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Saneas SUMÁRIO

Saneas é uma publicação técnica quadrimestral EDITORIAL


da Associação dos Engenheiros da Sabesp 3 Ciência, tecnologia e gestão
AESABESP
DIRETORIA EXECUTIVA
4 AGENDA
João Baptista Comparini / Presidente
Eliana K. I. Kitahara / Vice-Presidente 4 CARTAS
Nizar Qbar / 1º. Secretário
Magali Scarpelini M. Pereira / 2ª. Secretária OPINIÃO
Ivan Norberto Borghi / 1º. Tesoureiro
Walter Antonio Orsati / 2º. Tesoureiro 5 Águas subterrâneas e gestão integrada
DIRETORIA ADJUNTA P&D
Cecília Takahashi Votta / Diretor Social
Luiz Yukishigue Narimatsu / Diretor Técnico Cultural 6 Influência de altas concentrações de sulfatos no
Gilberto Alves Martins / Diretor de Esportes tratamento de esgotos por lodos ativados
Reynaldo Eduardo Young Ribeiro / Diretor de Pólos
Paulo Eugênio de C.Corrêa / Diretor de Marketing
MATÉRIA DE CAPA
CONSELHO DELIBERATIVO 12 O stress da água e o futuro dos mananciais
Alipio Teixeira dos Santos Neto, Almiro Cassiano Filho, Choji
Ohara, Geraldo Gonçalves, Hélio Nazareno Padula Filho,
Ivo Nicolielo Antunes Junior, José Victorio Francisco de ARTIGOS TÉCNICOS
Assis Bedusch, Nelson Luiz Stábile, Paulo Roberto Borges, 16 Reúso, controle da recepção de efluentes industriais e
Pedro Luiz Todesco Ferraz, Pérsio Faulim de Menezes, Sérgio
Eduardo Nadur. gestão integrada do sistema de esgotos da RMSP 
22 Um novo sistema produtor de água para a zona norte
CONSELHO FISCAL
Antonio Soares Pereto, Marcos Clébio de Paula e da RMSP 
Yazid Naked 27 Gestão de processos de controle da qualidade da água
CONSELHO EDITORIAL e do esgoto em empresas de saneamento 
Viviana Marli N. Aquino Borges (Coordenadora) 31 Sabesp conquista mercado nacional com tecnologia de
Antonio Carlos Bragagnolo Rizzi, Antonio Edson Bizarro,
Gustavo Souza Nilo Bahia Diniz, Ivo Nicolielo Antunes automação
Junior, Milton Tomoyuki Tsuitya, Osmar Dias dos Santos,
Paulo Afonso da Silva, Pércio Faulin de Menezes e MEIO AMBIENTE
Wilton da Silva Carneiro
35 Monitoramento em tempo real da qualidade da água
FUNDO EDITORIAL dos mananciais da RMSP
EQUIPE RESPONSÁVEL PELA SANEAS
Wanderley da Silva Paganini (Coordenador)
Carlos Roberto Canecchio, Fernando Gomes da Silva, A SABESP INOVA
Gislene Flávio Lopes, Miriam Moreira Bocchiglieri, 38 Projeto de reúso de efluentes sanitários para uso agrícola
Oswaldo Ioshio Niida e Rodolfo Baroncelli Jr.

ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA


ENTREVISTA
Formato Artes Gráficas (formato@uol.com.br) 42 Clélio Campolina Diniz – RMSP: uma nova vocação?
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Terlânia Bruno Mtb 14.689; colaboração especial
na matéria de capa: João Carlos Charleaux
EMPREENDIMENTOS E GESTÃO
TIRAGEM: 3.000 exemplares 44 Diagnóstico do Sistema Produtor Metropolitano
AESABESP HISTÓRIA DO SANEAMENTO
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1 46 Fatos da história do abastecimento de água de São Paulo
01327-002 - São Paulo, SP
Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484 48 NOVIDADES - FIQUE POR DENTRO
Fax (11) 3141 9041
www.aesabesp.com.br
saneas@aesabesp.com.br 49 ATENÇÃO E RECONHECIMENTO
CAPA 50 CAFEZINHO
Odair Marcos Faria
(Reservatório Pedro
Beight) 51 AGRADECIMENTOS
Empresas patrocinadoras deste número de Saneas
 JNS Engenharia, Consultoria e Gerenciamento S/C Ltda.
tel (11) 3814 1166; email jnsecg@jnsecg.com.br
 MauberTec Engenharia e Projetos S/C Ltda.
tel (11) 223 0300; e-mail projetos@maubertec.com.br
 Unicorp Informática Industrial S/C Ltda.
tel (11) 3266 4861; e-mail unicorp@unicorp.com.br
– RAS do Brasil Consultores Associados S/C Ltda.
tel (11) 4727 7800; e-mail rasbr@netmogi.com.br
EDITORIAL

Ciência, tecnologia e gestão:


caminhos para uma nova
condição dos nossos mananciais
Eng. João B. Comparini
Presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP)

C enas de degradação, cenários de escassez: o panorama de muitos mananciais.


Ciência, tecnologia, educação e gestão: caminhos para uma nova condição.
Algumas previsões para o consumo de água na terra, mantidos os padrões
atuais, indicam a possibilidade de suporte para uma população entre 8 e 12
bilhões de pessoas. E já somos 6,1 bilhões de habitantes a serem supridos e, além
de mais numerosos, conseguimos viver mais tempo, consumindo mais água.
No Brasil, com mananciais invejados, a escassez de água com qualidade ade-
quada aos usos diversos já é realidade, de áreas do Nordeste ao Rio Grande do
Sul, passando pela Região Metropolitana de São Paulo. No mundo, segundo as
Nações Unidas, mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso a fontes de água de
qualidade e 2,5 bilhões vivem sem saneamento básico.
Neste início de século, o Brasil, como outros países, enfrenta Segundo as Nações
o dilema de desenvolver-ser e, ao mesmo tempo, preservar e
recuperar as águas de seus mananciais. Uma imensa tarefa que Unidas, mais de
demandará o esforço de nossos cientistas, técnicos, educado- 1 bilhão de pessoas
res e gestores.
Nesta edição da Saneas são abordados, dentre outros, temas não têm acesso a
como o reúso de águas como alternativa à exploração de novos fontes de água de
mananciais, o aproveitamento racional de aquíferos subterrâ-
neos, a promoção da segurança em represas, a utilização das qualidade e
tecnologias de automação, sensoriamento remoto e georrefe- 2,5 bilhões vivem
renciamento como ferramentas de controle e otimização dos
aproveitamentos, e a situação dos mananciais na Região Metro- sem saneamento
politana de São Paulo. básico
De abrangentes a específicos, esperamos que os aspectos
abordados contribuíram para o esclarecimento de questões e
para a disseminação do conhecimento, auxiliando o leitor na compreensão dos
problemas atuais e a serem doravante enfrentados em relação à qualidade e dis-
ponibilidade de nossos mananciais.
Aos profissionais do Fundo Editorial que se empenharam na preparação da
revista, os agradecimentos da Diretoria da AESABESP.

Saneas / janeiro 2002 – 3


Cartas
Cartas
Parabéns a toda equipe editorial da der? Ainda, onde encontro as normas Gostariam, também, de receber ou con-
revista Saneas e em particular ao para o envio de contribuições? tinuar recebendo a revista Saneas:
Eng. Paganini pela criação desta mag- Henrique Pizzo
nífica revista que chega à comunidade Eng. de Saneamento de Juiz de Fora Rede de Bibliotecas Unoeste
de saneamento honrando as melhores Edson Atsushi Hirao
tradições de publicações congêneres, Agradecemos a sua atenção e teremos Cristina A. N. Borba Locatelli
como a histórica Revista DAE. imenso prazer em apreciar seus artigos Hélia Akemi Amano Igawa
Esta publicação coroa com muito para avaliar a possibilidade de que Antonio Tadeu Silva
brilho a trajetória vitoriosa da Associa- venham a ser publicados. Ana Yamamoto
ção dos Engenheiros que reúne o que
é de melhor em competência tecnoló- Acusamos o recebimento e agrade- Gostaríamos de saber se poderíamos
gica, científica e gerencial da Sabesp, cemos o envio da publicação nº12 inserir anúncios ao lado de matérias
cujos feitos devem ser sempre divulga- vol. 1 de agosto de 2001 da revista de nosso interesse.
dos e a revista Saneas é o veículo Saneas. Aproveitamos a oportuni- Luiz Octavio Fonseca Junior
mais adequado, pois penetra direta- dade para solicitar a continuidade
mente na comunidade científica, tec- do envio da referida publicação, à Em todo número de Saneas são con-
nológica e gerencial do Saneamento título de doação, para disponibilizar- vidadas 4 empresas e/ou instituições
Ambiental Brasileiro. mos aos acadêmicos desta institui- para publicar artigos sobre suas respec-
Vanzo ção educacional e, se possível, o envio tivas áreas de atuação. Elas dividem
das publicações anteriores. Antecipa- entre si os custos editoriais e gráficos da
Gostaria de receber a revista Saneas damente agradecemos. edição. A única forma de publicidade é
mensalmente. Tive acesso à de agosto Biblioteca FEB a inserção de seus logotipos na contra-
e achei muito boa. Como devo proce- Fundação Educacional de Barretos capa da revista.
Agenda
Agenda

Simpósio Planejamento das Apli- Organização: International Water Contato: S.P. Kaushisj
cações do Sistema Termovisão nas Association - IWA Telefone: ++91 11 6116567 / 6115984
Instalações Elétricas da Sabesp Contato: Ms M. Bates - Quitz Event cbip@nda.vsnl.net.in
Local: São Paulo, São Paulo, Brasil Management Assuntos: Qualidade da água, geren-
Data: 19/02/2002 Telefone: ++61 294 101 302 ciamento, recursos hídricos
Organização: Superintendência de quitz@bigpond.net.au ou
Manutenção Guarapiranga - AG www.iwa-2002.com
Contato: Inês Assuntos: Túnel, monitoramento, AESABESP
Telefone: (11) 5683 3127 meio ambiente
Instrutor responsável: Sr. Paulo XIII Encontro Técnico
Henrique/ Sr. Alexandre. Curso de Inspeção/Operação de Período: 27, 28 e 29/08/2002
iribeiro@sabesp.com.br Sistemas de Proteção Catódica em A AESABESP estará recebendo os
Assuntos: Manutenção, instalação Dutos Terrestres e Tanques de resumos dos técnicos, para avaliação
elétrica, termovisão Armazenamento e seleção, até o dia 22/04/2002. A
Local: São Paulo, São Paulo, Brasil versão completa dos trabalhos sele-
Water Sources Conference and Período: 15/04/2002 a 17/04/2002 cionados deverá ser entregue até o
Exhibition - Reuse, Resources, Organização: Instituto Brasileiro de dia 08/06/2002. Informações: secre-
Conservation Petróleo e Gás - IBP taria da AESABESP, tel. 3824 6420.
Local: Las Vegas, Nevada, EUA Telefone: (21) 2240 1237 E-mail: aesabesp@aesabesp.com.br
Período: 27/01/2002 a 30/01/2002 abraman@abraman.org.br
Organização: American Water Works Assuntos: Manutenção, proteção Tarde de Tecnologia
Association - AWWA catódica, sistemas de proteção Vantagens e aplicações para trata-
www.awwa.org/exhibition mento de água do produto CLOR-IN
Assuntos: Reúso, conservação 2nd International Conference : em caixa d’água e caminhões-pipa.
ambiental, tratamento Water Quality Management Promoção: AESABESP - Pólo Sul
Local: New Delhi, Índia Data: dia 22/02/02, das 14 às 17h no
3rd IWA World Congress Período: 06/02/2002 a 08/02/2002 auditório ABV.
Local: Melbourne, Austrália Organização: Indian Committee on Palestrantes: Deise Moreira Paulo e
Período: 07/04/2002 a 12/04/2002 Large Dams - INCOLD Marco Brazão Arnaldo Guinle.

O Calendário Eventos Técnicos 2002 completo está disponibilizado na intranet da Sabesp, na página da TD -
Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico.

4 – Saneas / janeiro 2002


OPINIÃO

Águas subterrâneas e
gestão integrada
Aldo da C. Rebouças

“Na RMSP 90% dos poços perfurados


são clandestinos, gerando uma
utilização predatória dos
mananciais subterrâneos”

U ma parcela da água que cai da atmosfera


da região em apreço - chuvas, neblina e
neve, principalmente - escoa pela superfície,
de 3.400 km³/ano. Desta forma, a utilização
de apenas 25% destas recargas já representaria
uma oferta per capita de água de 5.000 m³/ano
outra infiltra e circula invisível pelo seu sub- para uma população de 170 milhões de habi-
solo. Entretanto, a água que infiltra no subsolo tantes.
poroso ou fissural da bacia hidrográfica em Assim, tanto no estado de São Paulo, no
apreço, flui a velocidade relativamente baixa - Nordeste ou no Brasil, em geral, é de funda-
da ordem do cm/dia - alimentando o fluxo dos mental importância que se passe do discurso à
rios durante o tempo em que as chuvas, sobre- prática da gestão integrada da gota d’água dis-
tudo, são praticamente nulas. ponível em cada uma das Unidades de Gestão
Desta forma, o escoamento básico (Qb) dos de Recursos Hídricos - UGRHI. Entretanto,
rios constitui uma boa medida da taxa de isto significa um grande desafio para a socie-
recarga das reservas de água subterrânea da dade brasileira, incluindo seu meio técnico,
bacia hidrográfica em questão. No estado de que é modificar a atual idéia, historicamente
São Paulo, o Qb médio é de 1.416 m³/s, signifi- estabelecida, de que a expansão da oferta é a
cando, portanto, que a contribuição dos fluxos única solução aos problemas de abastecimento
subterrâneos representa 45% do escoamento de água no Brasil. Todavia, não se pode perder
total (Q) dos seus rios de 3.130 m³/s. Por sua de vista que a extração desordenada atual da
vez, sendo a relação entre vazão mínima mensal água subterrânea desvia fluxos que desagua-
de dez anos de retorno - estimada estatistica- riam nos rios, influenciando, portanto, no seu
mente a partir de amostras de dados observa- escoamento básico, descargas mínimas, níveis
dos - e o Qb da ordem de 70% no estado de São d’água dos açudes, lagoas e pantanais além da
Paulo, tem-se uma idéia da importância de se redução da umidade dos solos que dá suporte
realizar uma gestão integrada. ao desenvolvimento da exuberante biomassa
Na região Nordeste do Brasil, o escoamento natural ou cultivada e biodiversidade na bacia
básico dos rios das suas 24 unidades de plane- hidrográfica em apreço.
jamento (UP’s) - PLIRHINE, 1980 e ÁRIDAS, Na RMSP, o grande número de poços não
1995 - indica que a recarga média de longo outorgados, cerca de 90% do total, a utilização
período dos seus aqüíferos é de 58 bilhões indiscriminada do manancial subterrâneo, o
m³/ano, ou 17% do escoamento total. No Plano grande número de poços mal construídos, res-
nacional, as descargas de base dos rios indi- salta a preocupação quanto aos riscos de con-
cam que as nossas reservas de água subterrânea taminação das águas subterrâneas da área, cujo
(112.000 km³) recebem uma recarga da ordem potencial é estimado em 18 m³/s.

Aldo da C. Rebouças é membro do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo,


autor de vários capítulos de livros, coordenador científico e editor de “Águas Doces no Brasil: Capital
Ecológico, Uso e Conservação” (IEA/ABC, 1999)

Saneas / janeiro 2002 – 5


P&D

Influência de altas concentrações


de sulfatos no tratamento de
esgotos por lodos ativados
Roque Passos Piveli 
Helvécio Carvalho de Sena 

1. Introdução 2. Objetivos

A Lei estadual nº 997 regulamentada pelo - Verificar o efeito do sulfato sobre o pro-
Decreto nº 8.468 de 08/09/76 em seu Artigo cesso de lodos ativados quanto à floculação,
19-A define que a concentração máxima do alteração na microfauna e eficiência na remo-
íon sulfato que uma empresa pode descarre- ção de matéria carbonácea.
gar nos coletores públicos de esgotos é de 1.000 - Verificar a quantidade de sulfato removida
mg/L. Assim, as empresas que apresentam em no tratamento primário e secundário, visando
seus efluentes quantidades de sulfato acima análise de balanço de massa.
Pesquisa & Desenvolvimento

do limite permitido, devem reduzir a concen- - Verificar a influência na digestão anaeróbia


tração de descarte do sulfato. Porém, como a da redução do sulfato a sulfeto, através dos
remoção de sulfato é um processo complexo, seguintes parâmetros: concentração de ácidos
que exige alto investimento, algumas empresas voláteis e alcalinidade, produção de gás, redução
têm proposto as seguintes alternativas: da DQO e destruição de sólidos totais voláteis.
- Construção de tanques de equalização nas
ETE’s para o recolhimento dos seus efluen- 3. Metodologia
tes encaminhados por caminhões-tanque e
posteriormente dosados no esgoto afluente; Para atingir os objetivos propostos, o estudo
- aeração forçada dos interceptores para se consistiu na operação e controle de dois sistemas
evitar a formação de sulfeto; de lodos ativados em escala de laboratório,
- dosagem de produtos químicos, como, por incluindo decantadores primários, operando na
exemplo, nitratos, também para se evitar a for- faixa convencional e tratando esgoto com suple-
mação de sulfeto dentro dos interceptores. mentação de sulfato. Os digestores anaeróbios são
Os estudos sobre sulfato e sua redução a sul- do tipo convencional, ou seja, com homogeneiza-
feto nas estações de tratamento de esgotos têm ção, mas sem aquecimento. O desenho esquemá-
sido realizados principalmente sobre a inibição tico do sistema está descriminado na figura 1.
da digestão anaeróbia, procurando-se conhe- Os sistemas de tratamento descritos acima
cer a faixa que pode inibir a ação das meta- operaram em paralelo, ou seja, as condições
nobactérias. Na fase líquida do tratamento, o operacionais foram similares sendo alterada
estudo da ação do sulfato é escasso e os existen- apenas a concentração de sulfato.
tes são relacionados ao processo de nitrificação
e também aos problemas de intumescimento 4. Fases do estudo
filamentoso causado pela presença de sulfeto.
Devido às necessidades crescentes de tra- Houve 03 fases distintas de estudo:
tamento de efluentes industriais, é necessário
um estudo para definir as cargas e/ou concen- 1ª fase - Outubro/00 a Janeiro/01
trações passíveis de serem tratadas em uma – 592 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
estação de tratamento de esgoto convencional de lodos ativados 1,
com vistas à manutenção da eficiência do tra- – 1.045 mg SO4-2/L na alimentação do sistema
tamento aeróbio e anaeróbio. de lodos ativados 2.

 Químico na ETE Suzano da SABESP, mestre em Engenharia Sanitária pela EPUSP.


email:hcsena@sabesp.com.br
 Professor doutor da EPUSP

6 – Saneas / janeiro 2002


Pesquisa&Desenvolvimento

2ª fase - Fevereiro a Maio/01


– 1.585 mg SO4-2/L na alimentação do sistema Afluente Descarte do lodo
de lodos ativados 1, Bomba
dosadora
– 2.071 mg SO4-2/L na alimentação do sistema Esgoto decantado Ar
L Efluente tratado
de lodos ativados 2. DP RA
3ª fase - Junho a Julho/01 DS

– 2.486 mg SO4-2/L na alimentação do sistema


de lodos ativados 1, Lodo adensado Reservatório

– 2.781 mg SO4-2/L na alimentação do sistema Lodo de retorno Gáz


Figura 1
de lodos ativados 2. DA Lodo Desenho
As concentrações de sulfato apresentadas foram digerido
esquemático
monitoradas nos esgotos de alimentação dos do sistema em
sistemas. escala de
Agitador magnético
laboratório
5. Apresentação dos resultados
precipitação quanto existe a presença de sódio,
5.1. Remoção de sulfato no sistema de potássio, lítio, cálcio, alumínio, cromo e ferro(III)
decantação primária. (JEFFERY, et.al., 1992). Os fenômenos da co-pre-
Utilizou-se um sistema por bateladas para cipitação associados com os desvios analíticos
simular o decantador primário. O tempo de podem explicar os resultados em que não foram
detenção adotado foi de 02 horas. A remoção observadas remoções e sim, o aumento na con-
média de sólidos em suspensão totais (SST) foi centração de sulfato no decantado.
de 56% comprovando que o tempo de detenção
adotado foi suficiente para manter a mesma efi- 5.2. Influência do íon sulfato no tratamento
ciência dos decantadores primários reais. aeróbio e anaeróbio
No período de Junho/00 a Dezembro/00, Os dois reatores aerados, operaram com
o sistema de decantação primária 1 foi ali- tempo de detenção hidráulico médio de 07
mentado com uma concentração média de 517 horas e a idade do lodo foi mantida entre 6 e
mg SO4-2/L, apresentando uma remoção média 8 dias em todo o período dos testes, variando
de 1,9%. Neste mesmo período, o sistema de apenas a concentração de sulfato.
decantação primária 2 foi alimentado com uma O IVL nos dois reatores mantiveram-se entre
concentração média de 1.014 mg SO4-2/L apre- 50 a 100 mL/g, o que pode ser verificado atra-
sentando uma remoção média de 2,2%. No vés da figura 2.
período de fevereiro/01 a maio/01, o sistema Na literatura especializada não foram encon-
de decantação primária 1 foi alimentado com tradas menções quanto à interferência de altas
uma concentração média de 1.715 mg SO4-2/L, concentrações de sulfato na remoção de matéria
apresentando uma remoção média de 3,5%. carbonácea no sistema de lodos ativados, a EPA
Neste mesmo período, o sistema de decantação (1987) cita que concentrações de sulfeto entre
primária 2 foi alimentado com uma concentra- 25 a 30 mg/L inibem a remoção carbonácea.
ção média de 2.210 mg SO4-2/L, apresentando A concentração de sulfeto total foi monitorada
uma remoção média de 4,5%. no interior dos reatores aerados e apresentaram
Observou-se que a remoção de sulfato no
sistema de decantação primária é pequena, e 400

que em muitos resultados não foi observada 350 Reator 1


Reator 2
qualquer remoção. O baixo índice de remoção 300
IVL - ml/g

era esperado, visto que o sulfato de potássio e o 250

sulfato de sódio são solúveis. 200

A determinação da concentração de sulfato 150

pelo método turbidimétrico tem como princípio 100

a reação entre o sulfato e o cloreto de bário, 50

formando o sulfato de bário que é insolúvel. 0


03/10/00.

