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ARAGUAÍNA-TO
2020
MARCOS DIONE DA SILVA
ARAGUAÍNA-TO
2020
Dedico este trabalho à minha mãe,
Maria Ana: mulher negra e
analfabeta. Que mesmo não tendo
sido educada com as letras, sempre
soube que os estudos abrem
caminhos e fez o impossível pra que
eu pudesse chegar onde estou.
Também dedico ao meu pai, João
Francisco: homem negro e
trabalhador braçal, que sempre me
mostrou e me ensinou lições que
levarei para toda minha vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por sempre estar comigo nos momentos mais
difíceis onde quase perdi a fé em continuar, mas Ele sendo sempre Deus me
mostrou o caminho da perseverança.
Agradeço à minha mãe, Maria Ana, e ao meu pai, João Francisco, por sempre
me apoiarem nessa minha luta por um diploma de ensino superior e por nunca
deixarem de acreditar em minha capacidade. Agradeço aos meus irmãos que
mesmo nas brigas, se mostraram prestativos em me ajudar quando precisei.
Agradeço à minha orientadora Naiana Siqueira Galvão por aceitar o desafio de
me orientar e me fortificar sempre que precisei de ajuda. A senhora sempre vai
ser minha inspiração de vida e resistência negra.
Agradeço à minha segunda família: Taine, Elton, Tio Nô, Tia Ciene e Leo.
Vocês foram e são responsáveis por essa conquista também. Obrigado por
acreditarem no meu potencial.
Agradeço aos amigos que o curso de Português me deu: Mariana Sampaio,
Sarah Regia, Carol Alves Malveste, Deusilene Florinda. Obrigado, de coração,
por me ajudarem a permanecer no curso quando eu pensei em desistir.
Agradeço aos amigos que o Inglês me deu: Morgana Vasconcelos, Samantha
Leite, Weslane Oliveira (meu primeiro amor não correspondido) e Marcela
Assis. Obrigado por fazerem as aulas de inglês serem mais divertidas e
significativas.
Agradeço ao Manoel, Cassio, Quênia e Anna Cristina por deixarem, sempre
que precisei, usufruir da casa de vocês para estudar. Vocês são uma família
incrível.
Agradeço à família Teixeira, em especial a Amanda Teixeira. Obrigado por me
proporcionar as melhores viagens para eventos acadêmicos. E obrigado
também por me mostrar que eu posso conseguir ‗o mundo‘, basta eu querer!
Agradeço também a todos os meus professores da faculdade. Vocês são
pessoas excepcionais. Obrigado por todo ensinamento e puxão de orelha.
Agradeço a turma do LALI/UFT: Professor Edviges, Tatiane, John, Paty, Danilo
e a todos os indígenas da Escola Indígena 19 de Abril.
Agradeço, com o coração cheio de alegria, aos meus dois amigos e irmãos que
a vida me deu: Ryan Chaves e Bruno Samuel. Obrigado por alegrarem minha
vidinha com o jeito extrovertido de vocês serem.
Agradeço também a UFT por todos os momentos de aprendizado que ela me
proporcionou. VIVA A UNIVERSIDADE PÚBLICA E DE QUALIDADE.
Por fim, agradeço às irmãs Pri Almeida e Marilia Almeida por me ajudarem na
minha trajetória inicial na universidade. Espero um dia retribuir tudo o que
vocês fizeram por mim.
Pessoas oprimidas não podem
permanecer oprimidas para sempre. O
anseio pela liberdade eventualmente se
manifesta. (Martin Luther King Jr.)
RESUMO
With this research we intend to discuss, in a simple but significant way, the
importance of the marks of oral resistance in the literature of Hughes. The
course of the study begins in the Harlem Renaissance and along extends to the
performances that the black literature embraced by the poems and Blues
Poems of Langston Hughes, one of the leading activists and idealizers of the
black movement. In addition, we seek to understand how Langston Hughes
transforms his writings into a resistance literature aimed at a people enslaved
by their color and culture. The theoretical foundation is based on CONE (1979);
MINAYO (2001); TOMÉ (2020) and GALVÃO (2016). At first, we conducted
several bibliographic researches on themes that the aforementioned authors
defend, soon after, we analyzed some poems made by blacks before and after
the period of slavery in the USA, emphasizing, in the last chapter, to the poems
of L. Hughes. Our research is necessary for an understanding and criticism
about the black literature that, even being part of the world literature, is not yet
well disseminated and valued because it is a literature made by black people.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 13
1 INTRODUÇÃO
Através da 13° Emenda, também conhecida como a Lei Jim Crow, havia
a premissa que os escravos libertos deveriam ser considerados cidadãos
americanos, exceto aqueles que fossem presos e condenados por qualquer
tipo de crime contra um cidadão branco americano. Essa massa migratória se
destinou para inúmeros estados norte - americanos, mas, principalmente, para
o Harlem, localizado em Nova York, pois já existia uma expressiva quantidade
de negros residindo e constituindo seus espaços nesse bairro.
