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Por volta de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado pela maior parte dos seus habitantes.
O Estado de Muenemutapa é formado a partir de um movimento migratório do Grande
Zimbabwe, dos povos Caranga-Chona, para a região do vale do Zambeze, na sequência da
invasão e da conquista por exércitos dirigidos por Nhatsimba Mutota, ocorrida por volta de
1440-1450. Desenvolveu-se entre, os rios Mazoe e Luia, o centro de um novo Estado chefiado
pela dinastia dos Muenemutapa, que dominou e subordinou a população pré-existente. A
capital do império era Dande.
O grosso dos efectivos do grupo invasor deu origem no vale do Zambeze a uma etnia
denominada pelos povos locais porMacorecore. Constituíram excepção da subordinação os
Tonga, matrilineares porque não falavam a língua Chona.
O núcleo central que a dinastia governava directamente entre, os rios Mazoe e Luia, era
circundado por uma cintura de Estados Vassalos cujas classes dominantes constituídas por
parentes dos Muenemutapas e opor estes a rebelar-se quando o poder central enfraquecia.
Entre os Estados vassalos do Estado de Muenemutapa encontravam-se Sedanda, Quissanga,
Quiteve, Manica, Bárrué e Maungwe. Os seus chefes pagavam tributo ao Muenemutapa
reinante e eram confirmados por este quando subiam ao poder.
Os Muenemutapas dominaram a sul do Zambeze até finais do século XVII, perdendo depois a
sua posição em favor da dinastia dos Changamires, cujo papel no levante armado contra a
penetração mercantil portuguesa.
Nos seus traços mais gerais, a sociedade Chona caracterizava-se pela coabitação no seu seio de
dois níveis sócio-económicos distintos: de um lado a comunidade aldeã, designada por Musha
ou Incube, relativamente autárcica e estruturada pelas relações de parentesco; do outro lado a
aristocracia dominante (que se confundia com a família que reinava e esta com o Estado), que
controlava o comércio a longa distância e dirigindo a vida das comunidades.
muenemutapa
O Império Mwenemutapa
A comunidade aldeã
O trabalho nas minas aparecia como imposição do exterior (da aristocracia dominante ou de
comerciantes estrangeiros), não fazendo parte integrante da actividade produtiva normal.
As Mushas que integravam no geral uma família no sentido lato ou um grupo de famílias com o
mesmo antepassado, o muri, viviam num regime de auto-subsistência e estavam
fundamentalmente orientadas para a produção de valores de uso. Todas as relações entre os
membros da sociedade Chona, ao nível das Mushas, eram fundadas no parentesco. Acima das
Mushas, como entidade superior erguia-se a aristocracia dominante.
Aristocracia dominante
Na sociedade Chona, o Estado era personificado na pessoa do soberano, o Mambo, que devia
desligar-se da sua origem terrena para conferir à realeza, um carácter sagrado. Tornava-se
assim o representante supremo de todas as comunidades, o símbolo da unidade de interesses
dessas comunidades. Para quebrar todas as ligações com a sua linhagem, e se tornar
representante de toda a sociedade, indiferente às rivalidades familiares, o Mambo cometia no
momento da sua entronização, o incesto com uma parente próxima, infringindo desse modo o
mais absoluto interdito. Daí que a principal mulher do Monomotapa era a sua própria irmã.
A autoridade efectiva do Mambo processava-se através dos seus subordinados territoriais que
integravam um complexo aparelho de Estado. Esquematicamente a estrutura político
administrativa pode ser representada da seguinte maneira:
As Mushas
Há que notar aqui que elegia-se Fumo a quem tivesse maior riqueza material. Depois que
ficara pobre, a comunidade destituía-o através de uma cerimónia pela qual lhe eram atribuídos
certos símbolos de prestígio (um bordão e um chapéu de palha). O fumo deposto passava a
pertencer ao grupo dos “grandes” por mérito.
Salientar que semelhante controlo não operava ao nível dos Mambos, geralmente oriundos da
aristocracia invasora descendente de Mutota, na qual a transmissão do poder se fazia por via
hereditária.
– Pedir aos Muzimos reais (espíritos dos antepassados reais) a fertilidade do solo, o sucesso
das colheitas;
Esta prática regular as classes dominantes do estado dos Muenemutapas e dos estados
satélites contactarem regularmente com os seus Muzimu através de especialistas médiuns
designados por Pondoros ou Mondoros (leões). O Muenemutapa Matope, o segundo da
dinastia declarou que o seu espírito era imortal, esse metamorfoseava num Leão, pelo que
matar um Leão era considerado um crime imperdoável.
Todo esse aparato ideológico contribuía para assegurar a reprodução social Chona e das
desigualdades sociais existentes. Porém, o poder dos Muenemutapas e dos mambos em geral,
não advinha apenas das rendas e dos tributos que recebiam regularmente. O comércio a longa
distância (ouro) era a outra fonte do poder dos mambos.
A primeira década do século XVII, marcou o início de uma nova era no estado dos
Muenemutapas. A classe dominante encontrava-se envolvida em profundas contradições e
lutas intra e interdinásticas. Gatsi-Lucere, imperador sentindo-se militarmente impotente para
debelar a revolta comandada por Mathuzianye, viu-se obrigado a solicitar o apoio militar
português. Como recompensa, o Muenemutapa reinante prometeu em 1607 a concessão aos
portugueses de todas minas do estado.
Com a morte de Lucere, em 1627, o imperador Capranzina que representava uma facção
oposta aos interesses mercantis portugueses foi deposto e substituído por seu Tio Mavura. Os
portugueses baptizaram Mavura pelo nome de Filipe.
– Não exigir aos funcionários e mercadores portugueses a observância das regras protocolares
quando recebidos por autoridades e altos dignatários da corte (descalçar os sapatos, tirar o
chapéu, bater palmas, ajoelhar, etc);