Você está na página 1de 69

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

ENGENHARIA ELÉTRICA

LEONARDO MARCUSSO MASSONI

VOIP EM PLATAFORMA ASTERISK

Londrina
2011
LEONARDO MARCUSSO MASSONI

VOIP EM PLATAFORMA ASTERISK

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel
em Engenharia Elétrica.

Orientador: Prof. Mauro Roberto Rodrigues Borges

Londrina
2011
LEONARDO MARCUSSO MASSONI

VOIP EM PLATAFORMA ASTERISK

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado à UNOPAR -


Universidade Norte do Paraná, no Centro de Ciências Empresariais e Sociais
Aplicadas, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Nome
do Curso, com nota final igual a _______, conferida pela Banca Examinadora
formada pelos professores:

Prof. Orientador
Mauro Roberto Rodrigues Borges

Prof. Membro 2
Universidade Norte do Paraná

Prof. Membro 3
Universidade Norte do Paraná

Londrina, _____de ___________de 20___.


Dedico este trabalho a minha família, amigos,
professores e a todos que contribuíram,
apoiaram ou estiveram presentes na realização
deste trabalho.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Mauro Roberto Rodrigues Borges, meu orientador, pela


ajuda com conselhos, conteúdo técnico e por ter acompanhado todo o
desenvolvimento deste trabalho.

A todos os professores que se fizeram presentes ao longo da


graduação, pelos seus ensinamentos, oportunidade de crescimento e
amadurecimento obtida com os mesmos.

Aos meus pais e minha irmã pelo carinho e amor que recebo nesta
vida, por toda a compreensão e apoio nos estudos, principalmente neste trabalho,
sempre ajudando, aconselhando e incentivando quando necessário.

A todos os amigos e colegas que se fizeram presentes durante a


realização deste trabalho, seja com a ajuda de materiais, com ideias, contribuições
técnicas ou conselhos.

A todos que participaram direta ou indiretamente, o meu muito


obrigado.
"Diante de uma larga frente de batalha, procure
o ponto mais fraco e, alí, ataque com a sua
maior força."

Sun Tzu.
MASSONI, Leonardo Marcusso. VoIP em plataforma Asterisk. 2011. 68 folhas.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) – Centro de
Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2011.

RESUMO

Este trabalho irá abordar o tema a análise do Asterisk utilizando a tecnologia VoIP,
constará a estrutura de seus protocolos, codificação e digitalização da voz, assim
como suas principais aplicações existentes. Contudo o principal foco do trabalho
será em demostrar a utilização do Asterisk para chamadas para a rede pública
comutada utilizando a rede de dados para voz. O trabalho está dividido em duas
etapas: a primeira será o estudo detalhado dos protocolos e codificação a voz para
que sirva como base para o entendimento da tecnologia VoIP além de fazer uma
breve introdução ao software livre Asterisk, a segunda será a implementação de um
ambiente com servidores rodando o Asterisk e clientes conectados em uma rede a
fim de poderem fazer chamadas entre si sem custos e chamadas para a rede
comutada através do VoIP.

Palavras-chave: VoIP. Asterisk. PBX IP.


MASSONI, Leonardo Marcusso. VoIP em plataforma Asterisk. 2011. 68 folhas.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) – Centro de
Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2011.

ABSTRACT

This work will approach the theme of the Asterisk analysis using VoIP technology,
which will include the structure of its protocols, coding and voice digitalization, as well
as its main existing applications. Nevertheless, the main focus of this work will be to
demonstrate the use of Asterisk calls to the public switched network using data
network for voice. The work is divided into two stages: First will be a detailed study of
protocols voice encoding to serve as a basis to the understanding of VoIP technology
besides providing a brief introduction to the open source Asterisk. The second stage
will be to implement an environment with servers running Asterisk and customers
connected over a network so that they can make calls free of charge and calls to the
switched network via VoIP with low cost.

Key-words: VoIP. Asterisk. PBX IP.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Pulsos PAM e PCM ................................................................................... 20


Figura 2 - Modelo para QoS ...................................................................................... 26
Figura 3 - Multiplexação RTP/RTCP em redes IP ..................................................... 30
Figura 4 - Organização Típica de um sistema H.323 ................................................ 32
Figura 5 - Exemplo de fluxo de sinalização em comunicação peer-to-peer .............. 38
Figura 6 - Exemplo de fluxo de sinalização via Proxy ............................................... 39
Figura 7 - Exemplo de fluxo para estabelecimento de uma chamada IAX ................ 40
Figura 8 - Chamadas multiplexadas por apenas uma porta UDP ............................. 41
Figura 9 - Módulos e APIs do Asterisk ...................................................................... 43
Figura 10 - Diagrama de uma chamada Asterisk ...................................................... 45
Figura 11 - Cenário de uso de um Appliance ............................................................ 46
Figura 12 - Processador de voz ................................................................................ 47
Figura 13 - Placa de telefonia analógica da Digium .................................................. 47
Figura 14 - Placa de telefonia digital da Digium ........................................................ 48
Figura 15 - Placa de telefonia digital da DigiVoice modelo VB6060-PCI ................... 48
Figura 16 - Topologia do estudo de caso .................................................................. 51
Figura 17 - Tela Inicial da instalação do Trixbox ....................................................... 52
Figura 18 - CentOS Linux sendo carregado com o Trixbox....................................... 53
Figura 19 - Configurando endereço IP no Trixbox ..................................................... 54
Figura 20 - Tela de administração do Trixbox ........................................................... 55
Figura 21 - Definindo protocolo utilizado pelo dispositivo .......................................... 56
Figura 22 - Configuração dos ramais no Trixbox ....................................................... 57
Figura 23 - Painel de configuração do Softfone X-lite ............................................... 59
Figura 24 - Configurando CODEC de aúdio no X-Lite............................................... 60
Figura 25 - Agente 1 realizando uma chamada local para o Agente 2 ...................... 60
Figura 26 - Chamada estabelecida entre o Agente 1 e o Agente 2 ........................... 61
Figura 27 - Configurando um Tronco SIP no Asterisk ............................................... 63
Figura 28 - Configurando rota de saída através de um Tronco ................................. 64
Figura 29 - Chamada através do tronco da Vono ...................................................... 65
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Características dos principais Codecs .................................................... 23


Quadro 2 - Padrões ITU-T para Voz ......................................................................... 23
Quadro 3 - Pontuação de qualidade e de esforço auditivo do MOS .......................... 27
Quadro 4 - Valor MOS dos principais Codecs ........................................................... 28
Quadro 5 - Padrões referenciados na Recomendação H. 323 .................................. 33
Quadro 6 - Regra de Formação de Mensagem SIP .................................................. 36
Quadro 7 - Métodos de requisições e respectivas funcionalidades no SIP/2.0 ......... 36
Quadro 8 - Classes de resposta e respectivas funcionalidades no SIP/2.0 .............. 37
Quadro 9 - Resumo das características dos protocolos SIP e IAX2 ......................... 41
Quadro 10 - Usuários e Seus Respectivos Ramais .................................................. 57
Quadro 11- Resumo Plano de Discagem Asterisk .................................................... 65
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A/D Analog to Digital Converter


ACK Acknowledgement
ATA Analogic Telephone Adapter
CODEC Coder / Decoder
D/A Digital to Analog Converter
DDD Discagem Direta a Distância
DDI Discagem Direta Internacional
DMZ Demilitarized Zone
DNS Domain Name System
FTP File Transfer Protocol
FXO Foreign eXchange Office
FXS Foreign eXchange Service
HTTP HyperText Transfer Protocol
IAX Inter Asterisk eXchange
IETF Internet Engineering Task Force
IP Internet Protocol
ISDN Integrated Service Digital Network
ITU-T International Telecommunications Unior
LAN Local Area Network
MC Multipoint Controller
MCU Multipoint Control Unit
MP Multipoint Processor
OSI Open System Interconnection
PABX Private Automatic Branch Exchange
PAM Pulse Amplitude Modulation
PBX Private Branch Exchange
PC Personal Computer
PCM Pulse Code Modulation
PSTN Public Switched Telephone Network
QoS Quality of Service
RTCP Real-time Control Protocol
RTP Real-time Transport Protocol
SDP Session Description Protocol
SIP Session Initiation Protocol
SMTP Simple Mail Transfer Protocol
SOHO Small Office - Home Office
TCP Transmission Control Protocol
TDM Time-Division Multiplexing
UAC User Agent Client
UAS User Agent Server
UDP User Datagram Protocol
UTF Unicode Transformation Format
VoIP Voice over Internet Protocol
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 15

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 16


3.1 TELEFONIA DIGITAL ..................................................................................... 16
3.2 SURGIMENTO DO VOIP ............................................................................... 17
3.3 A REGULAMENTAÇÃO DE SERVIÇOS VOIP NO BRASIL .......................... 18
3.4 CODIFICAÇÃO DIGITAL ................................................................................ 18
3.4.1 Codificação de Onda e Digitalização da Voz .............................................. 19
3.4.2 CODECs ..................................................................................................... 21
3.4.2.1 Principais Características dos Codecs ........................................................ 22
3.4.3 Padrões ITU-T para Voz ............................................................................. 23
3.4.4 Qualidade de Áudio em VoIP ...................................................................... 24
3.5 QUALIDADE DE SERVIÇO (QoS) ................................................................. 26
3.6 MEDIDA DE QUALIDADE DE VOZ ................................................................ 27
3.7 PROTOCOLOS VOIP ..................................................................................... 28
3.7.1 RTP ............................................................................................................. 29
3.7.2 RTCP .......................................................................................................... 30
3.7.3 Recomendação H. 323 ............................................................................... 30
3.7.3.1 Componentes da Arquitetura H.323 ............................................................ 31
3.7.3.2 Padrões Referenciados na Recomendação H.323 ..................................... 33
3.7.4 SIP .............................................................................................................. 34
3.7.4.1 Componentes de uma Arquitetura SIP ........................................................ 35
3.7.4.2 Mensagens SIP ........................................................................................... 35
3.7.4.3 Modos de Comunicação ............................................................................. 37
3.7.5 IAX/IAX2 ..................................................................................................... 39
3.8 ASTERISK ...................................................................................................... 42
3.8.1 Características do Asterisk ......................................................................... 42
3.8.2 Arquitetura do Asterisk ................................................................................ 43
3.8.3 Pacotes que Compõe o Asterisk ................................................................. 45
3.8.4 Hardware para Asterisk ............................................................................... 46
3.8.4.1 Appliances .................................................................................................. 46
3.8.4.2 Processador de Voz .................................................................................... 47
3.8.4.3 Placas de Conexão de Linha ...................................................................... 47
3.8.5 Trixbox ........................................................................................................ 48
3.8.5.1 Arquitetura .................................................................................................. 49

4 ESTUDO DE CASO ........................................................................................... 50


4.1 CENÁRIO ....................................................................................................... 50
4.2 INSTALAÇÃO DO TRIXBOX .......................................................................... 51
4.3 CONFIGURAÇÃO DO ASTERISK ................................................................. 53
4.3.1 Configurando o Endereço IP do Trixbox ..................................................... 53
4.3.2 Utilizando o freePBX para Configurar o Trixbox.......................................... 54
4.3.2.1 Configurando os Ramais (Extensões) ......................................................... 56
4.3.2.2 Configurando o Softfone X-Lite ................................................................... 58
4.3.2.3 Configurando Troncos para Chamadas de Saída ....................................... 61
4.3.2.4 Configurando Rotas de Saída ..................................................................... 63
4.3.2.5 Plano de Discagem ..................................................................................... 65
4.4 RESULTADOS OBTIDOS E PROJETOS FUTUROS .................................... 66

5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 68


14

1 INTRODUÇÃO

A comunicação através da telefonia digital é uma tendência no


mundo corporativo. Soluções que otimizem processos, possibilitem uma melhoria
estratégica, disponibilizem informações gerenciais, reduzam tempo e custo de
operações, são cada vez mais procuradas por empresas que querem agregar valor
aos seus produtos e serviços através de um atendimento diferenciado.
O crescimento de implantações das redes com o Protocolo Internet
(IP) e o desenvolvimento de técnicas avançadas, como: digitalização de voz,
mecanismos de controle, priorização do tráfego, protocolos de transmissão em
tempo real e o estudo de novos padrões que permitam a qualidade de serviço, criam
condições para a comunicação de Voz Sobre IP (VoIP), tecnologia que permite a
transmissão da voz através dos pacotes das redes IP, como a Internet.

