Você está na página 1de 194

Contratos Internacionais e

Regramento do Comércio Exterior

Brasília-DF.
Elaboração

Leonardo Gomes de Aquino

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
CONTRATOS INTERNACIONAIS................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 1
TEORIA GERAL E FORMAÇÃO DOS CONTRATOS INTERNACIONAIS ............................................. 9

CAPÍTULO 2
CONTRATOS INTERNACIONAIS ESPECIAIS................................................................................. 54

CAPÍTULO 3
A OMC, O CADE E OS CONTRATOS INTERNACIONAIS ........................................................... 102

UNIDADE II
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR........................................................................................... 106

CAPÍTULO 1
A ORGANIZAÇÃO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ....................... 106

CAPÍTULO 2
A JURISDIÇÃO ADUANEIRA ................................................................................................... 114

CAPÍTULO 3
IMPORTAÇÃO ...................................................................................................................... 127

CAPÍTULO 4
EXPORTAÇÃO....................................................................................................................... 150

CAPÍTULO 5
REGIMES ADUANEIROS.......................................................................................................... 171

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 186

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 187
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

5
Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

6
Introdução

A evolução do comércio é uma constante desde sempre, integrando o mundo em


termos econômicos. Assim, cada dia se vive mais contratualmente. O Prof. Iudica
(apud THEODORO JÚNIOR, 2004, p. 97) afirma que o contrato “é antes de tudo, um
fenômeno econômico. Não é uma criação do direito”. O contrato é um instrumento de
circulação de riquezas de um patrimônio para outro (ROPPO, 1998, p. 10). A celebração
de um contrato é rodeada de determinadas circunstâncias sociais, políticas, econômicas,
tecnológicas e legislativas que devem ser pensadas pelas partes quando contratam.
Decorre destas circunstâncias, o risco. A vida contratual é cheia de percalços, em que
a “conexão entre sociedade e direito e, portanto, a incidência da mudança da realidade
social-econômica sobre a realidade normativa comporta, na verdade e inevitavelmente,
a reelaboração das estruturas formais, com as quais o ordenamento, na sua unidade e
dinamicidade, ordena real” (SERRAVALLE, 2006, p. 290).

Os contratos envolvendo regras jurídicas de Estados diferentes podem dar ensejo à ideia
de contrato internacional, seja porque há a transferência de dinheiro ou de mercadorias
ou então o envio de materiais para outro país.

Nesse caso, os contratantes devem ter muita atenção na elaboração das cláusulas
contratuais, pois uma regra permitida, em um determinado Estado, pode ser proibida,
estranha ou mesmo inexistente no outro. Outro ponto importante e fundamental
é a escolha adequada do direito aplicado ao contrato, para evitar discussões acerca
da qualificação ou mesmo a situação da aplicação do instituto do reenvio no Direito
Internacional.

Há diversos tipos contratuais importantes que irão ser abordados, tais como o contrato
de franquia internacional, compra e venda mercantil internacional, importação de mão
de obra estrangeira, a questão da contratação pelo meio virtual e a relação entre CADE
e OMC nos contratos internacionais.

Com a celebração do contrato internacional, irá necessariamente ocorrer uma


importação ou uma exportação e o equilíbrio existente entre importação e exportação
indicará o patamar da balança comercial de país.

E nesse espectro que será analisada a organização e a institucionalização do comércio


internacional, a jurisdição aduaneira brasileira e os regimes aduaneiros aplicáveis.

7
Objetivos
»» Promover o estudo lógico-sistemático e crítico-reflexivo do instituto do
comércio internacional e as repercussões tributárias.

»» Analisar os tipos contratuais internacionais e estimular a interconexão


dos problemas centrais do comércio internacional com os ramos e as
disciplinas jurídicas em que está inter-relacionado e inserido o Direito
Internacional e, especialmente, o Direito Contratual e Tributário, sem
embargo do recurso a ciências auxiliares, como a Economia, a Ética e a
hermenêutica.

»» Compreender os conhecimentos específicos e técnicos atuais sobre o


comércio internacional nos aspectos da constituição, desenvolvimento e
extinção da relação internacional, bem como as consequências em relação
à importação e à exportação de mercardorias e produtos no âmbito do
território aduaneiro brasileiro.

8
CONTRATOS UNIDADE I
INTERNACIONAIS

CAPÍTULO 1
Teoria geral e formação dos contratos
internacionais

O mundo está se integrando intensamente em termos econômicos. Cada vez mais,


os mercados deixam de ser exclusivamente nacionais para se internacionalizarem.
Este célere estreitamento mercantil entre os vários países, trazido pela chamada
globalização, ou, de uma forma ainda mais correta, segundo Gerelli (1997, pp. 451-454)
a semiglobalização (expressão usada quase que unicamente no campo econômico, mas
podemos estender aos outros domínios) é um fator que eleva o comércio internacional.
Não obstante as notícias de crises econômicas, porque passam vários países do mundo,
bem como a acentuada inflação dos preços no comércio internacional, os negócios
internacionais continuam a crescer (AQUINO, 2003, p.1).

Por esse motivo, o contrato internacional cada vez mais se integra ao dia a dia
empresarial, tanto das pessoas físicas como das jurídicas de direito público e de privado
interno, passando do domínio antes reservado a alguns especialistas para um número
crescente de pessoas comuns. O que justifica uma pressão pela crescente necessidade
de estruturar um modelo jurídico internacional para o mundo economicamente
semiglobalizado

Já que os modelos que tiveram papel e relevância durante décadas estão claramente em
crise, diante de um contexto internacional substancialmente modificado, em virtude da
maior interligação dos negócios jurídicos e dos extraordinários desenvolvimentos das
tecnologias de comunicação: das transferências de montantes inimagináveis de recursos,
de um ponto a outro do planeta em segundos, combinada com a circulação de dados em
tempo real, tornada efetiva e disponível para o comum dos mortais. Continuam as mesmas
a serem reguladas por diferentes direitos nacionais que tratam de forma diversificada
idênticas situações. Tais procedimentos geram grandes dificuldades ao desenvolvimento

9
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

do comércio internacional, ao submeterem idênticas relações jurídicas, muitas vezes, a


diversas leis com as quais estas têm ligações. (AQUINO, 2003, p.1)

A inadequada preparação do direito para fazer face ao choque da semiglobalização


pode ser exponencial e infinitamente penosa, se não nos prepararmos para esse futuro
próximo, como demonstra a necessidade de pensar, redigir, interpretar e aplicar contratos
em contextos internacionais. Assim, o contrato é o principal instrumento jurídico de
circulação de valores patrimoniais e de riqueza no âmbito internacional. Deste prisma
econômico, fica o contrato como a forma jurídica mais importante, diante da relevância
das relações comerciais na nova ordem internacional. (AQUINO, 2003, p.2).

Aspecto importante a ser apontado nas relações comerciais internacionais é o


desenvolvimento da noção de contrato internacional.

A concepção do contrato
O contrato é o instrumento pelo qual se celebra um acordo de vontades acerca de
determinado objeto. Nele, as partes estipulam regras a que ficam subordinadas, criando
direitos e obrigações.

Mas como considerar uma relação contratual como internacional?

A princípio, a expressão “contrato internacional” não é unívoca e pode sugerir a


falsa ideia de que existem contratos, que escapariam a regência do direito nacional,
ficando submetidos a uma espécie de direito internacional, aplicado por tribunais
internacionais ou juízo arbitral internacional. O contrato internacional destaca-se das
categorias tradicionais e abre novos caminhos, independentemente dos parâmetros
válidos e aplicáveis aos contratos internos.

Assim, se faz necessário analisar o conceito de contrato interno e internacional, pois


normalmente as relações internacionais possuem o fator de conflito de leis, justamente
porque o comércio internacional está inserido em uma realidade contemporânea
das relações econômicas, demonstrando, especialmente, as principais dificuldades
encontradas pelas partes que pretendem participar deste ambiente e as soluções
encontradas pela doutrina, pela jurisprudência e por associações profissionais que
atuam em prol da atividade mercantil internacional. (AQUINO, 2003, p. 14).

Aquino (2003, p. 15) aponta que:

nesse projeto de encontrar mecanismos seguros para possibilitar que


as partes contratantes de diferentes Estados disponham de meios

10
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

necessários à viabilização das suas pretendidas relações jurídicas de


natureza contratual, são adotadas soluções que vão desde a concepção
da existência de um direito do comércio internacional autônomo e
independentemente dos Países componentes da ordem internacional,
ao entendimento de que haveria uma lei própria do contrato, e o mesmo
respeito incondicional ao princípio da autonomia privada, tudo como
forma de encontrar a melhor solução à pretensão dos contratantes que
atuam no âmbito internacional.

Assim, diante da dinâmica econômica internacional, é importante aos contratantes


sustentarem, a todo o custo, o contrato. Para isso, deve-se manter o equilíbrio
contratual e, para que ele perdure, as condições em que foi concluído devem preservar-se
equilibradas.

Diante da autonomia privada as partes procuram se cercar de todos os cuidados para


que o contrato se mantenha até a execução final do pactuado e, para isso, indicam a lei
ou as leis que o regem e incluem cláusulas para o regular.

Contrato interno e seus princípios

O contrato busca a sua justificação no princípio da autonomia privada e na ideia de


liberdade quanto à determinação do conteúdo contratado.

Aquino (2012, pp. 743-744) conceitua o contrato como:

o acordo vinculativo, assente sobre duas ou mais declarações de vontade


(oferta ou proposta de um lado e de outro a aceitação) contrapostas,
mas perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma
regulamentação unitária de interesses, desde que não alteradas as
circunstâncias em que se deu a vinculação.

Mas o contrato não se prende à ideia de documento celebrado em momento e se


finda nesse exato momento, pois as relações contratuais são relacionais, ou seja, elas
perduram no tempo, assim, o contrato seja interno ou internacional deve obedecer
a princípios da autonomia privada, supremacia da ordem pública, da pacta sunt
servanda e rebus sic stantibus.

A autonomia privada “é o poder que os particulares têm de regular, pelo exercício de


sua própria vontade, as relações que participam, estabelecendo-lhe o conteúdo e a
respectiva disciplina jurídica” (AMARAL, 2006, p. 346), ou seja, a “autonomia privada
parte da norma jurídica: é a permissão jurídica-privada de produção de efeitos jurídicos”

11
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

(CORDEIRO, 1988, p. 27). Em suma, a autonomia privada é a liberdade contratual e de


contratar (liberdade de escolha das partes e do conteúdo do contrato).

O princípio da ordem pública é a interferência do Estado na limitação das regras


contratuais, de forma a proteger as partes dos excessos contratuais criados por
elas e contra elas. Representa, portanto, a projeção do interesse social nas relações
interindividuais, que se reflete na função social que se deve procurar o contrato. Trata-se
de uma limitação aos contratantes, pois no direito brasileiro a liberdade contratual e a de
contratação é relativizada. Por isso mesmo, dispõe o art. 2.035 do Código Civil (CC) que
“nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como
os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos
contratos”. Outro aspecto da função social reside no fato de que o contrato deixou de ser
somente uma relação dos contratantes, e passou a interferir negativa e positivamente,
também, em relação aos terceiros. (THEODORO JÚNIOR, 2004, p. 31). Por se tratar de
um conceito indeterminado, a função social do contrato deve ser observada caso a caso.

O art. 421 do CC faz com que o contrato esteja integrado na sociedade, como meio de
realizar os fins sociais, pois determinou que liberdade contratual deve ser “exercida
em razão e nos limites da função social do contrato”. Esse dispositivo legal alarga,
ainda mais, a capacidade do juiz de proteger o mais fraco na contratação, que, por
exemplo, possa estar sofrendo pressão econômica ou os efeitos maléficos ou cláusulas
ou publicidade enganosa. (THEODORO JÚNIOR, 2004, pp. 12-15).

O princípio da pacta sunt servanda tem como padrão que “as estipulações pactuadas
devem ser fielmente cumpridas. Somente nesse contexto, os contratantes atam as suas
vontades, não tendo de se preocupar com o contexto social da época da contratação
e que os colocaram face a face”. (AQUINO, 2003, p. 21). A ideia geral do princípio é
gerar segurança e credibilidade ao pactuado, não sendo absoluto, pois as partes podem
prever no contrato cláusulas que permitem a modificação do contrato ou mesmo por
determinação judicial, no caso de rompimento da base contratual pactuada.

O princípio da rebus sic stantibus permite que o contrato seja modificado quando
ocorrer transformações na base contratual, assim, enquanto as situações contratuais
não sofrerem alterações, perdurará a obrigatoriedade. Porém, no caso de haver
transformações, será permitida uma revisão ou readaptação dos termos contratuais.

12
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Contrato internacional

Definir o contrato internacional é uma tarefa árdua que envolve, inicialmente,


dificuldades na reunião de suas características, pois não há, nas regras jurídicas e nas
decisões jurisprudenciais, uma única e uniforme definição de contrato internacional.

Dessa forma, é necessário apontar as formas que a doutrina, a jurisprudência e as


regras jurídicas estabelecem para conceituá-lo, para que ao final se consiga ter uma
compreensão da amplitude do termo “contrato internacional”.

Os critérios jurisprudenciais de internacionalidade


do contrato

A caracterização do contrato como internacional, segundo a jurisprudência francesa,


ocorre quando “houver um fluxo e refluxo de bens ou mercadorias de um país para outro
e, que este duplo movimento produza consequências recíprocas, quer num campo quer
em outro”, ou seja, ocorrendo transferência de dinheiro entre Estados, haveria contrato
internacional. Seria, também, internacional o contrato que “põe em jogo interesses do
comércio internacional”. (AQUINO, 2012, p. 752).

Uma definição bastante rigorosa de contrato internacional decorrente do acórdão da C.


Cass., de 7/10/1980, no qual as partes tinham domicílio no mesmo Estado, na época
de conclusão do contrato, embora este tenha sido executado em um outro Estado.
Esse contrato não foi considerado como internacional, porque as partes submeteram
o pacto à lei vigente no seu domicílio, não obstante conter referências à lei do país
da execução. Esse acórdão abandonou a preferência tradicional da jurisprudência do
critério econômico, tomando como fulcro a lei material do foro, quando prima facie,
pelo menos, era sustentável a aplicação de uma lei estrangeira para reger o contrato.

A jurisprudência venezuelana adotou uma posição ampla, afirmando que, de acordo


com a sua ordem jurídica, o acordo das partes em submeter a uma lei estrangeira pode
caracterizar o contrato como internacional. (BONELL, 2001, p. 197).

Os critérios doutrinários de internacionalidade


do contrato

Parte da doutrina portuguesa que adota o critério econômico para caracterizar o contrato
como internacional. E nesse espectro, deve-se observa a posição de Collaço (1954, p. 28)
que adota esse, afirmando que o contrato será sempre internacional quando ocorrer
uma “[…] transferência de valores de país para país”, observando em particular o caso
da compra e venda.

13
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Já Pinheiro (1998, pp. 379-381) afirma que este critério da transferência de valores não
pode servir de base para caracterizar o contrato como internacional, pois no contrato de
empreendimento comum ocorrem, normalmente, diversas transferências de valores e
bens, entretanto estas transferências podem ser insignificantes ou mesmo inexistentes
em um contrato celebrado entre partes que desenvolvam as suas atividades em países
diferentes e assim mesmo serem considerados internacionais, bem como ministra que
em um contrato de joint venture entre empresas situadas em um mesmo país pode
ser considerado internacional desde que haja a transferência de valores. Afirmando
que por si só o critério de fluxo e refluxo de valores não é suficiente para se classificar
o contrato como internacional. Assim, para esse autor, o contrato será internacional
quando estiver em jogo interesses do comércio internacional.

Jacquet (1983, pp. 255-256) entende que o contrato tem caráter internacional mesmo
quando a relação entre as partes tenha sido submetida à lei do Estado da parte
contratante, pois o pacto continha disposições referentes à lei do Estado onde o contrato
foi cumprido.

Strenger define o contrato internacional de comércio como sendo:

todas as manifestações bilaterais ou plurilaterais da vontade das partes,


objetivando relações patrimoniais ou de serviços, cujos elementos sejam
vinculantes há dois ou mais sistemas jurídicos extraterritoriais, pela
força do domicílio, nacionalidade, sede principal dos negócios, lugar do
contrato, lugar da execução, ou qualquer circunstância que exprima um
liame indicativo de Direito aplicável (1986, p. 37).

Batista (1994, p. 56) disciplina que “há contratos celebrados entre pessoas de diferentes
países que implicam o tráfego de bens e valores entre esses países e que, assim, podem ser
chamados de internacionais, mas há outros, todavia, cujo caráter internacional é falso”.

Aquino (2012, p. 754) afirma que “para caracterizar o contrato como internacional, é
necessária à existência de qualquer elemento de estraneidade; assim, bastará à presença
de um elemento estranho, como, por exemplo, a nacionalidade das partes, o domicílio
dos contratantes ou a localização do objeto”.

Assim, o contrato internacional:

é aquele que os elementos significativos ou pertinentes não estão


localizados no mesmo sistema jurídico, ou seja, o contrato internacional
é o acordo vinculativo, assente sobre duas ou mais declarações de
vontade (oferta ou proposta de um lado e de outro, a aceitação)
contrapostas, mas perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam

14
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

estabelecer uma regulamentação unitária de interesses, desde que


não alteradas as circunstâncias em que se deu a vinculação e que os
elementos significativos ou pertinentes não estão localizados no mesmo
sistema jurídico (AQUINO, 2012, p. 763).

Em suma, o elemento caracterizador da internacionalidade do contrato deve ser


revestido de relevância ao caso concreto.

Os critérios das convenções internacionais de


internacionalidade do contrato

A Convenção das Nações Unidas sobre os Contratos de Compra e Venda Internacional


de Mercadorias não define contrato internacional, mas para a sua aplicação, o contrato
deve ser considerado como internacional, e para que isso aconteça, as partes devem
comprovar, na altura da contratação, que os seus estabelecimentos se localizam em
Estados diferentes (Brasil em Ratificação, adesão em 3/4/2013 da Convenção das
Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias –
CISG, na sigla em inglês – que entrou em vigor 1/4/2014).

Aquino (2012, p. 756) afirma que:

para a Convenção, no que tange à definição da internacionalidade do


contrato de compra e venda, prevalece uma visão estrutural, que se
atam aos dados objetivos e que não se vincula aos elementos subjetivos,
ou seja, a posição relativa das partes (nacionalidade das partes, idioma
da redação, moeda etc.), bem como aos de índole material ou do próprio
contrato (a sua natureza civil ou comercial).

Assim, para que a Convenção seja aplicada, as partes devem ter


o conhecimento à época da celebração do contrato que ambas se
encontravam com estabelecimento em países diferentes.

A Convenção de Roma de 1980 sobre a Lei Aplicável às Obrigações


Contratuais disciplina em seu art. 1o, no 1, que o contrato será considerado
internacional sempre que houver um conflito de leis.

Aquino (2012, p. 758) dispõe que:

a implicação desta expressão desencadeia a internacionalidade de um


determinado contrato, que se reporta a situações que tenham elementos
de conexão com mais de uma ordem jurídica, ou seja, a Convenção
traz em seu bojo a potencialidade de ser enquadrada em mais de um

15
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

sistema jurídico. Este elemento de conexão é a ligação de um fato a um


determinado sistema jurídico ou sistemas jurídicos.

Dessa forma, para a caracterização da internacionalidade do contrato perante a Convenção


de Roma, reside no fato da existência de um elemento de estraneidade elegido pelas partes
há época do contrato, imperando assim, a liberdade de escolha das partes.

A Convenção Interamericana sobre o Direito Aplicável aos Contratos Internacionais


(CIDIP-V) dispõe seu art. 1o, dispõe que o “contrato é internacional quando as partes
no mesmo tiverem sua residência habitual ou estabelecimento sediado em diferentes
Estados-Partes ou quando o contrato tiver vinculação objetiva com mais de um
Estado-Parte”.

Assim, diante da complexidade de aspectos adotados para caracterização do contrato


como internacional, é necessária a análise casuística da relação jurídica para que se
possa classificá-la como internacional ou não.

Os critérios de internacionalidade do contrato das


ordens legais nacionais

A Lei austríaca de direito internacional privado, de 1978, define que a aplicação de


certas leis nacionais, sobre o direito internacional privado, decorre das situações que
tenham conexão ou laços com o estrangeiro. (Art. 1o).

A Lei de Introdução do Código Civil alemão (de 1986) demonstra que as situações que
tenham conexão com o direito de outro Estado será internacional. (Art. 3o).

O Código Civil (de 1991) da Luisiana disciplina que a internacionalidade será


caracterizada sempre que existir relação jurídica que apresente laços com vários
Estados. (Art. 14).

A Lei Federal suíça disciplina que será internacional a relação jurídica que envolver
matéria internacional ou em situação internacional. (Art. 1o).

O Código Civil de Quebec propõe que será internacional a relação jurídica que envolver
mais de uma ordem jurídica e que será aplicada a lei que tiver conexão mais estreita
com o contrato.

O Direito Brasileiro dispõe apenas que “para qualificar e reger as obrigações,


aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”, contudo se a obrigação se destinar
“a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada,
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do

16
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

ato”. A “obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir


o proponente” (art. 9o da Lei de Introdução as Normas Brasileiras (LINB)). Assim, não
traz regra de conceituação dos contratos, apenas disciplina a lei aplicável ao contrato
internacional.

O Brasil ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda
Internacional de Mercadorias. Não há na Convenção conceito de contrato internacional,
mas a ideia de sua aplicação a partir da existência de domicílios dos contratantes
situados em Países diferentes.

No âmbito do MERCOSUL há o protocolo de Buenos Aires sobre a jurisdição


internacional em matéria contratual que prevê a sua aplicação se os contratantes tirem
sede social ou domicílio em diferentes Estados-Partes do Tratado de Assunção ou,
ainda, se uma das partes tiver domicílio no Estado-Parte e que haja cláusula de foro de
eleição indicando a jurisdição em favor de um Juiz de um Estado-Parte.

Apesar de haver casos em que se encontra, inicialmente, presente o elemento


de estraneidade (nacionalidade) não se pode classificar o contrato como
internacional, como por exemplo, um casal de portugueses em viagem de
férias ao Brasil, que decidiu comprar um automóvel, ou então, um estrangeiro,
domiciliado há muitos anos em Portugal, que resolve comprar uma empresa
portuguesa de mercadorias para revender. Contudo, a questão das partes terem
na época da celebração do contrato o seu domicílio ou sede situada em um
mesmo Estado pode trazer certas dúvidas, pois, se assim fosse, não poderíamos
ter um contrato internacional entre pessoas ou entre empresas que estejam
domiciliadas ou estabelecidas no mesmo Estado, quando, por exemplo, for
o caso do objeto ser enviado para o Estado diverso do domicílio ou sede das
partes. A nacionalidade é fortemente rejeitada por vários autores, pois não é
suficiente para caracterizar um contrato como internacional. Assim, os critérios
para caracterizar o contrato como internacional seriam?

Contrato

Se estiveres contente, dou-te uma maçã; se tiveres medo, torço a tua mão; e se
me deixares, quero apertar-te, sem te fazer mal, contra o coração.

Se eu estiver contente, dás-me uma maçã?

Se eu estiver com medo, torce a minha mão.

E se tu quiseres, podes apertar-me, sem me fazer mal, contra o coração.

17
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Isto é um contrato, só com dois se faz: venho oferecer-te com desesperada calma,
sendo incerto que estes nossos jogos possam dos amantes expulsar demônios.

Gastão Cruz

A importância econômica do contrato:


aspectos gerais

Para o contrato ser considerado como comercial, deve ter pelo menos um sujeito como
empresário e que a função econômica do negócio esteja relacionada à exploração de
atividade empresarial.

Forgioni (2009, pp. 55-150) demonstra a função econômica do contrato como norte do
contrato, uma vez que as partes emitem as suas declarações de vontade com a intenção
circular bens ou serviços, manter um cunho associativo ou organizacional.

A função econômica do contrato é referida por Gomes (2008, pp. 23-24) como a:

função econômico-social do contrato foi reconhecida, ultimamente,


como a razão determinante de sua proteção jurídica. Sustenta-se que
o Direito intervém, tutelando determinado contrato, devido à sua
função econômico-social. Em consequência, os contratos que regulam
interesses sem utilidade social, fúteis ou improdutivos, não merecem
proteção jurídica. Merecem-na apenas os que têm função econômico-
social reconhecidamente útil.

Isso ocorre porque o contrato é antes de tudo um fenômeno econômico, isso porque
o contrato reflete sempre uma realidade exterior ao conceito jurídico. Roppo (1988,
p. 7) afirma que é imperioso para compreender o contrato adentrar na sua realidade
econômica “que lhe subjaz e da qual ele representa a tradução cientifica-jurídica”.
Logo a função econômica vincula-se estritamente aos interesses particulares das partes
contratantes.

A importância do contrato se dá na transferência de riquezas, pois o contrato segundo


Roppo (1988, p. 8) se traduz na “ideia de operação econômica”. Sendo assim, o contrato
existe para propiciar circulação de propriedade e emanações desta, em clima de
segurança jurídica (THEODORO JUNIOR, 2004, p. 101).

Gomes (2008, p. 22) aponta a variedade de funções econômicas: (a) para promover a
circulação de riquezas; (b) de colaboração; (c) prevenção de riscos; (d) de conservação;
(e) dirimir controvérsia; (f) concessão de crédito e; (g) constitutivo de direitos reais de
gozo e garantia de bens móveis.

18
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

A ideia central da importância econômica do contrato não está assentada na concepção


econômica pura e simples de tradição de bens materiais, mas inclui os bens incorpóreos
e imateriais como ocorre nos contratos de transferência de know how ou mesmo
na prestação de serviço lato sensu (exemplo contrato de representação e depósito
internacional).

O contrato, sendo um conceito jurídico e possuindo importância ímpar na


construção de riquezas, deve observar parâmetros para a sua classificação.
Assim, como correlacionar a importância econômica do contrato e a realização
do contrato obedecendo a sua função social?

“O comércio internacional está inserido em uma realidade contemporânea das


relações econômicas, demonstrando, especialmente, as principais dificuldades
encontradas pelas partes que pretendem participar deste ambiente e as soluções
encontradas pela doutrina, pela jurisprudência e por associações profissionais
que atuam em prol da atividade mercantil internacional.

Nesse projeto de encontrar mecanismos seguros para possibilitar que as partes


contratantes de diferentes Estados disponham de meios necessários à viabilização
das suas pretendidas relações jurídicas de natureza contratual, são adotadas
soluções que vão desde a concepção da existência de um direito do comércio
internacional autônomo e independentemente dos países componentes da
ordem internacional, ao entendimento de que haveria uma lei própria do
contrato, e o mesmo respeito incondicional ao princípio da autonomia privada,
tudo como forma de encontrar a melhor solução à pretensão dos contratantes
que atuam no âmbito internacional.

Assim, diante da dinâmica econômica internacional é importante aos


contratantes sustentarem, a todo o custo, o contrato. Para isso, deve-se manter o
equilíbrio contratual e, para que ele perdure, as condições em que foi concluído
devem preservar-se equilibradas” (AQUINO, 2003, pp. 14-15).

Autonomia privada (da vontade) e


lex mercatoria
Para objetivar a certeza e a segurança nas relações comerciais internacionais, os
contratantes recorrem ao mecanismo da autonomia da vontade (privada) para
designarem o direito ou os direitos aplicáveis à pretensão manifestada, quando da
celebração do contrato evitando, assim, o receio de que a relação contratual fique num

19
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

vácuo jurídico ou mesmo subordinada às regras de conflitos dos direitos que podem
ser acionados em caso de inadimplemento de uma das partes. (AQUINO, 2003, p. 46).

O papel da autonomia privada na escolha da lei


aplicável ao contrato

As partes, diante da sua vontade, elaboram um contrato resguardado juridicamente


ao máximo possível, escolhem, voluntariamente, a lei aplicável a fim de possibilitar
que o contrato esteja ligado a uma ordem jurídica ou a lex mercatoria que lhes seja
favorável. Essa forte motivação serve para proporcionar o alcance da pretendida certeza
e segurança do contrato internacional.

A autonomia privada poderá assumir uma dupla dimensão: (a) dimensão material,
entendida como liberdade de modelação pelas partes dos direitos e obrigações
emergentes do contrato; (b) dimensão conflitual, entendida como a possibilidade
reconhecida aos contraentes de escolherem o sistema jurídico que funcionará como
norma reguladora do contrato, e consequentemente, balizará a liberdade contratual
das partes (RAMOS, 1990, p. 453).

Diante da dupla dimensão, os contratantes no âmbito internacional tendem a


construir um contrato sempre muito minucioso de forma a sanar as suas inseguranças,
vinculando-as a certo conjunto de regras jurídicas e a um determinado juízo competente
para dirimir quaisquer conflitos oriundos da relação negocial, isso se dá por causa do
equilíbrio contratual entre as partes.

E, por fim, a autonomia privada usada na construção do contrato constitui, assim,


o poder de autorregulamentação dos interesses das partes, é exercido por meio da
escolha das cláusulas contratuais, se encontra universalmente aceita. Todavia, o grau
de liberdade desse poder sofre limitações que deverão ser apreciadas de acordo com a
ordem pública na qual o princípio se encontra. Assim, aliada ao elemento da vontade
individual de contratar, estará a boa-fé no comércio internacional, a legalidade de
acordo com o Direito Positivo, bem como a fraude à lei no plano da intencionalidade
individual. (AQUINO, 2003, p. 49).

A autonomia privada constitui hoje um princípio de aceitação generalizada no que


respeita a determinação do direito aplicável nos contratos internacionais. A faculdade
de as partes escolherem o direito aplicável a tais litígios é, na verdade, reconhecida pela
maioria dos autores, por numerosas legislações nacionais, convenções internacionais e
em matéria de arbitragem.

20
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

A lex mercatoria aplicável aos contratos


internacionais

A lex mercatoria (ou usos do comércio internacional) é um conjunto de normas que


compõe o sistema jurídico completo, com mecanismos de soluções de controvérsias e
sanções próprias criado com o objetivo de aumentar a segurança nas diversas relações
jurídicas empresariais internacionais realizadas entre sujeitos que se localizam em
diferentes Estados ou que o objetivo da realização do contrato é a execução em outro
Estado.

Strenger (1986, pp. 554-557) dispõe que a lex mercatoria procura a sustentação nos
sistemas jurídicos dos Estados para a recognição de suas fontes e a execução das decisões
arbitrais. Vicente (1990, pp. 136-179) preleciona que as bases da lex mercatoria se
encontram estabelecidas nos seguintes fundamentos: (a) usos profissionais; (b)
contratos-tipos; (c) regulamentações profissionais ditadas nos limites de cada profissão
por suas associações representativas e; (d) jurisprudencial arbitral.

Assim, as partes, diante da autonomia privada, podem escolher a lex mercatoria como
regra aplicável para possível resolução de litígios decorrentes do contrato.

Elementos de conexão
O contrato internacional traz em si mesmo um elemento de estraneidade que pode ligá-
lo de forma efetiva ou potencial a dois ou mais sistemas jurídicos. Esses elementos de
estraneidade são denominados de elementos de conexão, constituindo o vínculo que
relaciona um fato relevante a determinado sistema jurídico. Em Direito Internacional
Privado, esses elementos ou pontos de conexão, têm a função de indicar o elemento
estrangeiro ou de estraneidade, ou ainda, fato anormal. De acordo com Castro (2005,
pp. 427-433), não são nada mais que elementos fáticos no qual um determinado sistema
legislativo confere essa valoração no sentido de indicar a norma aplicável.

Existem vários elementos de conexão capazes de ligar os contratos internacionais a


um determinado sistema jurídico. Estes elementos consistem fundamentalmente nas
relações ou ligações existentes entre as pessoas, os objetos e os fatos, por um lado, e as
ordens jurídicas estaduais, por outro (AQUINO, 2003, p. 54).

Pinheiro (1998, pp. 846-857) cita como alguns exemplos de elementos de conexão, a
autonomia privada, o lugar da proposta, da recepção ou, ainda, da aceitação da mesma,
a capacidade das partes, o lugar do cumprimento das obrigações, o lugar da residência
habitual das partes, a sede ou estabelecimento das partes contratantes, a nacionalidade

21
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

das partes, a lei do foro onde a demanda deve ser julgada, a lei que foi designada pelas
partes no contrato ou, ainda, a ideia de aplicar ao contrato o direito com o qual ele
esteja mais estreitamente vinculado.

Diante das diferenças de sistemas legislativos e das qualificações diversas que estes
emprestam aos vários elementos de conexão é, evidente, a possibilidade de conflitos
de leis. A complexidade do problema, ainda, não foi satisfatoriamente resolvida pela
doutrina, e nem pelas convenções e, tão pouco, pela jurisprudência.

Mas na opinião de Machado (1997, p. 358), este problema, de determinar o elemento


de conexão, está longe de ser resolvido, pois são diversas as circunstâncias reveladas
durante a elaboração do contrato plurilocalizado, como a economia da época e a
roupagem dada pelas partes na configuração das cláusulas do mesmo.

Assim, é difícil determinar uma forma universal e abstrata para todos os contratos
internacionais, que vise estabelecer qual a lei mais conveniente para dirimir o litígio.

O Brasil, no caso das obrigações, adotou o elemento de conexão decorrente do local da


celebração do contrato (art. 9o LINB).

Teoria da qualificação
A teoria da qualificação é necessária, pois os sistemas jurídicos possuem regulamentação
distinta para os fatos jurídicos. Assim, os conceitos variam de legislação para legislação,
tanto no que tange o linguajar quanto também na qualificação, ou ainda, quando nas
legislações envolvidas no contrato inexiste uma determinada instituição.

Assim, por exemplo, um determinado contrato internacional não foi cumprido,


o judiciário ou o juízo arbitral é chamado para resolver o litígio. Nesse momento, o
julgador deve adequar o caso concreto a uma especialidade do direito que lhe é
pertinente, classificando a matéria jurídica e definindo as questões principiais.

Para se resolver qualquer questão jurídica envolvendo direito internacional privado,


procura-se achar a norma mais adequada, o que depende de eleger a instituição, a
noção, o conceito e o critério de apreciação de que se vai utilizar.

Strenger (2000, p. 392) afirma que “se tivermos uma questão de direito internacional
privado, é preciso determinar a forma pela qual ela se enquadra no sistema jurídico de
determinado país”.

22
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Logo, a qualificação resume em identificar um fato perante o direito envolvendo


a determinação da unicidade da situação jurídica em relação ao caso concreto e o
estabelecimento da norma internacional aplicável.

Del’Olmo (2010, p. 35) demonstra que “a qualificação deve anteceder a escolha da lei
aplicável, sendo sempre processual”, pois se qualificam “apenas questões jurídicas e
nunca simples fatos, que não tem qualificação em si mesmos”.

Colocando a teoria da qualificação do contrato dentro da perspectiva contratual e


de suas garantias, podemos afirmar que, por exemplo, uma hipoteca no país “A” é
qualificada no direito das obrigações contratuais, enquanto no país “B” se encontra no
direito das coisas (direito real de garantia) ou mesmo não existindo tal instituto nas
regras jurídicas do país. O direito brasileiro adota o critério da qualificação pelo local
onde foi constituída a obrigação.

Devolução (ou reenvio)


A devolução no direito internacional privado segundo Diniz (2005, p. 91) é o “modo
de interpretar a norma de direito internacional privado, mediante a substituição da
lei nacional pela estrangeira, desprezando o elemento de conexão apontado pelo
ordenamento alienígena”.

Pela teoria do reenvio ou da devolução, sempre que ocorrer um conflito, será a lei
estrangeira aplicada por disposição da lei nacional. Dessa forma, o reenvio pode ser em
escalas: (a) de primeiro grau, quando o conflito normativo envolver dois Estados; (b) de
segundo grau, se envolver três Estados e assim por diante.

O direito brasileiro exclui de forma peremptória aplicação desse instituto, pois o art. 16
da LINB dispõe que “quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar
a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer
remissão por ela feita a outra lei”.

Riscos contratuais
A expressão risco segundo Alpa (1989, p. 1.146) pode ser, genericamente, dividida entre
o risco de inadimplemento, que se verifica quando uma das prestações não é realizada
por fato voluntário ou culposo do devedor, por intervenção de terceiro, ou por caso
fortuito, e o risco de diminuição da vantagem econômica do negócio por preexistência
ou superveniência de circunstâncias previstas ou previsíveis e que não comportam o
inadimplemento em sentido técnico, mas a perturbação da economia originária do
23
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

contrato. Já Giandomenico (1987, p. 299) entende que o conceito de álea contratual


se define pela incerteza do resultado econômico global que a parte poderá ter, e deriva
da eventual perturbação do equilíbrio econômico originário visado pelas partes. Para
a Comissão Europeia (2003, p. 53), a alea é definida como “qualquer fator, evento ou
influência que ameace a conclusão bem sucedida de um projeto, em termos de prazo,
custo ou qualidade”.

Machado (1988, p. 52), em um estudo que tratava sobre o conceito do risco, chegou à
conclusão de que é impossível caracterizá-lo de maneira concreta, pois não se enquadra
na dogmática jurídica, posto que para caracterizá-lo será necessário observar a economia
de cada contrato em concreto a qual, por seu turno, depende da configuração que as
partes deem em às cláusulas deste e das circunstâncias que o rodeiam. Utilizar-se-á
aqui, no essencial, um amplo conceito de risco semelhante ao de Mousseron (1988, pp.
487-490) que “por risco entenderemos, considerando o estado de eventualidade no
dia da conclusão do contrato, qualquer desvio em relação à linha traçada, ao projeto
inicial, econômico ou financeiro em que as partes tinham inicialmente acordado”. O
autor inclui como componente essencial a sua noção de risco, o que designa por riscos
internos, “aqueles que relevam do comportamento de uma das partes, os riscos da
inexecução em primeiro lugar”.

No plano contratual, o conceito de risco entendido como sendo um perigo de um mal


ganha especial relevância quando o mesmo plano não acontece ou quando não se efetua
de acordo com o pretendido. Os contratantes, por força da sua autonomia privada
material, podem estipular as formas como assumem e distribuem os riscos de sua
relação contratual. Devemos, assim, verificar quais são os contornos dos riscos próprios
do contrato. (AQUINO, 2003, p. 118).

A análise dos riscos de certo contrato devem ser analisados observando o ambiente
que rodeou a sua celebração, tais como, o contexto econômico, político, ambiental,
legislativo, financeiro, social etc. Em virtude disso, poderá haver riscos que devem ser
considerados como próprios do contrato e que em outro caso seriam inimagináveis.

O contrato é sempre influenciado pela valoração segundo a consciência social do


momento. Por exemplo, os riscos de um contrato internacional de fornecimento de
Petróleo celebrado durante o período da guerra são diferentes dos riscos de um
contrato celebrado em tempo de paz. No primeiro caso, as partes quando realizam
o contrato têm consciência do ambiente que as rodeiam e, mesmo assim, quiseram
contratar, assumindo os riscos decorrentes da situação. Questão diferente ocorre
quando o contrato é realizado em tempo de paz, mas que a execução se dá em período
de guerra, sem que nada tivesse influenciado ou previsto, gerando um desequilíbrio

24
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

contratual, não previsto inicialmente no programa contratual. Nesse caso, a guerra não
estava incluída nos riscos assumidos pelas partes e tão pouco é do próprio contrato.
(AQUINO, 2003, p. 118).

Aquino (2003, p. 119) disciplina que:

alterando-se, fundamentalmente, o ambiente contratual, exigir-se


o cumprimento do contrato, além de implicar na violação grave do
princípio da boa-fé, passa a não se poder permitir a inclusão dentro dos
riscos assumidos, na medida em que, o seu adimplemento implica em
prejuízos que extrapolam a álea preestabelecida no contrato. No plano de
distribuição do risco de cada contrato, tem que se ter em consideração os
elementos ambientais da celebração e os quais em que, provavelmente,
será executado. Cada contrato tem a sua individualidade própria, pois
a vida contratual pode e é muito criativa. Perante cada contrato, algum
ou alguns dos seus elementos podem ser mais ou menos relevantes, de
acordo com o ordenamento jurídico aplicável ao contrato. Assim, para
descobrirmos quais são os riscos próprios do contrato, teremos de fazer
uma análise casuística dos elementos do contrato.

A alocação dos riscos representa, por sua vez, a repartição objetiva das áleas entre as
partes. Quando feita de forma clara e eficiente, tem o condão de diminuir as incertezas
quanto ao futuro, proporcionando maior segurança jurídica e reduzindo o custo global
do projeto. (COMISSÃO EUROPEIA, 2003, p. 130).

A ideia de alocação dos riscos deve ser atribuída àquele que tem melhor condição
para administrá-lo, avaliar, controlar e gerenciar ou a parte com melhor acesso a
instrumentos de cobertura, a maior capacidade para diversificar, ou o menor custo
para suportá-los, isso porque dois fatores que devem ser levados em consideração na
alocação dos riscos: primeiro, o grau em que o agente pode influenciar ou controlar
o resultado sujeito a riscos; segundo, a capacidade do agente em suportar o risco.
(IRWIN et. al., 1997, pp. 1-19).

Dessa forma, o risco nos contratos irá depender das relações jurídicas casuísticas e sua
alocação deverá observar parâmetros objetivos, mas respeitado a autonomia privada
dos indivíduos contratantes.

“Tal questão, como vem de ser dito, refere-se à definição de ordem jurídica. Seria
legítimo de perguntá-la a estes que sustentam que a lex mercatoria tem todas
as características de uma ordem jurídica. Na verdade, sua reflexão não parece
portar-se principalmente sobre a questão da definição, no entanto essencial

25
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

para sua doutrina. E é um pouco pelas palavras utilizadas aleatoriamente, que se


deve tentar determinar ‘a’ ou ‘as’ concepções de ordem jurídica”.

Atendo-se aos dois grandes artigos de Goldman de 1964 e de 1979, parece que
a ordem jurídica é percebida principalmente como um conjunto de regras. O
primeiro artigo insiste de fato que “o caráter de regras não pode ser recusado
aos elementos constitutivos da lex mercatoria” e o segundo tenta mostrar
que “a lex mercatoria cumpre a função de um conjunto de regras de direito” .
Convém, portanto, examinar se a lex mercatoria responde a esta concepção de
ordem jurídica (A). Todavia, Goldman, em seu último artigo, parece também
fazer alusão, se bem que de maneira pouco clara, à concepção institucional mais
moderna de ordem jurídica, que deverá ser determinada e a qual deverá ainda
ser confrontada com a lex mercatoria (B).” (LARGARDE, 2014).

Assim, a lex mercatoria é um conjunto de regras?

A formação do contrato internacional


O contrato internacional, além das particularidades próprias, possui alguns
componentes, na sua formação, que conferem confiança e segurança jurídica aos
contratantes.

Indica-se que todos os componentes estejam inseridos no contrato internacional na


forma escrita, para garantir uma estabilidade contratual.

A proposta constitui-se pela manifestação de vontade de uma das partes em que declara
o interesse em formalizar determinado contrato. Ela vincula, em regra, o proponente
não podendo se afastar da proposta sem informar o outro contratante.

A carta de intenções serve para a estipulação dos pontos a serem negociados no contrato
internacional, incluindo a determinação dos documentos que serão oportunamente
apresentados, além da designação dos objetivos da relação jurídica contratual. Caso as
partes não concluam o contrato, poderá ser instituído perdas e danos pela não realização
do contrato.

A aceitação da proposta se realiza da mesma forma que a proposta em regra, e estabelece


o vínculo contratual para todas as partes envolvidas.

A due diligence é uma espécie de auditoria, em que um contratante analisa a


documentação do outro. Salienta-se que a apresentação dos documentos leva em
consideração o conteúdo apresentado na carta de intenção.

26
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

O contrato deve conter cláusulas de individualização das partes, do objeto e da forma a


ser redigido, além das cláusulas especiais, tais como a lei aplicável ao contrato, eleição
do foro etc.

Por fim, deve haver para segurança dos contratantes a análise do documento por
advogados das partes, que podem fazer sugestões ao contrato, apontando riscos às
partes.

O contrato estará firmado após a sua redação pronta e assinado pelas partes e sua
execução poderá se dar no exato momento da celebração ou no futuro.

A questão da formação do contrato no âmbito internacional poderá ter como base a CISG
e os Princípios do Unidroit, isso porque Bonell (1997, pp. 59-76) aborda o papel dos
Princípios do Unidroit e a CISG indagando serem ambos alternativas ou instrumentos
complementares para a uniformização do direito. Podemos afirmar que a edição dos
Princípios do Unidroit é um marco singular no DIPr por sintetizarem os princípios
fundamentais da disciplina mediante algumas regras gerais básicas e a ratificada pelo Brasil
da CISG constitui um marco para as relações contratuais de compra e venda internacional.

Convenção das Nações Unidas sobre os


Contratos de Compra e Venda Internacional
de Mercadorias (CISG)
Segundo o art. 14 da CISG, a formação do contrato ocorrerá quando:

1. Uma proposta tendente à conclusão de um contrato dirigida a uma ou


várias pessoas determinadas constitui uma proposta contratual se for
suficientemente precisa e se indicar a vontade de o seu autor se vincular
em caso de aceitação. Uma proposta é suficientemente precisa quando
designa as mercadorias e, expressa ou implicitamente, fixa a quantidade
e o preço ou dá indicações que permitam determiná-los.

2. Uma proposta dirigida a pessoas indeterminadas é considerada apenas


como um convite para contratar, a menos que a pessoa que fez a proposta
tenha indicado claramente o contrário.

A proposta, mesmo que irretratável, poderá ser retirada se a retratação chegar antes
ou ao mesmo tempo em que a proposta será extinta quando a sua rejeição chegar ao
proponente ou, ainda, poderá ser revogada se a revogação chegar ao destinatário antes
de este ter expedido uma aceitação.

27
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

A CISG, no art. 16, prevê ainda que:

no entanto, uma proposta contratual não pode ser revogada: (a) se


indicar, por meio da fixação de um prazo para a aceitação, ou por
qualquer outro modo, que é irrevogável; ou (b) se era razoável que o
destinatário atribuísse caráter irrevogável à proposta contratual e se ele
agiu em consequência dessa atribuição.

A aceitação se dará quando a proposta chegar ao conhecimento da outra parte, que


poderá ser feita por qualquer comportamento ativo, não sendo o silêncio considerado
como aceitação.

A CISG, no art. 18, estipula que;

a aceitação de uma proposta contratual torna-se eficaz no momento em


que a manifestação de assentimento chega ao proponente. A aceitação
não se torna eficaz se aquela manifestação não chegar ao proponente
no prazo que ele estipulou ou, na falta de tal estipulação, em um prazo
razoável, tendo em conta as circunstâncias da transação e a rapidez dos
meios de comunicação utilizados pelo autor da proposta. Uma proposta
contratual feita verbalmente deve ser aceita de imediato, a menos que
as circunstâncias indiquem outra coisa.

Caso o aceitante efetue alterações na proposta original, as modificações serão


consideradas como contrapropostas. Mas se as modificações não forem substanciais,
mas sim adiamentos circunstanciais, haverá uma aceitação à proposta original.

O art. 19, da CISG, estipula que:

considera-se que alteram substancialmente os termos da proposta


contratual elementos complementares ou diferentes relativos
nomeadamente ao preço, pagamento, qualidade e quantidade
das mercadorias, ao lugar e momento da entrega, ao âmbito da
responsabilidade de uma parte em face da outra ou à resolução dos
diferendos.

O prazo de aceitação poderá ser fixado pelo proponente, se for por carta ou telegrama
será no momento que for entregue a expedição ou na data que figurar na carta ou,
se a carta não estiver datada, na data que figura no envelope. O prazo de aceitação
que o autor da proposta contratual fixa pelo telefone, telex, ou por outros meios de
comunicação instantâneos, começa a correr no momento em que a proposta chega ao
destinatário.

28
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Os dias de feriados ou de descanso laboral compreendidos no decurso do


prazo de aceitação são contados no cálculo deste prazo. No entanto, se
a notificação não puder ser entregue no endereço do autor da proposta
contratual no último dia do prazo, porque este calha num dia feriado ou
de descanso laboral no lugar do estabelecimento do autor da proposta
contratual, o prazo é prorrogado até o primeiro dia útil seguinte (art.
20 da CISG).

Aceitação poderá ser retirada se esta chegar antes da aceitação ou no momento que
chegar a aceitação, isso porque uma aceitação tardia produz efeitos, se não houver
qualquer manifestação em contrário ou se os elementos constantes na carta ou telegrama
confirmarem que o atraso não se deu por causa do aceitante.

O contrato conclui-se no momento em que a aceitação de uma proposta contratual se


torna eficaz em conformidade com as disposições da Convenção (art. 23 da CISG).

O contrato de compra e venda não tem de ser concluído por escrito (telegrama e telex)
nem de constar de documento escrito e não está sujeito a nenhum outro requisito de
forma. O contrato pode ser provado por qualquer meio, incluindo a prova testemunhal
(art. 13 da CISG).

Os princípios do Unidroit

Segundo os Princípios do Unidroit, a proposta corresponde a uma declaração negocial


precisa e de maneira que o proponente manifeste a sua vontade de se vincular em caso
de aceitação.

A proposta torna-se eficaz logo que chega ao destinatário, mas poderá ocorrer a retratação
se chegar ao destinatário antes ou ao mesmo tempo que a proposta. A proposta ainda
poderá ser revogada até que um contrato seja concluído ou pode ser revogada, se a
revogação alcançar o destinatário antes que ele tenha expedido a aceitação. Contudo,
não poderá ser revogada se ela indicar ser irrevogável, seja pela aposição de um prazo
para sua aceitação, seja por outro modo; ou se era razoável para o destinatário confiar
em que a proposta foi feita como irrevogável e tiver agido sob esta confiança.

A aceitação ocorrerá quando o declarante manifestar de maneira expressa ou outra


conduta por ele assumida, indicando assentimento a uma proposta. O silêncio ou a
inatividade, por si só, não importa em aceitação. Entretanto, se, por força da proposta
ou como resultado de práticas estabelecidas entre as partes ou pelo uso, pode o
destinatário, sem notificar o proponente, indicar assentimento, pela execução de um

29
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

ato, caso em que a aceitação se torna efetiva quando o ato é praticado. (Art. 2.1.6 dos
Princípios do Unidroit).

Uma aceitação pode ser retirada, desde que a retratação chegue ao proponente o mais
tardar no momento em que a aceitação se teria tornado efetiva.

