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13/04/2021 FENOMENOLOGIA

Hoje: 13 Abril 2021

Fenomenologia - I

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Rubem Queiroz Cobra
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Fenomenololgia (do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou


que se mostra, e logos, explicação, estudo) afirma a importância dos
fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si
mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses
fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um
designado por uma palavra que representa a sua essência, sua
"significação". Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos
apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir
estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que
correspondem a elas (noema). A Fenomenologia representou uma
reação à pretensão dos cientistas de eliminar a metafísica.
O empirismo. Desde Aristóteles até o final da Idade Média, o
caminho para o conhecimento foi o da análise dialética, ou seja, o
raciocínio por dedução lógica, na busca de novos conhecimentos. As
respostas dadas por esse método pareciam tão satisfatórias e
convincentes que não havia muita preocupação em testá-las no
mundo real, mediante a observação. Ciência era o mesmo que
Filosofia, e o método dedutivo lógico dominou o ensino e o estudo da
natureza a partir de conceitos teológicos sobre Deus e o universo.
Por exemplo: se Deus existe, Ele é um Ser perfeito e se é um Ser
perfeito, sua criação das coisas haveria de refletir a Sua perfeição.
Consequentemente, a órbita dos planetas não podia ser qualquer
uma mas devia ser a mais perfeita possível, que é a forma circular e
não a elíptica, porque esta última contem desigualdades. Logo, as
estrelas e os planetas situavam-se em esferas perfeitas ao redor da
Terra.
Galileu (1564-1642), com sua luneta, descobre que as esferas
celestes não existiam e porque contrariou essa idéia, tão certa para
todos, por pouco não foi condenado a morrer na fogueira, acusado de
heresia.
A nova atitude naturalista de Galileu, de dúvida e observação,
inspirou Francis Bacon (1561-1626) a criar tábuas para o controle da
experimentação e o estabelecimento de leis científicas, o que levou
rapidamente o homem a novos conhecimentos na astronomia, na
química e na física. A mesma atitude de observação e interpretação
natural levada ao estudo da mente e do conhecimento, deu origem à
Corrente Empirista, que haveria de afetar profundamente a filosofia e

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criar o Positivismo, ou seja, o tratamento científico de todos os fatos e