O software livre Asterisk, é um programa que utiliza o conceito de


PABX IP, que além de possuir todas as funções básicas e ser uma solução de baixo
custo, contém diversos recursos avançados encontrados somente nos PABX com
nível de qualidade e custos elevados.
O trabalho mostrará alguns aspectos referentes a tecnologia VoIP,
tais como sua estrutura, arquitetura, componentes, funcionalidades e sua utilização
junto ao software livre Asterisk. Ao final do documento ainda é mostrado uma
conclusão obtida a partir do estudo levantado.
15

2 OBJETIVOS

O VoIP está mudando a maneira de implementação da


telecomunicação mundialmente. E essa mudança é semelhante à mesma que
ocorreu quando a Internet tornou-se disseminada para a população. A tecnologia
VoIP é um grande passo em direção a um mundo onde a informação e a
comunicação são peças importantes para o sucesso profissional. (DAVISON, 2006)
A escolha do tema foi baseado, junto ao meu grande interesse pela
área das telecomunicações, pelo fato da tecnologia VoIP estar em constante
ascensão e ser uma alternativa viável e barata para empresas e profissionais que
desejam reduzir custos mantendo qualidade na comunicação e serviços ofertados
por essas tecnologias. O uso do software Asterisk deve-se ao fato de que é um
software livre, com um baixo custo de implementação, facilidade de instalação e a
possibilidade de customização por se tratar de um software livre e de código aberto.
O objetivo deste trabalho de conclusão é abordar ambas as
tecnologias – VoIP e Asterisk - explicando através de uma abordagem teórica seus
protocolos, vantagens, configurações e uma simulação prática de uma rede VoIP
baseada no software Asterisk em uma rede SOHO (Small Office Home Office).
Em um primeiro momento, o trabalho consistirá em um estudo
exploratório descritivo, com a finalidade de orientar e abordar as tecnologias e
protocolos presente no VoIP e introduzir o software Asterisk, bem como seus
recursos, capacidades e suas configurações, através de pesquisa e referências
bibliográficas.
Após a parte teórica abordada, o trabalho irá se direcionar para um
laboratório prático, com o objetivo de colocar em prática os protocolos, tecnologias e
o software abordado neste trabalho, utilizando-se de uma rede com 4 computadores
para se comunicarem através do software Asterisk e um softfone para realizar e
receber chamadas por uma rede IP local, e poder fazer ligações para a rede pública
comutada através da tecnologia VoIP.
16

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nos tópicos a seguir, será detalhada a abordagem histórica do tema,


bem como a situação em que se encontra no mundo atual, princípios de
funcionamento da tecnologia, além de seus protocolos e arquiteturas utilizadas em
suas configurações.

3.1 TELEFONIA DIGITAL

Até a década de 1950, a rede telefônica era totalmente baseada em


tecnologia analógica. Com a invenção do transístor, em 1948, por pesquisadores do
laboratório Bell, e sua evolução até a produção do primeiro circuito integrado junto
às primeiras centrais digitais em 1958, provocaram mudanças nos sistemas
computacionais e impulsionaram a indústria de telecomunicações, permitindo a
criação de novas centrais telefônicas mais robustas, rápidas e baratas.
A digitalização nos sistemas telefônicos, em paralelo aos
avanços que a tecnologia já estava proporcionando aos sistemas computacionais,
começava a motivar a idéia de que a convergência dessas duas áreas traria
benefícios incomparáveis.
Na década de 1950, as centrais telefônicas baseadas em sistemas
computacionais (chamadas Centrais de Programa Armazenado - CPAs) evoluíram
para oferecer uma série de vantagens em termos de operação, manutenção e
provisão dos serviços de telefonia. A configuração dos equipamentos se tornou
mais flexível, permitindo a operadores manipular facilmente parâmetros que alteram
o funcionamento do equipamento por meio de ferramentas de software. Novas
formais mais eficazes de gerenciamento e ferramentas para auxiliar nas tarefas de
operação se tornaram possíveis. Computadores localizados em centros de gerência
e operação da rede telefônica passaram a poder receber informações e processá-las
com os mais diversos propósitos, desde a emissão das cobranças dos usuários, até
a geração de relatórios periódicos sobre o funcionamento e o desempenho geral do
sistema. Arquiteturas de gerência surgiram para permitir a operação e o
gerenciamento remoto da rede telefônica.
17

3.2 SURGIMENTO DO VOIP

Como decorrência do apelo em torno do nome Internet, uma gama


de serviços tradicionalmente vinculados a redes específicas passou a ser também
oferecida sobre redes IP. Fluxos para distribuição de áudio e vídeo (Streaming) de
emissoras de rádio e TV pela internet são comum atualmente. A provisão de
serviços de comunicação vocálica sobre redes IP (VoIP) tem recebido grande
atenção das concessionárias de telefonia regionais e de longa distância, dos
provedores de internet e de outros provedores de serviços de comunicação.
O conceito VoIP tomou forma em meados da década de 1990,
com o surgimento do primeiro software comercial - o Internet Phone, (da VocalTec
Communications) - a permitir a troca de pacotes IP transportando amostras de voz
entre computadores pessoais. Contudo naquela época, a qualidade da comunicação
não chegava nem próximo do padrão dos sistemas telefônicos convencionais.
Entretanto, com a oferta de maiores larguras de bandas, por volta de 1998 algumas
pequenas companhias já eram capazes de oferecer serviço VoIP com certa
qualidade, interligando ao serviço de telefonia convencional.
Ao final da mesma década, o aumento considerável nas taxas
de transmissão na Internet e o início da produção de equipamentos específicos para
VoIP (gateways, adaptadores, telefones IP) por fabricantes de grandes portes,
proporcionou uma melhoria abrupta na qualidade de comunicação dessa tecnologia.
Neste mesmo período, surgiam os primeiros padrões relacionados a VoIP, tanto pelo
ITU quanto pelo IETF. Estes fatores permitiram a entrada definitiva do VoIP no
mercado corporativo e, atualmente, provedores dos mais variados tipos também
oferecem, em várias partes do mundo, serviços de telefonia sobre as mais diversas
infraestruturas, como DSL (Digital Subscriver Line), Cable Modem e WiFi (Wireless
Fidelity). Também se encontram amplamente disponíveis aplicações que
possibilitam serviço de VoIP de PC para PC, como atestam o NetMeeting (da
Microsoft Corporation), o Skype (da Skype Technologies S.A.) e o Push-to-Talk (da
ICQ Incorporated) entre outros. Tantas alternativas tecnológicas trazem um novo
panorama à provisão de serviços de telefonia tradicional.
18

3.3 A REGULAMENTAÇÃO DE SERVIÇOS VOIP NO BRASIL

Os serviços VoIP ainda não estão, atualmente, definidos de forma


regulamentada no Brasil. A regulamentação para serviços de voz imposta pela
ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) não específica a tecnologia
usada, embora esses serviços sejam denominados Serviços Telefônicos Fixos
Comutados (STDCs), o que sugeriria o uso de infraestrutura de comutação de
circuitos. Nesse sentido, há a possibilidade de adoção de um paradigma semelhante
ao da Europa, em que serviços de VoIP seriam classificados como serviços de
telefonia tradicional (STFCs). Contudo, esse paradigma de regulação poderá ser
alterado em razão dos novos modelos de comunicação impostos pela integração de
serviços. Segundo a visão da ANATEL, a adoção de serviços VoIP ainda não
chegou a um patamar de influência e representatividade no mercado nacional que
justifique a necessidade de regulação dos mesmos. Contudo, a falta de
regulamentação completa pode também obstruir a implantação em larga escala da
tecnologia.
Embora ainda não possua regulamentação específica, a
prestação de serviços de VoIP, encontra algumas barreiras legais. Atualmente, os
serviços de VoIP se enquadram, de acordo com a ANATEL, como Serviços de
Comunicação Multimídia (SCM). Esses serviços possuem restrições, dentre elas o
impedimento de uma instância de uso desse serviço iniciar e terminar
simultaneamente chamadas telefônicas na rede de telefonia pública. Isso permite a
oferta de serviços VoIP no âmbito de uma rede privada e apenas com uma das
pontas na telefonia pública, o que já implica em uma margem de redução de custos
no mercado corporativo, mas ainda limita consideravelmente o oferecimento de
serviços VoIP ao público em geral.

3.4 CODIFICAÇÃO DIGITAL

A idéia do protocolo VoIP se baseia na transmissão de voz em forma


de pacotes através de uma rede utilizando protocolos da pilha TCP/IP. Para que
esse sistema seja viável, o sinal de voz deve passar por um processo de
digitalização e compactação antes de ser transformado em pacotes IP. Essa
digitalização é feita através de codecs (enCOders/DECoders) e são muito
19

importantes no processo de transmissão de voz pela rede LAN, ou internet, pois


influenciam diretamente na qualidade final das transmissões e na largura de banda
utilizada por elas. De forma simplificada, o processo de comunicação se resume em:
1) Geração de uma idéia.
2) Descrição dessa idéia por um conjunto de símbolos.
3) Codificação destes símbolos na forma propícia à transmissão em
um meio físico disponível.
4) Transmissão desses símbolos codificados ao destino.
5) Decodificação e reprodução dos símbolos no destinatário.
6) Recriação da idéia transmitida com um mínimo de degradação, ou
ruído, possível.
Para que a comunicação seja bem sucedida, alguns requisitos
devem ser atendidos. Por exemplo, os símbolos utilizados para representar a idéia,
assim como a codificação desses símbolos, devem ser obrigatoriamente, conhecidos
pelo decodificador. Outro fator de fundamental importância é criar formas de
detecção de erros para garantir a integridade dos símbolos codificados e recebidos,
e se possível, formas de recuperação dos símbolos codificados que foram alterados
ou perdidos.

