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A
FACULDADE DE DIREITO DE VALENÇA
VALENÇA
2011
TRABALHO DE DIREITO PENAL I
VALENÇA
2011
SUMÁRIO
1 RESUMO........................................................................................................................3
2 INTRODUÇÃO..............................................................................................................4
3 FASE DA VINGANÇA PENAL...................................................................................5
3.1 Vingança Privada.....................................................................................................5
3.2 Vingança Divina......................................................................................................6
3.3 Vingança Pública.....................................................................................................6
4 DIREITO PENAL PELO MUNDO...............................................................................8
4.1 Direito Penal Romano.............................................................................................8
4.2 Direito Penal dos Hebreus.......................................................................................8
4.3 Direito Penal Germânico.........................................................................................8
4.4 Direito Penal Canônico............................................................................................9
4.5 Direito Penal Medieval............................................................................................9
5 PERÍODO HUMANITÁRIO.......................................................................................10
6 ESCOLAS PENAIS.....................................................................................................11
6.1 Escola Clássica......................................................................................................11
6.2 Escola Positivista...................................................................................................13
6.3 Escola Técnico-Jurídica.........................................................................................15
6.4 Escolas Ecléticas....................................................................................................16
7 O DIREITO PENAL NO BRASIL..............................................................................17
7.1 \..............................................................................................................................17
7.2 \..............................................................................................................................17
7.3. \.............................................................................................................................18
7.4 \..............................................................................................................................18
7.5. O Código Penal de 1940.......................................................................................19
7.6. O Código Penal de 1969.......................................................................................19
7.7. \.............................................................................................................................20
8 CONCLUSÃO..............................................................................................................21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................23
1 RESUMO
O presente trabalho é um estudo a respeito da evolução do Direito Penal. As diferentes
formas de penas utilizadas desde o surgimento da humanidade e os conceitos filosófico-
jurídicos que foram modificando as forças coercitivas. A forma com que os povos
começaram a codificar suas leis com o marco da história (surgimento da escrita). Esta
evolução é demonstrada através das Escolas de Direito Penal e as mudanças ocorridas
no decorrer dos séculos, em especial, a partir do século XVIII.
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2 INTRODUÇÃO
Há tempos o homem evolui em todos os sentidos, através da razão, dom exclusivo da
espécie humana. E este por necessidade de sobrevivência, sempre organizou-se em
grupos e sociedades, porém essa interação nem sempre é pacífica, pois, nela ele revela
seu lado instintivo que é a agressividade.
Desde os primórdios o homem vive numa verdadeira “societas criminis” e com o intuito
de defender a coletividade e promover a harmonia, surge o Direito Penal.
Se houvesse certeza de que se respeitaria, a honra, a integridade física e os bens
jurídicos do cidadão, não seria necessário um acervo normativo punitivo, garantido por
um aparelho coercitivo capaz de pô-lo em prática. Não haveria, assim, o “jus puniendi”
cujo titular exclusivo, atualmente, é o Estado.
Para entender o Direito Penal que temos hoje é preciso conhecer sua evolução histórica,
o que o levou a mudar e as Escolas de Direito Penal que foram evoluindo e com isso
trazendo melhoras para a sociedade em geral.
E diante de tal estudo não há frase mais propícia para introduzi-lo, assim como também
para concluí-lo, como a de Magalhães Noronha: “ O Direito Penal surge com o homem
e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca
dele afastou-se.” E é por isso que o Direito Penal é obrigado a evoluir junto com a
humanidade, de acordo com cada sociedade em que está introduzido, saindo dos
primórdios até penetrar nos dias atuais onde ainda requer mudanças e estudos e assim
acontecerá pois não temos comportamentos homogêneos e muito menos imutáveis.
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3 FASE DA VINGANÇA PENAL
3.1 Vingança Privada
“Olho por olho, dente por dente”
A vingança privada constituía a reação natural e instintiva, por isso foi apenas uma
realidade sociológica, não uma instituição jurídica. As penas eram severas e o corpo
pagava pelo delito cometido.
