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OS SONHOS DA MIGRAÇÃO:
UM ESTUDO DOS JAPONESES E SEUS DESCENDENTES NO
MUNICÍPIO DE ÁLVARES MACHADO - SP
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Presidente Prudente
2
2003
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Campus de Presidente Prudente
OS SONHOS DA MIGRAÇÃO:
UM ESTUDO DOS JAPONESES E SEUS DESCENDENTES NO MUNICÍPIO
DE ÁLVARES MACHADO-SP
4
Presidente Prudente
2003
Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação –
UNESP – FCT – Campus de Presidente Prudente
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito
Orientador
_________________________________
Profa. Dra. Alice Yatiyo Asari (UEL)
6
__________________________________________
Prof. Dr. Marcos Aurélio Saquet (UNIOESTE)
Orientador
_________________________________
Denise Cristina Bomtempo
Resultado: APROVADA.
8
AGRADECIMENTOS
apagar o arco-íris".
Mário Lago
12
SUMÁRIO
PÁGINAS
Índice......................................................................................................................................... II
Índice de Mapas....................................................................................................................... III
Índice de Quadros e Tabelas................................................................................................... IV
Índice de Gráficos.................................................................................................................... V
Índice de Fotos......................................................................................................................... VI
Siglas......................................................................................................................................... VII
Resumo..................................................................................................................................... VIII
Abstract.................................................................................................................................... IX
Introdução................................................................................................................................ 1
CAPÍTULO 1: Migração, Trabalho e Lugar........................................................................ 11
CAPÍTULO 2: O Lugar no Movimento Migratório dos Japoneses para o Brasil e dos
Dekasseguis Brasileiros para o Japão................................................................................... 30
CAPÍTULO 3: Álvares Machado: o Lugar dos Sonhos Possíveis, Conquistados e
Perdidos na Imigração dos Japoneses e seus Descendentes................................................... 59
CAPÍTULO 4: Álvares Machado: o Lugar dos Sonhos Perdidos e Conquistados no
Movimento Migratório dos 93
Dekasseguis..................................................................................
Considerações Finais................................................................................................................. 155
Bibliografia Citada.................................................................................................................... 160
Bibliografia Consultada............................................................................................................ 163
Anexos I e II.............................................................................................................................. 165
13
ÍNDICE
PÁGINAS
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 01
Capítulo 1: Migração, Trabalho e Lugar......................................................................... 11
1.1. Migração e lugar ao Longo do Tempo........................................................................... 11
1.2. O Trabalho e os Movimentos Migratórios..................................................................... 20
Capítulo 2: O Lugar no Movimento Migratório dos Japoneses para o Brasil e dos
Dekasseguis Brasileiros para o Japão............................................................................... 30
2.1. A Imigração Japonesa no Brasil.................................................................................... 34
2.2. Os Movimentos Migratórios Internacionais e a Migração de Brasileiros para o
Japão: algumas considerações............................................. ................................................ 42
Capítulo 3: Álvares Machado - O Lugar dos Sonhos Possíveis, Conquistados e
Perdidos na Imigração dos Japoneses e seus Descendentes............................................ 59
3.1. A Formação do Município de Álvares Machado............................................................ 59
3.2. A Presença dos Imigrantes Japoneses no Município de Álvares Machado- O Lugar
dos Sonhos Possíveis e de Conquista................................................................................... 64
3.3. A Família dos Entrevistados - Imigrantes no Brasil...................................................... 77
Capítulo 4: Álvares Machado: O Lugar dos Sonhos Perdidos e Conquistados no
Movimento Migratório dos Dekasseguis........................................................................... 93
4.1. Perfil dos Dekasseguis de Álvares Machado................................................................. 94
4.2. Migração Para o Japão................................................................................................... 100
4.3. O Retorno Para o Brasil - O Lugar da Conquista dos Sonhos....................................... 115
4.4. Os Investimentos dos Dekasseguis no Município de Álvares Machado....................... 120
4.4.1. Imóveis Negociados em Álvares Machado na Década de 1980......................... 124
4.4.2. Imóveis Negociados em Álvares Machado na Década de 1990......................... 127
4.4.3. Imóveis Negociados em Álvares Machado nos Anos 2000, 2001 e 2002.......... 134
5. Considerações Finais...................................................................................................... 155
6. Bibliografia Citada......................................................................................................... 160
7. Bibliografia Consultada................................................................................................. 163
Anexo I e II........................................................................... .............................................. 165
ÍNDICE DE MAPAS
PÁGINAS
Mapa 1: Procedência das famílias japonesas, com entrada no Estado de São Paulo (1917
a 1922) ................................................................................................................................. 38
Mapa 2: Distribuição das famílias de imigrantes japoneses no Estado de São Paulo (1917-1922) . 39
14
PÁGINAS
QUADROS
Quadro 1: A imigração japonesa no Brasil........................................................................... 36
Quadro 2: Movimento migratório dos dekasseguis brasileiros para o Japão -
características da década de 1980 a meados de 1990........................................................... 50
Quadro 3: População de Álvares Machado (1950 - 2000) ................................................... 59
Quadro 4: Crédito rural para a agricultura no município de Álvares Machado-SP.............. 85
15
TABELAS
Tabela 1: Brasileiros no Exterior........................................................................................ 44
Tabela 2: Motivos da Emigração do Japão para Brasil....................................................... 71
Tabela 3: Local de moradia dos imigrantes japoneses quando chegaram a Álvares
Machado................................................................................................................................ 80
Tabela 4: Tempo de permanência dos imigrantes japoneses na zona rural de Álvares
Machado................................................................................................................................ 84
Tabela 5: Locais e tipos de atividades desenvolvidas pelos dekasseguis no Japão.............. 108
Tabela 6: Economia dos dekasseguis de Álvares Machado................................................. 112
Tabela 7: Atividades comerciais e prestação de serviços dos dekasseguis quando
retornaram do Japão.............................................................................................................. 119
Tabela 8: Arrecadação de Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) do município
de Álvares Machado - décadas de 1980, 1990 até 2002....................................................... 140
ÍNDICE DE GRÁFICOS
PÁGINAS
Gráfico 1: Dekasseguis sul-americanos no Japão............................................................. 48
Gráfico 2: Ano de chegada em Álvares Machado dos japoneses e nisseis....................... 65
Gráfico 3: Situação civil e descendência dos cônjuges dos japoneses e nisseis............... 68
Gráfico 4: Escolaridade dos japoneses e nisseis............................................................... 69
Gráfico 5: Japoneses e nisseis - vontade de ir para o Japão.............................................. 72
Gráfico 6: Japoneses e nisseis - gostam de residir em Álvares Machado?....................... 73
Gráfico 7: Importância dos japoneses e nisseis para Álvares Machado........................... 90
Gráfico 8: Idade dos dekasseguis de Álvares Machado................................................... 95
Gráfico 9: Grau de escolaridade dos dekasseguis de Álvares Machado.......................... 96
16
ÍNDICE DE FOTOS
PÁGINAS
Foto 1: Comércio de imigrantes japoneses - AM, 1938................................................................. 166
Foto 2: Estação Ferroviária de AM, 1930...................................................................................... 166
Foto 3: Comércio de imigrantes japoneses - AM, 1938................................................................. 166
Foto 4: Produção de bicho da seda - AM, 1938............................................................................. 166
Foto 5: Casa de imigrantes japoneses - AM - Bairro Guaiçara, 1940............................................ 166
Foto 6: Obondori - dança típica - Shokon-Sai, 1940...................................................................... 166
Foto 7: Construção da ponte do Bairro Guaiçara - AM, década de 1940...................................... 167
Foto 8: Shokon-Sai - Primeira Escola - Bairro Brejão - AM, 1940............................................... 167
Foto 9: Comemoração do Cinqüentenário da imigração japonesa em AM, 1968......................... 167
Foto 10: Imigrantes japoneses no Japão antes de vir para o Brasil - província de Fukuoka, sem
data.................................................................................................................................................. 167
Foto 11: Cemitério japonês de Álv. Machado- comemoração do Shokon-Sai, jul/2002................ 168
Foto 12: Cemitério japonês de Álv. Machado- comemoração do Shokon-Sai (danças típicas),
jul/2002............................................................................................................................................ 168
Foto 13: Comércio de imigrantes japoneses - Av. das Américas - Centro - AM, fev/2002........... 168
Foto 14: Propriedade de imigrantes japoneses - barracão de granja abandonado - Bairro
Limoeiro - AM, fev/2002................................................................................................................ 168
Foto 15: Antiga escola construída pelos imigrantes japoneses no Bairro Guaiçara - AM,
fev/2002........................................................................................................................................... 168
17
Foto 31: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel - Comércio)- área central de AM,
mar/2002.......................................................................................................................................... 171
Foto 32: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel - Comércio)- área central de AM,
mar/2002.......................................................................................................................................... 172
Foto 33: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel - Comércio)- área central de AM,
mar/2002.......................................................................................................................................... 172
Foto 34: Investimentos dos dekasseguis (imóveis residência)- área central de AM, mar/2002..... 172
Foto 35: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel)- área central de AM, mar/2002...... 172
Foto 36: Investimentos dos dekasseguis (imóveis terrenos)- Jd. Raio do Sol- AM, mar/2002...... 172
Foto 37: Investimentos dos dekasseguis (construção de clínica de massagens)- Jd. Raio do Sol -
AM, mar/2002................................................................................................................................. 172
SIGLAS
RESUMO
Na pesquisa, buscamos entender os lugares no movimento migratório, que não são sempre os mesmos ao
longo do tempo, pela própria dinâmica do capitalismo que pode/ou não centralizar/concentrar capital num
dado território, refletindo assim na migração. Objetivamos na pesquisa, analisar o movimento migratório
entre o Brasil e o Japão em tempos diferentes, ou seja a imigração dos japoneses para o Brasil, que teve início
nos primeiros anos do século XX e dos dekasseguis brasileiros para o Japão, que se iniciou na década de
1980 do mesmo século. Do ponto de vista da imigração japonesa, buscamos as informações visando entender
a contribuição dos japoneses e seus descendentes na própria formação do município de Álvares Machado, e,
na migração dos dekasseguis brasileiros para o Japão, buscamos analisar se houve ou não impactos
19
decorrentes dos investimentos realizados por eles. Para a realização da pesquisa, num primeiro momento,
fizemos uma ampla pesquisa bibliográfica sobre a temática abordada, não só na Geografia como na História,
Sociologia, Antropologia e Economia. Coletamos dados secundários no IBGE, CIATE, SEADE, Prefeitura
Municipal e Cartório de Registro Civil e Bens Imóveis de Álvares Machado. Por fim, aplicamos questionário
e realizamos entrevistas junto às famílias japonesas e nisseis e aos dekasseguis residentes no município, tanto
na zona rural como urbana. Constatamos que os sonhos são inerentes ao movimento migratório, tanto dos
japoneses para o Brasil, como dos dekasseguis para o Japão. Sonhos esses que estão diretamente relacionados
ao consumo e ascensão social na sociedade capitalista. O migrante só se submete a sair do seu lugar de
origem, que é o seu lugar social e onde ele possui sua identidade, porque tem a possibilidade de retornar. Os
japoneses, no início da imigração, queriam permanecer por um determinado período no Brasil e retornar para
o Japão; mas a maioria permaneceu e criou relações sociais com o lugar de migração, principalmente em
Álvares Machado lugar onde foi possível realizar os seus sonhos. Os dekasseguis de Álvares Machado, foram
para o Japão para trabalhar em serviços que não exigem qualificação profissional, e trabalham em média 12
horas por dia nas empresas japonesas. Submetem-se à longas jornadas de trabalho pois, o objetivo é acumular
uma quantia de dinheiro e retornar para Álvares Machado, o lugar da conquista dos sonhos. Verificamos que
os dekasseguis estão realizando esses sonhos no lugar de origem, seja através de investimentos no setor
imobiliário (casas - residência/aluguel, terrenos urbanos e propriedades rurais), seja na compra de
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços e de bens móveis (veículos de passeio e de transporte
de cargas). Esses dekasseguis estão contribuindo para que a economia do município sofra impactos,
decorrentes dos investimentos por eles realizados. Verificamos que a paisagem tanto urbana como rural,
recebeu influência direta desses investimentos, principalmente nos bairros melhores localizados.
ABSTRACT
We searched to understand, in this research, the localities of the migratory movement, which are not
the same along the time, due to its own capitalism dynamic that can or can not centralize/concentrate
capital at a given territory, reflecting this way in the migration. We aim, in this research, to analyze
the migration movement between Brazil and Japan in different times or Japanese immigration to
Brazil, which started in the first years of the XX century and Brazilian “dekasseguis” (temporary
workers) to Japan, which began in the 80´s decade of the same century. From the Japanese
immigration point of view, we have looked for some information, intending to understand Japanese
descendants contribution to the development of Alvares Machado´s city and also the Brazilian
dekasseguis´ migration to Japan. We intended to analyze if there were, or not, impacts proceeding
from investments realized by them. To accomplish this research, we did a broad bibliographical
research about the topic mentioned, not only in Geography, but also in History, Sociology,
20
Anthropology and Economics. We collected secondary data at IBGE, CIATE, SEADE, city hall,
notary and real states offices from Alvares Machado. At last, we applied a questionnaire and did
some interviews with Japanese, ”nisseis” (descendants of Japanese) families and dekasseguis who
live in the city and countryside. We realized that dreams are inherent to the migration movement for
Japanese people in Brazil and “dekasseguis” in Japan. These dreams are directly related to the
consumption and social ascension of the capitalist society.
The migrant only submits himself to leave his place of origin, which is his social environment and
where he has his own identity, if he has the possibility to return.
Japanese immigrants, in the beginning of migration, wanted to settle in Brazil for a period of time
and afterwards returning to Japan, but the majority stayed and established social relations with the
migration place, mainly in Alvares Machado, where it was possible to fulfill their dreams.
“Dekasseguis” from Alvares Machado went to Japan to work in odd jobs with no professional
qualification working about 12 hours a day in Japanese companies. They submit themselves to long
working hours because their goal is to accumulate a certain amount of money and return to Alvares
Machado, the conquest place of their dreams. We have realized that “dekasseguis” are making their
dreams possible in their birth place throughout investments in real state (houses: own/rent, lands and
countryside properties), buying commercial establishments, service rendering and movable
properties (private vehicles and load transportation).
Dekasseguis have been contributing in order the economy of the city suffers some impacts arisen
from investments done by them. We observed that both urban and rural landscapes received direct
influence from these investments, mainly in better located neighborhoods.
21
1. INTRODUÇÃO
1 Em um dos dias em que estávamos aplicando o questionário, tomamos sucos de seis frutas
diferentes: limão (2), acerola, maracujá, abacaxi, laranja e abacate.
23
diante (sem falar dos amigos da casa com os quais convivíamos desde a graduação), e colegas além
das fronteiras do território brasileiro - Chile, México, Espanha...
A partir da integralização dos créditos nas disciplinas da pós-graduação, dedicamo-
nos a realizar a nossa pesquisa, que já tinha seus objetivos e metodologias bem definidos.
Propusemos desenvolver o projeto, tendo como objetivo principal a análise do
movimento migratório entre o Brasil e o Japão, em tempos diferentes, ou seja, a imigração dos
japoneses para o Brasil, que teve início nos primeiros anos do século XX e dos dekasseguis
brasileiros para o Japão, que se iniciou na década de 1980. Do ponto de vista da imigração
japonesa, buscamos as informações visando a entender a contribuição dos japoneses na própria
formação do município de Álvares Machado e, na migração dos dekasseguis brasileiros para o
Japão, buscamos analisar se houve ou não impactos no município decorrentes dos investimentos
realizados pelos dekasseguis.
Na tentativa de pormenorizar a análise do tema proposto, foram elaborados objetivos
de cunho mais específico, visando: a) fazer uma discussão teórica, do ponto de vista histórico, dos
movimentos migratórios entre o Brasil e o Japão; b) localizar, através da elaboração de cartogramas,
os territórios de emigração no Japão e imigração no Brasil, dos japoneses, no início do século XX, e
os territórios de migração dos brasileiros (dekasseguis) no Japão no final do mesmo século; e, c)
verificar quais as atividades econômicas que os dekasseguis elegeram quando retornaram do Japão,
quais os investimentos realizados, em quais setores da economia e quais parcelas do território foram
escolhidas para isso, em Álvares Machado, além da análise se esses investimentos são significativos
ou não do ponto de vista econômico para o município.
A partir dos objetivos propostos, definimos os procedimentos metodológicos
utilizados na coleta e obtenção de dados para a realização da pesquisa. Para um melhor
entendimento, dividimos em quatro fases os procedimentos metodológicos utilizados.
Na primeira fase, realizamos uma ampla pesquisa bibliográfica sobre a temática
migratória dentro da Geografia e também em outras ciências como a Sociologia, História,
Antropologia e Economia. Essa pesquisa foi realizada nas bibliotecas da FCT/UNESP de Presidente
Prudente, FFCLH/USP em São Paulo, no CEM - Centro de Estudos Migratórios, também em São
Paulo, no CIATE - Centro de Apoio ao Trabalhador no Exterior, escritório de Presidente Prudente e
São Paulo e na Faculdade de Ciências Sociais da UNICAMP (via internet) e, pelo Sistema Comut -
entre bibliotecas.
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japoneses e nisseis. Essas informações auxiliaram para organizarmos o nosso segundo trabalho de
campo que foi realizado junto aos dekasseguis residentes em Álvares Machado. A partir de então,
definimos o número de questionários a serem aplicados e os contatos com as pessoas para a
aplicação dos mesmos. Vale ressaltar que, no período de janeiro/fevereiro de 2002, aplicamos o
primeiro questionário e no período de março/abril de 2002, aplicamos o segundo questionário.
Para a aplicação dos questionários direcionados à imigração japonesa em Álvares Machado,
tomamos como referência, o total de famílias que faz parte da Associação Nipo-Brasileira do
Município de Álvares Machado, mas acreditamos ser viável considerar também as famílias que não
faziam parte da Associação, pois são pessoas que também contribuíram para o estudo que
desenvolvemos. É importante ressaltar que o número das famílias que está fora da Associação é
muito pequeno. O primeiro contato com as famílias foi feito por telefone. Depois, agendávamos o
dia e horário para irmos até a casa para a aplicação dos questionários.
As famílias que fazem parte da Associação totalizam 153 famílias na zona urbana e rural.
As famílias que não fazem parte da Associação totalizam 10, sendo apenas uma moradora da
zona rural. É importante destacar que, das famílias que fazem parte da Associação, muitas são
parentes (filhos de um mesmo pai, irmãos), portanto, aplicamos questionário para somente um
membro de cada família (no caso, o questionário aplicado visava a fazer um resgate histórico da
imigração em Álvares Machado). Optamos, na maioria das vezes, por aplicar o questionário para a
pessoa mais idosa da família, na falta do pai, o filho mais velho. Desta maneira, não tivemos mais
153 famílias para aplicar questionário, mas sim:
famílias associadas: 94
não associadas........: 10
total de famílias......: 104
3 Das famílias da Associação, não foram aplicados 9 questionários, e das famílias que não
participam da Associação, apenas um questionário não foi aplicado.
27
4 Optamos por analisar a década de 1980 para termos uma idéia da quantidade e localização dos imóveis vendidos em Álvares Machado, comparando
se esse total de imóveis, localização e total de imposto arrecadado, difere do total da década de 1990 - quando se iniciaram os investimentos dos
dekasseguis no município, e também nos anos 2000, 2001 e 2002.
5 Consideramos os anos 2000, 2001 e 2002, pois o movimento migratório é dinâmico e todos os dias são negociados imóveis no município, de acordo
com o responsável pelo cartório, principalmente pelas pessoas que estão ou estiveram no Japão.
6 O levantamento de dados das Guias do ITBI foi uma fonte importante pois não tivemos informações somente dos nossos entrevistados, mas também
de dekasseguis que ainda estão trabalhando no Japão e que mandaram dinheiro para as famílias realizar algum tipo de investimento. Também houve
casos de migrantes que vieram a passeio no Brasil e compraram algum imóvel. Portanto, tivemos informações mais gerais sobre o reflexo do
movimento migratório no município. Mas como obter essas informações? Isso foi possível, ou melhor, foi mais fácil pois temos conhecimento, em
Álvares Machado, das famílias japonesas e seus descendente. Álvares Machado é um município pequeno e por isso a circulação de informações na
escala informal torna-se mais acessível. Quando não conhecíamos os dekasseguis, procurávamos nos informar com algum membro da associação
nipo-brasileira, que contribuiu muito para a realização do nosso trabalho. Também, na maioria das vezes, as famílias japonesas e descendentes são
moradores antigos de Álvares Machado, como a nossa família e isso facilitou muito na conquista de nossas informações. Vale ressaltar que em relação
aos dados do ITBI, foram feitas correções dos valores para a moeda atual, o REAL; isso só foi possível com o auxílio do economista, professor e
amigo Álvaro Barbosa, que nos auxiliou nos cálculos para a conversão e correção dos valores. Para tanto, utilizamos o IGP-DI - Índice Geral de
Preços - Disponibilidade Interna.
