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Meio Ambiente - 19.06.

08

Problema
Projeto para descarte do lixo eletrônico na USP é pioneiro

Francisco Angelo, especial para o USP Online


usponline@usp.br

Dados do Anuário Estatístico da USP de 2007 mostram que a Universidade de


São Paulo possui atualmente cerca de 37 mil microcomputadores, 15 mil
impressoras e 4 mil dispositivos de rede, entre outros equipamentos de
informática. Como as estimativas mais confiáveis dão conta de que
aproximadamente 10% desses aparelhos caducam por ano, pode-se ter uma
idéia do tamanho do problema que o chamado lixo eletrônico (e-lixo ou e-
waste) representa somente nos campi da maior universidade brasileira.

Foi a preocupação em garantir que essa enorme quantidade de telefones,


mouses, teclados, fios e placas que vão parar todos os anos no meio do lixo
comum ganhem um descarte mais adequado e agridam o meio ambiente da
menor maneira possível que ajudou a gerar um projeto pioneiro dentro da
USP. O Centro de Computação Eletrônica (CCE), órgão responsável pelo
atendimento em informática a todas as unidades da USP na capital,
implementou neste ano o Plano para a Cadeia de Transformação de Resíduos
de Informática. O programa, que conta com o apoio da Agência USP de
Inovação e do USP Recicla, está sendo desenvolvido em parceria com três
alunos do Laboratório de Sustentabilidade (S-Lab), disciplina da Sloan School
do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos EUA.

“Pelo que sabemos, esse tipo de


projeto é um dos pioneiros não só
no meio universitário brasileiro
como também no mundo”, explica a
professora Tereza Cristina M. B.
Carvalho, diretora do CCE. A meta
do plano é criar uma política que
trate não só do gerenciamento de resíduos eletrônicos dentro da universidade,
como também se preocupe com a sustentabilidade de toda a cadeia de
transformação desses produtos. “Em uma das primeiras etapas, por exemplo,
vamos analisar se os micros que estamos comprando, por exemplo, são os
chamados ‘micros verdes’, que não têm chumbo e cujos componentes podem
ser decompostos ou reutilizados”, explica.

A preocupação ambiental se estenderia não somente ao final do ciclo de vida


do equipamento, mas já no ato da compra. “Infelizmente, hoje nós não temos
ainda no Brasil uma legislação que exija dos fabricantes suas devidas
responsabilidades com o descarte de produtos eletrônicos, o que nos deixa
bastante atrasados em relação aos países desenvolvidos”, diz Tereza. “Essa
política, que já existe para fabricantes de celulares e pneus, por exemplo, é
uma das propostas que vamos discutir aqui dentro, a inclusão dessa exigência
nos próximos editais de compras de produtos de infomática”, diz ela.

Dia Mundial do
Meio Ambiente
Como hoje a USP
não tem uma
política definida
para a gestão do
e-lixo, algumas
unidades
simplesmente
“encostam” o que
já não funciona
mais, enquanto
outras doam para organizações não governamentais (ONGs), explica a diretora
do CCE. “Muitas vezes se doam dois ou três micros para uma ONG, cada um
com um defeitinho, e desses ela acaba montando um e jogando o resto fora.
Precisamos garantir que essa ação da doação seja também uma ação
sustentável, e não apenas uma transferência do problema do descarte para
terceiros”.

O embrião do projeto funcionará na CCE, nesta primeira etapa. “Pretendemos


primeiramente limpar todo o nosso lixo eletrônico. Você abre a sua gaveta e
tem lá um mouse, um CD ou uma placa que já não tem mais utilidade”. A
primeira experiência foi realizada no último dia 5 de junho, escolhido por ser o
Dia Mundial do Meio Ambiente. Nessa data, os funcionários do CCE
depositaram em um contêiner no estacionamento da unidade dezenas de
telefones, CDs e placas que já não serviam mais, totalizando quase uma
tonelada de material. “A receptividade com o projeto foi muito boa”, avalia
Tereza Cristina. “Agora, é solidificá-lo aqui e depois transferi-lo gradualmente
para todas as unidades”.

Solução
CEDIR - Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática
Lixo eletrônico da USP agora poder ter um destino sustentável

Implantação do CEDIR cria soluções para projetos sociais e deve fomentar o


desenvolvimento de indústria nacional de reciclagem

A Universidade de São Paulo já pode contar com o CEDIR - Centro de


Descarte e Reúso de Resíduos de Informática, que implementa as práticas de
reuso e descarte sustentável de lixo eletrônico, incluindo bens de informática e
telecomunicações que ficam obsoletos. A sua inauguração aconteceu em
dezembro de 2009. Trata-se de um projeto pioneiro de tratamento de lixo
eletrônico em órgão público e em instituição de ensino superior.

