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Escola de Bicicleta

Curso de Mecânica
SUMÁRIO

1. Mecânica - Conceitos:   O que pretende este breve curso

sobre mecânica? »

2. Mecânica Prática - 1: Como fazer manutenção e mecânica

básica de bicicletas. »

3. Mecânica Prática - 2:   Ações de um bom mecânico »

4. Mecânica Prática - 3:   Porca e contra-porca, caixa de

direção, movimento central »

5. Mecânica Prática - 4:   Rodas, cubos e eixos »

6. Mecânica Prática - 5:   Centragem de roda »

7. Mecânica Prática - 6:   Lubrificação e limpeza, corrente,

cabos e conduítes »

8. Mecânica Prática - 7:   Freios e câmbios »

9. Mecânica Prática - 8:   Pneus e câmaras de ar »

10. Ferramentas:   Níveis básico, amador e profissional»


1. Mecânica - Conceitos:   O que pretende este breve
curso sobre mecânica?

Demoramos muito para colocar esta página no ar. Mas tudo tem seu tempo.

Este longo tempo foi precioso para pensar e repensar inúmeras vezes como
encaminhar um curso sobre mecânica e manutenção de bicicletas.
A Escola de Bicicleta existe para "ensinar a pescar e não para entregar o
peixe". Tempo, tempo, tempo...; o tempo nos fez ver que a diferença entre a
maioria dos que tentam fazer mecânica e os que fazem mecânica para valer
está na postura, princípios, conceitos e procedimentos.
Queremos aqui dar o "b a ba" para ajudar nossos leitores a pensar a mecânica.
O resultado final deve ser sempre "prazer", que podemos traduzir em
qualidade, segurança e conforto no trabalho e no pedalar a bicicleta.

Mecânica é uma questão de estado de espírito .

Boa parte dos mecânicos simplesmente apertam e soltam parafusos e


com isto dão um "jeitinho" na bicicleta. A maioria nunca viu um manual da peça
ou da bicicleta, não sabe que há diferença de medidas entre simples chaves de
fenda, que há um torque (medida de pressão) correto, e sequer entendem
porque tem que entregar o trabalho final limpo, perfeito e bem apresentado.
Quase todos estão lá porque tem que ganhar o pão de cada dia e ponto.

Há vários tipos de mecânico, o profissional, amador, o eu-mecânico, o


quebra galho, mas há um mesmo espírito que os une: fazer as coisas
funcionarem bem.
Não importa se você quer abrir uma oficina ou bicicletaria, ou ainda se
quer simplesmente ter sua própria bicicleta sempre perfeita, dê um passo por
vez, com calma. O resultado sempre chega.

 Fazer mecânica

É ótimo ter conhecimento sobre mecânica até porque acaba refinando a


forma de conduzir a própria bicicleta. A máxima "ciclismo é a arte da
suavidade", que é repetida exaustivamente pela Escola de Bicicleta, só pode
ser alcançada quando o ciclista tem um conhecimento completo do processo, o
que inclui conhecer a própria bicicleta.

A primeira atitude para entender o que é mecânica de bicicleta é ter uma


bicicleta minimamente decente. Não desejo para ninguém as surras que tomei
nos meus primeiros anos de ciclista e pseudo-mecânico. Apanhei porque me
recusei a ouvir gente com experiência que sempre me dizia que aquela
bicicleta não valia nada. Quando tive minha primeira bicicleta de qualidade
entendi que eu tinha capacidade para fazer mecânica e que pseudo mesmo era
aquela bicicleta "bonitinha, mas ordinária", como diria Nelson Rodrigues.

Quer aprender mecânica? Então tenha em mãos uma bicicleta


que mereça ser chamada de bicicleta.

Fazer mecânica é possível para qualquer um, basta querer. O mais


importante é desmistificar e acalmar-se para entender como funciona.
Procedimento é absolutamente tudo.
Em mecânica não existe mágica, existe um procedimento lógico que
normalmente é simples. Depois de um pouco de prática, controlada a
ansiedade, é possível aplicar a mesma forma de pensar e agir em todo e
qualquer coisa que se vá consertar. Se ainda tiver dúvidas olhe o manual ou
desenho técnico do equipamento, disponíveis na Internet.
Tenha claro que praticamente tudo no nosso dia a dia é criado para ser
manipulado por gente como você e não por astronautas, cientistas, marcianos
e lunáticos. Principalmente no ramo das bicicletas a coisa toda é muito simples
pois os fabricantes têm que levar em consideração o nível geral do mercado,
que é bem simples.

Bicicleta é simples, feita de poucas peças e componentes, o


que faz sua mecânica também simples.

