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LEVANTAMENTO SOBRE O USO DE MEDICAMENTOS SEM

ORIENTAÇÃO E PLANTAS MEDICINAIS ENTRE USUÁRIOS


DE UMA CLÍNICA UNIVERSITÁRIA DE FISIOTERAPIA
DO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Artiése Rademann Ely1, Rayane Corrêa Pause2,


Regis Augusto Norbert Deuschle Deuschle3

Palavras-chave: Medicamentos. Plantas medicinais. Automedicação. Uso orientado.

1 INTRODUÇÃO
Medicamentos consistem em substâncias químicas com estrutura e composição
definidas, capazes de interagir com o organismo, utilizados com finalidades preventivas,
paliativas ou de cura. Desempenham um papel significativo na proteção, recuperação e
manutenção da saúde, contribuindo para o bem-estar da pessoa em estado doentio (OMS,
2011). Podem, entretanto, trazer uma série de riscos ao organismo, especialmente quando não
forem utilizados de forma correta ou sem a devida orientação (BRASIL, 2019).
Plantas medicinais são definidas pela Organização Mundial da Saúde como “todo e
qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas
com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semissintéticos” (WHO, 1998).
Costumam ser encaradas como inócuas por serem naturais. Seu uso irracional, contudo,
também pode também trazer riscos à saúde, uma vez que podem causar toxicidade (CAMPOS
et al., 2016)
A prática da automedicação, definida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) como o uso de medicamentos sem prescrição médica ou orientação de algum
profissional habilitado, é um fator que contribui para esses riscos. Neste sentido, a maior
possibilidade de automedicação reside no uso dos chamados Medicamentos Isentos de
Prescrição (MIPs), e também no uso de plantas medicinais, pela relativa facilidade de acesso

1
Acadêmica do Curso de Farmácia da Unicruz, Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica, membro do Grupo de Pesquisa em Atenção Integral a Saúde – GPAIS E-mail:
artiese.ely@sou.unicruz.edu.br
2
Acadêmica do Curso de Farmácia da Unicruz, Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica, membro do Grupo de Pesquisa em Atenção Integral a Saúde – GPAIS E-mail:
rayanecpause@gmail.com
3
Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Atenção Integral a Saúde - GPAIS, Docente da Universidade de Cruz
Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil. E-mail: rdeuschle@unicruz.edu.br.
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PRÓ-REITORIA DE PÓS- GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
FONE: (55) 3321.1606 I 3321.1545 | EMAIL: pesquisa@unicruz.edu.br ; extensao@unicruz.edu.br
Campus Universitário Dr. Ulysses Guimarães - Rodovia Municipal Jacob Della Méa, km 5.6 –
Parada Benito. CRUZ ALTA/RS - CEP- 98005-972 I UNICRUZ.EDU.BR
que cada um destes recursos terapêuticos possui, em especial entre pacientes com problemas
de saúde agudos ou crônicos.
Desta forma, o objeto desse estudo é efetuar um levantamento sobre o uso de
medicamentos sem orientação e plantas medicinais entre usuários de uma clínica universitária
de fisioterapia do noroeste do Rio Grande do Sul, no sentido de subsidiar futuras ações de uso
racional desses recursos.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Estudo transversal observacional descritivo onde foi estudado os hábitos do uso de
medicamentos e plantas medicinais entre usuários de uma clínica universitária de fisioterapia
do noroeste do Rio Grande do Sul, por meio de uma aplicação de questionário com perguntas
abertas e fechadas.
O questionário foi realizado no decurso do mês de setembro de 2020 com pacientes de
20 a 67 anos, de ambos os sexos.
O questionário foi divido em quatro partes: A primeira parte consistiu na
caracterização socioeconômica do paciente, a segunda parte tratava-se do uso pregresso de
medicamentos, a terceira sobre o uso atual, e a quarta e última parte era sobre o uso de plantas
medicinais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram entrevistados 18 pacientes. Dentre eles 11 (61%) eram do sexo feminino e 7
(39%) do sexo masculino. A idade dos entrevistados variou de 20 a 67 anos, com 67% na
faixa etária dos 50 aos 67 anos, 22% entre 20 e 29 anos e 11% de pacientes com idade de 30 a
49 anos. Quanto ao grau de escolaridade, somente 11% tem o ensino superior completo, 17%
estão cursando o ensino superior, 39% completaram o ensino médio, 28% não terminaram o
ensino fundamental e 5% não completaram o ensino médio. Ao perguntar sobre a renda
familiar, 78% afirmou possuir renda de 1 a 3 salários mínimos e 22% tem renda de 3 a 5 SM.
Sobre o meio de comunicação mais utilizado, 83% afirmaram utilizar internet, seja por
computador de mesa, notebook ou celular. A população estudada é predominantemente
adulta, de renda relativamente baixa e razoável nível de instrução. Considerou-se que estes
fatores podem ser favoráveis na busca por recursos terapêuticos que se caracterizem como de
baixo custo e fácil acesso.

