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Pragmatismo Normativo, Direito e Democracia

Bruno Camilloto
Professor de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto. Doutor em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto.

1. Introdução.

A partir da Constituição de 1988 a compreensão do conceito de democracia

exige a participação do cidadão na formação dos atos públicos uma vez que os

efeitos de tais atos serão experimentados pelo próprio cidadão. Essa exigência se

relaciona com a necessidade de legitimar os atos públicos produzidos pelo Estado

frente ao titular do poder: o cidadão.

Enquanto saber teórico e prático vinculado às culturas humanas, o Direito se

apropria de modelos de pensar ao longo da história. 1 Sendo assim, torna-se

necessário identificar um modelo de racionalidade que seja adequado à realidade

jurídica contemporânea, especialmente aquela conformada normativamente pelo

conceito de democracia. Entender o Direito como ciência social aplicada (MARÇAL,

2011) é compreender que o conhecimento jurídico deve ser um conhecimento que

se constitui a partir das relações humanas. O Direito deve ser um conhecimento que

leva em consideração as necessidades teóricas e práticas de uma determinada

sociedade e de seus indivíduos.2


O presente texto foi produzido no curso de Doutorado em Direito junto a PUC-MG (2011-2015).
Durante o desenvolvimento da pesquisa o autor contou com o apoio da UFOP, FAPEMIG e CAPES.
1
Para o desenvolvimento da relação entre o Direito e outros modos de pensar ver: MARÇAL, 2007.
2
Necessidades teóricas e práticas, num sentido amplo, devem ser compreendidas como aquelas
inerentes a satisfação intelectual, espiritual e material do ser humano. Sou grato a Vanessa Nunes
Kaut pela observação lançada sobre esse argumento.
2

A atividade de pensar sobre o Direito deve se constituir como uma reflexão

teórica e prática sobre uma realidade social. O resultado dessa atividade deve

configurar-se como uma possibilidade de interferência na própria realidade.

A filosofia pode ser compreendida como um ‘modo’ de pensar a realidade. A

atividade de reflexão, oriunda do pensamento racional, constrói as próprias

condições do compreender o mundo real. Sobre o saber absoluto no final da

Fenomenologia do Espírito Hegel, segundo Pinkard (2010, p. 07), afirma que “[...]

toda filosofia é seu próprio tempo apreendido no pensamento [...]”. Nesse sentido,

realidade e pensamento se articulam dialeticamente possibilitando a compreensão

das ideias que formam uma rede conceitual. É essa rede de conceitos que permite a

construção e a reconstrução permanente dos sentidos das práticas e ações

realizadas pelos homens dentro da sociedade. 3

A advertência de Hegel explicitada anteriormente impõe-se ao próprio

pensamento, especialmente sobre o pensamento contemporâneo. Isso porque é o

homem o responsável pelas mudanças tecnológicas, científicas e culturais, ou seja,

pelas mudanças produzidas na estrutura social como um todo. Diante de uma nova

(outra) realidade social, exigem-se novas (outras) formas de pensamento e reflexão.

Diante de novos problemas inexistentes ou impertinentes a uma determinada

realidade social, novas propostas de soluções (respostas) são reivindicadas pela

categoria do pensamento.

Nesse contexto não é possível compreender o pensamento contemporâneo

sem o esforço de compreensão dos desafios que o pensamento moderno 4 enfrentou,

3
Em sua Filosofia do Direito Hegel (2010, p. 41) propõe: “O que é racional, isto é efetivo; e o que
efetivo, isto é, racional.”. A versão mais conhecida dessa passagem diz que o racional é real e o real
é racional. Essa expressão explicita a capacidade de agir associada ao pensar. Tudo que existe é
pensamento e nada pode existir fora dele.
4
Não se pretende resumir de forma temerária toda a riqueza e complexidade do pensamento
moderno. Contudo, nos limites deste trabalho, a ideia central do pensamento que será abordada é o
conceito de ‘representação’.
3

especialmente na proposta de solução para o problema epistemológico do

conhecimento: o conhecimento do mundo ocorre pelo pensamento do sujeito

cognoscente.5 Para Brandom (2013, p. 15)

A tradição filosófica, de Descarte a Kant, assumiu por garantida uma ordem


mentalista de explicação que privilegiou a mente como o lócus nativo e
original do uso de conceitos, relegando à linguagem um papel secundário e
meramente instrumental, de comunicar aos outros pensamentos já
completamente formados em um espaço mental anterior, dentro do
indivíduo.

Em se tratando da construção da subjetividade, o pensamento moderno

estruturou-se a partir do conceito de representação no qual “A consciência era

entendida como a percepção direta sobre as coisas representadas ou da percepção

indireta do que se apresenta por suas representações.” (BRANDOM, 2013, p. 17). A

perspectiva representacionista está intimamente ligada à ideia de uma racionalidade

semântica que pode ser encontrada nas concepções tradicionais da filosofia, tais

como: na filosofia platônica (no dualismo entre naturalismo e convencionalismo)

(OLIVEIRA, 2006, p.17-24), na filosofia aristotélica (na gramática sujeito/predicado)

(CONDÉ, 2004, p. 71) e mesmo na lógica formal moderna fregeana (estabelecida

sobre o cálculo proposicional e predicados) (GLOCK, 2011, p. 36-37).

No final do século XIX, o pensamento norte-americano produziu uma genuína

forma de reflexão que foi reconhecida, ao longo da tradição filosófica, como diferente

e inovadora no contexto de desenvolvimento da filosofia: o pragmatismo.

Desafiando os pressupostos idealistas (metafísicos) do pensamento filosófico

continental, o pragmatismo arquitetou-se sobre a reivindicação de que o

conhecimento não só ocorre por meio da verificação das possibilidades reais de

solução de um determinado problema, mas também na análise do conjunto de


5
Como exemplo de problemas enfrentados pela modernidade, pode-se pensar nos conceitos de
“sujeito” e “verdade”.
4

soluções e consequências práticas propostas a partir daquele problema. De acordo

com Marçal (2011), o pragmatismo pode ser compreendido como uma análise e

reflexão tanto sobre um problema atual em determinada realidade quanto sobre as

implicações (consequências) futuras da questão refletida.

A questão que se coloca é saber se o pragmatismo norte-americano fornece

possibilidades adequadas para a compreensão do Direito (e das questões jurídicas)

nos moldes apresentados pela Constituição da República de 1988.