24/10/00.

09/11/00.

28/11/00.

13/12/00.

29/12/00.

17/01/01.

02/02/01.

19/02/01.

12/03/01.

29/03/01.

20/04/01.

09/05/01.

28/05/01.

22/06/01.

11/07/01.

Contudo, o sulfato de bário mostra tendência


acentuada a arrastar outros sais e, dependendo da
natureza do sal co-precipitado, o erro dos resul-
tados pode ser positivo ou negativo. Ocorre a co- Figura 2 - Índice volumétrico do lodo (IVL) dos reatores aerados 1 e 2

Saneas / janeiro 2002 – 7


Pesquisa&Desenvolvimento

Tabela 1 - Remoção de DQO nos reatores aerados 1 e 2 No presente estudo, após um período de
aproximadamente 20 dias, os dois sistemas
Reator 1 Reator 2 voltaram à normalidade apresentando uma
Mês Afluente Efluente Remoção Afluente Efluente Remoção DQO no efluente final de aproximadamente 60
mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L, valor compatível com a DQO média no
efluente final medida entre outubro a maio/01
Out/00 572,6 98,8 82 % 550,5 101,3 82 % de 79,3 mg/L e 84,1 mg/L respectivamente para
Nov/00 750,6 85,0 88 % 742,1 94,6 87 % os reatores aerados 1 e 2.
Dez/00 424,2 70,0 76 % 480,9 69,6 79 %
Jan/01 502,8 93,7 81 % 519,6 100,5 81 %
O monitoramento realizado para verificar a
Fev/01 592,5 60,7 89 % 613,0 57,3 90 % eficiência na remoção da DBO5 mostrou que
Mar/01 628,4 68,7 88 % 663,0 74,5 88 % a remoção foi praticamente a mesma nos dois
Abr/01 769,2 82,1 89 % 761,7 95,0 87 % reatores aerados.
Mai/01 700,6 82,1 88 % 644,5 90,1 86 % Embora o sistema não tenha sido operado
Jun/01 837,5 223,3 72 % 776,4 196,7 76 % visando a nitrificação, monitorou-se as con-
Jul/01 743,9 95,6 87 % 661,1 91,6 86 % centrações de nitrogênio amoniacal nos afluen-
tes e efluentes dos sistemas de lodos ativados
valores variando entre 8 e 9 mg/L, respectiva- para verificar se as concentrações de sulfato
mente, para os reatores aerados 1 e 2. poderiam alterar o processo de nitrificação.
Monitorou-se a eficiência de remoção de DQO Segundo METCALF & EDDY (1.991) concen-
e DBO5 nos dois reatores aerados. As amostras trações de 500 mg SO4-2/L inibem o processo
dos efluentes foram filtradas antes da realização de nitrificação. Provavelmente, esta limitação
das análises (papel de filtro rápido) para remoção deve-se aos estudos que consideram as bacté-
de possíveis sólidos em suspensão. rias nitrificadoras mais sensíveis aos elementos
Na tabela 1 reportam-se as concentrações tóxicos do que as bactérias que participam do
médias de DQO nos afluentes e efluentes dos processo de remoção carbonácea.
reatores e a respectiva remoção. Nos afluentes aos reatores aerados, a concen-
O aumento da concentração de DQO no tração média de nitrogênio amoniacal esteve entre
efluente e a conseqüente diminuição na remo- 20 e 50 mg/L. Pode-se considerar que os dois rea-
ção nos dois reatores no mês de junho/01 pode tores foram alimentados com a mesma carga. Na
ser atribuída ao aumento da concentração de sul- figura 3, mostram-se as variações da concentra-
fato na alimentação dos reatores. Neste período, ção de nitrogênio amoniacal nos efluentes dos rea-
os reatores aerados mantinham uma concentra- tores aerados. Considerando a concentração de
ção de sólidos em suspensão totais voláteis está- nitrogênio amoniacal de 5,0 mg/L como referên-
veis, porém, houve um aumento da perda de cia, observa-se que em vários períodos, indepen-
sólidos pelo efluente do decantador secundário. A dentemente da concentração de sulfato, o processo
perda de SSV dos dois reatores aerados deveu-se de nitrificação ocorreu em níveis elevados.
a desfloculação do floco. Este fenômeno também A explicação para as grandes variações
foi observado pelos pesquisadores ALEM SOBRI- observadas deve-se a quantidade insuficiente
NHO, et.al. (2000), que realizaram pesquisa de alcalinidade presente no esgoto afluente aos
visando uma adaptação natural da biomassa de reatores aerados. Como o sistema não foi ope-
lodos ativados a altas concentrações de fenóis. rado visando a nitrificação, não houve a suple-
mentação de alcalinidade. A deficiência na
140,0
Efl. reator 1 Conc. Sulfatos:
quantidade de alcalinidade provoca a diminui-
120,0 Efl. reator 2 R1 = 2.486 mg/L ção no valor de pH do lodo biológico, fazendo
Nitr. amoniaca (mg/L)

5 mg NH4/L R2 - 2.781 mg/L


100,0 com que a atividade das bactérias nitrificantes
80,0 Conc. Sulfatos:
Conc. Sulfatos:
diminua a um valor mínimo.
R1 = 592 mg/L
60,0 R2 - 1.045 mg/L
R1 = 1.585 mg/L Os digestores anaeróbios foram alimentados
R2 - 2.071 mg/L
com lodo contendo sulfato nas seguintes con-
40,0
centrações médias:
20,0
– Digestor anaeróbio 1: out/00 a jan/01 - 401
0,0 mg SO4-2/L; fev a mai/01 - 1.280 mg SO4-2/L;
03/10/00.
19/10/00.
03/11/00.
22/11/00.
06/12/00.
14/12/00.
26/12/00.
09/01/01.
17/01/01.
26/01/01.
06/02/01.
14/02/01.
22/02/01.
14/03/01.
27/03/01.
10/04/01.
24/04/01.
08/05/01.
17/05/01.
19/06/01.
05/07/01.
19/07/01.

2.403 mg SO4-2/L.
– Digestor anaeróbio 2: out/00 a jan/01 - 602
Figura 3 - Concentração de nitrogênio amoniacal nos efluentes dos mg SO4-2/L; fev a mai/01 - 1.638 mg SO4-2/L;
reatores aerados 1 e 2 2.427 mg SO4-2/L.

8 – Saneas / janeiro 2002


Pesquisa&Desenvolvimento

O pH nos lodos digeridos oscilou entre 6,7 a 50%


8,3, enquanto alcalinidade e acidez não revela- 45%
ram desequilíbrio, pelo contrário, a quantidade 40%
de alcalinidade aumentou com o aumento na 35% 36%
concentração de sulfato. 30%

Remoção de DQO
29%
O digestor anaeróbio 1 foi alimentado com 25%
lodo com concentração média de ST e STV, res- 20%
Digestor anaeróbio 1
pectivamente de 20.433 mg/L e 11.642 mg/L, 15%
Remoção mínima - ETE Suzano
enquanto o digestor anaeróbio 2 apresentou 10% Digestor anaeróbio 2
concentrações de ST e STV, respectivamente, 5% Remoção média - ETE Suzano

de 22.094 mg/L e 12.152 mg/L. 0%

A taxa de destruição de voláteis para os dois nov/00 dez/00 jan/01 fev/01 mar/01 abr/01 mai/01 jun/01 jul/01

digestores é mostrada na figura 4, onde se pode Figura 4 - Comparação entre a destruição de sólidos voláteis nos digestores
comparar com a destruição dos voláteis no anaeróbios 1 e 2 com o digestor anaeróbio da ETE Suzano
digestor da ETE Suzano/Sabesp.
O aumento da destruição de voláteis no mês 50%
de março/01 pode ser atribuído ao aumento na 45%
concentração de sulfatos no lodo de alimentação. 40%
Na sulfetogênese os compostos de enxofre são
Destruição de sólidos voláteis

35%
utilizados como aceptores de elétrons para oxida- 30%
32%

ção dos compostos orgânicos, assim o aumento 25% 27%


na concentração de sulfato proporcionou as con- 20%
dições ideais para as bactérias sulforredutoras. Digestor Anaeróbio 1
15%
Os resultados obtidos nos meses de fevereiro e Remoção mínima - ETE Suz
10% Digestor Anaeróbio 2
março/01 estão em concordância com McCART- Remoção média - ETE Suzano
5%
NEY e OLESZKIEWICZ (1993) apud BARBER
0%
e STUCKEY (2000) que descobriram que a con- nov/00 dez/00 jan/01 fev/01 mar/01 abr/01 mai/01 jun/01 jul/01
centração de sulfato era importante quando a
taxa limitante era de aceptores de elétrons. OVER- Figura 5 - Remoção de DQO nos digestores anaeróbios 1 e 2
MEIRE et al. (1994) apud BARBER e STUCKEY
(2000), em estudo de modelagem matemática, que se manteve entre 50 e 100 mL/g.
concluíram que os aceptores de elétrons foram à · A remoção de DQO e DBO5 não é afetada
taxa limitante durante a redução do sulfato. pela presença de altas concentrações de sulfato,
O baixo rendimento observado nos dois desde que mantidas as condições aeróbias nos
digestores anaeróbios a partir de abril/01 está tanques de aeração.
relacionado com o aumento na concentração · O sulfato não altera a microbiologia do lodo
de sulfeto e a relação DQO/SO4-2. biológico e tampouco é condição suficiente para
Para verificar a influência de elevada con- o desenvolvimento de bactérias filamentosas.
centração de sulfato na remoção de DQO, com- · O processo de nitrificação não foi inibido
parar-se-á os resultados obtidos na operação por concentrações de sulfato de até 2.800 mg/L.
dos dois reatores em escala de laboratório com · A concentração de sulfato no lodo de ali-
os resultados de desempenho do digestor ana- mentação dos digestores é formada por, apro-
eróbio no 1 da ETE Suzano. Na figura 5 mos- ximadamente, 80% da concentração do sulfato
tra-se a remoção de DQO. no esgoto afluente.
A queda no desempenho dos digestores ana- · A inibição do sistema anaeróbio deve ser
eróbios 1 e 2 em relação à destruição de STV verificada pela avaliação dos seguintes pontos:
e remoção de DQO foram observadas a partir Redução na produção de biogás; Queda na
de abril e maio/01. Neste período a razão entre remoção de DQO; Queda na destruição de
DQO/SO4-2 para os dois digestores anaeróbios sólidos voláteis.
ficou entre 11 e 16. · A concentração máxima de sulfato que
uma estação de tratamento de esgotos por
6. Conclusões lodos ativados operando na faixa convencional
e tratando o lodo em excesso através da diges-
· As altas concentrações de sulfato não afe- tão anaeróbia pode receber, sem afetar os seus
taram a sedimentabilidade do lodo biológico, processos, é de 1.000 mg SO4-2/L.

Saneas / janeiro 2002 – 9


CAPA

O stress da água e
o futuro dos mananciais
Estrangulados por ocupações irregulares,
mananciais da RMSP vivem momentos dramáticos

Odair Marcos Faria


Carga poluidora difusa
Matéria de Capa

A Região Metropolitana de São Paulo - RMSP


- com 17,5 milhões de habitantes, vive
hoje uma inegável situação de stress hídrico. A
Tantos superlativos também se fazem sentir
do lado negativo. Segundo dados da Secretaria
da Habitação e Desenvolvimento Urbano/PMSP
diferença entre oferta e demanda de água já existem no município de São Paulo, na área da
não é mais uma equação de resultado confor- Bacia do Guarapiranga, 176 favelas, com 22.355
tável. Ao contrário, olhos aflitos em todos os famílias e 121.164 pessoas. Além de São Paulo,
setores acompanham com apreensão o desfe- os municípios de Embu, Embu-Guaçú e Itape-
cho desta história, que, a depender do empe- cerica também apresentam sérios problemas de
nho de seus personagens, pode ter um final favelamento dentro das áreas de mananciais.
trágico, com previsões de escassez crônica de É neste palco de potenciais e problemas que
água em 15 anos, segundo os mais pessimistas. se desenrola o drama da “cidade que não pára”.
São Paulo é a maior capital do Hemisfério Cada vez mais estudiosos e técnicos, políticos e
Sul. Seu entorno, com outros 38 municípios da militantes, buscam referência no mundo para
Região Metropolitana, faz crescer ainda mais a debater o assunto. A má notícia é que o colapso
importância e, na mesma medida, o risco con- dos recursos hídricos não é um problema local.
centrado nesta parte do País. A capital paulista A boa é que existe saída. Ainda.
concentra 15% do PIB (Produto Interno Bruto)
e 6% da população do Brasil, num turbilhão de Stress da água - O conceito de “stress
incessante atividade cultural, industrial, comer- hídrico” (postulado por Malin Falkenmark)
cial e tecnológica, como em poucos lugares. está baseado nas necessidades mínimas de água

10 – Saneas / janeiro 2002


Matéria de Capa

Odair Marcos Faria


per capita, para manter uma qualidade de vida
adequada em regiões moderadamente desen-
volvidas situadas em zonas áridas.
Em muitas partes do Globo, como o Oriente
Médio, a situação de stress da água resulta, inva-
riavelmente, em conflitos ríspidos entre Esta-
dos. O governo do Egito, por exemplo, disse
com todas as letras que se a Etiópia retirar
mais uma gota d’água do Rio Nilo, o ato seria
interpretado como uma declaração formal de
guerra. Leve-se em conta que 80% das águas
deste rio vêm da Etiópia e tem-se um cenário
de barril de pólvora na região.
Em todo Oriente Médio e no norte do con-
tinente africano existem situações semelhantes
com risco de conflito iminente. Na Cisjordânia,
os palestinos têm acesso a não mais que 80 litros
de água por dia, enquanto os eternos inimigos
israelenses podem usar 250 litros por pessoa/dia.
Em Israel, 70% da água usada na agricultura é
“residual”, ou seja, reaproveitada depois de já ter
servido casas e indústrias, o que eleva a chance
de contaminação dos elementos. Da água potá-
vel do país, 30% é residual. Neste país, mais
especificamente na Faixa de Gaza, o mapa da
água, da geologia e dos conflitos se sobrepõem.
Num mundo em que apenas 1% da água
superficial, em estado líquido, é própria para
consumo, não é delírio projetar a realidade de
Israel para outros cantos. Só na África, são 11
os países que têm dificuldades com a água. No
Oriente Médio, são nove. A situação também
é desconfortável no México, Hungria, Índia,
China, Tailândia e Estados Unidos. Ocupação irregular nas margens de córrego em Cumbica

(Companhia Siderúrgica Nacional) adapta-se ao regime federativo em


Água com preço e concessionárias de saneamento que os rios podem ser tanto de
estaduais e municipais, e tem por domínio da União como dos Esta-
A ANA (Agência Nacional de
Águas) e o CEIVAP (Comitê
para Integração da Bacia Hidrográ-
objetivo financiar a recuperação do
Rio Paraíba do Sul. A expectativa
dos. Os rios estaduais são aqueles
que não atravessam fronteiras e os
é de uma arrecadação em torno de da União, aqueles que passam por
fica do Rio Paraíba do Sul) cobrarão, R$ 14 milhões por ano. mais de um Estado, caso do rio
a partir de junho de 2002, uma tarifa A Constituição de 1988 previu Paraíba do Sul.
pela utilização das águas daquela a instituição de um sistema nacio- Hoje, as empresas de saneamento
bacia. A medida atinge 180 cidades nal de gerenciamento de recursos do País não pagam pelo uso da água.
e cerca de 8 mil indústrias em São hídricos e que culminou com a O que o consumidor paga é o ser-
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. aprovação, em 1997, da legislação viço de captação, adução, tratamento
O valor da cobrança foi calculado de recursos hídricos e a criação da e distribuição da água e, em alguns
pelo Comitê e deve ser próximo de 1 ANA, em 2000. casos, pela coleta e tratamento de
centavo de Real por m³ de água reti- A legislação brasileira foi inspi- esgotos. A tarifa mais alta será a das
rada da bacia do rio Paraíba do Sul. rada pela européia e adota como empresas que despejam dejetos nos
A decisão de instituir a cobrança unidade territorial de gestão a rios e das concessionárias de sane-
foi tomada pelo CEIVAP, do qual bacia hidrográfica. Mas o modelo amento que deixarem de tratar os
fazem parte empresas como a CSN brasileiro é mais complexo, pois esgotos antes de lançá-los nos rios.

Saneas / janeiro 2002 – 11


Matéria de Capa

As ações do Poder Público


De que forma o Estado e os Municípios atuam na gestão dos mananciais da RMSP, e os projetos
de lei que tramitam na Assembléia Legislativa de São Paulo. Veja as entrevista a seguir:

■ Rui Assis Brasil de Bacia, já prevista quando da lei pela nova legislação de mananciais,
Secretário Adjunto da Secretaria que instituiu o Sistema Estadual de a Lei 9866/97, proposta pelo Gover-
Estadual de Recursos Hídricos, Gerenciamento de Recursos Hídri- nador Mário Covas e aprovada pela
Saneamento e Obras cos, mas que agora passa a ter, e Assembléia Legislativa. Essa nova lei
isto merece especial destaque, algu- tem abrangência estadual e estabe-
Dentro dos Projetos de Leis Espe- mas funções também relacionadas ao lece critérios gerais para as ações nas
cíficas que estão sendo preparados uso e ocupação do solo. Finalmente, áreas pertencentes às bacias hidro-
para envio à Assembléia Legisla- são mantidas onde já estavam fun- gráficas de corpos d´água utilizados
tiva, como se dará a divisão de ções importantes como a de licen- como manancial. Ao contrário da
responsabilidades na gestão dos ciamento ambiental. Observo que Lei 1172, que detalhava as condições
mananciais entre os órgãos e com- as leis específicas devem seguir este e critérios de uso e ocupação do
panhias ligadas à Secretaria de padrão, que lhes é anterior, podendo, solo comuns a todos os mananciais
Recursos Hídricos e demais orga- no entanto, detalhar alguns pontos da RMSP, a Lei 9866 determina que
nismos, como Secretaria do Meio no sentido de permitir maior capa- para cada bacia ou sub-bacia utili-
Ambiente, CETESB e prefeituras? cidade operacional do sistema. Em zada como manancial seja proposta
O futuro sistema de gestão para particular, o anteprojeto de lei para pelo respectivo Comitê de Bacia e
as áreas de mananciais já está pre- a bacia do Guarapiranga estabelece aprovada pela Assembléia Legislativa
visto na Lei Estadual 9.866/97, e será critérios para separar empreendi- uma lei específica, com o detalha-
vinculado ao Sistema Estadual de mentos de natureza mais local, que mento dos parâmetros urbanísticos e
Gerenciamento de Recursos Hídri- passariam a ser licenciados pelas Pre- impactos na qualidade da água con-
cos. Assim, deverá ser constituído feituras Municipais, e de natureza siderados para aquele manancial. A
pelo Comitê ou Sub-Comitê de regional, que continuariam a cargo partir de uma moldura geral, a pró-
Bacia, pelo órgão técnico e pelas da Secretaria de Meio Ambiente do pria Lei 9866, cada manancial deverá
demais organizações da adminis- Governo do Estado. ter sua lei específica.
tração pública que têm responsa-
bilidades legais sobre o território Qual o cronograma da tramitação
a ser gerido. O Comitê ou Sub- ■ Rodolfo Costa e Silva e aprovação desses projetos?
Comitê é o grande fórum de dis- Deputado Estadual (PSDB), Presidente A elaboração das leis é um processo
cussão do sistema de gestão, local da Comissão de Meio Ambiente e Sa- de maturação longo na medida em
de debate e, eventualmente de deli- neamento da Assembléia Legislativa/SP que envolve a participação dos três
beração, sobre matérias de inte- segmentos que compõem o sistema
resse público comum e relevante. Qual é a interrelação entre os proje- de gestão de recursos hídricos no
Sua composição é tripartite, com tos de lei em tramitação na Assem- Estado: Governo Estadual, Municí-
igual número de representantes do bléia Legislativa de interesse para pios e Sociedade Civil. Por isso, no
Governo do Estado, das prefeitu- a gestão dos mananciais da Região sentido de possibilitar o atendimento
ras municipais e das organizações Metropolitana de São Paulo? de demandas da sociedade, antes
civis. Chamo a atenção, particular- A Lei da Cobrança do Uso da Água, mesmo da aprovação da lei especí-
mente, para o fato de o Comitê as Leis Específicas das Sub-bacias e fica, é que foi proposta a alteração da
ter a responsabilidade de aprovar, a Regulamentação do Art.53 tratam regulamentação do artigo 53 da Lei
previamente ao envio à Assem- todas da mesma questão, ou seja, 1172, cujos critérios só serão substi-
bléia Legislativa, o chamado PDPA das condições de uso e ocupação tuídos após a aprovação pela Assem-
- Plano de Desenvolvimento e Pro- do solo em áreas de mananciais. A bléia Legislativa das leis específicas.
teção Ambiental da Bacia, que é Lei 1172 é a Lei de Proteção aos Já a cobrança pelo uso da água, que
um documento norteador da ação Mananciais da Região Metropoli- está andando em paralelo, refere-se
pública estadual e municipal no ter- tana de São Paulo, com abrangên- a todas as bacias do Estado, sejam
ritório. O órgão técnico do sistema cia limitada a essa região. Essa lei ou não utilizadas como mananciais
deverá ser, por sua vez, a Agência está em processo de substituição para consumo humano.

