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UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DENISE CRISTINA BOMTEMPO

OS SONHOS DA MIGRAÇÃO:
UM ESTUDO DOS JAPONESES E SEUS DESCENDENTES NO
MUNICÍPIO DE ÁLVARES MACHADO - SP

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Presidente Prudente
2

2003
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Campus de Presidente Prudente

DENISE CRISTINA BOMTEMPO

OS SONHOS DA MIGRAÇÃO:
UM ESTUDO DOS JAPONESES E SEUS DESCENDENTES NO MUNICÍPIO
DE ÁLVARES MACHADO-SP
4

Presidente Prudente
2003
Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação –
UNESP – FCT – Campus de Presidente Prudente

Bomtempo, Denise Cristina.


B684s Os Sonhos da migração : um estudo dos japoneses e seus
descendentes no município de Álvares Machado-SP / Denise
Cristina Bomtempo. – Presidente Prudente : [s.n.], 2003
178 f. : il., graf., tab. + mapas

Dissertação (mestrado). - Universidade Estadual Paulista,


Faculdade de Ciências e Tecnologia
Orientador: Eliseu Savério Sposito

1. Migração. 2. Dekasseguis – Álvares Machado (SP). 3.


Brasil - Japão. I. Bomtempo, Denise Cristina. II. Título.
CDD (18.ed.) 910

BANCA EXAMINADORA

_________________________________
Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito
Orientador

_________________________________
Profa. Dra. Alice Yatiyo Asari (UEL)
6

__________________________________________
Prof. Dr. Marcos Aurélio Saquet (UNIOESTE)
Orientador

_________________________________
Denise Cristina Bomtempo

Presidente Prudente (SP), 23 de Junho de 2003.

Resultado: APROVADA.
8

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível graças à colaboração direta de muitas


pessoas. Entre elas, agradecemos:
a meus maiores amores: meus pais Valdomiro Bomtempo - um grande homem e
Creuza Bomtempo - uma grande mulher, e, meu irmão Matheus Bomtempo - ainda um médio
homem... Obrigada pela dedicação, amor e compreensão por toda a vida;
ao meu companheiro Marcelino Makiyama: apesar das diferenças, foi possível
crescermos juntos. Obrigada pelo apoio durante a realização do trabalho. Sua crítica construtiva foi
decisiva;
ao Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito, amigo e orientador, que contribuiu desde a
iniciação científica para que esta pesquisa pudesse ser "concluída". Muito obrigada pelo
companheirismo, pela liberdade, criticidade e pelas contribuições teóricas disponibilizadas durante
os anos de trabalho;
à Profª. Dr.ª Rosângela Ap. de Medeiros Hespanhol, pela assistência durante a
realização da pesquisa, bem como no Exame de Qualificação;
à Profª. Dr.ª Alice Yatiyo Asari, pela dedicação, apoio e contribuições desde os
primeiros passos deste trabalho;
à Profª. Dr.ª Aparecida Donizetti Pires de Souza (Departamento de Matemática), pelo
auxílio na seleção dos questionários a serem aplicados;
à Coordenação e aos professores dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em
Geografia pelos anos de aprendizado mútuo;
à Maria Akinaga Botti pela confecção dos mapas e à Flora Sato pelas dicas;
à Nair K. Tokujima, à Lúcia C. de Castro e à Neide de Oliveira, do Departamento de
Geografia da FCT/UNESP, pela amizade desde a Graduação;
aos funcionários da Seção de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, pela
atenção;
a todos os funcionários da FCT/UNESP, com os quais convivemos desde a Graduação
até a conclusão deste trabalho, em especial a D. Marilda e Fátima, funcionárias da Biblioteca e ao
Ademar , funcionário da Limpeza;
a todos os meus amigos da Graduação e Pós-Graduação, em especial: Luciene
Xavier; Janaína Jurca; Adriano de Oliveira; Marcelo dos Santos; Marcelo Del Rio; Liz Cristiane;
Sérgio Aurélio; Jean Rodrigues; Marcelo Chelloti; Oscar Sobarzo; Terezinha Serafim, Marcos
Matushima, Jones Dari Goetterd, Marcelo Mendonça, Dinalva, Rusvênia da Silva e Vitor
Miyazaki... Obrigada pelos momentos de discussões e de festa. Por que não?
a todos os professores e alunos do GAsPERR - Grupo Acadêmico de Produção do
Espaço e Redefinições Regionais;
à Adriana Zangirolani, da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de
Álvares Machado pelo apoio na obtenção dos dados (ITBI);
ao Sr. João F. Ascêncio, responsável pelo Cartório de Registros Civil e de Imóveis de
Álvares Machado, pela confiança e apoio na obtenção de dados;
aos funcionários da Casa da Agricultura de Álvares Machado, pelas informações
concedidas, principalmente ao Sr. Ângelo Matsumoto;
à Professora Maria Suniga, pelo companheirismo, desde o ensino fundamental;
ao profissional e amigo Álvaro Barbosa, pelo apoio durante a tabulação dos dados da
pesquisa;
às Senhoras Elza Ishike e Izabel Mizobe, a às amigas Vera e Sandra Yoshihara, pelo
apoio durante a pesquisa de campo;
ao Sr. Vicente Yoshihara, pela atenção e confiança durante a realização do trabalho de
campo, nas reuniões no seu estabelecimento comercial...
aos membros da Diretoria da Associação Nipo-Brasileira de Álvares Machado, em
especial ao Sr. Mário Kuribayashi e Sr. Hissão Koumegawa;
10

à todas às famílias japonesas e nisseis e aos dekasseguis que me acolheram e


contribuíram para que este trabalho pudesse ser realizado. Sem a confiança e a compreensão de
todos vocês seria impossível, pensarmos nos nossos sonhos...
aos meus Tios Manoel e José Cecílio, pelo transporte para a realização do trabalho de
campo na zona rural de Álvares Machado. Foi uma aventura...
à FAPESP e à CAPES, pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa.
Enfim, agradeço a todos que, em algum momento, contribuíram para a realização
deste trabalho.

"Quando o homem perder a capacidade de ter esperança, pode

apagar o arco-íris".
Mário Lago
12

SUMÁRIO

PÁGINAS

Índice......................................................................................................................................... II
Índice de Mapas....................................................................................................................... III
Índice de Quadros e Tabelas................................................................................................... IV
Índice de Gráficos.................................................................................................................... V
Índice de Fotos......................................................................................................................... VI
Siglas......................................................................................................................................... VII
Resumo..................................................................................................................................... VIII
Abstract.................................................................................................................................... IX
Introdução................................................................................................................................ 1
CAPÍTULO 1: Migração, Trabalho e Lugar........................................................................ 11
CAPÍTULO 2: O Lugar no Movimento Migratório dos Japoneses para o Brasil e dos
Dekasseguis Brasileiros para o Japão................................................................................... 30
CAPÍTULO 3: Álvares Machado: o Lugar dos Sonhos Possíveis, Conquistados e
Perdidos na Imigração dos Japoneses e seus Descendentes................................................... 59
CAPÍTULO 4: Álvares Machado: o Lugar dos Sonhos Perdidos e Conquistados no
Movimento Migratório dos 93
Dekasseguis..................................................................................
Considerações Finais................................................................................................................. 155
Bibliografia Citada.................................................................................................................... 160
Bibliografia Consultada............................................................................................................ 163
Anexos I e II.............................................................................................................................. 165
13

ÍNDICE
PÁGINAS
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 01
Capítulo 1: Migração, Trabalho e Lugar......................................................................... 11
1.1. Migração e lugar ao Longo do Tempo........................................................................... 11
1.2. O Trabalho e os Movimentos Migratórios..................................................................... 20
Capítulo 2: O Lugar no Movimento Migratório dos Japoneses para o Brasil e dos
Dekasseguis Brasileiros para o Japão............................................................................... 30
2.1. A Imigração Japonesa no Brasil.................................................................................... 34
2.2. Os Movimentos Migratórios Internacionais e a Migração de Brasileiros para o
Japão: algumas considerações............................................. ................................................ 42
Capítulo 3: Álvares Machado - O Lugar dos Sonhos Possíveis, Conquistados e
Perdidos na Imigração dos Japoneses e seus Descendentes............................................ 59
3.1. A Formação do Município de Álvares Machado............................................................ 59
3.2. A Presença dos Imigrantes Japoneses no Município de Álvares Machado- O Lugar
dos Sonhos Possíveis e de Conquista................................................................................... 64
3.3. A Família dos Entrevistados - Imigrantes no Brasil...................................................... 77
Capítulo 4: Álvares Machado: O Lugar dos Sonhos Perdidos e Conquistados no
Movimento Migratório dos Dekasseguis........................................................................... 93
4.1. Perfil dos Dekasseguis de Álvares Machado................................................................. 94
4.2. Migração Para o Japão................................................................................................... 100
4.3. O Retorno Para o Brasil - O Lugar da Conquista dos Sonhos....................................... 115
4.4. Os Investimentos dos Dekasseguis no Município de Álvares Machado....................... 120
4.4.1. Imóveis Negociados em Álvares Machado na Década de 1980......................... 124
4.4.2. Imóveis Negociados em Álvares Machado na Década de 1990......................... 127
4.4.3. Imóveis Negociados em Álvares Machado nos Anos 2000, 2001 e 2002.......... 134
5. Considerações Finais...................................................................................................... 155
6. Bibliografia Citada......................................................................................................... 160
7. Bibliografia Consultada................................................................................................. 163
Anexo I e II........................................................................... .............................................. 165

ÍNDICE DE MAPAS
PÁGINAS
Mapa 1: Procedência das famílias japonesas, com entrada no Estado de São Paulo (1917
a 1922) ................................................................................................................................. 38
Mapa 2: Distribuição das famílias de imigrantes japoneses no Estado de São Paulo (1917-1922) . 39
14

Mapa 3: Dekasseguis brasileiros no Japão, por província/2000.......................................... 56


Mapa 4: Localização de Álvares Machado........................................................................... 61
Mapa 5:Procedência das famílias de imigrantes residentes no município de Álvares
Machado (1942) ................................................................................................................... 62
Mapa 6: Local de nascimento dos entrevistados no Brasil................................................... 75
Mapa 6.1:Província de nascimento dos pais e dos entrevistados japoneses......................... 76
Mapa 6.2:Local de nascimento dos dekasseguis.................................................................. 98
Mapa 7: Local de permanência dos dekasseguis de Álvares Machado no Japão................. 103
Mapa 8: Imóveis urbanos negociados em Álvares Machado na década de 1980................. 125
Mapa 8.1: Imóveis rurais negociados em Álvares Machado na década de 1980................. 126
Mapa 09: Imóveis urbanos negociados em Álvares Machado na década de 1990............... 128
Mapa 9.1: Imóveis rurais negociados em Álvares Machado na década de 1990................. 129
Mapa 9.2: Imóveis urbanos negociados pelos dekasseguis em Álvares Machado na
década de 1990...................................................................................................................... 132
Mapa 9.3: Imóveis rurais negociados na década de 1990 pelos dekasseguis, no município
de Álvares Machado............................................................................................................. 133
Mapa 10: Imóveis urbanos negociados em Álvares Machado nos anos de 2000, 2001 e
2002...................................................................................................................................... 136
Mapa 10.1: Imóveis rurais negociados em Álvares Machado nos anos de 2000, 2001 e
2002...................................................................................................................................... 137
Mapa 10.2: Imóveis urbanos negociados pelos dekasseguis em Álvares Machado nos
anos de 2000, 2001 e 2002.................................................................................................... 138
Mapa 10.3: Imóveis rurais negociados pelos dekasseguis em Álvares Machado nos anos
de 2000, 2001 e 2002............................................................................................................ 139
Mapa 11: Localização dos imóveis negociados pelos dekasseguis entrevistados na área
urbana de Álvares Machado................................................................................................. 142

ÍNDICE DE QUADROS E TABELAS

PÁGINAS
QUADROS
Quadro 1: A imigração japonesa no Brasil........................................................................... 36
Quadro 2: Movimento migratório dos dekasseguis brasileiros para o Japão -
características da década de 1980 a meados de 1990........................................................... 50
Quadro 3: População de Álvares Machado (1950 - 2000) ................................................... 59
Quadro 4: Crédito rural para a agricultura no município de Álvares Machado-SP.............. 85
15

Quadro 5: Receita, Arrecadação de IPTU e Depósitos Bancários do município de


Álvares Machado-SP (1980 - 2000)..................................................................................... 122

TABELAS
Tabela 1: Brasileiros no Exterior........................................................................................ 44
Tabela 2: Motivos da Emigração do Japão para Brasil....................................................... 71
Tabela 3: Local de moradia dos imigrantes japoneses quando chegaram a Álvares
Machado................................................................................................................................ 80
Tabela 4: Tempo de permanência dos imigrantes japoneses na zona rural de Álvares
Machado................................................................................................................................ 84
Tabela 5: Locais e tipos de atividades desenvolvidas pelos dekasseguis no Japão.............. 108
Tabela 6: Economia dos dekasseguis de Álvares Machado................................................. 112
Tabela 7: Atividades comerciais e prestação de serviços dos dekasseguis quando
retornaram do Japão.............................................................................................................. 119
Tabela 8: Arrecadação de Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) do município
de Álvares Machado - décadas de 1980, 1990 até 2002....................................................... 140

ÍNDICE DE GRÁFICOS
PÁGINAS
Gráfico 1: Dekasseguis sul-americanos no Japão............................................................. 48
Gráfico 2: Ano de chegada em Álvares Machado dos japoneses e nisseis....................... 65
Gráfico 3: Situação civil e descendência dos cônjuges dos japoneses e nisseis............... 68
Gráfico 4: Escolaridade dos japoneses e nisseis............................................................... 69
Gráfico 5: Japoneses e nisseis - vontade de ir para o Japão.............................................. 72
Gráfico 6: Japoneses e nisseis - gostam de residir em Álvares Machado?....................... 73
Gráfico 7: Importância dos japoneses e nisseis para Álvares Machado........................... 90
Gráfico 8: Idade dos dekasseguis de Álvares Machado................................................... 95
Gráfico 9: Grau de escolaridade dos dekasseguis de Álvares Machado.......................... 96
16

Gráfico 10: Ano de migração para o Japão........................................................................ 101


Gráfico 11: Motivos da migração para o Japão.................................................................. 104
Gráfico 12: Os dekasseguis tinham ou não trabalho quando migraram do Brasil para o
Japão? ................................................................................................................................ 106
Gráfico 13: Remuneração e poupança dos dekasseguis quando estavam no Japão........... 109
Gráfico 14: Dekasseguis - ano de retorno para o Brasil..................................................... 117
Gráfico 15: Atividades remuneradas desenvolvidas pelos dekasseguis, antes e após a
migração para o Japão........................................................................................................ 118
Gráfico 16: Investimentos dos dekasseguis em Álvares Machado.................................... 123
Gráfico 17: Renda dos dekasseguis antes e após a migração para o Japão....................... 143
Gráfico 18: Álvares Machado - é um município propício para investimentos.................. 144
Gráfico 19: Quando retornou ao Brasil, procurou emprego?............................................ 146
Gráfico 20: Foi difícil a adaptação em Álvares Machado após o retorno do Japão?........ 148
Gráfico 21: Experiência no Japão como dekassegui.......................................................... 150

ÍNDICE DE FOTOS
PÁGINAS
Foto 1: Comércio de imigrantes japoneses - AM, 1938................................................................. 166
Foto 2: Estação Ferroviária de AM, 1930...................................................................................... 166
Foto 3: Comércio de imigrantes japoneses - AM, 1938................................................................. 166
Foto 4: Produção de bicho da seda - AM, 1938............................................................................. 166
Foto 5: Casa de imigrantes japoneses - AM - Bairro Guaiçara, 1940............................................ 166
Foto 6: Obondori - dança típica - Shokon-Sai, 1940...................................................................... 166
Foto 7: Construção da ponte do Bairro Guaiçara - AM, década de 1940...................................... 167
Foto 8: Shokon-Sai - Primeira Escola - Bairro Brejão - AM, 1940............................................... 167
Foto 9: Comemoração do Cinqüentenário da imigração japonesa em AM, 1968......................... 167
Foto 10: Imigrantes japoneses no Japão antes de vir para o Brasil - província de Fukuoka, sem
data.................................................................................................................................................. 167
Foto 11: Cemitério japonês de Álv. Machado- comemoração do Shokon-Sai, jul/2002................ 168
Foto 12: Cemitério japonês de Álv. Machado- comemoração do Shokon-Sai (danças típicas),
jul/2002............................................................................................................................................ 168
Foto 13: Comércio de imigrantes japoneses - Av. das Américas - Centro - AM, fev/2002........... 168
Foto 14: Propriedade de imigrantes japoneses - barracão de granja abandonado - Bairro
Limoeiro - AM, fev/2002................................................................................................................ 168
Foto 15: Antiga escola construída pelos imigrantes japoneses no Bairro Guaiçara - AM,
fev/2002........................................................................................................................................... 168
17

Foto 16: Meio de transporte utilizado pelos dekasseguis, mar/2002.............................................. 169


Foto 17: A conquista dos sonhos dos dekasseguis no Japão, mar/2002......................................... 169
Foto 18: Dekasseguis brasileiros trabalhando no Japão, mar/2002................................................ 169
Foto 19: Dekasseguis brasileiros trabalhando no Japão, mar/2002................................................ 169
Foto 20: Pequenas empresas - local de trabalho dos dekasseguis, mar/2002................................. 169
Foto 21: Local de residência dos dekasseguis no Japão, mar/2002................................................ 170
Foto 22: Dekasseguis comemorando o carnaval no Japão, mar/2002............................................ 170
Foto 23: Reunião da Associação dos dekasseguis no Japão, mar/2002.......................................... 170
Foto 24: Filhos dos dekasseguis em escola no Japão, mar/2002.................................................... 170
Foto 25: Paisagem de inverno no Japão, mar/2002........................................................................ 170
Foto 26: Investimentos dos dekasseguis em Álv. Machado - B. Limoeiro, mar/2002................... 171
Foto 27: Propriedade dos imigrantes japoneses c/ investimentos dos dekasseguis (fruticultura).. 171
Foto 28: Propriedade dos imigrantes japoneses c/ investimentos dos dekasseguis (cultivo de
flores) ............................................................................................................................................. 171
Foto 29: Propriedade dos imigrantes japoneses c/ investimentos dos dekasseguis (recreação)..... 171
Foto 30: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel - Comércio)- área central de AM,
mar/2002.......................................................................................................................................... 171

Foto 31: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel - Comércio)- área central de AM,
mar/2002.......................................................................................................................................... 171
Foto 32: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel - Comércio)- área central de AM,
mar/2002.......................................................................................................................................... 172
Foto 33: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel - Comércio)- área central de AM,
mar/2002.......................................................................................................................................... 172
Foto 34: Investimentos dos dekasseguis (imóveis residência)- área central de AM, mar/2002..... 172
Foto 35: Investimentos dos dekasseguis (imóveis p/ aluguel)- área central de AM, mar/2002...... 172
Foto 36: Investimentos dos dekasseguis (imóveis terrenos)- Jd. Raio do Sol- AM, mar/2002...... 172
Foto 37: Investimentos dos dekasseguis (construção de clínica de massagens)- Jd. Raio do Sol -
AM, mar/2002................................................................................................................................. 172

SIGLAS

GAsPERR - Grupo Acadêmico de Produção do Espaço e Redefinições Regionais


FCT - Faculdade de Ciências e Tecnologia
UNESP - Universidade Estadual Paulista
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior
CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa
FFLCH - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
USP - Universidade de São Paulo
UNICAMP - Universidade de Campinas
CEM - Centro de Estudos Migratórios
18

CIATE - Centro de Apoio ao Trabalhador no Exterior


ITBI - Imposto de Transmissão de Bens Imóveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado de São Paulo
T.C. - Trabalho de Campo
A.M. - Álvares Machado
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEADE - Sistema Estadual de Análise de Dados
JICA - Japan International Cooperation Agency
IGP-DI - Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna
FGV - Fundação Getúlio Vargas

RESUMO

Palavras-Chave: migração; lugar; tempo; Brasil; Japão; dekasseguis.

Na pesquisa, buscamos entender os lugares no movimento migratório, que não são sempre os mesmos ao
longo do tempo, pela própria dinâmica do capitalismo que pode/ou não centralizar/concentrar capital num
dado território, refletindo assim na migração. Objetivamos na pesquisa, analisar o movimento migratório
entre o Brasil e o Japão em tempos diferentes, ou seja a imigração dos japoneses para o Brasil, que teve início
nos primeiros anos do século XX e dos dekasseguis brasileiros para o Japão, que se iniciou na década de
1980 do mesmo século. Do ponto de vista da imigração japonesa, buscamos as informações visando entender
a contribuição dos japoneses e seus descendentes na própria formação do município de Álvares Machado, e,
na migração dos dekasseguis brasileiros para o Japão, buscamos analisar se houve ou não impactos
19

decorrentes dos investimentos realizados por eles. Para a realização da pesquisa, num primeiro momento,
fizemos uma ampla pesquisa bibliográfica sobre a temática abordada, não só na Geografia como na História,
Sociologia, Antropologia e Economia. Coletamos dados secundários no IBGE, CIATE, SEADE, Prefeitura
Municipal e Cartório de Registro Civil e Bens Imóveis de Álvares Machado. Por fim, aplicamos questionário
e realizamos entrevistas junto às famílias japonesas e nisseis e aos dekasseguis residentes no município, tanto
na zona rural como urbana. Constatamos que os sonhos são inerentes ao movimento migratório, tanto dos
japoneses para o Brasil, como dos dekasseguis para o Japão. Sonhos esses que estão diretamente relacionados
ao consumo e ascensão social na sociedade capitalista. O migrante só se submete a sair do seu lugar de
origem, que é o seu lugar social e onde ele possui sua identidade, porque tem a possibilidade de retornar. Os
japoneses, no início da imigração, queriam permanecer por um determinado período no Brasil e retornar para
o Japão; mas a maioria permaneceu e criou relações sociais com o lugar de migração, principalmente em
Álvares Machado lugar onde foi possível realizar os seus sonhos. Os dekasseguis de Álvares Machado, foram
para o Japão para trabalhar em serviços que não exigem qualificação profissional, e trabalham em média 12
horas por dia nas empresas japonesas. Submetem-se à longas jornadas de trabalho pois, o objetivo é acumular
uma quantia de dinheiro e retornar para Álvares Machado, o lugar da conquista dos sonhos. Verificamos que
os dekasseguis estão realizando esses sonhos no lugar de origem, seja através de investimentos no setor
imobiliário (casas - residência/aluguel, terrenos urbanos e propriedades rurais), seja na compra de
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços e de bens móveis (veículos de passeio e de transporte
de cargas). Esses dekasseguis estão contribuindo para que a economia do município sofra impactos,
decorrentes dos investimentos por eles realizados. Verificamos que a paisagem tanto urbana como rural,
recebeu influência direta desses investimentos, principalmente nos bairros melhores localizados.
ABSTRACT

Key-word: migration; place; time; Brazil; Japan; dekasseguis.

We searched to understand, in this research, the localities of the migratory movement, which are not
the same along the time, due to its own capitalism dynamic that can or can not centralize/concentrate
capital at a given territory, reflecting this way in the migration. We aim, in this research, to analyze
the migration movement between Brazil and Japan in different times or Japanese immigration to
Brazil, which started in the first years of the XX century and Brazilian “dekasseguis” (temporary
workers) to Japan, which began in the 80´s decade of the same century. From the Japanese
immigration point of view, we have looked for some information, intending to understand Japanese
descendants contribution to the development of Alvares Machado´s city and also the Brazilian
dekasseguis´ migration to Japan. We intended to analyze if there were, or not, impacts proceeding
from investments realized by them. To accomplish this research, we did a broad bibliographical
research about the topic mentioned, not only in Geography, but also in History, Sociology,
20

Anthropology and Economics. We collected secondary data at IBGE, CIATE, SEADE, city hall,
notary and real states offices from Alvares Machado. At last, we applied a questionnaire and did
some interviews with Japanese, ”nisseis” (descendants of Japanese) families and dekasseguis who
live in the city and countryside. We realized that dreams are inherent to the migration movement for
Japanese people in Brazil and “dekasseguis” in Japan. These dreams are directly related to the
consumption and social ascension of the capitalist society.
The migrant only submits himself to leave his place of origin, which is his social environment and
where he has his own identity, if he has the possibility to return.
Japanese immigrants, in the beginning of migration, wanted to settle in Brazil for a period of time
and afterwards returning to Japan, but the majority stayed and established social relations with the
migration place, mainly in Alvares Machado, where it was possible to fulfill their dreams.
“Dekasseguis” from Alvares Machado went to Japan to work in odd jobs with no professional
qualification working about 12 hours a day in Japanese companies. They submit themselves to long
working hours because their goal is to accumulate a certain amount of money and return to Alvares
Machado, the conquest place of their dreams. We have realized that “dekasseguis” are making their
dreams possible in their birth place throughout investments in real state (houses: own/rent, lands and
countryside properties), buying commercial establishments, service rendering and movable
properties (private vehicles and load transportation).
Dekasseguis have been contributing in order the economy of the city suffers some impacts arisen
from investments done by them. We observed that both urban and rural landscapes received direct
influence from these investments, mainly in better located neighborhoods.
21

1. INTRODUÇÃO

Primeiramente, gostaríamos de apresentar os motivos que nos fizeram desenvolver


este trabalho de pesquisa. Diríamos que as idéias e as inquietações que nos levaram a pesquisar
sobre a temática migratória, além do interesse pela ciência geográfica (como educadora e
pesquisadora), foram as impressões do cotidiano do nosso lugar social. Mas, por que nós, não
descendentes de japoneses, nos interessamos em analisar o movimento migratório de um grupo
étnico específico?
Sempre fui cidadã machadense; por isso, mesmo antes de entrar na universidade,
percebia a influência que a "colônia japonesa" tinha e tem no cotidiano do município. Em época de
eleições políticas, as pessoas procuravam descobrir qual o candidato que os japoneses estavam
apoiando; ou, havia a comemoração do Shokon-Sai, via a cidade com muitos japoneses que vinham
de outras cidades. Também, comecei a trabalhar num escritório de Planejamento Agropecuário, em
1994, sendo que, a maioria dos clientes eram pequenos e médios agricultores japoneses e
descendentes, e, com o passar dos anos, até 2001, percebi que o número de clientes diminuiu
significativamente. Por que? Também, tive amigos descendentes de japoneses, principalmente na
época do grupo escolar. Comecei a notar que esses amigos, quando terminavam o colegial (ou nem
terminavam), partiam para o Japão. Em 1997, entrei na universidade para cursar Geografia e
interessei-me muito pela temática migratória. Foi no terceiro ano de Graduação que iniciei o projeto
de iniciação científica, sob a orientação do Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito (também meu orientador
do Mestrado) que tinha como título: Globalização, emprego e o fenômeno dekassegui. Esse projeto
tinha como objetivo analisar o movimento dekassegui na área urbana de Álvares Machado. Foram
dois anos de pesquisa, que contribuíram para formarmos uma base teórica e darmos continuidade ao
trabalho, em nível de pós-graduação.
Ingressando na Pós-Graduação em 2001, propusemo-nos estudar o movimento
migratório e seus reflexos em Álvares Machado - SP. Após o colóquio no curso e pensando no envio
do projeto para a FAPESP (agência que financiou a nossa pesquisa por 18 meses, além da CAPES
por 6 meses), fizemos algumas modificações na nossa proposta de trabalho: procuramos enfocar a
imigração japonesa (mais uma necessidade nossa, por se tratar da dinâmica do nosso lugar social) e
a migração dekassegui no município. Da imigração japonesa, enfocaríamos as contribuições dos
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imigrantes para a própria formação do município. Da migração, invertemos a pergunta: há algum


impacto do ponto de vista econômico do movimento dekassegui no município de Álvares Machado?
Em quais atividades? Em quais locais do município: zona rural ou urbana? Em quais bairros?
Procuramos então, desenvolver o trabalho e fizemos leituras referentes ao tema. As
obras que mais influenciaram no desenvolvimento do trabalho foram: Gaudemar (1977 - força-de-
trabalho) e Sayad (1998 - o retorno, os desejos e sonhos da migração). Além de outras.
A partir da elaboração e aplicação dos questionários e posteriormente à análise do
material obtido, o trabalho teve um outro rumo; nas reflexões teóricas, foi inserido um outro
ingrediente: a relação entre migração/lugar e sonhos. O lugar é um conceito importante para ser
trabalhado dentro da Geografia. Essas reflexões surgiram durante a realização do trabalho de campo,
através dos depoimentos, tanto dos imigrantes japoneses e nisseis, como dos próprios dekasseguis.
Queremos deixar explícito o nosso envolvimento com o trabalho que ficou ainda mais forte durante
a pesquisa de campo. Foram muitas as dificuldades enfrentadas durante a aplicação do questionário,
entre elas, a barreira do idioma (na entrevista dos imigrantes). Num primeiro momento também, por
não sermos descendentes de japoneses, as pessoas não entendiam a proposta do trabalho. Mas as
facilidades foram maiores e foram elas que contribuíram ainda mais para darmos continuidade à
discussão da migração e lugar. Pois Álvares Machado é um município pequeno e, as famílias
"antigas" já se conhecem. A nossa família (Bomtempo) é moradora bem antiga do município, como
a maioria dos entrevistados. Quando fazíamos o primeiro contato por telefone com as famílias a
serem entrevistadas, todos perguntavam: Você é de Machado? É parente de quem? Você estuda?
Onde? O que faz? (se interessavam ainda mais quando dizíamos que éramos estudantes, pois o
estudo é muito valorizado entre os japoneses e descendentes, principalmente os mais idosos).
Foram muitas as experiências. Tivemos contato com a Diretoria da Associação Japonesa, fazíamos
reuniões com todos os membros, todos queriam saber/entender quais os nossos objetivos com o
trabalho, queriam de alguma maneira contribuir. Essas reuniões eram feitas no Bar do Seu Vicente,
um nissei já bem idoso. Fomos recebidos muito bem, tanto pelos japoneses como pelos dekasseguis.
Na Zona Rural, era uma "festa": ganhávamos frutas, verduras e vários presentes: moedas de yen para
dar sorte, leques etc, além dos refrescos e doces que eles ofereciam durante as entrevistas 1.
Realizamos algumas entrevistas que duraram cerca de 3 horas; eles (tantos os imigrantes como os

1 Em um dos dias em que estávamos aplicando o questionário, tomamos sucos de seis frutas
diferentes: limão (2), acerola, maracujá, abacaxi, laranja e abacate.
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dekasseguis) sentiam necessidade de falar sobre a vida, sobre as experiências como


imigrantes/migrantes. Houve situações em que toda a família se reunia. Os mais idosos faziam
questão que os mais jovens estivessem presentes, pois assim eles conheceriam um pouco da história
da família, porque, no dia-a-dia, os japoneses e descendentes não conversam sobre o passado,
principalmente sobre as dificuldades. Ficamos surpresos na cerimônia do último Shokon-Sai,
Julho/2002, quando um integrante da Diretoria da Associação Japonesa foi até a nossa casa conhecer
o acervo de fotos que nós havíamos organizado. Eles queriam montar uma exposição durante a
cerimônia e, pediram a nossa colaboração para organizar algo melhor para o próximo ano.
Convidaram-nos para participar do almoço dos convidados do Shokon-Sai, apresentaram-nos para o
Cônsul do Japão em São Paulo, tratavam-nos carinhosamente de Professora. Esses convidados, além
das autoridades presentes, eram antigos moradores de Álvares Machado que atualmente residem em
São Paulo e no Paraná. De São Paulo, vieram três ônibus de antigos moradores para participar da
cerimônia do Shokon-Sai. Mais uma vez o lugar se faz presente no estudo dos movimentos
migratórios.
Foram muitas as impressões que tivemos no trabalho de campo. Entre elas, o
esclarecimento dos entrevistados imigrantes e nisseis, senhores com 80 anos ou mais de idade,
discutindo a situação econômica e política do Brasil e opinando muitas vezes contra os jovens irem
trabalhar no Japão. Isso foi surpreendente. E os dekasseguis, pela confiança depositada, relatando
sobre a vida na migração, principalmente em relação à poupança amealhada quando trabalhavam no
Japão e os investimentos que fizeram em Álvares Machado.
Enfim, o envolvimento que tivemos com a Associação Japonesa, as famílias e os
dekasseguis que entrevistamos, a confiança e o respeito mútuo foram decisivos para a realização
deste trabalho e também, para pensarmos em trabalhos futuros.
A experiência na pós-graduação também foi muito interessante. Durante as
disciplinas, foi possível amadurecermos as idéias sobre a temática da pesquisa que estamos
realizando, bem como, buscar amadurecimento sobre a questões referentes à própria ciência
geográfica.
Conviver com o diferente, ou seja, estar num ambiente onde há pessoas com
diferentes pontos de vista, diferentes formações acadêmicas, foi uma experiência muito rica. Entre
os alunos da turma, tínhamos desde pessoas do Amazonas até o Rio Grande do Sul, desde
Rondonópolis e Rio Branco até Uberlândia, Catalão, Ponta Grossa, Maringá, São Paulo e assim por
24

diante (sem falar dos amigos da casa com os quais convivíamos desde a graduação), e colegas além
das fronteiras do território brasileiro - Chile, México, Espanha...
A partir da integralização dos créditos nas disciplinas da pós-graduação, dedicamo-
nos a realizar a nossa pesquisa, que já tinha seus objetivos e metodologias bem definidos.
Propusemos desenvolver o projeto, tendo como objetivo principal a análise do
movimento migratório entre o Brasil e o Japão, em tempos diferentes, ou seja, a imigração dos
japoneses para o Brasil, que teve início nos primeiros anos do século XX e dos dekasseguis
brasileiros para o Japão, que se iniciou na década de 1980. Do ponto de vista da imigração
japonesa, buscamos as informações visando a entender a contribuição dos japoneses na própria
formação do município de Álvares Machado e, na migração dos dekasseguis brasileiros para o
Japão, buscamos analisar se houve ou não impactos no município decorrentes dos investimentos
realizados pelos dekasseguis.
Na tentativa de pormenorizar a análise do tema proposto, foram elaborados objetivos
de cunho mais específico, visando: a) fazer uma discussão teórica, do ponto de vista histórico, dos
movimentos migratórios entre o Brasil e o Japão; b) localizar, através da elaboração de cartogramas,
os territórios de emigração no Japão e imigração no Brasil, dos japoneses, no início do século XX, e
os territórios de migração dos brasileiros (dekasseguis) no Japão no final do mesmo século; e, c)
verificar quais as atividades econômicas que os dekasseguis elegeram quando retornaram do Japão,
quais os investimentos realizados, em quais setores da economia e quais parcelas do território foram
escolhidas para isso, em Álvares Machado, além da análise se esses investimentos são significativos
ou não do ponto de vista econômico para o município.
A partir dos objetivos propostos, definimos os procedimentos metodológicos
utilizados na coleta e obtenção de dados para a realização da pesquisa. Para um melhor
entendimento, dividimos em quatro fases os procedimentos metodológicos utilizados.
Na primeira fase, realizamos uma ampla pesquisa bibliográfica sobre a temática
migratória dentro da Geografia e também em outras ciências como a Sociologia, História,
Antropologia e Economia. Essa pesquisa foi realizada nas bibliotecas da FCT/UNESP de Presidente
Prudente, FFCLH/USP em São Paulo, no CEM - Centro de Estudos Migratórios, também em São
Paulo, no CIATE - Centro de Apoio ao Trabalhador no Exterior, escritório de Presidente Prudente e
São Paulo e na Faculdade de Ciências Sociais da UNICAMP (via internet) e, pelo Sistema Comut -
entre bibliotecas.
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Esse levantamento bibliográfico foi importante pois conseguimos amealhar um rico


material que serviu de referência bibliográfica a fim de formarmos um arcabouço teórico para o
entendimento e reflexões sobre a temática que estamos abordando na pesquisa. A partir de então,
partimos para a segunda fase da pesquisa, que consistiu em levantamentos de dados secundários
(IBGE, CIATE, SEADE e Prefeitura Municipal de Álvares Machado), bem como, nos preocupamos
em definir a amostra a ser utilizada no nosso questionário. Primeiramente, gostaríamos de saber o
número de famílias japonesas e descendentes existentes no município de Álvares Machado. Onde
procurar? Na prefeitura? Não havia esses dados. No cartório? Também não havia. Decidimos
procurar um membro da Associação Nipo-Brasileira de Álvares Machado. Começávamos a
direcionar o nosso trabalho. Conseguimos o número de que precisávamos e o local de moradia
dessas famílias, pois a Associação está dividida em setores e esses setores agregam toda a área
urbana e rural do município. Outro desafio era saber o número de machadenses que foram trabalhar
no Japão. Para conseguir esses dados, tentamos contato com o Consulado Japonês em São Paulo
através de vários telefonemas, mas foi impossível pois a língua era uma barreira. Na segunda
tentativa, enviamos uma correspondência apresentando a nossa pesquisa e posteriormente a nossa
reivindicação2. Não houve retorno. O que fazer? Decidimos então tomar como referência o número
existente de famílias japonesas e descendentes em Álvares Machado, com base na relação fornecida
pela Associação Nipo-Brasileira.
Assim, com o auxílio da Professora Maria Aparecida do Departamento de
Matemática e Estatística da FCT/UNESP de Presidente Prudente, definimos que aplicaríamos
questionários a 100% das famílias de japoneses e descendentes residentes em Álvares Machado.
Portanto, a metodologia utilizada para a realização do trabalho de campo ficou assim
definida:
Realizamos dois trabalhos de campo. No primeiro, aplicamos questionários junto às
famílias japonesas e nisseis - que são a primeira geração, filhos dos imigrantes japoneses que
vieram para o Brasil. Esse trabalho de campo foi importante para conseguirmos informações sobre a
vinda dos imigrantes para o Brasil e, principalmente, sua contribuição para a própria formação do
município de Álvares Machado. Conseguimos, também, informações dos filhos e parentes desses

2 Somente após a realização do Trabalho de Campo é que conseguimos entrar em contato


pessoalmente com o cônsul japonês responsável pelo consulado de São Paulo. Ele esteve presente na
cerimônia do Shokon-Sai em Álvares Machado no mês de julho de 2002, e foi possível
conversarmos um pouco sobre a pesquisa que estamos desenvolvendo.
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japoneses e nisseis. Essas informações auxiliaram para organizarmos o nosso segundo trabalho de
campo que foi realizado junto aos dekasseguis residentes em Álvares Machado. A partir de então,
definimos o número de questionários a serem aplicados e os contatos com as pessoas para a
aplicação dos mesmos. Vale ressaltar que, no período de janeiro/fevereiro de 2002, aplicamos o
primeiro questionário e no período de março/abril de 2002, aplicamos o segundo questionário.
Para a aplicação dos questionários direcionados à imigração japonesa em Álvares Machado,
tomamos como referência, o total de famílias que faz parte da Associação Nipo-Brasileira do
Município de Álvares Machado, mas acreditamos ser viável considerar também as famílias que não
faziam parte da Associação, pois são pessoas que também contribuíram para o estudo que
desenvolvemos. É importante ressaltar que o número das famílias que está fora da Associação é
muito pequeno. O primeiro contato com as famílias foi feito por telefone. Depois, agendávamos o
dia e horário para irmos até a casa para a aplicação dos questionários.
As famílias que fazem parte da Associação totalizam 153 famílias na zona urbana e rural.
As famílias que não fazem parte da Associação totalizam 10, sendo apenas uma moradora da
zona rural. É importante destacar que, das famílias que fazem parte da Associação, muitas são
parentes (filhos de um mesmo pai, irmãos), portanto, aplicamos questionário para somente um
membro de cada família (no caso, o questionário aplicado visava a fazer um resgate histórico da
imigração em Álvares Machado). Optamos, na maioria das vezes, por aplicar o questionário para a
pessoa mais idosa da família, na falta do pai, o filho mais velho. Desta maneira, não tivemos mais
153 famílias para aplicar questionário, mas sim:
famílias associadas: 94
não associadas........: 10
total de famílias......: 104

No entanto, aplicamos apenas, 94 questionários, sendo:


85 para famílias associadas
9 para famílias não associadas

Não foi possível aplicarmos 10 questionários, por vários motivos3:


* não encontramos a pessoa por telefone; (fomos até a casa dela, mas também não a encontramos
(apenas 2 pessoas);
* por motivo de trabalho (apenas), motorista de caminhão); é difícil encontrá-lo em casa;

3 Das famílias da Associação, não foram aplicados 9 questionários, e das famílias que não
participam da Associação, apenas um questionário não foi aplicado.
27

* pessoas residentes em sítios distantes e sem telefone (apenas 2);


* pessoas que não aceitaram responder ao questionário (5).

Para os dekasseguis que retornaram do Japão e atualmente residem em Álvares


Machado, na zona rural e urbana, foram aplicados um total de 110 questionários. Um número maior
em relação ao primeiro trabalho de campo. Optamos em alguns casos, em aplicar mais de um
questionário por família, pois os investimentos de pessoas de uma mesma família foram feitos em
setores diferentes.
A partir da aplicação dos questionários, as informações e os dados foram
sistematizados. Apresentamos os mesmos através de gráficos, tabelas e cartogramas ao longo do
trabalho. Por meio dos dados levantados durante a realização do trabalho de campo junto aos
dekasseguis, verificamos que um número significativo investiu no setor de imóveis, tanto urbanos
como rurais. Iniciamos, portanto, a terceira fase da pesquisa, que consistiu num levantamento de
dados junto ao Cartório de Registro Civil e de Bens Imóveis de Álvares Machado, a fim de
verificarmos o total de imóveis que foram vendidos em Álvares Machado nas décadas de 1980 4,
1990 e nos anos 2000, 2001 e 2002 5, e desse total, qual a parcela pertencente aos dekasseguis, bem
como a localização desses investimentos e o montante de imposto arrecadado de maneira geral e
pelos dekasseguis6.
Iniciamos o levantamento de dados tendo como referência as guias de ITBI - Imposto
de Transmissão de Bens Imóveis, recolhidas pelo cartório, que se referem aos imóveis vendidos no
município no período já citado.

