Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2. A ciência já sabe dizer por que algumas pessoas são mais supersticiosas ou religiosas do
que outras? Há uma base genética e orgânica que se soma ao desenvolvimento do
indivíduo dentro de determinado ambiente ou cultura?
3. Há pessoas que se dizem céticas, mas sentem uma necessidade de olhar o horóscopo ou
rezar de vez em quando. Como nosso cérebro "trabalha" para conciliar uma visão de
mundo mais racional e cética com uma visão mais supersticiosa ou religiosa?
Primeiramente, é preciso tomar dois cuidados, primeiro é o de considerar religiosidade
como quase sinônimo de superstição e em necessária oposição com o pensamento
racional e científico. Este é um erro que tem sido corrigido por diversos historiadores
recentes das relações entre ciência e religião. Por exemplo:
Concluindo, pessoas “racionais” podem também aceitar “superstições” por duas razões
principais:
- a racionalidade que usam em um aspecto da vida (pesquisa científica), não é utilizada
em outro aspecto da vida (ex.: relacionamentos afetivos, uso do dinheiro, política,
crenças sobre si e o universo)
- pode haver boas razões racionais e baseadas em evidências que embasam um dado
fenômeno muitas vezes considerado como superstição.
4. Há estudos que sugerem que a crença ou fé em determinado princípio ou religião pode
ajudar pacientes a se recuperar mais facilmente de uma doença. Qual o impacto da
crença/fé no nosso bem-estar psicológico e físico? Ter uma crença faria bem à saúde?
Há atualmente um grande corpo de evidências neste sentido.
Da metade do século 19 até o final do século 20, a tendência bastante forte nos meios
intelectuais e científicos era considerar a religiosidade como um aspecto negativo da cultura
humana. Imaginava-se que a fé religiosa seria um resquício de primitivismo, um instrumento
de negação da realidade, de fuga psicológica, que estaria associado com a neurose. Embora,
sem dúvida tais situações ocorram, generalizá-las e transformá-las na explicação padrão, se
deveu muito mais a razões ideológicas do que científicas.
Cerca de 20 a 25 anos atrás, pesquisadores, começaram a fazer estudos rigorosos para avaliar
a relação entre religiosidade e saúde na população em geral. Houve, inicialmente, muita
resistência a este tipo de investigação, mas, com o tempo, esses estudos começaram a
apresentar resultados bastante robustos, que iam na contramão daquilo que se pensava. De
um modo geral, o envolvimento religioso estava associado a maiores índices de bem estar e de
saúde física e mental. Centenas de estudos indicam de modo consistente que um maior
envolvimento religioso tende a estar relacionado a indicadores de saúde como menor
mortalidade, menores níveis de depressão e de uso de drogas, maior tempo de sobrevida em
caso de doença grave, melhor qualidade de vida de indivíduos com uma doença física.
Naturalmente, há também o lado negativo, embora seja menos frequente. A religião, como
tudo o mais na vida, pode ser mal utilizada. Pode ser usada como instrumento de
manipulação, abuso de poder, busca de prestígio, fuga de um auto-enfrentamento ou das
adversidades da vida. Também é negativo quando se associa com intolerância e preconceitos,
quanto afasta, mais que une as pessoas.
Para se ter uma visão geral das pesquisas na área também recomendo o suplemento especial
em “Espiritualidade e Saúde” da Revista de Psiquiatria Clínica (Rev Psiq Clin 2007, 34; supl.1),
que já foi baixado mais de 223 mil vezes no Scielo, sendo o fascículo mais acessado da Revista
entre os publicados desde 2006.