O prazo de aceitação será fixado pelo proponente, ou, se não houver prazo fixado,
dentro de um tempo razoável, consideradas as circunstâncias, inclusive a rapidez dos
meios de comunicação empregados pelo proponente. Uma proposta oral deve ser
aceita imediatamente, a não ser que as circunstâncias indiquem o contrário. O início
da contagem do prazo para aceitação se dá no momento em que a proposta é enviada.

ARTIGO 1.12 (Cômputo dos prazos fixados pelas partes).

Os feriados que se verifiquem no decurso do prazo estabelecido pelas


partes para a prática de um ato são naquele incluídos.

Todavia, se o último dia do prazo for um feriado ou dia não útil no


lugar onde a parte que deva praticar o ato tenha seu estabelecimento, o
prazo será prorrogado até o primeiro dia útil seguinte, a menos que as
circunstâncias indiquem o contrário.

O fuso horário de referência será aquele do lugar do estabelecimento


da parte que fixar o prazo, a menos que as circunstâncias indiquem o
contrário.

No caso a aceitação tardia ou atraso na transmissão se aplica o disposto


no art. 2.1.9 dos Princípios do Unidroit que prevê:

uma aceitação tardia é, não obstante, efetiva como aceitação, se, sem
atraso injustificável, o proponente dela informe o destinatário ou lhe dê
notícia para esse efeito.

Se a comunicação que contém uma aceitação tardia revela que foi


remetida em circunstâncias tais que, se a sua expedição tivesse sido
normal, ela teria alcançado o proponente em tempo devido, a aceitação
tardia é efetiva como aceitação, a não ser que, sem atraso injustificável,
o proponente informe o destinatário que considera caduca a proposta.

Uma resposta a uma proposta reputada constitui uma aceitação, mas que contenha
adições, limitações ou outras modificações, é uma rejeição da proposta e constitui uma
contraproposta.

30
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Entretanto, uma resposta a uma proposta presumida pode ser uma aceitação, mas se
contiver termos adicionais ou diferentes, que, materialmente, não alteram os termos da
proposta, constitui uma aceitação, salvo se o proponente, sem atraso injustificável, argui
a discrepância. O art. 2.1.11 dos Princípios do Unidroit dispõe a “resposta que pretenda
ser uma aceitação, mas contenha elementos complementares ou diferentes que não
alterem substancialmente os termos da proposta, valem como aceitação, salvo se o
proponente, sem atraso injustificado, manifestar o seu desacordo sobre os elementos”.
Se o proponente não objeta, os termos do contrato são os termos da proposta com as
modificações contidas na aceitação. Mas se a modificação for circunstanciada, não será
considerada contraproposta. (Art. 2.1.11 dos Princípios do Unidroit).

O contrato fica concluído quer pela aceitação expressa da proposta quer por uma
conduta que se mostre com suficiente clareza o mútuo consenso. Entretanto, a proposta
será extinta se a resposta da não aceitação chegar ao proponente.

Imaginemos a seguinte situação: um sujeito brasileiro convida um cidadão


Inglês para embarcar no Brasil para negociar um contato. O convidado pega o
voo, reserva um quarto de hotel e aluga um carro. Quando chega ao escritório,
no Brasil, é informado que não mais celebrará o contrato, pois já contratou com
outra pessoa duas semanas atrás. A luz do direito inglês não se pode cogitar
nenhum tipo de indenização ao sujeito inglês, mas podemos afirmar o mesmo
se o direito aplicável for o Brasileiro, ou seja, haverá responsabilidade civil por
parte do contratante brasileiro.

A prática contratual internacional criou novas figuras, estabelecendo novos


critérios sobre os quais é preciso refletir. As regras básicas da imobilidade
e imutabilidade dos contratos, em que se traduz à conciliação dos interesses
opostos, que nascem de um choque de vontades que depois da guerra
fazem as pazes. Qual o papel desempenhando pelas regras internacionais na
movimentação do tráfego comercial?

Redação de contratos internacionais


Na redação do contrato, as partes devem utilizar-se do mesmo idioma da legislação
aplicável ao contrato, podem se utilizar dos idiomas das nacionalidades dos envolvidos,
ou então se valem de um idioma para desenvolver o contrato e elege-se outra para o
caso de surgirem dúvidas na compreensão do contrato.

31
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Apesar da multiplicidade de contratos existentes no âmbito internacional, é possível


efetuar uma seleção das principais cláusulas contratuais. Isso ocorre por causa
da pluralidade de leis possíveis de aplicação ao contrato, diversidade de objetos,
possibilidade ou não de revisão contratual e tantas variáveis possíveis.

Assim, o contrato deve ser estruturado da seguinte forma, preferencialmente: (a)


nomenclatura do contrato; (b) qualificação das partes e intervenientes; (c) preâmbulo;
(d) cláusulas específicas.

As cláusulas do contrato internacional podem ser: (a) definições contratuais; (b) cláusula
de interpretação; (c) objeto contratual; (e) obrigações dos contratantes; (f) cláusula de
pagamento; (g) responsabilidade pelos tributos; (h) questões de cunho ambiental; (i)
cláusula de vinculação legal; (j) não ocorrência de inadimplemento; (k) exigibilidade do
contrato; (i) veracidade e integralidade das informações; (l) inexistência de pendências
judiciais; (m) hardship; (n) força maior; (o) aditamentos; (p) não renúncia; (q) notificações;
(r) cessão; (s) independência das disposições; (t) títulos e; (u) lei e eleição do foro.

Questão importante é que todo contrato internacional deve ser elaborado com base na
lei que será regido para se evitar problemas de licitude das partes, objeto e forma. No
Brasil será sempre necessário que o contrato tenha agente capaz, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104 do Código
Civil – CC).

Cláusula da nomenclatura do contrato

A nomenclatura do contrato é necessária, mesmo que seja juridicamente inexata, daí


apreciá-lo intrinsecamente e não extrinsecamente, pelo que se lhe chamou, isso porque
há necessidade do reconhecimento da tipicidade do contrato mesmo antes da sua
recepção na lei e consequente criação do tipo legal.

A ideia é fundamentar o contrato em um sentido que lhe é inerente, o que significa que é
regido por regras, que não lhes são exteriores, mas antes lhes são próprias e privativas,
que constituem a sua normatividade. (VASCONCELOS, 1995, p. 60).

As disposições sobre a interpretação dos negócios jurídicos são verdadeiras regras


jurídicas, com uma natureza lógico-jurídica e lógico-valorativa e, com uma exigência
absoluta de aplicação, não podendo mesmo ser afastadas pelas partes para desvirtuar a
natureza dos contratos alterando-lhes a sua face jurídica. As referidas disposições são
verdadeiras normas injuntivas, cuja delineação dependerá do sistema jurídico aplicável.

32
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Tercier (apud VASCONCELOS, 2004, p. 90) afirma que a “função da tipificação é, pois
de simplificar o processo da contratação, de equilibrar o conteúdo dos contratos por
meio do direito do tipo e de acordo com os critérios de justiça do sistema, e de integrar
as estipulações das partes do modo como o contrato é usual e tipicamente celebrado”.

No sistema de natureza jurídico romana, os contratos trazem a sua tipificação em


conformidade com a legislação, facilitando a identificação do contrato, bem como a
correta aplicação legal ao objeto do contrato celebrado entre os contratantes.

No sistema anglo-saxão, os contratos procuram utilizar a nomenclatura com base na


função econômica do contrato, sem se preocupar com o objeto da relação contratual.
Assim, normalmente, os contratos redigidos com referência ao sistema anglo-saxão têm
como nomenclatura os seguintes termos: letter agreement que reflete ao acordo celebrado
com duas ou mais partes e deed que é a avença que necessita de posterior registro.

Cláusula de qualificação das partes e


intervenientes

O contrato deve conter as seguintes informações: a qualificação dos contratantes de


forma escrita e por extenso, o nome dos procuradores, representantes e administradores,
a nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência, documento de
identificação, seu número e órgão expedidor e número de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas (CPF), dispensada a indicação desse último no caso de brasileiro ou
estrangeiro domiciliado no exterior, e para a pessoa jurídica o nome empresarial,
endereço completo e, se sediada no País, o Número de Identificação do Registro de
Empresas (NIRE) ou do Cartório competente e o número de inscrição no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) (art. 53, III, d, do Decreto no 1.800/1996).

Deve se observar os seguintes requisitos para qualificação dos contratantes:


»» Se pessoa física (brasileiro ou estrangeiro) residente e domiciliado no
País ou no exterior: Nome civil, por extenso; nacionalidade; estado civil;
data de nascimento, se solteiro; profissão; documento de identidade,
número e órgão expedidor/UF; CPF; endereço residencial (tipo e nome
do logradouro, no, complemento, bairro/distrito, município, unidade
federativa e CEP, se no País);
»» Se pessoa jurídica com sede no País: nome empresarial; nacionalidade;
endereço da sede (tipo e nome do logradouro, no, complemento, bairro/
distrito, município, unidade federativa e CEP); Número de identificação
do Registro de Empresa (NIRE) ou número de inscrição no Cartório
competente; CNPJ;

33
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Se pessoa jurídica com sede no exterior: nome empresarial; nacionalidade; endereço


da sede; CNPJ.

Preâmbulo ou consideranda

A consideranda tem por objetivo justificar e apontar qual o tipo contratual, bem como
apresentar as intenções, o contexto, as preocupações etc. Segundo Mamede (2013,
p. 492), os considerandos serve para “oferecer ao interprete/aplicador do ajuste,
referências para construir uma adequada hermenêutica das cláusulas estabelecidas”.
Em suma, são as razões apontadas pelas partes como fundamento do contrato.

No direito anglo-saxão inserção do preâmbulo é requisito de eficácia contratual,


enquanto o direito romano-germânico não se trata de requisito obrigatório, mas de
toda forma auxilia a sua leitura do contrato.

Exemplo:

Considerando que o vendedor/exportador acima qualificado é legítimo proprietário do


bem, conforme definição constante na Cláusula no [...] deste Contrato, e deseja aliená-lo.

Considerando que o comprador/importador tem interesse em comprar o bem, efetuando,


para tanto, o pagamento do valor total a ser pago pelo comprador ao vendedor.

As partes contratantes celebram o presente instrumento particular, conforme os


seguintes termos e condições: [...]

Cláusulas específicas
Como já mencionado as cláusulas específicas podem ser: (a) definições contratuais;
(b) cláusula de interpretação; (c) objeto contratual; (e) obrigações dos contratantes;
(f) cláusula de pagamento; (g) responsabilidade pelos tributos; (h) questões de cunho
ambiental; (i) cláusula de vinculação legal; (j) não ocorrência de inadimplemento;
(k) exigibilidade do contrato; (i) veracidade e integralidade das informações; (l)
inexistência de pendências judiciais; (m) hardship; (n) força maior; (o) aditamentos;
(p) não renúncia; (q) notificações; (r) cessão; (s) independência das disposições; (t)
títulos e; (u) lei e eleição do foro.

34
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Cláusula de definição

A definição dos termos nos contratos facilita a interpretação contratual, isso porque os
termos jurídicos usados nos contratos internacionais podem ter significados diferentes
para as partes.

Assim, por exemplo, “dia útil” seria de segunda-feira a sexta-feira, não englobando o
sábado, o domingo ou feriado, mas se tivermos tratando de um contrato internacional
envolvendo uma operação bancaria a expressão “dia útil” abrangeria apenas os dias de
expediente bancário.

Em suma, a cláusula é construída durante toda a elaboração do contrato.

Exemplo: para efeito deste seguro, considera-se:

a. equipamentos segurados: aqueles indicados na especificação da apólice;

b. equipamentos estacionários: máquinas ou equipamentos do tipo fixo,


quando instalados ou em operação permanente em edificação situada no
endereço especificado na apólice; e

c. equipamentos móveis: máquinas ou equipamentos autopropulsores,


rebocáveis ou que, em razão de sua própria operação não permaneçam
instalados ou em operação permanente em edificações.

Exemplo retirado do termo de parceria e outras avenças (2008, p. 2):

Certidões Digitais: são as Certidões emitidas pelos Cartórios de


Registros Públicos com base nos seus assentamentos registrários, que
serão emitidas e encaminhadas eletronicamente ao Poder Público por
meio do Sistema IRIB/ARISP (CRSEC).

A ideia central dessa cláusula é evitar discussão acerca do entendimento dos temos
utilizados e evitar a necessidade de usar a interpretação para descortinar o real sentido
da expressão utilizado à época da contratação.

Cláusula de interpretação

A ideia principal da inserção deste tipo de cláusula é afastar possíveis dúvidas no que se
refere à interpretação dos termos existentes no contrato, dando tratamento homogêneo
e unitário acerca da expressão.

35
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

A interpretação dos contratos é feita de acordo com a vontade comum das partes, sem
que algum litígio ou dificuldade se suscite. Assim, só quando não se encontra um sentido
consensual para o contrato ou para algumas das suas cláusulas, é que as partes, ou o julgador,
interrogam a lei aplicável ao litígio para a solução do caso (AQUINO, 2012, p. 748).

Exemplo: fica entendido e acordado que este seguro não cobre qualquer prejuízo, dano,
destruição, perda ou reclamação de responsabilidade, de qualquer espécie, natureza ou
interesse, desde que devidamente comprovado pela Seguradora, que possa ser, direta
ou indiretamente, originado de, ou consistir em:

a. falha ou mau funcionamento de qualquer equipamento ou programa


de computador ou sistema de computação eletrônica de dados em
reconhecer ou corretamente interpretar ou processar ou distinguir ou
salvar qualquer data como real e correta data de calendário, ainda que
continue a funciona corretamente após aquela data; e

b. qualquer ato, falha, inadequação, incapacidade, inabilidade ou decisão


do Segurado ou de terceiros, relacionado com a não utilização ou não
disponibilidade de qualquer propriedade ou equipamento de qualquer
tipo, espécie ou qualidade, em virtude do risco de reconhecimento,
interpretação ou processamento de datas de calendário; Para
todos os efeitos, entende-se como equipamento ou programa de
computador os circuitos eletrônicos, microchips, circuitos integrados,
microprocessadores, sistemas embutidos, hardware (equipamentos
computadorizados), software (programas utilizados ou a serem utilizados
em equipamentos computadorizados), firmware (programas residentes
em equipamentos computadorizados), programas, computadores,
equipamentos de processamento de dados, sistemas ou equipamentos
de telecomunicações ou qualquer outro equipamento similar, sejam de
propriedade do segurado ou não.

A presente cláusula é abrangente e derroga inteiramente qualquer dispositivo do


contrato de seguro que com ela conflite ou que dela divirja.

A finalidade da inserção desta cláusula é evitar a dúvida que possa gerar no interprete
na leitura do contrato.

Cláusula do objeto contratual

Importante se observar que a cláusula identificando o objeto do contrato deve ser


efetivamente clara, pois com isso se evita dúvidas quanto à natureza do contrato

36
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

que está sendo celebrado, bem como se objetiva prevenir problemas futuros com o
enquadramento tributário e contábil da transação comercial efetuada.

Exemplo: Cláusula primeira: do objeto.

Contratação de empresa para prestação de serviços de hospedagem,


com infraestrutura voltada para Hotel com padrão internacional
(classificação “5” estrelas SL), no período compreendido entre Julho de
2011 até 27 de dezembro de 2013, visando atender ao contrato firmado
com a empresa.

A clareza na determinação do objeto descrito e o prazo de fornecimento do objeto


procura afastar eventuais problemas com a qualificação do tipo contratual.

Obrigações dos contratantes

As obrigações dos contratantes devem estar claras, pois a partir delas é que elas passam
a ter maior segurança, devendo inclusive ser redigidas com extrema cautela e precisão.
A ideia é fazer com que cada um dos envolvidos saiba os procedimentos que devem ser
tomados e em que momento.

Exemplo: Cláusula quarta: das obrigações do contratante.

Constituem obrigações do contratante: (a) exercer a fiscalização do


contrato; (b) fornecer à contratada documentos, informações e demais
elementos que possuir, pertinentes à execução do presente contrato;
(c) realizar os pagamentos devidos à contratada, nas condições
estabelecidas neste Contrato; (d) receber provisória e definitivamente o
objeto do contrato nas formas definidas na proposta detalhe.

Cláusula quarta: das Obrigações da Contratada

Constituem obrigações da contratada: (a) a contratada obriga-se


a prestar os serviços no hotel indicado neste instrumento, nas datas
reservadas pela contratante, obedecendo todas as cláusulas e condições
pactuadas neste contrato; (b) fornecer todos os serviços nas condições
estabelecidas no Edital e no Termo de Referência e na Proposta Detalhe;
(c) conduzir os serviços de acordo com as normas do serviço e com estrita
observância do presente contrato e da legislação vigente; (d) fornecer à
contratada documentos, informações e demais elementos que possuir,
pertinentes à execução do presente contrato; (e) responsabilizar-se
pelo recolhimento dos tributos decorrentes no contrato a ser firmado,

37
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

bem como arcar com os encargos trabalhistas, securitários e outros de


qualquer natureza, relativos à mão de obra utilizada na execução do
objetivo licitado; (f) prover os serviços ora contratados, com pessoal
adequado e capacitado em todos os níveis de trabalho; (g) manter,
durante toda a duração deste contrato, em compatibilidade com as
obrigações assumidas, as condições de habilitação e qualificação
exigidas para participação na licitação; (h) notificar, por escrito, à
contratada, ocorrência de eventuais imperfeições no curso de execução
dos serviços, fixando prazo para a sua correção; (i) prestar, sem
quaisquer ônus para o Contratante, os serviços necessários à correção
e revisão de falhas ou defeitos verificados no trabalho, sempre que a ela
imputáveis; (j) responder pelos serviços que executar, na forma do ato
convocatório e da legislação aplicável.

A questão dessa cláusula é expor os deveres de cada uma das partes.

Cláusula de pagamento

A elaboração da cláusula de pagamento deve ser realizada com muito cuidado, pois a
indicação precisa da moeda pode facilitar o pagamento, isso porque no direito brasileiro
o pagamento só poderá ser realizado em moeda corrente, mas podendo constar a
respectiva equivalência a uma moeda estrangeira.

Outro ponto é local de pagamento, pois poderá ocorrer na praça do domicílio do


contratante ou da contratada ou então na realização da obrigação.

Outra questão importante é saber se o pagamento deve ser feito por transferência de
valores ou não, sendo nesse caso interessante conhecer as regras cambiais com os países
envolvidos.

Exemplo: Cláusula nona: condições de pagamento.

O contratante deverá pagar à contratada o valor correspondente a cada


hospedagem, na medida e por ocasião de sua efetiva utilização pelo
primeiro, sendo o pagamento realizado mediante a apresentação da
nota fiscal e efetuado diretamente na conta corrente no......., agência .....,
de titularidade da contratada, no banco _____.

Parágrafo primeiro – no caso de a contratada estar estabelecida em


localidade que não possua agência do banco ________, o pagamento
poderá ser efetuado no banco _______, cujo número e agência deverão
ser informados pelo contratado até a assinatura do contrato.

38
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Parágrafo segundo – a contratada deverá encaminhar a nota fiscal


para pagamento à _____ situada ____________________,
acompanhada de comprovante de recolhimento mensal do INSS e
FGTS, bem como comprovante de atendimento aos encargos previstos
no parágrafo segundo da cláusula oitava, todos relativos à mão de obra
empregada no contrato.

Parágrafo terceiro – satisfeitas as obrigações previstas no parágrafo


segundo, o prazo para pagamento é de 30 (trinta) dias, contados da data
da entrada do documento de crédito, isento de erros, o departamento
de contas a pagar, previamente atestado por duas testemunhas que não
o ordenador de despesas, designados para a fiscalização do contrato.

Parágrafo quarto: caso se faça necessária a reapresentação de qualquer


fatura por culpa da contratada, o prazo de 30 (trinta) dias reiniciar-se-á
a contar da data da respectiva reapresentação.

Parágrafo quinto: os pagamentos eventualmente realizados com atraso,


desde que não decorram de ato ou fato atribuível à contratada, sofrerão
a incidência de atualização financeira pelo INPC e juros moratórios de
0,5% ao mês, calculado pro rata die, e aqueles pagos em prazo inferior
ao estabelecido neste edital serão feitos mediante desconto de 0,5% ao
mês pro rata die.

Parágrafo sexto – decorrido o prazo de 12 (doze) meses da data da


apresentação da proposta ou do orçamento a que essa proposta se
referir, poderá a contratada fazer jus ao reajuste do valor contratual
pelo IPCA, que deverá retratar a variação efetiva do custo de produção
ou dos insumos utilizados na consecução do objeto contratual.

O valor do contrato pactuado pelos contratantes normalmente é baseado no valor


líquido sem qualquer tipo de desconto, inclusive no que se refere a eventuais incidências
tributárias, mas é possível que o envio dos valores implique no aumento das despesas
do pagador, o que pode não ter sido analisado à época da realização do contrato.

Cláusula de cessão

A concepção da inserção de cláusula deste tipo é evitar que o ônus de umas das partes
seja transferido a outras empresas, sem o consentimento expresso da outra contratante,
por esse motivo diversos contratos quando não proíbem a cessão a permitem, desde
que, haja previsão da cessão com a expressa notificação e prévia anuência das partes.

39
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Exemplo: Cláusula décima sexta: da cessão ou transferência.

O presente contrato não poderá ser objeto de cessão ou transferência


no todo ou em parte, a não ser com prévio e expresso consentimento
do contratante e sempre mediante instrumento próprio, devidamente
motivado.

Parágrafo único: o cessionário ficará sub-rogado em todos os direitos


e obrigações do cedente e deverá atender a todos os requisitos de
habilitação estabelecidos no instrumento convocatório e legislação
específica.

A inserção da cláusula veda que a qualquer das partes ceda ou transfira a terceiros os
direitos e as obrigações decorrentes do contrato, no todo ou em parte, sem a prévia
autorização por escrito da outra parte.

Cláusula de hardship

Considera-se hardship a alteração substancial do equilíbrio do contrato provocado


por fatores, tais como, econômicos, sociais, financeiros, legais, tecnológicos, políticos,
ou outros, que acarretam sequelas danosas para qualquer uma das partes. Podemos
considerar a cláusula de hardship como um instrumento apto a permitir o equilíbrio
do contrato, pois por meio dela será possível a interferência no contrato para promover
a sua readaptação de forma a distribuir entre as partes os prejuízos decorrentes do
desequilíbrio contratual tornando-o novamente equilibrado (AQUINO, 2003, p 109).

Para Batista (1994, pp. 143-144), o conceito de cláusula de hardship, que alguns
doutrinadores traduzem por cláusula de readaptação, assemelha-se à cláusula de força
maior no tocante à imprevisibilidade e à inevitabilidade do evento. Dela se distância
porque o evento gerador de hardship, ou endurecimento das condições, apenas torna
mais onerosa a execução do contrato, desestabilizando, significativamente o equilíbrio
inicial, provocando a renegociação do contrato.

Oppetit (1974, p. 797) define a cláusula de hardship como um meio a ser utilizado,
pelas partes, quando o contrato necessitar de uma readaptação, em virtude de uma
alteração das circunstâncias, inicialmente, pactuadas decorrente de um acontecimento
substancial que resulta em um rigor injusto a uma das partes.

Cedras (1985, pp. 284-285) e Granziera (1993, p. 79) afirmam, entre outras palavras,
que a cláusula de hardship obriga as partes a renegociarem o contrato que teve as suas
circunstâncias desequilibradas.

40
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Aquino (2003, p. 110) confrontando os diversos conceitos definiu a


cláusula de hardship como o “dever dos contratantes de renegociar
o contrato quando surgir um acontecimento fundamental que cause
um desequilíbrio no mesmo, não estando o acontecimento acobertado
pelos riscos próprios do contrato”.

Aquino (2003, pp. 93-96) cita diversos Exemplos de cláusula de hardship.

O exemplo desta cláusula foi retirado de um contrato de Fornecimento de Equipamentos


Tecnológicos.
Cláusula IX – as partes estão conscientes de que este contrato constitui
uma base razoável e equitativa para a cooperação.

a) Caso, durante a vigência deste contrato, a situação geral e/ou os dados


sobre os quais as partes se basearam se modifiquem em proporções,
tais que a outra parte encontre dificuldades sérias e imprevisíveis, os
contratantes deverão consultar um ao outro, tendo em vista ajustarem
o que lhes pareça necessário, em razão das circunstâncias que não eram
razoavelmente previsíveis à data da assinatura desse contrato, e que
afetaram o equilíbrio.

b) A criação de novos tributos ou as alterações das alíquotas em vigor


não deve ser considerada como uma dificuldade séria e imprevisível.

c) A parte que estimar que as condições estabelecidas na alínea “a”


ocorreram, notificará à outra parte, por carta registrada com aviso de
recebimento, precisando a data e a natureza dos eventos que deram
origem à mudança alegada, mencionando o montante do prejuízo
financeiro atual ou a ocorrer e, fará uma proposta para remediar essa
mudança.

Qualquer notificação enviada doze (12) meses após a data da ocorrência do evento
alegado pela parte, não terá nenhum efeito.

Assim, ideia básica da cláusula de hardship é permitir que os contratantes, por meio de
acordo, consigam o reequilíbrio do contrato.

Cláusula de força maior ou caso fortuito

Aquino (2003, p. 165) afirmar que:

na prática do comércio internacional, a cláusula de força maior ou,


noutras palavras, a cláusula de exoneração, foi, principalmente

41
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

em períodos de crise, chamada a dirimir as situações nas quais o


cumprimento das obrigações contratuais se tornará mais oneroso ou
economicamente impraticável, e não só nos casos da impossibilidade
total de cumprimento. Esse alargamento do âmbito de aplicação dessa
cláusula e da noção de impossibilidade corresponde a uma visão mais
social das relações contratuais.

A cláusula de força maior liga-se ao inadimplemento, mais precisamente à exoneração


da responsabilidade pelo não cumprimento do contrato.

Batista (1994, pp. 133-136) aponta como os principiais eventos caracterizadores da


Força Maior os seguintes:

a. Conflitos de trabalho: greves gerais, greves organizadas por sindicatos na


empresa do vendedor ou dos subcontratantes.

b. Conflitos armados: guerras, revoluções, atos terroristas, bloqueios,


comoções civis, motins.

c. Fato do príncipe: nele inclui-se a impossibilidade de obter autorizações ou


alvarás de construção, congelamento de fundos, especialmente moedas
estrangeiras, restrições ao uso de energia e outros atos da administração
que se procuram englobar em fórmulas amplas, tais como: “…atos dos
governos ou de autoridades governamentais ou de representantes destas,
quer sejam ou não legalmente válidos…” ou, ainda, qualquer “…ação
judicial, administrativa governamental, ou legislativa...”.

d. As dificuldades de transporte, como por exemplo: “…interrupções


ou atrasos de transportes de instalações…”, “...falta de vagões ou
transportadores...” ou, ainda, “...graves crises de abastecimento ou de
matérias indispensáveis à produção...”.

e. As quebras de máquinas e acidentes análogos: os quais constituem um


tipo de evento contemplado nas cláusulas de força maior, assim, são
descritos da seguinte forma: “ruptura ou incapacitação das máquinas…”
ou, ainda, “...os acidentes de exploração...”.

f. Fenômenos geofísicos: atos da natureza, tais como, tempestades,


inundações, terremotos e outros similares.

42
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Exemplo:

Nenhuma das partes será responsável perante a outra por qualquer falha ou atraso
no cumprimento das obrigações constantes do presente contrato, causados por casos
fortuitos ou força maior.

Escolha da lei aplicável e a eleição do foro

É pressuposto da faculdade de escolha da lei, que o contrato esteja em conexão com,


pelo menos, dois Estados e dois sistemas de direito; para que não haja conflito de leis,
nem, por conseguinte, matéria a regular pelo DIPr. (AQUINO, 2003, p. 41).

Aquino (2003, p. 42) nos aponta que:

tendo em vista a impossibilidade dos diversos direitos dos Estados


em encontrar uma solução plenamente satisfatória para os problemas
que envolvem o comércio internacional e, diante dos diferentes
sistemas jurídicos que entram em conflito, surgiu, por parte de
organizações internacionais de diversas naturezas, designadamente
organizações intergovernamentais e organizações privadas do comércio
internacional, a tentativa de criar mecanismos jurídicos favoráveis à
sua atividade, utilizando, para tanto, as Convenções Internacionais, as
Associações Profissionais, os Contratos-Tipo, as Condições Gerais de
Venda, os INCOTERMS, o Crédito Documentário, a Arbitragem, com
o escopo de fomentar as atividades comerciais internacionais. Além
dessas soluções encontradas, existe a possibilidade dos contratantes,
com o fundamento no princípio da autonomia privada, escolherem a lei
aplicável para regulá-lo, evitando a possibilidade de ocorrência de um
conflito quanto à essa matéria.

Assim, é de observar-se a questão da lei aplicável ao contrato, deve ou não ter uma
conexão objetiva com a relação contratual concebida pelas partes. Encarando a ideia
de uma conexão objetiva, a lei aplicável ao contrato será sempre uma norma nacional
possuidora de uma conexão com o mesmo, e o nexo poderia ser tanto de índole especial
como de ordem econômica. Isso faz com que o comércio internacional não escape à
contradição existente entre o caráter internacional das relações comerciais e o caráter
nacional do direito que irá reger essas mesmas relações.

Quando da contratação internacional, as partes podem fazer referência à lei de certo país,
quer seja para que essa lei reja o seu contrato como direito aplicável, ou com o intuito

43
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

de complementar ou especificar o conteúdo do seu acordo com ajuda das disposições


tomadas daquela lei: é o que se chama de recepção contratual da lei estrangeira.

O contrato internacional será regulamentado por uma lei estrangeira indicada como
norma aplicável, e aquele estará submetido a todas as consequências que desta decorrem.

Dessa forma, ao final do contrato, as partes irão dispor qual a lei aplicável ao contrato e
o foro (tribunal competente para dirimir as questões do contrato). Em regras, as partes
indicarão a lei aplicável ao contrato e o tribunal competente para analisar uma possível
demanda.

Nesse ponto, as partes podem escolher uma lei estatal ou a lex mercatoria. O tribunal
pode ser um estatal ou uma Câmara de Arbitral.

Vicente (1990, pp. 110-112) é partidário que a designação pelas partes da lei aplicável aos
contratos internacionais seja fundamentada em uma norma de conflito de um sistema
jurídico, não aceitando para tanto que a escolha para o regulamento contratual se
funde, por exemplo, na lex mercatoria, isto por não existir um preceito legal destinado,
a qualquer regra de conflito de que o árbitro pudesse recorrer. Giardina (1997, pp. 55-
70) é a favor do enquadramento dos Princípios do Unidroit como norma conflitual
aplicável ao contrato internacional.

Exemplo: Cláusulas de eleição da lei aplicável ao contrato.

O Contrato será regido, elaborado e interpretado de acordo com os


Princípios do Unidroit. Quaisquer disputas ou controvérsias que dele
devidamente não sejam amigavelmente resolvidas serão dirimidas no
foro eleito na cláusula _______.

Nos dias atuais, é incontestável que na prática internacional predomina o subjetivismo


moderado, de maneira que uma cláusula da eleição do Direito reveste-se de valor pleno.
A prudência aconselha, entretanto, às partes que pretendam adotar um ordenamento
como regra aplicável ao contrato, com ou sem qualquer vinculação com o mesmo, deve
combinar a referência a uma cláusula compromissória.

A cláusula compromissória é a convenção escrita, que pode estar ou não inserida no


próprio contrato, por meio da qual as partes se comprometem a submeter à arbitragem
os litígios que possam vir a surgir relativamente a tal contrato. (Art. 4o da Lei no
9.307/1996).

A cláusula compromissória pode ser cheia ou em branco, conforme menciona o árbitro


que irá analisar uma possível demanda.

44
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Exemplo de cláusula compromissória cheia ou em preto:

as partes acordam que quaisquer controvérsias surgidas deste contrato


serão definitivamente resolvidas mediante arbitragem, segundo as
Regras do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem, por um ou mais
árbitros, designados de acordo com as referidas Regras. A sentença
arbitral será definitiva e vinculante para as partes.

Exemplo de cláusula compromissória em branco:

“as partes acordam que quaisquer controvérsias surgidas deste contrato


serão definitivamente resolvidas mediante arbitragem”.

O compromisso arbitral é a convenção bilateral pela qual as partes se obrigam a se


submeter à decisão se árbitros por elas indicados, ou ainda o instrumento de que se
valem os interessados para, de comum acordo, atribuírem a terceiro (denominado
árbitro) a solução de pendências entre eles existentes.

Tanto no compromisso arbitral quanto na cláusula compromissória, as partes acabam


por renunciar à jurisdição estatal.

Numa vida econômica semiglobalizada os contratos internacionais deixaram de


ser instrumentos privativos de alguns operadores especializados e passaram a
fazer parte do quotidiano de empresas de todas as dimensões. Na elaboração e
execução destes contratos as empresas deparam com problemas específicos, que
decorrem da conexão do contrato com mais de um Estado. Para que o contrato
seja cumprido de forma satisfatória sem a intervenção de uma jurisdição as
partes costumam inserir cláusulas contratuais. Assim, se o contrato faz lei entre
as partes. Pode os contratantes efetuar modificações no Contrato?

Arbitragem – Juízo arbitral – Cláusula compromissória – Opção convencionada


pelas partes contratantes para dirimir possível litígio oriundo de inadimplemento
contratual – Possibilidade de que o Contratante, caso sobrevenha litígio, recorra ao
Poder Judiciário para compelir o inadimplemento ao cumprimento do avençado
que atende o disposto no art. 5o, XXXV da CF. – Juiz estatal que, ao ser acionado
para compelir a parte recalcitrante a assinar o compromisso, não decidirá sem
antes verificar se a demanda que se concretizou estava ou não abrangida pela
renúncia declarada na cláusula compromissória – Interpretação dos artigos 4o,
6o, § único, e 7o da Lei no 9.307/1996.” (Sentença Estrangeira Contestada 5.847-
1 – Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte – Sessão Plenária – j.1o
12.1999 – rel. Min. Maurício Corrêa – DJU 17/12/1999).

45
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Garantias Contratuais e Crédito Documentário

Considerando as particularidades do comércio internacional, é necessário que os


contratantes se cerquem de garantias contratuais.

O direito brasileiro não dispõe de regras expressas acerca do assunto, mas também não
proíbe. Assim, o art. 4o da LINB estabelece que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá
o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito” e que
poderá surtir efeitos desde que a cláusula seja lícita, pois “em geral, todas as condições
não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições de
defesas, se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem
ao puro arbítrio de uma das partes” não serão válidas. (Art. 122 CC).

Diante da necessidade uniformização das regras e conceitos algumas entidades


internacionais, a Câmara de Comércio Internacional (CCI) e a UNCITRAL vem
organizando regras para assegurar a prática uniforme das garantias contratuais, que
entre as várias publicações pode-se citar a Publicação 325 (Uniform Rules for Contract
Guarantees), a Publicação 458 (Uniform Rules for Demand Guarantees) e a Publicação
758 (Uniform Rules for Demand Guarantees).

Essas publicações têm como finalidade, justamente, introduzir no contrato um


elemento de confiança, dispondo sobre o oferecimento de garantias (a serem oferecidas
por bancos, empresas seguradoras ou outros garantidores) para a proteção da parte
contratante, no caso da outra parte, torna-se impossibilitada de cumprir com suas
obrigações contratuais.

Sobre a importância das cláusulas internacionais preleciona Strenger (1986, p. 204)


que “as cláusulas de garantia são o próprio cerne dos contratos internacionais do
comércio. Sua eficácia, maior ou menor, determinará a boa execução e o cumprimento
das obrigações avençadas, permitindo consolidar a confiança recíproca das partes”.

Os contratos internacionais, em sua maioria, são redigidos com a inserção de cláusulas


de garantia, pois negociar contratos com boas formas de garantia passou a ser uma
tendência natural no mundo globalizado, pois o risco faz parte do negócio e as partes
querem evitá-lo de qualquer forma.

As regras proposta são frutos da análise dos problemas e dificuldades percebidas e


verificadas a partir das necessidades do comércio internacional ao longo dos anos de
trabalho.

46
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Há basicamente seis garantias típicas previstas nas publicações da CCI: garantia de


licitação, garantia de boa execução, garantia de reembolso, garantia de manutenção,
garantia de retenção e a carta de crédito.

Garantia de licitação (bid letter of credit ou bid


bond)

Essa garantia é exigida para participação de empresas em concorrências internacionais.


Tem como ideia central cobrir o risco de o proponente não vir a celebrar o contrato com
a Administração Pública.

A garantia de licitação é um compromisso assumido por um banco, uma companhia de


seguros ou outra parte (garantidor) ou, por instruções de um banco, uma companhia de
seguros ou outra parte, a pedido do ordenador (a instituição que transmite instruções),
perante a parte que convocou a licitação (o beneficiário), pelo qual o garantidor se
obriga, no caso de o ordenador descumprir as obrigações resultantes de sua proposta,
a efetuar um pagamento ao beneficiário, observando os limites do montante fixado
(Publicação da CCI n. 325).

Em suma, a Bid bond (garantia de licitação) garante a assinatura do contrato pertinente,


caso a empresa vença a concorrência pública aberta no exterior para fornecimento de
bens e/ou serviços.

Garantia de boa execução (performance bond)

É o compromisso assumido por um banco, uma seguradora ou outra parte (o garantidor),


a pedido de um fornecedor de bens ou serviços ou qualquer outro contratante (o
ordenador), ou por instruções recebidas de um banco, uma seguradora ou outra parte,
a pedido do ordenador (a instituição que transmite instruções), perante um comprador
ou um contratante (o beneficiário), observando os limites do montante fixado, ou, e
os termos da garantia assim determinarem e à opção do garantidor, providenciar o
cumprimento do contrato na eventualidade de descumprimento pelo ordenador e o
beneficiário (Publicação da CCI n. 325).

Destina-se aos sujeitos exportadores que participaram de concorrência internacional


ou que tenham obrigação de entrega de equipamentos e serviços no exterior.

Em suma, a Performance Bond (garantia de cumprimento): garante o fiel cumprimento


do contrato de exportação (fornecimento de bens e/ou serviços). Normalmente, essa
garantia é concedida no contrato de execução no tempo e objetiva cobertura no caso de
falha na execução do contrato. O valor deste tipo da performance bond é, no geral, de

47
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

10% do valor do contrato de base. No caso de concorrência pública, esta garantia está
geralmente combinada com uma Bind Bond.

Garantia de reembolso (refundment)

É o compromisso assumido por um banco, uma seguradora ou outra parte (o garantidor),


a pedido de um fornecedor de bens ou serviços ou qualquer outro contratante (o
ordenador), ou por instruções recebidas de um banco, uma seguradora ou outra parte,
a pedido do ordenador (a instituição que transmite instruções), perante um comprador
ou um contratante (o beneficiário). O garantidor se obriga a efetuar pagamento
ao beneficiário ao ordenador e ainda não reembolsado, observando os limites do
montante fixado, na eventualidade de inadimplemento pelo ordenador da obrigação
de reembolso, nos termos e nas condições do contrato celebrado entre beneficiário e
ordenador. (Publicação da CCI n. 325).

A ideia da garantia é o reembolso ao comprador ou ao tomador do serviço de valores


pagos antecipadamente até que haja pleno adimplemento do contrato que lhe deu
causa. Essa garantia é muito comum nos contratos de construção civil.

O montante garantido por uma ligação de pagamento antecipado é muitas vezes o valor
do próprio adiantamento, ou uma grande parte do valor. O valor desse tipo de garantia
é no geral de 5% a 20% do valor do contrato de base.

Garantia de manutenção (maintenance bond)

Essa garantia visa garantir, por um determinado período, as obrigações de manutenção


a que uma sociedade tenha se obrigado após o término de uma obra ou de um serviço.
O contratante poderá executar a garantia, caso constate vícios ou defeitos da obra, após
sua conclusão. Essa garantia visa resguardar a manutenção das condições de estado e
funcionamento da obra, tal como foi entregue.

Garantia de retenção (retention payment bond)

Essa garantia objetiva cobrir o pagamento do montante retido pelo comprador ou


tomador dos serviços até que o vendedor ou fornecedor conclua a execução do contrato.
Com a garantia, o contratante efetua o pagamento integral do preço ao contratado e, se
constatados vícios ou defeitos na obra, executa a garantia. O valor deste tipo de garantia
é no geral 5% do valor da obra.

48
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Carta de crédito à primeira solicitação

Carta de crédito à primeira solicitação tem como objetivo assegurar o cumprimento


de obrigações contratuais e destaca-se, assim, por não ser apenas uma modalidade de
pagamento, mas também uma carta de crédito de garantia.

De acordo com as regras da CCI trata-se de uma garantia bancária pela qual um banco,
agindo a pedido e de acordo com instruções do ordenador ou em seu próprio interesse,
assegura o pagamento ao vendedor ou ao prestador de serviços mediante a apresentação
de documentação previamente estipulada e a satisfação dos termos e das condições de
crédito.

São usadas para garantir operações financeiras ou de desempenho.

É importante ressaltar que a carta de crédito não autoriza ao garantidor o direito de


indagar sobre o cumprimento ou inadimplemento contratual para o pagamento da
garantia, pois a solicitação do beneficiário gera para o garantidor a obrigação de pagar.

Crédito documentário
Oliveira (2002, p. 333) assim define o contrato de crédito documentário como sendo
o “contrato financeiro pelo qual a Instituição Financeira emissora em conformidade
com as instruções de seu cliente ordenante se compromete a efetuar o pagamento ao
beneficiário contra a entrega de documentos representativos dos bens objeto de uma
operação comercial internacional”.

Corresponde a uma das modalidades mais segura de pagamento no comércio


internacional, também é denominada de carta de crédito. Isso ocorre porque a carta
de crédito pode desempenhar três funções distintas: (a) garantia; (b) pagamento e; (c)
financiamento.

Cordeiro (2007) expõe que:

I – Na sua feição mais simples, o crédito documentário oferece ao


ordenante um meio direto e fácil de pagamento, após verificação da
causa da dívida. Tratando-se, em especial, de uma compra e venda
internacional: o comprador importador dispõe de um instrumento
para pagar o preço, sem especiais riscos nem ameaças de mora ou de
extravio de espécies monetárias.

II – O crédito documentário garante ainda, ao beneficiário, a percepção


de uma determinada importância. Com efeito, o beneficiário abre

49
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

mão, em regra, das mercadorias, e isso a favor de um adquirente


estrangeiro, muitas vezes dele desconhecido. A sua garantia residirá,
então, na promissória do banco emitente, donde resulte o seu crédito
documentário. Nessa dimensão, o crédito traduz uma espécie de
garantia bancária autônoma.

III. Finalmente, o crédito documentário pode traduzir a concessão


própria do crédito ao mandante ou ordenante. O banqueiro antecipa
os fundos que irá conferir ao beneficiário, concedendo, por essa
via, crédito ao ordenante. Nessa dimensão, poderão ser acordadas
garantias, condições de reembolso, cláusulas penais, juros e todos os
demais aspectos que podem informar o crédito bancário.

Cordeiro (2007) afirma que o crédito documentário comporta duas modalidades


distintas: crédito revogável e crédito irrevogável. Onde na primeira o banqueiro emitente
pode modificar ou resolver o crédito a todo o tempo; apenas deverá dar sua decisão,
notificar o beneficiário. Já na segunda, o banqueiro deve dar sequência à obrigação
que assumiu, sejam quais forem as circunstâncias. Na omissão, a carta de crédito é
irrevogável.

Assim, a carta de crédito corresponde a “um mandato ou autorização formal, mediante


oferecimento de documentos hábeis a demonstrar relação jurídica de compra e venda
ou outras relações negociais do comércio com garantia bancária, independentemente
do contrato básico”. (STRENGER, 1986, p. 482).

O crédito documentário oferece menor risco tanto ao comprador quanto para o


exportador, senão vejamos: o importador (ordenador ou tomador de crédito) solicita
ao seu banco (banco emissor) que emita uma carta de crédito em favor do exportador
(beneficiário), concedendo a este a possibilidade de levantar o valor descrito na carta
junto ao banco notificador/confirmador, desde que entregue ao banco os documentos
comprobatórios e exigidos nessa mesma carta.

Nesse tipo de relação, há três figuras intervenientes: (a) Tomador do crédito; (b)
Beneficiário e; (c) Banqueiro.

Cordeiro (2007) afirma que:

o crédito é à vista quando o banqueiro assume o compromisso de, por


si ou por meio de outro banqueiro, efetuar um pagamento imediato,
mediante a apresentação dos documentos. No crédito diferido, o
pagamento operará mais tarde, na data constante da promissória
elaborada a pedido do mandante. O crédito por aceitação pressupõe que

50
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

o crédito tenha sido incorporado em um título cambiário, como uma


letra de câmbio: essa será aceite pelo banqueiro, nos moldes acordados.
A letra poderá depois ser descontada, nos termos gerais. No crédito
para negociação assiste se, também, à criação de um título de crédito.
Todavia, esse pode ser sacado sobre qualquer outra pessoa designada
na carta de crédito, incluindo o próprio mandante. Além disso, o
banqueiro procede, desde logo, ao desconto, o qual não é, assim, uma
operação exterior à carta de crédito.

A carta de crédito é considerada como uma letra de câmbio e suas implicações


permitem entendimentos dos mais diversos entre os juristas atuantes na área comercial
internacional. Admite-se a sua transferência a terceiros por meio do endosso.

O STJ decidiu da seguinte forma acerca do Crédito documentário

Comercial. Recurso especial. Operação de importação de mercadorias.

Carta de crédito documentário. Análise das regras específicas relacionadas a tal forma
de crédito. “Brochura 500” da Câmara de Comércio Internacional. Limitação da
responsabilidade do banco confirmador à análise formal dos documentos requeridos
para o pagamento ao exportador. Prevalência da interpretação que confere maior
segurança às operações internacionais.

O crédito documentário é utilizado em operações internacionais de comércio. Além


da relação entre o importador e o exportador, envolve uma instituição financeira que
garante o pagamento do contrato por intermédio de uma carta de crédito. Na prática,
o banco emitente da carta de crédito é procurado por um cliente com o objetivo de
efetuar o pagamento a um terceiro, beneficiário, ou, ainda, autorizar outro banco a
fazer o pagamento ou a negociar. Precedente.

Como importante instrumento de fomento às operações internacionais de comércio, ao


crédito documentário costuma-se atribuir as qualidades relativas à irrevogabilidade e
à autonomia. Assim, uma eventual mudança posterior de ideia do tomador do crédito
(importador) quanto à realização do negócio é irrelevante, pois, para que o banco
confirmador honre seu compromisso perante o exportador, basta que este tenha
cumprido os requisitos formais exigidos anteriormente pelo importador, salientando-
se, ainda, que o banco sequer participa do contrato de compra e venda.

Na presente hipótese, o importador condicionou o pagamento à apresentação, pelo


exportador, do boleto de embarque da mercadoria, a ser realizado antes de determinada
data. A data do embarque, assim, foi erigida a requisito formal, a ser verificado antes
do pagamento. Ocorre que, segundo o importador, o exportador apresentou um

51
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

certificado de embarque ideologicamente falso, pois inverídica a data ali inserida. Em


consequência, sustenta o importador que o pagamento foi indevido.

Nos termos da doutrina que trata dessa operação mercantil, a análise a ser realizada
pelo banco, no sentido de verificar se está presente o dever de pagar ao importador,
é limitada ao aspecto formal dos documentos exigidos. Em uma análise estrita, o
certificado de embarque apresentado não contém nenhum vício aparente. A alegada
falsidade na aposição de data pretérita não se confunde com algum defeito formal
perceptível de plano.

O pretendido dever de não honrar a carta de crédito, na presente hipótese, significa


atribuir ao banco a obrigação de realizar um verdadeiro juízo de valor sobre documento
formalmente autêntico, de modo a desconsiderar seu aspecto formal exterior, privilegiar
elementos fáticos que lhe são externos e concluir, em uma investigação em última
instância verdadeiramente policial, que houve a prática de um ilícito grave.

Recurso especial provido.

(REsp 885674/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA


TURMA, julgado em 7/2/2008, DJe 5/3/2008).

A utilização do crédito documentária depende da prévia autorização do Banco Central,


ao qual deverá ser submetido o pedido dos agentes no país.

A evolução do comércio internacional é uma constante desde sempre.

Sem confiança mútua não se negocia. Assim, o comércio necessita de confiança


na segurança pública e confiança no governo. Confiança e boa-fé desempenham
papéis e geram expectativas idênticas no momento da celebração do contrato?

Os diferentes artigos dos Princípios do Unidroit contêm as regras básicas sobre


a formação, validade, interpretação, cumprimento, incumprimento, resolução e
indemnização dos contratos comerciais. Cada artigo inclui não apenas regras de
direito, mas também um comentário explicativo frequentemente acompanhado
de exemplos. Sendo assim, cada artigo deve ser observado conjuntamente com
o seu respectivo comentário, que muitas vezes introduz desenvolvimento à
regra expressa. Procurou evitar nestes comentários referências a qualquer direito
positivo para explicar a adaptação de cada solução, adotando-se expressões
neutras ou então comumente aceitas na prática comercial internacional.

52
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Esses Princípios contêm regras destinadas a regerem os contratos comerciais


internacionais, assim não causa surpresa que quase todas as funções enunciadas
no respectivo preâmbulo digam respeito aos contratos internacionais, tendo
como exceção a referência da sua utilização como modelo aos legisladores
nacionais.

AQUINO, Leonardo Gomes de. Hardship: o mecanismo de alteração contratual. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, no 257, 21 mar. 2004. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/4922>. Acesso
em: 24 mar. 2014.

AGUIAR, Anelize Slomp. The Law Applicable to International Trade


Transactions with Brazilian Parties: A Comparative Study of the Brazilian Law,
the CISG, and the American Law About Contract Formation, 17 Law, Bus. Rev. Am.
(2011) 487-553; Thesis (masters) - University of Toronto, s.n. (2011) 79 p. available
online at <https://tspace.library.utoronto.ca/handle/1807/29626>. Acesso em:
16/3/2014.

BRAUNER, Daniela Jacques. Curso de contratos internacionais. Saber Direito.


2/5/2011. <http://www.youtube.com/watch?v=XcTWkqyaApw>. Acesso em:
16/3/2014.

