Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
22
cadernos temáticos CRP SP
A quem interessa
a “Reforma”
da Previdência?:
XV Plenário (2016-2019)
Diretoria
Presidenta | Luciana Stoppa dos Santos
Vice-presidenta | Larissa Gomes Ornelas Pedott
Secretária | Suely Castaldi Ortiz da Silva
Tesoureiro | Guilherme Rodrigues Raggi Pereira
Conselheiras/os
Aristeu Bertelli da Silva (Afastado desde 01/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Beatriz Borges Brambilla
Beatriz Marques de Mattos
Bruna Lavinas Jardim Falleiros (Afastada desde 16/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Clarice Pimentel Paulon (Afastada desde 16/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Ed Otsuka
Edgar Rodrigues
Evelyn Sayeg (Licenciada desde 20/10/2018 - PL 2051ª de 20/10/18)
Ivana do Carmo Souza
Ivani Francisco de Oliveira
Magna Barboza Damasceno
Maria das Graças Mazarin de Araújo
Maria Mercedes Whitaker Kehl Vieira Bicudo Guarnieri
Maria Rozineti Gonçalves
Maurício Marinho Iwai (Licenciado desde 01/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Mary Ueta
Monalisa Muniz Nascimento
Regiane Aparecida Piva
Reginaldo Branco da Silva
Rodrigo Fernando Presotto
Rodrigo Toledo
Vinicius Cesca de Lima (Licenciado desde 07/03/2019 - PL 2068ª de 16/03/2019)
Organização do caderno
Jamille Georges Reis Khouri
Revisão ortográfica
Andrea Vidal
___________________________________________________________________________
C755q Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
A quem interessa a “Reforma” da Previdência?: articulações
entre psicologia e direitos das trabalhadoras e trabalhadores. Conselho Regional
de Psicologia de São Paulo. - São Paulo: CRP SP, 2019.
24 p.; 21x28cm. (Cadernos Temáticos CRP SP /nº 22)
ISBN: 978-85-60405-47-3
CDD 158.7
__________________________________________________________________________
Ficha catalográfica elaborada por Marcos Toledo CRB8/8396
Cadernos Temáticos do CRP SP
Desde 2007, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo inclui, entre as
ações permanentes da gestão, a publicação da série Cadernos Temáticos do
CRP SP, visando registrar e divulgar os debates realizados no Conselho em
diversos campos de atuação da Psicologia.
07 Apresentação
Abertura
Palestras
19 Leny Sato
A “Reforma da Previdência”
21 Vinícius Saldanha Momberg
das trabalhadoras
Psicologia
CRP SP e os direitos e trabalhadores
em emergências e desastres
A quem interessa a “reforma” da previdência? cia de benefício entre as populações rurais e urba-
nas e irredutibilidade do valor do benefício.
A discussão sobre as políticas públicas tem
entre a psicologia
O presente Caderno Temático debruça-se so-
crescido significativamente entre as psicólogas e psi-
bre a Previdência Social, que tem por fim assegurar
cólogos, tem havido um aumento significativo de pro-
aos beneficiários meios indispensáveis de manu-
Temáticos
duções de pesquisas e análises teóricas a partir das
tenção, por motivo de incapacidade, idade avan-
contribuições da ciência e da profissão psicológica.
çada, tempo de serviço, desemprego involuntário,
articulações
Para nós, psicólogas e psicólogos, a discus- encargos de família e reclusão ou morte daqueles
líticas sociais cujo fim é o amparo à vida, com um entanto, com o início de um novo governo em 2019
conjunto integrado de ações destinadas a assegu- as ameaças são ainda maiores, e vivemos efetiva-
rar os direitos relativos à saúde, à previdência e a mente a destruição da Previdência Social.
assistência social.
