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ANAIS
Castanhal
2016
Comissão Organizadora
Bolsista
Gabriela Alias
Munique Massaro
Patrícia de Oliveira
prestadores de serviços) para debater questões que viabilizem formas de pensar e agir.
SUMÁRIO
RESUMO
O artigo aqui apresentado é uma sistematização do projeto de intervenção “Acessibilidade na
escola: construindo alternativas de avaliação com professores da EJA para inclusão de alunos
com deficiência”, realizado na Escola Municipal Prof.ª Rosa Athayde, em Augusto Corrêa-Pará.
Essa oficina desenvolvida foi fruto do trabalho de pesquisa realizado no ano de 2015, no curso
de Especialização em EJA para a Juventude da UFPA, Campus Bragança. Os sujeitos participantes
apontaram ter dificuldade de avaliar os alunos com deficiência inseridos na EJA e de adequar os
recursos pedagógicos, além da ausência regular de formação continuada aos professores para
trabalhar a inclusão. Como resposta, apontou-se a realização do projeto que ora se relata. O
trabalho de intervenção foi provocador de inquietações nos participantes e nos pesquisadores, por
oportunizar a discussão do papel que as SRM's do município assumem para o desenvolvimento da
política de atendimento aos alunos e de formação continuada aos professores das salas
regulares.
PALAVRAS-CHAVES: Inclusão; Avaliação da aprendizagem; EJA.
1 INTRODUÇÃO
1
Professora da Rede Pública Municipal de Augusto Corrêa, lotada em Sala de Recursos Multifuncional da Escola
São Miguel. Pedagoga e Especialista em Educação de Jovens e Adultos para a Juventude, pela Universidade Federal
do Pará – UFPA.
2
Professor orientador no curso de especialização em Educação de Jovens e Adultos para a Juventude da UFPA,
como colaborador. Técnico em Assuntos Educacionais no IFPA Campus Bragança, atuando como Coordenador
Pedagógico e membro do NAPNE – Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais.
A motivação do trabalho decorreu-se da prática, de um dos autores, como professora em
sala de recurso multifuncional de escola do município de Augusto Corrêa e a participação no Curso
de Especialização, de tal forma que pudesse articular a Educação de Jovens e Adultos e Educação
Especial. Esta prática proporcionou observar as diferentes formas de inserção da criança, do
jovem e do adulto com deficiência na escola, percebendo as dificuldades enfrentadas para
permanecer e ter êxito nos estudos, já que o que se vivencia é uma realidade de retenção dos alunos
com deficiência ou uma prática de inclusão com os alunos sem o devido atendimento às suas
necessidades de aprendizagem.
Assim, o trabalho ganha relevância por articular duas áreas onde a garantia de direitos é
negada, devendo ser foco de atuação como uma política pública de inclusão. A esses sujeitos não
basta garantir o direito à educação tardiamente, pois é preciso também condições para que sejam
incluídos plenamente na vida social, e a escola como tal, deve ser um dos espaços em que isso deve
acontecer com qualidade.
Este relato aponta ainda resumidamente os mecanismos que facilitam o processo de
ensino e aprendizagem e verifica as dificuldades de acesso e permanência dos jovens com
deficiência na EJA, assim como identifica nos discursos dos professores elementos de
inclusividade para alunos deficientes nas turmas da EJA.
Inicialmente, apresentamos os objetivos da oficina realizada. Posteriormente,
descrevemos como se deu a realização do projeto de intervenção com o tema “Acessibilidade na
escola: construindo estratégias de avaliação com professores da EJA para inclusão de alunos com
deficiência”, na EMEF Rosa Athayde, com a finalidade de promover ações que venham contribuir
com a pessoa com deficiência na inserção efetiva no contexto social, cultural, político e
educacional, minimizando a discriminação e promovendo o respeito pela diferença. Além de
colaborar com os atores envolvidos no processo educacional, por meio de reflexões sobre o
processo de avaliação em sala de aula, a fim de favorecer mudanças de posturas e atitudes negativas
com relação ao sujeito da EJA com deficiência. E por último, indicamos pontos conclusivos
do trabalho.
2 OBJETIVOS DO PROJETO
O trabalho de intervenção na Escola Municipal Prof. Rosa Athayde, em Augusto Corrêa
apontou como objetivos, os seguintes:
Realizar uma oficina de construção de estratégias de avaliação com os professores da
EJA, a fim potencializar as práticas desenvolvidas em sala de aula para a garantia da
permanência dos alunos com deficiência, através de melhores condições de acessibilidade
pedagógica aos conhecimentos das disciplinas.
Proporcionar estratégias adequadas e adaptadas às especificidades de cada aluno, nas
práticas pedagógicas no cotidiano, para que os mesmos possam ter ensino aprendizagem
significativo e em consonância com suas capacidades e potencialidades.
Fortalecer a inclusão educacional e consequentemente social da pessoa com deficiência,
por meio de ações que envolvam professores e demais profissionais, com intuito de fortalecer o
princípio de igualdade humana e do direito da educação para todos conforme rege as leis
vigentes e a política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva.
Estimular a troca de informações entre equipe gestora, professores e demais funcionários
da escola sobre o processo de inclusão dos alunos com deficiência na EJA.
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
BRASIL, Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência - CONADE.
Acessibilidade: você também tem compromisso: subsídios para o Conferencista: Caderno
de texto da I Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Brasília:
CONADE, 2006.
BRASIL. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96. Diário Oficial da União,
20/12/1996.
BRASIL. Secretária de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva, Brasília: Revista Inclusão, v.4, nº1, 2008.
FERREIRA, W. B. EJA & deficiência: Estudos sobre a oferta a modalidade EJA para
estudantes com deficiência. In. AGUIAR, Maria Ângela. (Org). Educação de jovens e adultos:
O que dizem as pesquisas? Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Continuada-
SECAD: Universidade Federal de Pernambuco/ Coordenação à Distância, 2009.
LEMOS, E. S. (Re)situando a teoria de aprendizagem significativa na prática docente,
na formação de professores e nas investigações educativas. Revista Brasileira de Pesquisa em
Educação em Ciências, vol. 5, 2005.
OLIVEIRA. Ivanilde Apoluceno de. (Org.). Caderno de atividades pedagógicas em educação
popular: políticas de educação inclusiva em municípios da Amazônia paraense/ Belém:
EDUEPA, 2011.
SANTOS, M. P.; PAULINO, M. M. Inclusão em Educação: culturas, políticas e práticas.
São Paulo: Cortez, 2006.
VALENTIM, F. O. D. Inclusão de alunos com deficiência intelectual: Considerações
sobre avaliação da aprendizagem escolar. Dissertação. Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista, Marilia, SP, 2011.
A Comunicação Alternativa no processo de ensino-aprendizagem da Pessoa
com Necessidade Educacional Especial
RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Aluno de Graduação do Curso de Pedagogia na Universidade do Estado do Pará (UEPA), Campus XI, São Miguel
do Guamá. Atuante no Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Especial na Amazônia (GEPEEAm). E-mail:
iranildo_silva_oliveira@hotmail.com
2
Professora Doutora na Universidade do Estado do Pará. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Educação Especial da Amazônia (GEPEEAm). E-mail: docenteapf@gmail.com
A Declaração de Salamanca de 1994 tornou-se o norte para a Educação Especial no
Brasil e no mundo, reiterando o que está previsto na Constituição Federal de 1988 no Art. 205,
quando afirma que a educação é para todos:
[...] a oferta do AEE será planejada para ser realizada em turno inverso ao da
escolarização, contribuindo efetivamente para garantir o acesso dos alunos à
educação comum e disponibilizando os serviços e apoios que complementam a
formação desses alunos em classes comuns da rede regular de ensino.
(MEC/SEB/DICEI, 2013, p. 299).
O AEE deve dar condições aos alunos com NEE a realizarem suas atividades, além
de viabilizar ações visando suprir as necessidades educacionais. Nessa perspectiva, a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, informa que a função do
AEE é,
METODOLOGIA
Foi realizada pesquisa de campo para forma metodológica deste trabalho, visando uma
melhor estruturação dos resultados obtidos na coleta de dados, pois “a pesquisa de campo
caracteriza-se pelas investigações em que, além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se
realiza coleta de dados junto a pessoas, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa”
(FONSECA, 2002, p. 20).
Consequentemente optou-se por pesquisa quantitativa, para tabulação dos dados
obtidos, visando melhor apreciação dos resultados e segundo Moresi (2003, p. 64)
A análise dos resultados deu-se por meio da pesquisa qualitativa, com isso, acredita-
se que o objetivo deste trabalho será exposto de forma clara, e dentro desta ótica Goldenberg
(2004, p.62) discorre.
A coleta dos dados deu-se em três dias, sendo eles, 16, 17 e 18 de Dezembro de 2014.
O itinerário desenvolvido para esta pesquisa foi primeiramente identificar as deficiências que a
instituição atende e consequentemente saber se existe o uso de Comunicação Alternativa como
facilitador no processo de ensino-aprendizagem dos alunos com Necessidades Educacionais
Especiais (NEE) em relação à SRM e Sala Comum.
Esta pesquisa consistiu-se por meio de questionário com perguntas abertas e fechadas,
direcionadas a dois professores da Sala de Recursos Multifuncional e uma professora da Sala
Comum. Os docentes da SRM são Especialistas em Educação Especial, com graduações distintas,
sendo que um tem formação em Pedagogia e a outra em História.
Os dados apontam para uma procura/demanda maior nas escolas da rede pública no
Estado do Pará em relação aos alunos com NEE, sendo na esfera Estadual, quanto na Municipal.
Tabela 1: Matrículas em classes comuns no Estado do Pará de aluno com NEE – 2011
A procura maior nas escolas municipais para alunos com NEE, deve estar
intrinsecamente ligado ao fato de oferecer a educação infantil e fundamental e estarem mais
acessíveis às moradias dos discentes. O fato de maior relevância é que todas as esferas de ensino
estão atentas e adeptas a educação especial.
LOCUS
A cidade de locus da pesquisa é Santa Maria do Pará e está situada às margens da BR-
316 e BR-010 (Belém-Brasília), nordeste do estado do Pará, cerca de 100 km de distância de
Belém (capital do estado), estendendo suas limitações aos municípios de São Miguel do Guamá;
Castanhal; Nova Timboteua; Igarapé-Açu; São Francisco do Pará; São Domingos do Capim e
Bonito. A emancipação político-administrativa é datada de 29 de Dezembro de 1961, com uma
população de aproximadamente 23.026 habitantes segundo o censo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística IBGE (2010). A formação étnica é tida por mestiços, descendentes de
índios, negros e nordestinos. Sua economia é basicamente agrícola, voltada para agricultura,
pecuária e comércio, sendo forte a cultura de subsistência.
Caracterizando a escola
Manhã 51
Tarde 159
Noite 19
TOTAL 229
Fonte: Secretaria Municipal de Educação
A concentração maior de alunos como pode ser percebido na tabela está no turno da
tarde, os 19 alunos existentes no turno da noite, estão matriculados na Educação de Jovens e
Adultos. As modalidades atendidas são elas: Ensino Regular; Educação Especial e Educação de
Jovens e Adultos. Sendo que encontravam-se matriculados 14 (quatorze) alunos na Educação
Especial.
A escola locus da pesquisa atende a um público com faixa etária que varia de 10 a 32
anos. As especificidades são: deficiência intelectual, surdez e deficiência física. O atendimento se
dá no contra turno, sendo distribuídos em uma hora e meia para cada aluno, nos turnos matutinos
e vespertinos.
Dentre as inúmeras questões que nos instigam ligadas à inclusão, sem dúvida a
prática pedagógica tem se revestido de complexidade e, notadamente nos dias de
hoje, quando a perspectiva inclusiva de todos os alunos e suas respectivas
especificidades na sala de aula é um desafio a ser enfrentado em todos os níveis
e modalidades de ensino. (MOREIRA, 2013, p. 303-304)
Para os professores do AEE não existe necessidade do uso de material adaptado para
o desenvolvimento dos exercícios, mas a comunicação alternativa sempre é utilizada como
facilitador da aprendizagem de todos os alunos atendidos na SRM. Dando oportunidade para todos
participarem, mesmo os que têm pouca mobilidade.
Acredita-se que toda criança, mesmo aquela que é afetada pela deficiência
intelectual, é capaz não só de aprender, mas de participar do ambiente escolar
formal, e ter sua capacidade cognitiva incrementada pelas estratégias de ensino
adaptadas em prol de seu desenvolvimento. (BARBOSA et al., 2013, p. 133)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Especial tem muito em que avançar, mas os passos dados são/foram
essenciais para que este processo concretize-se e promova a sensibilização de mais profissionais,
sendo especialistas em educação especial ou não.
______. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB,
DICEI, 2013.
______. Lei nº 9.394 de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acessado em: Dezembro de 2014.
______. Lei nº 13.146, de 2015. Estatuto da Pessoa com Deficiência. Disponível em:
<http://http://www.senadorpaim.com.br/uploads/downloads/arquivos/daed457c4a7524302b56e7
00fa609419.pdf>. Acessado em: 06 de Abril de 2016.
BARBOSA et al. Leitura de Livros de Estórias Infantis para Crianças com Deficiência Intelectual
na Educação Infantil: Implicações para o letramento emergente. In: RESENDE DA COSTA,
Maria da P. (Org.). Educação Especial: Sugestões de recursos para os ambientes educacionais
inclusivos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013. p. 29-50.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das
Necessidades Educativas Especiais, 1994, Salamanca-Espanha. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acessado em Janeiro de 2015.
Maíra Vasconcelos da Silva Padilha, Ronaldo Meireles, Luana Pereira da Silva, João Elias
Vidueira Ferreira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, campus Tucurui. Eixo temático:
Ensino Médio e Educação Especial
Resumo:
Pessoas com deficiência visual tem o direito de ter acesso às mesmas informações que aquelas
que enxergam. Com relação a isso, o uso de novas tecnologias tem dado uma grande contribuição
ao processo de ensino-aprendizagem. Este trabalho descreve a criação de i magens táteis para
deficientes visuais utilizando para isso programas de computador com editores gráficos. Os
autores apresentam e discutem uma variedade de estratégias a serem postas em prática quando se
deseja fazer no computador um desenho para ser impresso no papel Braille ou no papel
microcapsulado. Portanto, este trabalho é um guia para aqueles interessados em materiais
adaptados usados em educação inclusiva.
Introdução
A informação está cada vez mais sendo apresentada em formas não-verbais tais como
diagramas, quadros, gráficos, mapas e outros. Todos estes recursos são chamados de “graphics”.
De modo equivalente, “g raphicacy”, a habilidade de entender e criar tais dispositivos está tendo
uma dimensão importante no letramento (ALDRICH; SHEPPARD, 2000, p. 8). Em muitas
disciplinas essas imagens tem um papel fundamental na aprendizagem de diversos conceitos,
principalmente os mais abstratos.
Muitas coisas que aprendemos são baseadas em coisas que podem ser vistas:
números, fórmulas, símbolos, equações, gráficos, esquemas, diagramas, fotografias, mapas.
Entretanto, a pergunta chave é como ensinar assuntos que precisam de imagens a quem não
consegue enxergá-las? A resposta a essa indagação pode ser resumida na seguinte frase: “A s
ensação do tato pode desempenhar um papel crucial na apresentação de inf ormação a pessoas
com incapacidades visuais” (POWER; JÜRGENSEN, 2010, p. 99). Nicholas (2010, p. 6)
defende ousadamente que “o toque é o nosso sentido mais social e ele nos proporciona o principal
meio de contato com o mundo externo”. Consequentemente, quando consideramos pessoas com
falta de percepção visual, as imagens deverão ser apresentadas em relevo, de forma a serem lidas
pelo tato.
Seria imensamente benéfico, tanto aos professores quanto aos alunos deficientes
visuais, se coleções de imagens de diferentes áreas do saber, próprias para serem impressas em
relevo, estivessem disponíveis gratuitamente na rede mundial de computadores. Dessa maneira,
seria preciso apenas escolher as imagens de interesse para explicar determinado assunto e
imprimi-las.
Finalmente, promover a inclusão de todos nos ambientes educacionais regulares tem
sido uma preocupação constante de educadores e governos verdadeiramente comprometidos com
a inclusão educacional. Apenas para citar um importante documento à nível mundial, a
declaração de Salamanca sobre os princípios da política e prática da educação especial
(UNESCO, 1994) reafirma o direito à educação a todos os indivíduos, independentemente de
suas diferenças particulares. É o desejo de ajudar as pessoas com deficiência visual a estarem, e
se sentirem, de fato incluídas no meio educacional que motivou os autores a escreverem esse
trabalho.
Objetivos
Desenvolvimento
Hoje em dia existem programas computacionais gratuitos e pagos que trabalham com
editores gráficos. Eles realmente oferecem como opção inúmeros recursos de desenho que
podem facilmente ser acessados clicando ícones na barra de ferramentas. Outro aspecto a
considerar éa presença de comandos para escrever texto diretamente em Braille ou fazer os
pontos que irão delinear o desenho. No entanto, é bem verdade que para pessoas não-
familiarizadas com esses programas eles podem ser um tanto complicados de serem manipulados
(Monet, Braille Fácil e CorelDraw). Todas as imagens mostradas e discutidas nessa obra foram
criadas com o editor gráfico de um dos seguintes software: Monet, Braille Pintor, Paint e
CorelDraw. Os programas Monet e Braille Pintor foram desenvolvidos especificamente para
desenhar imagens para estudantes com deficiência visual.
Uma característica chave sobre imagens em relevo para deficientes visuais é que o
mais importante para eles é a facilidade com que a imagem pode ser explorada pelos dedos.
Embora quase sempre essas imagens sejam produzidas por videntes, o aspecto visual não é o
mais relevante. Até porque ele não faz sentido para quem não enxerga. Depois de algumas ex
periências na produção de materiais pedagógicos táteis utilizando o computador para a criação
dos desenhos e legendas, nós, os autores, listamos aqui algumas dicas especiais para a criação
computacional de imagens táteis.
Evite imagens que possam causar ambiguidades quando interpretadas. Assim o desenho
deve conter todos os elementos necessários a uma interpretação correta do mesmo.
Use objetos táteis com diferentes níveis de complexidade ou abstração de modo que eles
possam estar adequados a o nível de compreensão dos leitores a que se destinam.
O velho ditado “quanto menos melhor” deve ser observado, porque muitos detalhes em uma
única imagem podem causar confusão. Nesse aspecto, ao excesso de linhas táteis chamamos aqui
nesse livro de “poluição tátil”, a qual exige maior habilidade cognitiva do deficiente visual.
Sheppard e Aldrich (2000, p. 32) lembram que o tato não possibilita uma distinção
tão apurada quanto aquela fornecida pela visão. A informação tátil também é frequentemente
mais difícil de ser entendida (por exemplo, pode ser difícil distinguir entre o primeiro plano e o
plano de fundo).
Vale lembrar que o senso tátil não consegue discriminar com a mesma capacidade que o
senso visual. Portanto, imagens simples são mais fáceis de serem interpretadas (legíveis ao tato)
que as complexas obviamente.
O excesso de informações (tanto desenho quanto text o), quando desnecessário, deve ser
removido. Para reduzir o excesso de linhas no desenho, uma opção é substituí-las por uma legenda
resumida em Braille. Na realidade, para se entender um texto, nem sempre é necessário a
adaptação de todas as imagens para a forma de desenho tátil. Algumas vezes uma boa descrição
da imagem é suficiente para se entender a mensagem que a imagem quer transmitir.
Muitas linhas bastante próximas podem ser confundidas com algum tipo de textura.
Sheppard e Aldrich (2000, p. 32) orientam manter as linhas separadas de 2 mm, no mínimo.
No caso de a imagem requerer informação dentro dela, os símbolos Braille não devem
interferir no desenho, o que causaria confusão na leitura. As delimitações bem feitas no desenho
são fundamentais no seu entendimento. Por isso evite linhas e pontos próximos.
O uso de setas ou linhas de sinalização deve ser li mitado, porque eles podem interferir no
desenho. Caso eles sejam realmente necessários, eles devem ser feitos com uma textura diferente
do desenho. Entretanto, uma explicação sobre a presença dessas setas e/ou linha s deve ser dada
ao deficiente visual.
Áreas vizinhas devem ser preenchidas com texturas b astante distintas (cruzes, linhas
onduladas, círculos, variados tamanhos de pontos etc.), de modo a serem melhor diferenciadas
na leitura. Portanto, evite texturas similares, tais como, quadrado e diamante. Também, quando
possível, use alturas variadas. No entanto, muitas texturas distintas (mais de cinco ou seis, por
exemplo) podem dificultar a interpretação.
Imagens que para os videntes são mostradas em preto em branco são mais facilmente
tornadas imagens táteis que as coloridas. Mesmo assim, se a imagem tem cores e estas são
fundamentais para a interpretação, então use diferentes texturas para cada cor. Mas é verdade
que alguns deficientes visuais que fazem uso da leitura tátil trazem resquícios de visão. Portanto,
o uso de relevo juntamente com cores distintas ajuda ainda mais na interpretação da imagem.
Partes sólidas de objetos ou mapas são melhores rep resentadas com texturas uniformes
do que se fazendo apenas o desenho em linhas das beiras do objeto. Isso acontece porque na
representação usando apenas linhas pode não parecer nítido se o que se está tateando é o interior
do objeto ou o seu exterior. Um ponto negativo disso é a ocultação das representações das partes
internas do desenho. No caso de mapas, isso é comprometedor. De qualquer modo, se o objetivo
for a percepção glo bal da figura, o desenho com textura é mais adequado.
Não existe um padrão para o tamanho do desenho, mas imagens pequenas podem não ser
percebidas nos seus detalhes, enquanto que as grandes são difíceis de serem manipuladas e dificul
tam a percepção como um todo do desenho. Portanto, o recomendado é acharum meio termo
entre esses dois aspectos deve ser encontrado.
Muitas imagens podem ser impressas com qualidade em um papel de tamanho A4. No
entanto, imagens que requeiram um tamanho maior devem ser impressas obviamente em um
papel maior, tal como o papel A3. Uma alternativa é ainda imprimir em papel menor partes
separadas da imagem e colá-las sobre uma base comum.
Imagens muito complexas podem ser impressas em partes separadas para serem
exploradas pelo tato uma de cada vez.
O código Braille pode diferir de país para país. Também existem diferenças nos os
espaçamentos entre os pontos e entre as células e o diâmetro do ponto na base. Dessa forma, adote
as regras do lugar onde a imagem será lida.
Quando em um gráfico for necessário utilizar linhasdo gride, então essas linhas devem
ser menos distintas (menor textura) do que as linhas dos eixos do gráfico. Por exemplo, os eixos
x (horizontal) e y (vertical) no plano cartesiano são feitos com textu ra maior do que as linhas
pontilhadas que unem um ponto qualquer do gráfico aesses eixos.
De acordo com o Braille Authority of North America (2016, p. 6-34), os marcadores das
posições dos números nos eix os dos gráficos devem estar espaçados de no mínimo 1,2 cm e com
uma altur a de 0,6 cm. Tais marcadores podem aparecer em qualquer um dos lados dos eixos.
Quando não houver espaço para escrever os números n as linhas dos eixos, pode-se
escrever apenas alguns números (por exemplo, apenas os pares ou ímpares).
Se setas forem colocadas nas extremidades dos eixos do gráfico, estas devem ficar fora
da área onde estão as linhas do gride (caso elas existam).
Depois de feitas as imagens em relevo, cuidados especiais precisam ser tomados no seu
armazenamento. Caso contrário, as partes em relevo podem ser amassadas e, dessa forma,
comprometer a leitura com os dedos. Então evite que as imágens sejam amassadas.
Escute os deficientes visuais pedindo a eles que dêem suas próprias opiniões acerca da
qualidade das imagens t áteis que você produziu. Esse “feedback” ajudará você a melhorar a
qualidadeda imagem. Afinal de contas, eles são o público alvo das imagens em relevo.
Conclusão
Atualmente, o uso da computação tem permitido a pro dução de uma grande variedade
de imagens táteis, que incluem diagramas, quadros, gráficos, mapas e outros. Consequentemente,
numerosas possibilidades existem para a criação de imagens que possam auxiliar no processo de
ensino-aprendizagem de alunos deficientes visuais, que tem na leitura tátil uma mportantíssima
aliada na busca do conhecimento. O presente e o futuro da produção de imagens táteis certamente
vai depender cada vez mais do uso do computador. Por isso, é necessária a popularização das
técnicas de desenhos táteis por meio de programas computacionais com editores gráficos paraque
se possa aumentar o acesso de deficientes visuais à educação.
Referências
NICHOLAS, Jude. From active touch to tactile communication: what’s tactile cognition got to
do with it? Aalborg, Denmark: The Danish Resource Centre on Congenital Deaf blindness, 2010.
24 p.
SAHIN, Mehmet; YOREK, Nurettin. Teaching science to visually impaired students: a small-
scale qualitative study. US-China Education Review, v. 6, n. 4, p. 19-26, 2009.
UNESCO. Salamanca Statement. World Conference on Special Needs Education: Access and
Quality. Salamanca, Spain, 1994.
A EDUCAÇÃO DE SURDOS E A ESCOLA INCLUSIVA: OBSERVAÇÕES
E ANÁLISES NO ENSINO FUNDAMENTAL
Resumo: o objetivo deste artigo é apresentar uma reflexão acerca do processo de inclusão educacional
de alunos Surdos em uma escola inclusiva da cidade de Belém, no estado do Pará, a fim de verificar
como vem ocorrendo a escolarização destes alunos no Ensino Fundamental maior. Para tanto, foram
realizadas observações e análises, as quais faziam parte das atividades de estágio supervisionado I, em
aulas de Língua Portuguesa nas turmas do 6º (sexto) e 8º (oitavo) ano da referida escola. Assim,
constamos que há uma falta de compreensão do que seja incluir alunos Surdos em salas de aulas
regulares, pois parece haver desconhecimento acerca de uma exigência social que é o desenvolvimento
da competência linguística dos sujeitos Surdos, isto é, a de se considerar a relevância da Libras como
facilitadora da aprendizagem da Língua Portuguesa como segunda língua. Diante disso, concluímos
que, para que a inclusão desse público aconteça de fato, é necessário, entre outras coisas, o
investimento em ações que considerem, primeiramente, a Língua de Sinais como a facilitadora da
aprendizagem dos sujeitos Surdos.
1 INTRODUÇÃO
A escolha dessa escola como campo de estágio se deu por conta da referida instituição
constituir-se como umas das referências à inclusão de alunos com necessidades educacionais
especiais da cidade de Belém. Assim, por atender também a estudantes Surdos, a escola tornou-
se um lócus fundamental para o conhecimento da prática pedagógica dos alunos do Curso de
Letras Libras / Língua Portuguesa L2 para Surdos da UFPA. 3
O estágio em sala de aula teve início no dia 08/06/2015 e a conclusão se deu no dia
22/06/2015. Na primeira visita à escola, os professores orientadores do estágio estiveram conosco
para garantir a receptividade do corpo técnico e organização dos horários do estágio para cada
aluno/estagiário. Juntos, coletamos as informações iniciais sobre a escola, por exemplo, sobre os
horários das aulas de Língua Portuguesa das turmas do Ensino Fundamental, vespertino, período
em que estão alocados os alunos Surdos.
3
As atividades do Estágio Supervisionado I para o Ensino Fundamental constituíram-se de 102 horas, sendo 20
horas de orientação de estágio, 11 horas para a elaboração do projeto de estágio, 20 horas para a obtenção de
informações sobre a escola, 24 horas de observação e análise das aulas, 15 horas para a produção do relatório e 11
horas para a socialização do estágio.
Seguimos para a sala de aula da turma 602/09, onde aconteceria a aula de Língua
Portuguesa. Na primeira dessas aulas de Português, o assunto ministrado foi “bilhete”, a professora
iniciou o conteúdo escrevendo no quadro e solicitando aos alunos para que fossem copiando.
Com isso, percebemos que aquela professora, apesar de jovem, continuava com uma
metodologia antiga, ou seja, a de escrever no quadro e depois explicar o assunto, isso faz com que
muitos alunos não prestem atenção à aula, e, assim, fiquem mais preocupados em copiar tudo do
quadro do que entender o que estava a explicar a professora.
Continuando a aula, a professora solicitou para que os alunos deixassem linhas para a
produção textual, ela escreveu no quadro, em número arábico, a quantidade de linhas que os
estudantes deveriam deixar, além de também ter escrito, por extenso, a palavra “linha”, isso
facilitou e muito a compreensão dos alunos Surdos.
Após escrever no quadro, a professora iniciou a chamada dos alunos. Com isso,
verificamos que ela não chamava os Surdos, apenas visualizava-os na sala e anotava na lista de
frequência a presença ou ausência deles. Após o término da chamada, a professora foi à cadeira
dos Surdos para verificar se eles haviam acabado de copiar, nos perguntamos se isso é uma prática
cotidiana ou somente ocorreu por conta de haver estagiários na sala.
Nesta turma, os alunos Surdos não fizeram as atividades de Língua Portuguesa na sala
de aula, apenas copiaram e informaram que fariam no Atendimento Educacional Especializado
da Escola Felipe Smaldone4. A própria professora não os orientou com as atividades, pois
acreditava que eles tinham dificuldades na escrita, por isso, informou que eles poderiam levar as
atividades para fazer junto com os pais e apresentarem na próxima aula.
A esse respeito, Gesser (2009) orienta que é “bobagem” acreditarmos que o Surdo
tem mais dificuldades na escrita do que os ouvintes, pois, segundo a autora, o processo de
aprendizagem da escrita em língua portuguesa pelo Surdo é análogo ao do ouvinte, bastando para
isso que ambos se esforcem.
Na aula seguinte, outro conteúdo se iniciou, em que foi abordado o tema “Sílaba”. O
quadro começou a ser preenchido pelos conceitos e exemplos. É interessante observar a
curiosidade dos alunos Surdos por conta da nossa presença na sala, vez ou outra eles olhavam
para trás a fim de ver o que estávamos fazendo.
4
A Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações “Instituto Felipe Smaldone” – CEAC é um instituto
localizado na Travessa 14 de Março nº 854 – Bairro: Umarizal em Belém do Pará.
ouvintes foram agraciados com as explicações da professora acerca do bilhete, isso por conta dela
está de costas para os alunos, pois, enquanto falava, ao mesmo tempo, escrevia.
Esta situação tem relação com o pensamento de Lacerda (2006), quando diz que
“diversas têm sido as formas de realização da inclusão. Todavia, é inegável que a maioria dos
alunos Surdos sofreu uma escolarização pouco responsável” (p. 164). Tal fato ocorrido na escola,
nos fez refletir sobre o desconhecimento da relevância da proposta bilíngue no currículo escolar
do Surdo, isso tudo resulta às dificuldades que esses educandos encontram para interagirem e se
desenvolverem intelectual e socialmente na escola inclusiva.
Outra turma na qual estagiamos foi a 801/09, nesta, os alunos tinham entre 14 e 19
anos. Por conta do recente retorno das aulas e da ausência de um professor, a professora de Língua
Portuguesa precisou alternar a aula em duas turmas ao mesmo tempo, 801 e 802. Nas duas ela
trabalhou o mesmo assunto.
Toda a aula aconteceu como se ali naquela sala não houvesse um aluno com
necessidades educacionais especiais, mais especificamente, um Surdo. Todos oralizavam e o
aluno Surdo apenas copiava o conteúdo que estava no quadro ou observava o caderno dos colegas
para ver se haviam anotado alguma informação que ele não recebeu.
Ao perguntar para a professora sobre os alunos Surdos daquela turma, ela respondeu
que não havia nenhum Surdo, então perguntamos sobre um dos alunos, pois, observamos que o
modo como os outros tratavam aquele aluno, nos levava a entender que ele possuía algum tipo de
especificidade, achávamos que se tratava de um aluno Surdo. Porém, foi necessário que a
professora perguntasse à turma para que ficasse sabendo sobre a presença de um aluno Surdo em
sua sala.
Diante disso, percebemos que ainda há muito o que se fazer para tornar a educação de
Surdos uma realidade concreta no nosso país e, talvez, o primeiro passo seja o conhecimento e
reconhecimento desses sujeitos, a fim de garantir ao Surdo a base necessária para o
desenvolvimento de competências responsáveis por promover a sua participação efetiva nos
processos sociais que o circundam.
O objetivo da aula não era claro, a professora falava do aplicativo “WhatsApp” e não
focava no poema como um todo, apenas no início da aula perguntava sobre a linguagem do poema.
Assim, observamos que a condução da discussão acerca do poema relacionou-se mais com o
cuidado que devem ter os jovens ao utilizarem a ferramenta “Whatsapp” no dia a dia.
Ao cobrar a atividade da aula anterior, apenas uma aluna disse ter feito. Como o
número de alunos que responderam as questões era insuficiente, a professora deu mais um tempo
para que eles respondessem pelo menos duas das três questões solicitadas na aula anterior.
Assim, podemos dizer que a aula foi desenvolvida por meio de uma metodologia
eficaz ao aprendizado do Surdo naquele momento, porém reiteramos a necessidade dos
professores fazerem uso da Libras, em seu cotidiano docente, para que assim a Língua Portuguesa,
em sua modalidade escrita, seja melhor apreendida pelos alunos Surdos.
CONCLUSÃO
Este trabalho, fruto das atividades de Estágio Supervisionado I, teve como objetivo
desvendar a seguinte questão: como vem ocorrendo o processo de inclusão escolar de alunos
Surdo no Ensino Fundamental maior, em especial em turmas de 6º e 8º anos?
Acreditamos que conseguimos responder ao questionamento e com isso percebemos
que o referido estágio de observação no Ensino Fundamental foi de grande relevância para que
pudéssemos, não apenas vivenciar o cotidiano dos alunos, mas também ter um outro olhar sobre
a realidade da educação brasileira, sobretudo, no que tange a educação de alunos Surdos, além de
perceber que o universo educacional não é fácil, mas nós como professores podemos contribuir e
muito para que ele cresça e se torne melhor a cada dia.
Finalizando o estágio I, percebemos que há muito o que se fazer para tornar a inclusão
de Surdos uma realidade concreta no nosso país. Estamos de acordo de que é primordial o
investimento em ações que considerem a Libras como a facilitadora da aprendizagem, mas, da
mesma forma, percebemos a necessidade de um amplo sistema de fiscalização para fazer valer os
direitos educacionais dos alunos Surdos brasileiros, em especial ter uma educação de qualidade.
REFERÊNCIAS
GESSER, Audrei. LIBRAS? Que Língua é essa? crenças e preconceitos em torno da língua de
sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.p.45-61.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. O que dizem/sentem alunos participantes de uma
experiência de inclusão escolar com aluno Surdo. Rev. bras. educ. espec. Marília, v. 13, n. 2,
p. 257-280, ago. 2007.
MOURA, M. O. O Jogo na Educação Matemática. In: Ideias: o cotidiano da pré-escola. n.7. São
Paulo, FDE, 1990, p. 62- 67.
PÊCHEUX, Michel. Ler o arquivo hoje. In: ORLANDI, Eni Pulcinelli. (Org.). Gestos de leitura:
da história no discurso. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997.
QUADROS, Ronice Muller de; SCHIMIEDT, Magali L. P. Ideias para ensinar Português para
alunos Surdos. Brasília: Mec, SEESP, 2006.
A EDUCAÇÃO ESPECIAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: SABERES E
PRATICAS DOCENTES.
Lediane Lobato Martins1
Rafael Costa Martins2
Instituição: Escola Superior Madre Celeste (ESMAC)
RESUMO
O estudo buscou discutir a Educação Inclusiva e Educação Especial na perspectiva dos
professores de Educação Física, com base nos referencias teóricos críticos; Leonardo Pina
(2009), Celi Taffarel (2003), Marcos Mazzota (2011), Monica Santos (2002), Saviani e
Duarte (2002) entre outros autores, seguido de uma pesquisa de campo com os sujeitos
(docentes) da pesquisa. A pesquisa teve a intenção de dialogar com a abordagem
metodológica Materialismo Histórico e Dialético na tentativa de investigar de maneira
concreta as contradições analisadas dos conceitos e atitudes que envolver a Educação
Especial, no estudo percebeu-se a crescente tentativa de inclusão de pessoas com necessidades
educacionais especiais, nas escolas de ensino regular, através de politicas educacionais voltadas
para essa área. A partir da analise do questionário da pesquisa de campo, percebeu-se a
fragilidade das propostas das Politicas Educacionais desta área, pois apesar de existirem, não
maioria das situações não acontece, constatou –se nas falas dos professores a falta de incentivos
governamentais nesta área.
