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O DILÚVIO: Teria sido local ou universal?

Gênesis 6:14 - Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a
calafetarás com betume por dentro e por fora.

Por: Prof. Carvalho Pinto, Ph.D.

Recife, setembro de 2018


O DILÚVIO: Teria sido local ou universal?

Um assunto que sempre se torna tema de debates entre estudiosos de teologia diz
respeito a questão do dilúvio. Teria o dilúvio abrangido apenas uma região do Oriente Médio,
ou teria sido de abrangência universal? O que teria provocado a ira de Deus para permitir que
tal fenômeno ocorresse? Na tentativa de esclarecer um pouco mais essas questões, venho trazer
alguns argumentos, que, quando nada podem oferecer subsídios para alguns estudiosos que
tanto admiram o assunto.
Inicialmente, vamos entender o significado da palavra “dilúvio”, que em hebraico (mabul
- ‫ ) מבול‬é o nome de um dos maiores dramas conhecidos da humanidade por desobedecer a
Deus. A história é narrada em diversas culturas. Uma das versões mais antigas é encontrada no
Épico de Gilgamesh, um antigo poema épico da Mesopotâmia (atual Iraque), e uma das
primeiras obras conhecidas da literatura mundial. Em português, a palavra dilúvio vem do latim
diluvium, "grande enchente, inundação" e diluere, "retirar coisas de um lugar com água”. Mas
qual é a sua etimologia em Hebraico?
O termo hebraico para a famosa história bíblica do dilúvio é “mabul”. Esta palavra
aparece apenas duas vezes na Bíblia: em Gênesis, onde a humanidade foi julgada por
suas transgressões e desobediência, e no livro de Salmos, capítulo 29, versículo 10, em
uma descrição poética e elevada da força Divina observada neste enorme fenômeno
natural (O Senhor se assentou sobre o dilúvio; o Senhor se assenta como Rei
perpetuamente). O uso raro desta palavra bíblica nos faz pensar: qual é então o
verdadeiro significado do "dilúvio"?
Curiosamente, em acadiano, o significado dos termos biblu e abubu é uma chuva
destrutiva. A palavra hebraica mabul é derivada da raiz hebraica e acadiana I.B.L que
significa dirigir e transportar. A mesma raiz hebraica é conectada com o verbo hebraico
"liderar" – lehovil. Assim, a palavra que descreve o evento do dilúvio contém toda a
história do dilúvio. A palavra mabul, sozinha, já nos conta a história da liderança de Noé
em tempos de uma chuva destrutiva.
Porém, antes de respondermos às questões a que nos propomos acima, faz-se necessário
tentar explicar o “porquê” do dilúvio, pois sem dúvida, entendendo a razão, ficará mais fácil
entender as conclusões.

Para facilitar o nosso entendimento, vamos dividir o nosso estudo em duas partes, a saber:

Parte I – Porque o Dilúvio?

Parte II – Evidencias
PARTE I – Porque o Dilúvio?

A bíblia não nos oferece diretamente a resposta à essa questão. Contudo, um estudo mais
aprofundado das palavras do Senhor, podem nos permitir tirar algumas conclusões que nos
levem a entender o real motivo da ira de Deus naquela ocasião.

Para começar, vamos rever alguns versículos dos capítulos 18 e 19 do livro de Gênesis.

O Senhor apareceu a Abraão perto dos carvalhos de Manre, quando ele estava
18.1
sentado à entrada de sua tenda, na hora mais quente do dia.
Abraão ergueu os olhos e viu três homens em pé, a pouca distância. Quando
18.2 os viu, saiu da entrada de sua tenda, correu ao encontro deles e curvou-se até
o chão.
Quando os homens se levantaram para partir, avistaram lá embaixo Sodoma;
18.16
e Abraão os acompanhou para despedir-se.
18.17 Então o Senhor disse: Esconderei de Abraão o que estou para fazer?
Abraão será o pai de uma nação grande e poderosa, e por meio dele todas as
18.18
nações da terra serão abençoadas.
Disse-lhe, pois, o Senhor: As acusações contra Sodoma e Gomorra são tantas
18.20
e o seu pecado é tão grave
18.23 Abraão aproximou-se dele e disse: Exterminarás o justo com o ímpio?
Então Abraão disse ainda: “Não te ires, Senhor, mas permite-me falar só mais
18.32 uma vez. E se apenas dez forem encontrados? ” Ele respondeu: “Por amor aos
dez não a destruirei”.
Tendo acabado de falar com Abraão, o Senhor partiu, e Abraão voltou para
18.33
casa.
Então o Senhor, o próprio Senhor, fez chover do céu fogo e enxofre sobre
19.24
Sodoma e Gomorra.
Assim ele destruiu aquelas cidades e toda a planície, com todos os habitantes
19.25
das cidades e a vegetação.

O resto da história todos nós já sabemos. Porém, do texto acima, podemos de imediato
tirar algumas conclusões, quais sejam:

a) Abraão estava nas proximidades de Sodoma, possivelmente numa região mais elevada
(verso 18:16);
b) Mesmo em sua ira, Deus se compadeceu dos justos e não os puniu, como havia
prometido à Abraão (verso 18:32);
c) A ira de Deus ficou limitada a um determinado povo e à uma determinada região (versos
19:24-25).

