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Ourinhos(SP)/
2008
UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Campus Experimental de Ourinhos
Ourinhos(SP)/
2008
UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Campus Experimental de Ourinhos
Ourinhos(SP)/
2008
Banca Examinadora
Ourinhos,
15 de agosto de 2008
Boscariol, Renan Amabile, 1984–
B741f Formação socioespacial e expansão urbana do
município de Ourinhos/SP. / Renan Amabile
Boscariol.-- Ourinhos: Edição do Autor, 2008. 185p.
ISBN
CDD: 910.130776
Dedicatória
Materiais e Métodos...........................................................................................15
4.5. A estrutura do espaço intra-urbano de Ourinhos e a sua divisão por setores: uma
forma de análise da configuração espacial dos grupos sociais e atividades
urbanas.…………………………………........................................................................132
Considerações Finais......................................................................................180
Referências Bibliográficas..............................................................................183
Lista de Figuras
Fotos
Foto 2. Vista aérea do início das obras de construção do condomínio fechado Royal
Park, Ourinhos/SP, ano de 1991...................................................................................91
Foto 8. Fotografia aérea do ano de 1972, mostrando o sul e o oeste da área urbana do
município de Ourinhos.................................................................................................104
Foto 13. Exemplo de algumas moradias construídas no bairro Jardim Vale do Sol
II...................................................................................................................................169
Gráficos
Mapas
Mapa 10. Localização, por setores censitários, das faixas de renda da população,
segundo dados para o ano de 2000 do IBGE……......................................................126
Mapa 11. Grandes estruturas de transporte regional e as principais vias de circulação
do espaço intra-urbano de Ourinhos...........................................................................128
Mapa 14. Imagem de satélite da mancha urbana de Ourinhos, enfocando o setor leste
da área urbana............................................................................................................176
Lista de Tabelas
Tabelas
RESUMO
ABSTRACT
We realized a remarkable lack of scientific works during a bibliographic uplift about urban
area studies in the region of Ourinhos. For that and other reasons that we decided to make a
study about the “socioespatial formation and urban expansion of the municipality of
Ourinhos/SP”. Based in the socioespatial formation category (allied whit other concepts), we
analyzed, mainly, the production and reproduction process, by the space productor agents,
of the urban area from this municipal and the suffered influences of this processors by the
external socioeconomic dynamics. Our main focus embraced the spatialization of the urban
area. The final result it´s the first scientific work about socioespatial formation and urban
expansion of the largest urban area contained in the Government Region of Ourinhos.
INTRODUÇÃO
A presente monografia é resultado de um trabalho de iniciação científica
desenvolvido ao longo de dois anos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (FAPESP), sob orientação do Professor Doutor Márcio
Rogério Silveira. Para a sua confecção, algumas informações presentes
originalmente na pesquisa tiveram de ser subtraídas, a fim de enquadrar o trabalho
nas normas exigidas pelo curso de graduação em Geografia da UNESP/Campus de
Ourinhos.
O planejamento urbano é imprescindível para se buscar uma melhor
qualidade de vida nas cidades1. No mundo, cada vez mais pessoas se juntam aos
bilhões de indivíduos que vivem neste tipo de ambiente. É também neste local onde
se situam as instituições públicas e privadas responsáveis pelos mandos e
desmandos em nossa sociedade. Portanto, estudar este ambiente objetivando
entender as dinâmicas socioeconômicas responsáveis pela expansão das áreas
urbanas é passo inicial para que possamos pensá-lo, de modo que sejamos capazes
de minimizar as desigualdades inerentes à sociedade capitalista.
Ao deixarmos as dinâmicas econômicas atuarem livremente, ou
simplesmente reforçá-las através do crescimento econômico – esperando que este
resolva pela própria lógica do sistema de produção e reprodução do capital os
graves problemas sociais –, deixamos também a vida das pessoas que habitam um
determinado espaço serem comandadas por essas mesmas dinâmicas,
conformando suas vidas através da lei do mercado, que influi o quanto e como estas
pessoas viverão. Isto, pela lógica capitalista, significa a expansão/perpetuação do
estado de desigualdade social.
No entanto, para a realização de todo o trabalho de planejamento, para
qualquer esforço que objetive planejar o espaço, são necessários diversos estudos e
informações, construídos ao longo do tempo, sobre os diferentes processos e
dinâmicas que se articulam na cidade. Conforme averiguamos no levantamento
1
A definição de planejamento urbano, contida neste trabalho, foi retirada do livro “Planejamento
urbano e ativismos sociais”, de Marcelo Lopes de Souza e Glauco B. Rodrigues (2004, p. 15). Para
estes autores o planejamento urbano é “(...) uma atividade que remete sempre para o futuro. É uma
forma que os homens tem de tentar prever a evolução de um fenômeno ou de um processo, e, a
partir deste conhecimento, procurar se precaver contra problemas e dificuldades, ou ainda aproveitar
melhor possíveis benefícios”.
13
2
Novamente retiramos o conceito de gestão urbana do livro “Planejamento urbano e ativismos
sociais”, de Marcelo Lopes de Souza e Glauco B. Rodrigues (2004). Souza e Rodrigues definem a
gestão urbana como a administração da cidade. A diferença entre gestão urbana e planejamento
urbano, para os autores, seria que a primeira trata do agora, de administrar os recursos presentes,
alocando-os conforme as prioridades pensadas previamente, através do planejamento urbano.
14
favelas ou bairros pobres, com pouca estrutura e área de lazer, e áreas valorizadas,
onde há uma grande oferta de equipamentos urbanos e de serviços privados, como
televisão a cabo ou via satélite e serviços de segurança particular ou grandes zonas
industriais periféricas e áreas comerciais de grandes e modernos edifícios. E
articulado porque estas áreas urbanas acabam interagindo de diversas maneiras.
Um exemplo disso seria a utilização de mão-de-obra barata, para serviços
domésticos, em casas de um bairro onde habita um segmento social de renda
elevada, proveniente de um bairro pobre próximo. Da mesma forma, uma área
comercial pode ter comércios e serviços voltados para uma população de segmento
social médio e alto, que habitam em áreas próximas, e possuir sua mão-de-obra
composta por pessoas de segmento social médio e baixo.
Este espaço fragmentado e articulado seria resultado do constante jogo de
forças das classes sociais no capitalismo, conforme dito acima. O mesmo jogo de
forças das classes sociais, portanto, estaria implícito no espaço das cidades de hoje,
cujo rearranjo espacial seria um reflexo desta disputa e serviria para a reprodução
da mesma. Sua construção, segundo as idéias desenvolvidas por Corrêa, se daria,
então, por agentes sociais.
Corrêa (2005, p. 20), diz que o espaço urbano é produzido por agentes
sociais que possuem papéis de produtores e consumidores do espaço. Esses
agentes seriam:
• os proprietários dos meios de produção, grandes proprietários
industriais e comerciais que “(...) são, em razão da dimensão de
suas atividades, grandes consumidores de espaço (...)”;
• os proprietários fundiários, proprietários de terras que “estão
particularmente interessados na conversão da terra rural em terra
urbana, ou seja, têm interesse na expansão do espaço da cidade
na medida em que a terra urbana é mais valorizada que a rural” e,
portanto, ajudam a produzir o espaço urbano;
• os promotores imobiliários, que seriam um conjunto de agentes que
realizam parcial ou totalmente, as operações de incorporação,
financiamento, estudo técnico, construção ou produção física do
imóvel e a sua comercialização;
20
Metodologia.
De acordo com o referencial teórico apresentado, a metodologia usada
neste trabalho objetivou atender diversos tipos de informações e variáveis.
Realizamos um levantamento de bibliografias sobre a cidade de Ourinhos e as
teorias utilizadas, avaliando a sua quantidade e qualidade. Para a análise da
expansão urbana foram utilizados fotos e mapas antigos, fotos aéreas e imagens de
satélite, permitindo a sua visualização ao longo do tempo. Executamos também um
levantamento de dados estatísticos, recorrendo a Instituições qualificadas como o
23
Objetivos específicos.
