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GABRIELA VICENTE
GUARDA COMPARTILHADA:
a busca pelo melhor interesse do menor
Tijucas
2010
GABRIELA VICENTE
GUARDA COMPARTILHADA:
a busca pelo melhor interesse do menor
Tijucas
2010
GABRIELA VICENTE
GUARDA COMPARTILHADA:
a busca pelo melhor interesse do menor
Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e
aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca
do mesmo.
Gabriela Vicente
Graduanda
RESUMO
A presente monografia tem como objetivo realizar um estudo sobre a Guarda Compartilhada
diante da promulgação da lei nº 11.698 de 13 de junho de 2008, se realmente com a sua
aplicabilidade essa modalidade atende o melhor interesse do Menor. Trata-se de uma pesquisa
para analisar se a Guarda Compartilhada é o melhor instituto a ser aplicado após a ruptura dos
genitores, ou mesmo se nunca houve um relacionamento conjugal, a fim de assegurar os
direitos do Menor além dos princípios constitucionais. Apresenta-se inicialmente uma
introdução ao tema, com as hipóteses abordadas e suas possíveis confirmações, a metodologia
que foi utilizada, e a justificativa. Dos três capítulos que serão apresentados, no primeiro será
tratado o Poder Familiar, os direitos e deveres decorrentes deste, inclusive as formas que se
destitui, perde e extingue esse poder, além de mostrar o Poder Familiar diante da Ruptura
Conjugal. Objeto de estudo do segundo capítulo, a Guarda de Filhos na legislação brasileira,
mostrará as diversas modalidades de Guarda de Filhos existentes no ordenamento jurídico
brasileiro e as prioridades para atribuição ou modificação da guarda. E, no terceiro e último
capítulo, a parte conceitual da Guarda Compartilhada, como e onde ela iniciou e como está
sendo abordada na atualidade. A pesquisa volta-se as questões atuais e têm o intuito de
demonstrar a importância da aplicabilidade da Guarda Compartilhada para o melhor
desenvolvimento social e moral da Criança, permitindo que ela conviva com pai e a mãe
mesmo após uma Ruptura Conjugal.
This work intents to a study about Shared Guard before the promulgation of law n. 11.698 of
june 13, 2008, if this variety really attents the best benefit of the Smaller. It is a search to
analyse if Shared Guard is the best institute to be used after breaking up of the parents, or
never there was a conjugal relationship, to ensure the Smaller rights, further constitucional
principles. It shows in beginning an introduction to the theme, with the hypothesis approached
and their possible confirmations, the methodology employed, and justification. In the three
chapters that will be presented, in the first, it will be talked about Family Power, rights and
obligations resulting this, including the ways of depriving, to losing and to abolishing this
power, and shows the Family Power, further showing the Family Power before the breaking
up of the parents. The aim of the study of second chapter, Sons Guard in Brazilian legislation
will show the several varieties of Sons Guard that exist on Brazilian juridical ordening and the
priorities to attribution or modification of guard. And, in the third and last chapter, the
conception of Shared Guard, how and where it start and how is being approached on present
time. The search turns to present questions and has intention to prove the importance of use of
Shared Guard to the best social and ethical growth of Smaller, permitting that Smaller live
together father and mother even a Conjugal Breaking up.
art. Artigo
arts. Artigos
CC Código Civil de 1916
CC/2002 Código Civil de 2002
CPC Código de Processo Civil
CRFB/1988 Constituição da Republica Federativa do Brasil
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
ed. Edição
nº Número
p. Página
§ Parágrafo
RT Revista dos Tribunais
v. Volume
LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS
Código Civil
“Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Corpo sistemático de regras relativas ao Direito, que
rege as relações de ordem civil entre as pessoas”3.
Criança
“Pessoa de pouca idade. Deve ser entendida como a pessoa que, em razão da idade, não
dispõe de condições ou recursos para defender-se ou preservar o bem-jurídico”4.
Família
“Reunião doméstica de pessoas, formada pelo casal, seus parentes e indivíduos que com eles
vivam com ânimo de permanência. O conceito não se confunde com o enunciado pelo Direito
Civil. Neste, predomina o aspecto da consanguinidade, decorrente de ascendente comum”6.
Guarda Compartilhada
“Compartilhada é a modalidade de guarda em que os pais participam ativamente da vida dos
filhos, já que ambos detêm a guarda legal dos mesmos. Todas as decisões importantes são
tomadas em conjunto, o controle é exercido conjuntamente. É uma forma de manter intacto o
exercício do poder familiar após a ruptura do casal, dando continuidade à relação de afeto
1
Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed.
Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31.
2
Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão, com
o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do trabalho. Cf. PASOLD,
Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito, p. 43.
3
HORCAIO, Ivan. Dicionário jurídico referenciado. São Paulo: Primeira Impressão, 2007, p. 187.
4
HORCAIO, Ivan. Dicionário jurídico referenciado, p. 243.
5
DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 490.
6
HORCAIO, Ivan. Dicionário jurídico referenciado, p. 416.
edificada entre pais e filhos e evitando disputas que poderiam afetar o pleno desenvolvimento
da criança”7.
Guarda de Filhos
“No sentido jurídico, guarda é o ato ou efeito de guardar e resguardar o filho enquanto menor,
de manter vigilância no exercício de sua custódia e de representá-lo quando impúbere ou, se
púbere, de assisti-lo, agir conjuntamente com ele em situações ocorrentes”8.
Mediação Familiar
“Trata-se de um meio mais acessível para resolver conflitos familiares, tais como guarda de
filhos, modificação da guarda, divórcio e alimentos. O mediador não decide, apenas orienta as
partes a chegarem a um acordo atendendo aos interesses dos filhos”9.
Menor
“Pessoa que, por insuficiência de idade, ainda não alcançou a capacidade jurídica”10.
Poder Familiar
“É o conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor não
emancipado, exercido pelos pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma
jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção do filho”11.
Prole
“Filho ou conjunto de filhos”12.
Ruptura Conjugal
“[...] ato ou efeito de romper; [...] rompimento de relações sociais ou pessoais; [...]”13.
7
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 28.
8
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 39.
9
ÁVILA, Eliedite Mattos. Serviço de mediação familiar. Disponível em:
<http://www.tj.sc.gov.br/mediacaofamiliar.mediacao.htm>. Acesso em: 30 out. 2010.
10
HORCAIO, Ivan. Dicionário jurídico referenciado, p. 619.
11
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 5 v. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 571.
12
HORCAIO, Ivan. Dicionário jurídico referenciado, p. 738.
13
DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico, p. 263.
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................... 5
ABSTRACT .............................................................................................................................. 6
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................. 7
LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS.............................. 8
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
2 PODER FAMILIAR ........................................................................................................... 17
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS – PÁTRIO PODER ............................................................... 17
2.1.1 Conceito de poder familiar .............................................................................................. 23
2.1.2 Direitos e deveres decorrentes do poder familiar ............................................................ 25
2.1.2.1 Suspensão do poder familiar......................................................................................... 29
2.1.2.2 Perda ou destituição do poder familiar ......................................................................... 33
2.1.2.3 Extinção do poder familiar ........................................................................................... 37
2.2 PODER FAMILIAR APÓS A RUPTURA CONJUGAL.................................................. 38
3 A GUARDA DE FILHOS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA....................................... 42
3.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA............................................................................ 42
3.1.1 Definição ......................................................................................................................... 45
3.2 MODALIDADES DE GUARDA ...................................................................................... 46
3.2.1 Guarda unilateral, o mesmo que guarda única, exclusiva ou tradicional ........................ 47
3.2.2 Guarda alternada.............................................................................................................. 50
3.2.3 Guarda física ou material e jurídica................................................................................. 52
3.2.4 Guarda de fato ................................................................................................................. 53
3.2.5 Aninhamento ou nidação ................................................................................................. 53
3.2.6 Guarda originária e derivada ........................................................................................... 54
3.2.7 Guarda provisória e definitiva ......................................................................................... 54
3.3 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA ................................................ 56
3.3.1 Questão da guarda atribuída preferencialmente a mãe e a figura paterna ....................... 57
3.3.1.1 Regulamentação de visitas............................................................................................ 59
3.3.1.2 Regulamentação de alimentos ...................................................................................... 62
4 GUARDA COMPARTILHADA: A BUSCA PELO MELHOR INTERESSE DO
MENOR................................................................................................................................... 64
4.1 INTRÓITO ......................................................................................................................... 64
4.1.1 Conceito legal de guarda compartilhada ......................................................................... 66
4.1.2 Guarda compartilhada no direito brasileiro. .................................................................... 68
4.2 CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO E MODIFICAÇÃO DA GUARDA: MELHOR
INTERESSE DO MENOR....................................................................................................... 71
4.2.1 Aplicabilidade do novo instituto ..................................................................................... 75
4.2.1.1 Efeitos positivos – vantagens ....................................................................................... 78
4.2.1.2 Efeitos negativos – desvantagens ................................................................................. 82
4.2.1.3 Efeitos psicológicos...................................................................................................... 84
4.2.2 Guarda compartilhada na prática..................................................................................... 84
4.2.2.1 Residência: com ou sem alternância?........................................................................... 86
4.2.2.2 Educação....................................................................................................................... 88
4.2.2.3 Responsabilidade civil dos pais.................................................................................... 89
4.2.2.4 Alimentos e visita ......................................................................................................... 90
4.2.3 Mediação familiar: instrumento para facilitar a atribuição da guarda compartilhada..... 92
4.3 GUARDA COMPARTILHADA – A EFETIVIDADE DO PODER FAMILIAR ............ 96
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 103
ANEXO.................................................................................................................................. 107
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objeto14 o estudo da Guarda Compartilhada como sendo a
modalidade de Guarda que atende o melhor interesse da Criança.
A importância deste tema reside no intuito de fazer com que nossa sociedade, diante
das evoluções e mudanças que o instituto da Família sofreu nos últimos anos, entenda que a
guarda deve ser definida sempre favorecendo os filhos, levando em consideração o que será
melhor para a Criança tornar-se um adulto sem complexos advindos de uma Ruptura Conjugal
mal resolvida, ou de uma união que nunca existiu.
14
Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e
ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.
13
a) O Poder Familiar deve ser exercido sempre por ambos os genitores, não podendo se
tornar apenas de um deles toda a responsabilidade em criar o filho. É o que dispõe a
legislação e o que deveria acontecer. Porém, quando da Ruptura Conjugal, a guarda acaba
sendo atribuída a um dos genitores, onde o guardião exerce muito mais e com frequência os
atributos do Poder Familiar do que o genitor não guardião. É aí que a Guarda Compartilhada
entra: para firmar esse compromisso já existente, porém não exercido na maioria das
situações, retribuindo aos pais em igualdade os exercícios advindos do Poder Familiar;
b) Quando aplicada uma das modalidades de guarda onde um dos pais será o guardião,
as responsabilidades normalmente serão divididas da seguinte maneira: a mãe fica com a
guarda física e o pai com a guarda jurídica, ou seja, o filho mora e vive sob os cuidados da
mãe enquanto o pai visita-o e paga pensão alimentícia. O filho quando privado do convívio
diário de um dos genitores, poderá ser uma Criança triste, com baixo rendimento escolar, o
que poderá dificultar a tornar-se um adulto com preparação psicológica para enfrentar a
sociedade e a vida;
direitos e deveres advindos deste instituto, podendo ser este poder destituído, perdido ou
extinguido diante de algumas situações e como a Ruptura Conjugal poderá afetar esse
atributo; a segunda referente à Guarda de Filhos no ordenamento jurídico brasileiro, suas
diversas modalidades e conceitos, critérios para fixar e alterar a modalidade definida e o
princípio do melhor interesse da Criança; e, por derradeiro, relativo à Guarda Compartilhada e
a busca pelo melhor interesse do Menor, quanto à aplicabilidade deste instituto, as vantagens
e desvantagens, como funciona na prática e como poderá ser atribuída através da Mediação
Familiar.
15
Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz.
Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125.
16
Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e
ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.
16
estudos e das reflexões sobre a Guarda Compartilhada e a busca pelo melhor interesse do
Menor.
Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este
estudo: atribuir à modalidade Guarda Compartilhada como instituto que atende o melhor
interesse do Menor.