fenômenos, inclusive em Política..
John Locke (1632-1704), tido como o maior dos filósofos empiristas,
procurou, no seu Essay Concerning Human Understanding (1690),
demonstrar que todas as idéias são registros de impressões
sensíveis (ou são derivadas de combinações, de associações entre
essas idéias de origem sensível), e criticou o pensamento
de Descartes (1596-1650) de que existiriam algumas idéias que
seriam inatas - que o homem teria no espírito ao nascer -, como, por
exemplo, a idéia de perfeição. Segundo Locke, alguma coisa é
enviada pelos objetos e é captada por nossos sentidos e dão causa à
formação das idéias. Este pensamento é a base da teoria
corpuscular da luz.
Outro filósofo dessa corrente foi David Hume (1711-1776). Ainda mais
contundente que seu predecessor Locke, negou o valor do raciocínio
lógico, denunciando que a relação de causa e efeito não é suficiente
como verdade, pois nada encontramos entre causa e efeito senão
que um acidente costumeiramente se segue a outro. Estamos
habituados a chamar o primeiro acidente de causa apenas porque ele
sempre acontece antes do segundo que chamamos de efeito.
Psicologismo e Historicismo. À influência da psicologia associativa
de Locke sobre a filosofia (ou teoria) do conhecimento se chamou
Psicologismo. É a teoria de que os problemas da epistemologia (a
validade do conhecimento humano) e inclusive a questão da
consciência, podem ser solucionados por meio do estudo científico
dos processos psicológicos. A Psicologia deve ser tomada como base
para a Lógica. Os psicologistas entendiam a lógica - domínio da
filosofia - como ciência. Seria apenas uma disciplina definidora,
normativa, dos atos psíquicos, dos modos associativos do
pensamento, e suas matérias apenas regras para pensar bem, e não
fonte de verdade. A filosofia ficou fora de moda, "reduzida" a uma
psicologia científica vinculada ao Positivismo.
O historicismo representava a mesma tendência empirista para uma
interpretação científica da História. Os fatos históricos somente
poderiam ser compreendidos e julgados se confrontados com a
cultura estética, religiosa, intelectual e moral do período histórico em
que aconteciam, e não em relação a valores morais permanentes.
Husserl. O filósofo Edmund Husserl ( 1859-1938), matemático e
lógico, professor em Göttingen e Freiburg im Breisgau, autor de Die
Idee der Phänomenologie (A ideia da Fenomenologia - 1906) enfrenta
o Psicologismo e o Historicismo, e funda a Fenomenologia..
Contrariamente a todas as tendências no mundo intelectual de sua
época, Husserl quis que a filosofia tivesse as bases e condições de
uma ciência rigorosa. Porém, como dar rigor ao raciocínio filosófico
em relação a coisas tão cambiantes e variáveis como as coisas do
mundo real? O êxito do método científico está em que ele pode
estabelecer uma "verdade provisória" útil, que será verdade até que
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um fato novo mostre uma outra realidade. Para evitar que a verdade
filosófica também fosse provisória, a solução, para Husserl, é que ela
deveria referir-se às coisas como se apresentam na experiência de
consciência, estudadas em suas essências, em seus verdadeiros
significados, de um modo livre de teorias e pressuposições, despidas
de seus acidentes próprios do mundo real, do mundo empírico objeto
da ciência. Buscando restaurar a "lógica pura" e dar rigor à filosofia,
argumenta a respeito do principio da contradição na Lógica.
No primeiro volume do seu Logische Untersuchungen ("Investigações
lógicas"-1900-01), sob o título Prolegomena, Husserl lança sua crítica
contra o Psicologismo. Segundo os psicologistas, o princípio de
contradição seria a impossibilidade do sistema associativo estar a
associar e dissociar ao mesmo tempo. Significaria que o homem não
pode pensar que A é "A" e ao mesmo tempo pensar que A é "não A".
Husserl opõe-se a isto e diz que o sentido do principio de contradição
está em que, se A é "A", não pode ser "não A". Segundo ele, o
princípio da contradição não se refere à possibilidade do pensar, mas
à verdade daquilo que é pensado. Insistiu em que o principio da
contradição, e assim os demais princípios lógicos, têm validez
objetiva, isto é, referem-se a alguma coisa como verdadeira ou não
verdadeira, independentemente de como a mente pensa ou o
pensamento funciona.
Em seu artigo Philosophie als strenge Wissenschaft ("Filosofia como
ciência rigorosa" -1910-11) Husserl ataca o naturalismo e o
historicismo. Objetou que o Historicismo implicava relativismo, e por
esse motivo era incapaz de alcançar o rigor requerido por uma
ciência genuína.
A redução fenomenológica. A fenomenologia é o estudo da
consciência e dos objetos da consciência. A redução fenomenológica
(ou "epoche" no jargão fenomenológico), é o processo pelo qual tudo
que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de
consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente
de algo. Coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos
eventos, memórias, sentimentos, etc. constituem nossas experiências
de consciência.
Husserl propôs então que, no estudo das nossas vivências, dos
nossos estados de consciência, dos objetos ideais, desse fenômeno
que é estar consciente de algo, não devemos nos preocupar se ele
corresponde ou não a objetos do mundo externo à nossa mente. O
interesses para a Fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim
o modo como o conhecimento do mundo se dá, tem lugar, se realiza
para cada pessoa. A redução fenomenológica requer a suspensão
das atitudes, crenças, teorias, e colocar em suspenso o
conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de concentrar-se a
pessoa exclusivamente na experiência em foco, porque esta é a
realidade para ela.

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Na redução fenomenológica, a noesis é o ato de perceber. Aquilo que


