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01/09/2019 Configurações momentâneas do jogo e o treino - Pedagogia do Futsal

Biografia Pedagogia do Treino Senso Crítico   Store Contato Idiomas 1

Configurações momentâneas do jogo e o treino

Wilton Santana

Por se tratar de confronto, de disputa, os treinadores não entram no jogo para “ver no que vai
dar”. Os treinadores revestem-se de ideias! E mais: treinam essas ideias. Isso não representa
controlar o jogo e os jogadores! Mas organizar o time para enfrentar o jogo, de modo a atenuar
seus efeitos colaterais. Organizar tem a ver com conduzir os jogadores a “pensar o mesmo diante
das mesmas situações”, ou seja, “falar o mesmo idioma diante das con gurações do jogo”. Mas
anote aí: isso não exclui as individualidades, embutida aí a improvisação, mas exclui o
individualismo, pois o bom jogador, como disse certa vez o professor Júlio Garganta, “subordina os
interesses pessoais aos coletivos”. O fato é que não se chega a ser um time, e muito menos
competitivo, sem um elevado nível de cooperação. Cooperação-competição. Interessante binômio.

O jogo, por ser dado à imprevisibilidade, precisa ser sedimentado na inteligência coletiva.
Mas, repito, isso não exclui a criatividade. Ao contrário, a potencializa, pois a assenta no contexto
de jogo. Daí o conceito de criatividade contextualizada. Se todos souberem o que fazer, melhor
está para criar.

O sentido do treino

Volto ao tema inicial: treinar as ideias prévias – aquelas que os treinadores revestem o treino
– representaria a única possibilidade de se jogar o “jogo pretendido”. O “jogo pretendido” é o
modelo de jogo; aquele que nunca cará pronto e sempre necessitará de ajustes, mas que precisa
existir para que um “time atue como um time”. Mais ainda: para que exista sentido no treinar. Se o
“jogo pretendido”, eternamente sujeito aos ajustes, revestir o treino, as pretendidas regularidades
táticas estariam em curso. O sentido do treino é criá-las. Elas expressam o “idioma” do time.

Pensar o mesmo diante das mesmas situações

Antevejo que preciso explicar mais essa frase. “Pensar o mesmo” signi ca, por exemplo,
de nir que se defenderá alto. Além disso, zonal. Além disso, com linhas próximas. Além disso,
pressionando a bola. Além disso, se a bola progredir e bater a primeira linha, estabelecer de que

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forma o equilíbrio defensivo é restabelecido. Já “… diante das mesmas situações” signi ca, nesse
exemplo, “quando o adversário tem a bola na sua quadra… quando a bola estiver na lateral… se a
bola bater a 1ª linha”. Ajuda muito “pensar o mesmo diante das mesmas situações” para que cinco
jogadores atuem como um time. Cinco jogadores diferentes sendo um.

Resta identi car sob quais situações será preciso “pensar o mesmo”.

Momentos do jogo

Convencionou-se na literatura dividir o jogo em quatro momentos ou fases: organização


ofensiva, transição ataque-defesa, organização defensiva e transição defesa-ataque. Concordo.
Contudo, adicionaria ou destacaria duas con gurações que, de tão incidentes e decisivas no futsal,
poderiam ser “promovidas a momentos”: as bolas paradas e o jogo de linha-goleiro. No caso das
bolas paradas, a necessidade de se organizar para atacar e defender quando de faltas, laterais e
cantos. No caso do jogo de linha-goleiro, a exigência de se organizar para atacar e defender.

Mas por qual motivo proponho isso? Porque estudos demonstraram que uma boa parte dos
gols no futsal de alta competição é concretizada nessas situações.

Con gurações do jogo

Se conhecemos os momentos, falta identi car as con gurações momentâneas, ou seja, as


distintas formas que o ataque, a defesa, as transições, as bolas paradas e o jogo de linha-goleiro
podem apresentar no jogo e, que, por extensão, “exigem uma resposta coletiva”. O futsal é uma
sequência de sequências!