Palavras-Chave: Educação Especial, Educação Inclusiva, Professores
INTRODUÇÃO
O presente estudo trata de uma discussão sobre a temática da Educação Inclusiva na
perspectiva da Educação Especial sobre os conhecimentos dos professores de Educação Física
1
Autora: Graduada em Licientura em Educação Física – Escola Superior Madre Celeste – Belém/PA
E-mail: llediane.lobato@hotmail.com
2
Co-autor: Especialista Educação Especial com Ênfase na Inclusão – Faculdade Integrada Brasil Amazônia –
Belém/PA
a respeito dos conceitos trabalhados na Educação Inclusiva e Especial, pois, é crescente a
discussão em torno deste tema e apesar de existirem leis que deveria garantir os dir eitos dos
alunos que se encaixam nesse quadro, percebe-se uma realidade diferente da teoria. Dessa forma
a pesquisa buscou responder a seguinte questão problema: Quais os conhecimentos dos
professores de Educação Física que atuam na área escolar mediante a Educação Inclusiva e a
Educação Especial?
OBJETIVOS
- Investigar os conceitos que norteiam a Educação Inclusiva e a Educação Especial
- Analisar os conceitos de Educação Inclusiva e Educação Especial na perspectiva dos professores
de Educação Física..
- Discutir possíveis relações entre a Educação Física e Educação Especial.
DESENVOLVIMENTO
No decorrer da história, com a ascensão do capitalismo surgiu uma nova necessidade a
busca por mão –de- obra, as pessoas passam a ter valor de mais-valia, as pessoas são o que
produzem e o que consomem. Segundo Zoboli e Barreto (2006, p. 77), as pessoas com
deficiências saíram com grandes desvantagens por não se ajustarem aos critérios de
rendimento e eficácia “que o capitalismo exigia. A partir das novas relações econômicas sociais
e dos interesses da classe dominante” a inclusão passa a funcionar como um das condições de
efetivação do neoliberalismo” (LOPES; FABRIS, 2013).
A partir dessas novas relações houve grandes transformações no meio educacional,
novas políticas foram adotadas, visando á transformação da população através da educação.
Cabe entender a Educação como instrumento de lutas. Lutas para estabelecer
uma nova relação hegemônica que permitiria constituir um novo bloco
histórico sob a direção de classe fundamentalmente dominada da sociedade
capitalista – o proletariado. Mas o proletariado não pode erigir-se em forças
hegemônicas sem a elevação do nível cultural das massas. Destaca-se aqui a
importância fundamental da Educação. (SAVIANI, 2013,p 26 ).
No Brasil, o período ditatorial trazia consigo a valorização do ensino profissionalizante.
Onde os ensinamentos ou saberes era voltado para atender a as necessidades do mercado. As
políticas sociais vinham ao encontro das classes dominantes, novas ideias emergiam de forma
atender a hegemonia de quem detinha o poder sobre as classes populares. Em meio a todo
esse processo de transformações a educação especial ganhou mais evidencia, mesmo que ela
já tivesse algumas iniciativas antes desse período, segundo Mazzotta (2011) as primeiras
iniciativas em ralação aos deficientes aconteceram de maneira isolada.
O atendimento escolar especial aos portadores de deficiência teve início, no
Brasil, na década de 1950 do século XIX. Foi precisamente em 12 de setembro
de 1854 que a primeira providencia nesse sentido foi concretizada por D.Pedro
II. Naquela data através do decreto imperial n.1.428, D.Pedro II fundou, na
cidade do Rio de Janeiro, imperial instituto de meninos cegos . ( Mazzota,
2011,p 28).
Segundo Bueno (2004) apud Lopes; Fabris (2013) até a década de 1950 quase não se
falava em Educação Especial, mas de educação de deficientes. Percebemos que ainda eram
poucas as políticas relacionadas aos deficientes, Segundo este mesmo autor, “a educação do
sujeito deficiente teve inicialmente caráter de campanha, lançada primeiramente para os
surdos que foram seguidas para deficientes visuais e posteriormente para deficientes mentais”.
As políticas de inclusão segundo Santos (2008), entende-se como sendo as ações a serem
implementadas para garantir a todos acesso, ingresso e a permanência nas escolas, sendo essas
recomendações explicitada na Declaração Mundial de Educação para Todos
(Jomtiem,Tailândia,1990) e confirmada na Conferencia ocorrida em Salamanca
(Espanha,1994), da qual se originou a Declaração de Salamanca.
Nós, os delegados da Conferência Mundial de Educação Especial,
representando 88 governos e 25 organizações internacionais em assembleia
aqui em Salamanca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, reafirmamos o
nosso compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a
necessidade e urgência do providenciamento de educação para as crianças,
jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema
regular de ensino e reendossamos a Estrutura de Ação em Educação
Especial, em que, pelo espírito de cujas provisões e recomendações governo
e organizações sejam guiados.( SALAMANCA,1994).
Com isso a Leis de Diretrizes e Base (LDB) n.5.692/71 de 1971 teve que ser
reformulada e se adequar às novas exigências assinada no acordo da conferência. Porém essa
adequação as exigências acordadas não significa que foram colocadas em práticas assim que
assinadas, somente no decorrer do tempo elas foram se encaixando de forma mais clara com
as exigências, tomemos como exemplo a LDB n.9.934/96, seguinte a aprovação desse acordo,
em seu artigo 58, diz que os alunos deve ser matriculados preferencialmente no ensino regular
e não obrigatoriamente, com intuito de evitar cobranças a curto prazo, pois com essa palavra,
estariam se isentando de suas responsabilidades acordada com as Organizações das Nações
Unidas(ONU).
Artigo 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotados. (redação dada pela
Lei nº12.796, de 2013).
Podemos observa os avanços em relação ás leis de inclusão, e apesar de um conjunto de
políticas educacionais inclusivas terem sidas aprovadas, não significa que elas aconteçam de
fato, analisando, por exemplo, o decreto n 7.611 de 17 de novembro de 2011, no seu 1 artigo,
inciso XIII que diz respeito ao apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial.
Na pratica esse apoio financeiro só acontece em algumas instituições, isso quando acontece, o
que vivenciamos são instituições precárias em que os funcionários tem que fazer coleta de
dinheiro para conseguir comprar o mínimo de material necessário para desenvolver suas
atividades com os alunos. Percebe-se que a maioria das Leis, Resoluções e Emendas em relação
ao deficiente ainda são muito recentes e não são suficientes para se estabelecer um processo de
educação inclusiva.
O debate em torno da inclusão escolar ficou mais forte nos últimos anos, essa inclusão
refere-se a incluir nas salas de aula de ensino regular quem sofre de quaisquer deficiência e
transtorno global de desenvolvimento, apesar de existir leis que amparam a inclusão desde as
primeiras leis de diretrizes e base da educação nacional de 1961,Lei n 4.024/61 , ainda é
recorrente as discursões em torno desse assunto, pois as dificuldades em torno da inclusão
escolar ainda são muitas, uma escola inclusiva não é aquela que permite a matricula de todos
os aluno sem qualquer restrição, mas sim uma escola que dar possibilidade ao aluno em
desenvolver todo seu potencial apesar de suas limitações. Segundo Mantoan (2002) o sucesso
de uma escola inclusiva esta em envolver todo o corpo escolar na luta pela qual idade do
aprendizado, desde as práticas pedagógicas a estrutura física do ambiente escolar.
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre,
portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses
alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas a
diversidade dos aprendizes. E só consegui atingir esse sucesso, quando a escola
regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas
resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a
aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as deficientes são
excluídas, mas também as que são pobres, as que não vão as aulas porque
trabalham, as que pertencem a grupos descriminados, as que de tanto repetir
desistem de estudar. (MANTOAN, 2002)
O desafio da inclusão em escolas regulares está nas práticas pedagógicas voltadas para
desenvolver a inclusão que segundo Mantona (2011) essas práticas são elaboradas sem
conhecerem as dificuldades de seus alunos, sem um diagnóstico breve da realidade do
alunado, segundo a autora, sem essa análise da realidade da comunidade escolar, não se chega
á meta de escola inclusiva, para a autora o que tem que mudar é o jeito de trabalhar toda a
escola, com toda a turma, e não a ideia de que uma boa escola é aquela que faz ensino
diferenciado, para ela, uma escola inclusiva é uma escola que faz o ensino para todos.
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que estão à margem dela, não
será possível elaborar um currículo escolar que reflita o meio social e
cultural em que se insere. A integração entre as áreas do conhecimento e a
concepção transversal das novas propostas de organização curricular
consideram as disciplinas acadêmicas como meio e não fins em si mesmos e
partem do respeito à realidade do aluno, de suas experiências de vida cotidiana,
para chegar à sistematização do saber. (MANTOAN, 2002)
O ensino para todos preconizar em todos os alunos estarem juntos aprendendo
coletivamente, sem distinção entre alunos apesar da diversidade. Segundo Mazzota (2011) os
professores de classes comuns precisam ter noções básicas que lhe permitam não errar no
atendimento ao aluno, pois, mesmo havendo diferença entre professor capacitado e professor
especializado, todos precisam ter o mínimo de conhecimento para saber como proceder
didaticamente nas situações que surgirem no seu dia-a-dia escolar.
Quatro décadas apois a criação da primeira lei educacional que ampara a pessoa
deficiente, em 2001 o Plano Nacional de Ensino (PNE) lei n 10.172/2001, estabeleceu entre
seus objetivos e metas, a educação dos estudantes com necessidades especiais em classe
comuns, esse plano segue a convenção de Salamanca (1994) e Guatemala (1999) , em 2008 o
Ministério da Educação estabeleceu a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva, que são diretrizes que norteia a educação especial, seu ponto principal
diz respeito a todas as crianças terem direito a acesso as classes comuns de ensino regular.
Segundo Mantoan (2011) essa política é o grande marco, no sentido de se entender que a escola
é de todos, que todas as crianças devem estar na escola sem serem descriminadas, sem restrições,
sem limitações em função da sua deficiência.
Segundo as Diretrizes os alunos devem participar de classes comuns e frequenta as
atividades complementares no contra turno, por isso, toda escola tem a obrigatoriedade de ter
em seu projeto político pedagógico atendimento educacional especializado, em que visem á
formação dos alunos, com vista à autonomia e independência na escola e fora dela.
O questionário foi composto de (06) seis perguntas abertas, com questões relacionadas
diretamente com a Educação Inclusiva e Educação Especial na perspectiva dos sujeitos
(Docentes) da pesquisa. Todos os professores entrevistados são formados em Licenciatura em
Educação Física pela Universidade do Estado do Para (UEPA). Possuem entre quatorze e
vinte e três anos de docência na Educação Básica, são professores efetivos dos órgãos ao qual
trabalham, e todos possuem especialização, (02) dois em Treinamento Desportivo e (02) dois
em Educação Especial.
Perguntas do questionário:
1-O que você entende por Deficiência? E por Pessoa com Deficiência?
2-Possui alunos com Deficiência? Se sim, quantos? E qual(is) sua(s) Deficiência(s)?
3-Para você, o que é Educação Inclusiva e Educação Especial?
4-Como você entende o processo de inclusão educacional no ambiente escolar?
5-Você consegue relacionar em suas aulas os conteúdos da Educação Física com uma
proposta de aula inclusiva? Como?
6-Durante suas aulas, você sente dificuldades em trabalhar com os alunos com Deficiência?
Se sim, quais? E por quê?
CONCLUSÃO
REFERENCIAS
GIL, Antônio Carlos: como elaborar projeto de pesquisa. 6 ed. São Paulo . Atlas:2002
GAIO, R. Para além do corpo deficiente: histórias de vida. Jundiaí: Fontoura, 2006. LOPES,
Maura Corcini, Eli Henn Fabris.inclusão& educação. Belo Horizonte: Autentica editora, 2013—
coleção Temas &Educação
MEC. Ministério da educação: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). MEC.
RIBAS, João Batista Cintra. O que são Pessoas Deficiente. São Paulo: Brasiliense, 2003
Resumo: neste estudo relatamos as experiências do “Projeto MIL artes - Mostra Interdisciplinar em
Libras e Artes: o processo ensino-aprendizagem da Libras e a formação de professores”, realizado na
turma 2015 do Curso de Letras Libras / Língua Portuguesa como segunda língua para Surdos LL/LP
(L2) da Universidade Federal do Pará (UFPA). No referido projeto tivemos como objetivo realizar o
ensino de Língua Brasileira de Sinais (Libras) junto aos usuários do Restaurante Universitário (RU)
da UFPA. A atividade foi desenvolvida na data de 04/02/2016 de 10h as 12h:30min na fila do RU. A
presente pesquisa teve como foco a pesquisa-ação que foi efetivada junto a acadêmicos de uma turma
do Curso de LL/LP (L2) que foram divididos em 04 grupos, sendo que cada grupo teve a incumbência
de levar duas lições em Libras aos usuários do RU. Com esta atividade foi possível percebermos que:
a universidade ainda não conhece o Curso de LL/LP (L2); ainda há muitos mitos referentes à língua
de sinais e ao universo da pessoa Surda; os usuários do RU demonstraram amplo interesse em aprender
Libras. Esperamos que o interesse dos usuários do RU, bem como de toda a comunidade acadêmica
da UFPA, se intensifique cada vez mais para aprender a Libras na intenção de interagir com as pessoas
Surdas.
1 REFLEXÕES INICIAIS
Considerando os pressupostos de Perissé (2014) de que para olharmos o mundo e nele nos
posicionarmos, é necessária uma capacidade crítica que caminha lado a lado com a experiência
estética que temos em nossa vida, buscaremos neste item mapear de forma relativamente breve, a
trajetória do conceito de estética. Conforme Abbagnano (2007) o termo ESTÉTICA, designa-se
como a ciência (filosófica) da arte e do belo. Para Peixoto (2012) a denominação “Estética”
derivada do termo grego aisthesis, que significa, o que é sensível ou o que se relaciona com a
sensibilidade, surgiu no século XVIII.
Neste período, “Estética” passou a ser considerada uma disciplina filosófica com objetivo
de estudar o belo e suas manifestações na Arte, cujo fundador foi Alexander Gottlieb Baumgarten
(1714-1762). Em sua obra, “Estética ou Teoria das artes Liberais”, de 1750, Baumgarten conceituou-
a como a ciência do Belo e da Arte.6 Para Baumgarten, de acordo com Perissé (2014), “a estética nos
permitirá aperfeiçoar nosso conhecimento da beleza, será a ars pulchre cogitandi, arte de pensar
a beleza e de pensar belamente” (p. 11).
5
Segundo Borges (2010) a formação inicial se refere a formação primeira, aquela que habilita profissionalmente e
que permite a inserção no campo profissional na área da educação
6
Para Perissé (2014) naquele início de século XVIII, ao longo da Idade Média e pelo menos desde Platão (427-347
a. C.), já se praticava um estudo mais ou menos sistemático sobre o sentimento artístico, sobre a beleza, sobre a arte.
7
O debate sobre a estética acentuou-se no final do século XIX e início do século XX, com Marx (1818-1883),
Nietzsche (1844-1900) e Freud (1856-1939). Com base em Hegel, estes pensadores articularam a arte, a sociedade e
a história com a vontade de poder, a perfeição do ser e a ideia de inconsciente.
enquanto sinônimo de beleza e de boniteza em termos de prática de ensino-aprendizagem, por isso,
Freire (1996) nos diz que:
Assim, devido a Libras ser uma disciplina existente no currículo de algumas graduações
no contexto da UFPA e por essa instituição possuir o Curso de Licenciatura em Letras Libras / Língua
Portuguesa como segunda língua para Surdos, efetivamos o “Projeto MIL artes - Mostra
Interdisciplinar em Libras e Artes: o processo ensino-aprendizagem da Libras e a formação de
professores”, em que visamos realizar o ensino de Libras aos acadêmicos usuários do Restaurante
Universitário (RU) da UFPA a partir de uma experiência estética.
2 METODOLOGIA
A presente pesquisa tem como foco a pesquisa-ação, pois de acordo com Moreira;
Caleffe (2006, p. 89) “a pesquisa-ação é uma intervenção em pequena escala no mundo real e um
exame muito de perto dos efeitos dessa intervenção”. A pesquisa versa sobre as atividades do
“Projeto MIL artes”, que fez parte da disciplina “Estética da Educação” e foi desenvolvido na data
de 04/02/2016 de 10h as 12h:30min na fila do RU.
Foi exatamente neste horário que realizamos as atividades do Projeto MIL artes entre
os usuários do RU da UFPA, durante esta atividade foi possível percebermos que: a universidade
ainda não conhece o curso de Letras Libras / Língua Portuguesa como segunda língua para Surdos;
ainda há muitos mitos referentes à língua de sinais e ao universo da pessoa Surda; os usuários do
RU demonstraram amplo interesse em aprender Libras.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste tópico iremos detalhar os resultados obtidos com as atividades do “Projeto MIL
artes - Mostra Interdisciplinar em Libras e Artes: o processo ensino-aprendizagem da Libras e a
formação de professores”, sendo que buscaremos discutir estes resultados com os pressupostos
sobre o conceito de estética na formação inicial de futuros professores, assim como os pressupostos
sobre Libras e educação de Surdos.
O Curso de Licenciatura em Letras Libras / Língua Portuguesa (L2) para Surdos, acontece
na modalidade presencial, em turno integral com oito períodos total, com duração mínimo de 4 anos e
máximo de 6; com carga horária total de 3.124 hora (s). O objetivo do curso é realizar a “formação de
educadores competentes em Libras e Língua Portuguesa L2, bem como no que diz respeito aos
aspectos linguísticos das duas línguas e dos meandros socioculturais que as permeiam” (UFPA,
2015, p. 7).
Apesar da UFPA ter um curso específico de LL/LP (L2) percebemos que a maiorias dos
participantes das atividades do Projeto MIL artes não conhecem este curso. Alguns acham que a UFPA
apenas oferta Cursos Livres de Libras ou projetos de extensão nesta área, são poucas as pessoas (no
âmbito do RU) que sabiam que este curso existe na UFPA em forma de licenciatura.8
É preciso que a própria UFPA se sensibilize com esta situação, pois para Amorim
(2007) “o investimento numa educação do sensível acarreta o desenvolvimento de pessoas mais
implicadas na realidade em que vivem, nas relações que estabelecem com os outros, consigo
mesmas e da forma como o fazem” (p. 83). Assim, consideramos que a experiência no RU
proporcionou a construção de um olhar estético mais alargado sobre o contexto da UFPA, para
que os usuários do RU pudessem saber da existência do Curso de LL/LP (L2) e manter contato
com os acadêmicos deste curso.
8
Destacamos que os Cursos Livres são cursos de línguas (inglês, francês, espanhol e alemão) oferecidos pelo Instituto
de Letras e Comunicação da UFPA por meio de um corpo docente qualificado, que tem como objetivo atender a um
público que deseja desenvolver a capacidade básica de comunicação em línguas estrangeiras.
A experiência no RU fez com que percebêssemos que o Curso de LL/LP (L2) não é
visto como um dos cursos superiores considerados de elite, mas acreditamos que o referido curso
precisa tornar-se conhecido e reconhecido no âmbito da própria UFPA e no contexto educacional
amazônico. Afinal, como nos diz Perissé (2014) “eis como nos formaremos esteticamente:
alargando a nossa sensibilidade, optando por uma visão visionária” (p. 56), para que assim muitos
mitos e preconceitos que cerceiam o universo da Libras e da pessoa Surda no âmbito da UFPA e
no âmbito de nosso contexto socioeducacional sejam rompidos.
Pontuamos que as línguas de sinais não são universais, que cada país possui sua própria
língua de sinal e que dentro de um mesmo país essa língua sofre variações linguísticas. Conforme Lima
(2009) esta variação deve ser compreendida como “indicativo das transformações e interações
ocorridas na difusão, aquisição e uso das línguas de sinais por sujeitos que exercem o seu direito à
cidadania, utilizando assim uma língua que atenda às suas especificidades visuoespaciais” (p. 128).
É importante destacar, que as línguas de sinais não são gestos. Quadros; Karnopp
(2004) explicam que “esta concepção ainda faz parte do senso comum” (p. 33) e que é necessário
entender que as línguas de sinais são línguas estruturadas linguisticamente como quaisquer outras
e não uma forma de comunicação inferior à língua oral.
imprescindível que haja a desmistificação dos mitos relacionados à Libras, porque não
se pode esperar que em um ambiente como o RU, assim como em um contexto universitário que
é espaço de formação de professores e outros profissionais, haja a circulação de mitos e
preconceitos relacionados à Libras e à educação de pessoas surdas.
É relevante trabalharmos a experiência estética atrelado ao ensino de Libras, pois “a
experiência estética nos faz perceber a variedade, a multiplicidade, a complexidade, as diferenças,
as muitas verdades que nos rodeiam e solicitam nossa atenção” (PERISSÉ, 2014, p. 90), para que
muitas crenças e preconceitos sobre à Libras e às pessoas surdas não sejam fortemente divulgados
na nossa sociedade.
É importante destacar que o decreto 5.626/2005 assegura o ensino de Libras nos cursos
de formação de professores e torna optativo este ensino nos demais cursos de graduação. Pensamos
que o ideal é que todos os cursos de ensino superior tenham o ensino de Libras, pois é fundamental
considerar a Libras em todas as etapas de aprendizado, para que assim possamos interagir com as
pessoas surdas de forma ética e estética, envolvendo-se com o meio em que o Surdo estar inserido.
REFLEXÕES FINAIS
A estética precisa fazer parte da formação inicial de futuros professores, tendo a arte como
elemento primordial desta formação. Neste sentido, efetivamos o “Projeto MIL artes - Mostra
Interdisciplinar em Libras e Artes: o processo ensino-aprendizagem da Libras e a formação de
professores”, em que visamos realizar o ensino de Libras aos usuários do Restaurante Universitário
(RU) da UFPA.
Com as atividades deste projeto percebemos que a universidade desconhece o Curso de
LL/LP (L2) para Surdos; que ainda existem alguns mitos referentes à língua de sinais e ao universo da
pessoa Surda; mas que os usuários do RU demonstraram amplo interesse em aprender Libras.
Esperamos que o interesse dos usuários do RU, bem como de toda a comunidade
acadêmica da UFPA, se intensifique cada vez mais para aprender a Libras na intenção de interagir com
pessoas Surdas. E esperamos, também, que o estudo em tela destaque a relevância de ensinar a Libras
a partir de uma estética educativa, visando realizar contribuições significativas na formação inicial de
futuros professores do Curso de LL/LP (L2) para Surdos da UFPA.
REFERÊNCIAS
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Estética na Formação em Serviço do Professor de Educação Infantil. São Paulo, 2007. 144 f.
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84.
BRASIL. Lei 10.436 de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10436.htm>.
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da realidade surda. Ed: Parábola. São Paulo, 2009.
OLIVEIRA, Elaine Maria Oliveira de. A estética na educação: a práxis freireana na escola.
Trabalho de Conclusão apresentado, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.
SANTOS, Antônio Carlos Banzato Afonso. Educação Estética e Formação à distância: questões
entrelaçadas. In: SANTOS, Antônio Carlos Banzato Afonso. Educação estética e formação
inicial de professores da educação básica: um estudo hermenêutico do projeto político-
pedagógico do curso de pedagogia, na modalidade de educação a distância. São Paulo, 2011. 188
f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo 2011, p. 58-103.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Projeto Pedagógico Letras Libras / Língua
Portuguesa como segunda língua para Surdos. Belém: Curso de LL / LP (L2), UFPA, ILC,
FALEM, 2015.
A EDUCAÇÃO FÍSICA E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO AO
ALUNO COM SURDOCEGUEIRA
Resumo:
O atendimento a surdocegos existe no Brasil desde meados do século XX, apesar disso, há pouco
conhecimento sobre os procedimentos metodológicos de atuação de professores de Educação
Física (EF) nesta área. Este trabalho objetiva apresentar o Método Co-Ativo de Van Dijk como
uma proposta metodológica na tentativa de sistematizar os conhecimentos da área da
Surdocegueira, evidenciando estratégias didático-metodológicas para professores de EF atuantes
com este segmento. Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica (SEVERINO, 2007)
acerca dos temas pesquisados, valendo-se dos seguintes autores: Soares (2012), Saviani (2011),
Cader-Nascimento (2003; 2010), Frederico (2006), Van Dijk (1968). Concluiu-se nesta pesquisa
que é possível utilizar o Método Co-Ativo de Van Dijk como proposta metodológica para orientar
professores de EF que atuam com alunos surdocegos.
Introdução
9
Professor de Educação Física, efetivo da Secretaria Executiva de Educação do Estado do Pará (SEDUC/PA), na
Modalidade Educação Especial – U.E.E.S. Profº. Astério de Campos. Mestrando do PPGED/UFPA. Membro da
Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física e Esporte e Lazer – LEPEL/UFPA. email:
rafamartins30@yahoo.com.br
10
Professora de Educação Física, efetiva da Secretaria Executiva de Educação do Estado do Pará (SEDUC/PA), na
Modalidade Educação Especial – U.E.E.S. Profº. Astério de Campos. Especialista em LIBRAS. Docente do curso de
Educação Física da Escola Superior Madre Celeste (ESMAC). email: neuzilenemesquita@hotmail.com
professores, o trabalho formativo e de apropriação do conhecimento sistematizado, não se tratando de
um saber fragmentado, mas de um saber universal.
Por isso, este artigo tem como objetivo precípuo apresentar o Método Co-Ativo de
Van Dijk como uma proposta metodológica para o processo de ensino-aprendizagem, na tentativa
de sistematizar os conhecimentos oriundos das duas áreas, para orientar a atuação de professores
de Educação Física que atuam com alunos surdocegos, além da tentativa de superar a fragilidade
de produção científica nas áreas da EF relacionado à Surdocegueria. Utilizou-se como metodologia
para a realização deste trabalho, a pesquisa bibliográfica, valendo – se de artigos, livros,
dissertações e teses, que segundo Severino (2007) “é aquela que se realiza a partir do registro
disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos,
teses etc. Utilizando-se dados ou categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores”.
O Termo surdocegueira e surdocego, foi proposto em 1991, na Itália, onde começou uma
cruzada para conseguir a aceitação da palavra única surdocego, no lugar da palavra
hifenizada “surdo-cego”, sua crença era de que a surdocegueira é uma condição que
apresenta outras dificuldades do que aquelas causadas pela cegueira e pela surdez.
Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas
pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as
dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma
condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo (LAGATI, 1995
apud FREDERICO, 2006).
Além disso, a Surdocegueira, nos estudos atuais, ainda é um tema relativamente novo
na literatura especializada, se comparada a outras deficiências, como Deficiência Física (DF),
Deficiência Auditiva (DA) e Deficiência Visual (DV), há ainda certa escassez de produção
científica para esta área especifica.
11
FREDERICO (2006).
Muitos indivíduos surdocegos possuem outras deficiências associadas, sejam elas
físicas e intelectuais, e possuem ainda, quatro categorias que podem ser agrupadas em surdocegos
adquiridos ou congênitos, que são: indivíduos que eram cegos e se tronaram surdos; indivíduos
que eram surdos e se tornaram cegos; indivíduos que se tornaram surdocegos e indivíduos que
nasceram ou desenvolveram precocemente a Surdocegueira, sendo esta classificada de duas
formas, Surdocegos Congênitos (antes da aquisição da linguagem, seja oral ou gestual) e
Surdocegos Adquiridos (depois da aquisição da linguagem, seja oral ou gestual).
Por esta razão, em decorrência das variações de sua causa, e da maneira como ela pode
se manifestar, há também variações em sua conceituação, assim como em sua terminologia.
Para Maia (2000), a Surdocegueira é uma deficiência única que apresenta perda de
visão e audição, de tal forma que a combinação das duas deficiências impossibilita o uso dos
sentidos de distância.
Pessoas são surdocegas quando apresentam graves deficiências visuais e auditivas que
resultam em problemas de comunicação, informação e mobilidade. O grupo deverá
incluir pessoas com dificuldades severas visuais e auditivas de nascença ou adquiridas na
tenra infância e as que desenvolveram a deficiência na vida adulta (2000).
Por isso, os professores devem a cada passo em sua atuação pedagógica, atualizar-se
para promoverem práticas educativas aos seus alunos, adequando suas atividades, flexibilizando-
as, e valendo-se dos documentos norteadores de sua prática, pois assim, possibilitarão o
acolhimento efetivo dos escolares, como sugere a Declaração de Salamanca (1994),
Porém, para que haja a presença de alunos com deficiência nas aulas de Educação
Física Escolar (EFE), faz-se necessário que os professores tenham qualificação adequada para
saber lidar com as diferenças, seja sensorial, cognitiva e/ou motora/física.
metodológicos que servirão para o desenvolvimento de cada aluno durante as suas aulas,
proporcionando a todos, com ou sem deficiência a participação efetiva durante as aulas.
12
É a área que abrange compreensões de relações interdependentes entre o jogo, o esporte, a ginástica, a dança e a
luta, e outros temas que venham compor a programa de Educação Física, têm como outros problemas sócio-políticos
a ecologia, os papéis sexuais, saúde pública, relações sociais de trabalho, preconceitos sociais, raciais, da
deficiência, da velhice, dentre outros (SOARES et al, 2012, p. 42).
importância de se assumir os conhecimentos da Cultura Corporal como essenciais nessa disciplina,
tendo em vista a construção de um processo de aprendizagem global para os alunos com
deficiência.
Dessa forma, para que a EFE desenvolva seu papel social e político, deve-se abranger
relações interdependentes entre os alunos, envolvendo as mais variadas atividades que compõem
a Cultura Corporal, proporcionando o desenvolvimento cognitivo, sensorial, motor e crítico dos
alunos através dos conteúdos que a compõem.
Vejamos a seguir cada uma das fases da Abordagem Co-Ativa, criada por Van Dijk, e
cada fase, ou momentos pedagógicos elaborados por Gasparin, a partir dos conceitos da PHC de
Saviani, tentando relacionar suas principais características, e suas possíveis aplicações no trabalho
pedagógico de professores de EF.
Em uma aula de EF, onde irão ser trabalhados os conteúdos da Cultura Corporal, tem
de se ter a compreensão e importância deste conteúdo para o aluno em seu meio social, bem como,
efetivar possibilidades de Organização do Trabalho Pedagógico (OTP) e sistematização das aulas,
para que se construa relações humanas com o professor, o aluno e o meio (escola) o qual ambos
estão envolvidos.
Como garante Freitas (2012, p. 94), a Organização do Trabalho Pedagógico, pode ser
entendido de uma maneira ampla, em dois níveis, primeiro como um trabalho pedagógico, que no
presente momento histórico, desenvolve-se predominantemente em sala de aula, ou como uma
organização global do trabalho pedagógico da escola, ou seja, seriam as atividades realizadas pela
escola através de seu projeto pedagógico.
Como afirma Frizzo (2008, p. 5), o trabalho pedagógico faz referência a uma ampla
possibilidade do trabalho desenvolvido pelo professor na escola, articulando com a macroestrutura
sócio-política deste espaço de ensino com sua docência cotidiana.
A Abordagem Co-Ativa, tem como primeira fase a Nutrição, com o objetivo fazer com
que o aluno permita e aceite um mediador, cooperando com as atividades pedagógicas
apresentadas por ele. Durante esta fase, o processo de aproximação deve ser priorizado,
constituindo a base de sentimentos como, segurança e confiança, que determinarão o sucesso da
ação pedagógica, atual e futura (CADER-NASCIMENTO, 2010).
A fase da Nutrição é o contato inicial que o professor de EF estabelece com seu aluno
surdocego, a primeira leitura que o professor faz de seus alunos. É o primeiro momento do trabalho
pedagógico, consiste em ver a realidade e tomar consciência de como ela se coloca no seu todo e
em suas relações com o conteúdo que será desenvolvido no processo.
A segunda fase desenvolvida por Van Dijk é a Ressonância, o objetivo dessa fase é
proporcionar a interação do indivíduo com o outro, introduzindo modalidades alternativas de
comunicação, fazendo-o perceber a influência e os efeitos de seus movimentos no corpo do outro.
Esta atividade é uma continuidade da ressonância, mas acontece com uma separação
física. Os movimentos co-ativos mais funcionais são os que compreendem o uso de
objetos em acontecimentos cotidianos como: comer, limpar a mesa, guardar objetos,
vestir-se com um apoio de mão sobre mão (FREDERICO, 2006).
Esta fase é realizada nos atos docentes e discentes necessários para a construção do
conhecimento. Professor e aluno agem no sentido da efetiva elaboração interpessoal da
aprendizagem, através da apresentação do conteúdo por parte do professor e por meio da ação
intencional dos alunos de se aproximar desse conhecimento.
(...) objetiva propiciar condições para a criança surdocega compreender alguns símbolos
indicativos de atividades, pessoas, situações. Para isso, utiliza-se o objeto de referência,
o qual inicialmente não terá significado para a criança; no entanto, precisa ser introduzido
antes da realização de qualquer atividade ( 2010).
Esta quarta fase caracteriza-se como uma síntese do cotidiano do aluno, confirma sua
nova posição em relação ao conteúdo e à forma de sua construção social e sua reconstrução nas
atividades propostas. O aluno mostra que, de um sincretismo inicial sobre a realidade social do
conteúdo trabalhado, demonstra agora com uma síntese, que é o momento em que ele organiza e
estrutura, em nova forma, seus pensamentos sobre as questões que conduziram seu processo de
aprendizagem.
A quinta fase de Van Dijk é a Imitação, seu objetivo é estimular o aluno na realização
das atividades propostas, com a criação e possibilidades do indivíduo, dos movimentos e ações
realizados pelo professor. Nesta fase também, a criança começa a re-criar os elementos simbólicos
assimilados, para realizar suas necessidades. Difere-se do movimento Co-Ativo, pois na Imitação
o indivíduo reelabora de forma criativa a ação após demonstração do professor, acrescentando ou
omitindo elementos, enquanto no movimento Co-Ativo a ação é simultânea, e não há evocação de
situações já vivenciadas (CADER-NASCIMENTO, 2003).
O por último, a sexta fase de Van Dijk, é o Gesto Natural, a qual representa uma
manifestação da expressão corporal na identificação do objeto, pessoa ou situação. Os Gestos
Naturais podem ser uma forma alternativa de comunicação pré-linguística, e que para desenvolvê-
los, a melhor forma é a integração dos movimentos Co-Ativos e Imitação durante o processo
(FREDERICO, 2006).
Ou seja, esta fase ou momento é a confirmação de que aquilo que o aluno somente
conseguia realizar com ajuda dos outros agora o consegue sozinho, ainda que trabalhando em
grupo. Caracteriza-se como a expressão mais forte de que de fato se apropriou do conteúdo,
aprendeu, e sabe aplicá-lo, é o novo uso social dos conteúdos científicos aprendidos na escola,
durante as aulas.
Considerações Finais
Diante das descrições das Abordagens Metodológicas, percebeu-se uma relação proximal
entre suas características e seus procedimentos metodológicos, na tentativa de aperfeiçoar e qualificar
os conhecimentos referentes aos atendimentos de alunos com Surdocegueira, realizados por
professores de EF. Na realização dessas atividades, o professor de EF deve organizar seu Trabalho
Pedagógico, utilizando as fases e os momentos pedagógicos descritos, fazendo-se necessário a
adequação do ambiente em que se realizarão as atividades, estabelecendo uma rotina diária, variando
os estímulos de acordo com o avanço, entendimento e progressão de cada aluno.
Referências Bibliográficas
FREITAS, Luiz Carlos de. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didática. 11º ed.
Campinas, São Paulo: Papirus, 2012.
FRIZZO, Giovanni Felipe Ernst. Trabalho Pedagógico: conceito central no trato do conhecimento
da pesquisa em educação. Revista Trabalho Necessário, ano. 6, número 6, 2008.
REIS, Adriano de Paiva. Pedagogia Histórico-Crítica e a Educação Física. Editora: UFJF, 2013.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23º ed. São Paulo: Cortez,
2007.
SOARES, Carmen Lúcia et al. Metodologia do Ensino da Educação Física. 2º ed. São Paulo:
Cortez, 2012.
UNESCO. Declaração de Salamanca: princípios, políticas e práticas na área das necessidades
educativas especiais. Disponível em: http://www.mec.gov.br. Acesso em: 19 de mar. 2016.
VAN DIJK, J. Moviment and communication with rubella children. Tradução de Dalva Rosa.
Madrid: Once. In: Conferência na reunião geral anual da organização nacional de cegos da
Espanha. São Paulo, 1968.
A FORMAÇÃO DO DOCENTE NO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO POPULAR PAULO
FREIRE PARA ATUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA
RESUMO
Este trabalho investiga a formação do docente em educação especial Inclusiva no Núcleo de educação
popular Paulo Freire da Universidade do Estado do Pará. A partir da revisão bibliográfica descreve-
se e apresenta as propostas pedagógicas que tem a concepção teórica e metodológica Freireana, que
buscam com elas fundamentar suas práticas pedagógicas A analise dos dados resultantes baseou-se
no paradigma interpretativo com enfoque qualitativo.O estudo mostra a importância da articulação
da teoria e prática no sentido de preparar o acadêmico, para exercer sua profissão nas escolas e nos
espaços onde o mesmo atuará em educação especial inclusiva.No qual concluímos que há um
processo dialético de permanente reflexão-ação sobre o fazer educativo segundo as diretrizes
educacionais Freireanas de uma educação dialógica na formação acadêmica, além de propormos
fazer adaptações que venham atender as novas realidades na base a Matriz curricular do Curso de
Pedagogia (Licenciatura) da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
1. INTRODUÇÃO
1 Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará. Vinculado ao Núcleo de Educação Popular Paulo
Freire-NEP. E-mail: amandapereiramarques@hotmail.com - Eixo Temático:Formação de Professores na Perspectiva da
Educação Inclusiva.
que seguem um modelo em sua maioria padronizaram baseado em “normalidades” que desconsidera
as diferenças.