28
7 Montamos um rico acervo de fotos durante o trabalho de campo, sendo que o material foi fornecido pelas famílias que entrevistamos. Também
registramos em algumas fotos, principalmente os investimentos feitos pelos dekasseguis.
29
movimentos migratórios; são eles que possibilitam ao migrante ficar longe de seu lugar de origem,
dos seus familiares, de sua identidade.
Identificamos, ao longo do trabalho, que os lugares de emigração e imigração ao
longo do tempo não são os mesmos. Quando falamos de imigração japonesa, o lugar em que os
imigrantes perderam os seus sonhos foi o Japão; o lugar de reconquistá-los, isto é, dos sonhos
possíveis, na época, seria o Brasil; com o retorno, o Japão, poderia se tornar o lugar de conquista
desses sonhos. A maioria, porém, permaneceu no Brasil e fez daqui, o lugar da conquista dos sonhos
no movimento migratório. Mas, o que materializa os sonhos? Esses sonhos possuem perspectivas
diferentes quando falamos de imigração japonesa e migração dekassegui; mas, nos dois momentos, a
questão financeira perpassa a decisão de migrar ou ficar. Vale ressaltar também que, os lugares dos
sonhos perdidos, possíveis e de conquista, no movimento migratório dos dekasseguis, não são
iguais ao da imigração japonesa no Brasil. Isso porque o espaço geográfico é dinâmico e estamos
inseridos num modo-de-produção, o capitalista, que tem a capacidade de dinamizar/não dinamizar
os territórios ao longo do tempo, realizando a centralização/concentração do capital em diferentes
territórios, possibilitando portanto, a mobilidade da mão-de-obra para os lugares onde o capital dela
necessitar. Isso se torna ainda mais "facilitado" no período técnico-científico-informacional, onde o
desenvolvimento dos transportes, além de outros fatores, possibilita a circulação cada vez mais
rápida de informações, mercadorias e força-de-trabalho nos territórios da globalização.
Os autores que contribuíram para a discussão proposta no segundo capítulo foram
Santos (1987, 1996); Carlos (1996); Lima (2001); Saito (1973); Sasaki (1999); Sales (1995);
Oliveira (1997); Margolis (1994); Asari (1992); Kawamura (1999); Fontenele Reis (2002),
Ninomiya (1998); entre outros.
No terceiro capítulo, intitulado como "Álvares Machado - o Lugar dos Sonhos
Possíveis, Conquistados e Perdidos na Imigração dos Japoneses e Seus Descendentes",
apresentamos algumas discussões teóricas e informações obtidas através do levantamento de dados
secundários e de dados primários (trabalho de campo). Discorremos sobre a formação do município
de Álvares Machado, destacando a presença dos imigrantes japoneses, adotando Álvares Machado
como o lugar dos sonhos possíveis e de conquista. Apresentamos informações como: o ano de
chegada dos imigrantes em Álvares Machado e o perfil dos entrevistados (idade, escolaridade,
ascendência japonesa, conhecimento da língua japonesa, motivos da imigração para o Brasil, local
de nascimento etc). Procuramos analisar também a relação que o entrevistado estabeleceu com
30
Álvares Machado, as atividades econômicas às quais se dedicaram, onde foram morar quando
chegaram ao município e atualmente, onde residem (zona rural ou urbana), e se gostam de residir no
município, bem como as dificuldades encontradas nos primeiros anos de imigração no Brasil.
Procuramos levantar, também, a opinião dos imigrantes e descendentes mais idosos de japoneses,
sobre o que pensam sobre a migração para o Japão.
No quarto capítulo, intitulado "Álvares Machado: o Lugar dos Sonhos Perdidos e
Conquistados no Movimento Migratório dos Dekasseguis", dividimos a nossa análise em quatro
partes. Primeiro, destacamos os motivos que suscitaram a migração para o Japão; segundo, traçamos
um perfil do dekasseguis de Álvares Machado (idade, conhecimento da língua japonesa,
ascendência japonesa, grau de escolaridade, local de nascimento); terceiro, discorremos sobre o
dekassegui como migrante no Japão (ano de migração; local e tempo de permanência; com quem
migraram para o Japão; motivos da migração; como conseguiram trabalho no Japão; locais e tipos
de atividades desenvolvidas; remuneração e poupança acumulada quando dekasseguis); quarto, o
retorno para o Brasil - lugar da conquista dos sonhos (em que ano retornaram, se as atividades
econômicas desempenhadas são as mesmas anteriores à migração; se os investimentos foram
realizados em Álvares Machado, em quais setores, se esses setores são significativos para o
município?) Os sonhos foram conquistados? Quais as dificuldades enfrentadas com o retorno
(inserção na sociedade, mercado de trabalho)?. Quais as experiências que tiveram como dekassegui?
Foram essas algumas questões que perpassaram durante a realização da nossa pesquisa.
Realizamos também as considerações finais do nosso trabalho, e um anexo, contendo o material
fotográfico que produzimos e emprestamos dos nossos entrevistados durante a pesquisa. Vale
ressaltar que, o reproduzido é só uma parte do material de que dispomos.
31
Conquanto se possa admitir que, nas sociedades primitivas, haja certa imobilidade aparente,
visto que a possibilidade de mudança é limitada, torna-se inteiramente diferente assim que o
progresso da técnica se manifesta ou quando surgem novas necessidades ou, ainda, quando
ocorrem certos eventos políticos ou militares. Muitos fatores recentes têm determinado que,
durante o último século, a distribuição da espécie humana tem mudado como jamais
aconteceu, devido, primeiro, ao vasto aumento de seu número e segundo ao extraordinário
progresso da técnica (BEAUJEU-GARNIER , 1980, p. 83, 84).
32
[...] a força de trabalho deve ser livre sob dois pontos. Liberdade positiva: a força-de-
trabalho é uma mercadoria que pertence, como bem particular, ao trabalhador, que pode dela
dispor à sua vontade; os trabalhadores são então, considerados como atores da própria
liberdade. Liberdade negativa: o trabalhador não tem diante de si outra hipótese que não seja
vender a sua força-de-trabalho para viver, ou não vende e morre (GAUDEMAR, 1977, p.
189, 190).
Percebemos, através das obras de Gaudemar (1977), Martins (1973) e Becker (1997),
que o capitalismo proporcionou ao trabalhador a liberdade de movimentar-se no espaço geográfico
para vender sua mercadoria em troca do salário. Mas, temos um outro ingrediente para acrescentar
na discussão. Os movimentos migratórios, como os de mercadorias e informações, só são possíveis
pelo desenvolvimento das técnicas e, consequentemente, dos meios de transporte. É o meio técnico-
científico-informacional proposto por Santos (1996).
A circulação da força-de-trabalho é facilitada pelo desenvolvimento dos transportes;
quanto mais densa a rede, mais facilmente a mão-de-obra estará disponível.
Marx, citado por Gaudemar (1977), escreveu que,
tempo. Concordamos com Sayad (1998), quando ele afirma que a migração é um fato social
completo, é uma palavra de duas ordens, pois contém emigração e imigração. O migrante é ao
mesmo tempo emigrante e imigrante de um lugar.
Para Sayad (1998), assim como para Gaudemar (1977),
É importante considerar que o emigrante sai do seu lugar de origem e migra para
trabalhar em atividades que Sayad (1998) qualifica de trabalhos para imigrantes, pois são trabalhos,
pouco qualificados e mal remunerados em relação aos salários dos trabalhadores naturais do lugar,
sem contar os tipos e condições de trabalho.
É esse trabalho que condiciona toda a existência do imigrante, não é qualquer trabalho, não
se encontra em qualquer lugar; ele é o trabalho que o “mercado de trabalho para imigrantes”
lhe atribui e no lugar em que lhe é atribuído: trabalhos para imigrantes que requerem, pois
imigrantes; para trabalhos que se tornam, dessa forma, trabalhos para imigrantes. Como o
trabalho (definido para imigrantes) é a própria justificativa do imigrante, essa justificativa,
ou seja, em última instância, o próprio imigrante desaparece no momento em que
desaparece o trabalho que os cria a ambos (SAYAD, 1998, p. 55).
8 Para Sayad (1998, 2000) e Kawamura (1999), os sonhos são inerentes aos movimentos
migratórios. Sonhos de conquistar algo que não está sendo possível de conseguir no lugar de origem.
38
O lugar é produto das relações humanas, entre o homem e a natureza, tecido por relações
sociais que se realizam no plano do vivido, o que garante a construção de uma rede de
significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura civilizadora produzindo
identidade, posto que é aí que o homem se reconhece porque é o lugar da vida. O sujeito
pertence ao lugar como este a ele, pois a produção do lugar liga-se indissociavelmente à
produção da vida. “No lugar emerge a vida, pois é aí que se dá a unidade da vida social.
Cada sujeito se situa num espaço concreto e real onde se reconhece ou se perde, usufrui e
modifica, posto que o lugar tem usos e sentidos em si” (CARLOS, 1996, p. 29).
migrante ser dono do próprio negócio no lugar de origem. Na pesquisa realizada, o município de
Álvares Machado simboliza o lugar da conquista dos sonhos, tanto econômica como socialmente,
pois o apego à terra natal, que neste caso, é algo muito evidente, e que se solidifica quando o
migrante passa a sê-lo. O migrante pode até estender o tempo da migração, mas a possibilidade de
retorno é algo que está sempre presente na migração.
Queremos aqui deixar claro, para o nosso leitor, que utilizaremos o conceito de
migrante e migração10, quando estivermos discutindo o movimento migratório dos brasileiros
descendentes de japoneses para o Japão, e de imigrante para os japoneses que vieram para o Brasil
no início da imigração japonesa para o nosso país.
De acordo com Sayad (1998), a migração traz conseqüências tanto no lugar de
emigração como no lugar de imigração.
Trataremos de trabalhar com a análise do lugar de emigração no caso do movimento
dekassegui, e de imigração, no caso da imigração japonesa para o Brasil. Ou seja, pretendemos
analisar o lugar, o município de Álvares Machado, tendo como principal foco da discussão, os
possíveis impactos que um movimento migratório de escala global pode acarretar numa escala local,
em tempos diferentes. Num primeiro momento, pela própria formação do município e, num
segundo momento, pela dinâmica econômica proveniente das remessas de dinheiro do Japão e
aplicação em imóveis urbanos, rurais e no comércio de Álvares Machado, bem como, no próprio
modo de vida da população, tentando assim compreender se esses investimentos são significativos
ou não para o município. É comum encontrarmos nas ruas da cidade (principalmente na Avenida das
Américas) com antigos amigos da escola11, que não vemos há muito tempo, amigos que
interromperam os estudos para migrar em busca dos seus sonhos 12. Percebemos no cotidiano da
10 Utilizaremos migração e migrante pois, como afirma Sayad (1998, p. 266), é uma palavra de
duas ordens. Comporta tanto os lugares de emigração como os lugares de imigração.
cidade que, principalmente os jovens, quando retornam, carregam um novo estereótipo, parece que
estão mais japoneses por fora com alma de brasileiro. Também, amigos que telefonam ou mandam
mensagens pela internet, querem saber sobre Álvares Machado. Pessoas no supermercado, no
ônibus, comentam sobre os filhos e parentes que estão no Japão, além, é claro dos “picaretas” que
ficam nos bares da Avenida, tentando convencer os dekasseguis a realizar algum investimento, ou
mesmo comprar um carro. São fontes informais, é claro, mas que, através de um olhar geográfico,
um olhar diferente, possibilitam perceber a dinâmica tanto econômica como social que um
movimento migratório pode acarretar no lugar.
Assim, tomando por base os trabalhos de Sayad (1998) e de Gaudemar (1977),
trataremos de nos aventurar nesse mundo da análise que tratamos de científica, entender um pouco
desse mundo da migração, os porquês da migração, os sonhos, as conquistas, as frustrações, enfim, a
subordinação do migrante ao capital e as mudanças no território e no lugar ao longo do tempo.
Para tanto, o nosso próximo passo será entender um pouco da configuração do espaço
mundial no tempo, em relação à organização do trabalho, para assim entendermos o lugar do
migrante na sociedade capitalista.
13 Idéias extraídas das discussões e leituras realizadas na Primeira Parte da Disciplina Dinâmicas
Econômicas e Novas Territorialidades, oferecida no Programa da Pós-Graduação em Geografia da
FCT/UNESP de Presidente Prudente, 2002 e ministrada pelos Professores Dr. Eliseu Savério Sposito
e Dr.ª Maria Encarnação Beltrão Sposito.
42
porém, o fordismo foi introduzido definitivamente nas empresas japonesas após a Segunda Guerra
Mundial, quando o Japão, derrotado, recebeu auxílio econômico dos Estados Unidos.
Mesmo com a “ajuda” norte-americana para introduzir o sistema de produção em
massa no Japão, não foi possível, às empresas japonesas, adaptarem-se a esse tipo de organização,
pois um dos princípios da organização fordista é a produção e o consumo em massa. O Japão,
quando introduziu o fordismo em suas empresas, não passava por um momento econômico
satisfatório, o consumo era limitado, portanto, a produção em massa não era viável para a sociedade
japonesa da época; porém, era necessário pensar em estratégias de organização da produção, para
assim entrar definitivamente na concorrência com as empresas automobilísticas americanas.
Enfim, na década de 1950, nascia um novo modelo de organização da produção e do
trabalho japonês, o ohnismo ou, como é mais conhecido, o toyotismo. Os princípios desse novo
modelo organizacional são bem diferentes do fordismo.
No toyotismo, de acordo com Gounet (1999), a produção é puxada pela demanda e o
crescimento pelo fluxo. Ao contrário, no fordismo, a meta é a produção máxima em grandes séries.
No toyotismo, a meta é produzir em séries pequenas modelos variados, sendo a quantidade da
produção de um modelo de automóvel, determinada pela demanda.
Antunes (2000), sobre o toyotismo, afirma que:
Gounet (1999), sobre o kanban, relata que “é um sistema que se baseia um pouco no
exemplo dos supermercados. Enchem-se as prateleiras, os clientes vêm, servem e, conforme fazem
as compras, a loja volta a encher as prateleiras. Assim, a empresa só produz o que é vendido e o
consumo condiciona toda a organização da produção”.
O Japão é um país de pequena extensão territorial, sendo o espaço físico muito
importante no território japonês. Assim, as fábricas não devem ter estoques para ocupar espaços que
podem ser utilizados para outro tipo de produção. Uma das novidades do modelo toyotista é a
44
flexibilização na organização do trabalho: o trabalhador precisa ser polivalente, tem que ter a
capacidade de trabalhar com várias máquinas ao mesmo tempo e reduzir ao máximo o tempo da
não-produção.
De acordo com Gounet (1999), “ao invés de verticalizar a produção, os japoneses
desenvolveram relações de subcontratação com os fornecedores de autopeças, culminando na
redução dos salários e na precarização do emprego” (GOUNET, 1999, p. 27).
Vale a pena ressaltar que as empresas subcontratadas trabalham sob o regime da
"empresa mãe". As empresas japonesas, portanto, elaboraram uma nova organização da produção e
do trabalho. É o que também afirma Antunes (2000):
Ao contrário da verticalização fordista, de que são exemplos as fábricas dos Estados Unidos,
onde ocorreu uma integração vertical, à medida que as montadoras ampliaram as áreas de
atração produtiva, no toyotismo tem-se uma horizontalização, reduzindo-se o âmbito de
produção da montadora e estendendo-se às subcontratadas, às “terceiras”, a produção de
elementos básicos, que no fordismo são atributos das montadoras. Essa horizontalização,
acarreta também, no toyotismo, a expansão desses métodos e procedimentos para toda a
rede de fornecedores. Desse modo, o kanban, just in time, flexibilização, terceirização,
subcontratação, CQT– Controle de Qualidade Total, eliminação do desperdício, “gerência
participativa”, sindicalismo de empresa, entre tantos outros elementos, propagam-se
intensamente” (ANTUNES, 2000, p. 35).
Autores como Gounet (1999), Carleial (2001), Antunes (2000) e Matoso (1995)
concordam que, no toyotismo, há uma intensificação da exploração do trabalho, pois os operários
lidam com várias máquinas ao mesmo tempo e também passaram a ser contratados por empresas
subcontratadas por empresas maiores, ficando os trabalhadores distantes dos direitos trabalhistas,
tais como: FGTS, 13º salário, férias, seguro saúde etc. Há, portanto, de acordo com esses autores,
uma precarização do trabalho.
Perguntamos: para quem foi benéfica a mudança de organização da produção e do
trabalho? Para os trabalhadores?
Acreditamos que os trabalhadores, principalmente os não qualificados, foram
prejudicados com essa nova maneira de contratação das empresas. De acordo com Gounet (1999),
“o toyotismo estrutura-se a partir de um número mínimo de trabalhadores, ampliando-os através de
horas extras, trabalhadores temporários ou subcontratados, dependendo das condições do mercado.
O ponto de partida básico é o número reduzido de trabalhadores e a realização de intensas jornadas
de trabalho com horas extras” (GOUNET, 1999, p. 36).
45
Os migrantes não reclamam dos salários nem das condições de trabalho nas empresas,
pois saíram de seu lugar de origem porque a situação econômica estava ruim, e os salários pagos nos
países centrais aos migrantes são bem maiores em comparação com os do país de origem. Como
exemplo, podemos citar os dekasseguis brasileiros que vão trabalhar no Japão. Esses migrantes
recebem cerca de quinze vezes mais do que o salário mínimo brasileiro. Essa situação de
desemprego, não mobilidade social, faz com que o migrante aceite as condições de trabalho
impostas nos lugares de migração. Os dekasseguis brasileiros são trabalhadores horistas no Japão,
não têm os mesmos direitos que um operário japonês, recebem somente por hora trabalhada, por isso
não reclamam das longas jornadas de trabalho, pois quanto maior a jornada, maior a remuneração.
Não podemos deixar de considerar também, que os trabalhos realizados pelos migrantes nos países
centrais são trabalhos que não necessitam de qualificação, são considerados perigosos, sujos e
cansativos, por serem repetitivos, causando um grande desgaste físico e psicológico ao trabalhador.
Mesmo diante desse quadro exposto, temos atualmente um revoada de brasileiros
migrando para os países centrais, como os Estados Unidos, países da Europa Ocidental (Portugal,
Espanha, Itália, Alemanha e França) e Japão.
Os migrantes vão oferecer sua força-de-trabalho onde o capital dela necessitar. O
migrante carrega consigo os sonhos, sonhos de retornar para o lugar de origem, consumir o que não
podia consumir, comprar o que não podia comprar antes da migração; por exemplo, a casa própria, o
carro, ser dono de seu próprio negócio etc. O migrante dekassegui tem, como objetivo, o retorno ao
seu lugar, à sua família, aos seus amigos, mesmo que esse tempo demore mais que o planejado, mas
o migrante vive sempre na expectativa da temporalidade.
46
Autores como Ferreira (2001) e Ito (2001) afirmam que, atualmente no Japão,
existem muitos brasileiros que não querem retornar para o Brasil. Perguntamos: por quê? O modo-
de-vida japonês (consumo, estabilização financeira, organização na sociedade, não violência etc)
conquistou realmente esses brasileiros descendentes de japoneses? A instabilidade da economia
brasileira prolongou a migração? Medo de não se readaptar ao Brasil? São várias as questões para
serem analisadas no movimento migratório. Limitar-nos-emos, porém, em analisar o retorno desses
migrantes para Álvares Machado, as perspectivas após a migração, a volta ao mercado-de-trabalho e
os investimentos. Qual é a contribuição, ou melhor, existe alguma contribuição dos dekasseguis para
o município de Álvares Machado em relação aos investimentos por eles efetuados? E o sonhos,
foram conquistados?
No Japão, os dekasseguis brasileiros compartilham a situação de trabalhadores do
setor secundário com outros migrantes sul americanos e asiáticos. Os trabalhadores japoneses gozam
dos direitos trabalhistas pagos pelas empresas japonesas. Vale ressaltar que os migrantes são
contratados por empreiteiras de mão-de-obra, pois as empresas japonesas não querem ter nenhum
vínculo com eles. O trabalhador japonês possui seguro-saúde e um bônus, que é pago pela empresa
uma ou duas vezes por ano, que é muito superior ao seu salário, e não podemos esquecer do
emprego vitalício, que é garantido aos trabalhadores japoneses. O emprego vitalício foi uma
estratégia dos sindicatos e das empresas japonesas na década de 1960 de conter o movimento
grevista que aflorava no país. De acordo com Gounet (1999), o emprego vitalício não é privilégio de
todos os trabalhadores japoneses, porém, em épocas de crise, como a que está ocorrendo no Japão, o
desemprego tenderá a atingir primeiramente os migrantes, pois o governo tem pleno compromisso
com o trabalhador japonês. O migrante sofrerá as conseqüências da crise do mercado-de-trabalho
mundial, que não se importa de maneira devida com as minorias que sustentam a produção e a
reprodução do sistema capitalista, produzindo peças para produtos eletrônicos, automóveis,
alimentos, garantindo, assim, o consumo e a sustentação do sistema.
