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CURSO DE PSICANÁLISE
TEORIA PSICANALÍTICA
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Psicanalista e Didata; Professora; Supervisora; Orientadora; Pedagoga; Licenciada em Psicologia da Educação;
Sociologia; Administração Escolar. Especialista em: Educação; Supervisão e Psicanálise; Psicologia e Saúde Mental;
Transtornos da Infância e Adolescência. Membro das Associações Psicanalíticas: APVP/SP; EPPICO/SP e
APICE/SC/BR..
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 03
INTRODUÇÃO
O ser humano faz parte de uma espécie bem sucedida em termos de sobrevivência
biológica, que povoa todas as regiões do universo terrestre. Entretanto a grande
adaptabilidade está na sua capacidade psíquica. É essa ferramenta que o torna capaz de
modificar decisivamente o ambiente a favor de sua sobrevivência e para uma qualidade de
vida, a qual proporciona a ele uma “estadia” maior no planeta terra. Esse processo de
adaptação se dá por meio da construção do conhecimento que o homem vai adquirindo
durante toda a sua existência, como também pela transmissão que vai ocorrendo ao longo
das gerações.
Há saberes que são vivenciados no cotidiano que convivem com diferentes fontes,
tornando-se muitas vezes contraditórios em determinadas ocasiões. Os vários
conhecimentos adquiridos pela humanidade podem ser socializados pelo uso de um código
ou sistema de símbolos que permitem a representação de uma informação. Os detentores
de um conhecimento utilizam códigos como terminologia, a fim de tornar esse
conhecimento socializado, assim, um fomenta o outro. É justamente através da vivência
que surge a dúvida e leva o individuo à experimentação para então o conhecimento tornar-
se ou não cientifico. Exemplificando, pode ser caracterizado e citado o “exossomatismo”
que consiste em uma forma de adaptação inconsciente ou consciente do ser humano às
condições ambientais. Constitui o processo pelo qual os indivíduos e mesmo as espécies,
passam a desenvolver ou viver uma adaptação evolutiva que culminará em um quadro de
seleção natural.
O desenvolvimento humano envolve o estudo de variáveis afetivas, cognitivas,
sociais e biológicas em todo o ciclo da vida, fazendo interface com a biologia, antropologia,
sociologia, educação, medicina entre outras. O enfoque tradicionalmente ficava voltado
para o interesse pelos anos iniciais de vida dos indivíduos, cuja origem está na história do
estudo cientifico do desenvolvimento humano. Entretanto, hoje há um consenso de que a
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que estudasse os signos. Isto fez com que montasse uma teoria, entretanto, não chegou a
escrevê-la.
Portanto, “Semiologia é uma ciência que estuda os signos”, segundo Saussure. O
núcleo de significação de linguagem é o signo. Para o autor o signo é composto de:
“significante” (Se), constituído pela “matéria acústica” ou a “imagem acústica”, nada mais
do que o som, algo que pode ser dividido e que tem contorno sonoro definido2; e
“significado” (So) que é o “conceito da coisa”, constitui um conceito de âmbito da memória,
cuja junção destas duas faces resultará no “signo”. Portanto, o “signo” é sempre “mental”,
ele é a “representação” daquilo que a nossa mente percebe. Quando alguém que não
domina uma língua estrangeira ouve uma palavra, ele capta o “significante”, ou seja, o
“som”, mas não consegue apreender o “significado”3, o conteúdo do que foi dito, por não
conhecer a língua. Saussure não considera a matéria externa, só acredita na existência da
palavra que é percebida pela mente. Portanto, a representação dessa materialidade é feita
pelo autor, através da equação “significante (Se) + significado (So) = signo”. Mais tarde
Adair Peruzzolo e Elizeu Verón e Martini, estudiosos que precederam Saussure,
classificam a “representação” como sendo “matéria significante”.
As formas como o individuo dá significado a tudo que o cerca, refere-se a um
conhecimento que existe há um longo tempo. Da raiz grega “semeion”, provém a semiótica
que constitui a “arte dos sinais”. Portanto, é a ciência que estuda os signos e todas as
linguagens e acontecimentos culturais como se fossem fenômenos produtores de
significado. O “ponto de vista semiótico” se refere ao significante, enquanto o “ponto de
vista epistemológico” esta conectado ao sentido dos objetos. A Semiótica na sua origem
remonta à Grécia Antiga. Portanto, ela é contemporânea do nascimento da Filosofia. Mais
recentemente é que se expressaram os mestres conhecidos como pais desta disciplina. No
início do século XX, ao lado das pesquisas de Ferdinand ddu Saussure surge Peirce com a
“Ciência da Significação”.
Charles Sander Peirce, um lógico e matemático americano, surge com um estudo,
onde propõe a “ciência da significação” como um “processo de produção do signo”. A este
sistema chama de “semiose”, e não apenas a ciência que estuda o signo. Em relação à
semiose, o autor propõe o estudo da relação triádica entre o “signo” (representâmen),
“objeto” (mental) e o “interpretante” que se formam a partir do “representâmen” (sinal,
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A escuta da língua estrangeira é como se fosse uma sonoridade continua, por não conhecer a língua;
quando escuta a própria língua sabe onde termina e onde começa a palavra.
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O sentido e acepção do vocábulo; correspondência que um vocábulo de uma língua tem em outra.
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matéria externa, matéria significante). Peicer vai buscar na filosofia política, através de
John Locke (1690) a palavra Semiotikês para designar a “semiótica”.
O termo “semiótica” vem do grego “semiothiké” que significa a “arte dos sinais”. A
semiótica, portanto é a ciência geral que estuda todos os fenômenos culturais como se
fossem “sistemas sígnicos”, ou dizendo de outra maneira, “sistemas de significação”
envolvendo os signos e a semiose. Abrange um ocupar-se do estudo do processo de
significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da ideia. Na cultura
e na sociedade as marcas como sistema de significação remontam desde a antiguidade, na
mitologia, na música, nas artes visuais, fotografia, cinema, moda, religião, gestos e em
todas as formas de manifestações sígneas em todos os tempos.
Com referência ao signo, pode ser dito que este é constituído por qualquer objeto,
som ou palavra capaz de representar uma outra coisa. Na modernidade, todos os
indivíduos dependem do “signo” para viver e interagir com o meio onde estão inseridos.
Para o homem comum, a noção de signo e suas relações, do ponto de vista teórico, não
são tão importantes, porém estão presentes em seu cotidiano entendidos de maneira
prática e precisa. Os signos são úteis, existem ou sucedem o momento, são
compreendidos e vão além do que se pode imaginar. Pode ser exemplificado com o ato de
dirigir um carro: lemos os discursos contidos nas placas de sinalização, sinais de trânsito,
nas luzes dos semáforos, pelas reações do veiculo ao meio ambiente, entre outros.
O homem intelectualizado não vive sem o signo, precisa dele para entender o
mundo, a si mesmo, as representações de seu mundo interno e as pessoas com as quais
se relaciona. Estão nas relações humanas. Portanto no cerne de tudo – semiologia ou
semiótica – o signo que é o tema central de um discurso, como um outro discurso, constitui
o produtor complexo da semiose. “A semiótica é um saber muito antigo que estuda os
modos como o homem significa o que o rodeia”.
psicanalista é diferente. A razão de existir da língua é o sujeito, e traz consigo uma ideia
inseparável de intersubjetividade. O dizer de um ser falante é sempre constituído de uma
alteridade. Tentar entender essa inclusão do outro no dizer do eu por circunstâncias que
consideram o dialogo, a interação, trazem à cena um Outro elemento subjetivo: o sujeito
do inconsciente, cuja atuação na linguagem é silenciosa e constante. O primeiro elemento
do método semiótico é o “significante”, caracterizado pela imagem acústica. A impressão
psíquica do som é o “significado” que pode desencadear outro fenômeno psico-semiológico
e constitui o segundo elemento do signo.
