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4 - Correio Abril 2017
4 - Correio Abril 2017
No braço
Cinema não é arte fácil de No Brasil é assim. tem participação em Atrito
fazer. Exige tecnologias so- e Crua, de Diego Lima, Sol
fisticadas, além de equipes Não se conhece alegria, de Tavinho Teixeira,
técnicas especializadas, isto e A ética das hienas, de Ro-
sem falar no corpo artístico,
um Estado da
dolpho de Barros.
que envolve direção e elen- Federação que, Ou seja, ninguém está pa-
co, mas não exclusivamen- rado, pelo menos se depen-
te. Apesar do requinte, que bem ou mal, não der do interesse pessoal. Por
implica em dificuldades, se isto mesmo, a tradição do
rico ou pobre, não importa,
tenha sua história
cinema, na Paraíba, prosse-
quase todo país faz cinema. de cinema. E a gue, para o bem da memó-
No Brasil é assim. Não se ria de Walfredo Rodriguez
conhece um Estado da Fe- Paraíba, é óbvio, e de outros pioneiros. Mas
deração que, bem ou mal, nem tudo são flores no jar-
não tenha sua história de ci-
não poderia ser
dim das imagens em movi-
nema. E a Paraíba, é óbvio, diferente. mento. As dificuldades se
não poderia ser diferente. renovam, exigindo muita
Por cima de pau e pedra, disposição.
aqui se faz cinema. E, como Nesta edição, o Correio
se não bastasse, pelo talento das Artes faz uma espécie de
de seus criadores e intér- balanço das novas produ-
pretes, ajuda o país inteiro ções cinematográficas, as-
a fazer cinema. sim como aponta, pela voz
Diversos curtas e longas alguns já próximos de es- de vários profissionais da
metragens, sejam documen- trear nas telas. área, os problemas que ain-
tários, ficção ou um misto Na área de interpretação, da emperram o desenvolvi-
dos dois gêneros, de cineas- por exemplo, Nanego Lira mento da chamada sétima
tas paraibanos, como Mar- está em Piedade, de Cláu- arte, a exemplo da carência
cus Vilar, Bertrand Lira, dio Assis. Zezita Matos fi- de editais e a falta de for-
Torquato Joel, Veruza Guer- gura em Rebento, de André mação de mais profissionais
ra, Kalyne Almeida e Tavi- Morais, Regresso, de Ra- para o setor.
nho Teixeira, entre outros, fael Dornelas, e Améns, de
estão em fase de produção, J. Procópio. E Suzy Lopes O Editor
6 índice
, 4 @ 15 2 32 D 41
Cinema Latinos Geração 65 Crônica
O cinema na Paraíba Analice Pereira comenta O poeta e ensaísta José O poeta e cronista Gil
não para, apesar das o ensaio de Mario Vargas Rodrigues de Paiva Messias compõe o retrato
dificuldades enfrentadas Llosa sobre Gabriel García registra em livro os de um dos profissionais
pelos profissionais do Márquez, autor de Cem cinquenta anos da Geração de imprensa cuja atividade
setor, e há muita coisa boa anos de solidão, romance 65. A obra é analisada por é das mais curiosas: a
em fase de produção. que completa 50 anos. Sérgio de Castro Pinto. redação de obituários.
O Correio das Artes é um suplemento mensal do jornal A UNIÃO e não pode ser vendido separadamente.
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Redação: 3218-6509/9903-8071 Albiege Fernandes Azevedo
ISSN 1984-7335 Editora Adjunta
Diretor Administrativo Renata Ferreira Editoração
editor.correiodasartes@gmail.com Murillo Padilha Paulo Sérgio de
http://www.auniao.pb.gov.br Câmara Neto Azevedo
6 cinema
Linaldo Guedes
linaldo.guedes@gmail.com
c ARTISTAS PARAIBANOS
BRILHAM
NO ESCURINHO DO
CINEMA
Nossos atores e atrizes tam- aguardo. Enquanto isto, conti-
bém não ficam atrás desse mo- nuo no nosso Coletivo de Teatro
mento efervescente da sétima Alfenim, que também sofre das
arte na Paraíba. Em produções mesmas restrições feitas à sétima
locais ou nacionais, cada vez arte. Mas a arte sempre sobrevi-
mais eles são requisitados por verá, custe o que custar para nós
produtores ou diretores para os fazedores dela. Não podemos Suzy Lopes se prepara para três novos filmes:
abrilhantarem as películas pro- sucumbir diante destes tempos Sol de alegria (Tavinho Teixeira), Crua (Diego
duzidas aqui e alhures. É o caso nefastos”, enfatiza. Lima) e A ética das hienas (Rodolpho de Barros)
de Zezita Matos, a dama do Zezita entende que apesar dos
teatro paraibano, que cada vez parcos recursos, a produção de
mais é convidada a participar curtas paraibanos é muito sig- criou e, como falei anteriormente,
de produções cinematográficas. nificativa, haja vista os festivais Rebento, de André Morais, a ser
Ela está participando do longa que, anualmente, vêm acontecen- lançado este ano”, complementa.