Os objetivos específicos buscados neste trabalho apresentam-se a seguir:
1. identificar a gênese e o desenvolvimento (formação socioespacial) do
município de Ourinhos/SP;
2. verificar sua expansão urbana através do aumento populacional e, por
conseguinte, e do aumento do tecido urbano por meio da constituição de
loteamentos;
3. analisar a criação de loteamentos, sua transformação em bairros e o papel
dos agentes transformadores do espaço urbano;
4. verificar a atuação dos conflitos socioespaciais gerados através dos conflitos
entre os agentes produtores e reprodutores do espaço urbano, como os
proprietários latifundiários, os produtores imobiliários (incorporadores e
construtores), os proprietários dos meios de produção, o Estado e os grupos
sociais excluídos;
5. construir um cartograma, demonstrando a evolução urbana ao longo do
tempo, indicando tendências de crescimento e a evolução da especulação
imobiliária.
24
CAPÍTULO 1
ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO OESTE PAULISTA
3
Falar aqui dos diferentes fatores de localização.
4
Além da reestruturação produtiva (compra de maquinários mais modernos, maior preocupação com
a logística, marketing, etc), as empresas procuram novas e melhores localizações como maneira de
maximizar a sua taxa de lucro, promovendo uma verdadeira reestruturação espacial das atividades
econômicas (SMITH, 1988).
27
5
As fases econômicas são períodos finitos, que podem ser bem definidos e explicados,
diferentemente dos ciclos econômicos. Ciclo, como a própria palavra exprime, denota a sucessão de
fenômenos, em uma ordem determinada. Significa, portanto, uma sucessão de fenômenos de uma
forma ordenada, que se exprime ao longo do tempo. As fases, por outro lado, remetem a apenas um
momento de certa conjuntura histórica.
28
por meio de trabalho produtivo nas fazendas de café. A aristocracia rural, segundo
Mamigonian (1976), consumia os produtos de luxo advindos da Europa,
despendendo desta forma boa parte da riqueza produzida em suas fazendas,
enquanto que os escravos possuíam um nível extremamente baixo de consumo.
Assim, por não haver uma classe intermediária, detentora de certo nível de
consumo, a sociedade brasileira não possuía condições internas para se “auto-
superar e promover o crescimento industrial” (MANIGONIAM, 1976).
Contribuía para a manutenção desta situação a mentalidade da elite
cafeicultora, cujas principais características eram a aversão ao trabalho produtivo e
uma visão hierarquizada e rígida da sociedade, o que resultava em um sentimento
de superioridade em relação à sociedade brasileira e de inferioridade em relação à
Europa. Os fazendeiros observavam os seus latifúndios mais como uma fonte de
renda garantidora de vida fácil do que uma unidade produtora e, desta forma, não
eram mercado consumidor possível para as primeiras indústrias (MAMIGONIAM,
1976).
Todavia, se não eram mercado consumidor para as primeiras indústrias,
pelo menos foram os responsáveis por sua criação. Os grandes fazendeiros
paulistas os pioneiros do Estado na criação de indústrias têxteis, fundadas na
primeira metade da década de 1870, muito embora já na década passada existisse
este tipo de indústria em outras regiões do país (MAMIGONIAM, 1976). É
significante que das seis tecelagens criadas neste período, cinco encontravam-se no
interior do Estado, em áreas de produção de algodão (Itu, Piracicaba, São Luís do
Paraitinga, Campinas). Estas surgiam visando atender as necessidades das
fazendas, no provimento de vestimentas de baixa qualidade para os escravos e na
confecção de sacos para embalar o café produzido. As indústrias, desta forma,
surgiam mais como um complemento da economia cafeeira, do que como promotora
e resultante de mudanças econômico-sociais.
Para Mamigonian (1976), os verdadeiros responsáveis pela
industrialização do Brasil e de São Paulo foram os imigrantes europeus, portadores
de relações capitalistas trazidas de seus países de origem. Diz o autor que, durante
o século XIX e o início do século XX, a Europa forneceu ao novo mundo milhões de
33
Campinas, Ribeirão Preto e Sorocaba (NEGRI, B.; GONÇALVES, M. F.; CANO, W.,
1987). A indústria atingia assim um patamar em que novas necessidades se
apresentavam para a continuação de seu desenvolvimento. As pequenas
fabriquetas artesanais superavam este estágio inicial e seus empresários investiram
o capital acumulado para a ampliação e modernização de suas instalações,
configurando-se agora como proprietários de médio e grande porte, demandando
um mercado consumidor e uma economia mais dinâmica para continuarem a
expandir a sua capacidade de produção e acumulação de capital.
A revolução de 1930, desta maneira, vem atender a necessidade deste
capital privado nacional de um Estado centralizado, capaz de realizar investimentos
em infra-estrutura e de criar condições para que este possa se reproduzir de forma
ampliada, expandindo seus lucros e desenvolvendo o capitalismo no país, embora
de forma limitada, devido à sua aliança com os grupos dos latifundiários “feudais” do
sul do país, de Minas Gerais e do Nordeste (geralmente baseados na pecuária),
originando a terceira dualidade básica da economia brasileira (1930-1985{?})7.
A demanda por um Estado nacional forte surge como uma necessidade
de nossa economia para a continuação da industrialização por meio do que Rangel
(2005) denominou como industrialização por substituição de importações
(crescimento para dentro). Para o autor, o Brasil, um país de industrialização tardia,
só pôde se desenvolver por meio da substituição de produtos importados por
nacionais, utilizando-se do mercado interno para o desenvolvimento de sua
indústria.
O primeiro momento da industrialização nacional (por volta de 1880-1910)
supriu o país de uma indústria têxtil e de produtos alimentícios, formando assim os
primeiros industriais do país. Através da acumulação ocorrida nestes setores, a partir
de 1930, com o auxílio do Estado nacional, houve o progressivo reinvestimento de
capital ocioso gerado nestas indústrias em outras atividades inexistentes ou
subdesenvolvidas no país, revertendo a lógica de industrialização vista até então,
que pressupunha primeiro a formação de uma indústria de base para depois investir
na de bens de produção, até chegar às indústrias mais leves (RANGEL, 2005).
7
Para um melhor entendimento da utilização da expressão feudal e do que vem a ser a dualidade
básica da economia brasileira ver: RANGEL, Ignácio. A História da dualidade brasileira. In: Rangel,
Ignácio. Obras Reunidas. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005, p. 655-687 (Vol. 2).
37
É necessário ressaltar que tal situação não pode ocorrer, salvo devido a
circunstâncias específicas que promovem elas mesmas situações de escassez de
produtos importados no mercado interno (I e II Guerras Mundiais, por exemplo), sem
a ativa participação do Estado para promover as condições ótimas para que haja
este fluxo de capitais de um setor econômico ocioso para outro antiocioso.
O capital estatal e o capital privado são faces da mesma moeda: a
acumulação capitalista, sendo ilusória a tese das esquerdas de
desprivatizar o Estado intervém sob pressão dos interesses privados,
participando: 1) de setores que requerem muito capital, em relação ‘a
capacidade conjuntural do setor privado; 2) de setores de maturação
lenta de investimentos (retornos a longo prazo); 3) nas áreas em que
o capital privado fracassa (queda da lucratividade), como nas
aquisições das ferrovias nas décadas de 1950-60 (MAMIGONIAN,
1991, p. 112).
8
O que Rangel denomina como capacidade ociosa da economia é algo expressivamente mais amplo
do que simplesmente os recursos de caixa sobrantes de uma empresa. Compreende também a não
utilização de máquinas e equipamentos, insumos, formas de produção mais eficientes e capazes de
serem realizadas sem muito esforço, etc.
38
9
Para maiores informações a respeito dos desdobramentos espaciais dos processos de (re)produção
do capital consultar os capítulos 4 e 5 da obra de Neil Smith, denominada Desenvolvimento
Desigual, de 1988.
40
10
Estas relações envolvem inclusive a expansão recíproca de seus capitais em seus territórios, com o
avanço de capitais industriais e comerciais sulistas nos principais mercados paulistas e vice-versa.
41
11
Estas regiões englobam as seguintes áreas. Litoral (Baixada Santista, Litoral Norte, Vale do
Ribeira); Vale do Ribeira (São José dos Campos, Taubaté, Guaratinguetá); Sorocaba (Sorocaba,
Tatuí, Itapetininga, Capão Bonito, Itapeva, Avaré, Botucatu); Ribeirão Preto (Ribeirão Preto, Franca,
São Joaquim, Araraquara, São Carlos, Jaboticabal, Barretos, Itajobi). Bauru (Bauru, Jaú, Assis,
Ourinhos).