GLITZ, Frederico E. Z. Transfer of Contractual Risk and INCOTERMS: Brief


Analysis of its Application in Brazil, Journal of International Commercial Law and
Technology, vol. 6, no 2. 2011, 108-119, see also In: Sylvia M. Kierkegaard. (Org.).
Private law: rights, duties & conflicts. 1. ed.: IAITL, (2010), v. , pp. 733-746, available
online at <http://www.fredericoglitz.adv.br/upload/tiny_mce/CAPITULOS_DE_
LIVROS/GLITZ_-_TRANSFER_OF_CONTRACTUAL_RISK_AND_INCOTERMS.pdf>.
Acesso em: 16/3/2014.

53
CAPÍTULO 2
Contratos internacionais especiais

Para fazer face ao consumo em massa atualmente existente, bem como, para viabilizar
as realizações jurídicas, há a necessidade do surgimento de um direito internacional
mercantil, com especialidades técnicas para sistematizar adequadamente as diversas
formas de contratação no mercado internacional. Essas novas formas de realização
das operações comerciais, que são praticadas com frequência, tornam indispensáveis
a adaptação das normas de direito comum às características especiais dos negócios
mercantis internacionais. (AQUINO, 2012, p. 737).

Contrato de compra e venda e INCOTERMS


Os contratos de compra e venda internacional regulam a relação das partes sob vários
aspectos, e por isso são de extrema importância. Devem, portanto, ser redigidos com
cuidado e prudência, a fim de que, na eventualidade de um desentendimento futuro,
sirvam como fiel guia da vontade originária das partes, em cada um dos detalhes da
negociação.

Nesse espectro, a inserção dos Incoterms visa reduzir a possibilidade de interpretações


controversas e de prejuízos a uma das partes envolvidas, incluindo, assim, o momento
preciso da transferência de riscos e das obrigações, retirando a responsabilidade de um
contratante e repassando ao outro contratante sobre o produto exportado.

Contrato de compra e venda internacional

O Brasil ratificou em 3/4/2013 a sua adesão à Convenção das Nações Unidas sobre
Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CISG, na sigla em inglês).
O texto foi aprovado no dia 16 de outubro de 2012, tornando-a norma jurídica. O
Congresso Nacional promulgou, nesse dia, o Decreto Legislativo de no 538/2012, por
meio do qual aprovou o texto da Convenção, mas para fins jurídicos internacionais a
vacatio legis na forma do art. 99 CISG que dispõe:

quando um Estado ratificar, aceitar ou aprovar a presente Convenção,


ou a ela aderir após o depósito do décimo instrumento de ratificação,
aceitação, aprovação ou adesão, a Convenção, à exceção da Parte
excluída, entrará em vigor em relação a este Estado, sob reserva do
disposto no parágrafo 6o do presente artigo, no primeiro dia do mês

54
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

seguinte ao termo de um prazo de doze meses contado a partir da data


do depósito do seu instrumento.

Sendo assim, a Convenção entrará em vigor no dia 1/4/2014 no ordenamento jurídico


brasileiro.

A CISG se encontra redigida em duas partes: a primeira trata de questões gerais acerca
do campo de aplicação e de aspectos de interpretação e a segunda regula a formação
do contrato, obrigações do vendedor e comprador, transferência do risco contratual e
aspectos da formalização, validade e eficácia da CISG.

Campo de aplicação da CISG

A CISG será aplicada nos contratos de compra e venda de mercadorias, celebrados


entre partes que tenham o seu estabelecimento em Estados diferentes, quando as regras
de direito internacional privado (DIPr) conduzirem à aplicação da lei de um Estado
contratante. Segundo a CISG, não deve ser levado em consideração para sua aplicação
à nacionalidade das partes ou à qualificação do contrato como civil ou comercial, bem
como não será tomado “em conta o fato de as partes terem o seu estabelecimento em
Estados diferentes quando este fato não ressalte nem do contrato nem de transações
anteriores entre as partes, nem das informações dadas por elas em qualquer momento
anterior à conclusão do contrato ou na altura da conclusão deste”.

A CISG também exclui a sua aplicação quando o objeto da venda for de mercadorias
compradas para uso pessoal, familiar ou doméstico, a menos que o vendedor, em
qualquer momento anterior à conclusão do contrato ou na altura da conclusão deste,
não soubesse nem devesse saber que as mercadorias eram compradas para tal uso; (b)
em leilão; (c) em processo executivo; (d) de valores mobiliários, títulos de crédito e
moeda; (e) de navios, barcos, hovercraft e aeronaves; (f) de eletricidade.

Dessa forma, são considerados de “compra e venda os contratos de fornecimento de


mercadorias a fabricar ou a produzir, a menos que o contraente que as encomende
tenha de fornecer uma parte essencial dos elementos materiais necessários para o
fabrico ou produção” (art. 3o CISG).

Interpretação da CISG

A interpretação deverá ter em conta a internacionalidade da relação jurídica contratual,


bem como a necessidade de promover a uniformidade da sua aplicação e de assegurar
o respeito da boa-fé no comércio internacional, devendo tomar como parâmetro nas
declarações, a intenção de um dos contratantes quando a outra parte conhecia ou não

55
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

podia ignorar tal intenção, se não for possível, deve se ponderar a razoabilidade da
probidade dos contratantes.

Obrigações do vendedor

É dever do vendedor entregar as mercadorias, a transferir a propriedade sobre elas e,


se for caso disso, a remeter os documentos que se lhes referem, bem como a seguir as
obrigações contratuais e as prevista na CISG.

Se o vendedor não estiver obrigado a entregar as mercadorias noutro lugar especial, a


sua obrigação de entrega consiste:

a. quando o contrato de compra e venda implicar um transporte das


mercadorias em remeter as mercadorias ao primeiro dos transportadores
que as fará chegar ao comprador;

b. quando, nos casos não previstos na alínea anterior, o contrato incidir


sobre uma coisa determinada ou sobre uma coisa genérica que deva
ser retirada de uma massa determinada ou que deva ser fabricada ou
produzida, e sabendo as partes, no momento da conclusão do contrato, que
as mercadorias se encontravam ou deviam ser fabricadas ou produzidas
em um certo lugar em colocar as mercadorias à disposição do comprador
neste lugar;

c. nos outros casos em pôr as mercadorias à disposição do comprador


no lugar onde o vendedor tinha o seu estabelecimento no momento da
conclusão do contrato.

É dever do vendedor indicar as mercadorias com exatidão (por documentos de


transporte ou por qualquer outro meio), caso não o faça, deve informar o comprador do
envio e designando a forma específica da mercadoria.

A responsabilidade de transporte e seguro irá depender do contratado. A entrega


da mercadoria deverá obedecer ao contratado, se não houver prazo iremos para a
razoabilidade do prazo que terá início a partir da conclusão do contrato.

(1) O vendedor deve entregar mercadorias que pela quantidade,


qualidade e tipo correspondam às previstas no contrato e que tenham
sido embaladas ou acondicionadas de acordo com a forma prevista no
contrato.

56
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

(2) Salvo se as partes tiverem convencionado outra coisa, as mercadorias


só estão conformes ao contrato, se:

(a) forem adequadas às finalidades para as quais seriam usadas


habitualmente mercadorias ao mesmo tipo;

(b) forem adequadas a qualquer finalidade especial expressa ou


tacitamente levada ao conhecimento do vendedor no momento da
conclusão do contrato, a não ser que resulte das circunstâncias que o
comprador não confiou na competência e apreciação do vendedor, ou
que não era razoável da sua parte fazê-lo;

(c) possuírem as qualidades de mercadorias que o vendedor apresentou


ao comprador como amostra ou modelo;

(d) forem embaladas ou acondicionadas na forma habitual para as


mercadorias do mesmo tipo ou, na falta desta, de um modo adequado a
conservá-las e a protegê-las.

(3) O vendedor não é responsável, nos termos das alíneas (a) a (d) do
parágrafo anterior, por qualquer falta de conformidade das mercadorias
que o comprador conhecia ou não podia ignorar no momento da
conclusão do contrato (art. 35 da CISG).

É obrigação do vendedor entregar ao comprador qualquer direito ou pretensão de um


terceiro, baseados na propriedade industrial ou noutra propriedade intelectual, que
ele conhecia ou não podia ignorar no momento da conclusão do contrato, desde que
este direito ou pretensão se baseie na propriedade industrial ou noutra propriedade
intelectual, observando a lei do Estado onde as mercadorias devam ser revendidas ou
utilizadas, salvo disposição contratual diversa ou então se o comprador conhecia e no
seu Estado houver igual proibição.

Obrigações do comprador

O comprador obriga-se a pagar o preço e a aceitar a entrega das mercadorias, nas


condições previstas no contrato e na CISG.

A obrigação que tem o comprador de pagar o preço compreende o dever de tomar as


medidas e cumprir as formalidades previstas pelo contrato ou por quaisquer leis e
regulamentos, destinadas a permitir o pagamento do preço (art. 54 da CISG).

Caso não haja previsão, expressa ou implícita, de valor a ser pago pelas mercadorias
compradas, ou sem que exista disposição que permita a sua determinação, deverá ser

57
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

considerado o preço habitualmente praticado no momento da conclusão do contrato,


para as mesmas mercadorias vendidas em circunstâncias comparáveis, no ramo
comercial considerado.

No entanto, se o preço for fixado em função do peso das mercadorias, deverá tomar
como parâmetro o peso líquido (art. 56 da CISG).

Salvo disposição em contrário, o preço deve ser pago na entrega da mercadoria, no


estabelecimento do vendedor, se realizado contra a remessa das mercadorias ou dos
documentos, no lugar onde esta se verificar.

A obrigação do comprador de aceitar a entrega das mercadorias consiste: (a) em realizar


qualquer ato cuja prática se possa razoavelmente esperar dele em ordem a permitir ao
vendedor efetuar a entrega; e (b) em tomar conta das mercadorias (art. 60 da CISG).

Art. 62. O vendedor pode exigir do comprador o pagamento do preço, a aceitação da


entrega das mercadorias ou a execução das outras obrigações do comprador, a não ser
que se tenha prevalecido um meio incompatível com esta exigência.

O vendedor pode conceder ao comprador um prazo suplementar, de duração razoável,


para a execução das suas obrigações, salvo notificação do comprador.

Disposições comuns aos contratantes

A CISG no art. 74 prevê que:

as perdas e danos decorrentes de uma violação do contrato cometida


por uma das partes compreendem o prejuízo causado à outra parte
bem como os benefícios que esta deixou de receber em consequência à
violação contratual. Tais perdas e danos não podem exceder o prejuízo
sofrido e o lucro cessante que a parte faltosa previu ou deveria ter
previsto no momento da conclusão do contrato como consequências
possíveis da violação deste, tendo em conta os fatos de que ela tinha ou
deveria ter tido conhecimento.

Caso um dos contratantes não cumpra a sua obrigação, terá a outra parte o direito de
perceber juros sobre o valor da dívida, que poderá ser o preço não pago ou valor das
mercadorias não entregues.

58
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Incoterms

Os Incoterms (ou International Commercial Terms) surgiram em 1936, quando a


Câmara Internacional do Comércio (CCI), com sede em Paris, interpretou e consolidou
as diversas formas contratuais que vinham sendo utilizadas no comércio internacional.

Os Incoterms consistem, na verdade, em um formulário de cláusulas contratuais


elaborados por uma entidade privada, justificado pela necessidade de obviar a incerteza
reinante nos contratos internacionais, em especial os empresariais.

Todavia os Incoterms não vigoram sem a celebração de um contrato concreto e sem


a sua incorporação neste pelas partes, no âmbito da sua liberdade contratual, isso
porque cada um dos Incoterms não provém de elementos efetivos para formar uma
declaração negocial completa, e só por conexão com as outras cláusulas contratuais
que conjuntamente com eles formem um conjunto coerente e coeso de contrato
internacional.

Assim, os Incoterms tratam apenas as obrigações das partes, vindo as estipulações


específicas completar o conteúdo da transação. Logo, os Incoterms não devem interferir
em outros contratos firmados em paralelo, por conta e ordem da transação comercial,
como por exemplo, os contratos relativos ao seguro internacional ou mesmo transporte
celebrado pelo vendedor e segurador ou transportador.

Para a inserção dos Incoterms em um contrato é necessário que partes procedam a


análise de um conjunto de pontos, primeramente devem individualizar o sistema jurídico
aplicável ao contrato, e só depois estabelecem, à luz deste ordenamento, a eficácia da
remissão das cláusulas em exame (Incoterms) e o modo como serão interpretadas.

Os Incoterms têm como finalidade harmonizar os negócios internacionais. Apoiados


nessas regras os empresários impõem às suas atividades maior segurança e evitam as
incertezas decorrentes das diversidades sistemáticas dos diferentes países. Os Incoterms
definem regras apenas para exportadores e importadores, não produzindo efeitos com
relação às demais partes, como transportadoras, seguradoras, despachantes etc.

Merece uma maior atenção a informação de que em princípio os Incoterms não possuem
força lei estatal, apenas vinculam as partes se inseridos no contrato, pois a CCI, ao
criá-los, objetivava apenas estabelecer parametros a serem seguidos e observados pelas
partes, envolvendo todas as ações inerentes e integradas à transferência da propriedade
e da posse da mercadoria objeto do contrato. Logo, os Incoterms oferecem uma proposta
de adequação e harmonização de conceitos, evidenciando as ações cabíveis a cada uma
das partes contratantes.

59
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

As regras estabelecidas internacionalmente são uniformes e imparciais e servem de


base para negociação no comércio entre países. Dessa forma, é necessário a análise dos
diversos tipos de Incoterms. Eles são contituidos por 11 regras (siglas de três letras) e
divididos em quatro grupos (“E”, “F”, “C” e “D”), definindo de forma crescente o nível
de responsabildiade e obrigações mínimas para o exportador, e, por consequência, de
forma decrescente para o importador.

GRUPO “E” “F” “C” “D”


de EX
de DELIVERY
Qualificação ou

Mercadoria à disposição do de FREE de COST


Conceito

Entrega da mercadoria ao importador


importador de origem. Transporte principal não Transporte principal no destino.
Mínima obrigação para o pago pelo exportador. pago pelo exportador.
Máxima obrigação para o exportador.
vendedor (exportador).
CFR
FCA DAT
Incoterms
Sigla do

CIF
EXW FAS DAP
CPT
FOB DDP
CIP

Além das cláusulas citadas acima, a Legislação brasileira admite as seguintes:

a. Cost Plus Freight = C + F (Custo mais Frete) em que o vendedor arca com
os custos e riscos das tarefas no país de exportação, bem como contrata
e paga o transporte internacional convencional. Utilizável em qualquer
modalidade de transporte.

b. Cost Plus Insurance = C + I (Custo mais Seguro) em que o vendedor


arca com os custos e riscos das tarefas no país de exportação, bem como
contrata e paga o seguro de transporte internacional convencional.
Utilizável em qualquer modalidade de transporte.

c. Outra Condição de Venda = OCV qual se utiliza sempre que a transação


comercial não se enquadre em qualquer das situações descritas na
Resolução no 21, de 7 de abril de 2011.

Ex Works = EXW (a partir do local de produção ou


comercialização)

“Ex Works” means that the seller delivers when it places the goods at the disposal
of the buyer at the seller’s premises or at another named place (ie, works, factory,
warehouse etc.). Em uma tradução livre da expressão “Ex Works” o vendedor tem a
sua responsabilidade encerrada quando a mercadoria, devidamente embalada para
o transporte, qualquer que seja o transporte, for disponibilizada nas suas instalações

60
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

(armazém, depósito, fábrica etc.) ou outro local designado em contrato ao comprador.


(Incoterms, 2010).

Essa sigla representa um mínimo de responsabilidade e obrigações para o vendedor


(exportador), e somente pode ser utilizado nas operações em que o comprador
(importador) possa se ocupar de todas as fases envolvendo o transporte interno e
desembaraço alfandegário (aduaneiro) de exportação no país de origem.

Em suma, o comprador arca com todos os custos e riscos envolvidos em retirar a


mercadoria do estabelecimento do vendedor, se o contrato contiver cláusula expressa
descrevendo que a responsabilidade acerca dos riscos, custo envolvidos a respeito
dos riscos e carregamento das mercadorias na saída poderão ser do exportador
(vendedor). O seguro internacional recai sobre o comprador. Caso o comprador possa
ser responsabilizado pelas formalidades da exportação (venda) a inserção da cláusula
poderá ser considerada ineficaz, não produzindo efeitos, mesmo que a responsabilidade
do comprador for indireta.

Free Carrier = FCA (livre no transportador)

“Free Carrier” means that the seller delivers the goods to the carrier
or another person nominated by the buyer at the seller’s premises
or another named place. Em uma tradução livre da expressão “Free
Carrier” seria o vendedor (exportador) é responsável por entregar,
desembaraçada para a exportação, no país de origem, ao transportador
previamente indicado pelo comprador (importador), responsável pelo
transporte de viagem principal, qualquer que seja o tipo de transporte
(INCOTERMS, 2010).

Nesse caso, o comprador é responsável pelo transporte, mas se encontra livre das
questões alfandegárias. Mas quem é responsável pela transferência da mercadoria, o
importador ou o exportador?

Se ocorrer nas instalações do vendedor a responsabilidade pelo carregamento será


dele, caso ocorra fora da propriedade do exportador, a responsabilidade pela carga e
descarga será do comprador.

O seguro internacional e o valor do frete recaem sobre o comprador.

61
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Free Alongside Ship = FSA (livre no costado do


navio)

“Free Alongside Ship” means that the seller delivers when the goods
are placed alongside the vessel (e.g., on a quay or a barge) nominated
by the buyer at the named port of shipment. Em uma tradução livre
da expressão “Free Alongside Ship” seria: o vendedor tem a sua
responsabilidade encerrada quando a mercadoria, desembaraçada
para a exportação, for colocada ao lado do navio, por exemplo, em um
cais ou uma barcaça, designado pelo comprador, no porto de embarque
nomeado pelo comprador. A partir desse momento, a responsabilidade
passa a ser do importador, por qualquer custo ou risco, envolvendo a
mercadoria, no que tange ao manuseio, transporte, perdas e danos,
inclusive o custo do seguro internacional (INCOTERMS, 2010).

É necessária uma atenção maior à questão que envolva navios que se encontram
ancorados fora do cais do porto, caso em que a mercadoria só poderá ser embarcada em
balsas para a conclusão da entrega ao navio. Assim de que será a responsabilidade pelo
transporte em águas até o navio? A responsabilidade continua sendo do exportador
(vendedor), pois a indicação do porto de embarque possui uma grande relevância para
o transporte.

Importante ressaltar que a cláusula só pode existir se o transporte for aquaviário, seja
marítimo (é aquele realizado por navios em oceanos e mares), fluvial ou hidroviário (é
a interna, ou seja, dá-se dentro do país e/ou continente, pois é a navegação praticada
em rios) ou lacustre (aquela realizada em lagos e tem como característica a ligação de
cidades e países circunvizinhos).

Free On Board = FOB (livre a bordo do navio)

“Free On Board” means that the seller delivers the goods on board
the vessel nominated by the buyer at the named port of shipment
or procures the goods already so delivered. Em uma tradução livre
da expressão “Free On Board” seria: o vendedor é responsável pelo
desembaraço aduaneiro de exportação e pela entrega da mercadoria
a bordo no navio ancorado no porto designado pelo comprador.
Somente é possível a inserção da cláusula contratual se o transporte for
aquaviário. (INCOTERMS, 2010).

62
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Assim, o importador só estará obrigado e responsável pelas obrigações após o


desembarque no navio das mercadorias, até esse momento, a responsabilidade corre
por conta do exportador.

Cost And Freight = CFR (custo e frete)

“Cost and Freight” means that the seller delivers the goods on board the
vessel or procures the goods already so delivered. Em uma tradução
livre da expressão “Cost and Freight” seria: o vendedor é responsável
pelo desembaraço aduaneiro de exportação, pela entrega da mercadoria
a bordo no navio ancorado no porto designado pelo comprador,
momento em que a responsabilidade é transferida para o comprador.
Mas, o exportador continua com a responsabilidade do pagamento
do frete internacional até o destino. Portanto, o frete internacional é
pago na origem (pré-pago). Somente é possível a inserção da cláusula
contratual se o transporte for aquaviário. (INCOTERMS, 2010).

Caso queira se resguardar, o comprador deve contratar e pagar o seguro da mercadoria,


isso porque os riscos de perda ou dano da mercadoria, bem como quaisquer outros
custos adicionais são transferidos do vendedor para o comprador no momento em que
a mercadoria esteja no convés do navio.

Cost, Insurance and Freight = CIF (custo, seguro e


frete)

“Cost, Insurance and Freight” means that the seller delivers the goods
on board the vessel or procures the goods already so delivered. Em
uma tradução livre da expressão “Cost, Insurance and Freight” seria:
o vendedor é responsável pelo desembaraço aduaneiro de exportação,
pelo seguro internacional (normalmente de valor mínimo) e pela efetiva
entrega da mercadoria no convés do navio no porto de embarque.
Somente é possível a inserção da cláusula contratual se o transporte for
aquaviário. (INCOTERMS, 2010).

A responsabilidade do comprador se inicia a partir da recepção da mercadoria, cabendo


a ele, também as competentes ações vinculadas ao desembaraço alfandegário da
importação.

63
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Carriage Paid To = CPT (transportes pagos até…)

“Carriage Paid To” means that the seller delivers the goods to the
carrier or another person nominated by the seller at an agreed place
(if any such place is agreed between parties) and that the seller must
contract for and pay the costs of carriage necessary to bring the goods
to the named place of destination. Em uma tradução livre da expressão
“Carriage Paid To” o vendedor entrega a mercadoria ao transportador ou
outra pessoa nomeada pelo vendedor em um local acordado (se houver
tal lugar é acordado entre as partes) e que o vendedor deve contratar e
pagar os custos de transporte necessários para levar a mercadoria até
o local de destino nomeado. A inserção da cláusula contratual pode ser
feita em qualquer tipo de transporte (INCOTERMS, 2010).

Importante ressaltar ainda que o vendedor tenha de contratar e pagar o transportador,


os riscos por perdas e danos às mercadorias, bem como quaisquer custos adicionais
que ocorram após a entrega da mercadoria a transportadora, ficam sendo de inteira
responsabilidade do comprador.

Carriage and Insurance Paid To = CIP (transporte e


seguros pagos até...)

“Carriage and Insurance Paid to” means that the seller delivers the
goods to the carrier or another person nominated by the seller at an
agreed place (if any such place is agreed between parties) and that the
seller must contract for an pay the costs of carriage necessary to bring
the goods to the named place of destination. Em uma tradução livre da
expressão “Carriage and Insurance Paid to” o vendedor é responsável
pelo desembaraço aduaneiro de exportação, contratar o transportador
e é responsável pela contratação do seguro internacional mínimo até o
destino. A inserção da cláusula contratual pode ser feita em qualquer
tipo de transporte. (INCOTERMS, 2010).

Delivered At Terminal= DAT (entregue no terminal


(porto ou cais) designado)

“Delivered at Terminal” means that the seller delivers when the goods,
once unloaded from the arriving means of transport, are placed at
the disposal of the buyer at a named terminal at the named port or
place of destination. Em uma tradução livre da expressão “Delivered

64
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

at Terminal” o vendedor cumpre as suas obrigações e encerra as suas


responsabilidades quando entrega no prazo marcado a mercadoria
devidamente descarregada no terminal designado (cais, terminal
de contêineres ou armazém, entre outros), ficando à disposição
do importador, sem, contudo, desembaraçar a importação, que é
responsabilidade do importador. A inserção da cláusula contratual
pode ser feita em qualquer tipo de transporte. (INCOTERMS, 2010).

Delivered At Place = DAP (entregue no local


designado)

“Delivered at Place” means that the seller delivers when the goods are
placed at the disposal of the buyer on the arriving means of transport
ready for unloading at the named place of destination. Em uma
tradução livre da expressão “Delivered at Place” o vendedor cumpre as
suas obrigações e encerram as suas responsabilidades quando entrega
no prazo marcado a mercadoria devidamente descarregada no local
designado que não seja um terminal, ficando à disposição do importador,
sem, contudo desembaraçar a importação, que é responsabilidade
do importador. A inserção da cláusula contratual pode ser feita em
qualquer tipo de transporte. (INCOTERMS, 2010).

As partes são livres para pactuarem o local onde as mercadorias serão entregues e será
nesse momento e local que todos os riscos por perdas e danos, bem como todos os
custos que podem ocorrer com a mercadoria serão transferidos ao comprador.

Delivered Duty Paid = DDP (entregue com os


direitos pagos)

“Delivered Duty Paid” means that the seller delivers the goods when
the goods are placed at the disposal of the buyer, cleared for import
on the arriving means of transport ready for unloading at the named
place of destination. Em uma tradução livre da expressão “Delivered
Duty Paid” as obrigações do vendedor são encerradas quando a
mercadoria é entregue ao importador, no período ou data marcada, no
local designado, sem, contudo, descarregar a mercadoria. O vendedor,
além do desembaraço, assume todos os riscos e custos, inclusive
impostos, taxas e outros encargos incidentes na importação. A inserção
da cláusula contratual pode ser feita em qualquer tipo de transporte.
(INCOTERMS, 2010).

65
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

De acordo com a Resolução no 21, de 7 de abril de 2011, o termo DDP não poderá ser
utilizado na importação brasileira, pois o vendedor estrangeiro não dispõe de condições
legais para providenciar o desembaraço para entrada de bens do País, devendo ser
escolhido o DAT ou DAP no caso de preferência por condição disciplinada pela ICC.

Contrato de transferência de tecnologia


O contrato de transferência de tecnologia será internacional quando existir na relação
jurídica algum elemento de estraneidade ou que possua estreita relação com duas
ordens jurídicas distintas.

Know-how (saber fazer algo) é bem material que possui valoração econômica, sendo,
portanto, suscetível de transferência a título oneroso ou gratuito. Por esse motivo,
o know-how é um recurso que torna possível a transformação de conhecimento em
atividade produtiva, encorajando por meio de proteção legal concedida aos titulares de
propriedade industrial, a introdução de nova tecnologia estrangeira, garantindo ainda
soluções técnicas apropriadas.

A expressão tecnologia corresponde às experiências ou aos conhecimentos técnicos


(científico, empíricos ou intuitivos), cuja transferência envolve as mais diferentes
formas que são empregadas na produção e comercialização de bens ou serviços.

Assim, cada Estado é legitimo para regulamentar o assunto, que no caso brasileiro pode
ser observado nos tratados internacionais e no direito interno.

Denota-se que o contrato de transferência de know-how segundo Diniz (2005a, p. 723)

É a transferência, por tempo determinado, desses conhecimentos,


técnicas, ou processos de fabricação, secretos e originais, a outra pessoa,
que os empregará, mas não os poderá divulgar, pois tal transferência se
operará mediante cláusulas especiais, sendo que uma delas impõe ao
que recebe o know-how a obrigação de guardar segredo, sob pena de
receber uma sanção pela sua divulgação, evitando que seja repassado.

Dessa forma, o contrato de know-how é aquele celebrado por empresário, sociedade


empresária ou Eireli que se obriga a transmitir as experiências ou os conhecimentos
técnicos (científico, empíricos ou intuitivos) acerca do produto, serviço ou processo de
fabricação ou aperfeiçoamento a outrem, durante determinado prazo.

66
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

As espécies ou as modalidades de contratos de


know-how

Franco (2011, p. 382) aponta que know-how pode ser puro ou misto (conjugada). No
puro, a transferência reside na licença de uso e cessão de tecnologia, devendo, nesse
caso, o contrato prevê de forma clara e perfeita o produto que será concedida a licença.
No misto (ou conjugada) a licença de uso ou cessão de tecnologia vem acompanhada da
utilização da marca, como é o caso da franquia.

Podemos apontar seis modalidades de know-how: (a) contrato de licença para


exploração de patente; (b) contrato de licença para uso da marca e propaganda;
(c) contrato de fornecimento de tecnologia industrial; (d) contrato de cooperação
técnico-industrial; (e) contrato de serviços técnicos especializados e; (f) licença e
cessão de software.

Segundo Cerqueira (1952, pp. 215-217), a licença é a autorização de exploração de um


direito, sem transferência da propriedade, assemelhado ao contrato de locação.

O contrato de licença para exploração patente de forma exclusiva ou não exclusiva tem
por escopo autorizar a efetiva exploração, por terceiros de uma patente regularmente
depositada com pedido de exame ou concedida no Brasil. (DINIZ, 2005b, p. 1036).

O contrato de licença para uso da marca e propaganda “visa autorizar o efetivo uso, por
terceiro, de marca ou propaganda regularmente depositada ou registrada no Brasil,
consubstanciando direito de propriedade industrial”. (DINIZ, 2005b, p. 1036).

O contrato de fornecimento de tecnologia industrial

tem por fim primordial a aquisição de conhecimento e técnicas não


amparados pelos direitos da propriedade industrial depositados ou
concedidos no Brasil aplicáveis na produção de bens de consumo ou de
insumos, podendo conter cláusula de sigilo e de indisponibilidade da
tecnologia negociada. (DINIZ, 2005b, p. 1034).

O contrato de cooperação técnico-industrial é o que objetiva a aquisição de conhecimentos


técnicos e de serviços requeridos para a fabricação de unidades e subunidades
industriais, máquinas, equipamentos e outros bens de capital sob encomenda. (DINIZ,
2005b, p. 1030).

O contrato de serviços técnicos especializados regula a prestação de todo e qualquer


serviço técnico que esteja diretamente ligado a atividades inerentes ao sistema
produtivo, isto é, a todo e qualquer serviço técnico especializado prestado à indústria.
(DINIZ, 2005b, p. 1041).
67
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

O contrato de licença de software é “aquele no qual o titular do direito concede ao


licenciado uma autorização de uso de determinado programa com ou sem exclusividade”.
(FRANCO, 2011, p. 390).

O contrato de cessão de software é aquele no qual “o titular do programa transfere,


total ou parcialmente, os direitos decorrentes da sua criação”. (FRANCO, 2011, p. 391).

Disciplina do contrato de transferência de


tecnologia

O contrato de know-how é protegido no campo da concorrência desleal como o


segredo que deve ser preservado, no interesse do titular e do próprio desenvolvimento
do negócio. Segundo Franco (2011, p. 381), são elementos do contrato o segredo e a
novidade, isto porque para se ter valor econômico, a técnica não pode estar no estado
da técnica (domínio público).

Para ter eficácia perante terceiros, o contrato deve ser registrado no INPI e terá o prazo
equivalente à concepção do privilegio cedido, no caso de uma patente, pode ser até de
20 anos, no caso do modelo de utilidade, o prazo pode ser de até 15 anos. Após o prazo
estipulado, o licenciado não terá, em regra, nenhum direito a se utilizar da técnica de
forma exclusiva.

No entanto, caso a transferência seja advinda do exterior, é imprescindível o registro


junto ao BACEN, dentro de 30 (trinta) dias do ingresso da tecnologia no Brasil.

Em relação à remessa de royalties para o exterior se faz necessário a averbação


mediante registro do contrato no Banco Central (Lei no 3.131/1962 dispõe sobre o capital
estrangeiro e a remessa de royalties), e também, aos aspectos fiscais dessa espécie de
pagamentos, especificadamente dedutibilidade dos pagamentos oriundos de royalties.

É certo que o contrato de licença oneroso realizado entre nacionais não precisa ser
averbado para realizar o pagamento dos royalties (Circular BACEN no 3.491/2010).
No entanto, servirá a averbação para validar a dedutibilidade fiscal dessas despesas
perante a Secretaria da Receita Federal. (MÜLLER, 2002, pp. 50-56).

Imaginemos a seguinte situação: em um contrato internacional de compra e


venda celebrado entre um brasileiro, domiciliado no Brasil, e um português,
domiciliado na Itália, estes elegeram como foro para a solução de eventuais
controvérsias a França. Tendo ocorrido inadimplência do brasileiro, o italiano
ingressou com ação contra ele no Brasil. É correto afirmar para que a ação

68
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

seja transferida para a França, deverá o brasileiro demonstrar, na Exceção de


Incompetência, que terá prejuízos se o seu trâmite ocorrer no Brasil?

Um missionário estrangeiro contrata advogado a fim de adquirir um imóvel


em município brasileiro, para a criação de uma escola destinada a crianças
deficientes. Ela esclarece que o imóvel será adquirido com verba e em nome de
uma associação filantrópica estrangeira, constituída e mantida pelo governo e
sindicatos daquele país, com a finalidade de promover a educação cristã. Assim,
indaga-se o advogado deve ser constituído observando as regras do direito
brasileiro?

Contratos internacionais de distribuição e


representação comercial
Os contratos de representação e de distribuição possuem uma importância significativa
nas relações jurídicas internacionais, pois a globalização está estreitando as relações
de importação e exportação de mercadorias entre os sujeitos. Dessa forma, para que
uma indústria tenha seu produto comercializado em País distinto da sua produção, é
necessário que haja intermediários para a sua realização.

Contrato de distribuição

Pelo Código Civil, os dispositivos, acerca da distribuição, são os mesmos aplicáveis ao


contrato de agência e, com maior razão devem ser trazidos à colocação os princípios do
contrato de representação comercial, existentes na Lei no 4.886/1965. O art. 721 do CC
prevê que “aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as regras
concernentes ao mandato e à comissão e as constantes de lei especial”. Dessa forma,
aplica-se, salvo disposição contratual em contrário, os mesmos princípios atinentes a
prazo, remuneração, exclusividade etc.

A distribuição, pela sua generalidade, admite a subdistribuição, assim o distribuidor,


autorizado pelo contrato, poderá utilizar-se de rede própria de subdistribuidores para
providênciar a colocação do produto no mercado consumidor, mas tal subdistribuição
deverá sujeitar-se às normas ditadas pelo fabricante.

Em um sentido amplo, podemos conceituar distribuição como o contrato pelo qual uma
das partes, denominada distribuidor, se obriga a adquirir da outra parte, denominada
distribuído, mercadorias geralmente de consumo, para sua posterior colocação

69
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

no mercado, com exclusividade e por conta e risco próprio, estipulando-se como


contraprestação um valor ou margem de revenda.

É uma espécie de contrato de agência, mas dele se distingue, visto que, na distribuição,
o fabricante vende o produto ao distribuidor, para posterior revenda, e na agência, o
fabricante vende o produto diretamente ao consumidor, por intermédio do agente.

Além disso, o agente age em nome e por conta da empresa, e, na distribuição, o


distribuidor age por conta própria.

O contrato recebe influências do contrato de compra e venda, mandato, comissão e


fornecimento. Sua natureza, de intermediação de vendas, se molda melhor ao contrato
de representação mercantil.

O distribuidor deve gozar da independência e autonomia, pois conduz negócio próprio


e assume respectivos riscos, conforme o art. 713, CC que dispõe “salvo estipulação
diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição correm a cargo do agente ou
distribuidor.”

Pode o legislador estabelecer normas específicas para a distribuição de determinados


produtos, como combustíveis, por exemplo, que exigem requisitos específicos de
segurança que devem ser obedecidos.

O distribuído deve fornecer os bens e todos os meios pelos quais o distribuidor


possa efetuar as vendas, enquanto este se obriga a efetuar a venda do produto e
fundamentalmente, pagar o preço ao dono do negócio ou distribuído, para que não
acarrete perdas e danos. O art. 715 prevê que “o agente ou distribuidor tem direito à
indenização se o proponente, sem justa causa, cessar o atendimento das propostas ou
reduzi-lo tanto que se torna antieconômica a continuação do contrato”.

A doutrina costuma entender que a exclusividade é um elemento natural do contrato


de distribuição, que somente pode ser suprimida ou reduzida mediante a vontade das
partes.

O contrato de distribuição trata-se de um contrato consensual, bilateral, oneroso,


comutativo, nominado e típico, não solene, de longa duração e intuitu personae. Não
é de sua essência que seja de adesão, mas, se o for, deve ser regido pelas regras de
hermenêutica que se aplicam a essa modalidade.

70
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Requisitos

Subjetivos: ter-se-á de um lado o produtor, seja ele fabricante ou manipulador do


produto, e de outro lado, o distribuidor, que se obriga a revender o produto e a prestar
assistência técnica, em seu nome e risco.

Objetivos: o objeto da distribuição, deverá ser fabricado pelo fabricante ou produtor e


destinado à revenda na área delimitada, pelo preço fixado.

Formais: deverá ser feito por escrito, mediante aceitação do distribuidor, pois o
fabricante deverá submeter às normas todos os distribuidores, sem exceção. O contrato
permanecerá sempre em aberto permitindo ingresso de novas partes. Deverá ainda ser
assentado no Registro de Títulos e Documentos.

Controle do Fabricante

No contrato de distribuição existe sempre controle do fabricante (produtor) ou


fornecedor, quanto ao destino dos seus produtos, mercadorias ou serviços. Por isso, o
distribuidor deve se submeter aos preços e condições de pagamento e, no mais das vezes,
a um modelo de publicidade pré-determinada, ambos estabelcidos pelo fabricante ou
fornecedor.

Com isso, cumpre aos distribuidores a realização de metas de venda, e a apresentação


de relatórios demonstrativos das vendas efetivadas, sob pena de rescisão do contrato.

Internacionalidade do contrato de distribuição

O contrato será considerado como internacional diante da existência de elementos


ligados a mais de uma ordem jurídica. Deverá ser analisada a complexidade dos aspectos
adotados para sua caracterização é primordial a análise casuística da relação jurídica
para que se possa classificá-la como internacional ou não.

Contrato de representação comercial

O contrato de representação comercial ou de agência é o contrato no qual uma pessoa


se obriga, mediante retribuição, a realizar certos negócios, em lugares determinados
e habituais, em favor e por conta de outrem, sem subordinação hierárquica com o
agenciado, não se caracterizando, em princípio, relação de direito do trabalho.

O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão
dos contratos.

71
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Nesse caso, fica caracterizada representação comercial que é regulada pela lei específica
(Lei no 4.886/1965 e na omissão pelo CC).

Essa modalidade de contrato originou-se do serviço prestado pelo mascate ou vendedor


ambulante, que viajava no lombo de mulas, vendendo diretamente ao consumidor.

Com o desenvolvimento do transporte, os empresários passaram a contar com


colaboradores independentes, que se constituíram nos agentes comerciais, com a função
de colocar no mercado os produtos da empresa representada, recebendo comissão
expressa em percentual sobre o valor das mercadorias vendidas ou faturadas.

A pessoa que se obriga a agenciar propostas ou pedidos em favor de outra, recebe a


denominação de agente ou representante comercial, que deverá ser registrado no
Conselho Federal e no Conselho Regional de Representantes Comerciais, e aquela em
prol de quem os negócios são agenciados, chama-se de representado.

O representante ou agente pode dedicar-se a uma infinidade de negócios. Modernamente


destacam-se agentes que promovem negócios de turismo, teatro, atores e cantores,
apresentações artísticas em geral, atletas profissionais, publicidade e propaganda,
política, etc. O agenciado contrata o agente tendo em vista suas qualidades pessoais.
Como em todo contrato sempre se exigirá agente capaz e objeto lícito, podendo ser
pessoa natural ou jurídica. Como qualquer contrato, a ilicitude afetará a validade do
negócio.

O representante ou o agente atua como promotor de negócios em favor de uma ou


várias empresas em zona determinada.

A demarcação territorial é forma de evitar que agentes de um mesmo negócio entrem


em conflito empresarial e se prejudiquem mutuamente.

O Código Civil dispõe acerca da questão de exclusividade de Zona.

Art. 711. Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao mesmo


tempo, mais de um agente, na mesma zona, com idêntica incumbência;
nem pode o agente assumir o encargo de nela tratar de negócios do
mesmo gênero, à conta de outros proponentes.

A Lei no 4.886/1965 também prevê que:

Art. 31. Prevendo o contrato de representação a exclusividade de zona


ou zonas, ou quando este for omisso, fará jus o representante à comissão
pelos negócios aí realizados, ainda que diretamente pelo representado
ou por intermédio de terceiros.

72
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Parágrafo único. A exclusividade de representação não se presume na


ausência de ajustes expressos.

No entanto, agenciar não é fazer negócio, não é concluir contratos ou outros negócios
jurídicos, mas simplesmente promovê-los, em favor do dono do negócio e o agente deve
ter autonomia econômica e funcional.

A distinção entre a representação e o agenciamento reside no fato que o representante


comercial deve estar registrado no Conselho Federal e os Conselhos Regionais dos
Representantes Comerciais (art. 2o da Lei no 4.886/1965), enquanto o agenciador não
deve estar registrado, nesse caso, aplica-se as regras do CC, caso esteja registro CRC a
regra aplicável será da Lei no 4.886/1965.

Inscrição obrigatória

Para o exercício da profissão é necessário o registro no Conselho Regional próprio, com


a apresentação da seguinte documentação (art. 32o, da Lei no 4.886/1965): (a) prova
de identidade; (b) prova de quitação com o serviço militar, quando a ele obrigado; (c)
prova de estar em dia com as exigências da legislação eleitoral; (d) folha-corrida de
antecedentes, expedida pelos cartórios criminais das comarcas em que o registrado
houver sido domiciliado nos últimos dez (10) anos; (e) quitação com o imposto sindical.

No caso de estrangeiro, é desobrigado da apresentação dos documentos constantes das


alíneas b e c apontados acima.

Nos casos de transferência ou de exercício simultâneo da profissão, em mais de uma


região, serão feitas as devidas anotações na carteira profissional do interessado, pelos
respectivos Conselhos Regionais.

As pessoas jurídicas deverão fazer prova de sua existência legal, que ocorre com o
respectivo registro na junta comercial do Estado onde estiver sediada.

Internacionalidade do contrato de representação


comercial

Independentemente de onde o contrato foi celebrado e do domicílio das partes, a lei


aplicável aos contratos que são cumpridos no Brasil é a lei brasileira.

Assim, o contrato de representação comercial será internacional quando a obrigação


tiver que ser adimplida no Brasil, na forma do art. 88 do CPC. A lei aplicada será a lei
do país onde a obrigação tiver que ser executada (art. 9o da LINB).

73
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Contrato Internacional de Franchising


O contrato de Franchising ou franquia é regulado pelo direito brasileiro por meio da Lei
no 8.955/1994, mas nada dispõe acerda da possibilidade de existência de um contrato
de franquia, sendo assim, a Lei apontada será sempre aplicada quando o franquiado
possuir filial ou sede no Brasil.

O contrato de franquia é caracterizado pelo:

é o sistema pelo qual o franqueador cede ao franqueado o direito de uso


de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou
semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao
direito de uso e tecnologia de implantação e administração de negócio
ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador,
mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique
caracterizado vínculo empregatício.

A franquia é, normalmente, vantajosa, tanto para quem adquire os direitos de franquia,


o franqueado, quanto para quem cede esses direitos, o franqueador.

Diniz (2005e, pp. 43-45) demonstra que, de um lado, o franqueador pode ampliar seus
negócios com baixos investimentos, tornar sua marca mais forte e competitiva. Do outro,
o franqueado tem a possibilidade de abrir um negócio com menos riscos, amparado
por pessoas mais experientes, por uma marca e produtos que já apresentaram um
relativo sucesso. O consumidor, por fim, pode usufruir de produtos com bons padrões
de qualidade e de bom atendimento.

Imaginemos a seguinte questão: uma empresa brasileira (franqueada) celebra com


uma empresa portuguesa (franqueador) ou qualquer outra empresa situada na União
Europeia um contrato de franquia, na cidade de Lisboa. Qual seria a Lei aplicável
ao contrato? Segundo as normas brasileiras, o contrato deverá, na falta de previsão,
ter como norma regulamentadora a lei portuguesa. Segundo a legislação europeia a
lei aplicável ao contrato de franquia é a lei do país em que o franqueado tem a sua
residência habitual.

Contudo, a legislação brasileira possui uma cláusula de salvaguarda que dispõe que a
Lei no 8.955/1994 aplica-se aos sistemas de franquia instalados e operados no território
nacional (art. 8o).

Assim, segundo a legislação brasileira, o contrato de franquia pode ser escrito


no idioma português, assinado na presença de duas testemunhas e terá validade

74
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

independentemente de ser levado ao registro. Para efeitos de proteção contra terceiros,


o contrato deve ser registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Mas antes da sua celebração, o futuro franqueado interessado em montar uma franquia
pode solicitar ao franqueador uma circular de oferta devendo ser enviada no prazo de
10 dias sem custo algum, e impondo a legislação os fatores mínimos que o documento
necessariamente deve conter.

O contrato de franquia tem como objeto um produto ou serviço. No caso do produto


poderá compreender desde a sua fabricação até a sua distribuição, nesses casos, também,
poderá o franqueador indicar de quem o franqueado deverá adquirir o produto ou a
matéria-prima. No caso da franquia de serviços, o seu objeto centralizará na prestação
de um serviço pelo franqueado ao consumidor final.

É importante ressaltar que inexiste relação de emprego entre franqueado e franqueador,


pois na franquia há o vínculo de cooperação mútua e mercantil, pois um se obriga a
credenciar uma terceira pessoa, para que seja licenciado o uso da marca ou da patente,
associado a uma rede de distribuição, em contra partida, a outra parte, o franqueado,
possui o dever de administrar a marca, dentro da horizontalidade da cadeia em prol
do sistema explorando-a da melhor forma, a fim de melhorar o estabelecimento do
franqueador, recebendo em troca os royalties.

O direito brasileiro permite que um contrato internacional de franquia a ser


executado no Brasil seja regido por leis estrangeiras?

O Brasil não reconhece o princípio da autonomia da vontade na escolha da lei


aplicável aos contratos internacionais de representação comercial?

Contratos de importação de mão de obra


A contratação de mão de obra vinda do exterior poderá gerar duas formas de relações
jurídicas: a de emprego e a de trabalho.

A relação de emprego se origina por meio de um contrato de trabalho que possui as


seguintes características: (a) deve ser exercício por pessoa física; (b) continuidade do
trabalho desenvolvido; (c) dependência econômica do empregado; (d) subordinação e;
(e) alteridade.

75
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Sendo assim, o empregado deve ser pessoa física e exercer ele mesmo a atividade
designada. A atividade desenvolvida pelo sujeito deve ser não eventual, de maneira
habitual, continua e permanente, na qual o sujeito passa a fazer parte integrante da
cadeia produtiva da empresa, mesmo que desempenhando uma atividade de meio,
caracterizada o trabalho não eventual. Toda atividade deve ter uma remuneração pelos
serviços executados. A questão da subordinação do empregado resulta de uma análise
jurídica, não técnica ou mesmo econômica, pois o empregado fica sob as ordens do
patrão, caso não as cumpra poderá ocorrer penalidades ao empregado.

A relação de trabalho corresponde a qualquer vínculo jurídico por meio do qual uma
pessoa natural executa obra ou serviços para outrem, mediante o pagamento de uma
contraprestação.

A distinção das relações pode ser encarada da seguinte forma: toda relação de emprego
corresponde a uma relação de trabalho, mas nem toda relação de trabalho é relação de
emprego.

A Lei no 7.064/1982 prevê que esta Lei regulará a situação de trabalhadores contratados
no Brasil ou transferidos por seus empregadores para prestar serviço no exterior. Fica
excluído do regime desta Lei o empregado designado para prestar serviços de natureza
transitória, por período não superior a 90 (noventa) dias, desde que: (a) tenha ciência
expressa dessa transitoriedade; (b) receba, além da passagem de ida e volta, diárias
durante o período de trabalho no exterior, as quais, seja qual for o respectivo valor, não
terão natureza salarial.

Carrion (2006. p. 512) disciplina que se aplica a Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT) por ser mais específica ao caso do que a LINB que dispõe “é competente a
autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil, ou aqui tiver
de ser cumprida a obrigação” (art. 12).

A CLT prevê que:

Art. 651. A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento


é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou
reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido
contratado noutro local ou no estrangeiro.

§ 1o Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a


competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha
agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será
competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio
ou a localidade mais próxima.

76
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

§ 2o A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida


neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no
estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção
internacional dispondo em contrário.

§ 3o Em se tratando de empregador que promova realização de


atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao
empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato
ou no da prestação dos respectivos serviços.

O art. 651 da CLT regula a jurisdição trabalhista, prevendo em seu caput,


que a justiça brasileira será competente para julgar uma demanda,
quando o prestação do serviço for ao Brasil, mesmo que o contrato seja
originário de país estrangeiro, ou que o empregado não seja nacional.

Na importação de mão de obra, a legislação aplicável é a brasileira pouco importando


o local de celebração do contrato, pois o estrangeiro contratado como empregado tem
os mesmos direitos trabalhistas que o empregado brasileiro (regido pela CLT), mas se o
contrato for para regular relação de trabalho, o contrato será regido pela lei do local de
execução da obrigação se efetuada no Brasil, por nesse caso a relação não é protegida e
amparada pela CLT, mas sim pelas regras de direito civil.

Para que um estrangeiro possa realizar seu trabalho no Brasil é necessária autorização
que é efetuada por meio do sistema Migranteweb, situado no portal do Ministério
do Trabalho e Emprego, por meio da certificação digital. Com o novo procedimento,
a empresa ou entidade encaminha a documentação digitalizada diretamente pelo
sistema, tornando o processo do pré-cadastro totalmente digital.

A Ordem de Serviço/GM/CGIG/ No 1/2014, do Gabinete do Ministro (Coordenação-


Geral de Imigração) estabelece a forma que os documentos devem ser encaminhados.
A ordem estipula que o contrato (de assistência técnica e/ou transferência tecnologia,
de prestação de serviço, de afretamento, de risco), acordo de cooperação ou convênio
deve conter: (a) qualificação das partes; (b) objeto/escopo do instrumento; (c) prazo de
vigência; e (d) partes pactuantes e, no caso do contratante, pessoa jurídica. (Contrato
social): (I) qualificação dos sócios; (II) cláusula de administração; (III) data e local; (IV)
subscrição/integralização do capital; e (V) registro na junta comercial ou Registro Civil
de Pessoas Jurídicas.

Para o empregado ou trabalhador estrangeiro realizar as atividades no Brasil é necessária


autorização, que consiste no ato administrativo de competência do Ministério do
Trabalho exigido pelas autoridades consulares brasileiras, em conformidade com a

77
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

legislação em vigor, para efeito de concessão de vistos permanentes e/ou temporário a


estrangeiros que desejem permanecer no Brasil a trabalho.