é percebido, o objeto da percepção, é o noema. A coisa como
fenômeno de consciência (noema) é a coisa que importa, e refere-se
a ela a conclamação "às coisas em si mesmas" que fizera Husserl.
"Redução fenomenológica" significa, portanto, restringir o
conhecimento ao fenômeno da experiência de consciência,
desconsiderar o mundo real, colocá-lo "entre parênteses", - o que no
jargão fenomenológico não quer dizer que o filósofo deva duvidar da
existência do mundo – como os idealistas radicais duvidam – mas sim
que a questão para a fenomenologia é antes o modo como o
conhecimento do mundo acontece, a visão do mundo que o indivíduo
tem.
Consciência e intencionalidade. Vivência (Erlebnis) é todo o ato
psíquico; a Fenomenologia, ao envolver o estudo de todas as
vivências, tem que englobar o estudo dos objetos das vivências,
porque as vivências são intencionais e é nelas essencial a referência
a um objeto. A consciência é caracterizada pela intencionalidade,
porque ela é sempre a consciência de alguma coisa. Essa
intencionalidade é a essência da consciência, e é representada pelo
significado, o nome pelo qual a consciência se dirige a cada objeto.
Em seu Psychologie vom empirischen Standpunkte ("A Psicologia de
um ponto de vista empírico"- 1874), Franz Brentano afirma:
"Podemos assim definir os fenômenos psíquicos dizendo que eles
são aqueles fenômenos os quais, precisamente por serem
intencionais, contem neles próprios um objeto". Isto equivale a firmar,
como Husserl, que os objetos dos fenômenos psíquicos independem
da existência de sua réplica exata no mundo real porque contêm o
próprio objeto. A descrição de atos mentais, assim, envolve a
descrição de seus objetos, mas somente como fenômenos e sem
assumir ou afirmar sua existência no mundo empírico. O objeto não
precisa de fato existir. Foi um uso novo do termo "intencionalidade"
que antes se aplicava apenas ao direcionamento da vontade.
A redução eidética. Reconhecido o objeto ideal, o noema, o objeto
da percepção, o passo seguinte é sua “redução eidética”, redução à
idéia (do grego eidos, que significa idéia ou essência) ). Consiste na
sua análise para encontrar o seu verdadeiro significado. Isto porque
não podemos nos livrar da subjetividade e ver as coisas "como são" –
o que é o real, uma vez que em toda experiência de consciência está
envolvido o que é informado pelos sentidos e também o modo como a
mente enfoca, trata, aquilo que é informado. Portanto, dar-se conta
dos objetos ideais, uma realidade criada na consciência, não é
suficiente - ao contrário: os varios atos da consciência precisam ser
conhecidos nas suas essências, aquelas essências que a experiência
de consciência de um indivíduo deverá ter em comum com
experiências semelhantes nos outros.
Por exemplo, "um triângulo". Posso observar um triângulo maior,
outro menor, outro de lados iguais, ou desiguais. Esses detalhes da
observação - elementos empíricos - precisam ser deixados de lado a
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fim de encontrar a essência da idéia de triângulo - do objeto ideal que


é o triângulo -, que é tratar-se de uma figura de três lados no mesmo
plano. Essa redução à essência, ao triângulo como um objeto ideal, é
a redução eidética
A redução eidética é necessária para que a filosofia preencha os
requisitos de uma ciência genuinamente rigorosa, requisitos já antes
mencionadas por Descartes, de claridade apodítica, a certeza
absolutamente transparente, e de distinção unívoca, que quer dizer
sem ambigüidade. Os objetos da ciência rigorosa têm que ser
essências atemporais, cuja atemporalidade é garantida por sua
idealidade, fora do mundo cambiável e transiente da ciência empírica.
A Intuição do Invariante. Não importa para a Fenomenologia como
o mundo real afeta os sentidos. Husserl distingue entre percepção e
intuição. Alguém pode perceber e estar consciente de algo, porem
sem intuir o seu significado. A intuição eidética é essencial para a
redução eidética. Ela é o dar-se conta da essência, do significado do
que foi percebido.O modo de apreender a essência é, no jargão dos
fenomenólogos, o Wesensschau, a intuição das essências e das
estruturas essenciais. De comum, o homem forma uma multiplicidade
de variações do que é dado. Porém, enquanto mantendo a
multiplicidade, o homem pode focalizar sua atenção naquilo que
permanece imutável na multiplicidade, isto é, a essência, esse algo
idêntico que continuamente se mantém durante o processo de
variação, e que Husserl chamou "o Invariante".
No exemplo dado do triângulo, o "Invariante" do triângulo é aquilo que
estará em todos os triângulos, e não vai variar de um triângulo para
outro. A figura que tiver unicamente três lados em um mesmo plano,
não será outra coisa, será um triângulo.
Não podemos acreditar cegamente naquilo que o mundo nos oferece.
No mundo, as essências estão acrescidas de acidentes enganosos.
Por isso, é preciso fazer variar imaginariamente os pontos de vista
sobre a essência para fazer aparecer o invariante.
Como dito, não é a coisa existir ou não, ou como ela existe no
mundo, o que importa, mas, sim, a maneira pela qual o conhecimento
do mundo acontece como intuição, o ato pelo qual a pessoa
apreende imediatamente o conhecimento de alguma coisa com que
se depara. Também que é um ato primordialmente dado sobre o qual
todo o resto é para ser fundado. Husserl definiu a Fenomenologia em
termos de um retorno à intuição (Anschauung) e a percepção da
essência. Além do mais, a ênfase de Husserl sobre a intuição precisa
ser entendida como uma refutação de qualquer abordagem
meramente especulativa da filosofia. Sua abordagem é concreta, trata
do fenômeno dos vários modos de consciência.
No entanto, a Fenomenologia não restringe seus dados à faixa das
experiências sensíveis mas admite, em igualdade de termos, dados
não sensíveis (categoriais) como as relações de valor, desde que se
apresentem intuitivamente.
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Resumindo, "epoche" é colocar entre parenteses a atitude natural de