4 Optamos por analisar a década de 1980 para termos uma idéia da quantidade e localização dos imóveis vendidos em Álvares Machado, comparando
se esse total de imóveis, localização e total de imposto arrecadado, difere do total da década de 1990 - quando se iniciaram os investimentos dos
dekasseguis no município, e também nos anos 2000, 2001 e 2002.

5 Consideramos os anos 2000, 2001 e 2002, pois o movimento migratório é dinâmico e todos os dias são negociados imóveis no município, de acordo
com o responsável pelo cartório, principalmente pelas pessoas que estão ou estiveram no Japão.

6 O levantamento de dados das Guias do ITBI foi uma fonte importante pois não tivemos informações somente dos nossos entrevistados, mas também
de dekasseguis que ainda estão trabalhando no Japão e que mandaram dinheiro para as famílias realizar algum tipo de investimento. Também houve
casos de migrantes que vieram a passeio no Brasil e compraram algum imóvel. Portanto, tivemos informações mais gerais sobre o reflexo do
movimento migratório no município. Mas como obter essas informações? Isso foi possível, ou melhor, foi mais fácil pois temos conhecimento, em
Álvares Machado, das famílias japonesas e seus descendente. Álvares Machado é um município pequeno e por isso a circulação de informações na
escala informal torna-se mais acessível. Quando não conhecíamos os dekasseguis, procurávamos nos informar com algum membro da associação
nipo-brasileira, que contribuiu muito para a realização do nosso trabalho. Também, na maioria das vezes, as famílias japonesas e descendentes são
moradores antigos de Álvares Machado, como a nossa família e isso facilitou muito na conquista de nossas informações. Vale ressaltar que em relação
aos dados do ITBI, foram feitas correções dos valores para a moeda atual, o REAL; isso só foi possível com o auxílio do economista, professor e
amigo Álvaro Barbosa, que nos auxiliou nos cálculos para a conversão e correção dos valores. Para tanto, utilizamos o IGP-DI - Índice Geral de
Preços - Disponibilidade Interna.
28

Na quarta fase da pesquisa, procuramos sistematizar as informações obtidas durante o


trabalho de campo e das fontes secundárias (IBGE, ITBI, CIATE e SEADE), através da confecção
de tabelas, gráficos, quadros e cartogramas. Também selecionamos algumas fotos que registram os
estabelecimentos e imóveis dos migrantes que investiram em Álvares Machado, bem como fotos
antigas que retratam o início da imigração japonesa no município7.
Dessa maneira, organizamos o nosso trabalho em quatro capítulos, além dessa
introdução, considerações finais e anexos. Os dois primeiros capítulos são resultados das reflexões
teóricas que fizemos durante a pesquisa, e, os dois últimos são os resultados das reflexões com as
informações obtidas durante o trabalho de campo.
No primeiro capítulo, intitulado de "Migração, Trabalho e Lugar", procuramos
discutir a migração ao longo do tempo, tendo como referência os autores que discutem a temática
migratória em diferentes perspectivas, entre eles, Beaujeu-Garnier (1980); George (1970); Becker
(1997); Brito (1995); Gaudemar (1977); Martins (1973) e Sayad (1998). Também fizemos uma
discussão sobre as mudanças no mundo do trabalho ao longo do tempo, tendo como referência os
autores Gounet (1999); Carleial (2001); Antunes (2000); Matoso (1995); Kawamura (1999), entre
outros. Levantamos a seguinte questão durante esse capítulo: qual o lugar do migrante no mercado
de trabalho global?
O segundo capítulo, intitulado de "O Lugar no Movimento Migratório dos Japoneses
para o Brasil e dos Dekasseguis para o Japão", procuramos discutir o lugar e os sonhos no
movimento migratório dos japoneses ao longo do tempo. Consideramos que o lugar é um conceito
importante de ser analisado dentro da ciência geográfica, principalmente quando tratamos de
movimentos migratórios. Perguntamos o que faz o migrante dekassegui retornar para o lugar de
origem, um município de pouco mais de 25.000 mil habitantes, quando ele, como dekassegui, no
Japão, tem a possibilidade de viver num país desenvolvido? E ainda, ganhar um salário bem maior
que no Brasil como trabalhador não qualificado. Qual a relação do migrante com o lugar de origem?
O lugar de origem é o seu lugar social? E na imigração japonesa no Brasil, os japoneses que não
retornaram para o Japão conseguiram criar uma identidade com o Brasil? Consideram-no seu lugar
social? Nesse capítulo, também, procuramos distinguir os lugares da migração ao longo do tempo,
partindo da seguinte afirmação, de acordo com Sayad (1998), de que os sonhos fazem parte dos

7 Montamos um rico acervo de fotos durante o trabalho de campo, sendo que o material foi fornecido pelas famílias que entrevistamos. Também
registramos em algumas fotos, principalmente os investimentos feitos pelos dekasseguis.
29

movimentos migratórios; são eles que possibilitam ao migrante ficar longe de seu lugar de origem,
dos seus familiares, de sua identidade.
Identificamos, ao longo do trabalho, que os lugares de emigração e imigração ao
longo do tempo não são os mesmos. Quando falamos de imigração japonesa, o lugar em que os
imigrantes perderam os seus sonhos foi o Japão; o lugar de reconquistá-los, isto é, dos sonhos
possíveis, na época, seria o Brasil; com o retorno, o Japão, poderia se tornar o lugar de conquista
desses sonhos. A maioria, porém, permaneceu no Brasil e fez daqui, o lugar da conquista dos sonhos
no movimento migratório. Mas, o que materializa os sonhos? Esses sonhos possuem perspectivas
diferentes quando falamos de imigração japonesa e migração dekassegui; mas, nos dois momentos, a
questão financeira perpassa a decisão de migrar ou ficar. Vale ressaltar também que, os lugares dos
sonhos perdidos, possíveis e de conquista, no movimento migratório dos dekasseguis, não são
iguais ao da imigração japonesa no Brasil. Isso porque o espaço geográfico é dinâmico e estamos
inseridos num modo-de-produção, o capitalista, que tem a capacidade de dinamizar/não dinamizar
os territórios ao longo do tempo, realizando a centralização/concentração do capital em diferentes
territórios, possibilitando portanto, a mobilidade da mão-de-obra para os lugares onde o capital dela
necessitar. Isso se torna ainda mais "facilitado" no período técnico-científico-informacional, onde o
desenvolvimento dos transportes, além de outros fatores, possibilita a circulação cada vez mais
rápida de informações, mercadorias e força-de-trabalho nos territórios da globalização.
Os autores que contribuíram para a discussão proposta no segundo capítulo foram
Santos (1987, 1996); Carlos (1996); Lima (2001); Saito (1973); Sasaki (1999); Sales (1995);
Oliveira (1997); Margolis (1994); Asari (1992); Kawamura (1999); Fontenele Reis (2002),
Ninomiya (1998); entre outros.
No terceiro capítulo, intitulado como "Álvares Machado - o Lugar dos Sonhos
Possíveis, Conquistados e Perdidos na Imigração dos Japoneses e Seus Descendentes",
apresentamos algumas discussões teóricas e informações obtidas através do levantamento de dados
secundários e de dados primários (trabalho de campo). Discorremos sobre a formação do município
de Álvares Machado, destacando a presença dos imigrantes japoneses, adotando Álvares Machado
como o lugar dos sonhos possíveis e de conquista. Apresentamos informações como: o ano de
chegada dos imigrantes em Álvares Machado e o perfil dos entrevistados (idade, escolaridade,
ascendência japonesa, conhecimento da língua japonesa, motivos da imigração para o Brasil, local
de nascimento etc). Procuramos analisar também a relação que o entrevistado estabeleceu com
30

Álvares Machado, as atividades econômicas às quais se dedicaram, onde foram morar quando
chegaram ao município e atualmente, onde residem (zona rural ou urbana), e se gostam de residir no
município, bem como as dificuldades encontradas nos primeiros anos de imigração no Brasil.
Procuramos levantar, também, a opinião dos imigrantes e descendentes mais idosos de japoneses,
sobre o que pensam sobre a migração para o Japão.
No quarto capítulo, intitulado "Álvares Machado: o Lugar dos Sonhos Perdidos e
Conquistados no Movimento Migratório dos Dekasseguis", dividimos a nossa análise em quatro
partes. Primeiro, destacamos os motivos que suscitaram a migração para o Japão; segundo, traçamos
um perfil do dekasseguis de Álvares Machado (idade, conhecimento da língua japonesa,
ascendência japonesa, grau de escolaridade, local de nascimento); terceiro, discorremos sobre o
dekassegui como migrante no Japão (ano de migração; local e tempo de permanência; com quem
migraram para o Japão; motivos da migração; como conseguiram trabalho no Japão; locais e tipos
de atividades desenvolvidas; remuneração e poupança acumulada quando dekasseguis); quarto, o
retorno para o Brasil - lugar da conquista dos sonhos (em que ano retornaram, se as atividades
econômicas desempenhadas são as mesmas anteriores à migração; se os investimentos foram
realizados em Álvares Machado, em quais setores, se esses setores são significativos para o
município?) Os sonhos foram conquistados? Quais as dificuldades enfrentadas com o retorno
(inserção na sociedade, mercado de trabalho)?. Quais as experiências que tiveram como dekassegui?
Foram essas algumas questões que perpassaram durante a realização da nossa pesquisa.
Realizamos também as considerações finais do nosso trabalho, e um anexo, contendo o material
fotográfico que produzimos e emprestamos dos nossos entrevistados durante a pesquisa. Vale
ressaltar que, o reproduzido é só uma parte do material de que dispomos.
31

1. MIGRAÇÃO, TRABALHO E LUGAR


1.1 Migração e lugar ao longo do tempo

Os estudos sobre os deslocamentos


populacionais estão presentes em obras clássicas, tanto na Geografia como em outras Ciências
Sociais.
Há que se destacar que os primeiros estudos referentes à temática migratória tinham
como objetivos, o conhecimento da distribuição dos povos pelo globo, bem como entender a
evolução das sociedades humanas e o grau do êxito por elas atingido. De acordo com Beaujeu-
Garnier (1980), a presença do homem em qualquer lugar é, portanto, essencialmente transitória e
inconstante.
Mas, por que se deslocar no espaço geográfico? À procura de novas terras? Fuga de
guerras? Procura por alimentos? Procura por trabalho?
Nos estudos de Beaujeu-Garnier (1980), a preocupação por ocupar novas áreas era
um dos impulsos à migração.
Nas sociedades primitivas, os deslocamentos ocorriam por procura de alimentos e por
terras férteis; porém, deslocar-se para longas distâncias era mais difícil. Mas, com o
desenvolvimento das técnicas, movimentar-se no espaço geográfico, com o passar do tempo, foi
deixando de ser uma barreira.

Conquanto se possa admitir que, nas sociedades primitivas, haja certa imobilidade aparente,
visto que a possibilidade de mudança é limitada, torna-se inteiramente diferente assim que o
progresso da técnica se manifesta ou quando surgem novas necessidades ou, ainda, quando
ocorrem certos eventos políticos ou militares. Muitos fatores recentes têm determinado que,
durante o último século, a distribuição da espécie humana tem mudado como jamais
aconteceu, devido, primeiro, ao vasto aumento de seu número e segundo ao extraordinário
progresso da técnica (BEAUJEU-GARNIER , 1980, p. 83, 84).
32

Tanto na obra “Geografia da População” de George (1970), como em Beaujeu-


Garnier (1980), estão presentes as discussões acerca da distribuição do homem na superfície
terrestre, sendo que o caráter natural (a procura de novas áreas, com climas favoráveis ao
desenvolvimento humano), continua presente nas discussões. Também o caráter de espontaneidade
das migrações perpassa a obra de Beaujeu-Garnier (1980).
“O movimento de populações, por mais controlados e arregimentados que sejam
ainda são espontâneos, o mundo tem presenciado deslocamentos de espécie diferente, compulsórios,
forçados, sobre um grupo de pessoas por outro” (BEAUJEU-GARNIER, 1980, p. 198).
Ao contrário do que afirma Beaujeu-Garnier (1980), Gaudemar (1977) afirma que o
movimento de pessoas, ou melhor, da força-de-trabalho, no espaço geográfico, é uma falsa liberdade
que o capital proporciona ao migrante. O migrante tem a liberdade de se deslocar espacialmente,
porém, os lugares escolhidos serão aqueles onde eles poderão vender sua mercadoria, ou seja, sua
força-de-trabalho. Então, estão condicionados por um sistema de forças econômicas, e não circulam
no espaço espontaneamente.
Os movimentos migratórios condicionados pelo capital têm o poder de atrair
principalmente os mais jovens a migrar, fazendo com que o lugar de origem dessa força de trabalho
perca de maneira quantitativa e qualitativa a melhor época da vida “útil” de trabalho dos que
migraram.
As áreas nas quais ocorre a emigração incontestavelmente é que sofrem; perdem seus
elementos mais ativos, homens e mulheres jovens, ou pelo menos os mais empreendedores.
E isso acontece precisamente quando a esses jovens se proporcionou tudo o que era
necessário para seu desenvolvimento e educação. Tais áreas, portanto, perdem os frutos de
seus investimentos e ficam sujeitas a relativo empobrecimento ao mesmo tempo que perdem
sua força-de-trabalho potencial (BEAUJEU-GARNIER, 1980, p. 269).

Os estudos de George (1970) e Beaujeu-Garnier (1980), de acordo Becker (1997),


fazem parte da Escola Neoclássica dos estudos migratórios, pois esses autores encaram o
movimento migratório como um fator de equilíbrio em relação ao emprego e ao aumento de
população. Sendo os lugares não homogêneos, alguns mais desenvolvidos que os outros, a
população poderia migrar, equilibrando a população do globo.
Vejamos uma citação da obra de George (1970), que também concorda com Beaujeu-Garnier
(1980), sobre a migração dos jovens, tendo como fator principal o equilíbrio da força-de-trabalho.
33

A solução mais simples para o problema imediato do emprego, quando o empregador ou o


poder de tutela do empregador não desejam encarregar-se da instalação e da manutenção
social de um excesso de população corresponde à necessidade de força de trabalho, o
recurso é uma migração temporária de trabalhadores. Trata-se de apelar para homens, cuja
força-de-trabalho se acha no apogeu, e que só devem permanecer no local durante um
pequeno número de anos. A sua substituição efetua-se mediante a troca de contingentes ou
até de pessoas. Nesse caso não há mais migração de população, mas apenas migração de
trabalhadores e essencialmente, migrações de homens de 18 a 30 anos (GEORGE, 1970, p.
164, 165).

Fica explícito o fator de equilíbrio dos movimentos migratórios, característica da


Escola Neoclássica, pois de acordo com Becker (1997), são três as escolas de análise dos
movimentos migratórios (neoclássica, estrutural e neomarxista). Outro estudo que Becker (1997)
também destaca, como neoclássico, é o trabalho de Ravenstein (1885), pois a ênfase é dada às
características pessoais dos migrantes e alguns fatores condicionantes das migrações entendidos
como “fatores de atração-repulsão”. “Como fatores de repulsão estão representadas aquelas
situações de vida responsáveis pela insatisfação no local de origem; já os fatores de atração
correspondem aqueles atributos dos locais mais distantes que os tornam atraentes” (BECKER, 1997,
p. 325, 326).
Uma outra escola de análise dos fluxos migratórios de acordo com Becker (1997), é a
Escola Histórico-Estrutural, sendo que a análise da migração é feita do ponto de vista histórico. “O
primeiro passo na análise dos deslocamentos populacionais passou a ser a identificação dos limites
de sua configuração histórica” (BECKER, 19987, p. 332).
A última escola de análise dos fluxos migratórios proposta por Becker (1997), é a
Escola Neomarxista. A migração, do ponto de vista neomarxista, deixou de ser encarada como um
fator de equilíbrio entre os territórios. De acordo com Damiani (1996), os estudos de migração não
são mais baseados na descrição, quantificação e distribuição do homem no território. A análise da
migração na escola neomarxista é feita com uma certa complexidade, pois a dinâmica do mundo
mudou. Os territórios já estão ocupados, as terras já foram conquistadas. As conquistas atualmente
são do mercado de trabalho capitalista, no qual o migrante é livre, representante e dono de sua
mercadoria (força-de-trabalho), e poderá vendê-la onde o capital dela necessitar.
Portanto, como hoje podemos caracterizar o migrante? O que condiciona o
movimento no território? Quais as características dos movimentos migratórios com o
desenvolvimento das técnicas? Onde se inserem os migrantes no mercado-de-trabalho na fase atual
do capitalismo?
34

Brito (1995) chama-nos a atenção para diferenciarmos os movimentos migratórios ao


longo do tempo, pois, o espaço geográfico é dinâmico, assim como o modo-de-produção capitalista,
que define os lugares e as características das migrações ao longo do tempo.
(...) vale a pena mencionar que as migrações internacionais, seja a curta ou a longa
distâncias, fazem parte do cenário internacional hoje, assim como o fizeram há cem anos
atrás. Só que no final do século passado e princípio deste, as migrações tendiam a ser
permanentes e os migrantes se integravam econômica e socialmente nos países de destino.
Eram, sem dúvida, fluxos socialmente desiguais que se inseriam desigualmente nas
sociedades. (...) Atualmente, a realidade migratória é distinta: fruto da internacionalização
do mercado de trabalho e da profunda desigualdade entre as nações, a maioria das
migrações tende a ser cada vez mais temporária e os migrantes, meros trabalhadores que
circulam internacionalmente. Em vez de serem convidados a "fazer a América", como se
dizia há um século, hoje eles são como atores convidados a desempenhar um papel
secundário no mercado-de-trabalho, por um tempo determinado. E, logo após, são
convidados a se "desfazer" da América, da Europa ou do Japão (BRITO, 1995, p. 32,33).

De acordo com Gaudemar (1977), “a mobilidade da força-de-trabalho é assim uma


característica do trabalhador submetido ao capital e por essa razão ao modo de produção capitalista.
Ela funda a condição de exercício da força-de-trabalho como mercadoria, distinguindo assim
definitivamente o trabalhador livre do escravo” ( GAUDEMAR, 1977, p. 192).
A mobilidade da força-de-trabalho é inerente ao capitalismo.

Se, se afirmou que o capitalismo começava com a exploração da força de trabalho, é


necessário acrescentar que ele só poderia nascer uma vez que o trabalhador tivesse
adquirido esta mobilidade, não no sentido apologético que a teoria clássica reconheceu, do
homem inteiramente livre de seu destino, ator de sua própria história, mas no sentido das
contrariedades que lhe são impostas por esta procura de emprego (GAUDEMAR, 1977, p.
192).
Pode-se dizer, que o mercado-de-trabalho nasceu com a produção capitalista. Antes do
aparecimento do capital como relação de produção dominante, os trabalhadores estavam
sujeitos às regras de seus estatutos, relações de produção fixas: servo ou companheiro, todos
estão sujeitos às regras dos seus estatutos, dependentes dos seus senhores ou das suas
corporações (GAUDEMAR, 1977, p. 265)

Com o fim do sistema de produção feudal e a ascensão do capitalismo, o trabalhador


tornou-se livre, podendo assim, movimentar-se no espaço geográfico. Livre, móvel? Não é bem
assim; o trabalhador tornou-se “livre” e “móvel” para servir outro “senhor”, o capitalista.
Para Marx, de acordo com Gaudemar (1977), a única mercadoria de posse do
trabalhador é a sua força-de-trabalho, mercadoria que pode lhe garantir a sobrevivência. Sendo o
trabalhador migrante, dono de sua própria mercadoria, ele poderá vendê-la onde o capital dela
necessitar, pois uma das características essenciais da força-de-trabalho é a transformação do dinheiro
em capital.
35

A transformação do dinheiro em capital (característica essencial da força-de-trabalho), exige


então que o possuidor de dinheiro encontre no mercado, o trabalho livre, livre num duplo
sentido. Primeiro, o trabalhador deve ser uma pessoa livre, dispondo à sua vontade da sua
força-de-trabalho como de uma mercadoria que lhe pertence. Em segundo lugar, não deve
ter qualquer outra mercadoria para vender, deve ser por assim dizer, livre de tudo,
completamente desprovido das coisas necessárias à realização da sua força-de-trabalho
(GAUDEMAR, 1977, p. 189).

De que liberdade estamos falando? Vender a força-de-trabalho ao capitalista é uma


falsa liberdade, pois o capital não se reproduz de maneira homogênea em todos os territórios e
lugares. Já que ele está concentrado, porém, com a ideologia global, tem-se a falsa idéia de que o
capital está em todos os lugares ao mesmo tempo. Mas, os processos revelam-nos fatos diferentes. O
capital concentrado no território proporciona liberdade ao trabalhador de ir até ele, ou seja, o
trabalhador passa a migrar no território para vender sua força-de-trabalho. A migração, como
podemos perceber, deixou de ser de equilíbrio, deixou de ser analisada pelo ponto de vista da
distribuição dos homens na superfície. Hoje, procuramos compreender o domínio do capital sobre o
migrante. De acordo com Gaudemar (1977),

[...] a força de trabalho deve ser livre sob dois pontos. Liberdade positiva: a força-de-
trabalho é uma mercadoria que pertence, como bem particular, ao trabalhador, que pode dela
dispor à sua vontade; os trabalhadores são então, considerados como atores da própria
liberdade. Liberdade negativa: o trabalhador não tem diante de si outra hipótese que não seja
vender a sua força-de-trabalho para viver, ou não vende e morre (GAUDEMAR, 1977, p.
189, 190).

Porém, é importante considerar que o mercado não é homogêneo e estável, mas


possui sua própria dinâmica pois, no mercado-de-trabalho capitalista, nem todos tem a possibilidade
de vender a sua mercadoria no lugar de origem; uma alternativa seria movimentar-se no território,
que pode variar em muitas escalas, dependendo também da dinâmica econômica dos lugares
destinados à migração.

No aspecto positivo, a liberdade conduz à possibilidade do trabalhador escolher o seu


trabalho e o local onde exercê-lo; no seu aspecto negativo, ela conduz às exigências do
capital e o seu poder de despedir em qualquer altura um trabalhador, ou de transformar o seu
trabalho assim como as condições em que ele exerce. Em ambos os casos, a força-de-
trabalho deve ser móvel, isto é, capaz de manter os locais preparados pelo capital, quer
tenham sido escolhidos, quer impostos; móvel quer dizer apto para as deslocações e
modificações de seu emprego, no limite, tão indiferente ao conteúdo do seu emprego como
o capital, o é de onde investe, desde que o lucro extraído seja satisfeito (GAUDEMAR,
1977, p. 190).
36

Os salários são um dos principais atrativos para à migração. Os migrantes, de início,


não escolhem o local de trabalho e a atividade a ser desenvolvida; querem sim, garantir o salário,
para assim prover sua sobrevivência, e compensar ter deixado seu lugar de origem, seu lugar social e
se sujeitar ao capital.
De acordo com Martins (1973),

[...] a migração é um evento historicamente determinado pela expansão do modo capitalista


de produção. O processo de dissocialização daí decorrente só pode ser compreendido como
característico da redução do sujeito à condição de trabalhador livre, isto é, despojado de
toda a propriedade que não seja a da sua força-de-trabalho e consequentemente despojado
de todo tipo de relação social que não derive dessa última condição (MARTINS, 1973, p.
22).

Percebemos, através das obras de Gaudemar (1977), Martins (1973) e Becker (1997),
que o capitalismo proporcionou ao trabalhador a liberdade de movimentar-se no espaço geográfico
para vender sua mercadoria em troca do salário. Mas, temos um outro ingrediente para acrescentar
na discussão. Os movimentos migratórios, como os de mercadorias e informações, só são possíveis
pelo desenvolvimento das técnicas e, consequentemente, dos meios de transporte. É o meio técnico-
científico-informacional proposto por Santos (1996).
A circulação da força-de-trabalho é facilitada pelo desenvolvimento dos transportes;
quanto mais densa a rede, mais facilmente a mão-de-obra estará disponível.
Marx, citado por Gaudemar (1977), escreveu que,

[...] o modo de produção capitalista, diminuiu as despesas de transporte para cada


mercadoria tomada a parte, desenvolvendo os meios de transporte e de comunicações,
concentrando ao mesmo tempo o transporte, alargando a escala [...]. A circulação, isto é, o
percurso efetivo das mercadorias no espaço, é resolvida pelo transporte, os termos que ele
emprega são aplicáveis à força de trabalho em mercados muito afastados, cada vez mais
afastados, pode substituir os mercados locais, por mercados mais afastados (GAUDEMAR,
1977, p. 323).

A discussão dos movimentos migratórios é imprescindível para entendermos a


dinâmica dos territórios, o movimento dos lugares, a necessidade que o capital tem de se expandir, a
necessidade imposta pelo capital aos homens de sair de seu lugar de origem e migrar, muitas vezes
para lugares nunca pensados. Enfim, através dos estudos de migração podemos entender a
complexidade do espaço geográfico e dos territórios de emigração e de imigração ao longo do
37

tempo. Concordamos com Sayad (1998), quando ele afirma que a migração é um fato social
completo, é uma palavra de duas ordens, pois contém emigração e imigração. O migrante é ao
mesmo tempo emigrante e imigrante de um lugar.
Para Sayad (1998), assim como para Gaudemar (1977),

Um imigrante é essencialmente uma força-de-trabalho, e uma força-de-trabalho provisória,


temporária, em trânsito. Em virtude desse princípio, um trabalhador imigrante (sendo que
trabalhador e imigrante são, neste caso, quase um pleonasmo), mesmo se nasce para a vida
(e para a imigração) na imigração, mesmo se é chamado a trabalhar (como imigrante),
continua sendo trabalhador definido e tratado como provisório, ou seja, revogável a
qualquer momento. A estadia autorizada ao imigrante está inteiramente sujeita ao trabalho,
única razão de ser que lhe é reconhecida: ser como imigrante, primeiro, mas também como
homem – sua qualidade de homem estando subordinada a sua condição de imigrante. Foi o
trabalho que fez “nascer” o imigrante, que o fez existir; é ele, quando termina, que faz
“morrer” o imigrante, que decreta sua negação ou que o empurra para o não-nascer
(SAYAD, 1998, p. 55).

É importante considerar que o emigrante sai do seu lugar de origem e migra para
trabalhar em atividades que Sayad (1998) qualifica de trabalhos para imigrantes, pois são trabalhos,
pouco qualificados e mal remunerados em relação aos salários dos trabalhadores naturais do lugar,
sem contar os tipos e condições de trabalho.

É esse trabalho que condiciona toda a existência do imigrante, não é qualquer trabalho, não
se encontra em qualquer lugar; ele é o trabalho que o “mercado de trabalho para imigrantes”
lhe atribui e no lugar em que lhe é atribuído: trabalhos para imigrantes que requerem, pois
imigrantes; para trabalhos que se tornam, dessa forma, trabalhos para imigrantes. Como o
trabalho (definido para imigrantes) é a própria justificativa do imigrante, essa justificativa,
ou seja, em última instância, o próprio imigrante desaparece no momento em que
desaparece o trabalho que os cria a ambos (SAYAD, 1998, p. 55).

O movimento migratório analisado nesta pesquisa é condicionado pelo trabalho; as


pessoas emigram do lugar de origem, lugar que aqui será chamado de lugar dos sonhos perdidos 8, e
vão vender sua força-de-trabalho em lugares muitas vezes estranhos, que aqui denominaremos de
lugares dos sonhos possíveis, que também pode ser definido como lugar do capital. Porém, a decisão
de migrar só é positiva, porque o retorno é algo possível. O retorno ao lugar de origem, que poderá
se tornar o lugar da conquista dos sonhos.

8 Para Sayad (1998, 2000) e Kawamura (1999), os sonhos são inerentes aos movimentos
migratórios. Sonhos de conquistar algo que não está sendo possível de conseguir no lugar de origem.
38

Na análise do movimento migratório dos japoneses para o Brasil, no início do século


XX, mais precisamente no ano de 1908, quando se inicia, oficialmente, a imigração japonesa, os
imigrantes, tinham o objetivo de permanecer no país num período entre 5-10 anos e retornar para o
Japão. O Brasil seria somente o lugar de trabalho 9, o lugar dos sonhos possíveis, mas o Japão, lugar
que na época era o lugar dos sonhos perdidos, poderia se tornar, o lugar da conquista dos sonhos,
após a imigração para o Brasil e o retorno para o Japão. Mas, não foi bem assim que ocorreu.
Grande parte dos imigrantes permaneceu no Brasil, por vários motivos, dentre eles a derrota do
Japão na Segunda Guerra Mundial. O Brasil, portanto, para esses imigrantes, tornou-se o lugar da
conquista dos sonhos.
De acordo com Carlos (1996), o lugar é a dimensão do vivido, do cotidiano, onde o
indivíduo possui sua identidade, sua história e sua alma, que é construída ao longo do tempo, a partir
das relações que são estabelecidas no lugar.

O lugar é produto das relações humanas, entre o homem e a natureza, tecido por relações
sociais que se realizam no plano do vivido, o que garante a construção de uma rede de
significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura civilizadora produzindo
identidade, posto que é aí que o homem se reconhece porque é o lugar da vida. O sujeito
pertence ao lugar como este a ele, pois a produção do lugar liga-se indissociavelmente à
produção da vida. “No lugar emerge a vida, pois é aí que se dá a unidade da vida social.
Cada sujeito se situa num espaço concreto e real onde se reconhece ou se perde, usufrui e
modifica, posto que o lugar tem usos e sentidos em si” (CARLOS, 1996, p. 29).

No movimento migratório de brasileiros para o Japão, que teve início em meados da


década de 1980, os lugares da migração não são os mesmos da imigração japonesa para o Brasil. Os
lugares dos sonhos perdidos passou a ser o Brasil, pois na década de 1980, a economia brasileira
estava vivendo um período de recessão. Por outro lado, o Japão simbolizava o lugar dos sonhos
possíveis, pois estava abrindo as portas para a migração temporária de estrangeiros japoneses e
descendentes. Em linhas gerais, pois trataremos dessa migração posteriormente, os descendentes de
japoneses se sentiram atraídos pelos altos salários das firmas japonesas e, principalmente, pela
possibilidade de acumular, num curto período, uma quantidade de dinheiro que possibilitasse ao
9 Estamos considerando como lugar de trabalho pois, nos dois momentos da migração entre o Brasil
e o Japão, os migrantes, de início, não possuem nenhuma relação com o lugar de migração, limitam-
se em trabalhar para acumular e retornar para o lugar de origem, que é o seu lugar social; lugar este
onde ficaram os seus familiares, amigos, lugar onde o migrante possui sua identidade. Mas, vale a
pena ressaltar que, com o passar do tempo, o lugar de trabalho poderá tornar-se o lugar social. Como
ocorreu com os imigrantes japoneses que permaneceram no Brasil, principalmente em Álvares
Machado.
39

migrante ser dono do próprio negócio no lugar de origem. Na pesquisa realizada, o município de
Álvares Machado simboliza o lugar da conquista dos sonhos, tanto econômica como socialmente,
pois o apego à terra natal, que neste caso, é algo muito evidente, e que se solidifica quando o
migrante passa a sê-lo. O migrante pode até estender o tempo da migração, mas a possibilidade de
retorno é algo que está sempre presente na migração.
Queremos aqui deixar claro, para o nosso leitor, que utilizaremos o conceito de
migrante e migração10, quando estivermos discutindo o movimento migratório dos brasileiros
descendentes de japoneses para o Japão, e de imigrante para os japoneses que vieram para o Brasil
no início da imigração japonesa para o nosso país.
De acordo com Sayad (1998), a migração traz conseqüências tanto no lugar de
emigração como no lugar de imigração.
Trataremos de trabalhar com a análise do lugar de emigração no caso do movimento
dekassegui, e de imigração, no caso da imigração japonesa para o Brasil. Ou seja, pretendemos
analisar o lugar, o município de Álvares Machado, tendo como principal foco da discussão, os
possíveis impactos que um movimento migratório de escala global pode acarretar numa escala local,
em tempos diferentes. Num primeiro momento, pela própria formação do município e, num
segundo momento, pela dinâmica econômica proveniente das remessas de dinheiro do Japão e
aplicação em imóveis urbanos, rurais e no comércio de Álvares Machado, bem como, no próprio
modo de vida da população, tentando assim compreender se esses investimentos são significativos
ou não para o município. É comum encontrarmos nas ruas da cidade (principalmente na Avenida das
Américas) com antigos amigos da escola11, que não vemos há muito tempo, amigos que
interromperam os estudos para migrar em busca dos seus sonhos 12. Percebemos no cotidiano da

10 Utilizaremos migração e migrante pois, como afirma Sayad (1998, p. 266), é uma palavra de
duas ordens. Comporta tanto os lugares de emigração como os lugares de imigração.

11 Principalmente quando estudávamos no Grupo Escolar de Álvares Machado, no período de 1985


a 1993.

12 Observar o cotidiano de um município do ponto de vista de um pesquisador, também é fazer


ciência, principalmente se você convive no próprio lugar da pesquisa que está sendo desenvolvida.
Quinta-feira 6/6/2002, em passagem pela Avenida das Américas (principal avenida de Álvares
Machado, onde se concentra o comércio, bancos e escritórios), foi necessário somente um ir e vir,
para nos depararmos com rostos antigos, rostos de pessoas que partiram para o Japão e agora estão
de volta. É possível observar, através das vestimentas que são diferentes. Normalmente, os
migrantes que retornaram nunca estão sozinhos (a família sempre está junto), para acompanhar esse
processo de readaptação ao lugar, para ir ao banco, saber do dinheiro que mandaram para o Brasil,
40

cidade que, principalmente os jovens, quando retornam, carregam um novo estereótipo, parece que
estão mais japoneses por fora com alma de brasileiro. Também, amigos que telefonam ou mandam
mensagens pela internet, querem saber sobre Álvares Machado. Pessoas no supermercado, no
ônibus, comentam sobre os filhos e parentes que estão no Japão, além, é claro dos “picaretas” que
ficam nos bares da Avenida, tentando convencer os dekasseguis a realizar algum investimento, ou
mesmo comprar um carro. São fontes informais, é claro, mas que, através de um olhar geográfico,
um olhar diferente, possibilitam perceber a dinâmica tanto econômica como social que um
movimento migratório pode acarretar no lugar.
Assim, tomando por base os trabalhos de Sayad (1998) e de Gaudemar (1977),
trataremos de nos aventurar nesse mundo da análise que tratamos de científica, entender um pouco
desse mundo da migração, os porquês da migração, os sonhos, as conquistas, as frustrações, enfim, a
subordinação do migrante ao capital e as mudanças no território e no lugar ao longo do tempo.
Para tanto, o nosso próximo passo será entender um pouco da configuração do espaço
mundial no tempo, em relação à organização do trabalho, para assim entendermos o lugar do
migrante na sociedade capitalista.

1.2 O trabalho e os movimentos migratórios

Para entendermos a organização do trabalho na atualidade, que está inteiramente


ligada à dinâmica dos movimentos migratórios, julgamos necessário fazer um breve resgate
histórico da organização do trabalho e da produção no sistema capitalista ao longo do tempo. Para
tanto, partiremos da Primeira Revolução Industrial, que ocorreu na Inglaterra no final do século
XVIII. O desenvolvimento das técnicas e tecnologias, a partir da revolução industrial, foi importante
do ponto de vista do desenvolvimento industrial e de uma sociedade urbana e também para uma
nova divisão do trabalho no sistema capitalista. O desenvolvimento dos transportes possibilitou uma
configuração mais explícita dos países produtores de matérias–primas e de manufaturados. O
operário da Primeira Revolução Industrial deslocava-se dentro da fábrica para realizar diversos

ou para fazer compras no FERRARI (supermercado), ou no KARAZAWA e TAKASHIMA (loja de


roupas). Hoje mesmo, pude reconhecer 4 amigos que, da última vez que os vi, tinham apenas 15 ou
16 anos. Algum tempo já se passou...
41

tipos de atividades, utilizava diferentes ferramentas e matérias–primas. É importante considerar,


também, que nesse período, a indústria limitava-se aos domínios da natureza13.
Na Segunda Revolução Industrial, houve uma nova organização do espaço mundial
em relação à divisão do trabalho. A industrialização já ultrapassava o território inglês, chegando,
mesmo que tardiamente, à Alemanha, à Itália e ao Japão (final do século XIX e início do século
XX). O espaço passou a ser organizado não mais pelos limites naturais; a industrialização rompeu
essas barreiras e instalou-se em várias partes do globo terrestre, na Europa, na Ásia, na África e na
América, principalmente nos Estados Unidos, pois foi neste país que se iniciou uma nova
organização do trabalho e da produção. A organização do trabalho e da produção no interior da
fábrica passou a ser pensada de acordo com o modelo fordista/taylorista.
O taylorismo é a organização científica do trabalho, levando à sua fragmentação, ao
encurtamento do tempo necessário à sua realização, por meio da repetição ao infinito dos mesmos
gestos corporais numa velocidade crescente.
O fordismo, de acordo com Gounet (1999), é uma nova organização do trabalho,
apoiada em dois elementos, o taylorismo e a mecanização.

O taylorismo, denominado organização científica do trabalho na época de seu aparecimento,


no início do século XX é um movimento de racionalização do trabalho, baseado na
separação cada vez mais nítida entre os responsáveis pela concepção e organização da
produção (engenheiros e técnicos) e, de outro lado, seus executores, os operários
(GOUNET, 1999, p. 59).

O fordismo é um sistema de organização da produção e do trabalho, que foi pensado


por Henry Ford, nos Estados Unidos, no ano de 1913. De acordo com Gounet (1999), seus
princípios básicos são:
- racionalização ao extremo das operações efetuadas pelos operários e combate aos
desperdícios, principalmente do tempo. Apenas a produção em massa, de acordo
com Ford, poderia reduzir os custos da produção e, portanto, o preço de venda do
carro;

13 Idéias extraídas das discussões e leituras realizadas na Primeira Parte da Disciplina Dinâmicas
Econômicas e Novas Territorialidades, oferecida no Programa da Pós-Graduação em Geografia da
FCT/UNESP de Presidente Prudente, 2002 e ministrada pelos Professores Dr. Eliseu Savério Sposito
e Dr.ª Maria Encarnação Beltrão Sposito.
42

- parcelamento das tarefas: ao invés de fazer um veículo inteiro, um operário faz


apenas um número limitado de gestos, sempre os mesmos, repetidos ao infinito
durante sua jornada de trabalho. O parcelamento significa que o trabalhador não
precisa mais ser um artesão especialista em mecânica;
- criou-se uma linha de produção. Além de ligar os trabalhos individuais
sucessivos, a linha fixa uma cadência regular do trabalho, controlável pela direção
da empresa. Permite uma produção fluida, limitando ao máximo os estoques e o
transporte entre as operações;
- para reduzir o trabalho do operário a alguns gestos simples e evitar o desperdício
de adaptação do componente ao automóvel, Ford teve a idéia de padronizar as
peças. Assim, um mesmo elemento é montado em um mesmo modelo. Mas, para
obter esse resultado e ter os componentes exatos, adaptáveis aos seus carros, Ford
precisou comprar as firmas que fabricavam as peças. É dessa maneira que o
empresário se atirou à integração vertical, ou seja, ao controle direto de uma
processo de produção, de cima para baixo;
- por fim, houve a automatização das fábricas (GOUNET, 1999, p. 18/19).
A organização do trabalho fordista pregava políticas de bem estar social, sendo o
Estado o responsável por geração de empregos e por pagar os direitos trabalhistas aos operários.
É importante considerar que, na Segunda Revolução Industrial, as cidades assumiram
definitivamente o papel de locus da circulação das informações e das facilidades dos meios de
transporte. Também, nesse período, os países periféricos passaram a exportar produtos
manufaturados, mas com dependência tecnológica dos países de economia avançada. A outra
mudança de paradigma que ocorreu em relação à Primeira Revolução Industrial, é que o tempo
deixou de correr de acordo com a natureza e passou a ser o tempo da máquina.
No fordismo, a organização da produção e do trabalho revolucionou a indústria
automobilística da época, pois de acordo com Gounet (1999), os automóveis eram fabricados em
condições artesanais, por mecânicos especializados que dominavam todo o processo de produção.
Após a consolidação do fordismo nos Estados Unidos, outros países europeus e também o Japão, já
na década de 1930, começaram a fazer experiências para utilização da nova organização fordista. A
primeira empresa automobilística japonesa a utilizar o sistema de organização fordista foi a Nissan,
43

porém, o fordismo foi introduzido definitivamente nas empresas japonesas após a Segunda Guerra
Mundial, quando o Japão, derrotado, recebeu auxílio econômico dos Estados Unidos.
Mesmo com a “ajuda” norte-americana para introduzir o sistema de produção em
massa no Japão, não foi possível, às empresas japonesas, adaptarem-se a esse tipo de organização,
pois um dos princípios da organização fordista é a produção e o consumo em massa. O Japão,
quando introduziu o fordismo em suas empresas, não passava por um momento econômico
satisfatório, o consumo era limitado, portanto, a produção em massa não era viável para a sociedade
japonesa da época; porém, era necessário pensar em estratégias de organização da produção, para
assim entrar definitivamente na concorrência com as empresas automobilísticas americanas.
Enfim, na década de 1950, nascia um novo modelo de organização da produção e do
trabalho japonês, o ohnismo ou, como é mais conhecido, o toyotismo. Os princípios desse novo
modelo organizacional são bem diferentes do fordismo.
No toyotismo, de acordo com Gounet (1999), a produção é puxada pela demanda e o
crescimento pelo fluxo. Ao contrário, no fordismo, a meta é a produção máxima em grandes séries.
No toyotismo, a meta é produzir em séries pequenas modelos variados, sendo a quantidade da
produção de um modelo de automóvel, determinada pela demanda.
Antunes (2000), sobre o toyotismo, afirma que:

Ao contrário do fordismo, a produção é conduzida diretamente pela demanda. A produção é


variada, diversificada e pronta para suprir o consumo. É este que determina o que será
produzido, e não o contrário, como se procede na produção em série e de massa do
fordismo. Desse modo, a produção sustenta-se na existência do estoque mínimo. O melhor
aproveitamento possível do tempo de produção (incluindo-se também o transporte de
qualidade e o estoque), é garantido pelo just in time. O kanban, placas que são utilizadas
para a reposição das peças, é fundamental, à medida que se inverte o processo: é do final,
após a venda, que se inicia a reposição de estoques, e o kanban é a senha utilizada que alude
à necessidade de reposição das peças/produtos (ANTUNES, 2000, p. 34).