Saussure estipula duas características primordiais do Signo:
a) O Signo é arbitrário: Isso quer dizer que não há um laço natural entre o significante e o
significado. Por exemplo, lua em Inglês é ‘moon’, enquanto em é italiano é ‘luna’, em
francês ‘lune’. Com essa inferência Saussure distingue um signo de um símbolo; um
símbolo teria uma relação com o objeto representado. Como exemplo, pode-se dizer que
a cruz evoca muita coisa para um cristão, enquanto a suástica a um nazista ou a um
judeu. O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser substituído por um objeto
qualquer, um carro, por exemplo.
b) Caráter Linear do Significante: O significante é de natureza auditiva, desenvolve-se no
tempo, unicamente, e tem as características que toma do tempo em determinada
cultura. Com a constituição da linguagem verbal, existiriam relações sintagmáticas e
relações associativas. As relações sintagmáticas estariam baseadas no caráter linear da
língua, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Estes
se aliam um após o outro na cadeia da fala e tais combinações podem ser chamadas de
sintagmas. Por exemplo, “re-ler”, “contra-todos”, “a vida humana”, etc.
Saussure fazia frequentemente comentários sobre o conjunto dos fatos
semiológicos sem, contudo, apresentar qualquer detalhamento da maioria desses sistemas
de signos. O pesquisador tinha a língua como o principal dos sistemas sígnicos,
mencionando outros sistemas como o “Braille”, o “código de bandeiras marítimo”, “sinais
militares de corneta”, “códigos cifrados” (ex. música), etc. Somente no campo da literatura
Saussure empreendeu estudos mais extensos de sistemas sígnicos não-verbais. Por
exemplo, um estudo mitológico sobre a lenda germânica Niberlungen, que é descrita como
um sistema de símbolos que estão inconscientemente sujeitos às mesmas variações que
qualquer outra série de símbolos, bem como as palavras da língua.
Nos anagramas da poesia latina, Saussure se destacou no âmbito da semiologia.
Em determinado ponto das discussões teóricas, a semiologia saussureana ficou inscrita no
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âmbito da sociologia e da psicologia (1901). O que mais ressaltou este enquadramento foi
a menção feita pelo linguista à aplicação da semiologia ao estudo das instituições jurídicas.
Ainda que o próprio Saussure tivesse a linguística como parte da semiótica, estudos
posteriores conseguiram provocar sérios equívocos que se tornaram polêmicas até hoje,
não sanados no que tange à posição dessas duas ciências: a semiótica contém a
semiologia ou a semiologia contem a semiótica? Convém, no entanto, buscar entender as
contribuições fundamentais do patrono da linguística na formulação de uma teoria geral dos
signos:
a) A arbitrariedade do signo linguístico em relação a sua constituição fonológica, do que
decorre o princípio suplementar da convencionalidade.
b) A não-arbitrariedade, a posterior, uma vez que ao falante não é facultado eleger signo
diferente do convencionado quando estabelece a comunicação com outrem, disto
decorre o princípio suplementar da imutabilidade do signo.
c) A imotivação dos signos quanto ao seu significado.
O princípio do binarismo: significado & significante indicam a associação psíquica
entre a imagem acústica e o conceito, sendo os três termos do modelo diádico de
Saussure: signo = significante + significado. O autor aponta a língua como o mais
importante dos sistemas de signos. Ele considera este o mais complexo e o mais utilizado
dentre os chamados sistemas de expressões sígnicas, mesmo considerando a língua como
apenas uma parte do universo semiológico. Ainda para Saussure, existe uma ciência geral
dos signos (Semiologia), da qual a Linguística poderia ser tão somente uma subdivisão.
Enquanto a semiologia de Saussure afirmava que a teoria do sentido deveria ser
estudada pela semiologia sem “contaminação” de outras áreas como a Filosofia e a
Sociologia, a semiótica proposta por Charles Sanders Peirce abraça as demais áreas do
conhecimento. Afirma que a teoria do sentido só pode ser recebida num corpo filosófico
maior. Este autor que estudou particularmente linguística, filologia e história, além de todos
os tipos de ciências, dominava dez idiomas. A semiótica peirciana pode ser considerada
uma filosofia cientifica da linguagem. A fenomenologia é a ciência que permeia a semiótica
de Peirce, devendo ser entendida no seu contexto. Para ele a fenomenologia é a descrição
e análise das experiências do homem, em todos os momentos da vida. Nesse sentido, o
fenômeno é tudo aquilo que é percebido pelo homem, seja real ou não.
Peirce acreditava que a semiose era uma manifestação da tendência humana de
buscar a verdade. O autor afirmava que a “verdade” é uma atividade dirigida para um
objetivo capaz de permitir a passagem de um estado de insatisfação para um estado de
satisfação, sendo este o motor do comportamento. Conceituou de forma indissociável de
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ciência (per scientiam). Mas após o pecado, o homem conhece o mal por experiência e o
bem somente por ciência”, afirma Autun (apud AGMBEN, 2005). Eva foi quem caiu primeiro
em tentação. O mito do paraíso trouxe uma duplicidade ao signo feminino entre outras
narrativas. A debilidade implícita de Eva cede ao chamado do diabo. Ao profanar o paraíso
conduz a humanidade ao ciclo de vida e morte, de procriação e realização da vida humana,
para além do paraíso exclusivo de Deus. O mito de Eva representa vida e mundo. A
transgressão dela é criadora. É a palavra iluminadora da dualidade humana, que, fora a
posse da semente do bem e do mal em sua essência, emana a capacidade reprodutiva e
de reprodução do mundo, o poder criador que remete ao divino, afirma Gea (2007). Noé e
a esposa, depois do Dilúvio, receberam a ordem dada a Adão e Eva: “sejam fecundos e
multipliquem-se pela terra”. Mas logo Noé é obrigado a amaldiçoar seu próprio filho pela
primeira desobediência.
Os mitos, a partir da escrita, obtiveram a condição de representatividade na
literatura, sobretudo através dos trageógrafos gregos, como Ésquilo, Sófocles e Euripedes,
entre outros. São autores de textos mitológicos enriquecidos pela arte da fantasia e
imaginação criativa do artista. A tragédia é uma forma transformada do mito, segundo
Azevedo (2015), cujas alterações são feitas para que o relato se encaixe na escrita. O mito
é na verdade o conjunto de suas variantes, transmitido em diferentes versões. A obra
literária pode ser entendida como “recorte” de uma ou mais variantes que se adapta à
leitura que o autor faz de um determinado mito. Como exemplo pode ser citado a versão
literária de Sófocles na peça de Édipo Rei, entre outras tantas do mito edípico. Portanto, há
uma clara diferença entre mito e tragédia. A tragédia é uma variante recortada e
transformada formal e esteticamente para a arte. Ela compreende o relato de situações de
acontecimentos terríveis que inspiram comoção. Constitui em uma forma dramática cuja
finalidade é despertar o terror e a piedade, baseada no percurso do herói que termina
quase sempre num acontecimento que enuncia ou precede a morte.
Na modernidade os mitos continuam existindo, porém mais adequados à realidade
atual, segundo Müller que afirma: “com a diferença apenas de que atualmente não
reparamos nela, porque vivemos sua própria sombra e porque, nós todos, retrocedemos
ante a luz meridiana da verdade”. Entretanto, nem por isso deixam de serem naturalmente
mitos e de inspirarem as pessoas, seja por meio das religiões ou da ciência.
O mundo moderno procura satisfazer todas as necessidades do homem através do
consumo. Entretanto, esse mesmo consumo o escraviza. Torna-se seu único objetivo,
destrói sua individualidade. O homem comum, preocupado em obter todos os bens ou
produtos de massa, torna-se um mero componente na máquina de consumo, um operário
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que quer ser um consumidor. Incapaz de obter satisfação vê-se impotente e diminuído. O
mundo moderno procura suprimir a religião, os mitos e os heróis, pois é nestes que o
homem procura forças para superar o sentimento derrotista em que mergulhou. As religiões
aparecem como fonte de conforto, esperança de sucesso que o mundo material não lhe
pode oferecer.
O herói é uma das manifestações mais fortes do mito, presente em todas as áreas
da cultura. Seja no cinema, na literatura, na televisão ou nas histórias em quadrinhos, o
herói surge na vida dos povos como guardião de seus valores mais nobres e justos. É
responsável não só pela defesa dos homens, mas pela transmissão de ensinamentos para
as gerações futuras, através de suas narrativas. Entre os ídolos na atualidade, os do
futebol estão mais próximos do herói clássico, como também os da música. Segundo o
sociólogo Ronaldo Helal (1999), a trajetória do herói do futebol, ligada à luta, à disputa e ao
sucesso em virtude da derrota do oponente, é semelhante às batalhas dos mitos da
antiguidade. O autor afirma que essa característica do “ídolo-herói acaba por transformar o
universo do futebol em um terreno extremamente fértil para a produção de mitos e ritos
relevantes para a comunidade”.