3.4.1 Codificação de Onda e Digitalização da Voz

O sinal da voz, que é um sinal analógico, para ser transmitido


através de uma rede por pacotes, precisa passar por um processo de digitalização,
realizado por algoritmos conhecidos como codecs. Esse processo de codificação
envolve uma transformação conhecida como conversão analógica digital ou
conversão A/D. Durante o processo de reprodução, deve ser adotada uma
transformação no sentido inverso, conhecida como conversão digital analógica, ou
conversão D/A.
O princípio de uma conversão A/D se resume em capturar amostras
da informação original em pequenos intervalos de tempo, criando uma
representação para cada uma das amostras com base em um código de
representação. Na conversão D/A, com base no mesmo código de representação,
cada amostra é restaurada ao formato original e reproduzida.
De acordo com o teorema de Nyquist, um sinal com banda passante
20

de N Hz, requer uma taxa de amostragem de 2N vezes por segundo para ser
recuperado. [Colcher, 2005]. Esse processo de amostragem no tempo, em que são
guardados os valores das amplitudes das amostras, é conhecido como Pulse
Amplitude Modulation, ou PAM.
Um método utilizado para representar as amplitudes dos pulsos
PAM é conhecido como quantização, em que cada amostra PAM é aproximada a um
inteiro de n bits. Esse método produz os pulsos PCM (Pulse Code Modulation).
Como a faixa de valores possíveis de um sinal analógico é muito grande, utiliza-se
um conjunto limitado de valores de quantização, os quais são usados para
representar cada uma das amostras. Quanto menor o número de valores de
quantização, maior será a perda sentida no sinal original. Na Figura 1 abaixo, o
valor de n é 3, dando origem a oito níveis (2³) de quantização. A saída PCM
corresponde ao resultado dessa quantização.

Figura 1 - Pulsos PAM e PCM


Fonte: Colcher, (2005, p.106)
21

A partir desse processo, é possível calcular a taxa gerada pela


transmissão de informação analógica através de sinais digitais. Por exemplo, para
voz, considerando que a banda passante necessária desses sinais tem largura igual
a 3.100 Hz, a taxa de amostragem de Nyquist é, neste caso 6.200 amostras por
segundo. Para facilitar a construção dos codecs, normalmente se amostra uma taxa
maior. Considerando uma taxa de 8.000 amostras por segundo e a codificação de
cada amostra for 8 bits, a taxa gerada será 8.000x8 = 64Kbps, que é a taxa definida
pelo padrão ITU-T G.711 para telefonia digital.

3.4.2 CODECs

A digitalização da voz, ou a conversão do som analógico para sinais


digitais é feita pelos codificadores-decodificadores chamados codecs
(enCOders/DECoders). Cada serviço, programa, telefone, gateway, equipamento
VoIP, suporta mais de um codec e negocia qual será utilizado durante a inicialização
das chamadas. Ao utilizar o VoIP, você deve escolher qual codec será utilizado na
comunicação. Essa escolha deve ser baseada em algumas premissas do seu
ambiente, como: tamanho de banda disponível, capacidade de processamento
necessária para realizar a digitalização da voz, quantidade de chamadas
simultâneas a serem executadas, entre outras não menos importantes.
Os codecs possuem características que influenciam diretamente na
qualidade do áudio da chamada. Quando se fala de ocupação de banda, por
exemplo, o codec G.711 utilizar 64Kbps de banda, isso significa que em cada pacote
de dados transmitido, 64Kb do pacote de rede estão ocupado apenas com o áudio
da chamada, ou seja, possui um payload de 64Kb.
22

3.4.2.1 Principais Características dos Codecs

 Taxa de bits (Codec Bit Rate) (Kbps): quantidade de bits por


segundo que precisam ser transmitidos para entregar um pacote
de voz.
 Intervalo de amostra (Codec Sample Interval) (ms): este é o
intervalo de amostra em que o Codec opera. Por exemplo, o
codec G.729 opera com um intervalo de amostra de 10ms.
 Tamanho da amostra (Codec Sample Size) (bytes):
quantidade de bits capturados em cada intervalo de amostra. Por
exemplo, o codec G.729ª opera com um intervalo de amostra de
10ms, correspondendo a 10bytes (80bits) por amostra, a uma
taxa de 8Kbps.
 Tamanho de payload de Voz (Voice Payload Size) (byte/ms):
representa a quantidade de bytes ou bits preenchidos em um
pacote de dados. O tamanho do payload de cada pacote
influencia diretamente o tamanho de banda a ser utilizado e o
delay da conversa, ou lag. Quanto maior o payload,
proporcionalmente menor a quantidade de pacotes a serem
transmitidos, mas, consequentemente, maior é a quantidade de
áudio necessária para compor cada pacote, exigindo menor
largura de banda nominal. Entretanto, ao utilizar valores de
payload maiores, automaticamente aumenta-se o lag, pois
quanto maior o pacote, maior o tempo para ele chegar ao seu
destino e ser decodificado. A maioria dos codecs utilizar valores
de payload entre 10 e 40ms.

Veja no Quadro 1 a seguir alguns codecs e suas principais


características.
23

Banda Payload Banda Nominal


Codec Comentários
(Kbps) (ms) (ms)
G.711 64 20 87.2 Baixa utilização de CPU.
Excelente utilização de banda e
G.729a 8 20 31.2
qualidade de voz.
G.723.1 5,3/6,3 30/30 20.8/21.9 Exige muito poder de processamento.
Baixo nível de compressão e de
G.726 24/32 20/20 47.2/55.2
utilização de processamento.
Mesma codificação dos telefones
GSM 13 30.1
celulares.
iLBC 13.33/15 30/20 27.7 Resistente a perda de pacotes.
Utiliza taxa de bit variável para
Speec 8/16/32
minimizar a utilização de banda.
Quadro 1 - Características dos principais Codecs
Fonte: Keller (2009, p. 82)

3.4.3 Padrões ITU-T para Voz

Com base nas técnicas apresentadas nas sessões anteriores, a ITU-


T especificou padrões recomendados para a codificação digital de voz, conforme
pode ser visto no Quadro 2 a segui:

Taxa de Recursos de Qualidade de


Atraso
Padrão Algoritmo Compressão Processamento Voz
Adicionado
(Kbps) Necessário Resultante
48, 56, 64 (sem
G.711 PCM Nenhum Excelente Nenhum
compressão)
64 (faixa
G.722 SBC/ADPCM passante de 50 Moderado Excelente Alto
a 7Khz)
Boa (6.3)
G.723 MP-MLQ 5.3,6.3 Moderado Moderada Alto
(5.3)
Boa (40)
Muito
G.726 ADPCM 16, 24, 32, 40 Baixo Moderada
Baixo
(24)
G.728 LD-CELP 16 Muito Alto Boa Baixo

G.729 CS-ACELP 8 Alto Boa Baixo


Quadro 2 - Padrões ITU-T para Voz
Fonte: Colcher (2005, p. 110)
24

3.4.4 Qualidade de Áudio em VoIP

O bom funcionamento do VoIP, isto é, chamadas com áudio


considerado com qualidade, é totalmente dependente de alguns elementos
considerados críticos. Como visto anteriormente, o áudio dentro da rede foi
digitalizado, comprimido e dividido em pacotes para a sua transmissão de um ponto
ao outro.
A tecnologia VoIP utiliza o protocolo UDP que não fornece um
mecanismo para assegurar que os pacotes de dados sejam entregues em ordem
sequencial, nem mesmo garantem a qualidade de serviço, dessa forma o requisito
mínimo para um serviço VoIP é qualidade na conexão com a Internet.
Quando os pacotes IP são perdidos ou atrasados em algum ponto
da rede, ocasionam uma queda momentânea da voz na conversação, conhecidas
como cortes ou picotes nas vozes. Os problemas mais comuns nas implementações
VoIP com a degradação da voz são: latência entre as redes, perda de pacotes, eco,
jitter (variações de atraso).
A principal causa de perda de pacotes é o congestionamento, que
pode ser controlado por gerenciadores de congestionamento de rede e as causas
comuns de eco incluem inconsistências de impedância em circuitos analógicos.
Alguns fatores que influenciam a qualidade das chamadas são:
 Perda de pacotes (Packet Loss): a perda de pacotes
normalmente é causada dentro dos roteadores que encaminham
os pacotes pela rede. Os motivos para a perda de pacotes são
vários, entre eles, o estouro de buffer em roteadores e switch
onde os pacotes são descartados na medida em que encontram
o buffer cheio. A perda de pacotes em VoIP é inaceitável. O limite
de perda de pacotes tolerável em uma chamada VoIP não deve
exceder 5%, afim de não prejudicar a qualidade da chamada.
 Delay: é o tempo decorrido desde a emissão do som na origem
da chamada até a chegada ao destino. Quanto maior o delay,
maiores as chances de a chamada ter sua qualidade prejudicada.
 Latência (Latency): é o tempo que um pacote de dados leva
para viajar dentro da rede desde a origem até o destino. A
latência adiciona delay à comunicação, ou seja, o período de
25

tempo que um equipamento de rede leva para processar o


pacote de dados antes de encaminhá-lo também adiciona delay;
cada roteador em média adiciona 10ms de delay à comunicação.
Em suma, enquanto a latência estiver abaixo de 250ms, a
comunicação não é prejudicada; acima de 250ms, o usuário vai
precisar aguardar antes de falar a próxima frase, já que pode
acontecer a sobreposição do áudio.
 Jitter: é a variação da latência. Devido ao excesso de tráfego ou
baixa largura de banda, o tempo de tráfego dos pacotes é
diferente, e quanto a maior variação do tempo de tráfego dos
pacotes, maior é o jitter. O excesso de jitter gera distorção no
áudio da chamada, desde um pequeno chiado até o
cancelamento da chamada em casos mais extremos.
 Eco: partindo do princípio de que em toda comunicação há o
retorno do áudio enviado, sempre ocorre eco em telefonia, seja
ela convencional ou VoIP. Na verdade, o retorno do áudio
sempre ocorre em uma velocidade rápida o bastante para que
nosso cérebro simplesmente o ignore, e não o percebamos.
Existem, entretanto, alguns fatores que aumentam o delay dos
pacotes e reduzem a velocidade de retorno do áudio, e passa-se
a ouvir a própria voz ao telefone, ou seja, o eco. Alguns dos
fatores que podem aumentar o delay na rede são: Softfones,
codecs, transcodificação de codecs, Gateways, roteadores,
switches, VPNs e velocidade de banda.
 Supressão de silencia (Voice Activity Detection – VAD): é
uma aplicação para detectar a ausência de som em uma
chamada, e assim, tornar o uso da banda mais inteligente, não
transmitindo pacote de áudio com silencia pela rede. VAD é
também utilizado para, ao detectar a ausência de som, enviar o
que chamamos de sons de conforto para que o ouvinte não
pense que a chamada foi interrompida.
26

3.5 QUALIDADE DE SERVIÇO (QOS)

Qualidade de serviço refere-se aos mecanismos de controle


utilizados para priorizar diferentes fluxos de dados dentro da rede, visando garantir
um nível de desempenho adequado para uma aplicação ou programa avançado. A
tecnologia QoS permite a alocação de prioridade para os pacotes de voz,
minimizando a sua perda (Packet Loss) e garantindo assim a qualidade do áudio
dentro da rede local. Em redes externas é impossível garantir o uso de QoS, já que
não é possível saber e/ou garantir que todos os roteadores e gateways no caminho
dos pacotes aceitarão as prioridades definidas. Todos os equipamentos, como
roteadores, switches e firewalls por que passarem os pacotes devem ter as mesmas
regras e prioridades de QoS configuradas para que o seu funcionamento esteja de
acordo com o desejado. Um detalhe importante é que a implementação de QoS não
aumentará a velocidade com que os pacotes trafegam, eles apenas prioriza e os
organiza.
Como mostra a Figura 2 a seguir, o principal objetivo do QoS é
priorizar o tráfego interativo sensível a retardo, em detrimento ao tráfego referente à
transferência de arquivo, que não é sensível a retardo.

