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FACULDADE DE KURIOS- FAK

DEPERTAMENTO DE PÓS GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA,


INSTITUCIONAL, E HOSPITALAR

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO DIANTE DAS DIFICULDADES DE


APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE LEITURA: UMA INTERVENÇÃO A
PARTIR DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

MARIA DAIANE DE SOUSA

MARANGUAPE- CE

2017
MARIA DAIANE DE SOUSA

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO DIANTE DAS DIFICULDADES DE


APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE LEITURA: UMA INTERVENÇÃO A
PARTIR DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

Monografia apresentada à Banca


Examinadora do programa de Pós-
Graduação, Especialização em
Psicopedagogia Clínica, Institucional, e
Hospitalar da Faculdade de Kurios- FAK,
como pré requisito parcial de especialista
em Psicopedagogia..

Orientadora: Dori Anne Frota de Carvalho


Morais

MARANGUAPE- CE

2017
TERMO DE APROVAÇÃO

MARIA DAIANE DE SOUSA

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO DIANTE DAS DIFICULDADES DE


APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE LEITURA: UMA INTERVENÇÃO A
PARTIR DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós- Graduação,


Especialização em Psicopedagogia Clínica, Institucional e Hospitalar da Faculdade
de Kurios- FAK, como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em
Psicopedagogia.

Monografia aprovada em ____/____/_____ Nota: ____________

_________________________________________________________________
Maria Daiane de Sousa

Comissão Examinadora:

_________________________________________________________________
Orientadora: Profª. Ma. Dori Anne Frota de Carvalho Morais

_________________________________________________________________
Prof. Esp. Horácio Cavalcante Neto

_________________________________________________________________
Prof. Esp. Oliveira Rodrigues Pereira
Aos meus pais, Maria das Mercês e José
de Arimatéa, meus exemplos de vida, que
venceram todas as dificuldades para dar
aos filhos o pão de cada dia, a felicidade, a
saúde e acima de tudo o amor. E, embora
com pouco estudo, souberam nos oferecer
uma boa educação.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por conceder-me a vida, fortalecer-me, guiar meus caminhos, além de


abençoar-me com força e sabedoria para realização desse trabalho.

Aos meus queridos pais pela oportunidade de estudar e me apoiar em todas as


dificuldades ao longo da minha vida. Mesmo tendo pouco estudo souberam dar-
me uma boa educação.

À minha irmã Maria Luana, que sempre me apoiou ao longo da minha vida.

Ao meu esposo João Evangelista, que sempre me apoiou para continuação dos
meus estudos após nosso casamento e esteve sempre comigo nos momentos
fáceis e difíceis dessa caminhada, dando força e incentivando para que nunca
desanimasse.

À professora Dori Anne Frota de Carvalho Moraes orientadora dessa pesquisa,


por toda ajuda no desenvolvimento desse trabalho.

A todas as colaboradoras dessa pesquisa.

Por fim, agradeço a todos meus amigos que de forma direta ou indireta
contribuíram para a realização dessa pesquisa e para minha formação.
"Contar histórias é uma arte... e tão linda!!!
É ela que equilibra o que é ouvido com o
que é sentido, e por isso não é nem
remotamente declamação ou teatro... Ela é
o uso simples e harmônico da voz".

(ABRAMOVICH, 1997)
RESUMO

A narração de histórias é uma prática que faz parte da rotina das crianças nas
escolas e influencia em sua aprendizagem, possibilitando o encontro com novas
palavras, enriquecendo seu vocabulário e despertando o interesse por narrativas
e pela leitura. Mas se essas práticas já fazem parte da rotina das crianças, como
a professora as compreende? Com ênfase nessa questão surgiu esse trabalho
que se constitui como pesquisa monográfica e discute a importância da contação
e leitura de histórias para crianças como incentivo à leitura. Tem como objetivo
compreender as concepções de uma professora acerca das diferenças entre ler
e contar histórias para crianças através de um estudo de caso. Como objetivos
específicos procuro caracterizar as práticas de leitura e contação de histórias na
sala de aula; verificar como é estimulada a participação da criança na hora da
narrativa e como é a participação das mesmas, além de analisar a relação que
a professora estabelece entre as narrativas e o desenvolvimento e
aprendizagem das crianças. A pesquisa é qualitativa de caráter exploratório.
Para coleta de dados utilizou-se uma entrevista semiestruturada e observações
em sala de aula. Foi sujeito dessa pesquisa uma professora de uma turma de
infantil III de uma escola na comunidade de Mocambo de Cima do município de
Itapipoca. Para a análise de dados e composição do referencial bibliográfico
contamos com teóricos como: Cléo Busatto (2006), Betty Coelho (1999), Fanny
Abramovich (1997), Nelly Novaes Coelho (2000), entre outros. A respeito das
concepções da professora percebi que a mesma revela uma compreensão das
diferenças entre ler e contar histórias e da importância das duas na rotina da
criança. Ela faz uso de diferentes estratégias e garante os dois momentos, tanto
da leitura como da contação, percebendo seus aspectos positivos. Também
demonstrou haver a necessidade de as crianças aprenderem a ouvir a leitura de
história, e o caminho escolhido foi iniciar com a escuta durante a contação. Além
disso, os dados apontam para a concordância da professora participante da
pesquisa com a ideia de que tanto leitura como a contação de histórias
estimulam a prática da leitura, embora se deem como práticas diferentes.

Palavras – chave: Contação e leitura de histórias. Formação leitora. Práticas


narrativas.
ABSTRATC

Storytelling is a practice that is part of the routine of children in schools and


influences their learning, making it possible to meet new words, enriching their
vocabulary and arousing interest in narratives and reading. But if these practices
are already part of the children's routine, how does the teacher understand them?
With emphasis on this issue came this work that constitutes a monographic
research and discusses the importance of storytelling and reading stories for
children as an incentive to reading. It aims to understand a teacher's conceptions
about the differences between reading and storytelling for children through a case
study. As specific objectives I aim to characterize the practices of reading and
storytelling in the classroom; To verify how the participation of the child in the
hour of the narrative is stimulated and how is the participation of the same,
besides analyzing the relation that the teacher establishes between the narratives
and the development and learning of the children. The research is qualitative of
exploratory character. For data collection a semi-structured interview and
classroom observations were used. It was subject of this research a teacher of a
group of infantile III of a school in the community of Mocambo de Cima of the
municipality of Itapipoca. For the analysis of data and composition of the
bibliographic reference, we have theorists such as Cléo Busatto (2006), Betty
Coelho (1999), Fanny Abramovich (1997), Nelly Novaes Coelho (2000), among
others. Regarding the teacher's conceptions, I realized that it reveals an
understanding of the differences between reading and storytelling and the
importance of the two in the child's routine. It makes use of different strategies
and guarantees the two moments, both reading and counting, realizing its positive
aspects. It also demonstrated the need for children to learn to listen to the reading
of history, and the path chosen was to start with listening during the count. In
addition, the data point to the agreement of the teacher participating in the
research with the idea that both reading and storytelling stimulate the practice of
reading, although they are considered as different practices.
Keywords: Storytelling and reading. Reading training. Narrative practices.
Sumário

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 9

CAPÍTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA.............................................................. 14

1.1 METODOLOGIA E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .......................... 14


1.2 LOCAL DA PESQUISA ................................................................................................. 15
1.3 SUJEITO DA PESQUISA ............................................................................................. 16
CAPÍTULO II - CONTAÇÃO E LEITURA DE HISTÓRIAS, O LIVRO INFANTIL E A
PSICOPEDAGOGIA ............................................................................................................. 17

2.1 O LIVRO INFANTIL E A LEITURA.............................................................................. 17


2.2 FORMAÇÃO LEITORA NA FAMÍLIA E NA ESCOLA .............................................. 22
2.3 LER HISTÓRIAS É DIFERENTE DE CONTAR ........................................................ 26
2.4 CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E A PSICOPEDAGOGIA COMO RECURSO
PSICOPEDAGÓGICO ......................................................................................................... 29
CAPÍTULO III - ANÁLISE E DISCURSÃO DOS DADOS .............................................. 34

3.1 RELAÇÃO ENTRE A LEITURA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS .......................... 34


3.2 ENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DURANTE A NARRATIVA ................................. 37
3.3 INFLUÊNCIA DA S PRÁTICAS NARRATIVAS NA FORMAÇÃO LEITORA ....... 42
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 48

APÊNDICES ........................................................................................................................... 50
9

INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda as diferenças entre ler e contar história sem um olhar
psicopedagógico nasceu por já gostar de contar histórias e pelo desejo de ser
professora de crianças. Somado a isso, gostava da forma prazerosa que meus
professores ensinavam, incentivando ao aprendizado, com aulas dinâmicas que
sentia a cada dia vontade de aprender.

Diante disto, passei pela experiência de um estágio do curso de pós


graduação em psicopedagogia institucional, clínico e hospitalar, durante o estágio
institucional que aconteceu numa escola em Mocambo de Cima local onde moro e
através dessa experiência valiosa percebi a realidade da sala de aula, a exigência e
o encantamento do trabalho de uma professora e a partir de então procurei aprofundar
essa pesquisa baseada no estágio realizado. Mas dessa vez com crianças menores,
na educação infantil.

A certeza de querer ser educadora acentuada com as vivências, fazendo-


me buscar um objeto de pesquisa relacionado a crianças pequenas. Procurando
delimitá-lo, decidi investigar as práticas narrativas, com as quais me apaixonei ao
longo de minha vida profissional.

Apaixonei-me pela prática narrativa e mais ainda pelas reações das


crianças quando estamos contando histórias para elas. A atuação como contadora de
histórias me fez perceber sua importância para a formação das crianças. Uma simples
história pode desenvolver nelas o conhecimento e promover um novo mundo de
descobertas e imaginações. Assim como diz Garcez (2008), as histórias são capazes
de provocar atividade mental intensa na criança, conseguem fazê-las ouvir de forma
ativa, imaginar, visualizar, podendo interagir com o narrador e até com os
personagens, reagirem fazendo antecipações, hipóteses, inferências. Essa intensa
atividade mental forma habilidades importantes na criança para que a mesma consiga
compreender textos mais complexos. Assim, o professor deve ficar sempre buscando
novas alternativas, novas provocações para a aprendizagem de seus alunos de modo
a torná-la mais proveitosa.
10

Yunes (1988) fala da importância de contar histórias para crianças, sua


escuta aperfeiçoa sua relação com o mundo, mesmo antes de aprender a ler pode
existir esse hábito de leitura.

Segundo Coelho (1999), o principal instrumento do narrador é a sua voz,


através da qual transmite suas emoções. Segundo ela existem vários tipos de vozes,
entre elas a voz sussurrante, adocicada, suave, cálida, eriçada, espinhenta, metálica,
sem vibrações, sem modulações, inertes, sem consistência, inexpressivas,
monocórdias entre outras que o narrador pode criar através do que se pede em cada
história.

De acordo com Gomes e Moraes (2012), os contadores de histórias


colaboram no desenvolvimento da linguagem da criança, tentam resgatar o prazer de
ler, tanto na criança como no adolescente ou adulto. Nesse ato também é divulgada
a tradição da palavra, o que dá sentido a história e faz com que o ouvinte consiga
compreender e interagir.

A respeito disso, Dinorah (1995) diz que, contar histórias é uma arte e nem
todo professor nasce com o esse privilégio. Mas ele pode aprender. Ela diz ainda que
alguns professores acham não ter jeito para contar histórias, mas, quando iniciam,
sentem-se gratificados. Para Dinorah, há pessoas com esse dom, sendo necessária
uma oportunidade para desenvolvê-lo. É preciso que o professor desenvolva a
contação de histórias porque aquieta a criança, asserena, prende a atenção, informa,
socializa e educa, além de ser alimento da imaginação, favorece a aceitação de
situações desagradáveis como na resolução de conflitos, dentre outras.