Os fatos acima narrados vêm mais uma vez confirmar que: Deus é bom (Salmos 25:8),
justo e misericordioso (Salmos 116:5).

Ora se Deus é tudo isso (e sabemos que O é), duas questões nos surgem de imediato:

- Porque então agiria Ele diferentemente com a população no entorno de Noé?

- Qual seria então o motivo de sua ira?


Para tentarmos responder às essas questões, vamos regressar um pouco no tempo, e
vamos tentar entender o que se passou antes do dilúvio. Para tanto, vamos ver o que está
registrado nos versos de 1 a 9 do capítulo 6 do livro de Gênesis.

Quando os homens começaram a multiplicar-se na terra e lhes nasceram


6.1
filhas,
Os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram bonitas, e
6.2
escolheram para si aquelas que lhes agradaram.
Então disse o Senhor: “Por causa da perversidade do homem, meu Espírito
6.3
não contenderá com ele para sempre; ele só viverá cento e vinte anos”.
Naqueles dias havia gigantes na terra, e também posteriormente, quando
6.4 os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens e elas lhes deram filhos.
Eles foram os heróis do passado, homens famosos.
O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que
6.5 toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente
para o mal.
Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra, e isso
6.6
cortou-lhe o coração.
Disse o Senhor: “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os
6.7 homens e também os grandes animais e os pequenos e as aves do céu.
Arrependo-me de havê-los feito”.
6.8 A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência.
Esta é a história da família de Noé: Noé era homem justo, íntegro entre o
6.9
povo da sua época; ele andava com Deus.

O texto acima é muito claro. Havia na terra mulheres lindas (filhas dos homens), que
desposaram com os "Filhos de DEUS" (Gn 6:1-2). E, desse relacionamento nasceram gigantes
(nefelins), (Gn 6:4), que por sua vez, se tornaram homens perversos, com pensamentos sempre
voltados para o mal (Gn 6:5), o que muito desagradou a Deus. Essa sem dúvida pode ter sido
uma das razões porque Deus enviou o dilúvio.

Mas, por que será que o casamento entre os “filhos de Deus” e “filhos dos homens” se
tornou algo tão ruim, a ponto de provocar a ira de Deus?

Bem, para começar é necessário explicar que, em hebraico, a expressão “Filhos de Deus”
é "Bene ha' Elohim". Que é uma expressão que designa anjos, e não homens. O que significa
que, possivelmente, DEUS mandou o Dilúvio, segundo a narrativa bíblica, por causa dessa coisa
bizarra de que anjos se apaixonaram por mulheres e as possuíram.

Por isso que se corrompeu a raça humana, o que provocou o “arrependimento” 1 de Deus
(Gn 6:6). A raça humana não se corrompe como “raça” quando um ser humano se casa com
outro. Ela se corrompe como raça, como espécie, quando existe alguma forma de hibridização.
Estamos falando de criaturas de outra dimensão, que são os anjos “Bene ha' Elohim”, com as
mulheres (com os humanos). Por isso que o resultado disso tudo foi grotesco. Porque quando
um homem casa com uma mulher e tem relação sexual com ela, isso não faz com que nasçam
seres gigantes. Mas, no caso da relação dos anjos com as filhas dos homens, isso fez nascer seres
tão grandes que alguns chegavam a ter quase 4 metros de altura, como foi o caso de Ogue, rei

1
Trata-se de uma antropopatia, ou seja, a atribuição de sentimentos humanos à Deus.
de Basã (hoje região de Golã), que dormia numa cama de 4 metros de comprimento por 1,80
metros de largura (Dt 3:11), e era toda feita de ferro maciço para poder aguentar o seu peso.

Observe que o texto bíblico de Deuteronômio diz claramente que Ogue era um dos
sobreviventes dos gigantes.

Dt 3:11 – Porque só Ogue, rei de Basã, ficou do resto dos gigantes; eis que o seu leito, um leito
de ferro, não está porventura em Rabá dos filhos de Amom? Sua cama era de ferro e tinha, pela
medida comum, quatro metros de comprimento e um metro e oitenta centímetros de largura.

Nm 13:33 – Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos
aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos.

Acontece que esse fato ocorreu quase 1.000 anos após o dilúvio. Tal narrativa, nos leva
a crer que não foram apenas Noé e seus familiares que escaparam do dilúvio, pois, do contrário,
não haveriam ainda descendentes de gigantes após o dilúvio. Como nenhum dos filhos de Noé
era gigante, como então explicar a existência de Ogue 1.000 anos após o dilúvio? Ora, só nos
resta uma explicação: não foi só a família de Noé que escapou do dilúvio. Essa seria então nossa
primeira evidencia teológica.

Assim como aconteceu com Sodoma e Gomorra, Deus também se mostrou justo e
misericordioso, com as populações no entorno da região onde viveu Noé, e puniu apenas
aqueles que mereciam ser penalizados. Logo, se deduz que outros povos também escaparam do
dilúvio, o que nos faz concluir que o dilúvio não foi universal, mas apenas regional.

