Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Um dos problemas encontrados, que impacta negativamente a motivação dos alunos do curso de
engenharia, é a falta de aplicação pratica dos conceitos teóricos apreendidos em sala de aula
durante a sua formação. Somado a este fato, existe ainda a aprendizagem em que o aluno aprende
de forma passiva com atuação pouco pratica durante a formação superior, não sendo coadjuvante
na construção de seu conhecimento.
A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), juntamente com a abordagem do Design
Thinking (DT), aplicada nos cursos de engenharia, oferece a possibilidade de preencher a lacuna
entre a teoria e a prática no processo de aprendizagem e formação dos futuros engenheiros. A
metodologia favorece a construção do conhecimento através do desenvolvimento de projetos
práticos onde o aluno é protagonista de sua aprendizagem atuando de forma ativa sua formação.
O presente trabalho tem como objetivo analisar os benefícios obtidos na aplicação da
metodologia ABP atrelada abordagem do DT, através de estudo de caso com ênfase na
participação do professor mediador da disciplina e da experiência do aluno integrante de um
grupo de trabalho, no qual ambos descrevem a experiência sobre a ABP, consoantes a seu
potencial para melhorar a formação dos futuros engenheiros.
Palavras-chave: Aprendizagem; Formação; Problemas; Engenharia; Design Thinking.
Abstract
One of the problems encountered, which negatively impacts the motivation of engineering
course students is the lack of practical application of theoretical concepts learned in class during
their training. Added to this fact, there is still learning where the student learns passively with
little practical performance during higher education, and is not supporting the construction of
their knowledge.
The Problem-Based Learning (PBL), together with the approach of Design Thinking (DT)
applied in engineering courses, offers the possibility to bridge the gap between theory and
practice in the learning process and training of future engineers. The methodology favors the
construction of knowledge through the development of practical projects where the student is the
protagonist of their learning actively taking their training.
This study aims to analyze the benefits achieved in the implementation of the BPL linked
methodology DT approach through case study with emphasis on the participation of the
facilitator of discipline and experience of the student member of a working group, in which both
describe the experience of the BPL, consonants to their potential to improve the training of future
engineers.
1. Introdução
Por muito tempo o processo de ensino esta passando por uma reformulação para que os
alunos estejam não somente submetidos a um sistema de informação como adotado na grande
maioria das instituições durante as aulas presenciais já conhecidas. Hoje, a grande demanda do
mercado exige que os profissionais estejam aptos e motivados a utilizar a criatividade para a
resolução de problemas implementando projetos práticos, viáveis e desejáveis pelos clientes
finais. Muitas empresas e instituições de ensino já tem conhecimento destas necessidades e têm
ciência das restrições praticadas no modelo antigo de ensino e hoje buscam inovar o através de
novas metodologias ativas de aprendizagem.
De acordo com Wals (2014), consoante a essa necessidade novas maneiras de
aprendizagem estão sendo desenvolvidas com o uso das conhecidas metodologias ativas em
aprendizagem, que podem ser citadas os exemplos: trans e interdisciplinar; social; baseada em
projetos; jogos de simulação; simulações de computador; ensino à distância; desenvolvimento de
cenários; baseada em problemas; aplicação de ideias sem investimentos; educação de valor;
abordagens experimentais; diário reflexivo escrito, e muitas outras.
Essa necessidade pode ser aplicada, principalmente, para estudantes de engenharia, pois
um dos maiores desafios desta formação é atrelar os conceitos aprendidos nas disciplinas à
aplicação em situações cotidianas de uma empresa e\ou operações de processos. Consoante a este
cenário, os estudantes precisam de uma compreensão intuitiva da complexidade da realidade de
uma organização, os seus desafios e os problemas específicos, além de compreender que os
conceitos das disciplinas podem fazer pelas organizações. Nos dias de hoje, constata-se que a
maioria das ferramentas e materiais didáticos existentes estão voltados para uma visão teórica do
ambiente empresarial.