de André Morais, Rebento. Está do pelo interior. “Nestes festivais Nanego Lira, por sua vez,
também em outro lançamento, temos visto muitas revelações de acabou de filmar com o diretor
um curta de Rafael Dornelas, jovens diretores, fotógrafos e de- Cláudio Assis, em Recife. “Cláu-
formado em cinema pela USP, mais técnicos. Com isto não que- dio é diretor dos mais polêmicos,
cujo título é Regresso. Em feverei- remos dizer que não exista mui- tem no currículo fitas emblemá-
ro fez uma participação no longa to a aprender e a melhorar, como ticas, como, Amarelo manga, Febre
de J. Procópio, Améns, rodado em também produzir mais. Acredito do rato e outros. Este novo longa
Brasília, que provavelmente terá que a melhor forma de apren- de Cláudio chama-se Piedade.
o lançamento no final deste ano der é fazendo, testando. Quanto Tem no elenco nomes como Fer-
ou início de 2018. aos longas, ainda estamos ainda nanda Montenegro e Cauã Rey-
Como atriz, Zezita Matos vem longe de uma produção de desta- mond, entre outros. A película
fazendo teatro há mais de 50 que como a de Pernambuco, por é ambientada em Recife e fala
anos. Sua primeira participação exemplo. Tivemos no ano passa- da chegada das grandes empre-
em cinema foi no ano de 1965, do o lançamento do longa de An- sas de petróleo que se instala-
no filme de Walter Lima Júnior, dré Costa Pinto, Tudo que Deus ram na cidade, vitimizando os
Menino de engenho. Desde então, tubarões que passaram a atacar
ficou sem fazer cinema até 1999, o surfistas”, antecipa.
quando Marcus Vilar lhe convi- Para Nanego, tem-se produ-
Zezita Matos participa de filmes de André
dou para participar do curta A Morais (Rebento), Rafael Dornelas (Regresso)
zido e realizado bons filmes no
canga, inspirado no romance ho- e J. Procópio (Améns) Brasil. Ele destaca as produções
mônimo de W. J. Solha. A partir pernambucanas, cearense e do
de então foram surgindo convi- Maranhão. “Mas em outros es-
tes para curtas e, mais especifi- tados também se tem produzido
camente, para longas, de filmes filmes significantes e potentes.
que se tornaram referências na Eu desejo fazer muito cinema,
Foto: edson matos
Sergio Leone
O mestre supremo dos
faroestes muito além
dos faroestes
Thiago Andrade Macedo
Especial para o Correio das Artes
c se irreais de tão próximos aos Estamos no terreno dos western riam, portanto, nas entrelinhas.
olhos dos personagens; o uso spaghetti. A atmosfera e os ele- Sua trilogia sobre o “homem sem
hábil da montagem como efeito mentos, estilizados ao extremo, nome”, o misterioso pistoleiro
dramático; a perfeita harmonia são outros. Leone, criador desse que alçou Clint Eastwood à con-
entre música e imagens (com novo segmento do western, sabia, dição de astro, começa com Por
a onipresente colaboração do como poucos, ler o que o público um punhado de dólares (remake es-
maestro Ennio Morricone, outro queria, eis talvez a sua maior vir- tilizado de Yojimbo, o guarda-cos-
gênio que sabia atingir em cheio tude: entender que cinema lida tas, de Kurosawa) e termina com
o coração do grande público). E basicamente com temas ligados Três homens em conflito (1966), ou
sangue, muito sangue. Em suas à cultura popular – lutas, duelos, O bom, o mau e o feio, para os mais
mãos, o faroeste foi reinventado, vingança, o senso de maniqueís- puristas que rejeitam algumas
quando já parecia estar agoni- mo (bem x mal). Assim como ou- adaptações ridículas de títulos
zando. Seu estilo, único. Camp. tro gênio, Hitchcock (este talvez feitas no Brasil.
Kitsch. Exagerado. Surreal. o maior de todos), Sergio soube O filme sobre um trio de ar-
Esqueça John Ford ou Ho- usar a escala popular para inse- ruaceiros tem um quê de ritmo
ward Hawks, norte-americanos rir/ocultar em seus enredos te- de desenho animado. Passado
e mestres do faroeste tradicional. mas mais sofisticados, que esta- na época da Guerra Civil Ame- c
deicídio:
nossos países vizinhos. Nem
fazemos o menor esforço para
criarmos esse espaço. Portan-
to, marginalizamo-los mais do
que já o são. Infelizmente. Isso
se constitui, portanto, uma
crônica de um estilo anunciado – parte I dívida que temos com nossos
vizinhos geográficos e nossos
irmãos de história.