Abramovich (1997) diz que contar histórias é também mostrar para a


criança que o que ouviu está impresso num livro podendo voltar a ele para reler
quantas vezes quiser. Que ao manuseá-lo e folheá-lo quanto quiser, explore tudo do
livro, a forma e cada vez que tirar aquele livro da estante folheie até encontrar as
partes mais vivas das lembranças, nem que seja através das imagens.

Para Dinorah (1995), o narrador precisa reconhecer o quanto as narrações


são importantes para as crianças e para seu desenvolvimento. A autora elenca
algumas dessas vantagens: melhorar a expressão oral, ou seja, aprender a se
comunicar cada vez melhor com o público; despertar o interesse por conhecer novos
11

autores e novas obras; provocar a leitura com prazer porque só se aprende a gostar
do que faz quando se faz com amor, só sentirá prazer em ler quando gosta de ler. E
por fim, faz com que aprendamos a gostar de crianças, quanto mais se trabalha com
o público infantil, mais se aprende a gostar dos pequenos porque eles são
encantadores e capazes de nos atrair através de seu afeto e carinho.

Concordo com as ideias da autora porque tudo o que fazemos temos uma
finalidade, um propósito a chegar, não contamos histórias para uma criança
simplesmente por contar, temos um objetivo a alcançar como provocar sua
imaginação despertando-lhe futuramente o gosto em torná-la leitora, entre outros
objetivos a serem alcançados.

É possível perceber que a contação de histórias contribui para o


aprendizado e desenvolvimento do aluno. Segundo Dinorah (1995) alguns valores
educativos da história são, controlar as emoções, educar os sentidos, desenvolver a
imaginação e a lógica.

Segundo Busatto (2006) contar histórias pode ser fermento para o


imaginário. Ela fala de três categorias de imagens: verbais, sonoras e corporais. As
imagens verbais é a paisagem que o contador forma na mente do ouvinte a partir do
texto lido, e quando verbalizado transforma em imagens para os ouvintes provocando
e despertando emoções. Já as imagens sonoras são os recursos poéticos que
encantam os ouvintes. E as imagens corporais é um fragmento da intuição do contador
que se manifesta no momento adequado para provocar no ouvinte a imaginação da
cena construída.

A autora ainda fala que no momento em que o contador está contando


histórias e se movimenta, fazendo gestos e ações de acordo com os personagens da
história, conduz o olhar do ouvinte para ele e provoca a ilusão de que tudo aquilo
existe porque para o imaginário, essa ilusão é real.

Busatto (2006) diz que o segredo da contação de história é a compreensão


dos ouvintes que mais importante do que aconteceu na história, é o que acontece
dentro de cada um depois que ouvimos.

Diante disto, Gomes e Moraes (2012) nos falam que ao contarmos histórias
para um grupo de crianças, tentamos despertar nelas seu imaginário coletivo, que
12

depende do ambiente cultural em que fomos criados e educados, das leituras


favoritas, dos mitos que já foram contados, entre outros.

Para contar uma história é preciso memorizá-la. Essa memória, como diz
os autores citados, é o reencontro com a tradição, eles ainda afirmam que os contos
têm o poder de abrir a mente e expandir horizontes intelectuais.
Dinorah (1995) diz que o saudoso Lourenço Filho nos revela que uma
história contada com todos os requisitos proporciona atividade sadia como: Além de
desenvolver a imaginação permite que a criança se sinta a vontade para pensar como
quiser a respeito do que ouviu na história; Enriquece o vocabulário da criança, a partir
de cada história contada, a criança aprenderá novas palavras porque aquelas que não
sabem o significado vão em busca de conhecê-lo enriquecendo-o cada vez mais; O
narrador pode também observar os comportamentos, inquietações e angústias dos
ouvintes, tendo chance de orientá-los melhor a partir das observações. Além de poder
controlar as emoções e desenvolver a imaginação, isso são os valores educativos de
uma história que deverá atender a três finalidades que são: Comover a criança para
que ela goste da história e isso depende de como o contador conta; Instruir a criança
para a moral da história, mas, deixando que ela descubra sozinha essa lição de vida
que a história oferece; E por fim agradar as crianças com a história contada para que
levem a gostarem e a ouvirem outras histórias.

Envolvida por essas ideias, me perguntei: se as práticas narrativas já fazem


parte da rotina das crianças, como a professora as compreende? Falando nisso, será
que os professores concordam que a contação ou leitura de histórias contribuem para
o aprendizado das crianças e pode torná-las leitoras? Quais estratégias a professora
utiliza para que as crianças se interessem em escutar? Quais critérios utiliza para
escolher uma história? De que forma instiga a participação das crianças? Para ela,
como as narrativas influenciam o aprendizado das crianças?

De posse dessas ideias e indagações, este trabalho tem como objetivo


central compreender as concepções acerca das diferenças entre ler e contar histórias
para crianças tendo como sujeito de pesquisa uma e alunos de uma escola na
localidade onde moro. É fruto de reflexões que incluem as práticas narrativas, as falas
e a organização da rotina em sala de aula. Traçados como objetivos específicos
caracterizar as práticas de leitura e contação de histórias na sala de aula; verificar
13

como é estimulada a participação da criança na hora da narrativa e como é a


participação das mesmas, além de analisar a relação que a professora estabelece
entre as narrativas e o desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

Um aspecto interessante a ser destacado é a relevância dessa pesquisa,


sua importância para escola de uma forma geral e para minha formação. Pois
sabemos que é importante para a formação leitora das crianças oportunizarmos
situações de leitura e contação de histórias. Além disso, com esse trabalho as
educadoras e educadores de toda escola poderão refletir sobre a contação e leitura
de histórias e como podem contribuir para a aprendizagem e desenvolvimento das
crianças provocando-lhes a reflexão sobre as práticas narrativas e seus impactos na
formação leitora inicial.

Tendo como base a colaboração de autores que discutem atemática em


questão, tais como Cléo Busatto (2006), Fanny Abramovich (1997), Gomes e Moraes
(2012), Maria Dinorah (1995), Moraes (2012), Nelly Novais Coelho (2000), este
trabalho organizou-se em três capítulos. O primeiro apresentou a metodologia
utilizada na pesquisa. O segundo capítulo abordou aspectos relativos à leitura de
histórias e o livro infantil onde foram discutidos o uso e características do livro infantil
e a leitura, além da formação leitora na família e na escola e as diferenças entre ler e
contar histórias e uma visão psicopedagógica sobre a contação de histórias. O terceiro
capítulo apresentou a análise dos dados e discussão dos resultados.
14

CAPÍTULO I - METODOLOGIA DE PESQUISA

Este capítulo apresenta a metodologia e instrumentos de coleta de dados,


local e o sujeito da pesquisa.

1.1 METODOLOGIA E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Com o objetivo de compreender a concepção da professora acerca das


diferenças entre ler e contar histórias para crianças, esta pesquisa foi realizada
através de um estudo de caso. De acordo com Silva e Menezes (2001) o estudo de
caso envolve poucos objetos, permitindo o amplo e detalhado conhecimento.

Foi desenvolvida a partir de uma metodologia qualitativa de caráter


exploratório. Como diz Minayo (2002), a pesquisa é qualitativa porque responde
questões particulares enfocando significados da realidade. “Ela trabalha com o
universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes [...]” (p. 21
e 22). Segundo Silva e Menezes (2001) é qualitativa porque é uma relação entre o
mundo real e o sujeito, uma interpretação dos fenômenos e atribuição de significados
e é descritiva. Para ela a pesquisa é exploratória porque proporciona familiaridade
com o problema tornando-o explícito ou construindo hipóteses. Além de ter
levantamento bibliográfico, tem entrevista com pessoas e observação, revelando
aproximação com o campo de pesquisa.

A coleta de dados ocorreu no mês de fevereiro de 2017, no período de duas


semanas, contabilizando cinco visitas, que incluem a entrevista e observações.
Durante a entrevista a professora falou abertamente sobre os assuntos propostos.

Foram realizadas quatro observações em sala de aula com duração de 40


minutos e uma entrevista semiestruturada com cinco perguntas. A entrevista foi
realizada no local de trabalho da professora e a escolha do local foi combinada com a
mesma para o dia de seu planejamento para que tivesse mais tempo e disposição.

Entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido


restrito de coleta de informações sobre determinado tema científico, é a
estratégia mais usada no processo de trabalho de campo. Entrevista é acima
de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por
iniciativa do entrevistador. (MINAYO, 1994, p. 64).
15

De acordo com a autora a entrevista é um instrumento que utilizamos para


obter os dados necessários de uma pesquisa, através da entrevista podemos tomar
conhecimentos importantes e necessários para realização da pesquisa de campo,
além dos dados colhidos pelas observações realizadas.

As observações aconteceram em uma turma de infantil III em uma escola


em Mocambo de Cima no período da manhã. A primeira observação aconteceu no dia
15 de Fevereiro, a segunda no dia 16 e a terceira no dia 17. No dia 20 de aconteceu
a quarta visita, a entrevista aconteceu no dia 21, dia de seu planejamento que ocorreu
em local confortável e silencioso. Os objetivos foram observar e caracterizar as
práticas de leitura e contação de histórias na sala de aula; verificar como é estimulada
a participação da criança durante a narrativa e como é a participação das mesmas.
Também busquei analisar a relação que a professora estabelece entre as narrativas
e o desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

Tive a oportunidade de uma conversa informal com a coordenação da


escola com relação à realidade da mesma. Pude perceber a importância das
informações obtidas para ajudar o pesquisador a conseguir alcançar seus objetivos
de pesquisa. De acordo com Minayo (1994), é fundamental o pesquisador ser
simpático com o entrevistado para uma melhor relação entre os mesmos para que a
pesquisa de campo seja um trabalho produtivo. Ou seja, é fundamental existir um bom
envolvimento do entrevistado com o entrevistador. Como diz a autora “Em geral, os
melhores trabalhadores de campo são os mais simpáticos e que melhor se relacionam
com os entrevistados” (MINAYO, 1994, p.68).

1.2 LOCAL DA PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada em uma escola em Mocambo de Cima na zona


rural de Itapipoca-Ce no Distrito de Arapari. Nesta escola estão inseridos alunos do
Infantil III ao nono ano do Ensino Fundamental. A escolha por esta instituição se deu
pelo fato de morar vizinho e também ter realizado o estágio institucional nesta
Instituição. Seu público alvo são todas as crianças da comunidade e de outras
vizinhas.
16

Segundo a coordenação, a escola tem 22 anos de existência (19 de


novembro de 1995), funciona nos turnos manhã e tarde, infantil III, IV, V, primeiro ao
nono ano, educação infantil até o terceiro ano funciona de manhã e quarto ao nono
ano funciona à tarde. Há seis salas de aula, sala de reforço sala do AEE, sala dos
professores junto com a sala de multimeios, dois banheiros masculino e feminino, uma
secretaria junto com a diretoria, um depósito para guardar a merenda e duas
pequenas salas para guardar materiais e uma cantina. São 204 alunos matriculados.
No total a escola tem 27 funcionários, sendo que 19 são professores, 1 coordenador,
1 diretor e 6 funcionários de serviços gerais.

Foi observado o ambiente de convivência entre as crianças e a sala de


aula, neste caso, o infantil III. Havia dezesseis alunos de três anos. Percebi que a sala
era espaçosa, decorada com as atividades feitas pelas crianças. Tinha vários
cantinhos na sala, como cantinho dos parabéns, do calendário, rica em desenhos
coloridos, em um canto da sala ficava uma mesinha com vários livros em cima para
eles manusearem quando quiserem. Havia dois ventiladores fortes, um em cada lado
da sala, o que deixava o ambiente bem ventilado. A sala é bem iluminada.

