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PROJETO DE PESQUISA - ARTIGO CIENTÍFICO

Estudo de Caso: Os Prós e Contras da Estabilidade no Serviço Público no


Brasil

Guilherme Venancio dos Santos – gvsantos@uol.com.brr – UFF/CEDERJ


Michael Francisco da Silva – mic_franc@hotmail.com – UFF/CEDERJ

Resumo

O presente artigo científico tem como objetivo analisar a necessidade ou a dispensa da


estabilidade no serviço público brasileiro, do seu ponto de vista conceitual e prático. O quanto
esse elemento é vantajoso para o bom desempenho do agente público ou se é prejudicial para
a agilidade e dinâmica necessárias no desempenho dessa mesma atividade, sobretudo, no atual
cenário de transformações sociais ensejadas pelos avanços tecnológico e culturais que
demandam constantes adequações. Uma análise será a questão de compatibilidade perante
toda e qualquer forma de ocupação e atributos da função pública, além de quais efeitos
poderão resultar da possível perda de estabilidade e do nível de perigo que essas mudanças
representam para a qualidade do serviço público dispensado ao cidadão e para a supremacia
do interesse coletivo.

Palavras-chave: estabilidade; serviço público brasileiro; reforma administrativa;


administração pública.

1 Introdução

É inegável que no presente cenário o Estado se configura como o principal prestador


da tutela social, por esse motivo está sempre em evidência e figura como constante objeto de
questionamento por parte da sociedade quanto à qualidade e a efetividade dos serviços
prestados ao cidadão e da eficácia na competência do Estado como gestor da coisa pública
tendo em vista que na atual conjuntura de exigências sociais quanto à lisura da verba publica e
na difusão de exigências que se fazem pleiteadas por uma sociedade cada vez mais instruída e

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complexa como nunca antes. Diante disso o cidadão se mostra cada vez mais investido de
legitimidade o que contribui para um eminente aumento na percepção do ativismo social.
Também devemos observar que o atual ambiente de mudanças as quais envolvem os
processos de identidade social são demasiadamente céleres sobre tudo no que tange ao
contemporâneo desenvolvimento de uma sociedade voltada à comunicação de massa.
Diante de tão rápidas e repentinas mudanças não é de se espantar que o Estado deva
se adequar ou ao menos tentar acompanhar o modo de transformações em que vive a
sociedade já que a existência do organismo Estatal se justifica pela conservação da
democracia como regime social, mas a figura rígida de Estado como sistema de governo ou
instituição humana, produto da organização social inalcançável ao cidadão médio precisa ser
quebrada para que seja capaz de atender as demandas da sociedade. É então nesse cenário que
se apresenta a figura do servidor público como a personificação de um Estado que se investiu
de capacidade para entender os pleitos sociais de forma individualizada e mais próxima ao
cidadão.
Contudo dada a complexidade de interesses envolvidos dentro de qualquer
organismo social o Estado, como um organismo social, não se caracteriza como reduto imune
no meio desses múltiplos interesses já que é um organismo composto de pessoas e sujeito a
elas. Nesse enfoque o observamos que ao longo da existência do Estado foi necessário fazer
uso de diversas formas para se precaver contra a sobreposição dos interesses individuais sobre
o interesse coletivo e ainda se faz necessário manter o fulgor do combate à tais interesse que
sempre tentam se sobrepor ao interesse coletivo e sempre tentarão, seja qual for o sistema
político ou econômico em torno do qual esse Estado se constituiu. A partir disso em dado
momento histórico foi necessário criar o instituto da estabilidade no serviço público como
forma de resguardar e proteger o agente público de poderes econômicos e políticos envolvidos
no processo existência do mecanismo Estatal.
Há atualmente um questionamento crescente perante a sociedade nesta questão vital
no entendimento da máquina pública da estabilidade do funcionário público para efetiva
proteção para execução de suas funções. Os questionamentos feitos são comparativos a cargos
e funções desempenhados por funcionários da esfera privada. Nesta comparação fria e crua, o
cidadão comum começa a imaginar como uma forma de regalia concedida ao funcionário
público que continua sendo um dos vícios de um governo ultrapassado e paquidérmico.

