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José Medrado
Salvador - Bahia
Antes mesmo de você começar a vociferar contra mim, sugiro que me acompanhe nos
próximos três ou quatro artigos, onde procurarei fazer um estudo sobre a origem do
equívoco que verificaremos na associação do sexo ao pecado, na elaboração de uma
cultura de culpa, tendo a sexualidade como vilã. Onde tudo para ser limpo precisava
estar apartado do ato sexual.
Havia muito simbolismo atrás disso tudo. Não só a busca da perfeição atrás do "coração
simples", mas uma nova visão do ser humano, na qual ele somente poderia se manter na
pureza com que saiu das mãos do Criador permanecendo “limpo” ou intocado.
Propus a você no artigo anterior a me acompanhar nas digressões acerca da leitura que o
sexo passou a ter depois da partida de Jesus, apoiando-me na História por Schilling.
Vimos que o principal motivo para se criar uma moral diferente era o de se estabelecer
uma forte ruptura com os padrões sociais pagãos tão em voga na maioria não cristã.
Busca-se o ascetismo.
Passam-se cerca de quatro séculos, onde a pregação era mantida, de louvação à pureza
do corpo, como reflexo da alvinescença da alma. Todavia as discussões prosseguiam,
sempre.
Santo Agostinho afirmava que deveríamos tentar voltar à situação paradisíaca, onde não
havia tensão entre o impulso e o ato sexual. Foi a partir da danação dos nossos pais
primevos que essa desgraça começou. Aqui me permito pontuar que a Doutrina Espírita
não concebe Adão e Eva como os primeiros seres humanos, mas como uma raça que
veio para este Planeta Terra, pois não estava conseguindo acompanhar a evolução do
seu próprio mundo.
Se após Caim ter matado Abel, só ficaram Adão, Eva e Caim, que mulher é aquela com
quem teve um filho e que população é aquela para quem fundou uma cidade, já que a
Bíblia diz que o primeiro casal foi Adão e Eva, e não há relato de mais outras pessoas
nessa época? (Gênesis 4-5)
Parte III
Vimos no artigo anterior que Santo Agostinho foi fator decisivo para se associar a idéia
de pecado ao sexo. Ele próprio sofreu frustrações amorosas; talvez tenha sido isto.
Somos produtos das nossas vivências e experiências. "Assim, Agostinho introduziu
entre os cristãos uma definitiva nódoa de consciência culpada quando faziam sexo ou
tinham sentimentos e impulsos prazerosos. Trouxe para dentro dos lares e para os leitos
conjugais uma sombra de coisa maligna, de impureza, perversão e vÃcio, que arruinou
a vida de incontáveis casais, para quem o sexo passou a ser associado a um "presente do
demônio", ou um discordium malum, um princípio de discórdia alojado no interior de
cada um desde a Queda. Opôs definitivamente a Carne a Deus!" como bem afirmou
Schilling.
Talvez uma das maneiras de se entender essa verdadeira perseguição ao sexo por Santo
Agostinho, seja o seu pessoal trauma na vivência da sexualidade, isto porque ele foi um
renegado do erotismo, como disse acima. Foi abjurado das suas paixões sensuais
pregressas, votou intenso ódio ao que, no passado, o atraiu, lamentando ter
desperdiçado nele tanta energia. Ele mesmo não negou ter sido dominado na sua
juventude por uma intensa voluptuosidade, pela lascívia, a ponto de que, em
determinado momento, quando pediu a Deus que o fizesse casto, acrescentou... "mas
não ainda". E foi mais longe: "A presença do impulso sexual nos seres humanos era a
marca da corrupção da nossa natureza. Tratava-se de uma perversidade intrínseca que,
tal uma erva daninha espalhada numa pradaria, jamais poderia ser removida de todo.
Santo Agostinho explicava a maldade como resultante desse tumor sensual e dissoluto
existente em todos nós, provocador de uma desordem crônica nas nossas relações, que o
tempo inteiro nos perturba com suas poluções, com seus sonhos inconvenientes,
incestuosos, inconfessáveis. Não havia dieta ou jejum que nos salvasse ou nos libertasse
dele, acompanhando-nos até na velhice e no encarquilhamento, como uma cicatriz não
sarada do nosso passado libidinoso e pecador".
Parte IV
Houve chilique de toda natureza, ataques pessoais e ao que faço, incentivos, estímulos...
Ocorreu de tudo, mas o importante é a minha consciência tranqüila, pois exerci,
respaldado no Artigo V, da Constituição Federal, em seu Item IV – “é livre a
manifestação do pensamento, ...”, bem como no seu item VI: “- é inviolável a liberdade
de consciência e de crença, ...”, o meu direito a discordar de um dogma religioso.
Aprendi com a vida e com o tempo que homens com argumentos discutem idéias e
conceitos, mas quem não os tem combate, agride pessoas, deixando à mostra os seus
desencontros íntimos, interiores.
Todavia, reafirmo com todas as letras que a doutrina Kardecista, que é calcada em uma
fé raciocinada, não comunga, não aceita o caráter virginal da concepção de Jesus, pois
fere todo o princípio humano natural da vida na Terra.
São sete os textos de Novo Testamento que mencionam irmãos de Jesus: Mc 6,3; Mc 3,
31-35; Jo 2, 12; 7, 2-10; At 1, 14; Gl 1, 19; 1Cr 9,5. Chamavam-se, conforme Mc 6,3;
Mt 13, 55s: Tiago, José, Judas e Simão.
Jesus ainda afirma em Mt, 5, 17-18: “Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os
profetas, não os vim destruir, mas cumpri-los.”. Ora, Jesus aí fala em duplo sentido: um
em relação a Moisés, mas o outro, seguramente, em direção à própria vida, com a sua lei
natural. Assim, Jesus se fez homem como qualquer um de nós, logo não desqualificou a
forma natural de vir a este Mundo, pois demonstrou inclusive no local de seu
nascimento que queria ser um simples, um humilde homem.
Absolutamente, não vejo demérito algum em Maria ter concebido Jesus de um ato
sexual natural, com muito amor, com o seu esposo, companheiro. Penso ai estar a sua
magnanimidade, pois mulher comum, destaca-se com tamanha grandeza ao ponto vir a
ser oferecida, por Jesus, como mãe da humanidade.
Caro leitor, guardando as devidas diferenças, mas quem não vai ter em sua doce mãe
desta Terra um símbolo de abnegação, luta, ternura, amor, mesmo tendo ela feito sexo
com os nossos pais? Onde o sujo, o pecaminoso de nossas mães? A minha foi um
exemplo de tudo, meu ídolo.
O que santificou Maria não foi o seu estado físico, mas a sua pureza de alma, a sua
virgindade de maus sentimentos. Fez-se Senhora de todos nós pela essência de sua
alma, grandeza do seu ser espiritual, angelitude de seus ideais.
O ser não se torna especial porque veio de maneira especial. Não. O ser se torna
especial, pois se destaca do comum, arrebatando-se a si mesmo de fulgurante amor, a
ponto de se doar a uma causa, de fazer a diferença com o seu pensar, falar e agir.