1.3 SUJEITO DA PESQUISA

A professora sujeito participante desta pesquisa permaneceu muito


receptiva, mostrando-se sempre disposta a participar e a responder as perguntas da
entrevista e a receber-me em sua sala de aula para realização das observações.
Informou que é Licenciada em Pedagogia e pós graduada em gestão escolar. Tem
oito anos de experiência como professora, sendo seis na educação infantil. É efetiva
nesta etapa da educação e participa de cursos de formação continuada nessa área
que são promovidos pela Secretaria de educação do município. Também na escola
acontecem formações uma vez por mês, durante o planejamento coletivo e, algumas
vezes estas têm a participação de pessoas fora do quadro profissional da escola.
17

CAPÍTULO II - CONTAÇÃO E LEITURA DE HISTÓRIAS, O LIVRO INFANTIL E A


PSICOPEDAGOGIA

Neste capítulo foram apresentados alguns aspectos que falam sobre


literatura infantil, leitura literária para os pequenos e a importância da criança viver
rodeada de livros. Discutiu-se sobre a adequação dos textos, as vantagens adquiridas
a partir da leitura dos livros e como estes aspectos podem influenciar na aprendizagem
das crianças. E também trata da intervenção do psicopedagogo.

2.1 O LIVRO INFANTIL E A LEITURA

As preocupações com a Literatura Infantil Brasileira nasceram, segundo


Dinorah (1995), com Carlos Jansen e Alberto Figueiredo. Entretanto, é com Monteiro
Lobato que a literatura infantil ganhou identidade nacional. Em 1921 o autor estréia
com a criação de Narizinho Arrebitado.

Embora a autora aponte a primeira década do século XX como referência


para a literatura infantil brasileira, ressalta que sua importância se expande a partir
dos anos 70, quando editores de alguns estados perceberam seu valor e apostaram
nela. A partir daí os livros infantis começaram a ter espaço na sociedade e os autores
viram nisso uma oportunidade que crescia cada vez mais.

A autora citada vem nos dizer “De algo muito urgente para todas as escolas,
e cuja falta tanto vem contribuindo para o esvaziamento cultural do povo brasileiro: a
leitura. Os livros literários” (DINORAH, 1995, p.8). Denuncia a grande quantidade de
pessoas que não tem hábito de leitura e ressalta que muitos destes não tinham livros
que pudessem ler e a escola também não oferecia, isto fazia com que essas pessoas
não adquirissem o real gosto pela leitura. A autora defende que através do livro infantil
a criança penetra no mundo literário tornando-se leitora. Além disso, um vocabulário
ainda restrito deve ser enriquecido com a leitura destes livros.

De acordo com Gomes e Moraes (2012) o livro é um suporte da escrita e


mesmo o avanço da tecnologia permitindo o acesso rápido à informação escrita, não
precisa ser temido como inimigo da leitura. Para eles o livro é arma poderosa em favor
da disseminação da literatura e provocar o gosto de “quero mais” histórias.
18

Entre várias coisas, o livro infantil é um instrumento fundamental para a


aprendizagem do aluno. Através dele pode-se ler ou contar histórias ou só mostrar as
ilustrações, podendo influenciar de alguma forma no aprendizado. De acordo com
Garcez (2008), é fundamental que as crianças tenham contato direto com o livro e não
com textos copiados porque o livro é fascinante, provoca prazer e desperta a
curiosidade. A autora fala sobre a curiosidade que tem as crianças, mas chama
também a atenção para o papel do mediador, afirmando que se pode partir da
curiosidade inicial para chamar sua atenção para a leitura.

Na mesma direção, segundo Dinorah (1995), o livro leva a criança a


desenvolver a criatividade, sensibilidade, sociabilidade, senso crítico e imaginação
criadora. Observa-se que através do livro, a criança pode potencializar sua
criatividade, podendo se tornar sensível a algumas situações vistas na história ou
fatos da realidade. Também aprende a se integrar com os grupos, conviver em
sociedade e desenvolver o senso crítico, pois desenvolve a capacidade de criar
opinião própria para defender seu ponto de vista. E, por último, a capacidade de
imaginação criadora, através do que vê ou escuta, imagina os acontecimentos que
estarão por vir.

Abramovich (1997) diz que devemos ler histórias para as crianças sempre,
que as histórias têm poder transformador. Através delas podemos ter a emoção de
“sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a idéia do conto
ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse
momento de humor, de brincadeira, de divertimento [...]” (ABRAMOVICH, 1997, p.17).
Ela diz ainda que:

É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a


tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões. É uma
possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das
soluções que todos vivemos e atravessamos- dum jeito ou de outro- através
dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos
(ou não) pelos personagens de cada história[...] (ABRAMOVICH, 1997, p.17).

Segundo a autora, a história, além de ser encantadora, provoca a


imaginação das crianças, o desejo de conhecer mundos novos, ouvir novas histórias
para viajar e se encantar, conhecer novos personagens. Através das histórias as
crianças podem descobrir lugares diferentes, tempos diferentes, outras maneiras de
agir e de ser. Além disso, podem sentir diferentes sentimentos, dependendo de cada
19

parte que está sendo contada, tais como tristeza, raiva, irritação, bem-estar, medo,
alegria, pavor, insegurança, tranquilidade e vários outros. Pode ainda viver
profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem está ouvindo.

É necessário conhecer o livro antes de ler para as crianças. Caso contrário,


é possível que o narrador demonstre não estar familiarizado com alguma palavra, ter
dificuldade na pronúncia do nome de algum personagem ou lugar, dar pausas nos
lugares errados, entre outros. Assim, é importante ler o livro, sentir a história, se ela
nos emociona ou nos irrita. “Assim, quando chegar o momento de narrar a história,
que se passe a emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e
que, por isso, chega ao ouvinte [...]” (ABRAMOVICH, 1997, p. 20). O contador pode
contar qualquer história para as crianças, só é preciso que conheça, ache boa e bela.
Esse critério de escolha é o narrador quem constrói.

Ouvir histórias é viver um momento de gostosuras, de prazer, de divertimento


dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... O livro da
criança que ainda não lê é a história cantada. E ela é (ou pode ser) ampliadora
de referenciais, poetura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada,
suspense a ser resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas,
lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado,
belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que uma boa história
provoca... (ABRAMOVICH, 1997, p.24).

Os livros feitos para crianças encantam pessoas de qualquer idade. Eles


são experiências de olhares. “De um olhar múltiplo, pois se vê com os olhos do autor
e do olhador/leitor, ambos enxergando o mundo e os personagens de modo diferente,
conforme percebem esse mundo[...]” (ABRAMOVICH, 1997, p.33).

A autora fala do livro infantil como objeto que tem muito a se observar,
perceber, comentar, olhar, e opinar a respeito dele. Tem a capa, se ela é bonita,
colorida e atraente, ou se é feia e sem graça, nada a ver com a narrativa. Outro ponto
a observar é o título, que é o primeiro contato que se tem com o livro, ver se a partir
das imagens da capa dá para saber o título da história.

Os autores citados ressaltam que a criança deve ser valorizada e educada


de acordo com sua idade, que sejam oferecidos instrumentos necessários para que
tenha uma educação de qualidade. E o livro faz parte do acervo que proporcionará
uma educação de qualidade, conforme foram citadas as vantagens que podem ser
oferecidas às crianças.
20

Com isto Dinorah (1995) diz que atualmente, “a multiplicidade de propostas


na literatura infantil, irá depurar o gosto do leitor” (DINORAH, 1995, p. 63). Existem
diferentes tipos e opções de leituras infantis. Resta ao leitor realizar suas escolhas.
Isto aponta para o fato de que a leitura para crianças pequenas deve ser algo
agradável, voltada para seus interesses e características de desenvolvimento. De
acordo com isto, a autora esclarece:

O texto para os pequenos como já mencionamos, não pode ser “comum”.


Deverá imediatamente possuir aquela qualidade de estilo, com a marca da
fluidez, colorido e leveza que, reconhecida pelo adulto, possa dirigir-se ao
universo receptivo do leitor mirim. Diria mesmo que, por esta particularidade,
a escrita da literatura infantil é a mais difícil de se conseguir (DINORAH, 1995,
p. 61).

A autora ainda afirma que a criança precisa de algo que entenda, se


identifique e entusiasme, que seja acessível e translúcida, isto é, algo que, além de
diverti-la, possa promover sua aprendizagem porque fica mais fácil entender quando
se gosta do que vê e do que lê.

Abramovich (1997) discute esse aspecto ao denunciar o modo como a


literatura chega à escola:

Tudo bem... A literatura infanto-juvenil foi incorporada à escola e, assim,


imagina-se que por decreto todas as crianças passarão a ler... Até poderia
ser verdade, se essa leitura não viesse acompanhada da noção de dever, de
tarefa a ser cumprida, mas sim de prazer, de deleite, de descoberta, de
encantamento... (ABRAMOVICH, 1997, p.140).

Para a autora, esta seria uma forma mais proveitosa para as crianças
porque fariam algo que gostam sem sentir o peso da obrigação de ter que fazê-lo.

Oliveira (1996), ao referir-se à qualidade na literatura, afirma ser preciso


que cative o leitor, que seja cheia de sentido e de expressão para o novo, geradora
de vida e capaz de impulsionar o ato criador do leitor.

A literatura infantil deveria estar presente na vida da criança como está o leite
em sua mamadeira. Ambos contribuem para o seu desenvolvimento. Um,
para o desenvolvimento biológico; outro, para o psicológico, nas suas
dimensões afetivas e intelectuais. A literatura infantil tem uma magia e um
encantamento capazes de despertar no leitor todo um potencial criativo
(OLIVEIRA, 1996, p.27).

A autora fala que desde muito cedo a criança deve entrar em contato com
a obra literária escrita, para que ela tenha uma compreensão de si e do outro,
desenvolva seu potencial criativo e amplie seus horizontes e seu conhecimento;
21

criando uma visão melhor sobre o mundo e a realidade que a cerca. “A literatura
infantil reproduz nas histórias o mundo de uma forma simbólica, através da fantasia,
do fantástico, do sonho, do mágico” afirma. (OLIVEIRA, 1996, p.54). A literatura faz a
criança viver o mundo da fantasia através da própria imaginação.

Diante disto, através das histórias lidas ou ouvidas a criança vai ganhando
experiências. Essa experiência pode começar bem cedo. À medida que a mãe vai
conversando, contando e cantando para seus filhos, mais possibilidades eles terão de
se tornar um futuro leitor. De acordo com Gomes e Moraes:

Se a oralidade é uma das mais antigas guardiãs da sabedoria popular,


sabemos que ela tem o poder do ensinamento, da diversão, da cura e da
linguagem. Poder que os educadores precisam resgatar quando na
atualidade há uma preocupação constante com o incentivo à leitura. Incentivo
este que muitos já perceberam não se encontra apenas na prática da leitura
dos livros, mas desde o momento em que a mãe canta acalantos para sua
criança (GOMES; MORAES, 2012, p. 29).

A leitura literária aproxima o real do imaginário. Debus afirma que “As


narrativas literárias propiciam às crianças o encontro com uma produção que lida
simbolicamente com o real, diferente dos relatos pessoais” (DEBUS, 2006, p.20). E
completa: “Dessa forma, promover o encontro delas com a leitura literária significa
ampliar o seu repertório lingüístico e cultural, possibilitando-lhes uma outra
compreensão da realidade” (DEBUS, 2006, p.21).

A leitura literária no cotidiano da educação infantil não é pensada só como


vôo solitário. Ela é revoada de um bando para um mesmo local: o imaginário,
onde se encontra mais do que um território mais quente, pois reside ali a
festividade com que a literatura pode presentear o leitor. É uma iniciativa
coletiva que pode induzir a criança ao prazer mais amplo do ato de ler
(DEBUS, 2006, p. 123).

Como diz a autora, através da literatura infantil a criança adquire um novo


repertório linguístico e a compreensão da realidade, de modo que esta leitura deve
fazer parte do universo da criança e da rotina pedagógica, tal qual faz o brinquedo.

