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Rio de Janeiro
2017
2
Orientadora:
Profa. Dra. Maria Alice Volpe.
Rio de Janeiro
2017
3
ii
Agradecimentos
À Santíssima Trindade de Deus e à Virgem Maria, devoções particulares que trago
desde a mais tenra idade.
À minha esposa Juliana, por estar sempre ao meu lado na realização dos meus sonhos.
Para
meus pais Afranio e Aparecida,
minha esposa Juliana,
e meus irmãos Junior e Laura.
iv
v
Resumo
Este trabalho tem como objeto analisar a utilização do conceito de meritocracia na
constituição do corpo docente do Instituto Nacional de Música, órgão oficial de ensino
musical da Primeira República, no Rio de Janeiro. Discute sua história institucional desde sua
criação efetivada com a dissolução do Conservatório de Música do Império. Aborda as
gestões de Leopoldo Miguez (1890-1902), Alberto Nepomuceno (1902-1903), Henrique
Oswald (1903 a 1906), Alberto Nepomuceno (1906 a 1916) e Abdon Milanez (1917-1922),
oferecendo um levantamento dos professores contratados, monitores, alunos laureados e
cursos oferecidos nas diversas reformas. Realiza uma análise comparativa dos nove decretos –
dois de 1890, 1892, 1900, 1903, 1904, 1907, 1911 e 1915 – que regeram os processos de
nomeação dos docentes, identificando expedientes, ora autocráticos, ora democráticos.
Examina os dois primeiros concursos para provimento do cargo de professor do INM,
realizados nos anos de 1916 e 1917, oferecendo análise detalhada do processo seletivo,
incluindo inscrição, constituição de banca examinadora, realização das provas, avaliação e
atos administrativos. Entre os membros das bancas constavam Francisco Braga, Arnaud
Gouveia, José Rodrigues Barbosa, Oscar Guanabarino e Abdon Milanez; e entre os
candidatos estavam Roberta Gonçalves, Homero de Sá Barreto, Octavio Bevilacqua e Paulina
D’Ambrosio. O conjunto documental, concernente aos arquivos institucionais (Ministério da
Justiça e Negócios Interiores, Instituto Nacional de Música e Escola Nacional de Belas Artes),
incluindo documentos de natureza jurídica e administrativa, ofícios e relatórios, foi
confrontado com os relatos e opiniões pessoais levadas a público, em forma de artigos e cartas
publicadas em jornais, observando-se discrepância e intenso embate travado em torno deste
importante lugar de atuação musical. Esses embates traziam em seu bojo questões que
envolviam não apenas a disputa por postos de trabalho como também evidenciavam os
conflitos decorrentes de diferentes opções estéticas e visões de mundo.
Palavras-chave: Instituto Nacional de Música. Primeira República. Música. História da
Educação no Brasil.
vi
Abstract
This research aims to investigate the use of the concept of meritocracy in the composition of
the faculty of the National Institute of Music, the official organ of musical education of the
historical period, called First Republic, in Rio de Janeiro. It discusses its institutional history
since its beginning with the dissolution of the Conservatory of Music of the Empire. It covers
the administrations of Leopoldo Miguez (1890-1902), Alberto Nepomuceno (1902-1903),
Henrique Oswald (1903 to 1906), Alberto Nepomuceno (1906 to 1916) and Abdon Milanez
(1917-1922), offering a survey of contracted teachers, monitors, students laureates and
courses offered at the occasion of its various reforms. It performs a comparative analysis of
the nine decrees - two from 1890, 1892, 1900, 1903, 1904, 1907, 1911 and 1915 - that ruled
the processes of appointing teachers, identifying autocratic or democratic expedients in use. It
examines the first two competitions to compose the group of teachers at the INM, conducted
in the years 1916 and 1917, offering detailed study of the selection process, including
registration, constitution of the border of examiners, conducting tests, evaluation and
administrative acts. Among the examiners were Francisco Braga, Arnaud Gouveia, José
Rodrigues Barbosa, Oscar Guanabarino and Abdon Milanez; and among the candidates were
Roberta Gonçalves, Homero de Sá Barreto, Octavio Bevilacqua and Paulina D’Ambrosio.
The documental corpus, concerning the institutional archives (Ministry of Justice and Internal
Affairs, National Institute of Music and National School of Fine Arts), including documents
of a legal and administrative nature, letters and reports, was confronted with personal reports
and public opinions, published in newspapers in the form of articles and letters, observing a
discrepancy and intense clashes around this important place of musical performance. These
clashes brought with them questions that involved not only the dispute for work positions but
also highlighted the conflicts arising from different aesthetic options and worldviews.
Palavras-chave: National Institute of Music. Old Republic. Music.
vii
Sumário
Lista de Figuras
Lista de Quadros
Introdução
Entre elas, destacamos os artigos e cartas publicados em periódicos da época, que nos
falam não somente sobre seus autores e suas intenções, como também sobre o público a que
se destinava e suas condições de publicação. Pesquisamos também documentos oficiais do
INM, correspondências e outros tipos de documentos que colaboraram para o entendimento
das práticas defendidas pelos diferentes administradores e suas relações com o poder
instituído.
1
CAMARGO, Angélica Ricci. Ministério da Justiça e Negócios Interiores: um percurso republicano (1891-
1934) [recurso eletrônico] / Angélica Ricci Camargo. Dados eletrônicos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2015.
2
Segundo Angélica Camargo Ricci, desde a sua criação até o ano de 1930, o Ministério
da Justiça e Negócios Interiores desempenhou a importante função de seguridade dos direitos
políticos estabelecidos pela Constituição de 1891 e na organização política do Brasil. Dentro
do programa republicano, este Ministério deveria se ocupar no registro civil dos nascimentos,
óbitos e casamentos e manter a liberdade e igualdade dos cultos religiosos, bem como os
assuntos relacionados aos direitos políticos de imigrantes. Além disso, esta pasta também se
ocupava de assuntos
relativos à administração da justiça federal e à Guarda Nacional em todo país, à
justiça local, Polícia e Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, instrução, educação e
desenvolvimento das ciências, letras e artes, incluindo a catequese dos índios e todas
as atribuições que pertenciam à antiga Secretaria de Estado dos Negócios do Interior.
Essas atribuições compreendiam as questões ligadas à saúde e à assistência pública,
aos menores abandonados, aos alienados, à naturalização de estrangeiros e à
organização dos estados. A mesma lei dispôs sobre a estrutura central do ministério,
que ficou composta por uma seção de Contabilidade e três diretorias: da Justiça, da
Instrução e do Interior.2
Este período, também conhecido como belle époque, foi um momento de profundas
mudanças na sociedade fluminense, o que gerou condições para o surgimento de várias
expressões artísticas que marcariam este período. É constante a vinculação entre a busca pela
modernidade europeia e a Primeira República (1889-1930), sendo esta, uma ação norteadora
do pensamento das elites intelectuais e das lideranças artísticas da época.
2
Idem.
3
SMITH, 2000, p.1-26. In: ALMEIDA, VOLPE et AUGUSTO, 2015, p.176.
3
De acordo com Lívia Barbosa, “as sociedades igualitárias têm como princípio básico o
fato de que os indivíduos são iguais e que a única coisa a diferenciá-los, para fins de
ordenação social, em termos de status, poder econômico e político, é o desempenho de cada
um”5. Ao aplicar este princípio no nosso objeto de estudo, percebemos uma grande
dificuldade de interação entre o “espírito republicano” e o que de fato se exercia dentro desta
instituição.
4
SEVCENKO, 2003, p. 41-43.
5
BARBOSA, 1996, p. 69.
4
senador liberal Silveira Martins, reclamava sobre a prática do descaso pelo talento e pelo
mérito nos anos finais do império brasileiro:
6
DE MELLO, 2007, p. 163. Apud. MORAES, Evaristo de. Da Monarquia para a República (1870-1889).
Editora Universidade de Brasília, 1985, p. 44.
7
AUGUSTO, 2010, p. 40.
8
BRASIL. Decreto n. 938, de 8 de novembro de 1890: Aprova os estatutos para a Escola Nacional de Bellas-
Artes. Art. 31.
5
Logo nos primeiros meses da instalação do novo regime, o Marechal Manoel Deodoro
da Fonseca, então chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil,
extinguiu o Conservatório de Música e criou o Instituto Nacional de Música sob o Decreto N.º
143, de 12 de janeiro de 1890. Este seria o primeiro dos nove Decretos que regulamentariam
essa instituição, de nível não superior, que em um primeiro momento da República ficou
subjugada ao Ministério do Interior, na pessoa do ministro Aristides Lobo.
9
Para ver a lista completa dos órgãos assistidos pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores, veja:
CAMARGO, Angélica Ricci. Ministério da Justiça e Negócios Interiores: um percurso republicano, p. 13.
10
BRASIL. Decreto nº 238, de 27 de Novembro de 1841. Coleção de Leis do Império do Brasil. Vol. pt I, p. 43.
11
DE PAOLA, Andrely Quintella; GONSALEZ, Helenita Bueno. Escola de Música da Universidade Federal do
Rio de Janeiro: História & Arquitetura. Rio de Janeiro, UFRJ, SR5, 1998.
12
MAGALDI, Cristina.Concert Life in Rio de Janeiro: 1837-1900.Ph. D. dissertation, University of California,
Los Angeles,1994, p. 13-14.
13
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. Música e Músicos do Brasil. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil,
1950, p. 81 e 114; SIQUEIRA, Batista. Do conservatório à escola de música; ensaio histórico. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1972, p. 43, 63-5.
6
duas reorganizações: a primeira, pelo Decreto N.º 1542, de 23 de janeiro de 1855, “Dá nova
organização ao Conservatório de Música”. E a segunda, por meio do Decreto N.º 8226, de 20
de agosto de 1881, “Dá estatutos ao Conservatório de Música”, que reorganizava o plano de
ensino e apresentava novas disposições administrativas.
Além de ser um importante centro difusor de novas práticas musicais, como a música
de câmara e o repertório de origem germânica, o clube também era um lugar de sociabilidade
de lideranças que defendiam a República como forma de governo. Naturalmente, a inserção
de músicos como Miguez, Bevilacqua, Faulhaber, Arthur Napoleão e Nepomuceno neste
contexto, revelaria o compartilhamento, por parte desses músicos, da visão de mundo
defendida pelo grupo que assumiu o poder, com o advento da República.
14
VOLPE, 2007, p.1.
15
Arquivo Nacional. IE 7 90.
16
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 anos de música no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio
Editora, 1956, p.114.
17
MARCONDES, M. A. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. Verbete: “Clube
Beethoven”. Editora Art, São Paulo, 1977, p. 194.
7
18
O Clube Beethoven era sediado na Rua da Glória, N.º 62, no Rio de Janeiro. (MAGALDI, 1995, p. 10)
19
O PAIZ. Club Beethoven: Academia de Música. Rio de Janeiro, 05 de abril de 1886, p. 3
20
BRASIL. Decreto N.º 143, de 12 de janeiro de 1890: Extingue o Conservatório de Música e cria o Instituto
Nacional de Música.
21
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 anos de música no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio
Editora, 1956, p.113.
8
Após ser honrado com o cargo de diretor, Miguez possivelmente intentou ser o criador
do novo Hino Nacional, por meio de um malfadado concurso realizado para tornar exequível
o seu desejo. Com letra de José Joaquim Medeiros e Albuquerque (1867-1934), a música de
Miguez propunha uma recordação da Marselhesa, canção utilizada na Revolução Francesa e
também por alguns grupos no período de tensão que precedeu a República no Brasil.22
Miguez venceu o concurso para o novo Hino Nacional, porém, por pressão popular e
dos militares que recordavam a utilização do antigo hino nas comemorações das vitoriosas
batalhas da Guerra do Paraguai, o Marechal Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório
da República, decidiu pela manutenção do hino de Francisco Manoel, e o de Leopoldo
Miguez seria, assim, o hino da Proclamação da República. Assim, prevaleceu a melodia do
Hino de Francisco Manoel da Silva como o Hino Nacional até os dias atuais.
Participar da criação do Instituto Nacional de Música foi, podemos dizer então, mais
uma das estratégias de Miguez para ocupar o papel simbólico alcançado pelo fundador do
Conservatório de Música. Neste sentido, a sua proposta como diretor era em direção oposta ao
estabelecimento que sucedia, privilegiando o ensino completo da música em todos os ramos
da arte, a formação de instrumentistas, cantores, professores de música, compositores, bem
como auxiliá-los no desenvolvimento do “bom gosto musical” na produção de grandes
concertos, nos quais seriam executadas as melhores composições “antigas e modernas”. 23
Para esta finalidade, o Instituto Nacional de Música pretendia ter um corpo docente
que pudesse elevar seu nível aos conservatórios congêneres dos “países adiantados”26.
22
Sobre o assunto do concurso para o hino nacional ver: AUGUSTO, Antonio José. A questão Cavalier: música
e sociedade no Império e na República (1846-1914). Rio de Janeiro, Folha Seca, 2010.
23
BRASIL. Decreto N.º 934 – De 24 de outubro de 1890: Dá novo regulamento ao Instituto Nacional de Música.
24
Ver: VOLPE, Maria Alice. Indianismo and Landscape in the Brazilian Age of Progress: Art Music from
Carlos Gomes to Villa-Lobos, 1870s-1930s.
25
VOLPE, Maria Alice. Rodrigues Barbosa: Questões identitárias na crítica musical. Brasiliana (Revista da
Academia Brasileira de Música), n. 25, junho 2007.
26
Decreto N.º 934, de 24 de outubro de 1890. Biblioteca Alberto Nepomuceno: Pasta 3.1.
9
Destes nove decretos, quatro regulamentaram o período que Leopoldo Miguez dirigiu
o INM.
O Decreto N.º 143, de 12 de janeiro de 1890, que criou o INM, firmado pelo Marechal
Manoel Deodoro da Fonseca e pelo Ministro do Interior Aristides da Silveira Lobo, que
ocupou o cargo por apenas dois meses, após renunciar ao cargo por divergências com
Deodoro. Este Decreto promoveu o acesso de alunos de ambos os sexos, podendo ser
admitidos brasileiros e estrangeiros. O ensino era dividido em cinco seções: a seção
elementar, que compreendia os cursos de solfejo e teclado; a seção vocal, que alocava
unicamente o curso de canto; a seção instrumental, que abrangia os cursos de piano, harpa,
órgão, violino e violeta, violoncelo, contrabaixo, flauta (e congêneres), oboé, fagote (e
congêneres); clarineta (e congêneres), trompa, trombeta, trombone (e congêneres); a quarta
compreendia os cursos preparatórios e complementares de composição, com os cursos de
harmonia, acompanhamento, contraponto e fuga, composição e instrumentação; e a sessão
literária com os cursos de história e estética da música.
27
BRASIL. Decreto N.º 3632 de 31 de março de 1900. Biblioteca Alberto Nepomuceno. Setor de Documentos
Históricos. REGULAMENTOS/REGIMENTOS 1900-1901. PASTA 3.2
28
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA. Ata N.º 1 de 22 de fevereiro de 1890. Atas da Congregação e
Conselho do Instituto Nacional de Música. Livro I, 1890-1912. Documento manuscrito. Acervo da Biblioteca
Alberto Nepomuceno. Setor de Documentos Históricos. (s.l.)
11
professor de flauta; José de Lima Coutinho, professor de clarineta; dos professores de solfejo,
Ignácio Porto Alegre, João Rodrigues Côrtes e Miguel Cardoso; Henrique Alves de Mesquita,
professor de cornetim, trompa e congêneres; Francisco Pereira Costa, professor de violino e
violeta; e do professor de piano Alfredo Bevilacqua sob a presidência do diretor, Leopoldo
Miguez.
Cabia a esta Congregação (ou conselho) a eleição daqueles que viriam a compor o
Conselho no triênio 1890 a 1892, em concordância com o Art. 22 do Decreto N.º 143: “Será
instituído um conselho formado do diretor, de cinco professores efetivos e de três membros
honorários escolhidos entre os artistas dos mais notáveis residentes na Capital e estranhos ao
Instituto”. Os membros honorários eram nomeados pelo Ministro do Interior a partir da
proposta apresentada pelo diretor.
A eleição procedeu por escrutínio secreto. Aos dez professores foram distribuídos
envelopes nos quais continham impressos seus nomes e dada a ordem de que fossem
escolhidos cinco nomes depositados lacrados na urna. O diretor nomeou como escrutinadores
os professores Augusto Duque Estrada Meyer e Miguel Cardoso, com o auxílio do secretário
Eduardo Borjas Reis.
Côrtes.
Esse conselho se reuniria com o diretor, sempre que este o convocasse, para resolver
questões relacionadas à admissão de alunos com idade menor de 9 anos ou acima de 25, que
no Decreto N.º 143/1890, era regulamentado no § III do Artigo 74. Este trabalho delimita-se a
analisar os Decretos de 1890 a 1924 e, neste período, todos eles não permitiam que no INM
fossem admitidos alunos dessas faixas etárias, nem candidatos estrangeiros que não falassem
português, ou os brasileiros que não possuíssem conhecimento suficiente da língua nacional e
noções matemáticas, de igual modo o candidato que apresentasse deficiência física que se
relacionasse às exigências do curso desejado. Além disso, para ser admitido, o aluno deveria
observar a moralidade, ter posse dos requisitos especificados no regime interno, e claro,
aptidão “natural” para a música.
29
Dentre as atribuições do Conselho, ele poderia agir sobre a perda de direito de admissão nos concursos e até
mesmo deliberar sobre a expulsão dos alunos que infligissem o regimento.
13
Findo o triênio do Conselho, o corpo docente deveria realizar nova eleição, podendo
ser reeleitos os mesmos professores e cabia ao governo julgar conveniente a permanência dos
membros honorários.