Na denominada fase da vingança privada, cometido um crime, ocorria a reação da
vítima, dos parentes e até do grupo social (tribo), que agiam sem proporção à ofensa,
atingindo não só o ofensor, como também todo o seu grupo. Se o transgressor fosse
membro da tribo, podia ser punido com a "expulsão da paz" (banimento), que o deixava
à mercê de outros grupos, que lhe infligiam, invariavelmente, a morte. Caso a violação
fosse praticada por elemento estranho à tribo, a reação era a da "vingança de sangue",
considerada como obrigação religiosa e sagrada, "verdadeira guerra movida pelo grupo
ofendido àquele a que pertencia o ofensor, culminando, não raro, com a eliminação
completa de um dos grupos".
Duas grandes regulamentações, com o envolver dos tempos, encontrou a vingança
privada: o Talião e a Composição.
Apesar de dizer-se comumente a pena de Talião, esta não tratava-se propriamente de
uma pena, mas de um instrumento moderador da pena. Constituia em aplicar ao
delinquente ou ofensor o mal que ele causou ao ofendido na mesma proporção.
São exemplos da adoção do Talião:
a) Código de Hamurabi – na Babilônia
“Art. 209. Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez siclos
pelo feto.”
“Art. 210. Se essa mulher morre, então deverá matar o filho dele.”
b) Bíblia Sagrada – Religião Católica/Protestante
Livro Levítico 24, 17-20
“17 E quem matar a alguém certamente morrerá
“18 Mas quem matar um animal, o restituirá, vida por vida
“19 Quando também alguém desfigurar o seu próximo, como ele fez assim lhe será
feito;
“20 Quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver
desfigurado a algum homem, assim lhe fará.”
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c) A Lei das XII Tábuas
Tábua VII, 11 – Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de Talião, salvo se houver
acordo.
É importante ressaltar “Ut Supra”, o Talião foi adotado por vários documentos,
revelando-se um grande avanço na história do Direito Penal por limitar a abrangência da
ação punitiva.
Já a Composição surge posteriormente, através da qual o ofensor comprava sua
liberdade, com dinheiro, gado, armas, etc. Adotada também pelo Código de Hamurabi
(Babilônia), pelo Pentateuco (Hebreus) e pelo Código de Manu (Índia), foi largamente
aceita pelo Direito Germânico, sendo a origem remota das indenizações cíveis e das
multas penais.
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Não era mais o ofendido ou mesmo os sacerdotes, os responsáveis pela punição mas o
soberano (rei, príncipe, regente). Este exercia sua autoridade em nome de Deus e
cometia inúmeras arbitrariedades (Monarquias Absolutas – Direito Divino).
A pena de morte fora sanção largamente difundida e aplicada nessa época, devido à
falta de segurança jurídica.
Mesmo assim verifica-se avanço no fato de a pena não ser mais aplicada por terceiros e
sim pelo Estado.
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4 DIREITO PENAL PELO MUNDO
4.1 Direito Penal Romano
Em Roma, evoluindo-se das fases de vingança, por meio do talião e da composição,
bem como da vingança divina na época da realeza, Direito e Religião separam-se.
Dividem-se os delitos em crimina pública (segurança da cidade, parricidium), ou
crimes majestatis, e delicta privata (infrações consideradas menos graves, reprimidas
por particulares). Seguiu-se a eles a criação dos crimina extraordinária (entre as outras
duas categorias). Finalmente, a pena torna-se, em regra, pública. As sanções são
mitigadas, e é praticamente abolida a pena de morte, substituída pelo exílio e pela
deportação (interdictio acquae et igni).
Contribuiu o Direito Romano decisivamente para a evolução do Direito Penal com a
criação de princípios penais sobre o erro, culpa (leve e lata), dolo (bonus e malus),
imputabilidade, coação irresistível, agravantes, atenuantes, legítima defesa etc.