A escolha de uma boa história é essencial para provocar a atenção do


público, atiçar o leitor, fazendo com que imagine, interprete, crie. Quando isso
acontece e o pequeno leitor imagina tudo que vai acontecendo na história, a tendência
é cada vez mais gostar de ler. Oliveira (1996) diz que o contato que a criança tem com
a história, lendo ou ouvindo, guarda aspectos tanto formativos como informativos. A
história por mais simples que seja, é uma porta que se abre para novos valores,
22

formas de viver, é uma diversidade de formas e cores que leva a criança à


aprendizagem.

De acordo com Garcez (2008) para que ocorra aprendizagem é necessário


que sejam lidos textos lúdicos e literários. Esses momentos despertarão o interesse
da criança, pois muitas delas por ajudarem seus pais nas atividades domésticas, não
encontram tempo para ler e nem condições de obter livros acessíveis em casa. Assim,
é preciso que essa prática faça parte das atividades escolares planejadas.

Oliveira (1996) fala que ler não é uma prática constante de muitas crianças.
Para se tornar um leitor é preciso que a criança leia. “Mas no caso de leitores infantis,
tal exercício compreende algo mais do que simplesmente tomar um livro nas mãos e
decodificá-lo através da leitura” (OLIVEIRA, 1996, p. 18). Para esses leitores infantis
é necessário que sejam livros ilustrados, coloridos e atrativos para que gostem e se
interessem por ler, nem que seja só através das imagens, já é um começo para tornar-
se leitor pleno.

2.2 FORMAÇÃO LEITORA NA FAMÍLIA E NA ESCOLA

Segundo Dinorah (1995) é possível formar o leitor através da pedagogia do


afeto e da liberdade. Ela fala ainda que:

Segundo estatísticas internacionais, forma-se o leitor mais ou menos até os


quatorze anos de idade, num processo que deveria ter raízes no lar, onde a
criança, desde os primeiros meses, tivesse chance de conviver com a magia
das histórias, lendas e poesias, narradas pelos pais, e com livros adequados
a esta fase (DINORAH, 1995, p.18).

Como a autora diz, os pais também são responsáveis para que os filhos se
tornem leitores, isto não é só papel da escola. Entretanto, sabemos que existem
famílias que não tem condições de ter livros em casa para os filhos lerem. Somados
a essa condição, temos muitos casos de pais analfabetos e, mesmo valorizando a
leitura, não podem mediá-la integralmente, interferindo na formação leitora de seus
filhos.

Estes aspectos redobram a responsabilidade da escola na formação leitora,


entretanto, concordamos com Cavalcanti (2002) ao falar sobre a importância que a
família tem na formação do leitor. É nos primeiros anos, ainda na infância que essa
fase é marcada pelas relações desenvolvidas entre os pequenos e os grandes, pais e
23

filhos. É na família que se adquirem os primeiros hábitos, os valores e os gostos, é


com os pais que as crianças vão aprendendo os costumes. Se mostrar para a criança
a importância do livro desde cedo, ela pode crescer com esse pensamento,
minimizando possíveis preocupações com relação à leitura.

Segundo Cagliari (1997), é possível afirmar que quando a criança cresce


rodeada de livros, quando seus pais leem ou contam histórias quando pequena, seu
hábito pela leitura vai existir desde cedo, e quando crescer não vai ter dificuldade de
compreender os textos. E quando essa criança começar a frequentar a escola não
terá dificuldade com a realidade que encontrará porque já vai estar familiarizada com
o universo da leitura.
Garcez (2008) fala que “Textos atrativos, curtos, simples, com vocabulário
familiar ao universo da criança, com ilustrações atraentes facilitam a inserção do novo
leitor ao mundo da leitura” (GARCEZ, 2008, p.26). E que “A criança deve ter a
liberdade de se arriscar a ler textos maiores de acordo com o seu nível de competência
em leitura” Idem, 2008, p.26).
Fica mais fácil para compreensão da criança pequena uma leitura simples,
de vocabulário que ela conhece, assim ela pode se interessar pela leitura e por outros
tipos parecidos, ou seja, livros com ilustrações e textos curtos. Mas se a sua leitura já
for bem desenvolvida, ela pode começar a ler textos maiores. Entretanto, esse
aspecto é insuficiente para mobilizar a atenção da criança para a leitura. É necessário
pensar aspectos literários para envolvê-la.

Nesta direção Oliveira (1996) fala sobre a formação do leitor e argumenta:


“é na relação lúdica e prazerosa da criança com a obra literária que se forma o leitor;
que é na exploração simbólica da fantasia e da imaginação que desabrocha o ato
criador e se intensifica a comunicação entre texto e leitor” (OLIVEIRA, 1996, p. 16).

Gomes e Moraes afirmam que:


[...] O gosto de ler não passa apenas pela obrigação nem pelo tato, mas pelo
contato amoroso e prazeroso do ler com, do ouvir, olhos nos olhos, hálito
como alento, algo que as mães e os avós souberam usar à noite, ao pé da
cama, ou os peregrinos, ao pé do fogo, para criar laços e simpatias, entre
eles mesmos e para com outros, a distância em rememoração. Assim as
narrativas sobreviveram para serem escritas. E recontadas. (GOMES;
MORAES, 2012, p. 65).
24

Como já foi citado, quando desde cedo a criança é estimulada à leitura


ouvindo seus pais contando histórias, mais possibilidades terá em formar-se o gosto
em ler. Segundo Abramovich (1997) a voz da mãe ou de qualquer outra pessoa
familiar é o primeiro contato que uma criança tem com um texto oral, através de contos
e histórias ou qualquer outro tipo de leitura.

Garcia (2000) entrevista alguns autores sobre o conceito de leitor e de


leitura. Entre eles Ziraldo diz que ao ler para o filho desde pequeno, com o passar do
tempo, vai surgindo na criança o prazer pela leitura. Quando começa a ir para a escola
vai aprendendo a ler, vai descobrindo o caminho da leitura e isso dá prazer a qualquer
criança. Nesta mesma direção, Oliveira conceitua:

Leitura-prazer, em se tratando de obra literária para crianças, é aquela capaz


de provocar riso, emoção e empatia com a história, fazendo o leitor voltar
mais vezes ao texto para sentir as mesmas emoções. É aquela leitura que
permite ao leitor viajar no mundo do sonho, da fantasia e da imaginação e até
propiciar a experiência do desgosto, uma vez que esta é também um
envolvimento afetivo provocador de busca de superação (OLIVEIRA, 1996,
p.28).

De acordo com a autora a leitura que dá prazer é aquela que causa emoção
no leitor, que ele sinta vontade de ler várias vezes a mesma história, faz com que ele
viaje por vários mundos ao mesmo tempo, e tenha diversão nessas viagens cheias de
descobertas.

Entre os autores citados por Garcia (2000) podemos citar Ana Maria
Machado, Luiz Antônio Aguiar, Roger Melo, Roseana Murray. Ziraldo, entre outros,
enfatiza o papel da escola em relação à formação dos leitores. Luiz Antônio Aguiar diz
que “A escola tem um papel importante para a formação do leitor, porque em casa
não se forma mais leitores. Não há tempo, não existe o hábito, o gesto. Todo esse
prejuízo da não-leitura, hoje em dia, está dentro de casa” (GARCIA, 2000, p.90).

Já Roger Melo fala na possibilidade de a escola oferecer uma biblioteca


de fácil acesso aos livros em sala de aula para formar o gosto pela leitura. “Os alunos
têm que ler livros diferentes porque cada um tem um gosto. Não deve haver a
obrigação de todos lerem o mesmo livro” (Idem, 200, p.126-127).

Roseana Murray diz que a escola deve buscar meios de chamar a atenção
dos alunos para a leitura, algo que os façam apaixonar-se. “Deveria haver maneira de
25

envolver a leitura com outras matérias. Mas tudo é muito separado. Embora na moda,
a interdisciplinaridade nunca acontece” (Idem, 200, p. 155).

Nesse sentido Belinky et al destaca que:

O papel da escola em geral, e o do professor de português, em particular, é


muito importante. É só na escola que a esmagadora maioria dos nossos
alunos entra em contato com a literatura pela primeira vez. Os livros indicados
pela escola são os primeiros exemplos de textos literários que os alunos
lêem. Esse contato inicial é decisivo para estimular ou não o gosto pela
leitura, para desencadear ou não um processo fecundo de formação de
leitores (BELINKY et al, s/d, p.40).

De acordo com o citado, a escola é o local em que a maior parte das


crianças se depara com os livros pela primeira vez, a literatura infantil não faz parte
do cotidiano ainda, e só começam a conhecer quando chegam à escola. Como se
pode perceber, a responsabilidade fica maior para a escola e professores para tornar
aquela criança leitora.

Em relação às atividades escolares que envolvem leituras de livros, de


acordo com Garcez (2008) “É importante reservar um tempo para a troca de
experiência sobre a leitura. Nesses momentos, as crianças devem falar livremente,
sem cobranças ou ameaças” (GARCEZ, 2008, p.20). As crianças gostam de falar o
que pensam, o que sabem, por isso é relevante reservar momentos como esses para
se sintam importantes e percam aos poucos a vergonha de falar do que gostou na
história, de ouvir os colegas, ou seja, ensinando e aprendendo uns com os outros,
despertando em seus colegas o desejo de ler o livro a partir de seus comentários.

Abramovich discute sobre a leitura crítica da criança:

Ao ler uma história a criança também desenvolve todo um potencial crítico. A


partir daí ela pode pensar, duvidar, se perguntar, questionar... Pode se sentir
inquieta, cutucada, querendo saber mais e melhor ou percebendo que se
pode mudar de opinião... e isso não sendo feito uma vez ao ano... mas
fazendo parte da rotina escolar, sendo sistematizada, sempre presente- o que
não significa trabalhar em cima dum esquema rígido e apenas repetitivo
(ABRAMOVICH, 1997, p.143).

A criança pode ou não concordar com o autor ou com o final da história,


pensar que seria melhor se tivesse terminado do jeito que ela imaginou. Estas
inquietações sobre a história são para a autora a leitura crítica.

Pois é preciso saber se gostou ou não do que foi contado, se concordou ou


não com o que foi contado... é perceber que ficou super- envolvido, querendo
ler de novo mil vezes (apenas algumas partes, um capítulo especial, o livro
26

todinho...) ou saber que detestou e não querer mais nenhuma aproximação


com aquela história tão chata, tão boba ou tão sem graça... é formar opinião
própria, é ir formulando os próprios critérios, é começar a amar um autor, um
gênero, uma idéia, um assunto e, daí, ir seguindo por essa trilha e ir
encontrando outros e novos volumes... (que talvez façam o amor pelo autor
redobrar, ou provoquem uma decepção... isso tudo faz parte da vida)
(ABRAMOVICH, 1997, p.143-144).

Com uma atitude crítica a criança formará sua opinião sobre determinada
história, levando-a a ler novamente ou, caso não goste, não vê-la mais. Entre este e
outros motivos a leitura para crianças deve ser atraente e agradável.

2.3 LER HISTÓRIAS É DIFERENTE DE CONTAR

Cavalcanti (2002) afirma que “contar histórias é diferente de ler histórias”


(p. 72). De acordo com isto, ler histórias é ler o que está escrito nos livros, sem alterá-
los, e quando se referem à contação de histórias, pode-se modificar o texto usando
suas próprias palavras. Segundo Busatto (2006), contação de histórias é um
neologismo, uma expressão que se refere ao ato de contar ou narrar histórias. Neste
caso, quem conta pode alterar parte do texto narrativo, sem, entretanto, desfazer-se
de sua essência.

De acordo com Scapatício (s/d) que melhor esclarece essas diferenças, há


modos específicos de agir nas duas situações: A autora cita como característica
principal da leitura de histórias a preservação das palavras do autor, mantendo-se fiel
ao texto, tendo como objetivo desenvolver o comportamento leitor nas crianças.
Através da leitura conhece o texto e as imagens e aprende a opinar sobre a história,
falando se gostou ou não do que ouviu e o porquê, conhecendo também o ponto de
vista do colega. Cita como preparação para a história que escolha pensando na
qualidade literária e adequada à faixa etária da turma.

