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Das afeições desordenadas

1. Todas as vezes que o homem deseja alguma coisa


desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o
avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de
espírito vivem em muita paz. O homem que não é perfeitamente
mortificado facilmente é tentado e vencido, até em coisas pequenas
e insignificantes. O homem espiritual, ainda um tanto carnal e
propenso à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se
de todos os desejos terrenos. Daí a sua frequente tristeza, quando
deles se abstém, e fácil irritação, quando alguém o contraria.
2. Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da
consciência, porque obedeceu à sua paixão, que nada vale para
alcançar a paz que almejava.
Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração,
e não em segui-las. Não há, portanto, paz no coração do homem
carnal, nem no do homem entregue às coisas exteriores, mas
somente no daquele que é fervoroso e espiritual.

Reflexões
Examina mais de uma vez por dia, mais ou menos de noite e de
manhã, se tens tua alma em tuas mãos, ou se ela não foi
arrebatada por alguma paixão ou inquietação. Considera se tens
sob teu comando teu coração, ou se ele não escapou totalmente de
tuas mãos para engajar-se em alguma afeição desregrada de amor,
de ódio, de inveja, de cobiça, de medo, de aborrecimento ou de
alegria.
Quando ele se extraviou, antes de mais nada procura trazê-lo de
volta à presença de Deus, reconduzindo teus afetos e desejos à
obediência e conduta de sua divina vontade (Introduction à la vie
dévote, parte IV, cap. XI, I, 249).

Oração
Meu Senhor Jesus Cristo, que por mim quisestes ser elevado na
cruz e exaltado, libertai-me dos afetos terrestres e elevai meu
espírito à consideração das coisas celestes. Amém (Opusc., III,
229).

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