2. Pragmatismo Clássico.

O pragmatismo é uma genuína contribuição do pensamento norte-americano

à filosofia. Segundo Menand (2001, p. ix-xii), o surgimento de uma sociedade de

massa, o desenvolvimento do capitalismo industrial, a profissionalização da

educação universitária e a alteração do centro de gravidade para Boston (EUA)

configuraram condições propícias para o florescimento do pragmatismo em solo

norte-americano.

O enredo da Guerra Civil dos EUA fomentou o desenvolvimento do

pensamento pragmático à medida que a disputa pela abolição da escravidão mudou,

definitivamente, o pensamento de uma nova geração em Harvard. Para Menand

(2001), os fundadores do Clube Metafísico (Holmes, James e Peirce) 6 foram

profundamente marcados pelas consequências da Guerra Civil norte-americana que

demostrou graves falhas naquele sistema democrático.

6
O Clube Metafísico foi fundado por Oliver Wendell Holmes Jr., Willian James e Charles Sanders
Peirce. Contudo, Brandom (2011) indica que o Pragmatismo numa perspectiva clássica se alicerça
em outra tríade de personalidades: Peirce, James e Dewey.
5

Abstraindo as diferenças existentes entre Peirce, James, Dewey e Holmes,

fundadores do Clube Metafísico,7 pode-se encontrar como pontos de convergência a

oposição às filosofias especulativas, a necessidade de revisão do empirismo, a

busca pela superação da filosofia contemplativa por uma racionalidade científica, a

objeção ao ceticismo, bem como a formulação de uma nova concepção de verdade:

verdade como fazer (ação).

Em 1878, Charles Sanders Peirce (1839-1914) 8 publica o ensaio How to

Make Our Ideas Clear lançando a ideia central do pragmatismo: o significado do

conceito é identificado como a relação prática entre ‘ação’ e ‘reação’. Preocupado

em desenvolver um método capaz de determinar o significado dos conceitos, Peirce

propôs uma máxima conhecida como “princípio do pragmatismo”:

Não pode haver concepção alguma do absolutamente incognoscível, já que


nada desse tipo ocorre na experiência. Mas a significação de um termo é a
concepção que ele veicula. Por conseguinte, um termo não pode ter tal
significação” (EP, 1, 24; destaque nosso) (apud WALL, 2007, p 30).9

A máxima pragmática de Peirce relaciona diretamente as questões de fato

com as experiências possíveis de serem vivenciadas pelos seres humanos. Peirce

entende que as ideias só podem ser compreendidas em relação aos efeitos

sensíveis das coisas. Portanto, os conceitos consistem na análise dos possíveis

reflexos (efeitos) sobre a conduta humana (ação) num determinado contexto

7
Segundo Waal (2007, p. 17) “Esses homens chamavam a si mesmos, meio desafiadora, meio
ironicamente, “O Clube Metafísico”, já que nos primeiros anos de 1870 a metafísica era considerada
fora de moda.”.
8
O pensamento de Peirce é por demais complexo para ser simplificado em poucas linhas. Wall
(2007) já explicita que há, pelo menos, dois períodos diferentes do pensamento de Peirce: (a) o
primeiro tomado pelo tema do princípio do pragmatismo, cujo texto central é “Como tornar nossas
ideias claras” e (b) o segundo marcado por uma virada normativa. Para aprofundamento ver: Wall
(2007).
9
Segundo WALL (2007, p. 149), a máxima pragmática é reformulada por Peirce da seguinte forma:
“Considere quais efeitos, que poderiam ser concebivelmente ter consequências práticas, concebemos
que tenha o objeto de nossa concepção. Então, nossa concepção desses efeitos é o todo de nossa
concepção do objeto.”.
6

(ambiente). Peirce se preocupa com os hábitos, uma vez que esses se tornam

regras para a ação, isto é, os hábitos determinam as ações humanas quando se

está diante de certas circunstâncias. Logo, os hábitos fundam as ações que geram

efeitos. A consideração dos efeitos implica na concepção dos próprios objetos, isto

é, a ideia que os indivíduos fazem de algum objeto está relacionada com os

prováveis efeitos que aquele mesmo objeto possa gerar num ambiente social.

Contudo, para Peirce, a significação não é constituída nem pelos ‘efeitos’, enquanto

percepção sensorial, nem pelo ‘ato em si’ que produz os efeitos, mas pela “[...]

conduta deliberada, autocontrolada induzida pelo conceito.” (WALL, 2007, p. 150).

Como método científico, o pragmatismo consiste em formular hipóteses e

submetê-las à verificação dos resultados, isto é, com a necessidade de submissão

das consequências a nova análise pela razão. Essa compreensão demonstra que o

raciocínio científico, para Peirce, deve ser desenvolvido pela ideia de abdução 10 11
,

em que o ponto de partida é um fato problematizado e uma hipótese que deve ser

provada. Assumindo como pressuposto as descontinuidades (irregularidades e

imprevisibilidades) da natureza, o conhecimento científico reivindica a formulação de

assertivas que podem ser generalizadas, repetidas e contínuas. O conhecimento

científico assume, com Peirce, a ideia de sinequismo em que há a preferência por

hipóteses que postulam continuidades sobre hipóteses que postulam distinções

aguçadas (HAACK, 2008, p. 169).

10
Com MARÇAL (2013; p. 90): “Com o raciocínio abdutivo Peirce pretendeu estar desenvolvendo
uma nova modalidade de raciocínio ao lado do dedutivo e do indutivo. Enquanto no raciocínio
dedutivo se passa do geral para o particular (sem produção de novo conhecimento) e no raciocínio
indutivo se passa do caso concreto à regra ou lei universal (produzindo novo conhecimento), no
raciocínio abdutivo ou hipotético, em função da pressuposição de um enunciado geral, se passa de
um caso concreto à especificação e confirmação de uma hipótese explicativa. A abdução, pois,
associa a inferência, ao introduzir hipóteses com base na experiência, à dedução, na medida em que
da hipótese são deduzidas consequências, cuja verdade material pode ser indutivamente verificada.
Além de introduzir a hipótese, a abdução faz a avaliação da hipótese.”.
11
Para aprofundamento em relação ao raciocínio abdutivo ver: ECO; SEBEOK (2014).
7

A busca por regularidades (comportamentos estáveis) leva aos conceitos de

dúvida e de crença que Peirce relacionou com a ideia de estados da mente, na qual

a dúvida configura um estado irritante e insatisfatório e a crença um estado calmo e

satisfatório (PEIRCE, 1878). Em 1903 Peirce propõe que a máxima pragmática seja

compreendida como um princípio normativo, isto é, em uma relação entre os

fenômenos e os fins específicos ou, ainda, “na medida em que podemos agir sobre

eles e eles sobre nós.” (PEIRCE, apud WALL, 2007, p. 144).