A autora também recomenda que o professor organize a turma colocando


sentados próximos a ele para que todos possam ouvir a leitura e visualizar as imagens
do livro. Para o início da atividade, apresentar o título do livro, o autor e o ilustrador.
Antecipar possíveis dúvidas e explicar o porquê da escolha da história. Se a história
fala de um determinado lugar, fale um pouco desse local. Isso é importante para que
as crianças fiquem em silêncio durante a leitura. Fazer referência do livro como um
bem cultural onde a histórias é guardada.
27

Devemos tomar alguns cuidados durante a leitura para sermos sempre fiéis
ao texto. Não substituir palavras e nem fazer interrupções durante a narrativa. Mudar
o tom de voz de acordo com os personagens. Depois da história convidar a turma para
comentar sobre o que ouviram e das ilustrações, abrirem espaços para perguntas.
Oferecer o livro para que manuseiem e analisem como o visual ajuda a contar o
enredo.

A autora cita como característica principal para a contação de histórias,


pequenas modificações sofridas no texto. Isto é, o contador tem liberdade de
improvisar e agregar elementos, pode inclusive, nunca contar uma história da mesma
forma. Tendo como objetivo ampliar o repertório da cultura oral que sofre mudanças
de conteúdo de geração em geração. Uma forma de preparar-se é conhecer bem a
história e os personagens, já que será contada sem o auxílio do texto. Pode enriquecer
a contação com músicas, fantoches e outros recursos. Deve-se organizar a turma de
modo que se acomodem em torno do contador para ouvir com clareza.

Antes de dar início à atividade, a autora orienta fazer uma introdução rápida
sobre o enredo e falar sobre a opção de contar aquela história. Também antecipar
possíveis dúvidas e informar que é importante o grupo se manter em silêncio para
ouvir a narração. As perguntas devem ser respondidas no término da história. Ter
cuidado em preservar os detalhes da história. Enriquecer a contação com movimentos
corporais, ficar atento à impostação de voz, respeitando o desenrolar da trama e as
características dos personagens. Depois que terminar a contação sugere que as
crianças apresentem suas opiniões sobre a história.

Como se percebe, a autora diz o que é preciso fazer antes, durante e depois
da história, sendo ela lida ou contada. Mas há diferenças de uma para a outra
estratégia na forma de narrar. As duas estratégias, seja qual for delas, sempre será
uma forma em que a criança terá para explorar seu imaginário, além de compreender
e enriquecer a linguagem literária. Ler e contar não são as mesmas coisas por mais
que pareçam, por isso que cada uma delas é preciso de uma postura e
comportamento diferenciado tanto por parte de quem está apresentando a narrativa e
até mesmo das crianças. Entretanto, um aspecto é comum às duas práticas narrativas:
quanto mais as crianças gostarem de ouvir histórias, mais vão gostar de lê-las. As
narrativas serão o impulso inicial para que sejam atraídas para o gosto pela leitura.
28

A respeito das diferenças entre ler e contar histórias, Cavalcanti (2002)


também cita algumas condutas. Ela diz que ao contar histórias com o livro é preciso
conhecer muito bem o texto, fazer com que o público fique atento a história para que
possa entrar no mundo da fantasia, transmitir confiança, apresentar o livro para o
público mostrando a capa e falando o nome do autor, título e editora. Mostrar as
imagens aos ouvintes, segurar o livro sobre as mãos de forma correta, aberto,
transmitindo carinho e cuidado com aquele objeto, usar as pausas corretamente ao
ler o texto e sempre demonstrar que o conhece muito bem. Usar as pontuações, tom,
ritmo e volume do texto, ficando atento as reações dos ouvintes e permitir que eles
expressem seus sentimentos sobre o que foi lido.

A autora acrescenta que, ao contar sem o livro, grande parte do que é


apontado para a leitura também é válido, sugere-se ainda finalizar a história com uma
tradição popular como: “entrou pela perna do pinto e saiu pela perna do pato, seu rei
mandou dizer que você conte mais quatro”, entre outras. O narrador ao ler ou contar
deve estar ciente do como fazer para diferenciar uma da outra.

Garcez (2008) diz que além das histórias lidas com o livro nas mãos, elas
podem ser contadas de forma espontânea, memorizadas, dramatizadas, com
fantoches, slides, filmes e que os livros sem textos são muito apreciados pelas
crianças. “Eles servem a atividades de coordenação da narrativa e de criação de
“histórias orais ou escritas” (GARCEZ, 2008, p.25). Quando usamos um livro que
contém só imagens e não textos, é necessário trabalhar de início, uma conversa
introdutória, falando sobre o ilustrador, e falar que a história é contada sem palavras,
mas podemos compreender através das figuras.

Podemos perceber claramente a importância da contação de histórias tanto


com o livro como sem ele. Também é importante uma breve introdução antes da
história, só o tempo para que as crianças se predisponham a escutá-la, como por
exemplo, se a história vai falar sobre animais, logo surgirão interrupções de
depoimentos das crianças de que tem um gatinho, um cachorro, passarinho etc.
Contar com o livro é importante porque através das ilustrações a criança é capaz de
recontar a história, mesmo sem ter ouvido antes, fazer uma pré-leitura a partir das
figuras, uma busca de conhecimentos a partir do que a criança já sabe e conhece.
29

As gravuras favorecem, sobretudo, as crianças pequenas, permite que elas


observem detalhes e contribuem para a organização de seu pensamento.
Isso lhes facilitará mais tarde a identificação da idéia central, fatos principais,
fatos secundários etc.(COELHO, 1999, p. 9).

E contar sem o livro também é importante porque faz com que a criança
seja capaz de imaginar a história. Segundo Coelho (1999), além de proporcionar a
imaginação permite também que note as diferenças entre os personagens e isso
facilitará com que a criança compreenda alguns valores da conduta humana. Faz com
que enfrente e supere o medo dos perigos que sente em sua volta.
Coelho ainda diz que podemos e como devemos contar com o livro.
Há textos que requerem, indispensavelmente, a apresentação do livro, pois a
ilustração os complementa... Essa apresentação, além de incentivar o gosto
pela leitura (mesmo no caso dos ainda não alfabetizados), contribui para
desenvolver a seqüência lógica do pensamento infantil (COELHO, 1999,
p.32-33).

Ela ressalta ainda a importância de contar com o livro. Quando contamos


uma história com o livro, devemos mostrar esse objeto virado para a classe para que
possam ver as ilustrações da página. Ela sugere ainda que viremos cada página
lentamente com uma mão, para que a outra sustente a parte inferior do livro. A autora
sugere ainda que podemos contar história de cor. Chamando a atenção que para
narrar uma história é preciso conhecê-la para contar com suas palavras, e na hora do
conto não precisar ficar consultando o livro. Sem esquecer que narrar não é só ler a
história. Neste caso, o professor precisa interpretar a história, por exemplo,
tonalizando sua voz, como se enfatizou anteriormente.

2.4 CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E A PSICOPEDAGOGIA COMO RECURSO


PSICOPEDAGÓGICO

A contação de história vem sofrendo grandes mudanças transformações


ao longo dos anos e também na sua estrutura e importância na formação social do
sujeito, proporciona ainda no âmbito escolar uma aprendizagem significativa e
diferenciada de forma proveitosa.
Dessa forma, a educação infantil por ser uma etapa inicial da escolaridade
merece um olhar especial, nesse caso, cabe aos professores apropriar-se de
metodologias lúdicas, tendo como eixo em suas práticas pedagógicas a interação e a
brincadeira, permitindo adentrar no mundo infantil em busca de uma maior interação
com o ser aprendente que é a criança, oportunizando o despertar para o prazer de
30

estar e permanecer neste processo escolar. É neste ponto que a contação de história
está incluída.
É neste momento que falamos a importância da contação de histórias na
educação infantil, fazendo uma análise psicopedagógica, compreendendo a
importância da contação de história para o desenvolvimento intelectual, psicológico e
moral da criança, incentivando-a a desenvolver sua criatividade de maneira
desafiadora e prazerosa. Dessa forma, uma abordagem psicopedagógica para uma
melhor aprendizagem é de grande valia, referenciando uma ação em busca da
identificação de situações problemas que venham interferir no processo de ensino e
aprendizagem, focalizando o estímulo para o gosto da leitura no processo da
educação infantil.
Nesse sentido a criança ao entrar nesse universo lúdico ela é estimulada a
comparar o real com o seu imaginário. Constrói aprendizagens novas, e ainda
reformula seus conhecimentos prévios através destas comparações. As crianças
vivenciarem a contação de história desde os primeiros anos de sua vida, com o passar
do tempo são transformadas em grandes leitores, tornando assim o ato de ler uma
prática constante, tornando-se seres críticos e reflexivos com relação à massificação
tecnológica. Fica claro, que a contação de história é peça fundamental para o contato
da criança com a leitura, oportunizando assim uma maior interação com os meios
culturais que lhes são expostos em seu convívio social.
Mas, diante de tudo isto, é preciso construir instrumentos e meios que
desenvolvam o senso crítico da criança em suas aprendizagens, pois acreditamos que
quanto mais oportunidades elas tiverem de ouvir, ver e sentir leituras, maior será seu
repertório para produção e reprodução das ideias e maior será ainda a sua
sensibilidade na interação com o outro.
A contação de história faz a criança assemelhar dados da realidade como
regras, conhecimentos sociais, e a trabalhar conflitos internos por intermédio da
representação simbólica, também contribui para o desenvolvimento infantil, uma vez
que resgata no lúdico a aprendizagem, proporcionando um contato prazeroso com a
linguagem escrita, sendo uma importante ferramenta não apenas para alfabetização
como também para o conhecimento de mundo além do alto conhecimento.
A contação de histórias se constitui como um mecanismo de auxílio da ação
psicopedagógica com as crianças que possuem dificuldade no processo de
aprendizagem, dessa forma, contribuindo assim, para a superação dessas
31

dificuldades. Com isto, podemos realizar diversas composições de trabalho, como por
exemplo, leitura, contação de história, releituras, construções e apresentações de
teatro, contribuindo na construção de interpretações, construções, ampliação de
vocabulário, motivando a construção de suas próprias histórias.
Essas atividades garantem com que as crianças convivem com a escrita e
com a leitura e assim, serem estimuladas a gostarem de ler e a trabalhar com suas
dificuldades de forma lúdica e prazerosa.
A contação de histórias na educação Infantil, na sessão de psicopedagogia,
pode ter a finalidade de despertar na criança o gosto pelos livros, pelas letras e pela
leitura, reestabelecendo um vínculo que pó de ter se perdido com as dificuldades de
aprendizagem.
A psicopedagogia enquanto ciência que tem como objeto de estudo a
aprendizagem, busca por meio de seus profissionais a resolução dos possíveis
problemas que possam intervir no processo de ensino e aprendizagem, além de
desenvolverem ações preventivas nas instituições educacionais visando à diminuição
dos possíveis problemas nesse processo dedicam-se em sua atuação, a observação,
análise e intervenção quando necessário.
Com isto Fagali, (2008, p.9) ressalta sobre esta ciência, diz que: “A
psicopedagogia surgiu como uma necessidade de compreender os problemas de
aprendizagem, refletindo sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento
cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas situações de aprendizagens”. Esses
estudos psicopedagógicos vêm no decorrer dos tempos desmistificando vários
problemas com relação ao ensino e aprendizagem, seja o psicopedagogo institucional
ou clínico, em junção com outros profissionais de áreas afins desenvolvem cada vez
mais excelentes trabalhos na área educacional. Por exemplo, Sargo (1994 apud
MOURA 2010 p.23) fala a respeito disso quando diz que:
O trabalho psicopedagógico nas escolas se caracteriza por possibilitar
reflexões, observações e mudanças examinando os diferentes
caminhos existentes na produção do conhecimento sem que se fixem
“culpados” pelo fracasso escolar, uma vez que o objetivo maior é o de
restaurar a relação fundamental entre ensinante-aprendiz na busca do
conhecimento [...].