Ou seja, o Diluvio veio porque os anjos invadiram a terra, deixaram sua habitação natural, e
foram punidos igualmente como a população de Sodoma e Gomorra. Porque só há um Deus,
justo e misericordioso. Ele não age com dois pesos e duas medidas. Veja o que diz o texto de
Judas 1:5-7.
Embora vocês já tenham conhecimento de tudo isso, quero lembrar-lhes que
5 o Senhor libertou um povo do Egito, mas, posteriormente, destruiu os que
não creram.
E, quanto aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a
6 sua própria habitação, ele os tem guardado em trevas, presos com correntes
eternas para o juízo do grande Dia.
De modo semelhante a estes, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se
7 entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o
castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo.

Observe que Deus agiu com o povo de Noé de modo semelhante ao que agiu com o
povo de Sodoma, e nem poderia ser diferente.

Outro fato importante e histórico que corrobora com essa teoria é de que todas as
culturas da terra contam a mesma história. Ogue é mencionado no judaísmo como um
sobrevivente do tempo de Noé até o momento da sua morte na batalha com os judeus.

Na religião islâmica, Ogue é mencionado no Alcorão como sendo um gigante, com cerca
de 4,00 metros de altura.

Os Gregos falavam dos Titãs, que eram seres dessa mesma natureza. (Flávio Josefo,
historiador e apologista judaico-romano, descreve nas antiguidades, falando com os romanos e
com os gregos, ele disse: “... vocês oh romanos e gregos, fiquem sabendo que aqueles a quem
vocês chamam de Deuses e de titãs, são aqueles que o Gênesis se refere como o fruto da união
de anjos com mulheres humanas. ”

Vale lembrar que da primeira até a quarta dinastia do Egito, eles diziam que todos eles
eram descendentes da mistura de humano com Deuses.
PARTE II – Outras Evidencias

Agora que já entendemos as possíveis razões que levaram Deus a provocar o dilúvio, e
que muito provavelmente Noé e sua família não foram os únicos sobreviventes, resta-nos
responder a mais uma questão: qual teria sido a abrangência geográfica do dilúvio? Teria o
dilúvio abrangido apenas uma região do Oriente Médio, ou teria sido de abrangência universal?

Antes de tentar esclarecer essa dúvida, permitam-me uma breve explicação. Muito
embora tenha frequentado, porém, nunca concluído o curso de teologia, sou professor de
Engenharia. Além de engenheiro, sou administrador e economista. Sou Mestre e Ph.D. em
Economia. Porém, a coisa que mais me fascina é a combinação do estudo da física e da teologia.
Uma serve de base para a outra. E as duas, juntamente com a filosofia são, em minha opinião, a
base do conhecimento. O propósito da vida não é outro, senão, transmitir o conhecimento.

E foi, graças aos meus conhecimentos de física, que adquiri na engenharia, que consegui
entender e explicar alguns fenômenos que, aparentemente são de difícil compreensão, como,
por exemplo, os 7 dias da criação, e agora o dilúvio.

Os motivos que me levaram a estudar esse assunto, e escrever esse texto, deve-se ao
fato de eu ser um assíduo espectador do programa “Na Mira da Verdade”, apresentado pela TV
Novo Tempo, no qual são respondidas questões teológicas apresentadas pelos telespectadores.

Todavia, em um programa recente, um dos espectadores perguntou ao apresentador se


o dilúvio havia sido local ou universal. Entendo que a bíblia não nos dá evidencia suficiente para
chegarmos a nenhuma conclusão definitiva. Daí muitos interpretam como sendo universal,
como foi a resposta do apresentador.

Pois bem, por discordar da resposta apresentada pelo pastor e apresentador do


programa, resolvi fazer uso dos meus conhecimentos de física e matemática, numa tentativa de
esclarecer algumas dessas dúvidas. Afinal, foi para isso que Deus nos deu dons e talentos. Senão
vejamos:

Inicialmente, vamos tomar como base os seguintes versículos:

a) Gênesis 7:4, 12 e 17, onde fica muito claro que o dilúvio se deu por quarenta dias e quarenta
noites;

b) Gênesis 7:20, onde informa que a altura do volume da água acumulada durante esse período
foi de quinze côvados.

Acredito que sobre esses pontos não temos divergências. Vamos então esclarecer esses
pontos, tanto do ponto de vista físico e biológico, como também do histórico e teológico.
1) Do ponto de vista físico

Para entendermos o dilúvio do ponto de vista físico, vamos lembrar alguns dados sobre
o nosso planeta:

- Raio da Terra = 6.378.000 metros (ou 6.378 Km);

4𝜋𝜋𝜋𝜋 3
- Volume da Terra = = 1.086.781.066.444.460.000.000 m3
3
Dos quais, aproximadamente 70% (760.746.746.511.123.000.000 m3) são constituídos de água.

Considerando o princípio físico dos vasos comunicantes, e que, portanto, a água se distribui
uniformemente sobre uma superfície, e considerando ainda que, segundo o indicado em Gn 7:
20, a altura da água foi de 15 côvados (1 côvado = 44,45 cm), temos que a água acumulada
durante o dilúvio atingiu uma altura de 6,66 m (= 15 x 0,4445 m), equivalente a um prédio de
dois pavimentos (térreo e primeiro andar).