Nosso dever ético como profissionais da
A seguridade social é um direito constituído Psicologia é de defender os direitos à dignidade
legalmente, previsto na Constituição Federal de e integridade do povo brasileiro, compreendendo
1988, que obedece a princípios e diretrizes de uni- assim a dimensão subjetiva deste direito social e
versalização do direito, uniformidade e equivalên- o afirmando como um princípio.
8 Abertura
O que a Psicologia
tem a ver com isso?
Guilherme Rodrigues Raggi Pereira
Conselheiro Tesoureiro do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo – CRP SP
Previdência Social
Um direito de todas e todos
e trabalhadores
em emergências e desastres
Beatriz Borges Brambilla
das trabalhadoras
Conselheira do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo – CRP SP
entre a psicologia
Temáticos Psicologia
CRP SP e os direitos
O debate da Previdência Social e dos direitos tra-
articulações
balhistas são fundamentais para a compreensão “Acreditamos, apostamos e
por uma divisão social, de gênero e racial do tra- em que a democracia, as conquistas históricas e
balho, o que repercute diretamente na questão a luta pelos direitos sociais e trabalhistas estão
da Previdência Social. Gostaria de lembrar o Pau- ameaçadas, e, mais do que isso, algumas delas
lo Freire, que nos ensina de alguma forma que “a aparentemente perdidas.
leitura do mundo precede a leitura da palavra”1.
Sabemos que a Previdência Social e o Be-
1 FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que
nefício de Prestação Continuada, o BPC, são ins-
se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1989, p.9. trumentos de enfrentamento da desigualdade
social no Brasil. E mais: são direitos, direitos cons-
10
titucionais previstos, que devem ser garantidos e “Compreender o sentido da
que possibilitam condições de vida mínimas para
as pessoas em tempos outros, que não o da ex- Previdência Social nos diferentes
ploração violenta do modo de produção capita- momentos de vida das pessoas”
lista. Também, uma frase do Marx: “De cada qual,
segundo a sua capacidade, a cada qual, segundo O Brasil escolhe estrategicamente gastar
as suas necessidades”2, para que a gente possa quase 50% de seu orçamento no pagamento dos
compreender o sentido da Previdência Social nos juros da dívida pública, sendo menos de 25% desti-
diferentes momentos de vida das pessoas. nado à Previdência Social, ainda que os benefícios
sociais sejam instrumentos que agregam condi-
ções e qualidade de vida para as pessoas. Hoje, a
“Trago uma questão conjuntural gente teve notícia do adiamento da votação e de
uma série de acordos que chegam ao novo texto
para pensarmos, entendendo
da reforma da Previdência, em que há uma arbitra-
que vivemos um momento riedade, inclusive, um lobby específico de diferen-
marcado por uma disputa de tes segmentos de trabalhadoras e trabalhadores,
especialmente representantes do braço armado
projeto societário, em que a do Estado, ou seja, as polícias e os servidores pú-
democracia, as conquistas blicos que ainda terão condições distintas do resto
históricas e a luta pelos direitos da sociedade.
sociais e trabalhistas estão Desta forma, pergunto aos colegas: “Em que
ameaçadas, e, mais do que isso, consiste a reforma da Previdência, o que está por
algumas delas aparentemente trás dela e a quem interessa essa reforma?”.