Entendemos que o psicopedagogo é um mediador que contribuirá na


prática educativa, quer seja na construção de recursos; no auxílio do professor, quer
32

seja, na prevenção ou superação das dificuldades de aprendizagem e em vários


outros aspectos. Assim, Sá; Valle; Dellou (2008, p.22) comentam que:

O psicopedagogo procura, em sua ação, mobilizar o indivíduo,


considerando que os processos cognitivos como os de atenção,
percepção e memória são determinados pelas condições de maturação
neuropsíquica orientada pela emoção e pelo afeto, pois os sentimentos
de prazer e sucesso são determinantes na aprendizagem.

Diante disso, a contação de história como recurso psicopedagogia


contribuirá para desenvolver os processos de aprendizagem facilmente, com isto é
importante que as crianças desde os primeiros anos da sua vida possam ter contato
com esse mecanismo lúdico, levando-as a comportamentos como interação, de
criação e recriação. Nesse contexto, analisamos a importância da contação de história
na educação infantil, como um momento de ludicidade e prazer, inserindo os
pequenos atores ao mundo da leitura mediando os caminhos rumo à alfabetização e
se tornados leitores.
Nesse sentido, fazendo uma abordagem psicopedagógica sobre a
importância da contação de histórias na educação infantil, podemos compreender que
é um fator essencial na formação do leitor, visto que a maneira encantadora contribui
para as crianças sonharem, imaginarem, mergulharem e sentirem, alimentando a
necessidade de aprender, buscando o prazer que lhes foi provocado em momentos
onde as ouviam dos seus avôs, pais, irmãos, tios, primos e mestres contando histórias
para elas.
As histórias utilizadas pelo psicopedagogo têm o poder de tornar o
momento da criança com mais alegria, prazer e significado. Ela promove descobertas
e desejos, ajuda a criança expor e pode fazer isso através do simbólico e das imagens.
Segundo Bossa (1994):

Pensar a escola à luz da Psicopedagogia, significa analisar um


processo que inclui questões metodológicas, relacionais e
socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem
aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade (Bossa,
p. 17, 1994).

A psicopedagogia utiliza atividades como instrumento para sua


intervenção, o contar histórias pode ser considerado um rico recurso psicopedagógico.
Este recurso quando utilizado auxilia na elaboração dos conflitos internos,
favorecendo a estruturação da personalidade e estimula e facilita na elaboração dos
33

processos cognitivos. De maneira lúdica, fácil e subliminar, possibilita o brincar,


permitindo reformulações estruturais na maneira de ser, tornando se um mecanismo
para lidar com as angústias e fantasias do ser humano.
34

CAPÍTULO III - ANÁLISE E DISCURSÃO DOS DADOS

Para analisar a prática narrativa como um processo que contribua ao


incentivo à leitura e compreender as concepções da professora a respeito do ler e
contar, organizamos os dados em três categorias: relação entre a leitura e contação
de histórias; envolvimento da criança com a narrativa; influência das práticas
narrativas na formação leitora. A primeira categoria tenta explicar a relação que existe
entre a contação e leitura de histórias do ponto de vista da entrevistada. A segunda
aborda aspectos sobre a narração, o que as crianças preferem ou no que mais se
envolvem se é a contação ou leitura de histórias, e a terceira categoria expõe o
pensamento da entrevistada a partir de sua experiência em relação à influência das
narrativas para a leitura.

3.1 RELAÇÃO ENTRE A LEITURA E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS

As narrativas influenciam na aprendizagem das crianças possibilitando o


encontro com novas palavras que cada vez mais enriquecem seu vocabulário e
despertam o interesse por narrativas. Contribuem tanto no desenvolvimento oral da
linguagem infantil como no seu vocabulário. DEBUS (2006) fala a respeito disso:
O contar histórias pode influenciar direta e indiretamente na aprendizagem
efetiva da leitura e da escrita, pois, por meio da narrativa, a criança entra em
contato com novos vocábulos, com estratégias de linguagem, já que a
estrutura meio e fim das narrativas auxiliam a criança na elaboração de suas
próprias histórias. O leitor-ouvinte começa a ser exposto naturalmente ao
mundo ficcional, o que lhe desperta a sensibilidade e a criatividade. (DEBUS,
2006, p.75).

A contação ou leitura de histórias feitas em sala de aula tem um objetivo


principal que é formar o gosto pela leitura na criança. Abramovich (1997) fala da
importância de contar histórias para crianças para sua formação. Ela diz que “Escutá-
las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser um leitor é ter um caminho
absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo” (ABRAMOVICH,
1997, p.16). Pode-se perceber que é importante a forma que o professor conta história
para seus alunos para que os mesmos tomem o gosto pela leitura.
A professora entrevistada relata sobre sua preferência em oferecer às
crianças a leitura e contação de histórias. Ela diz o seguinte:

“[...] no início, a leitura da história para eles é mais difícil, eles se concentram
menos, e ainda mais devido à faixa etária deles de três anos. Então no início
35

que mais chama atenção deles no início do ano letivo é a contação de


histórias, só que como decorrer do tempo, duas, três, quatro semanas, a
gente sempre vai mostrando o livro e depois com o tempo a gente vai lendo,
então assim, eu gosto de mostrar os dois, sempre o livro e contar, a gente
mescla na semana”.

É possível perceber através do posicionamento da professora e das


observações feitas que ela utiliza as duas formas de narrativas para seus alunos.
Constatamos que o jeito que ela manuseia o objeto utilizado na contação de histórias
faz com que a criança fique sempre atenta para ouvi-la. Elas parecem se encantar
mais ainda quando ouve a professora mudar o seu tom de voz, dando vozes
diferenciadas a cada personagem, prendendo-se a história até o fim. Como disse na
fala acima, a idade da criança de início influencia a escolha da forma narrativa. Contar
dá mais abertura para o uso de recursos que prendem a atenção das crianças. Um
pouco depois ela começa a ler histórias porque diz que eles ainda são muitos novos
para se concentrarem na leitura da história utilizando o livro.

Para Abramovich (1997) para a criança de pré-escola ouvir histórias


também é fundamental, pois a construção do gosto pela leitura quanto mais cedo
iniciar, mais cedo há chances de se consolidar.

A respeito da relação entre leitura e contação de histórias a professora cita


que:

“Acredito que existe sim uma relação entre as duas. A contação de histórias
estimula o pequeno leitor a sentir vontade de ler livros, percebendo que as
lindas histórias contadas em sala de aula encontram-se dentro de livros. Mas
para que eles percebam isto é importante que os professores não apenas
contem histórias, mas também leiam para os alunos. Em minha prática
procuro sempre fazer a mediação entre ler e contar. Pois as crianças novas
também sentem a necessidade de saber de onde vem a história, de conhecer
o livro, de manuseá-lo”.

Através do comentário da professora, podemos observar que a mesma


percebe esta relação existente entre as narrativas, e que estas fazem com que o leitor
sinta vontade de ler livros para que percebam que é daqueles livros que saem as
histórias.

Segundo a professora, alguns pais compram livros de historinhas para seus


filhos e até compartilham com os outros coleguinhas da creche. Isto parece
representar que tem um objetivo a alcançar. Lendo ou não para seus filhos essas
histórias, ao deixarem levar para a escola para que os colegas olhem e talvez até
36

rasquem, entendo que eles devem ter conhecimento da importância do livro, das
histórias para as crianças. Entendem que quanto mais cedo isso for instigado, mais
cedo a criança despertará para a leitura porque como foi visto, os livros contêm
ilustrações, e essas ilustrações podem ser lidas pelas crianças. A respeito disso,
Oliveira (1996) diz que:

Contar ou ler histórias para crianças desde seus primeiros anos de vida é
uma prática salutar que desabrocha dentro dela o gosto pela literatura. Dez a
quinze minutos por dia ou por semana dedicados à literatura serão de grande
importância para despertar o gosto pela leitura (OLIVEIRA, 1996, p. 30).

Podemos observar diferenças entre ler e contar histórias, assim como na


forma como as crianças as escutam. A professora fala sobre qual dessas situações
chama mais a atenção delas para que participem durante as narrativas.

“Sim, a gente observa as diferenças né, quando a gente vai ler com o livro, a
gente tem que ter o maior cuidado de como eles vão está organizado na sala
para que todos possam ver. A gente também observa que eles gostam muito
também da leitura da história porque eles gostam de ver o livro, de ver as
imagens, de ver de onde saiu. Com o decorrer do tempo, eles no início,
gostam da história contada, mas quando eles começam a apreciar a leitura
de ver as imagens e ter o contato com o livro”.

De acordo com a professora, depois que a criança envolve-se com a


contação ela começa a inserir o livro, e depois disso elas se envolvem tanto na
contação como na leitura de histórias.

Podemos perceber que para a professora quanto mais cedo a criança


entrar em contato com a leitura, mais cedo poderá se tornar um leitor, lembrando que
esse papel não é só da escola e das professoras, é fundamental que os pais tenham
clareza disso, pois eles também estão inseridos nesse trabalho que é conjunto.

A contação de história como recurso psicopedagógico leva-nos a perceber


que o encantamento pela leitura pode ser despertado nos primeiros meses de vida da
criança: com a leitura de livros, a criança e ou ainda o bebê já consegue identificar
personagens do vilão e do bonzinho, mediante a leitura de expressões faciais que o
contador faz. Neste período a leitura ocorre através das imagens e, na medida em que
a criança amadurece.
De acordo com Bamberger (1988) “a criança entra em contato com a
linguagem das gravuras antes da linguagem das letras. [...] As gravuras ajudam a
tornar o texto compreensível” (BAMBERGER, 1988, p. 50). E Freire define que as
37

palavras dessas histórias são “grávidas de mundo”. Ele nos faz refletir que “a leitura
do mundo precede a leitura da palavra” (FREIRE, 1988, p. 20).
A intervenção do psicopedagogo faz uma aproximação do psicopedagogo
em frente às crianças e adolescentes, inicialmente pode ser uma relação frágil, sem
confiança. Nesse sentido, a leitura ou o ato de contar uma história para Busatto (2005)
é uma experiência de interação com o contador e o ouvinte, aproximando os sujeitos
envolvidos, além de tratar de diversos aspectos do cotidiano infantil e juvenil.
Para que seja criada uma relação de parceria, é necessário estabelecer um
vínculo afetivo, em que o livro pode aparecer como recurso. Além de ser usado para
questões de dificuldades de aprendizagem e interação social, são múltiplas as
potencialidades que uma literatura pode auxiliar e desenvolver. O contar história é
cantar com a voz e o psicopedagogo deve reconhecer seu estilo e atuar nesta arte.
No momento da finalização da leitura ou contação das histórias não devem
ser apresentadas as partes principais, ensinamentos edificantes ou opiniões. Para
cada ouvinte a história tem uma parte significativa para sua vida, assim ocorre à
transferência para o que necessita ser trabalhado de forma psicopedagógica.
Com isto, podemos pensar que cada indivíduo tem suas necessidades que
são questionadas internamente no momento da contação e interpretação dessas
histórias, que deslizam naturalmente. O que pode ser feito é instigar com
questionamentos, sobre o sentido daquela história na sua vida, ou para aquele grupo.

3.2 ENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DURANTE A NARRATIVA

De acordo com Busatto (2006) o contador de histórias deve saber se


expressar corporalmente para provocar a imaginação nos ouvintes para que eles
possam através do contador imaginar os acontecimentos e as cenas obtidas na
história. Os autores Gomes e Moraes também falam que:

Por meio do conto, é possível ampliar os horizontes da imaginação e do


pensamento em direção a realidades própria de outros mundos,
confrontando-as com as que nos rodeiam. Enriquecendo o imaginário das
pessoas, podemos enriquecer sua percepção de mundo (GOMES; MORAES,
2012, p. 265).