Gounet (1999), sobre o kanban, relata que “é um sistema que se baseia um pouco no
exemplo dos supermercados. Enchem-se as prateleiras, os clientes vêm, servem e, conforme fazem
as compras, a loja volta a encher as prateleiras. Assim, a empresa só produz o que é vendido e o
consumo condiciona toda a organização da produção”.
O Japão é um país de pequena extensão territorial, sendo o espaço físico muito
importante no território japonês. Assim, as fábricas não devem ter estoques para ocupar espaços que
podem ser utilizados para outro tipo de produção. Uma das novidades do modelo toyotista é a
44

flexibilização na organização do trabalho: o trabalhador precisa ser polivalente, tem que ter a
capacidade de trabalhar com várias máquinas ao mesmo tempo e reduzir ao máximo o tempo da
não-produção.
De acordo com Gounet (1999), “ao invés de verticalizar a produção, os japoneses
desenvolveram relações de subcontratação com os fornecedores de autopeças, culminando na
redução dos salários e na precarização do emprego” (GOUNET, 1999, p. 27).
Vale a pena ressaltar que as empresas subcontratadas trabalham sob o regime da
"empresa mãe". As empresas japonesas, portanto, elaboraram uma nova organização da produção e
do trabalho. É o que também afirma Antunes (2000):

Ao contrário da verticalização fordista, de que são exemplos as fábricas dos Estados Unidos,
onde ocorreu uma integração vertical, à medida que as montadoras ampliaram as áreas de
atração produtiva, no toyotismo tem-se uma horizontalização, reduzindo-se o âmbito de
produção da montadora e estendendo-se às subcontratadas, às “terceiras”, a produção de
elementos básicos, que no fordismo são atributos das montadoras. Essa horizontalização,
acarreta também, no toyotismo, a expansão desses métodos e procedimentos para toda a
rede de fornecedores. Desse modo, o kanban, just in time, flexibilização, terceirização,
subcontratação, CQT– Controle de Qualidade Total, eliminação do desperdício, “gerência
participativa”, sindicalismo de empresa, entre tantos outros elementos, propagam-se
intensamente” (ANTUNES, 2000, p. 35).

Autores como Gounet (1999), Carleial (2001), Antunes (2000) e Matoso (1995)
concordam que, no toyotismo, há uma intensificação da exploração do trabalho, pois os operários
lidam com várias máquinas ao mesmo tempo e também passaram a ser contratados por empresas
subcontratadas por empresas maiores, ficando os trabalhadores distantes dos direitos trabalhistas,
tais como: FGTS, 13º salário, férias, seguro saúde etc. Há, portanto, de acordo com esses autores,
uma precarização do trabalho.
Perguntamos: para quem foi benéfica a mudança de organização da produção e do
trabalho? Para os trabalhadores?
Acreditamos que os trabalhadores, principalmente os não qualificados, foram
prejudicados com essa nova maneira de contratação das empresas. De acordo com Gounet (1999),
“o toyotismo estrutura-se a partir de um número mínimo de trabalhadores, ampliando-os através de
horas extras, trabalhadores temporários ou subcontratados, dependendo das condições do mercado.
O ponto de partida básico é o número reduzido de trabalhadores e a realização de intensas jornadas
de trabalho com horas extras” (GOUNET, 1999, p. 36).
45

Essas características da organização toyotista, citadas acima, fazem parte do trabalho


secundário, pois de acordo com Kawamura (1999), existe uma dualidade no mercado-de-trabalho
mundial.
A tendência mundial de organização do trabalho, no sentido da flexibilização das relações
trabalhistas, com elevada influência do modelo japonês, aponta um caráter dual dos
mercados de trabalho, em que um conjunto de postos de trabalho e empregados altamente
qualificados, considerados imprescindíveis na ótica do capital, têm estabilidade e estão
cercados dos direitos trabalhistas, acesso permanente aos recursos qualificadores, dos
benefícios de saúde, lazer etc. A outra face do mercado de trabalho compreende o conjunto
da reserva de trabalho, cujas parcelas são temporariamente incorporadas ao processo de
trabalho conforme as necessidades e conveniências decorrentes da flutuação da demanda
dos produtos e serviços. Essa divisão do mercado de trabalho também define a forma de
participação dos trabalhadores no mercado internacional (KAWAMURA, 1999, p. 32).

Os migrantes não reclamam dos salários nem das condições de trabalho nas empresas,
pois saíram de seu lugar de origem porque a situação econômica estava ruim, e os salários pagos nos
países centrais aos migrantes são bem maiores em comparação com os do país de origem. Como
exemplo, podemos citar os dekasseguis brasileiros que vão trabalhar no Japão. Esses migrantes
recebem cerca de quinze vezes mais do que o salário mínimo brasileiro. Essa situação de
desemprego, não mobilidade social, faz com que o migrante aceite as condições de trabalho
impostas nos lugares de migração. Os dekasseguis brasileiros são trabalhadores horistas no Japão,
não têm os mesmos direitos que um operário japonês, recebem somente por hora trabalhada, por isso
não reclamam das longas jornadas de trabalho, pois quanto maior a jornada, maior a remuneração.
Não podemos deixar de considerar também, que os trabalhos realizados pelos migrantes nos países
centrais são trabalhos que não necessitam de qualificação, são considerados perigosos, sujos e
cansativos, por serem repetitivos, causando um grande desgaste físico e psicológico ao trabalhador.
Mesmo diante desse quadro exposto, temos atualmente um revoada de brasileiros
migrando para os países centrais, como os Estados Unidos, países da Europa Ocidental (Portugal,
Espanha, Itália, Alemanha e França) e Japão.
Os migrantes vão oferecer sua força-de-trabalho onde o capital dela necessitar. O
migrante carrega consigo os sonhos, sonhos de retornar para o lugar de origem, consumir o que não
podia consumir, comprar o que não podia comprar antes da migração; por exemplo, a casa própria, o
carro, ser dono de seu próprio negócio etc. O migrante dekassegui tem, como objetivo, o retorno ao
seu lugar, à sua família, aos seus amigos, mesmo que esse tempo demore mais que o planejado, mas
o migrante vive sempre na expectativa da temporalidade.
46

Autores como Ferreira (2001) e Ito (2001) afirmam que, atualmente no Japão,
existem muitos brasileiros que não querem retornar para o Brasil. Perguntamos: por quê? O modo-
de-vida japonês (consumo, estabilização financeira, organização na sociedade, não violência etc)
conquistou realmente esses brasileiros descendentes de japoneses? A instabilidade da economia
brasileira prolongou a migração? Medo de não se readaptar ao Brasil? São várias as questões para
serem analisadas no movimento migratório. Limitar-nos-emos, porém, em analisar o retorno desses
migrantes para Álvares Machado, as perspectivas após a migração, a volta ao mercado-de-trabalho e
os investimentos. Qual é a contribuição, ou melhor, existe alguma contribuição dos dekasseguis para
o município de Álvares Machado em relação aos investimentos por eles efetuados? E o sonhos,
foram conquistados?
No Japão, os dekasseguis brasileiros compartilham a situação de trabalhadores do
setor secundário com outros migrantes sul americanos e asiáticos. Os trabalhadores japoneses gozam
dos direitos trabalhistas pagos pelas empresas japonesas. Vale ressaltar que os migrantes são
contratados por empreiteiras de mão-de-obra, pois as empresas japonesas não querem ter nenhum
vínculo com eles. O trabalhador japonês possui seguro-saúde e um bônus, que é pago pela empresa
uma ou duas vezes por ano, que é muito superior ao seu salário, e não podemos esquecer do
emprego vitalício, que é garantido aos trabalhadores japoneses. O emprego vitalício foi uma
estratégia dos sindicatos e das empresas japonesas na década de 1960 de conter o movimento
grevista que aflorava no país. De acordo com Gounet (1999), o emprego vitalício não é privilégio de
todos os trabalhadores japoneses, porém, em épocas de crise, como a que está ocorrendo no Japão, o
desemprego tenderá a atingir primeiramente os migrantes, pois o governo tem pleno compromisso
com o trabalhador japonês. O migrante sofrerá as conseqüências da crise do mercado-de-trabalho
mundial, que não se importa de maneira devida com as minorias que sustentam a produção e a
reprodução do sistema capitalista, produzindo peças para produtos eletrônicos, automóveis,
alimentos, garantindo, assim, o consumo e a sustentação do sistema.
De acordo com Antunes (2000), a flexibilização da produção capitalista trouxe
algumas conseqüências para os trabalhadores. Entre elas, destacamos a precarização do trabalho,
que é representado pelas empresas terceirizadas, subcontratadas, part time, entre tantas outras
formas assemelhadas que se expandem em inúmeras partes do mundo. Esses postos de trabalho, de
47

acordo com o autor, foram preenchidos pelos migrantes como os gastarberters na Alemanha, o
lavoro nero na Itália, os chicanos nos Estados Unidos, os dekasseguis no Japão etc.14
As empresas, no modelo toyotista, de acordo com Ferreira (2001), “estabelecem
novas relações. Este processo leva a uma nova divisão-do-trabalho entre as empresas. Essa nova
divisão, determina o desenvolvimento de cadeias de subcontratação entre, grandes, médias e
pequenas empresas” (FERREIRA, 2001, p. 19).
Ainda de acordo com Ferreira (2001):

O modelo de especialização flexível promove a estruturação de cadeias de subcontratação e


terceirização dos serviços e atividades. Na verdade, a externalização das empresas tem
obedecido à lógica estratégica de eliminação dos custos e de responsabilidades sociais com
a mão-de-obra. Assim, tem-se estabelecido uma precarização do trabalho (FERREIRA,
2001 p. 19,20).

É importante considerarmos as mudanças que vêm ocorrendo no sistema capitalista


em nível mundial, ao longo do tempo, para então entendermos os fluxos migratórios, principalmente
a migração entre o Brasil e o Japão, que possui características próprias.

Matoso (1995), afirma que,

Na Terceira Revolução Industrial, a insegurança no emprego pode ser observada através da


redução relativa ou absoluta de empregos estáveis ou permanentes nas empresas e da maior
subcontratação de trabalhadores temporários, em tempo determinado, eventuais, tempo
parcial, trabalho a domicílio ou independentes, aprendizes, estagiários etc. que conformam o
questionamento progressivo da relação padronizada de emprego, característica do padrão de
desenvolvimento norte americano (MATOSO, 1995, p. 87).

Essa precarização do emprego, de acordo com Matoso (1995), ocorre com evidência
mesmo no Japão, pois as empresas são subcontratadas, mas têm uma relação estreita com a
"empresa mãe"; no entanto, isso não faz com que as mudanças profundas no mercado-de-trabalho
não deixem de existir, como o crescimento do trabalho dos migrantes estrangeiros e feminino e a
desestabilização do sistema de garantia de emprego.

A flexibilidade que Carleial (2001) considera como sendo externa à firma inclui toda
e qualquer prática da firma de externalizar impactos ou choques recebidos, o que pode se referir a

14 ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade no


mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2000 (p. 182, 183).
48

flutuações da demanda, pressão da concorrência, incorporação de progresso técnico que imponha


novo rearranjo entre ela e seus fornecedores, entre ela e o laboratório que faz o controle de
qualidade de matérias-primas, por exemplo.
“A subcontratação é entendida como a contratação externa à firma de serviços ou de
componentes ou peças, de um determinado produto, é uma prática antiga do capitalismo. Qualquer
formato de divisão-do-trabalho entre empresa pode representar a prática da subcontratação”
(CARLEIAL, 2001, p. 38). O que há de novo, de acordo com a autora, é a organização das empresas
em redes.
A subcontratação define os papéis, ou melhor, a divisão do trabalho entre a "empresa
mãe" e as subcontratadas. Vale a pena ressaltar que o operário das empresas subcontratadas, não
possui nenhum vínculo com a "empresa-mãe", é contratado por um período determinado.
Uma das novidades da Terceira Revolução Industrial é que as empresas não estão
mais concentradas espacialmente. Há, portanto, um amplo sistema de comunicação através da fusão
da informática com as telecomunicações e a produção passou a ser realizada fora da fábrica, através
da terceirização dos serviços e subcontratação de pequenas e médias empresas. O processo produtivo
passou a ser realizado em partes do espaço das cidades.
Esse novo modelo de organização do trabalho, o toyotismo, trouxe conseqüências
principalmente para os trabalhadores que, no fordismo, tinham, assegurado pelo Estado, o emprego e
seus direitos trabalhistas. No toyotismo, o trabalhador sofreu, como afirmam Matoso (1995) e
Antunes (2000), as conseqüências da precarização do trabalho.
Os territórios na Terceira Revolução Industrial estão fragmentados, organizados em
redes que permitem a conexão com todos os pontos onde a produção está sendo realizada. Porém, não
é só a produção que circula no espaço fragmentado, mas também a força-de-trabalho.

Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente na década de 1970, houve uma


inversão dos lugares de emigração e imigração, e um país como o Brasil, que recebeu inúmeros
imigrantes europeus e asiáticos, no final do século XIX e início do XX, atualmente, exporta mão-de-
obra. As sucessivas crises econômicas no Brasil nas últimas décadas (altos índices inflacionários,
queda da produção industrial – redução do emprego e não incentivo à agricultura para os pequenos e
médios produtores), fizeram com que muitos brasileiros partissem para países da Europa Ocidental,
Estados Unidos e Japão para trabalhar e, a princípio, retornar brevemente para o país de origem. Esses
49

migrantes, principalmente os brasileiros descendentes de japoneses que migraram para o Japão, a


partir de meados da década de 1980, vão para trabalhar nas pequenas e médias empresas japonesas
subcontratadas por empresas maiores. A remuneração desse migrante é superior à brasileira, porém, as
condições de trabalho seguem os moldes da Terceira Revolução Industrial, os direitos trabalhistas não
são pagos a esse trabalhador, que recebe somente por hora trabalhada.

É um quadro que se expande cada vez mais no sistema capitalista. Os migrantes,


tendo ou não conhecimento da precarização do trabalho, partem em busca dos seus sonhos. Vale a
pena considerar que os migrantes também são indivíduos e todos possuem sonhos15, seja de
conquistar a casa própria, de ter um negócio próprio, ou mesmo manter um nível econômico/social
que não está sendo possível manter no país de origem. Sonhos que são individuais, mas, que
simbolizam os desejos de toda a sociedade capitalista.

Como podemos perceber, os lugares de migração modificam-se ao longo do tempo.


No início do século, considerando a migração entre Brasil e Japão, os lugares dos sonhos possíveis,
perdidos e de conquista, são diferentes dos lugares da migração atual, dos dekasseguis para o Japão.
Mas, por que o lugar? Qual é a relação do migrante com o lugar?

15 Os dekasseguis, assim como os migrantes internacionais que vão para os Estados Unidos e países
da Europa Ocidental, são pessoas que tem o mínimo de instrução para enfrentar a burocracia para
providenciar toda a documentação necessária, assim como, alguma informação sobre o país onde
irão trabalhar. A migração não pode ser comparada a alguns movimentos migratórios que ocorrem
na escala interna do território brasileiro, onde muitas vezes, o migrante quer apenas garantir a sua
sobrevivência, como por exemplo no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais e no Nordeste, ou
mesmo em Goiás, na região dos garimpos. A migração de brasileiros para o Japão é para conquistar
algo que não está sendo possível no lugar de origem, ou seja, a conquista dos sonhos, que está
diretamente ligada ao consumo na sociedade capitalista. Conquistar os sonhos significa poupar para
conquistar a casa própria, o carro, ser dono do próprio negócio, investir em imóveis etc.
50

2. O LUGAR NO MOVIMENTO MIGRATÓRIO DOS JAPONESES PARA O BRASIL E


DOS DEKASSEGUIS BRASILEIROS PARA O JAPÃO
51

O lugar é um conceito importante para a ciência geográfica pois está diretamente


relacionado às dinâmicas do espaço geográfico decorrentes da ação humana. De acordo com Santos
(1987), "Em relação à sociedade global, cada lugar é definido por sua própria história, ou seja, pela
soma das influências acumuladas, provenientes do passado e dos resultados daquelas que mantém
maior relação com as forças do presente" (SANTOS, 1987, p. 86).
Analisar o lugar no movimento migratório justifica-se para conseguirmos entender o
porquê da emigração do lugar de origem e porque o desejo do retorno para o mesmo lugar. Qual é a
relação que o migrante tem com o lugar de origem? O lugar de origem do migrante pode ser
considerado o seu lugar social?
O lugar é onde o indivíduo estabelece suas relações sociais, é onde ele tem sua
identidade, onde ele tem o sentimento de pertencer. É no lugar social que ele deseja realizar os seus
sonhos. Pretendemos, na análise do movimento migratório dos japoneses e seus descendentes ao
longo do tempo, territorializar os lugares dos sonhos dos migrantes, que não são os mesmos, pois os
lugares da migração são condicionados pelo capital que tem o poder de dinamizar ou não os lugares
e os territórios em tempos diferentes, diferenciando os lugares de emigração e de imigração.
Consideramos que os lugares dos sonhos no movimento migratório dos japoneses e seus
descendentes, são os lugares onde o capital está ou esteve concentrado e centralizado, que
denominamos como o lugar dos sonhos possíveis, e os lugares onde o capital não está concentrado
nem centralizado, denominamos como o lugar dos sonhos perdidos; é o lugar onde o capital tem a
capacidade de expulsar as minorias. Porém, vale ressaltar que esses lugares, pela própria dinâmica
territorial e do capital, podem se modificar ao longo do tempo.
Como afirma Santos (1987), "enquanto um lugar vem a ser condição de sua pobreza,
um outro lugar poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o acesso aos bens e serviços que lhes
são teoricamente devidos, mas que, de fato lhe faltam" (SANTOS, 1987, p. 81).
Estamos aqui afirmando que os sonhos são inerentes aos movimentos migratórios,
pois o migrante só se submete a sair do seu lugar de origem porque tem a possibilidade de retornar.
Os sonhos também estão diretamente atrelados ao consumo na sociedade capitalista. Os migrantes
querem possuir algo que não é possível ter no seu lugar, por isso migram, pois o capital dinamiza
lugares que proporcionam ao migrante, de alguma maneira, tornar os sonhos possíveis. Santos
(1987), afirma que
52

No contexto das migrações brasileiras, estas são vistas como verdadeiras migrações
forçadas, provocadas pelo fato de que o jogo do mercado não encontra qualquer contrapeso
nos direitos dos cidadãos. São freqüentemente também migrações ligadas ao consumo e à
inacessibilidade a bens de serviços essenciais (SANTOS, 1987, p. 44).

Assim, a análise do lugar não deve ser feita por si só, mas sim através das relações
do local com o global, pois de acordo com Carlos (1996),

Cada vez mais o espaço constitui numa articulação entre o local e o mundial, visto que,
hoje, o processo de reprodução das relações sociais dá-se fora das fronteiras do lugar
específico até lá pouco vigentes. Novas atividades criam-se no seio de profundas
transformações no processo produtivo, novos comportamentos se constróem sob novos
valores a partir da constituição do cotidiano (CARLOS, 1996, p. 14).

Vivemos num período de intensas transformações do processo produtivo; o mundo


está globalizado. Autores como Ianni (1996), falam-nos do mundo como uma aldeia global, onde
todos os lugares estão interligados e são homogêneos. Santos (2000) afirma que a globalização não
ocorre em todos os lugares, portanto, não há uma homogeneidade espacial. A globalização ocorre
nos lugares onde o capital está concentrado e centralizado, principalmente nas metrópoles mundiais,
ou Global Cities, como afirma Sassen (1999).

Por sua vez, a globalização materializa-se concretamente no lugar, aqui se


lê/percebe/entende o mundo moderno em suas múltiplas dimensões, numa perspectiva mais
ampla, o que significa dizer que no lugar se vive, se realiza o cotidiano e é aí que ganha
expressão o mundial. O mundial que existe no local, redefine seu conteúdo sem todavia
anularem-se as particularidades (CARLOS, 1996, p. 15).

Trazendo a discussão do lugar para os movimentos migratórios, a afirmação de que


não há uma homogeneidade dos lugares, mesmo em época de globalização, torna-se ainda mais
evidente, pois o migrante deixa seu lugar de origem, lugar onde ele possui sua identidade, suas
relações sociais, familiares, enfim, tem a sua história, a sua alma e migra para lugares estranhos, de
início não-lugares, pois a única relação que ele pretende ter é de trabalho, de vender sua força-de-
trabalho por um período determinado e retornar para o seu lugar social. De acordo com Santos
(1987), "quando o homem se defronta com um espaço que não ajudou a criar, cuja história
desconhece, cuja memória lhe é estranha, esse lugar é a sede de uma vigorosa alienação"
(SANTOS, 1987, p. 61).
Portanto, o lugar da migração, nem sempre é o lugar do migrante; dependerá muito
das relações sociais que serão estabelecidas no novo lugar, porém, mesmo que o migrante
53

permaneça por um tempo maior que o planejado, o sonho do retorno, o saudosismo para com o lugar
de origem permanece no seu cotidiano.

[..] o lugar guarda em si e não fora dele o seu significado e as dimensões do movimento da
história em constituição enquanto movimento da vida, possível de ser apreendido pela
memória, através dos sentidos e do corpo. O lugar se produz na articulação contraditória
entre o mundial que se anuncia e a especificidade do particular. Deste modo, o lugar se
apresentaria como o ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local
enquanto especificidade concreta, enquanto momento (CARLOS, 1996, p. 15,16).

Pensar o lugar é pensar a produção do espaço ao longo do tempo, de acordo com


Carlos (1996):
A produção espacial realiza-se no plano do cotidiano e aparece nas formas de apropriação,
utilização e ocupação de um determinado lugar, num momento específico, e revela-se pelo
uso como produto da diferenciação social e técnica do trabalho que produz uma morfologia
espacial fragmentada e hierarquizada. [...] O lugar é o mundo do vivido, é onde se
formulam os problemas da produção no sentido amplo, isto é, o modo como é produzida a
existência social dos seres humanos (CARLOS, 1996, p. 26).

Como já foi destacado, o debate do lugar na ciência geográfica é pertinente se


pensarmos na articulação entre o global e o local. Como afirma Carlos (1996), o desenvolvimento da
técnica vem implicando em transformações no processo produtivo; os meios de comunicação
passaram a ligar os espaços através da rede de fluxos, ultrapassando as fronteiras.
Nesse novo contexto, o lugar se redefine pelo estabelecimento e/ou aprofundamento de suas
relações numa rede de lugares. É evidente que o lugar se define, inicialmente como a
identidade histórica que liga o homem ao local onde se processa a vida, mas cada vez mais a
“situação” se vê influenciada, determinada, ou mesmo ameaçada, pelas relações do lugar
com um espaço mais amplo (CARLOS, 1996, p. 28).

No movimento migratório dos japoneses para o Brasil, no início do século XX, não
havia, como atualmente, a articulação entre os lugares de emigração e imigração. No movimento
migratório dos dekasseguis, que se iniciou em meio à globalização, a articulação entre os lugares de
emigração e migração tornaram-se mais evidentes, seja através das redes sociais que se formaram,
seja pela rede de fluxos de informações e transportes. Portanto, o desenvolvimento das técnicas, que
permite uma maior circulação de pessoas (força-de-trabalho), informações e capital, permite que um
movimento migratório de escala global acarrete impactos numa escala local, seja no modo-de-vida
dos que não migraram, ou dos que migraram e retornaram, seja nos investimentos realizados por
esses migrantes no lugar de origem.
54

O migrante, hoje, mesmo estando distante, sente-se próximo do seu lugar social, pois
freqüentemente mantém contato com os que ficaram seja por cartas, telefone e internet; também pela
facilidade dos transportes, as idas e vindas do lugar de trabalho para o lugar social 16, tornaram-se
constantes.

O lugar na era das redes traz a idéia de que os novos processos de produção e de troca se
dão hoje de outra forma no espaço, num momento em que as vias de transportes e de
comunicações mudam radicalmente sua configuração que não passa somente pelas rotas
terrestres tradicionais – marítimas, rodoviárias, ferroviárias, mas cada vez mais aéreas, vias
de satélites e através da ainda em instalação superhighway, que cria a aparência de que se
perde as bases territoriais. Na realidade, a tendência à anulação do tempo/distância entre os
lugares no espaço do globo terrestre parece diminuir de tamanho articulando lugares agora
através das redes de alta densidade de trocas de informações (CARLOS, 1996, p. 34/35).

A informação está presente, e ela faz com que o mundo se torne globalizado. Porém,
não podemos deixar de considerar a produção do lugar pelo vivido, pelo cotidiano, pois os lugares
não são homogêneos, assim também as redes de lugares não o são.
Uma das evidências de que cada lugar possui sua história, suas características
próprias, é o desejo de retorno dos migrantes. Os dekasseguis submetem-se às explorações nas
empresas japonesas, por suporem que sejam de caráter temporário.
Nos dizeres de Santos (1996), “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão
global e de uma razão local, convivendo dialeticamente” (SANTOS, 1996, p. 273).
Os lugares dos sonhos perdidos, possíveis e de conquista modificam-se ao longo do
tempo, pois esses lugares têm sua dinâmica ditada pelo capital. De acordo com Santos (1996), “num
dado momento, o “mundo” escolhe alguns lugares e rejeita outros e, nesse movimento modifica o
conjunto dos lugares, o espaço como um todo. É o lugar que oferece ao movimento do mundo a
possibilidade de sua realização mais eficaz” (SANTOS, 1996, p. 271).
Buscando o entendimento dos lugares de migração, ao longo do tempo, dos japoneses
e seus descendentes, tentaremos abordar algumas características próprias de cada movimento, para
assim, entendermos essa busca incessante da conquista dos sonhos através da migração e da sujeição
de exploração pelo capital.

16 Vale a pena destacar que estamos utilizando lugar social e lugar de origem como sinônimos, pois, é no lugar de origem que o
migrante dekassegui possui suas relações sociais, possui sua identidade. De acordo com Soares, 1995. In: Revista Travessia, n.º 21,
ano VIII, Jan./Abril, 1999, p. 23 a 27.
55

2.1 A imigração japonesa no Brasil

A imigração japonesa no Brasil ocorreu num momento histórico posterior à imigração


européia. Data de 1908 o primeiro navio com imigrantes japoneses que vieram para trabalhar como
colonos nas lavouras cafeeiras do Estado de São Paulo. Perguntamos por que a adoção de mão-de-
obra japonesa para trabalhar no Brasil.
Para entendermos como e porquê da adoção de japoneses no Brasil, temos que
considerar o momento histórico de cada país, perpassado, principalmente, pelas condições
econômicas. Vamos considerar o Japão, na época, como sendo o lugar dos “sonhos perdidos” e o
Brasil, o lugar dos “sonhos possíveis”17.
O Japão, no final do século XIX e início do século XX, estava passando por
mudanças econômicas e políticas, que atingiram toda a sociedade.
Como afirma Lima (2001), “o Japão no final do século XIX e início do século XX,
estava em meio à restauração Meiji, que implicou no impulso inicial para o desenvolvimento e a
fundação do Japão como país moderno, no período de 1868 a 1912” (LIMA, 2001, p. 112).

O governo Meiji adotou políticas que aumentaram as transferências de


excedentes da agricultura para os setores econômicos considerados
modernos. O processo de modernização econômica, gerador de uma
realidade urbano-industrial para o país, acabou por elevar os custos para
pequenos produtores rurais – quase 50% deles arrendatários, ainda em 1914
(LIMA, 2001, p. 113).

Era um Japão que estava passando do período feudal para um Estado moderno,
pautado na industrialização, com a inovação das técnicas. Assim, os pequenos produtores rurais
estavam com dificuldades para dar continuidade à atividade agrícola. A crescente população era uma
barreira a ser enfrentada, por causa da pequena extensão territorial do país. O Japão era o lugar dos
“sonhos perdidos”, o lugar das impossibilidades de ascensão econômica e social e, nesse caso, a
emigração era uma alternativa. Mas, emigrar para onde?

17 O sonho como afirma SAYAD (1998), “é um dos impulsos marcantes para a migração”. Pois os migrantes ganham forças para partir do lugar de
origem, quando há possibilidade de uma mobilidade social, mesmo que para isso, ele tenha que sair do seu lugar, pois é por um período temporário”.
Portanto, a possibilidade de retorno e de mobilidade social são condicionantes importantes na decisão de migrar, que na verdade é uma decisão
imposta por forças maiores, do sistema que gera exclusão.
Depoimento de um de nossos entrevistados, no Trabalho de Campo (TC) realizado no município de Álvares Machado, no período de janeiro à abril de
2002.
56

O Brasil, país de extensão territorial bem maior que o Japão e com terras férteis,
estava necessitando de "braços" para a lavoura cafeeira, pois com a abolição da escravatura, a mão-
de-obra tornou-se escassa no país. A adoção de trabalhadores estrangeiros era uma alternativa.
A imigração estrangeira para o Brasil ocorreu por todo o século XIX, com a vinda dos
imigrantes europeus (principalmente portugueses, italianos e espanhóis). Os japoneses só foram
requisitados para trabalhar no Brasil porque os governos europeus proibiram a vinda de imigrantes
para este país, pois tiveram notícias dos maus tratos que os imigrantes estavam sofrendo nas
lavouras de café, no tocante à exploração do trabalho. Assim, os fazendeiros de café e o governo
brasileiro saíram à procura de alianças com os governos estrangeiros a fim de atrair "braços" para o
trabalho no campo e também queriam abrir novos mercados para o café brasileiro; neste caso, o
Japão era uma alternativa. Por ser o Japão um país distante, representava um futuro mercado para a
exportação do café e também um mercado fornecedor de mão-de-obra, pois o governo japonês (por
motivos destacados acima), estava incentivando a emigração de japoneses (que já estava ocorrendo
para as ilhas do Havaí e para os Estados Unidos). O Brasil, neste contexto, representava o lugar dos
“sonhos possíveis” para os japoneses. Como podemos visualizar no Mapa 1, os imigrantes japoneses
que vieram para o Brasil, partiram de várias regiões do Japão, principalmente do Sul do país, das
províncias de Okinawa, Kagoshima, Kumamoto, Fukuoka, Saga e Wakayama, e do Norte, das
províncias de Fukushima e Niigata. Eram regiões agrícolas do Japão da época.
A migração entre o Brasil e o Japão aconteceu por intermediação dos governos dos
dois países e dos fazendeiros de café brasileiros. “Os imigrantes japoneses que vieram no navio
Kasato-Maru aportaram em Santos – SP, no ano de 1908 e direcionaram-se para as lavouras
cafeeiras no Estado de São Paulo” (Yoshioka, 1995, p. 27).

QUADRO 1: A Imigração Japonesa no Brasil


PERÍODO TOTAL DE PESSOAS
1908 – 1941 Anterior à 2ª Guerra Mundial 188.309
1942 – 1951 Suspensão da Imigração – Guerra Zero
1952 – 1993 Retomada da Imigração – Pós Guerra 53.657
TOTAL 241.966
57

FONTES: Museu de Imigração Japonesa de São Paulo – Anterior à Guerra: Ministério do Trabalho,
Comércio e Indústria do Brasil – Depto. de Imigração. Pós Guerra: Kokusai Kyoryku Jigyodan (JICA)
ORG.: Denise Cristina Bomtempo
agosto/2002

É importante ressaltar que a imigração japonesa no Brasil teve duas fases, como
afirma Saito (1973), “anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial”, como também podemos
visualizar no Quadro 1.
A imigração no período anterior à Segunda Guerra Mundial tinha o caráter
temporário, ou seja, os imigrantes tinham, como objetivo, permanecer um período de 5 a 10 anos
para a aquisição de uma quantidade de dinheiro que possibilitasse o retorno para o Japão e continuar
a viver no seu país de origem, mas não foi bem isso que aconteceu. Os japoneses, como os europeus,
foram “enganados”. A propaganda que foi feita para atrair os imigrantes relatava que "no Brasil se
poderia colher dinheiro em árvore, rastelar com a enxada, ou colher igual ovo...18”

Como já foi destacado, os imigrantes, quando chegaram ao Brasil, foram trabalhar


nas lavouras cafeeiras do Estado de São Paulo. No Mapa 2, podemos visualizar onde se concentrou
a maioria dos imigrantes japoneses, principalmente na Região Mogiana, área tradicional de café no
Estado, onde estão localizados os municípios de Ribeirão Preto, Cravinhos, São Simão, Palmeiras,
Jardinópolis etc e também na Região de Botucatu, São Manoel, Barra Bonita etc.

De acordo com o Mapa 2, a Região da Alta Sorocabana onde se localiza Álvares


Machado, entre 1917 - 1922, não era uma região explorada pela mão de obra imigrante, pois eram
terras novas no Estado de São Paulo. No Mapa, verificamos que, em Presidente Prudente, município
próximo a Álvares Machado, o número de famílias japonesas na época era bem reduzido em relação
às outras regiões.

18 Depoimento do Entrevistado 1 - Trabalho de Campo (TC) realizado no município de Álvares Machado, no período de janeiro a
fevereiro de 2002.
58

Nos depoimentos dos entrevistados, verificamos que os "agenciadores de imigrantes",


faziam propagandas de má fé, atraindo os japoneses para o território brasileiro. Era colocado que o
Brasil era uma terra de riquezas. Isso mexeu com os sonhos desses indivíduos, que se aventuraram
além mar. A "árvore do dinheiro" realmente existia na época, era o café, mas como vivemos numa
sociedade capitalista, a renda obtida com a venda do produto, era dos fazendeiros, e os imigrantes
eram explorados em seu trabalho e tinham remuneração irrisória, muitas vezes não sendo suficiente
nem para pagar a comida que consumiam. Assim, os anos de imigração no Brasil iam se
prolongando.
A segunda fase, após a Segunda Guerra Mundial, foi, para a maioria dos imigrantes
japoneses, um marco da impossibilidade do retorno para a terra natal, pois o Japão estava destruído
com a Guerra. Os sonhos, portanto, tinham que ser realizados no Brasil, que passou a ser o lugar da
conquista dos sonhos. Os japoneses que trabalhavam como colonos tinham, como única alternativa,
a fuga da exploração do trabalho, a liberdade além das cercas da fazenda. Partiram, então, para as
novas áreas destinadas à colonização no Estado de São Paulo, entre elas a Região Oeste, onde está
localizado o município de Álvares Machado.

“O caminho até chegar em Álvares Machado, era feito a pé, no meio do mato, ou quando
alguma família tinha sorte, como a minha, pegava uma carona nos vagões de trem que
traziam madeira para a construção da estrada de ferro, mas não podíamos dormir, pois se
ocorresse, corríamos o risco de cair de cima das madeiras, pois não tinha nenhuma
segurança, né! Aqui chegando, meu pai comprou um pedacinho de terra e ficou pagando
por muito tempo”. (Entrevistado 03 – Jan/Fev/2002).
59

Chegando a Álvares Machado por volta de 1916/1917, os primeiros imigrantes


localizaram-se numa área chamada Brejão, formando, assim, o primeiro núcleo de imigrantes
japoneses. Foram derrubando a mata e dedicando-se às atividades agrícolas, cultivando o café;
porém, com a queda do preço deste produto, passaram a cultivar outros gêneros como algodão,
amendoim, menta, batatinha etc. Por fim, parece que os imigrantes japoneses encontraram a
vocação, pois passaram a cultivar hortifrutigranjeiros, constituindo a base da produção agrícola do
município, é o que afirma Sposito (1982). Essa definição pode ser datada de meados da década de
1960. Álvares Machado tornou-se o lugar da conquista dos sonhos, principalmente após a Segunda
Guerra Mundial. Os japoneses não tinham mais a intenção de voltar para o Japão, pois os laços com
o novo país – Brasil, já estavam consolidados, seja pela aquisição de terras e outras benfeitorias, seja
pelo nascimento dos filhos no novo lugar.
A vinda de imigrantes japoneses para Álvares Machado tornou-se uma constante até
por volta de 1950. Uma das características desse grupo de imigrantes é sua organização em colônias.
Um dos motivos que eles destacaram (em entrevista realizada – TC - jan/fev./2002), “era para
facilitar a formação de escolas para a educação das crianças”. Havia, na década de 1940, cerca de
493 famílias japonesas residentes em Álvares Machado, principalmente na zona rural. Esses
imigrantes, portanto, passaram a influenciar diretamente a vida econômica e cultural do município
(foi relatado em entrevistas que os japoneses não gostavam de participar da política; este fato se
confirma com o número reduzido de descendentes que ocupou os poderes executivo e legislativo do
município: apenas 1 prefeito e 2 vereadores). Além da vida dedicada ao cultivo na zona rural, muitas
famílias partiram para atividades na área urbana, no comércio. Muitos deles eram e são donos de
lojas de tecidos, de fotos, armazéns, postos de gasolina etc.
Ao longo do tempo, as famílias dos imigrantes foi crescendo e, principalmente, os
filhos tinham a necessidade de estudar e trabalhar e Álvares Machado por ser um município
pequeno, não oferecia grandes oportunidades. Por isso, famílias inteiras e também muitos jovens
(descendentes) partiram para os centros urbanos maiores. Um dos lugares mais atrativos,
principalmente após 1950, era São Paulo, pelas oportunidades de emprego nas indústrias e a
possibilidade de continuidade dos estudos.
60

Este foi um dos fatores que contribuíram para a diminuição das famílias japonesas e
descendentes no município, pois atualmente totalizam 153 famílias19.
Um fator que também contribuiu, não para a diminuição das famílias, mas para o
esvaziamento delas, principalmente de jovens descendentes de japoneses de Álvares Machado, foi o
início do movimento migratório dos dekasseguis (palavra japonesa que significa sair do lugar de
origem para trabalhar com remuneração), que se faz presente na história da migração entre o Brasil e
o Japão e que tem algumas características próprias, pois está inserido numa dinâmica econômica
diferente daquela do início do século XX, quando os primeiros japoneses vieram para o Brasil. Uma
dessas características é a possibilidade de idas e vindas do lugar de emigração para o lugar de
imigração e vice-versa, num curto período.
Essas várias idas e vindas também devem ser pensadas sob o aspecto da
globalização, em que tudo se procede em ritmo acelerado. A sensação de um
mundo “cada vez menor pode ser atribuída à compreensão do tempo e
espaço”, termo bem utilizado por Harvey (1989), que é uma das
características mais marcantes do mundo contemporâneo traçadas pelo
desenvolvimento tecnológico no campo dos transportes e comunicação
(SASAKI, 1999, p. 256).

O Japão, atualmente, não é mais um país agrário, nem o Brasil necessita de braços
para as lavouras cafeeiras. As migrações, de acordo com Brito (1995), não caminham mais para
serem definitivas, mas sim, de caráter temporário; a inserção do migrante no mercado de trabalho
não se dá mais pelo meio rural, mas sim em áreas de maior concentração de indústrias,
principalmente em áreas urbanas, sem se falar nos lugares dos “sonhos e não sonhos”, que se
modificaram ao longo do tempo.

2.2 Os movimentos migratórios internacionais e a migração de brasileiros para o Japão:


algumas considerações

O movimento migratório de brasileiros para o Japão (chamado de dekassegui), não é


um fato isolado, mas está inserido no contexto da migração internacional de brasileiros para o
exterior.

19 Fonte: Associação Cultural, Agrícola e Esportiva Nipo-Brasileira de Álvares Machado (2002).


61

De acordo com Sales (1995), a migração de brasileiros para o exterior é uma


característica da década de 1980, considerada perdida no cenário brasileiro.
As migrações recentes de brasileiros para os Estados Unidos, para o Japão,
para Portugal, para Itália e até para o Paraguai, são o retrato de um Brasil
que, se na passagem do século passado e nas primeiras décadas do atual
recebia imigrantes que para aqui trouxeram o seu legado de técnica e
cultura, agora, na passagem para um novo século, começa a exportar o que
há de melhor em seu território: o seu povo (SALES, 1995, p. 5 e 6).

De acordo com Oliveira (1997), "da década de 1980 em diante, a degradação do


poder aquisitivo dos brasileiros é enorme. Sucessivos planos econômicos na tentativa de controle da
inflação remetem a sucessivos fracassos: Plano Cruzado I, Plano Cruzado II, Plano Verão, Plano
Bresser, acabam compondo um quadro de uma decepção após a outra" (OLIVEIRA, 1997, p. 56).
Como se já não bastasse, nos anos de 1990, com a tomada de posse do governo
Collor, e o confisco da poupança dos brasileiros, temos uma revoada de brasileiros migrando para os
países desenvolvidos.
A década de 1980 e início da década de 1990 realmente foram decisivas em relação à
decisão de migrar ou ficar em território brasileiro. Ficar significava enfrentar as sucessivas crises da
economia brasileira; migrar significava enfrentar o novo, deixar o lugar de origem, as relações
sociais, a família etc.
Assim, como afirma Oliveira (1997),
Pela primeira vez na história do Brasil, verifica-se um processo inédito de
saída da população brasileira em direção a outros países do chamado
Primeiro Mundo. Este processo, em grande parte, "assustou" a sociedade
brasileira, porque, além de inédito, resultou num movimento emigratório que
começou de forma sutil, e que foi aos poucos tomando amplas proporções
em determinados setores mais ou menos específicos. [...]observou-se desde
meados dos anos 80 um fluxo de "descendentes" buscando refúgio na Pátria
de origem de seus antepassados, numa tentativa de escape da crise
econômica e social profunda em que o Brasil se via mergulhado
(OLIVEIRA, 1997, p. 61, 67).

