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Iara e o Boto: A história não contada

roteiro não oficial em português

Por: Kelly <3


Primeiras considerações:
 Este roteiro está adaptado para uma peça presencial, com todos os alunos da
sala. Caso ocorra de forma remota, temos um plano B 😎.
 Nosso prazo final de apresentação é a primeira semana de dezembro;
 A peça será composta por __ atos;
 Ao todo, serão __ personagens, sendo apenas __ deles com falas;
 Os personagens serão escolhidos por meio de formulário e se caso dê empate,
haverá uma reunião com as diretoras (ou com a sala, dependendo do caso) para
desempatar/resolver a situação;
 Em relação a cenário e figurino, contamos com as peças restantes dos nossos
trabalhos anteriores, cortando os possíveis gastos;
ATO 1 – INTRODUÇÃO
Com as cortinas ainda fechadas, há a recitação do seguinte poema por _________:

O rio, o rio 
O rio tem histórias para te contar 
As memórias dessas águas 
Belas, instigantes e obscuras 
A sereia assassina, o peixe sedutor 
Essas águas são as testemunhas 
O rio tem histórias para te contar 
O rio, o rio 

As cortinas são abertas e Iara está sentada na beira do rio, mexendo em seus cabelos e
distraída.
ATO 2 - IARA
Narrador:  Iara, a sereia sedutora. Cruel e implacável, arrastando com suas
correntes de belos cantos os homens ingênuos para o fundo do rio. A ditadora cruel de
um destino miserável e agonizante. Há línguas perigosas que se perguntam o porquê
desta mulher-peixe agir de tal modo:  “o que diabos amargurou aquela alma?”.

Tambores ressoam, Iara tira sua cauda de sereia e sai da água (por baixo está o saiote).
Ela veste o seu cocar e coloca um xale em seus ombros. Vai até o meio do palco e se
ajoelha em posição de guerreira (com um dos joelhos levantados e o outro no chão).

Narrador: Antes de ser amante dos peixes e da lua, Iara era filha do pajé de sua tribo,
uma guerreira muito habilidosa, adorada e admirada por todos. Seu ostensivo cocar
era um símbolo de sua bravura e nobreza, com cores únicas e vibrantes.

Iara: Eu trouxe glória para a minha aldeia. Sou responsável por muitos sorrisos e
barrigas cheias, agraciada com o carinho e respeito de meu povo.  
 
Duas batidas nos tambores ressoam e Iara abaixa a cabeça. O narrador continua:

Narrador: Tradicionalmente, a maligna inveja pode tomar conta de espíritos


fracos.  Fracos e próximos.

Aparece os sete irmãos de Iara. Um deles, a puxa para cima: 


 
Irmão 1: Você é uma escória, uma vergonha para nossa família. Você se acha a
guerreira mais ardilosa quando não passa de um pobre animal  iludido. 
 
O irmão a empurra e outro agarra seu braço.  
 
Irmão 2: Pobrezinho animal iludido. Uma formiguinha para uma onça.
Um camundongo nas garras de uma Harpia. É isso o que você é, insignificante.  
 
Iara é empurrada e cai no chão. Seu cocar também cai. 
 
Irmão 3: E é por isso que você vai morrer. Sua miserável! 
 
Os 7 irmãos a atacam. Iara consegue se desviar dos primeiros ataques, mas acaba
apanhando um pouco. Ela encontra uma faca próxima e consegue se defender melhor,
até ter derrubado todos os seus irmãos.  
 
Iara: Deuses, por favor, me perdoem.  
 
Iara ajoelha-se ao lado dos corpos caídos.  
 
Iara: Lua, por favor, guie esses espíritos para a Terra sem Males. Guie-os e os deixe
descansar em paz. Por favor, minha deusa. Eu lhe imploro.  
 
Iara faz uma reverência e gruda a cabeça no chão por um momento até ouvir barulhos. 
Assustada, sai correndo para a floresta.  
Pajé adentra no cenário e fica horrorizado com a cena.  
 
Pajé: Meus guerreiros, meus corajosos homens! Meus filhos! Quem?! Quem teria
cometido essa atrocidade?! 
 
Andando pelo local, ele para um momento e segura o cocar de Iara na mão, analisando-
o. 
 
Pajé: Iara... Minha única filha... Como pôde?! Não importa mais, o sangue nobre
derramado clama por justiça.  Não és mais minha filha, não dispõe mais de
honra alguma. Deves pagar! Hei de encontrar-lhe, Iara! Pagarás! 
 
Pajé procura por Iara, e consegue capturá-la alguns momentos depois e a puxa para o
rio.  
 