2 PODER FAMILIAR
Neste capítulo, abordar-se-ão alguns aspectos históricos do instituto pátrio poder, para
buscar um melhor entendimento sobre o Poder Familiar, sua conceituação, os direitos e
deveres decorrentes do mesmo e as formas como se suspende, extingue e destitui esse
instituto, para então, após esta base, elaborar o entendimento sobre a Guarda Compartilhada,
se ela atende o melhor interesse do Menor com base na lei n.º 11.698/08.
O termo Pátrio Poder “[...] remonta ao direito romano: pater potestas – direito
absoluto e ilimitado conferido ao chefe da organização familiar sobre a pessoa dos filhos”17.
(destaque da autora).
Nesse sentido, se a genitora não tinha capacidade suficiente para conduzir sua vida,
não seria capaz de deter o pátrio poder para ser responsável junto com o esposo pela sua
Prole.
17
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5 ed. São Paulo: RT, 2008, p. 382.
18
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada. 2 ed. Leme: J. H. Mizuno, 2008, p. 14.
18
O exercício do pátrio poder conforme disposto na redação do CC22 de 1916 em seu art.
233, era privativo do pai, sendo a mãe apenas uma ajudante esporádica, que também era
submissa ao poder do esposo.
Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com
a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos. [...] Art.
240. A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira,
consorte e colaboradora do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe
velar pela direção material e moral desta.
Os arts. 379, 380 e seu parágrafo único do CC23 de 1916 apontam que os filhos eram
submetidos ao pátrio poder enquanto menores e que a vontade do pai era prevalecida diante
da vontade da mãe:
19
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada. Rio de Janeiro: Forense, 2009,
p. 10.
20
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática. 2. ed. Leme: Imperium Editora, 2009, p.
124–125.
21
BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Revogada pela Lei n° 10.406 de 10.1.2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
22
BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Revogada pela Lei n° 10.406 de 10.1.2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
19
Deste modo, nota-se claramente que havia desigualdade quanto ao exercício do pátrio
poder e a vontade da mãe somente prevalecia perante seus filhos se esses não fossem
reconhecidos pelo pai ou diante do falecimento dele ou ainda se recorresse à justiça.
23
BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Revogada pela Lei n° 10.406 de 10.1.2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
24
BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Revogada pela Lei n° 10.406 de 10.1.2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
25
BRASIL. Lei nº 4.121, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada.
Disponível em: <http://lhists.blogspot.com/2007/10/estatuto-da-mulher-casada.html>. Acesso em: 21 ago. 2010.
26
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 12.
27
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 13.
20
Observa ainda a autora que “Essas modificações e transformações foram evoluindo nos
países, e entre eles o Brasil, apresentando em suas legislações as inovações. A figura exclusiva do pai
29
vai se amainando, enquanto a da mãe vai a ele se igualando” .
Assim, essas inovações no campo jurídico acabaram trazendo a mãe para exercer os
mesmos poderes de titular que o pai já exercia perante os filhos menores e a Família.
28
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 13.
29
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 17.
30
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada. São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 39.
31
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 12.
32
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha
(Coord.). Direito de família e o novo código civil. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 149.
21
Destarte, salienta-se que “A partir da Constituição Federal este poder função passa a
competir a ambos os pais em igualdade de condições”34.
O ECA35 ressalta em seu art. 21 que: “O poder familiar será exercido, em igualdade de
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a
qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
competente para a solução da divergência”.
Ante o exposto, percebe-se que o pátrio poder diante do progresso da Família teve
suas melhoras para poder acompanhar as necessidades de assistência da Prole e para que essas
obrigações sejam cumpridas por ambos os genitores e de plena igualdade de poderes e
deveres.
33
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 382.
34
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p.40.
35
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
36
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 383.
37
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
38
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
22
É oportuno afirmar que “[...] a denominação pátrio poder, só veio a ser modificada em
nosso ordenamento jurídico com o advento do novo Código Civil de 2002”40. Ressalta-se
ainda que “[...] o novo Código chama de poder familiar, pois sendo função de ambos os
cônjuges, não fazia sentido mais a utilização da denominação anterior”41.
39
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, 2006, p.40.
40
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 9.
41
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 13.
42
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática, p. 127.
43
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2010, p. 9.
44
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha
(Coord.). Direito de família e o novo código civil, p. 147.
23
Ainda que o Código Civil tenha eleito a expressão poder familiar para
atender a igualdade entre o homem e a mulher, não agradou. Mantém ênfase
no poder, somente deslocando-o do pai para a família. [...] o poder familiar,
sendo menos um poder e mais um dever, [...] talvez se devesse falar em
função familiar ou em dever familiar. (destaque da autora).
O Poder Familiar pode ser conceituado como o “[...] conjunto de direitos e deveres
atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores” 46.
Como visto acima, o Poder Familiar abrange não somente à pessoa dos filhos, mas
também aos seus bens, sendo os pais as pessoas indicadas pela legislação a exercer esse
poder.
Assevera-se que “O Poder Familiar, que traduz modernamente uma idéia de poder-
função ou direito-dever, nada mais é do que um feixe de relações jurídicas emanadas da
filiação” 48.
45
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 417.
46
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 6 v. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2009, p.372.
47
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 5 v. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 571.
48
FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 221.
24
Ainda na mesma linha de raciocínio, “O poder familiar pode ser conceituado como o
conjunto de obrigações, a cargo dos pais, no tocante à pessoa e bens dos filhos menores”49.
Salienta Akel50:
[...] o poder familiar deve ser compreendido como uma função que é
constituída de direitos e deveres. Ao direito dos pais corresponde o dever do
filho e vice-versa, sempre tendo por finalidade básica a tutela dos interesses
deste último. Em suma: são direitos e deveres que se ajustam, combinam-se,
adaptam-se, para a satisfação de fins que transcendem a interesses puramente
individualistas.
O Poder Familiar também pode ser conceituado como “[...] conjunto de direitos e
obrigações sobre a prole, decorrente de uma relação conjugal ou somente sexual, ou ainda de
uma adoção. Talvez até mais obrigações que direitos, em grau igualitário entre o pai e a
mãe”53.
49
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito de família. 2 v. 37 ed. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 348.
50
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p.12-13.
51
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 373.
52
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 47.
53
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre Guarda Compartilhada, p. 23- 24.
25
No pensamento de Akel54:
[...] o poder familiar, nos tempos atuais, constitui uma gama de obrigações
dos pais, sem qualquer preocupação de incluir em sua definição direitos a
eles inerentes. Assim, poder familiar é menos poder e mais dever,
exteriorizado através de um munus, ou seja, um encargo legal atribuído aos
pais, em virtude de certas circunstâncias, o qual não se pode contestar.
(destaque da autora).
Assim, entende-se que, através do Poder Familiar os pais protegem seus filhos e seus
respectivos bens, sejam os pais casados ou não, pois o Poder Familiar não decorre apenas do
casamento e sim da relação de direitos e deveres de pai e mãe para com o filho56.
Menciona Freitas57:
Ante o exposto percebe-se que os pais têm não só o poder, mas o dever de exercer o
Poder Familiar perante sua Prole. Mas, “Para ser titular do poder familiar [...] é necessário ser
pai ou mãe. [...] o poder familiar, [...] deriva da filiação, e não do vínculo biológico”58.
54
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p.11.
55
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre Guarda Compartilhada, p. 23- 24.
56
FREITAS, Douglas Phillips. Guarda compartilhada e as regras da perícia social, psicológica e
interdisciplinar. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009, p. 30.
57
FREITAS, Douglas Phillips. Guarda Compartilhada e as regras da perícia social, psicológica e
interdisciplinar, p. 30.
58
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 5 v. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 187.
26
Porém, “[...] nem sempre pai e mãe conseguem preparar o filho para a vida. Não se
consegue ensinar o que não se aprendeu – é uma lei física. Quando nem os pais foram bem
preparados, terão muita dificuldade em cumprir essa função”59.
No entanto, nada impede que os titulares do Poder Familiar dividam as tarefas do dia-
a-dia um com o outro, porém, por outro lado, não podem delegar as obrigações em sua
totalidade, pois assim estariam descumprindo os deveres da maternidade ou paternidade60.
Em relação aos bens do filho Menor, cabe aos pais administrá-los conforme disposto
no art. 1.689 do CC/2002: “Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder
familiar: I – são usufrutuários dos bens dos filhos; II – têm a administração dos bens dos
filhos menores sob sua autoridade”61.
Como o filho Menor não tem condições de administrar seus próprios bens, quando
houver, cabe aos pais, titulares do Poder Familiar, administrar esses bens, ou até mesmo
utilizar essa renda se autorizados, em função da educação ou saúde dos filhos.
[...] Art. 1634 Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I –
dirigir-lhes a criação e educação; II - tê-los em sua companhia e guarda; III –
conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV – nomear-lhes
tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe
sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; V –
59
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 185.
60
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 186.
61
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
62
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 28.
63
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
27
representá-los até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após
essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VI
- reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; VII – exigir que lhes prestem
obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.
Como delineado acima, desde o nascimento, os filhos precisam de alguém que possa
educá-los, criá-los, enfim, cuidar de tudo que for do interesse deles, e as pessoas que tem essa
competência são os pais.
Neste sentido, posiciona-se que “É dever primordial imposto aos pais, pois,
inegavelmente compete a eles amoldar o caráter do filho para torná-lo útil à sociedade, sob o
ponto de vista moral, intelectual e cívico”64.
Muito embora esteja vinculado o poder com o dever dos pais para com o Menor,
cumpre assinalar as palavras de Dias65:
Salienta Akel67:
64
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 24.
65
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha
(Coord.). Direito de família e o novo código civil, p. 156.
66
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 25.
67
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p.32.
28
Diante disto, convivendo em um ambiente com uma Família que ensina os valores, os
filhos e os pais só têm a ganhar.
Para Akel69:
Os pais têm a difícil tarefa de preparar seus filhos para a vida, além da
função de ensinar-lhes os valores que deverão norteá-la. Esse complexo
percorrer [sic] de acertos e desacertos, de atos e omissões, e, por que não,
incertezas e medo, fez com que o legislador traçasse objetivos a serem
alcançados e apontasse alguns meios de atingir essa meta.
Assevera-se que o detentor do Poder Familiar pode e deve exigir de seus filhos o
respeito e a obediência, inclusive exigir desempenhos compatíveis com sua idade e
condição70.
Cumpre assinalar que “O poder familiar é imposto aos pais pelo Estado, que é o
fiscalizador do exercício legal do mesmo”71. O Estado é quem fiscaliza se esses direitos e
deveres são cumpridos dentro da legislação estabelecida.
68
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre Guarda Compartilhada, p. 27.
69
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um avanço para a família, p.32.
70
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um avanço para a família, p. 35.
71
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 24.
72
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 43.
73
FREITAS, Douglas Phillips. Guarda compartilhada e as regras da perícia social, psicológica e
interdisciplinar, p. 29.
29
Desse modo, verifica-se que os pais não podem simplesmente, desligar-se da função
que o Poder Familiar lhes determina, que é o dever e o poder de criar, educar, por ser um
instituto irrenunciável, intransferível, inalienável e imprescritível.
Dos direitos e deveres decorrentes do Poder Familiar foi analisado que é de suma
importância à presença dos pais na vida dos filhos e como o Poder Familiar se vincula às
necessidades e aos deveres da família como um todo.
Nos casos de abuso de Poder Familiar ou gestão ruinosa dos bens dos filhos e na falta
de cumprimentos de deveres paternos, o juiz pode determinar a suspensão do Poder
Familiar75.
Como delineado acima, a suspensão do Poder Familiar visa direcionar uma sanção ao
genitor que não preserve os interesses do filho, afastando-o do exercício do referido poder,
pela segurança e preservação do filho e dos bens.
74
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 418.
75
WALD, Arnoldo. Direito civil: direito de família. 5 v. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 334.
76
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
30
São essas as hipóteses arroladas: “a) abuso do poder por pai ou mãe; b) falta aos
deveres maternos ou paternos; c) dilapidação dos bens do filho; d) condenação paterna ou
materna por sentença irrecorrível por crime cuja pena exceda a dois anos de prisão”78.
É importante enfatizar que a suspensão do Poder Familiar é uma medida que tem por
objetivo conservar o melhor interesse dos filhos, para isso o genitor que infringir os deveres
deverá afastar-se da Prole80.
A suspensão do poder familiar constitui sanção aplicada aos pais pelo juiz,
não tanto com intuito punitivo, mas para proteger o menor. É imposta nas
infrações menos graves [...] e que representam, no geral, infração genérica
aos deveres paternos. É temporária, perdurando somente até quando se
mostre necessária. Desaparecendo a causa, pode o pai, ou a mãe, recuperar o
poder familiar. É facultativa e pode referir-se unicamente a determinado
filho.