Figura 2 - Modelo para QoS


Fonte: Odom (2008, p. 235)

A qualidade de serviço deve ser fim-a-fim, ou seja, considerando o


modelo acima, o tráfego tem que ser tratado inicialmente na rede local (Local Area
Network) de origem, depois no próprio roteador (controle de descarte de pacotes,
por exemplo), posteriormente nas conexões de longa distância (Wide Area Network)
e roteadores intermediários, no roteador destino, e finalmente na rede local destino.
27

3.6 MEDIDA DE QUALIDADE DE VOZ

A qualidade de um serviço de telefonia pode ser definida como a


medida qualitativa e quantitativa da clareza do som, do grau de interatividade das
chamadas e do desempenho da sinalização. Algumas recomendações para a
medida de qualidade de voz foram especificadas por órgãos de padronização. A
ITU-T especificou as Recomendações P.800 (ITU-T P.800), que define o método
MOS (Mean Opnion Score) dentre outros.
O método ITU-T P.800 MOS é um meio convencional de medir a
qualidade de voz com base em testes auditivos subjetivos. As medidas são
derivadas da avaliação de várias amostras de voz pré-selecionadas sobre meios de
transmissão diferentes, reproduzidas sobre condições controladas, para um grupo
de homens e mulheres que julgam a qualidade de voz das amostras com base em
uma escala numérica. Esse método produz uma pontuação de qualidade auditiva e
uma pontuação de esforço auditivo, ambos correlacionados à pontuação MOS,
mostrado no Quadro 3 a seguir.

Pontuação Qualidade Esforço


Descrição
(MOS) Auditiva Auditivo
Relaxação
5 Excelente Áudio perfeito
Completa
Áudio natural, como uma chamada Necessária
4 Bom
convencional Atenção
Comunicação possível, mas com certo Esforço
3 Razoável
esforço Moderado
Baixa qualidade com dificuldade de Esforço
2 Pobre
compreensão Considerável
Entendido
1 Ruim Chamada com áudio picotando
Sem Sentido
Quadro 3 - Pontuação de qualidade e de esforço auditivo do MOS
Fonte: Colcher (2005, p. 117)
28

Veja no Quadro 4 a seguir o valor MOS de alguns codecs utilizados


para a digitalização da voz:

Bitrate
Codec MOS
(Kbps)
G.711
64 4.3
(ISDN)
iLBC 15.2 4.14
AMR 12.2 4.14
G.723.1r63 6.3 3.9
GSM EFR 12.2 3.8
G.726
32 3.8
ADPCM
G.729a 8 3.7
G.723.1r53 5.3 3.65
GSM FR 12.2 3.5
LPC10 2.5 2.9
Speex 2.15 - 44.2 2.00 - 3.9
Quadro 4 - Valor MOS dos principais Codecs
Fonte: Keller (2009, p. 24)

3.7 PROTOCOLOS VOIP

As primeiras implementações VoIP eram somente proprietárias, e


com o passar do tempo as organizações como a Força Tarefa de Engenharia na
Internet (IETF) e do ITU-T estabeleceram protocolos e padrões para a utilização do
VoIP, possibilitando assim implantações de soluções abertas, independentes de
fabricante e possibilitando a integração com diversos serviços disponíveis nas redes
IP (Multirede, 2007).
A tecnologia VoIP utiliza diversos protocolos, que estão divididos basicamente
em duas categorias: protocolos de transporte e protocolos de sinalização.
Os protocolos de sinalização são responsáveis por determinar um padrão que
especifica o formato de dados e as regras a serem seguidas pelos dados trafegados
além de serem utilizados para estabelecer as conexões, determinar o destino e
também para questões relacionadas às sinalizações. Já os protocolos de transporte
tratam do transporte de mídias.
Os protocolos mais comumente usados são o SIP e o H.323.
29

Fundamentalmente ambos permitem aos usuários estabelecer uma comunicação


multimídia. O transporte da mídia entre os participantes da comunicação é feito por
um protocolo específico chamado RTP (Real-time Transport Protocol), responsável
pela negociação dos formatos da mídia a ser transferida.
Com o Asterisk, surgiu um novo protocolo também usado para a
comunicação multimídia, o IAX (Inter-Asterisk eXchange), criado inicialmente para o
estabelecimento de conexões entre servidores Asterisk, mas já usado também em
softfones, atas e gateways.

3.7.1 RTP

Ele é o responsável por fazer o transporte de rede fim a fim para aplicações
que transmitem dados em tempo real, como áudio, vídeo e dados de simulações,
através de serviços de rede unicast e multicast. Este protocolo não trata da reserva
de recursos e não garante QoS para serviços em tempo real.
Este protocolo pode ser utilizado nos seguintes casos:
 Número de sequência de timestamp: cada pacote RTP transporta
um número de sequência e um timestamp. Estas funções podem ser
utilizadas das mais variadas formas, dependendo da aplicação. Em
uma aplicação de vídeo, a partir do timestamp é possível deduzir
imediatamente qual parte da tela é descrita pelo pacote IP,
independente de sua sequência. Já nas aplicações de áudio, não se
pode fazer o mesmo, pois não seria possível a compreensão da fala
um vez fora de ordem. Neste caso, o número de sequência e o
timestamp seriam utilizados para gerenciar um buffer de recepção.

 Tipo de Payload: o payload de cada pacote RTP é uma informação


em tempo real contida em cada pacote. Seu formato é completamente
livre e deve ser definido pela aplicação ou pelo perfil do RTP em uso.
30

3.7.2 RTCP

Este protocolo permite o monitoramento da entrega de dados de


forma escalável em redes multicast e oferece algumas funcionalidades de controle e
identificação.
Tanto o RTP quanto o RTCP foram elaborados para serem
independentes da camada de transporte subjacente e das camadas de rede. A
função do protocolo subjacente é prover uma multiplexação adequada para os
pacotes de dados e controle. Em redes IP, é tipicamente utilizada a multiplexação
fornecida pelas portas UDP.
Na figura a seguir temos o diagrama de como ocorre o processo de
multiplexação RTP/RTCP em redes IP, a mídia através do protocolo RTP envia os
pacotes para mídia RTP requisitante através da sessão RTP, enquanto ao mesmo
tempo o protocolo RTCP garante o monitoramento da entrega dos dados .

Figura 3 - Multiplexação RTP/RTCP em redes IP


Fonte: Colcher (2005, p.141)

3.7.3 Recomendação H. 323

A recomendação H.323 foi definida pela ITU-T e especifica sistemas


de comunicação multimídia em redes comutadas por pacotes que não provêm uma
qualidade de garantida. Esta recomendação define os componentes presentes em
um sistema H.323, além dos fluxos de informações previstos entre esses
componentes. A Recomendação H.323 indica também os protocolos usados no
transporte desses fluxos. Tais protocolos operam nos níveis de sessão,
31

apresentação e aplicação do modelo OSI, necessitando, portanto, que a rede


comutada por pacotes em uso ofereça serviços de entrega fim a fim de nível de
transporte.
O escopo da Recomendação H.323 é extensa e flexível e pode
ser sumariado nas seguintes categorias:
• Suporte a conferência ponto a ponto e multiponto: chamadas
H.323 podem ser estabelecidas entre dois ou mais usuários sem nenhum
equipamento ou software de comunicação multiponto específico. No entanto, uma
unidade de controle multiponto (Multipoint Control Unit - MCU) pode ser usada para
oferecer um serviço centralizado de controle para estabelecimento de chamadas
H.323 multiponto.
• Heterogeneidade: um equipamento em um sistema H.323 deve
dar suporte obrigatório á comunicação de áudio. O suporte a vídeo, dados textuais e
imagens estáticas são recursos opcionais. Durante o estabelecimento de uma
chamada H.323, a capacidade dos equipamentos é trocada entre eles e a
comunicação é estabelecida com base no menor denominador comum entra essas
capacidades.
• Suporte a contabilidade e gerência: a recomendação H.323
provê mecanismos que permitem a delimitação do número de chamadas
simultâneas e da largura de banda utilizada para aplicações H.323. Além disso,
possibilita a contabilização dos recursos de rede utilizados, podendo ser usada na
tarifação dos serviços.
• Segurança: a recomendação H.323 prevê suporte à autenticação
de usuários, à confidencialidade e não repúdio da informação trocada entre os
participantes de uma chamada.
• Serviços Suplementares: a recomendação H.323 permite a
elaboração e o desenvolvimento de serviços adicionais, tais como chamada em
espera e identificação da chamada.

3.7.3.1 Componentes da Arquitetura H.323

A Figura 4 abaixo mostra a organização lógica típica de um sistema


baseado na H.323. Quatro componentes principais podem ser destacados, onde tais
componentes podem coexistir em um mesmo equipamento.
32

Figura 4 - Organização Típica de um sistema H.323


Fonte: Colche (2005, p. 159)

 Terminais: São fontes ou destinos de fluxo de informação de um


sistema H.323, como telefone IP e softfone.
 Gateways: Um gateway é ao mesmo tempo de mídia e de sinalização.
São necessários quando se deseja estabelecer uma comunicação
entre terminais em diferentes tipos de redes e protocolos diferentes,
como uma comunicação entre terminais H. 323 e H.3xx, ou em uma
comunicação H.323 e aparelhos em uma rede telefônica comutada por
circuitos. Para isso, o gateway faz a conversão do formato de
codificação de mídias e a tradução dos procedimentos de
estabelecimento e encerramento de chamadas.
 Gatekeepers: Gatekeeper é um gateway de gerência. É um
componente opcional, entretanto, sua utilização permite o controle
centralizado do sistema. Dentre suas funções incluem o controle de
admissão de chamadas, a gerência de banda passante usada pelo
sistema H.323 na rede comutada por pacotes e a tradução entre
endereços dessa rede.
33

 Unidades de Controle Multiponto (MCUs): São componentes


opcionais. Uma MCU suporta conferências entre três ou mais
participantes e consiste de um controlador multiponto (Multipoint
Controller – MC) e zero ou mais processadores multipontos (Multipoint
Processors – MPs). O MC controla o processo de negociação de
parâmetros em uma chamada multiponto. Os MPs são responsáveis
por encaminhar os fluxos de informações (áudio, vídeo, texto e imagem
estática) entre os participantes de uma conferência. Além disso,
possibilitam o processamento desses fluxos, podendo, por exemplo,
mesclar dois fluxos de áudio gerados por participantes distintos em um
único fluxo para que o mesmo possa ser distribuído para os demais
participantes de uma conferência.