É cada vez mais presente, nos dias atuais, a discussão da competência docente, a fim de
adquirir não somente conhecimento e qualificação profissional, mas competências que tornem a
pessoa apta a enfrentar inúmeras situações e a trabalhar em equipe, adequando as ações pedagógicas
á diversidade da aprendizagem.
Tendo em vista que o artigo 205 da Constituição Federal de 1988 afirma que:
A Constituição Federal valida todo e qualquer tipo de educação que visa o pleno
desenvolvimento intelectual, moral e social do indivíduo e não distingue em seu discurso a educação
escolar da não-escolar. O ensino não-formal é um campo que não se opõe a educação formal, e sim
complementa a crise da educação escolar. Esta nova forma de ensinar, tem ainda um enorme potencial
a ser explorado, principalmente no que diz respeito à sua capacidade de motivar o aluno para o
aprendizado, valorizando as suas experiências anteriores, de desenvolver sua criatividade,
pensamento crítico e, sobretudo, despertar no indivíduo a vontade de mudar e melhorar a sua
realidade e do mundo em que vive.
Para atuação do pedagogo, é de extrema relevância conhecer novas competências que são
necessárias na formação deste profissional, cujo objetivo maior consiste em desmistificar a questão
da formação em educação especial inclusiva fora de espaços educacionais, além do debate em como
este profissional poderá contribuir para está nova constituição da política educacional.
O docente tem papel fundamental em educação especial inclusiva, criando condições para
aprendizagem, proporcionando uma educação de qualidade, promovendo mudanças atitudinais como
a aceitação das diferenças. Para o decente dar um atendimento de qualidade ao aluno, necessita de
formação adequada na área, recursos, condições físicas e administrativas
Garnica (1997) utilizando-se de ideias de Gadamer nos diz que a formação não pode ser
algo pronto e acabado no qual iremos envolver o formando. A formação deve se comprometer com
um vir-a-ser valorizando potencialidades e plenitudes.
Assim a Matriz Curricular do curso de Ciência da Educação para atender a dinâmica dos
tempos de pós-modernidade precisa propor uma maior interação entre os eixos educativos (ensino,
pesquisa e extensão), pois quando esse processo encontrar o formando lhe possibilite confrontar, e
não se conformar, com as fluidas realidades (BAUMAN, 2007).
O Núcleo de Educação Popular Paulo Freire tem como dinâmica de trabalho a concepção
teórica e metodológica Freireana. O planejamento acontece todas as quintas feiras com objetivo de
organizar atividades pedagógicas decorrentes dos temas geradores surgidos pelos diálogos com as
alunas nas atividades diárias nos grupos de trabalhos nas seguintes linhas de pesquisas: Educação
Freireana e Filosofia,Educação Inclusiva e Diversidade,Educação Popular de Jovens e
Adultos,Educação Popular Infantil e Escolarização Básica e Educação, Desenvolvimento e Ação
Coletiva na Amazônia Rural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil - 1988. São Paulo: Saraiva, 2003.
BRASIL. Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia. Brasília: MEC, 2005. BRASIL.
Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8069/1990.
CURY, Munir. Estatuto da Criança e Adolescente Comentado. São Paulo: Malheiros, 1992.
FRANCO, Abigail Aparecida de Paiva e Melão; MAGDA, Jorge Ribeiro. Diálogos
interdisciplinares: a psicologia e o Serviço Social nas práticas judiciárias. São Paulo: casa do
psicólogo, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1989.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê?. 12ª. ed. São Paulo: Cortez Editora,
2010.
AMAZÔNIA AMAPAENSE: O DESAFIO DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A
CONSTRUÇÃO DE UM AMBIENTE INCLUSIVO NO ANAUERAPUCU
RESUMO
Este estudo a ser desenvolvido é uma proposta de formação continuada para a prática pedagógica
de professores que lecionam em escolas do campo, a partir da perspectiva de educação inclusiva.
A pesquisa tem como objetivo geral construir um plano de formação continuada para a prática
inclusiva do professor, a partir da análise do contexto sócio educacional da escola ribeirinha Foz
do Rio Vila Nova. Para a coleta dos dados, realizaremos entrevistas semiestruturadas, observação
do cotidiano escolar, análise documental, vídeos e a fotografia. Entrevistaremos os alunos, os
professores, o coordenador pedagógico, o diretor da escola e os pais/responsáveis dos alunos.
Objetiva-se como resultado deste estudo provocar nos professores uma reflexão de sua prática, se
está de acordo com a perspectiva de educação inclusiva, bem como, trazer contribuições teóricas
e práticas significativas para os educadores responsáveis pelo processo de inclusão de alunos com
deficiência nas escolas ribeirinhas na Amazônia amapaense.
INTRODUÇÃO
Ao reportar sobre pesquisas na área da educação, pode-se dizer que avançamos em muitos
estudos, porém existem ainda algumas lacunas que precisam ser investigadas. Pois quando se
aborda a problemática referente a inclusão lembra-se muito das escolas urbanas, e a educação do
campo1 fica esquecida, especificamente a educação em escolas ribeirinhas, sobretudo as que se
encontram na Amazônia amapaense, que é o meio em que nasci e no qual atuo como professora
há 16 anos. Este estudo tem grande relevância, pois, de acordo com o censo do IBGE de 2010,
existe mais de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, o que significa que um quarto da
população tem alguma deficiência. Destes, mais de 2 milhões estão em idade escolar, mas apenas
30% estão matriculadas. Lembrando que, somente a matrícula não configura inclusão escolar, é
1
Proposta de educação diferenciada que visa atender às necessidades dos sujeitos que vivem no campo.
Antes conhecida como educação rural, a educação ribeirinha está inserida na educação do campo.
necessário que estes alunos estejam se comunicando, participando de todas as atividades, e
principalmente aprendendo, que é a função primordial da escola.
OBJETIVO GERAL:
A pesquisa tem como objetivo geral construir um plano de formação continuada para a
prática inclusiva do professor, a partir da análise do contexto sócio educacional da escola ribeirinha
Foz do Rio Vila Nova.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
METODOLOGIA
Levando em consideração o interesse por este campo de estudo realizou-se uma pesquisa
qualitativa do tipo estudo de caso na escola ribeirinha Foz do Rio Vila Nova , que está localizada
as margens do rio Vila Nova, situada no Distrito de Anauerapucu, que fica a uma hora de viagem
de barco do município de Santana, no Estado do Amapá, que oferta a educação infantil e os anos
inicias do ensino fundamental.
Para coletar os dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco professores
da sala de aula regular, um professor do AEE e a coordenadora pedagógica da escola, assim como
a observação da estrutura da escola e da prática da professora do AEE e do docente que leciona
para os alunos com deficiência, análise documental, vídeos e a fotografia. A proposta de formação
continuada será discutida e reelaborada com os docentes.
DISCUSSÃO
Durante o estudo bibliográfico foi possível perceber que a humanidade sempre teve reações
variadas em relação as diferenças e consequentemente as pessoas que apresentavam alguma
deficiência, de acordo com Veloso e Maia (2010) passaram 5 mil anos cometendo absurdos entre
eles o extermínio (durou 3.500 anos), omissão (12 séc.), segregação (3 séc.), assistencialismo (170
anos), integração (30 anos) e atualmente estamos vivendo a educação inclusiva, que é pautada em
um ideal que surgiu em 1994 na Declaração de Salamanca, criada na Conferência Mundial sobre
Educação Especial, mas que se consolidou legalmente em alguns países, somente seis anos depois.
A educação inclusiva, há quinze anos é uma perspectiva da educação brasileira, segundo Ainscow
(2004, p. 23).
Werneck (2000 p.62) faz uma analogia interessante desta realidade quando compara o
professor com um maestro ao enfrentar as dificuldades de sua profissão: “Como vai reger sem
partitura uma orquestra desafinada, nem sempre a sensibilidade do maestro, quer dizer, do
professor, foi trabalhada para captar essa harmonia arrojada, mas sua responsabilidade é
fundamental para a inclusão”. É exatamente assim que o professor se sente, quando não tem os
conhecimentos, os recursos indispensáveis e não sabe as estratégias que devem ser utilizadas e
como adaptar o currículo, para que este aluno possa realmente aprender, ou seja, fazer cumprir a
lei (Constituição Federal de 1988) educação de qualidade para todos.
Pode-se afirmar que o primeiro passo a seguir em uma perspectiva de educação inclusiva,
seria realmente entender: o que é inclusão? Ou seja, compreender o que caracteriza uma prática
inclusiva? E como a escola deve se organizar para esta nova concepção de desenvolvimento
humano de respeito às diferenças? Que só é possível através da formação continuada de
professores, que leve em consideração o contexto em que vivem. ALMEIDA (2013,p.12) deixa
bem claro que “ Os processos formativos que focalizam só o professor sem levar em conta o
contexto (a escola) no qual atua estão fadados, via de regra ao insucesso”
O contexto de uma escola ribeirinha é bem diferente do encontrado na área urbana e estas
singularidades devem ser respeitadas durante o processo formativo, que precisa ser construído
junto com os professores. ALMEIDA (2013,p.23) sustenta esta ideia ao afirmar que:
...uma proposta coletiva gestada na escola, para atender à sua singularidade, as suas
necessidades, aos seus recursos contando com o apoio de literatura especializada e da
contribuição da expertise de pessoas de dentro e fora da escola, pode levar a uma
aprendizagem de sucesso para alunos e professores.
Autores como Pletsch e Fontes (2006) afirmam que incluir alunos com necessidades
educativas especiais não se justifica apenas em matricular este aluno em uma escola de ensino
regular, mas é necessário que os professores promovam a participação, comunicação e o
aprendizado, e para atingir esta meta de uma escola inclusiva, se faz imprescindível conhecer suas
necessidades educativas para preparar um ambiente propício para seu desenvolvimento, que
também leve em consideração suas potencialidades.
Neste estudo abordou-se a inclusão em uma escola ribeirinha, que está situada dentro do
contexto da região Norte, na Amazônia Amapaense, onde a diversidade é a principal característica
da região Amazônica. Tal heterogeneidade é explicada por Almeida (2010, p 23) ao afirmar que:
[...] este vasto território é habitado por caboclos, garimpeiros, posseiros, ribeirinhos,
quilombolas, povos indígenas, pescadores, coletores, agricultores rurais, colonos,
imigrantes, atingidos por barragens, dentre outros povos que (re)constroem o espaço
amazônico.
Podem ser considerados como ribeirinhos, as pessoas que habitam as margens dos rios,
dele tirando seu sustento e tendo uma relação dinâmica com a natureza. De acordo com Canto
(2007, p. 18) os ribeirinhos “vivem do extrativismo, principalmente do fruto do açaizeiro, da pesca,
da diversificação da produção em que ocorre a contribuição da agricultura, criação de gado, pesca
e a cultura de autoconsumo e auto sobrevivência”.
A escola Foz do Rio Vila Nova, é considerada ribeirinha, porque a comunidade na qual
está localizada reproduz de maneira simples uma relação de dependência com a natureza, retirando
dela o açaí e o peixe para sua sobrevivência. Utiliza o rio como via de transporte para a cidade,
para comercialização de produtos a também para o acesso à escola. As suas águas servem para o
consumo, higiene pessoal e uso doméstico. O rio e a mata também são habitat dos seres encantados,
que são temidos e respeitados por eles.
Esses costumes são necessários a sua sobrevivência, são saberes passados de geração a
geração, que devem ser respeitados e dialogados na escola, para que o professor evidencie sua
importância, contextualizando com os novos conhecimentos adquiridos no currículo escolar. Os
instrumentos legais utilizados na escola, são elaborados para atender as necessidades das escolas
urbanas, que não são as mesmas especificidades de uma escola ribeirinha. No entanto, a escola
desenvolve projetos pedagógicos nos quais a realidade ribeirinha é evidenciada e respeitada de
certa forma, de acordo com a entrevistada CI.2 (coordenadora) que afirma:
O projeto sustentabilidade em que os alunos cuidam da horta escolar, que eles conhecem
muito bem por já fazer parte do seu dia a dia. Também o projeto desfile fluvial que
acontece em 7 de setembro, em que em vez de desfilar em ruas (não existe na realidade
ribeirinha) eles desfilam em barcos, catraias, rabeta, voadeira e lanchas e toda a
comunidade participa.
O professor da sala de aula regular (turma em que o aluno está matriculado) informou que
durante sua formação, enquanto docente, nenhuma disciplina abordou o assunto inclusão, nem
participou de projetos relacionados ao tema; mas o fato de estar disposto a conhecer este processo
inclusivo e principalmente querer desenvolver um bom trabalho, apesar de ser um professor com
19 anos de experiência procura tirar suas dúvidas e planeja a partir da necessidade do aluno, isso
demonstra que suas atitudes são propícias a inclusão.
É muito bonito ver a parceria do professor D.3 e da professora T.1, eles planejam juntos,
pensam nas melhores estratégias para desenvolver as atividades. Como professora do AEE
ela dá todo o apoio para ele. Estou aprendendo muito com essa relação profissional deles
dois.
Na escola Foz do Rio Vila Nova, a professora T.1 é a responsável em realizar esta missão
mencionada acima, e que desempenha com muita eficiência, ela é quem faz o trabalho de
esclarecer as dúvidas dos professores da escola em relação ao processo inclusivo, e trabalha junto
com o professor D.3. Durante a observação na pesquisa ficou evidente que eles desenvolvem um
trabalho com muita competência que está surtindo resultados positivos e fez com que os
professores abraçassem e acreditassem nesta causa.
Quando questionados se acreditavam que a inclusão poderia dar certo, 100% dos
entrevistados responderam que sim e ao descrever o trabalho pedagógico em relação ao processo
inclusivo de sua escola, é relatado de maneira positiva: como um trabalho á rduo, feito com
responsabilidade, em conjunto, em prol do aluno para uma educação eficaz e reconhecem a
importância do trabalho do professor D.3 e da professora T.1, que afirma:
Me identifico muito com o método lúdico, desenvolvo junto com o aluno jogos e
atividades para trabalhar, por exemplo, matemática, eu começo no quadro, mas explicou
A professora também menciona uma das dificuldades enfrentadas, que conseguiu superar
com muito esforço e dedicação, no início era um trabalho solitário, mas quando o governo federal
criou a sala de recursos multifuncionais e equipou com materiais próprios para auxiliar no processo
de inclusão, o desenvolvimento do trabalho e os resultados melhoraram. A professora explica:
Quando cheguei na escola, não havia material pedagógico, para trabalhar com aluno
especial, eu criei os materiais e os jogos, construí junto com o aluno, assim ele aprende
mais, pegamos figuras de revistas que ele escolheu, a gente cortava e montava um quebra-
cabeça, também com copinho de iogurte, caixa de leite, tampa de garrafa, montávamos
joguinhos para trabalhar quantidade. Agora, com o recurso que chegou do MEC, temos
computador, livros, historinhas, jogos, materiais diversos, estamos bem ‘supridos’.
(Professora T.1)
Esta é uma prova de que a sala de recursos multifuncional, junto com um professor do AEE
comprometido com seu trabalho, pode ajudar muito no desenvolvimento do aluno e,
consequentemente, para o resultado positivo do processo inclusivo, que exige que o aluno tenha
suas necessidades atendidas e principalmente construa o conhecimento. Que é reafirmado por
Alonso (2011, p. 4) ao explicar que “É preciso redimensionar o conteúdo com relação às formas
de exposição, flexibilizar o tempo para a realização das atividades, usar estratégias diversificadas
e mostrar exemplos concretos para ilustrar ideias mais complexas”. Quanto ao saber popular local
a professora informou que sempre inicia a explicação do assunto a partir do que os alunos sabem,
e ao dar continuidade ao novo conhecimento, faz mais sentido para eles. Discutem sobre a
linguagem local, o trabalho na floresta. Os alunos também ensinam muito para a professora os
seus conhecimentos empíricos que são necessários para quem vive em um contexto ribeirinho é
fundamental, ela explica:
Os alunos e a comunidade acrescentaram muito ao meu saber, aprendi sobre algumas
doenças, eles me ensinaram remédios e cuidados que devem ser tomados. Lá tem um
carapanã de quarenta dias, que eu desconhecia. A comunidade acredita em cobra grande,
mãe do mato, festa de santo, pedir licença para entrar na mata, esses mitos locais, é a
cultura deles e tem que se respeitar e quando possível acrescentar esse saberes no
conteúdo. Por exemplo, na disciplina ciências, vamos falar de água, então falamos a
importância de cuidar do rio e da floresta, não poluir e preservar. (Professora T.1)
quadro e enxergar, mas a família diz que é só uma coceira no olho e não faz nada”. (Professora
T.1)
Pelo baixo poder aquisitivo das famílias dos alunos, os pais não têm condições financeiras
de comprar material escolar, e por não serem alfabetizados, não conseguem ajudar a resolver as
tarefas escolares que seus filhos levam para casa. Para a escola é até comp reensível, mas a
participação da família é importante neste processo, “eles precisam realmente acreditar e colaborar
para que a inclusão possa dar certo, é um trabalho em equipe, a escola está fazendo sua parte”.
(Entrevistada I.2)
Em relação as famílias dos alunos sem deficiência, quase todos os entrevistados afirmaram
que uma das barreiras é a maneira como eles tratam e acabam ensinando aos seus filhos a ter
atitudes de preconceito que acabam excluindo o aluno, assim é necessário melhorar a concepção
das famílias em relação ao aluno especial, a respeito do comportamento das famílias e dos demais
alunos a coordenadora afirma:
Uma das maiores dificuldades da escola é a família, que passa uma ideia errada para a
criança, que ele é doente, que não pode ficar perto, tentamos desconstruir aos poucos essa
concepção errada, que apesar de não querermos afirmar acaba sendo uma forma de
preconceito. (Entrevistada I.2)
Ao tratar sobre a inclusão e qual o caminho a seguir para conquistar esse ideal na escola
Foz do Rio Vila Nova, as respostas foram voltadas para as atitudes da comunidade, eles acreditam
que enquanto não mudar a consciência das famílias, seu comportamento e de seus filhos em relação
ao aluno especial, continuará sendo um trabalho que não irá avançar, pois a inclusão não depende
só da escola, mas é preciso que todos participem, é responsabilidade da sociedade também. Como
desabafou a professora:
Acredito que a inclusão pode dar certo, porque estamos lutando para isso, estudando muito, correndo atrás,
fazendo a nossa parte, mas o êxito depende da sociedade em geral. A minha angustia é a falta de respeito e o
preconceito. Desejo que a sociedade possa olhar o ser humano como ele é, sem achar que ele é diferente, sem
julgar e ver como ele é igual. (Professora T.1)
O melhor argumento para este problema ainda é usar a lei, e tentar explicar para os pais que é um
direito do aluno especial aprender junto com os demais alunos. Tudo que é novo sempre assusta, da
mesma forma que as mudanças causam certas resistências, mas que devem ser discutidas, a partir
da argumentação daqueles que resistem, buscando causar a reflexão dos que não aceitam este processo.
Essa barreira causada pela falta de conhecimento é uma dificuldade, que precisa ser transposta a
partir de esclarecimentos e diálogo na escola, com toda a comunidade escolar, através de cursos, oficinas,
debates, palestras, seminários e ações que melhorem seu pensamento e atitudes em relação ao aluno
especial. Cabe a escola esta missão. Segundo Santos (2006, p.05) para a relação escola x família dar
certo depende:
No que cabe às relações entre família e escola, torna-se imperativo assumir um compromisso com a
reciprocidade. De um lado, a família, com sua vivência e sabedoria prática a respeito de seus filhos. De
outro, a escola com sua convivência e sabedoria não menos prática a respeito de seus alunos. Dito de
outra forma: cabe às duas instituições mais básicas das sociedades o movimento de aproximação num
plano mais horizontal, de distribuição mais igualitária e de responsabilidades.
Werneck (2000 p. 55) discorre sobre a importância do convívio inclusivo, “Quanto mais a criança
interage espontaneamente com situações diferenciadas, mais ela adquirirá o genuíno conhecimento, fica
fácil entender que a segregação não é prejudicial apenas para o aluno com deficiência, a segregação
prejudica a todos”. A inclusão permite que os alunos tenham oportunidades de conhecer e vivenciar a
existência humana com todas suas dimensões, com os desafios e superações que fazem parte da vida e
acrescentam a suas experiências e consequentemente a sua formação, tornando-os mais humanos.
É o que falta para vencer esta barreira, a família e a escola se aproximarem de maneira harmônica,
e compromissada, promovendo encontros de formação, onde a instituição deve organizar um momento
de conversa para ouvir a comunidade e explicar a importância e o objetivo de promover a inclusão, e que
o convívio entre os alunos “com deficiência” e “sem deficiência” beneficia ambos os lados, para
inclusiva alcançar o sucesso que se almeja, depende da realização dessas ações, causando uma reflexão
para que todos envolvidos possam respeitar e principalmente assumir este compromisso coma educação
inclusiva.
CONCLUSÃO
Este estudo deixou claro que é um desafio promover a inclusão em escolas ribeirinhas devido
as barreiras dificultarem este processo de se consolidar plenamente, que foram encontradas na falta de
conhecimento da comunidade escolar, ou seja, na falta de apoio nos problemas consequentes da
deficiência, pois os pais não se responsabilizam por seu filho, quanto a ajuda nas atividades escolares ou
de leva-lo para fazer os exames necessários para sua saúde.
As barreiras também estão presentes na maneira como as famílias dos alunos sem deficiência
educam seus filhos a serem preconceituosos, agindo com descriminação e desrespeito em relação ao
aluno especial. O que foi elencado durante a entrevista como um “desafio” a ser alcançado, seria vencer
a resistência da comunidade em não querer mudar seu pensamento e atitude de desrespeito ao aluno
especial, um trabalho que exige um planejamento de formação para a comunidade, afim de que
entendam o que é educação inclusiva, qual sua importância e quais benefícios pode trazer para todos na
escola.
Sabe-se que a inclusão é um processo, que perdura por mais de quinze anos, e como processo não
se ensina, vive-se, cada escola vai passar por uma experiência inclusiva de modo e tempo distintos. Isso
depende do interesse dos envolvidos, da realidade da escola, das necessidades dos alunos, da capacitação
dos professores para rever sua prática inclusiva, o investimento em materiais didáticos, mobiliários e
estrutura física, esses quesitos são importantes para a inclusão se consolidar. Em termos de educação
inclusiva, a Amazônia Amapaense precisa de uma reflexão mais aprofundada, que discuta como educar
alunos especiais em meio à riqueza animal, vegetal e mineral. Uma realidade social cheia de crendices
e costumes próprios do norte, que precisa ser respeitado, pois pouco se conhece dessas comunidades e
sua diversidade, que vivem afastadas da cidade e que não podem simplesmente reproduzir a educação
urbana, sem levar em consideração suas especificidades amazônidas e suas necessidades educacionais
na perspectiva de uma escola inclusiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza, organizadoras. O
coordenador pedagógico e a formação centrada na escola. São Paulo: edições Loyola, 2013
BRASIL. Ministério da educação. Constituição Federal de 1988. Disponível
em:<http://www.mec.gov.br>. Acesso: 19 de fev. 2014.
ALONSO, Daniela: O que é deficiência intelectual. Revista Nova escola. Texto de: Ricardo
Ampudia., publicado em agosto de 2011. http://revistaescola.abril. com.br/formacao/deficiencia-
intelectual-inclusao-636414.shtml.
CANTO, O. do. Várzea e varzeiros: a vida de um lugar no Baixo Amazonas. Belém: MPEG,
2007.
PLETSCH, Márcia. D.; FONTES, Rejane. de S. A inclusão escolar de alunos com necessidades
especiais: diretrizes, práticas e resultados de uma experiência brasileira. Revista Educar Jalisco.
México, n. 37, p. 87-97, 2006.
SANTOS, Monica Pereira dos. A inclusão e as relações entre a família e a escola. Artigo
publicado disponível em <http://www.lapeade.com.br/publicacoes
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acesso em: 30/03/2015
SOARES, Carminha. A Inclusão Social e a Mídia: um único olhar. São Paulo: Cortez, 2009.
VELOSO, Éden; MAIA FILHO, Valdeci. Aprendendo Libras com Eficiência e Rapidez. .ed.
Paraná: Mãos Sinais, 2013.
WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva, 2 ed. Rio de Janeiro:
WVA, 2000.
A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NAS ESCOLAS INSERIDAS NO
PROJETO DE ASSENTAMENTO DO UATUMÃ
Resumo:
Falar sobre Educação do Campo e Educação Especial nos remete nas duas categorias ao
processo de inclusão, no sentido de que a escola precisa ser para todos, mas esse todo não é
homogêneo e que no espaço escolar há diferenças de cor, raça, alunos com deficiência, alunos sem
deficiência, lutas, emancipação, direitos e deveres. Não que a escola seja a única responsável,
mas que ela seja um espaço propiciador e problematizador de realidades. Mas para que isso
aconteça é necessária à busca por infraestrutura adequada que atenda a todos, recursos didáticos,
aperfeiçoamento dos professores e vontade de fazer acontecer à inclusão. As escolas do Projeto
de Assentamento Uatumã, tem em seus desafios a missão de oferecer educação de qualidade a seus
alunos deficientes ou não, buscar se adequar a realidade de seus discentes e procurar oferecer da
melhor forma a inclusão destes no ambiente escolar e na sociedade. Como falamos, são desafios,
que todos precisam assumir, seja a gestão, seja os professores, seja a família, sejam os alunos,
todos em busca de melhoria na qualidade de vida de seus educandos. Por que não basta a escola,
mas o resultado do aprendizado desta e a inclusão na sociedade.
Palavra chave: Educação do Campo; Educação Especial; Inclusão.
INTRODUÇÃO
seus discentes, possa também exercer essa autonomia no momento em que tem a possibilidade
de contextualizar seu currículo e adequar a sua realidade, mas não o faz prendendo-se muitas vezes
a mero discurso demagógico. Dessa forma, procuramos Conhecer a realidade das escolas do
projeto de assentamento Uatumã na ótica da Educação Inclusiva, no sentido da acessibilidade tanto
para alunos deficientes quando para os nãos deficientes em que os mesmos de acordo com suas
especificidades possam sentir-se inclusos e não necessite se deslocar para a zona urbana para
ter uma educação de qualidade. Nesse sentido, como promover uma educação na perspectiva
da educação inclusiva nas escolas do campo?
Diante disso procuramos descrever a estrutura física das escolas do projeto de assentamento
à luz da acessibilidade, além de analisar os desafios enfrentados pelos alunos, filhos de
assentados, para ter uma educação na perspectiva inclusiva e perceber a importância da relação
família-escola nesse processo.
Para dar conta desses objetivos, lançamos mão da pesquisa descritiva bibliográfica de
campo, onde para coleta de dados utilizamos a técnica da entrevista semiestruturada com
professores efetivos das escolas do projeto de assentamento, alunos com deficiência e sem
deficiência, e pais de alunos entrevistados. Pesquisa essa embasada na corrente de pensamento
da dialética, pois compreende o estudo das relações de reciprocidade e conflito entre escola,
professor e família no processo de inclusão.
As escolas do campo são caracterizadas por serem espaços flexíveis, principalmente no
que se refere a parâmetros da regionalidade, porém o compromisso com o educando exige uma
metodologia inovadora e uma abordagem que favoreça a aprendizagem.
Na perspectiva da educação inclusiva precisamos implementar condições nos espaços
educacionais, viabilizando o acesso, dos alunos com deficiência, trabalhar as diferenças e crias
possibilidades para um cenário de respeito e equidade social.
As escolas do projeto de Assentamento Uatumã perpassa por todos os âmbitos, desde a
chegada dos alunos, até a infraestrutura em que se encontra a escola, a qual deve reduzir ao máximo
a dependência do aluno com deficiência fazendo com que ele alcance autonomia.
O processo de inclusão pressupõe que a escola é um espaço para todos, pois a escola,
instituição que promove a escolarização desses educandos, visa romper paradigmas contrários a
esse processo.
A interface da educação especial na educação indígena, do campo e quilombola deve
assegurar que os recursos, serviços e atendimento educacional especializado estejam
presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais
desse grupo. (BRASIL, 2008, p.17)
3
ela vai sendo construída como um lugar onde também pode acontecer a formação do sujeito.
(1997, p.20)
Com o passar do tempo, muitas lutas, principalmente de movimentos sociais, veem se
delineando em torno desse questionamento, afinal, a escola passa a ter um papel importantíssimo
para o fomento da inclusão na sociedade, ou exclusão, no momento em que se homogenia os
seus discentes e não se atenda as peculiaridades e significações que o conhecimento possa interferir
na vida do educando.
Por uma Educação Básica do Campo, programa que vem acontecendo desde meado da
década de 90, muito vem sendo discutido sobre a Educação do Campo não ficar à margem da
realidade dos campesinos, assentados, quilombolas, mas junto com eles construir um espaço
educativo de criação e luta por qualidade de vida no campo, visto muitas vezes como atrasado ou
campo que só está a espera de urbanização, questão de tempo, situação provisória.
Neste caso, as escolas inseridas no projeto de assentamento Uatumã, tem um público de
discentes voltados para a realidade do campo, são em maioria filhos de agricultores, vivem nas
sedes das comunidades onde possuem mais acesso ao posto de saúde, escola, telefones,
mercadinhos, outros preferem morar nos lotes agrícolas onde para terem acessos e o direito de ir
e vir necessitam utilizar ramais para poder usufruir desses serviços sejam na sede da
comunidade, ou na sede do município, ramais esses muitas vezes que dificultam a acessibilidade
em determinados períodos do ano, como os de chuva, em que praticamente em alguns casos os
alunos ficam impossibilitados de sair ou entrar em seus lotes, dificultando seu acesso a escola,
ocasionando faltas e até desmotivação de continuar os estudos, onde muitas vezes a escola não
entende essa problemática e está muito preocupada em só repassar seus conhecimentos. Daí o fator
acessibilidade e inclusão por parte dos alunos não ser algo que chegue da mesma forma e no
mesmo nível nas escolas do projeto de assentamento.
A flexibilidade é fator primordial das escolas de campo, uma vez que o urbano não pode
servir como referência de ensino nos projetos de assentamentos, e isso requer compromisso com
o educando, com o eixo central da escola do campo e com a metodologia utilizada na troca de
conhecimentos existente entre professor-aluno e comunidade. A acessibilidade e a inclusão
começam daí, não é só no momento em que atravessam o portão da escola, mas deste o momento
em que a oportunidade de se chegar à escola é possível, ou até mesmo a escola chegar até o
aluno em algumas situações.
A escola do projeto de assentamento acessível deve olhar para o sujeito do campo, a
educação deve dar oportunidade de emancipação da criatividade inocente à criatividade crítica,
5
dar ênfase a leitura de mundo que precede a leitura da palavra e ensinar o pensar certo (FREIRE,
1996) no sentido de sair do conhecimento do livro e associar aquele conhecimento com os aspectos
de vivencia do discente trazendo do conhecimento de livro a significação para atuação na vida
dos alunos. A escola está sendo acessível e inclusiva quando não nega as singularidades dos seus
educandos, quando não os trata homogeneamente e quando passa a olhar os mesmos de maneira a
entender e estudar metodologias que favoreça o aprendizado de acordo com as necessidades de
cada um.
A inclusão em escolas de projeto de assentamento trata-se deste a chegada desse aluno
até a escola e a infraestrutura da mesma a proporcionar autonomia e condições de locomoção
para todos que ali necessitem utilizá-la, sejam aqueles com mobilidade reduzida, a saber, gestantes,
lactantes, idosos, dificuldades de coordenação motora e deficiente no geral, sejam deficientes
físicos, cegos, surdos, intelectuais e etc. A Lei da Inclusão afirma que:
Art. 2. Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreira, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas. (p, 1)
A educação inclusiva tem sido palco de grandes discussões desde década de 90, seu
conceito surge a partir de uma visão ampla de educação e desbrava muitos preconceitos desde essa
década. A Declaração de Salamanca (1994) é um marco histórico na construção do processo de
inclusão.
Esse processo tem crescido gradativamente, frente aos desafios social, culturais e históricos
vivenciados por muitos deficientes, assim como pelos seus familiares, pois nessa
6
caminhada longa e árdua, paradigmas são quebrados, conceitos são repensados e reconstruídos e
nessa proposta de promover uma educação na perspectiva inclusiva temos que nos embasar em
conceitos fundamentais como democracia, igualdade, equidade e alteridade.
A educação inclusiva vem sendo conceituada como um processo de educar
conjuntamente alunos com deficiência e sem deficiência em uma classe comum, todavia são
necessárias mudanças no âmbito escolar quanto à organização para que se possam atender os
alunos respeitando as diferenças individuais e valorizando a diversidade como forma de
enriquecimento no ambiente escolar. É importante ultrapassar barreiras e acreditar que a escola é
um espaço para todos, crer em uma nova abordagem, sobre a ótica da escola inclusiva, deste
modo os benefícios são para todos os envolvidos no processo, e a sociedade se inova frente a
valores e ao respeito deixando longe o preconceito e a indiferença.
A inclusão tem por base a Declaração dos Direitos Humanos e está fundamentada no Art.
5 da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza
[...]”, com isso o indivíduo deficiente tem a garantia de sua inserção no m eio social,
principalmente no que tange a escola.
Considerando a escola, um espaço de transformação social, a inclusão não significa uma
mera transferência de espaço dos indivíduos deficientes de uma classe especial para uma sala de
ensino regular como forma de mascarar a exclusão, mas que essa transformação transpasse os
muros da escola e possam chegar aos mais longínquos espaços e esferas, que se desenvolvam
políticas públicas que promova e garanta o direito a inclusão e oferte apoio a quem possa necessitar
quando o seu direito vier a ser negado.
Muito se espera de um processo de inclusão escolar, e não apenas escolar, pois quando se
concebe uma educação inclusiva como construção coletiva pensando em uma escola de
qualidade para todos, seus alicerces fortalecem a sociedade e a encaminha a princípios como
justiça, igualdade e solidariedade.
Na educação inclusiva, o professor precisa ser preparado para atuar frente às diferenças, a
particularidade e a diversidade, levando sempre em consideração que o aluno interage com o
meio pensando a sua maneira, construindo possibilidades e conhecendo seus limites. Fonseca
(1995), é preciso preparar todos os professores, para se obter sucesso na inclusão, por meio de
um processo de inserção progressiva.
Vale ressaltar que esse progresso, partindo da formação dos professores poderá continuar
se for dado o suporte necessário no tocante a recursos pedagógicos, subsídios voltados para a
7
adaptação curricular, orientação eficiente nesse processo de mudança e para a busca de novas
aquisições de competências.
Todavia sabe-se que o Plano Nacional de Educação (10.172/01) inclina-se ao
oferecimento de formação continuada aos professores que estão em exercício, cujo foc o dispõe
capacitá-los para educação inclusiva.
A formação especializada constitui uma problemática de destaque, pois ainda há um
número reduzido de professores com formação adequada/específica para trabalhar com essa
clientela, com isso se tem um desafio para a implantação de políticas que resguarde o direito do
aluno. Conforme a LDB n˚9394/96:
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
conviver com as diferenças. (LACERDA, 2006, p.05). Com isso, em face de atual política da
educação na perspectiva inclusiva e da realidade vivenciada nas escolas do campo temos o
desafio de desbravar caminhos e atender a diversidade de alunos que chegam à escola, visando
oferecer sempre uma educação de qualidade e emancipadora.
Essa nova premissa leva a escola inclusiva a um desafio muito grande, sendo necessário
ultrapassar grandes barreiras, buscar novos caminhos, integrar família e comunidade
para que todos se fortaleçam construindo realmente uma escola de qualidade para todos.
(ANDRADE, 2007, p. 46)
[...] o propósito é conceber uma educação básica do campo, voltada aos interesses e ao
desenvolvimento sociocultural e econômico dos povos que habitam e trabalham no
campo, atendendo às suas diferenças históricas e culturais para que vivam com
dignidade e para que, organizados, resistam contra a exclusão, ou seja, este do campo tem
o sentido do pluralismo das ideias e das concepções pedagógicas. (KOLLING; NERY;
MOLINA, 1999, p. 28-29)
Cabe à educação preparar quadros, criar mecanismos, definir e aplicar estratégias para a
consecução de medidas que garantam a preparação e a consolidação dos fundamentos
do trabalho e das tecnologias produtivas na direção dos horizontes apontados e
demandados pelo próprio movimento social do campo. (2004, p. 14)
Resultados e Discussão
Conhecer a realidade das escolas do projeto de assentamento Uatumã na ótica da Educação Inclusiva
nos trouxe algumas inquietações no sentido dialético entre a acessibilidade dos alunos em poder chegar à
escola, a mobilidade dos mesmos dentro do espaço escolar e de fato a inclusão dos mesmos no ambiente
educacional formal.