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relação ao dano por ele causado e não de acordo com o aspecto subjetivo de seu ato. No
processo, vigoravam as "ordálias" ou "juízos de Deus" (prova de água fervente, de ferro
em brasa etc.) e os duelos judiciários, com os quais se decidiam os litígios,
"pessoalmente ou através de lutadores profissionais".'
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5 PERÍODO HUMANITÁRIO
É no decorrer do Iluminismo que se inicia o denominado Período Humanitário do
Direito Penal, movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça
penal no fim do século XVIII. É nesse momento que o homem moderno toma
consciência crítica do problema penal como problema filosófico e jurídico que é. Os
temas em torno dos quais se desenvolve a nova ciência são, sobretudo, os do
fundamento do direito de punir e da legitimidade das penas.
Em 1764, Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria (nascido em Florença, em 1738),
filósofo imbuído dos princípios pregados por Rousseau e Montesquieu, fez publicar em
Milão, a obra Dei delitti e delle pene (Dos delitos e das penas), um pequeno livro que se
tornou o símbolo da reação liberal ao desumano panorama penal então vigente.
Demonstrando a necessidade de reforma das leis penais, Beccaria, inspirado na
concepção do Contrato Social de Rousseau, propõe novo fundamento à justiça penal:
um fim utilitário e político que deve, porém, ser sempre limitado pela lei moral. São os
seguintes os princípios básicos pregados pelo filósofo que, não sendo totalmente
original, firmou em sua obra os postulados básicos do Direito Penal moderno, muitos
dos quais adotados pela Declaração dos Direitos do Homem, da Revolução Francesa:
Deve-se mencionar também a chamada Escola Correcionalista, de Carlos Cristian
Frederico Krause e Carlos David Augusto Roeder (ou Rõder), de inspiração clássica,
que considera o Direito como necessário a que se cumpra o destino do homem, como
uma missão moral da descoberta da liberdade. Deve-se estudar o criminoso para corrigi-
lo e recuperá-lo, por meio da pena indeterminada. Não se pode, segundo tais idéias,
determinar a priori a duração da pena, devendo ela existir apenas enquanto necessária à
recuperação do delinqüente. Participaram dessas idéias Dorado Montero, Concepción
Arenal e Luís Jiménez de Asúa.
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6 ESCOLAS PENAIS
"As escolas penais são corpos de doutrinas mais ou menos coerentes sobre os problemas
em relação com o fenômeno do crime e, em particular, sobre os fundamentos e objetos
do sistema penal." Aníbal Bruno
São chamadas "escolas penais" as diversas correntes filosófico-juridico em matéria
penal que surgiram nos Tempos Modernos.
Elas se formaram e se distinguiram umas das outras. Lidam com problemas que
abordam o fenômeno do crime e os fundamentos e objetivos do sistema penal.
"O Direito Penal é o produto da civilização dos povos, através da longa evolução
histórica" Antônio Moniz Sodré de Aragão
"As escolas penais são um sistema de idéias e teorias político-jurídicas e filosóficas que,
num determinado momento histórico, expressaram o pensamento dos juristas sobre as
questões criminais fundamentais".José Leal
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O pacto social define que o individuo se comprometa a viver conforme as leis
estipuladas pela sociedade e deverá ser punido pelo Estado quando transgredi-las, para
que a ordem social seja restabelecida.
b) Jurídico ou prático: em que o grande nome foi Franchesco Carrara, sumo mestre de
Pisa. Ele estudou o crime em si mesmo, sem se preocupar com a figura do criminoso.
Defendia que o crime era uma infração da lei do Estado (promulgada pra proteger os
cidadãos); é impelido por duas forças: a física, movimento corpóreo que produzirá o
resultado, e a moral, a vontade consciente e livre de praticar um delito.
"Três fatos constituem a essência de nossa ciência: o homem, que viola a lei; a lei, que
exige que seja castigado esse homem; o juiz, que comprova a violação e dá o castigo."
Carrara
A pena é um conteúdo necessário do direito. É o mal que a autoridade pública inflige a
um culpado por causa de seu delito.