O herói atual tem sua narrativa construída segundo um padrão midiático para
corresponder aos anseios do público. Se por um lado o homem contemporâneo des-
sacraliza os deuses e heróis de antes, de outro, reforça e fetichiza os mitos da pós-
modernidade. O consumo e o estilo de vida de um mundo cujos rituais já não giram mais
em torno de figuras sagradas, mas sim de desejos mundanos, ao invés de libertar o
homem dos limites da religião, apenas a substituem, aprisionando o espirito humano e
submergindo-o em suas próprias ambições. É importante perceber que não se pode retirar
do mito o seu poder emocional, tão pouco seu efeito metafisico sobre os homens. O
simbolismo que está atrelado aos mitos lhes dá legitimidade, mesmo que para isso tenham
mudado de forma e de apresentação.
Na verdade não há uma oposição entre mito e realidade, verdade, modernidade,
mesmo que de fato na consciência e no senso comum, “o apelo ao moderno evoca um
tempo percorrido e denominado vitorioso desmantelamento a antigas mitificações
sedimentadas e enraizadas no costume” de acordo com Grossi (2007). Segundo o autor,
devido às conquistas do progresso humano através da secularização e a consequente
posse de verdades cientificas. No consciente coletivo, o mito não significa somente coisa
fantasiosa, irreal, de acordo com Costa Neto (1999), mas quer dizer, em primeiro lugar,
uma narrativa de significação simbólica e, como tal, pode auxiliar a ciência a expor suas
teorias de forma viva e imaginativa.
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guerra, e assim outros tantos, e por tanto, giram em torno não do fim em si mesmo, mas de
um novo começo. Um leque de aberturas se descortina no estabelecimento de uma
comunhão entre mito e psicanálise.
O efeito do mito é desvelar as contradições, pois apresenta a recorrência de certas
questões conflitantes da humanidade: vida e morte; o mesmo e o outro; a diferença sexual;
o perene e o transitório; etc.. O homem indaga muitas vezes: por que os mitos? A literatura
oral de modo geral, utiliza com tanta frequência a duplicação, a triplificação de uma mesma
sequência. Lévi-Strauss responde que a “repetição possui uma função própria, que é a de
tornar manifesta a estrutura do mito”.
O inconsciente, a espinha dorsal da descoberta freudiana - a psicanálise e sua
clínica - também se funda na figura do paradoxo, na coabitação de opostos, no conflito e na
repetição - tendência de retorno ao mesmo ponto de origem, em geral, ao ponto de
encontro com uma satisfação originária e absoluta, e, portanto, mortífera. Mas, o eterno
retorno não significa sempre o retorno do idêntico. Ao contrário, voltar é ser, mas apenas o
ser do devir, pois supõe um mundo em que as identificações prévias são abolidas,
dissolvidas e metamorfoseadas.
O deus da medicina, Asclépio que é filho de Apolo, no seu santuário transmite seus
oráculos por meio dos sonhos. No ritual de cura por incubação, o doente é recebido para
passar a noite com o objetivo de ingressar no sono e incubar o sonho curativo. A palavra
clínica origina-se, etimologicamente, do grego “Klinico”, “Kline” e do verbo “Klino” que
significa tratamento, leito ou repouso, e deitar reclinar, debruçar, inclinar. Na clínica, não
por acaso, coube a Freud a invenção do artifício do “divã”, representante emblemático da
posição privilegiada para as experiências de nascimento, doença, sexo, morte, sonho ...
dos pacientes. Deitar-se para relembrar, retomar o que não pode ser esquecido, segundo
Pastori, é o convite de trabalho psíquico a ser realizado pelo analisando. Aquilo que não
pode apagar – não esquecimento -, traduzido também por desvelamento da verdade.
Lévi-Staruss esclarece que há muita psicanálise no mito, a partir do par analítico,
mas dialético, e de verdade-esquecimento. No mito há verdade velada em seu interior,
esta intimamente ligado à noção de verdade. Este é o anúncio de um dos princípios
fundamentais da psicanalise, o princípio da dualidade como estruturante da vida psíquica.
Freud salienta que o psiquismo não se restringe ao individuo e que a vida humana é tecida
entre o coletivo e o individual. Ele recomenda aos psicanalistas, não só a inclusão de um
curso de mitologia na formação psicanalítica, como também a relevância em conhecermos
o desenvolvimento da linguagem – a etimologia – ao trabalhar na tradução da linguagem
do sonho.
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histórias, em todos os sentidos das expressões, o mítico esta presente. Freud aponta o
conceito mítico como uma repetição histórica. Este conceito do mítico conduz a um
conhecer, um olhar semiológico sobre uma compreensão de um sistema particular
construído a partir de uma cadeia semiológica existente e anterior a ele.
Nos processos de desenvolvimento de seu pensamento é necessário lidar com a
origem e o proposito da cultura humana como tal, afirma Freud. Para o autor, cultura
significa todos os aspectos em que a vida humana tem se levantado acima da condição
animal e que difere da vida de uma fera. A cultura inclui todo o conhecimento e poder que
os homens acumulam, a fim de dominar as forças da natureza, de um lado, e de outro,
todas as providências necessárias para que as relações dos homens uns com os outros
possam ser reguladas. Condições estas inseparáveis porque os recursos existentes e à
medida que satisfazem os desejos dos instintos estão profundamente entrelaçados. E
escreve Freud: ”Parece mais provável que cada cultura deve ser construída em cima de
(...) coerção e renuncia ao Instinto”. O homem forma a cultura, entretanto, “ele é, ao mesmo
tempo sujeito a ela, pois ela doma seus instintos selvagens e faz com que o homem se
comporte de forma socialmente aceita”.
A essência da cultura, segundo Freud, não esta na conquista da natureza pelo
homem como maneira de dar suporte à vida, mas na esfera psicológica, em que cada
homem possa conter seus instintos predatórios. A religião é um dos refreadores do instinto
que o homem criou para perpetuar sua cultura. O aspecto particular da religião como
reflexo da consciência moral é reconhecido por Freud. Escreve que uma de suas funções é
tentar “corrigir as tão dolorosamente sentidas imperfeições da cultura”. Argumenta o autor
“que sofremos de neuroses da infância que são naturais e derivam das condições
exteriores e da falta de carinho”. Afirma que a religião elimina a maioria daquelas neuroses
a custo de desenvolvimento da neurose que ele considerava como “a neurose universal”, a
neurose mais comum, da qual “era difícil de se libertar, em oposição às neuroses tratáveis
da infância”, que ele considerava curáveis.
A psicanálise, a semiologia e a teoria da comunicação podem ser sistematizadas e
integradas de uma maneira metódica e ao mesmo tempo prática no cotidiano da clínica
psicanalítica. Em princípio tudo parece se opor à linguística e à psicanálise, o linguista ao
psicanalista, e parece que ambos não nasceram para se encontrarem ou mesmo para se
entenderem. O psicanalista visa uma ação terapêutica por definição diferente e estranha ao
linguista, porém ambos escutam, embora cada um tenha a “escuta” a seu modo. O linguista
se preocupa em escutar de forma objetiva entre as variantes das ligações ou a diversidade
dos modos de formação neológica, enquanto o psicanalista deve ter uma escuta
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diferenciada, praticando a fórmula proposta por Freud, a “Atenção Flutuante”, com seu
“terceiro ouvido” (Reik). Sua escuta deve ser sensível àquilo que “não é dito”, ou que se
“diz mal”, ou reconhecendo nos “atos falhos” os verdadeiros atos bem sucedidos, aquilo
que provém do inconsciente.
Nas teorizações iniciais de Freud, ao criar a psicanálise, assim como Karl Abraham,
os mitos são usados para demonstrar a existência de desejos, pulsões, e instintos. Eles
são criados como ressonadores de desejos que precisam permanecer escondidos na
mente humana e produtora, pelo mesmo processo de sonhos devaneios, fantasias
(inconscientes) e da arte. Todos eles são considerados “formação de compromisso” e
“formações substitutivas”, cuja função é dissimular as verdadeiras motivações das pulsões,
buscando algum modo de descarrega-las. Num segundo momento da obra de Freud, os
mitos são compreendidos como modelos de subjetivação.