Aos nossos entrevistados quando perguntados sobre a infraestrutura e acolhimento para os alunos
com deficiência nas escolas do projeto de assentamento Uatumã, obtivemos as seguintes respostas:
10
Mãe A- A escola foi muito importante no processo de acolhimento do meu filho, ele bem
tratado, sempre teve o apoio e compreensão de todos os professores e, a estrutura física
da escola não afetou seu processo de aprendizagem não. Houve um ano que veio uma
professora especialista para dar aula aqui na comunidade para atender alunos com
deficiência, com essa sim ele teve dificuldades. (Escola Hugo Castelo Branco)
Mãe B – Meu marido não queria que meu filho hoje com nove anos fosse pra escola,
tinha medo que malinassem dele e que ele fosse mau tratado por precisar de cuidados em
todos os sentidos, fiquei viúva e tive a iniciativa e a coragem de matricular ele. (Escola
Marcos Freire)
Professor A- Eu penso que a escola não está preparada fisicamente para receber o
aluno com deficiência, seja ela qualquer tipo de deficiência. Primeiro o espaço físico
inadequado, segundo nós não temos muita experiência e nem orientação sobre esses
alunos. Eles chegam à escola e nós que temos que procurar fazer da melhor maneira
possível, muitas vezes nos não sabemos como. Então eu vejo que a escola tem que se
preparar física e humanamente para trabalhar com todos. E o nosso espaço físico não
tem nenhum contexto com a pessoa com deficiência, o espaço é limitado e nos atendemos
muitas crianças com deficiência. (Escola Hugo Castelo Branco)
Nas falas o termo infraestrutura se funde com o contato com o professor, que tem papel
extremamente importante no processo de inclusão, pois só a infraestrutura física não basta, e
nem também só o conhecimento técnico. Sentimos sim a necessidade de trabalhar o processo de
inclusão, pois este contempla um olhar para a turma e não só para o aluno com deficiência.
Os dados obtidos nos trouxe indagações: Será se a escola tiver toda a estrutura física necessária
estaria sendo inclusiva? Ou, tendo um professor especialista na área e infraestrutura estaria sendo também
11
inclusiva? Estamos muito no físico, no técnico, não que isso não baste, alias é de extrema importância,
mas também não é tudo, no momento que a inclusão envolve respeito as diferenças, apoio da família e
compromisso social do educador e da escola, condições essas que não podem prender -se a questão
material mas também subjetiva.
Quando perguntados sobre os desafios enfrentados pelos alunos, filhos de assentados, para
ter uma educação na perspectiva inclusiva, tivemos os seguintes dados:
Professor B – O desafio encontrado pelos alunos dos ramais são o transporte, que em dias
de chuva dificultam o acesso e no caso dos deficientes, o principal desafio são encontrados
pelos alunos surdos, pois passam anos e mais anos e os mesmos não saem das cópias de
textos porém sem aprendizados.(Escola Ministro Marcos Freire)
Mãe D- Quanto a minha visão da relação família/escola, ainda está deixando a desejar,
precisamos de uma gestão autônoma, uma gestão que decida, que tenha postura, que dê
valor a esse aluno, que valorize a família que busque conhecer de onde esse aluno vem,
até chegar à escola, às vezes esse aluno acorda de madrugada, vem no ônibus, chega à
escola não é recebido por ninguém, ficar a desejar, não tem pessoas com compromisso
para recebe-los na escolar, a partir do momento em que chegar esse aluno fica solto até
o momento da aula. Nós temos bastantes ramais com dificuldade de acesso o aluno sai
de sua casa muito cedo e chega à escola e não encontra ninguém para recebê-lo, e isso
complica muito a vida desse aluno. (Escola Hugo Castelo Branco)
Professor A- Eu creio que os pais precisam estar mais presentes na vida escolar dos filhos,
pois teve casos assim de eu conversar com os pais e os pais não aceitarem que o
filho pode melhorar, inclusive cheguei a dar exemplo da minha filha que teve problemas
na perna no pé e teve por longa data que usar botas ortopédicas, gesso ainda bebê e
hoje está aí, se desloca sem dificuldades. Mesmo com apoio do SUS. O pai tem que
saber que não é só deixar o filho na escola e pronto, que assim ele está incluindo que
não é desse jeito, ele tem que ver se o filho está aprendendo. (Escola Hugo Castelo
Branco)
Professor B – Em relação ao apoio familiar ainda não tive dificuldade nessa relação,
já trabalho há muito tempo na escola e os alunos que eu detectei que tinham alguma
deficiência pedi para os pais levarem para consultas e verificarem a possibilidade, hoje
esses alunos são acompanhados e medicados. (Escola Marcos Freire)
Nas falas percebemos uma disparidade quanto à relação família-escola entre as duas
escolas pesquisadas o que nos dar a entender que essa relação parte de uma perspectiva de uma
gestão democrática e o modo como é conduzido essa relação, onde os pais se sintam
co - responsáveis ou não.
CONCLUSÃO
A Escola do Campo na perspectiva da inclusão pode ser resumida dentro do Art. 205 de
nossa Constituição que fala sobre uma Educação pautada na correlação de responsabilidade de
toda sociedade deste sua legalidade a sua aplicabilidade garantindo assim sua legitimidade
enquanto função social de extrema importância.
REFERENCIAS
ANDRADE, Joelise Mascarello de. Teoria e Prática da Educação Especial. – Manaus:
EUA Edições, 2007.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
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em 03 de mar.2013.
. Coordenadoria nacional para Integração da Pessoa com Deficiência. Declaração
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. Resolução n. 2 de 28 de abril de 2008. Regulamenta a lei n˚9.131/1995, dispõe
sobre as Diretrizes Complementares Normas e Princípios para o Desenvolvimento de
Políticas Públicas de Atendimento da Educação Básica do Campo. Brasília, 28 de Abr. 2008.
KOLLING, Edgar Jorge; NERY, Israel José; MOLINA, Mônica Castagna. Por uma
educação básica do campo: memórias. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1999. v.
1
LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. A inclusão escolar de alunos surdos: O que dizem
alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Cad. Cedes, Campinas, vol.
26 maio/ago. 2006.
LOPES, Ana Maria; FERREIRA, Eudson de Castro. Tybisirá: educação do campo
e visibilidade social. Brasília: Idéa, 2004.
AS EXPECTATIVAS DAS MÃES E DA PROFESSORA PARA O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
Danieli da Silva Almeida14
Emanoel Belfor de Freitas15
Leoziane Pires da Costa16
Michelle Karoline Pereira da Silva17
Universidade Federal Do Amapá - UNIFAP
Eixo Temático: Ensino Fundamental e Educação Especial
RESUMO
O presente trabalho aborda sobre as expectativas das mães e da professora para o processo de
aprendizagem de alunos com transtorno do espectro autista, cuja base teórica é a Sócio-Histórica
de Vygotsky. A pesquisa foi realizada em uma escola da rede municipal de Ensino Fundamental
de Macapá. Os resultados dessa pesquisa indicam que a relação do currículo com os conteúdos
oferecidos e exigidos para os alunos com TEA nem sempre proporciona um aprendizado
satisfatório para essas crianças. Assim, é comum uma mudança nas expectativas iniciais tanto das
mães quanto da professora em relação à aprendizagem dos alunos com TEA. Isso é solidificado
por fatores como a falta de condições estruturais; ausência de uma equipe multidisciplinar para
auxiliar o acompanhamento do aluno; a ausência de mediador para o acompanhamento diário dos
alunos na sala de aula; a utilização de uma metodologia ainda tradicional pela professora, em que
desconsidera a diversidade da turma e as potencialidades de seu alunado com TEA o que limita o
desenvolvimento de habilidades cognitivas do plano das funções psicológicas superiores.
INTRODUÇÃO
14
Estudante de pós-graduação. Email: Estudante de pós-graduação sobre autismo-
Email:danny.almeidatsb@gmail.com
15
Pós-graduado em Educação Especial e Inclusiva. Email:emanoel_belfor@hotmail.com
16
Pós-graduada em Educação Especial e Inclusiva. Email:anny.costa88@hotmail.com
17
Estudante do curso de pós-graduação Lato Sensu em Política Educacional da Universidade Federal do Amapá –
Unifap. Email: michellesilvam12@gmail.com
Assim, a mesma pôde vivenciar o processo de ensino-aprendizagem dos alunos da
turma supracitada bem como, pela primeira vez, esteve em contato direto com uma criança com
TEA.
Com base nessa premissa, o objetivo geral consiste em: investigar e analisar quais as
expectativas das mães e da professora quanto ao processo de aprendizagem de alunos com
Transtorno do Espectro Autista na sala de aula do ensino regular do primeiro ano do Ensino
Fundamental. Os objetivos específicos incidem em: 1) Evidenciar e analisar qual o papel e a
importância atribuída pelas mães à sua participação no processo de aprendizagem do aluno com
TEA na sala de aula do ensino regular; 2) Identificar e analisar como a professora do ensino
regular percebe o processo de aprendizagem do aluno com TEA e de que forma possibilita a
participação das mães neste processo.
Este trabalho tem como enfoque estudos sobre crianças com TEA e tem como base a
teoria histórico-cultural de Vygotsky, nos seus preceitos. Assim, destaca-se a abordagem
histórico-cultural como significante alternativa pedagógica para compreensão e contribuição do
processo de ensino e aprendizagem de alunos com TEA no tocante aos aspectos que envolvem a
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), além de auxiliar a ampliação da discussão sobre
educação especial.
Diante disso, o estudo estrutura-se da seguinte maneira: a primeira sessão trata sobre,
“Transtorno do Espectro Autista: características e paradigmas”. A criança com TEA apresenta
características intrínsecas a chamada tríade do espectro autístico, tais como dificuldade na
comunicação, socialização e imaginação como revelam os estudos de Lorna Wing (SURIAN,
2013). Sendo assim, a escola deve ser baseada na realidade e nas características individuais de
cada aluno com TEA, buscando estratégias para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça
com qualidade (SURIAN, 2013).
PARADIGMAS
·
1) Déficit qualitativos na interação social: a) dificuldade marcada no uso de comunicação
não-verbal; b) falhas do desenvolvimento de relações interpessoais apropriadas no nível
de desenvolvimento; c) falhas em procurar objetos, espontaneamente, no
compartilhamento de interesses ou atividades prazerosas com outros; d) falta de
reciprocidade social e emocional;
·
2) Déficits qualitativos de comunicação: a) falta ou atraso do desenvolvimento da
linguagem oral (que esta ligado ao cognitivo); b) déficit marcado na habilidade de iniciar
ou manter conservação em indivíduos com a linguagem adequada; c) uso estereotipado,
repetitivo ou idiossincrático de linguagem; d) inabilidade de participar de brincadeiras de
faz de conta ou imaginativa de forma variada e espontânea para o seu nível de
desenvolvimento.
De acordo com os estudos de Lorna Wing (SURIAN, 2013), a criança com TEA
manifesta-se e agrupa-se no chamado tríade do espectro autístico, que são, geralmente, a falta de
apego a uma pessoa, o uso de os pronomes na terceira pessoa se referindo a si mesmo, em relação
à comunicação, tem-se um atraso ou às vezes uma falta da aquisição da linguagem oral,
geralmente utiliza-se a fala sem entonação, sem manifestar sentimento, às vezes usa-se uma
linguagem fora do contexto ou uma linguagem incorreta; em alguns casos a criança com autismo
acaba apresentando comportamentos autolesivos, com dificuldade de aceitar limites, além de ter
fobia.
É mister salientar que no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, foram estruturadas
propostas de atendimento educacional para pessoas com deficiência com o anseio de que esses
sujeitos estivessem mais próximos dos demais alunos na escola de ensino regular. Ainda nesse
período, movimentos internacionais e nacionais para Pessoas com Necessidades Educacionais
Especiais (PNEE) reivindicavam seu direito e acesso aos bens e serviços sociais, um deles, a
classe comum (MANTOAN e PRIETO, 2006).
A partir da década de 1990 surgiu a Educação Especial escolar que passa a ser
integrada aos sistemas de ensino através da criação de classes escolares especiais. A mesma se
caracteriza como:
A educação não era prioridade para pessoas com deficiência intelectual, nesse sentido
o trabalho educacional era voltado para a autonomia nas Atividades de Vida Diária (AVD), sem
muitas expectativas, sua escolarização limitava-se a escovar os dentes, a tomar banho, comer
sozinho entre outras. Nesse paradigma, modelo médico ou clínico, a deficiência era vista como
uma doença considerada imutável do sujeito e nesse sentido a pessoa com deficiência estaria
sentenciada, como incapaz de aprender, portanto, não conseguiria formar suas funções
psicológicas abstratas. (MANTOAN e PRIETO, 2006)
Nessa perspectiva, como afirma Chiote (2013) à escolarização de crianças com TEA
ficou sob a responsabilidade de instituições especializadas de educação especial, sendo que o
atendimento à essas crianças baseava-se no modelo médico-clínico, cujo trabalho pedagógico era
centrado na deficiência do aluno, visando corrigir ou amenizar déficits, bem como determinar à
criança uma incapacidade de aprender e se desenvolver.
Esse modelo, integração, propunha preparar os alunos das classes e escolas especiais
para ingressarem em classes regulares, e receberiam atendimento paralelo nas salas de recursos
ou em outras modalidades especializadas. É importante destacar que nesse paradigma a escola
começou a receber os alunos, mas eles estavam ali apenas para se integrar, pois eles precisavam
se adaptar ao currículo da escola, nesse sentido continuavam segregados nas classes educacionais.
No bojo das discussões, o modelo de Integração foi amplamente criticado por “exigir
a ‘preparação’ prévia dos alunos com deficiência para sua adaptação ao ensino regular” (GLAT e
BLANCO, 2009, P. 22) haja vista que a maioria desses educandos continuava segregada em
escolas ou classes especiais por não apresentarem condições para ingressar em classes regulares.
Esse modelo segregador, discriminador passou a ser questionado nos anos de 1990, surgindo um
novo paradigma: o da inclusão.
Vale salientar, que não existe dicotomia entre Educação Inclusiva e Educação
Especial, pode-se considerar que o paradigma que hoje se conhece como Educação Inclusiva não
representa uma ruptura, mas o “desenvolvimento de um processo de transformação das
concepções teóricas e das práticas da Educação Especial” como afirma Glat e Blanco (2009, p.
18) que acompanha historicamente os movimentos sociais e políticos em prol dos direitos das
pessoas com deficiência.
Com esta conceituação implica à escola regular a adoção de propostas que favoreçam
a inclusão social em práticas educativas que atendam todos os alunos, ocorrendo, dentro da escola
como um suporte para que os alunos com TEA sejam plenamente atendidos em suas necessidades
de aprendizagem. Por meio de políticas públicas, tem havido um grande incentivo para uma
educação de caráter inclusivo no país, transmitindo à escola a função de contribuir para construção
de ambientes favorecedores de aprendizagem às pessoas com necessidades educacionais
especiais, construindo uma sociedade inclusiva permitindo, assim, uma educação para todos
(MANTOAN e PRIETO, 2006).
Nesse viés, em continuidade ao autor citado reforça que é no ambiente escolar, sendo
este espaço onde se promove o conhecimento e o desenvolvimento, que permite a apreensão da
ciência e da utilização desse saber, como exercício efetivo da cidadania. É nele que são definidos
e realizados os planejamentos das aulas, onde estarão estabelecidas as propostas sistematizadas
que deverão ser cumpridas tendo como objetivo não só em averiguar o que a criança com TEA
sabe, mas, sobre tudo, estimulá-lo a prosseguir nesse processo para torná-lo capaz de modificar a
sua realidade e desta maneira ser um cidadão emancipado.
Na atual conjuntura do mundo globalizado em que sempre se terá desafios, uma vez
que não é possível viver sem demonstrar diferença, uma vez que se percebe em suma a sociedade
que luta por liberdade de expressão discrimina pessoas em razão de diferenças de características
intelectuais, físicas, culturais, sexuais, sociais, linguísticas, discriminando ainda as pessoas,
conforme Glat e Fernandes (2005) versa que a regência da educação inclusiva é o lugar ou meio
onde todos aprendem juntos, numa possibilidade, que se leva em consideração as dificuldades e
diferenças – sem nenhuma restrição há um movimento que esta a favor dessa inclusão tendo como
base a igualdade de oportunidades nos sistemas sociais, incluindo a instituição escolar,
entendendo que as crianças com TEA têm o direito de frequentar a escola regular onde toda
diversidade deve ser valorizada, na concepção da construção da aprendizagem deve ser oferecida
a todos, no mesmo ambiente escolar com oportunidades igualitárias a todos.
Destaca-se que a educação inclusiva é uma proposta que está em construção, e por
isso enfrenta desafios. É difícil mudar ideias, pensamentos, ainda mais quando é necessário o
abandono de preconceitos que estão enraizados. A inclusão é um processo que ainda não foi
efetivado, mas acredita-se na possibilidade de sua realização com a parceria entre família e escola
para a promoção qualitativa da aprendizagem de alunos com TEA que será abordado na subsessão
seguinte.
Desse modo, as relações construídas no seio da família tornam-se uma extensão até
os espaços escolares. Assim, quando a criança inicia o ciclo acadêmico e ingressa na escola, tem
a necessidade da manutenção da convivência, participação, aproximação da família com o novo
espaço que frequenta para que haja êxito na promoção e colaboração do seu processo educacional.
Contudo, um dos maiores entraves das instituições escolares está ligado a fragilidade da relação
e interação entre a família e a escola. Em muitos casos o inicio do ciclo acadêmico representa para
algumas famílias a transferência de responsabilidades, ou seja, nesse momento a escola passa a
responsabilizar-se, integralmente, pela aprendizagem tanto de conteúdos quanto de valores dos
alunos ingressantes.
Para Reis (2008), a família tem sua responsabilidade educacional sobre a criança, pois
o aluno necessita de um auxílio por parte dos pais ou responsáveis para efetivar o processo de
ensino e aprendizagem com qualidade. Com isto a instituição família possui responsabilidades
educacionais, bem como implicações mais significativas na formação e desenvolvimento da
criança conforme versa Silva et al, 2008:
Portanto, a família é uma constituição de pessoas unidas por laços emocionais e/ou
genéticos. Quando os pais recebem um filho com algum tipo de deficiência ou transtorno é comum
terem, inicialmente, um comportamento indiferente. Araujo, Silva e D’Antino (2012) descrevem
esse comportamento da família ao receber a noticia de ter um filho com TEA, no que tem as
relações diretas e indiretas com cada membro da família, portanto, se algo significativo acontece
como a notícia de um diagnóstico desta égide a família como um todo terá de se adaptar - como
já explicitado acima a criança com TEA tende a ter algumas dificuldades visíveis uma delas dar-
se pela dificuldade da interação verbal e lúdica – assim bem como aos comportamentos obsessivos
e a negação do contato afetivo.
Sendo assim, o convívio familiar representa o primeiro estágio de apoio à pessoa com
TEA, o acompanhamento dos pais torna-se imprescindível no tocante ao desenvolvimento do
aprendizado na vida escolar/educacional da criança com TEA. A criança sente-se mais valorizada
e estimulada com a participação da família em seu processo do conhecer. Assim, existem muitas
formas dos pais ou responsáveis terem esta participação efetiva como o auxílio das tarefas de casa,
na leitura, nos eventos pedagógicos ocorridos no ambiente escolar, entre outros (CUNHA, 2009).
Nesse sentido Peña (2004) aponta que a família é o ambiente social mais importante
na vida de qualquer criança, no caso das crianças com TEA esse elo é ainda mais importante tanto
para a construção da identidade e afetividade da criança quanto para o seu processo de aprendizado
na escola. Assim, é na família que a criança encontra o lugar primordial que lhe permite
generalizar o que aprendeu tanto na escola quanto em outros contextos, sendo também o melhor
lugar para valorizar desde os mais simples aos mais complexos avanços e habilidades construídos
pela criança.
Dessa maneira pode-se destacar que os atores principais na vida da criança com TEA,
antes da idade escolar, são os sujeitos da família, por isso torna-se indispensável a inclusão e
participação dos familiares destas crianças no ambiente escolar numa relação direta com os
docentes. Para isso destaca-se que as famílias devem receber instruções por meio de programas
de informação e de formação, para auxiliá-las na construção de hábitos e no desenvolvimento de
atitudes que favoreçam as crianças na sua aprendizagem escolar. (PEÑA, 2004).
Para Cunha (2009) escola e família precisam concordar nas ações e intervenções para
promoverem a aprendizagem significativa do educando. Nesse sentido, a escola deve criar
estratégias com ações e práticas diversificadas que proporcionem, além do acesso, a permanência
desse aluno no ambiente escolar tendo em vista a produção de melhores contextos de
aprendizagens para os educandos com TEA. Cabe à escola, também, promover uma aprendizagem
de qualidade levando em consideração as peculiaridades da criança, assim:
O quadro de autismo impõe que toda avaliação psicopedagógica seja uma ação
e uma pesquisa sobre o individuo, com pertinência a sua história biológica,
familiar e social; seu amor, seus desejos, suas necessidades, utilizando os
instrumentos teóricos e práticos, onde a observação é uma bussola na condução
de todo o processo (CUNHA, 2009, p. 52)
Para Cunha (2009, p.53) no trabalho com a pessoa com TEA “é indispensável que o
currículo extrapole as concepções de déficit e torne a prática pedagógica rica em experiências
educativas”, que compreendam tarefas que possam ser executadas em sintonia entre escola e
família, alcançando objetivos previamente traçados em que o professor deve privilegiar tarefas de
maior facilidade para que, após o seu domínio, possam ser acrescentadas tarefas mais complexas.
Ainda que o educando não tenha o pleno domínio do que se busca ensinar, o professor
deve sempre trabalhar a interação, a socialização e a comunicação tendo em vista que poderá
haver poucas conquistas, mas esse trabalho não será em vão para a superação das dificuldades.
(CUNHA, 2009).
Levy Semenovitch Vygotsky, cientista russo e grande mentor dessa teoria, viveu entre
os anos de 1896 e 1934. Os escritos de Vygotsky foram e ainda são bastante aceitos no campo da
Pedagogia, o que torna suas obras muito importantes até os dias atuais, sendo pioneiro no conceito
de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações socioculturais
e as condições que lhe é oferecida mediada por seus pares (REGO, 1999).
Para uma criança que já sabe amarrar os sapatos, por exemplo, o ensino dessa
habilidade seria completamente sem efeito; para um bebê, por outro lado, a ação
de um adulto que tenta ensiná-lo a amarrar sapatos é também sem efeito, pelo
fato de que essa habilidade esta muito distante do horizonte de desenvolvimento
de suas funções psicológicas. Só se beneficiaria do auxílio na tarefa de amarrar
os sapatos a criança que ainda não aprendeu bem a fazê-los, mas já desencadeou
o processo de desenvolvimento dessa habilidade.
O trecho, anteriormente descrito, trata sobre um dos pontos centrais na teoria de Vygotsky
(1984), a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que é a distância entre dois níveis de
desenvolvimento, o primeiro, é referente ao Nível de Desenvolvimento Real (NDR), está relacionado a
uma tarefa que a criança consegue realizar com autonomia, relacionado as etapas já alcançadas, já
conquistadas, sendo assim o ensino de habilidades que a criança já conhece não tem efeitos na sua
aprendizagem. O segundo trata-se do Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP), demarcado pela
capacidade da criança solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente, nesse caso o
aprendente deve ser exposto a uma situação de aprendizagem que poderá ser potencializada.
Dessa maneira, vale considerar as aprendizagens que ocorrem na ZDP como engrenagens que
permitem o desenvolvimento dos sujeitos num ritmo gradativo. Para Vygotsky (2007, p. 89):
Dessa forma, é nessa interação entre a criança e seus interlocutores que se tem a
aquisição da linguagem em si, desenvolvendo, deste modo, sua capacidade de simbolizar o mundo
que a cerca, para o outro, dando sentido aos processos de interação social e, para si, na forma
internalizada necessária ao desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores (FPS), sendo
estas organizadas em sistemas funcionais cuja finalidade é organizar adequadamente a vida mental
de um indivíduo em seu meio. Tem-se como alguns exemplos das FPS falar, pensar, a memória,
emoções, imaginação, percepção e a consciência que surgem no meio cultural que possibilita uma
forma de conduta mais complexa, dependendo do meio social, isto é, ao tomar consciência de seus
atos passando a agir de modo intencional, voluntário, planejado, podendo organizar e avaliar suas
ações (VYGOTSKY, 1984).
Para isso, a linguagem e o desenvolvimento não são apenas atos comunicáveis, mas
uma ferramenta do pensamento que encontra sua unidade com o próprio pensamento no
significado das palavras. Assim, o trabalho com o significado traz consigo a realização do
processo de apropriação de conhecimentos por parte da criança com TEA, possibilitando o
encontro/confronto das experiências cotidianas no contexto em que elas ocorrem para a formação
de conceitos, quer sejam acadêmicos ou não, numa maior internalização consciente do que está
sendo vivenciado e concebido.
Vale salientar que, o homem não nasce predestinado a um tipo de conhecimento, mas
ele é construído ao longo de sua história sendo resultado de suas relações com o mundo que o
cerca. Para tanto, o aprendizado é um processo que envolve interação, mediação e apropriação,
levando em consideração que os sujeitos são diferentes uns dos outros como se pode perceber pela
microgênese e sociogênese, embora apresentem características semelhantes intrínsecos a sua
espécie como na filogênese e ontogênese (VYGOTSKY, 1998).
Por fim, a inclusão de alunos com TEA na escola de ensino regular possibilita uma
interação social com as outras crianças e favorece não somente a sua aprendizagem e o seu
desenvolvimento, mas também concretiza a relações de socialização. Vygotsky (2000) aponta que
no meio social, durante a relação com outras pessoas, a criança não apenas se desenvolve, mas
constrói, por meio das interações sociais, experiências e vivências importantes para sua
aprendizagem.
Este estudo teve como enfoque a Pesquisa Qualitativa por ser considerada adequada
e por apresentar um caráter exploratório, e que estimula o entrevistado a pensar e a se expressar
livremente sobre o assunto em questão. Por compreender que se trata de uma abordagem que
aproxima duas dimensões da pesquisa em educação, a produção de saberes (LÜDKE e ANDRÉ,
1986).
É possível perceber que essas características apontam para um estudo que se preocupa
com a constante reformulação dos seus pressupostos, uma vez que o conhecimento nunca está
pronto.
Diante disso, a aplicação de entrevista, sob a ótica supracitada, não se reduz a uma
troca de perguntas e respostas previamente preparadas, mas é uma produção de linguagem,
portanto, dialógica, por meio da qual os sujeitos entrevistados e os pesquisadores expressam
situações vivenciadas possibilitando análises mais profundas e substanciais do objeto em estudo.
Desta feita, o presente estudo, por ancorar-se na teoria sócio-histórica de Vygotski,
baseia-se o seu discurso no círculo de Bakhtin, uma vez que a analise dos discursos dos sujeitos
não se limita a uma simples análise genérica e harmônica entre os sujeitos. Pelo contrário, por se
tratar de diferentes sujeitos envolvidos na pesquisa, é natural que haja confrontos de discursos a
partir da relação dialógica entre as partes (BAKHTIN, 1963/2011).
Sendo assim, conforme Freire (1996) o diálogo consiste numa relação horizontal entre
as pessoas e não vertical, sendo que homens e mulheres se educam juntos, em solidariedade e
diálogo, na transformação e modificação do mundo a sua volta, pois considera que o saber de
todos deve ser valorizado, independentemente de suas especificidades. Portanto, o diálogo produz
a conscientização libertadora e transformadora.
Ademais, este estudo apresentou três fases em seu desenvolvimento. A fase inicial
que constituiu a preparação do terreno de pesquisa, a fase exploratória, onde buscou‐se levantar,
através da realização de entrevistas abertas, os eixos norteadores deste estudo, bem como
selecionar as fontes que servirão para a coleta de dados.
E o terceiro momento, foi de análise dos dados. É importante acrescentar que essas
três fases não se constituíram em uma sequencia linear uma vez que elas “se interpolam em vários
momentos, sugerindo apenas um movimento constante no confronto teoria-empiria” (LÜDKE E
ANDRÉ, 1986, p. 23).
Diante disso, adotou-se como critério de seleção do lócus uma escola que oferecesse
o 1º ano do ensino fundamental, que tivesse em seu quadro 2 (dois) alunos com TEA regularmente
matriculados e que apresentasse uma perspectiva de Educação Inclusiva.
Em 2014, ano em que iniciou a pesquisa, o corpo docente era composto por
professores do ensino regular do Ensino Fundamental I, professores de disciplinas específicas, no
caso do fundamental II, coordenadores e monitores do Programa Mais Educação e professoras do
AEE. A escola também tinha duas coordenadoras pedagógicas, uma orientadora pedagógica, uma
terapeuta ocupacional, um psicólogo, uma secretária, uma diretora, duas agentes de portaria, uma
cuidadora, duas merendeiras e dois auxiliares de limpeza.
Cada aluno, geralmente, sentava-se na mesma carteira indicada pela professora, como
se fosse um lugar fixo. Os alunos participantes do estudo, frequentemente, ficavam nas primeiras
carteiras, nas fileiras próximas da mesa da professora.
Desse modo, os sujeitos participantes dessa pesquisa foram: duas crianças com o
diagnóstico de TEA, ambos com 6 anos de idade (que serão denominados de Aluno A e Aluno
B); uma professora do ensino regular que atua no 1º ano do Ensino Fundamental (que será
denominada de Professora P); e as mães dos alunos (as quais serão denominadas de Mãe A e
Mãe B).
No que se refere à entrevista, Ribeiro (2008, p. 141), considera como “a técnica mais
pertinente quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto”, é também um
das técnicas mais utilizadas em trabalhos científicos que permite conhecer sobre as atitudes,
sentimentos e valores subjacentes que se pode ir além das descrições das ações permitindo ao
pesquisador extrair dados que enriquecem o estudo.
Quanto aos recursos materiais utilizou-se um (1) gravador de voz que foi utilizado nos
momentos da entrevista semiestruturada com a professora e com as mães dos alunos e nos
encontros; papel A4, para fazer anotações sobre o estudo; caneta, para transcrever as entrevistas;
prancheta para suporte do papel; data-show; notebook; e câmera digital do modelo Sony.
Com a confirmação do Lócus e dos sujeitos desse trabalho seguiu-se para a coleta de
informações empíricas que aconteceu mediante entrevistas semiestruturadas com a professora e
com as mães participantes da pesquisa. As entrevistas foram gravadas em áudio (um gravador de
voz) e para posteriormente serem transcritas verbatim. As perguntas foram conduzidas de forma
dialogada a fim de estimular a naturalidade de seus relatos.
Foi entregue o Diário de Itinerância para a mãe do Aluno B, sendo este um momento
livre para ela escrever no seu diário sobre o que foi construído juntamente com as pesquisadoras,
sobre as inquietações, as contribuições, as sugestões e as dúvidas de acordo com o que fora
trabalhado. Ao final do encontro foi proporcionado um espaço para o diálogo entre as
pesquisadoras e a mãe presente, afim de ocasionar a interação, a socialização e a reflexão do
objeto em estudo.
O encontro com a Mãe A, por sua vez, ocorreu no dia 13 de janeiro de 2015, no Centro
de Atendimento Pedagógico a Pessoa com Deficiência Visual (CAP-DV), como sugerido pela
participante, no turno vespertino com duração de três horas. Uma das pesquisadoras iniciou esse
momento apresentando o diário de Itinerância, em seguida, apresentou-se os principais pontos da
entrevista realizada com a mesma, no dia 24 de novembro de 2014, sempre estimulando e
oportunizando a mãe a participar e interagir com as pesquisadoras.
Ao final do encontro a Mãe A escreveu em seu diário os pontos que ela considerou
mais importantes. Os recursos materiais utilizados, neste momento, foram folhas de papel A4,
gravador de voz, notebook e caneta esferográfica.
Vale ressaltar que durante os dois encontros a dinâmica adotada implicava num
movimento dialógico constante entre as pesquisadoras e as mães nas atividades planejadas e a
reflexão dessas práticas. Assim, diante dos resultados obtidos na próxima sessão serão
apresentadas as análises das informações empíricas divididas em duas categorias.
O objetivo geral do presente estudo foi investigar e analisar quais as expectativas das
mães e da professora do ensino regular para o processo de aprendizagem de alunos com
Transtorno do Espectro Autista na sala de aula do primeiro ano do Ensino Fundamental. Como
objetivos específicos evidenciar e analisar qual o papel e a importância atribuída pelas mães à sua
participação no processo de aprendizagem do aluno com TEA na sala de aula do ensino regular e
identificar e analisar como a professora do ensino regular percebe o processo de aprendizagem do
aluno com TEA e de que forma possibilita a participação das mães neste processo.
As informações obtidas ao longo dos seis meses de pesquisa foram extraídas dos
diários de itinerância, das entrevistas semi-estruturadas com a professora e com as mães, dos
momentos de observações colaborativas e dos encontros com as mães. Dessa forma, os resultados
serão analisados a partir de duas categorias que serão apresentadas a seguir:
Mediante as entrevistas realizadas com as duas (02) mães participantes deste estudo
identificadas como Mãe A e Mãe B, percebe-se que elas reconhecem que são importantes para
promover o aprendizado dos alunos com TEA, embora nem sempre consigam ou tenham tempo
disponível para auxiliar seus filhos com as atividades escolares, conforme segue o relato:
Mãe A: “Eu penso que ainda deixo um pouco a desejar, até pelas tarefas diárias. [...] Agora eu,
como mãe, ainda to deixando, falhando nessa parte”.
Mãe B: “Dentro de sala nunca tive uma participação assim efetiva. Por enquanto, o suporte dele
é o apoio pedagógico no Raimundo Nonato, no contraturno do horário dele da escola”.
Diante do exposto, verifica-se que a Mãe A, versa que ainda não acompanha
devidamente o andamento escolar de seu filho, deixando a cargo da escola, do Centro Pedagógico
e dos atendimentos particulares, que a mesma mencionou em entrevista, a responsabilidade de
tentar promover o aprendizado e o desenvolvimento de Aluno A. Isso ocorre não pelo fato da
mãe não se preocupar com a criança, ao contrário, a Mãe A reconhece que sua efetiva participação
é importante para a promoção do avanço escolar do aluno, contudo as atividades diárias e o
trabalho acabam impedindo uma atuação mais próxima do Aluno A, ou seja, as suas outras
responsabilidades sociais acabam renegando o devido acompanhamento educacional de seu filho.
A Mãe B explicita que não tem tido participação efetiva nas atividades educacionais
desenvolvidas em sala de aula e nos projetos desenvolvidos pela escola e também acaba deixando
a responsabilidade de promover o aprendizado de seu filho à escola de ensino regular e ao Centro
Pedagógico onde o Aluno B realizava atividades no contraturno duas vezes durante a semana.
Mediante a observação in lócus, pouco se percebeu a movimentação das mães dos alunos com
TEA participantes do estudo interagir com a Professora P na tentativa de desenvolver ou
promover o aprendizado dos Alunos A e B.
Nesse sentido, é de vital importância que os pais de crianças com TEA que estudam
no Ensino Fundamental ou em outros níveis educacionais acompanhem o dia-a-dia de seus filhos,
procurem saber quais as atividades que a escola tem desenvolvido ou que possa vir a realizar, haja
vista a relevância da participação dos pais nas reuniões pedagógicas de pais e mestres, nas ações
culturais da escola no sentido de promover um aprendizado significativo, nesse contexto percebe-
se na fala das mães:
Mãe A: “As reuniões gerais de pais eu participo. Agora, quando tem esses projetos ai, festa
junina, festa de páscoa eu evito.”
Mãe B: “Nessa questão, esse ano eu deixei muito a desejar quanto à programações da escola
mesmo. [...] também por conta do trabalho [...]mas nada que eu não deixe de fazer quando tenho
tempo disponível, quando meu filho trás as atividades escolares pra casa. [...]
Eu participo mais aqui no Raimundo Nonato, por causa que o horário da manhã não me
possibilita, por que o meu horário de trabalho me impedi de participar das programações da
escola ”
A Mãe A afirma que participa das reuniões de pais e mestres promovidas pela escola.