3.7.3.2 Padrões Referenciados na Recomendação H.323

A recomendação H.323 depende de um conjunto de outros padrões


e recomendações. Os padrões no Quadro 5 a seguir especificam os principais
serviços, protocolos e procedimentos adotados em sistemas H.323.
PADRÕES DESCRIÇÃO
T.38
T.120 Transporte de dados (texto, imagem, fax, sinais de modem).
V.150.1
RTP
RTCP Transporte de áudio e vídeo.
(IETF)
H.245
Protocolos de controle e sinalização.
H.255.0
H.246
Interoperabilidade com redes telefônicas comutadas por circuito.
H.248
H.235 Segurança em sistemas baseados no protocolo de controle H.245.

H.450.x Serviços suplementares.

H.460.x Extensões aos serviços de sinalização do protocolo H.255.0


H.501
Gerência e segurança de usuários, terminais e serviços em
H.510
ambientes móveis.
H.530
Quadro 5 - Padrões referenciados na Recomendação H. 323
Fonte: Colcher (2005, p. 162)
34

3.7.4 SIP

O protocolo SIP (Session Initiation Protocol), definido pela IETF, é


um protocolo de sinalização que atua no nível de aplicação da camada do modelo
OSI. É responsável por negociar os termos e as condições de uma sessão, definindo
os tipos de mídias e os padrões de codificação utilizados na sessão, além de auxiliar
na localização dos participantes da chamada.
Ao contrário da Recomendação H.323, o SIP não é um sistema
verticalmente integrado. O SIP é um elemento que pode ser usado em conjunto com
outros protocolos e componentes na construção de uma arquitetura multimídia
completa.
Em geral, o SIP é utilizado em conjunto com outros protocolos,
também definidos pelo IETF, tais como:
• RTP e RTCP: São usados para transporte de dados em tempo real
e para prover informações sobre Qualidade de Serviço (QoS).
• RTSP (Real-time Streaming Protocol): Protocolo utilizado para o
controle e a entrega de fluxos de distribuição de mídia em tempo real.
• MGCP (Media Gateway and Control Protocol): Protocolo
utilizado para controle de gateways de mídia.
• SDP (Session Description Protocol): Protocolo que específica o
formato para a descrição das informações em sessões multimídia.
Outros protocolos podem ser utilizados em conjunto com o SIP para
prover serviços especializados aos usuários.
Independente da necessidade de outros protocolos para viabilizar a
comunicação entre os participantes de uma mesma sessão, o SIP oferece primitivas
que podem ser utilizadas para estabelecer, modificar e terminar uma sessão. Assim,
o tratamento da sinalização de uma comunicação é independente do tratamento do
transporte de mídias.
35

3.7.4.1 Componentes de uma Arquitetura SIP

A especificação do SIP define os componentes da arquitetura de


sinalização como cliente e servidores:

• Agente Usuário (UA – User Agent): é formado por uma parte


cliente (UAC – User Agent Client), que efetua requisições SIP, e uma parte servidor
(UAS – User Agent Server), responsável por receber e responder as requisições;
• Servidor Proxy (Proxy Server): atua como um servidor e como
um cliente, ou seja, se comporte como intermediador de outros clientes que não
podem fazer as requisições diretamente;
• Servidor de redirecionamento (Redirect Server): permite o
mapeamento de um endereço em zero ou mais novos endereços associados a um
cliente. Ou seja, fornece informações ao Agente Usuário sobre o endereço do
servidor para que ele possa conectar diretamente;
• Servidor de registro (Register Server): trabalha em conjunto com
o servidor de redirecionamento e o servidor Proxy para armazenar informações
sobre a localização de um terminal.
Essa existência de cliente e servidor no mesmo agente usuário SIP
permite a comunicação peer-to-peer (P2P) com outros agentes sem a necessidade
de utilizar servidores. O agente SIP é normalmente implementado em telefones IP,
softfones ou adaptadores de telefones analógicos (ATA – Analog Telephone
Adaptor).
Os demais componentes da arquitetura assumem papéis
fundamentais quando o escopo aumenta para sistemas de telefonia baseados em
SIP.

3.7.4.2 Mensagens SIP

As mensagens SIP podem ser de requisições ou respostas. Como o


protocolo é baseado em texto, essas mensagens são construídas com base no
conjunto de caracteres UTF-8 (Universal Transformation Format), similar aos
protocolos HTTP (Hyper Text Transfer Protocol) e SMTP (Simple Mail Transfer
Protocol), e devem obedecer a regra de formação do Quadro 6 abaixo.
36

linha-de-requisição ou linha-de-status
cabeçalho
<linha em brando>
corpo-da-mensagem
Quadro 6 - Regra de Formação de Mensagem SIP
Fonte: Colcher (2005, p. 191)

O formato de uma mensagem de requisição SIP é caracterizado pela


utilização de uma linha de requisição como uma linha de início. Cada linha de
requisição é formada por um método - tipo de operação e requisição, um endereço e
a identificação da versão SIP utilizada. No Quadro 7 abaixo, são especificados os
seis métodos para a versão 2 do SIP.

MÉTODO FUNCIONALIDADE

INVITE Convida um indivíduo para participar de uma sessão.

Confirma o recebimento de uma resposta final para uma


ACK
requisição INVITE.
BYE Solicita o término de uma sessão.
Solicita que uma prévia requisição seja cancelada, sendo
CANCEL
diferente do BYE.
REGISTER Registra a informação de contato do indivíduo.

OPTIONS Consulta servidores com respeito a suas capacidades.


Quadro 7 - Métodos de requisições e respectivas funcionalidades no SIP/2.0
Fonte: Colcher (2005, p.192)

Para as mensagens de respostas, o formato é caracterizado pela


utilização de uma linha de status como uma linha de início. Cada linha de status é
formada pela identificação da versão SIP atualizada, um código de status numérico e
sua frase textual correspondente. O Quadro 8 abaixo especifica as seis classes de
respostas representadas pelo primeiro dígito do código de status numérico. Os
outros dois dígitos não representam nem caracterizam nenhum tipo de categoria.
37

CLASSE FUNCIONABILIDADE EXEMPLO

1xx Resposta Informativa 180 Ringing

2xx Resposta de Sucesso 200 OK

3xx Resposta de Redirecionamento 302 Moved Temporarily

4xx Resposta de Falha de Requisição 404 Not Found

5xx Resposta de Falha em Servidor 503 Service Unavaible

6xx Resposta de Falha Global 600 Busy Everywhere


Quadro 8 - Classes de resposta e respectivas funcionalidades no SIP/2.0
Fonte: Colcher (2005, p. 192)

3.7.4.3 Modos de Comunicação

Com a arquitetura SIP, há dois tipos modos de comunicação


possíveis. O modo direto é conhecido como peer-to-peer (P2P) e permite que um
agente SIP envie requisições diretamente para outro agente. O modo indireto é feito
via servidor Proxy e requer a presença de outros servidores de apoio que integram a
infraestrutura de um sistema de telefonia baseado em SIP.
A comunicação P2P é o modo mais simples e direto de negociar
uma sessão entre agentes SIP. O agente cliente (UAC) de um participante troca
mensagens SIP com o agente servidor (UAS) do outro e vice-versa. Assim, os
parâmetros da sessão são negociados e a comunicação de voz estabelecida. A
Figura 5 a seguir apresenta um exemplo do processo de sinalização e comunicação
direta entre agentes SIP.
38

Figura 5 - Exemplo de fluxo de sinalização em comunicação peer-to-peer


Fonte: Colcher (2005, p. 207)

Já a forma de comunicação via Proxy, é a forma tradicional de


comunicação em um sistema de telefonia baseado em SIP. Neste modo indireto, o
agente envia as mensagens de sinalização para o servidor Proxy, responsável por
encaminhar as mensagens adequadamente e controlar a entrada e a saída de
mensagens no sistema.
Muitas vezes, o servidor Proxy encontra-se integrado com os
servidores de registro e redirecionamento. Assim, um dos objetivos é proteger esses
outros servidores de acessos diretos possibilitando que esquemas de autenticação
bastante elaborados sejam adotados para permitir ou não o acesso de agentes aos
outros servidores.
39

Figura 6 - Exemplo de fluxo de sinalização via Proxy


Fonte: Colcher (2005. p. 212)

3.7.5 IAX/IAX2

O protocolo IAX, acrônimo para Inter Asterisk eXchange, foi


desenvolvido pela Digium com o propósito de se comunicar com outros servidores
Asterisk. É um protocolo de transporte que utiliza uma porta simples UDP (4569)
tanto para o fluxo de sinalização de canal como para o de Protocolo de Transporte
de Tempo Real (RTP), fazendo com que seja uma alternativa a outros protocolos
VoIP, como H.323 e SIP. O IAX ainda não é um padrão, e sim o resultado de um
esforço conjunto da comunidade de software livre.
O protocolo IAX foi deliberadamente projetado para funcionar por
trás de dispositivos que executem o NAT. O uso de uma simples porta UDP tanto
para sinalizar quanto para a transmissão da mídia mantém o número de furos e
exceções necessários em seu firewall num mínimo. Essas considerações tem
ajudado a fazer o IAX um dos mais fáceis protocolos para se implementar em redes
seguras.
40

O IAX tem também a exclusiva habilidade de fazer tronco de


sessões múltiplas em um fluxo de dados, o que pode ser uma tremenda vantagem
em termos de largura de banda ao enviar muitos canais simultâneos para um
servidor remoto. O tronco permite que múltiplos fluxos de dados sejam
representados por meio de um único cabeçalho de datagrama para reduzir o custo
indireto associado a canais individuais. Isso ajuda a reduzir o tempo de resposta e a
potência de processamento e largura de banda necessários, permitindo que o
protocolo opere muito mais facilmente com grande número de canais ativos entre
terminais.
A Figura 7 a seguir mostra o fluxo básico para o estabelecimento de
uma chamada utilizando IAX até a sua finalização. Neste caso, o agente A envia
uma mensagem de requisição de chamada (NEW) para o agente B, que responde
informando que aceitou (ACCEPT) e o agente A informa que recebeu a mensagem
(ACK). O agente B informa que está chamando (RINGING) e o agente A informa
novamente que recebeu a mensagem (ACK). Quando a chamada é atendida, o
agente B informa ao agente A (ANSWER), que informa que recebeu a mensagem
(ACK). A chamada, então, é estabelecida até que um dos agentes desligue. Neste
caso, o agente A desliga e envia uma mensagem para o agente B (HANGUP), que
informa que recebeu a mensagem (ACK) encerrando a chamada.