Freud foi um grande admirador e estudioso das fontes mais primitivas da evolução
do homem: a mitologia, a filosofia e a literatura antiga. Ao iniciar a psicanalise, ele
começou descobrindo o “poder mágico” simbólico da palavra. A clínica freudiana verifica
em que medida os afetos e as representações estão ligadas a complexos laços simbólicos,
bem como, a expressão verbal opera nesse emaranhado de coisas. A linguagem é a
condição do inconsciente na estruturação da subjetividade humana. O sujeito se constrói a
partir da fala dirigida ao Outro, organizando seu corpo, seu desejo e seus vínculos.
As mensagens inconscientes, por exemplo, seriam essas auto-mensagens que o
sujeito codifica por si mesmo e que depois não sabe mais decodificar. Dentro dessa
perspectiva, o psicanalista trabalha a título de intérprete entre o inconsciente, emissor que
transmite em cifra, e o pré-consciente, receptor que não pode decriptar essa cifra sob pena
de experimentar desprazer. Na patologia da comunicação do paciente psicanalítico, vemos
fenômenos de codificação ou de decodificação patológicas ligadas a uma delimitação
incorreta de classes significantes e de classes significadas; o que tem como consequência
uma pragmática incorreta da comunicação.
O paciente psicanalítico se põe em comunicação patológica, de um ponto de vista
pragmático, com seus objetos - na transferência, com seu analista -, na medida em que as
classes significantes de seu código informativo, equivalentes às “representações de
palavras”, segundo Freud, e as classes significadas desse mesmo código ou
“representações das coisas”.
Foi através dos trabalhos de Melanie Klein, Hanna Segal, Wilfred R. Bion e outros
autores da escola inglesa, bem como, através dos escritos de Jacques Lacan, André
Green, Jean Laplanche e outros autores da escola francesa, que progressivamente surgiu
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Freud, nesse mesmo artigo, baseado em hipóteses cientificas dos etnólogos de sua
época, reconstrói o mito da morte do “Pai primitivo” e vê nele as origens da mais antiga
forma de religião, o “totemismo”, bem como a moral e a vida social. Ele retoma a questão
do incesto, enunciada anteriormente como experiência estruturante do individuo e das
neuroses. O autor demonstra que o “desejo do incesto” esta presente em todas as
sociedades e que o mesmo é fundador da exogamia, colocando-o no centro organizador da
cultura. Freud lança a ideia da necessidade de haver uma força repressora, uma interdição,
ditada e mantida por uma instância capaz de manter essa lei e que funciona como um
obstáculo para a descarga pulsional, assevera Bento (2007).
Inspirado no mito de Édipo, Freud descreveu a “função paterna” como estruturante
do psiquismo através do Complexo de Édipo. A lei foi atribuída ao pai, um pai potente que
intervém na relação mãe/filho, privando a mãe de seu objeto e colocando limite no gozo
desmedido. O pai está inscrito no psiquismo da mãe, em sua experiência edípica com seu
próprio pai, e em sua vivência amorosa com seu parceiro. O pai é um operador simbólico,
ele ordena uma função estruturante do ponto de vista do inconsciente. O pai da realidade é
o representante do “pai simbólico” e depositário de uma lei que vem de outro lugar. Freud
atribui ao pai de alteridade, um “modelo para todos”, um pai soberano, ideal, um grande
Outro da linguagem, que Lacan denominou de “Nome-do-Pai”.
O sujeito, em especial o neurótico, faz uma tentativa de manter o pai no lugar do
sagrado, na esperança de recuperar sua autoridade que é posta em questão nas
configurações familiares atuais. As famílias tem experienciado mudanças radicais: valores,
identidades e comportamentos, ao logo do tempo. Modificações nas formas de procriação,
o ato sexual deixou de ser a única forma de fertilização; mudanças na maneira de criação
dos filhos, bem como, crescente demanda de modificações da identidade sexual.
As consequências decorrentes dessas modificações não produzem problemas mais
sérios do que os que já existiam em relação à subjetivação do individuo pela falta de um
pai de família. Não é a presença do pai que faz a diferença, mas sim que o sujeito seja
reconhecido pela “palavra do outro”. Portanto, não importa que haja carência paterna por
esse pai ser enfraquecido demais ou faltar. “O essencial é que o sujeito, seja por que lado
for, tenha adquirido a dimensão do Nome-do-Pai”, afirma Lacan (1957).
O ponto de apoio por excelência para a construção de uma “Semiologia
Psicanalítica” a partir de Lacan foi à linguística saussuriana e o retorno a Freud, devido à
analise do inconsciente freudiano segundo o método estruturalista. A célebre hipótese
marcadamente da essência de seu pensamento foi a de que o “inconsciente é estruturado
como linguagem”. Essa célebre hipótese marcou a essência do pensamento lacaniano e
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sensível exposto no verbal e no não-verbal do paciente, algo difícil de conseguir, mas que
se impõe sem alternativa e que implica na “neutralidade” sem a qual não há psicanálise.
Todo o ser humano, em função da própria natureza, a todo o momento sente, pensa, julga
e principalmente interpreta, pois vive a inferir a partir do significante e do significado que é
ouvido, do tocado, do gosto sentido, do olhar lançado sobre algo, ou do perfume aspirado.
Assim, em cada palavra o analista se depara inevitavelmente com o signo, e este composto
de significante e de significado, implicando denotações verbais e não-verbais.
O signo apresenta características de um estojo, pois além do dito, há palavras, atos
e produções imaginárias que o compõem. Sempre trazem dentro de si, algo muito
importante, valioso para ser compreendido, a partir do que o paciente produza consciente
ou inconscientemente. Justifica-se a abertura desse estojo, pois no signo há também o
estilo, ou seja, o “como diz” e que se junta à situação. Assim a par disso, mecanismos de
defesa são instalados devido aos preconceitos e o temor da rejeição do ser humano. Este
já nasce para desfrutar prazeres, o que justifica a situação cautelar de cada um no
momento da produção de palavras mesmo que de uma maneira informal.
As defesas são usadas para neutralizar as dores mentais, ou para controlar as
pulsões inaceitáveis pelo superego. Por isso, a cada representação de toda a ordem e
afetos dolorosos que surgem, o ego faz adaptações. Os mecanismos de defesas podem
tomar formatos de comportamentos mal adaptados o que provoca o surgimento de
sintomas neuróticos, e por vezes referidos às funções defensivas relacionadas com
sentimentos, pulsões e afetos que insurgem de maneira disfarçada, em meio aos
discursos, os verbais e os não-verbais. De alguma forma isto reforça a importância de um
“olhar semiológico psicanalítico” especialmente quando tudo que se tenha do paciente seja
um bocejo, um pigarro, um muxoxo (estalar de língua), um suspiro, uma olhada no relógio,
não esquecendo que as cinco posturas citadas são nada mais nada menos do que
“discursos” altamente importantes.
Na clínica, a prática mostra que a demanda do paciente provem de seu
inconsciente. Devido a isso, ele tem dificuldade em responder por que vem buscar o
terapeuta. O analista deve ter a preocupação com a coerência na formação das frases,
enquanto semântica, e através de sintaxe, buscar a relação coerente entre os símbolos
adotados no campo analítico. Ao inferir, seja ao pontuar ou ao interpretar (quando seja
possível),considerar: a fonte da angústia; as defesas e seus graus de importância e eficácia
contra a angústia; e a natureza da pulsão que busca descarga.
O paciente deve dizer ao analista tudo o que este precisa saber sobre ele em seus
discursos verbais, como também informar tudo o que não pensa dizer sobre “si mesmo”.
33
Entretanto, o analista precisa ter a percepção, através das manifestações e linguagem não
verbais, sobre o que significa não perguntar, e “aguardar e decodificar as mensagens e
comunicações” transmitidas por aquele. No discurso que o paciente traz, feitas as
interpretações, o analista deve perceber se estas foram adequadas quando: a angústia
diminuir e houver melhora na sintomatologia. Quando isto não acontece, é importante
pesquisar o sentimento de culpa que pode se encontrar no nível inconsciente a exigir
análise das formações de compromisso que pode surgir nos sonhos, se os apresentar, nas
parapraxias, nos chistes, nas fantasias, nas lembranças, nas associações livres, sobretudo,
de forma aprofundada. O analista deve trabalhar focado nas “falas”, ações e os estados
afetivos, especialmente aqueles que influenciam os sentimentos.
Para ampliar o campo de visão e escuta da fala proferida pelo paciente, o
terapeuta pode observar uma divisão no discurso, segundo a sugestão de alguns autores.