A concessão de visto para a entrada e permanência de um estrangeiro no Brasil poderá


ser de: I) trânsito; II) turista; III) temporário; IV) permanente; V) cortesia; VI) oficial;
e VII) diplomático. Entre essas modalidades, o visto temporário é o que será utilizado
em viagens de negócios, e o visto permanente para aqueles que pretendam se fixar no
território nacional.

Visto Temporário é a autorização concedida pelo Ministério das Relações Exteriores,


por meio dos consulados brasileiros no exterior, aos estrangeiros que pretendam vir ao
Brasil: I – em viagem cultural ou missão de estudos; II – em viagem de negócios; III –
na condição de artista ou desportista; IV – na condição de estudante; V – na condição de
cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato,
ou a serviço do Governo brasileiro; VI – na condição de correspondente de jornal,
revista, rádio, televisão ou agência noticiosa estrangeira; VII – na condição de ministro
de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação
ou ordem religiosa. Para a concessão de visto temporário, no caso dos itens III e V,
é exigida, também, a Autorização de Trabalho. Para orientações, ver Procedimentos
Administrativos.

Visto Permanente é a autorização concedida pelo Ministério das Relações Exteriores ao


estrangeiro que pretenda estabelecer-se definitivamente no Brasil. A concessão desse
tipo de visto também requer prévia Autorização de Trabalho emitida pelo Ministério do
Trabalho nos casos de investidor (pessoa física) ou ocupante de cargo de administrador,
gerente ou diretor de sociedade comercial ou civil.

Morales (s/d) demonstra que:

o visto permanente será concedido por um período de um, dois ou


no máximo cinco anos e deverá obedecer exigências especiais da
Coordenação-Geral de Imigração, órgão do Ministério do Trabalho e
Emprego, estabelecidas por resoluções. Os vistos por um ou dois anos,
serão concedidos aos expatriados com contrato de trabalho entre pessoa
jurídica nacional e estrangeira regido pela CLT, acordos de cooperação
internacional, assistência técnica, convênio ou instrumento similar
sem vínculo empregatício com pessoa jurídica nacional. Já o visto por
um período de cinco anos, será concedido ao estrangeiro que pretenda
vir ao Brasil exercer a função de administrador, gerente, diretor ou
executivo de sociedade comercial ou investidor, pessoa física.

78
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

É importante ressaltar a necessidade de cada novo pedido de visto para um estrangeiro


verificar-se as alterações das resoluções, tendo em vista que a concessão de vistos
permanentes para estrangeiros se ajusta aos parâmetros ditados pelas certezas e
incertezas do momento político/econômico vivido.

Se o visto é de turista ou em trânsito o estrangeiro não pode exercer atividade


remunerada, nem seus dependentes. Se tiver visto temporário de trabalho ou emprego,
o estrangeiro só poderá exercer a atividade para o sujeito que o contratou.

Quando um trabalhador estrangeiro presta serviços em território brasileiro, as


leis que regem o contrato são as do país de origem ou as leis brasileiras?

TST. Súmula no 207. Conflitos de Leis Trabalhistas no Espaço. Princípio da Lex Loci
Executionis (cancelada). A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes
no país da prestação de serviço e não por aquelas do local da contratação.

Contratos eletrônicos
O contrato eletrônico é definido como “o negócio jurídico bilateral que tem no meio
virtual o suporte básico para sua celebração” (ROHRMANN, 2005, p. 58). Nessa
forma de contrato que pode envolver qualquer tipo de contrato, seja compra e venda,
representação comercial, transferência de tecnologia etc. Ele se opera entre o titular
do estabelecimento virtual e o internauta, mediante a transmissão eletrônica de dados.

O contrato eletrônico se enquadra no conceito de documento, dado que pode representar


um ato ou fato jurídico, ou seja, a sua validade depende da capacidade de mantê-lo
íntegro e não deteriorável.

Para sua formalização, basta o simples acordo de vontade, mas para saber qual o exato
momento da celebração, deve-se observar a questão da contratação entre presente e
ausente. Entre presente (transmissão instantânea de dados), a proposta é obrigatória se
imediatamente aceita, momento em que se conclui o contrato. Sendo uma contratação
entre ausentes (quando não se encontrarem os contratantes interligados e on-line) a
confirmação da aceitação e sua celebração acontecerá depois que a aceitação é expedida
dentro do prazo razoável. (AQUINO, 2009).

Rohrmann (2005, pp. 59-60) afirma que “a determinação do lugar onde se tem por
concluído o contrato é de enorme importância no direito internacional privado, pois

79
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

dele dependerá não só a apuração do foro competente, mas também a determinação da


lei a ser aplicada à relação contratual”.

A LINB, no art. 9o, § 2o prescreve que a “obrigação resultante do contrato reputa-se


constituída no lugar em que residir o proponente”. Logo, se o vendedor residir no Brasil
e o comprador na Austrália, o negócio reger-se-á pela lei brasileira. Se o proponente
residir em Portugal e o solicitado no Brasil, sendo o contrato proposto naquele país,
por meio de carta, ficará ele sob a égide da lei portuguesa, que disciplinará seus efeitos.
Como se pode ver, a lei da residência do proponente regerá os contratos entre ausentes,
sendo os contratantes residentes em países diversos. (AQUINO, 2009).

Assim, o contrato eletrônico será internacional quando a obrigação tiver que ser
adimplida no Brasil, na forma do art. 88 do CPC. A lei aplicada será a lei do país onde a
obrigação tiver que ser executada. (Art. 9o da LINB).

Societário internacional (incluindo SPC) e joint


ventures
Com a integração dos mercados é cada vez maior o número de sociedades que procuram
exercer as suas atividades para além das fronteiras onde se fixou originariamente a sua
sede ou se constituiu.

Será nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha
no País a sede de sua administração. Quando a lei exigir que todos ou alguns sócios
sejam brasileiros, as ações da sociedade anônima revestirão, no silêncio da lei, a forma
nominativa. Qualquer que seja o tipo da sociedade, na sua sede, ficará arquivada cópia
autêntica do documento comprobatório da nacionalidade dos sócios. (Art. 1.126 do CC).

Nesse espectro será analisada a sociedade em conta de participação, a joint venture e a


holding.

Sociedade em conta de participação

A sociedade em conta de participação é um tipo de sociedade não personificada e que


nunca a adquiri-la a personificação. Isso acontece, visto que o “contrato social produz
efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer
registro não confere personalidade jurídica à sociedade” (art. 993, do Código Civil)
e sendo classificada como intuitu personae e constitui-se de dois tipos de sócios, o
ostensivo e o participante. (AQUINO, 2010).

80
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

É certo que o exercício da atividade fica a cargo do sócio ostensivo que administra e
responde em seu próprio nome. O objeto social, segundo o art. 991 do Código Civil
é exercido unicamente pelo empreendedor (sócio ostensivo), que atua econômica e
juridicamente perante terceiros, apresentando-se individualmente e como o único e
exclusivo responsável pelos negócios estabelecidos, não vinculando os demais sócios
investidores (participantes), que ocupam uma posição oculta. (AQUINO, 2010).

Aquino (2010) expõe que a prova de existência e funcionamento por todos os meios
de direitos (art. 992, do Código Civil). Na sociedade em conta de participação, é
formada de duas categorias de sócios: ostensivo e participante. O sócio ostensivo
exerce a atividade constitutiva do objeto social em nome próprio e individual, sob sua
exclusiva responsabilidade (art. 991, do Código Civil). Assim, a sociedade em conta de
participação não responde para com terceiros, pois a obrigação pelos débitos será em
regra de responsabilidade do sócio ostensivo que responderá de forma ilimitada pelas
obrigações independentemente do tipo societário que for isto ocorre por “que o devedor
responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes
e futuros” (art. 591, do CPC) e os bens particulares dos sócios só respondem depois de
exauridos os bens do devedor. (Art. 596, do CPC).

Já o sócio participativo responde de forma limitada. Esse também parece ser o


entendimento Negrão (2005, p. 299).

O Código Civil de 2002 tornou interessante a adoção da sociedade


em conta de participação, regulamentando a natureza especial da
contribuição do sócio oculto, denominando-o sócio participante, e
permitindo sua habilitação como credor quirografário na falência do
sócio ostensivo. Pela legislação comercial, o sócio oculto, no caso de
falência do sócio ostensivo, vê os fundos com que contribuiu servirem
para pagamento dos credores. Sua posição jurídica, nesse caso, é a de
sócio com responsabilidade limitada aos fundos com que concorreu.
No novo sistema, passa a figurar como credor concorrente ao concurso
universal de credores.

Assim, a sociedade em conta de participação será internacional se existir algum


elemento de estraneidade ou elementos que tenham laços estreitos com mais de uma
ordem jurídica.

81
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Joint ventures (empreendimento comum)

É uma modalidade de cooperação entre sociedades empresárias com a finalidade de


exercício de uma atividade econômica independentemente e com intuito de lucro, ou
seja, a cooperação visa o exercício de uma atividade econômica lucrativa.

Não pode haver cooperação interempresarial nos casos em que uma sociedade
empresária coopera economicamente com o Estado ou outro ente coletivo, público ou
privado, a que não corresponda a um sujeito que exerça atividade empresarial. Isso
porque a expressão joint venture é utilizada com respeito a esse tipo de relação, em
particular com respeito às que envolvem empresa multinacional.

A joint venture pode ser constituída com o fim de buscar novas tecnologias, para
assegurar a presença de determinado agente econômico em um setor do mercado.

Pinheiro (1998, p. 360) afirma que o fenômeno da internacionalização dos contratos


de empreendimento comum deverá ser analisado perante as normas de conflitos
reguladoras das obrigações, e com isso gera um grau de internacionalização do contrato.

Assim, este tipo contratual será internacional se o contrato possui laços estreitos com
mais de ordem jurídica.

Holding

Segundo Mamede (2011, p. 2), é “uma sociedade que detém participação societária
em outra ou em outras sociedades, tenha sido constituída exclusivamente para isso
(sociedade de participação) ou não (holding mista)”.

Quando se trata de um grupo de empresas, a constituição de uma holding pode ser


recomendável para centralizar a administração das diversas sociedades e as diversas
unidade produtivas, dando-lhes uma integração. A holding passa a ter um papel central
na autogestão de todo o aglomerado de empresas do grupo, pois passa a definir metas e
cobrando resultados. Dessa maneira, torna-se o núcleo de uma benchmarking (cultura
empresarial) que pode, até influenciar sociedades nas quais tem simples participação
societária. Além do papel de liderança, a holding pode gerar um núcleo de representação
empresarial, pois a holding poderá representar o conjunto das sociedades controladas.
(MAMEDE, 2011, p. 56).

Uma finalidade importante é a blindagem patrimonial, pois os titulares de direitos


(pessoa física ou jurídica) respondem com os seus bens no presente e no futuro, ou
seja, de forma ilimitada, salvo os bens impenhoráveis. No caso das pessoas jurídicas,

82
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

os sócios irão responder conforme o tipo de sociedade, mas em regra, poderá ocorrer
a solidariedade em relação às empresas das quais por ventura participe. Assim, com a
blindagem patrimonial pretende-se proteger o patrimônio individual de cada sujeito em
face das inúmeras situações de responsabilidade solidária, ou até mesmo de problemas
envoltos em sua vida pessoal que possam acabar por provocar medidas como sequestro
de bens, busca e apreensão etc. (MAMEDE, 2011, p. 67).

Outra finalidade procurada pelo sujeito na constituição de uma holding é o planejamento


sucessório. Aqui o que se procura é estruturar o patrimônio familiar, evitando disputas
futuras quando da abertura do processo de sucessão. Isso porque cada núcleo familiar
possui características peculiares e, portanto, deve contar com soluções únicas e
igualmente peculiares para sua realidade e seus problemas. Assim, por exemplo, (A) e
(B) titulares dos bens transferem o patrimônio da família ou parte dos bens à holding.
No caso do sujeito (A) e/ou (B), a sucessão não se fará nos bens, mas na participação
societária da holding.

Mamede (2011, p. 82) afirma que as vantagens fiscais de manter uma holding podem
ser vantajosas ou não, pois tudo dependerá da engenharia proposta para a constituição
da holding, uma vez que, a constituição de uma sociedade normalmente gera encargos
fiscais como o PIS e Confins que são tributos próprios da pessoa jurídica.

Mas de uma maneira geral, a holding pode acarretar uma diminuição de tributos como
no caso de: (a) imposto de renda; (b) tributação da venda de bens imóveis. Isso porque
a alíquota do imposto de renda da pessoa física pode chegar ao total de 27,50% e da
pessoa jurídica pode chegar ao total de 12,00%. A tributação da venda de bens imóveis
de pessoa jurídica é de 5,80% enquanto da pessoa física é de 27,50%.

Outro ponto é a possibilidade do cônjuge se tornar sócio de holding. Dependerá da


forma de sociedade que a holding adotou, se for uma sociedade anônima, o cônjuge
assumirá como se acionista fosse. Já no caso da sociedade limitada, irá depender da
cláusula acerca da sucessão causa mortis prevista no contrato social. Caso omisso, o
cônjuge não se tornará sócio, mas terá direito a receber o valor de seu quinhão, na
forma do art. 1.027, se a regra aplicável à sociedade limitada for a da sociedade simples,
mas se a regra adota de maneira supletiva for a da sociedade anônima, se aplica as
regras de sucessão como acionista fosse.

Outra vantagem se relaciona à duração do processo em caso de falecimento. O processo


de inventário a média é de 5 (cinco) anos, enquanto a de criação de sucessão na holding,
é de 30 (trinta) dias em média (PRADO, 2011).

83
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Assim, a sociedade holding deve necessariamente ser constituída segundo um dos tipos
existentes na legislação brasileira, se a mesma for constituída no Brasil, caso contrário,
deverá observar a lei aplicável a sua constituição.

A concentração de empresas pode ser feita de diferentes maneiras. Sendo assim,


há distinções entre uma empresa holding e uma joint venture?

A holding é definida em face do objeto social que explora a participação no capital


de outras empresas. Pode assumir a forma de sociedade anônima, sociedade
simples ou empresária. De acordo com o parágrafo 3o do artigo 2o da Lei das S/
As, “a companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades”, dispondo,
ainda, que “não prevista no estatuto social, a participação é facultada como meio
de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais”. O mesmo
diploma legal dispõe sobre o sistema de concentração societária por meio de
empresas coligadas e controladas (art. 243 da Lei das S/As) onde se pode inferir a
existência da empresa holding. No âmbito das sociedades de pessoas, os artigos
1.097 a 1.099 do Código Civil também tratam do sistema legal de controle de
uma sociedade em relação a outras, defluindo a existência da holding.

Contrato de transporte
O contrato de transporte é aquele pelo qual alguém mediante retribuição se obriga a
receber pessoas ou coisas (animadas ou inanimadas) e levá-las até o lugar do destino,
com segurança, presteza e conforto (art. 730, do CC). O contrato celebra-se entre o
transportador ou condutor e a pessoa que vai ser transportada (passageiro ou viajante),
ou a pessoa que entrega o objeto (expedidor ou remetente).

O transporte quanto à modalidade pode ser classificado como: terrestre (rodoviário,


ferroviário e dutoviário), aquaviário (fluvial, lacrustre e marítimo) e aéreo.

Quanto à utilização dessas diversas modalidades, o transporte é classificado em: (a)


modal ou unimodal, quando se utiliza apenas de uma modalidade de transporte na
operação; (b) intermodal, quando se utiliza diversos meios de transporte e um dos
transportadores organiza o processo, sendo os documentos de transporte empregados
de acordo com a responsabilidade de cada transportador; (c) sucessivo, quando se
utiliza mais de uma vez a mesma modalidade, mas há apenas um único contrato e; (d)
multimodal, ocorre quando há mais de uma modalidade de transporte, mas com um
único contrato.

84
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

As regras acerca do transporte estão apontadas na Lei no 10.233/2001, e regulamentada


pelo Decreto no 4.130/2002, que instituiu a Agência Nacional de Transporte Terrestre
(ANTT). A ANTT foi “criada pela Lei no 10.233, de 5 de junho de 2001, tem sede e
foro no Distrito Federal, com personalidade jurídica de direito público, submetida ao
regime autárquico especial e vinculada ao Ministério dos Transportes, com a qualidade
de órgão regulador da atividade de exploração da infraestrutura ferroviária e rodoviária
federal e da atividade de prestação de serviços de transporte terrestre”. Sendo assim,
ANTT é o órgão regulado da atividade de exploração da infraestrutura ferroviária e
rodoviária federal e da atividade de prestação de serviço de transporte terrestre.

No âmbito internacional, o transporte rodoviário internacional é regulado, no Brasil,


especialmente, pelo Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre (AITT) celebrado
entre o Brasil, a Argentina, o Peru, a Bolívia, o Chile, o Paraguai e o Uruguai (Acordo de
Transporte no 99.704, de 20 de novembro de 1990). Também regulamenta a questão, o
Acordo sobre Contrato de Transporte e a Responsabilidade Civil do Transportador no
Transporte Rodoviário Internacional de Mercadorias, celebrado entre o Brasil, a Bolívia,
o Chile, o Paraguai, o Peru e o Uruguai (Decreto no 1.866, de 16 de abril de 1996.). E pelo
O Acordo de Transporte Rodoviário Internacional de Passageiros e Carga, celebrado
entre o Brasil e a Venezuela (Decreto no 2.975, de 1 de março de 1999). Também no
que se refere à regulamentação do transporte rodoviário no âmbito internacional é
importante mencionar o manifesto Internacional de Carga Rodoviária/Declaração
de trânsito aduaneiro (MC/DTA), que une no mesmo documento as informações do
manifesto de carga rodoviária e da declaração de trânsito aduaneiro.

O Transporte Ferroviário Internacional é regulado pelo Decreto no 2.681/1912, pelo


Decreto no 1.832/1996 e pelo Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre (AITT)
celebrado entre o Brasil, a Argentina, o Peru, a Bolívia, o Chile, o Paraguai e o Uruguai
(Acordo de Transporte no 99.704, de 20 de novembro de 1990).

O transporte marítimo é regulado pela Convenção de Direito Internacional (Código de


Bustamante) de 1928, a qual em seu título terceiro trata do comércio marítimo, incluindo
disposições sobre o contrato internacional de transporte. Outra Convenção ratificada
e aplicada ao direito Marítimo é a convenção Internacional para Unificação de Certas
Regras de direito concernentes aos conhecimentos marítimos de 1924 (regras de Haia).
Outra regra importante é o Código Comercial de 1850 que trata do comércio marítimo.
Também regula a matéria a Lei no 9.432/1997, que trata do transporte aquaviário.

O transporte aéreo internacional de carga é regulado pela Convenção de Varsóvia de


1929, pela Convenção de Chicago e Lei no 7.565/1986.

85
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Transporte rodoviário

A caracterização desse tipo de transporte ocorre pelo meio de veículos automotores via
estrada de rodagem.

O transporte rodoviário de carga é realizado em larga escala por veículos (carretas e


caminhões) que transportam mercadorias a granel, líquida ou sólida e automóveis. Para
cada tipo de carga deve se utilizar a embalagem apropriada. Os veículos apropriados
para contêiner são denominados de plataforma.

No âmbito nacional, incentivou-se mais o uso do transporte rodoviário em detrimento


do transporte ferroviário.

De acordo com o art. 1o do Decreto no 1.866/1996, o contrato de transporte rodoviário


internacional é “aquele em virtude do qual o transportador se obriga, contra o
pagamento de um frete, a executar ou a fazer executar um transporte de mercadorias
desde o território de um Estado ao território de outro, utilizando veículos de transporte
rodoviário em todo ou em parte do percurso”.

O contrato de transporte de carga rodoviário internacional é representado pelo


Conhecimento Internacional de Transporte Rodoviário (CRT), que serve também como
recibo de entrega da carga ao transportador, bem como título de crédito.

O Decreto no 1.866/1996 dispõe que “a Carta de Porte ou Conhecimento de Transporte


é documento fidedigno da existência de um contrato de transporte. A ausência,
irregularidade ou perda desse documento não afetará nem a existência nem a validade do
contrato de transporte, que continuará submetido às disposições desse Acordo”. Assim,
a carta dá fé das condições do contrato, das indicações necessárias para sua execução e
do recebimento das mercadorias pelo transportador, salvo prova em contrário. (Art. 3o).

O art. 19 do Decreto no 99.704/1990 traz algumas definições para sua aplicação.

1. Transporte terrestre com tráfego bilateral através de fronteira comum:


o tráfego efetuado entre dois países signatários limítrofes.

2. Transporte terrestre com tráfego bilateral com trânsito por terceiros


países signatários: o realizado entre dois países signatários com trânsito
por terceiros países signatários, sem efetuar nestes nenhum tráfego
local, permitindo somente as operações de transbordo em recintos
alfandegários e expressamente autorizadas pelos países signatários.

3. Transporte terrestre com tráfego para terceiros países não signatários:


o realizado por um país signatário com destino a outro que não seja

86
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

signatário do Acordo, com trânsito por terceiros países signatários, na


mesma modalidade definida nzo parágrafo 2o do presente artigo.

4. Empresa: todo transportador autorizado por seu país de origem


para realizar tráfego internacional terrestre, nos termos do presente
Acordo: o termo transportador compreende toda pessoa física ou
jurídica, incluindo cooperativas ou similares que ofereçam serviços de
transporte a título oneroso.

5. Veículo: artefato com os elementos que constituem o equipamento


normal para o transporte destinado a transportar pessoas ou bens por
rodovia, mediante tração própria ou suscetível de ser rebocado.

6. Ligação por rodovia: corresponde às ligações diretas por caminhos


sem solução de continuidade e a ligação de rodovias, por pontes, balsas,
transbordadores e túneis.

7. Transporte de passageiros: aquele realizado por empresas autorizadas


nos termos do presente Acordo para trasladar pessoas, de forma regular
ou ocasional entre dois ou mais países.

8. Transporte de carga: aquele realizado por empresas autorizadas


nos termos do presente Acordo de forma regular ou ocasional, para
trasladar cargas entre dois ou mais países.

9. Transporte próprio: aquele realizado por empresas cuja atividade


comercial principal não seja o transporte de carga remunerado efetuado
com veículos de sua propriedade, e que se aplique exclusivamente a
cargas que utilizam para seu consumo ou para distribuição dos seus
produtos.

10. Equipamentos: o conjunto de implementos e acessórios instalados


em veículos do transporte de passageiros ou carga, tais como rádios,
toca-fitas, aparelhos de rádio transmissão, tacógrafos, geladeiras,
televisores, aparelhos de videocassete, condicionadores de ar e
aquecedores e outros aparelhos necessários para o desenvolvimento
da atividade, tais como: extintores, rodas, pneus, câmaras, macacos,
ferramentas, peças de reposição para emergências, estojos de primeiros
socorros e lanternas.

11. Veículos e equipamentos de apoio operacional: são aqueles que se


utilizam exclusivamente para executar tarefas auxiliares do transporte
internacional com proibição de realizar este tipo de transporte,

87
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

tais como: veículos de socorro, guindastes, empilhadeiras, esteiras


transportadoras e outros similares.

12. Autotransporte: é a importação ou exportação de veículos que se


transportam por seus próprios meios.

13. Licença originária: autorização para realizar transporte internacional


terrestre nos termos do presente Acordo, outorgada pelo país com
jurisdição sobre a empresa.

14. Licença complementar: autorização concedida pelo país de destino


ou de trânsito à empresa que possui licença originária.

Esse tipo de transporte é utilizado para curtas e médias distâncias e para movimentação
de mercadorias de pequeno porte. O seu maior atributo reside no fato da logística a
ele aplicado que envolve procedimentos relativamente simples, no que se refere ao
manuseio da carga, exigindo pouco esforço na operação de carga e descarga.

O transportador será responsável pelas mercadorias desde o momento em que elas


ficarem sob sua custódia até o momento da entrega, ou seja, será responsável pela
perda total ou parcial das mercadorias e pelas avarias sofridas por estas, bem como
por toda demora na entrega, se o que deu lugar à perda ou avaria ou demora ocorreu
quando as mercadorias estavam ao seu encargo. Os danos causados na mercadoria
por terceiros, não retira a obrigatoriedade e responsabilidade do transportador, salvo
previsão diversa no contrato.

Transporte ferroviário

O transporte ferroviário é aqueles em que a carga circula por vias férreas. Os veículos
ferroviários podem ser de tração ou rebocáveis que podem ser denominados de vagões
para guarda de mercadorias a granel ou contêiner (plataforma).

Dispõe o art. 36 do Acordo de Transporte no 99.704, de 20 de novembro de 1990 que:

1. Transporte internacional de carga por ferrovia: a atividade pela qual


mercadorias são transladadas através da modalidade ferroviária, de
um lugar a outro situados em distintos países; da mesma forma, se
consideram incluídas nessa atividade as operações de manuseio ou
armazenamento de tais mercadorias, quando as mesmas façam parte
do mencionado translado.

2. Carga ou mercadoria: toda coisa móvel suscetível de ser transportada,


à exceção das bagagens dos passageiros.

88
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

3. Transportador: qualquer pessoa, física ou jurídica, que se obrigue, por


si ou terceiros que atuem em seu nome, a efetuar o transporte terrestre
internacional de carga, de acordo com as disposições estabelecidas no
presente capítulo.

4. Ferrovia: a empresa ou empresas ferroviárias dos países signatários


do presente Acordo que participam de um determinado transporte
internacional.

5. Estação: as estações ferroviárias, aí incluídos seus desvios particulares,


os portos dos serviços de navegação e todas as demais instalações
abertas ao público para a execução do transporte.

6. Armazenamento: a custódia de mercadorias num armazém, depósito


ou área a céu aberto, quanto a mesma seja realizada pela ferrovia,
ou ainda através de agentes seus ou de terceiros, porém sob sua
responsabilidade.

7. Manuseio: a realização de qualquer operação de carregamento,


descarregamento ou transbordo de mercadorias, assim com as
eventuais operações efetuadas para formar ou organizar lotes, sempre
que as mesmas sejam realizadas pela ferrovia, através de agentes seus
ou de terceiros, porém sob sua responsabilidade.

8. Conhecimento-carta de porte: o documento de transporte, cuja


emissão e assinatura por parte do expedidor e da ferrovia comprova que
esta tomou a seu cargo as mercadorias recebidas daquele, com vistas ao
seu translado e entrega, de acordo com o disposto no presente capítulo.

9. Remetente, embarcador, expedidor ou consignador: a pessoa, física


ou jurídica que, por conta própria ou de terceiros, formaliza o contrato
do transporte internacional de cargas por ferrovia, entregando-as, para
esse efeito, à empresa ferroviária.

10. Destinatário: a pessoa, física ou jurídica, a quem são enviadas as


mercadorias o que, como tal, é designado no conhecimento-carta de
porte ou indicada numa ordem posterior à emissão do mesmo.

11. Consignatário: a pessoa, física ou jurídica, autorizada a receber as


mercadorias o que, como tal, é designada no conhecimento-carta de
porte ou indicada numa ordem posterior à emissão do mesmo.

12. Carregamento: a ação e efeito de carregar uma mercadoria.

89
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

13. Descarregamento: a ação e efeito de descarregar uma mercadoria.

14. Remessa, despacho ou consignação: a mercadoria ou mercadorias


amparadas por um conhecimento-carta de porte.

15. Estação de origem, expedidora ou de procedência: a estação


ferroviária onde se entrega a mercadoria ao transporte.

16. Estação de destino ou destinatária: a estação ferroviária onde o


remetente indica que seja entregue a mercadoria ao consignatário.

17. Tarifa de transporte: o conjunto de condições, previamente


estabelecidas, em que se baseia a formalização do contrato de transporte.

18. Frete ou preço de transporte: a quantia a ser percebida pela ferrovia


pelos serviços por ela prestados, mediante a aplicação das tarifas
vigentes.

19. Despesas de transporte: toda alocação de recursos que a ferrovia


deva efetuar para assegurar o cumprimento do contrato de transporte,
seja por serviços por ela mesma prestados, sempre que não estejam
previstos nas tarifas vigentes, seja por serviços que deva contratar com
terceiros para cumprimento dos mesmos fins.

20. Receita: a retribuição relativa a fretes, preços ou despesas de


transporte, cuja importância em dinheiro seja exigível contra a entrega
de um recibo de valor idêntico e no qual constem explicitamente as
prestações globais que lhe dão origem.

Assim, o contrato de transporte ferroviário irá estipular os direitos e deveres e obrigações


das partes e as sanções aplicáveis pelo seu descumprimento, atendida à legislação
em vigor. O Conhecimento de Transporte é o documento que caracteriza o contrato
de transporte entre a Administração Ferroviária e o usuário. (Art. 20 do Decreto no
1.832/1996).

As Administrações Ferroviárias poderão contratar com terceiros serviços e obras


necessários à execução do transporte sem que isso as exima das responsabilidades
decorrentes. A Administração Ferroviária é obrigada a receber e protocolar reclamações
referentes aos serviços prestados e a pronunciar-se a respeito no prazo de trinta dias a
contar da data do recebimento da reclamação (art. 9o do Decreto no 1.832/1996).

O conhecimento de transporte também é denominado de Carta de Porte Internacional


(TIF), que serve como recibo de entrega da mercadoria ao transportador ferroviário e

90
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

como título de crédito. Assim, como o modal rodoviário internacional pode ser emitido
um TIF e a declaração de trânsito aduaneiro e, um único documento de trânsito.

A fórmula de transporte ferroviário normalmente é utilizada para transporte de


produtos agrícolas de baixo valor agregado, além de minérios, fertilizantes, derivados
de petróleo, ou mesmo contêiner, em função da sua alta capacidade de carga e baixo
custo do frete, tornando-se extremamente competitivo nas viagens de média e longa
duração.

Transporte aquaviário

O transporte aquaviário internacional pode ser dividido em: marítimo (é aquele


realizado por navios em oceanos e mares), fluvial ou hidroviário (é a interna, ou seja,
dá-se dentro do país e/ou continente, pois é a navegação praticada em rios.) ou lacustre
(aquela realizada em lagos e tem como característica a ligação de cidades e países
circunvizinhos).

As atividades que se relacionam com a prestação de serviços de transporte aquaviário e


de exploração da infraestrutura portuária e aquaviária são reguladas e fiscalizadas pela
Agência Nacional de Transporte Aquaviários (ANTAQ).

A Lei no 9.432/1997, que trata do transporte aquaviário dispõe no art. 1o que esta Lei se
aplica: I – aos armadores, às empresas de navegação e às embarcações brasileiras; II – às
embarcações estrangeiras afretadas por armadores brasileiros; III – aos armadores, às
empresas de navegação e às embarcações estrangeiras, quando amparados por acordos
firmados pela União. Não se aplica, no entanto, aos navios de guerra e de Estado que não
estejam empregados em atividades comerciais; as embarcações de esporte e recreio; as
embarcações de turismo; as embarcações de pesca; as embarcações de pesquisa.

A norma no 9.432/1997 considera para sua aplicação as seguintes definições: (a)


afretamento a casco nu: contrato em virtude do qual o afretador tem a posse, o uso e
o controle da embarcação, por tempo determinado, incluindo o direito de designar o
comandante e a tripulação; (b) afretamento por tempo: contrato em virtude do qual
o afretador recebe a embarcação armada e tripulada, ou parte dela, para operá-la
por tempo determinado; (c) afretamento por viagem: contrato em virtude do qual o
fretador se obriga a colocar o todo ou parte de uma embarcação, com tripulação, à
disposição do afretador para efetuar transporte em uma ou mais viagens; (d) armador
brasileiro: pessoa física residente e domiciliada no Brasil que, em seu nome ou sob sua
responsabilidade, apresta a embarcação para sua exploração comercial; (e) empresa
brasileira de navegação: pessoa jurídica constituída segundo as leis brasileiras, com

91
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

sede no País, que tenha por objeto o transporte aquaviário, autorizada a operar pelo
órgão competente; (f) embarcação brasileira: a que tem o direito de arvorar a bandeira
brasileira; (g) navegação de apoio portuário: a realizada exclusivamente nos portos
e terminais aquaviários, para atendimento a embarcações e instalações portuárias;
(h) navegação de apoio marítimo: a realizada para o apoio logístico a embarcações
e instalações em águas territoriais nacionais e na Zona Econômica, que atuem nas
atividades de pesquisa e lavra de minerais e hidrocarbonetos; (i) navegação de
cabotagem: a realizada entre portos ou pontos do território brasileiro, utilizando a via
marítima ou esta e as vias navegáveis interiores; (j) navegação interior: a realizada em
hidrovias interiores, em percurso nacional ou internacional; (k) navegação de longo
curso: a realizada entre portos brasileiros e estrangeiros; (l) suspensão provisória de
bandeira: ato pelo qual o proprietário da embarcação suspende temporariamente o uso
da bandeira de origem, a fim de que a embarcação seja inscrita em registro de outro
país; (m) frete aquaviário internacional: mercadoria invisível do intercâmbio comercial
internacional, produzida por embarcação; (n) navegação de travessia: aquela realizada
(transversalmente aos cursos dos rios e canais; b) entre 2 (dois) pontos das margens
em lagos, lagoas, baías, angras e enseadas; entre ilhas e margens de rios, de lagos, de
lagoas, de baías, de angras e de enseadas, numa extensão inferior a 11 (onze) milhas
náuticas; entre 2 (dois) pontos de uma mesma rodovia ou ferrovia interceptada por
corpo de água (art. 2o).

Transporte lacustre e fluvial

O transporte lacustre não possui relevância para o Brasil, pois esse tipo de transporte é
realizado em lagos e tem como característica a ligação de cidades e países circunvizinhos.

As principais vias fluviais brasileiras são: (a) hidrovias da bacia Amazônica, especial o
sistema hidrográfico Amazonas/Solimões; (b) sistema hidrográfico Tietê/Paraná e; (c)
Sistema Paraná/ Paraguai.

Transporte marítimo

O transporte marítimo é realizado por embarcações, nos mares e oceanos, em viagens


de capotagem ou de longo curso. Esse tipo de transporte sintetiza o conceito do
transporte no comércio exterior, uma vez que é responsável pela maioria esmagadora
das movimentações de carga vinculada aos contratos de compra e venda internacionais,
pois possui a maior capacidade de carga conjugada com o baixo custo do frete e a
possibilidade de realização de viagens transacionais.

O primeiro passo é escolher o tipo de embarcação a ser usada no transporte da carga.

92
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

O contrato de transporte marítimo é denominado como contrato de freteamento.


Segundo o art. 556 do Código Comercial (CCom) é qualquer embarcação, quer seja na
sua totalidade ou em parte, para uma ou mais viagens, quer seja à carga, colheita ou
prancha. O que tem lugar quando o capitão recebe carga de quanto se apresentam, deve
provar-se por escrito. No primeiro caso, o instrumento, que se chama carta-partida
ou carta de fretamento, deve ser assinado pelo fretador e afretador, e por quaisquer
outras pessoas que intervenham no contrato, do qual se dará a cada uma das partes um
exemplar; e no segundo, o instrumento chama-se conhecimento, e basta ser assinado
pelo capitão e o carregador. Entende-se por fretador o que dá, e por afretador o que
toma a embarcação a frete.

Trata-se de um contrato de meios, isto é, o proprietário armador do navio o cede


aparelhado ao afretador, que poderá utilizá-lo de diversas maneiras. O contrato de
freteamento pode ser por viagem, a prazo ou a casco nu e tem como instrumento
contratual a cara de freteamento denominada carta-partida.

A empresa brasileira de navegação poderá afretar embarcações brasileiras e estrangeiras


por viagem, por tempo e a casco nu. O afretamento de embarcação estrangeira por
viagem ou por tempo, para operar na navegação interior de percurso nacional ou no
transporte de mercadorias na navegação de cabotagem ou nas navegações de apoio
portuário e marítimo, bem como a casco nu na navegação de apoio portuário, depende
de autorização do órgão competente e só poderá ocorrer nos seguintes casos: I - quando
verificada inexistência ou indisponibilidade de embarcação de bandeira brasileira do
tipo e porte adequados para o transporte ou apoio pretendido; II - quando verificado
interesse público, devidamente justificado; III - quando em substituição a embarcações
em construção no País, em estaleiro brasileiro, com contrato em eficácia, enquanto
durar a construção, por período máximo de trinta e seis meses, até o limite: a) da
tonelagem de porte bruto contratada, para embarcações de carga; b) da arqueação
bruta contratada, para embarcações destinadas ao apoio (art. 9o da Lei no 9.432/1997).

Outro contrato utilizado é o contrato marítimo propriamente dito que é aquele celebrado
entre transportador (proprietário, armador ou afretador) que se obriga a transportar
de um lugar de origem a um ponto final de destino determinada varga via marítima,
mediante o pagamento de frete. A finalidade do contrato de transporte efetivo não é
somente a cessão de um espaço no navio, mas também o efetivo transporte da carga de
um ponto de origem ao destino final.

O documento que representa o contrato de transporte marítimo é o Bill of lading (B/L)


ou conhecimento de marítimo que se encontra regulamentado no art. 575 do CCom que
dispõe:

93
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Art. 575. O conhecimento deve ser datado, e declarar: (1) o nome do


capitão, e o do carregador e consignatário (podendo omitir-se o nome
deste se for à ordem), e o nome e porte do navio; (2) a qualidade e a
quantidade dos objetos da carga, suas marcas e números, anotados
à margem; (3) o lugar da partida e o do destino, com declaração das
escalas, havendo-as; (4) o preço do frete e primagem, se esta for
estipulada, e o lugar e forma do pagamento; (5) a assinatura do capitão
(artigo no 577), e a do carregador.

O conhecimento marítimo é emitido pelo transportador ou por seu agente autorizado


e possui diversas funções, entre elas, a de servir como recibo de entrega da carga ao
transportador, como prova de propriedade da carga, bem como título de crédito. Deve
ser preenchido com bastante cautela, com todos os detalhes da operação, principalmente
quando o pagamento ainda será realizado por meio de carta de crédito.

Os conhecimentos serão assinados e entregues dentro de 24 (vinte e quatro) horas,


depois de ultimada a carga, em resgate dos recibos provisórios; sob pena de serem
responsáveis por todos os danos que resultarem do retardamento da viagem, tanto
o capitão como os carregadores que houverem sido remissos na entrega dos mesmos
conhecimentos. Esse instrumento tem força de escritura pública e só poderão ser
alegados os vícios decorrentes de falsidade, quitação, embargo, arresto ou penhora e
depósito judicial, ou perdimento dos efeitos carregados por causa justificada.

É certo que as partes podem na celebração do contrato de transporte inserir as cláusulas


Incoterms, que nesse caso poderá ocorrer a estipulação da responsabilidade pelo
transporte da carga. Mas independentemente de quem ficou obrigado pela guarda e
cuidado com mercadorias, em caso de avarias, furto ou perda carga, a responsabilidade
será sempre objetiva.

Transporte aéreo

O transporte aéreo é utilizado em menor escala no comércio internacional, tendo em


vista, sua inadequação para transportar certas cargas, assim como o valor do frete.

O transportador aéreo é aquele que possui ou explora as aeronaves, próprias ou não. O


agente de carga aérea é a pessoa jurídica que, na qualidade de intermediária, agencia o
transporte de carga aérea.

O contrato de transporte aéreo é o acordo de vontades no qual o transportador se obriga


a transportar a carga, encomenda ou mala, postal por meio de aeronave, mediante o
pagamento de frete.

94
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Não terão eficácia no Brasil, em matéria de transporte aéreo, quaisquer disposições de


direito estrangeiro, cláusulas constantes de contrato, bilhete de passagem, conhecimento
e outros documentos que: I - excluam a competência de foro do lugar de destino; II -
visem à exoneração de responsabilidade do transportador, quando este Código não a
admite; III - estabeleçam limites de responsabilidade inferiores aos estabelecidos na
Lei no 7.565/1986.

Para aplicação da Convenção de Varsóvia de 1929 é necessário que o transporte seja


internacional e para tanto o conceituou da seguinte forma:

Denomina-se “transporte internacional”, nos termos da presente


Convenção, todo transporte em que, de acordo com o estipulado pelas
partes, o ponto de partida e o ponto do destino, haja ou não interrupção
de transporte, ou baldeação, estejam situados no território de duas Altas
Partes Contratantes, ou mesmo no de uma só, havendo escala prevista
em território sujeito à soberania, suzerania, mandato ou autoridade de
outro Estado, seja ou não Contratante. O transporte, que, sem tal escala,
se efetuar entre territórios sujeitos à soberania, suzerania, mandato
ou autoridade da mesma Alta Parte Contratante, não se considera
internacional, nos termos desta Convenção.

O art. 235 da Lei no 7.565/1986 estipula que no contrato de transporte aéreo de carga,
será emitido o respectivo conhecimento, com as seguintes indicações: I - o lugar e data
de emissão; II - os pontos de partida e destino; III - o nome e endereço do expedidor;
IV - o nome e endereço do transportador; V - o nome e endereço do destinatário; VI
- a natureza da carga; VII - o número, acondicionamento, marcas e numeração dos
volumes; VIII - o peso, quantidade e o volume ou dimensão; IX - o preço da mercadoria,
quando a carga for expedida contrapagamento no ato da entrega, e, eventualmente,
a importância das despesas; X - o valor declarado, se houver; XI - o número das vias
do conhecimento; XII - os documentos entregues ao transportador para acompanhar
o conhecimento; XIII - o prazo de transporte, dentro do qual deverá o transportador
entregar a carga no lugar do destino, e o destinatário ou expedidor retirá-la.

O expedidor responde pela exatidão das declarações constantes do conhecimento


aéreo e pelos eventuais danos consequentes de irregularidades em suas declarações
ou indicações. Tais declarações presumem-se verdadeiras até prova em contrário,
presumindo, inclusive a celebração contratual, o recebimento da carga e das condições
de transporte. (Art. 239 a art. 241 da Lei no 7.565/1986).

Art. 243. Ao chegar a carga ao lugar do destino, deverá o transportador


avisar ao destinatário para que a retire no prazo de 15 (quinze) dias a
contar do aviso, salvo se estabelecido outro prazo no conhecimento.

95
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

§ 1o Se o destinatário não for encontrado ou não retirar a carga no


prazo constante do aviso, o transportador avisará ao expedidor para
retirá-la no prazo de 15 (quinze) dias, a partir do aviso, sob pena de ser
considerada abandonada.

§ 2o Transcorrido o prazo estipulado no último aviso, sem que a carga


tenha sido retirada, o transportador a entregará ao depósito público por
conta e risco do expedidor, ou, a seu critério, ao leiloeiro, para proceder
à venda em leilão público e depositar o produto líquido no Banco do
Brasil S/A., à disposição do proprietário, deduzidas as despesas de
frete, seguro e encargos da venda.

§ 3o No caso de a carga estar sujeita a controle aduaneiro, o alijamento


a que se refere o § 1o deste artigo será comunicado imediatamente à
autoridade fazendária que jurisdicione o aeroporto do destino da carga.

A execução do contrato de transporte aéreo de carga inicia-se com o recebimento e


persiste durante o período em que se encontrar sob a responsabilidade do transportador,
seja em aeródromo, a bordo da aeronave ou em qualquer lugar, no caso de aterrissagem
forçada, até a entrega final.

Interessante questão é a seguinte situação: A empresa “A” contrata com o


Transportador “B” a entrega de determinada mercadoria no estabelecimento
de “C”. Assim, “C” passa a ter o direito de receber a mercadoria em perfeitas
condições. Mas como é isso possível, se o contrato de transporte foi celebrado
entre a empresa “A” e o transportador “B”?

Cobrança. Contrato Internacional de Transporte Marítimo. Sobreestadia.


Devolução de Contêineres Com Atraso. Improcedência No Primeiro Grau.
A sobreestadia é devida sempre que houver o atraso pelo consignatário da
carga, na devolução das unidades de carga – contêineres ao armador, toda vez
que ultrapassado o período de isenção (free time). A demurrage tem natureza
jurídica de indenização pré-fixada em razão da retenção indevida do contêiner
pelo devedor, por prazo excedente ao determinado no instrumento contratual,
independentemente de culpa. Logo, sua cobrança não se enquadra nas hipóteses
previstas de cláusula penal. Sentença reformada. Recurso Provido. (TJ-SP - APL:
299930820108260562 SP 0029993-08.2010.8.26.0562, Relator: Jurandir de Sousa
Oliveira, Data de Julgamento: 19/12/2012, 18a Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 9/1/2013).

96
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Contrato de seguro
O contrato de seguro no comércio internacional é fundamental, uma vez que o
desenvolvimento do comércio sempre esteve atrelado ao contrato de seguro.

Atividade securitária é um ponto marcante na segurança das relações jurídicas


internacionais, pois em boa parte dos Incoterms o seguro é fator necessário e
imprescindível na negociação.

Não se pode vislumbrar no cenário internacional, uma relação de exportação e


importação de bens sem que haja um contrato de seguro que acoberte os riscos da
atividade e estranhos à atividade, desde o momento em que sai do estabelecimento
do vendedor até o destino final junto ao comprador. Normalmente, os contratos
internacionais já preveem, em seu corpo normativo, a forma e a responsabilidade pela
contratação do seguro, a sua cobertura, quais os riscos do comprador e vendedor e
quem os assumirão os custos pelo pagamento do seguro.

Elementos do contrato de seguro

A concepção do contrato de seguro é assegurar algum prejuízo ou dano as mercadorias


adquiridas. Dessa forma, os contratantes celebram um acordo com a finalidade de
produzir efeitos e obrigações entre elas, baseada na consensualidade e boa-fé dos
contratantes para que seus objetivos sejam alcançados.

No contrato de seguro o segurador “se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a


garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou coisa contra riscos
predeterminados”. (Art. 757, do CC).

A ideia principal do contrato de seguro é a proteção de seu patrimônio em razão


dele estar, de alguma forma, sob o risco de perecimento ou destruição. Sendo assim,
o que se procura é transferir a possibilidade de sofrer um prejuízo em razão de uma
Alea substancial sobre o bem segurado à outrem, no caso para companhia (empresa)
seguradora. Assim, o risco sob o bem é transferido à seguradora, que será obrigada a
indenizá-la caso ocorra o prejuízo inesperado.

De outro modo, a seguradora exige o pagamento de uma contribuição do contratante


para que em caso do sinistro ocorrer com o objeto segurado, possa ocorrer o pagamento
da indenização. O valor será calculado tomando como base as probabilidades estatísticas
de ocorrência do evento danoso.

97
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

A indenização é valor pago pela seguradora em favor do segurado ou uma terceira


pessoa designada para a reposição do bem que estava segurado ou foi perdido em razão
da ocorrência do sinistro, não se incluindo nesse valor os lucros cessantes.

Contrato de Seguro de Transporte Marítimo Internacional. Pagamento do Prêmio


do Seguro em Dólares Norte-Americanos. DL 857, de 1969, Art. 2.-I. Cláusula do
Contrato de Seguro que estipula o Pagamento do Prêmio em Dólares – Apesar de a
Indenização dever ser paga em cruzeiros, e de ser a beneficiária residente no Brasil.
Razoável entendimento do art. 2. item I do Decreto-Lei no 857, de 1969. Recurso
Extraordinário Não Conhecido. (STF - RE: 107748 SP, Relator: Min. Francisco Rezek,
Data de Julgamento: 17/12/1985, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 14/3/1986
PP-03392 Ement Vol-01411-05 PP-00843).

A noção de interesse segurável deve ser interpretada de maneira extensiva. Exatamente


por isto, determinada sociedade empresária, sobre as máquinas de sua empresa etc.

Seguros internacionais no comércio

Os seguros internacionais irão depender do tipo de negócio que se quer segurar. Assim,
temos o seguro de cargas, o seguro aéreo, seguro fluvial e lacustre, seguro de pessoas
e seguro de crédito à exportação. A cobertura básica pode envolver maior ou menor
amplitude de abrangência, de acordo com o tipo de transporte utilizado e a modelagem
do seguro contratado.

Seguro de cargas internacional

É um seguro ligado ao transporte de mercadorias de um país para outro podendo ser


realizado pelo meio rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo.

No transporte rodoviário, ferroviário e aéreo as coberturas do seguro habilitam


o segurado à indenização, em face da ocorrência de avarias ou danos acometidos
às mercadorias, fruto de acidentes com o veículo ou da aeronave de transporte. Na
cobertura que abrangem todos os riscos envolvem os riscos decorrentes de causas
externas, à exceção daquela não exigível.

Na cobertura do transporte marítimo há três categorias de seguro: (a) cobertura


simples que é aquela que protege apenas os eventuais danos ou perdas ocasionadas às
mercadorias em função de acidentes com as embarcações, inclusive as avarias grossas,
não protegendo dessa forma, avarias particulares e perdas parciais; (b) A proteção média
que além de cobrir a avaria grossa, cobre as perdas e danos sofridos à mercadoria em

98
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

razão de um acidente da embarcação e a perda total das mercadorias e; (c) a cobertura


super que é aquela que tem abrangência quanto às hipóteses de cobertura, admitindo
a perda total das mercadorias, avarias grossas, bem como acidentes e causas externas
verificadas em função da movimentação e manuseio da mercadoria.

Importante ressaltar que no transporte aéreo a cobertura “all risk” envolve as


mercadorias, e a operação de carga e descarga, sendo válida a partir do momento em
que a carga é movimentada do local do armazenamento até o destino final. É certo que
os riscos a serem cobertos pela seguradora e os custos irão depender da necessidade e
interesse do contratante, que poderá contratar e se sujeitar a uma apólice com maiores
ou menores garantias.

Seguro de crédito à exportação

O Seguro de Crédito à Exportação foi criado para indenizar os exportadores brasileiros


que não receberem os créditos concedidos ao importador no exterior, seja por motivo
comercial (não pagamento por falência ou mora) ou político (moratórias, guerras,
revoluções, entre outros) que possam prejudicar as transações econômicas e financeiras
vinculadas a estas operações de crédito à exportação, em especial possam afetar a
produção de bens e a prestação de serviços destinados à exportação brasileira e as
exportações brasileiras de bens e serviços.

Resseguro internacional

O contrato de resseguro pode ser feito para cobrir um determinado risco isoladamente ou
para garantir todos os riscos assumidos por uma seguradora em relação a uma carteira
ou ramo de seguros. No caso do resseguro internacional há uma internacionalização do
risco, ou seja, o contrato do resseguro será feito com uma empresa estrangeira, com a
intenção de pulverização do risco em outros mercados.