A primeira sessão do Conselho, presidida por Leopoldo Miguez, ocorreu em 1º de
abril de 1890 e, dos professores que compunham o Conselho, não compareceu o professor
Alfredo Bevilacqua, que de acordo com a ata, não comunicou justificativa pela falta. Além
dos professores eleitos na última reunião, também estavam presentes os membros honorários
Vincenzo Cernicchiaro e Paulo Falhauber30.
A finalidade daquele primeiro encontro do Conselho era tratar de assuntos a respeito
da admissão de candidatos fora da idade limite estabelecida pelo regulamento. Dos dez alunos
que buscavam admissão, quatro foram recusados: Balduino Rodrigues de Carvalho, de 35
anos, que há quatro anos exercia o cargo de coadjuvante do mestre de música do Externato do
Imperial Colégio Pedro II31 e que pretendia realizar o curso de piano; De Ângelo Rossi, de 29
anos e Alexandrina Ludgaria de Arantes, de 29 anos, aspirantes ao curso de solfejo; Maria
Gonçalves Braga de Carvalho, aspirante ao curso de 2ª época de solfejo que foi classificada
no exame de admissão provisória que fez por desejar matricular-se nas aulas de piano e canto.
A candidata apresentou no requerimento ter vinte e cinco anos incompletos quando já tinha
vinte e seis. O Conselho recusou sua matrícula naquele curso por prejudicar os demais alunos
que tinham a idade prescrita na lei.
30
Faulhaber, alemão radicado no Brasil em 1866, atuou como diretor do Club Mozart desde 1877.
31
BRASIL. Ministério do Império, Ministro José Fernandes da Costa Pereira Júnior. Relatório de 1887
apresentado na Assembleia Geral Legislativa na 3ª Sessão da 20ª Legislatura. Rio de Janeiro, 1888.
14
Os demais candidatos foram admitidos por terem realizado boas provas nos cursos
preparatórios, como no caso das aspirantes ao curso de canto, Emilia Medina de Oliveira
Lopes e de Lucia da Cruz Saldanha, de 25 e 26 anos, respectivamente. Aos aspirantes ao
curso de contrabaixo, Felix Joaquim Lopes e Ursulino José da Silva, ambos de 26 anos, que
foram admitidos por disponibilidade de vaga; Maria de Freitas, de 26 anos, no curso de
Harmonia; e Gabriela de Abreu no curso de teclado depois de ter completado 25 anos depois
de encerrada a matrícula e por possuir estudos adiantados em canto.32
Podemos perceber que de certo modo havia um rigor na aplicação da lei ao trazer para
o Conselho a responsabilidade em admitir alunos que estavam fora da faixa etária estipulada.
Porém, podemos perceber uma maior austeridade ao penalizar o professor que sem motivo
não comparecesse às reuniões, conforme descreve o Artigo 114 da lei daquele período:
O professor que, sem motivo justificado, não comparecer ás reuniões do corpo
docente ou a qualquer ato para que for designado, perderá o vencimento de oito dias.
Incorre em igual penalidade aquele que, fazendo parte do conselho, não se
apresentar ás sessões do mesmo conselho.
Esta austeridade era cobrada pelos próprios professores como podemos observar no
pedido feito pelo professor Frederico Nascimento para que o secretário Eduardo Borja Reis
fizesse a leitura deste artigo diante da ausência do professor Alfredo Bevilacqua. Nascimento
expõe ao diretor que ele deveria ser o responsável pela aplicação da penalidade prevista neste
artigo, a fim de constranger seus colegas professores, efetivos e/ou aqueles que faziam parte
do Conselho, a observar a frequência às reuniões. O diretor responde, de acordo com o
secretário do INM, que
tratando-se hoje do professor Alfredo Bevilacqua, o qual é fiel cumpridor dos seus
deveres e da lei, ele espera que seja um caso bastante grave o que obrigasse esta falta
e que espera a sua justificação. Mas que, no caso de não ser esta falta justificada,
será aplicada a pena em questão.
32
O curso de teclado compreendia o ensino elementar de piano obrigatório para os cursos de canto e de
harmonia. Cap. IV: Do ensino e da frequência, Seção III. Decreto N.º 934/1890, p. 8.
15
sempre que solicitados pelo diretor. Em casos extraordinários, o diretor poderia enviar uma
circular que deveria ser prontamente reendereçada ao gabinete do diretor com suas opiniões
sobre o caso consultado. Na reunião mais próxima, esta circular deveria ser discutida e
lavrada em ata. Nos casos de aplicação de penalidades aos alunos por alguma falta ou delito
que cometessem, o Conselho participaria na aplicação de suspensões de até quinze dias ou
mesmo exclusão do Instituto com a anuência de um professor, do ecônomo ou dos inspetores
do Instituto. As demais penalidades, repreensão em particular, em aula e retiradas de aula por
um dia poderiam ser aplicadas diretamente pelo professor, e poderia o diretor aplicar qualquer
uma das penalidades de eram registradas no livro de matrícula de alunos. O conselho era
impedido de realizar qualquer sessão na falta de quórum de professores que dele fizessem
parte, mas poderia ser constituída a sessão mesmo que se ausentassem todos os membros
honorários. Estes deveriam obviamente comparecer às sessões ordinárias e extraordinárias do
conselho e aos atos solenes do INM, podendo até mesmo fazer parte de comissões julgadoras
quando nomeados pelo diretor. Era afastado do cargo o membro honorário do conselho que
por duas vezes deixasse de comparecer ou se recusasse a realizar qualquer serviço solicitado
sem justificativa. Os membros honorários permaneceriam no cargo enquanto o Governo
julgasse conveniente, porém, o mandado para os professores que dele faziam parte vigorava
por três anos, podendo ser reeleitos os mesmos professores.33
33
Biblioteca Alberto Nepomuceno. Decreto N.º 143, de 12 de Janeiro de 1890; Decreto N.º 934, de 24 de
outubro de 1890; Decreto N.º 1197, de 31 de dezembro de 1892; Decreto N.º 3.632, de 31 de Março de 1900.
Pastas 3.1 e 3.2.
16
O italiano, contratado em setembro, teve seu contrato renovado para que continuasse a
34
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1892, p. 2.
35
JORNAL DO COMMERCIO. Anúncios. Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1890, p. 8.
36
JORNAL DO COMMERCIO. Gazetilha. Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1892, p. 1.
37
PEREIRA, 2007, p. 71.
17
ministrar suas aulas no período de março a dezembro de 1891. Após a conclusão deste
período, Borgongino perdeu o direito de continuar lecionando no INM, o que foi considerado
por ele como uma “insultuosa dispensa”38. Estava certo de que havia cumprido os deveres a
ele atribuídos e que esta dispensa colocava em dúvida sua reputação de “artista”. Que
explicação daria aos seus amigos e às suas alunas em geral quando soubessem da sua saída do
estabelecimento, indagava.
Reconhecendo que a imprensa era o “único reduto dos fracos”, decidiu expor sua
versão ao Jornal do Commercio relatando fatos desde sua entrada no INM em 1890. Quando
residia em Vassouras, Rio de Janeiro, Borgongino disse ter tido conhecimento da trajetória
que levou à criação do Instituto, principalmente as histórias vinculadas às exclusões dos
professores do dissolvido Conservatório de Música, que mesmo por concurso haviam sido
impedidos de assumir suas posições na nova instituição39. Naquele período, ainda não
conhecia pessoalmente Leopoldo Miguez. Porém, sabendo que a cadeira para professor de
canto estava vaga, aguardando a chegada do professor francês, alguns de seus amigos
sugeriram que ele se apresentasse para ocupar o cargo interinamente até sua chegada.
Em fevereiro de 1891, tendo sido encerrada a validade dos contratos firmados até
dezembro de 1890, o Tesouro Nacional bloqueou o pagamento dos salários dos professores
adjuntos até que se firmassem novos contratos. Para o ano de 1892, o único adjunto que foi
impedido de continuar na lista dos docentes do INM foi Enrico Borgongino40. No dia 6 de
fevereiro, dirigiu uma carta do diretor do INM solicitando que lhe remetesse as justificativas
de sua saída. Queria que Miguez avaliasse seu procedimento no período que trabalho no INM;
38
Meses depois de sua saída, assumiu sua posição Artur Cassani, em 22 de maio de 1892. Com o falecimento de
Cassani em 8 de março de 1894, o cargo foi assumido por Carlos Alves de Carvalho, em janeiro de 1895.
Carvalho foi efetivado professor de canto na gestão de Nepomuceno, em 6 de abril de 1903.
39
Ver: AUGUSTO, Antonio José. A questão Cavalier: música e sociedade no Império e na República (1846-
1914). Folha Seca, 2010.
40
Os demais adjuntos após este período passaram a integrar a posição de titulares no início da gestão de Alberto
Nepomuceno com a criação de novas vagas de professores, em 1903.
18
Assinado pelo diretor e pelo secretário do INM, Eduardo Borjas Reis, o documento
respondia pontualmente os quatro itens solicitados por Borgongino. Ao primeiro quesito disse
que seu respeito com os alunos e sua postura em sua classe foram corretos, mas que sua
atitude “acintosa” com o professor do curso, “seu superior hierárquico”, incompatibilizava a
observância das obrigações previstas no regulamento: ensinar de acordo com o programa,
obrigações dos professores e adjuntos; e dentre as obrigações especiais dos professores a de
exigir dos seus adjuntos e auxiliares a exata observância do programa de ensino. Quanto ao
segundo ponto, Miguez atestou que sua assiduidade e desempenho de seus deveres eram
dignas de louvor.
Nos últimos pontos, sobre o método de ensino e a respeito da sua competência com o
seu trabalho, Miguez lhe recordou que ao tomar posse havia lhe advertido sobre o programa
que estava sendo organizado com o professor do curso e que não era permitido aos adjuntos,
sem seu conhecimento e do professor da cadeira, que se utilizassem “romances” de certos
autores, pois eram repertórios de amadores, “de estilo mais ou menos detestável”, que eram
impróprios de serem utilizados numa “instituição séria” e, contudo, prejudicial aos alunos.
Mesmo assim, disse que Borgongino utilizou dois destes romances de autores
“proibidos” nos exames finais de 1891, e que ele próprio lhe havia admoestado
particularmente, na ocasião. Por último, de matéria mais técnica, Miguez disse que
41
Sinal, indício.
42
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido. Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1892, p. 2.
19
Borgongino havia se afastado da escola adotada pelo Instituto e pelo professor do curso por
possuir uma “tendência acentuada para forçar o desenvolvimento das vozes”, prejudicando
sua firmeza e igualdade do som, em especial da mezza-voce, o que tornava impossível a
passagem dos alunos para as classes superiores.
Deste parecer, restou uma dúvida: por que Miguez manteve um professor considerado
incapaz por um ano e três meses lecionando no INM?
Como Guilland não demonstrou interesse em utilizar das atribuições que este Artigo
lhe conferia, Borgongino acreditava que o diretor teria usado de “má fé” quando teria dito que
43
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça
e ao Público, II. Rio de Janeiro, 25 de fevereiro de 1892, p. 2.
44
Idem.
20
teria assumido atitude acintosa com Guilland. Se assim fosse, certamente o seu superior
hierárquico teria tido motivo para se utilizar da lei vigente.Além disso, havia outras “medidas
de repressão” que também não foram exercidas.
Ao segundo quesito, por ter elogiado sua assiduidade, Borgongino, de forma irônica
lhe agradece “por tão pouco o desperdício de um louvor!”. Numa terceira publicação, passou
a rebater o terceiro ponto daquele parecer. Disse que na ocasião da sua posse, um programa
estava sendo organizado, porém, somente após muito tempo foi realmente concluído:
Tão difícil fora tal organização que lecionei desde 24 de setembro até 30 de
novembro de 1890, expus a exame os alunos, fiquei em casa quatro meses de férias,
tornei ao Instituto em 91, dando aula cinco meses e 17 dias, e sempre à espera que o
45
Sr. Miguez desse à luz o prometido programa!
Para o italiano, uma “instituição séria”, comprometida com seus alunos não poderia de
forma alguma ter adiado por tanto tempo a organização de um programa de ensino, e que não
eram os romances que havia utilizado com seus alunos que prejudicaria a imagem da
instituição, mas ter em sua direção alguém que não tinha “jeito para diretor do Instituto de
Música”. Borgongino disse não ter encontrado nem no regulamento nem no Regimento
qualquer determinação que proibisse a escolha de repertório pelos adjuntos, e Miguez não
disse para ele qual autor deveria ser evitado nas classes,
ele [Miguez], em setembro de 90, época de minha posse, não podia adivinhar em
que trechos recairia minha escolha para os exames, em dezembro. Nos exames de
1890 as minhas alunas cantaram diversos trechos, entre os quais havia alguns que o
diretor capitula de vedados. Naquela época, porém, o Sr. Miguez não mugiu nem
tugio, nem a minha escolha derivou de consultas acima apregoadas.46
Borgongino lembrou que, dentre as regras do regimento, estava o Artigo 44, segundo
o qual, oito dias antes dos exames deveriam os alunos enviar ao diretor uma lista minuciosa
do programa a ser executado, e que no término dos anos que havia lecionado no INM, havia
enviado ao diretor cada uma das listas por ele rubricadas. E se ele estava infringindo o
regulamento, por que não lhe foram impostas as penalidades naquele período? Havia perdido
mais uma vez uma boa ocasião para repreendê-lo. Miguez disse que o havia advertido
particularmente, que iria propor uma lista de autores de romances que poderiam ser utilizados
nas aulas... Mas para Borgongino, este “particularmente” não passava de um “termo coxo que
não exprime a verdade”.
Então o diretor volta-se para mim e diz: - Eu não queria que o Sr. desse romances de
45
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça
e ao Público, II. Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1892, p. 3.
46
Idem.
21
Pretendendo colocar-se à prova da competência que possuía para tal cargo, pediu ao
diretor que solicitasse ao Ministro a realização de um concurso para preenchimento da vaga
de adjunto de canto, porém, com duas condições: que na comissão examinadora não tivesse
nenhum membro do INM; e que esta comissão fosse composta de dois membros do conselho
superior de Instrução, de dois artistas de reconhecida competência, de um lente de física e
47
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça e
ao Público, IV. Rio de Janeiro, 2 de março de 1892, p. 3.
48
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Instituto Nacional de Música, ao Sr. Ministro da Justiça e
ao Público, V. Rio de Janeiro, 7 de março de 1892, p. 4.
22
outro de fisiologia. Assim, nestas condições, se poria candidato à vaga, e todos veriam “quem
tem garrafas vazias para vender”, concluiu.
Para todos os artistas e para todo o Rio de Janeiro, - que todos conhecem o estimado
e probo compositor brasileiro -, não precisa ele defender-se de acusações feitas por
quem não soube estar à altura do cargo de que havia sido investido; não necessita ele
justificar-se, nem sequer travar polemica com quem é incapaz de compreende-lo,
porque o Sr. Borgongino em música, seja como compositor, ou executor, ou
professor, nunca nos deu uma ideia sequer das suas habilitações e do seu valimento,
que contestamos.49
O redator desta notícia entendia que Miguez só devia contas dos seus atos ao Ministro,
seu superior hierárquico, e que este já devia ter conhecimento da causa que levou à não
reforma do contrato do adjunto de canto, que por diversas vezes atacou a imagem daquele que
era “um dos mais gloriosos artistas” que Brasil já havia tido. E por essa grandiosidade,
Miguez não iria se defender diante da “pequenez e insuficiência do adversário”, que se
utilizou de um “jornal político” para fazer seus ataques. O editor concluiu sua nota pedindo
desculpas do abuso que Borgongino teve para com Miguez e que era
preciso convencer a esta gente, que se julga com direito às cadeiras de canto, porque
dá gritos estridentes de barriga, que esses direitos não existem e melhor colocados
ficaram onde haja um órgão da barbaria do que um órgão de Sauer.50
Poucos dias depois, em 9 de março, Borgongino mandou publicar uma “Carta aberta
(em estilo meloso)” endereçada ao redator da Gazeta Musical. De maneira muito sarcástica
disse ter recebido uma “raquítica folha” cujo teor tentava defender o “glorioso Sr. Miguez” ao
mesmo tempo em que o atacava. Borgongino revelou neste texto informações de natureza
biográfica dizendo ter sido editor de uma folha semanal, intitulada Gazeta de Mendes e
assinava uma das seções com o pseudônimo de Girella. A folha foi publicada por um período
de oito meses, em 1887, quando ainda residia em Mendes. Tempos depois, não podendo
disfarçar a autoria, passou a assinar seu nome junto ao pseudônimo. A coleção destes artigos
estava disponível no escritório do Jornal do Commercio para que não continuassem duvidar
se os artigos anteriormente publicados pelo JC foram escritos por ele mesmo, ou ele apenas os
49
JORNAL DO COMMERCIO. Gazetilha. Questão Borgongino. Rio de Janeiro, 6 de março de 1892, p. 5.
50
Idem.
23
assinava, dizia que o estilo da escrita era o mesmo que acabava de publicar.51
Como professor, disse que o pouco de tempo que trabalhou no INM não foi suficiente
para apresentar a suas alunas e provar as vantagens de sua escola, e que o material que havia
acima mostrado era suficiente para se ter uma ideia de suas habilitações, “milagres” nunca os
fez nem sabia fazê-los. Pretendia pôr em prática no INM uma escola de canto baseada no
desenvolvimento da voz pela “característica do timbre, sem a qual são baldados os postiços da
expressão, da agilidade, do estilo, etc.”, mas Miguez havia preferido a outra, a “escola do
pomadismo”.
Externou que a carta de apresentação que o Ministro das Relações Exteriores
encaminhou ao diretor, não solicitava que fosse imediatamente nomeado, mas que o
examinasse. Após ter sido examinado, foi por suas próprias aptidões que alcançou o cargo
51
JORNAL DO COMMERCIO. Publicações a pedido: Questão Borgongino. Carta aberta (em estilo meloso) ao
redator da “Gazeta Musical”. Rio de Janeiro, 9 de março de 1892, p. 4.
