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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


CENTRO DE LETRAS E ARTES

THADEU DE MORAES ALMEIDA

Os concursos do Instituto Nacional de Música: tensões, meritocracia e


cultura na República Velha (1890 a 1917)

Rio de Janeiro
2017
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


CENTRO DE LETRAS E ARTES

THADEU DE MORAES ALMEIDA

Os concursos do Instituto Nacional de Música: tensões, meritocracia e


cultura na República Velha (1890 a 1917)

Dissertação de Mestrado apresentada


ao Programa de Pós-Graduação em
Música, Escola de Música,
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em
Musicologia. Linha de pesquisa:
História e documentação da música
brasileira e ibero-americana.

Orientadora:
Profa. Dra. Maria Alice Volpe.

Rio de Janeiro
2017
3
ii

Agradecimentos
À Santíssima Trindade de Deus e à Virgem Maria, devoções particulares que trago
desde a mais tenra idade.

À minha esposa Juliana, por estar sempre ao meu lado na realização dos meus sonhos.

À minha família, meu porto seguro e acolhedor.

Aos meus amigos, que de longe ou de perto, acompanharam esta jornada.

À professora doutora Maria Alice Volpe, norteadora e incentivadora da realização


deste trabalho, ápice de toda minha trajetória acadêmica sob sua orientação.

Ao professor doutor Antonio José Augusto, nobre Magister, por todas as


recomendações que fundamentaram e aprimoraram esta dissertação na qualificação e na
defesa deste trabalho.

Ao professor João Vicente Vidal, pelos valiosos esclarecimentos durante o exame de


qualificação que me proporcionaram importantes reflexões a respeito deste tema.

Ao doutor Victor Emmanuel Teixeira Mendes Abalada, por ter colaborado


enormemente com suas observações na etapa final deste trabalho.

Aos professores doutores Pauxy Gentil-Nunes, Paulo Roberto Peloso Augusto,


Marcos Vinício Nogueira e Midori Maeshiro, pelo acompanhamento durante este curso.

À Edinalda Almeida pela cuidadosa revisão.

Aos funcionários da secretaria da pós-graduação, em especial à Beth Vilela, por toda


competência e especial cuidado com os alunos.

À diretora da Biblioteca Alberto Nepomuceno, Dolores Brandão, e sua equipe: Sonia


Maria dos Santos Leite, Marta Lisboa Rodrigues da Costa, Carlos Alberto Moreira, Ailton
Francisco da Silva, Elizabeth Abreu Damasceno e Suelen de Oliveira Dias.

A toda equipe do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, da Biblioteca Nacional do Rio


de Janeiro, e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
iii

Para
meus pais Afranio e Aparecida,
minha esposa Juliana,
e meus irmãos Junior e Laura.
iv
v

ALMEIDA, Thadeu de Moraes. Os concursos do Instituto Nacional de Música: tensões,


meritocracia e cultura na República Velha (1890 a 1917). Rio de Janeiro, 2017. Dissertação
(Mestrado em Música). Programa de Pós Graduação em Música, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

Resumo
Este trabalho tem como objeto analisar a utilização do conceito de meritocracia na
constituição do corpo docente do Instituto Nacional de Música, órgão oficial de ensino
musical da Primeira República, no Rio de Janeiro. Discute sua história institucional desde sua
criação efetivada com a dissolução do Conservatório de Música do Império. Aborda as
gestões de Leopoldo Miguez (1890-1902), Alberto Nepomuceno (1902-1903), Henrique
Oswald (1903 a 1906), Alberto Nepomuceno (1906 a 1916) e Abdon Milanez (1917-1922),
oferecendo um levantamento dos professores contratados, monitores, alunos laureados e
cursos oferecidos nas diversas reformas. Realiza uma análise comparativa dos nove decretos –
dois de 1890, 1892, 1900, 1903, 1904, 1907, 1911 e 1915 – que regeram os processos de
nomeação dos docentes, identificando expedientes, ora autocráticos, ora democráticos.
Examina os dois primeiros concursos para provimento do cargo de professor do INM,
realizados nos anos de 1916 e 1917, oferecendo análise detalhada do processo seletivo,
incluindo inscrição, constituição de banca examinadora, realização das provas, avaliação e
atos administrativos. Entre os membros das bancas constavam Francisco Braga, Arnaud
Gouveia, José Rodrigues Barbosa, Oscar Guanabarino e Abdon Milanez; e entre os
candidatos estavam Roberta Gonçalves, Homero de Sá Barreto, Octavio Bevilacqua e Paulina
D’Ambrosio. O conjunto documental, concernente aos arquivos institucionais (Ministério da
Justiça e Negócios Interiores, Instituto Nacional de Música e Escola Nacional de Belas Artes),
incluindo documentos de natureza jurídica e administrativa, ofícios e relatórios, foi
confrontado com os relatos e opiniões pessoais levadas a público, em forma de artigos e cartas
publicadas em jornais, observando-se discrepância e intenso embate travado em torno deste
importante lugar de atuação musical. Esses embates traziam em seu bojo questões que
envolviam não apenas a disputa por postos de trabalho como também evidenciavam os
conflitos decorrentes de diferentes opções estéticas e visões de mundo.
Palavras-chave: Instituto Nacional de Música. Primeira República. Música. História da
Educação no Brasil.
vi

ALMEIDA, Thadeu de Moraes. Os concursos do Instituto Nacional de Música: tensões,


meritocracia e cultura na República Velha (1890 a 1917). Rio de Janeiro, 2017. Dissertação
(Mestrado em Música). Programa de Pós Graduação em Música, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

Abstract
This research aims to investigate the use of the concept of meritocracy in the composition of
the faculty of the National Institute of Music, the official organ of musical education of the
historical period, called First Republic, in Rio de Janeiro. It discusses its institutional history
since its beginning with the dissolution of the Conservatory of Music of the Empire. It covers
the administrations of Leopoldo Miguez (1890-1902), Alberto Nepomuceno (1902-1903),
Henrique Oswald (1903 to 1906), Alberto Nepomuceno (1906 to 1916) and Abdon Milanez
(1917-1922), offering a survey of contracted teachers, monitors, students laureates and
courses offered at the occasion of its various reforms. It performs a comparative analysis of
the nine decrees - two from 1890, 1892, 1900, 1903, 1904, 1907, 1911 and 1915 - that ruled
the processes of appointing teachers, identifying autocratic or democratic expedients in use. It
examines the first two competitions to compose the group of teachers at the INM, conducted
in the years 1916 and 1917, offering detailed study of the selection process, including
registration, constitution of the border of examiners, conducting tests, evaluation and
administrative acts. Among the examiners were Francisco Braga, Arnaud Gouveia, José
Rodrigues Barbosa, Oscar Guanabarino and Abdon Milanez; and among the candidates were
Roberta Gonçalves, Homero de Sá Barreto, Octavio Bevilacqua and Paulina D’Ambrosio.
The documental corpus, concerning the institutional archives (Ministry of Justice and Internal
Affairs, National Institute of Music and National School of Fine Arts), including documents
of a legal and administrative nature, letters and reports, was confronted with personal reports
and public opinions, published in newspapers in the form of articles and letters, observing a
discrepancy and intense clashes around this important place of musical performance. These
clashes brought with them questions that involved not only the dispute for work positions but
also highlighted the conflicts arising from different aesthetic options and worldviews.
Palavras-chave: National Institute of Music. Old Republic. Music.
vii

Sumário

Lista de Figuras viii


Lista de Quadros ix
Introdução 1
Capítulo 1: O Instituto Nacional de Música e os Decretos de 1890 a 1915 5
1.1 A gestão Miguez (1890-1902): indicação do Diretor 9
1.2 A primeira gestão Nepomuceno (1902-1903): da votação pelo colegiado à seleção por provas 29
1.3 A gestão Oswald (1903 a 1906): retorna a indicação do Diretor 35
1.4 A segunda gestão Nepomuceno (1906 a 1916): do colegiado ao concurso 42
Capítulo 2: O primeiro concurso do Instituto Nacional de Música, 52
teoria e solfejo (1916): “Mau começo, péssimo fim” 52
2.1 Atos administrativos e provas 52
2.2 Recursos, polêmica nos jornais, pronunciamentos oficiais e atos administrativos conclusivos 67
Capítulo 3: O segundo concurso do Instituto Nacional de Música, 89
violino (1917): “Um escândalo artístico” 89
3.1 Atos administrativos e provas 89
Conclusão 105
Referências 107
Fontes primárias 107
1. Documentos do Acervo do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro 107
2. Documentos do Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro 107
1. Periódicos 107
2. Acervo de Música e Arquivo 108
3. Documentos da Biblioteca Alberto Nepomuceno – Setor de Documentos Históricos 108
4. Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro 109
5. Documentos oficiais 110
Referências bibliográficas 111
viii

Lista de Figuras

Figura 1. Ditado composto por Rodrigues Barboza. ................................................................ 59


Figura 2. Canto dado proposto por Alberto Nepomuceno. ...................................................... 59
Figura 3. Canto dado para a prova de fuga. .............................................................................. 59
Figura 4. Baixo dado utilizado pelos candidatos para realização da prova de contraponto. .... 61
Figura 5: Prova de contraponto de Roberta Gonçalves ............................................................ 77
Figura6: Contraponto invertido de Roberta Gonçalves ............................................................ 77
Figura 7: Prova de Contraponto de Homero Barreto ................................................................ 77
Figura 8: Prova de Contraponto de Octavio Bevilacqua, a primeira apresentada .................... 77
Figura 9: Segunda prova de Contraponto apresentada por Octavio Bevilacqua ...................... 78
ix

Lista de Quadros

Quadro 1: Professores da Academia de Música do Clube Beethoven ....................................... 7


Quadro 2: Relação dos alunos laureados no INM entre os anos 1894 a 1901. ........................ 12
Quadro 3: Professores contratados na Gestão Miguez (1890 a 1902) ...................................... 15
Quadro 4: Cursos oferecidos no INM nas reformas de Miguez (1890-1900). ......................... 25
Quadro 5: Professores contratados na gestão Oswald .............................................................. 36
Quadro 6: Cursos oferecidos no INM nas reformas Nepomuceno (1903) e Oswald (1904). .. 37
Quadro 7: Adjuntos nomeados na gestão Oswald .................................................................... 38
Quadro 8: Monitores e acompanhadores nomeados na gestão Oswald.................................... 39
Quadro 9: Lista de professores que obtiveram acréscimo salarial na Gestão Oswald ............. 40
Quadro 10: Lista de alunos dos Cursos Noturnos do INM (1894). .......................................... 41
Quadro 11: Contratados entre os anos 1907 e 1911. ................................................................ 46
Quadro 12: Cursos oferecidos no INM nas reformas de Nepomuceno (1907 a 1915). ........... 48
Quadro 13: Nomeações ocorridas entre os anos 1911 a 1915 sob o regimento do Decreto N.
9.056/1911. ............................................................................................................................... 49
Quadro 14: Conteúdo das provas (concurso de solfejo, 1916) ................................................. 54
Quadro 15: Lista de candidatos (concurso de solfejo, 1916) ................................................... 56
Quadro 16: Resultados do concurso – Roberta Gonçalves ...................................................... 62
Quadro 17: Resultados do concurso – Otávio Bevilacqua ....................................................... 62
Quadro 18: Resultados do concurso – Raphael Bernabei ........................................................ 63
Quadro 19: Resultado do concurso – Homero de Sá Barreto ................................................... 63
Quadro 20: Resultado do concurso – Maria Clara Camara de Menezes Lopes ....................... 63
Quadro 21: Notas obtidas por cada candidato. ......................................................................... 65
1

Introdução

O Instituto Nacional de Música foi instituído por um grupo de artistas e intelectuais


ligados ao espírito republicano, em 1890. Sua criação significava a extinção do Conservatório
de Música do Império e a incorporação de ideias de cunho político pela nova liderança
musical. Entre elas, a mentalidade “cientificista”, predominante nos meios intelectuais, e a
valorização do mérito pessoal.

Este conceito da meritocracia influenciaria, sobremaneira, a institucionalização dos


concursos para provimento de cargos públicos. Sob esta ótica, o presente trabalho propõe um
estudo sobre concursos para o cargo de professor do Instituto Nacional de Música, durante as
gestões de Leopoldo Miguez (1890-1892), Alberto Nepomuceno (1902-1903 e 1906-1916) e
Henrique Oswald (1903-1906), baseado nos Decretos que regeram a instituição entre os anos
1890 a 1915 e em outras fontes primárias, que nos auxiliaram a observar as implicações
políticas, estético-musicais e de sociabilidade, que marcaram esses processos.

Entre elas, destacamos os artigos e cartas publicados em periódicos da época, que nos
falam não somente sobre seus autores e suas intenções, como também sobre o público a que
se destinava e suas condições de publicação. Pesquisamos também documentos oficiais do
INM, correspondências e outros tipos de documentos que colaboraram para o entendimento
das práticas defendidas pelos diferentes administradores e suas relações com o poder
instituído.

No decorrer destes anos, foram nove os Decretos que regulamentaram a instituição


que, no primeiro momento da República, encontrava-se subjugada ao Ministério do Interior,
chefiado por Aristides Lobo. Logo depois da criação do INM, em 21 de fevereiro, foi
promulgada a Constituição brasileira de 1891, que expressava a filosofia política republicano-
positivista, totalmente inspirada na Carta Constitucional dos Estados Unidos, com
“orientações próprias de uma democracia burguesa concebida pelos princípios do liberalismo
clássico”1. Em um novo momento de reorganização foi criado, por meio da Lei N.º 23, de 30
de outubro de 1891, o Ministério da Justiça e Negócios Interiores, aglutinando as antigas
pastas da Secretaria de Estado do Interior, da Justiça e da Instrução Pública, Correios e
Telégrafos.

1
CAMARGO, Angélica Ricci. Ministério da Justiça e Negócios Interiores: um percurso republicano (1891-
1934) [recurso eletrônico] / Angélica Ricci Camargo. Dados eletrônicos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2015.
2

Segundo Angélica Camargo Ricci, desde a sua criação até o ano de 1930, o Ministério
da Justiça e Negócios Interiores desempenhou a importante função de seguridade dos direitos
políticos estabelecidos pela Constituição de 1891 e na organização política do Brasil. Dentro
do programa republicano, este Ministério deveria se ocupar no registro civil dos nascimentos,
óbitos e casamentos e manter a liberdade e igualdade dos cultos religiosos, bem como os
assuntos relacionados aos direitos políticos de imigrantes. Além disso, esta pasta também se
ocupava de assuntos
relativos à administração da justiça federal e à Guarda Nacional em todo país, à
justiça local, Polícia e Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, instrução, educação e
desenvolvimento das ciências, letras e artes, incluindo a catequese dos índios e todas
as atribuições que pertenciam à antiga Secretaria de Estado dos Negócios do Interior.
Essas atribuições compreendiam as questões ligadas à saúde e à assistência pública,
aos menores abandonados, aos alienados, à naturalização de estrangeiros e à
organização dos estados. A mesma lei dispôs sobre a estrutura central do ministério,
que ficou composta por uma seção de Contabilidade e três diretorias: da Justiça, da
Instrução e do Interior.2

Este período, também conhecido como belle époque, foi um momento de profundas
mudanças na sociedade fluminense, o que gerou condições para o surgimento de várias
expressões artísticas que marcariam este período. É constante a vinculação entre a busca pela
modernidade europeia e a Primeira República (1889-1930), sendo esta, uma ação norteadora
do pensamento das elites intelectuais e das lideranças artísticas da época.

Uma “obsessão coletiva” da chamada “nova burguesia” desencadeou um enorme


desejo pela modernidade e pelo progresso, induzindo este segmento social a se voltar para
valores externos que investiam na europeização dos costumes, das cidades e dos estilos
artísticos. Estudar o processo de organização do INM e as normas que regeram este
estabelecimento de ensino artístico musical, nos seus primeiros vinte e cinco anos, torna-se
indispensável ao ponto que nos possibilita observar e analisar as redes de sociabilidade que
participaram da direção do Instituto tendo por máxima o novo ideal da nação, “Ordem e
Progresso”.

De acordo com o sociólogo Anthony Smith, a definição do conceito de nação se define


por uma comunidade de indivíduos vinculados social e economicamente, que compartilham
certo território, que reconhecem a existência de um passado comum, ainda que divirjam sobre
aspectos desse passado; que têm uma visão de futuro em comum; e que acreditam que esse
futuro será melhor se se mantiverem unidos.3

2
Idem.
3
SMITH, 2000, p.1-26. In: ALMEIDA, VOLPE et AUGUSTO, 2015, p.176.
3

Para o historiador Nicolau Sevcenko, quatro princípios foram fundamentais para a


transformação do espaço público, dos costumes e da mentalidade da sociedade da nação
brasileira naquele momento: 1. Abolir os hábitos e costumes ligados pela memória à
sociedade tradicional; 2. Negar todo e qualquer elemento de cultura popular que denegrisse a
imagem civilizada da sociedade dominante; 3. Expulsar os grupos populares da área central
da cidade, tornando-a exclusiva das camadas aburguesadas; e 4. Identificar-se profundamente
com a vida parisiense.4

Com o advento da República, o INM foi o estabelecimento oficial de ensino de


música. Criado nos moldes de um sistema democrático, o Instituto deveria ter uma
organização condizente com estes princípios, principalmente no provimento dos cargos
docentes, já que o funcionalismo era de cunho público. Assim, a meritocracia deveria não ser
apenas parte integrante de sua organização, mas uma exigência que garantisse igualdade de
oportunidades para todos os que desejassem integrar o corpo docente do INM.

Durante vários anos, ficaram a cargo dos dirigentes os processos de nomeação e


promoção dos professores, tendo-se em vista que diversos Decretos garantiam o acesso ao
cargo exclusivamente pela indicação do diretor do Instituto, gestões Miguez e Oswald. Por
certo período, nas gestões Nepomuceno, a ideia do mérito esteve vinculada a outro processo
democrático, que era a eleição de um professor por maior número de votos. Porém, somente
em 1915, vinte e cinco anos depois da criação do INM, surgiu um Decreto que estabeleceria
provas (certames) que julgassem a eficiência de cada candidato, com oportunidade para quem
desejasse realizá-las. Um processo como este romperia com as ditas relações pessoais e de
parentesco, porém, o que vimos exemplificado nos dois concursos que analisamos não foi
exatamente isso.

De acordo com Lívia Barbosa, “as sociedades igualitárias têm como princípio básico o
fato de que os indivíduos são iguais e que a única coisa a diferenciá-los, para fins de
ordenação social, em termos de status, poder econômico e político, é o desempenho de cada
um”5. Ao aplicar este princípio no nosso objeto de estudo, percebemos uma grande
dificuldade de interação entre o “espírito republicano” e o que de fato se exercia dentro desta
instituição.

Em um pronunciamento, em 16 de maio de 1876, no Teatro Fênix Dramática, o

4
SEVCENKO, 2003, p. 41-43.
5
BARBOSA, 1996, p. 69.
4

senador liberal Silveira Martins, reclamava sobre a prática do descaso pelo talento e pelo
mérito nos anos finais do império brasileiro:

Os grandes empregos públicos estão reservados, ou para seduzir homens


importantes nas duas casas do Parlamento, ou para dotar as filhas e regalar os filhos
dos magnatas, ou para recompensar a dedicação dos validos, e daí vem que só por
um acaso feliz pode uma província ter um administrador capaz. Estudo, inteligência,
trabalho, mérito nada valem.6

Muito antes do Decreto de 1915, no período do Conservatório de Música do Império,


em suas últimas reformas nos estatutos, ocorreu um concurso para efetivo de piano. Em 1883,
Cavalier Darbily foi nomeado professor efetivo de piano após um período em que havia
lecionado interinamente as disciplinas de piano, canto e harmonia7. No mesmo ano em que foi
criado o INM, o Decreto N.º 938, de 8 de novembro de 1890, que reorganizou a Escola
Nacional de Bellas Artes, também previa a admissão de professores efetivos mediante
concurso. 8

Neste sentido, o primeiro capítulo destina-se a abordar as diferentes gestões e os


Decretos que as regulavam. Destacam-se os novos dados pesquisados sobre o período da
gestão do compositor Henrique Oswald, normalmente tido como um período sem grandes
alterações na rotina do Instituto.

O segundo capítulo é dedicado ao concurso para o cargo de professor de solfejo e toda


a gama de embates e tensões que marcaram o primeiro concurso público para professor do
INM realizado no período republicano. O que deveria ser um marco da adequação da
instituição aos ditames mais nobres da nova ordem política, revelou-se uma intrincada teia de
proteções e rivalidades que escaparam às paredes do Instituto e invadiram as páginas dos
periódicos em acusações e graves difamações.

O terceiro capítulo aborda o concurso para o provimento do cargo de professor de


violino, disputado por uma das mais célebres musicistas de nossa história, a violinista Paulina
d’Ambrósio. Mais uma vez as tensões e disputas extrapolam os limites do Instituto, revelando
detalhes sobre práticas musicais, opções estéticas e visões de mundo que disputavam espaço
no mais privilegiado local de ensino da música do Brasil Republicano.

6
DE MELLO, 2007, p. 163. Apud. MORAES, Evaristo de. Da Monarquia para a República (1870-1889).
Editora Universidade de Brasília, 1985, p. 44.
7
AUGUSTO, 2010, p. 40.
8
BRASIL. Decreto n. 938, de 8 de novembro de 1890: Aprova os estatutos para a Escola Nacional de Bellas-
Artes. Art. 31.
5

Capítulo 1: O Instituto Nacional de Música e os Decretos de 1890 a 1915

Logo nos primeiros meses da instalação do novo regime, o Marechal Manoel Deodoro
da Fonseca, então chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil,
extinguiu o Conservatório de Música e criou o Instituto Nacional de Música sob o Decreto N.º
143, de 12 de janeiro de 1890. Este seria o primeiro dos nove Decretos que regulamentariam
essa instituição, de nível não superior, que em um primeiro momento da República ficou
subjugada ao Ministério do Interior, na pessoa do ministro Aristides Lobo.

Em 1891, o Instituto Nacional de Música se tornaria um dos órgãos abrigados pelo


Ministério da Justiça e Negócios Interiores, assim com o Colégio Pedro II, o Conservatório
Dramático, as Escolas Politécnicas e Normal, as Faculdades de Direito de São Paulo e do
Recife, o Museu Nacional, entre muitos outros9. O regulamento de cada uma dessas unidades
era publicado em forma de Decreto, assinado pelo Presidente da República e pelo Ministro,
enquanto o Regimento era assinado pelo Ministro.

O Conservatório de Música do Império era uma instituição de origem particular, que


se mantinha com auxílio de loterias concedidas pelo Governo, desde a instauração do Decreto
N.º 238, de 27 de novembro de 1841. Este Decreto concedia à Sociedade de Música fundada
por Francisco Manoel da Silva, por um período de oito anos, duas loterias que garantiriam a
existência da instituição10.Desta forma, era uma instituição de caráter tanto privado quanto
oficial. Entretanto, somente em 13 de agosto de 1848, o autor do Hino Nacional Brasileiro e
um dos músicos de maior prestígio em seu tempo, inaugurou o que seria o primeiro
conservatório oficial de música do país, que ainda sem sede própria, se alocou no salão do
Museu Nacional, no Campo da Aclamação, atual Praça da República.11
O Conservatório tinha como objetivo o ensino da música com ênfase na formação de
instrumentistas e cantores para atuarem, principalmente, nos teatros líricos e na Igreja.12Em
1855 foi anexado à Academia de Bellas Artes, tornando-se sua quinta sessão,13 passando por

9
Para ver a lista completa dos órgãos assistidos pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores, veja:
CAMARGO, Angélica Ricci. Ministério da Justiça e Negócios Interiores: um percurso republicano, p. 13.
10
BRASIL. Decreto nº 238, de 27 de Novembro de 1841. Coleção de Leis do Império do Brasil. Vol. pt I, p. 43.
11
DE PAOLA, Andrely Quintella; GONSALEZ, Helenita Bueno. Escola de Música da Universidade Federal do
Rio de Janeiro: História & Arquitetura. Rio de Janeiro, UFRJ, SR5, 1998.
12
MAGALDI, Cristina.Concert Life in Rio de Janeiro: 1837-1900.Ph. D. dissertation, University of California,
Los Angeles,1994, p. 13-14.
13
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. Música e Músicos do Brasil. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil,
1950, p. 81 e 114; SIQUEIRA, Batista. Do conservatório à escola de música; ensaio histórico. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1972, p. 43, 63-5.
6

duas reorganizações: a primeira, pelo Decreto N.º 1542, de 23 de janeiro de 1855, “Dá nova
organização ao Conservatório de Música”. E a segunda, por meio do Decreto N.º 8226, de 20
de agosto de 1881, “Dá estatutos ao Conservatório de Música”, que reorganizava o plano de
ensino e apresentava novas disposições administrativas.

A extinção do Conservatório de Música e a criação do Instituto Nacional de Música


foi um das primeiras ações administrativas do governo republicano. Era necessária uma
equipe com experiência musical que obviamente deveriam ser simpatizantes ao espírito
positivista. O responsável pela intermediação entre a classe musical e o governo foi o crítico
musical e funcionário do Ministério do Interior, José Rodrigues Barbosa14, amigo do
Marechal Deodoro da Fonseca e do Ministro do Interior, Aristides Lobo. Este, “no louvável e
patriótico empenho de elevar a arte brasileira ao maior grau de desenvolvimento”15, organizou
uma comissão composta por Rodolpho Bernardelli, Alfredo Bevilacqua, Rodolpho Amoedo,
José Rodrigues Barbosa e por Leopoldo Miguez para elaboração de um projeto de reforma da
Academia de Bellas Artes e do Conservatório de Música.16

Miguez e Bevilacqua integraram o corpo docente da associação musical Clube


Beethoven. O primeiro era professor de composição, harmonia e contraponto; e o outro
ocupava a cadeira de piano. Este Clube foi criado no Rio de Janeiro em 1882, pelo músico
Robert Jope Kinsman Benjamin, com a finalidade de “cultivar e divulgar a música de câmara
e sinfônica”, bem como promover o ensino da música. Sua organização se assemelhava à das
sociedades musicais europeias e contava, entre seus membros, com personalidades como
Machado de Assis que durante algum tempo atuou como bibliotecário do Clube.17

Além de ser um importante centro difusor de novas práticas musicais, como a música
de câmara e o repertório de origem germânica, o clube também era um lugar de sociabilidade
de lideranças que defendiam a República como forma de governo. Naturalmente, a inserção
de músicos como Miguez, Bevilacqua, Faulhaber, Arthur Napoleão e Nepomuceno neste
contexto, revelaria o compartilhamento, por parte desses músicos, da visão de mundo
defendida pelo grupo que assumiu o poder, com o advento da República.

14
VOLPE, 2007, p.1.
15
Arquivo Nacional. IE 7 90.
16
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 anos de música no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio
Editora, 1956, p.114.
17
MARCONDES, M. A. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. Verbete: “Clube
Beethoven”. Editora Art, São Paulo, 1977, p. 194.
7

Entre as ações empreendidas pelo Clube, destaca-se a “Academia de Música”, criada


em 1886, com o objetivo de proporcionar, de forma gratuita, uma educação “sã e sólida” por
meio dos estudos das obras de compositores “antigos e modernos”. As aulas ocorriam na
própria sede do Clube18, e eram destinadas apenas aos homens. Dispensava-se conhecimento
musical, porém, os meninos só poderiam se matricular quando maiores de nove anos e
alfabetizados. Aos seus alunos era dado o direito de entrarem sem custos em todos os
concertos do Clube19. Segue abaixo a lista dos professores da Academia:

Quadro 1: Professores da Academia de Música do Clube Beethoven


Violino Otto Beck
Viola Luiz Gravenstein
Violoncelo Frederico Nascimento
Contrabaixo J. Martini
Piano forte Arthur Napoleão
Piano forte Alfredo Bevilacqua
Piano forte J. Queiroz
Piano forte R. Eichbaum
Piano forte P. Faulhaber
Piano forte A. Nepomuceno
Flauta Aug. Duque Estrada Meyer
Clarineta e Fagote Domingos Miguel
Trompa J. R. Cortes
Acompanhamento A. Ledreton
Canto Gustavo Morretti.
Solfejo J. R. Cortes
Leopoldo Miguez, V.
Composição, harmonia e
contraponto Cernicchiaro e Paul Faulhaber

Quarteto, coro e ensemble Otto Beck


Fonte: O Paiz, Rio de Janeiro, 05 de abril de 1886.

No Decreto N.º 143, 12 de janeiro de 1890, responsável pela criação do INM, o


Conservatório era descrito como uma instituição que não possuía “organização conveniente e
necessária ao fim para que foi instituído”20. Para dirigir o novo estabelecimento a ser erguido
sob o novo prisma, a simpatia de Miguez ao regime republicano o tornou “o homem
indispensável ao governo no terreno da arte musical”21. Conquistava, desta forma, o prestígio
com o qual, outrora, fora distinguido Francisco Manoel da Silva, autor do Hino Nacional e o
responsável pela criação da mais representativa instituição de ensino de música no Segundo
Reinado.

18
O Clube Beethoven era sediado na Rua da Glória, N.º 62, no Rio de Janeiro. (MAGALDI, 1995, p. 10)
19
O PAIZ. Club Beethoven: Academia de Música. Rio de Janeiro, 05 de abril de 1886, p. 3
20
BRASIL. Decreto N.º 143, de 12 de janeiro de 1890: Extingue o Conservatório de Música e cria o Instituto
Nacional de Música.
21
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 anos de música no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio
Editora, 1956, p.113.
8

Após ser honrado com o cargo de diretor, Miguez possivelmente intentou ser o criador
do novo Hino Nacional, por meio de um malfadado concurso realizado para tornar exequível
o seu desejo. Com letra de José Joaquim Medeiros e Albuquerque (1867-1934), a música de
Miguez propunha uma recordação da Marselhesa, canção utilizada na Revolução Francesa e
também por alguns grupos no período de tensão que precedeu a República no Brasil.22

Miguez venceu o concurso para o novo Hino Nacional, porém, por pressão popular e
dos militares que recordavam a utilização do antigo hino nas comemorações das vitoriosas
batalhas da Guerra do Paraguai, o Marechal Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório
da República, decidiu pela manutenção do hino de Francisco Manoel, e o de Leopoldo
Miguez seria, assim, o hino da Proclamação da República. Assim, prevaleceu a melodia do
Hino de Francisco Manoel da Silva como o Hino Nacional até os dias atuais.

Participar da criação do Instituto Nacional de Música foi, podemos dizer então, mais
uma das estratégias de Miguez para ocupar o papel simbólico alcançado pelo fundador do
Conservatório de Música. Neste sentido, a sua proposta como diretor era em direção oposta ao
estabelecimento que sucedia, privilegiando o ensino completo da música em todos os ramos
da arte, a formação de instrumentistas, cantores, professores de música, compositores, bem
como auxiliá-los no desenvolvimento do “bom gosto musical” na produção de grandes
concertos, nos quais seriam executadas as melhores composições “antigas e modernas”. 23

O novo regime trazia em seu bojo a propagação do ideal cosmopolita e civilizatório24.


Assim,

as novas diretrizes adotadas no Instituto Nacional de Música suscitaram uma


substancial mudança na cultura musical da capital federal durante a Primeira
República. Enquanto o ensino destituiu de prioridade a formação de músicos para a
ópera, passando a enfatizar a música instrumental e sinfônica de tradição germânica
e francesa, os espetáculos musicais refletiam o impacto da música do futuro,
atingindo a ópera com o wagnerismo e a música de concerto como o poema
sinfônico, além da música sinfônica alemã, francesa e russa.25

Para esta finalidade, o Instituto Nacional de Música pretendia ter um corpo docente
que pudesse elevar seu nível aos conservatórios congêneres dos “países adiantados”26.

22
Sobre o assunto do concurso para o hino nacional ver: AUGUSTO, Antonio José. A questão Cavalier: música
e sociedade no Império e na República (1846-1914). Rio de Janeiro, Folha Seca, 2010.
23
BRASIL. Decreto N.º 934 – De 24 de outubro de 1890: Dá novo regulamento ao Instituto Nacional de Música.
24
Ver: VOLPE, Maria Alice. Indianismo and Landscape in the Brazilian Age of Progress: Art Music from
Carlos Gomes to Villa-Lobos, 1870s-1930s.
25
VOLPE, Maria Alice. Rodrigues Barbosa: Questões identitárias na crítica musical. Brasiliana (Revista da
Academia Brasileira de Música), n. 25, junho 2007.
26
Decreto N.º 934, de 24 de outubro de 1890. Biblioteca Alberto Nepomuceno: Pasta 3.1.
9

Comparando os capítulos dedicados aos campos “dos professores” ou “do pessoal


docente” nos quatro Decretos promulgados na direção de Miguez, percebemos que o processo
de ocupação das cadeiras de professores se dava por indicação do diretor e posterior
nomeação por Decreto do Ministro da Justiça. O corpo docente era formado por duas ordens
de professores: os efetivos e os adjuntos. Os efetivos eram indicados diretamente pelo diretor,
enquanto os adjuntos eram frutos da indicação do professor efetivo, a quem deveriam
coadjuvar. Após a aprovação do diretor o nome indicado era enviado ao Ministro para
posterior nomeação.

1.1 A gestão Miguez (1890-1902): indicação do Diretor

Destes nove decretos, quatro regulamentaram o período que Leopoldo Miguez dirigiu
o INM.

O Decreto N.º 143, de 12 de janeiro de 1890, que criou o INM, firmado pelo Marechal
Manoel Deodoro da Fonseca e pelo Ministro do Interior Aristides da Silveira Lobo, que
ocupou o cargo por apenas dois meses, após renunciar ao cargo por divergências com
Deodoro. Este Decreto promoveu o acesso de alunos de ambos os sexos, podendo ser
admitidos brasileiros e estrangeiros. O ensino era dividido em cinco seções: a seção
elementar, que compreendia os cursos de solfejo e teclado; a seção vocal, que alocava
unicamente o curso de canto; a seção instrumental, que abrangia os cursos de piano, harpa,
órgão, violino e violeta, violoncelo, contrabaixo, flauta (e congêneres), oboé, fagote (e
congêneres); clarineta (e congêneres), trompa, trombeta, trombone (e congêneres); a quarta
compreendia os cursos preparatórios e complementares de composição, com os cursos de
harmonia, acompanhamento, contraponto e fuga, composição e instrumentação; e a sessão
literária com os cursos de história e estética da música.

Ainda no mesmo ano, em 24 de outubro de 1890, Deodoro da Fonseca e o novo


Ministro, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, formataram um novo Decreto, o de N.º
934, no qual determinava que o INM devesse possuir 20 professores divididos nas mesmas
sessões do regulamento anterior. Dois anos depois, em 31 de dezembro de 1892, Floriano
Peixoto, o “Marechal de Ferro”, que havia sido o primeiro Vice-Presidente do Brasil,
reorganizou o INM juntamente com o Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Fernando
Lobo. Este foi o Decreto que durante maior período regeu a instituição e, a partir dele, o
número de professores passou a ser subordinado ao número de alunos.
10

No décimo segundo ano da República, período do governo de Campos Salles, e


poucos anos após a viagem que Miguez fez à Europa para observar a organização dos
conservatórios de música europeus, foi lançado o Decreto N.º 3632, em 31 de março de 1900,
que ainda mantinha o número de professores de acordo com as necessidades do ensino e ao
número de alunos. Em todos eles, o acesso ao cargo de professor do INM vigorava de igual
modo, o diretor indicava o professor que a seu entender deveria ocupar a cadeira.

Como o número de professores era subordinado às exigências do ensino e ao número


de alunos, poderia o diretor solicitar ao Ministro autorização para celebrar contratações tanto
de professores nacionais quanto estrangeiros. Como estratégia para garantir tanto a
valorização da instituição, como certo controle no acesso ao cargo de professor, no Decreto
N.º 3632, Artigo 13, do ano de 1900, era garantida aos alunos laureados no Instituto a
preferência no preenchimento das vagas de professores efetivos ou adjuntos.27

Nos quatro Decretos supras citados, havia um item referindo-se à obrigatoriedade da


realização de uma reunião com a finalidade específica de eleger o Conselho formado por
cinco professores efetivos. Este Conselho tinha a função de deliberar sobre a admissão de
alunos, a outorga de prêmios e sobre qualquer questão julgada pertinente pelo diretor do
Instituto.

Curiosamente, na Ata N.º 1, da 1ª sessão de Congregação, que registra a convocação


para a eleição do Conselho que serviria nos anos de 1890 e 1892, notamos um pequeno lapso
do responsável pelo registro: “Da 1ª Sessão de Conselho, realizada a 22 de Fevereiro de 1890,
digo, da 1ª Sessão de Congregação realizada a 22 de Fevereiro de 1890”. Esta confusão entre
os termos Congregação e Conselho denuncia um fato peculiar, pois notamos que o termo
Congregação não consta em nenhum dos quatro Decretos no período da direção de Leopoldo
Miguez. Porém, de acordo com o livro de atas28 do “Conselho”, entendia-se por Congregação
todo o corpo docente efetivo do INM e o diretor.

Em 22 de fevereiro de 1890, sob a direção de Miguez, ocorreu a primeira sessão da


“Congregação” na sala da Secretaria do INM, com a presença dos professores efetivos de
harmonia, Carlos de Mesquita e Frederico Nascimento; Augusto Duque Estrada Meyer,

27
BRASIL. Decreto N.º 3632 de 31 de março de 1900. Biblioteca Alberto Nepomuceno. Setor de Documentos
Históricos. REGULAMENTOS/REGIMENTOS 1900-1901. PASTA 3.2
28
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA. Ata N.º 1 de 22 de fevereiro de 1890. Atas da Congregação e
Conselho do Instituto Nacional de Música. Livro I, 1890-1912. Documento manuscrito. Acervo da Biblioteca
Alberto Nepomuceno. Setor de Documentos Históricos. (s.l.)
11

professor de flauta; José de Lima Coutinho, professor de clarineta; dos professores de solfejo,
Ignácio Porto Alegre, João Rodrigues Côrtes e Miguel Cardoso; Henrique Alves de Mesquita,
professor de cornetim, trompa e congêneres; Francisco Pereira Costa, professor de violino e
violeta; e do professor de piano Alfredo Bevilacqua sob a presidência do diretor, Leopoldo
Miguez.

Cabia a esta Congregação (ou conselho) a eleição daqueles que viriam a compor o
Conselho no triênio 1890 a 1892, em concordância com o Art. 22 do Decreto N.º 143: “Será
instituído um conselho formado do diretor, de cinco professores efetivos e de três membros
honorários escolhidos entre os artistas dos mais notáveis residentes na Capital e estranhos ao
Instituto”. Os membros honorários eram nomeados pelo Ministro do Interior a partir da
proposta apresentada pelo diretor.