Lei aplicável ao contrato de seguro e resseguro

A lei complementar n. 126 dispõe sobre a política de resseguro, retrocessão e sua


intermediação, as operações de cosseguro, as contratações de seguro no exterior e as
operações em moeda estrangeira do setor securitário; altera o Decreto-Lei no 73, de 21
de novembro de 1966, e a Lei no 8.031, de 12 de abril de 1990; e dá outras providências.
Traz as seguintes regras acerca do seguro no exterior:

99
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

Art. 20. A contratação de seguros no exterior por pessoas naturais


residentes no País ou por pessoas jurídicas domiciliadas no território
nacional é restrita às seguintes situações:

I – cobertura de riscos para os quais não exista oferta de seguro no País,


desde que sua contratação não represente infração à legislação vigente;

II – cobertura de riscos no exterior em que o segurado seja pessoa


natural residente no País, para o qual a vigência do seguro contratado
se restrinja, exclusivamente, ao período em que o segurado se encontrar
no exterior;

III – seguros que sejam objeto de acordos internacionais referendados


pelo Congresso Nacional; e

IV – seguros que, pela legislação em vigor, na data de publicação desta


Lei Complementar, tiverem sido contratados no exterior.

Parágrafo único. Pessoas jurídicas poderão contratar seguro no exterior


para cobertura de riscos no exterior, informando essa contratação
ao órgão fiscalizador de seguros brasileiro no prazo e nas condições
determinadas pelo órgão regulador de seguros brasileiro.

Caso as partes do contrato de resseguro não fizerem expressa alusão à lei aplicável, nem
ocorrendo a possibilidade de identificar a lei aplicável na omissão das partes, se faz
necessário decidir qual a lei aplicável. Na hipótese deve ser aplicada a lei da ocorrência
do sinistro. (Art. 9o da LINB).

No caso do sinistro ocorrer sob as águas internacionais, onde nenhum país possui
jurisdição, qual seria a lei aplicável? Se a seguradora possuir diversos domicílios, situados
em países distintos, a lei aplicável será a do país onde foi contratada a obrigação, o que,
aliás, vai ao encontro da alínea d, do inciso IV, do art. 100, do Código de Processo Civil
(CPC) e está de acordo com o texto do art. 9o, parágrafo 2o, da LINB.

Os Incoterms podem ser usados para diluir o seguro internacional no transporte


de mercadorias?

Contrato de seguro de transporte marítimo internacional. Pagamento do prêmio


do seguro em dólares norte-americanos. Dl 857, de 1969, art. 2.-I. Cláusula do
contrato de seguro que estipula o pagamento do prêmio em dólares – apesar de
a indenização dever ser paga em cruzeiros, e de ser a beneficiária residente no
Brasil. Razoável entendimento do art. 2. ITEM I do Decreto-Lei no 857, DE 1969.

100
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

Recurso Extraordinário não Conhecido. (STF - RE: 107748 SP, Relator: Francisco
Rezek, Data de Julgamento: 17/12/1985, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ
14/3/1986, p. 03392, Ement Vol-01411-05 p. 00843)?

O Brasil já realizou julgamentos a respeito do assunto seguros marítimos sobre


mercadorias, como foi o caso da Apelação com Revisão CR 997938006 SP (TJSP).
Esse processo teve a Comarca de Santos como cenário, a apelante Bradesco
Seguros S/A e a empresa NST Terminais e Logísticas Ltda. No desfecho, o Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo não reconheceu o recurso de regresso da
apelante. São peculiaridades como esta que marcam os acontecimentos dentro
do Judiciário nacional quando o tema em questão se refere ao seguro marítimo
de mercadorias. 35a Câmara de Direito Privado. Relator: José Malerbi. Julgamento:
13/10/2008. Publicação: 20/10/2008. Partes. Ementa: Transporte marítimo de
mercadorias. Seguro. Ação regressiva. Avarias na carga. Depósito. Indenização.
Competência. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/ filedown/dev1/files/
JUS/TJSP/IT/CR_997938006_SP_13.10.2008.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2014.

CARVALHO FILHO, José Carlos de. Contratos internacionais de seguro


marítimo de mercadorias: uma análise comparativa entre a legislação brasileira
e a inglesa. Revista USCS de Direito. no 17. 2009. <http://seer.uscs.edu.br/index.
php/revista_direito/issue/view/97>. Acesso em: 2/4/2014.

FRANCO, Paulo Sérgio de Moura. Incoterms – Internacional Commercial


Terms. Jus Navigandi. Teresina, ano 8, no 61, 1 jan. 2003. Disponível em: <http://
jus.com.br/artigos/3564>. Acesso em: 4 abr. 2014.

SOCIETY OF LLOYD’S. Cronologia sobre História de Lloyd’s. Disponível em:


<http://www.lloyds.com/About_Us/History/Chronology.htm>. Acesso em:
9/4/2014.

101
CAPÍTULO 3
A OMC, o CADE e os contratos
internacionais

Análise específica de contratos internacionais


pela OMC e pelo CADE
A organização da economia parte da ideia da livre iniciativa e competição, mas para
que não ocorra a predominação do mais forte sobre o mais fraco, há a necessidade
de restringir a liberdade econômica para proteger dos excessos causados pela própria
economia, “isto é para defender as estruturas do livre mercado e prestigiar a liberdade
de iniciativa e competição, limites devem ser impostos às iniciativas econômicas e à
competição”. (COELHO, 2010, p. 27).

A CF estipula e propõe no art. 173 § 4o à repressão ao “abuso do poder econômico que


vise à dominação de mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário
de lucros”.

A atribuição de verificar tais questões no âmbito interno cabe ao Conselho Administrativo


de Defesa Econômica (CADE) que pode atuar de forma preventiva, em que aprova
operações societárias (como fusão, incorporação, cisão e repressora), julgando os
processos administrativos pertinentes à infração econômica, impondo sanções às
pessoas que incorrem em conduta ilícita.

Coelho (2010, p. 28) afirma que “os contratos entre empresários podem servir de
veículo à prática de infração de ordem econômica ou concorrência desleal. Quando isso
acontece, o contrato é inválido, ineficaz ou gera o dever de indenização”.

Os contratos de franquia, bem como os de administração, consultoria ou qualquer outro


entre fornecedores, devem ser submetidos ao CADE nos termos do artigo 54 da Lei da
Concorrência.

O Ato de Concentração no 08012.000409/00-36 (apud BARBOSA, 2005) dispôs que


“os contratos de aquisição de direitos sobre o uso de marcas celebrados entre empresas
concorrentes estão sujeitos à aprovação do CADE”.

Contrato de franquia – obrigatoriedade de apresentação ao CADE nos termos do


art. 54 da Lei no 8.884/1994 – reconhecimento. Os contratos de franquia, bem como
os de administração, consultoria ou qualquer outro entre fornecedores, devem ser

102
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

submetidos ao CADE nos termos do artigo 54 da Lei da Concorrência. [...] Todavia,


a possibilidade de domínio, pela Frenesius, de toda a cadeia de serviços, produtos e
equipamentos para hemodiálise, por meio da exigência de preferência ou fidelidade
pelas clínicas franqueadas aos produtos e equipamentos produzidos pela Frenesius,
aventada pelos órgãos instrutores (SDE e SEAE), carece, pelo menos por enquanto, de
base material para se configurar. A influência exercida pela Frenesius sobre as clínicas
de hemodiálise alcança somente 4,6% do total das clínicas de hemodiálise no Brasil
e 8% do total dos pacientes.[...] Entendeu o plenário que os contratos de franquia e
transferência de tecnologia firmados pela NMC com clínicas de hemodiálise, visando
a implantação do sistema NMC de administração e controle, produziam no mercado
efeitos de concentração, podendo, potencialmente, limitar ou prejudicar a livre
concorrência.[...] (BARBOSA, 2005).

Integração vertical – serviço de acesso à internet – contrato de franquia com cláusula


de obrigatoriedade de uso de marca e de exclusividade de vendas – relação vertical
reconhecida. A previsão, em acordo de franquia, de obrigatoriedade do uso da marca
pelo franqueado e de comercialização exclusiva dos produtos e serviços do franqueador,
configura integração vertical. (BARBOSA, 2005).

O CADE deve adentrar na análise das cláusulas contratuais para evitar “a abusividade
da conduta estar relacionada a um poder econômico conferido por patente e a infração
ser considerada de um nível de gravidade tal ou que haja tal interesse público geral que
exija sua imposição”. (BARBOSA, 2005).

Dessa forma, a atuação do CADE nos contratos internacionais deverá se pautar nas
relações jurídicas que possam gerar questões de concorrência desleal, desde que a sua
execução se dê no direito brasileiro, bem como será submetido ao CADE, quando os
pressupostos da Lei no 8. 884/1994 estiverem presentes.

O papel da OMC, na análise dos contratos internacionais, é a vigilância do cumprimento


das normas contidas nos vários acordos que regem o sistema multilateral de comércio.
Para isso ocorrer, a OMC possui o instrumento para Solução de Controvérsias (Órgão
de Solução de Controvérsias da OMC).

O fundamento de sua aplicabilidade reside na renúncia dos Estados em adotar


medidas unilaterais como resposta ao que considerem violação das regras do comércio
internacional. Como consequência, “há o compromisso de recorrer ao sistema de
controvérsia e aceitar a solução determinada por ele”. (NINA, 2003, p. 204).

103
UNIDADE I │ CONTRATOS INTERNACIONAIS

São funções da OMC: (a) gerenciar os acordos que compõem o sistema multilateral de
comércio; (b) servir de fórum para comércio nacional; (c) supervisionar a adoção dos
acordos e a implementação dos acordos celebrados pelos membros da organização.

A ideia de recorrer à OMC para análise dos contratos internacionais pauta na concepção
de privilegiar a crescente institucionalização na resolução de conflitos de natureza
comercial e aumentar a segurança jurídica dos negócios contratuais internacionais.

Nina (2003, p. 204) afirma que “os contenciosos deverão ser solucionados com base na
aplicação das regras sobre a solução de controvérsias negociadas na Rodada Uruguai”.
Assim, a ideia do mecanismo para solucionar os conflitos é a sua aplicação em caso de
conflitos gerados pela aplicação dos acordos sobre o comércio internacional entre os
membros da OMC.

A OMC e o CADE desempenham papéis semelhantes na análise dos contratos


internacionais?

Explica Valério, “a carta da OIC previa um sistema de tomada de decisões por voto
paritário entre seus membros, e não proporcional à participação nas relações
de trocas mercantis. Diferenciava-se, destarte, dos sistemas decisórios do FMI
e do Banco Mundial, em que são observadas cotas contributivas desiguais dos
participantes. Essa singularidade não foi vista com bons olhos pelo Congresso
dos EUA, que acreditava se tratar de uma ameaça à soberania e à hegemonia
comercial do país. Por conta disso, o governo do democrata Harry S. Truman sequer
chegou a enviar formalmente a carta de apreciação ao Poder Legislativo, que era
majoritariamente composto, na época, por membros do Partido Republicano.
Sem a ratificação do Congresso Nacional, os estadunidenses ficaram de fora do
tratado da OIC. Uma vez que os EUA, já naquele momento consolidado como
potência econômica, não fariam parte da organização, a constituição desta
tornou-se inviável. Com o arquivamento do projeto, o tripé que sustentaria o
capitalismo mundial projetado em Bretton Woods ficou com uma de suas pernas
mancas.”. VALÉRIO, Marco Aurélio Gumieri. Organização Mundial do Comércio:
novo ator na esfera internacional. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/
bdsf/bitstream/id/194952/1/000881710.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2014.

104
CONTRATOS INTERNACIONAIS │ UNIDADE I

“Proclamava-se que, por meio da liberalização do comércio internacional, da


redução substancial das tarifas aduaneiras, redução das demais barreiras ao livre
comércio, com a celebração de acordos comerciais mutuamente vantajosos entre
os Estados, e, por meio do fim do tratamento discriminatório, atingir-se-ia um
desenvolvimento socioeconômico mundial.” MATTKE, Marcos V. O Acordo Geral
de Tarifas e Comércio e a construção da hegemonia político-econômica dos
EUA após a II Guerra Mundial (1947-1994). Monografia: UniCuritiba: 2010. <
http://www.elineart.com/aliae/mono_gatt.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2014.

BERARDO, José Carlos da Matta. O art. 90, IV, da Lei no 12.529: Contratos
Associativos e Joint Ventures SAUDADES DO ART. 54? Apresentação no
18o Seminário Internacional de Defesa da Concorrência do IBRAC, 10
de novembro de 2012. Disponível em: <http://www.ibrac.org.br/Uploads/
Eventos/18SeminarioConcorrencia/PALESTRAS/Jos%C3%A9%20Carlos%20
da%20Matta%20Berardo.pdf. Acesso em: 2/4/2014>.

GEHRKE, Ana Paula. A solução de controvérsias na OMC. Disponível em:


<http://www.ufsm.br/direito/artigos/internacional/solucao_OMC.htm>. Acesso
em: 6 mar. 2014.

HOFFMAN, Bruce. The International Comparative Legal Guide to: Merger


Control 2012. Chapter 57: USA. Disponível em: <http://www.hunton.com/
files/Publication/dda07085-5acd-41a0-81dc-a60855e8ca95/Presentation/
PublicationAttachment/836628d1-1ae2-4e53-bf5b-b1033675e9f9/MC12_
Chapter-57_USA.pdf>. Acesso em: 9/4/2014.

105
REGRAMENTO
DO COMÉRCIO UNIDADE II
EXTERIOR

CAPÍTULO 1
A organização e institucionalização do
comércio internacional

Sistema Bretton Woods e o GATT


O sistema Bretton Woods foi o acordo finalizado, em 1944, no qual o principal objetivo
era proporcionar entendimentos de reconstrução econômica internacional, tendo como
base três instituições o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Internacional
para a reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Organização Internacional do
Comércio (OIC). Contudo, a terceira instituição não foi criada em decorrência da não
ratificação do Congresso Americano da Carta de Havana, por receio de uma restrição
à soberania do país na área do comércio internacional. Sendo assim, o sistema não se
realizou.

O GATT (General Agreement on Tariffs and Trade – Acordo Geral sobre tarifas e
comércio) surgiu do impasse na criação da OIC.

O GATT refere-se a uma série de acordos de comércio internacional destinados a


promover a redução de obstáculos às trocas entre as nações, em particular as tarifas e
taxas aduaneiras entre os membros signatários do acordo.

Constitui o GATT, como bem expõe Thorstensen (2001, p. 32), um sistema de regras
que “visa liberalizar as trocas entre as partes contratantes, por meio da prática de
um comércio aberto a todos, bem como a partir de um conjunto de regras que estão
fundamentadas em alguns princípios básicos”.

São três os grandes princípios que fundamentam as regras do GATT.

O primeiro é a máxima que o único meio de proteção comercial permitido é aquele


estabelecido em tarifas aduaneiras, sendo objetivo do GATT a gradual redução e final

106
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

eliminação de tais tarifas. O segundo é a extensão não discriminatória a todas as partes


contratantes do GATT, pelo Estado que estabelecer uma nova tarifa ou benefício
comercial a um país. E, o terceiro é a garantia de que, tendo o produto importado
adentrado o país, ele não seja discriminado ante os produtos nacionais, como por meio
de sobretaxação. (THORSTENSEN, 2001, p. 32).

Expostas as três grandes máximas do sistema regulamentar do GATT, têm-se as


seguintes regras básicas (THORSTENSEN, 2001, pp. 33 e 34): (a) o Tratamento Geral
da Nação mais Favorecida; a Lista das Concessões; a Regra do Tratamento Nacional;
(b) Transparência e; (c) a Eliminação das Restrições Quantitativas.

Em 1990, foi proposta pelo Canadá, e apoiada pela União Europeia, a criação da
Organização Mundial do Comércio (OMC) para supervisionar o GATT. A OMC possui
personalidade legal e imunidade diplomática em termos semelhantes à ONU, o que
aumenta a sua confiabilidade e efetividade da administração do comércio internacional.
(GONÇALVES, 1998, p. 62).

Assim, em 1995, uma organização intergovernamental com uma base legal começou a
funcionar. Como o próprio GATT, que continua a liberalizar o comércio internacional, a
OMC é regida por uma série de acordos legais. Deve-se deixar claro que as instituições
internacionais do comércio são: Fundo Monetário Internacional (FMI); Banco
Internacional de Reconstrução e Deseenvolvimento (BIRD); Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID); Banco para Ajuste Internacional (BAI); Export-Import Banck
(EXIMBACK) e; Clube de Paris.

A Constituição Brasileira e o Comércio Exterior


A Constituição Federal de 1988 (CF), em dois momentos, trata do Comércio Exterior.
Primeiro, conferindo à União competência privativa para legislar sobre o assunto (inciso
VIII, art. 22) e no art. 237 determinando que o controle e a fiscalização do comércio
exterior serão exercidos pelo Ministério da Fazenda.

A CF no art. 237 dispõe que “a fiscalização e o controle sobre o comércio exterior,


essenciais à defesa dos interesses fazendários nacionais, serão exercidos pelo Ministério
da Fazenda”. A razão do dispositivo está no conflito entre os fiscais do Ministério da
Fazenda e a Polícia Federal. Silva (2007, p. 879) afirma que o dispositivo tem razão
existir e de atribuir ao servidor do Ministério da Fazenda o exercício da fiscalização e
controle do comércio exterior, porque “o que se quer verificar é se os tributos foram
corretamente pagos ou não estará havendo fraude ao Fisco”.

107
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Caso o fisco, no exercício de sua função, deparar com a prática de ilícito criminal, lavrará
o auto de infração correspondente e encaminhará à Policia Federal.

As Instituições Intervenientes no Comércio


Exterior no Brasil
São instituições nacionais intervenientes no comércio exterior: Conselho Monetário
Nacional; Banco Central do Brasil; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, da Fazenda e das Relações Exteriores; Câmara de Comércio Exterior; Órgãos
auxiliares: Banco do Brasil e a agência de Promoção de Exportações e Investimentos – a
APEX Brasil.

Conselho Monetário Nacional

O Conselho Monetário Nacional é entidade superior do Sistema Financeiro, órgão


normativo por excelência não lhe sendo permitida a função executiva. Logo, é
responsável pelas diretrizes da política monetária, cambial e creditícia do País.

O Conselho Monetário Nacional é composto pelo Ministro da Fazenda que será o


Presidente, pelo Presidente do Banco do Brasil S/A., pelo Presidente do Banco Nacional
do Desenvolvimento Econômico e de 7 (sete) membros nomeados pelo Presidente da
República, após aprovação do Senado Federal, escolhidos entre brasileiros de ilibada
reputação e notória capacidade em assuntos econômico-financeiros, com mandato de
sete 7 (sete) anos, podendo ser reconduzidos.

A Lei no 4.595/1964 estipula no art. 3o os objetivos da política do Conselho Monetário


Nacional a designar: (a) Adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades
da economia nacional e seu processo de desenvolvimento; (b) Regular o valor interno da
moeda, para tanto prevenindo ou corrigindo os surtos inflacionários ou deflacionários de
origem interna ou externa, as depressões econômicas e outros desequilíbrios oriundos
de fenômenos conjunturais; (c) Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no
balanço de pagamento do País, tendo em vista a melhor utilização dos recursos em
moeda estrangeira; (d) Orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras,
quer públicas, quer privadas; tendo em vista propiciar, nas diferentes regiões do
País, condições favoráveis ao desenvolvimento harmônico da economia nacional; (e)
Propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros, com vistas
à maior eficiência do sistema de pagamentos e de mobilização de recursos; (f) Zelar pela
liquidez e solvência das instituições financeiras; (g) Coordenar as políticas monetária,
creditícia, orçamentária, fiscal e da dívida pública, interna e externa.

108
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

A partir dessas funções elementares, o Conselho Monetário Nacional fica responsável


pelas seguintes atribuições na forma do art. 4o da Lei no 4.595/1964: (a) autorizar a
emissão de papel-moeda; (b) aprovar os orçamentos monetários preparados pelo Banco
Central do Brasil; (c) fixar diretrizes e normas de política Cambial; (d) disciplinar o
crédito em suas modalidades e as formas das operações creditícias; (e) estabelecer limites
para a remuneração das operações de serviços bancários ou financeiros; (f) determinar
as taxas de recolhimento compulsório das instituições financeiras; (g) regulamentar
as operações de redesconto de liquidez; (h) outorgar ao BACEN o monopólio de
operações de câmbio quando o balanço de pagamento exigir; (i) estabelecer normas
a serem seguidas pelo Banco Central do Brasil, nas transações com títulos públicos;
(j) regular a constituição, o funcionamento e a fiscalização de todas as instituições
financeiras que operam no Brasil; (k) limitar, sempre que necessário, as taxas de juros,
descontos comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços
bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do
Brasil, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover
questões ambientais; (l) Determinar a percentagem máxima dos recursos que as
instituições financeiras poderão emprestar a um mesmo cliente ou grupo de empresas,
entre outras.

Banco Central do Brasil

O Banco Central do Brasil foi criado pela Lei no 4595/1964, em substituição à


Superintendência da Moeda e do Crédito, é órgão executivo central do sistema financeiro
nacional, cabendo-lhe a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as disposições que
regulam o funcionamento do sistema e as normas expedidas pelo Conselho Monetário
Nacional.

O art. 12 da Lei no 4595/1964 estipula que o “Banco Central da República do Brasil


operará exclusivamente com instituições financeiras públicas e privadas, vedadas
operações bancárias de qualquer natureza com outras pessoas de direito público ou
privado, salvo as expressamente autorizadas por lei”.

Compete-lhe as seguintes atribuições: (a) emitir papel-moeda e moeda metálica nas


condições e limites autorizados pelo Conselho Monetário Nacional; (b) executar os serviços
do meio circulante; (c) receber os recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais e os
depósitos voluntários à vista das instituições financeiras e bancárias que atuam no País;
(d) Realizar operações de redesconto e empréstimos a instituições financeiras bancárias
voltadas para a política econômica do Governo ou como socorro a problemas de liquidez;
(e) efetuar, como instrumento de política pública, operações de compra e venda de títulos
públicos federais; (f) regular a execução dos serviços de compensação de cheque e outros

109
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

papéis; (g) Exercer o controle do crédito sob todas as suas formas e; (h) Efetuar o controle
dos capitais estrangeiros, nos termos da lei , entre outros.

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e


Comércio Exterior, da Fazenda e das Relações
Exteriores (MDIC)
Compete ao MDIC a implementação da política de desenvolvimento da indústria, do
comércio e dos serviços, em especial o apoio às microempresas e empresas de pequeno
porte, bem como instituir e incentivar a adoção de políticas voltadas para o comércio
internacional por meio de regulamentação e execução de programas e atividades.
Nesse espectro, compete ao MDIC a execução das atividades de registro de comércio
(Lei no 8.934/1996), a regulamentação de questões relativas à propriedade intelectual e
transferência de tecnologia (Lei no 9.279/1996, entre outras), a criação e ampliação de
mecanismo de defesa concorrencial (Lei no 12.529/2011) e a participação em negociações
relativas ao comércio exterior.

Câmara de Comércio Exterior (CAMEX)

A CAMEX cabe a formulação, a decisão e a orientação de políticas e atividades relativas


ao comércio exterior de bens e serviços, incluindo o turismo.

A sua formação está regulamentada no Decreto no 3.981/2001 que estabelece a


competência do órgão: (a) definir diretrizes e procedimentos relativos à implementação
da política de comércio exterior visando a inserção competitiva do Brasil na economia
internacional; (b) coordenar e orientar as ações dos órgãos que possuem competências
na área do comércio exterior; (c) estabelecer as diretrizes para as negociações de
acordos e convênios relativos ao comércio exterior, de natureza bilateral, regional ou
multilateral; (d) orientar a política aduaneira, observada a competência específica
do Ministério da Fazenda; (e) formular diretrizes básicas da política tarifária na
importação e exportação; (f) estabelecer diretrizes e medidas dirigidas à simplificação
e racionalização do comércio exterior; (g) estabelecer diretrizes e procedimentos para
investigações relativas às práticas desleais de comércio exterior; (h) fixar diretrizes
para a política de financiamento das exportações de bens e de serviços, bem como para
a cobertura dos riscos de operações a prazo, inclusive as relativas ao seguro de crédito
às exportações, sem prejuízo das competências do Conselho Monetário Nacional e do
Ministério da Fazenda; (i) fixar direitos antidumping e compensatórios, provisórios ou
definitivos, e salvaguardas e; (j) fixar diretrizes e coordenar as políticas de promoção de
mercadorias e de serviços no exterior e de informação comercial, entre outras.

110
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

A composição da CAMEX é a seguinte: (a) Ministro do Desenvolvimento, Indústria e


Comércio Exterior, que a presidirá; (b) Ministro das Relações Exteriores; (c) Ministro
da Fazenda; (d) Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; (e) Ministro Chefe
da Casa Civil da Presidência da República e; (f) Ministro do Planejamento, Orçamento
e Gestão.

Ministério da Fazenda

O Ministério da Fazenda é o órgão que, na estrutura administrativa da República


Federativa do Brasil, cuida da formulação e execução da política econômica nacional,
da administração fazendária da União, por meio de sua Secretaria do Tesouro Nacional,
e da administração superior da estrutura fiscal federal, por meio de sua Secretaria da
Receita Federal.

O Ministério da Fazenda ocupa-se da implementação da política econômica idealizada


pelo Governo Federal. Dessa forma, entre outros aspectos interfere em questões
relacionadas à moeda, ao crédito, à capitalização e poupança popular, aos preços
em geral e tarifas públicas administradas, à arrecadação e fiscalização tributária, às
negociações econômicas e financeiras internacionais e ao controle e fiscalização do
comércio exterior. A respeito do comércio exterior, o Ministério da Fazenda interfere
de maneira evidenciada pela atuação de duas secretarias: a Secretaria da Receita
Federal do Brasil (fiscalização aduaneira) e a Secretaria de Assuntos Internacionais
(acompanhamento das negociações internacionais econômicas e financeiras).

Banco do Brasil

O Banco do Brasil é uma empresa privada, constituída pelo regime jurídico da sociedade
de economia mista, vinculada ao Ministério da Fazenda, e se encontra credenciada pelo
governo para auxiliar o desenvolvimento do comércio exterior.

A instituição financeira tem empreendido esforços no sentido de atuar na defesa dos


interesses públicos para o segmento, em combinação com as iniciativas próprias de sua
atuação como banco comercial. Essa dualidade que caracteriza a sua intervenção no
comércio exterior, envolvendo objetivos aparentemente divergentes entre si, não tem
prejudicado a dinâmica operacional do setor.

O Banco do Brasil possui as seguintes competências: (a) ser agente pagador e recebedor
fora do País, como representante do Governo Federal; (b) realizar, por conta própria,
operações de compra e venda de moeda estrangeira e, por conta do Banco Central,
nas condições estabelecidas pelo Conselho Nacional e; (c) difundir e orientar o

111
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

crédito, inclusive às atividades comerciais, suplementando ação de rede bancária no


financiamento das exportações e importações.

Agência de Promoção de Exportações e


Investimentos – a APEX Brasil
A APEX surgiu em 1997, como uma tentativa de estabelecimento de um novo modelo
a ser reutilizado como instrumento de política comercial das exportações brasileiras.
Instituída originalmente como uma gerência especial do Serviço Brasileiro de apoio às
micro e pequenas empresas (SEBRAE) e a partir de 2003 passou a operar como serviço
social autônomo, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, indústria e comércio
exterior (Lei no 10.668/2003).

A sua principal missão é desenvolver a competitividade das empresas brasileiras,


promovendo a internacionalização dos seus negócios e a atração de Investimentos
Estrangeiros Diretos (IED). Para desenvolver a competitividade a APEX-Brasil procura
viabilizar e ampliar a Inteligência de Mercado, a Qualificação Empresarial, a Estratégia
para Internacionalização e a Promoção de Negócios e Imagem, com a respectiva atração
de Investimento.

O Banco Central do Brasil e o Banco do Brasil desempenham funções equivalentes


no âmbito do comércio exterior?

Por defesa comercial entende-se todo o processo de acompanhamento e


interferência no volume de bens, produtos, mercadorias e serviços importados,
com o fim de se garantir a consecução das relações de comércio exterior, sem
que haja danos ou prejuízos para a produção e a indústria doméstica. Dessa
forma, qual seria o órgão responsável pela defesa comercial no Brasil?

“Para uma empresa adquirir a habilitação ordinária e praticar atos no Siscomex, é


preciso que essa organização pretenda atuar habitualmente no comércio exterior
ou na internação de mercadorias da Zona Franca de Manaus. A obtenção dessa
autorização é um procedimento complexo que demanda a comprovação de
todos os requisitos dispostos na IN. Em brevíssimo resumo, o requerente deverá
comprovar o que a sua empresa faz e saúde financeira viável para a operação
almejada. Preenchidos os requisitos legais, o empresário adquire autorização
para realizar operações de compra e venda de produtos com empresas
estrangeiras.” SOUSA JÚNIOR, Edson Rodrigues de. Dificuldades no comércio

112
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

internacional. Legislação complica a vida das empresas nacionais de comércio


exterior. Jus Navigandi. Teresina, ano 10, no 878, 28 nov. 2005. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/7614>. Acesso em: 4 abr. 2014.

DIAS, Reinado; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior. Teoria e Gestão. 3a Ed.


São Paulo: Atlas, 2012.

LAMPREIA, Luiz Felipe Palmeira. Resultados da Rodada Uruguai: uma


tentativa de síntese. Estudos Avançados. vol. 9, no 23. São Paulo: Jan / Abril,
1995. p. 2. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
40141995000100016&script=sci_arttext>. Acesso em: 5 mar. 2014.

LEMOS, Juliana Vasconcelos Maia. Fundamentos do sistema multilateral de


comércio e as perspectivas apresentadas pela Organização Mundial do Comércio
(OMC). Âmbito Jurídico. Rio Grande, XIV, no 87, abr. 2011. Disponível em:
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=9325>. Acesso em: abr. 2014.

113
CAPÍTULO 2
A jurisdição aduaneira

A jurisdição aduaneira compreende todo o território nacional. É o poder atribuído


à autoridade alfandegária para fiscalizar o cumprimento das normas de controle e
tributação das operações do comércio exterior, é denominado de jurisdição aduaneira.

Território
O território aduaneiro abrange:

I. a zona primária, constituída pelas seguintes áreas demarcadas pela


autoridade aduaneira local: (a) a área terrestre ou aquática, contínua
ou descontínua, nos portos alfandegados; (b) a área terrestre, nos
aeroportos alfandegados; (c) a área terrestre, que compreende os
pontos de fronteira alfandegados e; (d) as zonas de processamento de
exportação caracterizam-se como áreas de livre comércio de importação
e de exportação, destinadas à instalação de empresas voltadas para a
produção de bens a serem comercializados no exterior, objetivando a
redução de desequilíbrios regionais, o fortalecimento do balanço de
pagamentos e a promoção da difusão tecnológica e do desenvolvimento
econômico e social do País; e

II. a zona secundária, que compreende a parte restante do território


aduaneiro, nela incluídas as águas territoriais e o espaço aéreo.

A jurisdição dos serviços aduaneiros estende-se ainda às Áreas de Controle Integrado


criadas em regiões limítrofes dos países integrantes do Mercosul com o Brasil.

Para a demarcação da zona primária, deverá ser ouvido o órgão ou empresa a que
esteja afeta a administração do local a ser alfandegado. A autoridade aduaneira poderá
exigir que a zona primária, ou parte dela, seja protegida por obstáculos que impeçam o
acesso indiscriminado de veículos, pessoas ou animais. A autoridade aduaneira poderá
estabelecer, em locais e recintos alfandegados, restrições à entrada de pessoas que ali
não exerçam atividades profissionais, e a veículos não utilizados em serviço (art. 3o do
Decreto no 6.759/2009).

A determinação da amplitude da zona primaria e da zona secundária é essencial para


que se verifiquem quais os locais de aplicação da legislação brasileira nos recintos

114
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

alfandegários nos quais a autoridade aduaneira exerce o seu poder, mediante a


fiscalização, a tributação, o controle e a gestão dos processos de despacho aduaneiro e
demais atividades inter-relacionadas.

O Ministério de Estado da Fazenda poderá determinar o território no âmbito da orla


marítima, que deverá obedecer a seguinte regra:

O ato que demarcar a zona de vigilância aduaneira poderá: I – ser geral


em relação à orla marítima ou à faixa de fronteira, ou específico em
relação a determinados segmentos delas; II – estabelecer medidas
específicas para determinado local; e III – ter vigência temporária. Na
orla marítima, a demarcação da zona de vigilância aduaneira levará em
conta, além de outras circunstâncias de interesse fiscal, a existência de
portos ou ancoradouros naturais, propícios à realização de operações
clandestinas de carga e descarga de mercadorias. Compreende-se na
zona de vigilância aduaneira a totalidade do Município atravessado pela
linha de demarcação, ainda que parte dele fique fora da área demarcada
(art. 4o do Decreto no 6.759/2009).

Compreende-se na zona de vigilância aduaneira a totalidade do Município atravessado


pela linha de demarcação, ainda que parte dele fique fora da área demarcada.

Assim, os recintos alfandegários são divididos em estações aduaneiras (de fronteira, ou


centros logísticos e industriais aduaneiros) e terminal aéreo portuário.

Estação aduaneira
A estação aduaneira de fronteira compreende o terminal instalado na zona primária,
vinculada a um ponto alfandegário de fronteira. O centro logístico e industrial aduaneiro
são os portos secos, que são licenciados pela Secretária da Receita Federal para explorar
serviços de movimentação e armazenamento de mercadorias.

Dos portos, aeroportos e pontos de fronteira


alfandegados

Por declaração da autoridade alfandegária, os portos, aeroportos e pontos de fronteira


serão alfandegados, para que neles possam, sob controle aduaneiro: I – estacionar
ou transitar veículos procedentes do exterior ou a ele destinados; II – ser efetuadas
operações de carga, descarga, armazenagem ou passagem de mercadorias procedentes

115
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

do exterior ou a ele destinadas; e III – embarcar, desembarcar ou transitar viajantes


procedentes do exterior ou a ele destinados (art. 5o do Decreto no 6.759/2009).

O ato que declarar o alfandegamento estabelecerá as operações aduaneiras autorizadas


e os termos, limites e condições para sua execução. O alfandegamento de portos,
aeroportos ou pontos de fronteira será precedido da respectiva habilitação ao tráfego
internacional pelas autoridades competentes em matéria de transporte. Ao iniciar o
processo de habilitação de que trata o art. 6o do Decreto no 6.759/2009, a autoridade
competente notificará a Secretaria da Receita Federal do Brasil.

Somente nos portos, aeroportos e pontos de fronteira alfandegados poderá efetuar-se


a entrada ou a saída de mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas
(Decreto-Lei no 37, de 1966, art. 34, incisos II e III). Contudo, essa regra não se aplica
à importação e à exportação de mercadorias conduzidas por linhas de transmissão
ou por dutos, ligados ao exterior, observadas as regras de controle estabelecidas pela
Secretaria da Receita Federal do Brasil e outros casos estabelecidos em ato normativo
da Secretaria da Receita Federal do Brasil.

Dos recintos alfandegados


São considerados recintos alfandegários: os portos secos e as lojas franca.

Assim, loja franca é o estabelecimento instalado em zona primária de porto ou de


aeroporto alfandegado vender mercadoria nacional ou estrangeira ao passageiro
em viagem internacional, contra pagamento em cheque de viagem ou em moeda
estrangeira conversível. A autorização para instalar e operar loja franca será outorgada
à empresa selecionada mediante concorrência pública e habilitação junto a Secretaria
da Receita Federal. O processo licitatório será realizado conjuntamente com a entidade
administradora do porto ou aeroporto. As mercadorias permanecerão depositadas, com
suspensão de tributos e sob controle fiscal, convertendo-se a suspensão em isenção, por
ocasião da venda. (Portaria MF no 112, de 10 de junho de 2008).

Os portos secos são ambientes alfandegados de uso público nos quais são cumpridas
operações de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias e de
bagagem, sob controle aduaneiro. Os portos secos não são alojados na zona primária
de portos e aeroportos alfandegados.

Art. 12. As operações de movimentação e armazenagem de mercadorias


sob controle aduaneiro, bem como a prestação de serviços conexos, em

116
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

porto seco, sujeitam-se ao regime de concessão ou de permissão (Lei no


9.074, de 7 de julho de 1995, art. 1o , inciso VI).

Parágrafo único. A execução das operações e a prestação dos serviços


referidos no caput serão efetivadas mediante o regime de permissão,
salvo quando os serviços devam ser prestados em porto seco instalado
em imóvel pertencente à União, caso em que será adotado o regime de
concessão precedida da execução de obra pública.

Os portos secos poderão ser liberados a operar com carga de importação, de exportação
ou ambas, tendo em vista as necessidades e condições locais.

Cidades fronteiriças
Nas cidades fronteiriças, poderão ser alfandegados pontos de fronteira para o tráfego
local e exclusivo de veículos matriculados nessas cidades. Os pontos de fronteira serão
alfandegados pela autoridade aduaneira regional, que poderá fixar as restrições que
julgar convenientes. As autoridades aduaneiras locais com jurisdição sobre as cidades
fronteiriças poderão instituir, no interesse do controle aduaneiro, cadastros de pessoas
que habitualmente cruzam a fronteira. (Decreto-Lei no 37, de 1966, art. 34, inciso I).

Art. 13-A. Compete à Secretaria da Receita Federal do Brasil definir os


requisitos técnicos e operacionais para o alfandegamento dos locais
e recintos onde ocorram, sob controle aduaneiro, movimentação,
armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias procedentes do
exterior, ou a ele destinadas, inclusive sob regime aduaneiro especial,
bagagem de viajantes procedentes do exterior, ou a ele destinados, e
remessas postais internacionais (Lei no 12.350, de 20 de dezembro de
2010, art. 34, caput).

§ 1o Na definição dos requisitos técnicos e operacionais de que trata o


caput, a Secretaria da Receita Federal do Brasil deverá estabelecer (Lei
no 12.350, de 2010, art. 34, § 1o):

I - segregação e proteção física da área do local ou recinto, inclusive


entre as áreas de armazenagem de mercadorias ou bens para exportação,
para importação ou para regime aduaneiro especial;

II - disponibilização de edifícios e instalações, aparelhos de informática,


mobiliário e materiais para o exercício de suas atividades e, quando
necessário, de outros órgãos ou agências da administração pública
federal;

117
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

III - disponibilização e manutenção de balanças e outros instrumentos


necessários à fiscalização e ao controle aduaneiros;

IV - disponibilização e manutenção de instrumentos e aparelhos de


inspeção não invasiva de cargas e veículos, como os aparelhos de raios
X ou gama;

V - disponibilização de edifícios e instalações, equipamentos,


instrumentos e aparelhos especiais para a verificação de mercadorias
frigorificadas, apresentadas em tanques ou recipientes que não devam
ser abertos durante o transporte, produtos químicos, tóxicos e outras
mercadorias que exijam cuidados especiais para seu transporte,
manipulação ou armazenagem; e

VI - disponibilização de sistemas, com acesso remoto pela fiscalização


aduaneira, para: a) vigilância eletrônica do recinto; e b) registro e
controle: 1. de acesso de pessoas e veículos; e 2. das operações realizadas
com mercadorias, inclusive seus estoques.

§ 2o A utilização dos sistemas referidos no inciso VI do § 1o deverá


ser supervisionada por Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil e
acompanhada por ele por ocasião da realização da conferência aduaneira
(Lei no 12.350, de 2010, art. 34, § 2o).

§ 3o A Secretaria da Receita Federal do Brasil poderá dispensar


a implementação de requisito previsto no § 1o, considerando as
características específicas do local ou recinto (Lei no 12.350, de 2010,
art. 34, § 3o).

A pessoa jurídica responsável pela administração do local ou recinto alfandegado,


referido no art. 13-A, fica obrigada a observar os requisitos técnicos e operacionais
definidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.

Terminal retroportuário alfandegado


O terminal retroportuário alfandegários são as estações sob controle alfandegário,
localizados em aéreas continuas a um porto organizado, no perímetro de cinco
quilômetros dos limites da zona portuária. No caso de importação, somente poderá ser
realizada, nos terminais, as operações com mercadorias embarcadas, no exterior, em
contêiner, reboque ou semirreboque.

118
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

O terminal somente poderá ser instalado em: (a) em área contígua à de porto
alfandegado, que ofereça condições básicas de operacionalidade; (b) quando haja, na
repartição que deva jurisdicioná-los, suficientes recursos humanos para a prestação
dos serviços aduaneiros. O acesso da carga a esses terminais é feito por meio do regime
de trânsito aduaneiro (art. 15 do Decreto no 91.030/1985).

O exercício da atividade aduaneira e da


administração aduaneira
A Instrução Normativa RFB no 1.209/2011 regulamenta requisitos e procedimentos
para o exercício das profissões de despachante aduaneiro e de ajudante. Somente pessoa
física registrada no Registro de Despachantes Aduaneiros e no Registro de Ajudantes
de Despachantes Aduaneiros, mantidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil
(RFB) poderá exercer a respectivas atividades.

São atividades relacionadas ao despacho aduaneiro de mercadorias, inclusive bagagem


de viajante, na importação, na exportação ou na internação, transportadas por
qualquer via, as referentes a: I - preparação, entrada e acompanhamento da tramitação
e apresentação de documentos relativos ao despacho aduaneiro; II - subscrição de
documentos relativos ao despacho aduaneiro, inclusive termos de responsabilidade; III
- ciência e recebimento de intimações, de notificações, de autos de infração, de despachos,
de decisões e de outros atos e termos processuais relacionados com o procedimento de
despacho aduaneiro; IV - acompanhamento da verificação da mercadoria na conferência
aduaneira, inclusive da retirada de amostras para assistência técnica e perícia; V -
recebimento de mercadorias desembaraçadas; VI - solicitação e acompanhamento de
vistoria aduaneira; e VII - desistência de vistoria aduaneira.

O valor dos honorários será livremente pactuado entre as partes contratantes.

Poderão ser inscritas no Registro de Despachantes Aduaneiros as pessoas físicas que


solicitarem formalmente e que atendam aos seguintes requisitos: I - comprovação
de inscrição há pelo menos 2 (dois) anos no Registro de Ajudantes de Despachantes
Aduaneiros, mantido pela RFB; II - ausência de condenação, por decisão transitada
em julgado, a pena privativa de liberdade; III - inexistência de pendências em relação
a obrigações eleitorais e, se for o caso, militares; IV - maioridade civil e nacionalidade
brasileira; V - formação de nível médio; e VI - aprovação no exame de qualificação
técnica de que trata o art. 4o da Instrução Normativa RFB no 1.209/2011 (art. 10).

119
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Administração aduaneira compreende a fiscalização e o controle sobre o comércio


exterior, essenciais à defesa dos interesses fazendários nacionais, em todo o território
aduaneiro.

O art. 17 do Decreto no 6.759/2009 prevê que nas áreas de portos, aeroportos, pontos
de fronteira e recintos alfandegados, bem como em outras áreas nas quais se autorize
carga e descarga de mercadorias, ou embarque e desembarque de viajante, procedentes
do exterior ou a ele destinados, a autoridade aduaneira tem precedência sobre as demais
que ali exerçam suas atribuições.

Art. 18. O importador, o exportador ou o adquirente de mercadoria


importada por sua conta e ordem têm a obrigação de manter, em boa
guarda e ordem, os documentos relativos às transações que realizarem,
pelo prazo decadencial estabelecido na legislação tributária a que estão
submetidos, e de apresentá-los à fiscalização aduaneira quando exigidos
(Lei no 10.833, de 2003 , art. 70, caput):

§ 1o Os documentos de que trata o caput compreendem os documentos


de instrução das declarações aduaneiras, a correspondência comercial,
incluídos os documentos de negociação e cotação de preços, os
instrumentos de contrato comercial, financeiro e cambial, de transporte
e seguro das mercadorias, os registros contábeis e os correspondentes
documentos fiscais, bem como outros que a Secretaria da Receita
Federal do Brasil venha a exigir em ato normativo (Lei no 10.833, de
2003 , art. 70, § 1o).

§ 2o Nas hipóteses de incêndio, furto, roubo, extravio ou qualquer outro


sinistro que provoque a perda ou deterioração dos documentos a que se
refere o caput, deverá ser feita comunicação, por escrito, no prazo de
quarenta e oito horas do sinistro, à unidade de fiscalização aduaneira
da Secretaria da Receita Federal do Brasil que jurisdicione o domicílio
matriz do sujeito passivo, instruída com os documentos que comprovem
o registro da ocorrência junto à autoridade competente para apurar o
fato (Lei no 10.833, de 2003, art. 70, §§ 2o e 4o).

§ 3o No caso de encerramento das atividades da pessoa jurídica, a guarda


dos documentos referidos no caput será atribuída à pessoa responsável
pela guarda dos demais documentos fiscais, nos termos da legislação
específica (Lei no 10.833, de 2003, art. 70, § 5o).

§ 4o O descumprimento de obrigação referida no caput implicará


o não reconhecimento de tratamento mais benéfico de natureza

120
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

tarifária, tributária ou aduaneira eventualmente concedido, com


efeitos retroativos à data da ocorrência do fato gerador, caso não sejam
apresentadas provas do regular cumprimento das condições previstas
na legislação específica para obtê-lo (Lei no 10.833, de 2003, art. 70,
inciso I, alínea b).

§ 5o O disposto no caput aplica-se também ao despachante aduaneiro,


ao transportador, ao agente de carga, ao depositário e aos demais
intervenientes em operação de comércio exterior quanto aos documentos
e registros relativos às transações em que intervierem na forma e nos
prazos estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (Lei no
10.833, de 2003, art. 71).

O controle aduaneiro de veículos


Os veículos provenientes do exterior ou a ele destinados e os passageiros terão a sua
permanência no território nacional controlada pelo departamento aduaneiro, sendo
estendido a mercadorias e a outros bens existentes a bordo, inclusive a bagagens de
viajantes.

Contudo, é proibido ao condutor de veículo procedente do exterior ou a ele destinado:


I - estacionar ou efetuar operações de carga ou descarga de mercadoria, inclusive
transbordo, fora de local habilitado; II - trafegar no território aduaneiro em situação
ilegal quanto às normas reguladoras do transporte internacional correspondente à sua
espécie; e III - desviá-lo da rota estabelecida pela autoridade aduaneira, sem motivo
justificado.

O art. 28 do Decreto no 6.759/2009 disciplina ainda que:

Art. 28. É proibido ao condutor do veículo colocá-lo nas proximidades


de outro, sendo um deles procedente do exterior ou a ele destinado,
de modo a tornar possível o transbordo de pessoa ou mercadoria, sem
observância das normas de controle aduaneiro.

Parágrafo único. Excetuam-se da proibição prevista no caput, os


veículos: I - de guerra, salvo se utilizados no transporte comercial; II
- das repartições públicas, em serviço; III - autorizados para utilização
em operações portuárias ou aeroportuárias, inclusive de transporte de
passageiros e tripulantes; e IV - que estejam prestando ou recebendo
socorro.

121
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

O controle aduaneiro nessa situação será prestado pelo transportador, que deverá ser
fiscalizado pela autoridade aduaneira, que procederá a análise de toda a documentação
pertinente ao transporte da mercadoria e das pessoas ali localizadas.

Da prestação de informações pelo transportador

É dever do transportador, no prazo, de maneira detalhada e na forma determinada,


prestar informações à Secretaria da Receita Federal do Brasil, acerca das cargas
transportadas, bem como sobre a chegada de veículo procedente do exterior ou a ele
destinado. (Art. 37, caput, do Decreto-Lei no 37, de 1966).

O art. 33 do Decreto no 6.759/2009 prevê que:

Art. 33. As empresas de transporte internacional que operem em


linha regular, por via aérea ou marítima, deverão prestar informações
sobre tripulantes e passageiros, na forma e no prazo estabelecidos pela
Secretaria da Receita Federal do Brasil.

Parágrafo único. O disposto no caput poderá ser estendido a outras


vias de transporte, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da
Receita Federal do Brasil.

A Secretária da Receita Federal do Brasil emitirá o termo de entrada, após a efetiva


chegada do veículo no território, mas no caso das operações de carga, descarga ou
transbordo derivadas do exterior, só poderão ser realizadas após a devida prestação
das informações do objeto do serviço.

A Visita Aduaneira

A Visita Aduaneira é o ato fiscal pelo qual a autoridade aduaneira recebe, do responsável
pelo transporte, os documentos referentes ao veículo (marítimo, aéreo ou terrestre), à
carga por ele transportada, bem como a outros bens existentes a bordo.

A partir desse momento, a autoridade aduaneira deve proceder às buscas que forem
necessárias para prevenir e reprimir a ocorrência de fraude. A visita aduaneira é ato
imprescindível no despacho aduaneiro.

No caso de navio em viagem de cruzeiro, deverá ser informada à autoridade aduaneira


que jurisdicione o porto de entrada no País, com antecedência mínima de seis horas.

O controle aduaneiro sobre as mercadorias de origem estrangeira transportadas no


navio em viagem de cruzeiro, ou embarcadas no País para reposição de estoques,

122
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

destinadas à provisão de bordo ou à venda em lojas, bares e instalações semelhantes,


observará o seguinte: I - provisões de bordo: os víveres de origem estrangeira deverão
ser depositados em compartimento próprio, de onde serão retirados conforme as
necessidades de consumo da tripulação e dos passageiros; II - mercadorias estrangeiras
destinadas à venda: o comandante do navio manterá registro do estoque diário de
mercadorias estrangeiras a bordo, que permita identificar o movimento ocorrido no
período, relativamente ao saldo inicial, entradas, saídas e saldo final (art. 5o da Instrução
Normativa SRF no 137, de 23 de novembro de 1998).

Da Busca em Veículos

A autoridade aduaneira possui o dever de fiscalizar e no seu exercício poderá proceder


a buscas, desde que precedida de comunicação verbal ou escrita ao responsável pelo
veículo. A busca será realizada em qualquer veículo, pois é necessário para prevenir
e reprimir a ocorrência de infração à legislação aduaneira, inclusive em momento
anterior à prestação das informações acerca das mercadorias transportadas e das
pessoas situados no interior do veículo.

Art. 35. A autoridade aduaneira poderá determinar a colocação de lacres


nos compartimentos que contenham os volumes ou as mercadorias a
que se refere o § 1o do art. 31 e na situação de que trata o § 1o do art. 37,
podendo adotar outras medidas de controle fiscal.