De acordo com Antunes (2000), a flexibilização da produção capitalista trouxe
algumas conseqüências para os trabalhadores. Entre elas, destacamos a precarização do trabalho,
que é representado pelas empresas terceirizadas, subcontratadas, part time, entre tantas outras
formas assemelhadas que se expandem em inúmeras partes do mundo. Esses postos de trabalho, de
47
acordo com o autor, foram preenchidos pelos migrantes como os gastarberters na Alemanha, o
lavoro nero na Itália, os chicanos nos Estados Unidos, os dekasseguis no Japão etc.14
As empresas, no modelo toyotista, de acordo com Ferreira (2001), “estabelecem
novas relações. Este processo leva a uma nova divisão-do-trabalho entre as empresas. Essa nova
divisão, determina o desenvolvimento de cadeias de subcontratação entre, grandes, médias e
pequenas empresas” (FERREIRA, 2001, p. 19).
Ainda de acordo com Ferreira (2001):
Essa precarização do emprego, de acordo com Matoso (1995), ocorre com evidência
mesmo no Japão, pois as empresas são subcontratadas, mas têm uma relação estreita com a
"empresa mãe"; no entanto, isso não faz com que as mudanças profundas no mercado-de-trabalho
não deixem de existir, como o crescimento do trabalho dos migrantes estrangeiros e feminino e a
desestabilização do sistema de garantia de emprego.
A flexibilidade que Carleial (2001) considera como sendo externa à firma inclui toda
e qualquer prática da firma de externalizar impactos ou choques recebidos, o que pode se referir a
15 Os dekasseguis, assim como os migrantes internacionais que vão para os Estados Unidos e países
da Europa Ocidental, são pessoas que tem o mínimo de instrução para enfrentar a burocracia para
providenciar toda a documentação necessária, assim como, alguma informação sobre o país onde
irão trabalhar. A migração não pode ser comparada a alguns movimentos migratórios que ocorrem
na escala interna do território brasileiro, onde muitas vezes, o migrante quer apenas garantir a sua
sobrevivência, como por exemplo no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais e no Nordeste, ou
mesmo em Goiás, na região dos garimpos. A migração de brasileiros para o Japão é para conquistar
algo que não está sendo possível no lugar de origem, ou seja, a conquista dos sonhos, que está
diretamente ligada ao consumo na sociedade capitalista. Conquistar os sonhos significa poupar para
conquistar a casa própria, o carro, ser dono do próprio negócio, investir em imóveis etc.
50
No contexto das migrações brasileiras, estas são vistas como verdadeiras migrações
forçadas, provocadas pelo fato de que o jogo do mercado não encontra qualquer contrapeso
nos direitos dos cidadãos. São freqüentemente também migrações ligadas ao consumo e à
inacessibilidade a bens de serviços essenciais (SANTOS, 1987, p. 44).
Assim, a análise do lugar não deve ser feita por si só, mas sim através das relações
do local com o global, pois de acordo com Carlos (1996),
Cada vez mais o espaço constitui numa articulação entre o local e o mundial, visto que,
hoje, o processo de reprodução das relações sociais dá-se fora das fronteiras do lugar
específico até lá pouco vigentes. Novas atividades criam-se no seio de profundas
transformações no processo produtivo, novos comportamentos se constróem sob novos
valores a partir da constituição do cotidiano (CARLOS, 1996, p. 14).
permaneça por um tempo maior que o planejado, o sonho do retorno, o saudosismo para com o lugar
de origem permanece no seu cotidiano.
[..] o lugar guarda em si e não fora dele o seu significado e as dimensões do movimento da
história em constituição enquanto movimento da vida, possível de ser apreendido pela
memória, através dos sentidos e do corpo. O lugar se produz na articulação contraditória
entre o mundial que se anuncia e a especificidade do particular. Deste modo, o lugar se
apresentaria como o ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local
enquanto especificidade concreta, enquanto momento (CARLOS, 1996, p. 15,16).
No movimento migratório dos japoneses para o Brasil, no início do século XX, não
havia, como atualmente, a articulação entre os lugares de emigração e imigração. No movimento
migratório dos dekasseguis, que se iniciou em meio à globalização, a articulação entre os lugares de
emigração e migração tornaram-se mais evidentes, seja através das redes sociais que se formaram,
seja pela rede de fluxos de informações e transportes. Portanto, o desenvolvimento das técnicas, que
permite uma maior circulação de pessoas (força-de-trabalho), informações e capital, permite que um
movimento migratório de escala global acarrete impactos numa escala local, seja no modo-de-vida
dos que não migraram, ou dos que migraram e retornaram, seja nos investimentos realizados por
esses migrantes no lugar de origem.
54
O migrante, hoje, mesmo estando distante, sente-se próximo do seu lugar social, pois
freqüentemente mantém contato com os que ficaram seja por cartas, telefone e internet; também pela
facilidade dos transportes, as idas e vindas do lugar de trabalho para o lugar social 16, tornaram-se
constantes.
O lugar na era das redes traz a idéia de que os novos processos de produção e de troca se
dão hoje de outra forma no espaço, num momento em que as vias de transportes e de
comunicações mudam radicalmente sua configuração que não passa somente pelas rotas
terrestres tradicionais – marítimas, rodoviárias, ferroviárias, mas cada vez mais aéreas, vias
de satélites e através da ainda em instalação superhighway, que cria a aparência de que se
perde as bases territoriais. Na realidade, a tendência à anulação do tempo/distância entre os
lugares no espaço do globo terrestre parece diminuir de tamanho articulando lugares agora
através das redes de alta densidade de trocas de informações (CARLOS, 1996, p. 34/35).
A informação está presente, e ela faz com que o mundo se torne globalizado. Porém,
não podemos deixar de considerar a produção do lugar pelo vivido, pelo cotidiano, pois os lugares
não são homogêneos, assim também as redes de lugares não o são.
Uma das evidências de que cada lugar possui sua história, suas características
próprias, é o desejo de retorno dos migrantes. Os dekasseguis submetem-se às explorações nas
empresas japonesas, por suporem que sejam de caráter temporário.
Nos dizeres de Santos (1996), “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão
global e de uma razão local, convivendo dialeticamente” (SANTOS, 1996, p. 273).
Os lugares dos sonhos perdidos, possíveis e de conquista modificam-se ao longo do
tempo, pois esses lugares têm sua dinâmica ditada pelo capital. De acordo com Santos (1996), “num
dado momento, o “mundo” escolhe alguns lugares e rejeita outros e, nesse movimento modifica o
conjunto dos lugares, o espaço como um todo. É o lugar que oferece ao movimento do mundo a
possibilidade de sua realização mais eficaz” (SANTOS, 1996, p. 271).
Buscando o entendimento dos lugares de migração, ao longo do tempo, dos japoneses
e seus descendentes, tentaremos abordar algumas características próprias de cada movimento, para
assim, entendermos essa busca incessante da conquista dos sonhos através da migração e da sujeição
de exploração pelo capital.
16 Vale a pena destacar que estamos utilizando lugar social e lugar de origem como sinônimos, pois, é no lugar de origem que o
migrante dekassegui possui suas relações sociais, possui sua identidade. De acordo com Soares, 1995. In: Revista Travessia, n.º 21,
ano VIII, Jan./Abril, 1999, p. 23 a 27.
55
Era um Japão que estava passando do período feudal para um Estado moderno,
pautado na industrialização, com a inovação das técnicas. Assim, os pequenos produtores rurais
estavam com dificuldades para dar continuidade à atividade agrícola. A crescente população era uma
barreira a ser enfrentada, por causa da pequena extensão territorial do país. O Japão era o lugar dos
“sonhos perdidos”, o lugar das impossibilidades de ascensão econômica e social e, nesse caso, a
emigração era uma alternativa. Mas, emigrar para onde?
17 O sonho como afirma SAYAD (1998), “é um dos impulsos marcantes para a migração”. Pois os migrantes ganham forças para partir do lugar de
origem, quando há possibilidade de uma mobilidade social, mesmo que para isso, ele tenha que sair do seu lugar, pois é por um período temporário”.
Portanto, a possibilidade de retorno e de mobilidade social são condicionantes importantes na decisão de migrar, que na verdade é uma decisão
imposta por forças maiores, do sistema que gera exclusão.
Depoimento de um de nossos entrevistados, no Trabalho de Campo (TC) realizado no município de Álvares Machado, no período de janeiro à abril de
2002.
56
O Brasil, país de extensão territorial bem maior que o Japão e com terras férteis,
estava necessitando de "braços" para a lavoura cafeeira, pois com a abolição da escravatura, a mão-
de-obra tornou-se escassa no país. A adoção de trabalhadores estrangeiros era uma alternativa.
A imigração estrangeira para o Brasil ocorreu por todo o século XIX, com a vinda dos
imigrantes europeus (principalmente portugueses, italianos e espanhóis). Os japoneses só foram
requisitados para trabalhar no Brasil porque os governos europeus proibiram a vinda de imigrantes
para este país, pois tiveram notícias dos maus tratos que os imigrantes estavam sofrendo nas
lavouras de café, no tocante à exploração do trabalho. Assim, os fazendeiros de café e o governo
brasileiro saíram à procura de alianças com os governos estrangeiros a fim de atrair "braços" para o
trabalho no campo e também queriam abrir novos mercados para o café brasileiro; neste caso, o
Japão era uma alternativa. Por ser o Japão um país distante, representava um futuro mercado para a
exportação do café e também um mercado fornecedor de mão-de-obra, pois o governo japonês (por
motivos destacados acima), estava incentivando a emigração de japoneses (que já estava ocorrendo
para as ilhas do Havaí e para os Estados Unidos). O Brasil, neste contexto, representava o lugar dos
“sonhos possíveis” para os japoneses. Como podemos visualizar no Mapa 1, os imigrantes japoneses
que vieram para o Brasil, partiram de várias regiões do Japão, principalmente do Sul do país, das
províncias de Okinawa, Kagoshima, Kumamoto, Fukuoka, Saga e Wakayama, e do Norte, das
províncias de Fukushima e Niigata. Eram regiões agrícolas do Japão da época.
A migração entre o Brasil e o Japão aconteceu por intermediação dos governos dos
dois países e dos fazendeiros de café brasileiros. “Os imigrantes japoneses que vieram no navio
Kasato-Maru aportaram em Santos – SP, no ano de 1908 e direcionaram-se para as lavouras
cafeeiras no Estado de São Paulo” (Yoshioka, 1995, p. 27).
FONTES: Museu de Imigração Japonesa de São Paulo – Anterior à Guerra: Ministério do Trabalho,
Comércio e Indústria do Brasil – Depto. de Imigração. Pós Guerra: Kokusai Kyoryku Jigyodan (JICA)
ORG.: Denise Cristina Bomtempo
agosto/2002
É importante ressaltar que a imigração japonesa no Brasil teve duas fases, como
afirma Saito (1973), “anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial”, como também podemos
visualizar no Quadro 1.
A imigração no período anterior à Segunda Guerra Mundial tinha o caráter
temporário, ou seja, os imigrantes tinham, como objetivo, permanecer um período de 5 a 10 anos
para a aquisição de uma quantidade de dinheiro que possibilitasse o retorno para o Japão e continuar
a viver no seu país de origem, mas não foi bem isso que aconteceu. Os japoneses, como os europeus,
foram “enganados”. A propaganda que foi feita para atrair os imigrantes relatava que "no Brasil se
poderia colher dinheiro em árvore, rastelar com a enxada, ou colher igual ovo...18”
18 Depoimento do Entrevistado 1 - Trabalho de Campo (TC) realizado no município de Álvares Machado, no período de janeiro a
fevereiro de 2002.
58
“O caminho até chegar em Álvares Machado, era feito a pé, no meio do mato, ou quando
alguma família tinha sorte, como a minha, pegava uma carona nos vagões de trem que
traziam madeira para a construção da estrada de ferro, mas não podíamos dormir, pois se
ocorresse, corríamos o risco de cair de cima das madeiras, pois não tinha nenhuma
segurança, né! Aqui chegando, meu pai comprou um pedacinho de terra e ficou pagando
por muito tempo”. (Entrevistado 03 – Jan/Fev/2002).
59
Este foi um dos fatores que contribuíram para a diminuição das famílias japonesas e
descendentes no município, pois atualmente totalizam 153 famílias19.
Um fator que também contribuiu, não para a diminuição das famílias, mas para o
esvaziamento delas, principalmente de jovens descendentes de japoneses de Álvares Machado, foi o
início do movimento migratório dos dekasseguis (palavra japonesa que significa sair do lugar de
origem para trabalhar com remuneração), que se faz presente na história da migração entre o Brasil e
o Japão e que tem algumas características próprias, pois está inserido numa dinâmica econômica
diferente daquela do início do século XX, quando os primeiros japoneses vieram para o Brasil. Uma
dessas características é a possibilidade de idas e vindas do lugar de emigração para o lugar de
imigração e vice-versa, num curto período.
Essas várias idas e vindas também devem ser pensadas sob o aspecto da
globalização, em que tudo se procede em ritmo acelerado. A sensação de um
mundo “cada vez menor pode ser atribuída à compreensão do tempo e
espaço”, termo bem utilizado por Harvey (1989), que é uma das
características mais marcantes do mundo contemporâneo traçadas pelo
desenvolvimento tecnológico no campo dos transportes e comunicação
(SASAKI, 1999, p. 256).
O Japão, atualmente, não é mais um país agrário, nem o Brasil necessita de braços
para as lavouras cafeeiras. As migrações, de acordo com Brito (1995), não caminham mais para
serem definitivas, mas sim, de caráter temporário; a inserção do migrante no mercado de trabalho
não se dá mais pelo meio rural, mas sim em áreas de maior concentração de indústrias,
principalmente em áreas urbanas, sem se falar nos lugares dos “sonhos e não sonhos”, que se
modificaram ao longo do tempo.
20 De acordo com o CIATE - SP - Centro de Apoio ao Trabalhador no Exterior, escritório de São Paulo, no ano 2000, tem-se um
total de 254.394 brasileiros vivendo no Japão como dekassegui, Gráfico 1.
63
Sales (1995) afirma que a história desses novos fluxos de migração de brasileiros
possui especificidades. Por que migrar para Portugal e não para a Áustria? Por que a preferência
pelos Estados Unidos e não pelo Canadá? Qual é a relação da migração entre o Brasil e o Japão?
Uma das respostas para essas questões é em relação à concentração e centralização do
capital num dado território. Mesmo em época de globalização, o capital não está presente de
maneira homogênea no espaço mundial; portanto, o migrante vai para os territórios onde há
possibilidade de uma maior remuneração em relação ao seu lugar de origem. Vale a pena ressaltar
que, independentemente do migrante estar no Japão, nos Estados Unidos ou na Itália, como
migrante temporário, ocupará os lugares considerados de baixa qualificação profissional no
mercado-de-trabalho do país de destino. Irá residir nos subúrbios das grandes cidades e receber
salários irrisórios em relação ao salário do lugar de migração e, na maioria das vezes, não terá
nenhuma seguridade social. Mas, estará em situação de privilégio em relação ao salário do Brasil,
pois a quantia que o migrante brasileiro receberá é bem superior.
De acordo com Margolis (1994),
Na cidade de Nova York, os brasileiros se concentram no setor de serviços
gerais mal remunerados, os homens lavam pratos, trabalham como ajudantes
de garçom e engraxam sapatos; as mulheres limpam apartamentos e cuidam
de crianças. Nos subúrbios, os homens são freqüentemente encontrados na
construção não especializada e em serviços de manutenção, enquanto lá
também, a maioria das mulheres brasileiras trabalham como empregadas
domésticas (MARGOLIS, 1994, p. 47).
No que se refere à permissão para ingresso dos nikkei, a nova lei estabeleceu
a categoria "residentes por longo período", segundo a qual os nisseis
(segunda geração) ganhavam o direito ao visto de permanência por três anos,
e os sanseis (terceira geração) podiam permanecer por um ano. Em ambos os
casos o visto pode ser prorrogado por igual período, mais de uma vez. Esse
tipo de visto, que também é estendido ao seu cônjuge (mesmo não tendo
ascendência nipônica) e filho, permite o trabalho no Japão sem restrições
(REIS FONTENELE, 2002, p. 68).
Passados quase vinte anos do início do movimento dekassegui, podemos afirmar que
ele não é homogêneo, e possui características próprias ao longo do tempo, como afirma Sasaki
(1998). Vejamos, no Quadro 2, algumas características da migração dos dekasseguis brasileiros ao
longo da década de 1980 e 1990.
68
Desde o início do movimento migratório dos dekasseguis, até os dias atuais, o caráter
de temporalidade da migração ainda permanece, mas, de acordo com Fukusawa (2002), existem no
Japão dekasseguis com mais de 10 anos de estadia no país, trabalhando nos setores periféricos das
empresas japonesas. Perguntamos quais os motivos que levaram a esse aumento do tempo de
permanência no Japão. Por um lado, as facilidades de transporte, a comunicação e obtenção de
vistos, as idas e vindas entre o Brasil e o Japão tornaram-se constantes; consequentemente houve
uma variação do tempo de permanência da migração. Por outro lado, o tempo da migração está
associado à realização ou não dos sonhos no lugar de origem, ou seja, a conquista da casa própria,
do carro ou do negócio próprio, ou até mesmo para a manutenção do padrão de vida, que foi abalado
com as sucessivas crises da economia brasileira e que, de certa maneira, influenciou a migração.
Pois, de acordo com Sasaki (1998),
A migração para o Japão não é exatamente uma questão de sobrevivência, é
muito mais uma alternativa ou estratégia para alcançar, manter ou recuperar
um determinado padrão econômico e material, que mesmo antes de partir ao
Japão, não era tão baixo em relação à média da população brasileira. Em
outras palavras, não são os pobres, mas a classe média que participa da
migração internacional (SASAKI, 1998, p. 70).
69
modo-de-vida japonês também se modificou, principalmente para os mais jovens, por não quererem
desempenhar atividades de baixa qualificação nas empresas, ficando esses setores escassos de mão-
de-obra". Uma alternativa, portanto, era a adoção da mão-de-obra migrante.
Autores como Ninomiya (1992, 1998) consideram o movimento de japoneses,
descendentes e cônjuges para o Japão como um fenômeno, pois movimentou, em cerca de 20 anos,
254.000 mil pessoas, um número maior que o dos japoneses que vieram para o Brasil de 1908 até
por volta de 1993, que totaliza 241.966 imigrantes (Museu de Imigração de São Paulo – Ministério
do Trabalho Brasil – Imigração e JICA). Mas, é importante considerar que as condições da migração
hoje são outras. Em relação aos meios de transportes, o deslocamento não é feito mais por navio (60
dias de viagem em média) mas, sim, por aviões (24 horas de viagem); tem-se também informações
sobre o local (cidade, província) para onde ocorrerá a migração. No período técnico-científico-
informacional, como afirma Santos (1996), o capital não precisa migrar para suprir a necessidade de
mão-de-obra; é a mão-de-obra que migra, isso em grande parte devido às facilidades dos meios de
transporte e comunicação, características que não estavam presentes nos períodos da Primeira e
Segunda Revolução Industrial, quando os imigrantes europeus e, posteriormente os japoneses,
vieram para o Brasil.
No Mapa 3, podemos visualizar em quais províncias os brasileiros estão em maior
número como dekasseguis no Japão. Os dekasseguis não se dirigem para as mesmas regiões que
foram de emigração no início do século XX no Japão; migram para as regiões onde estão
concentradas as empresas japonesas. De acordo com os dados do CIATE (Centro de Apoio ao
Trabalhador no Exterior – SP, 2000), as províncias onde se concentra o maior número de
dekasseguis brasileiros são: Aichi, Shizuoka (onde se localiza Hamamatsu, a cidade japonesa onde
se concentra o maior número de brasileiros, cerca de 12.000 - (Ito, 2001)), Nagano e Gunma. Em
todas as províncias japonesas há brasileiros trabalhando como dekasseguis, porém, grande parte
encontra-se nas regiões próximas à capital japonesa, Tóquio, pois é nessa região que se concentram
as grandes empresas e consequentemente as pequenas e médias que são subcontratadas por empresas
maiores e onde trabalha a maioria dos dekasseguis, tanto brasileiros como de outras etnias. Por outro
lado, as regiões que foram de emigração, atualmente, não atraíram mão-de-obra estrangeira, pois
não concentram muitas empresas, continuam sendo regiões agrícolas no Japão. Como podemos
visualizar no Mapa 3.
71
pronta) pois, quanto mais trabalharem, maior o acúmulo de dinheiro e mais rápido será o retorno
para o país de origem. É assim que muitos pensam, e isto acaba sendo um fator de incentivo para as
pessoas agüentarem a sobrecarga de trabalho.
22 Um dekassegui hoje no Japão, que trabalha cerca de 10 horas/dia, recebe entre y280,00 a y300,00 mil yens, que eqüivalem a U$
3.000,00. Convertendo para Reais, tem-se um total de R$ 7.200,00 (Base de cálculo: IGP-DI Fundação Getúlio Vargas, site
www.ai.com.br). Muitas vezes, esses dekaseguis são jovens que não têm grau de escolarização completo (com nível superior),
portanto, no mercado-de-trabalho brasileiro, ficaria difícil conseguir um emprego com essa remuneração. Porém, de acordo com as
73
dekasseguis é a possibilidade de serem donos do próprio negócio quando retornarem para o local de
origem, no caso, Álvares Machado .