A pena é meio de tutela jurídica, desta forma, se o crime é uma violação do direito, a
defesa contra este crime deverá se encontrar no seu próprio seio. A pena não pode ser
arbitrária, desproporcional; deverá ser do tamanho exato do dano sofrido, deve se
também retributiva, porém a figura do delinqüente não é importante,.Este é talvez um
dos pontos fracos desta escola.
Outros representantes do classicismo italiano:
Filangieri ( 1752/1788): jusnaturalista que via o direito de punir como uma necessidade
política do Estado para se preservar a ordem. Obra: Scienza della legis lazione
Carmignani (1768/1847): : Obras: Juris criminalis elementa (1831) e Teoria delle leggi
della sicurezza sociale (1831)
Gian Romagnosi (1761-1835): foi um dos maiores pensadores italianos, considerava a
pena como uma arma de defesa social. Obra: Scienza delle costituzioni, Che cosa é l
´eguaglianza?
Pellegrino Rossi ( 1768-1847): : Com base numa justiça moral deu ênfase ao
jusnaturalismo. Obras: Trouté du droit penal e Cours d´économie politique
No classicismo alemão temos a figura de Paulo Anselm Ritter Von Feuerbach (1775-
1833), que se dedicou a filosofia e não aceitava a pena como um imperativo categórico,
limitada pelo talião.Esta deveria ser preventiva a fim de deter o delinqüente em
potencial, antes dele iniciar o inter criminis. É interessante notar que em um filme[10]
muito atual retratou-se uma sociedade na qual a tecnologia permitia que a polícia
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soubesse quando e onde um crime ocorreria; os guardas lá chegavam antes do evento e
o frustrado criminoso era preso.
Feuerbach defendeu o princípio da legalidade sendo dele a fórmula nullum crimen sine
lege, nulla poena sine lege[11], ou seja qualquer ameaça de sanção deve estar
anteriormente prevista em lei;
Com a promulgação do Código da Alemanha (1871) surgiu através de Karl Binding
uma visão que considerava a pena como uma retribuição e satisfação, um direito e dever
do Estado.
Princípios fundamentais:
1) O crime é um ente jurídico, ou seja é a infração do direito.
2) Livre arbítrio no qual o homem nasce livre e pode tomar qualquer caminho,
escolhendo pelo caminho do crime, responderá pela sua opção.
3) A pena é uma retribuição ao crime (Pena retributiva)
4) Método dedutivo (aquele que as premissas são proposições evidentes ou definições
razoáveis), uma vez que é ciência jurídica.
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Contudo esta concepção ainda não explicava a etiologia do delito, então Lombroso
tentou achar a causa desta degeneração na epilepsia. As idéias deste médico não se
sustentaram; eram inconsistentes perante qualquer análise científica. Isto nos remete ao
nazismo e seus parâmetros que visavam provar a superioridade da raça ariana, como o
ângulo do nariz em relação à orelha, a proporcionalidade entre os tamanhos da testa,
nariz e queixo etc. Mas foi em Berlim e sob os olhares de Hitler e seus colaboradores
que um negro americano, Jesse Owens[16], ganhou diversas medalhas de ouro.
"Para os positivistas, o criminoso é um ser atávico, com fundo epiléptico e semelhante
ao louco penal" Cuello Calón
Enrico Ferri (1856-1929) - podemos dizer dele que foi o discípulo de Lombroso; era um
brilhante advogado criminalista que fundou a Sociologia Criminal[17]. Nesta nova
concepção o crime era determinado por fatores antropológicos, físicos e sociais.
Também classificou os criminosos em:
*Natos: são aqueles indivíduos com atrofia do senso moral;
*Loucos: também se incluíam os matóides, que são aqueles indivíduos que estão na
linha entre a sanidade e a insanidade, atualmente a psicologia utiliza o termo "Border
line" para classificar esse tipo de disfunção.
*Habitual: é aquele indivíduo que sofreu a influência de aspectos externos, de meio
social inadequado. Ex: ao cometer um pequeno delito, o jovem vai cumprir pena em
local inadequado, entrando em contato com delinqüentes que acabam por o corromper.