O que interessa mesmo em mecânica é o procedimento correto e o


melhor resultado possível, e porque não a perfeição. Não importa muito saber
todos os nomes de peças, ferramentas, componentes... Interessa realizar o
correto e o correto é simples.

Como fazer? Olhe, toque, sinta, olhe de novo, teste, descubra as


diferenças por si só, cometa erros sem cometer crimes, aprenda a acertar sem
ter medo de errar. Pergunte aos mais experientes, crie um grupo de
conhecidos ao qual possa recorrer, perguntar, trocar informação com
confiança. Permita-se "crescer".

Tudo que temos em volta, da bicicleta à geladeira, da televisão ao


computador, tem uma mecânica envolvida que foi construída em cima de um
procedimento padrão, uma forma de pensar as ações com uma seqüência
lógica, um procedimento sensato. Talvez o mecânico de carro ou de geladeira
tenha a resposta correta pois tudo funciona sobre a mesma base lógica.

Sempre há o que aprender. São pouquíssimos os que de fato tem


conhecimento para valer e a maioria destes chegou lá com o tempo, com a
experiência. Há os que nasceram com o dom, o que é raro e não deve ser
tomado como exemplo, mas como referência. A maioria dos mecânicos é um
simples mortal, como nós.

É muito importante reforçar que habilidade é algo que se treina e que a


qualidade do mecânico aparece pelo seu esforço diário e constante na busca
da perfeição. Aliás, como tudo nesta vida. É preferível um mecânico menos
habilidoso, mas sério, disciplinado, consciente e com resultados positivos, do
que um mecânico que sabe que é bom, mas acredita que isto baste e de vez
em quando cometa alguma besteira.

Saiba reconhecer seus limites. Vá até onde sua capacidade permite ir no


momento. Um passo por vez.

Enfim, fazer mecânica de qualidade é sobre tudo uma questão de


postura.

 Ferramenta

Corpo, a ferramenta básica

O uso do próprio corpo é a primeira ferramenta que se usa. Desde


quando somos bebês manuseamos tudo para descobrir como funciona. Vários
animais usam o corpo como ferramenta, como o sabiá que usa o bico para
bater a semente contra pedras e assim quebrar a casca e comer seu núcleo.

A melhor ferramenta que existe é nosso próprio corpo. Conseguir olhar e


ver, tocar e sentir, parar e pensar, é ferramenta imprescindível para realizar um
trabalho de mecânica de qualidade.
Quanto melhor o mecânico, mais ele usa a cabeça e o corpo.

Sempre é possível treinar corpo e mente e melhorar as qualidades de


sensibilidade, força, discernimento e lógica. Mecânica é uma ótima
oportunidade para se refinar. Isto é possível através de pequenos atos de
disciplina como acostumar-se a não tocar na peça antes de olhá-la por todos
ângulos, parar para pensar no sistema... Há muitos caminhos para o
treinamento, mas nenhum melhor que dar um passo por vez procurando
sempre a melhor forma de realizar a tarefa. Repetição à exaustão ensina corpo
e mente a proceder corretamente. Mas sempre um passo seguro por vez!

Quanto mais disciplinado é o mecânico melhor. Disciplina é uma


ferramenta valiosíssima, talvez a mais valiosa de todas. Só através da
disciplina se chega à liberdade, a plena capacidade de ação e ao melhor
resultado.

 A utilização da ferramenta

Ferramentas devem funcionar como uma extensão do corpo humano.


Normalmente são acionadas seguras pelos dedos ou com a mão inteira. Muito
poucos percebem que dedos, mão, braço são um todo contínuo e funcionam
como um sistema. Quando você pega algo com a ponta dos dedos a ação
começa na cabeça, passa por músculos, nervos e outros mais, e termina na
ação do dedo.

É necessário saber usar corretamente a ferramenta e para tanto é


necessário manuseá-la. Há uma posição correta para que dedos, mão, pulso,
antebraço e braço e até o tronco executem o trabalho com menor esforço e
maior sensibilidade e este é um segredo para ter sempre qualquer trabalho
bem realizado.

Cada grupo ósseo / articular / muscular tem uma posição que é natural,
ou seja, um grau de articulação, de tensão e extensão ideal. Como exemplo
olhe para sua mão. Ela mantém um alinhamento centrado com seu antebraço.
Toda vez que você torce muito sua mão para cima, para baixo, ou para os
lados ela perde força e sensibilidade. Então a melhor forma de trabalhar com a
mão é não exagerar seu ângulo de torção. No caso do cotovelo a posição
natural não é reta, mas um pouco angulada, e provavelmente a maior força do
braço se dá quando o cotovelo está próximo à 90 graus. É assim como todo
nosso corpo.