Portanto, a imigração japonesa e de descendentes entre o Brasil e o Japão, na escala
mundial, permite que se tenha reflexos numa escala local, ou seja, em Álvares Machado, com
características específicas no espaço e no tempo. No primeiro momento da imigração, os japoneses
contribuíram para a própria formação do município. Num segundo momento, os descendentes de
japoneses são responsáveis por um dinamismo, não somente pelas atividades advindas do campo,
mas sim, pelas remessas de dinheiro provenientes do Japão, que significam investimentos no
município em atividades comerciais e imobiliárias na zona urbana (os imóveis vendidos para os
dekasseguis localizam-se nos melhores bairros do município), influenciando na arrecadação de
impostos para o poder público, e na valorização dos terrenos dos bairros considerados de melhor
localização. Também em investimentos em imóveis rurais, com possibilidades de outras atividades
que não seja a agricultura, como a criação de gado, lugares para recreação como os pesque-pague e
locação de chácaras para finais de semana.
Os dekasseguis, quando retornam do Japão, estão ansiosos para investir, pois o
investimento significa uma possibilidade de retorno e fixação no lugar de origem. Através dos dados
obtidos no Trabalho de Campo, percebemos que essa ansiedade já foi mais arraigada, fazendo com
que muitos fracassassem e tivessem que voltar para o Japão. As pessoas que retornam para o Brasil,
quase não procuram se inserir no mercado-de-trabalho como empregados, pois, ou já passaram da
idade, ou são jovens que abandonaram os estudos e por isso não conseguem atender às necessidades
das empresas. Por outro lado, os dekasseguis sentem dificuldade de se adaptarem ao salário
brasileiro, que é muito inferior em relação ao do Japão. Então, a alternativa é o investimento em
atividades que garantam alguma remuneração, mas, muitas vezes eles não procuram informações
necessárias para iniciar a atividade desejada e o negócio sonhado, muitas vezes, não dá certo,
culminando com o retorno ao Japão.
É clássica a afirmação de Martins (1988), de que o migrante quando retorna não é
mais o mesmo, as pessoas que ficaram e o lugar também não são as mesmas. Assim, no início, é
reportagens da Revista Época e Veja: "A cidade mais cara do mundo continua sendo Tóquio, no Japão" (R. Época 16/01/2003). "Só
para dar uma idéia dos preços, em Tóquio um Big Mac com fritas e refrigerante sai por R$ 15,00 enquanto no Brasil pagam-se R$
5,00 pela mesma pedida. Nos estádios da Copa, um cachorro-quente valerá quase R$ 10,00" (Revista Veja Jun/2002). Os dekasseguis,
portanto, durante o tempo de migração no Japão, privam-se de consumir o que não é necessário para a sobrevivência no território
japonês (alimentação, bebida, vestuário, pagamento de contas do alojamento) caso contrário, acumular uma poupança não seria
possível, pelo alto custo-de-vida japonês.
74
realmente uma dificuldade se inserir novamente no Brasil e até mesmo em Álvares Machado, um
município de 22.673 habitantes (Censo Demográfico do IBGE, 2000).
São muitas as facetas do movimento migratório em análise. Tentaremos, ao longo do
trabalho, destacar algumas características presentes nesse sonho que faz parte da vida dos migrantes.
Primeiro, dos japoneses no Brasil e, num segundo momento, dos brasileiros que vão para o Japão.
Como pode ser observado no Quadro 3, a população rural de Álvares Machado vem
diminuindo ao longo do tempo e, a população urbana aumentando. Fato este que se comprova por
vários motivos, entre eles a falta de incentivo à agricultura, principalmente para os pequenos
produtores, e atração pelos serviços na zona urbana. Nas décadas de 1970 e 1980, a população total
de Álvares Machado diminuiu significativamente. Muitas famílias foram atraídas para a capital
paulista pela possibilidade de trabalho e estudo, o que também contribuiu para a diminuição das
famílias japonesas no município: que no ano de 1942 eram de 493 famílias e atualmente são apenas
153 (Fonte: Associação Nipo-Brasileira de Álvares Machado, 2002).
No Mapa 5, podemos visualizar a procedência das famílias dos imigrantes japoneses
residentes em Álvares Machado no ano de 1942. Como os imigrantes japoneses que vieram para o
Brasil (Mapa 1), grande parte das famílias dos imigrantes japoneses que residia em Álvares
Machado no ano de 1942, era proveniente das províncias de Fukuoka, Kumamoto, Hiroshima e
Fukushima.
De acordo com Santos (1996), o espaço geográfico é algo dinâmico e essa
dinamicidade faz com que os lugares modifiquem os seus papéis ao longo do tempo. Em relação ao
movimento migratório dos japoneses e seus descendentes, Álvares Machado é o lugar dos sonhos
possíveis, conquistados e perdidos. É o lugar dos sonhos possíveis e conquistados na imigração
japonesa, dos sonhos perdidos na migração dos dekasseguis e para os descendentes que não
migraram, e torna-se o lugar da conquista dos sonhos quando os dekasseguis retornam do Japão e
procuram recomeçar suas relações, tanto econômicas como sociais no município.
76
Localizado a oeste do Estado de São Paulo, Álvares Machado faz parte da Fazenda
Pirapó-Santo Anastácio, da qual surgiram, direta ou indiretamente, todos os municípios da região.
No ano de 1916, o Sr. Manoel Francisco de Oliveira, que era um mineiro, comprou
terras da viúva de Manoel Pereira Goulart, proprietário da Fazenda Pirapó-Santo Anastácio. A área
da fazenda denominava-se Brejão. O Sr. Oliveira iniciou a derrubada do mato, construindo um
prédio que destinou à moradia de sua família e à instalação de um estabelecimento comercial. No
ano de 1921, as terras já estavam loteadas, formando um núcleo populacional que foi chamado de
Patrimônio São Luiz. Além do Sr. Manoel Francisco de Oliveira, foram para Álvares Machado os
imigrantes japoneses. Foi no final de 1916 e início de 1917 que chegaram as primeiras famílias.
Os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana chegaram na área, no ano de 1919,
contribuindo para a vinda de mais famílias para o Patrimônio, aumentando assim a sua população.
No dia 26/12/1927, Álvares Machado foi elevado a Distrito de Paz pela Lei 2.242,
pertencendo a Presidente Prudente. O nome Álvares Machado foi uma homenagem prestada ao
deputado e médico paulista Francisco Álvares Machado de Vasconcelos.
77
3.2 A presença dos imigrantes japoneses no município de Álvares Machado - o lugar dos
sonhos possíveis e de conquista
23 De acordo com Monbeig (1998), o colono era essencialmente um operário rural, que assinara, com um fazendeiro, contrato de
trabalho por um ano. O colonato nas fazendas constitui um proletariado desorganizado, em face de uma classe outrora pujante.
24 MONBEIG, Pierre. Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo: São Paulo: Hucitec, 1998.
79
25 Viver em colônia, como viveram os primeiros imigrantes japoneses em Álvares Machado, não era viver o sistema de colonato,
caracterizado por Stolcke (1983), "como sendo um sistema misto de remuneração por tarefas e por peça. O colonato, foi uma fórmula
que prevaleceu nas fazendas de café da década de 1880 até meados do século XX "(STOLCKE, 1983, p. 100). Viver em colônia
japonesa em Álvares Machado, tem mais o sentido cultural, o sentido de preservar a cultura que os imigrantes trouxeram do Japão
(costumes, tradições, alimentação, educação dos filhos). Em Álvares Machado, os imigrantes já eram proprietários de terras e não
colonos, cada um já tinha a sua própria remuneração e plantava o que lhe conviesse, não estavam subordinados ao fazendeiro, como
acontecia quando eram colonos nas fazendas de café. Para aprofundamento da questão ver: Yoshioka, Reimei. Por que migramos do e
para o Japão,. São Paulo: Massao Ohno, 1995 e MARCOS, Valéria de. Comunidade "Sinsei" (u)topia e territorialidade. São
Paulo: FFLCH, 1996 (Dissertação de Mestrado).
80
Verificamos que, do total dos entrevistados, 71,28% são casados, 26,59% são viúvos
e apenas 2,12% são solteiros. Dos casados, 47,87% se casaram com descendentes de japonês,
18,08% se casaram com japoneses e 5,31% se casaram com pessoas não descendentes. Esses
entrevistados já são bem idosos, principalmente os japoneses, como foi possível verificar: 21,27%
têm idade entre 70 – 74 anos, 18,08% têm idade entre 60 –64 anos, 17,02% têm entre 65 – 69 anos,
15,95% têm idade entre 80 – 84 anos, 10,67% têm idade entre 75 –79 anos, 9,57% têm idade ente 55
– 59 anos, 4,25% têm idade entre 50 – 54 anos e apenas 3,19% têm idade entre 85 – 89 anos. Por
serem idosos, os entrevistados não tiveram um grau de escolaridade elevado, porque, participaram
dos primeiros anos da imigração no Brasil com a família e tiveram que se dedicar ao trabalho no
campo, ficando os estudos comprometidos. Também, de acordo com os entrevistados, nas fazenda
de café não havia escolas. Vejamos no Gráfico 4, o grau de escolaridade dos japoneses e nisseis de
Álvares Machado.
É importante considerar que 100% dos entrevistados que nasceram no Brasil, são de
municípios do Estado de São Paulo.
Dos entrevistados que nasceram no Japão - Mapa 6.1, 5,31% nasceram na província
de Fukuoka, 3,19% nasceram na província de Fukushima, 1,06% em Miyagi, 1,06% em Chiba,
1,06% em Kumamoto, 1,06% em Nagano, 1,06% em Hokkaido, 1,06% em Gunma, 1,06% em
Shizuoka, 1,06% em Wakayama, 1,06% em Yamaguchi, apenas 1,06% não lembra onde nasceu. E,
dos pais dos entrevistados nascidos no Japão, 28,72% em Fukuoka; 9,57% em Fukushima; 6,38%
em Hokkaido; 6,38% em Hiroshima; 5,31% em Nagano; 4,25% em Wakayama; 4,25% em
Kumamoto; 4,25% em Mie; 2,12% em Okayama; 1,06% em Kochi; 1,06% em Kagoshima; 1,06%
em Shimane; 1,06% em Akita, 1,06% em Aichi; 1,06% em Iwate; 1,06% em Shizuoka; 1,06% em
Saitama e; por fim; 2,06% em Ehime e, 1,06% não lembra onde os pais nasceram. Vale ressaltar que,
97,80% dos pais dos entrevistados são japoneses, e apenas 2,12% são nascidos no Brasil, sendo
1,06% em Álvares Machado e 1,06% nascido em Bauru – SP.
Foram vários os motivos da emigração para o Brasil. O principal deles está atrelado à
crise econômica porque passava o Japão na época e também as possibilidades oferecidas aos
imigrantes no Brasil.
26 Em relação aos motivos da vinda para o Brasil, quando os nossos entrevistados eram nascidos no Brasil, perguntamos em relação
aos pais; o mesmo ocorreu em relação à pergunta se queria voltar ao Japão.
84
Dos entrevistados, 74,4% relataram que um dos principais motivos da imigração para
o Brasil era para ganhar dinheiro, pois as propagandas influenciaram muito na decisão. As
informações passadas aos japoneses no Japão eram que, no Brasil, "podia-se colher dinheiro nas
árvores, colher na cesta de ovo, que nas terras brasileiras tinha ouro". Os japoneses, que na época
estavam vivendo momentos difíceis na sua economia, acreditaram nas possibilidades que tinham no
Brasil, e partiram com a esperança de conseguir o que no Japão não estava sendo possível. Dos
entrevistados, 6,38% relataram que no Japão não havia terras suficientes para os filhos que estavam
crescendo; mais uma vez, o Brasil atraía os japoneses, pela abundância de terras. Muitos
demonstraram um certo rancor por terem sido enganados, pois essa riqueza esperada não veio,
rancor com o próprio governo japonês da época que incentivou a imigração para o Brasil,
financiando as passagens o que corresponde a 2,12% dos entrevistados; 6,38% relataram que
migraram para o Brasil devido à Segunda Guerra Mundial; 5,31% queriam se aventurar em terras
brasileiras e apenas 2,12% não sabem os motivos da migração para o Brasil.
Verificamos também, se havia o desejo de retorno para o Japão no início da imigração
entre a família dos entrevistados. Tivemos os seguintes resultados: 89,36% disseram que os pais, ou
eles próprios (quando japoneses), tinham intenção de permanecer um período no Brasil e retornar
para o Japão; 5,31% não queriam retornar e 5,31% não sabem.
Mas, com o passar do tempo, os imigrantes japoneses foram se adaptando às terras
brasileiras, foram criando laços, seja através da constituição das famílias (nascimento dos filhos),
seja pela aquisição de um pedaço de terra que possibilitou o imigrante ser "livre" para decidir a sua
própria vida, decidir o que plantar, onde residir etc. O Brasil foi se tornando o lugar da conquista dos
sonhos na imigração japonesa, haja vista que, durante o trabalho de campo, perguntamos para os
nossos entrevistados se eles queriam retornar para o Japão (mesmo a passeio) ou, se pensaram em
mudar-se de Álvares Machado. A grande maioria, como podemos verificar no Gráfico 5, não
pretendem ir para o Japão.
FONTE: Trabalho de Campo, jan/fev/2002 ORG.: Denise
Cristina Bomtempo
Dos entrevistados, 59,57% não têm vontade de ir para o Japão, pelos seguintes
motivos: 3,19% responderam que “o Brasil é o meu lugar”; 2,12% responderam que o Japão mudou
85
muito e não iriam reconhecer nada se retornassem para lá, mesmo a passeio; 3,19% responderam
que preferem viajar pelo Brasil; 13,82% relataram que não querem ir para o Japão pois não
conhecem ninguém; 3,19% relataram que não juntaram dinheiro suficiente para retornar (poupar
dinheiro e retornar para o Japão era um dos sonhos dos imigrantes que para cá vieram); 3,19%
relataram que não querem ir para o Japão pois estão com a idade avançada e 8,51% não
responderam. Os que responderam que têm vontade de ir para o Japão, somam 40,42%, sendo que
25,53% responderam que querem ir para conhecer e passear; 5,31% querem ir para trabalhar; 7,44%
querem ir, mas já estão com a idade avançada; 2,12% querem ir mas têm medo da viagem que é
muito longa, e de encontrar o Japão diferente do que deixou quando emigrou para o Brasil; alegaram
também não conhecer ninguém. O Japão passou a ser um lugar estranho para o imigrante japonês
que vive há muitos anos no Brasil.
em Tóquio é de stress, vive tudo junto, fechado, aqui em Machado é diferente, é muito sossegado,
ainda mais no sítio” (Entrevistado 63 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Não dá para falar se quero ir morar em outro lugar pois só conheço Álvares
Machado, e gosto de morar aqui” (Entrevistado 7 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Bom né! A gente ama o lugar que nasceu. Aqui é o meu lugar! Lugar melhor é onde
a gente nasceu. Conheço tudo aqui”! (Entrevistado 40 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
Pode-se perceber que a vontade de retornar ao Japão se expressa através dos números
obtidos com o trabalho de campo, sendo que do total dos entrevistados, 89,36% queriam retornar
para o Japão, nos primeiros anos de imigração no Brasil. Porém, as dificuldades eram muitas,
principalmente em relação ao acúmulo de dinheiro, pois não ocorreu da forma que os imigrantes
pensavam. O objetivo (antes da Segunda Guerra Mundial) dos imigrantes japoneses que vieram para
o Brasil, era permanecer no país por um período que variava entre 5 a 10 anos e retornar para o
Japão. Mas, porque não conseguiram acumular dinheiro nesse curto período e também
(principalmente) pela Segunda Guerra Mundial, os imigrantes japoneses de certa maneira, aceitaram
permanecer no Brasil. Porém, essa aceitação não foi pacífica. Nas entrevistas que realizamos
durante o trabalho de campo, um dos nossos entrevistados relatou que “muitos se alcoolizavam pela
situação em que estavam vivendo”.
Álvares Machado, portanto, passou a ser o lugar social dos imigrantes japoneses,
lugar onde constituíram família, fizeram amigos, adquiriram propriedades rurais, ou mesmo
urbanas etc. Porém, o saudosismo para com a terra natal ainda se faz presente, mas sabem que o
Japão que eles conheceram ou o Japão que os pais (no caso dos nisseis) conheceram, não existe
mais. A dinâmica tanto econômica, cultural ou política do Japão de hoje, é bem diferente daquela de
aproximadamente cem anos atrás. O imigrante, se retornasse, como foi o caso de alguns que foram
passear, ia se sentir estranho no lugar de origem.
dinheiro, deixavam de ser colonos das fazendas para se aventurarem nas terras novas do Estado de
São Paulo, conforme podemos constatar no Mapa 2.
Com as famílias dos nossos entrevistados não foi diferente, sendo que, 88,29%
desembarcaram no Porto de Santos e foram para outros municípios; 79,87% foram trabalhar como
colonos nas fazendas de café; 4,25% compraram terras; 2,12% foram trabalhar de arrendatários e,
2,12% não sabem o que eles ou os pais fizeram, pois eram crianças.
Os imigrantes que foram direto para Álvares Machado, correspondem a 11,70%,
sendo que 7,44% compraram terras e 4,25% trabalharam de arrendatários.
Muitas foram as dificuldades encontradas durante os primeiros anos de imigração no
Brasil. Como veremos, essas dificuldades também estão presentes na migração dos dekasseguis
quando estão no Japão.
Dos entrevistados, 54,25% relataram que uma das piores dificuldades de adaptação
foi em relação à alimentação; 53,19%, que a língua era uma das piores dificuldades a serem
vencidas no Brasil; 40,42%, o trabalho pesado; 8,51%, relataram a falta de escolas para os filhos;
6,38%, o clima; 5,31%, as doenças; 5,31%, o racismo; 1,06%, os costumes diferentes; e, 7,44% não
tiveram dificuldades.
As dificuldades citadas acima, de acordo com os entrevistados, foram nas fazendas
de café, sendo que, em Álvares Machado, situações difíceis no novo lugar existiam, porém, de
maneira mais amena. As mais agravantes foram a derrubada da mata e as doenças que rondavam as
famílias que estavam se estabelecendo no município. É importante destacar que, quando aplicamos
questionários aos nisseis, eles relataram as experiências que os pais tiveram quando chegaram ao
Brasil e a Álvares Machado. Uma das dificuldades foi em relação ao estudo da língua japonesa:
26,59% dos entrevistados disseram que não estudaram o japonês porque durante o período da
Segunda Guerra Mundial, isso era proibido, e se o fizessem, tinha que ser escondido. Os japoneses,
como os italianos, os alemães, os espanhóis, eram acusados de formação de guetos, sendo essa
também uma das dificuldades, porém, só no período da Guerra27. Vejamos alguns trechos dos
depoimentos dos nossos entrevistados em relação às dificuldades encontradas no Brasil.
“Aqui, comia polenta, mas não gostava; a batata doce, colocava no arroz, não
tinha muita verdura, até planta, né! No Japão, também pescava, aqui não tinha peixe. O fazendeiro
27 Sobre o assunto: MORAES, Fernando. Corações Sujos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
88
também não gostava do serviço dos meus pais” (Entrevistado 33 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Meus pais não eram agricultores; meu pai era estudante no Japão e minha mãe
nunca tinha trabalhado. Aqui no Brasil, sofreram bastante trabalhando na enxada. Minha avó
morreu de desnutrição, não aceitava a comida do Brasil. Muita gente morreu com o serviço pesado
e também de doenças” (Entrevistado 35 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“O clima do Brasil é bem diferente do Japão, também não entendiam a língua, a
alimentação era diferente, meus pais não tinha dinheiro para pagar médicos, não tinha como
estudar os filhos, pois na fazenda não tinha escolas” (Entrevistado 36 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Aqui em Machado, meus pais derrubaram a mata, tinha árvore de peroba, eles
serravam tudo na mão. Sabe, não dá nem para imaginar...” (Entrevistado 37 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002)
“O issei28 sofreu muito para se adaptar no Brasil, pois a comida, a língua, era
tudo diferente. Minha mãe no Japão, era chefe de uma usina elétrica, veio para o Brasil e precisou
trabalhar no cafezal. No Japão, tinha propaganda que aqui no Brasil tinha dinheiro em galho de
árvore”... (Entrevistado 11 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
“As dificuldades que os imigrantes encontraram foram muitas, pois tudo era
estranho. Primeiro, não conseguiram voltar para o Japão, pois não conseguiram acumular o
dinheiro almejado. Havia discriminação para com o japonês. Hoje, vemos muita influência da
cultura japonesa no Brasil, algo bem simples, o chinelo de dedos, quase ninguém sabe, mas foram
os japoneses que trouxeram este costume para cá” (Entrevistado 20 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“O clima era muito quente, cheguei aqui em novembro; no primeiro ano eu sofri
com a comida, também o trabalho na lavoura, eu não sabia carpir porque no Japão eu só estudava,
nunca tinha trabalhado” (Entrevistado 12 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Aqui em Machado era tudo mato, as primeiras casas eram feitas com madeira,
derrubava as árvores e cobria as casas com folhas de coqueiro, não tinha água. Teve que derrubar
boa parte do mato para começar a plantar” (Entrevistado 71 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“No cartório, eu não sabia registrar as filhas, não conhecia os nomes, por isso
todas chamam Maria (Risos!!!)”. (Entrevistado 81 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
“Meus pais entraram na fazenda de café na Mogiana, nunca tinham visto café,
não sabiam falar o português e não tinha tradutor, tudo era por gestos. A comida era diferente,
tinha toucinho de porco, eles jogavam tudo fora, só comiam arroz e algumas conservas que iam
preparando” (Entrevistado 8 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Arroz, quase não tinha, muito menos verduras, escola, assistência médica, meus
pais ficaram desesperados. Os homens japoneses, diante dessa situação, começaram a tomar pinga,
para esquecer a angústia. Depois de uns quinze anos no Brasil, as coisas começaram a melhorar,
veio a guerra, definitivamente, não puderam retornar para o Japão. Mas a intenção era de retornar,
por isso que os filhos eram registrados no consulado do Japão, eu tenho dupla nacionalidade”
(Entrevistado 5 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“A comida era diferente, tinha que comer polenta e feijão, meu pai contava que
uma vez foi no sítio de um italiano e teve que tomar café, comer feijão e porco. O trabalho também
era pesado e não sabiam falar o português; nós éramos pequenos, íamos para a escola e ensinava
meus pais falar o português” (Entrevistado 26 - Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
Existiram muitas dificuldades nos primeiros anos de imigração, dificuldades essas
que foram sendo superadas com o passar do tempo, principalmente quando os imigrantes chegaram
ao município de Álvares Machado.
