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Renovação do
Serviço Social
Material Teórico
Contexto da Renovação do Serviço Social
Revisão Textual:
Profa. Ms. Rosemary Toffoli
Contexto da Renovação do Serviço Social
Nesta unidade, explicaremos a história do serviço Social no Brasil, partindo da análise conjuntural
do processo histórico social econômico e político brasileiro.
Você vai perceber que a Guerra Fria e a influência norte-americana na política econômica e social
do país contribui para a expansão do modo de produção capitalista no Brasil.
Assim você poderá compreender que o pensamento marxista e a Teoria da Libertação fixarão
bases teóricas no processo de ruptura do Serviço Social.
Também nesta unidade serão abordados os momentos em que a intenção de ruptura deixa de
ser um processo de contestação da profissão para alicerçar as bases teóricas e metodológicas do
Serviço Social contemporâneo.
Nesse processo de aprendizado, será muito importante a sua participação no fórum de discussão
online e também na realização dos exercícios no ambiente virtual.
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Unidade: Contexto da Renovação do Serviço Social
Contextualização
A atuação conservadora do Serviço Social ficou reconhecida desde a sua constituição nos
anos 1930.
Após a 2ª Guerra Mundial, o mundo entrou em um conflito armamentista conhecido como
Guerra Fria, quando se alinharam de um lado os países capitalistas e do outro os países de
ideologia socialista.
Pela influência dos Estados Unidos na América Latina, o Brasil optou por alinhavar uma
condição de aproximação com os conceitos econômicos de expansão capitalista, o que de um
lado contribuiu para a política do desenvolvimentismo e por outro para uma grande capacidade
de endividamento externo, contribuindo para a opressão da classe trabalhadora e para a
dependência cada vez maior da ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Nesse período, o Serviço Social mantém uma posição de neutralidade, seguindo a cartilha
da burocracia e do funcionalismo em sua ação teórica e prática.
Com o golpe militar de 1964 no Brasil, o Serviço Social adquire uma tendência conservadora
indo ao encontro de princípios reacionários do sistema vigente nesse período.
Temendo uma cubanização da América Latina, dos anos 1960 a 1970 a opressão do
sistema capitalista e a forte influência norte-americana também contribuíram para uma postura
conservadora do Serviço Social.
Nos anos 1970, a Teoria da Libertação e as ideias marxistas contribuem para a ruptura do
conservadorismo no Serviço Social no Brasil e na América Latina.
Diante de um período de reorganização dos movimentos sociais, da redemocratização do
país e da mobilização da classe trabalhadora por melhores condições salariais e de vida, o
Serviço Social renova o seu aspecto teórico metodológico contribuindo para a reorganização
da prática profissional e para a formação de um projeto ético-político, construindo as bases
para a contemporaneidade da profissão.
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A organização do Serviço Social nos primórdios da profissão
Os anos 1960 e 1970 foram anos importantes para a transformação do Serviço Social e
sua afirmação como profissão atuante em diversas áreas da sociedade, desde a área social até
a área da saúde, passando pelos setores primários secundários e terciários da produção, ou
seja, o Serviço Social, permeou o trabalho do Assistente Social dentro das indústrias, nas ações
dos governos municipais, estaduais e federais, nos hospitais, nos setores de recursos humanos
das empresas, em creches, escolas, bem como nos sindicatos, associações comunitárias e
organizações sociais do terceiro setor (ONGs).
Esta ampliação da inserção da profissão em diversas áreas permitiu ao Serviço Social a
capacidade de se adequar aos momentos sociais, políticos e econômicos, mesmo que em
alguns momentos essa adequação à realidade do país tenha sido na estagnação, retorno ao
conservadorismo, até se chegar a intenção de ruptura e ao formato contemporâneo como é
a profissão atualmente.
O alinhamento da profissão com os temas sociais, políticos e econômicos do cotidiano se
darão, inicialmente, no governo de Getúlio Vargas, nos anos 1930 e 1940, quando, além
da criação do Ministério do Trabalho e da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), as quais
garantiam vários direitos à classe trabalhadora, inclusive, a organização sindical, Getúlio
anunciou as primeiras medidas de criação de um modelo político de Assistência Social, através
da criação de serviços e institutos que pudessem estabelecer uma participação mínima de
avanços sociais para a classe trabalhadora.