Organização Ofensiva Transição Ataque-Defesa

Quando a bola está na mão do nosso goleiro


(arremesso de meta)

Quando o goleiro adversário defende e ca com


Quando a bola está nos pés do nosso goleiro na
a bola
nossa quadra (quatro segundos para jogar)
 
Quando a bola está nos pés do nosso goleiro na
quadra adversária (livre para jogar) Quando perdemos a bola na nossa quadra

 
Quando o adversário marca alto (na nossa quadra)
de forma individual ou zonal Quando perdemos a bola na quadra
adversária avançado e na intermediária
Quando o adversário marca baixo (na quadra dele)
de forma individual ou zonal    

Quando nos encontramos em vantagem numérica


por expulsão (4X3)

Organização Defensiva Transição Defesa-Ataque

Quando a bola está na mão do goleiro (arremesso Quando o nosso goleiro defende e ca com a bola
de meta)
 
Quando a bola está nos pés do goleiro na sua
Quando recuperamos a bola na nossa
quadra (com quatro segundos para jogar)
quadra

Quando a bola nos pés do goleiro que avançou  


(com tempo livre para jogar)
Quando recuperamos a bola na quadra

Quando a bola está localizada na quadra adversária 

adversária (marcação alta)

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Quando a bola está localizada na nossa quadra
(marcação baixa)  

      
Quando o ataque é pressionado e traz todos os
jogadores para a sua quadra

Quando o ataque é pressionado e mantém o pivô


na profundidade

Quando o ataque entra com uma linha de 4 para


enfrentar a defesa baixa e alta

Quando o ataque entra com uma linha de 3 para


enfrentar a defesa baixa e alta

Quando marcamos em três por ter um jogador


expulso (3X4)

Bolas paradas
Jogo de linha-goleiro ofensivo Defesa de linha-goleiro
(ofensiva e defensiva)

 
Quando, no lateral defensivo,
o goleiro é acionado (como  
marcar e atacar)
Quando optamos em
receber o adversário em duas
Quando a defesa opta em
linhas
marcar em duas linhas
Quando do lateral ofensivo
(quadrado)  
 
   
 
   

Quando a defesa opta em  


receber nosso ataque em três
Quando optamos em
Quando das faltas laterais e linhas 
receber o adversário em três
central próximas e distância
linhas
média
 

  
Quando dos cantos

Não subestime, no treino, o jogo pretendido

A construção de um jeito próprio de jogar diante dos momentos do jogo e suas respectivas
con gurações é artesanal. Levará tempo e precisará de ajustes constantes, porque o processo é
não linear, sujeito a imprevistos – basta considerar  que os adversários são organismos
estressores. Na prática, o seu time pode estar “menos ajustado no 10º jogo do que esteve no 7º”.
Portanto, três dicas:

(1ª) de na o “jogo pretendido”;

(2º) persiga-o, incansavelmente, nos treinos;

(3º) ajuste-o a cada jogo, considerando tanto as suas impressões, como as de seus jogadores,
pois o jogo é uma construção coletiva.

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Wilton compôs a comissão técnica da Seleção Brasileira Sub-20 (2016) e Principal (2018).

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3 Comentários

Elto Legnani disse: Responder


18 de Abril de 2019 às 17:12

Excelente re exão sobre o contexto treino-jogo-treino. Ou seja, a lógica interna do jogo aplicada aos treinos. Show de bola
prof. Wilton!!! Parabéns pelo texto.

Wilton disse: Responder


19 de Abril de 2019 às 12:36

Valeu, Elto! Abraços

Ruy disse: Responder


6 de julho de 2019 às 14:07

Excelente professor.
Ter uma identidade bem clara e de nida do seu jogo pretendido e fazer com que seus atletas sejam condicionados a se comportar
igual e agir com a criatividade dentro do contexto do jogo.
Professor, o Sr.viria a minha cidade ministrar um curso?

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