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Lógico que esta avaliação assim simplista nos faz requerer uma análise mais
aprofundada, documentada por opiniões diversas para que assim possa ter uma análise melhor
desta percepção vigente, podendo ao seu final rebater, contestar ou confirmar tais
questionamentos apresentados pela sociedade atual.
O trabalho realizará um levantamento de opiniões, ideias e pensamentos para
embasar tantos pontos favoráveis quanto pontos contrários a questão da estabilidade do
funcionalismo público, oferecendo assim material para uma profunda reflexão sobre o tema e
oferecendo material vasto para que se possa ter uma opinião melhor embasada sobre o tema.
A temática é apropriada em face das atuais discussões em torno da reforma
administrativa proposta pelo governo de Jair Messias Bolsonaro no dia 03 de setembro de
2020 ao congresso nacional para criação de PEC que prevê consideráveis alterações no atual
entendimento do texto constitucional em seu artigo 41 caput.

Objetivo geral

Avaliar segundo critérios isonômicos e através de um exame cuidadoso, mediante o


estudo de diversos artigos e publicações, o tema da estabilidade dos servidores públicos
estatutários no Brasil.
Realizar o levantamento seguindo duas linhas de pesquisas sobre o assunto, isto é,
aspectos favoráveis e contrários ao tema, tendo em vista alcançar um entendimento
significativo a respeito desse instituto, também sobre a necessidade do Estado em estabelecer
e manter esse preceito e sobre os motivos precedentes que levaram o legislador a observar a
figura dessa doutrina para o equilíbrio do Estado.
O assunto é oportuno, frente às proposições da nova reforma administrativa em curso
no Congresso Nacional desde setembro de 2020 que visa entre outras coisas modificar o
instituto da estabilidade, objeto de estudo específico desse trabalho. Busca-se compreender
também o alcance e os impactos impelidos ou não no desempenho das atividades de
incumbência do Estado por tais servidores em razão dessa prerrogativa constitucional
conquistada por eles, ou seja, se a estabilidade prejudica ou não o desempenho e a eficiência
das atividades laborais dos referidos servidores, bem como analisar os efeitos de uma
mudança no entendimento dessa norma atualmente em uso no país e quais as consequências

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para a eficiência do Estado e para a sociedade após uma possível reformulação desse item
específico presente na reforma e quais os possíveis cenários resultantes dessa alteração, e
dessa forma pesar os prejuízos e benefícios dessa eventual modificação.

Objetivos Específicos

Ler, expor e analisar argumentos favoráveis a estabilidade de servidores públicos


civis tendo como base artigos acadêmicos e publicações de livros e revistas a respeito do
tema.
Iremos realizar um levantamento metodológico de textos, artigos, obras com o
conceito contrário de manutenção da estabilidade do serviço público. Onde traremos a
percepção dos autores seus entendimentos para que a estabilidade seja um entrave para
eficiência do serviço público moderno, além de trazer uma percepção para o cidadão comum
da prestação de um serviço de qualidade aquém do que deveria ser prestado. Este debate será
inicialmente isento de um posicionamento de nossa parte para que possamos avaliar todos os
ângulos desta questão e assim propor novas linhas de pensamentos para que possamos avaliar
em nossa justificativa final.
Analisar e comparar os argumentos contrários e favoráveis da estabilidade
aproveitando ambas as justificativas e fundamentos para desenvolver uma reflexão levando
em conta o atual momento histórico e político do país além de apresentar as conclusões desse
estudo de maneira técnica dando a devida atenção ao fato de que vivemos em uma sociedade
dinâmica e interligada e que precisa, sobretudo ser reafirmada como único motivo de
existência do Estado como democracia. Confrontar as análises e procurar conciliar as razões e
as justificativas que de alguma forma ajudem a compor um critério de avaliação para uma
resposta quanto a maneira mais oportuna e razoável para o desfecho do estudo, chegando
assim a uma conclusão capaz de ajudar no entendimento e na utilização dos conceitos aqui
tratados.

Justificativa

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A importância da produção desse estudo é de enorme valia para a compreensão do
instituto da estabilidade e é relevante o tema perante a percepção clássica de baixo interesse
da sociedade pelo tema, mas que tem se revertido nos tempos atuais onde tem vindo a debates
sempre interligados a eficiência e o conceito da ideia de má execução do serviço. No entanto,
alguns entendem que a estabilidade é uma garantia contra abusos de autoridade e pressões
políticas. Serão reais tais percepções ou somente falácias para tentar derrubar ou manter o
conceito da estabilidade? Este questionamento que iremos nos debruçar no decorrer de nossas
pesquisas. É de essencial necessidade à comunidade acadêmica e à gestão pública do país sem
esquecer, no entanto, que tal assunto é de sensível importância para a sociedade brasileira já
que afeta diretamente os serviços públicos demandados por essa mesma sociedade além de
criar um referencial teórico sobre esse assunto.