42
contingente populacional nos espaços rurais, que era tanto maior quanto a distância
da Capital do Estado (grau de urbanização dos municípios).
Com a criação do sistema viário12, consolidou-se a hegemonia de São
Paulo no país e no Estado, favorecendo assim o grande boom econômico que se
seguiu, com o aumento da produção industrial da capital estadual em relação ao
país e ao interior paulista. Este desenvolvimento da economia paulistana atraiu um
grande contingente populacional, o que acarretou em uma acelerada explosão
populacional e levou a mancha urbana de São Paulo à conurbação com cidades
próximas. Com a rápida diminuição do volume de imigrantes estrangeiros, o
movimento populacional passou a ser interno, com a movimentação de migrantes de
todo o país, em sua grande maioria nordestinos. Buscando melhores condições de
vida se direcionavam principalmente para a cidade de São Paulo, sendo os
principais responsáveis por seu rápido crescimento.
Devido à concentração industrial e ao grande crescimento demográfico, o
setor terciário (de comércio e serviços) também se expandiu. Estes fatores levaram
à concentração da economia nacional (e paulista) em São Paulo e à formação da
metrópole paulista, ao mesmo tempo em que ocorreu a desconcentração das infra-
estruturas de circulação e do processo de urbanização pelo interior do estado,
formando mercados consumidores urbanos e regionais, que tanto favoreciam o
desenvolvimento das indústrias locais, quanto serviam de mercado consumidor para
as indústrias paulistanas.
M. F.; CANO, W., 1987). O setor de bens duráveis, intermediários e de capital foram
os que tiveram a maior expansão.
Desta forma, até os anos de 1970, a expansão dos setores terciário e
secundário deu-se em largas passadas, aumentando a presença da capital na
economia metropolitana, apesar deste aumento também ocorrer nas cidades do
interior. Alguns autores chamam este momento histórico de
desconcentração/concentrada. Este termo se justifica porque a desconcentração das
indústrias da metrópole se localizou em áreas próximas (em um raio de 150 km,
segundo Lencioni {?}), principalmente na região de Campinas, Ribeirão Preto e
Sorocaba, mas também no Vale do Paraíba, ao longo da Via Dutra. Outras regiões
do Estado como a da cidade de Bauru também se beneficiaram, mas em proporção
menor.
Os maiores impactos ocorridos nas regiões do Estado de São Paulo no
período retratado (1955-1980) foram: o êxodo rural devido à modernização da
agricultura e o avanço das culturas de exportação; a desconcentração/concentração
da economia paulista; o aumento de importância na rede urbana das cidades
médias. Estes estão totalmente relacionados, conforme explicaremos a seguir.
A acumulação e a concentração espacial de capital na metrópole atinge
um ponto de saturação, principalmente nos setores de bens de consumo duráveis e
não-duráveis, o que cria um segundo movimento de desconcentração espacial de
capital (acompanhado de centralização do capital financeiro e de comando na capital
paulista), levando à criação de filiais de grandes redes comerciais e de empresas
prestadoras de serviço rumo aos núcleos mais importantes do interior, bem como de
grandes indústrias metropolitanas. Esta é acompanhada da desconcentração
espacial do investimento em infra-estruturas urbanas (transporte coletivo, asfalto,
rede de saneamento, etc), na rede de comunicações (telefonia, televisão, rádio) e
nos serviços públicos (educação, saúde, segurança), afim de criar condições para a
reprodução ampliada do capital nacional nestas novas áreas pela expansão de sua
capacidade de consumo, propiciando também a reprodução ampliada da força-de-
trabalho local.
O processo de modernização da agricultura e de expansão das culturas
de exportação leva à concentração de terras pela agroindústria e expulsa os
47
14
Os geógrafos divergem sobre a extensão da região metropolitana de São Paulo. Para os autores
da Universidade de São Paulo (USP), a região de Campinas faz parte da metrópole estendida, ou
macrometrópole (classificação adotada pelo governo do Estado de São Paulo), enquanto que para os
autores da UNICAMP (Universidade de Campinas), Campinas seria uma metrópole distinta, mas
integrada à dinâmica de São Paulo.
48
Quanto às áreas ao redor das cidades de São José do Rio Preto, Marília,
e Bauru, na primeira cidade também predominava a prática da pecuária, mas em
suas terras uma agricultura diversificada e moderna se implantava, produzindo café,
laranja, cana-de-açúcar e arroz. Na segunda, o café continuava ocupando um lugar
de destaque, compartilhando com o trigo e a soja o posto de produto mais
expressivo na região. Ao contrário de outras áreas que compunham o Oeste neste
período, não possuía uma pecuária expressiva. A cidade de Bauru dividiu-se entre a
cana-de-açúcar e a pecuária, recebendo a influência tanto da região Oeste como
das regiões mais modernas (NEGRI, B.; GONÇALVES, M. F.; CANO, W., 1987).
49
grau de urbanização, que atinge patamares elevados e sofre uma diminuição no seu
ritmo de crescimento em algumas cidades, embora apenas Ourinhos tenha
ultrapassado o grau de urbanização do Estado de São Paulo (ver tabela 3)
Detectamos na região uma tendência à concentração da produção
industrial no setor de alimentos, em detrimento do setor de combustíveis. Esta
situação parece estar relacionada com a saída de unidades distribuidoras de
combustíveis para cidades de outras regiões, e ao remanejamento da produção das
usinas processadoras de cana-de-açúcar para a fabricação de açúcar em detrimento
do álcool combustível. No final da década de 1990, as atividades industriais estavam
concentradas na produção de alimentos, apresentando um Valor Adicionado Fiscal
(V.A.F) de 46% do total da indústria regional, e 27% para o setor de combustíveis.
No ano de 2005, o setor de alimentos atingia 54% do V.A.F da região, enquanto que
o de combustíveis recuava para 19% (SEADE, 2008). Os outros 27% encontram-se
pulverizados na mão de diversos outros setores industriais, sendo que os setores de
móveis e máquinas e equipamentos (para a agroindústria) eram responsáveis por
pouco mais da metade desta fatia. Isto indica uma estrutura industrial altamente
especializada e pouco diversificada, atrelada à produção agrícola.
Outra tendência encontrada neste período é a concentração das
atividades industriais no município de Ourinhos. Enquanto que no final da década de
1990 esta cidade concentrava 35% do V.A.F. industrial da região, no ano de 2005
este percentual alcançou 42%, com todas as outras cidades apresentando
diminuição, excetuando-se Ipaussu, que no mesmo período salta de 4% para 11%
do total regional (SEADE, 2008).
Em relação à agropecuária, percebemos o processo inverso, ou seja, de
desconcentração do V.A.F. regional da cidade de Santa Cruz do Rio Pardo em
direção a toda a região. Enquanto que em 1999 esta cidade apresentava 44% do
total regional, para o ano de 2005 este número era de apenas 35%. No segundo
lugar, temos a cidade de Ourinhos, que neste período, para o mesmo indicador,
apresentou 10% e 12%, para 1999 e 2005, respectivamente (SEADE, 2008)
Como resultado final, atualmente a atividade industrial na região é
também espacialmente concentrada. As cidades de Ourinhos e Santa Cruz do Rio
Pardo são os principais núcleos para a localização desta atividade. Santa Cruz do
63
CAPÍTULO 2
GÊNESE E FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DO MUNICÍPIO DE
OURINHOS/SP
15
Este era o nome do Distrito. Após a sua emancipação é adicionado o “s” no final do nome,
chamando, portanto, Ourinhos a nova cidade.