A eleição procedeu por escrutínio secreto. Aos dez professores foram distribuídos
envelopes nos quais continham impressos seus nomes e dada a ordem de que fossem
escolhidos cinco nomes depositados lacrados na urna. O diretor nomeou como escrutinadores
os professores Augusto Duque Estrada Meyer e Miguel Cardoso, com o auxílio do secretário
Eduardo Borjas Reis.

Iniciada a contagem dos votos, verificou-se o seguinte resultado, Frederico


Nascimento e Ignácio Porto Alegre, empatados com 9 votos; Alfredo Bevilacqua, com 7;
Miguel Cardoso, Carlos de Mesquita, João Rodrigues Côrtes, com 6 votos, cada; Francisco
Pereira da Costa, com 4 votos; Augusto Duque Estrada Meyer, José de Lima Coutinho, e
Henrique Alves de Mesquita, com um voto cada.

Com o empate entre os professores Miguel Cardoso, Carlos de Mesquita e João


Rodrigues Côrtes, o diretor sugeriu a necessidade de uma nova eleição entre os três, usando-
se o mesmo sistema de eleição. O professor Miguel Cardoso aconselhou que para tornar
abreviada a apuração do Conselho, ele desistiria de concorrer à nova eleição. Discordou desta
opinião o professor João Rodrigues Côrtes, pois o sistema de escrutínio deveria ser seguido
até que se concluísse a eleição e essa, aceita pela assembleia. Procedeu-se à nova eleição que
teve por resultado Miguel Cardoso e João Rodrigues Côrtes com sete votos cada e Carlos de
Mesquita com 6 votos.

Ficou, então, constituído o primeiro Conselho do INM pelos professores Frederico


Nascimento, Ignácio Porto Alegre, Alfredo Bevilacqua, Miguel Cardoso e João Rodrigues
12

Côrtes.

Esse conselho se reuniria com o diretor, sempre que este o convocasse, para resolver
questões relacionadas à admissão de alunos com idade menor de 9 anos ou acima de 25, que
no Decreto N.º 143/1890, era regulamentado no § III do Artigo 74. Este trabalho delimita-se a
analisar os Decretos de 1890 a 1924 e, neste período, todos eles não permitiam que no INM
fossem admitidos alunos dessas faixas etárias, nem candidatos estrangeiros que não falassem
português, ou os brasileiros que não possuíssem conhecimento suficiente da língua nacional e
noções matemáticas, de igual modo o candidato que apresentasse deficiência física que se
relacionasse às exigências do curso desejado. Além disso, para ser admitido, o aluno deveria
observar a moralidade, ter posse dos requisitos especificados no regime interno, e claro,
aptidão “natural” para a música.

Outra atribuição do Conselho era deliberar acerca da concessão e distribuição dos


prêmios, que consistiam na entrega de medalhas de ouro e bronze e menções honrosas que
variava segundo os cursos e as épocas de cada curso29. No período de 1894 a 1901, foram
estes os alunos laureados, que futuramente seriam os preferidos a ocuparem as cadeiras de
docentes:
Quadro 2: Relação dos alunos laureados no INM entre os anos 1894 a 1901.
Data da concessão Cursos em que
Nomes Prêmios
do prêmio foram laureados
10/06/1894 Elvira Bello Lobo Piano Medalha de ouro
30/12/1894 Carlos Alves de Carvalho Canto Medalha de ouro
28/12/1895 Camilla Maria da Conceição Canto Medalha de ouro
28/12/1895 Pedro de Assis Flauta Medalha de prata
26/12/1896 Pedro de Assis Flauta Medalha de ouro
26/12/1896 Francisco Nunes Junior Clarinete Medalha de ouro
26/12/1896 Guilhermina Alves Torres Piano Medalha de ouro
02/01/1898 Abygail Teixeira Alves Bastos Piano Medalha de prata
02/01/1898 Alcina Navarro de Andrade Piano Medalha de prata
02/01/1898 Francisco Monteiro de Barros Piano Medalha de prata
02/01/1898 Alice Gama de Rezende Canto Medalha de prata
02/01/1898 Hina da Cunha Canto Medalha de prata
31/03/1898 Guilhermina Alves Torres Harmonia Medalha de ouro
31/03/1898 Joaquim Antonio Barrozo Netto Harmonia Medalha de ouro
02/01/1899 Alice Chlorina Fialho Canto Medalha de prata
02/01/1899 Maria Clara Camara Cardoso de Menezes Canto Medalha de bronze
02/01/1899 Humberto Milano Violino Medalha de prata
02/01/1899 Maria José de Brito Flauta Medalha de prata
02/01/1900 Christina Julia Moller Piano Medalha de ouro
02/01/1900 Laura Navarro de Andrade Piano Medalha de prata
02/01/1900 Joaquim Antonio Barrozo Netto Piano Medalha de ouro
02/01/1900 José da Silva Maia Piano Medalha de ouro
02/01/1900 Anna Rodrigues da Costa Gross Canto Medalha de ouro
02/01/1900 Alvira da Costa Couto Harpa Medalha de prata
02/01/1900 Corina da Fontona Galvão Violino Medalha de bronze

29
Dentre as atribuições do Conselho, ele poderia agir sobre a perda de direito de admissão nos concursos e até
mesmo deliberar sobre a expulsão dos alunos que infligissem o regimento.
13

02/01/1900 Maria José de Brito Flauta Medalha de ouro


27/12/1900 Izana Moniz Piano Medalha de ouro
28/12/1900 Joaquim Antonio Barrozo Netto Contraponto e Fuga Medalha de ouro
23/12/1901 Ritta de Bellido Piano Medalha de ouro
23/12/1901 Nina Silva Canto Medalha de ouro
23/12/1901 Carmo Marsicano Violino Medalha de ouro
Fonte: Arquivo Nacional de Rio de Janeiro. IE 7 90.92.

O quórum e o desligamento de membros do Conselho por acúmulo de faltas não


justificadas eram normatizados/regulamentados pelo Decreto N.º 143, de 12 de janeiro de
1890:
Art. 27. Não poderá funcionar em sessão o conselho, quando falte a maioria dos
professores efetivos que dele fizerem parte; considerar-se-há, porém, constituído, e
como tal poderá funcionar, mesmo com a ausência de todos os membros honorários.
Art. 28. Os membros honorários são obrigados a comparecer ás sessões ordinárias e
extraordinárias do conselho e aos atos solenes do Instituto. Considerar-se-há vago o
lugar do membro honorário do conselho que por duas vezes deixar de comparecer
ou se recusar a qualquer daqueles serviços, sem justificar impedimento.

Findo o triênio do Conselho, o corpo docente deveria realizar nova eleição, podendo
ser reeleitos os mesmos professores e cabia ao governo julgar conveniente a permanência dos
membros honorários.
A primeira sessão do Conselho, presidida por Leopoldo Miguez, ocorreu em 1º de
abril de 1890 e, dos professores que compunham o Conselho, não compareceu o professor
Alfredo Bevilacqua, que de acordo com a ata, não comunicou justificativa pela falta. Além
dos professores eleitos na última reunião, também estavam presentes os membros honorários
Vincenzo Cernicchiaro e Paulo Falhauber30.
A finalidade daquele primeiro encontro do Conselho era tratar de assuntos a respeito
da admissão de candidatos fora da idade limite estabelecida pelo regulamento. Dos dez alunos
que buscavam admissão, quatro foram recusados: Balduino Rodrigues de Carvalho, de 35
anos, que há quatro anos exercia o cargo de coadjuvante do mestre de música do Externato do
Imperial Colégio Pedro II31 e que pretendia realizar o curso de piano; De Ângelo Rossi, de 29
anos e Alexandrina Ludgaria de Arantes, de 29 anos, aspirantes ao curso de solfejo; Maria
Gonçalves Braga de Carvalho, aspirante ao curso de 2ª época de solfejo que foi classificada
no exame de admissão provisória que fez por desejar matricular-se nas aulas de piano e canto.
A candidata apresentou no requerimento ter vinte e cinco anos incompletos quando já tinha
vinte e seis. O Conselho recusou sua matrícula naquele curso por prejudicar os demais alunos
que tinham a idade prescrita na lei.

30
Faulhaber, alemão radicado no Brasil em 1866, atuou como diretor do Club Mozart desde 1877.
31
BRASIL. Ministério do Império, Ministro José Fernandes da Costa Pereira Júnior. Relatório de 1887
apresentado na Assembleia Geral Legislativa na 3ª Sessão da 20ª Legislatura. Rio de Janeiro, 1888.
14

Os demais candidatos foram admitidos por terem realizado boas provas nos cursos
preparatórios, como no caso das aspirantes ao curso de canto, Emilia Medina de Oliveira
Lopes e de Lucia da Cruz Saldanha, de 25 e 26 anos, respectivamente. Aos aspirantes ao
curso de contrabaixo, Felix Joaquim Lopes e Ursulino José da Silva, ambos de 26 anos, que
foram admitidos por disponibilidade de vaga; Maria de Freitas, de 26 anos, no curso de
Harmonia; e Gabriela de Abreu no curso de teclado depois de ter completado 25 anos depois
de encerrada a matrícula e por possuir estudos adiantados em canto.32
Podemos perceber que de certo modo havia um rigor na aplicação da lei ao trazer para
o Conselho a responsabilidade em admitir alunos que estavam fora da faixa etária estipulada.
Porém, podemos perceber uma maior austeridade ao penalizar o professor que sem motivo
não comparecesse às reuniões, conforme descreve o Artigo 114 da lei daquele período:
O professor que, sem motivo justificado, não comparecer ás reuniões do corpo
docente ou a qualquer ato para que for designado, perderá o vencimento de oito dias.
Incorre em igual penalidade aquele que, fazendo parte do conselho, não se
apresentar ás sessões do mesmo conselho.

Esta austeridade era cobrada pelos próprios professores como podemos observar no
pedido feito pelo professor Frederico Nascimento para que o secretário Eduardo Borja Reis
fizesse a leitura deste artigo diante da ausência do professor Alfredo Bevilacqua. Nascimento
expõe ao diretor que ele deveria ser o responsável pela aplicação da penalidade prevista neste
artigo, a fim de constranger seus colegas professores, efetivos e/ou aqueles que faziam parte
do Conselho, a observar a frequência às reuniões. O diretor responde, de acordo com o
secretário do INM, que
tratando-se hoje do professor Alfredo Bevilacqua, o qual é fiel cumpridor dos seus
deveres e da lei, ele espera que seja um caso bastante grave o que obrigasse esta falta
e que espera a sua justificação. Mas que, no caso de não ser esta falta justificada,
será aplicada a pena em questão.

A seguinte reunião do Conselho aconteceu quase um ano depois, em 31 de março de


1891, após a leitura da ata da sessão anterior para ser aprovada e assinada pelos membros
presentes, o professor Bevilacqua disse que justificou sua falta com o diretor, e satisfeito ficou
o Conselho.

Em geral, no período de 1890 a 1903, o Conselho deveria participar nos exames de


admissão provisória, resolvendo os possíveis problemas de admissão de alunos que não
apresentavam a faixa etária estabelecida e na concessão e distribuição de prêmios aos alunos
que se apresentassem em concurso. Todos os membros deveriam estar presentes no INM

32
O curso de teclado compreendia o ensino elementar de piano obrigatório para os cursos de canto e de
harmonia. Cap. IV: Do ensino e da frequência, Seção III. Decreto N.º 934/1890, p. 8.
15

sempre que solicitados pelo diretor. Em casos extraordinários, o diretor poderia enviar uma
circular que deveria ser prontamente reendereçada ao gabinete do diretor com suas opiniões
sobre o caso consultado. Na reunião mais próxima, esta circular deveria ser discutida e
lavrada em ata. Nos casos de aplicação de penalidades aos alunos por alguma falta ou delito
que cometessem, o Conselho participaria na aplicação de suspensões de até quinze dias ou
mesmo exclusão do Instituto com a anuência de um professor, do ecônomo ou dos inspetores
do Instituto. As demais penalidades, repreensão em particular, em aula e retiradas de aula por
um dia poderiam ser aplicadas diretamente pelo professor, e poderia o diretor aplicar qualquer
uma das penalidades de eram registradas no livro de matrícula de alunos. O conselho era
impedido de realizar qualquer sessão na falta de quórum de professores que dele fizessem
parte, mas poderia ser constituída a sessão mesmo que se ausentassem todos os membros
honorários. Estes deveriam obviamente comparecer às sessões ordinárias e extraordinárias do
conselho e aos atos solenes do INM, podendo até mesmo fazer parte de comissões julgadoras
quando nomeados pelo diretor. Era afastado do cargo o membro honorário do conselho que
por duas vezes deixasse de comparecer ou se recusasse a realizar qualquer serviço solicitado
sem justificativa. Os membros honorários permaneceriam no cargo enquanto o Governo
julgasse conveniente, porém, o mandado para os professores que dele faziam parte vigorava
por três anos, podendo ser reeleitos os mesmos professores.33

Nos quatro Decretos, o número de professores estava subordinado ao número de


alunos matriculados na instituição, eram diferenciados como efetivos ou adjuntos, e ambos
eram nomeados por indicação do diretor e nomeados por Decreto pelo Ministro. No caso dos
adjuntos, deveriam ser indicados ao diretor pelos professores a quem tivessem de coadjuvar e
somente com a aprovação da indicação seria formalizada a contratação.

Quadro 3: Professores contratados na Gestão Miguez (1890 a 1902)


18/01/1890 Alfredo Bevilacqua Professor de piano
18/01/1890 Francisco Pereira da Costa Professor de violino e violeta
18/01/1890 Frederico Nascimento Professor de violoncelo
18/01/1890 Paulo A. Duque-Estrada Meyer Professor de flauta
18/01/1890 José de Lima Coutinho Professor de clarineta
18/01/1890 Henrique Alves de Mesquita Professor de cornetim, trompa e
congêneres.
18/01/1890 Carlos de Mesquita Professor de harmonia
18/01/1890 Miguel Cardoso Professor de solfejo
18/01/1890 Inácio Porto-Alegre Professor de solfejo
18/01/1890 João Rodrigues Cortes Professor de solfejo

33
Biblioteca Alberto Nepomuceno. Decreto N.º 143, de 12 de Janeiro de 1890; Decreto N.º 934, de 24 de
outubro de 1890; Decreto N.º 1197, de 31 de dezembro de 1892; Decreto N.º 3.632, de 31 de Março de 1900.
Pastas 3.1 e 3.2.
16

28/01/1890 José Martini Professor de contrabaixo


28/01/1890 Agostinho Luís de Gouveia Professor de oboé e fagote
15/03/1890 Paulo Chambelland Adjunto de piano
15/03/1890 Alfredo Fertin de Vasconcelos Adjunto de piano
20/03/1890 Ernesto Ronchini Adjunto de violino e violeta
(?)/07/1890 Vincenzo Cernicchiaro Professor de violino e violeta
20/07/1890 Louis Gilland Professor de canto
18/09/1890 Émile Lamberg Professor de órgão
18/09/1890 Luigia Guido Professora de harpa
18/09/1890 Enrico Borgongino Adjunto de canto
27/10/1890 Henrique Braga Professor de solfejo
28/10/1890 Gemma Luzianni Nervi Professora de piano
28/10/1890 Enrico La Rosa Professor de violino e violeta
28/10/1890 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Professor de harmonia
Machado e Silva Filho
14/04/1891 Ricardo Tatti Professor de violino e violeta
14/04/1891 Arnaud Duarte de Gouveia Professor de solfejo
16/12/1891 Ricardo Roveda Professor de contrabaixo
22/05/1892 Artur Cassani Adjunto de canto
17/04/1894 Alberto Nepomuceno Professor de órgão
10/07/1894 Elvira Belo Lobo Professora de piano
01/11/1894 Frederico Nascimento Professor de harmonia
09/11/1894 Leopoldo Miguez Professor de composição
17/01/1895 Carlos Alves de Carvalho Adjunto de canto
09/07/1895 Alberto Nepomuceno Professor de composição (interino)
06/07/1896 Leopoldo Miguez Professor de violino e violeta
24/05/1897 Max Benno Neiderberger Professor de violoncelo
24/05/1897 Frederico Nascimento Professor de solfejo (transferido)
27/05/1901 Frederico Nascimento Professor de composição (interino)
07/07/1902 Francisco Braga Professor de composição
Fonte: PEREIRA, 2007, Anexo 1

Numa publicação do Jornal do Commercio, em 24 de fevereiro de 1892, Miguez foi


acusado de “perpetrar o mais ignóbil atentado de que há notícia nos anais do magistério”34. A
redação, publicada a pedido, foi assinada pelo italiano Enrico Borgongino, professor adjunto
de canto do INM. Além de lecionar aulas no Instituto, também lecionava em colégios, casas
particulares e em sua residência na Rua Barão de Petrópolis, N.º 14, no Rio Comprido.35

Borgongino foi contratado em 18 de setembro de 1890, para trabalhar como professor


adjunto da classe de canto do francês Louis Gilland, que havia sido nomeado professor em
julho daquele ano, e que somente em fevereiro de 1892 seria efetivado na instituição.36.
Miguez agia com cautela antes de efetivar um novo professor, ou seja, estes assumiam
contratos temporários e somente depois de um período se tornavam efetivos37.

O italiano, contratado em setembro, teve seu contrato renovado para que continuasse a

34
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1892, p. 2.
35
JORNAL DO COMMERCIO. Anúncios. Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1890, p. 8.
36
JORNAL DO COMMERCIO. Gazetilha. Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1892, p. 1.
37
PEREIRA, 2007, p. 71.
17

ministrar suas aulas no período de março a dezembro de 1891. Após a conclusão deste
período, Borgongino perdeu o direito de continuar lecionando no INM, o que foi considerado
por ele como uma “insultuosa dispensa”38. Estava certo de que havia cumprido os deveres a
ele atribuídos e que esta dispensa colocava em dúvida sua reputação de “artista”. Que
explicação daria aos seus amigos e às suas alunas em geral quando soubessem da sua saída do
estabelecimento, indagava.

Reconhecendo que a imprensa era o “único reduto dos fracos”, decidiu expor sua
versão ao Jornal do Commercio relatando fatos desde sua entrada no INM em 1890. Quando
residia em Vassouras, Rio de Janeiro, Borgongino disse ter tido conhecimento da trajetória
que levou à criação do Instituto, principalmente as histórias vinculadas às exclusões dos
professores do dissolvido Conservatório de Música, que mesmo por concurso haviam sido
impedidos de assumir suas posições na nova instituição39. Naquele período, ainda não
conhecia pessoalmente Leopoldo Miguez. Porém, sabendo que a cadeira para professor de
canto estava vaga, aguardando a chegada do professor francês, alguns de seus amigos
sugeriram que ele se apresentasse para ocupar o cargo interinamente até sua chegada.

Buscando encurtar o caminho, solicitou ao então Ministro das Relações Exteriores,


Serzedelo Corrêa, que enviasse uma carta ao diretor do INM para que fosse examinado e, caso
fosse considerado habilitado para a função, lhe concedesse a interinidade da cadeira até a
chegada de Louis Guilland. Como este estava prestes a desembarcar no Brasil, Miguez
sugeriu que aguardasse sua chegada e acabou sendo examinado pelos dois e, ao final, o
julgaram apto a preencher o lugar de professor adjunto de canto.

Em fevereiro de 1891, tendo sido encerrada a validade dos contratos firmados até
dezembro de 1890, o Tesouro Nacional bloqueou o pagamento dos salários dos professores
adjuntos até que se firmassem novos contratos. Para o ano de 1892, o único adjunto que foi
impedido de continuar na lista dos docentes do INM foi Enrico Borgongino40. No dia 6 de
fevereiro, dirigiu uma carta do diretor do INM solicitando que lhe remetesse as justificativas
de sua saída. Queria que Miguez avaliasse seu procedimento no período que trabalho no INM;

38
Meses depois de sua saída, assumiu sua posição Artur Cassani, em 22 de maio de 1892. Com o falecimento de
Cassani em 8 de março de 1894, o cargo foi assumido por Carlos Alves de Carvalho, em janeiro de 1895.
Carvalho foi efetivado professor de canto na gestão de Nepomuceno, em 6 de abril de 1903.
39
Ver: AUGUSTO, Antonio José. A questão Cavalier: música e sociedade no Império e na República (1846-
1914). Folha Seca, 2010.
40
Os demais adjuntos após este período passaram a integrar a posição de titulares no início da gestão de Alberto
Nepomuceno com a criação de novas vagas de professores, em 1903.
18

se havia cumprido com assiduidade o desempenho de seus deveres; se durante o contrato


alguém havia questionado seu método de ensino; e por fim, se o julgava proficiente na
matéria que lecionou.

Como maior decepção, recebeu a resposta de Miguez, em 13 de fevereiro, sob o título


“Passa-se a certidão de meu parecer desta data”. Pela demora da resposta, por ser entendida
como uma “certidão” e por seu teor, Borgongino disse não haver dúvida de que Miguez
deixava um “rasto41 da mais supina ignorância do que seja uma certidão”. Disse ter pedido
uma certidão e Miguez lhe o enviou um parecer dispensável, pois para o bem da sua
reputação profissional o que realmente necessitava era uma certidão:
A certidão que um funcionário público pede ao chefe de sua repartição é extrato do
que consta do arquivo sobre os serviços prestados, é uma fé de oficio que nunca se
confundirá com um parecer, que é pura e simplesmente a expressão de juízo
individual.Semelhante despacho por si só bastaria para dar a medida exata da
incompetência de quem atualmente dirige o Instituto Nacional de Música.42

Assinado pelo diretor e pelo secretário do INM, Eduardo Borjas Reis, o documento
respondia pontualmente os quatro itens solicitados por Borgongino. Ao primeiro quesito disse
que seu respeito com os alunos e sua postura em sua classe foram corretos, mas que sua
atitude “acintosa” com o professor do curso, “seu superior hierárquico”, incompatibilizava a
observância das obrigações previstas no regulamento: ensinar de acordo com o programa,
obrigações dos professores e adjuntos; e dentre as obrigações especiais dos professores a de
exigir dos seus adjuntos e auxiliares a exata observância do programa de ensino. Quanto ao
segundo ponto, Miguez atestou que sua assiduidade e desempenho de seus deveres eram
dignas de louvor.

Nos últimos pontos, sobre o método de ensino e a respeito da sua competência com o
seu trabalho, Miguez lhe recordou que ao tomar posse havia lhe advertido sobre o programa
que estava sendo organizado com o professor do curso e que não era permitido aos adjuntos,
sem seu conhecimento e do professor da cadeira, que se utilizassem “romances” de certos
autores, pois eram repertórios de amadores, “de estilo mais ou menos detestável”, que eram
impróprios de serem utilizados numa “instituição séria” e, contudo, prejudicial aos alunos.

Mesmo assim, disse que Borgongino utilizou dois destes romances de autores
“proibidos” nos exames finais de 1891, e que ele próprio lhe havia admoestado
particularmente, na ocasião. Por último, de matéria mais técnica, Miguez disse que

41
Sinal, indício.
42
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1892, p. 2.
19

Borgongino havia se afastado da escola adotada pelo Instituto e pelo professor do curso por
possuir uma “tendência acentuada para forçar o desenvolvimento das vozes”, prejudicando
sua firmeza e igualdade do som, em especial da mezza-voce, o que tornava impossível a
passagem dos alunos para as classes superiores.

Deste parecer, restou uma dúvida: por que Miguez manteve um professor considerado
incapaz por um ano e três meses lecionando no INM?

No dia seguinte, em 25 de fevereiro, Enrico Borgongino mandou publicar um novo


texto no qual passou a analisar as respostas que Leopoldo Miguez havia lhe endereçado43.
Tratando-se da primeira, disse que o diretor o acusava em duas inverdades: a de agir
acintosamente com Louis Gilland, gerando uma incompatibilidade profissional; e a de não
observar os Artigos que regiam o estabelecimento. Desconhecia as origens dessas acusações,
pois, sempre manteve com todos os seus colegas de trabalho um bom relacionamento,
compatível “com os brios de cavalheiros que se prezam”. E assim, com Guilland, manteve
uma boa relação no período dos exames no final de 1891, sem qualquer ressentimento. Como
prova disso, foi o “amável cumprimento” que recebeu de seu “superior hierárquico” quando
algumas alunas lhe ofertaram um presente como prova de gratidão pelo trabalho desenvolvido
com elas.

Sobre o descumprimento da observância do § 1º do Art. 17 combinado com o § 2º do


Art. 19 do regulamento, a respeito das obrigações dos professores ou adjuntos de ensinar de
acordo com o programa, estava embutida a necessidade de haver um programa a ser seguido.
Borgongino observou que em 1890 as aulas de canto aconteceram sem o tal programa, e em
1891 ele ficou pronto na segunda quinzena de setembro, às vésperas do encerramento do ano
escolar. Entendia que o empenho que Miguez tinha era de pôr em prática o § 3º do Art. 19,
que possibilitava o professor propor ao diretor a demissão do adjunto do seu curso, quando
este não preenchesse devidamente as funções do seu cargo.
É esta a resolução do difícil problema que tanto atrapalho o Sr. Miguez. Se o
professor visse que eu não cumpria os deveres de meu cargo, propusesse ao diretor a
demissão facílima de alcançar pela minha movediça posição de professor contratado.
O ministro, no interesse de ensino, não reprovaria o ato.44

Como Guilland não demonstrou interesse em utilizar das atribuições que este Artigo
lhe conferia, Borgongino acreditava que o diretor teria usado de “má fé” quando teria dito que

43
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça
e ao Público, II. Rio de Janeiro, 25 de fevereiro de 1892, p. 2.
44
Idem.
20

teria assumido atitude acintosa com Guilland. Se assim fosse, certamente o seu superior
hierárquico teria tido motivo para se utilizar da lei vigente.Além disso, havia outras “medidas
de repressão” que também não foram exercidas.

Ao segundo quesito, por ter elogiado sua assiduidade, Borgongino, de forma irônica
lhe agradece “por tão pouco o desperdício de um louvor!”. Numa terceira publicação, passou
a rebater o terceiro ponto daquele parecer. Disse que na ocasião da sua posse, um programa
estava sendo organizado, porém, somente após muito tempo foi realmente concluído:

Tão difícil fora tal organização que lecionei desde 24 de setembro até 30 de
novembro de 1890, expus a exame os alunos, fiquei em casa quatro meses de férias,
tornei ao Instituto em 91, dando aula cinco meses e 17 dias, e sempre à espera que o
45
Sr. Miguez desse à luz o prometido programa!

Para o italiano, uma “instituição séria”, comprometida com seus alunos não poderia de
forma alguma ter adiado por tanto tempo a organização de um programa de ensino, e que não
eram os romances que havia utilizado com seus alunos que prejudicaria a imagem da
instituição, mas ter em sua direção alguém que não tinha “jeito para diretor do Instituto de
Música”. Borgongino disse não ter encontrado nem no regulamento nem no Regimento
qualquer determinação que proibisse a escolha de repertório pelos adjuntos, e Miguez não
disse para ele qual autor deveria ser evitado nas classes,
ele [Miguez], em setembro de 90, época de minha posse, não podia adivinhar em
que trechos recairia minha escolha para os exames, em dezembro. Nos exames de
1890 as minhas alunas cantaram diversos trechos, entre os quais havia alguns que o
diretor capitula de vedados. Naquela época, porém, o Sr. Miguez não mugiu nem
tugio, nem a minha escolha derivou de consultas acima apregoadas.46

Borgongino lembrou que, dentre as regras do regimento, estava o Artigo 44, segundo
o qual, oito dias antes dos exames deveriam os alunos enviar ao diretor uma lista minuciosa
do programa a ser executado, e que no término dos anos que havia lecionado no INM, havia
enviado ao diretor cada uma das listas por ele rubricadas. E se ele estava infringindo o
regulamento, por que não lhe foram impostas as penalidades naquele período? Havia perdido
mais uma vez uma boa ocasião para repreendê-lo. Miguez disse que o havia advertido
particularmente, que iria propor uma lista de autores de romances que poderiam ser utilizados
nas aulas... Mas para Borgongino, este “particularmente” não passava de um “termo coxo que
não exprime a verdade”.
Então o diretor volta-se para mim e diz: - Eu não queria que o Sr. desse romances de

45
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça
e ao Público, II. Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1892, p. 3.
46
Idem.
21

Tosti às alunas – Ao que eu retorqui: - se o Sr. pretendia fazer exclusões de autores


porque não me preveniu? Nos exames de 90 uma aluna cantou Tosti, e o Sr. nada me
disse. Se me ordenasse eu não seria tão indelicado que lhe desobedecesse.

Sobre o quarto ponto, que tratava sobre a “tendência acentuada a forçar o


desenvolvimento das vozes”, Borgongino entendia que assim teria cumprido sua “restrita
obrigação”47, pois esta era a função do professor, querer que seu aluno desenvolva. Durante
todo tempo que havia lecionado no INM, só havia recebido por uma vez a visita do diretor em
sala de aula, quando foi apresentar uma nova acompanhadora. De Louis Guilland, nunca o
havia recebido em sala. Encontrava nas inspetoras de alunas, que assistiam a suas aulas, que
não colocava em risco a “beleza do som” e que fazia questão de que elas encontrassem uma
primordial nitidez da dicção. Adotava para todos seus alunos o método de Panseron para
mezzo-soprano. Para algumas alunas, que possuíam uma extensão maior, selecionava alguns
exercícios do método de soprano, mas nunca o havia adotado, pensando em poupar a extensão
das vozes de seus alunos.

Indignado, observou que se Miguez mandou procurar um professor em Paris, que o


método utilizado era do Panseron, do Conservatório de Paris, logo, estava claro que a escola
que se pretendia implantar no INM era a francesa48. Porém, das sete alunas de Guilland que se
apresentaram nos exames, cinco cantaram as seguintes obras: Il Barbiére di Siviglia, de
Rossini; Le educante di Sorrento, de Usiglio; Così fantutte, de Mozart; La Forza del Destino,
de Verdi.Borgongino chegava à conclusão de que esta era a escola idealizado por Miguez, “se
isto é escola francesa, macacos me mordam”.

Para o professor italiano, a escola de canto de um conservatório não era um


prolongamento dos salões particulares, onde a vaidade sobrepunha os preceitos da arte. Para
ele, “ali a arte é soberana”, e o aluno ali está para adquirir conhecimentos e não para servir de
pedestal para seu mestre.

Pretendendo colocar-se à prova da competência que possuía para tal cargo, pediu ao
diretor que solicitasse ao Ministro a realização de um concurso para preenchimento da vaga
de adjunto de canto, porém, com duas condições: que na comissão examinadora não tivesse
nenhum membro do INM; e que esta comissão fosse composta de dois membros do conselho
superior de Instrução, de dois artistas de reconhecida competência, de um lente de física e

47
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça e
ao Público, IV. Rio de Janeiro, 2 de março de 1892, p. 3.
48
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça e
ao Público, V. Rio de Janeiro, 7 de março de 1892, p. 4.
22

outro de fisiologia. Assim, nestas condições, se poria candidato à vaga, e todos veriam “quem
tem garrafas vazias para vender”, concluiu.

No dia 6 de março, o Jornal do Commercio transcreveu uma notícia publicada na


Gazeta Musical, dos editoriais do Figaro, de 4 de março. Esta nota pretendia defender a
imagem do diretor do INM, do “artista”, do “homem público”, contra o qual, por diversas
vezes, Borgongino havia tecido ofensas e insolências.

Para todos os artistas e para todo o Rio de Janeiro, - que todos conhecem o estimado
e probo compositor brasileiro -, não precisa ele defender-se de acusações feitas por
quem não soube estar à altura do cargo de que havia sido investido; não necessita ele
justificar-se, nem sequer travar polemica com quem é incapaz de compreende-lo,
porque o Sr. Borgongino em música, seja como compositor, ou executor, ou
professor, nunca nos deu uma ideia sequer das suas habilitações e do seu valimento,
que contestamos.49

O redator desta notícia entendia que Miguez só devia contas dos seus atos ao Ministro,
seu superior hierárquico, e que este já devia ter conhecimento da causa que levou à não
reforma do contrato do adjunto de canto, que por diversas vezes atacou a imagem daquele que
era “um dos mais gloriosos artistas” que Brasil já havia tido. E por essa grandiosidade,
Miguez não iria se defender diante da “pequenez e insuficiência do adversário”, que se
utilizou de um “jornal político” para fazer seus ataques. O editor concluiu sua nota pedindo
desculpas do abuso que Borgongino teve para com Miguez e que era
preciso convencer a esta gente, que se julga com direito às cadeiras de canto, porque
dá gritos estridentes de barriga, que esses direitos não existem e melhor colocados
ficaram onde haja um órgão da barbaria do que um órgão de Sauer.50

Poucos dias depois, em 9 de março, Borgongino mandou publicar uma “Carta aberta
(em estilo meloso)” endereçada ao redator da Gazeta Musical. De maneira muito sarcástica
disse ter recebido uma “raquítica folha” cujo teor tentava defender o “glorioso Sr. Miguez” ao
mesmo tempo em que o atacava. Borgongino revelou neste texto informações de natureza
biográfica dizendo ter sido editor de uma folha semanal, intitulada Gazeta de Mendes e
assinava uma das seções com o pseudônimo de Girella. A folha foi publicada por um período
de oito meses, em 1887, quando ainda residia em Mendes. Tempos depois, não podendo
disfarçar a autoria, passou a assinar seu nome junto ao pseudônimo. A coleção destes artigos
estava disponível no escritório do Jornal do Commercio para que não continuassem duvidar
se os artigos anteriormente publicados pelo JC foram escritos por ele mesmo, ou ele apenas os

49
JORNAL DO COMMERCIO. Gazetilha. Questão Borgongino. Rio de Janeiro, 6 de março de 1892, p. 5.
50
Idem.
23

assinava, dizia que o estilo da escrita era o mesmo que acabava de publicar.51

Deixava também no escritório do jornal um documento que autenticava seus estudos


de línguas, quando morava em Nápoles, a fim de justificar o uso dos termos latinos nas suas
publicações: em 1875, com 15 anos, foi aprovado em italiano, versão do italiano para latim,
latim para italiano, grego para italiano, italiano para grego, história antiga e aritmética; em
1878, nos preparatórios chamados Licenza Liceale, foi aprovado em letras italianas, letras
latinas, língua grega, história universal, matemática, filosofia e física, sendo reprovado apenas
em ciências naturais.

Passou a apresentar seus trabalhos da área musical, em contexto ao que o redator da


Gazeta Musical parecia não conhecer seus valores como compositor, executor, professor...
Alguém incapaz de estar à altura do cargo de que fora investido e “incapaz de compreender o
glorioso Sr. Miguez”. Dentre seus trabalhos, estavam à venda nas casas Buschman &
Guimarães e Bevilacqua nove das suas composições para piano e onze para canto. Em 1888
publicou uma arte musical sob o título “Elementos de musica”. Além desses trabalhos,
também possuía um ato de ópera semi-séria, com 11 números de música, incompleto; 36
manuscritos para piano e para canto e piano, e um Método de canto, que pretendia publicar
em fascículos; uma Ave Maria; um Kyrie a dois coros; um solo de Salutaris hóstia, com
coros; e um Credo a duas vozes com solo de Et incarnatus. Com exceção dos manuscritos e
da ópera, todas as outras já haviam sido executadas na igreja matriz de Vassouras por seus
alunos e, na ocasião, havia recebido uma distinção pela imprensa Vassourense.

Como professor, disse que o pouco de tempo que trabalhou no INM não foi suficiente
para apresentar a suas alunas e provar as vantagens de sua escola, e que o material que havia
acima mostrado era suficiente para se ter uma ideia de suas habilitações, “milagres” nunca os
fez nem sabia fazê-los. Pretendia pôr em prática no INM uma escola de canto baseada no
desenvolvimento da voz pela “característica do timbre, sem a qual são baldados os postiços da
expressão, da agilidade, do estilo, etc.”, mas Miguez havia preferido a outra, a “escola do
pomadismo”.
Externou que a carta de apresentação que o Ministro das Relações Exteriores
encaminhou ao diretor, não solicitava que fosse imediatamente nomeado, mas que o
examinasse. Após ter sido examinado, foi por suas próprias aptidões que alcançou o cargo

51
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Questão Borgongino. Carta aberta (em estilo meloso) ao
redator da “Gazeta Musical”. Rio de Janeiro, 9 de março de 1892, p. 4.
24

pretendido. Assim, não era de se negar sua aptidão de cantor, quando apresentou para Miguez
e Guilland uma ária da Gioconda e teve por eles mesmos a aprovação para o cargo de adjunto.
Dentre os documentos que deixou no Jornal do Commercio, o redator da Gazeta
Musical também poderia encontrar um atestado de louvor assinado, tido como “opinião
individual, pelo diretor do Conservatório de Nápoles, maestro Pietro Platania, onde concluiu
seus estudos de canto, piano, composição e contraponto.
Diz aquele diretor que minha esclarecida inteligência e meus aproveitados
conhecimentos sobre ciência musical, minha aptidão para o ensino do canto e do
piano me garantem um lugar saliente no magistério. [...] Que abismo não passa entre
a opinião do diretor do Conservatório de Nápoles e o parecer do Sr. Miguez
fonografado pela vossa Gazeta Musical!52

Borgongino duvidou que o verdadeiro motivo de sua saída houvesse sido dito ao
Ministro, pois se as “justiças nos governos republicanos não é palavra vão”, ele não haveria
de acreditar nas palavras de Leopoldo Miguez. E caso o redator da Gazeta Musical tivesse
achado este “melado um pouco azedo”, poderia adicionar açúcar.

O professor italiano não assumiu cargo algum no INM após este desentendimento com
Leopoldo Miguez. Porém, no ano de 1896, foi membro de uma comissão examinadora para o
provimento da cadeira de música vocal da Escola Normal de Niterói, ao lado de Felisberto de
Carvalho e Oscar Guanabarino. Dentre os concorrentes estava o professor de clarineta do
INM, José de Lima Coutinho, que obteve o primeiro lugar no concurso.

O presidente da Congregação da Escola Normal era o Sr. Aydano de Almeida.