Estrutura do Projeto de Pesquisa

Leitura e exposição de opiniões, ideias e pensamentos para embasar tantos pontos


favoráveis quanto pontos contrários à questão da estabilidade do funcionalismo público no
Brasil, usando como referencial teórico a leitura e o estudo de artigos, livros ou periódicos. A
metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica e se classifica como pesquisa básica,
descritiva e qualitativa. Os resultados esperados com o presente trabalho é elucidar a temática
da estabilidade em relação à eficiência dos servidores públicos no Brasil. O cronograma
consiste em 1. Pesquisa de bibliografia 2. Análise dos dados 3. Desenvolvimento e 4.
Elaboração da síntese ou conclusão.

2 Referencial Teórico (Atividade 4)

2.1 – Pontos Contrários

O artigo 37 da Constituição Federal expressa os princípios administrativos que


norteiam a atividade dos gestores públicos, como também todos os servidores com o intuito
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de orientar, visando um melhor atendimento as necessidades e satisfazer os anseios da
sociedade, sendo eles: legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência.

O princípio da eficiência está expresso no art. 37 da CF/1988, e consiste na eficiência


funcional do servidor público nas prestações dos serviços públicos estatais, esperando
assim o melhor desempenho possível nas suas atribuições. O agente público tem o
dever da eficiência justamente por que o princípio faz parte dos preceitos
constitucionais que regem a administração pública. (MEIRELLES, 2003, p. 94)

Para Régis (2016), “A garantia da estabilidade, de natureza absoluta, como assim


prevista no artigo 41 da Constituição Federal, é uma resposta da Constituinte democrática às
profundas raízes do patrimonialismo na administração pública, e que teve, em sua origem, a
finalidade de realizar os princípios da impessoalidade e da moralidade na administração
pública.” (REGIS, 2106)
Há um pensamento geral do público de que a estabilidade é uma das principais
causas atrativas do setor público, mas também, em contrapartida, motivo de acomodação dos
servidores, que influenciaria diretamente a má qualidade dos serviços prestados tanto interna
como externamente, gerando assim a impressão de ineficiência dos servidores públicos na
prestação dos serviços.
Existem situações em que a prestação dos serviços públicos tem falhas e grande
dificuldade de serem executadas, sendo rotineiro ver usuários e a imprensa enfatizando a má
qualidade dos serviços. Cidadãos doentes nos hospitais e educação de qualidade ruins são
alguns cenários problemáticos em que a população percebe essa ineficiência.
Tal fato ocorre devido ao fenômeno da criação das fundações públicas de direito
privado e das parcerias público-privadas em áreas de interesse social, a exemplo da saúde,
fomentadas pelo próprio Ministério da Saúde durante o exercício do Partido dos
Trabalhadores (2003-2010) no governo federal.
Esta ação do Governo Federal deste período realizou uma reforma administrativa às
avessas, onde a partir de leis esparsas, com foco mesmo na flexibilização do regime de
contratação de pessoal na administração pública, imbuído das críticas mesmas de que o
Regime Jurídico Único não realiza a eficiência com bons níveis de qualidade a serem
percebidos pela população, gerando esta insatisfação verbalizada pelo cidadão.
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“a sociedade responsabiliza o dispositivo da estabilidade pelo agravamento do
processo de acomodação, perda de qualidade e deficiência no atendimento às
necessidades da sociedade” (SOUZA, 2002, p.33)
Com as transformações cada vez mais velozes no mercado de trabalho, as
oportunidades de emprego se tornam mais escassas, instáveis e exigindo alta especialização,
onde a instabilidade do mercado de trabalho, torna preocupante a permanência do
empregado na iniciativa privada. Tal tendência faz com que cada vez mais aumentar a
quantidade de pessoas a procurar um refúgio seguro no serviço público, sem a devida
vocação para exercer as funções a que se candidata através de concursos públicos, pois o
interesse está sendo a estabilidade a ser adquirida.
No Brasil, consolidou-se a estabilidade do servidor público com a lei n 2.924 de
1915. Em sede constitucional, a estabilidade foi recepcionada em 1934 e de lá para cá tem
sido mantida em todas as Constituições, até a atual, de 1988.
No artigo de opinião “A estabilidade desejada”, publicado no Jornal do Brasil, Luiz
Carlos Bresser-Pereira, ministro da pasta em 1995, dirige-se aos leitores:

A estabilidade dos trabalhadores do setor privado foi há muito flexibilizada porque se


constituía em um empecilho intransponível a uma administração moderna das
empresas. Enquanto não ocorrer o mesmo com o setor público, será igualmente
impossível uma administração eficiente da coisa pública. (BRESSER-PEREIRA,
1995)

A partir de 1995 iniciou-se os debates sobre a reforma pública, onde o governo da


Administração Federal em seu primeiro mandato do governo do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB) onde foi instaurado pelo poder Executivo uma Reforma
Administrativa que tratava do tema da Estabilidade no setor público gerando críticas a
garantia de estabilidade do servidor publico, prevista como natureza absoluta da
Constituição Federal de 1988.
Desde então diversas vezes este tema vem sendo debatido no Congresso nacional na
tentativa de ser modificada esta questão.
O Decreto-lei nº 200, de 1967 foi focado na flexibilização da administração pública,
com ensejo de “autonomia administrativa, operacional e financeira das entidades da

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administração direta” (artigo 26, IV), “fortalecer o sistema de mérito” (artigo 25, VII) e
promover a “avaliação periódica do rendimento e produtividade” (parágrafo. Único, h).
Este Decreto-lei nº 200 foi rapidamente superado pela cultura patrimonialista e o
resultado foi a criação de inúmeros de órgãos e cargos que tinham o objetivo primordial o
incentivo ao clientelismo, nepotismo, corporativismo na administração pública e assim
ocorrendo o surgimento entre servidores de dois tipos: estáveis e celetistas, sendo os
celetistas vulneráveis às demissões sem fundamentação e dependentes dos agentes políticos
que ocupassem os cargos de chefias no momento.
A Lei nº 7.586, de 1987, alterou a redação do Decreto-lei nº 200, de 1967, prevendo
a criação de fundações públicas de direito privado com a inscrição de seus atos constitutivos
no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, servindo assim como base legal para a proliferação
de centenas de fundações na área da saúde hospitalar, no intuito de agilizar contratações de
pessoal sob o regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

A estabilidade prevista na Constituição de 1988, foi estabelecida a todo servidor


público com 2 anos de exercício e àqueles não concursados, com 5 anos. A Emenda
Constitucional nº 19, de 1998, conseguiu ampliar para mais um ano, passando de 2 para 3
anos o tempo de serviço para aquisição da estabilidade absoluta.
A Emenda Constitucional nº 19, de 1998, a eficiência faz parte da legislação
infraconstitucional que dispõe sobre os servidores públicos e sobre a reforma administrativa
burocrática na Velha República. A relação conflitante da estabilidade com uns dos aspectos
básicos do princípio da eficiência: a produtividade, a celeridade e a presteza; faz com que a
estabilidade passa a ser demandada como instrumento garantidor da excelência da
prestação de serviços à sociedade. O artigo 41, § 1º, III, que prevê o procedimento de
avaliação de desempenho para fins de fundamentação jurídica para a perda da estabilidade,
entretanto, não foi regulamentado.

2.2 – Pontos Favoráveis

O instituto da estabilidade do servidor público é um tema que envolve muitas


discussões e constantemente figura como pauta de reforma no congresso brasileiro em razão

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do apelo político que esse tema suscita na opinião pública além de ser assunto de diversas
análises acadêmicas. Há, no entanto uma razão relevante para que tal instituto tenha sido
criado e conforme registrou Souza (2002, p.7):

A estabilidade, muito ao contrário do que é hoje pensado pela opinião pública, foi
instituída visando proteger a sociedade e o servidor. No primeiro caso, visa impedir
que os órgãos públicos sejam objeto de negociações políticas e práticas de
nepotismo e cartorialismo. No que diz respeito ao servidor, oferece a garantia de que
o mesmo fique isento de perseguições ou demissões injustas, tendo então como
única prioridade prestar serviços à sociedade, e não a seus superiores em decorrência
de pressões ou outros objetivos espúrios como a obtenção de simpatias ou
privilégios. (SOUZA, 2002, p.7)