Assim, o principal objetivo desse trabalho se concentrou em analisar os benefícios da
aplicação da metodologia ativa de aprendizagem baseada em problemas e por projetos (ABP)
que pode propiciar aos alunos de engenharia uma maior compreensão e correlação das
disciplinas da grade curricular para uso pratico no desenvolvimento de projetos que solucionem
ou amenizem problemas da sociedade onde estão inseridos. Para tanto, foi conduzida uma
pesquisa através de estudo de caso em um grupo de trabalho para desenvolvimento do que
denominamos de Projeto Integrador, sendo realizadas observações “in loco”, analise e coleta de
informações com o uso de entrevistas não estruturadas.
2. Referencial teórico
Segundo McGrath (2002) apud Fuertes (2006), podemos definir a ABP como o método
de aprendizagem em grupo que se utiliza de problemas reais como estímulo para desenvolver
habilidades de resolução de problemas e propiciar a aquisição de conhecimentos específicos.
Desde o inicio da década de 80 do século XX, diante dos problemas diagnosticados nas
metodologias tradicionais de ensino, evidencia se a necessidade de uma alternativa. A
metodologia da ABP, inicialmente observada em cursos da área médica Dolmans (2005),
recentemente vem sendo incorporada na formação de engenheiros, o emprego da APB é
motivado pelas demandas advindas das novas características de mercado, relações produtivas e
sociais modificadas pelo emprego de tecnologias de comunicação e interconexão, a partir disto
diversos cursos de formação técnica superior foram incorporando as características da
metodologia ABP que em grande medida se adapta as caracterizações na sociedade da
informação e da comunicação.
Para Bruner (1961), os alunos que estão ativamente envolvidos com o tema são mais
propensos a lembrar da informação por mais tempo e são mais capazes de utilizar ou aplicar as
informações de novas maneiras. Incentivar os alunos a trabalhar de forma colaborativa irá ajudá-
los a descobrir o significado pessoal dos conceitos, ao contrário da metodologia convencional,
que tem como foco o ensinar, nas metodologias ativas o foco central é a preocupação com a
aprendizagem do aluno, no qual a importância do aprender predominou sobre o ensinar. As
abordagens de prós e contras listam uma série de dificuldade a respeito à aplicação das
metodologias ativas, enquanto outros esboçam um olhar completamente diferente.
Para Meinel & Leifer (2011): o Design Thinking é uma metodologia centrada no ser
humano que integra colaboração multidisciplinar e interativa à criação de produtos, sistemas e
serviços inovadores, com foco no usuário final. É centrado no ser humano porque o processo de
concepção de serviços inovadores, por exemplo, começa por examinar as necessidades, sonhos e
comportamentos das pessoas a serem afetadas pelas soluções projetadas, ouvindo e
compreendendo-as (BROWN, 2010).
O DT adota como modelo o processo de prototipação para a solução dos problemas
encontrados junto ao publico alvo, que exigem testes contínuos durante o desenvolvimento
exigindo a participação ativa do cliente em todas as fases do processo, e o objetivo final é a
implementação da solução ideal na operação. É valido ressaltar que para que este processo seja
factível de solução real e viável a metodologia apoia-se em três fases para o desenvolvimento da
solução: Ouvir, Criar e Implementar (figura 1).
FIGURA 1 – Fases de abordagem Design Thinking (DT). Fonte: elaborado pelos autores baseado em Brown.
Figura 2: Anotações Brainstorming durante segunda fase do Design Thinking. Fonte os autores.
Após discussões e com o veredicto sobre qual solução implementar a equipe desenvolve
o protótipo, que pode ser um produto físico para uso do cliente ou mesmo um processo para a
solução do problema levantado na fase do ouvir.
Finalmente, a equipe de projetos retorna a operação para realizar a implementação da
solução junto ao cliente. Este processo não é finalizado nesta fase, como é mostrado na figura 1,
a equipe deve realizar o processo de ouvir novamente junto ao cliente para verificar se de fato o
problema foi resolvido. Nota-se, então, que o DT é um processo continuo de melhorias e solução
de problemas. Como tudo no mundo dos negócios e sociedade, os clientes têm necessidades que
são renovadas a cada dia e o DT prevê o atendimento destas novas demandas continuamente.