Nesse período, o Governo Vargas desenvolveu um sistema previdenciário, beneficiando os
trabalhadores com direito à aposentadoria, ao pecúlio, em caso de morte do trabalhador, com
a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’s) para cada categoria profissional.
Além da criação do sistema previdenciário, o governo Vargas criou algumas instituições no
intuito de garantir um sistema de Serviço Social, alinhando trabalhadores e patrões em um
sistema garantido pelo Estado.
No que se refere à coordenação da categoria, a assistência ao trabalhador, ressaltamos,
já na década de 1930, a criação do Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS, através
do Decreto-lei n. 1/7/1938, sob a validade do Estado Novo, “com as funções de órgão
consultivo do governo e das entidades privadas, e de estudar os problemas do Serviço Social”.
Entretanto, sua ação efetiva foi muito restrita e caracterizou-se mais pela manipulação de
verbas e subvenções, como mecanismo de clientelismo político, aumentando o prestígio de
Vargas nas camadas mais pobres da sociedade brasileira.
A expansão do Serviço Social nesse período se faz presente na criação do Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1942, e, posteriormente, na criação do Sistema
“S”, ou seja, Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Social do Comércio (SESC), e Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial em 1946, no governo Dutra.
Esses serviços criados visavam atender a demanda de capacitação profissional e atendimento
social à camada urbana da população brasileira.
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Unidade: Contexto da Renovação do Serviço Social
Na década de 1940, o grande atendimento de Santa Casa – Décadas de 1940. Um dos locais
saúde se concentrava nos centros urbanos, distante de atuação do Serviço Social na saúde.
O evento foi elaborado também no sentido de subsidiar propostas e ações para o II Congresso
Pan-Americano de Serviço Social, realizado na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1949.
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Desenvolvimentismo e Dependência – O Brasil e o Social após a
II Guerra Mundial e na Guerra Fria
Em meados dos anos 50, o Brasil vivia um clima de euforia sob a liderança do presidente
Juscelino Kubitschek que, com o seu Plano de Metas estabelecia um conceito que prometia o
crescimento do país de 50 anos em 05.
Esta promessa de crescimento nacional coincidia com a perspectiva da expansão do
capitalismo que, entre outras metas, tinha como objetivo a interiorização do consumo.
Nesse período, a expansão capitalista fomentou a instalação de monopólios do capital no país.
De acordo com essa ideologia, a transferência Brasília em construção. Final dos anos 1950. O
Desenvolvimentismo ampliaria a ação ideológica
da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília do modo de produção capitalista no Brasil.
constituiria nesse período no símbolo máximo do
crescimento da força de trabalho e da geração de
novos potenciais de expansão e acúmulo da riqueza
no país.
Também nessa época, podemos destacar o trabalho em grupo, que consistia na ação dos
profissionais do Serviço Social na perspectiva de conhecer os conflitos conjuntos dos grupos
no sentido de encontrar soluções e apaziguar o tensionamento social da comunidade atendida.
Esse modelo atendeu, nesse período, a duas expectativas de ação: a ação ideológica e a
ação da propaganda de governo.
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Unidade: Contexto da Renovação do Serviço Social
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Para melhor compreensão sobre o período, recomendamos que você assista ao
vídeo Filme 1: “GUERRA FRIA - URSS X EUA”.
O vídeo apresenta o tensionamento entre os países socialistas e capitalistas após a II
Guerra Mundial. O link deste filme pode ser encontrado no material complementar
para atividades de aprofundamento.
Inaugurada após a II Guerra Mundial, a Escola Superior de Guerra (ESG) formava e preparava
uma elite civil e militar que, posteriormente, estaria envolvida direta e indiretamente tanto na
pressão pelo impeachment de Getúlio Vargas, que desencadeou em seu suicídio; como no
golpe militar de 1964, que acabaria por criar o regime militar no Brasil.
Após a morte de Getúlio Vargas, o clima de golpismo dos segmentos conservadores de direita
teve seu auge na tentativa de se negar a posse ao presidente eleito Juscelino Kubitschek e,
posteriormente, em pequenos levantes na região norte do Brasil, em Jacareacanga e Aragarças.