A constituição Federal de 1988, em seu artigo 41, consagra a estabilidade do servidor


e procurar exaurir as dúvidas quanto à perda do cargo público no momento em que registra de
maneira ampla as situações que podem levar à perda do cargo e demostra categoricamente
quais são às exceções a esta regra.
Ainda segundo Souza (2002) recentemente devido às rápidas transformações sociais
com cenários de escassez de emprego no setor privado e pressões econômicas que afetam
diversos países além de um apelo social por mais justiça e equiparação de oportunidades
ajudou a criar uma imagem de depreciação sobre a administração pública e que é ainda
constantemente atacada pela mídia. Essa imagem depreciativa teve a ajuda da mídia sedenta
por criticar em seus noticiários além de ser uma formadora de opinião de massa. Essa mídia
não consegue distinguir a separação do setor privado para o setor público, onde o primeiro
está sujeito competições e a regras de mercado para não desaparecer. Já o setor público não
pode ser assimilado pelas regras de mercado, do contrário pode ser gravemente prejudicado.
Essa imagem depreciativa da administração foi transformada rapidamente em
instrumento de responsabilização direta contra a figura do servidor público e atribuída a ele o
peso da culpa de toda administração pública quer seja ela técnica ou política. Neste particular
Souza (2002, p.5) registrou que:

Ao mesmo tempo, ao longo das últimas décadas, a imagem do servidor público


brasileiro passou a ser gradativamente depreciada. Apontado como o grande vilão e
responsável pelas mazelas do setor público, é ainda considerado privilegiado pelo
fato de gozar de uma estabilidade de emprego, incompatível com o nível de
desempenho hoje existente no setor. (SOUZA, 2002, p.5)

Na emenda à constituição nº 19/1998 o termo eficiência foi acrescentado aos


explícitos princípios constitucionais já existentes que regem a administração pública de
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legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade e que para BARBOSA apud Coutinho:
“determina o dever desta de agir de modo rápido e preciso, para produzir os resultados que
satisfaçam às necessidades da população” (COUTINHO, 2003, p. 111).
Para Barbosa (2009, p.37) é importante fazer uma separação dos conceitos de
eficiência com os conceitos de eficácia e de efetividade, pois na administração a eficiência
está relacionada à capacidade de extrair o melhor a partir dos recursos disponíveis para tanto.
Eficiência, portanto está intimamente dependente de uma conjugação de fatores convergentes.
Dessa maneira, ainda segundo Barbosa (2009, p.38) a mudança de comportamento
para alcançar a eficiência não se trata apenas de uma questão de produtividade do servidor,
mas principalmente das ações de governo para atacar em variadas frentes tendo em vista
alcançar a melhoria da administração em um sentido amplo.
Nesse sentido Barbosa (2009, p.38) descreve:

Para se alcançar a finalidade da eficiência na Administração Pública, além da


mudança de mentalidade dos governantes, deve-se também atacar os elementos que
pervertem a administração, como corrupção, nepotismo, má utilização dos recursos
públicos, política de desprestígio da função pública com o aumento excessivo de
terceirização, contratações irregulares, justificados pela ineficiência do quadro de
servidores permanentes. (BARBOSA, 2009, p.38)

Conforme Fidelis (2016, p.33) o instituto da estabilidade teve sua origem nos
Estados Unidos por causa de problemas políticos relacionados à alternância de poder
ocasionada pelas mudanças no comando do país entre os dois únicos partidos existentes, os
Republicanos e os Democratas. Nessa briga de poder o partido vencedor promovia uma
acirrada perseguição política aos servidores que não compartilhavam dos mesmos ideais
políticos dos vencedores, tornando com isso a administração pública naquele país
extremamente lenta. Para dar salvaguarda ao princípio da Continuidade do Serviço Público foi
criado esse mecanismo visando dar prevalência ao interesse público em detrimento ao
interesse político e manter a qualidade dos serviços à sociedade.
Em relação às críticas a respeito da estabilidade Fidelis (2016, p.58) faz um contra
ponto para ao deixar claro que a estabilidade não é uma garantia absoluta na constituição e
salienta que no artigo 41 parágrafo primeiro e incisos há inúmeras situações de perda do cargo
público estável. Nesse contexto Fidelis (2016, p.58) escreve a esse respeito:

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Para muitas pessoas, a estabilidade do servidor público é considerada como um
modo de não demissão e garantia de emprego por toda a vida. No entanto,
equivocada é a tese de quem pensa desta maneira, talvez por ignorar os preceitos
legais que regem este instituto ou simplesmente por fingir que não existem, haja
vista que a estabilidade não é absoluta e pode ser perdida por diversas razões
(FIDELIS, 2016, p.58)

Para Marvila (2011, p. 37) o instituto da estabilidade deve ser entendido como uma
ferramenta importante para a manutenção da democracia e uma garantia da continuidade de
bom serviço prestado. Nesse sentido escreve:

A estabilidade deve ser entendida como o direito que o servidor público adquire ao
atender todas as exigências previstas em lei, de permanecer trabalhando para a
administração pública, limitado pelas prescrições legais de como esse direito pode
ser perdido.[...] A estabilidade do servidor público corresponde à materialização de
um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, previstos no artigo 1º, IV da
CRFB: o valor social do trabalho. (MARVILA, 2011, p. 37)

Para Marvila é um erro encarar a estabilidade do servidor como uma pauta política e
como a causa de qualquer mal à administração pública brasileira.

3 Procedimentos Metodológicos (Atividade 5 – parte 1)

3.1 Classificação da Pesquisa

A classificação ou delineamento da presente pesquisa compreende os métodos e as


técnicas utilizadas que nesse caso são a leitura e exposição de opiniões, ideias e pensamentos
para embasar pontos favoráveis e pontos contrários à questão da estabilidade do
funcionalismo público no Brasil e pode ser classificada como pesquisa básica, exploratória e
qualitativa.
A pesquisa é classificada como básica porque se resume à procura de opiniões
primárias expostas pelos autores aqui pesquisados, não buscando outros sentidos ou outras
ideias secundárias através de opiniões de terceiros ou deduções.
A pesquisa também é classificada como descritiva porque é o tipo de pesquisa que
busca descrever um determinado problema objetivando o aprimoramento das ideias
pesquisadas para esclarecê-las ou mesmo para apontar as hipóteses relacionadas àquele
problema.
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A pesquisa é igualmente classificada como qualitativa porque se resume a uma análise
qualitativa do seu conteúdo para conseguir interpretá-lo e que conforme Mayring (1983 apud
FLICK; Uwe, 2012) busca entre outras coisas a diferenciação teórica das questões da pesquisa
e a interpretação dos resultados segundo a análise das principais questões.
A maneira ou o meio utilizado para coletar os dados são as chamada “fontes de papel”
no qual se inclui a Pesquisa Bibliográfica. Para qualificar o que é a Pesquisa Bibliográfica
cabe dizer que corresponde ao tipo de pesquisa que se serve principalmente de material
escrito em formato impresso ou eletrônico como livros, artigos científicos e revistas, os quais
já foram concebidos anteriormente e vastamente estudados ou desenvolvidos por diversos
autores. Convém ainda ressaltar que apesar de se fazer necessário utilizar, mesmo que em
menor grau, as fontes bibliográficas na maioria dos outros tipos de trabalhos de pesquisa, não
se deve confundi-los com a Pesquisa Bibliográfica, pois em específico nas Pesquisas
Bibliográficas as chamadas fontes de papel compõem o único modo de obtenção dos dados
empregados nesse tipo de pesquisa. É também comum que se utilize exclusivamente a
Pesquisa Bibliográfica quando o trabalho de pesquisa busca explorar um conflito de opinião
ou um ponto de vista ideológico a respeito de um assunto central.
As fontes bibliográficas são subdivididas em algumas categorias. As Obras de
Divulgação, que se encontra dentro da categoria de Livros de Leitura Corrente, são as fontes
bibliográficas geralmente utilizadas para a modalidade de Pesquisa Bibliográfica, pois
conforme Antônio Carlos Gil (2002, p.44), “objetivam proporcionar conhecimentos
científicos ou técnicos”.
Para classificar visualmente as fontes bibliográficas será utilizado o esquema gráfico
criado por Antônio Carlos Gil (2002, p.44):

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3.2 Procedimentos para coleta de Dados

3.2.1 Instrumento para coleta de dados

Em razão da pandemia de COVID-19 o instrumento ou meio utilizado para a Coleta


dos Dados foi o recolhimento de bibliografias obtidas apenas de forma eletrônica, através de
Sites Especializados em materiais de estudo acadêmicos como o Library Genesis, Scielo.org,
E-book Central, além de utilizar também o Google em procedimentos gerais.

