwin não foi o
único, não foi o primeiro e provavel-

têm base científica”


mente não será o último homem a

Inferior é o
afirmar tais absurdos. O que espan-
ta, porém, é que ele era um cientista.

Car*lhø,
E cientistas não erram, lidam sem-
pre com fatos objetivos, livres de pre-

Angela Saini
conceitos, certo? Errado. No livro In-
ferior é o Car*lhø (DarkSide Books),

analisa
recém-lançado no Brasil, a jornalista
britânica Angela Saini derruba esses

como as
(e outros) estereótipos, muitos dos
quais reforçados pela ciência.

mulheres são
“Na história da ciência, temos que
‘caçar’ as mulheres: não porque elas

estudadas
não podiam fazer pesquisa, mas por-
que na maior parte do tempo elas nem
sequer tiveram essa chance”, escreve
Saini, lembrando diferentes cientistas
que não foram reconhecidas por seus
trabalhos e viram homens receberem
prêmios pelas pesquisas iniciadas por
elas. Só para citar alguns exemplos:
a bióloga norte-americana Nettie
Maria Stevens, que identificou cro-
mossomos determinantes de sexo; a

E
Em 1881, a norte- física austríaca Lise Meitner, que con-
-americana Caroline tribuiu para a descoberta da fissão nu-
Kennard, uma líder clear; e a bióloga britânica Rosalind
do movimento femi- Franklin, envolvida na decodificação
nista na cidade de do DNA. “O preconceito é tão enrai-
Boston, enviou uma carta ao cientis- zado na cultura da ciência que até
ta britânico Charles Darwin com uma as mulheres discriminam outras mu-
pergunta simples: se era verdade que lheres”, enfatiza a autora.
ele havia escrito que a inferioridade No entanto, Saini é otimista, e defen-
das mulheres era baseada em princí- de que a ciência é um processo e está
pios científicos. No texto, ela assume em constante transformação — para
que um gênio como Darwin não po- melhor. “Tenho certeza de que a ciên-
deria acreditar em algo desse tipo e cia tem tudo a oferecer a mulheres e
que seu trabalho certamente foi mal homens que querem viver em um mun-
interpretado. Qual não deve ter sido do mais justo”, escreve. “Os fatos vão
sua surpresa ao receber a resposta. nos empoderar para nos transformar-
“Eu certamente acredito que as mos em uma sociedade melhor, que
mulheres, embora geralmente supe- trata todos como iguais. Não só porque
riores aos homens em questões mo- isso nos torna civilizados, mas porque,
rais, são inferiores intelectualmente”, como mostram as evidências, isso nos
escreveu Darwin. “E, para mim, pare- torna humanos.” Confira nas próximas
COM Angela Saini POR Marília Marasciulo
ce ser improvável, com base nas leis páginas a entrevista com a escritora.

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