24
pretendido. Assim, não era de se negar sua aptidão de cantor, quando apresentou para Miguez
e Guilland uma ária da Gioconda e teve por eles mesmos a aprovação para o cargo de adjunto.
Dentre os documentos que deixou no Jornal do Commercio, o redator da Gazeta
Musical também poderia encontrar um atestado de louvor assinado, tido como “opinião
individual, pelo diretor do Conservatório de Nápoles, maestro Pietro Platania, onde concluiu
seus estudos de canto, piano, composição e contraponto.
Diz aquele diretor que minha esclarecida inteligência e meus aproveitados
conhecimentos sobre ciência musical, minha aptidão para o ensino do canto e do
piano me garantem um lugar saliente no magistério. [...] Que abismo não passa entre
a opinião do diretor do Conservatório de Nápoles e o parecer do Sr. Miguez
fonografado pela vossa Gazeta Musical!52
Borgongino duvidou que o verdadeiro motivo de sua saída houvesse sido dito ao
Ministro, pois se as “justiças nos governos republicanos não é palavra vão”, ele não haveria
de acreditar nas palavras de Leopoldo Miguez. E caso o redator da Gazeta Musical tivesse
achado este “melado um pouco azedo”, poderia adicionar açúcar.
O professor italiano não assumiu cargo algum no INM após este desentendimento com
Leopoldo Miguez. Porém, no ano de 1896, foi membro de uma comissão examinadora para o
provimento da cadeira de música vocal da Escola Normal de Niterói, ao lado de Felisberto de
Carvalho e Oscar Guanabarino. Dentre os concorrentes estava o professor de clarineta do
INM, José de Lima Coutinho, que obteve o primeiro lugar no concurso.
O rígido controle efetivado por Miguez pode ser observado na análise dos projetos de
reforma do INM. O de 1900, último da gestão Miguez, visava eliminar do regulamento
anterior 72 Artigos, cujas disposições passaram a fazer parte do Regimento com pequenas
alterações. Outras mudanças eram: a criação dos lugares de conservador e bibliotecário; os
professores passariam a ser qualificados como “catedráticos”; haveria aumento dos salários do
52
Idem.
53
JORNAL DO COMMERCIO. Gazetilha. Nitherohy. Rio de Janeiro, 1 de maio de 1896, p. 2.
25
Mesmo depois de dez anos de funcionamento, o INM não possuía um responsável pela
biblioteca. O segundo ponto da reforma abordava o projeto de criação dos lugares de
bibliotecário e conservador. Para Barbosa, o Instituto não necessitava de alguém para ocupar
o primeiro cargo, tal tarefa era destinada ao secretário; e sobre o segundo, julgava necessário
desde que para ele fosse nomeado um profissional competente, com grau de conhecimentos
musicais e habilitações especiais.
54
BARBOSA, José Rodrigues. Projeto de reforma do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 1 de março
de 1900. Arquivo Nacional de Rio de Janeiro. Loc. IE 7 90 92. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca
1897- 1901
55
SIQUEIRA, Baptista. Do Conservatório à Escola de Música: Ensaio Histórico. Rio de Janeiro: Edição do
autor, 1972.
56
Ver: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-3966-23-marco-1901-506518-
publicacaooriginal-1-pe.html&https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/177427-abre-ao-ministerio-
da-justiua-e-negocios-interiores-novo-credito-de-155-438-725-supplementar-u-verba-soccorros-publicos-do-
exercicio-de-1901.html. Acessados em 17 de maio de 2017.
27
A sétima consideração, que para ele seria uma boa medida, tratava-se da retirada da
competência do conselho o julgamento das provas para a concessão de prêmios, que ocorriam
quando os alunos concluíam seus cursos. Deliberaria sobre as provas uma comissão “técnica e
competente”e, ao conselho, era obrigatória a assistência aos atos solenes de distribuição dos
prêmios e todas as vezes em que o diretor solicitasse.
28
Os professores dos cursos diurnos tinham preferência para a regência dos cursos
noturnos, e inicialmente, constituía como uma entidade autônoma que deveria se manter por
meio de subvenções anuais concedidas pelos poderes públicos ou donativos particulares.
Totalizadas as despesas com os professores e demais funcionários e com o material, se
houvesse saldo, poderiam, com autorização do Ministro, realizar aquisições de instrumentos,
móveis, obras no edifício do INM, bem como a criação de premiações de concursos.
noturno continuaria a fazer parte do programa, pois para muitos dos alunos era necessário
conhecimento do teclado.
Além destes pontos, que Barbosa considerava essenciais da reforma, havia outros a
serem discutidos, como alterações das taxas de matrícula, criação dos lugares de conservador
e porteiro, sobre a substituição do diretor em caso de impedimento, sobre o Artigo que
estabelecia o número de professores de cada curso, dentre outros... Barbosa não concordava
que deveria ser delimitada a quantidade de professores, mas que fosse subordinada às
exigências do ensino, como no caso de desdobramento das aulas e do crescente número de
alunos que a instituição vinha recebendo de todas as partes do país e do exterior. Assim ficou
fixado no Artigo N.º 6 do Decreto N.º 3632/1900, que o número de professores e adjuntos
estivesse subordinado às exigências do ensino e ao número de alunos.
57
SIQUEIRA, Baptista. Do Conservatório à Escola de Música: Ensaio Histórico. Rio de Janeiro: Edição do
autor, 1972.
30
honorário do crítico musical José Rodrigues Barbosa. Comparando com o Decreto anterior, o
projeto de reforma de Nepomuceno extinguiu três seções, a literária e as de conjunto vocal e
instrumental.
58
Ver PEREIRA, 2007, p. 140.
31
Havendo duas ou mais vagas, competia à Congregação resolver sobre qual seria posta
em concurso primeiro e deveriam ser abertos com intervalo de um ano, para que houvesse um
concurso “especial” para cada vaga. Poderiam se candidatar brasileiros que estivessem em
cumprimento dos seus deveres civis e políticos e estrangeiros que falassem português,
apresentando folha corrida e quaisquer outros documentos que julgassem conveniente, como
títulos de idoneidade ou prova de serviços prestados à arte e ao Estado. Cada concurso
possuía um termo de abertura e outro de encerramento, ambos assinados pelo diretor.
Após o encerramento das inscrições, o julgamento do concurso era feito pela
Congregação. O secretário era o responsável por fazer a leitura dos nomes dos candidatos e
dos seus respectivos documentos. Após a leitura, a Congregação determinava se cada
candidato possuía as condições necessárias de idoneidade para fazer parte da votação, sendo o
vencedor aquele que alcançasse dois terços de votos.
Qualquer decisão tomada pela Congregação poderia ser rebatida por recurso enviado
para o Governo. A apuração dos votos era lida após dois escrutínios e, após o segundo, se
ocorresse empate, seria preferido o candidato brasileiro. Se um estrangeiro fosse eleito, sua
nomeação só poderia ocorrer mediante apresentação de documento que comprovasse sua
naturalização brasileira. Nenhum professor poderia deixar de votar na indicação de um dos
candidatos habilitados no primeiro escrutínio e, caso não o fizesse, o seu voto seria excluído
do montante para o reconhecimento dos dois terços. Uma cópia da ata da sessão, assinada por
todos os membros da Congregação, era enviada para o Governo acompanhada de um ofício
com o nome do candidato licenciado. Deste modo, o candidato tornava-se imediatamente
vitalício, a partir da data de sua posse e exercício; e não perderia esta posição senão na forma
das leis penais e das disposições do regulamento. Caso o Governo não reconhecesse
legitimidade na decisão da Congregação, um novo concurso deveria ser realizado em até doze
meses.
Se nenhum candidato tivesse obtido os dois terços dos votos, deveria ser enviada para
o Ministro da Justiça uma lista com o nome de todos os concorrentes, com suas informações
circunstanciadas sobre a moralidade e habilitações. Assim, poderia o Ministro nomear um dos
candidatos, que exerceria o cargo por dois anos. Finalizado este período, era feita uma nova
votação da Congregação e, caso o candidato alcançasse os dois terços de votos, tornar-se-ia
vitalício no cargo. Se desejasse mudar de função deveria ser realizada uma nova audiência da
Congregação e, caso julgasse permitido, deveria aguardar o assentimento do Ministro.
Havendo necessidade de contratar professores brasileiros ou estrangeiros, o diretor
deveria encaminhar um pedido à Congregação. O regulamento determinava que para ser
32
bem como os monitores e alunos auxiliares quando houvesse a necessidade de subdividir uma
classe do seu curso. Dias após ter sido nomeado diretor do INM, em 26 de julho de 1902,
Nepomuceno elevou ao grau de professor o então adjunto Ernesto Ronchini, que desde 1890
ocupava o cargo de adjunto de violino e violeta. Num primeiro momento, ele chegou a
lecionar sob a forma de contratado, e um ano depois, em 20 de fevereiro de 1891, obteve sua
nomeação para o cargo. Os demais receberam suas nomeações em 30 de março de 1903,
sendo Carlos Alves de Carvalho, para o cargo de professor de canto; e, para ocuparem o cargo
de professor do curso médio de piano, os professores Alfredo Fertin de Vasconcelos e Paulo
Chambelland.
Em 15 de abril de 1903, ocorreu a 1ª Sessão da Congregação59. Dentre os assuntos
sobre admissão de alunos com idade inferior a nove anos, estava o de eleger os membros
honorários do INM. Com exceção do professor Max Benno Niederberger, que estava de
licença, compareceram à reunião os professores Elvira Bello Lobo, Luigia Guido, Francisco
Alfredo Bevilacqua, Frederico do Nascimento, Augusto Duque-Estrada Meyer, José de Lima
Coutinho, Henrique Alves de Mesquita, João Rodrigues Côrtes, Agostinho Luiz de Gouvêa,
Paulo Chambelland, Alfredo Festim de Vasconcellos, Ernesto Ronchini, Louis Gilland,
Henrique Braga, Arnaud Duarte de Gouvêa, Ricardo Tatti, Ricardo Roveda, Carlos Alves de
Carvalho, Francisco Braga e Humberto Milano, com presidência do diretor Alberto
Nepomuceno. Após aprovarem a ata da reunião anterior, Nepomuceno convidou a
Congregação para que fossem indicados os nomes que preencheriam a posição de membros
honorários.
O professor Frederico do Nascimento propôs que fossem indicados Arthur Napoleão
dos Santos e Manoel Porto Alegre Faulhaber, que eram membros honorários do antigo
Conselho, ao que o professor Duque-Estrada entendia que a votação devesse acontecer para
cada um. Depois de realizada a votação, foi indicado, por unanimidade, Arthur Napoleão dos
Santos. Ao ser anunciado pelo diretor que passariam à indicação do segundo membro
honorário, o professor Duque-Estrada propôs que fosse eleito o crítico musical José
Rodrigues Barbosa, reconhecendo nele os requisitos necessários para o cargo.
O Decreto 4.779/1903 previa em seu art. 5º, que a Congregação seria composta de
todos os professores em exercício e três membros honorários por ela indicados. Este membros
honorários seriam nomeados pelo Governo, e deveriam ser artistas notáveis residentes na
59
BAN Conselho do Instituto, Atas 1890-1912.Ata da 1ª Sessão da Congregação, efetuada em 15 de abril de
1903.
34
60
BARBOSA, José Rodrigues. Instituto Nacional de Música – Rodrigues Barbosa ao público. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, 3 de junho de 1903. In: PEREIRA, 2007, pp. 153-162.
61
SIQUEIRA, 1972, p. 68.
36
Oboé e congêneres -
Clarinete e congêneres 1. Francisco Nunes Junior. Nomeado em 12/09/1904.
Trompa e congêneres 1. Luiz Velho da Silva. Nomeado em 12/09/1904.
Harmonia 1. Agnello Gonçalves Vianna França. Nomeado em 12/09/1904.
Composição -
Fonte: BAN Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940.
Quadro 6: Cursos oferecidos no INM nas reformas Nepomuceno (1903) e Oswald (1904).
Decreto n. 4.779/1903 Decreto n. 5.162/1904
Nepomuceno Oswald
Seção elementar - Solfejo - Solfejo
- Canto a solo - Canto a solo
Seção vocal
- Canto coral
Caso ocorresse a necessidade de dividir uma turma com número limitado de alunos, o
diretor podia, com prévia autorização do Ministro, designar um dos professores do mesmo
curso para regê-la. Este poderia fazer parte do quadro de efetivos ou não e receberia 100$ por
mês. De qualquer forma, para o preenchimento de qualquer vaga deveriam ter preferência os
professores adjuntos ou os alunos com destaque nos estudos.
Nos Decretos de 1903 e 1904, os professores passaram a receber gratificações por
tempo de serviço, valores acrescidos nos seus vencimentos. Aos que tinham 10 anos de
serviço, acréscimo de 5%; 15 anos, 10%; 20 anos, 20%; 25 anos, 33%; e aos que
completassem 30 anos de trabalho, poderiam alcançar o acrescimento de 40% se dentro do
último quinquênio houvessem publicado alguma obra de mérito didático. No caso do Decreto
de 1903, a obra passaria por uma avaliação da Congregação. Sendo considerada “obra de
mérito excepcional ou de extraordinária vantagem para o ensino”, o professor teria direito à
impressão de até três mil cópias do seu trabalho por conta do Governo. Caso o trabalho já
tivesse sido publicado, o autor teria o valor ressarcido após avaliação da Imprensa Nacional.
O professor também teria direito a um prêmio entre 2:000$ e 5:000$, que seria estipulado pelo
Governo mediante informação do diretor. Com diferença de apenas um ano de um Decreto
40
para o outro, os professores perderiam o direito do custeio de suas obras, mas continuavam
dependendo delas para conquistar a gratificação adicional de 40% do seu salário.
contrabaixo, oboé, clarinete, fagote, trompa, clarim e trombone durante o dia, pois estes
haviam sido transferidos para o curso da noite, durante a gestão de Nepomuceno. Também
argumentava que quase todos os alunos do curso noturno, das aulas de canto a solo e de
instrumento, eram obrigados pelo Regimento, a frequentar o curso de canto coral, que
somente funcionava durante o dia. Não havia para eles professores no turno da noite.
Observou que, de todas estas classes, a que mais número reunia de alunos era a de
flauta, seis alunos. As outras reuniam quatro alunos, e este número ia decrescendo, a ponto de
não ter nenhum aluno matriculado no curso de oboé. De acordo com o Regimento, o número
para cada classe deveria atingir um total de oito alunos e, no período diurno, este número
ultrapassava este limite, o que impedia a muitos de se tornarem alunos do INM por falta de
vagas.
Canto coral
Violoncelo
Trombone
Clarinete
Trompa
Violino
Solfejo
Clarim
Fagote
Flauta
Canto
Oboé
Tavares de Lyra; o Decreto N.º 9.056, de 18 de outubro de 1911, assinado pelo presidente
Hermes da Fonseca e pelo Ministro Rivadavia da Cunha Corrêa; e o Decreto N.º 11.748, de
13 de outubro de 1915, assinado por Wenceslau Braz e pelo Ministro Carlos Maximiliano
Pereira dos Santos, a quem se deve tal desentendimento.
Mesmo tendo Henrique Oswald solicitado ao governo que fossem encerradas as aulas
do turno da noite, nesses três Decretos da segunda gestão de Nepomuceno as aulas
continuavam a ocorrer durante o dia e noite. Com mais de setecentos alunos, o INM possuía
um corpo docente com vinte e nove professores: seis de solfejo, três de canto, cinco de piano,
um de órgão, um de harpa, três de violino e violeta, um de violoncelo, um de contra-baixo,
um de flauta, um de oboé e fagote, um de clarinete e congêneres, um de trompa, clarim,
cornetim, trombone, saxhorn baixo (tuba) e congêneres, três de harmonia e um de contra-
ponto e fuga, instrumentação e composição. A cadeira de canto coral foi extinta para que se
criasse outra para professor de harmonia, sendo o professor daquela remanejado para esta.
Outra mudança importante neste Decreto foi que o Conselho deixou de existir bem como a
participação dos adjuntos ao lado dos professores efetivos63, sendo substituídos por auxiliares
de ensino.
62
SIQUEIRA, Baptista. Do Conservatório à Escola de Música: Ensaio Histórico. Rio de Janeiro: Edição do
autor, 1972, p. 71.
63
Artigos N.º 219 e N.º 220 do Decreto N.º 6.621/1907.
44
1890 1891 1892 1893 1894 1895 1896 1897 1898 1899 1900 1901 1902 1903 1904 1905 1906 1907 1908 1909 1910 1911 1912 1913 1914 1915
800 747
708
670
700 635
596
557 567
600 538 518
485 493 493 501 486
447 457
421 442
500
401 401
400
276
300 243
200
100
s.d. s.d. s.d. s.d.
0
Número de alunos/as
Para seleção de novos professores, cabia ao corpo docente e aos membros honorários
(os mesmo que figuravam no Conselho) a nomeação por maioria absoluta de votos. Sob este
regulamento apenas se realizou o concurso para a cadeira de trompa, clarim, cornetim,
trombone, saxhornbaixo (tuba) e congêneres, em 1910. Inscreveram--se para este concurso
oito candidatos: Ismael Guarischi, Rodolpho Pfefferdorkn, Graciliano de Mello, José
Raymundo
undo de Miranda Machado, João Ignácio da Fonseca, Alfredo Franklin de Mattos,
Alnibar Nelson e Álvaro Sandim. As inscrições tiveram
tivera início em 10 de junho e seu
encerramento ocorreu no dia 10 de agosto.
64
Amaro Barreto substituiu Nepomuceno de julho a dezembro de 1910.
65
BRASIL. Decreto N.º 6.621, de 29 de agosto de 1907.