16
A história desta companhia começa em 1871, com a sua fundação pelo húngaro Luis Matheus
Maylasky. Neste primeiro momento a companhia tinha o nome de “Companhia Sorocabana de
Estrada de Ferro” e fora constituída com capital angariado entre os fazendeiros e comerciantes de
Sorocaba. A finalidade inicial desta via férrea era propiciar uma ligação entre a Fabrica de Ferro
imperial de Ipanema (localizada em Varnhagem), criada por Dom João VI na primeira metade do
século XIX, e a cidade de São Paulo, que já era um importante mercado na época. Porém, em 1890,
o café já era elemento fundamental para a sua receita operacional. Mesmo assim, a história
financeira da Sorocabana sempre foi complicada. Em 1892, operou-se a fusão da Companhia Ituana
com a Companhia Sorocabana de Estradas de Ferro, motivada pela dificuldade financeira em que as
duas companhias se encontravam, criando assim a Companhia Sorocabana-Ituana, formando uma
das maiores companhias ferroviárias do País naquele momento. Porém, sua situação econômica na
década de 1900 estava bastante agravada e desde este momento ela passou, sucessivamente, para
o controle do governo federal, em 1902, para o governo estadual, em 1905 e para o grupo estrangeiro
Farquhart-Légru, em 1907, permanecendo no controle da Companhia até 1919, quando o controle
volta para o Estado, devido a denúncias de corrupção. Atualmente, esta estrada de Ferro se encontra
sob a administração da América Latina Logística, ALL, iniciada na década de 1990.
69
17
Segundo Del Rios (1992, p.g17), Dona Escolástica tinha cerca de 50 anos na época do negócio e
enviuvara-se em 1908, ficando sozinha com a sua filha Thereza. Seu marido, José Manoel, era
empresário e proprietário de terras em Itu e em São Paulo e morreu com 50 anos. Herdou do marido
terras diversas em São Paulo e em outros lugares, mais difíceis de se administrar. Uma de suas
terras em São Paulo tornou-se a Vila Matilde, em homenagem à sua segunda filha, que em 1910
possuía 17 anos. Dona Escolástica morreu aos 88 anos, no Rio de Janeiro.
73
18
As olarias iniciaram-se na década de 1920 e extraíam argila de uma área do Rio Paranapanema,
próxima da Vila Odilon. Tinham como principal mercado a cidade de Ourinhos e o Norte do Paraná,
onde atuavam as companhias de colonização. Desenvolveram-se até 1980 quando chegaram a
existir mais de 100 olarias. A partir desta data o setor entrou em crise, resultado do crescimento da
concorrência, do barateamento do preço de seus produtos e por defasagem tecnológica. Hoje
sobrevivem apenas 15 olarias no município.
76
A criação desta vila está ligada ao Sr. Odilon Chaves do Carmo, dono de
açougue no centro da cidade e da chácara que deu origem à vila. Conforme relata
Massei (2001), após a morte de Odilon, um parente realizou o loteamento das terras,
que já estavam ocupadas por trabalhadores das olarias localizadas ao redor e por
pequenos proprietários rurais. Segundo Massei (2001), antes da realização do
loteamento já existiam famílias habitando a chácara, com a permissão do Sr. Odilon.
19
Entrevista com o professor Norival Vieira da Silva, morador honorário da cidade. Título o qual lhe
foi conferido pela câmara municipal de Ourinhos. O professor Norival Vieira lecionou, até a década de
1940, no curso de Direito da Faculdade de Jacarezinho, foi diretor das Faculdades Integradas de
Ourinhos e ajudou o processo que possibilitou a instalação da FATEC no município. Foi vice-prefeito
na década de 1950 e posicionou-se contra a disposição do prefeito de reformular a praça. Hoje é
professor aposentado, morador da cidade, e expõe as suas opiniões na rádio Clube de Ourinhos,
onde possui um tempo diário de 10 minutos para expor suas crônicas e opiniões a respeito dos
acontecimentos e o passado da cidade.
79
20
Entrevista concedida por Norival Vieira da Silva, em sua residência, em 16 de maio de 2007.
81
É de se notar que, com exceção da Usina São Luís, que produz tanto
açúcar quanto álcool combustível, e da fábrica de colchões Castor, as outras
indústrias pertençam ao setor de alimentos e bebidas. Estas vieram substituir as
antigas fábricas semi-artesanais, resultado da expansão da economia industrial do
Estado de São Paulo, que propiciou as condições para o surgimento de uma
indústria mais moderna, de alcance regional. São resultado da generalização de
melhores condições de circulação na região, da expansão do crédito e
financiamento industrial, mas também nas melhoras do nível de consumo, com o
surgimento de novos grupos de renda e de expansão da classe média, e aumento
da qualidade de vida da população, com investimentos em educação, saúde,
condições de trabalho (propiciando uma reprodução ampliada da força de trabalho).
Outra atividade que se expande sobremaneira durante este período no
município é a fabricação de telhas e tijolos das olarias da Vila Santa Maria e
adjacências. Alimentada pela demanda da própria região e da fronteira do Mato
Grosso do Sul, o setor oleiro sofreu uma forte expansão neste período, atingindo na
década de 1980, segundo Massei (2001), mais de 100 estabelecimentos industriais.
21
Corrêa (2005, p. 20) diz que o espaço urbano é produzido por agentes sociais que possuem papéis
de produtores e consumidores do espaço. Esses agentes seriam os proprietários dos meios de
produção, grandes proprietários industriais e comerciais que “(...) são, em razão da dimensão de suas
atividades, grandes consumidores de espaço (...)”; os proprietários fundiários, proprietários de terras
que “estão particularmente interessados na conversão da terra rural em terra urbana, ou seja, têm
interesse na expansão do espaço da cidade na medida em que a terra urbana é mais valorizada que
a rural” e, portanto, ajudam a produzir o espaço urbano; os promotores imobiliários que, segundo
Corrêa (2005), seriam um conjunto de agentes que realizam parcial ou totalmente, as operações de
incorporação, financiamento, estudo técnico, construção ou produção física do móvel e a
comercialização desse móvel; o Estado, que possui desde a função de grande consumidor de
espaço, regulador e também como produtor deste espaço; e os grupos sociais excluídos, que por não
possuírem renda suficiente para o aluguel ou para a compra de uma habitação decente, são forçados
a viver em lugares com pouco ou nenhum serviço básico ofertado.
82
22
Para maiores informações, consultar o capítulo 5 deste trabalho.
83
quando o processo de transição dos grupos de maior renda para o oeste da cidade
se acelera, praticamente completando-se na década de 1990.
Esta (re)definição dos locais de moradia dos grupos de alta e baixa renda,
ao nosso ver, resultou nesta espacialização do circuito superior e inferior da
economia (SANTOS, 2002) de Ourinhos.
Para Milton Santos (2002), o circuito superior é caracterizado por: acesso
ao crédito bancário institucional; uma organização burocrática, com preços em geral
fixos, sendo mais difícil a negociação de preços pelos consumidores (regateio); a
margem de lucro reduzida por unidade, mas importante pelo volume de negócios
(com exceção para os produtos de luxo); trabalho com grande quantidade e
variedade de mercadorias; recebimento de ajuda governamental.
O circuito inferior, ao contrário, apresenta como características: uma
organização primitiva; dificuldades de acesso ao crédito bancário institucional,
recorrendo ao crédito pessoal; apresentam margem elevada de lucro por unidade e
pequena em relação ao volume de negócios; trabalham com pequenas quantidades
de mercadoria; a ajuda recebida por parte do governo é praticamente nula
(SANTOS, 2002).
...a diferença fundamental entre as atividades do circuito inferior e as
do circuito superior está baseada nas diferenças de tecnologia e de
organização. O circuito superior utiliza uma tecnologia importada e
de alto nível, uma tecnologia “capital intensivo”, enquanto no circuito
inferior a tecnologia é “trabalho intensivo” e freqüentemente local ou
localmente adaptada ou recriada. O primeiro é imitativo, enquanto o
segundo dispõe de um potencial de criação considerável (SANTOS,
2002, p. 43).
Foto 2: Vista aérea do início das obras de construção do condomínio fechado Royal
Park, Ourinhos/SP, ano de 1991.
CAPÍTULO 3
EXPANSÃO DA ÁREA URBANA DO MUNICÍPIO DE OURINHOS/SP.
(1) (4)
(3)
(2) (1)
(1)
Fonte: Prefeitura Municipal de Ourinhos, 2006. Final dos anos 30. Vê-se bem claro a Av. Jacinto Sá,
antes de ser asfaltada, situação a qual se encontravam todas as vias de Ourinhos até o final da
década de 1940.
urbana para esta área seguiu o fluxo de pessoas e mercadorias entre estes dois
lugares.