Ora, a partir dessa observação, já fica claro que os montes com alturas superiores a 6,7
metros não foram cobertos pela água, o que certamente, permitiu que alguns animais da região
que não foram incluídos na arca pudessem sobreviver. Afinal, caso o dilúvio tivesse sido
universal, seria fisicamente impossível, colocar na arca um par de representantes de todos os
animais da terra, considerando que há centenas de milhares de espécies, dos quais, muitos não
são comuns àquela região. Apenas para lembrar, a arca media 133 metros de comprimento, por
22 metros de largura e 13 metros de altura. Possuía três conveses e uma área útil de 8.900
metros quadrados.

Mas, por um instante, vamos desconsiderar o raciocínio acima, e vamos partir da suposição
que, de fato, o dilúvio tenha sido universal. Nesse caso, ainda pelo princípio dos vasos
comunicantes, toda superfície da terra teria sido coberta com água até uma altura de 6,66
metros (princípio físico).

Com isso, o raio da Terra passaria a ser então de 6.378.007 metros, o que faria com que o
volume da terra passasse a ser de 1.086.784.470.945.620.000.000 m3. Isso nos dá um volume
adicional de 3.404.501.157.543.940 m3. Não se assuste, mas, é isso mesmo. Estamos falando da
ordem de 1021. Possivelmente você não está acostumado a raciocinar nessa ordem de grandeza.

Considerando que todo esse volume adicional é constituído de água, tal volume, adicionaria
à terra um peso equivalente a 3.404.501.157.543.940 toneladas (três quatrilhões, quatrocentos
e quatro trilhões, quinhentos e um bilhões, cento e cinquenta e sete milhões, quinhentos e
quarenta e três mil e novecentas e quarenta de toneladas). Isso equivale a aproximadamente a
10.000 vezes o peso de toda população atual da terra. Tal peso seria, no mínimo suficiente para
afetar tanto movimento de rotação, como o de translação da terra, o que certamente não ficou
evidenciado.

Mas, vamos um pouco mais adiante. Para acumular tal volume de água, seria necessário
chover a quantia de 85.112.528.938.598 m3 (oitenta e cinco trilhões de metros cúbicos) por dia,
o que equivale a 3.546.355.372.442 m3 (três vírgula cinco trilhões de metros cúbicos) por hora.
Isso representa mais que duas vezes toda água retida em forma de gelo nas calotas polares e
geleiras. Porém, como narrado na bíblia, a água que inundou a terra foi proveniente de chuvas
torrenciais, e não de qualquer fenômeno meteorológico que tenha causado o derretimento das
calotas polares.
Por se tratar de um número inimaginável para nós seres humanos, vamos fazer uma
pequena analogia. A usina de Itaipu, maior hidroelétrica do mundo, opera em sua vazão máxima,
com uma vazão de 62,2 m3/seg. Isso equivale a 223.920 m3/hora.

Para se ter uma noção, para que a usina extravasasse o mesmo volume do dilúvio, no caso
de um dilúvio continental, seria necessário que Itaipu operasse por exatamente 15.837.600
horas, ou 659.900 dias, ou 21.997 meses, ou ainda, o equivalente a 1.833 anos.

Considerando que Itaipu começou a funcionar em 1982, todo volume de água que já passou
por suas turbinas nesses 34 anos, corresponde a apenas 1,8% de toda água necessária para o
dilúvio. Agora tente imaginar o volume de água acumulado em 1.833 anos caindo em 40 dias.

Creio que do ponto de vista físico, não há o que se discutir.

2) Do ponto de vista biológico

Cientistas afirmam que o planeta Terra abriga cerca de 8,7 milhões de espécies animais.
Destas, cerca de 1,5 milhões já foram catalogadas. Porém, para fins dos nossos estudos, vamos
nos concentrar apenas na classe científica dos mamíferos (Mammalia), em cuja classe já foram
catalogadas cerca de 5.500 espécies, entre as quais se inclui o homem (Homo sapiens). Apesar
de a terra seca cobrir apenas 29% da superfície do planeta, os cientistas concluíram que é lar de
86% das espécies do mundo.

Lembremo-nos também que há 200 milhões de anos existia apenas um único


supercontinente: o Pangeia. Ele se fragmentou há 130 milhões de anos em Laurásia (América do
Norte e Eurásia) e Gondwana (América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártida) e, há 84
milhões de anos, houve a separação entre a América do Norte e Eurásia e entre a América do
Sul, África, Oceania e Índia, que se tornou uma ilha no oceano Índico. Por fim, a Índia colidiu
com a Ásia, juntando-se ao continente, como indicado na figura abaixo:

Figura 1 – Evolução dos Continentes


Apenas para refrescar nossas memórias, lembremo-nos ainda que o dilúvio, como será
mencionado posteriormente com mais detalhes, deve ter ocorrido por volta do ano 2.348 a.C.,
portanto, milhões de anos após a divisão dos continentes. Assim sendo, seria impossível para
Noé abrigar em sua arca espécies de outros continentes, visto que eles seriam incapazes de
cruzar os oceanos.

Para não nos determos em maiores detalhes, vejamos alguns exemplos de espécies
animais que são exclusivas de alguns continentes, e que, portanto, não poderiam estar
presentes na arca de Noé.