Mas, não participa dos projetos pedagógicos do calendário escolar vigente, pois a mesma “evita”
tais ambientes, pois se sente insegura, segundo ela, no momento da entrevista, as pessoas (fazendo
referencia aos professores, profissionais de apoio e os demais alunos da escola) não estariam
preparadas para entender o comportamento de uma criança com TEA, ela acrescentou ainda que
tinha medo de seu filho se machucar ou até mesmo machucar as outras crianças da escola. Relatou
que o Aluno A participou de um projeto desenvolvido pela escola e quando ela retornou para
buscá-lo o encontrou em uma situação muito desagradável onde ele estava jogado no chão todo
sujo sem ninguém intervindo para evitar ou até mesmo minimizar o que estava ocorrendo. A partir
do fato ocorrido a mãe decidiu não mais participar dos projetos desenvolvidos pela escola.
Pode-se inferir, nesse sentido, que a superproteção tanto para indivíduos com ou sem
deficiência pode ter o efeito de impedir e atrapalhar o processo de ensino-aprendizagem e a
interação social, além de impedir a criança na superação de grandes obstáculos pelo cuidado
exagerado em seu convívio familiar, principalmente no cuidado materno que acabam não criando
condições para que essa criança desenvolva suas potencialidades (GOLFETO e MIAN, 1999).
Mãe A: “Eu procuro incentivá-la muito a participar de encontros, de cursos, por que na verdade
eu participo de todos. [...] Por que só assim, ela participando que ela vai consegui criar novas
estratégias. [...]”.
Mãe B: “Eu não tive muita comunicação com a professora esse ano. Nossa comunicação é
rápida, é sempre quando eu vejo ela na entrada ou na saída, nós nunca tivemos um encontro ou
algo assim. Mas acho que é uma falha minha, pois eu acho que os pais devem procurar a escola”.
Diante da fala Mãe A afirma que estimula a professora a se qualificar, e também que
é participante dos encontros voltados à temática quando são promovidos na cidade, na percepção
da mãe a professora precisa buscar essa formação continuada, pois para ela a sua participação nos
mesmos a ajudaria a compreender, adquirir novos conhecimentos e estratégias didáticas para
estimular o seu filho com TEA no sentido de promover a aprendizagem do aluno. Observa-se no
relato da Mãe A certa preocupação quanto a formação da Professora P porque ela entende que
tal formação toca diretamente na aprendizagem do seu filho.
Mãe B, não teve muita comunicação com a Professora P no ano e seu diálogo é
rápido com a mesma, afirmou que nunca conversaram sobre as qualificações profissionais –
reconhece ser uma falha da mesma, afirmando que os pais devem procurar mais a instituição de
ensino. Assim, o professor deve trabalhar em parceria com a família para promover a
aprendizagem da criança com TEA. Para Silva (et al, 2008) a família tem sua responsabilidade
educacional sobre a criança na efetivação de um ensino com qualidade, devendo haver um diálogo
entre as instituições família e escola no sentido de se completarem, não imputando a
responsabilidade de uma para outra.
Neste ponto vale ressaltar que o processo de ensino-aprendizagem se torna mais
significativo com a participação dos pais/responsáveis no ambiente escolar dos filhos
possibilitando a interação, a internalização e a apropriação de conhecimento que são conceitos
muito bem afirmados por Vygostky (2007), no entanto não se percebe na fala da Mãe A essa
participação, como segue abaixo:
Mãe A: “Eu procuro, da melhor forma possível, ajudá-lo nesse sentido. [...] Eu te confesso que
em casa eu não tenho tempo e não procuro ter aquele tempo, hábito que eu to tentando estruturar
justamente para ajudá-lo”.
Mãe A ao declarar que ajuda seu filho da melhor forma possível refere-se aos
acompanhamentos profissionais particulares que o Aluno A recebe como: Psicopedagogo e
Terapeuta Ocupacional, porém declara que não procura acompanhar seu filho na realização de
tarefas acadêmicas em casa utilizando a mesma justificativa da falta de tempo. Nesse contexto é
possível perceber que pelo excesso de demanda que a mãe possui em seu trabalho ela contrata
profissionais para acompanhar seu filho nas atividades diárias.
Nessa conjuntura, para Cunha (2009) a participação direta ou indireta da família nas
atividades da escola é indispensável para o aprendizado e consequentemente o desenvolvimento
do aluno com TEA. E se tratando de como a mãe avalia a sua participação no processo de
aprendizagem do seu filho a Mãe B destaca que:
Mãe B: “Dentro do que posso eu acho bom, eu me esforço bastante. [...] Tem horas que ele ta
cansado, que ele não quer fazer as atividades. Tem que ser no horário dele e nem sempre eu tô
disponível no horário dele”.
Mãe B avalia como boa a sua participação no processo de aprendizagem de seu filho
e diz que se esforça em auxiliá-lo em casa, observa assim, que ele tem a sua própria rotina sendo
esta uma das características da pessoa com TEA. Para Voivodic (2007), é importante estimular a
criança levando em consideração suas especificidades de aprendizagem em função de suas
necessidades especiais, e esta ação é percebida na fala da Mãe B.
Mãe A: “[...] a minha expectativa é sempre pensar que ele vai avançar, reconhecer as letras, os
numerais, as, cores, começar a juntar as sílabas, aprender as coisas básicas, identificar o nome,
falando dessa questão pedagógica”.
Mãe B: “As minhas expectativas eram a de que ele já pudesse começar a formar sílabas. Porque
no dia a dia ele não tem problema, não sinto dificuldades de ele reconhecer as coisas e fazê-los
em uma atividade, mas na questão pedagógica queria que ele tivesse avançado mais, formar uma
sílaba, aqui no primeiro ano as crianças já fazem isso, queria que ele formasse sílabas básicas”.
Sob essa ótica os autores Voivodic e Storer (2002) destacam que durante esse processo
de escolarização é natural que as mães criem uma série expectativas em relação aos seus filhos,
todavia essas expectativas podem diminuir levando em consideração o fato de as pessoas com
deficiência terem, historicamente, sido estigmatizadas como incapazes de se desenvolver
cognitivamente. Diante do exposto é possível perceber que ambas as mães revelaram, em
entrevista, que o seu desejo era que seus filhos com TEA desenvolvessem habilidades acadêmicas
básicas que ainda não possuíam.
Tendo em vista que a pesquisa foi realizada próximo ao final do ano letivo, percebeu-
se que tais expectativas não foram alcançadas, do ponto de vista pedagógico, e que alguns fatores
interferiram para não fossem alcançadas como a ausência do mediador na sala de aula, a falta de
formação adequada da professora que a deixava bastante insegura no momento de planejar e
desenvolver atividades que alcançassem de maneira significativa a aprendizagem dos Alunos A
e B, a falta por parte da escola em oferecer uma equipe multidisciplinar com fonoaudiólogo,
psicopedagogo, nutricionista, entre outros especialistas trabalhando em conjunto com o objetivo
de promover tal aprendizagem, e claro, não se pode deixar de mencionar as famílias deixaram de
participar ativamente da vida escolar de seus filhos e nem menos cobravam da escola uma
educação bem estruturada para os mesmos.
Quando se trata da interação com os colegas da classe regular notou-se durante as
observações o comportamento dos dois alunos (A e B) em atividades desenvolvidas pela
professora do AEE. O Aluno B era participativo, procurava estar junto com os colegas, sempre
sorridente, interagia tanto com a professora do AEE quanto com os colegas de sua classe,
diferentemente de como se comportava o Aluno A que pouco interagia mesmo quando a
professora do AEE o estimulava a participar.
As mães ao serem indagadas se acreditam que seus filhos irão concluir sua jornada
acadêmica as mesmas destacam que:
Mãe A: “Eu, como mãe, gostaria de acreditar e pela evolução que eu percebo a cada dia eu
penso que sim. Eu não tô afirmando que sim, eu penso que sim eu quero que isso aconteça e a
gente luta a cada dia e busca essas condições pra ele fazer.”.
Mãe B: “Eu acredito sim, Eu já vi muitos casos, reportagem as vezes olho as coisas, eu sempre
estou atenta a essas questões, tem crianças que se formam, e casam é normal. Então só o futuro
que vai dizer, eu busco isso, também sei que vai ser no tempo dele, talvez não seja no tempo que
as outras crianças!”
Para a Mãe B seu filho irá concluir a educação básica e ingressar o ensino superior,
deixando evidente que acredita que seu filho irá concluir sua trajetória acadêmica, destaca que
ocorrerá no tempo dele, no entanto se faz necessário inferir aqui a importância de se provocar essa
aprendizagem com acompanhamento e metodologias adequadas a essa criança para que essa
educação seja um instrumento transformador a esse, envergando e trabalhando suas
potencialidades, sendo assim é preciso dar condições a essa criança para que o mesmo tenha êxito
no seu percurso escolar de um modo geral (MANTOAN e PRIETO, 2006).
É importante frisar que muitas atitudes dificultavam a aprendizagem dos alunos com
TEA pelo fato deles necessitarem de um mediador para instigá-los ao conhecimento, tendo em
vista que a mediação é um importante recurso para garantir a qualidade do aprendizado da criança
e de fundamental importância para compensar as limitações que a criança com deficiência
enfrenta. Diante desse contexto para as mães – tratando sobre as atividades realizadas na sala de
aula:
Mãe A: “As atividades não promovem na integra [...]. Mas, eu não culpo a professora é uma
questão estrutural da escola, porque ele tem que ter um mediador ali. A professora tem quase
trinta lá na sala e tem dois com autismo é humanamente impossível ela parar de dar atenção para
os trinta e dar para os dois, não que eles mereçam menos que os outros, mas é pela condição
estrutural mesmo, não tem condições!”
Mãe B: “Para mim as atividades propostas na sala de aula promovem o aprendizado do meu
filho, mas só a professora para cuidar da turma inteira e duas crianças com necessidades
especiais não são suficientes. Eu acho que com duas crianças com esse tipo de necessidade
deveria ter uma pessoa específica para essas duas crianças. Se for cobrado só dela é difícil, pois
ela tem que parar para ensinar elas e também parar para ensinar as outras crianças. Eles não
acompanham igual as outras crianças!”.
Percebeu-se que tanto a Mãe A quanto a Mãe B apontaram a problemática da ausência
do mediador na sala de aula do ensino regular, que de acordo com a Lei Berenice Piana (Lei
12.764/12), falando especificamente de educação, estabelece que a pessoa com TEA possa
solicitar um acompanhante especializado quando necessário. No caso dos dois alunos (A e B),
notou-se essa necessidade. Também se percebeu na fala das mães a questão da quantidade de
alunos que a turma possui, de 24 alunos frequentes, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDBEN 9.394/96) o limite máximo estabelecido é de 25 alunos por turma durante o
primeiro ciclo do ensino fundamental. No entanto, esse limite foge a realidade pela falta de
condições estruturais, pois a Professora P possui dois alunos com TEA e que precisam de
acompanhamento especializado do mediador que não é disponibilizado pela escola, muito menos
pela Rede Municipal de Ensino.
No que se deve levar em consideração e reflexão com relação ao que a Lei 12.764/12
coloca para o cumprimento e efetivação da mesma, que da o estabelecer de que os alunos com
TEA não sejam rejeitados nas instituições regulares, uma vez que a Lei é de suma importância e
direito estabelecido segundo a democracia em que se vive, sendo que muitos lutaram pela mesma
com o intuito de dar acessibilidade às crianças com TEA. Cabendo sim que as escolas tenham
estrutura física necessária e seus profissionais preparados para receber a demanda dos que assim
precisam da acessibilidade social e cidadã, bem como ao meio escolar desempenhar seu trabalho
com esses alunos, haja vista que a escola é responsável pelo saber sistematizado (científico) com
metodologias específicas a serem trabalhadas e assim como saber lidar com os diferentes tipos
comportamentais, porque se tem variação de grau desse transtorno.
Mãe B: “Para mim é de muita importância às explicações dadas pela equipe sobre a linha teórica
do trabalho [...] a equipe vem para somar, para que sejam tomadas providências mais adequadas
para a melhor educação do meu filho”.
Vale destacar que a Mãe A já havia feito algumas leituras sobre a teoria Sócio-
Histórica de forma breve no seu curso de formação, sendo assim para ela não foi uma novidade
tratar a respeito do mesmo, mas considerou importante pelo direcionamento tratando
especificamente da pessoa com TEA.
Mãe B relatou que nunca havia tido conhecimento a cerca desse aporte teórico, e que
para ela foi importante conhecer para entender que independente da deficiência seu filho pode
aprender, basta que lhe sejam oferecidos os instrumentos necessários para que acorra essa
aprendizagem significativa.
Nesse sentido é importante que os pais tomem para sim, também, a responsabilidade
desse aprendizado teórico para que tenham clareza ao decidir quais as melhores opções educativas
para o acompanhamento pedagógico de seus filhos, bem como possível tratamento, fazendo esse
acompanhamento de forma adequada não deixando apenas a cargo dos profissionais habilitados.
Todavia é necessário que a família não somente perceba, mas seja ativa nesse processo
de inclusão, de ensino e aprendizagem, tome posse dos conhecimentos dos tramites legais de
modo a garantir de forma efetiva o direito dessa criança com deficiência. Não apenas possuir um
discurso, mas uma prática que de fato promova essa inclusão.
Destarte, diante das observações feitas em sala de aula, percebeu-se que a Professora
P seguia uma rotina, organizava as carteiras e escolhia o lugar onde cada um de alunos iria sentar-
se, fazia a oração do Pai Nosso juntamente com os alunos, em seguida escrevia os conteúdos e as
atividades no quadro para os alunos copiarem e resolverem no caderno. A principal estratégia
metodológica da professora, no momento de observação, foi a aula expositiva dialogada, sem a
utilização de qualquer outro recurso que não fosse o quadro branco para fazer a mediação dos
conteúdos com os alunos.
Nesse sentido, os alunos com TEA acabavam não participando das atividades
propostas pela professora como os demais alunos, ficavam sentados ou caminhando pela sala
enquanto ela terminava de mediar os conteúdos aos demais colegas de classe. É importante frisar
que os Alunos A e B apenas participavam das mesmas atividades que os demais alunos quando
se tratava de atividades de recorte e colagem, pintura, fazer bolinha com papel crepom para colar
na atividade. O Aluno A apresentava dificuldade em realizar atividades de recorte e colagem,
diferentemente do Aluno B.
Professora P: “As expectativas são sempre de permitir aprendizado e o socializar do aluno com
TEA e seus pares”
Nessa conjectura, percebe-se que o aprendizado versa dos mais variados tipos de
recursos e as mais variadas finalidades quanto ao seu objetivo, sendo este voltado para as crianças
com TEA, o material precisa estar de acordo com o nível deste aluno de modo a favorecer a sua
aprendizagem.
Professora P: “Algumas atividades realizadas na sala de aula são feitas em pastas, nem sempre
a família pode acompanhar”.
Professora P: “Sim, por meio do dialógico é possível ensinar novas estratégias no processo de
aprendizagem dos conteúdos como nas atividades de vida diária, tento me esforçar e aprender
sempre novas estratégias a fim de permitir um aprendizado de qualidade com o auxilio da
professora do AEE”
Não obstante, diante do que foi relatado pela Professora P observou-se que a
professora do AEE não apenas auxiliava algumas atividades realizadas pela Professora P com os
alunos com TEA, mas era ela quem produzia todo o material em pasta que os Alunos A e B
realizavam na sala de aula do ensino regular. Percebeu-se, assim, a ausência da prática pedagógica
Professora P na confecção de materiais adaptados para o aprendizado dos conteúdos diários de
sala de aula, logo bastava os dois alunos com TEA estarem na sala de aula de ensino regular para
que eles pudessem socializar, haja vista que, o discurso apresentado em entrevista não condizia
com a sua prática em sala de aula.
Contudo, para que ocorra a inclusão de forma efetiva se faz necessários apoios
intensos, contínuos e currículo alternativo que correspondam às suas necessidades na classe
comum – trazendo a possibilidade do sujeito (aluno com TEA) de interagir, agir e aprender com
os demais alunos tanto no ambiente da sala de aula quanto em ambientes externos.
Vale ressaltar que os dois alunos com TEA recebiam duas vezes na semana o
atendimento da professora do AEE no mesmo horário de aula deles. A docente promovia algumas
atividades que proporcionavam interação e envolvimento de todos os alunos da classe, não havia
uma parceria com a Professora P, a responsabilidade era exclusivamente da professora do AEE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho que foi investigar e analisar quais as expectativas das mães
e da professora quanto ao processo de aprendizagem de alunos com Transtorno do Espectro
Autista na sala de aula do ensino regular do primeiro ano do Ensino Fundamental. Destarte, as
entrevistas semiestruturadas, o período de observação, o encontro com as mães subsidiaram as
análises das informações empíricas. Nesse sentido, ao término dessa pesquisa, obteve-se como
informação que as mães entendem qual é o seu papel e a sua importância nesse processo, no
entanto deixam de participar ativamente do processo de escolarização dos seus filhos com TEA
tendo como justificativa a falta de tempo e de informação.
Nesse sentido, a escola para tornar-se inclusiva precisa formar todo o corpo técnico e
pedagógico, precisa rever seu projeto político pedagógico, seus recursos didáticos, metodologias
e estratégias de ensino, bem como suas práticas avaliativas para que possa de fato acolher todos
os alunos. Assim sendo, tais modificações devem ser proporcionadas pela escola e principalmente
pelo Estado para formar com qualidade esses cidadãos e também para que os educadores venham
ter alternativa para desempenhar suas ações pedagógicas no ambiente escolar.
Esta pesquisa foi conduzida como Pesquisa Colaborativa, considerando que é uma
abordagem que aproxima os sujeitos da pesquisa e os pesquisadores com o intuito de promover
uma relação de envolvimento e transformação não somente no ponto de vista metodológico, mas
também na concepção acerca do trabalho pedagógico. Nesse sentido, foi possível responder ao
problema levantado neste estudo, uma vez que este trabalho por seu caráter, a colaboração,
favorece a produção de saberes através do compartilhamento de estratégias, de promoção e de
desenvolvimento profissional.
Entretanto, além dos resultados obtidos foi possível constatar que a hipótese deste
estudo foi confirmada, haja vista que no início do ano letivo a expectativa tanto das mães quanto
da professora para o aprendizado do aluno com TEA eram altas, mesmo considerando as
características peculiares de cada aluno que participou da pesquisa, porém à medida que foram
evidenciadas as exigências do currículo e os dois alunos tiveram dificuldades para atender as
demandas impostas pelo Sistema de ensino por fatores como a falta de condições estruturais,
ausência de uma equipe multidisciplinar para realizar o devido acompanhamento, ausência de
auxiliar para o acompanhamento diário dos alunos na sala de aula, pouca formação continuada
para a professora do ensino regular, começaram a haver mudanças nessas expectativas.
Evidenciou-se, também, que ao chegar o final do ano letivo tais expectativas foram
anuladas deixando um sentimento de insatisfação e de frustração, principalmente para a
professora, diante do que fora proposto no inicio do ano letivo, isso do ponto de vista do currículo,
que exige habilidades e competências, inferindo ao primeiro ano do Ensino Fundamental em que
esses alunos estavam matriculados. No entanto, ao se apontar para a questão da interação,
percebeu-se que houveram avanços dada a importância de incluir essas crianças da rede de ensino
regular.
Diante do que foi apresentado, para que as mudanças ocorram no meio educacional
de modo que aconteça de fato a inclusão escolar das crianças com TEA é necessário uma ação
entre a família e a escola, bem como a participação do Estado, que por sua vez, deve dispor de
recursos financeiros necessários para concretizá-las.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Rodrigo Romano; SILVA, João Roberto; D’Antino, Maria Eloisa F. Breve discussão
sobre o impacto de se ter um irmão com transtorno do espectro do autismo. Universidade
Presbiteriana Mackenzie. CCBS – Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo,
v.12, n.1, p. 9-15, 2012. ISSN 1809-4139.
GIL, Marta; ALQUÉRES, Humbert. Educação inclusiva: o que o professor tem a ver com
isso? São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Ashoka Brasil, 2005.
GLAT, Rosana; BLANCO, Leila. Educação especial no contexto de uma educação inclusiva.
In: (Org.). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7letras, 2009.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér & PRIETO, Rosângela Gavioli. Inclusão Escolar: pontos e
contrapontos. São Paulo: Summus, 2006.
MELLO, Ana Maria S. R. de. Autismo: guia prático. ed. 6ª. São Paulo: AMA, Brasília – DF:
2007.
OLIVEIRA, Anna Augusta Sampaio de; MISQUIATTI, Andréa Regina Nunes (Org.).
Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiência intelectual e
transtornos globais do desenvolvimento. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013, p. 61-82.
PEÑA, José Ramón Alonso. Autismo y Sindrome de Asperger: guia para familiares,
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SILVA, Nancy Capretz Batista da. Et al. Variáveis da família e seu impacto sobre o
desenvolvimento infantil. Temas em Psicologia - 2008, Vol. 16, no 2, 215 – 229.
STELZER, Fernando. Uma pequena história do autismo. Rio Grande do Sul: Oikos, 2010.
VOIVODIC, Maria Antonieta. Inclusão escolar de Crianças com Síndrome de Down. ed.
5. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
______, A Formação social da mente. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a atuação do professor no atendimento educacional
especializado de alunos com deficiência intelectual. A metodologia é do tipo qualitativa,
realizou-se entrevista semi-estruturadas com seis professores do AEE de uma escola pública.
Os dados foram submetidos a análise de conteúdo conforme Bardin (2011). Os resultados
foram duas categorias: (integralidade na atuação docente, estratégias e recursos pedagógicos
para alunos com DI) e seis subcategorias (Parceria, diálogo e assessoramento entre a
comunidade escolar; aspectos relacionais e infraestrutura; Formação docente; O lúdico no
desenvolvimento de potencialidades cognitivas; Tecnologias educacionais e assistiva e
Dificuldades apresentadas pelos alunos com DI). Concluímos que na escola pesquisada
ocorre a inclusão escolar dos alunos com deficiência intelectual, apesar da postura excludente
que alguns professores de sala de ensino regular ainda insistem em ter, seja pela falta de
esclarecimento, formação continuada ou investimento na adoção de uma prática que os
familiarize com a integração do AEE no espaço da sala regular.
INTRODUÇÃO
O trabalho tem como objeto de estudo a atuação do professor no atendimento
educacional especializado de alunos com deficiência intelectual. A concepção de educação
inclusiva que orienta as atuais políticas públicas educacionais rompe com a trajetória de
exclusão e segregação das pessoas com deficiência - PCD, elas alteram as práticas educacionais
para garantir a igualdade de acesso e permanência na escola, por meio da matrícula dos
alunos público alvo da educação especial nas classes comuns de ensino regular
e da disponibilização do Atendimento Educacional Especializado – AEE (BRASIL, 2008).
1
Eixo Temático: Formação de professores na perspectiva da educacao especial
2
Universidade do Estado do Pará - UEPA
3
Universidade do Estado do Pará - UEPA
4
Universidade do Estado do Pará - UEPA
6
Dessa forma, o Ministério da Educação - MEC, por meio da Secretaria de Educação
Especial/SEESP criou o programa de implantação de Salas de Recursos Multifuncionais - SRM
para atender a necessidade histórica da educação brasileira, de gerar condições de acesso,
participação e aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação, matriculados no ensino regular,
possibilitando a oferta do AEE, de forma não substitutiva à escolarização, mas complementar.
No que tange a recursos e estratégias pedagógicas utilizadas pelo pedagogo em SRM,
ressalta-se que servem como ponto de partida para aperfeiçoar a eficiência cooperativa entre
educador e educando no processo de ensino-aprendizagem, ao valorizar a diversidade como
elemento de transformação de consciência social, viabilizando o exercício da cidadania na
construção de uma sociedade inclusiva (MANZINI, 2002).
O Parecer do Conselho Nacional de Educação - CNE/CEB 17/2001 ressalta a
importância de estudos em universidades sobre a busca de melhores recursos e estratégias
pedagógicas para auxiliar, ampliar e desenvolver os aspectos de motricidade, de fala, linguagem
e cognitivo das pessoas com necessidades educacionais especiais, para que eles possam
participar de maneira, cada vez mais autônoma, do meio educacional, da vida produtiva e da
vida social, exercendo assim, de maneira plena, a sua cidadania (BRASIL, 2009).
METODOLOGIA
Esta pesquisa tem abordagem qualitativa do tipo descritivo exploratório, pois se torna
relevante para estudos que manifestam profundo interesse em compreender e apreender as
significações que grupos ou sujeitos fornecem em experiências particulares ocorridas em
determinados contextos (PAULILO, 1999). Entretanto, exige do pesquisador uma imersão no
contexto a ser estudado, pois é ele que faz a interpretação dos dados de uma maneira holística.
O lócus desta pesquisa foi a Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental
Professor Francisco da Silva Nunes, no município de Belém. A instituição atende 22 alunos
com deficiência intelectual, visual, física, auditiva, além de portadores de síndrome de Down
8
e autismo. Os participantes da pesquisa compreendem quatro professoras, todas do sexo
feminino, com idade entre 30 a 56 anos. Todas possuem formação em nível superior. Sendo
que três delas tem especialização em Psicopedagogia e uma em Educação Especial com
ênfase na Inclusão. Os critérios de inclusão foram: a)Ter experiência de no mínimo um ano na
educação especial; b) Estar atuando em 2014, no AEE, na escola pesquisada; c) Aceitar
participar da pesquisa; e d) Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE.
Na coleta dos dados foi entregue um formulário com o propósito de coletar
informações a respeito do perfil dos sujeitos participantes e em seguida realizar as entrevistas
semi-estruturadas que segundo Minayo (2010) compreende a combinação de “perguntas
fechadas e abertas”, sendo necessária a elaboração de um roteiro. Para tanto, foi elaborado o
roteiro de entrevista semi-estruturado, com o uso do gravador, para o registro dos dados, bem
como anotações das percepções diante do entrevistado, constituindo-se as mesmas em dados
relevantes para a compreensão e análise das estratégias e métodos presentes na prática
pedagógica da sala de recursos multifuncionais.
A análise dos dados foi do tipo descritivo exploratória, por meio da análise de
conteúdo (BARDIN, 2011). Este método organiza-se em torno de três pólos: primeiro é feito
a pré-análise; segundo a exploração do material e por último o tratamento dos resultados. A
análise dos dados ocorre a partir da transcrição dos dados e no movimento de agrupar
elementos comuns, estabelecendo categorias, por meio de duas etapas: inventário (isolaram-se
os elementos comuns) e classificação. Foram analisados os dados exatos e na íntegra, para
que não ocorra uma inversão dos fatos.
Todos os participantes receberam e assinaram uma cópia do instrumento de pesquisa e
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a Resolução
466/2012, do Conselho Nacional de Saúde que determina as diretrizes da pesquisa
envolvendo seres humanos, da autonomia, não maledicência, beneficência e justiça.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tendo como base as seguintes categorias temáticas: (1) Integralidade na atuação
docente – sala de recursos multifuncionais; (2) Estratégias e recursos pedagógicos para
alunos com DI, iremos discutir as estratégias utilizadas no AEE pelas quatro docentes para
analisar a atuação do professor da SRM com alunos com deficiência intelectual. Os nomes
9
das professoras foram substituídos por um código composto pela consoante “P”, em
referência a palavra professor, e seguido de uma numeração (de 1 a 4).
CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS
A efetivação do direito dos alunos com NEE é previsto na Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) 9394/96 que estabelece a obrigação do Estado prestar atendimento educacional
especializado aos alunos com deficiência matriculados na EJA, com oportunidades
educacionais apropriadas e considerando as características do alunado, seus interesses
e condições de vida, o que reforça o caráter inclusivo.
Destacamos que as tecnologias educacionais no AEE são de suma importância,
porque elas vão proporcionar um novo universo para o aluno, possibilitando a realização de
novas atividades. O aluno com deficiência intelectual tem suas dificuldades, e suas
potencialidades como qualquer um, mas é o apoio do professor que ajudará esses alunos nas
dificuldades contribuindo para o desenvolvimento de suas potencialidades.
No que se refere à atuação dos pedagogos na sala de recurso multifuncional é
imprescindível a boa relação entre os atores da comunidade escolar, como professores,
coordenação pedagógica, direção, família e equipe de apoio, porque sem a real articulação
entre os mesmos, não há como o aluno vir a se desenvolver satisfatoriamente. Os principais
tipos de atividades pedagógicas utilizadas com os alunos com deficiência intelectual na escola
são a memorização, a dispersão, a sequência cronológica. Muitas vezes, a falta do laudo
médico e do histórico de vida influencia no planejamento das atividades para o atendimento.
As professoras compreendem que as dificuldades apresentadas pelos alunos com DI,
atrapalham diretamente na vida social, na vida escolar e no processo de aprendizagem desses
alunos. Mas quando motivado, estimulado e com atividades contextualizadas levando em
consideração o seu cotidiano, desperta o interesse na realização das atividades, favorecendo
a construção do conhecimento do aluno.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977.
DENARI, F.E Educação especial e inclusão escolar: das dimensões teóricas às ações
práticas. Revista@mbienteeducação. São Paulo, v.1, n.2, p.31-39, 2008
FERREIRA, Windyz Brazão. Educar na Diversidade: práticas educacionais inclusivas
na sala de aula regular. In: Ensaios Pedagógicos, Educação Inclusiva: direito à diversidade.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006. p. 317-323.
MANZINI, E. J.; SANTOS, Maria Carmem Fidalgo . Portal de ajudas técnicas para a
educação: equipamento e material pedagógico para educação, capacitação e recreação da
pessoa com deficiência - recursos pedagógicos adaptados. 1. ed. Brasília: MEC, 2002. v. 1.
p.56.
MENDES, E.G. Inclusão marco zero: começando pelas creches. 1.ed. Araraquara:
Junqueira & Martin, 2010. p. 303.
RESUMO:
Este artigo propõe abordar a atuação do docente que desenvolve suas atividades no
Atendimento Educacional Especializado (AEE) como um dos atores educacionais que,
conjugados, apoiam e promovem a inclusão escolar na Educação Básica. Destacaremos as
atuações dos atendimentos pedagógicos promotores de acesso de alunos com deficiência
intelectual ao currículo escolar, desdobrando-as para as práticas deste docente especializado no
espaço da Sala de Recurso Multifuncional (SRM) e fora dela, com ações inclusivas de apoio
em articulação com a sala de aula comum, por meio das propostas de flexibilização curricular
para alunos do Ensino Médio em situação de deficiência intelectual.
1. Introdução
18
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio presidente Costa e Silva. SEDUC-PA
celiane_dias@hotmail.com
19
Universidade do Estado do Pará – UEPA e Secretaria de Estado de Educação do Pará – SEDUC-PA
scheilla.abbud@gmail.com
que desenvolve suas atividades no espaço da SRM ou fora dela, com atribuição de assegurar
um atendimento educacional especializado como apoio para melhor atender as especificidades
dos alunos com deficiência assegurando-lhes condições para a continuidade de estudos nos
demais níveis de ensino.
Para que todos tenham assegurado o direito ao acesso comum e irrestrito na escola,
necessitamos considerar a identificação do aluno e suas necessidades específicas de
aprendizagem:
Não há como considerar que uma criança com deficiência intelectual, com autismo,
com paralisia cerebral ou com uma deficiência sensorial (visual ou auditiva) possa ter o devido
atendimento pedagógico sem uma suficiente distinção de suas características cognitivas e de
aprendizagem. Por mais excelente que seja atuação de qualquer professor, as melhores
intenções e esforços pedagógicos não responderão às demandas específicas que determinados
alunos apresentam em sua aprendizagem, por apresentarem, exatamente, necessidades
educacionais especiais que apenas uma pedagogia diferenciada poderá atender. (BEYER, 2013,
p.62).
Os planos do AEE devem, então, resultar das escolhas do professor quanto aos
recursos, equipamentos, apoios mais adequados que possam eliminar/minimizar as barreiras
que impeçam o aluno de ter acesso ao que lhe é ensinado, garantindo-lhe a participação no
processo escolar e na vida social em geral, segundo suas capacidades. O docente que atua no
AEE acompanha a trajetória acadêmica de seus alunos, no ensino regular, para atuar com
autonomia na escola e em outros espaços de sua vida social e, para tanto, é imprescindível sua
articulação com o professor do ensino comum. É nessa perspectiva que o docente que atua no
AEE desempenhará suas atividades com a intencionalidade de eliminar possíveis barreiras que
possam existir ao acesso do aluno da educação básica ao currículo e sua participação mais
efetiva nos processos escolares, considerando suas necessidades especificas.
Entretanto, o que se evidencia de modo geral, é que para esses alunos não são
disponibilizadas estratégias metodológicas adequadas, decorrendo daí que a escolarização
desse sujeito, especialmente no Ensino Médio, tem se configurado mais como um sentido de
socialização do que de apropriação dos conteúdos disciplinares academicamente organizados
(BEZERRA E ARAÚJO, 2011).
A este respeito Pletsch (2010) afirma que a aprendizagem “não ocorre de maneira
espontânea, mas sim a partir da interação e do desenvolvimento de práticas curriculares
planejadas e sistematizadas de forma intencional” (p.187). Esse processo implica em alterações
na estrutura curricular, que perpassa obrigatoriamente pelas práticas pedagógicas instituídas,
que devem estar em consonância com as diretrizes emanadas de um Projeto Político
Pedagógico que se coadune com a perspectiva da inclusão e que tenha em vista, como afirma
Beyer (2006, p.75): [...] não produzir uma categorização “alunos com e sem deficiência, com e
sem distúrbios, com e sem necessidades especiais”.
O déficit nas funções cognitivas que a pessoa com deficiência intelectual manifesta
é traduzido na capacidade de processar informações que, neste caso, resultam em dificuldades
para, em curto espaço de tempo, ajustar-se a novas situações de aprendizagem. Daí a
necessidade do apoio pedagógico especializado, organizado com estratégias e recursos
pedagógicos diversificados e adequados aos objetivos educacionais propostos, com ações
pensadas para o desenvolvimento de suas capacidades. Em Fierro (2004), encontramos algumas
regras para tal organização:
(...) 7. Do mesmo modo que as demais pessoas, aquelas que têm deficiência
aprendem sem necessidade de ter consciência disso, mas aprendem
melhor, com menos erros, mais depressa, com “sobre aprendizagem”
quando o fazem conscientes dos procedimentos que utilizam e quando
“monitoram” seus processos e seus resultados(...). (p. 207).
Tendo em vista que o professor, em sua atribuição de mediador, é o sujeito que deve
ser capaz de mobilizar todos estes elementos, é necessário considerar também os procedimentos
avaliativos de toda essa construção e para isso, é imprescindível considerar também o
reconhecimento dos avanços que o aluno apresentou no decorrer do processo educacional,
comparando-o com ele mesmo, escolhendo e elaborando estratégias e instrumentos de
avaliação adequados, conforme definido nos objetivos do AEE, por sua natureza complementar
à educação do aluno com deficiência intelectual, que não é de contemplar conteúdos
acadêmicos em si, mas de organizar-se para mediar o processo de construção de conhecimento
desse sujeito. Considerar principalmente os conhecimentos prévios subjacentes às construções
cognitivas é o fator que levará à reorganização de todo o AEE e, consequentemente, das ações
desenvolvidas no ensino comum, pois o AEE deve possibilitar aprendizagens que são básicas
para as demais aprendizagens priorizadas nos conteudis disciplinares discutidos nas classes
regulares do Ensino Médio. A avaliação do aluno com deficiência intelectual tem sido discutida
por KASSAR, 2007; OLIVEIRA, 2011; PADILHA, 2001, 2006; PLETSCH, 2010;
VALENTIM, 2011, dentre outros autores.
4. Conclusões
5. Referências
AAMR. Retardo mental – definição, classificação e sistemas de apoio (2002). 10ª edição.
(tradução Magda França Lopes). Editora: ARTMED, Porto Alegre, 2006.
SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro. WVA,
1997.
I- INTRODUÇÃO
II-OBJETIVO GERAL
Auto - conceito/auto- estima, percepção de gerenciamento e a capacidade de
desempenho e atitudes em relação à educação dos filhos;
Regras e limites: a importância do educar;
Expectativas, com relação ao desenvolvimento do filho, aos outros e ao futuro;
Grau de exigência, para consigo e com o filho;
Diversidade e qualidade de relacionamentos sociais colaborando na autonomia e
independência dos filhos.
III- METODO
· Auto-conceito/Auto-estima;
· Expectativas;
· Regras e limites;
Foi utilizado um método descritivo e analítico das falas dos (as) participantes que
se estruturou conforme as temáticas trabalhadas.
Nesta constante luta de quebrar o preconceito e levar as informações necessárias aos pais, que
Schmidt e Ostrnoff (1999) enfatizam que as oficinas suscitam o rompimento cm estados de
isolamento, ativam laços sociais e de comunicação, contribuindo para o desencadear de
sentimentos de enraizamento e de pertença social.
A concepção e a luta pela educação inclusiva enquanto um movimento mundial deve ser
compreendido não só pelo cunho pedagógica, cultural, política, mais também social partindo
da premissa de que a educação é o víeis pelo qual se forma a sociedade e é através dela que
também perpassamos nossos modelos e concepções de família, cidade, nossos valores morais
e culturais, dessa forma alguns temas foram desenvolvidos ampliando o leque de discursão é
compreensão para assim melhorar a qualidade de vida das crianças com deficiência, temática
desenvolvida nos direitos da pessoa com deficiência. Além de enfatizar que foi na Constituição
Federal de 1988 que em um dos seus objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”
(art.3º, inciso IV).