O pragmatismo inaugura com Peirce uma filosofia da ciência influenciada

tanto pela Teoria da Evolução darwinista 12 quanto pelas explicações estatísticas. O

pragmatismo de Peirce é, portanto, uma ‘nova’ forma de naturalismo refletindo em

um ‘novo’ empirismo. Essa perspectiva propõe que o modelo experimental científico

se caracteriza pela explicitação dos princípios distintos do processo de aprendizado

seletivo13 que é a forma prática comum dos seres inteligentes em todos os estágios

do desenvolvimento.

William James (1842-1910) propõe o pragmatismo como uma atitude de

pesquisa (método) relembrando que o termo deriva da palavra pragma que significa

ação, mas afasta-se da máxima pragmatista propondo uma análise do objeto pelos

efeitos que o próprio objeto pode envolver.

Em 1907 James propõe o pragmatismo como um novo nome para os velhos

modos de pensar (MENAND, 2001; MENAND, 1997). Numa interpretação alargada

da máxima pragmatista de Peirce, James critica o racionalismo e o empirismo.

Segundo ele, o racionalismo desenvolve-se num sistema conceitual abstrato se

encastelando na sua própria autocompreensão e não se importando com a realidade


12
O debate a partir da Teoria da Evolução lançou fortes argumentos contra a ideia de imutabilidade
dos conceitos e contra a própria natureza da ciência. Uma das ideias centrais do evolucionismo é
desenvolvimento. A Teoria da Evolução abre a possibilidade para a construção dos conceitos a partir
da ideia de movimento do pensamento, cujo foco deixa de ser as origens e passa a ser o crescimento
e suas consequências. Contingência e provisoriedade se sobrepõem ao absoluto e ao eterno.
13
Seletivo é utilizado em referência à ideia de seleção de Darwin.
8

do mundo que esse sistema deveria supostamente representar. Por sua vez, o

empirismo se funda na experiência, mas não se desenvolve radicalmente (proposta

de James) aderindo dogmaticamente ao materialismo. James critica o empirismo por

não conseguir liberar-se das influências do racionalismo (WALL, 2007, p. 67-68).

James propõe um empirismo radical cuja consciência assume a ideia de fluxo

contínuo que alicerça o próprio conceito de experiência. O empirismo radical exige

que a realidade seja pensada pelas várias experiências individuais as quais

possibilitam a construção de uma perspectiva plural. 14

A perspectiva do pluralismo relaciona-se com a possibilidade de compreensão

das diversas concepções de verdade oriundas da relação entre as crenças dos

indivíduos e os propósitos (consequências) previstos em um contexto no qual

determinada ação é praticada. Refutando a teoria da verdade como

correspondência, James relaciona a verdade com a explicação das possibilidades

de avaliação das ideias a partir do teste das consequências previstas por essas

ideias. Assim, “A verdade das ideias somente pode ser determinada se as ideias têm

consequências práticas; duas ideias diferentes podem ser comparadas se suas

consequências práticas são diferentes.” (SHOOK, 2002, p. 119).

Considerando que os indivíduos aprendem uns com os outros quando

comparam seus pensamentos e ideias, James admite a possibilidade de uma

experimentação compartilhada das ideias e de suas consequências. Essa

possibilidade caracteriza a perspectiva pluralista de sua proposta pragmática.

John Dewey (1859-1952) desenvolve uma perspectiva teórica cujo método

científico experimental tem por fundamento a experiência. Também influenciado por

14
A questão de saber se existem objetos fora do fluxo de consciência leva James a estabelecer uma
relação contingente entre o objeto percebido e um fluxo de consciência (SHOOK, 2002, p. 117).
Apesar da importância desta questão no pensamento de James, para os contornos metodológicos
desse trabalho, o argumento desenvolvido é de que o empirismo radical de James implica no
estabelecimento de uma perspectiva plural dentro de um ambiente social múltiplo.
9

Darwin, Dewey coloca o pensamento como um processo de evolução no qual o

conhecimento é um processo de investigação consistente na adaptação ao

ambiente. O conhecimento exige o comportamento e operações inteligentes e

responsáveis, constituindo-se numa prática que tem êxito conforme resolve, ou

pretende resolver, problemas suscitados por determinado ambiente.

A racionalidade torna-se a atividade do pensamento capaz de refletir sobre

alguma coisa e propor transformações em determinado ambiente de acordo com

algum objetivo. A racionalidade é a tentativa de organização das irregularidades,

inconstâncias e instabilidades encontradas no mundo (ambiente). Essa

racionalidade desenvolve-se por meio de uma investigação que é uma

transformação controlada de alguma situação indeterminada em uma situação

determinada nas suas próprias relações constitutivas, possibilitando uma unidade de

sentido.

Para Dewey, o processo de aprendizado é constante durante a vida do

indivíduo e o torna apto à propositura de problemas. O pensamento torna-se, então,

capacidade de solução criativa de problemas. Essa capacidade é crivada pela

racionalização da experiência considerada não apenas como input no processo de

aprendizado, mas, ao contrário, como sendo o próprio processo de aprendizado. Tal

processo se configura pela percepção e performance 15 seguido pela percepção e

avaliação dos resultados da performance e de outras performances. Essa dinâmica

processual pode ser compreendida como a interação entre a percepção, ação,

resultados e avaliação dos resultados num esquema circular “teste-operação-teste-

saída”. E essa transformação das possibilidades do conhecimento proposta por

Dewey compreende o resultado da experiência como uma compreensão prática,


15
A ideia de performance em Brandom (1994; 2011) está relacionada com a capacidade de agir
(ação) dos seres humanos. A ação é produzida no processo de reflexão (pensamento) das
experiências vivenciadas (Inputs) gerando consequências práticas (outputs) no mundo.
10

uma forma de adaptação, e não como a posse de itens do conhecimento. O

pragmatismo deweyano propõe uma experiência constituída num processo de

desenvolvimento de hábitos capazes de lidar com as contingências numa sintonia

com o próprio ambiente (BRANDOM, 2011, p. 07).