Também ocorre a criação do primeiro bairro ao leste da Rodovia (Vila
Brasil - 1° seção, em 1947). Há a criação da Vila São Luiz (1949), de propriedade de
Joaquim Luiz da Costa, ao norte, também afastado do centro da cidade, descontínuo
da mancha urbana e da Vila Vilar (1946), de propriedade de João Villar Perez, ao sul
da cidade, também afastado do centro da cidade.
Outro bairro criado neste período foi a Vila Santa Maria (1944), ao sul,
mais afastado do centro da cidade que a Vila Odilon, porém, mais próximo das áreas
de extração de argila, de propriedade dos Irmãos Pacheco Chaves. Esta localização
favoreceu a instalação progressiva das olarias nas proximidades deste novo bairro,
que passará a concentrar o setor oleiro da cidade, em detrimento da Vila Odilon,
progressivamente incorporado à dinâmica da cidade.
As áreas ao norte da cidade também se desenvolveram. Podemos ver
uma grande expansão, praticamente em todas as direções, menos para o sudoeste
e noroeste, procurando evitar, respectivamente, os córregos do Monjolinho e
Christoni.
Através da foto 7, podemos observar a imagem do centro da cidade e da
região sul da área urbana, no ano de 1954. É perceptível que a mudança mais
significativa em relação à foto anterior é o maior adensamento da área urbana. A
população no ano de 1950 é praticamente o dobro da que havia em 1940.
100
(1)
Fonte: Prefeitura Municipal de Ourinhos, 2007. Podemos ver no centro da cidade de Ourinhos o
edifício Brasil, que atualmente abriga a TV TEM. A foto foi tirada na direção sul da cidade, na mesma
direção em que a foi tirada a foto 4, de 1939. Podemos ver as mudanças no adensamento e extensão
da mancha urbana, maiores neste período.
Fonte: Prefeitura Municipal de Ourinhos, 2007.
24
Entrevista fornecida por Marcelo Souza Santos, na imobiliária FORT, em Ourinhos, em 27 de
março de 2006.
25
O BNH foi criado no de 1964 e era um banco de segunda linha, o que significa que ele não operava
diretamente como público. A sua função era a de realizar operações de crédito e gerir o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), usando como intermediários bancos privados e/ou públicos e
agentes promotores, como as companhias habitacionais e as companhias de água e esgoto. O BNH
102
foi a principal instituição federal de desenvolvimento urbano da história brasileira. A sua história se
encerra em 1986, data da sua extinção, que ocorreu por meio de decreto oficial.
103
Foto 8: Fotografia aérea do ano de 1972, mostrando o sul e o oeste da área urbana
do município de Ourinhos.
Porém, são expandidas também as áreas mais nobres como o bairro Nova
Ourinhos.
Até 1983 ocorreu considerável evolução da área urbana. Neste período
são criados bairros periféricos como o Jardim Anchieta (1976), Jardim Ouro Fino, 1°
e 2° etapas (1979-82), Jardim Itamaraty (1979), Jardim Eldorado (1980), dentre
outros.
O início da década de 1980, para a cidade de Ourinhos, simboliza um
grande momento econômico. As distribuidoras de derivados de combustíveis, a
referência como um centro de autopeças regional, as indústrias migrando para o
recentemente criado Distrito Industrial I e o volumoso aumento na arrecadação
proporciona um efeito muito positivo sobre a cidade. Do ano de 1978 até 1982 o
volume de arrecadação praticamente dobrou a cada ano. A Prefeitura Municipal
declarou que estes números eram devidos principalmente às empresas
distribuidoras de derivados de petróleo, grandes consumidoras de terras.
Entre 1974 e 1983, as expansões urbanas mantêm-se forte no sentido
leste-oeste, mas aumenta também ao Norte e ao Sul, expandindo um pouco menos
nesta direção.
No ano de 1980, conforme relatamos foi criado o Distrito Industrial I. Sua
criação tinha o objetivo de retirar as indústrias que se situavam nas áreas urbanas,
concentrando-as em um único lugar, servido das estruturas de transporte
necessárias para estas indústrias.
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
53
25 25
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45
Escala gráfica
N
0 0,5 1km
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Escala gráfica
N
0 0,5 1km
CAPÍTULO 4
O ESPAÇO INTRA-URBANO DE OURINHOS
deve ser entendido neste trabalho. Para nós, o conceito de equipamentos coletivos
remete ao conceito de meios de consumo coletivo, proposto por Lojikine (1997).
(...) os meios de consumo coletivos têm enfim a característica de não
possuírem valores de uso que se coagulem em produtos materiais
separados, exteriores às atividades que os produziram. Edifícios
escolares, hospitalares, culturais, equipamento ferroviário para
transporte de viajantes, [...] etc., esses equipamentos materiais,
produtos separados do processo de produção dos meios de consumo
coletivos, não devem ser confundidos com os serviços e com as
prestações de serviço das quais são o suporte físico (LOJIKINE, 1997
p 156).
26
Entrevista concedida por Norival Vieira da Silva, em sua residência, em 16 de maio de 2007.
120
Souza (2002), vivemos em um Estado capitalista e por isso mesmo, são os grupos
sociais de maior capital (riqueza) quem mais influência e poder têm sobre as
determinações deste Estado.
Não é de se espantar, portanto, que compartilhem localizações parecidas.
As instituições financeiras e órgãos estatais costumam ter o endereço em ruas
largas e modernas, o que já denota, além de uma proximidade espacial, uma
relação muito mais íntima entre estes grupos e o Estado do que com o resto da
sociedade.
A partir da década de 1950 em diante, ocorre a reestruturação do espaço
intra-urbano de Ourinhos, já mencionada anteriormente. Os novos loteamentos,
criados a oeste da ferrovia, são eleitos como os novos lugares de segregação para
as classes mais abastadas, como nos conta Norival Vieira da Silva27 (2007). Diz ele
que foi uma mudança em massa e consciente por parte desta população, que
procurava melhores lugares para habitar28. Chamado pelos seus amigos, resolveu
continuar em seu local, pois as comodidades que possui morando no centro, não
encontraria em outro lugar. “Aqui dispenso o uso do automóvel. É tudo muito perto,
dá pra fazer tudo a pé” nos conta em entrevista.
É importante lembrar aqui que nem sempre as pessoas de maior renda
ocuparão as áreas mais valorizadas do espaço intra-urbano, podendo se segregar
em bairros mais periféricos, em condomínios fechados, onde a terra é mais barata,
investindo assim mais recursos na construção de casas maiores e mais bem
equipadas (VILLAÇA, 1997).
A abertura do Jardim Paulista I e II, durante o período de 1950-1960 atrai,
como vimos acima, os grupos sociais de maior renda, que passam a migrar
progressivamente para estas novas áreas abertas, abandonando a Vila Moraes,
local de sua maior concentração, mudando também a trajetória do crescimento
urbano. É interessante observar que a evolução da forma urbana se deu, de certa
maneira, como se tentasse preencher um círculo, impedido de se unir pela ferrovia,
tendo como centro a estação ferroviária.
27
Entrevista concedida por Norival Vieira da Silva, em sua residência, em 18 de maio de 2007.
28
Em concordância com as conclusões de Villaça (2005) ao analisar seis capitais estaduais
brasileiras. O autor conclui que é a elite quem escolhe sua área de expansão/segregação e não os
empreendedores imobiliários, que constroem empreendimentos visando o potencial de consumo
deste grupo.
121
29
Este é o caso do córrego do Jacuzinho, ao sul da área urbana, cujo leito já foi envolto pela área
urbana. A sua nascente está desprotegida, apenas cercada por matagais. Também temos o caso do
córrego do Monjolinho, que já possui trechos canalizados. Já não é possível localizar a sua nascente,
que se confunde com a rede de drenagem urbana.
124
Está explícito nas palavras deste autor a relação entre a estrutura social e
as cidades. A primeira está presente nas últimas. Estas apresentam um reflexo
desta estrutura, contida dentro de seu conteúdo urbano. Sabemos que a estrutura
atual de nossa sociedade é fragmentada, composta de grupos sociais – ou classes,
se preferirem (no caso brasileiro ainda mais acentuada pela enorme disparidade de
renda entre os grupos de menor e maior poder aquisitivo). Na primeira citação, o
autor aponta que a cidade se transforma, também nas relações de classe e
propriedade.