Iara: Eles me atacaram, por favor, meu pai!  
 
Pajé: Você é imunda e covarde! Trouxe a desgraça a nossa família! Deves pagar! Que
as águas façam justiça! 
 
Iara, se debatendo, é lançada no rio.  
 
Narrador: O gênesis da bela traiçoeira. A raiz da impiedade das águas doces. Iara,
fruto de inveja e injustiça, tornara-se amarga e alimentou-se dos tolos homens. Depois
disso, nadou por rios e rios, fazendo suas vítimas e espalhando o caos da forma mais
poética.
 
Uma música suave começa e Iara ressurge em sua cauda e cantando 1, numa dança
suave, homens/índios surgem no cenário e são atraídos até caírem no rio.
As cortinas são fechadas e a música cessa. 
 

1
A música em questão é “Canto da sereia” – disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=XgJFXfDh7q0 .
ATO 3 - BOTO
Narrador: As mesmas águas testemunhas da insurreição de Iara, também guardam o
segredo do Boto-cor-de-rosa. Um ser sapeca e traiçoeiro.

As cortinas se abrem, o boto está com um xale rosa e o tira, revelando que está sem a
camiseta, de costas para a plateia. Enquanto o narrador fala, ele vai vestindo suas roupas
(camiseta, paletó e chapéu).

Narrador: Nas noites especiais ou lua-cheia, o peixe imerge à superfície, na forma de


um homem. Um belo rapaz carismático, bem-vestido e irresistível.

O boto ajeita seu chapéu, olha para a plateia por cima do ombro e levanta-se, ajeitando
seu paletó. Uma índia aproxima-se timidamente. Há troca de olhares.

Narrador: Pobres moças são aquelas que caem em seus encantos. São enganadas por
sua língua perigosa e sua fala mansa, com palavras falsas que prometem amor. O amor
quente de uma noite e a condição de um amanhecer solitário.

O boto vai até a índia, eles conversam próximos por um instante. Trocam carícias: boto
acaricia seus cabelos, e sussurra em seu ouvido. Boto tenta arrastá-la para a água, mas
logo outro índio chega para chamar a moça. Antes que ela vá, avisa ao boto sobre a
festa que terá naquela noite:

Índia: Apareça em minha aldeia essa noite, o festival das águas terá início. Serão três
dias. Ansiarei por seu encontro a cada segundo.

Timidamente, ela dá um aperto na mão de boto e sai de cena.


O Boto se vira para a plateia e dá um aceno com o chapéu para a plateia e logo sai.
Tambores ressoam e uma música começa. Índios aparecem arrumando o local para a
festa.

Intervalo Boto – Festa

Enquanto o poema é recitado, os índios continuam decorando a floresta para a festa.


“O Festival das águas
A divina celebração da fonte da vida
Comam, dancem, cantem, vão!
Mas não se esqueçam de rezar
Sejam gratos e deleitosos
A mãe natureza se orgulhará e abençoará
Mas não a desrespeite,
Senão amaldiçoado será!
Comam, dancem, cantem!
Mas não se esqueçam de rezar, ou a maldição os pegará!
No festival das águas, a premissa é gratificar!”

Os índios param e acomodam-se, se sentando no chão e esperando seu pajé.


ATO 4 – A FESTA
Pajé: É com muito orgulho que nós, a tribo Airumã-Abá, celebramos mais uma vez o
festival das águas. Devemos agradecer a natureza, nossa Oka* maior, por cuidar de
nós para que este dia glorioso pudesse acontecer. Bebam, comam, dancem, divirtam-se
e o mais importante, sejam gratos.  
 
Os índios abrem espaço e dão início a uma apresentação de dança (a decidir). 
Após o término da apresentação, os índios descansam e vão comer e conversar um
pouco, alguns continuam dançando.  
Boto chega, e logo começam os burburinhos: 
 
Índio 1: Olhe, o Jacinira! 
Índio 2: O homem da lua! 
 
Alguns índios cochicham deliberadamente, enquanto boto segue em direção da índia
que lhe convidara para a festa.  
 
Índia: Fico muito feliz que tenha vindo.
 
Boto: Toda a felicidade é minha por poder contemplar sua
beleza nessa maravilhosa  noite estrelada. 
 
A índia fica envergonhada. Boto segura sua mão. 

Boto: Venha, venha dançar comigo e homenagear as águas! 


 
A índia o segue até o meio do palco, onde alguns índios estão dançando.  
Eles dançam por alguns momentos até trocarem de par.  
 
Narrador: Ah, o boto... Safado, inconsequente... Não precisa nem medir esforços
para encantar todas as garotas que respiram ao seu redor. E pode acabar se dando
muito mal por isso... 
 