Nessa ligeira reconstrução do contexto histórico, percebe-se que o

pragmatismo pretende ser uma filosofia sem fundamentos ontológicos a priori, isto é,

sem metafísica predominante no desenvolvimento da filosofia continental europeia.

Ele [pragmatismo] valoriza a experiência 16, a secularização e a contextualização

histórica do conhecimento propondo uma ação orientada para o futuro.

Esse primeiro momento do Pragmatismo é denominado de Pragmatismo

Clássico e se estrutura a partir de duas formas de explicação científica: (i) a teoria

da evolução de Darwin e (ii) os modelos de explicações estatísticas. As

contribuições de Peirce, James e Dewey configuram um modelo de explicação

evolucionista-estatístico propondo uma generalização das irregularidades e das

probabilidades em dois aspectos: (i) Como reconhecimento da evolução (no âmbito

das espécies) e do aprendizado (no âmbito dos indivíduos) compreendidos a partir

de uma estrutura seletiva. Evolução e aprendizado são processos de adaptação no

qual o ambiente seleciona (preserva e reproduz) alguns elementos, bem como

elimina (descarta) outros. Esse processo é conceituado como hábito. (ii) Das Leis da

Natureza num sentido amplo de hábitos do Universo como um modelo de ‘ordem

natural’ a que se chega contingencialmente, mas se finaliza pela explicação

estatística e pelo processo de seleção-adaptação operado na população por

regularidades, que, por sua vez, propiciam a dinâmica dos hábitos na qual ‘todos

devem’ adaptar-se coletivamente (BRANDOM, 2011, p. 05-06).


16
Segundo Brandom (2004 e 2011), experiência é alguma coisa feita, realizada e não somente algo
que acontece. Brandom propõe o conceito de experiência, a partir de Hegel, como um processo
histórico onde há o comprometimento de utilização e aplicação dos conceitos.
11

O modelo de racionalidade evolucionista-estatístico se opõe ao ‘antigo’

modelo matemático fundado na física newtoniana. Uma das diferenças entre as

explicações evolucionistas e estatísticas para o ‘velho’ modelo físico-matemático é a

modalidade (forma) de suas expressões: enquanto no primeiro é regido pelas

contingências dos acontecimentos o que torna o conhecimento provável, o segundo

é regido pelas leis da necessidade (BRANDOM, 2011, p. 05-06). 17

Para Brandom (2011, p. 07) o Pragmatismo Clássico apresenta melhores

condições para trabalhar a tensão Naturalismo-Empirismo quando comparado tanto

com o pensamento desenvolvido pelo Iluminismo quanto pelo pensamento

contemporâneo (século XX). Segundo Brandom (2011, p. 08), o ‘mundo’ e ‘nosso

conhecimento sobre o mundo’ são construídos por um modelo singular de

racionalidade: mutação, ou seja, como produtos contingentes dos processos de

seleção-adaptação que permitem a explicitação dos significados. O autor considera

ainda que a

[...] natureza e experiência são compreendidas como um processo de


estabilização das irregularidades no qual um conjunto de hábitos é concebido e
sustentado por si mesmo através das interações do ambiente que inclui os hábitos
concorrentes das populações (BRANDOM, 2011, p. 08). (Itálico no original)

O Pragmatismo Clássico apresenta um novo conceito de experiência

acoplado a uma nova concepção de razão:18

17
Brandom (2011, p. 06) apresenta, então, uma tensão existente entre o Naturalismo e o Empirismo a
partir do século XX nos seguintes termos: “O pragmatismo como nova forma de naturalismo foi
acoplado com uma nova forma de empirismo. O método experimental científico é visto apenas como
o explícito, destilação principiadora do processo de aprendizagem seletivo que é a forma prática
comum às criaturas inteligentes em todas as fases do desenvolvimento.”.
18
Brandom (2011, p. 08) defende que o conceito de experiência utilizado pelo Pragmatismo Clássico
é um novo conceito (desacoplado da ideia de natureza) à medida que levanta a crítica ao processo de
racionalização das práticas sociais através da perspectiva pragmática. Segundo essa crítica, há uma
diferença entre as duas concepções de racionalidade: “[...] o processo kantiano é estruturado pela
racionalidade, relações conceituais entre incompatibilidade e consequências, enquanto a versão
pragmatista é estrutura pela naturalidade, relações causais de incompatibilidade e consequências).”.
12

O crescimento e desenvolvimento do discurso cognitivo e dos compromissos


práticos [ações] são parte do processo de aprendizado e compartilham a mesma
estrutura na realização de sintonia prática em um ambiente e na aquisição de
hábitos de sucesso naquele ambiente que, de uma forma ou outra, é parte da
história natural dos organismos sencientes (BRANDOM 2011, p. 08) (Itálico no
original).

Natureza e racionalidade são compreendidas holisticamente a partir daquela

nova concepção de experiência cujo fundamento passa a ser a

[...] capacidade de desenvolver ações voltadas para fins conhecidos e desejados


como tais, capacidade, portanto, de compreender os próprios comportamentos e
os alheios na medida em que lhe são atribuídos estados intencionais, tais como,
convicções e desejos, que são as razões de ações e comportamentos (MARÇAL,
2006, p. 106).

Considerando as ideias do Pragmatismo Clássico e a necessidade de pensar

a dicotomia entre Naturalismo e Empirismo por caminhos diferentes do Iluminismo,

Brandom (2002) construirá sua ideia de pragmatismo normativo a partir de uma

concepção de racionalidade fundada na sapiência humana denominada de

racionalidade expressivo-histórica.

3. Pragmatismo Normativo.

A sapiência19 deve ser compreendida como a capacidade de os indivíduos

usarem conceitos inferencialmente articulados numa prática linguística como

fundamentos para ações (razões práticas). A concepção do pragmatismo pela

racionalidade expressivo-histórica é denominada por Brandom como pragmatismo

normativo. Essa concepção se apresenta coerente com o conceito de Direito

19
Para Brandom (1994, p. 05), a sapiência é a capacidade de compreensão (inteligibilidade) que
seres de linguagem (usuários de conceitos) compartilham entre si atribuindo estados intencionais
como crença e desejo como razões constitutivas para uma ação (comportamento). Em contraposição
a esta ideia, Brandom (1994, p. 05) apresenta o conceito de senciência que é a capacidade de sentir
(percepção) compartilhada por seres de linguagem e seres não usuários de conceitos.
13

entendido como ciência social aplicada e articulado com o conceito de democracia

apresentado pela Constituição de 1988. Essa articulação exige uma argumentação

jurídica racional no processo de ‘dizer o direito’. Tal processo é discursivo/racional e

se desenvolve pela explicitação dos sentidos no uso e aplicação dos conceitos

jurídicos (BRANDOM, 1994, p.05).

