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IRPF e Stock Options

Leonardo Curty
Procuradoria Regional da Fazenda
Nacional na 3ª. Região
Mercado de Opções
No mercado de opções, negocia-se o direito de comprar ou de vender um
bem por um preço fixo numa data futura. Quem adquirir o direito deve pagar
um prêmio ao vendedor. Este prêmio não é o preço do bem, mas apenas um
valor pago para ter a opção (possibilidade) de comprar ou vender o referido
bem em uma data futura por um preço previamente acordado.

O objeto de negociação pode ser um ativo financeiro ou uma mercadoria,


negociados em pregão, com ampla transparência. O comprador da opção,
também chamado titular, sempre terá o direito do exercício, mas não
obrigação de exercê-lo. O vendedor da opção, também chamado lançador,
terá a obrigação de atender ao exercício caso o titular opte por exercer seu
direito.
(Fonte: investidor.gov.br)
Janeiro 2018 Janeiro 2019
• Ação Vale do Rio Doce • Ação VALE = R$ 30,00
(VALE): R$ 30,00 • Ação VALE > R$ 30,00
• Preço da opção para • Ação VALE < R$ 30,00
exercício em janeiro de • Aquirente exerce ou não a
2019: R$ 3,00 opção. Se não exercer, perde
• Valor a ser pago pelo apenas os R$ 3,00 do prêmio
adquirente da opcão: R$ em favor do lançador.
3,00 (prêmio)
IRPF: Tributação dos Ganhos no Mercado de Opções

Perguntas e Respostas – RFB/IRPF 2019


Mercado de Opções para empregados e
administradores (Employee Stock Options)
Lei 6.404/76

Art. 168. O estatuto pode conter autorização para aumento do capital social
independentemente de reforma estatutária.
(...)
§ 3º O estatuto pode prever que a companhia, dentro do limite de capital
autorizado, e de acordo com plano aprovado pela assembléia-geral,
outorgue opção de compra de ações a seus administradores ou
empregados, ou a pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou a
sociedade sob seu controle.
Lançamento da Opção Eventual Venda dos
pela Companhia “X” Momento do Exercício Ativos Adquiridos
(grant) Encerrado o período de Após o exercício da opção os
Descrição de quais empregados vesting, abre-se o prazo para empregados adquirentes
podem optar, valor da ação os empregados habilitados podem alienar as ações
(muitas vezes abaixo do mercado exercerem, ou não, a opção normalmente no Mercado de
porque não há prêmio) e prazo de
Ações
vesting (carência)

Ação "X"
R$40,00
R$40,00 R$30,00 R$36,00
R$30,00
Stock Options Mercantis
• Lançadas em ambiente de mercado;
• Lançador não é a companhia;
• Livremente negociadas, podendo ser revendidas;
• Exigem o pagamento do prêmio;
• Lançador normalmente possui expectativa de desvalorização das ações no mercado.

Employee Stock Options


• Oferecidas a um público restrito, segundo critérios da companhia;
• São outorgadas pela própria companhia titular das ações;
• Pessoais e intransferíveis;
• Recebidas em troca de trabalho que será prestado durante o período de carência (vesting);
• A prestação de serviços durante o período de carência (vesting) normalmente é condição para
exercício do direito de compra
• As partes pretendem e trabalham para a valorização das ações da companhia.
IRPF: Tributação dos Ganhos com Employee Stock
Options
Ação "X"
R$40,00
R$40,00 R$36,00
R$35,00 R$30,00
R$30,00

Lançamento Exercício da opção


pelo empregado Alienação das
da Opção ações por valor
(valor da superior ao
pelo opção<valor de adquirido
empregador mercado)

Tributação como
Tributação como ganho de
remuneração (Tabela
capital
Progressiva)
Questões Tributárias Relativas às Employee Stock
Options