perdidas“
e trabalhadores
em emergências e desastres
João Batista Inocentini
das trabalhadoras
Vice-Presidente da Força Sindical, é fundador do Sindicato Nacional dos Aposentados Pensionistas e Idosos
da Força Sindical; atualmente, é Secretário Executivo do Partido Solidariedade e Presidente da Coopernapi
(Cooperativa de Crédito), ligada ao Sindicato Nacional dos Aposentados
Psicologia
CRP SP e os direitos
A nossa Previdência começou com o objetivo de dência Social que nós criamos. A seguridade social
resolver o problema das pessoas quando chega- era um guarda-chuva para a Saúde, a Educação, a
vam a uma certa idade ou quando não podiam Assistência Social e a Previdência. Era uma arreca-
entre a psicologia
mais trabalhar. Na época em que ela foi criada co- dação, e não uma arrecadação para investimento,
meçou a arrecadação. Essa arrecadação foi sendo mas uma arrecadação social. Aí o governo, em 1990,
desviada na medida em que passaram a utilizar o criou e desviou a seguridade social, começou a
Temáticos
dinheiro da Previdência como se fosse dinheiro do desmembrá-la, alegando que a Previdência deveria
Estado, fazendo investimentos em outras áreas, ter pernas próprias, devido ao alto número de apo-
instituindo uma cultura que os nossos políticos im- sentados. Só que todo o dinheiro que foi desviado
articulações
A quem interessa a “Reforma” da Previdência?:Cadernos
puseram desde a criação da Previdência Social. No nunca mais retornou para os cofres da Previdência.
golpe de 1964 começaram a fazer isso, e naquela
Acho que nós erramos naquela época, porque
época não tinha ninguém aposentado. Todo mun-
deveríamos ter criado o Ministério da Seguridade
do trabalhava e pagava a Previdência, e quando
Social. Mas não foi o que aconteceu; ao contrário,
começaram a se aposentar, a Previdência já es-
desmembraram a lógica do Ministério da Segurida-
tava com um buraco. Nossa Previdência já nasceu
de Social e criaram o Ministério da Saúde, o Ministé-
com um rombo.
rio da Educação, o Ministério da Assistência Social
Depois de 15, 20 anos, houve um volume e o Ministério da Previdência Social. Ali já começou
muito grande de pessoas que se aposentaram. a dividir tudo e isso foi ficando cada vez pior. Há
Naquela época, a gente começava a trabalhar re- 15 anos, estamos em uma situação em que o go-
gistrado cedo. Eu, por exemplo, comecei a traba- verno resolveu o problema da Previdência apenas
lhar registrado com 13 anos. Hoje, nossos filhos e para meia dúzia de empresários do nosso país, que
netos têm privilégios: com 15, 16, 17 ou até 20 anos são os empresários que ganham muito dinheiro. Por
ainda não estão trabalhando, algumas vezes por- exemplo, ele pega o dinheiro da Previdência e dá
que não arrumam emprego mesmo, outras porque para quem? Para os exportadores de grão, que não
estão estudando, porque a lei mudou. Esse volume geram emprego, não fazem distribuição de renda.
e nossa expectativa de vida foram aumentando e
Só em 2016 eles foram beneficiados em qua-
isso é uma realidade. Nós estamos vivendo mais.
se 7 bilhões de reais, dinheiro que saiu dos cofres
Naquela época, a expectativa de vida média era de
da Previdência Social e ficou na mão deles. Para
Cadernos Temáticos CRP SP
e trabalhadores
e desastres
sado – saiu até na Folha, saiu no Estadão –, o José
o governo quer, porque nesse Sarney, nosso ex-presidente, entrando na justiça
caso só o povo pobre paga, isto para reivindicar a terceira aposentadoria dele, no
em emergências
valor de 76 mil reais. Não é aposentadoria de um
é, quem ganha até dois salários salário mínimo… é de 76 mil reais. O Banco Mundial
das trabalhadoras
mínimos. Por que não se mexe fez um estudo segundo o qual menos de 1 milhão
em uma pensão de 70 mil reais?” de pessoas consome 42% da receita da Previdên-
cia Social. Nosso câncer é esse. São esses funcio-
Psicologia
sim ter essa responsabilidade. Tudo bem se quem nários de alto escalão, essas altas aposentadorias
trabalha no ar condicionado, em uma sala, em um que nos levam à situação atual da Previdência.