46
vantagem a Ismael, que obteve apenas sete. O resultado final deste concurso foi, em primeiro
lugar, José Raymundo e em segundo, Rodolpho.66
Abaixo a lista de professores e auxiliares de ensino no período que o INM era regido
pelo Decreto de 1907:
66
BAN. Ata da 7ª Sessão do Corpo Docente. Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1910. Livro do “Conselho do
Instituto, Atas 1890-1912”.
47
O regulamento do provimento dos cargos docentes deste Decreto previa que com a
vaga para o cargo, o diretor deveria publicar no Diário Oficial um edital para o
preenchimento, com as inscrições abertas por sessenta dias. Os candidatos deveriam requerer
ao conselho docente sua inscrição para o concurso apresentando seus documentos e material
que comprovasse suas produções. Se no Instituto houvesse adjuntos ou livres docentes,
somente eles concorreriam às vagas. Caso não existisse ou nenhum deles tivesse condições de
assumir tal posição, só poderiam se candidatar aqueles que apresentassem prova de boa
conduta moral. Assim, oito dias antes de encerrar as inscrições, deveria ocorrer uma reunião
do conselho docente para eleição de uma comissão de cinco professores para que julgassem e
apresentassem um relatório a respeito dos valores artísticos, literário, científico, pedagógico e
49
moral dos candidatos. Após a leitura do relatório, no qual eram apresentados os candidatos, os
professores deveriam realizar uma votação e venceria o candidato que alcançasse dois terços
dos votos. Apenas o cargo professor de fisiologia e higiene da voz não passaria pelo processo
dos votos dos professores, pois eram de livre nomeação do Governo.
Quadro 13: Nomeações ocorridas entre os anos 1911 a 1915 sob o regimento do Decreto N. 9.056/1911.
18/10/1911 Maria Celeste Jaguaribe de Mattos Professora de Solfejo
18/10/1911 Vera Nobrega de Vasconcelos Professora de Solfejo
18/10/1911 Albertina da Fonseca Professora de Solfejo
18/10/1911 Henrique Oswald Professor de Piano
18/10/1911 José da Silva Maia Professor de Teclado
18/10/1911 Eurico de Araújo Costa Professor de Violoncelo
18/10/1911 Nicia Silva Professora de Canto
18/10/1911 Maria Isabel Verney Campello Professora de Canto
18/10/1911 Francisco Chiaffitelli Professor de Violino
18/10/1911 Rodolpho Pfefferkorn Professor de Trompa
18/10/1911 Ismael Guarischi Professor de Trombone
18/10/1911 Jandyra Costa Professora de Harpa
18/10/1911 Dr. Oswaldo Puissegur Professor de Fisiologia e Higiene da Voz
25/10/1911 Carmen Casado Lima Adjunta de Teclado
30/10/1911 Philipe Messina Adjunto de Violino (Curso Noturno)
30/10/1911 Maria Abalo Monteiro Adjunta de Teclado
28/10/1911 Alberto Nepomuceno Órgão e Harmonia
28/10/1911 José Raymundo de Miranda Machado Professor de Clarim e Cornetim
01/11/1911 Mary Alice Coggin Adjunta de Piano
01/11/1911 Custódio Fernandes Góes Adjunto de Piano
01/11/1911 Laura Navarro de Lima Coutinho Adjunto de Piano
01/11/1911 Carmo Marsicano Adjunto de Violino
01/11/1911 Alzira de Miranda Monteiro Adjunto de Piano
09/11/1911 Orlando Frederico Adjunto de Violino
09/11/1911 Olivia Cunha de Siqueira Adjunto de Violino
20/11/1911 Rita de Cassia Oliveira Adjunta de Piano
20/11/1911 Guiomar da Nobrega Beltrão Auxiliar 1ª Classe de Canto
07/12/1911 Carlos Lemos Peixoto Adjunto de Piano
50
O Decreto N.º 11.748, de 13 de outubro de 1915, reorganizou mais uma vez o INM.
Nosso enfoque se dá à sistematização e organização que se pretendia dar ao provimento de
cargos docentes. Pela primeira vez, um Decreto organizava o processo de um concurso
público para preenchimento da vaga de professor no INM, respeitando princípios de igualdade
e competição, com critério da escolha sobre o mérito do candidato que nele poderia se
inscrever livremente.
Assim, nos próximos capítulos, passaremos a analisar o primeiro instrumento jurídico
que estabeleceu as normas condicionantes aos princípios de isonomia e impessoalidade,
mediante concurso público, para o provimento dos cargos docentes, o Decreto N.º 11.748, de
13 de Outubro de 1915, que “Reorganiza o Instituto Nacional de Música”. Para Alberto
Nepomuceno, então diretor, a promulgação desse Decreto simboliza
o fato culminante e que bem revela o zelo, o carinho com que o atual Governo da
Republica encara o problema da instrução entre nós. [...] A instituição do concurso
para a investidura no magistério do Instituto veio colocá-lo em destaque, pela
certeza de que de ora avante a escolha dos docentes recairá em pessoas de
incontestável competência, afastando aqueles que só pelo patrocínio dos amigos
poderiam ascender a um posto no professorado do mesmo Instituto. [...] Muitas
foram as modificações introduzidas no Regulamento em questão, mas basta para
51
67
Arquivo Nacional. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.
52
com o surgimento da vaga para professor, o diretor deveria mandar publicar no Diário Oficial
da União o edital para o concurso com o prazo de cento e vinte dias para as inscrições dos
candidatos71. Esta inscrição deveria ser realizada em dias úteis, de onze da manhã às quinze
da tarde, na secretaria do Instituto Nacional de Música. Uma cópia do edital deveria ser
remetida ao Ministério do Interior para ser enviada aos outros estados, com a finalidade de ser
publicada nos diários oficiais estaduais. O edital deveria ser republicado em várias edições até
a última semana das inscrições. Caso o prazo expirasse durante as férias, as inscrições seriam
mantidas abertas durante três dias úteis que se seguissem até o término delas.
O candidato deveria ser brasileiro e estar no gozo de seus direitos civis e políticos, ou
estrangeiro, mas que falasse português. Para realizar a inscrição o candidato deveria enviar
um requerimento ao diretor anexando sua “folha corrida”72, e se fosse estrangeiro, enviar
documento equivalente, devidamente legalizado. A inscrição no concurso poderia ser feita
também por procuração. Além desta documentação, os candidatos poderiam enviar quaisquer
outros documentos oportunos, como títulos de idoneidade ou comprovação de serviços
prestados à arte e ao Estado.
De acordo com o Art. 51, haveria provas teóricas e práticas segundo a natureza da
matéria abordada, podendo ser prestadas oralmente, por escrito ou no instrumento,
observando o programa próprio de cada concurso. O concurso para cadeira de solfejo incluía
um programa que englobava nove provas, sendo as seis primeiras obrigatórias e, caso o
candidato desejasse realizar a de número 9 também deveria cumprir a de número 8:
1. Teoria geral da música;
2. Ditado musical de grande dificuldade, tocado por frases ao piano ou harmônio por
três vezes no máximo;
3. Realização de um canto ou baixo dado a quatro partes;
4. Execução ao piano de uma peça, correspondente ao quarto ano do curso de piano
do INM, que seria indicada quinze dias antes do concurso;
5. Composição de solfejos e ditados para classe, segundo a indicação da comissão
no momento da prova;
6. Noções e provas práticas de canto;
7. Conhecimentos de teoria física e fisiológica da música (facultativa);
8. Composição de uma fuga a quatro partes sobre um tema dado pela comissão
(facultativa); e
9. Realização, à pedra, de contrapontos duplos, triplos e quádruplos invertíveis
(facultativa).
71
“Se, terminado o prazo, ninguém se houver inscrito, o diretor deverá prorrogá-lo por igual tempo, e assim
sucessivamente, até que se verifique a inscrição, continuando a reger, interinamente, a cadeira vaga, até o seu
provimento, o docente que, para tal fim, tiver sido designado ou nomeado”. Art. 49. Decreto N.º 11.748
72
A Folha Corrida é um documento que comprova que, até a data de sua emissão, o cidadão que o requereu não
possui condenações criminais transitadas em julgado cujo cumprimento ainda esteja em andamento.
54
fuga, teoria (dissertação), teoria (pedagógica), canto (prática), canto (dissertação), piano,
teoria física e fisiológica e contraponto.
No dia 18 de maio, por ordem do diretor, o secretário Arthur Tolentino da Costa
publicou no Diário Oficial que estavam afixadas as instruções para o concurso de solfejo, de
acordo com o edital publicado no mesmo informativo de 14 de abril73. As instruções foram
afixadas no mural do INM e apresentavam de maneira detalhada o conteúdo das provas que
seriam aplicadas:
Quadro 14: Conteúdo das provas (concurso de solfejo, 1916)
TEORIA GERAL DA MUSICA
a) Música (definição) e seu fim;
b) Escala musical geral;
c) Origem dos monossílabos com que se designam as notas;
I d) Constituição dos diferentes modos;
e) Diferentes acepções do termo tonalidade;
f) Formação das diversos gamas (escalas) que o nosso sistema musical atual comporta,
diatônicas e cromáticas;
g) Notas principais modais e atrativas no tom;
h) Maneira de conhecer o tom e modo de um trecho;
II i) Notas comuns e diferenciais entre tons;
j) Afinidades entre tons;
k) Modulação. Processos empregados na modulação melódica; notas transitivas e limítrofes;
III l) Ornamentos – sinais e modo de executá-los;
m) Acordes: perfeito maior, menor e de 5ª diminuta;
n) Acordes dissonantes naturais;
IV
o) Formação das escalas, tonalidade em geral;
p) Alterações e agregações que se podem fazer nos acordes em geral;
q) Ritmo – Noção e condições do ritmo na antiguidade;
r) Noção do ritmo na atualidade;
s) Compasso – Modos de compreendê-lo e de aplicá-lo a um trecho musical.
V A prova será oral e constará de uma dissertação sobre um ponto do programa á
escolha do candidato, que poderá ser argüido sobre este ou outros pontos do
programa, se a mesa o julgar conveniente. A dissertação durará no máximo uma
hora.
NOÇÕES TEÓRICAS E PRÁTICAS DE CANTO
a) Anatomia sumária dos aparelhos respiratórios e fonador;
b) Voz humana;
c) Respiração e emissão;
d) Extensão das vozes;
I
e) Entoação;
f) Processos que facilitam entoações difíceis.
O candidato cantará um trecho á sua escolha e fará uma dissertação abrangendo
todos os assuntos do programa e que durará meia hora, no máximo.
CONHECIMENTOS DE TEORIA FÍSICA E FISIOLÓGICA DA MUSICA
(Facultativa)
a) Teoria do som; ruído e som musical; propagação do som; fenômenos resultantes da
I
coexistência de dois ou mais sons; produção; produção do som nos instrumentos musicais;
II b) Anatomia sumária do aparelho auditivo no homem. Mecanismo da audição;
c) Afinidades entre os sons. Consonância e dissonância; dissonâncias entre sons isolados e no
discurso musical.
III
A prova será oral e constará de uma dissertação sobre um ponto do programa, á
escolha do candidato, que poderá ser argüido sobre este ou outros pontos
73
BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Instituto Nacional de Música. Diário Oficial da União.
Editais e Avisos. Rio de Janeiro, 18 de maio de 1916, p. 5884.
55
74
Biblioteca Alberto Nepomuceno. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Livro de
inscrição em concurso do magistério e livre-docência, 1903-1996. Atas v. 65.
56
em manuscrito pelo candidato Raphael Bernabei, por entenderem que nela constavam
conceitos absurdos e inaceitáveis.75
O concurso ocorreu nos dias 29 a 31 de agosto, 4, 5, 6, e 11 de setembro de 1916 e sua
comissão julgadora se reuniu no dia anterior ao início das provas na sala da biblioteca do
Instituto Nacional de Música, na Rua Dr. Joaquim Nabuco, atual Rua do Passeio. A formação
do corpo de jurados estava a cargo do diretor, que poderia escolher pessoas que não faziam
parte do corpo docente do Instituto. E, caso algum membro não comparecesse, poderia ser
nomeado outro, mesmo em “última hora”76. Faziam parte da comissão o “membro honorário
e professor extraordinário honorário”, José Rodrigues Barboza; e os professores Frederico do
Nascimento, José de Lima Coutinho, Arnaud Duarte de Gouvêa, Francisco Braga e Carlos
Alves de Carvalho, sob a presidência do diretor Alberto Nepomuceno.
Nesta reunião, depois de ampla discussão, ficou resolvido que o ditado musical a que
se referia a prova número 2 do programa, seria tocado integralmente uma vez, e depois tocado
por frases; fossem escritos no mínimo cinco ditados inéditos para um deles ser tirado à sorte
por um dos candidatos. A prova de número 5, composição de ditados e solfejos para classe,
seria realizada sobre um motivo dado pela comissão no ato da prova. Também foi
determinado que se procedesse à correção das provas escritas assim que concluído o
concurso, podendo a comissão, no seu entender, examiná-las logo após as provas,
depositando-as, convenientemente lacradas, sob a guarda do diretor. As provas 2 e 5 seriam
realizadas no dias 29, e no dia seguinte seria a “realização de um canto ou baixo dado a quatro
partes”; no dia 31 de agosto, aconteceria a prova facultativa “composição de uma fuga a
quatro partes”.
Além da dissertação sobre um dos pontos de teoria geral da música que o candidato
era obrigado a fazer, por força das instruções de 17 de maio, também deveria discursar sobre
um destes temas, sorteados no dia das provas: intervalos; escalas, sua formação e tonalidades;
notas comuns nos tons entre elas (afinidade).
Não se tratando de um concurso para professor de harmonia, a comissão não exigia
muita complexidade no desempenho das provas de número 3 e 8. Para a realização de um
canto ou baixo dado a quatro partes, o candidato poderia redigir uma prova de fácil
compreensão a partir de um tema tirado à sorte. A prova (facultativa) de composição de uma
fuga a quatro partes seria realizada sobre um tema simples e curto, sorteado dentre vários
75
ARQUIVO NACIONAL. Concurso de Solfejo do INM. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca
1914-1916. Loc. IE 7 94, 92.
76
BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Decreto N.º 11.748, de 13 de outubro de 1915:
Reorganiza o Instituto Nacional de Música, Artigo 52. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915.
58
optados pela comissão. E esta só seria obrigatória para o candidato que optasse realizar a de
número 9, na qual o candidato deveria realizar um contraponto duplo à oitava e que definisse
o modo de fazer o de 10ª e 12ª, assim como o processo de realizar os contrapontos triplos e
quádruplos, exemplificando, se assim entendesse a comissão.
Por fim, a comissão definiu que os pontos de prova escrita a que se referiam as provas
de números 2, 3, 7 e 8 seriam numerados e tirados à sorte, verificando o número de
concorrentes, neste caso cinco, e assim, depositado na urna igual número de cédulas contendo
uma delas um sinal preto, a fim de ser sorteado o ponto por aquele a quem coubesse a cédula
assinalada.77
Em 29 de agosto de 1916, o diretor Alberto Nepomuceno deu início às provas do
primeiro concurso para o cargo de professor do INM de acordo com as novas regras
estabelecidas pelo Decreto de 1915. A banca organizada por Nepomuceno era composta por
professores que exerciam o magistério por longa data na instituição78. As provas práticas
seriam públicas, o que não poderia ocorrer nas escritas, pois estas seriam realizadas em uma
ou mais salas, devendo sempre haver a presença de ao menos dois membros da comissão
julgadora, com a finalidade de garantir o silêncio necessário e que não houvesse consulta a
livros ou notas por parte dos candidatos.
Terminado o prazo das provas escritas, que poderiam variar de acordo com o
determinado pela comissão, as folhas utilizadas pelos candidatos eram rubricadas no verso
pelos membros da comissão e lacradas em envelopes que ficavam sob a guarda do diretor. 79
O primeiro dia de provas teve início às 11h, na sala 12 do INM. Com todos os
membros da comissão julgadora do concurso presentes e os cinco candidatos inscritos, foram
apresentados pelos membros da comissão sete ditados musicais, seis temas para composição
de ditados e solfejo para classe. Este material foi utilizado na aplicação das provas de ditado
musical de grande dificuldade e na de composição de solfejos e ditados para classe. Em
seguida estes pontos foram, depois de aprovados pela comissão, numerados para sorteio.
Após a realização da chamada e comprovada a presença de todos os candidatos, o
diretor apresentou o processo que se daria para o sorteio da primeira prova. Cada um dos
candidatos retirou uma cédula da urna. A Octavio Bevilacqua coube a cédula que indicava
para prova escrita o ditado número 7, de autoria do membro honorário Rodrigues Barboza. O
77
BIBLIOTECA ALBERTO NEPOMUCENO. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Atas
de Concurso da Carreira do Magistério EM/UFRJ V. 1: 1916-1935. Registro 4021/2013. N.º Sist.: 799875.
ADEM AI/EM/UFRJ Atas V. 22.
78
Caso algum professor da comissão não pudesse estar presente, outro lhe professor poderia vir a substituí-lo.
79
BRASIL. Decreto N. 11.748/1915, Arts. 53-57.
59
professor Arnaud Gouvêa, membro da comissão, foi apontado para tocar ao piano o ditado
sorteado, e no tempo determinado, os candidatos deveriam apresentar sua transcrição.
Figura 1. Ditado composto por Rodrigues Barboza.
dias, as provas foram postas em envelopes devidamente lacrados e selados com o selo do
Instituto e ficaram sob a guarda do diretor. Terminadas esta etapa, o diretor convocou os
membros para dar continuidade nas aplicações das provas orais, que teriam início no dia 4 de
setembro, às 13h, no edifício da Escola Nacional de Bellas Artes, pois lá havia espaço
adequado para assistência das provas públicas do concurso.