1
BERND (1998) Considera que a literatura negra se diferencia daquela literatura que apenas
tematiza o negro, por um eu que se assume negro e com isso assume as responsabilidades de
pensamentos/posicionamentos políticos e ideais.
2
Plantation era considerada a região sul do país onde a concentração de plantações era maior,
logo de grandes agricultores que não queriam o fim da escravidão.
16
Fonte: https://www.poetryfoundation.org/poems/45465/on-being-brought-from-africa-to-
3
america. Acesso em: 03-05-2020. (tradução nossa )
3
Durante a composição do trabalho, todos os poemas utilizados foram traduzidos pelo
respectivo pesquisador.
17
Com todo esse processo imigratório que ocorreu durante o século 19, o
sujeito negro irá procurar nos centros urbanos, em específico no Harlem, uma
grande necessidade de autorreconhecimento de identidade cultural e o mais
importante, um processo de autoexpressão.
O poeta falando a uma prostituta que cai no sono enquanto ele está
falando—Quando o poeta Jean Toomer caminhou pelo Sul no início
dos anos 20 ele descobriu uma coisa curiosa: mulheres negras cuja
espiritualidade era tão intensa, tão profunda, tão inconsciente, que
eram elas mesmas desconhecedoras da riqueza que carregavam.
Tropeçavam cegamente por suas vidas: criaturas tão abusadas e
mutiladas em seus corpos, tão esmaecidas e confusas pela dor, que
se consideravam indignas até de esperança. Nas abstrações
altruístas que seus corpos se tornavam para os homens que os
usavam, elas se tornaram mais que "objetos sexuais", mais até que
meras mulheres: se tornaram "Santas". Ao invés de serem percebidas
como pessoas completas, seus corpos se tornaram relicários: o que
era imaginado como suas mentes tornaram-se templos dignos de
adoração. Estas Santas loucas encaravam o mundo, selvagemente,
como lunáticas – ou silenciosamente, como suicidas; e o "Deus" que
estava em seus olhares era tão mudo quanto uma grande rocha.
(WALKER, grifos do autor, 1972, p. 01)
Fonte: https://midia4p.cartacapital.com.br/o-renascimento-do-harlem-uma-nova-identidade-
afro-americana/
4
―Originally called the New Negro Movement, the Harlem Renaissance was a literary and
intellectual flowering that fostered a new black cultural identity in the 1920s and 1930s. Critic
and teacher Alain Locke described it as a "spiritual coming of age" in which the black
community was able to seize upon its "first chances for group expression and self-
determination.‖ Disponível em: https://www.infoplease.com/history/black-history/great-days-in-
harlem, acesso em 05 de maio de 2020.
20
Dessa forma, entende-se que a busca por uma identidade própria, pode
ser caracterizada pela tentativa de reinvenção de uma identidade construída
durante o período de sobrevivência, no qual o negro ainda se encontra em um
processo de desconstrução e construção da sua própria identidade, tentando
assim, reverter os tempos onde o negro era esquecido, julgado e
estereotipado, fatos esses que ainda assolam a literatura e a sociedade atual.
22
Sobre esse processo de luta citamos a obra literária Uncle´s Tom Cabin
(A Cabana do Pai Tomás), cuja autora branca Harriet B. Stowe escreveu sobre
os negros e suas relações com os senhoris e a religião puritana. A escritora
elabora o personagem Pai Tomás, um velho escravo, considerado o mártir da
narrativa, uma vez que ele é morto pelo capataz por não delatar o paradeiro de
suas irmãs de cor. O personagem é sacrificado, assim como muitos negros
morrem nas lavouras devido ao árduo trabalho e dos castigos infindáveis. Além
disso, na perspectiva de poder ter uma vida libertada desse sistema de
opressão, o processo de travessia para outras regiões que cruzavam as linhas
de fuga para o Canadá também foi cenário de mortes e assassinatos.
24
O interesse por este tema surgiu a partir do contato que tive com
algumas poesias negras, em especial do autor Langston Hughes. Observei que
a maioria dos poemas abordavam temas como valorização e ascensão do
negro dentro da sociedade branca. Dessa maneira, estes poemas foram
eficazes na desconstrução de padrões e estereótipos referentes à literatura
negra que eu tinha, em mente, anteriormente.