12 – Saneas / janeiro 2002


Matéria de Capa

Odair Marcos Faria


■ Paulo Teixeira
Secretário Municipal de Habitação
da PMSP

Como a Prefeitura de São Paulo vê sua


participação, e a dos outros agentes
públicos, no gerenciamento dos manan-
ciais que abastecem a Capital?
A Prefeitura de São Paulo vem con-
tribuindo na política de preservação dos
mananciais por meio de diversas frentes:
• Reorganização do sistema integrado
de fiscalização;
• Elaboração de leis específicas das
Áreas de Proteção e Recuperação dos
Mananciais - APRMS; Mais perto dos olhos, aqui no Brasil, já No esforço de
• Execução de obras de recuperação é evidente que os moradores da capital de recuperar o
(investimento de 190 milhões de dóla- São Paulo, e cada vez mais também das cida- Guarapiranga,
res entre 1994 e 2001), por meio da foram gastos
des próximas, estão incorporando ao vocabu- em sete anos,
Secretaria da Habitação e Desenvolvi- lário cotidiano palavras antes distantes, como cerca de US$
mento Urbano - SEHAB; falta d’água, rodízio, racionamento, preocupa- 400 milhões.
• Captação de novos recursos para a ção pela contaminação e privatização. Represa
continuidade das obras de recupe- Na Região Metropolitana de São Paulo, a agoniza em
ração das bacias da Guarapiranga e conseqüência
disponibilidade hídrica é muito baixa. São 200 da ocupação
Billings, por meio do Projeto Alto m³/habitante/ano, o que caracteriza uma situ- clandestina e
Tietê (investimentos de 167 milhões ação de stress hídrico. Na prática, a população da poluição
de dólares a serem efetuados pela Pre- sente estes conceitos técnicos em racionamento
feitura nos próximos 4 anos); e falta d’água.
• Contenção de novos loteamentos; Nos palanques, auditórios e plenários da
• Desenvolvimento de programa de Assembléia Legislativa correm projetos que
inclusão, como o “Começar de Novo” também tratam do tema, procuram antecipar-se
e o “Bolsa Trabalho”, junto á popu- um ao outro para tutelar os recursos hídricos.
lação moradora - já implantados no Enfim, os problemas de São Paulo são do tama-
distrito de Grajaú e previsto para o nho de sua importância para o País e o Mundo.
Jardim Ângela e Parelheiros (início Saturação, poluição, descaso ou incompetên-
de 2002); cia. O quadro negro que se apresenta é com-
• Educação ambiental associada ao pro- posto de todos estes problemas, mas o desfecho
grama de obras e programas sociais; da história pode ser, no mínimo, menos trágico.
• Cadastro de propriedades fundiárias Ainda que os governos municipais e o poder
da zona rural e elaboração pela Secre- estadual discordem sobre questões estruturais,
taria do Meio Ambiente; que existam debates acalorados sobre a priva-
• Recuperação dos espaços públicos tização, cobrança pelo uso da água e uso do
e manutenção da infra-estrutura solo, os ventos que sopram podem trazer solu-
urbana por meio das Administrações ções. Afinal, grande parte da briga que envolve
Regionais; os mananciais da Região Metropolitana é resul-
• Atendimento emergencial à popula- tante da disputa por legislar sobre o assunto, e
ção em áreas de risco. não por eximir-se da responsabilidade.

Saneas / janeiro 2002 – 13


Matéria de Capa

O anti-exemplo - Guarapiranga é referência Longe de ser apenas um número frio, estas


em desastre ecológico já transformada em estimativas dão conta de uma rede complicada,
modelo de “o que não se fazer com um manan- tecida à base de muito sofrimento humano,
cial” e, por isso mesmo, é peça-chave na defini- desamparo e descaso, com os mesmos fios que
ção das políticas do futuro para o setor. tecem a contaminação do manancial.
Localizada ao sul da Região Metropolitana Dos 10 distritos policiais de São Paulo, os 5
de São Paulo, a represa responde por 20% da mais violentos, com maior índice de criminali-
água consumida pelo Sistema Metropolitano, dade estão na região dos mananciais. Segundo
cerca de 11 m³/s. Trata-se de uma bacia relati- o ex-secretário de Recursos Hídricos, Sanea-
vamente pequena, com cerca de 700 km², mas mento e Obras do Estado de São Paulo, Antônio
de fundamental importância. Carlos de Mendes Thame, quando de sua par-
Cálculos das mais diversas fontes convergem ticipação no Seminário Internacional “Manan-
para o mesmo número de moradores irregu- ciais da Grande São Paulo”, em 5 de outubro do
lares na Guarapiranga. Ao todo são 180 fave- ano passado, no Parlatino, isso passou a acon-
las, com mais de 1,6 milhão de habitantes entre tecer “no momento em que se considerou que
Billings e Guarapiranga, num crescimento da eram invasões ilegais e que, portanto, não se
ordem de 9 a 12 mil novas ocupações por ano. podia lá chegar e fazer as políticas públicas

Artigo 53 - Discórdia
T odas as idéias, opiniões, discur-
sos e sugestões valem pouco
sem passar pelo processo de for-
deputado Rodolfo Costa e Silva,
presidente da Comissão de Recur-
sos Hídricos e Meio Ambiente da
à preservação, em outras áreas. O
ponto convergente das duas pro-
postas é a obrigatoriedade da liga-
malização legal. É na Assembléia Assembléia Legislativa. ção de esgoto nestas propriedades.
Legislativa do Estado que decide-se Há, no entanto, mais confusões Deixando de lado o consenso
a legislação para os mananciais. do que os olhos podem ver. Costa e em torno da necessidade do afas-
As atenções estão em três prin- Silva lembra que“a elaboração das leis tamento e tratamento dos esgotos
cipais leis. A primeira delas, a Lei é um processo negociado, na medida gerados, sobram argumentos contra
1172/76, é de Proteção aos Manan- em que envolve a participação dos e a favor da compensação ambiental.
ciais da Região Metropolitana de três segmentos que compõem o sis- “Somente no Município de São Paulo
São Paulo, com abrangência limi- tema de gestão de recursos hídricos existem 40 mil famílias em favelas
tada a essa região. Ela pecava por ser no Estado: Municípios, Sociedade em áreas de mananciais. Como essas
genérica, na medida em que ditava Civil e Governo Estadual”. pessoas poderiam pagar por outro
a todas as bacias as mesmas leis. terreno e ter a propriedade de barra-
Sendo assim, a Lei 1172/76 foi Regularização - Os projetos de cos?”, questiona Ana Lúcia Ancona,
substituída pela nova legislação leis específicas para as regiões de coordenadora do Programa Alto
de mananciais, por proposta de mananciais estavam em fase final de Tietê - Guarapiranga Billings, na Pre-
projeto de lei de iniciativa do redação nos sub-comitês, quando feitura de São Paulo.
Governador Mário Covas, em 1997, o Governo Estadual encaminhou à O ex-secretário estadual de Meio
transformada na Lei 9.866/97. A Assembléia Legislativa, através da Ambiente, Ricardo Trípoli, justi-
grande novidade é acabar com a Secretaria do Meio Ambiente, pro- fica a regulamentação do artigo 53
idéia de que todas as bacias e jeto de regulamentação do artigo com a demora na elaboração das
mananciais podem ser regidos por 53 da Lei 1172/76 possibilitando leis específicas de cada manancial,
uma legislação única que, por natu- a regularização de imóveis em como determinava a lei 9866/97.
reza, não dá conta da complexidade regiões de mananciais condicio- Ancona retruca, justificando a
de cada sistema em particular. nada à compra de áreas não con- demora. Segundo ela, a minuta
A Lei 9.866/97 estabelece, então, tígüas a serem preservadas, como do projeto para Guarapiranga está
a formação de comitês, com a par- forma de compensação ambiental. pronta desde agosto passado,
ticipação do Estado, Municípios A grande diferença entre o dependendo apenas da conclusão
e Sociedade Civil, incumbidos de projeto dos sub-comitês e o do do mapeamento das áreas de inter-
deliberar sobre cada bacia ou sub- Governo do Estado é justamente a venção propostas: restritas à ocu-
bacia. “Cada manancial deverá ter compensação de danos ambientais pação, de ocupação dirigida e de
sua lei específica”, como explica o por compra de terrenos destinados recuperação ambiental.

14 – Saneas / janeiro 2002


Matéria de Capa

Campinas
Vale do Paraíba

Sorocaba
RMSP

Santos

Vale do Ribeira
A recuperação e manutenção dos recursos hídricos
das bacias em torno da RMSP tem especial valor
estratégico para o futuro do Estado de São
Paulo. Para lá estão migrando empreendimentos
industriais intensivos em consumo de água

de saneamento, colocar água, esgoto ou ener- Perspectivas - A Região Metropolitana de São


gia elétrica, ou quando chegaram esses melho- Paulo vive, evidentemente, em stress hídrico
ramentos, chegaram com muito esforço”. O e, diante da situação urgente e preocupante,
secretário também reconhece que “houve uma há quem diga que os programas de recupera-
lassidão no passado com relação a presença ção destes mananciais deveriam ser esquecidos.
de políticas ativas do Estado, uma omissão até Seja qual for a conta, recuperar um manancial é
nessa questão de ter locais para lazer, policia- sempre mais barato, inclusive do ponto de vista
mento, ter a presença efetiva do Estado, sem ecológico, do que condená-lo a ser definitiva-
o que, se cria uma inversão de valores e se mente um depósito de lixo, enquanto busca-se
cria, acima de tudo, uma sociedade com valo- um novo espaço para exploração predatória.
res paralelos que redunda na violência e na Embora a RMSP apresente um quadro, em
degradação da família”. termos de recursos hídricos no curto e médio
O quadro de degradação da represa de Guara- prazos, mais dramático, ampliar nossa área
piranga é mundialmente famoso. A tentativa de de análise para as bacias e macrorregiões em
recuperar a represa, no entanto, é que é contada torno dela (veja mapa acima) possibilita identi-
em versões divergentes, a depender do locutor. ficar situações que exigem, desde já, uma visão
O plano consumiu em sete anos US$ prospectiva de longo prazo visando a susten-
190 milhões, só para execução de obras de tabilidade hídrica e econômica das regiões do
recuperação, através da Secretaria Munici- Vale do Paraíba do Sul, Campinas/Piracicaba,
pal de Habitação e Desenvolvimento Urbano Sorocaba, Baixada Santista e Vale do Ribeira.
(Sehab), mais US$ 94 milhões através da A recuperação e manutenção dos recursos
Sabesp e US$ 119 milhões do Banco Mun- hídricos destas bacias tem especial valor estra-
dial, em forma de empréstimo ao Governo tégico para o futuro do Estado de São Paulo,
do Estado de São Paulo. sendo que para elas (menos a do Vale do
A implementação do Programa estava a cargo Ribeira e Baixada Santista), estão migrando
da Unidade de Gerenciamento (UGP-Guarapi- os empreendimentos industriais intensivos em
ranga), instalada junto à Secretaria de Estado consumo de água.
dos Recursos Hídricos, Saneamento e Obras Este panorama reforça a imagem do Vale
(SRHSO), e de cinco agentes executores: Sabesp, do Ribeira como o grande potencial hídrico,
Prefeitura de São Paulo, Companhia de Habi- nesta macrorregião, e de menor desenvolvi-
tação e Desenvolvimento Urbano do Estado de mento social em todo o Estado de São Paulo.
São Paulo (CDHU), Eletropaulo e Secretaria de Como contribuição à reflexão sobre o
Estado do Meio Ambiente (SMA). Trata-se do tema, essencial para as futuras gerações de
primeiro programa, com gestão compartilhada, paulistas e brasileiros, Saneas trará, em seu
financiado em todo o mundo pelo Banco Mun- próximo número, informações acerca desta
dial de recuperação de manancial. macrorregião. ■

Saneas / janeiro 2002 – 15


P&D
ARTIGOS TÉCNICOS

Reúso, controle da recepção de


efluentes industriais e gestão integrada
do sistema de esgotos da RMSP
Eng. Nelson L. R. Nucci 
Engª. Ana Maria Valsecchi 

1. Introdução em dois conjuntos de tanques diferentes; cla-


rificação final em decantadores circulares com
Neste artigo, a gestão do sistema de esgotos da extração de lodos por sifonamento; tratamento
RMSP é abordada sob dois enfoques diversos. de lodos por adensamento por gravidade para
No primeiro, de natureza essencialmente lodos primários e por flotação para lodos
técnica, apresentam-se os resultados de estu- secundários; digestão anaeróbia e desidratação
dos e projetos desenvolvidos pela JNS para a mecânica dos lodos produzidos.
Sabesp e que respondem a novas necessidades No Quadro 1 estão sumarizados as concen-
de gestão do sistema de esgotos metropolitano, trações previstas afluentes à URA-BAR, fruto
respectivamente: do levantamento da qualidade do afluente à
- o reúso das águas provenientes do trata- ETE Barueri.
mento de esgotos na ETE Barueri;
- o pré-tratamento de efluentes industriais 2.2 Critérios e parâmetros de projeto
em Vila Leopoldina previamente ao seu enca- da URA-BAR
minhamento para a ETE de Barueri. Para o desenvolvimento do estudo de alter-
O segundo é uma reflexão sobre as novas nativas técnicas para unidade de recuperação de
necessidades da gestão do sistema em face da água URA-BAR foram estabelecidas as seguin-
crescente diversidade de objetivos que a ela se tes metas:
impõe. Esta reflexão foi se delineando ao longo - a água deverá ser adequada a usos indus-
da elaboração dos trabalhos referidos. Está triais, especialmente o resfriamento em siste-
em estágio incipiente, mas suficiente para ins- mas semi-abertos;
tigar a busca de respostas que ainda não estão
suficientemente formuladas, especialmente em
Quadro 1
seus desdobramentos não técnicos. Características qualitativas do afluente à URA-BAR
Artigos Técnicos

Parâmetros Valores de Projeto


2. URA-BAR - Instalações para
recuperação da água para reúso a Alcalinidade Total (CaCO3) 130 - 200
partir da ETE de Barueri (1) Condutividade (mS/cm) 350 - 600
DQO 270 - 700
2.1 Os esgotos afluentes à ETE Fósforo Total (P) 4 - 10
Nitrogênio Amoniacal (N) 16 - 40
A ETE Barueri, tendo hoje capacidade nomi- Nitrogênio Total Kjeldhal (N) 22 - 55
nal de 9,5 m³/s recebe os esgotos provenientes pH 6,9 - 7,1
de bacias de esgotamento com ocupação diver- Sólidos Suspensos Totais 200 - 300
sificada que inclui a industrial perfazendo Temperatura (ºC ) 20 - 25
vazão de cerca de 9,0 m³/s. O tratamento com- NMP Coli Total (org./100 ml) 1E08
NMP Coli Fecal (org./100 ml) 1E07
preende: tratamento preliminar, através de gra-
deamento e desarenação; decantação primária Unidades em mg/L, exceto quando indicado
em tanques retangulares; aeração por ar difuso de outra forma.

 Diretor da JNS Engenharia, Consultoria e Gerenciamento S/C Ltda


 Engenheira da JNS

16 – Saneas / janeiro 2002


Artigos Técnicos

Quadro 2 : Padrões de qualidade para a água recuperada - URA-BAR

Parâmetros Água recuperada Papel e Cimento Química Resfriamento


URA-Bar Celulose

Alcalinidade Total (CaCO3) 125 – 400 125 350


Alumínio (Al) 0,1 – – – 0,1
Bicarbonato (CaCO3) 24 – – 128 24
Cálcio (Ca) 50 20 – 68 50
Cloretos (Cl) 100 200 250 500 500
Cor (uC) 10 10 – 20 –
DQO 75 – – – 75
Detergentes (MBAS) 1 – – – 1
Dureza Total (CaCO3) 100 100 – 250 650
Ferro Total (Fe) 0,1 0,1 2,5 0,1 0,5
Fosfato Total (P) 1,0 – – – 1,0
Magnésio (Mg) 0,5 12 – 19 0,5
Manganês (Mn) 0,5 0,05 0,5 0,1 0,5
Nitratos (N) 5 – – 5 –
Nitrogênio Amoniacal (N) 1,0 – – – 1,0
Óleos e graxas 1 – – – 1
pH 7-9 6 - 10 6,5 - 8,5 6,2 - 8,3 7-9
Sílica (SiO2) 35 50 35 50 50
Sólidos Dissolvidos Totais 500 – 600 1000 500
Sólidos Suspensos Totais 5 10 500 5 100
Sulfatos (SO4) 100 – 250 100 200
Turbidez (NTU) 2 – – – –
NMP Coli Total (org./100ml) 2,2 – – – –

Unidades em mg/L exceto quando anotado de forma diversa.

- as características qualitativas da micos de largo emprego na produ- Quadro 3


água recuperada deverão permitir ção de água não - potável para usos Padrões de qualidade da água industrial
o uso não potável irrestrito, sem diversos, tais como: resfriamento
Parâmetros Valores máx.
riscos para a saúde pública. em sistemas semi-abertos, lavagem
Este posicionamento permite o de pisos etc. Alcalinidade Total (CaCO3) 100
estabelecimento de parâmetros para Estes valores são reproduzidos no Alumínio (Al) 0,1
a qualidade da água desejada a Quadro 3 apresentado ao lado. Cálcio (Ca) 20
Cloretos (Cl) 130
partir da experiência internacional. Cloro Total 4
O Quadro 2 resume as caracte- 2.3 Dimensionamento das Condutividade (m/cm) 600
rísticas qualitativas propostas como unidades de processo Cor (uC) 5
DQO 20
desejáveis para a água recuperada A URA-BAR será implantada na Detergentes (MBAS) 0,5
visando usos industriais. ETE Barueri, em terreno contíguo ao Dureza Total (CaCO3) 60
Para modular as instalações de conjunto Elevatória Final - Grades - Ferro Total (Fe) 0,1
Fósforo Total (P) 0,1
reúso, tendo em conta os estudos de Caixas de Areia. Manganês (Mn) 0,03
mercado de demanda, foi adotada a Foi projetada para tratar esgoto Nitratos (N) 5
vazão média de 100 L/s. captado no canal afluente aos Nitrogênio Amoniacal (N) 1
Nitrogênio Total Kjeldhal (N) 2
O controle da vazão derivada Decantadores Primários, dispen- Óleos e graxas 0,2
para as instalações de reúso está pre- sando a adição de fonte externa de Ph 6,5 - 6,9
visto para ser feito no bombeamento carbono para completar o processo Sílica Total (SiO2) 15
Sólidos Dissolvidos Totais 500
do efluente parcialmente tratado na de nitrificação/desnitrificação. Sólidos Suspensos Totais 2
ETE Barueri, com a possibilidade de O esgoto captado será recalcado Sulfatos (SO4) 30
operar com até 125 L/s, por perío- para a URA constituída das seguin- Sulfetos (S) 0
Temperatura (ºC) 20 -25
dos não superiores a 3 horas. tes unidades: Turbidez (NTU) 1
No tocante aos padrões para água Zinco (Zn) 0,1
industrial foram estabelecidos como Reator Biológico: lodos ativados com NMP Coli Total (org./100 ml) 2
NMP Coli Fecal (org./100 ml) 0
metas valores que podem ser obti- zona anóxica primária objetivando
dos pela aplicação da combinação a remoção conjunta de carbono Unidades em mg/L, exceto quando
de processos biológicos e físico-quí- orgânico e nitrogênio, este último indicado de outra forma.