modo que a pessoa possa abordar o fenômeno do modo como ele se
apresenta. Uma vez que a atitude natural é colocada entre
parênteses a pessoa pode abordar o que, de acordo com Husserl,
são os dois polos da experiência: noema e noesis. Noesis é o ato de
perceber enquanto noema é aquilo que é percebido. Através desse
método, para Husserl, a pessoa pode perfazer uma "redução
eidética", ou seja, os noema podem ser reduzidos à sua forma
essencial ou "essência”, que será sua garantia de verdade.
Redução transcendental. Embora tenha trabalhado até o final de
sua vida na definição do que chamou Redução Transcendental,
Husserl não chegou a uma conclusão clara. Basicamente seria a
redução fenomenológica aplicada ao próprio sujeito, que então se vê
não como um ser real, empírico, mas como consciência pura,
transcendental, geradora de todo significado..
Doutrinas afins. A Fenomenologia de Husserl é uma forma de
idealismo, porque lida com objetos ideais, com as idéias das coisas
em sua essência, tal como os idealistas Platão, Hegel e
outros. Desde os ensinamentos de Platão a filosofia nos diz que, por
influência dos sentidos (a construção das idéias que o homem tem
em sua mente se faz por informação dos sentidos, como dito por
Locke) existem várias imagens possíveis de um objeto, porém todas
elas significando a mesma coisa, ou seja, todas elas redutíveis ao
mesmo significado, todas referindo-se ao mesmo objeto ideal,
contendo a mesma idéia, constituídas da mesma essência. Todas as
imagens de mesa (o exemplo mais freqüente nos textos) têm uns
certos componentes que fazem com que cada uma das imagens
signifique "mesa", uma mesa maior, menor, alta ou baixa, vista de
cima ou de baixo, por uma pessoa míope ou por outra daltônica, não
importa, terá sempre aqueles componentes básicos que garantirão a
aquele objeto o significado de mesa.
Para Platão (428-347 AC), essa essência de cada coisa, o que se
chamou "universais", estava no Mundo das Idéias que as almas
humanas podiam vislumbrar antes da encarnação. Aristóteles (384-
322 AC) reconheceu de pronto a importância desse pensamento,
porém trouxe a essência das coisas para o mundo real, para as
coisas mesmas. Em uma mesa, por exemplo, havia algo que era sua
essência, e que, não importando quantas e quais fossem as
variações acidentais, fazia que fosse uma mesa e não outra coisa
qualquer. Husserl, por sua vez, retira do objeto a sua essência e a
coloca na mente do homem. O objeto ideal mesa, o fenômeno da
representação da mesa na mente, independe de que haja qualquer
mesa no mundo externo, no mundo real, porque a essência de
"mesa" está na própria mente.
A afinidade entre Husserl e Kant está em que ambos buscam a
condição de verdade do conhecimento. Husserl sustenta que a
verdade está no conhecimento das essências, e Kant, que ela existe
limitada às categorias do que é possível conhecer.
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Segundo a filosofia do conhecimento (Crítica) de Immanuel