Além da presença do diretor Alberto Nepomuceno e da comissão julgadora do
concurso de solfejo, neste dia os candidatos também contaram com a presença do Ministro da
Justiça e Negócios Interiores, Dr. Carlos Maximiliano Pereira dos Santos. As provas
iniciaram-se às 13h30min no salão de honra da Escola Nacional de Bellas Artes, e apenas dois
dos candidatos tiveram tempo de apresentar suas dissertações referentes à prova de teoria
geral da música naquele dia, Roberta Gonçalves e Octavio Bevilacqua.
A primeira dissertou sobre o ponto quatro: acordes perfeito maior, menor e de quinta
diminutas; acordes dissonantes naturais, formação das escalas, tonalidade em geral, alterações
e agregações que se podem fazer aos acordes em geral. O trabalho apresentado por
Bevilacqua trazia noções e condições do ritmo da antiguidade aos “tempos atuais”;
compassos, modos de compreendê-los e aplicá-los a um trecho musical e estava de acordo
com o ponto cinco das instruções. Concluído o tempo dos trabalhos daquele dia, os candidatos
fizeram a entrega do que haviam redigido à comissão.
No dia seguinte, os trabalhos foram iniciados às 12h, ainda com a presença do Sr.
Ministro. Apresentaram-se para a avaliação os três outros candidatos, Raphael Bernabei,
Homero Barreto e Maria Clara Menezes. Observando o mesmo ponto das instruções para a
prova de teoria geral da música, estes candidatos apresentaram suas considerações sobre
música (definição) e seus fins; escala musical, origem dos monossílabos com que se designam
as notas; constituição dos diferentes modos; as diferentes acepções do termo tonalidade;
formação das escalas cromática e diatônicas de acordo com o sistema musical daquele
período.
As últimas provas aconteceram nos dias 6 e 11 de setembro. Como de praxe, o
encarregado realizou a chamada dos candidatos de acordo com ordem de inscrição. Com a
presença de todos, deram início à prova pedagógica que aludia às instruções de número seis
da reunião do dia 28 de agosto. De acordo com as instruções, o candidato deveria apresentar,
além da dissertação sobre um dos pontos de teoria geral da música, conhecimentos sobre a)
intervalos; b) escalas (formação e tonalidades); ou c) notas comuns nos tons entre elas. No ato
da prova, a comissão alterou a regra de sorteio de um dos pontos e resolveu que todos os
candidatos deveriam dissertar sobre os pontos a e c, por terem os candidatos já apresentado
61
80
No quadro negro.
62
Após a aplicação desta prova, Nepomuceno deu por concluída esta etapa do concurso
e convocou a comissão julgadora para elaborar o relatório sobre as avaliações ocorridas
naqueles dias. No dia 13 de setembro, de volta à sala da biblioteca do INM, a banca resolveu
designar quais os membros que realizariam o relatório final do concurso. Assim que foi aberta
a sessão, Rodrigues Barboza propôs que os professores Lima Coutinho, Arnaud Gouvêa e
Francisco Braga produzissem o documento. O professor Nascimento lembrou que a condição
primária para a elaboração do relatório deveria ser o julgamento das provas e a classificação
dos candidatos. Depois do acordo de todos a respeito da proposição de Nascimento, o diretor
procedeu à abertura dos pacotes de provas para análise e votação para primeiro, segundo e
terceiro lugares, resultado que apresentamos nos quadros abaixo:
Quadro 16: Resultados do concurso – Roberta Gonçalves
Roberta Gonçalves J. Rodrigues Frederico do J.de Lima Arnaud D. Francisco Carlos Alves
de Souza Brito Barboza Nascimento Coutinho de Gouvêa Braga de Carvalho
Ditado 1º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar
Composição de ditado 3º lugar 3º lugar 3º lugar 2º lugar 1º lugar 3º lugar
Composição de solfejo 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 1º lugar 2º lugar
Harmonia - - - - 3º lugar -
Fuga 3º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 3º lugar
Teoria – dissertação 2º lugar 3º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria – pedagógica 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Canto – prática 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – dissertação 3º lugar 3º lugar 3º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Piano 1º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Teoria física e
2º lugar 2º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
fisiológica
Contraponto 1º lugar 2º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
1º lugar: 2º lugar: 3º lugar:
TOTAL
23 votos 26 votos 18 votos
Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94
Obs.: Na ata consta que Rodrigues Barboza deu quatro votos para o terceiro lugar, mas só aparecem três das provas. Deduzimos que a quarta
nota seja na prova de canto (prática) por conta de que o número de votos nesta prova ter sido igual a seis.
Quadro 17: Resultados do concurso – Otávio Bevilacqua
J. Rodrigues Frederico do J.de Lima Arnaud D. Francisco Carlos Alves
Octavio Bevilacqua
Barboza Nascimento Coutinho de Gouvêa Braga de Carvalho
Ditado 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar
Composição de ditado 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar
Composição de solfejo 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Harmonia 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 2º lugar 1º lugar
Fuga 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Teoria – dissertação 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Teoria – pedagógica 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Canto – prática 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar 3º lugar
Canto – dissertação 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
Piano 1º lugar 1º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
Teoria física e
1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar 1º lugar
fisiológica
Contraponto 2º lugar 1º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar 2º lugar
1º lugar: 2º lugar: 3º lugar:
TOTAL
53 votos 13 votos 6 votos
Fonte: Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: 92 IE7 94
63
81
Termo utilizado pelos jurados.
65
1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º
Rodrigues Barboza 3 4 4 10 1 1 - 1 6 5 6 1 - 4 5
F. do Nascimento 1 5 5 11 - 1 - 1 5 3 7 2 1 - 5
Francisco Braga 7 3 2 6 5 1 - 1 6 6 5 1 - 2 6
Lima Coutinho 3 5 3 8 3 1 - 2 5 4 7 1 1 3 5
Arnaud Gouvêa 4 6 1 9 2 1 - 2 3 5 6 1 - 3 3
Carlos de Carvalho 5 3 3 9 2 1 - 1 4 4 7 1 - 2 4
Soma 23 26 18 53 13 6 - 8 29 27 38 7 2 14 28
82
Art. 63. Encerrado o debate, proceder-se-á à classificação para 1º e 2º lugares, correndo cada votação
separadamente. As decisões serão tomadas por maioria absoluta de votos. [...] § 3º O diretor comunicará ao
Governo quais os candidatos que obtiveram os dois primeiros lugares, e um destes será nomeado, 10 dias depois,
si dentro deste prazo nenhum candidato recorrer da deliberação do Conselho para o ministro, por intermédio do
diretor. BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915.
67
Homero Barreto. Importante notar que o vencedor obteve indicação para o primeiro lugar de
todos os jurados, exceto de Francisco Braga. Barreto foi por unanimidade classificado em
segundo lugar.
Correndo a votação, verifica-se que ontem o primeiro lugar o candidato Octavio
Bevilacqua pelos votos dos Srs. Rodrigues Barboza, Frederico do Nascimento, José
de Lima Coutinho, Arnaud Duarte de Gouvêa e Carlos Alves de Carvalho, sendo
classificado em segundo lugar por unanimidade, o candidato Homero de Sá
Barreto.83
83
BAN. Acervo de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Acta da 11ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de solfejo, efetuada no dia 20 de Setembro de 1916.Registro
4021/2013. N.º Sist.: 799875. ADEM AI/EM/UFRJ Atas V. 22.
84
Idem.
85
No dia anterior, no início da tarde, o Ministro Carlos Maximiliano sofreu um acidente de automóvel ao sair de
sua residência na praia do Flamengo quando se dirigia para o Ministério. Estava com ele seu filho e o oficial de
gabinete Fernando Pereira dos Santos quando um automóvel que se aproximava em alta velocidade o fez parar
de repente e outro carro que vinha em outra direção o atingiu. Com o impacto o ministro foi lançado para fora do
carro, o que lhe causou escoriações leves. Ver: JORNAL DO COMMERCIO. O Sr. Ministro da Justiça ferido
num acidente. Rio de Janeiro, 20 de agosto de 1916, p. 7.
86
A candidata era esposa do inspetor de alunos Paulino Joaquim Lopes, que naquele período substituía o
tesoureiro Sebastião Sampaio. ALMANAK ADMINISTRATIVO, MERCANTIL, E INDUSTRIAL DO RIO DE
JANEIRO. Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 1915, p. 804.
68
que promete ser o primeiro concurso a realizar-se no Instituto Nacional de Música de acordo
com o novo regulamento”.87
Um mês depois desta reportagem, no dia 21 de setembro, a Gazeta de Notícias
divulgou o resultado do concurso em questão:
Terminaram um desses dias as provas orais ao concurso para preenchimento da vaga
da cadeira de teoria musical e solfejo do Instituto Nacional de Musica. Dos
candidatos que a ele concorreram, foi classificado em primeiro lugar, por cinco
votos contra um, isto é, por quase unanimidade, o Sr. Octavio Bevilacqua.88
O artigo destaca que esta classificação já pudera ser presumida pelo que o autor
qualificou como a apresentação de uma “brilhante dissertação sobre o ritmo na música”.
Ainda de acordo com o autor, esta dissertação seria uma obra de “superior valor literário” e
que poderia ser entendida como um dos mais interessantes e fecundos trabalhos já
apresentados sobre o assunto89. O periódico avaliou o trabalho apresentado como um “estudo
consciencioso e original” digno de um “artista de grande mérito”, e chamava a atenção do
Ministro para que não deixasse de nomear o candidato julgado o mais competente. Para
concluir, indicava que a contratação de Bevilacqua, traria ganhos à instituição:
Tanto mais que do próprio programa desse concurso transparecia o intuito muito
frisante e muito justo de incutir no espírito dos nossos jovens musicistas uma ideia
elevada e moderna da arte musical. Com a inclusão do Sr. Bevilacqua no quadro de
professores do Instituto só tem a se honrar este estabelecimento de ensino e a lucrar
os seus frequentadores. 90
Contudo, algumas imprecisões podem ser facilmente detectadas no relato. Entre elas a
não inclusão dos nomes de dois membros da banca, Arnaud Gouvêa e Carlos de Carvalho e a
confusão em torno do nome de Alfredo Bevilacqua, pai de Octavio, quando afirmou que a
“qualidade mais alegada para a melhor classificação era a de ser filho do velho pianista e
professor E. Bevilaqua (grifo nosso)”. Ao tentar atingir diretamente a Frederico Nascimento,
87
A NOITE. O próximo concurso no Instituto Nacional de Musica: para o senhor Ministro do Interior ler. Rio
de Janeiro, 20 de agosto de 1916, p. 4.
88
GAZETA DE NOTÍCIAS. O último concurso do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 21 de
novembro de 1916, p. 2.
89
O texto de Octavio Bevilacqua, assim como nenhuma das dissertações referente a esta prova foi localizado nos
arquivos pesquisados.
90
GAZETA DE NOTÍCIAS. O último concurso do Instituto Nacional de Música...
91
A NOITE. O último concurso do Instituto Nacional de Música: mau começo e péssimo fim. Rio de Janeiro, 22
de setembro de 1916, p. 4.
69
o autor da publicação comete outra falha, desta vez relativa ao número de votos obtidos pelos
dois classificados:
E não terminou bem esse mesmo concurso porque, depois de longa discussão,
anteontem em sala fechada do Instituto, com guardas nas respectivas portas e junto
ao telefone também, a, mesa julgadora classificou em 1° lugar o concorrente Sr.
Octavio Bevilacqua, que teve em seu favor quatro votos contra um, este o do
maestro Francisco Braga, que votou no Sr. Homero Barreto, cujo elogio fez sem
nenhuma reserva e sem levar em conta os rogos e as lágrimas do seu colega, prof.
Frederico Nascimento, advogado da causa do Sr. Octavio Bevilacqua, cuja
qualidade mais alegada para a melhor classificação era a de ser filho do velho
pianista e prof. E. Bevilaqua.92
E assim foi contado, por alto é bem verdade, não porque nos faltara informações a
respeito para o fazer amiudadamente mas pelo fato de nos não sobrarem ao instante
espaço e tempo, o último concurso realizado no Instituto Nacional de Musica. Resta,
agora, o trabalho dos paraninfos do Sr. Octavio Bevilacqua para que o nomeie o Sr.
ministro do Interior professor de solfejo do estabelecimento de ensino dirigido pelo
maestro Nepomuceno. Ainda bem ou ainda mal, si assim for, para o Instituto
Nacional Musica...93
92
Idem.
93
Idem.
94
Figura desconhecida até o momento neste evento.
70
E [4] as reuniões da comissão julgadora? Ali nem é bom falar... Até parecia que o
art. 64 do regulamento era letra morta! [5] Entre a primeira e a segunda reunião
houve um intervalo de seis dias; [6] entre a segunda e a terceira o espaço foi de três!
Por quê? Porque foi preciso apertar com empenhos o maestro Lima Coutinho, que
também estava propenso á classificação pela qual se batia o maestro Braga! 95
Moscoso assumiu a defesa de Homero Barreto ao dizer que Octávio Bevilacqua, sendo
um homem honesto, deveria estar envergonhado da sua classificação, pois muitos foram os
“jogos malabares” que o fizeram figurar em primeiro lugar. Enfatiza o forte desentendimento
entre os professores Francisco Braga e Frederico Nascimento no qual este “chorava como
uma criança e dizia: – eu abandono isto, Braga! Eu abandono isto! Ou você vota comigo ou
eu brigo com você!”. Como Braga se mantinha decidido em não votar em Octavio para o
primeiro lugar, Nascimento “sempre chorando, chorando sempre, virou a dizer-lhe uma
porção de desaforos, o menor dos quais foi berrar que o maestro Francisco Braga não sabia
nada de ‘ritmo’!!!...”.
O autor conhecia tão bem o Decreto vigente que fez questão de destacar que o § 3º do
Artigo 63 permitia que o Ministro da Justiça nomeasse um dos dois classificados. Desta
forma, estava convicto de que a “sensibilidade” de Maximiliano o levaria a entender que
Homero Barreto era o mais capacitado para ocupar o cargo no INM.96
95
GAZETA DE NOTÍCIAS. O concurso de solfejo no Instituto Nacional de Música: Houve irregularidades na
classificação?. Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1916, p. 2.
96
Idem.
97
A NOITE. O caso do concurso do Instituto: os interessados defendem-se. Rio de Janeiro, 25 de setembro de
1916, p. 4.
71
gerado espanto e revolta, em quem direta e/ou indiretamente, estava envolvido com o tema.
Nesta mesma nota, o redator anunciava que um pedido de anulação do concurso estava a
caminho do Ministério da Justiça e Negócios Interiores e que apesar das diversas infrações
contrárias ao regulamento do INM, este ainda vigorava “ad referendum” no Congresso
Nacional.
A carta do candidato Bevilacqua era dividida em seis pontos, sendo que os três
primeiros estavam em consonância com o que foi narrado nas atas. No quarto e quinto itens o
candidato aponta o óbvio engano na grafia do nome de seu pai, e nega as afirmações
relacionadas ao professor Lima Coutinho, e o desentendimento entre os professores Braga e
Nascimento. Entretanto, não apresenta nada que confirme sua versão.
A respeito do sexto ponto, tendo-se em vista que a presença do Ministro se deu em
três dos quatro dias (4, 5, 6 e 11 de setembro) em que foram realizadas as provas públicas, ele
assistiu às provas de teoria geral da música, pedagógica e a de piano, não assistindo à prova
prática de canto, de teoria física e fisiológica da música e contraponto. Segue a carta que
Bevilacqua enviou ao redator chefe de A Noite:
Surpreendido com a publicação feita em vosso jornal de ontem subordinada ao titulo
“O ultimo concurso no Instituto Nacional de Musica – Mau começo e péssimo fim”,
passo a narrar-vos os seguintes fatos para que possais julgar do valor e das “boas
intenções” das informações que vos foram prestadas: 1°, a mesa julgadora que
funcionou no concurso não foi constituída conforme vos informaram, e, caso o
tivesse sido, o resultado não poderia ser o de 4 votos contra 1, pois que, como devia
98
Idem.
72
saber o vosso informante, o diretor “só vota para desempate”; 2°, a dita mesa foi,
sim, constituía pelos membros citados e mais os professores Arnaud Duarte de
Gouvêa e Carlos de Carvalho, e o resultado da apuração foi de 5 votos contra 1, não
tendo votado o diretor; 3°, o professor Francisco Braga não votou no Sr. Homero
Barreto para 1° lugar, mas sim na Sra. D. Roberta Gonçalves; 4°, o professor Lima
Coutinho, consultado a respeito, nega peremptória e absolutamente que tenha
articulado qualquer queixa contra seus colegas de mesa, que tenha votado por
solicitação de qualquer pessoa ou que tenha pretendido modificar a sua primitiva
votação; 5°, durante o trabalho das sessões nunca foi invocada a filiação como
argumento em favor da capacidade de qualquer candidato, isto nem com “lagrimas”
nem sem “elas”, tanto mais que (ó caiporismo! até no nome se enganou!) não existe
aqui professor algum por nome “E. Bevilaqua”, mas sim A. Bevilacqua; 6°, a maior
parte das provas foi assistida “pessoalmente” pelo Sr. ministro do Interior.
Confiando inteiramente na vossa boa fé, espera a publicação destas linhas o, etc. –
99
Octavio Bevilacqua.”
99
A NOITE. O caso do concurso do Instituto: os interessados defendem-se. Rio de Janeiro, 25 de setembro de
1916, p. 4.
73
103
Dicionário histórico-biográfico brasileiro On-line. Disponível em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo.
Acessado em 7 de julho de 2016 às 10h30min.
