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1 - A Psicologia e a Educação

Entende-se por Psicologia a área do conhecimento que se debruça sobre o ser


humano e seu comportamento, seus processos mentais e suas relações sociais. Como
seres únicos e individuais, os seres humanos possuem uma subjetividade onde a
Psicologia pretende atuar, que é construída ao longo da vida e é orientada por suas
experiências e relações, além de sofrer influências biológicas.

Formada por correntes de pensamentos que se constituíram no final do século


XIX e início do século XX, a Psicologia traz diversas abordagens diferentes para
interpretar o comportamento humano. Como principais, tem-se o Estruturalismo,
Funcionalismo, Associacionismo, Behaviorismo, a Psicanálise, a Gestalt e o
Humanismo. Com características diversas, cada qual ao seu modo, essas correntes
pretendem criar visões críticas do comportamento humano e seu desenvolvimento.

Diversas áreas são as que se entrelaçam com a Psicologia afim de obter


melhores resultados de seus objetivos, e a Educação é uma delas. Ao entender que
cada ser humano aprende de forma própria e que possui sua própria subjetividade, a
Educação conta com os estudos da Psicologia para identificar as melhores maneiras de
atuar no ensino e na aprendizagem.

A Psicologia da Educação, estudos que atendem tanto a Psicologia quanto a


Educação, olha para como o ser humano aprende em ambientes escolares e
educativos, e tem como objetivo principal compreender e identificar processos que
facilitem os processos de aprendizagem.

A Psicologia da Educação estuda como os seres humanos aprendem em


ambientes escolares e educativos. Tem por objeto de estudo as situações da
educação sob o ponto de vista da psicologia e busca conhecer e
compreender os fatores que determinam a aprendizagem, as situações
educacionais que podem facilitar ou dificultar o processo educativo (BRAZ,
2015, p. 18)

Para tanto, apropria-se da Psicologia do Desenvolvimento, que busca identificar


as etapas de desenvolvimento do ser humano, relacionando-as com sua idade
biológica. “Em outras palavras, é o estudo das alterações físicas, cognitivas e sociais
que acontecem ao longo da vida do ser humano”. (BRAZ, 2015, p. 18)
Como afirma BRAZ (2015, p. 18), ao utilizar a observação como método, a
Psicologia do Desenvolvimento descreve comportamentos de indivíduos na mesma
faixa etária e pretende assim, encontrar semelhanças que caracterizem as fases do
desenvolvimento. Pesquisa Observacional longitudinal e transversal, Estudo de Caso,
Levantamento, Pesquisa Correlacional e Experimental são as maneiras que a Psicologia
do Desenvolvimento observa os indivíduos.

Algumas são as áreas do Desenvolvimento Humano que a Psicologia do


Desenvolvimento pretende analisar. Área Cognitiva, que está relacionada à memória e
pensamento; Área Motora ou Física; Área Perceptiva que analisa sentidos como visão,
audição e tato; Área Psicossexual, que analisa as mudanças psicossexuais nas
diferentes etapas do desenvolvimento; Área Social e da Personalidade, olhando
principalmente para relacionamentos interpessoais; e a Área Emocional, que estuda o
desenvolvimento de afeto e comportamentos emocionais.

As visões acerca da formação e desenvolvimento do ser humano se dividem,


desde o século XVII, entre aqueles que entendem que a hereditariedade é quem
comanda as características do indivíduo, e os pensadores que acreditam na herança
genéticas, mas além disso, que o ser humano sofre influência e também adquire suas
características de acordo com as influências do meio em que está inserido e de suas
relações sociais.

Atualmente, a maioria dos psicólogos concorda que tanto os aspectos


herdados, (internos) quanto à criação (ambientais) exercem papéis
importantes para a formação do ser humano e estes aspectos, internos
(herdados) e externos (ambientais), interagem continuamente orientando o
desenvolvimento do indivíduo. Esta linha de pensamento aceita o
determinismo recíproco, isso é, o meio é produto e produtor do indivíduo,
não descartando a participação da herança genética. Assim, o que faz uma
pessoa ser aquilo que é resulta da combinação dos fatores herdados e do
seu meio social e ambiental. Estes podem ser denominados interacionistas
ou sociointeracionistas. (BRAZ, 2015, p. 22).

Ao entender que tanto o ambiente quanto a hereditariedade influenciam os


comportamentos e o desenvolvimento humano, estudiosos afirmam que o ambiente
tem poder de impulsionar ou frear potencialidades humanas, como afirma BRAZ (2015,
p. 24): “O potencial hereditário de uma pessoa pode ser estimulado, freado ou
reprimido, dependendo do tipo, da quantidade e da qualidade de seus
relacionamentos socio ambientais (...)”.
Apesar de hoje conhecermos o significado e a importância da infância no
desenvolvimento do ser humano, sabemos que esta ideia não é “(...) absoluta nem
universal, e sim relativa e diversificada. A ideia de infância é uma construção social,
que assume diferentes formas em diferentes contextos históricos, sociais e culturais”.
(BUCKINGHAM, 2007, p.8).
De acordo com Philippe Ariès (1975), historiador francês que estudou a
infância, antes do século XVII, a palavra infância representava uma extensa faixa etária,
que em alguns casos passava dos 20 anos de idade.
Se naquela época, a ideia de dividir a infância não estava ligada às fases de
amadurecimento biológico, hoje sabe-se que a criança apresenta fases de evolução
que são conhecidas como períodos de desenvolvimento e que de acordo com a
Biologia e a Psicologia podem ser dividias em: Pré-natal, recém-nascido, primeira
infância (de 4 meses aos 2 anos), segunda infância ( dos 2 aos 9 anos), puberdade (dos
9 aos 14 anos), adolescência (dos 15 aos 19 anos), vida adulta (dos 20 aos 65 anos), e
terceira idade.