Estavam presentes os professores Joaquim Verissimo, Guilherme Briggs, Francisco Varela,
Joaquim Leitão, José Ventura Boscoli, Dr. Moreira Lima, Francisco C. Pereira de Carvalho.
Ao final do concurso, Aydano de Almeida fez um reconhecimento dos méritos e das
capacidades da comissão examinadora, prova de que Borgongino era um profissional de
reconhecido prestígio.53

O rígido controle efetivado por Miguez pode ser observado na análise dos projetos de
reforma do INM. O de 1900, último da gestão Miguez, visava eliminar do regulamento
anterior 72 Artigos, cujas disposições passaram a fazer parte do Regimento com pequenas
alterações. Outras mudanças eram: a criação dos lugares de conservador e bibliotecário; os
professores passariam a ser qualificados como “catedráticos”; haveria aumento dos salários do

52
Idem.
53
JORNAL DO COMMERCIO. Gazetilha. Nitherohy. Rio de Janeiro, 1 de maio de 1896, p. 2.
25

ecônomo, dos inspetores de alunos, dos acompanhadores e dos guarda-portas; o professor ou


adjunto que acumulasse uma classe de solfejo perderia gratificação de 1:000$; este Decreto
também deveria estabelecer o procedimento para o desdobramento de cadeira em aulas
suplementares; o Conselho deixaria de deliberar sobre a concessão de prêmios; a admissão de
alunos passaria a ser feita por meio de concurso; seriam criados cursos noturnos anexos ao
Instituto; o curso de Teclado não faria mais parte do programa de ensino e o de coro de
concertos seria criado na Seção de Conjunto Vocal. Veja abaixo um quadro comparativo dos
cursos oferecidos na gestão de Miguez.
Quadro 4: Cursos oferecidos no INM nas reformas de Miguez (1890-1900).
Decreto n. 143/1890 Decreto n. 934/1890 Decreto n. 1197/1892 Decreto n. 3632/1900
Seção - Solfejo - Teoria elementar - Teoria elementar - Solfejo e canto coral
elementar - Teclado - Solfejo individual - Solfejo individual
- Canto - Preparatório de - Preparatório de - Canto a solo
Seção vocal canto coral canto coral
- Canto a solo - Canto a solo
- Piano - Teclado - Teclado - Teclado
- Piano - Piano - Piano
- Harpa - Órgão - Órgão - Órgão
- Harpa - Harpa - Harpa
- Órgão - Violino - Violino - Violino
- Violoncelo - Violoncelo - Violoncelo
- Violino e violeta - Contrabaixo - Contrabaixo - Contrabaixo
- Flauta - Flauta - Flauta
Seção - Oboé - Oboé - Oboé
- Violoncelo
instrumental - Clarinete - Clarinete - Clarinete
- Contrabaixo
- Fagote - Fagote - Fagote
- Flauta e congêneres
- Trompa - Trompa - Trompa
- Oboé, fagote e
- Clarim - Clarim - Clarim
congêneres
- Trombone - Trombone - Trombone
- Clarineta e
congêneres
- Trompa, trombeta,
trombone e
congêneres
- Harmonia e - Harmonia e - Harmonia e - Harmonia e
Seção
acompanhamento, acompanhamento acompanhamento acompanhamento
preparatória e
contraponto e fuga - Contraponto e fuga - Contraponto e fuga - Contraponto e fuga
complementar
- Composição e - Composição - Composição - Composição
de composição
instrumentação
- História e estética - História e estética - História e estética - História e estética
Seção literária
da música da música da música da música
[Não havia] - Superior de canto - Superior de canto [Dividido em
coral coral conjunto vocal e
- Conjunto - Conjunto instrumental]
instrumental instrumental
Seção de
- Música de câmara - Música de câmara
conjunto
com piano com piano
- Música de câmara - Música de câmara
para instrumentos de para instrumentos de
arco arco
- Superior de canto
Seção de
coral
conjunto vocal
- Coro de concertos
- Orquestra
Seção de - Música de câmara
conjunto com piano
instrumental - Música de câmara
sem piano
Fonte: BRASIL. Decretos nos. 143; 934; 1197; 3632.
26

Sobre a proposta de reforma no Regulamento do INM, localizamos um documento em


que José Rodrigues Barbosa pontuou cada uma das modificações que haviam de ser feitas54,
trazendo detalhes interessantes que revelam o ponto de vista daquele que auxiliou no projeto
de criação do Instituto. Barbosa foi um dos responsáveis pelo desligamento do Conservatório
de Música da Escola de Bellas Artes ao enviar ao Chefe do Governo Provisório da República,
Marechal Deodoro da Fonseca, um pedido que se fizesse “restituir a autonomia do
Conservatório”. O Conservatório de Música havia se tornado a quinta seção da Escola de
Bellas Artes pelo Decreto N.º 805, de 23 de setembro de 1854. A criação do INM é uma
resposta que Deodoro concede ao crítico musical “em atenção a seus ideais republicanos”.55
Nos primeiros anos da República, antes de se tornar membro honorário do INM, o crítico
musical, ocupou os cargos de diretor da seção e de diretor geral da Primeira Seção da
Diretoria Geral de Contabilidade56, cargo que talvez possa justificar seus apontamentos sobre
a nova reforma que estava prestes a ocorrer no INM.

Barbosa observou que quase todos os Artigos eliminados do regulamento foram


transferidos para o Regimento e que esta transferência era admissível em algumas
disposições, porém, isto não poderia prevalecer para os Artigos que compreendiam a
constituição orgânica do estabelecimento. Para ele, esta era a principal mudança no
Regulamento, fazer transferir para o Executivo atribuições do Legislativo, facilitando
qualquer alteração no nível do Regimento, dependente somente da aprovação do Ministro em
aviso que resolvesse fazer com ou sem proposta do diretor do estabelecimento.

Mesmo depois de dez anos de funcionamento, o INM não possuía um responsável pela
biblioteca. O segundo ponto da reforma abordava o projeto de criação dos lugares de
bibliotecário e conservador. Para Barbosa, o Instituto não necessitava de alguém para ocupar
o primeiro cargo, tal tarefa era destinada ao secretário; e sobre o segundo, julgava necessário
desde que para ele fosse nomeado um profissional competente, com grau de conhecimentos
musicais e habilitações especiais.

54
BARBOSA, José Rodrigues. Projeto de reforma do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 1 de março
de 1900. Arquivo Nacional de Rio de Janeiro. Loc. IE 7 90 92. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca
1897- 1901
55
SIQUEIRA, Baptista. Do Conservatório à Escola de Música: Ensaio Histórico. Rio de Janeiro: Edição do
autor, 1972.
56
Ver: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-3966-23-marco-1901-506518-
publicacaooriginal-1-pe.html&https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/177427-abre-ao-ministerio-
da-justiua-e-negocios-interiores-novo-credito-de-155-438-725-supplementar-u-verba-soccorros-publicos-do-
exercicio-de-1901.html. Acessados em 17 de maio de 2017.
27

Continuando as ponderações sobre as mudanças propostas, o crítico musical, não


julgava feliz a mudança para “catedrático” na qualificação dos professores, pois esta
denominação mereciam os professores de ciências, de universidades e de instrução de ensino
superior. Acerca dos aumentos de vencimento, estava de acordo com o aumento do
acompanhador de 1:800$ para 2:400$; aconselhou que os lugares de ecônomo e guarda portas
deveriam ser agrupados numa única função, a de porteiro, com vencimento anual de 2:400$;
e não julgava necessário o aumento para os inspetores de alunos que ganhavam 1:200$ por
ano.

A supressão da classe suplementar de solfejo com a gratificação de um conto de réis


seria justificável pelo novo plano do ensino de solfejo e canto coral, que seriam implantados
entre os cursos oferecidos no período da noite. Esses cursos e o de teclado eram obrigatórios
para todos os alunos, e os alunos de canto a solo deveriam cumprir o curso superior de canto
coral. Todos os cursos noturnos eram regulamentados pelo Regimento aprovado pelo
Governo, e somavam um total de dezessete cursos: Curso de solfejo e canto coral; Curso de
teclado; Curso de canto a solo; Curso de violino e violeta; Curso de violoncelo; Curso de
contrabaixo; Curso de flauta e flautim; Curso de oboé e corno inglês; Curso de clarinete e
saxofone; Curso de fagote; Curso de trompa; Curso de clarim e cornetim; Curso de trombone,
bombardão e tuba; Curso superior de canto coral; Curso de coro de concertos; Curso de
orquestra; Curso de música de câmara.

Com o elevado número de alunos, Rodrigues Barbosa entendia que o desdobramento


de cadeiras em aulas suplementares era uma boa medida, mas que para isso seria necessário
recorrer ao Congresso em relação aos recursos necessários para o pagamento das despesas
com os professores que regeriam as aulas desdobradas. A nomeação seria feita pelo Ministro
sob a proposta do diretor e a preferência para ocuparem as novas classes era dada aos
professores do mesmo curso, recebendo outra parte igual ao seu salário.

A sétima consideração, que para ele seria uma boa medida, tratava-se da retirada da
competência do conselho o julgamento das provas para a concessão de prêmios, que ocorriam
quando os alunos concluíam seus cursos. Deliberaria sobre as provas uma comissão “técnica e
competente”e, ao conselho, era obrigatória a assistência aos atos solenes de distribuição dos
prêmios e todas as vezes em que o diretor solicitasse.
28

Continuava sendo papel do conselho a deliberação sobre a entrada de alunos menores


de nove e maiores que vinte e cinco anos, como nos anos anteriores. Para Barbosa, após
verificada a aptidão musical, a idade mínima para a entrada no INM deveria de seis anos, já
que muitas crianças nesta idade se apresentavam como virtuosi em todo o mundo. Os demais
alunos que desejassem ingressar no INM deveriam realizar uma prova de admissão e, esta
admissão inicial era sempre provisória. Este era o oitavo ponto que Barbosa aprovava para o
novo regulamento.Ele entendia que havendo por um processo seletivo, seria evitada a entrada
daqueles com menos aptidões musicais e seriam admitidos outros com melhores e “mais
aproveitáveis tendências” musicais. A este Decreto foram inseridas, no Art. 62, as condições
essenciais para admissão de alunos: I. Moralidade; II. Aptidão natural para a música; III.
Idade conveniente segundo o curso; IV. Posse de todos os requisitos especificados no
Regimento; V. Constituição física adaptada às exigências do estudo; VI. Conhecimento
suficiente da língua nacional e noções de aritmética, até frações.

Visando a necessidade de um ensino voltado a para formação de conjuntos


instrumentais, os cursos noturnos foram criados a partir de uma necessidade para o ensino
profissional que proporcionaria ao INM a formação de orquestras. Os cursos noturnos eram
destinados aos homens, já que a grande frequência nos cursos diurnos do INM era quase que
exclusivamente de mulheres, e segundo Barbosa, “mui raramente alguma se resolve a tomar
parte em conjuntos instrumentais”. Para ele, estes alunos abraçariam a “nova carreira
profissional que se lhes depara”, e com isso, se formariam orquestras e corais modelos, que
executariam as obras dos grandes mestres da música ao mesmo tempo em que pela audição
deste repertório, promoveriam uma educação musical da sociedade.

Os professores dos cursos diurnos tinham preferência para a regência dos cursos
noturnos, e inicialmente, constituía como uma entidade autônoma que deveria se manter por
meio de subvenções anuais concedidas pelos poderes públicos ou donativos particulares.
Totalizadas as despesas com os professores e demais funcionários e com o material, se
houvesse saldo, poderiam, com autorização do Ministro, realizar aquisições de instrumentos,
móveis, obras no edifício do INM, bem como a criação de premiações de concursos.

As ponderações finais de Barbosa tratavam a respeito da extinção do curso de Teclado


e do projeto de criação do curso de Coro de Concertos, que traria vantagens para o
desenvolvimento da seção do conjunto vocal. A supressão ocorreu nos cursos diurnos, nos
quais o conteúdo deste curso foi inserido no primeiro período do curso de Piano e no curso
29

noturno continuaria a fazer parte do programa, pois para muitos dos alunos era necessário
conhecimento do teclado.

Além destes pontos, que Barbosa considerava essenciais da reforma, havia outros a
serem discutidos, como alterações das taxas de matrícula, criação dos lugares de conservador
e porteiro, sobre a substituição do diretor em caso de impedimento, sobre o Artigo que
estabelecia o número de professores de cada curso, dentre outros... Barbosa não concordava
que deveria ser delimitada a quantidade de professores, mas que fosse subordinada às
exigências do ensino, como no caso de desdobramento das aulas e do crescente número de
alunos que a instituição vinha recebendo de todas as partes do país e do exterior. Assim ficou
fixado no Artigo N.º 6 do Decreto N.º 3632/1900, que o número de professores e adjuntos
estivesse subordinado às exigências do ensino e ao número de alunos.

1.2 A primeira gestão Nepomuceno (1902-1903): da votação pelo colegiado à


seleção por provas

Desde o falecimento de Miguez, em 6 de julho de 1902, a instituição encontrava


problemas administrativos e pedagógicos que, para Batista Siqueira, apenas poderiam ser
resolvidos quando o INM encontrasse alguém de prestígio que tivesse acesso aos poderes
públicos. Miguez havia alcançado esta posição após a criação do “Hino da Proclamação da
República”. Neste momento, surge o nome de Alberto Nepomuceno, artista de estética
nacionalista, considerado um estudante dedicado, que mesmo estando fora do país foi
nomeado professor de órgão do INM, em 1894, na Legação do Brasil na França57. Na
primeira gestão de Nepomuceno, de 1902 a 1903, o Decreto N.º 4.779, de 2 de março de
1903, intentava uma grande reforma na instituição, em especial a criação da Congregação e de
uma prática mais democrática para o acesso dos cargos de professores, que dependia da
indicação de dois terços dos membros desta. A Congregação era composta dos professores em
exercício e dos três membros honorários, que por ela mesma eram indicados. Mais abaixo
trataremos com mais detalhes sobre a forma como se pretendia organizar a entrada dos
professores. Por divergências com um grupo de professores que tinham força política e que
discordavam da sua nova prática de se fazer cantar em português, Nepomuceno não teve
chances de demonstrar neste curto período na direção do INM o que realmente pretendia
realizar. Porém, no pano de fundo de sua saída estava a nomeação para o cargo de membro

57
SIQUEIRA, Baptista. Do Conservatório à Escola de Música: Ensaio Histórico. Rio de Janeiro: Edição do
autor, 1972.
30

honorário do crítico musical José Rodrigues Barbosa. Comparando com o Decreto anterior, o
projeto de reforma de Nepomuceno extinguiu três seções, a literária e as de conjunto vocal e
instrumental.

O Decreto de 1903 marcou o início da primeira gestão de Alberto Nepomuceno no


INM. Assinado pelo Presidente da República Francisco de Paula Rodrigues Alves e pelo
Ministro da Justiça J. J. Seabra, dentre seus diversos capítulos, a descentralização da decisão
do diretor para que fosse nomeado um professor é uma das partes que mais divergia dos
decretos da gestão Miguez. Isto sinalizava o fim do que se conhece por “ditadura Miguez”58,
ao determinar que os professores seriam nomeados por Decreto quando da indicação de dois
terços dos votos dos membros da Congregação e não mais por indicação do diretor.
A Congregação era composta de todos os professores em exercício e de três membros
honorários por ela indicados ao Governo para nomeação. Estes membros honorários eram
personalidades selecionadas dentre os artistas mais notáveis da Capital Federal externos ao
corpo docente do Instituto. Na reunião do dia 25 de março de 1903 foram nomeados membros
honorários da Congregação, Manoel Porto Alegre Faulhaber, Arthur Napoleão dos Santos e
José Rodrigues Barbosa.
Perderia o seu cargo o membro honorário que deixasse de comparecer às reuniões da
Congregação por três vezes ou se recusasse a realizar algum serviço que lhe era devido sem
justificativa presumível. A Congregação não poderia exercer suas funções sem o quórum que
correspondesse à metade de seus membros, mas poderia ocorrer mesmo com a ausência de
todos os membros honorários; no caso de sessão solene, esta poderia acontecer com menos da
metade de seu número de membros.
Com cerca de quarenta Artigos, o quarto capítulo “Dos Professores” iniciava com a
afirmativa que os professores seriam indicados por dois terços dos votos dos membros da
Congregação e em seguida nomeados mediante Decreto do Presidente da República ou pelo
Ministro da Justiça e Negócios Interiores, em seu nome.
O código estabelecia que o concurso devesse ser anunciado, com publicação no Diário
Oficial, três dias após a abertura da vaga no magistério do Instituto. Se a vaga ocorresse em
dezembro ou durante as férias, o concurso deveria ser anunciado no dia primeiro de março,
início do período letivo. Esta publicação deveria ser renovada a cada sete dias e em cada dia
na semana final das inscrições. Caso o prazo expirasse no período de férias do INM, a
inscrição se manteria aberta durante três dias após o retorno das aulas.

58
Ver PEREIRA, 2007, p. 140.
31

Havendo duas ou mais vagas, competia à Congregação resolver sobre qual seria posta
em concurso primeiro e deveriam ser abertos com intervalo de um ano, para que houvesse um
concurso “especial” para cada vaga. Poderiam se candidatar brasileiros que estivessem em
cumprimento dos seus deveres civis e políticos e estrangeiros que falassem português,
apresentando folha corrida e quaisquer outros documentos que julgassem conveniente, como
títulos de idoneidade ou prova de serviços prestados à arte e ao Estado. Cada concurso
possuía um termo de abertura e outro de encerramento, ambos assinados pelo diretor.
Após o encerramento das inscrições, o julgamento do concurso era feito pela
Congregação. O secretário era o responsável por fazer a leitura dos nomes dos candidatos e
dos seus respectivos documentos. Após a leitura, a Congregação determinava se cada
candidato possuía as condições necessárias de idoneidade para fazer parte da votação, sendo o
vencedor aquele que alcançasse dois terços de votos.
Qualquer decisão tomada pela Congregação poderia ser rebatida por recurso enviado
para o Governo. A apuração dos votos era lida após dois escrutínios e, após o segundo, se
ocorresse empate, seria preferido o candidato brasileiro. Se um estrangeiro fosse eleito, sua
nomeação só poderia ocorrer mediante apresentação de documento que comprovasse sua
naturalização brasileira. Nenhum professor poderia deixar de votar na indicação de um dos
candidatos habilitados no primeiro escrutínio e, caso não o fizesse, o seu voto seria excluído
do montante para o reconhecimento dos dois terços. Uma cópia da ata da sessão, assinada por
todos os membros da Congregação, era enviada para o Governo acompanhada de um ofício
com o nome do candidato licenciado. Deste modo, o candidato tornava-se imediatamente
vitalício, a partir da data de sua posse e exercício; e não perderia esta posição senão na forma
das leis penais e das disposições do regulamento. Caso o Governo não reconhecesse
legitimidade na decisão da Congregação, um novo concurso deveria ser realizado em até doze
meses.
Se nenhum candidato tivesse obtido os dois terços dos votos, deveria ser enviada para
o Ministro da Justiça uma lista com o nome de todos os concorrentes, com suas informações
circunstanciadas sobre a moralidade e habilitações. Assim, poderia o Ministro nomear um dos
candidatos, que exerceria o cargo por dois anos. Finalizado este período, era feita uma nova
votação da Congregação e, caso o candidato alcançasse os dois terços de votos, tornar-se-ia
vitalício no cargo. Se desejasse mudar de função deveria ser realizada uma nova audiência da
Congregação e, caso julgasse permitido, deveria aguardar o assentimento do Ministro.
Havendo necessidade de contratar professores brasileiros ou estrangeiros, o diretor
deveria encaminhar um pedido à Congregação. O regulamento determinava que para ser
32

nomeado um professor, devesse ser um artista exímio na sua especialidade, idôneo, em


condições de exercer o magistério e era dada prioridade aos alunos laureados do Instituto.
Poucos dias após a aprovação deste Decreto, em 14 de março de 1903, foi aberto o
primeiro edital para concurso de professor. Destinava o concurso uma vaga para cada uma
destas cadeiras: solfejo, canto solo, canto coral, piano, clarinete e harmonia.
Mesmo tendo sido aberto em março, somente em julho ocorreram as inscrições dos
candidatos, a saber: Joaquim Antonio Barrozo Netto, para a vaga de professor de piano;
Francisco Nunes Junior, para a de clarinete; e João Maya, não especificando qual cadeira que
pretendia ocupar. Porém, como nenhum deles havia apresentado a folha corrida, documento
obrigatório para efetivar a inscrição, o secretário Arthur Tolentino da Costa cancelou suas
inscrições. No mês seguinte foram reabertas as inscrições e para a vaga de solfejo se
inscreveram Norberto Amancio de Carvalho e Francisco Raymundo Corrêa; para a de piano
Alcina Navarro de Andrade e se reinscreveu Joaquim Barrozo Netto; para a de clarinete o
único candidato continuou sendo Francisco Nunes Junior; para a de harmonia, Guilhermina
Alves Torres do Nascimento; e para a vaga de canto se candidataram Camilla Maria da
Conceição, Bernhard Wagner e Zilda Raineri Chiabotto.
A demora para que os candidatos começassem a se inscrever poder ter relação com o
tenso período de instabilidade e conflitos dentro do INM que culminou no pedido de demissão
de Nepomuceno do cargo de diretor. Com sua saída, em 27 de março de 1903, Augusto
Duque Estrada Mayer foi nomeado diretor interino até a nomeação do novo diretor, Henrique
Oswald, em 25 de maio daquele ano.
No livro de inscrição de concursos, é o único registro que se tem da tentativa de
admissão de professores regido pelo Decreto 4.779/1903. Apesar de ter sido publicado no
Diário Oficial, com sua abertura em 14 de março de 1903, apenas em 20 de julho, já na
direção de H. Oswald, que o “termo de abertura das inscrições” foi preenchido. O termo de
encerramento não foi realizado. A falta dos registros e atas indicam que o concurso não se deu
como previa o regulamento.
Constatamos que no livro de registro de pessoal, dos nove candidatos inscritos, três
passaram a ocupar cargos de professores e uma ao cargo de adjunta de canto enquanto vigia o
Decreto N.º 5.162/1904: Camilla da Conceição, professora de canto; Antonio Barrozo Netto e
Alcina Navarro de Andrade, professores de piano; e Zilda Raineri Chiabotto, adjunta de
canto.
No Decreto de 1903 foi extinta a categoria de “adjuntos” e estes passaram a fazer
parte do grupo de professores. Os professores poderiam indicar seus “auxiliares do ensino”,
33

bem como os monitores e alunos auxiliares quando houvesse a necessidade de subdividir uma
classe do seu curso. Dias após ter sido nomeado diretor do INM, em 26 de julho de 1902,
Nepomuceno elevou ao grau de professor o então adjunto Ernesto Ronchini, que desde 1890
ocupava o cargo de adjunto de violino e violeta. Num primeiro momento, ele chegou a
lecionar sob a forma de contratado, e um ano depois, em 20 de fevereiro de 1891, obteve sua
nomeação para o cargo. Os demais receberam suas nomeações em 30 de março de 1903,
sendo Carlos Alves de Carvalho, para o cargo de professor de canto; e, para ocuparem o cargo
de professor do curso médio de piano, os professores Alfredo Fertin de Vasconcelos e Paulo
Chambelland.
Em 15 de abril de 1903, ocorreu a 1ª Sessão da Congregação59. Dentre os assuntos
sobre admissão de alunos com idade inferior a nove anos, estava o de eleger os membros
honorários do INM. Com exceção do professor Max Benno Niederberger, que estava de
licença, compareceram à reunião os professores Elvira Bello Lobo, Luigia Guido, Francisco
Alfredo Bevilacqua, Frederico do Nascimento, Augusto Duque-Estrada Meyer, José de Lima
Coutinho, Henrique Alves de Mesquita, João Rodrigues Côrtes, Agostinho Luiz de Gouvêa,
Paulo Chambelland, Alfredo Festim de Vasconcellos, Ernesto Ronchini, Louis Gilland,
Henrique Braga, Arnaud Duarte de Gouvêa, Ricardo Tatti, Ricardo Roveda, Carlos Alves de
Carvalho, Francisco Braga e Humberto Milano, com presidência do diretor Alberto
Nepomuceno. Após aprovarem a ata da reunião anterior, Nepomuceno convidou a
Congregação para que fossem indicados os nomes que preencheriam a posição de membros
honorários.
O professor Frederico do Nascimento propôs que fossem indicados Arthur Napoleão
dos Santos e Manoel Porto Alegre Faulhaber, que eram membros honorários do antigo
Conselho, ao que o professor Duque-Estrada entendia que a votação devesse acontecer para
cada um. Depois de realizada a votação, foi indicado, por unanimidade, Arthur Napoleão dos
Santos. Ao ser anunciado pelo diretor que passariam à indicação do segundo membro
honorário, o professor Duque-Estrada propôs que fosse eleito o crítico musical José
Rodrigues Barbosa, reconhecendo nele os requisitos necessários para o cargo.
O Decreto 4.779/1903 previa em seu art. 5º, que a Congregação seria composta de
todos os professores em exercício e três membros honorários por ela indicados. Este membros
honorários seriam nomeados pelo Governo, e deveriam ser artistas notáveis residentes na

59
BAN Conselho do Instituto, Atas 1890-1912.Ata da 1ª Sessão da Congregação, efetuada em 15 de abril de
1903.
34

Capital Federal e que não integrassem o corpo docente do INM.


Uma longa discussão se deu quando alguns professores diziam reconhecer a
competência do crítico musical, mas não reconheciam nele características de um “artista
notável”. Tomando a voz, o professor Lima Coutinho, entre outras considerações, disse que
“já era tempo de o Instituto dar uma prova de gratidão ao seu fundador”.
O professor Rodrigues Cortes levantou o seguinte argumento, para que fosse votado,
contra e a favor: “Se aquele que não professa a arte está nos casos de que trata o art. 5º do
Regulamento”. Votaram contra, doze professores, inclusive o diretor: Luigia Guido, A.
Bevilacqua, Frederico do Nascimento, Rodrigues Côrtes, Ernesto Ronchini, Henrique Braga,
Ricardo Tatti, Ricardo Roveda, Carlos de Carvalho, Alberto Nepomuceno, Francisco Braga e
Humberto Milano. Foram nove os votos a favor desta preliminar, pelos professores: Elvira
Bello, Louis Gilland, Festin de Vasconcellos, Duque-Estrada, Henrique de Mesquita, Arnaud
de Gouvêa, Agostinho de Gouvêa, Lima Coutinho e Paulo Chambelland.
Voltando à alegação de que Rodrigues Barbosa exercia profissão artística, Duque-
Estrada pediu ao diretor que submetesse à votação sua proposta e esta votação dividiu ao meio
a nova Congregação de Nepomuceno, sendo a proposta aprovada por onze contra dez. O
professor Ricardo Roveda, que havia votado contra o termo do professor Rodrigues Cortes,
deu voto favorável para que Rodrigues Barbosa fosse nomeado membro honorário do INM.
Os demais professores que votaram junto com Roveda foram: Elvira Bello, Louis Gilland,
Festin de Vasconcelos, Duque-Estrada, Henrique de Mesquita, Arnaud de Gouvêa, Agostinho
de Gouvêa, Lima Coutinho, Paulo Chambelland e Ricardo Tatti. E os que votaram contra
foram, os professores Luigia Guido, Arnaud Guido, A. Bevilacqua, Carlos de Carvalho,
Rodrigues Côrtes, Henrique Braga, Frederico do Nascimento, Ernesto Ronchim, Alberto
Nepomuceno, Francisco Braga e Humberto Milano.
Os professores Frederico do Nascimento, A. Bevilacqua, Ernesto Ronchini, Alberto
Nepomuceno, Francisco Braga e Humberto Milano justificaram seus votos contra, pois
entendiam que Rodrigues Barbosa não exercia profissão artística. Considerando esta
indicação contrária à lei, o diretor declarou que iria levar o ocorrido ao conhecimento do
Governo.
Mais simples foi a indicação do terceiro membro honorário e, para tal, foi indicado
Manoel Porto-Alegre Faulhaber, professor de piano da Academia do Clube Beethoven, que
recebeu vinte votos contra um. O professor Duque-Estrada justificou seu voto contrário à
indicação dizendo que Faulhaber foi candidato a uma das cadeiras criadas pelo Decreto que
reorganizou o Instituto, mas como ele não assumiu tal cargo, os demais membros declararam
35

não haver incompatibilidade com a lei.


Tal desentendimento já havia começado antes mesmo que Nepomuceno tomasse posse
no cargo de diretor, quando Rodrigues Barbosa havia tomado uma atitude contrária a sua
nomeação, pois ele “não dava esperanças de um administrador severo e disciplinador porque
com essas qualidades era incompatível o seu temperamento bondoso, afável e por demais
acessível”.60

1.3 A gestão Oswald (1903 a 1906): retorna a indicação do Diretor

Detentor de prestígio político, Rodrigues Barbosa foi nomeado membro honorário do


INM e isto pôde ter favorecido que no ano seguinte o presidente Rodrigues Alves e o ministro
J. J. Seabra decretassem um novo regulamento para o INM, tendo sido por eles os
responsáveis pelo Decreto anterior. Dentre outros pontos, o Decreto N.º 5.162, de 14 de
março de 1904, extinguiu a Congregação e restabeleceu o Conselho. Os auxiliares de ensino
passaram à categoria de adjuntos, que havia sido extinta no Decreto de 1903.

Com a saída de Nepomuceno, assumiu a direção o compositor Henrique Oswald. Sua


administração é entendida por Batista Siqueira como “simples” e “efêmera”61. Porém, o que
os documentos institucionais nos demonstram é que ocorrem o ressurgimento de um “novo
Miguez”, pela extinção da Congregação e retorno da centralização do poder na figura do
diretor, do conjunto de cinco professores e três membros honorários, e também do Conselho.
Pretendiam melhorar o ensino distribuindo os professores, aproveitando suas aptidões, pelas
diversas cadeiras oferecidas no INM. Se alguma cadeira ficasse vaga, cabia ao diretor indicar
ao Ministro quem viria ocupá-la. Oswald ficou na direção desta instituição por quatro anos, e
como veremos mais adiante, ao INM foram incorporados novos nomes ao corpo docente
formado por 29 professores, sendo: seis de solfejo, três de canto a solo, um de canto coral,
cinco de piano, um de órgão, um de harpa, três de violino, um de violoncelo, um de
contrabaixo, um de flauta e flautim, um de oboé e congêneres, um de clarinete e congêneres,
um de trompa, clarim, cornetim, trombone, bombardão e tuba, dois de harmonia e um de
composição. Neste Decreto ocorre o retorno das seções de conjunto vocal e instrumental que
haviam sido extintas no Decreto de 1903, porém, a seção literária, que compreendia o curso
de História e Estética da Música, continuava extinta. Mesmo existindo na gestão de Miguez,
esta seção nunca teve um professor que a assumisse e, assim, entendemos o porquê da sua

60
BARBOSA, José Rodrigues. Instituto Nacional de Música – Rodrigues Barbosa ao público. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, 3 de junho de 1903. In: PEREIRA, 2007, pp. 153-162.
61
SIQUEIRA, 1972, p. 68.
36

eliminação nos programas de cursos nas gestões seguintes.


O Decreto anterior determinava que a nomeação de um professor se dava por dois
terços dos votos da Congregação.Já o de 1904 extinguiu a Congregação e reativou o
Conselho, retomando o processo de nomeação do cargo docente uma exclusividade do diretor.
O terceiro capítulo deste Decreto, “Do Conselho”, é idêntico ao também terceiro capítulo do
Decreto N.º 3632/1900, último do período Miguez.
Enquanto em todos os Decretos anteriores o número de professores estava
subordinado ao número de alunos, o Decreto do período de Oswald, em seu quarto capítulo,
“Do Pessoal Docente”, delimita o número de professores no INM. A autorização para
celebrar contratos de brasileiros ou estrangeiros era encaminhada pelo diretor ao Ministro e o
corpo docente alcançaria, com o diretor, o número total de trinta professores, sendo: seis de
solfejo, três de canto a solo, um de canto coral, cinco de piano, um de órgão, um de harpa, três
de violino, um de violoncelo, um de contrabaixo, um de flauta e flautim, um de oboé e
congêneres, um de clarinete e congêneres, um de trompa, clarim, cornetim, trombone,
bombardão e tuba, dois de harmonia e um de composição. Para contratar não podiam
permutar de função a não ser com a permissão do diretor e do Ministro.

Quadro 5: Professores contratados na gestão Oswald


1. José Raymundo da Silva. Nomeado em 12/09/1904.
Solfejo 2. Carolina Vieira Machado Coelho. Nomeada em 12/09/1904.
3. Alfredo Raymundo Richard. Nomeado em 17/04/1905.
1. Camilla da Conceição. Interina em 11/04/1904; nomeada professora em
12/09/1904; e substituta de Louis Gilland em 02/04/1906. Recebeu
Canto a solo primeiro prêmio de mérito no concurso de canto do INM em 1896, quando
aluna.
2. Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão. Nomeado em 25/07/1906.
1. Arnaud Duarte de Gouvea. Com duas transferências da cadeira de
Canto coral solfejo para a de canto coral, a primeira em 11/04/1904 e a segunda em
06/05/1904.
1. Paulo Chambelland. Nomeado em 24/08/1904. Menos de um mês
depois obteve licença saúde e foi substituído por José da Silva Maya, em
17/09/1904.
Piano 2. Alfredo Fertin de Vasconcelos. Nomeado em 24/08/1904.
3. Alcina Navarro de Andrade. Nomeada em 14/09/1904.
4. José da Silva Maya. Nomeado em 21/07/1905.
5. Antonio Barrozo Netto. Nomeado em 26/02/1906.
1. Arnaud Duarte de Gouvea. Substituto de Alberto Nepomuceno em
Órgão 23/04/1906.
1. Vicente Marciano. Substituto de Luigia Guido, em 19/08/1904.
Harpa 2. Alzira da Costa Couto. Nomeada em 02/04/1906.
Violino -
1. Frederico do Nascimento. Substituto de Max BennoNiederberger em
Violoncelo 02/04/1906.
Contrabaixo -
1. Pedro de Assis. Nomeado em 15/05/1905. Recebeu primeiro prêmio de
Flauta e flautim mérito no concurso de flauta do INM em 1896, quando aluno.
37

Oboé e congêneres -
Clarinete e congêneres 1. Francisco Nunes Junior. Nomeado em 12/09/1904.
Trompa e congêneres 1. Luiz Velho da Silva. Nomeado em 12/09/1904.
Harmonia 1. Agnello Gonçalves Vianna França. Nomeado em 12/09/1904.
Composição -
Fonte: BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940.

Antes de iniciar as nomeações para os cargos de professores, Oswald indicou seis


nomes para assumirem as cadeiras de solfejo, canto, harmonia e trompa interinamente, dos
quais cinco deles passaram a fazer parte do corpo docente do INM meses após. No dia 11 de
abril, foram nomeados Jeronymo Silva Junior e Carolina Vieira Machado Coelho, interinos de
solfejo; Camilla da Conceição, interina de canto; e Agnello Gonçalves Vianna França,
interino de harmonia. Nos dias 13 e 20 ocuparam os cargos de interino de trompa (e
congêneres) e solfejo, Luiz Velho da Silva e José Raymundo da Silva, respectivamente.
Destes, apenas Jeronymo Junior ficou de fora dos eleitos de Oswald.

Quadro 6: Cursos oferecidos no INM nas reformas Nepomuceno (1903) e Oswald (1904).
Decreto n. 4.779/1903 Decreto n. 5.162/1904
Nepomuceno Oswald
Seção elementar - Solfejo - Solfejo
- Canto a solo - Canto a solo
Seção vocal
- Canto coral

- Inicial de piano - Teclado


- Médio de piano - Piano
- Superior de piano - Órgão
- Órgão - Harpa
- Harpa - Violino
- Violino e violeta - Violoncelo
- Violoncelo - Contrabaixo
Seção instrumental - Contrabaixo - Flauta
- Flauta e flautim - Oboé
- Oboé e congêneres - Clarinete
- Clarinete e congêneres - Fagote
- Trompa - Trompa
- Clarim e cornetim - Clarim
- Trombone, bombardão e - Trombone, bombardão e
tuba tuba.
Seção preparatória - Harmonia - Harmonia
e complementar de - Contraponto e fuga - Contraponto e fuga
composição - Composição - Composição
Seção literária [extinta] [extinta]
Seção de conjunto [extinta] - Canto coral
vocal - Coro de concertos
[extinta] - Orquestra
- Música de câmara com
Seção de conjunto
piano
instrumental
- Música de câmara sem
piano
Fonte: BRASIL. Decretos Nos. 4779 e 5162.
38

Neste novo período, os auxiliares de ensino compreendiam 10 adjuntos, 12 monitores


e um acompanhador. Os adjuntos seriam nomeados pelo Ministro com audiência do diretor
após a indicação do professor que viria coadjuvar. Preferencialmente ocupariam este lugar os
alunos laureados do Instituto. Eles teriam gratificação mensal de 50$ e ocupariam o cargo
enquanto “bem servirem” a juízo do diretor e do respectivo professor. Ainda no início da sua
gestão, ainda sob o Regulamento de 1903, Oswald fez a indicação da monitora do curso de
canto Zilda Raineri Chiabotto, em 12 de junho de 1903; e de Luiz Figuéras para o cargo de
auxiliar de ensino de violoncelo durante o impedimento do professor Max Benno
Niederberger, em 20 de julho de 1903. Depois só passou a realizar nomeações após a
publicação do Decreto N.º 5162/1904.

Quadro 7: Adjuntos nomeados na gestão Oswald


Solfejo -
1. Zilda Raineri Chiabotto. Nomeada em 20/04/1904.
Canto a solo 2. Noemia Pires da Silveira. Nomeada em 26/04/1906.
Canto coral -
1. Helena de Figueiredo. Nomeada em 20/04/1904.
2. Mary Alice Coggin. Nomeada em 20/04/1904.
3. José da Silva Maya. Nomeado em 07/06/1904.
4. Laura Navarro de Lima Coutinho. Nomeada em 18/06/1904.
Piano 5. Francisca Monteiro de Barros. Nomeada em 18/06/1904.
6. Maria da Gloria de Moura. Nomeada em 26/08/1904.
7. Suzanna de Figueiredo. Nomeada em 11/04/1905.
8. Cecília Laura M. da Costa. Nomeada em 08/07/1905.
9. Helena de Figueiredo. Nomeada em 26/04/1906
Órgão -
Harpa -
1. Carmo Marsicano. Nomeado em 07/06/1904.
Violino 2. Olívia da Cunha. Nomeada em 18/06/1904.
3. Corina da Fontoura Galvão. Nomeada em 07/06/1905.
Violoncelo -
Contrabaixo -
Flauta e flautim 1. Pedro de Assis. Nomeado em 07/06/1904.
Oboé e congêneres -
Clarinete e congêneres -
Trompa e congêneres -
1. Arminda de Almeida. Nomeada em 23/04/1904.
Harmonia 2. Iracema Nunes de Azevedo. Substituta de Arminda, nomeada em
10/07/1906.
Composição -
Fonte: BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940.

Os monitores, alunos laureados ou os que mais se distinguiam no seu curso, seriam


nomeados diretamente pelo diretor e recebiam uma gratificação anual de 200$ em uma só
parcela no final do ano trabalhado. O acompanhador deveria participar das classes designadas
pelo diretor, realizando acompanhamentos de piano ou harmônio, participar de ensaios,
39

exercícios práticos e concertos do INM, com a tarefa de distribuir e arrecadar as músicas


nestes.