104
BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915: Art. 63. Encerrado o debate, proceder-se-á à classificação para 1º e 2º
lugares, correndo cada votação separadamente. As decisões serão tomadas por maioria absoluta de votos. § 1º A
classificação só se fará para os dois lugares, se a comissão julgadora, bem ponderando o valor e os méritos dos
candidatos, assim o entender. § 2º No caso de empate entre dois candidatos, quando forem os únicos a concorrer
ou os únicos votados, exercerá o diretor o direito conferido no Art. 24. § 3º O diretor comunicará ao Governo
quais os candidatos que obtiveram os dois primeiros lugares, e um destes será nomeado, 10 dias depois, si dentro
deste prazo nenhum candidato recorrer da deliberação do Conselho para o Ministro, por intermédio do diretor. §
4º Em igualdade de condições será preferido o candidato que for brasileiro.
105
“Assim com tal critério tem de ser apreciado em confronto – o valor das provas, em si mesmas – o mérito dos
concorrentes, resultante de seus conhecimentos, e é bem de ver que não se podem desprezar antecedentes que no
caso demonstrem que o mérito não se firmou por um evento feliz e muita vez inexplicável, mas antes de tudo
decorrendo e longo tirocínio, em curso regular, a cada etapa pelos competentes proclamados”.ARQUIVO
NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de solfejo do
INM. BRITO, Roberta Gonçalves de Souza. Requerimento N.º 13-1916R. Rio de Janeiro, 25 de Setembro de
1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.IE 7 94 92.
106
Seu histórico escolar disponibilizado no ato da inscrição para o concurso poder apreciado na primeira parte
deste capítulo.
75
professores Arthur Napoleão dos Santos, Godofredo Leão Velloso, Amaro de Albuquerque
Maranhão, Arnaud Duarte de Gouvêa, Henrique Oswald e José de Lima Coutinho. Nesta
ocasião,com 25 anos de idade, Roberta Augusta Gonçalves107 tocou a Fantasia Op. 17, de R.
Schumann (peça obrigatória destinada aos alunos do sexo feminino)108; a Fantasia Op. 49, de
F. Chopin (peça de livre escolha); e o Prelúdio e Fuga nº XII109, do segundo livro do Cravo
Bem Temperado, de J. S. Bach.
Em sua argumentação sobre o resultado do concurso, ela não tentou esconder sua
opinião de que só não venceu as provas devido à atenção especial que a banca dedicava ao
filho de Alfredo Bevilacqua:
De modo indubitável está assim constatado o mérito anterior da recorrente
[Roberta], que soube mantê-lo nas provas exibidas no concurso, não temendo o seu
confronto com as dos candidatos classificados, confronto feito não por comissão
desejosa de criar situação especial de modo a presentear, com real sacrifício dos
mais sagrados princípios de justiça, o candidato que tem como seu maior senão
único titulo de apresentação ser filho e cunhado dos dois professores [Alfredo
Bevilacqua e Frederico Nascimento, respectivamente] do Instituto.110
107
A alteração do nome de Roberta ocorreu após seu casamento. A este respeito, localizamos que em agosto de
1909, João Pedro de Souza Brito solicita ao Arcebispado do Rio de Janeiro dispensa de consanguinidade com
Roberta Augusta Gonçalves. In: CORREIO DA MANHÃ. Coluna Dia Social: Religiosas: Expediente do
Arcebispado. Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1909.
108
Para os alunos do sexo masculino era obrigatória a execução de outra obra, a Fantasia Op. 15 de F. Schubert.
109
Uma das quatro opções do candidato que no momento do concurso era escolhido pelo júri.
110
ARQUIVO NACIONAL. Loc. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.
111
Nesta prova, o candidato Homero Barreto obteve apenas votos para o segundo lugar; Roberta obteve votos
para o primeiro lugar de todos os membros da comissão, com exceção do professor Nascimento, que a avaliou
76
observou no seu requerimento que, além de injustas as pontuações dadas aos candidatos que
apresentaram seu esboço de contraponto no quadro negro, foi vexatória a oportunidade dada a
Bevilacqua de apresentar um segundo trabalho, após serem constatadas as falhas no primeiro
apresentado:
Mais de que a injustiça na apreciação, fala a grave irregularidade que com tal prova
se deu. Chamado a fazê-la o candidato classificado em primeiro lugar e que com os
demais concorrentes à parte tinha organizado o esboço do que devia lançar no
quadro, errada a produziu. Era necessário desfazer o efeito produzido pela
incompetência e para isso de modo que não se classifica por sua alta irregularidade,
chegando às raias do absurdo, ao dito candidato foi permitido ir buscar outro esboço,
se houvesse feito. A medida salvadora é posta em prática. Enquanto outro candidato
fazia a prova, organizou o excepcional concorrente novo esboço e por cúmulo pior
que o primeiro. O fato é absolutamente real, dele darão de certo testemunho tantos
quantos, com apreço a honra, interpelados forem. Os erros estão assinalados à tinta
carmim e os que os justifiquem se possível.112
com voto para segundo lugar. Bevilacqua obteve apenas o voto para o primeiro lugar de Nascimento e dos
demais membros da banca o segundo lugar.
112
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. BRITO, Roberta Gonçalves de Souza. Requerimento N.º 13-1916R. Rio de Janeiro, 25 de
Setembro de 1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
113
FUX, Johann Joseph; MANN, A.The Study of Counterpoint: From Johann Joseph Fux’s “Gradus Ad
Parnassum”. Translated and edited by Alfred Mann and John Edmunds. New York: WW Norton, 1965.
114
No manuscrito que se encontra no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro consta no topo da página que estas
provas foram realizadas depois das 17 horas do dia 11 de setembro. No rodapé a candidata assina o documento
selado em 25 de setembro de 1916.Loc. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-
1916.
77
Em relação à segunda prova, Nepomuceno afirma que com exceção das duas quintas
do primeiro e penúltimo compasso, que são inconvertíveis, e, portanto, fora das normas
contrapontísticas. O que seria então apontado como erro pela candidata Roberta Gonçalves
não procederia. Diz Nepomuceno que é de se admirar que ela não tivesse notado que a
resolução da dissonância acontece no segundo tempo e não no terceiro como apontou a
concorrente.
115
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. NEPOMUCENO, Alberto. Ofício N.º 32-1916. Rio de Janeiro 2 de outubro de 1916. Série
Educação, Cultura, Belas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
79
Ministro e a “nobreza” do INM, não qualificando o resultado final apresentado pela comissão.
Apontou apenas que um enorme esforço foi despendido para classificar Octavio Bevilacqua
em primeiro lugar, o que incluía até adiar o prazo para a deliberação do resultado pela banca:
Terminando o concurso no dia 11 do corrente, a comissão julgadora reuniu-se no dia
13, celebrando-se a segunda no dia 18, deixando ainda para uma terceira, no dia 20,
o mons parturiens116, com expressa infração do art. 64 do citado Regulamento que,
de modo preciso, diz que na 1º reunião, não se concluindo o relatório por falta de
tempo ou por necessitar a comissão de um prazo, o Diretor concedendo 48 horas
marcará nova reunião para o 1º dia útil. Não cogitou de terceira reunião e
117
cautelosamente determinou que o prazo seria no máximo 48 horas.
Roberta encerrou seu recurso alertando que a não observância dos prazos
determinados no Regulamento favorecia a Octavio Bevilacqua na medida em que enfraquecia
a resistência daqueles que não o queriam ver no quadro de professores do INM. Poeticamente
descrevia esta situação: “há praças que só o sítio prolongado, há portos que só um bloqueio
longo podem fazer render...”.118
Diante disso, esperava que após a análise do seu recurso, o Governo se utilizasse do
Art. 66 do Regulamento, que previa a anulação do concurso em caso de dúvidas em relação
ao julgamento ou ao não cumprimento das formalidades nele previstas.119 Por sua vez,
Alberto Nepomuceno afirmava que não haveria motivos para anulação do concurso.
116
As dores do parto, o nascimento...
117
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. BRITO, Roberta Gonçalves de Souza. Requerimento N.º 13-1916R. Rio de Janeiro, 25 de
Setembro de 1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
118
Idem. Ibidem.
119
BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915: Art. 66. Se o Governo entender que o concurso deve ser anulado, por não
se conformar com o julgamento, ou por se terem preterido formalidades essenciais, assim o decretará, dando os
motivos.
120
ARQUIVO NACIONAL. Documentos relativos ao concurso a que se procedeu para provimento da cadeira de
solfejo do INM. NEPOMUCENO, Alberto. Ofício N.º 32-1916. Rio de Janeiro 2 de outubro de 1916. Série
Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
80
correspondia ao fato. Neste ponto, o mais extenso de todos, ele explicou que, mesmo tendo
Bevilacqua apresentado dois esboços, apenas o primeiro foi avaliado; e que o segundo
trabalho só foi realizado após a permissão da mesa julgadora sem que nenhum candidato
protestasse na ocasião. Esta explicação surpreende não somente pela análise que o próprio
diretor fez da prova, de acordo com o que apresentamos anteriormente, mas também pelas
contestações que poderia suscitar, como acabou ocorrendo.
121
Idem. Ibidem.
81
Para justificar sua opinião favorável que desconsiderava os possíveis erros realizados
por Bevilacqua e apontados por Roberta, Nepomuceno não se furtaria em criticar o próprio
material utilizado no Instituto que dirigia. Afirmou que se fossem seguidas estritamente as
regras do contraponto, de acordo com os tratadistas dos séculos XVI e XVII, a humanidade
não teria conhecido “nem Bach, nem Mozart, nem Beethoven, nem Berlioz, nem Cesar
Franck, nem Saint-Saens”, e tampouco Glauco Velasquez. De uma só tacada elevou Octavio
Bevilacqua ao nível dos mais reconhecidos compositores europeus e ao de um dos mais
instigantes compositores brasileiros.
Bevilacqua, por sua vez, não apresentou nenhum documento que comprovasse ter
realizado qualquer curso em instituição de ensino de música, apenas o de ser livre docente do
122
Idem. Ibidem.
123
CORREIO DA MANHÃ. O concurso da cadeira de solfejo do Instituto Nacional de Musica. Rio de Janeiro,
27 de setembro de 1916, p. 2.
124
Lista dos cursos apresentado por Homero Barreto, de acordo com o Correio da Manhã: 1. Piano, aprovado
com distinção e louvor; 2. Harmonia, aprovado com distinção e louvor; 3. Contraponto, aprovado com distinção
e louvor;e,3. Solfejo, aprovado com distinção e louvor. CORREIO DA MANHÃ. O concurso da cadeira de
solfejo do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 27 de setembro de 1916, p. 2.
82
O Correio da Manhã destacou também que apesar de ser um concurso para professor
de solfejo, não figurava nenhuma prova prática desta matéria. Afirmava que a ausência desta
se devia a mais uma das artimanhas de Nascimento, pois como o seu “candidato afilhado” era
gago, tal prova havia sido substituída por uma prova prática de canto, “coisa que qualquer
indivíduo pode fazer desde que tenha no ouvido qualquer trecho musical!”. 127
Supostamente, o autor deste texto era conhecedor dos diálogos ocorridos dentro do
INM ao relatar que “apesar do protesto enérgico do professor Francisco Braga”, o candidato
Octavio Bevilacqua alcançou a classificação para o primeiro lugar e Homero Barreto o
segundo. Conhecedor do Decreto que regia a instituição, se mostrou confiante de que o
Ministro da Justiça não iria sancionar a “inqualificável classificação do concurso do
Instituto”, podendo vir a nomear o segundo classificado, como permitia o § 3º do Art. 63:
125
Na documentação do Arquivo Nacional não consta que Octavio Bevilacqua tenha apresentado o atestado de
professor da Escola Normal, embora o periódico Correio da Manhã tenha afirmado que ele havia exercido tal
cargo.
126
A comissão aprovou dois trabalhos apresentados por Octavio Bevilacqua, uma composição musical e uma
tese, sem título, na qual se ocupa, sob o ponto de vista musical, da questão de limites entre a consonância e a
dissonância. ARQUIVO NACIONAL. IE 7 94 92 Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca, 1914-1916.
127
CORREIO DA MANHÃ. O concurso da cadeira de solfejo do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro,
27 de setembro de 1916, p. 2.
128
BRASIL. Decreto nº 11.748/1915.
83
Nesta carta, alegou que antes de realizar a prova de contraponto, havia alertado em
voz alta que possuía dois esboços sobre o mesmo canto dado e que ao apresentar o segundo,
não duvidava que isto tivesse ‘desagradado’ a alguns dos presentes. Sobre os erros apontados
por Roberta Gonçalves, dizia estar pronto para comentá-los e justificá-los em público, pois
afinal, com tanta “severidade escolar” utilizada pela candidata, seriam de igual forma,
desqualificados “todos os que no gênero escreveram (sem me referir aos contemporâneos!)
desde Bach até Cesar Franck”. 129
Quando este lamentou que a reclamante não havia mencionado o seu bom
desempenho na prova de fuga, ele tentava induzir à ideia de que Francisco Braga não estava
em plena sintonia com os demais membros da banca. Nesta prova,ele havia obtido de todos os
professores o primeiro lugar, “inclusive pelo Prof. Braga que, apesar de não julgá-la boa,
com o que não estou muito em desacordo, julgou-a, contudo, a melhor de todas”.130
Enfatizou nesta carta, que mesmo não tendo apresentado nenhum documento
comprobatório de sua matrícula em curso regular de música, isso não negava sua capacidade
profissional. Como prova do reconhecimento que usufruía no meio musical e que seus
trabalhos encontravam “caloroso” apoio entre seus pares,indicou a publicação de uma de suas
composições na coleção “Les maitres contemporains de l’orgue”, de Joseph Joubert, editada
em Paris, 1914. 131
129
JORNAL DO COMMERCIO. O concurso do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 27 de setembro
de 1916, p. 10.
130
Idem.
131
JOUBERT, Joseph. Lesmaitrescontemporains de l’orgue. Paris: Maurice Senart& Cia., 1914.
84
Antes mesmo de enviar para o diretor do INM as suas considerações finais sobre a
petição iniciada pela candidata Roberta Brito, o Ministro Maximiliano mandou publicar o seu
despacho no jornal O Paiz, de 25 de outubro de 1916. Para o Ministro, a mesa examinadora
agiu com “favoritismo” ao indicar Octavio Bevilacqua como o mais capacitado para o cargo
de professor do INM134. Logo no início, evidenciou seu apoio à candidata recorrente,
desmerecendo tanto o candidato Bevilacqua quanto os procedimentos adotados na realização
do concurso. 135
No texto publicado, o Ministro afirmava que, diante dos rumores de que havia uma
manipulação para destinar o cargo em disputa para Bevilacqua, ele havia decidido que as
provas públicas seriam realizadas no auditório da Escola Nacional de Bellas Artes. Assim,
tornava possível não somente sua própria presença, quanto o acesso de um número maior de
pessoas que desejassem assisti-las.
Neste sentido, tendo estado presente a algumas provas, pôde fazer uma apurada
avaliação sobre os exames realizados. Dentre eles, fez uma severa avaliação da dissertação
sobre “ritmo” que Bevilacqua apresentou, apontando que esta era “recheada de frases
132
Idem.
133
GAZETA DE NOTICIAS. Coluna Salpigos. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1916, p. 1
134
GAZETA DE NOTICIAS. Coluna Notas Sociais. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1916, p. 1
135
O PAIZ. É anulado o concurso de solfejo. Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1916, p. 4. O documento original
se encontra no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro sob o códice. Série Educação, Cultura, Bellas Artes,
Biblioteca, 1914-1916.IE 7 94 92.
85
latinas”, lidas pelo candidato em meio a “silabadas imperdoáveis”. Isto levantou a suspeita de
que não teria sido ele o autor daquela “monografia brilhante, escrita em casa”. Continuou o
Ministro apontando as “artimanhas” e evidências de que o “boato” que surgiu antes mesmo de
começarem as provas estava se concretizando em realidade:
O candidato fez uma fuga livre, que a própria informação do Diretor classifica de
arrojo condenado pelos compêndios; e, entretanto, até em fuga obteve Bevilacqua
todos os sufrágios para o primeiro lugar.
Todas as vezes que o candidato se saia mal, não era desclassificado; passava para o
segundo lugar; de sorte que dos concorrentes, em número de cinco, ele foi o único a
ter para 1º e 2º lugar a soma das notas da Comissão – 6.
Mesmo não tendo assistido à prova de contraponto, que ocorreu no dia 11 de agosto,
mas se valendo do argumento exposto por Roberta, o Ministro chamou a atenção para os
procedimentos desta prova. O professor que classificou Bevilacqua em primeiro lugar nesta
prova é Frederico Nascimento, que tentou desmerecer a prova da candidata recorrente dando
voto para o segundo lugar, enquanto os demais lhe outorgaram o primeiro. Isto mesmo diante
dos erros apontados e da permissão de realizar outro esboço, fato que colocava em dúvida a
lisura do exame.
Diante das razões acima mencionadas, e se valendo do Artigo próprio, deu provimento
ao recurso da candidata Roberta, anulando o concurso137. No término do seu parecer deixou a
ordem para que se realizasse um novo, no prazo de quatro meses, fixando desta vez e de
maneira definitiva o horário das provas e uma comissão examinadora composta por membros
que não tivessem participado deste concurso. 138
Neste momento, podemos compreender qual foi o impacto desta decisão no seio do
INM. Diante de tantos desentendimentos e suspeições levantados por Maximiliano não havia
136
Idem.
137
BRASIL. Decreto N.º 11.748/1915: Art. 66. Se o Governo entender que o concurso deve ser anulado, por não
se conformar com o julgamento, ou por se terem preterido formalidades essenciais, assim o decretará, dando os
motivos.
138
O rascunho da publicação de O Paiz, de 25 de outubro de 1916, se encontra no AN do Rio de Janeiro e foi
assinado pelo Ministro no dia anterior: ARQUIVO NACIONAL. Série Educação, Cultura, Bellas Artes,
Biblioteca, 1914-1916. IE 7 94 92.
86
outra saída que não o pedido de demissão de Alberto Nepomuceno do cargo de diretor. E
assim o fez usando o mesmo método do Ministro.