Nesse período, o Serviço Social adotou uma postura de neutralidade política, voltado na
atuação técnica como parte da institucionalidade dos serviços constituídos pela força do capital.
Eleito suplente de vereador em 1947, em menos de 15 anos, Jânio Quadros foi eleito prefeito
e governador de São Paulo, chegando ao seu auge político na eleição presidencial, em 1960.
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Unidade: Contexto da Renovação do Serviço Social
A realidade cotidiana do Brasil, quanto aos aspectos sociopolíticos, desde o início da década
de 1960, era de contrastes e diferenças econômicas entre uma população representada pela
sociedade elitista dominante contra uma maioria empobrecida e explorada. Tal paradigma
nortearia o Serviço Social para os fundamentos do pensamento marxista, consolidando seus
métodos atuais de ação, como conhecemos a ação metodológica da profissão nos dias atuais.
O II Congresso do Serviço Social, realizado no Rio de Janeiro, em 1961, contou com o
apoio oficial do governo federal, sob a presidência de Jânio Quadros, que, aparentemente,
demonstrava conciliar o desenvolvimentismo com o bem-estar social nesta área.
Dentro do sistema parlamentarista, há uma divisão de poder entre o presidente, que exerce
uma função representativa e que escolhe o primeiro-ministro. Já o primeiro ministro tem a
função de governar.
Em 1963, após a realização de um plebiscito, o presidencialismo retorna e João Goulart
assume o governo com o poder executivo restabelecido.
Em seus poucos meses de governo, seu mandato assume uma característica de apoio à
organização popular que efetivamente apoia as lutas sociais e as ligas camponesas, instituindo
um forte programa de desapropriação de terras nas margens das rodovias federais para a
reforma agrária.
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João Goulart tomou medidas que visavam ao fortalecimento da política econômica nacional,
como, por exemplo, a criação da lei de remessas e lucros, no sentido de fortalecer a economia
nacional e prestigiar o fortalecimento da burguesia interna do país.
As alianças de João Goulart com as organizações democráticas, Posse de Castello Branco.
de caráter progressista, que desencadearam no apoio dos Estados O primeiro presidente militar
de uma ditadura de mais de
Unidos às forças conservadoras reacionárias de direita que se uniram
20 anos no Brasil.
a segmentos tradicionalistas da igreja católica, que acusavam o
governo de servir ao comunismo internacional.
As forças conservadoras ocasionaram a mobilização classe média
para o apoio e a derrubada de Joao Goulart do poder para garantir um
presidente que defendesse o interesse do capital estrangeiro.
O golpe militar garantiria, assim, a retomada de modelos
conservadores de ação do governo, fazendo com que os direitos e as
garantias sociais criassem um modelo conservador de ação.
Nesse sentido, o Serviço Social se moldaria de acordo com a
situação vivida na época, encaixando-se em um perfil de profissão
burocrática de atendimento ao público.
Wikimedia Commons
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Unidade: Contexto da Renovação do Serviço Social
Para melhor compreensão deste período, recomendamos que você assista ao Filme
2: “Operação Condor”.
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A ruptura do Serviço Social no Brasil e na América Latina
Nesse mesmo momento em 1978 é realizado o I Encontro Nacional dos Estudantes de Serviço
Social, que também se alinhavam ao processo de ruptura ao tradicionalismo do Serviço Social.
Na produção de conteúdo escrito, destaca-se a criação da revista ”Serviço Social &
Sociedade” no ano de 1979.
Num período de redemocratização era evidente que os novos debates e as novas ideias
contribuíram para a reorganização da profissão.
As ideias novas construíram alicerces e se fortaleceram dentro das universidades, por sua
capacidade de inovação de projetos, onde a pesquisa e a extensão dos estudos era um bom
motivo para a aplicação de novos métodos e práticas.
Os campos de estágios serviram para por em prática as formulações teóricas, encontrando
espaços também para os novos Assistentes Sociais que surgiram no mercado de trabalho
Nesse período.