Quadro 8: Monitores e acompanhadores nomeados na gestão Oswald


1. Zilda Raineri Chiabotto. Nomeada em 12/06/1903.
2. Maria Celeste Jaguaribe de Mattos. Nomeada em 30/04/1904.
Canto 3. Maria Izabel de Verney Campello. Nomeada em 30/04/1904.
4. Hilda Costa. Nomeada em 18/04/1906.
Canto coral 1. Noemia de Almeida Pires. Nomeada em 01/10/1904.
1. Stella Gleck. Nomeada em 30/04/1904.
2. Sylvia Guedes de Mello. Nomeada em 30/04/1904.
3. Rita de Cassia Oliveira. Nomeada em 30/04/1904.
Piano 4. Carlos de Lemos Peixoto. Nomeado em 30/04/1904.
5. Noemi Maia Xavier. Nomeada em 03/04/1906.
6. Alcina da Cunha Valle. Nomeada em 09/04/1906.
7. Alice Leite. Nomeada em 09/07/1906.
1. Homero de Sá Barreto. Nomeado em 30/04/1904.
2. Laura Alves da Silva. Nomeada em 30/04/1904.
3. Custódio Fernandes Góes. Nomeado em 30/04/1904.
Teclado 4. Alfredo Raymundo Richard. Nomeado em 12/09/1904.
5. Antenor Octavio de Araújo Costa. Nomeado em 16/05/1905.
6. Roberta Augusta Gonçalves. Nomeada em 02/04/1906.
1. Paulo Maya. Nomeado em 11/04/1905.
Violino 2. Leonor Granjo. Nomeada em 03/04/1906.
1. José Feliciano de Araújo. Nomeado em 16/05/1905.
Flauta 2. Joaquim Passos Barrozo. Nomeado em 09/04/1906.
1. Custódio Fernandes Góes. Nomeado em 05/07/1904 e 01/05/1905.
Acompanhadores 2. Luiz Amabile. Nomeado em 01/06/1905.
Fonte: BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940.

Caso ocorresse a necessidade de dividir uma turma com número limitado de alunos, o
diretor podia, com prévia autorização do Ministro, designar um dos professores do mesmo
curso para regê-la. Este poderia fazer parte do quadro de efetivos ou não e receberia 100$ por
mês. De qualquer forma, para o preenchimento de qualquer vaga deveriam ter preferência os
professores adjuntos ou os alunos com destaque nos estudos.
Nos Decretos de 1903 e 1904, os professores passaram a receber gratificações por
tempo de serviço, valores acrescidos nos seus vencimentos. Aos que tinham 10 anos de
serviço, acréscimo de 5%; 15 anos, 10%; 20 anos, 20%; 25 anos, 33%; e aos que
completassem 30 anos de trabalho, poderiam alcançar o acrescimento de 40% se dentro do
último quinquênio houvessem publicado alguma obra de mérito didático. No caso do Decreto
de 1903, a obra passaria por uma avaliação da Congregação. Sendo considerada “obra de
mérito excepcional ou de extraordinária vantagem para o ensino”, o professor teria direito à
impressão de até três mil cópias do seu trabalho por conta do Governo. Caso o trabalho já
tivesse sido publicado, o autor teria o valor ressarcido após avaliação da Imprensa Nacional.
O professor também teria direito a um prêmio entre 2:000$ e 5:000$, que seria estipulado pelo
Governo mediante informação do diretor. Com diferença de apenas um ano de um Decreto
40

para o outro, os professores perderiam o direito do custeio de suas obras, mas continuavam
dependendo delas para conquistar a gratificação adicional de 40% do seu salário.

Quadro 9: Lista de professores que obtiveram acréscimo salarial na Gestão Oswald


Data Nome Professor de: Reajuste salarial
25/05/1903 Augusto Duque Estrada Meyer Flauta 20% nos vencimentos
15/06/1903 Henrique Braga Solfejo 5% nos vencimentos
27/07/1903 Ernesto Ronchini Violino 5% nos vencimentos
27/07/1903 Henrique Alves de Mesquita Cornetim... 33% nos vencimentos
09/09/1903 José de Lima Coutinho Solfejo 5% nos vencimentos
09/09/1903 Alfredo Fertin de Vasconcelos Piano 5% nos vencimentos
09/09/1903 Paulo Chambelland Piano 5% nos vencimentos
09/09/1903 Ricardo Roveda Contrabaixo 5% nos vencimentos
28/09/1903 Louis Gilland Canto 5% nos vencimentos
30/11/1903 Luigia Guido Harpa 5% nos vencimentos
30/11/1903 Francisco Alfredo Bevilacqua Piano 5% nos vencimentos
30/11/1903 Frederico do Nascimento Solfejo 5% nos vencimentos
14/12/1903 Ricardo Tatti Violino 5% nos vencimentos
07/01/1904 Arnaud Duarte de Gouvea Solfejo 5% nos vencimentos
08/02/1904 João Rodrigues Côrtes Solfejo 20% nos vencimentos
21/03/1904 Agostinho Luiz de Gouvêa Solfejo 5% nos vencimentos
27/06/1904 Frederico do Nascimento Solfejo 5% nos vencimentos
24/07/1904 José de Lima Coutinho Solfejo 10% nos vencimentos
24/07/1905 Elvira BelloLôbo Piano 5% nos vencimentos
30/07/1905 Arnaud Duarte de Gouvea Solfejo 10% nos vencimentos
28/08/1905 Alfredo Fertin de Vasconcelos Piano 10% nos vencimentos
28/08/1905 Paulo Chambelland Piano 10% nos vencimentos
22/09/1905 Frederico do Nascimento Solfejo 10% nos vencimentos
30/10/1905 Louis Gilland Canto 10% nos vencimentos
12/02/1906 Alfredo Bevilacqua Piano 10% nos vencimentos
12/02/1906 Ernesto Ronchini Violino 10% nos vencimentos
12/02/1906 Carlos Alves de Carvalho Canto 5% nos vencimentos
26/03/1906 Luigia Guido Harpa 10% nos vencimentos
24/09/1906 Ricardo Tatti Violino 10% nos vencimentos
Fonte: BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940.

Um dos intentos de Oswald era acabar com os cursos noturnos. Em 15 de abril de


1904, dirigiu ao Ministério da Justiça um documento titulado “Suspensão dos cursos noturnos
do INM – 1904”. Nele indicava uma estatística do número de alunos admitidos no curso
noturno. As matrículas totalizavam um número igual a 72, com um admissão de 51 alunos.
Oswald julgava este número não suficiente para o funcionamento do curso e assim
apresentava algumas considerações a serem observadas.

Primeiramente, encontrava problemas para admitir um aluno que desejasse estudar


41

contrabaixo, oboé, clarinete, fagote, trompa, clarim e trombone durante o dia, pois estes
haviam sido transferidos para o curso da noite, durante a gestão de Nepomuceno. Também
argumentava que quase todos os alunos do curso noturno, das aulas de canto a solo e de
instrumento, eram obrigados pelo Regimento, a frequentar o curso de canto coral, que
somente funcionava durante o dia. Não havia para eles professores no turno da noite.

Observou que, de todas estas classes, a que mais número reunia de alunos era a de
flauta, seis alunos. As outras reuniam quatro alunos, e este número ia decrescendo, a ponto de
não ter nenhum aluno matriculado no curso de oboé. De acordo com o Regimento, o número
para cada classe deveria atingir um total de oito alunos e, no período diurno, este número
ultrapassava este limite, o que impedia a muitos de se tornarem alunos do INM por falta de
vagas.

O curso de solfejo no período noturno contava com 32 alunos e, no turno diurno, o


número era muito maior. Com a suspensão das aulas no período da noite, os professores
poderiam passar a trabalhar no período do dia, simplificando o trabalho com as turmas.
Oswald entendia que “ocupar dois ou três professores de solfejo, no curso noturno, com 32
matrículas, não se dirá que esse modo se atende às exigências do ensino”, e que alguns alunos
já pretendiam transferir-se para o curso diurno. O que se podia fazer para não prejudicar o
funcionamento do curso diurno, seria dar uma nova organização ao corpo docente e ao
pessoal administrativo, pois da forma com que estavam constituídos provocavam grande
prejuízo ao ensino diurno.

Quadro 10: Lista de alunos dos Cursos Noturnos do INM (1894).


Contrabaixo

Canto coral
Violoncelo

Trombone
Clarinete

Nome do aluno / Curso


Teclado

Trompa
Violino
Solfejo

Clarim
Fagote
Flauta
Canto

Oboé

Manoel Antonio da Costa


Paulo de Moraes Guterrez
Orlando Frederico
Francisco do Livramento Coutinho
Horacio dos Santos Machado
Ludovico Donadelli
Noé de Souza Abalo
Leolindo Ernesto Xavier Filho
Manoel Gonçalves da Silva
Aleixs Lamothe
Alberto Henrique Zumsteg
Alvaro Guterrez
Sylvio Dinarte da Silveira
Arnaldo Barbosa Rodrigues
42

Antonio Lascazas de Miveira


Sylvio Leal
Carlos Cordeiro da Graça
Manoel Deodoro Vieira Machado
Mario Vieira Machado
José Raymundo da Silva
Dionysio de Santa Rosa Mendes Junior
Oswaldo Borgheth
Theodoro Martins Mandego
Dionisio Agapito Pereira
Gualter de Freitas
Edgard Gomes Pereira
Annibal Pinto de Matto
João de Araujo Torres
Luiz João Baptista Pertins
Nelson Pagani
Manoel Antonio Lima de Magalhães
José Henrique Martins de Oliveira
Nelson Boisson Moreira
Adelsiso Carlos Pereira dos Santos
Frederico Augusto Olympio de Jesus
Gastão Horacio Gomes Pinto
Alipio José da Paixão
Antonio Carlos Cesar Sobrinho
Francisco Gonçalves de Magalhães
Franklein Ferreira de Souza Rocha
José Feliciano de Araujo
Plinio Araujo dos Santos
Elygio Fernandes da Silva
Heitor Villa-Lobos
Silvano José Athanasio
Alfredo Franklein de Mattos
Etienne Borrieur
Gerson Lopes dos Reys
Targino Raposo
Ivo Pagani
André Pagani
32 4 3 4 2 2 6 0 3 2 2 1 1 19
Localização: ANRJIE 7 9192. Série Educação, Cultura, Belas Artes, Biblioteca 1902-1905.

Destacamos a presença de Heitor Villa-Lobos no quadro de alunos do curso noturno


do INM, ele que por muitos é considerado autodidata, aqui se encontra matriculado nos cursos
de solfejo e violoncelo.

1.4 A segunda gestão Nepomuceno (1906 a 1916): do colegiado ao concurso

Em 22 de outubro de 1906, Alberto Nepomuceno retorna ao posto de diretor do INM.


Esta gestão durou um período de dez anos, quando no concurso de solfejo em 1916, teve
grave desentendimento com o Ministro da Justiça e pediu sua demissão do cargo. Outras três
reformas sofreu o INM nesta gestão, a do Decreto N.º 6.621, de 29 de agosto de 1907, sendo
presidente da república Affonso Augusto Moreira Penna e o Ministro da Justiça, Augusto
43

Tavares de Lyra; o Decreto N.º 9.056, de 18 de outubro de 1911, assinado pelo presidente
Hermes da Fonseca e pelo Ministro Rivadavia da Cunha Corrêa; e o Decreto N.º 11.748, de
13 de outubro de 1915, assinado por Wenceslau Braz e pelo Ministro Carlos Maximiliano
Pereira dos Santos, a quem se deve tal desentendimento.

Para Batista Siqueira, a saída de Nepomuceno da direção do INM estava relacionada


com a mudança do prédio da Rua Luís de Camões para a Rua do Passeio e da reconstrução de
um novo prédio que abrigasse as necessidades do Instituto, em 1913. Esta concessão foi
realizada na gestão seguinte, quando Abdon Milanez assumiu a direção do INM.62

Mesmo tendo Henrique Oswald solicitado ao governo que fossem encerradas as aulas
do turno da noite, nesses três Decretos da segunda gestão de Nepomuceno as aulas
continuavam a ocorrer durante o dia e noite. Com mais de setecentos alunos, o INM possuía
um corpo docente com vinte e nove professores: seis de solfejo, três de canto, cinco de piano,
um de órgão, um de harpa, três de violino e violeta, um de violoncelo, um de contra-baixo,
um de flauta, um de oboé e fagote, um de clarinete e congêneres, um de trompa, clarim,
cornetim, trombone, saxhorn baixo (tuba) e congêneres, três de harmonia e um de contra-
ponto e fuga, instrumentação e composição. A cadeira de canto coral foi extinta para que se
criasse outra para professor de harmonia, sendo o professor daquela remanejado para esta.
Outra mudança importante neste Decreto foi que o Conselho deixou de existir bem como a
participação dos adjuntos ao lado dos professores efetivos63, sendo substituídos por auxiliares
de ensino.

62
SIQUEIRA, Baptista. Do Conservatório à Escola de Música: Ensaio Histórico. Rio de Janeiro: Edição do
autor, 1972, p. 71.
63
Artigos N.º 219 e N.º 220 do Decreto N.º 6.621/1907.
44

Gráfico 1: Número de alunos do INM no período


do 1890 a 1915.

1890 1891 1892 1893 1894 1895 1896 1897 1898 1899 1900 1901 1902 1903 1904 1905 1906 1907 1908 1909 1910 1911 1912 1913 1914 1915
800 747
708
670
700 635
596
557 567
600 538 518
485 493 493 501 486
447 457
421 442
500
401 401
400
276
300 243

200

100
s.d. s.d. s.d. s.d.
0

Número de alunos/as

Fonte: ANRJ. Loc. IE 7 90 a 93.

Neste mesmo período, foram elevados ao cargo de professores vitalícios o professor


de flauta Pedro de Assis, e o professor de clarinete e congêneres Francisco Nunes Junior. O
primeiro havia sido nomeado na primeira gestão de Nepomuceno como “auxiliar de ensino de
flauta” em 19 de junho de 1903; na gestão de Oswald, em 7 de junho de 1904, foi nomeado
“adjunto de flauta”; e em 15 de maio de 1905, “professor de flauta”. Francisco Nunes ocupou
o função de professor
essor interino de clarineta de 5 de maio de 1903 até o dia 12 de setembro de
1904, quando Oswald o indicou para o lugar de professor de clarinete e congêneres.

Para seleção de novos professores, cabia ao corpo docente e aos membros honorários
(os mesmo que figuravam no Conselho) a nomeação por maioria absoluta de votos. Sob este
regulamento apenas se realizou o concurso para a cadeira de trompa, clarim, cornetim,
trombone, saxhornbaixo (tuba) e congêneres, em 1910. Inscreveram--se para este concurso
oito candidatos: Ismael Guarischi, Rodolpho Pfefferdorkn, Graciliano de Mello, José
Raymundo
undo de Miranda Machado, João Ignácio da Fonseca, Alfredo Franklin de Mattos,
Alnibar Nelson e Álvaro Sandim. As inscrições tiveram
tivera início em 10 de junho e seu
encerramento ocorreu no dia 10 de agosto.

Neste mesmo dia reuniu-se


reuniu o corpo docente do INM no provisório prédio à Rua Dr.
Joaquim Nabuco, n.º 98, e os membros honorários Arthur Napoleão dos Santos e José
Rodrigues Barbosa. Estavam presentes os professores Alcino Navarro de Andre, Agnello
Gonçalves Vianna França, Henrique Braga, Arnaud Duarte de Gouvêa,
Gouvêa, Alfredo Raymundo
Richard, Elvira Bello Lobo, Agostinho Luiz de Gouvêa, Pedro de Assis, Camilla da
Conceição, Ricardo Roveda, José Raymundo da Silva, Francisco Nunes Junior, Ernesto
Ronchini, Carlos de Carvalho, Ricardo Tatti, Francisco Braga, Humberto Milano, José de
45

Lima Coutinho, Barroso Netto, Frederico do Nascimento e Alfredo Fertin de Vasconcellos


sob a presidência do professor Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão que substituía
interinamente o diretor Alberno Nepomuceno64. Faltaram com justa causa o membro
honorário Godofredo Leão Velloso e os professores Carolina Vieira Machado Coelho,
Francisco Alfredo Bevilacqua, Luigia Guido e Max Benno Niedenberger. A reunião foi
conduzida pelo que estava disposto no Artigo18 do Decreto de 1907:
Art. 18. No primeiro dia útil depois do encerramento da inscrição, salvo se pender
de decisão algum recurso, reunir-se-hão o corpo docente e os membros honorários, à
hora designada pelo diretor, para julgar das habilitações dos candidatos e proceder á
respectiva classificação, por lista assinada.
§ 1º Depois de lidos pelo secretário os nomes dos candidatos e os respectivos
documentos, decidirão o corpo docente e os membros honorários, por maioria
absoluta, de votos, em primeiro escrutínio, si têm os mesmos candidatos as
necessárias condições de idoneidade, correndo a votação sobre cada um.
No segundo escrutínio, a votação se fará, separadamente, para classificação em 1º e
2º logar.
§ 2º Depois de votarem todos os professores, quer no primeiro quer no segundo
escrutínio, o diretor lerá as listas, mencionando os nomes dos signatários, e assim as
apurará.
§ 3º No caso de empate entre dois candidatos, quando forem os únicos a concorrer
ou os únicos votados, exercerá o diretor o direito conferido no art. 26.
§ 4º Si nenhum dos candidatos conseguir a maioria absoluta dos votos, proceder-se-
há a novo escrutínio entre os dois que alcançaram os dois primeiros lugares na
ordem da votação, e si houver mais de dois candidatos nestas condições, se abrirá
inscrição para novo concurso pelo prazo do art. 11.
§ 5º Em igualdade de condições, será preferido o candidato que for brasileiro.
§ 6º Das decisões tomadas em sessão haverá recurso para o Governo.65

Feita a votação para o primeiro lugar, obteve-se o seguinte resultado: Ismael


Guarischi, 3 votos; Rodolpho Pfefferkorn, 6 votos; José Raymundo de Miranda Machado, 15
votos; não tendo os demais recebido nenhum voto. Com este resultado, ficou classificado em
primeiro lugar o candidato José Raymundo. Em seguida, realizaram a votação para a
classificação em segundo lugar: Ismael Guarischi, obteve 6 votos; Rodolpho Pfefferkorn, 10;
Graciliano de Mello, 2; e João Ignácio da Fonseca, 6 votos; não tendo os demais recebido
qualquer voto. Como nenhum candidato conseguiu maioria absoluta dos votos, realizaram
uma nova votação entre Rodolpho e Ismael, por ter sido aprovada a preliminar levantada pelo
membro honorário Rodrigues Barbosa, no sentido de “dar preferência” ao candidato Ismael,
que, apesar de ter o mesmo número de votos do candidato João Ignácio, fora preferido para
concorrer ao segundo lugar, visto que ocupava interinamente a cadeira em concurso desde o
dia 14 de junho de 1910. Ao final desta votação Rodolpho obteve dezessete votos em

64
Amaro Barreto substituiu Nepomuceno de julho a dezembro de 1910.
65
BRASIL. Decreto N.º 6.621, de 29 de agosto de 1907.
46

vantagem a Ismael, que obteve apenas sete. O resultado final deste concurso foi, em primeiro
lugar, José Raymundo e em segundo, Rodolpho.66

Abaixo a lista de professores e auxiliares de ensino no período que o INM era regido
pelo Decreto de 1907:

Quadro 11: Contratados entre os anos 1907 e 1911.


12/09/1907 Maria Celeste Jaguaribe de Mattos Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Canto
12/09/1907 Laura Navarro de Lima Coutinho Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
12/09/1907 Olivia da Cunha Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Violino
12/09/1907 Leonor Granjo Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Violino
12/09/1907 Adelia Gaudieley Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
12/09/1907 Guiomar da Nobrega Beltrão Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Canto
12/09/1907 Hylda Gomes Pereira Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Canto
13/09/1907 Christina Moller Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
13/09/1907 Alcina da Cunha Valle Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
13/09/1907 Carlos de Lemos Peixoto Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado
14/09/1907 Mary Alice Coggin Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
14/09/1907 Lucília Guimarães Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
17/09/1907 Eurico de Araújo Costa Auxiliar ens. de 1a. Classe de Violoncelo
18/09/1907 Alzira de Miranda Monteiro Manso Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
18/09/1907 Custódio Fernandes Góes Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
18/09/1907 Esther da Costa Ferreira Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
18/09/1907 Homero de Sá Barreto Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado
18/09/1907 Corina da Fontoura Galvão Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Violino
18/09/1907 Orlando Frederico Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Violino
18/09/1907 Miralda Pinto Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado
21/09/1907 Maria Abalo Monteiro Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
21/09/1907 Alice Leite Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
17/10/1907 José da Silva Maya Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
21/10/1907 Carmo Marsicano Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Violino
07/11/1907 Luiz Amabile, interinamente Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
12/11/1907 Laura Alves da Silva Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado
07/04/1908 Olga Hargreaves Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
07/04/1908 Adelaide Couto Fernandes Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
07/04/1908 Carolina Eugracia de Azevedo Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado
07/04/1908 Eugênia Soares Mello Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
09/04/1908 Leonor Granjo Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Violino
05/06/1908 Maria de Santa Cruz Abreu Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
20/07/1908 Lucília Guimarães/Sub. Mary Alice Coggin Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Piano
14/08/1908 Philippe Moreira /Sub. Carmo Marsicano Auxiliar de ens. de 1a. Classe de Violino
26/08/1908 Iracema Nunes de Azevevo Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado

66
BAN. Ata da 7ª Sessão do Corpo Docente. Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1910. Livro do “Conselho do
Instituto, Atas 1890-1912”.
47

26/08/1908 Vera Nobrega de Vasconcellos Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado


05/04/1909 Philippe Moreira Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Violino
05/04/1909 Rita Clara de Suekow Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
15/04/1909 Carmem Teixeira Pinto Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Piano
15/04/1909 Etelvina de Almeida Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado
27/04/1909 Ernani da Costa Auxiliar de ens. de 2a. Classe de Teclado
04/10/1909 Rubens Tavares Professor de Violoncelo / Interino
30/11/1909 José Raymundo da Silva Professor de Solfejo
12/04/1910 Jandyra Costa/Sub. Luigia Guido Reger a aula de Harpa
14/06/1910 Ismael Guarischi Professor de Trompa e congeneres/Interino
01/08/1910 Arnaud Duarte de Gouvea Professor de Órgão/Sub. De Alberto Nep.
09/08/1910 José Raymundo de Miranda Machado Professor de Trompa e congeneres/Interino
26/08/1910 Coralia Torres Auxiliar de 2ª classe de Piano
26/08/1910 Almerinda Izaura da Costa Auxiliar de 2ª classe de Piano
29/08/1910 Aurora Pinto de Mattos Auxiliar de 2ª classe de Piano
31/08/1910 Iracema Nunes de Azevedo Auxiliar de 2ª classe de Piano
01/09/1910 Carlos Lemos Peixoto Auxiliar de 1ª classe de Piano
12/09/1910 Eugracia Carolina de Azevêdo Auxiliar de 2ª classe de Piano
13/09/1910 Maria Celeste Jaguaribe de Mattos Auxiliar de 1ª classe de Canto
13/09/1910 Laura Navarro de Lima Coutinho Auxiliar de 1ª classe de Piano
13/09/1910 Olivia Cunha de Siqueira Auxiliar de 1ª classe de Violino
14/09/1910 Mary Alice Coggin Auxiliar de 1ª classe de Piano
19/09/1910 Alzira de Miranda Monteiro Manso Auxiliar de 1ª classe de Piano
19/09/1910 Eurico de Araújo Costa Auxiliar de 1ª classe de Violoncelo
19/09/1910 Guiomar da Nobrega Beltrão Auxiliar de 1ª classe de Canto
19/09/1910 Custódio Fernandes Góes Auxiliar de 1ª classe de Piano
19/09/1910 Orlando Frederico Auxiliar de 1ª classe de Violino
21/09/1910 Maria Abalo Monteiro Auxiliar de 1ª classe de Piano
28/09/1910 Pedro de Assis Professor de Flauta (vitalício)
21/10/1910 Carmo Marsicano Auxiliar de 1ª classe de Violino
26/10/1910 Francisco Nunes Junior Prof. de Clarinete e congêneres (vitalício)
03/02/1911 José da Silva Maia Auxiliar de 1ª classe de Piano
03/04/1911 Maria [?] Teixeira da Cruz Rangel Auxiliar de 2ª classe de Teclado
03/04/1911 Mathilde da Conceição Andrade Auxiliar de 2ª classe de Teclado
03/04/1911 Rita de Cassia e Oliveira Auxiliar de 1ª classe de Piano
03/04/1911 Eugracia Carolina de Azevêdo Auxiliar de 2ª classe de Teclado
03/04/1911 Carolina Eugracia de Azevedo Auxiliar de 2ª classe de Piano
05/04/1911 Agostinho L. de Gouvêa/Sub. Pedro de Assis Professor de Flauta
05/04/1911 Custódio F. Góes/Sub Joaquim B. Netto Professor de Piano
12/04/1911 Nicia Silva/Sub. Amaro B. de Albuquerque Professora de Canto
Fonte: BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940

O Decreto de 1911 elevou o número de professores para quarenta e dois, sendo 30


para os cursos diurnos e 12 para os noturnos, dos quais: nove de solfejo, cinco de canto, um
de teclado, seis de piano, um de órgão e harmônio, dois de harpa, quatro de violino e violeta,
48

dois de violoncelo, três de harmonia, uma de contraponto e fuga, instrumentação e


composição, um de fisiologia e higiene da voz, um de contrabaixo, um de flauta, um de oboé
o fagote, um de clarinete e congêneres, um de trompa, um de clarim e cornetim e um de
trombone.
Quadro 12: Cursos oferecidos no INM nas reformas de Nepomuceno (1907 a 1915).
Decreto n. 6.621/1907 Decreto n. 9.056/1911 Decreto n. 11.748/1915
Nepomuceno Nepomuceno Nepomuceno
Seção elementar - Solfejo - Solfejo - Solfejo
- Canto - Canto - Canto
Seção vocal - Fisiologia e higiene da
voz
- Teclado - Teclado - Teclado
- Piano - Piano - Piano
- Órgão - Órgão - Órgão
- Harpa - Harmônio - Harmônio
- Violino - Harpa - Harpa
- Violeta - Violino - Violino
- Violoncelo - Violeta - Violeta
- Contrabaixo - Violoncelo - Violoncelo
Seção
- Flauta - Contrabaixo - Contrabaixo
instrumental
- Oboé - Flauta - Flauta
- Fagote - Oboé - Oboé
- Clarinete e congêneres - Fagote - Fagote
- Trompa - Clarinete e congêneres - Clarinete e congêneres
- Clarim e cornetim - Trompa - Trompa
- Trombone, - Clarim e cornetim - Clarim e cornetim
saxhornbaixo (tuba) e - Trombone - Trombone
congêneres
Seção - Harmonia - Harmonia - Harmonia
preparatória e - Contraponto e fuga - Contraponto e fuga - Contraponto e fuga
complementar de - Instrumentação - Instrumentação - Instrumentação
composição - Composição - Composição - Composição
Seção - Teoria física e
complementar da fisiológica da música e
Seção Vocal, higiene profissional
Instrumental e de
Composição
Fonte: BRASIL. Decretos nos. 6.621, 9.056 e 11.748.

O regulamento do provimento dos cargos docentes deste Decreto previa que com a
vaga para o cargo, o diretor deveria publicar no Diário Oficial um edital para o
preenchimento, com as inscrições abertas por sessenta dias. Os candidatos deveriam requerer
ao conselho docente sua inscrição para o concurso apresentando seus documentos e material
que comprovasse suas produções. Se no Instituto houvesse adjuntos ou livres docentes,
somente eles concorreriam às vagas. Caso não existisse ou nenhum deles tivesse condições de
assumir tal posição, só poderiam se candidatar aqueles que apresentassem prova de boa
conduta moral. Assim, oito dias antes de encerrar as inscrições, deveria ocorrer uma reunião
do conselho docente para eleição de uma comissão de cinco professores para que julgassem e
apresentassem um relatório a respeito dos valores artísticos, literário, científico, pedagógico e
49

moral dos candidatos. Após a leitura do relatório, no qual eram apresentados os candidatos, os
professores deveriam realizar uma votação e venceria o candidato que alcançasse dois terços
dos votos. Apenas o cargo professor de fisiologia e higiene da voz não passaria pelo processo
dos votos dos professores, pois eram de livre nomeação do Governo.

Nas disposições transitórias deste Decreto encontramos em seus Artigos finais a


maneira com que pretendiam organizar o quadro docente. Caberia ao Governo a distribuição
dos professores, que já integravam o corpo docente do INM, às quarenta e duas cadeiras que
agora compunham o quadro de professores, provendo livremente as que restarem. Os lugares
de membros honorários continuavam a vigorar de acordo com o regulamento anterior. Os
auxiliares de ensino de 1ª e 2ª classes, que ainda mantinham seu prazo de nomeação, passaram
a adjuntos e monitores, respectivamente.

Quadro 13: Nomeações ocorridas entre os anos 1911 a 1915 sob o regimento do Decreto N. 9.056/1911.
18/10/1911 Maria Celeste Jaguaribe de Mattos Professora de Solfejo
18/10/1911 Vera Nobrega de Vasconcelos Professora de Solfejo
18/10/1911 Albertina da Fonseca Professora de Solfejo
18/10/1911 Henrique Oswald Professor de Piano
18/10/1911 José da Silva Maia Professor de Teclado
18/10/1911 Eurico de Araújo Costa Professor de Violoncelo
18/10/1911 Nicia Silva Professora de Canto
18/10/1911 Maria Isabel Verney Campello Professora de Canto
18/10/1911 Francisco Chiaffitelli Professor de Violino
18/10/1911 Rodolpho Pfefferkorn Professor de Trompa
18/10/1911 Ismael Guarischi Professor de Trombone
18/10/1911 Jandyra Costa Professora de Harpa
18/10/1911 Dr. Oswaldo Puissegur Professor de Fisiologia e Higiene da Voz
25/10/1911 Carmen Casado Lima Adjunta de Teclado
30/10/1911 Philipe Messina Adjunto de Violino (Curso Noturno)
30/10/1911 Maria Abalo Monteiro Adjunta de Teclado
28/10/1911 Alberto Nepomuceno Órgão e Harmonia
28/10/1911 José Raymundo de Miranda Machado Professor de Clarim e Cornetim
01/11/1911 Mary Alice Coggin Adjunta de Piano
01/11/1911 Custódio Fernandes Góes Adjunto de Piano
01/11/1911 Laura Navarro de Lima Coutinho Adjunto de Piano
01/11/1911 Carmo Marsicano Adjunto de Violino
01/11/1911 Alzira de Miranda Monteiro Adjunto de Piano
09/11/1911 Orlando Frederico Adjunto de Violino
09/11/1911 Olivia Cunha de Siqueira Adjunto de Violino
20/11/1911 Rita de Cassia Oliveira Adjunta de Piano
20/11/1911 Guiomar da Nobrega Beltrão Auxiliar 1ª Classe de Canto
07/12/1911 Carlos Lemos Peixoto Adjunto de Piano
50

27/01/1912 Leonor Granjo Adjunta de Violino


16/04/1913 Almerinda da Costa Freitas Ramalho Monitora de Piano da Prof. Alcina
16/04/1913 Mathilde da Conceição Andrade Monitora de Piano da Prof. Barrozo Netto
01/09/1913 Carlos Lemos Peixoto Adjunto de Piano
13/09/1913 Laura Navarro de Lima Coutinho Adjunto de Piano
13/09/1913 Mary Alice Coggin Adjunto de Piano
16/09/1913 Maria Milone Vaz Adjunta Violino/Sub. Philippe Messina
13/09/1913 Alzira de Miranda Monteiro Manso Adjunto de Piano/Sub. Henrique Oswald
19/09/1913 Custódio Fernandes Góes Adjunto de Piano/Sub. Alfredo Bevilacqua
06/10/1913 Gabriel Dufriche Adjunto de Canto/Sub. Nicia Silva
21/10/1913 Carmo Marsicano Adjunto de Violino/Sub. Ernesto Ronchini
03/04/1914 Alcina Navarro de Andrade Adjunta de Piano/Sub. Almerinda
03/04/1914 Lizette de Lourques Marques Monitora de Piano/Alcina
03/04/1914 Carolina Eugênia de Azevedo Monitora de Piano/Elvira Lobo
23/04/1914 João Sebastião Rodrigues Nunes Adjunto de Piano/Joaquim Barrozo Netto
08/05/1914 Dr. Alberto das Chagas Leite/Sub. O. Puissegur Professor de Fisiologia e Higiene da Voz
27/10/1914 Cecilia Vieira Maia Adjunta Teclado (interina)
30/10/1914 Maria Milone Vaz Adjunta de Violino/Francisco Chiaffitelli
31/10/1914 Maria Abalo Monteiro Adjunta de teclado
12/11/1914 Orlando Frederico Adjunto de Violino/Humberto Milano
29/01/1915 Leonor Granjo Adjunto de Violino/Ricardo Tatti
31/03/1915 Luiz Barboza Lage Professor de Fisiologia e Higiene da Voz
13/04/1915 Zélia da Graça Autran Monitora de Piano/Barrozo Netto
13/10/1915 Cecilia Vieira Maia Adjunto de teclado
Fonte: BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940

O Decreto N.º 11.748, de 13 de outubro de 1915, reorganizou mais uma vez o INM.
Nosso enfoque se dá à sistematização e organização que se pretendia dar ao provimento de
cargos docentes. Pela primeira vez, um Decreto organizava o processo de um concurso
público para preenchimento da vaga de professor no INM, respeitando princípios de igualdade
e competição, com critério da escolha sobre o mérito do candidato que nele poderia se
inscrever livremente.
Assim, nos próximos capítulos, passaremos a analisar o primeiro instrumento jurídico
que estabeleceu as normas condicionantes aos princípios de isonomia e impessoalidade,
mediante concurso público, para o provimento dos cargos docentes, o Decreto N.º 11.748, de
13 de Outubro de 1915, que “Reorganiza o Instituto Nacional de Música”. Para Alberto
Nepomuceno, então diretor, a promulgação desse Decreto simboliza
o fato culminante e que bem revela o zelo, o carinho com que o atual Governo da
Republica encara o problema da instrução entre nós. [...] A instituição do concurso
para a investidura no magistério do Instituto veio colocá-lo em destaque, pela
certeza de que de ora avante a escolha dos docentes recairá em pessoas de
incontestável competência, afastando aqueles que só pelo patrocínio dos amigos
poderiam ascender a um posto no professorado do mesmo Instituto. [...] Muitas
foram as modificações introduzidas no Regulamento em questão, mas basta para
51

realçar a excelência do mesmo a instituição do concurso para livre docente e para


professor, pelo que passarei a tratar de outros assuntos67.

67
Arquivo Nacional. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.
52

Capítulo 2: O primeiro concurso do Instituto Nacional de Música,


teoria e solfejo (1916): “Mau começo, péssimo fim”

2.1 Atos administrativos e provas


O concurso iniciado com a publicação no Diário Oficial de 14 de abril de 1916
deveria ser um momento emblemático da ordenação do Instituto aos princípios republicanos.
Entretanto, acabou resultando no pedido de demissão de Alberto Nepomuceno do cargo de
diretor do Instituto Nacional de Música, comunicado, não por ofício endereçado ao Ministro
do Interior como rezava o protocolo, mas por meio de uma declaração publicada no periódico
A Época, em 27 de outubro de 1916.
Essa conduta era uma resposta ao Ministro Carlos Maximiliano Pereira dos Santos,
que também havia noticiado por meio da imprensa a sua deliberação sobre a celeuma em que
havia se transformado o concurso para o cargo de professor de teoria e solfejo68. Nela, o
Ministro desmoralizava publicamente o diretor do INM e a banca do concurso público.
A cadeira de solfejo estava vaga desde novembro de 1915, com a aposentadoria do
professor Henrique Braga (1845-1917), que exerceu o cargo desde a criação do Instituto
Nacional de Música, em 1890. O então diretor entendia que este concurso poderia ser uma
ótima oportunidade para demonstrar à sociedade os padrões éticos que regiam o processo de
escolha dos professores da Casa e sua adequação ao Decreto N.º11.748 de 13 de outubro de
1915 que estabelecia novas regras para a admissão de professores no estabelecimento. 69
Chegou mesmo a indeferir o pedido do professor de clarineta, Francisco Nunes Júnior
(1875-1934), que solicitou sua transferência para aquela cadeira. Relata Avelino Romero que,
em sessão do Conselho Docente, Nepomuceno alegou que, atendendo a tal solicitação, o
concurso seria postergado, o que poderia afetar a idoneidade do Instituto e de seu corpo
docente.70
O Decreto N.º11.748 regulamentava pela primeira vez um concurso para o cargo de
professor do INM. Nepomuceno, que já enfrentara dificuldades com o Carlos Maximiliano
em relação às obras do novo prédio do INM, procuraria por em prática a nova lei criada pelo
Ministro, seguindo à risca todos os pontos deste documento.
O Decreto, em seu capítulo V, “do provimento dos cargos docentes”, indicava que
68
A EPOCA. Um concurso de solfejo que acabou desafinando. O maestro Nepomuceno, magoado com o sr.
ministro, pede sua demissão. Uma palestra com o ex-diretor do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 27
de outubro de 1916, p. 1.
69
BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Decreto N.º 11.748, de 13 de outubro de 1915:
Reorganiza o Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915.
70
PEREIRA, Avelino Romero. Música, sociedade e política: Alberto Nepomuceno e a República Musical. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
53

com o surgimento da vaga para professor, o diretor deveria mandar publicar no Diário Oficial
da União o edital para o concurso com o prazo de cento e vinte dias para as inscrições dos
candidatos71. Esta inscrição deveria ser realizada em dias úteis, de onze da manhã às quinze
da tarde, na secretaria do Instituto Nacional de Música. Uma cópia do edital deveria ser
remetida ao Ministério do Interior para ser enviada aos outros estados, com a finalidade de ser
publicada nos diários oficiais estaduais. O edital deveria ser republicado em várias edições até
a última semana das inscrições. Caso o prazo expirasse durante as férias, as inscrições seriam
mantidas abertas durante três dias úteis que se seguissem até o término delas.
O candidato deveria ser brasileiro e estar no gozo de seus direitos civis e políticos, ou
estrangeiro, mas que falasse português. Para realizar a inscrição o candidato deveria enviar
um requerimento ao diretor anexando sua “folha corrida”72, e se fosse estrangeiro, enviar
documento equivalente, devidamente legalizado. A inscrição no concurso poderia ser feita
também por procuração. Além desta documentação, os candidatos poderiam enviar quaisquer
outros documentos oportunos, como títulos de idoneidade ou comprovação de serviços
prestados à arte e ao Estado.
De acordo com o Art. 51, haveria provas teóricas e práticas segundo a natureza da
matéria abordada, podendo ser prestadas oralmente, por escrito ou no instrumento,
observando o programa próprio de cada concurso. O concurso para cadeira de solfejo incluía
um programa que englobava nove provas, sendo as seis primeiras obrigatórias e, caso o
candidato desejasse realizar a de número 9 também deveria cumprir a de número 8:
1. Teoria geral da música;
2. Ditado musical de grande dificuldade, tocado por frases ao piano ou harmônio por
três vezes no máximo;
3. Realização de um canto ou baixo dado a quatro partes;
4. Execução ao piano de uma peça, correspondente ao quarto ano do curso de piano
do INM, que seria indicada quinze dias antes do concurso;
5. Composição de solfejos e ditados para classe, segundo a indicação da comissão
no momento da prova;
6. Noções e provas práticas de canto;
7. Conhecimentos de teoria física e fisiológica da música (facultativa);
8. Composição de uma fuga a quatro partes sobre um tema dado pela comissão
(facultativa); e
9. Realização, à pedra, de contrapontos duplos, triplos e quádruplos invertíveis
(facultativa).

