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azella S &
ESPECIAL
Molina R
A intervenção psicopedagógica
institucional na formação reflexiva
de educadores sociais
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Esta educação se diferenciou de outras, pois do ensinar, para que o sujeito do aprender se
sua preocupação era “estimular a participação assumisse como ser social, por isso capaz de
política [para] transformação das condições transformar, criar e pensar.
opressivas de sua existência social [por base no] Deste modo, as ideias de Freire24,33,34 fazem
desenvolvimento de habilidades básicas, como eco ao olhar da psicopedagogia institucional,
a leitura e a escrita”32. uma vez que esta promoveria a aprendizagem
A interlocução entre psicopedagogia institu- de forma a criar vínculos saudáveis e críticos com
cional e educação popular se fundamentaria na o conhecimento.
dimensão social envolvida no processo de apren-
dizagem (além dessa temos também as dimen- A Prática Reflexiva
sões biológica e cognitiva), pois, com ela, haveria Dentro do pensamento educacional a corrente
a garantia da continuidade do processo histórico da prática reflexiva definiu que a reflexão sobre
e a preservação da sociedade como tal, por meio a prática profissional seria a estratégia para o
de transformações evolutivas e estruturais33. desenvolvimento profissional de professores, para
Esta dimensão cumpriria um papel relevante
nós de educadores, ao defender que os processos
na ruptura das classes sociais, pois supõe trans-
de construção do saber profissional partiriam da
formações, incitando assim a necessidade da
prática e da ação reflexiva e compartilhada.
educação de promover, conscientizar e motivar
Para Gómez36, a formação do professor (edu-
a militância para essa transformação.
cador) reflexivo abrangeu duas grandes áreas.
Esta abordagem sociopolítica estava presente
A primeira seria a do componente “científico-
nas raízes da educação popular e teve como base
cultural” no qual se pretendia assegurar o co-
teórica, a prática e o discurso de Paulo Freire34,35.
nhecimento do conteúdo a ser ensinado. Já a se-
A criticidade no processo de aprendizagem
gunda, foi a do componente “psicopedagógico”,
se construiria e se desenvolveria na “curiosidade
que permitia aprender como atuar com eficácia
epistemológica”, concebida como um aprender
em sala de aula.
crítico em que a experiência da produção de sa-
“No componente psicopedagógico é
beres, que não permite a mera transferência de
conteúdos, favoreceria um conhecimento mais preciso distinguir duas fases principais: na
abrangente do objeto24. primeira, adquire-se o conhecimento dos
Se de um lado do processo existe a aprendi- princípios, leis e teorias que explicam os
zagem, e com destaque a aprendizagem social, processos de ensino-aprendizagem e ofe-
do outro existe o ensino, a ensinagem. recem normas e regras para a sua aplicação
Freire24 indicou alguns saberes indispensá- racional; na segunda, tem lugar a aplicação
veis a uma prática educacional crítica e progres- na prática real ou simulada de tais normas
sista do educador comprometido com a educação e regras, de modo que o docente adquira
popular. Para ele, ensinar inexiste sem aprender competências e capacidades requeridas
e vice-versa e, este ensinar não seria meramente para uma intervenção eficaz”.
a transferência de conhecimento, mas a possi- Neste sentido, Zeichner37 defendeu que o
bilidade da sua produção, criação e construção. processo reflexivo não se limitaria a questões
Assim, a experiência de cada aprendente metodológicas do ensino ou a organização da sala
seria considerada importante no momento da de aula, o que poderia significar incorporar novas
ensinagem e, produzir-se-ia a oportunidade de, experiências em velhas estruturas. Esta incluiria
no ensinar, deixar transparecer, a quem apren- também a problematização de aspectos que en-
de, a peculiaridade do ser humano em “estar volveriam a organização escolar e sua cultura,
no mundo e com o mundo”, como ser histórico. por exemplo, práticas concorrentes, estruturas
Possibilitar-se-ia com isso condições, por meio hierárquicas, atuações excludentes, entre outras.