Kant (1724-1804), nós não podemos conhecer as coisas
inteiramente, porque nem todos os sinais que recebemos das coisas
são aceitos pela mente, e disto resulta que não podemos conhecer
inteiramente o real. Conhecemos do real apenas aquilo que a mente
pode assimilar, e que ele chamou fenômeno; ao que permanece
incognoscível para nós ele chamou o noumeno. Então Kant tomou a
série de conceitos que Aristóteles havia listado como o que podemos
dizer das coisas, e transformou-a em uma série de categorias que
são o que podemos conhecer das coisas. Para Kant o dado empírico
tem validade, porém nunca validade absoluta ou apodítica, . Husserl
igualmente duvida do conhecimento científico dos fatos e, para ele, o
que deve ser procurado é o conhecimento científico das essências.
A linguagem. Para o fenomenólogo, a função das palavras não é
nomear tudo que nós vemos ou ouvimos, mas salientar os padrões
recorrentes em nossa experiência. Identificam nossos dados dos
sentidos atuais como sendo do mesmo grupo ou tipo que outros que
já tenhamos registrado antes. Uma palavra, então, descreve, não
uma única experiência, mas um grupo ou um tipo de experiências; a
palavra "mesa" descreve todos os vários dados dos sentidos que nós
consultamos normalmente quanto às aparências ou às sensações de
"mesa". Assim, tudo que o homem pensa, quer, ama ou teme, é
intencional, isto é, refere-se a um desses universais (que são
significados e, como tal, são fenômenos da consciência).E por sua
vez, o conjunto dos fenômenos, o conjunto das significações, tem um
significado maior, que abrange todos os outros, é o que a palavra
"Mundo" significa.
Influência. O movimento fenomenológico, que começou então a
tomar forma difundido principalmente através dos 11 volumes de sua
publicação Jahrbuch für Philosophie und phänomenologische
Forschung (1913-30), do qual Husserl foi o principal editor. Influiu não
somente sobre filósofos mas também sobre psicólogos e sociólogos.
Os existencialistas que o seguiram, principalmente Martin
Heidegger, Jean-Paul Sartre, e Maurice Merleau-Ponty, se intitularam
fenomenólogos.
O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), colega de Husserl e
que dedicou a ele sua obra fundamental, Sein und Zeit (1927; "O Ser
e o Tempo"). foi seu discípulo mas logo surgiram diferenças entre ele
e o mestre. Discutir e absorver os trabalhos de importantes filósofos
na história da Metafísica era, para Heidegger, uma tarefa
indispensável, enquanto Husserl repetidamente enfatizou a
importância de um começo radicalmente novo para a filosofia e, com
poucas exceções (entre elas Descartes, Locke, Hume, e Kant), queria
excluir, colocar "entre parênteses", a história do pensamento
filosófico.
Heidegger tomou seu caminho próprio, preocupado que a
fenomenologia se dedicasse ao que está escondido na experiência
do dia a dia. Ele tentou em O ser e o tempo (1927) descrever o que
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chamou de estrutura do cotidiano, ou "o estar no mundo", com tudo


que isto implica quanto a projetos pessoais, relacionamento e papeis
sociais (pois que tudo isto também são objetos ideais). Em sua
crítica, Heidegger salientou que ser lançado no mundo entre coisas e
na contingência de realizar projetos é um tipo de intencionalidade
muito mais fundamental que a intencionalidade de meramente
contemplar ou pensar objetos, e é aquela intencionalidade mais
fundamental a causa e a razão desta última, da qual se ocupava
Husserl.
Jean-Paul Sartre (1905-1980) segue estritamente o pensamento de
Husserl na análise da consciência em seus primeiros
trabalhos, L'Imagination (1936) e L'Imaginaire: Psychologie
phénoménologique de l'imagination (1940), nos quais faz a distinção
entre a consciência perceptual e a consciência imaginativa aplicando
o conceito de intencionalidade de Husserl.
No seu The Philosophy of Existentialism, de 1965, Sartre declara que
"a subjetividade deve ser o ponto de partida" do pensamento
existencialista, o que mostra que o existencialista é primeiramente um
fenomenólogo. A negação de valores e o convite ao anarquismo
implícitos na doutrina atraíram os pensadores de Esquerda e
afastaram os conservadores de Direita.
Merleau-Ponty (1908-1961), outro importante representante
do Existencialismo na França, foi ao mesmo tempo o mais importante
fenomenólogo francês. Suas obras, La Estruture du
comportement (1942) e Phénoménologie de la perception(1945),
foram os mais originais desenvolvimentos e aplicações posteriores da
Fenomenologia produzidos na França.
Em sua tentativa de aplicar a Fenomenologia ao exame da existência
humana, Heidegger, Sartre e outros autores franceses
desenvolveram uma linguagem sofisticada, recheada de termos que
caíram no gosto dos acadêmicos mas se tornaram um obstáculo ao
entendimento da doutrina inclusive entre os próprios intelectuais.
O mais original e dinâmico dos primeiros associados de Husserl, no
entanto, foi Max Scheler (1874-1928), que havia integrado o grupo de
Munique quem realizou seu principal trabalho fenomenológico com
respeito a problemas do valor e da obrigação.Ampliou a idéia de
intuição, colocando, ao lado de uma intuição intelectual, outra de
caráter emocional, fundamento da apreensão do valor.
A Fenomenologia e a psicologia. Foi de grande importância e de
grande impacto o pensamento fenomenológico na psicologia, na
qual Franz Brentano ( ) e o alemão Carl Stumpf ( ) haviam preparado
o terreno, e na qual o psicólogo americano William James, a escola
de Würzburg, e os psicólogos da Gestalt haviam trabalhado ao longo
de linhas paralelas. This method, and adaptations of this method,
have been used to study different emotions, psychopathologies,
things like separation, loneliness, and solidarity, the artistic