Saneas / janeiro 2002 – 17


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por nitrificação - desnitrificação desenvolvido pela JNS em consórcio cessos biológicos aeróbios e/ou anae-
biológicas. Eventualmente, o reator com as empresas OPMAN e LAA, róbios em operação na ETE Barueri.
poderá ser operado com zona anó- teve como objetivo principal a pro-
xica secundária, pela interrupção da teção aos processos de tratamento b) Estabelecimento de valores numé-
aeração no último trecho do tanque, da ETE Barueri. Daí decorreu a ricos para limites de concentrações
que poderá manter-se misturado necessidade de estimar a magni- dos poluentes selecionados, com base
empregando misturador submersí- tude das cargas tóxicas combinadas na literatura técnica (limites de
vel ali posicionado. que podem ser admitidas nesta esta- inibição de processos biológicos) e
ção sem causar problemas opera- na legislação pertinente (Decreto
Separação de sólidos por flotação por cionais. 8468/76, Portaria CONAMA 20, NBR
ar dissolvido: flotador de alta taxa, O primeiro passo foi a identifi- 10004), que fixa os padrões de emis-
operando com relações ar/sólidos cação do mercado potencial. Procu- são para efluentes líquidos e para os
elevadas e produzindo um lodo flo- rou-se então, através de uma análise sólidos gerados nas ETE’s.
tado com mais de 1,5% de sólidos e da situação do parque industrial
efluente clarificado com menos que na RMSP, enfocando os aspectos e c) Operação interativa do modelo
50 mg/L de sólidos suspensos. estruturas que influenciam esse seg- Toxchem, fazendo crescer a concen-
mento, vislumbrar o cenário atual tração de cada poluente no afluente
Gradeamento fino do lodo recirculado e de tendência futura de modo a a ETE, até ser atingido o limite mais
suportar decisões técnicas e econô- restritivo entre os estabelecidos.
Descarte de lodo em excesso micas que embasaram a viabilidade
do projeto. Nos casos de cádmio. cromo, ben-
Processos físico - químicos: o esgoto Os passos seguintes foram a zeno e fenol o limite mais restritivo
será submetido a tratamento físico- determinação das cargas máximas foi relativo à qualidade do lodo pro-
químico constituído por processos admissíveis na ETE Barueri e sua duzido. Nos demais casos o limite foi
de coagulação - floculação - sedi- comparação com o mercado pro- ditado pela inibição dos processos
mentação, empregando coagulante dutor de efluentes industriais a biológicos, aeróbio ou anaeróbio.
contendo alumínio, particularmente serem pré-tratados. A ferramenta As concentrações máximas assim
o cloreto de alumínio ou o policlo- empregada para avaliação das cargas determinadas foram utilizadas para
reto de alumínio (PAC). admissíveis no Sistema Barueri foi o cálculo das cargas máximas admis-
modelo matemático TOXCHEM + síveis na ETE Barueri.
Filtração em meio granular e desinfec- desenvolvido pela ENVIROMEGA O mercado produtor foi avaliado
ção final: filtros auto-lavantes de dupla INC., Canadá. Através dele pude- em termos de cargas recebidas via
camada (antracito e areia), seguidos ram ser avaliados os destinos de sistema coletor e via transporte por
de desinfecção por cloração. substâncias químicas em sistemas de caminhões até o PTVL. Estas foram
transporte de esgotos e estações de cotejadas com as cargas admissíveis
2.4 Custos tratamento, considerando a ação de considerando três diferentes cenários
O valor total estimado de inves- mecanismos de volatilização, biode- de vazões tratadas em Barueri, res-
timento para a implantação da Uni- gradação e adsorção de sólidos. pectivamente 7,0, 9,5 e 12,0 m³/s.
dade de Reúso de Barueri foi de Para determinação das cargas No quadro 4 são resumidas e
R$ 5.383.842,67 equivalente a US$ admissíveis foram obedecidas etapas quantificadas as hipóteses adotadas
1.889.067,60. abaixo descritas. para a montagem dos cenários.
Os custos operacionais foram A carga média efluente do PTVL
estimados e, prevê-se um custo final a) Seleção dos poluentes a serem (Cept) ficou restrita ao valor teto de
da água disponibilizada para reúso controlados. Neste processo de sele- carga de cada um dos poluentes sele-
na URA-BAR de 0,35 US$/m³ a 0,67 ção foram consideradas as seguintes cionados que pode ser lançado no
US$/m³. diretrizes: Sistema Barueri sem que seja ultra-
– os poluentes selecionados deveriam passado o valor da carga admissível
estar entre os prioritários com maior ou o limite fixado pelo art. 19a.
3. PTVL - Estação de ocorrência em efluentes industriais, Nos três cenários organizados a
pré-tratamento de efluentes segundo pesquisa abrangente reali- Cept foi estimada de duas maneiras:
industrias de Vila Leopoldina (2) zada pela USEPA e constar do art.
21 da portaria CONAMA ou do art. a) Para os poluentes cianeto, cromo
O projeto da Estação de Pré- 19-A do Decreto Estadual 8468/76; hexavalente, mercúrio, prata e óleos
Tratamento de Efluentes Líquidos – estes poluentes deveriam apresentar e graxas, a carga é calculada pelo
Industriais na ETE Vila Leopoldina, altos potenciais de inibição para pro- produto do volume médio afluente

18 – Saneas / janeiro 2002


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Quadro 4 - Resumo das hipóteses adotadas para organização dos cenários Quadro 6 - Principais características
das operações unitárias do projeto
Curto prazo Médio prazo Longo prazo
Discriminação Cenário de
Carga admissivel Q=7,0 m³/s Q=9,5 m³/s Q=12,0 m³/s dos Parâmetros Longo Prazo
Carga de rede 100% Crede 100% Crede 100% Crede
Carga caminhões 30% Ccam 60% Ccam 100% Ccam 1. Tanque de equalização
Volume útil (m³) 8.000
Onde, Q = vazão média total afluente a ETE Barueri; Crede = carga industrial total Número de misturadores 4
que poderá vir a ser lançada no Sistema Barueri por indústrias ligadas à rede; Ccam
= carga transportada por caminhões, gerada pelo mercado potencial identificado
na RMSP. 2. Mistura Rápida
Misturador estático em linha
Gx t (adm.) 1.000
ao PTVL pelas concentrações limi- roso imposto à carga admissível
3. Floculação
tes impostas no artigo 19 para na ETE; Tempo de detenção (min) 14
estas substâncias. Assume-se assim • no cenário de longo prazo a carga Volume necessário (m³) 17,0
o PTVL como uma fonte de polui- de benzeno transportada por cami- Número de tanques 2
ção convencional. ligada ao Sistema nhão é superior a carga Cept; Dimensões em planta:
de Esgotos e obrigada aos limites • no caso dos demais metais e diâmetro (m) 2,20
impostos pela lei. compostos orgânicos as cargas Altura útil (m) 2,20
efluentes são superiores às cargas Volume unitário
Quadro 5 - Limites impostos pelo transportadas por caminhões, em resultante (m³) 8,50
Decreto 8468/76, art. 19a Número de
todos os cenários.
Parâmetro limite (mg/L) misturador/tanque 1
Estes resultados conduziram as Número total
Cianeto 0,2 de misturadores 2,00
medidas de pré-tratamento que
Cromo Hexavalente 1,5
Mercúrio 1,5 deverão ser previstas no PTVL para 4. Flotadores
Prata 1,5 reduzir as Ccam ao valor teto defi- Tipo: Flotador por ar dissolvido de
Óleos e graxas 150 nido Cept. alta taxa
As alternativas selecionadas para Número de unidades 3+1
aplicação no sistema de pré-tra- Vazão por unidade (m³/h) 25
b) Para os demais poluentes sele- tamento PTVL visam essencial- Dimensões em planta (m) 5,50
cionados a carga efluente do PTVL mente: Área de cada flotador (m²) 24
(Cept) foi estimada como : - reduzir as cargas poluidoras trans-
portadas por caminhões (Ccam) 5. Tanque de Aeração-Lodos Ativados
Cept = Cadm -Crede por Batelada
ao valor teto definido como carga
efluente do PTVL (Cept); Número de unidades 4
onde, Cadm = carga admissível na ETE
Barueri; Crede = carga de rede afluente - condicionar e dar destino ade- Volume por batelada (m³) 912
a ETE Barueri. quado aos resíduos sólidos gera- Dimensões em planta (m) 23
Área de cada tanque
dos nas operações e processos de de aeração (m²) 401
As cargas Cept assim resultantes pré-tratamento; Área total (m²) 1.605
estão subordinadas à capacidade - minimizar o impacto da implan- Profundidade útil (m) 4
de recebimento que a ETE Barueri tação e operação do sistema sobre Volume unitário (m³) 1.605
tem, acima da carga recebida via o meio ambiente. Volume total (m³) 6.418
sistema coletor.
Comparando-se, em cada cenário, As operações e processos unitá- 6 Desaguamento Mecânico do Lodo
a Cept e as Ccam constata-se que: rios fundamentais para estes objeti- Volume útil do tanque de
• as cargas de óleos e graxas trans- vos são a equalização dos despejos, acumulaçao de lodo(m³) 200,00
portadas por caminhões supe- a remoção de óleos e graxas, o trata- Volume do tanque de
ram em muito as cargas efluentes mento de substâncias orgânicas tóxi- condicionamento (m³) 10,00
do PTVL em todos os cenários; cas e o tratamento dos lodos gerados Dimensões em planta (m) 2,20x2,20
• as cargas de fenol transportadas nos processos de pré-tratamento. Altura útil (m) 2,20
por caminhões superam as cargas As principais características das
efluentes do PTVL em todos os 7. Centrífuga:
operações unitárias do projeto estão
cenários, em razão do limite rigo- Número de centrifugas 2
resumidas no quadro 6.

Saneas / janeiro 2002 – 19


Artigos Técnicos

4. A diversificação dos e de uma obra bem executada. Até vista a execução do coletor-tronco
objetivos e as novas então, os parâmetros hidráulicos e exigido pelos moradores.
exigências na gestão construtivos eram os determinantes São dessa mesma época as pri-
considerados para o sucesso do sis- meiras participações da comuni-
O sistema de esgotos da cidade de tema. O usuário não fazia exigências dade (não mais se podia restringir
São Paulo inicia-se com o Século XX. adicionais. A operação do sistema o grupo dos interessados apenas aos
Durante cerca de cinqüenta anos era quase exclusivamente uma dádiva usuários do sistema) na discussão
limitou-se às redes de esgoto. Cerca da gravidade. A sua manutenção só de localização das ETEs.
de duas décadas seguiram-se em era pensada quanto ao não-colapso Desde fins dos anos oitenta, evi-
que o emissário Ponte Pequena- estrutural dos dutos e ao não-colapso denciando os desejados avanços da
Vila Leopoldina constituiu-se no eletro-mecânico de estações de bom- política e da consciência ambiental
único complemento de porte dessa beamento. A operação e manutenção em nosso país, as comunidades pas-
rede com a função de interligá-la dos sistemas visando a manter sua saram a ter oficialmente reconhe-
à recém-instalada ETE com trata- capacidade de veicular vazões (entu- cida a importância de sua ação, agora
mento primário de Vila Leopoldina. pimento e obstruções) ou a preven- apoiada nas audiências públicas, nas
No começo da década de setenta ção de ataques químicos e biológicos avaliações de impacto ambiental e
concluía-se a ETE de Pinheiros que que comprometessem suas estrutu- nos conselhos ambientais na qual ela
também tratava seus esgotos a nível ras, não era prática comum. O emis- se faz presente.
primário e dava-se início à constru- sário Ponte Pequena-Vila Leopoldina, Hoje, depende-se cada vez mais de
ção dos grandes interceptores. Só por assoreamento, foi totalmente obs- uma ampla gama de cuidados para
na década de oitenta começaram truído, por ataque químico-biológico tornar aceitável pela comunidade a
a operar as ETEs com tratamento provocados por emanação de gases localização de ETEs e de instalações
secundário anteriormente sonhadas dos esgotos, desabou. de tratamento e disposição de seus
por quem implantou a ETE Pedro O aprendizado foi útil. Limpeza lodos. Dentre eles, estão as preocu-
de Jesus Netto, com a função de pre- e desassoreamento preventivo dos pações usuais recentes com a pro-
parar e treinar operadores de trata- coletores principais e dos intercep- teção do ambiente das ETEs e dos
mento de esgotos. tores começaram a ser rotina no corpos receptores de seus efluentes
Esta descrição esquemática da segundo momento. Serviu também no caso cada vez mais comum em
evolução do sistema de esgotos visa para estabelecer os primeiros crité- que estas tratam efluentes não domi-
identificar uma contínua ampliação rios e parâmetros de recepção de cílios em proporções significativas.
dos objetivos a que tacitamente (ou efluentes industriais que pudessem As ações comunitárias ambien-
mesmo até explicitamente) o sis- pôr em risco as estruturas de coleta e tais em face dos sistemas de esgotos
tema esteve subordinado. afastamento. Pouco depois essa pre- sanitários ainda hoje são predo-
No primeiro meio século, ele ocupação de proteção estendeu-se minantemente reativas: aceitam ou
serviu para remover da casa e do aos processos biológicos do trata- não aceitam tal ou qual intervenção
trabalho as águas servidas e assim, mento secundário. Com defasagem proposta ou a aceitam mediante
reduzir os riscos de saúde e os bem maior do que a aceitável, o modificações. Entretanto, a partir
incômodos da sua presença. O obje- aprendizado, pouco a pouco, esten- do aprendizado que exercitam, em
tivo predominantemente atendido deu-se às vertentes não técnicas breve deverão, cada vez mais, avançar
foi higiênico-local. da gestão como a organização e para duas outras: controle geral do
No segundo momento, emissários, o suporte econômico-financeiro e desempenho do sistema e cobrança
interceptores e ETE’s ampliaram o administrativo dos serviços. de novas respostas ao desafio da sus-
âmbito dos objetivos para começar a Mais adiante, os usuários pas- tentabilidade ambiental.
atender às então novas exigências de saram a fazer exigências sobre o Com as exigências de sustentabi-
preservação dos cursos d’água recep- desempenho sanitário-ambiental do lidade ambiental é forçoso mudar-se
tores dos esgotos afastados. O obje- sistema. Pela primeira vez, e surpre- a percepção do serviço e do sistema
tivo passou a incluir preocupações endentemente, moradores de uma de esgotos. Cada vez menos se falará
ambientais, além das de higiene. bacia de esgotamento sanitário situ- em disposição final (seja dos lodos
Entre o primeiro e o segundo ada na zona norte da Capital vieram ou dos efluentes tratados) e cada
momento, o sistema de esgotos em caravana (meados da década de vez mais se deverá entender o ser-
passou a depender de cuidados mais oitenta) reclamar da Sabesp contra viço de esgotos como responsável
diversificados e mais complexos. as obras de esgoto. Desta vez, não pelo conjunto de processos desti-
No primeiro momento, as exigên- por sua inexistência - as obras da nados à reciclagem da água e dos
cias técnicas iam pouco além das de rede estavam por iniciar-se - mas demais componentes que consti-
um projeto de engenharia bem feito por sua insuficiência: não estava pre- tuem o esgoto.

20 – Saneas / janeiro 2002


Artigos Técnicos

Através da exploração do reúso natureza distinta de três fases da REFERÊNCIAS


dos efluentes das ETEs, a Sabesp já gestão, respectivamente dos insu- (1) Serviços de Engenharia para Desenvol-
vem se alinhando com a sustentabi- mos, dos processos e dos “produtos”. vimento da Unidade de Recuperação de
Água da ETE Barueri - URA-BAR -
lidade ambiental. O mesmo espírito É também uma tentativa de ressaltar JNS Engenharia, Consultoria e Geren-
esteve presente na busca de alterna- a necessidade da gestão integrada ciamento S/C Ltda.
tivas para o encaminhamento dos em fase das interdependências exis- - RELATÓRIO 2 Concepção das Alterna-
lodos das ETEs da RMSP. tentes entre as três fases. tivas de Processos da Unidade de Recu-
Pode-se dizer que hoje são bem Reflexões como as mencionadas peração de Água
- RELATÓRIO 4 Projeto Básico - Fase 2
conhecidos e tecnicamente domi- padecem de várias limitações e vícios. da Unidade de Recuperação de Água
nados os parâmetros de qualidade São ainda muito incipientes. Algu- (2) Estudos de Viabilidade e Projeto de Esta-
dos esgotos que comprometem ou mas das constatações podem estar ção de Pré-Tratamento de Efluentes Líqui-
as estruturas do sistema ou os pro- exarcebadas pelas dificuldades quase dos Industriais na ETE da Vila Leopoldina
cessos de tratamento utilizados nas sempre não-técnicas no desenvolvi- - Consórcio JNS Engenharia, Consultoria
e Gerenciamento S/C Ltda., OPMAN
ETEs e, por conseqüência, os corpos mento e implementação dos proje- Engenharia, Lineu Alonso & Associados
receptores. tos descritos na primeira parte deste - RELATÓRIO R13 - Serviços de Estabe-
Entretanto, este conhecimento artigo. Embora não sendo unipes- lecimento das Características Físicas das
técnico isoladamente não é sufi- soais, pois são compartilhadas pela Instalações de Processo
ciente. Nem mesmo o são as medi- equipe técnica que trabalhou nos - Theory, Design And Operation of
Nutrient Removal Activated Sludge Pro-
das importantes como as de prever projetos, ainda dependem de mais cesses - G.A. Ekama, G.v.R. Marais,
as instalações do PTVL anterior- ampla massa crítica de reflexão. I.P.Siebritz, Universidade da Cidade do
mente descritas, com a finalidade Por entendermos que este órgão Cabo, África do Sul,1984.
de prevenir danos por alterações no da AESABESP é terreno fértil para - Activated Sludge System Simulation Pro-
regime de qualidade dos esgotos que alcançar-se essa massa crítica foi que grams-, P.L.Dold, M.C. Wentzel, A.E Billing,
G.A.Ekama, G.v.R. Marais, Water Research
chegam à rede e às ETEs. Neste caso, nos encorajamos a trazê-las para Group, Department of Civil Engineering,
o problema perdurará enquanto discussão. University of Cape Town, 1991.
continuarem existindo vulnerabili- A partir delas, podem começar a - Design Manual for Dissolved Air Flota-
dades no controle do recebimento nascer os ajustes de gestão que redu- tion in Activated Sludge, John Bratby,
de efluentes perigosos na rede. zirão os riscos de frustrar expecta- University of Cape Town, 1975.
- Hidráulica da filtração com taxa decli-
Em outros casos haverá outras tivas e objetivos da comunidade e nante, Luis di Bernardo, Revista DAE
vulnerabilidades, todas elas trazi- que são também de todos nós. 46,146 Setembro 1986.
das pela amplitude de
objetivos, atividades e
funções do novo sis- GESTÃO INTEGRADA DO SISTEMA DE ESGOTOS
tema de esgotos am- GESTÃO DOS INSUMOS GESTÃO DOS PROCESSOS GESTÃO DOS PRODUTOS
bientalmente susten-
EFLUENTES SANITÁRIOS
tável. A maior parte
COLETA E INTERCEPTAÇÃO
delas - até pela menor
atenção habitualmen- EFLUENTES PRÉ
TRATAMENTO DOS ESGOTOS
te dada às dimensões INDUSTRIAIS TRATAMENTO

não técnicas da ges- DISPOSIÇÃO DOS ÁGUA DEVOLVIDA


tão - e mais uma vez, EFLUENTES
LÍQUIDOS
AO ECOSSISTEMA
AQUÁTICO
ATIVIDADES
E FUNÇÕES

provavelmente, ocor-
rendo por insufi- TRATAMENTO
PARA
ÁGUA
DO REÚSO
ciências de instru- REÚSO

mentos administrati- TRATAMENTO


RESÍDUO
vo-organizacionais, E DISPOSIÇÃO
DOS LODOS
NÃO RECICLÁVEL
de comunicação so-
cial, econômico-fi- TRATAMENTO
PRODUTOS
DOS LODOS
nanceiros e de apoio PARA REÚSO
DO LODO

jurídico-legal.
O quadro ao lado - Legais, institucionais e técnicos no controle
dos pré-tratamentos individualizados
- Áreas para sediar unidades de tratamento;
impactos ambientais
- Desafio da sustentabilidade ambiental
- Áreas para sediar a disposição de resíduos não
CORRELATOS

é uma tentativa de
PROBLEMAS

- Áreas para sediar unidades de pré- - Vulnerabilidade dos processos às deficiências recicláveis
tratamento centralizado; impactos do controle de efluentes industriais - Capacidade e agilidade para desenvolver o
resumir, de forma ambientais - Recuperação de custos por via tarifária e mercado para os produtos
- Comunicação social / ambiental viabilização econômico-financeira - Vulnerabilidade da qualidade dos produtos às
esquemática e apenas - Comunicação social / ambiental insuficiências da gestão dos insumos e do
processos
exemplificativa, a

Saneas / janeiro 2002 – 21


ARTIGOS TÉCNICOS

Um novo sistema produtor de água


para a zona norte da RMSP
Arq. Dora Heinrici 

Sistema Baixo Juqueri deverá garantir o aproveitamento de novas


vazões e relativa autonomia operacional do setor de abastecimento
norte da metrópole.

O Sistema Integrado de Abastecimento de


Água da RMSP foi concebido em 1976, esse
sistema compreenderia, além do aproveitamento
demandas de água. Enquanto as previsões apon-
tavam para um crescimento preponderante na
direção leste da metrópole, o maior dinamismo
de recursos hídricos da bacia do Alto Tietê, a de crescimento populacional foi registrado nos
reversão de vazões das bacias dos rios Piracicaba, vetores oeste, sudoeste e norte.
Ribeira e da Baixada Santista , configurando um No que concerne ao quadro institucional,
sistema composto por Sistemas Produtores arti- além das alterações diretamente relacionadas à
culados por um Sistema Adutor, com estações nova ordem constitucional estabelecida a par-
elevatórias e centros de reservação. tir de 88, especialmente no tocante à descentra-
Continuariam sendo atendidos por sistemas lização do poder público e, conseqüentemente,
isolados, os núcleos não conurbados, como Mai- da distribuição de competências, houve alte-
riporã, na zona norte, Arujá e Santa Isabel, na rações estruturais no gerenciamento da coisa
zona nordeste, Salesópolis e Guararema, na zona pública, onde os setores de recursos hídricos,
leste, Rio Grande da Serra, na zona sudeste, saneamento e meio ambiente tomaram a dian-
Juquitiba e São Lourenço, na zona sudoeste e teira na democratização do processo decisório
Vargem Grande na zona oeste. sobre questões de interesse coletivo. Por um
Profundas alterações ocorridas, desde então, lado, amadureceram-se, no processo de dis-
no comportamento das demandas, no quadro cussão pública em que foram incorporados
institucional e nas políticas públicas associadas interlocutores de formação diversificada, as
aos recursos hídricos e ao saneamento ambiental, concepções preservacionistas do meio ambien-
assim como nas condições de desenvolvimento te. Por outro lado, abriram-se canais institucio-
econômico e social do país exigiram revisões das nais para a participação de representantes de
concepções e obras previstas inicialmente. diferentes segmentos sociais e regionais na de-
Artigos Técnicos

No tocante às demandas, houve uma sig- fesa de seus legítimos interesses.


nificativa redução do ritmo de crescimento Em decorrência dessas modificações estrutu-
populacional na região, com relação às proje- rais no processo decisório, foram revistas posi-
ções adotadas no dimensionamento do sistema: ções cristalizadas referentes à reversão de bacias.
enquanto havia sido prevista uma população No tocante às alterações ocorridas no quadro
de aproximadamente 21 milhões de habitantes sócio-econômico, foram relevantes alguns des-
na RMSP no ano 2000, a população registrada dobramentos sobre a região e sobre o desempe-
nessa data foi de apenas 17 milhões de pessoas. nho do Poder Público na prestação de serviços
Por outro lado, verificaram-se mudanças no de interesse coletivo. Por um lado, a prolongada
perfil do consumo: apesar da prevista redução do crise que se iniciou no final da década de 70,
número médio de pessoas por domicílio, o con- condenou os grandes projetos ou retardou sua
sumo por economia cresceu muito além das esti- implementação. Foram reduzidos também os
mativas iniciais. investimentos em manutenção da infra-estru-
Houve também uma significativa modificação tura implantada, não tendo sido, em conse-
nas tendências de expansão territorial da metró- quência, atingidas as metas previstas, a exemplo
pole e da conseqüente distribuição territorial das do controle de perdas.