V- CONCLUSÃO
O presente estudo possibilitou o espaço de expressão, reflexão e ressignificação dos
pensamentos, sentimentos e emoções com familiares das salas de recurso multifuncional. A
família representa importante papel para o desenvolvimento integral de criança com
deficiência, pois é um ambiente social de maior permanência da mesma, por isso os pais devem
e precisam ser vistos e inseridos como agentes ativos no processo para que as dificuldades
sejam superadas. A participação em grupos de intervenção e programas pode ajudar aos pais de
deficientes, auxiliando no incremento de informações e dos recursos de enfrentamento e
adaptação, gerando a possibilidade de compartilhar suas vivências com outras pessoas que
convivem com os filhos, e além de melhorar qualidade dos vínculos familiares.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB 5.692,
de 11 de agosto de 1971.
20
Brenda Aparecida da Silva, Maria Darlene Lameira Sodré Oliveira;
21
Rosa Maria Rodrigues Diniz
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo geral conhecer por meio de teóricos como a formação
docente agregada as tecnologias digitais assistivas podem contribuir para o ensino da educação
especial de surdos. Para tanto, este estudo adotou pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo
que possibilitou abordar conceitos sobre a alfabetização da pessoa com surdez, dificuldades,
avanços, as contribuições da Tecnologia Digitai Assistiva na educação especial, inclusão,
valorização da cultura surda, e a formação docente dentro desses processos. A pesquisa tem por
refencial teórico os estudos de Mantoam (2003); Sancho (2006); Goldfeld (2002) dentre outros.
Os resultados evidenciaram que a Tecnologia Digital Assistiva maximiza o aprendizado da
comunidade surda por meio de mediação feita por profissionais com habilitação na área da
educação especial de surdos. Todavia, ainda há a escassez de pesquisas dentro desta temática
no contexto educacional da Amazônia, o que desperta em nos o interesse em aprofundamentos
futuros.
1. INTRODUÇÃO
Nesse sentido, os espaços escolares têm por dever o exercício cotidiano da inclusão
de pessoas com NEE, sejam elas nos aspectos físicos, psicológicos e ou educacionais para o
combate de qualquer forma de exclusão ou discriminação.
20
Licenciandas Plena em Pedagogia – Faculdades Integradas Ipiranga.
21
Orientadora do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia – Faculdades Integradas Ipiranga.
intensa tendo os seus reflexos nas instituições de ensino. Dessa forma, as tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) agregam novas competências e habilidades com o objetivo
de auxiliar e maximizar o ensino e aprendizagem na mediação pedagógica em sala de aula.
Vale ressaltar que, a Tecnologia Digital Assistiva (TDA) ganha maior destaque
nesta pesquisa por facilitar a acessibilidade educacional e social da pessoa com surdez. Daí a
importância de agregá-las no contexto educacional da Amazônia e dessa forma chamar a
atenção para a promoção de pesquisas dentro desta temática que viabilizem um diagnóstico
sobre sua usabilidade na região Amazônica.
Por tanto, esta pesquisa é relevante por buscar subsídios teóricos que possibilitaram
fomentar discussões para reduzir as limitações destes alunos diante da aquisição de
conhecimentos, tendo como suporte as novas Tecnologias aplicadas à comunicação.
2. OBJETIVOS
2.1 Geral
2.2 Específicos
A educação especial é uma matriz curricular que perpassa por todas as modalidades
de ensino e destina-se às pessoas que apresentam limitações sejam elas físicas ou intelectuais,
destacando-se como um dos temas mais debatidos em vários segmentos da sociedade em
combate a discriminação, preconceito e segregação ao longo da história.
Os surdos não são letrados na sua língua quando se deparam com o português escrito.
A escrita passa a ter uma representação na língua portuguesa ao ser mediada por uma
língua que haja significação. As palavras não são ouvidas pelos surdos, eles não
discutem sobre as coisas e seus significados no português, mas isso acontece na língua
de sinais. Assim, a escrita do português é significativa a partir da língua de sinais.
Menezes (2013) diz que o letramento surge de uma necessidade social dentro de
um determinado contexto. Com base em Vygotsky (1998, p.38): “Signos e palavras constituem
para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas”.
Diante disso, é possível dizer que a compreensão dos códigos estabelecidos pela sociedade
pode colaborar para a alfabetização e o letramento do aluno com surdez por meio das interações
e vivências com alunos ouvintes e não ouvintes, e, portanto expressar o que entende por meio
da língua de sinais.
O conceito mais importante que a filosofia bilíngue traz é de que os surdos formam
uma comunidade, com cultura e língua próprias. [...]. Isto não significa que a
aprendizagem da língua oral não seja importante para o surdo, ao contrário, este
aprendizado é bastante desejado, mas não é percebido como o único objetivo
educacional do surdo nem como uma possibilidade de minimizar as diferenças
causadas pela surdez.
De acordo com esse entendimento, percebe-se que a TIC pode auxiliar o ensino na
educação especial, porem (SANCHO, 2006) ressalta que esta por si só não assegura a qualidade
do ensino na educação especial, pois, o que viabilizará a contribuição mais significativa das
tecnologias da informação e comunicação com um caráter geral, é a capacidade para intervir
como mediadora no processo de ensino e aprendizagem, e potencializando o ensino inclusivo
por meio de sua utilização com o auxilio do professor. Dessa forma, o professor estará
contribuindo para possíveis avanços na construção e aquisição de novos saberes por meio de
um olhar pesquisador, procurando meios e subsídios que favoreçam a inclusão.
Segundo consta no Decreto 5.296/2004 em seu Art. 8º. Para fins esclarecedores,
considera-se (BRASIL, 2004):
Com base nos estudos de Moran, Masseto, Behrens (2000) percebe-se que a
Tecnologia Digital é uma temática que cresce aceleradamente tendo fortes implicações na
dinâmica educacional brasileira, pois, alunos, professores e demais componentes da
comunidade escolar tornam-se mediatizados pelas tecnologias de informação e comunicação,
adquirindo assim novas formas de compartilhar conhecimentos digitalmente construídos. Para
estes autores: “O conhecimento não é fragmentado, mas interdependente, interligado,
intercessora. Conhecer significa compreender todas as dimensões da realidade, captar e
expressar essa totalidade de forma cada vez mais ampla e integral” (p.18). Dessa forma, é
possível compreender que por meio de ambientes virtuais de aprendizagem o aluno com surdez
também poderá adquirir e compartilhar novos conhecimentos.
Resultante disso, percebe-se que a TDA não se limita apenas ao concreto, mas se
faz presente por meio de softwares, programas virtuais de aprendizagem.
Para contribuir com o conceito de Mantoan, Sancho (2006, p. 137) ressalta que:
Educar com qualidade é um dos grandes desafios da prática docente no século XXI,
pois, o professor vivencia um contexto escolar permeado por um público heterogêneo e deve
estar preparado para atender as exigências metodológicas de ensino adequando-as às
necessidades individuais dos educandos, com vistas a promover o aprendizado.
Mazzotta (2005) ressalta que a trajetória da educação especial no Brasil foi marcada
por esforços individuais e coletivos para alcançar mudanças no atendimento aos educandos com
NEE, e enfatiza que políticas públicas recentes destinadas a pessoa com surdez foram
implementadas com intuito de assegurar que suas necessidades educativas sejam sanadas, de
alguma forma, em especial, preocupando-se com a justiça social.
6. CONCLUSÃO
Ademais, a Libras como língua materna dos surdos configura-se como realidade
intrínseca a sua cultura, e não pode desvincular-se no ato da mediação pedagógica. Dessa forma,
foram feitas inferências teóricas quanto a necessidade da valorização da Libras, o que
possibilitou constatar a necessidade de agregá-la ao português escrito, para que dessa forma o
aluno evolua em seu processo formativo, possibilitando ainda realizar adaptações compatíveis
que possibilite a percepção do canal visual e desta forma promover a memorização para facilitar
o processo de alfabetização.
________.Direito à educação: subsídios para a gestão dos sistemas educacionais: orientações gerais
e marcos legais / Organização: Ricardo Lovatto Blattes . – 2. ed . – Brasília : MEC, SEESP, 2006.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/direitoaeducacao.pdf. Acesso em:
08/03/2015.
________.Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas
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GIROTO, C.R.M, et al. As tecnologias nas práticas pedagógicas inclusivas. SP: Cultura acadêmica,
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(ANBA) – Sp, 2013. Disponível em:
http://www.anba.com.br/noticia/19625072/tecnologia/brasileiros-disputam-premio-nos-
emirados/?indice=40. Capitulado em: 28/10/2015.
SASSAKI, R. K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos – 8ª Ed. Rio de Janeiro: WVA,
1997.
Resumo: este estudo tem como inquietação: como vem ocorrendo o processo ensino-
aprendizagem do aluno Surdo em uma escola regular de ensino médio no município de Belém-
Pará? Para respondermos a tal questionamento definimos como objetivo: analisar os dizere s de
um aluno Surdo sobre o processo ensino-aprendizagem em uma escola regular de ensino médio
no município de Belém. O estudo pautou-se em uma pesquisa de base qualitativa, por meio de
um estudo de caso e um trabalho de campo. O sujeito desta pesquisa é um aluno Surdo, com 19
anos de idade, que cursa o 2º ano do ensino médio em escolar regular inclusiva. É um aluno que
possui surdez profunda bilateral congênita e que tem um ótimo domínio da Libras. Por meio
deste estudo percebemos que: o aluno Surdo pouco faz referência às suas especificidades
linguísticas (uso da Libras) no contexto da escola inclusiva; que nem todos os professores
trabalham a partir da Libras em sala de aula; que o aluno Surdo consegue se inserir no contexto
educacional, pois em alguns momentos é auxiliado pelos seus colegas ouvintes; e que no geral a
escola pouco trabalha com a Libras.
1
Mestranda em Letras da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e Graduanda do Curso de Letras Libras /
Língua Portuguesa como segunda língua (L2) para Surdos da Universidade Federal do Pará.
2
Graduanda do Curso de Letras Libras / Língua Portuguesa como segunda língua (L2) para Surdos da Universidade
Federal do Pará.
3
Professor Mestre do Curso de Letras Libras / Língua Portuguesa como segunda língua (L2) para Surdos da
Universidade Federal do Pará.
na Tailândia, no ano de 1990,4 bem como ainda na Conferência Mundial sobre Necessidades
Educativas Especiais, na Espanha, em 1994. Esta última, culminou na Declaração de
Salamanca,5 que revela que cabe ao governo adotar o princípio de educação inclusiva em forma
de lei ou política, matriculando todas as crianças em escolas regulares.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9.394/96) é
dever do estado “oferecer atendimento educacional gratuito e especializado aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente em rede regular de ensino”
(BRASIL, 1996, p. 2). Por conseguinte, à luz de uma legislação ordinária, os alunos são
matriculados no ensino regular e possuem acompanhamento no contra turno.
Nesta perspectiva, estamos de acordo que a oferta de vaga, para efeito de matrícula, tem
sido garantida na grande maioria das unidades de ensino da educação básica. Em contrapartida, a
qualidade dessas ações tem sido questionada, visto que as necessidades e diferenças linguísticas
estão sendo postas de lado e supridas de modo estanque, isolado, descontextualizado, descontínuo.
Destarte, o único objetivo desta abordagem de inclusão tem sido inserir alunos Surdos no
mesmo conjunto de alunos ouvintes e manter o acompanhamento através do Atendimento
Educacional Especializado (AEE) de modo desintegrado do processo de ensino-aprendizagem.
No entanto, certos de que os fins aos quais se destinam a educação inclusiva sejam
promovidos e alcançados, de direito e de fato, ações integradoras – que dialogam com todos os
contextos sociais em que a escola se apresenta – são necessárias para promover melhores
resultados.
Ademais, outro aspecto relevante a se tratar é o que prescreve o Art. 23 do Decreto
5.626/2005, o qual versa que as instituições de ensino, de educação básica e superior, devem
proporcionar aos alunos Surdos os serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua
Portuguesa em classe, com objetivo de auxiliar alunos Surdos na sala de aula. Além disto, este
dispositivo assegura também que se deve organizar recursos, currículos, métodos e técnicas
específicos para atender as necessidades educativas dos alunos. Entretanto, verdade é que não
4
A conferência de Jomtien focalizou o ideal de escolas para todos, apontando a importância de universalizar o
acesso à educação, promovendo a equidade e a melhoria dos serviços educativos, destacando as necessidades
básicas de aprendizagem das pessoas com deficiência.
5
A Declaração de Salamanca representou um novo ponto de partida para as ações de educação especial ao reafirmar
que todas as pessoas têm direito à educação, reconhecendo que as pessoas com necessidades educacionais especiais
devem ter acesso às escolas regulares.
são todas as instituições que dispõem destes profissionais. Assim, da teoria à prática, os
questionamentos se estendem cada vez mais, aumentando as fronteiras entre inclusão e inserção.
Logo, no intuito de derrubar tais barreiras e garantir direitos fundamentais e inalienáveis,
é a formação de professores, que estejam aptos para trabalhar com alunos Surdos, uma
alternativa indispensável ao desafio de promover a educação inclusiva como um todo significativo.
Contudo, mesmo diante da relevância do papel que o professor desempenha na educação
de alunos Surdos, quase não há profissionais formados na área, já que a grande maioria alega
estar despreparado para atender estes alunos.
Desta forma, não se pode negar que a política de inclusão do MEC é um começo
significativo, pois trouxe alunos com necessidades educativas especiais, como a surdez, para
dentro das escolas regulares. Todavia, não se pode fechar os olhos e ignorar o fato de que eles
precisam ter um aprendizado no contexto escolar, para que, assim, possamos fugir das antigas
escolas especiais, as quais se limitavam a conteúdos descontextualizados, excluindo estes alunos
Surdos de todo um contexto linguístico e extralinguístico em que a Libras, enquanto língua,
apresenta.
Por outro lado, em relação à abordagem dos profissionais em desacordo com a política de
inclusão do MEC, há percepções críticas entre as quais se destaca o posicionamento de Dorziat
(2009), que questiona o ato de somente inserir o aluno Surdo em sala “regular”, defendendo que
a verdadeira inclusão leva consigo o respaldo em processos pedagógicos engajados
culturalmente. Segundo a autora “incluir é, necessariamente, proporcionar o enriquecimento
humano, por meio da aproximação de culturas e de diferentes expressões do pensamento”
(DORZIAT, 2009, p. 69).
Assim, a autora enfatiza que o processo inclusivo do MEC tem contribuído com a
permanência da exclusão ao dizer:
Algumas posições que vêem a inclusão apenas como o estar junto no mesmo ambiente
de ensino com os considerados normais, que entendem que o contato das crianças
especiais com crianças de escolas comuns reduz o espanto pelas diferenças e torna essas
últimas mais humanas, mais solidárias, são posições equivocadas têm contribuído para a
permanência de processos cada vez mais excludentes (DORZIAT, 2009, p. 82).
Esta pesquisa ocorreu em uma única escola, por isso é um estudo de caso. Esse tipo de
estudo é caracterizado pelo “estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de
maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo” (GIL, 1989, p. 78)
A escola escolhida para fins de pesquisa foi visitada duas vezes durante a semana no
período de dois meses e, dentro da mesma, foram escolhidas uma turma de ensino médio, com
um aluno Surdo, para ser observada.
Estas visitas à escola caracterizam-se como trabalho de campo, uma vez que se
apresentam como “uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que
desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade
presente no campo” (NETO, 1994, p. 51).
O contato com o sujeito Surdo se deu primeiramente pela observação e posteriormente com
uma entrevista por meio de um roteiro previamente estabelecido. Gil (1989) define a entrevista
como:
A aproximação com o aluno Surdo ocorreu no decorrer das aulas e também nos
momentos de intervalo. Assim identificamos que o sujeito desta pesquisa é um aluno Surdo, com
19 anos de idade, que cursa o 2º ano do ensino médio em escola regular inclusiva. É um aluno
que possui surdez profunda bilateral congênita e que tem um ótimo domínio da Libras.
Em seguida, para que averiguássemos como está ocorrendo o processo de inclusão do aluno
Surdo, realizamos um levantamento de dados por meio da observação. O processo de observação
ocorreu na turma do segundo ano do ensino médio do referido educando, tendo sido observadas
somente as aulas da disciplina de Língua Portuguesa, as quais foram ministradas nas segundas e
sextas-feiras.
De acordo com Kauark; Manhães; Medeiros (2010) na observação, são aplicados
atentamente os sentidos a um objeto, a fim de que se possa, a partir dele “adquirir um conhecimento
claro e preciso. A observação deve ser exata, completa, imparcial, sucessiva e metódica" (p. 62).
Utilizamos registros escritos das aulas acompanhadas com o sujeito da pesquisa e da
infraestrutura escolar, bem como, fizemos a aplicação de questionários e a realização de entrevistas
com o sujeito envolvido neste estudo 6 , tal como propõem Kauark; Manhães; Medeiros
(2010):
Para que a entrevista se efetive com sucesso é necessário ter um plano para a entrevista,
de forma que as informações se formem de caráter exploratório, serão permitidas
eventuais indagações ou levantamento de dados e informações que não estejam
contempladas no formulário (p. 64).
6
A entrevista ocorreu toda em Libras, sendo que as respostas do sujeito da pesquisa, por serem sinalizadas, foram
gravadas em aparelho celular Samsung S5 e depois fizemos as transcrições que serviram de dados para a produção
deste artigo.
tema, para elucidarmos nossas apreensões sobre o olhar do aluno Surdo acerca da inclusão
escolar.
A seguir, expressaremos nossas percepções e análises sobre o direito à educação de
alunos Surdos e, em seguida, iremos expor os dizeres de um aluno Surdo acerca da inclusão escolar
em turma de 2º ano do ensino médio do ensino regular.
Com base em uma legislação específica, a qual trata da Educação Inclusiva, a política
educacional, de modo geral, assegura aos alunos, com necessidades especiais, o direito
fundamental à educação, mediada a partir das especificidades que lhes são próprias.
A este respeito, a Constituição Federal do Brasil aduz em seu Art. 205 que:
Do mesmo modo, o art. 206, que dispõe sobre o ensino, assevera, em seu inciso I, que deve
haver “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1988). Nesta
perspectiva, se a educação é um direito de todos, se todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, como disposto no art. 5º, deve ser garantida para que possa atender aos
fins aos quais se propõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN).
Art. 22º. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe
a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios
para progredir no trabalho e em estudos posteriores (BRASIL, 1996).
Nas aulas, por exemplo, em sociologia o professor sempre usa textos xerografados para
eu responder. Nas outras disciplinas, como matemática e educação física, fazem provas
e trabalhos em grupos. Em biologia o professor explica e depois faz trabalhos, sempre
tem trabalho (aluno Biel em 18/11/2015).
Percebemos neste argumento que o aluno Surdo, em momento algum, faz referência às suas
especificidades linguísticas, pois o fato do professor usar textos xerografados, aplicar provas
ou fazer trabalhos em grupos não garante que o status linguístico da Libras esteja sendo
evidenciado no âmbito da sala de aula. Assim, pensamos que seja preciso reconhecer o status
linguístico concedido à Libras em sala de aula, no sentido do professor aproximar dois mundos –
“o do Surdo em relação ao ouvinte e o mundo do ouvinte em relação ao do Surdo” (GESSER,
2009, p. 10)
Adiante, buscamos verificar como o aluno Surdo interagia ao longo do processo de
ensino-aprendizagem em classe inclusiva, então o perguntamos: como você faz para participar
das aulas e que estratégias o professor cria para favorecer a sua participação?
O professor utiliza bastante o livro, nós copiamos algumas atividades do livro, isso
desde o 1º ano. Em momentos de provas é preciso colocar a reposta certa. O uso de
data-show ocorre somente nas aulas de literatura, isso acontecia antes, mas agora não
tem mais (aluno Biel em 18/11/2015).
Ao que foi respondido, tal como se seguiu em seu dizer, fica, mais uma vez, claro que o
esforço metodológico para encontrar alternativas que pudessem “dialogar” com o educ ando, não
supre as suas necessidades, uma vez que, conforme o relato do aluno Surdo, evidenciamos que o
professor não trabalha a partir da Libras. Logo, é bem verdade que muito ainda pode ser feito
para que o Surdo e “a constituição social dessa língua minoritária ocorra, ou seja, para
chegarmos à legitimação e ao reconhecimento, por parte da sociedade como um todo, de que a
língua de sinais é uma língua” (GESSER, 2009, p. 9); para que a Libras seja contemplada nas
estratégias pedagógica que o professor cria para favorecer a participação do aluno Surdo em sala
de aula.
No intuito de sabermos o que poderia ser feito para refletirmos sobre os métodos eficazes
utilizado com o aluno Surdo em classe, perguntamos ao mesmo: o que você acha que a escola
deve fazer para melhorar sua aprendizagem em turma regular? Assim obtivemos a seguinte
resposta:
O meu aprendizado sempre ocorre por mim próprio, as vezes eu preciso esperar para fazer
os trabalhos, e sei que é importante eu me esforçar nos estudos. Às vezes eu estou um
pouco desestimulado e cansado. Eu sozinho não conseguiria, mas é bom que temos
trabalhos em grupos para resolvermos as questões, temos o auxílio de alunos ouvintes
também (aluno Biel em 18/11/2015).
Percebemos no discurso do aluno Surdo que ele consegue se inserir no contexto educacional
porque é auxiliado pelos colegas ouvintes, porém, seus dizeres revelam ser um esforço
extremamente cansativo e desestimulante, pois confessa que “sozinho não conseguiria”. Desse
modo, se houvesse o intermédio de profissionais com formação em Libras, em especial intérpretes
de Libras, certamente, melhor seria o resultado do trabalho pedagógico quanto ao processo de
ensino-aprendizagem. Neste sentido, Lacerda (2014) aponta que “é urgente capacitar intérpretes
para atuarem no espaço educacional, atento às especificidades e demandas de cada um dos níveis
de ensino” (p. 85).
Por conseguinte, perguntamos ao aluno Surdo se a escola trabalha com a Libras diariamente
e de que forma. Logo, a despeito deste questionamento, fora-nos respondido:
Aqui na escola a diretora e alguns professores não sabem Libras. Tem uma das diretoras
que sabe Libras, bem pouco, mais ou menos. Tem um professor de biologia que sabe
também Libras, os outros não sabem, apenas o professor de biologia que sabe (aluno
Biel em 18/11/2015).
Conforme o relato do aluno Surdo, percebemos que, no geral, a escola pouco trabalha
com a Libras, apesar de alguns professores conseguirem se comunicar por meio desta língua.
Contudo, este fato não contempla as especificidades do aluno Surdo, afinal, Libras é uma língua
e, por se tratar de uma língua, as alternativas encontradas são limitadas, já que não alcançam a
dimensão linguística necessária para a aprendizagem em seu todo. O interessante seria
proporcionar “o acesso e o contato com essa língua na escola” para “favorecer o
desenvolvimento e a aquisição de novos conhecimentos de forma ampla e adequada pelo aluno
Surdo” (LACERDA; BERNARDINO, 2009, p. 65).
E por fim, perguntamos ao aluno Surdo: de que forma você sonha uma escola para você?
Assim o aluno comentou:
Eu não penso muito sobre isso, mas um dia quero poder estudar no instituto Ipiranga, eu
vou aguardar terminar meus estudos aqui na escola, para ir estudar lá, que era a UVA
[Universidade Vale do Acaraú]. Eu ainda não sei que curso, estou esperando e pensando
(aluno Biel em 18/11/2015).
Verificamos nos dizeres do aluno Surdo que não há uma certa preocupação em relação ao
seu processo de escolarização em turma regular inclusiva, isso ocorre, pois Lacerda (2006) já
aponta que o aluno Surdo presente em escolas inclusivas “como não conhece algo diferente,
acredita que esta convivência seja plena e se satisfaz com ela” (p. 173).
Assim, para fazer a inclusão uma realidade de direito e de fato, devemos mais do que
sonhar. Devemos, pois, engajarmo-nos não apenas em uma política educacional como
mecanismo de inserção, mas, acima de tudo, numa educação política que rompa com velhos
paradigmas, que derrube barreiras, equívocos e preconceitos; que desmistifique crenças; que
questione práticas pedagógicas descomprometidas e que façam com que os alunos Surdos
possam refletir criticamente acerca deste processo inclusivo.
Assim, esperamos que este estudo possa estimular outros pesquisadores e professores a
avançarem ainda mais seus estudos no âmbito da inclusão escolar de alunos Surdos no ensino
regular e que possa contribuir também com a melhoria de qualidade da educação de Surdos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 5 out. 1988.
BRASIL, Ministério da Ação Social. Coordenadoria Nacional Para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades
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DORZIAT, Ana. O outro da educação: pensando a surdez com base nos temas
identidade/diferença, currículo e inclusão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
GESSER, A. LIBRAS? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais
e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 2ª edição. São Paulo, Atlas, 1989.
NETO. Otávio Cruz. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, M. C. S.
Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
INTRODUÇÃO
O sistema educacional brasileiro defende uma educação para todos por meio de uma
escola heterogênea, pluralista e acolhedora independentemente de suas
diferenças. Acredita-se que um currículo multicultural possa oferecer contribuições nesse sentido. A
educação inclusiva envolve o preparo das instituições para receber os alunos com necessidades
especiais, revendo e reformulando currículos, adequando o espaço físico, revendo metodologias e
recursos didáticos.
O sucesso escolar contribui para valorizar o indivíduo; aumenta sua auto estima,
colaborando com a inclusão e aceitação na sociedade. Pessoas com deficiência estão presentes em
todos os setores da sociedade, é necessário que se faça uma reflexão sobre essas práticas pedagógicas
a fim de garantir participação plena e igualdade, do ponto de vista profissional, pessoal e social.
Uma sociedade inclusiva começa pela educação que está baseada em afetividade. Sendo
assim, a educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção: o aluno com deficiência física, os
22
Graduada em Letras, Graduada em Pedagogia, Pós Graduanda em Docência do Ensino Superior,
Psicopedagoga, Especialista em Educação Especial e Inclusiva e em Gestão Escolar.
que têm comprometimento mental, os superdotados, em especial, para o presente trabalho, o aluno
com deficiência intelectual.
E notório que no Século XXI, a afetividade exerce um poder capaz de modificar até
mesmo processos biológicos e adaptar-se a qualquer situação em que haja relação entre o ser humano.
Isso mostra o quanto a afetividade pode influenciar diretamente nos mecanismos do corpo.
A palavra afeto vem do latim affectur (afetar, tocar) e constitui o elemento básico da
afetividade. Pode se dizer que afetos são os sentimentos que se expressam a pessoas, a objetos ou
mesmo a fatos ocorridos, e estes afetos podem ser: amor, paixão, ternura, tristeza, raiva, ira e muitos
outros possíveis de se manifestarem durante a vida.
Wallon (1995, p. 27) é categórico quando afirma “que é a partir da relação com o outro,
através do vínculo afetivo que nos anos iniciais a criança vai tendo acesso ao mundo simbólico e,
assim, conquistando avanços significativos no âmbito cognitivo”. Para ele, o desenvolvimento da
criança se dá por estágio e o que se pode observar é que na sua psicogênese o infante em cada estágio
estabelece um tipo diferente de interação no que se refere ao meio, o físico, e intelectual. Em cada
fase do desenvolvimento as funções afetiva e cognitiva estão constantemente se entrelaçando
deixando evidente que os conceitos e preponderância funcional no que se refere à predominância em
escala de afetividade e cognição nos diferentes estágios de desenvolvimento são importantes para
construir uma afetividade para com o outro.
Piaget (1983, p. 234) adverte que a “afetividade ou sua privação podem ser a causa de
aceleração ou atraso no desenvolvimento cognitivo”. Nesse sentido, a afetividade contribui de forma
significativa na relação professor-aluno, sendo necessário que o educador primeiramente conquiste
a confiança da criança através do diálogo afetivo, a partir de então, abrem-se portas para uma melhor
aproximação que possivelmente acarretará em segurança, respeito e autoestima, que gradativamente
irá proporcionar ao educando com deficiência intelectual um melhor rendimento no processo ensino-
aprendizagem.
A sala de aula deve ser o lugar perfeito para que aconteça a afetividade, pois é o lugar de
aconchego, onde o professor tem a possibilidade tanto de aproximar-se do aluno como de promover
encontros entre os mesmo estreitando assim às relações interpessoais, estimulando o respeito às
diferenças, a generosidade e o amor ao próximo. Com relação à prática pedagógica, entende-se que
a construção do conhecimento do aluno com deficiência intelectual é mais lenta do que dos demais,
pois estes sentem-se prejudicados em não atingir o nível desejado por conta da complexidade de suas
limitações e de demonstrar a sua capacidade cognitiva e motora, principalmente nas instituições que
ainda preservam uma educação tradicionalista e conservadora, de certa forma, essa escola acaba
prejudicando o desenvolvimento e dificultando o aprendizado do aluno.
OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo desenvolver a participação da família junto à escola para
o desenvolvimento da autonomia de pensamento dos alunos com DI, fortalecendo assim sua interação
social.
Priorizar o ensino através da afetividade não só com professores, também entre os alunos,
observando a comunicação e o desenvolvimento linguístico dos alunos com DI.
A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA
É no âmbito familiar que se dá o primeiro contato afetivo e esse vínculo vem caracterizar
a relação ensino e aprendizagem, dessa maneira a criança chama a atenção do adulto garantindo com
seus anseios, os cuidados que precisa e isso se dá logo nos primeiros anos de vida.
Para Sassaki (1997, p. 137) “Os familiares terão uma participação importante ao ajudar
os professores e técnicos a identificarem os níveis de desenvolvimento das inteligências de seus
filhos”. É de extrema relevância para o mencionado autor que a escola envolva a participação dos
familiares nesse contexto de educação inclusiva, pois eles convivem mais tempo com os educandos
do que o próprio professor e conhecem melhor as possíveis dificuldades e habilidades que o mesmo
terá no convívio escolar e social. Seguindo a mesma linha de pensamento, Galvão (1995, p. 27) vem
ressaltar de forma clara que “os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem e os
conhecimentos próprios a cada cultura forma o contexto do desenvolvimento”.
O artigo 2º da LDBEN, que trata dos princípios, meios e fins da Educação brasileira,
garante a Educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdades ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, o preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Nesta perspectiva todo o indivíduo tem direito a ser incluído na escola e na sociedade,
pois na atualidade as diferenças são bem mais aceitas do que no início da história da humanidade,
onde ter um deficiente na família era vergonhoso e até mesmo considerado um castigo divino.
Hoje incluir é acima de tudo aceitar. Valem ressaltar que a família é importante para a
socialização do aluno na escola, os pais devem comparecer a escola estimulando seu filho. Lidar com
a deficiência de alguém não é tarefa fácil e requer uma total mudança de atitudes e ações, mas
principalmente, exige uma transformação no que diz respeito ser uma deficiência, pois ela não é
curável e muito menos exterminada.
Muitos educadores e profissionais da saúde que lidam com pessoas com deficiência
enfrentam pais que esperam somente por resultados positivos através do intermédio da escola, do
psicólogo, do fonoaudiólogo, de terapeutas e tantos outros profissionais, esperando que estes venham
mudar o quadro de deficiência em eficiência.
O professor exerce um papel fundamental para a eficácia da inclusão do aluno com D.I,
onde constantemente é desafiado a enfrentar o novo e ir em busca de embasamentos que auxiliem
sua pratica educativa a qual inclua todos os alunos independente de suas limitações, ele deve respeitar
as diferenças superando os próprios preconceitos e entender o ser humano em sua singularidade
valorizando as potencialidades de cada um e principalmente na promoção da socialização entre os
alunos.
Segundo Beyer (2010, p. 27) “O professor que transita diariamente entre seus alunos
conhece muito bem tal diversidade. Dificilmente aceitaria qualquer premissa de homogeneidade dos
seus alunos, pois sabe que são diferentes entre si, assim como não há ser humano igual a outro”. A
convivência diária do docente em sala de aula com os alunos ajuda-o a conhecê-los em sua
diversidade seja no agir, nas dificuldades ou na interação, seu desempenho escolar e assim aprende
a considerar o ritmo e o nível de aprendizagem de cada um, sabendo que uns aprendem mais rápido,
outros porém, apresentam dificuldades.
O professor voltado para a inclusão precisa ter conhecimento de que serão grandes os
obstáculos para que sejam alcançados os objetivos desejados, diante disso, buscando caminhos que
venham levá-lo ao alvo, que seria a metodologia adequada para o processo de ensino-aprendizagem
do aluno com deficiência intelectual, preocupando-se também em encontrar formas que contribuam
para que a sociedade venha a ser menos preconceituosa mais justa e democrática, obtendo assim
também possibilidades e alternativas para a prática dessa educação. Para Baú e Kubo (2009, p. 30)
“As características para o aprendizado efetivo possibilitam questionar as capacidades necessárias dos
professores para trabalhar com crianças especiais. Como o professor planeja, o que ele vai ensinar e
de que maneira ele percebe no aluno a aprendizagem.” O planejamento e as estratégias utilizadas em
salas de aula é que irão direcionar o bom andamento social e educacional de uma escola inclusiva.
Segundo o Ministério da Educação:
O aluno com deficiência mental, como qualquer outro aluno, precisa desenvolver
sua criatividade, a capacidade de conhecer o mundo e a si mesmo, não apenas
superficialmente ou por meio do que o outro pensa. O nosso maior engano é
generalizar a dotação mental das pessoas com deficiência mental em um nível
sempre muito baixo, carregado de preconceitos sobre a capacidade de, como alunos,
progridem na escola, acompanhando os demais colegas. Desse engano derivam
todas as ações educativas que desconsideram o fato de que cada pessoa é uma
pessoa, que tem antecedentes diferentes de formação, experiências de vida e que
sempre é capaz de aprender e de exprimir um conhecimento. (2006, p. 21)
Por maior que seja a limitação do aluno com deficiência intelectual, ir à escola comum
para aprender conteúdos acadêmicos e participar do grupo social faz com que ele desempenhe com
maior desenvoltura suas habilidades.
Gaio e Meneghetti (2012) afirmam que, “ensinar é uma tarefa complexa, pois requer um
maior desempenho por parte do professor principalmente no ambiente inclusivo, visto que muitos
educadores estão conformados com os conhecimentos adquiridos no passado, porém sendo
necessária a mudança.” Para a melhoria do ensino é importante que haja um esforço de toda
comunidade escolar e o aprimoramento da formação do professor para garantir a permanência das
diferenças no contexto escolar.
O educador em sua prática educativa precisa está em busca de formação continuada para
assim direcionar o aluno a experiências que o capacite a viver em sociedade.
A escola tem uma função fundamental no contexto de inclusão. Para Gaio e Meneghetti
(2012, p.65) “A escola para todos é reflexo da sociedade de todos, portanto, tenta abarcar toda a
diversidade, isto é, deve ser espaço educacional de todos e para todos”. A escola precisa desempenhar
o seu papel, de acolher todas as crianças não importando sua diversidade.
Pois, segundo o Decreto 3.298 que regulamenta a Lei 7.853/89 que trata da Política
Nacional para a Integração de Pessoa Portadora de Deficiência no artigo 8º estabelece que “é crime
passível de punição com multa de um a quatro anos de prisão recusar, suspender, cancelar ou fazer
cessar, sem justa causa, a inscrição em estabelecimento de ensino de qualquer grau, público ou
privado, por ser portador de deficiência”.
A escola deve, portanto, garantir a educação a esse indivíduo proporcionando uma boa
familiarização com o conhecimento que servirá para toda sua vida. O que objetiva uma escola para
todos é por se tratar de uma instituição que atenda e auxilia na construção do conhecimento de todos
os seus estudantes, e que tenha um currículo direcionado para a realidade e suas necessidades para o
bom desenvolvimento educacional.
Segundo Stainback e Stainback (1999, p. 27) “Quando as escolas incluem todos os
alunos, a igualdade é respeitada e promovida como um valor na sociedade com resultados visíveis
da paz social e da cooperação”.
Podemos perceber que nem todas as escolas estão preparadas para receber o aluno com
deficiência intelectual, pois o mesmo tem dificuldade de construir seu conhecimento e muitas escolas
não atingem o objetivo desse educando na questão da aprendizagem. Cabe a ela o papel de rever uso
de alternativas metodológicas assegurando às crianças e jovens a ampliação dos seus horizontes e
saberes para o exercício da cidadania.
Para haver inclusão é preciso em primeiro lugar aceitar, amar a construção de uma
cidadania e buscar o desenvolvimento do aluno com deficiência intelectual, trabalhando sua
integração aos demais, e acima de tudo respeitando suas limitações, tarefa que exige do educador um
esforço extra, pois ele tem na maioria das vezes uma sala superlotada e deve trabalhar com todos de
forma harmônica e eficaz, buscando a construção do conhecimento e a participação de forma ativa
do processo de aprender a aprender.