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Para Nóvoa38, na formação do professor (edu- coletivos de formação, presentes nas próprias
cador), a preocupação da técnica e do conhe- instituições em que os educadores trabalham,
cimento deveria ser superada, permitindo um que compreenderiam as possibilidades de re-
avanço para a socialização e a reflexão de sua flexão e tomada de consciência das limitações
configuração profissional. sociais, culturais, pedagógicas contextuais e da
“A formação deve estimular uma pers- própria profissão.
pectiva crítico-reflexiva, que forneça aos Diante do contexto teórico colocado, apre-
professores [educadores] os meios de um sentamos a seguir o relato e a análise de uma
pensamento autônomo e que facilite as di- intervenção psicopedagógica realizada com edu-
nâmicas de autoformação participada. Estar cadores sociais, na educação não formal. O olhar
em formação implica investimento pessoal, psicopedagógico, as intervenções e o processo
trabalho livre e criativo sobre os percursos e reflexivo contribuíram para que o grupo parti-
os projetos próprios, com vista à construção cipasse efetivamente na sugestão de propostas
de uma identidade profissional.” para o trabalho que desenvolviam, buscando
Ainda para este autor, deveriam ser criados es- autonomia na sua prática e melhorando as con-
paços permanentes dessa formação, em ambientes dições de aprendizagem dos seus educandos.
que favorecessem a troca de experiências e a parti-
lha dos saberes, em que cada um dos profissionais A PRÁTICA DA PSICOPEDAGOGIA INS-
seria chamado ao papel de “formador” e também TITUCIONAL NA EDUCAÇÃO POPULAR
ao papel de “formando”. Este seria o único caminho
para a conquista do exercício da autonomia. Momento um: apresentação das queixas
“O trabalho centrado na pessoa do pro- A proposta inicial foi de diagnóstico dos incô-
fessor [educador] e na sua experiência é modos e satisfações sentidas pelos educadores;
particularmente relevante nos períodos de para que esses não se sentissem constrangidos,
crise e mudança, pois uma das fontes mais foram expressas individualmente e anonimamen-
importantes de stress é o sentimento de que te por escrito. Esse processo foi disparado com a
não se dominam as situações e os contextos apresentação de dois grandes cartazes: um com
de intervenção profissional38.” a imagem de um saco e outro com a imagem de
Este tipo de formação valorizaria os paradig- um prato sob uma toalha. Foram dadas orien-
mas de formação que promovem a preparação tações para que escrevessem em papeletas, a
de educadores reflexivos para assumirem res- partir do trabalho diário no “Curso C” e dentro
ponsabilidades frente ao seu próprio desenvol- da Associação: a) os incômodos e colassem no
vimento profissional, diante dos desafios do ato cartaz do saco e; b) as vivências boas e colassem
de ensinar. “As situações que os professores no cartaz do prato.
[educadores] são obrigados a enfrentar (e a Posteriormente, as papeletas foram lidas e seu
resolver) apresentam características únicas, conteúdo organizado em categorias determina-
exigindo, portanto respostas únicas”38. das pelos próprios educadores.
Para a formação de educadores reflexivos, Como resultados, uma primeira categoria foi
o desafio estaria na concepção de um espaço nomeada como “Queixas externas ao trabalho”.
institucional educativo, que concebesse o traba- Foram elas: A) “O tempo parece pouco para po-
lho prático e a formação de seus profissionais, dermos ajudar os educandos, tanto na parte da
não como atividades distintas, mas como um formação humana, quanto no que se refere à parte
processo permanente, integrado ao cotidiano da educacional”; B) “O tempo que nos atropela”; C)
instituição. “Falhas educacionais aberrantes”; D) “Dificuldade
Ou seja, sua metodologia de trabalho se de entendimento dos educandos”; E) “Alternância
apoiaria na produção de espaços reflexivos de humor dos educadores e coordenação”.
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para que esse trabalho acontecesse. Interessante a experiência que tem o educando ao favorecer
notar que estas se apresentaram de maneira im- outros esquemas de aprendizagem. Sua frase
perativa, como queixas que demandavam uma para o desenho foi: “Aprendendo a dirigir de
expectativa de mudança de atitude de outras forma espantosa e assustada”.
pessoas para haver colaboração na realização FR ao referir-se ao seu desenho, um adulto e
das tarefas educativas. uma criança com sua bicicleta na rua, afirmou:
A presença das “queixas E, I, K” retomaram “Estar presente em todos eles” seria fundamen-
o tema da falta de organização, mas especifica- tal ao educador para acompanhar o processo de
mente ligadas à questão do tempo. A temática desenvolvimento da aprendizagem do educando.
