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PIBIC/PIBIT (2019/2020)
Edital nº 08/2018 – PROPe
TÍTULO:
DISCENTE
Beatriz Malta de Assis
http://lattes.cnpq.br/9496303239291826
Curso de Engenharia Civil e Ambiental
Faculdade de Engenharia – UNESP
PESQUISADOR RESPONSÁVEL
Prof. Dr. Osvaldo Luís Manzoli
http://lattes.cnpq.br/7901652737291917
Professor permanente desde 1989 – Regime RDIDP
COORIENTADOR
Dr. Pedro Rogério Cleto
http://lattes.cnpq.br/2002340178436235
Bauru/SP
Outubro de 2020
RESUMO
Devido a sua capacidade de criar caminhos preferenciais para o escoamento de
fluxo e por estarem presentes em quase toda parte superior da crosta do planeta,
falhas são estruturas geológicas de grande importância no estudo do
comportamento hidrodinâmico de fluidos no interior de rochas reservatório.
Diferentes metodologias foram desenvolvidas para modelagem dessas
estruturas, a fim de prever sua influência no fluxo de fluidos subterrâneos. O
presente trabalho propõe uma técnica de modelagem que utiliza elementos
finitos de interface com elevada razão de aspecto (high aspect ratio interface
element - HAR-IE) para representar as falhas em meio a uma rocha reservatório.
O estudo de tal metodologia visa avaliar a eficácia do emprego dessa técnica
para a solução de simulações numéricas. Para cumprir esse objetivo, foram
realizadas modelagens de exemplos propostos na literatura com intuito de
compará-las e concluir sobre a viabilidade do uso dos HAR-IE.
Palavras-chave: bandas de deformação, rochas-reservatório, método dos
elementos finitos, elemento de interface com elevada razão de aspecto.
1. INTRODUÇÃO
A presença de falhas em rochas-reservatório constitui um importante objeto
de estudo, uma vez que seus efeitos sobre as propriedades petrofísicas do meio
são significativos. As falhas são zonas estreitas representadas por uma
descontinuidade e com presença de movimento relativo da rocha circundante.
Seus efeitos podem facilitar o escoamento de fluido, servindo como condutos
altamente permeáveis (tais como as fraturas), ou dificultar o escoamento,
atuando como barreiras (assim como as bandas de deformação) (NETTO;
SILVA, 2011). Ambas as estruturas influenciam diretamente o escoamento de
fluido e comumente geram anisotropia nas propriedades da rocha-reservatório,
afetando sua porosidade e permeabilidade.
As bandas de deformação são estruturas tubulares delgadas definidas como
pequenas falhas sem uma superfície de descontinuidade discreta e com
deslocamentos relativos de poucos milímetros ou centímetros, formando uma
região de diminuição da permeabilidade (FOSSEN; BALE, 2007; AYDIN, 1978).
Essas estruturas são características de meios porosos (como o arenito, por
exemplo) e geralmente são constituídas por rochas trituradas, grãos fraturados
(que passaram por um processo de catáclase, ou seja, quebra de grãos) ou
materiais precipitados (como argila). Suas propriedades petrofísicas são
inversamente proporcionais a presença dos materiais que a constituem, isto é,
quanto maior a quantidade de argila ou o grau de catáclase dos grãos, menor é
a permeabilidade e a porosidade da banda de deformação (BENSE; PERSON,
2006; NETO; SILVA, 2011). A geometria da banda também representa um fator
importante na análise de sua influência no fluxo em meios porosos, uma vez que
quanto maior a complexidade espacial da zona de falha, maior será a dificuldade
da passagem do fluido pela região (NETO et al., 2012). Sendo assim, a influência
das bandas de deformação em meios porosos tem grande importância para
questões como gestão de recursos petrolíferos, reposição de resíduos
radioativos, migração de metano no leito de carvão nas minas e produção de
energia geotérmica (FLEMISCH et al., 2018).
Ao longo dos últimos 70 anos, diferentes abordagens para modelagem
numérica de falhas foram desenvolvidas e aprimoradas (FLEMISCH et al., 2018).