Freire (1979, p.29) afirma com clareza que “não há educação sem amor. O amor implica
luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há
educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o
respeita.” O professor comprometido, que tem amor à sua profissão, tem em suas mãos o
compromisso de auxiliar na construção do conhecimento de seu aluno, desenvolvendo práticas
educativas que favoreçam sua aprendizagem, além de contribuir para a formação do exercício para
ser aceito pela sociedade.
E quando se fala em sala de aula, o professor como mediador do conhecimento não deve
esquecer que o amor e a afetividade andam juntos, e cabe a ele assumir a postura de se comprometer
no incentivo a prática da afetividade reconhecendo seu valor no ato de ensinar.
Para trabalhar com esse aluno, o afeto deve permear todas as situações, bem como, o
mesmo precisa sentir-se acolhido, tendo seu tempo respeitado, pois uma das maiores dificuldades é
o fato de que o currículo das escolas muitas vezes é estratificado em função de uma sequência
gradativa de conteúdos, como se todos os alunos tivessem a mesma idade e fossem capazes de
aprender no mesmo ritmo e tempo determinado. Sendo assim, o professor deve respeitar o tempo
deste aluno, mediando às relações e sua aprendizagem a fim de que ele não se sinta excluído nem
vivencie o fracasso.
Por meio da afetividade, ele influência no resultado da educação de seus alunos, a relação
entre ambos deve ser baseada no desenvolvimento, comprometimento, diálogo e respeito para que
assim a aprendizagem aconteça. O educador precisa assumir o novo desafio que está a sua frente com
seriedade, comprometimento e a partir desta postura assumida é que as mudanças no sistema
educacional ocorreram.
CONCLUSÃO
Após a pesquisa concluiu-se que os seres humanos se diferenciam uns dos outros em
muitos aspectos tais como a inteligência, as habilidades, o conhecimento, as estratégias de
aprendizagem, os interesses, as expectativas, as motivações, e todos esses aspectos recaem sobre os
processos de ensino-aprendizagem de forma distinta e particular para cada aluno.
Sendo assim, as teorias da afetividade e do desenvolvimento humano mostram o quanto
essas especificidades influenciam na individualidade humana e, não se podem estabelecer regras
psicológicas gerais para ser aplicadas igualmente a todos, pois cada indivíduo é único.
Após essa tentativa de refletir sobre a educação afetiva no contexto escolar, em especial
na inclusão dos alunos com deficiência intelectual, algumas questões merecem ficar como conclusão
do trabalho.
Faz-se importante trabalhar em nossas crianças com deficiência intelectual não somente
as habilidades cognitivas, com a transmissão dos conteúdos curriculares que os capacitarão para o
ingresso no mercado de trabalho ou para qualquer outro fim. Mas, também, é necessário ajudá-los a
desenvolver suas habilidades afetivas e sociais, para trabalhar em grupo, compartilhar, ter respeito
pelas pessoas, por seus pais, pelos amigos, por seus professores, enfim, respeito ao outro. Somente
dessa forma é que as crianças de hoje poderão constituir-se como os verdadeiros cidadãos de amanhã.
O afeto é a chave para a educação. Deve-se valorizar o aluno com deficiência, dando
amor, afeto, carinho, o que leva a autoestima. Desse modo, a educação passará por um processo de
transformação.
REFERÊNCIAS
BAÚ, Jorgiana; KUBO, Olga Mitsue. Educação Especial e Capacitação do professor para o
ensino. Curitiba: Juruá, 2009.
BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais
especiais. Porto Alegre: Mediação, 2010, 3ª Ed.
BOTH, Maria Theresa da Cunha apud SARAIVA, Mércia. Psicologia da Educação. São Paulo:
Lê, 2005. CUNHA, Antônio Eugênio. Afeto e Aprendizagem, relação de amorosidade e saber
na prática pedagógica. Rio de Janeiro: wak 2008.
_______ Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999 que dispõe sobre Inserção Direta do
Portador de Deficiência no Mercado de Trabalho. Disponível em: <http: //www.
http://www.pgt.mpt.gov.br/publicacoes/pub25.html> Acesso em: 15 de maio de 2014.
CHALITA, Gabriel. A solução está no afeto. São Paulo: editora gente, 2003.
FERREIRA, Ana Maria. Educação Popular na Escola Brasileira. São Paulo: Cortez, 1999.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Tradução de Moacir Gadotti e Lillian Lopes Martins. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1979, Coleção Educação e Comunicação.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos. Rio de Janeiro:
WVA, 1997.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS NA FORMAÇÃO E NA
ATUAÇÃO
RESUMO
Este relato é resultado de um projeto desenvolvido em uma escola pública em Macapá. Teve como
objetivo despertar reflexões e atitudes compatíveis para uma prática inclusiva de respeito a
diversidade. Esta experiência foi desenvolvida a partir das seguintes etapas: roda de conversa com
os professores, oficinas para construção de materiais didáticos, palestra para os alunos, intervenção
na sala de aula. Os resultados indicaram que a construção conjunta e o envolvimento dos
professores foi fundamental para o êxito deste projeto, que possibilitou o esclarecimento das
dúvidas dos professores e alunos a respeito do processo inclusivo, permitindo também uma
reflexão de sua prática. Após a intervenção ficaram satisfeitos com o resultado sentindo-se mais
seguros para dar continuidade a novas descobertas. Conclui-se que cada escola, ao abraçar o
desafio da educação inclusiva, terá de encontrar soluções próprias para os seus problemas, pois
como a inclusão é um processo, não existe um único modelo a ser seguido ou ensinado, cada
professor terá que encontrar respostas a partir da realidade de sua escola, das necessidades e
potencialidades de seus alunos e investir na formação continuada dos professores
INTRODUÇÃO
Este trabalho não pretende apresentar um modelo pronto ou passo a passo para se
promover uma prática inclusiva, mas sim, apresentar uma formação continuada, que foi construída
e desenvolvida junto com os professores e os demais envolvidos no processo inclusivo da escola
pesquisada, em um período de quatro anos (2011 a 2014).
Sabe-se que a inclusão é um processo, que perdura por mais de quinze anos, e como
processo não se ensina, vive-se, cada escola nessa busca, passa por uma experiência inclusiva de
modo e tempo distintos. Isso depende do interesse dos envolvidos, da realidade da escola, das
necessidades dos alunos, da capacitação dos professores para rever sua prática inclusiva, o
investimento em materiais didáticos, mobiliários e estrutura física, esses e outros quesitos são
importantes para a inclusão se consolidar.
OBJETIVO GERAL
Despertar reflexões e atitudes compatíveis para uma prática inclusiva, através de uma
formação continuada colaborativa.
OBJETIVO ESPECÍFICO
Fazer um levantamento dos problemas para identificar as dificuldades em promover
uma educação inclusiva,
Dialogar e refletir sobre uma prática pedagógica condizente com a perspectiva de
educação inclusiva;
Elaborar junto com os professores um plano de formação continuada a partir das
necessidades e potencialidades dos alunos;
Pôr em prática, acompanhar e avaliar a proposta formativa
MÉTODOS:
Esta pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública de ensino fundamental, da cidade
de Macapá, no estado do Amapá, que atende doze alunos com deficiência. Um Trabalho que
iniciou em a partir das necessidades da professora do AEE, dos alunos e demais professores, visou
a construção colaborativa de uma proposta formativa na perspectiva da educação inclusiva, foi
desenvolvida a partir das seguintes etapas: entrevista, roda de conversa com os professores,
oficinas para construção de materiais didáticos, palestra para os alunos, intervenção na sala de aula.
Para coletar os dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas com doze professores
da sala de aula regular, o professor do AEE e a coordenadora pedagógica da escola, assim como a
observação da prática pedagógica dos professores, análise documental e fotografia. A proposta de
formação continuada foi discutida e reelaborada com os docentes. Os dados coletados foram
analisados a partir do referencial teórico adotado, tendo como pressupostos os autores que
discutem a educação inclusiva e formação continuada critico colaborativa.
A cada ano se avaliava o trabalho formativo com intuito de pensar em formas de melhora-
lo, todos participavam desta avaliação, através de diálogos e reflexões chegamos a resultados que
foram bastantes aceitos pela comunidade e profissionais envolvidos no processo. Mas ainda assim
não satisfeitos procuramos o apoio da Universidade do Estado do Amapá-UEAP em 2014. No ano
de 2015 como mestranda do programa de mestrado em educação: formação de formadores, pode-
se buscar meios para acrescentar conhecimentos e propostas de melhorar a formação continuada
em busca de uma prática compatível com a perspectiva de educação inclusiva e coma realidade da
escola.
DISCUSSÃO
Há anos as escolas matriculam alunos com deficiência e tentam cumprir as metas do Plano
Nacional da Educação Inclusiva, que garante o atendimento as necessidades educacionais desses
alunos, porém a inclusão ainda é um desafio para alguns professores, esta problemática pode ser
melhor entendida quando Facion (2009, p. 23) afirma: “A inclusão é um processo lento que tem
que nascer dentro da gente mudando nosso olhar, pensamento e atitudes”. Foi a partir desta ideia
que nasceu este projeto de formação continuada, os professores queriam fazer um trabalho de
acordo com a perspectiva de educação inclusiva, mas não tinham conhecimentos a respeito,
somente a vontade em querer mudar seu olhar, pensamento e prática pedagógica.
Uma perspectiva de educação inclusiva, segundo Ropoli (2010, p. 23) exige mudanças e
para isso: “A escola se tornar inclusiva quando reconhece as diferenças e busca o progresso de
todos, adotando novas práticas pedagógicas que dependem de mudanças que vão além da sala de
aula, com o desenvolvimento de novos conceitos compatíveis com a inclusão”.
Pletsch e Fontes (2006) afirmam que incluir alunos com necessidades educativas especiais
não se justifica apenas em matricular este aluno em uma escola de ensino regular, mas é necessário
que os professores promovam a participação, comunicação e o aprendizado, e para atingir esta
meta de uma escola inclusiva, se faz imprescindível conhecer suas necessidades educativas para
preparar um ambiente propício para seu desenvolvimento, que também leve em consideração suas
potencialidades. Na verdade, faz-se necessário novos conceitos seguidos de comportamentos e
atitudes compatíveis com as políticas de educação inclusiva, e também dar autonomia a escola e
aos professores para adotarem as atitudes cabíveis para melhorar não só a prática pedagógica, mais
eliminar as barreiras que dificultam o processo da educação inclusiva.
Este trabalho em busca de uma prática compatível com a perspectiva da educação inclusiva,
só é possível através da formação continuada de professores, que leve em consideração o contexto
em que vivem. Almeida (2013, p.12) deixa bem claro que “Os processos formativos que focalizam
só o professor sem levar em conta o contexto (a escola) no qual atua estão fadados, via de regra ao
insucesso”. Para isso a formação deve estar de acordo com os problemas reais da escola.
A formação continuada precisa partir do contexto, das singularidades de cada turma e das
dificuldades e potencialidades dos alunos, por isso, devem ser construídos de maneira colaborativa
junto com os professores, durante o processo formativo. Almeida (2013, p.23) sustenta esta ideia
ao afirmar que:
...uma proposta coletiva gestada na escola, para atender à sua singularidade, as suas
necessidades, aos seus recursos contando com o apoio de literatura especializada e da
contribuição da expertise de pessoas de dentro e fora da escola, pode levar a uma
aprendizagem de sucesso para alunos e professores.
Durante a roda de conversa com dos professores, as maiores dificuldades relatadas foram
a respeito do entendimento sobre o que é realmente inclusão e o que caracteriza uma prática
inclusiva, para explicar estas dúvidas dos professores, Ainscow (2004, p. 23) afirma que:
RESULTADOS
CONCLUSÃO
Esta experiência de formação continuada não foi imposta pela direção da escola, mas
nasceu das necessidades dos professores, que apresentavam dificuldades em promover um trabalho
de acordo com as perspectivas de educação inclusiva, e elencaram entre seus pares a professora
do Atendimento Educacional Especializado-AEE, para realizar esta tarefa, que já era feita ainda
que timidamente durante o planejamento entre o professor regular e professor do AEE ou no
encontro pedagógico de professores.
Com este trabalho pode-se observar que cada escola, ao abraçar o desafio da educação
inclusiva, irá encontrar o caminho para solucionar seus próprios problemas, pois como a inclusão
é um processo, não existe um único modelo a ser seguido ou ensinado, cada professor terá que
encontrar respostas a partir de sua realidade, das necessidades e potencialidades de seus alunos e
investir na formação continuada.
Este trabalho buscou dialogar com os professores, sem ter o propósito de julgar seu
trabalho, mas utilizando sua experiência para construir juntos um caminho satisfatório para ideal
de educação inclusiva, fazendo-os perceber que é preciso conhecer melhor o aluno, suas
dificuldades e potencialidades, para a partir do diálogo e reflexão, desencadear um desejo de
mudança na sua prática, que possibilite construção em conjunto de uma proposta formativa, em
busca do caminho de uma escola inclusiva.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza, organizadoras. O
coordenador pedagógico e a formação centrada na escola. São Paulo: edições Loyola, 2013
BRASIL. Ministério da educação. Constituição Federal de 1988. Disponível
em:<http://www.mec.gov.br>. Acesso: 19 de fev. 2014.
FACION, José Raimundo. Educação Inclusiva no Século XXI. Ed. IBPEX, Belo Horizonte,
MG. 2009.
WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva, 2 ed. Rio de
Janeiro: WVA, 2000.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A INCLUSÃO ESCOLAR
DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Resumo
O estudo analisa o processo de formação de professores de Educação Física para atuação
profissional com alunos com deficiência, tendo o Curso de Educação Física da Universidade do
Estado do Pará – CEDF/UEPA, como campo de investigação. A pesquisa utiliza como
referencial teórico autores das áreas da Educação e da Educação Física que abordam a formação
de professores e o paradigma da educação inclusiva. O estudo foi realizado com 10 egressos do
CEDF/UEPA e por 04 professoras que ministram a disciplina Educação Física Adaptada nesta
instituição. Metodologicamente, utilizou-se três instrumentos de coleta de dados: documentos,
questionário e entrevista, adotando a Análise de Conteúdo como opção para tratamento dos
dados obtidos. Os resultados evidenciaram que na percepção tanto de egressos quanto das
docentes, esta graduação ainda não está adequadamente organizada para subsidiar os futuros
professores de Educação Física no fomento da inclusão escolar de pessoas com deficiência e
mediante isto, foram feitas reflexões e proposições no que tange aos conteúdos disciplinares e à
prática como componente curricular.
incorporar ao currículo desta formação um estágio específico em escolas com alunos inclusos
como forma de aproximar o futuro professor das realidades da escola pública, desvelando os
caminhos e desafios relacionados à inclusão.
Entendemos que o CEDF/UEPA ao propor uma formação que ambiciona um professor
intelectual, crítico e reflexivo, que reconhece seu papel diante dos grandes antagonismos sociais
e busca possibilidades superadoras, traz intrinsicamente o reconhecimento da inclusão como um
paradigma social a ser buscado no âmbito desta formação. Porém, infelizmente, ainda não é
possível dizer que se tenha no CEDF/UEPA a inclusão como eixo de formação, o que seria
fundamental para o aprimoramento desta formação tendo em vista a inclusão de pessoas com
deficiência na escola regular.
Entendemos que os apontamentos aqui realizados acerca do processo de formação inicial
no CEDF/UEPA para inclusão de PCD, podem ser aproveitados tanto no campo científico, ao
trazer dados e informações que podem ser utilizados em outras pesquisas referente aos temas
formação de professores, inclusão de pessoas com deficiência na área da Educação Física, e
Educação Física adaptada, como, no próprio âmbito da formação pesquisada, o CEDF/UEPA,
já que estas informações podem colaborar no aprimoramento de ações individuais, de propostas
dentro do curso, ou mesmo, nas futuras reestruturações curriculares.
Referências
BORELLA, Douglas Roberto. Atividade Física Adaptada no contexto das matrizes curriculares
dos cursos de Educação Física. 2010. 164 f. Tese (Doutorado em Educação Especial) –
Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2010.
CHICON, J. F.; MENDES, K. A. M. de O.; SÁ, M. das G. C. S. de. Educação física e inclusão:
a experiência na Escola Azul. Movimento. Porto Alegre; v. 17, n. 04, p. 185-202, out/dez. 2011.
Financiamento: FAPESPA
Resumo:
Este artigo é a culminância entre formação docente e pesquisa, financiada pela FAPESPA, que
objetivou analisar e discutir acessibilidade comunicacional no currículo da pré-escola para alunos
cegos e surdos em nível pré-escolar, da cidade e do campo A pesquisa é qualitativa e utilizou como
técnica de pesquisa a observação e o diário de campo. A pesquisa aconteceu em Igarapé Açu, São
Francisco, Magalhães Barata e Maracanã, municípios Paraense. A pesquisa delineou-se da
seguinte maneira: 1) identificação do currículo específico da pré-escola, por eixo temático; 2)
verificação dos currículos com as secretarias de educação de 4 municípios; 3) realização de
formação docente contemplando as dificuldades e sugestões dos docentes sobre material/livro
adaptados para crianças cegas e surdas; 4) Elaboração de livro-piloto para crianças cegas e surdas
na pré-escola. Dentre os resultados destacamos: letras maiores para os alunos com baixa visão,
melhor definição das imagens para as imagens de LIBRAS; a necessidade de formação para
professores sobre comunicação alternativa e ampliada, Libras e Braille; e, parceria de professores
com a universidade a fim de viabilizar material adaptado, dentre outros.
Introdução
Compreendemos que o desafio da escola é ser capaz de educar a todos os alunos, sem
discriminação, respeitando suas diferenças; uma escola que dê conta da diversidade e ofereça
respostas adequadas às suas características e necessidades. É uma meta a ser perseguida por todos
aqueles comprometidos com o fortalecimento de uma sociedade democrática e solidária.
das escolas acaba por não produzir maior igualdade de oportunidades: as crianças vão à escola,
mas essa passagem não abre reais possibilidades de participação social, não abre real acesso à
cidadania. Adicionamos a este a situação de alunos que residem em municípios que se dualizam
como cidade/campo como é o caso de Igarapé Açu e arredores como São Francisco, Jambuaçu,
Magalhães Barata e Maracanã.
Na visão de Oliveira (2008) a educação inclusiva ao propor uma educação para todos
e uma educação para a diversidade, que respeite as diferenças, apresenta como referencial a
diferença como alteridade, o outro como “distinto”, superando a visão de diferença de caráter
identitário e hegemônico estabelecida em relação a um outro, o “normal”.
Metodologia
ouvir, mas também em examinar fatos ou ferramentas que se deseja estudar. É como nos diz
Gruzinski (2003), devemos olhar para além do que se vê. Assim ao observar faz-se necessário seu
respectivo registro da (in) visibilidade do contexto encontrado.
O locus
Evidenciamos que esta pesquisa envolveu quatro municípios: São Francisco do Pará,
Magalhães Barata, Igarapé Açu e Maracanã. Em São Francisco há 30 escolas em nível pré-escolar,
5 em área urbana e 25 em área rural/campo. Destas, 21 das escolas apresentam nível Pré-escolar e
Classes Multisseriadas concomitantemente, sendo todas na zona rural.
Estes municípios estão localizados no Estado do Pará, extremo norte do país. Possui
por capital a cidade de Belém, e população estimada em 2013 de 7.969.654; em área aproximada
de 1.247.954,666 km². Possui 144 municípios e a densidade demográfica (hab/km²) de 6,07.
Sua população atual é de 8.240, possui 325,265 de área da unidade territorial (km²) e
sua densidade demográfica é de 24,95 (hab/km²).
Sobre Igarapé Açu o histórico do IBGE (2010) revela que quando construíram a
Estrada de Ferro Bragança em terras do atual Município de Igarapé-Açu já existiam habitantes nas
margens dos rios Jambuaçu, Maracanã, Peixe-Boi e seus afluentes, havendo mesmo uma colônia
espanhola entre os rios Jambuaçu e Caripi. O povoamento inicial organizado foi realizado com a
fundação do Núcleo Agrícola Jambuaçu em 1896.
Maracanã, possui sua Sede atual situada à margem esquerda do rio do mesmo nome,
na zona fisiográfica do Salgado. Sabe-se que os seus fundamentos históricos foram lançados em
1653. Até então, somente existia ali, uma aldeia dos índios maracanã, missionada pelos jesuítas.
Com a chegada nesse ano do Padre Antônio Vieira, da Companhia de Jesus, a aldeia progrediu, e,
em 1700, adquiriu foros de Freguesia sob a inovação de São Miguel. Entretanto, em 1755, o então
Governador da Província do Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, cumprindo as
determinações emanadas pela lei Pombalina, elevou Maracanã à categoria de Vila, com o nome
de Cintra. Na mesma ocasião, aquela ordem religiosa foi expulsa do domínio português. Em 1833,
Cintra foi elevada à categoria de município e dois anos depois obteve foros da cidade. Readquiriu,
ainda, a sua primitiva denominação, em 1897. O topônimo, de origem indígena, lembra o nome
de um pássaro: maracanã propynhura maracana, Vieill = pequeno papagaio de voz berrante. Daí
o nome maracá = chocalho e nã = nana. (IBGE, 2010).
Sua população é 28.631, sua área da unidade territorial é 855.664 km² e sua densidade
demográfica é de 33, 16 (hab/km²).
96
Delineamento da pesquisa
Sinais em LIBRAS em tamanho grande e com boa qualidade para visualizar os detalhe de
mãos e dedos;
Mais espaço para as atividades no livro para que o aluno com baixa visão se sinta
confortável para executar a atividade;
Sobre a condição da formação inicial dos professores, ressaltamos os critérios para a atuação
específica na SRM, exercício da Educação Especial na Educação Geral, divulgado na PNEE-EI (2008)
Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial
e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos
específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional
especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas
comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional
especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas
classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de
educação especial. (p. 11).
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as
línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o
sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos
multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios
de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de
comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações;
Resultados e Discussão
ainda que possuam alunos com deficiência visual e auditiva. As turmas existentes em maioria se
configuram como multisseriada.
É com base neste e nos documentos oficiais que nos debruçamos para a elaboração,
construção e idealização de proposta de livros para educação infantil que envolvem língua
brasileira de sinais e o Braille.
Considerações finais
Sabe-se que elaboram atividades “adaptadas” mas ainda são poucos os livros didáticos
que permitem ao aluno com deficiência sensorial autonomia e segurança para seu desempenho
escolar. Assim como gera ao professor tranquilidade e diversidade material para suas
aulas/atividades vindouras.
DENZIN, N.K; LINCOLN, Y.S. (orgs). A disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In:
DENZIN, Norman K; LINCOLN, Yvonna S. Planejamento da Pesquisa Qualitativa: teorias e
abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2000.
FLICK, Uwe. Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa. 2ª ed.Porto Alegre: Bookman, 2004.
GRUZINSKI, Serge. A Colonização do Imaginário: sociedades indígenas e ocidentalização no
México espanhol. Séculos XVI-XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
PRETO, Vivian de Oliveira. Adaptação de Livros de Literatura Infantil para alunos com
deficiência visual. 2009. 237 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e
Ciências de Marília, Marília/SP. 2009.
Resumo
Este estudo traz para o debate o Atendimento Educacional Especializado (AEE) disponibilizado
na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) para educandos surdos. Neste prisma, objetivamos
analisar as imagens e sentidos de professores surdos sobre o AEE Bilíngue com ênfase nos desafios
enfrentados na prática docente nesse âmbito de ensino. Os sujeitos desta pesquisa são dois
professores surdos que atuam no atendimento educacional especializado bilíngue para educandos
surdos na Rede Municipal de Ensino de Belém – PA. Para a produção de dados empregamos às
técnicas de entrevista semiestruturada e de elaboração de desenhos. Dentre os resultados obtidos
destacamos que: os professores surdos demonstram comprometimento com o atendimento
educacional especializado bilíngue; reconhecem a sala de recursos multifuncionais como um
espaço acolhedor, mas problematizam o tempo de atendimento e a questão do uso da Libras ser
restrita neste espaço, bem como apontam a demanda de formação continuada.
1. Introdução
O presente trabalho versa acerca das imagens e sentidos de professores surdos sobre o
Atendimento Educacional Especializado. A motivação pela temática advém de nossas pesquisas
realizadas na Rede de Educação Inclusiva na Amazônia Paraense (UEPA/CCSE/NEP) e no
Observatório Nacional de Educação Especial (ONEESP) coordenado pela Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), tais momentos nos proporcionaram a problematização da atuação de
professores bilíngues para com os educandos surdos.
23
Professora Assistente I da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Educação pela Universidade do
Estado do Pará (UEPA). Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos (GEPESUR) da
UFPA. Pesquisadora do Núcleo de Educação Popular (NEP) da UEPA e colaboradora do Observatório Nacional de
Educação Especial (ONEESP) coordenado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail:
silveiraandrea@yahoo.com.br
24
Professora Assistente I da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Educação pela Universidade do
Estado do Pará (UEPA). Pesquisadora do Núcleo de Educação Popular (NEP) da UEPA, vinculada a linha Educação
Inclusiva e Diversidade, e colaboradora do Observatório Nacional de Educação Especial (ONEESP) coordenado
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Coordenadora do Grupo de Estudos Surdos na Amazônia
Tocantina – GESAT, do Coral de Libras – Mãos que Falam e da Divisão de Inclusão Educacional – DIE da
Universidade Federal do Pará – Campus Cametá. E-mail: waldma@ufpa.br
A fim de embasar este debate, utilizamos: a Lei nº 10.436/02 (BRASIL, 2002), o
Decreto nº 5.626/05 (BRASIL, 2005), e o Decreto nº 7.611/11 (BRASIL, 2011). Além de autores
que discutem Educação Inclusiva e Educação de Surdos: Beyer (2006), Goldfeld (1997), Lima
(2006), dentre outros.
2. Objetivos
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
3. Metodologia
A pesquisa de campo realizada foi de caráter qualitativo que tem como principal
objetivo interpretar o fenômeno que se observa no contexto social. De acordo com Ludke e André
(1986, p.11) “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural com sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento.”.
Esta pesquisa consiste ainda em um estudo de caso. Segundo Ludke e André (1986, p.
17), o estudo de caso “é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos
no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois
tem um interesse próprio, singular, visando à descoberta” .
Esclarece Silveira (2011), que se deve planejar a produção dos desenhos, esclarecendo
ao entrevistado a finalidade dos mesmos, bem como organizar os materiais a serem utilizados, tais
como lápis de cor, canetas hidrocor coloridas, papel em branco, dentre outros.
Libras no
anos.
AEE.
AEE.
Neste prisma, entendemos que o professor bilíngue25 é aquele responsável pela regência
de uma classe de educandos surdos e ouvintes fazendo uso da Língua Brasileira de Sinais como
língua de instrução, bem como aquele que realize o Atendimento Educacional Especializado –
AEE com educandos surdos utilizando a Libras como língua de instrução.
5. Resultados e Discussão
25
Para Slomski (2010, p 41) “O bilinguismo é uma filosofia de ensino, cujo discurso propõe a diversidade cultural e
aceitação social do surdo por meio do bilinguismo (duas línguas, Língua de Sinais e segunda língua)”.
escolarização com qualidade. Para Beyer (2006, p.73) a educação inclusiva caracteriza-se como
um novo princípio educacional que:
O professor Rick retratou uma pequena analogia entre a escola especial com a Sala de
Recursos Multifuncionais – SRM27 e a escola regular com a sala regular. Assim, afirmou que:
O desenho mostra a escola especial que todos os alunos têm acesso, por isso à ponte está
abaixada dando acesso. A segunda é a escola regular em que nem todos têm acesso. Por
exemplo, o surdo estuda na escola especial até a 4ª série e lá é legal, tem Libras, depois
vai para escola regular e tem dificuldade porque lá não tem Libras. Então, o desenho da
escola especial é igual a SRM porque lá ensinamos os surdos em Libras e a escola
regular é como a sala de aula regular, não usa libras, e nem todos tem acesso, ou
conseguem se desenvolver.
Percebemos que a Língua Brasileira de Sinais – Libras está presente na educação dos
surdos somente na escola especial e na sala de recursos multifuncionais, sendo que nos outros
espaços escolares o educando surdo não tem acesso a informação devido a ausência da sua língua.
Segundo Goldfeld (1997), as dificuldades dos alunos surdos ocorrem justamente pelo fato
de a surdez impedir que estes adquiram naturalmente as línguas auditivo-orais, únicas utilizadas
26
De acordo com Brasil (2007) as pessoas com necessidades educacionais especiais compreendem as pessoas com
deficiência, as que apresentam transtorno global do desenvolvimento e as com altas habilidades e super dotação,
assim constituintes do público-alvo da Educação Especial
27
De acordo com Alves (2006, p.13) as salas de recursos multifuncionais sãos espaços da escola onde se realiza o
atendimento educacional especializado para alunos com necessidades educacionais especiais.
pela grande maioria das comunidades. A ilustração feita pelo professor bilíngue Rick elucida que
a Libras está presente na Escola Especial e no AEE com os alunos surdos, conforme a figura 1.
É importante ressaltar que o planejamento do AEE em Libras deve ser feito pelo
professor especializado juntamente com os professores da sala regular de ensino e o educador de
Língua Portuguesa para que ocorra uma prática pedagógica eficaz e uma aprendizagem
significativa onde possa da melhor maneira possível auxiliar os educandos surdos a ter acesso ao
conhecimento educacional, de modo a favorecer uma interação com o ambiente escolar e social.
Para Freire (2005, p.41),
nós trabalhamos junto com o professor tanto da sala de aula como da sala de recurso,
fazendo assessoramento técnico, sempre tentando ajudar e adaptar os matérias na
medida do possível, alem de fazermos o trabalho com a coordenação pedagógica e
também com a direção da escola tentando marcar e realizar formações dentro da escola.
Sobre o Atendimento Educacional Especializado destinado ao educando surdo, o
professor Carlos elaborou o desenho disposto na figura 2, a seguir:
Este desenho eu fiz baseado na minha experiência prática na sala de recursos porque
para possuir um ambiente mais agradável do que a sala de aula normal, com o ar
condicionado, com recursos que trabalhamos, como os alunos surdos muitas vezes vão
para lá ficam mais tempo porque se sentem mais incluídos, mais a vontade lá dentro
porque têm pessoas que conversam com eles em Libras, que o atendem de maneira
individual. Desse modo, ele se sente mais a vontade lá e muitas vezes ele vai para lá não
só para aprender, mas para passar o tempo, para ficar lá utilizando muitas vezes os
recursos que nos temos de forma didática, mas também outras vezes apenas de forma
recreativa, por isso o título do desenho “Playgrand da Educação” nós temos lá diversos
materiais teóricos, temos lá várias formas de ensino, mas lá o aluno que vai para lá,
muitas vezes, o interesse maior dele é utilizar a dinâmica, os recursos pedagógicos que
temos lá, por isso o desenho.
É pertinente pontuar a ênfase atribuída pelo professor Carlos à dimensão lúdica da Sala
de Recursos Multifuncionais para estes alunos, em suas palavras “recreativa”. Assim, o professor
designa-o como um espaço de divertimento. Outro ponto relevante da sua argumentação é que os
alunos surdos se sentem “mais incluídos” neste espaço porque conversam em Libras, além de
trazer à baila a questão do atendimento individual como um fator específico do AEE.
[...] a necessidade de situações ou recursos dos quais ainda não dispomos, como:
capacitação dos professores, remanejamento e reestruturação da escola, dinâmica da
escola para receber os alunos especiais, recursos pedagógicos e até mesmo físicos
(LIMA, 2006, p. 32).
Os recursos pedagógicos devem estar presentes em todo espaço escolar, visto que o
aluno com deficiência transita em toda escola, não se limitando a sala de recursos multifuncionais.
Em especial, o educando surdo, não necessita somente desses recursos para que ocorra a inclusão
escolar, faz-se necessário a circulação da sua primeira língua (L1), a Libras, em todo espaço
educativo, para assim, tornar possível a comunicação entre surdos e ouvintes no convívio
educacional e social, e promover a compreensão da Libras, da cultura e identidade da pessoa surda.
Quadros (1997, 2003) problematiza que a educação de surdos deve ser bilíngue e
bicultural. Neste prisma, Caetano, Santos e Lacerda (2013, p.186), afirmam ser pertinente “pensar
em uma pedagogia que atenda às necessidades dos alunos que se encontram imersos no mundo
visual e apreendem, a partir dele, a maior parte das informações para construção de seu
conhecimento”.
o aluno surdo tem Atendimento de Libras e português na modalidade escrita, mas como
é pouco tempo quando retornamos para escola na outra semana o aluno não lembra
mais o que foi ensinado. Poderia melhorar o tempo de atendimento para o surdo, ter
mais assessoramento com os professores e ter curso de libras para todos na escola .
Além disso, a formação continuada é garantida pela legalmente pela LDB nº 9394/06.
Nessa via, Brandão (2005, p.96) afirma que a formação contínua deve ser promovida “de modo a
atender os objetivos dos diferentes níveis e modalidade de ensino e as características da cada fase
do desenvolvimento do educando”.
o que acontece é que somos nos mesmos que ofertamos essa formação (surdez). Então,
quando nós precisamos nos aprofundar em nossos estudos, em nossos conhecimentos,
nos temos que procurar em outros locais, em outros estados participando de seminários,
oficinas e mini cursos.
6. Considerações Finais
Assim, emergem sentidos que apontam fissuras no atendimento realizado junto aos
alunos surdos, em virtude do tempo de atendimento não suprir as demandas desses alunos, pois ao
retornarem para o espaço da sala regular não tem o apoio especializado que recebem no AEE.
BRANDÃO, C. da F. LDB PASSO A PASSO. 2 ed. São Paulo. Editora Avercamp, 2005.
______. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais
- Libras e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 29 de Abril de
2013.
INTRODUÇÃO
A pesquisa tem como objeto de estudo a prática pedagógica acerca da inclusão
do aluno surdo no ensino regular entre os professores de ensino fundamental na
cidade de Belém-PA.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei de nº 9.394 /96,
no Art.58, Inciso I, diz que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais: Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específica, para atenderem as suas necessidades (BRASIL, 1996).
A LDB reserva um capítulo exclusivo para educação especial. Nas disposições
especificas sobre a educação especial, o artigo 4º, define como dever do Estado o
“atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades
especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” (inciso III). Também define
no artigo 37 , “(...) oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as
METODOLOGIA
A pesquisa de campo abordada é do tipo quantitativa exploratória descritiva.
Foi realizada em uma escola pública no município de Belém/ PA. A tabela 1 mostra o
perfil sócio – docente – pedagógico dos participantes da pesquisa. Houve aplicação do
questionário relacionado a prática docente acerca da educação inclusiva no ensino
regular, com questões que envolvem as formas de comunicação, estratégias de ensino,
formação continuada e desafios na inclusão do aluno surdo.
Tabela 1: PERFIL SÓCIO- DOCENTE- PEDAGÓGICO
36%
46% Escrita e gestos (10)
Libras e oral (4)
Oral e escrita (8)
18%
23%
Não (17)
Sim (5)
77%
32%
Não (15)
Sim (7)
68%
Esses resultados confirmam os achados no gráfico 2, que retrata grande partes dos
professores não utilizando a Libras em sala de aula, o que mostra a deficiência na
formação para complementar a prática pedagógica.
Em decorrência das transformações ocorridas na sociedade atual, em virtude
dos avanços tecnológicos e informacionais, houve uma mudança e uma exigência maior
a nível educacional, no qual se exige cada vez mais dos profissionais. Esse novo
contexto requer uma nova formação dos indivíduos, visando formar
profissionais críticos, reflexivos, construtores e reconstrutores do conhecimento.
O professor deve procurar alternativas que aprimorem sua ação, neste aspecto
a formação continuada é importante, pois ela oportuniza uma atualização do
conhecimento, meios inovadores para facilitar a ação pedagógica, reflexão sobre a
mesma, competência ao docente, dentre outras. Na tentativa de aperfeiçoar sua
prática, apenas 32%(7) dos professores pesquisados buscam aperfeiçoamento
profissional para atuar com alunos surdos na classe comum.
A formação docente em Libras Contribui para mostrar o significado da língua
de sinais no contexto educativo inclusivo e o reconhecimento da surdez enquanto
diferença e não deficiência, favorecendo a inclusão no ensino regular.
Páez (2001) descreve que a inclusão pode trazer benefícios incontestáveis para
o desenvolvimento das pessoas com surdez, desde que seja oferecida na escola
regular, necessariamente, uma Educação inclusiva que em um sentido mais amplo,
significa educar, sustentar, acompanhar, deixar marcas, orientar, conduzir.