Em seu próximo par, boto faz um passo ousado ao aproximar o rosto da nuca de uma
índia, gerando aclamações do povo ao redor. Os pares trocam de novo e a dança é
finalizada.  De repente, um índio maior chega e vai tirar satisfações com o Boto: 

Índio: eu vi do jeito que  tu olhastes  para minha mulher! 


 
Boto: Tua mulher? Quem?

Boto olha para as índias reunidas e dá um sorriso e um aceno. Elas riem para ele. O
índio fica irritado e então, parte para cima do Boto, segurando-o pela gola da camiseta. 
 
Índio: Olhe, sei bem quem tu és! Dizem que tu és Jacinira, aquele homem que seduz as
mulheres decentes! Pois saiba que aqui não é lugar pra você, seu cafajeste!  
 
Boto ri e debocha, mesmo em frente ao perigo. 
 
Boto: Jacinira, é? 
 
Índio: Achas engraçado isto?

O índio dá um soco no Boto. Boto cambaleia, ainda rindo e com a mão no queixo (onde
o soco pegou).  
 
Boto: Já vi que nem confiar em si mesmo, confia. Tenho pena de você, mas também te
entendo. Qualquer homem se sentiria ameaçado de perder sua mulher para mim, ora.
Comigo é muito mais gostoso e elas sabem.  
 
O índio se enfurece e tenta partir para cima do boto, porém, outros índios interveem e o
Pajé chega no local. 
 
Pajé: vá embora, rapaz! Pegue a sua maldade e suma daqui, não és bem-vindo!  
 
Boto, sem dizer nada, apenas dá uma risada e cospe no chão. Dá meia volta e sai do
lugar.  
 ATO 5 – ENCONTRO IARA E BOTO
As cortinas se fecham e o narrador toma a fala: 
 
Narrador: Encrenqueiro, safado, cretino... O Boto já foi dono de muitos adjetivos
antes. Já foi surrado, amaldiçoado...  Mas por que será que ele nunca aprende? Torna
a iludir as garotas, a seduzí-las e desgraçá-las... Por que? Diversão? Pura maldade
encarnada? Bom, sabemos que a verdadeira questão é: será que o Boto seria capaz de
se apaixonar algum dia? Imaginem só que loucura, parece quase impossível. Será que
ele  tem mesmo um coração? 

As cortinas se abrem e a Iara aparece ao canto, cantando 2 (há o som instrumental no


fundo). Durante o momento, o Boto - pelo lado oposto do cenário - vai se aproximando
devagar e observa Iara atentamente: 
 
Iara: “  They say there is a war 
Between the man and the woman 
I've  never  felt  like this before 
My heart knew that I  couldn't 
 
And then you take me in 
And everything in me begins to feel like I belong 
Like everybody  needs a home 
And when I take  your hand 
Like the world  has never held  a man 
I  know  I cannot heal the hurt 
But I will hold you here forever 
If I  can,  if I can 
 
And then I learned  the truth 
How everything good  in  life  seems to lead back to you 
And every single time I run into  your arms 
I  feel like I exist for love 
Like I exist for love 
Only for love” 
 
Sem querer, o Boto faz algum barulho que assusta Iara.  
 
Iara: quem está aí?!
2
A música é “Exist for Love” da Aurora e será cantada até o momento 1:51 do vídeo. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=7YDkrJaiCrw .
Iara se vira, assustada, e avista o Boto. 
 
Boto: Desculpe, eu não quis te assustar.  
 
Iara: Tudo bem. Eu... 
 
Boto: Que bela voz. Bela música também. 
 
Iara, tímida, sorri e responde:  
 
Iara: Muito obrigada, senhor. A música é realmente muito bonita, as águas a
trouxeram para mim e eu me apaixonei no mesmo instante.  
 
Boto: É realmente tão apaixonante quanto você. 
 
Iara sorri mais ainda, e o Boto se aproxima mais dela, até que eles ficam sentados lado a
lado, conversando. 
 
Narrador: Naquela noite, foi a primeira vez em que o Boto e a Iara não depositaram
malícia em suas ações. Não houve tentativa vil de sedução, tampouco enganação. Foi
quase inocente e imaculado, como um bebê recém-nascido. Seria um milagre? Boto e
Iara riram, contaram histórias, se admiraram e paqueraram até o amanhecer, com a
promessa de se encontrarem novamente a cada noite daqueles 3 dias de festival. Com
aquele primeiro encontro, é certo dizer que uma chama foi acesa no peito de cada um.
Não uma chama tênue ou fugaz, mas algo forte e totalmente novo. A união destes dois
mitos folclóricos,  com veneno de sedução na ponta da língua, seria obra do destino?
Seria um castigo? Uma libertação?   
ATO 6 – PASSAGEM DE TEMPO
Há a passagem do tempo de dois dias, pulando para a última noite do evento. Para
simbolizar, (com a cortina ainda fechada) 2 índios dançam com placas do sol e da lua
(giros simples).  
 