CRP SP e os direitos
escritório, se aposentar aos 50, 55 anos. O problema da Previdência, o discurso que
No jornal saiu que a média de aposentado- eles fazem e a demagogia que eles usam, a forma
ria é de 55 anos. Só que 55 anos é somente no de comunicação, é para nos atingir. É vergonhoso,
entre a psicologia
caso de quem aposenta por contribuição, isto é, porque a Previdência a gente conhece. Eu conhe-
apenas 18% dos aposentados no nosso país. E ço bem a Previdência; negociei 17 anos lá. A gen-
te sabe onde está o problema e como é a nossa
Temáticos
o que é pior: quem se aposenta jovem é o rico, e
não é porque ele está preocupado, mas porque, Previdência. Antes era a corrupção o problema. De
quando completa 14 anos, o pai dele já começa tanto a gente denunciar, foi diminuindo, mas não
articulações
a pagar a Previdência. Ele continua estudando e acabou. Aqui em São Paulo temos aproximada-
e trabalhadores
e desastres
ro da Previdência, da seguridade social, e transferir
lei da terceirização, que já foi aprovada; a Emenda
para o pagamento dos juros. Por isso estão insis-
95, que foi aprovada no final do ano passado.
tindo tanto nessa reforma da Previdência, porque
o governo tinha que entregar essa mercadoria, e
em emergências
prometeu isso quando assumiu a presidência após
“Aprofunda a retirada dos fundos
das trabalhadoras
o impeachment. Porque o governo anterior come-
públicos, ataca o orçamento çou a fazer, no segundo mandato, o ajuste fiscal
público de cada país” para o mercado. Eles iam fazer o ajuste fiscal tam-
bém; não fariam dessa maneira tão selvagem, por-
Psicologia
que o partido do governo não conseguiria fazer por
Vocês se lembram do que eles chamavam de sua base social, mas começaram. Mas o fato é que
CRP SP e os direitos
“teto dos gastos”, mas não é. Aquilo ali é a PEC o ajuste começou principalmente no mandato de
(Proposta de Emenda Constitucional) da morte, 2014 a 2016, quando foi feita uma mudança total
porque é o congelamento dos investimentos nas no programa de governo. O governo foi reeleito,
entre a psicologia
áreas sociais, na Educação, na Saúde, na Assis- mas colocou para funcionar o programa de cortes
tência Social e na Cultura por 20 anos. Talvez orçamentários da oposição.
aquela emenda seja pior do que a reforma da Pre-
Temáticos
Eu me lembro de que, no dia da posse da pre-
vidência, do que a reforma trabalhista, do que a
sidência em 2015 houve um lançamento, um slo-
lei da terceirização e todas as outras medidas,
gan que era “pátria educadora”: No outro dia, em
articulações
porque apenas uma área saiu ilesa e ficou livre do
uma canetada, foi assinado um decreto retirando
e trabalhadores
e desastres
especuladores. Sem isso, nosso país nunca vai sair (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Servi-
do atraso social, essa é uma questão grave, entre ços), mas mesmo assim sonega e, mesmo sendo
muitas outras questões. devedora, continua sendo beneficiada.
em emergências
Outra empresa distribuidora de carne de São
das trabalhadoras
Paulo deve 1 bilhão e 200 milhões de reais para os
“Estado brasileiro pratica uma cofres públicos. Com esse dinheiro, daria para re-
política de benefício fiscal para solver toda a situação da USP (Universidade de São
alguns setores econômicos” Paulo), da Unesp (Universidade Estadual Paulista),
Psicologia
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),
das Fatecs (Faculdade de Tecnologia do Estado de
CRP SP e os direitos
Termino minha fala pontuando o seguinte: São Paulo) e das Etecs (Escola Técnica Estadual).