Figura 7 - Exemplo de fluxo para estabelecimento de uma chamada IAX


Fonte: Keller (2009, p. 107)

O IAX utiliza um número de 15 bits para identificar o número da


chamada a fim de controlar os múltiplos fluxos de mídia na mesma porta UDP entre
41

dois nós, conforme Figura 8.

Figura 8 - Chamadas multiplexadas por apenas uma porta UDP


Fonte: Keller (2009, p. 65)

Veja no Quadro 9 a seguir algumas características dos protocolos


SIP e IAX2.

Protocolo Características
Aberto e padronizado pela IETF (rfc3261).
Forte adoção pelo mercado
SIP Por utilizar duas portas de comunicação, uma para sinalização (UDP
5060) e outr para o tráfedo da mídia (RTP), o SIP apresenta algumas
dificuldades e problemas na sua configuração quando há NAT (Network
Adess Translation) envolvido.
Aberto, mas proprietário da Digium, ou seja, ainda depende da
padronização pela IETF
Ainda tem pouca adoção no mercado
IAX2
Utilizar uma porta única (UDP 4569), tanto para sinalização quanto para
o tráfego de mídia, eliminando qualquer problema existente na
comunicação, no caso de haver NAT envolvido.
Quadro 9 - Resumo das características dos protocolos SIP e IAX2
Fonte: Keller (2009, p. 26)
42

3.8 ASTERISK

O Asterisk é a implementação de uma central telefônica PBX


(Private Branch eXchange) em software. Criado por Mark Spencer em dezembro de
1999 e distribuído livremente pela Digium, seguindo a licença GPL (General Public
License). O nome Asterisk vem do símbolo ‘*’, muito comum no mundo da telefonia.
Por meio da sua distribuição GPL, centenas de programadores
contribuíram e contribuem para o desenvolvimento do produto, seja adicionando
novas funcionalidade, seja testando e reportando eventuais falhas do sistema.
O Asterisk foi originalmente desenvolvido para Linux, mas
atualmente pode ser instalado e executado em uma grande variedade de sistemas
operacionais, incluindo NetBSD, OpenBSD, FreeBSD, Mac OS, Solaris e até mesmo
Windows, no qual é conhecido por AsteriskWin32.
Abaixo informações e estatísticas interessantes sobre o Asterisk:
 Mais de 1.000.000 de downloads em 2007;
 Mais de 1.500.000 de downloads em 2008;
 Mais de quatro milhões de servidores instalados rodando
Asterisk;
 Aproximadamente 56.000 fóruns ativos;
 Mais de 17.700 listas de discussão sobre Asterisk;
 Aproximadamente 400 colaboradores ativos no projeto;
 Mais de 200 provedores VoIP em todo o mundo usando Asterisk.
Fonte: Keller (2009, p. 18)

3.8.1 Características do Asterisk

O Asterisk é um software baseado na licença GPL que executa todas as


funções de uma central telefônica convencional utilizando as principais tecnologias
de comunicação existentes no mercado: linhas telefônicas analógicas, links de
telefonia digital via placas de comunicação TDM (Time-Division Multiplexing). Para
por telefones comuns para um servidor Linux funcionando com Asterisk, ou conectar
com o Backbone PSTN, o servidor precisa ter hardware especial. São as placas PCI
usadas para colocar telefones, linhas T1 e E1, e outros telefones digitais ou
43

analógicos.
Asterisk também suporta uma grande variedade de protocolos VoIP, incluindo
SIP, H.323 entre outros. Asterisk opera com muitos telefones SIP, agindo como
registrador e um gateway entre telefone IP e a rede PSTN.
Pode-se afirmar que o Asterisk possui todas as funcionalidades das
chamadas centras telefônicas convencionais proprietárias, como URAs, correio de
voz, conferência, distribuição automática de chamadas, entre outras, e, caso seja
necessário, é possível acrescentar novas funcionalidades ao sistema pelo próprio
plano de discagem do Asterisk, módulos customizados escritos em linguagem C ou
ainda por meio se scripts escritos em AGI (Asterisk Gateway Interface).
Veja na Figura 9 abaixo o diagrama de funcionamento dos módulos
e APIs (Application Programming Interface) que formam o Asterisk.

Figura 9 - Módulos e APIs do Asterisk


Fonte: Keller (2009, p. 28)

3.8.2 Arquitetura do Asterisk

A arquitetura do Asterisk é fundamentalmente muito simples, mas


difere de alguns produtos de telefonia existentes. Essencialmente o Asterisk atua
como um middleware, conectando tecnologias de telefonia no nível mais baixo até
softwares de telefonia no nível mais alto, criando um ambiente consistente para
construir um ambiente misto de telefonia.
Asterisk é projetado especialmente para flexibilizações. APIs
44

específicas são definidas pelas configurações avançadas no sistema núcleo PBX. A


configuração avançada principal permite interconexão entre PBXs, retirando-se
abstrações para protocolos específicos, codecs, e interfaces de hardware e
tecnologia disponível atualmente ou para suportar outras no futuro. (MONASSA,
2007)
Quatro APIs foram definidas para personalização do protocolo. A
explicação de cada API segue abaixo:
 API de Canal: Configura o tipo de conexão que um usuário está
recebendo. Esta pode ser uma conexão VoIP, ISDN ou outras
tecnologias.

 API de Aplicação: Permite que várias tarefas sejam feitas para


suportar diversas funções. Conferência, mensagem de voz,
transmissão de dados, e outras que podem ser suportadas no futuro
pelo Asterisk.

 API de Tradução de Codecs: Permitem que vários tipos de áudio


digital sejam suportados tais como GSM e MP3.

 API de Formato de Arquivos: Manipulam a leitura e escrita de vários


formatos de arquivos para o armazenamento de dados do sistema,
como os de registro de ligações, usuários cadastrados.

Usando essas APIs, Asterisk integra uma abstração completa entre


suas funções principais de PBX com as mais variadas possibilidades de tecnologias
existentes na área de telecomunicações. Permite também integrar os atuais
hardwares de telefonia com a crescente tecnologia de pacotes de voz. As
habilidades de carregar módulos de codecs permitem ao Asterisk suportar tanto
codecs extremamente compactos necessários para conexões com pouca banda,
assim como aquelas de banda larga, que fornecem áudio de alta qualidade.
(MONASSA, 2007)
Toda chamada processada por um servidor Asterisk segue o mesmo
procedimento: um cliente envia uma sequência de caracteres para o servidor, o qual
autentica o cliente e então busca por uma regra equivalente aos caracteres
recebidos dos grupos de regras associado a este cliente. Somente então é
executada a aplicação especificada na regra, e a chamada é completada, como
45

mostra a figura abaixo:

Figura 10 - Diagrama de uma chamada Asterisk


Fonte: Keller (2009, p. 29)

3.8.3 Pacotes que Compõe o Asterisk

O Asterisk é composto por quatro módulos:


 Asterisk: Contém aplicações, funções, canais de comunicação e todas
as funcionalidades que forma o Asterisk. É o software propriamente
dito.
 Asterisk-AddOns: São os módulos adicionais ao Asterisk. Todas as
aplicações e funcionalidades que não seguem a licença GPL, como as
funções de conectividade com o servidor MySQL, formato de áudio
MP3 e o canal de comunicação para o protocolo H.323
 LibPRI: Biblioteca responsável pela sinalização ISDN/PRI. Só precisa
ser compilado e instalado em caso de instalação de uma placa E1/T1.
 Zaptel/DAHDI: Contém os drivers para todas as placas de
comunicação da Digium, ou seus clones. Desde agosto de 2008, o
Zaptel foi renomeado para DAHDI (Digium Asterisk Hardware Device
Interface) em decorrência de problemas com a patente do nome
Zaptel.
46

3.8.4 Hardware para Asterisk

Existem diversos equipamentos projetados para serem instalados


em um servidor rodando Asterisk, permitindo conectividade entre linhas analógicas e
digitais, ou até mesmo appliances com soluções completas para uma central PBX
Asterisk, conforme descritos a seguir.

3.8.4.1 Appliances

Os appliances são multifuncionais que possuem PBX Asterisk embutidos.


Funciona também como Conversores ATA, e Gateway de VoIP, assim permite a
integração com sistemas VoIP ou somente os sistemas de telefonia fixa. Possuem
ainda software Asterisk embutido para configurações personalizadas.
Na Figura 11 abaixo temos um exemplo de um appliance com Asterisk, onde
a partir dele é possível fazer interconexões tanto de VoIP para PSTN quanto de
PSTN para VoIP utilizando uma operadora VoIP.

Figura 11 - Cenário de uso de um Appliance


Fonte: Monassa (2007, p. 52)
47

3.8.4.2 Processador de Voz

Os processadores de voz servem para diminuir o tempo de codificação e


decodificação que normalmente é alto na CPU de servidores. O Asterisk tem a
capacidade de transformar diversos formatos de áudio em codecs, só que essa
tradução é mais rápida quando é feita por hardware dedicado e assim não gastam
tempo de CPU do servidor. O processador de voz da Digium, mostrado abaixo,
funciona atrelado a uma placa PCI do servidor. Na Figura 12 temos a foto de um
processador de voz.

Figura 12 - Processador de voz


Fonte: Digium (2008)

3.8.4.3 Placas de Conexão de Linha

Da mesma forma que o appliances, as placas de conexão de linhas


interconectam tanto linhas do tipo T1 quanto linhas digitais. Servem também para
interconectar telefones VoIP e telefone tradicionais. A imagem abaixo mostra uma
placa de telefonia analógica com 4 canais FXS e FXO.

Figura 13 - Placa de telefonia analógica da Digium


Fonte: Digium (2007)
48

Na Figura 14 abaixo, observa-se uma placa de 30 canais digitais no


padrão E1/ISDN, podendo ser conectada de forma digital ao PABX ou ao PSTN.

Figura 14 - Placa de telefonia digital da Digium


Fonte: Digium, (2007)

Também é possível interligar o Asterisk através de interfaces E1, na


Figura 15 a seguir observa-se uma placa da DigiVoice, onde possui 2 portas E1 com
até 60 canais digitais com DSP integrado.

Figura 15 - Placa de telefonia digital da DigiVoice modelo VB6060-PCI


Fonte: DigiVoice (2007)

3.8.5 Trixbox

O Trixbox é uma central de telefonia lançada pela empresa de telefonia IP


Fonality, sediada em Los Angeles. O Trixbox foi feito para trabalhar com o software
Asterisk PBX. Projetada para pequenas e médias empresas que desejem implantar
sistema de telefonia próprio, ele inclui características como mensagem de voz,
49

música de espera, fila de espera, suporte a linhas analógicas ou circuitos de T1/E1


que necessitem de alta densidade.
Com o Trixbox é possível realizar chamadas telefônicas com custo zero, caso
a ligação seja entre agentes VoIP. A central não possui custo de licenciamento e
permite a customização de acordo com as necessidades de cada implementação, a
solução garante a integração de telefonia convencional, móvel e VoIP.
Neste trabalho o Trixbox foi utilizado no servidor para autenticação e
gerenciamento das chamadas, onde os Agentes SIP ficaram cadastrados com seus
respectivos logins e senhas, e também como base para utilização do Asterisk uma
vez que este já vem acoplado ao Trixbox junto com vários outros softwares de PBX.

