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Histórias do meu pai

Desde pequena costumava, nas reuniões de família, ficar ouvindo atenta os fantásticos casos que
os adultos contavam. Tive o privilégio de ter, tanto do lado do pai como da mãe, excelentes contadores de
histórias que possuíam o dom natural de dar colorido a tudo.
Meu pai era um dos melhores contadores de histórias, e os casos que ele contava de sua
mocidade me encantavam e estimulavam a imaginação.
Existem várias.

1a. história

Certa vez ele estava trabalhando de tropeiro e voltava de uma viagem sozinho em seu cavalo. já
era noite alta e ambos estavam cansados da jornada. Meu pai então resolveu cortar caminho indo por um
lugar onde havia uma capelinha que todos diziam ser mal assombrada. Nessa altura tudo que ele queria
era chegar logo na fazenda e não deu muita importância as estórias contadas pelo povo. Quando estavam
se aproximando da tal igrejinha, o cavalo começou a refugar. Meu pai, também teimoso, insistia em tocar o
cavalo mas ele não ia de jeito nenhum. Meu pai voltava para trás, esporeava o bicho que saia a galope mas
chegava naquele ponto parava de chofre e se contorcia. Ele tentou de tudo: brigar, esporear, conversar,
puxar pelas rédias, mas o bicho não queria conversa. Então meu pai apurou os ouvidos e percebeu um
murmúrio estranho, um som parecia ser de uma procissão. Com vozes ininteligiveis cantando ao longe,
abafadas. Ele sentiu um arrepio gelado descer-lhe pelas costas e concluiu que o cavalo estava certo.
Montou, deu meia volta e resolveu que o caminho mais longo seria o mais curto e rápido.

2a. História

De outra feita, seu Jorge, era assim que ele se chamava, pernoitou numa casinha abandonada em
uma fazenda. quando ele estava quase pegando no sono começou a escutar um barulho de serra bem
baixinho, na parede. Levantou a cabeça, apurou os ouvidos e o barulho parou. Ele se aquietou e virou pro
outro lado deixando o sono chegar. Dali a pouco o barulho recomeçou. Intrigado ele dessa vez se sentou e
perguntou em 'oz alta:
- Quem está aí? - silencio total. Esperou alguns minutos e ...nada.
Suspirando e achando que sua imaginação lhe pregava peças ele tornou a se deitar. Quando estava
novamente quase dormindo aquele barulho que ele não conseguia definir se era de uma serra ou de uma
lixa começou de novo. Seu Jorge foi ficando um tanto temerosa, pois a experiência anterior com (possíveis)
assombrações ainda era recente. Cobriu a cabeça, rezou e deixou que o cansaço o vencesse sem a mínima
vontade de se confrontar com um fantasma, se assegurando de que o revólver estava carregado e a mão
acabou pegando no sono.
Na madrugada seguinte, quando o dia estava começando a nascer ele acordou surpreso por ter conseguido
dormir tão bem. Espreguiçou-se e levantou. Como à luz do dia as coisas parecessem outras ele criou
coragem e saiu, contornado a casinha, indo espiar do outro lado.
Uma vaca deitada placidamente, ruminava serena e no chão bem encostado na parede haviam
vestígios de sal.

3a. história

De uma outra vez, seu jorge resolveu fabricar queijo daquele tipo que tem nozinho. Preparou tudo
direitinho. Coalhou o leite, ferveu a água mergulhou a massa, esperou dar o ponto e foi fazendo os
nozinhos e amarrando numa cordinha. ficou até tarde da noite nesse processo e quando acabou foi se
deitar.
No dia seguinte, qual não foi a sua surpresa ao descobrir que no lugar dos pequenos nozinhos
havia ma bela cortina. Ele riu bastante ao descobrir que a massa passada do ponto havia ficado mole
demais e durante a noite esticara como borracha formando uma linda cortina de tiras. Foi um dos seus
fracassos mais hilários.

4a. história
No local que hoje está o Mercado municipal havia, não sei se casarões ou uma igreja que
precisavam ser demolidos para dar lugar ao mercado. A prefeitura abriu licitação e vários concorrentes se
inscreveram para fazer a demolição. Meu pai tinha uma ideia impar e de baixíssimo custo mas não a
contava. Meu tio Arnaldo, que era então vereador, proibiu meu pai de concorrer para não parecer
protecionismo de parente. Mas seu Jorge tinha absoluta certeza que a sua ideia era ótima e a inscreveu em
nome de um amigo. O seu plano foi aprovado e era o seguinte: , amarravam-se cordas em pontos
estratégicos das paredes e com a tração feita por carros de boi as paredes vinha inteiras abaixo, bastando
então recolher e transportar o entulho, nos próprios carros.
Quando o plano foi aprovado, meu tio veio falar para meu pai que a ideia dele não teria tido
chance contra aquela escolhida, então meu pai mostrou a ele o papel assinado entre ele e o amigo,
provando para meu tio quem havia realmente ganho em engenhosidade.

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