 Coordenadora de Meio Ambiente da Maubertec Engenharia e Projetos Ltda.


E-mail projetos@marbertec.com.br

22 – Saneas / janeiro 2002


Artigos Técnicos

Desta forma, a implemen-


tação dos planos de abasteci-
mento de água, dentre outros,
apresentou atrasos que cau-
saram déficits crescentes de
atendimento, agravados pela
escassez de água decorrente da
prolongada estiagem dos últi-
mos anos.
Alterações mais recentes na
economia mundial tiveram
efeitos também na reestrutu-
ração das relações internas, na
revisão do papel do Estado
e na gestão da coisa pública,
havendo tendência à expansão
do processo de privatização,
inclusive para setores de pres-
tação de serviços de interesse
coletivo. A reestruturação da
Sabesp nesse contexto, enfati-
zou a descentralização, dando
Figura 1
maior autonomia às unidades regionais, com O Plano Metropolitano de Águas Área de
ganhos no tratamento das questões específicas influência dos
de cada setor e na aproximação do consumi- O Sistema Integrado, responsável por 99% sistemas
dor às instâncias encarregadas da prestação dos da produção de água da RMSP, é composto produtores da
serviços. hoje, por 8 Sistemas Produtores que são inter- RMSP
Entretanto, em zonas conurbadas como a ligados através do Sistema Adutor.
RMSP e de disputa pelo uso de recursos escas- Em 1996, o Sistema Integrado atendia a uma
sos como na bacia do Alto Tietê, continua população da ordem de 17 milhões de habi-
necessário e indispensável o enfoque regional tantes, além de cerca de 400 mil estabelecimen-
e o estabelecimento de canais de coordenação tos comerciais e industriais, totalizando uma
dos interesses específicos de cada setor e dos demanda de 59 m³/s.
projetos voltados ao seu atendimento. A vazão regularizada nos sistemas produto-
É com esse espírito que a Sabesp desen- res do Sistema Integrado totalizava 54,6 m³/s e
volveu o Plano Metropolitano de Águas em sua capacidade instalada de tratamento era de
1.996, o qual foi amplamente discutido e apro- 59,7 m³/s.
vado nas instâncias competentes do Sistema de A produção média anual do Sistema Inte-
Gerenciamento dos Recursos Hídricos e junto grado era maior que a capacidade dos manan-
à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, con- ciais, havendo alto risco de esvaziamento das
forme exposto mais adiante. represas. Ainda assim, existia déficit no atendi-
Nesse contexto, foram enfocadas, dentre mento que era administrado através de opera-
outras, as necessárias revisões do plano de ções de rodízio do atendimento por bairros.
abastecimento dos municípios da zona norte Os municípios da zona norte, achavam-se
da RMSP, que apresentaram um crescimento sujeitos a rodízios intermitentes.
populacional e das demandas muito além das Esta situação foi diagnosticada pela Sabesp
previsões iniciais e que, em conseqüência, verificando-se que, de uma forma geral, o Sis-
vinham apresentando déficits significativos no tema Integrado apresentava os seguintes pro-
atendimento, gerenciado pela Sabesp através blemas:
da implantação de rodízios. · Déficit na disponibilidade de mananciais;
A proposta formulada consiste da implanta- · As ETAs funcionavam no limite de suas capa-
ção de novo Sistema Produtor, o Sistema Baixo cidades;
Juqueri, que deverá garantir o aproveitamento de · O sistema adutor apresentava baixa capacidade
novas vazões e relativa autonomia operacional do de transferência de vazões entre sistemas;
setor de abastecimento norte da metrópole. · Havia limitações de veiculação de vazões devido

Saneas / janeiro 2002 – 23


Artigos Técnicos

planos elaborados pela Sabesp,


como a Revisão e Atualização
do SAM 75 e os Programas
de Perdas e Racionalização do
Uso da Água, e pelo DAEE,
como o Hidroplan.

O PMA estabeleceu as
seguintes metas de curto
prazo:
·atingiratendimentode100%
da demanda até o ano 1998;
· reduzir os índices de perdas
físicas de 22% em 1995 para
18,4% em 2.000;
·reduziroconsumo“percapita”
através da racionalização do uso
da água, de 236 L/s em 1995
para 225 L/s em 2.000.
Para atingir essas metas,
o PMA foi equacionado de
forma a atuar em três frentes
Figura 2 à insuficiência de diâmetro das adutoras ou à principais:
Sistema de capacidade de recalque das elevatórias; · Mananciais: aproveitando a capacidade ociosa
rodízio em
1996
· Havia deficiência de reservação setorial; dos recursos hídricos da bacia, reduzindo os
· A setorização incompleta na maioria das regi- riscos de esvaziamento dos reservatórios;
ões introduzia derivações em marcha nas · Tratamento: aumentando a capacidade pro-
adutoras. dutiva através do melhor aproveitamento e
ampliação das ETAs existentes e implanta-
No caso específico dos municípios abastecidos ção de novas ETAs;
pelo Sistema Cantareira, sub-sistema Alça-Oeste/ · Distribuição: eliminando os pontos críticos
Extremo Norte, a Sabesp diagnosticou limitação do sistema adutor e aumentando a capaci-
de vazões no “Booster” e Estação Elevatória Bra- dade de reservação.
silândia, e deficiências mais agudas em Francisco
Morato, face ao diâmetro insuficiente da adutora No que concerne ao Sistema Cantareira,
no trecho a partir de Franco da Rocha. sub-sistema Alça Oeste/Norte, foi proposta a
Para fazer frente a esta situação, o Governo implementação do Sistema Produtor Juqueri,
do Estado, através da Sabesp, elaborou em para aproveitar o potencial remanescente do
1996 o Programa Metropolitano de Água a ser rio Juqueri a jusante do reservatório Paiva
implementado no período 1996/99, cujos obje- Castro. Esse sistema, com capacidade estimada
tivos gerais eram: em 1 m³/s, compreenderia a implantação das
• Otimizar o desenvolvimento das estruturas estruturas de captação, de uma nova ETA e de
existentes; adutora de água tratada, devendo ser conclu-
• Eliminar a necessidade dos rodízios; ído durante o ano 1999.
• Preservar e aumentar a capacidade dos
mananciais;
• Reduzir os riscos de operação dos manan- A aprovação e o
ciais; licenciamento do projeto
• Aumentar a capacidade de produção de água
potável. Com vistas à implementação do PMA, a
Sabesp submeteu-o inicialmente à apreciação
Este programa, de caráter emergencial, foi das instâncias competentes para a sua aprova-
equacionado com base no referencial de médio ção, ou seja, ao Comitê de Bacia do Alto Tietê,
e longo prazo proporcionado pelos diferentes e para o seu licenciamento ambiental, ou seja,
ao CONSEMA.

24 – Saneas / janeiro 2002


Artigos Técnicos

O primeiro passo foi a apresentação do PMA O Sistema Produtor Baixo Juqueri


à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, atra-
vés do Daia - Departamento de Avaliação de Os estudos de concepção do Sistema Pro-
Impactos Ambientais, em agosto de 1996. Nessa dutor Baixo Juqueri, equacionado inicialmente
reunião ficou acordada a sistemática de licencia- com vistas a utilizar as vazões remanescentes
mento a ser adotada para sua implementação. do rio Juqueri a jusante do reservatório Paiva
Em seguida, foi apresentado o PMA ao Con- Castro, permitiram identificar a oportunidade
sema, em reunião realizada em data de 12/11/96, de aproveitamento de novos mananciais com a
o qual deliberou (Deliberação Consema 35/96) possibilidade de incrementar as vazões do sis-
recomendando o encaminhamento do PMA à tema em cerca de 400 L/s, em média.
Comissão Especial de Saneamento Ambiental - Trata-se do córrego Moenda e do ribeirão
CESA para análise e acompanhamento, e apro- Itaim, afluentes do rio Juqueri.
vou a Moção Consema 03/96, apoiando a pro- Na medida em que estes afluentes deságuam
posta da Sabesp. a jusante do reservatório Paiva Castro e a mon-
Em data de 11/11/96, o PMA foi apresen- tante das áreas urbanizadas do município de
tado também ao Comitê de Bacia do Alto Tietê Franco da Rocha, é possível, com uma tomada
que deliberou sobre o assunto fazendo, dentre d’água no rio Juqueri, aproveitar as vazões dos
outras, as seguintes recomendações relativas a três mananciais.
ações de curto prazo (até o ano 2.000): A bacia do córrego Moenda, afluente da
“implantar o Programa Metropolitano de Água, margem esquerda do rio Juqueri, acha-se
que inclui : ... situada no interior do Parque Estadual do
- aproveitamento do potencial remanescente Juqueri, o que lhe confere condições privile-
do rio Juqueri, a jusante da barragem giadas de controle da ocupação e conseqüente
de Paiva Castro para atender às necessida- conservação da qualidade do manancial.
des dos municípios do extremo norte da A bacia do ribeirão Itaim, afluente da
RMSP; margem direita do rio Juqueri, se desenvolve em
- ampliação e melhoria do desempenho ope- compartimentos de ocupação rural dos muni-
racional das ETAs existentes e implantação cípios de Franco da Rocha e Mairiporã, onde
das ETAs dos novos sistemas produtores predominam sítios de recreio com grande per-
Taquacetuba e Juqueri; ...” centual de remanescentes de cobertura vegetal Figura 3
arbórea que garante a realimentação do freá- Proposta do
Plano
Finalmente, a Deliberação Consema 17/97 tico e boas condições de preservação da quali- Metropolitano
de 28/05/97 aprovou o PMA no que tange às dade do manancial. de Água
intervenções previstas nos Sis-
temas adutor e distribuidor,
bem como a implantação dos
projetos relativos às obras pre-
vistas no PMA para ampliar
a produção de água, exceção
feita ao projeto de reversão do
Juquitiba, condicionando-o a
discussões futuras no âmbito
do CESA, o que foi feito e
instruiu a Deliberação Con-
sema 23/97 de 23/07/97 que,
com condicionantes específi-
cas, também a aprovou.
Respaldada pela aprovação
do PMA nas instâncias com-
petentes, a Sabesp deu início
ao desenvolvimento dos pro-
jetos nele previstos em 1997. O
Projeto do Sistema Produtor
Baixo Juqueri foi iniciado com
algum atraso, no ano 2.000.

Saneas / janeiro 2002 – 25


Artigos Técnicos

Figura 4
Localização do
empreendi-
mento

Nesta bacia, a Sabesp mantém pequeno assentamento irregular de Franco da Rocha,


aproveitamento, o Sistema Produtor da 4ª ao longo da rua Pretória, junto à ETA da 4ª
Colônia, cujas amostras de qualidade da água Colônia, e outro nas cabeceiras do rio Itaim,
bruta mostram, de fato, parâmetros adequados no município de Mairiporã, correspondente ao
à utilização para abastecimento humano. vetor de expansão do núcleo Terra Preta, ao
Entretanto, esta bacia apresenta duas fren- longo da estrada do Mato Dentro.
tes vulneráveis à pressão da ocupação urbana: A preservação dessa bacia constitui requi-
uma correspondente a vetor de expansão de sito fundamental não só para o aproveita-
mento proposto como
para a própria manu-
tenção do sistema exis-
tente da 4ª Colônia.
O momento não
poderia ser mais opor-
tuno para implementar
os instrumentos neces-
sários à preservação
desta bacia. De fato,
o processo de revisão
da legislação de pro-
teção aos mananciais
está em pleno desen-
volvimento, permi-
tindo a inclusão desta
bacia e a definição de
diretrizes para a sua
ocupação, no âmbito
dos estudos que deve-
rão subsidiar a formu-
lação da lei específica
das bacias da zona
Figura 5 - Uso do solo norte da RMSP.

26 – Saneas / janeiro 2002


ARTIGOS TÉCNICOS
OPINIÃO

Gestão dos processos de controle da


qualidade da água e do esgoto em
empresas de saneamento
Engª. Silvana C. C. S. de Franco 
Eng. José Benedito de Almeida 

RESUMO
O artigo mostra uma solução de alta tecnologia desenvolvida e implantada em diversas cidades do Brasil para realizar
a gestão das tarefas operacionais e gerenciais das áreas responsáveis pelo controle da qualidade da água e do esgoto,
em empresas de saneamento. Aborda a problemática do controle da qualidade da água tratada e distribuída em aten-
dimento às regulamentações governamentais. De forma análoga, é abordada a questão do monitoramento do esgoto
coletado e tratado, e que também exige um controle de qualidade.

1. Introdução tamento de esgotos - são considerados indica-


dores críticos de desempenho: a qualidade, os
Os grandes centros urbanos podem ser con- custos, a eficiência e a produtividade. Para isso,
siderados gigantescos não somente pelas suas a gestão tem-se beneficiado do avanço da tec-
construções visíveis mas também pela imensa nologia da informação contando, por exemplo,
malha subterrânea que possuem, ou seja, redes com os Sistemas de Automação, como facilita-
de infra-estrutura urbana, invisíveis, que supor- dores dessa gestão. Desse modo, o presente tra-
tam a existência de todos nós, cidadãos que as balho aborda uma aplicação de alta tecnologia
habitamos. voltada ao atendimento destes objetivos.
Para que as metrópoles sobrevivam, o fun-
cionamento eficaz desta malha subterrânea A Problemática da Qualidade da
passa a ter uma grande importância e sua Água e do Esgoto
gestão adequada é condição para manter a con- A água distribuída deve apresentar caracte-
tinuidade e a qualidade dos serviços por elas rísticas que possam ser traduzidas em expres-
prestados. sões como saudável, potável, própria para o
Artigos Técnicos

As atividades das empresas de saneamento, consumo, entre outras. Estas características


responsáveis pela administração das redes de associadas a conceitos mensuráveis, resultam
distribuição de água e de coleta de esgotos, no padrão de qualidade da água para consumo
geram impactos na economia, na qualidade de humano, ou seja, no Padrão de Potabilidade.
vida, na saúde pública, no meio ambiente. Por Quanto ao Esgoto coletado, é indispensável
isto, faz parte dessas atividades a busca da qua- o controle dos componentes químicos existen-
lidade de seus produtos e serviços aliada à efi- tes nas várias etapas do processo. No esgoto
ciência dos seus processos. bruto, busca-se a determinação da quantidade
Na utilização de modernas técnicas de gestão de compostos (físicos, químicos e orgânicos)
- aplicáveis tanto para a avaliação da utilização permitindo ajustar os processos de tratamento.
dos recursos hídricos como para a produção Já no esgoto tratado, a busca é pelo estabe-
e distribuição de água tratada ou coleta e tra- lecimento e acompanhamento de vários indi-

 Doutora em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Gerente
da Divisão de Desenvolvimento de Sistemas Informatizados da Distribuição / Metropolitana
da Sabesp - Cia. De Saneamento Básico do Estado de São Paulo (scffranc@sabesp.com.br).
 Doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Diretor da
empresa UNICORP Informática Industrial S/C Ltda, Professor e Coordenador do Curso de Tecnologia de
Processamento de Dados do Instituto Leonardo Da Vinci (jba@unicorp.com.br)

Saneas / janeiro 2002 – 27


Artigos Técnicos

LCS

1 1 1 1

Programação Laboratórios
Gerência Atendimento
de Amostras de Análises
1 1 1
1 1
Recepção Expedição
de Amostras de Laudos

1 1 1 1
Cadastro Coleta de Realização
Administração
de Pontos Amostras das Análises

Laboratório Laboratório
de Esgoto de Água

Laboratório Laboratório Laboratório Laboratório


Bacteriológico Físico-Químico Bacteriológico Físico-Químico
Figura 1 de Esgoto de Esgoto de Água de Água
Modelo de
negócios

cadores da qualidade, a fim de atingir maior Redes de distribuição na RMSP: 42 mil km de


eficiência no processo de tratamento. tubulações subterrâneas e 31 mil km de ramais
No Brasil, o Padrão de Potabilidade da Água domiciliares;
atualmente em vigor está contido na Portaria Apenas na RMSP tem-se a realização de
36/MS-90 de 19/01/1990 (em processo de subs- coletas em mais de 22.000 pontos amostrais.
tituição pela Portaria 1469), do Ministério da Estes pontos estão distribuídos numa área de
Saúde, cujo cumprimento é efetuado através aproximadamente 8.000 km², nos vários siste-
do acompanhamento contínuo das amostras mas de abastecimento da região.
de água.
Este acompanhamento tem sua dimensão Laboratórios de Controle Sanitário
definida quando se analisa as quantidades e Para controlar a qualidade da água distri-
periodicidade das tarefas envolvidas no pro- buída e do esgoto coletado, em atendimento
cesso. Para exemplificar estes volumes, pode-se às regulamentações existentes, as empresas de
citar o caso da Sabesp que tem as seguintes saneamento possuem laboratórios de análises
características (dados de dezembro de 2.001): físico-químicas e bacteriológicas, denomina-
Produção: 85 mil litros de água tratada por dos Laboratórios de Controle Sanitário (LCS),
segundo; onde são executadas as principais macro-ativi-
Tratamento de Esgoto: 305 estações dades:
Reservatórios: 1.332;
Capacidade de Armazenamento: 2,5 bilhões de Coleta de Amostras: Coletar amostras em reci-
litros de água; pientes adequados e em volumes suficientes para
Empregados: 18 mil. a realização das análises, com amostragem uni-
População Atendida na RMSP: 14 milhões de formemente distribuída ao longo da área geo-
habitantes gráfica atendida, baseada em critério estatístico.

28 – Saneas / janeiro 2002


Artigos Técnicos

COLORÍMETRO

TURBIDÍMETRO
FLUORÍMETRO

Sistema NetControl
Gerência / Supervisão
Controle da Qualidade
ISO 9002

PHMETRO ESPECTROFOTÔMETRO

Análises e Providências: Determinar a concen- Modelo de Negócios dos LCSs.


tração de elementos químicos e organismos, A partir do estabelecimento do Modelo,
nas diversas amostras coletadas e, no caso de pode ser feita a especificação do sistema e, con-
anomalias, tomar as medidas cabíveis e ime- seqüentemente, sua implantação.
diatas para correção.
O Modelo de Negócios e o Sistema
Tratamento Estatístico: Tratar estatisticamente os No Modelo de Negócios apresentado (Figura
resultados das análises, apresentando as tendên- 1), os processos estão distribuídos em quatro
cias no período e as anomalias encontradas. módulos, cada um responsável pelos seguintes
processos: Programação de Amostras, Labora-
Relatórios: Apresentar periodicamente ao órgão tórios de Análises, Atendimento e Gestão.
regulador os relatórios sobre o cumprimento O Sistema de Gestão dos Laboratórios opera
das disposições contidas na legislação corres- sobre uma plataforma Cliente/Servidor utili-
pondente. zando um Sistema de Gerenciamento de Banco
de Dados de última geração e ambiente gráfico.
No caso da RMSP, a administração dos resul- É um sistema distribuído, modular e multiu-
tados das análises, é processo altamente estraté- suário. A arquitetura do sistema computacio-
gico na empresa e de operacionalização bastante nal permite a sua operação em ambientes de
complexa, que fica a cargo dos LCSs. Tem-se, rede local e rede corporativa, o que possibilita
como volumes típicos nestas áreas, a coleta de sua utilização em empresas de saneamento que
mais de 8.000 amostras por mês (coletas diá- estão divididas geograficamente em grandes
rias) e como, para cada amostra realizam-se áreas, sem limite do número de municípios
em média 5 análises, a geração de, aproximada- atendidos. Os principais módulos que formam
mente, 500.000 resultados por ano. o sistema são:

• Cadastro: permite a parametrização do sis-


2. Apresentação da Solução tema, onde são cadastradas as análises, pontos
de coleta, regras dos processos de análise, regu-
Para definição da solução tecnológica que lamentações, equipamentos, usuários, etc;
pudesse dar suporte às necessidades ope-
racionais e gerenciais apontadas anterior- • Programação de Coleta: planejamento das
mente, foi necessário o estabelecimento do coletas, geração e distribuição das amostras

Saneas / janeiro 2002 – 29


Artigos Técnicos

para os laboratórios. As amostras são contro- • 36 (trinta e seis) instrumentos de laboratório


ladas com código de barras, data, hora, ins- físico, químico e biológico;
trumento, metodologia e o responsável pelas
análises. • 10 (dez) Personal Digital Assitant utilizado
nos trabalhos de campo;
• UniLab: efetua o gerenciamento dos processos
de execução das análises programadas. Trata-se • Utilizado e operado por aproximadamente 50
de uma ferramenta de bancada que realiza cál- profissionais (químicos, biólogos, engenheiros,
culos e utiliza algoritmos para determinação dos técnicos e agentes coletores), distribuídos em 5
resultados das análises. Possui interfaces e pro- laboratórios e em um centro de gerenciamento
tocolos de comunicação com dezenas de tipos da qualidade;
de instrumentos de análise, eliminando a digi-
tação dos dados dos processos, ou seja, efetua a • Desenvolvido, implantado e assistido por
coleta automática dos resultados das análises; aproximadamente10 profissionais da área da
Tecnologia da Informação;
• Supervisão: permite o gerenciamento de
todas as atividades dos laboratórios, inclusive • Suporta o controle da qualidade da água
o acompanhamento dos processos e a libe- de uma rede de distribuição que atende a 35
ração dos dados para laudos técnicos e rela- municípios.
tórios. Monitora a qualidade da água através
do acompanhamento qualitativo e quantita-
tivo das análises ao longo da rede de distri- 4. Conclusões
buição através da utilização de mapeamento
eletrônico. As estações de supervisão permitem Após a implantação deste sistema em empre-
observar e controlar, em tempo real, todas as sas de saneamento (Sabesp e EMBASA), pude-
atividades dos laboratórios, aumentando a efi- ram ser tiradas algumas conclusões de caráter
ciência e a produtividade da empresa. genérico, como:

• Gerador de Relatórios: permite a criação de • o Modelo de Negócios pode ser utilizado


relatórios gerenciais, estatísticas e laudos técni- por qualquer empresa do setor de saneamento
cos. Gera o relatório mensal por município e básico para a automação dos seus laboratórios
por sistema de abastecimento, em atendimen- de controle sanitário e garante que o sistema
tos às exigências dos órgãos de regulamentação implantado atende aos requisitos de rastreabi-
do setor de saneamento. lidade da ISO9002, facilitando os trabalhos de
preparação para o recebimento e a manuten-
ção desta importante certificação;
3. Resultados
• a eliminação de entrada manual dos resul-
O Sistema de Gestão implantado na RMSP, tados das análises reapresentou uma sensível
região atendida pela Sabesp, é um sistema cor- melhoria na confiabilidade dos processos de
porativo, de grande complexidade e abrangên- análise;
cia, utilizando uma infra-estrutura formada
por 6 Redes Locais e uma WAN (Wide Area • a sistematização e operacionalização de tare-
Network) cobrindo as regiões: Sul, Norte, Leste, fas deu mais agilidade ao fluxo de informa-
Oeste e Centro. As principais características, ções, atendendo de forma eficiente os processos
aproximadas, do sistema são: empresariais, além de prover respostas às soli-
citações e auditorias dos órgãos regulamenta-
• 6 (seis) servidores de Banco de Dados de dores do setor num menor período de tempo;
última geração (SGBD-Oracle 9i, Windows
2000 Server, multiprocessado, sistema automá- • a criação e manutenção de uma Base de Dados
tico de back-up, etc.); histórica permitiu a obtenção de indicadores
estatísticos, que puderam dar suporte às decisões
• 35 (trinta e cinco) microcomputadores (esta- no planejamento operacional, nas ações preven-
ções de trabalho) com Windows 2000 Profis- tivas e corretivas na rede e nos processos de cap-
sional; tação, tratamento e distribuição das empresas.