5
There seems to be small doubt that Christianity contributed in large measure to a spirit of
patience which militated against open rebellion among the bondsmen. Yet to overemphasize
this point leads one to obscure a no less important reality: Christianity, after being reinterpreted
and recast by slave bards, also contributed to that spirit of endurance which powered
generations of bondsmen, bringing them to that decisive moment when for the first time a real
choice was available to scores of thousands of them. (STUCKEY 1969, p.429)
31
6
―Once extemporaneous, now traditional, spirituals are cultural artefacts that carry within them
the voice of the voiceless, a clandestine rebellion of the deeply oppressed, the genius of an
artistic community, a hope for the psychologically and physically subjugated, a communion of
the spirit, a coded language, a claim to dignity amidst a deep demeaning environment, a
roadmap to escape (Abolisitionists‗ aided Underground Railroads), a coping mechanism, a
healing balm to the champions of struggle against odds of colossal stature, lessons of values,
the rhythm of the West African drums, a call to justice, transformation, and inspiration‖. (CONE
1979, p. 59)
32
Well, I'm walkin' down the highway an' the water's gettin' low
God's a-gonna trouble the water.
Walkin' down the highway, nowhere to go
God's a-gonna trouble the water.
Caminhe na água
Caminhem na água
Caminhem na água, as crianças
Caminhem na água
Deus vai agitar a água
Deus vai agitar a água
34
Caminhem na água
Caminhem na água, as crianças
Caminhem na água
Deus vai agitar a água
Deus vai agitar a água
Caminhem na água
Caminhem na água, as crianças
Caminhem na água
Deus vai agitar a água
Deus vai agitar a água
7
Disponível em: https://pathways.thinkport.org/about/. Acesso em: 16-12-2020.
35
que os cães usados pelos donos de escravos acabassem perdendo o faro dos
fugitivos.
Wade in the Water foi usada como uma canção de liberdade, pois a
letra dava dicas geográficas para uma viagem mais segura. Para os
escravos fugitivos, a canção dizia-lhes que abandonassem o caminho
e entrassem na água. Ao viajar ao longo da borda da água ou através
de um corpo de água, os escravos jogariam os cães perseguidores e
8
seus tratadores para longe do cheiro. (FRADIN, grifo do autor, 2000,
p.186, tradução nossa)
8
"Wade in the Water" was used as a freedom song as the lyrics gave geographical hints for a
safer travel. ―To escaping slaves, the song told them to abandon the path and move into the
water. By traveling along the water‘s edge or across a body of water, the slaves would throw
chasing dogs and their keepers off the scent‖ (Wade in the Water). (FRADIN, grifos do autor,
2000, p.186)
36
CANÇÃO DO LIVRE
EU'
Ambos alma e corpo livres,
Meu sangue e cérebros e lágrimas não mais
Encharcarão o velho Tennessee;
Ainda assim, eu vejo as lágrimas escaldantes
Agora escorrendo de meus olhos,
Para pensar que minha esposa, minha única querida,
Um escravo deve viver e morrer.
Oh, Susannah, não sofra por mim,
Para sempre no trono de Deus, eu me lembrarei de ti.
Fonte: https://www.thesun.co.uk/sport/3048185/swing-low-sweet-chariot-meaning-lyrics-
history/. Acesso em: 22 de julho de 2020.
chorus:
So get out the way!
Get out the way!
Get out the way Old Dan Tucker
You‘re too late to come to supper
43
verses:
I came to town the other night
I heard the noise and saw the fight
The watchman was a-runnin‘ round
Cryin‘ Old Dan Tucker‘s come to town
refrão:
versículos:
11
Termo já abordado no capitulo 1.
12
Ouça em:
https://www.youtube.com/watch?v=zuHurBhxW4E&list=UUInpAOuv6nqdf6EheU4Wfjg. Acesso
em 22 de setembro de 2020.
13
Ouça em:
https://www.youtube.com/watch?v=3O3vEOwFuOo&list=UUInpAOuv6nqdf6EheU4Wfjg. Acesso
em 22 de setembro de 2020.
14
Disponível em: https://www.loc.gov/folklife/. Acesso em 22 de setembro de 2020.
46
juntamente com seu pai, passou anos viajando pelos EUA gravando canções
populares com um gravador de disco.
LEADER:
Chorus:
Chorus:
Chorus:
Chorus:
Chorus:
Be in Baltimore."