Para que a inclusão seja efetiva na sua prática torna-se necessário que o professor
respeite todas as diferenças existentes em sua sala de aula, e assim, reconheça as
limitações e as necessidades específicas de cada aluno (FELTRIN, 2011). Essa
educação é pautada no atendimento às necessidades dos educandos, fazendo-se
necessário que se rompa com velhos paradigmas, a partir de uma visão holística da
situação, atitudes dinâmicas, flexíveis, lúdicas, abrangentes, que se distanciem do
limitado, do separatista.
O gráfico 4 mostra a opinião dos professores acerca da oferta pela escola de
cursos de formação continuada na área da educação inclusiva e retrato que 55%(12)
responderam sim e 45%(10) responderam não.
Sim (22)
100%
32%
Não (7)
Sim (15)
68%
Conhecimento na
40% 40% prática pedagógica
no ensino em Libras
(8)
Falta de formação
na área de educação
inclusiva (4)
20%
60%
Tecnologia educativa 10% (4)
A palavra ‘estratégia’ possui estreita ligação com o ensino. Ensinar requer arte
por parte do docente, que precisa envolver o aluno e fazer com ele se encante com o
saber. O professor precisa promover a curiosidade, a segurança e a criatividade para
que o principal objetivo educacional, a aprendizagem do aluno. Desse modo, o uso do
termo “estratégias de ensino” refere-se aos meios utilizados pelos docentes na
articulação do processo de ensino, de acordo com cada atividade e os resultados
esperados (PETRUCCI; BATISTON, 2006).
No processo de ensino-aprendizagem, vários são os fatores que interferem nos
resultados esperados: as condições estruturais da instituição de ensino, as condições
de trabalho dos docentes, as condições sociais dos alunos, os recursos disponíveis.
Outro fator é o de que as estratégias de ensino utilizadas pelos docentes devem ser
capazes de sensibilizar (motivar) e de envolver os alunos ao ofício do aprendizado
(ARROYO, 2000).
Sendo assim, a utilização de recursos adequados para facilitação do processo
de construção do conhecimento do aluno surdo requer saberes e competências
docentes para trabalhar de forma contextualizada e dinâmica em sala de aula.
CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS
REFERÊNCIAS
FLICK, Uwe. Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa. 2 ed. Porto Alegre. Bookman,
2007
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática 1. ed. Porto
Alegre :Artes Médicas, 1995.
PINHEIRO, Rejane S.; TORRES, Tânia Z. G. de. Análise Exploratória dos dados. In:
MEDRONHO, Roberto A. et al. Epidemiologia. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
QUADROS, Ronice Muller (org.). Estudos Surdos I. Petrópoles, RJ: Arara Azul,
2006.
Resumo
O presente artigo tem como objetivo analisar informações sobre o processo de aprendizagem do
aluno com paralisia cerebral, no qual, vem sendo realizado por meio da tecnologia assistiva na
questão da inclusão escolar. Para a realização do estudo foi realizada a pesquisa bibliográfica por
meio de análise de produções de livro, material didático, dissertação de mestrado e artigos
científicos que abordam sobre a temática apresentada. Identificaram-se três procedimentos de
dados usados na pesquisa que foram dois quadros (Materiais Bibliográficos, e Algumas
Tecnologias Assistivas) e um gráfico (Surgimento das temáticas das produções). Os resultados
demonstraram a compreensão sobre como o individuo com Paralisia Cerebral se desenvolve e
aprende através da Tecnologia assistiva, assim, possibilitando uma interação social e escolar com
o mundo exterior para se comunicarem e expressarem seus desejos e pensamentos. Conclui-se que
a tecnologia assistiva contribui para o processo inclusivo educacional e social das pessoas com
deficiência, à qual vem sendo promovido por meio de metodologias estratégicas que amenizem
problemas funcionais, assim como melhorando a qualidade de vida destes indivíduos.
1. INTRODUÇÃO
Nesse sentido, de acordo com Deliberato e Rocha (2011, p. 72) “a tecnologia assistiva
vem conquistando um espaço importante na educação especial no Brasil e nos últimos anos pode-
se observar o aumento significativo de estudos sobre esta temática”. Assim, essas pesquisas vêm
contribuindo para a inserção do individuo com deficiência na sociedade e nas instituições escolares
possibilitando a incorporação construtiva de uma cultura que busca ser mais humanizadora. Deste
modo, os recursos da tecnologia favorecem suplementos para melhoria de vida das pessoas com
deficiência, tornando-as mais independentes e autônomas em suas atividades diárias garantindo-
as acessibilidade.
2. OBJETIVOS
É importante enfatizar esse ponto porque muitas pessoas veem essas inclusões
como piora, como mais uma dificuldade no caminho dos professores, como mais
uma pressão. O salário é pouco, as condições de trabalho são ruins, o tempo é
curto e, agora, há mais essa exigência de incluir crianças com dificuldades,
deficientes. É isso que afirmam muitas pessoas que têm coragem de dizer o que
pensam, que não têm vergonha de falar do incômodo, por mais justo que possa
ser, que é receber crianças que se diferenciam muito da “média da classe”. É
importante assumirmos o preconceito, a nossa dificuldade, o nosso medo, a nossa
impotência, porque só assim vamos poder, pouco a pouco, assumir, de fato, uma
formação que promova a educação inclusiva. (MACEDO, 2005 p. 29-30).
Essa lei é muito importante para inserção do aluno com deficiência nas nossas escolas,
é por meio dela possibilitar o desenvolvimento do indivíduo estimulando a construção da sua
cidadania e da sua prática social como a linguagem, comunicação, interação e suas potencialidades
no geral, obtendo resultados em seu processo de ensino-aprendizagem. Desta maneira, é de
fundamental importância que os educadores e demais profissionais que atuam na área da educação
busque conhecer as leis que baseiam esse direito e procurem conhecer as deficiências e a
diversidade de seus alunos.
A pessoa com paralisia cerebral sofre com vários estereótipos, podendo ser confundido
com um deficiente mental, portador de doença contagiosa ou possui uma anomalia hereditária, que
seu “cérebro está parado”, ou seja, não pensa e não age, entre outras situações decorrentes do
individuo com paralisia (FISCHER; HOFFMANN; TAFNER, 2003). Esses falsos estigmas
reforçam o preconceito na sociedade, então a educação inclusiva vem tentar romper isso, como
nos ensina Macedo (2005, p.20) que muitos sujeitos têm “medo de conviver com pessoas que, em
nossa fantasia, não são como nós, não têm nossas propriedades ou características”, as diferenças
são reais e devemos aprender a reconhecer e respeitar as pessoas e os direitos de todos como
cidadãos.
Nesse sentido, a diferença corresponde às coisas desconhecidas que muitas vezes vem
carregada de falsas ideias, mas ao mesmo tempo representa a singularidade e a diversidade
humana, na qual, somente o conhecimento esclarece a verdadeira situação e o desejo de
transformar que emancipa a sociedade dando oportunidade de conhecer e aprender com o diferente
(MACEDO, 2005). A partir desse pensamento se faz necessário conceituar o que é Paralisia
Cerebral.
Em especial no caso de uma criança paralisia cerebral com alterações leves, é mais
presente este aluno no sistema escolar regular, pois apresenta locomoção independente de forma
desajeitada para andar, falar ou utilizar as mãos, apesar de possuir outras lesões como na área da
linguagem, da percepção visual e auditiva, mas geralmente apresentam uma inteligência
considerada normal (GAROTTI; OLIVEIRA; SÁ, 2008). Este sujeito deverá receber do professor
uma avaliação diferenciada e o uso de estratégias pedagógicas e tecnológicas que auxiliem na
construção do conhecimento desta criança.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em primeiro lugar é necessário compreender como foi realizado este estudo. Trata-se
de uma pesquisa bibliográfica que utilizou para a sua realização a consulta de livro, material
didático, dissertação de mestrado e artigos científicos, nos quais, as análises destas produções
serviram de instrumentos de coleta de dados. Durante o período de quatro meses que iniciou em
dezembro de 2015 até abril de 2016. Alguns documentos científicos foram selecionados por meio
de busca no Google Acadêmico que oferece a busca e o encontro das literaturas acadêmicas de
modo especifico sobre o assunto solicitado, e foram analisados outros materiais bibliográficos
encontrados por meio impresso.
O quadro 1 - Análise dos Materiais Bibliográficos, apresenta oito produções que foram
selecionadas sendo um livro, um material didático, uma dissertação de mestrado e cinco artigos
científicos nos quais abordam o uso da tecnologia assistiva, a paralisia cerebral e a educação
inclusiva que é um assunto primordial para a presente pesquisa. Assim, foram selecionadas três
colunas abordando o local, a instituição e o ano, fazendo isso para traçar um perfil das referências
das publicações utilizadas.
Quadro 1 – Análise dos Materiais Bibliográficos. Fonte: Elaborada pela própria autora.
Deste modo, por meio da análise destes materiais bibliográficos surgiu o interesse em
apresentar as implicações educacionais da criança com paralisia cerebral e mostrar também o uso
de tecnologia assistiva para o ensino da criança com paralisia cerebral, relatando as principais
ferramentas que os educadores e os demais profissionais possam usufruir para o processo inclusivo
dos educandos.
Assim como as alterações físicas que causam danos na postura e nos movimentos são
fatores que dificultam o desenvolvimento e aprendizagem de uma criança com paralisia cerebral,
como mencionado por Gerallis (2007) apud Garotti, Oliveira e Sá (2008) que descreve que isso
acontece devido à lesão cerebral que gera dificuldades nos movimentos involuntários ou de tônus
muscular que podem contribuir ou causar o surgimento de problemas em outras áreas tais como a
linguagem, a percepção auditiva e a percepção visual. Deste modo, influenciando no processo de
ensino e aprendizagem do aluno PC, apesar de expresso esses fatores há outros aspectos como
sociais, culturais e econômicos que dificultam a aprendizagem deste aluno.
Diante deste fato se faz necessário definir a tecnologia assistiva que é “uma ampla
gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os
problemas funcionais encontrados pelos indivíduos com deficiências” (COOK; HUSSEY, 1995
apud GAROTTI; OLIVEIRA; SÁ, 2008 p.251). Isto é, uma ferramenta indispensável para
mediação do processo inclusivo, que gera maior autonomia da pessoa com deficiência.
Para esses autores, os recursos de baixa tecnologia são aqueles com solução mais simples,
com menor treinamento para o seu uso e de baixo custo que não fazem uso de energia, assim sendo,
apresenta uma função limitada, tendo como vantagem uma maior disponibilidade. Já os recursos de
alta tecnologia são mais complexos, porém, com multifuncionalidade, geralmente envolvendo
sistemas computadorizados, operados através de programas especiais de softwares, podendo ser
usados por alunos com deficiências de fala, alunos com dificuldades de aprendizagem e
dificuldade de movimentos para acesso ao computador (COOK; HUSSEY, 2002 apud
GONÇALVES et. al., 2013).
Alternative
5. CONCLUSÕES
Nesse contexto educacional e social, percebe-se que para se ter uma escola em
processo inclusivo, requer uma infra-estrutura adequada, e uma equipe multidisciplinar para a sua
promoção. Assim, cabe a nós educadores procurar sempre um aprimoramento profissional para
conhecer e trabalhar com a diversidade, assim, estará preparado para receber todos os alunos
fazendo um planejamento adequado para eles. A fim de conhecê-los e buscar transformá-los em
cidadãos críticos, éticos e justos, sendo protagonista do seu processo de desenvolvimento e
aprendizagem.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Amélia; ASSIS, Caroline Penteado de. Um Estudo Bibliográfico Sobre
Tecnologias Assistivas Para Alunos com Deficiência Física Inseridos no Contexto Escolar.
Informática na Educação: teoria e prática, Porto Alegre, v. 15, n. 2, p. 95-112, Jul.- Dez. 2012.
Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/InfEducTeoriaPratica/article/view/21470/23696>.
Acesso em: 8 mar. 2016.
ALVES, Ana Cristina de Jesus; MATSUKURA, Thelma Simões. Percepção de alunos com
paralisia cerebral sobre o uso de recursos de tecnologia assistiva na escola regular. Rev. Bras. Ed.
Esp., Marília, v.17, n.2, p.287-304, Mai.- Ago., 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382011000200008>. Acesso
em: 2 mar. 2016.
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ORIENTAÇÃO AO DOCENTE PARA A PROMOÇÃO DA INCLUSÃO: FORÇA
TAREFA
Resumo
Introdução
28
Graduandos de Psicologia/Universidade Federal do Pará
29
Professora Doutora/Universidade Federal do Pará
Diante disso, entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, foi formada uma
Força-tarefa para o Mapeamento de Demandas Inclusivas dos alunos com deficiência matriculados
no curso de Psicologia da UFPA, e contou com a coordenação da Prof.ª Dr.ª Aline Beckmann
Menezes, e com os discentes: Abraão de Melo Junior; Aline Tavares; Ana Paula Martins; Anne
Caroline de Sousa Souza; Átlan Daniel Silva Carneiro; Brenda Torres de Melo; Eliene Amaral;
Fernanda Cybelle Sena; Igor Guimarães; Izabella Feitosa; Jamile Priscila de Oliveira; Larissa
Rosa; Letícia Rodrigues; Luciano Palheta; Maria Izabel Araújo; Michele Moura; Rafaele Silva e
Silva; Raissa Santos e Sérgio Yukio Ribeiro Ishigaki, da Faculdade de Psicologia.
Desta forma, entende-se que se faz necessário dar voz ao aluno, para conhecer suas
dificuldades e, a partir de uma relação dialogada e empática, favorecer um ensino inclusivo de
fato. Corroborando, assim, Lima e Silva (2008), de modo que se possa ir além de um entendimento
da pessoa com deficiência como possuindo características universais, compreendendo que a
inclusão vai além de tecnologias assertivas, mas acima de tudo se trata de uma relação atitudinal.
Objetivo Geral
Contribuir com a prática docente inclusiva, de modo a auxiliar em sua formação e
capacitação, apontando aspectos importantes para o planejamento de suas aulas.
Objetivos Específicos
Desenvolvimento
Frente a este cenário, foi feito um convite a alunos de diversas turmas para compor
uma equipe que buscaria trabalhar esta realidade. Dessa maneira, foi constituída uma força tarefa
com a equipe mencionada anteriormente para a estruturação desta ação. Foi então realizado um
levantamento dos alunos de graduação com deficiência. O próximo passo foi coletar dados acerca
destes discentes. Como as necessidades de cada um eram singulares, foi utilizada a entrevista para
conseguir estas informações. Dentre os voluntários, foram formados grupos, os quais ficariam
responsáveis, cada um, por realizar a entrevista com um aluno diferente.
Com a cartilha preparada, iniciamos a etapa de revisão da mesma, feita pelos alunos
voluntários e pelos alunos contemplados, tendo como maiores atenções a confirmação da
autenticidade de seu conteúdo e a exclusão de informações irrelevantes e/ou invasivas.
Como forma de socializar e dar maior visibilidade à cartilha foi realizado um evento
oficial com o título de “Orientação ao docente para a promoção de inclusão” em formato de
mesaredonda, que contou com a participação da professoracoordenadora da força tarefa; a
diretora e vicediretora da Faculdade de Psicologia; uma representante do Núcleo de Inclusão da
Universidade (NIS); uma representante do Centro de Capacitação (CAPACIT) e uma discente com
deficiência do curso de Psicologia. Para que o evento e as cartilhas tivessem recursos para sua
execução e confecção, foi efetuada uma parceria com o CAPACIT, que elaborou as cartilhas e
organizou o evento juntamente com os alunos voluntários e a professora coordenadora da força
tarefa. Tendo como foco a ampliação do alcance dessa ação de inclusão, foi realizado um contato
com o NIS para promover aos alunos com deficiência assistência no seu percurso acadêmico e
criar uma rede que ampare as necessidades de informação do docente, quanto às demandas
inclusivas encontradas em sala de aula.
A partir deste trabalho, percebe-se o quão importante se faz o debate sobre inclusão
no ensino superior, haja vista ser recente o acesso e permanência de alunos com deficiência em tal
nível de ensino em razão das inúmeras barreiras desde os primeiros anos de escolarização do
indivíduo (NURENBERG, 2009).
Os indivíduos não são iguais, somos singulares, mesmo que a deficiência seja a
mesma, cada pessoa é diferente.
A partir desta força tarefa, constatasse que não basta desenvolver ações para pessoas
com deficiências, é preciso mais, faz-se necessário a adoção da prática “fazer com” em detrimento
do “fazer para”. Além disto, é preciso empoderar os indivíduos com
deficiência, proporcionando-lhes condições para autonomia, e para que lutem pela inclusão,
em vez de unicamente facilitarmos seu acesso ao conhecimento.
Nosso anseio é que o trabalho que desenvolvemos sirva como estímulo para a
continuidade e expansão de pesquisas, práticas e formações inclusivas dentro de nossa
universidade, no sentido de possibilitar um auxílio a alunos que ainda irão ingressar no curso de
psicologia, bem como também aos discentes de demais cursos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.Dispõe sobre a Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF, 06 jul. 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em: 08
jan. 2016.
LIMA, Francisco José de Lima; SILVA, Fabiana Tavares dos Santos. Barreiras atitudinais: obstáculos à pessoa
com deficiência na escola. In: Olga Solange Herval Souza. (Org.).
Resumo:
30
Doutoranda em Educação pelo PPGED da UFPA. Mestre em Educação pela UEPA. Professora Assistente da
UFPA. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos (GEPESUR) da UFPA. Contato:
silveiraandrea@yahoo.com.br
31
Mestrando em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas pelo PPGECC da UERJ. Professor
Auxiliar da UERJ. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos (GEPESUR) da UFPA.
Contato: hector.calixto@uerj.br
32
Mestre em Educação pela UEPA. Professor Assistente da UFPA. Vice coordenador do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação de Surdos (GEPESUR) da UFPA. Contato: huberkline@ufpa.br
33
Mestre em Educação pela UEPA. Professora Assistente da UFPA. Coordenadora do Grupo de Estudos Surdos na
Amazônia Tocantina (GESAT) da UFPA. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos
(GEPESUR) da UFPA. Contato: waldma@ufpa.br
1 Introdução
Nessa via, os estudos que se ocupam de apreender RS podem tomar como norteadores
as imagens e os sentidos que cerceiam os objetos de representação, em nosso caso a Libras no
contexto da formação inicial de professores. Neste ínterim, consideramos que:
A formação inicial não é uma fase completa na vida do professor e sim uma primeira
etapa: no entanto se ela preparar bem (desenvolvendo atitudes de disposição para o
estudo, para a busca de referências na prática e para a investigação) o professor transporá
os obstáculos do cotidiano escolar e terá maior segurança nas decisões, principalmente
na fase de socialização que ocorre no ambiente de trabalho (RIBAS, 2000, p. 38).
Assim, trazemos para este debate a formação inicial de professores de Libras como
uma ponte para discutirmos aspectos que cerceiam a apropriação da Libras como elemento
fundamental para a educação de surdos no contexto brasileiro.
2 Metodologia
Com isso, identificamos nas falas dos entrevistados elementos que foram elencados
como categorias temáticas. No recorte ora apresentado nos deteremos nas seguintes
categorizações: a constituição da identidade docente; os saberes docentes e suas implicações na
prática pedagógica; e concepção de educação de surdos.
Eu acho que traçar novos olhares novos caminhos pra mim mesmo enquanto docente de
Libras. Então eu acho que como o curso ainda está se encontrando e eu como aluna estou
me encontrando no curso. Então, para minha formação inicial, isso é importante porque
me faz refletir sobre o que eu posso melhorar em tudo isso. (S1)
34
Alves-Mozzoti; Maia; Magalhães (2010), destacam que abordagem processual visa “conhecer os processos de
formação de uma representação social com o objetivo de buscar suas condições sociais de produção assim como as
práticas sociais que as geram e as justificam” (p. 5).
docente segue esses diversos fatores, não apenas o curso, mas o que o aluno, e futuro professor,
também tem de representação de como será sua atuação como professor de Libras. Garcia,
Hypólito e Vieira (2005, p. 54-55) descrevem desta forma a constituição dessa identidade:
[...] uma construção social marcada por múltiplos fatores que interagem entre si,
resultando numa série de representações que os docentes fazem de si mesmos e de suas
funções, estabelecendo, consciente ou inconscientemente, negociações das quais
certamente fazem parte de suas histórias de vida, suas condições concretas de trabalho, o
imaginário recorrente acerca dessa profissão [...].
Acredito que o surdo, ele precisa ter a Libras como primeira língua dele, então a gente
deve respeitar essa língua dele. Então, ele precisa chegar na escola e essa língua não pode
ser desprezada, ele tem que ter contato com a Libras, que é a primeira língua dele, para
depois aprender as outras disciplinas, ainda Língua Portuguesa que é a segunda língua do
surdo. (S7)
Para a constituição dos saberes que esses futuros professores utilizarão na sua atuação
docente, as fontes onde estes são captados tem diversas origens, como Tardif (2002) nos diz que
o saber docente é um “saber plural, formado de diversos saberes provenientes das instituições de
formação, da formação profissional, dos currículos e da prática cotidiana” (p. 54).
Por eu já ter uma outra formação, quando eu tenho por exemplo uma disciplina que
retoma algo que eu já sei, parece que fica muito mais claro, parece que as coisas têm mais
sentido e eu já consigo fazer esses links desses outros conhecimentos fora e perceber
algumas coisas a mais na disciplina, tal eu aprendi isso aqui então tem que ser dessa
forma, eu já consigo fazer de outra forma algo que eu já aprendi dentro da academia. (S2)
Ainda neste viés, podemos notar a presença da percepção de que os saberes docentes
que serão aplicados na prática também são provenientes das experiências de cada professor, e que
de forma mais específica sobre a atuação do professor de Libras, muito pode ser apreendido com
os professores que atuam na sua formação, mas que também o futuro professor deve produzir os
seus saberes através da sua prática e das suas experiências.
Nessa via, S8 diz: “eu absorvo o que o professor passa, que é considerável e que eu
posso praticar, e também percebo que eu posso acrescentar, que eu posso melhorar nas minhas
aulas, e de que forma eu posso agir”. Isso está de acordo com o que Tardif (2002, p. 228) quando
diz que “os professores de profissão possuem saberes específicos que são mobilizados, utilizados
e produzidos por eles no âmbito de suas tarefas cotidianas”.
Ainda neste respeito, podemos observar que o sujeito compreende que sua atuação não
está restrita ao que constrói dentro dos saberes curriculares, que de acordo com Tardif (2002) são
os conhecimentos relacionados a como a instituição organiza e como estes conhecimentos devem
ser repassados aos alunos, mas quando o sujeito se conscientiza de que pode acrescentar elementos
para melhorar a sua prática, ele também aponta para um dos elementos que constitui essa prática.
Assim,
Ainda na formação inicial dos professores de Libras e Português como segunda língua
para surdos, podemos notar que o uso da Libras teve influência tanto no processo de ensino-
aprendizagem do aluno, quando contribui para a atuação profissional deste professor. Isso se
mostra presente na fala de S7:
Teve uma influência muito grande porque eu comecei a ver o mundo de uma forma diferente.
Eu comecei a enxergar que não existe só uma forma de comunicar, que eu posso me comunicar
de outra forma, divulgar também a cultura surda, valorizar a identidade surda e também poder
me comunicar com surdo. E isso foi muito bom, poder chegar com surdo e comunicar com ele,
antes eu ficava com vergonha de me aproximar da pessoa porque eu tinha essa barreira da
comunicação. Hoje já posso chegar com um surdo e sinalizar e eu já fico feliz que ele consegue
entender o que eu estou dizendo. Eu consigo entender o que ele quer passar então isso foi muito
importante. (S7)
Conseguimos perceber que no âmbito da formação inicial desses professores, o uso da
Libras é primordial para que essa experiência e contato influencie nas práticas docentes, uma vez
que serão professores que vão atuar com discentes surdos, e o uso da Libras é fundamental.
Tardif (2002, p. 241), aponta que “se o trabalho dos professores exige conhecimentos
específicos à sua profissão e dela oriundos, então, a formação de professores deveria, em boa parte,
basear-se nesses conhecimentos”. Isso ficou claro na fala de S7 que apontou a importância do uso
da Libras durante a sua formação inicial, o que demonstra que o curso conseguiu atingir o que
Tardif (2002) aponta como essencial para a formação de professores que exigem algum
conhecimento específico, e neste caso o conhecimento da Libras.
A educação de surdos é um processo que faz com que eu veja a diferença, pois tem um
público que é diferente. Então eu tenho que perceber essas diferenças e trabalhar com o
que favorece, que ele se desenvolva. Então, com base na diferença dele, que eu possa
fazer com que ele se desenvolva (S5).
Não falar ao aluno sobre sua visão do mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com
ele sobre a sua e a nossa. Temos de estar convencidos de que a sua visão do mundo, que
se manifesta nas várias formas de sua ação, reflete sua situação no mundo, em que se
constitui (FREIRE, 2005, p. 100).
Acredito que é importante claro, porque todos nós merecemos educação e eles não são
diferentes e eu acho muito importante essa inserção da Libras na educação para que haja
acesso a essa educação para eles, mas hoje a nossa realidade é bem distante disso. Mas,
eu acho que para o futuro, com todas essas lutas, eu acho que eles vão conseguir uma
educação melhor (S8).
[...] as minhas metodologias de ensino aprendizagem têm que ser voltadas nessa questão
da diferença; eu perceber o aluno nessa questão e como falei criar metodologias e
propiciar que ele se desenvolva da mesma forma que um aluno ouvinte (S5).
O que você não precisa só saber Libras você precisa adequar a realidade do surdo saber
que a língua do surdo tem que ser a Língua Portuguesa e a Libras. Elas têm que andar
juntos e não separadas (S6).
Vale frisar na fala do entrevistado S6 que a Língua de Sinais deve estar atrelada à
realidade do educando surdo e associada à língua portuguesa no ensino-aprendizagem do sujeito,
posto que a aprendizagem será efetiva e satisfatória, “se os usos das metodologias adotadas no
ensino estiverem de acordo com as necessidades dos educandos surdos, em ordem psíquica, social,
afetiva, linguística e cognitiva” (OLIVEIRA, 2013, p. 495).
Desta forma, o ensino de surdos pode ocorrer a partir de uma perspectiva bilíngue
atendendo com isso a necessidade linguística desses educandos. Neste sentido, S1 demonstra uma
concepção bilíngue ideal e a real:
Concepção bilíngue que infelizmente ainda não é assim. Mas nós somos os profissionais
que estamos sendo preparados para que isso venha acontecer; eu acredito que isso possa
ocorrer essa educação bilíngue, onde tenha profissionais habilitados tanto no ensino de
Libras para alunos surdos quanto no ensino da língua portuguesa da segunda e também o
acesso das outras disciplinas por meio da Língua de Sinais (S1).
Uma educação bilíngue defende que a pessoa surda seja educada conjuntamente com
a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa (escrita). Nesta perspectiva, o Bilinguismo:
[...] contrapõe-se ao modelo oralista porque considera o canal viso gestual de fundamental
importância para a aquisição de linguagem da pessoa surda. E contrapõe-se à
comunicação total porque defende um espaço efetivo para a língua de sinais no trabalho
educacional; por isso advoga que cada uma das línguas apresentadas ao surdo mantenha
suas características próprias e que não se ‘misture’ uma com a outra (LACERDA, 1998
p.10).
Acho que a educação de surdos envolve o processo de estar inserido na escola, não só
por acaso, não só de estar ali, como um processo de inclusão, mas que ele esteja inserido
de fato em outra realidade, que a realidade agora, por exemplo, da escola bilíngue, que o
surdo possa realmente compreender e desenvolver a educação, aprender a ler bem,
escrever bem na língua portuguesa, eu acho que é esse processo (S7).
Minha concepção de Educação de surdos hoje ela já está misturada e bem modificada de
quando eu iniciei a faculdade. Penso assim, que é muito importante inclusive desenvolver
pesquisas, porque logo que eu entrei eu achava que a escola inclusiva era a melhor coisa
do mundo, mas quando a gente vai para sala de aula no estágio, a gente observa que a
muitas rupturas no processo de inclusão. Hoje eu percebi que é a necessidade da escola
bilíngue para surdos (S4).
Aqueles que se propõem a trabalhar na educação de sujeitos surdos devem fazê-lo a partir
de uma visão da heterogeneidade constitutiva das relações sociais e linguísticas e, para
tanto, é fundamental que uma política educacional voltada para a diversidade social e
cultural seja delineada. Apenas o respeito pela diversidade pode fazer com que os
professores compreendam seus alunos a partir dos aspectos próprios do grupo social ao
qual eles pertencem e, dessa forma, possam reconhecer como e por que os mecanismos
de resistência são construídos (tanto pelos alunos como por eles próprios). Esse olhar para
o outro propicia uma parceria, uma atuação conjunta frente à multiplicidade de forças
sociais existentes (p. 40).
De acordo com a autora, os professores que trabalham ou irão trabalhar com educandos
surdos necessitam firmar suas práticas pedagógicas na diversidade, posto que suas turmas são ou
serão heterogêneas socialmente e linguisticamente sejam elas numa escola inclusiva, numa escola
inclusiva bilíngue ou numa escola bilíngue.
Considerações Finais
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 46. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GARCIA, Maria M. A.; HYPOLITO, Alvaro M.; VIEIRA, Jarbas S. As identidades docentes
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OLIVEIRA, Waldma Maíra Menezes de. Representações Sociais de educandos surdos sobre a
atuação do Intérprete Educacional no Ensino Superior. Belém: Universidade do Estado do
Pará, 2015, 236f. [Dissertação de Mestrado].
__________. A Importância das Metodologias no Ensino de Jovens e Adultos Surdos. In:
XII Congresso Internacional e XVIII Seminário Nacional do INES Educação de Surdos em Países
de Língua Portuguesa Rio de Janeiro: INES, Departamento de Desenvolvimento Humano,
Científico e Tecnológico, 2013. (Pp. 483-496).
RIBAS, Marina Holzmann. Construindo a competência. São Paulo: Olho d’Água, 2000.
SILVA, Angela Carrancho Ouvindo o silêncio: educação, linguagem e surdez. Porto Alegre:
Mediação, 2008.
Resumo
O ensino de química para alunos com deficiência visual sempre foi um grande desafio, pois a
química é uma ciência cujo estudo requer bastante da análise visual, baseada em representações
envolvendo símbolos, diagramas, fórmulas e substâncias coloridas. Outro problema é a falta de
materiais educacionais adequados aos alunos sem percepção visual. Nesse sentido, procurando
fazer uma educação química inclusiva, este trabalho apresenta um programa de computador, o
QUIMIVOX, criado especificamente para o ensino da tabela periódica dos elementos químicos
aos alunos com deficiência visual.
Introdução
Mas é necessária mudar essa situação. É preciso superar o paradigma de que uma
incapacidade visual é suficiente para desqualificar por completo uma pessoa, impedindo-a, por
exemplo, de seguir carreira em algumas áreas como nas ciências ou engenharias (MINER et al,
2001). Segundo Pereira et al (2009) a melhoria do acesso dos alunos com deficiência ao ensino
superior, e em particular dos cegos, terá de futuro enormes repercussões na melhoria das suas
condições de vida e na sua realização pessoal.
O último censo realizado no Brasil, ocorrido no ano de 2010, apontou que existem
mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa
visão, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (ISAUDE, 2013).
Leonardo (2009) salienta que a ausência de condições mínimas necessárias para o processo de
aquisição de conhecimentos pelos alunos com deficiência visual tem como consequência imediata
o fracasso escolar. Mas falar que inclusão em educação não é a mesma coisa que simplesmente
matricular um aluno com deficiência visual em uma escola. A verdadeira inclusão depende de
outras variáveis, que incluem o emprego de metodologia voltada para essa clientela. No mínimo,
essas exigências precisam ser atendidas.
Além disso, o fato de a Química apresentar uma linguagem própria para representação
dos fenômenos da natureza, que abrange fórmulas, símbolos, gráficos, diagramas, tabelas,
convenções e códigos. Muito dela é aprendido com base no que se vê: substâncias, reações,
equipamentos, processos etc. Portanto é uma ciência que requer bastante a análise visual, por isso
não é fácil proporcionar saberes químicos aos estudantes com problemas de visão. Mas não é
impossível.
Os estudantes com deficiência visual têm características especiais e, por essas razões,
precisam de estratégias específicas no processo educacional. No entanto, a educação tradicional
não é geralmente acessível a eles. Na realidade, o que muito tem acontecido é um ensino bastante
apoiado no visual.
Entretanto, nos últimos anos, uma grande revolução na área de inclusão aconteceu com
o desenvolvimento da computação, pois surgiram programas voltados para as pessoas com
deficiência visual. O mais importante deles em língua portuguesa é o DOSVOX. Trata-se de um
programa computacionais gratuito para microcomputadores da linha computadores pessoais, que
se comunica com o usuário através de síntese de voz, possibilitando a eles um alto grau de
independência no estudo e trabalho. O programa foi desenvolvido pelo Núcleo de Computação
Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob a coordenação do professor
Antônio Borges (BORGES, 2013).
Mostrar como foi criada uma tabela periódica dos elementos químicos implementada
no sistema computacional DOSVOX e como esse programa computacional pode ser usado no
ensino de Química para as pessoas com deficiência visual, disponibilizando aqueles que possuem
severas limitações visuais o acesso às diversas informações relacionadas aos elementos químicos.
Desenvolvimento
O QUIMIVOX é um programa que pode ser usado tanto por aqueles com problemas
de visão, incluindo os casos mais graves quando há cegueira total, mas também pode ser utilizado
por pessoas que enxergam bem. O QUIMIVOX contem uma tabela periódica bastante iterativa,
pois o usuário ouve perguntas e tem a opção de escolha manuseando o teclado. Todas as opções
de acesso disponíveis são feitas pelo teclado, pois para aqueles sem visão o uso de um “mouse”
pouca ou nenhuma vantagem teria.
Diversas janelas são mostradas pelo programa e seus conteúdos são sempre falados
pelo sintetizador de voz do computador. Aliás, o fato de possuir uma interface, onde aparecem
janelas coloridas contendo palavras escritas, facilita o uso pelos que enxergam, os quais podem
usar esse aplicativo para si mesmos como instrumento de aprendizagem. Já para os que não
enxergam, as janelas ajudariam no caso de estarem acessando o programa ao lado de uma pessoa
que enxergue (por exemplo, um professor ou um aluno). Isso facilitaria a interação entre ambos
(pessoas com e sem percepção visual). Entretanto, mesmo os impossibilitados de enxergar podem
ter plena autonomia no uso da tabela, não precisando da ajuda de nenhuma outra pessoa. A única
exigência, é claro, é saber utilizar o sistema computacional DOSVOX, o qual já faz parte da vida
de muitos brasileiros com deficiência visual e é relativamente fácil de ser utilizado.
Outro ponto a destacar é que o QUIMIVOX pode perfeitamente ser usado por aqueles
que um dia aprenderam Química quando tinham uma visão normal, mas agora estão
impossibilitados de enxerga r e precisam consultar o conteúdo geralmente mostrados nas tabelas
periódicas comuns. Dessa maneira, possibilitar aos nossos alunos acessar sozinhos
conhecimentos científicos foi o maior resultado da criação do QUIMIVOX.
Figura 3. Janela mostrada pelo software DOSVOX que permite saber diversas informações sobre
o elemento químico escolhido.
Uma vez selecionada a opção de escolha, por exemplo , o uso do elemento ferro (letra “u”), aparece
outra janela (Figura 4).
As massas atômicas são mostradas com um algarismo a pós a vírgula. Os grupos são
identificados nessa tabela obedecendo à numeração de 1 a 18, conforme determinação da União
Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), mas também representados com letras e
números (1A, 2A, 3B etc), por ser ainda bastante comum essa utilização. Quando convém, o
programa fala o nome especial de algumas famílias: metais alcalinos, metais alcalinos terrosos,
calcogênios, halogênios ou gases nobres. O estado físico do elemento caracteriza-o como sólido
líquido ou gás. Na classificação, é informado se o elemento é metal ou ametal, representativo ou
de transição, artificial ou natural.
Os alunos com deficiência visual que usaram essa tabela periódica (Figura 6) acharam-
na de fácil manuseio e tiveram interesse em estudar por ela. Na realidade, eles demonstram uma
curiosidade imensa por aprender assuntos que possam ser estudados por meio do computador.
Portanto, eles acabam apresentando uma curiosidade natural pelo uso dessas novas tecnologias,
principalmente entre os mais jovens (DE MORAES et al, 2014). Um dos alunos comentou:
Para mim foi uma ideia espetacular quando foi criada a Tabela Periódica
falada com o uso do DOSVOX. Isso fez com que eu possa interagir
melhor com a Química.
...
Conclusão
Os benefícios que o QUIMIVOX poderá trazer aos estudantes com deficiência visual
e também aos professores poderão ser percebidos quando, no ensino da tabela periódica dos
elementos químicos, o programa for utilizado para proporcionar a esses alunos uma variedade de
informações químicas, as quais ajudarão esses alunos em sua formação científica, contribuindo
assim para uma educação mais inclusiva.
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