*Ocasional :é aquele ser fraco de espírito, sem nenhuma firmeza de caráter.
* Passional ( sob o efeito da paixão):ser de bom caráter mas de temperamento nervoso e
com sensibilidade exagerada. Normalmente o crime acontece na juventude, vindo o
indivíduo a confessar e arrepender-se depois. Freqüentemente ocorrem suicídios.
Outro expoente foi Rafael Garafalo (1851-1934). Em sua obra Criminologia (1891)
insiste que o crime está no indivíduo, pois é um ser temível, um degenerado. O
delinqüente é um ser anormal portador de anomalia de sentido moral.
O termo temiblididade gerou alguns princípios utilizados nos estatutos penais, como a
periculosidade.
Garafalo defendeu a pena capital.
Verifica-se então que esta escola nega o livre-arbítrio, abomina a idéia da Escola
Clássica que afirmava que o crime era o resultado da vontade livre do homem.
A responsabilidade criminal é social por fatores endógenos e a pena não poderia ser
retributiva, uma vez que o indivíduo age sem liberdade, o que leva ao desaparecimento
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da culpa voluntária. Propõem-se então a medida de segurança, uma sanção criminal que
defende o grupo e ao mesmo tempo recupera o delinqüente, e que viria em substituição
à pena criminal. Esta medida deveria ser indeterminada até a periculosidade do
indivíduo desaparecer por completo.
"É a lei expressando os interesses sociais, que atribui responsabilidade criminal aos
indivíduos."
"Os positivistas procuraram elaborar um conceito de delito natural que resistisse às
transformações impostas pelos costumes, pela moral e pela própria realidade
socioeconômica e política" J. Leal
Princípios Fundamentais:
a) método indutivo[18]
b) o crime é visto como um fenômeno social e natural oriundo de causas biológicas
físicas e sociais
c) responsabilidade social em decorrência do determinismo e da periculosidade.
d) a pena era vista como um fim a defesa social e a tutela jurídica.
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Outros importantes defensores dessa escola são: Manzini, Massari, Delitala, Cicala,
Vannini, Conti.
Princípios Fundamentais:
a) o delito é pura relação jurídica, de conteúdo individual e social;
b) a pena constitui uma reação e uma conseqüência do crime (tutela jurídica), com
função preventiva geral e especial, é aplicável aos imputáveis;
c) a medida de segurança - preventiva -, é aplicável aos inimputáveis;
d) a responsabilidade é moral (vontade livre);
e) o método utilizado é técnico-jurídico;
f) refuta o emprego da filosofia no campo penal.
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7 O DIREITO PENAL NO BRASIL
7.1 "1603": Nasce o Livro V do Rei Filipe II.
No Brasil Colonial estiveram em vigor as ordenações Afonsinas (até 1512) e
Manuelinas (até 1569), substituídas estas últimas pelo código de D. Sebastião (até
1603). Passou-se, então, para as Ordenações Filipinas, que refletiam o Direito Penal dos
tempos medievais.
Foi, então, o Livro V das Ordenações do Rei Filipe II (compiladas, aliás, por Filipe I, e
que aquele, em 11 de janeiro de 1603, mandava que fossem observadas), o nosso
primeiro Código Penal. É o Código Filipino.
Fundamentava-se largamente nos preceitos religiosos. O crime era confundido com o
pecado e com a ofensa moral, punindo-se severamente os hereges, apóstatas, feiticeiros
e benzedores.
As penas severas e cruéis (açoites, degredo, mutilação, queimaduras etc.) visavam
infundir o temor pelo castigo. Além da larga cominação da pena de morte, executada
pela força, com torturas, pelo fogo etc., eram comuns as penas infamantes, o confisco e
os galés. Aplicava-se, até mesmo, a chamada "morte para sempre", em que o corpo do
condenado ficava suspenso e, putrefazendo-se, vinha ao solo, assim ficando, até que a
ossamenta fosse recolhida pela Confraria da Misericórdia, o que se dava uma vez por
ano.