O CEDIR está instalado em um galpão de 400 m2 com acesso para carga e


descarga de resíduos, área com depósito para categorização, triagem e
destinação de 500 a 1000 equipamentos por mês.
Como resultado da sua operação, garante-se que os resíduos de informática
da USP passem por processos que impeçam o seu descarte na natureza e
possibilitem o seu reaproveitamento na cadeia produtiva. Os equipamentos e
peças que ainda estiverem em condições de uso serão avaliados e enviados
para projetos sociais, atendendo, assim, a população carente no acesso à
informação e educação. No final de sua vida útil, tais equipamentos deverão
ser devolvidos pelos projetos sociais à USP, para que possamos lhes dar uma
destinação sustentável, via CEDIR.

Este projeto está alinhado com as diretrizes de sustentabilidade definidas pela


ONU, satisfazendo requisitos ambientais, sociais e econômicos.
Numa primeira etapa, atenderá apenas as escolas, faculdades e institutos dos
diversos campi da Universidade de São Paulo.

Etapas de operação do CEDIR

Primeira Etapa – Coleta e Triagem: O processo tem início com a recepção de


peças e equipamentos de informática. O primeiro objetivo é avaliar a
possibilidade de reaproveitamento. Em caso positivo, ele é encaminhado para
projetos sociais na forma de empréstimo. A forma de empréstimo foi adotada
para garantir que este bem de informática retorne ao CEDIR e tenha um
destino sustentável, ao final da sua vida útil. Os equipamentos, que não
puderem ser reaproveitados por projetos sociais, serão encaminhados para a
etapa de categorização.

Segunda Etapa – Categorização: Nesta etapa, tais equipamentos são pesados,


desmontados e separados por tipo de material (plásticos, metais, placas
eletrônicas, cabos, etc). Os materiais do mesmo tipo são descaracterizados e
compactados. A compactação é realizada devido à necessidade de reduzir o
volume e, consequentemente, reduzir o seu custo de transporte.
Terceira Etapa – Reciclagem: Por último, os materiais categorizados são
armazenados até o recolhimento por empresas de reciclagem, devidamente
credenciadas pela USP e especializadas em materiais específicos, como
plástico, metais ou vidro.

Como encaminhar o lixo eletrônico?

Os interessados devem agendar a entrega do seu lixo eletrônico por meio do


nosso Help Desk, pelos telefones 3091-6454, 3091-6455, 3091-6456 - horário
de atendimento: de segunda a sexta-feira, das 8h00 às 18h00 ou pelo e-mail
consulta@usp.br.

Para maiores informações sobre o CEDIR e dúvidas a respeito do projeto de


sustentabilidade envie e-mail para cedir.cce@usp.br.

Descrição Financeira
22/02/2010 - 11h25 / Atualizada 22/02/2010 - 12h41
Reciclagem de lixo eletrônico na USP aproveita até
último parafuso de PCs antigos
JULIANA CARPANEZ||Do UOL Tecnologia

Monitores descartados no Cedir (Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática)

ÁLBUM DE FOTOS

Clique para ampliar a foto


Se você está familiarizado com o conceito de reciclagem, já sabe que a coleta seletiva do lixo deve ser feita em
latas com cores diferentes: verde (vidro), amarelo (metal), vermelho (plástico) e azul (papel). Apenas quatro
divisões, no entanto, estão longe – muito longe -- de atender às necessidades da reciclagem de eletrônicos. Foi
isso o que descobriram profissionais da Universidade de São Paulo (USP), após iniciar em dezembro de 2009
um projeto de coleta de lixo tecnológico. A iniciativa, ainda restrita à USP, está prevista para ser aberta ao
público em 1º de abril.

No chamado Cedir (Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática), que conta com cinco funcionários
e teve investimento inicial de R$ 250 mil, três técnicos trabalham para desmontar toneladas de equipamentos.
Essas peças -- que vão desde cobiçadas placas com fios de ouro até parafusos -- serão utilizadas em
computadores remanufaturados ou vendidas para empresas de reciclagem de materiais específicos.

OPINE
• Para onde vai seu lixo eletrônico?
Para isso, é importante fazer uma triagem daquilo que ainda funciona, além de separar os diferentes tipos de
cabos, plásticos e metais, entre outros elementos que compõem um computador. As placas, por exemplo, têm
diferentes quantidades de metais (alguns deles preciosos), o que torna seu valor de mercado variável. Já os
cabos podem conter cobre, zinco, alumínio e até vidro, dependendo da função para a qual foram fabricados.