Na Tabela 1, podemos visualizar o direcionamento do fluxo migratório de brasileiros


no exterior. Os Estados Unidos estão em primeiro lugar na adoção de mão-de-obra brasileira,
contando com 598.526 migrantes; em seguida, o Paraguai, com 460.846 migrantes brasileiros. Vale
ressaltar que o movimento migratório de brasileiros para o Paraguai se difere dos demais, pois é
considerado uma migração de fronteira (Haesbaert, 2000). Em terceiro lugar, encontra-se o Japão no
62

quesito de adoção de mão de obra brasileira, com 201.139 migrantes 20brasileiros. Há de se


considerar também a migração para países da Europa Ocidental, que é significativa, sendo que, na
Itália, temos um total de 40.118 migrantes; na Alemanha 36.092, em Portugal 32.069 e na Inglaterra
19.570 migrantes. Esses dados estão um pouco defasados, mas contribuem para termos uma noção
dos territórios da migração dos brasileiros em escala mundial.

Tabela 1: Brasileiros no Exterior


Região ou País N.º de %
Brasileiros
África 3.126 0,20
América Central 2.052 0,13
Canadá 11.212 0,72
Estados Unidos 598.526 38,36
Paraguai 460.846 29,54
Uruguai 19.986 1,28
Guiana Francesa 15.035 0,96
Argentina 15.404 0,99
Suriname 13.000 0,83
Bolívia 6.676 0,43
Venezuela 5.307 0,34
Demais países da América 9.483 0,61
Ásia exclusive Japão 1.923 0,12
Japão 201.139 12,89
Oriente Médio 9.400 0,60
Itália 40.118 2,57
Alemanha 36.092 2,31
Portugal 32.068 2,06
Espanha 10361 0,66
Inglaterra 19.510 1,25
Países Nórdicos 9.846 0,63

20 De acordo com o CIATE - SP - Centro de Apoio ao Trabalhador no Exterior, escritório de São Paulo, no ano 2000, tem-se um
total de 254.394 brasileiros vivendo no Japão como dekassegui, Gráfico 1.
63

Suíça 8.353 0,54


França 8.219 0,53
Países Baixos 6.033 0,39
Grécia 2.503 0,16
Áustria 950 0,06
Irlanda 80 0,01
Europa Ocidental 410 0,03
Austrália 12.504 0,80
TOTAL 1.560.162 100,00
Fonte: Sasaki, 1999, p. 245.

Sales (1995) afirma que a história desses novos fluxos de migração de brasileiros
possui especificidades. Por que migrar para Portugal e não para a Áustria? Por que a preferência
pelos Estados Unidos e não pelo Canadá? Qual é a relação da migração entre o Brasil e o Japão?
Uma das respostas para essas questões é em relação à concentração e centralização do
capital num dado território. Mesmo em época de globalização, o capital não está presente de
maneira homogênea no espaço mundial; portanto, o migrante vai para os territórios onde há
possibilidade de uma maior remuneração em relação ao seu lugar de origem. Vale a pena ressaltar
que, independentemente do migrante estar no Japão, nos Estados Unidos ou na Itália, como
migrante temporário, ocupará os lugares considerados de baixa qualificação profissional no
mercado-de-trabalho do país de destino. Irá residir nos subúrbios das grandes cidades e receber
salários irrisórios em relação ao salário do lugar de migração e, na maioria das vezes, não terá
nenhuma seguridade social. Mas, estará em situação de privilégio em relação ao salário do Brasil,
pois a quantia que o migrante brasileiro receberá é bem superior.
De acordo com Margolis (1994),
Na cidade de Nova York, os brasileiros se concentram no setor de serviços
gerais mal remunerados, os homens lavam pratos, trabalham como ajudantes
de garçom e engraxam sapatos; as mulheres limpam apartamentos e cuidam
de crianças. Nos subúrbios, os homens são freqüentemente encontrados na
construção não especializada e em serviços de manutenção, enquanto lá
também, a maioria das mulheres brasileiras trabalham como empregadas
domésticas (MARGOLIS, 1994, p. 47).

Os brasileiros migram para os países desenvolvidos para exercer atividades não


qualificadas, desprezadas pelos naturais dos países de destino. Esses migrantes, de acordo com
Margolis (1994), são refugiados econômicos do seu país de origem e se submetem à migração para
conquistar bens materiais que não são possíveis de serem adquiridos no seu país. Migram com o
desejo de economizar uma quantia de dinheiro e retornar.
64

Assim, diante do quadro de instabilidade econômica e política da década de 1980 e


início dos anos 1990, muitos brasileiros deixaram para trás seu lugar de origem, seus familiares,
amigos, sua própria identidade e partiram para conquistar seus sonhos em lugares desconhecidos,
embora desempenhando atividades não qualificadas. Os migrantes submetem-se a essa situação pois
o retorno é algo planejado, fazendo com que a situação de trabalhador não qualificado tenha um
caráter temporário, provisório, até que seja possível a conquista dos sonhos e o retorno.
O movimento migratório de isseis e nisseis21 (com dupla nacionalidade) para o Japão,
data de meados da década de 1980. Este movimento migratório passou a ser chamado de dekassegui,
ou melhor, fenômeno dekassegui, de acordo com Ninomiya ((1998).
Mas, o que significa a palavra dekassegui? De acordo com Sasaki (1998),

A palavra japonesa dekassegui, significa trabalhar fora de casa com


remuneração. No Japão, referia-se aos trabalhadores que saíam
temporariamente de suas regiões de origem e iam em direção a outras mais
desenvolvidas, sobretudo aqueles provenientes do norte e nordeste do Japão,
durante o rigoroso inverno que interrompiam suas produções agrícolas no
campo (SASAKI, 1998, p. 9).

O início do movimento migratório, primeiramente dos japoneses (isseis) e nisseis


com dupla nacionalidade, residentes no Brasil, foi marcado por muitas incertezas pois não se
conhecia de maneira ampla o território de migração dos dekasseguis, ou seja, não se tinham
informações de como seriam tratados em solo japonês, não se tinha conhecimento do local de
moradia, e do próprio emprego, além do modo de vida japonês que é diferente do brasileiro. Em
relação ao trabalho a desempenhar, de acordo com Asari (1992) e Sasaki (1998), os dekasseguis
passaram a realizar os trabalhos que não exigem qualificação profissional, considerados pelos
japoneses como 3 Ks - kitanai (sujo), kiken (perigoso) e kitsui (penoso). Kawamura (1999) afirma
que esses trabalhos são considerados pelos brasileiros como 5 Ks; além dos 3 Ks, acrescentaram
kibishi (exigente) e kirai (detestável).
No início da década de 1990, o movimento dekassegui passou por um intenso
processo de massificação. Autores como Sasaki (1998), Kawamura (1999), Asari (1992), Ninomiya
(1998) e Yoshioka (1995) atrelam esse fato à "abertura" na legislação japonesa de imigração e
também às incertezas da economia brasileira.
21 Issei - palavra japonesa que corresponde à primeira geração de japoneses residentes fora do Japão e nissei , corresponde à
segunda geração de descendentes de japoneses fora do Japão.
65

A reformulação da Lei Japonesa de Controle da Imigração foi um marco na migração


de trabalhadores não qualificados para o Japão, descendentes e ilegais. Vale ressaltar que essa lei de
controle da imigração no Japão, aplica-se somente aos trabalhadores não qualificados; os
qualificados e estudantes que vão desenvolver algum tipo de pesquisa ou realizar estágios, podem
permanecer livremente no território japonês, desde que estejam com a documentação necessária.
Essa abertura na legislação, de acordo com Kawamura (1999), não teve o intuito de
auxiliar na ida de descendentes de japoneses para o Japão, mas sim, entre outros fatores, prevaleceu
a tentativa de controlar a migração de ilegais. A princípio, as autoridades japonesas concederam ao
descendente de japonês, o visto para trabalhar temporariamente no Japão, pois, acreditavam que, por
se tratar de descendentes de japoneses, o processo de adaptação ao modo-de-vida e ao sistema de
trabalho nas empresas japonesas seria mais fácil; porém não foi isso que ocorreu.
Reis Fontenele (2002), sobre a lei afirma que,
Em 15 de dezembro de 1989 foi promulgada a atual Lei de Controle de
Imigração que entrou em vigor em 1º de junho de 1990. (...) A reforma foi
inspirada essencialmente pela preocupação com o acelerado acúmulo de
trabalhadores estrangeiros clandestinos no Japão (asiáticos em maioria). De
acordo com a exposição de motivos do Ministério da Justiça que submetia o
projeto de reforma à aprovação da Dieta japonesa, os objetivos da nova
legislação fundamentavam-se basicamente nos seguintes três pontos: i)
revisão do status de residente para cidadãos estrangeiros; ii) maior
detalhamento dos procedimentos relativos à entrada e permanência no país;
iii) busca de solução para o problema dos trabalhadores estrangeiros ilegais
(REIS FONTENELE, 2002, p. 67).
O Japão, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se um país receptor
de mão-de-obra, porém, restringia-se à mão-de-obra proveniente dos países asiáticos (até a década
de 1980). Já nos anos 1970, como afirma Kawamura (1999), diante da escassez de mão-de-obra nas
indústrias japonesas, discutia-se a possibilidade de importar mão-de-obra, porém, a crise do petróleo
fez com que os empresários japoneses contornassem a situação com medidas internas, contratando
trabalhadores japoneses em meio período e por trabalho temporário. Essa situação perdurou até
meados da década de 1980.
O rápido e elevado crescimento econômico do Japão na década de 1980,
acompanhado de um novo padrão de organização da produção, da
diminuição da população jovem, da não absorção de mulheres em idade
produtiva no mercado-de-trabalho, colocou o desafio da expansão e
manutenção do padrão de crescimento, em face da diminuição da oferta de
mão-de-obra, particularmente para as empresas de pequeno porte
(KAWAMURA, 1999, p. 52).
66

A expansão da economia japonesa fez acirrar o problema da escassez de mão-de-obra,


de acordo com Kawamura (1999),

Principalmente nas pequenas e médias empresas, por estas não contarem


ainda com alta tecnologia, ou devido à própria natureza da atividade, que
não pode prescindir do trabalho humano, ou seja, à pressão da crescente
demanda das grandes indústrias. Por sua vez, indústrias de grande porte não
sentiam a falta de mão-de-obra, por contarem com mão de obra japonesa,
que, seletivamente, buscava empregos vitalícios em uma grande e
prestigiada empresa, para garantir sua vivência, status social e possibilidade
de carreira (KAWAMURA, 1999, p. 54).

Assim, a partir da década de 1980, ocorreram pressões dos empresários japoneses


para buscar mão-de-obra no exterior. Em conseqüência, houve uma revoada de migrantes ilegais,
que só foi barrada na década de 1990 com a emenda na Lei de Controle de Imigrantes, como já foi
mencionado.
Indiretamente, essa abertura na legislação favoreceu os japoneses e seus descendentes
residentes fora do Japão, principalmente os que residiam em território brasileiro, haja vista que o
Brasil, nos primeiros anos do século XX, recebeu um contingente expressivo de imigrantes
japoneses que aqui ficou e constituiu famílias.
Diante da crise econômica brasileira, os brasileiros descendentes passaram a migrar
para o Japão a fim de trabalhar nas pequenas e médias empresas japonesas, no setor periférico do
mercado-de-trabalho japonês, no qual não é necessário a adoção de mão-de-obra qualificada. Essas
atividades são compartilhadas com os próprios japoneses e migrantes de outras etnias.

No que se refere à permissão para ingresso dos nikkei, a nova lei estabeleceu
a categoria "residentes por longo período", segundo a qual os nisseis
(segunda geração) ganhavam o direito ao visto de permanência por três anos,
e os sanseis (terceira geração) podiam permanecer por um ano. Em ambos os
casos o visto pode ser prorrogado por igual período, mais de uma vez. Esse
tipo de visto, que também é estendido ao seu cônjuge (mesmo não tendo
ascendência nipônica) e filho, permite o trabalho no Japão sem restrições
(REIS FONTENELE, 2002, p. 68).

O Brasil, portanto, passou a ser o maior fornecedor de mão-de-obra para o Japão, em


relação aos países da América do Sul. Vejamos no Gráfico 1:
67

FONTE: CIATE/SP - Centro de Informações ao Trabalhador no Exterior - São Paulo, 2000


ORG.: Denise Cristina Bomtempo agosto/2002

Os dekasseguis brasileiros correspondem a 82,26% do total de sul americanos no


Japão, seguidos dos peruanos, que correspondem a 14,93%; os bolivianos correspondem a 1,26%, os
argentinos correspondem a 0,99%; por fim, os paraguaios correspondem a apenas 0,54% do total de
sul americanos no Japão. Vale a pena ressaltar que os brasileiros são os únicos considerados legais
no território japonês, de acordo com Ninomiya (1998). Porém, não são todos os brasileiros que
podem se candidatar a ser um dekassegui. Para tanto, necessitam ter ascendência japonesa ou ser
cônjuge de descendente. A migração, portanto, é de caráter seletivo, sendo a etnia uma barreira ou
uma facilidade para a migração.

De acordo com Kawamura (1999),


A maioria dos brasileiros integra o conjunto de trabalhadores temporários
cujos contratos têm duração de dois e três anos, com possibilidade de
renovação. É interessante observar que os descendentes de japoneses de
primeira geração e de segunda geração, têm respectivamente, um prazo de
três anos e um ano de estadia legal para trabalhar no país, com possibilidade
de prorrogação de sua permanência (KAWAMURA, 1999, p. 96).

Os dekasseguis são contratados por empresas recrutadoras de mão-de-obra, as


chamadas empreiteiras ou brokers (Yoshioka, 1995). Kawamura (1999), sobre a ação das
empreiteiras, afirma que,

Essas empresas ganham por contrato de alocação de trabalhadores à


determinada empresa. São responsáveis pela administração e pela mão de
obra empregada, por um prazo definido, pois é possível desfazer-se
facilmente dela, em caso de escassez de demanda. Em geral, os próprios
contratos são precários, e neles estão arrolados mais os deveres que os
direitos do trabalhador (KAWAMURA, 1999, p. 96,97).

Passados quase vinte anos do início do movimento dekassegui, podemos afirmar que
ele não é homogêneo, e possui características próprias ao longo do tempo, como afirma Sasaki
(1998). Vejamos, no Quadro 2, algumas características da migração dos dekasseguis brasileiros ao
longo da década de 1980 e 1990.
68

Desde o início do movimento migratório dos dekasseguis, até os dias atuais, o caráter
de temporalidade da migração ainda permanece, mas, de acordo com Fukusawa (2002), existem no
Japão dekasseguis com mais de 10 anos de estadia no país, trabalhando nos setores periféricos das
empresas japonesas. Perguntamos quais os motivos que levaram a esse aumento do tempo de
permanência no Japão. Por um lado, as facilidades de transporte, a comunicação e obtenção de
vistos, as idas e vindas entre o Brasil e o Japão tornaram-se constantes; consequentemente houve
uma variação do tempo de permanência da migração. Por outro lado, o tempo da migração está
associado à realização ou não dos sonhos no lugar de origem, ou seja, a conquista da casa própria,
do carro ou do negócio próprio, ou até mesmo para a manutenção do padrão de vida, que foi abalado
com as sucessivas crises da economia brasileira e que, de certa maneira, influenciou a migração.
Pois, de acordo com Sasaki (1998),
A migração para o Japão não é exatamente uma questão de sobrevivência, é
muito mais uma alternativa ou estratégia para alcançar, manter ou recuperar
um determinado padrão econômico e material, que mesmo antes de partir ao
Japão, não era tão baixo em relação à média da população brasileira. Em
outras palavras, não são os pobres, mas a classe média que participa da
migração internacional (SASAKI, 1998, p. 70).
69

A questão dos ganhos e remessas de dinheiro para o lugar de origem também é um


ponto que merece ser destacado quando discutimos os movimentos migratórios, já que os sonhos e
os desejos são alimentados a partir da possibilidade de poupar mais ou menos e, consequentemente
investir. É relevante levantarmos alguns pontos sobre a poupança e remessa dos dekasseguis,
principalmente quando o nosso objetivo é entender se houve ou não algum impacto no lugar de
origem, decorrente dos investimentos desses migrantes.
As remessas para o Brasil dependem da conjuntura econômica internacional.
Atualmente, está sendo viável enviar dólares para o Brasil devido a desvalorização do Real frente à
moeda americana. Esse fato é estimulante para a migração que se deu não só para o Japão, como
também para os Estados Unidos e países da Europa Ocidental (os dados referentes aos investimentos
dos dekasseguis no município de Álvares Machado, apresentaremos nos próximos capítulos).
Como já foi destacado, o movimento migratório dos japoneses e descendentes para o
Japão teve início em meados da década de 1980. Durante essa década, os financiamentos para a
agricultura, principalmente para os pequenos agricultores, diminuíram e a produção na indústria
também caiu significativamente. O aumento do desemprego e a instabilidade econômica do país
eram uma barreira a ser enfrentada. O Brasil, portanto, estava representando o lugar dos sonhos
perdidos, quando tratamos dos movimentos migratórios.
No município de Álvares Machado, onde a economia sempre se baseou na agricultura
de pequena propriedade, os agricultores e comerciantes sofreram diretamente com a recessão
econômica nacional (altos índices inflacionários, diminuição dos financiamentos agrícolas, preços
baixos dos produtos, defensivos e adubos caros – cotados em dólar). Esse quadro contribuiu para
que os pequenos agricultores perdessem a perspectiva de investir na agricultura, principalmente os
mais jovens.
Por outro lado, o Japão, na década de 1980, já tinha se recuperado economicamente
da derrota na Segunda Guerra Mundial e se tornado uma das potências da economia mundial. De
acordo com Castells (2000), "o processo de crescimento econômico, transformação tecnológica e
desenvolvimento social alcançado pelo Japão na última metade do século, ressurgindo das cinzas de
suas ambições imperialistas destruídas, é um fenômeno extraordinário" (CASTELLS, 2000, p. 259).
A indústria japonesa, nesse período, era uma das que estavam em maior expansão no contexto
mundial, mas havia um problema a enfrentar, que era a falta de braços para desempenhar serviços
não qualificados. Como afirmam Gounet (1999) e Ortiz (2000), "após a Segunda Guerra Mundial, o
70

modo-de-vida japonês também se modificou, principalmente para os mais jovens, por não quererem
desempenhar atividades de baixa qualificação nas empresas, ficando esses setores escassos de mão-
de-obra". Uma alternativa, portanto, era a adoção da mão-de-obra migrante.
Autores como Ninomiya (1992, 1998) consideram o movimento de japoneses,
descendentes e cônjuges para o Japão como um fenômeno, pois movimentou, em cerca de 20 anos,
254.000 mil pessoas, um número maior que o dos japoneses que vieram para o Brasil de 1908 até
por volta de 1993, que totaliza 241.966 imigrantes (Museu de Imigração de São Paulo – Ministério
do Trabalho Brasil – Imigração e JICA). Mas, é importante considerar que as condições da migração
hoje são outras. Em relação aos meios de transportes, o deslocamento não é feito mais por navio (60
dias de viagem em média) mas, sim, por aviões (24 horas de viagem); tem-se também informações
sobre o local (cidade, província) para onde ocorrerá a migração. No período técnico-científico-
informacional, como afirma Santos (1996), o capital não precisa migrar para suprir a necessidade de
mão-de-obra; é a mão-de-obra que migra, isso em grande parte devido às facilidades dos meios de
transporte e comunicação, características que não estavam presentes nos períodos da Primeira e
Segunda Revolução Industrial, quando os imigrantes europeus e, posteriormente os japoneses,
vieram para o Brasil.
No Mapa 3, podemos visualizar em quais províncias os brasileiros estão em maior
número como dekasseguis no Japão. Os dekasseguis não se dirigem para as mesmas regiões que
foram de emigração no início do século XX no Japão; migram para as regiões onde estão
concentradas as empresas japonesas. De acordo com os dados do CIATE (Centro de Apoio ao
Trabalhador no Exterior – SP, 2000), as províncias onde se concentra o maior número de
dekasseguis brasileiros são: Aichi, Shizuoka (onde se localiza Hamamatsu, a cidade japonesa onde
se concentra o maior número de brasileiros, cerca de 12.000 - (Ito, 2001)), Nagano e Gunma. Em
todas as províncias japonesas há brasileiros trabalhando como dekasseguis, porém, grande parte
encontra-se nas regiões próximas à capital japonesa, Tóquio, pois é nessa região que se concentram
as grandes empresas e consequentemente as pequenas e médias que são subcontratadas por empresas
maiores e onde trabalha a maioria dos dekasseguis, tanto brasileiros como de outras etnias. Por outro
lado, as regiões que foram de emigração, atualmente, não atraíram mão-de-obra estrangeira, pois
não concentram muitas empresas, continuam sendo regiões agrícolas no Japão. Como podemos
visualizar no Mapa 3.
71

No Mapa 2, tomando como exemplo a província de Kagoshima, constatamos que foi


uma província onde a emigração japonesa para o Brasil foi expressiva, assim como outras províncias
do Sul e do Norte do Japão. Por outro lado, no Mapa 3, verificamos que a província de Kagoshima
não atraiu um expressivo contingente de mão-de-obra dos dekasseguis brasileiros.
A província de Aichi, como podemos constatar no Mapa 3, representa 18,47% do
local de permanência dos dekasseguis brasileiros no Japão, sendo que, Shizuoka representa 14,13%,
Nagano representa 7,84%, Mie representa 6,03%, seguidos por Gunma com 6,02% do total, Gifu
representa 5,82%, Saitama representa 5,04%, Kanagawa representa 4,83%, Ibaraki 4,24%, Shiga
3,98%, Tochigi representa 3,26% e as demais províncias representam juntas 20,34% do local de
permanência dos dekasseguis brasileiros no Japão.
Podemos afirmar, portanto, que os territórios de migração/emigração - não
sonhos/sonhos, podem se modificar ao longo do tempo, fato este que está atrelado à
concentração/centralização ou não de capital em determinado território, que traz conseqüências para
a dinâmica do movimento migratório, tanto na escala regional, nacional ou global.
Como já foi destacado anteriormente, existem algumas características próprias do
movimento dekassegui, e uma delas é a inversão dos lugares dos “sonhos possíveis e perdidos”, ou
do lugar de emigração e de imigração. O Brasil representa o lugar dos “sonhos perdidos”, ou de
emigração, e o Japão o lugar dos “sonhos possíveis”. Outro fator decisivo na migração é a
possibilidade do retorno, mesmo que para alguns, com o passar do tempo, isso não seja mais
almejado. Mas, de início, a idéia de migrar temporariamente, conseguir acumular uma certa quantia
de dinheiro, que representa possibilidade de retorno e investimentos, fez com que muitos jovens
descendentes de japoneses se aventurassem pelo céu na rota entre o Brasil e o Japão.
Mas, os sonhos no movimento migratório não são como nos contos de fadas. Os
brasileiros descendentes de japoneses que migraram para o Japão foram desempenhar atividades nas
empresas que não necessitam de mão-de-obra qualificada. Os trabalhadores são horistas,
contratados na maioria das vezes por empreiteiras, ou seja, não têm nenhum vínculo direto com a
empresa e a remuneração é paga somente pela hora trabalhada; não se tem direito à férias, décimo
terceiro salário, seguro saúde (pago por conta própria e com preços elevados), ou à “gratificação”
que os empregados japoneses recebem uma ou duas vezes por ano. Os dekasseguis sujeitam-se a
serem explorados pelas empreiteiras, trabalhando em média 12 horas por dia, num ritmo acelerado
dentro das indústrias japonesas e também em hotéis e bentoya (fábricas onde se faz e vende comida
72

pronta) pois, quanto mais trabalharem, maior o acúmulo de dinheiro e mais rápido será o retorno
para o país de origem. É assim que muitos pensam, e isto acaba sendo um fator de incentivo para as
pessoas agüentarem a sobrecarga de trabalho.

As longas e aceleradas jornadas de trabalho e a subcontratação de empresas são


algumas das características do modelo japonês de produção, o toyotismo, que passou a ser
implementado, primeiramente, nas empresas automobilísticas japonesas na década de 1950.

[...] nas empresas subcontratadas as condições sociais são sempre as piores


do que uma grande unidade de produção, na qual os trabalhadores podem
formar uma força organizada, capaz de extrair certas vantagens através da
luta. Finalmente, o toyotismo divide completamente os trabalhadores. Aloca-
os em firmas menores. Alguns trabalhadores são temporários, outros têm um
emprego de caráter permanente. Alguns são chefes de equipes, outros são
simples membros. E todos divididos em times, a unidade que deve, ela
própria funcionar, pois os trabalhadores não querem ser acusados de
responsáveis pela má performance do grupo (GOUNET, 1999, p. 9).

Os dekasseguis se submetem à exploração do trabalho, pois sabem que é de caráter


temporário e, também e principalmente, pelos salários que, em comparação com os do Brasil, são
ganhos bem elevados em relação à média salarial brasileira22. Outro fator inerente à migração dos

22 Um dekassegui hoje no Japão, que trabalha cerca de 10 horas/dia, recebe entre y280,00 a y300,00 mil yens, que eqüivalem a U$
3.000,00. Convertendo para Reais, tem-se um total de R$ 7.200,00 (Base de cálculo: IGP-DI Fundação Getúlio Vargas, site
www.ai.com.br). Muitas vezes, esses dekaseguis são jovens que não têm grau de escolarização completo (com nível superior),
portanto, no mercado-de-trabalho brasileiro, ficaria difícil conseguir um emprego com essa remuneração. Porém, de acordo com as
73

dekasseguis é a possibilidade de serem donos do próprio negócio quando retornarem para o local de
origem, no caso, Álvares Machado .
Portanto, a imigração japonesa e de descendentes entre o Brasil e o Japão, na escala
mundial, permite que se tenha reflexos numa escala local, ou seja, em Álvares Machado, com
características específicas no espaço e no tempo. No primeiro momento da imigração, os japoneses
contribuíram para a própria formação do município. Num segundo momento, os descendentes de
japoneses são responsáveis por um dinamismo, não somente pelas atividades advindas do campo,
mas sim, pelas remessas de dinheiro provenientes do Japão, que significam investimentos no
município em atividades comerciais e imobiliárias na zona urbana (os imóveis vendidos para os
dekasseguis localizam-se nos melhores bairros do município), influenciando na arrecadação de
impostos para o poder público, e na valorização dos terrenos dos bairros considerados de melhor
localização. Também em investimentos em imóveis rurais, com possibilidades de outras atividades
que não seja a agricultura, como a criação de gado, lugares para recreação como os pesque-pague e
locação de chácaras para finais de semana.
Os dekasseguis, quando retornam do Japão, estão ansiosos para investir, pois o
investimento significa uma possibilidade de retorno e fixação no lugar de origem. Através dos dados
obtidos no Trabalho de Campo, percebemos que essa ansiedade já foi mais arraigada, fazendo com
que muitos fracassassem e tivessem que voltar para o Japão. As pessoas que retornam para o Brasil,
quase não procuram se inserir no mercado-de-trabalho como empregados, pois, ou já passaram da
idade, ou são jovens que abandonaram os estudos e por isso não conseguem atender às necessidades
das empresas. Por outro lado, os dekasseguis sentem dificuldade de se adaptarem ao salário
brasileiro, que é muito inferior em relação ao do Japão. Então, a alternativa é o investimento em
atividades que garantam alguma remuneração, mas, muitas vezes eles não procuram informações
necessárias para iniciar a atividade desejada e o negócio sonhado, muitas vezes, não dá certo,
culminando com o retorno ao Japão.
É clássica a afirmação de Martins (1988), de que o migrante quando retorna não é
mais o mesmo, as pessoas que ficaram e o lugar também não são as mesmas. Assim, no início, é
reportagens da Revista Época e Veja: "A cidade mais cara do mundo continua sendo Tóquio, no Japão" (R. Época 16/01/2003). "Só
para dar uma idéia dos preços, em Tóquio um Big Mac com fritas e refrigerante sai por R$ 15,00 enquanto no Brasil pagam-se R$
5,00 pela mesma pedida. Nos estádios da Copa, um cachorro-quente valerá quase R$ 10,00" (Revista Veja Jun/2002). Os dekasseguis,
portanto, durante o tempo de migração no Japão, privam-se de consumir o que não é necessário para a sobrevivência no território
japonês (alimentação, bebida, vestuário, pagamento de contas do alojamento) caso contrário, acumular uma poupança não seria
possível, pelo alto custo-de-vida japonês.
74

realmente uma dificuldade se inserir novamente no Brasil e até mesmo em Álvares Machado, um
município de 22.673 habitantes (Censo Demográfico do IBGE, 2000).
São muitas as facetas do movimento migratório em análise. Tentaremos, ao longo do
trabalho, destacar algumas características presentes nesse sonho que faz parte da vida dos migrantes.
Primeiro, dos japoneses no Brasil e, num segundo momento, dos brasileiros que vão para o Japão.

3. ÁLVARES MACHADO - O LUGAR DOS SONHOS POSSÍVEIS, CONQUISTADOS E


PERDIDOS NA IMIGRAÇÃO DOS JAPONESES E SEUS DESCENDENTES

3.1. A formação do município de Álvares Machado

O município de Álvares Machado está localizado a oeste do Estado de São Paulo e


faz parte da Décima Região Administrativa do Estado, que tem como sede o município de
Presidente Prudente. Situa-se a 51’21” de longitude WGR e 22’55” latitude sul, a 450 m de altitude
do nível do mar. Limita-se ao norte com o município de Alfredo Marcondes, a leste com Presidente
Prudente, ao sul com Pirapozinho e a oeste com Presidente Bernardes – Mapa 4.
Álvares Machado é considerado um município pequeno, pois sua população, ao longo
do tempo, não ultrapassou os 25.000 habitantes. Vejamos o total de população no Quadro 3.

QUADRO 3: POPULAÇÃO DE ÁLVARES MACHADO (1950 – 2000)


População 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000
Pop. Total 17.316 19.173 17.434 14.653 18.865 20.917 22.673
75

Pop. Urbana 4.199 - 6.530 8.929 15.387 17.864 20.106


Pop. Rural 13.117 - 10.904 5.724 3.478 3.053 2.567
FONTE: Censos Demográficos IBGE, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000.
Contagem Populacional, 1996.
ORG. Denise Cristina Bomtempo - janeiro/2002

Como pode ser observado no Quadro 3, a população rural de Álvares Machado vem
diminuindo ao longo do tempo e, a população urbana aumentando. Fato este que se comprova por
vários motivos, entre eles a falta de incentivo à agricultura, principalmente para os pequenos
produtores, e atração pelos serviços na zona urbana. Nas décadas de 1970 e 1980, a população total
de Álvares Machado diminuiu significativamente. Muitas famílias foram atraídas para a capital
paulista pela possibilidade de trabalho e estudo, o que também contribuiu para a diminuição das
famílias japonesas no município: que no ano de 1942 eram de 493 famílias e atualmente são apenas
153 (Fonte: Associação Nipo-Brasileira de Álvares Machado, 2002).
No Mapa 5, podemos visualizar a procedência das famílias dos imigrantes japoneses
residentes em Álvares Machado no ano de 1942. Como os imigrantes japoneses que vieram para o
Brasil (Mapa 1), grande parte das famílias dos imigrantes japoneses que residia em Álvares
Machado no ano de 1942, era proveniente das províncias de Fukuoka, Kumamoto, Hiroshima e
Fukushima.
De acordo com Santos (1996), o espaço geográfico é algo dinâmico e essa
dinamicidade faz com que os lugares modifiquem os seus papéis ao longo do tempo. Em relação ao
movimento migratório dos japoneses e seus descendentes, Álvares Machado é o lugar dos sonhos
possíveis, conquistados e perdidos. É o lugar dos sonhos possíveis e conquistados na imigração
japonesa, dos sonhos perdidos na migração dos dekasseguis e para os descendentes que não
migraram, e torna-se o lugar da conquista dos sonhos quando os dekasseguis retornam do Japão e
procuram recomeçar suas relações, tanto econômicas como sociais no município.
76

Localizado a oeste do Estado de São Paulo, Álvares Machado faz parte da Fazenda
Pirapó-Santo Anastácio, da qual surgiram, direta ou indiretamente, todos os municípios da região.
No ano de 1916, o Sr. Manoel Francisco de Oliveira, que era um mineiro, comprou
terras da viúva de Manoel Pereira Goulart, proprietário da Fazenda Pirapó-Santo Anastácio. A área
da fazenda denominava-se Brejão. O Sr. Oliveira iniciou a derrubada do mato, construindo um
prédio que destinou à moradia de sua família e à instalação de um estabelecimento comercial. No
ano de 1921, as terras já estavam loteadas, formando um núcleo populacional que foi chamado de
Patrimônio São Luiz. Além do Sr. Manoel Francisco de Oliveira, foram para Álvares Machado os
imigrantes japoneses. Foi no final de 1916 e início de 1917 que chegaram as primeiras famílias.
Os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana chegaram na área, no ano de 1919,
contribuindo para a vinda de mais famílias para o Patrimônio, aumentando assim a sua população.
No dia 26/12/1927, Álvares Machado foi elevado a Distrito de Paz pela Lei 2.242,
pertencendo a Presidente Prudente. O nome Álvares Machado foi uma homenagem prestada ao
deputado e médico paulista Francisco Álvares Machado de Vasconcelos.
77

No dia 30 de novembro de 1944, o Decreto Lei número 14.334 elevou Álvares


Machado à condição de município, sendo anexado a seu território parte das terras do município de
Presidente Prudente.
No período da Segunda Guerra Mundial, de acordo com Leite (1972), o município
tornou-se, junto com Presidente Prudente, o maior produtor de menta do país, quando também se
inicia a plantação de batatas e amendoim para extração de óleo comestível, sendo a economia local
estimulada, atendendo às indústrias de óleo da região, exportando também para a Europa.
Na década de 1950, surgem problemas como a queda da fertilidade do solo e
consequentemente, a quebra de produtividade agrícola; também o aparecimento das fibras artificiais
como o nylon, contribuiu para a diminuição da produção algodoeira, que era significativa na época.
Até o ano de 1967, Álvares Machado possuía empresas que estavam ligadas aos
setores de produção agrícolas. Eram elas: Comércio e Indústria Brasmentol Ltda., Yokana S/A –
Importação, Exportação e Comércio, Adid Sian & Cia Ltda., Matsuda & Sami Ltda., Exportação
Maluly Ltda., Eduardo Maluly & Cia Ltda.
Nas décadas de 1970 e 1980, ocorreu o movimento migratório da zona rural para a
urbana, não só para Álvares Machado, mas para centros urbanos maiores. A produção agrícola no
município perdeu um pouco do dinamismo. Existem, atualmente no município, 649 produtores
rurais (Secretaria de Agricultura de Álvares Machado, 2002), sendo que as principais culturas são:
algodão, amendoim, milho, feijão, hortaliças e frutas (cultivadas principalmente pelos japoneses e
descendentes) e também a pecuária.
A imigração japonesa foi e é muito importante para o município, principalmente em
relação à agricultura, pois foram esses imigrantes que introduziram a produção de
hortifrutigranjeiros em Álvares Machado, possibilitando assim, uma dinâmica econômica
representativa na região, nas décadas passadas. Diante dessa importância da imigração japonesa para
o município, vale a pena destacar algumas características gerais dessa imigração no município.

3.2 A presença dos imigrantes japoneses no município de Álvares Machado - o lugar dos
sonhos possíveis e de conquista

Os imigrantes japoneses que vieram para o Brasil possuem características próprias.


Dentre elas pode-se destacar a mobilidade geográfica do grupo.
78

Os imigrantes que foram para Álvares Machado, de acordo com as informações do


trabalho de campo, já tinham trabalhado como colonos 23 nas lavouras cafeeiras do Estado de São
Paulo.
De acordo com Monbeig (1998), esses imigrantes já haviam conseguido economizar
uma certa quantia de dinheiro, trabalhando como colonos e aventuravam-se pelo “sertão paulista 24” à
procura de terras, para realizar os sonhos de serem proprietários. A Alta Sorocabana, região em que
está localizado Álvares Machado, atraía esses imigrantes pelas suas terras férteis e ainda não
exploradas.
Os primeiros imigrantes japoneses chegaram a Álvares Machado no final de 1916 e
início de 1917. Um dos responsáveis pela ida de imigrantes para a área, que era chamada de Brejão,
foi o Sr. Kenichiro Hoshina, que era um aventureiro que comprava terras e as vendia aos seus
patrícios. Ele era dono do jornal japonês Nambei, onde fazia circular nele as notícias de vendas de
terras na região, atraindo assim os imigrantes japoneses que estavam em outras regiões do Estado de
São Paulo. De acordo com o Gráfico 2, nossos entrevistados chegaram a Álvares Machado no ano
de 1918, sendo que já havia famílias japonesas vivendo na área denominada de Brejão e nas
proximidades.

FONTE: Trabalho de Campo jan/fev/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Dos entrevistados, 24,46% foram para Álvares Machado no período de 1918-1924,


14,89% foram no período de 1930-1934, 11,70% foram no período de 1925-1929, 10,63% foram no
período de 1935-1939, 7,44% foram no período de 1955-1959, 6,38% foram no período de 1950-
1954, 2,12% foram no período de 1960-1964, 3,19% foram após 1965 e 4,25% não sabem quando
foram para Álvares Machado. Como podemos verificar na Foto 5, que se encontra em Anexo, as
casas eram construídas bem altas. De acordo com os entrevistados, as primeiras famílias que
chegaram a Álvares Machado, tinham medo de animais ferozes como onças e cobras.

23 De acordo com Monbeig (1998), o colono era essencialmente um operário rural, que assinara, com um fazendeiro, contrato de
trabalho por um ano. O colonato nas fazendas constitui um proletariado desorganizado, em face de uma classe outrora pujante.

24 MONBEIG, Pierre. Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo: São Paulo: Hucitec, 1998.
79

O bairro Brejão foi o primeiro núcleo de imigração japonesa no município. Quando


falamos sobre a imigração japonesa em Álvares Machado, não podemos deixar de destacar a
construção do cemitério japonês, que data de 1918.
Com a chegada dos imigrantes japoneses e a morte de alguns deles, era difícil
sepultar os mortos: tinham que fazer uma longa caminhada no meio do mato até Presidente
Prudente, que na época era chamada de Veado e ficava a cerca de 15 Km de Álvares Machado.
Como já se verificara uma epidemia de febre amarela, seria impossível transportar todos os corpos
até o município de “Veado”. Assim, a maioria dos imigrantes membros da colônia 25 decidiu, que o
Sr. Ogassawara, que foi um dos pioneiros, iria até a sede da Comarca, na época Conceição do Monte
Alegre (próximo a Paraguaçu Paulista) para oficializar o cemitério. De acordo com um neto do Sr.
Ogassawara, entrevistado durante o Trabalho de Campo, após a autorização, o cemitério tornou-se
oficialmente de uso exclusivo dos japoneses. O Sr. Ogassawara veio do Japão com toda a família.
Era uma família importante no Japão da época; eram da ilha de Hokkaido, que está localizada ao
norte do território japonês. Ele trouxe dinheiro, cedido pelo governo japonês e também por um
jornal (Ogaka Mainichi Shimbum), que era para realizar alguma benfeitoria para os japoneses que
estavam no Brasil. Assim, na ocasião oportuna, o Sr. Ogassawara fez a doação do dinheiro para a
compra de 5 alqueires para a construção do cemitério, que está localizado no bairro Brejão.
O cemitério japonês de Álvares Machado é o único da América Latina e foi tombado
pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo
(CONDEPHAAT). Nele foram sepultados 784 pessoas até o ano de 1942 e, a partir dessa data,
foram proibidos novos sepultamentos por ordem do então Presidente da República, o Sr. Getúlio
Vargas, por entender que havia discriminação racial.
A partir da inauguração do cemitério, passou-se a realizar o Shokon-Sai, uma
comemoração religiosa que significa convite às almas para a missa. Esta comemoração é realizada
no segundo domingo do mês de julho, há 80 anos.

25 Viver em colônia, como viveram os primeiros imigrantes japoneses em Álvares Machado, não era viver o sistema de colonato,
caracterizado por Stolcke (1983), "como sendo um sistema misto de remuneração por tarefas e por peça. O colonato, foi uma fórmula
que prevaleceu nas fazendas de café da década de 1880 até meados do século XX "(STOLCKE, 1983, p. 100). Viver em colônia
japonesa em Álvares Machado, tem mais o sentido cultural, o sentido de preservar a cultura que os imigrantes trouxeram do Japão
(costumes, tradições, alimentação, educação dos filhos). Em Álvares Machado, os imigrantes já eram proprietários de terras e não
colonos, cada um já tinha a sua própria remuneração e plantava o que lhe conviesse, não estavam subordinados ao fazendeiro, como
acontecia quando eram colonos nas fazendas de café. Para aprofundamento da questão ver: Yoshioka, Reimei. Por que migramos do e
para o Japão,. São Paulo: Massao Ohno, 1995 e MARCOS, Valéria de. Comunidade "Sinsei" (u)topia e territorialidade. São
Paulo: FFLCH, 1996 (Dissertação de Mestrado).
80

Em Álvares Machado também foi construído, devido ao empenho dos japoneses e


seus descendentes participantes da igreja católica, o Centro de Pesquisas Monsenhor Nakamura.
Monsenhor Nakamura foi um padre japonês que chegou ao município no ano de
1923, com o objetivo de catequizar os japoneses do lugar e da região. O Padre Nakamura teve
grande importância na vida religiosa, principalmente dos japoneses de Álvares Machado. Celebrava
missas na capela do bairro Guaiçara.
Os japoneses de Álvares Machado não se diferenciaram dos outros imigrantes que
vieram para o Brasil. Num primeiro momento, dedicaram-se às atividades agrícolas. Com o passar
do tempo, devido ao aumento da população nas cidades, principalmente após a chegada dos trilhos
da estrada de ferro abriu-se um espaço para fornecimento de serviços na cidade, e os japoneses
preencheram, em parte, esse espaço. Sentiam também, a necessidade de escolas para a educação dos
filhos, pois, nas escolas rurais, só havia o ensino primário.
Os dados obtidos no Gráfico 3, confirmam nossa afirmação de que os japoneses
contribuíram para a própria formação do município de Álvares Machado. Embora as primeiras
famílias japonesas tenham chegado entre os anos de 1916 e 1917, as famílias entrevistadas no
Trabalho de Campo, chegaram no município, por volta de 1918.
A partir das décadas de 1950/1960/1970, com o surto industrial que se instalou no
Brasil, principalmente nos grandes centros como São Paulo, muitas famílias migraram para esses
locais à procura de oportunidades, principalmente econômica, que não eram possíveis no momento.
Na década de 1980, iniciou-se a migração de japoneses e descendentes para o Japão:
é o chamado movimento migratório dos dekasseguis que foram para trabalhar temporariamente nas
fábricas japonesas em setores que não necessitam de mão-de-obra qualificada.
Como podemos perceber, a imigração japonesa em Álvares Machado está totalmente
vinculada à própria geografia do município. Os imigrantes e seus descendentes, num primeiro
momento, fazendo de Álvares Machado o lugar da conquista dos seus sonhos e, num segundo
momento, os dekasseguis contribuíram de maneira significativa, tanto do ponto de vista econômico
(com atividades na agricultura e com investimentos em imóveis), como na própria vida cultural e
social do município.
Com a realização do Trabalho de Campo, foi possível ter uma visão geral da
Associação Japonesa de Álvares Machado. Hoje chamamos de Associação, pois as famílias
japonesas e descendentes não estão mais organizadas em colônias. Assim, levantamos
81

informações em relação às famílias dos entrevistados, destacamos os motivos que levaram à


emigração do Japão para o Brasil e o deslocamento até Álvares Machado, e quais as atividades
econômicas a que se dedicaram no município etc.
Durante a pesquisa, levantamos também informações sobre o que pensam os
imigrantes e nisseis mais idosos sobre a migração para o Japão. Foram relatos riquíssimos sobre a
posição deles frente à questão dos dekasseguis, que contribuíram muito para as nossa reflexões.
De acordo com o Gráfico 3, verificamos que do total dos entrevistados, das famílias
japonesas e nisseis, 71,28% são casados, 26,59% são viúvos e apenas 2,12% são solteiros. Dos
casados, 47,87% casaram-se com descendentes de japonês, 18,08% casaram-se com japoneses e
5,31% casaram-se com pessoas não descendentes, situação essa que tende à se diferenciar dos
dekasseguis (tem-se mais casamentos mistos).