É oportuno lembrar que não é necessário que o motivo seja permanente, pode haver
um acontecimento justificado que poderá vir a ocorrer novamente que cause insegurança ao
filho para ser aplicada a suspensão82.
77
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha
(Coord.). Direito de família e o novo código civil, p. 160.
78
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1.161.
79
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, p. 572.
80
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 44.
81
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil: direito de família. 2 v. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 112-113.
82
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha
(Coord.). Direito de família e o novo código civil, p. 160.
31
Como visto acima, a suspensão do Poder Familiar poderá ocorrer de diversas maneiras
e nem sempre ocorre em sua totalidade.
Desse modo, assim como a suspensão pode abranger de um dos poderes ou de todos, a
pena pode ser aplicada somente ao causador do motivo, ou ao pai ou a mãe, assumindo o
imune o exercício do Poder Familiar e “[...] se já tiver falecido ou for incapaz, o magistrado
nomeará um tutor ao menor”84.
Nesse sentido, cabe salientar que o Estado, como já visto, é quem fiscaliza se o
cumprimento dos deveres e obrigações dos pais para com seus filhos está sendo respeitado,
caso não, acarretará em uma das causas de suspensão do Poder Familiar85.
83
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 29.
84
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p.85.
85
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 29.
86
OLIVEIRA, Simone Costa Saletti. Revista IOB de direito de família. 9 v. n° 49. Porto Alegre: Síntese, 2008,
p. 17.
87
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p.84.
88
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 85.
32
ocasiona ao pai (mãe) perda de alguns direitos em relação ao filho, mas não
o dispensa do dever de alimentá-lo. (destaque do autor).
Art. 22. Aos pais incube o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais. Art. 23. A falta ou a carência de
recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a
suspensão do pátrio poder. Parágrafo único. Não existindo outro motivo que
por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser
incluída em programas oficiais de auxílio.
Da mesma forma, o art. 163 do ECA93 dispõe que a sentença que decretar a perda ou
suspensão será registrada à margem do registro de nascimento do menor. Observar-se-ão,
assim, o procedimento contraditório exigido no art. 24 e os trâmites indicados nos arts. 155 a
163 do aludido Estatuto, em texto longo, mas de imprescindível transcrição:
89
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática, p. 129.
90
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
91
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p.113.
92
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
93
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p.393
33
A suspensão não é uma medida que não caberá revisão, pois, sempre que os fatores
forem superados, poderá o genitor voltar a exercer a titularidade do Poder Familiar94.
Por fim, observa-se que a suspensão do Poder Familiar não corresponde à sua perda ou
destituição, uma vez que, conforme analisado, extinta a causa que lhe deu origem, o poder-
dever do genitor lhe é entregue novamente95.
Neste item, buscar-se-á mostrar as situações as quais tem por consequência a perda ou
destituição do Poder Familiar.
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I –
castigar imoderadamente o filho; II – deixar o filho em abandono; III –
94
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 84.
95
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um avanço para a família, p.50.
96
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
34
Cumpre assinalar que a perda ou destituição do Poder Familiar é uma sanção imposta
quando um dos genitores ou ambos causarem uma das atitudes elencadas no artigo citado
acima, sendo em regra, permanente, abrangendo todos os filhos97.
É uma sanção mais grave que a suspensão, imposta, por sentença judicial, ao
pai ou a mãe que pratica qualquer um dos atos que a justificam, sendo, em
regra, permanente, embora o seu exercício possa restabelecer-se, se provada
a regeneração do genitor ou se desaparecida a causa que a determinou; por
ser medida imperativa abrange toda a prole e não somente um ou alguns
filhos.
A perda do Poder Familiar também ocorre nos termos do art. 92, II do Código Penal99:
“[...] cometido crime doloso contra o filho, punido com pena de reclusão, a perda do poder
familiar é efeito anexo da condenação”100.
Por ser medida drástica, deverão ser comprovados os atos de grave descumprimento
aos deveres, e poderá atingir somente a um dos pais, ficando o outro com a titularidade do
exercício do Poder Familiar102.
97
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado, p. 1.162.
98
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família, p. 573.
99
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código penal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em 21 ago. 2010.
100
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 428.
101
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática, p. 130.
102
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 29.
35
“Por outro lado, se o abandono decorre devido à pobreza e ignorância dos pais, estes
não serão destituídos [...]. A lei enfatiza que deverão ser inclusos em programas oficiais de
auxílio”105.
Oportuno colacionar que “No tocante à prática de atos contrários à moral e aos bons
costumes, isso é destacado e pode levar à perda do Poder Familiar, porque os filhos menores
devem observar posturas dignas e honradas em seus pais [...]”106.
Uma das causas de perda ou destituição do Poder Familiar que está relatada no inciso
IV do art. 1.638 do CC/2002 é uma sanção que visa impedir que os genitores repitam a
conduta que gera apenas a suspensão do exercício108.
103
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática, p. 130.
104
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 388.
105
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática, p. 130.
106
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre a guarda compartilhada, p. 30.
107
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 51.
108
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 389.
109
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 52.
36
Se o genitor que perdeu o Poder Familiar conseguir comprovar que a causa que
determinou a perda se extinguiu, poderá tentar recuperar a titularidade do exercício através de
procedimento judicial110.
Conforme sustentado acima, “[...] a questão resta pacífica à luz dos preceitos
constitucionais, [...] que, expressamente, no art. 5°111, inciso XLVII, alínea b, estabelece que
não haverá penas de caráter perpétuo”112.
110
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 93.
111
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
112
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 54.
113
DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord). Direito de família e o novo código civil, p.
161.
114
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 54.
115
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 188.
116
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
37
A extinção do Poder Familiar está elencada no art. 1.635 do CC/2002119 que dispõe:
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: I – pela morte dos pais ou do filho;
II – pela emancipação, nos termos do art. 5°, parágrafo único; III – pela
maioridade; IV – pela adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo
1.638.
Morte dos pais ou do filho – com a morte dos pais ou do filho não há o que
se falar em poder familiar, pois ocorrendo qualquer uma destas hipóteses,
desaparecem os titulares do direito. Emancipação nos termos do art. 5,
parágrafo único do Código Civil – nesse caso, pode haver manifestação da
vontade humana [...] mas também pode ocorrer através de fatos alheios [...]
como por exemplo, casamento [...]. Maioridade – presume a lei que os
maiores de 18 anos, assim como os emancipados, não mais precisam de
proteção conferida aos menores incapazes; Adoção – [...] quando os pais
biológicos estão vivos, extingue o poder familiar dos mesmos, transferindo-o
para os pais adotantes; Decisão judicial na forma do artigo 1.638 do
Código Civil – é a perda do poder familiar por ato judicial. (destaque do
autor).
117
FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 223.
118
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família, p. 359.
119
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
120
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 85-86.
121
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha
(Coord.). Direito de família e o novo código civil, p. 161.
38
Por outro lado, alcançada a maioridade e passando a responder por seus atos e mesmo
que continuem morando com os genitores, já não existe mais o Poder Familiar e sim uma
relação de respeito entre a Família122.
Ainda que decline a lei causas [...] de extinção do poder familiar, são elas
apresentadas de forma genérica, dispondo o juiz de ampla liberdade na
identificação dos fatos que possam levar ao afastamento [...] definitivo das
funções parentais. (destaque da autora)
Segundo Madaleno124
122
COELHO. Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, p. 186.
123
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito de família, p. 427.
124
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 508.
125
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 56.
126
OLIVEIRA. Simone Costa Saletti. Revista IOB de direito de família, p. 18.
127
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 17.
39
Adiante, afirma Quintas128 que, considerando que os genitores sejam casados e que
venham a se divorciar, nada vai mudar em relação ao exercício do Poder Familiar:
Desse modo, Gonçalves129 ensina que “[...] o divórcio e a dissolução da união estável
não alteram o poder familiar [...] mas o filho havido fora do casamento ficará sob o poder do
genitor que o reconheceu. Se ambos o reconheceram, ambos serão os titulares [...]”.
Muito embora seja comum a Ruptura Conjugal, causa principal da discussão pela
Guarda de Filhos, “Deve prevalecer à igualdade de direitos e deveres entre os pais, para que
melhor exerçam suas funções paternas, pois, [...] é direito dos filhos ter suas necessidades
atendidas por seus genitores”132.
128
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p.17.
129
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 376.
130
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
131
SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Guarda compartilhada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2009, p. 303.
132
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 32.
133
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar. São Paulo:
Atlas, 2008, p. 81-82.
40
Mesmo que não seja atribuída a guarda, esse genitor não guardião não perde os
direitos e deveres que decorrem do Poder Familiar, pois o art. 1.634 do CC/2002 destaca entre
outros, o direito de ter os filhos em sua companhia134.
Enfatiza-se que “[...] em ocorrendo separação dos cônjuges ou dos genitores, quem
perde a guarda ou custódia do filho, não perde o Poder Familiar, mas o seu exercício efetivo,
na realidade, é exercido pelo genitor guardião”135.
Nessa mesma linha de raciocínio, “[...] o genitor que detêm a guarda contínua detém
da maior parcela do conteúdo do poder familiar (guarda, educação e criação), restando ao
guardião descontínuo o poder-dever de fiscalização e visita”136. (destaque da autora).
134
SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Guarda compartilhada, p. 303.
135
MUJALLI, Walter Brasil. Ação de alimentos: doutrina e prática, p. 133.
136
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 82.
137
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1111.
138
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 32-33.
41
Podemos iniciar informando que “A primeira notícia que se teve sobre o instituto da
guarda estava contida na norma que disciplinou o destino dos filhos de pais que não mais
conviviam, estabelecendo o Decreto n° 181, de 1890, no art. 90139:
139
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, apud decreto n° 181, de
1890, art. 90, p. 76.
140
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 99.
141
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 432.
43
Assim, verifica-se nitidamente que o direito da Criança não era prevalecido diante do
rompimento entre os cônjuges. A guarda seria uma espécie de indenização para o genitor que
fosse isento da responsabilidade pelo desquite.
Prossegue a autora afirmando que “Na hipótese de serem ambos os pais culpados, os
filhos menores podiam ficar com a mãe, isso se o juiz verificasse que não acarretaria prejuízo
de ordem moral a eles”142. (destaque da autora).
Destaca-se que “O código civil de 1916 fazia distinção entre separação amigável e
litigiosa para decidir qual dos ex-cônjuges ficaria com a guarda dos filhos menores. [...] eram
analisados diversos fatores, como [...] a existência ou não de um cônjuge culpado pela
dissolução familiar”143.
Afirma Casabona144:
Importante ressaltar que a Lei nº 5.582/70 alterou o artigo 16 do Decreto Lei citado
acima que “[...] determinou que o filho natural, quando reconhecido por ambos os genitores,
ficasse sob o poder da mãe, salvo se tal solução houvesse prejuízo para o menor”145.
[...] o instituto guarda foi disciplinado [...] pelo código civil de 1916, nos
seus arts. 379 e 383 [...] Posteriormente tais dispositivos sofreram alterações
pelas seguintes leis: Lei de Proteção à Família, Decreto-lei n° 3.200/41; Lei
n° 4.121/62 (reformulada pela Lei n° 6.697/79, Código de Menores); Lei n°
142
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 432.
143
FREITAS, Douglas Phillips. Guarda compartilhada e as regras da perícia social, psicológica e
interdisciplinar, p. 33-34.
144
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p.106.
145
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 107.
146
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08. Rio de
Janeiro: Espaço Jurídico, 2008, p. 136.
44
“Portanto, [...] com tantas mudanças de valores, a figura paterna começou a reassumir
gradativamente uma responsabilidade diante do lar, tendo um desejo de se relacionar melhor e
mais tempo com seus filhos, almejando [...] por uma nova mudança no instituto da guarda
[...]”149.
147
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
148
FREITAS, Douglas Phillips. Guarda compartilhada e as regras da perícia social, psicológica e
interdisciplinar, p. 34.
149
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática. Leme: Pensamentos e Letras, 2009,
p. 22-23.
150
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei 11.698/08, p. 137.
45
3.1.1 Definição
No entanto, poderá ser conceituada da seguinte forma: “[...] pode-se definir guarda
como conjunto de direitos e obrigações que se estabelece entre um menor e seu guardião,
visando a seu desenvolvimento pessoal e integração social”152.
