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A Primavera Árabe teve início em janeiro de 2011, momento em que a ditadura de Zine al-

Abidine Bem Ali foi derrubada, o que desencadeou uma cascata de insurreições que se
espalharam pelos países vizinhos, abalando a estabilidade dos regimes que neles perdurava.
Entretanto, segundo o autor, a queda do regime ditatorial não significa que as sociedades
árabes serão capazes de se manterem em regimes de democracia liberal, pois, quatro anos
depois, perdurou no Egito e a Líbia forte instabilidade, regada à luta militar e dificuldades para
o efetivo exercício da democracia. O mesmo ocorreu na Síria: até mesmo protestos pacíficos
foram esmagados, de onde nasceu uma guerra civil que se arrasta.

Diante de tais panoramas, muitos observadores no Ocidente acabam por desprezar a


Primavera Árabe, o que tem sido feito, muitas vezes, sob uma ótica de interesses econômicos,
já que países como os Estados Unidos desenvolviam relações benéficas com alguns países de
regime ditatorial e agora enfrentam incertezas, tendo em vista o atual cenário. Ainda, muitos
dos que afirmam a impossibilidade de democratização dos países árabes não levam em
consideração o processo sofrido pela Europa, até que atingisse a democracia. A formação de
uma democracia liberal, estável e com funcionamento adequado envolve diversos fatores que
não são consolidados da noite para o dia – partidos políticos articulados, sistema judiciário
independente, burocracia estatal eficaz, bem como senso de identidade e nação dos
indivíduos.

Ainda, é importante observar que assim como a Europa – e diferentemente da América Latina,
por exemplo, os países árabes não tiveram fortes experiências democráticas anteriormente, o
que corrobora com a lentidão da mudança de regime. Outras semelhanças entre os regimes
pode-se ver na motivação das mobilizações sociais: a mudança econômica subjacente. À
medida que avançava na Europa do século XIX, a industrialização criou uma classe média e
proletariado em constante expansão; uma grande quantidade de camponeses foram às
cidades, onde puderam ser recrutados por novos partidos políticos e vulneráveis aos apelos
baseados na política de identidade. O mesmo ocorreu na Primavera Árabe: o número de
formados em universidades ampliou, assim como indicadores de saúde e renda. Citando
Huntington, o autor afirma que a classe média é fundamental para a mudança, e mais:
afirma que as revoluções nunca são organizadas pelos mais pobres, pois não teriam
instrução nem recursos para organizá-las com eficácia. Ainda, pondera que a decepção pela
falha é maior entre a classe média. Mas uma classe média não é o único produto da
urbanização; para o autor, a ascensão do Islã trata-se muito mais de uma política de
identidade do que religião em si. De início, o nacionalismo secular operava como fonte de
identidade mas, em declínio devido o baixo crescimento econômico, o vácuo foi preenchido
pela religião.

Apesar de o autor fomentar a classe média como a protagonista do sucesso na luta pela queda
de governos antidemocráticos, também reconhece que, na Europa, os grupos de classe média
não conseguiram realizar seus feitos completamente sós: todos precisaram de variados tipos
de coalizões interclasses. Contudo, segundo o autor, muitas vezes a classe média não termina
apoiando a democracia liberal devido conflito de interesses, o que a faz alinhar-se, até mesmo,
com a parcela conservadora, como ocorreu em algumas ditaduras da América Latina, na
Turquia, e no próprio Egito, em 2013.

No que concerne aos fatores que complicam gravemente a busca à democracia no Oriente
Médio, o autor destaca o que considera o principal: O Islã, devido a forte insurgência á
separação de religião e Estado. Comparativamente, o Islã é o que a nação era para a Europa.
Por fim, o autor afirma que para que haja a democratização do Oriente Médio
contemporâneo, deve haver a criação de instituições integradas e uma base social adequada.

Segundo Karl Marx, o capitalismo moderno tinha como destino uma grande crise
oriunda da superprodução, fomentada pelo uso da tecnologia, o que traria excedente
de mão de obra, concentração de riquezas e empobrecimento progressivo dos
trabalhadores. Para Marx, a única solução para a crise seria uma grande revolução
que conferiria poder ao proletariado e redistribuiria os feitos do capitalismo. Na visão
do autor, o cenário de Marx era bastante plausível em meados do século XIX; mas,
após inúmeros acontecimentos, a revolução proletária foi retardada pois o crescimento
econômico surgiu à medida que os trabalhadores foram realocados das zonas rurais
para as cidades.
Ainda, muitos países passaram a estabelecer sistemas de ensino público, a fim de
abastecer as indústrias e maquinário capitalista com engenheiros, advogados,
contadores, matemáticos. Este investimento no ensino superior também, aliado à
disseminação de direitos de cidadania, trouxe aumento da participação política e social
das classes trabalhadoras. Afirma, ainda, que a natureza dos partidos conservadores
também começou a mudar e, ao invés de representar ricos proprietários de terras,
mudaram sua base de apoio para as elites da nova classe média, que utilizou do
poder das classes trabalhadoras para inserir legislações de cunho social, regulando
condições de trabalho, visando o bem-estar social. Outro ponto defendido pelo autor é
que em meados do século XX, a classe trabalhadora parou de crescer – SERÁ?
CONTESTAR – com uma educação melhor e determinados privilégios, a possibilidade
de votar em determinados partidos políticos aumentos, derrubando a teoria de Marx.
A esquerda política acabou perdendo o foco nas questões econômicas e de classe
social – NÃO (?) – e fragmentou-se em decorrência da disseminação da política de
identidade. Apesar disso, a ascensão de novas formas de identidade criou um
conjunto de causas que cruzam as linhas entre classes, como o feminismo, o espaço
do negro, ambientalismo, direitos dos indígenas e homossexuais. A liderança de
muitos desses movimentos veio das elites econômicas, e suas preferências muitas
vezes divergiam daquelas do eleitorado da classe trabalhadora. Na opinião do autor, a
substituição da política de classe pela política de identidade foi confusa para os
marxistas, que por muitos anos se agarraram à classe trabalhadora industrial como
sua categoria preferida dos subprivilegiados. Para Fukuyama, os acontecimentos não
previstos por Marx estão pautados na conversão da classe trabalhadora em uma
ampla classe média, apoiada na ascensão de governos de centro-direita e centro-
esquerda, que concordavam com a estrutura liberal política. Contudo, outras regiões
não tiveram tanta sorte. A América Latina tem um legado de forte desigualdade social;
conforme o entendimento do autor, os benefícios do crescimento econômico foram
compartilhados apenas pela classe trabalhadora mais organizada, não pela massa de
trabalhadores do setor informal, o que gerou uma política polarizada. Esta polarização
restou bastante evidente pela persistência de partidos comunistas liderados por Cuba,
Uruguai, Nicarágua e o movimento bolivariano de Hugo Chavéz.
Segundo Francis Fukuyama, desde os tempos de Aristóteles os principais pensadores
sempre assinalaram que uma democracia estável dependeria de uma ampla classe
média, o que diverge do pensamento de Marx, que acreditava que nas sociedades
modernas, a classe média seria uma minoria. A ampliação da classe média culminou
na eliminação do apelo do marxismo.

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