E assim chegamos em 2017
(somando mais de quinhentos
Analice Pereira
Especial para o Correio das Artes anos de história vivida com es-
ses irmãos, que quase não vi-
sitamos), um ano emblemático
para a América-latina por duas
N
ós brasileiros, de um modo geral, e por razões di- razões: celebra-se, neste ano,
versas, inclusive por nossa formação cultural/esco- meio século de Cem anos de so-
lar/acadêmica, negligenciamos, até sem nos darmos lidão, romance do colombiano
conta, a literatura dos países americanos colonizados Gabriel García Márquez; e no-
por nações latinas, ou seja, a literatura latino-ameri- venta anos de nascimento do
cana. A nossa formação escolar é, praticamente toda autor, que infelizmente já não
ela, voltada para a produção artística e cultural da está entre nós. As datas não po-
Europa. Nas últimas décadas, isso tem mudado um dem, portanto, passar em bran-
pouco no ambiente escolar. Devido aos avanços das co e, certamente, não passarão.
tecnologias e, por isso, ao encurtamento das distân- Creio que testemunharemos,
cias, nosso olhar também se volta para literaturas de via tevê, internet e afins, as vá-
outras nações. Já podemos até festejar um pouco o rias celebrações que se farão
fato de já se ler literaturas africanas de língua por- a esse autor e seu romance ao
tuguesa na escola. Mas ainda é muito pouco e isso é longo do ano e nos mais diver-
papo para um outro momento. O que interessa ago- sos lugares desse planeta. Não
ra é registrar o fato de a literatura latino-americana poderíamos, portanto, ficar de
ser pouco, ou quase nada, lida, divulgada, discuti- fora desse momento de reco-
da, nas nossas salas de aula brasileiras, entre nossas nhecimento e de reflexão que,
crianças e jovens. Arrisco até dizer que pouco estu- embora esteja focado numa
dada nos cursos de letras espalhados pelo país. E obra e seu autor, não deixa de
por quê? Cada um poderá ter sua resposta. Mas em promover outros debates sobre
linhas gerais, podemos entender que (e aqui estou a produção literária do nosso
tratando quase que exclusivamente dos conteúdos continente. Não deixa de ser,
curriculares priorizados em nossas escolas e já pre- também, um momento impor-
tante para minimizar nosso
fotos e ilustrações: reprodução internet
débito perante essa produção,
sobretudo no que se refere ao
ensino de literatura.
Dizer que Cem anos de solidão
é um dos maiores romances la-
tino-americanos é inquestioná-
vel, até porque ele se encontra
Gabriel García na lista dos melhores da litera-
Márquez, autor tura universal. É um cânone.
de Cem Anos de
solidão, lançado há Não somente porque uma fatia
50 anos importante da crítica literária c
1
Esgotado nas livrarias brasileiras e, talvez, até
mesmo nos sebos, é possível lê-lo em versão digi-
talizada. Para essa resenha, foi lido em versão PDF,
constando de 757 páginas, sem demais dados de pu-
blicação, como editora, local e data.
No entanto, é possível encontrar o livro disponível em
versão on-line (707 páginas) no site:
https://pt.scribd.com/document/318204842/Historia-
-de-un-deicidio-Mario-Vargas-Llosa-pdf
6 livros
Autores e
em livros
contraponto
José Mário da Silva
Especial para o Correio das Artes
C
ompetente professora universitária, já tendo dado a sua
qualificada contribuição aos cursos de letras da Universi-
dade Federal da Paraíba, tanto em Campina Grande quan-
to em João Pessoa, e intelectual portadora de indiscutível
valor, a professora Neide Medeiros Santos brinda-nos com
a publicação da sua mais recente obra: Autores e livros em
contraponto, reunião de cinquenta e cinco artigos, na ver-
dade curtos e instrutivos ensaios, selecionados dentre os
mais de trezentos que, ao longo de vários anos, ela vem
publicando na imprensa pessoense, mais precisamente
no jornal Contraponto, idealizado e dirigido pelo jornalista
João Manoel de Carvalho, no qual ela pontifica como uma
das mais qualificadas colaboradoras. A professora Neide Medeiros
O título do livro da professora Neide Medeiros abriga Santos reuniu artigos em Autores
uma sutil e sugestiva ambiguidade. No plano da denota- e livros em contraponto
ção, sinaliza para o território no qual os autores e livros
apreciados por ela aparecem com recorrente regularidade,
o jornal Contraponto a que aludimos anteriormente. Já no
plano da conotação, remete para o fecundo e criativo diálo- interação com as múltiplas vozes
go que ela trava com uma impressionante gama de escrito- que pontificam na ontologia ínti-
res com os quais ela convive diuturnamente, movida pelo ma das múltiplas obras literárias
encantamento que as estórias provocam em sua inteligên- examinadas por ela.