do tempo esteve presente no grupo “Queixas Fazer-se presente seria o desafio do acompanha-
externas ao trabalho”, porém agora apareceram mento permanente, características da materna-
com uma conotação diferente já que se tornaram gem39. Sua frase para o desenho foi: “Sou eu
fatores a serem considerados no processo educa- ensinando meu filho a andar de bicicleta”.
tivo, ou seja, não mais tão externas as atividades A escrita da história do desenho realizado por
realizadas pelos educadores. LC, uma situação de conflito entre educandos
As “queixas F e M” referiam-se diretamente com a presença passiva do educador, pareceu in-
ao comportamento de determinados educandos comodá-lo no momento em que realizava o dese-
na realização das atividades. nho. Em sua história os educandos brigavam, mas
A “queixa L” revelou o descontentamento não sabiam o motivo. Quando da intervenção do
quanto a pouca frequência dos educandos no educador presente no desenho o destaque esteve
plantão de dúvidas, espaço que possibilitaria o na frase: “Paulo [educador nomeado no desenho]
atendimento individualizado e uma tentativa de não podia deixar aquilo acontecer”. Indicou-se
reverter o quadro de não aprendizagem. um conflito quanto à resolução de problemáticas
advindas das relações que os educandos criaram.
Momento dois: a concepção de ensinar e A história terminou de maneira bastante afetiva
aprender “um grande abraço”! Sua frase para o desenho
Diante das queixas apresentadas, foi iniciada foi: “A necessidade de compreensão, por parte
uma ação que objetivou conhecer e analisar o do mediador, dá importância, dá proximidade e
que cada um dos educadores manifestava como compreensão na construção de um ambiente de
responsabilidade no seu ato de ensinar e como aprendizagem”.
entendia as relações entre ensinante e apren- No desenho realizado por FB, crianças brinca-
dente e, assim tivesse a possibilidade de refletir vam o jogo de amarelinha. Não havia presença
sobre como se via neste processo. Foi utilizada de um adulto que fizesse o papel de quem ensi-
para este trabalho a técnica do “par educativo”. nava. Na escrita da história do desenho, houve
Nela cada educador desenhou uma pessoa que destaque para a ideia de que o lúdico envolveu
aprende e uma que ensina e formulou uma his- a criança e nela as situações de aprendizagem
tória envolvendo esses personagens. espontânea ficariam mais fortes que as situações
AD ao escrever sobre o desenho, uma situação formais de aprendizagem. A transmissão do
de trânsito feito na frente e no verso da folha com conhecimento aconteceu de maneira bastante
riqueza de detalhes, afirmou que: “essa pessoa espontânea entre as crianças que ensinavam, a
que está ensinando [...] não está deixando a outras crianças, as regras da brincadeira. Essa
pessoa que está aprendendo à vontade e com a característica pareceu muito peculiar, já que FB
calma necessária para aprender, não respeitando também lecionava aulas na Educação Infantil.
o seu tempo e seu raciocínio [...]”. Salientou, com Sua frase para o desenho foi: “Ensinar e aprender
isso, que o educador não deveria se eximir de em situações não escolares. É importante não
suas responsabilidades, porém deveria respeitar escolarizar todos os conhecimentos, eles são da
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vida. Aprende-se no brincar, e em cada fase com o professor de matemática, a sua frente, ensinava
coisas diferentes”. sem se dar conta de que seu aluno pouco entendia
Para EC o ambiente da aprendizagem tam- do que ele falava. Na narrativa sobre o desenho,
bém estava relacionado ao espaço não formal. PL destacou que o aprendido pelo aluno foram
Ele trouxe em sua narrativa a presença de um apenas as palavras: “Blá, Blá, Blá”, dando a
ambiente cercado por árvores, em que um edu- conotação de que o conteúdo apresentado pelo
cador, no desenho representado por um homem professor não possuía nenhum sentido. Sua frase
cercado por crianças, que aprendeu com “os para o desenho foi: “O professor de matemática
mais velhos” transmitia para crianças, de forma está ensinando e o aluno não está aprendendo.
oral, seus saberes e vivências. Sua frase para o Enquanto o professor fala, pensa no que ouve, isto
desenho foi: “Conhecer para preservar”. é, não entende o raciocínio do professor, mas não
Numa mesma tendência, ou seja, uma história tem coragem de falar que não está entendendo”.