Identificando graus de intencionalidade, Brandom (2011, p. 09) propõe que há

uma intencionalidade prática (sintonia entre o ambiente e animais não-linguísticos)

e uma intencionalidade discursiva (desenvolvida por animais usuários de

conceitos). A intencionalidade discursiva diz respeito à capacidade dos agentes

racionais de explicitar a tomada das coisas como conceitos (passíveis de aplicação),

de avaliar proposições, de formular regras e princípios.

Brandom propõe a utilização do termo Pragmática Fundamental para

demonstrar o discurso intencional como uma espécie de prática intencional. Essa

proposta expressa o compromisso metodológico do Pragmatismo Clássico com a

seguinte questão: como nós vemos aquilo que os conceitos representam?

Pode-se afirmar que, com Brandom, o pragmatismo assume, de forma

renovada, as feições do naturalismo e do empirismo. Para o pensamento moderno,

a natureza era compreendida numa versão mecânico-materialista do mundo natural

em que o conhecimento e a ação humana eram resultados de uma inteligibilidade de

leis eternas e inexoráveis. Para o pragmatismo, a natureza é fluida e resultante das

interações entre os seres e o ambiente que é sempre mutável. O empirismo

pragmático é, portanto, prático e apto a responder ao caráter mutável da ciência do

século XIX (BRANDOM, 2004, p. 03-05).

A ideia central do Pragmatismo Fundamental é a transformação do modelo

de conhecimento de knowing that (‘saber o quê’) para knowing how (‘saber como’),
14

isto é, acreditar que coisas são (know that) é saber das possibilidades práticas de

fazer alguma coisa (know how) (BRANDOM, 2011, p. 09).20 Essa dinâmica entre as

formas de conhecimento revela que o resultado da experiência não é compreendido

apenas como objeto cognoscível, mas como espécie de aprendizado capaz de

adaptação dos hábitos de acordo com as contingências do ambiente (compreensão

prática).

O Pragmatismo Fundamental desafia a concepção da semântica-tradicional

porque compreende a ideia de representação diretamente relacionada com a

capacidade de ação (fazer) dos sujeitos discursivos inseridos em alguma prática

social.21 Torna-se necessário explicitar o conteúdo representacional que se

apresenta, então, como o começo da possibilidade de compreensão, uma vez que

são construídos discursivamente pelas práticas linguísticas. Nessa atividade de

explicitação do conteúdo dos conceitos é preciso considerar tanto os antecedentes

quanto os consequentes (consequências da ação) na formulação dos sentidos sobre

as questões do conhecimento.

Brandom (2011, p. 12) considera que o uso dos conceitos pelos sujeitos dos

discursos é reconhecido numa pragmática-linguística cuja noção fundamental é a

ideia de representação proposicional. O Pragmatismo Fundamental estabelece,

portanto, uma primeira noção de normatividade pragmática através da explicitação

do conteúdo conceitual pelo uso (prática) dos conceitos. Com Brandom (2011, p

26)22 “Para Hegel, não menos que para Quine e Dewey, nós devemos compreender

práticas linguísticas como instituição de normas conceituais e como aplicação

20
O ‘saber o quê’ e o ‘saber como’ não são conceitos estanques e opostos, mas, ao contrário, são
complementares e estão em profunda articulação conceitual alternando-se num movimento dialético
constante. Logo, para ‘saber como’ é necessário ‘saber o quê’ e vice-versa.
21
Prática social é descrita como as manifestações das interações intersubjetivas pressupondo uma
estrutura normativa implícita que deve ser explicitada pelo jogo de dar e pedir razões.
22
Essa leitura não idealista é desenvolvida também por Pinkard (2010) e outros filósofos norte-
americanos.
15

dessas mesmas normas conceituais.”. Brandom argumenta que o pragmatismo

finaliza o processo de naturalização do conhecimento já iniciado pela filosofia

idealista alemã se apresentando, então, como um modelo de racionalidade mais

adequado para o desenvolvimento do conhecimento científico que constrói e utiliza

conceitos. É com esse argumento que Brandom está comprometido na construção

de sua perspectiva pragmática normativa.

A racionalidade é sempre um tema instigante. Pensar sobre o pensamento é

um desafio a todo ser humano que se propõe a refletir sobre a própria estrutura do

pensar. A ciência, compreendida como um conhecimento racional, também enfrenta

esse desafio à medida que constrói e reconstrói bases racionais para informar

(conformar) as possibilidades de ações dos seres humanos. Teoria e prática se

implicam mutuamente, já que raciocinar é pensar sobre algo concreto/específico/real

e ao mesmo tempo construir hipóteses abstratas/gerais/teóricas que poderão servir

de guia para novos pensamentos e ações.

A racionalidade não deve, portanto, ser compreendida pelas ocasiões em que

um teórico repentinamente capta algum aspecto da realidade como se esse aspecto

fosse um objeto único e exclusivamente apreendido pelo sujeito cognoscente. A

racionalidade científica deve ser compreendida como o processo prático pelo qual o

sujeito obtém dados da realidade por intervenção experimental, manejando teorias,

empregando postulações inferenciais, fazendo conjecturas prováveis, para

estabelecer uma acomodação na forma do pensar mais ou menos estável. Essa

acomodação do pensamento é resultante de um processo dinâmico no qual

reconhece-se a processualidade e provisoriedade dos resultados obtidos.

O pragmatismo proposto por Brandom preocupa-se com o estabelecimento

de uma racionalidade para as ações práticas sociais. A proposta de racionalidade de


16

Brandom é desenvolvida a partir de seu projeto inferencial cujos sentidos conceituais

são construídos num jogo de linguagem em que as razões são inferencialmente

articuladas pelos participantes de um diálogo.23

Em Tales of the Mind Dead - Historical Essays In the Metaphysics of

Intentionality, Brandom (2002, p. 02) apresenta cinco modelos de racionalidade: (1)

lógico, (2) instrumental, (3) interpretativo, (4) inferencial e (5) histórico. Tais modelos

de racionalidade não se apresentam de forma estanque, exaustiva e/ou auto-

excludente. Para os objetivos deste texto o foco será nos modelos inferencial (4) e

histórico (5).