No meio desse lixo, o técnico de manutenção eletrônica André Rangel Souza monta computadores com peças
usadas. “É difícil conseguir uma memória RAM de 1 GB funcionando. Mas posso chegar a essa mesma
capacidade juntando quatro pentes de 256 MB”, exemplifica. Seu trabalho exige paciência. “Esse disco rígido
está bom, mas falta a placa. Até encontrá-la, o HD vai ficar parado aqui, neste pilha”, explicou ao UOL
Tecnologia. “Uma hora a gente encontra a placa certa."

Técnico de manutenção eletrônica André Rangel Souza, do Cedir, desmonta máquinas doadas e monta
computadores com peças usadas

Os PCs remanufaturados, que serão emprestados a ONGs até voltarem ao Cedir para o descarte, têm gravador
de DVD, placa de rede, de vídeo, 120 GB de capacidade de armazenamento, 512 MB de RAM, monitor, teclado
e mouse. Dez máquinas dessas já foram montadas no local e estão prontas para serem usadas em iniciativas
como as de inclusão digital.

Aqueles que quiserem levar seus eletrônicos usados para o centro, a partir de 1º de abril, devem antes agendar
a visita pelos telefones (11) 3091-6455 ou (11) 3091-6454 – os funcionários já respondem às dúvidas dos
interessados pelo e-mail cedir.cce@usp.br. A coleta refere-se apenas ao lixo eletrônico de pessoas físicas; não
serão aceitos equipamentos de empresas.

5 toneladas, R$ 1.200
A ideia da criação do centro de descarte surgiu depois que funcionários do Centro de Computação Eletrônica
(CCE) da USP fizeram a coleta do lixo eletrônico existente dentro do próprio CCE, em meados de 2008. Na
ocasião, os cerca de 200 funcionários do centro também levaram equipamentos de suas casas, e o resultado
foram 5 toneladas de produtos descartados.

Quando ofereceram esse lixo para empresas de reciclagem, eles se assustaram ao descobrir a quantia paga por
todo o montante: apenas R$ 1.200.

“As empresas de reciclagem trabalham com um único tipo de material. Se o foco for metais preciosos, ela não
vai se interessar em pagar por todo o plástico dos computadores descartados”, explica Tereza Cristina
Carvalho, diretora do CCE

• Empresários criam serviço de coleta


personalizada de lixo eletrônico

• Celulares velhos valem 15 mil dólares por


tonelada

• Computadores descartados pela Europa


envenenam crianças na África

• EUA exportam 80% dos seus resíduos


eletrônicos
“Percebemos que havia algo errado nesse mercado e, em janeiro de 2009, cinco pesquisadores do MIT
[Massachusetts Institute of Technology] vieram ao Brasil para nos ajudar a identificar o problema”, contou ao
UOL Tecnologia Tereza Cristina Carvalho, diretora do CCE. “A questão é que as empresas de reciclagem
trabalham com um único tipo de material. Se o foco dessa organização for metais preciosos, por exemplo, ela
não vai se interessar em pagar por todo o plástico dos computadores descartados”, explicou.

Foi então que se pensou em montar um centro que separasse os componentes, para que eles fossem
reutilizados e vendidos de forma independente. Tereza afirma que um computador desmontado pode valer de
R$ 24 a R$ 40 (contra R$ 1,2 mil de 5 toneladas de equipamentos que não estavam adequadamente
separados). Completo, cada PC pesa cerca de 10 kg.

Quando o centro for aberto ao público, a estimativa é receber de 500 a 600 máquinas por mês, e o dinheiro
arrecadado com a venda será usado para a manutenção do próprio Cedir.

Tamanho do problema
A organização não governamental Greenpeace estima de 20 a 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são
geradas no mundo a cada ano. Ainda de acordo com a ONG, o chamado e-lixo (e-waste, em inglês) responde
hoje por 5% de todo o lixo sólido do mundo, quantia similar à das embalagens plásticas. Com a diferença de
que, quando descartados de maneira inadequada, os eletrônicos podem ser mais nocivos.

Esses equipamentos contêm centenas de diferentes materiais – um celular, exemplifica o Greenpeace, tem de
500 a 1 mil componentes diferentes. Na composição de muitos deles há metais pesados, como mercúrio,
cádmio e chumbo, que podem poluir o ambiente e prejudicar a saúde das pessoas. Para ficar longe do
problema, muitos países ricos exportam seu lixo eletrônico para nações pobres, como indica este mapa.

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