Começando pelo Brasil, observamos que algumas espécies animais são exclusivas de
nosso país e arredores. Entre elas, podemos citar:

Sagui-branco (Mico argentatus) Macaco-prego (Sapajus)

Mico leão-dourado (Leontopithecus rosalia) Preguiça (Bradypus variegatus)

Lobo guará (Chrysocyon brachyurus) Onça pintada (Panthera onca)

Figura 2 - Espécies nativas do Brasil e América do Sul


O mesmo também ocorre no continente
australiano, onde espécie de mamíferos marsupiais só
podem ser vistas em determinada parte do continente
oceânico, distante cerca de 15.000 km do Oriente
Médio, como indicado na região em vermelho da figura
3, ao lado.

Figura 3 - Austrália

Vejamos algumas das espécies encontradas naquele continente:

Canguru (Macropus giganteus) Coala (Phascolarctos cinereus)

Figura 4 - Espécies nativas da Oceania

Muito também pode ser dito de outras regiões do mundo, onde algumas espécies se
mostram exclusivas, como é o caso da Nova Guiné, onde mais de 1.000 novas espécies já foram
descobertas nos últimos 10 anos.

Portanto, é possível observar que do ponto de vista biológico, essas espécies acima
apresentadas não poderiam estar presentes na arca. Todavia, “sobreviveram” ao dilúvio, numa
clara evidencia de que não foram afetadas pelo mesmo.

Todavia, retornaremos a esse assunto mais adiante.


3) Do ponto de vista histórico

Do ponto de vista histórico, vamos partir da premissa que o dilúvio aconteceu mais ou
menos entre os anos 2.400 a.C. à 2.300 a.C. (muito provavelmente no ano 2.348 a.C.). Partindo-
se do pressuposto que o dilúvio tenha sido universal e que Noé e seus três filhos, com suas
respectivas esposas tenham sido os únicos sobreviventes, fica difícil imaginar uma progressão
geométrica (taxa de crescimento), cujo primeiro termo seja três casais (considerando que Noé
não teve mais filhos), consiga em 4.400 anos chegar a uma população de 7 bilhões de habitantes
(população da terra em 2011). Essa é a nossa primeira evidencia histórica. Principalmente, se
considerarmos as milhões de mortes causadas por guerras e doenças que assolaram os
continentes africano, asiático e europeu, até então, os únicos continentes conhecidos.

Uma outra evidencia encontramos em Gênesis 10:9-12. O versículo 9 atesta que Ninrode foi
um “poderoso” caçador. Imaginamos, portanto, que ele (Ninrode) tinha poder. No versículo 10
observamos que ele criou um reino (Babel). Fica difícil imaginar alguém criando um reino sem
que haja população para isso, pois a primeira condição necessária para a criação de um reino
seria o povo e a terra. A terra ele já a tinha. Mas como ter um povo suficiente para formar um
reino, se ele era apenas a terceira geração (bisneto de Noé)? Ninrode, filho de Cuxe, que era
filho de Cam, que era filho de Noé. Fica difícil de imaginar um reino com, no máximo, algumas
centenas de pessoas.

Ainda, os versículos 11 e 12 afirmam que Ninrode construiu quatro cidades, a saber:


Nínive, Reobote-Ir, Calá e Resém, sendo esta última uma grande cidade. Perguntas: para quem
ele construiu essas cidades se toda população havia sido dizimada no dilúvio? Para que quatro
cidades? Porque Resém era uma grande cidade? Apenas a título de informação, essas cidades
ficavam a menos de 800 km de distância (a Norte), de onde ocorrera o dilúvio. Isso nos leva a
crer que a população que ali vivia não foi atingida pelo dilúvio, pois, do contrário, não haveria a
necessidade de se construir tantas cidades.

Uma outra forte evidencia, podemos encontrar nos livros de Números e Deuteronômio,
como veremos a seguir. Comecemos pelo livro de Números, capítulo 13, onde se pode ler:

13.1 Então disse o Senhor a Moisés:


Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel. De
13.2
cada tribo de seus pais enviarás um homem, sendo cada qual príncipe entre eles.
E enviou-os Moisés do deserto de Parã, segundo o dito do Senhor; todos aqueles
13.3
homens eram cabeças dos filhos de Israel.
13.6 Da tribo de Judá, Calebe, filho de Jefoné;
E contaram e disseram-lhe: Fomos à terra que nos enviaste; e verdadeiramente, mana
13.27
leite e mel, e este é o fruto.
O povo, porém, que habita nesta terra é poderoso, e as cidades, fortes e mui grandes;
13.28
e também ali vimos os filhos de Anaque.

O fato narrado acima, aconteceu possivelmente, por volta do ano 1.311 a.C., quando
Calebe tinha então 40 anos, como pode se ler em Josué 14:7 – “Da idade de quarenta anos era
eu (Calebe), quando Moisés, servo do SENHOR, me enviou de Cades-Barnéia a espiar a terra...”
Em Deuteronômio 9, encontramos Moisés se dirigindo aos israelitas, quando diz:

Ouve, ó Israel, hoje passarás o Jordão, para entrares a possuir nações maiores e mais
9.1
fortes do que tu; cidades grandes e muradas até aos céus
Um povo grande e alto, filhos dos anaquins, que tu conhecestes, e dos quais tens
9.2
ouvido dizer: Quem poderá resistir aos filhos de Anaque?