3.8.5.1 Arquitetura

A administração é feita por interface web, nela é possível fazer gerenciamento


das ligações como configurar novos ramais, gravação de conversas, siga-me
(serviço de redirecionamento de chamadas), adicionar novas linhas, respostas de
voz entre outros.
Com capacidade para o suporte de várias linguagens, a versão 2.0 garante
estabilidade e permite o suporte a diversos fabricantes de hardware. Pacotes e
aplicações, incluindo o Apache, uma versão aprimorada do Asterisk, FreePBX, Flash
Operator Panel, MySQL, phpMyAdmin e SugarCRM podem integrar o Trixbox.
O Trixbox suporta diversos codecs de áudio como o G.711, G.722, G.723.1,
G.726, G.729, entre outros. Da mesma forma suporta diversos protocolos como o
IAX, H.323, SIP, entre outros.(MONASSA, 2007)
50

4 ESTUDO DE CASO

O objetivo deste estudo é demonstrar uma pequena rede SOHO com


computadores clientes e um servidor rodando o Asterisk com o Trixbox. Os
computadores clientes serviram como ramais, utilizando-se de softfones
configurados para se registrarem com o servidor Asterisk.
Com isso, os ramais podem se comunicar entre si através da rede local (LAN)
sem custos, e também podem fazer chamadas para telefones convencionais, móvel
ou VoIP com custos reduzidos utilizando-se de uma operadora VoIP.

4.1 CENÁRIO

O cenário foi projetado e pensado para uma rede com 4


computadores clientes e 1 servidor que estavam todos na mesma rede conectados
por um roteador WiFi da Cisco em um ambiente NAT. Este roteador estava
conectado em cascata com outro roteador da operadora de internet, o qual era o
gateway de saída para a rede externa. Para a conexão com a internet, foi utilizado
um link da GVT de 10Mbps de download e 1Mbps de upload. A seguir as
especificações completas dos equipamentos:
 2 computadores desktops como clientes e agentes SIP, rodando
com o Windows 7 (Versão 6.1.7600) e o softfone X-lite 4.0. Ambos os
computadores possuem 4GB de memória DDR2 400Mhz e um
processador Quad-Core de 3Ghz.
 2 computadores Notebooks como clientes e agentes SIP, rodando
com o Windows 7 (Versão 6.1.7600) e o softfone X-lite versão 4.0.
Ambos os computadores possuem 4GB de memória DDR2 400Mhz e
um processador Dual Core de 2.2 Ghz.
 1 computador servidor utilizando CentOS e o Trixbox 2.8.0.4. O
servidor possui 1GB de memória DDR 400Mhz, e um processador
AMD de 2 Ghz.
 1 roteador switch 4 portas Cisco modelo WRT54G2 Versão 1.2

 1 roteador Thomsom TG508 Versão 6.10.4.2 para conexão com a


Internet.
51

A Figura 16 abaixo ilustra a topologia do estudo de caso.

Figura 16 - Topologia do estudo de caso


Fonte: O Autor (2011)

Neste cenário temos os agentes realizando a autenticação no


Asterisk para efetuarem chamadas locais e através de um tronco configurado com
uma operadora VoIP para as chamadas pela rede externa. Nos tópicos a seguir,
serão detalhados o processo de instalação, configuração dos ramais, do tronco no
servidor Asterisk e nos computadores clientes.

4.2 INSTALAÇÃO DO TRIXBOX

O primeiro passo para a implantação do ambiente Asterisk, foi a


instalação do Trixbox no servidor. Os passos usados para a instalação estão
descritos à seguir:
1) Download do arquivo de imagem do Trixbox, que pode ser
baixado pelo site da Fonality.
2) Gravar o arquivo de imagem em um CD ou DVD como arquivo de
52

imagem, e não como CD de dados.


3) Configurar a BIOS do servidor para dar boot a partir do driver de
CD-ROM ou DVD-ROM.
4) Inserir o CD ou DVD gravado e seguir as instruções na tela.

Figura 17 - Tela Inicial da instalação do Trixbox


Fonte: O Autor (2011)

Depois de alguns minutos após pressionar o ENTER inicial, foi


necessário selecionar o tipo de teclado e o fuso horário, além de digitar a senha do
root do sistema. Em seguida o HD foi formatado e diversos arquivos foram
instalados. Após finalizado, os seguintes produtos foram instalados no sistema:
 CentOS: O sistema operacional Linux;
 Asterisk: O PABX IP de código livre;
 freePBX: Interface WEB para configurar o Asterisk;
 SugarCRM: Para gerenciamento de contatos e clientes;
 A2Billing: Sistema de tarifação;
 FOP (Flash Operator Panel): Painel de gerenciamento das
ligações;
 Web Meet Me Control: Para gerenciar as conferências;
 Asterisk-Stat: Gera relatórios das ligações efetuadas (CDR);
 mySQL, Apache, PHP e outras bibliotecas.
53

Figura 18 - CentOS Linux sendo carregado com o Trixbox


Fonte: O Autor (2011)

4.3 CONFIGURAÇÃO DO ASTERISK

Com o Trixbox instalado, iniciou-se o processo de configuração do


servidor, como IP, troncos de saída e entrada além dos ramais dos agentes.

4.3.1 Configurando o Endereço IP do Trixbox

Apesar de o servidor Asterisk estar ligado em um roteador com


DHCP ativado, foi configurado um endereço IP estático no servidor para um melhor
gerenciamento da rede, e também para deixar o servidor em uma zona
desmilitarizada (DMZ), ou seja, como os servidores e os clientes estão em um
ambiente NAT através de 2 roteadores em cascata, o DMZ permite que 1
computador da rede local receba o IP público da operadora. Para mudar o endereço
IP foi usado o seguinte comando no Asterisk:

system-config-network
54

Após configurado, bastou reiniciar a interface ethernet com o


seguinte comando para que o roteador atribuísse o novo IP ao servidor:

/etc/init.d/network restart

Figura 19 - Configurando endereço IP no Trixbox


Fonte: O Autor (2011)

4.3.2 Utilizando o freePBX para Configurar o Trixbox

O freePBX é uma interface gráfica para a configuração do Asterisk.


Esta interface oferece facilidade e simplicidade para a configuração de ramais e
trunks, além de permitir a visualização gráfica dos recursos do servidor, como
memória, chamadas dentre outros. Ao entrar na interface do freePBX os seguintes
recursos estão disponíveis:

 Extensions – Manutenção dos ramais e correio de voz


 Trunks – Configuração de troncos para conectar-se com outros
sistemas
 Outbound Routes – Gerencia quais troncos devem ser utilizados
55

para realizar chamadas


 Inboud Routes – Especifica o destino das chamadas recebidas
pelos troncos
 DID Routes – Especifica o destino das chamadas identificadas (DID)
 Digital Receptionist – Definição da URA (Unidade de Resposta
Audível)
 Queues – Gerenciamento de filas para atendimento
 On Hold Music – Configuração da música de espera
 System Recordings – Para gravação das mensagens do sistema
 Backup and Restore – Para realizar backup e restauração
 General Settings – Configuração dos parâmetros gerais do sistema.

Para abrir a interface gráfica do freePBX, basta digitar o endereço IP


do servidor em qualquer computador na mesma rede. No caso, foi utilizado um dos
computadores Agentes, e o IP digitado foi o 192.168.0.10.

Figura 20 - Tela de administração do Trixbox


Fonte: O Autor (2011)
56

4.3.2.1 Configurando os Ramais (Extensões)

Para a configuração dos ramais dos agentes clientes, foi necessário


entrar no menu PBX e selecionar a opção PBX Settings. No menu do lado esquerdo,
foi selecionado a opção Extensions. Após clicado nesta opção, foi necessário
escolher o protocolo a ser utilizado pelo softfone ou por um telefone IP. Devido à
facilidade e praticidade do protocolo SIP, conforme descrito na sessão protocolos
deste trabalho, todos os Agentes operaram com este protocolo.

Figura 21 - Definindo protocolo utilizado pelo dispositivo


Fonte: O Autor (2011)

Depois de selecionado o protocolo SIP, foi necessário configurar


alguns parâmetros. Apesar de existir diversos parâmetros somente alguns são
fundamentais, conforme descrito a seguir:
 User Extension – Número do ramal
 Display Name – Usuário do ramal
57

 Secret – Senha do ramal

No Trixbox existem muitas faixas reservadas e não devem ser


utilizadas para ramais, são elas: 200, 300-399, 666, 70-79, 700-799 e 7777.

Figura 22 - Configuração dos ramais no Trixbox


Fonte: O Autor (2011)

Para o ambiente do estudo de caso, foram criados 4 ramais


utilizando o protocolo SIP, mostrado no quadro a seguir:

Usuário Ramal
Agente 1 1000
Agente 2 2000
Agente 3 3000
Agente 4 4000
Quadro 10 - Usuários e Seus Respectivos Ramais
Fonte: O Autor (2011)
58

4.3.2.2 Configurando o Softfone X-Lite

Após criado todas as extensões no Asterisk, o próximo passo foi


instalar o softfone X-Lite nos 4 computadores que serviram como agente. O softfone
X-Lite pode ser baixado em sua última versão gratuitamente através do site de seu
desenvolvedor, CounterPath.
A configuração no softfone é simples, bastando inserir as
informações como login e senha que foi criado no ramal no servidor do Asterisk. A
seguir as informações detalhadas para a configuração no X-lite:
 User ID – O ramal a ser utilizado pelo X-lite que foi criado no
servidor Asterisk.
 Domain – É o endereço IP do servidor Asterisk, no caso foi utilizado
o endereço 192.168.0.10.
 Password – A senha correspondente ao ramal criado no servidor
Asterisk.
 Display Name – Nome a ser identificado por outro agente durante
uma chamada.
 Authorization Name – Insira novamente o ramal para ser
autenticado no servidor Asterisk.
A Figura 23 abaixo ilustra mostra o painel de configuração da versão 4
do X-lite.
59

Figura 23 - Painel de configuração do Softfone X-lite


Fonte: O Autor (2011)

Depois de configurado todos os agentes com as informações


correspondentes ao servidor do Asterisk, e adicionado o X-Lite na lista de exceção
do firewall do Windows, já era possível realizar chamadas entre os Agentes.
Entretanto, antes de começar com as chamadas locais foi configurado em todos os
softfones o codec de áudio a ser utilizado. Conforme visto na seção 2.4.3, foi
definido o codec G.711 em todos os clientes, devido a sua qualidade de áudio, baixa
taxa de compressão e pouco recurso de processamento necessário. Entretanto, o
uso do codec G.711 ficou restringido somente para as chamadas locais.
60

Figura 24 - Configurando CODEC de aúdio no X-Lite


Fonte: O Autor (2011)

Depois de configurado o codec de áudio, foram realizadas


chamadas entre os agentes. As imagens a seguir ilustram o processo de discagem
até o estabelecimento da chamada.