Estes discursos terapêuticos se entremearão nas comunicações que venha fazer ao
paciente, tais como:
a) Descritivo - reconhecer os seus próprios padrões de comportamento patológico;
b) Reconstrutivo – apontar o padrão seguido por ele, quando externalizar afetos,
discursos de toda ordem, bem como atitudes postas nos termos de suas relações
objetais no lar;
c) Interpretativo – promover a produção do insight, possibilitando que o analista
interprete os mecanismos de defesa, a importância do superego, os traços de
angústia, de inibição e de raiva;
d) Requalificação ou ressignificação - corrigir as desqualificações do “self” e de outros
elementos nos discursos deste com o analista, levando o indivíduo a compreender
sua tendência para denegrir a si mesmo e/ou os outros;
e) Prospectivos - o analista tenta produzir futuros “out sights” no paciente e/ou também
o reconhecimento de novas possibilidades comportamentais e cognitivas em si
mesmo ou em outros;
f) Diretivo - analista tenta provocar o paciente para que compreenda como pode
cooperar ativamente no processo terapêutico com o fim de torná-lo mais efetivo;
g) Convencional – usar e direcionar a conversa para o tema da análise, quando o
paciente encontra com o analista no elevador, ou mesmo numa festa; o analista não
pode assumir uma postura paternalista, mas manter as regras vigentes do “setting
analítico”, visto que este não constitui o espaço, mas as regras, quando foram
acordadas.
34
8. Entendendo a Semiologia
conceito ou à noção do objeto. É dito de todo o objeto, forma ou fenômeno que representa
algo distinto de si mesmo, tal como: a “cruz” é o significado do “cristianismo”; a cor
vermelha é o significado de “pare” no código de transito; a bandeira pode ser o significado
do “país”, do “time de futebol”, do “clube náutico”, entre outros tantos.
A partir da teoria no sentido saussuriano, os “signos” psíquicos serão constituídos,
portanto, pela união dos “significantes” (imagem acústica dos sons) e dos “significados”
(conceitos do referente). O usuário poderá estabelecer relações semiológicas corretas
entre “sinais” e “mensagens” se tiver previamente formado de maneira correta as classes
significantes e significadas correspondentes. O significante tem um código afetivo, como
por exemplo, a angústia, relacionado a um fato psíquico no inconsciente, não sabido e
ligado a um objeto referido. Exemplo: a angústia que pode ser aniquiladora, ligada ao
desprazer, à dor, ou a angústia diante de um prazer. O outro elemento do signo é
constituído pelo significante, que é a parte fônica, ou a imagem acústica de um fonema
provido de significação. O significante apresenta um código informativo, como: o som, os
sintomas, as relações objetais.
9. Semiologia Médica
impedidas de retomar sua vida com plenitude, o que vem bloquear sua produtividade e
impedir de seguir o curso normal de sua existência.
O paciente psiquiátrico resiste mais em procurar o médico e fazer o tratamento.
Quando este está decidido a procurar um psiquiatra, indica que sua infelicidade ou angústia
superam o preconceito de ser estigmatizado como paciente “psiquiátrico”, na maioria das
vezes. Este tipo de paciente precisa fazer uma descrição dos sentimentos mais íntimos, os
seus e de seus familiares, frequentemente a um “estranho”, devido aos seus sentimentos
de vergonha e humilhação que com certeza o acompanham.
A anamnese psiquiátrica envolve os mesmos elementos de toda história clínica do
paciente. Os dados desta são obtidos de duas fontes, do próprio paciente ou de seus
acompanhantes. Normalmente este tipo de paciente chega à consulta psiquiátrica com um
familiar, ou uma ou mais pessoas mais próximas que o conduzem. O paciente deve ser
ouvido em primeiro lugar, sem a presença do(s) acompanhante(s), para depois fazer a
escuta daqueles que com ele chegaram até o médico. É importante estar atento, pois os
pais podem ter dificuldade em ver distúrbios de conduta nos filhos, inveja e competição
entre irmãos.
O exame psíquico consiste na avaliação do estado mental do paciente no momento
da entrevista. Constitui numa das etapas mais importantes. Esta observação é feita
mediante observação cuidadosa do comportamento, tais como: relação com o
entrevistador, consciência, atenção, orientação, pensamento, memória, afetividade,
sensopercepção, vontade, psicomotricidade e inteligência.
A sensopercepção é a capacidade de uma pessoa apreender as impressões
sensoriais, dando-lhes um significado. Esta apreensão depende do tipo de estímulo, da
higidez dos órgãos sensoriais e da integridade do sistema nervoso central. É também
influenciada por várias funções psíquicas como a vontade, a afetividade e a inteligência. Os
principais transtornos da sensopercepção são as ilusões e as alucinações. As ilusões são
percepções deformadas, pois aos aspectos reais de um objeto percebido acrescentam-se
outros imaginários. A alucinação constitui a “percepção” sem o objeto, ou seja, ouvir vozes
que ninguém em volta está ouvindo, ou ver objetos que não estão presentes e outros não
os veem.
Os distúrbios da psicomotricidade possuem grande valor semiológico em
psiquiatria, pois muitas vezes fornecem pistas seguras em direção a uma determinada
afecção psiquiátrica. O exame psíquico deve ser feito de forma minuciosa a fim de que
possa fornecer uma imagem viva do paciente. A precisão no uso de termos para descrever
sinais e sintomas é essencial também para a psiquiatria.
40
adotada uma nova forma de apresentação dos critérios para reconhecimento das questões
semiológica clínicas. Seguindo a proposta, através de um olhar longitudinal sobre o curso
dos transtornos mentais, assim foram organizados o referenciais:
Transtornos do Neurodesenvolvimento;
Gama da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos;
Transtorno bipolar e outros transtornos relacionados;
Transtornos depressivos;
Transtornos de ansiedade;
Transtorno obsessivo-compulsivo e outros transtornos relacionados;
Trauma e transtornos relacionados ao estresse;
Transtornos dissociativos;
Sintomas somáticos e outros transtornos relacionados;
Alimentação e transtornos alimentares;
Transtornos da excreção;
Transtornos do sono-vigília;
Disfunções sexuais;
Disforia de gênero;
Transtornos Disruptivos, controle dos impulsos e conduta;
Transtornos relacionados a substâncias e adição;
Transtornos neurocognitivos;
Transtornos de personalidade;
Transtornos Parafílicos;
Outros Transtornos Mentais;
Transtornos do Movimento induzidos por medicamentos;
Outros efeitos adversos de medicamentos;
Outras condições.
A “Hipocondria” foi excluída da classificação do DSM-5. Foi considerado o caráter
pejorativo em relação ao diagnostico devido ao não enquadre nos atuais critérios para o
Transtorno com Sintomas Somáticos. Portanto, os pacientes passaram a receber o
diagnóstico de “Transtorno de Ansiedade de Doença”.
As questões referentes à sexualidade e os transtornos que o individuo possa
desenvolver estão classificados em três novos capítulos: a) Disfunções Sexuais - grupo de
transtornos heterogêneos tipicamente caracterizados por uma perturbação clinicamente
significativa na capacidade de responder ao prazer sexual; b) Disforia de Gênero -
descreve o diagnóstico onde o individuo apresenta uma diferença marcante entre gênero
42
emoções. Esse tipo de paciente usa consistentemente a própria aparência física para
chamar a atenção sobre si mesma, apresentando um discurso excessivamente
impressionista, sedutor e carente de detalhes. Geralmente, tem por habito o uso da auto
dramatização, da teatralidade e de uma expressão emocional exagerada. É uma pessoa
sugestionável, ou seja, é facilmente influenciada pelos outros ou pelas circunstâncias,
considerando os relacionamentos mais íntimos do que realmente são.
A personalidade histriônica é mais florida do que da histérica, praticamente em
todos os aspectos. A causa básica está ligada às vivências edipianas, mais frequentemente
nos pacientes histéricos. As regressões são mais arcaicas – orais – e estão presentes nos
casos histriônicos. O paciente histérico verdadeiro conseguiu atingir relações maduras com
um objeto interno, caracterizado por temas edipianos triangulares e foi capaz de formar
relacionamentos significativos com ambos os genitores. O paciente histriônico encontra-se
fixado a um nível diádico mais primitivo de relações objetais, muitas vezes caracterizado
por apego, masoquismo e paranoia.