O modelo de racionalidade inferencial é denominado como o jogo de dar e

pedir razões. Tal jogo é um jogo de linguagem (um diálogo propriamente dito) em

que há uma troca de razões por meio de práticas discursivas. O conteúdo

conceitual, explicitado pelas expressões linguísticas proferidas pelos participantes

do discurso, consiste no conjunto de relações de comprometimentos e

autorizações24 inferenciais diretamente relacionados com o próprio conteúdo

conceitual (BRANDOM, 2002, p 06).

Essas inferências realizadas pelos participantes do discurso são materiais,

explicitam as regras de emprego das proposições nos termos dos

comprometimentos e implicam (i) para os usuários dos conceitos na explicitação do

conteúdo das proposições utilizadas no discurso e (ii) na adoção de proposições

futuras coerentes com o conteúdo das proposições inicialmente utilizadas e nos

termos das autorizações que aquelas inferências permitem que sejam utilizadas no

discurso pelos usuários de conceitos.

23
Notadamente a própria noção de jogo de linguagem já explicita o caráter intersubjetivo dessa
proposta de racionalidade.
24
Comprometimentos e autorizações possuem status deôntico.
17

A racionalidade do modelo inferencialista consiste na produção e consumição

de razões articuladas nas estruturas linguísticas na forma de premissas ou

conclusão que serão novamente articuladas como outras razões em práticas

discursivas futuras. O jogo de dar e pedir razões é denominado de scorekeeping.25 26

A ideia do scorekeeping é uma metáfora utilizada para desenvolver a relação entre

os significados semânticos dos atos de fala e o status deônticos de seus conteúdos

semânticos (BRANDOM, 1994, p. 180-182). Scorekeeper é a pessoa responsável

por marcar os pontos nos jogos de baseball norte-americanos. Contudo, não só o

marcador oficial de pontos, mas os próprios fãs do jogo podem fazer suas próprias

marcações a partir das jogadas realizadas pelos jogadores durante o

desenvolvimento da partida.

Na prática social discursiva proposta por BRANDOM (1994) os interlocutores

se envolvem num jogo racional de dar e pedir razões mutuamente buscando a

formação de cargas de sentido para as questões objeto do diálogo. Pressupõe-se

que, nas práticas linguísticas, são usados conceitos apropriados para cada jogo

linguístico (conversação). Os interlocutores são competentes na prática linguística e

capazes de acompanhar (‘anotar/computar’) os compromissos e autorizações feitos

por si próprios e pelos outros interlocutores. As assertivas (razões) realizadas pelos

interlocutores alteram os scores deônticos numa determinada prática linguística

possibilitando a formação de outras compreensões possíveis para uma determinada

questão. Ampliando esse raciocínio para uma estrutura social (comunidade), é

possível buscar a compreensão das práticas que uma comunidade linguisticamente

constituída tem por corretas ou incorretas.


25
O termo scorekeeping foi utilizado metaforicamente por David Lewis (1979) em seu texto
Scorekeeping In a Language Games. Em Making it Explicit, Brandom (1994) se apropria da versão de
Lewis para desenvolver sua pragmática normativa.
26
A tradução do termo scorekeeping não é fácil. Para efeitos deste trabalho optou-se por utilizar a
expressão em inglês por acreditar que ela seja mais adequada para o contexto do referencial teórico
adotado.
18

O modelo de racionalidade inferencial leva em consideração tanto a

semântica do conteúdo quanto o significado pragmático propondo uma significação

inferencialmente articulada por uma prática discursiva. Logo, o conteúdo dos

conceitos é explicitado por meio dos usos e práticas daquele conceito que são

utilizados num determinado contexto linguístico.

O modelo de racionalidade histórico é resultante da interpretação que

Brandom faz da obra de Hegel. Desafiando a leitura tradicional idealista, 27 Brandom

(1999) apresenta alguns temas pragmáticos a partir do pensamento filosófico de

Hegel. A ideia central dessa abordagem trabalha com a negociação e administração

da estrutura e do conteúdo das normas conceituais na exposição/explicação de

Hegel. Na perspectiva de Hegel, a história apresenta-se como racionalidade num

sentido estruturado e processual, ou seja, o sentido atual depende necessariamente

do conteúdo dos conceitos articulados seletiva, cumulativa e expressivamente na

própria história.

A matriz de pensamento hegeliana apresentada por Brandom (2002, p. 12) se

articula, ainda, com o pressuposto kantiano de que seres racionais são seres

sensíveis às normas e, portanto, seres capazes de razões teóricas e práticas

especialmente de julgamentos e ações.

Para Brandom (1999, p. 166-167), Kant e Hegel contribuem para a

compreensão da normatividade através da produção e consumição de normas

conceituais de formas distintas. Kant propõe uma normatividade fundada na

racionalidade humana (autonomia) que se caracteriza pela capacidade moral dos

indivíduos de realizar julgamentos e ações. Hegel propõe uma normatividade

fundada a partir da categoria do reconhecimento, o que caracteriza uma

racionalidade social. A questão que se apresenta é como podem ser compreendidas


27
O pensamento de Hegel é ainda hoje interpretado como um dos expoentes do Idealismo Alemão.
19

as possibilidades de aplicação, endossamento e comprometimento como razões

(argumentos) apresentadas por nós mesmos (agentes racionais)?

A resposta para as questões passa pela compreensão de que o conteúdo dos

conceitos surge durante o processo de sua aplicação. Os conceitos não são fixos ou

estáticos semanticamente, mas dependentes do jogo de linguagem em que estão

sendo utilizados. Logo, os conceitos podem ser alterados pelas várias situações

particulares dentro de práticas linguísticas diversas. A construção e reconstrução

dos sentidos conceituais são constantes no processo de articulação inferencial dos

conteúdos dos conceitos a partir da experiência e dentro de uma perspectiva

histórica (BRANDOM, 1999. p. 168).

Argumentando que Kant e Hegel compreenderam que os conceitos são

normas de julgamento, Brandom (2002, p. 12) apresenta a seguinte questão: como

as aplicações (usos) anteriores em casos particulares dos conceitos (universais)

estabelecem alguma possibilidade de correção em aplicações futuras em novos

casos (usos)?

De acordo com Brandom (2002, p. 13-14), a racionalidade histórica pode ser

mais bem compreendida com a observação do sistema jurídico do common law em

que os juízes se utilizam de precedentes (casos já julgados) para resolução de

conflitos futuros. Os juízes apropriam-se de conteúdos conceituais passados,

explicitados em precedentes, atualizando-os quando da sua aplicação em novos

casos no presente e que devem (ou deverão), ainda, servir de fundamento

conceitual para outras novas decisões futuras.