Além de tudo isso, as penas eram desproporcionadas à falta praticada, não sendo fixadas
antecipadamente. Eram desiguais e aplicadas com extrema perversidade.
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Não separada a Igreja do Estado, continha diversas figuras delituosas, representando
ofensas à religião estatal.
Apesar de suas inegáveis qualidades, tais como, indeterminação relativa e
individualização da pena, previsão da menoridade como atenuante, a indenização do
dano "ex delicto", apresentava defeitos que eram comuns à época: não definira a culpa,
aludindo apenas ao dolo, havia desigualdade no tratamento das pessoas, mormente os
escravos.
18
Composta de quatro livros e quatrocentos e dez artigos, a Consolidação das Leis Penais
realizada pelo Desembargador Vicente Piragibe, passou a ser, de maneira precária, o
Estatuto Penal Brasileiro.
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7.7. "1984": Altera-se a Parte Geral.
Em 1980, o Ministro da Justiça incumbiu o professor Francisco de Assis Toledo, da
Universidade de Brasília, da reforma do Código em vigor. A exemplo da Alemanha,
primeiro se modificou a parte geral.
Em 1981, foi publicado o anteprojeto, para receber sugestões. Depois de discutido no
Congresso, o projeto foi aprovado e promulgada a Lei Nº7.209 de 11/07/1984, que
alterou substancialmente a parte geral, principalmente adotando o sistema vicoriante
(pena ou medida de segurança).
Com a nova Parte Geral, foi promulgada a nova Lei de execução Penal (nº 7.210 de
11/07/1984). É uma lei especifica para regular a execução das penas e das medidas de
segurança, o que era súplica geral, tanto que já se fala na criação de um novo ramo
jurídico: o Direito de execução Penal.
Recentemente, foi o Estatuto repressivo pátrio alterado pela Lei nº 9.714/98 no que
concerne às penas restritivas de direitos. Incluídos foram mais dois tipos de penas: a
prestação pecuniária e a perda de bens e valores. Ademais, no que tange à substituição
da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, poderá ela se dar quando,
atendidos os requisitos específicos – não reincidência, culpabilidade, antecedentes,
conduta social, personalidade, motivos e circunstâncias do crime favoráveis – a pena
aplicada não for superior a quatro anos. Vale salientar que, em sendo o crime culposo,
haverá a substituição, qualquer que se seja a pena aplicada.
Destarte, é de se vislumbrar que, cada vez mais, o aprisionamento deixa de ser regra
para se tornar exceção. É que o cárcere, comprovado está, ao invés de proporcionar a
ressocialização, não raro tem se transformado em verdadeira "Universidade da
delinquencia".
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8 CONCLUSÃO
Para que possamos entender a filosofia e os princípios que direcionam o direito penal
hoje foi preciso retornar na história e descobrir suas bases.
É incontestável z frase que iniciamos nosso estude, de Magalhães Noronha, - “O Direito
Penal surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime qual
sombra sinistra, nunca dele se afastou.”
A Bíblia, um dos livros mais antigos que se tem acesso, há o relato do assassinato de
Abel por seu irmão Caim e a pena de banimento que Deus aplicou-lhe.
Com o surgimento da escrita, marco entre a pré-história e a história, houve a
possibilidade da gravação das leis, podendo ser citado o Código de Hamurabi. A
preocupação com as regras que definem o crime e as penas a serem aplicadas aos
infratores vem desde os tempos antigos.
A história do Direito Penal é descrita em fases nas quais os princípios e aspectos não se
sucedem de forma estreitamente linear, mesmo que assim seja possível esboçar uma
linha do tempo para que didaticamente fique mais fácil entender como foram ocorrendo
as mudanças.
Caminhamos pela “Vingança Privada” com a famosa Lei de Talião, muitas vezes
utilizada erroneamente em um cotidiano leigo no que diz respeito ao Direito; pela
“Vingança Divina” onde o direito e a religião se confundiam e pela “Vingança Pública”
cuja principal finalidade era a segurança do monarca.