Uma das nossas preocupações durante a pesquisa, foi entender por que os imigrantes
japoneses escolheram Álvares Machado para ser o local de residência. De acordo com Monbeig
(1984), Álvares Machado está localizado nas chamadas áreas novas do Estado de São Paulo, na
região da Alta Sorocabana, o grande "sertão paulista", que possibilitava ao imigrante ser dono de um
pedaço de terra.
Dos entrevistados, 39,36% foram para Álvares Machado pela oferta de terras; 31,91%
foram porque já tinham parentes e amigos; 9,57% porque casaram com pessoas que já moravam em
Álvares Machado; 8,51% foram pois sabiam que já havia japoneses que ali moravam; 3,19% foram
porque havia escolas para os filhos; 1,06% porque em Álvares Machado não havia doenças e, 6,38%
não sabem qual o motivo de terem ido para Álvares Machado.
Para os imigrantes que trabalhavam como colonos nas fazendas de café, Álvares
Machado simbolizava o lugar de uma vida livre, pois o imigrante teria a terra para trabalhar e o
90
apoio dos patrícios, formando assim, a "colônia japonesa" de Álvares Machado. Muitos foram
atraídos para Álvares Machado pela oferta de terras, pois essas ainda não eram exploradas com
agricultura e eram, terras boas para o cultivo; também, muitos foram para lá, pois tinham amigos e
parentes, que eram do mesmo lugar no Japão ou pessoas que conheceram no navio.
Vale a pena ressaltar que dos entrevistados, 86,17% foram para Álvares Machado
com a família; 10,63% foram sozinhos e 3,19% não sabem com quem os pais foram.
Dos imigrantes que foram para Álvares Machado, 79,87% eram colonos que haviam
trabalhado nas zonas tradicionais de café do Estado de São Paulo. A possibilidade de ser dono de um
pedaço de terra fez com que 89,36% dos imigrantes se fixassem na zona rural e apenas 10,63% se
fixassem na zona urbana. Dos 10,63% que foram morar na zona urbana, 9,57% foram morar no
centro da cidade, porque dedicaram-se ao comércio; apenas 1,06% foi morar no Jardim Raio do Sol,
que também não é distante do centro urbano. Vejamos na Tabela 3 os bairros onde se localizaram as
famílias dos entrevistados.
TAB. 3: LOCAL DE MORADIA DOS IMIGRANTES JAPONESES QUANDO CHEGARAM A ÁLVARES MACHADO
VINDA PARA ÁLV. MACHADO N.º ABS. N.º REL. %
10 10,63
Zona Urbana (ZU)
BAIRROS - ZU
Centro 09 9,57
Raio do Sol 01 1,06
Zona Rural (ZR) 84 89,36
BAIRROS - ZR
Brejão 23 24,46
18 19,14
Guaiçara
Limoeiro 13 13,82
5ª Escola 09 9,57
Reservado 06 6,38
Córrego do Macaco 04 4,25
Cruzeiro 03 3,19
Primeiro de Maio 02 2,12
São Geraldo 02 2,12
Coronel Goulart 01 1,06
Km 4 01 1,06
Cem Alqueires 01 1,06
Benak 01 1,06
TOTAL (ZU + ZR) 94 100
FONTE: Trabalho de Campo jan/fevV/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
91
Dos entrevistados 89,36% foram morar na zona rural, principalmente nos bairros
onde já havia japoneses. A maior concentração foi no Bairro Brejão (onde se localiza o Cemitério
Japonês) com, 24,46%; 19,14% no Bairro Guaiçara; 13,82% no Bairro Limoeiro; 9,57% no Bairro
Quinta Escola; 6,38% no Bairro Reservado; 4,25% no Bairro Córrego do Macaco; 2,12% no Bairro
São Geraldo; 1,06% no Bairro Km 04; 1,06% no Bairro Benak; 1,06% no Bairro Cem Alqueires 29 e
1,06% no Distrito de Coronel Goulart.
Os dekasseguis, como podemos verificar nos Mapas 9.3 e 10.3, compraram
propriedades rurais nos mesmos bairros onde residem as famílias japonesas e descendentes em
Álvares Machado.
Chegando a Álvares Machado, como podemos verificar no Gráfico 7, os imigrantes
dedicaram-se principalmente a atividades ligadas à agricultura.
Dos entrevistados, 76,59% compraram terras; 9,57% compraram estabelecimentos
comerciais; 7,44% trabalharam de arrendatário, depois compraram terras; 3,19% trabalharam de
arrendatário; 2,12% trabalharam na zona urbana de empregado e 1,06% trabalhou na zona rural de
empregado.
Dos entrevistados que nasceram no Japão e dos pais dos que não nasceram, 46,80%
eram agricultores no Japão; 12,76% não sabem o que faziam no Japão; 9,57% não trabalhavam pois
eram crianças; 8,51% eram estudantes; 3,19% pedreiros; 3,19% soldador; 3,19% eram vendedores;
3,19% comerciantes; 2,12% marinheiros; 1,06% era engenheiro agrônomo; 1,06% era marceneiro;
1,06% era médico; 1,06% era professor e, 1,06% era técnico eletricista.
Do total dos imigrantes japoneses que foram para Álvares Machado, 76,59%
compraram terras, sendo que o dinheiro utilizado para a compra, em grande parte era proveniente
das economias que fizeram quando trabalharam de colonos nas fazendas de café.
O tamanho da propriedade variou de 1 – 4 alqueires a 45 alqueires: 21,27% dos
entrevistados compraram lotes de 10 - 14 alqueires; 18,08% de 5 - 9 alqueires; 8,51% de 15-19
alqueires; 7,44% de 25-29 alqueires; 4,25% de 40-44 alqueires; 4,25% mais de 45 alqueires; 3,19%
de 30-34 alqueires; e 3,19% de 1 - 4 alqueires. Os imigrantes compraram, portanto, pequenas
propriedades e logo começaram a trabalhar.
29 Os Bairros Benak e Cem Alqueires fazem parte do município de Alfredo Marcondes (divisa com o município de Álvares
Machado). Aplicamos questionários aos moradores desses bairros, pois são cadastrados na Associação Japonesa de Álvares Machado.
Vale ressaltar que foram apenas 4 questionários aplicados.
92
30 Somente para os entrevistados que se dedicaram ao trabalho no campo, quando chegaram a Álvares Machado.
94
ocorrendo de maneira significativa no período compreendido entre 1985 e 2000. Essa diminuição
dos créditos fica mais evidente na década de 1990, nos anos de 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998,
1999 e 2000. Vejamos no Quadro 4:
32 Valores Corrigidos em Reais (2000). Os valores monetários foram atualizados pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade
Interna - IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas - FGV.
95
Dos entrevistados, 36,14% responderam que uma das maiores dificuldades para
continuar trabalhando na agricultura são os adubos e defensivos com preços elevados; 43,37%
afirmaram como dificuldades o baixo preço do produto; 22,89% a diminuição de financiamentos
agrícolas; a idade avançada corresponde a 18,07% das respostas; inclui-se aí, a ida dos filhos dos
produtores rurais para o Japão, ficando ele sozinho para trabalhar na propriedade. Também em
relação ao item estudo dos filhos, que corresponde a 10,84% das respostas, os entrevistados
alegaram que, na zona rural, havia escola somente até o ensino fundamental; portanto, para dar
continuidade aos estudos dos filhos, decidiram ir para a zona urbana. A propriedade próxima à
cidade, corresponde 2,40% dos entrevistados que responderam ser este um forte motivo que
contribuiu para deixar a atividade agrícola, pois quando plantavam, os furtos eram constantes;
3,61% dos entrevistados responderam como dificuldade as dívidas advindas do plantio; 3,61%,
elegeram como dificuldade o desgaste das terras; 1,20% que o veneno fez mal para a saúde e 3,61%
atração por serviços na cidade.
Portanto, dos 88,29% dos entrevistados que relataram, de início, serem moradores da
zona rural, atualmente apenas 34,04% dos entrevistados permaneceram, sendo que, 100% desses
que permaneceram continuam com as atividades agrícolas. Dos 54,25% que mudaram para a zona
urbana, em média residiram na zona rural por 29 anos. Desses, apenas 14,90% continuam com as
atividades ligadas à agricultura, e 39,30% passaram a desenvolver atividades na zona urbana, sendo
que, 19,14% dedicaram-se às atividades ligadas ao setor comercial: 1,06% comprou bazar, 8,51%
compraram bares, 1,06% armazém de secos e molhados, 1,06% loja de tecidos, 2,12% quitanda,
1,06% alfaiataria, 2,12% oficina, 1,06% comércio e indústria, 1,06% empresa de implementos
agrícolas. Além do comércio, 20,21% dedicaram-se a outras atividades como caminhoneiro 11,70%;
vendedor de insumos agrícolas 1,06%; autônomo 4,25%; fotógrafo 1,06% e funcionários de
empresas privadas 2,12%.
96
por domicílio na zona urbana. Vale a pena ressaltar que dos entrevistados, 97,87% têm filhos e que
apenas 2,12% não são casados e não têm filhos.
Outro fator que procuramos analisar, é o local de residência dos filhos dos
entrevistados, sendo que 56% residem em Álvares Machado e 44% residem em outras cidades e
países33.
Dos filhos dos entrevistados que residem em outras cidades: 39,38% residem na
Cidade de São Paulo; 45,16% em cidades do Estado de São Paulo; 13,09% em cidades de outros
Estados brasileiros; 1,78% reside nos Estados Unidos e 0,59% no Canadá.
Os filhos que migraram para o Japão correspondem a 37,89%. Em números
absolutos, isso corresponde a 144 pessoas. Os que não foram para o Japão são 62,10%,
correspondendo a 236 pessoas. Dos 37,89% do total dos filhos que foram trabalhar no Japão,
25,52% residem em Álvares Machado e 12,36% em outras cidades34.
Além dos filhos, os entrevistados também possuem parentes que migraram para o
Japão correspondendo a 78,72% dos entrevistados. Os parentes são: sobrinhos (as) correspondendo
a 60,63%, cunhados (as) somam 4,25%; irmãos (as) 7,44%, netos (as) 11,70%; cônjuges 2,12%;
genros e noras 1,06 %. Dos parentes, 68,08% residem em Álvares Machado e 10,63% residem em
outras cidades. Dos entrevistados, 98,93% responderam ser benéfico trabalhar no Japão,
principalmente pela remuneração, que é bem maior em relação à brasileira. Apenas 1,06% relatou
não ser benéfico.
33 Cidades da Região: Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Presidente Venceslau, Dracena, Rancharia, Santo Anastácio.
Cidades do Estado de São Paulo: Mirandópolis, Assis, São Paulo, Campinas, Piracicaba, Indaiatuba, São Miguel , Suzano, Mogi das
Cruzes. Cidades de outros Estados brasileiros: Curitiba, Londrina, Campo Grande, Porto Alegre, Maringá, Ilhéus, Brasília, Rio de
Janeiro, Anápolis, Cuiabá, Belo Horizonte, Rondonópolis. Outros países: Estados Unidos e Canadá.
34 As cidades são: Presidente Prudente, Presidente Venceslau, São Paulo, Campinas, Suzano, Santos, Jacareí, Curitiba e Dourados.
98
99
Dos entrevistados que responderam acreditar ser benéfico trabalhar no Japão, 80,85% responderam
que é bom para poupar dinheiro; 8,51% responderam que é conveniente para pagar as dívidas que
ficaram no Brasil; 8,51% responderam ser benéfico somente para quem não tem trabalho no Brasil;
1,06% respondeu ser bom pois no Japão não há violência como no Brasil e, apenas 1,06% respondeu
não ser benéfico, pois os jovens no Japão, não estão poupando dinheiro. Vejamos alguns
“É bom ir para o Japão, mas para ficar pouco tempo, muito tempo não é bom,
quando volta, fica perdido, também o dinheiro muda a cabeça das pessoas” (Entrevistado 2 –
Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“ Para quem é jovem, é bom ir para o Japão, apesar que hoje já não está tão bom
para ganhar dinheiro. Quando volta para o Brasil, tem que estudar e trabalhar para ficar aqui.
Hoje, Japão e Brasil estão parecidos, mas o melhor lugar de viver é aqui, não tem guerra como no
Afeganistão na Argentina. Aqui em Machado por enquanto está tudo sossegado, mas estou
apreensivo por causa de muitos presídios aqui na região” (Entrevistado 86 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“É bom ir trabalhar no Japão, economizar e trazer para o Brasil. Aqui, compra casa,
terreno, sítio, deixa o dinheiro a juro, quase não precisa trabalhar” (Entrevistado 90 – Trabalho de
Campo, JAN/FEV/2002).
“Não adianta mais ir para o Japão a maioria, principalmente os jovens, não estão
economizando dinheiro, e quando volta para o Brasil, não querem trabalhar; acaba o dinheiro tem
que voltar, isso não está certo” (Entrevistado 32 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Meu filho não tem estudo, plantou lavoura, não deu certo, achou melhor ir para o
Japão”(Entrevistado 40– Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Todos os meus filhos foram para o Japão juntar dinheiro, primeiro para comprar
uma casa, pois não temos dinheiro para ajudá-los”(Entrevistado 16 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Não sei se acho bom ir para o Japão, depende muito. As pessoas que são estudadas,
precisam ficar no Brasil para desenvolver o nosso país, não adianta só mandar dinheiro, tem que
viver aqui, construir aqui. As pessoas que vão, quando retornam, ficam decepcionados, isto é um
prejuízo para o país e para a família. A gente vai ficando velho, não tem condições de continuar na
lavoura, como vai ficar isso? Os políticos deveriam incentivar os jovens a ficar no país, gerando
mais empregos. Todos gostam do Brasil porque é tranqüilo. Os jovens deveriam ir para o exterior
100
somente para aprender novas técnicas e aplicá-las no Brasil. No Japão, os que vão, ganham
dinheiro, mas é muito sacrificado, não estudam, perdem toda a juventude. Depois de um tempo, lá
também começam a gastar com festas e passeios, saem fora da trilha, fazem coisas que se
estivessem aqui não fariam, eles tem uma falsa liberdade” (Entrevistado 36 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“O trabalho no Japão salvou muita gente aqui em Álvares Machado; se não fosse
meus filhos lá, eu já tinha perdido toda a propriedade; a maioria que foi, era por causa de dívidas”
(Entrevistado 35 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Hoje está um pouco mais difícil ir para o Japão, pois a economia japonesa está em
crise. Muitas empresas pequenas não agüentam as despesas e fecham, vão para outros países onde
a mão-de-obra é mais barata, como na Coréia, China, Filipinas etc” (Entrevistado 20 – Trabalho de
Campo, JAN/FEV/2002).
“Não acho muito bom ir para o Japão, mas é uma alternativa para ganhar dinheiro,
pois aqui não tem emprego e a lavoura está ruim” (Entrevistado 37 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Cada um sabe se é bom ou não ir para o Japão. A família fica dividida. As pessoas
ganham dinheiro, mas quando voltam não tem perspectiva. Aqui em Álvares Machado, pode notar,
quem está de carro novo é o pessoal do Japão, também compram casa. Mas não tem em que
trabalhar; abrem comércio, quase não dá certo, tem que voltar para lá. Os que trabalhavam na
roça, não querem voltar...” (Entrevistado 70 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
Como podemos perceber, através das informações e dos depoimentos dos nossos
entrevistados, trabalhar no Japão tem o lado bom e o lado ruim. É bom, pois em época de crise no
Brasil, os descendentes de japoneses têm a alternativa de migrar temporariamente para acumular
uma quantia de dinheiro que no Brasil não seria possível. Mas o que fazer quando retornam para o
Brasil? Trabalhar em quê? Essa é uma das preocupações existentes entre nossos entrevistados,
principalmente os jovens que deixaram os estudos, ficando, depois do retorno, ainda mais sem
perspectivas. Também a desagregação familiar é uma das preocupações presentes nos depoimentos
dos entrevistados. O único fator expressivo que os nossos entrevistados destacaram ser benéfico, é
em relação aos salários das empresas japonesas, que são bem maiores do que os do Brasil, mas, se
no país houvesse condições de trabalhar, não seria necessário sair, pois esse processo de deixar o
país de origem é muito sofrido, como eles próprios relataram nas entrevistas.
101
Outra análise que procuramos fazer, foi em relação à vontade de retornar (no caso dos
japoneses) ou de conhecer (no caso dos descendentes) o Japão. O objetivo dessa questão é
identificar o lugar do imigrante japonês e seus descendentes. As respostas durante as entrevistas,
foram muito boas, possibilitando fazermos a afirmação de que o imigrante japonês adotou o Brasil
como seu lugar social, pois está totalmente inserido na sociedade brasileira. Possui suas relações
econômicas e sociais no Brasil, mesmo que participe da Associação Japonesa. Embora, cultivando
alguns rituais da cultura japonesa, isso não impossibilita de ser o Brasil o seu lugar social, fato este
ainda mais presente entre os descendentes. O apego a Álvares Machado é ainda maior, pois 74,46%
dos entrevistados sempre residiram em Álvares Machado (após os anos em que trabalharam nas
fazendas de café em outras regiões) e, 25,53% residiram em outras cidades do Estado de São Paulo e
em outros Estados, antes da vinda definitiva para Álvares Machado. Dos entrevistados, 22,34%
retornaram para o Japão ou foram pela primeira vez a fim de passear, 14,89% foram para o Japão a
fim de trabalhar e 60,63% não foram para o Japão.
Procuramos destacar, também, a importância dos japoneses para Álvares Machado na
visão do próprio japonês e seus descendentes. Os dados obtidos foram os seguintes, de acordo com o
Gráfico 7.
102
90
80
70
60
ENTREVISTADOS
50
38
40
30
18 21
20
10 3
0
Ajudaram a Desenvolveram Formaram o Uniram-se
desenvolver o a agricultura Município Associaç
comércio e a Japones
agricultura
saques nas propriedades, não podia estudar língua japonesa, mas isso passou”(Entrevistado 92 –
Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
Hoje, verificamos um certo vazio na Associação, que está composta pelos idosos
(dirigentes) que, além de cuidarem da parte administrativa, participam de atividades esportivas
(gaitebol), organizam as festas ou comemorações religiosas, como a festa do dia das mães, o
Shokon-Sai, Undo-Kai e a celebração do falecimento do Monsenhor Nakamura. Também as crianças
participam da Associação, principalmente como freqüentadores das aulas de nihon-gô (japonês) que
são ministradas na Sede. Verificamos um fato novo durante o Shokon-Sai de 2002: um grupo de
jovens descendentes que não foi para o Japão, e hoje já são universitários ou estudantes do ensino
médio, organizaram uma barraca para vender refrigerantes e salgados. Eles relataram que era a
primeira vez que estavam trabalhando e querem, para os outros anos, organizarem-se ainda mais;
assim, é uma maneira de participar mais ativamente da vida da Associação.
No Shokon-Sai 2002, foi possível observar que os dekasseguis que retornaram do
Japão, participaram da comemoração, foram visitar o cemitério, assistiram às apresentações de
dança e música. Conversando com alguns, eles relataram que nunca tinham participado antes de
migrarem para o Japão. Na migração, tiveram consciência e procuram agora resgatar a cultura de
seus antepassados. Mesmo considerados brasileiros de alma, sentem que o Japão faz um pouco parte
de suas vidas.