A possibilidade de os juízes decidirem novos casos através da escolha de

decisões passadas (reveladoras de uma historicidade) que expressam conteúdos

que podem ser aplicados futuramente explicita duas características do modelo de


20

racionalidade histórica: (i) a aplicação passada de conceitos exerce uma autoridade

sobre aplicações futuras de conceitos e (ii) os precedentes são fontes dos

conteúdos dos conceitos que mais tarde os juízes terão de aplicar (BRANDOM,

1999, p. 180).

Brandom (2002, p. 13) considera ainda que os juízes devem justificar suas

decisões em casos particulares por meio da racionalização dos precedentes

escolhidos como fundamentos para a decisão nos novos casos. 28 Ao fundamentar

suas decisões presentes através das articulações conceituais das decisões

passadas, o juiz se compromete com a racionalidade de sua decisão possibilitando

que ela se torne um conjunto de razões para novas decisões futuras proferidas por

outros juízes.

A racionalidade histórica explicita que a norma é o produto reconhecido da

negociação entre dois polos de autoridade recíproca: (i) o precedente,29 que

apresenta conteúdos conceituais normativos passíveis de serem utilizados em

decisões futuras, e (ii) a própria decisão presente que deverá apresentar tais

conteúdos passíveis de serem utilizados como fundamentos em decisões futuras. A

determinação do conceito normativo deve ser feita com o reconhecimento de três

dimensões: (i) social;30 (ii) inferencial31 e (iii) histórica32 (BRANDOM, 1999, p. 181).

A reconstrução racional do passado com fins de aplicação dos conceitos no

futuro é uma espécie de ‘autoconsciência’ compreendida como um ‘fazer inferencial’,

28
Brandom (1999, P. 181) faz menção ao ‘constrangimento do juiz’ do ponto de vista material e não
somente formal.
29
Precedente é utilizado aqui como referência a um caso já julgado que sirva de fundamento racional
para novas decisões no contexto de aplicação judiciária do Direito.
30
Formada pela autoconsciência de si (sujeitos comprometidos e responsáveis) e pela
autoconsciência da comunidade (reconhecimento e atribuição mútua pelos ‘selfes’ de obrigações e
responsabilidades).
31
Como estrutura caracterizada pela relação entre ‘particulares’ e ‘universais’ no processo de fazer
julgamentos e na aplicação de conteúdos determinados.
32
Como processo de negociação e adjudicação de argumentos de autoridades, reciprocamente
condicionados, e administração de conceitos normativos na sua aplicação aos casos atuais.
21

isto é, como aplicação dos conceitos inferencialmente articulados nos julgamentos

que devem explicitar os conteúdos das normas implícitas nos contextos do passado

justificando suas aplicações. Para Brandom (2002, p. 15), a noção inferencial de

consciência e a noção histórica de autoconsciência propostas por Hegel devem ser

compreendidas como conceitos reciprocamente dependentes consistindo no

processo de exibição da constelação da autoridade recíproca (experiência). Esse

‘reconhecimento mútuo’33 é formado pela unidade das consciências individuais de

determinada comunidade.

O reconhecimento recíproco é a estrutura que faz inteligível a normatividade a

partir de uma relação intersubjetiva. Sua perspectiva pragmática propõe um modelo

de racionalidade que, por meio do uso e conteúdo dos conceitos, privilegia a

inferência materialmente articulada nas práticas linguísticas num determinado

contexto histórico. Essa perspectiva afasta-se, portanto, da busca do sentido na

referência ou na ordem da explicação semântica (BRANDOM, 1999, p. 178). 34

O projeto de Brandom é o desenvolvimento de uma racionalidade

expressivista, inferencialista e sapiente cuja compreensão de um ‘conceito’ consiste

em dominar a utilização do seu conteúdo dentro de uma prática linguística específica

e historicamente situada. Essa proposta é coerente com a proposição de um Direito

marcado por pressupostos democráticos em que a construção e a aplicação dos

conceitos jurídicos devem ser atividades realizadas discursivamente por todos os

cidadãos.

33
Concebido como a estrutura que faz inteligível a normatividade como tal (BRANDOM, 1999, p.
178).
34
Segundo MARÇAL (2006, p. 106) “Em vez, portanto, de os conceitos se caracterizarem
primariamente por representar coisas e apontar para objetos referidos, externos à linguagem e
distintos dos próprios conceitos, os conceitos são a própria discursividade em ação.”.
22

Em Making it Explicit Brandom (1994) pretende oferecer uma descrição

convincente das práticas com as quais seres capazes de linguagem (usuários de

conceitos) e de ação expressam sua racionalidade e autonomia.

O projeto de Brandom pode ser compreendido tanto como o desenvolvimento

de uma normatividade semântica, devidamente articulada num jogo de dar e pedir

razões, quanto como o desenvolvimento de uma estratégia inferencialista que

privilegia a pragmática sobre a semântica buscando a explicitação do conteúdo

(conceito). Ele se dedica a construção de uma semântica pragmática inferencial

vinculada às práticas discursivas dentro de um ambiente social. Em síntese, a

filosofia de Brandom tem por objetivo explicitar os conteúdos conceituais que já se

estão implícitos nas práticas sociais.

O significado linguístico é compreendido a partir do uso discursivo dos

conceitos nas práticas sociais. O discurso prático é definido pela produção e

consumição de conteúdos proposicionais específicos (conceitos) sendo estes

compreendidos a partir de uma articulação inferencial das proposições linguísticas

utilizadas pelos interlocutores. Proposição é aquilo que pode servir como premissas

e/ou conclusões inferenciadas: razões.

As práticas que conferem implicitamente conteúdos proposicionais e outras formas


de conteúdos conceituais contêm normas a respeito de como é correto usar a
expressão [conteúdos conceituais], sob que circunstâncias a performance de
vários atos de fala são apropriadas, e quais consequências dessas performances
são apropriadas (BRANDOM, 1994, p. XIII).

A necessidade de explicitação do conteúdo dos conceitos surge

correlacionada à ideia de Brandom de sapiência à medida que ‘nós’ (animais

usuários de conceitos) somos seres crentes (crer é tomar algo por verdade-correto)

e agentes (agir é fazer algo que se acredita ser verdade-correto). Considerando que
23

seres usuários de conceitos possuem crenças, desejos e intenções que orientam as

ações, o conteúdo desses conceitos pode ser elevado à condição de verdade numa

reivindicação de correção daquilo que é crido, desejado ou intencionado

(BRANDOM, 1994, p. 05).