cia e sensibilidade; e pela crescente paixão que ela nutre Voltada para o universo da
por uma fantástica experiência humana chamada leitura. literatura infanto-juvenil brasi-
Leitura que propicia ao ser humano o privilégio de alargar leira, da qual Neide Medeiros é
as fronteiras da sua existência e, ato contínuo, viver todas uma reconhecida especialista, o
as vidas possíveis, que nascem tanto da observação mais livro da autora paraibana é por-
atenta do cotidiano quanto das libertárias viagens promo- tador de numerosas virtudes,
vidas pela imaginação humana. sendo o primeiro deles, o que
Nesse sentido, o contraponto sinalizado pela professora mais me chamou a atenção, a va-
Neide Medeiros lembra-nos um dos procedimentos adota- riedade de autores e obras per-
dos por um músico na execução de uma determinada par- corridos pela ilustre professora,
titura; uma maneira bem peculiar de se solfejar uma músi- o que reforça a sua condição de
ca de modo criativo, com a intenção de captar modalidades pesquisadora atenta ao que se
diferentes de manifestação da beleza harmônica, melódica produz nessa seara.
e rítmica de uma canção. O contraponto, dialógico por na- Lendo o livro de Neide Medei-
tureza, delineia outra voz a deslizar no enredo do texto que ros, temos uma alargada visão de
se tem para cantar. O contraponto é, no (des)limite, o gesto como é pujante a literatura infan-
subjetivo e autônomo da leitura, arte-ciência da recriação de to-juvenil em nosso país; e como
sentidos que o leitor proficiente opera no corpo do texto e no ela é rica de obras de qualidade, e
dorso escorregadio da linguagem que o organiza e lhe dá de autores extremamente cuida-
suporte. Contraponto é a voz da leitora Neide Medeiros em dosos na difícil tarefa de escrever c
Amador Ri
Poemas paraibanos
(do livro Poemail, inédito)
birô cajazeirense
1
na mesa de leituras o
silênciodacovadosmortos
saturação e vazio
em diligências
waste land do
trato caatinga
imobilidade metalsol
cacto-olho
1
ad noites certeiras
verso cem ondas carregadas
cem sóis gaiato planeja
adensados cuspir
2 na poesia
adentram do poeta
sertão dentam
antiviço séculos porradas
no balcão
hospício mar da bodega
tírio 2
bem feito
pro cabra não se mete
pício cabaça
cabaceiras a abestado
com poeta apestanado
jaca
o que seria de lampião cajá quando
sem o ponto cruz cajazeiras é noite
na
pe
dra
do
in
gá
vi
lá
o
mar
co
de
um
ri
o
gra
fi
te
que
o
no forró tem
po
em campina grande
carpi & apois pi
chou
bebo danço voo
tudo tão feliz
que nem
Amador Ribeiro Neto é
ouso dizer dezembro em joão poeta, crítico literário e
pessoa professor titular do curso
: mônadas de Letras da Universidade
: leibniz Federal da Paraíba (UFPB).
garças Publicou, entre outros li-
brancas vros, Lirismo com siso: no-
tas sobre poesia brasileira
ipês contemporânea (crítica,
2015), Ahô-ô-ô-oxe (poe-
amarelos sia, 2015), Turbilhões do
meio-dia em patos todos
tempo: notas e anotações
sobre poesia digital (en-
nós saios, 2015), A linguagem
a gente da poesia (teoria, 2014),
sesprita na rede Muitos: outras leituras de
Caetano Veloso (crítica,
d/e/s/a/r/v/o/ 2010) e Barrocidade (poe-
cum só sia; 2003). Natural de Ca-
r/a/m/o/s
sol-apoplexia conde (SP), mora em João
Pessoa (PB). Contato: ama-
dor.ribeiro17@gmail.com.
Augusto
para a Eternidade
N
a construção do Eu, sem contar com Outras poe-
sias, Augusto dos Anjos se refere à mônada três
vezes: em “Monólogo de uma Sombra” (segunda
estrofe, verso 2), em “Sonho de um Monista” (segundo
quarteto, verso 3) e em “Mistérios de um Fósforo” (dé-
et
grandeza
receios. Cada nova aula reforçava-
-me a certeza de que havia religio-
sos completamente diferentes dos
que conhecera no internato.
As aulas de Latim do meu novo
professor davam ênfase à tradu-
A
gir, ao mesmo tempo, dois objeti-
vos. Tornar agradável o ensino do
ntes de tudo, devo agradecer à família de padre Luís por me ha- Latim e fazer-nos refletir sobre o
ver incluído como participante das iniciativas que se realizam valor das virtudes e sobre o resul-
em comemoração ao centenário de nascimento do cidadão, do tado desastroso dos vícios.