Havendo indícios de falsa declaração de conteúdo, a autoridade aduaneira poderá


determinar a descarga de volume ou de unidade de carga, para a devida verificação,
lavrando-se termo. (Art. 36 do Decreto no 6.759/2009).

Do controle dos sobressalentes e das provisões de


bordo

A Secretária da Receita do Brasil poderá conferir as mercadorias incluídas em listas de


sobressalentes e provisões de bordo deverão corresponder, em quantidade e qualidade,
às necessidades do serviço de manutenção do veículo e de uso ou consumo de sua
tripulação e dos passageiros. Contudo, as mercadorias mencionadas não relacionadas,
que durante a permanência do veículo na zona primária não forem necessárias aos
fins indicados, serão depositadas em compartimento fechado, o qual poderá ser aberto
somente na presença da autoridade aduaneira ou após a saída do veículo do local.

123
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

O controle da unidade de carga


A Secretaria da Receita Federal do Brasil é responsável pelo controle da carga e descarga
no território aduaneiro, inclusive indicar qual o procedimento adequado.

Das unidades de carga

O art. 39 do Decreto no 6.759/2009 prevê a livre circulação das unidas de carga e seus
acessórios no território aduaneiro da seguinte forma:

Art. 39. É livre, no País, a entrada e a saída de unidades de carga e seus


acessórios e equipamentos, de qualquer nacionalidade, bem como a sua
utilização no transporte doméstico (Lei no 9.611, de 19 de fevereiro de
1998, art. 26).

§ 1o Aplica-se automaticamente o regime de admissão temporária ou de


exportação temporária aos bens referidos no caput.

§ 2o Poderá ser exigida a prestação de informações para fins de controle


aduaneiro sobre os bens referidos no caput, nos termos estabelecidos
em ato normativo da Secretaria da Receita Federal do Brasil.

§ 3o Entende-se por unidade de carga, para os efeitos deste artigo,


qualquer equipamento adequado à unitização de mercadorias a serem
transportadas, sujeitas a movimentação de forma indivisível.

Da identificação de volumes no transporte de


passageiros

A identificação de volumes no transporte de passageiros é de competência da Secretaria


da Receita Federal do Brasil que irá determinar quais os procedimentos que devem ser
aplicados.

O art. 74 da Lei no 10.833, de 2003 prevê que o transportador de passageiros, no caso


de veículo em viagem internacional ou que transite por zona de vigilância aduaneira,
fica obrigado a identificar os volumes transportados como bagagem em compartimento
isolado dos viajantes e seus respectivos proprietários.

No caso de transporte terrestre de passageiros, a identificação referida no caput também


se aplica aos volumes portados pelos passageiros no interior do veículo (Lei no 10.833,
de 2003, art. 74, § 1o).

124
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

As mercadorias transportadas no compartimento comum de bagagens ou de carga


do veículo, que não constituam bagagem identificada dos passageiros, devem estar
acompanhadas do respectivo conhecimento de transporte (Lei no 10.833, de 2003, art.
74, § 2o).

Presume-se de propriedade do transportador, para efeitos fiscais, a mercadoria


transportada sem a identificação do respectivo proprietário, nos termos deste artigo
(Lei no 10.833, de 2003, art. 74, § 3o).

A Aduaneira poderá segurar o veículo, seja por descumprir as normas, seja por estar
com débito fiscal.

O manifesto de carga

O contrato de transporte de mercadoria é representado pelo conhecimento de carga.


Logo se o transportador possuir mercadorias provenientes de mais de um contratante
deverá possuir mais de um conhecimento de carga.

Assim, o manifesto de carga é a consolidação de todas as cargas para a partida. Assim,


deve o transportador preencher o manifesto de carga, que é a consolidação de todos
os conhecimentos de carga emitidos para a viagem. O manifesto deve ser entregue à
Receita Federal ou da autoridade competente de cada ponto de descarga no território
aduaneiro, em que tiver recebido a carga.

Parágrafo único. A não apresentação de manifesto ou declaração de


efeito equivalente, em relação a qualquer ponto de escala no exterior,
será considerada declaração negativa de carga (art. 45 do Decreto no
6.759/2009).

O manifesto de carga conterá: I - a identificação do veículo e sua nacionalidade; II - o


local de embarque e o de destino das cargas; III - o número de cada conhecimento; IV -
a quantidade, a espécie, as marcas, o número e o peso dos volumes; V - a natureza das
mercadorias; VI - o consignatário de cada partida; VII - a data do seu encerramento;
e VIII - o nome e a assinatura do responsável pelo veículo. (Art. 44 do Decreto no
6.759/2009).

O manifesto poderá ser aditado por meio de uma carta de correção que deverá ser
acompanhada do conhecimento objeto da correção e ser apresentada antes do início do
despacho aduaneiro.

125
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

A Jurisdição dos serviços aduaneiros estende-se às Áreas de Controle Integrado


criadas em regiões limítrofes dos países integrantes do MERCOSUL com o Brasil?

Como ocorre o controle alfandegário nas Cidades Fronteiriças?

Administrativo. Importação. Mercadorias embarcadas no exterior e que


ingressaram no território nacional antes da emissão da guia de importação.
Art. 526, II e VI do regulamento aduaneiro (Decreto no 91.030/1985). Critério
relevante: início da ação fiscal. Multa aplicável. 1. Hipótese em que as mercadorias
importadas foram embarcadas no exterior e ingressaram no território nacional
antes da emissão da guia de importação. 2. Pretendida aplicação, pela autoridade
administrativa, da multa prevista no art. 526, II, do Regulamento Aduaneiro
(Decreto no 91.030/1985), que trata da importação realizada sem a respectiva
guia. Impetrante que sustenta a incidência, no caso, da multa prevista no inciso
VI do mesmo artigo, que cuida do embarque da mercadoria antes de emitida a
guia de importação. 3. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, firmada
em caso análogo ao presente, reconhece como relevante para identificação da
sanção aplicável a data de início da ação fiscal (RE 87368/SP, Rel. Min. Moreira
Alves, DJU 11/11/1977, RTJ 86-02/667). 4. A existência de um conceito jurídico de
“importação”, para fins tributários (art. 19 do CTN, art. 23 do Decreto-lei no 37/66,
Súmula no 4 do extinto TFR) impede que se possa equiparar a simples entrada
física da mercadoria no território nacional à efetiva importação. 5. Manutenção
da multa aplicada com fundamento no art. 526, VI, do Regulamento Aduaneiro.
6. Apelação e remessa oficial a que se nega provimento. (TRF-3 - AMS: 34342
SP 96.03.034342-0, Relator: Juiz Convocado Renato Barth, Data de Julgamento:
1/2/2006, Terceira Turma).

BARROS, Andre Ferreira de. Novo direito aduaneiro. Rio de Janeiro: Synergia,
2009.

DIAS, Reinado; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior. Teoria e Gestão. 3a


Ed. São Paulo: Atlas, 2012.

SOSA, Roosevelt Baldomir. A tutela aduaneira relativa aos interesses de


ordem pública. Disponível em: <http://www.comexdata.com.br/a/25gg/a-
tutela-aduaneira-relativa-aos-interesses-de-ordem-publica-roosevelt-baldomir-
sosa.html>. Acesso em: 4 mar. 2014.

126
CAPÍTULO 3
Importação

A ideia central da importação é suprir falhas na estrutura econômica, colaborando


na complementação dos produtos disponíveis à produção de um Estado, ou de bens
de capital necessários às empresas, cumprindo também o papel de modernização da
economia por estimular a competição e permitir a comparação de processos e produtos.
(PIRES, 1992, p. 17).

Dessa forma, a importação só se dará quando a mercadoria estrangeira adentrar no


território aduaneiro e estiverem cumpridas todas as estapas do desembaraço aduaneiro,
recolhimento dos tributos exigidos pela lei.

O procedimento de importação comporta três fases: (a) Administrativa; (b) Fiscal e; (c)
Cambial. Na realização das duas primeiras fases a mercadoria é considerada importada
e pode ser liberada para o mercado interno.

A fase administrativa refere-se ao desempabaço aduaneiro que comporta os


procedimentos e exigências prévias dos órgãos do governo.

A fase fiscal comporta o tratamento aduaneiro de desembaraço propriamente dito,


realizado em locais próprios, com a análise dos dados declarados do importador
em relação às mercadorias importadas, os documentos apresentados e à legislação
específica, bem como o pagamento dos tributos devidos.

A fase cambial diz respeito ao pagamento da importação ao fornecedor, a mercadoria


pode já se encontrar importada e em solo do território aduaneiro do importador.
(UNESP, 2003, p. 4).

Requisitos administrativos
São requisitos adminsitrativos para a realização da importação: (a) o registro do
importador no SISCOMEX; (b) classificação das mercadorias importadas; (c)
apresentação da Fatura Pro Forma; (d) registro da transação no SISCOMEX; (e) licença
de importação conforme o volume das mercadorias; (f) carregamento das mercadorias
no país de origem; (g) emissão de documentos internacionais e desembaraço aduaneiro;
(h) contratação de moeda estrangeira; (i) pagamento dos direitos aplicáveis; (j) emissão
da Declaração de Importação e; (k) liberação da carga no Brasil.

127
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Registo de importador (RI)


O registro como importador é automático, no ato da primeira operação sem qualquer
declaração, sendo realizada no ato da primeira operação de importação em qualquer
ponto conectado ao Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).

O exportador pode ser tanto pessoas naturais (físicas) como as jurídicas. No entanto,
as pessoas físicas somente poderão importar mercadorias em quantidades que não
revelem prática de comércio e desde que não se configure habitualidade. (Art. 1o da
Portaria no 36/2007).

Segundo o art. 2o da Protaria no 36/2007 a inscrição no RI poderá ser negada, suspensa


ou cancelada nos casos de punição em decisão administrativa final, pelos motivos
seguintes: motivos por infrações de natureza fiscal, cambial e de comércio exterior ou
por abuso de poder econômico.

Do credenciamento e da habilitação
A utilização do sistema Siscomex poderá ser realizada pelo próprio importador ou
então, por procurador devidamente habilitado nos termos das regras impostas pela
Receita Federal do Brasil.

Os bancos autorizados a operar em câmbio e as sociedades corretoras que atuam na


intermediação de operações cambiais serão credenciados a elaborar e transmitir para
o Sistema operações sujeitas a licenciamento, por conta de importadores, desde que
sejam, por eles, expressamente autorizados. (Art. 4o da Protaria no 36/2007).

Segundo o art. 5o da Portaria no 36/2007 “os órgãos da administração direta e indireta


que atuam como anuentes no comércio exterior serão credenciados a acessar o
Siscomex para manifestar-se acerca das operações relativas a produtos de sua área de
competência, quando previsto em legislação específica”.

Sistema de licenciamento
De forma geral, as importações serão dispensadas de licenciamento, cabendo aos
importadores simplesmente providenciar o registro no Siscomex da declaração de
imposto, a fim de iniciar o processo de despacho aduaneiro de importação junto à
unidade aduaneira competente da Receita Federal do Brasil.

128
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Há três modalidades de licenciamento: (a) dispensa de licenciamento; (b) sujeita a


licenciamento automático e; (c) licenciamento não automático (art. 6o da Portaria no
36/2007). Contudo, poderá ocorrer o licenciamento por exame de similitude, previsto
na Portaria da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) no 23/2011, que se enquadra
na modalidade de licenciamento não automático.

Importações dispensadas de licenciamento

As importações dispensadas são aquelas que estão exoneradas de observar algum


procedimento especial. Podem ser apontadas as seguintes, segundo o art. 7o da Portaria
no 36/2007: I – sob os regimes de entrepostos aduaneiro e industrial, inclusive sob
controle aduaneiro informatizado; II – sob o regime de admissão temporária, inclusive
de bens amparados pelo Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de
Bens Destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de
Gás Natural (Repetro); III – sob os regimes aduaneiros especiais nas modalidades
de loja franca, depósito afiançado, depósito franco e depósito especial alfandegado;
IV – com redução da alíquota de imposto de importação decorrente da aplicação de
“ex-tarifário”; V – mercadorias industrializadas, destinadas a consumo no recinto de
congressos, feiras e exposições internacionais e eventos assemelhados, observado o
contido no artigo 70 da Lei no 8.383, de 30 de dezembro de 1991; VI – peças e acessórios,
abrangidas por contrato de garantia; VII – doações, exceto de bens usados; VIII –
filmes cinematográficos; IX – retorno de material remetido ao exterior para fins de
testes, exames e/ou pesquisas, com finalidade industrial ou científica; X – amostras; XI
– arrendamento mercantil (leasing), arrendamento simples, aluguel ou afretamento;
XII – investimento de capital estrangeiro; XIII – produtos e situações que não estejam
sujeitos a licenciamento automático e não automático; e XIV – sob o regime de
admissão temporária ou reimportação, quando usados, reutilizáveis e não destinados à
comercialização, de recipientes, embalagens, envoltórios, carretéis, separadores, racks,
clip locks, termógrafos e outros bens retornáveis com finalidade semelhante destes,
destinados ao transporte, acondicionamento, preservação, manuseio ou registro de
variações de temperatura de mercadoria importada, exportada, a importar ou a exportar.

Importações com licenciamento automático

As importações sujeitas ao licenciamento automático são aquelas conduzidas ao amparo


do regime aduaneiro especial de drawback, ou ainda as operações previstas na tabela
de tratamento administrativo do Siscomex. (Art. 8o da Portaria no 36/2007).

129
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

O licenciamento automático será efetivado no prazo máximo de 10 (dez) dias úteis,


contados a partir da data de registro no SISCOMEX, caso os pedidos de licença tiverem
sido apresentados de forma adequada e completa (art. 22 da Portaria SECEX no 23,
de 14/7/2011) e poderá ser efetuado após o embarque da mercadoria no exterior, mas
anteriormente ao despacho aduaneiro de importação.

Importações com licenciamento não automático

As importações sujeitas ao licenciamento não automático são aquelas que devem


observar algum procedimento especial, ou dependam da intervenção de algum órgão
anuente.

Segundo o art. 9o da Portaria 36/2007 estão sujeitas a Licenciamento Não Automático


as seguintes importações: I – de produtos relacionados no Tratamento Administrativo
do SISCOMEX e também disponíveis no endereço eletrônico do Mdic para simples
consulta, prevalecendo o constante do aludido Tratamento Administrativo; onde estão
indicados os órgãos responsáveis pelo exame prévio do licenciamento não automático,
por produto; II – as efetuadas nas situações abaixo relacionadas: (a) sujeitas à obtenção
de cotas tarifária e não tarifária; (b) ao amparo dos benefícios da Zona Franca de
Manaus e das Áreas de Livre Comércio; (c) sujeitas à anuência do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); (d) sujeitas ao exame de
similaridade; (e) de material usado, salvo a exceção estabelecida no § 2o do art. 35 desta
Portaria; (f) originárias de países com restrições constantes de Resoluções da ONU; (g)
substituição de mercadoria, nos termos da Portaria MF no 150, de 26 de julho de 1982;
e, (h) sujeitas a medidas de defesa comercial.

Na hipótese do item (h), o licenciamento amparando a importação de mercadorias


originárias de países não gravados com direitos deverá ser instruído com Certificado
de Origem emitido por Órgão Governamental ou por Entidade por ele autorizada
ou, na sua ausência, documento emitido por entidade de classe do país de origem
atestando a produção da mercadoria no país, sendo que este último documento deverá
ser chancelado por uma câmara de comércio brasileira. (Parágrafo único do art. 9o da
Portaria no 36/2007).

O licenciamento não automático deverá ser efetuado previamente ao embarque da


mercadoria no exterior.

Contudo, o licenciamento não automático poderá ser efetuado após o embarque da


mercadoria no exterior, mas anteriormente ao despacho aduaneiro, nas seguintes
situações: I - importações ao amparo dos benefícios da Zona Franca de Manaus e

130
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

das Áreas de Livre Comércio, exceto quando o produto estiver sujeito a Tratamento
Administrativo no SISCOMEX que exija o cumprimento da condição prevista no caput;
II - mercadoria ingressada em entreposto aduaneiro ou industrial na importação;
III - importações sujeitas à anuência do CNPq; IV - importações de brinquedos; V
- importações de mercadorias sujeitas à anuência da Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
quando previsto na legislação específica e; VI - importações a que se refere o § 1o do art.
43 (art. 17 da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011).

§ 2o Na hipótese prevista no inciso V do § 1o, se houver outro órgão


anuente para a licença, a anuência deste outro órgão deverá ser efetuada
previamente ao embarque da mercadoria no exterior.

§ 3o Quando uma mercadoria tiver sido embarcada no exterior


previamente à data de início da vigência de tratamento administrativo
no SISCOMEX para esta mercadoria, poderá ser admitido o deferimento
da licença após o embarque da mercadoria e anteriormente ao despacho
aduaneiro, devendo- se comprovar o fato por meio do conhecimento de
embarque.

§ 4o Para fins de aplicação do disposto no § 3o, a exigência de apresentação


de conhecimento de embarque poderá ser dispensada na hipótese de a
licença de importação ter sido registrada em até 30 (trinta) dias após a
data do início da vigência do tratamento administrativo.

No caso dessas importações, é necessária a anuência prévia dos órgãos competentes.

Importações sujeitas a exame de similaridade

As importações amparadas por benefícios fiscais (isenção ou redução do imposto de


importação), exceto as situações previstas em legislação específica estão sujeitas ao
prévio exame de similaridade.

O art. 33 da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011 disciplina que:

será considerado similar ao estrangeiro o produto nacional em condições


de substituir o importado, observados os seguintes parâmetros: I -
qualidade equivalente e especificações adequadas ao fim a que se destine;
II - preço não superior ao custo de importação, em moeda nacional,
da mercadoria estrangeira, calculado o custo com base no preço CIF
(cost, insurance and freight), acrescido dos tributos que incidem sobre

131
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

a importação e outros encargos de efeito equivalente; e III - prazo de


entrega normal ou corrente para o mesmo tipo de mercadoria.

As importações por exame de similitude deverão ser objeto de licenciamento não


automático, previamente ao embarque no exterior, devendo constar do registro de
licenciamento acerca do enquadramento fiscal que deseja ser beneficiado (art. 34 da
Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011). O importador deverá encaminhar ao Departamento
de Operações de Comércio Exterior (DECEX), por intermédio de correio eletrônico,
catálogo técnico do produto a importar.

Art. 37. Para a realização da análise de similaridade, o DECEX tornará


públicos periodicamente, por meio de Consulta Pública, os pedidos
de importação na página eletrônica do MDIC na Internet (www.mdic.
gov.br), devendo a indústria nacional se manifestar no prazo de 30
(trinta) dias, contados a partir da data da publicação da Consulta, para
comprovar a fabricação no mercado interno.

§ 1o Na hipótese de existência de produção nacional, deverão ser


fornecidos ao DECEX catálogos descritivos dos bens com as respectivas
características técnicas, bem como informações referentes a percentuais
relativos aos requisitos de origem do MERCOSUL e unidades já
produzidas no País.

§ 2o As indústrias nacionais deverão encaminhar ao DECEX a


manifestação de que trata o caput por meio do protocolo do MDIC,
sendo que a data do protocolo será considerada para fins do início da
contagem do prazo de 30 (trinta) dias previsto no caput.

§ 3o As manifestações da indústria nacional encaminhadas fora do prazo


serão desconsideradas.

§ 4o Caso a indústria nacional entenda que as informações publicadas


na consulta pública sejam insuficientes para descrever o produto a
importar, deverá se manifestar dentro de 15 (quinze) dias a contar da
publicação da referida consulta, indicando as especificações técnicas
que devem ser informadas ou esclarecidas pelo importador.

§ 5o Na hipótese de as informações serem consideradas indispensáveis,


será realizada nova consulta pública para o bem em questão, com todas
as características indicadas como necessárias à perfeita identificação da
mercadoria.

132
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

O exame de similaridade será realizado pelo DECEX, que observará os critérios e


procedimentos previstos nos arts. 190 a 209 do Decreto no 6.759, de 5 de fevereiro de
2009.

Art. 38. Caso seja indicada a existência de similar nacional, a interessada


será informada do indeferimento do pedido, diretamente via SISCOMEX,
com o esclarecimento de que o assunto poderá ser reexaminado, desde
que apresentadas ao DECEX: I - justificativas comprovando serem as
especificações técnicas do produto nacional inadequadas à finalidade
pretendida; e/ou II - propostas dos eventuais fabricantes nacionais que
indiquem não ter o produto nacional preço competitivo ou que o prazo
de entrega não é compatível com o do fornecimento externo.

Nos casos em que haja isenção ou redução de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias
e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação (ICMS) vinculada à obrigatoriedade de inexistência de similar nacional,
o importador deverá apontar no registro de licenciamento o Convênio do ICMS
pertinente. Para efeito do que dispõe o art. 199 do Decreto no 6.759, de 2009, a anotação
da inexistência de similar nacional deverá ser realizada somente no licenciamento de
importação. (Art. 39 da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011).

Estão sujeitas ao prévio exame de similaridade as importações de máquinas,


equipamentos e bens relacionados no Decreto no 6.582, de 26 de setembro de 2008, ao
amparo da Lei no 11.033, de 21 de dezembro de 2004, que institui o Regime Tributário
para Incentivo à Modernização e à Ampliação de estrutura Portuária (REPORTO).

§ 1o No exame e no preenchimento da LI, deverão ser observados


os seguintes procedimentos: I - o exame da LI não automática está
centralizado no DECEX; e II - a Ficha de Negociação, no registro da LI
não automática, deverá ser preenchida, nos campos descritos abaixo,
da seguinte forma: a) regime de tributação/ código 5; e b) regime de
tributação/ fundamento legal: 79. (Art. 40 da Portaria SECEX no 23, de
14/7/2011).

Controle de preços

Tôrres (2001, p. 162) afirma que a transferência do preço ocorre “sempre que uma
empresa vende um bem ou presta um serviço à outra pessoa”, devendo ser fixado um
preço correspondente; e quando as pessoas envolvidas são partes vinculadas, o preço
é denominado de preço de transferência. Assim, no caso das questões aduaneiras irá
gerar questionamentos acerca da tributação, pois poderá haver à redução da base de

133
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

cálculo do imposto de renda, é comum que os Estados adotem normas que estabeleçam
um mecanismo de controle tributário daqueles.

A Lei no 9.430/1996 trata da transferência de preços da seguinte forma:

Art. 18. Os custos, despesas e encargos relativos a bens, serviços e


direitos, constantes dos documentos de importação ou de aquisição, nas
operações efetuadas com pessoa vinculada, somente serão dedutíveis
na determinação do lucro real até o valor que não exceda ao preço
determinado por um dos seguintes métodos:

I - Método dos Preços Independentes Comparados (PIC): definido como


a média aritmética ponderada dos preços de bens, serviços ou direitos,
idênticos ou similares, apurados no mercado brasileiro ou de outros
países, em operações de compra e venda empreendidas pela própria
interessada ou por terceiros, em condições de pagamento semelhantes;

II - Método do Preço de Revenda menos Lucro (PRL): definido como


a média aritmética ponderada dos preços de venda, no País, dos
bens, direitos ou serviços importados, em condições de pagamento
semelhantes e calculados conforme a metodologia a seguir:

a) preço líquido de venda: a média aritmética ponderada dos preços de


venda do bem, direito ou serviço produzido, diminuídos dos descontos
incondicionais concedidos, dos impostos e contribuições sobre as
vendas e das comissões e corretagens pagas;

b) percentual de participação dos bens, direitos ou serviços importados


no custo total do bem, direito ou serviço vendido: a relação percentual
entre o custo médio ponderado do bem, direito ou serviço importado
e o custo total médio ponderado do bem, direito ou serviço vendido,
calculado em conformidade com a planilha de custos da empresa;

c) participação dos bens, direitos ou serviços importados no preço de


venda do bem, direito ou serviço vendido: aplicação do percentual
de participação do bem, direito ou serviço importado no custo total,
apurada conforme a alínea b, sobre o preço líquido de venda calculado
de acordo com a alínea a;

d) margem de lucro: a aplicação dos percentuais previstos no § 12,


conforme setor econômico da pessoa jurídica sujeita ao controle de
preços de transferência, sobre a participação do bem, direito ou serviço

134
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

importado no preço de venda do bem, direito ou serviço vendido,


calculado de acordo com a alínea c; e

e) preço parâmetro: a diferença entre o valor da participação do bem,


direito ou serviço importado no preço de venda do bem, direito ou
serviço vendido, calculado conforme a alínea c; e a “margem de lucro”,
calculada de acordo com a alínea d; e

III - Método do Custo de Produção mais Lucro (CPL): definido como


o custo médio ponderado de produção de bens, serviços ou direitos,
idênticos ou similares, acrescido dos impostos e taxas cobrados na
exportação no país onde tiverem sido originariamente produzidos, e
de margem de lucro de 20% (vinte por cento), calculada sobre o custo
apurado.

§ 1o As médias aritméticas ponderadas dos preços de que tratam os


incisos I e II do caput e o custo médio ponderado de produção de que
trata o inciso III do caput serão calculados considerando-se os preços
praticados e os custos incorridos durante todo o período de apuração da
base de cálculo do imposto sobre a renda a que se referirem os custos,
despesas ou encargos.

§ 2o Para efeito do disposto no inciso I, somente serão consideradas


as operações de compra e venda praticadas entre compradores e
vendedores não vinculados.

§ 3o Para efeito do disposto no inciso II, somente serão considerados os


preços praticados pela empresa com compradores não vinculados.

§ 4o Na hipótese de utilização de mais de um método, será considerado


dedutível o maior valor apurado, observado o disposto no parágrafo
subsequente.

§ 5o Se os valores apurados segundo os métodos mencionados neste


artigo forem superiores ao de aquisição, constante dos respectivos
documentos, a dedutibilidade fica limitada ao montante deste último.

§ 6o Não integram o custo, para efeito do cálculo disposto na alínea


b do inciso II do caput, o valor do frete e do seguro, cujo ônus tenha
sido do importador, desde que tenham sido contratados com pessoas:
I - não vinculadas; e II - que não sejam residentes ou domiciliadas em
países ou dependências de tributação favorecida, ou que não estejam
amparados por regimes fiscais privilegiados.

135
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

§ 6o-A. Não integram o custo, para efeito do cálculo disposto na alínea


b do inciso II do caput, os tributos incidentes na importação e os gastos
no desembaraço aduaneiro.

§ 7o A parcela dos custos que exceder ao valor determinado de


conformidade com este artigo deverá ser adicionada ao lucro líquido,
para determinação do lucro real.

§ 8o A dedutibilidade dos encargos de depreciação ou amortização dos


bens e direitos fica limitada, em cada período de apuração, ao montante
calculado com base no preço determinado na forma deste artigo.

§ 9o O disposto neste artigo não se aplica aos casos de royalties e


assistência técnica, científica, administrativa ou assemelhada, os quais
permanecem subordinados às condições de dedutibilidade constantes
da legislação vigente.

§ 10. Relativamente ao método previsto no inciso I do caput, as operações


utilizadas para fins de cálculo devem: I - representar, ao menos, 5% (cinco
por cento) do valor das operações de importação sujeitas ao controle de
preços de transferência, empreendidas pela pessoa jurídica, no período
de apuração, quanto ao tipo de bem, direito ou serviço importado, na
hipótese em que os dados utilizados para fins de cálculo digam respeito
às suas próprias operações; e II - corresponder a preços independentes
realizados no mesmo ano-calendário das respectivas operações de
importações sujeitas ao controle de preços de transferência.

§ 11. Na hipótese do inciso II do § 10, não havendo preço independente no


ano-calendário da importação, poderá ser utilizado preço independente
relativo à operação efetuada no ano-calendário imediatamente anterior
ao da importação, ajustado pela variação cambial do período.

O Método do Preço sob Cotação na Importação (PCI) é definido como os valores médios
diários da cotação de bens ou direitos sujeitos a preços públicos em bolsas de mercadorias
e futuros internacionalmente reconhecidas. Os preços dos bens importados e declarados
por pessoas físicas ou jurídicas residentes ou domiciliadas no País serão comparados
com os preços de cotação desses bens, constantes em bolsas de mercadorias e futuros
internacionalmente reconhecidas, ajustados para mais ou para menos do prêmio médio
de mercado, na data da transação, nos casos de importação de: I - pessoas físicas ou
jurídicas vinculadas; II - residentes ou domiciliadas em países ou dependências com
tributação favorecida; ou III - pessoas físicas ou jurídicas beneficiadas por regimes
fiscais privilegiados. Não havendo cotação disponível para o dia da transação, deverá

136
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

ser utilizada a última cotação conhecida. Na hipótese de ausência de identificação


da data da transação, a conversão será efetuada considerando-se a data do registro
da declaração de importação de mercadoria. Na hipótese de não haver cotação dos
bens em bolsas de mercadorias e futuros internacionalmente reconhecidas, os preços
dos bens importados a que se refere o § 1o poderão ser comparados com os obtidos
a partir de fontes de dados independentes fornecidas por instituições de pesquisa
setoriais internacionalmente reconhecidas. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
do Ministério da Fazenda disciplinará a aplicação do disposto neste artigo, inclusive
a divulgação das bolsas de mercadorias e futuros e das instituições de pesquisas
setoriais internacionalmente reconhecidas para cotação de preços. (Art. 18-A da Lei no
9.430/1996).

A fiscalização do preço de transferência será efetuada em períodos anuais, salvo quando


do início e encerramento das atividades em um mesmo exercício ou de suspeita de
fraude.

Requisitos fiscais
Comporta o tratamento aduaneiro de desembaraço propriamente dito, realizado em
locais próprios, que se refere a análise dos dados declarados do importador em relação
às mercadorias importadas, os documentos apresentados e à legislação específica, bem
como o pagamento dos tributos devidos.

Os impostos e adicionais incidentes na importação

Em regra, incidem na importação os seguintes tributos: Imposto de Importação (II),


seguido do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS). Mas, há outros incidentes como: adicional ao frete
para renovação da marinha mercante, Taxa de capatazia, taxa de armazenagem e o
adicional de tarifas aeroportuárias.

Imposto de importação

Inicialmente, não basta que a mercadoria adentre fisicamente no território aduaneiro


para ocorrer a incidência do imposto de importação, já que para a sua ocorrência é
necessário que a mercadoria deva estar destinada a permanecer no território aduaneiro
de forma definitiva. Podem ser instituídos ou aumentados no mesmo exercício financeiro
em que foi publicada a lei que os instituiu ou aumentou.

137
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

O art. 19 do CTN prevê que “o imposto, de competência da União,


sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a
entrada destes no terriotorio nacional”. Da mesma forma que o art. 72
do Regulamento Aduaneiro ao dispor que o imposto de importação é
devido quando a mercadoria adentrar no território aduaneiro.

Assim, a mercadoria transportada de um país para outro em embarcações ou aeronave


que simplesmente faça uma escala no Brasil, bem como as mercadorias que ingressam
no país tão somente para participar de feiras ou exposições, desde que retornem à
origem depois de cumprida sua finalidade, são isentas do imposto de importação.

Importa ressaltar que o imposto de importação é uma situação de fato, e tem-se por
ocorrido “desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias
a que produza os efeitos normalmente lhe são próprios”. (Art. 116, I do CTN).

O STJ tem afirmado que não obstante o fato gerador do imposto de importação se dê
com a entrada da mercadoria estrangeira em território nacional, torna-se necessária a
fixação de um critério temporal a que se atribua a exatidão e certeza para se completar
o inteiro desenho do fato gerador. Assim, embora o fato gerador do tributo se dê com a
entrada da mercadoria em território nacional, ele apenas se aperfeiçoa com o registro da
Declaração de Importação no caso de regime comum e, nos termos precisos do parágrafo
único, do artigo 1o, do Decreto-Lei no 37/66 (STJ – REsp: 362910 PR 2001/0129594-6,
Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, Data de Julgamento: 16/4/2002, T1 – Primeira
Turma, Data de Publicação: DJ 13/5/2002 p. 161).

A base de cálculo do imposto de importação se encontra prevista no art. 20 do CTN que


dispõe:

I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela


lei tributária;

II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto,


ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda
em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de
entrada do produto no País;

III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a


leilão, o preço da arrematação.

Também se encontra prevista a base de cálculo no art. 75 do Regulamento aduaneiro ao


estipular que quando a alíquota for ad valorem, o valor aduaneiro apurado segundo as
normas do Artigo VII do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) 1994; e quando

138
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

a alíquota for específica, a quantidade de mercadoria expressa na unidade de medida


estabelecida.

Assim, a regra é que no caso de mercadorias estrangeiras, a base de cálculo é o valor


aduaneiro e a alíquota está indicada na Tarifa Externa Comum (TEC). No caso da
bagagem, a base de cálculo é o valor dos bens que ultrapassem a cota de isenção e a
alíquota é de cinquenta por cento.

Alexandre (2008, p. 529) expõe que “a alíquota ad valorem é aquela que incide sobre o
valor, ou seja, é aquele percentual a ser multiplicado por uma grandeza especificada em
moeda corrente (...) para a obtenção do montante do tributo a ser pago”. Já a “alíquota
especifica é aquela definida por uma quantia determinada de dinheiro por unidade de
quantificação dos bens importados”.

O lançamento do imposto de importação ocorrerá por homologação, pois são de


competência do importador o cálculo do montante do imposto devido e o seu
recolhimento antecipado, após o lançamento, o Auditor fiscal irá homologar o
procedimento do contribuinte, praticando o ato denominado desembaraço aduaneiro
da mercadoria importada.

Isenções e reduções na importação

A isenção ou a redução do imposto somente será reconhecida quando decorrente de lei


ou de ato internacional. (Art. 115 do Regulamento Aduaneiro).

A Redução do Imposto é um benefício fiscal estabelecido por lei ou acordo internacional


e deve ser distinguida da Redução de Alíquota do II ou do IPI, que não se constitui em
benefício fiscal.

A Lei no 8.032/1990 prevê que estão limitadas as isenções e reduções do Imposto de


Importação no que se refere às importações realizadas: (a) pela União, pelos Estados,
pelo Distrito Federal, pelos Territórios, pelos Municípios e pelas respectivas autarquias;
(b) pelos partidos políticos e pelas instituições de educação ou de assistência social; (c)
pelas Missões Diplomáticas e Repartições Consulares de caráter permanente e pelos
respectivos integrantes; (d) pelas representações de organismos internacionais de
caráter permanente, inclusive os de âmbito regional, dos quais o Brasil seja membro,
e pelos respectivos integrantes; (e) pelas instituições científicas e tecnológicas; (f) por
cientistas e pesquisadores, nos termos do § 2o do art. 1o da Lei no 8.010, de 29 de março
de 1990.

139
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Também ocorrerão as isenções e reduções do Imposto de Importação nos casos de: (a)
importação de livros, jornais, periódicos e do papel destinado à sua reprodução; (b)
amostras e remessas postais internacionais, sem valor comercial; (c) remessas postais e
encomendas aéreas internacionais destinadas à pessoa física; (d) bagagem de viajantes
procedentes do exterior ou da Zona Franca de Manaus; (e) bens adquiridos em Loja
Franca, no País; (f) bens trazidos do exterior, referidos na alínea b do § 2o do art. 1o
do Decreto-Lei no 2.120, de 14 de maio de 1984; (g) bens importados sob o regime
aduaneiro especial de que trata o inciso III, do artigo 78, do Decreto-Lei no 37, de 18
de novembro de 1966; (h) gêneros alimentícios de primeira necessidade, fertilizantes e
defensivos para aplicação na agricultura ou pecuária, bem assim matérias-primas para
sua produção no País, importados ao amparo do art. 4o da Lei no 3.244, de 14 de agosto
de 1957, com a redação dada pelo art. 7o do Decreto-Lei no 63, de 21 de novembro de
1966; (i) bens importados ao amparo da Lei no 7.232, de 29 de outubro de 1984; (j)
partes, peças e componentes destinados ao reparo, revisão e manutenção de aeronaves
e embarcações; (k) importação de medicamentos destinados ao tratamento de aidéticos,
bem como de instrumental científico destinado à pesquisa da Síndrome da Deficiência
Imunológica Adquirida, sem similar nacional, os quais ficarão isentos, também, dos
tributos internos; (l) bens importados pelas áreas de livre comércio; (m) bens adquiridos
para industrialização nas Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs).

O art. 3o da Lei no 8.032/1990 estabelece que:

fica assegurada a isenção ou redução do Imposto sobre Produtos


Industrializados, conforme o caso: I - nas hipóteses previstas no art. 2o
desta lei, desde que satisfeitos os requisitos e condições exigidos para
a concessão do benefício análogo relativo ao Imposto de Importação;
II - nas hipóteses de tributação especial de bagagem ou de tributação
simplificada de remessas postais e encomendas aéreas internacionais.

Interessante afirmar que a Lei no 8.032/1990 prevê no art. 6o que “os bens objeto de
isenção ou redução do Imposto de Importação, em decorrência de acordos internacionais
firmados pelo Brasil, terão o tratamento tributário neles previsto.” E, ainda, o art. 7o
dispõe que “os bens importados com alíquotas zero do Imposto de Importação estão
sujeitos aos tributos internos, nos termos das respectivas legislações”.

O despacho aduaneiro na importação

É o procedimento fiscal por intermédio do qual o importador desembaraça a mercadoria


procedente do exterior a título definitivo ou temporário. Ocorrerá com o registro no
SISCOMEX da Declaração de importação, que após a chegada da carga na repartição

140
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

aduaneira, deve ser realizado o pagamento de todos os impostos federais devidos,


além dos valores eventualmente exigíveis por conta da aplicação de medidas contra as
práticas desleais de comércio. (VAZQUEZ, 2004, p. 122).

O despacho aduaneiro de importação é dividido, basicamente, em duas categorias: o


despacho para consumo; e o despacho para admissão em regime aduaneiro especial ou
aplicado em áreas especiais.

O despacho para consumo ocorre quando as mercadorias ingressadas no país forem


destinadas ao uso, pelo aparelho produtivo nacional, como insumos, matérias-primas,
bens de produção e produtos intermediários, bem como quando forem destinadas ao
consumo próprio e à revenda. O despacho para consumo visa, portanto, a nacionalização
da mercadoria importada e a ele se aplica o regime comum de importação.

O despacho para admissão em regimes aduaneiros especiais ou aplicados em áreas


especiais tem por objetivo o ingresso no País de mercadorias, produtos ou bens
provenientes do exterior, que deverão permanecer no regime por prazo certo e
conforme a finalidade destinada, sem sofrerem a incidência imediata de tributos,
os quais permanecem suspensos até a extinção do regime. Entre outros, se aplica às
mercadorias em trânsito aduaneiro (para outro ponto do território nacional ou com
destino a outro país) e em admissão temporária, caso em que as mercadorias devem
retornar ao exterior, após cumprirem a sua finalidade.

A Instrução Normativa SRF no 680/2006.

Art. 2o O despacho aduaneiro de importação compreende:

I - despacho para consumo, inclusive da mercadoria:

(a) ingressada no País com o benefício de drawback;

(b) destinada à ZFM, à Amazônia Ocidental ou a ALC;

(c) contida em remessa postal internacional ou expressa ou, ainda,


conduzida por viajante, se aplicado o regime de importação comum; e

(d) admitida em regime aduaneiro especial ou aplicado em áreas


especiais, na forma do disposto no inciso II, que venha a ser submetida
ao regime comum de importação; e

II - despacho para admissão em regime aduaneiro especial ou aplicado


em áreas especiais, de mercadoria que ingresse no País nessa condição.

141
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Por meio do desembaraço de mercadorias, fase final do despacho precedida pela


autoridade fiscal, obtém-se a autorização para a entrada das mercadorias no mercado
interno, ou para a finalidade à qual se destinam, no caso de ingresso temporário.

Na entrada de mercadoria importada do exterior, é legitima a cobrança de ICMS por


ocasião de desembaraço aduaneiro. (Súmula no 661 do STF).

A conferência aduaneira tem a finalidade de identificar o importador, verificar a


mercadoria, determinar o seu valor e classificação, e constatar o cumprimento de todas
as obrigações fiscais e outras exigíveis em razão da importação.

Concluída a conferência sem exigência fiscal ou outra, dar-se-á o desembaraço aduaneiro


da mercadoria, que é o ato final do despacho aduaneiro em virtude do qual é autorizada
a entrega da mercadoria ao importador.

Conferência e documentos de importação

O SISCOMEX de acordo com a parametrização estabelecida pela Secretaria da Receita


Federal (SRF) indica automaticamente quais as importações serão objeto de fiscalização,
e de que forma esse processo assim será conduzido, de acordo com quatro canais de
conferência: verde, amarelo, vermelho e cinza.

No canal verde, o SISCOMEX realiza o desembaraço aduaneiro de importação, de


maneira automática, dispensando-se o exame documental e a verificação física da
mercadoria.

No canal amarelo, realiza-se o exame documental. Inexistindo qualquer irregularidade,


efetua-se o desembaraço aduaneiro, com dispensa da verificação física da mercadoria.

No canal vermelho, o desembaraço alfandegário efetiva-se após a verificação física da


mercadoria e a realização do exame documental.

No canal cinza, além da verificação física da mercadoria e do competente exame


documental, é realizado o exame de valoração aduaneira, que didaticamente pode ser
definido como a análise do preço praticado, objetivando combater eventual sub ou
superfaturamento na importação.

Assim, o conhecimento prévio e o domínio dos documentos utilizados nas importações


são essenciais para permitir ao interessado promover o ingresso no País dos bens que
pretende adquirir. A classificação de tais documentos também decorre naturalmente
dos fins a que se destinam: comerciais, cambiais, financeiros, contábeis, administrativos
ou fiscais. (VAZQUEZ, 2004, p. 124).

142
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Dessa forma, além, é claro, dos “documentos eletrônicos obtidos via SISCOMEX, ou seja,
a DI, a DSI (quando aplicável), a LI (quando necessária) e o CI, os demais documentos
utilizados nos processos de importação guardam as mesmas características que os seus
congêneres, emitidos por ocasião de uma exportação, observando, no entanto, uma
inversão de papéis entre exportador e o importador”. (FARO, 2012, p. 87).

Faro (2012, p. 91) aponta os procedimentos administrativos e operacionais que envolvem


a sistemática das importações. A importação segue basicamente os seguintes passos:
cadastramento, negociação preliminar, avaliação da mercadoria, concretização das
negociações, pagamento da importação, licenciamento, embarque, despacho aduaneiro
de importação e controle documental.

Controle administrativo

Antes de iniciar uma operação de importação, o interessado deve sempre verificar se a


mercadoria a ser importada está sujeita a controle administrativo, pois, em regra, este
deve ser efetuado anteriormente ao embarque da mercadoria no exterior, sob pena de
pagamento de multa.

Importação por conta de terceiro

Na importação por conta de terceiro deve seguir as regras estabelecidas pela Instrução
Normativa SRF no 225/2002.

Dessa forma, entende-se por operação de importação por conta e ordem de terceiro
“aquela em que uma pessoa jurídica promove, em seu nome, o despacho aduaneiro
de importação de mercadoria adquirida por outra, em razão de contrato previamente
firmado, que pode compreender, ainda, a prestação de outros serviços relacionados
com a transação comercial, como a realização de cotação de preços e a intermediação
comercial” (Instrução Normativa SRF no 225/2002).

O controle aduaneiro relativo à atuação de pessoa jurídica importadora que opere por
conta e ordem de terceiros é exercido conforme o estabelecido na Instrução Normativa
SRF no 225/2002.

Art. 3o O importador, pessoa jurídica contratada, devidamente


identificado na DI, deverá indicar, em campo próprio desse documento,
o número de inscrição do adquirente no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas (CNPJ).

143
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

§ 1o O conhecimento de carga correspondente deverá estar consignado


ou endossado ao importador, configurando o direito à realização do
despacho aduaneiro e à retirada das mercadorias do recinto alfandegado.

§ 2o A fatura comercial deverá identificar o adquirente da mercadoria,


refletindo a transação efetivamente realizada com o vendedor ou
transmitente das mercadorias.

O registro da Declaração de Importação (DI) pelo contratado é condicionado à sua


prévia habilitação no SISCOMEX, para atuar como importador por conta e ordem do
adquirente, pelo prazo previsto no contrato.

Importação por encomenda

Já a operação de importação por encomenda, aquela em que uma pessoa jurídica


promove, em seu nome, o despacho aduaneiro de importação de mercadorias por ela
adquiridas no exterior, para revenda a empresa encomendante predeterminada, em
razão de contrato firmado entre elas.

Não é considerada importação por encomenda a operação realizada com recursos do


encomendante, ainda que parcialmente.

O registro da Declaração de Importação (DI) fica condicionado à prévia habilitação no


SISCOMEX, tanto do encomendante, quanto do importador por encomenda, e à prévia
vinculação entre eles realizada nesse sistema.

A Instrução Normativa SRF no 680/2006 estabelece que:

Art. 2o O registro da Declaração de Importação (DI) fica condicionado à


prévia vinculação do importador por encomenda ao encomendante, no
Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX).

§ 1o Para fins da vinculação a que se refere o caput, o encomendante


deverá apresentar à unidade da Secretaria da Receita Federal (SRF)
de fiscalização aduaneira com jurisdição sobre o seu estabelecimento
matriz, requerimento indicando:

I - nome empresarial e número de inscrição do importador no Cadastro


Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ); e

II - prazo ou operações para os quais o importador foi contratado.

§ 2o As modificações das informações referidas no § 1o deverão ser


comunicadas pela mesma forma nele prevista.

144
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

§ 3o Para fins do disposto no caput, o encomendante deverá estar


habilitado nos termos da IN SRF no 455, de 5 de outubro de 2004.

O art. 4o da Instrução Normativa SRF no 634/2006 estabelece que o


“importador por encomenda e o encomendante são obrigados a manter
em boa guarda e ordem, e a apresentar à fiscalização aduaneira, quando
exigidos, os documentos e registros relativos às transações em que
intervierem, pelo prazo decadencial”.

O controle aduaneiro relativo à atuação de pessoa jurídica importadora que opere


por encomenda é exercido conforme o estabelecido na Instrução Normativa SRF no
634/2006.

E por último, o despacho aduaneiro de importação é processado com base em declaração


a ser apresentada à unidade aduaneira sob cujo controle estiver a sua mercadoria.

A DI deve conter, entre outras informações, a identificação do importador e do adquirente


ou encomendante, caso não sejam a mesma pessoa, assim como a identificação, a
classificação, o valor aduaneiro e a origem da mercadoria.

A DI é formulada pelo importador ou seu representante legal no Sistema Integrado de


Comércio Exterior (SISCOMEX) e consiste na prestação das informações constantes
do Anexo Único da Instrução Normativa SRF no 680/2006, de acordo com o tipo de
declaração e a modalidade de despacho aduaneiro. Essas informações estão separadas
em dois grupos: (a) Gerais – correspondentes à operação de importação e (b) Específicas
(adição) – contendo dados de natureza comercial, fiscal e cambial sobre cada tipo de
mercadoria.

O tratamento aduaneiro a ser aplicado à mercadoria importada é determinante para a


escolha do tipo de declaração a ser preenchida pelo importador.

Pagamento dos tributos

O pagamento dos tributos e contribuições federais devidos na importação de


mercadorias, bem assim dos demais valores exigidos em decorrência da aplicação
de direitos antidumping, compensatórios ou de salvaguarda, será efetuado no ato
do registro da respectiva DI ou da sua retificação, se efetuada no curso do despacho
aduaneiro, por meio de Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf)
eletrônico, mediante débito automático em conta-corrente bancária, em agência
habilitada de banco integrante da rede arrecadadora de receitas federais.

O art. 11 da Instrução Normativa SRF no 680/2006 estabelece que:

145
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

§ 1o Para a efetivação do débito, o declarante deverá informar, no ato


da solicitação do registro da DI, os códigos do banco e da agência e o
número da conta-corrente.

§ 2o Após o recebimento, via SISCOMEX, dos dados referidos no §1o, e


de outros necessários à efetivação do débito na conta-corrente indicada,
o banco adotará os procedimentos necessários à operação, retornando
ao SISCOMEX o diagnóstico da transação.

§ 3o Para efeito do disposto neste artigo, o banco integrante da rede


arrecadadora interessado deverá apresentar carta de adesão e formalizar
termo aditivo ao contrato de prestação de serviços de arrecadação de
receitas federais mantido com a SRF.

§ 4o A Coordenação-Geral de Administração Tributária (Corat) e a


Cotec poderão expedir normas complementares para a implementação
do disposto nos §§ 2o e 3o deste artigo.

§ 5o O Darf apresentado após o desembaraço da mercadoria, para


pagamento dos créditos tributários exigidos pela autoridade aduaneira,
será confirmado na forma estabelecida em ato da Coana.

Os depósitos administrativos efetuados no curso do despacho aduaneiro, para liberação


de mercadorias, deverão ser objeto de confirmação no Sistema de Informações da
Arrecadação Federal (Sinal) – (art. 12 da Instrução Normativa SRF no 680/2006).

Pagamentos e recebimentos internacionais

A lei brasileira é conservadora, pois não se admite depósitos efetuados no Brasil em


moeda estrangeira, salvo as exceções previamente estabelecidas. (FARO, 2012, p. 93).

São modalidades de pagamento: (a) pagamento antecipado; (b) remessa direta; (c)
cobrança a vista; (d) cobrança a prazo; (c) crédito documentário ou carta de crédito e;
(d) cartas de garantia.

O pagamento antecipado pode ocorrer quando o importador remete ao exportador os


valores destinados ao pagamento da compra efetuada antes mesmo do recebimento da
mercadoria.

Na remessa direta, o vendedor embarca a mercadoria e remete ao comprador (sem


intermediário) os documentos necessários ao desembaraço aduaneiro de importação,
onde o risco de pagamento é do exportador, pois fica na dependência do importador
pagar a compra efetuada.

146
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Na cobrança a vista, o “banco cobrador efetua contato com o importador para que ele
compareça àquela instituição financeira a fim de efetuar o pagamento correspondente
a sua compra e receba os documentos essenciais aos trâmites alfandegários para tomar
posse da mercadoria”. (FARO, 2012, p. 97).

Na cobrança a prazo, “o exportador procede da mesma forma que na cobrança a vista,


ou seja, embarca a mercadoria, entrega ao banco remetente as cambiais, além dos
documentos inerentes ao trâmite alfandegário no destino, para que sejam encaminhadas
ao banco cobrador no país do importador”. (FARO, 2012, p. 98).