FONTE: Trabalho de Campo jan/fev/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Verificamos que, do total dos entrevistados, 71,28% são casados, 26,59% são viúvos
e apenas 2,12% são solteiros. Dos casados, 47,87% se casaram com descendentes de japonês,
18,08% se casaram com japoneses e 5,31% se casaram com pessoas não descendentes. Esses
entrevistados já são bem idosos, principalmente os japoneses, como foi possível verificar: 21,27%
têm idade entre 70 – 74 anos, 18,08% têm idade entre 60 –64 anos, 17,02% têm entre 65 – 69 anos,
15,95% têm idade entre 80 – 84 anos, 10,67% têm idade entre 75 –79 anos, 9,57% têm idade ente 55
– 59 anos, 4,25% têm idade entre 50 – 54 anos e apenas 3,19% têm idade entre 85 – 89 anos. Por
serem idosos, os entrevistados não tiveram um grau de escolaridade elevado, porque, participaram
dos primeiros anos da imigração no Brasil com a família e tiveram que se dedicar ao trabalho no
campo, ficando os estudos comprometidos. Também, de acordo com os entrevistados, nas fazenda
de café não havia escolas. Vejamos no Gráfico 4, o grau de escolaridade dos japoneses e nisseis de
Álvares Machado.

FONTE: Trabalho de Campo, jan/fev/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo


82

De acordo com o Gráfico 4, 63,80% dos entrevistados, possuem escolaridade


equivalente ao ensino fundamental incompleto, 15,95% não freqüentaram a escola, 6,38% cursaram
o ensino médio ou curso técnico, 6,38% cursaram ensino superior, sendo que as profissões são:
Engenheiro Civil, Economista, Dentista, Contador, Administrador de Negócios e Pedagogo; 4,25%
cursaram o ensino fundamental incompleto, 2,12% fizeram o ensino médio incompleto, 1,06%
superior incompleto. Em relação ao conhecimento da língua japonesa, do total, 67,02% responderam
que freqüentaram aulas de japonês e 26,59% responderam que não freqüentaram. Dos que
freqüentaram, 55,31% estudaram na zona rural e apenas 11,70% estudaram na zona urbana.
Quando comparamos o grau de escolaridade dos entrevistados com o dos seus filhos,
verificamos uma grande diferença, sendo que, 53% dos filhos dos entrevistados possuem curso
superior; 36% possuem ensino médio, 4% possuem ensino superior incompleto e, 4% ensino
fundamental, e, 3% ainda estão estudando.
O grau de escolaridade dos filhos dos entrevistados modifica-se em relação ao dos
seus pais, confirmando assim o que Cardoso (1979) escreveu em relação à escolaridade dos filhos
dos imigrantes japoneses. "Para o imigrante japonês, a escolaridade é imprescindível, o imigrante,
movimenta-se no espaço para assegurar uma boa educação para os seus filhos".
Comparando o grau de escolaridade dos filhos dos entrevistados com o da população
brasileira, de acordo com os dados do Censo Demográfico do IBGE (2000), verificamos que a
escolaridade é bem mais elevada do que a da população brasileira em geral. Embora, o nível de
escolaridade dos brasileiros venha aumentando, a inserção dos jovens em cursos superiores,
principalmente em universidades públicas, ainda é pequeno.
O local de nascimento dos entrevistados foi algo explorado durante o trabalho de
campo. Como podemos constatar no Mapa 6, 58,25% nasceram em Álvares Machado. Seus pais
trabalharam como colonos nas fazendas de café quando chegaram ao Brasil e só depois de um
tempo migraram para Álvares Machado. Além de Álvares Machado, dos entrevistados nascidos no
Brasil, 3,19% nasceram em Presidente Bernardes; 3,19% em Santo Anastácio; 3,19% em Xavantes;
2,12% em Martinópolis; 1,06% em Araraquara; 1,06% em Monte Aprazível; 1,06% em Descalvado;
1,06% em Campos do Jordão; 1,06% em Pindorama; 1,06% em Piquerobi; 1,06% em Bastos; 1,06%
em Bauru; 1,06% em Viradouro; 1,06% em Ourinhos; 1,06% em Botucatu; 1,06% em Araçatuba;
1,06% em Francisco Uchôa e; por fim; 1,06% em Presidente Venceslau.
83

É importante considerar que 100% dos entrevistados que nasceram no Brasil, são de
municípios do Estado de São Paulo.
Dos entrevistados que nasceram no Japão - Mapa 6.1, 5,31% nasceram na província
de Fukuoka, 3,19% nasceram na província de Fukushima, 1,06% em Miyagi, 1,06% em Chiba,
1,06% em Kumamoto, 1,06% em Nagano, 1,06% em Hokkaido, 1,06% em Gunma, 1,06% em
Shizuoka, 1,06% em Wakayama, 1,06% em Yamaguchi, apenas 1,06% não lembra onde nasceu. E,
dos pais dos entrevistados nascidos no Japão, 28,72% em Fukuoka; 9,57% em Fukushima; 6,38%
em Hokkaido; 6,38% em Hiroshima; 5,31% em Nagano; 4,25% em Wakayama; 4,25% em
Kumamoto; 4,25% em Mie; 2,12% em Okayama; 1,06% em Kochi; 1,06% em Kagoshima; 1,06%
em Shimane; 1,06% em Akita, 1,06% em Aichi; 1,06% em Iwate; 1,06% em Shizuoka; 1,06% em
Saitama e; por fim; 2,06% em Ehime e, 1,06% não lembra onde os pais nasceram. Vale ressaltar que,
97,80% dos pais dos entrevistados são japoneses, e apenas 2,12% são nascidos no Brasil, sendo
1,06% em Álvares Machado e 1,06% nascido em Bauru – SP.
Foram vários os motivos da emigração para o Brasil. O principal deles está atrelado à
crise econômica porque passava o Japão na época e também as possibilidades oferecidas aos
imigrantes no Brasil.

TAB. 2: MOTIVOS DA EMIGRAÇÃO PARA O BRASIL26

MOTIVOS N.º ABSOLUTOS N.º RELATIVOS


02 2,12
O governo japonês financiou a passagem
Não sabe 02 2,12
03 3,19
Fazer a colonização no Brasil
Aventura 05 5,31
Devido à Guerra – Japão ruim 06 6,38
No Japão não havia terras para os filhos 06 6,38
Queriam poupar dinheiro 70 74,4
94 100
TOTAL

26 Em relação aos motivos da vinda para o Brasil, quando os nossos entrevistados eram nascidos no Brasil, perguntamos em relação
aos pais; o mesmo ocorreu em relação à pergunta se queria voltar ao Japão.
84

FONTE: Trabalho de Campo jan/fev/2002 ORG.: Denise Cristina


Bomtempo

Dos entrevistados, 74,4% relataram que um dos principais motivos da imigração para
o Brasil era para ganhar dinheiro, pois as propagandas influenciaram muito na decisão. As
informações passadas aos japoneses no Japão eram que, no Brasil, "podia-se colher dinheiro nas
árvores, colher na cesta de ovo, que nas terras brasileiras tinha ouro". Os japoneses, que na época
estavam vivendo momentos difíceis na sua economia, acreditaram nas possibilidades que tinham no
Brasil, e partiram com a esperança de conseguir o que no Japão não estava sendo possível. Dos
entrevistados, 6,38% relataram que no Japão não havia terras suficientes para os filhos que estavam
crescendo; mais uma vez, o Brasil atraía os japoneses, pela abundância de terras. Muitos
demonstraram um certo rancor por terem sido enganados, pois essa riqueza esperada não veio,
rancor com o próprio governo japonês da época que incentivou a imigração para o Brasil,
financiando as passagens o que corresponde a 2,12% dos entrevistados; 6,38% relataram que
migraram para o Brasil devido à Segunda Guerra Mundial; 5,31% queriam se aventurar em terras
brasileiras e apenas 2,12% não sabem os motivos da migração para o Brasil.
Verificamos também, se havia o desejo de retorno para o Japão no início da imigração
entre a família dos entrevistados. Tivemos os seguintes resultados: 89,36% disseram que os pais, ou
eles próprios (quando japoneses), tinham intenção de permanecer um período no Brasil e retornar
para o Japão; 5,31% não queriam retornar e 5,31% não sabem.
Mas, com o passar do tempo, os imigrantes japoneses foram se adaptando às terras
brasileiras, foram criando laços, seja através da constituição das famílias (nascimento dos filhos),
seja pela aquisição de um pedaço de terra que possibilitou o imigrante ser "livre" para decidir a sua
própria vida, decidir o que plantar, onde residir etc. O Brasil foi se tornando o lugar da conquista dos
sonhos na imigração japonesa, haja vista que, durante o trabalho de campo, perguntamos para os
nossos entrevistados se eles queriam retornar para o Japão (mesmo a passeio) ou, se pensaram em
mudar-se de Álvares Machado. A grande maioria, como podemos verificar no Gráfico 5, não
pretendem ir para o Japão.
FONTE: Trabalho de Campo, jan/fev/2002 ORG.: Denise
Cristina Bomtempo

Dos entrevistados, 59,57% não têm vontade de ir para o Japão, pelos seguintes
motivos: 3,19% responderam que “o Brasil é o meu lugar”; 2,12% responderam que o Japão mudou
85

muito e não iriam reconhecer nada se retornassem para lá, mesmo a passeio; 3,19% responderam
que preferem viajar pelo Brasil; 13,82% relataram que não querem ir para o Japão pois não
conhecem ninguém; 3,19% relataram que não juntaram dinheiro suficiente para retornar (poupar
dinheiro e retornar para o Japão era um dos sonhos dos imigrantes que para cá vieram); 3,19%
relataram que não querem ir para o Japão pois estão com a idade avançada e 8,51% não
responderam. Os que responderam que têm vontade de ir para o Japão, somam 40,42%, sendo que
25,53% responderam que querem ir para conhecer e passear; 5,31% querem ir para trabalhar; 7,44%
querem ir, mas já estão com a idade avançada; 2,12% querem ir mas têm medo da viagem que é
muito longa, e de encontrar o Japão diferente do que deixou quando emigrou para o Brasil; alegaram
também não conhecer ninguém. O Japão passou a ser um lugar estranho para o imigrante japonês
que vive há muitos anos no Brasil.

Perguntamos também, o (s) motivo (s), de permanecer em Álvares Machado, ou


melhor, não retornar para o Japão ou migrar para outro município no Brasil. O resultado foi o
seguinte, conforme o Gráfico 6.
FONTE: Trabalho de Campo, jan/fev/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Dos entrevistados, 100% responderam que gostam de residir em Álvares Machado,


sendo que, 51,06% responderam que é o lugar em que nasceram, 36,17% relataram que a cidade é
calma, 15,95% relataram que têm muitos amigos, 6,38% relataram que gostam de residir em Álvares
Machado porque tem associação de japoneses, 1,06% relatou que é o lugar de nascimento dos filhos
e 2,12% relataram que têm parentes sepultados no município e não pretendem se mudar.
A importância do lugar, as relações que são estabelecidas nele, mais uma vez estão
presentes nas respostas de nossos entrevistados.
“Gosto de viver em Álvares Machado, nasci aqui, tenho minha família e meus
investimentos”. (Entrevistado 20 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
“Álvares Machado é um lugar sossegado, depois que saímos da fazenda de café,
viemos direto para cá, então meu lugar é aqui. Tem bastante família japonesa, tem o Shokon-Sai,
Undo-Kai, mesmo que tenha diminuído bastante, ainda é bom” (Entrevistado 62 – Trabalho de
Campo, JAN/FEV/2002).
“Eu fui trabalhar no Japão e não me adaptei, fui até internado, coisa que no Brasil
nunca tinha acontecido. Não volto para a lavoura porque fiquei com a saúde fraca. O tipo de vida
86

em Tóquio é de stress, vive tudo junto, fechado, aqui em Machado é diferente, é muito sossegado,
ainda mais no sítio” (Entrevistado 63 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Não dá para falar se quero ir morar em outro lugar pois só conheço Álvares
Machado, e gosto de morar aqui” (Entrevistado 7 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Bom né! A gente ama o lugar que nasceu. Aqui é o meu lugar! Lugar melhor é onde
a gente nasceu. Conheço tudo aqui”! (Entrevistado 40 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
Pode-se perceber que a vontade de retornar ao Japão se expressa através dos números
obtidos com o trabalho de campo, sendo que do total dos entrevistados, 89,36% queriam retornar
para o Japão, nos primeiros anos de imigração no Brasil. Porém, as dificuldades eram muitas,
principalmente em relação ao acúmulo de dinheiro, pois não ocorreu da forma que os imigrantes
pensavam. O objetivo (antes da Segunda Guerra Mundial) dos imigrantes japoneses que vieram para
o Brasil, era permanecer no país por um período que variava entre 5 a 10 anos e retornar para o
Japão. Mas, porque não conseguiram acumular dinheiro nesse curto período e também
(principalmente) pela Segunda Guerra Mundial, os imigrantes japoneses de certa maneira, aceitaram
permanecer no Brasil. Porém, essa aceitação não foi pacífica. Nas entrevistas que realizamos
durante o trabalho de campo, um dos nossos entrevistados relatou que “muitos se alcoolizavam pela
situação em que estavam vivendo”.
Álvares Machado, portanto, passou a ser o lugar social dos imigrantes japoneses,
lugar onde constituíram família, fizeram amigos, adquiriram propriedades rurais, ou mesmo
urbanas etc. Porém, o saudosismo para com a terra natal ainda se faz presente, mas sabem que o
Japão que eles conheceram ou o Japão que os pais (no caso dos nisseis) conheceram, não existe
mais. A dinâmica tanto econômica, cultural ou política do Japão de hoje, é bem diferente daquela de
aproximadamente cem anos atrás. O imigrante, se retornasse, como foi o caso de alguns que foram
passear, ia se sentir estranho no lugar de origem.

3.2. A família dos entrevistados - imigrantes no Brasil

De acordo com Nogueira (1979), as famílias de imigrantes japoneses dirigiram-se


para as áreas tradicionais de café no Estado de São Paulo. Após acumularem certa quantia de
87

dinheiro, deixavam de ser colonos das fazendas para se aventurarem nas terras novas do Estado de
São Paulo, conforme podemos constatar no Mapa 2.
Com as famílias dos nossos entrevistados não foi diferente, sendo que, 88,29%
desembarcaram no Porto de Santos e foram para outros municípios; 79,87% foram trabalhar como
colonos nas fazendas de café; 4,25% compraram terras; 2,12% foram trabalhar de arrendatários e,
2,12% não sabem o que eles ou os pais fizeram, pois eram crianças.
Os imigrantes que foram direto para Álvares Machado, correspondem a 11,70%,
sendo que 7,44% compraram terras e 4,25% trabalharam de arrendatários.
Muitas foram as dificuldades encontradas durante os primeiros anos de imigração no
Brasil. Como veremos, essas dificuldades também estão presentes na migração dos dekasseguis
quando estão no Japão.
Dos entrevistados, 54,25% relataram que uma das piores dificuldades de adaptação
foi em relação à alimentação; 53,19%, que a língua era uma das piores dificuldades a serem
vencidas no Brasil; 40,42%, o trabalho pesado; 8,51%, relataram a falta de escolas para os filhos;
6,38%, o clima; 5,31%, as doenças; 5,31%, o racismo; 1,06%, os costumes diferentes; e, 7,44% não
tiveram dificuldades.
As dificuldades citadas acima, de acordo com os entrevistados, foram nas fazendas
de café, sendo que, em Álvares Machado, situações difíceis no novo lugar existiam, porém, de
maneira mais amena. As mais agravantes foram a derrubada da mata e as doenças que rondavam as
famílias que estavam se estabelecendo no município. É importante destacar que, quando aplicamos
questionários aos nisseis, eles relataram as experiências que os pais tiveram quando chegaram ao
Brasil e a Álvares Machado. Uma das dificuldades foi em relação ao estudo da língua japonesa:
26,59% dos entrevistados disseram que não estudaram o japonês porque durante o período da
Segunda Guerra Mundial, isso era proibido, e se o fizessem, tinha que ser escondido. Os japoneses,
como os italianos, os alemães, os espanhóis, eram acusados de formação de guetos, sendo essa
também uma das dificuldades, porém, só no período da Guerra27. Vejamos alguns trechos dos
depoimentos dos nossos entrevistados em relação às dificuldades encontradas no Brasil.
“Aqui, comia polenta, mas não gostava; a batata doce, colocava no arroz, não
tinha muita verdura, até planta, né! No Japão, também pescava, aqui não tinha peixe. O fazendeiro

27 Sobre o assunto: MORAES, Fernando. Corações Sujos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
88

também não gostava do serviço dos meus pais” (Entrevistado 33 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Meus pais não eram agricultores; meu pai era estudante no Japão e minha mãe
nunca tinha trabalhado. Aqui no Brasil, sofreram bastante trabalhando na enxada. Minha avó
morreu de desnutrição, não aceitava a comida do Brasil. Muita gente morreu com o serviço pesado
e também de doenças” (Entrevistado 35 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“O clima do Brasil é bem diferente do Japão, também não entendiam a língua, a
alimentação era diferente, meus pais não tinha dinheiro para pagar médicos, não tinha como
estudar os filhos, pois na fazenda não tinha escolas” (Entrevistado 36 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Aqui em Machado, meus pais derrubaram a mata, tinha árvore de peroba, eles
serravam tudo na mão. Sabe, não dá nem para imaginar...” (Entrevistado 37 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002)
“O issei28 sofreu muito para se adaptar no Brasil, pois a comida, a língua, era
tudo diferente. Minha mãe no Japão, era chefe de uma usina elétrica, veio para o Brasil e precisou
trabalhar no cafezal. No Japão, tinha propaganda que aqui no Brasil tinha dinheiro em galho de
árvore”... (Entrevistado 11 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
“As dificuldades que os imigrantes encontraram foram muitas, pois tudo era
estranho. Primeiro, não conseguiram voltar para o Japão, pois não conseguiram acumular o
dinheiro almejado. Havia discriminação para com o japonês. Hoje, vemos muita influência da
cultura japonesa no Brasil, algo bem simples, o chinelo de dedos, quase ninguém sabe, mas foram
os japoneses que trouxeram este costume para cá” (Entrevistado 20 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“O clima era muito quente, cheguei aqui em novembro; no primeiro ano eu sofri
com a comida, também o trabalho na lavoura, eu não sabia carpir porque no Japão eu só estudava,
nunca tinha trabalhado” (Entrevistado 12 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Aqui em Machado era tudo mato, as primeiras casas eram feitas com madeira,
derrubava as árvores e cobria as casas com folhas de coqueiro, não tinha água. Teve que derrubar
boa parte do mato para começar a plantar” (Entrevistado 71 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).

28 Primeira geração de japoneses que migraram do Japão e vivem em outros países .


89

“No cartório, eu não sabia registrar as filhas, não conhecia os nomes, por isso
todas chamam Maria (Risos!!!)”. (Entrevistado 81 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
“Meus pais entraram na fazenda de café na Mogiana, nunca tinham visto café,
não sabiam falar o português e não tinha tradutor, tudo era por gestos. A comida era diferente,
tinha toucinho de porco, eles jogavam tudo fora, só comiam arroz e algumas conservas que iam
preparando” (Entrevistado 8 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Arroz, quase não tinha, muito menos verduras, escola, assistência médica, meus
pais ficaram desesperados. Os homens japoneses, diante dessa situação, começaram a tomar pinga,
para esquecer a angústia. Depois de uns quinze anos no Brasil, as coisas começaram a melhorar,
veio a guerra, definitivamente, não puderam retornar para o Japão. Mas a intenção era de retornar,
por isso que os filhos eram registrados no consulado do Japão, eu tenho dupla nacionalidade”
(Entrevistado 5 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“A comida era diferente, tinha que comer polenta e feijão, meu pai contava que
uma vez foi no sítio de um italiano e teve que tomar café, comer feijão e porco. O trabalho também
era pesado e não sabiam falar o português; nós éramos pequenos, íamos para a escola e ensinava
meus pais falar o português” (Entrevistado 26 - Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
Existiram muitas dificuldades nos primeiros anos de imigração, dificuldades essas
que foram sendo superadas com o passar do tempo, principalmente quando os imigrantes chegaram
ao município de Álvares Machado.
Uma das nossas preocupações durante a pesquisa, foi entender por que os imigrantes
japoneses escolheram Álvares Machado para ser o local de residência. De acordo com Monbeig
(1984), Álvares Machado está localizado nas chamadas áreas novas do Estado de São Paulo, na
região da Alta Sorocabana, o grande "sertão paulista", que possibilitava ao imigrante ser dono de um
pedaço de terra.
Dos entrevistados, 39,36% foram para Álvares Machado pela oferta de terras; 31,91%
foram porque já tinham parentes e amigos; 9,57% porque casaram com pessoas que já moravam em
Álvares Machado; 8,51% foram pois sabiam que já havia japoneses que ali moravam; 3,19% foram
porque havia escolas para os filhos; 1,06% porque em Álvares Machado não havia doenças e, 6,38%
não sabem qual o motivo de terem ido para Álvares Machado.
Para os imigrantes que trabalhavam como colonos nas fazendas de café, Álvares
Machado simbolizava o lugar de uma vida livre, pois o imigrante teria a terra para trabalhar e o
90

apoio dos patrícios, formando assim, a "colônia japonesa" de Álvares Machado. Muitos foram
atraídos para Álvares Machado pela oferta de terras, pois essas ainda não eram exploradas com
agricultura e eram, terras boas para o cultivo; também, muitos foram para lá, pois tinham amigos e
parentes, que eram do mesmo lugar no Japão ou pessoas que conheceram no navio.
Vale a pena ressaltar que dos entrevistados, 86,17% foram para Álvares Machado
com a família; 10,63% foram sozinhos e 3,19% não sabem com quem os pais foram.
Dos imigrantes que foram para Álvares Machado, 79,87% eram colonos que haviam
trabalhado nas zonas tradicionais de café do Estado de São Paulo. A possibilidade de ser dono de um
pedaço de terra fez com que 89,36% dos imigrantes se fixassem na zona rural e apenas 10,63% se
fixassem na zona urbana. Dos 10,63% que foram morar na zona urbana, 9,57% foram morar no
centro da cidade, porque dedicaram-se ao comércio; apenas 1,06% foi morar no Jardim Raio do Sol,
que também não é distante do centro urbano. Vejamos na Tabela 3 os bairros onde se localizaram as
famílias dos entrevistados.
TAB. 3: LOCAL DE MORADIA DOS IMIGRANTES JAPONESES QUANDO CHEGARAM A ÁLVARES MACHADO
VINDA PARA ÁLV. MACHADO N.º ABS. N.º REL. %
10 10,63
Zona Urbana (ZU)

BAIRROS - ZU
Centro 09 9,57
Raio do Sol 01 1,06
Zona Rural (ZR) 84 89,36

BAIRROS - ZR

Brejão 23 24,46
18 19,14
Guaiçara
Limoeiro 13 13,82
5ª Escola 09 9,57
Reservado 06 6,38
Córrego do Macaco 04 4,25
Cruzeiro 03 3,19
Primeiro de Maio 02 2,12
São Geraldo 02 2,12
Coronel Goulart 01 1,06
Km 4 01 1,06
Cem Alqueires 01 1,06
Benak 01 1,06
TOTAL (ZU + ZR) 94 100
FONTE: Trabalho de Campo jan/fevV/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo
91

Dos entrevistados 89,36% foram morar na zona rural, principalmente nos bairros
onde já havia japoneses. A maior concentração foi no Bairro Brejão (onde se localiza o Cemitério
Japonês) com, 24,46%; 19,14% no Bairro Guaiçara; 13,82% no Bairro Limoeiro; 9,57% no Bairro
Quinta Escola; 6,38% no Bairro Reservado; 4,25% no Bairro Córrego do Macaco; 2,12% no Bairro
São Geraldo; 1,06% no Bairro Km 04; 1,06% no Bairro Benak; 1,06% no Bairro Cem Alqueires 29 e
1,06% no Distrito de Coronel Goulart.
Os dekasseguis, como podemos verificar nos Mapas 9.3 e 10.3, compraram
propriedades rurais nos mesmos bairros onde residem as famílias japonesas e descendentes em
Álvares Machado.
Chegando a Álvares Machado, como podemos verificar no Gráfico 7, os imigrantes
dedicaram-se principalmente a atividades ligadas à agricultura.
Dos entrevistados, 76,59% compraram terras; 9,57% compraram estabelecimentos
comerciais; 7,44% trabalharam de arrendatário, depois compraram terras; 3,19% trabalharam de
arrendatário; 2,12% trabalharam na zona urbana de empregado e 1,06% trabalhou na zona rural de
empregado.
Dos entrevistados que nasceram no Japão e dos pais dos que não nasceram, 46,80%
eram agricultores no Japão; 12,76% não sabem o que faziam no Japão; 9,57% não trabalhavam pois
eram crianças; 8,51% eram estudantes; 3,19% pedreiros; 3,19% soldador; 3,19% eram vendedores;
3,19% comerciantes; 2,12% marinheiros; 1,06% era engenheiro agrônomo; 1,06% era marceneiro;
1,06% era médico; 1,06% era professor e, 1,06% era técnico eletricista.
Do total dos imigrantes japoneses que foram para Álvares Machado, 76,59%
compraram terras, sendo que o dinheiro utilizado para a compra, em grande parte era proveniente
das economias que fizeram quando trabalharam de colonos nas fazendas de café.
O tamanho da propriedade variou de 1 – 4 alqueires a 45 alqueires: 21,27% dos
entrevistados compraram lotes de 10 - 14 alqueires; 18,08% de 5 - 9 alqueires; 8,51% de 15-19
alqueires; 7,44% de 25-29 alqueires; 4,25% de 40-44 alqueires; 4,25% mais de 45 alqueires; 3,19%
de 30-34 alqueires; e 3,19% de 1 - 4 alqueires. Os imigrantes compraram, portanto, pequenas
propriedades e logo começaram a trabalhar.

29 Os Bairros Benak e Cem Alqueires fazem parte do município de Alfredo Marcondes (divisa com o município de Álvares
Machado). Aplicamos questionários aos moradores desses bairros, pois são cadastrados na Associação Japonesa de Álvares Machado.
Vale ressaltar que foram apenas 4 questionários aplicados.
92

Atualmente, a agricultura de Álvares Machado, de acordo com Hespanhol (2000), é


baseada na produção familiar, sendo que as culturas produzidas no município são as mesmas
produzidas na Décima Região Administrativa do Estado de São Paulo, região esta em que está inserido o município.

De acordo com os entrevistados, a agricultura de Álvares Machado acompanhou as


fases da agricultura brasileira, pois o café foi a primeira cultura a ser plantada, quando os primeiros
imigrantes chegaram. Cerca de 37,34% dos imigrantes plantaram café; após o declínio dos preços
desse produto em nível nacional, ele foi substituído pelo algodão e amendoim. Dos entrevistados,
89,15% plantaram algodão e 69,87% plantaram amendoim. Durante a Segunda Guerra Mundial,
Álvares Machado foi um dos maiores produtores de hortelã para exportação: 39,75% dos
entrevistados dedicaram-se ao cultivo da hortelã; porém, com o fim da Guerra, deixou de ser
cultivado pois o maior mercado era o exterior. A fase da hortelã também foi acompanhada da batata
inglesa: 65,06% dos entrevistados a cultivaram e a produção era vendida para São Paulo. Logo após
a batata inglesa, o milho apareceu no cenário da agricultura de Álvares Machado: 36,17% dos
entrevistados o cultivaram e 7,22% plantavam arroz.
Com esses dados, está sendo possível afirmar que, além da introdução da produção de
hortifrutigranjeiros em Álvares Machado, que ocorreu por volta da década de 1960, os japoneses e
seus descendentes foram responsáveis por boa parte da produção de grãos no período anterior a
1960.
Dos produtos hortifrutigranjeiros, 27,71% cultivaram tomate rasteiro e estaqueado;
9,63% berinjela; 8,43% pimentão; 7,22% jiló; 3,61% abóbora; 3,61% repolho; 3,61% quiabo;
1,20% batata doce; 18,07% uva Itália, rubi e niagára; 4,02% maracujá; 14,45% manga; 7,22%
melão; 6,02% pêra japonesa; 6,02% pinha; 4,81% caqui; 3,61% melancia; 2,40% laranja; 2,40%
atemóia;1,20% lixia; 1,20% abacate; 1,20% rami; 1,20% bicho da seda; 1,20% cana; 2,40%
mamona; 1,20% bucha e, por fim, 1,20% eucalipto;19,27% dedicaram-se à granja, produção de ovos
e frango de corte.
A procura por financiamentos junto às agências bancárias também foi uma
informação que julgamos interessante incorporar ao nosso trabalho, pois a dívida com o agente
financeiro foi uma das causas para o agricultor deixar as atividades no campo e migrar para a
cidade, ou mesmo migrar para o Japão como dekassegui. Dos entrevistados, 62,65% já obtiveram
financiamentos agrícolas, 34,93% nunca obtiveram e 2% não sabem se os pais obtiveram
financiamentos agrícolas. Os entrevistados que obtiveram financiamentos agrícolas (34,93%)
93

fizeram esses financiamentos em agências bancárias do município de Álvares Machado. Porém,


atualmente, 62,65% dos entrevistados relataram que não está sendo viável fazer financiamentos,
pois está difícil para pagar, porque o preço do produto colhido é baixo e muitas vezes não cobre as
despesas, não dando para quitar o financiamento nas agências bancárias.
Dos 88,29% dos entrevistados que moravam na zona rural de Álvares Machado,
atualmente, apenas 34,04% continuam nela atualmente; o restante (58,25%) foi morar na zona
urbana e justificam a ida para a cidade, devido às dificuldades com o trabalho no campo. Relataram
que a política agrícola não contribui para a permanência do pequeno proprietário na atividade;
possuem também dívidas com o agente financeiro e dívidas particulares e, por isso, preferem mudar
o ramo de atividade profissional. Como podemos verificar na Tabela 04, no período de 1935-1939,
3,19% dos entrevistados deixaram a zona rural; entre 1945-1949, 4,25% deixaram a zona rural; no
período de 1950-195; também 4,25% dos japoneses e seus descendentes foram morar na zona
urbana de Álvares Machado; 5,31% dos entrevistados, foram morar na zona urbana de 1955-1959;
5,31% no período de 1960-1964; 5,31% no período de 1965-1969; 6,38% deixaram a zona rural no
período de 1975-1979. O período em que houve um maior êxodo rural foi de 1980-1984,
correspondendo a 7,44% dos entrevistados; no período seguinte (1985-1989), esse número diminuiu,
totalizando 1,06% dos entrevistados que mudaram para a zona urbana. No período de 1990-1994, o
êxodo de pessoas do campo para a cidade volta a subir para 6,38%; de 1995-1999, 1,06% dos
entrevistados foram morar na zona urbana e 1,06% no período de 2000-2001.

TAB. 4: TEMPO DE PERMANÊNCIA DOS IMIGRANTES JAPONESES NA ZONA RURAL DE


ÁLVARES MACHADO30

30 Somente para os entrevistados que se dedicaram ao trabalho no campo, quando chegaram a Álvares Machado.
94

ZONA RURAL N.º ABSOLUTO N.º RELATIVO


32 34,04
Ainda é Morador da Zona Rural

FOI MORADOR ATÉ


1935 – 1939 03 3,19
1940 – 1944
1945 – 1949 04 4,25
1950 – 1954 04 4,25
1955 – 1959 05 5,31
1960 – 1964 05 5,31
1965 – 1969 05 5,31
1970 – 1974 06 6,38
1975 – 1979 03 3,19
1980 – 1984 07 7,44
1985 – 1989 01 1,06
1990 – 1994 06 6,38
1995 – 1999 01 1,06
2000 – 2001 01 1,06
TOTAL 51 54,25
FONTE: Trabalho de Campo jan/fev/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

A saída do campo para a cidade está inteiramente ligada às dificuldades encontradas


no trabalho agrícola. Vale a pena uma análise mais detalhada do que vem ocorrendo com a
agricultura brasileira, a partir de meados da década de 1980, pois a política agrícola federal vem
fazendo com que os financiamentos para os pequenos e médios proprietários sejam cada vez
menores. Assim, os pequenos produtores de Álvares Machado sofrem diretamente os reflexos das
políticas agrícolas do governo federal.

Podemos constatar, com as informações obtidas no trabalho de campo e com os dados


da Fundação Seade , que a diminuição dos créditos rurais, principalmente para a agricultura, vem
31

ocorrendo de maneira significativa no período compreendido entre 1985 e 2000. Essa diminuição
dos créditos fica mais evidente na década de 1990, nos anos de 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998,
1999 e 2000. Vejamos no Quadro 4:

QUADRO 4: Crédito Rural para Agricultura - Município de Álvares Machado - SP 32

31 Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados.

32 Valores Corrigidos em Reais (2000). Os valores monetários foram atualizados pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade
Interna - IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas - FGV.
95

1985 5.188.102,00 1989 1.360.217,00 1993 853.183,00 1997 994.070,00


1986 - 1990 4.119.565,00 1994 2.070.497,00 1998 1.041.415,00
1987 - 1991 2.856.324,00 1995 1.025.760,00 1999 863.254,00
1988 - 1992 1.106.504,00 1996 920.728,00 2000 823.029,00
Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - SEADE (www.seade.gov.br)
ORG.: Denise Cristina Bomtempo abril/2003

Dos entrevistados, 36,14% responderam que uma das maiores dificuldades para
continuar trabalhando na agricultura são os adubos e defensivos com preços elevados; 43,37%
afirmaram como dificuldades o baixo preço do produto; 22,89% a diminuição de financiamentos
agrícolas; a idade avançada corresponde a 18,07% das respostas; inclui-se aí, a ida dos filhos dos
produtores rurais para o Japão, ficando ele sozinho para trabalhar na propriedade. Também em
relação ao item estudo dos filhos, que corresponde a 10,84% das respostas, os entrevistados
alegaram que, na zona rural, havia escola somente até o ensino fundamental; portanto, para dar
continuidade aos estudos dos filhos, decidiram ir para a zona urbana. A propriedade próxima à
cidade, corresponde 2,40% dos entrevistados que responderam ser este um forte motivo que
contribuiu para deixar a atividade agrícola, pois quando plantavam, os furtos eram constantes;
3,61% dos entrevistados responderam como dificuldade as dívidas advindas do plantio; 3,61%,
elegeram como dificuldade o desgaste das terras; 1,20% que o veneno fez mal para a saúde e 3,61%
atração por serviços na cidade.
Portanto, dos 88,29% dos entrevistados que relataram, de início, serem moradores da
zona rural, atualmente apenas 34,04% dos entrevistados permaneceram, sendo que, 100% desses
que permaneceram continuam com as atividades agrícolas. Dos 54,25% que mudaram para a zona
urbana, em média residiram na zona rural por 29 anos. Desses, apenas 14,90% continuam com as
atividades ligadas à agricultura, e 39,30% passaram a desenvolver atividades na zona urbana, sendo
que, 19,14% dedicaram-se às atividades ligadas ao setor comercial: 1,06% comprou bazar, 8,51%
compraram bares, 1,06% armazém de secos e molhados, 1,06% loja de tecidos, 2,12% quitanda,
1,06% alfaiataria, 2,12% oficina, 1,06% comércio e indústria, 1,06% empresa de implementos
agrícolas. Além do comércio, 20,21% dedicaram-se a outras atividades como caminhoneiro 11,70%;
vendedor de insumos agrícolas 1,06%; autônomo 4,25%; fotógrafo 1,06% e funcionários de
empresas privadas 2,12%.
96

Os entrevistados relataram que as dificuldades aumentaram principalmente a partir do


Plano Real, pois o preço do produto colhido não aumentou, sendo que os adubos e defensivos
(produtos utilizados na agricultura) acompanham o preço do dólar americano, portanto, nos últimos
anos, estão em constante alta, tornando mais difícil o trabalho na agricultura. Vejamos alguns
depoimentos de nossos entrevistados.
“Eu sempre trabalhei com financiamentos agrícolas no banco, até o Plano Real;
depois não compensou mais. Hoje, o preço do produto é baixo e as despesas são caras, quase não
está compensando mais plantar” (Entrevistado 89 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Álvares Machado, quando o pessoal da agricultura plantava e ganhava dinheiro,
parece que tinha mais movimento; hoje a gente só vê movimento de carro, muita gente nas ruas sem
fazer nada, antes todos trabalhavam” (Entrevistado 55 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Até o ano de 1988/1990 ainda estava bom para plantar, depois foi piorando; a
mercadoria vendia barata, o preço da uva hoje é igual ao de 5 anos atrás, os insumos estão cinco
vezes mais caros e ainda acompanha o preço do dólar, sem falar nos financiamentos no banco que
diminuíram. O Plano Real foi ruim para a agricultura, não dá para sobrar quase nada”
(Entrevistado 52 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“A lavoura já foi melhor, o que colhia vendia, né! Hoje, o preço é baixo e não recebe,
quando recebe, o cheque é sem fundo e de outros Estados do Brasil, ficando mais difícil de receber”
(Entrevistado 86 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
Dos entrevistados, apenas 11,70% deles chegaram a Álvares Machado e foram morar
na zona urbana. Desse total, 7,44% dedicaram-se às atividades ligadas ao comércio e prestação de
serviços, sendo, 2,12% farmácia, 1,06% loja de material de construção, 1,06% empresa de produtos
agropecuários, 1,06% loja de defensivos agrícolas, 1,06% armazém de secos e molhados, 1,06%
escritório de contabilidade. Dos 11,70%, 4,25% são trabalhadores autônomos, 1,06% caminhoneiro,
2,12% funcionário público e 1,06% funcionário de empresa privada.
Procuramos analisar também, a constituição da família dos entrevistados, em relação
ao número de filhos. Verificamos que as famílias de descendência japonesa são bem numerosas,
tendo uma média de 4 filhos por casal, um número equivalente ao das famílias brasileiras em geral.
De acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2000), a redução do número de pessoas por família
é uma constatação do Censo 2000. A média é de 5 pessoas por domicílio na zona rural e 4 pessoas
97

por domicílio na zona urbana. Vale a pena ressaltar que dos entrevistados, 97,87% têm filhos e que
apenas 2,12% não são casados e não têm filhos.
Outro fator que procuramos analisar, é o local de residência dos filhos dos
entrevistados, sendo que 56% residem em Álvares Machado e 44% residem em outras cidades e
países33.
Dos filhos dos entrevistados que residem em outras cidades: 39,38% residem na
Cidade de São Paulo; 45,16% em cidades do Estado de São Paulo; 13,09% em cidades de outros
Estados brasileiros; 1,78% reside nos Estados Unidos e 0,59% no Canadá.
Os filhos que migraram para o Japão correspondem a 37,89%. Em números
absolutos, isso corresponde a 144 pessoas. Os que não foram para o Japão são 62,10%,
correspondendo a 236 pessoas. Dos 37,89% do total dos filhos que foram trabalhar no Japão,
25,52% residem em Álvares Machado e 12,36% em outras cidades34.
Além dos filhos, os entrevistados também possuem parentes que migraram para o
Japão correspondendo a 78,72% dos entrevistados. Os parentes são: sobrinhos (as) correspondendo
a 60,63%, cunhados (as) somam 4,25%; irmãos (as) 7,44%, netos (as) 11,70%; cônjuges 2,12%;
genros e noras 1,06 %. Dos parentes, 68,08% residem em Álvares Machado e 10,63% residem em
outras cidades. Dos entrevistados, 98,93% responderam ser benéfico trabalhar no Japão,
principalmente pela remuneração, que é bem maior em relação à brasileira. Apenas 1,06% relatou
não ser benéfico.

33 Cidades da Região: Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Presidente Venceslau, Dracena, Rancharia, Santo Anastácio.
Cidades do Estado de São Paulo: Mirandópolis, Assis, São Paulo, Campinas, Piracicaba, Indaiatuba, São Miguel , Suzano, Mogi das
Cruzes. Cidades de outros Estados brasileiros: Curitiba, Londrina, Campo Grande, Porto Alegre, Maringá, Ilhéus, Brasília, Rio de
Janeiro, Anápolis, Cuiabá, Belo Horizonte, Rondonópolis. Outros países: Estados Unidos e Canadá.