105
Já afirmamos que o desejo de consumir algo que não está sendo possível no lugar de
origem, é um dos impulsos à migração, principalmente na escala internacional. Pois, os migrantes
internacionais, na era da globalização, são pessoas que gozam de certo grau de conhecimento e
poder aquisitivo (pelo menos para as despesas da viagem), ou seja, não é qualquer um que pode se
candidatar a migrar para outro país. Na migração de brasileiros para os Estados Unidos e para a
Europa Ocidental, quem migra são as pessoas que conhecem um pouco o idioma do país de
migração. Na verdade, essa migração não é totalmente para garantir a sobrevivência do migrante e
de sua família, como acontece em alguns movimentos migratórios internos no Brasil, como no Vale
do Jequitinhonha em Minas Gerais, por exemplo, ou dos cortadores de cana do Nordeste, dos
garimpeiros em Goiás e no Pará, entre outros. Na migração de brasileiros para o exterior (incluem-se
aí os dekasseguis), tem-se um reflexo da dinâmica da sociedade na era da globalização. Com o
desenvolvimento dos transportes, a circulação de pessoas e mercadorias passou a ser facilitada. A
mão-de-obra passou a circular mais livremente para os lugares onde o capital dela necessita.
O movimento migratório dos dekasseguis é um reflexo da dinâmica da sociedade
global, que faz com que o migrante saia do seu lugar de origem, para realizar os seus sonhos e
desejos individuais, sonhos esses que nada mais são que consumir, de possuir algo que não está
sendo possível no seu lugar social. Esses sonhos dos migrantes, fazem com que o lugar de origem,
que é de emigração ou lugar dos sonhos perdidos, tenha uma certa dinâmica, principalmente com o
retorno que vem através dos investimentos que esses dekasseguis realizam no município. O lugar
deixa de ser dos sonhos perdidos e passa a ser de conquista.
Também no Japão, há uma certa dinâmica no modo-de-vida e na economia do lugar, é
o que retrata Ito (2001), Fukusawa (2002) e Reis Fontenele (2002): as lojas de produtos brasileiros,
106
É clássica a afirmação de George (1970), quando afirma que a maioria dos migrantes,
principalmente no mercado-de-trabalho internacional, é composta por homens jovens. Por isso,
procuramos verificar se essa afirmação se comprova na migração dos dekasseguis.
107
108
109
Dos dekasseguis entrevistados, verificamos que 57,27% são homens, porém as mulheres particip
m da migração de maneira significativa, correspondend
Perguntamos quais as implicações dessa migração de jovens para o exterior.
Na migração de jovens para o exterior, o Brasil perde, além da força-de-trabalho, uma
parcela significativa de cérebros. Esses jovens que migram para o Japão, interrompem os seus
estudos, vendem sua juventude nas empresas japonesas, inserem-se num mercado de trabalho não
qualificado, sendo que era a época de se qualificarem. Vejamos no Gráfico 8, a idade dos
dekasseguis de Álvares Machado.
Dos entrevistados, 18,18% têm idade entre 20 – 25 anos; 20% têm entre 26 – 30
anos; 20,90% têm entre 31 – 35 anos; 13,63% tem 36 – 40 anos; não tivemos nenhum entrevistado
com idade entre 41-45 anos; 10,90% têm idade entre 46 – 50 anos; 9,09% têm idade entre 51 – 55
anos; apenas 2,72% têm idade entre 56 – 60 anos; 3,63% têm idade entre 61 – 65 anos. E, por fim,
apenas 0,90% tem idade maior que 65 anos. Podemos visualizar, no Gráfico 8, que os dekasseguis
com faixa etária dos 20 aos 40 anos estão em maior número entre os entrevistados.
110
111
35 Os mestiços são os filhos de casamento misto, por exemplo: filho de pai japonês ou descendente e mãe de outra etnia (ou vice-
versa).
36 Dos entrevistados com curso superior, 6,36% exerceram a profissão antes de migrar para o Japão e 2,72% terminaram a faculdade
e migraram, não exercendo a profissão. As profissões dos dekasseguis com curso superior são: 1,81% administrador de empresas;
1,81% farmacêutico; 1,81% analista de sistemas; 1,81% advogado; 0,90% zootecnista; 0,90% engenheiro civil e 0,90% economista.
37 Os motivos foram vários. Entre eles, o mais significativo foi que os pais não tinham recursos para pagar a faculdade pois estavam
endividados. Ir para o Japão significava a possibilidade de poupar uma quantia de dinheiro para pagar os estudos no Brasil, além de
ajudar os pais a saldarem as dívidas. A falta de emprego no Brasil e a vontade de conhecer um país diferente também foram outros
motivos destacados pelos entrevistados que romperam os estudos e migraram para o Japão.
112
38 Essa dekassegui entrevistada ficou apenas 1 ano trabalhando no seu negócio próprio (uma lanchonete) e hoje, 1 ano após a nossa
entrevista, ela já vendeu seu comércio, deixou sua casa alugada e migrou novamente para o Japão. É a terceira vez que ela e o esposo
migram para o Japão. Até quando, perguntamos.
114
A migração de brasileiros para o Japão teve início antes da década de 1990. A década
de 1980 foi considerada perdida, pois foi de grande recessão econômica e esse quadro se expandiu
por toda a década de 1990.
Verificamos que o movimento migratório dos dekasseguis para o Japão não é muito
expressivo antes da década de 1990, como podemos visualizar no Gráfico 10. De acordo com Reis
Fontenele (2002),
O rápido e altamente expressivo crescimento do número de brasileiros que
passou a se dirigir ao Japão implicou ajustes estruturais na burocracia
japonesa. Num primeiro momento, o Consulado Geral em São Paulo viu-se
confrontado com extraordinária e repentina sobrecarga de trabalho passando
a emitir em apenas um mês o número de vistos que antes era processado em
um ano (REIS FONTENELE, 2002, p. 75).
.
Dos dekasseguis de Álvares Machado, apenas 3,63% migraram para o Japão antes da
década de 1990. Esse número aumentou significativamente no período de 1990 – 1993, período
esse que coincide com a reformulação da lei japonesa de imigração, que passou a aceitar legalmente
os descendentes de japoneses para trabalhar temporariamente. Portanto, no período de 1990 - 1993,
verificamos que foi o auge da migração para o Japão, com 52,72% dos entrevistados. No período de
1994 – 1997, tem-se um total de 31,81% dos entrevistados que migraram para trabalhar como
dekasseguis e, no período compreendido entre 1998 – 2001, apenas 11,81% foram trabalhar no
Japão.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril, 2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
que os dekasseguis aumentassem o tempo de migração, porém, o desejo de retorno permanece uma
constante no movimento migratório.
Dos dekasseguis de Álvares Machado, 12,72% permaneceram trabalhando no Japão
apenas 1 ano; 19,09% permaneceram no Japão por 2 anos; 15,45% por 3 anos; 16,36% dos
entrevistados por 4 anos; 4,54% por 5 anos; 6,36% por 6 anos; 10% por 8 anos; 3,63% por 9 e 10
anos, e, por fim, 1,81% permaneceu no Japão por 11 anos. É importante considerar que permanecer
no Japão implica em idas e vindas do Brasil para lá e vice-versa embora 50% dos dekasseguis não
retornassem nenhuma vez para o Brasil durante o período de migração no Japão.39.
Vale a pena ressaltar que a maioria dos dekasseguis entrevistados não migrou para o
Japão sozinho, pois 29,09% migraram com o cônjuge; 38,18% migraram com parentes; 8,18% com
amigos e; 24,54% migraram sozinhos para trabalhar no Japão. Do total, 75,45% migraram para o
Japão acompanhados e apenas 24,54% migraram sozinhos.
O local de permanência no Japão dos dekasseguis de Álvares Machado entrevistados,
não foi diferente da maioria dos brasileiros, como verificamos no Mapa 3. Ou seja, eles
concentraram-se nas províncias próximas a Tóquio, sendo que Aichi foi a província onde se
concentrou o maior número de dekasseguis entrevistados, cerca de 34,54%, como podemos
constatar no Mapa 7. A província de Nagano representa 9,09% do local de permanência dos
dekasseguis entrevistados, Gunma e Fukui representam 8,18% cada. Outras províncias como Mie,
Shizuoka, Kanagawa, Saitama, como podemos observar no Mapa 7, foram províncias onde também
se concentrou um número expressivo dos dekasseguis entrevistados, sendo que, a minoria
permaneceu em províncias distantes de Tóquio, como Hiroshima e Okayama, representando apenas
0,90% do local de permanência dos dekasseguis entrevistados.
39 A maioria dos entrevistados relatou que retornaram para o Brasil por somente um período para descansar e passar férias, pois o
objetivo era voltar para o Japão e trabalhar por mais um tempo. Outros relataram que tentaram investir no Brasil e não deu certo,
tendo que migrar novamente para o Japão, para poupar um pouco mais de dinheiro.
116
Os motivos da migração para o Japão foram uma das nossas preocupações durante a
pesquisa. Por que migrar? A grande parcela dos dekasseguis, como podemos verificar no Gráfico 11,
encarava a migração como uma possibilidade de poupar dinheiro.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril, 2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
Dos dekasseguis entrevistados, 10% relataram que foram trabalhar no Japão porque
tinham dívidas com o agente financeiro; 16,36% relataram que tinham dificuldades para continuar
trabalhando com a agricultura que estava ruim (ver abaixo depoimento de um dekassegui que era
agricultor); 12,72% relataram que foram para o Japão para conquistar a casa própria no Brasil;
0,90% foi porque estava desempregado; 58,18% foram pois queriam poupar dinheiro para realizar
investimentos no Brasil; 7,27% foram com o objetivo de poupar dinheiro e retornar ao Brasil e
estudar; 10,90% relataram que foram para o Japão para conhecer o país de seus antepassados, a
cultura e o modo-de-vida japoneses. É importante ressaltar que a situação econômica do Brasil é um
fator importante na migração para o Japão, pois quando o Brasil estava passando por um período
ruim na sua economia, principalmente no início da década de 1990, o Japão estava necessitando de
"braços" para exercer atividades não qualificadas nas empresas que desempenhavam as mais
variadas atividades. Mais uma vez a migração entre os dois países tornou-se dinâmica.
“Os produtores de Machado estão passando por situações difíceis, ficam
trabalhando no sol o dia todo e não tiram para pagar a safra. A uva Itália que eu plantava, hoje
não sai nem R$ 2,00 o quilo. Imagine, comprar adubo, defensivos com preços cotados em dólar, o
117
produtor não agüenta. Antes, a gente via sempre produtor trocando de carro, comprando trator,
implementos agrícolas novos. Hoje a gente só vê o pessoal remendando tudo para trabalhar. No
meu sítio mesmo, temos um trator de 25 anos atrás; na época era novo, hoje é sucata. Então,
compensa eu ir para o Japão, ficar uns oito ou nove meses, do que tombar terra para plantar. Na
terra, eu vou gastar uns R$ 3.000,00 e não sei se o retorno será garantido. No Japão eu sei que
trabalho direto, ganho e trago para o Brasil. Mas tem que economizar” (Entrevistado Dekassegui,
42).
Não podemos deixar de frisar que os sonhos dos migrantes estão sempre presentes.
São eles um "termômetro" importante na hora da decisão de migrar ou permanecer. Migrar
representa a conquista do sonho de economizar certa quantidade de dinheiro para comprar a casa
própria no Brasil ou para pagar os estudos, ou ainda poupar para investimento em alguma atividade
que garanta ao dekassegui o retorno ao lugar de origem, Álvares Machado, que representa o lugar
da conquista dos sonhos no movimento dekassegui lugar onde o sonho da casa própria, do negócio
próprio, da vida com os amigos e familiares pode se tornar realidade, realidade esta que, se
realmente for conquistada, fará com que o dekassegui esqueça os momentos ruins que viveu no
Japão, distante de sua terra natal e de seu lugar social.
“Mas nem tudo são flores”... Nem sempre os sonhos se tornam realidade. Para que
um investimento dê certo (um dos sonhos dos dekasseguis), são necessários muitos estudos, muitas
pesquisas sobre o que o dekassegui se propõe a fazer, pois a vontade de ficar no lugar de origem faz
com que invista em negócios que não sabe muito bem como funcionam e, assim, o risco torna-se
maior. Muitas vezes a falta de conhecimento do que se propõe a fazer, culmina novamente na
migração forçada para o Japão.
O dekassegui, portanto, é um elemento importante na configuração da paisagem do
município de Álvares Machado, principalmente a partir de meados da década de 1990, quando os
primeiros investimentos começaram a aparecer, principalmente na compra de imóveis na área
urbana do município, como veremos mais adiante.
A migração dos dekasseguis para o Japão, diferencia-se da migração internacional
dos brasileiros para os Estados Unidos e para os países da Europa Ocidental no que se refere à
contratação da mão-de-obra.
Os dekasseguis têm a possibilidade de migrar para o Japão com o trabalho
encaminhado e com a passagem paga. Como isso é possível? Pela ação das empreiteiras, que são as
118
Dos dekasseguis, 80,90% já tinham trabalho no Japão e apenas 19,09% não tinham.
Dos que tinham trabalho, conseguiram-no através de agências que contratavam mão-de-obra
estrangeira e também japonesa, as chamadas empreiteiras, e uma pequena parcela, 7,27%,
conseguiram trabalho por conta própria. Os dekasseguis relataram que um dos principais quesitos
que contribuíram para conseguir trabalho no Japão foi o conhecimento da língua japonesa. Além do
trabalho conseguido através das agências recrutadoras de mão-de-obra e por conta própria, os
parentes e amigos que já estavam no Japão, representaram 20% das respostas de indicação para
trabalho. Essa indicação feita por parentes e amigos que já estavam no Japão como dekassegui, é o
que Sasaki (1999) considera como a formação de um rede social de dekasseguis no Japão e de
trabalhadores que estão no Brasil e querem também ser dekasseguis. Essa rede social forma-se ao
longo do tempo, pois nos primeiros anos da migração para o Japão, essa autora relata que a maioria
dos brasileiros migrava através das agências, e depois das primeiras levas de dekasseguis no Japão,
é que a rede social começou a se formar. Muitos dekasseguis até pagaram as passagens dos amigos e
familiares, pois as agências cobravam preços altíssimos, ficando o dekassegui já endividado no
Japão, antes mesmo de começar a trabalhar.
Vale a pena ressaltar que 72,72% dos dekasseguis foram para o Japão com a
passagem financiada pela agência que contrata mão-de-obra e 27,27% compraram a passagem e
pagaram por conta própria ou com auxílio de parentes e amigos que estavam no Japão. Dos
dekasseguis que financiaram a passagem, 22,72% pagaram-na durante 3 meses; 10,90% durante 4
meses; 10% durante 5 meses; 30% durante 6 meses e 27,26% pagaram a passagem à vista. O
pagamento das passagens era feito através do salário dos dekasseguis, já vinha descontado na folha
de pagamento, de acordo com o relato dos entrevistados.
Outro fato que tentamos investigar foi em relação à mudança de trabalho dos
dekasseguis no Japão, o porquê da mudança e quais os critérios utilizados para tal.
A mudança de trabalho no Japão não é vista com bons olhos pelos chefes japoneses,
pois no Japão existe a cultura de lealdade à empresa, o trabalho vitalício. O trabalho é uma extensão
da família. Os dekasseguis brasileiros não têm a mesma visão que o japonês, por isso, procuram os
trabalhos que ofereçam maior remuneração e mais horas extras, isto é, tenham a possibilidade de
poupar mais.
Dos dekasseguis, 35,45% não mudaram de trabalho no Japão e 64,54% mudaram.
Dos que mudaram de trabalho, 16,36% mudaram uma vez; 13,63% duas vezes; 20% três vezes e
14,54% mudaram mais de três vezes.
Dos que mudaram de trabalho, 23,63% o fizeram porque procuraram empresas que
pagassem mais por hora trabalhada, porque os dekasseguis são trabalhadores horistas, ou seja,
recebem somente por hora trabalhada, portanto, quanto mais horas trabalhadas com melhor
remuneração, maiores serão os ganhos. Também, dos entrevistados, 18,18% relataram que
procuraram outros trabalhos pois queriam fazer mais horas-extras para aumentar a remuneração e,
assim, poder retornar num tempo mais curto para o Brasil. Houve também 14,54% dos entrevistados
que relataram procurar serviços mais leves, pois o primeiro trabalho era muito pesado e perigoso,
porque faziam movimentos muito repetitivos, muitas vezes forçando uma parte do corpo o que
poderia causar problemas de saúde no futuro.
“Não adianta nada trabalharmos como loucos no Japão por dois ou até quatro anos
e ficarmos sem saúde. Quando chega aqui no Brasil, não consegue fazer nada. Foi o meu caso, não
pude mais plantar lavoura, fiquei com problema de coluna; hoje trabalho no comércio e não posso
fazer nenhum esforço”. (Entrevistado Dekassegui, 55 )
As atividades que os dekasseguis de Álvares Machado desenvolviam no Japão, são as
que não exigem qualificação profissional e estão relacionadas na Tabela 5.
Frigorífico 8 7,27
Enfermeira 1 0,9
Fundição 12 10,9
Bentoya 7 6,36
Limpeza de Hotel 3 2,72
Fábrica de Auto Peças 15 13,63
Costureira 3 2,72
Fábrica de Casas Pré Moldadas 6 5,45
Construção Civil 3 2,72
Fábricas em geral 6 5,45
Motorista 2 1,81
TOTAL 110 99,83
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/ABRIL/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
41 Bentô, em japonês, significa comida. Bentoya, de acordo com os dekasseguis entrevistados, são empresas especializadas em
fabricar e vender comida pronta.
121
Esses investimentos estão acarretando impactos do ponto de vista econômico e social na paisagem
do município.
Os dekasseguis relataram que um dos motivos para economizar dinheiro quando
estavam no Japão, eram as longas jornadas de trabalho. Chegavam em casa, tinham que cozinhar,
cuidar das roupas e, o mais importante, tinham que dormir para trabalhar novamente no outro dia.
Dos entrevistados, apenas 6,36% trabalhavam 8 horas e não faziam horas extras; 9,09% trabalhavam
cerca de 9 horas; 20% dos entrevistados cerca de 10 horas; 20,90% cerca de 11 horas, sendo que a
grande maioria, 26,36% cerca de 12 horas; 7,27% trabalhavam cerca de 13 horas; 4,54% cerca de 14
horas; 2,72% trabalhavam mais de 15 horas e 2,72% mais de 16 horas. Os turnos de trabalho
variavam muito, uma semana de dia, outra à noite. Esse sistema de turnos de serviço alternados é
muito cansativo, de acordo com os nossos entrevistados. Somente as mulheres trabalhavam apenas
durante o dia.
123
supermercados que vendem produtos brasileiros. Muitos dos entrevistados compravam produtos
errados: 5,45% dos entrevistados relataram que foi difícil se acostumar com a alimentação
japonesa, por ser adocicada, diferente do tempero brasileiro. No entanto, por fim 7,27% relataram
não ter passado por nenhuma dificuldade no Japão.
produção de riquezas e por conseguinte de excedente econômico, por que é necessário o seu
deslocamento de um país para o outro? A produção da mais-valia não poderia ser feita no Brasil,
como historicamente tem ocorrido, e posteriormente expatriada para o Japão através das operações
financeiras?
Além do mais, vimos que ocorre a transferência de grandes quantias em dinheiro do
Japão para o Brasil, resultado da poupança dos dekasseguis, que as utilizam para investimentos em
imóveis ou para alavancar diferentes negócios nas áreas produtivas ou no comércio e serviços.
Os familiares que não migraram são muito importantes nesse processo de readaptação
do dekassegui ao lugar de origem, principalmente na questão dos investimentos. O que fazer quando
retornar? Os sonhos foram conquistados no lugar de origem? São essas algumas questões que
levantamos durante o trabalho de campo.
Como podemos verificar no Gráfico 14, a maioria dos dekasseguis de Álvares
Machado retornou no período de 2000 - 2002, cerca de 40,90%; seguidos por 37,27% no período de
1997 - 1999; 1994 - 1996 e 1991 - 1993, 10,90% cada.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
Dos dekasseguis entrevistados, de acordo com os dados do Gráfico 15, 23,63% eram
agricultores antes de migrar; com o retorno, apenas 10,90% estão trabalhando na agricultura,
126
Peixaria 1 0,9
Banca de Revistas 1 0,9
Bar 1 0,9
Loja de Calçados 1 0,9
Açougue 1 0,9
Imobiliária 1 0,9
Franquia de Convênio 1 0,9
Médico
Vidraçaria 1 0,9
Academia de Ginástica 1 0,9
Posto de Gasolina 1 0,9
Foto 1 0,9
Quitanda 1 0,9
Pesque-Pague 1 0,9
Empreiteiro 1 0,9
TOTAL 29 26,36
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
melhores casas e propriedades rurais são negociadas pelos japoneses" .(Responsável pelo Cartório
de A.M. Mar/2003)
Vejamos também as informações do Jornal Independente de Álvares Machado:
Hoje é muito difícil uma família japonesa que reside em Álvares Machado
que não tenha parentes que foram trabalhar no Japão (...). Os que migram,
representam uma parcela considerável da população machadense e cujos
recursos influenciam na economia do município. Não há uma estatística
oficial de quantos são os dekasseguis machadenses, mas o fato é que os
dólares ganhos em terras japonesas servem para a subsistência de muitos
familiares que aqui ficaram, bem como, interferem nos negócios comerciais
que são feitos na cidade. O corretor de imóveis Alcídio Gaban revela que, de
cada três transações imobiliárias que ocorrem na cidade, duas envolvem
descendentes de japoneses. E investem principalmente nas áreas mais
nobres. O gerente geral do Banespa, Euro Basques, diz que a movimentação
dos recursos enviados pelos dekasseguis formam uma economia paralela no
município. Além de negociarem imóveis, eles optam por aplicar em
caderneta de poupança. (...) O setor de atendimento do Banco do Brasil de
Álvares Machado, também, chega a receber em média três pedidos por dia
de recursos vindos do Japão. Os valores são variados, desde poucos dólares
até quantias elevadas (JORNAL O INDEPENDENTE, 30/12/1999, p. 5).