Algumas dessas provas se dividiam em duas, contabilizando no total 12 avaliações


com pontuações distintas: ditado, composição de ditado, composição de solfejo, harmonia,

71
“Se, terminado o prazo, ninguém se houver inscrito, o diretor deverá prorrogá-lo por igual tempo, e assim
sucessivamente, até que se verifique a inscrição, continuando a reger, interinamente, a cadeira vaga, até o seu
provimento, o docente que, para tal fim, tiver sido designado ou nomeado”. Art. 49. Decreto N.º 11.748
72
A Folha Corrida é um documento que comprova que, até a data de sua emissão, o cidadão que o requereu não
possui condenações criminais transitadas em julgado cujo cumprimento ainda esteja em andamento.
54

fuga, teoria (dissertação), teoria (pedagógica), canto (prática), canto (dissertação), piano,
teoria física e fisiológica e contraponto.
No dia 18 de maio, por ordem do diretor, o secretário Arthur Tolentino da Costa
publicou no Diário Oficial que estavam afixadas as instruções para o concurso de solfejo, de
acordo com o edital publicado no mesmo informativo de 14 de abril73. As instruções foram
afixadas no mural do INM e apresentavam de maneira detalhada o conteúdo das provas que
seriam aplicadas:
Quadro 14: Conteúdo das provas (concurso de solfejo, 1916)
TEORIA GERAL DA MUSICA
a) Música (definição) e seu fim;
b) Escala musical geral;
c) Origem dos monossílabos com que se designam as notas;
I d) Constituição dos diferentes modos;
e) Diferentes acepções do termo tonalidade;
f) Formação das diversos gamas (escalas) que o nosso sistema musical atual comporta,
diatônicas e cromáticas;
g) Notas principais modais e atrativas no tom;
h) Maneira de conhecer o tom e modo de um trecho;
II i) Notas comuns e diferenciais entre tons;
j) Afinidades entre tons;
k) Modulação. Processos empregados na modulação melódica; notas transitivas e limítrofes;
III l) Ornamentos – sinais e modo de executá-los;
m) Acordes: perfeito maior, menor e de 5ª diminuta;
n) Acordes dissonantes naturais;
IV
o) Formação das escalas, tonalidade em geral;
p) Alterações e agregações que se podem fazer nos acordes em geral;
q) Ritmo – Noção e condições do ritmo na antiguidade;
r) Noção do ritmo na atualidade;
s) Compasso – Modos de compreendê-lo e de aplicá-lo a um trecho musical.
V A prova será oral e constará de uma dissertação sobre um ponto do programa á
escolha do candidato, que poderá ser argüido sobre este ou outros pontos do
programa, se a mesa o julgar conveniente. A dissertação durará no máximo uma
hora.
NOÇÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS DE CANTO
a) Anatomia sumária dos aparelhos respiratórios e fonador;
b) Voz humana;
c) Respiração e emissão;
d) Extensão das vozes;
I
e) Entoação;
f) Processos que facilitam entoações difíceis.
O candidato cantará um trecho á sua escolha e fará uma dissertação abrangendo
todos os assuntos do programa e que durará meia hora, no máximo.
CONHECIMENTOS DE TEORIA FÍSICA E FISIOLÓGICA DA MUSICA
(Facultativa)
a) Teoria do som; ruído e som musical; propagação do som; fenômenos resultantes da
I
coexistência de dois ou mais sons; produção; produção do som nos instrumentos musicais;
II b) Anatomia sumária do aparelho auditivo no homem. Mecanismo da audição;
c) Afinidades entre os sons. Consonância e dissonância; dissonâncias entre sons isolados e no
discurso musical.
III
A prova será oral e constará de uma dissertação sobre um ponto do programa, á
escolha do candidato, que poderá ser argüido sobre este ou outros pontos

73
BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Instituto Nacional de Música. Diário Oficial da União.
Editais e Avisos. Rio de Janeiro, 18 de maio de 1916, p. 5884.
55

constantes do programa, se a mesa julgar conveniente. A dissertação durará no


máximo meia hora.
Fonte: ANRJ IE 7 94.92. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca 1914-1916.

O INM deveria no dia seguinte ao encerramento das inscrições e por meio da


publicação em edital, divulgar os nomes dos candidatos inscritos. No “Livro de inscrição em
concurso do magistério e livre docência” encontramos o quadro com a relação dos
candidatos, data das inscrições, a cadeira para a qual prestaria o concurso e os termos de
abertura e encerramento das inscrições74. Seis candidatos concorriam ao posto, a saber, por
ordem de inscrição: Roberta Gonçalves de Souza Brito, Octavio Bevilacqua, Raphael
Bernabei (inscrição realizada pelo procurador Manoel Martins de Paula), Homero de Sá
Barreto e Maria Clara de Menezes Lopes, que interinamente ocupava a posição desde 1913.
De acordo com o disposto no Artigo 89, N.º 9 o secretário deveria lavrar e assinar com
o diretor todos os termos de abertura e encerramento das inscrições para os concursos ao
magistério; e com os membros das comissões julgadoras os termos referentes aos concursos a
prêmio.
O termo de encerramento das inscrições, de igual modo, foi assinado pelo diretor e
pelo secretário, no dia 12 de agosto de 1916 e neste ocorre um lapso ao confundir o
encerramento da inscrição do concurso para a cadeira de solfejo e registra violino. Isto pode
ser explicado devido ao fato de o concurso para a cadeira de violino ter sido aberto no dia 11
do mês anterior.
Aos doze dias do mês de agosto de mil novecentos e dezesseis, ás quinze horas,
verificando o Sr. Diretor deste Instituto Nacional de Música achar-se esgotado o
prazo de cento e vinte dias, estabelecidos de acordo com o art. 43 do Regulamento
em vigor, no edital deste Instituto, publicado no “Diário Oficial” de 14 de abril do
referido ano, para a inscrição ao concurso para provimento de uma cadeira de
violino (grifo nosso) digo de, solfejo, mandou que se lavrasse o presente termo de
encerramento que vai ser por ele assinado e pelo secretário, na conformidade do art.
89 nº 9, do citado Regulamento. Secretaria do Instituto Nacional de Música, 12 de
agosto de 1916.

No quadro abaixo podemos observar que os candidatos se inscreveram nos últimos


dias antes do encerramento das inscrições, sendo três deles no último dia e os outros dois nas
vésperas.

74
Biblioteca Alberto Nepomuceno. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Livro de
inscrição em concurso do magistério e livre-docência, 1903-1996. Atas v. 65.
56

Quadro 15: Lista de candidatos (concurso de solfejo, 1916)


Data inscrição Candidato Inscreve-se para prof.de
1916 agosto 9 Roberta Gonçalves de Souza Brito Solfejo
1916 agosto 11 Octavio Bevilacqua Solfejo
Raphael Bernabei, por seu bastante procurador
1916 agosto 12 Solfejo
Manoel Martins de Paula
1916 agosto 12 Homero de S. Barreto Solfejo
1916 agosto 12 Maria Clara Camara de Menezes Lopes [Não há]

Anexo ao formulário de inscrição, os candidatos apresentaram alguns documentos


relativos a seus estudos, premiações e atuações na área da música. A candidata Roberta
Gonçalves de Souza Brito, ex-aluna do INM, apresentou os certificados de exame final de
solfejo (canto coral), exame final de harmonia, exames dos primeiro e segundo anos de
contraponto, todos com distinção por suas notas; o certificado de aprovação plenamente em
contraponto e fuga; o certificado do exame de suficiência do nono ano de piano, com a nota
habilitada; certidão de primeiro premio de piano, medalha de ouro. Todos os seus certificados
foram emitidos pelo INM, e lá também exerceu monitoria de teclado.
O candidato Octavio Bevilacqua apresentou uma única documentação, a de ser livre
docente de solfejo no INM, interinamente, de abril a novembro de 1915. O italiano Raphael
Bernabei teve sua inscrição realizada pelo procurador Manoel Martins de Paula que
apresentou certificados das premiações que recebeu na classe de solfejo no Instituto Musical
de Orvieto e nas classes de oboé e harmonia quando estudante da Academia de Santa Cecília,
em Roma, onde também recebeu uma menção honrosa na classe de harmonia. Junto a esta
documentação, Bernabei apresentou diversas declarações de regentes italianos pelo seu bom
desempenho como oboísta em diversos teatros, bem como várias apreciações da imprensa
italiana. No final da documentação havia o certificado de exercício do cargo de professor
contratado de oboé e auxiliar de solfejo no Conservatório Dramático de São Paulo e uma
Gramática Musical compilada pelo candidato.
Os dois últimos candidatos inscritos também possuíam em seus históricos passagem
pelo INM: Homero de Sá Barreto e Maria Clara Câmara de Menezes Lopes. Barreto
apresentou certificados de distinção nos exames do quinto ano de piano, harmonia,
contraponto e fuga; títulos de nomeação para o cargo de monitor de teclado e de docente da
cadeira de música da Escola Normal. Maria Clara, não apresentou nenhum certificado, apenas
uma declaração do secretário do INM que ocupava interinamente a cadeira de solfejo que
estava em concurso.
Por seus títulos, os candidatos provaram idoneidade suficiente para se inscreverem no
concurso. Entretanto, a comissão fez uma restrição sobre a Gramática Musical apresentada
57

em manuscrito pelo candidato Raphael Bernabei, por entenderem que nela constavam
conceitos absurdos e inaceitáveis.75
O concurso ocorreu nos dias 29 a 31 de agosto, 4, 5, 6, e 11 de setembro de 1916 e sua
comissão julgadora se reuniu no dia anterior ao início das provas na sala da biblioteca do
Instituto Nacional de Música, na Rua Dr. Joaquim Nabuco, atual Rua do Passeio. A formação
do corpo de jurados estava a cargo do diretor, que poderia escolher pessoas que não faziam
parte do corpo docente do Instituto. E, caso algum membro não comparecesse, poderia ser
nomeado outro, mesmo em “última hora”76. Faziam parte da comissão o “membro honorário
e professor extraordinário honorário”, José Rodrigues Barboza; e os professores Frederico do
Nascimento, José de Lima Coutinho, Arnaud Duarte de Gouvêa, Francisco Braga e Carlos
Alves de Carvalho, sob a presidência do diretor Alberto Nepomuceno.
Nesta reunião, depois de ampla discussão, ficou resolvido que o ditado musical a que
se referia a prova número 2 do programa, seria tocado integralmente uma vez, e depois tocado
por frases; fossem escritos no mínimo cinco ditados inéditos para um deles ser tirado à sorte
por um dos candidatos. A prova de número 5, composição de ditados e solfejos para classe,
seria realizada sobre um motivo dado pela comissão no ato da prova. Também foi
determinado que se procedesse à correção das provas escritas assim que concluído o
concurso, podendo a comissão, no seu entender, examiná-las logo após as provas,
depositando-as, convenientemente lacradas, sob a guarda do diretor. As provas 2 e 5 seriam
realizadas no dias 29, e no dia seguinte seria a “realização de um canto ou baixo dado a quatro
partes”; no dia 31 de agosto, aconteceria a prova facultativa “composição de uma fuga a
quatro partes”.
Além da dissertação sobre um dos pontos de teoria geral da música que o candidato
era obrigado a fazer, por força das instruções de 17 de maio, também deveria discursar sobre
um destes temas, sorteados no dia das provas: intervalos; escalas, sua formação e tonalidades;
notas comuns nos tons entre elas (afinidade).
Não se tratando de um concurso para professor de harmonia, a comissão não exigia
muita complexidade no desempenho das provas de número 3 e 8. Para a realização de um
canto ou baixo dado a quatro partes, o candidato poderia redigir uma prova de fácil
compreensão a partir de um tema tirado à sorte. A prova (facultativa) de composição de uma
fuga a quatro partes seria realizada sobre um tema simples e curto, sorteado dentre vários

75
ARQUIVO NACIONAL. Concurso de Solfejo do INM. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca
1914-1916. Loc. IE 7 94, 92.
76
BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Decreto N.º 11.748, de 13 de outubro de 1915:
Reorganiza o Instituto Nacional de Música, Artigo 52. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915.
58

optados pela comissão. E esta só seria obrigatória para o candidato que optasse realizar a de
número 9, na qual o candidato deveria realizar um contraponto duplo à oitava e que definisse
o modo de fazer o de 10ª e 12ª, assim como o processo de realizar os contrapontos triplos e
quádruplos, exemplificando, se assim entendesse a comissão.
Por fim, a comissão definiu que os pontos de prova escrita a que se referiam as provas
de números 2, 3, 7 e 8 seriam numerados e tirados à sorte, verificando o número de
concorrentes, neste caso cinco, e assim, depositado na urna igual número de cédulas contendo
uma delas um sinal preto, a fim de ser sorteado o ponto por aquele a quem coubesse a cédula
assinalada.77
Em 29 de agosto de 1916, o diretor Alberto Nepomuceno deu início às provas do
primeiro concurso para o cargo de professor do INM de acordo com as novas regras
estabelecidas pelo Decreto de 1915. A banca organizada por Nepomuceno era composta por
professores que exerciam o magistério por longa data na instituição78. As provas práticas
seriam públicas, o que não poderia ocorrer nas escritas, pois estas seriam realizadas em uma
ou mais salas, devendo sempre haver a presença de ao menos dois membros da comissão
julgadora, com a finalidade de garantir o silêncio necessário e que não houvesse consulta a
livros ou notas por parte dos candidatos.
Terminado o prazo das provas escritas, que poderiam variar de acordo com o
determinado pela comissão, as folhas utilizadas pelos candidatos eram rubricadas no verso
pelos membros da comissão e lacradas em envelopes que ficavam sob a guarda do diretor. 79
O primeiro dia de provas teve início às 11h, na sala 12 do INM. Com todos os
membros da comissão julgadora do concurso presentes e os cinco candidatos inscritos, foram
apresentados pelos membros da comissão sete ditados musicais, seis temas para composição
de ditados e solfejo para classe. Este material foi utilizado na aplicação das provas de ditado
musical de grande dificuldade e na de composição de solfejos e ditados para classe. Em
seguida estes pontos foram, depois de aprovados pela comissão, numerados para sorteio.
Após a realização da chamada e comprovada a presença de todos os candidatos, o
diretor apresentou o processo que se daria para o sorteio da primeira prova. Cada um dos
candidatos retirou uma cédula da urna. A Octavio Bevilacqua coube a cédula que indicava
para prova escrita o ditado número 7, de autoria do membro honorário Rodrigues Barboza. O

77
BIBLIOTECA ALBERTO NEPOMUCENO. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Atas
de Concurso da Carreira do Magistério EM/UFRJ V. 1: 1916-1935. Registro 4021/2013. N.º Sist.: 799875.
ADEM AI/EM/UFRJ Atas V. 22.
78
Caso algum professor da comissão não pudesse estar presente, outro lhe professor poderia vir a substituí-lo.
79
BRASIL. Decreto N. 11.748/1915, Arts. 53-57.
59

professor Arnaud Gouvêa, membro da comissão, foi apontado para tocar ao piano o ditado
sorteado, e no tempo determinado, os candidatos deveriam apresentar sua transcrição.
Figura 1. Ditado composto por Rodrigues Barboza.

Fonte: Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: 92 IE794.

Em seguida, os candidatos realizaram a prova de composição de solfejos e ditados


para classe, feita sobre temas escritos pelo professor Gouvêa que foram sorteados pelo
processo estabelecido. No segundo dia, os candidatos realizaram a avaliação que propunha a
realização de um canto dado, sendo sorteado o tema de número 1, escrito por Alberto
Nepomuceno. Terminadas as provas, o diretor convocou os membros da comissão para
prosseguirem as aplicações das provas no dia seguinte às nove da manhã.
Figura 2. Canto dado proposto por Alberto Nepomuceno.

Fonte: Arquivo Nacional, Rio de Janeiro: 92 IE7 94.

A primeira parte das aplicações das provas do concurso se encerrou em 31 de agosto


com a prova (facultativa) de composição de uma fuga a quatro partes sobre um tema dado
pela comissão. Compareceram, neste dia, três dos cinco candidatos, Roberta Gonçalves,
Octavio Bevilacqua e Homero Barreto, isolados em diferentes salas para a realização de uma
fuga a quatro vozes tendo sido sorteado para este o canto número 3.
Figura 3. Canto dado para a prova de fuga.

Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94.

O primeiro candidato que concluiu o trabalho foi Octavio Bevilacqua, seguido de


Homero Barreto e Roberta Gonçalves. Procedendo de igual modo às avaliações dos demais
60

dias, as provas foram postas em envelopes devidamente lacrados e selados com o selo do
Instituto e ficaram sob a guarda do diretor. Terminadas esta etapa, o diretor convocou os
membros para dar continuidade nas aplicações das provas orais, que teriam início no dia 4 de
setembro, às 13h, no edifício da Escola Nacional de Bellas Artes, pois lá havia espaço
adequado para assistência das provas públicas do concurso.
Além da presença do diretor Alberto Nepomuceno e da comissão julgadora do
concurso de solfejo, neste dia os candidatos também contaram com a presença do Ministro da
Justiça e Negócios Interiores, Dr. Carlos Maximiliano Pereira dos Santos. As provas
iniciaram-se às 13h30min no salão de honra da Escola Nacional de Bellas Artes, e apenas dois
dos candidatos tiveram tempo de apresentar suas dissertações referentes à prova de teoria
geral da música naquele dia, Roberta Gonçalves e Octavio Bevilacqua.
A primeira dissertou sobre o ponto quatro: acordes perfeito maior, menor e de quinta
diminutas; acordes dissonantes naturais, formação das escalas, tonalidade em geral, alterações
e agregações que se podem fazer aos acordes em geral. O trabalho apresentado por
Bevilacqua trazia noções e condições do ritmo da antiguidade aos “tempos atuais”;
compassos, modos de compreendê-los e aplicá-los a um trecho musical e estava de acordo
com o ponto cinco das instruções. Concluído o tempo dos trabalhos daquele dia, os candidatos
fizeram a entrega do que haviam redigido à comissão.
No dia seguinte, os trabalhos foram iniciados às 12h, ainda com a presença do Sr.
Ministro. Apresentaram-se para a avaliação os três outros candidatos, Raphael Bernabei,
Homero Barreto e Maria Clara Menezes. Observando o mesmo ponto das instruções para a
prova de teoria geral da música, estes candidatos apresentaram suas considerações sobre
música (definição) e seus fins; escala musical, origem dos monossílabos com que se designam
as notas; constituição dos diferentes modos; as diferentes acepções do termo tonalidade;
formação das escalas cromática e diatônicas de acordo com o sistema musical daquele
período.
As últimas provas aconteceram nos dias 6 e 11 de setembro. Como de praxe, o
encarregado realizou a chamada dos candidatos de acordo com ordem de inscrição. Com a
presença de todos, deram início à prova pedagógica que aludia às instruções de número seis
da reunião do dia 28 de agosto. De acordo com as instruções, o candidato deveria apresentar,
além da dissertação sobre um dos pontos de teoria geral da música, conhecimentos sobre a)
intervalos; b) escalas (formação e tonalidades); ou c) notas comuns nos tons entre elas. No ato
da prova, a comissão alterou a regra de sorteio de um dos pontos e resolveu que todos os
candidatos deveriam dissertar sobre os pontos a e c, por terem os candidatos já apresentado
61

anteriormente conhecimentos sobre o ponto b.


Após a conclusão desta prova, os candidatos realizaram a prova de piano, a de número
quatro do programa de provas. Todos os candidatos executaram, conforme determinava o
edital, uma peça do programa do quarto ano do curso de piano do INM. Desta forma, a peça
escolhida foi o Adagio Cantabile da Sonata em Mib, de Joseph Haydn.
Ao fim deste dia, o diretor suspendeu os trabalhos e convocou todos para que no dia
11 de setembro fossem concluídas as aplicações das provas do concurso de solfejo. O diretor
alertou que por várias circunstâncias – não foi possível localizar quais seriam estas – não seria
possível prosseguir com o concurso antes daquele dia. A plateia presente às provas públicas
viria, assim, a contar com um participante a menos, o Ministro da Justiça.
Para a prova de número seis do programa, noções e provas práticas de canto, os
candidatos Octavio Bevilacqua e Homero Barreto apresentaram composições próprias,
respectivamente: Soneto, letra de Camões; e o romance Esperanças e desenganos com letra
do Pe. Antonio Thomaz. Roberta Gonçalves apresentou Padre Nosso, de Glauco Velasquez;
Raphael Bernabei executou Pietà, Signore, composição do seu conterrâneo Stradella; por
último, Maria Clara Lopes cantou Je t’aime, de Massenet. Em seguida, concluindo esta
avaliação, todos os candidatos dissertaram sobre noções teóricas e práticas em canto.
Apenas o candidato Raphael Bernabei não realizou a prova de número 7,
conhecimentos de teoria física e fisiológica da música, por ser facultativa. A candidata
Roberta Gonçalves dissertou sobre mecanismo da audição; Octavio Bevilacqua sobre
afinidade entre os sons, consonância e dissonância, dissonância entre sons isolados e no
discurso musical; Homero Barreto e Maria Clara Lopes sobre teoria do som, ruído e som
musical, propagação do som, fenômenos resultantes da coexistência de dois ou mais sons,
produção do som nos instrumentos musicais.
Tendo realizado a prova de número 8 do programa, os candidatos Roberta Gonçalves,
Octavio Bevilacqua e Homero Barreto eram obrigados de acordo com as instruções do
concurso, a realizara prova de número 9, que consistia na realização, à pedra80, de
contrapontos duplos, triplos e quádruplos invertíveis. Para esta prova foram submetidos três
cantos e o sorteado foi o de número um.
Figura 4. Baixo dado utilizado pelos candidatos para realização da prova de contraponto.

Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94

80
No quadro negro.
62

Após a aplicação desta prova, Nepomuceno deu por concluída esta etapa do concurso
e convocou a comissão julgadora para elaborar o relatório sobre as avaliações ocorridas
naqueles dias. No dia 13 de setembro, de volta à sala da biblioteca do INM, a banca resolveu
designar quais os membros que realizariam o relatório final do concurso. Assim que foi aberta
a sessão, Rodrigues Barboza propôs que os professores Lima Coutinho, Arnaud Gouvêa e
Francisco Braga produzissem o documento. O professor Nascimento lembrou que a condição
primária para a elaboração do relatório deveria ser o julgamento das provas e a classificação
dos candidatos. Depois do acordo de todos a respeito da proposição de Nascimento, o diretor
procedeu à abertura dos pacotes de provas para análise e votação para primeiro, segundo e
terceiro lugares, resultado que apresentamos nos quadros abaixo:
Quadro 16: Resultados do concurso – Roberta Gonçalves
Roberta Gonçalves J. Rodrigues Frederico do J.de Lima Arnaud D. Francisco Carlos Alves
de Souza Brito Barboza Nascimento Coutinho de Gouvêa Braga de Carvalho
Ditado 1º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar
Composição de ditado 3º lugar 3º lugar 3º lugar 2º lugar 1º lugar 3º lugar
Composição de solfejo 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 1º lugar 2º lugar
Harmonia - - - - 3º lugar -
Fuga 3º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 3º lugar
Teoria – dissertação 2º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria – pedagógica 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Canto – prática 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – dissertação 3º lugar 3º lugar 3º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Piano 1º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Teoria física e
2º lugar 2º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
fisiológica
Contraponto 1º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
1º lugar: 2º lugar: 3º lugar:
TOTAL
23 votos 26 votos 18 votos
Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94
Obs.: Na ata consta que Rodrigues Barboza deu quatro votos para o terceiro lugar, mas só aparecem três das provas. Deduzimos que a quarta
nota seja na prova de canto (prática) por conta de que o número de votos nesta prova ter sido igual a seis.
Quadro 17: Resultados do concurso – Otávio Bevilacqua
J. Rodrigues Frederico do J.de Lima Arnaud D. Francisco Carlos Alves
Octavio Bevilacqua
Barboza Nascimento Coutinho de Gouvêa Braga de Carvalho
Ditado 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar
Composição de ditado 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar
Composição de solfejo 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Harmonia 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar
Fuga 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Teoria – dissertação 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Teoria – pedagógica 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Canto – prática 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – dissertação 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Piano 1º lugar 1º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria física e
1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
fisiológica
Contraponto 2º lugar 1º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
1º lugar: 2º lugar: 3º lugar:
TOTAL
53 votos 13 votos 6 votos
Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94
63

Quadro 18: Resultados do concurso – Raphael Bernabei


J. Rodrigues Frederico do J.de Lima Arnaud D. Francisco Carlos Alves
Raphael Bernabei
Barboza Nascimento Coutinho de Gouvêa Braga de Carvalho
Ditado - - - - - -
Composição de ditado 3º lugar 3º lugar 3º lugar - 3º lugar -
Composição de solfejo 3º lugar - 3º lugar 3º lugar 2º lugar 3º lugar
Harmonia - - - - - -
Fuga [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há]
Teoria – dissertação 3º lugar 2º lugar 3º lugar - 3º lugar -
Teoria – pedagógica 2º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – prática 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – dissertação 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Piano 3º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 3º lugar 2º lugar
Teoria física e
[Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há]
fisiológica
Contraponto [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há]
1º lugar: 2º lugar: 3º lugar:
TOTAL
0 votos 8 votos 29 votos
Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94

Quadro 19: Resultado do concurso - Homero de Sá Barreto


J. Rodrigues Frederico do J.de Lima Arnaud D. Francisco Carlos Alves
Homero de Sá Barreto
Barboza Nascimento Coutinho de Gouvêa Braga de Carvalho
Ditado 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Composição de ditado 1º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar
Composição de solfejo 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Harmonia 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 1º lugar 2º lugar
Fuga 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria – dissertação 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria – pedagógica 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Canto – prática 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – dissertação 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Piano 1º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria física e
2º lugar 2º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
fisiológica
Contraponto 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
1º lugar: 2º lugar: 3º lugar:
TOTAL
27 votos 38 votos 7 votos
Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94

Quadro 20: Resultado do concurso – Maria Clara Camara de Menezes Lopes


Maria Clara Camara de J. Rodrigues Frederico do J.de Lima Arnaud D. Francisco Carlos Alves
Menezes Lopes Barboza Nascimento Coutinho de Gouvêa Braga de Carvalho
Ditado - - - - - -
Composição de ditado 2º lugar - 2º lugar - 3º lugar -
Composição de solfejo 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 2º lugar 3º lugar
Harmonia 3º lugar - 3º lugar - 3º lugar -
Fuga [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há]
Teoria – dissertação 3º lugar - 3º lugar - 3º lugar -
Teoria – pedagógica 2º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – prática 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – dissertação 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Piano 2º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria física e
2º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar - 2º lugar
fisiológica
Contraponto [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há] [Não há]
1º lugar: 2º lugar: 3º lugar:
TOTAL
2 votos 14 votos 28 votos
Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94
64

Observando estes quadros, chamam-nos atenção as classificações das provas de ditado


dos candidatos Maria Clara e de Raphael Bernabei, considerados insuficientes, por todos os
membros da banca, ou seja, sem rendimento suficiente para receber a indicação para primeiro,
segundo ou terceiro lugares. Homero Barreto foi o único candidato que recebeu seis votos
para primeiro lugar, seguido por Roberta Gonçalves, com cinco indicações para primeiro
lugar e Octavio Bevilacqua, com quatro, que por sua vez conceituou Barreto para primeiro e
Bevilacqua para terceiro.
Em se tratando de um concurso para professor de solfejo, dentre todas as provas, as
que mais poderiam conduzir para a eleição do candidato, seria a prova de composição de
ditado e solfejo. Coincidentemente, a soma dos votos de ambas a provas já previa o resultado
final do concurso: Octavio, 11 votos; Homero, 10 votos; e Roberta, 2 votos. Os demais
candidatos, Raphael e Maria Clara não receberam nenhuma pontuação para o primeiro lugar,
apenas segundo e terceiros lugares, e por alguns professores, foram considerados
“deficientes”. 81
Assim foi considerada Roberta Gonçalves na sua prova de harmonia, exceto pelo
professor Francisco Braga que lhe abonou voto para o terceiro lugar. Nesta mesma prova,
Raphael não recebeu nenhuma pontuação e Maria Clara apenas votos para terceiro lugar, de
Rodrigues Barboza, Lima Coutinho e Braga. Octavio Bevilacqua mais uma vez garantiu o
maior número de votos para o primeiro lugar, sendo que Braga lhe deu nota para o segundo
lugar e para Homero Barreto, o primeiro, promovendo a diferença na distribuição de pontos.
Os candidatos Raphael Bernabei e Maria Clara não prestaram as provas de fuga e
contraponto. Octavio Bevilacqua foi o candidato que mais recebeu pontuação de primeiro
lugar na prova de fuga e Roberta Gonçalves na prova de contraponto. Em ambas, Homero
Barreto recebeu de todos os jurados pontuações para o segundo lugar.
Nas provas de teoria (dissertação e prática), o candidato Octavio Bevilacqua, recebeu
a totalidade de doze votos para o primeiro lugar e Homero Barreto seis votos para o primeiro
lugar. Na prova prática e na dissertativa, recebeu seis votos para o segundo. Roberta, não
recebeu nenhuma pontuação para primeiro lugar, apenas para segundo e terceiro. Igualmente
Raphael e Maria Clara somente receberam votos para o segundo e terceiros lugares, sendo que
na prova dissertativa de teoria, Raphael não recebeu nota de Arnaud Gouvêa e Carlos Alves
de Carvalho; e Maria Clara também é classificada “deficiente” nesta mesma prova pelos
jurados mencionados e por Frederico Nascimento. Na prova pedagógica, os dois últimos

81
Termo utilizado pelos jurados.
65

receberam votos para segundo e terceiros lugares.


Todos os candidatos de igual modo receberam votos para terceiro lugar por todos os
membros da banca na prova prática de canto. E na prova dissertativa de canto apenas Octavio
e Roberta alcançaram votos de primeiro lugar, seis e três votos, respectivamente. Os demais
receberam votos para segundo e terceiro lugares e nenhum voto “deficiente” nesta última.
A candidata Roberta Gonçalves, que havia conquistado a premiação “Medalha de
Ouro” em piano do INM em outra ocasião, garantiu a maior pontuação para primeiro lugar na
prova de piano, 5 votos com exceção de Frederico Nascimento que, com Rodrigues Barboza,
concedeu o voto de primeiro lugar a Octavio Bevilacqua. À candidata Maria Clara,
Nascimento e Lima Coutinho conferiram pontuação máxima. Homero Barreto obteve apenas
um voto para o primeiro lugar nesta prova, o de Rodrigues Barboza; e Raphael Bernabei votos
para segundo e terceiro lugares.
A prova facultativa “teoria física e fisiológica” foi realizada por todos com exceção do
italiano Bernabei. O candidato que melhor pontuação obteve foi Octavio Bevilacqua, com seis
votos, seguido do empate de Homero e Roberta, com três votos de Arnaud Gouveia,
Francisco Braga e Carlos de Carvalho. Maria Clara recebeu votos para o segundo e terceiro
lugares, porém, sua apresentação não agradou a Francisco Braga que não lhe deu nenhuma
pontuação.
Abaixo podemos observar o número de votos para primeiro, segundo e terceiro lugar
que cada membro da banca outorgou a cada um dos candidatos. Pelo somatório de votos para
primeiro lugar, define-se a lista classificatória.
Quadro 21: Notas obtidas por cada candidato.
Roberta Octavio Raphael Homero Maria Clara

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Rodrigues Barboza 3 4 4 10 1 1 - 1 6 5 6 1 - 4 5
F. do Nascimento 1 5 5 11 - 1 - 1 5 3 7 2 1 - 5
Francisco Braga 7 3 2 6 5 1 - 1 6 6 5 1 - 2 6
Lima Coutinho 3 5 3 8 3 1 - 2 5 4 7 1 1 3 5
Arnaud Gouvêa 4 6 1 9 2 1 - 2 3 5 6 1 - 3 3
Carlos de Carvalho 5 3 3 9 2 1 - 1 4 4 7 1 - 2 4
Soma 23 26 18 53 13 6 - 8 29 27 38 7 2 14 28

A apuração dos votos aconteceu no dia 18 de setembro e, de acordo com o conjunto


dos votos para primeiro lugar o candidato Octavio Bevilacqua foi o vencedor do concurso,
com 53 votos; Homero Barreto ficou em segundo lugar, com 27 votos; e Roberta Gonçalves
em terceiro, com 23 votos. Maria Clara obteve apenas dois votos para primeiro lugar e
nenhum voto para o italiano Raphael Bernabei.
66

Neste mesmo dia, de acordo com o Art. 61 do regulamento em vigor, concluída a


correção e avaliação das provas, os membros da comissão deveriam eleger os responsáveis
pela elaboração do relatório do concurso. Este deveria abranger os desempenhos atingidos nas
provas, a competência dos candidatos, e a avaliação dos títulos apresentados no ato da
inscrição.
Na verdade, não houve uma eleição propriamente dita, Rodrigues Barboza fez a
indicação dos professores Frederico do Nascimento, Arnaud Duarte de Gouvêa e Carlos Alves
de Carvalho para tal tarefa, o que foi aceito pelos demais. A comissão concluiu o relatório em
19 de setembro apresentando a colocação de cada candidato, de acordo com o observado no
quadro acima, além de enfatizar que, no conjunto desses votos, também se inserem as notas
das provas facultativas (fuga, teoria física e fisiológica da música e contraponto) dos
candidatos Octavio Bevilacqua, 13 votos; Homero Barreto, 3 votos; e 8 votos para a candidata
Roberta Gonçalves.
Curioso notar que um candidato que não havia frequentado nenhuma instituição de
ensino de música tenha obtido pontuação muito superior à daqueles que haviam sido alunos, e
até mesmo dos que haviam ocupado cargos de monitoria ou livre docência na própria
instituição para a qual prestavam concurso. Outro ponto a ser observado é a prova de
harmonia da candidata Roberta Gonçalves, laureada com a medalha de ouro em piano, e com
o certificado de distinção no final do seu curso de harmonia no INM. Sua prova alcançou
apenas uma pontuação, para o segundo lugar, do maestro Braga e insuficiente pelos demais
professores.
Após ter sido lido o relatório, a comissão debateu sobre a classificação para primeiro e
segundo lugares em observância ao que preconizavam os Artigos 62 e 63 do regulamento82.
As decisões para a classificação eram tomadas por maioria absoluta de votos. Caso ocorresse
empate, o diretor teria direito ao voto de Minerva, o que não ocorreu neste concurso. Porém, o
§ 3º do Artigo 63 admitia que o Ministro da Justiça nomeasse um dos dois candidatos
classificados nos primeiros lugares, e esta foi a cláusula que gerou fortes tensões entre
professores da casa, como veremos mais adiante.
Finalizada a apuração, foi consignado o resultado que Nepomuceno posteriormente
comunicou ao governo, dando o primeiro lugar para Otávio Bevilacqua e o segundo, para

82
Art. 63. Encerrado o debate, proceder-se-á à classificação para 1º e 2º lugares, correndo cada votação
separadamente. As decisões serão tomadas por maioria absoluta de votos. [...] § 3º O diretor comunicará ao
Governo quais os candidatos que obtiveram os dois primeiros lugares, e um destes será nomeado, 10 dias depois,
si dentro deste prazo nenhum candidato recorrer da deliberação do Conselho para o ministro, por intermédio do
diretor. BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915.
67

Homero Barreto. Importante notar que o vencedor obteve indicação para o primeiro lugar de
todos os jurados, exceto de Francisco Braga. Barreto foi por unanimidade classificado em
segundo lugar.
Correndo a votação, verifica-se que ontem o primeiro lugar o candidato Octavio
Bevilacqua pelos votos dos Srs. Rodrigues Barboza, Frederico do Nascimento, José
de Lima Coutinho, Arnaud Duarte de Gouvêa e Carlos Alves de Carvalho, sendo
classificado em segundo lugar por unanimidade, o candidato Homero de Sá
Barreto.83

Ao concluir o concurso, a comissão enalteceu os esforços dos candidatos, em especial,


Roberta Gonçalves que é distinguida entre os demais, a pedido de Rodrigues Barboza.
Nepomuceno também elogiou os candidatos, embora apontasse para possíveis maus
desempenhos descritos como “deficiência ou inferioridade de algumas provas”. O diretor se
dirigiu em seguida aos membros da comissão externando seu agradecimento e destacando o
interesse e dedicação à “causa do ensino por eles revelada, pondo acima de tudo o bom nome
da instituição pela justiça com que procederam no desempenho da missão de que foram
investidos”.84
Interessante destacar na fala do diretor a preocupação em afirmar a conduta justa e de
aspecto “missionário” dos componentes da banca. Este fato seria muito questionado como
veremos a seguir.