Ressalta-se que “Muito embora a guarda seja um instituto de difícil conceituação, sua
natureza é indiscutivelmente dúplice de direito/dever e seu conteúdo é de cuidado para com os
filhos [...] Quem ama cuida, diz o ditado. Quem guarda deve cuidar, dita o ordenamento
jurídico”154.
Prosseguindo, pode-se sustentar que “No sentido jurídico, guarda é o ato ou efeito de
guardar e resguardar o filho enquanto menor, de manter vigilância no exercício de sua
custódia e de representá-lo quando impúbere ou, se púbere, de assisti-lo, agir conjuntamente
com ele em situações ocorrentes”155.
Ante o exposto percebe-se que a “Guarda nos traz a idéia de proteger, manter seguro,
entre seus sinônimos encontra-se vigilância, cuidado, defesa e direção”156.
151
FREITAS, Douglas Phillips. Guarda compartilhada e as regras da perícia social, psicológica e
interdisciplinar, p. 33.
152
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 103.
153
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p.76.
154
SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Guarda compartilhada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2009, p. 298.
155
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 39.
156
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 20.
46
Importante destacar que “[...] a guarda integra o conjunto de direitos e deveres que o
ordenamento jurídico impõe aos pais em relação às pessoas e bens dos filhos”158.
Ressalta Akel161:
157
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 21.
158
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 36.
159
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 44-45.
160
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 22.
161
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 91.
47
Ruptura Conjugal, a guarda será definida de acordo com o melhor interesse da Criança,
podendo ser a guarda única, compartilhada, alternada, dividida, de fato, jurídica, física,
provisória, definitiva162.
Pode-se enfatizar que a Guarda de Filhos “[...] pode ser alterada qualquer tempo, visto
que o que regula a guarda é a cláusula rebus sic stantibus, não deixando, portanto, a sentença
se tornar imutável. (não faz coisa julgada material)”163. (destaque da autora).
Assim, é permitido aos pais definirem a melhor forma de guarda a ser aplicada para
com sua Prole diante do rompimento conjugal. Vejamos a seguir algumas modalidades.
Porém, “Fica afastada [...] qualquer interpretação no sentido de que teria melhor
condição o genitor com mais recursos financeiros”166. Essas melhores condições para o
atributo da guarda única deverão ser analisadas com base no § 2° do art. 1.593 do CC/2002167:
Art. 1.583. [...] § 2.° A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele
melhores condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para
proporcionar aos filhos os seguintes fatores: I – afeto nas relações com o
genitor e com o grupo familiar; II – saúde e segurança; III – educação.
162
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 42.
163
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 42.
164
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
165
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 24.
166
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 267.
167
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
168
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 267.
48
Contudo, a guarda além de decorrer da ruptura dos genitores, existem outras situações
onde a mesma será exercida unicamente por um dos pais, que será quando um desses não
reconhecerem esse filho ou quando ocorrer a perda ou destituição do Poder Familiar, assim, o
outro genitor ficará com a guarda única169.
Menciona-se que “No Brasil, antes da aprovação da lei sobre Guarda Compartilhada
predominava a guarda única, exclusiva, de um só dos progenitores, o qual detém a “guarda
física”, que é a de quem possui a proximidade diária do filho [...]”171. (destaque da autora).
Salienta-se ainda que “Guarda unilateral é a conferida a um dos genitores, que revele
melhores condições para exercê-la, [...] mais aptidão para propiciar aos filhos [...] afeto nas
relações com o genitor e com o grupo familiar; [...]”172.
[...] a guarda dos filhos, [...] sempre coube a apenas um dos genitores, [...]
sempre se reconheceu como certa a utilização da denominada guarda única,
[...] na qual a criança é colocada sob a guarda de um dos pais, que exercerá
uma relação contínua com o filho, enquanto o outro, adstrito apenas a visitas,
mantém relações mais restritas, descontínuas e esporádicas com o/a filho/a,
propiciando o afastamento entre eles.
169
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos, os conflitos no exercício do poder familiar, p. 53-54.
170
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 24.
171
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 56.
172
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado, p. 1115.
173
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 266.
174
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 91.
49
Na Guarda unilateral, “Os períodos de visitas, horários e datas não são previamente
estipulados em lei, ficam a critério do juiz e [...] a possibilidade de os pais acordarem a
respeito [...] em prol das crianças”175.
Dias apud Canezin176 explica que: “A guarda unilateral afasta, sem dúvida, o laço de
paternidade da criança com o pai não guardião, pois a este é estipulado o dia de visita, sendo
que nem sempre esse dia é um bom dia; isso porque é previamente marcado, e o guardião
normalmente impõe regras”.
É importante ressaltar que mesmo que a guarda única seja atribuída a um dos
genitores, não significa que a este genitor guardião caberá todas as responsabilidades
inerentes a Prole, pois “[...] alguns atributos do exercício do poder familiar permanecem em
conjunto, como por exemplo, nos casos de consentimento para o casamento, da emancipação
e da adoção [...]”179.
Menciona-se ainda que “A criança nesse sistema é muito prejudicada, pois o vínculo
com um dos pais fica prejudicado, sendo que somente terá contato com o mesmo nos dias e
horários de visitas, sendo que não poderá compartilhar de sua presença”180.
Essa exclusividade de convivência com o filho somente para um dos genitores como
foi observado na guarda única, exclusividade essa na maioria das vezes exercida pela mãe e
175
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 25.
176
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 439-440.
177
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 60.
178
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 23.
179
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 54.
180
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 43.
50
supervisionada pelo pai, já não é mais a realidade nos dias atuais, pois a mulher devido a
alterações sociais busca cada vez mais o mercado de trabalho, não mais dedicando todo o seu
tempo inteiramente ao filho181.
Mormente considerando, “[...] a guarda alternada é o reflexo do egoísmo dos pais, que
pensam nos filhos como objeto de posse, passíveis de divisão de tempo e espaço, uma afronta
ao princípio do melhor interesse da criança”184.
A propósito “[...] não deixa de ser uma guarda exercida exclusivamente pelos pais, só
que de maneira alternada. Não há um consenso nem a participação de ambos, mas tomadas de
decisões em separado, o que pode colocar a criança em meio a conflitos entre seus pais”186.
181
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 226.
182
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 94.
183
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um avanço para a família, p. 94.
184
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 60.
185
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 57.
186
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 27.
51
Nessa mesma linha de raciocínio, salienta-se sobre a guarda alternada que “É bastante
criticada em nosso meio, uma vez que contradiz o princípio da continuidade do lar, que deve
compor o bem estar da criança”189.
Segundo a opinião dos doutrinadores citados acima, a guarda alternada não agrada
muito. São muitos os pontos negativos: diversas mudanças de lar e cada guardião exercendo a
educação da maneira que encontrar mais apropriada. Um dos pontos positivo seria uma
convivência maior com ambos os pais.
187
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 94.
188
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 94.
189
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 43.
190
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 240.
191
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 56.
52
O genitor guardião detém a guarda física, pois convive com o filho, já o genitor que
toma as decisões relacionadas ao menor é o detentor da guarda jurídica, logo, nem sempre o
que detém a guarda física será o detentor da guarda jurídica e vice-versa192.
Segundo Quintas193:
A guarda legal ou jurídica, isto é, aquela atribuída por lei como elemento do
poder familiar, refere-se à responsabilidade dos pais de decidir o futuro dos
filhos, direcionando-os, vigiando-os e protegendo-os. Já a guarda física é a
presença do menor na mesma residência dos pais.
Ressalta ainda a referida autora que “a guarda legal daria ao pai o direito de tomar
decisões concernentes à educação, lazer, saúde e religião, já a guarda física diria respeito à
residência da criança”194.
Destarte, “Em suma, a guarda jurídica é a exercida a distância pelo genitor não
guardião, enquanto a guarda material realiza-se pela proximidade diária do genitor que
convive com o filho”197. (destaque do autor).
192
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 56.
193
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. A guarda compartilhada, p. 23.
194
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. A guarda compartilhada, p. 23.
195
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 42.
196
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 53.
197
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 219.
53
Elucida-se ainda que “A guarda de fato dá-se quando alguém, sem intervenção
judicial, toma a seu cargo a criação e educação do menor, ou quando a criança ou o
adolescente desprotegido [...] é entregue provisoriamente pelos pais a terceiro [...]”201.
Portanto, a guarda de fato, como visto acima, é aquela em que alguém mantém a
Criança sob seus cuidados, participando de sua educação e atribuindo afeto e moradia, porém,
não detém os direitos a que os genitores são titulares.
198
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 52.
199
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 52.
200
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 219.
201
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 141.
202
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 59.
54
um ritmo periódico. [...] por ser pouco prática, bastante exótica, e levar a prejuízos [...] é
muito pouco defendida”203.
Destaca-se que “O alto custo gerado nessa espécie de guarda constitui-se uma das
desvantagens, porquanto deverão ser custeadas despesas de três lares – motivo que torna a
nidação pouco utilizada”204.
Não é diferente o raciocínio que ressalta que “[...] é forma raríssima e inusitada de
guarda. [...] trata-se de um meio quase surrealista e utópico, que jamais atingiria os interesses
da prole”205.
A Guarda originária recebe essa denominação por ser originária dos pais, ou seja, “[...]
é exercida pelos pais como parte do poder familiar, como um direito-dever de plena
convivência com o menor, possibilitando assim, o exercício de todas funções parentais, [...]
sua origem, sendo natural, é originária dos pais”206. (destaque do autor).
“Diz-se que a guarda é originária quando deriva do direito natural dos pais, da própria
filiação, enquanto que a derivada é aquela que deriva da lei, como forma de substituição da
família natural”208.
Encontra-se disposto no art. 888, inciso III, do Código de Processo Civil - CPC209 que:
O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação principal ou antes de sua
203
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilha doutrina e prática, p. 47.
204
MORAIS, Ezequiel. Os Avós, a guarda compartilhada e a mens legis. In: DELGADO Mário; COLTRO,
Mathias (Coord.). Guarda compartilhada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009, p. 121.
205
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários a lei n.° 11.698/08, p. 57.
206
CASABONA, Marcial Barrreto. Guarda compartilhada, p. 216.
207
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 216.
208
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 47.
209
BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htp>. Acesso em: 21 ago. 2010.
55
propositura: [...] III – a posse provisória dos filhos, nos casos de separação judicial ou
anulação de casamento.
Sustenta ainda que “[...] a guarda provisória e a definitiva nada mais faz do que
expressar o modelo de guarda que está sendo imposto; imposição esta que poderá ser alterada
a qualquer tempo [...]”214.
A guarda provisória, além de poder ser autorizada pelo juiz em situações mais graves,
através de medida cautelar ou liminar, poderá também ser requerida por um dos genitores, até
que seja definida a decisão do divórcio215.
210
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 219.
211
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 49.
212
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 49.
213
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 42.
214
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 42.
215
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 152-153.
56
Assim, pode-se verificar que tanto a guarda provisória quanto a definitiva não são
propriamente modalidades, trata-se de um momento (para a provisória) e mesmo existindo a
decisão do juiz tornando a guarda definitiva, ainda assim poderá ser alterada a qualquer tempo
quando for para defender o melhor interesse da Criança. Contudo, a guarda tornando-se
definitiva, automaticamente será adotada uma das modalidades já abordadas acima216.
(destaque nosso).
A nossa legislação aponta apenas duas modalidades, uma delas aqui mencionada, a
guarda única e a outra é a Guarda Compartilhada (que será estudada adiante). As demais são
abordadas pelos doutrinadores já citados. (destaque nosso).
Ante o exposto, “Pode-se dizer que esse princípio do melhor interesse, na realidade,
revela-se como extensão do princípio, também constitucional, da dignidade da pessoa humana
[...]”218.
É importante enfatizar que o interesse dos filhos é a prioridade, e não os genitores que
acham que tem direito ao filho para uma satisfação pessoal ou até mesmo para mostrar ao
outro genitor que pode mais do que ele219.
216
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 42.
217
CRUZ, Maria Luiza Póvoa. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada:
Visão em razão dos princípios fundamentais do direito. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, p. 223.
218
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do direito de família e guarda dos filhos, p. 41.
219
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 65.