Na carta de crédito, o importador solicita à instituição financeira ou bancaria que


emita um documento garantindo o pagamento ao exportador, no exterior, desde que as
condições e os prazos da carta de crédito sejam atendidos. O objetivo é garantir que as
partes envolvidas cumpram integralmente as responsabilidades e obrigações por elas
assumidas.

A carta de garantia tem a finalidade de assegurar a uma parte (beneficiário da garantia)


o adimplemento das obrigações por outro parceiro envolvido na transação. Podem ser
de garantia de licitação, de garantia de boa execução, de garantia de reembolso, de
garantia de manutenção e de garantia de retenção.

A carta de garantia de licitação (Bid bond) é usada em licitações internacionais e


geralmente vinculadas à exportação de serviços envolvendo a realização de obras civis
de engenharia ou fornecimento de equipamentos de alto valor agregado e de grande
conteúdo tecnológico

A carta de garantia de execução (Performance Bond) garante o fiel cumprimento do


contrato internacional (fornecimento de bens e/ou serviços). Normalmente essa
garantia é concedida no contrato de execução no tempo e objetiva cobertura no caso
de falha na execução do contrato. O valor desse tipo da performance bond é, no geral,
de 10% do valor do contrato de base. O beneficiário da carta de garantia, na hipótese
de vir a constatar o descumprimento do contrato comercial, poderá utilizá-la para o
recebimento dos valores nela previstos.

Na carta de garantia de reembolso (Refundment), o garantidor se obriga a efetuar


pagamento ao beneficiário ao ordenador e ainda não reembolsado, observando os limites
do montante fixado, na eventualidade de inadimplemento pelo ordenador da obrigação
de reembolso, nos termos e nas condições do contrato celebrado entre beneficiário e
ordenador. (Publicação da CCI no 325). Assim, na hipóteses de inadimplemento do
contrato, o beneficiário dessa carta de garantia poderá executá-la, para receber os
valores desembolsados a título de adiantamento.

147
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Na carta de garantia de manutenção (maintenance bond), o contratante poderá executar


a garantia, caso constate vícios ou defeitos da obra, após sua conclusão. Essa garantia
visa resguardar a manutenção das condições de estado e funcionamento da obra, tal
como foi entregue.

Na carta de garantia de retenção (retention payment bond) com a garantia, o contratante


efetua o pagamento integral do preço ao contratado e, se constatados vícios ou defeitos
na obra, executa a garantia. O valor deste tipo de garantia é no geral 5% do valor da
obra.

Faro (2012, p. 107) aponta ainda a stand by letter of credit que “é emitida em favor
do exportador que somente a executa na hipótese de o importador não realizar o
pagamento relativo à compra efetuada, e, por esse motivo, diferencia-se dos créditos
documentários convencionais”. Trata-se de garantia emitida pela instituição financeira
ou bancária com aplicação ampla, podendo ser utilizada para garantir operações de
câmbio (comercial, financeiro ou empréstimos), sendo mais usual sua aplicação em
transações financeiras.

O Código Tributário Nacional dispõe que o fato gerador do imposto de importação


é a entrada do produto estrangeiro no território nacional, não esclarecendo
exatamente quando se considera ocorrida essa entrada. Dessa maneira indaga-se:
a base de cálculo do imposto sobre importações, quando a alíquota seja ad
valorem, é o valor aduaneiro, ou seja, o valor pelo qual foi realizado o eventual
negócio jurídico referente à importação?

“Ementa: Recurso Extraordinário. Constitucional. Tributário. Imposto de


Importação. Majoração de Alíquota. Decreto. Ausência de Motivação e
Inadequação da Via Legislativa. Exigência de Lei Complementar. Alegações
Improcedentes. 1. A lei de condições e limites para a majoração da alíquota
do imposto de importação, a que se refere o artigo 153, § 1o, da Constituição
Federal, é a ordinária, visto que lei complementar somente será exigida quando
a Norma Constitucional expressamente assim o determinar. [...]” (STF, Tribunal
Pleno, RE 224285/CE, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 28/5/99, p. 26).

Agravo Regimental em Agravo em Recurso Especial. Processual Civil. Tributário.


Importação de Bens Estrangeiros para uso próprio. Incidência do Imposto Sobre
Importação (IPI). Princípio da não Cumulatividade. Tema Constitucional. 1. O
recurso especial não é a via adequada para dirimir questão acerca da incidência
ou não do IPI na importação de bens estrangeiros para uso próprio, a qual
assume nítidos contornos constitucionais quando posta à luz do art. 153, § 3o,

148
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

II, da Constituição Federal de 1988 (princípio da não cumulatividade). 2. A causa


foi decidida ao argumento de que: “o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a
questão, mesmo após a edição da EC no 33/2001, firmou orientação no sentido
de que, em respeito ao princípio da não cumulatividade, expresso no artigo 153,
§ 3o, inciso II, da Constituição Federal, não incide IPI nesta hipótese, pois, em se
tratando de pessoa física, não empresária, é inviável a compensação do valor do
tributo devido com créditos de uma operação anterior”. 3. Agravo regimental
não provido. (STJ - AgRg no AREsp: 224760 PR 2012/0183986-2, Relator: Ministro
Mauro Campbell Marques, Data de Julgamento: 23/10/2012, T2 - Segunda
Turma, Data de Publicação: DJe 6/11/2012).

ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente. Direito tributário na Constituição e


no STF. 17. Ed. Rio de Janeiro: Método, 2014.

GUANDALINI, Bruno; ZANELLATO FILHO, Paulo José. Tratamento jurídico dos


produtos importados com defeitos ou fora das especificações decorrente de
contratos de compra e venda internacional. Jus Navigandi. Teresina, ano 17, no
3135, 31 jan. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/20968>. Acesso
em: 7 abr. 2014.

XIMENES, Fernando Braz. Principais controvérsias relativas aos impostos


federais. Âmbito Jurídico. Rio Grande, XV, no 96, jan 2012. Disponível em: <http://
www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=11001&revista_caderno=26>. Acesso em: 4 abr 2014.

149
CAPÍTULO 4
Exportação

A exportação segundo Diniz (2005c) é “a operação de compra e venda de bens ou


mercadorias ou ato de sua remessa de um país para outro”, em suma é a saída de
mercadorias para outro país, acarretando transferência de riquezas de um Estado
para outro. O fato gerador, em regra, é a remessa de bens, ou pelos efeitos gerados no
exterior, em decorrência da execução de serviços.

Essencialmente, a exportação abrange operações de compra e venda, pouco importando


tratar-se de bens ou serviços (mesmo que a atividade tenha sido realizada integralmente
no território nacional).

Na legislação brasileira a exportação pode ser efetuada envolvendo ou não pagamento


pelo importador pode, também, ser definitiva ou temporária. Assim, pode-se classificar
a exportação em: livres, sujeitas a limitações, suspensas ou proibidas.

As exportações livres são aquelas que podem ser processadas sem qualquer procedimento
especial.

As exportações sujeitas a limitações ou procedimentos especiais são aquelas


contingenciadas por políticas públicas ou por convenções, compromissos, tratados ou
convênios internacionais, interna ou externamente, que dependem da análise prévia de
algum órgão anuente, ou que tenha que observar algum procedimento especial.

As exportações suspensas são aquelas operações não autorizadas, que decorrem da


adoção de políticas aplicadas com o objetivo de regular o mercado interno e estimular
a produção de produtos para exportação de maior valor agregado, ou decorrentes de
convenção, compromisso, tratado ou convênio internacional. Em suma, os produtos
podem estar com vendas externas suspensas para regular ou abastecer o mercado
interno, ou ainda, aquelas que se encontram suspensas por embargos comerciais a
algum país.

Já as exportações proibidas são caracterizadas pela não liberação de produtos


proibidos para a exportação, ou seja, o país decide que não permitirá a exportação, por
questões internas ou mesmo por caso de convenção, compromisso, tratado ou convênio
internacional assinado pelo País.

150
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Registro do Exportador
O registro como exportador é automático, no ato da primeira operação sem qualquer
declaração, sendo realizada no ato da primeira operação de exportação em qualquer
ponto conectado ao Siscomex.

Podem ser exportador tanto pessoas naturais (físicas) como as jurídicas.

Contudo, as pessoas físicas somente poderão exportar mercadorias em quantidades


que não revelem prática de comércio e desde que não se configure habitualidade, salvo
se interessado comprove junto à SISCOMEX, ou a entidades por ela credenciadas,
tratar-se de: I - agricultor ou pecuarista cujo imóvel rural esteja cadastrado no
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA); II - artesão, artista ou
assemelhado registrado como profissional autônomo; ou III - exportações via remessa
postal, com ou sem expectativa de recebimento, exceto donativos, até o limite de US$
50.000,00 (cinquenta mil dólares dos Estados Unidos) ou o equivalente em outra
moeda, respeitando-se as exceções definidas nos incisos do art. 10 da Portaria SECEX
no 23, de 14/7/2011. (Art. 183 da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011).

Do credenciamento e da habilitação

A utilização do sistema SISCOMEX poderá ser realizada pelo próprio exportador ou


então, por procurador devidamente habilitado nos termos das regras impostas pela
Receita Federal do Brasil.

A administração direta e indireta que atua no comércio exterior, que se encontram


ligados ao sistema de Informações do Banco Central (SISBACEN), os bancos autorizados
a operar em câmbio e as sociedades corretoras estão automaticamente credenciados por
meio de seus órgãos a atuar no comércio exterior, respeitando as suas competências e
quando for o caso a necessária autorização expressa.

Do Registro de Exportação

O Registro de Exportação (RE) no SISCOMEX é o conjunto de informações de natureza


comercial, financeira, cambial e fiscal que caracterizam a operação de exportação de
uma mercadoria e definem o seu enquadramento. (Art. 184 da Portaria SECEX no 23,
de 14/7/2011).

Art.186. O RE deverá ser efetuado previamente à declaração para


despacho aduaneiro e ao embarque da mercadoria.

151
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Parágrafo único. O RE pode ser efetuado após o embarque das


mercadorias e antes da declaração para despacho aduaneiro, nas
exportações a seguir indicadas: I - fornecimento de combustíveis,
lubrificantes, alimentos e outros produtos destinados ao consumo e
uso a bordo de embarcações ou aeronaves, exclusivamente de tráfego
internacional, de bandeira brasileira ou estrangeira, observado o
contido na Seção IX deste Capítulo; e II - vendas de pedras preciosas
e semipreciosas, metais preciosos, suas obras e artefatos de joalharia
realizadas no mercado interno a não residentes no País ou em lojas
francas a passageiros com destino ao exterior, na forma do disposto no
Anexo XVI da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011.

Serão aplicadas as penalidades previstas na legislação em vigor, na hipótese das


informações prestadas pelo exportador no SISCOMEX não corresponderem à operação
realizada.

O prazo máximo para efetivação do registro da exportação é de 30 dias, prorrogável


por igual período, contados a partir da data de seu registro no SISCOMEX, desde que
apresentado de forma adequada e completa e expressamente motivado no caso de
prorrogação.

O registro de exportação deverá ser efetuado previamente à declaração para despacho


aduaneiro e ao embarque da mercadoria.

A Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011 prevê que:

Art. 190. Poderão ser efetuadas alterações no RE, exceto quando: I


- envolverem a inclusão de AC no campo 24 do RE ou do código do
enquadramento de drawback no campo 2-A do RE após a averbação
do registro de exportação; ou II - realizadas durante o curso dos
procedimentos para despacho aduaneiro.

Art. 191. Poderão ser acolhidos pedidos de alteração para inclusão de ato
concessório e do enquadramento de drawback nas hipóteses previstas
no art. 147, mediante processo administrativo.

Art. 192. Os produtos destinados à exportação serão submetidos ao


processo de despacho aduaneiro, na forma estabelecida pela RFB.

Art. 193. Na ocorrência de divergência em relação ao RE durante o


procedimento do despacho aduaneiro, a unidade local da RFB adotará
as medidas cabíveis.

152
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

A partir da efetivação do registro da exportação o exportador deverá no prazo de


sessenta dias da data de sua efetivação proceder ao embarque da mercadoria.

Do registro de exportação simplificado (RES)


A forma simplificada do registro de exportação com cobertura cambial e para embarque
imediato será de até US$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares dos Estados Unidos), ou o
equivalente em outras moedas.

Não se aplicando o sistema no caso de operações vinculadas ao regime automotivo,


ao regime aduaneiro de drawback, ou sujeitas à incidência do imposto de exportação
ou, ainda, a procedimentos especiais ou exportação contingenciada, em virtude da
legislação ou em decorrência de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
(Art. 164 da Portaria no 36/2007).

Principais dispositivos constitucionais


A competência tributária exclusiva da União começa pela tributação do comércio
exterior, que compreende o imposto sobre importação de produtos estrangeiros e o
imposto sobre exportação, para o Exterior, de produtos nacionais ou naturalizados,
que são especialmente utilizados como instrumentos de política econômica. (Art. 153
da CF).

É importante ressaltar que o imposto sobre exportação tem finalidade extrafiscal, que
serve como instrumento da atuação da União no controle do comércio exterior.

Tributário. Imposto de Exportação. Fato Gerador. Ocorrência. Registro


de Vendas no SISCOMEX. Anterioridade. Publicação. Resolução do
BACEN. Embargos de Declaração. Ausência de Omissão a ser sanada.
Impossibilidade de Prequestionamento de Dispositivos Constitucionais
no âmbito do Recurso Especial. I - A jurisprudência da Primeira Turma
desta Corte pacificou entendimento no sentido de que o fato gerador
do imposto de exportação sobre o açúcar é contado do registro de
vendas no SISCOMEX e, sendo este anterior à publicação da Resolução
do BACEN no 2.163/1995, deve-se incidir a alíquota de 2% e não a de
40% prevista na referida norma. Este o teor do acórdão embargado que
não contém qualquer omissão a ser sanada, relativa a não solução da
controvérsia com fundamento em norma constitucional, na medida
em que responsável o recurso especial pela garantia do direito federal,

153
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

apenas. II - E, por isso mesmo, consoante cediço, não é o especial


meio próprio ao prequestionamento de dispositivos constitucionais.
III - Embargos de declaração rejeitados. (STJ, Primeira Turma, Rel.
Min. Francisco Falcão, EAARES 199900697960, Data da Publicação:
16/5/2005).

No entanto, o Poder Executivo Federal pode modificar por decreto, sem observância do
princípio da anterioridade e da legalidade, as alíquotas dos impostos de exportação e
importação, isto se dá porque o Poder Executivo necessidade de instrumentos céleres
para regular o comércio internacional, sempre obedecendo aos limites e condições
fixadas em lei complementar. (Art. 153, §1o da CF).

Para fins de lançamento do crédito tributário, considerar-se-á ocorrido o fato gerador


na data do efetivo registro da Exportação.

Princípios Constitucionais tributários


O Sistema Constitucional Tributário está sujeito a uma série de princípios constitucionais.

O art. 150, inc. I da CF está esculpido o princípio da Legalidade, consistente na ideia


de não existir tributo sem lei. O tributo é ex lege, isso porque não se pode conceber a
tributação sem previa legislação. A utilização da expressão lei constitui uma norma geral
e abstrata, submetida ao processo legislativo e de conteúdo pertinente, não abarcando,
dessa forma, a criação ou majoração do tributo por meio de interpretação extensiva ou
por quaisquer outros meios.

O princípio da Isonomia se encontra inserido no art. 150, inc. II da CF e tem como


padrão a igualdade entre contribuintes, que pode ser encarada de duas formas. A
primeira no seu aspecto econômico que se aproxima da capacidade contributiva do
sujeito, onde é dever de contribuir aos encargos públicos em igual medida, entendida
em termos de sacrifício. A segunda se encontra na ideia de paridade de posição com
exclusão de qualquer privilégio de classe, religião e raça, de modo que os contribuintes,
que se encontre em idênticas situações, sejam submetidos a igual regime jurídico.

O sistema tributário não permite a surpresa na instituição do tributo, por esse motivo
a União proíbe a União, os Estados e os Municípios de cobrar tributos no mesmo
exercício de sua instituição, ou seja, os impostos só podem ser cobrados no ano seguinte
de sua aprovação em lei. Essa proibição sedimenta o princípio da Anterioridade e
se encontra previsto no art. 150, inc. III da CF. Contudo, é importante ressaltar que
o princípio da anterioridade não se aplica aos impostos de importação, exportação,
Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF), Imposto sobre Produtos
154
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Industrializados (IPI), imposto extraordinário de guerra (art. 154, II, CF), empréstimo
compulsório destinado a atender a despesas extraordinárias decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência (art. 148, I, CF).

Outro princípio importante é o da Noventena (anterioridade nonagesimal), previsto no


art. 150, inc. III, c que reside no fato que antes de decorridos noventa dias da data em que
haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado a ideia que o tributo
só poderá ser criado no exercício anterior. Entretanto, cabe informar que o princípio
da anterioridade nonagesimal não se aplica as exceções relativas à anterioridade
comum, prevista no artigo 153, III, b, ressalvado quanto ao IPI, e acrescenta as exceções
referentes ao Imposto sobre a Renda (IR), à fixação das bases de cálculo do Imposto
sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e do Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU), artigos 153, inciso IV, 155, III e 156, I, respectivamente. Não se aplica
as importações e exportações.

A CF no art. 150, III proíbe a lei de retroagir, ou seja, não podem ser exigidos tributos
sobre fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que instituiu ou
aumentou algum tributo. Contudo, o princípio da Irretroatividade não é absoluto,
pois há exceções à regra, na forma do art. 106 do Código Tributário Nacional (CTN)
que dispõe a lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso, quando seja
expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos
dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: (a)
quando deixe de defini-lo como infração; (b) quando deixe de tratá-lo como contrário
a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não
tenha implicado em falta de pagamento de tributo; (c) quando lhe comine penalidade
menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.

O princípio da progressividade se encontra estabelecido no art. 145, §1o da CF que


dispõe “sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os
direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte”.

Impostos sobre a exportação


Para incidência do imposto é necessário à ocorrência do fato gerador. De acordo com o
art. 23 do CTN, o imposto de exportação para o estrangeiro de produtos nacionais ou
nacionalizados tem como fato gerador a saída destes do território nacional.

155
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Da mesma forma que imposto de importação, a lei tributária considera como momento
de originário do fato tributário o registro da exportação no SISCOMEX, na forma do
art. 213 do Decreto no 6.759/2009.

Art. 213. O imposto de exportação tem como fato gerador a saída da


mercadoria do território aduaneiro (Decreto-Lei no 1.578, de 1977, art.
1o, caput).

Parágrafo único. Para efeito de cálculo do imposto, considera-se


ocorrido o fato gerador na data de registro do registro de exportação no
Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX) (Decreto-Lei no
1.578, de 1977, art. 1o, § 1o).

Assim, é importante ressaltar que não importa quando o negócio foi fechado, pois o
tributo será calculado com base na legislação vigente na data do registro da exportação.

Base de cálculo

O Decreto no 6.759/2009 que trata do Regulamento de exportação dispõe que:

Art. 214. A base de cálculo do imposto é o preço normal que a mercadoria,


ou sua similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em
condições de livre concorrência no mercado internacional, observadas
as normas expedidas pela Câmara de Comércio Exterior (Decreto-Lei no
1.578, de 1977, art. 2o, caput, com a redação dada pela Medida Provisória
no 2.158-35, de 2001, art. 51).

§ 1o Quando o preço da mercadoria for de difícil apuração ou for


suscetível de oscilações bruscas no mercado internacional, a Câmara de
Comércio Exterior fixará critérios específicos ou estabelecerá pauta de
valor mínimo, para apuração da base de cálculo (Decreto-Lei no 1.578,
de 1977, art. 2o, § 2o, com a redação dada pela Medida Provisória no
2.158-35, de 2001, art. 51).

§ 2o Para efeito de determinação da base de cálculo do imposto, o


preço de venda das mercadorias exportadas não poderá ser inferior ao
seu custo de aquisição ou de produção, acrescido dos impostos e das
contribuições incidentes e da margem de lucro de quinze por cento
sobre a soma dos custos, mais impostos e contribuições (Decreto-Lei
no 1.578, de 1977, art. 2o, § 3o, com a redação dada pela Lei no 9.716, de
1998, art. 1o).

156
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Art. 215. O imposto será calculado pela aplicação da alíquota de trinta


por cento sobre a base de cálculo (Decreto-Lei no 1.578, de 1977, art. 3o,
caput, com a redação dada pela Lei no 9.716, de 1998, art. 1o).

§ 1o Para atender aos objetivos da política cambial e do comércio


exterior, a Câmara de Comércio Exterior poderá reduzir ou aumentar a
alíquota do imposto (Decreto-Lei no 1.578, de 1977, art. 3o, caput, com a
redação dada pela Lei no 9.716, de 1998, art. 1o).

§ 2o Em caso de elevação, a alíquota do imposto não poderá ser superior


a cento e cinquenta por cento (Decreto-Lei no 1.578, de 1977, art. 3o,
parágrafo único, com a redação dada pela Lei no 9.716, de 1998, art. 1o).

O art. 24 do CTN dispõe acerca da base de cálculo do imposto de


exportação

Art. 24. A base de cálculo do imposto é:

I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela


lei tributária;

II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto,


ou seu similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em
condições de livre concorrência.

Parágrafo único. Para os efeitos do inciso II, considera-se a entrega como


efetuada no porto ou lugar da saída do produto, deduzidos os tributos
diretamente incidentes sobre a operação de exportação e, nas vendas
efetuadas a prazo superior aos correntes no mercado internacional o
custo do financiamento.

Analisando os dispositivos acima, pode-se afirmar que a base de cálculo do imposto é


o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em
uma venda em condições de livre concorrência no mercado internacional, observadas as
normas expedidas pelo Poder Executivo, mediante ato do Conselho Monetário Nacional.
No caso de difícil apuração do preço ou variável, o Conselho Monetário Nacional irá
criar parâmetros específicos ou valor mínimo para apuração da Base de cálculo.

Lançamento

Cabe ao exportador elaborar e registrar no SISCOMEX a declaração de exportação,


bem como fornecer à alfândega os documentos necessários à instrução do despacho.
Após o preenchimento caberá a um Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil verificar

157
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

a exatidão dos dados declarados pelo exportador em relação às mercadorias, aos


documentos apresentados e a legislação específica, com vista ao desembaraço e a sua
saída para o exterior. O ato de desembaraço corresponde à homologação do imposto, o
que caracteriza a modalidade de lançamento. (ALEXANDRE, 2008, p. 536).

No entanto, Machado (2011, p. 313) afirma que o lançamento é por declaração, pois
depende de uma declaração de exportação, momento em que o imposto é cobrado.

O despacho aduaneiro de exportação


O despacho aduaneiro de exportação é o procedimento fiscal de desembaraço da
mercadoria destinada ao exterior, com base nas informações contidas no Registro de
Exportação, na primeira via da nota fiscal (fatura), do conhecimento internacional
de embarque, do manifesto do trânsito, do armazenamento e nos dados sobre a
disponibilidade da mercadoria para verificação das autoridades aduaneiras, sendo
processado por meio do SISCOMEX, como regra geral.

O despacho é uma declaração elaborada pelo exportador ou por seu mandatário,


também por intermédio do SISCOMEX, que deverá ser acompanhada pela declaração
para despacho de exportação ou da declaração simplificada de exportação e serem
entregues na Receita Federal do Brasil.

Tratamento Aduaneiro
Os produtos sujeitos aos procedimentos especiais, as normas específicas de padronização
e a classificação, aos impostos de exportação ou que tenham a exportação contingenciada
ou suspensa, em virtude da legislação ou em decorrência de compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil, estão relacionados no Anexo XVII da Portaria SECEX no 23, de
14/7/2011. (Art. 196).

Segundo o art. 197 da Portaria SECEX no 23 de 14/7/2011, “os produtos sujeitos à


manifestação prévia dos órgãos do Governo na exportação estão indicados no Tratamento
Administrativo do SISCOMEX, também disponíveis no endereço eletrônico do MDIC,
para simples consulta, prevalecendo o constante do Tratamento Administrativo”.

As etapas das operações de exportação no


SISCOMEX
O despacho aduaneiro comporta cinco etapas distintas: (a) registro da declaração
no SISCOMEX; (b) confirmação da presença da carga e recepção dos documentos;
(c) parametrização e distribuição da declaração de despacho de exportação; (d)
158
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

desembaraço aduaneiro e registro dos dados de embarque e; (e) averbação de embarque


e emissão do comprovante de exportação (confirmação do embarque da mercadoria ou
sua transposição da fronteira).

Registro da declaração no SISCOMEX

A Instrução Normativa SRF no 28/1994 disciplina o despacho aduaneiro de mercadorias


destinadas à exportação traz no art. 4o as regras acerca da declaração da seguinte forma:

Uma declaração para despacho aduaneiro de exportação poderá


conter um ou mais registros de exportação, desde que estes se refiram,
cumulativamente: I - ao mesmo exportador; II - a mercadorias
negociadas na mesma moeda e na mesma condição de venda; e III -
às mesmas unidades da SRF de despacho e de embarque, conforme
definido no art. 7o.

O despacho aduaneiro se inicia com o registro da declaração no SISCOMEX, ou seja,


tem-se por iniciado o despacho de exportação na data em que a declaração formulada
pelo exportador receber numeração específica. E se confirma com a presença da carga
para fiscalização e entrega da documentação correspondente no local alfandegário ou
não alfandegário, que nesse caso se trata de locais especiais para despacho aduaneiro
de exportação.

Confirmação da presença da carga e recepção


dos documentos

Depois do registro da declaração para despacho, deverá ser confirmada a presença


da carga: I - em recinto alfandegado, pelo depositário; II - em Recinto Especial para
Despacho Aduaneiro de Exportação (Redex), quando de caráter permanente, pelo seu
administrador; e III - no local de despacho, pelo exportador, nos demais casos. (Art.
15-A da Instrução Normativa SRF no 28/1994).

A Instrução Normativa SRF no 28/1994 disciplina que o despacho aduaneiro de


mercadorias destinadas à exportação deve ser apresentado à unidade da SFR com
jurisdição sobre

I - o porto, o aeroporto ou o ponto de fronteira alfandegado, por onde a


mercadoria deixar o País: II - o local de Zona Secundária, alfandegado
ou não, indicado pelo exportador, onde se encontrar a mercadoria: ou
III - a unidade da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT de

159
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

postagem da remessa postal internacional, denominada Centralizador


Alfandegário.

O art. 15-B da Instrução Normativa SRF no 28/1994 disciplina que


“depois da confirmação da presença da carga, o exportador deverá
executar a função Envio de Declaração para Despacho Aduaneiro,
no SISCOMEX, no prazo de até 15 (quinze) dias contado do início do
despacho”. O prazo máximo de 15 anos possui a função de agilizar o
processo de exportação.

Parametrização e distribuição da declaração de


despacho de exportação

A parametrização e distribuição segue o padrão imposto pelo SISCOMEX que efetua


a fiscalização pelo método de amostragem informando inclusive qual carga deve ser
analisada e diante de um procedimento pela Secretária da Receita Federal, que observará
entre outros os pontos o volume, valor e a natureza da exportação, características da
mercadoria (origem e sua procedência), e regularidade fiscal do exportador. Dessa
forma, a operação poderá ser disponibilizada para um dos três canais existentes: verde,
laranja ou vermelho.

Por meio do Canal Verde, o SISCOMEX efetua o desembaraço aduaneiro de forma


automática, pois há a dispensa do exame documental e a verificação da mercadoria.
No canal laranja é realizado apenas o exame documental, dispensando-se a verificação
física da mercadoria. (Arts. 22 a 24 da Instrução Normativa SRF no 28, de 1994). No
canal vermelho a aduaneira realiza o exame físico da mercadoria arts. 25 a 28 da
Instrução Normativa SRF no 28, de 1994) e dos documentos. (Arts. 22 a 24 da Instrução
Normativa SRF no 28, de 1994).

Contudo, os despachos aduaneiros cujo documento é a base a Declaração Simplificada


de Exportação (DSE) podem ser parametrizados pelos canais verde ou vermelho de
conferência aduaneira. (Arts. 38 a 41 da Instrução Normativa SRF no 611, de 2006).

No caso do SISCOMEX determinar a análise pelos canais laranja e vermelho, os


respectivos despachos de exportações serão realizados pelos auditores fiscais, que após
análise procederá ao registro do desembaraço aduaneiro da mercadoria e habilita o
embarque com o efetivo registro dos dados do embarque.

160
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Desembaraço aduaneiro e registro dos dados de


embarque

A Instrução Normativa SRF no 28/1994 disciplina no art. 29 que “concluída a conferência


aduaneira sem exigência fiscal ou de outra natureza, ou tendo a declaração para despacho
sido selecionada para o canal verde, dar-se-á o desembaraço aduaneiro e a consequente
autorização para o trânsito da mercadoria, seu embarque ou transposição de fronteira”.
No entanto, caso haja “divergência ou infração não impeditiva do embarque ou da
transposição de fronteira da mercadoria, o desembaraço será realizado, sem prejuízo
da formalização de exigências, que deverão ser cumpridas antes da averbação, ou de
outras medidas legais cabíveis”.

A transposição de fronteira ou o embarque da mercadoria destinada à exportação


somente poderá ocorrer após o seu desembaraço e, quando for o caso, a conclusão de
trânsito aduaneiro, devendo ser realizado sob controle aduaneiro, ressalvado o disposto
no art. 36 descrito abaixo.

Assim dispõe o art. 36 da Instrução Normativa SRF no 28/1994

Art. 36. O transportador internacional de carga em trânsito aduaneiro


no modal aéreo poderá promover o embarque da mercadoria para o
exterior, dispensada a conclusão prévia do trânsito.

§ 1o A permissão prevista no caput condiciona-se à prévia apresentação


à unidade da SRF de embarque, pelo transportador internacional, dos
documentos instrutivos da declaração de exportação, acompanhados
de cópia da tela de confirmação do início do trânsito.

§ 2o O disposto no caput não se aplica à carga que tenha chegado à


unidade da SRF de embarque com indícios de avaria ou falta de
mercadoria ou violação dos elementos de segurança, caso aplicados.

§ 3o Na hipótese de que trata o § 2o, a carga deverá ser armazenada e


o despacho aduaneiro de exportação cancelado, facultado o início de
novo despacho.

§ 4o As cargas sob procedimento especial de trânsito aduaneiro


de exportação processado por via aérea deverão ser visivelmente
identificadas por fita laranja de no mínimo 10 cm de largura, com os
dizeres “Mercadoria em Trânsito de Exportação”.

161
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

§ 5o A unidade da SRF de destino definirá áreas físicas específicas a


serem destinadas às cargas sob procedimento especial de trânsito
aduaneiro de exportação processado por via aérea.

§ 6o O transportador deverá proceder ao registro dos dados de


embarque no SISCOMEX e manter em sua guarda, pelo prazo de cinco
anos, contado da data da chegada da aeronave em seu destino no
exterior, documentos públicos ou privados, emitidos no país de destino,
comprobatórios da entrega da mercadoria.

O transportador registrará os dados de embarque imediatamente depois de realizado o


embarque da mercadoria para o exterior, com base nos documentos por ele emitidos,
no prazo de sete (7) dias, contados da data da realização do embarque. Os parágrafos
do art. 37 da Instrução Normativa SRF no 28/1994 dispõem que:

§ 1o Na hipótese de embarque de mercadoria em viagem internacional,


por via rodoviária, ferroviária, fluvial ou lacustre, o registro de dados
do embarque, no SISCOMEX, será de responsabilidade do exportador
ou do transportador, e deverá ser realizado antes da apresentação da
mercadoria e do Envio de Declaração para Despacho Aduaneiro.

§ 2o Na hipótese de o registro da declaração para despacho aduaneiro


de exportação ser efetuado depois do embarque da mercadoria ou de
sua saída do território nacional, nos termos do art. 52, o prazo a que se
refere o caput será contado da data do registro da declaração.

§ 3o Os dados de embarque da mercadoria poderão ser informados


pela fiscalização aduaneira nas hipóteses estabelecidas em ato da
Coordenação-Geral de Administração Aduaneira (Coana).

Será admitido mais de um registro de embarque para o mesmo despacho de exportação


nos casos em que a mercadoria já desembaraçada não for transportada por um único
veículo na viagem internacional. (Art. 38 da Instrução Normativa SRF no 28/1994).

Poderá ocorrer ainda a Exportação em consignação, Exportação para uso e consumo


a bordo, a Exportação sem expectativa de recebimentos, Exportação com Margem
não Sacada ou sem Retenção Cambial e Exportação Destinada a Feiras, Exposições e
Certames Semelhantes.

Poderão ser admitidas exportações sem expectativa de recebimento, devendo o


pagamento de serviços, quando couber, serem processados por intermédio de
transferências financeiras. (Art. 202 da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011).

162
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

Segundo o art. 203 da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011, todos os produtos da


pauta de exportação brasileira são passíveis de venda em consignação, exceto aqueles
relacionados no Anexo XX Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011.

De acordo com o art. 204 da Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011.

Constitui-se em exportação, para os efeitos fiscais e cambiais previstos


na legislação vigente, o fornecimento de combustíveis, lubrificantes
e demais mercadorias destinadas a uso e consumo de bordo, em
embarcações ou aeronaves, exclusivamente de tráfego internacional, de
bandeira brasileira ou estrangeira.

Parágrafo único. Considera-se, para os fins deste artigo, o fornecimento de mercadorias


para consumo e uso a bordo, qualquer que seja a finalidade do produto a bordo,
devendo este se destinar exclusivamente ao consumo da tripulação e passageiros, ao
uso ou consumo da própria embarcação ou aeronave, bem como a sua conservação ou
manutenção.

A exportação com margem não sacada refere a seguinte regra da Portaria SECEX no 23,
de 14/7/2011:

Art. 206. Admite-se a exportação de produtos cujo contrato mercantil de


compra e venda determine que a liquidação da operação seja efetuada
após a sua verificação final no exterior, com base em certificados de
análise ou outros documentos comprobatórios, com ou sem cláusula de
retenção cambial.

§ 1o Estão relacionadas no Anexo XXI desta Portaria as mercadorias


passíveis de serem exportadas com retenção cambial e os percentuais
máximos admissíveis.

§ 2o O exportador deverá solicitar a alteração do valor constante no RE,


dentro de 360 (trezentos e sessenta) dias contados da data de embarque
e, nesse prazo, apresentar à SECEX ou instituição por ela credenciada a
documentação citada no caput.

§ 3o Findo o prazo indicado no § 2o, sem adoção por parte do exportador


das providências ali tratadas, o DECEX poderá bloquear a edição de
novos RE relativos à exportação nas condições tratadas neste artigo.

A Exportação Destinada a Feiras, Exposições e Certames Semelhantes é aquele onde


“a remessa de mercadoria ao exterior, com fins de promoção, obriga o exportador a
comprovar, no prazo máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias contados da data do

163
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

embarque, o seu retorno ao País ou, no caso de ocorrer à venda, efetivo recebimento de
moeda estrangeira na forma da regulamentação cambial vigente. (Art. 207 da Portaria
SECEX no 23, de 14/7/2011).

Averbação de embarque e emissão do


comprovante de exportação

A averbação é o ato final do despacho de exportação e consiste na confirmação, pela


fiscalização aduaneira, do embarque da mercadoria ou transposição da fronteira.

A Instrução Normativa SRF no 28/1994 dispõe acerca da averbação automática e da


não automática da seguinte forma:

Art. 48. Será automática a averbação do embarque ou da transposição


de fronteira: I - nos casos indicados no art. 45, após o desembaraço
da mercadoria ou da conclusão do trânsito aduaneiro; e II - nos
demais casos, após a confirmação do embarque da mercadoria, pelo
transportador, ou da sua transposição de fronteira, conforme definido
no inciso III do art. 39, quando os dados sobre a carga embarcada
informados, no Sistema, coincidirem com os da carga desembaraçada
pela fiscalização aduaneira. Parágrafo único. A averbação automática,
na forma deste artigo, não prejudica a apuração da responsabilidade,
por eventuais erros ou fraudes constatados após o desembaraço e o
embarque da mercadoria, e a aplicação, aos responsáveis, das sanções
administrativas, fiscais, cambiais e penais cabíveis.

Art. 49. Quando a averbação não se processar automaticamente, caberá à fiscalização


aduaneira realizá-la, com registro, no Sistema, das divergências constatadas. § 1o Para
proceder à averbação do embarque ou da transposição de fronteira da mercadoria,
na forma deste artigo, o AFTN deverá certificar-se da origem da divergência e, sem
prejuízo da adoção de outras medidas legais cabíveis: I - exigir, do transportador ou do
exportador, quando couber: a) a correção dos dados de embarque registrados no Sistema;
b) a apresentação dos documentos comprobatórios de correções nos documentos de
embarque; ou c) a correção dos documentos fiscais e comerciais que instruíram o
despacho; II - proceder ao registro da recepção dos novos documentos apresentados;
e III - proceder ao registro das divergências constatadas no despacho e no registro de
exportação correspondente. § 2o Nas exportações de mercadoria a granel, o laudo ou
certificado de mensuração produzido nos termos do art. 27 terá precedência sobre os
documentos de embarque, para efeito de controle das quantidades embarcadas. § 3o
Será dispensada a exigência de documentos adicionais ou retificadores nos casos em

164
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

que, embora havendo divergência no peso ou na quantidade de volumes da mercadoria


desembaraçada e embarcada, a quantidade da mercadoria embarcada, na unidade de
medida de comercialização, corresponder àquela desembaraçada, na mesma unidade
de medida.

A averbação será feita, no Sistema, após a confirmação do efetivo embarque da


mercadoria e do registro dos dados pertinentes pelo transportador.

Após averbação será fornecido ao exportador o documento comprobatório de exportação


se solicitado.

Em suma, o despacho segue o seguinte trâmite:

165
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Os incentivos fiscais brasileiros


Os incentivos fiscais podem ser classificados da seguinte forma: (a) Imunidade; (b)
Isenção; (c) Não incidência; (d) Ressarcimento de Créditos; (e) Manutenção de Créditos
e; (f) Drawback.

Os incentivos fiscais estão estabelecidos nas seguintes normas: Lei no 8.402/1992, Lei
no 12.546/2011 e o Decreto no 6.759/2009.

A Lei no 8.402/1992 estipula que:

Art. 1o São restabelecidos os seguintes incentivos fiscais:

I - incentivos à exportação decorrentes dos regimes aduaneiros especiais


de que trata o art. 78;

II - manutenção e utilização do crédito do Imposto sobre Produtos


Industrializados relativo aos insumos empregados na industrialização
de produtos exportados, de que trata o art. 5o do Decreto-Lei no 491, de
5 de março de 1969;

III - crédito do Imposto sobre Produtos Industrializados incidente


sobre bens de fabricação nacional, adquiridos no mercado interno e

166
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

exportados de que trata o art. 1o, inciso I, do Decreto-Lei no 1.894, de 16


de dezembro de 1981;

IV - isenção e redução do Imposto de Importação e Imposto sobre


Produtos Industrializados, a que se refere o art. 2o, incisos I e II, alíneas
(a) a (f), (h) e (j), e o art. 3o da Lei no 8.032, de 12 de abril de 1990;

V - isenção e redução do Imposto de Importação, em decorrência de


acordos internacionais firmados pelo Brasil;

VI - isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados na aquisição


de produto nacional por Lojas Francas, de que trata o art. 15, § 3o, do
Decreto-Lei no 1.455, de 7 de abril de 1976, com a respectiva manutenção
e utilização do crédito do imposto relativo aos insumos empregados na
sua industrialização;

VIII - isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados incidente


sobre aeronaves de uso militar e suas partes e peças, bem como sobre
material bélico de uso privativo das Forças Armadas, vendidos à União,
de que trata o art. 1o da Lei no 5.330, de 11 de outubro de 1967;

X - isenção do Imposto de Renda na Fonte incidente sobre as remessas


ao exterior de juros devidos por financiamentos à exportação, de que
tratam o art. 1o do Decreto-Lei no 815, de 4 de setembro de 1969, com a
redação dada pelo art. 87 da Lei no 7.450, de 23 de dezembro de 1985, e
o art. 11 do Decreto-Lei no 2.303, de 21 de novembro de 1986;

XI - isenção do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro,


ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários incidente sobre operações
de financiamento realizadas mediante emissão de conhecimento
de depósito e warrant representativos de mercadorias depositadas
para exportação em entrepostos aduaneiros, de que trata o art. 1o do
Decreto-Lei no 1.269, de 18 de abril de 1973;

XII - isenção do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro,


ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários incidente sobre operações
de financiamento realizadas por meio de cédula e nota de crédito à
exportação, de que trata o art. 2o da Lei no 6.313, de 16 de dezembro de
1975;

XIII - isenção do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro,


ou Relativas a Títulos ou Valores Mobiliários incidente sobre operações

167
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

de câmbio realizadas para o pagamento de bens importados, de que


trata o art. 6o do Decreto-Lei no 2.434, de 19 de maio de 1988;

XIV - não incidência da Contribuição para o Fundo de Investimento


Social (Finsocial) sobre as exportações, de que trata o art. 1o, § 3o, do
Decreto-Lei no 1.940, de 25 de maio de 1982.

XV - isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados para as


embarcações com a respectiva manutenção e utilização do crédito do
imposto relativo aos insumos empregados na sua industrialização, de
que trata o § 2o do art. 17 do Decreto-Lei no 2.433, de 19 de maio de 1988,
com a redação dada pelo Decreto-Lei no 2.451, de 29 de julho de 1988.

§ 1o É igualmente restabelecida a garantia de concessão dos incentivos


fiscais à exportação de que trata o art. 3o do Decreto-Lei no 1.248, de
29 de novembro de 1972, ao produtor-vendedor que efetue vendas de
mercadorias a empresa comercial exportadora, para o fim específico de
exportação, na forma prevista pelo art. 1o do mesmo diploma legal.

§ 2o São extensivos às embarcações, como se exportadas fossem,


inclusive às contratadas, os benefícios fiscais de que tratam os incisos I
a V deste artigo.

Segundo a Waterhouse (1992 apud FERREIRA), os incentivos fiscais às exportações


brasileiras são classificados quanto à: Isenção de pagamento de IPI; Isenção e não
incidência de ICMS; Suspensão de pagamento de IPI; Desoneração de PIS e COFINS;
Manutenção de créditos fiscais de IPI e de ICMS nas compras de insumos dos produtos
exportados; Importação sob regime de drawback.

A CF em seu artigo 153, parágrafo 3o, inciso III estipula que os produtos industrializados
destinados ao exterior são imunes a incidência do IPI.

O art. 155 da CF parágrafo 2o, inciso X, alínea a, prevê que os produtos


industrializados exportados possuem imunidade ao pagamento.

O art. 1o da Lei no 8.402/1992 assegura a manutenção e utilização dos


créditos de IPI relativos a matérias-primas, produtos intermediários e
materiais de embalagem utilizados em produtos exportados.

A Lei no 10.637/2002 em seu art. 5o disciplina que são isentos da


contribuição social para o Programa de Integração Social (PIS) e de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP), produtos e
serviços nacionais destinados à exportação.

168
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

O art. 1o da Lei no 9.363/1996 assegura à empresa produtora e exportadora


de mercadorias nacionais, a recuperação das contribuições PIS/PASEP
e COFINS incididas sobre insumo nacional utilizado em produto
exportado, como crédito presumido do IPI a título de ressarcimento
dos valores dessas contribuições, podendo ser utilizado para quitar
IPI ou ser transferido para qualquer estabelecimento da empresa para
efeito de compensação do IPI.

O Decreto-Lei no 37/1966 permite incentivos à exportação decorrentes de regime


aduaneiros especiais de que trata o art. 78, denominado Drawback que:

Poderá ser concedida, nos termos e condições estabelecidas no


regulamento: I - restituição, total ou parcial, dos tributos que
hajam incidido sobre a importação de mercadoria exportada após
beneficiamento, ou utilizada na fabricação, complementação ou
acondicionamento de outra exportada; II - suspensão do pagamento
dos tributos sobre a importação de mercadoria a ser exportada após
beneficiamento, ou destinada à fabricação, complementação ou
acondicionamento de outra a ser exportada; III - isenção dos tributos
que incidirem sobre importação de mercadoria, em quantidade e
qualidade equivalentes à utilizada no beneficiamento, fabricação,
complementação ou acondicionamento de produto exportado.

Há também a possibilidade de aplicação do Drawback que trata da possibilidade dos


estabelecimentos industriais ou equiparados dar saída com suspensão do imposto sobre
produtos industrializados às matérias primas, produtos intermediários e materiais
de embalagem, de fabricação nacional, vendidos a estabelecimento industrial, para
industrialização de produtos destinados à exportação (art. 1o do Decreto no 541/1992).
Contudo, só poderão ser utilizados no prazo de um ano, contado da aprovação do plano
de exportação, prorrogável uma única vez, por período idêntico.

É compatível com a CF a norma infraconstitucional que atribui a órgão integrante


do Poder Executivo da União à faculdade de estabelecer as alíquotas do Imposto
de Exportação?

Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto de exportação no momento


em que é efetivado o Registro de Exportação (RE) no Sistema Integrado de
Comércio Exterior (SISCOMEX), ou seja, no momento em que a empresa obtém o
RE. O registro no SISCOMEX é o conjunto de informações de natureza comercial,
financeira cambial e fiscal que caracterizam a operação de exportação de uma

169
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

mercadoria e definem seu enquadramento legal. Note-se que, com a instituição


do SISCOMEX, as guias de exportação e importação foram substituídas pelo
Registro de Exportação (RE) e Registro de Importação (RI), também foram criados
outros blocos de informações das diversas etapas como: Registro de Venda (RV),
Registro de Operação de Crédito (RC). Ao final desses procedimentos é expedido
o Comprovante de Exportação (CE) – que é o documento oficial emitido pelo
SISCOMEX, relacionando todos os registros de exportação objeto de um mesmo
despacho aduaneiro. Portanto, o Registro de Exportação (RE) é o único registro
indispensável para a efetivação de todas as operações de comércio, em torno
dele gravitam as demais etapas. No caso dos autos, o registro de exportação no
SISCOMEX foi posterior à vigência da Res. do BACEN no 2.136/1995. Portanto,
o imposto deve ser calculado com alíquota de 40%, como estabelecido nessa
resolução. Dessa forma, pouco importa considerações sobre a data da obtenção
do registro de venda. Isso posto, a Turma, ao prosseguir o julgamento, conheceu
em parte o recurso do contribuinte e, nessa parte, negou-lhe provimento.
Precedente citado: EDcl no REsp 225.730-PR, DJ 19/2/2001. REsp 964.151-PR, Rel.
Min. José Delgado, julgado em 22/4/2008. Fonte: Informativo STJ no 353

O Imposto sobre Produtos Industrializados não recai sobre a atividade de


industrialização, mas sobre o resultado do processo produtivo. Ou seja, incide
sobre a operação jurídica que envolve uma negociação que resulte na circulação
de uma mercadoria. Por acolher este entendimento, a 1a Turma do Tribunal
Regional Federal da 4a Região confirmou, na sessão de 26 de março, sentença
que julgou improcedente o pedido de desoneração de recolhimento de IPI feito
por uma rede varejista de Cascavel (PR). <http://s.conjur.com.br/dl/trf-mantem-
cobranca-ipi-rede-varejista.pdf>. Acesso em: 7 abr 2014.

ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente. Direito tributário na Constituição e


no STF. 17. Ed. Rio de Janeiro: Método, 2014.

DIAS, Reinado; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior. Teoria e Gestão. 3a


Ed. São Paulo: Atlas, 2012.

XIMENES, Fernando Braz. Principais controvérsias relativas aos impostos


federais. Âmbito Jurídico. Rio Grande, XV, n. 96, jan 2012. Disponível em: <http://
www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=11001&revista_caderno=26>. Acesso em: 4 abr 2014.

170
CAPÍTULO 5
Regimes Aduaneiros

A concepção de regime aduaneiro reside no fator de que cada Estado possui tratamento
tributário distinto a ser aplicado no comércio exterior, seja na exportação seja na
importação, determinando a cobrança dos direitos aduaneiros, incidentes sobre as
riquezas que ultrapassarem as fronteiras nacionais, na entrada e na saída.

O regime aduaneiro comum e a fiscalização


dos impostos incidentes sobre o comércio
exterior
O regime aduaneiro ou alfandegário consiste no conjunto de normas legais, usos e
costumes que rege as relações comerciais internacionais de um País, o denominado
comércio exterior, ou seja, é a forma legal porque se deve conduzir a administração
pública, acerca das importações e exportações de mercadorias, determinada segundo o
sistema fiscal adotado.

O regime aduaneiro visa à incidência e à arrecadação das rendas tributárias, que se


determina por regime instituído.

No regime comum de importação e de exportação de mercadorias ocorre, via de


regra, o pagamento de tributos. Assim, o regime aduaneiro comum (de importação e
de exportação) de mercadorias ocorre o pagamento de tributos, decorrentes de fatos
geradores determinados.

Mas o governo brasileiro criou mecanismos, regimes aduaneiros extraordinários, que


permitem a entrada ou a saída de mercadorias do território aduaneiro com suspensão
ou isenção de tributos. Esses mecanismos são denominados de: (a) Regimes Aduaneiros
Especiais (assim chamados por não se adequarem à regra geral do regime comum de
importação e de exportação, ocasionando isenção ou suspensão dos tributos) e (b)
Regimes Aduaneiros Aplicados em Áreas Especiais ou atípicos (criados para atender a
determinadas situações econômicas peculiares, de polos regionais e de certos setores
ligados ao comércio exterior).

171
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Regimes aduaneiros especiais


A nossa legislação permite vários regimes aduaneiros especiais: Trânsito Aduaneiro,
Admissão Temporária, Drawback, Entreposto Aduaneiro, Entreposto Industrial,
Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (RECOF), Exportação Temporária,
Depósito Aduaneiro de Distribuição (DAD), Regime Aduaneiro Especial de importação
de insumos destinados à industrialização por encomenda (RECOM), Regime Aduaneiro
Especial de exportação e importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de
lavra das jazidas de petróleo e de gás (REPETRO), Regime Aduaneiro Especial para
importação de petróleo bruto e seus derivados, para fins de exportação no mesmo
estado em que foram importados (REPEX).