2.2 Recursos, polêmica nos jornais, pronunciamentos oficiais e atos


administrativos conclusivos
Antes mesmo do início do concurso de solfejo do INM, o jornal A Noite, em 20 de
agosto de 1916, publicou uma carta sem autoria determinada, chamando à atenção do
Ministro Carlos Maximiliano85 para o fato de que a inscrição da candidata Maria Clara
Câmara Menezes Lopes86, professora interina de solfejo, ocorreu 48 horas depois de
encerrado o prazo previsto no edital. De acordo com o missivista, a candidata era “altamente
protegida, segundo murmuram” e concluía o artigo dizendo que “esse é o pano de amostra do

83
BAN. Acervo de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Acta da 11ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de solfejo, efetuada no dia 20 de Setembro de 1916.Registro
4021/2013. N.º Sist.: 799875. ADEM AI/EM/UFRJ Atas V. 22.
84
Idem.
85
No dia anterior, no início da tarde, o Ministro Carlos Maximiliano sofreu um acidente de automóvel ao sair de
sua residência na praia do Flamengo quando se dirigia para o Ministério. Estava com ele seu filho e o oficial de
gabinete Fernando Pereira dos Santos quando um automóvel que se aproximava em alta velocidade o fez parar
de repente e outro carro que vinha em outra direção o atingiu. Com o impacto o ministro foi lançado para fora do
carro, o que lhe causou escoriações leves. Ver: JORNAL DO COMMERCIO. O Sr. Ministro da Justiça ferido
num acidente. Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1916, p. 7.
86
A candidata era esposa do inspetor de alunos Paulino Joaquim Lopes, que naquele período substituía o
tesoureiro Sebastião Sampaio. ALMANAK ADMINISTRATIVO, MERCANTIL, E INDUSTRIAL DO RIO DE
JANEIRO. Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 1915, p. 804.
68

que promete ser o primeiro concurso a realizar-se no Instituto Nacional de Música de acordo
com o novo regulamento”.87
Um mês depois desta reportagem, no dia 21 de setembro, a Gazeta de Notícias
divulgou o resultado do concurso em questão:
Terminaram um desses dias as provas orais ao concurso para preenchimento da vaga
da cadeira de teoria musical e solfejo do Instituto Nacional de Musica. Dos
candidatos que a ele concorreram, foi classificado em primeiro lugar, por cinco
votos contra um, isto é, por quase unanimidade, o Sr. Octavio Bevilacqua.88

O artigo destaca que esta classificação já pudera ser presumida pelo que o autor
qualificou como a apresentação de uma “brilhante dissertação sobre o ritmo na música”.
Ainda de acordo com o autor, esta dissertação seria uma obra de “superior valor literário” e
que poderia ser entendida como um dos mais interessantes e fecundos trabalhos já
apresentados sobre o assunto89. O periódico avaliou o trabalho apresentado como um “estudo
consciencioso e original” digno de um “artista de grande mérito”, e chamava a atenção do
Ministro para que não deixasse de nomear o candidato julgado o mais competente. Para
concluir, indicava que a contratação de Bevilacqua, traria ganhos à instituição:
Tanto mais que do próprio programa desse concurso transparecia o intuito muito
frisante e muito justo de incutir no espírito dos nossos jovens musicistas uma ideia
elevada e moderna da arte musical. Com a inclusão do Sr. Bevilacqua no quadro de
professores do Instituto só tem a se honrar este estabelecimento de ensino e a lucrar
os seus frequentadores. 90

Entretanto, para o periódico A Noite, que havia denunciado a irregularidade de uma


das inscrições, seria impossível que um concurso que apresentou um começo suspeito tivesse
legitimidade e muito menos um justo final. O jornal iria abordar vários incidentes que
aconteceram durante a realização das provas, destacando que um deles teria arrancado
“lágrimas e lágrimas de um velho professor, membro da mesa julgadora”. 91

Contudo, algumas imprecisões podem ser facilmente detectadas no relato. Entre elas a
não inclusão dos nomes de dois membros da banca, Arnaud Gouvêa e Carlos de Carvalho e a
confusão em torno do nome de Alfredo Bevilacqua, pai de Octavio, quando afirmou que a
“qualidade mais alegada para a melhor classificação era a de ser filho do velho pianista e
professor E. Bevilaqua (grifo nosso)”. Ao tentar atingir diretamente a Frederico Nascimento,
87
A NOITE. O próximo concurso no Instituto Nacional de Musica: para o senhor Ministro do Interior ler. Rio
de Janeiro, 20 de agosto de 1916, p. 4.
88
GAZETA DE NOTÍCIAS. O último concurso do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 21 de
novembro de 1916, p. 2.
89
O texto de Octavio Bevilacqua, assim como nenhuma das dissertações referente a esta prova foi localizado nos
arquivos pesquisados.
90
GAZETA DE NOTÍCIAS. O último concurso do Instituto Nacional de Música...
91
A NOITE. O último concurso do Instituto Nacional de Música: mau começo e péssimo fim. Rio de Janeiro, 22
de setembro de 1916, p. 4.
69

o autor da publicação comete outra falha, desta vez relativa ao número de votos obtidos pelos
dois classificados:
E não terminou bem esse mesmo concurso porque, depois de longa discussão,
anteontem em sala fechada do Instituto, com guardas nas respectivas portas e junto
ao telefone também, a, mesa julgadora classificou em 1° lugar o concorrente Sr.
Octavio Bevilacqua, que teve em seu favor quatro votos contra um, este o do
maestro Francisco Braga, que votou no Sr. Homero Barreto, cujo elogio fez sem
nenhuma reserva e sem levar em conta os rogos e as lágrimas do seu colega, prof.
Frederico Nascimento, advogado da causa do Sr. Octavio Bevilacqua, cuja
qualidade mais alegada para a melhor classificação era a de ser filho do velho
pianista e prof. E. Bevilaqua.92

Ao contrário do que afirma o periódico, Octavio Bevilacqua recebeu cinco votos de


todos os membros da banca, com exceção de Francisco Braga que votou na candidata Roberta
Gonçalves, e não em Homero Barreto. De maneira equivocada, alega que Lima Coutinho
também teria votado em Barreto para seguir o voto de Francisco Braga, o que se mostra um
engano:

No seio da comissão, anteontem, também pretendeu votar no Sr. Homero Barreto o


prof. Lima Coutinho. S.S., porém, foi vencido por aqueles que patrocinavam a causa
do candidato da mesa e acabou assinando com esta. O prof. Lima Coutinho o fez, é
verdade, mas, penitenciando-se de sua falta, não se cansou de reclamar pelos
corredores e em aula contra tamanho abuso dos seus colegas examinadores...

E assim foi contado, por alto é bem verdade, não porque nos faltara informações a
respeito para o fazer amiudadamente mas pelo fato de nos não sobrarem ao instante
espaço e tempo, o último concurso realizado no Instituto Nacional de Musica. Resta,
agora, o trabalho dos paraninfos do Sr. Octavio Bevilacqua para que o nomeie o Sr.
ministro do Interior professor de solfejo do estabelecimento de ensino dirigido pelo
maestro Nepomuceno. Ainda bem ou ainda mal, si assim for, para o Instituto
Nacional Musica...93

Na verdade, como podemos analisar no quadro 8 apresentado anteriormente, os votos


do professor Lima Coutinho, em sua grande maioria, apontavam Octavio Bevilacqua como
primeiro lugar. Apesar da imprecisão dos dados, a publicação revela que todos esses embates
e questionamentos demonstravam o grau de elevado interesse em torno do concurso.

Em 23 de setembro, foi publicada no Gazeta de Notícias uma carta assinada por


Paulino Moscoso94 sob o título “O concurso de solfejo no Instituto Nacional de Música:
Houve irregularidades na classificação?” que rebatia a nota publicada no próprio jornal dois
dias antes. Pois bem, Moscoso pedia que o jornal verificasse o que ele entendia como
irregularidades que teriam acontecido no desenrolar do concurso. O autor da carta parecia
conhecer com detalhes o regulamento do Instituto e destacou várias infrações:

92
Idem.
93
Idem.
94
Figura desconhecida até o momento neste evento.
70

O regulamento do Instituto foi por várias vezes infringido e gravemente. [1] Na


prova de Fuga, por exemplo, só um professor tomou conta dos candidatos e sozinho
recebeu-lhes das mãos as provas! [2] Nenhuma das provas inscritas foi fechada e
lacrada como determina o regulamento. [3] Na prova de contraponto não se tirou a
sorte para escolha do assunto que foi copiado de um livro!...

E [4] as reuniões da comissão julgadora? Ali nem é bom falar... Até parecia que o
art. 64 do regulamento era letra morta! [5] Entre a primeira e a segunda reunião
houve um intervalo de seis dias; [6] entre a segunda e a terceira o espaço foi de três!

Por quê? Porque foi preciso apertar com empenhos o maestro Lima Coutinho, que
também estava propenso á classificação pela qual se batia o maestro Braga! 95

Moscoso assumiu a defesa de Homero Barreto ao dizer que Octávio Bevilacqua, sendo
um homem honesto, deveria estar envergonhado da sua classificação, pois muitos foram os
“jogos malabares” que o fizeram figurar em primeiro lugar. Enfatiza o forte desentendimento
entre os professores Francisco Braga e Frederico Nascimento no qual este “chorava como
uma criança e dizia: – eu abandono isto, Braga! Eu abandono isto! Ou você vota comigo ou
eu brigo com você!”. Como Braga se mantinha decidido em não votar em Octavio para o
primeiro lugar, Nascimento “sempre chorando, chorando sempre, virou a dizer-lhe uma
porção de desaforos, o menor dos quais foi berrar que o maestro Francisco Braga não sabia
nada de ‘ritmo’!!!...”.

O autor conhecia tão bem o Decreto vigente que fez questão de destacar que o § 3º do
Artigo 63 permitia que o Ministro da Justiça nomeasse um dos dois classificados. Desta
forma, estava convicto de que a “sensibilidade” de Maximiliano o levaria a entender que
Homero Barreto era o mais capacitado para ocupar o cargo no INM.96

As disputas no INM não estavam próximas do fim. Com objetivo de se defender do


que foi publicado no jornal A Noite, que não hesitava em expor as “evidentes” irregularidades
cometidas no concurso de solfejo, Frederico Nascimento e Octavio Bevilacqua
encaminharam, cada um, uma carta à redação deste jornal. Elas foram publicadas no dia 25 de
setembro sob o título “O caso do concurso do Instituto de Música: os interessados defendem-
se”.97

Antes de expor o conteúdo da carta, o redator enfatizou a veracidade de tudo o que


havia sido exposto na última publicação a respeito do assunto, salvo alguns enganos que não
modificavam a sua essência, e que o detalhamento das diversas infrações ocorridas havia

95
GAZETA DE NOTÍCIAS. O concurso de solfejo no Instituto Nacional de Música: Houve irregularidades na
classificação?. Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1916, p. 2.
96
Idem.
97
A NOITE. O caso do concurso do Instituto: os interessados defendem-se. Rio de Janeiro, 25 de setembro de
1916, p. 4.
71

gerado espanto e revolta, em quem direta e/ou indiretamente, estava envolvido com o tema.
Nesta mesma nota, o redator anunciava que um pedido de anulação do concurso estava a
caminho do Ministério da Justiça e Negócios Interiores e que apesar das diversas infrações
contrárias ao regulamento do INM, este ainda vigorava “ad referendum” no Congresso
Nacional.

O professor Nascimento iniciou sua “defesa” revelando que as denúncias postadas no


A Noite também haviam sido endereçadas ao jornal Gazeta de Notícias, que recusou a
publicação por entender o aspecto calunioso do seu conteúdo. Nascimento tentava afirmar sua
imparcialidade ao dizer que foi professor de todos os candidatos do concurso, e desta forma
não poderia ser “advogado” de um deles. Entretanto, de acordo com os documentos
apresentados no ato da inscrição, e citados neste capítulo, é claro que Rafael Bernabei e
Octavio Bevilacqua não tenham frequentado sua classe no INM. Esclarece ainda a questão
dos posicionamentos dos professores Braga e Lima Coutinho que estariam favoráveis ao
candidato Homero Barreto. Segue o conteúdo da carta:
Não é verdade que eu tenha jamais feito algum pedido a qualquer dos membros da
mesa julgadora; isto porque acho injurioso tais pedidos. Também não é verdade que
o maestro Francisco Braga tenha votado no Sr. Homero Barreto para primeiro logar.
Nem tão pouco é verdade ter o professor Lima Coutinho manifestado, na ultima
reunião da comissão julgadora, o desejo de alterar o modo pelo qual julgara as
provas do concurso. Dessas provas e da forma por que foram julgadas, o público
pode facilmente tomar conhecimento na secretaria do Instituto. 98

A carta do candidato Bevilacqua era dividida em seis pontos, sendo que os três
primeiros estavam em consonância com o que foi narrado nas atas. No quarto e quinto itens o
candidato aponta o óbvio engano na grafia do nome de seu pai, e nega as afirmações
relacionadas ao professor Lima Coutinho, e o desentendimento entre os professores Braga e
Nascimento. Entretanto, não apresenta nada que confirme sua versão.
A respeito do sexto ponto, tendo-se em vista que a presença do Ministro se deu em
três dos quatro dias (4, 5, 6 e 11 de setembro) em que foram realizadas as provas públicas, ele
assistiu às provas de teoria geral da música, pedagógica e a de piano, não assistindo à prova
prática de canto, de teoria física e fisiológica da música e contraponto. Segue a carta que
Bevilacqua enviou ao redator chefe de A Noite:
Surpreendido com a publicação feita em vosso jornal de ontem subordinada ao titulo
“O ultimo concurso no Instituto Nacional de Musica – Mau começo e péssimo fim”,
passo a narrar-vos os seguintes fatos para que possais julgar do valor e das “boas
intenções” das informações que vos foram prestadas: 1°, a mesa julgadora que
funcionou no concurso não foi constituída conforme vos informaram, e, caso o
tivesse sido, o resultado não poderia ser o de 4 votos contra 1, pois que, como devia

98
Idem.
72

saber o vosso informante, o diretor “só vota para desempate”; 2°, a dita mesa foi,
sim, constituía pelos membros citados e mais os professores Arnaud Duarte de
Gouvêa e Carlos de Carvalho, e o resultado da apuração foi de 5 votos contra 1, não
tendo votado o diretor; 3°, o professor Francisco Braga não votou no Sr. Homero
Barreto para 1° lugar, mas sim na Sra. D. Roberta Gonçalves; 4°, o professor Lima
Coutinho, consultado a respeito, nega peremptória e absolutamente que tenha
articulado qualquer queixa contra seus colegas de mesa, que tenha votado por
solicitação de qualquer pessoa ou que tenha pretendido modificar a sua primitiva
votação; 5°, durante o trabalho das sessões nunca foi invocada a filiação como
argumento em favor da capacidade de qualquer candidato, isto nem com “lagrimas”
nem sem “elas”, tanto mais que (ó caiporismo! até no nome se enganou!) não existe
aqui professor algum por nome “E. Bevilaqua”, mas sim A. Bevilacqua; 6°, a maior
parte das provas foi assistida “pessoalmente” pelo Sr. ministro do Interior.
Confiando inteiramente na vossa boa fé, espera a publicação destas linhas o, etc. –
99
Octavio Bevilacqua.”

A presença do Ministro nas provas do concurso revela a representatividade que ele


assumiria no contexto em que foi realizado. Sua repercussão pode ser dimensionada através
do fato de que em pelo menos nove jornais que circulavam naquele período no Rio de Janeiro
e em São Paulo– A Época, A Noite, A Rua, Correio da Manhã, Correio Paulistano, Gazeta de
Notícias, Jornal do Brasil, O Paiz e Jornal do Commercio–,foram publicadas matérias que
abordavam fatos relativos à sua realização. Enquanto alguns simplesmente anunciavam os
resultados com imparcialidade, outros ou exerciam a função de porta voz daqueles que se
sentiram lesados e/ou rebatiam as acusações destes, defendendo a probidade do INM, do
diretor e dos professores envolvidos.
Outro ponto destacado pelo periódico A Noite foi o estado em que se encontravam as
obras de reconstrução do prédio do INM e dos “segredos dos cursos privados”, deixando
subentendida uma crítica velada sobre a utilização do espaço público para realização de
cursos particulares. Em verdade, cursos privados estavam previstos no Decreto 11.748/1915
desde que obedecessem ao mesmo plano de ensino estabelecido para os cursos oficiais.
Todavia, neste caso eram cobradas taxas dos alunos, que pagavam diretamente ao tesoureiro
do estabelecimento e este repassava o valor aos respectivos docentes após o desconto de 10%
para o patrimônio do Instituto.
O jornal A Noite, do dia 25 de setembro, além de lançar suspeitas sobre o concurso,
também promoveu algumas críticas veladas à direção do Instituto em dois pontos: em relação
às obras de reforma do prédio do INM e à realização de cursos particulares dentro da
instituição pública. Embora previstos no Decreto N.º 11.748/1915, estes cursos sempre
representaram material sensível por envolver taxas que eram cobradas aos alunos e pagas
diretamente ao tesoureiro que repassava o valor aos respectivos docentes após o desconto de

99
A NOITE. O caso do concurso do Instituto: os interessados defendem-se. Rio de Janeiro, 25 de setembro de
1916, p. 4.
73

10% para o patrimônio do Instituto.


De acordo com Batista Siqueira, em 1913, o INM se transferiu para o prédio que até
1910 sediou a Biblioteca Nacional, na atual Rua do Passeio. Depois de instalado,
Nepomuceno, tentou obter do governo verbas para a reconstrução do prédio anexo, o que lhe
foi negado. Também não lhe foi concedido realizar transações com o patrimônio do Instituto,
amealhado desde os tempos do antigo Conservatório de Música. Siqueira considerava que este
desconforto entre Nepomuceno e o Governo foi o agravante que o levou a pedir a exoneração
do cargo de diretor.100
Batista Siqueira destacava também as mais variadas intrigas que impossibilitavam ao
maestro “continuar à frente dos destinos da organização didática da música oficial”. Como
evidência do desgaste político e enfraquecimento das relações de Nepomuceno com o poder
estabelecido, vale ressaltar que os pedidos pecuniários para as obras de reforma e melhoria do
INM foram todos concedidos ao seu sucessor, o engenheiro e compositor, Abdon Milanez.
Porém, como bem explicitou Nepomuceno na sua carta de demissão publicada no jornal A
Época101, o motivo do rompimento, na verdade, estaria relacionado a este concurso.
Para além das questões referentes ao comando do Instituto, podemos perceber que
outros embates também estavam sendo travados, como o debate estabelecido entre os jornais
Gazeta de Notícias e A Noite. Enquanto um enaltecia a organização do certame, o outro
apontava todas as irregularidades e artimanhas que, supostamente,foram efetivadas.
Essas posições antagônicas aparentemente concentradas no INM, eram sintomas de
posições mais amplas. Em 1910, o jornalista Irineu Marinho se desligou da Gazeta de
Notícias por divergências políticas, partindo juntamente com outros sócios para fundar o
jornal A Noite. O novo periódico declarou-se contra o governo do marechal Hermes da
Fonseca e favorável ao grupo que apoiava a candidatura de Rui Barbosa à presidência da
República. O Gazeta de Notícias, entretanto, se mantinha fundamentalmente governista,
combatendo a candidatura de Barbosa e a sua Campanha Civilista.102
Ao longo de sua existência – sua última edição foi em dezembro de 1957 – o periódico
A Noite se distinguiu por sua postura oposicionista. Considerava o governo de Hermes da
Fonseca corrompido e autoritário, combatendo, sobretudo, a sua política de “salvações”, ou
seja, a permanência dos grupos oligárquicos no poder. Manter esta postura ocasionou duras
100
SIQUEIRA, Baptista. Do Conservatório à Escola de Música: Ensaio Histórico. Rio de Janeiro: Edição do
autor,1972.
101
A EPOCA. Um concurso de solfejo que acabou desafinando. O maestro Nepomuceno, magoado com o sr.
Ministro, pede sua demissão. Uma palestra com o ex-director do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro,
27 de outubro de 1916, p. 1.
102
O terno “civilista” defendia a candidatura de um civil, em oposição à candidatura de um militar.
74

penalidades ao jornal, desde suspensão de circulação de algumas edições à prisão de seus


diretores.103
Desta forma, a posição dos periódicos no meio dessa disputa e nos embates travados
toma novas feições. O concurso serviria como uma forma de defender posições políticas
atacando ou defendendo projetos de poder, não somente no âmbito restrito da instituição
como no que podia representar das tensões políticas vigentes. Assim, um concurso para o
provimento de um cargo de professor no Instituto acabava tomando proporções de uma
disputa política nacional.
Enquanto as discussões se intensificavam entre os jornais cariocas, Roberta Gonçalves
iniciava um processo para anulação do concurso. Inconformada com os resultados e
respaldada pelo Artigo 63 do Decreto N.º 11.748/1915104, a candidata solicitou ao Ministro
que observasse o que regia o parágrafo primeiro deste Artigo, que versava sobre o valor e
méritos dos candidatos. Argumentava que a partir deste critério, deveria ter sido apreciado o
conteúdo das provas apresentadas pelos candidatos, e reconhecido neles o “longo tirocínio”
resultado de uma forte e reconhecida formação.105
A candidata afirmava que suas provas confirmaram o seu mérito depois de cursar por
uma década o INM e que acreditava na justiça e nas garantias regulamentares ao disputar com
“hombridade” uma cadeira de magistério na instituição que lhe outorgou qualificação para tal.
Alegava ser a única candidata que possuía curso completo no Instituto, obtido com distinção,
o que por si só demonstrava seu real e absoluto mérito.106
Reforçava o seu “mérito” a medalha de ouro que obteve no concurso de piano de4 de
janeiro de 1909, tendo como banca de avaliação o diretor Alberto Nepomuceno e os

103
Dicionário histórico-biográfico brasileiro On-line. Disponível em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo.
Acessado em 7 de julho de 2016 às 10h30min.
104
BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915: Art. 63. Encerrado o debate, proceder-se-á à classificação para 1º e 2º
lugares, correndo cada votação separadamente. As decisões serão tomadas por maioria absoluta de votos. § 1º A
classificação só se fará para os dois lugares, se a comissão julgadora, bem ponderando o valor e os méritos dos
candidatos, assim o entender. § 2º No caso de empate entre dois candidatos, quando forem os únicos a concorrer
ou os únicos votados, exercerá o diretor o direito conferido no Art. 24. § 3º O diretor comunicará ao Governo
quais os candidatos que obtiveram os dois primeiros lugares, e um destes será nomeado, 10 dias depois, si dentro
deste prazo nenhum candidato recorrer da deliberação do Conselho para o Ministro, por intermédio do diretor. §
4º Em igualdade de condições será preferido o candidato que for brasileiro.
105
“Assim com tal critério tem de ser apreciado em confronto – o valor das provas, em si mesmas – o mérito dos
concorrentes, resultante de seus conhecimentos, e é bem de ver que não se podem desprezar antecedentes que no
caso demonstrem que o mérito não se firmou por um evento feliz e muita vez inexplicável, mas antes de tudo
decorrendo e longo tirocínio, em curso regular, a cada etapa pelos competentes proclamados”.ARQUIVO
NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de solfejo do
INM. BRITO, Roberta Gonçalves de Souza. Requerimento N.º 13-1916R. Rio de Janeiro, 25 de Setembro de
1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.IE 7 94 92.
106
Seu histórico escolar disponibilizado no ato da inscrição para o concurso poder apreciado na primeira parte
deste capítulo.
75

professores Arthur Napoleão dos Santos, Godofredo Leão Velloso, Amaro de Albuquerque
Maranhão, Arnaud Duarte de Gouvêa, Henrique Oswald e José de Lima Coutinho. Nesta
ocasião,com 25 anos de idade, Roberta Augusta Gonçalves107 tocou a Fantasia Op. 17, de R.
Schumann (peça obrigatória destinada aos alunos do sexo feminino)108; a Fantasia Op. 49, de
F. Chopin (peça de livre escolha); e o Prelúdio e Fuga nº XII109, do segundo livro do Cravo
Bem Temperado, de J. S. Bach.
Em sua argumentação sobre o resultado do concurso, ela não tentou esconder sua
opinião de que só não venceu as provas devido à atenção especial que a banca dedicava ao
filho de Alfredo Bevilacqua:
De modo indubitável está assim constatado o mérito anterior da recorrente
[Roberta], que soube mantê-lo nas provas exibidas no concurso, não temendo o seu
confronto com as dos candidatos classificados, confronto feito não por comissão
desejosa de criar situação especial de modo a presentear, com real sacrifício dos
mais sagrados princípios de justiça, o candidato que tem como seu maior senão
único titulo de apresentação ser filho e cunhado dos dois professores [Alfredo
Bevilacqua e Frederico Nascimento, respectivamente] do Instituto.110

As provas escritas que os candidatos apresentaram no decorrer do concurso – ditado,


composição de ditado, composição de solfejo, harmonia (canto dado) e fuga – foram enviadas
pelo diretor do INM ao Ministério da Justiça como documentos anexos a este requerimento no
qual Roberta pedia a anulação do concurso. Estas provas serviriam, nas palavras de
Nepomuceno, de “corpo de delito”, já que as provas orais só poderiam ser “reavaliadas” por
aqueles que as presenciaram, como o próprio Ministro da Justiça.
A requerente apresentou no seu dossiê as provas de contraponto, uma das provas
públicas que no dia não contou com a presença do Ministro, copiada do seu próprio punho e
com as devidas correções por ela mesma realizada. Afirmava a fidelidade da cópia e caso
houvesse alguma dúvida, que o Ministro poderia pedir o testemunho do maestro Francisco
Braga, que teria pleno conhecimento deste conteúdo e que poderia atestar a injustiça da
avaliação de Frederico Nascimento, que não lhe outorgou o primeiro lugar nesta prova.
Mesmo sendo esta uma prova facultativa, contabilizava pontos aos candidatos que a
realizassem, ficando em desvantagem aqueles que preferissem não realizá-la111. Roberta

107
A alteração do nome de Roberta ocorreu após seu casamento. A este respeito, localizamos que em agosto de
1909, João Pedro de Souza Brito solicita ao Arcebispado do Rio de Janeiro dispensa de consanguinidade com
Roberta Augusta Gonçalves. In: CORREIO DA MANHÃ. Coluna Dia Social: Religiosas: Expediente do
Arcebispado. Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1909.
108
Para os alunos do sexo masculino era obrigatória a execução de outra obra, a Fantasia Op. 15 de F. Schubert.
109
Uma das quatro opções do candidato que no momento do concurso era escolhido pelo júri.
110
ARQUIVO NACIONAL. Loc. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.
111
Nesta prova, o candidato Homero Barreto obteve apenas votos para o segundo lugar; Roberta obteve votos
para o primeiro lugar de todos os membros da comissão, com exceção do professor Nascimento, que a avaliou
76

observou no seu requerimento que, além de injustas as pontuações dadas aos candidatos que
apresentaram seu esboço de contraponto no quadro negro, foi vexatória a oportunidade dada a
Bevilacqua de apresentar um segundo trabalho, após serem constatadas as falhas no primeiro
apresentado:
Mais de que a injustiça na apreciação, fala a grave irregularidade que com tal prova
se deu. Chamado a fazê-la o candidato classificado em primeiro lugar e que com os
demais concorrentes à parte tinha organizado o esboço do que devia lançar no
quadro, errada a produziu. Era necessário desfazer o efeito produzido pela
incompetência e para isso de modo que não se classifica por sua alta irregularidade,
chegando às raias do absurdo, ao dito candidato foi permitido ir buscar outro esboço,
se houvesse feito. A medida salvadora é posta em prática. Enquanto outro candidato
fazia a prova, organizou o excepcional concorrente novo esboço e por cúmulo pior
que o primeiro. O fato é absolutamente real, dele darão de certo testemunho tantos
quantos, com apreço a honra, interpelados forem. Os erros estão assinalados à tinta
carmim e os que os justifiquem se possível.112

O contraponto duplo à 8ª, exigido nesta ocasião é conceituado no tratado de


contraponto Gradus ad Parnassum(1725), de Johann Joseph Fux, que teve como discípulos os
compositores como Haydn, Mozart e Beethoven. Fux descreve este tipo de contraponto como
uma composição realizada de forma que a transposição de qualquer uma das duas partes para
uma oitava superior ou uma oitava inferior, resultará numa mudança do som harmônico entre
as vozes, embora elas ainda se comportem com as regras da boa escrita. Para que isto ocorra é
necessário evitar as quintas, intervalo consonante que quando invertido se transforma numa
quarta (dissonante), e que se evite iniciar ou concluir com oitava, pois o resultado será o
uníssono.113
Abaixo transcrevemos as realizações de todos os contrapontos que foram copiados por
Roberta Gonçalves e anexados ao requerimento. As observações manuscritas da candidata
foram grafadas em itálico114:

com voto para segundo lugar. Bevilacqua obteve apenas o voto para o primeiro lugar de Nascimento e dos
demais membros da banca o segundo lugar.
112
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. BRITO, Roberta Gonçalves de Souza. Requerimento N.º 13-1916R. Rio de Janeiro, 25 de
Setembro de 1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
113
FUX, Johann Joseph; MANN, A.The Study of Counterpoint: From Johann Joseph Fux’s “Gradus Ad
Parnassum”. Translated and edited by Alfred Mann and John Edmunds. New York: WW Norton, 1965.
114
No manuscrito que se encontra no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro consta no topo da página que estas
provas foram realizadas depois das 17 horas do dia 11 de setembro. No rodapé a candidata assina o documento
selado em 25 de setembro de 1916.Loc. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-
1916.
77

Figura 5: Prova de contraponto de Roberta Gonçalves

Localização: ANRJ IE 7 94 92.

Figura6: Contraponto invertido de Roberta Gonçalves

Localização: ANRJ IE 7 94 92.

Figura 7: Prova de Contraponto de Homero Barreto

Localização: ANRJ IE 7 94 92.

Figura 8: Prova de Contraponto de Octavio Bevilacqua, a primeira apresentada

Localização: ANRJ IE 7 94 92.


78

Figura 9: Segunda prova de Contraponto apresentada por Octavio Bevilacqua

Localização: ANRJ IE 7 94 92.

Ao copiar todas estas provas do quadro negro, Roberta, além de documentar a


realização do contraponto de cada candidato, registrou o que considerava serem os equívocos
apresentados por cada um deles. Este cuidado pode revelar que a candidata já suspeitasse de
antemão da avaliação da banca julgadora.
Nepomuceno apresentou ao Ministro suas considerações sobre o concurso, como
veremos em mais detalhes a seguir,incluindo sua própria análise sobre as duas provas de
contraponto apresentadas por Octavio Bevilacqua. Sobre a primeira prova, Nepomuceno
produz uma avaliação que contradiz toda a sua reputação de professor severo, e de forte
formação germânica. Afirma que nesta prova Bevilacqua teria cometido erros que na verdade
não seriam erros, pois, apesar de contradizer o estabelecido por tratadistas como Jadassohn,
Bellermann, Cherubini, Dubois e outros, o resultado alcançado é agradável:
Os 4º, 5º e 6º compassos dessa prova estarão errados por não encontrarem apoio nos
tratados, mas, confesso ouvir com prazer essas temeridades, e com sumo desprazer
contrapontos enfadonhos, feios, mas feitos segundo às regras.115

Em relação à segunda prova, Nepomuceno afirma que com exceção das duas quintas
do primeiro e penúltimo compasso, que são inconvertíveis, e, portanto, fora das normas
contrapontísticas. O que seria então apontado como erro pela candidata Roberta Gonçalves
não procederia. Diz Nepomuceno que é de se admirar que ela não tivesse notado que a
resolução da dissonância acontece no segundo tempo e não no terceiro como apontou a
concorrente.

Em certa medida, esta defesa confirmava as suspeições levantadas por Roberta.


Sempre cuidadosa e evitando ferir susceptibilidades, ela manifesta seu respeito à figura do

115
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. NEPOMUCENO, Alberto. Ofício N.º 32-1916. Rio de Janeiro 2 de outubro de 1916. Série
Educação, Cultura, Belas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
79

Ministro e a “nobreza” do INM, não qualificando o resultado final apresentado pela comissão.
Apontou apenas que um enorme esforço foi despendido para classificar Octavio Bevilacqua
em primeiro lugar, o que incluía até adiar o prazo para a deliberação do resultado pela banca:
Terminando o concurso no dia 11 do corrente, a comissão julgadora reuniu-se no dia
13, celebrando-se a segunda no dia 18, deixando ainda para uma terceira, no dia 20,
o mons parturiens116, com expressa infração do art. 64 do citado Regulamento que,
de modo preciso, diz que na 1º reunião, não se concluindo o relatório por falta de
tempo ou por necessitar a comissão de um prazo, o Diretor concedendo 48 horas
marcará nova reunião para o 1º dia útil. Não cogitou de terceira reunião e
117
cautelosamente determinou que o prazo seria no máximo 48 horas.

Roberta encerrou seu recurso alertando que a não observância dos prazos
determinados no Regulamento favorecia a Octavio Bevilacqua na medida em que enfraquecia
a resistência daqueles que não o queriam ver no quadro de professores do INM. Poeticamente
descrevia esta situação: “há praças que só o sítio prolongado, há portos que só um bloqueio
longo podem fazer render...”.118

Diante disso, esperava que após a análise do seu recurso, o Governo se utilizasse do
Art. 66 do Regulamento, que previa a anulação do concurso em caso de dúvidas em relação
ao julgamento ou ao não cumprimento das formalidades nele previstas.119 Por sua vez,
Alberto Nepomuceno afirmava que não haveria motivos para anulação do concurso.

Na versão do diretor o resultado foi fruto da obediência às “mais rigorosas normas de


justiça”. Anexo ao ofício que encaminhou ao Ministério da Justiça, Nepomuceno apresentou
uma análise da apelação da candidata, na qual expõe que o atraso na divulgação dos
resultados finais foi devido à impossibilidade de alguns membros da comissão comparecerem
no dia seguinte ao término das provas como era previsto no regulamento. Entretanto, não
apontou claramente quem fez tal solicitação nem os motivos reais que levariam a primeira
reunião a acontecer dois dias após o término da aplicação das provas.120

Em relação às provas de contraponto e a vantagem dada a Bevilacqua de realizar duas


versões da prova, Nepomuceno afirmou que o relato apresentado por Roberta não

116
As dores do parto, o nascimento...
117
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. BRITO, Roberta Gonçalves de Souza. Requerimento N.º 13-1916R. Rio de Janeiro, 25 de
Setembro de 1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
118
Idem. Ibidem.
119
BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915: Art. 66. Se o Governo entender que o concurso deve ser anulado, por não
se conformar com o julgamento, ou por se terem preterido formalidades essenciais, assim o decretará, dando os
motivos.
120
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. NEPOMUCENO, Alberto. Ofício N.º 32-1916. Rio de Janeiro 2 de outubro de 1916. Série
Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
80

correspondia ao fato. Neste ponto, o mais extenso de todos, ele explicou que, mesmo tendo
Bevilacqua apresentado dois esboços, apenas o primeiro foi avaliado; e que o segundo
trabalho só foi realizado após a permissão da mesa julgadora sem que nenhum candidato
protestasse na ocasião. Esta explicação surpreende não somente pela análise que o próprio
diretor fez da prova, de acordo com o que apresentamos anteriormente, mas também pelas
contestações que poderia suscitar, como acabou ocorrendo.

Justificando o atraso na apresentação do relatório com os resultados do concurso,


Nepomuceno afirmou que a comissão necessitou de sete dias para elaborá-lo, de 13 a 19 de
setembro, sendo que nos primeiros dias foi realizada a correção e a avaliação das provas
prestadas. Nepomuceno destacou que houve longos debates sobre os exames orais, baseados
nas anotações que cada membro da banca realizou na ocasião das provas.

Em relação aos resultados auferidos, Nepomuceno afirmou que a candidata Roberta


Gonçalves apresentou um desempenho muito inferior aos dos outros candidatos em
determinadas provas. Contradizendo a candidata, afirmava que as provas escritas não
poderiam servir de “corpo de delito” para colocar em dúvida o desempenho da banca
julgadora. Pelo contrário, em sua versão, elas afirmavam a competência dos professores
envolvidos no concurso e que seus conhecimentos poderiam ser verificados “por qualquer
técnico que conheça o seu ofício”.121

Entretanto, analisando os resultados percebemos que a diferença de pontos recebidos


entre Roberta e Homero não era díspare. Enquanto o primeiro colocado, Bevilacqua recebeu
uma ampla pontuação, devido em parte ao franco apoio do jornalista Rodrigues Barbosa,
Gonçalves e Barreto terminaram com a diferença de quatro pontos entre eles. Destaca-se que
Francisco Braga em sua avaliação conferiu a Roberta o maior número de indicações ao
primeiro lugar.

Curiosamente, percebe-se que a banca privilegiou o resultado de um candidato que


não cursou o INM em detrimento dos outros dois que tiveram sua formação musical na
instituição. E mais ainda, Nepomuceno defendia vigorosamente os resultados do concurso
afirmando que a candidata apenas pedia a anulação deste por não ter sido classificada,
desqualificando os seus méritos e sua formação obtida exatamente na instituição em que ele
era por longos anos diretor:

121
Idem. Ibidem.
81

A recorrente, laureada em harmonia e em contraponto e fuga, nos cursos que fez no


Instituto, com certeza abandonou o cultivo dessas disciplinas, pois de outro modo
não se justifica a deficiência das provas que exibiu.122

Para justificar sua opinião favorável que desconsiderava os possíveis erros realizados
por Bevilacqua e apontados por Roberta, Nepomuceno não se furtaria em criticar o próprio
material utilizado no Instituto que dirigia. Afirmou que se fossem seguidas estritamente as
regras do contraponto, de acordo com os tratadistas dos séculos XVI e XVII, a humanidade
não teria conhecido “nem Bach, nem Mozart, nem Beethoven, nem Berlioz, nem Cesar
Franck, nem Saint-Saens”, e tampouco Glauco Velasquez. De uma só tacada elevou Octavio
Bevilacqua ao nível dos mais reconhecidos compositores europeus e ao de um dos mais
instigantes compositores brasileiros.

Apesar da veemente defesa realizada pelo diretor do Instituto, o periódico Correio da


Manhã em sua publicação de 27 de setembro 1916, apresentou um relato bem distinto sobre
Octávio Bevilacqua. Realçando os conflitos vivenciados dentro do INM, desconstruía a figura
do professor Nascimento e a de seu “afilhado”, Octavio Bevilacqua, enfatizando que no
resultado do concurso “predominou a vontade do professor Frederico Nascimento, que
conseguiu fosse o primeiro lugar cedido à incapacidade comprovada de um candidato sem
valor”123. O periódico apresentava Homero Barreto como o candidato digno de ocupar o lugar
em disputa.

Na concepção do jornal, o único valor de Bevilacqua consistia em ser protegido de


Nascimento. Enquanto que Barreto havia se candidatado à vaga ofertada sem qualquer
proteção, a não ser o seu próprio valor pessoal confirmado por sua sólida formação realizada
no INM124 e sua atuação como livre docente na Escola Normal e como professor auxiliar de
Alfredo Bevilacqua, pai de seu adversário.