nós estamos fazendo este debate em níveis na-
Vocês imaginam quantas escolas daria para
cional, estadual e municipal. Aqui em São Paulo
construir aqui? Quantos hospitais públicos? Temos
entre a psicologia
temos uma questão gravíssima, que é a da Pre-
vários outros exemplos aqui. Tenho uma lista pu-
feitura: o prefeito eleito em 2016 apresentou uma
blicada pela Procuradoria Geral do Estado. O Fri-
proposta de reforma da Previdência que é pior do
Temáticos
gorífico Margen deve 606 milhões de reais para o
que a reforma do Governo Federal, porque aumen-
Estado. Enfim, têm várias outras empresas nesta
ta a alíquota de 11%, podendo chegar a 19% de
lista. Então, a dívida desse setor com o estado de
articulações
desconto na folha de pagamento dos trabalhado-
São Paulo é de quase 300 bilhões de reais, sendo
e trabalhadores
em emergências
das trabalhadoras
Psicologia e desastres
presários que concentram uma grande parte da
CRP SP e os direitos
“É importante que o Conselho de riqueza, e eu acho que isso tem que estar sempre
em pauta quando a gente discute o que está sen-
Psicologia e a categoria estejam
do chamado de reforma da Previdência Social.
muito atentos à questão da
entre a psicologia
Tem uma autora, a professora Maria Lú-
reforma da Previdência não só por cia Teixeira Werneck Vianna, que é professora da
serem trabalhadores, mas também
Temáticos
Federal do Rio de Janeiro e que estuda há muitos
por lidarem com pessoas que anos a Previdência Social no Brasil. Eu me lembro
de que, quando eu era uma jovem formada em psi-
necessitam desse suporte”
articulações
cologia, lá na década de 1980, nós já estudávamos
a nossa, que é extremamente desigual? Acho que condições que o Estado pode dar
já foram divulgados dados recentemente, inclusive para garantir o direito à vida”
sobre as pessoas que acumulam mais riqueza no
Brasil. Foi um dado da Oxfam1, cerca de oito em-
2 A palestrante, nesse momento, faz referência ao seguin-
te texto: Maria Lúcia Teixeira Werneck Vianna. A seguridade
1 OXFAM. A distância que nos une: um retrato das desigualda- social é superavitária. Disponível em: <https://www.abrasco.
des brasileiras. 2017. Disponível em: <https://www.oxfam.org. org.br/site/outras-noticias/opiniao/maria-lucia-teixeira-wer-
br/sites/default/files/arquivos/Relatorio_A_distancia_que_ neck-vianna-a-seguridade-social-e-superavitaria/27591/>.
nos_une.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2019. Acesso em: 18 abr. 2019.
muito próximo do que pode acontecer com isso
20
“Ele discutiu a Previdência Social que está sendo denominado reforma e que, na
verdade, consiste em acabar com a proposta que
como um sistema de proteção a gente tem de Previdência Social.
social, ou seja, a importância de Outra coisa que eu acho importante desta-
pensar a Previdência Social como car, nessa leitura que o Castel traz, é que a ideia
uma propriedade social, e não de uma propriedade social está respaldada na
concepção de que o Estado é um Estado social,
como uma propriedade privada” que é ele que deve prover isso, que deve garantir
meios por meio dos quais todos nós tenhamos di-
Até mesmo o interesse dos bancos e das se-
reito à vida. E outro aspecto também interessan-
guradoras privadas, que é efetivamente o de tirar
te, principalmente para nós do campo da Psicolo-
todo esse montante de recursos da Previdência
gia, é o fato de que essa proteção social é aquilo
Social e canalizar para a previdência privada. Mas
que garantiria a possibilidade da existência das
eu acho interessante, quando a gente pensa na
diferenças. Acho que isso é algo que tem que ser
Previdência Social e quando eu digo que é preciso
muito destacado.