Narrador: Quanto tempo será que leva para uma pessoa se apaixonar? Uma vez me
disseram que o cérebro humano leva apenas poucos segundos para decidir se gosta de
alguém ou não, e eu achei isso tão interessante que fiquei refletindo...Mas  aí  me dei
conta de que aqui nós não estamos falando de um caso de amor comum entre humanos.
Estamos tratando de seres místicos, fantasiosos. Aqueles de gênio forte e rotulados
como cruéis e impiedosos. O amor, nessa questão, forma um conflito de interesses
absurdo e põe na balança sentimentos como o ódio e a indiferença, contra o amor e a
liberdade.  Será que o Boto e a Iara são capazes de desafiar esses obstáculos, de tomar
as rédeas e mudar suas próprias histórias? Quanto tempo será que eles levam para se
apaixonar, se é que conseguem?  

As cortinas se abrem, o Boto e a Iara estão sentados em outra posição e lugar do


cenário, de mãos dadas (um de frente para o outro outro, de lado para a plateia). 
 
Iara: Hoje é o nosso último dia.  O último dia do Festival das águas. 
 
Boto: Iara, eu não quero parar de te ver. Eu não quero que isso acabe.  
 
Iara: Eu queria que esse momento pudesse durar para sempre...  
 
Boto: Nós podemos fazer ele durar, Iara.  
 
Iara: Como? Isso nem devia estar acontecendo, sabe. Nós somos ruins, nós somos
odiados. Somos aqueles que não merecem a felicidade. Nós seduzimos e enganamos,
iludimos e matamos. Não podemos, meu amor.  
 
Boto: As circunstâncias nos tornaram assim, mas essa não é a nossa natureza.  Todo
mundo merece uma chance de ser feliz. E essa é a nossa, Iara, minha querida. Sem
mais enganação, ilusão ou sangue e lágrimas derramadas. Nós podemos sair nadamos
mundo afora e nos perdemos para sempre nas águas. Contanto que estejamos juntos,
nada mais importa.  
 
Iara: Contanto que estejamos juntos, nada mais importa. 
 
E se abraçam e ficam, até o narrador concluir sua fala: 
 
Narrador: Essa era a promessa que, bem, não poderia impactar diretamente o nosso
mundo, mas certamente seria o grande big bang  do universo deles, a grande mudança
inimaginável. Fugir seria um ato de rebeldia que consolidaria uma verdadeira
revolução nos termos poéticos do amor. Fugir seria a esperança da liberdade, a
liberdade das amarras do  ódio, da fúria, do rancor e da crueldade que ardia como um
incêndio no  peito de cada um destes seres – um incêndio que nem mesmo viver debaixo
d’água foi capaz de cessar. Então, eles se encontrariam no dia seguinte e nadariam.
Nadariam mundo afora, até o fim, como o Boto ofereceu. E juntos, construiriam a mais
bela e sólida relação de amor, de carinho e confiança, solidificada e fortificada, acima
de tudo, pela fé.   
 
Boto e Iara se levantaram e se despediram com um beijo na bochecha. Iara foi
caminhando e Boto a observou até que ela sumisse dentro das cortinas. Ele se sentou
novamente na beira do rio, vestiu um manto rosa (que representa a forma de peixe) e
disse, sorrindo: 
 
Boto: Pela primeira vez na minha vida, eu me sinto genuinamente feliz.  
 
Por trás dele, chegava sorrateiramente um grupo de pescadores. Eles atacaram o Boto e
o arrastaram para trás das cortinas (lado oposto ao que Iara entrou). Boto gritou apenas
uma vez. 
 
Pescador: Esse grito parecia humano, eu devo estar ficando louco!

E as cortinas se fecham. Os índios com a lua e o sol passa na frente das cortinas, com
giros leves, para indicar a mudança do tempo.  
ATO 7 – CLÍMAX
Após o fim da pequena dança, as cortinas se abrem novamente e Iara surge: 

Iara: Eu estou tão, tão feliz. Eu nunca achei que sentiria esse sentimento novamente.
Me sinto grata. Não vejo a hora do Boto chegar e partimos rumo à nossa jornada...
Juntos! Oh... 