Tendo em vista que os processos e operações das empresas exigem esforços e
investimentos estruturais cada vez mais enxutos (o fazer mais, com menos), três pilares de apoio
concedem sustentação as inovações do DT. Um destes pilares é o Desejo (a solução deve estar
no desejo do cliente ou usuário final), a Viabilidade (a solução deve ser viável financeiramente) e
a Praticidade (a solução deverá ser operacionalmente prática para a solução e uso do cliente) com
a solução estando centrada entre os três pilares (figura 3).
FIGURA3 – Característica dos projetos. Fonte: elaborado pelos autores baseado em Brown.
Sendo assim, uma solução precisa ser desejável aos olhos do cliente e não da equipe de
projetos. No que tange ao pratico, deve-se levar em consideração que o produto ou processo deve
ser operacionalmente fácil ao cliente ou publico alvo (de nada adianta desenvolver um software
que o usuário final não tenha condições de utilizar na operação). Finalmente, quanto à
característica de Viabilidade o produto final deverá ser dotado de custo factível de ser
operacionalizado. Esta ultima característica tem sido incansavelmente focado pelas empresas
uma vez que a busca por processos mais enxutos estão cada vez mais em pauta nas operações de
muitas companhias.
3. Metodologia aplicada na pesquisa
A metodologia utilizada neste projeto é o estudo de caso, um método de pesquisa que
utiliza, geralmente, dados qualitativos, coletados a partir de eventos reais, com o objetivo de
explicar, explorar ou descrever fenômenos atuais inseridos em seu próprio contexto. Caracteriza-
se por ser um estudo detalhado e exaustivo de poucos, ou mesmo de um único objeto, fornecendo
conhecimentos profundos (YIN, 2001).
Somado ao descrito acima, segundo Yin (2001), o estudo de caso é uma investigação
empírica de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os
limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definido. As evidências podem advir
de distintas fontes como documentos, observações diretas, observações indiretas, registros em
arquivos, entrevistas e artefatos físicos.
Assim, para esse artigo, a obtenção de dados foi realizada inicialmente através da
pesquisa bibliográfica, buscando-se materiais e documentos que abordaram os conceitos
relacionados com as metodologias ativas de aprendizagem.
Em um segundo momento, o estudo de caso foi aplicado em um polo de educação a
distância localizada na região metropolitana de São Paulo-SP, sendo uma das instituições que
fazem parte da estrutura de ensino a distancia da universidade. Nessa organização foram
realizadas observações “in locuo”, analise dos métodos e coleta de informações por meio de
entrevistas não estruturadas, ou seja, sem um roteiro previamente estabelecido.
FIGURA 3 – mediador pedagógico realizando orientações para o projeto integrador. Fonte: elaborado pelos autores.
De posse das informações coletadas retornam para a sala de aula e as socializam com os
demais membros dos grupos no papel. Num segundo momento realizam Brainstorming com
possíveis soluções do que pode ser uma solução do problema encontrado junto aos usuários
(figura 5).
Figura 5: Alunos realizando o processo criação e brainstorming. Fonte: elaborado pelos autores.
Finalmente, os grupos vão ao local novamente e apresentam a solução criada e
implementam a mesma no local. A partir disso é realizado o processo de escuta ativa novamente
com o objetivo de verificar se a solução criada pelo grupo realmente resolve o problema
apresentado no inicio.
Este processo cíclico de aprimoramento das soluções nunca termina e passa por vários
aprimoramentos de maneira que o problema seja realmente resolvido.
Figura 5: Alunos realizando o processo criação e brainstorming. Fonte: elaborado pelo autor.
Ao final de cada semestre é realizada uma apresentação oral de cada grupos com
aproximadamente 20 minutos de maneira que se possam discutir os resultados obtidos com a
implantação dos protótipos bem como as maiores dificuldades encontradas para que se possa
melhorar nos próximos projetos.
Outro ponto desfavorável com as dinâmicas dos projetos integradores esta ligado a
algumas disciplinas da grade curricular que por algumas vezes não conseguem aderir a
determinado projeto desenvolvido por alguns dos grupos.