sacerdote, do professor, escritor e acadêmico, cuja memória é Assim, sem a ameaça do pecado
um exemplo para as gerações. Numa sociedade em que a des- e do castigo, sem referência a Céu
culpa da correria incessante abre cada vez mais o espaço para ou Inferno, sem qualquer piegui-
a ingratidão e o esquecimento, devemos um elogio especial ce, ele nos despertava para a es-
aos sobrinhos José Augusto de Oliveira, João Nepomuceno, Fá- colha de uma ética, cuja essência
tima Coutinho, Eric Ben-Hur de Oliveira e Raniery de Oliveira ratificava os valores fundamentais
por terem escolhido, como prioridade, manter viva a história de sua fé cristã. Um procedimento
do tio que teve para seus contemporâneos o sentido de um poço que se identifica na ideologia de
no deserto. A comparação é do professor José Paulino, evocan- tudo quanto escreveu.
do com inteira propriedade a reflexão lírica de Saint-Exupéry, Naquela época, decidimos fre-
para dizer do profundo valor, da grandeza implícita na fecun- quentar, aos domingos, a Capela
da simplicidade vivida por padre Luís Gonzaga de Oliveira. anexa à maternidade Cândida
Porque com ele convivi, posso assegurar que a sua obra es- Vargas, por ser a mais próxima
crita é um reflexo do credo existencial por ele professado. de nossa residência. Para minha
Eu o conheci em 1956, como meu professor de Latim, surpresa e alegria, lá encontrei
quando ingressei no 3º ano ginasial do Colégio Nossa Senho- meu professor exercendo suas
ras das Neves, em João Pessoa. Viera do internato, no Colé- funções sacerdotais.
gio Nossa Senhora da Luz, minha pior experiência de vida, Excetuando a solenidade na-
até então. Dois anos de reclusão e de silêncio insuportáveis, tural da celebração e das vestes
agravados pela constante imposição de acusações e castigos. especiais, era o mesmo homem
A palmatória tinha sido abolida, mas o espírito da inquisição de voz pausada e firme, sem gesti-
ainda permanecia vivo e dominante. culações que contrastassem com a
Pela magoada compreensão adolescente, julgava que frei- serenidade de sua pregação. Toda
ras e padres agiam basicamente com hipocrisia e injustiça, a convicção contida na inflexão ou
em suas decisões sempre arbitrárias. Estava em choque com modulações da voz, intensificadas
o que teria de enfrentar em novo colégio de freiras. Mas a fi- ou realçadas pelo delineamen- c
Conjunto
de saberes notas sobre Delirium tremens,
de José Caitano de Oliveira
D
as formas literárias modernas, provavel- rém, da necessidade interior de compreender o
mente é o romance a mais flexível. Se a absurdo de certas atitudes humanas.
ação, o personagem, o tempo e o espaço, Creio estar aí o ponto axial do mais novo ro-
assim como o narrador, constituem elemen- mance do advogado e escritor, José Caitano de
tos intrínsecos à sua arquitetura, outros in- Oliveira, intitulado Delirium tremens, e que tem no
gredientes também contribuem para a sua alcoolismo seu assunto nuclear. Aqui, portanto,
configuração estética. Vezes até, sem elidir vejo-me diante de uma gnose à qual os episódios
a função daqueles componentes estruturais, narrados e os ambientes descritos tendem a fun-
modelando, a rigor, e mais intensamente, o cionar como alicerces do conhecimento. Valendo-
sentido da composição verbal. -me das categorias de Roland Barthes, em Aula,
Fielding o define como “uma rápida e sa- penso estar diante de um romance que é mais ma-
gaz penetração da verdadeira essência de thesis, isto é, conjunto de saberes, do que semiose,
tudo aquilo que é objeto de nossa contem- ou seja, articulação poética dos signos.
plação”. E Milan Kundera, por sua vez, no Narrada em primeira pessoa e presidida por
primeiro ensaio de A cortina, considerando a uma espécie de “visão com”, conforme tipologia
vida humana como uma derrota, a partir da de Jean Pouillon, em O tempo no romance, a obra
experiência dolorosa de Dom Quixote, assi- é mais de atmosfera que de enredo, mais psico-
nala que a “única coisa que nos resta dian- lógica que fabular, mais reflexiva que descritiva,
te dessa inelutável derrota que chamamos mais enraizada no mundo subjetivo que na rea-
vida é tentar compreendê-la”. Para o escritor lidade concreta, mais delirante que lógica, mais
tcheco, reside aí a arte do romance. noturna que solar.
Pois bem: o romance, além de narrativa, José, protagonista e narrador, espécie de al-
é conhecimento. A fabulação, se não desa- ter ego do autor empírico, é um alcoólatra em
parece de todo, o que seria inadmissível alto grau. As situações romanescas descritas, na
na topografia singular de sua gramática verdade, são encenadas na consciência destruí-
artística, não raro se acosta, no entanto, da pelos efeitos da droga, cujos componentes de
ao poder das ideias, às exigências da refle- fato, assim como as experiências vividas, como
xão, mesclando-se à natureza mais fluida e que se reconstituem pela visão oblíqua e defor-
mais livre do ensaio. O impulso da narra- mada do narrador.