de aprendizagem e ensino que acontecia em um Outra situação de trânsito foi criada para re-
ambiente extraclasse, BR representou em seu presentar a situação de ensino e aprendizagem.
desenho uma criança e um adulto contemplando Desta vez, SL apresentou em seu desenho, com
e conversando embaixo de uma árvore. Em sua riqueza de detalhes, personagens que foram
apresentação, foi pertinente a afirmativa sobre descritos em sua narrativa como cumpridores de
as dificuldades que os educadores encontravam regras específicas para o “trânsito”. Demonstrou
em ensinar em um ambiente que não fosse a sala preocupação com o papel que cada indivíduo
de aula. Sua frase para o desenho foi: “Aprender deveria ocupar para que o processo de ensino
com a realidade do cotidiano, de maneira infor- e aprendizagem pudesse acontecer. Sua frase
mal, apreciando o conhecimento”. para o desenho foi: “Aprender também é saber
Ao narrar a história de seu desenho, uma respeitar”.
área urbana com muitos carros e uma escola, EZ Dos dez desenhos e das discussões destaca-
tomou o lugar de seus educandos para relacionar mos que:
o aprender e o ensinar. Detalhadamente apontou • Quatro educadores indicaram para o uso da
a observação dos educandos sobre a realidade realidade como ponto de partida e suporte
como ponto de partida para que a aprendizagem para o trabalho de ensinar, como facilitador
acontecesse em sala de aula. Sua frase para o da aprendizagem (AD, LC, PL e EZ). Tem-se,
desenho foi: “Observando e decifrando a pai- assim, a possibilidade de no ensinar deixar
sagem”. transparecer, a quem aprende, a peculiarida-
O desenho de NZ foi um resgate em sua me- de do ser humano em estar no mundo e com o
mória do que viveu no período escolar com sua mundo, como ser histórico, intervindo no mun-
educadora de Língua Portuguesa. NZ definiu do. Assim, deve-se considerar a experiência
que ensinar seria viver aquilo que se sabe com do aprendente no momento da ensinagem;
“magia, amor, empatia [...]” e aprender seria • Sete educadores apontaram para a neces-
“descobrir que o conhecimento pode ser mágico sidade de construção da proximidade entre
- lugar da criatividade, da experiência do novo educador e educando (PL, LC, AD, FR, EZ, EC
– amor, empatia [...]”. NZ afirmou que repetiu a e NZ) e, com isso, nos remeteram aos “saberes
palavra empatia, para aprender e ensinar, por se necessários à prática educativa” (Freire24), em
tratar de um processo de uma “via de mão dupla”. que ensinar exige do educador o respeito ao
Sua frase para o desenho foi: “Para aprender e que o educando sabe e, além disso, autonomia
ensinar é preciso amor ao conhecimento, empa- do ser educando;
tia, acolhida, partilha [...]”. • Para FR, aprender e ensinar significou tam-
As memórias negativas do ambiente escolar bém o acompanhamento permanente do
formal foram lembradas por PL. Em seu desenho, educando pelo educador;
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trabalho esse antigo educador. A maneira pecu- colocada anteriormente, ou relacioná-la com
liar de como tratava cada um deles favoreceu o outras. O grupo aceitou e reagiu com muita
resgate, pois tinha uma postura de cumplicidade expectativa.
ao mesmo tempo em que dominava o conteúdo. Ao final da construção, foi pedido que cada
Apresentaram-se modelos familiares que educador registrasse, por escrito, o que era pos-
ajudaram a construir a maneira de atuar. O ca- sível ler no que haviam acabado de construir.
ráter, os valores e atitudes de respeito diante do Quando encerraram esta etapa, houve a partilha
educando e das diferenças que cada um apre- e alguns deles relataram ver uma grande confu-
sentava eram, segundo os relatos, contribuições são e que não podiam explicar tudo o que estava
de aprendizagens que construíram dentro das colocado no mapa conceitual.
relações familiares. No encontro seguinte, cada educador recebeu
Outros modelos para a prática pedagógica uma cópia do mapa conceitual construído coleti-
foram lembrados pelo domínio de certo conteúdo vamente. A intenção foi promover uma discussão
e a aproximação do mesmo com a realidade, mo- entre duplas que objetivava o repensar do mapa
delos esses baseados em profissionais de diversas com a produção de uma nova organização para
áreas do mercado de trabalho. clarear a atuação do grupo.