34 As cidades são: Presidente Prudente, Presidente Venceslau, São Paulo, Campinas, Suzano, Santos, Jacareí, Curitiba e Dourados.
98
99

Dos entrevistados que responderam acreditar ser benéfico trabalhar no Japão, 80,85% responderam
que é bom para poupar dinheiro; 8,51% responderam que é conveniente para pagar as dívidas que
ficaram no Brasil; 8,51% responderam ser benéfico somente para quem não tem trabalho no Brasil;
1,06% respondeu ser bom pois no Japão não há violência como no Brasil e, apenas 1,06% respondeu
não ser benéfico, pois os jovens no Japão, não estão poupando dinheiro. Vejamos alguns
“É bom ir para o Japão, mas para ficar pouco tempo, muito tempo não é bom,
quando volta, fica perdido, também o dinheiro muda a cabeça das pessoas” (Entrevistado 2 –
Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“ Para quem é jovem, é bom ir para o Japão, apesar que hoje já não está tão bom
para ganhar dinheiro. Quando volta para o Brasil, tem que estudar e trabalhar para ficar aqui.
Hoje, Japão e Brasil estão parecidos, mas o melhor lugar de viver é aqui, não tem guerra como no
Afeganistão na Argentina. Aqui em Machado por enquanto está tudo sossegado, mas estou
apreensivo por causa de muitos presídios aqui na região” (Entrevistado 86 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“É bom ir trabalhar no Japão, economizar e trazer para o Brasil. Aqui, compra casa,
terreno, sítio, deixa o dinheiro a juro, quase não precisa trabalhar” (Entrevistado 90 – Trabalho de
Campo, JAN/FEV/2002).
“Não adianta mais ir para o Japão a maioria, principalmente os jovens, não estão
economizando dinheiro, e quando volta para o Brasil, não querem trabalhar; acaba o dinheiro tem
que voltar, isso não está certo” (Entrevistado 32 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Meu filho não tem estudo, plantou lavoura, não deu certo, achou melhor ir para o
Japão”(Entrevistado 40– Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Todos os meus filhos foram para o Japão juntar dinheiro, primeiro para comprar
uma casa, pois não temos dinheiro para ajudá-los”(Entrevistado 16 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Não sei se acho bom ir para o Japão, depende muito. As pessoas que são estudadas,
precisam ficar no Brasil para desenvolver o nosso país, não adianta só mandar dinheiro, tem que
viver aqui, construir aqui. As pessoas que vão, quando retornam, ficam decepcionados, isto é um
prejuízo para o país e para a família. A gente vai ficando velho, não tem condições de continuar na
lavoura, como vai ficar isso? Os políticos deveriam incentivar os jovens a ficar no país, gerando
mais empregos. Todos gostam do Brasil porque é tranqüilo. Os jovens deveriam ir para o exterior
100

somente para aprender novas técnicas e aplicá-las no Brasil. No Japão, os que vão, ganham
dinheiro, mas é muito sacrificado, não estudam, perdem toda a juventude. Depois de um tempo, lá
também começam a gastar com festas e passeios, saem fora da trilha, fazem coisas que se
estivessem aqui não fariam, eles tem uma falsa liberdade” (Entrevistado 36 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“O trabalho no Japão salvou muita gente aqui em Álvares Machado; se não fosse
meus filhos lá, eu já tinha perdido toda a propriedade; a maioria que foi, era por causa de dívidas”
(Entrevistado 35 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Hoje está um pouco mais difícil ir para o Japão, pois a economia japonesa está em
crise. Muitas empresas pequenas não agüentam as despesas e fecham, vão para outros países onde
a mão-de-obra é mais barata, como na Coréia, China, Filipinas etc” (Entrevistado 20 – Trabalho de
Campo, JAN/FEV/2002).
“Não acho muito bom ir para o Japão, mas é uma alternativa para ganhar dinheiro,
pois aqui não tem emprego e a lavoura está ruim” (Entrevistado 37 – Trabalho de Campo,
JAN/FEV/2002).
“Cada um sabe se é bom ou não ir para o Japão. A família fica dividida. As pessoas
ganham dinheiro, mas quando voltam não tem perspectiva. Aqui em Álvares Machado, pode notar,
quem está de carro novo é o pessoal do Japão, também compram casa. Mas não tem em que
trabalhar; abrem comércio, quase não dá certo, tem que voltar para lá. Os que trabalhavam na
roça, não querem voltar...” (Entrevistado 70 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002)
Como podemos perceber, através das informações e dos depoimentos dos nossos
entrevistados, trabalhar no Japão tem o lado bom e o lado ruim. É bom, pois em época de crise no
Brasil, os descendentes de japoneses têm a alternativa de migrar temporariamente para acumular
uma quantia de dinheiro que no Brasil não seria possível. Mas o que fazer quando retornam para o
Brasil? Trabalhar em quê? Essa é uma das preocupações existentes entre nossos entrevistados,
principalmente os jovens que deixaram os estudos, ficando, depois do retorno, ainda mais sem
perspectivas. Também a desagregação familiar é uma das preocupações presentes nos depoimentos
dos entrevistados. O único fator expressivo que os nossos entrevistados destacaram ser benéfico, é
em relação aos salários das empresas japonesas, que são bem maiores do que os do Brasil, mas, se
no país houvesse condições de trabalhar, não seria necessário sair, pois esse processo de deixar o
país de origem é muito sofrido, como eles próprios relataram nas entrevistas.
101

Outra análise que procuramos fazer, foi em relação à vontade de retornar (no caso dos
japoneses) ou de conhecer (no caso dos descendentes) o Japão. O objetivo dessa questão é
identificar o lugar do imigrante japonês e seus descendentes. As respostas durante as entrevistas,
foram muito boas, possibilitando fazermos a afirmação de que o imigrante japonês adotou o Brasil
como seu lugar social, pois está totalmente inserido na sociedade brasileira. Possui suas relações
econômicas e sociais no Brasil, mesmo que participe da Associação Japonesa. Embora, cultivando
alguns rituais da cultura japonesa, isso não impossibilita de ser o Brasil o seu lugar social, fato este
ainda mais presente entre os descendentes. O apego a Álvares Machado é ainda maior, pois 74,46%
dos entrevistados sempre residiram em Álvares Machado (após os anos em que trabalharam nas
fazendas de café em outras regiões) e, 25,53% residiram em outras cidades do Estado de São Paulo e
em outros Estados, antes da vinda definitiva para Álvares Machado. Dos entrevistados, 22,34%
retornaram para o Japão ou foram pela primeira vez a fim de passear, 14,89% foram para o Japão a
fim de trabalhar e 60,63% não foram para o Japão.
Procuramos destacar, também, a importância dos japoneses para Álvares Machado na
visão do próprio japonês e seus descendentes. Os dados obtidos foram os seguintes, de acordo com o
Gráfico 7.
102

GRÁF. 7: IMPORTÂNCIA DOS JAPONESES E NISS

90
80
70
60
ENTREVISTADOS

50
38
40
30
18 21
20
10 3
0
Ajudaram a Desenvolveram Formaram o Uniram-se
desenvolver o a agricultura Município Associaç
comércio e a Japones
agricultura

FONTE: Trabalho de Campo, jan/fev/2002 ORG: Denise Cristina Bomtempo


103

Dos entrevistados, 40,42% responderam que a importância dos japoneses e seus


descendentes para Álvares Machado foi em relação ao desenvolvimento do comércio e da
agricultura; 19,14% responderam que a contribuição foi somente em relação à agricultura; 3,19%
responderam que o importante foi a união na associação; 2,12% responderam que os japoneses e
descendentes conseguiram manter as tradições e 12,76% não souberam dizer qual a importância.
Nenhum entrevistado mencionou que os descendentes que foram para o Japão e
retornaram estão contribuindo para a dinâmica econômica do município, fazendo investimentos
tanto na área urbana como rural, fato este que tentaremos analisar.
“Tanto para o município como para muitos japoneses foi bom vir para Álvares
Machado, muita gente progrediu e também o município, tanto na agricultura como no comércio”
(Entrevistado 6 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Álvares Machado é bom pra morar, sossegado, tenho bastante conhecido, mas é
ruim para serviço” (Entrevistado 9 – Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Antes, a associação japonesa de Álvares Machado era bem dinâmica, tinha
campeonato de beisebol que movimentava toda a cidade, também o Undo-Kai (gincana) e
competição de atletismo, sem falar no Shokon-Sai, no cemitério japonês, era muita gente que
participava. Tínhamos muitas opções. Em relação ao trabalho, antes na agricultura era melhor,
mas hoje está assim devido ao não incentivo ao pequeno produtor” (Entrevistado 8 – Trabalho de
Campo, JAN/FEV/2002).
“A Associação japonesa de Álvares Machado decaiu bastante em relação aos outros
anos. As crianças estudam língua japonesa, mas quando crescem vão para o Japão ou estudar em
outros lugares. Então a Associação fica constituída por idosos e crianças” (Entrevistado 45 –
Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
“Álvares Machado tem bastante japoneses, isso faz com que tenha movimento em
relação à economia. No passado isso era bem marcante, mas hoje ainda prevalece. Outras cidades
que não tem japonês não tem essa dinâmica igual Machado” (Entrevistado 44 – Trabalho de
Campo, JAN/FEV/2002).
“Para os meus pais foi bom ter vindo para Machado, pois tinha bastante família
japonesa, dava para conversar. Só no período da Guerra que tinha algumas restrições; houve
104

saques nas propriedades, não podia estudar língua japonesa, mas isso passou”(Entrevistado 92 –
Trabalho de Campo, JAN/FEV/2002).
Hoje, verificamos um certo vazio na Associação, que está composta pelos idosos
(dirigentes) que, além de cuidarem da parte administrativa, participam de atividades esportivas
(gaitebol), organizam as festas ou comemorações religiosas, como a festa do dia das mães, o
Shokon-Sai, Undo-Kai e a celebração do falecimento do Monsenhor Nakamura. Também as crianças
participam da Associação, principalmente como freqüentadores das aulas de nihon-gô (japonês) que
são ministradas na Sede. Verificamos um fato novo durante o Shokon-Sai de 2002: um grupo de
jovens descendentes que não foi para o Japão, e hoje já são universitários ou estudantes do ensino
médio, organizaram uma barraca para vender refrigerantes e salgados. Eles relataram que era a
primeira vez que estavam trabalhando e querem, para os outros anos, organizarem-se ainda mais;
assim, é uma maneira de participar mais ativamente da vida da Associação.
No Shokon-Sai 2002, foi possível observar que os dekasseguis que retornaram do
Japão, participaram da comemoração, foram visitar o cemitério, assistiram às apresentações de
dança e música. Conversando com alguns, eles relataram que nunca tinham participado antes de
migrarem para o Japão. Na migração, tiveram consciência e procuram agora resgatar a cultura de
seus antepassados. Mesmo considerados brasileiros de alma, sentem que o Japão faz um pouco parte
de suas vidas.
105

4. ÁLVARES MACHADO: O LUGAR DOS SONHOS PERDIDOS E CONQUISTADOS


NO MOVIMENTO MIGRATÓRIO DOS DEKASSEGUIS

Já afirmamos que o desejo de consumir algo que não está sendo possível no lugar de
origem, é um dos impulsos à migração, principalmente na escala internacional. Pois, os migrantes
internacionais, na era da globalização, são pessoas que gozam de certo grau de conhecimento e
poder aquisitivo (pelo menos para as despesas da viagem), ou seja, não é qualquer um que pode se
candidatar a migrar para outro país. Na migração de brasileiros para os Estados Unidos e para a
Europa Ocidental, quem migra são as pessoas que conhecem um pouco o idioma do país de
migração. Na verdade, essa migração não é totalmente para garantir a sobrevivência do migrante e
de sua família, como acontece em alguns movimentos migratórios internos no Brasil, como no Vale
do Jequitinhonha em Minas Gerais, por exemplo, ou dos cortadores de cana do Nordeste, dos
garimpeiros em Goiás e no Pará, entre outros. Na migração de brasileiros para o exterior (incluem-se
aí os dekasseguis), tem-se um reflexo da dinâmica da sociedade na era da globalização. Com o
desenvolvimento dos transportes, a circulação de pessoas e mercadorias passou a ser facilitada. A
mão-de-obra passou a circular mais livremente para os lugares onde o capital dela necessita.
O movimento migratório dos dekasseguis é um reflexo da dinâmica da sociedade
global, que faz com que o migrante saia do seu lugar de origem, para realizar os seus sonhos e
desejos individuais, sonhos esses que nada mais são que consumir, de possuir algo que não está
sendo possível no seu lugar social. Esses sonhos dos migrantes, fazem com que o lugar de origem,
que é de emigração ou lugar dos sonhos perdidos, tenha uma certa dinâmica, principalmente com o
retorno que vem através dos investimentos que esses dekasseguis realizam no município. O lugar
deixa de ser dos sonhos perdidos e passa a ser de conquista.
Também no Japão, há uma certa dinâmica no modo-de-vida e na economia do lugar, é
o que retrata Ito (2001), Fukusawa (2002) e Reis Fontenele (2002): as lojas de produtos brasileiros,
106

os alojamentos, as festas, os out-doors escritos em português, as escolas para brasileiros etc, já


fazem parte da rotina de algumas cidades no Japão onde a concentração de brasileiros é alta, como
por exemplo Hamamatsu e Oizumi. Esses autores citados afirmam que há, na verdade, a formação
de redes para atender às necessidades dos migrantes. Pode-se considerar também que o surgimento
desses estabelecimentos, nada mais é que a exploração do homem pelo homem, ou seja, esses
pontos comerciais surgiram para atender a uma parcela específica, que são os migrantes
estrangeiros. Muitos dos donos desses estabelecimentos foram também trabalhadores das empresas
japonesas, mas com o passar do tempo no Japão, encontraram outras oportunidades. Esses
comerciantes brasileiros vendem os produtos a preços excessivamente altos, como afirmaram os
nossos entrevistados, aproveitam-se da situação dos migrantes que estão fora do lugar de origem,
portanto, com saudade do "sabor de casa" e se submetem a pagar um valor alto por uma lata de
feijoada, por exemplo, ou uma fita de noticiário do Jornal Nacional, ou mesmo uma calça da Zomp.
São essas algumas facetas do movimento migratório.
As informações obtidas durante a realização do trabalho de campo com os
dekasseguis de Álvares Machado estão sendo apresentadas neste capítulo que organizamos da
seguinte maneira: primeiro, traçamos um perfil dos dekasseguis; segundo, verificamos como foi a
migração no Japão e, terceiro, esforçamo-nos para entender quais as perspectivas dos dekasseguis
com o retorno para Álvares Machado, principalmente em relação à inserção no mercado-de-trabalho
e aos investimentos realizados no município.

4.1 Perfil dos dekasseguis de Álvares Machado

É clássica a afirmação de George (1970), quando afirma que a maioria dos migrantes,
principalmente no mercado-de-trabalho internacional, é composta por homens jovens. Por isso,
procuramos verificar se essa afirmação se comprova na migração dos dekasseguis.
107
108
109

Dos dekasseguis entrevistados, verificamos que 57,27% são homens, porém as mulheres particip
m da migração de maneira significativa, correspondend
Perguntamos quais as implicações dessa migração de jovens para o exterior.
Na migração de jovens para o exterior, o Brasil perde, além da força-de-trabalho, uma
parcela significativa de cérebros. Esses jovens que migram para o Japão, interrompem os seus
estudos, vendem sua juventude nas empresas japonesas, inserem-se num mercado de trabalho não
qualificado, sendo que era a época de se qualificarem. Vejamos no Gráfico 8, a idade dos
dekasseguis de Álvares Machado.

FONTE: Trabalho De Campo, mar/abril//2002 ORG: Denise Cristina Bomtempo

Dos entrevistados, 18,18% têm idade entre 20 – 25 anos; 20% têm entre 26 – 30
anos; 20,90% têm entre 31 – 35 anos; 13,63% tem 36 – 40 anos; não tivemos nenhum entrevistado
com idade entre 41-45 anos; 10,90% têm idade entre 46 – 50 anos; 9,09% têm idade entre 51 – 55
anos; apenas 2,72% têm idade entre 56 – 60 anos; 3,63% têm idade entre 61 – 65 anos. E, por fim,
apenas 0,90% tem idade maior que 65 anos. Podemos visualizar, no Gráfico 8, que os dekasseguis
com faixa etária dos 20 aos 40 anos estão em maior número entre os entrevistados.
110
111

Os dekasseguis, na sua maioria - 90% - são descendentes de japoneses, sendo que,


43,63% são nisseis, 46,36% são sanseis e 9,09% não são descendentes de japoneses e sim cônjuges.
Todos têm conhecimento da língua japonesa, mesmo quem não foi à escola. Somente
os mestiços35 tiveram um pouco mais de dificuldade em relação à língua durante a migração. Os
entrevistados relataram que muitas palavras que os pais lhes haviam ensinado no Brasil, já não se
usam mais no Japão; portanto, alguns dekasseguis passaram por humilhações, foram chamados de
caipiras pelos japoneses, pois, atualmente, a língua japonesa sofre muita influência da língua
americana. Dos entrevistados, 56,36% estudaram língua japonesa e 43,63% não estudaram. Dos que
estudaram, 47,27% fizeram o curso em Álvares Machado e 9,09% estudaram em outras cidades. O
grau de instrução da língua varia, sendo que 32,72% têm conhecimento da língua japonesa em nível
de leitura, escrita e falada; 18,18% somente falam; 47,27% compreendem e falam com dificuldade e
apenas 1,81% não compreende a língua japonesa.
A escolaridade também é um fator importante para ser considerado dentro da análise
do movimento migratório dos dekasseguis. Como podemos verificar no Gráfico 9, 7,27% dos
dekasseguis entrevistados possuem escolaridade equivalente ao ensino fundamental incompleto;
17,27% possuem curso fundamental completo; 4,54% possuem o curso médio incompleto; 40% dos
entrevistados possuem curso médio completo e apenas 10% possuem curso superior36. Verifica-se
que um número significativo possui somente o ensino médio, pois, como foi possível verificarmos
no trabalho de campo, desses 40%, grande parte preferiu ou foi obrigada a interromper com os
estudos e migrar para o Japão37. Dos que retornaram, poucos voltaram a estudar, apenas 5,45% estão
cursando o ensino superior.
FONTE: Trabalho De Campo, mar/abril/2002 ORG: Denise Cristina Bomtempo

35 Os mestiços são os filhos de casamento misto, por exemplo: filho de pai japonês ou descendente e mãe de outra etnia (ou vice-
versa).

36 Dos entrevistados com curso superior, 6,36% exerceram a profissão antes de migrar para o Japão e 2,72% terminaram a faculdade
e migraram, não exercendo a profissão. As profissões dos dekasseguis com curso superior são: 1,81% administrador de empresas;
1,81% farmacêutico; 1,81% analista de sistemas; 1,81% advogado; 0,90% zootecnista; 0,90% engenheiro civil e 0,90% economista.

37 Os motivos foram vários. Entre eles, o mais significativo foi que os pais não tinham recursos para pagar a faculdade pois estavam
endividados. Ir para o Japão significava a possibilidade de poupar uma quantia de dinheiro para pagar os estudos no Brasil, além de
ajudar os pais a saldarem as dívidas. A falta de emprego no Brasil e a vontade de conhecer um país diferente também foram outros
motivos destacados pelos entrevistados que romperam os estudos e migraram para o Japão.
112

Procuramos verificar, durante o trabalho de campo, o local de nascimento dos


dekasseguis que residem atualmente em Álvares Machado. Vejamos o Mapa 6.2.
113

Dos dekasseguis entrevistados, 87,27% nasceram em Álvares Machado; 0,90%


nasceu em Piquerobi; 0,90% nasceu em Ourinhos; 0,90% nasceu em Mococa; 0,90% nasceu em
Sorocaba; 0,90% nasceu em Presidente Bernardes, 3,63% nasceram no Estado do Paraná, 0,90%
nasceu em Barretos; 1,81% nasceu em Alfredo Marcondes; 0,90% nasceu em Capão Bonito; 1,81%
nasceu em Santo Anastácio; 0,90% nasceu em Paraguaçu Paulista; 0,90% em Bastos, 0,90% nasceu
no Japão e veio para o Brasil como imigrante e 0,90% nasceu em Presidente Venceslau.
Anterior à migração para o Japão, 66,36% dos dekasseguis residiam na zona urbana
de Álvares Machado e 33,63% residiam na zona rural. Após a migração, 78,18% dos dekasseguis
não mudaram o local de residência e 21,81% mudaram da zona rural para a zona urbana; portanto,
88,18% dos dekasseguis entrevistados residem na zona urbana do município de Álvares Machado.
Os 21,81% que mudaram da zona rural, tiveram os seguintes motivos: 16,36% responderam que
mudaram devido às dificuldades encontradas com o trabalho na agricultura; 1,81% mudou porque
começou a trabalhar na cidade; 1,81% respondeu que comprou casa própria na cidade e 1,81%
respondeu que na cidade a comodidade é maior e, por isso, decidiu mudar.
Também, levantamos informações sobre a situação de moradia dos dekasseguis antes
e depois da migração e verificamos que, antes da migração para o Japão, 69,09% dos dekasseguis
residiam em casa própria; 11,81% residiam em casa alugada; 11,81% residiam na casa dos pais;
7,27% residiam na casa dos país do cônjuge. Atualmente, 100% residem em casa própria.
Percebemos que um dos sonhos desses migrantes foram conquistados.
“Foi um pouco difícil de acostumarmos no Japão, mas conseguimos construir a
nossa casa, pois antes morávamos na casa dos pais do meu esposo. Construímos e tivemos que
voltar para o Japão, porque o dinheiro acabou. Amanhã começaremos a trabalhar no comércio que
compramos; depois de um ano de retorno do Japão, começaremos a trabalhar no nosso próprio
negócio; espero que dê certo, pois não quero voltar para o Japão, mas o meu esposo quer. Eles diz
que aqui no Brasil não ganha dinheiro”. (Entrevistado Dekassegui, 25)38

38 Essa dekassegui entrevistada ficou apenas 1 ano trabalhando no seu negócio próprio (uma lanchonete) e hoje, 1 ano após a nossa
entrevista, ela já vendeu seu comércio, deixou sua casa alugada e migrou novamente para o Japão. É a terceira vez que ela e o esposo
migram para o Japão. Até quando, perguntamos.
114

4.2 Migração para o Japão

A migração de brasileiros para o Japão teve início antes da década de 1990. A década
de 1980 foi considerada perdida, pois foi de grande recessão econômica e esse quadro se expandiu
por toda a década de 1990.

Verificamos que o movimento migratório dos dekasseguis para o Japão não é muito
expressivo antes da década de 1990, como podemos visualizar no Gráfico 10. De acordo com Reis
Fontenele (2002),
O rápido e altamente expressivo crescimento do número de brasileiros que
passou a se dirigir ao Japão implicou ajustes estruturais na burocracia
japonesa. Num primeiro momento, o Consulado Geral em São Paulo viu-se
confrontado com extraordinária e repentina sobrecarga de trabalho passando
a emitir em apenas um mês o número de vistos que antes era processado em
um ano (REIS FONTENELE, 2002, p. 75).
.
Dos dekasseguis de Álvares Machado, apenas 3,63% migraram para o Japão antes da
década de 1990. Esse número aumentou significativamente no período de 1990 – 1993, período
esse que coincide com a reformulação da lei japonesa de imigração, que passou a aceitar legalmente
os descendentes de japoneses para trabalhar temporariamente. Portanto, no período de 1990 - 1993,
verificamos que foi o auge da migração para o Japão, com 52,72% dos entrevistados. No período de
1994 – 1997, tem-se um total de 31,81% dos entrevistados que migraram para trabalhar como
dekasseguis e, no período compreendido entre 1998 – 2001, apenas 11,81% foram trabalhar no
Japão.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril, 2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Com a reformulação da lei japonesa de imigração, o descendente de japonês nissei


pode permanecer no Japão como dekassegui por três anos e renovar o seu visto. Os sanseis têm visto
de permanência por um ano, assim como os cônjuges dos dekasseguis não descendentes. Vistos que
podem ser renovados por igual período. Foram vários os motivos da migração dekassegui ter
continuado durante toda a década de 1990 e permanecido até os dias atuais. Entre eles, a facilidade
de renovação dos vistos e as sucessivas crises da economia brasileira. Esses motivos fizeram com
115

que os dekasseguis aumentassem o tempo de migração, porém, o desejo de retorno permanece uma
constante no movimento migratório.
Dos dekasseguis de Álvares Machado, 12,72% permaneceram trabalhando no Japão
apenas 1 ano; 19,09% permaneceram no Japão por 2 anos; 15,45% por 3 anos; 16,36% dos
entrevistados por 4 anos; 4,54% por 5 anos; 6,36% por 6 anos; 10% por 8 anos; 3,63% por 9 e 10
anos, e, por fim, 1,81% permaneceu no Japão por 11 anos. É importante considerar que permanecer
no Japão implica em idas e vindas do Brasil para lá e vice-versa embora 50% dos dekasseguis não
retornassem nenhuma vez para o Brasil durante o período de migração no Japão.39.
Vale a pena ressaltar que a maioria dos dekasseguis entrevistados não migrou para o
Japão sozinho, pois 29,09% migraram com o cônjuge; 38,18% migraram com parentes; 8,18% com
amigos e; 24,54% migraram sozinhos para trabalhar no Japão. Do total, 75,45% migraram para o
Japão acompanhados e apenas 24,54% migraram sozinhos.
O local de permanência no Japão dos dekasseguis de Álvares Machado entrevistados,
não foi diferente da maioria dos brasileiros, como verificamos no Mapa 3. Ou seja, eles
concentraram-se nas províncias próximas a Tóquio, sendo que Aichi foi a província onde se
concentrou o maior número de dekasseguis entrevistados, cerca de 34,54%, como podemos
constatar no Mapa 7. A província de Nagano representa 9,09% do local de permanência dos
dekasseguis entrevistados, Gunma e Fukui representam 8,18% cada. Outras províncias como Mie,
Shizuoka, Kanagawa, Saitama, como podemos observar no Mapa 7, foram províncias onde também
se concentrou um número expressivo dos dekasseguis entrevistados, sendo que, a minoria
permaneceu em províncias distantes de Tóquio, como Hiroshima e Okayama, representando apenas
0,90% do local de permanência dos dekasseguis entrevistados.

39 A maioria dos entrevistados relatou que retornaram para o Brasil por somente um período para descansar e passar férias, pois o
objetivo era voltar para o Japão e trabalhar por mais um tempo. Outros relataram que tentaram investir no Brasil e não deu certo,
tendo que migrar novamente para o Japão, para poupar um pouco mais de dinheiro.
116

Os motivos da migração para o Japão foram uma das nossas preocupações durante a
pesquisa. Por que migrar? A grande parcela dos dekasseguis, como podemos verificar no Gráfico 11,
encarava a migração como uma possibilidade de poupar dinheiro.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril, 2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Dos dekasseguis entrevistados, 10% relataram que foram trabalhar no Japão porque
tinham dívidas com o agente financeiro; 16,36% relataram que tinham dificuldades para continuar
trabalhando com a agricultura que estava ruim (ver abaixo depoimento de um dekassegui que era
agricultor); 12,72% relataram que foram para o Japão para conquistar a casa própria no Brasil;
0,90% foi porque estava desempregado; 58,18% foram pois queriam poupar dinheiro para realizar
investimentos no Brasil; 7,27% foram com o objetivo de poupar dinheiro e retornar ao Brasil e
estudar; 10,90% relataram que foram para o Japão para conhecer o país de seus antepassados, a
cultura e o modo-de-vida japoneses. É importante ressaltar que a situação econômica do Brasil é um
fator importante na migração para o Japão, pois quando o Brasil estava passando por um período
ruim na sua economia, principalmente no início da década de 1990, o Japão estava necessitando de
"braços" para exercer atividades não qualificadas nas empresas que desempenhavam as mais
variadas atividades. Mais uma vez a migração entre os dois países tornou-se dinâmica.
“Os produtores de Machado estão passando por situações difíceis, ficam
trabalhando no sol o dia todo e não tiram para pagar a safra. A uva Itália que eu plantava, hoje
não sai nem R$ 2,00 o quilo. Imagine, comprar adubo, defensivos com preços cotados em dólar, o
117

produtor não agüenta. Antes, a gente via sempre produtor trocando de carro, comprando trator,
implementos agrícolas novos. Hoje a gente só vê o pessoal remendando tudo para trabalhar. No
meu sítio mesmo, temos um trator de 25 anos atrás; na época era novo, hoje é sucata. Então,
compensa eu ir para o Japão, ficar uns oito ou nove meses, do que tombar terra para plantar. Na
terra, eu vou gastar uns R$ 3.000,00 e não sei se o retorno será garantido. No Japão eu sei que
trabalho direto, ganho e trago para o Brasil. Mas tem que economizar” (Entrevistado Dekassegui,
42).
Não podemos deixar de frisar que os sonhos dos migrantes estão sempre presentes.
São eles um "termômetro" importante na hora da decisão de migrar ou permanecer. Migrar
representa a conquista do sonho de economizar certa quantidade de dinheiro para comprar a casa
própria no Brasil ou para pagar os estudos, ou ainda poupar para investimento em alguma atividade
que garanta ao dekassegui o retorno ao lugar de origem, Álvares Machado, que representa o lugar
da conquista dos sonhos no movimento dekassegui lugar onde o sonho da casa própria, do negócio
próprio, da vida com os amigos e familiares pode se tornar realidade, realidade esta que, se
realmente for conquistada, fará com que o dekassegui esqueça os momentos ruins que viveu no
Japão, distante de sua terra natal e de seu lugar social.
“Mas nem tudo são flores”... Nem sempre os sonhos se tornam realidade. Para que
um investimento dê certo (um dos sonhos dos dekasseguis), são necessários muitos estudos, muitas
pesquisas sobre o que o dekassegui se propõe a fazer, pois a vontade de ficar no lugar de origem faz
com que invista em negócios que não sabe muito bem como funcionam e, assim, o risco torna-se
maior. Muitas vezes a falta de conhecimento do que se propõe a fazer, culmina novamente na
migração forçada para o Japão.
O dekassegui, portanto, é um elemento importante na configuração da paisagem do
município de Álvares Machado, principalmente a partir de meados da década de 1990, quando os
primeiros investimentos começaram a aparecer, principalmente na compra de imóveis na área
urbana do município, como veremos mais adiante.
A migração dos dekasseguis para o Japão, diferencia-se da migração internacional
dos brasileiros para os Estados Unidos e para os países da Europa Ocidental no que se refere à
contratação da mão-de-obra.
Os dekasseguis têm a possibilidade de migrar para o Japão com o trabalho
encaminhado e com a passagem paga. Como isso é possível? Pela ação das empreiteiras, que são as
118

agências que recrutam mão-de-obra. Essas empresas providenciam a documentação necessária,


financiam a passagem e indicam os dekasseguis para as empresas japonesas que estão necessitando
de mão-de-obra estrangeira. A ação dessas empresas muitas vezes é ilegal, cobram preços
exagerados pelos serviços prestados aos dekasseguis. As agências do Brasil possuem ligação com as
empreiteiras japonesas40. Os dekasseguis relataram que sabiam da exploração das empreiteiras,
porém aceitaram isso, principalmente os que migravam pela primeira vez e não conheciam o
território japonês. No Gráfico 12, verificamos como os dekasseguis de Álvares Machado
conseguiram trabalho no Japão.

FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Dos dekasseguis, 80,90% já tinham trabalho no Japão e apenas 19,09% não tinham.
Dos que tinham trabalho, conseguiram-no através de agências que contratavam mão-de-obra
estrangeira e também japonesa, as chamadas empreiteiras, e uma pequena parcela, 7,27%,
conseguiram trabalho por conta própria. Os dekasseguis relataram que um dos principais quesitos
que contribuíram para conseguir trabalho no Japão foi o conhecimento da língua japonesa. Além do
trabalho conseguido através das agências recrutadoras de mão-de-obra e por conta própria, os
parentes e amigos que já estavam no Japão, representaram 20% das respostas de indicação para
trabalho. Essa indicação feita por parentes e amigos que já estavam no Japão como dekassegui, é o
que Sasaki (1999) considera como a formação de um rede social de dekasseguis no Japão e de
trabalhadores que estão no Brasil e querem também ser dekasseguis. Essa rede social forma-se ao
longo do tempo, pois nos primeiros anos da migração para o Japão, essa autora relata que a maioria
dos brasileiros migrava através das agências, e depois das primeiras levas de dekasseguis no Japão,
é que a rede social começou a se formar. Muitos dekasseguis até pagaram as passagens dos amigos e
familiares, pois as agências cobravam preços altíssimos, ficando o dekassegui já endividado no
Japão, antes mesmo de começar a trabalhar.

Vale a pena ressaltar que 72,72% dos dekasseguis foram para o Japão com a
passagem financiada pela agência que contrata mão-de-obra e 27,27% compraram a passagem e
pagaram por conta própria ou com auxílio de parentes e amigos que estavam no Japão. Dos
dekasseguis que financiaram a passagem, 22,72% pagaram-na durante 3 meses; 10,90% durante 4

40 Sobre a ação ilegal das empreiteiras ver Yoshioka (1995).


119

meses; 10% durante 5 meses; 30% durante 6 meses e 27,26% pagaram a passagem à vista. O
pagamento das passagens era feito através do salário dos dekasseguis, já vinha descontado na folha
de pagamento, de acordo com o relato dos entrevistados.
Outro fato que tentamos investigar foi em relação à mudança de trabalho dos
dekasseguis no Japão, o porquê da mudança e quais os critérios utilizados para tal.
A mudança de trabalho no Japão não é vista com bons olhos pelos chefes japoneses,
pois no Japão existe a cultura de lealdade à empresa, o trabalho vitalício. O trabalho é uma extensão
da família. Os dekasseguis brasileiros não têm a mesma visão que o japonês, por isso, procuram os
trabalhos que ofereçam maior remuneração e mais horas extras, isto é, tenham a possibilidade de
poupar mais.
Dos dekasseguis, 35,45% não mudaram de trabalho no Japão e 64,54% mudaram.
Dos que mudaram de trabalho, 16,36% mudaram uma vez; 13,63% duas vezes; 20% três vezes e
14,54% mudaram mais de três vezes.
Dos que mudaram de trabalho, 23,63% o fizeram porque procuraram empresas que
pagassem mais por hora trabalhada, porque os dekasseguis são trabalhadores horistas, ou seja,
recebem somente por hora trabalhada, portanto, quanto mais horas trabalhadas com melhor
remuneração, maiores serão os ganhos. Também, dos entrevistados, 18,18% relataram que
procuraram outros trabalhos pois queriam fazer mais horas-extras para aumentar a remuneração e,
assim, poder retornar num tempo mais curto para o Brasil. Houve também 14,54% dos entrevistados
que relataram procurar serviços mais leves, pois o primeiro trabalho era muito pesado e perigoso,
porque faziam movimentos muito repetitivos, muitas vezes forçando uma parte do corpo o que
poderia causar problemas de saúde no futuro.
“Não adianta nada trabalharmos como loucos no Japão por dois ou até quatro anos
e ficarmos sem saúde. Quando chega aqui no Brasil, não consegue fazer nada. Foi o meu caso, não
pude mais plantar lavoura, fiquei com problema de coluna; hoje trabalho no comércio e não posso
fazer nenhum esforço”. (Entrevistado Dekassegui, 55 )
As atividades que os dekasseguis de Álvares Machado desenvolviam no Japão, são as
que não exigem qualificação profissional e estão relacionadas na Tabela 5.

TAB. 5: Locais e Tipos de atividades desenvolvidas pelos dekasseguis no Japão


LOCAIS E TIPOS DE ATIVIDADES Valor Absoluto Valor Relativo
Montadora de automóvel 16 14,45
Componentes eletrônicos 28 25,45
120

Frigorífico 8 7,27
Enfermeira 1 0,9
Fundição 12 10,9
Bentoya 7 6,36
Limpeza de Hotel 3 2,72
Fábrica de Auto Peças 15 13,63
Costureira 3 2,72
Fábrica de Casas Pré Moldadas 6 5,45
Construção Civil 3 2,72
Fábricas em geral 6 5,45
Motorista 2 1,81
TOTAL 110 99,83
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/ABRIL/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Entre os locais e tipos de atividades que os dekasseguis desenvolveram quando


estavam trabalhando no Japão, destacam-se: 14,54% trabalhavam em empresas montadoras de
automóveis; 25,45% trabalhavam em empresas de componentes eletrônicos; 7,27% trabalhavam em
frigoríficos; 0,90% trabalhava de enfermeira; 6,36% trabalhavam no Bentoya41; 2,72% trabalhavam
em hotéis, fazendo limpeza; 13,63% trabalhavam em empresas de auto-peças; 2,72% trabalhavam
como costureiras; 5,45% em fábricas de construção de casas pré moldadas; 2,72% trabalhavam com
construção civil, 5,45% em fábricas de latinhas de refrigerante, óculos, brinquedo, sorvete etc;
1,81% como motoristas para as empreiteiras. Como já ressaltamos, os serviços realizados pelos
dekasseguis no Japão são considerados de baixa qualidade, serviços estes que não exigem
qualificação e que os jovens japoneses se recusavam a fazer. Atualmente, com a crise da economia
japonesa, esses serviços, que já foram exclusivos da mão-de-obra migrante, estão sendo desejados
também pelos japoneses.
A remuneração dos dekasseguis quando estavam no Japão e a poupança que fizeram
são informações importantes que obtivemos durante o trabalho de campo.

FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Dos dekasseguis entrevistados, 20,90% recebiam uma remuneração por mês de U$


1.000,00 a 1.500,00 dólares; 37,27% recebiam de U$ 2.000,00 a 2.500,00 dólares; 30% recebiam em

41 Bentô, em japonês, significa comida. Bentoya, de acordo com os dekasseguis entrevistados, são empresas especializadas em
fabricar e vender comida pronta.
121

torno de U$ 3.000,00 a 3.500,00 dólares e 11,81% recebiam em torno de U$ 4.000,00 a 6.000,00


dólares. O salário das empresas japonesas é um dos principais atrativos dos dekasseguis. No Brasil,
um trabalhador que não possui qualificação profissional, com nível superior e cursos específicos,
dificilmente receberá um salário como nas empresas japonesas, desempenhando atividades que não
exigem qualificação profissional. O dekassegui sujeita-se a esses trabalhos pois a remuneração é
compensatória, possibilitando a formação de uma poupança que resultará em futuros investimentos
no Brasil. Dos dekasseguis entrevistados, 48,18% poupavam por mês entre U$ 500,00 a 1.500,00,
40% poupavam entre U$ 2.000,00 a 2.500,00; 9,09% entre U$ 3.000,00 a 3.500,00 e 2,72% entre
U$ 4.000,00 a 6.000,00. Os dekasseguis relataram que só gastavam o necessário para a
sobrevivência: pagavam o alojamento, compravam comida e guardavam o restante. Os jovens
disseram que gastavam um pouco mais, porque freqüentavam as discotecas, as famosas “discos”, o
que não era comum. Outros relataram que gastaram um pouco no Japão pois queriam conhecer a
cultura do país. Mas, o desejo mesmo era poupar para retornar ao Brasil o mais rápido possível. Os
dekasseguis que migraram junto com o cônjuge e alguns com os filhos, foram os que conseguiram
poupar mais. Eles utilizavam o salário da esposa para pagar as despesas e o salário do esposo e/ou
dos filhos eram livres para ser depositado na poupança. É o caso dos 2,72% dos dekasseguis que
economizaram entre U$ 4.000,00 e 6.000,00 dólares.
A partir dos dados obtidos na realização do Trabalho de Campo, verificamos que, em
praticamente doze anos de migração dos dekasseguis em Álvares Machado, foram movimentados
pelos nossos entrevistados cerca de R$ 24.417.741,97 (Vinte e quatro milhões, quatrocentos e
dezessete mil, setecentos e quarenta e um reais e noventa e sete centavos), seja em aplicações
financeiras, em compras de imóveis urbanos (terrenos, casas para residência e aluguel), imóveis
rurais, compra de bens móveis, como automóveis, em atividades comerciais etc.
É um movimento expressivo de dinheiro, considerando que Álvares Machado é um
município pequeno e não possui muitas fontes de renda.
Uma das maiores economias entre os dekasseguis entrevistados, gira em torno de R$
1.481.428,98 (um milhão, quatrocentos e oitenta e um mil, quatrocentos e vinte e oito reais e
noventa e oito centavos), sendo que esse total, foi economizado em 10 anos de trabalho no Japão,
como podemos verificar na Tabela 6. O valor economizado depende muito de cada indivíduo, ou
seja, depende muito dos seus sonhos, do seu propósito de vida. O que vale é pensarmos de maneira
geral nos investimentos que estão sendo realizados numa escala local, ou seja, em Álvares Machado.
122

Esses investimentos estão acarretando impactos do ponto de vista econômico e social na paisagem
do município.
Os dekasseguis relataram que um dos motivos para economizar dinheiro quando
estavam no Japão, eram as longas jornadas de trabalho. Chegavam em casa, tinham que cozinhar,
cuidar das roupas e, o mais importante, tinham que dormir para trabalhar novamente no outro dia.
Dos entrevistados, apenas 6,36% trabalhavam 8 horas e não faziam horas extras; 9,09% trabalhavam
cerca de 9 horas; 20% dos entrevistados cerca de 10 horas; 20,90% cerca de 11 horas, sendo que a
grande maioria, 26,36% cerca de 12 horas; 7,27% trabalhavam cerca de 13 horas; 4,54% cerca de 14
horas; 2,72% trabalhavam mais de 15 horas e 2,72% mais de 16 horas. Os turnos de trabalho
variavam muito, uma semana de dia, outra à noite. Esse sistema de turnos de serviço alternados é
muito cansativo, de acordo com os nossos entrevistados. Somente as mulheres trabalhavam apenas
durante o dia.
123

Os dekasseguis, nas entrevistas efetuadas durante o trabalho de campo, relataram que


a estada no Japão foi muito boa,, porém, sentiram algumas dificuldades. Cerca de 9,09% dos
entrevistados relataram que sentiram dificuldades de se relacionar com as pessoas no local de
trabalho, principalmente com os brasileiros: “ninguém quer ajudar ninguém, cada um quer saber do
seu umbigo; os brasileiros que estão há mais tempo na fábrica não ajudam os que estão chegando;
é muita competição por hora extra”. (Entrevistado Dekassegui, 29). Os japoneses hostilizavam os
brasileiros, mas isso não foi tão problemático, de acordo com os entrevistados; o pior foi não receber
ajuda dos próprios brasileiros.
Além das dificuldades no local de trabalho, 59,09% relataram que a maior
dificuldade foi suportar a saudade do Brasil, a saudade do lugar, da família, dos amigos; da
liberdade, pois no Japão, tudo é muito restrito e disciplinado. Saudade de ouvir música em volume
alto, de conversar com os vizinhos. Este é o preço que o migrante paga, ficar longe do seu lugar de
origem, de sua cultura, para vender sua força-de-trabalho onde o capital dela necessita. Mas, como
já relatamos, o migrante só se sujeita a ficar longe do seu lugar social é temporariamente, pois cada
dia que passa, ele estará mais próximo da terra natal, próximo do lugar da conquista dos sonhos.
Também 11,81% dos entrevistados relataram não ter conhecimento do idioma japonês foi uma
grande dificuldade no Japão, principalmente no trabalho e também para fazer as compras do dia-a-
dia nos supermercados, pois de início não havia produtos brasileiros no Japão. Atualmente há muitos
124

supermercados que vendem produtos brasileiros. Muitos dos entrevistados compravam produtos
errados: 5,45% dos entrevistados relataram que foi difícil se acostumar com a alimentação
japonesa, por ser adocicada, diferente do tempero brasileiro. No entanto, por fim 7,27% relataram
não ter passado por nenhuma dificuldade no Japão.