Bevilacqua, por sua vez, não apresentou nenhum documento que comprovasse ter
realizado qualquer curso em instituição de ensino de música, apenas o de ser livre docente do

122
Idem. Ibidem.
123
CORREIO DA MANHÃ. O concurso da cadeira de solfejo do Instituto Nacional de Musica. Rio de Janeiro,
27 de setembro de 1916, p. 2.
124
Lista dos cursos apresentado por Homero Barreto, de acordo com o Correio da Manhã: 1. Piano, aprovado
com distinção e louvor; 2. Harmonia, aprovado com distinção e louvor; 3. Contraponto, aprovado com distinção
e louvor;e,3. Solfejo, aprovado com distinção e louvor. CORREIO DA MANHÃ. O concurso da cadeira de
solfejo do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 27 de setembro de 1916, p. 2.
82

INM e da Escola Normal125. Curiosamente, já no período da direção de Abdon Milanez, em


um documento expedido pelo INM e endereçado ao Ministério da Justiça e Negócios
Interiores, em 14 de dezembro de 1916, o secretário Arthur Tolentino informava ao Ministro
Carlos Maximiliano que Octavio Bevilacqua não havia sido aluno do INM e que ocupava uma
vaga de livre docente de solfejo, por decisão do Conselho Docente em sessão de 17 de março
de 1914, porém, que nenhum aluno havia se matriculado em sua classe desde então.126

O Correio da Manhã destacou também que apesar de ser um concurso para professor
de solfejo, não figurava nenhuma prova prática desta matéria. Afirmava que a ausência desta
se devia a mais uma das artimanhas de Nascimento, pois como o seu “candidato afilhado” era
gago, tal prova havia sido substituída por uma prova prática de canto, “coisa que qualquer
indivíduo pode fazer desde que tenha no ouvido qualquer trecho musical!”. 127

Supostamente, o autor deste texto era conhecedor dos diálogos ocorridos dentro do
INM ao relatar que “apesar do protesto enérgico do professor Francisco Braga”, o candidato
Octavio Bevilacqua alcançou a classificação para o primeiro lugar e Homero Barreto o
segundo. Conhecedor do Decreto que regia a instituição, se mostrou confiante de que o
Ministro da Justiça não iria sancionar a “inqualificável classificação do concurso do
Instituto”, podendo vir a nomear o segundo classificado, como permitia o § 3º do Art. 63:

O diretor comunicará ao Governo quais os candidatos que obtiveram os dois


primeiros lugares, e um destes será nomeado (grifo nosso), 10 dias depois, si
dentro deste prazo nenhum candidato recorrer da deliberação do Conselho para o
ministro, por intermédio do diretor.128

Diante de todas as denúncias sobre o concurso do INM, Octavio Bevilacqua enviou


uma carta ao Jornal do Commercio, publicada no dia 27 de setembro de 1916. Defendeu-se
das diversas acusações que sofreu nos jornais, que por estarem em consonância com o recurso
que a candidata Roberta havia enviado ao Ministro do Interior, causaram má impressão sobre
sua pessoa. Dizia estranhar a narrativa dos fatos, que considerava inverídica, posto que em sua
maioria fossem fatos públicos como o que envolveu a sua prova de contraponto.

125
Na documentação do Arquivo Nacional não consta que Octavio Bevilacqua tenha apresentado o atestado de
professor da Escola Normal, embora o periódico Correio da Manhã tenha afirmado que ele havia exercido tal
cargo.
126
A comissão aprovou dois trabalhos apresentados por Octavio Bevilacqua, uma composição musical e uma
tese, sem título, na qual se ocupa, sob o ponto de vista musical, da questão de limites entre a consonância e a
dissonância. ARQUIVO NACIONAL. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.
127
CORREIO DA MANHÃ. O concurso da cadeira de solfejo do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro,
27 de setembro de 1916, p. 2.
128
BRASIL. Decreto nº 11.748/1915.
83

Nesta carta, alegou que antes de realizar a prova de contraponto, havia alertado em
voz alta que possuía dois esboços sobre o mesmo canto dado e que ao apresentar o segundo,
não duvidava que isto tivesse ‘desagradado’ a alguns dos presentes. Sobre os erros apontados
por Roberta Gonçalves, dizia estar pronto para comentá-los e justificá-los em público, pois
afinal, com tanta “severidade escolar” utilizada pela candidata, seriam de igual forma,
desqualificados “todos os que no gênero escreveram (sem me referir aos contemporâneos!)
desde Bach até Cesar Franck”. 129

Ao utilizar estes exemplos, Bevilacqua releva que, ao menos, tinha conhecimento do


ofício enviado pelo diretor Alberto Nepomuceno ao Ministro Carlos Maximiliano, pois
empregou os mesmos exemplos e argumentação para justificar os erros cometidos. Desta
forma, podemos concluir que havia, no mínimo, um compartilhamento dos argumentos
utilizados para a desconstrução da narrativa apresentada pela candidata, unificando os
discursos que legitimariam Bevilacqua como o candidato ideal para ocupar o cargo em
disputa.

Quando este lamentou que a reclamante não havia mencionado o seu bom
desempenho na prova de fuga, ele tentava induzir à ideia de que Francisco Braga não estava
em plena sintonia com os demais membros da banca. Nesta prova,ele havia obtido de todos os
professores o primeiro lugar, “inclusive pelo Prof. Braga que, apesar de não julgá-la boa,
com o que não estou muito em desacordo, julgou-a, contudo, a melhor de todas”.130

Enfatizou nesta carta, que mesmo não tendo apresentado nenhum documento
comprobatório de sua matrícula em curso regular de música, isso não negava sua capacidade
profissional. Como prova do reconhecimento que usufruía no meio musical e que seus
trabalhos encontravam “caloroso” apoio entre seus pares,indicou a publicação de uma de suas
composições na coleção “Les maitres contemporains de l’orgue”, de Joseph Joubert, editada
em Paris, 1914. 131

Curiosamente, esta publicação trazia a informação de que Bevilacqua era organista e


antigo aluno do Instituto Nacional de Música. A obra publicada é uma Berceuse, em sol
menor, que foi dedicada à sua filha Dora. Os demais compositores brasileiros, que fazem
parte desta coleção, são todos ligados ao INM: Alberto Nepomuceno, Francisco Braga,

129
JORNAL DO COMMERCIO. O concurso do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 27 de setembro
de 1916, p. 10.
130
Idem.
131
JOUBERT, Joseph. Lesmaitrescontemporains de l’orgue. Paris: Maurice Senart& Cia., 1914.
84

Arnaud Duarte de Gouvêa, Henrique Oswald e Glauco Velasquez.

Na conclusão da carta, apresentou-se, dentre os demais candidatos, como o único livre


docente do INM, cargo conquistado pela “unanimidade de votos”, e com “referências
honrosíssimas” à sua pessoa e trabalho e destacava o sucesso de seus alunos nos exames de
admissão aos cursos desta mesma instituição. Por fim, lamentava ter sido tratado tão
rudemente, pois, nunca havia negado aos seus colegas “solidariedade e simpatia”.132

Cerca de um mês após ter recebido o relatório, as provas do concurso e o recurso da


candidata Roberta Gonçalves, o Ministro Maximiliano, conforme a Gazeta de Notícia, teria
analisado com imparcialidade as irregularidades apresentadas pela recorrente e anulado o
concurso. O periódico, com bom humor, destacava que em seu despacho, o Ministro havia
passado “um formidável ‘sabonete’ na mesa examinadora”, que teria desafinado “em lá
menor”. 133

Antes mesmo de enviar para o diretor do INM as suas considerações finais sobre a
petição iniciada pela candidata Roberta Brito, o Ministro Maximiliano mandou publicar o seu
despacho no jornal O Paiz, de 25 de outubro de 1916. Para o Ministro, a mesa examinadora
agiu com “favoritismo” ao indicar Octavio Bevilacqua como o mais capacitado para o cargo
de professor do INM134. Logo no início, evidenciou seu apoio à candidata recorrente,
desmerecendo tanto o candidato Bevilacqua quanto os procedimentos adotados na realização
do concurso. 135

No texto publicado, o Ministro afirmava que, diante dos rumores de que havia uma
manipulação para destinar o cargo em disputa para Bevilacqua, ele havia decidido que as
provas públicas seriam realizadas no auditório da Escola Nacional de Bellas Artes. Assim,
tornava possível não somente sua própria presença, quanto o acesso de um número maior de
pessoas que desejassem assisti-las.

Neste sentido, tendo estado presente a algumas provas, pôde fazer uma apurada
avaliação sobre os exames realizados. Dentre eles, fez uma severa avaliação da dissertação
sobre “ritmo” que Bevilacqua apresentou, apontando que esta era “recheada de frases

132
Idem.
133
GAZETA DE NOTICIAS. Coluna Salpigos. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1916, p. 1
134
GAZETA DE NOTICIAS. Coluna Notas Sociais. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1916, p. 1
135
O PAIZ. É anulado o concurso de solfejo. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1916, p. 4. O documento original
se encontra no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro sob o códice. Série Educação, Cultura, Bellas Artes,
Biblioteca, 1914-1916.IE 7 94 92.
85

latinas”, lidas pelo candidato em meio a “silabadas imperdoáveis”. Isto levantou a suspeita de
que não teria sido ele o autor daquela “monografia brilhante, escrita em casa”. Continuou o
Ministro apontando as “artimanhas” e evidências de que o “boato” que surgiu antes mesmo de
começarem as provas estava se concretizando em realidade:

Na prova de contraponto Bevilacqua fez na pedra um esboço errado. Em vez de lhe


dar nota má, a comissão permitiu que fizesse outro esboço. Errou ainda. Entretanto a
Comissão em peso ainda achou merecer, por essa prova duas vezes errada, entrar na
lista de dois nomes como dignos de ser nomeado: um professor ainda lhe dava o
primeiro lugar; os outros 5, o segundo.

O candidato fez uma fuga livre, que a própria informação do Diretor classifica de
arrojo condenado pelos compêndios; e, entretanto, até em fuga obteve Bevilacqua
todos os sufrágios para o primeiro lugar.

Todas as vezes que o candidato se saia mal, não era desclassificado; passava para o
segundo lugar; de sorte que dos concorrentes, em número de cinco, ele foi o único a
ter para 1º e 2º lugar a soma das notas da Comissão – 6.

Os examinadores revelaram lamentável desprezo pelos graus conferidos pelo


próprio Instituto, a ponto de, em piano, colocar Bevilacqua, amador, acima de
136
alunos aprovados com distinção em curso integral.

Mesmo não tendo assistido à prova de contraponto, que ocorreu no dia 11 de agosto,
mas se valendo do argumento exposto por Roberta, o Ministro chamou a atenção para os
procedimentos desta prova. O professor que classificou Bevilacqua em primeiro lugar nesta
prova é Frederico Nascimento, que tentou desmerecer a prova da candidata recorrente dando
voto para o segundo lugar, enquanto os demais lhe outorgaram o primeiro. Isto mesmo diante
dos erros apontados e da permissão de realizar outro esboço, fato que colocava em dúvida a
lisura do exame.

Diante das razões acima mencionadas, e se valendo do Artigo próprio, deu provimento
ao recurso da candidata Roberta, anulando o concurso137. No término do seu parecer deixou a
ordem para que se realizasse um novo, no prazo de quatro meses, fixando desta vez e de
maneira definitiva o horário das provas e uma comissão examinadora composta por membros
que não tivessem participado deste concurso. 138

Neste momento, podemos compreender qual foi o impacto desta decisão no seio do
INM. Diante de tantos desentendimentos e suspeições levantados por Maximiliano não havia

136
Idem.
137
BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915: Art. 66. Se o Governo entender que o concurso deve ser anulado, por não
se conformar com o julgamento, ou por se terem preterido formalidades essenciais, assim o decretará, dando os
motivos.
138
O rascunho da publicação de O Paiz, de 25 de outubro de 1916, se encontra no AN do Rio de Janeiro e foi
assinado pelo Ministro no dia anterior: ARQUIVO NACIONAL. Série Educação, Cultura, Bellas Artes,
Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
86

outra saída que não o pedido de demissão de Alberto Nepomuceno do cargo de diretor. E
assim o fez usando o mesmo método do Ministro.

Antes de encaminhar o seu pedido formal ao Ministério da Justiça, Nepomuceno


concedeu uma entrevista ao jornal A Época, em 27 de outubro de 1916, utilizando um
periódico que até então não havia participado deste debate. Além de anunciar o seu pedido de
demissão, ele registra suas críticas e ponderações sobre este caso. Entre elas, esclarecia quea
realização das provas no salão da Escola Nacional de Bellas Artes havia sido uma iniciativa
sua, bem como a fixação da hora de início das provas.

Contradizendo o Ministro, o maestro disse que por sua responsabilidade profissional,


não poderia dizer que uma fuga livre é um arrojo condenado pelos compêndios. Mantinha seu
apoio à idoneidade e capacidade dos professores membros da banca, que haviam julgado as
provas com toda seriedade. 139

Por fim, sobre a suspeita levantada pelo Ministro de não ter sido Bevilacqua o autor da
dissertação sobre ritmo, Nepomuceno afirmou que “se alguém entre nós tivesse escrito
trabalho de tal valor, não teria a abnegação de cedê-lo a outrem para que passasse como
seu”. Disse ainda, que Octavio Bevilacqua realizou um ato “brilhante e digno” ao solicitar a
publicação das provas do concurso e esperava que o Ministro atendesse a “tão justo pedido”.
E assim, não vendo mais razão de dirigir o INM, em suas palavras, “tenho a honra de
apresentar-vos a minha demissão de diretor do Instituto Nacional de Música”, o que
seriaaceito pelo Ministro sem contestação. 140

A publicação em A Época simboliza o rompimento de Nepomuceno não somente com


o governo, mas também com o periódico que até então relatava os acontecimentos no INM.
No mesmo dia 27 de outubro o Ministro Maximiliano concedeu ao Gazeta de Notícias uma
entrevista colocando em termo esta história. Pelas palavras do redator, podemos perceber o
quanto expostos estavam o diretor e o candidato Bevilacqua:

Não compreendemos o que pretende o Sr. Octavio Bevilacqua no requerimento


acima.
É difícil de atinar o que o jovem musicista chama “a exibição em público das suas
provas escritas”.
Será a publicação das mesmas no “Diário Oficial”?

139
A EPOCA. Um concurso de solfejo que acabou desafinando. O maestro Nepomuceno, magoado com o sr.
Ministro, pede sua demissão – Uma palestra com o ex-diretor do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro,
27 de outubro de 1916, p. 1.
140
Idem.
87

Será a exibição em alguma praça pública ou nos portões do Ministério da Justiça?


É bem de ser que o Dr. Carlos Maximiliano nada disso pôde fazer.
Se o Sr. Octavio Bevilacqua pretende que o público as conheça só há um meio: é
pedir por certidão a cópia das mesmas e publicá-la, a sua custa, onde bem lhe
aprouver.
O governo já encerrou o caso anulando legalmente o concurso e as provas escritas
preencheram perfeitamente o fim a que se destinavam...
O resto é uma questão de interesse particular, estranha inteiramente às cogitações
governamentais, felizmente para administração pública.141

Logo no início da entrevista, Maximiliano afirmou que o governo agia motivado pelas
graves irregularidades cometidas na execução do concurso, classificado como um
“escândalo”. E reafirmou o discurso bem caro aos republicanos, falando sobre moralidade e
mérito, e salientou o dano político do governo quando acontece o “desprezo dos direitos dos
concorrentes que se sujeitaram a uma prova pública”.
O Ministro estava preocupado com a recepção que a sociedade teria a respeito de sua
decisão. No entanto, em suas palavras, o público acompanhava “interessado a ação
governamental”, e por isto mesmo, os candidatos envolvidos não poderiam estar expostos “às
surpresas decorrentes da ação desenvolvida em favor dos mais apadrinhados”.
Dentre as irregularidades, o Ministro atentou que a comissão sempre dava pontuações
para o primeiro e segundo lugares, até mesmo na prova de contraponto, que havia cometido
erro tanto no primeiro quanto no segundo esboço que havia apresentado, recebera até um voto
para o primeiro lugar. Mesmo reconhecendo os méritos do “maestro” Alberto Nepomuceno,
não poderia voltar atrás em sua decisão, pois grande foi o escândalo nesta obra de
“inqualificável proteção” e a estada ou não do diretor não poderia “influir em decisões
justas”. Em suas palavras,
o escândalo chegou a tal ponto que ao Sr. Octavio Bevilacqua, a comissão julgadora
aquinhoou com o 1° e o 2° lugares, para, em face do regulamento, o ministro ser
forçado a nomeá-lo ou a anular o concurso. Outro não poderia ter sido o intuito.142

Após o afastamento de Nepomuceno, intentou substituí-lo o professor de piano


Alfredo Fertin de Vasconcelos, que integrou o corpo docente do Conservatório de Música e
continuou sua função no INM como professor adjunto de piano143. Em 31 de outubro de 1916,
em ofício ao Ministério da Justiça, Fertin de Vasconcelos se dirigiu ao Ministro Maximiliano
empregando o Artigo 84 do Decreto N.º 11.748 – “Substitui o diretor, em caso de falta ou
impedimento temporário, o professor mais antigo em exercício” –, para ocupar o cargo vago:

141
GAZETA DE NOTÍCIAS. Instituto de Música: Um concurso escandaloso: A demissão do maestro
Nepomuceno. Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1916 10 27, p. 2.
142
Idem.
143
De acordo com o “Livro de Registro de Título e Pessoal” do INM, Alfredo Fertin de Vasconcelos foi
nomeado Professor de Piano do INM em 03 de março de 1903. BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1
– 1903-1940. Arquivo Institucional. Registro 4071/2013. N.º Sist. 803740. Atas v. 72.
88

Tendo sido exonerado por Decreto de 26 do corrente mês, do cargo de Diretor deste
Instituto, o Maestro Alberto Nepomuceno, venho comunicar-vos que, nesta data,
assumo o exercício do mesmo cargo, como substituto legal, de acordo com o art. 84
do Regulamento. 144

Mesmo se valendo do documento que regia a instituição, não era esta a vez em que
Fertin de Vasconcelos ocuparia o cargo de diretor do INM145. No dia seguinte ao envio do
ofício ao Ministério, Abdon Milanez foi nomeado pelo presidente Wenceslau Brás para o
cargo de diretor do INM em 1 de novembro de 1916.146

144
ARQUIVO NACIONAL. Documentos do Instituto Nacional de Música. VASCONCELOS, Alfredo Fertin.
Ofício N.º 152-1916. Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca,
1914-1916. IE 7 94 92.
145
Fertin de Vasconcelos sucedeu Abdon Milanez no período de 1923 a 1930.
146
BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940. Arquivo Institucional. Registro 4071/2013.
N.º Sist. 803740. Atas v. 72.
89

Capítulo 3: O segundo concurso do Instituto Nacional de Música,


violino (1917): “Um escândalo artístico”

3.1 Atos administrativos e provas

A nomeação de Abdon Milanez para o cargo máximo do INM representa uma ruptura
com o grupo de compositores que vinha dirigindo o INM desde sua criação em 1890.

O primeiro concurso realizado sob a direção de Milanez foi para o cargo de professor
de violino. O concurso foi anunciado em 11 de julho de 1916, ainda sob a direção de Alberto
Nepomuceno, mas só seria concluído em 07 de julho de 1917, com a nomeação da jovem
violinista Paulina D’Ambrósio. Bem como o concurso de solfejo, não foram poucas as
polêmicas que se desenrolaram no seu decorrer.

Regido pelo regulamento de 1915, inscreveram-se para o preenchimento da vaga


deixada após o falecimento do professor Ricardo Tatti quatro candidatos: Paulina d’Ambrósio
(que desde o dia 9 de agosto de 1916, ocupava o cargo de professora interina de violino no
INM), Leonor Granjo, Guido dal Camino e Frederico Carneiro de Campos e Almeida. De
acordo com o “Livro de inscrição em concurso de magistério e livre docência do INM”, o
encerramento das inscrições ocorreu em 13 de novembro de 1916, já na administração do
novo diretor. Neste dia ocorreu a inscrição dos três últimos candidatos acima listados, tendo
Paulina se inscrito dois dias antes.

Após meses de espera, foi anunciado aos candidatos que as provas teriam início no dia
12 de junho, às 10 horas, no INM e que a primeira prova a ser realizada seria a de número 4
do programa: realização de um canto ou baixo dado a quatro partes. O Diário Oficial
anunciou que a comissão julgadora seria formada por Elpidio Pereira, Oscar Guanabarino,
Francisco Chiaffitelli; e pelos professores Humberto Milano, Francisco Braga e Agnello
Gonçalves Vianna França, sendo o presidente da banca o diretor Abdon Milanez147. De
acordo com as atas do concurso, o jurado Francisco Chiaffitelli foi substituído por Joaquim de
Barros Ferreira da Silva, com respaldo do parágrafo segundo do Artigo 52 do Decreto de
1915.148

O regulamento previa um total de seis provas, sendo duas facultativas. Esta sequência
147
BRASIL. Diário Oficial. Instituto Nacional de Música. Concurso para provimento de uma cadeira de violino.
07 de junho de 1917, Seção 1, p. 56.
148
Artigo 52: § 2º Faltando à ultima hora, algum membro da comissão examinadora, o diretor lhe dará
substituto.
90

de provas também era aplicada nos concursos para o cargo de professor de piano e para os
demais instrumentos:

Prova 1: Execução de uma peça de dificuldade transcendental, indicada um mês


antes da realização do concurso;
Prova 2: Execução de uma ou mais peças escolhidas pela comissão em um
repertório de seis composições, que o candidato apresentará no ato do concurso;
Prova 3: Leitura completa, à primeira vista, de uma peça (manuscrita) escrita
especialmente para o ato pelo diretor ou por pessoa por ele designada e apresentada
ao candidato quinze minutos antes da prova. Transposição da mesma em um tom
dado. (Para os professores de instrumentos de arco e de sopro), facultativa para os
professores de piano e de piano e teclado;
Prova 4: Realização de um canto ou baixo dado a quatro partes;
Prova 5: Explicar a alunos a construção de um tempo de concerto ou de sonata,
escolhido pela comissão dentro seis apresentados pelo candidato, observando as
particularidades arquiteturais da obra, ilustrando, se preciso for, de exemplos,
analisando as frases, motivos e ritmos e apreciando o sentimento geral da obra sobre
o ponto de vista estético (facultativa);
Prova 6: Conhecimentos de teoria física e fisiológica da música (facultativa).149

A primeira reunião da comissão ocorreu em 08 de junho, na biblioteca do INM, com a


ausência do professor Francisco Braga. O diretor relatou que motivo desta reunião seria
analisar as instruções divulgadas em janeiro, sendo estas passíveis de quaisquer modificações
para a plena realização deste concurso.

O crítico musical Oscar Guanabarino realizou algumas considerações quanto ao


calendário das provas. Propôs que as provas de número 3 a 6 fossem realizadas nas
dependências do INM no dia 12; e as de número 1 e 2 no Teatro Phênix, dois dias depois.
Também sugeriu que a prova de número 4 fosse realizada sobre um baixo dado a quatro
partes e sorteada dentre os variados modelos apresentados pela comissão no ato do concurso.
Suas propostas, depois de discutidas e votadas foram aprovadas por unanimidade. Não teve
igual aceitação a proposta que Elpídio Pereira ao notar que o candidato Frederico Almeida era
o único que apresentou um trabalho sobre o ponto de número 6. Sendo esta facultativa, ele
propôs que o candidato fosse dispensado da arguição.150

Dos quatro candidatos que se inscreveram, apenas Paulina e Frederico compareceram


para o primeiro dia de provas. A candidata Leonor enviou um telegrama dizendo que não
poderia comparecer ao “concurso para a cadeira do estimado professor Ricardo Tatti”.
Guido não justificou sua ausência e também não concorreu à vaga de professor de violino.

149
BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Decreto N.º 11.748, de 13 de outubro de 1915:
Reorganiza o Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915.
150
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 1ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 8 de junho de 1917. Atas de Concurso da
Carreira do Magistério EM/UFRJ V. 1: 1916-1935. Registro 4021/2013. N.º Sist.: 799875. ADEM AI/EM/UFRJ
Atas V. 22.
91

Fechada ao público, a prova teve início com a apresentação de dois esboços para
realização do baixo dado, um do professor Francisco Braga e o outro de Agnello França. Após
ter sido realizado o sorteio que designava qual ponto caberia a cada candidato, às 10h45min,
iniciaram a realização da prova de número 4, cabendo o esboço do professor Agnello ao
candidato Frederico Almeida e o do professor Braga à candidata Paulina. Duas horas depois
foram entregues para julgamento e devidamente lacradas.

Em seguida foi realizada a prova de número 3, uma leitura à primeira vista de um


trecho musical escrito especialmente pelo professor Francisco Braga por ordem do diretor.
Conforme o edital, cada candidato teria quinze minutos para se preparar para a leitura que
deveria ser feita de forma individual. A primeira que apresentou a leitura foi Paulina, tendo
Frederico sido afastado do local da prova. Logo após, este foi convocado para realizar a
idêntica prova. Em seguida, Frederico, apresentou sua tese, referente à prova de número 6
(facultativa), sob o tema “Teoria do som; ruído e som musical; propagação do som,
fenômenos representantes da existência de dois ou mais sons; produção dos sons nos
instrumentos musicais”, com arguição do jurado Guanabarino.151 Paulina não realizou a prova
de número 6, nem a de número 5 no que foi seguida pelo outro candidato.

Após o término das provas deste dia, as pessoas que assistiam às apresentações dos
trabalhos foram convidadas a deixar a sala para que ocorresse o julgamento das mesmas.
Julgadas as provas por todos os membros da banca, foram devidamente lacradas e mantidas
em posse do diretor. Restavam ainda as provas de números 1 e 2 que ocorreram no dia 14 de
junho, às 13h, no Teatro Phenix. 152

Dentre os que assistiram às provas finais do concurso, estava o Ministro Carlos


Maximiliano Pereira dos Santos, o mesmo que havia anulado o concurso de solfejo que
ocasionou a saída de Nepomuceno da direção do INM. O desfecho deste concurso poderá nos
fazer entender que a despeito da moralização pretendida pelo governo na elaboração de um
concurso público, não seria impossível que manipulações e controles de resultados pudessem
ainda fazer parte deste processo.

Para a prova de número 1, ambos os candidatos executaram a Chaccona em Ré menor,

151
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 2ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 12 de junho de 1917. Atas de Concurso da
Carreira do Magistério EM/UFRJ V. 1: 1916-1935. Registro 4021/2013. No. Sist.: 799875. ADEM
AI/EM/UFRJ Atas V. 22.
152
Idem. Ibidem.
92

da Sonata número 4, de J. S. Bach. Em seguida, correspondendo à prova de número 2, os


candidatos deveriam apresentar uma ou mais peças de uma lista de seis composições. A
comissão pediu que Paulina executasse o primeiro tempo (Allegro non troppo) e a cadência
do Concerto em Ré Maior, de J. Brahms; e ao candidato Frederico lhe foram atribuídos os três
movimentos do Concerto em Ré Maior, Op. 35, de P. Tchaikowsky, Allegro moderato,
Cansonetta e Allegro vivacíssimo.
Logo após,foram eleitos Oscar Guanabarino, Humberto Milano e Francisco Braga para
elaboração do relatório,que de acordo com o Art. 61 do Regulamento,conteria o desempenho
e a competência alcançados nas provase os títulos que os candidatos apresentaram no ato da
inscrição. Este deveria ser entregue 24 horas após a finalização das provas, determinação do
Artigo 64 do Regulamento, mais precisamente, às 15 horas do dia 15 de junho no Instituto
Nacional de Música.153
A quarta ata que registra este concurso possui algumas contradições. A primeira delas
é que o secretário parece ter antecipado o cabeçalho e inserido o nome do Sr. Joaquim de
Barros Ferreira da Silva, enquanto ele não estava presente. Quando percebeu sua falha,
registrou que mesmo tendo faltado à reunião o jurado havia enviado sua justificação de voto
que foi lida após a ordem do diretor, porém, seu voto não foi disposto nesta ata. 154
O segundo ponto que nos chama atenção é que o diretor disse ter recebido o relatório
do concurso e que o relator deveria proceder sua leitura e em seguida a abertura dos
envoltórios em que se achavam as provas do dia 12, que até aquele momento estavam
devidamente lacradas. Com as provas já expostas, o diretor pede que o secretário Arthur
Tolentino da Costa fizesse a leitura de uma carta enviada por um senador do estado do Pará:
Arthur Lemos, Senador Federal pelo Estado do Pará, Lente Catedrático da
Faculdade de Direito do Pará, etc, - Declaro que há alguns anos me foi entregue por
Melle. Paulina d’Ambrosio um diploma a ela conferido pelo Conservatório Real de
Bruxellas, de aluna laureada de violino, em menção do prêmio que lhe foi dado,

153
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 3ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 14 de junho de 1917.
154
Exmo. Sr. Dr. Abdon Milanez, d. d. Diretor do Instituto Nacional de Música, o Presidente da Comissão
Julgadora do Concurso. – Impossibilitado, á ultima hora, de comparecer ás 3 horas, á reunião da Comissão
Julgadora do Concurso para o provimento da cadeira de violino deste Instituto de que V. Ex. é digníssimo
Diretor e não desejando, por forma alguma, prejudicar o andamento dos trabalhos da referida comissão, junto
remeto a V. Exa. O meu voto por escrito, justificando, para os devidos efeitos. Se, entretanto, a juízo de V. Exa.
for absolutamente indispensável a minha presença, que só amanhã poderei efetuar, será suficiente que V. Exa.,
que qualquer modo, me o faça saber, pois que terei hoje e sempre o máximo empenho em demonstrar a V. Exa.
toda a minha simpatia e consideração. Aproveito o ensejo para rogar a V. Exa. a fineza de transmitir aos demais
membros da comissão os meus agradecimentos por todas as gentilezas que me dispensaram e os meus protestos
de consideração, protestos que mais uma vez reitero a V. Exa. acenando-lhe toda a minha estima. De V. Excia
muito at... Joaquim de Barros Ferreira da Silva. BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional.
Ata da 4ª sessão da comissão julgadora do concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no
dia 15 de junho de 1917.
93

nestes termos: “Primeiro prêmio, com a mais alta distinção.” – Esse documento, que
se destinava a justificar no Senado Federal, um projeto de pensão à sua possuidora
para aperfeiçoar-se em uma especialidade na Europa – encontra-se ainda em meu
poder, mas de envolta com outros papéis, circunstância que não permite restituí-lo
no momento, a Melle. Paulina d’Ambrosio. – Para que, porém, essa passageira
impossibilidade não prejudique, de alguma forma, exma.solicita, no concurso a que
acaba de submeter-se para professora do Instituto Nacional de Música, faço a
presente declaração e comprometo-me, perante quem de direito, a exibir o referido
documento num prazo razoável que me seja marcado. Arthur Lemos. – Rio de
Janeiro, 15 de junho 1917.155

Com a ausência do professor Joaquim e tendo o relator, Oscar Guanabarino, declarado


que não foi possível concluir o relatório no prazo de 24 horas, solicitou ao diretor mais um dia
para lhe apresentar. Com fundamento no art. 64 do Regulamento, que versava sobre o prazo
para entrega do relatório, podendo chegar até o adiamento de 48 horas, o diretor lhe concedeu
o tempo solicitado ao considerar “a grande responsabilidade que pesa sobre o júri, cuja
competência e alto espírito de justiça enaltece, declara que está pronto a atender a qualquer
reclame dos seus membros”. 156
A quinta e última sessão da comissão julgadora deste concurso ocorreu no dia 16 de
junho na sala da Biblioteca do INM, com todo o júri presente. O secretário realizou a leitura
do relatório apresentado por Guanabarino no qual ficou exposto que a candidata Paulina
d’Ambrósio havia alcançado nas provas teóricas o primeiro lugar e Frederico de Almeida o
segundo. O diretor, então, consultou os votos do júri em relação às provas práticas, que
também confirmaram o primeiro lugar por unanimidade para a candidata Paulina. Frederico
foi indicado para segundo pela maioria dos votos, pois Ferreira da Silva votou pela
desclassificação do candidato. O diretor, então, agradeceu a todos os membros da comissão
pela “cooperação em prol da arte e do bom nome da instituição” e encerrou o primeiro
concurso para professor na realizado sob sua gestão no INM. 157

A paulista Paulina d’Ambrosio158regia interinamente a cadeira de violino desde agosto


de 1916, ainda na gestão de Nepomuceno. Em 5 de julho de 1917, após conquistar o primeiro
lugar no concurso acima, foi nomeada pelo presidente da República Venceslaus Brás Pereira
Gomes, professora de violino do INM159. A jovem professora, que aos 15 anos, havia sido
enviada para o Real Conservatório de Bruxelas e estudado com César Thompson ocuparia

155
Idem.
156
Idem.
157
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 5ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 16 de junho de 1917.
158
Paulina nasceu em São Paulo no ano de 1890 e faleceu no dia 10 de agosto de 1976.
159
BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940. Arquivo Institucional. Registro 4071/2013. N.º
Sist. 803740. Atas v. 72.
94

este cargo por mais quarenta anos. De acordo com Bosísio, “formou mais gerações de bons
violinistas que qualquer outro professor do instrumento no Brasil (...) implantando de forma
definitiva a escola franco-belga no país”. 160
O resultado do concurso foi noticiado em pelo menos dois periódicos cariocas, O Paiz
e A Noite. Ambos publicaram o mesmo conteúdo sob o mesmo título, sendo que o A Noite fez
um destaque à “senhorita” que havia conquistado o primeiro lugar.
Esteve reunida á tarde, na biblioteca do Instituto Nacional de Música, a mesa
julgadora do concurso à cadeira de violino daquele estabelecimento, vaga com a
morte do professor Ricardo Tatti, afim de dar parecer sobre o relatório da comissão
composta pelos professores F. Braga, H. Milano e Oscar Guanabarino, relativo ao
mesmo concurso. Os concorrentes julgados foram somente a senhorita Paulina
d’Ambrosio e o Sr. Frederico de Almeida, os únicos candidatos que fizeram todas as
provas exigidas para o mesmo concurso. Lido e discutido, afinal, o relatório,
classificou a mesa, por unanimidade de votos a senhorita Paulina d’Ambrosio, e em
segundo lugar, também por unanimidade de votos, o candidato Sr. Frederico de
Almeida.161

Como se não bastasse toda a discussão travada entre nos jornais no anterior concurso
para professor do INM, a instituição mais uma vez iria ser envolvida em um forte debate entre
os jornais Gazeta de Notícias e O Paiz. O primeiro estava em defesa do candidato Frederico
de Almeida e, como era esperado,Oscar Guanabarino utilizou o jornal no qual desempenhava
a função de crítico musical para defender o resultado do concurso.

Sob o título “Um escândalo artístico - O concurso do Instituto Nacional de Música -


O protesto do concorrente Sr. Frederico de Almeida”, o Gazeta de Notícias publicou um
extenso documento e o requerimento que o próprio candidato havia enviado ao Ministro da
Justiça solicitando que o concurso fosse anulado por ter sido violada a “condição essencial da
prova mais importante”:

O Sr. Frederico de Almeida, que, não obstante a sua pouca idade, já se tem revelado
um “virtuose” e é um dos mais aplicados e talentosos violinistas patrícios, tendo já
demonstrado, em concertos públicos, qualidades exuberantes do seu valor artístico,
pleiteou com justa razão a cadeira vaga do Instituto, apresentando-se no referido
concurso com um contingente muito apreciável de estudos, que mais uma vez
impressionaram o publico que assistiu a ultima prova instrumental, realizada no dia
15 do corrente, no Theatro Phenix. Basta ver o repertorio das composições que o
inteligente jovem submeteu á escolha da mesa julgadora, para se aquilatar do valor
do seu preparo e da sua técnica, que se acentuam num vigor sempre crescente, à
proporção que os seus estudos adquirem um circulo mais vasto e complexo de
ação.162

160
BOSÍSIO, Paulo. Paulina d’Ambrosio e a modernidade violinística no Brasil. Dissertação de mestrado. Rio
de Janeiro, UNIRIO, 1996.
161
O PAIZ. O concurso de violino do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 17 de junho de 1917, p. 4.
et: A NOITE. Ultima Hora: O concurso de violino do INM; A senhorita Paulina d’Ambrozio classificada em
primeiro lugar. Rio de Janeiro, 17 de junho de 1917.
162
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso do Instituto Nacional de Música. O protesto
95

O Gazeta de Notícias protestou que o grupo que compôs a mesa julgadora – formada
em sua maioria por professores estranhos à cadeira de violino, críticos de jornais e pessoas
desconhecidas do meio artístico –, havia colocado em segundo lugar um candidato que
apresentou “superioridade e segurança de técnica” na execução da Chaccone,de Bach,e do
concerto de Tchaikovsky tocado integralmente.

E parece incrível que tenha havido na mesa julgadora quem entendesse


desclassificar o Sr. Frederico de Almeida, naturalmente por não compreender as
subtilezas e dificuldades vencidas pelo jovem executante. Não é nosso intuito neste
momento fazer a crítica e o confronto do trabalho apresentado pelos dois
concorrentes, mas sempre que vemos cometida uma injustiça não podemos calar o
nosso sentimento, e é por isso que pedimos para o caso desse concurso a atenção do
Exmo. Sr. Ministro da Justiça.163

Dentro do prazo estabelecido pelo regulamento, até 10 dias depois de concluído o


concurso, Frederico recorreu da deliberação do Conselho para o ministro, enviando um
requerimento ao diretor Abdon Milanez, no dia 18 de junho de 1917. O requerimento pedindo
a anulação do concurso foi publicado na íntegra pelo Gazeta de Notícias.

Inicialmente, disse que na prova mais importante foi “transgredida a condição


essencial” visto que a peça de dificuldade transcendental da primeira prova não foi divulgada
com um mês de antecedência, como previa o regulamento, mas quase três meses antes. A
peça foi indicada em 26 de março e o concurso só foi realizado em 14 de junho. Frederico
entendia que o intuito da lei era delimitar um tempo de preparação para a prova e que a
ampliação deste prazo prejudicaria o reconhecimento da competência exigida pelo
regulamento. De acordo com o Livro de inscrição em concursos do INM, o termo de
encerramento das inscrições ocorreu em 13 de novembro de 1916. Como o regulamento não
estabelecia uma data limite para a realização das provas, estas só vieram a ser realizadas em
junho de 1917.

O candidato alegou também que, ao inquirir sobre o porquê do adiamento das provas,
o diretor alegava ser pelo fato de que Paulina “sofria alguma moléstia”. Para Frederico, era
evidente o favorecimento à “concorrente escolhida”, e mesmo não tendo sido alterada a peça
obrigatória, a candidata classificada em primeiro lugar enfrentou problemas técnicos, que se
evidenciaram na “falta de segurança” e pelos “rallentandos aplicados sem cabimento nos
trechos mais difíceis, denotou carecer de tempo ainda mais dilatado”.

Outro ponto que Frederico contestou foi a respeito da formação da mesa julgadora,

do concorrente Sr. Frederico de Almeida. Rio de Janeiro, 19 de junho de 1917, p. 3.


163
Idem.
96

que em sua maior parte não apresentava profissionais “conhecedores das minúcias e sutileza
do mais difícil dos instrumentos” e que assim pudessem distinguir os méritos dos
concorrentes. O diretor Abdon Milanez, que era o presidente da mesa julgadora, acompanhou
todo o processo do concurso ao lado do professor de violino, Humberto Milano; dos
professores de harmonia, estavam presentes Francisco Braga e Agnello França. Os demais
não eram professores do INM, sendo eles Oscar Guanabarino, que foi um crítico musical;
Elpídio Pereira, compositor brasileiro que teve seu nome imortalizado no conjunto de
compositores brasileiros executados pela Sociedade de Concertos Sinfônicos164; e Joaquim de
Barros Ferreira da Silva, que naquela época exercia a função de secretário do Consulado
Português no Rio de Janeiro165, chegando depois ao posto de cônsul-geral de Portugal no
Brasil166. Foi este o jurado que votou pela desqualificação de Frederico.