Para Brandom (1994, p. 159) falar em práticas é falar em propriedades de

performances, isto é, é falar uma linguagem prescritiva e não meramente uma

linguagem descritiva. A normatividade linguística de Brandom é desenvolvida em

dois sentidos: primeiro por uma pragmática preocupada com o uso dos conceitos e

segundo por uma semântica inferencial.

O aspecto normativo da linguagem na filosofia de Brandom pode ser

vislumbrado em três etapas: (i) uma pragmática normativa; (ii) uma semântica

inferencial (desenvolvida pela ideia central do tornar-se explícito) e (iii) por um

modelo de marcador deôntico. A articulação dessas três etapas demonstra a relação

entre a perspectiva de Brandom e a exigência de um Direito construído democrática

e discursivamente (KLATT, 2010, p. 204).

4. Conclusão.

O Estado Democrático de Direito requer, dos cidadãos e dos poderes

constituídos, que as pretensões jurídicas (conceitos jurídicos utilizados como

pretensões subjetivas) sejam devidamente justificadas dentro de um discurso prático

racional.

A prática discursiva do Direito (que é um jogo de dar e pedir razões) exige o

comprometimento dos participantes do discurso jurídico quanto às razões

apresentadas como fundamento para suas ações nos ambientes social e


24

institucional de tomada de decisão. Exige, também, a compreensão da autorização

(entitlement), como função dentro de um determinado contexto (linguístico) cujos

participantes estão, dentro de uma prática social (procedimento), autorizados a dar e

pedir razões.

Esse jogo de linguagem (dar e pedir razões) possibilita que os conceitos

jurídicos possam ser construídos, desconstruídos e reconstruídos participativa e

democraticamente pelos interlocutores inseridos dentro de uma prática jurídica. Ao

mesmo tempo, a autonomia dos indivíduos compreendida como capacidade racional

de dar e pedir razões implica na assunção da responsabilidade justificada, que deve

ser compreendida como reconhecimento de normas e práticas. Para o jogo de dar e

pedir razões, Brandom propõe uma responsabilidade como “respostabilidade” 35

(BRANDOM, 1983, p. 643). Fazer uma jogada (dar uma razão) não é uma ação sem

nenhum propósito, isto é, não é uma ação desprovida de consequências

(BRANDOM, 2000, p. 191). Fazer uma jogada é praticar uma ação dentro das regras

do jogo de forma que ela possa fazer alguma diferença no resultado daquele jogo.

Da mesma forma, argumentar e/ou decidir juridicamente não pode ser compreendido

como argumentar e/ou decidir de qualquer forma um conflito social. Usar um

conceito jurídico como razão para decisão é assumir responsabilidade para com

esse uso e para com o conceito. Usar uma razão jurídica é comprometer-se com ela.

Essa ideia corresponde à característica do jogo de dar e pedir razões que é o

comprometimento consequencial (BRANDOM, 2000, p. 191).

A respostabilidade (responsabilidade por uma resposta discursivamente

exigível) proposta por Brandom pode ser pensada a partir das relações

inferencialmente articuladas na prática discursiva constituída por meio da


35
O neologismo aqui é empregado para explicitar a responsabilidade como a necessidade de uma
resposta discursivamente exigível. Nos termos originais: “responsability in the sense of
answerability” (BRANDOM, 1983, p. 643).
25

contabilidade dos status deônticos (compromissos e autorizações dentro do

scorekeeping) da seguinte forma:

[...] inferências compromitentes (isto é, que preservam o comprometimento), uma


categoria que generaliza a inferência dedutiva;
inferências permissivas (isto é, que preservam a qualificação), uma categoria que
generaliza a inferência indutiva;
e derivações de Incompatibilidade, uma categoria que generaliza a inferência
modal (que dá suporte ao contrafactual) (BRANDOM, 2013, p. 215).

O ato de usar uma asserção implica (i) no comprometimento com as

consequências do seu uso e (ii) na impossibilidade de autorização (entitlement) de

outra asserção incompatível com aquela. A avaliação dos comprometimentos e

autorizações (status deônticos) pelos participantes (scorekeepers) dá dinamicidade

ao jogo de linguagem uma vez que é possível descrever as alterações dos três

diferentes modelos de estruturas inferenciais (compromissos de preservação,

compromissos de autorização e de incompatibilidades).

Essa avaliação dos status deônticos interessa sobremaneira ao Direito em

razão da relação entre a autorização discursiva e a responsabilidade

correspondente. Dar e/ou pedir uma razão jurídica é uma prática social que possui

uma dupla estrutura de reconhecimento: autoridade e responsabilidade. Pelas

práticas sociais, as asseverações (neste caso, pode-se pensar nas sentenças

proferidas pelo Poder Judiciário) adquirem conteúdo no sentido de uma justificação-

inferencial em que o significado social é determinado pela comunidade à medida que

as pessoas (cidadãos) usam aquele significado (conceito). Na concepção de

Brandom (2002, p. 643-644) os sentidos não determinam as inferências adequadas

(corretas), mas as inferências socialmente adequadas (corretas) determinam os

sentidos das sentenças (asseverações) decorrentes daquelas inferências.


26

Neste caso, as autorizações são totalmente dependentes das

responsabilidades explicitando que movimentar-se (agir) no ambiente social é

responder corretamente (segundo uma comunidade) aos comportamentos (ação e

reação) discursivamente autorizados pelas práticas sociais.

Em um ambiente normativamente democrático, como proposto pela

Constituição de 1988, asseverar (dar ou pedir uma razão) é (i) comprometer-se com

a construção conceitual intersubjetiva do Direito; (ii) verificar quais ações (práticas)

estão autorizadas pela normatividade jurídica e (iii) avaliar as incompatibilidades

sempre levando-se em consideração a conformação dada pela própria

normatividade constitucional.

A pragmática normativa de Brandom apresenta-se como um conceito apto à

produção de sentidos normativos. Para a formação de provimentos estatais

legítimos, o Estado Democrático de Direito requer a produção e consumação de

razões jurídicas a partir da normatividade constitucional. Os procedimentos de

formação de conceitos jurídicos devem configurar um jogo de dar e pedir razões que

forjarão o sentido aplicado autoritativamente pelo Poder Judiciário aos cidadãos.

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