Depois temos o “Direito Romano” que foi o grande antepassado das leis atuais e
introduziu conceitos novos como graus de culpa. No “Direito Germânico” a inovação
foi a definição de uma ordem de paz que poderia ser rompida pelo crime. E o Direito
Canônico substituiu as penas patrimoniais pelo encarceramento.
Sem poder deixar de citar a fase do Iluminismo que proporcionou ao Direito Penal uma
visão ética sobre o homem e o tratamento que lhe deveria ser dado. Surgiu, juntamente,
com a Teoria do Contrato Social, o Período Humanitário com contribuição importante
do Marquês de Beccaria, que teve papel decisivo em um Direito Penal mais
compassivo.
Então vamos passado pelas diversas correntes filosófico-jurídicas sobre crimes e
punições, as chamadas Escolas de Direito Penal.
A Escola Clássica, de inspiração iluminista, visa propiciar ao homem uma defesa contra
o arbítrio do Estado.
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A Escola Positivista encara o crime sob a óptica sociológica e o criminoso torna-se alvo
de investigações biopsicológicas com fundamentos que não resistem a uma análise mais
minuciosa e negam o livre-arbítrio, base da responsabilidade inalienável que cabe ao
homem por seus atos.
A ”Escola Técnico-Jurídica” iniciada e m 1905 reage contra a positivista e objetiva a
restauração do critério propriamente jurídico do Direito Penal como ciência.
A observação dessa abordagem cronológica propicia o entendimento da evolução do
pensamento humano sobre o conceito e o significado de crime e sobre as penas que ao
infrator devem ser imputadas. A construção da ciência do Direito Penal foi um processo
lento, cheio de ensaios e erros, que passou por todas as gradações do profundo
desrespeito à pessoa até à moderna proposta da valorização dos direitos humanos.
Graças ao árduo trabalho de juristas competentes, cuja visão muitas vezes foi deturpada
pelo chamado "espírito da época"[20], mas cujo intento sempre foi melhorar a vida dos
homens, foram sendo elaborados os parâmetros do legalmente certo e errado e das
punições permitidas ao Estado. É pertinente ressaltar que nenhum Estado pode se
sobrepor à justiça e que todos os atos de genocídios e expurgos são imorais, mesmo
quando previstos por leis ditatoriais como o nazismo e fascismo.
Não se pode perder de vista que ao ser humano deve ser outorgada toda a dignidade a
ele inerente e que tudo que se contrapõe a isso seja repudiado com toda a força da lei.
Como muito bem falou Thomas Jefferson[21] "Nós abraçamos essas verdades por
serem evidentes por si próprias: que todos os homens são criados iguais; que eles são
investidos por seu Criador com alguns direitos inalienáveis entre os quais se encontram
a vida, a liberdade e a busca da felicidade"[22].
Hoje, o Direito Pena precisa de muitas reformas, ainda mais tratando-se do brasileiro,
Há leis que poderiam ser abolidas, outras refeitas, decisões de Tribunais que não vão de
encontro a nossa Constituição Federal. Nosso sistema carcerário fere um dos princípios
basilares da CF que é a “Dignidade da Pessoa Humana” e deixa de cumprir assim seu
papel precípuo que seria o de reabilitar o infrator à sociedade. Muito foi adquirido até
aqui mas até onde aqueles que cumprem pena de reclusão estão sofrendo somente a
coerção inerente ao crime cometido? Ou será que aquela “pessoa” protegida pelo artigo
5º da Constituição Federal, está sendo sugada, denegrida, destituída de seus direitos em
todas as suas formas?
Caminhamos até aqui mas precisamos prosseguir para que o Direito Penal possa
cumprir sua finalidade na sociedade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HORTA, Ana Célia Couto - Evolução Histórica do Direito Penal e Escolas Penais
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas (1764), editora Martin Claret, 2000
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal, São Paulo, Saraiva. 2003
GRECCO, Rogério – TV Justiça – Saber Direito: Aula sobre a Evolução do direito
Penal, 2010
MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. Volume 1.
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