A prática da intenção de ruptura Nesse período seria levada para as camadas mais precarizadas da
classe trabalhadora, nos núcleos urbanos relegados a periferia das grandes cidades.
Emersão Este momento acontece com a introdução do Método BH que foi desenvolvido
na Pontifícia Universidade de Minas Gerias (PUC/MG). Em Belo Horizonte,
no inicio da década de 70. Os movimentos sociais e operários se destacavam
também entre o movimento estudantil e o interesse do conhecimento das
ideias socialistas.
O Método BH encontraria uma grande crítica no fato em que a sua prática
utilizou recursos positivistas em sua implantação, misturando a inovação dos
conceitos de estudo das relações sociais com instrumentos antiquados de
análise científica.
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Este processo de amadurecimento do Serviço Social resultou na implantação de um novo
código de ética profissional em 1986, na quebra do monopólio conservador e na consolidação
de um projeto ético-político profissional nos anos 90.
A aproximação do marxismo, da Teologia de Libertação, e dos símbolos libertários da
revolução cubana, acabaram por arraigar um sentimento de luta do Serviço Social, junto a
população, passando os profissionais e o meio acadêmico a ampliar o método de análise para
a transformação social dos sujeitos.
Fonte: une.org.br
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Unidade: Contexto da Renovação do Serviço Social
Considerações Finais
Nesta unidade você conferiu que o Serviço Social em seu início teve uma forte ligação com o
conservadorismo e de alinhamento com as políticas dos governos e da burguesia, influenciado
pelas ideias positivistas, marcas teóricas e metodológicas conservadoras.
Após a 2ª Guerra Mundial, no período da Guerra Fria, o Serviço Social se constituiu em uma
postura de neutralidade política, e voltado na atuação técnica como parte da institucionalidade
dos serviços constituídos pela força do capital.
O Serviço Social de Grupo começa a se cristalizar nas décadas de 1940 e 1950 como uma
força atuante na profissão, consistindo no trabalho coletivo tendo em sua origem a aplicação
principal em centros sociais e comunitários, com o atendimento voltado principalmente ao
atendimento dos trabalhadores e seus familiares.
A grande preocupação dos Estados Unidos Nesse período não só em relação ao Brasil,
como em relação aos países da América Latina era evitar a ampliação da experiência do
comunismo desenvolvido em Cuba após a revolução Nesse país em 1959.
O Serviço Social após o golpe militar de 1964 se moldaria de acordo com a situação vivida
nesta época, se encaixando em um perfil de profissão burocrática de atendimento ao público.
Decorrente da crise econômica mundial, na década de 1970, o processo de repensar o
Serviço Social na América Latina se desencadeou em média, com a mesma intensidade na
medida em que os processos de cerceamento e abertura democrática também acontecia nos
países latino-americanos.
A prática da intenção de ruptura do Serviço Social encontraria no marxismo e na teoria de
libertação no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 levaria a condição teórico-prática
para as camadas mais precarizadas da classe trabalhadora, nos núcleos urbanos relegados a
periferia das grandes cidades.
A intenção de ruptura a partir de então passa a ocorrer em três períodos:
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Material Complementar
Para um melhor aproveitamento de seu estudo, sugerimos os recursos didáticos de livros e vídeos.
Todo o material pode ser encontrado na internet, sendo que os livros podem ser baixados
em arquivo PDF.
Vídeos:
Filme 1: “Guerra Fria - URSS X EUA”
Acesse o link: - https://www.youtube.com/watch?v=IIffbV6ZDgg
Filme 2 : “Operação Condor”
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=7gX35htXVx8
Filme 3 : “Entrevista com Professor norte-americano Noam Chomsky”
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=kMJhtNQVBDw
Livros:
Livro – “Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64.”
- Autor: José Paulo Netto
Acesse o link: http://goo.gl/BCIjBH
Livro – “Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil.” - Autora: Safira Amman
Acesse o link: http://goo.gl/ZqwgxH
Livro – “Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: Ensaios Criticos” - Autora:
Marilda Iamamoto
Acesse o link: http://goo.gl/0h0KGK
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Unidade: Contexto da Renovação do Serviço Social
Referências
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social. Uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64.
8ªed. São Paulo. Ed. Cortez. 2005.
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Anotações
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