30 – Saneas / janeiro 2002


ARTIGOS TÉCNICOS

Sabesp conquista mercado nacional


com tecnologia de automatização
Eng. Wilton Silva Carneiro 

P lanejado e desenvolvido por técnicos da


Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo - Sabesp, o Aqualog foi
Depois de testada e aprovada, a tecnologia
Aqualog foi adotada com sucesso em todas as
estações de tratamento de água da Unidade
implantado inicialmente em junho de 1996, no de Negócio da Sabesp na região do Vale do
município de Tapiraí / SP, surgindo então a Ribeira.
primeira estação de tratamento de água inteli- Hoje, 480 mil pessoas já são diretamente
gente do Brasil. beneficiadas com a água tratada pela tecnologia
Aqualog, presente nos muni-
cípios do Vale do Ribeira, ope-
rados pela Sabesp, e na cidade
de Jaraguá do Sul, Santa Cata-
rina, nas três estações de trata-
mento do Serviço Autônomo
Municipal de Água e Esgoto
(SAMAE), que atendem a 140
mil habitantes.
Em breve, porém, o número
de beneficiados será muito
maior, pois o Aqualog encon-
tra-se em fase final de implan-
tação nos sistemas produtores
de água de Dourados (Sane-
sul), no Mato Grosso do Sul;
do Laboratório Farmacêutico
Teuto Brasileiro, em Anápolis,
Goiás, e do município pau-
lista de Aparecida (SAE), além
Artigos Técnicos

de outras 17 estações de
tratamento de água da pró-
pria Sabesp, localizadas na
Região Metropolitana de São
Paulo: Bragança Paulista, Joa-
nópolis, Juqueri, Mairiporã,
Nazaré Paulista, Pedra Preta,
Pinhalzinho, Piracaia, Socorro,
Vargem Paulista, Aldeia da
Serra, Bacuri, Colinas de
Anhanguera, Santana do Par-
naíba, São Pedro, Sapiatã e
Sorocamirim.
Na área de tratamento de
esgotos, o Aqualog está sendo
adotado em duas estações da
Figura 1 - ETA da Sabesp, totalmente automatizada, no município de Sabesp, nos municípios litorâ-
Cajati - Vale do Ribeira

 Superintedente da UN Vale do Ribeira

Saneas / janeiro 2002 – 31


Artigos Técnicos

mente da automatização, desenvolvendo pro-


jetos adequados a cada cliente, implantando
a tecnologia , ministrando treinamentos, tes-
tando equipamentos e aperfeiçoando o pro-
grama, que não pára de evoluir.

A lógica da água

O Aqualog é um conjunto de softwares,


computadores, controladores lógicos progra-
máveis e periféricos, que possibilitam a ope-
ração com máxima eficiência dos sistemas
produtores de água e de tratamento de esgotos
sanitários e/ou industriais de maneira total-
mente automatizada e desassistida localmente.
Os sistemas automatizados com a tecno-
logia Aqualog possuem inteligência artificial
que permite a tomada de decisões automatica-
mente, ajustando-se de acordo com as necessi-
dades, para a obtenção da melhor performance
e de excelência em qualidade.
Atuando no sistema como um todo, o Aqua-
log controla as dosagens de produtos químicos,
aciona automaticamente válvulas e monitora
reservatórios, além de disponibilizar tabelas
e gráficos de tendências que proporcionam o
Figura 2 - Equipamentos de automação. aperfeiçoamento das rotinas de controle.
Nos sistemas produtores, mesmo havendo
alterações bruscas na qualidade da água bruta,
neos de Caraguatatuba (ETE Martins de Sá) e o Aqualog ajusta automaticamente a estação
Ubatuba (ETE Toninhas). de tratamento, fazendo com que os parâ-
O crescente interesse pelo Aqualog - que metros estabelecidos para cloro, flúor, pH e
também já recebeu visitas de técnicos dos Esta- turbidez sejam eficazmente obtidos. No trata-
dos Unidos, da Europa e da América Latina mento de esgotos, os ajustes automáticos con-
- levou a Vice Presidência Litoral da Sabesp trolam os parâmetros de carbono orgânico
a constituir, na Unidade de Negócio Vale do total (TOC), demanda bioquímica de oxigênio
Ribeira, uma equipe para cuidar exclusiva- (DBO), demanda química de oxigênio (DQO),
pH, potencial de hidrogênio, oxigênio dissol-
vido (OD), potencial de óxido e redução ou
Redução do consumo de produtos químicos potencial Redox, condutividade específica, tur-
ETA - Registro (Sulfato de Alumínio) bidez, temperatura, cloro e nível do lodo no
(g/m³) reator aeróbio.
26 Minuto a minuto, analisadores em pro-
cesso, instalados em pontos estratégicos dos
22
22 sistemas produtores de água ou de tratamento
de esgotos, fazem as análises para todos os
18
parâmetros, digitalmente e eletronicamente,
16 enviando sinais para o Controlador Lógico
Programável (CLP). Este, por sua vez, emite
14
comandos eletrônicos aos atuadores em pro-
cesso, a fim de que sejam feitos os ajustes.
10
Caso seja conveniente, o sistema pode ser pro-
Operação manual Operação automática
gramado para que as análises sejam realizadas
a cada segundo. Já em sistemas manuais, as

32 – Saneas / janeiro 2002


Artigos Técnicos

mesmas análises têm de ser feitas por opera-


dores, e somente a cada hora. Redução do consumo de energia elétrica
Como o Aqualog permite que os sistemas ETA - Pariquera-Açu
produtores ou de tratamento de esgotos traba-
170
lhem sem assistência local, um único Centro 160,75

kWh/mês por unidade de consumo


de Controle Operacional (CCO) pode acom- 160
panhar e monitorar vários sistemas ao mesmo 150
tempo, independentemente de sua localização.
Os pacotes de dados são transmitidos ao CCO 140

por telefone, rádio modem ou satélite, com a 130


finalidade de gerar relatórios, que podem ser 121,46
120
personalizados conforme as necessidades de
cada um. 110
No CCO, várias telas do supervisório mos-
100
tram todas as fases do processo em cada estação Operação manual Operação automática
de tratamento de água ou esgotos. As estações
não precisam permanecer on-line com o CCO,
uma vez que possuem inteligência própria, que
lhes permite tomar as decisões necessárias de
maneira automática. As conexões com o CCO Evolução da Qualidade da Água (IQA)
são feitas de tempo em tempo, de acordo com a
configuração desejada, para o recebimento de
ETA - Registro
100%
pacotes de dados do último período. 100%

O Aqualog possui também uma completa


rotina de alarmes. Caso ocorra um eventual
problema em alguma estação monitorada pelo 90%
87%
CCO, este imediatamente receberá o alarme
correspondente, com informações sobre o tipo
de anormalidade, o local exato onde ocorreu 80%
e página do manual com a descrição deta-
lhada. Assim, uma equipe operacional poderá
dirigir-se à estação onde ocorreu o problema,
70%
sabendo exatamente o que precisa ser feito para
Operação manual Operação automática
resolvê-lo.

Redução de custos

Além da qualidade final da água tratada ou Evolução da Qualidade da Água (IQA)


do efluente, a precisão proporcionada pela tec- Sistemas Automatizados do
nologia Aqualog é determinante para a econo-
mia de energia elétrica e dos produtos químicos Vale do Ribeira - SP
100% 99%
utilizados no processo.
Na Estação de Tratamento de Água do muni-
cípio de Registro (Vale do Ribeira), por exem-
plo, onde o Aqualog foi implantado em 1997, 90%
a automatização significou economia de 27,3%
em sulfato de alumínio. Quando a ETA era ope-
rada manualmente, o consumo do produto por 79%
80%
metro cúbico de água era de 22 gramas. Com a
operação automática caiu para 16 gramas.
Uma outra ETA, a de Pariquera-Açu (Vale
do Ribeira), obteve redução expressiva no 70%
consumo de energia elétrica: 24,3%. Na Operação manual Operação automática
época de operação manual, o sistema gastava

Saneas / janeiro 2002 – 33


Artigos Técnicos

estabelecidas nos últimos anos, destacando-se


especialmente a margem operacional, que
passou de 34% negativos, em 1995, para 11%
positivos, em 2000.

Qualidade

A melhoria da qualidade da água produzida


e dos efluentes resultantes de sistemas automati-
zados com a tecnologia Aqualog é indiscutível.
Segundo as análises realizadas pelo setor de
Controle Sanitário da Unidade de Negócio Vale
do Ribeira da Sabesp, o Índice de Qualidade
da Água (IQA) chegou a 100% na esmagadora
maioria dos sistemas automatizados da região.
Figura 3 - Funcionário da Sabesp trabalhando na automação de ETA Na ETA da cidade de Registro, responsável
em Jaraguá do Sul (SC) pela produção de água tratada para o abas-
tecimento de 53.505 habitantes (censo IBGE
160,75 kWh/mês por unidade de consumo de 2000), a evolução do IQA foi de 13 pontos
água tratada, e com a automatização passou a percentuais, passando de 87%, no período de
consumir 121,46 kWh/mês. operação manual, para 93%, no período de
Em relação à mão-de-obra, a automatização transição, e, finalmente, 100%, com a automa-
com a tecnologia Aqualog significou raciona- tização total.
lização de 72,6% nas ETAs operadas pela Uni-
dade de Negócio Vale do Ribeira da Sabesp,
reduzindo de 62 para apenas 17 o número de Exportando tecnologia
operadores. Dos 45 profissionais excedentes, 10
se aposentaram e não foram repostos, 32 foram A criação do Aqualog transformou a Sabesp,
remanejados para outras atividades e apenas 3 empresa ligada à Secretaria de Recursos Hídri-
foram demitidos. cos, Saneamento e Obras do Governo do Estado
Na Unidade Vale do Ribeira da Sabesp, de São Paulo, em “exportadora” de tecnologia.
aliás, o Aqualog foi um dos instrumentos fun- No ano 2000, pela primeira vez em sua his-
damentais para o cumprimento das metas tória, a empresa participou de licitação para
vender o sistema a uma outra operadora de
saneamento básico.
O primeiro cliente externo foi o Serviço
Autônomo Municipal de Água e Esgotos
(SAMAE) de Jaraguá do Sul (SC), que já auto-
matizou o tratamento de água naquela cidade
com a tecnologia Aqualog.
Após esse contrato, foram surgindo outros e,
frequentemente, a Unidade de Negócio Vale do
Ribeira da Sabesp tem recebido visitas de técnicos
do Brasil e do exterior, interessados em conhecer
de perto a tecnologia de automatização.
O lançamento oficial do Aqualog no mer-
cado nacional, entretanto, só aconteceu no mês
de setembro de 2001, durante o 21º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambien-
tal, realizado em João Pessoa, na Paraíba, em
paralelo à 4ª Fitabes (Feira Internacional de
Tecnologia de Saneamento Ambiental). O pro-
duto foi o destaque do estande da Sabesp na
Figura 4 - Tela de computador mostrando o sistema Aqualog. Fitabes.

34 – Saneas / janeiro 2002


OPINIÃO
MEIO AMBIENTE

Monitoramento em tempo real


da qualidade da água
dos mananciais da RMSP
Quim. Armando Perez Flores 
Biol. Edvaldo Sorrini 

1. Introdução Neste monitoramento as freqüências com


que são amostrados os mananciais vão de duas
De toda a água produzida pela Companhia vezes por semana, no caso do controle das
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - algas, até trimestrais. O monitoramento mais
Sabesp na Região Metropolitana de São Paulo - abrangente, aquele que fornece dados mais
RMSP, 99,5% são provenientes de reservatórios completos sobre qualidade da água, entre-
superficiais, que em grande parte se localizam tanto, é feito com uma freqüência máxima
em áreas que estão sendo atingidas pela mancha mensal. Em alguns casos, naqueles em que
urbana dessa região. A despeito das restrições o reservatório é protegido e, portanto, com
impostas pela Lei de Proteção de Mananciais, uma água de qualidade boa e estável, essa fre-
a ocupação das bacias de contribuição desses qüência permite um controle eficaz. Naqueles,
reservatórios vem ocorrendo, via de regra, de entretanto, em que a qualidade da água está
forma descontrolada, comprometendo seria- comprometida e, portanto, sujeita a variações
mente a qualidade das suas águas. Neste cená- que podem trazer problemas para o trata-
rio, a Sabesp vem buscando investir em novas mento, essa freqüência se revela insuficiente,
tecnologias para monitoramento da qualidade muito aquém do que seria o ideal para se ter
das águas de seus mananciais, de forma a obter um acompanhamento das oscilações de qua-
respostas rápidas e confiáveis, visando a evitar lidade da água, que muitas vezes prenunciam
que possíveis variações bruscas na qualidade da problemas e que, portanto, devem ser detecta-
águas nas represas possam impactar o trata- dos a tempo.
mento e atingir o consumidor final. Um fator que agrava essa limitação do
Meio Ambiente

monitoramento, diz respeito ao fato de que


as amostragens são feitas sempre no período
2. Monitoramento da qualidade da diurno, pela dificuldade de se coletar amos-
água na RMSP tras, que exigem o uso de barco, à noite. Dessa
forma, oscilações que ocorrem no período
Dentro deste contexto, a Sabesp introdu- noturno (as variações nictemerais) não são
ziu, nos seus programas de monitoramento da detectadas. E essas variações podem, às vezes,
qualidade da água, os reservatórios de abaste- ocasionar oscilações significativas na quali-
cimento da RMSP. dade da água.

 Bacharel em Química pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Prof.º Carlos Pasquale. Especialização
em Engenharia de Saneamento Básico pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Gerente da Divisão de Monitoramento e Informações Ambientais da Produção da Companhia de Sanea-
mento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp.- E-mail: aflores@sabesp.com.br
 Bacharel em Biologia pela Universidade Mackenzie. Especialização em Saneamento Ambiental pela
Universidade Mackenzie e Especializando em Gestão Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo. Biólogo na Divisão de Monitoramento e Informações Ambientais da Produção
da Sabesp.

Saneas / janeiro 2002 – 35


Meio Ambiente

Descrição geral
do sistema

3. Necessidade de Um monitoramento contínuo do teor de OD


monitoramento contínuo no fundo, então, permite detectar situações
potenciais de alteração na qualidade da água,
Um reservatório, embora constituído por a tempo de prevenir a área de tratamento ou,
uma massa considerável de água, pode, como se houver essa possibilidade, tomar medidas de
já foi dito, sofrer oscilações bruscas de quali- reaeração artificial no fundo.
dade da água, em função de fenômenos como a Fica clara, portanto, a necessidade de se
inversão térmica, a ressolubilização de substân- monitorar esses parâmetros de forma contínua,
cias presentes nos sedimentos do fundo, varia- ou no mínimo, com uma freqüência horária.
ções nictemerais, etc. Com isso, dois importantes benefícios poderão
Em muitos casos, essas alterações podem ser conseguidos:
afetar seriamente a qualidade da água, e se
manifestam em alguns dias. É necessário, por- • fenômenos que provocam alterações brus-
tanto, que o monitoramento tenha capacidade cas na qualidade da água poderão ser detec-
de detectar essas alterações, para que o trata- tados a tempo de prevenir o tratamento;
mento da água não seja, ou seja, minimamente,
afetado. • amplia-se significativamente o conheci-
Existem indicadores que permitem avaliar mento sobre o comportamento do reser-
a situação potencial de alterações na qualidade vatório, em termos da qualidade da água,
da água num reservatório. É o caso, por exem- permitindo dirigir melhor o monitoramento
plo, do Oxigênio Dissolvido (OD), que está de rotina (não contínuo) para períodos e
relacionado com a ressolubilização de substân- áreas críticas, o que poderá resultar numa
cias a partir do sedimento de fundo. Baixos redução da quantidade de amostras, e, por-
teores, ou ausência, de OD no fundo podem tanto, numa redução equivalente nos custos
acarretar esse fenômeno de ressolubilização. desse monitoramento.

36 – Saneas / janeiro 2002


Meio Ambiente

Esse tipo de monitoramento permite aumen-


tar significativamente a eficiência dos Sistemas
de Vigilância, e em conseqüência, reduzir os
riscos sanitários, quando a água é utilizada para
abastecimento, ou riscos ambientais, no caso
mais geral. SONDAS
MULTIPARÂMETRO

4. Monitoramento em tempo real da


qualidade da água dos mananciais
da RMSP Figura 2
quantidade de
sondas
No caso da Sabesp, este projeto consiste em instaladas
um sistema de monitoramento de dados de
qualidade de água, em tempo real, em pontos 4. Potencial de Oxi-redução
pré-determinados em reservatórios que abas- 5. Oxigênio Dissolvido
tecem a RMSP. 6. Temperatura
Este sistema é constituído essencialmente,
de estações remotas e unidades de recepção A quantidade de sondas de qualidade insta-
de dados. As estações remotas são compostas ladas no sistema varia de acordo com a pro-
de módulos de coletas de dados, programa de fundidade do local monitorado, variando de
coleta de dados, módulos de armazenagem de três (superfície, meio e fundo), até uma única
dados, módulos de alimentação e suporte de sonda para locais de pouca profundidade (vide
energia, módulos de comunicação de dados e figura 2).
de sensores de aquisição de dados.

7. Conclusões
5. Mananciais monitorados
Este sistema tem se apresentado até o
Estão sendo monitorados atualmente através momento, como uma excelente ferramenta de
deste sistema, cinco represas utilizadas pela Sabesp vigilância dos mananciais. É importante obser-
para captação e tratamento de água, a saber: var que seu objetivo, não é a precisão dos
resultados, mas as variações significativas que
- represa Guarapiranga com duas bóias podem ocorrer, de forma a indicar que alguma
- represa Billings com três bóias anomalia está ocorrendo no reservatório. A
- represa Rio Grande com duas bóias Sabesp, juntamente com a empresa que implan-
- represa Taiaçupeba com duas bóias tou o sistema, tem feito grandes esforços para
- represa Jundiaí com uma bóia corrigir eventuais problemas técnicos e opera-
cionais encontrados.
No total são 10 locais monitorados. Conside- Aspectos importantes a serem observados
rando-se as várias profundidades, dependendo neste tipo de sistema são, o procedimento de
de cada ponto onde está localizada a unidade calibração e substituição dos sensores, e a ana-
remota, temos 17 pontos monitorados. lise de consistência dos dados gerados.
A intenção da Sabesp é ampliar este sistema
de monitoramento para os demais mananciais
6. Parâmetros de qualidade da RMSP, visando a aprimorar sua vigilância.
monitorados

São medidos diretamente no local, através Referências bibliográficas


de uma sonda multiparâmetro, com os seguin-
tes sensores instalados: 1. Relatório Resumo Monitoramento em Tempo Real,
Divisão de Monitoramento e Informações Ambien-
tais, Sabesp, 2000.
1. pH 2. Relatórios Mensais Monitoramento em Tempo Real,
2. Turbidez Divisão de Monitoramento e Informações Ambien-
3. Condutividade tais, Sabesp, 2000/2001.

Saneas / janeiro 2002 – 37


A SABESP INOVA

Projeto de reúso de efluentes


sanitários para uso agrícola
Colaboradores do projeto:
Eng. Luis Paulo de Almeida Neto 
Eng. Roque Passos Pivelli 

O projeto de reúso em Lins (SP) tem por objetivo


testar vários processos de desinfecção, avaliar as
condições sanitárias das plantas e do solo.
reúso implantado em Lins subdivide-se em
dois subprojetos: subprojeto 1 - Desinfecção
de efluentes de sistema de Lagoas de estabiliza-
ção; subprojeto 2 - Aplicação de efluentes de
sistema de lagoas de estabilização desinfetados
em fertirrigação.