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experience, the religious experience, silence and speech, perception


and behavior, and so on.
Mas a Fenomenologia deu provavelmente sua maior contribuição no
campo da psiquiatria, no qual o alemão Karl Theodor Jaspers (1883-
1969), um destacado existencialista contemporâneo, ressaltou a
importância da investigação fenomenológica da experiência subjetiva
de um paciente.
O paciente psicológico é paciente em vista do objeto ideal que em
sua mente corresponde à realidade, não importa qual a situação
externa, e porque essa construção ideal difere do padrão comum dos
objetos ideais na mente das demais pessoas com respeito aos
mesmos estímulos dos sentidos. O psicólogo precisa encontrar o
significado nos objetos do mundo ideal do seu paciente, a fim de
poder lidar com sua situação psicologia.
Jaspers foi seguido pelo suíço Ludwig Binswanger (1881-1966) e
vários outros, inclusive Ronald David Laing (1927-1989)na Inglaterra,
na psiquiatria existencial da linha filosófica ateia de Sartre; Viktor
Frankl (1905-1997), com sua teoria da logotherapia, na Áustria e,
pioneiramente, Halley Bessa (1915-1994), no Brasil, ambos da linha
do Existencialismo cristão de Gabriel Marcel (1889-1973).
O fenomenalismo. A femonomenologia não pode ser confundida
com o Fenomenalismo. Este não leva em conta a complexidade da
estrutura intencional da consciência que o homem tem dos
fenômenos. A Fenomenologia, diferentemente do Fenomenalismo,
examina a relação entre a consciência e o Ser. Para o
Fenomenalismo, tudo que existe são as sensações ou possibilidades
permanentes de sensações, que é aquilo a que chamam fenômeno. É
materialista. O fenomenólogo, diferentemente do fenomenalista,
precisa prestar atenção cuidadosa ao que ocorre nos atos da
consciência, que são o que ele chama fenômeno.
Comentário e Crítica. Na psicologia, a objeção que se levanta é
contra a possibilidade de se viver com o paciente sua própria visão do
mundo, de sua situação e de si mesmo. Como a subjetividade deve
estar também no psicólogo, é impossível ter o terapeuta uma intuição
desses aspectos que seja inteiramente livre do seu próprio eu, do seu
próprio pensar, de modo a evitar introduzirem-se em sua análise
certas impressões pessoais que precisaria evitar. , então o que a
Fenomenologia diz é que o terapeuta deve buscar compreender com
a sua subjetividade a subjetividade alheia. Na verdade, necessita um
grupo de psicólogos consultores de modo que as suas visões possam
se somar para uma compreensão mais profunda de um fenômeno.
(Isto é chamado "intersubjectividade"). Porém deve lembrar-se de
que, a rigor, ele não tem nenhum padrão absolutamente confiável
para aprovar ou reprovar qualquer comportamento alheio, apesar de
se encontrar confortável com a estatística da normalidade das
atitudes e dos costumes.

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Na Política e no Direito, o modo de se lidar com a subjetividade é a


Democracia, em que o problema da subjetividade é contornado por
meio do consenso, pela coincidência estatística de opiniões, pelo voto
de um conselho ou da população, de modo que, por assim dizer, a
subjetividade de um único indivíduo, ou de uma minoria de
intelectuais, não venha a prevalecer. Em Moral e Religião, a âncora
são as escrituras, consideradas revelação divina.
Rubem Queiroz Cobra

Doutor em Geologia e
bacharel em Filosofia
Lançada em 4/03/2001,
revisada em 20-04-2005. .

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Direitos reservados. Para citar esse texto: Cobra, Rubem Q. - Fenomenologia. Temas de Filosofia, Site www.cobra.pages.nom.br,
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