42 Os valores monetários foram atualizados pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna - IGP-DI/2000, da Fundação
Getúlio Vargas - FGV.
130
da Secretaria de Planejamento, está um pouco desatualizado. Mesmo diante desse quadro, foi
possível obtermos informações seguras em relação aos imóveis negociados no município e qual a
parcela desses investimentos pertencem aos dekasseguis.
Foram elaborados alguns cartogramas que demonstram onde foram negociados os
imóveis, tanto na zona urbana como na rural.
43 Dos imóveis negociados na zona urbana, 1.191 são terrenos e 669 são casas.
44 Todos os valores apresentados foram corrigidos pelo IGP-DI Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna, a preços de Agosto/2002.
132
A década de 1990 difere da década de 1980, pois verificamos que naquela década se
iniciaram os investimentos dos dekasseguis no município. Por isso, dividimos a nossa análise em
Investimentos da população em geral e Investimentos dos dekasseguis.
No Mapa 9, podemos constatar os bairros onde foram negociados os imóveis em
Álvares Machado na referida década. No Jardim Horizonte foram negociados 11,73% dos imóveis;
no Jardim São José 10,75%; no Centro 10,31%; no Jardim Bela Vista 9,48%; no Jardim Raio do Sol
8,84%; no Jardim São Francisco 7,91%; na Vila Paulista 7,47%; no Jardim das Rosas 6,64%; nos
bairros Jardim Panorama, Parque dos Pinheiros I e II 6,59%; no Jardim Antônio Pichioni 6,35%; no
Parque dos Orixás 4,20%; na Chácara da Amizade 2,15%; no Jardim Mont' Mor 2,05%; no Jardim
Santa Eugênia 1,71%; na Chácara Artur Boigues 1,31%; no Jardim Primavera 1,22%; na Vila Nossa
Senhora da Paz 0,63%; na Chácara Recreio Cobral 0,48%; e, no Condomínio Residencial Park,
foram negociados apenas 0,09% do total dos imóveis urbanos de Álvares Machado na década de
1990.
Como podemos constatar no Mapa 9.1, os bairros rurais em que foram negociados os
imóveis na década de 1990 foram os seguintes: Reservado 26,3%; Limoeiro 17,26%; São Geraldo
13,97%; Coronel Goulart 9,86%; Brejão 4,38%; Córrego da Paca 4,10%; Ouro Verde 4,10%; Santa
Luzia 3,56%; Boa Esperança 3,56%; Córrego dos Macacos 3,28%; Guaiçara 3,28%; Quinta Escola
1,64%; Floresta 1,09%; Primeiro de Maio 0,82%; Cruzeiro 0,82%; Pindorama 0,54%; Catanduva
0,54%; Km 07 0,54%; e, Km 04 0,27%. Em dinheiro, foram recolhidos um total de R$ 283.781,91
45 Dos imóveis negociados na zona urbana, 1.435 são terrenos e 611 são casas.
133
(duzentos e oitenta e três mil, setecentos e oitenta e um reais e noventa e um centavos) de ITBI no
município de Álvares Machado na década de 1990 pela população em geral, exceto dos dekasseguis,
sendo que a média de ITBI por imóvel foi de R$ 133,48 (cento e trinta e três reais e quarenta e oito
centavos).
46 Dos imóveis negociados na zona urbana, 142 são terrenos e 101 são casas.
134
este último, mesmo que seja um bairro um pouco distante do Centro, possui boa infra-estrutura
urbana (asfalto, água encanada, energia elétrica etc) e por isso os terrenos são mais valorizados
No mapa dos investimentos da população em geral, verificamos que os investimentos
em bairros como o Jardim Raio do Sol e Vila Paulista existem, porém, há um grande número de
imóveis sendo negociados em bairros periféricos como o Jardim São Francisco, Jardim Panorama,
Pinheiros I e II, Jardim Bela Vista, Jardim Santa Eugênia, Jardim Mont' Mor, Jardim Primavera,
Chácara da Amizade etc. São bairros onde os terrenos são menos valorizados, pois não possuem boa
infra-estrutura urbana, faltando por exemplo, asfalto em alguns dos bairros mencionados. Os
impostos nesses bairros são mais baratos que nos bairros próximos ao centro. Isso faz com que a
média do imposto arrecadado dos imóveis da população em geral, seja menor que a dos dekasseguis
que é de R$ 232,32 (duzentos e trinta e dois reais e trinta e dois centavos), e o total de ITBI
arrecadado pelos dekasseguis eqüivale a R$ 66.213,68 (sessenta e seis mil duzentos e treze reais e
sessenta e oito centavos), cerca de 22% do total arrecadado.
O número de imóveis negociados na década de 1990 pela população em geral foi
maior que dos dekasseguis, porém, estes investem em bairros onde os imóveis são mais valorizados,
contribuindo ainda mais para a valorização dos bairros e para a arrecadação de ITBI para o
município, pois os maiores impostos são pagos por esses migrantes que procuram realizar o sonho
de investir em seu lugar de origem.
Fato que não se difere nos investimentos realizados em imóveis na zona rural. Na
década de 1990, foram negociados pelos dekasseguis, 42 imóveis rurais. Vale ressaltar que, a maior
parte dos imóveis foram negociados em bairros onde se concentra um maior número de famílias
japonesas e descendentes, de acordo com a Associação Nipo-Brasileira de Álvares Machado; bairros
como Guaiçara, que corresponde a 21,42% dos imóveis negociados; Reservado 21,42%; Coronel
Goulart 14,28%; Limoeiro 14,28%; São Geraldo 9,52%; Brejão 4,76%; e, Quinta Escola 2,38%. Os
demais bairros: Ouro Verde, Floresta, Primeiro de Maio, Córrego dos Macacos e Santa Luzia são
bairros onde não é grande a concentração de famílias japonesas e descendentes, representando
apenas 2,38% dos imóveis negociados em cada bairro.
135
4.4.3 Imóveis negociados em Álvares Machado nos anos 2000, 2001 e 2002
Os imóveis negociados em Álvares Machado nos anos 2000, 2001 e 2002 não
diferem dos investimentos da década de 1990, tanto da população em geral como dos dekasseguis.
Pela população em geral, foram negociados 787 imóveis urbanos, como podemos
verificar no Mapa 10. No Centro, o total de imóveis negociados corresponde a 9,91% do total; no
Jardim Horizonte 9,14%; na Vila Paulista 7,24%; no Jardim Raio do Sol 6,98%; no Jardim São
Francisco 6,37%; no Parque Orixás 6,22%; no Jardim Mont' Mor 5,72%; no Jardim Santa Eugênia
5,01%; no bairros Jardim Panorama; Pinheiros I e II 3,64%; na Vila Nossa Senhora da Paz 2,25%;
na Chácara da Amizade 2,25%; na Chácara Artur Boigues 1,90%; no Jardim Primavera 0,69%, na
Chácara Recreio Cobral 0,52% dos investimentos em imóveis urbanos realizados no período
considerado. Em relação aos imóveis rurais (Mapa 10.1), o bairro Reservado foi o bairro onde foi
realizado o maior número de investimentos, cerca de 22% , como podemos constatar no Mapa 10.1,
136
seguidos do Brejão 18%; Limoeiro 15%; Coronel Goulart 9%; São Geraldo 7%; Guaiçara 7%; Ouro
Verde 5%; Córrego dos Macacos 4%; Cruzeiro 1%; Km 07 1% e Boa Esperança 1% do total dos
imóveis rurais negociados. Em dinheiro representa R$ 138.101,75 (cento e trinta e oito mil, cento e
um reais e setenta e cinco centavos), e uma média de R$ 179,95 (cento e setenta e nove reais e
setenta e cinco centavos) de ITBI por imóvel.
Os bairros onde foram feitos investimentos pelos dekasseguis, nos anos 2000, 2001,
2002, não diferem dos da década de 1990, como podemos constatar no Mapa 10.2. A Vila Paulista
(15,88%) e o Centro (16,88%) foram os bairros de maior investimento, correspondendo a 16,88%
cada um, do total dos investimentos, seguidos por Jardim Horizonte 15,58%; Jardim Raio do Sol
14,28%; Jardim São José 6,49%; Jardim Antônio Pichioni 5,19%; Parque Orixás 5,19%; Jardim das
Rosas 2,59%; Jardim Santa Eugênia 2,59%, Jardim São Francisco; Chácara da Amizade e Jardim
Primavera; correspondem a 1,29% dos bairros urbanos de investimentos dos dekasseguis,
prevalecendo a preferência dos investimentos em áreas centrais de Álvares Machado.
No Mapa 10.3, podemos verificar os bairros rurais onde foram realizados os
investimentos dos dekasseguis. O bairro Reservado representa 37,50% dos investimentos; nos
bairros Primeiro de Maio, Guaiçara e Coronel Goulart, cada um representa 12,5% dos
investimentos; os bairros Brejão, Córrego da Paca, Limoeiro e Quinta Escola, cada um representa
6,25% dos investimentos dos dekasseguis na zona rural de Álvares Machado.
Em dinheiro, isso representa R$ 40.258,65 (quarenta mil, duzentos e cinqüenta oito
reais e sessenta e cinco centavos) e uma média de R$ 439,50 (quatrocentos e trinta e nove reais e
cinqüenta centavos) de ITBI por imóvel, bem superior da média da população em geral, no mesmo
período. Fato esse que se repete na década de 1990. Com isso, podemos afirmar que os dekasseguis
investem em áreas mais valorizadas do município, onde os impostos são mais caros em relação aos
bairros periféricos nos quais a população, em geral, realiza a maioria dos investimentos.
O total de imóveis, tanto na zona urbana como na rural somam 787, sendo dos
dekasseguis - 100, correspondendo a 22%.
Na Tabela 8, podemos verificar o total de ITBI arrecadado desde a década de 1980 até
2002, ano a ano.
137
Bela Vista 2%; por fim, Chácara da Amizade 2% dos imóveis negociados pelos dekasseguis
entrevistados.
Podemos afirmar que os investimentos dos dekasseguis em Álvares Machado
tornaram-se visíveis principalmente no setor imobiliário, sendo que a paisagem urbana vem
sofrendo impactos decorrentes desses investimentos.
139
A renda econômica dos dekasseguis é uma informação importante, que também não
podemos deixar de considerar, pois sofreu alteração após a migração, como podemos constatar no
Gráfico 17.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
Antes da migração para o Japão, nenhum dos entrevistados tinha aplicação financeira
(poupança e fundos de investimentos). Ao retornarem do Japão, 27,27% sobrevivem somente com a
aplicação financeira que fizeram; 17,27% não tinham renda e atualmente todos possuem renda, seja
de aplicação financeira ou como funcionários, agricultores, autônomos ou donos de
estabelecimentos comerciais. Os entrevistados, anteriormente à migração para o Japão, 30,90%
tinham renda equivalente de 1 a 3 salários mínimos; atualmente esse número caiu para 2,27%;
37,27% dos entrevistados, tinham renda de 4 a 6 salários mínimos; atualmente este número é de
21,81%.
Os entrevistados que tinham renda de 7 a 9 salários mínimos anteriormente à
migração, correspondiam a 10,90%, sendo que atualmente esse número sofreu uma alteração,
aumentando para 32,72%. Os que tinham renda de 9 a 11 salários mínimos eram somente 0,90%;
atualmente tem-se um total de 5,45% dos entrevistados. Os que possuíam renda de mais de 11
salários mínimos eram 2,72%; atualmente tem-se um total de 10% dos dekasseguis com essa renda.
Através dos resultados obtidos, é possível afirmar que a renda dos dekasseguis que retornaram do
Japão aumentou. Mesmo tendo aumentado a renda (Gráfico 17) dos dekasseguis que retornaram do
Japão, 40% utilizam o dinheiro poupado no Japão para as despesas diárias e 60% não utilizam o
dinheiro que poupou. A renda que estão tendo com os investimentos no Brasil é suficiente para
manter as despesas do dia-a-dia, não precisando assim utilizar o dinheiro que pouparam no Japão.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
imóvel aqui em Machado, antes de falar o preço, a pessoa perguntou: Você é japonês, estava no
Japão? Daí, você vê, para os dekasseguis o preço é um, na maioria das vezes mais elevado, e para
outro comprador o preço é outro os primeiros dekasseguis não souberam investir...” (Entrevistado
Dekassegui, 37).
“Os dekasseguis de Machado fizeram os preços dos imóveis dobrar. Quando foram
comprar, não procuraram corretores, aquilo que a pessoa pedia pagava, as vezes dava até um
pouco a mais, achava bonito. Se era um valor de 100, pagava 110,00. Se formos comprar algum
imóvel e as pessoas ficarem sabendo que voltamos do Japão, eles pedem mais caro. Eu venho
acompanhando a economia do Brasil e todos os imóveis que ofereceram para mim em Machado era
acima do preço. Até o pessoal de Presidente Prudente fala que, o material das casas daqui é
diferente, perguntam se tem ouro. Os vendedores fazem a proposta e não arredam o pé, pois sabem
que a gente tem dinheiro para pagar e, as pessoas em geral não tem dinheiro” (Entrevistado
Dekassegui, 63).
Dos dekasseguis que relataram que Álvares Machado não é propício para
investimentos, 5,45% argumentaram que o município está localizado próximo a Presidente Prudente,
que é um município que possui uma expressividade muito maior (tendo uma população por volta de
180 mil habitantes), tanto na economia, como na educação e saúde.
Dos dekasseguis entrevistados, 40,90% disseram que Álvares Machado é propício
para investimentos, sendo que 26,36% relataram que investir no setor de imóveis urbanos para
aluguel é um bom negócio, 7,27% responderam que é bom investir em terras e 7,27% relataram que
é bom investir pois é uma cidade calma. Vale a pena ressaltar que, dos entrevistados, 93,63%
fizeram investimentos em Álvares Machado, mesmo que, do total, 59,09% consideram não ser um
município propício para investir. Qual é a razão de não ser bom para investimentos se 93,63%
investiram no município?
Os sonhos, mais uma vez , estão presentes na análise do movimento migratório dos
dekasseguis: a vontade de retornar para o lugar de origem e aplicar o dinheiro em alguma atividade
que dê um retorno mínimo para garantir que esse dekassegui fique no lugar de origem, faz com que
ele, mesmo sabendo dos riscos que está correndo, invista em Álvares Machado.
De acordo com os dekasseguis entrevistados, 78,18% não procuraram auxílio para
realizar os investimentos; 21,81% procuraram auxílio para investir. Dos que procuraram, 11,81%
141
recorreram ao SEBRAE47; 0,90% recorreu a livros; 8,18% recorreram aos parentes e 0,90% recorreu
às Agências Bancárias do próprio município.
Os investimentos são alguns dos fatores que instigam nos dekasseguis o desejo de
mudar de Álvares Machado para outras cidades que possibilitem maiores oportunidades no setor
comercial, pois de acordo com os entrevistados, 18,18% querem mudar de Álvares Machado
alegando querer investir em outro município, mas não sabem onde, e 81,81% relataram que não
querem se mudar pois é o lugar onde nasceram, têm família e amigos. Mais uma vez ,o lugar para o
migrante "fala mais alto" na decisão de ficar ou novamente migrar.
A questão da reinserção no mercado-de-trabalho brasileiro também foi algo que
procuramos analisar na pesquisa. Vejamos alguns resultados obtidos no Gráfico 19.
47 Tivemos a oportunidade de participar, ainda como aluna da graduação e posteriormente como aluna de pós-graduação, de dois
eventos promovidos pelo SEBRAE– Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e pelo CIATE – Centro de Apoio ao
Trabalhador no Exterior, ambos com escritório em Presidente Prudente. Nos dois eventos, foram várias as pautas de discussões, entre
elas a questão dos investimentos dos dekasseguis, já que estes eram a maioria do público e queriam informações de como iniciar um
negócio próprio. O SEBRAE tem um Programa chamado Projeto Dekassegui, criado no ano de 2001, que tem como objetivo auxiliar
os dekasseguis que queiram se tornar empreendedores. Na última reunião de que participamos (dezembro de 2001), uma Agência
Bancária de Presidente Prudente estava demonstrando uma linha de atendimento especial para os dekasseguis (Genkin Kakitome –
remessa expressa), é uma proposta de formação de um tipo de rede entre as agências brasileiras e os dekasseguis que ainda estão
trabalhando no Japão. Eles podem fazer remessas de dinheiro por essa agência, garantir a poupança em dólar, enfim, esse é um dos
serviços realizados por esse programa da agência bancária.
142
A adaptação à sociedade de origem após a migração para o Japão não foi tão difícil
para a maioria dos dekasseguis entrevistados, de acordo com o Gráfico 20.
143
80 72
70
60
50 38
40
30
20 14
9 6 4 5
10
0
Não, não Sim, foi Amigos Costumes Mexer No Brasil Não sabia
foi difícil difícil foram com não se em que
embora dinheiro ganha investir
dinheiro
SIM/NÃO - MOTIVOS
Dos dekasseguis entrevistados, 65,45% relataram que não foi difícil a adaptação em
Álvares Machado com o retorno do Japão e 34,54% relataram que foi difícil se adaptar, por várias
razões: 8,18% relataram que os amigos foram embora; 12,72% estranharam os costumes brasileiros,
por exemplo, jogar papel no chão, falar alto, ouvir músicas em volume alto, fazer propaganda na rua
com alto falante, a sujeira das grandes cidades etc; 5,45% sentiram dificuldade de utilizar o dinheiro
brasileiro; no início, não tinham noção do que era caro e do que era barato; 4,54% tiveram
dificuldades pois não sabiam em que investir. Vale a pena ressaltar que os dekasseguis que não
sentiram dificuldades de adaptação ao retornar para Álvares Machado são a maioria. Isso é um fato
novo dentro dos estudos de migração, pois estudos como de Oliveira (1999), revelam que a
adaptação ao lugar de origem é uma dificuldade muito grande no movimento dekassegui. Na análise
que estamos fazendo do movimento migratório dos dekasseguis em Álvares Machado, esse fato
mostra-se diferente e o atribuímos, novamente, à questão do lugar, pois Álvares Machado é um
município de 22.673 habitantes e as relações de amizades de cotidiano em cidades pequenas
contribuem para que o voltar da migração seja menos difícil e os familiares também são
fundamentais nesse processo do retorno ao lugar de origem.
Os investimentos, portanto, são uma garantia do dekassegui se estabelecer novamente
em Álvares Machado. Eles relataram que se estivessem trabalhando no Japão, ganhariam mais do
144
que no Brasil. Mas, nas entrevistas, ficou claro que o lugar deles é no Brasil, principalmente em
Álvares Machado. O sonho de poupar dinheiro, a maioria realizou; agora, pretendem encarar as
dificuldades da economia brasileira, pois não abrem mão de permanecer no lugar de origem e serem
reconhecidos pela identidade de cidadãos brasileiros. Outros porém, querem retornar para o Japão,
alegando que no Brasil ganha-se pouco. Esses, ficam nas idas e vindas do Brasil para o Japão,
tentando encontrar o seu lugar na sociedade.
De acordo com os entrevistados, 22,72% relataram que pretendem voltar para o
Japão; 57,27% não pretendem retornar ao Japão para trabalhar e 20% relataram que voltam se a
situação financeira piorar.
“O Japão é só para trabalhar, meu lugar é aqui no Brasil, em Álvares Machado, não
pretendo mais voltar para lá”. (Entrevistado Dekassegui, 06)
Dos dekasseguis entrevistados, 100% mantinham contato com os familiares quando
estavam no Japão. Eles relataram que para os amigos, de início escreviam cartas, mas com o passar
do tempo, perderam o contato com a maioria. A comunicação entre os dekasseguis no Japão e os
familiares que ficaram no Brasil também tem algumas fases: no início, escrever carta era um ato
rotineiro, tinham novidades para serem relatadas, mas, com o passar do tempo, a vida tornava-se
uma rotina, só trabalho, casa, trabalho. Nessa fase, os dekasseguis passaram a utilizar o telefone e
uma minoria a internet, alegando também não ter mais paciência para escrever sempre a mesma
coisa.
A migração, além de reflexos na sociedade, tanto de emigração como de imigração,
acarreta também algumas mudanças e experiências para os migrantes e para os que permaneceram,
pois de acordo com Martins (2002),
[...] é necessário pensar como migrante não apenas quem migra, mas o
conjunto da unidade social de referência do migrante que se desloca. Mesmo
que parte da família fique no lugar de origem e apenas outra parte se
desloque para o lugar de destino. No entanto, todos padecem as
conseqüências da migração, embora não sejam estatisticamente migrantes.