Por fim, sobre a suspeita levantada pelo Ministro de não ter sido Bevilacqua o autor da
dissertação sobre ritmo, Nepomuceno afirmou que “se alguém entre nós tivesse escrito
trabalho de tal valor, não teria a abnegação de cedê-lo a outrem para que passasse como
seu”. Disse ainda, que Octavio Bevilacqua realizou um ato “brilhante e digno” ao solicitar a
publicação das provas do concurso e esperava que o Ministro atendesse a “tão justo pedido”.
E assim, não vendo mais razão de dirigir o INM, em suas palavras, “tenho a honra de
apresentar-vos a minha demissão de diretor do Instituto Nacional de Música”, o que
seriaaceito pelo Ministro sem contestação. 140
139
A EPOCA. Um concurso de solfejo que acabou desafinando. O maestro Nepomuceno, magoado com o sr.
Ministro, pede sua demissão – Uma palestra com o ex-diretor do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro,
27 de outubro de 1916, p. 1.
140
Idem.
87
Logo no início da entrevista, Maximiliano afirmou que o governo agia motivado pelas
graves irregularidades cometidas na execução do concurso, classificado como um
“escândalo”. E reafirmou o discurso bem caro aos republicanos, falando sobre moralidade e
mérito, e salientou o dano político do governo quando acontece o “desprezo dos direitos dos
concorrentes que se sujeitaram a uma prova pública”.
O Ministro estava preocupado com a recepção que a sociedade teria a respeito de sua
decisão. No entanto, em suas palavras, o público acompanhava “interessado a ação
governamental”, e por isto mesmo, os candidatos envolvidos não poderiam estar expostos “às
surpresas decorrentes da ação desenvolvida em favor dos mais apadrinhados”.
Dentre as irregularidades, o Ministro atentou que a comissão sempre dava pontuações
para o primeiro e segundo lugares, até mesmo na prova de contraponto, que havia cometido
erro tanto no primeiro quanto no segundo esboço que havia apresentado, recebera até um voto
para o primeiro lugar. Mesmo reconhecendo os méritos do “maestro” Alberto Nepomuceno,
não poderia voltar atrás em sua decisão, pois grande foi o escândalo nesta obra de
“inqualificável proteção” e a estada ou não do diretor não poderia “influir em decisões
justas”. Em suas palavras,
o escândalo chegou a tal ponto que ao Sr. Octavio Bevilacqua, a comissão julgadora
aquinhoou com o 1° e o 2° lugares, para, em face do regulamento, o ministro ser
forçado a nomeá-lo ou a anular o concurso. Outro não poderia ter sido o intuito.142
141
GAZETA DE NOTÍCIAS. Instituto de Música: Um concurso escandaloso: A demissão do maestro
Nepomuceno. Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1916 10 27, p. 2.
142
Idem.
143
De acordo com o “Livro de Registro de Título e Pessoal” do INM, Alfredo Fertin de Vasconcelos foi
nomeado Professor de Piano do INM em 03 de março de 1903. BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1
– 1903-1940. Arquivo Institucional. Registro 4071/2013. N.º Sist. 803740. Atas v. 72.
88
Tendo sido exonerado por Decreto de 26 do corrente mês, do cargo de Diretor deste
Instituto, o Maestro Alberto Nepomuceno, venho comunicar-vos que, nesta data,
assumo o exercício do mesmo cargo, como substituto legal, de acordo com o art. 84
do Regulamento. 144
Mesmo se valendo do documento que regia a instituição, não era esta a vez em que
Fertin de Vasconcelos ocuparia o cargo de diretor do INM145. No dia seguinte ao envio do
ofício ao Ministério, Abdon Milanez foi nomeado pelo presidente Wenceslau Brás para o
cargo de diretor do INM em 1 de novembro de 1916.146
144
ARQUIVO NACIONAL. Documentos do Instituto Nacional de Música. VASCONCELOS, Alfredo Fertin.
Ofício N.º 152-1916. Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1916. Série Educação, Cultura, Bellas Artes, Biblioteca,
1914-1916. IE 7 94 92.
145
Fertin de Vasconcelos sucedeu Abdon Milanez no período de 1923 a 1930.
146
BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940. Arquivo Institucional. Registro 4071/2013.
N.º Sist. 803740. Atas v. 72.
89
A nomeação de Abdon Milanez para o cargo máximo do INM representa uma ruptura
com o grupo de compositores que vinha dirigindo o INM desde sua criação em 1890.
O primeiro concurso realizado sob a direção de Milanez foi para o cargo de professor
de violino. O concurso foi anunciado em 11 de julho de 1916, ainda sob a direção de Alberto
Nepomuceno, mas só seria concluído em 07 de julho de 1917, com a nomeação da jovem
violinista Paulina D’Ambrósio. Bem como o concurso de solfejo, não foram poucas as
polêmicas que se desenrolaram no seu decorrer.
Após meses de espera, foi anunciado aos candidatos que as provas teriam início no dia
12 de junho, às 10 horas, no INM e que a primeira prova a ser realizada seria a de número 4
do programa: realização de um canto ou baixo dado a quatro partes. O Diário Oficial
anunciou que a comissão julgadora seria formada por Elpidio Pereira, Oscar Guanabarino,
Francisco Chiaffitelli; e pelos professores Humberto Milano, Francisco Braga e Agnello
Gonçalves Vianna França, sendo o presidente da banca o diretor Abdon Milanez147. De
acordo com as atas do concurso, o jurado Francisco Chiaffitelli foi substituído por Joaquim de
Barros Ferreira da Silva, com respaldo do parágrafo segundo do Artigo 52 do Decreto de
1915.148
O regulamento previa um total de seis provas, sendo duas facultativas. Esta sequência
147
BRASIL. Diário Oficial. Instituto Nacional de Música. Concurso para provimento de uma cadeira de violino.
07 de junho de 1917, Seção 1, p. 56.
148
Artigo 52: § 2º Faltando à ultima hora, algum membro da comissão examinadora, o diretor lhe dará
substituto.
90
de provas também era aplicada nos concursos para o cargo de professor de piano e para os
demais instrumentos:
149
BRASIL. Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Decreto N.º 11.748, de 13 de outubro de 1915:
Reorganiza o Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915.
150
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 1ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 8 de junho de 1917. Atas de Concurso da
Carreira do Magistério EM/UFRJ V. 1: 1916-1935. Registro 4021/2013. N.º Sist.: 799875. ADEM AI/EM/UFRJ
Atas V. 22.
91
Fechada ao público, a prova teve início com a apresentação de dois esboços para
realização do baixo dado, um do professor Francisco Braga e o outro de Agnello França. Após
ter sido realizado o sorteio que designava qual ponto caberia a cada candidato, às 10h45min,
iniciaram a realização da prova de número 4, cabendo o esboço do professor Agnello ao
candidato Frederico Almeida e o do professor Braga à candidata Paulina. Duas horas depois
foram entregues para julgamento e devidamente lacradas.
Após o término das provas deste dia, as pessoas que assistiam às apresentações dos
trabalhos foram convidadas a deixar a sala para que ocorresse o julgamento das mesmas.
Julgadas as provas por todos os membros da banca, foram devidamente lacradas e mantidas
em posse do diretor. Restavam ainda as provas de números 1 e 2 que ocorreram no dia 14 de
junho, às 13h, no Teatro Phenix. 152
151
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 2ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 12 de junho de 1917. Atas de Concurso da
Carreira do Magistério EM/UFRJ V. 1: 1916-1935. Registro 4021/2013. No. Sist.: 799875. ADEM
AI/EM/UFRJ Atas V. 22.
152
Idem. Ibidem.
92
153
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 3ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 14 de junho de 1917.
154
Exmo. Sr. Dr. Abdon Milanez, d. d. Diretor do Instituto Nacional de Música, o Presidente da Comissão
Julgadora do Concurso. – Impossibilitado, á ultima hora, de comparecer ás 3 horas, á reunião da Comissão
Julgadora do Concurso para o provimento da cadeira de violino deste Instituto de que V. Ex. é digníssimo
Diretor e não desejando, por forma alguma, prejudicar o andamento dos trabalhos da referida comissão, junto
remeto a V. Exa. O meu voto por escrito, justificando, para os devidos efeitos. Se, entretanto, a juízo de V. Exa.
for absolutamente indispensável a minha presença, que só amanhã poderei efetuar, será suficiente que V. Exa.,
que qualquer modo, me o faça saber, pois que terei hoje e sempre o máximo empenho em demonstrar a V. Exa.
toda a minha simpatia e consideração. Aproveito o ensejo para rogar a V. Exa. a fineza de transmitir aos demais
membros da comissão os meus agradecimentos por todas as gentilezas que me dispensaram e os meus protestos
de consideração, protestos que mais uma vez reitero a V. Exa. acenando-lhe toda a minha estima. De V. Excia
muito at... Joaquim de Barros Ferreira da Silva. BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional.
Ata da 4ª sessão da comissão julgadora do concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no
dia 15 de junho de 1917.
93
nestes termos: “Primeiro prêmio, com a mais alta distinção.” – Esse documento, que
se destinava a justificar no Senado Federal, um projeto de pensão à sua possuidora
para aperfeiçoar-se em uma especialidade na Europa – encontra-se ainda em meu
poder, mas de envolta com outros papéis, circunstância que não permite restituí-lo
no momento, a Melle. Paulina d’Ambrosio. – Para que, porém, essa passageira
impossibilidade não prejudique, de alguma forma, exma.solicita, no concurso a que
acaba de submeter-se para professora do Instituto Nacional de Música, faço a
presente declaração e comprometo-me, perante quem de direito, a exibir o referido
documento num prazo razoável que me seja marcado. Arthur Lemos. – Rio de
Janeiro, 15 de junho 1917.155
155
Idem.
156
Idem.
157
BAN. Acervos de Documentos Históricos. Arquivo Institucional. Ata da 5ª sessão da comissão julgadora do
concurso para provimento de uma cadeira de violino, realizada no dia 16 de junho de 1917.
158
Paulina nasceu em São Paulo no ano de 1890 e faleceu no dia 10 de agosto de 1976.
159
BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940. Arquivo Institucional. Registro 4071/2013. N.º
Sist. 803740. Atas v. 72.
94
este cargo por mais quarenta anos. De acordo com Bosísio, “formou mais gerações de bons
violinistas que qualquer outro professor do instrumento no Brasil (...) implantando de forma
definitiva a escola franco-belga no país”. 160
O resultado do concurso foi noticiado em pelo menos dois periódicos cariocas, O Paiz
e A Noite. Ambos publicaram o mesmo conteúdo sob o mesmo título, sendo que o A Noite fez
um destaque à “senhorita” que havia conquistado o primeiro lugar.
Esteve reunida á tarde, na biblioteca do Instituto Nacional de Música, a mesa
julgadora do concurso à cadeira de violino daquele estabelecimento, vaga com a
morte do professor Ricardo Tatti, afim de dar parecer sobre o relatório da comissão
composta pelos professores F. Braga, H. Milano e Oscar Guanabarino, relativo ao
mesmo concurso. Os concorrentes julgados foram somente a senhorita Paulina
d’Ambrosio e o Sr. Frederico de Almeida, os únicos candidatos que fizeram todas as
provas exigidas para o mesmo concurso. Lido e discutido, afinal, o relatório,
classificou a mesa, por unanimidade de votos a senhorita Paulina d’Ambrosio, e em
segundo lugar, também por unanimidade de votos, o candidato Sr. Frederico de
Almeida.161
Como se não bastasse toda a discussão travada entre nos jornais no anterior concurso
para professor do INM, a instituição mais uma vez iria ser envolvida em um forte debate entre
os jornais Gazeta de Notícias e O Paiz. O primeiro estava em defesa do candidato Frederico
de Almeida e, como era esperado,Oscar Guanabarino utilizou o jornal no qual desempenhava
a função de crítico musical para defender o resultado do concurso.
O Sr. Frederico de Almeida, que, não obstante a sua pouca idade, já se tem revelado
um “virtuose” e é um dos mais aplicados e talentosos violinistas patrícios, tendo já
demonstrado, em concertos públicos, qualidades exuberantes do seu valor artístico,
pleiteou com justa razão a cadeira vaga do Instituto, apresentando-se no referido
concurso com um contingente muito apreciável de estudos, que mais uma vez
impressionaram o publico que assistiu a ultima prova instrumental, realizada no dia
15 do corrente, no Theatro Phenix. Basta ver o repertorio das composições que o
inteligente jovem submeteu á escolha da mesa julgadora, para se aquilatar do valor
do seu preparo e da sua técnica, que se acentuam num vigor sempre crescente, à
proporção que os seus estudos adquirem um circulo mais vasto e complexo de
ação.162
160
BOSÍSIO, Paulo. Paulina d’Ambrosio e a modernidade violinística no Brasil. Dissertação de mestrado. Rio
de Janeiro, UNIRIO, 1996.
161
O PAIZ. O concurso de violino do Instituto Nacional de Música. Rio de Janeiro, 17 de junho de 1917, p. 4.
et: A NOITE. Ultima Hora: O concurso de violino do INM; A senhorita Paulina d’Ambrozio classificada em
primeiro lugar. Rio de Janeiro, 17 de junho de 1917.
162
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso do Instituto Nacional de Música. O protesto
95
O Gazeta de Notícias protestou que o grupo que compôs a mesa julgadora – formada
em sua maioria por professores estranhos à cadeira de violino, críticos de jornais e pessoas
desconhecidas do meio artístico –, havia colocado em segundo lugar um candidato que
apresentou “superioridade e segurança de técnica” na execução da Chaccone,de Bach,e do
concerto de Tchaikovsky tocado integralmente.
O candidato alegou também que, ao inquirir sobre o porquê do adiamento das provas,
o diretor alegava ser pelo fato de que Paulina “sofria alguma moléstia”. Para Frederico, era
evidente o favorecimento à “concorrente escolhida”, e mesmo não tendo sido alterada a peça
obrigatória, a candidata classificada em primeiro lugar enfrentou problemas técnicos, que se
evidenciaram na “falta de segurança” e pelos “rallentandos aplicados sem cabimento nos
trechos mais difíceis, denotou carecer de tempo ainda mais dilatado”.
Outro ponto que Frederico contestou foi a respeito da formação da mesa julgadora,
que em sua maior parte não apresentava profissionais “conhecedores das minúcias e sutileza
do mais difícil dos instrumentos” e que assim pudessem distinguir os méritos dos
concorrentes. O diretor Abdon Milanez, que era o presidente da mesa julgadora, acompanhou
todo o processo do concurso ao lado do professor de violino, Humberto Milano; dos
professores de harmonia, estavam presentes Francisco Braga e Agnello França. Os demais
não eram professores do INM, sendo eles Oscar Guanabarino, que foi um crítico musical;
Elpídio Pereira, compositor brasileiro que teve seu nome imortalizado no conjunto de
compositores brasileiros executados pela Sociedade de Concertos Sinfônicos164; e Joaquim de
Barros Ferreira da Silva, que naquela época exercia a função de secretário do Consulado
Português no Rio de Janeiro165, chegando depois ao posto de cônsul-geral de Portugal no
Brasil166. Foi este o jurado que votou pela desqualificação de Frederico.
Por não ter a comissão escolhido uma obra comum, dentre as que foram selecionadas
pelos candidatos para a realização da prova de número 2, Frederico entendeu que a “mesa não
nutria desejos de proferir decisão justa”, e que a opção pela escolha de diferentes peças, fez
com que se dispersasse o juízo do público assistente. Por informações colhidas no decorrer do
concurso, Frederico ficou sabendo qual foi o programa proposto por Paulina e apresentou no
seu requerimento como forma de confronto para não ser posto em plano inferior ao da
candidata vencedora. Estes quadros carecem de informações sobre qual foi a obra específica
proposta pelos candidatos. Por exemplo, não nos foi possível detectar qual dos três concertos
para violino de Max Bruch foi sugerido pelos candidatos. Porém, o que se destaca é que a
candidata Paulina não ofereceu a execução completa de três obras indicadas, diferentemente
de Frederico que sugeria a execução completa das obras:
Paulina D’Ambrosio
Max Bruch Concerto (completo)
Giuseppe Tartini Sonata (completa)
Johann Sebastian Bach Concerto (completo)
Johannes Brahms 1º tempo do Concerto
Ludwig van Beethoven 1º tempo do Concerto
PiotrIlitch Tchaikovsky 1º tempo do Concerto
Frederico de Almeida
Max Bruch Concerto (completo)
Giuseppe Tartini Sonata (completa)
Johann Sebastian Bach Sonata (completa)
Ludwig van Beethoven Concerto (completo)
164
A NOITE. Nossa música executada por artistas brasileiros. Reorganizada em grandes bases a Sociedade de
Concertos Symphonicos. Rio de Janeiro, 9 de abril de 1925, p. 7.
165
O PAIZ. Secção Portugueza.Uma nova repartição do consulado. Rio de Janeiro, 1 de junho de 1917, p. 7.
166
O PAIZ. Secção Portugueza: A Assistência aos Portuguezes Desamparados. Rio de Janeiro, 15 de outubro de
1921, p. 7
97
Para Frederico, não havia dúvida de que a vaga seria ocupada por Paulina. Dias antes
de iniciar o concurso, ouviu de um dos professores que fez parte da banca examinadora que
independente das provas exibidas a cadeira pertenceria a quem por fim designaram, em vão
foi a sua queixa ao diretor...
Disse que vários professores recusaram formalmente o convite para compor a mesa
“com receio de serem envolvidos no plano assentado”. Isto confirmaria a suspeita de que a
decisão final não viria das provas aplicadas, mas de “causas e considerações alheias ao
mérito e à competência dos candidatos”. O fato das duas candidatas terem desistido de
realizar as provas reforça a ideia de que qualquer esforço para o cumprimento das provas não
seria apreciado diante da preferência previamente estabelecida.