Um último dado relevante foi que apenas Para finalizar esse trabalho, a partir da reor-
dois educadores não relataram como modelo ganização do mapa, foi criada uma proposta de
educadores/professores antigos, das disciplinas atividades que tinha como base as atividades já
que ministravam no curso. desenvolvidas no “Curso C”, ou seja, simulados,
encontros dos educadores, a metodologia utili-
Momento quatro: As propostas de mudanças zada em sala de aula, a organização das turmas,
Apoiados pelas provocações metodológicas o cronograma de horários e o material para os
e didáticas de alguns textos, principalmente educandos.
Fazenda42 e M. Freire43, os educadores foram A reflexão nas duplas foi um momento de
convidados a confrontar a prática efetivada junto muito trabalho criativo, em que os educadores
aos educandos na expectativa de evidenciarem trocaram e leram a forma como enxergavam cada
aspectos que necessitavam de revisão e refletir ponto colocado na primeira proposta do mapa
sobre as possibilidades do desenvolvimento de conceitual.
novas experiências pedagógicas. O momento seguinte serviu para a partilha
Depois de um longo caminho de reflexão das duplas.
possibilitado pela leitura e discussão dos textos, A primeira dupla, AD e SL, relatou que a partir
uma dinâmica foi proposta para a construção de do momento que se dedicaram ao mapa algumas
um mapa conceitual. Foi escolhido entre o grupo coisas pouco compreendidas inicialmente fizeram
um dos educadores para ser o escriba de tudo o sentido. Propuseram atividades para além do
que acontecesse na reunião e um segundo para curso do qual estavam envolvidos: organização
registrar o mapa conceitual, que foi construído de um cronograma específico por eixo temático
na lousa, no papel. de aulas “diferentes”; realização de simulados
A dinâmica tinha como objetivo, a partir mensais nos finais de semana e; a realização de
da ideia central “Curso C”, que os educado- atividades culturais e esportivas complementares.
res individual e coletivamente, e em silêncio, A segunda dupla, EC e FR, apresentou uma
construíssem relações, em um organograma, releitura que evidenciou a saída do caos em que se
entre questões da sua prática diária no curso. encontravam frente a tantas questões emergentes.
Ou seja, de forma organizada, cada educador Quanto às sugestões concluíram: algumas sema-
poderia levantar-se, ir à lousa, e contribuir no nas temáticas da instituição (atividades semestrais
mapa, também era permitido apagar uma ideia em que alguns temas relacionados a questões
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ambientais e de cidadania eram estudados du- As discussões trouxeram novos ares para as
rante uma semana por todos os educandos que relações entre os educadores e, para finalizar,
participavam da Associação) deviam ser agrega- todas as sugestões foram encaminhadas à co-
das e repensadas em seu tempo de duração; que ordenação geral do projeto como demonstração
era necessário intensificar os temas dos eixos com da necessidade de reformulação de aspectos
atividades conjuntas; que o momento coletivo e importantes na produção do trabalho pedagógico
mensal de assistir um filme, para reflexão de um com os educandos.
tema proposto pela Associação, contasse com
participação dos educandos em sua preparação; CONSIDERAÇÕES FINAIS
que acontecessem simulados nos finais de semana; “Talvez que um professor seja um fun-
que houvesse estímulo aos educandos e aos outros cionário das instituições que gerenciam la-
educadores da instituição na participação em lutas goas e charcos, especialista em reprodução,
sociais e políticas; além da garantia de um dia de peça num aparelho ideológico de Estado.
encontro por eixo no cronograma de atividades Um educador, ao contrário, é um fundador
semanais dos educandos. de mundos, mediador de esperanças, pastor
A terceira dupla, FB e BR, organizou o mapa de projetos. Não sei como preparar o educa-
conceitual por cores, em torno de quatro eixos de dor. Talvez que isto não seja nem necessário
atuação: o contexto individual, o contexto coletivo, e nem possível... É necessário acordá-lo. E
o que ofereciam no curso e as dúvidas que sur- aí aprenderemos que educadores não se
giram no processo. Sugeriram muitas propostas: extinguiram como tropeiros e caixeiros. Por-
encontros de formação do grupo de educadores que, talvez nem tropeiros e nem caixeiros
com mais afinidade temática; otimização do tempo tenham desaparecido, mas permaneçam
de planejamento coletivo; exploração dos diversos como memórias de um passado que está
espaços da instituição; preparação dos conteúdos mais próximo do nosso futuro que o ontem.