Porém, a representação de falhas em reservatórios via método dos elementos
finitos, por exemplo, ainda representa um grande desafio, pois há a necessidade
de se gerar malhas muito refinadas nas proximidades das falhas (PREVOST;
RUBIN; SUKUMAR, 2017). Por esse motivo, os métodos de modelagem buscam
diferentes meios para representar essas descontinuidades, de modo que sua
avaliação pode ser realizada a partir de benchmarks. Os benchmarks consistem
em uma metodologia para verificar, testar e comparar técnicas de modelagem a
partir de problemas selecionados especificamente para verificar os recursos e as
limitações de cada método, a fim de se fazer uma clara distinção entre eles
(FLEMISCH et al., 2018).
Devido a esses fatores e à grande importância de uma melhor compreensão
sobre bandas de deformação em rochas-reservatório, o presente trabalho busca
desenvolver um modelo de simulação numérica via o Método dos Elementos
Finitos para análise da influência das bandas de deformação sobre a
permeabilidade de meios porosos. A técnica que será utilizada consiste na
inserção de elementos finitos de interface com elevada razão de aspecto (high
aspect ratio interface element - HAR-IE) em uma malha de elementos finitos pré-
existentes que representam a rocha-reservatório (MANZOLI et al., 2012, 2016,
2019). Tais elementos de interface possuem uma elevada razão de aspecto, isto
é, a razão entre a base e a altura do elemento resulta em valores elevados
(MANZOLI et al., 2012). Os HAR-IEs são responsáveis pela caracterização das
bandas de deformação e permitem a representação do efeito da descontinuidade
no campo de pressão, uma vez que as relações constitutivas empregadas são
compatíveis com a Aproximação Contínua de Descontinuidades Fortes (CSDA)
(OLIVER; CERVERA; MANZOLI, 1999).
Para avaliar este método o presente trabalho analisou quatro exemplos. O
primeiro deles se trata de um caso com três geometrias simétricas proposto por
Liu et al. (2019), com o objetivo de verificar o funcionamento do método com
HAR-IEs. Na sequência, três testes envolvendo benchmarks propostos por
Flemisch et al. (2018) foram utilizados para comparação de resultados com
outros métodos disponíveis na literatura.
2. OBJETIVO
2.1. Objetivo geral
Utilizar as ferramentas numéricas disponibilizadas pelo grupo de pesquisa
para estudos de casos que descrevam a influência de bandas de deformação
em rochas-reservatório.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1. Falhas
Falhas são estruturas geológicas estreitas geralmente definidas como um
plano ou superfície de descontinuidade que ocorrem devido a um processo de
cisalhamento na rocha (FOSSEN; BALE, 2007). Elas podem atuar como como
um meio condutor (quando representam uma região de maior permeabilidade,
como no caso de fraturas) ou uma barreira (no caso de serem um meio de menor
permeabilidade, como as bandas de deformação) (NETTO; SILVA, 2011). Outra
forma de distinção possível para as falhas é por meio do tipo de deformação
ocorrida, uma vez que as bandas de deformação podem ser classificadas como
estruturas de deformação tubular, enquanto as fraturas constituem um grupo
associado a superfícies de deslizamento formando uma visível descontinuidade
na rocha (AYDIN et al., 2006b). Além disso, por serem encontradas em quase
toda parte superior da crosta, as falhas são os principais canais para fluxo de
fluido e desempenham um papel importante no comportamento hidrodinâmico
de sistemas, devido a sua capacidade de criar caminhos preferencias ao
escoamento dos fluidos (ZHANG; SANDERSON, 1995). Os principais tipos de
falha são ilustrados na Figura 1.
3.1.2. Fraturas
Fraturas são estruturas com deslocamento relativo entre blocos e estão
relacionadas ao aumento da porosidade e permeabilidade da rocha hospedeira
(FOSSEN; BALE, 2007). Geralmente, as fraturas representam estruturas
mecanicamente frágeis ou zonas de perda de coesão definidas por planos de
parição descontínuos (NETTO; SILVA, 2011).
4. METODOLOGIA
4.1. Equações Governantes
4.1.1. Forma Forte
Considere um meio poroso de domínio Ω e contorno Г, o qual pode ser
subdividido nas regiões ГP, , onde se prescreve pressão, e Гq, onde é imposto
um fluxo, assim como ilustrado na Figura 2.
Figura 2 - Domínio bidimensional Ω e contorno Γ, subdividido em ΓP e Γq, com
referência a um sistema (adaptado de SOUZA, 2003).