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Sobre o uso pregresso de medicamentos, questionou-se sobre o uso ou compra de
medicamentos sem receita médica, onde somente 28% afirmaram nunca ter comprado ou
usado medicamentos sem receita médica e dos 72% que já fizeram isso, 77% disse que eram
medicamentos que não necessitavam apresentação da receita. Além disso, 72% dos
entrevistados confirmaram que pedem conselhos na hora da compra para um farmacêutico ou
balconista. Este último dado mostra que pode haver uma contribuição negativa ao processo de
automedicação, uma vez que balconistas são profissionais não habilitados para exercer esta
função, e geralmente a cumprem de forma empírica, baseando-a na prática cotidiana
(OLIVEIRA et al, 2016). Sobre automedicação, os analgésicos foram os medicamentos que
contemplaram o maior número de pessoas que já utilizaram por conta própria (89%), seguido
de remédios para resfriados/gripes (78%) e xaropes para tosse (67%). Confirma-se portanto o
dado que os mais buscados são os MIP. Atualmente, dos 18 pacientes entrevistados, 11 (61%)
fazem uso de algum medicamento. Tem-se, portanto, um grupo que faz amplo uso de
medicamentos de venda livre e recebe orientações que podem eventualmente ser inadequadas.
MIP não são isentos de risco. Cita-se a dipirona, cujo uso prolongado ou em doses elevadas
pode causar intoxicação aguda ou crônica, com eventuais danos ao fígado e baço, e o
paracetamol, que usado continuamente ou em doses elevadas é hepatotóxico. Essas
informações reforçam a necessidade do indivíduo ser orientado quanto ao uso racional de
medicamentos por um profissional de saúde devidamente habilitado (BARROSO et al.,2017).
Na última parte do questionário, que diz respeito ao uso de plantas medicinais, a
quase totalidade dos pacientes da clínica mencionam conhecer e fazer uso. Apenas 1
entrevistado afirmou não conhecer e não fazer uso, e 1 paciente afirmou conhecer, mas não
fazer uso. Foram citadas 26 diferentes plantas medicinais, entre elas, as mais frequentes foram
camomila e boldo, com 33%, seguidas da Marcela, que 28% dos entrevistados citaram, e do
guaco e alecrim, usados por 17% dos pacientes. 11% afirmaram utilizar tanchagem, gengibre,
pitangueira, malva, erva-doce, hortelã e cidreira.
Cabe destacar que 87% dos pacientes da clínica têm a disponibilidade da planta no
quintal de casa ou de vizinho, portanto, com muita facilidade de acesso a um custo nulo,
fatores que podem ter contribuição para seu amplo uso. Do total dos pacientes, 81% ainda
dizem fazer uso da planta por indicação de algum parente; 94% afirmaram não conhecer
nenhum efeito indesejado e 62% acreditam que não há contraindicações para plantas
medicinais. Uma vez que plantas medicinais possuem componentes fitoquímicos ativos que

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podem eventualmente causar intoxicações e interagir negativamente com outros
medicamentos, reforça-se a necessidade de que um profissional de saúde capacitado possa
orientar seu uso de forma racional e de acordo com indicações devidamente referendadas
pelos compêndios de saúde oficiais, pois a população estudada foi orientada por parentes ou
vizinhos e desconhecem ou acreditam não haver contraindicações.

4 CONCLUSÃO
Os dados deste estudo demonstram que a população estudada faz amplo uso de
medicamentos, em especial de venda livre, e de plantas medicinais. Esta utilização, em sua
maioria, envolveu a orientação de pessoas não habilitadas e também, como no caso das
plantas medicinais, baseou-se em concepções errôneas, como por exemplo a de que não
possuem contraindicações. Considerando que nem os MIP nem plantas medicinais são isentas
de risco e contraindicações, reforça-se a necessidade de ações de acompanhamento específicas
que permitam orientar o uso racional desses recursos terapêuticos, com a finalidade de
proporcionar o efeito pretendido e minimizar quaisquer riscos à saúde.

REFERÊNCIAS

BARROSO, R et al. Automedicação em Idosos de Estratégias de Saúde da Família, Revista


de Enfermagem UFPE on line, V.11, 2017

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O que devemos saber sobre


medicamentos, Brasília, 2009. Disponível em:
<file:///C:/Users/consulta2a/Downloads/Cartilha%20o%20que%20devemos%20saber%20sob
re%20medicamentos.pdf.> Acesso em: 08 outubro 2020.

CAMPOS, S. C. et al. Toxicidade de espécies vegetais. Revista Brasileira de Plantas


Medicinais, v. 18, n. 1 supl I, p. 373-382, 2016.

OLIVEIRA, L. Avaliação da prática da automedicação numa população urbana do Nordeste


do Brasil. Scientia Plena, V.12, N.12, 2016

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Traditional Medicine Strategy. Geneva: WHO, 1998.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). The World Medicines Situation Report,


2011. Available from:
<http://www.who.int/medicines/areas/policy/world_medicines_situation/wms_intro/en/index.
html.> Acessado em: 08 outubro de 2020.

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