Se a cidade é um pedaço do conjunto social e que se transforma, também,
entre as relações de classe e propriedade, como diz Lefebvre (2004), ela possui em
seu interior este caráter fragmentário e, além disto, este caráter apresenta
dinamicidade. E as relações de classe se dão através de conflitos e disputas de
privilégios e interesses. No caso do espaço intra-urbano, estas disputas acontecem
pelos ganhos de localização (VILLAÇA, 2005).
Os ganhos de localização surgem porque cada lugar no espaço intra-
urbano é único e se apresenta sempre em relação a outros lugares, a equipamentos
e serviços, objetos, ou amenidades (naturais ou não), presentes neste mesmo
espaço. Desta forma, o local onde está situada uma residência apresenta-se tão ou
mais importante que o próprio imóvel.
O adquirente de espaço continua a adquirir um valor de uso. Qual?
Ele não compra apenas um volume habitável, permutável com
outros... O adquirente é detentor de uma distância, aquela que
interliga sua habitação a lugares, os centros de comércio, de trabalho,
de lazer, de cultura, de decisão. Aqui o tempo entre novamente em
cena (LEFEBRE appud VILLAÇA, 2005,p 73).
30
Localização sim, porque Villaça (2005), estabelece que uma determinada propriedade possui dois
valores. Um valor é resultado do custo de produção do imóvel, ou seja, da construção do imóvel. O
outro valor é relativo à sua acessibilidade, ou seja, sua localização no espaço intra-urbano. O primeiro
125
valor é fixo, enquanto que o segundo varia sempre de acordo com a estrutura urbana (a disposição
dos diversos elementos de um determinado espaço).
Até ½ salário mínimo De 2 a 3 salários mínimos De 10 a 15 salários mínimos MAPA 10: Localização, por setores
censitários, das faixas de renda da população,
segundo dados para o ano de 2000 do
IBGE...........................................
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
53
25 25
0km 50km 100km
45
Maior Concentração
N
S/ESCALA
LEGENDA
SISTEMA RODOVIÁRIO E DE ESTRADAS
NORTE RIOS SISTEMA DE VIAS ESTRUTURAIS
TERMINAL RODOVIÁRIO SISTEMA DDE VIAS COLETORAS
0 1200m
ESCALA GRÁFICA TERMINAL URBANMO FERROVIA
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
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138
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132
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01
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120
123
102
128
30
24
78
105
22
137
31
115
74
131
14
23
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02
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05
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40
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117
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109
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04
41
94
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03
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49
50
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73
77
81
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37
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100
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48
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83
N
Escala gráfica
0 1 2 km
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
Localização do
setor norte no mapa
da área urbana de
Ourinhos.
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138
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28
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01
89
108
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139
25
114
129
107
120
123
102
128
30
24
78
105
22
137
31
115
74
131
14
23
15
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93
17
66
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68
70
32
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13
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33
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101
141
85
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05
34
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40
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117
116
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04
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96
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60
48
47
58
55
56
61
136
57
83
N
Escala gráfica
0 375 750 m
antiga, que compreende os bairros de Vila Nova, vila Perino e parte do Centro, é
possível encontrar algumas casas de madeira.
O gráfico 1, que demonstra os grupos de renda que existem no setor
mostram que pouco mais da metade desta população se enquadra no que
poderíamos chamar de grupo social médio (o correspondente ao termo classe
média). Uma parte menor, correspondente a pouco mais de 10% do percentual do
grupo social médio diz respeito ao segmento de população de maior renda. Para as
pessoas dos grupos sociais considerados de baixa renda, a proporção alcança
quase um terço do total, ou 31,5%. Somadas ao grupo que não apresenta nenhum
rendimento, temos que 41,5% desta população se encontra em condições de
pobreza ou de insegurança financeira. Um percentual relativamente grande se
comparado a outros setores, como veremos mais adiante.
10,00%
5,50% 31,50%
Menos de 1/2 até 2 SM
De 2 até 10 SM
Acima de 10 SM
Sem rendimento
53,00%
parte de seus bairros possuem sua origem na década de 1970, mas a sua ocupação
efetiva ocorre a partir da década de 1980.
No entanto, diferentemente do setor norte, aqui as marcas do passado se
encontram em grande parte apagadas. Suas avenidas largas e bem arborizadas,
sua grande quantidade de parques e áreas verdes que proporcionam amenidades e
as casas suntuosas que existem em boa parte deste setor lhe conferem um aspecto
mais recente, mais atual.
Nesta parte da cidade encontram-se poucos vazios na sua mancha
urbana e boa parte de seus terrenos já se encontra ocupada. É o setor que possui a
menor parte da população da área urbana, com pouco mais de 15% do total.
É também um dos setores onde podemos observar a existência de
edifícios residenciais, construídos na década de 1980. E é o único local em toda a
área urbana onde ocorreu a construção de condomínios fechados (Royal Park e
Villagio Nova Ourinhos).
IMAGEM 4: Imagem de satélite da mancha
urbana de Ourinhos, enfocando o setor oeste
da área urbana...............................
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
Localização do
setor oeste no
mapa da área
urbana de Ourinhos
86
26
79
80
133
138
71
27
121
28
132
122
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98
63
64
65
76
91
127
16
119
112
146
62
01
89
108
95
139
25
114
129
107
120
123
102
128
30
24
78
105
22
137
31
115
74
131
14
23
15
126
93
17
66
84
68
70
32
11
13
29
21
33
10
69
09
134
101
141
85
97
143
12
08
72
06
02
20
67
18
140
35
92
05
34
75
130
07
40
90
125
19
39
88
117
116
36
110
109
42
04
41
38
94
03
104
49
50
111
73
77
81
87
45
37
54
43
51
106
52
82
100
44
135
124
99
147
46
53
103
96
59
60
48
47
58
55
56
61
136
57
83
N
Escala gráfica
0 285 570 m
5,53%
16,49%
53,95%
Podemos ver uma diferença entre a relação dos grupos sociais que se
situam nos extremos de renda enquanto que o grupo social médio permanece em
proporção semelhante ao do setor norte. A população que podemos considerar
como desfavorecida (soma entre as cores laranja e vermelha) se encontra em
aproximadamente 22% da população, ou pouco mais da metade da proporção deste
mesmo grupo social encontrada no setor norte. Já a população que possui
rendimento mensal acima de 10 salários mínimos correspondem a
aproximadamente 24% da população total, quase cinco vezes maior do que a
encontrada no setor norte da cidade.
Desta forma, seguindo a lógica de Milton Santos (2002), esta maior
concentração de renda proporciona o surgimento do circuito superior da economia
neste setor da cidade. Nas Avenidas Rodrigues Alves, Antônio A. Leite e Luiz
Saldanha, que ligam os bairros deste setor ao centro comercial, concentram-se
comércios e serviços de alto padrão, como escolas particulares, confeitarias,
varejões mais específicos, academias, uma prestadora de serviço de televisão a
143
cabo, danceterias e locais de diversão de mais alto padrão da cidade, além de uma
unidade do Supermercado Pão de Açúcar, de um hospital da UNIMED e da
faculdade particular Estácio de Sá.
Estas ruas largas e amplas fornecem fluidez e acessibilidade para
diversos bairros deste setor. Na margem destas avenidas surgem comércios e
serviços de alto padrão e grandes e suntuosas casas que proporcionam um ar de
sofisticação e riqueza em relação ao resto da cidade. Porém, em áreas mais
afastadas deste setor, como por exemplo, em bairros como Jardim dos
bandeirantes, Santa Felicidade, Vila Margarida e Jardim Santa Cecília, podemos
encontrar construções mais modestas, relativas à pessoas de renda mais baixa, mas
nada muito acentuado.
Quando observamos o serviço de equipamentos coletivos e infra-
estruturas urbanas, percebemos como esta região é privilegiada. Apesar de ter a
menor população da área urbana do município, este setor concentra cerca de: 1)
três dos nove postos policiais; 2) apenas uma de dez escolas estaduais; 3) quatro
das quinze escolas municipais de ensino infantil; 3) duas das treze escolas
municipais de ensino fundamental; 4) dois dos vinte e dois postos de saúde; 5) vinte
e seis das oitenta praças existentes.
A rede de esgoto é funcional e praticamente todos os bairros são
asfaltados, com exceção do Jardim Santa Felicidade e algumas ruas da Vila Soares.