discutir o direito à vida, utilizar uma referência do
sociólogo Robert Castel, que já faleceu há alguns Para concluir, eu acho que é muito importan-
anos. Ele discutiu a Previdência Social como um te que todo esse debate sobre Previdência So-
sistema de proteção social, ou seja, a importância cial tenha uma base, que é uma base que retome,
de pensar a Previdência Social como uma proprie- de forma bastante séria e competente, a história
dade social, e não como uma propriedade privada. da própria Previdência Social no Brasil. Ela vai re-
montar às caixas de aposentadorias e pensões
Uma coisa que eu acho que é importante
no começo do século passado, às associações
pontuar nessa discussão que o Castel traz é que
de ajuda mútua, na verdade, aos institutos de
existe uma diferença muito grande entre Previ-
aposentadorias e pensões da década de 1960;
dência Social e previdência privada. No segundo
na época da ditadura, ela era unificada no Insti-
caso, você vai contribuir se tiver recursos para
tuto Nacional de Previdência Social (INPS). Então,
contribuir, isto é, você será visto como um consu-
uma coisa que é muito importante a gente ter em
midor que vai ter dinheiro para comprar um plano.
vista é que aquilo que formou o caixa dessa Pre-
No caso da Previdência Pública, da proteção so-
vidência, como a conhecemos, depois modificou-
cial, da propriedade social, a ideia é que você é um
se, obviamente, mas a base dessa unificação foi
cidadão e que vai ter direito à vida, independente-
o dinheiro dos trabalhadores daquelas caixas de
mente de ter, num determinado momento, capaci-
aposentadorias e pensões dos institutos de apo-
dade de trabalhar e gerar rendimento para isso.
sentadoria e pensão.
Então, ela é de fato uma forma de proteção social,
é redistributiva e não está baseada na sua capa- E algo que a Maria Lúcia Werneck diz e que é
cidade individual de pagar por um plano de previ- importante recuperar é que não se discute a parte
dência. No Chile, que é um dos países da América de contribuição que o Estado tem que dar para
do Sul onde toda a política neoliberal foi implan- a Previdência Social. E aí tem toda uma série de
tada, só agora as pessoas estão se aposentando usos indevidos que foram feitos desse dinheiro e
a partir desse plano neoliberal de previdência pri- cuja responsabilidade agora se deseja jogar nas
vada e estamos acompanhando o desastre que costas dos trabalhadores, aquilo que está sendo
está sendo. Acho que a gente tem aí um exemplo definido como um déficit e que, na verdade, como
a Maria Lúcia fala e o Giannazi falou aqui também,
é superavitário. Eu acho que isso é muito impor-
tante e que a gente não deve comprar aquilo que
“Então, ela é de fato uma se quer apresentar como verdade, mas que vai
prejudicar a maioria da população.
forma de proteção social,
é redistributiva e não está
baseada na sua capacidade
individual de pagar por um plano
de previdência”
A “Reforma da Previdência” 21
e trabalhadores
e desastres
de São Paulo, pós-graduando no curso de especialização em Economia do
Trabalho e Sindicalismo da Unicamp, Coordenador do Comitê de Jovens da ISP
Brasil, psicólogo no Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
em emergências
das trabalhadoras
Psicologia
Na perspectiva dos direitos, da redução das desi-
CRP SP e os direitos
gualdades e da redistribuição de renda, considero “O que a gente precisa, neste
mais adequado nomear esse processo de “defor-
ma da Previdência”, desconstruindo essa lógica
momento, urgentemente, para
toda a classe trabalhadora
entre a psicologia
das metas fiscais e do seguro. Acho que o que a
gente precisa, neste momento, urgentemente, mundial e aqui no Brasil também,
para toda a classe trabalhadora mundial e aqui
é repensar o próprio mundo do
Temáticos
no Brasil também, é repensar o próprio mundo do
trabalho, senão a gente fica tentando fazer alguns trabalho, senão a gente fica
ajustes quando, na verdade, o problema é estrutu- tentando fazer alguns ajustes
articulações
A quem interessa a “Reforma” da Previdência?:Cadernos
ral. Sem falar do problema da desigualdade social
aqui no Brasil, que é estrutural também e que aca-
quando, na verdade, o problema
ba se aprofundando pela desigualdade no mun- é estrutural. Sem falar do
do do trabalho. Além disso, queria reforçar que o problema da desigualdade social
Sindicato dos Psicólogos (SinPsi) está mobilizado
junto a toda classe trabalhadora. A gente convoca
aqui no Brasil, que é estrutural
a categoria para estar presente nas mobilizações, também e que acaba se
coloca o nosso setor jurídico também à disposição, aprofundando pela desigualdade
de acordo com as necessidades.
