O desenvolvimentismo (crescimento econômico) não é o projeto
estratégico dos revolucionários, mas numa conjuntura pós-
neoliberalismo ele pode ser taticamente importante para o desenvolvimento das forças produtivas que favorece a diferenciação/desenvolvimento das classes sociais como demonstra Florestan Fernandes ao analisar o crescimento econômico da ditadura militar: ”Ao socialista interessa, naturalmente, a existência e o florescimento de uma política econômica nacionalista, não importando que ela favoreça, circunstancialmente, classes sociais com controle do poder. Todavia, ao socialista interessa mais – e de modo específico – meios e fins estritamente socialistas, que definem sua posição política em termos de presente e de futuro quanto à organização da economia, da sociedade e do Estado. Em suma, não lhe convém ficar a reboque das influências capitalistas, que atuam na ‘revolução brasileira’. Ele pretende introduzir o socialismo como ‘força histórica’ dentro desse processo, para fazer com que a mesma revolução adquira outro destino social”. Ou seja, Florestan não defende que fiquemos à reboque da burguesia e do desenvolvimento capitalista, mas não deixa de perceber que uma política econômica desenvolvimentista de médio prazo como no caso do “milagre econômico” (1968 – 1973) é uma via de mão dupla: por um lado, significa fortalecimento da economia capitalista, lucros para a burguesia, exploração do trabalho; Por outro, pode significar o fortalecimento organizacional da classe operária. Além disso, crescimento da economia gera absorção continuada de mão-de-obra que mais cedo ou mais tarde melhora os patamares salariais, gera pressão salarial e revigora a disposição da classe para a luta. Acrescenta Florestan que “no caso brasileiro, ao acelerar o desenvolvimento econômico em detrimento da revolução nacional e da revolução democrática, as forças da reação as forças da reação e da contra-revolução fortaleceram a base material de ambas as revoluções e, a largo prazo, imprimiram-lhes maior vitalidade e impetuosidade. Por quê? É fácil responder: a aceleração do desenvolvimento vinculou-se à industrialização maciça e, por aí, ao próprio desenvolvimento e à diferenciação do regime de classes (este, por assim dizer, soltou-se de várias amarras históricas e não poderia expandir-se só em uma única direção, a das classes dominantes; as classes ‘mais iguais’ colheram várias vantagens, mas contribuíram, ao mesmo tempo, para o aparecimento do movimento sindical, ao fortalecimento do proletariado de ponta e ao aparecimento de novas formas de solidariedade operária, de uso do conflito e de manifestação da pressão radical de baixo para cima que não podem ser contidas como uma ‘questão de polícia’)”