É um longo John
LÍDER:
Ele já se foi,
Refrão:
Ele já se foi.
O velho John,
É um longo John.
Refrão:
É um longo John,
É um longo John,
Ele já se foi.
Refrão:
Ele já se foi.
Refrão:
No quarto dia,
Refrão:
É um longo John.
Ele já se foi.
4.3 O BLUES
Podemos perceber que a música não era a única obra de Hughes, mas
ela pode representar um grande marco da inovação artística. O poeta busca
não apenas representar sua poesia em forma de texto escrito, mas mediante
palavras cantadas. E é dentro dessa mesma perspectiva de dar musicalidade
aos poemas através do Blues que citamos o poema, Song For a Dark Girl
(1927).
Fonte: https://genius.com/Langston-hughes-song-for-a-dark-girl-annotated.
Vemos aqui que essa música está fortemente marcada pelo ritmo
melancólico da época, uma característica bastante comum desse gênero
musical. A música, por exemplo, retrata o linchamento/enforcamento de uma
jovem negra, linchamento esse que era considerado uma forma de castigo
bastante comum no sul dos EUA durante e após o período da escravidão.
O Miserável Blues
Tocando uma melodia sonolenta e sincopada,
Balançando para frente e para trás em um sussurro suave,
Eu ouvi um negro tocar.
Na Avenida Lenox outra noite
Pela pálida palidez opaca de uma velha lâmpada a gás
Ele fez um balanço preguiçoso...
Ele fez um balanço preguiçoso...
Ao som daqueles Miseráveis Blues.
Com suas mãos de ébano em cada chave de marfim
Ele fez aquele pobre piano gemer com melodia.
Ó Blues!
Balançando para a frente e para trás em seu banquinho frágil
Ele tocou aquela melodia triste e irregular como um idiota musical.
Doce Blues!
Vindo da alma de um homem negro.
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Ó Blues!
Em uma voz de canção profunda com um tom melancólico
Eu ouvi aquele negro cantar, aquele velho piano gemer -
―Não tenho ninguém em todo este mundo,
Não tenho ninguém além de mim.
Eu vou parar com a minha carranca
E coloque meus problemas na prateleira.‖
15
“(...) notáveis representantes, guardiões da memória e responsáveis pela transmissão dos
conhecimentos aos mais novos.‖ (NASCIMENTO; RAMOS, 2011, p.457).
58
Dessa maneira, Hughes fez, em pouco tempo, com que a música negra
estivesse presente no cotidiano das pessoas, mesmo que a crítica a associasse a
algo ‗exótico‘, portanto, desvalorizado. E para o escritor, nada se tornaria mais
‗idêntico‘ com o negro e a sua cultura do que o Blues, já que o mesmo está
interligado com toda a trajetória diaspórica e as consequências geradas pela
colonização e escravização.
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I've known rivers ancient as the world and older than the
I looked upon the Nile and raised the pyramids above it.
Conheço rios:
Conheço rios tão antigos quanto o mundo e mais velhos que o fluxo de sangue humano nas
veias humanas.
Ouvi o canto do Mississippi quando Abe Lincoln desceu até New Orleans e vi seu seio
lamacento tornar-se ouro, ao pôr-do-sol.
Conheço rios:
Podemos perceber que o texto é escrito em versos livres, não apresenta uma
definida métrica, não segue os padrões dos versos regulares de um soneto, nem a
composição de versos decassílabos. Segundo BORGES (2007) o cenário que é
revelado durante a performance do poema abrange os espaços geográficos e
psíquicos do negro.
ocidental desse continente que ele pode constatar a realidade dos negros que ali
viviam. Quando retornou para Nova York, com cerca de 22 anos de idade, ele tinha
em mente resgatar a voz do negro e, para isso, usaria o que era considerado
desvalorizado pela sociedade branca da época: a tradição oral do negro, o Blues -
como música negra - e a sua ancestralidade.
É nesse contexto de ser negro e americano que Hughes escreve I´m a Negro
ou Negro, publicado em 1922. Este poema aborda em seus versos singelos a
imensa brutalidade que os negros sofriam em solo americano, a descendência não
seria aliviada por leis, nem por decretos, pois a cor de pele passaria a ser o norte de
categorização e marginalização. O poema passa ao leitor um breve histórico da vida
dos negros, para que assim, esses relatos expostos pelo eu lírico assumam o estado
de chamamento e de rememoração da causa de luta, os ângulos de vidas
escravizadas e segregadas que não podem ser dispersos, nem postos de lado.