ção, nestes casos, não nasce dos processos Esta visão, representando um modo peculiar
materiais da ação nem dos conflitos, po- de observar as coisas e os fenômenos da vida, nos c
Geração 65:
Cinquenta anos
Sérgio de Castro Pinto
Especial para o Correio das Artes
P
oeta, ensaísta e ficcionista, além de professor, José ordem burocrática, adiaram o
Rodrigues de Paiva registra os cinquenta anos da seu lançamento para o ano de
Geração 65 e a homenageia através de estudos de 2016. Mas, como acentua José
alguns dos seus poetas: Alberto Cunha Melo, Jaci Rodrigues de Paiva, o ano de
Bezerra, Maria de Lourdes Hortas, Janice Japiassu, 1965 deve ser considerado como
Lucila Nogueira, Paulo Tenório, Ângelo Monteiro, um mero ponto de referência
Tereza Tenório, Débora Brennand e Maximiano dessa geração, uma vez que,
Campos, este último, ficcionista. Mas revisita, tam- pelos idos de 63-64, os poetas
bém, camusianamente – conforme ele mesmo o diz –, Jaci Bezerra, Alberto Cunha
o José Rodrigues de Paiva de cinquenta anos atrás, Melo, Domingos Alexandre e
que é quando principia as suas colaborações nos José Luiz de Almeida Neto, na
suplementos literários, revistas e outras publica- interiorana cidade de Jaboatão,
ções do gênero, no estado de Pernambuco. já “discutiam temas literários –
Na verdade, Geração 65 – Cinquenta anos deve- particularmente a poesia – em
ria ter vindo a lume em 2015, porém, circunstân- reuniões entre amigos e divul-
cias alheias à vontade do autor, talvez entraves de gavam como podiam os textos
que iam produzindo”. Quer
fotos: divulgação dizer, o “Grupo de Jaboatão” –
como o batizou o poeta e crítico
César Leal – foi quem firmou
e erigiu as bases concretas do
movimento ao qual o geógrafo
José Rodrigues
de Paiva registra Tadeu Rocha denominou de Ge-
os cinquenta anos ração 65, cujos poetas diferem
da Geração 65 daqueles que, num coro quase
e a homenageia
através de estudos uníssono, procuravam cumprir
de alguns dos seus um conteúdo programático, um
poetas ideário estético, como os de 22,
os da Geração de 45 e os dos
movimentos de vanguarda.
Com efeito, a Poesia Con-
creta e seus desdobramentos, a
exemplo da Instauração Práxis,
pouco ou quase nada interferi-
ram no construto da lírica per-
nambucana dos anos 1960, pois
houve muito mais influência
individual, de poeta sobre poe-
ta, do que de grupo sobre gru-
po. Que o digam a de João Ca-
bral de Melo Neto no primeiro c
O sol
por testemunha
A única novidade é o sol. Nem
Deus inova: por isso o moderno
é o eterno. O ser é: o criado em
sua intransmissível solidão.
Rosario Fusco
Alex Tomé expõe toda sua
opulência narrativa em Eu
contra o sol (Confraria do
Vento, 2016)
Ronaldo Cagiano
Especial para o Correio das Artes
A
frase que abre a narrativa labiríntica de Eu contra e as diatribes ou animosidades
o sol (Ed. Confraria do Vento, Rio, 2016, 474 págs.), do cenário que vai se abrindo
romance do paulista Alex Tomé, já antecipa a po- à sua frente, como numa se-
tência que virá nas páginas dessa caudalosa his- quencia de palimpsestos vi-
tória: “As primeiras palavras não foram escritas”. venciais a lhe exigirem uma
Assim o protagonista Benício a(s)cende o farol de constante metamorfose de
uma profunda imersão poética, filosófica e meta- posturas e sentimentos.
física, na esteira de suas inquietações existenciais, Eu contra o sol metaforiza
num cenário em que multiplicam-se conflitos de o cipoal de contradições de
variada natureza, do estético ao ético. Benício, seu embate íntimo
Em seu livro de estreia o autor expõe toda sua contra a claridade do real,
opulência criativa não apenas ao construir um seja aquilo que está aí e nos
personagem (in)tenso, polifônico e atormentado, cega se o fitamos de frente; ou
como também na engenhosidade de uma trama aquilo que queremos negar
que irrompe vulcanicamente e não deixa o leitor e nos turva a compreensão.