4.3 O Retorno para o Brasil – o lugar da conquista dos sonhos

O retorno é algo muito esperado no movimento migratório. Autores como Sayad


(1998) afirmam que o migrante só se submete a migrar porque tem a possibilidade de retornar.
Porém, com o retorno, o migrante passa por algumas dificuldades, entre elas, inserir-se novamente
na sociedade e no mercado de trabalho. É clássica a afirmação de Martins (1988) que diz que
"migrar temporariamente é mais do que ir e vir, é viver em espaços geográficos diferentes,
temporalidades dilaceradas pelas contradições sociais. Ser migrante temporário é viver tais
contradições como duplicidade; é ser duas pessoas ao mesmo tempo, cada uma constituída por
específicas relações sociais, historicamente definidas; é viver como presente e sonhar como ausente"
(MARTINS, 1988, p. 45).
A migração internacional para o Japão não significa somente a inserção do
trabalhador no processo de trabalho, mas principalmente o enfrentamento
dos desafios postos pelas diferenças sociais e culturais, que acompanham os
processos migratórios. O encontro de culturas diversas coloca questões
relativas à integração social, em vários setores da vivência do migrante,
possibilitando influências culturais mútuas ( KAWAMURA, cit. Por
NINOMIYA, 1998).

A questão que nos norteia é em relação à mobilidade da força-de-trabalho em tempos


de globalização. O deslocamento da força-de-trabalho dos dekasseguis para o Japão acontece num
momento do processo de internacionalização do capital e do deslocamento dos empregos entre os
países nunca visto anteriormente. Com os empregos sendo oferecidos mais intensamente num país
desenvolvido e a situação de crise econômica no Brasil, o deslocamento das pessoas torna-se mais
intenso.
Por outro lado, como a força-de-trabalho ainda é, mesmo atualmente, quando a
acumulação do capital em escala ampliada está evidenciada pelo fluxo intenso e rápido do dinheiro,
superando fronteiras “eliminadas” pela formação de redes de informação, fonte fundamental na
125

produção de riquezas e por conseguinte de excedente econômico, por que é necessário o seu
deslocamento de um país para o outro? A produção da mais-valia não poderia ser feita no Brasil,
como historicamente tem ocorrido, e posteriormente expatriada para o Japão através das operações
financeiras?
Além do mais, vimos que ocorre a transferência de grandes quantias em dinheiro do
Japão para o Brasil, resultado da poupança dos dekasseguis, que as utilizam para investimentos em
imóveis ou para alavancar diferentes negócios nas áreas produtivas ou no comércio e serviços.
Os familiares que não migraram são muito importantes nesse processo de readaptação
do dekassegui ao lugar de origem, principalmente na questão dos investimentos. O que fazer quando
retornar? Os sonhos foram conquistados no lugar de origem? São essas algumas questões que
levantamos durante o trabalho de campo.
Como podemos verificar no Gráfico 14, a maioria dos dekasseguis de Álvares
Machado retornou no período de 2000 - 2002, cerca de 40,90%; seguidos por 37,27% no período de
1997 - 1999; 1994 - 1996 e 1991 - 1993, 10,90% cada.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Uma informação interessante que levantamos durante a pesquisa diz respeito às


atividades que os dekasseguis desenvolviam antes e após a migração. Verificamos algumas dessas
atividades, principalmente comparando os trabalhos na zona rural e urbana. 24,54% dos
entrevistados não exercem atividades remuneradas, vivem somente dos rendimentos das aplicações
financeiras e da poupança que fizeram quando eram dekasseguis. Essas pessoas relataram que não
fizeram investimentos pois retornaram há pouco tempo do Japão e estão estudando algum tipo de
investimento. Mas, também existem as pessoas que não conseguiram se inserir no mercado-de-
trabalho e por isso vivem dos rendimentos, como também aqueles que investiram no setor
imobiliário e vivem de aluguéis.
Vejamos no Gráfico 15, com detalhes, as informações obtidas sobre as atividades
remuneradas dos migrantes antes e após a migração.

FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Dos dekasseguis entrevistados, de acordo com os dados do Gráfico 15, 23,63% eram
agricultores antes de migrar; com o retorno, apenas 10,90% estão trabalhando na agricultura,
126

dedicando-se ao cultivos de hortaliças, frutas e flores e também arrendando as terras compradas;


17,27% eram estudantes, enquanto que apenas 7,27% voltaram a estudar; 6,36% das mulheres
dekasseguis, trabalhavam apenas em casa antes da migração, número que cresceu um pouco:
atualmente, 8,18% das entrevistadas trabalham somente nos afazeres domésticos. Anterior à
migração para o Japão, 32,72% dos entrevistados eram funcionários de empresa privada e com o
retorno, apenas 6,36% continuam funcionários, numa queda bastante significativa nessa modalidade
de atividade. Antes da migração, 10,90% eram autônomos e, com o retorno, 10% dos entrevistados
continuam autônomos. Anteriormente à migração, apenas 6,36% dos entrevistados eram donos de
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços e, atualmente, 26,36% exercem essa
atividade. Houve, portanto uma mudança significativa (Tab. 7). Anterior à migração, 0,90% era
desempregado; atualmente nenhum dos entrevistados está desempregado. Duas áreas novas
aparecem como atividade dos dekasseguis após a migração para o Japão e o retorno para o Brasil: a
pecuária e a aplicação financeira. 3,63% são pecuaristas e 24,54% dos entrevistados optaram por
aplicações financeiras. No Gráfico 15, estão como pessoas que não exercem atividades remuneradas.
Vale a pena ressaltar a diminuição de dekasseguis que eram agricultores (23,63%) e
hoje estão na atividade apenas 10,90%. Isso se deve ao fato de não haver uma política agrícola
financeira para o pequeno proprietário, possibilitando assim, ao dekassegui que retorna, procurar
outras atividades. As mais cotadas como podemos visualizar no Gráfico 15, são as atividades ligadas
ao setor comercial, que tiveram um aumento significativo. Antes da migração para o Japão, apenas
6,36% eram donos de estabelecimentos comerciais e prestação de serviços; atualmente, 26,36%
dedicam-se a essa atividade. Dos estabelecimentos comerciais dos dekasseguis em Álvares
Machado, de acordo com os dados da Tabela 7, destacam-se:

TAB. 7: ATIVIDADES COMERCIAIS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DOS DEKASSEGUIS


QUE RETORNARAM DO JAPÃO
VALOR VALOR
ATIVIDADES ABSOLUTO RELATIVO
Salão de Cabeleireiro 3 2,72
Mercado 5 4,54
Lanchonete 2 1,81
Loja de Ração de Animais 1 0,9
Loja de Material de 1 0,9
Construção
Madeireira 1 0,9
Bazar 2 1,81
127

Peixaria 1 0,9
Banca de Revistas 1 0,9
Bar 1 0,9
Loja de Calçados 1 0,9
Açougue 1 0,9
Imobiliária 1 0,9
Franquia de Convênio 1 0,9
Médico
Vidraçaria 1 0,9
Academia de Ginástica 1 0,9
Posto de Gasolina 1 0,9
Foto 1 0,9
Quitanda 1 0,9
Pesque-Pague 1 0,9
Empreiteiro 1 0,9
TOTAL 29 26,36
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

São bem variados os estabelecimentos comerciais dos dekasseguis, com


investimentos trazidos do Japão. Vale a pena ressaltar que, nesses estabelecimentos comerciais, a
presença da família no trabalho do dia-a-dia é uma constante, sendo esta, uma maneira de garantir a
todos uma atividade remunerada ao retornar do Japão e a possibilidade de ficar no lugar de origem,
o lugar da conquista dos sonhos, e não mais ter que migrar para o Japão.

4.4 Os investimentos dos dekasseguis no município de Álvares Machado

Os investimentos no município de Álvares Machado, o lugar da conquista dos


sonhos, significa a possibilidade de retornar para o lugar de origem. Retornar às relações que o
migrante tinha antes de partir, mesmo que algum aspecto tenha se modificado. A inserção
novamente na sociedade local, para muitos migrantes, não foi difícil, pois Álvares Machado é um
município pequeno, onde todos de alguma maneira se conhecem, principalmente as famílias que
residem há mais tempo no município (como é o caso dos dekasseguis). Em relação aos
investimentos, 93,63% os fizeram no município de Álvares Machado e apenas 6,36% investiram
em outros municípios. Em quais setores foram feitos esses investimentos? O que significam para
Álvares Machado?
128

Dos dekasseguis de Álvares Machado, 93,63% fizeram investimentos em Álvares


Machado, como podemos constatar no Gráfico 16, sendo que, 75,45% investiram em imóveis na
zona urbana do município; 11,81% compraram terrenos; 27,27% compraram ou construíram a casa
própria e 36,36% compraram imóveis para aluguel. Os dekasseguis também compraram imóveis
rurais em Álvares Machado - 17,27%. Compraram terras no bairro Guaiçara 4,54% dos
entrevistados; 0,90% compraram propriedades no bairro São Geraldo; 2,72% compraram
propriedades no bairro Quinta Escola; 2,72% no bairro Reservado; 2,72% no bairro Brejão e 3,63%
no bairro Limoeiro. A maioria dos dekasseguis que comprou propriedades rurais, antes de migrar
para o Japão, já era agricultor. Os tamanhos das propriedades que os dekasseguis compraram
variam de 1 – 8 alqueires, (9,09%); 32 alqueires (1,81%); 22 alqueires (2,81%); 47 alqueires
(2,72%); e 15 alqueires (1,81%). Dos dekasseguis que compraram propriedades rurais, apenas uma
pequena parcela dedicou-se à agricultura, principalmente cultivando frutas, hortaliças e flores.
Grande parte utilizou a propriedade para a criação de gado e outras atividades como, os pesque-
pague e chácara de aluguel para recreação. Apenas 7,27% não compraram imóveis, fizeram
somente aplicações bancárias. E dos dekasseguis que tinham dívidas no banco antes de migrar para
o Japão, 100% as pagaram.
Verificamos, de acordo com os dados do SEADE (Quadro 5), que a Receita do
município de Álvares Machado teve um aumento considerável na década de 1990 em relação à
década de 1980, principalmente no período de 1997 a 2000, fechando a década com R$
10.631.975,00 - dez milhões, seiscentos e trinta e um mil e novecentos e setenta e cinco reais.
Verificamos que além do ITBI (um dos impostos arrecadados no município), também o IPTU -
Imposto Predial e Territorial Urbano tiveram um aumento de arrecadação significativa nesse
período. Entre outros fatores, como o aumento da população, o crescimento da arrecadação desses
impostos deveu-se em grande parte aos investimentos feitos pelos dekasseguis no setor imobiliário e
de terras. Portanto, o movimento migratório que ocorre numa escala global, acarreta impactos numa
escala local. No município de Álvares Machado, isso é visível de maneira localizada na paisagem,
tanto urbana como rural.
Além da arrecadação de impostos, de acordo com o responsável pelo Cartório de
Registros de Álvares Machado, "quando as pessoas que voltaram do Japão, começaram a comprar
imóveis em Álvares Machado, os preços dos terrenos urbanos e rurais, e também dos imóveis,
aumentaram, principalmente no Centro da cidade e nos bairros próximos. Os melhores terrenos, as
129

melhores casas e propriedades rurais são negociadas pelos japoneses" .(Responsável pelo Cartório
de A.M. Mar/2003)
Vejamos também as informações do Jornal Independente de Álvares Machado:
Hoje é muito difícil uma família japonesa que reside em Álvares Machado
que não tenha parentes que foram trabalhar no Japão (...). Os que migram,
representam uma parcela considerável da população machadense e cujos
recursos influenciam na economia do município. Não há uma estatística
oficial de quantos são os dekasseguis machadenses, mas o fato é que os
dólares ganhos em terras japonesas servem para a subsistência de muitos
familiares que aqui ficaram, bem como, interferem nos negócios comerciais
que são feitos na cidade. O corretor de imóveis Alcídio Gaban revela que, de
cada três transações imobiliárias que ocorrem na cidade, duas envolvem
descendentes de japoneses. E investem principalmente nas áreas mais
nobres. O gerente geral do Banespa, Euro Basques, diz que a movimentação
dos recursos enviados pelos dekasseguis formam uma economia paralela no
município. Além de negociarem imóveis, eles optam por aplicar em
caderneta de poupança. (...) O setor de atendimento do Banco do Brasil de
Álvares Machado, também, chega a receber em média três pedidos por dia
de recursos vindos do Japão. Os valores são variados, desde poucos dólares
até quantias elevadas (JORNAL O INDEPENDENTE, 30/12/1999, p. 5).

Essa declaração, confirma a nossa hipótese, da importância dos investimentos dos


dekasseguis em Álvares Machado que estão atrelados aos sonhos desses migrantes. Os dekasseguis
na verdade não voltam milionários; isso é até um exagero que escutamos no cotidiano de Álvares
Machado. Eles conseguem acumular uma poupança durante o tempo de migração no Japão, que na
verdade, possibilita a eles adquirir a casa própria e imóveis que normalmente são para alugar, ou
ainda, montam estabelecimentos comerciais ou de prestação de serviços, como também investem em
propriedades rurais. Esses investimentos amenizam um pouco os anos de árduo trabalho no Japão. A
partir do momento em que os negócios começaram a dar certo no Brasil, "parece que eu fui
apagando os anos de agonia que vivi no Japão. O Brasil é o melhor lugar do mundo para se viver".
(Entrevistado Dekassegui, 23)
Outro dado que contribuiu para a análise dos investimentos dos dekasseguis em
Álvares Machado, foi o aumento de depósitos e aplicação financeira nas agências bancárias do
município, como podemos verificar no Quadro 5.
QUADRO 5: RECEITA, ARRECADAÇÃO DE IPTU E DEPÓSITOS BANCÁRIOS DO MUNICÍPIO DE ÁLVARES MACHADO
42
-SP (1980-2000)

42 Os valores monetários foram atualizados pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna - IGP-DI/2000, da Fundação
Getúlio Vargas - FGV.
130

ANOS TOTAL DA RECEITA MUNICIPAL IPTU DEPÓSITOS TOTAIS


1980 2.719.315,00 14.274,00 -
1981 2.355.731,00 132.317,00 -
1982 2.689.875,00 144.753,00 -
1983 2.221.985,00 164.574,00 -
1984 2.482.462,00 194.626,00 -
1985 3.312.849,00 105.476,00 -
1986 3.975.213,00 103.205,00 -
1987 3.236.570,00 58.273,00 -
1988 3.279.263,00 18.348,00 11.334.678,00
1989 3.449.912,00 13.567,00 8.146.871,00
1990 4.124.277,00 16.165,00 6.422.314,00
1991 4.123.778,00 38.136,00 8.064.728,00
1992 3.825.821,00 28.567,00 6.356.013,00
1993 3.876.047,00 19.902,00 9.780.502,00
1994 4.220.628,00 82.795,00 7.162.228,00
1995 5.864.956,00 215.002,00 7.363.581,00
1996 5.813.855,00 212.205,00 9.349.506,00
1997 6.730.190,00 218.301,00 16.945.566,00
1998 9.805.245,00 224.946,00 20.027.754,00
1999 8.801.411,00 200.543,00 21.509.053,00
2000 10.631.975,00 186.848,00 19.588.131,00
Fonte: Fonte: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - SEADE (www.seade.gov.br)
ORG.: Denise Cristina Bomtempo Abril/2003
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Com a realização do trabalho de campo, verificamos que, 75,45% dos entrevistados


fizeram investimentos em imóveis urbanos e 17,27% em imóveis não só urbanos, como também
rurais. Esse foi um dos motivos que nos levaram a ampliar a nossa análise dos investimentos dos
dekasseguis não só a partir dos resultados do questionário aplicado, mas também a partir de outra
fonte, que é a arrecadação de ITBI - Imposto de Transmissão de Bens Imóveis do município de
Álvares Machado. Fizemos um levantamento de dados em séries históricas, junto ao Cartório de
Registros de Imóveis Álvares Machado, desde a década de 1980 e 1990 e nos anos 2000, 2001 e
2002. Assim, foi possível verificar em quais bairros do município a população em geral está
investindo (comprando imóveis), principalmente na zona urbana e se esses bairros são os mesmos
em que os dekasseguis estão investindo. Além da localização, foi possível verificar o total de
imposto arrecadado no período proposto, década de 1980 e 1990 e anos 2000, 2001 e 2002.
Vale ressaltar que o valor do ITBI é apenas 2% do valor venal do imóvel. Esse valor
venal é estipulado pela Prefeitura Municipal de Álvares Machado, que de acordo com informações
131

da Secretaria de Planejamento, está um pouco desatualizado. Mesmo diante desse quadro, foi
possível obtermos informações seguras em relação aos imóveis negociados no município e qual a
parcela desses investimentos pertencem aos dekasseguis.
Foram elaborados alguns cartogramas que demonstram onde foram negociados os
imóveis, tanto na zona urbana como na rural.

4.4.1 Imóveis negociados em Álvares Machado na década de 198043

Na década de 1980, como podemos constatar no Mapa 8, foram negociados um total


de 1.860 imóveis na zona urbana de Álvares Machado, sendo que os bairros onde foram negociados
um número maior de imóveis são: Jardim Raio do Sol, com 22,74% dos imóveis negociados; vale
ressaltar que foi na década de 1980 que se iniciou a venda de lotes no bairro; no Jardim Horizonte
foram negociados 17,31% dos imóveis; no Jardim São José 14,08%; no Centro 13,87%; na Vila
Paulista 10,69%; no Jardim Bela Vista 8,97%; no Jardim Primavera 3,06%; no Parque dos Orixás
2,15%; no Jardim Panorama, Pinheiros I e II 2,04%; no bairro Chácara da Amizade 1,66%; na Vila
Nossa Senhora da Paz 1,39%; na Chácara Recreio Cobral 0,86%; e, por fim, no Jardim São
Francisco, foi negociado 0,59% dos imóveis de Álvares Machado na década de 1980.
Na zona rural de Álvares Machado, foram negociados 384 imóveis, como podemos
constatar no Mapa 8.1. Os bairros rurais em que foram negociados os imóveis são: Reservado, que
representa 31,51% do total; São Geraldo 14,06%; Limoeiro 13,80%; Coronel Goulart 11,71%;
Córrego dos Macacos 4,68%; Ouro Verde 4,68%; Guaiçara 4,42%; Brejão 4,16%; Córrego da Paca
3,64%; Primeiro de Maio 2,08%; Cruzeiro 1,56%; Boa Esperança 1,56%; Santa Luzia 0,78%;
Quinta Escola 0,78%; Floresta 0,26% e Matadouro com 0,04% do total de imóveis rurais negociados
em Álvares Machado. Em dinheiro, foram recolhidos R$ 262.227,01 44 (duzentos e sessenta e dois
mil duzentos e vinte e sete reais e um centavo) de ITBI, no município de Álvares Machado na
década de 1980, sendo que a média foi de R$ 116,85 (cento e dezesseis reais e oitenta e cinco
centavos) de ITBI por imóvel.

43 Dos imóveis negociados na zona urbana, 1.191 são terrenos e 669 são casas.

44 Todos os valores apresentados foram corrigidos pelo IGP-DI Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna, a preços de Agosto/2002.
132

4.4.2 Imóveis negociados em Álvares Machado na década de 199045

A década de 1990 difere da década de 1980, pois verificamos que naquela década se
iniciaram os investimentos dos dekasseguis no município. Por isso, dividimos a nossa análise em
Investimentos da população em geral e Investimentos dos dekasseguis.
No Mapa 9, podemos constatar os bairros onde foram negociados os imóveis em
Álvares Machado na referida década. No Jardim Horizonte foram negociados 11,73% dos imóveis;
no Jardim São José 10,75%; no Centro 10,31%; no Jardim Bela Vista 9,48%; no Jardim Raio do Sol
8,84%; no Jardim São Francisco 7,91%; na Vila Paulista 7,47%; no Jardim das Rosas 6,64%; nos
bairros Jardim Panorama, Parque dos Pinheiros I e II 6,59%; no Jardim Antônio Pichioni 6,35%; no
Parque dos Orixás 4,20%; na Chácara da Amizade 2,15%; no Jardim Mont' Mor 2,05%; no Jardim
Santa Eugênia 1,71%; na Chácara Artur Boigues 1,31%; no Jardim Primavera 1,22%; na Vila Nossa
Senhora da Paz 0,63%; na Chácara Recreio Cobral 0,48%; e, no Condomínio Residencial Park,
foram negociados apenas 0,09% do total dos imóveis urbanos de Álvares Machado na década de
1990.
Como podemos constatar no Mapa 9.1, os bairros rurais em que foram negociados os
imóveis na década de 1990 foram os seguintes: Reservado 26,3%; Limoeiro 17,26%; São Geraldo
13,97%; Coronel Goulart 9,86%; Brejão 4,38%; Córrego da Paca 4,10%; Ouro Verde 4,10%; Santa
Luzia 3,56%; Boa Esperança 3,56%; Córrego dos Macacos 3,28%; Guaiçara 3,28%; Quinta Escola
1,64%; Floresta 1,09%; Primeiro de Maio 0,82%; Cruzeiro 0,82%; Pindorama 0,54%; Catanduva
0,54%; Km 07 0,54%; e, Km 04 0,27%. Em dinheiro, foram recolhidos um total de R$ 283.781,91

45 Dos imóveis negociados na zona urbana, 1.435 são terrenos e 611 são casas.
133

(duzentos e oitenta e três mil, setecentos e oitenta e um reais e noventa e um centavos) de ITBI no
município de Álvares Machado na década de 1990 pela população em geral, exceto dos dekasseguis,
sendo que a média de ITBI por imóvel foi de R$ 133,48 (cento e trinta e três reais e quarenta e oito
centavos).

A segunda parte da análise da década de 1990 refere-se aos investimentos em


imóveis46 dos dekasseguis. No Mapa 9.2 e 9.3, podemos constatar os bairros onde foram negociados
os imóveis, tanto na zona urbana como na zona rural.
Os imóveis urbanos negociados na década de 1990 pelos dekasseguis totalizam 243,
representando cerca de 22% do total de imóveis negociados no município.
Os bairros onde os dekasseguis realizaram investimentos foram no Jardim Raio do
Sol 34% dos imóveis negociados; Centro 20,98%; Jardim Horizonte 11,52%; Vila Paulista 9,87%;
Jardim São José 8,23%; Parque Orixás 5,76%; Jardim Bela Vista 5,76%; Jardim Antônio Pichioni
4,52%; Jardim das Rosas 3,29%; Chácara da Amizade 2,88%; Jardim Primavera 2,05%; Jardim São
Francisco 2,05%; Chácara Artur Boigues 0,82%; Chácara Recreio Cobral 0,82%; Jardim Mont' Mor
0,41% e Jardim Santa Eugênia com 0,41% dos imóveis negociados pelos dekasseguis em imóveis
urbanos na década de 1990. Vale ressaltar que, os bairros onde foi realizado um maior número de
investimentos diferem dos investimentos da população em geral quando comparamos os dados do
Mapa 9. Os dekasseguis, como podemos constatar no Mapa 9.2, investiram nos bairros próximos ao
Centro de Álvares Machado, bairros como Vila Paulista, Jardim Raio do Sol e Jardim Horizonte,

46 Dos imóveis negociados na zona urbana, 142 são terrenos e 101 são casas.
134

este último, mesmo que seja um bairro um pouco distante do Centro, possui boa infra-estrutura
urbana (asfalto, água encanada, energia elétrica etc) e por isso os terrenos são mais valorizados
No mapa dos investimentos da população em geral, verificamos que os investimentos
em bairros como o Jardim Raio do Sol e Vila Paulista existem, porém, há um grande número de
imóveis sendo negociados em bairros periféricos como o Jardim São Francisco, Jardim Panorama,
Pinheiros I e II, Jardim Bela Vista, Jardim Santa Eugênia, Jardim Mont' Mor, Jardim Primavera,
Chácara da Amizade etc. São bairros onde os terrenos são menos valorizados, pois não possuem boa
infra-estrutura urbana, faltando por exemplo, asfalto em alguns dos bairros mencionados. Os
impostos nesses bairros são mais baratos que nos bairros próximos ao centro. Isso faz com que a
média do imposto arrecadado dos imóveis da população em geral, seja menor que a dos dekasseguis
que é de R$ 232,32 (duzentos e trinta e dois reais e trinta e dois centavos), e o total de ITBI
arrecadado pelos dekasseguis eqüivale a R$ 66.213,68 (sessenta e seis mil duzentos e treze reais e
sessenta e oito centavos), cerca de 22% do total arrecadado.
O número de imóveis negociados na década de 1990 pela população em geral foi
maior que dos dekasseguis, porém, estes investem em bairros onde os imóveis são mais valorizados,
contribuindo ainda mais para a valorização dos bairros e para a arrecadação de ITBI para o
município, pois os maiores impostos são pagos por esses migrantes que procuram realizar o sonho
de investir em seu lugar de origem.
Fato que não se difere nos investimentos realizados em imóveis na zona rural. Na
década de 1990, foram negociados pelos dekasseguis, 42 imóveis rurais. Vale ressaltar que, a maior
parte dos imóveis foram negociados em bairros onde se concentra um maior número de famílias
japonesas e descendentes, de acordo com a Associação Nipo-Brasileira de Álvares Machado; bairros
como Guaiçara, que corresponde a 21,42% dos imóveis negociados; Reservado 21,42%; Coronel
Goulart 14,28%; Limoeiro 14,28%; São Geraldo 9,52%; Brejão 4,76%; e, Quinta Escola 2,38%. Os
demais bairros: Ouro Verde, Floresta, Primeiro de Maio, Córrego dos Macacos e Santa Luzia são
bairros onde não é grande a concentração de famílias japonesas e descendentes, representando
apenas 2,38% dos imóveis negociados em cada bairro.
135

4.4.3 Imóveis negociados em Álvares Machado nos anos 2000, 2001 e 2002

Os imóveis negociados em Álvares Machado nos anos 2000, 2001 e 2002 não
diferem dos investimentos da década de 1990, tanto da população em geral como dos dekasseguis.
Pela população em geral, foram negociados 787 imóveis urbanos, como podemos
verificar no Mapa 10. No Centro, o total de imóveis negociados corresponde a 9,91% do total; no
Jardim Horizonte 9,14%; na Vila Paulista 7,24%; no Jardim Raio do Sol 6,98%; no Jardim São
Francisco 6,37%; no Parque Orixás 6,22%; no Jardim Mont' Mor 5,72%; no Jardim Santa Eugênia
5,01%; no bairros Jardim Panorama; Pinheiros I e II 3,64%; na Vila Nossa Senhora da Paz 2,25%;
na Chácara da Amizade 2,25%; na Chácara Artur Boigues 1,90%; no Jardim Primavera 0,69%, na
Chácara Recreio Cobral 0,52% dos investimentos em imóveis urbanos realizados no período
considerado. Em relação aos imóveis rurais (Mapa 10.1), o bairro Reservado foi o bairro onde foi
realizado o maior número de investimentos, cerca de 22% , como podemos constatar no Mapa 10.1,
136

seguidos do Brejão 18%; Limoeiro 15%; Coronel Goulart 9%; São Geraldo 7%; Guaiçara 7%; Ouro
Verde 5%; Córrego dos Macacos 4%; Cruzeiro 1%; Km 07 1% e Boa Esperança 1% do total dos
imóveis rurais negociados. Em dinheiro representa R$ 138.101,75 (cento e trinta e oito mil, cento e
um reais e setenta e cinco centavos), e uma média de R$ 179,95 (cento e setenta e nove reais e
setenta e cinco centavos) de ITBI por imóvel.
Os bairros onde foram feitos investimentos pelos dekasseguis, nos anos 2000, 2001,
2002, não diferem dos da década de 1990, como podemos constatar no Mapa 10.2. A Vila Paulista
(15,88%) e o Centro (16,88%) foram os bairros de maior investimento, correspondendo a 16,88%
cada um, do total dos investimentos, seguidos por Jardim Horizonte 15,58%; Jardim Raio do Sol
14,28%; Jardim São José 6,49%; Jardim Antônio Pichioni 5,19%; Parque Orixás 5,19%; Jardim das
Rosas 2,59%; Jardim Santa Eugênia 2,59%, Jardim São Francisco; Chácara da Amizade e Jardim
Primavera; correspondem a 1,29% dos bairros urbanos de investimentos dos dekasseguis,
prevalecendo a preferência dos investimentos em áreas centrais de Álvares Machado.
No Mapa 10.3, podemos verificar os bairros rurais onde foram realizados os
investimentos dos dekasseguis. O bairro Reservado representa 37,50% dos investimentos; nos
bairros Primeiro de Maio, Guaiçara e Coronel Goulart, cada um representa 12,5% dos
investimentos; os bairros Brejão, Córrego da Paca, Limoeiro e Quinta Escola, cada um representa
6,25% dos investimentos dos dekasseguis na zona rural de Álvares Machado.
Em dinheiro, isso representa R$ 40.258,65 (quarenta mil, duzentos e cinqüenta oito
reais e sessenta e cinco centavos) e uma média de R$ 439,50 (quatrocentos e trinta e nove reais e
cinqüenta centavos) de ITBI por imóvel, bem superior da média da população em geral, no mesmo
período. Fato esse que se repete na década de 1990. Com isso, podemos afirmar que os dekasseguis
investem em áreas mais valorizadas do município, onde os impostos são mais caros em relação aos
bairros periféricos nos quais a população, em geral, realiza a maioria dos investimentos.
O total de imóveis, tanto na zona urbana como na rural somam 787, sendo dos
dekasseguis - 100, correspondendo a 22%.
Na Tabela 8, podemos verificar o total de ITBI arrecadado desde a década de 1980 até
2002, ano a ano.
137

Para finalizar a apresentação dos cartogramas, no Mapa 11, podemos constatar os


bairros e o total de imóveis negociados pelos dekasseguis entrevistados. O Centro foi a área de
maior investimento, correspondendo a 29%; Jardim Raio do Sol 20%; Jardim São José 16%; Jardim
Horizonte 15%; Parque Orixás 7%; Vila Nossa Senhora da Paz 5%; Jardim das Rosas 4%; Jardim
138

Bela Vista 2%; por fim, Chácara da Amizade 2% dos imóveis negociados pelos dekasseguis
entrevistados.
Podemos afirmar que os investimentos dos dekasseguis em Álvares Machado
tornaram-se visíveis principalmente no setor imobiliário, sendo que a paisagem urbana vem
sofrendo impactos decorrentes desses investimentos.
139

A renda econômica dos dekasseguis é uma informação importante, que também não
podemos deixar de considerar, pois sofreu alteração após a migração, como podemos constatar no
Gráfico 17.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Antes da migração para o Japão, nenhum dos entrevistados tinha aplicação financeira
(poupança e fundos de investimentos). Ao retornarem do Japão, 27,27% sobrevivem somente com a
aplicação financeira que fizeram; 17,27% não tinham renda e atualmente todos possuem renda, seja
de aplicação financeira ou como funcionários, agricultores, autônomos ou donos de
estabelecimentos comerciais. Os entrevistados, anteriormente à migração para o Japão, 30,90%
tinham renda equivalente de 1 a 3 salários mínimos; atualmente esse número caiu para 2,27%;
37,27% dos entrevistados, tinham renda de 4 a 6 salários mínimos; atualmente este número é de
21,81%.
Os entrevistados que tinham renda de 7 a 9 salários mínimos anteriormente à
migração, correspondiam a 10,90%, sendo que atualmente esse número sofreu uma alteração,
aumentando para 32,72%. Os que tinham renda de 9 a 11 salários mínimos eram somente 0,90%;
atualmente tem-se um total de 5,45% dos entrevistados. Os que possuíam renda de mais de 11
salários mínimos eram 2,72%; atualmente tem-se um total de 10% dos dekasseguis com essa renda.
Através dos resultados obtidos, é possível afirmar que a renda dos dekasseguis que retornaram do
Japão aumentou. Mesmo tendo aumentado a renda (Gráfico 17) dos dekasseguis que retornaram do
Japão, 40% utilizam o dinheiro poupado no Japão para as despesas diárias e 60% não utilizam o
dinheiro que poupou. A renda que estão tendo com os investimentos no Brasil é suficiente para
manter as despesas do dia-a-dia, não precisando assim utilizar o dinheiro que pouparam no Japão.
FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

De acordo com os dekasseguis entrevistados, 59,09% acreditam que Álvares


Machado não é propício para investimentos porque 45,45% relataram que a cidade é pequena, mas
investiram pois querem permanecer no lugar em que nasceram; 8,18% relataram que os dekasseguis
fizeram os preços dos imóveis subir, pois sempre pagaram o preço pedido, não tentavam negociar o
preço, pois tinham o dinheiro para pagar e queriam aplicar de qualquer maneira. Isto, de acordo com
os nossos entrevistados, fez com que houvesse um aumento dos preços dos imóveis. Um de nossos
entrevistados relatou o seguinte fato “eu disquei na casa de uma pessoa que estava vendendo um
140

imóvel aqui em Machado, antes de falar o preço, a pessoa perguntou: Você é japonês, estava no
Japão? Daí, você vê, para os dekasseguis o preço é um, na maioria das vezes mais elevado, e para
outro comprador o preço é outro os primeiros dekasseguis não souberam investir...” (Entrevistado
Dekassegui, 37).
“Os dekasseguis de Machado fizeram os preços dos imóveis dobrar. Quando foram
comprar, não procuraram corretores, aquilo que a pessoa pedia pagava, as vezes dava até um
pouco a mais, achava bonito. Se era um valor de 100, pagava 110,00. Se formos comprar algum
imóvel e as pessoas ficarem sabendo que voltamos do Japão, eles pedem mais caro. Eu venho
acompanhando a economia do Brasil e todos os imóveis que ofereceram para mim em Machado era
acima do preço. Até o pessoal de Presidente Prudente fala que, o material das casas daqui é
diferente, perguntam se tem ouro. Os vendedores fazem a proposta e não arredam o pé, pois sabem
que a gente tem dinheiro para pagar e, as pessoas em geral não tem dinheiro” (Entrevistado
Dekassegui, 63).
Dos dekasseguis que relataram que Álvares Machado não é propício para
investimentos, 5,45% argumentaram que o município está localizado próximo a Presidente Prudente,
que é um município que possui uma expressividade muito maior (tendo uma população por volta de
180 mil habitantes), tanto na economia, como na educação e saúde.
Dos dekasseguis entrevistados, 40,90% disseram que Álvares Machado é propício
para investimentos, sendo que 26,36% relataram que investir no setor de imóveis urbanos para
aluguel é um bom negócio, 7,27% responderam que é bom investir em terras e 7,27% relataram que
é bom investir pois é uma cidade calma. Vale a pena ressaltar que, dos entrevistados, 93,63%
fizeram investimentos em Álvares Machado, mesmo que, do total, 59,09% consideram não ser um
município propício para investir. Qual é a razão de não ser bom para investimentos se 93,63%
investiram no município?
Os sonhos, mais uma vez , estão presentes na análise do movimento migratório dos
dekasseguis: a vontade de retornar para o lugar de origem e aplicar o dinheiro em alguma atividade
que dê um retorno mínimo para garantir que esse dekassegui fique no lugar de origem, faz com que
ele, mesmo sabendo dos riscos que está correndo, invista em Álvares Machado.
De acordo com os dekasseguis entrevistados, 78,18% não procuraram auxílio para
realizar os investimentos; 21,81% procuraram auxílio para investir. Dos que procuraram, 11,81%
141

recorreram ao SEBRAE47; 0,90% recorreu a livros; 8,18% recorreram aos parentes e 0,90% recorreu
às Agências Bancárias do próprio município.
Os investimentos são alguns dos fatores que instigam nos dekasseguis o desejo de
mudar de Álvares Machado para outras cidades que possibilitem maiores oportunidades no setor
comercial, pois de acordo com os entrevistados, 18,18% querem mudar de Álvares Machado
alegando querer investir em outro município, mas não sabem onde, e 81,81% relataram que não
querem se mudar pois é o lugar onde nasceram, têm família e amigos. Mais uma vez ,o lugar para o
migrante "fala mais alto" na decisão de ficar ou novamente migrar.
A questão da reinserção no mercado-de-trabalho brasileiro também foi algo que
procuramos analisar na pesquisa. Vejamos alguns resultados obtidos no Gráfico 19.

FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

De acordo com os dekasseguis entrevistados, 78,18% quando retornaram ao Brasil


não procuraram emprego; 35,45% relataram que o salário do Brasil é muito baixo; 36,36% querem
mais trabalhar de empregado; 6,36% retornaram aos estudos. Os dekasseguis que procuraram
emprego totalizam 21,81% dos entrevistados, sendo que 12,72% procuraram, mas não conseguiram,
pois não tinham as qualificações que a empresa necessitava e 9,09% procuraram e conseguiram
emprego (vigilante; torneiro mecânico; atendente de farmácia; mecânico e balconista).
É clássica a afirmação de Singer (1998), quando relata que, quanto mais o migrante
permanece fora do seu lugar social, mais difícil será a sua reinserção na sociedade e,
consequentemente, no mercado-de-trabalho. Durante os anos de migração no Japão, os dekasseguis
trabalharam em atividades que não exigem qualificação profissional. Portanto, o tempo passou e,
principalmente os jovens, não se qualificaram, não concluíram o nível superior ou não fizeram

47 Tivemos a oportunidade de participar, ainda como aluna da graduação e posteriormente como aluna de pós-graduação, de dois
eventos promovidos pelo SEBRAE– Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e pelo CIATE – Centro de Apoio ao
Trabalhador no Exterior, ambos com escritório em Presidente Prudente. Nos dois eventos, foram várias as pautas de discussões, entre
elas a questão dos investimentos dos dekasseguis, já que estes eram a maioria do público e queriam informações de como iniciar um
negócio próprio. O SEBRAE tem um Programa chamado Projeto Dekassegui, criado no ano de 2001, que tem como objetivo auxiliar
os dekasseguis que queiram se tornar empreendedores. Na última reunião de que participamos (dezembro de 2001), uma Agência
Bancária de Presidente Prudente estava demonstrando uma linha de atendimento especial para os dekasseguis (Genkin Kakitome –
remessa expressa), é uma proposta de formação de um tipo de rede entre as agências brasileiras e os dekasseguis que ainda estão
trabalhando no Japão. Eles podem fazer remessas de dinheiro por essa agência, garantir a poupança em dólar, enfim, esse é um dos
serviços realizados por esse programa da agência bancária.
142

cursos técnicos que contribuiriam para conseguirem uma vaga no mercado-de-trabalho. As


dificuldades de reinserção no mercado-de-trabalho para o migrante dekassegui, principalmente nos
primeiros anos após o retorno do Japão, acarretam muitos problemas, principalmente psicológicos e
familiares: eles sentem-se excluídos socialmente. De acordo com Martins (2002), os migrantes são
incluídos economicamente e excluídos socialmente na sociedade capitalista. No caso dos
dekasseguis, eles trabalharam por um período no Japão e acumularam uma certa quantia de dinheiro,
portanto, são incluídos economicamente na sociedade capitalista, principalmente na de origem;
porém, com o passar dos anos, após o retorno, esse migrante torna-se um excluído socialmente, pois
não consegue se reinserir no mercado-de-trabalho. Por isso, de acordo com Martins (2002),
O problema está em discutir as formas de inclusão, o preço moral e social da
inclusão, o comprometimento profundo do caráter desses membros das
novas gerações, desde cedo submetido a uma socialização degradante. O que
a sociedade capitalista propõe hoje aos chamados excluídos está nas formas
crescentemente perversas de inclusão, na degradação da pessoa e na
desvalorização do trabalho como meio de inserção digna na sociedade
(MARTINS, 2002, p. 124).