Durante as observações, percebi que as crianças pareciam gostar muito da


forma que a professora contava histórias, como se expressava e tonalizava sua voz
dando vida aos personagens. As crianças ficavam atentas para escutá-la, sempre
38

participativas. Quando a professora lia histórias em sala de aula mostrando o livro


cuidadosamente para que todos pudessem ver as imagens, sempre perguntava o que
estavam vendo na capa, eles respondiam “um bebê” (história: O bebê da cabeça aos
pés), no decorrer das páginas tinha as imagens do corpo de um bebê, a cada página
virada ela perguntava “o que é isto” apontando para as partes do corpo, eles
respondiam “olhos, nariz boca, pernas, barriga” entre outras, de acordo com o que ia
mostrando e quando sabiam a função daquela parte do corpo falavam “a boca serve
para beijar” a criança se direcionava até a professora e dava um beijo.

Na contação dessa mesma história utilizando uma boneca como recurso,


vai mostrando as partes do corpo e falando sua função, quando chega à parte do pé,
uma criança fala “o bebê tá sujo”, então a professora conversa sobre a questão do
banho de ficar limpinho e pergunta se eles querem banhar o bebê. “Sim” respondem
todos juntos.

Em outra leitura da história (Douglas quer um abraço) tem ovelha como


personagem, as crianças imitam o som do animal “mé, mé, mé”, na ilustração de uma
página seguinte aparece uma abelha. “Ui, uma abelha” fala um aluno simulando medo.

Dessa forma, os contos além de provocarem a imaginação das crianças,


fornecem informações sobre o mundo que as rodeia. Além de fazer com que se
aventurem a cada história contada, aos mundos diferentes que cada história mostra,
enriquecem sua percepção de mundo.

Seguindo essa ideia foi indagada a professora sobre qual das duas
maneiras, contar ou ler histórias chama mais a atenção das crianças e com qual elas
se envolvem mais.

“A princípio é com a contação, porque elas se encantam mais com a forma,


as expressões corporais da professora, com as mudanças da fala, com
alguns adereços que a gente usa, e aí depois que elas têm se encantado com
a contação de histórias, a gente coloca o livro”.

Com o tempo a professora vai utilizando a leitura de histórias e elas


começam a gostar das duas. A partir das observações, percebe-se que em ambas as
crianças são bem participativas. A professora parecia ser muito envolvida
afetivamente com as práticas narrativas, falando com delicadeza com as crianças,
fazia de maneira que as envolvesse de forma que elas participassem nas duas
situações. Se elas não tivessem participando, a professora ficava instigando, fazendo
39

perguntas sobre a história, “o que será que vai acontecer agora?”. Citava o nome de
alguma criança e direcionava a pergunta, chamando sua atenção, modificando sua
voz de acordo com cada personagem, usando fantasias ou outros adereços de acordo
com a história.

Oliveira (1996) fala a respeito dos recursos pedagógicos usados durante a


contação de histórias como a dramatização, flanelógrafo:

Quando contamos histórias para crianças, utilizando um dos recursos


mencionados, a reação espontânea é de ela se aproximar de quem está
narrando a histórias e querer tocar, apalpar, mexer no recurso, conversar com
ele (OLIVEIRA, 1996, p.40).

De acordo com a autora, os recursos utilizados servem para aproximar as


crianças de quem está contando, sendo a professora ou qualquer outra pessoa.
Oliveira ainda diz que esses recursos pedagógicos permitem que as crianças
brinquem com a história mesmo que seja só manuseando-os.

Percebe-se que ao contar ou ler histórias usando recursos, as crianças


ficam interessadas em pegar os objetos que a professora utilizou, mas ela sabe contê-
las até o final da história para entregar esses objetos para que eles manuseiem,
através de um simples olhar dizendo que quando acabasse a história entregaria para
que manuseassem. Esses objetos eram fantoches, palitoches, bonecas como
personagem da história e até mesmo o livro. Elas ficam contentes e imitam a forma
que a professora contou a história, movimentando e falando com o objeto da mesma
forma que ela falava. Se o personagem fica triste e chora ou dá gargalhada, as
crianças também imitam chorando ou dando gargalhadas. Isso significa que eles
gostaram da história e da forma que a professora contou. Além do aprendizado que a
histórias proporcionou sobre sentimentos (se estamos triste choramos e alegres
rimos), também favorece o aperfeiçoamento da linguagem oral das crianças a partir
do reconto, contribuindo ainda para enriquecer seu vocabulário.

Algumas vezes, durante a acolhida das crianças com livros ou revistas,


percebi que a grande maioria parava para ver as imagens. Alguns até faziam a leitura
das imagens, enquanto outros folheavam rapidamente o livro. Certa vez uma mãe foi
deixar seu filho, ficou sentada com ele, enquanto ele pegava um livro e contou a
histórias através das ilustrações que ia vendo no livro. Outra vez, enquanto os alunos
folheavam os livros, um deles sentou-se no chão e com o livro aberto entre as pernas
40

ficou folheando e depois cruzou as pernas e colocou o livro em cima delas. Ele ficou
quieto olhando para aquele livro como se fosse um adulto lendo. Assim como diz
Moraes (2012) que as ilustrações dos livros favorecem a memorização das histórias,
através dessas ilustrações as crianças podem contar toda a história mesmo sem saber
ler ainda. Há uma necessidade em que as crianças acompanhem essa leitura a partir
das imagens, para aos poucos ir desenvolvendo seu hábito, despertando seu gosto
por narrativas.

A professora diz ainda que:

“Nos dois momentos eles participam, eles conseguem participar


assiduamente, assim, quando eles, é, a gente tá lendo a história, eles
também participam lendo, outros momentos também eles querem ler, ver as
imagens, e na contação eles também participam. Muitas vezes eles fazem o
reconto da história, lógico que com o passar do tempo. Assim, porque a
princípio, nós estamos no início de maio, eles já fizeram uma vez, duas, o
reconto da história do jeitinho deles, porque são muitos bebês, ainda estão
desenvolvendo a linguagem oral”.

A partir do que foi citado pala professora podemos observar que o


comportamento das crianças quando estão ouvindo a leitura da história, gostam de
observar as imagens, ver o livro, recontar. Isto parece expressar que a contação é
uma prática narrativa que viabiliza a recepção leitora das crianças ainda bem
pequenas. Abramovich (1997) diz que “ouvir histórias pode estimular o desenhar, o
musicar, o sair, o ficar, o pensar, teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever,
o querer ouvir de novo” (ABRAMOVICH, 1997, p.23). A história pode proporcionar
muitas atividades para a criança fazendo com que ela goste cada vez mais de ouvir.
De acordo com a professora podemos ressaltar a capacidade do reconto das
narrativas feito pelas crianças, ou seja, elas reestruturam o conto através da
linguagem oral, isto favorece o de sua linguagem oral.

A professora fala a respeito das atividades propostas às crianças depois da


contação de histórias.

“[...] quando a gente conta a história, têm momentos que a atividade é o


reconto, ai tem outros momentos que eles fazem algumas vezes uma pintura,
algum jogo da memória. Teve uma história que eles gostaram muito, é um
ratinho, só de imagens, uma caixa que a secretaria de educação forneceu
para gente, então, às vezes é jogo da memória, outra atividade que a gente
fez com eles que deu muito certo foi a montagem da história, a sequência, a
gente tira as imagens e eles fazem a montagem, também deu certo para a
faixa etária deles, a gente está sempre procurando em algum momento
colocar a exploração porque é para ser todo dia”.
41

De acordo com a professora, Oliveira (1996) também diz que depois de


uma leitura de histórias os alunos podem fazer o reconto da mesma a partir do que
vai lembrando que ouviu da professora e até mesmo através das imagens,
estimulando a capacidade de síntese do que ouviu. Ou a professora pode pedir para
que desenhe a história com outro final, isso fará com que desenvolvam o raciocínio
lógico. A professora ainda afirma que a forma de escrita deles ainda é o desenho.

“Porque eles ainda estão desenvolvendo a coordenação motora deles, é


importante eles fazerem esses desenhos porque por a faixa etária deles, eles
fazem todos em pedaço, se eles forem desenhar um corpo, eles desenham a
cabeça, o olho, o braço, e tem alguns que apesar de tarem desenhando, o
que é bem importante também, alguns, por ainda não estarem se
comunicando totalmente, eles têm dificuldades de falar o que eles desenham,
mas, já os que desenham a gente escreve do lado”.

Observou-se também que as crianças demonstram gostar de ouvir


histórias, e em relação às propostas de atividades para elas depois de uma contação,
dependerá de sua faixa etária assim como a histórias também depende da faixa etária.
Através das atividades citadas pela professora podem ser desenvolvidas nas crianças
a coordenação motora, o raciocínio lógico e a linguagem oral. O desenho feito pelas
crianças representa a forma de comunicação a partir do que ouviu na história, ou seja,
o desenho é uma forma de linguagem para expressar o que entendeu da narrativa,
entre outros aspectos.
Contar uma história é desenvolver uma atividade complementar com o
objetivo de “brincar” com a história contada. Isso proporcionava às crianças
a oportunidade de se aproximarem de seu conteúdo, participando de
atividades como representações teatrais de trecho das histórias, dobradura,
contação de histórias, confecção de desenho e pintura, criação de quadrinhas
(GOMES; MORAES, 2012, p. 84).

Os autores falam que o contador de histórias precisa conhecer cada


detalhe da história antes de contar ou narrar para que não ocorra o risco de os
ouvintes não compreenderem a moral da mesma. Assim como dizem Gomes e
Moraes (2012) que “Como um alfaiate, experiente ou novato, o contador precisa
conhecer o seu ofício que também se faz em contar, emendar, conhecer a tessitura
do texto” (GOMES E MORAES, 2012, p. 24).

A professora observada sempre demonstrou conhecer muito bem a história


antes de contar e contava de forma atrativa, usava figurinos, fantoches, e diversos
recursos na hora da contação. Também não demonstrava nenhuma insegurança,
prendia a atenção da criança, e se alguma coisa não esperada acontecesse, resolvia
42

de uma maneira simples, como se realmente aquilo fizesse parte do planejado. Uma
vez, na hora da história ela disse ter uma surpresa para eles dentro de uma caixa e
passou pela cadeira de cada um balançando a caixa para que eles ouvissem o
barulho, provocando sua curiosidade. Ela abriu uma caixa cheia de livros e tirou de
dentro um. Só que demorou um pouquinho para encontrar o livro que procurava, então
ela disse “a surpresa estava difícil”, e continuou com o que tinha planejado.

Nesse sentido, o psicopedagogo tem na contação de histórias e na leitura


uma ferramenta de trabalho, pois Dohme afirma que “as histórias são um “Abrete
Sésamo” para o imaginário, onde a realidade e a fantasia se sobrepõem” (DOHME,
2000, p. 5).
O psicopedagogo, neste processo de oralidade, pode ser um instigador de
novas descobertas e novos conhecimentos. Estas descobertas mostram às crianças
um novo mundo onde tudo pode acontecer, onde os personagens são da cor que
quiserem, onde o mundo é mágico e às vezes surreal.

3.3 INFLUÊNCIA DA S PRÁTICAS NARRATIVAS NA FORMAÇÃO LEITORA

Em suas considerações, a professora fala sobre a questão da influência da


contação de histórias em relação à qualidade de aprendizagem da criança,
destacando a influência ou o incentivo à leitura.

“Com certeza. Através das histórias eles desenvolvem a linguagem,


aprimoram ainda mais a linguagem oral, eles tomam o gosto pela leitura, o
respeito pelos livros. Porque assim, no início eles não conseguem ver que no
livro tem aquele mundo de fantasia, de encantamento, muitas vezes eles têm
a necessidade só de pegar, cortar, rasgar o livro. É todo um processo até o
momento que eles vão pegar e ler, é tanto que se você tiver observado lá na
sala do infantil II, eles ainda estão nesse processo. Muitos livros eles rasgam,
a gente conversa, mas deixa lá exposto na estante para eles mexerem, já tem
outros que já estão folheando, então já estão nesse processo, então estes
que estão folheando, aos poucos vão contagiando os que ainda estão
rasgando, é todo um processo. A gente não pode tirar os livros por eles
estarem rasgando, também tem que ter o cuidado de tá também colocando
outros, repondo. Tem uns que já trazem de casa, tem uma menina que traz a
coleção de livros de casa e compartilha com eles, os pais até deixaram aqui
a coleção”.