Já a narrativa acima, aconteceu por volta do ano 1.271 a.C., quando os israelitas, depois
de caminharem por 40 anos no deserto, se preparavam para entrar na terra prometida.

Observem que tais fatos ocorreram quando já eram decorridos mais de 1.000 anos após
o dilúvio. Fica então a pergunta: se o dilúvio foi universal, e os únicos habitantes da terra eram
os filhos de Noé (Cam, Sem e Jafé), de onde vieram os filhos de Anaque? Seriam eles seres
extraterrestres? Deixo a resposta a cargo de suas consciências!!

Observe ainda que, de Sem até Calebe, se passaram 17 gerações. Entre elas, estão os
filhos de Canaã (filho de Cam, irmão de Sete), Hete e Sidom, que é considerado o pai dos
Cananeus. Estes já se encontravam na Terra Prometida quando os hebreus guiados por Josué lá
chegaram. Pergunta: não teriam os cananeus tido filhos e filhas com os filhos de Anaque? Estas
são perguntas que a Bíblia não responde. O fato é que os filhos de Anaque estavam na Terra
Prometida junto com os cananeus.

A Bíblia também não nos indica qual o destino que tiveram os demais filhos de Adão e
Eva, 53 no total, sendo 30 homens e 23 mulheres.

Para facilitar o entendimento da cronologia a que nos referimos acima, observe o


diagrama abaixo.

Nascimento Nascimento Dilúvio


de Noé de Sem (*)

2.948 a.C. 2.448 a.C. 2.348 a.C.

Entrada Calebe espia Nascimento


em Canaã a terra de Calebe

1.271 a.C. 1.311 a.C. 1.351 a.C.

Diagrama de Tempo – De Noé à Entrada em Canaã

Nos parágrafos anteriores vimos que certamente já havia um povo habitando ao Norte
da região onde viveu Noé. Vamos agora caminhar na direção Oeste, em direção ao Egito.
Lembrem-se de que as grandes pirâmides (Kéops, Kéfren e Miquerinos) foram construídas
durante o Antigo Império Egípcio, que foi de 2.575 a.C. a 2.134 a.C.. Portanto, esse período cobre
uma época que vai de quase 200 anos antes do dilúvio até 300 anos após o dilúvio.
Figura 5 - Pirâmide de Kéops, em El Giza, Egito
Para que não restem dúvidas, listamos a seguir as dinastias do antigo império egípcio.

4ª. Dinastia Período (a.C.) 5ª. Dinastia Período (a.C.)


Snefru 2575-2551 Userkaf 2465-2458
Kéops 2551-2528 Sahure 2458-2446
Radjedef 2528-2520 Neferirkare Kakai 2446-2426
Kéfren 2520-2494 Shepseskare Ini 2426-2419
Miquerinos 2494-2472 Raneferef 2419-2416
Shepseskaf 2472-2467 Neuserre Izi 2416-2396
Menkauhor 2396-2388
Djedkare Izezi 2388-2356
Wenis 2356-2323
6ª. Dinastia Período (a.C.) 7ª/8ª. Dinastia Período (a.C.)
Teti 2323-2291 Numerosos faraós, efêmeros
Pepi I 2289-2255 incluindo Neferkare 2150-2134
Merenre Nemtyemzaf 2255-2246
Pepi II 2246-2152
Observe que, o dilúvio se deu, muito provavelmente, durante a 5ª. Dinastia, sob o
regime do então faraó Wenis. De acordo com os próprios registros históricos, verificamos que
não houve nenhuma descontinuidade do império egípcio, mesmo durante o dilúvio. Só depois
do ano 2.300 a.C., já na 6ª. Dinastia é que a história registra o declínio do império egípcio,
quando tem início o Período Feudal.

Outro fato histórico, e que merece destaque, diz respeito ao sítio arqueológico de
Saqqara, onde está localizada a pirâmide de Djoser, cujos dados arqueológicos datam sua
construção de 2.630 a.C., portanto, cerca de 300 anos antes do dilúvio. A referida pirâmide
funcionou como necrópole da antiga cidade de Mênfis, uma das várias capitais do Antigo Egito,
e nela pode se encontrar urnas funerárias que datam de um período que vai de 3.000 a.C. a 950
a.C. (bem após o dilúvio). Recentemente, foi descoberto um túmulo, ao qual se encontravam os
restos mortais da rainha Shesheti, mãe do rei Teti, primeiro faraó da 6ª. Dinastia (2.323–2.291
a.C.), logo após o dilúvio, indicando assim que não houve nenhuma descontinuidade do Império
Egípcio. A pirâmide está situada a cerca de 30 km ao sul da cidade de Cairo, atual capital do
Egito, numa clara evidencia que essa região não foi atingida pelo dilúvio.
Figura 6 - Pirâmide de Djoser, em Saqqara, Egito

Resumindo, não há tradição egípcia da inundação na sua literatura.

Ainda na Mesopotâmia, e, no mesmo período em que ocorreu o dilúvio, viviam também


os acádios e sumerianos. Na mesma época, o acádio Sargon (2.371 a.C. – 2.316 a.C.) criou o
primeiro Império da história mundial, da dinastia Agadé, a partir das Cidades-Estados, que
caracterizavam a política dos sumerianos, e estendeu a influência semítica. (Vide figura 7
abaixo).