Trânsito Aduaneiro

O regime de trânsito aduaneiro é o que permite o transporte de mercadoria sob controle


aduaneiro, de um ponto a outro do território aduaneiro, com suspensão de tributos ou
mesmo quando a mercadoria é destinada ao exterior. (Art. 73 do Decreto-Lei (DL) no
37/1966). O regime subsiste do local de origem ao local de destino e desde o momento
do desembaraço para trânsito aduaneiro pela unidade de origem até o momento em
que a unidade de destino certifica a chegada da mercadoria. (Art. 268 do Decreto no
4.543/2002).

São modalidades de operação de trânsito aduaneiro: (a) transporte de mercadorias


procedente do exterior, do ponto de descarga no território aduaneiro até o ponto onde
deve ocorrer outro despacho; (b) transporte de mercadoria nacional ou nacionalizada,
verificada ou despacha para exportação, do local de origem ao local de destino, para
embarque ou armazenamento em área aduaneira para posterior embarque; (c)
transporte de mercadoria estrangeira despachada para reexportação, do local de origem
ao local de destino, para embarque ou armazenamento em área aduaneira para posterior
embarque; (d) o transporte de mercadoria estrangeira de um recinto alfandegado situado
na zona secundária a outro; (e) passagem pelo território aduaneiro, de mercadorias
(inclui-se o transporte de materiais de uso, reposição, conserto, manutenção e reparo
destinados a embarcações, aeronaves e outros veículos, estrangeiros, estacionados
ou de passagem pelo território aduaneiro, o transporte de bagagem acompanhada de
viajante em trânsito; e o transporte de partes, peças e componentes necessários aos
serviços de manutenção e reparo de embarcações em viagem internacional.) procedente
do exterior e a ele destinada; (f) transporte, pelo território aduaneiro, de mercadoria
procedente do exterior, conduzida em veículo em viagem internacional até o ponto em
que se verificar a descarga e; (g) transporte, pelo território aduaneiro, de mercadoria

172
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

estrangeira, nacional ou nacionalizada, verificada ou despachada para reexportação e


conduzida em veículo com destino ao exterior. (Art. 270 do Decreto no 4.543/2002).

Percebe-se que os impostos incidentes sobre a operação serão recolhidos no território


aduaneiro de destino.

Poderá ser beneficiário do regime: I - o importador, nas modalidades (a) e (d) acima
descrita; o exportador, nas modalidades (b), (c) e (g) acima descrita; o depositante, na
modalidade (d) acima descrita; o representante, no País, de importador ou exportador
domiciliado no exterior, na modalidade (e) acima descrita; o permissionário ou o
concessionário de recinto alfandegado, exceto na modalidade (e) acima descrita e; em
qualquer caso: o operador de transporte multimodal, o transportador, habilitado na
forma da lei, o agente credenciado a efetuar operações de unitização ou desunitização
da carga em recinto alfandegado.

O termo de responsabilidade para garantia de transporte de mercadoria conterá


os registros necessários a assegurar a eventual liquidação e cobrança de tributos e
gravames cambiais. A mercadoria cuja chegada ao destino não for comprovada ficará
sujeita aos tributos vigorantes na data da assinatura do termo de responsabilidade.
Considerada a natureza do meio de transporte (terrestres, aquaviário ou aéreo)
utilizado, o regulamento poderá estabelecer outras medidas de segurança julgadas
úteis a permitir, no ponto de destino ou de saída do território aduaneiro, a identificação
da mercadoria. É facultado à autoridade aduaneira exigir que o despacho de trânsito
seja efetuado com os requisitos exigidos no despacho de importação para consumo.
(Art. 74 do DL no 37/1966). O transportador de mercadoria submetida ao regime de
trânsito aduaneiro responde pelo conteúdo dos volumes. As obrigações fiscais relativas
à mercadoria, no regime especial de trânsito aduaneiro, serão constituídas em termo de
responsabilidade firmado na data do registro da declaração de admissão no regime, que
assegure sua eventual liquidação e cobrança. (Art. 272 do DL no 37/1996).

Admissão Temporária

O regime aduaneiro especial de admissão temporária com suspensão total do pagamento


de tributos permite a importação de bens que devam permanecer no País durante prazo
fixado, após o que serão reexportadas. (Art. 75 do DL no 37/1996).

Para a aplicação e concessão do regime, a autoridade aduaneira deverá observar o


cumprimento cumulativo das seguintes condições: (a) importação em caráter temporário,
comprovada esta condição por qualquer meio julgado idôneo; (b) importação sem
cobertura cambial; (c) adequação dos bens à finalidade para a qual foram importados;

173
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

(d) constituição das obrigações fiscais em termo de responsabilidade; e (e) identificação


dos bens (art. 310 do Decreto no 4.543/2002).

Caso a mercadoria for disponibilizada ao consumo interno haverá a incidência dos


tributos devidos, como na importação comum.

No caso de utilização econômica do bem, a tributação incidirá de maneira proporcional


entre a vida útil do bem e o prazo de permanência da mercadoria no país.

Drawback

O regime de drawback é considerado incentivo à exportação e pode ser aplicado


nas seguintes modalidades: (a) suspensão do pagamento dos tributos exigíveis
na importação de mercadoria a ser exportada após beneficiamento ou destinada
à fabricação, complementação ou acondicionamento de outra a ser exportada;
(b) isenção dos tributos exigíveis na importação de mercadoria, em quantidade e
qualidade equivalente à utilizada no beneficiamento, fabricação, complementação ou
acondicionamento de produto exportado; e (c) restituição, total ou parcial, dos tributos
pagos na importação de mercadoria exportada após beneficiamento, ou utilizada na
fabricação, complementação ou acondicionamento de outra exportada.

O regime de drawback poderá ser concedido a: (a) mercadoria importada para


beneficiamento no País e posterior exportação; (b) matéria-prima, produto
semielaborado ou acabado, utilizados na fabricação de mercadoria exportada, ou a
exportar; (c) peça, parte, aparelho e máquina complementar de aparelho, de máquina,
de veículo ou de equipamento exportado ou a exportar; (d) mercadoria destinada à
embalagem, ao acondicionamento ou à apresentação de produto exportado ou à
exportar, desde que propicie comprovadamente uma agregação de valor ao produto
final; ou (e) animais destinados ao abate e posterior exportação.

O art. 336, parágrafo 1o e 2o do Decreto no 4.543/2002 dispõe que:

§ 1o O regime poderá ainda ser concedido:

I - para matéria-prima e outros produtos que, embora não integrando


o produto exportado, sejam utilizados na sua fabricação em condições
que justifiquem a concessão; ou

II - para matéria-prima e outros produtos utilizados no cultivo de


produtos agrícolas ou na criação de animais a serem exportados,
definidos pela Câmara de Comércio Exterior.

174
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

§ 2o Na hipótese do inciso II do § 1o, o regime será concedido:

I - nos limites quantitativos e qualitativos constantes de laudo técnico


emitido nos termos fixados pela Secretaria da Receita Federal, por
órgão ou entidade especializada da Administração Pública federal; e

II - a empresa que possua controle contábil de produção em conformidade


com as normas editadas pela Secretaria da Receita Federal.

Não são amparadas pelo regime drawback as importações de mercadoria utilizada


na industrialização de produto destinado ao consumo na Zona Franca de Manaus e
em áreas de livre comércio, na exportação ou importação suspensa ou proibida, na
exportação contra pagamento em moeda nacional, na importação de petróleo e seus
derivados e na exportação conduzida em moeda-convênio ou outras não conversíveis,
contra importações cursadas em moeda de conversibilidade.

A legislação prevê três modalidades de aplicação do drawback: a suspensão, a isenção


e restituição (art. 338 a 351 do Decreto no 4.543/2002).

Entreposto aduaneiro

É o regime que permite o depósito de mercadorias em recinto alfandegário, com


suspensão do pagamento de tributos e sob o controle fiscal. Podem ser admitidas
mercadorias destinadas à importação, à exportação, à demonstração e à teste de
funcionamento, à industrialização e à manutenção ou reparo.

Na importação, permite a armazenagem de mercadorias em local alfandegário com


suspensão de tributos incidentes, pelo período de até um ano prorrogável por período
não superior a dois anos no total. A contagem deve se ter início na data do desembaraço
alfandegário de admissão. Após o prazo de dois anos, as mercadorias não levantadas
serão consideradas como abandonadas e terá o seguinte destino: despacho para
consumo; exportação; transferência para outro regime aduaneiro e; reexportação
(VAZQUEZ, 2004, p. 231).

Na exportação, há duas modalidades: (a) comum e (b) extraordinária. O regime comum


permite o depósito de mercadorias contemplando a suspensão do regime de pagamento
dos impostos, por um ano, prorrogável por período não superior a dois anos no total. No
regime extraordinário faculta ao beneficiário o uso de benefícios fiscais previstos para o
incentivo à exportação, antes do seu efetivo embarque para o exterior, no prazo de 180
dias (VAZQUEZ, 2004, p. 232). Somente poderá ser outorgada a empresa comercial
exportadora constituída na forma da legislação específica.

175
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

O entreposto aduaneiro na exportação subsiste: (a) na modalidade de regime comum,


a partir da data de entrada da mercadoria na unidade de armazenagem e; (b) na
modalidade de regime extraordinário, a partir da data de saída da mercadoria do
estabelecimento do produtor-vendedor.

No decorrer do prazo regulamentar previsto para cada modalidade de entreposto, o


beneficiário do entreposto aduaneiro deverá iniciar o despacho aduaneiro de exportação
ou reintegrá-lo ao estoque no seu estabelecimento.

Por fim, cabe ressaltar que a autoridade aduaneira poderá exigir, a qualquer tempo, a
apresentação da mercadoria submetida ao regime de entreposto aduaneiro, bem assim
proceder aos inventários que entender necessários.

Regimes aduaneiros aplicados em áreas


especiais ou atípicos
São regimes aduaneiros em áreas especiais ou atípicos; Zona Franca de Manaus.
Exportação temporária. Loja franca. Deposito especial. Depósito alfandegado
certificado. Depósito afiançado. Depósito franco. Depósito aduaneiro de distribuição.
Exportação temporária para aperfeiçoamento passivo. Áreas de livre comércio. Zona de
Processamento de Exportação (ZPE).

Zona Franca de Manaus (ZPM)

É uma área de livre comércio de importação e de exportação e de incentivos fiscais


especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro
industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam
seu desenvolvimento, em face de fatores locais e da grande distância que se encontram
os centros consumidores de seus produtos. (Art. 452 do Decreto no 4.543/2002).

As mercadorias estrangeiras não industrializadas na Zona Franca de Manaus, quando


dela saírem para qualquer ponto do território nacional, ficam sujeitas ao pagamento de
todos os impostos, como se fosse uma mercadoria comum.

As mercadorias produzidas na ZFM seja para o consumo interno como também para
outros pontos do País, gozam da isenção do IPI.

Não se aplica as isenções no caso de importação de arma e munições, fumo, bebidas


alcoólicas, automóveis de passageiros, produtos de perfumaria ou de toucador,
preparados e preparações cosméticas, exceto quando forem destinadas exclusivamente

176
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

para o consumo interno na ZFM, ou quando forem produzidas com utilização de


matérias-primas da fauna e flora regional, em conformidade com o processo produtivo
básico. (Art. 453 do Decreto no 4.543/2002).

Exportação temporária

Permite a saída para o exterior de mercadoria nacional ou nacionalizada, sob a condição


de retornar, em prazo determinado, no mesmo estado ou depois de submetida a processo
de conserto, reparo ou restauração. Pelo prazo máximo de um ano prorrogável por
período igual.

Poderão ser admitidos nesses regimes os bens cuja exportação esteja voltada para
atender a interesses esportivos, artísticos, culturais, científicos, comerciais e industriais,
e, dessa forma, a saída do País de tais itens pode ter destinações diversas, tais como
feiras, exposições, congressos etc.

O beneficiário deve assinar um termo pelo qual se responsabiliza pelo retorno no


território nacional das mercadorias exportadas temporariamente, caso não voltem
deve incidir os tributos aplicáveis à importação (VAZQUEZ, 2004, p. 239).

Não se sujeito ao regime os bens compreendidos no termo bagagem que nessa condição
saiam do País.

Exportação temporária para aperfeiçoamento passivo

É o regime que permite “a saída, do País, por tempo determinado, de mercadoria nacional
ou nacionalizada, para ser submetida à operação de transformação, à elaboração,
beneficiamento ou montagem, no exterior, e à posterior reimportação, sob a forma do
produto resultante, com pagamento dos tributos sobre o valor agregado”. Também se
aplica o regime, na saída do país de mercadoria nacional ou nacionalizada para ser
submetida ao processo de conserto, reparo ou restauração. (Art. 93 do Decreto-lei no
37, de 1966).

O crédito correspondente aos impostos incidentes na exportação será constituído em


termo de responsabilidade, ficando seu pagamento suspenso pela aplicação do regime.

O prazo para importação dos prazos resultantes da operação de aperfeiçoamento será


fixado tendo em conta o período necessário à realização da respectiva operação e ao
transporte de mercadoria (VAZQUEZ, 2004, p. 240).

177
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Loja franca

É o regime que permite a estabelecimento instalado em zona primária de porto ou


aeroporto alfandegário vender mercadoria nacional ou estrangeira ao passageiro em
viagem internacional, contra pagamento em cheque viagem ou em moeda estrangeira
conversível. (Art. 421 do Decreto no 4.543/2002).

O regime será outorgado somente às empresas selecionadas mediante concorrência


pública e habilitadas pela Secretária da Receita Federal. (Art. 15 do Decreto no
1.455/1976).

As mercadorias negociadas nas lojas francas permanecem depositadas nesses locais


com a suspensão de tributos e sob controle fiscal. No ato da venda, a suspensão de
tributos converte-se em isenção.

A importação para admissão no regime, inclusive a que se encontra em depósito


alfandegário certificado, será feita em consignação, e o pagamento a consignante no
exterior será permitido somente depois da venda da mercadoria na loja franca efetivada.

Depósito Especial (DE)


É o regime que permite a estocagem de partes, peças e componentes e materiais de
reposição ou manutenção, com a suspensão do pagamento de impostos, para veículos,
máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos, estrangeiros, nacionalizados
ou não, nos casos definidos pelo Ministério da Fazenda. (Art. 428 do Decreto no
4.543/2002).

As operações de importação devem ser realizadas sem cobertura cambial. As mercadorias


subordinadas ao regime permanecerão no território nacional pelo prazo máximo de
cinco anos.

As mercadorias só estarão nesse regime aduaneiro se for para: I - Transporte; II - Apoio


à produção agrícola; III - Construção e manutenção de rodovias, ferrovias, portos,
aeroportos, barragens e serviços afins; IV - Pesquisa, prospecção e exploração de
recursos minerais; V - Geração e transmissão de som e imagem; VI - Diagnose, cirurgia,
terapia e pesquisa médicas, realizadas por hospitais, clínicas de saúde e laboratórios;
VII - Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica; e VIII - Análise e pesquisa
científica, realizada por laboratórios.

178
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

O controle alfandegário da entrada, permanência e saída desses itens deve ser


informatizado, mediante a utilização de software que deverá obedecer aos parâmetros
da Receita Federal do Brasil.

O depósito especial será extinto a partir da realização das seguintes providências:


exportação ou reexportação do bem, transferência para outro regime aduaneiro especial
ou especial aplicada em áreas especiais, o despacho para consumo, ou ainda a sua
respectiva destruição, a expensas do beneficiário do regime (VAZQUEZ, 2004, p. 247).

Depósito Alfandegado Certificado (DAC)

O art. 441 do Decreto no 4.543/2002 disciplina o regime de depósito alfandegado


certificado é o que permite considerar exportada, para todos os efeitos fiscais, creditícios
e cambiais, a mercadoria nacional depositada em recinto alfandegado, vendida a pessoa
sediada no exterior, mediante contrato de entrega no território nacional e à ordem do
adquirente.

A Portaria SECEX no 23, de 14/7/2011 no art. 208 estipula que “o Depósito Alfandegado
Certificado (DAC) é o regime que admite a permanência, em local alfandegado do
território nacional, de mercadoria já comercializada com o exterior e considerada
exportada, para todos os efeitos fiscais, creditícios e cambiais, devendo, portanto, a
operação ser previamente registrada no SISCOMEX”.

Somente será admitida no Depósito alfandegário certificado a mercadoria vendida


mediante o contrato delivery under customs Bond, convencionadas entre exportador
e importador (VAZQUEZ, 2004, p. 249), pelo prazo máximo de um ano, contado da
emissão do conhecimento de depósito alfandegário.

Art. 209. Somente será admitida no DAC a mercadoria vendida mediante


contrato DUB (delivered under customs bond) ou DUB compensado.

§ 1o O preço na condição de venda DUB compreende o valor da


mercadoria, acrescido das despesas de transporte, de seguro, de
documentação e de outras necessárias ao depósito em local alfandegado
autorizado e à admissão no regime.

§ 2o O preço na condição de venda DUB compensado consiste no


valor da mercadoria posta a bordo do navio, entregue no aeroporto
ou na fronteira, devendo o exportador ressarcir o representante, em
moeda nacional, por despesas incorridas posteriormente à emissão do

179
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Certificado de Depósito Alfandegado e até a saída do território nacional,


inclusive por aquelas relativas ao período de depósito.

Art. 210. Ficam excluídas deste regime as mercadorias com exportação


suspensa ou proibida e, quaisquer que sejam os produtos envolvidos, as
operações em consignação ou sem expectativa de recebimento.

Art. 211. Na exportação de mercadoria integrante de acordo bilateral, o


embarque para o país de destino deverá ser processado dentro do prazo
fixado no RE.

Art. 212. Na exportação de mercadoria beneficiada pelo Sistema Geral de


Preferências, a emissão de certificado de origem “Formulário A” ocorrerá
na ocasião do embarque para o exterior, mediante a apresentação
de cópia da nota de expedição e do conhecimento internacional de
transporte, observado o contido na Seção XX deste Capítulo.

A extinção da aplicação do regime será feita mediante: I - a comprovação do efetivo


embarque, ou da transposição da fronteira, da mercadoria destinada ao exterior; II
- o despacho para consumo; ou III - a transferência para um dos seguintes regimes
aduaneiros: Loja franca, Drawback, admissão temporária, inclusive para as atividades
de pesquisa e exploração de petróleo e seus derivados, entreposto aduaneiro ou regime
aduaneiro especial para importação de insumos destinados a industrialização por
encomenda de produtos classificados no RECOM.

Depósito Afiançado (DAF)


É o regime “que permite a estocagem, com suspensão do pagamento de impostos, de
materiais importados sem cobertura cambial, destinados à manutenção e ao reparo
de embarcação ou de aeronave pertencentes à empresa autorizada a operar no
transporte comercial internacional, e utilizadas nessa atividade”. (Art. 436 do Decreto
no 4.543/2002).

A autorização poderá ser concedida a empresa responsável pela operação de transporte


rodoviário, aquaviário e aéreo. Prazo máximo de concessão de cinco anos, contados da
data do desembaraço aduaneiro na importação.

Esse regime subsiste a partir da admissão, até a sua extinção, que se dará nos casos
em que a mercadoria tenha uma das seguintes informações: (a) aplicação em serviço
de manutenção e reparo de aeronaves; (b) reexportação, inclusive quando integrar
mercadoria destinada a consumo de bordo; (c) destruição, mediante autorização do

180
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

consignante, a expensas do beneficiário do regime e sob controle aduaneiro. (VAZQUEZ,


2004, p. 249).

Depósito franco

O regime aduaneiro especial de depósito franco “é o que permite, em recinto alfandegado,


a armazenagem de mercadoria estrangeira para atender ao fluxo comercial de países
limítrofes com terceiros países”. (Art. 447 do Decreto no 4.543/2002).

Sua operação é permitida somente quando autorizada em acordo, convênio, tratado,


convenção internacional firmado pelo Brasil.

Será obrigatória a verificação da mercadoria admitida no regime: (a) cuja


permanência no recinto ultrapasse o prazo estabelecido pela Secretaria da Receita
Federal; ou (b) quando houver fundada suspeita de falsa declaração de conteúdo.
(VAZQUEZ, 2004, p. 250).

Depósito aduaneiro de distribuição (DAD)

É o regime que permite, mediante termo de responsabilidade, o entrepostamento de


mercadorias estrangeiras importadas sem cobertura cambial e destinadas à exportação,
à reexportação para terceiros países e a despacho para consumo. (Art. 2o da Portaria no
720/1992 do Ministério da Fazenda).

Poderão ser beneficiárias as empresas industriais estabelecidas no País e que demonstrem


ocupar lugar de destaque na economia nacional, ou que sejam beneficiárias habituais
do regime de Drawback ou do RECOF.

No regime somente são admissíveis mercadorias de mesma marca adotada pela


beneficiária no Brasil, produzidas e comercializadas por empresas sediadas no exterior
e vinculados ao beneficiário.

O prazo de permanência será de até um (01) ano, prorrogável por igual período. Em
situações especiais e mediante anuência expressa do fornecedor estrangeiro, poderá ser
concedida nova e última prorrogação, respeitado o limite máximo de 3 anos. (Portaria
no 720/1992 do Ministério da Fazenda).

Áreas de Livre Comércio (ALC)

Constituem áreas de livre comércio de importação e de exportação “as que, sob regime
fiscal especial, são estabelecidas com a finalidade de promover o desenvolvimento de

181
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

áreas fronteiriças específicas da Região Norte do País e de incrementar as relações


bilaterais com os países vizinhos, segundo a política de integração latino-americana”.
(Art. 472 do Decreto no 4.543/2002).

Trata-se de uma área demarcada, contínua, cuja finalidade é promover o comércio de


importação exportação, com regime fiscal especial, incentivando o desenvolvimento da
região onde for demarcada.

São áreas de livre de comércio: Tabatinga (AM), Guajará-Mirim (RO), Pacaraima


(RR), Bonfim (RR), Macapá (AP), Santana (AP), Brasileia (AC), Epitaciolândia (AC) e
Cruzeiro do Sul (AC).

Assim, a finalidade desse regime é promover o desenvolvimento regional.

Zona de Processamento de Exportação (ZPE)

As Zonas de processamento de exportação são áreas de livre comércio estabelecidas


em locais destinados à instalação de Indústria voltada exclusivamente para a produção
de bens destinados à comercialização no exterior, não apenas de forma a corrigir os
desequilíbrios regionais, como também fortalecer o balanço de pagamentos e promover
a difusão tecnológica.

As empresas localizadas dentro da zona de processamento de exportação possui um


regime aduaneiro e cambial especial. De acordo com a legislação em vigor, as empresas
instaladas em Zonas de Processamento de Exportação (ZPE), caracterizadas como áreas
de livre comércio com o exterior, podem vender produtos para o mercado interno.

São as seguintes as zonas criadas: Senador Guiomard (AC), Ilhéus (BA), Pecém (CE),
Aracruz (ES), Vila Velha (ES), São Luís (MA), Teófilo Otoni (MG), Uberaba (MG),
Bataguassu (MS), Corumbá (MS), Cáceres (MT), Barcarena (PA), João Pessoa (PB),
Suape (PE), Parnaíba (PI), Itaguaí (RJ), Assú (RN), Macaíba (RN), Boa Vista (RR),
Rio Grande (RS), Imbituba (SC), Barra dos Coqueiros (SE), Fernandópolis (SP) e
Araguaína (TO).

É vedada a instalação em ZPE de empresas cujos projetos evidenciem a simples


transferência de plantas industriais já instaladas no País. Não serão autorizadas, em
ZPE, a produção, a importação ou exportação de: I - armas ou explosivos de qualquer
natureza, salvo com prévia autorização do Comando do Exército; II - material radioativo,
salvo com prévia autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); e III
- outros indicados em regulamento. (Art. 5o da Lei no 11508/2013).

182
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

As importações ou as aquisições no mercado interno de bens e serviços por empresa


autorizada a operar em ZPE terão suspensão da exigência dos seguintes impostos e
contribuições: (a) Imposto de Importação; (b) Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI); (c) Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins; (d)
Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social devida pelo Importador
de Bens Estrangeiros ou Serviços do Exterior – Cofins-Importação; (e) Contribuição
para o PIS/Pasep; (f) Contribuição para o PIS/Pasep-Importação; e (g) Adicional de
Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRM). (Art. 6-A da Lei no 11.508/2013).

Processo civil. Recurso especial representativo de controvérsia. Artigo 543-


c, do CPC. Tributário. Regime de drawback. Desembaraço aduaneiro. Certidão
Negativa de Débito (CND). Inexigibilidade. Artigo 60, da Lei no 9.069/1995. 1.
Drawback é a operação pela qual a matéria-prima ingressa em território nacional
com isenção ou suspensão de impostos, para ser reexportada após sofrer
beneficiamento. 2. O artigo 60, da Lei no 9.069/1995, dispõe que: “a concessão
ou reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal, relativos a
tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal
fica condicionada à comprovação pelo contribuinte, pessoa física ou jurídica,
da quitação de tributos e contribuições federais”. 3. Destarte, ressoa ilícita a
exigência de nova certidão negativa de débito no momento do desembaraço
aduaneiro da respectiva importação, se a comprovação de quitação de tributos
federais já fora apresentada quando da concessão do benefício inerente às
operações pelo regime de drawback. (Precedentes das Turmas de Direito Público:
REsp 839.116/BA, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 21/8/2008,
DJe 1/10/2008; REsp 859.119/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma,
julgado em 6/5/2008, DJe 20/5/2008; e REsp 385.634/BA, Rel. Ministro João
Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 21/2/2006, DJ 29/3/2006). 4.
Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C,
do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (STJ - REsp: 1041237 SP 2008/0060462-1,
Relator: Ministro Luiz Fux, Data de Julgamento: 28/10/2009, S1 - Primeira Seção,
Data de Publicação: DJe 19/11/2009).

Explique o Regime de drawback.

Administrativo. Aduaneiro. Agravo retido em face de liminar. Prolação de sentença.


Prejudicado. Liminar satisfativa. Perda de objeto. Não ocorrência. Regime de
admissão temporária com suspensão total de tributos. Decreto no 4.543/2002.
Decreto-Lei no 37/1966. Importação de joias. Exposição. Não caracterizada.
Finalidade de comercialização da mercadoria. 1. A decisão de indeferimento

183
UNIDADE II │ REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR

da liminar, objeto de inconformismo da União no bojo do agravo retido, foi


substituída por sentença, não mais subsistindo interesse recursal, ficando
prejudicado o conhecimento desse recurso. 2. A liminar satisfativa ou a extinção
do regime de admissão temporária, com a reexportação não mercadoria, não
implica perda de objeto de mandado de segurança, pois apenas a sentença de
mérito tem aptidão de gerar coisa julgada formal e material. Remanesce hígido
o interesse processual da impetrante em ter sua pretensão analisada pelo Poder
Judiciário. Precedentes. 3. A admissão temporária é regime aduaneiro especial
que permite a importação de bens com prazo determinado de permanência no
País, nos termos do art. 307 do Regulamento Aduaneiro (Decreto no 4.543/2002). 4.
Embora haja possibilidade de nacionalização da mercadoria, não se pode perder
de vista a finalidade precípua desse regime aduaneiro especial, inequivocamente
orientador a beneficiar com a dispensa da obrigação de recolhimento de tributos
situações nas quais o importador objetive, desde o início da operação, manter o
bem em território nacional por período determinado, empregando-o de acordo
com as finalidades pormenorizadas pelo regramento aplicável. 5. Descabida a
utilização do regime de admissão temporária nos casos em que o importador,
de antemão, pretenda nacionalizar o bem, ou seja, quando seu propósito
manifesto seja comercializar o produto importado, ocorrendo a reexportação
da mercadoria tão somente quando fracassam seus esforços em encontrar um
comprador em território nacional. 6. As peculiaridades do caso posto a deslinde
demonstram que a alegada exposição que motivaria o pedido de ingresso
dos bens sob regime de admissão temporária não se amolda aos conceitos e
objetivos vazados nas normas aduaneiras. Ademais, demonstrada, na hipótese,
o propósito da impetrante de comercializar os bens, inviável a concessão do
regime aduaneiro pleiteado. 7. Agravo retido prejudicado e apelação improvida.
(TRF-3 - AMS: 2843 SP 0002843-45.2007.4.03.6119, Relator: Juiz Convocado
Herbert de Bruyn, Data de Julgamento: 26/9/2013, Sexta Turma).

Administrativo. Desembaraço aduaneiro de mercadorias importadas. Regime


de admissão temporária. Interrupção. Revogação do alfandegamento de porto.
Direito à conclusão do trânsito aduaneiro regularmente iniciado no local de
origem. Apelação e remessa necessária desprovidas. Cuida-se de remessa
necessária e de apelação cível alvejando sentença que, nos autos de mandado
de segurança, determinou a liberação de mercadorias em regime aduaneiro de
admissão temporária, regularmente processadas pela autoridade alfandegária
do Rio de Janeiro, mas retidas pela Receita Federal de Campos, em virtude do
esgotamento do prazo de alfandegamento do porto de Imbetiba, localizado
no município de Macaé. – Conforme se depreende dos autos, em 29/4/1999,

184
REGRAMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR │ UNIDADE II

em cumprimento à determinação do Secretário da Receita Federal (fls 207), no


processo no, a Petrobras S.A comunicou às empresas contratadas, entre elas a
impetrante (fls. 206), que, em virtude da não prorrogação do alfandegamento
provisório do Porto de Imbetiba, localizado em Macaé/ RJ, deveriam providenciar
os meios necessários para que fossem concluídos os trânsitos com mercadorias
estrangeiras destinadas às embarcações em regime de admissão temporária no
país, em operação na Bacia de Campos. – No entanto, alega a impetrante que
apesar de tal determinação, o trâmite aduaneiro das mercadorias constantes
nas DTA’s, objeto do processo, não poderia ser interrompido, uma vez que estas
já haviam sido liberadas pelas autoridades alfandegárias do Rio de Janeiro, e
que, de acordo com Decreto no 91.030/1985, o regime de trânsito aduaneiro
tem início no porto de origem e completa-se com o desembaraço aduaneiro no
local de destino. - Com efeito, em nenhum momento a autoridade impetrada
apontou irregularidade no trâmite aduaneiro dos equipamentos constantes nas
DTA’s em questão que pudesse justificar a sua retenção. Dessa forma, assiste
razão à impetrada quanto ao direito de liberação das mercadorias importadas,
uma vez que o regime de trânsito aduaneiro já havia sido iniciado quando
do esgotamento do prazo de alfandegamento do porto no local de origem.
– Conforme assinalado na sentença, “a autoridade impetrada não apontou
nenhuma irregularidade na importação já alfandegada. Apenas desculpou-
se como pôde diante da determinação superior. Óbvio, entretanto, que a
retenção dos bens regularmente importados impedindo a conclusão do trânsito
aduaneiro não podia ser feita só porque, no meio do caminho, o Secretário da
Receita Federal resolveu indeferir a prorrogação do prazo de alfandegamento
em Macaé.” – Recurso e remessa desprovidos.

(TRF-2 - AMS: 20567 RJ 97.02.36798-0, Relator: Desembargadora Federal Vera


Lucia Lima, Data de Julgamento: 13/8/2008, Quinta Turma Especializada, Data
de Publicação: DJU - Data: 20/8/2008 – p. 107).

MEIRA, Liziane. Tributos do comércio exterior. São Paulo: Saraiva, 2012.

MEIRA, Liziane. Tributos sobre o comércio exterior de bens. Tese apresentada


na Universidade Católica de São Paulo para obtenção do título de Doutora em
Direito. TV Justiça Programa Acadêmica. Publicado em: 16/9/2013. Disponível
em: <http://www.youtube.com/watch?v=ykI0sgfy-00>. Acesso em: 7 abr. 2014.

SANTOS, Carlos André dos. Regime aduaneiro especial do Repetro. Requisitos,


condições e cuidados especiais. Jus Navigandi. Teresina, ano 16, n. 2907, 17 jun.
2011. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/19341>. Acesso em: 7 abr. 2014.

185
Para (não) Finalizar

O Estudo do Direito dos contratos internacionais mostra que as transferências de bens


de um país para outro têm sido a forma motriz do comércio internacional.

O contrato internacional elaborado conjuntamente pelos contratantes será sempre


melhor do que aquele imposto pela parte mais forte. A elaboração cuidadosa do contrato
evita no futuro problemas como o inadimplemento ou má execução.

Isso ocorre porque os contratantes podem estar em lugares diferentes ou mesmo


escolher que uma lei estrangeira irá regular o contrato, o que muitas das vezes pode
gerar problemas na interpretação e aplicação do direito pelo órgão julgador que pode
ser tanto uma jurisdição estatal como arbitral.

Nesse espectro,, a boa e adequada redação das cláusulas contratuais podem auxiliar o
cumprimento do contrato.

Cada relação internacional normalmente envolve o fato de que algumas mercadorias


irão entrar ou sair de um determinado Estado, necessitando serem transportadas de
um lugar ao outro.

O transporte das mercadorias poderá ser tanto marítimo, aéreo e terrestre, que irá
incidir sempre algum risco pelo transporte. Nessa ideia de risco temos os Incoterms que
são responsáveis pela atribuição de quem assume a responsabilidade pelo transporte, o
importador ou o exportador, o que dependerá do Incoterms adotado.

De outra parte, quando uma mercadoria entra ou sai de um determinado país teremos
a incidência dos tributos de exportação e importação.

E para tanto a legislação brasileira impõe diversas regras acerca do assunto, hora dando
incidência outra excluindo a possibilidade da cobrança do imposto.

Tudo dependendo do regime aduaneiro adotado pelo Estado e da linguagem adotada


pelas regras legais, pois a concepção de regime aduaneiro reside no fator de que cada
Estado possui tratamento tributário distinto a ser aplicado no comércio exterior, seja
na exportação seja na importação, determinando a cobrança dos direitos aduaneiros,
incidentes sobre as riquezas que ultrapassarem as fronteiras nacionais, na entrada e na
saída.

186
Referências

ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. 2. ed. São Paulo:


Método, 2008.

ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito tributário na Constituição e


no STF. 17. Ed. Rio de Janeiro: Método, 2014.

ALPA, Guido, Rischio Conttratuale. Enciclopédia del Diritto. Milão, Guiffrè Ed.,
1989, 1144-1158, vol. XL.

AMARAL, Francisco. Direito civil: Introdução. 6a ed. rev. atual. e aum. Rio de Janeiro:
Renovar, 2006.

AQUINO, Leonardo Gomes de. A cláusula de Hardship no contrato


internacional. Dissertação de Mestrado na área de Ciências Jurídico-Empresariais,
pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. 2003.

________, Leonardo Gomes de. Hardship: o mecanismo de alteração contratual. Jus


Navigandi. Teresina, ano 9, no 257, 21mar. 2004. Disponível em: <http://jus.com.br/
artigos/4922>. Acesso em: 24 mar. 2014.

________, Leonardo Gomes de. A internacionalidade do contrato. Doutrinas


essenciais de direito internacional. Luiz Otavio Baptista e Valério de Oliveira
Mazzuoli (coord). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, pp. 737-767, vol. 7.

________, Leonardo Gomes de. Direito & internet: uma questão de congruência.
Conteúdo jurídico, Brasilia-DF: 24 abr. 2009. Disponível em: <http://www.
conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.22546>. Acesso em: 29 mar. 2014

________, Leonardo Gomes de. Sociedade não Personificada. Consilium – Revista


Eletrônica de Direito. Brasília n.4, v.1 maio/ago. de 2010. <http://www.unieuro.edu.
br/sitenovo/revistas/downloads/consilium_04_05.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2014.

BARBOSA, Denis Borges. Jurisprudência sobre PI do CADE, 2005. <http://www.


denisbarbosa.addr.com/picade.doc.>. Acesso em: 29 mar. 2014.

BARROS, Andre Ferreira de. Novo direito aduaneiro. Rio de Janeiro: Synergia,
2009.

187
REFERÊNCIAS

BATISTA, Luiz Olavo. Dos contratos internacionais: uma visão teórica e prática.
São Paulo: Saraiva, 1994.

BERARDO, José Carlos da Matta. O art. 90, IV, da Lei no 12.529: Contratos Associativos e
Joint Ventures Saudades do Art. 54? Apresentação no 18o Seminário Internacional
de Defesa da Concorrência do IBRAC, 10 de novembro de 2012. Disponível
em: <http://www.ibrac.org.br/Uploads/Eventos/18SeminarioConcorrencia/
PALESTRAS/Jos%C3%A9%20Carlos%20da%20Matta%20Berardo.pdf> Acesso em:
2/4/2014.

BONELL, Michael J.; MONFELI. Tommaso. Rassegna giurisprudenziale sui principi


Unidroit dei contratti commerciali internazionali. Diritto del commercio
internazionale, n. 15.1. Milano: Giuffrè Ed., 2001.

________, Michael Joachim. The UNIDROIT Principles of International Commercial


Contracts and the CISG - Alternatives or Complementary Instruments?. Marjoros
ed., emptio-venditio inter nationes, Basel: Recht und Gesellschaft, 1997, 59-76.

CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 31a ed.


Atual. Por Eduardo Carrion, São Paulo. Saraiva. 2006.

CARVALHO FILHO, José Carlos de. Contratos internacionais de seguro


marítimo de mercadorias: uma análise comparativa entre a legislação brasileira
e a inglesa. Revista USCS de Direito. no 17. 2009. <http://seer.uscs.edu.br/index.
php/revista_direito/issue/view/97>. Acesso em: 2/4/2014.

CASTRO, Amílcar. Direito Internacional Privado. Atualizada com notas de rodapé


pela profa. Carolina Cardoso Guimarães Lisboa, 6a ed., Rio de Janeiro, Forense Ed.,
2005.

CEDRAS, Jean. L´Obligation de Négocier. Revue Trimestrielle de Droit


Commercial et de Droit Économique, no 2, 1985, pp. 265-290.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Direito de Empresa. Contratos


e Recuperação De Empresas. 11a Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. V. 3.

COLLAÇO, Isabel Magalhães. Da compra e venda em direito internacional


privado: aspectos fundamentais. Lisboa: AAFDL, 1954.

COMISSÃO EUROPEIA. Diretrizes para parcerias público-privadas bem-


sucedidas. 2003. Traduzido e revisado pela KPMG. Disponível em: <http://ec.europa.
eu/regional_policy/sources/docgener/guides/ppp_en.pdf>. Acesso em: 18/4/2014.

188
REFERÊNCIAS

CORDEIRO, Antonio Menezes. Créditos Documentários. Revista da ordem dos


advogados. ano 67 – vol. I – jan. 2007. <http://www.oa.pt/Conteudos/Artigos/
detalhe_artigo.aspx?idc=1&idsc=59032&ida=59051>. Acesso em: 28/3/2014.

________, António Menezes. Direito das obrigações. 2a ed., Lisboa; AAFDL, 1988.
Vol. I.

DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Curso de direito internacional privado. 8a Ed.


Rio de Janeiro: Forense, 2010.

DIAS, Reinado; RODRIGUES, Waldemar. Comércio exterior. Teoria e Gestão. 3a


Ed. São Paulo: Atlas, 2012.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 17a ed. São Paulo: Saraiva,
2002. V. 7.

________, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 21a ed. São Paulo:
Saraiva, 2005a. v. 3.

________, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2a ed. São Paulo: Saraiva, 2005b. v. 1.

________, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2a ed. São Paulo: Saraiva, 2005c. v. 2.

________, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2a ed. São Paulo: Saraiva, 2005d. v. 3.

________, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2a ed. São Paulo: Saraiva, 2005e. v. 4.

FARO, Ricardo; FARO, Fátima. Curso de comércio exterior. Visão e experiência


brasileira. 3a Ed. São Paulo: Atlas, 2012.

FERREIRA, Chynthia Spirandeli e et al. Utilização dos incentivos fiscais e financeiros


para exportação como estratégia de competitividade. <http://www.pablo.prof.ufu.br/
artigos/cbc2.pdf>. Acesso em: 18/4/2014.

FRANCO, Paulo Sérgio de Moura. Incoterms – Internacional Commercial Terms. Jus


Navigandi. Teresina, ano 8, no 61, 1 jan.2003. Disponível em: <http://jus.com.br/
artigos/3564>. Acesso em: 4 abr. 2014.

GERELLI, Emilio. Il Fantasma della Globalizzazione e la Realtà dei Sistemi Tributari


Negli Anni 2000. Revista di Diritto Finanziario e Scienza delle Finanze, anno
LVI, t. 4, 1997, 449-464, pp. 451-454.

189
REFERÊNCIAS

GEHRKE, Ana Paula. A solução de controvérsias na OMC. Disponível em:


<http://www.ufsm.br/direito/artigos/internacional/solucao_OMC.htm>. Acesso em:
6 mar. 2014.

GIANDOMENICO, Giovani di. Il Contratto e l´Alea. Padova: Cedam Ed., 1987.

GIARDINA, Andrea. I Principi UNIDROIT quale Legge Regolatrice dei Contratti


Internazionali (I Principi ed il Diritto Internazionale Privato). Contratti
Commerciali Internazionali e Principi UNIDROIT, a cura di Michael J. Bonell
e di Franco Bonelli, Milano, Giuffrè Editore, 1997, pp. 55-70.

GOMES, Orlando. Contratos. Atualizada por Antonio Junqueira de Azevedo e outro.


26a ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2008.

GONÇALVES, R. A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira. Rio


de Janeiro: Campus, 1998.

GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Contratos Internacionais: Negociação e


Renegociação, com Comentários aos INCOTERMS – CCI-1990. São Paulo: Ícone Ed.,
1993.

GUANDALINI, Bruno; ZANELLATO FILHO, Paulo José. Tratamento jurídico dos


produtos importados com defeitos ou fora das especificações decorrente de contratos
de compra e venda internacional. Jus Navigandi. Teresina, ano 17, n. 3135, 31 jan.
2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/20968>. Acesso em: 7 abr. 2014.

HOFFMAN, Bruce. The International Comparative Legal Guide to:


Merger Control 2012. Chapter 57: USA. Disponível em: <http://www.hunton.
com/files/Publication/dda07085-5acd-41a0-81dc-a60855e8ca95/Presentation/
PublicationAttachment/836628d1-1ae2-4e53-bf5b-b1033675e9f9/MC12_
Chapter-57_USA.pdf>. Acesso em: 9/4/2014.

INCOTERMS, ICC. ICC Guide to Incoterms. 2010.

IRWIN, T.; KLEIN, M; PERRY, G.E.; THOBANI, M. Dealing with public risk in private
infrastructure: an overview. In: ______. Dealing with public risk in private
infrastructure. World Bank Latin American and Caribbean Studies, [S. l.], pp. 1-19,
1997.

JACQUET, Jean-Michel. Principe d´autonomie et contrats internationaux. 2a


ed. Paris: Econômica, 1983.

190
REFERÊNCIAS

LAMPREIA, Luiz Felipe Palmeira. Resultados da Rodada Uruguai: uma tentativa de


síntese. Estudos Avançados. vol. 9, no 23. São Paulo: Jan / Abril, 1995. p. 2. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141995000100016&script=sci_
arttext>. Acesso em: 5 de mar de 2014.

LARGARDE, Paul. Abordagem crítica da lex mercatoria. <http://xa.yimg.com/kq/


groups/17287756/285084378/name/lexmercatoria(2).doc>. Acesso em: 16 mar. 2014.

LEMOS, Juliana Vasconcelos Maia. Fundamentos do sistema multilateral de comércio


e as perspectivas apresentadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Âmbito
Jurídico. Rio Grande, XIV, n. 87, abr 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9325>.
Acesso em: abr 2014.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 32a ed. São Paulo:
Malheiros, 2011.

MACHADO, João Baptista. Lições de direito internacional privado. 3a ed.,


Coimbra, Ed. Almedina, 1997.

MACHADO, Miguel Nuno Pedrosa. Sobre cláusulas contratuais gerais e conceito de


risco. Separata da Revista da Faculdade de Direito de Lisboa. Lisboa: AAFDL:
1988.

MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Manual de redação de contratos


sociais, estatutos e acordos de sócios. São Paulo: Atlas, 2013.

MATTKE, Marcos V. O acordo geral de tarifas e comércio e a construção da


hegemonia político-econômica dos EUA após a II Guerra Mundial (1947-
1994). Monografia: UniCuritiba: 2010. < http://www.elineart.com/aliae/mono_gatt.
pdf>. Acesso em: 5 mar. 2014.

MEIRA, Liziane. Tributos do comércio exterior. São Paulo: Saraiva, 2012.

________, Liziane. Tributos sobre o comércio exterior de bens. Tese


apresentada na Universidade Católica de São Paulo para obtenção do título de Doutora
em Direito. TV Justiça Programa Acadêmica. Publicado em: 16/9/2013. Disponível
em: <http://www.youtube.com/watch?v=ykI0sgfy-00>. Acesso em: 7 abr. 2014.

MORALES, Maria Carolina Matias. A problemática da mão de obra estrangeira


no Brasil e suas implicações. Disponível em: < http://cslaw.com.br/pdf/art_tra/
art_tra_2.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2014.

191
REFERÊNCIAS

MOUSSERON, Jean Marc. Technique contractuelle. Paris: Éditions Juridiques


Lefêbvre, 1988.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresas. 4a ed. São Paulo:


Saraiva, 2005.

NINA, Alexandre Mendes et. al. Do mecanismo de solução de controvérsias da


organização mundial do comércio. In: TRINDADE, Antônio Augusto Cançado (org.).
A nova dimensão do direito internacional. Brasília: Instituto Rio Branco, 2003.

OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Teoria geral dos contratos: tratado de direito
bancário. Campinas: LZN Editora, 2002.

OPPETIT, Bruno. L´Adaptation des Contrats Internationaux aux Changements de


Circonstances: La Clause de «Hardship»”. Journal du Droit International. ano
101, Paris, Editions Techniques, 1974, pp. 794-813.

PINHEIRO, Luís de Lima. Joint venture: contrato de empreendimento comum em


direito internacional privado. Lisboa: Cosmos, 1998.

PIRES, Jovelino de Gomes. Comércio exterior: burocracia x modernidade. São


Paulo: Aduaneiras, 1992.

PRADO, Fred John Santana. A holding como modalidade de planejamento patrimonial


da pessoa física no Brasil. Jus Navigandi. Teresina, ano 16, n. 2800, 2 mar. 2011.
Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/18605>. Acesso em: 22 jun. 2014.

RAMOS, Rui Gens Moura. Da lei aplicável ao contrato de trabalho internacional.


Coimbra: Livraria Almedina, 1990.

ROHRMANN, Carlos Alberto. Curso de direito virtual. Belo Horizonte: Del Rey,
2005.

ROPPO, Enzo. O Contrato. (trad. de Ana Coimbra e Januário C. Gomes), Coimbra:


Livraria Almedina, 1988.

SANTOS, Carlos André dos. Regime aduaneiro especial do Repetro. Requisitos,


condições e cuidados especiais. Jus Navigandi. Teresina, ano 16, no 2907, 17 jun.
2011. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/19341>. Acesso em: 7 abr. 2014.

192
REFERÊNCIAS

SERRAVALLE, Paola D´Addino. O contrato entre a integração dos mercados e o


pluralismo das fontes (Trad. de Cristina Almeida Santos). O direito da empresa e
das obrigações e o novo Código civil brasileiro. Coord. Alexandre dos Santos
Cunha São Paulo: Quartier Latin. 2006, pp. 288-324.

SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à constituição. 3a ed. São Paulo:
Malheiros, 2007.

SOCIETY OF LLOYD’S. Cronologia sobre História de Lloyd’s. Disponível em:


<http://www.lloyds.com/About_Us/History/Chronology.htm>. Acesso em: 9/4/2014.

SOSA, Roosevelt Baldomir. A tutela aduaneira relativa aos interesses de


ordem pública. Disponível em: <http://www.comexdata.com.br/a/25gg/a-tutela-
aduaneira-relativa-aos-interesses-de-ordem-publica-roosevelt-baldomir-sosa.html>.
Acesso em: 4 mar 2014.

SOUSA JÚNIOR, Edson Rodrigues de. Dificuldades no comércio internacional.


Legislação complica a vida das empresas nacionais de comércio exterior. Jus
Navigandi. Teresina, ano 10, no 878, 28 nov. 2005. Disponível em: <http://jus.com.
br/artigos/7614>. Acesso em: 4 abr. 2014.

STRENGER, Irineu. Contratos internacionais do comércio. 2a ed. rev. e atual.


São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986.

________, Irineu. Direito internacional privado. 4a Ed. São Paulo: Ltr, 2000.

Termo de Parceria e Outras Avenças, 2008 Disponível em: <http://www.arisp.


com.br/downloads/ACT/Colegio_Registral_Area_Metropolitana_Belem_IRIB.pdf>.
Acesso em: 4 mar 2014.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. 2a ed. Rio de


Janeiro: Forense, 2004.

THORSTENSEN, Vera. OMC – As regras do comércio internacional e a nova


rodada de negociações multilaterais. 2a ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001.

TÔRRES, Heleno. Direito tributário internacional: planejamento tributário e


operações transnacionais. São Paulo: RT, 2001.

UNESP, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Manual de


Importação da UNESP. São Paulo: s/Ed, 2003, <http://www.unesp.br/prad/
importacao/manual-importacao.pdf>. Acesso em: 29/3/2014.

193
REFERÊNCIAS

VALÉRIO, Marco Aurélio Gumieri. Organização mundial do comércio: novo ator


na esfera internacional. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/
id/194952/1/000881710.pdf>. Acesso em: 13 mar. de 2014.

VASCONCELOS, Pedro Pais de. Contratos atípicos. Coimbra: Almedina. 1995

________, Pedro Pais de. Teoria geral de direito civil. Coimbra: Almedina. 2004.

VAZQUEZ, José Lopes. Comércio exterior brasileiro. 7a Ed. São Paulo: Atlas,
2004.

VICENTE, Dário Moura. Da arbitragem comercial internacional: Direito


Aplicável ao Mérito da Causa, 1a ed., Coimbra: Coimbra Ed., 1990.

XIMENES, Fernando Braz. Principais controvérsias relativas aos impostos federais.


Âmbito Jurídico. Rio Grande, XV, no 96, jan 2012. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11001&revista_
caderno=26>. Acesso em: 4 abr 2014.

ZIMMERMANN, Cirlene Luiza. A autonomia da vontade e os contratos internacionais.


Jus Navigandi. Teresina, ano 19, n. 3886, 20 fev. 2014. Disponível em: <http://jus.
com.br/artigos/26731>. Acesso em: 16 mar. 2014.

194

Você também pode gostar