A categoria “neurose” foi definitivamente abandonada na publicação do DSM-III,
sendo diagnosticados os sintomas histéricos como “Transtornos de sintomas somáticos” e
“Transtornos relacionados”. Desde então, os sujeitos que recebem esse diagnóstico
acabam buscando múltiplos médicos para os mesmos sintomas. Parece não responder a
intervenções médicas, revelando um tratamento médico inadequado, segundo a
Associação Americana de Psiquiatria (2014). Os pesquisadores dessa última edição, o
DSM-V, acentuam que os sintomas clinicamente inexplicados, continuam sendo um
aspecto chave. Exemplificam com o “transtorno conversivo” cujos sintomas não são
compatíveis com uma fisiopatologia médica.
A psicanálise, desde Freud, vem propondo uma maneira de fazer diagnóstico que
se distingue do discurso médico e que se confunde com o discurso psiquiátrico e
psicológico. Portanto, no diagnóstico freudiano não se trata de agrupar sinais e indicadores
da doença como o que é proposto no DSM - V, mas sim localizar a posição em que o
sujeito se localiza frente à castração. Portanto, o diagnóstico em psicanálise é da ordem da
construção, não estando reduzido às classificações desse documento.
Em “A psicoterapia da histeria” (1895), Freud se refere à “arquitetura da histeria”,
concebendo a mesma como uma estrutura com arranjos morfológicos: um arquivo de
lembranças e um núcleo traumático; e arranjo dinâmico, referindo a um fio lógico. A partir
do diagnóstico como construção, Lacan (1960) propõe “estruturas clínicas” - neurose,
psicose e perversão -, afirmando que é a estrutura que faz aparecer o sujeito. Os ditos do
sujeito são tomados como efeitos de estrutura e, a partir deles, é possível construir as leis
45
que regem a lógica do significante de cada sujeito, apontando para a sua posição subjetiva.
O que evidencia a partir da noção de estrutura, é que o diagnóstico em psicanálise se
desloca efetivamente das classificações, reconhecida e efetivamente afastado dos
diagnósticos de “transtornos” do DSM – V. Isso leva a pensar que as classificações
contidas nesse documento se transformam em catálogos para enxugar todas as maneiras
possíveis de adoecer, causando um novo modelo de clínica, o da medicalização. A questão
é que tanto os médicos quanto os psiquiatras não deveriam desqualificar “o sujeito do
inconsciente” anestesiando a “dor psíquica” de qualquer natureza com drogas que
garantem a felicidade, pois a série de revisões do DSM aboliu a própria subjetividade.
em classes. Isso se deve, graças a essa relação biuniversal que ele mantém com o
universo das angústias. Ocorre devido ao fato de que essas angústias representam a
transformação mais frequente que os afetos sofrem em virtude da repressão das
representações desprazerosas que daí resultam.
O “signo” formado por uma classe de relações objetais como significante e por
uma classe de angústias como significado coincide com o conceito de “misto de
representação e de afeto” de André Green. Este autor se apoia em uma tese mais geral
segundo a qual “os afetos também têm, como objetos externos, sua representação
psíquica”. No sentido econômico, é o afeto que deve ser tornado inconsciente, enquanto
que no sentido tópico e sistemático, é a representação que se torna inconsciente. “O afeto
reprimido é tornado inconsciente”, sustenta Green, apoiando-se na afirmação clara e
decisiva de Freud, segundo a qual “a representação do desenvolvimento do afeto constitui
a finalidade específica do recalque e o trabalho deste permanece incompleto enquanto a
finalidade específica não é atingida”.
Quando o ego-prazer forma suas classes de afetos e de representações, tenderá a
recalcar no inconsciente a classe significante das representações hostis, para reprimir,
sempre no inconsciente, a percepção da mensagem afetiva desprazerosa concreta.
Situações posteriores de angústia marcam as primeiras relações do bebê com o mundo
exterior.
Na medida em que é estabelecida a equivalência entre “representação”, seja ela
afetiva, seja objetal, e “classe” de afetos, ou de relações objetais é estabelecida a
equivalência que existe entre a capacidade do ego de “representar” para Freud, ou de
“simbolizar” para M. Klein, e a capacidade de classificar tanto suas relações objetais com
referência à classificação das mesmas relações objetais. Em consequência, as dificuldades
de “simbolização” se reduzirão a dificuldades de classificação dos objetos devidas a um
déficit na pertinentização afetiva desses últimos: o ego classifica seus objetos atuais em
função de suas classes de afetos arcaicos e narcísicos.
A inclusão sistemática dos afetos experimentados pelo usuário, ou interpretante
dos signos, quando adota uma atitude semiótica, constitui uma das contribuições mais
notáveis com que a psicanálise pode, por sua vez, enriquecer a semiologia. O análogo que
poderíamos depreender da teoria da técnica psicanalítica residiria na inclusão sistemática
dos afetos experimentados pelo analista na contratransferência, quando utiliza seu
conhecimento da classe desses afetos a título de instrumento de primeira importância para
discriminar a classe de relações objetais em questão na transferência de seu analisando.
48
desprazer, a angústia suscita da parte do ego uma “reação passiva ou ativa.” Ao lado de
cada movimento instintivo se observa o seu contrário, segundo ele. A estrutura final ativa e
passiva continua a existir conjuntamente e merece ser expressamente conceituada sob o
nome de “ambivalência”.
A presença simultânea de tendências, de atitudes e de sentimentos opostos, na
relação com um mesmo objeto, essas complexidades de sentimentos ou flutuações de
atitudes reside na manutenção de uma oposição em que a afirmação e a negação são
simultâneas. Surge como ação fundamental do paciente em sua posição atuante
manifestamente básica:
a) Posição Ativa X Posição Passiva
b) Sedutor X Seduzido
c) Desorganizador X Desorganizado
d) Fazendo Medo X Assustado
e) Enfurecedor X Enfurecido
f) Abandonar X Abandonado
g) Invejar X Invejado
h) Amar X Amado
i) Odiar X Odiado
j) Temer X Temido
Desta ação se deduz a posição “complementar e inversa” que caracteriza a
posição recalcada, porque contém a projeção de seu ego sofredor que, no caso de ela se
tornar consciente ao ser reintrojetada, aumentaria sua angústia, ou seja, lhe proporcionaria
desprazer. A posição básica e seu complemento invertido é então inverter tais posições, é
o que é considerado mais eficaz na prática, mas sua aplicação ao pé da letra não é
indispensável.
COMPLEMENTARES e INVERSAS
ESQUIZO-PARANÓIDE e DEPRESSIVA
acordo com Gear e Liendo (1976), uma associação com os conceitos linguísticos e
psicanalíticos, seria:
Significante Significado
Manifesto Latente
Signos/Sinais Mensagens
Pcs/Cs Ics
Conclusão: deve ser determinada em cada relato do paciente qual a relação objetal
em evidência – sabida - (significante/Pcs/Cs) para poder inferir sobre a angústia
relacionada, não sabida (significado/Ics).
O conhecido conceito psicanalítico da TRANSFERÊNCIA, como a repetição de
uma relação do passado no presente, encontra respaldo no conceito semiológico da
COMUTAÇÃO, ou seja, o “processo semiótico teria continuidade por comutações” o que
quer dizer “por substituições de fatos concretos iniciais por outros” e assim “por meio dos
quais o ego observará se a relação inicial se mantém ou não, para confirmar ou invalidar a
hipótese semiótica que ordena os universos em classes.”
A partir deste conceito Comutação/Transferência o nascimento como perda de
relação objetal continente, pode ser considerado como fato inicial de referência para todas
as vivências desencadeantes de desprazer/dor, ou seja, angústia aniquiladora.
Unindo os conceitos psicanalíticos de representação (de “coisa” e de “palavra”) com
os conceitos linguísticos de signo/sinal (significante + significado) na concepção
semiológica, temos que uma posição básica no entendimento das relações entre as
“representações de palavras” (enquanto significante/Pcs-Cs) e as “representações de
coisas” (enquanto significado/Ics) é a de que “guardam entre elas uma relação perturbada
de simetria invertida”. Isto para “evitar o experimentar, em um plano secundário de
codificação afetiva, a classe dos significados afetivos com coloração de desprazer e
angústia, que resultam de uma utilização correta desse código informativo.”