Por não ter a comissão escolhido uma obra comum, dentre as que foram selecionadas
pelos candidatos para a realização da prova de número 2, Frederico entendeu que a “mesa não
nutria desejos de proferir decisão justa”, e que a opção pela escolha de diferentes peças, fez
com que se dispersasse o juízo do público assistente. Por informações colhidas no decorrer do
concurso, Frederico ficou sabendo qual foi o programa proposto por Paulina e apresentou no
seu requerimento como forma de confronto para não ser posto em plano inferior ao da
candidata vencedora. Estes quadros carecem de informações sobre qual foi a obra específica
proposta pelos candidatos. Por exemplo, não nos foi possível detectar qual dos três concertos
para violino de Max Bruch foi sugerido pelos candidatos. Porém, o que se destaca é que a
candidata Paulina não ofereceu a execução completa de três obras indicadas, diferentemente
de Frederico que sugeria a execução completa das obras:
Paulina D’Ambrosio
Max Bruch Concerto (completo)
Giuseppe Tartini Sonata (completa)
Johann Sebastian Bach Concerto (completo)
Johannes Brahms 1º tempo do Concerto
Ludwig van Beethoven 1º tempo do Concerto
PiotrIlitch Tchaikovsky 1º tempo do Concerto

Frederico de Almeida
Max Bruch Concerto (completo)
Giuseppe Tartini Sonata (completa)
Johann Sebastian Bach Sonata (completa)
Ludwig van Beethoven Concerto (completo)

164
A NOITE. Nossa música executada por artistas brasileiros. Reorganizada em grandes bases a Sociedade de
Concertos Symphonicos. Rio de Janeiro, 9 de abril de 1925, p. 7.
165
O PAIZ. Secção Portugueza.Uma nova repartição do consulado. Rio de Janeiro, 1 de junho de 1917, p. 7.
166
O PAIZ. Secção Portugueza: A Assistência aos Portuguezes Desamparados. Rio de Janeiro, 15 de outubro de
1921, p. 7
97

PiotrIlitch Tchaikovsky Concerto (completo)


Heinrich Wilhelm Ernst Concerto (completo)

Para Frederico, não havia dúvida de que a vaga seria ocupada por Paulina. Dias antes
de iniciar o concurso, ouviu de um dos professores que fez parte da banca examinadora que
independente das provas exibidas a cadeira pertenceria a quem por fim designaram, em vão
foi a sua queixa ao diretor...

Disse que vários professores recusaram formalmente o convite para compor a mesa
“com receio de serem envolvidos no plano assentado”. Isto confirmaria a suspeita de que a
decisão final não viria das provas aplicadas, mas de “causas e considerações alheias ao
mérito e à competência dos candidatos”. O fato das duas candidatas terem desistido de
realizar as provas reforça a ideia de que qualquer esforço para o cumprimento das provas não
seria apreciado diante da preferência previamente estabelecida.

Mesmo diante disto, Frederico se apresentou para concorrer à vaga de professor de


violino do INM. Concluiu seu requerimento sentindo-se vítima das injustiças sofridas no
decorrer deste concurso e do maquinado esforço que até mesmo os assistentes das provas
práticas fizeram em favor de Paulina.

Assim, a discussão entre os jornais Gazeta de Notícias e O Paiz aumentava. Por quase
uma semana debateram sobre os inúmeros detalhes que poderiam ocasionar a nulidade do
“escandaloso” concurso, e assim, tornaram públicas as informações peculiares inerentes ao
INM, ao júri, aos candidatos e suas provas...
Nada faltou para a consumação do conchavo nem mesmo os fervorosos aplausos
antecipados que, além de constrangerem o juízo dos que ouvem predispõem
favoravelmente a quem deles é alvo e constituem um escolho a vencer por aquele
que não é favorecido com semelhantes manifestações, não prometidas
judiciosamente em tempos idos, mesmo nos exercícios práticos dos alunos do
Instituto. 167

Em 20 de junho, O Paiz rebateu esta publicação acusando a Gazeta de Notícias de


imprudente por ter publicado o protesto de Frederico de Almeida, que foi feito de forma
escandalosa. Este artigo contrapôs as acusações quanto à escolha dos professores, trouxe a
informação de que o Prof. Ronchini não poderia compor a mesa por ter sido professor do
candidato e que o Prof. Chiafitelli alegou justos motivos para não compor o júri.

167
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso do Instituto Nacional de Música. O protesto
do concorrente Sr. Frederico de Almeida. Rio de Janeiro, 19 de junho de 1917, p. 3.
98

Com a impossibilidade destes professores de compor a mesa, foram convidados outros


três violinistas, Milano, Elpídio e Ferreira da Silva, o jurado que votou a favor da
desqualificação de Frederico Almeida. O antigo secretário do Consulado Português que
estudou no Conservatório de Leipzig, na Alemanha, sob a orientação do Prof. Houssla168
escreveu um “bem fundamentado” parecer que trazia o motivo para tal desqualificação,
podendo até mesmo ser publicado para conhecimento público, continuou o articulista.
Continuando a defesa a respeito da formação da banca julgadora, O Paiz justificou a
presença dos professores Braga e França para correção da prova de harmonia, pois
“forçosamente” deveria haver pelo menos um professor desta matéria e de acordo com esta
publicação, a prova de harmonia de Frederico Almeida estava errada, “com erro grave em
matéria de resolução”. A Francisco Braga teria também ficado o encargo de compor um
trecho para a leitura à primeira vista.
Porém, o que nos chamou mais a atenção foi a justificativa da participação de Oscar
Guanabarino, que lá esteve para julgar com exclusividade a prova sobre acústica, a prova
facultativa que Frederico Almeida se comprometeu em apresentar. A “autoridade
incontestável na matéria” deu nota igual a zero após questionar o candidato em dez questões
da dissertação apresentada, o que o fez pensar ser um trabalho “mal copiado ou feito por
pessoa estranha ao concurso”.
Reconhecido como professor de piano, notável crítico musical do período do império e
da república brasileira, mestre de coros de companhias líricas, regente de orquestra,autor de
peças teatrais e timpanista169, Guanabarino assumiu uma posição que poderia ter sido ocupada
pelo professor Frederico do Nascimento, fundador do gabinete de acústica do INM inventor
do Melophonometro, um aparelho de acústica musical.170 Porém, como Nascimento esteve
envolvido no “malfadado” concurso de solfejo, dificilmente ocuparia uma posição de jurado
neste concurso.
A figura de Guanabarino é exaltada pelo articulista quando, naquele período, ele era
“o único dos nossos músicos que regeu, um público e na presença de Carlos Gomes, a
célebre orquestra do maestro Bassi, nos belos tempos do Ferrari”171. Como crítico musical

168
Não conseguimos encontrar nenhuma referência a respeito deste professor.
169
PASSAMAE, Maria Aparecida dos Reis Valiatti. O Professor de Piano: o método de Oscar Guanabarino.
Acessível em
https://www.academia.edu/16330883/O_Professor_de_Piano_o_m%C3%A9todo_de_Oscar_Guanabarino
170
CARVALHO, Delgado de. O Gabinete de Acústica no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro.
Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1905. Biblioteca Nacional: DIMAS, Loc. 780.72 C331g.
171
Ângelo Ferrari foi um empresário dono de uma companhia italiana que fez representar Os Puritanos de
Vincenzo Bellini em julho de 1885, no teatro Pedro II, no Rio de Janeiro. SILVA, Esequiel Gomes da. A crítica
teatral de Arthur Azevedo no Diário de Notícias. Anais do SILEL. Volume 1. Uberlândia: EDUFU, 2009.
99

escreveu sobre diversos violinistas, dentre eles: Wolff, Thomson, White, Sarasate, Vecksey e
Kubelick, sempre alcançando os aplausos do público pelo seu julgamento.
O articulista do jornal O Paiz vaticinava que o jovem Frederico não era digno de
vencer o concurso por ser um violinista “imperfeito”, que havia “gaguejado” na prova de
transposição e ter defeitos graves de arco e mão direita, assim como problemas na posição do
violino. Desta forma, não poderia ocupar um cargo tão honrado e que “toda a gente sabia,
previamente e por mil motivos, que o primeiro lugar caberia à senhorita D’Ambrósio”.172
O Gazeta de Notícias contestou em sua publicação de 21 de junho, que não pretendia
“estabelecer polêmicas nem discussões” com a publicação do pedido de anulação do concurso
por Frederico de Almeida. Mesmo assim, reforçou que a mesa julgadora não agiu com justiça
na classificação dos candidatos diante das provas por eles apresentadas. Em especial, a
acusação de que na prova de harmonia do jovem violinista continha erro de resolução.
Nas palavras publicadas no jornal o que havia era uma excepcional resolução de uma
nota dissonante, que seguia a regra “toda nota dissonante tende a descer” um semitom. Mas o
caso em questão se tratava de uma modulação do tom de Dó Maior para o de Fá Maior com a
resolução da dissonância subindo uma terceira. Para exemplificar seu parecer, o jornal
utilizou exemplos de resoluções excepcionais de notas dissonantes dos “Estudos de
Harmonia”, do compositor francês François-Clément Théodore Dubois:
Um deles é o seguinte: um acorde de 7ª dominante do tom de dó maior na 1ª
inversão encadeado a um acorde de 7ª da dominante do tom de fá maior na 3ª
inversão. A nota dissonante nesse exemplo resolve excepcionalmente, subindo de
uma 2ª maior. Em outro exemplo dado pelo mesmo autor, a dissonância resolve
descendo de uma 4ª justa.173

A publicação da Gazeta de Notícias considerou a “má resolução” como um “aspecto


de vulgaridade pouco comum e de importância mínima” e por isso não esperava que os
professores desconsiderassem por completo a prova de Frederico, que estava respaldada pelo
tratado de Dubois. E sobre os três violinistas que compuseram o júri, apenas reconheciam
como tal o Humberto Milano, pois nunca tinham ouvido falar de Elpídio Pereira e de Ferreira
da Silva como violinistas, chegando a desafiá-los que provassem que eram o eram de fato.
O periódico afirmou que as únicas informações que possuíam sobre Ferreira da Silva
eram as que ele seria um empregado de um consulado no Rio de Janeiro e que havia feito um
catálogo “bem deficiente” de músicas para violino. Lamentava que sua modéstia impedisse o

172
O PAIZ. Um escândalo artístico. 20 de junho de 1917, p. 3.
173
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso de violino do Instituto de Música. Rio de
Janeiro, 21 de junho de 1917, p. 4.
100

ex-aluno do Conservatório de Leipzig de fazer uma demonstração pública da “preciosa


bagagem que lá houvera adquirido” e que não entendia por que somente neste evento seus
“comparsas” o “fizeram conhecer”. 174
Podemos perceber que as divergências iam além do discurso do que ocorreu no INM,
Guanabarino era a figura a ser combatida.
Percebe-se que o discurso do periódico ia além dos fatos do concurso, mas tomava um
cunho de ataque pessoal. Segundo o Gazeta de Notícias, a presença de Guanabarino era
dispensável, pois a prova que Frederico apresentou sobre acústica era facultativa e não
deveria determinar o julgamento do concurso, mesmo porque a oponente não apresentou
prova equivalente. Assim, surpresos com a nomeação de Guanabarino como autoridade
“incontestável na matéria”, não entendiam por que ele preferia manter-se no “estafante
expediente de uma repartição postal de segunda ordem” ao invés de se candidatar à docência
de uma cadeira de física de qualquer estabelecimento de ensino.
Alegavam que a prova de física de Frederico não continha erros e que mesmo não
sendo uma brilhante dissertação, afirmavam que seu intuito era oferecer ao INM uma
demonstração da sua aplicação nos estudos musicais. E que fossem averiguar os erros de
posições do violino, do arco e da mão direita do candidato, talvez devessem atentar para os
aspectos de posturas de um dos exímios pianistas daquele período.
Sua prova de transposição foi considerada pela comissão como incorreta,
“gaguejada”, por conta de alteração no andamento, o que foi contestado pelo candidato.
Porém, passada a realização da prova, não foi possível comprovar se realmente as tais falhas
existiram. Diante da parcialidade da comissão, houve ainda o questionamento de que Paulina
D’Ambrósio poderia ter sido beneficiada com o “conhecimento prévio” do trecho musical a
ser transportado...
Para fundamentar seu argumento de maneira mais ampla e fugir do aspecto de uma
simples defesa de Frederico, a Gazeta de Notícias tentou ampliar seu protesto a toda e
qualquer forma de privilégios que se mantinha no INM. Estes privilégios transformavam a
“instituição perfeita e acabada”, em um monopólio que conduzia a seu gosto que
conhecimentos musicais seriam disseminados na instituição.
Deste modo, mesmo antes do concurso, o candidato Frederico de Almeida estava em
desvantagem diante do favoritismo da candidata Paulina d’Ambrósio, e para melhor aplicar o
conchavo foram necessários muitos ataques ao seu conhecimento exposto nas provas deste

174
Idem. Ibidem.
101

concurso. Esperavam que o Ministro da Justiça interviesse no caso para conter os “arranjos e
apadrinhamento” associados no INM, e que lá se restabelecesse a justiça, “indispensável
como prêmio aos que se esforçam e trabalham, contando exclusivamente com o seu próprio
mérito”.175
Acusando a Gazeta de Notícias de reincidir na imprudente defesa de Frederico e que
este certamente teria dado as diretrizes e coordenadas da sua última publicação, Oscar
Guanabarino, solicitou a autorização do candidato para que se publicasse uma análise de sua
dissertação sobre acústica em O Paiz. Assim, poderia provar publicamente que a tese não só
continha erros, mas “tolices” imperdoáveis a um músico.
Esta prova, ainda nas palavras de Guanabarino, mesmo facultativa, poderia ter dado ao
candidato certa vantagem, já que sua oponente declinou de realizá-la, o que poderia
representar um motivo para pedir anulação do concurso. Porém como sua prova foi
desclassificada pelos diversos erros observados, esse argumento não se demonstrava plausível
de ser usado. O único ponto que Guanabarino entende como procedente seria a prorrogação
do prazo de estudo para a peça de confronto. Porém, ele argumentou que o único a levar
vantagem neste quesito foi o próprio candidato, que dois anos antes havia executado em
concerto público a Chaconne, de Bach. 176
A aspereza de Guanabarino com Frederico pode ser mais claramente percebida quando
afirma que era um fato incontestável e inegável que Paulina seria classificada em primeiro
lugar, e que mais certo era que se as outras duas candidatas tivessem concorrido, ele seria
classificado em quarto lugar... “e mais longínquo seria seu lugar se outros candidatos
tivessem concorrido à vaga”. Isto porque a candidata Paulina era uma violinista e o “Sr.
Almeida não o é, nem nunca o será, sendo, apesar do seu talento, negação decidida para
aquela virtuosidade”. 177
Continuou dizendo que se surpreendia por não existir no INM a aplicação rigorosa de
regras relativas à jubilação, questionando o porquê de Frederico, mesmo apresentando provas
de incapacidade durante seu curso, ter alcançado seu diploma de conclusão. Concluiu dizendo
que aguardaria a autorização para fazer pública sua análise da dissertação de acústica e que
quanto à prova de harmonia, esta foi julgada pelos competentes professores, Braga e França.
Percebemos que o processo de avaliação deste concurso comparado com o anterior (de
solfejo) foi muito diferente. Naquele, todos os jurados avaliaram cada uma das provas dando

175
Idem.
176
O PAIZ. Artes e Artistas:Um escândalo artístico. Rio de Janeiro, 22 de junho de 1917, p. 2.
177
Idem.
102

notas para primeiro, segundo e terceiro lugares. Neste o que vemos é que para cada conjunto
de prova foi designado um, dois ou três jurados competentes.
Cabe ressaltar que aos 18 anos, Frederico alcançou a “Medalha de Prata” em uma
prova realizada no próprio INM,em 29 de dezembro de 1914, no Salão do Jornal do
Commercio na presença dos jurados Arnaud Duarte de Gouvêa178, Francisco Alfredo
Bevilacqua, Ricardo Tatti, Francisco Braga, Francisco Chiaffitelli e do livre docente Alfredo
Gomes, com a presidência do diretor Alberto Nepomuceno. O regulamento vigente em 1914
era o Decreto N.º 9.056/1911, e o seu Art. 117 nos diz que apenas teriam direito de concorrer
aos prêmios – medalha de ouro, prata ou menção honrosa –, os alunos que tivessem concluído
o último ano do seu curso obtendo os graus de “distinção ou “plenamente”179. O único
candidato que concorreu ao prêmio de violino daquele ano foi o jovem Frederico Carlos de
Almeida, da classe do professor Ernesto Ronchini. Frederico alcançou por maioria de votos o
segundo prêmio contra o voto do livre docente de violoncelo, Alfredo Gomes180, que optava
por lhe conceder o primeiro prêmio.181
A última publicação de a Gazeta de Notícias a respeito deste caso observa que as
críticas de Guanabarino às provas de Frederico denotam uma enorme injustiça contra um dos
mais aplicados alunos do INM, “meio onde talvez não se encontrem muitos exemplares da
sua tempera e da sua forma de vontade”. Sobre a análise da dissertação, não demonstraram
nenhum interesse, pois não lhes importavam as “teorias extravagantes do Sr. Guanabarino
sobre o som”. Avaliavam que mesmo que fosse um péssimo trabalho, ele de forma alguma
deveria influir na avaliação justa das demais provas.
Quanto à suposta vantagem de Frederico em relação à prova de confronto, afirmavam
que, na verdade, quem mais vantagens teve com a escolha da Chaconne, de Bach, foi Paulina,
que por mais de 10 anos vinha se consagrando como uma virtuosidade no violino, enquanto
Frederico, 7 anos mais novo, havia iniciado sua carreira de concertista apenas dois anos antes.
Para o jornal, os “rallentandos” e a supressão dos dois últimos movimentos do concerto de
Brahms era algo imperdoável para uma artista do seu valor. Assim, a Gazeta encerrava sua
defesa ao jovem violinista, e aguardava o pronunciamento do Ministro da Justiça na busca de

178
O professor Arnaud Gouvea substituiu de última hora o professor extraordinário honorário Arthur Napoleão
dos Santos, que por justo motivo não pôde estar presente.
179
BRASIL. Dos concursos aos prêmios, Arts. 116-123. Decreto N.º 9.056, de 18 de Outubro de 1911.
180
Alfredo Gomes foi admitido como livre docente de violoncelo em 1913 e se efetivou como professor do INM
em 26 de julho de 1920.
181
BAN. Concursos aos prêmios de violino, realizado em 29 de dezembro de 1914, N.º 52. Atas de Concursos e
prêmios da Escola de Música. Mapa v. 1. 1894-1918.
103

promover justiça ao candidato recorrente.182


A decisão da Gazeta de encerrar o caso foi considerada “prudente” por Guanabarino.
Caso contrário, a imagem de Frederico poderia ficar ainda pior se seu trabalho “eivado de
erros e sem merecimento algum” fosse exposto ao público. Afinal, este seria o verdadeiro
“escândalo artístico” produzido pelo concurso: assistir a “prova de defesa sem defesa”. Disse
ainda que no relatório não foi aceita a interpretação da Chaconne realizada por nenhum dos
dois candidatos e que as provas de transposição foram igualmente reprovadas, restando a eles
o desempenho nas provas de harmonia e virtuosidade (prova de número 2).
Guanabarino informou ter sido favorável a Frederico ao sugerir no relatório que a
prova de leitura e transposição fosse posta de parte, pois nestas o seu desempenho havia sido
inferior ao de Paulina. Mas não se conteve em mais uma vez afirmar que sua prova de
harmonia estava errada, como errada era a citação de “coisas impossíveis e imperdoáveis” em
Dubois. O professor Agnello França fez conhecer seu parecer por uma carta enviada a
Guanabarino dizendo que possuía o hábito de manter os seus atos, pois são sempre praticados
com justiça e que mantinha seu voto intacto na referida prova. 183
Dias depois, o Ministro da Justiça realizou o despacho do requerimento de Frederico,
negando provimento ao recurso pelas seguintes razões:
o recurso era desnecessário, visto que os dois candidatos entraram em lista para ser
submetida à escolha por parte do chefe de Estado. Bastaria um memorial, em que o
Sr. Almeida provasse merecer o primeiro lugar, ou, ao menos, a colocação do seu
nome com o de Paulina d’Ambrosio. Não o tentou. A superioridade da sua
competidora parece indiscutível, apesar de haver sido feita justiça aos méritos do
recorrente. A comissão examinadora era competente e agiu com desassombro. O
próprio julgador, que o candidato classifica de “desconhecido”, apresentou um
relatório de profissional competente no assunto e elogiado pelos mestres.184

No ano seguinte, em 11 de maio de 1918, Frederico conseguiu entrar no INM como


livre docente de violino; e em 28 de abril de 1921, foi nomeado professor substituto de
violino e violeta durante o impedimento da professora Maria Millone Vaz. Millone Vaz fazia
parte do quadro de professores adjuntos do INM desde 16 de novembro de 1913, na classe do
professor Phillipe Messina, que ministrava aulas no curso noturno desde 30 de outubro de
1911. Anos depois, em 30 de outubro de 1914, foi transferida para trabalhar com o professor
Francisco Chiaffitelli, que passou a integrar o quadro de professor de violino em 18 de
outubro de 1911, ao lado dos professores Ricardo Tatti, Ernesto Ronchini e Humberto
Milano. Encerrado o prazo de três anos, como ela havia apresentado bom desempenhado nas

182
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso de violino no Instituto Nacional de Música.
23 de junho de 1917, p. 2.
183
O PAIZ. Artes e Artistas. Um escândalo artístico. Rio de Janeiro, 25 de junho de 1917, p. 3.
184
A NOITE. Ultima hora: O último concurso de violino do I. N. de Música. Rio de Janeiro. 10 de julho de 1917.
104

suas funções, revelando grande aptidão para o magistério, o Ministro Carlos Maximiliano a
reconduziu ao lugar de adjunta de violino, em 8 de abril de 1918185.
Quando ocorria um impedimento ou licença de um professor, fosse professor ou
adjunto, o diretor deveria providenciar seu substituto. A preferência era que outro professor se
ocuparia da substituição ou mesmo o adjunto do mesmo curso. Caso nenhum destes pudesse
se ocupar desta tarefa, um livre docente da cadeira poderia ocupar a vaga interinamente. Foi o
que fez Frederico de Almeida, certamente na tentativa de demonstrar seu conhecimento e
aptidão para o ensino do violino.186
Na falta de um livre docente, o diretor poderia indicar ao Ministro da Justiça uma
pessoa estranha ao quadro de docentes do INM, com notória competência, para que fosse
nomeado substituto. Assim, vemos que ocorreu uma descentralização do poder do diretor ao
eleger um professor. Enquanto que nos anos da gestão de Miguez, os Decretos firmavam que
bastasse a indicação do diretor para que o Ministro nomeasse um novo professor, o Decreto
de 1915, possui em seu escopo todo aparato para que não mais fosse possível esta prática. E
com isso muitas deveriam ser as artimanhas para que se conseguisse chegar ao objetivo de
integrar quem bem quisessem ao Instituto.

185
BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940.
186
BRASIL. Das substituições. Decreto N.º 11.748, de 13 de Outubro de 1915.
105

Conclusão

Após a análise dos documentos oficiais que regeram o Instituto Nacional de Música
desde sua fundação até o ano de 1915, foi possível perceber que havia um grau elevado de
instabilidade na “cultura institucional”. O Instituto Nacional de Música, como órgão “oficial”
de ensino musical do país, tentava se adequar às expectativas da nova ordem republicana
reproduzindo o discurso da meritocracia tão bem representado nos concurso públicos que
deveriam valorizar competências e desempenho individual em detrimento das afinidades
pessoais ou classistas.

Entretanto, nota-se que esse ditame tão caro aos positivistas não se impôs durante a
gestão de Leopoldo Miguez que privilegiou a indicação como mecanismo de acesso às
posições de trabalho dentro da instituição. Esta opção levaria a situações de conflito como a
registrada com o professor de canto Enrico Borgongino, considerado apto em um primeiro
momento para fazer parte do seleto grupo de professores, para logo em seguida ser
considerado um propagador de repertório não digno de ser praticado no INM.

O mecanismo da indicação permaneceria também na primeira gestão de Alberto


Nepomuceno, bem como no período em que Henrique Oswald dirigiu o Instituto. Vale
ressaltar, entretanto que, ao contrário do que afirma Baptista Siqueira, em seu livro “Do
Conservatório à Escola de Música”, que qualifica a direção de Oswald como “efêmera” e sem
impactos para a vida da instituição, pudemos notar a importância de sua ação no que concerne
à elevação do número de professores contratados e de alunos atendidos. Além disso, contratou
monitores e acompanhadores, bem como aumentou o salário dos antigos professores,
revelando seu prestígio entre a classe dirigente naquele momento.

A regulamentação do concurso público para se tornar professor do INM, somente


aconteceu em 1915, por meio do Decreto N.º 11.748, que reorganizava a instituição. Foi nesta
ocasião, em 1916, que o primeiro concurso aconteceu para o provimento do cargo de
professor de solfejo. Apesar das altas expectativas de adequação do meio musical ao padrão
perseguido pelo Ministro Carlos Maximiliano, que prestou grande atenção aos
desdobramentos do evento, a força corporativa dos professores superou as demandas da
ordem republicana.

As discussões e embates travados nas salas do Instituto, resvalaram para os periódicos,


tornando públicas as tensões e rivalidades que marcaram as disputas internas e as pressões
106

externas sobre a idoneidade do concurso. As consequências desses embates, mais uma vez
envolviam opções estéticas, redes de sociabilidade e laços familiares que, por tantas vezes,
foram parte da crítica republicana ao extinto regime monárquico.

O resultado mais dramático deste episódio foi a demissão do diretor Alberto


Nepomuceno e a condução de Abdon Milanez ao cargo máximo da instituição. Era a primeira
vez que um músico diretamente vinculado a práticas musicais distantes da produção da
“música séria” assumia um cargo de importância na rígida hierarquia arquitetada pelos artistas
ligados à ordem republicana.

Entretanto, este concurso realizado em 1917, também não seria isento de situações
consideradas questionáveis e que deram espaço para as mais diversas manifestações de
desaprovo e dúvidas sobre sua lisura. Podemos destacar que no concurso de 1916, ainda
contávamos com a forte presença de Rodrigues Barbosa, crítico musical e interlocutor
essencial com o primeiro governo republicano. Neste segundo, realizado em 1917, surge a
figura do crítico Oscar Guanabarino que durantes anos, por meio de sua coluna no Jornal do
Commércio atacou com virulência Leopoldo Miguez e a trajetória do Instituto Nacional de
Música.

Neste sentido, é possível observar que a questão da meritocracia tão cara aos nossos
primeiros republicanos, não foi um conceito facilmente absorvido pelos líderes musicais
responsáveis pela formalização do Instituto Nacional de Música. O cientificismo e outras
facetas do discurso positivista, como ordem e progresso, que se encontravam em questões
distantes da organização e divisão de poder pareciam mais palatáveis do que a garantia de
acesso ao seleto grupo por meio de concursos públicos.

Por trás destes embates e brigas por posições de controle, escondiam-se também
visões de mundo e opções artísticas, utilizadas como justificativas para a qualificação de seus
agentes e do seu nível de conhecimento. Manter a estética enraizada nas rígidas convenções
da música de concerto era mais que uma defesa artística; era a manutenção de uma visão de
mundo que ainda revelava sua fragilidade diante das enormes possibilidades que o século XX
trazia. E esta mudança aconteceu, apesar das resistências e, para realizá-la, a instituição dos
concursos públicos revelou-se um instrumento eficaz de democratização deste espaço de
atuação e de difusor de novas práticas musicais.
107

Referências

Fontes primárias

1. Documentos do Acervo do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro

ARQUIVO NACIONAL. IE 7 90 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes,


Biblioteca 1897-1901

ARQUIVO NACIONAL. IE 7 91 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes,


Biblioteca 1902-1905

ARQUIVO NACIONAL. IE 7 92 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes,


Biblioteca 1906-1909

ARQUIVO NACIONAL. IE 7 93 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes,


Biblioteca 1910-1913

ARQUIVO NACIONAL. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes,


Biblioteca 1914-1916

2. Documentos do Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

1. Periódicos
A Epoca (1916)

A Noite (1913-1929)

Correio da Manhã (1901-1936)

Correio de São Paulo (1934)

Correio Paulistano (1909-1941)

Diário Nacional (1930)

Gazeta de Notícias (1900-1919)

Jornal do Commércio (1916)

O Imparcial (1913-1926)

O Paiz (1889-1934)
108

2. Acervo de Música e Arquivo

BRITO, Roberta Gonçalves de Sousa. Intervalos: Tese com que se apresenta Roberta
Gonçalves de Sousa Brito ao concurso para preenchimento da cadeira de Teoria Musica da
Escola Nacional da Universidade do Brasil. Tip. da Revista Liga Marítima Brasileira, Rio de
Janeiro, 1941.

LOPES, Maria Clara Câmara de Menezes. Necessidades do Estudo da música nas escolas
primárias. Trabalho apresentado ao Conselho Docente do Instituto Nacional de Música:
Candidata à livre docência do Curso de Solfejo no Referido Estabelecimento. Imprensa
Nacional, Rio de Janeiro, 1913. Loc. DIMAS 780.7 L 864n.

3. Documentos da Biblioteca Alberto Nepomuceno – Setor de Documentos Históricos


BAN. Instituto Nacional de Musica: Actas de Concursos. Acervo de Documentos Históricos.
Arquivo Institucional Registro 4000/2013. No. no Sistema: 799008. [BAN: Atas de
Concursos e prêmios da Escola de Música 1894-1918.

BAN PASTA 3.1 – REGULAMENTOS/REGIMENTOS 1892-1894

BAN PASTA 3.2 – REGULAMENTOS/REGIMENTOS 1900-1901

BAN PASTA 3.3 – REGULAMENTOS/REGIMENTOS 1903-1904

BAN PASTA 3.4 – REGULAMENTOS/REGIMENTOS 1907-1911-1913

BAN PASTA 3.5 REGULAMENTOS/REGIMENTOS 1915, 1921, 1924

BAN PASTA 2.3 RELATÓRIOS INM 1917-1918

PASTA 2.2 RELATORIOS INM 1898-1906. MINISTERIO DA JUSTIÇA E NEGOCIOS


INTERIORES RELATORIO 1906 INM (P.247-257)

BAN Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Registro 4021/2013. No.


Sist.: 799875. ADEM AI/EM/UFRJ Atas V. 22. Atas de Concurso da Carreira do Magistério
EM/UFRJ V. 1: 1916-1935.

BAN Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Registro 4034/2013. No.


Sist.: 801257. ADEM AI/EM/UFRJ Atas V. 35. Atas do Conselho Departamental da Escola
de Música V. 1: 1912-1926.

BAN Conselho do Instituto, Atas 1890-1912.

BAN PASTA 27. ALBERTO NEPOMUCENO. DADOS BIOGRAFICOS.

BAN PASTA 42 ARQUIVOS DOCUMENTOS HISTORICOS. PESSOAS.

BAN Livro de inscrição em concurso do magistério e livre-docencia. 1903-1996. ACERVO


DE DOCUMENTOS HISTORICOS – ARQUIVO INSTITUCIONAL. REGISTRO
109

4064/2013. Num. Sist. 802501. ADEM. AI/EM/UFRJ. ATAS V. 65.

BAN Atas de provas públicas da Escola de Musica 1909-1914. ACERVO DE


DOCUMENTOS HISTORICOS. ARQUIVO INSTITUCIONAL. REGISTRO 4065/2013.
NUM. SIST. 802670

BAN Atas de Concursos e prêmios da Escola de Música. Mapa v. 1. 1894-1918. Acervo de


Documentos Histórico. Arquivo Institucional. Registro 4004/2013. No. Sistema 799139. Atas
V. 5.

BAN Atas de Concursos e prêmios da Escola de Música – Mapa v. 2. Acervo de Documentos


Histórico. Arquivo Institucional. Registro 4005/2013. No. Sistema 799139. Atas V. 6.

BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940. Arquivo Institucional. Registro


4071/2013. Num. Sist. 803740. Atas v. 72.

4. Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro

Ensino. Decreto N.º 11.530 de 18 de março de 1915, reorganização do Ensino. RJ, 1915. Loc.
93.4.30.

Ensino. Decreto Nº 1.159 de 3 de dezembro de 1892. Aprova o código das disposições


comuns às instituições de ensino superior dependentes do Ministério da Justiça e Negócios
Interiores. RJ, 1892. Loc. 192.3.3 n. 14.

Ensino. O Conselho Superior do Ensino. RJ, 1914. Loc. 164.2.23.

Francisco Braga. Perfil biográfico do maestro, por Souza Rocha. Rio de Janeiro, 1921. Loc.
197.6.6 n. 16.

Instituto Nacional de Música. Programa de ensino e de exames do... Rio de Janeiro, 1928.
Loc. 164.2.12.

Leopoldo Miguez. Amphion – Revista Quinzenal, Música – Teatros – Bellas Artes. Lisboa,
15 de agosto de 1896. Loc. PL 545.48.

Mello, Guilherme Theodoro Pereira de. A Música no Brasil: desde os tempos coloniaes até o
primeiro decênio da Republica. Typographia de S. Joaquim, Bahia, 1908. Loc. 72.1.9.

Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Decreto N.º 11.530 de 18 de março de 1915.


Reorganiza o ensino secundário e o superior da República. RJ, 1915. 42 pgs. Loc. 191.3.2 n.
29.

Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Decreto N.º 3.890 de 1º de janeiro de 1901.


Dependentes do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. RJ, 1908. Loc. 192.3.7 n. 15.

Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Ensino Superior e Secundário Decreto N.º 3.890
de 1 de janeiro de 1901. Aprova o Código dos Institutos Oficiais. RJ, 1901. Loc. 33.1.27.
110

Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Ensino Superior e Secundário em face de


Constituição. Discurso de Feliz Gaspar em 1 de novembro de 1902. RJ, 1902. Loc. 204.6.9 n.
4.

Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Lei orgânica do Ensino Superior. RJ, 1912.
Loc. 163.1.9.

Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Regimento Interno da Escola Nacional de Bellas


Artes. RJ, 1916. Loc. 192.1.3 n. 31.

MOACYR, Primitivo. O Ensino Público no Congresso Nacional. Reforma Rivadavia. Rio de


Janeiro, 1916. Loc. 66.1.21.

5. Documentos oficiais

BRASIL. Decreto N.º143 – De 12 de janeiro de 1890: Extingue o Conservatório de Música e


cria o Instituto Nacional de Musica.

BRASIL. Decreto N.º 934 – De 24 de outubro de 1890: Dá novo regulamento ao Instituto


Nacional de Música.

BRASIL. Decreto N.º938 - De 8 de novembro de 1890: Aprova os estatutos para a Escola


Nacional de Bellas-Artes.

BRASIL. Decreto N.º942 A – de 31 de outubro de 1890 – Cria o Montepio obrigatório dos


empregados do Ministério da Fazenda. Capital Federal, 31 de outubro de 1890, Ruy Barbosa.

BRASIL. Decreto N.º 1197 – De 31 de dezembro de 1892: Aprova o regulamento para o


Instituto Nacional de Música. Regulamento do Instituto Nacional de Música de que trata o
Decreto N.º1197 desta data.

BRASIL. Decreto N.º 2448 – de 1 de fevereiro de 1897 – Consolida as disposições relativas


ao montepio dos funcionários dos ex-Ministerios da Justiça, Interior e da Instrução Publica,
Correios e Telegrafos. Capital da República, 1 de fevereiro de 1897, 9º da Republica. Manoel
Victorino Pereira / Amaro Cavalcanti.

BRASIL. Diário Oficial de 22 de janeiro de 1898.

BRASIL. Decreto N.º 3.191 – de 7 de janeiro de 1899 – Reorganiza a Secretaria de Estado da


Justiça e Negócios Interiores. O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil,
usando da autorização contidas nos arts. 9º da lei n. 559 e 3º, n. IX, da lei n. 560, ambas de 31
de dezembro do ano próximo findo, resolve reorganizar a Secretaria de Estado da Justiça e
Negocios Interiores, de conformidade com o regulamento anexo, assinado pelo respectivo
Ministro. Capital Federal, 7 de janeiro de 1899, 11º da República. M. Ferraz de Campos
Salles. Epitacio da Silva Pessoa.

BRASIL. Decreto N.º 3632 – De 31 de março de 1900: Aprova o regulamento para o Instituto
111

Nacional de Música.

BRASIL. Regimento Interno do Instituto Nacional de Música, a que se refere a portaria desta
data. O Ministro de Estado da Justiça e Negocios Interiores, em nome do Presidente da
Republica, resolve, de acordo com o art. 160 do Regulamento anexo ao Decreto N.º3.632, de
31 de março de 1900, aprovar o Regimento Interno do INM, que a esta acompanha. Capital
Federal, 13 de junho de 1900, Epitácio Pessoa.

BRASIL. Decreto N.º 4.779 - De 2 de março de 1903. Dá novo regulamento ao Instituto


Nacional de Música. Francisco de Paula Rodrigues Alvez; J. J. Seabra.

BRASIL. Regimento Interno do INM aprovado pela portaria de 12 de setembro de 1904. O


Ministro de Estado da Justiça e Negocios Interiores, em nome do Presidente da Republica,
resolve, de acordo com o art. 37, n. 20, do regulamento anexo ao Decreto N.º5.162, de 14 de
março de 1904, aprovar o Regimento Interno, que a esta acompanha, do INM. Rio de janeiro,
em 12 de setembro de 1904. – Dr. J. J. Seabra.

BRASIL. Decreto N.º 6.621 – de 29 de agosto de 1907: Aprova o regulamento do Instituto


Nacional de Música. Affonso Augusto Moreira Penna; Augusto Tavares de Lyra.

BRASIL. Decreto N.º 9.056 – de 18 de outubro de 1911: Aprova o regulamento do Instituto


Nacional de Música. Hermes R. da Fonseca; Rivadavia da Cunha Corrêa.

BRASIL. Regimento Interno do INM aprovado em portaria de 4 de janeiro de 1913.


Rivadavia da Cunha Corrêa.

BRASIL. Decreto N.º 11.748 – de 13 de outubro de 1915. Reorganiza o Instituto Nacional de


Música. Wenceslau Braz P. Gomes; Carlos Maximiliano Pereira dos Santos.

BRASIL. Decreto N.º 14.341 – de 7 de setembro de 1920: Institui a Universidade do Rio de


Janeiro. Epitacio Pessôa; Alfredo Pinto Vieira de Mello.

BRASIL. Decreto N.º 14.572 – de 23 de dezembro de 1920: Aprova o Regimento da


Universidade do Rio de Janeiro.

BRASIL. Decreto N.º 16.753 – de 31 de dezembro de 1924: Aprova o regulamento do


Instituto Nacional de Música. Arthur da Silva Bernardes; João Luiz Alves.

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