57
“Com efeito, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, consagrou de forma
expressa o princípio da proteção integral da criança e do adolescente, reafirmando o princípio
do melhor interesse do menor”221. Vejamos o referido artigo:
Mas, diante da atribuição da guarda, “Não há como estabelecer um critério único que
determine qual o melhor interesse da criança. [...] O melhor interesse do filho dependerá de
cada caso”224.
220
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 56.
221
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 134.
222
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
223
CRUZ, Maria Luiza Póvoa: In: DELGADO. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord). Guarda
compartilhada: Visão em razão dos princípios fundamentais do direito, p. 224.
224
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 59.
225
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 138.
58
sua Prole, muitos juízes ainda defendem e atribuem a guarda unilateral preferencialmente a
mãe.
No pensamento de Quintas226:
O Homem era o chefe da família e o poder familiar a ele era atribuído, até o
momento em que o pêndulo balançou para outra direção e a mãe se tornou a
favorita na guarda legal especialmente dos filhos pequenos e das filhas.
Neste contexto, se justificava, quando da desunião de um casal, a atribuição
da guarda exclusiva a mãe, sendo o pai responsável pelos alimentos [...].
Cabe ressaltar que “A figura paterna deixou de ser apenas a de um espectador dos
cuidados da mulher para com o filho, para tornar-se um elemento atuante na educação da
criança. O pai moderno acompanha a [...] gravidez, [...] divide os cuidados”227.
Existem algumas etapas da vida da Criança em que realmente talvez seja melhor ficar
sob a guarda e cuidados da mãe, como por exemplo, no período de aleitamento materno. O pai
visando o melhor para seu filho deve compreender e aceitar. Porém, nada o impede de visitar
seu filho230.
Ante o exposto, percebe-se que “A idéia subjacente parece ser a de que a mãe é figura
imprescindível, enquanto o pai é dispensável na criação dos filhos”231.
Muitas vezes o pai luta pela reversão da guarda, alegando a falta de vontade em todos
os sentidos da mãe guardiã para com o filho, e deseja apenas que seja extinto o dever dos
226
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 52.
227
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 139.
228
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 142.
229
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 142.
230
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 109.
231
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 52.
59
alimentos. Contudo, não pode esse fato ser generalizado pelo magistrado. Nesse sentido,
Oliveira232 sustenta que:
[...] não raro o pai logra provar sua idoneidade e a conveniência desta
reversão, sobretudo quando evidenciado que o filho melhor estará em sua
companhia, quando já constituiu um novo lar estável convencendo-se o juiz
de que a mudança da guarda será o melhor para o filho.
A presença do pai na vida de seu filho é muito importante, e com a presença do filho
“[...] o pai só tem a ganhar, pois o convívio com as crianças lhe proporciona um rico
aprendizado e o filho cresce mais feliz e completo, com ambas as figuras dos genitores à sua
volta [...]”233.
Salienta-se que “[...] o Magistrado – sempre que possível, deve contar com auxílio de
profissionais tais como psicólogos [...] desde que, [...] não estejam presos a dogmas, tais como
que filhos sempre devem permanecer com a mãe e que basta visitação paterna em finais de
semana alternados [...]”234. (destaque do autor).
Diante do exposto, pôde-se observar que “[...] o fato da tradicional decisão da guarda
exclusiva trazer problemas para todos os envolvidos, tornou crucial a busca de novos meios
que minimizassem tais sofrimentos e perdas” [...], pois a presença tanto do pai quanto da mãe
é de extrema importância, não sendo aceita a atribuição da guarda a apenas um dos genitores,
quando, na maioria das vezes, ambos tem condições de serem os guardiões235.
Art. 1.598. O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá
visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro
cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e
educação.
232
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 144.
233
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 140.
234
VIEIRA,Cláudia Steins; GUIMARÃES, Marilia Pinheiro. A guarda compartilhada como tal prevista na lei
11.698/2008 – questões que o direito brasileiro tem que enfrentar. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias
(Coord). Guarda compartilhada, p. 86.
235
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 44.
236
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
60
Como delineado acima, “Quanto ao direito de visitas, os pais que não estão com a
guarda dos filhos menores têm o direito inarredável de exercê-lo, bem como fiscalizar sua
manutenção e educação”237.
“Ao genitor que ficou com a guarda não é permitido impedir o direito de visita, pois o
exercício deste direito só trará benefícios para os filhos, [...]. O direito de visita só não poderá
ser exercitado, se estiver causando prejuízo para os filhos [...]”238.
Muitas vezes, apenas com a intenção de afastar o filho do genitor não guardião, o que
detém a guarda acaba mudando de domicílio, para impossibilitar as visitas, por isso, só é
realizada a mudança nas situações em que houver autorização240.
Por outro lado, “O dever de sustento também não guarda relação com o direito de
visita. Mesmo quando o direito de visita é suspenso, permanece o guardião descontínuo com o
dever de sustento dos filhos”243.
237
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família, p. 195.
238
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do direito de família e guarda de filhos, p. 86-87.
239
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 129.
240
SILVA, ReginaBeatriz Tavares da. Guarda de filhos não é posse ou propriedade. In: DELGADO, Mário;
COLTRO, Mathias (Coord). Guarda compartilhada, p. 304-305.
241
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 90.
242
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do direito de família e guarda de filhos, p. 87.
243
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 68.
61
A visita vai muito mais além que um mero encontro semanal ou até mesmo quinzenal,
pois além do genitor não guardião estar cumprindo com o dever de pai/mãe criando o vínculo
afetivo, estará cumprindo com a obrigação de educá-lo e transmitir princípios morais244.
Porém, “Só a visita não basta. É preciso, para o filho, saber que o pai e a mãe
participam ativamente da sua vida, interessam-se por ele [...]”245.
O direito de visitas se estende ao convívio familiar, não é destinada só aos pais, pois
“[...] deve ser assegurado não só ao genitor não guardião, mas também a outros parentes,
especialmente os avós, com a finalidade de assegurar ao menor a convivência familiar”246.
(destaque do autor).
A propósito, são oportunas essas palavras: “Esses laços de afetividade devem ser
levadas em conta pelo magistrado, que poderá conceder o direito de visitas até mesmo a
outros parentes, tios, por exemplo, que se encontrem emocionalmente ligados ao menor”247.
244
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 164.
245
QUINTAS, Maria Manoela de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 48.
246
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 155.
247
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família, p. 195.
248
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 47.
249
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 90.
62
É importante salientar que a obrigação dos pais em alimentar sua Prole findaria
quando o filho completasse sua maioridade, porém decorre do Poder Familiar a educação, esta
que às vezes só se completa com a conclusão do ensino superior, ficando os pais com o dever
de alimentá-los até os 24 anos253.
Então, não só com a Ruptura Conjugal que se inicia a obrigação alimentar, os pais são
responsáveis por sustentar os filhos desde seu nascimento. Quando os pais rompem o
relacionamento, cumpre ao genitor não guardião o dever dos alimentos, uma vez que não vai
mais morar sob o mesmo teto e o filho continuará necessitando usufruir dos direitos de
educação, moradia.
250
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do direito de família e guarda de filhos, p. 68.
251
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do direito de família e guarda de filhos, p. 68.
252
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 162.
253
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 67-68.
254
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado, p. 1120-1121.
63
4.1 INTRÓITO
Não é tarefa fácil para o juiz identificar qual o melhor interesse do Menor, já que
partirá dele a decisão na maioria dos casos da modalidade de guarda que irá atribuir. Não é
tão simples de descobrir quanto pode parecer. São muitas as regras que devem ser analisadas
e identificadas a fundo, tais como a inserção da Criança no grupo familiar, o apego, os irmãos,
moradia, educação, entre outros aspectos que são de suma importância255.
Podemos iniciar com as palavras que explicam que “[...] o rompimento dos pais traz
forte impacto na vida dos filhos, acostumados que estão com a presença de ambos em suas
vidas, e de uma hora para outra, sem compreender o motivo, um deles se afasta da rotina
doméstica, provocando mudança brusca na rotina familiar”256.
Neste norte, “[...] a noção de guarda compartilhada surgiu do desequilíbrio dos direitos
parentais e de uma cultura que desloca o centro de seu interesse sobre a criança em uma
sociedade de tendência igualitária”257.
255
DECCACHE, Lúcia Cristina Guimarães. Compartilhando o amor. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias
(Coord). Guarda compartilhada, p. 216.
256
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do direito de família e a guarda de filhos, p. 99.
257
RABELO, Sofia Miranda. APASE - Associação de pais e mães separados. Disponível em:
<http://www.apase.org.br/81003-definicao.htm>. Acesso em: 28 ago. 2010.
65
Contudo, nem sempre os pais apenas rompem o contato e começam a disputa pela
Prole, pois muitas vezes eles nunca conviveram. Nesse sentido, “Quando os pais não vivem
mais juntos ou nunca viveram, surge o problema, que traz consequências ao bem-estar físico e
psíquico dos filhos, razão pela qual se deve analisar caso a caso [...]”258.
Menciona-se ainda que “Antes mesmo da [...] lei já se vinha fazendo referência, na
doutrina e na jurisprudência, sobre a inexistência da restrição legal à atribuição da guarda dos
filhos menores a ambos os genitores [...] sob a forma de guarda compartilhada”261. (destaque
do autor).
A Guarda Compartilhada busca unir a Família mesmo após a Ruptura Conjugal, onde
a Prole acaba ficando sob a guarda da mãe, deixando o pai como figura secundária, surgindo
uma distância com esse genitor. Com a Guarda Compartilhada, a Criança desfrutará do
convívio de pai e mãe, privilegiando os laços familiares262.
258
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 123.
259
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
260
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada - uma nova realidade para o direito de família brasileiro.
In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord). Guarda compartilhada, p. 43.
261
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família, p. 267.
262
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 68.
66
A Guarda Compartilhada surge com o intuito de amenizar o sofrimento que surge após
a dissolução conjugal, tanto para os pais quanto para os filhos, esses que são os mais
prejudicados, podendo ter seu crescimento afetado pelas consequências geradas diante do
afastamento de um dos genitores do lar. Sendo aplicada a Guarda Compartilhada, a
convivência continua e as responsabilidades continuarão sendo compartilhadas264.
Por se tratar de um assunto muito conhecido para uns e não muito comum para outros,
porém que causa grandes discussões merece um aprofundamento diante do estudo, para
entender esse instituto e destacá-lo diante das demais modalidades de guardas estudadas
anteriormente.
É oportuno destacar que “A guarda compartilhada [...] é o modelo ideal a ser seguido,
porque o interesse dos filhos estaria sempre em primeiro lugar, seria um equilíbrio no poder
familiar, garantindo a igualdade dos genitores”267.
263
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 103.
264
QUINTAS, Maria Maoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 71.
265
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 436.
266
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
267
OLIVEIRA, Simone Costa Saletti. Revista IOB do direito de família, p. 21.
67
[...] o meio pelo qual os pais [...] divorciados ou com dissolução de união
estável realizada permanecem com as obrigações e os deveres na educação
dos filhos e nos cuidados necessários ao desenvolvimento deles em todas as
áreas, tais como emocional, psicológica, entre outras.
268
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 105.
269
DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado, p. 1115.
270
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 68.
271
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 28.
272
CASSETTARI, Christiano. Guarda compartilhada: uma análise da lei 11.698/2008. In: DELGADO, Mário;
COLTRO, Mathias (Coord). Guarda compartilhada, p. 98.
273
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome da alienação parental: o que é
isso? São Paulo: Armazém do Ipê, 2009, p. 1.
68
Conceitua Delgado275:
Grisard Filho278 ensina que a Guarda Compartilhada surge de duas considerações. São
elas:
274
RABELO, Sofia Miranda. APASE - Associação de pais e mães separados. Disponível em:
<http://www.apase.org.br/81003-definicao.htm>. Acesso em: 28 ago. 2010.
275
FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Guarda compartilhada: um passo a frente em favor dos filhos. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord). Guarda compartilhada, p. 202.
276
PAIXÃO, Edivane; OLTRAMARI, Fernanda. Guarda compartilhada de filhos. Revista brasileira de direito
de família. Porto Alegre: Síntese, IBDFAN, v. 7, n° 32, out./nov., 2005, p. 53.
277
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 115.
278
GRISARD FILHO, Waldyr. A preferencialidade da guarda compartilhada de filhos em caso de separação dos
pais. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Direito das famílias. Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 419.