Ponto Principal: Caráter Remuneratório


Caráter Remuneratório das Employee Stock Options

A aquisição é
sempre por valor
menor que o de Remuneração
mercado, caso
contrário, o é diferente de
empregado não A salário
exerce a opção (não contraprestação
há risco)
consiste na
permanência do
trabalhador nos
Forma de quadros da
remuneração companhia
utilizada em
diversos países
e reconhecida
pela OCDE
Questões Tributárias Relativas às Employee Stock
Options
In the 1990s, stock options were a standard feature in most
executive pay packages in coutries like United States, Canada,
Australia and UK, while they were used to lesser extent in the
other coutries. In more recent years, their use has been extended
to a larger set of potential beneficiaries, becoming a more
common instrument of employees’ compensation also in the
other OECD countries
OECD (2006), The Taxation of Employee Stock Options, OECD Tax
Policy Studies, No. 11, OECD Publishing, Paris,
https://doi.org/10.1787/9789264012493-en.
A neutralidade tributária das “ESOP”
As a benchmark, an efficient tax treatment of stock options is one
that would provide no tax-related incentive for a company to
either increase or decrease the number of employee stock
options that it grants, and would be neutral with respect to the
choice between granting stock options and paying ordinary
salary.
OECD (2006), The Taxation of Employee Stock Options, OECD Tax
Policy Studies, No. 11, OECD Publishing, Paris,
https://doi.org/10.1787/9789264012493-en.
Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a
renda e proventos de qualquer natureza tem como fato
gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou
jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do
trabalho ou da combinação de ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos
os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso
anterior.
§ 1o A incidência do imposto independe da denominação
da receita ou do rendimento, da localização, condição
jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma
de percepção.
Momento da ocorrência do fato gerador

Ação "X"
R$40,00
R$40,00 R$36,00
R$35,00 R$30,00
R$30,00

Lançamento Exercício da opção


pelo empregado Alienação das
da Opção ações por valor
(valor da superior ao
pelo opção<valor de adquirido
empregador mercado)

Disponibilidade Disponibilidade
Econômica ou Jurídica Financeira
Precedentes
TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSTO SOBRE A RENDA. PLANO DE OPÇÃO DE COMPRA DE AÇÕES
(STOCK OPITIONS). AUSÊNCIA DE NATUREZA SALARIAL. GANHO DE CAPITAL TRIBUTADO PELA ALÍQUOTA DE 15% (QUINZE POR CENTO). AGRAVO
PROVIDO. AGRAVO INTERNO PREJUDICADO.
1. A impetração de mandado de segurança preventivo se justifica (artigo 1°, caput, da Lei n° 12.016/2009). Segundo as informações disponíveis nos autos, a
Receita Federal do Brasil autuou a companhia instituidora do plano de opção de compra de ações (Qualicorp S/A), incluindo na folha de rendimentos do trabalho a
diferença entre o valor de mercado do ativo adquirido e o convencionado pelas partes e exigindo a contribuição patronal correspondente. À autuação se seguirá
naturalmente a tributação pelo imposto de renda, incidente sobre os rendimentos do trabalho assalariado em geral (artigo 43 do CTN). O receio do agravante veio a
se confirmar, quando a Administração Tributária o intimou a prestar informações sobre as ações adquiridas no ano-base de 2013 (ID 1669918, páginas 1, 2 e 3).
2. Embora a opção de compra esteja contextualizada numa relação de emprego ou de prestação de serviço de contribuinte individual ("employee stock option"),
não pode ser considerada como item integrante da remuneração para efeito tributário.
3. O empregado ou administrador contemplado não a recebe em contraprestação a trabalhos executados. A companhia institui o plano, com o propósito de que
eles se interessem mais diretamente pelo sucesso do empreendimento econômico, tendo a oportunidade de adquirir as ações da própria empresa para a qual
trabalham. O programa não visa remunerar o beneficiário por atividade já desempenhada, mas o estimula no âmbito corporativo mediante a possibilidade de fruição
dos resultados operacionais (artigo 168, §3°, da Lei n° 6.404/1976).
4. O comprador da opção assume, na verdade, a condição de investidor, como se fosse subscrever aumento do capital social fora da esfera corporativa. O sucesso
do empreendimento, com repercussão no preço das ações em dado momento, representa um risco que independe do vínculo profissional, a ponto de inviabilizar a
associação de eventuais ganhos à remuneração trabalhista.
5. Caso o adquirente obtenha um acréscimo patrimonial, advindo da diferença entre o valor de mercado da ação no momento do exercício da opção e o combinado
na contratação, o excedente caracterizará ganho de capital, tributado pela alíquota de 15% (artigo 142 do Decreto n° 3.000/1999). A denominação fiscal de
rendimentos do trabalho, aos quais se aplica a tabela progressiva de IR, com alíquotas de até 27,5%, não tem apoio jurídico.
6. Existem, portanto, elementos da probabilidade do direito, da qual depende a concessão de tutela de urgência. O perigo da demora provém das medidas
associadas à exigibilidade dos tributos, como a inscrição do devedor no CADIN e constrições patrimoniais. Suspensão da exigibilidade do imposto de renda sobre o
exercício da opção de compra das ações da Qualicorp S/A segundo a alíquota aplicável aos rendimentos do trabalho deferida.
7. Agravo de instrumento provido. Agravo interno julgado prejudicado.
(TRF 3ª Região, 3ª Turma, AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 5016444-08.2017.4.03.0000, Rel. Desembargador Federal ANTONIO CARLOS CEDENHO, julgado
em 16/10/2018, Intimação via sistema DATA: 19/10/2018)
Precedentes
PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE SEGURANÇA - IMPOSTO DE RENDA -
REMUNERAÇÃO VARIÁVEL - “STOCK OPTION”: INCIDÊNCIA SOBRE O ACRÉSCIMO PATRIMONIAL
VERIFICADO NO MOMENTO DA OPÇÃO E TAMBÉM NO MOMENTO DA REVENDA.
1. O “stock option” é sistema de remuneração vinculado ao contrato de trabalho ou de prestação de serviço.
2. O compartilhamento do risco não implica em mudança da natureza jurídica do que foi recebido pelos
executivos: trata-se de remuneração.
3. A existência do lucro da empresa no período compreendido entre a entrega das ações a título de
remuneração e o seu resgate não implica em lucro dos executivos, que auferiram sua remuneração. Eles
simplesmente tiveram um aumento de sua remuneração no decorrer do tempo.
4. O fato gerador ocorre com a disponibilidade econômica da renda. A disponibilidade financeira é irrelevante.
No momento da outorga, não havia disponibilidade: pendia período de carência e a opção não fora exercida.
Com o exercício da opção, o acréscimo patrimonial é renda tributável. E, por ocasião da revenda, o novo
acréscimo patrimonial é base de cálculo tributária, nos termos do artigo 43, do Código Tributário Nacional.
5. Agravo de instrumento provido. Embargos de declaração prejudicados.