𝑭𝒆 = ∫ 𝑵𝑇 𝑞̅ 𝑑𝛤 + 𝑭𝒆𝒄 (8)
𝛺𝑒
𝑭 = ∑ 𝑯𝑒 𝑇 𝑭 𝑒 (10)
𝑒=1
𝒏𝒆
𝑲 = ∑ 𝑯𝒆 𝑻 𝑲 𝒆 𝑯𝒆 (11)
𝒆=𝟏
A Figura 8 mostra o campo de pressão obtido para cada uma das três
geometrias considerando-se os casos de bandas de deformação, onde pode-se
notar uma mudança abrupta nos campos de pressão ao redor dos ramos das
bandas. A Figura 9 apresenta os gráficos comparativos de pressão ao longo de
três perfis, sendo um vertical, x = 5 m (Fig. 6b) e dois horizontais, y = 4 m (Fig.
6b) e y = 6 m (Fig. 6b). Note que os saltos de pressão provocados pela presença
das bandas de deformação ficam evidentes em tais perfis, sendo representados
pelas alterações consideráveis no valor da pressão.
Figura 8 - Campos de pressão para os casos de banda de deformação
considerando a (a) Geometria 1; (b) Geometria 2; (c) Geometria 3.
Figura 14 - Campo de pressão referente ao caso com fraturas: (a) solução com
HAR-IEs, (b) resposta de referência de Flemisch et al. (2018).
Para comparação dos resultados, traçou-se o perfil de pressão ao longo das
linhas de referência (veja Figura 12b) e os resultados estão apresentados na
Figura 15 juntamente com os perfis obtidos por Flemisch et al. (2018). Para o
caso de fraturas são comparadas duas linhas, sendo uma horizontal em y = 0.7
m e outra vertical em x = 0.5 m (Figura 15a-b, respectivamente). Já para o caso
de banda de deformação, o perfil de pressão é traçado ao lingo da diagonal (0,
0.1) – (0.9, 1) cruzando todo o domínio (Figura 15c).
Figura 15 - Perfis de pressão ao longo das linhas de referência considerando o
caso com fraturas para (a) y = 0.7 m e (b) x = 0.5 m; e o caso com banda de
deformação para a (c) diagonal (0, 0.1) – (0.9, 1).
Falhas xA yA xB yB
1 0.0500 0.4160 0.2200 0.0624
2 0.0500 0.2750 0.2500 0.1350
3 0.1500 0.6300 0.4500 0.0900
4 0.1500 0.9167 0.4000 0.5000
5 0.6500 0.8333 0.849723 0.167625
6 0.7000 0.2350 0.849723 0.167625
7 0.6000 0.3800 0.8500 0.2675
Tabela 1 - Coordenadas das falhas na região modelada representada na
Figura 16 (FLEMISCH et al., 2018).
Figura 17 - Campo de pressão do caso com fluxo vertical: (a) solução com
HAR-IEs e (b) resposta de referência de Flemisch et al. (2018).
Figura 18 - Campo de pressão do caso com fluxo horizontal: (a) solução com
HAR-IEs e (b) resposta de referência de Flemisch et al. (2018).
Note que para ambos os casos, isto é, fluxo vertical (Figs. Figura 17a-b) e
horizontal (Figs. Figura 18a-b), os campos de pressão apresentam uma boa
concordância, ainda que de forma qualitativa.
Para comparação dos resultados, traçou-se o perfil de pressão ao longo da
linha de referência (0, 0.5) – (1, 0.9) (veja Figura 16) e os resultados estão
apresentados na Figura 19 juntamente com os perfis obtidos na mesma linha por
Flemisch et al. (2018). Para ambos os casos, isto é, fluxo vertical (Fig. Figura
19a) e fluxo horizontal (Fig. Figura 19b), a curva obtida a partir dos HAR-IEs
apresenta boa semelhança com relação à curva de referência apresentada por
Flemisch et al. (2018), demonstrando que o método proposto nesse trabalho
pode lidar simultaneamente com fraturas e bandas de deformação.
Figura 19 - Perfis de pressão ao longo da linha (0, 0.5) – (1, 0.9): (a) caso com
fluxo vertical, (b) caso com fluxo horizontal.
Figura 21 - Campo de pressão: (a) solução com HAR-IEs e (b) resposta obtida
por Flemisch et al. (2018) pelo método Box.