Todos vivem cotidianamente o sonho do reencontro. Vivem todos os dias a
espera do ausente... (MARTINS, 2002, p. 145)
Dos dekasseguis, 51,81% relataram que a melhor experiência como dekassegui foi
trabalhar no Japão e poupar dinheiro para retornar ao Brasil e investir, conquistando assim, os seus
sonhos; 16,36% responderam que foi bom conhecer um país diferente; 27,27% responderam que foi
bom conviver com outra cultura, com costumes e usos diferentes; 10% relataram que a experiência
como dekassegui proporcionou maior valorização da família, dos amigos que não migraram e do
próprio país, do seu lugar de origem; 14,54% responderam, também, que a experiência como
dekassegui fez com que o trabalho e o dinheiro fossem mais valorizados: de acordo com nossos
entrevistados, após a migração para o Japão, fazem planos em que gastar; 5,45% relataram que
migrar para o Japão foi bom do ponto de vista do amadurecimento: viver longe da família, criar
responsabilidade, principalmente para os jovens; porém, de início, de acordo com os entrevistados,
essa situação de solidão foi uma barreira a superar. Por fim, apenas 1,81% relatou que foi boa a
experiência no Japão, pois conviveu com pessoas diferentes, tendo que respeitar, na medida do
possível, a opinião do companheiro de trabalho ou mesmo de alojamento.
Vejamos alguns depoimentos dos nossos entrevistados em relação às experiências que
a migração como dekassegui no Japão proporcionou.
“De um lado, migrar para o Japão foi bom, foi uma experiência de vida. Quando
estamos no nosso país, temos a facilidade de comunicação. Lá é outro país, com língua, costumes,
tudo diferente. E também a rotina do dekassegui, serviço/casa/serviço, é muito difícil” (Entrevistado
Dekasssegui, 7).
“Foi bom conhecer outro país, viver sozinho, longe dos pais, foi bom para
amadurecer. No Japão, além de trabalhar , é preciso ter um pouco de lazer, se não ficamos loucos,
porque só ficamos pensando no dinheiro. É preciso alimentar-se bem, passear, arejar a cabeça, pois
o dia-a-dia do trabalho é muito pesado” (Entrevistado Dekassegui, 9).
“Foi bom trabalhar no Japão, aprendemos com os nossos próprios erros. A cultura é
bem diferente. Os brasileiros, é uma das partes mais difíceis, alguns ajudam, outros só querem
pisar, tem muita disputa dentro da fábrica. Mas valeu a pena, se eu não tivesse ido, não tinha minha
casa, estava morando com os meus pais, valeu o sacrifício. Além de sorte, tem que ter vontade de
trabalhar, produzir, os japoneses observam bem o esforço de cada um” (Entrevistado Dekassegui,
10).
acontecimentos ruins do Brasil, incêndios na floresta, favelas, o melhor que eles passam é o
carnaval. Eu ficava revoltado” (Entrevistado Dekassegui, 11).
“Foi bom ir para o Japão, conhecer um país diferente, pessoas diferentes. Lá só tem
japonês, aqui só brasileiro. É melhor morar aqui...” (Entrevistado Dekassegui, 12)
“Foi uma experiência boa e ruim, desde as coisas mais simples, como por exemplo,
organizar o espaço físico, jogar o lixo, conviver com pessoas diferentes, ter um outro tipo de
alimentação etc. Eu aprendi a ser mais organizado. Valeu migrar para o Japão pelo retorno
financeiro, se eu tivesse aqui não teria conseguido, só teria estudado, terminado a faculdade”
(Entrevistado Dekassegui, 18).
“Eu achei que trabalhar no Japão poderia ter sido pior. O único problema foi em
relação ao frio e à comida, que é bem diferente da brasileira; também fiquei longe do meu filho,
mas valeu, hoje posso pagar escola para ele, dar uma vida melhor, que não conseguiria dar se
tivesse ficado no Brasil” (Entrevistado Dekassegui, 27).
“ Não posso reclamar, tudo que tenho consegui trabalhando no Japão. Aprendi a dar
valor em tudo; tudo que conseguimos foi através da batalha do dia a dia e economizando; também
aprendi a ser mais forte, enfrentar as dificuldades, a me defender. O povo aqui não trabalha e
reclama. No Japão, além do trabalho na fábrica, nos finais de semana, eu e meu esposo, lavávamos
pratos no restaurante. Nós fomos para lá sem nada, eu tinha terminado a faculdade, não queria
depender dos meus pais, nem o meu marido. Depois que retornei do Japão, fiquei “pão-dura”, é
147
que eu penso bastante no futuro, tenho medo de precisar de médicos, remédio etc e não poder
pagar, por isso não gasto dinheiro a toa. Algumas pessoas como a minha irmã, não entendem isso,
acha que eu sou egoísta, mas não é, só eu sei o que eu sofri no Japão. Imagine trabalhar 15 horas
com os dedos doendo, com esparadrapo, e no final do expediente nem conseguir fechar a mão. É
muito difícil... (Entrevistado Dekassegui, 29)
“Foi bom ter ido para o Japão, primeiramente pelo retorno financeiro. Só
conhecíamos Machado, uma cidade pequena, de repente um avião muda tudo. O Brasil é o melhor
país para se viver, os que falta são os governantes parar de roubar e pagar um salário justo para as
pessoas não precisar sair do seu lugar. As pessoas no Japão são muito fechadas; aqui no Brasil
fazemos contato com as pessoas mais rápido. Mas os jovens japoneses estão mudando, eles querem
ser iguais aos ocidentais, são meio rebeldes, não aceitam a cultura rígida da sociedade japonesa”.
(Entrevistado Dekassegui, 36)
“Sonhar alto é bom, mas tem um preço. Fui para o Japão com dezoito anos, ficou um
espaço aberto na minha vida. Meus amigos que ficaram estudaram. Fiz minha vida fora do meu
país. Meu sonho foi para fora, agora estou pagando o preço de ter ficado longe, agora tenho
dificuldades. Pátria é Pátria. Se eu tivesse a mentalidade de hoje, não teria ido para o Japão,
dinheiro não é tudo. Para subir na vida, não precisa de dinheiro mas sim de esforço e força de
vontade” (Entrevistado Dekassegui, 49).
“Eu não gosto de morar no Japão, lá é só para trabalhar. Não gosto do sistema de
moradia, muito apertado, do modo de vida em geral. Lá só trabalha, final de semana compra
comida, não passeia. Só trabalho, mas o diferente daqui, é que lá tem dinheiro, mas não é feliz.
Aqui no Brasil, com este assistencialismo que ainda tem nos governos, o desempregado não morre
de fome; no Japão morre. No Brasil ,à tarde as pessoas estão tomando cerveja. A gente reclama que
o país não presta, mas aqui é o melhor lugar do mundo para se viver e morar” (Entrevistado
Dekassegui, 57).
“Foi bom trabalhar no Japão; eu era empregado, não tinha preocupação, todo dia
era a mesma rotina, diferente do Brasil, que eu tinha uma firma. Em relação à comida, foi um
pouco difícil, pois é doce, mas acostumei. O problema lá é só a dificuldade de arrumar serviço, do
resto é tudo bom. Hoje tem bastante loja de produto brasileiro. Os trabalhadores japoneses não
gostam dos brasileiros, porque trabalhamos mais e por isso somos melhor aceitos. Os japoneses
148
não tem que trabalhar no ritmo dos brasileiros, que é bem rápido, e eles não gostam” (Entrevistado
Dekassegui, 66).
“Nós tivemos dois momentos no Japão, um ruim, era quando tínhamos intenções de
retornar e tínhamos medo de não conseguir trabalhar no Brasil. A falta de um sonho é a pior coisa
para um ser humano. Quando conhecemos a empresa da qual adquirimos uma franquia, os sonhos
voltaram. Os sonhos de retornar para o Brasil, morar na casa que a gente tinha comprado e, morar
em Machado, principalmente. Estamos devagar conquistando os nossos sonhos. Muita gente no
Japão tem essa preocupação” (Entrevistado Dekassegui, 77).
Através das informações e dos depoimentos dos dekasseguis, percebemos que cada
um teve uma experiência durante a migração para o Japão. De uma maneira geral, os dekasseguis
entrevistados migram em busca dos sonhos, e durante o tempo da migração, tentam se adaptar ao
lugar de trabalho para conseguir suportar o tempo necessário para economizar uma quantia de
dinheiro e retornar para o lugar de origem. Muitos elegeram, como uma experiência boa, viver num
país diferente, numa cultura diferente. Vale a pena ressaltar o diferente no movimento dekassegui:
mesmo para os que são descendentes de japoneses, o Japão é uma cultura diferente, pois não é a
cultura do país de origem. Não poderíamos deixar de considerar essa experiência dos nossos
entrevistados, o que também é um fator importante para entendermos este movimento migratório.
149
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
significava ascensão social na época (década de 1920, 1930, 1940 até 1970). Os imigrantes
japoneses, com o passar do tempo, fizeram do Brasil o lugar da conquista dos seus sonhos. As
relações sociais foram sendo estabelecidas no lugar onde esses imigrantes foram residir, tornando o
Brasil, o seu lugar social não somente de trabalho como no início da imigração.
No movimento migratório dos dekasseguis brasileiros para o Japão, como no
movimento migratório dos japoneses para o Brasil, os sonhos estão atrelados ao fator econômico.
O dekassegui parte de seu lugar de origem para trabalhar em atividades que não exigem
qualificação, atividades essas que os japoneses, principalmente os jovens, não querem desempenhar.
Submetem-se à longas jornadas de trabalho, para acumular uma quantia de dinheiro que possibilite
ao migrante realizar seus sonhos no lugar de origem. Mas, quais os sonhos que estão presentes no
movimento dekassegui? Sonhos de comprar um imóvel (para residência ou para aluguel),
propriedade rural (dos entrevistados, grande parte era ou os pais eram agricultores antes da
migração), adquirir bens móveis como veículos de passeio ou de transporte de cargas, ou mesmo
garantir um padrão de vida que não estava sendo possível manter antes da migração para o Japão,
devido às sucessivas crises da economia brasileira.
Verificamos, também, que os lugares de emigração/imigração (sonhos
perdidos/possíveis), não são os mesmos ao longo do tempo. Temos fluxos migratórios diferentes,
estando relacionados com a concentração e centralização do capital em determinado território.
Assim, para o entendimento do movimento migratório entre o Brasil e o Japão,
denominamos os lugares de migração como dos sonhos perdidos, possíveis e de conquista. Em
relação à imigração dos japoneses para o Brasil, consideramos o Japão, no início do século XX,
como o lugar dos sonhos perdidos, devido às crises por que passava a sociedade japonesa, e a
emigração, portanto, era uma alternativa viável. Por sua vez, o Brasil representava o lugar dos
sonhos possíveis, pois oferecia aos imigrantes a possibilidade de trabalhar e acumular uma certa
quantia de dinheiro (algo que não estava sendo possível no Japão). O Japão poderia tornar-se o lugar
da conquista dos sonhos após alguns anos de imigração no Brasil; porém, impossibilitados de
retornar, os japoneses fizeram do Brasil o lugar da conquista dos seus sonhos, compraram terras a
fim de trabalhar com agricultura e também se dedicaram a atividades ligadas ao setor comercial.
Lutaram para conseguir a prosperidade econômica, mesmo estando num lugar que não era o de
origem, principalmente quando migraram para Álvares Machado, lugar que conseguiram ser
proprietários de terras.
152
município (um deles o ITBI), como também para a valorização dos bairros onde estão sendo
realizados os investimentos. Na zona rural, os dekasseguis também investem, comprando terras.
Mas a agricultura não é mais a única atividade com a qual se ocupam. Após a migração, a criação de
gado passou a ser uma das atividades dos dekasseguis no campo; também há os que utilizam a
propriedade para atividades de recreação como os pesque-pague, chácaras de aluguel para fins de
semana etc. São outras atividades que vão surgindo no espaço rural do município de Álvares
Machado com os investimentos dos dekasseguis que retornaram, ou que remeteram dinheiro para
algum membro da família que não migrou, a fim de realizar os investimentos.
Além dos imóveis urbanos e rurais, os dekasseguis dedicaram-se também às
atividades comerciais que estão concentradas na área central de Álvares Machado: são lojas de
presentes, lanchonetes, mini-mercados, distribuidora de água e gás de cozinha, salão de cabeleireiro,
vidraçaria etc. Verificamos também que uma parcela dos que retornaram se inseriram novamente no
mercado-de-trabalho formal, fizeram aplicações financeiras, porém alegam que sentem falta do
salário do Japão, pois, aqui no Brasil, os salários e os rendimentos dos investimentos são bem
inferiores. Mas, relataram que preferem ficar no Brasil, pois é o lugar onde nasceram ", é o melhor
lugar para se viver".
Os investimentos dos dekasseguis em Álvares Machado acarretam impactos
principalmente na economia, haja vista, os dados que levantamos sobre a arrecadação de impostos
(ITBI e IPTU) do período anterior e posterior aos investimentos dos dekasseguis no município.
Esses investimentos estão mais presentes em partes da paisagem, principalmente quando analisamos
a dinâmica do setor imobiliário de Álvares Machado. Os melhores terrenos, casas e propriedades
rurais são negociadas pelos dekasseguis.
Vemos hoje que a dinâmica do mundo não é igual a de cem anos atrás. O movimento
migratório de escala global, como dos brasileiros que vão para o Japão, assim como dos brasileiros
que migram para outros países desenvolvidos, acarreta impactos numa escala local. O migrante
submete-se a exercer as atividades mais desqualificadas do mercado-de-trabalho dos países centrais,
pois sabe que é de caráter temporário. O objetivo do migrante é sempre o retorno e é isso que o
sustenta. O migrante temporário vive em dois lugares: o de trabalho e o de origem.
Retornar para o lugar de origem pode acarretar algumas dificuldades, pois os lugares
são dinâmicos, modificam-se com o tempo, as pessoas também não são as mesmas. Mesmo que o
lugar de origem do migrante seja um município pequeno como Álvares Machado, as dificuldades
154
principalmente nos primeiros meses do retorno fazem parte da vida do dekassegui, a família, será
uma ponte para o migrante se reinserir na sociedade de origem.
6. BIBLIOGRAFIA CITADA
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VIEIRA, Maria Margareth Garcia. A globalização e as relações de trabalho. Curitiba: Juruá, 2000.
ANEXO
161
Primeiro Trabalho de Campo: Questionário aplicado junto às famílias japonesas e de descendência, residentes
em Álvares Machado – SP (Janeiro/Fevereiro/2002)
DATA: ___/___/_____
1. Entrevistado Número:
2. Situação Civil:
( ) casado ( ) solteiro ( ) viúvo ( ) divorciado
3. Idade: ______ anos
4. Local de Nascimento:
Brasil ( ) Estado/Cidade: ____________________
Japão ( ) Estado: __________________________
5. Quanto aos seus pais. Eram/São japoneses? ( ) Sim ( ) Não
6. Em qual Província/cidade eles nasceram?_________________
7. Quais as atividades econômicas que desenvolviam no Japão? __________________________
8. Qual o ano de chegou no Brasil como imigrante? _______________________
9. Veio com a família para o Brasil? ( ) S ( ) N Quem eram as pessoas?
___________________________________________________________________________
10. Por que veio trabalhar no Brasil? ________________________________________________
162
*SOBRE OS FILHOS*
31. O Sr./Sra. tem filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos? ___________
31. Qual o grau de escolaridade deles? Profissão?
( ) alfabetizado ( ) ensino fund. ( ) ensino médio ( ) superior ( ) pós-graduação
32. Todos residem em AM.? ( ) Sim ( ) Não Onde eles residem?
____________________________________________________________________
33. Algum dos filhos migraram para o Japão como dekassegui? ( ) Sim ( ) Não
34. Em que ano eles migraram? ______________
35. Por que eles migraram?_______________________________________________________
163
Primeiro Trabalho de Campo: Questionário aplicado junto aos dekasseguis residentes em Álvares Machado/
Março-Abril/2002
1) Entrevistado número:
2) Idade:
3) Descendente de japonês ou cônjuge de descendente? ( ) D ( ) C
4) Sexo: ( ) F ( ) M
5) Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Viúvo
6) Qual a geração o Sr. Sr.ª pertence?
( ) issei ( ) nissei ( ) sansei ( ) yonsei ( ) gossei
6) O Sr./Sr.ª tem irmãos/ãs? ( ) S ( ) N Quantos? _____Todos migraram para o Japão?
( ) S ( ) N Eles residem em Álvares Machado? ( ) S ( ) N Onde residem? ______________
164
( ) Sim ( ) Não Caso tenha voltado, quantas vezes? ( ) uma vez ( ) duas vezes ( ) três vezes ( )
quatro vezes ( ) mais de quatro vezes
4) O Sr./Sr.ª já foi mais de uma vez para o Japão? ( ) S ( ) N Quantas vezes? ( ) uma vez ( ) duas vezes
( ) três vezes ( ) quatro vezes ( ) mais de quatro vezes
5) Quantos anos o Sr./ Sr.ª permaneceu no Japão (com as idas e vindas) ___________________
6) Qual(is) o (s) estado (s) que o Sr./Sr.ª trabalhou no Japão quando dekassegui?
____________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
7) Que tipo de visto que possuía?__________________________________________________
8) Quando migrou para o Japão já tinha emprego? ( ) S ( ) N Como conseguiu? ( ) Agência ( )
Apresentação de amigos/parentes ( ) Outros _____________________________________
9) A passagem foi financiada? ( ) S ( ) N Quanto tempo ficou pagando? _________________
10) 2
11) O Sr./Sr.ª já tinha parentes/amigos no Japão? ( ) S ( ) N Mantinha contato com eles quando estava lá?
( )S ( )N
11) Quando migrou foi: ( ) sozinho ( ) família/membros__________________ ( ) amigos
12) O Sr./Sr.ª mudou de emprego no Japão? ( ) S ( ) N Quanta vezes? _____________________
13) Qual o critério utilizado que o Sr./Sr.ª para mudar de emprego no Japão? ( ) maior remuneração por hora
( ) mais horas extras ( ) tipo de serviço adequado ( ) facilidade de acesso ao administrador ( ) local
de trabalho acolhedor ( ) sociedade local acolhedora
14) ( ) serviços leves ( ) outros __________________________________________________
15) Qual a atividade que exercia no Japão? ___________________________________________
______________________________________________________________________________
16) Quanto era o salário base no Japão? ______________________________________________
17) Quanto conseguia poupar por mês? ______________________________________________
18) Qual era a jornada de trabalho diária (incluindo horas extras)? _________________________
19) Qual era o turno de serviço? ( ) Diurno ( ) Noturno ( ) Diurno e Noturno
19) O Sr./Sr.ª utiliza o dinheiro poupado no Japão para as despesas diárias? ( ) S ( ) N
20) Como era a moradia no Japão? ( ) alojamento ou residência alugado pela empresa ( ) casa/apartamento
alugado com ajuda parcial da empresa ( ) residência por conta própria ( ) outros
21) Quantas pessoas moravam na casa? ________ Eram todos brasileiros ( ) S ( ) N Qual era a etnia?
______________________________________________________________________
22) Como era o relacionamento com amigos e chefes de serviço? ( ) muito bom ( ) bom ( ) regular ( )
ruim
23) Qual o problema que mais lhe afligiu no Japão? (até 3 alternativa) ( ) saudades do Brasil ( )
dificuldade de comunicação (língua) ( ) relacionamento humano dentro do trabalho ( ) alimentação
( ) trabalha-se demais no Japão ( ) não consegui acompanhar o modo de vida japonês ( ) outros
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24) Como era o relacionamento do Sr./Sr.ª com os japoneses no local de trabalho e na sociedade local? ( )
ativo ( ) não muito constante ( ) raras vezes tinha contato
C) O RETORNO DO JAPÃO
6) O Sr./Sr.ª acredita que Álv. Machado é um município propício para investimentos? ( ) S ( ) N por quê?
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________________7)O Sr./Sr.ª procurou alguma assistência para realizar os investimentos? Como por
exemplo: Bancos, SEBRAE, Prefeitura Municipal, Engenheiros Agrônomos, Colônia Japonesa? ( ) S ( ) N
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8) O Sr./Sr.ª pensou em mudar-se para outra cidade após ter retornado do Japão? ( ) S ( ) N Por quê?
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11) Foi difícil a inserção na sociedade brasileira após a migração para o Japão? ( ) S ( ) N
12) Quais as dificuldade que o Sr./Sr.ª encontrou? ______________________________________
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D) PERSPECTIVAS
1) Qual a experiência que o Sr./Sr.ª tirou do tempo que ficou no Japão? Por exemplo, viver num país
diferente, o Sr./Sr.ª conseguiu realizar os seus sonhos (alcançar os objetivos propostos com a migração
para o Japão? ( ) Sim ( ) Não Por quê?
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2) Pretende voltar ao Japão? ( ) S ( ) N ( ) Talvez
3) Quando migrou, a família apoiou a decisão? ( ) S ( ) N Por quê?
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4) Quando estava no Japão, mantinha contato com os familiares/amigos no Brasil? ( ) S ( ) N
Caso tenha respondido sim: Por ( ) carta ( ) telefone ( ) internet
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