Descobrir o próprio corpo e usá-lo da melhor maneira possível é o


primeiro passo para se transformar em um bom ciclista, portanto um bom
mecânico.

É preciso prestar atenção em si e perceber que para trabalhar com


pequenos parafusos ou porcas o ideal é usar só a ponta dos dedos,
procurando descobrir neles onde está a área de maior sensibilidade, ou para
fazer muita força é melhor conhecer em que posição todos músculos terão sua
melhor condição.

 Ferramentas corretas

As bicicletas atuais usam umas poucas ferramentas normais,


praticamente só em milímetros, mais um conjunto de ferramentas desenhadas
para uso específico em algumas peças e componentes como relação,
movimento central, niples, eixos, suspensão e outros. É necessário não mais
que umas 50 ferramentas, entre comuns e especiais, para montar uma oficina
onde se consiga trabalhar em quase toda bicicleta. É possível começar com
bem menos ferramentas e dependendo do tipo de bicicleta que se vá trabalhar,
principalmente as mais simples, as ferramentas especiais são praticamente
dispensáveis.

A recomendação que fazemos é para que na hora da compra das


ferramentas a opção seja pelas de melhor qualidade. Ferramenta é um bem
durável, não deve ser pensada como descartável. A diferença de rendimento
do trabalho com uma ferramenta de qualidade e uma comum é impressionante;
a diminuição de custos a médio e longo prazo também.

Usando a ferramenta correta, quanta força é necessária?

Há uma medida de pressão (torque - força de torção) específica para


cada porca e parafuso que é determinada pelo projeto da peça. Qualquer peça
ou componente de qualidade vem com manual de proprietário e neste
documento há a medida exata de pressão a ser aplicada. Praticamente todas
as bicicletas, com exceção das "topo de linha" e as profissionais, permitem um
nível de tolerância que dispensa o uso de torquímetro (ferramenta que dá o
torque, pressão, exato.)

Com o treinamento a maioria consegue chegar próximo ao torque ideal


de cada porca ou parafuso. O que ajuda ai é o projeto das ferramentas que tem
no seu tamanho a alavanca ideal para que a aplicação da força média de um
homem comum chegue ao torque correto. O resto é prática e bom senso do
mecânico.

Importante:
1. Peças e componentes de baixa qualidade espanam ou deformam com certa
facilidade, até mesmo quando recebem a pressão ideal para o bom
funcionamento da peça.
2. Quanto melhor a qualidade do material maior será a tolerância a variações
de pressão
3. Se não tiver treinamento específico evite trabalhar com bicicletas
profissionais que empregam materiais de alta tecnologia, como fibra de
carbono, titânio ou mesmo alguns tipos de alumínio.

 Limpeza e preservação ambiental

A questão da limpeza é crucial para a execução de uma boa mecânica,


não só para a própria bicicleta, mas para o próprio mecânico, sua saúde, de
sua família e seu meio ambiente.

Bicicletas são normalmente sujas.


Quando se tira a sujeira da bicicleta ela vai parar em outro lugar. A terra pode
ser devolvida para a terra, mas graxas, óleos, solventes e desengraxantes não
podem ser jogados fora em qualquer local porque contaminam muito o meio
ambiente. Eles têm que receber destinação própria. Muitas cidades já têm
coleta seletiva para este tipo de lixo, mas se a sua ainda não tem procure
informação para saber o que fazer com o seu lixo. Dê exemplo.

A maioria dos produtos de limpeza (e não só eles) exalam elementos


que fazem mal ao corpo humano. Um local apropriado, bastante ventilado, para
a limpeza geral da bicicleta é uma medida de previdência.

2. Mecânica Prática - 1: Como fazer manutenção e


mecânica básica de bicicletas
O bom mecânico é aquele que tem plena consciência que só deve
desmontar algo em último caso. Um trabalho bem realizado dura mais tempo, o
que evita futuros "monta e desmonta, ajusta e reajusta".

Hoje em dia é muito fácil simplesmente trocar uma peça. É mais rápido,
mas faz com que o mecânico não procure entender as causas do problema. E
fazer mecânica de boa qualidade é justamente entender estas causas, os
princípios de ação e reação.

Seja mecânico - pense!

É preciso analisar a bicicleta como um todo para descobrir o defeito. Por


exemplo, um problema na troca de marchas de uma bicicleta pode vir do
câmbio, do cabo de aço, do passador de marchas ou de simples regulagem.
Nem sempre a simples troca de um componente resolve o problema. É preciso
analisar o conjunto montado na bicicleta. Outro alerta é quanto aos sonhados
"upgrades" na bicicleta: voce pode fazer com que o conjunto simplesmente não
funcione!

Como agir para executar um bom trabalho?