Para uma melhor comparação dos resultados, traçou-se o perfil de
pressão ao longo de duas linhas de referência (vide Figura 20b), sendo uma
vertical em x= 625m e outra horizontal em y= 500m. Os resultados podem ser
observados na Figura 22 juntamente com os perfis obtidos na mesma linha por
Flemisch et al. (2018). Observa-se que, tanto os campos de pressão (Figura 21)
e as curvas obtidas partir dos HAR-IEs (Figura 22) apresenta boa concordância
com as respostas apresentadas por Flemisch et al. (2018).
Figura 22 - Perfis de pressão ao longo das linhas de referência: (a) x= 625 m;
(b) y= 500 m
6. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
As atividades básicas previstas para o período são:
1) Levantamento bibliográfico acerca da influência de bandas de
deformação em rochas-reservatório;
2) Estudos sobre o Método dos Elementos Finitos e elementos de elevada
razão de aspecto;
3) Elaboração de modelo computacional representativo de bandas de
deformação;
4) Realização de testes básicos mediante exemplos sintéticos e
simplificados para validação do modelo gerado;
5) Realização de simulações numéricas considerando geometrias de
análogos representativos;
6) Preparação de material para subsidiar a elaboração de artigos;
7) Elaboração de relatórios.
7. CONCLUSÃO
Foram realizados quatro exemplos via método dos elementos finitos
utilizando HAR-IEs (elementos finitos de interface com elevada razão de
aspecto) para representar as falhas.
O primeiro deles constitui-se de três geometrias de falhas simétricas
consideradas ora como bandas de deformação, ora como fraturas. Os resultados
mostram que os HAR-IEs são capazes de capturar tanto as descontinuidades no
campo de pressão geradas pela presença das bandas de deformação, quanto a
continuidade do campo relacionada às fraturas. Tal comportamento demonstra
que os HAR-IEs são capazes de reproduzir com eficácia o efeito dos dois tipos
de falha.
O segundo exemplo foi um caso de benchmark proposto por Flemisch et al.
(2018). De maneira semelhante ao primeiro exemplo, também foram
consideradas duas situações, isto é, as falhas representando bandas de
deformação e fraturas. As respostas obtidas foram comparadas com aquelas
apresentadas por Flemisch et al. (2018). Os resultados mostram uma boa
semelhança entre o método com HAR-IEs e as respostas de referência.
O terceiro exemplo também trata de uma comparação feita com um
benchmark proposto por Flemisch et al. (2018). Nesse caso, buscou-se analisar
uma geometria mais complexa, contendo simultaneamente fraturas e bandas de
deformação. Assim como no exemplo anterior, os resultados são muito próximos
às soluções de referência.
Por fim, o quarto exemplo teve como objetivo realizar uma análise com base
em um benchmark mais realista proposto por Flemisch et al. (2018). Da mesma
forma que nos dois outros exemplos anteriores, a solução obtida foi muito
próxima da referência.
Com isso, conclui-se que as respostas obtidas com elementos finitos
triangulares lineares com elevada razão de aspecto são satisfatórias e
promissoras, tanto por serem capazes de capturar as alterações nos campos de
pressão causadas por bandas de deformação e/ou fraturas, quanto por
apresentarem respostas muito próximas às referências da literatura mesmo para
casos complexos e próximos a realidade. Assim, percebe-se que representar
falhas por HAR-IEs consiste em uma boa ferramenta para problemas que
envolvam a modelagem e/ou análise de falhas em rochas reservatório.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Sandstones: Petrophysical Properties. Stanford, 1994.
FOSSEN, H.; BALE, A. Deformation bands and their influence on fluid flow.
AAPG Bulletin, Tulsa, v. 91, n. 12, p. 1685–1700, dez. 2007
MANZOLI, O.L.; CLETO, P.R.; SÁNCHEZ, M.; GUIMARÃES, L.J.; MAEDO, M.A.
On the use of high aspect ratio finite elements to model hydraulic fracturing in
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2019.
NETO, J. M. A.; SILVA, F. C. A. Caracterização multi-escalar de bandas de
deformação nas tecnossequências Paleozóica, pré- e sin-rife da bacia do
Araripe, nordeste do Brasil. Dissertação (Mestrado em Geodinâmica e
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KNIPE, R. J.; JONES, G.; FISHER, Q. J. Faulting, fault sealing and fluid flow in
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