desgarrar-se de suas páginas, eletrizado por sua Benício,é um poeta que se
carga de alta voltagem literária e denso chafurdar arroja num percurso interior
na própria condição humana. catártico, de extremos psico-
Homem destinado a pagar caro tributo à sua lógicos e contornos afetivos
sensibilidade, por conta de um olhar agudo sobre que explicitam dissensões
o mundo geográfico e psicológico que o circunda, familiares e desencantos/de-
nele embrenha-se e sofre suas paranoias ao tentar sencontros amorosos, esse
compreender as contingências que o afetam. imaginário das relações que
A frase inicial é chave para se entender as idas tanto nos afeta. Romance em
e vindas desse personagem arrastado pela torren- que a frustração se instaura
te inconformista, um poeta que arregimenta suas como leitmotiv para a cons-
forças para enfrentar as vicissitudes, que não se trução de toda uma reflexão
deixa amesquinhar pela mediocridade do tempo sobre os altos e baixos da c
Alípio
do Sítio
José Leite Guerra
Especial para o Correio das Artes
ilustração: Tônio
B
em que lhe diziam. Mas Alípio insistia em sair na frieza da noi-
te para olhar os pés de manga, ficar sob as folhas enegrecidas
pelas sombras. Acendia o cigarro de palha, começava a cantar
em língua estranha escutada a léguas. Falava com antepassa-
dos, assim pensavam. Uma busca pelas cantigas de viola. Gos-
tava de ficar, com aquele seu jeito de anum molhado, cofiando
a comprida barba, sentado ao chão, na calçada de Dona Joa-
quina, bebendo, aqui, acolá, um trago da melhor cachaça trazi-
da pelo burro de Bastião da Rapadura. Resmungava qualquer
coisa, mas ninguém entendia, vezes saía a acompanhar o tilintar das
cordas das violas, cantando fora do tom, e se enfurnava entre as man-
gueiras como se enterrasse seu vulto entre os arbustos entrelaçados.
Dizem que era saudade do filho Dagoberto, que fugira ou sumira,
repentinamente, enquanto colhia mangas espadas e rosas, a fim de
encher o balaio e ir à feira vendê-las para ajudar o pai. Naquela época,
Alípio e Francisquinha eram um casal sentado na harmonia, vivendo
um para o outro, indo aos festejos de São José Operário, ela, professora
de primeiros ensinos à criançada do lugar, ele, improvisador de me-
lodias. Juntavam os arrebanhados ganhos e dava para levarem uma
vida atualizada: geladeira, televisor, até um carrinho meia-sola que os
transportava a passeios não muito distantes, por precaução de algum
imprevisto no cansado fusca. Alípio chorava escondido, olhando o c
Acerto
de contas
Cláudio Limeira
Especial para o Correio das Artes
ilustração: Tônio
D
Dono de uma oficina onde funcionava cina, mas precisamente no bar de Nizi-
uma retífica de moendas de velhos enge- nha, rapariga fogosa que mexia com seu
nhos e uma pequena fundição, aliás, única sofrido coração solitário. Já andava qua-
em toda região do agreste, Mané Cão era se pelos cinquenta, mas nunca se engan-
um especialista em tudo ou quase tudo chara com mulher dessas que pudessem
que fosse relativo a cobre ou bronze. Con- resultar em casório. É bem verdade que
sertos, até fabricação de alambiques, cal- na juventude tivera uma mancebia até
deiras, tachos, caldeirões e mesmo pane- duradoura, e que lhe dera um casal de
las, faziam parte de sua especialidade. filhos. Estavam separados há muito em
Acontece que ele, apesar do tempera- razão das constantes brigas que iam a
mento forte e arrebatado, era generoso e cada dia esticando a corda. Não se su-
de bom coração. Gostava de uma cacha- portavam mais e a ligação partiu-se
cinha e de um rabo de saia, sendo um para alívio dos dois. A verdade é que ele
dos mais assíduos frequentadores da gostava mesmo era da boemia descom-
Rua do Cajueiro, nome do cabaré único promissada, nos braços das perdidas,
de Serra Bonita, onde deixava uma boa para ele muito bem achadas, secando
parte do apurado que entrava na sua ofi- garrafas e varando noites. c
O redator
portantes ou célebres, que façam
jus a essa forma de publicidade
póstuma. Esse redator especiali-
zado é o obituarista. Geralmente,
é claro, só merecem obituário po-
de obituários
líticos e empresários poderosos,
artistas famosos e celebridades
que ainda não tenham sido es-
quecidas por ocasião do óbito.
Como se sabe, a morte de gente
comum não recebe tal honraria,
Francisco Gil Messias no máximo algum registro na
Especial para o Correio das Artes
página policial, quando é o caso.
Tendo se aprofundado no
tema, Gay Talese identificou al-
gumas peculiaridades dos obi-
E
xistem certos tipos de trabalho que a gente nem tuaristas, que agora repasso ao
imagina. Dia desses deparei-me com um texto do meu eventual leitor que não te-
jornalista e escritor americano Gay Talese sobre um nha tido ainda a oportunidade
obituarista do jornal New York Times e fiquei pen- de ler o trabalho do jornalista e
sando no exotismo da atividade desses profissionais escritor americano.