Exerça sua capacidade de análise, de diagnóstico. O bom mecânico é aquele
que entende realmente o equipamento que está trabalhando e faz o
diagnóstico correto da causa do problema. Resolver a questão de forma rápida,
mas sem entender o que realmente está acontecendo não é sinônimo de bom
mecânico. Um bom mecânico deve ter paciência e discernimento.

 As Bicicletas

Boa parte dos acidentes envolvendo ciclistas é causada por falha


mecânica ou falta de manutenção, devido a negligência ou falta de
conhecimento do proprietário. Mantenha sempre sua bicicleta em ordem.

Bicicleta ruim não dá ajuste ou regulagem, quebra fácil, pode ser


perigosa e causar acidentes.
A qualidade da bicicleta está diretamente relacionada com a segurança e
prazer do ciclista.
Quanto melhor a qualidade mais segura ela é e menos manutenção ela dará.

 Revisões periódicas na bicicleta

É importente fazer pelo menos uma revisão completa na bicicleta a cada


6 meses. Tenha sempre em vista uma boa bicicletaria, na qual você tenha
plena confiança, para a execução de uma revisão completa, principalmente se
sua bicicleta conter peças muito sofisticadas e caras (amortecedores, por
exemplo).

 Quem é você?

Alguém que entendeu o problema e sabe como resolver? Situação fácil,


mãos à obra!

Alguém que não entendeu o problema mas tem condições de trabalho?


Procure ler o manual técnico da peça ou sistema. Outra forma é buscar
informação com amigos ou numa bicicletaria.

Alguém que não tem conhecimento ou condição de trabalho apropriada,


faça o investimento necessário ou procure uma bicicletaria para consertar para
você.

Lembramos: Com calma qualquer um consegue. Se não conseguir e não


souber como resolver o problema, não se envergonhe, leve até a bicicletaria.
Pode ser uma medida mais inteligente.

 O início da prática da mecânica

Ações simples que qualquer mecânico e ciclista deve fazer:

i. Apertar o pneu para saber se está cheio ou não.


A calibragem correta está escrita na lateral do pneu. Não coloque a
pressão máxima especificada e procure manter o pneu sempre
calibrado. Isso aumenta a vida útil da câmara e do pneu.
ii. Ver se a ponta do selim está alinhada com o quadro e em paralelo com
o chão.
Não pode estar nem para baixo, nem para cima, tampouco para o lado.
iii. O selim tem que estar completamente fixo - não pode mudar de posição.

Dê uns murros na ponta para baixo e para os lados - o selim não pode
se mexer. Caso mexa é necessário apertar o parafuso que está debaixo
do selim ou o grampo do canote de selim.
iv. Acionar com força o freio dianteiro e chacoalhar o guidão para frente e
para trás. Se houver um barulho de cleque-cleque ou movimentação
suspeita é porque a caixa de direção deve estar solta.
v. Acionar com força os freios e empurrar a bicicleta para frente com
vontade - a roda da bicicleta não pode girar. Caso gire, os freios estão
mal regulados.
vi. Girar as rodas para ver se elas giram soltas. Se raspam na sapata do
freio e param rápido é necessário fazer uma centragem da roda ou
ajuste do freio.
vii. Se ao girar a roda, o aro estiver centrado, as sapatas não rasparem no
aro e mesmo assim a roda não girar livremente provavelmente é
necessário ajuste nos cubos.
viii. Se as rodas giram sem problemas, os pneus calibrados e mesmo assim
a bicicleta parece mais pesada do que deveria, é provável que o
movimento central esteja mais apertado do que deveria.
ix. Ouvir a bicicleta enquanto pedala: quando bem ajustada e regulada não
faz qualquer barulho.
x. Bicicletas de alumínio, em especial, mostram barulho de qualquer folga
ou desajuste. Talvez os cleques cleques venham das blocagens (travas
rápidas) pouco apertadas. Veja a pressão das blocagens das rodas e do
canote de selim.
xi. Se você não for capaz de descobrir o que faz barulho com a bicicleta
rodando, mexa parte por parte da bicicleta até descobrir onde está a
folga.
xii. Verifique se não há amassados ou rachaduras. Qualquer anormalidade
no guidão, garfo ou pedais só volte a usar a bicicleta depois da troca da
peça.
xiii. Acionado o passador, a marcha tem mudar de maneira rápida e precisa.
Não pode pular ou fazer barulho de estar raspando.
xiv. É extremamente importante manter todos refletores sempre limpos e
alinhados para frente e para a trás. Não se esqueça dos refletores de
roda e pedais. A maioria dos acidentes acontece porque o ciclista se
torna invisível no escuro e refletores pode ser a diferença entre vida e
morte.

3. Mecânica Prática - 2:   Ações de um bom mecânico

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