no mundo do trabalho”
A reforma da Previdência de fato é terrível. Ela
traz impactos nefastos e, para nós, enquanto psi-
cólogos e psicólogas, traz efeitos duplos – enquan- ques. O Giannazi colocou as questões dos impactos
to cidadãos e enquanto trabalhadores, que vão ter que isso traz para a economia, como a tendência a
perdas inegáveis. Traz também alguns desafios, aprofundar o desemprego que a gente já tem vivido.
alguns obstáculos muito consideráveis em nossa A gente tende a ter mais pessoas abaixo da linha da
atuação nas políticas públicas, na área da Saúde, pobreza, um problema que, se não estava resolvido,
na área da Assistência. Isso gera também um sofri- estava prestes a ser, pelo menos a curto prazo.
mento psíquico, um sofrimento psicossocial para as Hoje, com esse cenário da “reforma” e o ato
pessoas que estão sendo alvo de todos esses ata- de desvincular os benefícios do aumento do salário
Cadernos Temáticos CRP SP
e trabalhadores
em emergências
das trabalhadoras
Psicologia e desastres
O palestrante inicia sua fala saudando os compa- ral diariamente. Recebo várias reclamações. E eles
CRP SP e os direitos
nheiros de mesa e, em seguida, faz referência à fala não têm a revisão geral do artigo 37, inciso 10, da
da professora Leny Sato. Constituição, então veem seu poder de compra di-
minuindo, como o de qualquer trabalhador. Quanto
entre a psicologia
aos aposentados, são pessoas que vivem fazendo
A fala da professora Leny é bastante refle- bicos e trabalhando em jornadas além do normal
xiva quando trata nosso sistema de previdência para complementar a aposentadoria e pagar por
Temáticos
como um sistema que tem que ser olhado com seus remédios. Essa é a situação do quadro dos
uma atenção diferente. Hoje, no Chile, depois da servidores públicos no Brasil, nas diversas esferas.
reforma, a previdência privada está pagando 40%. Então temos a situação do déficit.
articulações
A quem interessa a “Reforma” da Previdência?:Cadernos
A gente tem que prestar atenção nesse dado, nes-
sa situação, em que as pessoas que não têm a
menor condição vão buscar o amparo social, para
relacionar mais incisivamente com o regime geral
da Previdência Social do Brasil como uma forma
de garantia mínima de direito das pessoas menos
abastadas, menos privilegiadas no nosso país. En- “Ao observar de perto a dinâmica
tão, eu acho que essa fala tem uma reflexão, um da realidade desses servidores,
significado muito importante e é fundamental para posso assegurar que não é uma
o nosso debate.
casta privilegiada de forma geral.
Eu quero falar um pouco também sobre os
servidores públicos, como coordenador do depar-
Você tem o Judiciário, e aí eu
tamento jurídico do Sindsep (Sindicato dos Servi- vou abrir um parêntese aqui na
dores Municipais de São Paulo), como pessoa que fala do João Batista Inocentini: o
acompanha diária e diretamente a luta dos servi-
dores públicos municipais. Ao observar de perto a
Judiciário é uma casta realmente.
dinâmica da realidade desses servidores, posso Aqueles que julgam alegando o
assegurar que não é uma casta privilegiada de for- princípio da moralidade recebem
ma geral. Você tem o Judiciário, e aí eu vou abrir um
o auxílio-aluguel mesmo tendo
Cadernos Temáticos CRP SP