5. Conclusões Finais
A utilização de técnicas de metodologias ativas nos cursos de engenharia, como foi
apresentado no estudo de caso em questão, onde se aplicou a ABP e abordagem junto ao publico
com o Desing Thinking, gerou motivação e envolvimento dos alunos na atividade de
aprendizagem, gerando maior sinergia e interação nos grupos dos projetos. A experiencia durante
os anos de aplicação da metodologia ABP nos grupos indica que é possível obter aprendizado
construído em conjunto com os alunos de uma maneira muito eficaz. Muitos dos alunos após o
término e entrega dos projetos apresentaram feedback positivo com relação ao aprendizado
construído com a metodologia ABP e a abordagem DT.
Outro ponto que convém destacar foi a maior facilidade em perceber a dificuldade de se
construir soluções para problemas reais utilizando a empatia na etapa do Ouvir, pois para que o
processo tenha sucesso é necessário compreender na raiz a necessidade ou problema do usuario
se colocando no lugar do mesmo. Na etapa do Criar, notou-se o desenvolvimento dos alunos com
relação ao trabalho em grupo e mutildisciplinar onde nota-se que a maioria destes integrantes
devem ser adaptar as novas ideias dos colegas e criar flexibilidade e senso de negociação com
todos.
No entanto, pode-se verificar que a metodologia ABP não está isenta de desafios que
necessitam ser superados , tais como paradgimas tanto por parte do corpo docente mais
conservador quanto pelos alunos que ainda estão adaptados a aprendizagem passiva ja bastante
conhecida. Dessa maneira, em face dos resultados obtidos nestas mediações e projetos
integradores desenvolvidos, pode-se concluir que ainda existe um longo caminho para o
desenvolvimento e disseminaçao da ABP nos mais diversos cursos superiores de engenharia do
pais, no entanto um estudo mais amplo deve ser conduzido objetivando comparar as vantagens e
limitações destas metodologias ativas em relação as metodologias tradicionais, quando aplicadas
nos cursos de engenharia das universidades.
Por ultimo e não menos importante, é válido ressaltar que o Design Thinking é também
parte da gestão de muitas empresas na criação de produtos e serviços. Cursos de engenharia
devem fazer uso dos processos acima citados neste artigo com o intuito de colocar os alunos em
confronto com problemas reais da sociedade balanceando o atendimento do desejo, praticidade e
viabilidade na solução de problemas. Assim, recomenda-se que desde o primeiro ano de
graduação, o aluno seja colocado frente ao publico alvo que necessita de soluções para seus
problemas cotidianos de forma que pratique a interdisciplinaridade e trabalho coletivo para
nortear a construção de protótipos que serão aplicados e testados com os usuários finais.
Referências
ARAÚJO, Ulisses Ferreira de; SASTRE, Genoveva. Aprendizagem baseada em problemas no ensino superior. São
Paulo: Summus Editorial, 2009.
BERGERMAN, Marcel. Inovação como instrumento de geração de riqueza no Brasil: o exemplo dos institutos
privados de inovação tecnológica. In:SEMINÁRIOS TEMÁTICOS PARA 3ª BONWELL, C.C.; EISON, J.A.
Active Learning: Creating Excitement in the Classroom, ASHE-ERIC Higher Education Report No. 1. The George
Washington University, School of Education and Human Development. Washington, D.C. 1991.
BROWN, T. (2010) Design Thinking: Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de
Janeiro: Elsevier.
BRUNER, J. The act of discovery. Harvard Educational Review, 31 (1): 21–32, 1961.
CONFERÊNCIA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. Revista Parcerias Estratégicas.
2005. p. 1419-1462.
DE CASO FUERTES, Ana María et al. El aprendizaje basado en problemas: revisión de estudios empíricos
internacionales. Revista de educación, n. 341, p. 397-418, 2006.
DTE. Design Thinking para educadores. Disponível em: http://www.dtparaeducadores.org.br/site/?page_id=7Andgt
; Acesso em 15 dez. 2015.
Delors, Jacques, et al. "Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI."
Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: UNESCO (1999).
MEINEL , C.; LEIFER, L. (2011). Design Thinking Research – Studying Co-Creation in Practice. Springer, 2011.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre: Bookman, 2.ed. 2001.
WALS, Arjen E.J. Sustainability in higher education in the context of the UN DESD: a review of learning and
institutionalization processes. Journal of Cleaner Production 62, 8-15, 2014.