O livro deixa de ser um objeto qualquer para transformar-se em objeto


simbólico. De lá extraem-se significados e com eles constroem um comportamento
leitor (folheiam, reduzem a leitura de imagens, etc.).
43

“Com certeza contribui ao incentivo à leitura. Eu tiro por mim, que quando eu
era criança, eu lembro assim, que eu sempre gostei de escutar histórias, de
ler histórias, ai eu lembro que quando eu saia com meu pai, a gente ia para
uma sorveteria, lá tinha na parede como se fosse uma estante cheia de livros
para vender, e eu chorava para o pai comprar. Não era sempre que ele
comprava, mas a maioria das vezes ele comprava, revista em quadrinho ele
comprava. Então eu tiro por mim que o estímulo que me foi dado quando eu
era criança me despertou a vontade de ler. E eles com três anos já estão
sendo estimulados, e não vai ser um estimulo, assim inativo porque meu pai
me estimulava mas ele num tinha um objetivo, hoje quando a gente bota eles
para ler a gente têm um objetivo que eles se tornarem leitores, eles
entenderem o que está ali, para quando eles chegarem no processo de
letramento deles, eles realmente compreenderem, eles fazem a leitura da
imagem, eles não leem formalmente, convencionalmente, eles leem as
imagens, que é o que encanta a gente”.

De acordo coma professora percebe-se sua busca em aproximar as


crianças dos livros, mesmo eles rasgando, ela deixa exposto para que folheiem. Para
aqueles que ainda rasgam, chegará o tempo em que utilizarão adequadamente, ou
seja, não mais rasgarão, e sim folhearão, isto é, tratarão o livro como objeto simbólico,
expressarão uma atitude leitora. Neste sentido, o objetivo pedagógico perseguido pela
professora será alcançado.

Para Gomes e Moraes (2012) “Contar é uma estratégia de sensibilização


para começar a sedução para o relato, esteja ele sobre que suporte estiver, inclusive
o da escrita. É a leitura que preexiste à escrita, a leitura é condição para a escrita”
(GOMES e MORAES, 1997, p.65). Ao ouvir uma história, levará o aluno a recontar a
mesma, seja para os colegas, pais, ou para outros. Isto é o início para o gosto tanto
da leitura como da escrita porque como diz a autora, primeiro vem a leitura e só em
seguida a escrita. A primeira preexiste à segunda.

A respeito disso, Cavalcanti (2002) fala da importância que tem quando a


criança é introduzida cedo no mundo da leitura:

... A criança é introduzida no mundo da leitura desde o seu primeiro olhar para
o mundo, que em geral dirigi-se à imagem materna. Assim, uma criança
acalentada e embalada pela voz, pelo olhar morno e desejoso da mãe que
canta as canções de ninar, como também reproduz versinhos e lengalengas
exercitando a linguagem do afeto e da cultura, tem uma grande possibilidade
de ser alguém potencialmente estimulado para o universo da leitura
(CAVALCANTI, 2002, p.68).

É desde muito cedo que as crianças têm que criar o hábito pelo ouvir, para
só depois esse gostar de ouvir se torne em hábito de leitura. Para isso é necessário
que os pais comecem desde cedo a contar histórias para suas crianças, cantar
canções de ninar, para que eles se acostumem com esse universo e quando
44

crescerem já estarem aptos ao mundo da leitura. Ao observar esses aspectos


constatou-se que as crianças já estão acostumadas a ouvir histórias. Além dessa
prática já fazer parte de sua rotina, a professora utiliza diversos recursos em suas
contação tanto no seu modo de contar como na forma de se fantasiar e ainda
demonstra fazer tudo isto com afeto e competência. Isso é um fator muito importante
para despertar nas crianças o gosto pela leitura e torná-las futuras leitoras.

A intervenção do professor/ psicopedagogo tem se demonstrado de


extrema importância para o enriquecimento da contação de história no universo
infantil, alguns dos objetivos em relação a contação de histórias: Tais como:
Desenvolver a capacidade de expressar sentimentos e opiniões; Ampliar a
autoconfiança; Identificar limitações e possibilidades; Estimular o prazer de ouvir
histórias; Ampliação do vocabulário; Identificar a sequência lógica dos fatos;
Expressão, manifestação e controle de desejos e sentimentos; Resolução de
situações problemas.
Esses objetivos e muitos outros são partes integrantes da contação de
história como um fator estimulador do desenvolvimento infantil e desta maneira
diferentes concepções acerca do desenvolvimento humano têm sido traçadas na
psicologia.
45

CONCLUSÃO

A criança desde seu nascimento pode ser introduzida no mundo da leitura,


no mundo das histórias. A partir das narrativas, as crianças poderão tomar gosto pela
leitura, mas isso depende de como o professor conta a história porque primeiramente
ele tem que gostar e conhecer a história antes mesmo de contá-la para alguém, para
contá-la com amor para que as crianças possam gostar. A partir da análise dos dados
procuramos entender como a professora diferencia as formas entre ler e contar
histórias, pois a contação de histórias contribui tanto para o aprendizado da criança
como também para que se torne uma leitora

Através da contação de histórias o professor permite que a criança viaje


por qualquer lugar, provoca sua imaginação, além de estimulá-la a conhecer e se
apaixonar pelo mundo da leitura. Mas antes de tudo, para que o professor forme na
criança o gosto pela leitura, é preciso que ele seja um leitor porque ele não pode contar
uma história de qualquer forma, ele tem que saber despertar a curiosidade na criança,
e isso ele conseguirá ao realizar a narrativa com amor, e como já foi dito, conhecê-la
bem.
Com a realização desse trabalho tivemos a oportunidade de conhecer
como é a realidade dentro de sala de aula em relação ao uso da contação de histórias.
A partir disso podemos ver o que a professora pensava do tema pesquisado.
Procuramos entender sobre as concepções da professora em relação às diferenças
entre ler e contar histórias.

A respeito das concepções da professora percebi que a mesma revela a


compreensão das diferenças entre ler e contar histórias, além de sua percepção da
necessidade de um aprendizado para as crianças ouvirem a leitura. Ela faz uso de
estratégias e garante que os dois momentos, tanto da leitura como da contação,
aconteçam, destacando os aspectos positivos. Relevou ainda, que além da leitura e
contação de histórias serem ações complementares na formação do leitor, ela não
hierarquiza as duas práticas narrativas. E deixou claro que a medida que as crianças
vão criando hábito pela leitura vão se tornando leitores. Sendo este comportamento
leitor processual, é fruto de um trabalho educativo.
46

Este trabalho trouxe reflexões sobre a importância de se contar histórias,


pois seus benefícios são muitos, tanto na formação da criança como em seu
desenvolvimento de práticas leitoras e também no seu vocabulário, pois a cada
história contada a criança aprende novas palavras.

Através da pesquisa pudemos perceber que há diferenças entre ler e contar


histórias, o professor utiliza a maneira que preferir e que agrade seus alunos. Ao narrar
histórias a professora utiliza técnicas para atrair a criança, que possa agradá-la e levá-
la a ouvir toda a história, dessa forma busca despertá-la no gosto pela leitura, que
ache aquela história boa e sinta vontade de voltar até o livro para lê-la novamente,
através das ilustrações. Expressa fomentar o imaginário da criança com boas histórias
que contém um vocabulário rico.
Estabelecendo uma relação entre os dados, observamos a importância que
as histórias têm na vida das crianças e que não precisam saber ler para ler um livro,
pois os livros têm ilustrações, imagens ricas que a criança ao atribuir sentido conta o
que vai acontecer na história. Neste contexto, a professora demonstrou haver uma
necessidade do uso de estratégias diferenciadas para a leitura e contação de
histórias, ou seja, a organização do trabalho pedagógico especificando cada uma
destas práticas.
Contar e ler histórias é dar vida aos personagens, é rir, chorar, sentir medo,
entre outros sentimentos que podem existir durante as histórias, é um potencial a ser
desenvolvido porque levam as crianças a viajarem por diversos mundos mágicos
O sujeito pesquisado concorda que a contação de histórias influencia a
criança à leitura e, sendo estimulada desde cedo, ela tem grandes chances de se
tornar um leitor. Constatamos que a professora estimula muito a participação das
crianças durante as narrativas e as mesmas participam de forma ativa. Também
concorda que há uma necessidade de a criança aprender a ouvir a leitura de histórias
e o caminho escolhido foi iniciar com a escuta durante a contação. Tal importância
conduz a professora a garanti-las na rotina da educação da criança pequena. Por fim,
constatou-se seu ponto de vista sobre as influências da família para a formação do
leitor, quando ressaltou que as práticas familiares também influem na formação leitora
infantil.
Esse trabalho foi muito relevante para minha formação profissional porque
a partir dele pude compreender que uma criança não precisa saber ler para ter contato
47

com a leitura ou histórias. Ela deve ser estimulada desde cedo, em casa ou na escola,
para aos poucos ir despertando o gosto por ouvir histórias e despertar o gosto pela
leitura. Pude compreender também as concepções da professora sobre diferenças de
ler e contar histórias. Quando as crianças ouvem as narrativas, participam de forma
ativa, a professora também estimula essa participação para que as mesmas se
envolvam. A professora utiliza tanto a contação como a leitura de histórias, a narrativa
faz parte da rotina das crianças.
Os resultados expressam a relevância da narrativa para a formação leitora
das crianças quando se observam comportamentos leitores entre elas, a escolha dos
livros e o reconto aos seus companheiros. Além disso, aponta para a concordância da
professora participante da pesquisa com a ideia de que tanto a contação como a
leitura de histórias estimula a prática da leitura, embora se dêem como práticas
diferentes.
O psicopedagogo pode contribuir para o desenvolvimento da
aprendizagem com aspectos afetivo/emocionais, auxiliando a criança ou adolescente
na compreensão de mundo, favorecendo o intercâmbio dinâmico entre a realidade, o
que é significativo e a fantasia. Portanto, o que é possível no campo da aprendizagem
e de intervenção psicopedagógica é o despertar do indivíduo. Independente do papel
que desempenhe, sendo ouvidor, leitor ou criador de histórias, sempre será trabalhada
a organização das suas experiências, para que possa (re) contá-las de maneira
significativa e estruturando as possíveis intervenções realizadas.
48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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YUNES, Eliana & PONDÉ, Glória. Leitura e leituras da literatura: por onde começar?
São Paulo: Editora FTD, 1988.
50

APÊNDICES
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ROTEIRO DE ENTREVISTA
DADOS DE IDENTIFICAÇAO

 Nome:_____________________________________________________
 Formação Inicial:_______________________________Local:________
 Sala em que atua:___________________________________________
 Tempo como professora:______________________________________
 Tempo de experiência na educação infantil:_______________________
 É concursada (efetiva) nessa área ou em outra (qual):_______________
 Fez cursos de formação continuada nessa área (quais) _____________
__________________________________________________________
 Fez algum curso de formação sobre contação de histórias:___________
____________________________________Local:_________________

Perguntas:
1. Você conta histórias para as crianças? E também lê histórias?
2. O que prefere oferecer para as crianças, a leitura ou a contação de histórias?
Por quê?
3. Acha que as crianças se envolvem mais com a leitura ou com a contação de
histórias?
4. Há diferenças no comportamento da criança na forma de ouvir a histórias sendo
ela contada ou lida? Qual dessas situações chama mais a atenção da criança
para sua participação?
5. Acha que a contação de histórias influencia na qualidade de aprendizagem da
criança? De que forma? Acha que pode influenciar no incentivo à leitura?
Como?

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

1. O ambiente da sala de aula com relação à narrativa de histórias


2. Desenvolvimento da narrativa pela professora
3. Participação das crianças durante as narrativas
4. Envolvimento da criança quando a histórias é lida ou contada

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