O subprojeto 1 tem os seguintes objetivos:


• Avaliar as características dos esgotos à
entrada e à saída do sistema de lagoas de
estabilização;

• Avaliar os efeitos das dosagens, dos tempos


de contato, das características físico-quími-
cas dos efluentes e de condições operacio-
nais específicas dos sistemas de desinfecção
por radiação ultravioleta, ozônio e cloro,
Figura 1 sobre a atividade de organismos indicadores
Lagoa e sobre a concentração de matéria orgânica
Facultativa 1
A Sabesp, empresa ligada à Secretaria de
Recursos Hídricos, Saneamento e Obras
do Governo do Estado de São Paulo, atua
dos esgotos;

• Comparar a resistência de coliformes fecais,


em 366 municípios, divididos em Unidades de aeromonas, colifagos, Clostridium perfrin-
Negócio, sendo que seis destas atuam no inte- gens, cistos de Giárdia e ovos de Ascaris
rior do Estado de São Paulo. lumbricóides à ação dos diversos agentes
A vice-presidência Interior, através da Uni- desinfetantes empregados.
dade de Negócio Baixo Tietê e Grande, com
Inovação

sede em Lins (440 km de São Paulo) implan- A metodologia utilizada:


tou um campo experimental coordenado pelo • Controle físico-químico e biológico dos esgo-
Dr. Professor Roque Passos Piveli (USP), com tos ao longo do sistema de lagoas de estabili-
objetivo geral de utilizar os efluentes sanitá- zação: Análises de amostras compostas dos
rios tratados para uso agrícola. O projeto de esgotos à entrada e à saída das lagoas, cole-

 Gerente do Departamento de Desenvolvimento Operacional - ITO Lins na Unidade de Negócio do


Baixo Tietê e Grande - IT; engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP - São Paulo, especialização
em engenharia sanitária e ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP - São Paulo.
 Professor da Escola Politécnica da USP - São Paulo; engenheiro civil e doutor em engenharia
hidráulica e sanitária pela Escola Politécnica da USP - São Paulo

38 – Saneas / janeiro 2002


A Sabesp Inova

tadas com freqüência quinzenal. Parâmetros


analisados: DBO5,20 e DQO (total e filtrada),
nitrogênio total e a moniacal, nitrato, fosfato
total e solúvel, série de sólidos, pH, tempe-
ratura, cor e turbidez, E. coli, Aeromonas,
colifagos, Clostridium perfringens, cistos de
Giárdia e ovos de Ascaris lumbricóides.

• Ensaios em escala de laboratório e piloto de


desinfecção com hipoclorito de sódio, radia-
ção ultravioleta e ozônio.

• Estudo de dosagens e tempos de contato, com


controle (quinzenal) físico-químico (DBO5,20
e DQO, nitrogênio amoniacal, série de sóli-
dos, pH, cor e turbidez) e biológico (E. coli,
Aeromonas, colifagos, Clostridium perfrin-
gens, cistos de Giárdia e ovos de Ascaris lum-
bricóides), dos efluentes desinfetados. pio de Lins, SP. A área total do projeto é de Figura 2
15.000 m², as áreas total e útil do sistema de Vista da área
cultivada
O subprojeto 2 apresenta os irrigação são 12.000 m² e 8.648 m² (descon-
seguintes objetivos: tando-se a área dos terraços, feitos para evitar
• Estudar um sistema de produção de milho, erosão do solo), respectivamente. O sistema é
pupunha e café, aplicando-se os esgotos utilizado na execução de um projeto de pes-
desinfetados em sistema de irrigação por quisa enviado ao PROSAB/CNPq.
gotejamento;

• Equacionar os problemas no sistema de irri- 2. Descrição do Sistema de Irrigação


gação decorrentes da utilização de esgoto
tratado, avaliando-se o grau de comprome- O esquema ilustrativo do sistema de irri-
timento operacional; gação utilizado, as tubulações de gotejadores,
tubulações para condução de água às parcelas,
• Avaliar a ocorrência de problemas fitossani- e estação de desinfecção, filtragem e bombea-
tários decorrentes da utilização de esgotos; mento (detalhes na Figura 3).

• Avaliar a viabilidade das técnicas e proce-


dimentos propostos por meio de análise de
desenvolvimento das plantas, produtividade CLORO UV
e qualidade da produção para as suas res-
pectivas e diversas finalidades.

1. Descrição Geral A A
D D O
Z C
Este memorial trata dos detalhes de um pro- Ô U L
jeto de sistema de irrigação, implantado em D O
N V
A I R
área utilizada para aplicação de águas residu- O
árias em agricultura irrigada, após serem tra- ESGOTO NÃO O
DESINFECTADO
tadas (lagoa de estabilização) e desinfetadas
por três diferentes processos (ozônio, radiação
ultravioleta e cloro), descrevendo os dois expe-
rimentos conduzidos na área.
O sistema de irrigação foi implantado em
área pertencente à Cia. de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (Sabesp), no municí- Figura 3 - Estação de desinfecção e bombeamento (Esquema ilustrativo)

Saneas / janeiro 2002 – 39


A Sabesp Inova

- Tubos de PVC, linha azul para condução


de água até a área irrigada, com diâmetros de
50 mm e vazão máxima de 0,7 m³.h-1, para as
parcelas com tratamentos por radiação ultra-
violeta e ozônio, e diâmetro de três polegadas
(75 mm) e vazão máxima de 9,9 m³.h-1, para as
parcelas que utilizam águas residuárias desin-
fetadas com cloro ou não desinfetadas;
- Tubos de polietileno preto, com gotejado-
res inseridos, para aplicação de água à área irri-
gada; diâmetro de 16 mm e vazão de 0,345
m³.h-1; linhas espaçadas de 1,0 m entre si.

d) Gotejadores:
- tipo in line, autocompensantes (vazão
constante, mesmo se houver modificação da
pressão da água na tubulação), com vazão de
2,3 L/h, espaçados de 0,6 m entre si.

2.2. Operação do sistema de irrigação:


O sistema de irrigação aplica uma lâmina
d’água de 4,26 mm/h (L/m²/h). Conside-
Figura 4 2.1. Componentes do sistema de irrigação rando-se uma necessidade máxima de água das
Cultivo do O sistema é do tipo irrigação localizada por culturas igual a 7 mm/dia e um turno de rega
milho
gotejamento, constituído pelos seguintes itens: de dois dias, deve-se aplicar, no máximo, 14
mm (L/m²) a cada irrigação. Considerando-se a
a) Estação de bombeamento: lâmina instantânea aplicada pelo sistema (4,26
- moto-bomba com potência de 3 cv (2,21 mm/h) e sua eficiência de aplicação (90%), o
kW), para aplicação de águas residuárias não- tempo máximo de aplicação de água em cada
desinfetadas ou desinfetadas com cloro; setor será de 3h 40 min.
- moto-bomba de 1 cv para aplicação de águas resi- As parcelas experimentais que recebem águas
duárias desinfetadas com radiação ultravioleta; residuárias desinfetadas com radiação ultravio-
- moto-bomba de 1 cv para aplicação de águas leta e ozônio têm sistemas de bombeamento e
residuárias desinfetadas com ozônio. condução de água independentes, a fim de evitar
Obs.: A aplicação de água potável será feita sem a contaminação com agentes patogênicos pre-
bombeamento, aproveitando-se a pressão exis- sentes nas águas residuárias não-desinfetadas. Já
tente na rede urbana de abastecimento. nas parcelas em que se aplicam águas residu-
árias desinfetadas com cloro ou não-desinfeta-
b) Cabedal de controle: das, utiliza-se apenas um sistema de irrigação.
- Sistema de filtragem, composto por um filtro Para evitar a contaminação da parcela com o
de discos de poliuretano e um filtro de areia tratamento de cloração, a operação do sistema
para cada conjunto moto-bomba; de irrigação deve ser feita de tal forma que, ao
- Sistema elétrico, composto por chaves de par- final de um ciclo de irrigação com águas residu-
tida, dispositivos de segurança e de automação; árias não-desinfetadas, a tubulação fique cheia
- Sistema para injeção de fertilizantes (fertirri- de águas residuárias tratadas com cloro.
gação). Na parcela em que se aplica água potável não
haverá sistema de bombeamento e, portanto, a
c) Tubulação: aplicação será feita utilizando-se a pressão da
- Tubos de fibrocimento com diâmetro de própria rede de abastecimento urbano.
100 mm para condução de água da lagoa facul- Cada sistema de irrigação (água potável,
tativa à estação de desinfecção e bombeamento, águas residuárias não-desinfetadas ou cloradas,
com máximo valor de vazão igual a 18 m³.h-1; águas residuárias c/ ozônio e águas residuárias
Tubos de PVC branco diâmetro de 25 mm c/ ultravioleta), operará de forma indepen-
para condução de água potável até a área expe- dente, podendo-se irrigar várias parcelas expe-
rimental, com vazão máxima de 0,7 m³.h-1; rimentais ao mesmo tempo.

40 – Saneas / janeiro 2002


A Sabesp Inova

3. Descrição dos Experimentos

Serão conduzidos dois experimentos simul-


taneamente, a fim de se estudar os diferentes
aspectos envolvidos na aplicação de águas resi-
duárias em cultivos agrícolas.

3.1. Primeiro experimento


O primeiro experimento será dividido em
duas fases, com a sucessão das culturas do
milho (cultura anual) e da pupunha (cultura
perene). Na primeira fase será implantada a
cultura do milho, no período de agosto/2001 a
janeiro/2002 (5 meses). Após o término da pri-
meira fase será implantada a cultura da pupu-
nha, uma palmácea utilizada para produção de
palmito, em substituição às palmeiras Juçara e
Açaí, que estão ameaçadas de extinção.
Serão estudados os efeitos dos diferentes tra- x 0,70 metros. O sistema de irrigação é por gote- Figura 5
tamentos de águas residuárias sobre as cultu- jamento (4 litros/hora) e a freqüência de irriga- Cultivo do café
ras do milho e da pupunha, verificando-se os ção é determinada pelo tensiômetro.
aspectos agronômicos (desenvolvimento, pro- Para a cultura do cafeeiro é necessário um
dutividade, produção de matéria fresca e seca, período experimental mínimo de quatro anos
sintomas de desequilíbrio nutricional e doen- para se obter resultados conclusivos. Desta forma,
ças), e sanitários (contaminação por agentes neste experimento serão verificados apenas os
patogênicos de origem biológica e mineral). caracteres agronômicos relativos ao desenvolvi-
Os tratamentos serão: mento da cultura, tais como o acúmulo de maté-
a)Água potável - testemunha para se verificar os ria fresca e seca nas plantas, o desenvolvimento
efeitos nutricionais, contaminantes, e salinizan- do sistema radicular e da parte aérea, a ocorrência
tes do efluente aplicado nos demais tratamen- de sintomas de deficiência e fitotoxicidade (into-
tos. A parcela experimental é constituída por xicação das plantas por excesso de nutrientes ou
seis linhas de gotejadores, com 90 m de compri- outros compostos minerais ou orgânicos).
mento cada, numa área total de 486 m²; As avaliações serão iniciadas a partir de
b)Efluente não desinfetado - utilizado em dois dezembro/2001 e a irrigação realizada com
tratamentos: um em que utiliza o efluente con- efluente sanitário tratado.
siderando-o apenas como reposição de água
(irrigação), e outro que o utiliza como fonte 3.3. Terceiro experimento
de nutrição de plantas (fertirrigação); efluente Neste experimento será estudado o desen-
desinfetado - três tipos de desinfecção, clora- volvimento do Tifiton (forrageira utilizada para
ção, radiação ultravioleta e ozônio. produção do feno). A área foi preparada e o
plantio realizado no mês de novembro.
3.2. Segundo experimento
No segundo experimento será estudado o
desenvolvimento da cultura do cafeeiro subme- 4. Conclusão
tido à aplicação de efluente não-desinfetado,
com duas funções: reposição de água (irrigação) O Projeto de Reúso de Efluente Sanitário
e fornecimento de nutrientes (fertirrigação). Os Tratado contribuirá para determinação de
ensaios da cultura do café são conduzidos pelos parâmetros seguros, para sua utilização em fer-
técnicos da CATI (Coordenadoria de Assistên- tirrigação. O aval de instituições de pesquisa
cia Técnica Integral) de Lins. O plantio foi reali- poderá colaborar para o estabelecimento de
zado no início de setembro de 2001, num total critérios técnicos que permitirão recomendar o
de 1.500 mudas sendo utilizadas as seguintes uso dos efluentes na agricultura, contribuindo,
variedades: OBATÃ-750 pés e IAPAR 59 com desta forma, para o desenvolvimento sustentá-
750 pés. No plantio utilizou-se 100 gramas de vel de municípios que adotaram o sistema de
superfosfato simples, com espaçamento de 2,70 tratamento através de lagoas de estabilização.

Saneas / janeiro 2002 – 41


ENTREVISTA

RMSP: uma nova vocação?


Com 10% da população brasileira, a Região Metropolitana de São Paulo
conhece período de desconcentração industrial, mas pode voltar a inchar,
reconcentrando as áreas de informação tecnológica. A previsão foi feita pelo
economista Clélio Campolina Diniz durante o Seminário Internacional
“Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo”, realizado no Parlatino,
em São Paulo, em 5 de outubro de 2001.

Professor e diretor da Faculdade de as quais, Guarulhos, Osasco e o ABC.


Ciências Econômicas da Universidade A causa, de acordo com Campolina,
Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio que também é professor do Centro de
Campolina Diniz é referência obriga- Desenvolvimento e Planejamento Regio-
tória quando o assunto é desenvolvi- nal, organismo ligado a UFMG, é o
mento regional. Conhecido e respeitado fenômeno surgido nas três últimas déca-
no meio acadêmico, Campolina é con- das no Brasil, denominado “reversão
siderado um dos pensadores mais ori- da concentração econômica” ou “rever-
ginais na matéria. Ele defende que a são da polarização”, caracterizado pela
cidade de São Paulo está reduzindo redução, em cerca de 50%, do peso
o seu crescimento em relação à área da área metropolitana de São Paulo na
metropolitana, mas que, por outro lado, produção industrial do país. Na entre-
está surgindo no seu entorno um con- vista a seguir, ele explica o significado
junto de grandes metrópoles, dentre desses conceitos.

Quais as razões dessa reversão de concentra- continuavam sendo um elemento decisivo nos
ção econômica ? padrões locacionais de um conjunto de indús-
Em primeiro lugar, começaram a surgir a trias. Todos os bens intermediários, a meta-
partir da grande concentração da década de lurgia, cimento, fertilizantes, tudo isso estava
70, as deseconomias de aglomeração, refletindo muito dependente de bases de recursos naturais
os custos decorrentes da congestão urbana, o e, portanto, pela dotação de recursos naturais
aumento relativo de salários e, inclusive, as muitas empresas desconcentraram geografica-
questões de controle ambiental. Então, esse é mente suas atividades. E por último, um ele-
o primeiro fenômeno da reversão de polari- mento importante foi a unificação do mercado
zação, que é um conceito teórico e empirica- nacional. O Brasil era muito isolado. O desen-
mente analisado no mundo inteiro, ou seja, há volvimento da infra-estrutura foi decisivo na
concentração até um certo limite e, a partir unificação do mercado brasileiro e, por uma
desse limite surgem economias de aglomera- lógica de competição, as empresas também
Entrevista

ção em outras regiões e perdas das economias se moveram no espaço para ocupar os merca-
de aglomeração nas regiões concentradas. Por- dos ou para fazer investimentos produtivos na
tanto, estabelecidas tais ocorrências, haveria a frente.
tendência lógica de desconcentrar. Em segundo
lugar, a importância dos investimentos diretos Que futuro o senhor enxerga para São Paulo
produtivos nas chamadas estatais, ou em termos e sua região metropolitana?
de incentivos fiscais em algumas regiões, e Eu diria que São Paulo é uma cidade mun-
ainda, o desenvolvimento da infra-estrutura, dial, mas não é nesse contexto uma cidade
principalmente transportes, telecomunicações global. Enquanto uma cidade mundial, numa
e energia elétrica, foi importante para um economia importante como é a economia bra-
processo de desconcentração econômica no sileira, a sua reestruturação produtiva amplia a
Brasil. Em terceiro lugar, os recursos naturais importância de São Paulo, não como centro de

42 – Saneas / janeiro 2002


Entrevista

produção industrial estrito senso, processo de desconcentração? portanto, a nossa inserção interna-
mas como centro urbano e pres- O primeiro movimento é a des- cional é uma variável essencial a
tador de serviço e como centro concentração das indústrias pro- considerar e só pode ser feita por
polarizador da economia brasileira. dutoras de bens de consumo aquelas localidades que adquirem
Dados recentes levantados sobre a generalizado, de baixa sofisticação capacidade de competição interna-
indústria da informática no Brasil tecnológica, alimentos, calçados, cional. Se o Brasil conseguir dar um
mostraram que São Paulo continua vestimentas, etc, principalmente salto em termos de exportação, a
ampliando a sua importância rela- para o Nordeste. O segundo, a região que vai conseguir exportar
tiva nesses conjuntos de atividades indústria se desconcentra da área só pode ser a região mais desen-
mais intensivas em conhecimento. metropolitana de São Paulo, mas se volvida. A outra transformação é a
Então, a minha primeira conside- reaglomera no macroespaço ao Sul decorrente das privatizações. Atra-
ração geral é de que São Paulo de Belo Horizonte. O terceiro seria o vés da privatização da infra-estru-
foi e continua sendo o grande das indústrias intensivas em conhe- tura, ela será melhorada nas regiões
centro econômico do Brasil, tende a cimento. Há aqui um desafio, isto é, onde existe mais densidade eco-
ampliar cada vez mais a sua impor- a possibilidade de darmos um salto nômica e, portanto, retorno eco-
tância como polarização dos servi- tecnológico. Nós temos uma elite nômico. Isto tende a aumentar a
ços, centro do comando econômico intelectual, uma elite empresarial, defasagem da infra-estrutura entre
de atividades de valor agregado um mercado de tamanho significa- as regiões brasileiras. E a terceira
maior e porta de entrada das rela- tivo e, consequentemente, há espaço transformação diz respeito às
ções econômicas internacionais. A para o crescimento de um con- mudanças tecnológicas e reestrutu-
área metropolitana de São Paulo junto de atividades intensivas em ração produtiva. No mundo inteiro
continua ganhando 250 mil habi- conhecimento. Para essas atividades está sendo reduzida a importância
tantes por ano. Apesar de necessá- o fator locacional decisivo é a dis- das atividades produtoras de bens e
rio, o Rodoanel vai contribuir para ponibilidade de recursos humanos aumentando a importância das ati-
concentrar ainda mais. Esse é o qualificados, recursos laboratoriais, vidades produtoras de serviços. Nos
paradoxo, essa é a dialética das rela- integração produtiva com as ativi- países hoje industrializados, 70% do
ções: a melhor infra-estrutura tenta dades sofisticadas e, portanto, isto PIB, da ocupação, já estão neste con-
resolver o problema da concentra- estaria num conjunto de cidades junto de atividades. Então, tudo isso
ção, mas a melhoria da infra-estru- limitadas, que são algumas metró- mostra que se o Brasil conseguir dar
tura traz mais concentração. poles da região Centro-Sul ou um salto produtivo na reestrutura-
cidades médias dotadas de infra- ção, na modernização, haveria uma
Frente a esse paradoxo como estrutura científica como, São tendência de mais reconcentração
melhorar as condições de vida nas Carlos, Campinas e São José dos econômica. A Região Metropolitana
grandes cidades? Campos, que têm tido sucesso do de São Paulo tem 10% da popula-
Um desafio central para o Brasil ponto de vista das atividades inten- ção brasileira e, em média, tem 20%
é retomar o planejamento, não sivas em conhecimento. Então, estes a 30% das qualificações apropria-
como panacéia, não com planeja- três movimentos da indústria, em das ao que chamamos de áreas tec-
mento compreensivo de tudo, mas síntese, mostram uma reconcentra- nológicas. A literatura internacional
como indicador e balizador da ação ção macroespacial e uma tendência tenta separar as áreas chamadas
pública e orientação do setor pri- de reforçar as indústrias do conheci- de formação tecnológica produtiva.
vado, de ordenamento ou reorde- mento nas cidades dotadas de maior São as engenharias, biologias, as
namento do território, no qual se infra-estrutura de conhecimento e, informáticas, as químicas, em geral,
inserem as áreas metropolitanas. Há portanto, São Paulo poderia voltar são as áreas de informação tecno-
espaço no Brasil, ainda há estoque a reconcentrar as atividades mais lógica. Vamos concluir que tudo isso
de população rural, ainda existem intensivas em conhecimento. está nas regiões onde existe a maior
fortes processos migratórios entre concentração econômica, a maior
cidades médias e pequenas para Isso quer dizer que a pressão sobre concentração da infra-estrutura de
cidades grandes e, assim, ainda São Paulo vai continuar? pesquisa e infra-estrutura acadê-
se poderia fazer alguma coisa em Sim, principalmente devido a três mica universitária. Então, tudo isso
termos de reordenamento do espaço transformações contemporâneas e levaria a uma reconcentração nesses
produtivo para melhorar as condi- suas implicações. A primeira é a macroespaços, São Paulo com seus
ções de vida das grandes cidades. abertura externa. O Brasil tinha uma apêndices, Campinas por um lado,
economia muito fechada, a econo- São José dos Campos por outro,
Como o senhor analisa o compor- mia brasileira foi aberta a partir de e toda a rede universitária no seu
tamento do setor industrial nesse 1990 e não poderá mais ser fechada, entorno. ■

Saneas / janeiro 2002 – 43


EMPREENDIMENTO & GESTÃO
P&D

Diagnóstico do Sistema Produtor


Metropolitano: Investimentos
Realizados e Benefícios Auferidos
Eng. Antonio Marsiglia Netto 