A iluminação pública, no entanto, apresenta-se de forma deficiente também em
diversas partes deste setor, embora o problema não seja tão grave quanto no setor
norte, pela presença policial maior.
Este setor é onde se encontram as maiores amenidades. A ruas e
avenidas são largas e bem arborizadas, as praças bem conservadas. Foi a primeira
área da cidade onde se implantou a coleta seletiva (2005). Como podemos ver pela
imagem, grande parte das residências construídas neste setor possuem um
tamanho considerável. No entanto, já podemos perceber, através desta imagem,
heterogeneidades nos padrões de construção das casas.
Podemos ver que, ao norte deste setor e ao sul, em áreas próximas da
ferrovia, as construções são menores e de aspecto menos conservado. Esta área ao
norte, composta por bairros como a Vila Sá, Vila Margarida, Jardim Bela Vista e
144
Jardim Santa Cecília, é uma das mais antigas da cidade, com partes de suas áreas
ocupadas desde a implantação da ferrovia
É neste setor que se localiza o condomínio fechado Royal Park e Villagio
Nova Ourinhos, local onde se auto-segregam parte do grupo social de maior renda.
Estes condomínios foram construídos todos na década de 1990. Apesar da grande
capacidade financeira da população encontrada neste setor, principalmente o Royal
Park foi um investimento cujo retorno financeiro proporcionado não foi compatível
com o montante do investimento. Seu processo de ocupação foi demorado e,
embora já pronto na década de 1991, só veio a ser plenamente ocupado na segunda
metade de 1990 (Marcelo Souza Santos, 200731).
Encontram-se aqui também dois edifícios residenciais de médio-alto
padrão, criados na década de 1980, outro investimento mal planejado, como
relatamos no capítulo II.
Em relação aos aspectos culturais observados no setor norte,
encontramos consideráveis diferenças entre estas duas partes da cidade.
Primeiramente, é notável a ausência de Igrejas, não só evangélicas como de
qualquer outro tipo, o contrário observado no setor norte. Durante o dia, as ruas em
geral são silenciosas, mesmo em áreas próximas às principais avenidas deste setor.
Em compensação, durante a noite estas são tomadas por carros e jovens não só da
cidade, mas de toda a região, que freqüentam as boates locais, ou simplesmente
ligam o som de seus carros, ensejando uma espécie de competição com os seus
pares.
Diferentemente do que observado no setor norte, não é possível encontrar
moradores conversando na rua ou sentados em frente às suas casas, simplesmente
observando o movimento. Isto denota que aqui as relações de grupo ocorrem de
forma diferenciada, discreta. É possível ver mais carros na rua do que pessoas em
determinados momentos, concedendo um ar de solidão e isolamento, exacerbado
pelas casas de muro alto.
31
Entrevista concedida por Marcelo Souza Santos, na FORT imóveis, em 20 de julho de 2007.
145
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
Localização do
setor sul no mapa
da área urbana de
Ourinhos.
86
26
79
80
133
138
71
27
121
28
132
122
118
98
63
64
65
76
91
127
16
119
112
146
62
01
89
108
95
139
25
114
129
107
120
123
102
128
30
24
78
105
22
137
31
115
74
131
14
23
15
126
93
17
66
84
68
70
32
11
13
29
21
33
10
69
09
134
101
141
85
97
143
12
08
72
06
02
20
67
18
140
35
92
05
34
75
130
07
40
90
125
19
39
88
117
116
36
110
109
42
04
41
38
94
03
104
49
50
111
73
77
81
87
45
37
54
43
51
106
52
82
100
44
135
124
99
147
46
53
103
96
59
60
48
47
58
55
56
61
136
57
83
N
Escala gráfica
0 275 550 m
6,22%
19,00%
15,86%
Menos de 1/2 até 2 SM
De 2 até 10 SM
Acima de 10 SM
Sem rendimento
58,93%
Vieira da Silva32, quando esta Avenida era centro de referências de autopeças para
a região, perdendo força ao longo do tempo. Esta decadência ocorre no contexto da
saídas das empresas distribuidoras de petróleo da cidade, devido à guerra fiscal e a
reestruturação produtiva já tratada no capítulo I.
O importante, no entanto, é notar que, ao contrário das outras vias
principais de circulação intra-urbana, o setor sul não consegue imprimir as suas
demandas em cima da avenida, mesmo com a proximidade de um bairro de alta
renda, como o Jardim Estoril. Ela, portanto, aparece com comércios e serviços
estranhos à demanda dos grupos sociais desta área da cidade, o que nos leva a
uma espécie de conflito de interesses. Podemos pensar que este caráter é fruto
tanto da baixa ocupação populacional, que advém da carência de infra-estruturas
urbanas na área, e que não consegue forças para imprimir as suas demandas nesta
via, quanto da falta de atratividade que a área proporciona, pela falta de amenidades
que favoreçam a localização de pessoas naquela área, notadamente, a falta de um
comércio e serviços voltados para a população deste setor.
Dissemos que o setor sul possui outras peculiaridades, diferente de outros
setores. Uma delas é a grande heterogeneidade que há entre seus bairros
componentes, além de uma grande fragmentação espacial. Conforme avançando
pela Avenida dos Expedicionários, partindo do centro e nos dirigindo para a rodovia
Mello Peixoto, que proporciona a ligação entre a Rodovia Raposo Tavares e a BR-
153, podemos notar que há uma rarefação na ocupação do espaço urbano, com
diversos lotes vazios em sua parte mais central e mais “nobre”. Boa parte desta área
da cidade tem origem no período de 1970-1980, antes da instauração do primeiro
plano diretor de Ourinhos (1984). Segundo relatos da Secretaria de
Desenvolvimento Urbano da cidade, esta é uma área carente de infra-estruturas
urbanas (ruas asfaltadas, saneamento básico, iluminação), o que provoca um baixo
interesse por parte da população.
Observando a imagem de satélite 5, podemos notar a quantidade de áreas
vazias nesta parte da cidade, particularmente no Jardim Estoril e Villar Ville. Estes
bairros se originaram nos últimos 20 anos. Perceba também que as ruas da área à
direita da Avenida dos Expedicionários não possuem asfaltamento, embora as casas
32
Entrevista concedida por Norival Vieira da Silva, em sua residência, em 18 de maio de 2007.
149
tenham mais área construída nesta parte da cidade. Isto só pode ser explicado pela
procura por parte dos grupos sociais de média e alta renda por terrenos mais
baratos, investindo em casas maiores e mais bem equipadas. Dados do IBGE para o
ano de 2000 mostram que a maioria da população desta área se encontra entre 3 a
10 salários mínimos (55,6%). De 1/2 até 3 salários mínimos, apenas 18,9% da
população. Já acima de 10 salários mínimos temos 20,43% da população desta
área, um número acima da média deste setor. As pessoas sem rendimento
correspondem a 5,07% do total. Estes dados corroboram com esta hipótese, na
medida em que mais de 75% da população encontra-se nos grupos sociais com
rendimentos acima de 10 salários mínimos. Se considerarmos somente a população
com rendimento acima de 5 salários mínimos, teremos ainda 53,18%
Aproveitando esta discussão acerca do asfalto deste bairro, analisemos os
equipamentos coletivos e a infra-estrutura urbana para todo o setor.
Do total de nove postos policiais na cidade, o setor sul possui cinco, mais
da metade do total existente na cidade. Das dez escolas estaduais existentes na
área urbana, quatro encontram-se neste setor, sendo novamente o setor mais bem
servido deste tipo de ensino. No número de escolas de Escolas Municipais de
Ensino Infantil (EMEI), encontra-se igualado com os setores sul e leste, contendo
quatro escolas, das quinze deste tipo existentes na cidade. Quanto às escolas
municipais de ensino fundamental (EMEF) e os núcleos infantis, no entanto, a
situação acaba se invertendo. Das treze EMEF´s existentes na cidade, o setor sul
possui três, tendo metade somente do setor leste, enquanto que em relação aos
núcleos infantis este setor fica em terceiro lugar, atrás do setor norte e do setor
leste, com apenas três unidades, ou pouco mais de um quinto do total existente na
cidade de Ourinhos.