69
O §4° do art. 1.583, da referida lei que dispõe que “A guarda, unilateral ou
compartilhada, poderá ser fixada, por consenso ou por determinação judicial, para prevalecer
por determinado período, considerada a faixa etária do filho e outras condições de seu
interesse”283, recebeu a mensagem de veto:
279
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p.241.
280
ZIMERMAM, Davi. Aspectos psicológicos da guarda compartilhada. In: DELGADO, Mário; COLTRO,
Mathias (Coord). Guarda compartilhada, p. 104.
281
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Guarda compartilhada: novo regime da guarda de criança. In:
DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord). Guarda compartilhada, p. 172.
282
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 58.
283
BRASIL. Lei nº 11.698, de 13 de junho de 2008. Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei n° 10.406 de 10 de
janeiro de 2002 - Código Civil, para instituir e disciplinar a guarda compartilhada. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11698.htm>. Acesso em: 28 ago. 2010.
70
após a oitiva do Ministério Público, será o juiz, o qual deverá sempre guiar-
se pelo Princípio do Melhor Interesse da Criança284.
Neste norte, estamos diante de uma mensagem de veto em que o princípio do melhor
interesse da Criança é que deve ser privilegiado pelo julgador. E o referido parágrafo
mostrava que a guarda seria determinada por período temporário.
Cumpre assinalar que esse parágrafo era preocupante para muitos juristas da área, por
sua redação não bem explicitada, podendo gerar confusão, e levar a interpretações
inesperadas285.
284
BRASIL. Mensagem nº 368, de 13 de junho de 2008. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Msg/VEP-368-08.htm>. Acesso em: 28 ago. 2010.
285
OLIVEIRA. José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários à lei n° 11.698/08, p. 9.
286
GROENINGA, Giselle Câmara. Guarda compartilhada – a efetividade do poder familiar. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 156.
287
MORAIS, Ezequiel. Os avós, a guarda compartilhada e a mens legis. In: DELGADO, Mário; COLTRO,
Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 114.
288
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda compartilhada, a mediação como instrumento. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 139.
289
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 64.
71
O que se constata, “Em verdade, o real mérito da guarda compartilhada tem sido
popularizar a discussão da coparticipação parental na vida dos filhos”291.
Marques292 enfatiza que “Certo é que o bem-estar social, psicológico e emocional das
crianças são os fatores e fundamentos que o juiz terá que considerar e adotar na decisão de
alteração de guarda [...]”.
Para ser fixada a guarda, diversos são os critérios que deverão ser levados em
consideração, tais como “os aspectos educacionais, morais, de afinidade e afetividade, dentre
outros que tenham em vista o melhor atendimento aos interesses do menor”293.
Contudo, nem sempre os genitores são as pessoas que vão ter a guarda do seu filho
definitivamente garantida para toda a vida. Se o magistrado confirmar que, assim sendo, não
atender as prioridades do Menor, poderá atribuir a guarda a outras pessoas das Famílias do pai
ou da mãe, ou até mesmo para terceiro idôneo 295.
290
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 437-438.
291
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. A (dês)necessidade da guarda compartilhada. In: DELGADO, Mário;
COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 26.
292
MARQUES, Suzana Oliveira. Princípios do direito de família e guarda de filhos. Belo Horizonte: Del Rey,
2009, p. 67.
293
SILVA, Regina Beatriz Tavares da. DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord). Guarda de filhos não é
posse ou propriedade, p. 300.
294
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 67.
295
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários a lei 11.698/08, p. 142.
72
§5° Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai
ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele compatibilidade com a
natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as
relações de afinidade e afetividade.
E são bem frequentes e diversas as situações onde se conclui por diversas razões e
principalmente pela garantia do superior interesse do filho, que este não deverá permanecer
sob a guarda do pai ou da mãe297.
Nessa mesma linha de raciocínio, “Na hipótese de os pais não possuírem condições de
exercer a guarda dos filhos, esta é deferida a terceiros que apresentem melhores condições
para exercê-la, em atenção ao princípio do melhor interesse dos filhos”298.
Ocorre então, que nem sempre a guarda é atribuída a um dos genitores, podendo ser
deferida a terceiros que revelem melhores condições, na hipótese de que os pais não puderem
exercer.
296
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
297
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários a lei 11.698/08, p. 50.
298
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 50.
299
BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
300
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários a lei 11.698/08, p. 146.
73
O que se projeta no direito moderno de Família é que é melhor está sob a guarda de
quem dá amor e atenção a Criança, mesmo que essa pessoa não tenha vínculo biológico, do
que está com os pais e não existir afetividade301.
Art. 28. [...] § 1.° Sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser
previamente ouvido e a sua opinião devidamente considerada. § 2.° Na
apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de
afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências
decorrentes da medida.
Contudo, a opinião do magistrado não deve ser formada apenas a partir da preferência
manifestada pelo Menor, se perceber alguma pressão psicológica de algum dos pais nessa
preferência303.
Importante enfatizar também o art. 35 do referido estatuto: “Art. 35. A guarda poderá
ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério
Público”306.
301
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 9. ed. v. 6. São Paulo: Atlas, 2009, p. 195.
302
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
303
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 53.
304
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 102.
305
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 54.
306
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21
ago. 2010.
74
Muitas das medidas preventivas relacionadas a Guarda de Filhos já eram adotadas por
recomendação doutrinária e logo foram introduzidas no ECA307.
Ressalta-se ainda que: “[...] a prioridade conferida ao interesse do menor emerge como
o ponto central, a questão maior, que deve ser analisada pelo juiz na disputa entre os pais pela
guarda dos filhos”308.
Muito embora esteja vinculado o interesse do Menor a atribuição da guarda, “[...] não
se pode deixar de assinalar que se percebe em muitas decisões judiciais, alguma tendência
ainda conservadora e pouco atenta”310.
Outros aspectos merecem destaque para que seja aferido o interesse do Menor na
atribuição da guarda, são eles: a idade do Menor, pois, quando se inicia a vida escolar, a
Criança já consegue entender as situações que acontecem em sua Família; quanto ao sexo, não
existe preferência, por ser menino ou menina não vai impedir que um ou outro fique com a
mãe ou o pai; outro fator muito importante é quando o casal tem mais de um filho, pois os
irmãos não devem ser separados, e se isso vier a ocorrer, as visitas deverão ser com muita
frequência311.
307
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, comentários a lei 11.698/08, p. 151.
308
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 47.
309
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 104-105.
310
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 132.
311
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 51-52.
312
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 55.
75
313
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
314
WELTER, Belmiro Pedro. Guarda compartilhada: um jeito de conviver e de ser-em-família. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 53.
315
RABELO, Sofia Miranda. APASE – Associação de pais e mães separados. Disponível em:
<http://www.apase.org.br/81003-definicao.htm>. Acesso em: 28 ago. 2010.
316
ZIMERMAM, Davi. Aspectos psicológicos da guarda compartilhada. In: DELGADO, Mário; COLTRO,
Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 110.
76
Prossegue a autora afirmando “Acordar ou fixar guarda compartilhada fará com que os
genitores tenham maior responsabilidade sobre seus atos enquanto pais, sobretudo tomando
decisões ponderadas no interesse dos filhos, deixando de lado os seus anseios pessoais”319.
O que deve ser verificado, no entanto, é que o filho deverá se sentir em casa quando
chegar à residência do outro genitor e tiver seu quarto, seus pertences. Ele não irá se deparar
com um lugar estranho e sim com o lugar em que ele convive com seu genitor321.
317
ZIMERMAM, David. Aspectos psicológicos da guarda compartilhada. In: DELGADO, Mário; COLTRO,
Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 111-112.
318
VIEIRA, Cláudia Stein; GUIMARÃES, Marília Pinheiro. A guarda compartilhada tal como prevista na lei
11.698/2008. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 86.
319
VIEIRA, Cláudia Stein; GUIMARÃES, Marília Pinheiro. A guarda compartilhada tal como prevista na lei
11.698/2008. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p.86.
320
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome da alienação parental: o que é
isso? p. 20.
321
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 246-247.
322
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família, p. 196.
77
No entanto, “[...] o ponto crucial da estabilidade emocional das crianças está no nível
de entendimento de seus pais, estejam eles [divorciados] ou não. [...] mesmo que os pais
vivam juntos, mas em constante conflito, estão fazendo muito mal à saúde psicológica de seus
filhos”323.
Neste norte, se não existir acordo entre os pais, a Guarda Compartilhada, não deve ser
imposta, e sim aplicada de acordo com a situação em que se preservará os interesses do
Menor324.
Encontra-se disposto no art. 1.584, inciso II, §1°, §2° e §3° do CC/2002328 importantes
critérios para a aplicabilidade do instituto guarda unilateral ou compartilhada:
Diante do exposto, nota-se que a Guarda Compartilhada poderá ser tanto decretada
pelo magistrado quanto acordada entre os genitores, podendo o juiz homologar esse acordo se
atender ao melhor interesse da Prole. Deverá o magistrado também enfatizar a Guarda
Compartilhada, apontando seus benefícios e optando por esse instituto, pois “A guarda
compartilhada alude não apenas ao contato com o outro, mas a compromisso e acordo”329. Em
contrapartida, que espécie de Guarda Compartilhada será abrangida dentro de uma relação de
conflitos, que às vezes já existiam no casamento, por isso, vamos aprofundar os efeitos
positivos e negativos.
Neste norte, é permitido que os filhos continuem vivenciando uma relação aproximada
com os genitores, sendo beneficiados fisicamente e psicologicamente, além de manter uma
329
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 93.
330
WELTER, Belmiro Pedro. Guarda compartilhada: um jeito de conviver e de ser-em-família. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 63.
79
igualdade de direitos e deveres entre os pais, não gerando um desgaste, pois nem um nem o
outro ficará sobrecarregado com as obrigações331.
O sistema de Guarda Compartilhada, por ser flexível, e, por muitas vezes, oriunda de
acordos, se adapta facilmente a eventuais mudanças que possam ocorrer com os envolvidos
nesse laço. Muitas vezes os filhos precisam estar com a mãe, outras vezes, com o pai, “Essa
flexibilidade é que faz a guarda compartilhada preferível [...]”333.
Se o filho conviver fisicamente, mantendo contato sempre, “[...] o pai não deixa de ser
pai [...] nem se torna pai visita. Os vínculos de afeto se preservam”334. (destaque do autor).
Os filhos desejam vivenciar pais que se entendem, até porque irão se espelhar neles
durante sua vida. E a Guarda Compartilhada afasta a idéia de disputa, chantagem, presentes
para agradar o filho, enfim, tudo que possa gerar discussões, brigas entre os genitores336.
331
RABELO, Sofia Miranda. APASE - Associação de pais e mães separados. Disponível em:
<http://www.apase.org.br/81003-definicao.htm>. Acesso em: 28 ago. 2010.
332
ZIMERMAN, David. Aspectos psicológicos da guarda compartilhada. In: DELGADO, Mário; COLTRO,
Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 106.
333
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 97.
334
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 247-248.
335
DECCACHE, Lúcia Cristina Guimarães. Compartilhando o amor. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias
(Coord.). Guarda compartilhada, p. 215.
336
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 103.
337
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 87-88.
80
Ante o exposto, nota-se que existe por parte do guardião a intenção de ficar com o
filho só para si, tentando impedir que o outro genitor cumpra com seus direitos e deveres,
visitando, colaborando com alimentos, tentando destruir o vínculo que existe entre eles, e o
que pode ser pior: dessa forma não estará agindo no melhor interesse do filho.
Podemos destacar que é extremamente prejudicial à Prole achar que um dos genitores
a abandonou, pensando que esse genitor é totalmente mau, se for repassado à Criança pelo
guardião esse pensamento falso341.
Tal instituto “[...] induz à pacificação do conflito porque, com o tempo, os ânimos
“esfriam” e os genitores percebem que não adianta confrontar alguém de poder igual. O
338
Denomina-se “alienação parental” ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo
ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Lei n° 12.318 de 26 agosto 2010. Disponível em:
<http//:www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em 15 set. 2010.
339
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso?
p. 43.
340
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 455-456.
341
CARVALHO, Dimas Messias de. Adoção e guarda. Belo Horizonte: Del Rey, 2010, p. 66-67.
342
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 239-240.
81
equilíbrio de poder torna mais conveniente o entendimento entre as partes para ambos”343.
(destaque da autora).
Prossegue a autora afirmando que “A nova lei é clara quanto à responsabilidade dos
pais em participar das decisões, o que previne a culpabilização, a vitimação, as cobranças a
posteriori e o eximir-se da responsabilidade”346. (destaque da autora).