Figura 7 – Império Acádio

O mesmo aconteceu na China, onde não há registros históricos de nenhuma


descontinuidade populacional durante aquele período.

Na Índia, evidencias apontam que a civilização do Vale do Indo surgiu no século


XXXII a.C. e atingiu a maturidade a partir do século XXV a.C. Seguiu-se lhe a civilização védica,
sem que nenhum fato histórico tenha interrompido a formação daquela cultura. A maioria
dos estudiosos acredita em algum tipo de hipótese de migração indo-ariana, segundo a qual
os arianos, um povo seminômade possivelmente da Ásia Central ou do norte do Irã, teriam
migrado para o noroeste do subcontinente entre 2.000 a.C. e 1.500 a.C..
Figura 8 – Mapa da Civilização do Vale do Indo

Portanto, também do ponto de vista histórico, não encontramos evidencias que nos
indique que o dilúvio tenha sido universal.

4) Do ponto de vista teológico

Vimos acima alguns argumentos do ponto de vista físico, biológico e histórico. Vejamos
agora de um outro ângulo: do ponto de vista teológico. Para tanto, vamos lembrar alguns
versículos da palavra do nosso próprio Deus criador.

• E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom. (Gênesis 1:31);
• Bom e reto é o Senhor: por isso ensinará o caminho aos pecadores. (Salmos
25:8);
• Piedoso é o Senhor e justo; o nosso Deus tem misericórdia. (Salmos 116:5);
• Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras.
(Salmos 145:17);
• Também não é bom punir o justo, nem tampouco ferir aos príncipes por
equidade. (Provérbios 17:26);
• Mas pela tua grande misericórdia os não destruíste nem desamparaste, porque
és um Deus clemente e misericordioso. (Neemias 9:31).

Ora, se Deus é bom, justo e misericordioso, como diz a sua própria palavra, não seria
uma incoerência destruir tudo que Ele já havia feito e constatado que era bom?

Por que outros povos e nações deveriam pagar por um erro, se a sua própria palavra
prega o contrário? Releia o que diz Provérbios 17:26.

Lembremo-nos do diálogo entre Deus e Abraão antes da destruição de Sodoma e


Gomorra (Gênesis 18:23-33). Observe que Deus está decidido a destruir uma cidade pecadora,
mas não uma nação. E mesmo assim, entre os habitantes da cidade, está decidido também a
poupar os justos, como revelou à Abraão. Porque então Deus agiria diferentemente com a
população no entorno de Noé? (Mais uma vez Pv 17:26)!
5) Do ponto de vista antropológico

Por fim, porém, não menos importante, voltemos ao tema biológico, porém, desta feita,
do ponto de vista antropológico. Uma leitura completa da bíblia nos mostrará que apenas três
(03) continentes são citados em toda a bíblia. São eles: Europa, Ásia e África. A bíblia, e, em
particular o livro de Gênesis, onde está descrito a narrativa sobre o dilúvio, não faz qualquer
referência a um quarto continente. A explicação é bem simples. O último livro da bíblia
(Apocalipse) foi escrito possivelmente, antes do ano 70 d.C., ou seja, quase 1400 anos antes das
grandes navegações e suas descobertas. Isto significa dizer que para todo aquele povo que
habitava aquela parte do planeta, todo seu mundo estava restrito àquelas terras. Ninguém,
naquela época poderia imaginar que existiriam outros continentes do outro lado do oceano. Em
outras palavras, é preciso entender que muitas das estórias bíblicas são apresentadas em forma
de narrativa, onde o autor relata o que presenciou ou lhe foi contado por seus ancestrais.
Portanto, qualquer referência à palavra “mundo” ou “universo”, deve ser entendida dentro do
contexto da época, onde todo o “mundo” era constituído apenas dos três continentes acima
mencionados.

Ora, todos nós sabemos através da história sobre as civilizações Asteca, Inca e Maia, que
viveram no continente americano, por milhares de anos, mesmo após o dilúvio. Além dos livros
de história, também acompanhamos através de filmes de bang-bang, também conhecidos como
“westerns” e seriados, a luta entre colonizadores e índios americanos, os quais resistiram
bravamente às conquistas do “homem branco”. Apenas nos Estados Unidos há registros de pelo
menos nove importante tribos indígenas, quais sejam: Apache, Arapahoe, Cherokee, Cheyenne,
Comanche, Creek, Kaw, Navaho e Sioux. Outras tribos também habitavam o Canadá. Eram todos
filhos da terra, homens e mulheres na verdadeira acepção da palavra, e já se encontravam
naquele continente quando da chegada de Cristóvão Colombo em 1492. O mesmo também
pode ser dito, com relação aos povos aborígenes da Austrália, que veio a ser o quinto continente.