com oportunidades para que os educandos se ex- Basta que o chamemos do seu sono, por um
pressassem por meio de registros; aulas temáticas; ato de amor e coragem, E talvez, acordado,
o uso de material de apoio, pronto ou elaborado ele repetirá o milagre da instauração de
pelos educadores; estudo de meio com diversidade novos mundos44”.
de temas; simpósios preparados pelos educandos; Durante a intervenção, ficou clara a necessi-
organização da semana da primavera e da cidada- dade da construção de um olhar psicopedagógico
nia; participação dos educandos na preparação da específico voltado ao grupo de educadores sociais.
atividade intitulada cine fórum; e integração dos ei- Os mesmos possuíam inúmeras práticas, porém
xos, projeto de vida e atividades complementares. lhes faltavam os momentos de análises das mes-
A última dupla, EZ e LC, ao apresentar seu mas para perceber a qualidade de sua atuação e
mapa conceitual, provocou um grande debate, o envolvimento com a aprendizagem dos educan-
caracterizado pela confusão que, segundo os dos que chegavam à educação não formal, sem
outros participantes, ainda apresentavam em sua algumas aprendizagens entendidas como básicas
leitura. A dupla conseguiu explicar que o proces- no momento formal da educação escolar.
so que fizeram era de separar o antes e depois da A psicopedagogia institucional pôde colaborar
passagem dos educandos no curso. Sugeriram: com este grupo em sua perspectiva preventi-
adequação do espaço, com diferenciação da va16, pois favoreceu o resgate das concepções e
organização tradicional de escola; exposições estratégias metodológicas utilizadas com vistas
artísticas que atingissem e influenciassem o à diminuição da frequência dos problemas de
espaço da sala de aula; semanas temáticas por aprendizagem apresentadas pelos educandos.
eixos; mais estudos do meio e; reorganização do No processo, os educadores entenderam que o
cronograma de aulas. ambiente em que acontecia o processo de apren-
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der e ensinar poderia se organizar para favorecer estruturar hipóteses, registrar o processo para
que os diversos conhecimentos trabalhados fos- revê-lo, aprofundar e ampliar suas ideias e; c)
sem usados por seus educandos, diante das várias uma prática teórica: significação da realidade
temáticas abordadas, de forma interdisciplinar24. por meio de estudos para recriar a prática16,24,28.
Seus modelos de educadores contribuíram Neste processo de intervenção psicopedagó-
para justificar esta ideia, pois tais modelos iam gica, o desenvolvimento do trabalho foi mediado
desde pessoas que não atuavam em instituições pelas práticas estéticas, reflexivas e teóricas,
educacionais, passando por seus familiares, até os o que possibilitou a produção de propostas do
educadores identificados como seus companheiros grupo de educadores, para a Associação.
de trabalho ou os professores do passado que domi- Nesse contexto de educação popular, em
navam os conteúdos e os aproximava da realidade. que se considerou a realidade sociocultural do
Na observação desse grupo, foi possível en- educando, possibilitou-se o avanço da inter-
tender um conceito defendido por M. Freire43 de venção de maneira crítica sobre a atuação dos
que todo educador é um “alfabetizador”, não só educadores. Com isso finalizaram com propostas
entendido como aquele que nos primeiros anos de que, fundamentadas na melhoria do trabalho
vida escolar ensina a linguagem escrita à criança, educativo, pretenderam resgatar a história dos
mas como um profissional preocupado com outras educandos da periferia e construir, com eles,
linguagens e, em qualquer faixa etária da vida. discussões sobre a cidadania para uma socie-
Para tanto, sugere-se que a prática de inter- dade mais justa e humana, como pretende essa
venção crie espaços sistematizados de acompa- concepção de educação.
nhamento desses educadores, em uma constante Por fim, cabe ressaltar a importância do distan-
entre: a) uma prática estética: apropriação do seu ciamento do profissional psicopedagogo do proces-
pensamento por meio de referências culturais e so vivenciado. Desafio importante para que o en-
pessoais; b) uma prática reflexiva sobre a ação volvimento necessário possibilitasse intervenções
pedagógica: momento para pensar com o outro, profundas com o devido “cuidado do cuidador”33,45.
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SUMMARY
The institutional psychopedagogic intervention in the reflexive forma-
tion of social educators
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