O paciente se vale de uma relação invertida na tentativa de não deparar-se com o
desprazer do significado inconsciente, habitualmente recalcado. Ocorre, segundo Cichoski,
a formação de uma “estrutura” com sinais significantes conscientes contrários (invertidos)
aos significados inconscientes. Tal situação nos permite antever/deduzir a “estrutura
inconsciente ‘inobservável’”.
Alegria Tristeza
Expresso Não Expresso
descrição do mito, Freud propicia uma moldura discursiva que nos permite ampliar a escuta
psicanalítica, bem como, das práticas politico-sociais. Algo de fundamental se presentifica
no mito do Édipo. Para além da escuta, Freud ao toma-lo como referencial modifica a
compreensão dos fenômenos, desvela a maneira como a lei se inscreve em sua dimensão
psicanalítica ou jurídico-politica. O pai é colocado como aquele que interdita a mãe, e é
nesse exato ponto que a sua figura encontra-se vinculada à lei primordial da proibição do
incesto.
Freud sugere que o mito do “Édipo Rei” é um processo que pode ser comparado ao
trabalho de análise, supondo que este é o caminho da constituição da doença psíquica. No
período do desenvolvimento do Complexo de Édipo, a criança se encontra numa situação
de dependência vital de um sistema de interação triádico. Este é contraditório e
constantemente instável, fazendo identificações polarizadas simultâneas, complementares
e excludentes da parte de cada um de seus pais. A criança precisa se definir em duas
opções parentais restritas e excludentes: definir-se como “papai” (ou substitutos), ou se
definir como “mamãe” (ou substitutas). A criança tem de elaborar álibis que lhe assegurem
uma definição de sua identidade menos punida e mais louvável pelos pais, pois não pode
se retirar do “campo edipiano”, visto que sua vida depende da permanência nele. Ela
precisa então se adaptar à interdição edipiana factual, bem como à interdição convencional
de se dizer semelhante ao genitor do sexo oposto. A criança não deve agir plenamente
como o genitor do mesmo sexo, mas deve se dizer semelhante a este. Ela acha por outro
lado que cada um dos pais faz exatamente ao contrario do que diz e faz (no sentido ativo e
passivo), e que ele exige simultaneamente de seu parceiro que este faça e diga o contrário
do que ele “faz” e “diz que faz”. Quando a criança age separadamente com cada genitor
pode se tornar complementar a esse genitor e fazer o que ele “diz que faz”. Os espelhos
semântico, narcísico e edipiano invertidos só lhe bastam para resolver interações diádicas
imediatas.
As contradições são resolvidas pela criação de outro nível de contradições, onde a
criança dispõe de: código informativo convencional congruente com o que ela diz é
congruente com o que faz; código sexual convencional, segundo o qual ela diz e faz
(masculinidade ou feminilidade) como o genitor do mesmo sexo; código informativo
narcísico, que é uma transgressão do primeiro, por meio de uma inversão sistemática
verbal do que ela fez; código sexual edipiano, que é uma transgressão do segundo, por
meio do qual esta denota sua semelhança com o genitor do mesmo sexo, mas denota e
conota com o genitor do sexo oposto.
Depositário
Paciente
FEMININO
Cs Cs
Ego Superego
Superego
Ego
Ics Ics
IDENTIFICAÇÃO ATUAÇÃO
Genitor mesmo sexo Genitor sexo
DIZ oposto
FAZ
é um castrado) e: ‘você não deve ser assim – como seu pai –‘ (senão eu o castro), ‘pois
você não deve fazer tudo o que ele faz, há alguma coisa que está reservada
exclusivamente para ele’ (a relação dele com sua mãe). Sugerimos que, diante desse
dilema, o sujeito “é” genitalmente como o genitor do mesmo sexo, isto é, heterossexual (e
não se trata de um castrado), mas “faz” ao mesmo tempo como o genitor de sexo oposto,
no sentido de que adota a personalidade e a posição habitual deste na interação (e ele não
é castrado porque não faz tudo o que faz o genitor do mesmo sexo).”
Mais ainda, considerando a posição freudiana de papéis ‘ativos’ e ‘passivos’ e as
possíveis evoluções do complexo de Édipo: direto e inverso, os autores apresentam a
seguinte afirmação: “a identificação com o genitor do mesmo sexo e a busca de um objeto
que oferece características similares às do genitor do sexo oposto corresponderia à eleição
‘ativa’ de objetos que resulta do complexo de Édipo direto, ao passo que a eleição ‘passiva’
de objetos que resulta do complexo de Édipo invertido (isto é, um homem escolheria uma
mulher com características não-genitais mais ‘semelhantes’ às de seu pai do que às de sua
mãe, sem para isso escolher um homem como parceiro, assim pois o homem – sem deixar
de ser homem – isto é, igual a seu pai no genital -, não é como seu pai no não-genital, pois
não possui uma mulher como sua mãe, ao mesmo tempo em que elabora, por
identificação, a dor de ter perdido genitalmente sua mãe proibida.”
Exemplos clínicos:
C
s
Clivagem do ego
Recalque da SINTOMA
S
Pulsão
Super
Ego
Recalcad
o
Ics
RECALQUE ATUAÇÃO
satisfaz o Superego Representação das pulsões
Evita o desprazer moral Evita desprazer biológico
Representação de palavras Representação coisa factual
Semelhante a um “ouça o que eu digo, já que não me dou conta do que faço.”
Do ponto de vista prático, aplicando as correlações dos conceitos acima
apresentados, com o objetivo de conseguir os dados que capacitem o entendimento do
caso de cada paciente, os autores sugerem que se selecione e avalie um trecho da história
do paciente, procurando determinar, a partir dos dados:
Uma “ação fundamental” do paciente, ou seja, qual a sua posição atuante manifesta
básica, tal ação compõe a “posição recalcadora e seu sistema objetal continente”.
Sedutor Seduzido
Desorganizador Desorganizado
Enfurecer Enfurecido
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Invejar Invejado
Amar Amado
Odiar Odiado
Temer Temido
Introjeção
Seduzida Re Sedutor
R
cal
Cs e Cs
qu
cu
e
sa
Ics Ics
Sedutora
Seduzido
Projeção
Indução
seguinte construção: ele faz e lhe fazem o contrário daquilo que ele ‘sente’ que faz a
seu analista e daquilo que esse analista faz a ele.
Essa última etapa é a que deve ser dosada com a maior precisão para evitar a
reação terapêutica negativa, tendo em vista que ela expõe o paciente à angústia
aniquiladora que ele experimenta com a ideia de ser semiologicamente excluído por seu
superego se ele toma contato com uma percepção correta – não invertida e não mutilada
das posições de interação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Freud (1913) com seus estudos, num segundo momento de sua obra, permitiu
perceber que é importante orientar a pesquisa semiológica para os tabus e para as
religiões, que se mantêm ao lado dos mitos. O autor aborda o estudo do fenômeno
religioso demonstrando que a religião é inimiga da ciência. Entretanto, o homem sente
necessidade de crer e opta se quer ou não crer. As razões para a atitude do crente justifica
uma investigação psicanalítica. A interpretação psicanalítica do fenômeno religioso pode
prestar um grande serviço a todo aquele que crê ou não, pois possibilita que estas opções
sejam motivadas por razoes psiquicamente sadias e não neuróticas ou neurotizantes.
Existe um pensamento semiológico em Lacam, implicitamente sugerido.
Entretanto, esse sem pensar lacaniano não possui a influência de Saussure, o autor
conserva apenas o seu modelo linguístico, em particular o modelo de signo enquanto
unidade de uma linguagem. Para Lacan, a semiologia é vista como uma disciplina,
portanto, está fora da linguística.
O pensamento semiológico de Lacan recebeu a influência de Freud, considerando
questionamento dele em uma passagem interessante, quando Lacan questiona “o que
distingue esses dois mecanismos (a condensação e o deslocamento), no trabalho sonho
(...) de sua função homóloga no discurso”. E ele responde: “nada, a não ser uma condição
imposta ao material significante”, explicando que “essa condição constitui uma limitação
que se exerce no interior do sistema da escrita, longe de dissolvê-lo numa semiologia”. É
possível pensar na existência, em Lacan, de uma analogia entre, por um lado, o sonho em
Freud e o discurso, e, por outro lado, a análise do sonho em Freud e a análise semiológica
do discurso. Portanto, dessa forma, é possível supor que a hipótese lacaniana segundo a
qual “o inconsciente é estruturado como linguagem” decorreria de um raciocínio,
implicitamente sugerido, seguindo o modelo daquele que pareceria caracterizar o que se
pode compreender como sendo uma “semiologia freudiana do sonho” em Lacan.