Figura 25 - Agente 1 realizando uma chamada local para o Agente 2


Fonte: O Autor (2011)
61

Figura 26 - Chamada estabelecida entre o Agente 1 e o Agente 2


Fonte: O Autor (2011)

Apesar dos Agentes poderem fazer chamadas entre si através da


rede local, ainda não era possível realizar chamadas através da rede externa
utilizando a tecnologia VoIP, para isso foi necessário criar e configurar um
entroncamento com uma operadora VoIP, que será detalhado a seguir.

4.3.2.3 Configurando Troncos para Chamadas de Saída

Troncos são necessários para comunicar-se com outros sistemas,


através de um provedor VoIP, de uma linha telefônica ou de um PABX analógico.
Como o foco do trabalho é utilizar a tecnologia VoIP junto ao ambiente Asterisk, foi
contratado somente uma operadora VoIP para que fosse possível realizar chamadas
através da rede externa, para telefones convencionais ou outros telefones VoIPs.
Foi contratado o plano Vono Light, da operadora GVT. O plano Vono
Light funciona como um plano pré-pago, onde o usuário apenas coloca crédito de
acordo com o que deseja utilizar. Apesar de existir a opção para adquirir um número
para receber chamadas com certo custo, neste trabalho foi utilizado somente o plano
básico, logo não foi possível criar trunks inbouds, ou seja, não era possível receber
chamadas. Foi criado somente troncos de saída, ou outbound trunks.
Para o processo da configuração foi necessário entrar na interface
62

do freePBX, ir na opção Trunks e selecionar Add SIP Trunk.


A configuração a ser inserida no campo PEER Details foi fornecida
pela própria operadora, e está demonstrada a seguir:

type=peer
username= Nome do usuário
secret= Senha do usuário
domain=vono.net.br
fromuser= Nome do usuário
fromdomain=vono.net.br
host=vono.net.br
insecure=invite,port
qualify=no
port=5060
nat=no
disallow=all
allow=ilbc&gsm&alaw&ulaw; Ordem de preferência dos codecs a ser utilizados.
dtmfmode=rfc2833
context=from-vono
canreinvite=no
Register String = nomedousuário:senha@vono.net.br:5060/nomedousuário

Após inserida as informações necessárias foi definido o nome deste


tronco como Vono. Também pode-se observar no script acima que o codec G.711
definido no X-Lite não será utilizado neste entroncamento, já que a operadora não
possuía uma licença para este codec. Dos codecs disponíveis, priorizou-se o codec
iLBC, seguido do GSM. O próprio Asterisk será o responsável pela transcodificação
de um codec para outro.
Quanto ao plano de discagem, foi acrescentado em Outbound Dial
Prefix o prefixo numérico 043. Ao utilizar o Vono, para ligações locais ou não, o
usuário deve acrescentar o algarismo 0 seguido do código de área. Para facilitar
durante o processo de discagem, no Asterisk, o usuário deverá somente digitar o
número, e o servidor automaticamente irá acrescentar o código de área para as
chamadas locais. Para as chamadas de longa distância, foi criado outro
entroncamento com o nome de VonoDD, onde não foi inserido nenhum prefixo,
ficando a cargo do usuário digitar o código de área.
63

Figura 27 - Configurando um Tronco SIP no Asterisk


Fonte: O Autor (2011)

4.3.2.4 Configurando Rotas de Saída

Após configurado os troncos SIP, foi necessário criar rotas de saída


para que as ligações telefônicas possam sair por algum tronco específico. Quanto
mais troncos, mais regras de saída são necessárias para especificar por qual tronco
a chamada deve sair.
Para a configuração das rotas de saída, foi necessário entrar em
Outbound Routes na interface do freePBX. Os parâmetros de configuração estão
descritos a seguir:
64

Route Name: Vono


Dial Patterns: 0|.
Truck Sequence: SIP/Vono

Figura 28 - Configurando rota de saída através de um Tronco


Fonte: O Autor (2011).

Nesta configuração, toda vez que for digitado o algarismo 0 seguido


do número desejado, o Trixbox irá utilizar o tronco Vono como rota de saídas,
anteriormente configurado. Entretanto, o número 0 será suprimido e somente o
número desejado será enviado ao provedor da Vono.
Também foi criado uma rota de saída chamada de VonoDD, onde o
usuário deverá digitar o algarismo 1 seguido do DDD ou DDI e do número desejado
para chamadas à longa distância.
Após definido um entroncamento SIP com o provedor e definida uma
rota de saída, todos os Agentes puderam realizar além de chamadas para os ramais,
chamadas para qualquer outro local utilizando-se do VoIP.
65

Figura 29 - Chamada através do tronco da Vono


Fonte: O Autor (2011)

4.3.2.5 Plano de Discagem

O Quadro 11 abaixo simplifica o plano de discagem criado no


servidor do Asterisk.
Número de Saída do Tronco
Número Discado no Agente
AsterisK Utilizado
(0)1234-5678 (043) 1234-5678 Vono
(1)0111234-5678 (011) - 1234-5678 VonoDD
Quadro 11- Resumo Plano de Discagem Asterisk
Fonte: O Autor (2011)

Quando o Agente realizar qualquer chamada utilizando o algarismo


0 como saída, será utilizado o tronco Vono, e automaticamente será inserido o
prefixo 043, o que permitirá o Agente a realizar chamadas locais. Entretanto, ao
utilizar o algarismo 1, será utilizado o tronco VonoDD, e o Agente será o responsável
por inserir o algarismo 0 seguido do código de área para que a chamada seja
encaminhada.
66

4.4 RESULTADOS OBTIDOS E PROJETOS FUTUROS

Depois de configurado todos os ramais e os troncos de saída, todos


os Agentes da rede puderam realizar chamadas através da LAN com custos zero, e
chamadas para a rede comutada e móvel com tarifas reduzidas da operadora VoIP.
Ao utilizar o serviço VoIP, não existe um número definido de
chamadas simultâneas por parte da operadora, ou seja, era possível realizar
quantas chamadas simultâneas o servidor suportar.
Quanto ao quesito de qualidade do áudio durante as chamadas,
foram satisfatórios e podem ser comparados ao de uma telefonia convencional.
Devido à falta de ferramenta para a análise do espectro do áudio no servidor e no
destino final, a avaliação qualitativa não pode ser definida numericamente, sendo
relativa ao usuário que está estabelecendo a chamada.
Devido a largura de banda do link disponível na rede, junto a uma
configuração no roteador para definir uma QoS para o servidor Asterisk, todas as
ligações puderam ser estabelecidas com um nível de qualidade aceitável, onde não
foi possível perceber delays, lags ou picotes na voz durante as chamadas. Outro
fator a ser considerado pela qualidade das chamadas é a rede local e o ambiente
onde foi instalado o servidor Asterisk, onde o tráfego de dados e voz,
simultaneamente, eram extremamente baixo, logo, os problemas que poderiam ter
sido enfrentados foram minimizados consideravelmente.
Todos os resultados obtidos foram satisfatórios e condizentes com
os esperados. Por o trabalho ter sido focado em um ambiente VoIP, como projetos
futuros fica a possibilidade de implantação do Asterisk junto à uma central PABX
analógica, que devido à um custo um maior para a aquisição de hardware e a falta
de um ambiente para a implantação não pôde ser explorada durante este trabalho.
67

5 CONCLUSÃO

Após todo o processo de pesquisa, embasamento em estudos,


documentação, instalação e configuração do Asterisk em um ambiente VoIP, pode-
se concluir que esta tecnologia já é uma realidade e vem, gradativamente,
conquistando cada vez mais espaço nos ambientes de pequenas, médias e grandes
empresas.
Embora a tecnologia VoIP ainda esteja longe de substituir a telefonia
convencional, com seus circuitos dedicados, devido a impossibilidade de uma
garantia de qualidade de serviço, controle de banda, e a falta de padronização do
serviço pela ANATEL, ambas já coexistem e cada vez mais convergem para uma
rede comutada por pacotes, principalmente em chamadas de longa distância e
interligação entre matriz, filiais e parceiros através da Internet.
Aliada ao software livre Asterisk, que integra e é capaz de substituir
uma central PABX com custos extremamente baixos e com confiabilidade além de
seu potencial em personalização e integração de novos serviços, faz da tecnologia
VoIP em um ambiente Asterisk uma solução e alternativa ideal para uma telefonia IP
barata e com um retorno sobre investimento extremamente atrativo para empresas
que desejam migrar, atualizar suas centrais ou somente reduzir custos.
Espera-se ter contribuído com os estudos desenvolvidos e
implementados na estrutura da tecnologia VoIP, visando buscar mais soluções e
servir de base para futuros estudos relacionados aos temas abordados e como fonte
de decisão no desenvolvimento de projetos de implantação dessa tecnologia.
68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COLCHER, Sérgio. VoIP Voz sobre IP, Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
DAVISON, Jonathan. Voice over IP fundamentals second edition, Estados
Unidos: Cisco Press, 2006.
DORON, E. SIP And H.323 For Voice/Video Over IP, 2011. Disponível em: <
http://www.tmcnet.com/it/0801/0801radv.htm>. Acessado em 17/04/2011.
GONÇALVES, F.EA. Asterisk PBX: Guia de Configuração, Belém, 2007.
ITU-T, Recommendation H.323. Packet-based multimedia communications
systems. 2009. Disponível em: < http://www.itu.int/rec/T-REC-H.323-200912-I/en>.
Acessado em 15/04/2011.
ITU-T. Transmission Systems and Media, Digital System and Networks.
Disponível em: < http://www.itu.int/net/itu-t/sigdb/speaudio/Gseries.htm>. Acessado
em 18/04/2011.
JAVVIN. H.323: ITU-T VOIP Protocols Overview. Disponível em: <
http://www.javvin.com/protocolH323.html>. Acessado em 14/04/2011.
JAVVIN. SIP: Session Initiation Protocol. Disponível em: <
http://www.javvin.com/protocolSIP.html>. Acessado em 14/04/2011.
KELLER, Alexandre. Asterisk na Prática, São Paulo: Novatec Editora, 2009.
MAGGELEN, J.V.; SMITH, J.; MADSEN, L. Asterisk: O Futuro da Telefonia, Rio de
Janeiro: Alta Books Editora, 2005.
MONASSA, Alexandre. Projeto de voz sobre redes Wi-Fi, Belém, 2007.
PAKER, Jason. Asterisk SIP Channel Driver Unauthenticated Calls, 2007,
Disponível em: <http://www.securiteam.com/unixfocus/5QP0H2KNPI.html>.
Acessado em 12/04/2011.
TELECO. Informação em telecomunicações, 2007, Disponível em:
<http://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialsegvoip/pagina_4.asp>. Acessado em
20/03/2011.
TRIXBOX. Site da Ferramenta. Disponível em: <http://fonality.com/trixbox/>.
Acessado em 13/05/2011.
VONO. Asterisk: O Vono no PABX, 2011, Disponível em:
<http://www.falevono.com.br/asterisk/>. Acessado em 20/03/2011.
X-LITE. Site da Ferramenta. Disponível em: <http://www.counterpath.com/x-
lite.html>. Acessado em 17/05/2011.

Você também pode gostar