Todavia, em relação ao número de postos de saúde, podemos ver que
este setor encontra-se bem favorecido, pelo menos em relação à quantidade dos
mesmos. Do total de vinte e cinco postos de saúde existentes na área urbana, este
setor concentra nada menos do que treze unidades, pouco mais de 50% do total e
mais do que duas vezes o setor leste, em segundo lugar, que possui cinco unidades.
Esta situação vem se somar com a concentração de clínicas particulares
em torno da Santa Casa Municipal, na vila Moraes. Aliás, esta é outra peculiaridade
150
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
Localização do
setor leste no mapa
da área urbana de
Ourinhos
86
26
79
80
133
138
71
27
121
28
132
122
118
98
63
64
65
76
91
127
16
119
112
146
62
01
89
108
95
139
25
114
129
107
120
123
102
128
30
24
78
105
22
137
31
115
74
131
14
23
15
126
93
17
66
84
68
70
32
11
13
29
21
33
10
69
09
134
101
141
85
97
143
12
08
72
06
02
20
67
18
140
35
92
05
34
75
130
07
40
90
125
19
39
88
117
116
36
110
109
42
04
41
38
94
03
104
49
50
111
73
77
81
87
45
37
54
43
51
106
52
82
100
44
135
124
99
147
46
53
103
96
59
60
48
47
58
55
56
61
136
57
83
N
Escala gráfica
0 306 612 m
5,46%
9,91%
34,77%
Menos de 1/2 até 2 SM
De 2 até 10 SM
Acima de 10 SM
Sem rendimento
49,86%
rodovia Raposo Tavares, não possuem asfalto, embora este setor se encontre
menos ruas de terras do que no setor sul, por exemplo.
Quanto à rede de água e esgoto, não conseguimos maiores informações.
No entanto, o estado precário do Córrego das Furnas e da lagoa da FAPI
demonstram que há falhas consideráveis na rede de saneamento básico.
156
CAPÍTULO 5
OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO: A IMPORTÂNCIA DO
ESTADO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO DE
OURINHOS.
33
Entrevista concedida por Norival Vieira da Silva, em sua residência, em 18 de maio de 2007.
158
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
53
25 25
0km 50km 100km
45
CDHU
CEF
BNH
Escala gráfica
N
0 0,5 1km
35
Entrevista concedida por José Batista Albano, na agência da CEF de Ourinhos, em 18 de maio de
2007.
164
36
Entrevista concedida por Andréa de Souza Martins, na sede do Grupo Santa Paula, no dia 14 de
abril de 2007.
168
Foto 13: Exemplo de algumas moradias construídas no bairro Jardim Vale do Sol II.
Campus de Ourinhos
Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infra-estruturas
53
25 25
0km 50km 100km
45
Delfim Verde
Escala gráfica
N
0 0,5 1km
Podemos ver como as ações das duas empresas são bem diferenciadas
no espaço. As ações da Delfim Verde, conforme dito acima, se concentram ao
noroeste da área urbana, realizando a incorporação das terras da família Sá.
Enquanto isso, o Grupo Santa Paula realizou loteamentos em diversas áreas da
cidade, não se concentrando em nenhum lugar. Seus empreendimentos também
foram menores e menos elaborados do que os de sua rival.
Os bairros produzidos pela Delfim Verde são bairros mais elaborados, com
traçados mais suaves e eminentemente residenciais. No bairro Nova Ourinhos
apenas residências são encontradas enquanto que nos bairros localizados ao norte
da ferrovia, pequenos comércios de bairro surgem em meio às residências.
No Jardim das Paineiras, Jardim São Judas Tadeu e Jardim Santa Fé
encontramos ruas de traçados sinuosos, sem saída e com pequenas rotatórias com
áreas verdes, com características bem peculiares. Este tipo de traçado irregular, ao
contrário do encontrado no bairro Nova Ourinhos, dificulta a locomoção e a
localização de pessoas que circulam por ali. Além disto, apesar da proximidade
destes bairros, a ferrovia segrega estas duas áreas, dificultando a acessibilidade dos
moradores destes bairros para as áreas centrais da cidade, com exceção do bairro
Nova Ourinhos.
Os bairros produzidos pelo Grupo Santa Paula seguiram uma lógica mais
simples. Seus traçados são menos sofisticados, apresentando geralmente a forma
de tabuleiro. Também possuem área limitada e se situam em áreas periféricas, de
baixa acessibilidade ao centro. Ao contrário da Delfim Verde, conforme nos informou
Andréa Martins·, a GSP não adota este tipo de parceria, visando a exclusividade. Ao
contrário, procura diversificar os parceiros para a viabilização e comercialização de
novos empreendimentos.
Esta passagem deixa bem claro quais são os interesses dos proprietários
fundiários no processo de produção do espaço urbano. A sua função é a de fornecer
o solo, a terra, a área a ser utilizada na produção do espaço urbano. No entanto,
este fornecimento não é simples ou livre de conflitos, como é possível perceber na
citação acima.
O proprietário fundiário possui total interesse na máxima valorização de
suas terras. O Estado e incorporadores imobiliários, ao contrário, teoricamente têm o
desejo de pagar o mínimo para a aquisição destas terras. O preço da terra é
geralmente determinado através do mercado imobiliário, pelo mecanismo de oferta e
procura capitalista, mas não só por ele.
Os preços dos lotes nem sempre são determinados pela lei da oferta
e demanda, mas pela renda de monopólio em função do poder de
compra, vinculada à venda do “verde”, do “privilégio” de morar bem
[...] ou ainda em função da ideologia da casa própria pra a classe
174
O proprietário considera que, por ter a posse de tal terreno, pode fazer o
uso que quiser dessa área da cidade. Ignora, portanto, o direito do poder público de
versar sobre os diferentes usos do solo, eliminando ou atenuando conflitos e
contradições que possam a vir da utilização arbitrária do solo urbano.
Compreendida nesta idéia de um direito privado “expandido” sobre o uso
do solo, está, portanto, a alienação de uma parte da cidade de seus membros, de
sua sociedade, em detrimento do lucro de um proprietário de terras. A defesa do
capital privado, neste caso, portanto, vêm a prejuízo dos membros de toda a
sociedade.
179
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Apresentaremos agora as conclusões referentes aos objetivos principais
do trabalho, propostos no projeto inicial.
A cidade de Ourinhos originou-se através da disseminação do binômio
café-ferrovia pelas terras do centro-oeste paulista, assim como outras cidades da
sua região. No entanto, devemos acrescentar que Ourinhos se diferencia no tempo.
A ferrovia, junto com a sua localização, fez com que esta cidade se tornasse porta
de entrada para as terras ao norte do Paraná, o que acabou por concentrar o fluxo
de passageiros que buscavam o Oeste Pioneiro paulista e o norte paranaense, e de
mercadorias, que iam e vinham da e para a região. Isto favoreceu a formação, em
seus primórdios, de um setor de comércio (atacadista) e serviços (hoteleiro) para
atender esta demanda. Posteriormente, com a decadência do setor ferroviário e a
emergência da agroindústria canavieira, da indústria de petróleo e do rodoviarismo,
a cidade escapa da sina de muitos outros municípios do interior.
A partir de 1950, a cidade passa por um processo de renovação, com a
instalação de serviços de água, asfaltamento e de expansão de seu comércio. A
instalação de unidades de distribuição das indústrias de petróleo, motivada pela
localização estratégica da cidade, proporciona um grande ganho de receita e a
cidade vive um período próspero, de grandes modificações de seu espaço urbano,
com grande urbanização e constante crescimento populacional. Esse período de
prosperidade levou à criação do primeiro distrito industrial da cidade, ao oeste da
área urbana.
A partir da segunda metade da década de 1990, a cidade é afetada pela
guerra fiscal, resultado das políticas neoliberais, implementadas no primeiro
mandato de Fernando Henrique Cardoso e que acabam por levar estas e outras
empresas para fora da cidade. O setor de comércios e serviços da cidade leva um
novo golpe, quando em novembro de 2002 instalou-se uma praça de pedágio nas
rodovias BR-153 e BR-369, o que diminuiu consideravelmente o fluxo de pessoas
que se dirigiam para Ourinhos para fazer compras e passear, impactando a
economia do município. Desde então, Ourinhos tenta se recuperar destes duros
golpes na sua economia. Neste momento, novas perspectivas se anunciam,
conforme já tratado no final do capítulo II.
180
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184