Observamos a seguir:
I am a Negro:
Black as the night is black
Black like the depths of my Africa,
I‘ve been a slave:
Caesar told me to keep his door-steps clean.
I brushed the boots of Washington.
I am a Negro:
Black as the night is black,
Black like the depths of my Africa.
Eu sou Negro
Sou Negro:
Fui escravo:
Fui operário:
Fui cantor:
Criei o ragtime.
Fui vítima:
Sou Negro
Fonte: http://asideiasnotempo.blogspot.com/2019/06/traducao-do-poema-negro-de-langston.html.
Acesso em: 01-12-2020.
But I laugh,
Tomorrow,
Nobody‘ll dare
Say to me,
Then.
Besides,
And be ashamed—
I, too, am America.
Mas eu rio,
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E como bem,
E cresço forte.
Amanhã
Eu estarei na mesa
Então.
Além disso
E terão vergonha.
Langston Hughes pode ter escrito este poema a partir de um relato de uma
pessoa afro-americana. O poema faz alusão à recusa da sociedade branca em
aceitar o negro como parte da América. Além disso, o eu lírico evidencia a
resistência na luta contra o racismo. O narrador, um negro, não se conforma em ser
excluído da sociedade americana, porque a América foi constituída com uma
diversidade de suores e sangues, de inúmeros povos – indígenas, negros, mestiços,
judeus, asiáticos - logo, todos, fazem parte do que é hoje compreendido como ser
americano, sem ignorar seus laços ancestrais.
Podemos relatar com base nas nossas pesquisas que, o poema I, Too, Sing
America, é uma forma de alusão a outro poema de Walt Whitman, I Hear America
Singing (1867).
Those of mechanics, each one singing his as it should be blithe and strong,
The carpenter singing his as he measures his plank or beam,
The mason singing his as he makes ready for work, or leaves off work,
The boatman singing what belongs to him in his boat, the deckhand singing on the steamboat deck,
The shoemaker singing as he sits on his bench, the hatter singing as he stands,
The wood-cutter‘s song, the ploughboy‘s on his way in the morning, or at noon intermission or at
sundown,
The delicious singing of the mother, or of the young wife at work, or of the girl sewing or washing,
Each singing what belongs to him or her and to none else,
The day what belongs to the day—at night the party of young fellows, robust, friendly,
Singing with open mouths their strong melodious songs.
São nesses traços poéticos que Hughes, com toda sua simplicidade, busca
dar voz a um povo drasticamente subjugado por sua cor, por sua raça, por sua
crença, em fim, por sua cultura afrodescendente.
68
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Peço licença ao leitor, pois preciso, aqui, fazer jus à minha posição e voz
enquanto sujeito, apoio-me em Fanon, mas também na força de minha
ancestralidade, por isso, o intento de realizar tal pesquisa surgiu a partir das
experiências vivenciadas durante a prática de observações e regência de aulas na
disciplina de Estágio Supervisionado em Língua Inglesa e Literaturas e das aulas de
Literatura Americana (Prosa, Poesia e Drama) que tive enquanto aluno do curso de
Letras Inglês.
Penso que através das leituras teóricas e da prática que é por mim
vivenciada, eu, Marcos Dione, posso auxiliar muitos alunos em suas capacidades
criticas e reflexivas se tornarem agentes problematizadores acerca dessas
temáticas, principalmente, milito na mudança de uma verdade absoluta, de uma
única história contada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUNNER, B.; ROWEN, B. Great Days in Harlem: The birth of the Harlem
Renaissance. Disponível em: https://www.infoplease.com/history/black-history/great-
days-in-harlem. Acesso em: 09 de abril 2019
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2008.
HATTNHER, Alvaro L.. Literatura negra nos Estados Unidos. Itinerários: Revista
de Literatura, n. 1, 1990.
LOMAX, Alan. Anglo-american ballads. Washington, D.C.: Library of Congress,
1934.
STUCKEY, Sterling. Through the Prism of Folklore. In: Black and White in
American Culture, ed. Jules Chametzky and Sidney Kaplan Amherst: University of
Massachusetts Press, 1969.
TOMÉ, Pedro. Traduzindo Langston Hughes – do texto à voz, da voz ao
texto. Cadernos De Literatura Em Tradução, (16), 117-130, 2016.
WALKER, Alice. In Search of Our Mothers' Gardens. In: MITCHELL, Angelyn (ed.).
Within the Circle: An Anthology of African American Literary Criticism from the
Harlem Renaissance to the Present. Durham and London: Duke University Press,
1994.