Freud usou a literatura, os mitos e a produção cultural para argumentar sobre suas
teorias, e em especial das pulsões. O homem ficou trancado em algo que o autor propõe
como pedra angular de sua teoria, o Complexo de Édipo. Partiu do modo grego de ver o
mundo. Demonstrou que complexos de fato explicam como a mente humana funciona, e
ainda mais, que o conteúdo dos complexos é mítico. Funciona apenas em Édipo e
Narciso? Variantes? Outros mitos? Do Jardim do Éden? Da Torre de Babel? Entre outros
nessa temática, na base, a concepção aristotélica da sexualidade é semelhante à
concepção que Freud como presente no inconsciente.
70
REFERÊNCIA BIBILOGRÁFICAS:
18. GREENSON, Ralph R. A técnica e a prática da psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1981.
19. NUNES, Portella. Psiquiatria e Saúde Mental. São Paulo: Atheneu, 2000.
20. OLIVEIRA, Sandra Regina R. & outros. Uma contribuição da semiótica para a
comunicação visual na área da saúde. Interface, Comunicação, Educação e Saúde.
Botucatu, SP, Vol.13, Nº19, Abril/Junho, 2009. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832009000200013. Acessado em: 25 de junho de
2017
21. PASTORI, Jussanan, A. D. Psicanálise e linguagem mítica. Ciência e Cultura. São
Paulo, Vol 64, Nº 1, Janeiro de 2012. São Paulo, 2012. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252012000100009. Acesso em: 12 de julhode
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22. PEIRCE, S. Charles. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2003.
23. ROMANINI, Vinicius. Semiótica de Peirce. Minute Semiotic. USP ECA. São Paulo, 2009.
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24. ROUDINESCO, Elisabeth & PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro:
Zahar, 1998.
25. SAUSURRE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Ed Cultrix, 1995.
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27. ZIMERMAN, David E. Vocabulário Contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2001.
28. ZIMERMAN, David E. Manual de Técnica Psicanalítica Uma Re-visão. Porto Alegre:
Artemed, 2004.
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ATIVIDADES:
1. Identificação
4
Nome fictício, e todos os demais descritos no caso.
74
anos de idade, Bacharel em Direito, exercendo uma ocupação, cuja atividade era
autônoma – representante comercial. Estava estudando para realizar a prova da OAB, pois
deseja fazer concurso público na área – ser Promotora de Justiça. O pai, Técnico em
Planejamento, contando dom 29 anos, residindo e trabalhando numa empresa no sul do
Brasil, distante uns 800 km da cidade e estado onde a família residia.
2. Genotograma/ heredograma
3. Motivo da consulta
Após a visita paterna, a qual ocorre a cada 30/40 dias, a mãe notou que seu
Pedrinho, seu filho mudou de comportamento. Ele passou a se isolar, recusando o
alimento, ficando durante cinco dias sem comer e com vômito. Apresenta dificuldades para
dormir, e quando dorme o sono é intranquilo, agitado. Na escola, as professoras reafirmam
o sintoma, observando que a criança se isolava do grupo, ficando grudada com uma das
professoras, com recusa a qualquer atividade.
vezes o teste de gravidez, conta ao namorado sobre seu estado. Ele se afasta e ela não
teve coragem de contar para sua família. Passou a somatizar seu conflito, piorando a cada
dia. Sua mãe preocupada peregrinou por vários médicos na região, os quais não
descobriam o mal que acometia a moça. A gestante se mostrava apática, sem ânimo para
frequentar a faculdade, ou fazer qualquer tipo de atividade, apresentando dores de
estomago, vômitos e dores de cabeça e emagrecendo a cada dia. Um médico
gastroenterologista foi quem anunciou a gravidez já em três meses. Os pais aconselharam
a filha a não casar, afirmando que estariam ao seu lado e a ajudariam a criar o bebê.
Passando alguns dias o casal de namorados decide se casar, o que ocorre três meses
após. Nesse momento o casal recebe ajuda financeira da família, mas seguem brigando e
brigando cada vez mais, onde a mãe do bebê relata muita angústia. A partir do terceiro
mês o desenvolvimento dos aspectos físicos da mãe, na gravidez foi normal, porém aos
sete meses de gestação, caiu no box do banheiro, durante o banho. Os ferimentos
corporais foram grandes, sem prejuízo para o bebê, ficando em repouso na casa da mãe.
Sem atenção do marido, relata que a gravidez não foi pior porque tinha apoio de sua
família. A criança nasceu a termo, parto normal, pesando 3,20 quilos, com 46 centímetros
de altura, e os testes do “pezinho” e “orelhinha” apresentaram resultados normais. O bebê
foi amamentado até os sete meses. Aceitou bem a alimentação sólida quando do
desmame. Engatinhou aos dez meses e aos onze meses iniciou a marcha. O pai bebia
com os amigos, durante o primeiro ano de vida de Pedrinho, o que gerava muitas brigas,
conflitos conjugais e angústia materna. Junto com os amigos, ele era muito solidário e
cortês, mas com a esposa, muito agressivo (xingamentos e humilhações).
6. História Médica
Até o momento deste relato, foram realizadas três sessões com a criança, cujas
brincadeiras repetidas observa–se aspectos transferenciais. Na primeira entrevista,
Pedrinho fica no colo da mãe e resiste a aproximar-se da psicanalista. A analista começa
ofertar objetos em sua mão, provocando a queda dos mesmos. Na repetição desta
brincadeira, Pedrinho desce do colo da mãe, aproxima-se da analista, sorri e começa a
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8. Hipótese Diagnóstica:
9. Direção da Cura:
A gestação de Pedrinho foi marcada pelo mal estar da mãe, a negação da gravidez,
não só por ela, mas pelo seu corpo, pois apesar de seus sintomas não consegue ser
olhada na medida em que vários médicos que consultou não perceberam a gravidez
apesar dos sintomas evidentes. Ressentia-se de atenções e cuidados por parte do marido,
apresentando tristeza e nostalgia na gravidez, apesar de afirmar que passou bem e estar
feliz com o bebê. O que as vivências da mãe poderiam ter marcado no bebê?
Pedrinho apresenta um desenvolvimento normal e sadio, considerando os aspectos
neurofisiológicos e anatômicos. A mãe mostra acentuada preocupação em relação aos
cuidados com o filho, dizendo “deixei minha vida para cuidar do Pedrinho”. A criança fica
colada à mãe. Parece que Pedrinho não consegue vivenciar a angústia da
presença/ausência da mãe, mas um apego. Talvez o temperamento agressivo do pai,
acompanhado dos episódios ocorridos por ocasião das últimas visitas tenham provocado a
situação traumática que levou ao sintoma do Transtorno de Consumo Alimentar
Evitativo/Restritivo diagnosticado pelo Pediatra. A maternidade exclusiva vivenciada pela
mãe, “deixando tudo” para cuidar do bebê, anulou sua condição de mulher, marcada pelo
modo de vida familiar, as mulheres cuidam da criança, enquanto os homens marcam a
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Pedrinho é colocado num lugar de preencher a falta na vida da mãe, pois “deixou
tudo” para realizar a maternidade. Os homens da família, ao que parece se demitem da
função paterna, deixando esta a cargo das mulheres. Apesar de Pedrinho verbalizar
algumas questões referentes ao pai, coloca no corpo, como “representação de coisa” o que
não consegue dizer na “representação de palavra”. As atitudes e movimento do pai, com
seus sintomas em relação à criança a coloca numa posição fragilizada, provocando nesta
um sintoma. Será que a criança entra numa posição de renúncia à vida? Poderá ser
entendido como uma defesa em relação ao seu sintoma? A mãe, apesar de sua fragilidade,
apoiada pela irmã, vai buscar entendimento da mensagem embutida no sintoma. Estará
desejosa de entender no nível simbólico o que se passa com seu filho? Será importante
evitar a intervenção no campo da realidade, para salvaguardar uma dimensão simbólica e
ajudar Pedrinho dar um sentido ao seu sintoma. Ficam ainda dúvidas sobre o que se pode
apurar nesse curto percurso terapêutico, mas permanece a possibilidade de perceber o que
será revelado como significante ao longo do trabalho.