Iara seca uma lágrima e começa a cantar3 (índios podem entrar junto, a decidir):

Iara: I  can't imagine how it is 
To  be  forbidden  from loving (ah, ah) 
'Cause when you walked into  my life 
I  could feel my life begin 
Like I was torn  apart the minute I was only born 
And you're the other half 
The  only thing  that makes me whole 
I  know  it sounds like a lot 
But you really need  to  know 
We are  leaning out for love 
And we will  lean for love  forever, I know 
I  love you so 
 
And then I learned  the truth 
How everything good  in  life  seems to lead back to you 
And every single time I run into  your arms 
I  feel like I exist for love 
Only for love 
 
And when you say  my name 
Like white horses on the waves 
I  think it feels  the same 
As  an ocean in my  veins 
And you'll be diving in 
Like nothing is  out  of  place 
And we exist  for love 
Only for love

 
3
A música é a continuação do trecho anterior, com a música “Exist For Love” da Aurora, partindo do
momento 1:53 até 3:54. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7YDkrJaiCrw .
Quando termina de cantar, Iara olha para todos os lados e começa a se desesperar. Ela
caminha de um lado para o outro e depois para no centro do palco. Os índios do sol e da
lua giram novamente em torno dela, enquanto ela lentamente se ajoelha no chão e
chora.  
Após alguns giros, o sol para na frente do corpo de Iara e a lua se posiciona atrás. Eles
se curvam e colocam os símbolos na frente de seu rosto enquanto Iara se levanta. Neste
mesmo momento, os pescadores estão surgindo pelo canto do palco com o Boto nos
braços.  
Quando Iara se dá conta, ela se levanta furiosa e vai lutar com eles. 
Após um momento lutando, os pescadores cedem e caem no chão. Iara pega o corpo do
Boto e o arrasta para longe deles, para o meio do palco.  
 
Iara: Meu amor, acorde. Você está a salvo agora, eu te esperei e fiquei preocupada
porque você não aparecia e... 
 
Iara se dá conta que Boto nem sequer está se movendo e fica muito, muito desesperada: 
 
Iara: Boto, fala comigo. Você me prometeu! BOTO! Acorde amor, por favor! Não faça
isso comigo... 
 
Ela o balança com força e Boto não responde. Então, Iara se curva ao lado de seu corpo,
abraçando-o e chora, cantando4 baixinho (acapella agora): 
 
“And then I learned the truth 
How everything good in life seems to lead back to you 
And every single time I run into your arms 
I feel like I exist for love 
Like I exist for love 
Only for love 
And I love you, I love you, I love you 
And I love you, I love you, I love you” 
 
Então ela adormece ao lado de Boto e ali permanece. 
Devagar, todos os índios que encenaram na peça vão saindo de trás das cortinas e
jogando pétalas de flores no Boto e na Iara, e se ajoelham ao lado deles. Enquanto isso,
o narrador fala:  
4
Esse trecho refere-se à junção dos momentos 1:15 até 1:51 e 3:57 até 4:09 da música “Exist for Love”
da Aurora. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7YDkrJaiCrw .
 
Narrador: Essa é a parte mais difícil, quando o nó da garganta se aperta e quase não
conseguimos respirar. Certamente, o adeus a um romance que sequer começou é a
parte mais dolorosa. Tão dolorosa quanto saber que as lágrimas que caíram pelo rosto
de Iara, a partir do momento em que ela viu o seu amor e a sua liberdade definhando,
despencaram  sem cessar até que ela teve o mesmo fim. As lágrimas de ódio, de dor e,
principalmente, luto. Luto não só pela morte de sua paixão, mas  por uma história em
branco, pelo aprisionamento de sua felicidade e pelo assassinato de sua fé.  
A fé, que é o verdadeiro pilar dessa trama. A fé, que é um dos conceitos mais belos
criados pela mente humana: a habilidade de acreditar sem ver, sem tocar. Aquele
famoso tiro no escuro em que você cruza os dedos e fecha os olhos, rezando para
acertar o alvo. A fé, que é o berço e o ápice da pureza e a maior virtude. A fé, que foi a
melhor amiga do Boto e da Iara. E assim como a sereia linda e cruel morreu
aquecendo o gélido corpo de seu amante, a fé terminou abraçando-os e ao último
suspiro dela, ela sussurrou: “Por favor, me desculpe.”  
E é assim, sem testemunhas da  tentativa de fuga das amarras do destino e com um
sussurro de desculpas, que a trágica história não contada da Iara e do Boto se
encerra.  
Muito obrigado.  
 
Lentamente, todos os personagens ali se levantam, dão as mãos e fazem uma reverência
para o público.  
 
 
FIM

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