um tanto mórbidos. Inicialmente, deve-se ressal-
Os grandes jornais, revistas e redes de televisão tar que um autêntico obituarista
costumam ter, entre seus redatores, alguém encarre- vive com a morte dos outros na
gado de preparar e escrever, normalmente com ante- mente. O tempo todo, desde que
cedência, o obituário de figuras de algum modo im- acorda e toma o café da manhã
lendo alguns jornais do dia, indo
de carro ou de metrô para o tra-
balho, almoçando ou jantando
com um amigo, o obituarista
permanece sempre atento a qual-
quer notícia sobre o falecimento
já consumado ou apenas previ-
sível de alguém que mereça um
obituário. É uma verdadeira ob-
sessão, que não raro prejudica as
relações afetivas e pessoais do
profissional, o qual, não sendo
um reles amador, deve possuir
em seu arquivo um obituário
já pronto dos candidatos mais
óbvios a essa distinção, como
famosos idosos e/ou enfermos,
pois, como notou Gay Talese,
para um obituarista “não exis-
te nada pior do que a morte de
uma personalidade mundial an-
tes que se tenha tido tempo de
atualizar seu obituário.” Daí que
a morte repentina de alguém que
não possua obituário pronto, al-
guém ainda moço e em gozo de
plena saúde, por exemplo, consti-
tua o inferno de todo obituarista,
O jornalista e escritor norte-americano Gay Talese
identificou algumas peculiaridades do obituarista, pois este vai ter de colher mate-
profissional que “vive com a morte dos outros na mente” rial e compor um texto em cima c
c da hora (ou em cima do caixão), a pessoas mortas, este obrigato- séria. É para profissionais.
o que, dependendo do morto, às riamente só se aplica a pessoas Voltando ao obituarista, en-
vezes é bem difícil. O obituarista vivas. Outra observação: tanto o fim, ele é sempre uma figura es-
só fica realmente tranquilo quan- obituário como o perfil não são pecial. Ou assim se torna com o
do consegue fazer seu trabalho biografias; são textos de certo exercício da profissão, pois não
antes que a pessoa morra, obe- modo biográficos, claro, mas não se vive impunemente nesse es-
diente à máxima segundo a qual têm – nem podem ter – a preten- tranho mundo dominado pela
“seguro morreu de velho”. são de esgotar a vida, a história morte. E, por ironia e a despeito
Um cacoete profissional des- e a personalidade do(a) persona- de escrever textos muito lidos e
sa turma: depois de ter escrito gem apresentado(a) aos leitores. não raro elogiados por suas qua-
e lido várias vezes o obituário Para completar, e como já dito lidades literárias, o obituarista
de algum famoso ainda vivo, o acima, o obituário é sempre so- é, de modo geral, um completo
obituarista começa a pensar que bre alguém famoso, poderoso ou anônimo, pois os obituários não
essa pessoa de fato já morreu, importante em alguma medida; costumam ser assinados por
internaliza mesmo essa mor- já o perfil, não, ele pode tratar seus autores. Nesse sentido, ele,
te ainda não ocorrida, criando, de pessoas anônimas, desde, apesar de singular, é uma pessoa
para si e para outros, situações naturalmente, que despertem o igual ao comum dos mortais.
verdadeiramente embaraçosas. interesse do autor e aceitem se O trabalho de Gay Talese, per-
E pior: não consegue reprimir tornar personagem de um texto feito sob todos os aspectos, dei-
o inconfessável desejo de que a dessa natureza. Como bem regis- xou-me entretanto uma dúvida
pessoa efetivamente morra, a fim tra o jornalista Sergio Vilas-Boas, que, para concluir, partilho com
de gozar o orgulho demasiada- autoridade no assunto, o perfil o leitor eventualmente curioso:
mente humano de ver seu texto atém-se à individualidade, mas haverá por acaso alguém que es-
publicado. Não bastasse isso, os não se restringe ao individualis- creva o obituário do obituarista?
demais jornalistas da redação mo anedótico, folclórico, idios- Mesmo anônimo, merecer, ele
muitas vezes fazem um bolão de sincrático. certamente merece. I
apostas sobre quem das pessoas A escritura tanto de obituá-
com obituário já pronto vai mor- rios como de perfis não é tarefa
rer primeiro, o que, convenha- fácil, como pode parecer aos me- Francisco Gil Messias, paraibano
da capital, é bacharel em Ciências
mos, definitivamente não é algo nos avisados. Talvez o perfil seja Jurídicas e Sociais pela Universidade
que possa ser considerado de mais difícil, por ser mais literário Federal da Paraíba (UFPB) e
bom gosto. do que jornalístico. De qualquer mestre em Direito do Estado, pela
O obituário, que talvez possa maneira, ambos exigem do autor Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). É membro da
ser incluído no gênero do jorna- criatividade, arte, informações Academia Paraibana de Filosofia e
lismo literário, é muito pareci- substanciosas, sensibilidade e do Instituto de Estudos Kelsenianos.
do com o perfil. Com uma fun- bom domínio da língua. Escre- Publicou os livros Olhares – poemas
damental diferença: enquanto ver sobre pessoas, mortas ou vi- bisssextos e A medida do possível (e
outros poemas da Aldeia). Mora em
aquele refere-se necessariamente vas, constitui sempre coisa muito João Pessoa (PB).