Como na guarda única a guarda quase sempre é atribuída a mãe, “As mães que
compartilham da guarda são mais satisfeitas de um modo geral, haja visto poderem melhor
conciliar a vida profissional com a maternal sem prejuízo dos filhos”347.
343
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome da alienação parental: o que é
isso? p. 5.
344
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 104.
345
GROENINGA, Giselle Câmara. Guarda compartilhada – a efetividade do poder familiar. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 166.
346
GROENINGA, Giselle Câmara. Guarda compartilhada – a efetividade do poder familiar. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 167.
347
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 85.
348
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 67-68.
82
Nem sempre a Guarda Compartilhada será adequada. E quando não for não deverá ser
aplicada. Existem situações em que um dos pais não tem condições de, por exemplo, morar
perto do colégio do filho, ter uma profissão que não precise ficar ausente, uma casa não
adequada para receber o filho, enfim, não é sempre que a Guarda Compartilhada atenderá o
melhor interesse do Menor349.
Até os dias atuais existe a permanência de mitos em que a mãe é que cuida dos filhos
porque o pai não quer assumir responsabilidades. Sabemos que existem muitos homens que
assim são, e mulheres também, o que acaba gerando desconforto, para os homens
principalmente, em lutar pela Guarda Compartilhada. Existem muitos pais (homens) que
lutam pela Guarda Compartilhada dos seus filhos apenas para atingir sua ex-companheira,
porém não podemos generalizar, sempre existem exceções à regra. Desse modo, a Guarda
Compartilhada não atenderia ao interesse dos filhos350. (destaque nosso).
Cumpre assinalar, no entanto, que “[...] a guarda compartilhada não vingaria num
relacionamento hostil entre os pais, em que domina o rancor, a mágoa e a desavença,
características comuns entre pais que se separam de forma litigiosa”351.
349
WELTER, Belmiro Pedro. Guarda compartilhada: um jeito de conviver e de ser-em-família. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 55.
350
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 94-95.
351
FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Guarda compartilhada: um passo à frente em favor dos filhos. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 203.
352
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 92.
353
WELTER, Belmiro Pedro. Guarda compartilhada: um jeito de conviver e de ser-em-família. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 64-65.
83
Mesmo sendo aplicada essa modalidade de guarda, podem surgir problemas em que
haja necessidade de modificações em prol dos interesses dos filhos.
a) Novas núpcias dos pais. [...] as novas núpcias por si só não alteram o
arranjo de guarda. Contudo, um novo casamento poderá afetar as
decisões tomadas em conjunto. [...] em certos casos não há como manter
o padrasto ou madrasta afastados da decisão, pois dão suporte aos pais e
de maneira informal participam delas, [...] b) Mudanças de pontos de
vista dos pais. [...] mudança de religião, crenças sobre o que seria melhor
para a criança podem causar alguns problemas [...] Nesses casos, devem
recorrer a justiça, [...] c) Mudança de residência dos pais. [...] Nesse
caso, a distância só deverá afetar a guarda compartilhada no tocante à
alternância de residências.
Prossegue a autora afirmando que “As mudanças são inevitáveis nas relações
familiares. Qualquer espécie de guarda, em especial a guarda compartilhada, terá mais
sucesso se os pais forem criativos e flexíveis em lidar com essas alterações”355.
Pode-se observar “[...] que a constante troca de residência – ora da mãe, ora do pai –
provoca ao filho menor a falta de um ponto de referência, de um lugar fixo, onde possa se
conscientizar como pessoa em desenvolvimento dentro da comunidade social”357. Porém, não
é obrigatória a troca de residência na aplicabilidade da guarda compartilhada, há critérios,
como idade, que devem ser observados.
354
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 74-76.
355
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 76.
356
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 58.
357
FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Guarda compartilhada: um passo à frente em favor dos filhos. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 203.
358
GROENINGA, Giselle Câmara. Guarda compartilhada – a efetividade do poder familiar. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 162.
84
Esses aspectos psíquicos têm sido cada vez mais compreendidos no direito familiar,
sendo considerados juridicamente359.
No tocante a Guarda Compartilhada conforme está descrito na lei e nas doutrinas, tudo
pode ocorrer da melhor maneira possível. Contudo, na prática, será que pode mesmo dar certo
esse novo instituto? “Não existem regras predeterminadas de como a guarda compartilhada se
opera na prática”362.
359
GROENINGA, Giselle Câmara. Guarda compartilhada – a efetividade do poder familiar. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 151.
360
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada doutrina e prática, p. 86-87.
361
GROENINGA, Giselle Camara. Guarda compartilhada – a efetividade do poder familiar. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 158-159.
362
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 68.
85
Sabemos que na vida real, é praticamente impossível que após o divórcio o ex-casal
continue se entendendo, e mais difícil ainda será esse ex-casal aceitar um acordo de guarda
para os filhos. Assim, nessas situações, o juiz aplicando a Guarda Compartilhada, mostra aos
pais que o interesse do filho está acima das divergências do casal. Nenhum outro sistema de
guarda funcionará bem se existirem desacordos entre os pais, por isso, a preferência pela
Guarda Compartilhada364.
É importante salientar que “[...] a guarda compartilhada não é a solução para o fim do
sofrimento dos filhos com a ruptura do casal. O desejo das crianças é que seus pais estejam
sempre juntos e independente da opção que se faça de guarda os filhos irão sofrer” 365. O que
ocorre é que esse sofrimento será amenizado uma vez que os pais não irão ficar disputando
quem terá a guarda do filho.
Por ser uma modalidade de guarda muito evoluída, requer um amplo esforço dos
genitores, deixando seus desentendimentos e mágoas de lado para atenderem as prioridades e
o que for melhor para seus filhos367.
Algumas características serão observadas e devem ser exigidas judicialmente para que
a Guarda Compartilhada seja positiva durante o exercício.
363
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 246.
364
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome da alienação parental: o que é
isso? p. 3-4.
365
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilha, p. 72.
366
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 106.
367
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome da alienação parental: o que é
isso? p. 2.
86
[...] que os pais estejam aptos a exercer a guarda. É preciso que tenham
habilidade, capacidade legal, moral e intelectual, condições de desempenhar
as atribuições do poder familiar. [...] que haja um bom relacionamento entre
os pais. [...] quando houver alternância de residências, [...] é necessário que
as normas e regras impostas à criança sejam as mesmas em ambas as casas,
para garantir-lhes a estabilidade de que necessitam.
Uma das lacunas que a lei nº 11.698/08 deixou é com relação à alternância de
residências. O juiz e a Família ficam responsáveis por essa decisão, porém, nada impede que
possam ser orientados por profissionais, pois cada caso é um caso e deve ser analisado dentro
de suas possibilidades369.
Oportuno mencionar que “A criança precisa ter um centro, um lugar estável, em torno
do qual gire outros aspectos da sua vida: escola, amigos [...] na guarda compartilhada [...]
respeita-se o princípio de que a criança deve ter uma residência principal”370.
Menciona Quintas371:
Embora se depare com posições a favor e contra, vale salientar que a criança
alternar a casa dos pais é uma possibilidade dentro da guarda compartilhada
e não uma característica desta, que impeça a sua aplicação, podendo a
mesma ser adotada com uma residência fixa para os filhos.
Mesmo que o filho resida apenas com um dos pais, não descaracteriza a Guarda
Compartilhada, porque seu objetivo é o efetivo exercício do Poder Familiar, tendo o genitor
que não mora com o filho o direito de conviver constantemente com esse372.
368
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 72-73-74.
369
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 134.
370
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 245.
371
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 97.
372
LEVY, Fernanda, Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 55.
87
Na hipótese de haver alternância de residência, o que os pais devem atentar é que deve
existir uma concordância quanto à educação, quanto aos horários do filho acordar, por
exemplo, mantendo sempre as mesmas regras, transmitindo segurança a Criança, para que não
se confunda com a guarda alternada, onde cada casa tem suas regras e limites373.
A definição sobre o lar em que o filho irá morar é extremamente essencial. Desse
modo, o filho saberá que naquele lugar ele terá uma referência, mesmo havendo acomodação
na residência do outro genitor374.
Como não está prevista em lei, são muitas as controvérsias a respeito de alternar a
residência. Quando um dos genitores residir em outra cidade, por exemplo, já não se tornaria
viável. Por outro lado, as crianças se adaptam facilmente a mudanças. Já quanto aos filhos
adolescentes, pode ser a melhor opção, para evitar a chantagem emocional quando acontecer
alguma discussão com um dos genitores e ocorrer a ameaça de ir morar com o outro. “[...]
deve-se, portanto, analisar caso a caso, [...] levando em consideração o desejo dos pais e o
sentimento dos filhos [...]”375.
373
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 76.
374
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 106-107.
375
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 77-78-79.
376
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 74.
377
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 81.
88
4.2.2.2 Educação
Outro aspecto importante na vida do filho é sem dúvida a educação. Diante da Guarda
Compartilhada deverá ser decidido em acordo entre os pais questões como a escolha do
colégio, o horário que irá estudar inclusive se irá praticar outras atividades378.
Destarte, “[...] o dever de educação dos filhos comuns consiste em dirigir, moralizar,
aconselhar e instruir, [...] Evidentemente que a qualidade da educação dos filhos,
juridicamente exigível, deve ser proporcional à posição social e aos recursos econômicos dos
pais”380.
Vale enfatizar que não só aos pais e a escola cabe o dever de educar as crianças, o
sucesso da boa educação depende muito do complemento de uma sociedade e Estado sem
conflitos, desigualdades e precariedades no campo educacional382.
378
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 110-111.
379
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 75.
380
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, p. 163.
381
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 75.
382
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, p. 164-165.
89
Conforme o art. 932, inciso I do CC/2002383: “Art. 932. São também responsáveis pela
reparação civil: I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia”.
Assevera Fontes386:
Ante o exposto, percebe-se que ao ser atribuído à responsabilidade civil aos genitores,
deve ser analisada a situação, tentando identificar se o ocorrido se deu por mau exemplo de
um dos genitores ou por ambos ou se o próprio Menor gerou a causa.
No entanto, a responsabilidade poderá ser atribuída tanto aos pais, como mencionado
acima, quanto a um deles, ou ainda a um terceiro, como o representante da escola, pela
reparação civil, e se constatada a falha na educação, o juiz deverá verificar se outra forma de
educar evitaria o ilícito causado387.
383
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 ago. 2010.
384
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 79-80.
385
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 114.
386
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 81.
387
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 123.
90
Mesmo que seja adotada a Guarda Compartilhada, um dos genitores poderá submeter
ao juiz um pedido de pensão alimentícia389.
[...] é que, por ser meio de manter os estreitos laços afetivos entre pais e
filhos, estimula o genitor não-guardião ao cumprimento do dever de
alimentos que lhe cabe, pois, com efeito, quanto mais o pai se afasta do
filho, menos lhe parece evidente sua obrigação quanto ao pagamento da
pensão [...].
Neste diapasão, observa-se que quando o filho reside com um dos pais, esse pai arcará
com encargos, assim devendo o outro genitor dividir esses encargos através dos alimentos.
388
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 79.
389
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome da alienação parental: o que é isso?
p. 12.
390
QUINTAS, Maria Manoela Rocha de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 78.
391
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 127.
392
SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome da alienação parental: o que é isso?
p. 22-23.
91
Claro que os pais podem acordar referente às formas de pagamento das despesas do filho,
inclusive quando o filho passar férias com o outro genitor e ele arcar com as despesas naquele
período, não fará sentido colaborar com os alimentos naquele mês, por exemplo393.
Nem sempre os pais dispõem das mesmas condições financeiras, por isso a Guarda
Compartilhada não impede a fixação de alimentos, afastando a idéia de que Guarda
Compartilhada é igual a não obrigação alimentar394.
Assim como na Guarda unilateral, na Guarda Compartilhada também não poderá ser
consignado o direito de visitas ao pagamento de alimentos. Existem meios jurídicos
apropriados para esse tipo de insatisfação, não podendo o filho ser punido por duas vezes,
uma por não receber alimentos e a outra por conseqüência disso, não poder receber a visita do
pai. Porém em nossa cultura jurídica não é comum a suspensão de visitas em decorrência do
descumprimento do dever alimentar395.