(TRF 3ª Região, 6ª Turma, AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 5024060-34.2017.4.03.0000, Rel. Juiz Federal


Convocado JOSE EDUARDO DE ALMEIDA LEONEL FERREIRA, julgado em 05/10/2018, Intimação via
sistema DATA: 09/10/2018)
Precedentes
Não há sentido lógico na defesa de que o sistema de remuneração variável, porque pode produzir resultado nenhum, não
está vinculado à relação de trabalho ou de prestação de serviços.
Ao contrário, o modelo de participação acionária é o mais utilizado para a remuneração do trabalho executivo, segundo a
pesquisa acima citada.
O risco de ganhar muito, algo ou nada, é típico dos profissionais de alta qualificação do mercado de trabalho.
Quando auferem rendimento, porém, não há dúvida de que o fazem pela relação de trabalho ou de prestação de serviço.
O compartilhamento do risco não implica em mudança da natureza jurídica do que foi recebido pelos executivos: trata-se de
remuneração.
A existência do lucro da empresa no período compreendido entre a entrega das ações a título de remuneração e o seu
resgate não implica em lucro dos executivos, que auferiram sua remuneração.
Eles simplesmente tiveram um aumento de sua remuneração no decorrer do tempo, o que já devia lhes deixar satisfeitos.
Mas não: além disto, ainda querem não pagar I.R. sobre o recebido. Recebido e “majorado” em razão dos lucros da empresa
que não podem ser “transportados” ontologicamente para os executivos. O lucro é da empresa. A remuneração foi e é dos
executivos, que já se beneficiam do aumento do recebido inicialmente e, agora, buscam uma segunda benesse, às custas do
Estado.
Devem ser tributados nesta perspectiva, ou seja, segundo a incidência prevista para a classe dos salários e rendimentos.
Os fatos e a lei tributária são incontroversos.

Decisão Monocrática - TRF 3ª Região, 6ª Turma, AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO – 5014230-10.2018.4.03.0000, Rel.


Desembargador Federal FÁBIO PRIETO, julgado em 04/07/2018)
Leonardo Curty
Procuradoria Regional da Fazenda Nacional na 3ª. Região
leonardo.curty@pgfn.gov.br

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