1. Introdução. 2. Investimentos Realizados.

A RMSP, com aproximadamente 17 milhões O abastecimento da RMSP caracterizou-se,


de habitantes, distribuídos em 39 municípios até 1995, por um círculo vicioso, com a execução
(10% da população do Brasil) por estar locali- de várias obras, desde o século passado, sempre
zada próxima às nascentes do Rio Tietê, apre- com o registro de déficit, considerando-se que a
senta uma disponibilidade hídrica, per capita, oferta sempre correu atrás da demanda.
de 201 m³/hab./ano, muito baixa (2000m³/hab./ Os diversos “Planos Diretores de Abaste-
ano recomendado pela OMS), implicando que, cimento da RMSP” privilegiaram alternativas
nos períodos de forte estiagem, o abasteci- diferentes, utilização de vários mananciais, e
mento público, industrial e a irrigação podem quase nunca, conclusão das obras necessárias.
sofrer riscos relevantes de escassez. Em 1967 foram iniciadas as obras do grande
Nossos mananciais de boa qualidade estão sistema atual Cantareira que permitiu a trans-
distantes e até em outras bacias hidrográficas, ferência de água da bacia do Piracicaba para a
enquanto os mananciais próximos sofrem com RMSP e que hoje responde pelo abastecimento
ocupação urbana desordenada que afeta a qua- de quase 50 % da sua população, com pouco
Empreendimento & Gestão

lidade da água, além de outros em regiões de mais de 30.000 litros por segundo.
conflitos ambientais. Tudo isto para atender a Antes dele, tivemos as diversas etapas do
dois tipos de cidade: a formal – com infra-estru- Guarapiranga, Rio Claro, Alto e Baixo Cotia e
tura consolidada, menor crescimento popu- Rio Grande.
lacional, renda per capita maior, consumo Por último, entrou em operação o Sistema
elevado, enfim, a chamada cidade da cidada- Produtor Alto Tietê que em sua última etapa,
nia, e a informal – com infra-estrutura defi- em andamento, utilizará as bacias regulariza-
ciente, maior crescimento populacional, renda das do Biritiba e Paraitinga, totalizando apro-
per capita menor, consumo médio per capita ximadamente 12m³/s.
menor, muito desperdício e ocupação urbana Com tudo isto, no período de 1989 a 1992
nas áreas de mananciais. passamos por
Não pode ser esquecido que nossa Região situação crí- PMA – Involução do Rodízio

Metropolitana, além do crescimento desordenado tica de abas- 6 5,2


População (em milhões)

e explosivo, teve a implantação do maior parque tecimento, 5

industrial da América Latina, sem as medidas mantendo em 4

3 2,3
ambientais recomendáveis para tal e sobre um rodízio apro-
2
sistema de mananciais priorizados, desde o início ximadamente 1,0
1
do século, para geração de energia elétrica. 10 milhões de 0
0

A Região Metropolitana, devidamente insti- habitantes. Verão 95/96 Verão 96/97 Verão 97/98 set/98

tucionalizada, obriga que o gerenciamento do Entre 1995


abastecimento de água seja efetuado como um e 1996, as limi- Evolução da Regularidade do Abastecimento

todo, adotando-se soluções integradas para os tações quanto 100


93,2
95,5
92,9 93,9

diversos municípios que a compõem. a capacidade 95


88,0
IRA (%)

86,6
Nesse contexto, por contar com uma empresa dos manan- 90

de saneamento básico economicamente forte e ciais em re- 85

tecnicamente competente, a escassez tem sido lação às de- 80

eficazmente administrada na região. mandas exigi- 75


96 97 98 99 2000 2001

 Vice-presidente de Produção da Região Metropolitana da Sabesp

44 – Saneas / janeiro 2002


Empreendimento & Gestão

das pelo sistema implicaram na realização de


rodízios permanentes, atingindo aproximadamen-
te 5 milhões de habitantes e ainda outros 2 milhões
com intermitência no abastecimento.
Em 1996, com duração prevista de 3 anos, a
programação de 80 empreendimentos e inves-
timentos de cerca de R$700 milhões, a Sabesp
implantou o PMA (Programa Metropolitano
de Água) que propunha:

• Otimizar o desenvolvimento das estruturas


existentes;
• Eliminar a necessidade de rodízios; Reversão do
• Preservar e aumentar a capacidade dos braço
Taquacetuba
mananciais; da Billings para
• Reduzir os riscos de operação dos manan- a represa
ciais; Guarapiranga
• Aumentar a capacidade de produção de água
para abastecimento, e 4. Perspectivas
• Elevar o índice de atendimento da RMSP
para 100%. A fim de se manter os resultados obtidos e de
fazer frente ao crescimento populacional (cerca
Paralelamente, iniciaram-se os programas de 1 milhão a mais de pessoas a serem supridas
de conservação de água, como, por exemplo, o a cada 4 anos) a Sabesp está desenvolvendo a
Programa de Redução de Perdas e o Programa 2ª etapa do Programa Metropolitano de Água -
de Uso Racional da Água (PURA). PMA II, com investimentos previstos da ordem
Reforço do Sistema Produtor Guarapiranga de R$1,5 bilhões. Também é essencial a imple-
com a reversão do braço do Taquacetuba, novo mentação do Programa de Saneamento Ambien-
aporte para o Sistema Alto Tietê (incorporação tal dos Mananciais do Alto Tietê, nos moldes
de novas barragens), ampliação, adequação e oti- do Programa Guarapiranga, porém, abrangendo
mização nas ETA’s dos Sistemas Guarapiranga, todos os mananciais da RMSP.
Alto Tietê, Rio Grande e Alto Cotia, ampliação Este programa, cuja primeira etapa foi
do sistema adutor e de reservação permitiram ao orçada em cerca de US$540 milhões, encon-
Governo do Estado, em setembro de 1998, cum- tra-se atualmente em análise na esfera federal
prir as metas de seu programa que visava a uni- visando a obtenção de aval para solicitação de
versalização do abastecimento de água. empréstimo junto ao Banco Mundial.

3. Benefícios Auferidos. I. Programa Metropolitano de Água II (PMA II)

No primeiro ano (1999), após a implanta- Previstos investimentos de R$ 1,5 bilhão, em empreendimentos
do PMA II, no período de 2002 a 2006
ção da primeira etapa do PMA, o índice de (antecipação de investimentos para 5 anos).
Regularidade do Abastecimento (IRA) apre-
sentou sua melhor performance atingindo o Empreendimentos:
valor médio anual de 95,5%, o mais alto desde • mananciais  + 5,4 m³/s (de 63,1 para 68,5 m³/s).
1986, quando ele foi criado. • produção  + 9,2 m³/s (de 67,7 para 76,9 m³/s).
Graças ao PMA e a parte do Programa Gua- • 60 km de adutoras (diâmetros de Ø 900 mm a Ø 2500 mm).
rapiranga que implantou a 1ª etapa do tra- • 90.000 m³ de reservação
• 3.500 km de rede e setorização.
tamento avançado do Sistema ABV, a Sabesp Nota: Inclui o Programa de Perdas.
conseguiu em 2001 superar a pior estiagem
(bianual) dos últimos 65 anos sem ter recorrido II. Programa de Saneamento Ambienal dos Mananciais da RMSP
ao racionamento nos seus mais importantes sis- Previstos investimentos de US$ 1,43 bilhão em 12 anos, com
temas produtores (Cantareira, Guarapiranga, financiamento BIRD. A 1ª etapa (4 anos), em negociação, prevê
Alto Tietê e Rio Claro) que beneficiou pelo investimentos de US$ 542 milhões (Billings - 314 milhões,
menos 17,7 milhões de pessoas em termos de Guarapiranga - 201 milhões e Alto Tietê e outros - 27 milhões)
saúde e bem-estar.

Saneas / janeiro 2002 – 45


HISTÓRIA DO SANEAMENTO

Fatos da história do abastecimento


de água de São Paulo
Eng. Mario Izumi Saito
ção viria da região da Serra da der a crescente demanda dos
Cantareira, por sua proximidade serviços, o Governo do Estado,
com a cidade e pela excelente através da Lei Estadual 92 de
qualidade de suas águas. 28/08/1892, declarou sem efeito o
Em 1877, organiza-se a “Com- contrato de concessão que havia
panhia Cantareira e Esgotos”, uma firmado e resolveu encampá-la. A
empresa privada, com o propósito primitiva sociedade foi transfor-
de explorar os serviços de água mada em órgão da administração
e esgotos na Capital pela aqui- do Estado, sob a denominação de
sição do privilégio concedido a Repartição de Águas e Esgotos -
Daniel Makinson Fox e seus asso- RAE. Foi a primeira estatização
ciados, constituídos pelos capi- que se deu em São Paulo.
talistas coronel Antonio Proost A Serra da Cantareira, até fins
Rodovalho e major Benedito do século XIX, era uma região
Um dos reservatórios de acumulação construído pela Antonio da Silva. Engenheiros de fazendas de café, chá, cana
Companhia Cantareira e Esgotos, ainda existente no ingleses são contratados pela de açúcar e chácara de hortifru-
Clube da Cantareira da Associação Sabesp, utilizada Companhia Cantareira para tigranjeiros. Parte da mata que
para a prática de pesca esportiva. desenvolver o projeto e Henry existe hoje, tinha sido derrubada
Batson Joyner é contratado, em para dar lugar à agricultura.

D esde os primórdios da povo-


ação, o abastecimento de
Londres, como superintendente
da Companhia.
O nome “Cantareira” foi dado
à serra pelos tropeiros que faziam
História do Saneamento

água à população paulistana foi Iniciados os trabalhos, a equipe o comércio entre São Paulo e
sempre deficiente e precário. de Joyner realiza um preciosíssimo outras regiões do país, nos sécu-
A rápida expansão da econo- levantamento de campo e elabora los XVI e XVII, por causa da
mia paulista na segunda metade a Planta Cadastral da Cidade de grande quantidade de nascentes e
do século XIX, particularmente São Paulo. Constrói-se dois gran- córregos encontrados na região.
após o último quarto do século, des reservatórios de acumulação Naquela época era costume arma-
demarca novo momento na his- para represamento das águas dos zenar água em jarros chamados
tória do abastecimento de água mananciais da Serra da Cantareira, cântaros, e chamavam-se “Can-
na cidade de São Paulo. com capacidade de 50 milhões tareira” o local onde os cântaros
Em 1863, o governo da Pro- de litros, considerados enormes eram guardados.
víncia comissionou o engenheiro na época. Constrói-se também o O Estado, visando a captação
James Brunless, de Londres, para reservatório da Consolação e uma e proteção das nascentes para
estudar um plano geral de abas- adutora de 30 centímetros de abastecimento da cidade, adquiriu
tecimento e também de esgotos diâmetro, interligando o manan- inúmeras áreas, desapropriando
que solucionasse definitivamente cial da Cantareira com o reserva- várias fazendas na serra, a partir de
os problemas da falta de água tório da Consolação. Em 1882, as 1890, compondo a superfície atual
e das ameaças de epidemia pela águas da Cantareira já abastecem do Parque Estadual da Cantareira,
falta de higiene, que pairava sobre a cidade de São Paulo. totalizando uma área de 7.916,2
a população paulistana. A população da cidade crescia hectares. Essas compras foram
Assim, James Brunless, auxi- rapidamente e, em 1890, atingia orientadas pela RAE - Repartição
liado pelos engenheiros Hooper a marca dos 70 mil habitantes. A de Águas e Esgotos. Com a desa-
e Daniel Makinson Fox, elabora Companhia Cantareira se mostrava propriação, a área foi decretada
a planta topográfica da cidade, impotente para manter os serviços “Reserva Florestal do Estado” e, em
traçando o projeto do respectivo e precisava ampliar o sistema. 1963, esta Reserva Florestal foi ele-
abastecimento de água e rede Como a Companhia Canta- vada à categoria de parque, rece-
de esgotos. Os estudos desen- reira não dispunha de recursos bendo a denominação de “Parque
volvidos concluíram que a solu- financeiros suficientes para aten- Estadual da Cantareira”.

46 – Saneas / janeiro 2002


História do Saneamento

Passando para as mãos do dia 126 mil habitantes e em 1900,


Estado, as obras de abastecimento 240 mil habitantes. A RAE mobi-
de água começaram a tomar liza novos mananciais e constrói,
vulto. A serra era longe e a subida, em 1904, a Casa da Bomba para
extenuante. Naquela época, não bombeamento das águas do cór-
se conhecia automóvel e as car- rego Engordador e, em 1907,
roças para chegar até lá levavam inaugura-se a barragem para
horas e horas, tornando o serviço represamento das águas desse
muito oneroso. Foi, então, que se manancial. Imediatamente, ini-
aventou a idéia de construir uma ciam-se novas obras objetivando
linha de trens para o transporte o aproveitamento dos mananciais
de materiais para as obras. do Cabuçú e Barrocada, termina-
Este foi o motivo da implan- dos em 1910.
tação do Tramway da Cantareira, A mobilização desses novos Placa inaugural dos reservatórios em 1882
uma estrada de ferro, ligando mananciais, Engordador, Barro-
a Capital e a Serra da Canta- cada e Cabuçú, exigiu a cons-
reira, para transportar materiais trução do ramal ferroviário
de construção e equipamentos “Tramway da Cantareira”, utili-
destinados à ampliação do sis- zado para transportar materiais
tema de produção e adução de e equipamentos utilizados na
água para a cidade que, poste- construção de adutoras, casa de
riormente, se transformaria em bombas, barragens, etc.
trem suburbano. A administração do “Tram-
Uma linha de baixo custo, way” que era da RAE foi transfe-
que além de servir para a cons- rida para a Inspetoria de Estradas
trução e conservação dos ser- de Ferro e Navegação e, em 1964,
viços de água, viria prestar o trenzinho é desativado.
serviços aos agricultores da zona Os reservatórios de acumu- Trenzinho da Cantareira
percorrida, em benefício do lação da Cantareira alimentados
abastecimento da cidade de também pelas sobras da caixa
gêneros alimentícios, lenha e de junção e dos mananciais do
pedra de construção. Guaraú e Engordador (na fase
Estudos para a escolha do inicial de operação do sistema,
melhor traçado foram realiza- por bombeamento), formavam o
dos, sendo indicada a estação Sistema Cantareira Antigo.
do Pari como ponto de partida O Sistema Cabuçú era outro
para melhor combinação com complexo produtor, que aduzia
a Estrada de Ferro Inglesa, que águas do rio de mesmo nome,
trazia tubos, tijolos, ferro, cimento dos córregos Barrocada e Engor-
etc. de Santos para o armazém dador (por gravidade para a adu-
do Pari, onde seria baldeado para tora do Cabuçú). Em 1954, na
o trenzinho da Cantareira, que o parte terminal da adutora do Traçado da linha da Tramway Cantareira.
levaria ao local das obras. Como Cabuçú, em Santana, foi cons-
ponto final foi indicado o local truída uma Estação de Trata-
dos antigos reservatórios de acu- mento de Água, com capacidade
mulação (atual Clube da Canta- de 500 L/s, onde toda água desse
reira da Associação Sabesp). sistema passa a ser tratada.
Os materiais e equipamentos O Sistema Cantareira Antigo
utilizados na construção eram e o Sistema Cabuçú abasteceram
importados (quase tudo), prin- partes das cidades de São Paulo
cipalmente, da Inglaterra. Por e de Guarulhos até meados da
exemplo: o cimento vinha da década de 1970, quando entra em
Inglaterra acondicionado em operação o Novo Sistema Canta-
tonéis de madeira. reira, um dos maiores conjuntos
Em 1893, a população já ascen- produtores de água no mundo. Sistemas Cantareira Antigo e Cabuçú.

Saneas / janeiro 2002 – 47


Novidades
Novidades
Bancada Móvel para
verificação de
hidrômetro no cliente
Q uando a Sabesp retira um hidrômetro antigo
- colocando em seu lugar um outro de tecno-
logia mais moderna - a medição melhora muito,
gerando às vezes reclamações por parte dos clien-
tes. Para atendê-los de forma ágil e no próprio local,
foi desenvolvida uma bancada móvel montada em
um veículo que permite que se faça uma verificação
metrológica do hidrômetro na presença do cliente
obedecendo aos parâmetros definidos na Portaria
INMETRO 246/00. Este equipamento tem capaci-
dade para verificar hidrômetros de todas as classes
metrológicas (A, B e C) e de capacidades de 1,5m³/h,
3,0m³/h, 5,0m³/h, 7,0m³/h e 10m³/h sem utilizar
água nem energia elétrica do cliente. Vale ressaltar
que o Departamento de Medidores - MPM - já
possui patente referente ao equipamento e desenca-
deou a aprovação do procedimento de verificação
metrológica junto ao INMETRO.

Por que cobrar pelo uso Parceria Infalível!


de um bem público? Biossólidos na Agricultura
P ublicado em 2000, antes da
criação da Agência Nacional
de Água - ANA, o livro “A
O bra muito importante para
o momento que atravessa-
mos, pois permite uma visão sis-
cobrança pelo uso da água”, têmica da questão da utilização
coordenado pelo então Secretá- do biossólido, desde o tratamento
rio de Recursos Hídricos, Sane- dos esgotos e geração do lodo,
amento e Obras do Estado de até a engenharia da aplicação
São Paulo, Antonio Carlos de dos biossólidos em áreas agríco-
Mendes Thame, aborda os dife- las, passando pelos aspectos da
rentes aspectos que envolvem a legislação e da certificação, dentre
cobrança pelo uso da água, abran- outros.
gendo desde os fundamentos jurídicos aos impactos que Traz no seu conteúdo e na sua
a medida causaria nos setores agrícola e industrial. Com forma o resultado eficiente e eficaz de uma parce-
artigos competentes, a publicação cumpre o objetivo a ria infalível, que é o trabalho conjunto das Univer-
que se propôs: torna transparentes conceitos e premis- sidades com as áreas operacionais do saneamento
sas, além de esclarecer dúvidas sobre um projeto que básico. É a “Engenharia Operacional do Sanea-
já tem data marcada para se concretizar no Estado mento” sendo lapidada pelas Universidades, as Uni-
de São Paulo. A partir de junho, quem retirar água versidades dando sentido prático às suas atividades,
da bacia do Rio Paraíba do Sul vai pagar por isso. resultando num produto de altíssima qualidade,
O assunto estará, cada vez mais, inserido na pauta com o fundamental embasamento teórico, e o mais
dos grandes temas nacionais. (R$ 25,00 no site http:// importante, um material prático e de consulta fácil.
www.aguaonline.com.br/livro2/formulario2.htm)

48 – Saneas / janeiro 2002


Reconhecimento
Reconhecimento
Homenagem da AESABESP
a uma verdadeira SELEÇÃO

F aça um teste. Se você tem mais de 15 anos


de Sabesp, dificilmente deixará de con-
cordar com esta homenagem. Se tiver dúvi-
das, recorra à publicação “Homenageados
AESABESP - 1987 - 2000” e poderá constatar
que a homenagem é justa.
Esta foto é a prova cabal de que o
tesouro maior de uma instituição são seus
funcionários.
Esta seleção valorosa, cada um a seu modo,
na sua posição dentro de campo, certamente
contribuiu para o bem-estar do nosso povo.

Saneas / janeiro 2002 – 49


Cafezinho
Cafezinho
Aconteceu de verdade !
O diretor de uma grande empresa recebe um funcionário
em sua sala que dizia ter uma mensagem urgente:
– Sr. Diretor aconteceu um acidente horrível. Caiu um
caminhão cheio de Xileno no rio que abastece nossa cidade.
O diretor estarrecido prontamente questiona:
– Havia algum brasileiro entre eles?

Vertical 1 2 3 4
1. Processo em que lagos, rios, baías
5 6 7 8
e estuários vão sendo aterrados pelos
solos e outros sedimentos neles depo-
sitados pelas águas das enxurradas,
ou por outros processos. 9

2. Último estágio da erosão.


3. Mistura de gases cuja compo-
sição depende da forma como foi 10 11
obtida. De modo geral sua com-
posição é variável e é expressa em
função dos componentes que apa- 12 13 14
recem em maior proporção
4. Técnica de elaborar mistura fer-
mentada de restos de seres vivos, 15 16
muito rica em húmus e microorga-
nismos, que serve para, uma vez
aplicada ao solo, melhorar a sua
17 18 19
fertilidade.
6. Relatório de Impacto do Meio
Ambiente
8. Totalidade das espécies vege- 20

tais que compreende a vegetação


de uma determinada região, sem
qualquer expressão de importân- 21
cia individual.
11. Estudo de Impacto Ambiental
13. Resíduo líquido proveniente de
resíduos sólidos (lixo), particularmente
quando dispostos no solo, como por solo é retirada pelo impacto de para o abastecimento público de
exemplo, nos aterros sanitários gotas de chuva, ventos e ondas, água para consumo
14. É o componente não vivo do sendo transportada e depositada 15. Conjunto de animais que habi-
meio ambiente. Inclui as condições em outro lugar. tam determinada região
físicas e químicas do meio. 7. Organização Não Governamental 16. Ciência que estuda a relação
18. Local onde o lixo residencial 9. Conjunto de seres vivos que habi- dos seres vivos entre si e com o
urbano é depositado, com pré-requi- tam um determinado ambiente eco- ambiente físico
sitos de ordem sanitária e ambiental. lógico, em estreita correspondência 17. Quantidade de matéria orgâ-
19. Fração orgânica coloidal, está- com as características físicas, quími- nica presente num dado momento
vel, existente no solo, que resulta cas e biológicas deste ambiente. numa determinada área, e que
da decomposição de restos vege- 10. Conjunto integrado de fatores pode ser expressa em peso, volume,
tais e animais. físicos, químicos e bióticos, que área ou número
caracterizam um determinado lugar, 20. Conjunto equilibrado de animais
Horizontal estendendo-se por um determinado e de plantas de uma comunidade
5. Processo pelo qual a camada espaço de dimensões variáveis. 21. Ato de extrair madeira e mine-
superficial do solo ou parte do 12. Todo corpo d’água utilizado rais das florestas e jazidas, respec-
tivamente

Solução das palavras-cruzadas no próximo número

50 – Saneas / janeiro 2002


AESABESP

Agradecimentos
Américo de Oliveira Sampaio
Edison Airoldi
Edson Santana Borges
Gilberto Alves Martins
José Lavrador Filho
José Yazo Gondo
Luis Shintate
Luiz Yushigue Narimatsu
Marcelo Kenji Miki
Marli Meireles R. Hellmeister
Odair Marcos Faria
Paulo Massato Yoshimoto
Ricardo Araujo

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