Cabe enfatizar que em se tratando de Guarda Compartilhada, não devemos mais nos
referir a visita e sim a convivência. Já que se pretende com esse novo instituto equilibrar e
incentivar o convívio dos filhos com seus pais, e existe uma flexibilidade quanto à definição
393
JUNIOR, Otavio Luiz Rodrigues. Guarda compartilhada: discricionariedade, situação jurídico-física do
menor, alimentos e modificação do regime de guarda pela alteração do código civil. In: DELGADO, Mário;
COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 293-294.
394
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 438.
395
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família, p. 355-357.
396
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.401.
397
Denomina-se “incondicional” aquilo que não é condicional; que não depende de condição; sem condição. Cf.
DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico, p. 939.
398
Denomina-se “insolúvel” aquilo que não se resolve; irredutível. Cf. DINIZ, Maria Helena. Dicionário
jurídico, p. 1061.
399
Denomina-se “indisponível” o que é inalienável. Cf. DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico, p. 956.
400
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, p. 91.
92
do tempo em que o filho irá passar com o genitor, deve-se quebrar a imagem de “visita” e
priorizar o período de convivência401. (destaque nosso).
Outro aspecto que convém registrar é que a visita poderá ser dispensada quando o
filho atingir sua adolescência, entendendo-se que filho e pais poderão estabelecer suas
relações de convívio, e, na maioria das vezes, inverte-se os papéis: o filho que passa a visitar
os pais403.
O entendimento entre os pais deve prevalecer para definirem a respeito das visitas,
sendo acordado ou diante do que foi definido em juízo, sempre em prol do que for melhor
para o filho404.
Nem sempre a solução que a justiça encontra para determinada situação satisfaz ambas
as partes, principalmente quando os conflitos são de famílias, onde os lados afetivo e
psicológico caminham em primeiro lugar. Os juízes às vezes estão despreparados para
presumir os problemas que a sua decisão poderá ocasionar405.
401
FONTES, Simone Roberta. Guarda compartilhada, p. 76-77.
402
OLIVEIRA, José Francisco Basílio. Guarda compartilhada, p. 64.
403
OLIVEIRA, José Francisco Basílio de. Guarda compartilhada, p. 97.
404
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 129-130.
405
QUINTAS, Maria Manoela de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 97.
93
Sendo assim, podemos entendê-la como uma solução alternativa para um determinado
desentendimento onde uma terceira pessoa conduz o processo em direção a uma combinação
em que ambas as partes satisfaçam-se.
Contudo, mesmo que o juiz tenha a colaboração de peritos judiciais como psicólogos e
assistentes sociais para a averiguação dos fatos, para melhor ser aplicada a lei ao caso
concreto, muitas vezes não consegue diluir o conflito familiar. “Assim, apesar da aparente
solução por meio da sentença judicial, as pessoas vão encontrar outras fórmulas judiciais para
continuar um relacionamento insatisfatório, porém impossível de ser extinto pela via
jurídica”410.
406
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 120.
407
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 68.
408
ÁVILA, Eliedite Mattos. Serviço de mediação familiar. Disponível em:
<http://www.tj.sc.gov.br/mediacaofamiliar.mediacao.htm>. Acesso em: 30 out. 2010.
409
ÁVILA, Eliedite Mattos. Serviço de mediação familiar. Disponível em:
<http://www.tj.sc.gov.br/mediacaofamiliar.mediacao.htm>. Acesso em: 30 out. 2010.
410
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 162-163.
94
É importante salientar que “Desde sempre a sociedade contou com pessoas que tinham
o dom nato de intervir favoravelmente no universo de outras seja para prevenir ou para
pacificar conflitos das mais diversas sortes”413.
411
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda compartilhada: a mediação como instrumento. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 143.
412
QUINTAS, Maria Manoela de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 98.
413
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 121.
414
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 68-69.
415
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 164.
416
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda compartilhada: a mediação como instrumento. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 143.
417
QUINTAS, Maria Manoela de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 98.
95
No entanto, “A mediação deve ser sempre facultativa e nunca obrigatória. Pode ser
extrajudicial ou judicial. Neste caso, deve estar disponível às partes em qualquer momento
processual, mas incentivada ab initio”419. (destaque do autor).
Na maioria dos casos de família, não se pede ao juiz para dizer o direito, mas
remediar uma disfunção da comunicação, porque os ex-cônjuges não
querem, não sabem ou não podem mais falar entre si, como pais, dos
problemas que definitivamente lhes cabem: a organização da vida de seu
filho.
Prossegue a autora, afirmando que “A Justiça deveria ser o último recurso, quando
todas as vias de diálogo fracassassem. E aí que se aplica a mediação familiar, ajuda preciosa
ao juiz. Ela oferece às partes um espaço de diálogo e um tempo de compreensão do conflito
[...]”423.
418
GROENINGA, Giselle Camara. Guarda compartilhada – efetividade do poder familiar In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p.163.
419
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p. 123.
420
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos no exercício do poder familiar, p.123.
421
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família, p. 72-73.
422
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 168.
423
SILVA, Ana Maria Milano. A lei sobre guarda compartilhada, p. 168.
96
Se os pais optarem pela Mediação Familiar e pela Guarda Compartilhada, duas opções
voluntárias, os resultados com certeza serão os melhores, com uma maior satisfação entre os
genitores e melhor comunicação, uma vez que os dois chegaram a um consenso, atendendo o
melhor interesse da Criança.
424
LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda compartilhada: a mediação como instrumento. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 147.
425
QUINTAS, Maria Manoela de Albuquerque. Guarda compartilhada, p. 99.
426
GROENINGA, Giselle Camara. Guarda compartilhada – efetividade do poder familiar. In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 156-157.
97
A lei da Guarda Compartilhada tem como intuito ressaltar que os filhos conquistaram
o não rompimento dos laços afetivos, preservando a relação já existente antes da dissolução
conjugal427.
Todavia, “[...] a novel legislação, reescreveu o poder familiar, pois sempre foram os
pais responsáveis, conjuntamente, pelos filhos, assim como sempre lhes foi permitido, por
disposição legal, exercer os direitos e deveres em relação à prole [...]”428.
Ante o exposto, fica nítido o entendimento que a Guarda Compartilhada busca nada
mais além do que a efetividade do exercício do Poder Familiar, não só juridicamente, como a
lei já dispõe que o referido poder fica intacto mesmo diante da Ruptura Conjugal, mas na vida
real, sabemos que a atribuição de outras modalidades de guarda priva um dos genitores de
exercerem por completo seus direitos e deveres que decorrem do Poder Familiar.
Desse modo, pode-se concluir que os direitos e deveres advindos do Poder Familiar
não sofrem modificações com a aplicabilidade da Guarda Compartilhada431.
427
DECCACHE, Lucia Cristina Guimarães. Compartilhando o amor. In: DELGADO, Mário; COLTRO,
Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 215.
428
VIEIRA, CláudiaStein; GUIMARÃES, Marília Pinheiro. A guarda compartilhada tal como prevista na lei
11.698/2008. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p. 84.
429
GROENINGA, Giselle Camara. Guarda compartilhada – efetividade do poder familiar In: DELGADO,
Mário; COLTRO, Mathias (Coord.). Guarda compartilhada, p.163.
430
CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada, p. 249.
431
VIEIRA, Cláudia Stein; GUIMARÃES, Marilia Pinheiro. A guarda compartilhada tal como prevista na lei
11.698/2008 – questões que o direito brasileiro tem de enfrentar. In: DELGADO, Mário; COLTRO, Mathias
(Coord.). Guarda compartilhada, p. 85.
98
Por derradeiro, chegou a hora de encarar as necessidades da realidade e admitir que pai
e mãe são responsáveis igualmente pela educação, cuidados, saúde, moradia de sua Prole, não
devendo atribuir-se essa função de poder-dever apenas a um deles, sendo que é necessário
para o melhor interesse dos filhos que convivam com pai e mãe, sejam educados pelo pai e
pela mãe, convivendo com as famílias de ambos, mesmo que não exista mais ou mesmo se
nunca existiu um vínculo conjugal entre os genitores. Os interesses das Crianças devem estar
sempre em primeiro lugar, e se for melhor para o desenvolvimento delas existir a Guarda
Compartilhada, assim deve ser respeitada e aplicada pelos pais, em prol do que é melhor para
seus filhos, para torná-los adultos sem complexos psicológicos e preparados para a vida em
sociedade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se, pois, que a evolução da sociedade nas relações familiares nos últimos
anos sofreu diversas modificações e o ordenamento jurídico tende a acompanhar essas
mudanças, para atender os anseios e melhorar a convivência da sociedade, buscando assim, a
Guarda Compartilhada suprir as necessidades de relação pais e filhos.
Outro fator que foi observado é que diante da Ruptura Conjugal, o que é muito comum
e a cada dia estamos diante de mais e mais dissoluções conjugais, na maioria das vezes o filho
é o maior prejudicado, por ser ainda Criança e estar acostumado a conviver diariamente com
seus pais e derrepente um deles vai embora. É um impacto muito grande, para ser enfrentado
por alguém tão pequeno, por isso o merecimento de destaque do assunto.
Os pais devem ter a consciência, quando resolverem romper uma relação conjugal, e
considerar em primeiro lugar os interesses do filho, pois ele é o que sofrerá mais. E se os
genitores tiverem a consciência de que querem o melhor para seus filhos e deixarem de lado
suas controvérsias, compreenderão que a Guarda Compartilhada é a melhor modalidade de
100
guarda a ser aplicada, pois continuará o filho convivendo com frequência com ambos, não se
afastando de um de seus pais e perdendo os laços afetivos do genitor não guardião.
Como a guarda não é definida apenas pelos pais, ou seja, quando entram em conflito
acabam se socorrendo do judiciário, o juiz também assume um papel muito importante: ele é
quem vai atribuir a Guarda a um dos genitores. Deve este, sempre que possível, optar pela
aplicabilidade da Guarda Compartilhada, conforme dispõe os art. 1.593 e 1.594 do CC/2002.
Porém, sempre que achar necessário, para poder decidir pelo melhor interesse do Menor, deve
o juiz recorrer à ajuda de profissionais como psicólogos, assistentes sociais, para que se
confirme se a estrutura familiar admite a aplicabilidade daquela modalidade de guarda.
Apesar de ter pais separados, porém convivendo com ambos, os filhos ficarão felizes
por ver que não existem discussões a respeito de guarda, que apesar de separados, os pais
querem manter o filho junto deles sempre, não deixando a Criança se sentir abandonada ou
culpada por ser alvo de brigas, desentendimentos e rancores.
101
Quando os genitores começam uma disputa judicial pela guarda dos filhos, esquecem
a Prole e seus interesses pessoais prevalecem, podendo trazer sérios riscos, principalmente
psicológicos, para as Crianças, que podem gerar sequelas por toda a vida. Alguns pais chegam
ao ponto de usar o filho, ou seja, usar do direito de visita, de alimentos para chantagear o ex-
companheiro, usando dos direitos do filho para alcançar sua “vingança” particular.
Uma Criança que, acostumada a conviver com os pais dia-a-dia, derrepente é afastada
de um deles, geralmente do pai, não poderá desenvolver-se, principalmente psicologicamente,
e preparar-se para enfrentar a sociedade. Afastando-se do genitor não guardião, e apenas
visitando-o, na maioria das vezes, quinzenalmente, não se tornará um filho feliz, podendo
haver danos como baixo rendimento escolar, sentimento de abandono pela falta do pai.
A Mediação Familiar é outra opção para os genitores que querem evitar conflitos e
através de acordos diante de um Mediador definirem o que é melhor para sua Prole e que vem
ganhando espaço com resultados positivos para a Guarda Compartilhada.
Na primeira hipótese ficou claro que o Poder Familiar deve ser exercido sempre por
ambos os genitores, não podendo se tornar apenas de um deles toda a responsabilidade em
criar o filho. A Guarda Compartilhada firma esse compromisso já existente, porém não
exercido na maioria das situações, retribuindo aos pais em igualdade os exercícios advindos
do Poder Familiar;
Quanto a segunda, quando aplicada uma das modalidades de guarda onde um dos pais
será o guardião, as responsabilidades normalmente serão divididas da seguinte maneira: a mãe
fica com a guarda física e o pai com a guarda jurídica, ou seja, o filho mora e vive sob os
cuidados da mãe enquanto o pai visita-o e paga pensão alimentícia. O filho, quando privado
do convívio diário com um dos genitores, com certeza será prejudicado;
AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.
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