Dos teóricos que estudam o desenvolvimento humano, destaca-se três, aqui de


forma superficial e resumida, que tiveram um trabalho expressivo na área e que
colaboram até hoje com a Educação e a Psicologia.

O Suíço Jean Piaget, biólogo e psicólogo de formação, que viveu no final do


século XIX e século XX, é até hoje uma das principais referências para a Educação.
Teve sua base de pensamento no construtivismo, e definiu as fases de evolução e
maturação do indivíduo de acordo com a faixa etária.
“Seus estudos sobre pedagogia revolucionaram a educação, pois derrubou
várias visões e teorias tradicionais relacionadas à aprendizagem. Suas
teorias buscam implantar nos espaços de aprendizagem uma maneira
inovadora de pensar a educação, que busca formar cidadãos criativos e
críticos”. (BRAZ, 2015, p.27)

Ao definir os estágios cognitivos, Piaget afirmou que o desenvolvimento


psicológico da criança está ligado ao seu desenvolvimento orgânico, ou seja, aos 7
anos, por exemplo, um indivíduo está apto biologicamente a realizar determinadas
tarefas que não estava aos 2 e também que a criança é ativa no processo de
desenvolvimento e de aprendizagem.
Segundo o pensador Suíço, quatro são os estágios de desenvolvimento:
Sensório-motor, até 18 ou 24 meses; Pré-operacional, de 2 a 6 anos; Operacional-
concreto, de 7 até 11 anos; e Operacional-formal, a partir de 12 anos.
Lev Seminovitch Vygotsky, Filósofo nascido na Rússia em 1896, via o
desenvolvimento do indivíduo ligado ao meio que o cerca e aos estímulos que recebe:
“Seu desenvolvimento se dá no meio social em que vive, portanto, sua teoria é
considerada histórico-social”. (BRAZ, 2015, p. 37).
De acordo com suas ideias o aprendizado do indivíduo não é algo essencial e
universal que se multiplica de forma igual em todos os seres, mas difere de um para o
outro de acordo com aspectos histórico e do ambiente onde cada um se desenvolve.
Segundo Vygotsky, através do mundo externo se dá o desenvolvimento do
mundo interno, em um processo de troca bilateral e de interação entre os indivíduos.
Ele também levou em conta que nem todos aprendem da mesma maneira, e definiu o
que chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) como funções que ainda não
estão amadurecidas no indivíduo. Para Vygotsky, as ZDP eram importantes por ser
justamente onde o educador deve estimular e instigar o aluno a querer saber mais, e
desenvolver assim essas funções latentes.
Além disso, o Russo via a linguagem como parte fundamental para o
desenvolvimento infantil:
Segundo Santrock (2009), a linguagem intervém no processo de
desenvolvimento intelectual da criança desde o nascimento. A linguagem é
fundamental para a criança estabelecer o contato com o mundo a sua volta,
mas também a “criança usa a fala, não só como comunicação social, mas
também para ajudá-la a resolver tarefas” (SANTROCK 2009, p. 50). Até
aproximadamente os três anos, a linguagem é estabelecida como um
discurso externo. É a maneira de conhecer e interagir com o mundo.
(SANTROCK, 2009, apud BRAZ, 2015, p. 37).

Finaliza-se com o Filósofo Francês Henri Paul Hyacinthe Wallon, também


graduado em Medicina e Psicologia que nasceu em Paris em 1879 e se dedicou ao
estudo do psiquismo humano a partir da perspectiva genética.
Wallon descreve cinco estágios do desenvolvimento humano: impulsivo-
emocional, até 1 ano de idade; sensório motor e projetivo, de 1 a 3 anos;
personalismo, de 3 a 6 anos; categorial, de 6 a 11 anos; e adolescência, de 11 até 18
anos.
2- Concepções de Ensino, Inteligência e Aprendizagem

Entende-se como ensino não propriamente o conteúdo a ser trabalhado, mas


as diferentes formas que serão trabalhadas para que seja possível realizar o processo
de ensino e aprendizagem.
Sinteticamente, podemos dizer que as concepções de ensino são as
maneiras de agir dos professores pelas quais se planejam e organizam as
atividades de ensino para atingir os objetivos do trabalho docente, ou seja, a
aprendizagem do aluno. São eles que regulam a forma de interação entre
ensino e aprendizagem, regulam a relação entre o professor e os alunos,
descrevem as metodologias utilizadas, indicam a maneira de se
compreender o ser humano, os alunos e os grupos sociais. (BRAZ, 2015, p.
51).

Para tanto, tem-se diferentes concepções de ensino onde cada uma se debruça
sobre aspectos específicos da educação, são elas: a Concepção Tradicional,
Comportamentalista, Construtivista, Sociointeracionista, Humanista, Montessoriana,
Waldorf a abordagem de Paulo Freire.

Essas são algumas das abordagens que mais tem sido utilizadas no Brasil, como
afirma (BRAZ, 2015, p. 51): “não para fornecer uma norma de atuação docente, mas,
para permitir que cada professor possa fazer sua escolha metodológica a partir do
conhecimento e reflexão sobre as diversas concepções existentes”.

Referências Bibliográficas
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

Braz, Ana Lucia Nogueira. Psicologia da Educação. Presidente Prudente: Unoeste - Universidade do
Oeste Paulista, 2015.

BUCKINGHAM, David. (2000) Crescer na Era das Mídias: após a morte da infância. São Paulo: Loyola,
2007.

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