Com relação ao Brasil, também não foi diferente. A história nos ensina que em 1500,
quando Pedro Álvares Cabral aportou na Bahia, os portugueses foram recepcionados na praia
por índios nativos da região. Na época, as nações indígenas se espalhavam por todo litoral
brasileiro, além da Amazônia, dividida em diversas tribos, como os Tupiniquins e os Tupinambás
(vide figura 9). Não se sabe exatamente quantas pessoas viviam no atual território brasileiro -
as estimativas variam muito, de 1 milhão a 3,5 milhões de pessoas, divididas em mais de
duzentas culturas. A ciência pode hoje, facilmente comprovar através de exames de DNA, que
aqueles povos que já habitavam a região não são descendentes de Noé.
Figura 9 – Presença Indígena no Brasil

No sítio arqueológico de Monte Verde, na área sul-central do Chile foram encontrados


objetos datados de 33 mil anos atrás, muito embora, os registros históricos datem a existência
de uma comunidade indígena naquela região, de 12.500 anos. Qualquer que seja a data que
consideremos, trata-se de uma comunidade, cuja presença naquela localidade, certamente, não
foi afetada pelo dilúvio.

Em resumo, podemos encontrar registros de diversas tribos indígenas, em todo


continente americano (de norte a sul), cujas presenças datam de épocas anteriores ao dilúvio, e
cujas culturas permanecem vivas, numa clara evidencia de que não foram afetados pelo dilúvio.

Surge agora uma questão interessante! Se os filhos de Noé, se espalharam pelos três
continentes até então conhecidos: os provenientes de Sem ocuparam as terras da Ásia; os de
Cam, migraram para a África; e os de Jafet, ocuparam a Europa. De onde então vieram os
habitantes do quarto e do quinto continente? Sabemos de antemão que, apesar de humanos,
não descendem de nenhum dos três filhos de Noé. Se o dilúvio foi mesmo universal, como
explicar a origem daquelas civilizações e indígenas que habitavam (e ainda habitam) o quarto
(América) e o quinto continente (Oceania) que não são mencionados na bíblia? Por suas
características físicas, nos parece óbvio que tais habitantes não migraram da Europa após o
dilúvio, bem como não possuíam nenhum grau de parentesco com os filhos de Noé. Logo, mais
uma vez, podemos concluir que o dilúvio não poderia ter sido universal.

Por fim, uma última questão: se Deus, em sua infinita justiça, poupou os povos nos
arredores de Sodoma e Gomorra, porque então, não pouparia povos tão longínquos que nem
sequer eram conhecidos na época, como as civilizações que habitavam na América e na
Oceania? Ou haveria Deus mudado de opinião?
6) Conclusões

Vimos sob diferentes ângulos e aspectos, seis fortes evidencias que apontam para um
dilúvio regional, e não universal. Por fim, para concluir nosso exercício intelectual sobre
esse assunto, apresento a seguir a possível região geográfica onde teria acontecido o dilúvio.
Para determinarmos tal localização, nos baseamos em três pontos bastante relacionados ao
evento, a saber:

a) o primeiro ponto, possivelmente atingido pelo dilúvio teria sido o Monte Hermon, nas
colinas de Golã, onde habitavam os gigantes já mencionados no texto, e cuja finalidade do
dilúvio seria destruí-los;

b) o segundo ponto, seria onde habitava a própria família de Noé, cujos registros
históricos indicam que seria nas proximidades do Jardim do Éden, na bacia compreendida
pelos rios Tigre e Eufrates;

c) o terceiro ponto, também atingido pelo dilúvio, que se tem notícia seria o Monte
Ararate, onde registros históricos indicam que parte da arca de Noé teria sido encontrada.

Com base nessas informações, cujos pontos encontram-se localizados na figura abaixo,
podemos perceber que a região atingida pelo dilúvio é exatamente uma região de um vale,
compreendida entre dois montes, distantes 1.200 km um do outro, propício, portanto, a
inundações.

Vale salientar que o Monte Hermon, onde possivelmente viveram os gigantes, possui
2.814 metros de altitude. É bem verdade que os gigantes não deveriam habitar as partes
mais altas do monte. Contudo, como as águas do dilúvio só alcançaram a marca de 6,7
metros de altura, é possível imaginar que alguns desses gigantes conseguiram sobreviver,
alcançando partes mais altas do monte, o que justificaria a presença de Ogue, rei de Basã,
mil anos após o dilúvio.

Por fim, nunca é demais lembrar que o livro de Gênesis foi escrito por Moisés, cerca de
1.000 anos após o dilúvio. Portanto, essas histórias foram repassadas de geração em geração
até o período do exílio. Para aquela geração, o mundo resumia-se ao Oriente Médio e um
pedaço da África (onde estiveram exilados por 400 anos). Para eles, e para algumas gerações
posteriores não havia um quarto ou quinto continente. Assim sendo, uma enchente de
enormes proporções nesses lugares (apenas no Oriente Médio), seria, para eles, uma
catástrofe mundial. E assim a história foi contada.
Monte Ararate
(c)

Moradia de Noé (b)


(a) Monte Hermon

Fig. 10 – Possível Região do Dilúvio

Portanto, pelas evidencias acima demonstradas, e pelos fatos acima mencionados e


constatados, quer sob os aspectos físicos e biológicos, quer pelas evidencias históricas, ou
mesmo as teológicas e antropológicas, somos levados a acreditar que o dilúvio se deu numa
região limitada de raio inferior a 800 km, o que corresponde a uma área um pouco maior que o
estado do Amazonas.

Essa é a nossa interpretação.

Saudações em Cristo Jesus,

Prof. Carvalho Pinto, Ph.D.

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