3.2.2 Definição da população que será pesquisada

O universo ou população estudado na presente pesquisa corresponde ao Setor Civil


Público e Estatutário Brasileiro e a amostra ou população amostral corresponde aos servidores
públicos civis que possuem a prerrogativa da Estabilidade, alcançada ou a alcançar, excluindo
os demais servidores como os ocupantes de cargos comissionados.

3.2.3 Definição dos procedimentos para coletar os dados

O procedimento utilizado foi a Observação, pois conforme Gil (2002, p. 35) “Este é
o procedimento fundamental na construção de hipóteses. O estabelecimento assistemático de
relações entre os fatos no dia-a-dia é que fornece os indícios para a solução dos problemas
propostos pela ciência”.
O procedimento de observação do problema/questão da estabilidade dos servidores
públicos civis estatutário, também serviu para nortear os instrumentos de coleta dos dados
bibliográficos a respeito do assunto visto que existem diversos estudos que tratam da
Estabilidade.

3.3 Procedimentos para tabulação e análise dos dados coletados

O procedimento para tabulação e análise dos dados da presente pesquisa qualitativa


buscou responder as hipótese ligadas referente aos prós e contras da estabilidade dos

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servidores públicos civis no Brasil e sua relação com a eficiência dos serviços prestados à
população através da confrontação de diversas opiniões de autores de bibliografias que tratam
desse assunto.

4 Resultados esperados (Atividade 5 – parte 2)

O estudo aqui realizado buscou compreender o equilíbrio presente na relação entre os


pontos contrários e favoráveis à estabilidade dos servidores públicos civis no Brasil e analisar
as hipóteses e os motivos que fazem com que esse tema esteja constantemente sendo alvo de
questionamentos por parte da sociedade.
Neste sentido é importante dizer que não cabe na presente pesquisa tomar
posicionamento contrário ou favorável a esse tema tendo em vista que não se pode negar a
necessidade do instituto da estabilidade na realidade brasileira que conserva heranças culturais
de uma administração pública patrimonialista, todavia não se pode negar que o instituto pode
levar, em alguns casos, à falta de eficiência na prestação dos serviços públicos.
Por fim conclui-se que o instituto ainda se faz necessário porém carece de
aprimoramentos como a correta e fidedigna avaliação de desempenho que possa afastar
avaliações de cunho pessoal ou que contenha vícios de foro íntimo em relação ao avaliador, a
correta estruturação da carreira que busque o desenvolvimento profissional pautado por
merecimento e por fim a criação de leis complementares que visem regular o à manutenção do
instituto da estabilidade com dispositivos capazes de retirar os maus servidores e manter os
bons servidores.

5 Referências – apresentar de acordo com a NBR 6023- 2002


(Compõe a atividade 6 que consiste no trabalho como um todo)

BARBOSA, Maria Antônia. A Estabilidade do Servidor Público e o Princípio da


Eficiência. Universidade do Legislativo Brasileiro – UNILEGIS Brasília – DF 2009.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da administração pública burocrática à gerencial.


Revista do Serviço Público, v. 47, n. 1, p. 7-40, 1996.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A Estabilidade Desejada. Jornal do Brasil, Rio de


Janeiro, 22 jan. 1995

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PROJETO DE PESQUISA - ARTIGO CIENTÍFICO
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 31
out. 2020.

COUTINHO, Ana Luísa Cellino. A Estabilidade do Servidor Público na reforma


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FLICK, Uwe. Introdução à Metodologia de pesquisa: Um guia para iniciantes. Porto


Alegre: Penso, 2012.

FIDELIS, Lucas Gabriel. Estabilidade do Servidor Público Efetivo em Prol da Eficiência


na Administração Pública. Faculdade de três pontas, fateps, direito 2016.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de pesquisa. 4a. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

MARVILA, Jackeline Koppe Eiriz. A Estabilidade do Servidor Público no Brasil: Uma


Prerrogativa Constitucional e Seus Limites. Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro,
2001.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 28ª ed. Atualizada por Eurico
de Andrade Azevedo, Délcio Balestero Aleixo e José Emmanuel Burle filho. São Paulo:
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limites-para-o-retrocesso-social Acesso em: 30 out. 2020.

SOUZA, Tereza Cristina Padilha de. Mérito, estabilidade e desempenho: influência sobre
o comportamento no servidor público. 123p. Dissertação (Mestrado Executivo) - Escola
Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro,
2002.

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