Assim, a discussão entre os jornais Gazeta de Notícias e O Paiz aumentava. Por quase
uma semana debateram sobre os inúmeros detalhes que poderiam ocasionar a nulidade do
“escandaloso” concurso, e assim, tornaram públicas as informações peculiares inerentes ao
INM, ao júri, aos candidatos e suas provas...
Nada faltou para a consumação do conchavo nem mesmo os fervorosos aplausos
antecipados que, além de constrangerem o juízo dos que ouvem predispõem
favoravelmente a quem deles é alvo e constituem um escolho a vencer por aquele
que não é favorecido com semelhantes manifestações, não prometidas
judiciosamente em tempos idos, mesmo nos exercícios práticos dos alunos do
Instituto. 167
167
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso do Instituto Nacional de Música. O protesto
do concorrente Sr. Frederico de Almeida. Rio de Janeiro, 19 de junho de 1917, p. 3.
98
168
Não conseguimos encontrar nenhuma referência a respeito deste professor.
169
PASSAMAE, Maria Aparecida dos Reis Valiatti. O Professor de Piano: o método de Oscar Guanabarino.
Acessível em
https://www.academia.edu/16330883/O_Professor_de_Piano_o_m%C3%A9todo_de_Oscar_Guanabarino
170
CARVALHO, Delgado de. O Gabinete de Acústica no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro.
Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1905. Biblioteca Nacional: DIMAS, Loc. 780.72 C331g.
171
Ângelo Ferrari foi um empresário dono de uma companhia italiana que fez representar Os Puritanos de
Vincenzo Bellini em julho de 1885, no teatro Pedro II, no Rio de Janeiro. SILVA, Esequiel Gomes da. A crítica
teatral de Arthur Azevedo no Diário de Notícias. Anais do SILEL. Volume 1. Uberlândia: EDUFU, 2009.
99
escreveu sobre diversos violinistas, dentre eles: Wolff, Thomson, White, Sarasate, Vecksey e
Kubelick, sempre alcançando os aplausos do público pelo seu julgamento.
O articulista do jornal O Paiz vaticinava que o jovem Frederico não era digno de
vencer o concurso por ser um violinista “imperfeito”, que havia “gaguejado” na prova de
transposição e ter defeitos graves de arco e mão direita, assim como problemas na posição do
violino. Desta forma, não poderia ocupar um cargo tão honrado e que “toda a gente sabia,
previamente e por mil motivos, que o primeiro lugar caberia à senhorita D’Ambrósio”.172
O Gazeta de Notícias contestou em sua publicação de 21 de junho, que não pretendia
“estabelecer polêmicas nem discussões” com a publicação do pedido de anulação do concurso
por Frederico de Almeida. Mesmo assim, reforçou que a mesa julgadora não agiu com justiça
na classificação dos candidatos diante das provas por eles apresentadas. Em especial, a
acusação de que na prova de harmonia do jovem violinista continha erro de resolução.
Nas palavras publicadas no jornal o que havia era uma excepcional resolução de uma
nota dissonante, que seguia a regra “toda nota dissonante tende a descer” um semitom. Mas o
caso em questão se tratava de uma modulação do tom de Dó Maior para o de Fá Maior com a
resolução da dissonância subindo uma terceira. Para exemplificar seu parecer, o jornal
utilizou exemplos de resoluções excepcionais de notas dissonantes dos “Estudos de
Harmonia”, do compositor francês François-Clément Théodore Dubois:
Um deles é o seguinte: um acorde de 7ª dominante do tom de dó maior na 1ª
inversão encadeado a um acorde de 7ª da dominante do tom de fá maior na 3ª
inversão. A nota dissonante nesse exemplo resolve excepcionalmente, subindo de
uma 2ª maior. Em outro exemplo dado pelo mesmo autor, a dissonância resolve
descendo de uma 4ª justa.173
172
O PAIZ. Um escândalo artístico. 20 de junho de 1917, p. 3.
173
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso de violino do Instituto de Música. Rio de
Janeiro, 21 de junho de 1917, p. 4.
100
174
Idem. Ibidem.
101
concurso. Esperavam que o Ministro da Justiça interviesse no caso para conter os “arranjos e
apadrinhamento” associados no INM, e que lá se restabelecesse a justiça, “indispensável
como prêmio aos que se esforçam e trabalham, contando exclusivamente com o seu próprio
mérito”.175
Acusando a Gazeta de Notícias de reincidir na imprudente defesa de Frederico e que
este certamente teria dado as diretrizes e coordenadas da sua última publicação, Oscar
Guanabarino, solicitou a autorização do candidato para que se publicasse uma análise de sua
dissertação sobre acústica em O Paiz. Assim, poderia provar publicamente que a tese não só
continha erros, mas “tolices” imperdoáveis a um músico.
Esta prova, ainda nas palavras de Guanabarino, mesmo facultativa, poderia ter dado ao
candidato certa vantagem, já que sua oponente declinou de realizá-la, o que poderia
representar um motivo para pedir anulação do concurso. Porém como sua prova foi
desclassificada pelos diversos erros observados, esse argumento não se demonstrava plausível
de ser usado. O único ponto que Guanabarino entende como procedente seria a prorrogação
do prazo de estudo para a peça de confronto. Porém, ele argumentou que o único a levar
vantagem neste quesito foi o próprio candidato, que dois anos antes havia executado em
concerto público a Chaconne, de Bach. 176
A aspereza de Guanabarino com Frederico pode ser mais claramente percebida quando
afirma que era um fato incontestável e inegável que Paulina seria classificada em primeiro
lugar, e que mais certo era que se as outras duas candidatas tivessem concorrido, ele seria
classificado em quarto lugar... “e mais longínquo seria seu lugar se outros candidatos
tivessem concorrido à vaga”. Isto porque a candidata Paulina era uma violinista e o “Sr.
Almeida não o é, nem nunca o será, sendo, apesar do seu talento, negação decidida para
aquela virtuosidade”. 177
Continuou dizendo que se surpreendia por não existir no INM a aplicação rigorosa de
regras relativas à jubilação, questionando o porquê de Frederico, mesmo apresentando provas
de incapacidade durante seu curso, ter alcançado seu diploma de conclusão. Concluiu dizendo
que aguardaria a autorização para fazer pública sua análise da dissertação de acústica e que
quanto à prova de harmonia, esta foi julgada pelos competentes professores, Braga e França.
Percebemos que o processo de avaliação deste concurso comparado com o anterior (de
solfejo) foi muito diferente. Naquele, todos os jurados avaliaram cada uma das provas dando
175
Idem.
176
O PAIZ. Artes e Artistas:Um escândalo artístico. Rio de Janeiro, 22 de junho de 1917, p. 2.
177
Idem.
102
notas para primeiro, segundo e terceiro lugares. Neste o que vemos é que para cada conjunto
de prova foi designado um, dois ou três jurados competentes.
Cabe ressaltar que aos 18 anos, Frederico alcançou a “Medalha de Prata” em uma
prova realizada no próprio INM,em 29 de dezembro de 1914, no Salão do Jornal do
Commercio na presença dos jurados Arnaud Duarte de Gouvêa178, Francisco Alfredo
Bevilacqua, Ricardo Tatti, Francisco Braga, Francisco Chiaffitelli e do livre docente Alfredo
Gomes, com a presidência do diretor Alberto Nepomuceno. O regulamento vigente em 1914
era o Decreto N.º 9.056/1911, e o seu Art. 117 nos diz que apenas teriam direito de concorrer
aos prêmios – medalha de ouro, prata ou menção honrosa –, os alunos que tivessem concluído
o último ano do seu curso obtendo os graus de “distinção ou “plenamente”179. O único
candidato que concorreu ao prêmio de violino daquele ano foi o jovem Frederico Carlos de
Almeida, da classe do professor Ernesto Ronchini. Frederico alcançou por maioria de votos o
segundo prêmio contra o voto do livre docente de violoncelo, Alfredo Gomes180, que optava
por lhe conceder o primeiro prêmio.181
A última publicação de a Gazeta de Notícias a respeito deste caso observa que as
críticas de Guanabarino às provas de Frederico denotam uma enorme injustiça contra um dos
mais aplicados alunos do INM, “meio onde talvez não se encontrem muitos exemplares da
sua tempera e da sua forma de vontade”. Sobre a análise da dissertação, não demonstraram
nenhum interesse, pois não lhes importavam as “teorias extravagantes do Sr. Guanabarino
sobre o som”. Avaliavam que mesmo que fosse um péssimo trabalho, ele de forma alguma
deveria influir na avaliação justa das demais provas.
Quanto à suposta vantagem de Frederico em relação à prova de confronto, afirmavam
que, na verdade, quem mais vantagens teve com a escolha da Chaconne, de Bach, foi Paulina,
que por mais de 10 anos vinha se consagrando como uma virtuosidade no violino, enquanto
Frederico, 7 anos mais novo, havia iniciado sua carreira de concertista apenas dois anos antes.
Para o jornal, os “rallentandos” e a supressão dos dois últimos movimentos do concerto de
Brahms era algo imperdoável para uma artista do seu valor. Assim, a Gazeta encerrava sua
defesa ao jovem violinista, e aguardava o pronunciamento do Ministro da Justiça na busca de
178
O professor Arnaud Gouvea substituiu de última hora o professor extraordinário honorário Arthur Napoleão
dos Santos, que por justo motivo não pôde estar presente.
179
BRASIL. Dos concursos aos prêmios, Arts. 116-123. Decreto N.º 9.056, de 18 de Outubro de 1911.
180
Alfredo Gomes foi admitido como livre docente de violoncelo em 1913 e se efetivou como professor do INM
em 26 de julho de 1920.
181
BAN. Concursos aos prêmios de violino, realizado em 29 de dezembro de 1914, N.º 52. Atas de Concursos e
prêmios da Escola de Música. Mapa v. 1. 1894-1918.
103
182
GAZETA DE NOTÍCIAS. Um escândalo artístico. O concurso de violino no Instituto Nacional de Música.
23 de junho de 1917, p. 2.
183
O PAIZ. Artes e Artistas. Um escândalo artístico. Rio de Janeiro, 25 de junho de 1917, p. 3.
184
A NOITE. Ultima hora: O último concurso de violino do I. N. de Música. Rio de Janeiro. 10 de julho de 1917.
104
suas funções, revelando grande aptidão para o magistério, o Ministro Carlos Maximiliano a
reconduziu ao lugar de adjunta de violino, em 8 de abril de 1918185.
Quando ocorria um impedimento ou licença de um professor, fosse professor ou
adjunto, o diretor deveria providenciar seu substituto. A preferência era que outro professor se
ocuparia da substituição ou mesmo o adjunto do mesmo curso. Caso nenhum destes pudesse
se ocupar desta tarefa, um livre docente da cadeira poderia ocupar a vaga interinamente. Foi o
que fez Frederico de Almeida, certamente na tentativa de demonstrar seu conhecimento e
aptidão para o ensino do violino.186
Na falta de um livre docente, o diretor poderia indicar ao Ministro da Justiça uma
pessoa estranha ao quadro de docentes do INM, com notória competência, para que fosse
nomeado substituto. Assim, vemos que ocorreu uma descentralização do poder do diretor ao
eleger um professor. Enquanto que nos anos da gestão de Miguez, os Decretos firmavam que
bastasse a indicação do diretor para que o Ministro nomeasse um novo professor, o Decreto
de 1915, possui em seu escopo todo aparato para que não mais fosse possível esta prática. E
com isso muitas deveriam ser as artimanhas para que se conseguisse chegar ao objetivo de
integrar quem bem quisessem ao Instituto.
185
BAN. Livro de registro de título de pessoal. V. 1 – 1903-1940.
186
BRASIL. Das substituições. Decreto N.º 11.748, de 13 de Outubro de 1915.
105
Conclusão
Após a análise dos documentos oficiais que regeram o Instituto Nacional de Música
desde sua fundação até o ano de 1915, foi possível perceber que havia um grau elevado de
instabilidade na “cultura institucional”. O Instituto Nacional de Música, como órgão “oficial”
de ensino musical do país, tentava se adequar às expectativas da nova ordem republicana
reproduzindo o discurso da meritocracia tão bem representado nos concurso públicos que
deveriam valorizar competências e desempenho individual em detrimento das afinidades
pessoais ou classistas.
Entretanto, nota-se que esse ditame tão caro aos positivistas não se impôs durante a
gestão de Leopoldo Miguez que privilegiou a indicação como mecanismo de acesso às
posições de trabalho dentro da instituição. Esta opção levaria a situações de conflito como a
registrada com o professor de canto Enrico Borgongino, considerado apto em um primeiro
momento para fazer parte do seleto grupo de professores, para logo em seguida ser
considerado um propagador de repertório não digno de ser praticado no INM.
externas sobre a idoneidade do concurso. As consequências desses embates, mais uma vez
envolviam opções estéticas, redes de sociabilidade e laços familiares que, por tantas vezes,
foram parte da crítica republicana ao extinto regime monárquico.
Entretanto, este concurso realizado em 1917, também não seria isento de situações
consideradas questionáveis e que deram espaço para as mais diversas manifestações de
desaprovo e dúvidas sobre sua lisura. Podemos destacar que no concurso de 1916, ainda
contávamos com a forte presença de Rodrigues Barbosa, crítico musical e interlocutor
essencial com o primeiro governo republicano. Neste segundo, realizado em 1917, surge a
figura do crítico Oscar Guanabarino que durantes anos, por meio de sua coluna no Jornal do
Commércio atacou com virulência Leopoldo Miguez e a trajetória do Instituto Nacional de
Música.
Neste sentido, é possível observar que a questão da meritocracia tão cara aos nossos
primeiros republicanos, não foi um conceito facilmente absorvido pelos líderes musicais
responsáveis pela formalização do Instituto Nacional de Música. O cientificismo e outras
facetas do discurso positivista, como ordem e progresso, que se encontravam em questões
distantes da organização e divisão de poder pareciam mais palatáveis do que a garantia de
acesso ao seleto grupo por meio de concursos públicos.
Por trás destes embates e brigas por posições de controle, escondiam-se também
visões de mundo e opções artísticas, utilizadas como justificativas para a qualificação de seus
agentes e do seu nível de conhecimento. Manter a estética enraizada nas rígidas convenções
da música de concerto era mais que uma defesa artística; era a manutenção de uma visão de
mundo que ainda revelava sua fragilidade diante das enormes possibilidades que o século XX
trazia. E esta mudança aconteceu, apesar das resistências e, para realizá-la, a instituição dos
concursos públicos revelou-se um instrumento eficaz de democratização deste espaço de
atuação e de difusor de novas práticas musicais.
107
Referências
Fontes primárias
1. Periódicos
A Epoca (1916)
A Noite (1913-1929)
O Imparcial (1913-1926)
O Paiz (1889-1934)
108
BRITO, Roberta Gonçalves de Sousa. Intervalos: Tese com que se apresenta Roberta
Gonçalves de Sousa Brito ao concurso para preenchimento da cadeira de Teoria Musica da
Escola Nacional da Universidade do Brasil. Tip. da Revista Liga Marítima Brasileira, Rio de
Janeiro, 1941.
LOPES, Maria Clara Câmara de Menezes. Necessidades do Estudo da música nas escolas
primárias. Trabalho apresentado ao Conselho Docente do Instituto Nacional de Música:
Candidata à livre docência do Curso de Solfejo no Referido Estabelecimento. Imprensa
Nacional, Rio de Janeiro, 1913. Loc. DIMAS 780.7 L 864n.
Ensino. Decreto N.º 11.530 de 18 de março de 1915, reorganização do Ensino. RJ, 1915. Loc.
93.4.30.
Francisco Braga. Perfil biográfico do maestro, por Souza Rocha. Rio de Janeiro, 1921. Loc.
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Instituto Nacional de Música. Programa de ensino e de exames do... Rio de Janeiro, 1928.
Loc. 164.2.12.
Leopoldo Miguez. Amphion – Revista Quinzenal, Música – Teatros – Bellas Artes. Lisboa,
15 de agosto de 1896. Loc. PL 545.48.
Mello, Guilherme Theodoro Pereira de. A Música no Brasil: desde os tempos coloniaes até o
primeiro decênio da Republica. Typographia de S. Joaquim, Bahia, 1908. Loc. 72.1.9.
Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Ensino Superior e Secundário Decreto N.º 3.890
de 1 de janeiro de 1901. Aprova o Código dos Institutos Oficiais. RJ, 1901. Loc. 33.1.27.
110
Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Lei orgânica do Ensino Superior. RJ, 1912.
Loc. 163.1.9.
5. Documentos oficiais
BRASIL. Decreto N.º 3632 – De 31 de março de 1900: Aprova o regulamento para o Instituto
111
Nacional de Música.
BRASIL. Regimento Interno do Instituto Nacional de Música, a que se refere a portaria desta
data. O Ministro de Estado da Justiça e Negocios Interiores, em nome do Presidente da
Republica, resolve, de acordo com o art. 160 do Regulamento anexo ao Decreto N.º3.632, de
31 de março de 1900, aprovar o Regimento Interno do INM, que a esta acompanha. Capital
Federal, 13 de junho de 1900, Epitácio Pessoa.
Referências bibliográficas
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Estudiante de Brasil, 1950.
AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa de. 150 Anos de Música no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria
José Olympio Editora, 1956.
DE AZEVEDO, Luiz Heitor Corrêa. 150 anos de música no Brasil, 1800-1950. Rio de
113
MAGALDI, Cristina. Music for the elite: musical societies in Imperial Rio de Janeiro. Latin
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VOLPE, Maria Alice. José Rodrigues Barbosa, questões identitárias na crítica musical.
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VOLPE, Maria Alice. Indianismo and Landscape in the Brazilian Age of Progress: Art Music
from Carlos Gomes to Villa-Lobos, 1870s-1930s. Tese de Doutorado (PhD), The Universityof
Texas at Austin, 2001.Publ.: Ann Arbor, Michigan: UMI-Research Press, 2001.