A adaptação à sociedade de origem após a migração para o Japão não foi tão difícil
para a maioria dos dekasseguis entrevistados, de acordo com o Gráfico 20.
143

GR ÁF. 20: FOI DIFÍC IL A A DAP TAÇÃ O EM Á LVAR ES M AC HADO


AP ÓS O R ETOR NO DO J AP ÃO?
110
100
90
ENTREVISTADOS

80 72
70
60
50 38
40
30
20 14
9 6 4 5
10
0
Não, não Sim, foi Amigos Costumes Mexer No Brasil Não sabia
foi difícil difícil foram com não se em que
embora dinheiro ganha investir
dinheiro
SIM/NÃO - MOTIVOS

FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo

Dos dekasseguis entrevistados, 65,45% relataram que não foi difícil a adaptação em
Álvares Machado com o retorno do Japão e 34,54% relataram que foi difícil se adaptar, por várias
razões: 8,18% relataram que os amigos foram embora; 12,72% estranharam os costumes brasileiros,
por exemplo, jogar papel no chão, falar alto, ouvir músicas em volume alto, fazer propaganda na rua
com alto falante, a sujeira das grandes cidades etc; 5,45% sentiram dificuldade de utilizar o dinheiro
brasileiro; no início, não tinham noção do que era caro e do que era barato; 4,54% tiveram
dificuldades pois não sabiam em que investir. Vale a pena ressaltar que os dekasseguis que não
sentiram dificuldades de adaptação ao retornar para Álvares Machado são a maioria. Isso é um fato
novo dentro dos estudos de migração, pois estudos como de Oliveira (1999), revelam que a
adaptação ao lugar de origem é uma dificuldade muito grande no movimento dekassegui. Na análise
que estamos fazendo do movimento migratório dos dekasseguis em Álvares Machado, esse fato
mostra-se diferente e o atribuímos, novamente, à questão do lugar, pois Álvares Machado é um
município de 22.673 habitantes e as relações de amizades de cotidiano em cidades pequenas
contribuem para que o voltar da migração seja menos difícil e os familiares também são
fundamentais nesse processo do retorno ao lugar de origem.
Os investimentos, portanto, são uma garantia do dekassegui se estabelecer novamente
em Álvares Machado. Eles relataram que se estivessem trabalhando no Japão, ganhariam mais do
144

que no Brasil. Mas, nas entrevistas, ficou claro que o lugar deles é no Brasil, principalmente em
Álvares Machado. O sonho de poupar dinheiro, a maioria realizou; agora, pretendem encarar as
dificuldades da economia brasileira, pois não abrem mão de permanecer no lugar de origem e serem
reconhecidos pela identidade de cidadãos brasileiros. Outros porém, querem retornar para o Japão,
alegando que no Brasil ganha-se pouco. Esses, ficam nas idas e vindas do Brasil para o Japão,
tentando encontrar o seu lugar na sociedade.
De acordo com os entrevistados, 22,72% relataram que pretendem voltar para o
Japão; 57,27% não pretendem retornar ao Japão para trabalhar e 20% relataram que voltam se a
situação financeira piorar.
“O Japão é só para trabalhar, meu lugar é aqui no Brasil, em Álvares Machado, não
pretendo mais voltar para lá”. (Entrevistado Dekassegui, 06)
Dos dekasseguis entrevistados, 100% mantinham contato com os familiares quando
estavam no Japão. Eles relataram que para os amigos, de início escreviam cartas, mas com o passar
do tempo, perderam o contato com a maioria. A comunicação entre os dekasseguis no Japão e os
familiares que ficaram no Brasil também tem algumas fases: no início, escrever carta era um ato
rotineiro, tinham novidades para serem relatadas, mas, com o passar do tempo, a vida tornava-se
uma rotina, só trabalho, casa, trabalho. Nessa fase, os dekasseguis passaram a utilizar o telefone e
uma minoria a internet, alegando também não ter mais paciência para escrever sempre a mesma
coisa.
A migração, além de reflexos na sociedade, tanto de emigração como de imigração,
acarreta também algumas mudanças e experiências para os migrantes e para os que permaneceram,
pois de acordo com Martins (2002),
[...] é necessário pensar como migrante não apenas quem migra, mas o
conjunto da unidade social de referência do migrante que se desloca. Mesmo
que parte da família fique no lugar de origem e apenas outra parte se
desloque para o lugar de destino. No entanto, todos padecem as
conseqüências da migração, embora não sejam estatisticamente migrantes.
Todos vivem cotidianamente o sonho do reencontro. Vivem todos os dias a
espera do ausente... (MARTINS, 2002, p. 145)

O Gráfico 21 revela as experiências dos dekasseguis de Álvares Machado no Japão.

FONTE: Trabalho de Campo, mar/abril/2002 ORG.: Denise Cristina Bomtempo


Foram consideradas até 3 alternativas
145

Dos dekasseguis, 51,81% relataram que a melhor experiência como dekassegui foi
trabalhar no Japão e poupar dinheiro para retornar ao Brasil e investir, conquistando assim, os seus
sonhos; 16,36% responderam que foi bom conhecer um país diferente; 27,27% responderam que foi
bom conviver com outra cultura, com costumes e usos diferentes; 10% relataram que a experiência
como dekassegui proporcionou maior valorização da família, dos amigos que não migraram e do
próprio país, do seu lugar de origem; 14,54% responderam, também, que a experiência como
dekassegui fez com que o trabalho e o dinheiro fossem mais valorizados: de acordo com nossos
entrevistados, após a migração para o Japão, fazem planos em que gastar; 5,45% relataram que
migrar para o Japão foi bom do ponto de vista do amadurecimento: viver longe da família, criar
responsabilidade, principalmente para os jovens; porém, de início, de acordo com os entrevistados,
essa situação de solidão foi uma barreira a superar. Por fim, apenas 1,81% relatou que foi boa a
experiência no Japão, pois conviveu com pessoas diferentes, tendo que respeitar, na medida do
possível, a opinião do companheiro de trabalho ou mesmo de alojamento.
Vejamos alguns depoimentos dos nossos entrevistados em relação às experiências que
a migração como dekassegui no Japão proporcionou.
“De um lado, migrar para o Japão foi bom, foi uma experiência de vida. Quando
estamos no nosso país, temos a facilidade de comunicação. Lá é outro país, com língua, costumes,
tudo diferente. E também a rotina do dekassegui, serviço/casa/serviço, é muito difícil” (Entrevistado
Dekasssegui, 7).
“Foi bom conhecer outro país, viver sozinho, longe dos pais, foi bom para
amadurecer. No Japão, além de trabalhar , é preciso ter um pouco de lazer, se não ficamos loucos,
porque só ficamos pensando no dinheiro. É preciso alimentar-se bem, passear, arejar a cabeça, pois
o dia-a-dia do trabalho é muito pesado” (Entrevistado Dekassegui, 9).

“Foi bom trabalhar no Japão, aprendemos com os nossos próprios erros. A cultura é
bem diferente. Os brasileiros, é uma das partes mais difíceis, alguns ajudam, outros só querem
pisar, tem muita disputa dentro da fábrica. Mas valeu a pena, se eu não tivesse ido, não tinha minha
casa, estava morando com os meus pais, valeu o sacrifício. Além de sorte, tem que ter vontade de
trabalhar, produzir, os japoneses observam bem o esforço de cada um” (Entrevistado Dekassegui,
10).

“Os japoneses não tem muitas informações do Brasil; os funcionários da fábrica


perguntavam se aqui tinha televisão, geladeira, telefone etc. A TV japonesa só transmite os
146

acontecimentos ruins do Brasil, incêndios na floresta, favelas, o melhor que eles passam é o
carnaval. Eu ficava revoltado” (Entrevistado Dekassegui, 11).

“Foi bom ir para o Japão, conhecer um país diferente, pessoas diferentes. Lá só tem
japonês, aqui só brasileiro. É melhor morar aqui...” (Entrevistado Dekassegui, 12)

“No Japão, aprendi a me virar sozinho, fazer de tudo. O serviço de lá é diferente


daqui, eu trabalhei naquele serviço lá, aqui não, é só para estudar. Lá tinha gente formada em
Odonto, até gente que trabalhava na roça aqui no Brasil, todos fazendo o mesmo serviço, a
formação profissional do Brasil não conta” (Entrevistado Dekassegui, 13).

“Antes de ir trabalhar no Japão, eu gastava muito, hoje é diferente; também, depois


que retornei, fiquei mais apegado com a minha família” (Entrevistado Dekassegui, 15).

“Foi uma experiência boa e ruim, desde as coisas mais simples, como por exemplo,
organizar o espaço físico, jogar o lixo, conviver com pessoas diferentes, ter um outro tipo de
alimentação etc. Eu aprendi a ser mais organizado. Valeu migrar para o Japão pelo retorno
financeiro, se eu tivesse aqui não teria conseguido, só teria estudado, terminado a faculdade”
(Entrevistado Dekassegui, 18).

“Quando eu estava no Japão, sentia muitas saudades do Brasil, comecei a pensar um


pouco na minha identidade, e realmente admitir que sou brasileira. Todas as notícias que tinha
sobre o Brasil eu queria saber. A Copa de 1994, foi uma emoção, nas rádios japonesas tocavam
samba, bossa nova, dava para matar um pouco a saudade”(Entrevistado Dekassegui, 23).

“Eu achei que trabalhar no Japão poderia ter sido pior. O único problema foi em
relação ao frio e à comida, que é bem diferente da brasileira; também fiquei longe do meu filho,
mas valeu, hoje posso pagar escola para ele, dar uma vida melhor, que não conseguiria dar se
tivesse ficado no Brasil” (Entrevistado Dekassegui, 27).

“ Não posso reclamar, tudo que tenho consegui trabalhando no Japão. Aprendi a dar
valor em tudo; tudo que conseguimos foi através da batalha do dia a dia e economizando; também
aprendi a ser mais forte, enfrentar as dificuldades, a me defender. O povo aqui não trabalha e
reclama. No Japão, além do trabalho na fábrica, nos finais de semana, eu e meu esposo, lavávamos
pratos no restaurante. Nós fomos para lá sem nada, eu tinha terminado a faculdade, não queria
depender dos meus pais, nem o meu marido. Depois que retornei do Japão, fiquei “pão-dura”, é
147

que eu penso bastante no futuro, tenho medo de precisar de médicos, remédio etc e não poder
pagar, por isso não gasto dinheiro a toa. Algumas pessoas como a minha irmã, não entendem isso,
acha que eu sou egoísta, mas não é, só eu sei o que eu sofri no Japão. Imagine trabalhar 15 horas
com os dedos doendo, com esparadrapo, e no final do expediente nem conseguir fechar a mão. É
muito difícil... (Entrevistado Dekassegui, 29)

“Foi bom ter ido para o Japão, primeiramente pelo retorno financeiro. Só
conhecíamos Machado, uma cidade pequena, de repente um avião muda tudo. O Brasil é o melhor
país para se viver, os que falta são os governantes parar de roubar e pagar um salário justo para as
pessoas não precisar sair do seu lugar. As pessoas no Japão são muito fechadas; aqui no Brasil
fazemos contato com as pessoas mais rápido. Mas os jovens japoneses estão mudando, eles querem
ser iguais aos ocidentais, são meio rebeldes, não aceitam a cultura rígida da sociedade japonesa”.
(Entrevistado Dekassegui, 36)

“Sonhar alto é bom, mas tem um preço. Fui para o Japão com dezoito anos, ficou um
espaço aberto na minha vida. Meus amigos que ficaram estudaram. Fiz minha vida fora do meu
país. Meu sonho foi para fora, agora estou pagando o preço de ter ficado longe, agora tenho
dificuldades. Pátria é Pátria. Se eu tivesse a mentalidade de hoje, não teria ido para o Japão,
dinheiro não é tudo. Para subir na vida, não precisa de dinheiro mas sim de esforço e força de
vontade” (Entrevistado Dekassegui, 49).

“Eu não gosto de morar no Japão, lá é só para trabalhar. Não gosto do sistema de
moradia, muito apertado, do modo de vida em geral. Lá só trabalha, final de semana compra
comida, não passeia. Só trabalho, mas o diferente daqui, é que lá tem dinheiro, mas não é feliz.
Aqui no Brasil, com este assistencialismo que ainda tem nos governos, o desempregado não morre
de fome; no Japão morre. No Brasil ,à tarde as pessoas estão tomando cerveja. A gente reclama que
o país não presta, mas aqui é o melhor lugar do mundo para se viver e morar” (Entrevistado
Dekassegui, 57).

“Foi bom trabalhar no Japão; eu era empregado, não tinha preocupação, todo dia
era a mesma rotina, diferente do Brasil, que eu tinha uma firma. Em relação à comida, foi um
pouco difícil, pois é doce, mas acostumei. O problema lá é só a dificuldade de arrumar serviço, do
resto é tudo bom. Hoje tem bastante loja de produto brasileiro. Os trabalhadores japoneses não
gostam dos brasileiros, porque trabalhamos mais e por isso somos melhor aceitos. Os japoneses
148

não tem que trabalhar no ritmo dos brasileiros, que é bem rápido, e eles não gostam” (Entrevistado
Dekassegui, 66).

“Nós tivemos dois momentos no Japão, um ruim, era quando tínhamos intenções de
retornar e tínhamos medo de não conseguir trabalhar no Brasil. A falta de um sonho é a pior coisa
para um ser humano. Quando conhecemos a empresa da qual adquirimos uma franquia, os sonhos
voltaram. Os sonhos de retornar para o Brasil, morar na casa que a gente tinha comprado e, morar
em Machado, principalmente. Estamos devagar conquistando os nossos sonhos. Muita gente no
Japão tem essa preocupação” (Entrevistado Dekassegui, 77).

Através das informações e dos depoimentos dos dekasseguis, percebemos que cada
um teve uma experiência durante a migração para o Japão. De uma maneira geral, os dekasseguis
entrevistados migram em busca dos sonhos, e durante o tempo da migração, tentam se adaptar ao
lugar de trabalho para conseguir suportar o tempo necessário para economizar uma quantia de
dinheiro e retornar para o lugar de origem. Muitos elegeram, como uma experiência boa, viver num
país diferente, numa cultura diferente. Vale a pena ressaltar o diferente no movimento dekassegui:
mesmo para os que são descendentes de japoneses, o Japão é uma cultura diferente, pois não é a
cultura do país de origem. Não poderíamos deixar de considerar essa experiência dos nossos
entrevistados, o que também é um fator importante para entendermos este movimento migratório.
149

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Movimentar-se no espaço geográfico é algo inerente ao homem. Os deslocamentos


humanos, nos primórdios da humanidade, eram para garantir a sobrevivência, fugir de guerras e de
catástrofes naturais. Na sociedade moderna e capitalista, o homem movimenta-se no espaço
geográfico a fim de vender sua força-de-trabalho em troca de salário. Os movimentos migratórios
variam em escalas interurbanas; rural-urbano; regional; estadual; nacional e internacional.
Alguns movimentos migratórios que ocorrem na escala do território brasileiro, são
para garantir a sobrevivência, como por exemplo, dos cortadores de cana do Nordeste, dos
garimpeiros de Goiás e do Pará etc.
O Brasil, no passado, foi um país que recebeu um número significativo de imigrantes,
tanto europeus como asiáticos. Esses imigrantes, na época, passavam por dificuldades no lugar de
origem e por isso migraram para o Brasil, com a esperança de melhorar a situação financeira. Os
movimentos migratórios, no capitalismo, são movidos principalmente pelo fator econômico, pois,
muitas vezes, os migrantes não têm nenhuma relação afetiva com o lugar de migração.
150

Com a realização da pesquisa, verificamos que os movimentos migratórios da


década de 1980 até os dias atuais, são diferentes dos que ocorreram no final do século XIX e início
do século XX. Os movimentos migratórios da atualidade, ou seja, do período global, tendem a ser
cada vez mais temporários; os migrantes saem do seu lugar de origem e vão vender sua força-de-
trabalho em países que necessitam de trabalhadores para exercer atividades que não exijam
qualificação profissional. É o caso dos dekasseguis brasileiros no Japão. Os brasileiros inserem-se
no setor periférico do mercado-de- trabalho, realizam atividades que muitas vezes são perigosas,
acarretando problemas físicos e psicológicos ao trabalhador.
Esses migrantes, como constatamos na pesquisa, na maioria são jovens, que "gastam"
todo seu vigor físico fora de seu país, em trabalhos rejeitados pelos naturais do país de migração. Na
verdade, esses jovens estavam na época de se qualificar, tanto profissional como econômica e
socialmente. Os jovens, principalmente os dekasseguis, quando retornam, realizam investimentos
com o dinheiro poupado com os árduos anos de migração no Japão. Na verdade, esses investimentos
são o mínimo que poderia acontecer por todos esses anos "gastos lá fora".
O mito de enriquecer no Japão é que fez muitos jovens deixar os estudos e ir atrás do
sonho de ficar rico. Além disso, muitos dos migrantes estavam passando por dificuldades financeiras
antes da migração, devido à crise por que passava a economia brasileira.
Por ser de caráter temporário, os dekasseguis sujeitaram-se a realizar trabalhos sujos e
perigosos na periferia do mercado-de-trabalho japonês e a viver em alojamentos apertados, com
pessoas estranhas.
As migrações do final do século XIX e início do século XX tendiam a ser
permanentes, mesmo que no início, muitos quisessem retornar para o lugar de origem.
Podemos afirmar que o movimento migratório entre o Brasil e o Japão, é
condicionado pela situação econômica dos dois países, refletindo assim, nos lugares de emigração e
imigração ao longo do tempo, ou seja, nos lugares dos sonhos perdidos e possíveis.
Mas, por que os sonhos? Durante a realização da pesquisa de campo, tanto com as
famílias japonesas e nisseis, como com os dekasseguis, verificamos que os sonhos, além da situação
econômica, estão atrelados à decisão de migrar. Na migração dos japoneses para o Brasil, os
imigrantes tinham o sonho de enriquecer e retornar para o país de origem. Como a maioria
permaneceu no Brasil, o sonhos de prosperidade econômica faziam-se presente na vida dos
imigrantes. O sonho era sair da condição de colono para tornar-se proprietário de terra, que
151

significava ascensão social na época (década de 1920, 1930, 1940 até 1970). Os imigrantes
japoneses, com o passar do tempo, fizeram do Brasil o lugar da conquista dos seus sonhos. As
relações sociais foram sendo estabelecidas no lugar onde esses imigrantes foram residir, tornando o
Brasil, o seu lugar social não somente de trabalho como no início da imigração.
No movimento migratório dos dekasseguis brasileiros para o Japão, como no
movimento migratório dos japoneses para o Brasil, os sonhos estão atrelados ao fator econômico.
O dekassegui parte de seu lugar de origem para trabalhar em atividades que não exigem
qualificação, atividades essas que os japoneses, principalmente os jovens, não querem desempenhar.
Submetem-se à longas jornadas de trabalho, para acumular uma quantia de dinheiro que possibilite
ao migrante realizar seus sonhos no lugar de origem. Mas, quais os sonhos que estão presentes no
movimento dekassegui? Sonhos de comprar um imóvel (para residência ou para aluguel),
propriedade rural (dos entrevistados, grande parte era ou os pais eram agricultores antes da
migração), adquirir bens móveis como veículos de passeio ou de transporte de cargas, ou mesmo
garantir um padrão de vida que não estava sendo possível manter antes da migração para o Japão,
devido às sucessivas crises da economia brasileira.
Verificamos, também, que os lugares de emigração/imigração (sonhos
perdidos/possíveis), não são os mesmos ao longo do tempo. Temos fluxos migratórios diferentes,
estando relacionados com a concentração e centralização do capital em determinado território.
Assim, para o entendimento do movimento migratório entre o Brasil e o Japão,
denominamos os lugares de migração como dos sonhos perdidos, possíveis e de conquista. Em
relação à imigração dos japoneses para o Brasil, consideramos o Japão, no início do século XX,
como o lugar dos sonhos perdidos, devido às crises por que passava a sociedade japonesa, e a
emigração, portanto, era uma alternativa viável. Por sua vez, o Brasil representava o lugar dos
sonhos possíveis, pois oferecia aos imigrantes a possibilidade de trabalhar e acumular uma certa
quantia de dinheiro (algo que não estava sendo possível no Japão). O Japão poderia tornar-se o lugar
da conquista dos sonhos após alguns anos de imigração no Brasil; porém, impossibilitados de
retornar, os japoneses fizeram do Brasil o lugar da conquista dos seus sonhos, compraram terras a
fim de trabalhar com agricultura e também se dedicaram a atividades ligadas ao setor comercial.
Lutaram para conseguir a prosperidade econômica, mesmo estando num lugar que não era o de
origem, principalmente quando migraram para Álvares Machado, lugar que conseguiram ser
proprietários de terras.
152

No movimento migratório dos dekasseguis brasileiros para o Japão, os lugares dos


sonhos possíveis e perdidos modificaram-se em relação à imigração dos japoneses para o Brasil.
Devido às crises da economia brasileira, principalmente nas décadas de 1980 e início de 1990, o
Brasil passou a simbolizar o lugar dos sonhos perdidos, e o Japão, que estava no auge do
desenvolvimento, necessitava de "braços" para desempenhar serviços não qualificados, portanto,
representava e ainda representa o lugar dos sonhos possíveis. O lugar da conquista dos sonhos no
movimento migratório continua sendo Álvares Machado, pois os dekasseguis se submetem a exercer
serviços não qualificados, com longas jornadas de trabalho, pois têm a possibilidade de retornar para
o lugar de origem e realizar os seus sonhos.
De acordo com Sayad (1998), no movimento migratório de argelinos para a França,
esses migrantes queriam conquistar os seus sonhos no lugar de migração, ou seja, no território
francês, mesmo que tinham em mente o retorno para o lugar de origem. Na migração dos
dekasseguis brasileiros de Álvares Machado, a situação de dekassegui é realmente temporária, pois
o lugar da realização dos sonhos é o lugar de origem. Mesmo que, estendam o tempo de migração, o
retorno e os investimentos em Álvares Machado permeia os planos desses migrantes.
Dos dekasseguis entrevistados, 93,63% fizeram investimentos em Álvares Machado,
lugar de origem de 87,27% deles. Mas, temos uma contradição. Durante a pesquisa de campo,
preocupamo-nos em questionar se esses dekasseguis acreditavam que Álvares Machado era propício
para investimentos: 59,09% responderam que não, mas o faziam porque era o lugar onde nasceram,
ou onde residiam os pais e amigos. Os dekasseguis têm consciência de que os investimentos
realizados em Álvares Machado podem não ser tão benéficos como aqueles que poderiam ter sido
feitos em cidades maiores, em que há uma circulação maior de pessoas e consequentemente, de
dinheiro, mas investem em Álvares Machado, pois não querem sair novamente do seu lugar de
origem, lugar onde estão as relações de parentesco, de amizade, lugar onde eles possuem identidade
e contribuem para a produção, tanto social como economicamente.
Verificamos também que esses migrantes estão investindo em atividades diferentes
das desempenhadas anteriormente à migração para o Japão. Fazem aplicações financeiras, investem
em imóveis, principalmente, na zona urbana (terrenos e casas para aluguel). Os investimentos em
imóveis urbanos são realizados em bairros que apresentam melhor infra-estrutura urbana, bairros
como Jardim Raio do Sol, Centro, Jardim Horizonte, Parque Orixás, Jardim São José. São bairros
em que os impostos são mais caros, contribuindo assim para maior arrecadação de impostos para o
153

município (um deles o ITBI), como também para a valorização dos bairros onde estão sendo
realizados os investimentos. Na zona rural, os dekasseguis também investem, comprando terras.
Mas a agricultura não é mais a única atividade com a qual se ocupam. Após a migração, a criação de
gado passou a ser uma das atividades dos dekasseguis no campo; também há os que utilizam a
propriedade para atividades de recreação como os pesque-pague, chácaras de aluguel para fins de
semana etc. São outras atividades que vão surgindo no espaço rural do município de Álvares
Machado com os investimentos dos dekasseguis que retornaram, ou que remeteram dinheiro para
algum membro da família que não migrou, a fim de realizar os investimentos.
Além dos imóveis urbanos e rurais, os dekasseguis dedicaram-se também às
atividades comerciais que estão concentradas na área central de Álvares Machado: são lojas de
presentes, lanchonetes, mini-mercados, distribuidora de água e gás de cozinha, salão de cabeleireiro,
vidraçaria etc. Verificamos também que uma parcela dos que retornaram se inseriram novamente no
mercado-de-trabalho formal, fizeram aplicações financeiras, porém alegam que sentem falta do
salário do Japão, pois, aqui no Brasil, os salários e os rendimentos dos investimentos são bem
inferiores. Mas, relataram que preferem ficar no Brasil, pois é o lugar onde nasceram ", é o melhor
lugar para se viver".
Os investimentos dos dekasseguis em Álvares Machado acarretam impactos
principalmente na economia, haja vista, os dados que levantamos sobre a arrecadação de impostos
(ITBI e IPTU) do período anterior e posterior aos investimentos dos dekasseguis no município.
Esses investimentos estão mais presentes em partes da paisagem, principalmente quando analisamos
a dinâmica do setor imobiliário de Álvares Machado. Os melhores terrenos, casas e propriedades
rurais são negociadas pelos dekasseguis.
Vemos hoje que a dinâmica do mundo não é igual a de cem anos atrás. O movimento
migratório de escala global, como dos brasileiros que vão para o Japão, assim como dos brasileiros
que migram para outros países desenvolvidos, acarreta impactos numa escala local. O migrante
submete-se a exercer as atividades mais desqualificadas do mercado-de-trabalho dos países centrais,
pois sabe que é de caráter temporário. O objetivo do migrante é sempre o retorno e é isso que o
sustenta. O migrante temporário vive em dois lugares: o de trabalho e o de origem.
Retornar para o lugar de origem pode acarretar algumas dificuldades, pois os lugares
são dinâmicos, modificam-se com o tempo, as pessoas também não são as mesmas. Mesmo que o
lugar de origem do migrante seja um município pequeno como Álvares Machado, as dificuldades
154

principalmente nos primeiros meses do retorno fazem parte da vida do dekassegui, a família, será
uma ponte para o migrante se reinserir na sociedade de origem.

6. BIBLIOGRAFIA CITADA

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159
160

ANEXO
161

ANEXO II -TRABALHO DE CAMPO I: IMIGRAÇÃO JAPONESA

unesp – Universidade Estadual Paulista


Campus de Presidente Prudente

PPGG - Programa da Pós-Graduação em Geografia


GAsPERR – Grupo Acadêmico de Produção do Espaço e Redefinições Regionais
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

Aluna: Denise Cristina Bomtempo


Orientador: Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito
Projeto: “O Movimento dekassegui e seus reflexos no município de Álvares Machado -SP”

Primeiro Trabalho de Campo: Questionário aplicado junto às famílias japonesas e de descendência, residentes
em Álvares Machado – SP (Janeiro/Fevereiro/2002)

DATA: ___/___/_____
1. Entrevistado Número:
2. Situação Civil:
( ) casado ( ) solteiro ( ) viúvo ( ) divorciado
3. Idade: ______ anos
4. Local de Nascimento:
Brasil ( ) Estado/Cidade: ____________________
Japão ( ) Estado: __________________________
5. Quanto aos seus pais. Eram/São japoneses? ( ) Sim ( ) Não
6. Em qual Província/cidade eles nasceram?_________________
7. Quais as atividades econômicas que desenvolviam no Japão? __________________________
8. Qual o ano de chegou no Brasil como imigrante? _______________________
9. Veio com a família para o Brasil? ( ) S ( ) N Quem eram as pessoas?
___________________________________________________________________________
10. Por que veio trabalhar no Brasil? ________________________________________________
162

11. O Sr. veio direto para A.M. ( ) S ( ) N


12. Trabalhou em outros lugares? Fazendas ( ) Atividades na Urbana ( )
13. Qual o nome da cidade ou região que foi trabalhar como colono ou em atividades na zona urbana?
________________________________________________________________________14. Quais as
dificuldades encontradas no Brasil? (em relação à adaptação ao novo lugar) ( ) alimentação ( ) trabalho
pesado ( ) racismo ( ) costumes diferentes ( ) língua ( ) falta de escolas para os filhos ( ) clima ( )
doenças ( ) não tiveram dificuldades ( ) outros________
15. Grau de Escolaridade: ( ) não freqüentou a escola ( ) fundamental incompleto ( ) fundamental
completo ( ) médio incompleto ( ) médio completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo
16. Estudou em Escola Japonesa? ( ) Sim ( ) Não Na zona rural? ( ) Sim ( ) Não
17. Que ano o Sr./Sra. Chegou em Álvares Machado?____________
18. O Sr./Sra. veio para Álvares Machado com: ( ) família ( ) amigos ( ) sozinho
19. Por que a escolha de Álvares Machado para residir?
( ) já tinha parentes/amigos ( ) oferta de terras ( ) Outros_______________________
20. Chegando em AM, fixaram-se na área ( )urbana ou ( ) rural? Em qual Bairro? ___________
21. Chegando em AM., compraram um lote de terra? ( ) Sim ( ) Não, fomos trabalhar de
empregado/arrendatário
22. Qual era o tamanho da propriedade? ______alqueires
23. Trabalhava somente a família? ( ) S ( ) N Tinha Empregados? ( ) S ( ) N
24. Quais os gêneros alimentícios que o Sr./Sra./Pais
plantavam____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
25. Fazia financiamentos no Banco? Em qual? ( ) BB ( ) Banespa ( ) NC/NB ( ) Outros ____
Agência de AM? ( ) Sim ( ) Não
26. Quais as dificuldades encontradas com o trabalho na lavoura?
( ) adubos e defensivos agrícolas caros ( ) baixo preço do produto ( ) diminuição dos créditos para
financiamento agrícolas ( ) Outros __________________________________

PERGUNTA PARA OS ENTREVISTADOS QUE NÃO DESEMPENHAM MAIS ATIVIDADES NA ZONA


RURAL
27. O Sr./Sr.ª era morador da zona rural? ( ) S ( ) N
28. Por que veio para a cidade? ( ) dificuldade na lavoura ( ) facilidade para os estudos dos filhos
( ) maior remuneração nos empregos da cidade ( ) Outros __________________________
29. Até que ano desempenhou atividades na zona rural? _________________________________
30. Qual a atividade econômica que passou a exercer na zona urbana de AM?
( ) Comércio Qual? _________________________________________
( ) Funcionário Público
( ) Funcionário de Empresa Privada
( ) Outros _________________________________________________

*SOBRE OS FILHOS*
31. O Sr./Sra. tem filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos? ___________
31. Qual o grau de escolaridade deles? Profissão?
( ) alfabetizado ( ) ensino fund. ( ) ensino médio ( ) superior ( ) pós-graduação
32. Todos residem em AM.? ( ) Sim ( ) Não Onde eles residem?
____________________________________________________________________
33. Algum dos filhos migraram para o Japão como dekassegui? ( ) Sim ( ) Não
34. Em que ano eles migraram? ______________
35. Por que eles migraram?_______________________________________________________
163

36. Eles moravam em AM.? ( ) Sim ( ) Não Onde moravam? _________________________


37. Eles já retornaram do Japão? ( ) Sim ( ) Não
Se retornaram: voltaram para AM., ou para a cidade onde residiam? ___________________
38. O Sr./Sra. já foi ou retornou para o Japão? ( ) Sim ( ) Não *Foi para ( ) trabalhar ou a ( ) passeio?
39. O Sr./Sra. mantém contato com os parentes no Japão? ( ) Sim ( ) Não Através de qual meio
comunicação? ( ) cartas ( ) telefone ( ) internet
40. O Sr./Sra. tem parentes que moravam em AM. E foi para o Japão como dekassegui? Quem são
(sobrinhos, netos esposo (a), tio, tia, cunhado, cunhada, irmão....)___________________
41. O Sr./Sra. tem vontade de ir para o Japão? ( ) Sim ( ) Não Por quê? _________________
42. O Sr./Sra. incentiva os parentes/amigos a migrar para o Japão como dekassegui? ( ) Sim ( ) Não Por
quê? Acha benéfica a migração? ________________________________________
___________________________________________________________________________

SOBRE OS JAPONESES DE ÁLVARES MACHADO:


43. O Sr./Sra. pode me falar sobre a importância dos japoneses para AM.?
____________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
44. Quais eram/são as atividades festivas que a colônia realizava/realiza?
___________________________________________________________________________
45. O Sr. sempre residiu em AM? ( ) Sim ( ) Não Gostou de morar aqui? ( ) ( ) Não Por quê?
___________________________________________________________________________
TRABALHO DE CAMPO II – DEKASSEGUIS

unesp – Universidade Estadual Paulista


Campus de Presidente Prudente

PPGG - Programa da Pós-Graduação em Geografia


GAsPERR – Grupo Acadêmico de Produção do Espaço e Redefinições Regionais
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

Aluna: Denise Cristina Bomtempo


Orientador: Prof. Dr. Eliseu Savério Sposito
Pesquisa: “O Movimento dekassegui e seus reflexos no município de Álvares Machado -SP”

Primeiro Trabalho de Campo: Questionário aplicado junto aos dekasseguis residentes em Álvares Machado/
Março-Abril/2002

PERFIL DO ENTREVISTADO Data: ____/___/________

1) Entrevistado número:
2) Idade:
3) Descendente de japonês ou cônjuge de descendente? ( ) D ( ) C
4) Sexo: ( ) F ( ) M
5) Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Viúvo
6) Qual a geração o Sr. Sr.ª pertence?
( ) issei ( ) nissei ( ) sansei ( ) yonsei ( ) gossei
6) O Sr./Sr.ª tem irmãos/ãs? ( ) S ( ) N Quantos? _____Todos migraram para o Japão?
( ) S ( ) N Eles residem em Álvares Machado? ( ) S ( ) N Onde residem? ______________
164

7) Tem conhecimento da língua japonesa? ( ) S ( ) N Se sabe:


( ) lê e escreve
( ) fala
( ) compreende
( ) compreende e fala com dificuldade
( ) compreende um pouco
( ) não compreende
8) Estudou em escolinha japonesa? ( ) S ( ) N Em Álvares Machado? ( ) S ( ) N
9) O Sr./Sr.ª é nascido/a em Álvares Machado? ( )S ( )N Onde nasceu? ____________________
10) Antes de ir para o Japão o Sr./Sr.ª era morador: ( ) zona urbana ( )zona rural
11) Caso tenha mudado, por que mudou (após o retorno do Japão)?________________________
12) Morava com a família antes de migrar? ( ) S ( ) N
Todos foram para o Japão? ( ) S ( ) N
13)Antes de ir para o Japão, o Sr. Sr.ª morava em:
( ) casa própria ( ) casa alugada
14) Hoje mora em:
( ) casa própria ( ) casa alugada ( ) casa dos pais ( ) casa do sogro

15) Grau de Escolaridade:


( ) ensino fundamental
( ) ensino médio
( ) escola técnica
( ) Faculdade ( ) Pública ( ) Privada Qual o curso? __________________________
( ) Pós-graduação Qual o curso? _______________________________________________
( ) Outros__________________________________________________________________
16) Caso tenha nível superior, o Sr./Sr.ª exerceu/exerce sua profissão? ( ) S ( ) N
Exercia antes de ir para o Japão? ( ) S ( ) N Por que? __________________________
17) Qual a atividade econômica que o Sr./Sr.ª exercia antes de ir para o Japão? ____________
18) Qual era a sua renda antes de ir para o Japão?
( ) 1 – 3 salários mínimos
( )3–5
( )5- 8
( ) 8 – 10
( ) + de 10 salários mínimos
19) Qual a sua renda atualmente?
( ) 1 – 3 salários mínimos
( )3–5
( )5 -8
( ) 8 – 10
( ) + de 10 salários mínimos

A) MIGRAÇÃO PARA O JAPÃO


1) Que ano o Sr./Sr.ª migrou para o Japão pela primeira vez? ____________________________
2) Qual o motivo da migração para o Japão?
( ) saldar dívidas com o agente financeiro ( ) dificuldades com o trabalho na agricultura ( ) comprar
casa própria ( ) estava desempregado ( ) queria poupar dinheiro ( ) poupar dinheiro para pagar os
estudos ( ) queria conhecer o Japão ( ) outros
3) Quanto tempo permaneceu no Japão? _____anos Voltou alguma vez para passear no Brasil?
165

( ) Sim ( ) Não Caso tenha voltado, quantas vezes? ( ) uma vez ( ) duas vezes ( ) três vezes ( )
quatro vezes ( ) mais de quatro vezes
4) O Sr./Sr.ª já foi mais de uma vez para o Japão? ( ) S ( ) N Quantas vezes? ( ) uma vez ( ) duas vezes
( ) três vezes ( ) quatro vezes ( ) mais de quatro vezes
5) Quantos anos o Sr./ Sr.ª permaneceu no Japão (com as idas e vindas) ___________________
6) Qual(is) o (s) estado (s) que o Sr./Sr.ª trabalhou no Japão quando dekassegui?
____________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
7) Que tipo de visto que possuía?__________________________________________________
8) Quando migrou para o Japão já tinha emprego? ( ) S ( ) N Como conseguiu? ( ) Agência ( )
Apresentação de amigos/parentes ( ) Outros _____________________________________
9) A passagem foi financiada? ( ) S ( ) N Quanto tempo ficou pagando? _________________
10) 2
11) O Sr./Sr.ª já tinha parentes/amigos no Japão? ( ) S ( ) N Mantinha contato com eles quando estava lá?
( )S ( )N
11) Quando migrou foi: ( ) sozinho ( ) família/membros__________________ ( ) amigos
12) O Sr./Sr.ª mudou de emprego no Japão? ( ) S ( ) N Quanta vezes? _____________________
13) Qual o critério utilizado que o Sr./Sr.ª para mudar de emprego no Japão? ( ) maior remuneração por hora
( ) mais horas extras ( ) tipo de serviço adequado ( ) facilidade de acesso ao administrador ( ) local
de trabalho acolhedor ( ) sociedade local acolhedora
14) ( ) serviços leves ( ) outros __________________________________________________
15) Qual a atividade que exercia no Japão? ___________________________________________
______________________________________________________________________________
16) Quanto era o salário base no Japão? ______________________________________________
17) Quanto conseguia poupar por mês? ______________________________________________
18) Qual era a jornada de trabalho diária (incluindo horas extras)? _________________________
19) Qual era o turno de serviço? ( ) Diurno ( ) Noturno ( ) Diurno e Noturno
19) O Sr./Sr.ª utiliza o dinheiro poupado no Japão para as despesas diárias? ( ) S ( ) N
20) Como era a moradia no Japão? ( ) alojamento ou residência alugado pela empresa ( ) casa/apartamento
alugado com ajuda parcial da empresa ( ) residência por conta própria ( ) outros
21) Quantas pessoas moravam na casa? ________ Eram todos brasileiros ( ) S ( ) N Qual era a etnia?
______________________________________________________________________
22) Como era o relacionamento com amigos e chefes de serviço? ( ) muito bom ( ) bom ( ) regular ( )
ruim
23) Qual o problema que mais lhe afligiu no Japão? (até 3 alternativa) ( ) saudades do Brasil ( )
dificuldade de comunicação (língua) ( ) relacionamento humano dentro do trabalho ( ) alimentação
( ) trabalha-se demais no Japão ( ) não consegui acompanhar o modo de vida japonês ( ) outros
_______________________________________________________
24) Como era o relacionamento do Sr./Sr.ª com os japoneses no local de trabalho e na sociedade local? ( )
ativo ( ) não muito constante ( ) raras vezes tinha contato

C) O RETORNO DO JAPÃO

1) Em que ano o Sr. Sr.ª retornou do Japão? _________________________________________


2) Qual a atividade econômica que o Sr./Sr.ª dedicou-se, após o retorno do Japão?
( ) agricultura O que plantou? ____________ Propriedade sua? ( ) S ( ) N Comprada após o
retorno do Japão ( ) S ( ) N Quantos alqueires? ______ Em AM? ( ) S
166

( )N Qual o bairro? ____________________ ( ) comércio Qual a atividade? ______________ Em AM?


___________ Em qual bairro? ______________ ( ) funcionário público Qual atividade?_______________
( ) funcionário de empresa privada? Qual atividade? ________________________( ) autônomo
___________________________________________
3) A Atividade econômica que o Sr./Sr.ª atualmente exerce, é a mesma antes da migração?
( ) Sim ( ) Não
4) O dinheiro poupado foi investido em Álvares Machado? ( ) S ( ) N Por quê?
____________________________________________________________________
5) Os investimentos foram feitos em:
( ) imóvel urbano Bairro:________________( ) Terrenos ( ) Residência ( ) Aluguel
( ) imóvel rural Bairro:____________________ Tamanho da propriedade _______ alqueires
( ) bens móveis (especificar) _____________________________________________________
( ) aplicação bancária Banco d e Álvares Machado ( ) S ( ) N
( ) Outros (especificar) __________________________________________________________

6) O Sr./Sr.ª acredita que Álv. Machado é um município propício para investimentos? ( ) S ( ) N por quê?
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________7)O Sr./Sr.ª procurou alguma assistência para realizar os investimentos? Como por
exemplo: Bancos, SEBRAE, Prefeitura Municipal, Engenheiros Agrônomos, Colônia Japonesa? ( ) S ( ) N
________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________

8) O Sr./Sr.ª pensou em mudar-se para outra cidade após ter retornado do Japão? ( ) S ( ) N Por quê?
__________________________________________________________________________

9) Quando retornou do Japão, o Sr./Sr.ª procurou emprego? ( ) S ( ) N


10) Conseguiu? ( ) S ( ) N Por quê? _____________________________________________
_____________________________________________________________________________

11) Foi difícil a inserção na sociedade brasileira após a migração para o Japão? ( ) S ( ) N
12) Quais as dificuldade que o Sr./Sr.ª encontrou? ______________________________________
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13) Retornou os estudos? ( ) S ( ) N Por quê? ______________________________________

D) PERSPECTIVAS

1) Qual a experiência que o Sr./Sr.ª tirou do tempo que ficou no Japão? Por exemplo, viver num país
diferente, o Sr./Sr.ª conseguiu realizar os seus sonhos (alcançar os objetivos propostos com a migração
para o Japão? ( ) Sim ( ) Não Por quê?
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2) Pretende voltar ao Japão? ( ) S ( ) N ( ) Talvez
3) Quando migrou, a família apoiou a decisão? ( ) S ( ) N Por quê?
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4) Quando estava no Japão, mantinha contato com os familiares/amigos no Brasil? ( ) S ( ) N
Caso tenha respondido sim: Por ( ) carta ( ) telefone ( ) internet
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